Orientação na Metrópole

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ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE a informação no sistema de transporte coletivo

TFG trabalho final de graduação juliana de campos silva orientadora prof. dr. klara kaiser mori FAUUSP faculdade de arquitetura e urbanismo universidade de são paulo

2007 dezembro



ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE a informação no sistema de transporte coletivo

TFG trabalho final de graduação juliana de campos silva orientadora prof. dr. klara kaiser mori FAUUSP faculdade de arquitetura e urbanismo universidade de são paulo

2007 dezembro


RESUMO Este TFG procura fazer uma análise crítica das informações prestadas hoje aos usuários do serviço de transporte coletivo na cidade de São Paulo. Procura conhecer a fundo as dificuldades de orientação da população metropolitana, e sistematizar e interpretar o quadro que caracteriza o sistema no momento vivido. Dessa forma, é um estudo datado, e reflete, em certa medida, o quadro sócio-econômico da população de São Paulo. É histórico, no sentido em que descreve uma situação que ocorre hoje de uma forma específica. A organização do material tem a seguinte estrutura: na primeira parte, expõe considerações iniciais anteriores ao desenvolvimento da pesquisa. Nos Processos, descritos na segunda parte, conto as etapas do trabalho de campo, as entrevistas e suas análises. Ainda neste capítulo, organizo os dados colhidos sobre o sistema de transporte coletivo metropolitano e sobre seus projetos de informação ao usuário, e exemplifico o momento presente do padrão de comunicação com o usuário com a atuação da SPTrans, atual gestora do serviço no município. E faço um apanhado crítico do material examinado. No terceiro capítulo encontram-se algumas propostas de enfrentamento para os problemas colocados anteriormente. Em essência, a compreensão de que o sistema informacional existente não sendo suficiente, há uma lacuna a ser preenchida, que exige, no entanto, a imposição de um novo padrão de urbanização. Nas conclusões procuro amarrar as etapas percorridas como experiência de elaboração de um trabalho de graduação na FAU USP.


AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer à professora e orientadora Klara Kaiser pela orientação atenciosa, pela coerência, conhecimento, pela delicadeza. Por me ajudar a transformar problema em projeto. Ao apoio incondicional de minha mãe, me “co-orientando” do seu jeito, procurando me aliviar as angústias; a Ricardo Tchê Corrêa, urbiciclista que apóia minhas idéias e sonhos; ao meu pai pela força com a qual sempre posso contar e ao meu irmão, por ceder seus aparelhos eletrônicos de tanta estima. Aos amigos que dividiram as tensões e crises “tfgsísticas”, Déa, Bel, Silvinha, Maroca, Guto, Paulinha, Aline, Fernando, Samira, Carol, vamos nos formar juntos! E outros, mais tarde, Mayra, Régis, Dani, Oli, Kiyoto, Lilica, Nicolau. Amigos pra vida. À Maíra Ramos, arquiteta e amiga que me ajudou a desembaraçar umas idéias. À Isabela, pela transcrição cuidadosa. Pelo apoio técnico e divertido de Thiago Bastos, que me ajudou com a edição do vídeo e pela ajuda do meu amigo e vizinho Felipe Reinoso, com o áudio. A todos os entrevistados, pela contribuição fundamental e disponibilidade. Ao Artigas, pelos ensinamentos vividos no edifício-escola. A FAU é feita de varandas. As rampas são espaços contínuos de conversas sem fim. De todo canto se vê e se é visto: nunca se está sozinho. (pensamentos resgatados de lugares especiais da memória)



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INTRODUÇÃO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 Considerações sobre o achar-se; considerações sobre o perder-se 1.2 Porque um sistema de informação é necessário

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2 PROCESSO

2.1 Aproximações empíricas 2.1.1 Pesquisa de mapas de itinerários de ônibus de outras cidades 2.1.2 Questionários 2.1.3 Filmes e relatos flagrantes 2.1.4 Estudos de Caso Estudo de Caso 1 – Referências e Intermodalidade Estudo de Caso 2 – Bilhete Único Estudo de Caso 3 – Evento, Operação de Emergência Outros Casos

2.1.5

Sistematização das observações empíricas

2.2 Apontamentos sobre o transporte coletivo em São Paulo 2.2.1 A Composição do Sistema 2.2.2 A comunicação visual no âmbito dos transportes 2.2.3 A geração de informação sobre o sistema

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3 PROPOSTAS

3.1 Sobre frentes de trabalho 3.2 Sobre o processo urbano 3.3 Sobre as mudanças 3.4 Proposições

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4 CONCLUSÃO 5 BIBLIOGRAFIA 6 ANEXOS

6.1 Vídeo “Registros Flagrantes” – CD Rom 6.2 Entrevistas integrais 6.3 Índice de imagens



ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

introdução Este trabalho é um estudo sobre orientação espacial por meio do transporte coletivo, e procura discutir o papel dessa infra-estrutura na apreensão do espaço da cidade. Seu objetivo é levantar e analisar condições em que esse aprendizado se dá, identificar seus aspectos problemáticos, seus pbstáculos e dificuldades. Buscar as causas mais evidentes, mas também as menos imediatas das falhas de comunicação percebidas, e elaborar algumas propostas para sua superação. A idéia original surgiu de observações pessoais e de uma constatação concreta e cotidiana daquelas de que reclamamos todos os dias e pensamos “isto podia ser diferente, por que não é?”. Como se toma um ônibus de linha pela primeira vez na cidade de São Paulo? Como as pessoas se informam hoje sobre os percursos das linhas? Na maior parte das vezes pede-se a orientação de parentes ou de pessoas próximas, que aconselham qual o melhor ônibus para atingir tal destino. Ou então, presta-se atenção nos ônibus que passam no ponto onde se vai pegar o coletivo, observando seus letreiros indicando seu destino final. Ou pergunta-se a um desconhecido no ponto ou para algum comerciante em um estabelecimento próximo ao local de embarque, ou, muitas vezes, ao motorista ou cobrador, já dentro do ônibus. Resolve-se no boca-a-boca, como se diz. Quanto ao lado “oficial” da questão, o processo de orientação conta com as informações do próprio sistema de transporte público coletivo, em diversos formatos. Um deles são as chapas fixadas nos ônibus ao lado da porta de embarque com o nome da linha e das principais ruas e avenidas por onde o ônibus circula, ou, no caso dos corredores de ônibus1, as listas com o nome das linhas que passam por aquele ponto. Há a informação – embora de presença assistemática – afixada nos pontos de parada, com as linhas que servem os referidos pontos. Além disso, as empresas prestadoras do disponibilizam algumas informações, por exemplo, a SPTrans, que tem um telefone para “maiores informações” e um domínio na internet com uma sessão dedicada às consultas de itinerário. Este site2 conta com um sistema desenvolvido exclusivamente para as funções de orientação e informação das linhas existentes, com busca por endereço de origem e destino, linhas ou terminais, com indicação de mapas desenvolvidos com o uso de um software (Maptitude) de geo-referenciamento (tecnologia GPS – Global Positioning System) que compreende um banco de dados do sistema viário apenas do município. Reformulado recentemente, seu funcionamento apresenta consideráveis melhoras em relação a versões anteriores.

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E ainda, conhecido por todos que circulam em São Paulo, e constituindo equipamento que já foi obrigatório em todos os táxis, há o Guia de Ruas de São Paulo, em suas versões atualizadas anualmente. Mas, apesar dessas iniciativas, o objetivo de informar corretamente o cidadão parece nem sempre ser alcançado: já numa primeira incursão empírica a partir de conversas informais com diferentes tipos de usuários pude constatar que existem, de fato, grandes dificuldades na produção e transmissão desse tipo de informação. Partindo dessas colocações iniciais, o trabalho se propõe a identificar as questões envolvidas na informação sobre o sistema de transporte coletivo, e nos fatores capazes de promover uma leitura mais fácil, mais eficaz e mais rica dos itinerários que a população realiza diariamente. -v-

Trabalho da disciplina AUP 361. Palavras anotadas durante um trajeto de ônibus e dispostas da mesma forma como lidas. Tipografia.

O tema do deslocamento já estava presente em trabalhos anteriores realizados ao longo do meu curso na FAU, como na pesquisa do grupo “Ciclovias Urbanas”, que discutia o deslocamento por bicicleta na cidade e a recuperação da importância dos percursos e da escala do pedestre nos espaços da cidade. Em disciplinas de experimentação gráfica o tema também foi abordado. As imagens da capa deste caderno e das divisões entre capítulos foram produzidas para a disciplina de projeto Linguagem dos Recursos de Produção Gráfica, que propunha a experimentação de técnicas gráficas – gravura, tipografia, serigrafia – as quais trabalhei o tema da caracterização de itinerários urbanos por meio da identificação dos elementos visuais mais fortes dos respectivos percursos, e a representação de paisagens urbanas através de suas estruturas dominantes. Outra disciplina, Comunicação Visual do Edifício e da Cidade, propunha o desenvolvimento de uma identidade visual gráfica para espaços da cidade: bairros, praças, parques. Para isso seria preciso estudar as referências culturais, arquitetônicas, históricas, enfim, presentes no lugar escolhido, e isto se relaciona com a discussão sobre as referências presentes neste trabalho. Uma proposta do primeiro ano, de desenho de um percurso, também se relaciona com o tema. -vSempre dediquei muito tempo ao planejamento dos meus deslocamentos em São Paulo. Meus destinos, às vezes vários no mesmo dia, às vezes em diferentes regiões da cidade, custavam a configurar um percurso ideal que otimizasse tempo, custo, paciência, gasto de energia, emissão de poluentes e interesses ao longo do percurso.

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Munida de alguns meios de transporte – automóvel, carona, bicicleta, ônibus, caminhada e às vezes metrô – eu procurava organizar meus afazeres raciocinando sempre qual seria o melhor modo de realizar cada um. Mesmo assumida a posse do veículo, o uso do automóvel envolve ainda custos adicionais individuais, como combustível e manutenção, e coletivos, como a emissão de poluentes e os congestionamentos. A bicicleta é um modo que também implica em propriedade do veículo. Em seu uso, as variáveis que influenciam são a distância (confortável até 7 km, aproximadamente), o clima e a declividade, além de outras características referentes ao percurso, como as condições de movimento das vias (o que se reflete na segurança), e da disposição física de quem vai pedalar. Seu custo é o de aquisição e de manutenção e seu deslocamento é porta-aporta. A caminhada tem praticamente as mesmas condições da bicicleta, com redução da distância percorrível confortavelmente para 2 quilômetros e do custo, que é (praticamente) zero. O uso do transporte sobre trilhos envolve, principalmente, a localização (ou, visto por outro lado, a amplitude da rede). Sua utilização é condicionada pela possibilidade de se estar próximo a uma estação ou de um trecho do trajeto desejado, difícil por se tratar uma rede tão escassa para uma cidade com o porte de São Paulo. E, finalmente, o uso do ônibus implica no custo da passagem, no tempo de espera e no conhecimento da linha que se deve tomar para atingir o destino desejado. A diversidade de modos às vezes facilitava, às vezes dificultava a organização desses esquemas, por aumentar o número de variáveis envolvidas. Nesses exercícios, percebia que as dificuldades se ampliavam quando as viagens incorporavam o transporte coletivo, sobretudo aquele sobre pneus. Para trajetos já conhecidos ou para destinos que coincidiam com o ponto final da linha de ônibus e, portanto, com a informação de seu letreiro principal, os problemas se limitavam à indefinição do tempo necessário, devido à espera por tempo indeterminado no ponto e a congestionamentos, mesmo nos corredores, em horários de pico. Nos casos mais comuns, no entanto, as decisões envolviam também a seleção dos locais de embarque, desembarque e transferência, ampliando as dúvidas. Dessa forma, imaginei, inicialmente, desenvolver um suporte para a comunicação das linhas existentes e seus itinerários, informando também a freqüência das linhas, mapa dos arredores dos pontos, indicando demais pontos de ônibus existentes nas proximidades, e incluindo, ainda, referências urbanas auxiliares de cada localização. O produto do trabalho, então, seria um projeto de comunicação capaz de esclarecer a qualquer pessoa, tivesse ou não um conhecimento prévio do espaço da cidade, os itinerários da rede de ônibus da cidade de São Paulo e assim, de certa forma, apresentar o próprio espaço da cidade de São Paulo, possibilitando o deslocamento com autonomia e propriedade

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pela cidade por transporte coletivo. Ao objetivo inicial foram se somando outros, contíguos. Ao aumentar a atratividade dos transportes coletivos, o projeto contribuiria, indiretamente, para alterar favoravelmente a divisão modal para as viagens sobretudo com motivo trabalho e escola, ou seja, aquelas cotidianas. O projeto abria também a possibilidade de se recuperar a imagem depreciada do transporte coletivo por ônibus, uma imagem de certa clandestinidade que foi construída ao longo de anos, atribuindo-lhe a responsabilidade de ter promovido a expansão desordenada e sem projeto da cidade. A transformação dessa imagem se daria a partir do esclarecimento sobre o sistema de transporte e as redes correspondentes, produzindo uma informação mais adequada à população. Considerei, ainda, que o problema da informação sobre transportes não afeta apenas as grandes metrópoles, mas também outras cidades, menores, onde problemas de congestionamento de carros já começam a ocorrer precocemente devido ao laissez-faire, que vigora na área dos transportes. A partir de então se colocaram alguns desafios. Que projeto claro seria esse? Que parcela da população lê um mapa com facilidade? A solução é um mapa? Que sistema é preciso esclarecer? Como é este sistema? Já de início pensei que talvez fosse necessário discutir o percurso dos itinerários. Qual o desenho destes trajetos? Que lógica rege sua configuração? E então chegar, talvez, a um redesenho das linhas de ônibus3, a uma revisão do seu itinerário (exemplificado em uma linha ou outra) e chegar, até mesmo, à discussão sobre o desenho das vias: como elas se configuraram dessa maneira, historicamente? Foram projetadas e tratadas adequadamente para comportar um transporte coletivo? Com o intuito de levantar o leque das dificuldades sentidas por quem anda de ônibus, a pesquisa partiu, então, para a captação de relatos e experiências de trajetos. As entrevistas realizadas buscavam responder à questão de como as pessoas “se viram” nos seus deslocamentos corriqueiros. Como é a tarefa cotidiana de ir e vir entre casa e trabalho, e como é este desvendar uma cidade desconhecida e que é tão fácil ser desconhecida dentro dela própria, por sua dimensão? Os relatos e imagens coletados durante a pesquisa constituem o material para referenciar as observações e para ilustrar os problemas de comunicação percebidos no sistema de transporte coletivo. Uma primeira coisa que me despertou a atenção neste levantamento foi a idéia de um sistema de informação baseado na oralidade e na informalidade. Um sistema de “informação informal”. Outras questões que as entrevistas permitiram identificar quase de imediato,como dados do problema analisado foram: - As dificuldades de comunicação gráfica e escrita de parcela considerável da população; - A desigualdade, precariedade, e caráter improvisado da rede viária da RMSP; - As referências urbanas desconhecidas ou em perene mudança; - A inconstância dos itinerários dos ônibus, e o descomprometimento com os serviços, entre outros. Assim, à medida que me aproximava do tema, a questão central – a dificuldade de orientação na cidade – foi se revelando a ponta de um iceberg, capaz de revelar todo um problema maior. Sendo assim, o trabalho não se deteve em seu propósito original. Ele procura compreender as relações que surgiram por detrás daquela questão pontual, e que se aglutinam em torno do próprio processo de urbanização brasileiro.

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Este TFG procura fazer uma análise crítica das informações prestadas hoje aos usuários do serviço de transporte coletivo na cidade de São Paulo. Procura conhecer a fundo as dificuldades de orientação da população metropolitana, e sistematizar e interpretar o quadro que caracteriza o sistema no momento vivido. Dessa forma, é um estudo datado, e reflete, em certa medida, o quadro sócio-econômico da população de São Paulo. É histórico, no sentido em que descreve uma situação que ocorre hoje de uma forma específica. A organização do material tem a seguinte estrutura: na primeira parte, expõe considerações iniciais anteriores ao desenvolvimento da pesquisa. Nos Processos, descritos na segunda parte, conto as etapas do trabalho de campo, as entrevistas e suas análises. Ainda neste capítulo, organizo os dados colhidos sobre o sistema de transporte coletivo metropolitano e sobre seus projetos de informação ao usuário, e exemplifico o momento presente do padrão de comunicação com o usuário com a atuação da SPTrans, atual gestora do serviço no município. E faço um apanhado crítico do material examinado. No terceiro capítulo encontram-se algumas propostas de enfrentamento para os problemas colocados anteriormente. Em essência, a compreensão de que o sistema informacional existente não sendo suficiente, há uma lacuna a ser preenchida, que exige, no entanto, a imposição de um novo padrão de urbanização. Nas conclusões procuro amarrar as etapas percorridas como experiência de elaboração de um trabalho de graduação na FAU USP.

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1 considerações iniciais 1.1 Considerações sobre o achar-se; considerações sobre o perder-se A sensação de estar perdido, desorientado, sem saber referências do lugar onde se está ou sem qualquer recurso de orientação é algo enlouquecedor. É, até, uma questão de identidade, saber ao que se pertence e quem se é. No entanto, “perder-se completamente talvez seja uma bastante rara para a maioria das pessoas que vivem na cidade moderna”, diz Kevin Lynch. Contamos com o reforço da presença dos outros e com recursos especiais para nossa orientação: mapas, números de ruas, sinais de trânsito, placas de itinerários de ônibus. Mas, se alguém sofrer o contratempo da desorientação, o sentimento de angústia – e mesmo de terror – que o acompanha irá mostrar com que intensidade a orientação é importante para a nossa sensação de equilíbrio e bem-estar. A propósito, a palavra “perdido” remete a muito mais que à simples incerteza geográfica, trazendo consigo implicações de completo desastre. LYNCH, 1997, p.4

1.2 Porque um sistema de informação é necessário

Um conjunto ordenado de informação sobre o sistema de transportes coletivos serve, de certo, para a orientação geral na cidade, para os habitantes e visitantes da cidade, mesmo que alguém não esteja se deslocando por ônibus ou metrô, mas a pé ou de táxi. A “solução” para a ausência de uma estrutura de comunicação adequada, tal qual apontada na introdução parecia, a princípio, enquadrada num certo campo de ação pertencente ao mundo do design gráfico, dos recursos de impressão, da teoria da informação, no desenvolvimento de projeto de suportes resistentes, duráveis, adequados à

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cidade e à população que a habita. Estas questões, é claro, são inerentes a um projeto de sistema de informação em grande escala (ou mesmo em pequena escala) e que se proponha a permanecer e ser útil a algumas gerações de pessoas, e não apenas ao longo da duração do mandato de algum governo. E nós temos capacidade técnica e profissional para realizar tais projetos (vide iniciativa privada e todos os recursos de mídia exterior recém removidos da paisagem urbana: painéis luminosos, do tamanho de prédios inteiros ou na escala do pedestre, painéis eletrônicos, outdoors, placas, etc), o que indica que o problema não reside aí. No decorrer do trabalho, enquanto perseguia o objetivo inicial – a proposta de comunicação visual –, levantando o que seriam seus elementos de projeto, esta outra questão, maior, começou a ser respondida. Inicialmente, para localizar a questão pontual da informação no transporte coletivo, supus que este recorte poderia ser tratado sem a necessidade de uma análise crítica do funcionamento do sistema de transportes (esse seria um outro trabalho, com outra abordagem). Assumia que o recorte da informação poderia ser tratado de forma quase independente das demais mazelas do tema transporte no Brasil, apoiandose no fato de que mesmo um sistema de transportes suficientemente estruturado para suprir as demandas exigidas – abrangente e diversificado, e com isso complexo – pode ter sua qualidade de uso afetada pela má sinalização ou deficiências no esclarecimento da infra-estrutura aos passageiros. Ou seja, que a necessidade de informar é inerente à qualidade do serviço, sendo necessária sempre. Em Paris, por exemplo, a vasta gama de tipologias de bilhetagem faz com que os passageiros utilizem, para todas as viagens, o mesmo tipo de bilhete que já conhecem. São tantas as opções e possibilidades de composições modais que a maioria das pessoas não aprende a usá-los. No seminário internacional “Mobilidade Urbana Contemporânea”, organizado pelo Institut Pour La Ville En Mouvement (realizado em São Paulo em março de 2005) comentou-se, quanto a isso, sobre a necessidade da criação de uma disciplina escolar para tratar do tema do deslocamento e da mobilidade urbana nas grandes cidades. No Brasil, o projeto de comunicação precisa incluir outras coisas ou enfrentar desafios maiores do que um projeto informativo de uma rede de transportes estruturada, pois deve enfrentar as faltas e ter a inteligência de propor com elas, apropriando-se delas.

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Campanha sobre uso adequado dos bilhetes de metrô e ônibus em Londres, 1979.



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2 PROCESSO 2.1 Aproximações empíricas Cercando-se das questões envolvidas – legibilidade, referências urbanas, cultura, informação formal/ informal. Num primeiro momento, foram buscadas referências de mapas informativos de cidades de outros países. Para me aproximar das formas de obter informação sobre o sistema de transporte coletivo na RMSP, parti para a pesquisa de campo na rua e para as entrevistas com usuários de ônibus que indicaram seus percursos ou deram verdadeiros depoimentos sobre sua experiência de deslocamento na cidade. Também foram entrevistadas pessoas que não utilizam este modo de transporte, a fim de conhecer as relações dos não-usuários com a temática da informação. A seguir estão descritas as etapas de pesquisa de materiais e de campo, juntamente com pequenas análises sobre cada uma delas.

2.1.1

Pesquisa de mapas de itinerários de ônibus de outras cidades

O trabalho de pesquisa se iniciou com a busca de referências de mapas informativos de itinerários de ônibus de outras cidades, principalmente européias e norte-americanas, por se ter notícia e experiências pessoais em tais cidades. A pesquisa de materiais gráficos de indicação de itinerários de ônibus urbano disponíveis na internet ou em panfletos coletados nos locais serviu de referência e como panorama quanto à forma de se dar a informação em outras cidades e de como as informações se amoldam graficamente aos diversos suportes, ou seja, como informam. São feitas, então, descrições de caracterização, mostrando o que eles contêm – massa edificada, edifícios públicos, redes, escala, como identificam os itinerários, etc. Os portais da administração pública das cidades pesquisadas4 ou as empresas responsáveis pelo serviço de transporte urbano disponibilizam os mapas das linhas de ônibus para visualização on-line, além de permitirem seu download para impressão. Este é um recurso que ainda não foi adotado no site da SPTrans5, por exemplo, que disponibiliza apenas a consulta on-line e não um formato já próprio para impressão. A informação eletrônica é um recurso bom quando a maior parte da população tem acesso a computadores conectados à rede e demais infra-estruturas para impressão, pois desempenha a mesma função dos panfletos impressos. No entanto, não os substitui inteiramente. Em Nova York, São Pedro e Santiago do Chile o mesmo conteúdo dos mapas digitais está disponível em versões impressas para distribuição ao público. Em Londres, informações sobre linhas também estão expressas em painéis nas paradas de ônibus.

