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stá em cartaz até o dia 11 de agosto no Itaú Cultural, em São Paulo, a exposição Ainda Há Noite/Nos Queda la Noche. Com mais de 300 imagens, a exposição revela as inquietações e a poética de fotógrafos oriundos de oito países da região. Vinculada à quinta edição do Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, a exposição, assim como o evento, tem curadoria do catalão Claudi Carreras e do brasileiro Iatã Cannabrava. A mostra apresenta dez projetos de 11 fotógrafos e um editor origi ná rios da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Guatema la, México, Peru e Uruguai, além da Espanha e do Reino Unido. Sob o véu do tema, a noite, as imagens dia logam com assuntos contemporâ neos presentes na região, da onipresença dos celulares, passando pela violência, manifestações sociais e resi liência, ao trabalho noturno e à memória. Apresentadas em suportes diversos, as imagens recorrem às horas noturnas para pensar a América Latina. A série Píxeles, do argentino
Por: Tânia Galluzzi
Alejandro Chaskielberg, traz uma mescla de poesia e crítica ao propor entender as pessoas como pixels de uma grande imagem global. Grupos de homens e mulheres estão juntos em bucólicas paisagens noturnas iluminadas apenas pelas luzes coloridas que saem dos seus celulares e as hipnotizam. Do Chile vem a série da dupla Alejandro e Cristóbal Olivares, Chile 874. Embora capturadas naquele país, as imagens carregam uma truculenta rea lidade conhecida nos demais ter ritórios sul- americanos. As fotos registram o período entre 2011 e 2013, quando professores, estudantes e seus pais, aos milhares, tomaram as ruas do Chile para protestar contra o governo e o lucro obtido com as políticas educacionais. O número 874 representa a quantidade de jovens presos em um único dia. História natural do silêncio, do colom biano Jorge Panchoaga, também trata da violência sofrida pelos cidadãos latino-americanos. A série aborda um período em que, segundo o fotógrafo, uma geração de homens e mulheres
“Muito se fala da América Latina como o território da identidade sonhada, antes mesmo de ser inventada ou descoberta. Se o conceito de identidade latino-americana segue sendo polêmico, o que envolve a noite da região não fugiria disso.” IATÃ CANNABRAVA E CLAUDI CARRERAS
1 (página ao lado) Alejandro Chaskielberg. Salinas. Série Píxeles, 2019 2 (página ao lado) Ignacio Iturrioz. Série Purgatório, 2014-2017 3 (página ao lado) Luisa Dörr. As policiais. Série Basal, 2019 4 Gihan Tubbeh. Série De Tiempo en Tiempo un Volcán Estalla, 2018
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entrou no mundo da clandestinidade nas diferentes cidades colombianas, como refúgio ou pela articulação da economia do narcotráfico com a sociedade. Em Insídia, o guatemalteco Juan Brenner faz uma metáfora entre a imprudência de tirar fotos à noite na Cidade da Guatema la, uma atividade ousada, e a atitude despreocupada dos seres notívagos. Um ensaio sobre a resi liência daqueles que foram tocados pela violência em algum momento de suas vidas é o que se vê na série de fotografias Lucier naga, que são como vaga-lumes ou pirilampos, do mexicano Yael Martínez. Em sua obra, o artista explora os efeitos da pobreza e do crime organizado em Guer rero, um dos mais carentes e violentos estados mexicanos. 8
5 Alejandro Olivares e Cristóbal Olivares. Série Chile 874, 2011–2013 6 Ignacio Iturrioz. Série Purgatório, 2014–2017 7 Juan Brenner. Série Insidia, 2019 8 Jorge Panchoaga. Série História Natural del Silencio, 2019
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9 Yael Martínez. Luciérnaga, 2019 10 Archive of Modern Conflict (editado por Kalev Erickson). Luar no Amazonas , Brasil, 1928. Série Moon Shadows, 2019 11 Cristina de Middel e Bruno Morais. Série Boa Noite, Povo, 2019
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A perua na Gihan Tubbeh evoca uma fala feminina em De tiempo en tiempo un volcán estalla (De vez em quando, um vulcão explode). As suas imagens sugerem uma jornada onírica e alegórica à condição feminina dentro do universo. Por sua vez, a brasileira Luisa Dörr apresenta, em Basal, os trabalhadores noturnos que mantêm a cidade pulsante para que, ao despertar, tudo esteja em pleno funcionamento. A dupla hispano-brasileira Cristina De Middel e Bruno Morais utiliza narrativas construídas para ilustrar o atual contexto econômico e político, usando animais noturnos como atores
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improvisados. A série Boa noite, povo, investiga, por meio de experimentos semiperformáticos, a relação que existe entre o cultural e o natural. O icônico Palácio Salvo, um prédio de 95 metros de altura e 27 andares situado em Montevidéu, é o pano de fundo usado pelo uruguaio Ignacio Itur rioz para rea li zar Purgatório. Ele viveu por alguns anos no edifício que abriga um universo particular. Inaugurado em 1928, na época foi considerado a torre mais alta da América do Sul. Moon shadows, série editada pelo norteamericano Kalev Erickson é proveniente do Archive of Modern Conflict, um acervo particular sediado em Londres. As imagens exploram as relações entre o consciente e o inconsciente. Representam momentos fugazes encontrados entre o estar acordado e adormecido, fragmentos de sonhos lúcidos e memória fundidos para produzir narrativas incertas. maio /junho 2019
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