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A OR I G E M E TRAJETÓRIA D O I NS T I T UT O DE CARD IOLOGIA C ONTADAS PELOS PIONEIROS NA I N STITUIÇÃO.


H Á 5 0 A NO S I NI CI O U A JOR NA D A Q U E M U D O U PA R A SEM PR E A S A Ú D E E O CO R A ÇÃ O DOS GA Ú CH O S .

C O N H E Ç A A H I S T Ó R I A D A I N S T I T U I Ç Ã O P O R Q U E M FA Z PA RT E D E L A D E S D E O S E U I N Í C I O .

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S U M Á R I O

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PREFÁCIO DR. MARNE GOMES

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CIRURGIA E TRANSPLANTES CARDÍACOS NO INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL DR. IVO NESRALLA

50 ANOS DE VIDA NO IC/FUC DR. CARLOS A. M. GOTTSCHALL

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11 A CONTRIBUIÇÃO DA INCRÍVEL ENFERMARIA 29ª E DOS 50 ANOS DO IC/FUC NA CARDIOLOGIA DO RS E EM MINHA TRAJETÓRIA MÉDICA DR. ISEU GUS

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A C R E D I TA R E M U M S O N H O DRA. ANNA MARIA MACIEL

29 HISTÓRIA QUE NOS ORGULHA D R . N E L S O N N O N O H AY

31 CINQUENTENÁRIO NO IC/FUC DR. NESTOR DAUDT

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A E X PA N S Ã O D O I C / F U C N O R S DR. ROBERTO BARROS BENEVETT

30 UMA VIDA DR. FLÁVIO CELSO LEBOUTE

32 IC/FUC 50 ANOS: QUE LONGA CAMINHADA! D R . PA U L O P R AT E S


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“SE O S N O S S O S SO N H O S S Ã O T ÃO AT R EV I D O S É P O R Q U E E L E S P O D EM S ER R E A L I Z A D O S ” . L E

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á 50 anos a Fundação Universitária de Cardiologia nasceu na disciplina de Cardiologia da Faculdade Católica de Porto Alegre, hoje Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Em seguida, casou-se com o Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul e formou uma família dedicada ao Ensino, Assistência Médica e Pesquisa em Cardiologia.

DR. MARNE DE F R E I TA S G O M E S

Presidente do Conselho Diretor do Instituto de Cardiologia/ Fundação Universitária de Cardiologia.

O grupo de jovens professores comandados pelo professor Rubem Rodrigues (Prof. Carlos Salles de Barros, Prof. Iseu Gus, Prof. Athos de Moraes Silveira, Prof. Ivo Telini, Prof. José Fagundes, Prof. Roberto Benevett, Prof. Mario Schwartzman, Prof. Ovidio Silveira Martins, Prof. Carlos Augusto Bernardes, Prof. Edmundo Torres Neto e Profa. Céo Paranhos de Lima); reforçado por alguns brilhantes talentos da Cardiologia e da Cirurgia Cardiovascular como o Prof. Ivo Nesralla, Dr. Nelson Nonhoay, Dra. Ana Maria Maciel, Dr. Stélio Varnieri, Dr. Caio Flávio Prates da Silveira, Dr. Flávio Leboute, Prof. Carlos Gottschall e Prof. Nilo Medeiros, logo despertou grande admiração entre os médicos recém formados e acadêmicos. Essa admiração e o desejo de associar-se àquela nobre missão facilitou a criação do Corpo de Médicos de Tempo Integral (MTI) do IC/FUC, outra feliz ideia do Prof Rubem Rodrigues. O ideal de dedicação integral ao IC/FUC permaneceu até hoje constituindose num forte cimento na construção de nossa Instituição. A prática integrada da Assistência Médica, Ensino e Pesquisa, além de concentrar esforços, permitiu-nos uma considerável experiência, que distingue nosso Corpo Clínico e a qualificação de nosso atendimento. Em nossa Instituição, o ensino da cardiologia é realizado em todos níveis.

Contamos com a Escola Profissional, que já formou 1.957 técnicos. Anualmente ensinamos cerca de 80 alunos da disciplina de Cardiologia da UFCSPA, além de outros 300 acadêmicos, aproximadamente. O ensino de pós-graduação já diplomou 282 mestres-doutores. A Residência Médica é a atividade centralizadora dos programas de Ensino do IC/FUC. A grande maioria de cardiologistas de nosso Estado foi formada no IC/FUC. Iniciada em 1.968 a Residência Médica do ICFUC formou 740 especialistas. Na Residência Multiprofissional, iniciada em 2005, formaram-se 130 profissionais. Orgulhamo-nos da qualidade de nossos programas. Os profissionais formados no ICFUC, gozam do mais alto prestigio em nosso meio. O corpo médico e docente do ICFUC é constituído quase que totalmente de ex-residentes. Nossas conquistas médicas, nossa experiência invulgar, nossas distinções pela qualidade do atendimento, nossa reputação, devem-se muito ao cultivo do ensino. No IC/FUC todos trabalham ensinando e todos aprendem trabalhando. É impossível relatar em livro ou revista todas as historias importantes que as nossas paredes testemunharam: cada uma das milhares de vidas salvas, cada caso que assinala o pioneirismo da nossa experiência, cada ato que marca a instalação de novas técnicas, cada um dos profissionais formados em nossos programas de ensino, cada dia suado de cada um de nossos funcionários empenhados em nossa sagrada missão, cada um dos professores da Instituição, sobre tudo aqueles que moraram nessa casa durante toda a sua vida. Alguns deixaram-na precocemente passando a acompanhar-nos no plano espiritual. Sempre contaremos com a presença do Professor Rubem Rodrigues e dos professores Ivo Tellini, Flavio Antonio


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Pereira, Raul lara, Claudio Medeiros, Andre Barrionuevo, Eros Magalhães e Lidia Puricelli. As funcionárias Jônia Carneiro di Grandi, Silvia Freitas e Márcia Holmer, também continuam zelando por nós. Ilustres professores do ICFUC, moradores de nossa casa desde a sua fundação, aceitaram o desafio de relembrar os acontecimentos que mais marcaram a Instituição nos capítulos dessa revista: O Prof. Ivo Nesralla, atual Diretor Presidente da FUC, líder de nossa Cirurgia Cardíaca, e responsável pelo espírito pioneiro que caracteriza nossa atuação; O Prof. Iseu Gus, chefe do setor de epidemiologia do IC/FUC é professor aposentado da UFCSPA e já participou de várias diretorias da FUC, inclusive como Diretor Presidente; O Prof. Roberto Benevett, membro do Conselho diretor da FUC, professor aposentado da UFCSPA e ocupou por

Formatura da Residência Médica de 2013.

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muito tempo cargos importantes na administração da FUC; O Prof Carlos A M Gottschall, Diretor Cientifico da FUC, além de Hemodinamicista com vasta experiência publicada, realizou obras importantes na área de Ensino e História de nossa medicina; O Prof. Nelson Nonohay, Diretor Secretário da FUC, tem acompanhado em várias gestões as lides administrativas da Instituição; O Prof. Flavio Leboute, um dos pioneiros de nossa Hemodinâmica, participou também de cargos diretivos da FUC; A Profa. Anna Maria Maciel Alves, acompanha a FUC desde sua fundação, tendo participado de nosso Conselho Diretor. Como professora de Clinica Médica e Cardiológica tem sua experiência e saber consagrados em nossa Residência Médica.

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O Prof. Nestor Daudt, Diretor Tesoureiro da FUC, chefe do setor de Cardiologia Pediatrica do IC é Médico de Tempo Integral do IC/FUC e membro da 1ª turma de nossa Residencia. Tenho certeza que os relatos que leremos nos próximos capítulos mostrarão algumas evidencias da força da Nossa Instituição. Uma força milagrosa que tem nos socorrido nos momentos difíceis. Ela também tem nos impulsionado para as maiores realizações. Qual a natureza dessa força? Sabemos que ela concentra união, sabemos que ela irradia doação, sabemos que ela ecoa reconhecimento e provoca crescimento. Essa força é nutrida de amor ao próximo, e essa força abraça a cada um de nós, dando-nos confiança no futuro da FUC.


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CIRURGIA E TRANSPLANTES CARDÍACOS NO IC/FUC

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cirurgia cardíaca representa, sem dúvida, um dos mais notáveis feitos da medicina contemporânea. É notável porque está relacionada com o culto ao coração e este data de muitos séculos, isto porque o homem custou muito a compreender a intimidade de seus problemas.

P R O F. D R . I V O NESRALLA

Médico cirurgião cardiovascular. Prof. titular de Cirurgia da UFRGS. Membro titular da Academia Nacional de Medicina. Membro titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Diretor Presidente do Instituto de Cardiologia/ Fundação Universitária de Cardiologia.

Os guerreiros dos povos antigos comiam corações para adquirir força e os faraós pediam que ele falasse em seu favor ao juiz dos mortos. Já os astecas o adoravam de uma maneira impactante: seus sacerdotes imolavam jovens para oferecer o coração ainda palpitante aos deuses. E, se os romanos diziam prever o futuro ao observálo, os trovadores medievais fizeram dele o símbolo do amor. Assim nasceu o culto ao coração. Os sacerdotes são hoje médicos, químicos e fisiologistas; os templos são as clínicas, os laboratórios e, finalmente, a sala da cirurgia.É neste novo enfoque que o homem entendeu por que seus antepassados conferiram poderes mágicos a este músculo de batimentos misteriosos. Coração, um saco muscular do tamanho de um punho, que tem a força de 0,003 cavalos (um motor único no seu gênero) bombeia

cerca de 75 vezes por minuto uma massa sanguínea que corresponde a dez mil litros por dia, para nutrir e oxigenar os trezentos bilhões de células que constituem o nosso corpo. O coração realiza diariamente um trabalho gigantesco que, convertido num esforço único, bastaria para levantar a altura de um metro o peso de 40 toneladas. É a compreensão destes fatos que nos leva a entender por que o homem levou quase dois mil anos para atingir um órgão que dista pouco mais de 2 cm do peito. Nos dias de hoje a cirurgia cardíaca entrou na rotina dos grandes hospitais, mas mesmo sendo rotina, para os pacientes o mito que envolve o coração continua forte. Ao operar um psiquiatra recentemente, quando explicado o procedimento no dia anterior a cirurgia, ele me olhou e disse emocionado apontando para o centro do peito: “Quer dizer que o senhor vai tocar no meu coração?” A cirurgia cardíaca alcançou um desenvolvimento muito grande principalmente nestas últimas décadas onde a circulação extracorpórea tornouse um processo extremamente seguro, com equipamentos de última geração, controlados pela informática que tornaram as causas de erro praticamente


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inexistentes.Também tivemos um grande progresso dos cuidados pós-operatórios, auxiliados pela incorporação da moderna tecnologia. As técnicas de cirurgia também sofreram progressos de maneira satisfatória. As grandes incisões cirúrgicas foram substituídas por técnicas que fazem pequenas incisões. Fiel ao “tripé” ensino-pesquisa-assistência e aos princípios que nortearam sua criação, a Fundação Universitária de Cardiologia - Instituto de Cardiologia é hoje uma instituição reconhecida, nacional e internacionalmente, por sua excelência, pioneirismo na cirurgia de coração. Também na cirurgia cardíaca aplicamos o nosso lema, operando pessoas, fazendo pesquisa e formando novos cirurgiões cardíacos.

O Laboratório de Experimentação Animal permitiu diversas realizações de pioneirismos do Instituto de Cardiologia.

seus familiares, funcionários de agora e do passado, médicos em ação e os que nos deixam saudades, fornecedores, vizinhos, gestores dos convênios hospitalares, pessoal das administrações de saúde tanto municipal como estadual e federal, dentre muitos outros. Muitos dos nossos pequenos amigos cresceram. O público infantil do hospital é particularmente interessante porque no Cardiologia temos uma infra estrutura de ponta que atende desde a vida intrauterina até a vida adulta das pessoas com cardiopatia congênita. São anos e anos de convívio e amizade. Aqui na Fundação Universitária de Cardiologia / Instituto de Cardiologia do RGS, instituição que nasceu em 1966, temos uma forte raiz voltada para um ensino de excelência, uma pesquisa de ponta e uma consequentemente ótima assistência médica. Esse é o nosso objetivo e o que nos diferenciou durante todos esses anos. 50

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O espírito de pioneirismo é o que nos mantém na vanguarda, sempre buscando novas práticas, equipamentos de última geração e novas tecnologias, tudo em benefício das pessoas. Sempre trabalhando multidisciplinarmente. Essa história continua a ser construída cotidianamente e que se projeta para o futuro, com o mesmo espírito de seus criadores, que fizeram e fazem de sua trajetória uma bela história de sucesso. Estamos comemorando 50 anos e para festejar lançamos mais um canal de comunicação com os amigos do Cardiologia. É a página oficial do Facebook do Instituto de Cardiologia. É uma amizade virtual porque amigos, temos muitos. Pacientes,

anos. Quem diria? Foi num casarão na Avenida João Pessoa, em Porto Alegre, que começou a nossa história. Transformar o modesto ambulatório de cardiologia existente no local em um verdadeiro “Instituto de Cardiologia” foi o sonho e o desafio que se impôs o Prof. Rubem Rodrigues. A partir deste ideal criou-se, em 1966, a Fundação Universitária de Cardiologia, com o objetivo de desenvolver o ensino, aprimorar a assistência médica, incentivar estudos e pesquisas, organizar e manter um centro de pós-graduação e especialização e, enfim, promover o avanço do conhecimento e da assistência em cardiologia, clínica e cirúrgica, pediátrica e de adultos. Visionário, o Prof. Rubem Rodrigues entendeu que só uma excelente educação leva à curiosidade. E esta leva à pesquisa.


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A história do Presidente se mistura com a história do próprio Instituto de Cardiologia/ Fundação Universitária de Cardiologia.

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Do resultado da junção do ensino e pesquisa conseguimos atingir patamares excelentes de assistência que levamos aos nossos milhares de pacientes. Com esse espírito de trabalho o Cardiologia ocupa, com muito orgulho, um espaço de pioneirismo na sociedade gaúcha.

conhecer então o mecanismo da rejeição. De lá para cá, foram transplantados mais de duas centenas de pacientes.

Em especial este grupo de pacientes nos deu muitas histórias de alegrias e tristezas. Para citar dois exemplos: Duas crianças de 15 anos. O menino Em um período de 15 anos, após “O ESPÍRITO DE turbulento da história aguardar 7 meses em PIONEIRISMO É O do nosso país, como o lista de espera para QUE NOS MANTÉM que estamos vivendo transplante, morreu N A VA N G U A R D A , ultimamente, muito como muitos outros nas SEMPRE BUSCANDO frequentemente lembro listas do mundo inteiro. da frase que professor Seu pai, é hoje um dos N O VA S P R Á T I C A S , Rubem Rodrigues maiores incentivadores E Q U I PA M E N T O S repetia: “Plantar uma da doação de órgãos D E Ú LT I M A árvore não é uma no nosso país, num G E R A Ç Ã O E N O VA S difícil tarefa, adubá-la exemplo de sublimação TECNOLOGIAS, TUDO e cuidá-la com amor e da dor. A menina de EM BENEFÍCIO DAS carinho para que cresça 15 anos, transplantou, PESSOAS”. sem imperfeições estudou, trabalhou, é uma empreitada casou e para nossa gigantesca.” extrema alegria ainda teve uma filha. Na época, somente 18 No campo do transplante cardíaco, o mulheres transplantadas cardíacas no advento de novas drogas imunossupresoras, mundo tinham tido filhos e a incerteza permitiu a sobrevida dos pacientes estatística nos deu: noites em claro, super transplantados em 50% em 10 anos e organização de equipe para atender o quando olhamos para este novo milênio pré-natal e o parto e um sentimento vemos as maravilhas da engenharia de satisfação indescritível. Diante dos genética no campo da cirurgia cardíaca insucessos nós sempre nos questionamos: como o xenotransplante. vale a pena todo este esforço? Pessoalmente considero trocar o coração “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” de alguém, é uma emoção ímpar. A primeira (Fernando Pessoa). vez que realizei este tipo de cirurgia não pude conter o sentimento que invadiu a mim e a toda a equipe. Era o ano de 1984 e isto representava a retomada dos transplantes cardíacos no Brasil que haviam sido paralisados por 15 anos, por não se


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50 ANOS DE VIDA NO IC/FUC DR. CARLOS A. M. GOTTSCHALL

Membro titular da Academia Nacional de Medicina. Membro titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Professor Emérito da Fundação Universitária de Cardiologia, RS. LivreDocente em Cardiologia, Doutor em Medicina e Mestre em Pneumologia pela UFRGS. Diretor-científico do IC/FUC.