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Londres, Inglaterra Em Londres, no ano 2000, foi criado o Transport of London – TfL, “órgão responsável pela integração do sistema de transportes da Capital”7, composto por treze empresas. O endereço eletrônico da TfL reúne, portanto, informações sobre todos os transportes públicos da cidade. A seção de “notícias” do site tem a dinâmica de um portal de jornalismo, com atualizações contínuas. Atalhos para o planejamento de viagem estão disponíveis em todas as páginas do site. O mapa de linhas de ônibus disponibilizado para download é organizado por área. A área metropolitana é dividida em 33 áreas e cada uma delas é subdividida em áreas menores, equivalente a algumas quadras. E, destas, cada uma é mostrada em um mapa, em que aparecem detalhadas em vias e pontos de parada de ônibus. Uma mancha clara define um raio de 1,5 milhas ao redor da área detalhada em que são indicadas todas as paradas das linhas especificadas. A partir desta área, são indicadas apenas as paradas principais. Este é um recurso utilizado, certamente, para vencer a representação das grandes distâncias. O mapa recebe o nome da área ou das áreas que abrange, como Green Park, no exemplo (veja na próxima página dupla). São indicadas, então, todas as linhas de ônibus que acessam a área detalhada. Os pontos de ônibus são identificados por letras, tanto no mapa quanto no mobiliário urbano e essa identificação mantém a linguagem em ambos (círculo vermelho e letra em branco), possibilitando a leitura por associação8. As rotas (itinerários) dos

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ônibus são geometrizadas e indicam cada parada do percurso, com seu nome e as integrações com outros modos – metrô, trem, barco. Toda a informação está contida numa única página cuja diagramação se adapta, de uma área para a outra, de acordo com o formato do mapa gerado. As demais informações são as legendas e duas tabelas de busca de informação no mapa: uma por rota de ônibus, relacionando os pontos pelos quais passam, e outra por endereços da área detalhada e interesses das paradas, relacionando também as paradas de ônibus. Quanto à confiabilidade do mapa quanto às possíveis alterações, é disposta seguinte mensagem: Information correct from 26 June 2004

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Mapa do centro de Londres, informando atrações turísticas e o acesso por transporte coletivo. Cada itinerário recebe uma cor e os pontos de interesse se apresentam em ícones.

O mapa da próxima página é um cartaz de 102 x 64 cm.




Observar que as linhas nรฃo ultrapassam o limite da ilha, deixando em branco a รกrea do continente. Jรก no mapa da rede sobre trilhos, o territรณrio avanรงa, por se tratar de uma rede metropolitana.

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Manhattan, Estados Unidos Em Manhattan, há um único mapa que organiza todas as linhas que servem à ilha, identificadas por cores e números. Um mapa impresso dobrado contém o mapa de um lado e a lista de itinerários novamente com as cores e os números no verso. Esta sobreposição dos critérios escolhidos para a diferenciação das linhas (cores e números) é, assim, explicitada. Este recurso é fundamental para permitir a apropriação da linguagem pela população.

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Mapas de Valência. Página 1: trajeto de ida. Página 2: trajeto de volta. Página 3: mapa geral da cidade epercurso completo da linha.

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Valência, Espanha Na cidade de Valência, o site6 do sistema sobre pneus indica o trajeto de todas as linhas em mapas isolados por linha e especificando cada parada. Outras informações úteis são associadas à lista, como sítios de interesse turístico, cultural, e de saúde, além da relação das demais linhas que param nos mesmos pontos, possibilitando o planejamento das baldeações da viagem. Na opção do arquivo para download, para uma única linha são fornecidas três páginas: uma com a relação de linhas no trajeto de ida e seu mapa simplificado, outra com o trajeto de volta, e uma terceira página com um mapa mais detalhado da cidade indicando os trajetos de ida e volta e localizando todas as paradas da linha. Os arquivos são disponibilizados no formato de compressão PDF, o que permite sua ampliação sem a perda da resolução.

Paris, França Em Paris existe um mapa para cada linha, identificada por um número, nomes dos locais de origem e destino e das paradas ao longo do itinerário das linhas.

Esta linha com aproximadamente 7 km aparece aqui geometrizada e no sentido longitudinal. A orientação norte não coincide com o norte do papel. As paradas são nomeadas e aparecem na diagonal, como a sinalização das estações do metrô de São Paulo. O mesmo mapa indica o trajeto de ida e volta, distinguido por setas. O mapa, colorido, distingue na malha urbana as vias principais, que aparecem nomeadas. São indicados museus, parques, escolas, edifícios públicos, bibliotecas, hospitais, estações de metrô, rios.

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Os trajetos de todas as linhas são disponibilizados no mesmo espaço gráfico, alterando-se a escala dos mapas.

São Pedro, Estados Unidos Nesta cidade, a informação sobre itinerários é fornecida em panfletos para cada linha. Isso é possível por serem poucas linhas. As cores (verde, vermelho, roxo e laranja) indicam o tipo de trajeto da linha: expressa, paradora, rápida e outras. A empresa de ônibus disponibiliza um vídeo no site com a explicação de como usar o sistema de informações para planejar suas viagens, considerando o planejamento das viagens algo inerente ao deslocamento por ônibus. A versão disponibilizada para impressão é a mesma dos panfletos distribuídos nos pontos de ônibus, prédios públicos, e outros locais de grande acessibilidade.

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Quiosque móvel de atendimento.

Página do site.

Santiago do Chile O sistema integrado de transportes de Santiago foi implantado há poucos anos e, com ele, foi criado um programa de informação aos usuários, o Transantiago Informa. Este serviço está presente fisicamente em centralidades da cidade, em quiosques de atendimento. Existe também o formato itinerante de atendimento, para situações eventuais de informação de alterações no sistema ou em fases de implantação e que circulam, também, por locais de atração de população como hospitais públicos, centros de serviços, etc, a fim de divulgar as informações sobre o sistema. Através do site, pode-se visualizar e imprimir o mesmo mapa que é utilizado para o panfleto, com a cidade e algumas linhas principais, não todas. No entanto, na internet é possível traçar roteiros e adquirir algumas alternativas para o trajeto solicitado. Todas as alternativas são mostradas. O tempo não é calculado (como no caso do site da SPTrans). O projeto gráfico da página é claro. Mensagens de orientação quanto ao uso da página são dispostas a cada etapa do procedimento para obtenção do roteiro. Os mapas têm data com precisão de dias de atualização. O mapa impresso de Santiago segue o mesmo padrão já descrito para o panfleto de Manhattan, dobrado, com um grande mapa geral da cidade de um lado e lista de itinerários no verso.

Divisão da cidade por áreas identificadas por cores e letras.

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Síntese Síntese das observações quanto aos mapas de outras cidades: - - - - - -

formato para impressão disponível no site; mapas em panfletos para distribuição, feitos para cada linha ou para as linhas que atendem a uma área; localização da área em relação à área total da cidade; mapas dos trajetos indicando paradas e infra-estrutura urbana: sistema viário, edifícios públicos, interesse histórico/ turístico, referências populares; sistematização das informações; postos de atendimento e dúvidas itinerantes (para eventos) e fixos, em entroncamentos importantes.

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Mapa da área H de Santiago.


2.1.2

Questionários

Ao entrevistar as primeiras pessoas nos ônibus surgiu uma primeira dificuldade, pois dificilmente entendiam que o meu questionamento se referia ao sistema de informação nos transportes. Ao explicar que se tratava de uma pesquisa sobre ônibus, a maioria delas começava a reclamar das condições e das linhas lotadas que carregam gente pendurada pelas portas, problemas de atrasos, etc, ou seja, todas as outras deficiências do serviço. Percebi, então, que precisaria de um guia de perguntas direcionadas para conseguir obter a informação desejada. “Como você descobriu que este era o ônibus que servia para o seu destino?”. Foi desenvolvido, então, um questionário para tentar aperfeiçoar as entrevistas. A idéia era escolher três ou quatro paradas de ônibus de características distintas (ex: corredores, parada em terminal, totem simples de bairro) e pesquisar três pessoas em cada uma. Mas, ao final, foram feitas apenas duas entrevistas completas, uma num formato preliminar da ficha, outra num modelo final da ficha. Na segunda entrevista, a pessoa entrevistada faria um trajeto pela segunda vez. Da primeira vez, seguiu o itinerário proposto pelo telefone 156, cuja informação dada foi “totalmente errada”. No momento da entrevista, ela “experimentava” um novo itinerário, ao qual chegou segundo suas próprias “conjecturas” (nas suas palavras) – depois de ver um ônibus na rua com o letreiro de um lugar conhecido e de tirar dúvidas com um fiscal no terminal final. “Ele foi super solícito”, comentou. A referência apontada usada para adquirir as informações foi um shopping center. A ficha desenvolvida continha campo para identificação da ficha, nome e idade dos entrevistados, data e uma primeira pergunta cuja resposta condicionava o preenchimento do próximo campo, A ou B. O campo A foi destinado a pessoas que “sempre tomavam ônibus” no ponto onde estavam sendo entrevistadas e o campo B era destinado a quem respondesse que não costumava usar o ponto com freqüência. Outros dois campos finalizavam a ficha: um sobre renda e escolaridade do entrevistado, seguindo o modelo da pesquisa Origem-Destino do Metrô de São Paulo, e outro, preenchido pelo entrevistador, contendo a descrição do ponto de ônibus.

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2.1.3

Filmes e relatos flagrantes

Com o intuito de reforçar a argumentação e registrar exemplos dos acontecimentos cotidianos na cidade em relação à falta de informação e em como ela afeta a vida dos usuários do transporte coletivo, foram feitos pequenos filmes, em baixa resolução, com câmera digital não profissional. Os filmes foram gravados em trajetos feitos com o objetivo específico de registrá-los ou não, ocorrendo ocasionalmente. São registros de pessoas perguntando sobre o itinerário ao motorista ou cobrador, registros da informalidade e da oralidade da informação. Para apresentar este levantamento, foi editado um vídeo utilizando essas pequenas filmagens e incluindo fotografias feitas ao longo do processo de trabalho. Seu conteúdo é a problemática. Ele é parte do processo. Não estão incluídas, nele, as propostas projetuais, mas ele cumpre com um dos objetivos do trabalho que é a exposição da problemática. O vídeo final, intitulado “Registros Flagrantes”9 é um dos produtos do presente trabalho. Para a edição foram selecionadas quatro tomadas que mostram diferentes situações, porém bastante comuns10. Os títulos que precedem as cenas são retirados dos diálogos, e são as falas mais representativas de cada trecho.

Cena 1: “Aí você me explica onde que é, tá?” Este trecho registra uma mulher que pede para que o motorista a avise quando chegarem à referência da avenida, usada pelo motorista, mas desconhecida pela passageira. Esta é a única ferramenta que ela tem, a conversa com as pessoas. Cena 2: “É o Terminal Santo Amaro” Uma senhora, durante um trajeto, ao estranhar o caminho, confirma com o motorista o itinerário do ônibus. Recebe dele a resposta de que seu destino não é o mesmo que deseja. A senhora não consegue lembrar-se da linha que a levaria a seu destino, que tem como referência a estátua do Borba Gato (na Avenida Santo Amaro, mas ela não usa o nome da Avenida). É quando uma outra

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Frame do vídeo “Registros Flarantes”

passageira sugere o nome da linha: “Terminal Santo Amaro”. A senhora pergunta a ela onde é que ela pode tomar a linha, a passageira informa e a senhora desce do ônibus. Mas, antes, agradece: “Obrigada, meu amor!”. Cena 3: “Você tem três ‘Lapa’” É solicitada uma informação quanto a que ônibus tomar para atingir certo destino, antes do embarque, no abrigo de pontos finais do metrô Ana Rosa, aos fiscais da SPTrans. Bastante solícitos, eles tentam explicar que três linhas levam ao destino desejado, mas das quais uma delas me servirá melhor. A informação não é considerada suficiente pelos mesmos, que indicam que perguntei, novamente, no ponto de ônibus.


Cena 4: “A Luz tá pra lá, né?” Um vendedor ambulante, instalado em frente à saída da estação da Luz do metrô informa a um entregador como chegar à rua Mauá. O homem é muito solícito, informando três alternativas de percurso, indicando diversas referências, como edifícios, ruas, cruzamentos. Antes do início da filmagem, o vendedor já havia informado algumas pessoas que o abordaram pedindo informações. Após o corte da filmagem ele afirmou que iria começar a cobrar pelo serviço, que lhe renderia mais do que os produtos da barraquinha. Cena 5: Cooperação entre passageiros A cena, sem fala, mostra um homem levantando-se do assento reservado para dar lugar a uma senhora. Enquanto sentado ele carregava a bolsa de uma mulher e a mochila e o paletó de um jovem, que devolve a eles ao se levantar. É uma cena do transporte coletivo não diretamente relacionada à informação, mas que demonstra a cooperação que está presente em diversos âmbitos do uso do sistema. Síntese das questões que os filmes apontam: a. passageiro sem referência dependendo da indicação do motorista; b. passageiro que se equivoca, pegando o ônibus errado e se dá conta do engano durante o percurso; c. motorista que não sabe informar sobre as rotas dos demais ônibus; d. cooperação entre passageiros.

2.1.4

Estudos de Caso

Estudo de Caso 1 – Referências e Intermodalidade Este primeiro estudo de caso se deu numa visita à casa de Luzia, uma mulher (35 anos, empregada doméstica, casada, mãe de um filho) que trabalha na zona sudoeste do município de São Paulo e mora na extrema zona leste da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP. Foi pedido a ela para que explicasse como chegar à sua casa por transporte público. Com a transcrição da fala que descreve o trajeto, diversos elementos se mostraram interessantes para este trabalho. Foram anotadas as referências empregadas por ela para servirem de orientação ao trajeto, posteriormente verificado, de aproximadamente 55 quilômetros. Os modos utilizados foram vários: ônibus urbano, metrô, trem, e ônibus do município de Itaquaquecetuba (onde o Bilhete Único de

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São Paulo não tem validade). Num segundo momento, foi feito o mapeamento localizando as referências empregadas na fala da entrevistada. O trajeto foi percorrido conforme as indicações e a análise foi feita depois da visita, com a pesquisa de mapas de deslocamento, fotos aéreas e dados dos itinerários dos ônibus indicados pela entrevistada levantados através de mapas geo-referenciados disponíveis em portais especializados de localização, como Google Maps e Guia Mais, além do Infolocal, da Prefeitura e do portal da SPTrans. O Guia de Ruas abrangia apenas parte do trajeto. O trajeto exige atenção nas integrações e mudanças de modo. As 32 referências utilizadas no discurso foram analisadas e separadas por categorias criadas a partir do seu levantamento, e não antes dele. Posteriormente as mesmas foram localizadas num mapa do trajeto, a fim de verificar se as referências de mesma categoria se agrupavam espacialmente e para extrair outras análises, como por exemplo, responder qual é a composição da nossa rede de referências urbanas.

Imagens das referências empregadas no discurso: Avenida Ibirapuera; placa na avenida 23 de maio “escrito Praça João Mendes”; “subidinha”; plataforma do Terminal de ônibus próximo à estação Manuel Feio.

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TABELA DE REFERÊNCIAS POR CATEGORIA – ESTUDO DE CASO 01 = Infraestruras urbanas 1. Avenida (Av Ibirapuera) 2. Metrô Anhangabaú 3. Brás 4. Sétima estação 5. Estação do Itaim Paulista 6. Na plataforma 7. Avenida Monções 8. primeira rua à direita

= Geográficas 19. sobe 20. rua de pedra 21. desce a primeira rua 22. cerquinha de bambu

= Sinalizações 9. uma placa que tem escrito Praça João Mendes 10. linha vermelha 11. “ferrovia” (escrito na placa) 12. zero três 13. escrito Pium 14. placa do gás

= Uso do solo 23. Lojinha 24. Padaria da Patrícia 25. Avicultura Monções 26. Bar da Carminha

= Praças/ edifícios institucionais/ religiosos/ monumentos 15. Praça da Sé 16. Vale do Anhangabaú 17. faculdade não sei o que Penteado 18. Mário Martins (escola pública)

= ORIENTAÇÃO Verbal 27. pergunta pro motorista 28. fala (para o motorista) 29. aí você pergunta lá pro povo

Localização das referências usadas no discurso.

= Indicação de percepção 30. desce todo mundo (movimentação das pessoas) 31. vê o terminal 32. o ônibus segue

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As referências agruparam-se em seis localidades, sendo elas: 1. origem; 2. desembarque do modo ônibus e embarque no modo metrô (primeira integração); 3. integração intermodal metrô-trem; 4. ponto durante o percurso de trem; 5. desembarque do modo trem e embarque em ônibus (troca de modos); 6. destino. Tabela DE distribuição das referÊncias por pontos do trajeto 1

2

3

4

5

6

Origem / início do percurso

Desembarque do modo ônibus e embarque no modo metrô (primeira integração)

Integração intermodal metrô-trem

Ponto durante o percurso de trem

Desembarque do modo trem e embarque em ônibus (troca de modos)

Destino / fim do percurso

Avenida

Metrô anhangabaú

Brás

Estação do Itaim Paulista

Sétima estação

Avenida Monções

Pergunta pro motorista

Uma placa que tem escrito Praça João Mendes

“ferrovia” (escrito na placa)

desce todo mundo (movimentação das pessoas)

Na plataforma

primeira rua à direita

linha vermelha

Lojinha

escrito Pium

placa do gás

Praça da Sé

placa do gás

Mário Martins (escola pública)

Vale do Anhangabaú

vê o terminal

rua de pedra

faculdade não sei o que Penteado

desce a primeira rua

sobe

cerquinha de bambu

fala (para o motorista)

aí você pergunta lá pro povo Padaria da Patrícia Avicultura Monções Bar da Carminha o ônibus segue

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As maiores concentrações de referências estão nos locais onde há troca de modos e no final do percurso, próximo à casa da entrevistada, pois são os pontos que envolvem decisão por um caminho ou outro, enquanto as referências empregadas no “meio” do trajeto têm como função confirmar e certificar o passageiro do caminho correto, transmitindo-lhe segurança (referências nº 5 e nº 30, por exemplo). Constatou-se que as referências de uso do solo em áreas já configuradas e consolidadas são diferentes daqueles bairros em processo de crescimento e de urbanização recente e precária.

Locais de origem e destino. Referências distintas.

(…) à medida que me afastava da zona central da cidade, por exemplo, os pontos de referência habituais (ruas, avenidas, praças) iam sendo substituídos por outros, a padaria, o bar, o posto de gasolina; só mais tarde, entretanto, é que fui compreender a importância e significado destes elementos para a delimitação geográfica e social de determinados espaços. (MAGNANI, 1987, p. 170)

Estudo de Caso 2 – Bilhete Único A entrevista com Yone, uma mulher (32 anos, secretária, casada, mãe de 4 filhos) que viaja 22,5 km cotidianamente da casa para o trabalho, trouxe elementos bastante diversos daqueles indicados no depoimento de Luzia. Yone utiliza até quatro ônibus no trajeto, pagos com uma única tarifa com o Bilhete Único ou duas quando o tempo de trajeto ultrapassa duas horas. Nesta entrevista, Yone não responde a uma pergunta, mas discorre sobre como o tema do deslocamento em São Paulo está presente em sua vida. Os elementos que mais se destacaram da longa fala da entrevista foram, além dos vários casos relacionados ao transporte coletivo, as referências relacionadas aos tempos de viagem. São inúmeras referências sobre os tempos de trajeto, de espera, comparações temporais entre opções de percurso, etc (ver tabela abaixo). O trânsito e as condições da viagem também são reclamados com veemência. Na análise da transcrição surgiu uma primeira separação dos termos utilizados na fala: referências de trajeto, referências temporais e opções de trajeto, dispostos abaixo.

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TABELA DE TERMOS EMPREGADOS – ESTUDO DE CASO 02 REFERÊNCIAS DE TRAJETO 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29.

