Walter Craveiro
2 REVISTA ABIGR AF  julho /agosto 2016
F OTOG R A F I A
De volta às raízes
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alter Craveiro, 55 anos, cresceu no Centro de São Paulo. No coração da cida de, os conf lit uos os anos de 1970 desfilavam dian te dele como blocos carnavalescos organizados no calor da animação, sem hora para começar e tampouco para terminar e, por isso, de pertur badora magia. Tudo de relevante passava pelo Centro, plantando em Craveiro a necessidade de registrar a marcha dos acontecimentos. Aos 15 anos começou a fazer Super 8. Aos 18 entrou na faculdade, imaginando-se feliz na carreira de engenheiro químico. Mas o mundo das ima gens já morava dentro dele e encontrou no la boratório de fotografia do grêmio do Instituto Mauá a brecha para manifestar-se. Dos compos tos químicos, Craveiro foi para o jornalismo na
Faculdade Cásper Líbero e em 1985 iniciou sua trajetória prof issional como assistente em um estúdio de fotografia publicitária. Confortável em sua escolha, caminhou como muitos de seus companheiros de ofício. Depois de uma temporada na Europa, conse guiu uma chance de mostrar seu trabalho na Editora Abril, iniciando seu percurso no merca do editor ial. Náutica, Próxima Viagem, Vacances, Business Travel, a lista de revistas para as quais colaborou é extensa. O birô de editoração ele trônica montado em 1992 transformou-se em estúdio de comunicação e com ele Craveiro se gue fazendo fotografia corporativa. Para além da demanda comercial está a re flexão. Há seis anos, de câmera na mão, Cra veiro resolveu revisitar o Centro de São Paulo, inic iando o ensaio Ver Rever. São Paulo. Porto.
Antes mesmo que ele se desse conta, a fotografia já fazia parte da vida de Walter Craveiro. Revisitando suas origens, ele une duas cidades com cores e sombras. Tânia Galluzzi
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No meio do caminho, em 2013, o inusitado. Para comemorar seu aniversário de casamen to, Craveiro foi com a esposa, Lúcia Caetano, para a cidade do Porto, em Portugal. “Ela filha e eu neto de portugueses encontramos, ou me lhor, reencontramos nas ruas do Porto lugares, costumes e pessoas muito familiares. De ma neira quase irrefletida, a Baixa do Porto passou a ser uma extensão do espaço de memória que eu explorava em São Paulo. Nesse exercício de ver e rever-me, resolvi fotografar com recursos que costumava utilizar ao iniciar minha carrei ra prof issional.” Naquela época analógica, cada fotógrafo tinha o seu filme preferido. O de Cra veiro era o Fuji Velvia 50. Altíssima resolução e cores saturadas davam ao filme uma caracte rística ímpar, exigindo um grande cuidado ao fotografar nas áreas de sombra: facilmente o preto invadia essas reg iões. Craveiro passou a fotografar as ruas do Porto e de São Paulo com
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os padrões do Velvia 50 na câmera digital. En tretanto, e de forma intenc ional, dessa vez a sombra e o preto ganham destaque na paisa gem, criando composições de cores pausadas, como nomeou um amigo. “Revelou-se a ausên cia. E um vigoroso espaço de encontro e reen contro com minhas memór ias.” O gestual e o olhar — Ver Rever deve mater ia lizar-se em uma exposição. Assim como acon teceu com o trabalho de maior visibilidade de Craveiro, como fotógrafo oficial da Flip, a Fes ta Literária Internacional de Paraty. Clicando as mesas literár ias desde a primeira edição, em 2003, Craveiro reúne um precioso acervo, que já foi tema de exposição na própria Flip, há quatro anos. Diferente dos demais fotógrafos, Craveiro pôde permanecer na Tenda dos Autores no de correr das apresentações e debates. “Acho que sou a única pessoa que assistiu a todas as mesas até hoje”, comenta o fotógrafo. Trabalhando na miúda, Craveiro procura mergulhar na discus são. “Meus elementos são o gestual e o olhar. Busco representar as ideias se expressando no rosto das pessoas.” Uma das mesas mais surpreendentes foi a da escritora Adélia Prado, que com sua simpli cidade provocou uma catarse coletiva. Outra sit uaç ão inusitada aconteceu com o escritor per uano Mario Bellatin. “Ele não tem um dos braços e costuma utilizar próteses artísticas, a mais comum semelhante a uma curva fran cesa. No dia de sua apresentação ele usou um grande pênis”, diverte-se Craveiro. Entre seus retratos preferidos está o de Ferreira Gullar, pela expressividade. A ideia é evidenc iar no vamente esse conjunto em 2017, em comemo ração aos 15 anos da festa literária. Pelo jeito, uma boa safra vem aí.