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REABERTURA DAS ACADEMIAS

MAIORIA CONTRA Por redação

Veja algumas opiniões: “Sou a favor da reabertura pois as pessoas precisam trabalhar, mas sei que isso irá ampliar a contaminação, e não adianta dizer que com medidas de higiene é possível controlar porque a maioria das academias de Jiu-Jitsu tem problemas de higiene básica. Mas seja o que Deus quiser, essas pessoas precisam trabalhar”, Lucas Simões (Instagram)

“Eu acho que as academias devem reabrir, pois tem muito pai de família que depende desse dinheiro para sobreviver. Quem não se sentir seguro ou confortável para voltar, não vá. Eu não estou indo, por cautela, mas não posso tirar o ganha pão do outro”, Helton Jum Kikuti (Twitter)

“Ainda não é o momento. Só vão perceber que é sério quando um familiar falecer. Tudo bem que os professores precisam da academia aberta, mas e as vidas, ficam como? Só vamos dar realmente valor à vida quando ver quem realmente amamos perder ela”, Alexandre Silva (Instagram)

“Sim, claro que devem reabrir. O esporte é essencial para manter a saúde do indivíduo, basta se precaver e seguir as recomendações”, Rastelle (Instagram)

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Para entender melhor a opinião da comunidade brasileira do Jiu-Jitsu e outras artes marciais sobre a reabertura das academias em meio à pandemia do novo coronavírus, a TATAME lançou uma enquete nas suas redes sociais: você é a favor ou contra a reabertura? Foram 216 votos computados (somando Instagram e Twitter), com 79 deles favoráveis à reabertura e 137 contra (aproximadamente 64%).

“Contra! Respeitem a ciência, os profissionais de saúde e quem está segurando a barra. Todos precisamos de grana e trabalhar, treinar, mas principalmente aprender o que significa coletividade e viver em sociedade, além de uma coisa chamada empatia”, Marcelo Dourado (Instagram)

“Sou contra o retorno no momento, pois trabalho como motorista da saúde e não posso colocar em risco as crianças pras quais dou aula. Precisamos pensar no próximo”, Laerte Barbosa (Facebook)

“Embora eu esteja diretamente interessada na reabertura das academias, creio que seja melhor esperar mais um pouco. Enquanto isso vamos tentando sobreviver, nos reinventando e buscando novas condições de ganhar nosso pão”, Renata Shera (Instagram)

“Sou a favor. Fica a critério de cada uma se vai ou não treinar, a liberação não quer dizer que é uma obrigação treinar, e sim uma opção de cada um”, Moises Luiz da Rocha (Instagram)

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IMPACTO

NO JIU-JITSU

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Por Yago Rédua fotos: reprodução

Além dos atletas e organizações, professores de Jiu-Jitsu do mundo todo estão sendo impactados pelo novo coronavírus. Em alguns países, já se pratica a flexibilização do isolamento social e existe uma expectativa para a reabertura das academias de artes marciais nas próximas semanas, enquanto em outros, a data ainda é uma incógnita. De olho neste processo, a TATAME conversou com professores de diversos países para saber a realidade de cada um.

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A

inda é difícil medir qual será o balanço final após a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Algumas regiões do mundo começam a ter uma baixa no número de mortos e infectados, possibilitando uma flexibilização no isolamento social, enquanto outras seguem vendo os números crescerem. Na economia, por exemplo, o FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta a maior recessão mundial desde 1929 - conhecida como “a grande depressão” -, na maior crise da história do sistema capitalista.

ITÁLIA O italiano Roberto Bocchi, faixa-preta da Gracie Barra, lidera uma escola em Torino, que fica ao norte do país. A Itália, logo após a China, foi o segundo epicentro global do novo coronavírus e está em isolamento desde o dia 9 de março. Em conversa à TATAME, o professor disse que sofreu um baque financeiro com a paralisação das aulas e não teve nenhum suporte do governo. “O impacto no meu negócio foi enorme, passamos de 250 (alunos) para 0 em um dia. O governo não fez quase nada para ajudar, em dois meses, eles nos deram 600 euros e não foi para todo mundo, apenas 8% das empresas esportivas receberam essa ajuda antes que o governo ficasse sem dinheiro. Portanto, definitivamente não teve ajuda”, disse o faixa-preta, que seguiu: “Na prática, eles (alunos) não estão mais pagando a mensalidade. Em vez disso, temos uma promoção com desconto de 50% do preço normal para os alunos que nos seguem online”, relatou. Roberto disse que é a favor da reabertura das academias, mesmo com restrições. A expectativa é que o governo autorize a liberação das escolas de artes marciais a partir de junho.