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desce a Joaquim Távora passa ali por cima da ponte sai direto ali na Ibirapuera. sentido bairro Cocaia vai direto por ali ele cruza na Sena Madureira Parque Independência, número 6066 (perua) o Terminal Capelinha o Ana Rosa ali, na Tangará no centro de Sto. Amaro a avenida (M’Boi Mirim, próxima a sua casa) Terminal Sto. Amaro Avenida Vicente Rao Washington Luís Ao lado da Base Militar a “Menininha” cruzamento entre a João Dias e a Giovanni perto de Interlagos Jardim Guarujá no ponto antes de entrar pro Jardim dos Reis perto do mercado Marinhos tem que falar com o cobrador atrás do Mc Donalds Aí você vai subir uma viela ao lado da creche uma rua que chama João de Almada, que é onde desce essa perua próximo ao Colégio Renata como referência todo mundo ensina


REFERÊNCIAS DE TEMPO 30. Você fica horas pra sair de um lugar (sobre o trânsito de São Paulo) 31. pra ela ver o tempo que é 32. antes eu fazia em 1 hora, 1 hora e meia, mais ou menos. Agora eu não consigo mais sair de casa e chegar no horário 33. eu saio 7 horas e não consigo chegar 9. 34. meia hora, 40 minutos até o terminal, 35. o pessoal fica correndo pra dar tempo, você entendeu? Porque são 4 ônibus durante o período de 2 horas. (sobre o uso do bilhete único) 36. Mais ônibus ou mais tempo? (sobre a pergunta “o bilhete único é suficiente? Você usa mais?”) 37. você não consegue concluir o trajeto até em casa com aquela condução 38. cê tem que sair mais cedo 39. andar 15, 20 minutos 40. dei uma corridinha assim básica, porque eu ando correndo na verdade 41. era umas 15 para as 7 da noite, ponto cheio 42. eu poderia ir 20, 15 minutos andando a pé 43. esse cartão ajuda com que a gente não fique esperando muito tempo a condução 44. Aí vai indo, vai indo pra não esperar tanto porque, já demora tanto o ônibus 45. aí fico esperando o Parque D. Pedro (…) porque demora tanto 46. o tempo é tanto que você espera o ônibus que é melhor você vim a pé que ficar esperando o ônibus. 47. Coisa que você faz em 15 minutos, você fica uma hora 48. Eu sai 7 horas da manhã de casa e simplesmente cheguei uma hora da tarde aqui. 49. É chegar rápido, chegar o mais rápido possível, porque eu acho absurdo o tempo que você perde no trânsito, no trajeto, que eu perco pelo menos de casa pro trabalho e do trabalho pra casa. 50. Porque eu não suporto essa coisa de ficar parada ali, esperando uma condução, porque demora muito 51. 20 minutos, meira hora, depende da linha 52. ficam chamando passageiro aí já vai meia hora (sobre a demora maior das peruas em relação aos ônibus) 53. demorava de 1 hora a 1 hora e 10, 1 hora e 20

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ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

OPÇÕES DE TRAJETOS 54. eu saio daqui vou fazer uma série de coisas, passo no shopping, vou pagar uma conta, vou no mercado, entendeu, eu nunca vou direto pra casa. 55. a gente vai de carro e é diferente. Mas o trânsito, também não muda, é a mesma coisa 56. ou ir a pé até a Joaquim Távora, para pegar o Terminal Capelinha ou pegar um aqui, aí descer na Pedro de Toledo, pegar outro e depois pegar outro até a minha casa, 57. eu ia daqui todo dia pro Ana Rosa, mas porque eu gostava de ir andando, eu saia daqui 6 horas e ia andando, aí chegava lá 58. eu ia por Santo Amaro, não ia direto pra casa, eu ia pra Santo Amaro, que eu ia descer lá, pra comprar alguma coisa, numa loja, não lembro 59. eu sei que aqui não tem direto condução pra Santo Amaro, então eu teria que pegar um ônibus aqui na Tangará e descer na Pedro de Toledo, e pegar outra condução 60. Lá tem direto 61. porque eu não ia direto, não ia pro terminal Capelinha, eu ia pra Santo Amaro, e eu peguei e desci na Pedro de Toledo pra pegar outro 62. se não fosse o cartão você teria que ficar exatamente esperando aquela linha, aquele determinado destino. 63. eu pego da minha casa até a avenida que é, é Sto. Amaro, que vai pro terminal Sto. Amaro, (…) aí eu desço no meio do caminho, qualquer lugar, porque na verdade eu só pego pra chegar até Avenida que lá eu tenho mais opções. (…) Aí pego o Terminal Capelinha ou eu pego o Santa Cruz, desço ali na Borges Lagoa, (…) desço a Borges Lagoa e pego (…) Parque D. Pedro. aí eu desço a Borges Lagoa a pé, aí fico esperando o Parque D. Pedro, ou, porque demora tanto, aí eu pego o Vila Gomes, desço alí 64. sai de lá, do Ana Rosa e vai pro Terminal Ângela, que é próximo da minha casa, Terminal Ângela. Mas pára no Terminal Ângela, chegando lá eu tenho que pegar outra condução até a “Menininha” até, e pegar outro descendo na minha casa. 65. Qualquer um que vai pro Terminal Capelinha 66. Antes eu pegava Ana Rosa, agora não tem mais lá na Rua Vicente Rao

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TABELA DE REFERÊNCIAS POR CATEGORIA – ENTREVISTA 02

As referências de trajeto (relativas à orientação do percurso) foram separadas em categorias semelhantes às da primeira entrevista e posteriormente dispostas no mapa do

= VIAS/ INFRAESTRUTURA URBANA/ CENTRALIDADES 1. desce a Joaquim Távora 2. passa ali por cima da ponte 3. sai direto ali na Ibirapuera. 4. ele cruza na Sena Madureira 5. ali, na Tangará 6. no centro de Sto. Amaro 7. a avenida (M’Boi Mirim) 8. Avenida Vicente Rao 9. Washington Luís 10. cruzamento entre a João Dias e a Giovanni 11. perto de Interlagos 12. Jardim Guarujá 13. uma rua que chama João de Almada

= EDIFÍCIOS/ CONSTRUÇÕES/ USO DO SOLO 19. ao lado da Base Militar 20. a “Menininha” 21. perto do mercado Marinhos 22. atrás do Mc Donalds 23. ao lado da creche 24. próximo ao Colégio Renata como referência

= SINALIZAÇÃO 14. Parque Independência, número 6066 (perua)

= GEOGRÁFICAS 25. aí você vai subir uma viela

= TERMINAIS/ PONTOS FINAIS 15. o Terminal Capelinha 16. o Ana Rosa 17. Terminal Santo Amaro 18. no ponto antes de entrar pro Jardim dos Reis

= ORIENTAÇÃO VERBAL 26. tem que falar com o cobrador 27. todo mundo ensina

= INDICAÇÃO DE SENTIDO 28. sentido bairro Cocaia 29. vai direto por ali

trajeto.

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Este trajeto tem como diferencial, em relação à entrevista anterior, a opção por alguns trajetos, o que acaba “espalhando” os referenciais utilizados por uma vasta área do território, o que já não ocorre no caso de Luzia, em que grande parte do percurso é feita por trem, ou seja, trajetos fixos. Soma-se a isso, também, o fato de a entrevistada circular de automóvel nos finais de semanae um dia durante a semana, o que permite, também, a opção de caminhos (que, em verdade, coincidem com os trajetos por transporte coletivo). A localização dos elementos referenciais situou-se pesadamente nos pontos de origem e destino e de modo rarefeito ao longo dos trajetos. Uma destas referências, a padaria “Menininha”, é uma forte referência para os moradores do Jardim Ângela. O trajeto de Yone, apesar de ter a metade da quilometragem percorrida por Luzia, recebeu praticamente a mesma quantidade de referências (Luzia: 32; Yone: 29). Nos dois casos, nota-se a rede de escolas públicas como grandes referências nas áreas de urbanização pouco consolidada, que se torna uma rede reconhecível na paisagem pela ausência de demais edifícios públicos e de construções referenciais. Ambos os trajetos tratam de deslocamentos das bordas da mancha metropolitana para os centros de emprego, e, portanto, são longuíssimos. As atividades produtivas, empregos, concentram-se nas áreas providas de infra-estrutura, dentre elas é de grande relevância o transporte, (…) enquanto a maior parte da mão de obra está na periferia, o que gera longas viagens pendulares diárias. O espaço urbano não homogêneo na distribuição das infra-estruturas urbanas dentro da RMSP provoca o uso ineficiente do sistema de transporte, com viagens pendulares

longas

e

unidirecionais

dependendo do horário, gerando custos econômicos e sociais, e principalmente, inviabilizando processos econômicos, de produção. (YOSHIKAWA, 2007, p.10)

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A padaria, localizada na esquina de um entroncamento viário, possuia grandes letreiros com seu nome, que, por isso, deve ter ficado conhecido, além de ser um ponto comercial grande e ficar aberto o dia todo. Obs. No dia da foto, um domingo chuvoso, o ponto de ônibus estava bem vazio para os padrões em dias de semana.


Estudo de Caso 3 – Evento, Operação de Emergência Com o trágico acidente aéreo na noite do dia 17 de julho, nas proximidades do Aeroporto de Congonhas e com o conseqüente fechamento de acessos como o da Av. Washington Luis na altura do cruzamento com a Av. dos Bandeirantes, Av. 23 de Maio e Águas Espraiadas, algumas linhas de ônibus foram obrigatoriamente desviadas de seus trajetos cotidianos e, ao que se pôde constatar, nem motoristas, nem passageiros foram informados dessas alterações, que devem ter se dado de modo improvisado. No dia 18 de julho, às 16 horas, a linha Metrô São Judas – Terminal João Dias estava com itinerário inalterado na ida e alterado na volta. Percorri a ida com esta linha normalmente até o local do acidente. No retorno, como a via estava interditada e este ônibus não faria, portanto, seu trajeto normal, decidi ir andando até o ponto mais próximo na direção do meu destino para tentar pegar outra linha ou obter informações. Mas terminei por andar todo o percurso que faria de ônibus sem que nenhum deles passasse por mim. Percebi que havia mais pessoas na rua do que de costume e conclui que estavam fazendo o mesmo, andando, no lugar de estarem dentro do ônibus. Cruzei por um ponto onde havia algumas pessoas e perguntei que ônibus esperavam. Mas notei que aquelas pessoas não costumavam pegar o ônibus naquele lugar e que estavam se baseando no percurso que haviam feito no dia anterior, provavelmente num horário anterior ao acidente que desviou as rotas. Passei por estas pessoas e, em seguida, cruzei por dois rapazes que pareciam discutir exatamente o tema da mudança dos trajetos, procurando onde estariam os ônibus que deveriam pegar para atingir o seu lugar de destino:

Juliana: Ali é um ponto de ônibus? As pessoas estão ali, mas ali não é um ponto, é? Moço: É, eu também tô perdido! Por causa desse acidente aí... E você, vai pegar qual? J: É, eu não sei, eu estou tentando entender o que está acontecendo. M: Pra onde você vai? J: Eu ia pegar um na (Av.) Ibirapuera. Está perto, né, pra ir

a pé… M: É, descer aqui… já tá na Ibirapuera. J: …? M: É, que, na real, os ônibus que deveriam descer por essa rua estão dando a volta e estão vindo por aqui, né? Eu também tô perdido! (risos) J: Você acabou de chegar aqui, né? M: É, acabei de chegar. Eu tava lá no ponto, uma meia hora lá, daí o cara falou… J: Em qual ponto você tava? M: Lá… depois da Zacarias (de Góes), lá. J: Pega um… (?) ninguém te avisou nada? M: É, daí passou um rapaz que me avisou: “Meu, vamo pra lá que mudou tudo”. J: Um cara a pé. M: É... aquele que tava comigo… Aí eu falei, “ah, vamo”. J: E você tava esperando qual (ônibus)? M: O Pinheiros. Só que ele vem como Vila Clara e volta como Pinheiros. Daí eu vou perguntar agora… J: Eu vi um pessoal ali, esperando esse ônibus. Eu falei, não vai passar, porque eu também vim descendo à pé, desde o aeroporto, e não vi nenhum. É aquele ali, que você vai pegar? M: É. Não. Se eu fosse pra.. Se eu tivesse em Pinheiros e voltando pra cá eu pego esse. Agora, eu quero ir pra Pinheiros, e tenho… tenho que descobrir que ônibus que tá passando. Eu vou ficar no Itaim, ali, na Hélio Pelegrino. Aí ele passa lá. J: Então peraí, porque esse… M: Eu quero ir pro Itaim, só que o ônibus que eu tenho que pegar é o Pinheiros. Daí esse vem “Vila Clara” e ele volta “Pinheiros”. J: Daí você não sabe que caminho ele vai fazer… Mas normalmente você pega o Pinheiros aonde? M: Lá. J: Lá? (o ônibus Vila Clara chega no ponto, o rapaz pergunta ao motorista) M: Aonde que eu pego ele voltando pra Pinheiros, onde que ele tá passando? MT: Lá (na rua de cima) M: Não, não é! Não tá passando… MT: Ah, eu não sei, eu peguei só agora (querendo dizer que não havia feito o trajeto completo ainda, desde o acidente) M: Ah, cê pegou só agora? Tá bom, então, obrigado. J: Tá vindo mais um ali, olha. M: É, Vila Clara, é o mesmo, ué.

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ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

Percurso alterado: Em azul, o caminho normal da linha; em vermelho o trajeto supostamente fito. Os pontos azuis são as paradas de ônibus que ficaram desprovidas do serviço desta linha. O símbolo vermelho indica o local do acidente aéreo.

J: É, mas vai ver ele já foi e já voltou… M: É, verdade. (pergunta ao 2º motorista do 2º Vila Clara) M: Por gentileza! Como que ele tá…Que rua que ele tá passando, agora, pra voltar pra Pinheiros, esse? MT2: A deve ser pela… Água Espraiada… M: Pela Água Espraiada?! J: Não, pra ir pra Pinheiros…

Dois dias depois do acidente, verifiquei o serviço de informação telefônico da central de informações da prefeitura, o 156: - -

Bom dia, em que posso ajudar? Por favor, eu queria uma informação sobre a linha… gostaria de saber se o percurso da linha já voltou à normalidade. - Qual o número da linha? - Ai, eu não sei te informar. - Um momento, por favor. - A linha é a 675i-10. - Isso. - Um momento, por favor. Musiquinha - Mais um momento, por favor, senhora. - A informação que eu tenho é que a linha já foi normalizada. Todos os cruzamentos (na altura do viaduto João Julião), Washington Luis e 23 de maio já foram liberados e as linhas voltaram ao normal. - Ah, ela já está com o itinerário normal, então. - Sim. Gostara de mais alguma izznformação, senhora? - É, por favor, todas as linhas já foram normalizadas? - Um momento, por favor.

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- Mais um momento, por favor. Mais musiquinha. - Senhora, corrigindo a informação que eu te passei anteriormente, um dos cruzamentos ainda não foi liberado e as linhas que passam por ele estão sendo desviadas. - Ah. E você sabe me informar qual caminho elas vão fazer? - Para esse tipo de informação, eu vou pedir pra senhora entrar em contato com a SPTrans, que eles que têm esse tipo de informação. Gostaria de anotar o telefone? - Sim. - O telefone é 0800 7710 118. - Certo. - Gostaria de mais alguma informação? - Não, obrigada. - Prefeitura de São Paulo agradece, tenha um bom dia. - Obrigada.

Nessa transcrição, a incerteza das informações e do órgão responsável por informá-las fica nítida.


Este episódio envolve uma situação de emergência. E, apesar de extremo, merece ser discutido porque explicita como a cidade é despreparada para o inesperado. No âmbito dos transportes, aparentemente, não existe “plano B”. Pode-se observar, no entanto, que, os usuários cotidianos da linha conseguiram se orientar com base na lembrança do trajeto conhecido dos ônibus, diferentemente dos usuários eventuais. A caminhada que substituiu parte de seus trajetos, até o ponto a partir do qual os itinerários estariam regulares, envolveu um conhecimento adquirido pela experiência das viagens com seu leque de referências urbanas. Sexta-feira, 15:00 (Motorista): - Outro dia a mulher me perguntou “onde fica a Avenida Moema?” e eu disse, eu não sei, não. Vê se pode. Me deu um branco! (Cobrador): - É, às vezes acontece isso. - É tanta gente, tanta pergunta, tanta informação, o dia todo! A gente esquece, sei lá.

Outros Casos Aqui relato outros casos coletados ao longo da pesquisa e que trazem algumas outras questões. Um cobrador entrevistado, que orientava diversas pessoas durante o trajeto da linha Ipiranga – Lapa, ao ser questionado sobre a região da cidade de onde o ônibus partia e aonde chegava, demonstrou não ter um mapa mental da linha relacionado com as referências de norte e sul de um mapa geográfico. Para ele, a linha em que trabalhava há um ano saia da Zona Sul, percorria certo trajeto e voltava novamente à Zona Sul, Quando a linha ia da Zona Sul à Zona Oeste e vice-versa. Questionado sobre como havia adquirido o conhecimento sobre as informações que prestava, ele se explicou assim:

Mesmo ônibus, próximo ao ponto final (Passageira): - Cobrador, por favor, o senhor sabe onde fica a rua Carlos Petit, que é uma travessa da Rua Joaquim Távora? (Cobrador): - Você desce no terminal, ela é próxima ao terminal. - Ah, muito obrigada. É que eu nunca vim pra cá, minha cabeça fica confusa… E pra voltar, pra pegar o Capelinha? - Daí é no terminal, mesmo. Você pega o Capelinha. - Ah, obrigada.

“Eu fui aprendendo com os passageiros me perguntando”. O treinamento que os motoristas recebem ao iniciarem o trabalho em uma nova linha, no que compete ao aprendizado do trajeto, é realizar o caminho às vezes uma única vez como acompanhantes de um outro motorista experiente da linha ou de um instrutor. Os cobradores não recebem um treinamento quanto ao percurso. Coloca-se, aqui, (mais) uma oportunidade de projeto. Há um conhecimento adquirido com a experiência, isto é certo, e é essa a essência das experiências. No entanto, este conhecimento poderia ser assumido e formalizado por uma instrução ao funcionário, para atender os passageiros. Poderiam ser usados mapas dos trajetos ou mesmo uma instrução oral, de um funcionário conhecedor para o outro, mas que fosse algo já previsto.

Conversa entre cobrador e motorista, trajeto Corredor Av. Ibirapuera – Metrô Ana Rosa (05/10/07)

PROCESSO | 46


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

Há uma diferença entre os usuários cotidianos do transporte coletivo e os usuários esporádicos deste transporte. Nesta pesquisa ficou clara a distinção entre as viagens cotidianas e aquelas realizadas pela primeira vez, sendo estas últimas as que mais interessaram ao estudo por ficarem mais evidentes, nelas, as carências de informação do sistema.

2.1.5

Sistematização das observações empíricas

Uma primeira categorização dos elementos referenciais que compareceram nos eventos relatados seria a seguinte: - - - - - - - - - - - -

terminais de transporte, pontos finais elementos da rede viária, cruzamentos linhas de transporte sobre trilhos, estações centralidades sinalização de veículos placas de ruas nomenclatura de linhas metroviárias letreiros comerciais praças, espaços públicos instituições educacionais uso do solo, pontos comerciais referências geográficas e topográficas

Esse elenco permite algumas observações de interesse em relação ao objeto de estudo. Primeiro quanto aos entrevistados e, em segundo lugar, quanto ao próprio espaço urbano. Quanto aos entrevistados, vale observar os elementos que mobilizam para passar as informações solicitadas, recorrendo insistentemente aos dados do próprio sistema de transporte. Quanto às referências urbanas propriamente ditas, ficam em destaque os edifícios públicos e o espaço público, de modo geral. O interesse da observação reside na vinculação estreita entre o processo de orientação e a produção direta dos valores de uso – e de suas informações associadas – que a intervenção do Estado assegura no espaço urbano.

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Pico do Jaraguá visto da Avenida M’Boi Mirim, na altura da Padaria Menininha. Referências que poderiam ser muito fortes, como os rios, os morros, os parques, não aparecem nos relatos.

Nessa conexão fica claro também que o processo de planejamento urbano contribuiria notavelmente para a construção de referências. Em outras palavras, é preciso que, antes de qualquer projeto gráfico, se modifique o padrão de urbanização para depois voltar à questão da orientação com este olhar. Isto, por sua vez, não invalida as informações verbais, mas causa uma sobreposição que é necessária na apreensão de um sistema de informações. As entrevistas mostram que, mesmo com a transformação contínua e a não preservação da história da cidade, este espaço ainda permite selecionar elementos que guiem caminhos. Esta habilidade de seleção deve ser incorporada nos sistemas de orientação da cidade.


2.2 Apontamentos sobre o transporte coletivo em São Paulo 2.2.1

Composição do sistema

O sistema de transporte coletivo da RMSP é composto por diversas empresas – EMTU, CPTM, Metrô e SPTrans – responsáveis, cada uma, por um modo de transporte e sob um recorte espacial que não é o mesmo para todas. A São Paulo Transporte S.A. – SPTrans – é uma empresa municipal que atua nos limites do município de São Paulo e que cuida, hoje, exclusivamente do transporte por ônibus (as linhas municipais). A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, ou EMTU, é também uma empresa de transporte sobre pneus, mas de âmbito estadual e que atua na RMSP – exceto no município de São Paulo – fazendo as conexões entre municípios, mas não assumindo, no entanto, as conexões metropolitanas, as quais, necessariamente, incluem o município de São Paulo.

Linhas municipais (em vermelho) e intermunicipais (em preto) na RMSP

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A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM – é, por sua vez, uma empresa metropolitana que atua, de fato, na RMSP. E a Companhia do Metropolitano de São Paulo, o Metrô, uma empresa estadual que tem a integridade de sua rede inserida nos limites do município de São Paulo. Sobrepõem-se, portanto, três níveis de fragmentação: a política (Estado, RMSP, Município), a espacial (área de abrangência), e a modal (trilhos – trem e metrô, e sobre rodas – ônibus e táxis). Essas diversas divisões geram grandes incongruências e impasses ao funcionamento da rede de transportes coletivos na RMSP. Os sistemas são independentes e têm cronogramas específicos de cada empresa. Os financiamentos são assistemáticos e inseguros para o planejamento da rede. São comuns as disputas por verba entre Metrô e CPTM, a SPTrans não participa das decisões sobre o Metrô, embora sua rede esteja inteiramente contida no município. Enfim, não há, de fato, um planejamento. A fragmentação resulta em desarticulações espaciais e administrativas entre os diferentes modos, que têm como resultado, por exemplo, o caso das estações de trem, metrô e terminal de ônibus de Santo Amaro, as quais não se integram no mesmo espaço. Com a separação entre modais, sobreposta à divisão administrativa que nem sempre é a mesma, são dificultadas as ações e a eleição de prioridades e disputa por verba entre estes órgãos. Ao invés de haver uma política de investimento anual e fixa. Tais empresas deveriam atuar sobre o mesmo espaço geográfico, para articular as ações, e não miná-las. Este tipo de recorte não está promovendo o transporte coletivo metropolitano, que, é hoje inexistente. Informar esta complexidade de elementos incongruentes, torna-se, assim, bastante difícil. Em Londres, o órgão Transport for London, criado em 2000 tem, justamente, a função de integrar os modos que servem à região metropolitana daquela cidade e serve como um exemplo de medida necessária também em São Paulo. Os transportes urbanos de São Paulo exemplificam a informalidade institucionalizada e histórica, no Brasil, ainda que tivesse havido tentativas momentâneas de ruptura desse processo. Um desses momentos abarca a formação da Companhia do Metropolitano, em 1967, e a abordagem inicial de suas proposições.