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ecordar 50 anos em poucas páginas desperta saudades só suplantadas pelo consolo de ter tentado. Movido por razões a partir de grandes estímulos, é inevitável a lembrança de um sonho que começou como estudante e foi alimentado pelo exemplo de grandes mestres. O visionário Rubem Rodrigues, na sua obstinação de criar um Instituto de Cardiologia em Porto Alegre, depois de voltar do estágio no Instituto de Cardiologia do México, onde teve essa inspiração, nos anos de 1957-1958, vislumbrou e erigiu uma Instituição equilibrada no tripé assistência médica, ensino e pesquisa. Rubem considerava o mesmo que penso, daí nossa sintonia, que um médico integral precisa atuar em três pontas. Se for assistencialista deve interessar-se por ensino e pesquisa, se for professor deve interessar-se por assistência e pesquisa; se for pesquisador deve interessar-se por assistência e ensino, tudo isso pela simples razão de que cada uma dessas partes se nutre das outras duas. Ninguém pode exercer medicina ignorando o paciente, deixando de procurar resposta para o fato instigante ou não ensinando condutas aos pacientes, no mínimo. Foi sonho ambicioso a concretizar-se num processo progressivo de excelência ao longo destes 50 anos.

S A N TA C A S A Estou aqui por ser um dos mais próximos e antigos testemunhas de sua vida. Em 1960, Rubem Rodrigues era assistente da Cátedra de Clínica Propedêutica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FMUFRGS) – também Serviço Central de Cardiologia da Santa Casa de Porto Alegre -, chefiada pelo inigualável Professor Rubens Maciel, a famosa Enfermaria 29 (na verdade englobava as Enfermarias 9 e 12, esta só de mulheres), onde se desenvolvia o ensino clínico da UFRGS. Quando, nesse ano, como terceiranista de medicina, passei pela Enfermaria 29 firmamos sólida amizade e respeito mútuo que nos acompanhou até sua morte, 42 anos depois, em 2002. Já seduzido pela Cardiologia, pedi-lhe para lá trabalhar fora das aulas, desejando, entre outras atribuições, registrar eletrocardiogramas nos pacientes, o que me permitia correlacionar o exame clínico com os traçados obtidos. Rubem logo me aceitou mas advertiu que toda atividade médica exigia trabalho e sacrifício. Gostou quando lhe respondi que eu sabia disso e era para isso que estava ali. Desde então nunca abandonei a Enfermaria 29, até seu fechamento em 1986. A Enfermaria 29 foi o berço e o norte de minha formação médica. Lá permaneci de 1960 até 1986, como estudante, médico-


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Fig 1A: – Fachada do antigo Instituto de Cardiologia, um Ambulatório da Secretaria de Saúde, situado na Av. João Pessoa.

Fig 1B: – Fachada atual do Instituto de Cardiologia, um Hospital de ponta em Cardiologia.

residente, professor voluntário, auxiliar, assistente e adjunto de Medicina Interna, mestre em Pneumologia, doutor em Medicina, livre-docente em Cardiologia e professor titular de pós-graduação em Pneumologia e Cardiologia. Em 1978, fiz pós-doutorado subsidiado por uma bolsa do CNPq e um prêmio do Estado do RS em Cárdio-Pneumologia nas Universidades de Edimburgo e Londres, Grã-Bretanha, tendo como preceptores os professores Michael Sudlow e Lawson Mac Donald, este discípulo direto de Paul Wood, com treinamento e troca de experiências nas áreas de fisiologia cárdio-respiratória do exercício, hemodinâmica e clínica da cardiopatia isquêmica. Em 1966, depois de dois anos de Residência em Medicina Interna na Enf. 29, quando comecei a escrever meus primeiros trabalhos científicos, o que era inédito naquela época para um médicoresidente, orientado por Mario Rigatto e Rubem Rodrigues, e, depois de aprovado em concurso público para Médico do Estado do Rio Grande do Sul com o maior grau, pude escolher o local de trabalho e, naturalmente, optei pelo Instituto de Cardiologia, atraído pela especialidade e pela liderança de Rubem Rodrigues. A partir daí passei a repartir minha atividade entre a UFRGS e o Instituto de Cardiologia / Fundação Universitária de Cardiologia (IC/ FUC). No início o Instituto existia apenas como um Ambulatório da Secretaria de Saúde do RS, mas trouxéramos conosco o ideal de formar um grande Hospital de Cardiologia (Fig. 1). Tendo Rubem criado a FUC nesse mesmo ano, tudo depois ficou mais fácil. Para isso foi fundamental a visão do Professor Francisco Marques Pereira ao aceitar o que na época era considerado megalomania de Rubem, ou seja, firmar convênio da Secretaria de Saúde com a FUC - simbiose não mais desfeita -, esta como administradora da construção e implementação de um hospital modelo em Cardiologia, o IC/FUC.


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Em 1986, muito depois da extinção das cátedras e do surgimento do Departamento de Medicina Interna, passei a exercer minhas funções docentes apenas no IC/FUC, em convênio com a UFRGS, até minha aposentadoria como professor de graduação da UFRGS, em 1998, permanecendo somente como professor de pós-graduação. Muito de minhas vocação, aspiração e realização nestes últimos 50 anos têm a ver com o IC/FUC. E esses atributos tudo a ver com ensino, pesquisa, pósgraduação e direção científica, no lado acadêmico, e hemodinâmica e cardiologia intervencionista, no lado assistencial. É

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sobre essa vivência que pretendo fazer fiel depoimento.

ENSINO Tendo sido o IC/FUC concebido sob a égide da dedicação à assistência médica, ao ensino e à pesquisa, o ensino está incorporado no seu espírito desde a fundação. O pendor para o ensino direcionou a opção de Rubem Rodrigues para a carreira docente na FMUFRGS, começando a exercê-lo na Enfermaria 29 da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, como já referido. Dele, como meu professor, recebi as primeiras lições de Cardiologia e Eletrocardiografia nos idos

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de 1960, cujas anotações guardo até hoje. Rubem não só lecionava os terceiranistas da FMUFRGS, como dava cursos a outros estudantes, foi o primeiro coordenador do Programa de Residência Médica, quando este surgiu em 1961 na Enfermaria 29 (Fig 2). Depois de tornar-se livre-docente da UFRGS e, após, professor titular de Cardiologia da Faculdade Católica de Medicina (atual Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - UFCSPA) passou a exercer atividade docente nas Enfermarias 7ª. e 8ª. da Santa Casa, onde manteve programas de residência médica. Minha colaboração docente era prestada aos alunos da Faculdade Católica, aos residentes e

Fig 2: Ambiente de estudo no tempo da Enfermaria 29 da Santa Casa: Ve-se, da esquerda para a direita, Carlos Gottschall, Rubem Rodrigues, semi-encoberto, Domingos D’Avila, de perfil, Henrique Rigato, lendo, Mario Rigatto, em pé, e Airton Cardozo, de costas. Homenagem aos inesquecíveis preceptores Rubem Rodrigues e Mario Rigatto.

estagiários em Cardiologia do IC/FUC e sob cursos avulsos de atualização. O ensino pós-graduado stricto sensu ainda não fora implantado. A ligação do ensino no IC/FUC com a Santa Casa de Porto Alegre fica evidente em que a primeira turma de residentes do IC começou o programa na Santa Casa e terminou no IC, nos idos de 70 do século passado. Nestor Daudt, integrante dessa turma ainda é médico de tempo integral, chefe do Setor de Cardiologia Pediátrica e diretor-tesoureiro do IC/FUC. Fazendo parte da vocação e missão do IC/ FUC, o ensino cresceu continuamente nas últimas quatro décadas. A Unidade de Ensino, que abrange ensino de graduação em Cardiologia da UFCSPA, estágios, cursos avulsos, escola técnica profissional de enfermagem e residência multiprofissional vem sendo chefiada há anos pelo Prof. Marne Gomes. São muitos candidatos e alunos que se renovam anualmente. Em 2016 já contamos, distribuídos pelos

estados do Brasil e exterior, com 740 residentes e ex-residentes médicos e 130 multiprofissionais das áreas de enfermagem, fisioterapia, nutrição e psicologia. Como exemplo, seguem números retirados do relatório de 2015 da Diretoria Científica: 196 inscritos no concurso para o programa de Residência Médica, 102 inscritos para o programa de Residência Multiprofissional, formatura de 110 médicos especialistas em Cardiologia (72 cardiologistas clínicos, 26 cardiologistas pediátricos, 4 ecocardiografistas, 2 hemodinamicistas, 1 intensivista, 4 radiologistas e diagnosticistas por imagem, 1 em transplante cardíaco). Em 2013 recebemos a Visita de Avaliação Educacional “in loco” da Comissão Nacional de Residência Médica / Ministério da Educação (CNRM/MEC) para credenciamento / recredenciamento e aumento de vagas em nossos programas de residência médica. A partir dessa visita aumentamos o número de vagas credenciadas em Cardiologia Clínica

de 15 para 20 e abrimos nova área de atuação em Eletrofisiologia Clínica Invasiva, sob a chefia do Prof. Gustavo Glotz de Lima. Considerando números que se renovam anualmente, somente em 2015, entre diversas categorias de acadêmicos da UFCSPA e de outras universidades, passaram pelo IC/ FUC 313 estudantes. Entre residentes médicos, multiprofissionais, estágios complementares, de residentes de diversas instituições, temporários e outros movimentaram-se 259 alunos. Os programas técnicos de Enfermagem em Cardiologia e em Radiologia certificaram respectivamente 84 e 15 alunos. A quase totalidade dos médicos do IC/ FUC formou-se em nosso Programa de Residência Médica, assim como a maioria dos cardiologistas do Estado do RS, cujo título é reconhecido nacionalmente como atestado de excelência. Constata-se que os avaliadores do MEC que nos visitam periodicamente impressionam-se com a qualidade das condições oferecidas aos estudantes. Residentes do IC/


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Fig 3: Lançamento do primeiro de sete livros uniautoral de Carlos Gottschall, no Anfiteatro do IC/FUC, em 1995: “Função Cardíaca – Da normalidade à insuficiência”. Ve-se na foto, da esquerda para a direita: Iseu Gus, Carlos Gottschall, Rubens Maciel, Mario Rigatto, Rubem Rodrigues, representante da BYK, Ivo Nesralla.

FUC desenvolvem uma programação de estágios nos diversos setores do Hospital onde se concentram as múltiplas atividades da especialidade, como ambulatório e internação clínica, internação cirúrgica, emergência, UTIs, pós-operatório, hemodinâmica, métodos gráficos, pediatria e outros. “A programação didática de aulas teóricas, seminários, sessões clínicas e rounds é vasta e é cumprida diariamente de forma ininterrupta”, informa o Dr. Marne Gomes. Com a contribuição do tempo, já completei mais de 15.000 mil horas de contato direto com alunos, sendo que durante esses anos pude ensinar milhares de alunos de graduação e pós-graduação em Pneumologia, Cardiologia e Hemodinâmica

e contribuir como autor de alguns livros uniautoral, que já somam sete, para a promoção de conhecimento nessas áreas (Fig.3). Como resultado do trabalho em ensino, tive a honra de receber o Prêmio Mérito Sociedade Brasileira de Cardiologia – Personalidade da Cardiologia – Destaque Docente, em 2011.

PESQUISA Logo depois da criação da FUC, Rubem Rodrigues assumiu a direção do Instituto de Cardiologia, nomeado pelo então Secretário da Saúde, Prof. Francisco de Castilhos Marques Pereira, que havia sido diretor da FMUFRGS e conhecia sua capacidade de trabalho. A primeira diretoria foi empossada em 1970, Rubem

Rodrigues como diretor e eu como chefe do pioneiro Setor de Pesquisa (Fig.4). Assim, também a pesquisa nasceu com o IC/FUC. Entendemos que a pesquisa científica verdadeira deve ser um processo contínuo e integrado, geralmente tendo seu núcleo gerador na ciência básica. O pensamento de que um hospital universitário deva ser apenas assistencialista nega o espirito universitário. Produção científica baseada em nossa experiência nos ensina enquanto pesquisamos, nos corrige enquanto comparamos nossos resultados com os de outros, nos permite aplicar recursos onde detectamos fraqueza e nos recicla para o atendimento dos pacientes e o melhoramento do nosso

Fig 4: Prof. Francisco Marques Pereira (Secretário da Saúde do RS) dando posse ao Prof. Rubem Rodrigues na Direção do IC/ FUC, em 1970 (1ª. diretoria). Aparecem: Médico da Secretaria da Saúde, Iseu Gus, Rubem Rodrigues, Marques Pereira, Ivo Tellini, Eurico Schneider, Carlos Gottschall, Mario Schwartsmann, Valderez Acchutti.


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meio. Isso é fundamental porque alguns, graças a uma distorção de pensamento bem latino-americana, pensam que os nossos problemas serão resolvidos por importação cultural e não pela autonomia de detectar o que é melhor para nós. Importante avanço nesse setor foi a aplicação do grupo cirúrgico liderado pelo Prof. Ivo Nesralla ao desenvolver válvulas cardíacas no nosso meio e firmar novas técnicas cirúrgicas por experimentação em animais. A criação de uma Unidade de Pesquisa visou estimular a produção científica incipiente no Hospital, criar meios para sustentá-la, aparelhar a infra-estrutura apoiadora do pesquisador e facilitar publicações. Originário de uma autarquia pública, o Instituto de Cardiologia do RS fora apenas um ambulatório da Secretaria da Saúde antes da criação da FUC. A nova concepção enfatizando vôos muito mais altos causava estranheza nos menos afeitos a mudanças (e eram muitos), de modo que um jovem de 30 anos falando em trabalhos de pesquisa e publicações era visto quase como um corpo estranho na época. E a estranheza permaneceu por alguns anos, mas sempre tive o apoio decisivo de Rubem Rodrigues. Com o tempo a idéia prosperou e novos entusiastas se aliaram a ela. Minhas linhas principais de pesquisa têm sido voltadas para as doenças cardiopulmonares. Com Mario Rigatto, trabalhei por vinte anos em função pulmonar, tendo produzido trabalhos pioneiros e premiados na linha de pesquisa Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Continuando ativo na linha de Fisiopatologia Circulatória, há quatro décadas dedico-me a realizar e orientar pesquisas em Cardiologia Intervencionista relacionadas principalmente com cardiopatia isquêmica, estudo da função cardíaca e angioplastia coronariana, tendo a satisfação de receber expressivos reconhecimentos nacional e internacional nessas áreas. Essa atividade em prol da expansão científica estendeu-se à participação em 636 congressos e encontros médicos nacionais (491) e internacionais (145), como organizador, membro ativo, conferencista, apresentador de temas, coordenador de atividades, e organizador de 30 eventos nacionais e 7 internacionais, autor e co-autor participante de 704 trabalhos e temas livres, principalmente em Cardiologia, Pneumologia, Hemodinâmica e Cardiologia-Intervencionista, além de mais de 200 artigos completos em revistas indexadas. Depois de o Setor ter sido promovido à Unidade, fui nomeado o primeiro chefe da Unidade de Pesquisa (1970 e 71), após o que passei o bastão a Fernando Lucchese

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e comecei a organizar o Laboratório de Hemodinâmica. O próximo responsável pela Unidade foi João Ricardo Santana, seguido por Paulo Zielinsky e, depois, Renato Kalil. Com a criação da Diretoria Científica em 2001, a Unidade de Pesquisa passou a fazer parte daquela, respondendo ao diretor-científico, por intermédio de sua chefia, atualmente na pessoa da Profa. Lúcia Pellanda. Em todos estes anos de atividade, a Unidade facilita, apóia, auxilia, classifica, formata trabalhos científicos das diversas áreas do Hospital, depois de aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), por um conselho científico e pelo diretor-científico. O número e qualidade das publicações segue uma rota crescente. Apenas como exemplo, no ano de 2015 o CEP aprovou 125 projetos, foram publicados 91 trabalhos em revistas indexadas em nível nacional

“SEMPRE COLOCAMOS C O M O M E TA P R I N C I PA L P R O P Ó S I T O S V O LTA D O S PA R A O COMPROMETIMENTO COM A REALIDADE DE N O S S O PA Í S ” .

e internacional, 39 com fator de impacto acima de dois, sendo 10 qualis A1, 7 A2, 15 B1 e 24 B2. Desde o seu início, o IC/FUC já somou mais de seis mil publicações entre temas livres (4278), trabalhos completos (1568), livros (42), capítulos (304) e publicações gerais cujo valor não é manifestado apenas por um qualis imposto de fora, mas pelo impacto causador da modificação positiva do nosso meio cardiológico e médico. Exemplo marcante é o trabalho epidemiológico liderado pelo Prof. Iseu Gus sobre Fatores de Risco no RS e suas modificações doze anos depois (2002 a 2014), mostrando diminuição do tabagismo e do sedentarismo, mas aumento da hipertensão, dislipidemia e obesidade, e apontando soluções para corrigir esses graves problemas. Sem descuidar a importância de cultivar atuações internacionais, sempre colocamos como meta principal propósitos voltados para o comprometimento com a realidade do nosso país, procurando aplicar contribuições no próprio meio. Penso ser muito dignificante publicar em nosso país, tão carente de cultura e ciência. Publicar bons trabalhos no meio pode ter uma função desbravadora, emuladora, civilizadora e motivadora. Não faço parte do time que despreza a língua portuguesa, a 5ª. mais falada no mundo, cuja população tanto precisa de cultura e ciência.