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*** entrevistas realizadas em meados de maio

ESPANHA Assim como na Itália, a Espanha viveu dias tristes nos últimos dois meses com a pandemia. O país, que entrou em estado de emergência em 14 de março, precisou fechar todos os estabelecimentos, com exceção dos serviços essenciais. Leandro Gontijo, que é responsável por duas escolas da Gracie Barra, em Barcelona e Castelldefels, relatou um pouco da situação no país. “A crise sanitária nos afetou e muitas pessoas ficaram sem

trabalho. As academias também sofreram um forte impacto. Estamos todos juntos, lutando com os nossos alunos, para podermos vencer. O governo disponibilizou ajuda para pessoas e as empresas, mas até o momento, essa ajuda não chegou a todos. Eu ainda não recebi essa ajuda. A nossa academia só consegue sobreviver graças aos alunos que seguem pagando as mensalidades com uma cota reduzida de 60%. Alguns alunos seguem

até pagando a cota inteira por não terem sido tão afetados pela crise. Outros foram muito afetados e não puderam seguir pagando. Eu entendo a situação de todos e tento ajudar”. Leandro informou que o governo espanhol definiu o processo para reativação da economia em quatro fases: 0, 1, 2 e 3. A reabertura das academias entra na fase 2 e está prevista, seguindo normas do governo, para o dia primeiro de junho.

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FRANÇA A França também passou por situação complicada e a população segue confinada. O francês Mathias Jardim, professor da GFTeam em Paris, explicou que a maioria dos alunos seguem pagando as mensalidades e, por isso, ele têm conseguido se manter financeiramente. Além disso, destacou as aulas online como uma importante saída durante o momento. “Fazemos aulas onlines voltadas mais para a parte física, porque é impossível de fazer Jiu-Jitsu pra quem está sozinho em casa. Também fazemos aulas para quem pode treinar com outra pessoa. Então, estamos fazendo quatro treinos por semana online, são sempre 60 ou

70 pessoas”, disse o professor, que seguiu comentando sobre o momento do país: “Aqui já está mais flexível o isolamento, mas com as artes marciais de contato vamos ter que esperar até 2 de junho

para mais novidades. Acho que neste dia, a novidade será que vai ter que ficar fechado (risos). Eu não sou a favor que reabram logo, acho que isso é perigoso. Temos que ficar todos com saúde”.

ESTADOS UNIDOS Atual epicentro global do novo coronavírus, os Estados Unidos registram mais de 1 milhão de infectados. Em Nova York, estado mais atingido pela Covid-19, a TATAME conversou com Robson Gracie Jr. O faixa-preta de Jiu-Jitsu e lutador do Bellator comentou sobre a situação no estado e na academia Renzo Gracie Academy. “As coisas estão começando a reabrir agora. Os restaurantes você pode pedir para entregar ou até ir buscar. Em relação aos treinos, está bem complicado. Consigo ir na academia e faço sozinho alguns exercícios, mas treino mesmo nenhum. Por ser um esporte de muito contato, mesmo que o governo permita a reabertura das academias, creio que irá demorar um pouco até os alunos se sentirem confortáveis para voltarem a treinar. Mas até o momento não tem nenhuma data estipulada para isso”, falou Robson. O sistema online da Renzo Gracie Academy já funcionava, mas foi ainda mais requisitada após a decretação do “lockdown” no país, segundo Robson.