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2.2.2

A comunicação visual no âmbito dos transportes

Sem a pretensão de uma abordagem histórica, quero destacar a experiência instaurada pelo Metrô. A Companhia do Metropolitano de São Paulo constitui uma referência enquanto projeto de comunicação visual pois houve, na Companhia, desde o princípio da implantação do sistema metroviário, a priorização de um projeto gráfico que marcasse sua identidade na cidade11. A primeira hipótese é de que isso se deveu ao fato do metrô ser subterrâneo ter suscitado, talvez, a preocupação da Companhia em relação à sensação de se “estar perdido”, por realmente se perder qualquer referencial embaixo da terra. Essas referências, então, precisariam necessariamente ser construídas “artificialmente”. No caso do transporte sobre pneus, apesar de se poder ver a cidade, a cidade em si não está “esclarecida” e é difícil ou impossível ter sua apreensão por completo. A vivência cotidiana em São Paulo aponta, no entanto, para problemas graves na transmissão e apreensão desses conteúdos. Faltam-lhe referências. A identidade de São Paulo é a transformação, a reconstrução e a desconstrução. Mas trata-se de algo que ultrapassou em muito esta preocupação: trata-se do projeto de comunicação visual construir um novo referencial urbano. O diferencial não estava na posição dos trilhos, mas na compreensão abrangente do papel do sistema na cidade. E isso é exemplificado pelo trabalho de pesquisa das nomenclaturas das estações da linha verde de Nestor Goulart Reis Filho, Nomenclatura das Estações do Metropolitano, de 1972, em que o historiador faz um levantamento, nas proximidades das novas estações, das referências populares e dos possíveis nomes para aquelas estações. São elencadas algumas alternativas e, depois, eleita uma, com base na importância histórica e em alguns outros critérios, como a sonoridade do nome ou a semelhança entre os nomes das estações, o que não é desejável. -vEste estudo cuidadoso e interessante do ponto de vista cultural está sendo, hoje, desmantelado. O rebatizar das estações12 é um despropósito que des-constrói o pouco de sólido que São Paulo tem, enquanto referências. Assim, o trabalho que, um dia, foi construído com embasamento social e histórico, e carregava memórias e uma construção coletiva de significado, hoje está nas mãos da politicagem, se perdeu. O mesmo ocorre com nomes de logradouros. Qual a necessidade de se alterar o nome de uma rua? Ao contrário, este tipo de coisa só desconstitui, desconstrói, desestrutura. E isto se explica por se tratar de diferentes

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momentos históricos. Em 1967 ou 1972, o planejamento de transportes tinha a intenção de construir uma rede de metrô ampla, que estruturasse a metrópole. Hoje, o momento histórico é o do entravamento, do nãoplanejamento. Não faz parte dos interesses da classe dominante que as forças produtivas se reproduzam ou que o quadro atual se inverta. Este exemplo do Metrô mostra como a sinalização é reflexo de uma política contextual: quando o projeto maior foi abandonado, os projetos e os trabalhos (inclusive aqueles já feitos) foram perdidos. À base disso está a precariedade do próprio sistema do transporte sobre pneus. Transmitir informações sobre um sistema organizado e que funciona bem, mesmo sendo complexo, coloca uma dificuldade diferente daquela de prestar informações de um sistema mal estruturado, que fatalmente envolveria o enfrentamento dessas fragilidades, seja para identificar, seja para ignorar ou mascarar as questões.

2.2.3

A geração de informação sobre o sistema

Para exemplificar as condições de geração de informação, farei uma aproximação a uma das empresas de transporte, o que acarretará num recorte duplamente limitador: geograficamente, por não abranger toda a RMSP; e por referir-se apenas à operação dos ônibus. Em entrevistas à SPTrans, nas sessões de Marketing e Atendimento ao Usuário, ou Central de Relacionamento com o Cidadão – CRC, foi levantado o modo de organização dos serviços de atendimento ao público e dados sobre as consultas. Os canais de comunicação com o usuário existentes hoje são: central de atendimento da Prefeitura de São Paulo, 156; telefone da SPTrans 0800; SAC do portal da Prefeitura de São Paulo, SAC do portal da SPTrans, atendimento pessoal no prédio da SPTrans (unidade do Pari). Desde janeiro de 2007 está disponível na internet o novo portal da SPTrans, do sistema InfoTrans, desenvolvido especialmente para a empresa. Hoje o site está sob a coordenação da área de Assessoria de Imprensa da SPTrans. O serviço de atendimento telefônico hoje é feito pela SPTrans (sessão de reclamações, sugestões e perguntadas relacionadas ao “bilhete único”) e pela Prefeitura de São Paulo (perguntas sobre itinerário). O setor de atendimento ao usuário da SPTrans considera que realiza um bom serviço de atendimento ao usuário, com suas várias entradas de reclamações, sugestões, que se dão pelos diversos canais citados acima. Todos os questionamentos que fiz sobre mau funcionamento foram rebatidos como sendo situações extremas (Caso Aeroporto de Congonhas) ou um caso em que eu não tinha tido sorte (numa situação em que o

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atendimento telefônico da prefeitura não soube informar sobre o itinerário solicitado, indicando o telefone da SPTrans para solucioná-lo). A área de marketing, por sua vez, considera que seja inviável fazer uma comunicação das linhas de ônibus de São Paulo por mapas das linhas em material impresso. “Nossa última tentativa foi fazer um guia por região. Por São Paulo ser uma cidade tão grande e de difícil locomoção, a maioria dos deslocamentos acaba sendo aquele do dia-a-dia, da região onde a pessoa mora, trabalha, estuda”. Com esta afirmação, o funcionário tenta justificar o mapeamento por áreas. Porém, o que é desejável é que se possa conhecer ou freqüentar outros espaços da cidade com igual apropriação e segurança. Mesmo porque os próprios trajetos mais cotidianos, casatrabalho, costumam ultrapassar essa divisão de áreas. Ambas as áreas da empresa entrevistadas (Marketing e Atendimento ao Usuário) concordam que o sistema de transporte sobre pneus abarca uma demanda a qual não comporta, por ser um transporte de média capacidade. A rede é ampla, vasta, com frota de 13 mil veículos e transporta 70% dos passageiros do transporte público em São Paulo. Além disso, os itinerários dos ônibus se alteram permanentemente, e as “reestruturações” do sistema não permitem abarcar sua lógica: nem organizacional, nem espacial. A informação prestada reduz-se, assim, praticamente ao que pode ser veiculado nos próprios componentes do sistema: os ônibus, os abrigos e paradas, os terminais.

Infra-estruturas oficiais: Infra-estrutura física a. Arquitetura dos terminais A arquitetura dos terminais comunica sua existência, pelo porte e inserção urbana. Sua ocupação espacial tem forte presença na paisagem enquanto construção e função. Essas infra-estruturas são sinalizadas, embora sem um padrão uniforme entre si. b. Abrigos das paradas de ônibus Existem, hoje, diferentes modelos de abrigos espalhados pelo município. Cada novo modelo proposto não é implantado de modo uniforme, mas segundo critérios variáveis. Os últimos corredores de ônibus implantados no município (entre 2001 e 2004) tiveram um projeto de abrigo específico, que priorizava a identificação visual à distância pela forma em arco e cor vermelha adotadas. Na atual gestão, estes equipamentos estão sendo re-pintados,

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com outras cores13. Assim, algo que tinha ou se propôs a ter uma padronagem (mesmo que partidária), quando já estava se configurando com algo reconhecido, é alterado “sem aviso prévio” ou qualquer explanação do processo de mudança à população. Alguns abrigos contêm a lista dos ônibus que servem àquele ponto. Outros não têm suporte para tal informação, e outros têm o suporte, mas não a informação. Enfim, é algo que não está sistematizado no serviço. Quanto à necessidade de alterações dessas informações, o que se vê é que não há um cronograma de manutenção e atualização destes materiais. As atualizações se dão, então, de modo improvisado, institucionalizando a informalidade. c. Painéis informativos Também com os corredores foram implantados painéis eletrônicos que serviriam, juntamente com um aparelho GPS instalado nos veículos, informar em quanto tempo qual ônibus chegaria no ponto. No entanto, na maior parte dos casos, estes painéis estão subutilizados, mostrando quando muito a lista de itinerários que passa no ponto, ou apenas a hora certa ou a mensagem “Sistema em Manutenção”.

Sinalização de veículos d. Letreiro luminoso na frente do ônibus O letreiro com a indicação do destino final é a principal sinalização utilizada pelo passageiro que espera pelo ônibus. Os letreiros de alguns modelos de ônibus, por painéis eletrônicos, alternam, às vezes, a mensagem transmitida entre o nome do destino final e mensagens como “Veículo Novo”, “Bom Dia”, etc. Quando o veículo não está prestando o serviço, o letreiro informa “Reservado” e veículos específicos de manutenção informam “Manutenção”. Veículos em operação PAESE – Plano de Apoio em Situações de Emergência – mostram esta sigla, porém não informam qual linha estão substituindo. Esta sinalização, portanto, é às vezes anulada por tais mensagens ou mesmo pela incapacidade de leitura das mesmas com o veículo à distância e em alta velocidade, o que pode fazer com que o veículo desejado só seja lido ao ultrapassar o ponto de ônibus, não havendo tempo de fazer o sinal para parar.

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Intervenção: dois cartazes informam, de modo improvisado, sobre a alteração de uma linha da zona sul (fixada em painel do seu ponto final). O primeiro é supostamente “oficial” e o segundo, uma intervenção do público, onde se lê: “ Ou Term. Sto Amaro 675N para Av Ibirapuera até o Shopping e Servidor Público Estadual e Av Pedro de Toledo e Hospital São Paulo e AACD.” - Todas as referências mais marcantes do percurso. A informação asséptica do primeiro cartaz não foi considerada suficientemente esclarecedora.


e. Numeração das linhas de ônibus A numeração das linhas serve a muitos passageiros como referência dos itinerários das linhas, principalmente quando se trata de linhas com o mesmo letreiro, ou seja, o mesmo destino final. Nesse caso o número da linha é importante para diferenciá-las quanto ao trajeto que percorrem até o ponto final, porém, sem informá-lo. No entanto, a lógica da numeração e o significado de cada algarismo não são lidos e está perdida até mesmo dentro da SPTrans, segundo as entrevistas. As pessoas, então, de fato decoram estes números relacionando-os com os percursos que guardam na memória por já terem percorrido uma vez ou terem adquirido tal informação por outros meios. f. Placa ao lado da porta Esta placa, que antes se localizava dentro do ônibus, esclarece algo quanto ao trajeto do ônibus, indicando as principais vias ou algumas referências fortes existentes no caminho e que o identifique, mas não permite o planejamento prévio das viagens, por localizar-se no veículo.

Divisão do município por áreas g. Áreas por cores Este novo código, proposto pelo Plano Interligado para sinalizar as linhas de ônibus, divide o município em áreas de cores. A divisão das áreas representa “bacias” de viagens, indicando o “escoamento” dos deslocamentos das áreas. Separadas por vias importantes, todas tocam a área central, cuja cor é cinza (centro expandido) e branco (centro histórico). A escolha das demais cores procurou relacioná-las às cores das linhas de metrô, por exemplo: Linha 1 – Norte-Sul, azul: as áreas norte e sul do município receberam as cores azul escuro e azul claro, respectivamente. O uso de cores para áreas é uma tentativa no sentido de tornar o território mais compreensível. O código, desenvolvido para identificar linhas de ônibus, acabou sendo incorporado em outros elementos urbanos, como as placas de rua e, agora, na pintura dos abrigos dos corredores de ônibus. Serviços de atendimento ao cidadão h. Telefone da Prefeitura (156) Este telefone é hoje o canal central de atendimento aos cidadãos que queiram contatar a prefeitura. O serviço é dividido em setores e dentre eles

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está o setor de transporte público. O telefone deveria fornecer informações mais precisas como itinerários de linhas e montagem de trajetos a partir de endereços de origem e destino, no entanto, o Estudo de Caso 03 mostra que nem sempre isso ocorre. Seções do ramal 156, Central de atendimento da Prefeitura de São Paulo: 1.

informações de trânsito e itinerário

2.

atendimento a idosos e portadores de mobilidade reduzida

3.

informações sobre programas sociais

4.

informações sobre a secretaria de finanças

5.

informações sobre a nova lei de anúncios

6.

animais, cadastro de estabelecimentos e serviços relacionados a vigilância em saúde

7.

outros serviços e informações

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i. Telefone da SPTrans (0800) A central de informações da SPTrans, que voltou a ser de responsabilidade da empresa após um período de centralização dos atendimentos telefônicos dos serviços municipais no telefone 156 por razões de “mau funcionamento”, recebe hoje telefonemas de sugestões e reclamações. Futuramente, o serviço incorporará também a informação de itinerários, hoje com a prefeitura, e passará para o telefone rápido 118, número que se pretende tornar o oficial dos transportes no Brasil.

Marketing interno j. Jornal do Ônibus O Jornal do Ônibus é um meio de passar mensagens da SPTrans para a população. Veiculado dentro dos ônibus são publicados semanalmente. k. Mídia interna – bus TV, TVO Recentemente instaladas, as televisões nos ônibus transmitem mensagens pré-programadas que são mantidas em looping. As mensagens veiculadas são de entretenimento, na maior parte (horóscopo, clima, informes sobre eventos culturais, clipes musicais, etc). A mensagem se dá por imagem e áudio.

Informação eletrônica

Jornal do Ônibus e página do site da SPTrans.

l. Infotrans (site) O site da SPTrans é a ferramenta mais nova e mais completa, graficamente, de informação de itinerário ao usuário. A ferramenta cria trajetos a partir de dados de origem e destino, cep, letreiro ou número do ônibus, entre outros recursos de busca. Ainda não está claro, no formato atual do site, por uma questão gráfica mas não só, o fato de não ser necessário o preenchimento de todos esses campos (mas apenas um ou dois) para a obtenção do trajeto. Apresenta problemas como ficar fora do ar por tempo indeterminado. O site contém diversas seções, mas a página mais acessada é a dos itinerários.

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Recursos extra-oficiais de suporte: m. Localização digital As fotografias de satélite em softwares gratuitos para sua visualização como o Google Earth e sites de localização e informação sobre trajetos estão amplamente disponíveis hoje na internet. Este tipo de informação visual-imagética, que se tem globo e do ambiente urbano, em resoluções relativamente altas, que permitem a identificação de cada construção e lote – certamente modifica fortemente a imagem da cidade de quem entra em contato com elas pela primeira vez, ao ver a sua casa, a sua rua, que, mesmo numa vista do alto são, depois de algum debruçamento na observação, reconhecidos pelo morador. A noção de pertencimento. n. Mídia Os serviços de informação de trânsito prestados pelas rádios FM de São Paulo são voltados, completamente, aos motoristas de carro, quando poderiam prestar grande serviço aos usuários de ônibus em casos de mudança de itinerários de linha devido a desvios ou mesmo na caótica normalidade da metrópole. Há toda uma comoção ao redor do tema trânsito por parte da mídia: helicópteros, programas especiais na hora do trânsito. Nenhum desses programas (ouvir algum programa de rádio mais popular) fornece uma informação mais especificamente voltada ao usuário do transporte coletivo. (na verdade as informações sobre o trânsito ultrapassam a divisão modal. Uma greve dos metroviários ou um grande acidente numa via vicinal atinge todos os modos de deslocamento. No entanto (proposta) poderia se informar alternativas de trajeto por transporte coletivo nessas situações, tanto ao usuário cotidiano quanto ao esporádico14. Quem é usuário de ônibus fica sujeito, em situações de mudança de itinerário como no caso do acidente recente em Congonhas, a descobrir o que está acontecendo através de sua própria percepção. As pessoas saem perguntando às outras, aos motoristas – que podem nem saber o caminho que vão fazer mais à frente, o que sugere um verdadeiro ato de improvisação. O que ocorre, então, é que o passageiro fica desorientado e busca outras vias de grande circulação, dá voltas, ou às vezes faz grandes caminhadas em busca de uma linha que lhe sirva ou de alguma informação útil. Ou então, sem tomar nenhuma dessas atitudes, fica esperando no ponto, o ônibus que nunca vem, porque a linha foi desviada dali. Imagens dos mapas fornecidos pelo site da SPTrans e pelo Google Earth, respectivamente.

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Síntese do sistema de informação existente Observando esta listagem, vê-se que existem, sim, diversas iniciativas de se informar o usuário do transporte coletivo. No entanto, elas atuam de modo isolado entre si, na maior parte das vezes, e não têm continuidade ou a manutenção necessárias. Além disso, constatou-se que falta informar, por exemplo, quais linhas passam em certa parada de ônibus e com qual intervalo (informação no abrigo); por quais lugares importantes o ônibus passa, em quais pontos pára (informação no veículo). Alguns problemas decorrentes desta falha são esperas prolongadas por tempo indeterminado, a existência de pontos desativados que continuam no local; a ocorrência de eventos em que linhas são desviadas e os passageiros não são avisados sobre esta mudança; a informalidade, em geral. Todos estes são “sintomas” superficiais que levam a investigar o cerne que os produz. Com apoio nesses meios, hoje podemos dizer que além do guia de ruas, e do habitual “boca-a-boca” as informações mais específicas sobre itinerários são conseguidas, pela população, através do serviço telefônico ou consulta à internet.

Ponto com paradas duplas, em frente ao Hospital do Servidor Público. A improvisação institucionalizada: alterações feitas para informar sobre as alterações das linhas da Zona Sul. (não se sabe, nesse caso, se por parte da SPTrans ou da população)

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Na busca de aprofundamento, realizei uma entrevista com Ana Odila Paiva, engenheira, segundo a qual a questão da informação ao usuário quanto aos itinerários é uma das mais difíceis de ser enfrentada dentro da SPTrans. A entrevista foi interessante, pois, além de situar melhor o trabalho quanto à compreensão do sistema além do ponto em que se encontrava, ao mostrar que o tema está sendo tocado no desenvolvimento de um estudo de mapa de linhas de ônibus para o centro expandido de São Paulo. Ana Odila relatou que, à medida que foi sendo desenvolvido, suscitava uma série de questões para os técnicos daquele órgão gestor do transporte coletivo da cidade de São Paulo. Ela apontou a questão da informação ao passageiro como uma das principais dentre os problemas existentes hoje no sistema de transportes público de São Paulo,

afirmando: “E nós, justamente, não conseguimos resolver porque o sistema não foi inteiramente implantado”. O caminho percorrido até aqui compreendeu desde o apontamento das dificuldades de se montar roteiros de viagem em São Paulo até a reconstituição de itinerários a partir de referências verbais de usuários do sistema, e a coleta de informações sobre as estruturas e os procedimentos oficiais de órgãos ligados à oferta de transporte coletivo de São Paulo. O conjunto dessas esferas de abordagem do tema acabou deixando claro que a questão da comunicação revela, em sua precariedade, as características do processo urbano brasileiro – e essa constatação exige um posicionamento.

Folheto veiculado pela SPTrans (frente e verso) produzido com pesado apoio das “Casas Bahia”: mapa simplificado dos corredores de ônibus, nenhuma informação urbana, e a localização de todas as unidades da loja.

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INTRODUÇÃO | 60


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3

PROPOSTAS

3.1 Sobre frentes de trabalho Como poderia se dar a conjugação entre os vários processos de entendimento levantados aqui – popular, instituição pública, profissionais? Como o planejamento urbano e de transportes pode assumir a sua parte? Ficou demonstrado como a urbanização precária dificulta a informação e as referências e como a estrutura de espaços públicos é fundamental para servir de suporte às informações e sendo, ele próprio, uma informação. Assim, algumas frentes de trabalho podem ser propostas: - a identificação de vias principais do território e o projeto de rede viária - mapeamento dos grandes (conjuntos?) urbanos/ praças de equipamentos - mapeamento de intervenções urbanas de porte: viárias, de infraestrutura, de grandes equipamentos - trabalho coordenado das diversas instâncias e esferas de ação; - amarração dos órgãos da administração.

3.2 Sobre o Processo Urbano Um bom projeto de comunicação agora não resolveria a situação aqui descrita. O problema não está aí, agora. Como se conjugam as informações sobre o território e a informalidade dos processos de apropriação do território? A informação deve ser gerada, mas a consolidação dos espaços urbanos precisa ser encarada como uma necessidade de projeto. Ou então, o sistema de informação não terá em que apoiar-se. Formalizar, institucionalizar o que é ação pública, até mesmo como afirmação da necessária presença do Estado na regulação.

3.3 Sobre as Mudanças A espacialidade e temporalidade dos deslocamentos na cidade colocam desafios para a compreensão de seu espaço e para o modo como informar suas mudanças. O meio da internet e da disponibilização das informações de forma

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digital possibilita que as atualizações sejam feitas de maneira imediata, o que, por um lado, é eficiente em informar com rapidez quanto a mudanças de itinerário ou qualquer outro comunicado, urgente, como visto no estudo de caso 03. Por outro lado, este é um recurso que flexibiliza a geração de informações que deveriam ter mais constância e, por isso, pode servir para manter o atual estado de desordem e descompromisso com a coisa pública. A facilidade da atualização on-line, não pode fazer com que as demais formas de comunicação tenham sua importância minimizada ou, até mesmo, sejam desprezadas. Posto isto, poderíamos pensar o registro em mídia impressa ou ao menos uma comunicação visível, conhecida, e reconhecida pela população como um instrumento de “pressão” para o comprometimento com a organização do sistema. Mas, de fato, o que se dá é o contrário, pois, este material não consegue ser produzido por não se querer alterar o status quo. Não se pode pensar um projeto, gráfico que seja, para quando a cidade estiver “pronta”, mas os projetos devem constribuir para que as mudanças ocorram, para que a cidade mude. Não se pode, ao mesmo tempo, fugir ao enfrentamento escondendose sob a questão do tamanho da aglomeração urbana de São Paulo. Cidades pequenas que absolutamente não têm padrão, provam que a dificuldade que se coloca ao enfrentamento das questões, no Brasil, não é o tamanho, mas a necessidade de se assumir a especificidade brasileira no capitalismo. Há um empenho continuado da elite dominante em um padrão de acumulação que está aquém deste momento histórico. Ao não se romper com o status quo, também não se rompe com o padrão de urbanização.