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PÓS-GRADUAÇÃO Devido a mistura de tendência individual, vislumbre da necessidade e oportunidade universitária, dirigi-me precocemente, desde 1972, para a área do ensino pósgraduado. Tive a ventura de ser pioneiro, em colaboração com os Profs. Mario Rigatto, Nelson Porto e Bruno Palombini na organização, na administração e no ensino pós-graduado stricto sensu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e participado da primeira Comissão Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Medicina-Pneumologia da UFRGS de 1972 a 1986, o primeiro Curso de Mestrado em medicina clínica do Brasil, depois da aprovação do Relatório Sucupira. Fui também membro da Comissão Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Medicina-Cardiologia da UFRGS de 1987 a 1992, na época coordenado pelo Prof. Eduardo Faraco. Nesses cursos, trabalhei como titular e colaborador das disciplinas Fisiopatologia Pulmonar, Fisiopatologia da Circulação Pulmonar, Propedêutica Clínica em Pneumologia e outras. Para essas posições qualifiquei-me pioneiramente como o primeiro Mestre em Pneumologia do Brasil, pela Faculdade de Medicina da UFRGS, em 1975, com a tese Quantificação Ventilatória da Dispnéia, realizada inteiramente no Laboratório Cárdio-Pulmonar da Enf. 29, e orientada por Mario Rigatto - pois realizei o Mestrado como professor e aluno, licenciado pelo MEC -; qualifiquei-me logo após como o primeiro Doutor e LivreDocente em Cardiologia da UFRGS, em 1977, tendo por tese Avaliação da Função Ventricular Esquerda, Contribuição ao Seu Estudo, esta produzida inteiramente a partir de pesquisas no Laboratório de Hemodinâmica do IC/FUC, ambas aprovadas com grau máximo. A vocação para o ensino do IC/FUC estimulou o desenvolvimento do Curso de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, em Cardiologia. Após vasta experiência na área de Residência Médica, a instituição lançou, em 1988, seus cursos de Mestrado e Doutorado em Medicina-Cardiologia, reconhecidos e aprovados pelo MEC e pela CAPES, que começaram a funcionar em 1988. O Mestrado tem por objetivo aprofundar o conhecimento acadêmico de profissionais da área da Saúde, bem como possibilitar o desenvolvimento da habilidade para executar pesquisa em um campo específico, sob orientação. O Doutorado, por sua vez, visa habilitar o profissional da área da Saúde para, de forma independente, realizar, dirigir e orientar investigação, buscando o avanço e a geração de conhecimentos. Tem-se


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Fig 5: Primeira Comissão Coordenadora do Curso de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, em Cardiologia da FUC: Na fila da frente, os cinco fundadores e constituintes da primeira Comissão Coordenadora do Curso de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado da FUC. Da esquerda para a direita: Renato Kalil, Carlos Gottschall, Rubem Rodrigues, Rubens Maciel, Paulo Zielinsky, e, atrás, professores e alunos da primeira turma. O segundo na terceira fila é o saudoso Moacir Scliar.

como meta ao formar essas pessoas contribuir para o desenvolvimento científico do nosso meio e do nosso país na área de ciências cardiovasculares, tornando-as aptas para o ensino e a pesquisa e disponíveis a fim de serem absorvidas pelas instituições universitárias e até pela iniciativa privada. Permanecendo na senda que escolhi, o Prof. Rubem Rodrigues convidou-me em 1986 para organizar e depois participar na administração e ensino pós-graduado stricto sensu no IC/FUC. Assim, figuro como membro fundador, professor-pleno (titular de disciplinas e orientador) e membro da Comissão Coordenadora do Curso de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado em Cardiologia do IC/FUC, desde 1988, além de ter sido o relator do processo de credenciação desse Curso junto ao Ministério de Educação e Cultura, sob a coordenação do Prof. Rubens Mario Garcia Maciel, cuja grandeza tanto dignificou este Curso. Atualmente, exerço a titularidade das disciplinas de Fisiopatologia Cardiovascular, Alterações da Função Cardíaca na Cardiopatia Isquêmica e Bioética, colaborando em outras do mesmo Curso. Nessa caminhada já orientei 39 teses e dissertações de pós-graduação em Pneumologia e em Cardiologia, participei de 113 bancas examinadoras de concursos e de pós-graduação universitária e em 19 bancas examinadoras da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista para outorga do Título de

Especialista, e outros concursos. Proferi 454 palestras, conferências avulsas e colaborações ativas como convidado em cursos extra-curriculares e extracongressos e organizei 33 cursos de extensão universitária e de atualização. Em alusão à etapa que instituiu a PósGraduação no IC/FUC lê-se em placa numa das paredes do Centro Cultural Rubem Rodrigues do IC/FUC: “Instituto de Cardiologia / Fundação Universitária de Cardiologia O reconhecimento e o agradecimento do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. Aos Eméritos Professores Fundadores, Prof. Dr. Rubem Rodrigues (in memoriam) Prof. Dr. Rubens Maciel (in memoriam) Prof. Dr. Carlos A.M. Gottschall Prof. Dr. Renato A. Kalil Prof. Dr. Paulo Zielinsky” Esta foi a primeira Comissão Coordenadora e que o dirigiu o Curso por mais de uma década. Nesse período foram conferidos 44 títulos de Mestre e 16 de Doutor, tendo eu orientado o primeiro Mestre e o primeiro Doutor diplomado pelo Curso (Fig.5). Em 2002, fez-se necessária uma reestruturação, com vistas a propor novos cursos, caracterizados por áreas de concentração representando as principais preocupações de pesquisa de seu corpo docente, com linhas de investigação embasadas em produtividade e reconhecimento científico. O Programa

de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Cardiologia entrou em funcionamento no segundo semestre de 2002, tendo sido reconhecido pela Portaria MEC Nº 3949 de 30/12/2002, homologada pelo Ministro de Estado da Educação em 30/12/2002 e publicada no D.O.U. de 31/12/2002. Em seqüência nesta fase, o Curso foi coordenado por Renato Kalil, eu mesmo, Lúcia Pellanda e, atualmente, pelo Prof. Alexandre Quadros. O objetivo fundamental do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde é a formação de recursos humanos qualificados para o exercício das atividades de pesquisa, desenvolvimento científico e de ensino, culminando com a obtenção dos graus de Mestre e de Doutor, de acordo com a legislação em vigor. A pós-graduação stricto sensucompreende Mestrado e Doutorado, enquanto os lato sensu são oferecidos na forma de cursos. As universidades e centros universitários que, pela autonomia, podem autorizar tais programas, estão sujeitos ao reconhecimento dos mesmos pelo Conselho Nacional de Educação. Os programas de pós-graduação universitária no Brasil têm evoluído com a implementação e o aperfeiçoamento de um sistema de avaliação que estimula a produção científica. Não resta dúvida de que esses programas, por seus aspectos organizacionais, definição de objetivos, provimento de recursos, gerenciamento de pesquisas, orientadores qualificados, têm assegurado uma fonte constante e


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de alta qualidade de trabalhos científicos a iluminar as diversas especialidades. Levantamentos demonstram que é no interior do sistema nacional de pósgraduação que ocorre a principal atividade da pesquisa científica e tecnológica brasileira. Em 1996, havia 531 cursos de Mestrado (42 mil alunos matriculados) e 1083 cursos de Doutorado (21 mil alunos matriculados) reconhecidos pela CAPES no Brasil. Em 2004, esses números saltaram respectivamente para 1033 (72 mil alunos) e 1955 (40 mil alunos), e não param de crescer. Em 2010, 161 mil alunos estavam matriculados nos programas de Mestrado e Doutorado de universidades brasileiras. O número de mestres e doutores titulados no Brasil dobrou entre 2001 e 2010, passando de 26 mil para 53 mil formados por ano, e continua a crescer. O ano de 2015 fechou com 734235 mestres e 163714 doutores diplomados, desde o início dos programas.

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A preocupação do Programa de PósGraduação em Ciências da Saúde/ Cardiologia do IC/FUC com a formação do pesquisador começa antes mesmo do ingresso do aluno, com a proposta de curso livre de nivelamento. Dessa forma, o Programa iniciou suas atividades ainda no primeiro semestre de 2002, quando ofereceu o Curso de Nivelamento em Metodologia Científica na Área de Ciências da Saúde aos interessados em participar do processo de seleção. Nessa linha, o Programa já solicita a seus alunos que a dissertação ou tese seja apresentada na forma de um artigo original por ocasião da defesa pública, para abreviar a publicação. Auto-avaliação permanente e contínua “O OBJETIVO F U N D A M E N TA L D O PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE É A FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS QUALIFICADOS PA R A O E X E R C Í C I O D A S AT I V I D A D E S DE PESQUISA, D E S E N V O LV I M E N T O CIENTÍFICO E DE ENSINO”.

Antes da oficialização e consolidação da Pós-Graduação, o número de pesquisas não só era bastante menor como provinha de inspiração individual de profissionais cujo talento inato os elevava acima da média, e não como conseqüência de um movimento organizacional integrado por programas, linhas de pesquisa e pesquisadores treinados. Constata-se facilmente que os programas de pósgraduação é que vieram estimular esses objetivos. Menos da metade dos professores universitários brasileiros possuíam os títulos de Mestre ou Doutor em 2003, devido principalmente a assimetrias na feição econômicofinanceira e cultural no país.

dos programas de pós-graduação é fundamental para exercer-se todo o potencial de contribuição para com a ciência brasileira, ao identificar possíveis pontos de estrangulamento do sistema, apontar soluções e caminhos para o aperfeiçoamento.

Assim, o Brasil ocupava em 2007 a 15ª. posição entre os países que mais publicam artigos científicos no mundo (2% da produção mundial). Só a Ásia crescia mais, tendo a China nesse ano de 2007 alcançado o segundo lugar na produção mundial de ciência. Em 2010, o Brasil subiu para a 13a. posição, mantendo-se nela até hoje. Aspecto importante a considerar não é só o número de trabalhos científicos mas a qualidade das publicações e a aceitação internacional que, apesar de todos os vieses e preconceitos, reflete inserção e impacto. Entre 2000 e 2013, data da última avaliação da CAPES, aumentaram os conceitos positivos e diminuiram os negativos conferidos aos cursos de pósgraduação no Brasil. Entretanto, devido a uma longa tradição cultural negativa e evidenciando a pouca absorção da ciência pela sociedade brasileira, em 10/08/2015 a CAPES divulgava que, apesar de estar em 13º. na produção de ciência, o Brasil ocupa o 18º. em impacto, embora seja a 7º. ou 8º. economia mundial.

Fazendo um levantamento, no nosso hospital, da contribuição da PósGraduação ao número de trabalhos publicados por revistas indexadas e apresentações em congressos - o que de resto expressa um comportamento de todos os serviços de Cardiologia e Cardiologia Intervencionista formadores de especialistas (voltados fundamentalmente para a prática), mestres (voltados fundamentalmente para o ensino) e doutores (voltados fundamentalmente para a pesquisa) no país -, verifica-se que provêm da Pós-Graduação ou a ela estão ligados: mais de 90% de artigos completos publicados em revistas internacionais, cerca de 80% de resumos em periódicos e anais científicos internacionais, cerca de 70% de artigos completos na literatura nacional, dois terços dos resumos em periódicos científicos nacionais. Os números acima mostram que, considerando-se a sedução dos pesquisadores de publicar seus melhores trabalhos internacionalmente, e o filtro das

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revistas mais consagradas, pode ver-se que a Pós-Graduação contribui não só com quantidade, mas também com qualidade para atingir esses objetivos. Em 2013 a FUC obteve credenciamento pelo MEC de seu Mestrado Profissional, o qual visa a formação de profissionais voltados para o desenvolvimento de projetos, tecnologia e patentes, lacunas na ciência brasileira. Este Mestrado já titulou cinco mestres. A instituição da pós-graduação stricto sensu, Mestrado e Doutorado, elevou o status da FUC a Universidade, relacionando-se diretamente com o MEC e a CAPES. Além de fundador e membro da Comissão Coordenadora desde o início, coordenei o referido Curso de 2003 a 2007. Assim, nosso programa já formou, até agosto de 2016, 210 mestres e 72 doutores, gerando centenas de trabalhos publicados no país e no exterior. Em 2013, recebeu nota 5 da CAPES, figurando entre os três únicos cursos de Cardiologia Clínica com esse conceito no Brasil. É bom lembrar que conceito superior não representa apenas reconhecimento de excelência acadêmica, mas contempla o terreno prático carreador de recursos financeiros para o aperfeiçoamento cultural e assistencial da Instituição, seja por agentes de fomento, seja por órgãos públicos.

DIRETORIA CIENTÍFICA Depois do reconhecimento da importância fundamental do Ensino, Pesquisa, PósGraduação e Inovação fez-se necessária a integração de todos esses setores em nível de diretoria, criando-se a Diretoria Científica em 2001, ao considerar-se que o desenvolvimento científico faz parte de uma corrente interminável de acerto e erro, selecionando-se seus resultados por evidências, as quais suscitam novas questões a necessitar novas respostas para adequar-se a uma realidade mutante. É importante nunca retirar a liberdade do pesquisador, pois, muitas vezes, são os sonhos que constroem a realidade. Entretanto, uma visão superior e integradora se faz necessária para evitar repetições inúteis e custos desvinculados de objetivos ligados aos interesses da instituição e da população para a qual ela trabalha. Os postulados do método científico – observação, hipótese, mensuração, análise e conclusão com base em fatos – podem e devem estar presentes nos setores de pesquisa, ensino e assistência médica, áreas fundamentais para ilustrar estudantes, médicos, enfermeiros e melhorar a oferta de serviços à comunidade. Nesse sentido há uma retroalimentação implícita.


