F OTOG R A F I A
“Deixar-se fotografar é uma autorização da alma, que só é dada àquele que tem o desejo de produzir uma imagem quando consegue trocar verdades fundamentais com a pessoa retratada”. Renê de Paula
Texto: Tânia Galluzzi
Renê de Paula
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1 ( página dupla anterior) Juliana Martins em ensaio para o livro Joia 2 Renata Fasanella em campanha para Yael Jewelry NY 3 Cris Noronha em campanha para O.C. 4 Editorial de joias para a Revista Riviera 5 Loris Kraemerh em ensaio para o livro Joia
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Perfeição da forma humana
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irigir e fotografar. Fotografar e dirigir. Renê de Paula não sabe o que vem primeiro. Sabe que em seu trabalho as duas atividades caminham juntas, conectadas, sob pena de arruinar dias de dedicação em caso de dissociação. O centro de atenções de Renê é o ser humano. Fotografar gente é a sua vida, seu sustento, seu prazer. E conviver com os melindres desse ofício, seu desafio. Não demorou muito para que ele descobris se do que gostava. Em meados da década de 80, depois de fotografar festivais de música, tea tro e dança, começou a fazer capas de disco, descobrindo que as pessoas atraíam mais suas lentes do que os objetos. O paulistano Renê entrou como sócio em um estúdio e resolveu fazer ensaios e levá-los para editoras. Autodi data é a palavra que vem à sua cabeça? “Não”, diz ele. “Autocondutor de ensino”, classifica-se, encarnando o neolog ista. Além dos livros, Renê educou seu olhar mi rando quem valia a pena seguir, como Miro, um
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dos maiores nomes na fotografia de moda e na publicidade brasileira, sua grande referência. Junto com os editoriais de moda vieram a pu blicidade, o apuro técnico e a habilidade para dirigir pessoas. “Fotografar gente é direção, é trabalhar com uma equipe grande, é como um diretor de cinema, que tem de fazer com que todos acreditem no projeto e conf iem nele”. Conf ianç a é o porto seguro para Renê. “Se não houver conf iança, a dúvida vai apare cer no olhar”. E quando o santo não bate? “O fo tógrafo prof issional sou eu. Tenho de cativar o fotografado”. Tranquilidade e paciência são bons aliados e o portfólio também ajuda. No caso de modelos profissionais, a estrutura de suporte conta pontos, além de um projeto crível e viável, no qual as pessoas percebam valor. Independente do esforço de quem está atrás da câmera, na fotografia de gente entra em cena outro fator, a fotogenia, que Renê define como “autorização da alma”. “Não tem nada a ver com beleza. Tem muita gente bonita que não foto grafa bem e vice-versa. Tem a ver com a von tade de a pessoa ser fotografada, com o quão confortável ela se sente diante da câmera”. Joia
O resultado de toda essa bagagem está estam pado no livro Joia, lançado no dia 16 de outu bro na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, fru to da união do fotógrafo com a Stilgraf. A obra transpira brasilidade ao contar a história de Ma ria das Graças, conhecida como Gracinha, e de pois Joia, que nasce no Morro de São Carlos, no Rio, tornando-se passista de escola de samba.
Para não perder seu poder de sedução, vai à Bahia, encontrando no candomblé o encanta mento que será sua glória e sua maldição: uma mulher irresistível, porém incapaz de amar. “Sempre acreditei que a nossa cultura é muito poderosa. Identifico-me com a diversidade, com a heterogeneidade, e há muito tempo penso em fazer algo que mostre isso tudo”. Renê conta que seu primeiro contato com a Stilgraf foi em 2005, através da produção de catálogos de moda para clientes diretos. “En contrei uma relação de entendimento dife rente. O que a gente fala é levado a sério, sem contar o respeito com a qualidade. Virou uma relação de amizade”. Os laços se estreitaram há dois anos, quando Robison Borges, diretor comercial da Stilgraf, comentou sobre o dese jo de fazer um livro que marcasse os 20 anos da gráfica. Renê delineou o projeto, conseguin do atrair a fabricante alemã de máquinas fo tográficas Leica e modelos de renome, como Emanuel a de Paula e Jul iana Martins. Mais de 30 locações foram usadas em Salvador, Rio de Janeiro e no litoral paulista, ambientando modelos e pessoas comuns. Tratado como um projeto cinematográfico, que envolveu uma equipe de quase 40 pessoas, Renê cuidou de cada detalhe, inclusive para que as imagens fossem resolvidas no momento da captação, dispensando a pós-produção. “Não excluo os benefícios do digital. Acho que o equi líbrio é a melhor saída, mas o que emociona é o ser humano, não a tecnologia”.
Desde 2010 Renê não se dedica a outra coi sa e, lançado Joia, o fotógrafo está agora repen sando sua carreira, flertando com o cinema e projetando novos livros. O caminho do tra balho autoral não é simples, mas Renê parece disposto a enfrentá-lo.
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& RENÊ DE PAULA Tel. (11) 97234.6002 www.renedepaula.com.br novembro /dezembro 2012 REVISTA ABIGR AF
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