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3.4 Proposições É necessário buscar a abrangência metropolitana da informação. A construção das referências deveria se dar juntamente com o crescimento da cidade, e não a partir de seu crescimento. O Metrô, quando surgiu, teve o mérito de compreender o espaço na escala metropolitana, que precisa ter suas redes de infra-estrutura projetadas para esta escala. O acerto da escala das proposições é fundamental: propor algo menor que a demanda é trabalho e investimento jogado fora. Recursos acústicos Quando primeiro se pensava em desenvolver um projeto gráfico neste trabalho, havia uma preocupação quanto a legibilidade das representações espaciais em mapas e quanto aos elevados níveis de analfabetismo total e funcional da população brasileira, fazendo-me pensar em outras formas de informar, que não somente a leitura. Uma das propostas seria a adoção de recursos áudio visuais e sonoros, também pela oralidade ter sido constatada como um “eficiente” e recorrente modo de comunicação. Mapas tridimensionais Outra proposta é não usar os mapas apenas como leitura em duas dimensões, mas tridimencionalizá-lo, por exemplo, dispondo-o em uma imagem no piso (de uma estação ou terminal, ou parada de ônibus) em material resistente orientado corretamente em relação aos pontos cardeais. Seria como transformar o mapa numa maquete em que, quem o observa se vê na cidade. Mapas de itinerário Um projeto não asséptico, que utilize as referências populares, baseando-se nas referências usadas no discurso da orientação. Pólos de informação Uma idéia seria desenvolver uma família de tipologias de abrigos com alguns níveis diferentes de complexidade, cuja variação se desse de acordo com a complexidade de conexões e integrações do sistema de transportes nos locais a serem implantados. A distribuição desses abrigos no território, então, poderia ser feita com o uso de softwares de bancos de dados, que cruzariam informações de uma tabela para situar cada um dessas infra-estruturas na malha urbanizada15. Esta seria uma proposta de alteração de todos os abrigos da RMSP. Antes disso, porém, poderia se investir numa rede de apoio de informação na malha urbana de São Paulo. Pólos de informação, na forma de infra-

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Este trabalho, exposto na 5ª Bienal de Arquitetura, propunha exatamente isto: a impressão de uma foto aérea gigante do município de São Paulo executada em material resistente às pisadas foi disposto sobre o pavimento e os visitantes se experimentavam num vôo sobre esta parte da cidade.


Área de uma estação de transferência

estruturas que reunissem, como acontece hoje nos “Poupa-Tempos”, diversos serviços quanto à orientação, desde mapas impressos e acesso à internet para buscas até pessoal capacitado e instruído a informar e auxiliar dificuldades como analfabetismo. As chamadas estações de transferência, pontos da cidade já determinados e geo-referenciados pela SPTrans, seriam pontos estratégicos para a localização destes pólos de informação. Os pontos, apesar de determinados apenas nos limites do município de São Paulo, são 333 endereços em cruzamentos significativos distribuídos por todo o município. As transferências de linhas de ônibus ocorridas em cada um destes pontos variam entre 200 e acima de 2.000 (entre linhas municipais e intermunicipais), ou seja, onde há grande fluxo de pessoas.

Localização das Estações de Transferência no Município de São Paulo

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Sistema Viário Estratégico Nos últimos anos foi proposto, no âmbito do município de São Paulo, o Sistema Viário Estratégico, cuja idéia era criar uma rede de acessibilidade no município, de aproximadamente 1100km de extensão. A idéia era prover uma rede de vias de uma infra-estrutura unificadora e contínua formada por calçadas, iluminação para pedestres, acesso a transporte, fluidez viária, semáforos inteligentes, informações, etc. Enfim, algo que se configuraria como uma proposta ampla de urbanização na escala do pedestre com o potencial de tornar-se uma referência contínua, um território conhecido, o que ajudaria, e muito, a compreensão do espaço da cidade, permitindo seu melhor aproveitamento. Um lugar que significasse São Paulo, independentemente do bairro onde se estivesse. No entanto, para os 400 km da primeira etapa de implantação deste projeto foram selecionadas vias em áreas já altamente consolidadas e acessíveis, perdendo-se, assim, a possibilidade de se expandir, de fato, as áreas acessíveis da cidade. Este projeto, se realizado como proposto inicialmente, poderia conter dentre seus equipamentos, suportes de informação. Num projeto de orientação a redundância tem importância fundamental e necessária para o estabelecimento de códigos. É esta a riqueza das superposições e da não linearidade da apreensão.

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4 CONCLUSÃO Este Trabalho Final de Graduação, a partir da identificação de uma dificuldade vivenciada, a orientação na cidade pelo transporte coletivo, buscou observar como as pessoas se informam hoje sobre este sistema de transportes, como uma primeira forma de se aproximar da questão. Este levantamento recolocou o foco do problema inicialmente proposto, de desenvolvimento de um material gráfico, para, em primeiro lugar, a busca do conteúdo deste material e, consecutivamente, para a discussão deste conteúdo. A questão se revelou enquanto algo de amplitude tanto geral quanto singular: as inúmeras dimensões do processo urbano aparecem juntas na discussão colocada. Uma vez tendo percorrido este trajeto crítico, o projeto se re-impõe conectado ao sistema, mas antecipando padrões de urbanização melhores. O que de início havia se colocado como uma questão de desenho gráfico ampliou-se para um entendimento maior e anterior a este projeto. O projeto gráfico é importante, interessante e até poderia ter sido desenvolvido como um trabalho final de graduação. No entanto, este estudo ultrapassou o escopo inicialmente proposto, e apresentou uma gama de questões, das quais o projeto gráfico é uma delas. Pelo tamanho do problema estruturado neste trabalho, as propostas se consolidaram como diretrizes, e não propostas pontuais. Este desenvolvimento propiciou, a partir da precariedade da informação, compreender a dimensão da precariedade do processo de urbanização.

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NOTAS 1

Refere-se aqui aos corredores de ônibus iniciados durante a gestão de Marta Suplicy, de 2001 a 2004. 2

O site no formato em que se encontra hoje está disponível desde janeiro deste ano na internet. Site: www.sptrans.com.br 3

O Plano Interligado propunha organizar a oferta e o trajeto das linhas dividindo-as em estruturais e locais. 4

As cidades de Londres, Paris, Nova York, e Valencia foram pesquisadas pela internet. Santiago do Chile, São Pedro (EUA) e Tóquio foram pesquisadas por panfletos locais e internet. 5 Os meios de comunicação vigentes serão abordados mais adiante. 6

Site: www.emtvalencia.es

7

Fonte: site da Transport for London, acessado em novembro de 2007. www.tfl.gov.uk 8

Esta informação está escrita no mapa disponível para download. 9

Em DVD anexo a este caderno.

10

Ver roteiro do filme em anexo.

11

O Metrô elaborou um manual de aplicação de todos os elementos gráficos, desde a marca, as cores, fontes tipográficas, etc, que guia toda publicação e veiculação de imagem e comunicação gerada pela Companhia. 12

Como a alteração recente da estação “BarraFunda” para “Palmeiras – Barra Funda”, ou da estação “Ponte Pequena” para “Armênia”.

13

A alteração das cores está adotando o padrão do próprio Plano Interligado de cores por áreas do município, que identificará, agora, também os abrigos dos corredores.

14

Idéia original: Ricardo Corrêa.

15

Idéia original do Prof. Marcelo Bicudo, em atendimento aberto para o TFG.

NOTAS | 68


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5 BIBLIOGRAFIA RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante - cinco lições sobre emancipação intelectual. Tradução Lílian do Valle. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

COMPANHIA METROPOLITANO DE SÃO PAULO. Identidade visual: manual de engenharia metroviária. São Paulo: Metrô, 1981.

“Cuenca Transverse”. QUADERNS, nº 231.

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69 | BIBLIOGRAFIA



ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

6 ANEXOS

-

É… pega o…, vai ali ó, atravessa o farol, pergunta pra aquele pessoal alí, ó.

-

No ponto, ali.

6.1 Vídeo “Registros Flagrantes” – CD Rom Informação na Estação da Luz - A Luz tá pra lá, né?

Roteiro do filme, legendas: Mulher com criança - Aí cê me explica onde que é, tá? -

Moço! Cê me diz onde é que é pra eu descer? Eu precisava

-

(…) Porque a Luz tá pra lá, né?

-

Bem ali, ó. Depois do prédio amarelo, desce ali.

-

Obrigado, obrigado.

-

Desce aqui, ó… Ou lá no prédio amarelo, pega ela alí, vai

pegar o Ângela. Aqui passa o Jardim Ângela mas já faz

cruzar. Perto da Estação da Luz lá, o prédio da Luz.

tempo inda não vi passá nenhum.

-

Então se eu for subir aqui…

-

Aqui passa.

-

Desce por aqui…

-

Mas lá pra frente passa, não passa?

-

Hm.

-

Na Avenida Ibirapuera passa um atrás do outro.

-

Lá no fim lá, lá no meio, na estação, quando sobe, cê entra

-

Aqui?

-

Na Avenida Ibirapuera.

-

Ah, tá bom.

-

Aí cê me explica onde que é, tá?

-

Qual número cê vai?

-

738.

-

Oi?

bem ali.

Mulher com a bolsa - É o Terminal Santo Amaro -

Ali a altura do Borba Gato… Esse aqui não passa lá, né?

-

738.

-

Esse não… ele vai pela Diniz.

-

738… tá vendo aquele prédio ali, lá embaixo? Alí, ó. Alí é a

-

Sai na Vereador José Diniz, né?

-

É. Pega ela direto, até…

-

(…)

-

Mas uma vez eu peguei lá no Santa Cruz…

-

É o…

-

É o Terminal Santo Amaro

Transcrição entrevista nº 01 - Luzia

-

Terminal Santo Amaro?

Entrevista: dia 13 de julho de 2007, 10h00

-

É.

Itinerário Cotidiano – Luzia

-

Não meu amor, mas eu quero tomar um que é o…

Trajeto completo: aprox. 54,9 km

-

É o Terminal Santo Amaro…

Veículos utilizados no trajeto: Ônibus Municipal (Corredor), Metrô,

-

É, então. Mas onde que ele passa?

Trem, Ônibus Municipal (Itaquaquecetuba).

-

Aqui.

Tempo do trajeto em transporte coletivo: 2h40min

-

Passa aqui? … Ah, então eu vou tentar descer aqui.

Rua Mauá.

6.2 Entrevistas integrais

Obrigada, viu, meu amor! Luzia : Então você tem que… Pegar um… até o Brás você sabe ir, não Informação fiscal Ana Rosa - Você tem três “Lapa” -

Sabe onde eu pego um ônibus pra ir pra Lapa, aqui?

-

Aqui mesmo, cê pega o Lapa. Do lado de lá, ó.

-

É… eu quero ir até o Terminal.

-

Aí você pega o Terminal Lapa. Você tem três “Lapa”. Dois “Lapa” e um “Terminal Lapa”. Entendeu? Daí vem escrito lá “Terminal Lapa”. Vem escrito, aí você pega.

71 | ANEXOS

sabe? Juliana : Hum-hum. Mas me fala como vai daqui. L.: Mas você vai sair daonde, daqui? J.: É. L.: Então você pega, dos ônibus que passa na avenida você pega ou Julio Prestes, ou Praça do Correio, ou Parque Dom Pedro, Praça da Sé. Qualquer um deles. Aí você desce é… se você pegar o… só o


Parque Dom Pedro que não passa, ou o Largo São Francisco. Aí tens

J.: O que é, uma escola? (3:25)

uns que passa pelo Anhangabaú, tem outros que sobe a Praça da Sé.

L.: É. Todo os motoristas sabem e os cobrador, Escola Mário Martins.

Se você pega aqueles que passa no Vale do Anhangabaú, você desce

Aí você desce lá no meio do povo aí você pergunta lá, o Bar da

lá. No Anhangabaú tem um ponto,

Carminha, são as referências. Porque ali não tem sinalização é tudo

J.: Qual que passa no Anhangabaú?

por… Bar da Carminha, Padaria da Patrícia. Aí você desce, e o ônibus

L.: Tem uns que desce o vale do Anhangabaú, tem outros que sobem

segue. Aí você desce atrás do ônibus, a pé. Aí você entra na primeira

a Praça da Sé. Aí você observa quando você chegar naquela faculdade

rua à direita. Aí você vai ver ali onde tem a placa do gás, aí você entra

não sei o que Penteado, aí você vê que tem uma placa que tem escrito

ali na primeira, uma rua de pedra. A vielinha 23. Você a casa em frente,

Praça João Mendes, daí esse sobe. Você vai observando. Porque tem

desce a primeira rua.

outros que desce direto. Daí você chega lá e pergunta pro motorista:

J.: E aí chegou.

“Esse passa na João Mendes?”…

L.: Chegou. Ali você tá em casa. Você vai ver minha cerquinha de

J.: Antes de subir… no ônibus.

bambu…

L.: É. …”Ou esse passa no metrô Anhangabaú?”

J.: E pra voltar, a mesma coisa?

J.: Daí eu páro no metrô.

L.: Mesma coisa.

L.: Passando o metrô você fala: “Eu quero descer no ponto do metrô”.

J.: Qual que pega pra voltar? Não vai chamar Pium, vai chamar como?

Daí o pessoal desce, pega o metrô. Daí você pega o… Corinthians

L.: É o mesmo. Ele volta sentido Manoel Feio. Eu te levo até o ponto.

Itaquera. Aí desce na… na Sé. É, você pega… desce no Brás. J.: É, já vou tá na linha vermelha, né? L.: É você já vai tá na linha vermelha, você desce no Brás. Aí chega no Brás você desce, você segue “ferrovia”. Daí passa uma lojinha, daí cega lá você pega o trem, é… Calmon Viana. Só que como eu moro em Mogi, ó, não vai pegar o Estudantes não, é que o pessoal acha assim, “morou em Mogi, tem que pegar o Estudantes”. Mas como você sabe que eu moro lá na divisa do extremo município, o trem que tem que pegar é o Calmon Viana. Você pega o Calmon Viana, desce na sétima estação. J.: Que chama? L.: Manoel Feio. Aí você vê assim, na estação do Itaim Paulista, desce todo mundo. Chegando lá então vocês já vão observando, se ligando, que o pessoal, a maioria do pessoal desce lá. J.: Mas não é pra eu descer. L.: Não é pra descer, você desce na estação Manoel Feio. Sobe a escada, você já vê o terminal em frente. Já vê o terminal de ônibus já cruza, pro outro lado. Aí você desce, sobe, aí você pega o ônibus Pium, linha zero três. Aí você já vê assim, conta desse lado, da esquerda pra direita, aí você já vê: três. Fica ali na plataforma. J.: Como assim, linha zero três... tá escrito assim em cima do ônibus, não? L.: É. É o zero três. Porque todo ônibus não tem aquele núemro? É o zero três. Daí vai tá escrito Pium. Daí você pega, você desce… na Avenida Monções. Chega lá você vai descer na Padaria da Patrícia. Aí é a padaria da Patrícia, e tem a Avicultura Monções. Aí tem que falar que é depois do Mário Martins.

ANEXOS | 72


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

Transcrição entrevista nº 02 – Yone

ontem mesmo era folga, então ele vem me buscar, a gente vai de carro

Entrevista: dia 13 de novembro de 2007, 18h00

e é diferente. Mas o trânsito, também não muda, é a mesma coisa.

Itinerário Cotidiano – Yone

Então, quer dizer, a gente sai daqui, vai fazer alguma coisa, muda, a

Trajeto completo: aprox. 22,5 km

gente não vai direto pra casa, a gente faz alguma coisa diferente, ou

Veículos utilizados no trajeto: Ônibus Municipal

vai jantar fora, nesse dia, até, é diferente, é o fim de semana da gente,

Tempo do trajeto em transporte coletivo: 150 min

porque não bate os horários, é uma correria imensa, então a gente sai daqui e vai fazer alguma coisa diferente. Quando não tem alguma coisa urgente pra fazer de casa, né? Então a gente vai jantar fora, vai

J: Qual é o trajeto que você percorre, da casa para o trabalho, todos

tomar um chopp, alguma coisa. E aí por isso que eu falei que seria mais

os dias?

interessante se saísse daqui e fosse direto pra casa. Porque é difícil eu sair daqui e não passar em algum lugar. Eu sempre tenho que passar

Y: (Risos) Eu faço uma via sacra, né! A minha via sacra. Porque é uma

em algum lugar, pagar alguma coisa, comprar alguma coisa, entendeu?

loucura…

Passar no mercado…

J: E muita gente faz, né? Muita gente…

J: E você sempre fez isso? Desde que você trabalha aqui?

Y: São muitas, né? Nossa, é muito louca essa cidade, assim… De

Y: Aqui sim, todo o dia, vai fazer 4 anos, já, né, então.. sempre fiz

transporte, em questão de transporte, é uma loucura. Eu mesmo… O

isso. Só que eu vejo que a cada dia, sabe, tá piorando. Na questão

que você precisa saber?

de transporte… antes eu fazia em 1 hora, 1 hora e meia, mais ou

J: Então, queria que você me contasse, assim, como você faz pra chegar aqui? Y: Era melhor você ver, mesmo. Era bem legal você ir comigo, assim.

menos. Agora eu não consigo mais sair de casa e chegar no horário, entendeu? J: Que horas você sai de casa?

Eu tava falando pro Edson, que você tava fazendo um trabalho, eu

Y: Olha, às vezes eu saio 7 horas e não consigo chegar 9. Por que

disse pra ele “imagina que louco ela ir comigo!”… O bom, a gente

assim, eu entro 9, então, a coisa lógica seria o quê? Você sair às 7,

contar, assim, é meio… parece uma coisa surreal. O legal é você

caramba, não teria que ser mais que isso, entendeu? É uma coisa

pegar, e fazer todo o trajeto, entendeu? Porque assim… O trânsito é

absurda, né? Então, quer dizer, eu levo mais ou menos meia hora, 40

uma coisa louca, sabe? Você fica horas pra sair de um lugar... sabe?

minutos até o terminal, se eu for pelo terminal...

É uma loucura. Então, é que é muito corrido, eu não vou daqui direto pra casa. Seria interessante você ver o meu trajeto daqui até a minha casa, entendeu? Então é que é muito corrido, eu saio daqui vou fazer uma série de coisas, passo no shopping, vou pagar uma conta, vou no mercado, entendeu, eu nunca vou direto pra casa. Por isso que ficou difícil, eu até furei com você porque eu pensei, “nossa, tinha que ser um dia que eu fosse daqui direto, pra ela ver o tempo que é eu sair daqui do escritório, pegar o ônibus, até chegar em casa, entendeu? J: E você, então, todos os dias você faz alguma outra coisa?

J: Qual terminal? Y: Terminal Capelinha. Eu pego uma condução da minha casa até o Terminal Capelinha que eu vim por lá. Pego, é uma meia-hora, 40 minutos, até lá e de lá eu pego um até aqui. Só que esse ano eu tô achando muito mais complicado porque mudou todos os trajetos. Praticamente todos os trajetos dos ônibus mudaram. Né, as linhas mudaram os trajetos… Então, quer dizer, antes eu pegava um ônibus no Terminal Capelinha e descia aqui, na Tangará. Entendeu? E agora não tem mais esse ônibus. Ele tá vindo… pra vim agora ele também

Y: É, quase todos os dias, porque, lá em casa é o quê? É eu e o

faz outro caminho, ele vem, desce direto, ele desce a Joaquim Távora,

Edson. Eu que administro a casa inteira, quatro crianças, entendeu?

passa ali por cima da ponte, já sai direto ali na Ibirapuera. Quer dizer,

trabalho fora, então, quer dizer, tudo sou eu, né? Tudo o que resolve lá

ônibus aqui, direto, eu não tenho mais, entendeu? até o Terminal

em casa, de contas a pagar, comprar, sou eu, cê entendeu? Então ele

Capelinha. Eu tenho que ou ir a pé até a Joaquim Távora, para pegar

só folga um dia na semana e um domingo por mês, então, quer dizer,

o Terminal Capelinha ou pegar um aqui, aí descer na Pedro de Toledo,

73 | ANEXOS


pegar outro e depois pegar outro até a minha casa, entendeu? Ou seja,

assim meio que…

eu não tenho opção direto de jeito nenhum, daqui até a minha casa. J: Você ficou meio traumatizada? J: E você preferiria a condução direta? Y: Não, não é traumatizada mas é assim, se eu andar muito, aí começa Y: Ah, seria ótimo, pelo menos um ônibus, né? E se não fosse esse

a doer a minha perna, então eu evito, eu evito andar, né? Que nem,

cartão, esse bilhete único? A gente ia pagar um absurdo de condução,

15, 20 minutos, é ótimo andar, é bom, faz bem (risos). Mas acontece o

né? Isso ajuda, até, bastante.

seguinte, eu sempre, ó, eu sempre, quase todo dia, eu tava pensando nisso outro dia, eu ia daqui até eu grávida mesmo do meu filho, eu ia

J: Na verdade essa fragmentação das linhas só veio depois do bilhete único. Y: É, você entendeu? Eu acho que pra dificultar, porque o pessoal fica correndo pra dar tempo, você entendeu? Porque são 4 ônibus durante o período de 2 horas.

daqui pro Ana Rosa a pé, eu adorava andar a pé, nossa, eu ia daqui todo dia pro Ana Rosa, mas porque eu gostava de ir andando, eu saia daqui 6 horas e ia andando, aí chegava lá… porque assim, é… na verdade, pra ir sentado, você tem que ir até o final do Ana Rosa, pegar fila pra poder ir sentado porque aqui já passava o ônibus lotado assim, já quase na porta.

J: Você usa mais? J: Você ia, grávida, para ir sentada? Y: Ônibus? Mais ônibus ou mais tempo? Às vezes eu pago duas condução. A semana passada mesmo, acho que 3 dias da semana eu tive que pagar outra condução. Por que, tudo bem, sempre tem crédito no meu bilhete único, mas é um absurdo o fato de você, tudo bem você paga, você tem esse direito, tem essa vantagem, mas você não consegue concluir o trajeto até em casa com aquela condução, entendeu? Dependendo do dia e do que acontece, você não consegue. Então eu chego lá e tenho que pagar outra condução, R$ 2,30. Então, quer dizer, pra ir embora, são R$ 4,60. Às vezes, pra vir trabalhar, também, a mesma coisa. Então… é louco, né?