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*** entrevistas realizadas em meados de maio

INGLATERRA Dez vezes campeão mundial de Jiu-Jitsu e referência no esporte, Roger Gracie comanda, em Londres (ING), sua equipe. O faixa-preta, que chegou a contrair o novo coronavírus e se recuperou, contou como tem feito para lidar em relação aos funcionários e alunos. O ex-atleta disse que precisou cortar alguns salários e, logo que academia fechou, iniciou as aulas pela internet. “Desde que a academia fechou, nós mudamos para uma plataforma online. São aulas para criança, adulto, como fazíamos

na academia. Estou tentando ao máximo cuidar dos professores. A minha academia ficou grande, eu tinha 22 pessoas trabalhando pra mim. Assim, tivemos que ter uma redução de salários para alguns. Mas cada caso é um caso. Tem certos professores que precisam do salário, outros não, porque eles tinham o trabalho deles e também davam aulas aqui na academia. Estou tentando ao máximo ajudar quem tá aqui comigo. É exatamente o que todo mundo tem que fazer. Não só no Jiu-Jitsu, mas em qualquer empresa”.

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JAPÃO Logo após a confirmação oficial do adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2020 para 2021, o Japão entrou em estado de emergência. Renato Silva, responsável pela Infight em Oizumi, revelou que o nível de contágio nas principais capitais chegou a crescer, mas que o governo controlou a situação. O faixa-preta também comentou sobre o impacto na academia. “A academia está fechada somente há um mês. Aqui no Japão, demoraram a declarar o ‘estado de emergência’. Aqui também você não é obrigado a paralisar as aulas, o governo faz um pedido para que todos façam a sua parte. Pretendo voltar as aulas assim que sair do estado de emergência. O governo vai liberar, aos poucos, e seguiremos todas as orientações.

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Atualmente, tenho uns 120 alunos entre crianças e adultos, e com a academia de portas fechadas, está difícil ter pagantes”, disse o professor. Aulas via internet com filias da Infight pelo mundo são um dos recursos encontrados para

passar conteúdo aos alunos. O professor ainda falou que pela cultura dos japoneses de usar máscaras, lavar as mãos, fazer gargarejo, não entrar de sapato dentro de casa e não ter o hábito de se abraçarem, já ajuda no controle do vírus.


*** entrevistas realizadas em meados de maio

EQUADOR O Equador passou por um momento delicado com a crise sanitária e funerária. Famílias ficavam dias esperando para enterrar seus entes queridos. Vivendo no país, o faixa-preta Fernando Soluço, professor da Alliance, acompanhou de perto a situação e relatou à TATAME os momentos difíceis. “Quando a pandemia estava começando no Brasil, o Equador já tinha uma crise sanitária aqui em Guayaquil (capital). Neste momento, eu tentei alertar algumas pessoas no Brasil. Eu estava na frente do tempo, assistindo ao colapso sanitário e do sistema funerário. Acho que agora, cidades parecidas com Guayaquil, como Manaus e Belém, vivem uma realidade

parecida. Ainda acredito que a pandemia tenha sido mais terrível aqui, do que em qualquer cidade do Brasil. O ‘lockdown’ é muito rigoroso, o toque de recolher deve seguir nas próximas semanas”, afirmou o professor. Soluço disse que não dá au-

las há dois meses e está sem nenhum tipo de remuneração. Ele consegue se manter financeiramente com as suas economias e gasta somente o básico. Além de professor, Fernando também é organizador do Circuito Equatoriano Brazilian Jiu-Jitsu (CEBJJ).

cialmente, mas sabemos que não irão voltar. Aqui na fronteira especificamente, onde temos muitos alunos de outros estados,

que são estudantes de Medicina do lado paraguaio, voltaram para suas cidades de origem. O prejuízo é gigantesco”, frisou.