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U . P. UNIDADE DE PESQUISA

U.E. UNIDADE DE ENSINO

M.E. MEDICINA E X P E R I M E N TA L

P. C . PESQUISA CLÍNICA

PPG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

CEPEC CENTRO DE ESTUDOS MULTICÊNTRICOS

E . P. ESCOLA PROFISSIONAL

DIRETO RIA CIENTÍF ICA S.E. SETOR DE EXTENSÃO

FA P I C C FUNDO DE APOIO DO INSTITUTO DE CARDIOLOGIA À CIÊNCIA E CULTURA

C.E.P COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

S.ED. SETOR DE E D I TA I S S . T. C . SETOR DE TELECIRURGIA

O cargo de Diretor Científico significa uma antiga aspiração dos setores mais diretamente vinculados à pesquisa na Instituição e um posicionamento da Diretoria e do Conselho Diretor da FUC, ensejando que as atividades científicas tenham coordenação e estímulo partindo diretamente da Direção. É o reconhecimento de que a ciência é tão importante na nossa Instituição, que não deve ficar dispersa entre vários setores, mas ser integrada no funcionamento do Hospital como um todo. Pela longa tradição no ensino e na pesquisa no IC/FUC, e enquanto professor da UFRGS na Pós-Graduação nessa Universidade, fui convidado por Rubem e indicado pelo Conselho Diretor o primeiro Diretor-Científico do IC/FUC, exercendo esse cargo em 2001 e 2002. Depois ocupou a diretoria científica o Prof. Renato Kalil, enquanto eu coordenava a Pós-Graduação, tendo sido reconduzido a essa posição desde 2011 e re-eleito em 2014 até 2017. A sede da Diretoria Científica situa-se no Centro Cultural Rubem Rodrigues, em frente ao prédio principal do IC/FUC, no qual se insere o Programa de PósGraduação, e que conta, ainda, com a Unidade de Ensino (Residência Médica), a Escola Profissional (Cursos técnicos de Enfermagem, Nutrição e dietética e Radiologia), com parte da Unidade de

S . G . P. SETOR DE GESTÃO E PAT R I M Ô N I O

Pesquisa, Epidemiologia, o novo setor criado de Educação à Distância e a Biblioteca Carlos Fagundes de Melo (Fig.6). A diretoria científica tem também procurado conscientizar os discentes e docentes do Programa sobre a necessidade de publicações em periódicos de alto nível. Neste sentido, lançou, no ano de 2002, o “Plano de fomento à produção científica”, que incentiva, com auxílio passagem, estadia e inscrição, os responsáveis por apresentação de trabalhos em eventos da área, desde que redundem em publicação completa. Outro fato que apóia substancialmente o desenvolvimento do Programa, no âmbito da pesquisa, foi a abertura de editais FAPIC - Fundo de Apoio à Pesquisa do IC - da própria instituição, através do qual são concedidos auxílios financeiros a projetos científicos da mesma. Com a intenção de oficializar uma relação já existente há décadas, a FUC e a UFCSPA, firmaram convênio de cooperação mútua, científica e educacional, que permite ampliar as ações e os projetos que se desenvolvem na graduação, pós-graduação e residência médica, mediante programas implementados por ambas as instituições. As cláusulas do convênio estabelecem que a FUC continuará sediando a disciplina de Cardiologia do currículo da Faculdade -

Fig 6: Organograma da Diretoria Científica abrange Unidades de Ensino e de Pesquisa (Experimental e Clínica), Programas de PósGraduação, CEPEC, FAPIC, Comitê de Ética em Pesquisa, Setores de Gestão e Patrimônio, Telecardiologia, Editais, Extensão e Escola Profissional.

fato que supre a carência de vínculo com a graduação -, e disponibilizará vagas para alunos da UFCSPA realizarem Residência Médica em seu programa. Também serão desenvolvidos projetos conjuntos no programa de pós-graduação da FUC, objetivando o crescimento científico e educacional na área médica, respeitando os critérios éticos, técnicos e legais que se impõem. Ligando o acadêmico com o assistencial, a produção científica no IC/FUC tem se voltado principalmente para problemas cardiológicos práticos do mundo real, no sentido de oferecer respostas sempre mais precisas, dentro de um conceito popperiano, para os desafios da sociedade na qual nos inserimos. Diversas áreas, como clínica, cirurgia, hemodinâmica, pediatria, epidemiologia, básicas, estão representadas nesse espectro e ilustram apresentações em conclaves médicos e revistas científicas nacionais e internacionais indexadas. A FUC estuda e pesquisa desde o básico, como diferenciação de células-tronco e suas aplicações e aterosclerose, passando por estudos de novos dispositivos em cardiologia intervencionista, como stents e válvulas cardíacas, prospecção clínica e terapêutica de populações, fatores de risco cardiovascular e seu controle


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Fig 7: No ano de 2014 o Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do IC/ FUC completou 200.000 procedimentos diagnósticos e terapêuticos por cateter em adultos e crianças, número raro para qualquer Serviço e que o coloca como o maior do sul do país e um dos mais qualificados do Brasil.

no nosso meio, diversos aspectos de cardiologia pediátrica e fetal, nunca deixando de avaliar resultados, e novos medicamentos. Neste campo é de citar a grande contribuição que faz à sociedade com o desenvolvimento de estudos multicêntricos de novos medicamentos no Centro de Pesquisa Clínica (CEPEC), coordenado pelo Prof. Renato Kalil, muitos já incorporados à pratica médica, e mais recentemente com a criação do Centro de Cardiologia Experimental (CCE), onde se realiza pesquisa básica e experimental em animais, principalmente sobre célulastronco, hipertensão arterial e angiotensina, contando com a orientação do Prof. Robson Santos.

C AT E T E R I S M O C A R D Í A C O Fisiologia para mim é paixão que nutro desde os tempos de faculdade. A maior atração pela Cardiologia foi justamente isso, a mais fisiológica das especialidades, com suas leis físicas e matemáticas, ladeando o entendimento de dramas clínicos. Nada mais que a hemodinâmica para demonstrar toda a beleza da fisiologia e da fisiopatologia cardíacas. Não tenho dúvida de que o cateter, no século XX representou o mesmo poder desbravador e impulsionador do conhecimento cardiológico que o estetoscópio no século XIX. O Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do IC/FUC (SHCIIC/ FUC) foi organizado nos seus primórdios, cerca de 1970, por mim e pelo Dr. Flávio Celso Leboute, ambos egressos como

ex-residentes e ex-integrantes da famosa Enfermaria 29 da Santa Casa de Porto Alegre. Nosso treinamento inicial em Hemodinâmica e Angiocardiografia (não havia intervencionismo por cateter na época) ocorreu junto aos professores Mario Rigatto e Darci Ilha, ambos pioneiros nesses campos no Rio Grande do Sul. Embora o cateterismo direito já estivesse bem consolidado, as angiografias na Enf. 29, pioneiras no Brasil, eram radiografias seriadas para avaliar valvulopatias e cardiopatias congênitas.

“NÃO TENHO DÚVIDA DE QUE O C AT E T E R , N O S É C U L O X X REPRESENTOU O MESMO P O D E R D E S B R A VA D O R E IMPULSIONADOR DO CONHECIMENTO CARDIOLÓGICO QUE O ESTETOSCÓPIO NO SÉCULO XIX.”.

Posteriormente, ao longo do tempo, já no IC/FUC, juntaram-se a nós os doutores Luis Maria Yordi e, a seguir, Vasco Miler, Carlos Roberto Cardoso, La Hore Rodrigues, Cláudio Moraes, Rogério Sarmento-Leite, Mauro Moura, Raul Rossi, Júlio Teixeira, Alexandre Quadros, Alexandre Asmus, Cristiano Cardoso, Cláudio Vasques Moraes, Henrique Gomes, André Mânica. A soma do trabalho de todos esses colegas ao longo do tempo tornou este Serviço o maior e mais experiente do sul do país.

Durante quatro décadas tenho vivenciado todas as etapas assistenciais, científicas, associativas e administrativas da Cardiologia Intervencionista no Brasil e no exterior, porém sempre sediado no IC/ FUC, tendo sido fundador e ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) e fundador da Sociedade Latino-Americana de Cardiologia Intervencionista (SOLACI), além de Fellow em outras sociedades internacionais. Dentro desse quadro, dirigi o SHCIIC/FUC desde sua instalação, atualmente contando com o apoio do Dr. Rogério Sarmento Leite na direção técnica. Devido à qualificada equipe que o compõe é parte atuante dos setores de assistência médica, ensino e pesquisa do IC/FUC. Em 2014 este Serviço atingiu a extraordinária marca de 200.000 procedimentos diagnósticos e terapêuticos de todos os tipos em adultos e crianças (Fig. 7). Já formou 56 hemodinamicistas e cardiologistas intervencionistas, que atuam em diversos locais do RS, Brasil e exterior. Atualmente conta mais de 220000 procedimentos diagnósticos e terapêuticos, sendo mais de 42000 angioplastias, além de oferecer e realizar toda gama de intervenções por cateter em adultos e crianças. Mesmo sendo um centro de treinamento, os índices de sucessos e de complicações de procedimentos no Serviço situam-se em níveis comparáveis aos melhores do mundo. Cerca de 80% dos procedimentos são cateterismos diagnósticos e angioplastias coronarianas em adultos. Sua grande importância no atendimento ao cardiopata


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reside em que o exame hemodinâmico e cineangiocardiográfico é o padrão ouro para definir a conduta terapêutica eletiva e de urgência na grande maioria das cardiopatias, que essa terapêutica cada vez mais é feita através do próprio cateterismo intravascular e que sua aplicação precoce no infarto do miocárdico e nas síndromes isquêmicas agudas é capaz de recuperar o miocárdio atingido pela isquemia ou infarto, mudando a história natural dessas morbidades. Também é cada vez mais usado para corrigir defeitos valvulares, cardiopatias congênitas e doenças vasculares de outros órgãos (membros inferiores, rins, carótidas, artérias mesentéricas). Segue-se a lista principal de exames e procedimentos terapêuticos oferecidos pelo nosso Serviço: 1) Cateterismo cardíaco direito 2) Cateterismo cardíaco esquerdo 3) Cineangiocardiografia 4) Cinecoronariografia 5) Cinearteriografias de outras artérias 6) Angioplastia coronariana e colocação de stents 7) Angioplastia de outras artérias 8) Outras formas de tratamento endovascular 9) Biópsia miocárdica 10) Colocação de marcapassos cardíacos 11) Estudos da função cardíaca 12) Estudos eletrofisiológicos 13) Tratamento de cardiopatias congênitas 14) Tratamento de valvulopatias 15) Trabalhos de pesquisa No início desta história, nos cateterismos realizados na Enfermaria 29 da Santa Casa, eram obtidas excelentes imagens angiocardiográficas em cardiopatias congênitas, por Darci Ilha e seus assistentes. Ilha foi um pioneiro da Angiocardiografia no Brasil. Alguns dos documentos coletados servem como exemplos de qualidade até hoje (Fig.8). Como não havia ainda cineangiocardiografia nem cinecoronariografia, as investigações hemodinâmicas tornavam-se verdadeiras aulas de fisiopatologia porque o diagnóstico tinha que ser extraído de estudos fisiológicos baseados em registros pressóricos, medidas de fluxos e oximétricas, em repouso e exercício. Dando-se tanta ênfase às curvas e aos traçados registrados, as pessoas cultivavam mais fisiopatologia e embasavam os diagnósticos numa cadeia científica de conhecimentos, não apenas em imagem, como hoje, por vezes esquecendo que, atrás da imagem, existe grande gama de oferta fisiopatológica. Entretanto, o aperfeiçoamento constante do equipamento, do material e o treinamento das equipes atualmente permite que se chegue a um diagnóstico em vinte minutos com muito menos profundidade de conhecimento e também com menos complicações. Na época em que se iniciou a hemodinâmica

Fig 8: Acima: Cateterismo cardíaco na Enf. 29 da Santa Casa de Porto Alegre na década de 1960, vendo-se Carlos Gottschall nos registros e Mario Rigatto e Stélio Varnieri cateterizando. Abaixo: Angiografias obtidas por Darci Ilha nesse laboratório. Ressalte-se a qualidade das imagens.

Fig 9: Balão concebido por Gruentzig para angioplastia coronariana transluminal percutânea (ACTP), capaz de registrar o gradiente pressórico intracoronariano translesão antes (grande) e depois (nulo) da dilatação, o qual imperou sozinho na era préstent.


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no IC/FUC tudo era diferente e pioneirismo. Cateterismo servia para diagnóstico, não para terapêutica. Nasceram aqui no IC/ FUC as primeiras cinecoronariografias no RS. No início, o tubo de RX era fixo, o que girava era o “berço” do paciente em posições laterais. Para fazer uma incidência cranial de coronariografia, o paciente precisava recostar-se sobre um apoio segurado por auxiliares, os exames duravam cerca de duas horas, faziam-se dois a cinco exames por dia, ao contrario de hoje, em que se realizam mais de trinta procedimentos diários. O intervencionismo praticamente não existia. A primeira intervenção por cateter feita no IC/FUC foi uma atrioseptostomia numa criança, na década de 1970. A primeira angioplastia coronariana só ocorreu em 1982, sendo a primeira realizada no Estado do RS e uma das primeiras no Brasil. No seu início, a cinecoronariografia servia principalmente para estabelecer normalidade ou diagnóstico de coronariopatia e avaliação de viabilidade cirúrgica para revascularização do miocárdio. Começou-se usando a técnica braquial de Sones, utilizada com sucesso por muitos anos. Ao retornar o Dr. Luis Maria Yordi de um estágio com Melvin Judkins por volta de 1980, foi introduzida na nossa rotina a técnica femoral desse autor, praticada predominantemente até hoje. O grande salto da coronariografia ocorreu em 1977, ao passar de método diagnóstico também para terapêutico, quando Andreas Gruentzig realizou a primeira angioplastia coronariana transluminal percutânea (ACTP) com balão em um humano.

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Embora não decorrente de investigação sistemática, cabe aqui registrar que a primeira desobstrução de artéria coronária por cateterismo documentada no mundo foi realizada em São Paulo, Brasil, por Norberto Galiano, ao perfurar um trombo oclusivo de coronária direita com cateter de Sones, recanalizando a artéria e produzindo imediata melhora no paciente, que se encontrava em choque. Estando eu presente na sessão de temas livres no Congresso Brasileiro de Cardiologia em Brasília, em 1971, quando o caso foi apresentado, ainda recordo o ar de estupefação da platéia não acreditando no que via e não percebendo bem que estava presenciando a primeira angioplastia coronariana realizada no mundo! Em termos populacionais, de impacto social e econômico, por atingir uma população produtiva, a ACTP, iniciada e desenvolvida por Andreas Gruentzig, na Suíça, e por Richard Myler nos Estádios Unidos, representa a maior revolução no tratamento da doença aterosclerótica das coronárias, a primordial causa de mortalidade nas sociedades industrializadas desenvolvidas. Gruentzig e Myler haviam publicado os primeiros casos em 1978-9, e a técnica começava a consolidar-se. O dispositivo inicial de Gruentzig consistia num pequeno balão posicionado sobre a estenose coronariana, conduzido por um cateter, introduzido por uma artéria da virilha ou do braço, tudo sob visão fluoroscópica. A seguir, era insuflado de fora, expandia e esmagava a lesão, refazendo o calibre da coronária e permitindo passar normalmente o sangue para nutrir o coração. No início, só permitia tratar lesões proximais, não calcificadas,

Fig 10: Inauguração do V Congresso Brasileiro de Hemodinâmica e Angiocardiografia, realizado em 1980 em Canela, RS, tendo como convidado especial Richard Myler, sendo a primeira vez em que a angioplastia coronariana foi discutida como tema oficial de congresso médico no Brasil. Da esquerda para a direita: Ely Toscano Barbosa, Valmir Fontes, Rubem Rodrigues, Carlos Gottschall (Presidente), Pierre Labrunie, Eduardo Souza, Richard Myler.