Y: É, pra ir sentada. Mas assim, não, não, porque assim, grávida tem aquela coisa, de né? lugar preferencial, não por isso, mas é que eu gostava de andar mesmo, aí eu ia a pé até lá, e, antes e depois, mesmo sem estar grávida, antes e depois, que eu ganhei neném, eu ia também, entendeu? Mas depois que eu quebrei a perna eu já não tenho esse pique de subir até o Ana Rosa a pé, porque minha perna dói, começa a doer, se eu ando muito, aí dói, entendeu? Aí eu já não gosto mais de andar, 15, 20 minutos, você falou, é... mas é horrivel. Pra mim, andar 20 minutos a pé eu tô frita. Eu vou ter que sentar e ficar o dia todo quietinha, se não eu não aguento, entendeu? Eu quebrei a

J: Qual o nome dessa primeira linha que você pega? Da sua casa até

perna como? Indo embora, numa sexta-feira, indo embora do serviço,

o terminal.

e eu peguei o ônibus ali, na Tangará, e como eu ia por Santo Amaro, não ia direto pra casa, eu ia pra Santo Amaro, que eu ia descer lá,

Y: Bom, é assim, chama-se Terminal Capelinha. Agora, número, assim, essas coisas, eu não gravo. Terminal Capelinha, daí volta… J: Não, mas como você sabe que é esse que você tem que pegar? É o que tem escrito Terminal Capelinha?

pra comprar alguma coisa, numa loja, não lembro o que eu ia fazer exatamente, eu sei que aqui não tem direto condução pra Santo Amaro, então eu teria que pegar um ônibus aqui na Tangará e descer na Pedro de Toledo, e pegar outra condução. Lá tem direto, ai passa no centro de Sto. Amaro, aí eu fiz isso, porque eu não ia direto, não

Y: É, Terminal Capelinha. Qualquer um que vai pro Terminal Capelinha,

ia pro terminal Capelinha, eu ia pra Santo Amaro, e eu peguei e desci

eu… entendeu? Mas assim, eu moro em um lugar em que é difícil

na Pedro de Toledo pra pegar outro, peguei, fiquei lá no ponto, aí vem

condução. Não é uma coisa assim, sabe, de fácil acesso… a avenida

o ônibus, aí dei sinal pro ônibus e dei uma corridinha assim básica,

fica bem longe. Ai você desce. Ou eu pego uma perua para ir até a

porque eu ando correndo na verdade, andava. Agora eu me reeduquei

avenida, pra não ir andando 20 minutos a pé. 15, 20 minutos. Ou…

mais, agora eu ando mais cautelosa olhando pro chão, (risos) e pra ver

Não, assim, eu adorava andar a pé… (risos) Mas uma, cê tem que

os buracos com mais atenção, porque foi exatamente uma… não foi

sair mais cedo, e outra, depois que eu quebrei a perna ano passado,

um buraco propriamente. Mas é assim, sabe aquelas ondas, que tem

pronto. Todo, qualquer trajeto pra mim é um absurdo a pé, eu já fiquei

no asfalto, umas coisas assim que... (risos) asfalto assim danificado,

ANEXOS | 74


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

entendeu? não era um buraco, não, porque se fosse o meu pé tinha

estavam fazendo assim, desviando de mim, porque eu tava exatamente

entrado no buraco, não entrou. Eu tava na superfície mesmo, só que

no ponto caída, e aonde eles paravam, né? Mas eles tavam fazendo

eu pisei, não tropecei, eu torci o pé, por causa daquela ondinha, aquela

assim, desviando, desviando, falei “nossa, ninguém me tira e eu não

“craterinha”, eu torci o pé, eu corri, aí eu pisei, tava de salto, pisei, torci

consigo levantar” e eu nem tinha, fiquei meio assim sem ação, não

o pé, e cai sentada no asfalto. O ônibus, ele ficou esperando achando

sabia, só ficava prestando atenção no que eles falavam (risos). Mas eu

que eu tinha me espatifado no chão, que eu ia me levantar, e ia pegar

não tinha ação, falava assim “Me Ajuda!” entendeu? Aí apareceu assim

o ônibus ainda.

esse meu amigo, e falou assim, “você não desceu?” Eu falei assim, “eu cai...cai” (risos) “Só que eu não consigo levantar”, aí, uma outra

J: Não, você quebrou. Y: Mas o ônibus, é, olhou, aí esperou, esperou, eu não levantei, todo mundo juntou, e o motorista foi embora, né. Fiquei lá, ainda no asfalto, sentada, porque eu cai sentada. Falei assim, ai, que mico, né? Cai aqui o ponto cheio, e era umas 15 para as 7 da noite, ponto cheio, e eu falei, e agora? Fui tentar levantar, aí, no que eu fui tentar levantar, porque, na hora eu não senti dor, só senti um estralo, eu ouvi o estralo. Aí eu fui tentar levantar, só que eu não tinha perna pra levantar, aí eu falei assim, nossa... E o meu pé, tava virado, assim pra trás, não sei como, mas quando eu olhei, eu não sei como que era aquilo. Mas, é porque assim, no normal, a gente não consegue colocar o pé totalmente virado, e eu olhei, tava virado, mas eu não tava sentindo dor nem nada, mas ele tava, eu senti, quando eu fui levantar ele tava mole, assim ó... Ai, cê não tem noção da sensação, só passando, é indescritível, só de olhar já me deu desespero, porque eu falei assim, é estranho, né? (risos). Parecia aquela, aquele curupira (risos) a lenda do folclore, curupira, tava pra trás, entendeu? então, eu fiquei meio desesperada, juntou um monte de gente, alguém pegou minha bolsa, alguém pegou meu bilhete único, e tal, e o pessoal: “ai, o que que aconteceu? cê ta bem?” não sei que... Eu falei, ah... eu acho que sim, mas eu não consigo levantar, eu tava conversando com uma pessoa que eu conheço, que tem uma clínica na frente, bem em frente ao ponto aí eu me despedi, e fiz isso, dei sinal, e corri, aí, quando eu me despedi, tava tudo bem, normal, eu já tava conversando, ele é protético, tem uma clínica do outro lado da rua. Aí, no que eu me despedi tudo, daqui a pouco, caí aí quando ele olhou, me viu no chão, e falou “ué? Tava conversando normal com ela de repente ela ta lá no chão”, aquele monte de gente, aí ele foi lá, a minha sorte, é que tinha essa pessoa conhecida lá perto, e todo mundo querendo chamar resgate, não sei que, uns queriam, “ah vamos levar ela no Hospital São Paulo, pegar cadeira de rodas pra levar ela”, não sei o que, e eu não sabia se eu ria ou se eu chorava, eu ouvia as coisas que eles tavam falando ao meu lado, entendeu? e todo mundo assim. Eu já estava sem ar, porque juntou muita gente, eu falei assim, “Meu Deus, e agora?” Mas não aparece uma alma pra me tirar daqui, porque os ônibus

75 | ANEXOS

pessoa, depois de um tempo que viu, que ninguém fazia nada, foi lá, aí o rapaz me pegou no colo, e me sentou no banco do ponto. Aí pronto, foi quando eu comecei a sentir dor, uma dor assim que daquelas, acho que, quando eu tava quietinha e o sangue tava quente, eu não senti, quando mexeu... Enquando eu tava quietinha lá, melhor que eu não tivesse saído de lá, começou a doer de uma tal maneira que cê não tá entendendo. Aí eu falei “meu Deus, que dor”. Eu gritava. Aí uns queriam chamar resgate, eu falei, não não. Aí ele falou “Yone, vou pegar o carro e vou te levar pro hospital” Aí eu falei, tudo bem, é melhor, porque eu tenho convênio, e eu fiquei com medo de ir pro hospital São Paulo numa sexta-feira a noite. Tudo bem, o hospital São Paulo é bom, sabe pra fazer tratamento, você dá entrada, faz o tratamento lá, é ótimo. Eu já operei o dedo lá, já fiz tratamento lá. Mas num caso daqueles, numa sexta-feira à noite, eu não sabia o que, como ia ser, eu fiquei com medo de chegar lá, largada, entendeu? No corredor, e tal, aí eu falei “Eu tenho convênio, Lourenço” então me leva até o meu convênio, só não sei aonde, nesse caso eu ir. Aí eu liguei, ainda com dor, peguei o celular, eu liguei pra central, e perguntei onde eu deveria ir. Aí eles me informaram que era na Vergueiro o mais próximo nesse caso aí eu fui pro Cepaco, aqui atrás na Vergueiro. Aí ele me levou, mas era uma sexta-feira a noite, muito trânsito, pegamos a Domingos de Morais, cê não tem noção. E pra me colocar no carro foi um sufoco, o bom do resgate se tivesse chamado, é que o resgate vem, imobiliza, pronto, e pelo menos eu não ia sentir tanta dor, até eu chegar lá, cê não tá entendendo o quanto eu sofri, cada balançada, cada lombada, cada coisa, era uma dor. Então deitaram o banco, eu fiquei na frente, o outro ia segurando a minha perna assim, meio que fazendo uma tala, ele digirindo e eu gritando, gritando assim, porque eu não aguentava a dor. Eu nunca tinha quebrado, assim, sabe? Então uma dor horrorosa, mas foi cheguei lá, pensei que eu tinha só torcido, mesmo com aquela dor toda e eu pensei que tinha só torcido, quando eu cheguei lá, nossa. E o médico falou, “levanta a calça”. Eu não tive nem a curiosidade de olhar, até então, aí o médico falou assim pra mim: “levanta a calça pra eu ver”. Aí eu levantei, sentada já na cadeira de rodas, levantei, aí ele olhou, ele não sabia disfarçar, ele pôs a mão na cabeça. Aí ele falou


assim, “nossa, chama a enfermeira que nesse caso é só cirurgia”. Aí

quebrou do outro lado, a fíbula que é o fininho que tem ao lado lá, ele

eu, “Hã? Ai!”. Aí eu comecei a passar mal, porque quando eu olhei tava

tava espatifado, o fininho, porque o outro tava no meio, e no impacto

da cor da, nossa preto, tava assim a minha perna, aonde foi a fratura

quebrou o outro do lado, então eu só acreditei quando eu vi, eu falei,

tava preto, preto, e inchado de uma maneira que tava mais grossa

“nossa”. Ele falou, “Yone, olha o que você fez, uma arte, por que vou te

que minha coxa. Eu não sei como pode ter inchado daquele jeito, de

falar, normalmente é jogador de futebol ou motoqueiro que quebra esse

repente. Aí eu olhei, eu falei, “nossa”, sabe? Aí me deu uma sensação

osso”. Mas eu falei, “nossa, antes se eu tivesse feito alguma as duas

ruim, uma coisa assim, aí eu fiquei meio tonta assim só de olhar, na

coisas justificava melhor, porque você andando, você dá uma corridinha

hora que falou que ia fazer cirurgia, pronto, eu gelei. Aí tudo bem,

e quebra.” Aí você pira sabe? Você vai e vem, todo dia, naquela

pronto, entrei e só depois de 3 dias que eu saí do hospital, operada.

correria, você, de repente você ta numa cama e não consegue nem ir no banheiro sozinha, você pira. Se você não tem uma cabeça boa, se

J: Você fez a cirurgia mesmo? Y: Fiz, fiquei com um pino aqui, fez, colocou um pino do joelho até o pé e três parafusos. É um pino, eu quebrei tíbia e fíbola nessa brincadeira. Quando ele falou, a maneira que eu tinha quebrado, que era no meio, como se tivesse pegado um lápis e partido no meio. Eu falei, “o quê?”. Aí eu falei, “eu vou andar de novo?”. Meu medo era não andar nunca mais. Porque eu achei que eu não ia andar, porque assim é horrível aquela sensação que você não conseguir ficar em pé, eu tentei lá na hora e não consegui, e eu não consegui mais, pronto, ali, só um mês e meio depois que eu fui ficar de pé de novo, foi, sabe, uma loucura, então ele já falou, me explicou todo o procedimento, não sei o quê, aí já me deram o remédinho, sossega leão, que eu fiquei tonta de tão forte que era na veia o medicamento e tal, aquela coisa. E aí, foi o procedimento, eu tive que operar só no outro dia porque o material ia vir de fora, porque era um pino que tinha que, tinha que ser, foi medido tudo, e era de titânio uma coisa assim. Aí eu tinha que ficar em jejum, porque ia tomar raque e tal, aí só operei 7:30 da manhã do outro dia, imagina, a minha noite foi linda, né? Assim, eu não dormi, não preguei o olho num minuto, só na base da injeção, na veia assim, soro, e a noite toda foi meio que gritando de dor. Ele falou, “Yone, segura, porque você vai sofrer a noite inteira, só vai amenizar essa dor depois que operar, e só vai operar amanhã por causa disso, disso e disso” Então, quer dizer... Foi uma noite assim, aí explicou tudo. Eu sou muito curiosa, e eu queria saber passo a passo o que tinha acontecido, como era. Eu falei, “não eu to com a aquele problema, é, osteoporose, não é possível ter quebrado a perna desse jeito, de uma queda assim?” . Pra mim, pra quebrar daquele jeito, tinha que ser uma coisa assim, um atropelamento, qualquer coisa assim. Ele falou, “não Yone, isso é torção, você tava de salto plataforma, quando você virou foi de uma vez, pá! Então foi a torção, a maneira que você pisou, aí você quebrou” E eu só acreditei, sou meio assim, que nem Tomé, eu tenho que ver pra crer, eu só acreditei quando eu vi no raio-x, que tava totalmente descolado, quando a tíbia quebrou e o impacto foi tão grande que

você não tem um psicológico legal, você entra em depressão, você, já, sabe, nem sei, fica assim meio com ar de louca porque... é louco. Minha preocupação, a primeira coisa que eu perguntei, “eu vou andar de novo doutor?” porque eu achava que eu não ia andar. Eu ia ficar paralítica pro resto da vida. E eu ainda tinha uma coisa pra escolher que era o tipo de pino, que geralmente essa fratura eles colocam aquela grade. Não sei se você já presenciou na rua aquelas pessoas andando com aquela grade por fora. Então, se você não tem convênio, vai no INSS, ou até anos atrás, que ele falou que a técnica é nova, entendeu, só tinha essa opção. Mas tudo bem, é, sarou, tira, funciona bem, recupera tranquilo, mas assim, é um incômodo assim daqueles, né? Você não dorme direito, só de olhar... Acho que se esbarrar ali, ai parece que vai... né? Então pelo menos essa técnica que eles usaram em mim é nova, mas é interna, mas tinha o perigo de haver rejeição. Então ele falou, “Yone, você pode escolher, a gente pode correr um risco de rejeitar até tantos dias, ou se você quiser colocar direto o outro material também pode, fica a seu critério”. Eu falei não, seja o que Deus quiser, vamos tentar, porque só de pensar na possibilidade de ficar com aquele pé exposto, não sei o que, ai eu falei não, vamos tentar, se acontecer de haver rejeição, tudo bem a gente tira, fica ok, mas ia ser uma outra cirurgia, entendeu? Mas, vamos tentar, eu gosto de tentar, sabe? Então, graças a Deus deu certo, tá aí. Mas ele falou, “Yone, em um ano e meio você já pode tirar”. E a recuperação, por que, periodicamente eu ia passar no médico, cada tantos dias, depois foi diminuindo e todo mês todo mês pra tirar raio-x, ver se está tudo certinho, e a minha recuperação foi super boa, rápida, que ele até falou assim, “nunca vi alguém se recuperar tão rápido de uma fratura assim, do mesmo jeito rápido que você quebrou, você está se recuperando, mas eu acho que é o seu senso de humor”. Porque eu dava risada da minha situação, eu ria o tempo todo, ele falou, “eu nunca tive uma paciente, nesses anos de medicina, com o seu senso de humor, porque eu ria da minha situação. Nossa, falei, “meu deus”, o Ricardo sabe, eu ria, ria o tempo todo, então eu acho que o meu senso de

ANEXOS | 76


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

humor não deixou eu pirar, não deixou eu entrar em depressão, nada,

um ônibus, é terminal Sto. Amaro, aí eu desço no meio do caminho,

porque imagina, uma mãe de quatro filhos, de repente pára, trabalha

qualquer lugar, porque na verdade eu só pego pra chegar até Avenida

fora, pára e pára tudo, porque a sua vida parou ali, enquanto você num,

que lá eu tenho mais opções, que na verdade andar de perua também

né? Então, quer dizer... Mas aí eu acho que o meu senso de humor,

é um horror. Ônibus é lotado, perua pior, né? É menor, e aí pessoal

porque eu ria de mim mesma, né? Eu falei, “que situação”. Água se

acumula de uma maneira pior ainda, aí eu pego na Avenida, porque

eu quisesse tinha que pedir pra alguém, tudo que eu queria, eu tinha

na Avenida eu tenho mais opções. Aí pego o Terminal Capelinha ou eu

que pedir pra alguém, então, sabe? É louco, aí, mas aí foi dando tudo

pego o Santa Cruz, desço ali na Borges Lagoa, venho até ali, a Borges

certo, só que ele falou, “Yone você tem uma vida corrida, ativa, você

Lagoa, desço a Borges Lagoa e pego, é, Parque D. Pedro. Antes eu

é jovem e eu, se você tivesse mais idade, eu não recomendaria, mas

pegava Ana Rosa, agora não tem mais lá na Avenida Vicente Rao,

você precisa tirar esse pino porque da mesma forma, não é sendo

sabe aquele que era da cooperativa? Aí tiraram porque tavam andando

pessimista, mas da mesma forma que você sofreu esse acidente do

também soltando roda matando as pessoas no ponto de ônibus. Acho

nada e quebrou a perna, nessa vida corrida que a gente tem, e vai e

que você viu a reportagem. Na Washington Luís...

vem todo dia a gente pode sofrer um acidente indo e vindo do trabalho, seja lá onde for e esse pino na sua perna…”, se acontece um acidente de atropelamento, eu tando com esse material, complica muito mais a minha situação cê não tem noção, entendeu? Porque aí ele entorta lá

J: Me conta. Y: Foi há pouco tempo, acho que se foi um mês é muito, uma... Aqueles ônibus da cooperativa, ônibus de cooperativa ele fazia, é...

dentro, na medida que bate, porque é uma coisa que... porque é metal. Então ele falou assim, “Yone, é aconselhável que você tire assim que

J: Ana Rosa não sei o quê Gaivota, é isso?

você se recuperar, assim, tranquila, aí a partir de um ano e meio, você escolhe uma data e tira, porque, é, porque se você continua com essa vida corrida, eu não recomendaria”. Mas, sendo assim, eu acho melhor, porque realmente, mesmo porque incomoda, e aí eu apito na porta do banco, (risos). É uma loucura, entendeu? Então eu falei, não, realmente. E outra, é uma coisa que não tem mais necessidade mais de estar aqui, é uma coisa que não é minha, né? Então pra que ficar? Eu quero muito tirar, mas o problema é arrumar um tempinho pra parar e tirar,

Y: É, Cocaia, e o que eu pegava antes era Ana Rosa e aí ia sentido bairro Cocaia, mas esse que a roda saiu, no trajeto, tava andando assim normal, aí soltou, assim, bateu em um determinado lugar e vôou longe e bateu numa pessoa, em várias pessoas na verdade num ponto, na Washington Luís, há pouco tempo, saiu na internet, saiu na rádio, saiu na televisão. J: E o ônibus perdeu o rumo.

né? Só o fato de ser uma cirurgia, e parar pelo menos no mínimo uma semana sem andar, mas eu vou tirar sim, porque no frio cê imagina,

Y: O ônibus, né? Sem uma roda, ele trepidou, e bateu não sei

antes de esfriar eu já tô sentindo a minha perna, ela dá um aviso assim,

exatamente aonde e parou, o ônibus foi o de menos, o problema foi

começa a gelar, a queimar, dói, então é aquela coisa. Daí é isso, essa

a roda, que atingiu várias pessoas, e uma delas, morreu. Um homem

loucura toda, aí por isso que agora eu fiquei preguiçosa de andar a

morreu. Então quer dizer, cê tá, a pessoa não estava nem no ônibus,

pé, entendeu? Eu uso 4 ônibus certinho, porque assim, aí, como eu

estava no ponto esperando o ônibus, a roda soltou, bateu em um

poderia ir 20, 15 minutos andando a pé, que que eu faço? Pego uma

determinado lugar, e imagina o impacto nessa hora? Tava rodando,

perua, vou até até a avenida, e assim vou indo, né? Porque assim,

bateu em várias pesssoas e uma delas morreu. Na Washington Luís, e

esse cartão ajuda com que a gente não fique esperando muito tempo a

foi aqui perto, não foi tão longe, porque as pessoas foram socorridas

condução, se você tem outra opção, cê pega, né? Aí vai indo, vai indo

aqui no Hospital São Paulo, entendeu? Então quer dizer...

pra não esperar tanto porque, já demora tanto o ônibus, quer dizer, se não fosse o cartão você teria que ficar exatamente esperando aquela linha, aquele determinado destino. J: Então, me fala todas as linhas, esses 4 que você pega, quais são?

J: Eu sempre pegava esse ônibus... Y: Esse que passava na Washington Luís? ah, é? Nossa. Então, foi essa linha aí que eu não sei exatamente, parece que ia Pinheiros e voltava sentido bairro Jardim Miriam, Jardim… não sei, alguma coisa

Y: Ó, eu pego da minha casa até a Avenida que é, é Sto. Amaro,

assim. Mas assim, o trajeto dele eu não sei. É dessa empresa que fazia

que vai pro Terminal Sto. Amaro, é uma perua, na verdade, não é

o Cocaia. Aí constataram que não tava havendo manutenção, alguma

77 | ANEXOS


coisa assim. Eu sei que o prefeito tirou todos os ônibus de cooperativa

Y: Engraçado que eu nunca desisto. Eu sempre, a minha vontade é

que tava rodando, cê vê que não tem mais andado por aí e tal. Acaba

voltar pra cá. Já peguei cada trânsito assim horrivel. Ano passado

dificultando, dificulta sim, mas tinha mesmo que tirar porque não tá

acho que foi umas três vezes. Um container virou na Marginal, outra

fazendo manutenção, tá prejudicando as pessoas que nem estão no

vez foi o caminhão. Qualquer acidente que tem na Marginal, por

ônibus, imagina? Tem que parar. Aí imagina, aí eu desço a Borges

mais longe que seja, afeta a nossa área lá, entendeu? Porque se eu

Lagoa a pé, aí fico esperando o Parque D. Pedro, ou, porque demora

venho pelo Terminal Capelinha, ali cruzamento entre a João Dias e

tanto, aí eu pego o Vila Gomes, desço alí, porque assim, não é longe.

a Giovanni, e a Giovanni, tem, sabe? Tem acesso à Marginal, tudo,

Não é, quantas vezes eu fui daqui até a Borges Lagoa a pé? Fui várias

então, quer dizer, ali para, ali pára. Então quer dizer, se acontece um

vezes também, antes de quebrar a perna, se eu fosse andar a pé,

acidente lá perto de Interlagos o fluxo já começa a dar resultado lá,

incrível, mas agora eu já evito porque se eu forço dói a minha perna,

perto da gente, entendeu? Então é uma loucura, qualquer acidente.

bastante. Aí, eu ia e da onde eu desço lá na Borges Lagoa, também

Caiu um motoqueiro, pronto. Sabe? Foi assim, grave, teve que

faço esse trajeto porque assim, o tempo é tanto que você espera o

interditar tal via, pronto, cê esquece, então, quer dizer... Aconteceu

ônibus que é melhor você vim a pé que ficar esperando o ônibus. Mas

um trânsito de eu sair de casa 7 horas da manhã e chegar aqui

aí, eu fico esperando ou pego outro ônibus, ou parque D. Pedro, Vila

uma hora, o ano passado. Pergunta pro pessoal aqui já me ligaram,

Gomes vai direto por ali, né? Então eu desço ali na, vai direto e ele

falaram, “Yone? Eu acho que eu vou mandar um helicóptero, sabe?”

passa assim ele cruza na Sena Madureira e vai direto, o Parque D.