PARAGUAI Na fronteira entre o Brasil e Paraguai, Carlos Bordão tem uma academia da Gracie Barra e, como a maioria, também vem sendo impactado pela crise sanitária nos dois países. Do lado paraguaio, o professor revelou que o tratamento tem sido “rigoroso” e não crê no retorno das academias de Jiu-Jitsu ainda em 2020. “O Jiu-Jitsu não (deve) voltar a ter aulas em 2020. Não existe previsão, muito menos data. O Paraguai tem lidado com extrema rigidez quanto ao isolamento. O impacto na academia foi total. Menos de 10% dos alunos pagaram mensalidades. Muitos não encerram as matrículas ofi-

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ATO EM SĂƒO PAULO

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Por Yago Rédua / Fotos reprodução Instagram

Dezenas de professores e lutadores de artes marciais se reuniram em frente à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) no final de abril pedindo pela reabertura das academias durante a pandemia do novo coronavírus - o serviço foi suspenso pelo governador João Dória no início da crise sanitária. Até agora, porém, nenhuma solução foi encontrada.

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Anderson Berinja admitiu deslize ao posar para foto com o deputado Altair Moraes sem máscara de proteção

Um dos responsáveis pelo movimento, Anderson Berinja, atleta do UFC, contou à TATAME sobre o apoio que foi dado ao Projeto de Lei 257/2020 do deputado estadual Altair Morais, pedindo que as escolas de lutas possam voltar a funcionar de forma controlada. “A iniciativa (da manifestação) veio através de um grupo de WhatsApp que temos entre promotores, lutadores e líderes de equipes. Vimos a necessidade de nos manifestarmos pedindo a reabertura controlada das academias. Eu conversei com o

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deputado Altair Moraes. Ele é um cara ligado ao esporte, é faixa-preta de Caratê e multicampeão na modalidade. Então, ele entende que nós proporcionamos saúde para as pessoas, além de dependermos das aulas para alimentar nossas famílias”, afirmou o peso-galo. O texto da ementa PL 257/2020, que já está em tramitação ordinária na Alesp, diz: “Reconhece a prática de atividades e exercícios físicos como essenciais para a população do Estado (de São Paulo) em estabe-


“Nós dependemos das aulas para alimentar nossas famílias” Anderson Berinja

lecimentos prestadores de serviços destinados a essa finalidade, bem como em espaços públicos, em tempos de crises ocasionadas por moléstias contagiosas ou catástrofes naturais”. Além de Berinja, a liderança do grupo que reivindica a reabertura das academias tem a presença de Drago, presidente da CNMMA (Confederação Nacional de MMA), Edy Dias, árbitro e treinador de Muay Thai

e MMA, e o faixa-preta de Jiu-Jitsu Vinicius Reviravolta. Ainda sobre a manifestação na Alesp, Berinja aparece em uma foto (à esquerda) abraçando o deputado Altair Moraes. Ao ser indagado pela reportagem sobre o contato físico entre os dois, o que não é recomendado por autoridades neste momento de pandemia, o atleta do Ultimate disse que foi um “deslize” e que eles deveriam estar usando máscaras:

“Somos um povo acostumado aos abraços e apertos de mão, às vezes, foge do controle pela força do hábito”, comentou o lutador, que também celebrou o retorno das atividades do UFC no último dia 9 de maio. Vale destacar que São Paulo é o epicentro da pandemia de Covid-19 no Brasil, com mais de 2 mil mortes registradas e cerca de 30 mil casos confirmados da doença até o fechamento desta matéria.

Ato em São Paulo reuniu professores e representantes de diferentes equipes e artes marciais

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Por Yago Rédua fotos: Lineu Filho/Tribuna

QUEM TEM RAZÃO? TATA M E # 2 6 1


Recentemente, um grande debate sobre a reabertura - ou não - das academias de artes marciais vem ganhando destaque nas redes sociais. O último capítulo dessa discussão foi implementado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que assinou um decreto inserido as academias, salões de beleza e barbearias na lista de “serviços essenciais”. Na contramão de Bolsonaro, governadores de 18 estados se posicionaram contra o decreto. Em meio ao “disse me disse”, quem está certo?