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longe de bifurcações em vasos maiores (lesões tipo A), o que perfazia apenas 5% dos candidatos à cirurgia das coronárias por ponte de safena (Fig.9). A partir do balão de Gruentzig até o implante do stent intracoronariano revestido por droga na era atual, para impedir a reestenose do vaso - também expandido por meio de um balão -, a ACTP ganhou o maior domínio nas indicações do tratamento da cardiopatia isquêmica, desde sua apresentação como angina do peito até o infarto do miocárdio. Indica-se a ACTP eletiva quando a estenose causa isquemia, o que geralmente ocorre com obstrução atingindo 70% da luz do vaso. Ao ser o vaso completamente ocluído surge o infarto do miocárdio se não tiver se desenvolvido circulação colateral protetiva. Como o músculo demora a morrer, pode ser salvo se fizer-se a ACTP até as primeiras seis horas do início do infarto (angioplastia primária). Quanto mais cedo melhor. Se possível dentro de até duas ou três horas, tempo suficiente para conduzir o paciente ao hospital. Geralmente com menos de uma hora consegue recuperar integralmente o músculo atingido. Atualmente, com o aperfeiçoamento constante da técnica e dos materiais, o fluxo inverteu-se: cerca de 95% dos casos necessitados podem ser tratados com sucesso por ACTP em vez de cirurgia, o que representa muito menores trauma para o paciente, permanência hospitalar e custos gerais. Numa ACTP padrão, complicações graves são atualmente muito raras, menos de 1% dos casos, geralmente por sangramento.


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A ACTP foi realizada pela primeira vez no Brasil, em 1979, em Curitiba, por Costantino Costantini e logo a seguir por Eduardo Souza em São Paulo. Em 1980, organizei e presidi o V Congresso Brasileiro de Hemodinâmica e Angiocardiografia, em Canela, RS, tendo como convidado oficial o Prof. Richard Myler, em sua primeira vinda ao Brasil. Naquela época os cateteres balão eram tipo G e DG, abandonados há muito, rígidos e sem guia dirigível. Myler apresentou sua fantástica e fascinante experiência de 140 casos, obtendo um ótimo sucesso primário, em torno de 60%, nos casos de indicação clássica (lesões tipo A)! (Fig.10) Em 1981, treinei a técnica no Serviço de Myler em San Francisco, na Califórnia. Myler é um sujeito superior, amigo, nunca escondeu o que sabe, procurou sempre divulgar a técnica em todos os cantos do mundo. Honramo-nos em recebêlo por duas vezes em Porto Alegre. Vencendo algumas resistências, em 1982 iniciava a angioplastia coronariana no Instituto de Cardiologia e no RS. Naquele tempo, o percentual de sucesso era em torno de 60%, isso em lesões simples e proximais, as únicas elegíveis para angioplastia. Uma sala cirúrgica ficava disponível para eventuais complicações ou impossibilidade de sucesso. Como os casos eram muito selecionados, apesar do primitivismo dos recursos, a mortalidade ficava em torno de 1%, número que permaneceu ao longo dos anos até reduzir-se na era do stent. Fig 11 Primeira ACTP na FUC e no Estado do RS, em 1982, em paciente de 35 anos com estenose proximal da coronária descendente anterior, com ótimo resiltado. Embaixo: Resultado imediato e dez anos depois.

Nosso primeiro caso, cliente do Dr. Iseu Gus - do qual participaram o inesquecível Siguemituzo Arié, vindo de São Paulo para auxiliar-nos, e o doutor Vasco Miler - foi marcante: tratava-se de um homem com 35 anos, quadro típico de angina de recente começo por lesão proximal tipo A na descendente anterior, cujo diagnóstico fora feito em maio e a dilatação efetivada em agosto. Por ser o primeiro caso, exigia muita preparação. Quando fomos dilatar a coronária, eu, Vasco e Arié (então com a “vastíssima” experiência de quarenta casos por balão), a coronária havia fechado sem infarto, devido à ampla circulação colateral a partir da direita. Sem saber o que fazer, pois na época não havia divulgação de angioplastia nesses casos, perguntei para ambos (eles também não sabiam): E agora? Arié me respondeu: Está na coronária, empurra o cateter. E assim, na ponta do cateter de Gruentzig, tipo G, há muito abandonado, depois de injetarse contraste surgiu uma longa e radiosa descendente anterior! É esse o primeiro caso documentado de desobstrução

de coronária cronicamente ocluída em nosso país. Depois, revisando a literatura vi que, por pouco, não foi o primeiro no mundo, pois Savage e cols. haviam feito o mesmo meses antes! O melhor de tudo é que o paciente, estudado dez anos depois, estava com a coronária perfeita, e assintomático (Fig.11). Até hoje mantémse ativo e livre de sintomas. O balão, o primeiro grande e fundamental avanço para realizar-se ACTP, permitia essas coisas, mas não atingia vasos muito distantes. Depois foi criada a guia de condução (guia de Simpson – enorme aquisição da técnica), capaz de colocar o balão em locais periféricos, vasos menores, vencer tortuosidades e tratar bifurcações. Surgiram os stents, que diminuíram de 30% para 15% a reestenose dos vasos e depois stents revestidos por drogas que reduziram ainda mais a reestenose, para menos de 5%. Hoje a ACTP impõe-se como o mais utilizado método de intervenção direta sobre o coração em todo o mundo, de longe o que mais salvou vidas em relação a outras intervenções cardíacas. Milhões e milhões de pessoas em todos os continentes beneficiam-se dela por meio de redução dramática de mortalidade por infarto do miocárdio e devido a real aumento na qualidade de vida dos casos que não infartam. As raras atuais complicações durante o procedimento, como dissecção de vaso, podem ser manejadas na sala de hemodinâmica ou, mais raramente ainda, requerer revascularização cirúrgica. Os efeitos colaterais principais pós ACTP devem-se a sangramento, porque é necessário usar drogas que diminuam a coagulação para evitar formação de trombos intrastents e intracoronarianos. Entretanto, cuidados médicos e de enfermagem diminuem muito essa possibilidade. Poucos não têm condições de submeter-se à ACTP. Muito raramente alguns não possuem via de acesso (todas as artérias periféricas ocluídas). Outro grupo é constituído por aqueles com contra-indicação para usar drogas inibidoras da coagulação devido a tendência ou risco de hemorragias. Ainda outras contra-indicações para angioplastia podem dever-se a certas lesões no tronco da coronária esquerda, lesão muito longa ou vaso muito fino. Mas o importante é que a imensa maioria dos pacientes pode submeterse à angioplastia das coronárias quando necessário. Conduzi um estudo apontando a possibilidade de prever reestenose pós-implante de stents, por meio de um


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escore que leva em conta o comprimento da estenose, o calibre do vaso e a presença ou não de diabete, que atualmente é amplamente utilizado. O escore foi construído dando pesos proporcionais a esses dados, conforme análise multifatorial. Verificou-se que, quando o individuo não é diabético, quando o stent é até 11mm e quando o diâmetro luminal mínimo é 3,5 mm ou mais, a reestenose atinge apenas 1% dos pacientes pós stent convencional. A reestenose aumenta progressivamente até vasos longos, finos e pacientes diabéticos, todos fatores independentes de reestenose. Em vasos periféricos, a reestenose, mesmo só com balão, é muito mais rara porque esses vasos têm calibre maior. O Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do IC/FUC funciona 24 horas por dia, sempre em condições de receber e tratar o paciente enviado pela Emergência do hospital, que faz o diagnóstico, toma as primeiras medidas e encaminha o doente imediatamente, quando for o caso de angioplastia primária. Assim é que o IC/FUC tem a maior experiência brasileira e uma das maiores do mundo em termos de angioplastia primária pós-infarto do miocárdio. Adicionalmente, vem mantendo uma média de trinta ou mais procedimentos diários, segue produtivo cientificamente em congressos nacionais e internacionais, tem sido julgado apto por organismos internacionais para participar de estudos multicêntricos da maior expressão, com resultados publicados nas melhores revistas do mundo, cuja importância para uma instituição universitária é vital. Além disso, entre outros fatos marcantes, iniciei e atualmente é desenvolvido pelo Dr. Alexandre Quadros o maior banco de dados de angioplastias e de stents no Rio Grande do Sul e um dos maiores do Brasil. Outras técnicas intervencionistas, com acentuado declínio mundial em sua indicação, como aterectomia, não deixam de estar disponíveis. Adicionalmente, nosso setor

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de apoio tem conseguido significativa redução de radiação durante os procedimentos, graças ao desenvolvimento de um algoritmo próprio, já solicitado por outros Serviços deste país. Até aqui contei uma pequena parte da história como protagonista mais direto. Merecem destaque especial e transcrição em outro local histórias sobre diagnóstico e terapêutica de cardiopatias congênitas a cargo do Dr. Raul Rossi, responsável por essa área, mas é de citar que a mesma tem relevância nacional e internacional pelo número de trabalhos que produz e pela qualidade das abordagens técnicas que pratica. Também cabe aqui dizer que as primeiras valvuloplastias aórticas por cateterismo foram realizadas neste laboratório, principalmente pelo Dr. Flávio Leboute e que a casuística de valvuloplastia mitral com balão desenvolvida majoritariamente pelo Dr. La Hore Correa Rodrigues, agora acompanhado pelo Dr. Cristiano Cardoso, é uma das maiores do país e seus resultados são exemplares. Mantendo-nos em atividades de ponta, em 2008 participamos do primeiro implante de válvula aórtica por técnica percutânea neste Estado, num trabalho em equipe com Eberard Grube, Alexandre Quadros, Paulo Prates e Rogério Sarmento-Leite, este o maior protagonista de tal procedimento (Fig.12). Todas essas décadas de atividade de uma equipe altamente qualificada e coesa propiciaram ao Laboratório de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do IC/FUC pioneirismos em coronariografia, função cardíaca, angioplastia coronariana, valvuloplastias, implantes valvares, hemodinâmica pediátrica e em outras especificidades, origem da maior parte dos trabalhos de pesquisa, de iniciação científica, pós-graduação e teses sobre essa especialidade que temos publicado, é a maior escola de formação de especialistas em Hemodinâmica e

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Cardiologia Intervencionista no Estado do RS e uma das maiores do Brasil, permite-nos exibir a maior casuística de procedimentos, número e qualificação de trabalhos científicos, modificação do meio e reconhecimentos em cardiologia intervencionista, transformando-o em Núcleo de Excelência e Formação de Especialistas da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista. Considero, dentro de um realismo cartesiano, que um homem se completa nos planos material de realizações e moral de ética. Sem falsa modéstia, contei aqui o que penso ter protagonizado nestes 50 anos. Dei o melhor de mim, sem jamais alugar a mídia, bajular político ou atropelar colega. Entretanto, as condições atuais da problemática da saúde no Brasil são extremamente complexas e multifatoriais. Em nenhuma época, desde a sua fundação, a FUC - como de resto todos os hospitais que atendem o sistema público de saúde -, enfrentou tantas dificuldades como nos últimos cinco anos, motivadas pela vergonhosa política brasileira e pelo conseqüente ajuste econômico-financeiro negativo por que passam todas as áreas produtivas do país, processo que tem sido especialmente severo para com a área da Saúde. Enorme ginástica é feita para harmonizar a necessidade de atendimento à população e o necessário progresso científico-tecnológico com os escassos recursos repassados com atraso e defasagem monetária pelos gestores da Saúde. A Direção da FUC administra tais impasses com dedicação, com coragem e até com grande desgaste pessoal de seus diretores, médicos e corpo funcional em geral .

Fig 12. Equipe que participou do primeiro implante percutâneo de válvula aórtica (TAVI) na FUC e no Estado do RS, em 2008: Paulo Roberto L. Prates, Stevan Saldanha, Lutz Buellesfeld, Carlos Gottschall, Rogério Sarmento-Leite, Eberhard Grube e Alexandre Quadros.


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DR. ISEU GUS

Doutor em Cardiologia. Ex Professor da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. Responsável pelo serviço de epidemiologia. Presidente da Comissão dos festejos 50 anos da Fundação Universitária de Cardiologia.

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A CONTRIBUIÇÃO DA INCRÍVEL ENFERMARIA 29ª E DOS 50 ANOS DO IC/FUC NA CARDIOLOGIA DO RS E EM MINHA TRAJETÓRIA MÉDICA

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Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre foi o centro da medicina gaúcha no inicio da segunda década do século passado, onde se forjaram os grandes nomes e orientadores da ciência e da arte médica. Os professores das disciplinas de Clínica Médica e Cirúrgica da Faculdade de Medicina da UFRGS tinham suas enfermarias para administrar aulas práticas e teóricas nesta instituição. A Enfermaria 29ª, dirigida pelo mestre Rubens Maciel, era a enfermaria de Cardiologia da Santa Casa, um dos pontos onde mais crescia a medicina. Seus auxiliares e professores eram respeitados e admirados por todos: Antonio Ajambuja e Moises Lerrer com seus ensinamentos em nefrologia, Mario Rigatto em pneumologia (que até então se restringia à tuberculose), Rubem Rodrigues e Nilo Medeiros em cardiologia clínica; Rubem Rodrigues introduzindo a eletrocardiografia dedutiva (até então só interpretação morfológica) e Nilo Medeiros na semiologia da ausculta cardíaca e arritmias; Darcy Ilha mostrando todo seu conhecimento na interpretação

de uma radiografia, em especial de tórax; Caio Flavio Prates da Silveira, com uma memória privilegiada, em aulas de clinica médica e noções terapêuticas (e no tradicionalismo gaúcho); Manoel Gonzales com seu histórico de varias livre docências e as intervenções sempre oportunas de Carlos Barros. Uma vez por semana havia discussão de casos clínicos; nestas sessões podiase sentir toda a capacidade clínica e a sabedoria deste grupo de professores. Toda ela era um incentivo para os alunos no sentido do quanto precisávamos estudar. Em 1955, eu cursava o 3º ano da Faculdade de Medicina e teria a disciplina de Semiologia que era administrada na Enfermaria 29ª. Meu entusiasmo era enorme, pois neste ano começávamos a ver doentes e ter contato com a clínica médica. Não era isto que o médico deveria saber? A disciplina durava todo um semestre. Foi nesta ocasião que tomei conhecimento destas figuras maravilhosas dos professores da Enfermaria 29ª que marcaram meu pensar e meu


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procedimento médico e conduta individual o resto da minha vida. No alto desta pirâmide de conhecimento estava a figura de Rubens Maciel com sua palavra definitiva, clara, e demonstrações esclarecedoras em uma aula que não se sentia o tempo passar. Toda sua explicação era um verdadeiro ensinamento. Imaginei como seria bom poder conviver mais tempo neste ambiente. E assim aconteceu. No fim do período o Professor convidou os alunos daquele ano a se candidatarem a instrutor de Semiologia na Enfermaria 29ª. Fui um dos escolhidos. A partir de então, fiquei dando aulas práticas de semiologia para grupos de 6 ou 7 alunos que iniciavam o 3º ano. Eram 3 vezes por semana pela manhã e por todo um semestre. A Enfermaria 29ª era um enorme salão com, no mínimo, 25 a 30 leitos, onde podíamos encontrar todos os sinais possíveis em semiologia. Junto à Enfermaria 29ª se localizava um anfiteatro. Neste local eram ministradas as aulas teóricas. Hoje com os recursos dos exames de imagens é mais fácil ao raciocínio clínico juntar os dados da semiologia aos dados excelentes daqueles exames, mas sempre a partir de uma lógica dedução clínica. Mas o tempo passou e mais uma vez apareceu o pioneirismo do Professor Rubens Maciel: a Residência Médica em Cardiologia na própria Enfermaria 29ª. Foi a primeira Residência em Cardiologia no Estado. O Professor Mario Rigatto já havia voltado de seu estágio nos Estados Unidos e conseguido bolsas para residência (Fundação Kellog). Fiz parte desta primeira turma junto com Claudio Gomes, Carlos Gama e Cyro Barbiere.

