WALTER CRAVEIRO - Fotografia - Revista Abigraf 284

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Walter Craveiro

2 REVISTA ABIGR AF  julho /agosto 2016


F OTOG R A F I A

De volta às raízes

W

alter Craveiro, 55 anos, cresceu no Centro de São Paulo. No coração da cida­ de, os con­f li­t uo­s os anos de 1970 desfilavam dian­ te dele como blocos carnavalescos organizados no calor da animação, sem hora para começar e tampouco para terminar e, por isso, de pertur­ badora magia. Tudo de relevante passava pelo Centro, plantando em Craveiro a necessidade de registrar a marcha dos acontecimentos. Aos 15 anos começou a fazer Super 8. Aos 18 entrou na faculdade, imaginando-​­se feliz na carreira de engenheiro químico. Mas o mundo das ima­ gens já morava dentro dele e encontrou no la­ boratório de fotografia do grêmio do Instituto Mauá a brecha para manifestar-​­se. Dos compos­ tos químicos, Craveiro foi para o jornalismo na

Faculdade Cásper Líbero e em 1985 iniciou sua trajetória pro­f is­sio­nal como assistente em um estúdio de fotografia publicitária. Confortável em sua escolha, caminhou como muitos de seus companheiros de ofício. Depois de uma temporada na Europa, conse­ guiu uma chance de mostrar seu trabalho na Editora Abril, ini­cian­do seu percurso no merca­ do edi­to­r ial. Náu­ti­ca, Próxima Via­gem, Vacances, Business Travel, a lista de revistas para as quais colaborou é extensa. O birô de editoração ele­ trônica montado em 1992 transformou-​­se em estúdio de comunicação e com ele Craveiro se­ gue fazendo fotografia corporativa. Para além da demanda co­mer­cial está a re­ flexão. Há seis anos, de câmera na mão, Cra­ veiro resolveu revisitar o Centro de São Paulo, ini­c ian­do o ensaio Ver Rever. São Paulo. Porto.

Antes mesmo que ele se desse conta, a fotografia já fazia parte da vida de Walter Craveiro. Revisitando suas origens, ele une duas cidades com cores e sombras. Tânia Galluzzi

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No meio do caminho, em 2013, o inusitado. Para comemorar seu aniversário de casamen­ to, Craveiro foi com a esposa, Lúcia Cae­ta­no, para a cidade do Porto, em Portugal. “Ela filha e eu neto de portugueses encontramos, ou me­ lhor, reen­con­tra­mos nas ruas do Porto lugares, costumes e pes­soas muito fa­mi­lia­res. De ma­ neira quase irrefletida, a Baixa do Porto passou a ser uma extensão do espaço de memória que eu explorava em São Paulo. Nesse exercício de ver e rever-​­me, resolvi fotografar com recursos que costumava utilizar ao ini­ciar minha carrei­ ra pro­f is­sio­nal.” Naquela época analógica, cada fotógrafo tinha o seu filme preferido. O de Cra­ veiro era o Fuji Velvia 50. Altíssima resolução e cores saturadas davam ao filme uma caracte­ rística ímpar, exigindo um grande cuidado ao fotografar nas ­­áreas de sombra: facilmente o preto invadia essas re­g iões. Craveiro passou a fotografar as ruas do Porto e de São Paulo com

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os padrões do Velvia 50 na câmera digital. En­ tretanto, e de forma in­ten­c io­nal, dessa vez a sombra e o preto ganham destaque na paisa­ gem, crian­do composições de cores pausadas, como nomeou um amigo. “Revelou-​­se a ausên­ cia. E um vigoroso espaço de encontro e reen­ con­tro com minhas me­mó­r ias.” O ges­tual e o olhar — Ver Rever deve ma­te­r ia­ li­zar-​­se em uma exposição. Assim como acon­ teceu com o trabalho de maior visibilidade de Craveiro, como fotógrafo ofi­cial da Flip, a Fes­ ta Literária In­ter­na­cio­nal de Paraty. Clicando as mesas li­te­rá­r ias desde a primeira edição, em 2003, Craveiro reú­ne um pre­cio­so acervo, que já foi tema de exposição na própria Flip, há quatro anos. Diferente dos demais fotógrafos, Craveiro pôde permanecer na Tenda dos Autores no de­ correr das apresentações e debates. “Acho que sou a única pessoa que assistiu a todas as mesas até hoje”, comenta o fotógrafo. Trabalhando na miú­da, Craveiro procura mergulhar na discus­ são. “Meus elementos são o ges­tual e o olhar. Busco representar as ideias se expressando no rosto das pes­soas.” Uma das mesas mais sur­preen­den­tes foi a da escritora Adélia Prado, que com sua simpli­ cidade provocou uma catarse coletiva. Outra si­t ua­ç ão inusitada aconteceu com o escritor pe­r ua­no Mario Bellatin. “Ele não tem um dos braços e costuma utilizar próteses artísticas, a mais comum semelhante a uma curva fran­ cesa. No dia de sua apresentação ele usou um grande pênis”, diverte-​­se Craveiro. Entre seus retratos preferidos está o de Ferreira Gullar, pela expressividade. A ideia é evi­den­c iar no­ vamente esse conjunto em 2017, em comemo­ ração aos 15 anos da festa literária. Pelo jeito, uma boa safra vem aí.


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