Dando risada porque assim é uma coisa louca. Eu sai 7 horas da

Pedro já entra ali. Não na Sena Madureira, mas aquela rua paralela ali,

manhã de casa e simplesmente cheguei uma hora da tarde aqui.

sabe? Ao lado da Base Militar que tem ali. Então, entra naquela rua e

Muita gente desistiu, nem foi trabalhar tudo. Mas eu sempre, eu

eu desço aqui na Tangará, bem pertinho, entendeu? Então quer dizer,

nunca desisti, eu sempre vim.

eu fiquei sem opções, nenhuma, não tem nenhum ônibus lá direto, tem um, do terminal Ângela que vem mas passa, que é esse Terminal, é, Ângela que sai de lá, do Ana Rosa e vai pro Terminal Ângela, que é próximo da minha casa, Terminal Ângela. Mas pára no Terminal Ângela, chegando lá eu tenho que pegar outra condução até a “Menininha” até, e pegar outro descendo na minha casa. Entendeu? Então, é uma loucura. Então na verdade eu estou afastada, estou afastada. Mas, assim, ah, a questão do transporte tá uma coisa assim, cada vez acho que pior. Porque, ano passado não tinha, ó, o rodízio eu acho que não tá mas adiantando mais na cidade, porque no dia que eu venho de carro também, que é segunda, terça, que o Edson folga na segunda e terça-feira, então, ele vem me trazer na segunda então terça-feira então no dia que a gente vem de carro a gente também sai cedo do mesmo jeito, porque se não, não chega. Porque, o número de carros na rua é muito grande, então eu falei, “Nossa teria que ser 4 dias pra cada duas placas”. Porque, não tá, não tá adiantando mais, eu acho que um dia adiantou, adiantou. Mas agora eu acho que não tá dando

J: Por que você nunca desistiu? Y: Porque eu acho que assim, antes tarde do que nunca, né? Eu sei eu ficava louca lá parada e sabendo o que eu tinha que fazer aqui e as coisas acontecendo, o telefone tocando, as pessoas atrás de mim. Meu serviço parado e eu lá, parada, entendeu? Então eu falei assim, se eu voltar amanhã meu serviço vai tar acumulado, vai tar pior. Então prefiro, eu nunca desisti. Eu sempre vinha. Uma hora da tarde mas eu chegava. Saio de casa sem tomar café, eu saio de casa sem tomar café, eu tomo café aqui. Porque é muito cedo que eu saio, eu acordo muito cedo não tenho apetite pra comer cedo, entendeu? Então eu saio de casa sem tomar café. Então quando eu peguei esse trânsito aí, eu desci na padaria tomei café e o ônibus parado, olha só. Desci na padaria, tomei café e tal e, porque assim a gente geralmente, a gente geralmente já conhece o motorista, cobrador, que pega todo dia, né? Aí eu fui tomei café tudo e, entendeu? Subi de novo e nada de andar. Assim parado totalmente (risos).

mais resultado, o rodizio. Porque é uma loucura. Coisa que você faz em 15 minutos, você fica uma hora. E tava arrumando, não sei se você

J: Almoçou…

passou pela Borges Lagoa. Todo dia to chegando atrasada! Então, todo dia, porque não tem o que fazer, o que eu vou fazer? Não sei o que fazer, eu vou descer andar a pé? Não vou, porque uma porque eu não nem aguento mais fazer isso. (…)

Y: É, sabe, se quisesse... Então, quer dizer... Muita gente, o ônibus chegou assim quase que vazio, muita gente desistiu, foi embora, mesmo porque chega na empresa o patrão não gosta, manda voltar, entendeu? Acho que eu não trabalharia com gente assim. Porque eu

ANEXOS | 78


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

faço a minha parte sempre, procuro chegar na hora, procuro fazer

trajeto, subindo e descendo de ônibus todo dia, tudo, entendeu? Mas é

meus compromissos tudo na minha, no meu horário fora daqui,

porque é de mim mesmo, e é isso mesmo é essa loucura, (risos) sabe?

entendeu? Marco tudo assim, que nem, pediatra dos meninos, aqui na Borges Lagoa, tudo assim, é marcado, quando o Guilherme era pequenininho eu marcava na hora do almoço. O Edson vinha, trazia, eu saia pra almoçar na minha hora de almoço eu ia levar na pediatra, uma hora eu vinha pro escritório, sabe? Eu tenho uma consulta com o dentista, não sei o que, é sempre depois do horário ou antes ou

J: Yone, agora me fala o seguinte, se eu quisesse chegar na sua casa, como é que eu faço? Y: Você faz o seguinte, você vai pegar, você pegaria ou lá no Ana Rosa tem o Terminal Jardim Ângela, tem um ônibus lá, bem lá, sabe lá no Largo Ana Rosa, ali? Ao lado do metrô?

é assim na hora do almoço, então, quer dizer? Isso é meu, desde que eu me entendo por gente que é assim, sabe? É uma questão de

J: Então essa é a primeira opção que você vai me falar. Primeira coisa

profissionalismo, não sei. Procuro encaixar minhas coisas sempre no

aonde você mora?

meu horário, fora do meu horário de serviço, de trabalho. Então, quer dizer... Se, eu não dou pra trabalhar com patrão que não entende quando acontecem essas coisas. Imagina você passar um trânsito desses, chegar e o patrão te olhar feio, e sabe? Te tratar mal ou qualquer coisa assim, eu simplesmente não trabalharia com uma pessoa assim. Eu acho que todo mundo precisa trabalhar, precisa. Só que eu acho que cada um tem que se valorizar, porque se você não se valorizar, quem é que vai te dar valor? Então se você é um profissional

Y: É porque assim, no ponto... Eu moro no Jardim Guarujá. Na percepção assim normal das pessoas, que que acontece? É pegar um ônibus só, né? O menos de ônibus possível, não sei, tem gente que não gosta de ficar descendo de ônibus, pegar outro, não sei o quê e tal. Eu não, onde vejo opção eu tô indo, tô indo. Não tenho essa coisa de, sabe? J: Pra você o mais importante é o quê?

que faz a sua parte, acontece um imprevisto desses e você chega super tarde, aí o patrão olha com aquela ignorância ou manda voltar, eu

Y: É chegar rápido, chegar o mais rápido possível, porque eu acho

volto, mas eu nunca mais venho também, entendeu?

absurdo o tempo que você perde no trânsito, no trajeto, que eu perco pelo menos de casa pro trabalho e do trabalho pra casa. Então você

J: Uh-hum. Y: Porque eu acho que não é por aí, eu acho que tem que haver

tem um série de coisas. J: Então você perde tempo parada (no trânsito) ou esperando?

compreensão e principalmente se ele, porque tem gente que é uma ignorância, sabe? Se ler na internet, der uma olhada no jornal, tudo, vai

Y: Parada, esperando, por isso eu pego o que vim, entendeu? Se

saber o caos que tá essa coisa de trânsito, de transporte público, e de

é uma opção que serve pra me levar até a metade do caminho eu

tudo mais. Então eu tenho consciência de que é o caso aqui, graças

vou, porque eu vou ficar lá, eu mesma não consigo. Se eu for ficar

a Deus, entende. Do contrário, eu sinceramente não trabalharia, eu

esperando aquele determinado ônibus que vai me levar a pegar pelo

procuraria outra, sabe? Porque eu acho que uma hora você encontra

menos só duas conduções, entendeu?

alguém que te entenda que, né? Então ele sabe, ele sabe, o ano passado quebrei a perna e tudo, voltei até antes da hora, sabe? Quando eu vi que, meu médico não queria que eu voltasse nem a pau, eu falei, “não se eu to vendo que dá”. “Ai Yone você vai pegar ônibus” não sei o quê. Eu falei eu venho com cuidado, tudo. Porque eu não aguentava mais, meu médico tinha ficado... Acho até hoje se eu for reclamar pra ele mesmo depois de tanto tempo, reclamar pra ele, “Ai não sei o quê tá doendo”, ele já me dá, ele manda... Porque o meu caso foi gravíssimo, entendeu? Minha fratura foi assim, se eu fizesse corpo mole, eu ia ficar um ano em casa, parada, realmente. Mas eu não, um mês e pouquinho voltei a andar, entendeu? Tava doendo? Tava, tava recente? Tava, mas eu vinha, fazendo o mesmo

79 | ANEXOS

J: Mas você pega esses outros ônibus até 4. Y: É até 4, até 4... Aí eu não pego porque já não tem necessidade, mas eu tô dizendo assim, eu tô na Av. Ibirapuera esperando um ônibus, ai sabe? Se passa outra opção que me leve até... o meu tá demorando, até próximo, até metade do caminho eu vou, porque pelo menos eu to andando ali pra frente, agora ficar parada ali que eu não consigo sabe? Me da uma coisa, entendeu? Até antes de ter esse bilhete mesmo. Quantas vezes eu fiz isso? Pagava, eu pagava do meu bolso porque a gente tem a condução que a empresa dá tudo, mas, sabe? Tá demorando, não eu quero ir embora eu não quero ficar ali parada,


entendeu? Eu tô perdendo tempo parada ali. Então eu pegava mesmo

padaria Menininha.

assim antes de bilhete único. J: Padaria? J: Então você fazia isso mesmo antes do bilhete. Y: É, padaria Menininha, chama padaria Menininha. Y: Exatamente. Porque eu não suporto essa coisa de ficar parada ali, esperando uma condução, porque demora muito, entendeu? Dependendo do dia, dependendo do que acontece demora muito, então... J: Quando demora, demora quanto?

J: Como eu vou saber se chegou na padaria Menininha? É uma padaria? Y: É uma padaria mesmo. Aí, agora não por causa da comunicação visual, mas eu acho que ela tá com a pequenininha lá. Mas assim, é um ponto de referência muito grande e todo mundo conhece. Então

Y: É muito relativo isso. Demora ó, 20 minutos, meira hora, depende da

se você perguntar pro cobrador, pedir pro cobrador, “quero descer na

linha, depende muito da linha, entendeu? Depende do que acontece,

padarinha Menininha”, aí ele vai te informar, entendeu? Aí descendo na

depende do dia, sabe? É bem relativo, não dá pra falar assim. Então

padaria Menininha até a minha casa, nossa é uma loucura (risos), a pé,

eu acho que você ficar já 20 minutos num ponto esperando um ônibus

coisa que eu não faço nunca, assim, quase nunca. Bom, eu não lembro

já é perda de tempo demais pro meu gosto. Então eu já vou, já quero

da época que eu vinha a pé, de lá pra minha casa. Porque assim não

ir embora. Então primeira opção: Terminal Ana Rosa tem o Terminal

tem condição assim é uns 20 minutos, é aquele tempo que eu te falei.

Jardim Ângela, aí, desce no final.

Mas eu não ando mais a pé, aí pega outra perua. Na frente da padaria Menininha eu fico esperando outra perua, uma outra condução.

J: Ponto final? J: É um ponto de ônibus lá? Y: É, que essa é uma na verdade das piores opções porque pega um trânsito horrível. (risos) Eu tava louca pra fazer esse trajeto com você.

Y: É, não é um ponto propriamente, da perua não, nem de ônibus,

Eu falei assim “ai, a Ju vai ter um treco” (risos).

porque nessa rua que a perua desce não passa ônibus, só perua. Então, quer dizer... Lá ao lado da padaria Menininha, que é a rua

J: A gente faz, a gente vai fazer. Y: Porque, o que tinha acontecido? Ele empaca aqui na Tangará, entendeu? Eu vou pra lá pra sentar quando até não dar mais também, por causa da minha perna. Eu pego aqui um, eu pego aqui um até lá, entendeu? E lá eu pego, eu fico na fila pra sentar, porque eu fui já, eu peguei aqui assim em pé, eu falei, “não eu não acredito” num aguento cê sabe? Eu comecei a passar mal de tanto tempo que eu fiquei em

que desce pra ir pro Jardim dos Reis, que é essa perua que eu pego que chama Jardim dos Reis, antes dela virar pro Jardim dos Reis eu desço. Mas mesmo assim ainda vou andar a pé pra minha casa uns 10 minutos, (risos) entendeu? Então quer dizer, eu pego a perua pra descer o maior trajeto, pra não descer a pé. J: Mas se fosse a pé você levaria 20, e aí pegando a perua você leva 10?

pé. A minha perna começou a doer, aquela coisa. Não aguentava mais assim ficar em pé, porque tem dia que pra eu sair ali da Juscelino,

Y: Depende da andada da pessoa ela leva uns 25 porque eu ando

é uma loucura, é uma loucura. Acho que é uma hora pra sair da

bem devagar, então, quer dizer... Na perua você, é rapidinho. Então cê

Juscelino Kubitschek, aí depois você pega um trânsito horroroso na

desce...

Berrini também, então, quer dizer... Essa opção é a que eu menos uso porque é um trânsito horrivel, as outras... J: Não, eu desço no ponto final do Jardim Ângela. Y: Isso, pra chegar até a minha casa você tem que pegar um ônibus lá dentro do terminal que vai sentido Menininha, que é Vila Gilda, chama

J: Mas cê desce e ainda tem que andar? Y: É, ainda tenho que andar. J: Então, aí eu vou pegar, ó, eu vou até lá, hein? Y: Ah, então tá bom.

Vila Gilda, tem esse ônibus que chama Vila Gilda, você vai descer na

ANEXOS | 80


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

J: Eu vou pegar a perua Jardim dos Reis. Só tem essa opção?

J: E pega muita gente, nessa volta?

Y: É, tem outra opção mas assim você não aguenta esperar. Que agora

Y: É, pega, alguns passageiros, pega. Porque quando vê, pra andar

é nova, faz pouco tempo eles fizeram um abaixo assinado lá, e essa

aquele pedaço, acho que não sou só eu, acho que é um monte de

perua sobe até a rua da minha casa. Só que assim, ela ia até o final

gente. Pra não andar aquele pedaço da Menininha a pé, eles pegam

do Terminal Jardim Ângela, só que era assim, de uma 1 hora e 20 a

uma perua. Por causa dessa história do cartão, então ainda tá valendo,

1 hora e 20, mais ou menos, pra sair aquela perua, entendeu? Então,

então vou usar bem a minha condução, aí pega a perua, entendeu?

quer dizer... Pra mim, eu descartava essa opção, porque assim, se eu descesse... J: Você nem considerava?

J: E aí, então a outra opção é Jardim dos Reis ou... Y: Parque Independência, número 6066, Jardim dos Reis não lembro que número é, agora essa é 6066. Aí sim, ela sobe até, ela passa na

Y: Eu nem considerava. Se eu descer no Terminal Ângela e ela tiver no

frente de casa, dá pra descer na frente da minha casa. Só que eu falei,

ponto saindo eu até pegava, foram raras as vezes.

“nossa essa é tão boa, né?” Mas é totalmente pra mim, descartável. Por quê? Agora ela nem tá parando mais no terminal, tiraram ela lá de

J: Nunca aconteceu? Y: Mas pra mim esperar? Deus me livre, porque demorava de 1 hora a 1 hora e 10, 1 hora e 20, sabe? Pra sair. E chama... J: E do Jardim Ângela, de lá pra cá você demora mais ou menos quanto? Y: Do Jardim Ângela pra minha casa, ó, de perua uns... Ou de ônibus, uns 20 minutos, 25. Depende do motorista também. Tem perua que para tanto, sabe? E cobrador fica chamando, aquela coisa, sabe? É

dentro do terminal, então ela vai faz o trajeto dela que é enorme, faz a volta no Ângela, na Marabras e volta já, não faz sinal em lugar nenhum, ela só faz a volta já e já muda... J: Não pára? Y: Não pára, vai direto, entendeu? Então, quer dizer... Aí se eu tô no ponto do Ângela e ela passa eu até pego, ai que ótimo, mas do contrário, agora ficou mais difícil de dar de cara com ela, na verdade. J: E aí se eu pegar o Jardim dos Reis aonde eu desço?

que aqui não tem perua, não tem perua, né? Você não sabe como é o transporte na perua.

Y: Você vai descer antes de entrar pro Jardim dos Reis.

J: Eu sei porque antes era... Tinha peruas ilegais e depois foi

J: Como é que é?

legalizado... Y: No ponto antes de entrar pro Jardim dos Reis. É isso, perto do Y: Então os cobradores, eles ficam chamando as pessoas. Páram no

mercado Marinhos, é, tem que falar com o cobrador, entendeu? Mas a

ponto, aí ficam chamando, né? Pra, entendeu? Cê via isso?

gente vai conseguir um dia, hoje mesmo, ó, hoje, hoje, porque assim, hoje até daria, né? Se a gente não tivesse ficado aqui e tal. Eu... Sei

J: Uhum. Y: Então, quer dizer... Perua é uma loucura, né? Cê quer chegar logo e eles param no ponto e ficam chamando. Ficam gritando o destino

lá, tinha que ser um dia que eu faça tudo em um outro dia pra gente ir, entendeu? J: Não, mas eu posso também te acompanhar em tudo. Sabe?

da perua pra ver se vem bastante gente. Então, quer dizer... Então você num, não dá pra falar um tempo certo de assim sabe, 20 minutos

Y: Uhum, eu sei, mas o problema é que eu queria que você visse o

seria normal, não mais que isso, se fosse assim uma coisa mais assim,

tempo que a gente ia gastar sem parar, entendeu? Porque se para, já,

bem viável . Mas aí eles param, ficam chamando passageiro aí já vai

aí tudo bem, mas aí o tempo que leva pra...

meia hora, entendeu? Até a minha casa, porque ela faz uma voltas assim meio sem sentido, anda lá nuns buracos bem (risos), até chegar, entendeu?

81 | ANEXOS

J: Porque quando você para pra fazer as outras coisas, você para no meio do caminho?


Y: Ou eu desço no Shopping Ibirapuera, se eu quero comprar alguma

que eu pegava, que dava muita volta, vinha pela… já era uma história

coisa, ou eu desço no outro shopping que é mais próximo da minha

assim, sabe? Mais assim, mais tempo. Então, é, fazia final lá. Só que

casa, que é o shopping Campo Limpo, ou em Santo Amaro, alguma

aconteceu um acidente há uns três anos atrás e eles tiraram, ou tiraram

coisa assim. Ou no Extra Guarapiranga, entendeu? Mas vamos marcar

de lá ou os moradores não deixaram ficar lá. Eles queriam linchar,

sim, vamos marcar pra gente fazer um dia pra você ver. A distância e o

derrubar, ainda tentaram queimar o ônibus, porque? Porque o final é

tempo, o trajeto, tá? A gente vai pela...

assim uma ladeirinha assim, onde ficavam parados os ônibus, e um determinado dia, três anos atrás exatamente, exatamente eu não sei

J: Você vai de ônibus eu vou de bicicleta e a gente vê quem chega primeiro. Y: Ah é? (risos) E você tá querendo fazer isso de bicicleta?

mas é uns anos atrás, eu não sei o que aconteceu até hoje eu não me apurei disso mas, mas o motorista parou desceu do ônibus que tinha terminado o trajeto dele e o ônibus desceu, não sei, ele não deve ter puxado o freio de mão, né? Porque pra ele descer, assim, ele desceu

J: Não, não, é de ônibus mesmo.

desgovernado e bateu num poste lá, e lá onde era final é uma escola que tem? Entendeu? Chama Renato Graziano, que fica trás da minha

Y: Então... J: Tá, então aí, Jardim dos Reis eu tenho que descer antes...

casa, e tava descendo, inclusive tava perto assim, e tinha acabado de sair crianças da escola, então tava descendo uma mãe com três filhos e uma menina, uma menina que foi buscar na escola não sei

Y: Antes de entrar pro Jardim dos Reis. Aí tem o ponto de referência

o quê, e o ônibus desceu desgovernado, pegou a menininha de 12

que é um mercado chamado Marinhos.

anos e esmagou, entre o ônibus e o poste, ela morreu lá. Do jeito, eu contando assim parece uma coisa surreal, né? Parece uma coisa

J: E aí você mora... Aí eu desço nesse ponto, e é assim, um ponto de ônibus, ou não? Y: Não, mas pras peruas lá é ponto, entendeu? Lá eles param, porque todo mundo, a maioria dos passageiros dessem lá. Que vem de Santo Amaro, que não mora no Jardim dos Reis mas pegam ela porque é uma opção, então desce lá. Mas não é um ponto.

que não acontece, e aconteceu, o ônibus desceu, e ela conseguiu, ela ainda puxou a menina, ela ainda tentou puxar e não deu tempo. O ônibus desceu com tudo, quase, ainda quebrou o braço do menino, machucou um pouco o irmão da menina que morreu prenssada e o menino, o irmão dela machucou e quase vai os dois na verdade, um quebrou o braço, tudo, mas a menina não deu tempo de nada, pegou assim de cheio e esmagou. E eu fui ver, sabe? Eu fui lá fui ver a

J: Ponto final?

movimentação, a gente foi ver. E eu não acredito sabe? Eu cheguei do serviço, era a noite, aí meu filho falou tal, aí a gente foi lá. Mas é uma

Y: Não, não é o ponto final. O ponto final vai ser quando ela virar e for embora. Jardim Guarujá, entendeu? Lá onde eu moro é Jardim Guarujá. E essa daí já vai subir direto. J: Tem um Jardim Guarujá que passa na Ibirapuera.

coisa que você não tem noção, sabe? Uma coisa assim, uma cena que na verdade ela nem ficou ela não tava nem inteira, ela tinha partido no meio. Quando puxaram o guindaste do chão, aí deu pra ver, entendeu? Ela tava esmagada mesmo porque caiu as partes dela. Ela não tava mais colada, o corpo, a parte de cima na de baixo. Prenssou de uma

Y: Ônibus? Ônibus né? Olha, tem um Jardim Guarujá fazendo final atrás

maneira que soltou, uma coisa assim horrivel. Então, aí pronto, esse

da minha casa, o que passa na Ibirapuera é mais pra lá. Na Ibirapuera

ônibus não saiu, depois desse acidente, já tinha acontecido uma vez

do shopping ele entra ali no... Ele sai do shopping... aquela rua ali...

do ônibus descer, mas não tinha pegado ninguém, e dessa vez pegou

Aquela rua ao lado do shopping ali, sai dali, e o final dele até hoje eu

essa menina mas depois desse acidente, pronto. Aí os moradores, eles

não descobri. porque a via final é atrás da minha casa. Esse Jardim

ainda, no outro dia foi uma guerra, entendeu? Que eles tentaram sair

Guarujá, servia pra mim.

no outro dia de lá tudo, os próprios moradores começaram a querer quebrar, quebrar, que não queriam mais lá, que já tinham pedido rpa

Y: Você pegava? J: Pegava ele de vez em quando, servia pra mim. Saía de lá e fazia final lá. Pegava ele, só que também dava muita volta, não era sempre

tirar de lá depois que desceu esse ônibus. Se tivesse tirado não teria acontecido, e não tiraram. Eles proibiram, aí teve que tirar, aí não faz mais lá, entendeu?