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Neste período chegou Rubem Rodrigues. Havia estagiado no Instituto Nacional de Cardiologia do México (na época, o centro mundial da eletrocardiografia dedutiva) com Henrique Cabrera e SodiPallares. Desde sua chegada, e com seu entusiasmo, nos encheu das teorias eletrocardiográficas e todos ficamos maravilhados com a eletrocardiografia dedutiva. Também, nesta época, chegava o radiologista Dr. Darcy Ilha, vindo da Suécia onde estagiara, e dando inicio à montagem do primeiro aparelho de angiocardiografia no nosso meio, o que veio facilitar o estudo e a compreensão das lesões valvares e de cardiopatias congênitas. Eram radiografias seriadas, não filmadas. Estávamos entrando na era das imagens mais elaboradas. Em pouco tempo surgiria a cinecoronariografia. Junto esteve o Dr. Carlos Antonio M. Gottschall que, mais tarde passou a fazer parte importante na história do IC/FUC; atualmente é nosso Diretor Científico. No inicio da década de 60, quando eu ainda atuava como residente, a Enfermaria 29ª recebia uma equipe cirúrgica da Suécia para demonstrações de técnica cirúrgica da estenose mitral a céu fechado; o caso que apresentei não pode ser operado, pois a hipertensão pulmonar contraindicava (!) naquela ocasião. Em 1962, entusiasmado por Rubem Rodrigues, fui com minha família para o México estagiar no Instituto Nacional de Cardiologia, retornando ao Brasil em fins de 1963. Nesta ocasião estava esperançoso de ser convidado para fazer parte da disciplina de

Ambulatório de Cardiologia Pediátrica organizado pelo Dr..Aloysio Chechella Achutti, seguido pelo Dr. Nestor Daudt, que permanece até hoje nesta função

No começo eram seis salas de ambulatório, no mesmo local onde hoje está toda a estrutura da nossa Instituição, mas só um andar térreo. É o inicio de uma nova era para a cardiologia: surge a sigla IC/FUC. Nestes ambulatórios eram distribuídos casos de HAS, isquêmicos, febre reumática e valvopatias. Eram ambulatórios especializados. Nos dias atuais os ambulatórios são de previdenciários, de convênios e para particulares. Todos sempre lotados.

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Logo são formados Residentes e destes surgirá uma inovação audaciosa:

Em pouco tempo começavam as internações com outros andares funcionando.

Medalhão comemorando os 35 anos da Enfermaria 29, com a figura do mestre Rubens Maciel; todos que participaram da história dela foram agraciados com ele.

É montado o primeiro equipamento de cateterismo cardíaco numa Instituição de Cardiologia independente.

Médicos de Tempo Integral, isto é, cardiologistas estariam todo o tempo dentro da Instituição.

Nossa Emergência é um local de plena atividade, eficácia, com técnicas atuais e terapêutica “baseada em evidencias” e aprendizado.

Forma-se um grupo de cirurgiões cardíacos com atividade exclusiva na Instituição;


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Cardiologia junto aos outros professores. Mas a preferência era para colegas que estavam interessados em fazer cateterismo, última palavra no diagnóstico das cardiopatias isquêmicas. Mas meu desejo era fazer clínica, tratar doentes. Não tive muito tempo para pensar, pois veio convite de Rubem Rodrigues para organizar a disciplina de Cardiologia da nova Faculdade Católica de Medicina e construir um Instituto de Cardiologia em Porto Alegre. Aceitei. Quase na mesma ocasião, o Dr. Ivo Nesralla, atualmente Diretor-Presidente do IC/FUC, se uniu à Instituição. Também vieram da Enfermaria 29ª Ana Maria Maciel Alves, Domingos D´Avila e Flavio Lebout. Mais tarde se juntaria no corpo clínico do Instituto o Dr. Nilo Medeiros. A partir daí perdi contato mais íntimo com a Enfermaria 29ª. Provavelmente outros colegas poderão relatar o restante da história deste local, “quase sagrado”, de como é fazer medicina consciente, ética, humana e pronta para difundir conhecimentos. Este, seguramente, foi o embrião e o terreno fértil do nosso querido Instituto de Cardiologia. O resto de minha história está intimamente ligado ao IC/FUC.

O IC/FUC CAMINHA PA R A C O M E M O R A R S E U CINQUENTENÁRIO DE EXISTÊNCIA. Rubem Rodrigues com seu dinamismo, força de vontade, conhecimento, e recém concluído seu estágio no IC do México, trouxe a ideia fixa de fazer um Instituto de Cardiologia aos moldes do que viu e aprendeu no México e, reunindo os mais chegados a ele, a maioria com formação na Enfermaria 29ª, apresentou um Estatuto, aprovado em Assembleia em 1964, pelos atuais sócios Fundadores, dando origem

Alguns anos depois o IC/FUC se desvincula do Estado tornando-se órgão independente de verbas específicas estaduais.

A disciplina de Cardiologia da atual UFCMPA passa a ser administrada no IC/FUC.

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à Fundação Universitária de Cardiologia (FUC), com a seguinte configuração na Diretoria eleita:

DIRETOR PRESIDENTE: Rubem Rodrigues;

Destaco logo abaixo, no infográfico, a evolução do IC/FUC ao longo destes anos e sua importância na formação de cardiologistas e os consequentes benefícios na vida de seus pacientes:

DIRETOR SECRETÁRIO: Roberto Barros Benevett;

DIRETOR TESOUREIRO: Iseu Gus.

Também foram sócios Fundadores: Nelson Carvalho de Nonohay Ivo Tellini Ivo Abrahão Nesralla Eurico Schneider Carlos Bernardes Mario Schwartzman Ceo Paranhos de Lima Ovídio L.R.Silveita Martins Jose Fernandes Fagundes Stélio Varnieri Desde sua fundação, 08 de outubro 1966 foi a data da Escritura Pública da Fundação Universidade de Cardiologia (FUC), auxiliei em sua construção material e na implantação de uma filosofia de medicina que considerava a importância do paciente e o trato com mais carinho, dedicação e solidariedade, além de muito sobre a arte de fazer medicina. Somente em 1966, quando Rubem Rodrigues assume a Direção do Instituto de Cardiologia do Estado (que antes funcionava num antigo prédio na Av. João Pessoa), que a Instituição foi transferida para a Avenida Princesa Isabel, nascendo a sigla IC/FUC. Nesta ocasião já havia se juntado ao grupo inicial o jovem cirurgião cardíaco Ivo Nesralla. Também se juntou o Dr. Luiz Maria Yordi, que estava estagiando no exterior, que teve participação importante tanto na radiografia

É organizado um excelente PPG (Programa de Pós-Graduação) e a partir daí mestres e doutores são formados

Médicos da Instituição vão fazer estágios no exterior;

convencional como no cateterismo cardíaco; o Dr. Carlos Jader Feldman com sua iniciativa começa a trazer para a Instituição, pouco a pouco, todos os exames de imagem mais elaborados.

Os trabalhos científicos são publicados em revistas nacionais e estrangeiras

O incentivo para publicação de trabalhos é permanente, surgindo publicações com repercussão em várias áreas: cirurgia cardíaca, transplante cardíaco, hemodinâmica com implantes de válvulas cardíacas cardiologia fetal, epidemiologia, laboratório experimental e em clinica médica.

Comprometido com esta Instituição (atualmente como Chefe do Serviço de Epidemiologia no intento de organizar este Serviço), e considerando a importância da pesquisa na tríade assistência, ensino e pesquisa, base sólida desta casa, sinto um orgulho muito grande em ter publicado, juntamente com um grupo de pesquisadores engajados no mesmo sentimento de colaboração e compromisso com a saúde da sociedade, meus dois últimos trabalhos sobre os Fatores de Risco da Doença Arterial Coronariana no Estado do Rio Grande do Sul, em 2002 e em 2015, mostrando as variações de prevalência destes fatores de risco no período. Os artigos foram publicados nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia e são referência para outros estudos e para o planejamento da Saúde no Estado. O IC/FUC, nestes anos, tornou-se um centro irradiador de conhecimento médico, espalhou por todo nosso Estado cardiologistas com muito boa formação, tornou-se um centro permanente de novos conhecimentos, incansável em suas atividades. As iniciativas pioneiras feitas aqui tornaram o Instituto uma referência nacional. Os colegas que iniciam seus estudos e aprendizados, ou desenvolvem pesquisa no IC/FUC devem ter a consciência e o conhecimento da evolução desta Instituição, tanto no aspecto físico como e, principalmente, no que concerne

Nossos ex-residentes se Nossa Emergência é um espalharamlocal por todo RS, eatividade, muitos de plena no exterior; eficácia, formando centros com técnicas cardiológicos de excelentes atuais e terapêutica conceitos por varias cidades do “baseada em evidencias” Estado. e aprendizado.

Pela excelência de administração é solicitado pelo Estado ao IC/FUC, em épocas diferentes, para administrar Hospitais na Grande Porto Alegre: Cachoeirinha, Alvorada e Viamão e, posteriormente, o IC de Brasília;


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a sua principal finalidade: medicina de alto padrão, respeito permanente ao paciente, relação profissional adequada; e se orgulhar de estar tendo a oportunidade ser um excelente cardiologista.

Corpo Clínico da Fundação Universitária de Cardiologia 1982: Sentados: Azevedo, Luiz Phelipe, Anna Maria, Jacó, Luiz Maria, Rubem, Iseu e Lucchese. Em pé: Horácio, Moura, Borba, Marne, Verçosa, Mario, Renato, Ovideo, Nonohay, Jader, Vasco, Daudt, Lídia, Joice, Lara, Narcila, Prates, Carvalhal, Iran, Oscar, Leboute, Cardoso, La Hore, Vitor, Glória, Julio César, Kalil, Edemar, Tellini, Sant’Anna, Amaro da Silveira

Todos que aqui exercem seus trabalhos devem ter conhecimento que esta é uma Instituição que sempre deverá primar pelo bem estar de seus pacientes, pois o nosso produto é recuperar pacientes, dar conforto para quem nos procura e saber com convicção que a recuperação de um paciente é a maior recompensa do nosso trabalho. E esta será a mais alta realização dos que idealizaram o IC/FUC. Finalizando, presto minhas saudosas homenagens a colegas que conviveram conosco nestes anos: Caio Flavio P. da Silveira, Ivo Tellini, Leonel Lerner, Flávio Pereira, Raul Lara, Claudio Medeiros, João Batista Pereira, Janice Tavares da Silva,

Transplante cardíaco que foi um procedimento inédito no nosso meio, retornando os transplantes no Brasil.

Vários dos nossos médicos são convidados, frequentemente, para palestras, participação em Congressos e cargos na Sociedade Brasileira de cardiologia.

Todos os exames de imagem, desde os mais simples aos mais complexos, são realizados na Instituição;

Stents são introduzidos na rotina das coronariopatias.

O pioneirismo da ECO Fetal e os procedimentos intrauterinos;

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Lidia Piricelli Faccini, Eros Magalhães e Luiz Phelipe Godoy. • Residente de Cardiologia da 1ª turma de residência em cardiologia da Enfermaria 29 da Sta. Casa de Misericórdia. • Pós-graduação no Instituto Nacional de Cardiologia do México. • Professor de Cardiologia desde a 1ª turma de Medicina da UFCMPA. • Doutor em Cardiologia pelo PPG do IC/ FUC. •*Diretor-Tesoureiro do IC/FUC •*Diretor-Presidente do IC/FUC. •*Diretor do Instituto de Cardiologia, nomeado pelo Estado. •*Chefe do Corpo Clínico do IC/FUC *Posições assumidas em diferentes épocas do IC/FUC .

O lado tecnológico do IC/FUC: hemodinâmica, eletrofisiologia, procedimentos híbridos, tomografia, medicina nuclear, multislice, ecocardiografia, Tilt-Test, Centro de reabilitação cardiopulmonar e eletrocardiografia, MAPA, Holter, Centro de Controle e vídeos conferências à distância com várias cidades do interior do RS, em especial naquelas em que não havia cardiologistas nas emergências.

Escola profissionalizante: Técnicos em enfermagem e Técnicos em radiologia.

A possibilidade de estagiar na Instituição em todos os ramos de sub especialização da cardiologia, pois em cada setor do hospital tem profissionais competentes, prontos para transmitir conhecimentos.


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N

a segunda metade dos anos 60, com alguns (poucos...) anos de formada, 2 acontecimentos emblemáticos marcaram minha vida pessoal e profissional; o nascimento do meu único filho e o inicio do IC/FUC.

DRA. ANNA MARIA MACIEL

Ex preceptora da Residência Médica em Cardiologia do Instituto de Cardiologia. Professora adjunta da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Quando vi o Rubem Rodrigues sentado numa mesinha em meio aos tijolos do começo da obra, com o desenho da planta do futuro hospital, comecei também a acreditar.

“QUANDO VI O RUBEM RODRIGUES S E N TA D O N U M A MESINHA EM MEIO AOS TIJOLOS DO COMEÇO DA OBRA, COM O DESENHO D A P L A N TA D O F U T U R O H O S P I TA L , C O M E C E I TA M B É M A A C R E D I TA R . ” .

No sonho e no empreendedorismo dele, que, com seu entusiasmo, contagiou um punhado de colegas, e, de repente, éramos todos IC/FUC. Os anos se passaram, os medicos residentes foram se

sucedendo,completando sua formação e se espalhando pelo Brasil e exterior, Como preceptora, vivi bons momentos, junto aos colegas, funcionarios e cada vez mais jovens residentes. Na primeira vez em se instituiu a praxe de formatura, tive a honra de ser a primeira madrinha, com convite artesanal. Ao longo dos anos, trabalhamos, discutimos, brigamos, lutamos pelos pacientes e pelo bom nome da Cardiologia gaucha. Festas também nos congregaram e amizades para sempre se fortaleceram.

Custo a crer que foram 50 anos... e que,aqui,agora,deixo registrado orgulho por ter participado da historia desta instituição,que nunca perdeu seu carisma e seu lugar na Cardiologia brasileira .


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A E X PA N S Ã O DA REDE IC/ FUC NO RS

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Fundação Universitária de Cardiologia teve sua importância reconhecida em diversas frentes de atuação por inúmeras ocasiões, em todo o território nacional. Não é diferente quando se trata da qualidade da sua gestão, que a levou a conquistar a confiança da sociedade e fez com que fosse chamada para assumir a gestão de outros hospitais.

DR. ROBERTO BARROS BENEVETT

Membro do Conselho Diretor da FUC. Professor aposentado da UFCSPA. Ocupou por muito tempo cargos importantes na administração da FUC.

ampliações de acesso à saúde e oferta de serviços. A inclusão de especialidades como neurologia e traumato-ortopedia no Hospital Viamão, por exemplo, mudou o perfil assistencial da região, ajudando a desobstruir os hospitais de Porto Alegre.

