José Bignardi Neto - História Viva - Revista Abigraf 267

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HISTÓRIA VIVA

José Bignardi Neto O gráfico que aprendeu a fabricar papel

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uito ligado ao avô, imigrante ita­ lia­no cujo primeiro emprego no Brasil foi como calceteiro, José Bignardi Neto começou a traba­ lhar aos 13 anos na J. Bignardi, gráfica da fa­ mília comandada pelo pai e pelo avô. Por volta dos anos 1950, o clã — José Bignardi e seus seis

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irmãos — chegou a ter três gráficas em ativida­ de na capital paulista: a J. Bignardi, o Estabe­ lecimento Gráfico Bignardi e a Irmãos Bignar­ di. A mais longeva foi a J. Bignardi, onde José Bignardi Neto aprendeu o ofício de linotipista. José Bignardi faleceu em 1947 e oito anos de­ pois José Bignardi Neto, já formado em Conta­ bilidade pelo Mackenzie, incentivou o pai a sair da J. Bignardi, cabendo a eles na divisão um dos pré­d ios da gráfica. No ano seguinte, 1956, en­ xergando boas oportunidades nos segmentos de cadernos e listas telefônicas, José Bignardi Neto deixou definitivamente a antiga gráfica para fundar a Jandaia, na rua de mesmo nome, no centro de São Paulo. Enquanto esforçava-​­se para dar corpo e rit­ mo à Jandaia, o empresário, casado desde 1955 com Ilza, acalentava o sonho de fabricar papel. A chance surgiu em 1972, com a compra da Gordinho Braune, que produzia celulose e pa­ pel em Jun­diaí (SP). Como relembra Ricardo, fi­ lho do empresário, na época da compra a Gor­ dinho Braune acumulava um grande passivo

trabalhista, que levou anos para ser saldado. Em 1978, pe­r ío­do em que Ricardo ingressou na empresa, a fabricação de celulose, pouco rentá­ vel, foi encerrada, permitindo a concentração de esforços na produção de papel. A unidade, bati­ zada pos­te­r ior­men­te como Bignardi Pa­péis, foi modernizada e recebeu uma segunda máquina de papel em 1983, mergulhando no segmento de pa­péis especiais e reciclados a partir de mea­ dos dos anos 2000. Hoje, a fábrica é capaz de produzir 5.500 toneladas por mês. A década de 1980 e o ingresso da segun­ da geração também foram pródigos com a Jan­ daia Indústria Gráfica. Depois de mudar do cen­ tro da cidade para o bairro da Vila Guilherme, em 1985 ela foi transferida para o município de Caiei­ras, próximo da capital, centrando-​­se na fabricação de cadernos. Lá trabalham cer­ ca de 500 fun­cio­ná­r ios, que, somados aos 300 da unidade de Jun­d iaí, mais a equipe do Ataca­ dão Jandaia, aberto em 1993 na sede adminis­ trativa do grupo, no bairro do Pari, totalizam quase mil colaboradores.

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MUITOS PAPÉIS

José Bignardi Neto sempre esteve à frente dos dois ne­gó­cios. Antes disso, já estava acostuma­ do a dividir seu tempo entre o comando da grá­ fica e a luta pelas bandeiras do setor. Ele esteve no famoso Congresso de Águas de Lindoia, em 1965, que resultou na cria­ção da Abigraf Na­cio­ nal, participando como diretor em algumas ges­ tões. “Quan­do comprei a fábrica de papel acabei me desligando”, comenta. “Sabe, o pes­soal dizia”, conta ele em tom de brincadeira, “não convi­ da o Zé Bignardi que ele é fabricante de papel”.

Foto: Álvaro Motta

Foto: Álvaro Motta

José Bignardi Neto é um homem realizado. Aos 82 anos ele orgulha‑se de ter construído não só um grupo de empresas para carregar seu sobrenome, como de ter ao seu lado seus três filhos. Empreendedorismo, integridade e garra acompanharam sua trajetória, transformando‑o numa referência nos segmentos de cadernos e de papel. Tânia Galluzzi

1 Belo Almeida, representante comercial da Jandaia, em seu caminhão. Ele atuava como caixeiro viajante, comercializando os produtos da empresa nas cidades do interior do Estado de São Paulo. Década de 1930 2 José Bignardi Neto e a esposa, Ilza, no 2-º congresso da Abigraf Nacional, realizado na Guanabara (RJ). O evento contou com cerca de 500 pessoas, estando presentes delegações do México, Uruguai e Argentina. Maio de 1996 3 A MP1, primeira máquina de papel Voith que chegou ao Brasil, em 1924, instalada na fábrica da Gordinho Braune. Imagem da década de 1950 4 José Bignardi Neto e os três filhos, com quem divide a gestão dos negócios: (E/D) Ricardo, diretor comercial e financeiro; Beatriz, diretora administrativa e responsável pela unidade de Jundiaí; e Ivan, responsável pela área de marketing e pela fábrica de Caieiras e do Atacadão

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69 setembro /outubro 2013  REVISTA ABIGR AF


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5 O Casal José Bignardi Neto e Ilza Bignardi em Águas de Lindoia (SP), durante a realizaçao do I Congresso Brasileiro da Indústria Gráfica, quando foi constituída a Abigraf Nacional. Junho de 1965 6 José Bignardi Neto e o filho Ricardo, presentes na inauguração de agência do banco Safra no bairro da Vila Maria, em São Paulo 7 Capa da publicação especial comemorativa dos 40 anos do Grupo Jandaia

pe­río­do, mas quem disse que consegue?”, diver­ te-​­se Ricardo. Vendo os quatro juntos é inevi­ tável perguntar como se atinge harmonia em tal convivência. Quem explica é Ricardo: “Fi­ zemos um planejamento sucessório, temos re­ gras de postura definidas e sabemos que a cha­ ve é remunerar bem o pro­f is­sio­nal”. Tentando romper o pragmatismo de Ricardo, insistimos na pergunta, e Ivan fala de valores fundamen­ tais como responsabilidade, dedicação e disci­ plina. Thia­go, filho de Bea­triz, também já está no grupo. “Fico feliz em ver que a sucessão vem acontecendo, que tudo que fiz não será jogado fora”, afirma José Bignardi Neto. É ou não é um homem que pode olhar para trás com um sorriso nos lá­bios?

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Bea­t riz, primogênita, formada em Enge­ nharia Quí­mi­ca, começou na empresa em 1982. Ivan, o caçula, engenheiro de produção, chegou em 1985, por conta da mudança da fábrica de cadernos para Caiei­ras. Paulatinamente, o pa­ triar­ca foi delegando funções e cada filho pas­ sou a comandar uma área: Ricardo, economista, é diretor co­mer­cial e financeiro; Bea­triz é dire­ tora administrativa e responsável pela unidade de Jun­diaí; e Ivan responde pela área de mar­ke­ ting, pela fábrica de Caiei­ras e pelo Atacadão. Com décadas de convivência pro­f is­sio­nal, José Bignardi Neto foi cedendo espaço aos des­ cendentes sem abrir mão de acompanhar as fi­ nanças do grupo. Com saú­de para distribuir até para os filhos, como brinca Ivan, ele conti­ nua a ir dia­r ia­men­te ao escritório. “Ele vem fa­ lando em diminuir o ritmo, trabalhar só meio REVISTA ABIGR AF  setembro /outubro 2013

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