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a última segunda-feira, dia 11 de maio, Jair Bolsonaro assinou um decreto inserindo as academias de artes marciais na lista de “serviços essenciais” e, assim, dando sinal verde para o processo de reabertura durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). A decisão presidencial, inclusive, pegou Nelson Teich, ministro da saúde, de surpresa. Entretanto, apesar da emissão do decreto, o Supremo Tribunal de Justiça (STF) definiu - ante-

riormente - que cabe aos estados e municípios decidirem sobre as políticas de saúde em meio à pandemia. De acordo com levantamento feito pelo site G1.com, governadores de 18 estados (AC, AL, AP, AM, BA, CE, ES, GO, MA, PA, PB, PR, PE, PI, RJ, RN, SP e SE) e do Distrito Federal se posicionaram contra o decreto do presidente. Atualmente, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul permitiram a reabertura das academias. Minas Gerais deu autonomia para os municípios, enquanto os demais estados ainda não se manifestaram.

Imbróglio das academias no Paraná No fim de abril, o governador do Paraná, Ratinho Jr, assinou um decreto liberando a reabertura de alguns estabelecimentos, como as academias. Porém, o deputado Alexandre Amaro, responsável pelo projeto de lei que tenta colocar as escolas de artes marciais como um “serviço essencial” no estado, informou à TATAME que o governador recebeu novos dados referentes a liberação das academias que poderiam impactar diretamente na pandemia e, desta maneira, optou pela não liberação. Ouvido pela reportagem na noite de segunda-feira (11/5), Alexandre Amaro fez coro ao presidente Bolsonaro e voltou a defender a liberação, mas de forma controlada: “Não podemos voltar da maneira como era antes, mas com muitas adequa-

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ções, sim. Algumas academias de artes marciais já compraram bonecos para treino, como as de Jiu-Jitsu, por exemplo, que é uma luta agarrada. Muitas pessoas têm recomendação médica para fazer exercício, como é que a pessoa faz em casa? É muito difícil. Dentro dos condomínios as academias estão fechadas”, comentou. Em nota emitida na terça-feira (12/5), o governo paranaense afirmou que a curva de casos do novo coronavírus no estado segue crescendo e que especialistas vão avaliar sobre a reabertura das atividades econômicas após o aumento de testes para Covid-19 na população. No entanto, em sete municípios do interior do Paraná, através de decretos municipais, as academias já foram reabertas e estão funcionando.


Nika Schwinden foi a única mulher presente em reunião sobre a reabertura das academias no Paraná

Faixa-preta explica mudanças Antes do governador Ratinho Jr voltar atrás sobre a liberação, a TATAME conversou com a faixa-preta Nika Schwinden - professora da Gracie Barra Curitiba -, que esteve presente em reunião no Palácio Iguaçu sobre a reabertura das academias com outras lideranças das artes marciais, além do secretário da Casa Civil, Guto Silva, e demais políticos. Nika comentou a crescente polêmica nas redes sociais e explicou o que foi passado para os professores no decreto: “Vamos

ter que atender um número de situações. O Jiu-Jitsu que a gente conhece não vai acontecer tão cedo. Quando as pessoas julgam a reabertura, elas imaginam o tatame cheio e com todo mundo treinando. Na verdade, não vai ser assim. As aulas permitidas serão de preparação física e drills, mas não será liberado o contato físico”, contou a faixa-preta, que seguiu comentando sobre as aulas na Gracie Barra. “Nossas aulas terão lista (quando voltarmos), porque po-

deremos ter no máximo dez alunos por período. São muitas exigências. Nós vamos ter que nos reinventar como professores de Jiu-Jitsu neste período. Nossos alunos terão que compreender que é um outro momento. O importante é manter o corpo ativo e em contato com as pessoas de maneira segura. Pessoas que fazem parte do grupo de risco não vão poder participar. Quem mora com alguém que esteja no grupo de risco, também vamos orientar que não treine”, apontou.

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Governador inicialmente havia liberado a reabertura das academias no Paranรก, mas depois voltou atrรกs da decisรฃo

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Nika também fez questão de enfatizar a importância de se encontrar um equilíbrio entre saúde e economia nesse momento. A faixa-preta citou que no estado, academias fecharam e alguns professores estão passando uma situação delicada para sustentar a família. Ela ainda pontuou dois tópicos para a reabertura. “Acho que dois pontos serão importantes nas retomadas das aulas. O isolamento social em si faz muito mal psicologicamente e emocionalmente para as pessoas. Você ter um contato, ainda que mínimo com outras pessoas, pode ser de grande valia. Acredito que o outro ponto positivo é as pessoas buscarem qualidade de vida, algo que vai ajudar a trazer mais imunidade consequentemente”, encerrou.

