Renê de Paula - Fotografia - Revista Abigraf 262

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F OTOG R A F I A

“Deixar-se fotografar é uma autorização da alma, que só é dada àquele que tem o desejo de produzir uma imagem quando consegue trocar verdades fundamentais com a pessoa retratada”. Renê de Paula

Texto: Tânia Galluzzi

Renê de Paula


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1 ( página dupla anterior) Juliana Martins em ensaio para o livro Joia 2 Renata Fasanella em campanha para Yael Jewelry NY 3 Cris Noronha em campanha para O.C. 4 Editorial de joias para a Revista Riviera 5 Loris Kraemerh em ensaio para o livro Joia

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Perfeição da forma humana

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irigir e fotografar. Fotografar e dirigir. Renê de Paula não sabe o que vem primeiro. Sabe que em seu trabalho as duas atividades caminham juntas, conectadas, sob pena de arruinar dias de dedicação em caso de dis­so­cia­ção. O centro de atenções de Renê é o ser humano. Fotografar gente é a sua vida, seu sustento, seu prazer. E conviver com os melindres desse ofício, seu desafio. Não demorou muito para que ele descobris­ se do que gostava. Em mea­dos da década de 80, depois de fotografar festivais de música, tea­ tro e dança, começou a fazer capas de disco, descobrindo que as pes­soas ­atraíam mais suas lentes do que os objetos. O paulistano Renê entrou como sócio em um estúdio e resolveu fazer ensaios e levá-​­los para editoras. Autodi­ data é a palavra que vem à sua cabeça? “Não”, diz ele. “Autocondutor de ensino”, classifica-se, encarnando o neo­lo­g is­ta. Além dos livros, Renê educou seu olhar mi­ rando quem valia a pena seguir, como Miro, um

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dos maiores nomes na fotografia de moda e na publicidade brasileira, sua grande referência. Junto com os editoriais de moda vie­ram a pu­ blicidade, o apuro técnico e a habilidade para dirigir pes­soas. “Fotografar gente é direção, é trabalhar com uma equipe grande, é como um diretor de cinema, que tem de fazer com que todos acreditem no projeto e con­f iem nele”. Con­f ian­ç a é o porto seguro para Renê. “Se não houver con­f ian­ça, a dúvida vai apare­ cer no olhar”. E quando o santo não bate? “O fo­ tógrafo pro­f is­sio­nal sou eu. Tenho de cativar o fotografado”. Tranquilidade e pa­ciên­cia são bons alia­dos e o portfólio também ajuda. No caso de modelos profissionais, a estrutura de suporte conta pontos, além de um projeto crível e viá­vel, no qual as pes­soas percebam valor. Independente do esforço de quem está atrás da câmera, na fotografia de gente entra em cena outro fator, a fotogenia, que Renê define como “autorização da alma”. “Não tem nada a ver com beleza. Tem muita gente bonita que não foto­ grafa bem e vice-​­versa. Tem a ver com a von­ tade de a pessoa ser fotografada, com o quão confortável ela se sente dian­te da câmera”. Joia

O resultado de toda essa bagagem está estam­ pado no livro Joia, lançado no dia 16 de outu­ bro na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, fru­ to da ­união do fotógrafo com a Stilgraf. A obra transpira brasilidade ao contar a história de Ma­ ria das Graças, conhecida como Gracinha, e de­ pois Joia, que nasce no Morro de São Carlos, no Rio, tornando-se passista de escola de samba.

Para não perder seu poder de sedução, vai à Bahia, encontrando no candomblé o encanta­ mento que será sua glória e sua maldição: uma mulher irresistível, porém incapaz de amar. “Sempre acreditei que a nossa cultura é muito poderosa. Identifico-me com a diversidade, com a heterogeneidade, e há muito tempo penso em fazer algo que mostre isso tudo”. Renê conta que seu primeiro contato com a Stilgraf foi em 2005, através da produção de catálogos de moda para clien­tes diretos. “En­ contrei uma relação de entendimento dife­ rente. O que a gente fala é levado a sério, sem contar o respeito com a qualidade. Virou uma relação de amizade”. Os laços se estreitaram há dois anos, quando Robison Borges, diretor co­mer­cial da Stilgraf, comentou sobre o dese­ jo de fazer um livro que marcasse os 20 anos da gráfica. Renê delineou o projeto, conseguin­ do atrair a fabricante alemã de máquinas fo­ tográficas Leica e modelos de renome, como Ema­nue­l a de Paula e Ju­l ia­na Martins. Mais de 30 locações foram usadas em Salvador, Rio de Janeiro e no litoral paulista, am­bien­tan­do modelos e pes­soas comuns. Tratado como um projeto cinematográfico, que envolveu uma equipe de quase 40 pes­soas, Renê cuidou de cada detalhe, inclusive para que as imagens fossem resolvidas no momento da captação, dispensando a pós-​­produção. “Não excluo os be­ne­fí­cios do digital. Acho que o equi­ líbrio é a melhor saí­da, mas o que emo­cio­na é o ser humano, não a tecnologia”.

Desde 2010 Renê não se dedica a outra coi­ sa e, lançado Joia, o fotógrafo está agora repen­ sando sua carreira, flertando com o cinema e projetando novos livros. O caminho do tra­ balho autoral não é simples, mas Renê parece disposto a enfrentá-lo.

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& RENÊ DE PAULA Tel. (11) 97234.6002 www.renedepaula.com.br novembro /dezembro 2012  REVISTA ABIGR AF

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