A manutenção desta rede, cujo atendimento prioritário é o SUS e a vocação é a de levar assistencia à saúde com qualidade, humanizada e digna a todos, Foi assim nos anos de 1997 e 1998, representa um permanente desafio à quando assumiu a gestão do Hospital competência gerencial e organizacional da Padre Jeremias, Fundação Universitária “A MANUTENÇÃO em Cachoeirinha/ de Cardiologia. D E S TA R E D E , C U J O RS e do Hospital de AT E N D I M E N T O Alvorada. Em 2006, É ela que amplia nosso assumiu a gestão do compromisso com o PRIORITÁRIO É O Hospital Viamão e, cuidado e a saúde das SUS E A VOCAÇÃO em 2009, do Instituto comunidades onde nos É A D E L E VA R de Cardiologia do inserimos. Conheça ASSISTENCIA À SAÚDE Distrito Federal. agora as unidades COM QUALIDADE, que hoje compõem a HUMANIZADA E Desnecessário Rede do Instituto de DIGNA A TODOS, dizer que a gerência Cardiologia: R E P R E S E N TA U M da Fundação H O S P I TA L D E PERMANENTE DESAFIO Universitária A LV O R A D A de Cardiologia À COMPETÊNCIA resultou num GERENCIAL E Administrado pela sucesso flagrante. ORGANIZACIONAL Fundação Universitária Os cinco hospitais DA FUNDAÇÃO de Cardiologia desde administrados por UNIVERSITÁRIA DE janeiro de 1998, atende ela formam uma CARDIOLOGIA”. as especialidades de rede assistencial obstetrícia, pediatria, complexa, articulada, clínica médica e cirurgia. Oferece serviços de importância ímpar para a saúde no Rio de pronto atendimento, hospital-dia para Grande do Sul e no Brasil, além de um gestantes, UTI Neonatal, ambulatório verdadeiro case de sucesso na parceria para o tratamento de cardiopatia e público-privado. pneumopatias, exames de análises clínicas, raios X, ecografia e malograria. O hospital Sob a gestão do Instituto de Cardiologia atende 100% SUS e é o único serviço de os três hospitais da região metropolitana pronto atendimento 24h do município. de Porto Alegre tiveram importantes


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H O S P I TA L PA D R E J E R E M I A S - CACHOEIRINHA Inteiramente dedicado ao atendimento pelo SUS, o Hospital Padre Jeremias é o único da cidade. Atende em nível de internação as especialidades de obstetrícia, pediatria, clínica médica e cirurgia. Oferece serviços de pronto atendimento para pacientes em clínica médica, pediatria, cirurgia e obstetrícia, hospital-dia para gestantes, ambulatório para o tratamento de cardiopatia e pneumopatias. Conta, também, com exames subsidiários de análises clínicas, raios X e ecografias, além de unidades de Agência Transfusional e de tratamento Intensivo Neonatal Tipo II.

Hospital de Alvorada

H O S P I TA L D E V I A M Ã O

O Município de Viamão é um dos mais populosos da região metropolitana de Porto Alegre. Com um acolhimento bem estruturado para pacientes de Urgência/ Emergência, o Hospital Viamão constituise na única alternativa hospitalar da cidade. Seu corpo clínico conta com profissionais atuando nas áreas de clínica médica, cirurgia, pediatria, ginecologia, obstetrícia, oftalmologia, traumatoortopedia, neurologia, psiquiatria entre outros.

Hospital Padre Jeremias

INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO DISTRITO FEDERAL O Instituto de Cardiologia do Distrito Federal é referencia nacional em cirurgias de alta complexidade e é também o único da região centro-oeste credenciado para realizar transplantes cardíacos. Se consolida pela excelência na administração, qualidade no atendimento e completa assistência aos pacientes buscando sempre a melhoria da sua qualidade de vida. O Instituto de Cardiologia do Distrito Federal é um dos melhores centros cardiológicos do país, detacando-se na atuação nos casos de cardiopatia congênitas e adquiridas em crianças.

Hospital de Viamão

Instituto de Cardiologia Distrito Federal


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UMA HISTÓRIA QUE NOS ORGULHA

N DR. NELSON D E C A R VA L H O N O N O H AY

Diretor Secretário do Instituto de Cardiologia/ Fundação Universitária de Cardiologia. Ex-Secretário da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul.

ão há como não associar o Instituto de Cardiologia a presença notável e, hoje, lembrança não esquecida do Rubem Rodrigues. Professor titulado pela Universidade Federal do RS, exercia sua vida acadêmica como professor na cátedra do Prof. Rubens Maciel na inesquecível enfermaria 29 na Santa Casa de Misericórdia. Inspirado no conhecimento adquirido no Instituto de Cardiologia do México se determinou a reproduzir na sua cidade um serviço de cardiologia à semelhança mexicana. A materialização da ideia foi árdua, penosa, mas implantada pela compreensão de gente de governo e colaboradores da sociedade rio-grandense e por um grupo de médicos muito jovens e outros ainda jovens que o ajudaram a fazer o que pensava realizar. Naquela época eu fazia parte do primeiro grupo e daqui junto com muitos colegas desta geração, desenvolvemos nossa vida profissional onde hoje estamos comemorando cinqüenta anos de existência de um serviço dedicado a assistência médica ao ensino e a pesquisa da cardiologia. Muito revelada pelo esforço intelectual e prática médica inspirada por um líder. Passados estes cinqüenta anos ainda mantemos a mesma essência como que tínhamos dados os primeiros passos. O Prof. Rubem consolidou-se como grande líder de um grupo de médicos que compreenderam o que poderíamos desenvolver e o quanto poderíamos disseminar o que fazíamos com o que sabíamos. A propósito, o Instituto não tinha desde o seu início especiais pretensões de se tornar uma liderança da cardiologia no nosso meio, mas sim uma boa escola na especialidade, por outro lado não podemos deixar de reconhecer, que contribuímos bastante em estimular outras instituições que tenham tido alguma influência pelo trabalho desenvolvido aqui no Instituto.

Este fato constitui para o Instituto um sentimento de que sempre trabalhamos pelo conhecimento organizado, especialmente na formação de residentes e médicos que bem preparados, foram ampliando suas atividades profissionais em todas as regiões do estado e em grande parte pelo país. Hoje estamos vivendo novas etapas da vida da fundação que em duas ou três décadas últimas passadas, nos tornaram uma rede hospitalar com características de maior complexidade. Incorporamos nestes últimos tempos três hospitais da região metropolitana duas em condições administrativa/econômica estáveis e outra com dificuldades econômico-financeiras dependente das graves condições reais do sistema de saúde pública porque passa o Rio Grande do Sul. Mais recentemente incorporamos o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal - Brasília, com estrutura assistencial de grande e boa atividade, e como exemplo, a toda região central do país tendo uma produção de programa de transplantes em várias áreas. Tem se distinguido por seus resultados, um conceito respeitável nos órgão de saúde pública do próprio Distrito Federal e junto ao Ministério da Saúde. Estamos chegando no meio século, com a cardiologia bastante atuante dentro do hospital com bom desenvolvimento na área da pesquisa básica e com a preceptoria ativa na residência, contribuindo com a melhor formação aos nossos jovens médicos. A nossa mais antiga geração ainda mantem o mesmo entusiasmo que tínhamos num remotíssimo passado, mas que ainda demonstra aos que sucedem, uma medicina viva e cheia de novos procedimentos e ideias podendo frutificar seja tão desenvolvida como tem sido nesse tempo que passou, longo e compensador .


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UMA VIDA

E DR. FLÁVIO CELSO LEBOUTE

Presidente do Conselho Diretor do Instituto de Cardiologia/ Fundação Universitária de Cardiologia.

ra 1968 já na segunda metade do ano. Terminado o período de Residência eu vinha trabalhando por quase dois anos em hemodinâmica na Enfermaria 29° da Santa Casa, a convite do Prof. Rubens Maciel, na qualidade de colaborador voluntario. No entanto a perspectiva de contratação pela UFRGS era muito improvável. Além da Universidade não estar admitindo ninguém nesta época, a ditadura militar estava no auge. Foi o ano do malfadado Ato Institucional n° 5. Como conhecido militante de esquerda na politica estudantil, as portas da Universidade estariam fechadas para mim. Foi então que o Prof. Rubem Rodrigues, entusiasmado com a estruturação do Instituto de Cardiologia, administrado agora pela Fundação Universitária de Cardiologia, convidou-me para trabalhar em hemodinâmica na nova instituição. Foi estratégia dele convidar muitos jovens que teriam o entusiasmo e a ambição necessários para o ajudar na construção de seu sonho. Ingressei no IC-FUC na primavera de 1968 após consulta e a liberação do Prof. Rubens Maciel,a quem devo a compreensão e o apoio nesta circunstancia um tanto constrangedora para mim. No entanto a aquisição e montagem do primeiro equipamento de hemodinâmica demorou bastante e o Serviço só começou a funcionar em setembro de 1971. Nestes três anos de espera ocupeime com outras tarefas. Atendendo no ambulatório de Cardiopatias Congênitas participei também , junto com o Nelson Nonohay, da montagem da primeira Unidade Coronariana de Tratamento Intensivo no nosso Estado. Após uma curta visita que fizemos juntos à primeira e única Unidade deste tipo em São Paulo, foi inaugurada a UTI Coronariana do ICFUC. Lembro que na primeira avaliação ,

a mortalidade intra-hospitalar do Infarto Agudo desabou maravilhosamente para... 22%. Nesta época também desenvolvemos a Fonocardiografia com o apoio do mestre Nilo Medeiros. Em uma pequena sala no segundo andar,ao lado do poço do elevador, registrávamos os sopros, bulhas e estalidos em um velho aparelho de registro a tinta. Quando o elevador se movia ruidosamente, o registro era destruído. Se fazia necessário recomeçar tudo. Nesse tempo o diagnóstico das cardiopatias congênitas e valvulares era estabelecido pela clínica, ausculta e seu registro,eletrocardiograma e Rx de tórax. Não havia surgido ainda a Ecocardiografia e não dispúnhamos ainda do cateterismo. Após a instalação do equipamento de hemodinâmica dediquei-me aos cateteres. Nos primeiros anos eles serviam quase só para o diagnostico, com exceção da Atrioseptostomia pela técnica de Rashkind em recém nascidos. Depois se desenvolveram os métodos terapêuticos por cateter em rápida progressão.Relembrando este período nos damos conta do enorme avanço que nossa especialidade obteve, nesta e noutras áreas, nas últimas três ou quatro décadas. Ao rememorar sempre parece que tudo fluiu muito rápido. A lembrança é fracionada em múltiplos pedaços e sensações: o convívio fraterno com colegas que já se foram,pacientes com os quais tivemos sucesso e outros onde fracassamos, alegrias e tristezas e sobretudo o sentimento de pertencer a uma grande equipe de trabalho em que apesar dos inevitáveis e eventuais pequenos conflitos,predomina o apoio mútuo e a responsabilidade solidária e compartilhada. E então o tempo fez o que é seu mister : passou. Foram quase cinquenta anos. Uma vida .


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CINQUENTENÁRIO NO IC/FUC PRÉ-HISTÓRIA

A DR. NESTOR DAUDT

Diretor Tesoureiro do IC/ FUC. Coordenador do Setor de Pediatria do Instituto de Cardiologia/ Fundação Universitária de Cardiologia. Médico de Saúde Pública da Secretaria da Saúde e do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul.

escolha da profissão - medicina - foi minha. Eu escolhi. Mas a especialidade - cardiologia - eu fui atraído, fui tragado, sem volta. E não foi pelas “belas” condições e estruturas das Enfermarias 7ª e 8ª da Santa Casa. Mas foi por gente, pessoas, médicos que lá estavam. Desde a liderança do Dr. Rubem Rodriques até, e especialmente, o contato direto, quase diário, com o Benevetti, Ovídio e Fagundes. Sem falar na contaminação grave dos mistérios da eletrocardiografia transmitida pelo saudoso Poli. E nesta época, início e metade dos anos sessenta, já se ouvia falar, sem muita fé, na ideia do Dr. Rubem Rodrigues de criar uma entidade de ensino, pesquisa e atendimento em cardiologia semelhante a que conhecera no México. A cardiologia do México era “top” por essas épocas. Desta pré-história muitas lembranças, boas, algumas tristes, outras até mesmo censuráveis! Que não posso contar. Algumas nunca esquecerei como o “novo” tratamento, trazido por um nosso colega, para os refratários edemas de membros inferiores dos inúmeros “cor pulmonale” internados. Além das clássicas picadas de gortulina (injeções de diurético mercurial) vários furos com agulha eram feito nas pernas edemaciadas e os pacientes dormiam sentados com as pernas dentro de bacias em que drenava o “edema”. E melhoravam... Mas a chegada do lasix e a prevenção do enfisema pulmonar já apontavam novos tempos.

IDADE MÉDIA

A

ideia do Professor Rubem, com muita tenacidade e mesmo enfrentando mil dificuldades foi em frente. Agora, últimos anos sessenta, fui, junto com os demais colegas da residência, atender o Ambulatório do Instituto de Cardiologia da Princesa Isabel, rua que, aliás, não tinha continuação na Santana. O ambulatório era só o andar térreo do edifício e já iniciava a reforma dos demais andares que culminaria no Hospital. A imagem que mais recordo desta época, é incrível, mas verdadeira. Enquanto atendíamos um paciente, lá pelo meio da tarde, uma atendente pedia licença e calçando a porta com a bunda entrava no consultório com uma bandeja de cafezinhos. Tomávamo-lo na frente do paciente e depois fumávamos um cigarrinho - Minister - afinal ninguém era de ferro. Quase todos nós fumávamos na época. Que época! Outra coisa que lembro bem é que logo atrás do corredor dos ambulatórios havia uma peça de terra batida, sem piso mesmo, e num canto qualquer o Mareu descobriu uma caixa velha com um aparelho estranho. Era um balistocardiograma... E resolveu consertálo. É lógico que não foi possível. Uma pena, pois assim não seria necessário gastar fortunas na hemodinâmica mais tarde! Como o hospital ainda não estava pronto para internações permanecíamos nas enfermarias da Santa Casa. Um dia, caso difícil, o instrutor recomendou que haveria necessidade de eletrólitos, exame raro, só realizado em poucos laboratórios. Lá fui eu, noutra enfermaria, para tentar o tal de eletrólitos. O responsável era o Moacir Scliar que foi bem objetivo: vamos, anda logo, residente é para gastar sola de sapato! Vai lá na secretaria e explica a necessidade do exame. Diz que eu mandei... E consegui o raro do exame!


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RENASCIMENTO

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nfim, abril de 1969, primeira internação no Hospital. Eu fiz a internação. Era uma paciente do Professor, Dna. Hortência lembro-me bem. Não era cardiopata! Baixou por bronco-espasmo. A primeira internação do IC/FUC não foi por cardiopatia... Mas o Hospital estava inaugurado e aí com crises e puxadinhos foi só prá frente. Como a primeira cirurgia. Pericardite constritiva, um jovem paciente também do Professor. Não tínhamos aparelho para gasometria. Durante a cirurgia o sangue era retirado e ia para o Hospital Ernesto Dorneles. Voltava, eram tomadas as decisões e bola pra frente. Necessitava outra? Tudo se repetia... E o paciente vai muito bem. Até hoje nos visita. Quantas coisas para lembrar! Só um livro de memórias com mais de mil páginas contaria, mesmo assim com economia, do que aqui se passou e acompanhei. Lembro-me das famosas tardes das terças-feiras. O plantão começava ao meio dia, pois a tarde era reservada para as peladas no Clube do Médico em Belém Novo. Todos jogavam no campinho de lá. Até o Professor Rubem. O Iseu, o Nonoay, o Marne, o Vitor Bertoletti, o Mareu e até o Taylor eram os melhores. O Leboute enfeitava um pouco mas rendia também. O Ovídio era um bom zagueiro. E o Jacó? Chutava sempre com muita força, com raiva, coitado do goleiro. O Krás Borges, o João Carlos, o Cacau... Que saudade desses momentos e estou esquecendo muita gente! Uma vez, num dia especial de alguma comemoração, não lembro qual, estavam em campo, de calção, camiseta e tênis o Nesralla e o Luchese jogando. Quê visão! É evidente que logo foram substituídos, mas a imagem nunca vou esquecer. Algum tempo depois os jogos passaram para um campo ao lado do Hospital, num terreno que depois foi a Biometria do Estado e hoje está a área ocupada após a passarela do primeiro andar. Nesta época era bastante estranho para os pacientes que viam pela manhã os circunspectos doutores de estetoscópio e avental e logo à tarde desfilando de calção e camiseta dirigindo-se para o terreno ao lado. O início da década de setenta foi muito traumático. Uma grave crise política abalou a relação do IC/FUC com o Estado. Não cabe entrar em detalhes, mas não posso deixar de repetir uma notável frase desse momento tumultuoso e dita por uma grande autoridade: se vocês executarem o que eu solicito, nas veias dos pacientes correrá ouro e não soro! Vejam só o que enfrentamos na época. Vários residentes moravam no Hospital.