OBRIGAÇÕES QUE AS ACADEMIAS TERÃO QUE SEGUIR: – Número máximo de alunos por 3 ou 4 metros quadrados – Uso de máscaras – Higienização de calçados na entrada – Álcool em gel em todo o ambiente – Medição de temperatura corporal – Intervalo entre aulas para higienização do tatame – Aulas de drills e condicionamento físico sem contato

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MUDANÇAS NO MMA Por Yago Rédua fotos: reprodução

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Que a pandemia causada pelo novo coronavírus provocou um impacto sem precedentes na vida das pessoas e em diversos setores da sociedade, todos já sabemos. No mundo das lutas, academias de artes marciais precisaram ser fechadas para evitar a disseminação do vírus e inúmeros eventos foram cancelados e/ou adiados, sem previsão de retorno.

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ntretanto, apesar das dificuldades envolvendo a crise sanitária, alguns movimentos visando o retorno das atividades começam a ser vistos. Na Alemanha, o campeonato nacional de Futebol retornou; no MMA, o UFC largou na frente sendo a primeira grande liga esportiva a realizar eventos durante a pandemia. Em relação às academias, algumas começaram a reabrir no Brasil e

mundo afora, seguindo as medidas de segurança. Para entender melhor este momento, a TATAME colheu depoimentos de diversos lutadores e treinadores, que compartilharam seus relatos sobre os treinos, academias fechadas e a rotina em meio à pandemia. “Não tenho condições de ficar em quarentena. Claro que tomo as medidas de higiene recomendadas, mas graças a Deus

eu trabalho em uma empresa de grande porte, onde sou segurança, e eles não pararam as atividades. Trabalho todos os dias e à noite marcamos com os amigos que tem lutas marcadas para treinar somente entre a gente, com a academia fechada, e assim continuo o camp, já que, até então, a minha luta seguiu, embora ainda não tenha uma data definida”, disse Acácio Pequeno, lutador meio-pesado do SFT.

Confira outros depoimentos de lutadores e professores: GLOVER TEIXEIRA (lutador meio-pesado do UFC): “Minha academia (nos EUA) acabou fechando para aulas em março por conta de toda essa situação envolvendo o coronavírus, foi a ordem que recebemos. Nesse período, eu já estava em processo de camp (para a luta contra o Anthony Smith) e consegui fechar quatro pessoas para me auxiliarem nessa preparação, com os devidos cuidados, é claro. Minha academia estava fechada e eu continuei indo lá apenas para treinar, com meu treinador e poucos parceiros de treino. A rotina foi essa, da academia para casa, de casa para a academia”. JAILTON MALHADINHO (lutador meio-pesado do SFT): “Vamos treinando de leve, ajustando umas coisas e tentando adaptar o treino para não perder o foco, até porque todas as academias estão fechadas por todo o Brasil por conta do coronavírus, e isso atrapalhou minha preparação, na parte de contato físico, treino duro mesmo. Mas eu tenho alguns amigos e a gente acabou se reunindo no apartamento de um amigo meu, estamos de quarentena e treinando lá, com esses parceiros de treino, que também são lutadores, e meus dois treinadores. Não estamos parados, estamos treinando, e quando tudo voltar ao normal, vou estar preparado e treinado, vou precisar só de mais alguns ajustes para conseguir entrar em ação”.

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NATAN SCHULTE (lutador peso-leve da PFL): “Eu estava me preparando bem até, fazendo alguns treinos na academia, com restrições, obviamente. Com tudo isso (aumento do número de casos de Covid-19 nos EUA), eu passei a fazer treinos em casa, alguns cardios na rua, com todos os cuidados que a gente precisa ter, mas tem sido difícil treinar em alto nível. Eu vou continuar treinando, acho que é um bom período para absorver muitas coisas e ter melhorias no meu jogo, porque o atleta melhora nos treinos e no período fora da luta. Então, é um bom tempo para evoluir outras áreas”. ELISMAR CARRASCO (lutador peso-pena do SFT): “Eu não pensei que esse vírus ia ser tão polêmico, agressivo e durasse tanto tempo como tem sido. O principal impacto que a gente (lutadores) sofre é financeiro. Tenho contas a pagar e muitos outros compromissos por causa do meu CT (Centro de Treinamento). As portas estão fechadas e, sem aula, a mensalidade dos alunos não entra. Mas o aluguel, a água e a energia precisam ser pagos, né. Eu eu sou o número 1 no ranking peso-pena brasileiro da Tapology. Me sinto honrado e grato pelo reconhecimento, e estou aí, sempre pronto. Tenho treinado em casa, a intensidade diminui um pouco, mas eu não paro. Tomara que passe logo”. TATÁ DUARTE (líder da academia TFT): “Eu e o Philip estamos ajudando o pessoal da forma que dá, com rifas, doação de cestas básicas, o próprio Luis Henrique KLB fez também, e assim vamos ajudando um ao outro. Estou com a academia fechada, mas mantive os funcionários fixos, que também são atletas profissionais, vieram para o Rio atrás do sonho de ser lutador, e botei na cabeça que não vou demitir os caras. O resto era professor avulso, que usava o espaço para dar aula particular, mas se precisarem e pudermos, vamos ajudando. Virou uma guerra. O cancelamento das lutas para esses garotos foi um desastre total. Além da preparação esportiva, investimento de tempo, eles também necessitam do dinheiro. É uma fonte de renda que deixa de existir. A dica que eu passei nesse momento é para eles seguirem ativos, principalmente no mental. Eu tenho feito muito isso, porque além dos meus problemas, abraço os problemas desses garotos”.

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“Eu tive muita luta cancelada na minha equipe. Alguns bons eventos nacionais que iam passar na TV, atletas que iam receber pela luta e o patrocínio por passar na televisão. Está sendo uma catástrofe tudo isso. Os atletas reagiram com muita decepção, mas temos que tentar entender. Na verdade, nós temos um coaching lá na academia, alguns outros

atletas têm coaching por fora. Os atletas mais experientes e eu tentamos ajudar os mais novos com conselhos e orientações. É realmente uma situação atípica. É até difícil aconselhar, porque não sabemos o que vai acontecer. Estamos esperando como todo mundo (o fim da pandemia). Todos têm que mexer com suas economias, desprogramar algu-

Gilliard Paraná, líder da PRVT Girls, acredita que o impacto para o esporte em si será gigantesco

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mas coisas e ir se apertando. A ideia é todos ficarem dentro de casa, mas quem precisa ir trabalhar, não pode ser julgado por isso também. O impacto vai ser gigantesco pra mim, para os meus atletas, o esporte em si, como um todo. Tinha uma programação de fazer uns investimentos aqui, mas paralisei tudo”, relatou Gilliard Paraná, líder da PRVT Girls.


RODRIGO ZÉ COLMEIA (lutador peso-pesado do UFC): “Durante todo esse período, até treino com boneco eu fiz, porque era um treino bem específico de Jiu-Jitsu e exigia muito contato. Mas, para falar a verdade, não mudou praticamente nada na minha preparação. Eu sigo treinando normalmente, com meus parceiros de treino. Tem, no máximo, 10 pessoas na academia para treinar. Você tem seu treino marcado, treina, toma banho e vai embora, tomando todas as precauções possíveis. Mas tive meu camp completo do mesmo jeito. Todos esses parceiros de treino, é importante citar, também estão com luta marcada, então quando veio essa onda do vírus, a American Top Team deixou a galera que tem contrato com os eventos grandes treinando, porque poderiam ter luta marcada”.