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Eram verdadeiros residentes. O Tom, o Jacó, o Lara e outros tantos depois. O Tom era terrível. De noite vinha daquilo que hoje seria “balada” mas que na época, prá nós, era farra mesmo e batia no nosso lanche de plantão, invariavelmente ovo duro. Éramos obrigados a esconder o lanche ou comê-lo antes do lagarto chegar. Mas o que mais lembro eram das sessões instrutivas e didáticas de algumas noites: um colega cujo nome não revelo conseguia um projetor super 8 (ou coisa parecida) de filmes. Eram coisas raríssimas, tanto o projetor como alugar filmes, filmes mesmo (celulose em carretel...). E assim nós víamos películas altamente educativas e extremamente proibidas como Emmanuelle e Deep Throat, um notável feito para a época. “A IDEIA DO PROFESSOR R U B E M , C O M M U I TA TENACIDADE, E MESMO E N F R E N TA N D O M I L DIFICULDADES, FOI EM FRENTE ”.

Decisões importantes foram tomadas neste início de funcionamento do IC. Os Médicos de Tempo Integral deveriam optar por áreas específicas da cardiologia. O Vitor tinha feito um estágio em pósoperatório de cirurgia cardíaca em São Paulo; o Vasco estava bastante ligado ao início da CTI com o Nonoay e o Leboute, e depois mais o Tom; o Lara dedicou-se às lesões valvares e febre reumática, muito comum naquele tempo, e às miocardiopatias; o Leonel já era muito chegado às coisas dos rins e hipertensão arterial; eu tinha me adaptado muito bem ao estágio do ambulatório de pediatria com o Dr. Achutti e por problemas de saúde do Flávio Pereira foi necessário que eu o substituísse por mais algum tempo. E fui ficando, ficando, ficando até hoje! Simples. Ano 1970! Mais tarde, quando restabelecido, sobrou para o Flávio Pereira a cardiopatia isquêmica. Nada havia de atraente nesta escolha. A única novidade era a classificação de Fredrickson... Longe, muito longe, em outro mundo, falava-se em coronariografias, pontes de safenas ou coisas similares. Então, em pouco tempo, a história mudou, valorizando, extraordinariamente, a cardiopatia isquêmica como atualmente. Destacaria intensamente daquela época os Grupos de Estudo e a Classificação Social. Explico: os nossos pacientes eram classificados, com direito a carteirinha e tudo, em grupos para atendimento especializado. O ensino e a pesquisa

também assim se norteavam. Os Grupos eram: Grupo 1 Hipertensão Arterial; Grupo 2 Cardiopatia Isquêmica; Grupo 3 Febre Reumática e Miocardiopatias; Grupo 4 Cardiopatias Congênitas e Pediátricas. Os médicos escolhiam os grupos que queriam atuar, desenvolver e pesquisar. Os ambulatórios eram assim distribuídos, facilitando e tornando muito mais atraente o atendimento. Mas mais impactante ainda era a Classificação Social. Responsabilidade de uma inesquecível, magnífica pessoa, chamada Márcia Holmes. Que saudade! Não havia ainda o SUS com seu atendimento global. Assim, somente quem era empregado tinha algum direito de atendimento médico. Que era muito variável conforme o seu Instituto: empregados dos bancos, comércio, indústria etc. Muitos não tinham nenhuma cobertura para despesas médicas. Como era para nós: os pacientes passavam por uma entrevista - triagem - social. Eram classificados por códigos, de valores crescentes, contribuindo de alguma forma para consultas e exames. Variava de GT (sem possibilidade de qualquer contribuição), A, B, C e D (maior contribuição. Parece que existia a E também, para os mais ricos...). Praticamente todos participavam e valorizavam o atendimento e exames. Ou seja, se hoje fosse instituído no SUS, provavelmente, haveria equilíbrio financeiro do Sistema Único!

TEMPOS MODERNOS E o tempo passou mesmo. Muitos sucessos, algumas frustrações, mas certamente o somatório é extraordinariamente positivo. O IC/FUC hoje é um “holding”, mas não foge ao seu destino de sempre estar em crise e realizando puxadinhos. A cardiologia pediátrica hoje não é mais somente eu e a Joice, companheira desde o início. Expandiu-se muito, especialmente em atividades especializadas e gente nova somadas ao grande apoio dos demais serviços multiprofissionais. As crianças anteriormente atendidas hoje são adultos e até avós! Assim o nome do Setor voltou a ser Cardiopatias Congênitas e Pediátricas, para abranger todos. Mas ainda é “a pediatria” o que define melhor tudo e todos. E como somos crianças temos as nossas fadas: a Dna. Iolanda, líder das voluntárias que há tanto tempo e com tanto carinho nos ajuda. E a Renate, com o seu magnífico trabalho na Brinquedoteca, tornando não só mais tolerável mas também educativa a internação pediátrica. Só um problema: ainda não nos deixaram ocupar todo o Hospital. Ainda insistem no atendimento de adultos com essas cardiopatias adquiridas... .


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IC-FUC 50 ANOS! QUE LONGA CAMINHADA!

O D R . PA U L O P R AT E S

Cirurgião cardiovascular do IC-FUC.Preceptor da Residência Médica em Cirurgia Cardiovascular. Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. Membro da International Society for Cardiovascular Surgery. Membro-fundador da Denton A. Coolley Cardiovascular Surgical Society. Membro Honorário da Sociedade Peruana de Cirurgia Cardiovascular. Membro da Academia Sul-Riograndense de Medicina.

ano é 1966 e a data oito sem a possibilidade do tratamento de outubro. A Escritura cirúrgico passou a contar com o novo Pública oficializa a criação método terapêutico. As valvulopatias da Fundação Universitária foram tratadas e já em 1971 a cardiopatia de Cardiologia. O objetivo é o isquêmica passou a ser aliviada com as ensino e a pesquisa em cardiologia visando pontes de safena. uma assistência de alto Os primeiros médicos padrão à população residentes que “SINTO SAUDADES do Rio Grande do acompanhavam o DE TUDO QUE MARCOU Sul ,independente fundador da FUC na A MINHA VIDA. da situação sócio Santa Casa eram agora Q U A N D O V E J O R E T R AT O S , econômica. Médicos de Tempo Integral e Dedicação QUANDO SINTO CHEIROS, Em janeiro de 1967 na Q U A N D O E S C U T O U M A V O Z , Exclusiva, sistema sala da Direção o então idealizado por ele e QUANDO ME LEMBRO DO Diretor da Faculdade copiado por muitos PA S S A D O , de Medicina da UFRGS Serviços no Brasil. Era EU SINTO SAUDADES... diz ao Professor o sonho de todos os SINTO SAUDADES DE Rubem Rodrigues: Médicos Residentes. AMIGOS QUE NUNCA MAIS VI, “ Quero te convidar DE PESSOAS COM QUEM para revolucionar Eu era um corpo N Ã O M A I S FA L E I a Cardiologia no estranho entre Rio Grande do os brilhantes OU CRUZEI...” Sul ,assumindo a Cardiologistas Clínicos Direção do Instituto que me cercavam. Fui CLARICE LISPECTOR de Cardiologia”. A aceito como Médico condição imposta foi o início da nova época Residente de segundo ano, pois já tinha da Cardiologia no nosso Estado: “Aceito dois anos de Residência em Cirurgia Geral, desde que a administração seja feita pela mas com a condição de fazer plantões Fundação Universitária de Cardiologia, a clínicos como os Residentes da Cardiologia FUC”. Clínica. Acho que me sai bem. Apreendi a tratar algumas arritmias e a sair correndo Apesar do lugar comum ouso dizer que quando o alarme dos monitores disparava desde então o tempo passou muito rápido. na CTI de então. Nunca entendi bem o eixo Só notei quando os colegas mais jovens do ECG, mas com as dissecções de veias começaram a chamar-me de doutor e que fazia para a instalação do soro nos depois de professor, embora não o seja, casos graves conquistei a confiança dos como sinal do distanciamento deles que outros Residentes. eu, sem querer, de alguma maneira tinha conquistado. Vi colegas que abandonavam o caminho por oportunidades melhores e que deixavam Cruzei a porta do Instituto pela primeira saudades amenizadas nos Encontros de vez, em janeiro de 1970 para ser o primeiro Educação Continuada e outros que se iam Médico Residente do Serviço de Cirurgia sem pedir a nossa permissão, deixando Cardiovascular. A Cirurgia Cardíaca a tristeza de não poder os encontrar debutava novamente em Porto Alegre e novamente. o Serviço somente havia realizado uma cirurgia de pericardiectomia em 1969. Com O IC se tornou pioneiro nos mais modernos o IC ela teve o impulso necessário para procedimentos realizados em centros mais ser uma das mais importantes no Brasil. desenvolvidos do mundo. Com um Serviço de Cirurgia Cardiovascular no Hospital a nossa Cardiologia cansada Sonhando com o futuro não vimos o tempo e frustada de ver pacientes morrerem passar!


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PIONEIRISMO, DEDICAÇÃO E I N O VA Ç Ã O Q U E ENCHEM NOSSO PEITO DE ORGULHO.

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Instituto de Cardiologia é um dos maiores Centros de Referência do Brasil em sua especialidade. Com a inovação e o pioneirismo em seu DNA, a Instituição comemora seus 50 anos contribuindo constantemente no aperfeiçoamento da suas bases fortes em assistência, ensino e pesquisa.

ANOS

40 ANOS

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Uma história tão rica merece muito ser celebrada e contada, para que continuemos a evoluir rumo a um novo futuro para o coração de todos os gaúchos.!

1946 Inauguração do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.

1966 Criação da Fundação Universitária de Cardiologia e início da administração do Instituto de Cardiologia.

1968 Construção do prédio atual.

1969 Inauguração do prédio em 25 de abril. É também aniversário do seu idealizador, Prof. Dr. Rubem Rodrigues

ANOS

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1970 Criação do Laboratório de Experimento Animal.


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ANOS

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1970 Equipe cirúrgica que realizou a primeira ponte de safena do Rio Grande do Sul

1971 Primeira Cinecoronariografia do Rio Grande do Sul

1972 Inauguração da primeira CTI coronariana do Rio Grande do Sul

1973 Primeiros procedimentos de hipertermia profunda e parada circulatória total para tratamento de valvopatias em crianças de baixo peso no Brasil

1974 Primeiro marcapasso atômico do Rio Grande do Sul

1974 Primeiras valvoplastias para insuficiência mitral no Rio Grande do Sul

1976 Primeira substituição completa da aorta ascendente e valva aórtica (Bentall-DeBono) do Brasil

ANOS

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1980 Uso de trombolítico no infarto

1982 Primeira angioplastia coronariana do Rio Grande do Sul

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ANOS

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1984 Primeiro transplante cardíaco do Rio Grande do Sul

1984 Primeira valvuloplastia mitral por cateter do Rio Grande do Sul

1986 Primeiro ecocardiograma fetal do Rio Grande do Sul

1988 Inauguração do Programa de Pós-graduação

1989 Primeira UTI cardiológica pediátrica do Brasil

ANOS

90

1990 Primeira angioplastia primária na fase aguda do infarto no Rio Grande do Sul

1990 Primeiro transplante cardíaco-pediátrico do Rio Grande do Sul

1991 Primeira ablação por cateter do Rio Grande do Sul

1992 Primeira cirurgia para fibrilação atrial do Rio Grande do Sul


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ANOS

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1993 Primeira unidade cardiofetal da América Latina

1994 Inaugurado primeiro banco de valvas cardíacas que recebeu o nome do Dr. André Barrionuevo

1994 Primeira valvoplastia áortica intra uterina do Rio Grande do Sul

1995 Primeiro marcapasso intrauterino da América Latina

1996 Primeira valvoplastia com balão do Rio Grande do Sul

1997 Primeira Cirurgia de Tromboendarterectomia Pulmonar na Instituição

1997 Primeira cirurgia com Heart Laser da América Latina

1997 Assume administração dos hospitais gerais de Cachoeirinha e Alvorada

1998 Primeiro Dia do Coração Fetal (Dia F)

1998 Primeiro fechamento percutâneo de comunicação interatrial do Rio Grande do Sul

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ANOS

90 ANOS

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1999 Primeiro implante de coração elétrico no Brasil

2000 Primeiras pesquisas com células-tronco e terapia gênica do Rio Grande do Sul

2000 Primeira cirurgia com robótica da América Latina

2001 Primeiro implante de marcapasso com utilização de robô do mundo

2004 Primeiro procedimento híbrido para hipoplasia de ventrículo esquerdo do Rio Grande do Sul

2005 Instalado o primeiro dispositivo de assistência mecânica biventricular do Brasil

2006 Assume o Hospital Viamão

2007 Primeiro ensaio clínico de terapia gênica da América Latina

2008 Primeiro implante de válvula aórtica pela via percutânea do sul do Brasil


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ANOS

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2008 Inauguração da Telemedicina

2008 Uso de técnica transfemoral para o tratamento de valvopatias no Rio Grande do Sul

2009 Primeiro tratamento de cardiopatia isquêmica terminal com terapia gênica

2009 Assume a administração do Hospital de Brasília

ANOS

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2010 Inauguração da Sala Híbrida

2013 Primeiro caso de ablação de arritmias cardíacas com mapeamento tridimensional

2013 Primeiro caso de ablação de arritmias cardíacas com mapeamento tridimensional sem uso de fluoroscopia em gestantes

2013 Primeiro caso de fechamento de comunicação interatrial por cateter do Rio Grande do Sul

2015 Valvoplastia mitral por via transeptal com implante de mitraclip

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Dr. Ivo Nesralla Diretor Presidente Dr. Nelson de Carvalho Nonohay Diretor Secretário Dr. Nestor Daudt Diretor Financeiro

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Dr. Carlos Antônio Mascia Gottschall Diretor Científico C

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Dr. Marne de Freitas Gomes Dr. Roberto Barros Benevett Dr. Renato Karam Kalil Dr. Domingos Vitola Dr. Rogério Eduardo Gomes Sarmento Leite Dra. Lúcia de Fontoura Osório Dr. Alberto Beltrame Enfº Jaime André Schmitz Sr. Aramy Pereira da Silva

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1966

Editores COMISSÃO 50 ANOS DO IC/FUC Dr. Iseu Gus Dr. Carlos A. M. Gottschall Enf. Lídia Lucas Lima Enf. Rita Timmers Marco Antônio Silva Alessa Flores André Flores Jornalista Responsável Alessa Flores (MTB 14312) Textos Dr. Marne Gomes Dr. Ivo Abrahão Nesralla Dr. Carlos A. M. Gottschall Dr. Iseu Gus Dra. Anna Maria Maciel Dr. Roberto Barros Benevett Dr. Nelson Nonohay Dr. Flávio Celso Leboute Dr. Nestor Daudt Dr. Paulo Prates

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2016

Fotos Sérgio Vergara Arquivo IC/FUC Divulgação Capa, Diagramação e Ilustrações SENSE Rua Benjamin Constant, 1755/ São Geraldo - Porto Alegre | RS 51 3209.7712 www.fazsentido.cc Circulação – trimestral Edição 09 – Ano 04 Outubro 2016 /Janeiro 2017 Abrangência: Brasília, Porto Alegre e interior do estado do Rio Grande do Sul.

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Dr. Júlio César Tavares da Silva Dr. João Ricardo Michellin Sant’Anna Dr. Guaracy Teixeira Filho S

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Dr. Rogério Pires H

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INSTITUTO DE CARDIOLOGIA PORTO ALEGRE Aramy Pereira da Silva Administração Dr. Gustavo Glotz de Lima Área Técnica HOSPITAL DE ALVORADA Dr. Carlos Grossini Administração Soraya Colares Malafaia Área Técnica HOSPITAL PADRE JEREMIAS CACHOEIRINHA Dr. Carlos Grossini Administração Dra. Martha Silveiro Área Técnica INSTITUTO DE CARDIOLOGIA HOSPITAL VIAMÃO Fernando Becker Administração Dr. João Almir Camargo Jorge Área Técnica INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DISTRITO FEDERAL Dra. Núbia Welerson Vieira Superintendente Dra. Naiara Porto Área Técnica

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