CRISTIANO MARCELLO (líder da equipe CM System): “A gente tem hoje, ainda bem, a tecnologia à nosso favor. Eu conversei com todos os atletas por grupo, falei que não tem o que fazer, dentro do possível, todo mundo vai se ajudar se for necessário, porque a realidade te dá um parâmetro de ajuda. Como eu sempre falo, a academia é uma família, é união em todos os momentos, na alegria e na tristeza. É que realmente ninguém nunca tinha passado por uma situação como essa (de pandemia causada pelo coronavírus), é uma novidade para todos. Mas dentro dessa novidade, no que acontecer, vamos tentar amparar um ao outro da melhor maneira possível. São nesses momentos que é preciso mostrar o espírito de equipe e a união de todos. É esperar o retorno, não deixar o psicológico ser afetado e treinar da melhor maneira, para quando tudo voltar, treinar ainda mais forte e ir para a guerra. Está todo mundo no mesmo barco. É importante manter a dieta para não subir muito de peso, porque já não se está treinando da melhor maneira, não pode sair de casa, então se comer muito, vai ganhar muito peso, e depois para recuperar, vai ser muito pior”.

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RETORNO NA CHINA Por Yago Rédua fotos: reprodução instagram

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Se no Brasil a pandemia do novo coronavírus apresenta uma evolução maior a cada dia e obriga autoridades a manterem uma forte política de isolamento social, restringindo, por exemplo, as academias de artes marciais, uma boa notícia vem do outro lado do mundo. Foco inicial da Covid-19, a China controlou o contágio e, aos poucos, vai retornando à normalidade. Em Jinan, capital da província de Shandong, que fica a mais de 800km de Wuhan - epicentro chinês do vírus -, as academias de Jiu-Jitsu já reabriram e estão tendo aulas normais.

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rofessor da Alliance, Rafael Bahia, de 32 anos, iniciou sua jornada na China em novembro de 2019, cerca de um mês antes de surgirem os primeiros casos de Covid-19 em Wuhan - na província de Hubei. Em bate-papo com a TATAME, o faixa-preta contou que em Jinan, onde fica localizada a sua academia, o isolamento social foi decretado

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no dia 20 de janeiro e que teve um grande rigor por parte das autoridades locais. “Em dezembro, quando tiveram os primeiros casos, aqui ainda estava tranquilo. Tudo foi fechado em janeiro. Como é um país rigoroso, foi bastante forte o controle e não podíamos sair de casa. Foi bem tenso. A academia fechou dia 20 de janeiro. Só podia sair uma vez por semana para ir ao mercado. Tinha um controle

de registro, bairros e ruas fechados. Foi uma situação, podemos dizer, que de guerra”, relatou. O período de isolamento acabou no dia primeiro de abril. Rafael contou que ficou 71 dias com a academia fechada e não tinha como dar aula online, porque o Jiu-Jitsu ainda é uma modalidade nova para o povo chinês. Um mês após o retorno às atividades, o aliviado professor disse que a situação voltou ao normal.


PROTOCOLO USADO EM JINAN (CHINA) PARA REABERTURA DAS ACADEMIAS: – Aplicativo para registrar o aluno – Álcool em gel – Máscara (o que não é mais obrigatório) – Não restrição quanto ao número de pessoas – Aulas coletivas para crianças estão proibidas

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“Foi bem difícil, porque minha academia só tinha 20 dias de inaugurada, era nova ainda. Não tive ajuda do governo, não. Aqui, o pagamento é feito anual, então, quem pagou não podia ser devolvido o dinheiro. Só que não teve entrada de dinheiro (quando ficou fechada). Ao todo, foram 71 dias com a academia fechada e não tivemos aulas pela internet pelo

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fato de o Jiu-Jitsu aqui ainda ser muito novo. Esse mercado eles ainda não compram”, falou Rafael, que comentou sobre os protocolos para o recomeço das aulas. “No começo, eu tinha que registrar a entrada do aluno na academia neste aplicativo. Eu usava álcool em gel, máscara e essas coisas mais básicas. Sem aula coletiva de crianças,

o que ainda não foi liberado. Mas, as aulas particulares infantis eu estou dando. Isso foi na primeira semana. Agora está tudo bem tranquilo, adulto não precisa usar máscara. Não tiveram muitos protocolos de restrição. Podia fazer a aula normal, sem nenhum problema. Mas, isso se deve ao controle bem rigoroso que teve no começo de tudo”, concluiu.

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