ANEXOS | 82


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

J: E aí, hoje então você não conhece mais o ponto final?

J: Aí como é que eu faço descendo nesse mercado Marinhos?

Y: O ponto final dele é lá pra perto, se não me engano é aonde o meu

Y: Aí você vai... a rua, eu não sei o nome da rua. É só seguir reto,

filho estudava, próximo de um colégio lá, eu não sei exatamente,

e você vai sair nessa rua que eu vou te falar o nome: Rua Batista

porque eu não pego ele, entendeu? Então eu não sei exatamente, eu

Malatesta número 29.

vejo ele passar às vezes, porque não serve mais pra mim, entendeu? Fica longe o final dele, é, ele passa só do shopping ibirapuera pra lá, entendeu? Pegava assim quando ele fazia o ponto final atrás da minha

J: Uma casa? Y: É, é isso.

casa, eu descia, pra mim era ótimo, eu descia, andava um pouquinho até a minha casa, entendeu? Mas agora pra mim não serve de jeito

J: E se eu vier por aqui?

nenhum. Então não pego mais, mas eu vejo assim de vez em quando ele passando, mas pra mim não serve realmente, porque o final dele eu nem sei onde é, só vejo ele passando de lá pra cá, então não serve.

Y: Aí você vai subir uma viela que fica ao lado da creche, vai sair também no mesmo local na rua você vai sair direto, porque antes dessa rua vai ter, tem uma rua que chama João de Almada, que é onde

J: E qual é a outra opção que você falou? Se essa é a pior.

desce essa perua, entendeu? Não sei se é antes ou depois mas eu acho que é isso. Mas todo mundo lá, pra quem você perguntar onde

Y: É, essa é a pior, a que enfrenta mais trânsito, é a primeira é, a segunda opção é pegar o Terminal Capelinha, na Joaquim Távora, ou

é Batista Malatesta, próximo ao Colégio Renata como referência, aí você... Todo mundo ensina.

na Ana Rosa também, atrás do Mc Donalds, chama Terminal Capelinha vai até o Terminal Capelinha que é o final e pega outro ônibus até

J: Tem alguma outra opção?

Menininha. Y: Não. J: Qual? J: A que você mais usa são essas duas? Y: Jardim Jacira, é o único lá do Terminal Capelinha que vai pro Terminal Menininha, é o Jardim Jacira ou o Jardim Guarujá que aí vai descer mais ou menos, e ai pelo menos eu não vou precisar pegar a terceira

Y: São essas duas, porque essa outra de cima tem muito trânsito. J: E a do Terminal Capelinha você pega na Joaquim Távora?

condução, e só vou pegar duas. Porque aí eu vou andando mesmo a pé, fazer o que, não tem outra condução.

Y: É.

J: A perua não te serve quando você pega esses dois, ou um desses

J: Ou você volta a pé do Ana Rosa?

dois? Y: Não, não, eu pego na Joaquim Távora, é dificil eu... Só quando eu Y: Não, Terminal Capelinha eu pego o Jacira, aí se eu pegar o Jacira eu

tô muito cansada eu pego um ônibus aqui, aí subo, quer dizer, e aí eu

vou esperar o Jardim dos Reis, pra não descer naquela, pra não descer

pego aqui passo o cartão. Aí chego lá, passo de novo, aí até chegar

da Menininha até...

lá não dá tempo já acabou. Pra passar nessa Reis ou no Terminal Ângela já acabou, entendeu? E olha que a gente costuma assim a

J: Do Jacira desce no Menininha? Y: Isso. Eu tenho que descer na Menininha, aí porque ele vai embora pro Jacira, ai eu desço na Menininha e pego o Jardim dos Reis, agora se no Terminal Capelinha você pegar o Jardim Guarujá, não precisa pegar o Jardim dos Reis, porque ja vou descer próximo ao ponto que eu desceria se eu pegasse essa perua aqui, se eu tivesse vindo Jacira, ai eu vou a pé andando pra casa, entendeu?

fazer umas maracutaias assim, pega o ônibus, e aí fica na frente, né? Pra não passar, pra chegar pelo menos, todo mundo acaba fazendo isso, por causa que o trânsito acaba não te deixando você usufruir das duas horas sem pagar nada. Então todo mundo quer fazer isso e fica aquela... Eu não costumo, eu só faço isso quando eu vou subir daqui até lá em cima, né? Porque aqui já é mais tranquilo, eu fico pouquinho, né? Aí eu faço isso. Mas pra ganhar tempo, só pra, entendeu? Porque realmente eu sei que geralmente eu não consigo, porque eu pego muito

83 | ANEXOS


trânsito, só o fato de já descer ali, entendeu? Se eu pego na metade do

da minha casa, tudo, já vem lá do final lotado, entendeu? Vem um

caminho, que nem eu fico esperando na Joaquim Távora por exemplo,

absurdo, você não tem noção. Então, quer dizer... Vem lotado mesmo,

já é um tempo a menos que eu vou gastar no ônibus, vou passar o

sabe, eu não sei como hoje ainda existe aquelas situações. Porque

cartão já vai andar, entendeu?

assim esse Santa Cruz mesmo tem poucos ônibus. E a população é enorme lá no Jacira, que ele vem do Jacira, então quando eu venho

J: E o que você faz assim perto da sua casa, porque você me contou de coisas que você faz fora do trabalho, que você faz durante o percurso. Mas final de semana, cê faz deslocamentos ali por perto, como é que você faz? Y: No final de semana eu quase não ando de condução porque onde eu vou o Edson vai comigo, me leva e tal.

de manhã eu pego o Santa Cruz pra descer na Borges Lagoa, ó, vem lotado, lá na Menininha quando eu pego ele, já vem, sabe? Se você não fizer uma forcinha você não entra. E pra esperar o outro, vai demorar uma eternidade. Então você faz uma forcinha pra entrar naquela coisa lá, entendeu? Então é assim uma coisa assim, cê sai toma banho de manhã, sai arrumadinha, você chega com vontade de tomar banho pra começar a trabalhar, entendeu? Cê... Ai, é horrivel.

J: Você vai de carro?

Na verdade, desde que eu me entendo por gente eu pego condução e tudo, mas sabe é uma coisa que a gente não acostuma porque

Y: É, uso o carro. J: E o Edson usa o carro pra trabalhar?

naquela situação, essa situação de ônibus lotado, gente te apertando, gente pisando no seu pé. É horrivel, é horrivel, ninguém merece. Então, até hoje eu não acostumo. Tem dia que eu me estresso tanto.

Y: É, porque ele trabalha a noite, então ele sai numa hora que não é propícia a condução, não tem condução, na verdade. Então, quer dizer... Aí ele vem embora porque ele sai, o quê? 2 horas? 3? Depende do movimento, aí ele precisa do carro. Vai todo dia trabalhar de carro, entendeu? Agora eu tô tentando tirar a minha carta. J: Tá fazendo auto-escola? Y: Tô fazendo auto-escola porque olha, o sufoco que eu passo nessas conduções... (risos) Se eu aprender a dirigir e realmente e sentir segurança (risos) eu não vou andar mais de ônibus, porque assim, com todo o problema de trânsito e tudo, mas no carro é diferente, pelo menos você tá sentada. E eu só vou em pé, eu nunca vou sentada, pra eu ir sentada eu tenho que fazer isso, ir até o final, porque senão... J: Você pega da sua casa pra ir sentada? Y: Não, porque só se eu for pro terminal e for bem cedo pra, porque as filas são quilométricas, entendeu? Então quer dizer, sai um ônibus,

J: Aí você acha que você vai preferir ir de carro? Y: Olha, se eu dirigir, sinceramente, com todas essas histórias que eu tô te contando, com todo esse trânsito, se de ônibus eu pego trânsito, de carro eu pego trânsito também, mas pelo menos de carro, entendeu? J: Seu espaço está garantido. Y: Exatamente. Meu espaço tá garantido, cê tá na musiquinha, ninguém tá te amassando nem nada. Cê tá ali na primeira e na segunda, mas você tá no seu carro, você tá tranquilo. A não ser que até lá eu dirigir, tenha uma ciclovia (risos), aí eu preferia ir de bicicleta. Porque aí pra mim vai ser ótimo, entendeu? Tem que ter a ciclovia, tá? Um lugar bem reservadinho que fique até dificil um carro bater na bicicleta, porque se não eles vão dr um jeitinho de bater na bicicleta. J: Você sabe quantos Km você percorre diariamente? Y: Olha, é, uns 8 Km, de casa até aqui. A gente já mediu, de 7 a 8 Km.

entra o pessoal, senta, fica outra fila, aí você tem que ficar na fila pra... Às vezes no primeiro não dá pra ir, eu chego lá, aí não tem ônibus,

J: Eu acho que é mais.

aí chega um, naquele não dá pra mim ir, aí eu espero outro, o outro demora que é uma beleza, entendeu? Porque se fosse assim um atrás do outro seria ótimo. Mas aí eu não tenho paciência de fazer isso, entendeu? De ir pra lá, ficar na fila, aí no primeiro ônibus não da pra ir,

Y: A gente zerou, sabe? E fez, é isso que o Edson falou que é, segundo o Edson é isso, entendeu? J: Acho que eu vou fazer uma conta também e vou ver.

tem que esperar o outro, pra mim já é perda de tempo. Aí eu pego e vou, eu sempre venho em pé nos ônibus, porque onde eu pego perto

Y: É? Vamo ver, que segundo, se não tiver louco o resultado do carro

ANEXOS | 84


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

é isso.

em M’boi Mirim, entendeu? Falando pra qualquer pessoa que conhece zona sul...

J: Esse segundo trajeto, ele vai por onde? Esse primeiro você me falou que ele vai pela Jucelino...

J: É perto de Parelheiros?

Y: Pela Jucelino, pela Berrini, pela Marginal, apesar de pegar a Marginal,

Y: Não, não tem nada a ver. É antes, não tem nada a ver, é bem antes,

entendeu? Isso aqui é horrivel, porque até chegar na Marginal você

sabe? É, então é isso, é Sto. Amaro, Guarapiranga e M’boi Mirim,

não tá entendendo o trânsito que te espera. Então quando chega na

só que essa M’boi Mirim ela é enorme, ela vai até esse Jacira, e eu

Marginal, anda que é uma beleza. Uma maravilha, vai direto, e nossa, é

nunca fui no final desse Jacira, entendeu? Lá é bem mais matão. Já

um alívio, a gente respira, sabe? Entra vento, é uma maravilha. Mas até

é já caminho de Parelheiros, porque lá que é bem mato mesmo, só

chegar lá a gente quase morreu de calor, de tudo. Um dia eu fui, e tava

chácara, essas coisas assim.

aquele dia bem quente, eu falei, “meu Deus” e em pé. Gente... J: É, não é muito urbanizado. J: Chega mais magra. Y: Exatamente. Então é isso, geralmente as pessoas se localizam bem, Y: É, você, você emagrece, você faz tudo nessa condução, uma coisa

explicando assim, Sto. Amaro, Guarapiranga e M’boi Mirim. Porque

louca. Então, quer dizer... E esse aqui não, esse aqui vai pela Av.

Guarapiranga não é referência, porque Guarapiranga é uma travessa,

Ibirapuera, vai pela João Dias, e vai pelo Terminal Capelinha, vai chegar

uma entradinha, mas M’boi Mirim direto todo mundo se localiza legal,

no Terminal Capelinha. Então, quer dizer... Aqui, Av. Ibirapuera, aí pega

sabe? Talvez assim, as pessoas que, que nem se eu mandar o João

um pouquinho da Sto. Amaro, entra um poquinho de nada ali da Borba

[meu chefe], ah... se fazer um mapinha ele chega, mas assim, não tem

Gato, sabe? Aí pega João Dias e vai embora. Itapecerica e Terminal

nem noção, entendeu? Porque não conhece, nunca andou por lá por

Capelinha. É esse o trajeto.

esses lados, entendeu? Assim, pra ver a distância, porque ele sabe que é longe pra ver, assim, como.

J: Quando você precisa explicar pra mim, onde você mora, você fala o quê?

J: E Yone me fala uma coisa, como você fez pra descobrir como chegava aqui pela primeira vez que você veio trabalhar? Como você

Y: No Jardim Guarujá. J: As pessoas sabem onde é? Eu não sei onde é o Jardim Guarujá, nunca fui. Você me falando assim pelas avenidas, tal, eu consigo ter um pouco uma noção… Y: Como eu falaria diferente? A melhor explicação é essa, ou é essa, desse trajeto do Terminal Capelinha, que é Av. Ibirapuera.

se localizou, como você sabia que condução você tinha que pegar, cê lembra? Y: Bom, eu lembro porque o Edson me falou, o Edson conhece São Paulo inteiro, né? Praticamente, então o Edson me falou, aí você pega o Ana Rosa, né? Que vem, tanto vinha o Ana Rosa direto, passava lá no Menininha, que agora mudou não passa mais, então você pega o Ana Rosa e você vai descer bem na porta do escritório. E na época era

J: Que zona da cidade que é?

uma condução só. Pegava lá na Menininha, entendeu? Pegava porque tinha que pegar, bom eu já não tinha essa coisa de... É já pegava

Y: É zona sul, é zona sul, é Av. Ibirapuera, aí pega João Dias, estrada de Itapecerica, aí depois pega Capão Redondo, até chegar na minha casa eu estou falando, pega Capão Redondo, pega uns... que tem lá dentro paralelo dentro do Capão Redondo, que é, aí vai passar, Capão Redondo, passa o Jardim... Ai, tanto Jardim que cê passa ali, mas passa assim rápido sabe? Você cruza uma rua que fica próxima a Jardim tal, mas, é, não adianta eu te explicar assim. Eu teria que te falar da maneira mais fácil. E também tem uma opção que é, Av. Ibirapuera, aí vai por Sto. Amaro, pega a Av. Guarapiranga, e vai embora. Aí pega

85 | ANEXOS

e subia até a Menininha a pé, né? Da minha casa até a Menininha andava, ia até a Menininha a pé, e da Menininha pegava Ana Rosa, entendeu? Aí era uma condução só porque o Ana Rosa agora que vem do Terminal Jardim Ângela, ele desce lá ali, da Conselheiro, sabe? Aquele primeiro ponto ele vem pelo Detran, sabe? Então eu teria que descer ali, antes dele entrar na Conselheiro, aquele primeiro ponto que tem ali perto, bem pra frente ali, sabe? Assim, ao lado do... É o segundo ponto depois que entra naquela rua do hospital do coração ali sabe? Dante, ali, então é o segundo naquela ruinha ele passa na


Av. Ibirapuera, aí quando ele entra naquela ruinha é o segundo ponto.

Não adianta, nunca peguei aquele metrô na verdade, entendeu?

Eu acho um horror vir andando, por isso que eu não pego o Terminal

Nem quando aconteceu esses trânsito horroroso, nem, porque eu

Jardim Ângela, além de o trajeto ser horrivel, de manhã cê não tem

já tava bem longe do metrô, eu falei, “voltar pra ir por Sto. Amaro?”.

noção. É 3 horas de viagem, eu conheço, eu tenho amigo que é

As próprias peruas estavam desviando, porque as peruas fazem uns

motorista, que trabalha no Terminal, e é 3 horas. Ele ficava assim,

caminhos loucos assim vai por dentro e acabava saindo em Sto.

admirado, porque eles pegaram há pouco tempo essa linha, eu tenho

Amaro, então, quer dizer... Cê queria ir pra Sto. Amaro era mais rápido

um amigo que ele é supervisor de terminais, assim, então ele me conta

do que voltar pra pegar o metrô, pegar uma perua e ir por dentro

que eles tomaram conta dessa linha que é do Terminal Jardim Ângela

cortando caminho, é isso que os motoristas fazem. Então eu nunca

até o Terminal Ana Rosa, e falou assim, “Yone, os motoristas estão

peguei aquele metrô, não me serve, sinceramente...

assim admirados, quanto tempo demora”… J: E a linha de trem que vai pra zona sul, você já pegou? J: Tem bastante passageiro? Y: Não, não gosto de andar de trem, eu acho que, eu tenho medo Y: Tem, lota, tem muito passageiro, entendeu? Só que é 3 horas mais

eu fico assim, insegura eu acho, eu não sei, eu não sei porque mas

ou menos o trajeto de manhã. Dependendo do horário, cê não tem

eu não gosto de andar de trem, eu nunca peguei aquele metrô que

noção! Quanto mais vai ficando tarde, vai ficando melhor. Mas quanto

vai ali na estação... Eu conheço pessoas que descem na metade do

mais cedo, é pior. Então às vezes faz, do Terminal Jardim Ângela até o

caminho antes do meu trajeto terminar que pegam, entendeu? Que

Ana Rosa é 3 horas. Então cê imagina?

trabalham ali na Vila Olímpia e que pegam, mas pra mim não serve, porque eles trabalham ali na Vila Olímpia, entendeu? Então, quer dizer...

J: E muita gente desce no ponto final... Y: Muita gente desce no ponto final. Exatamente. Que é o metrô.

Por causa dessa condução que eu tô te falando, do Terminal Ângela, que tá pegando muito trânsito, eles tão fazendo isso, pegando o trem, entendeu? De manhã ou à noite, pra ir trabalhar, porque acaba sendo

J: E ainda vai pegar outro...

rápido. Mas assim também fiquei sabendo que é horrivel de andar e acaba sendo mais perigoso, entendeu? Porque acontecem muitos

Y: Agora na verdade o que eu gostaria mesmo, é porque tem um

assaltos no trem...

metrô lá perto mas vai até Santo Amaro só, o metrô Capão Redondo que da minha casa até o Capão eu tenho que pegar uma condução

J: Ah é?

até o metrô, de qualquer maneira, mas se viesse até aqui seria ótimo, né? Pra mim eu acho que só vai resolver quando ficar pronto, eu tava outro dia olhando no site do metrô, é um projeto? É, tem pretensão de chegar aqui? Tem, agora isso, quando... Só quando Deus quiser né? Porque até chegar aqui... Mas quando isso acontecer, se isso acontecer, aí sim. Seria ótimo, eu nunca peguei aquele metrô Capão Redondo, nunca, nunca peguei porque pra mim...

Y: É, então as pessoas que eu conheço tavam tentando essa opção, pra mudar, pra ver se melhora porque cada dia tá ficando uma história... Mas ali, pra eles serve, porque pra quem trabalha ali na Vila Olímpia, porque tem a estação ali do metrô mesmo, né, Vila Olímpia, ali, pára o trem e tal não sei o quê, ali serve, pra mim eu vou descer ali, e aí? Vou ter que pegar outro ônibus da mesma forma pra vir pra cá e vai ser a mesma história, entendeu? Então nunca peguei o trem pra vir pra

J: Nem pra ir pra Sto. Amaro?

cá, nem pra ir embora. O Edson que de vez em quando vivia pegando trem, “Ah... Eu peguei o trem foi até rápido, não sei o que”, entendeu?

Y: Não, nem pra ir pra Sto. Amaro, porque pra mim não serve,

Mas eu nunca peguei o trem, pra vir pra cá ou pra ir embora, não.

entendeu? Nem pra ir pra Sto. Amaro, porque se eu descer em Sto. Amaro eu vou ter que pegar uma condução que de Sto. Amaro até

J: E como é que você faz, pra descobrir como chegava aqui você

aqui, é 1 hora 1 hora e meia, entendeu? Antes a gente fazia em menos

perguntou pro Edson.

tempo, agora não vai menos tempo que isso, então, quer dizer... Pra que que eu vou pegar o metrô, eu vou lá rápido, quando chegar em Sto. Amaro eu vou ter que pegar aquele inferninho de novo, ter que

Y: É, o Edson me falou que ele já conhecia essa Ana Rosa, tudo... J: E como é que você faz quando você tem que ir pra um lugar de

pegar condução, 2, 3 condução ainda, entendeu? Adianta pra mim?

ANEXOS | 86


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

ônibus, que você nunca foi, médico, alguma coisa, como você faz pra

Y: É, eu preferiria, só que depois do shopping valorizou muito, né?

saber?

Então o aluguel lá hoje tá um absurdo. Na casa que eu morava há 10 anos atrás, agora tá uma coisa assim absurda. Uma casa pra comprar

Y: Eu entro no site pra descobrir. J: Qual site?

lá no bairro que eu morava, nossa... Então, porque valorizou muito, então é o Shopping Interlagos, Interlar, Carrefour, tudo ali assim, o que você precisava, não precisava nem ter carro, né? Carro era um...

Y: SPTrans, da SPTrans, a gente põe o itinerário e tem, entendeu?

Entendeu? Nem precisava, era o de menos, né? Cê pegava um táxi,

Não, às vezes eu não vejo só na SPTrans, às vezes eu vou primeiro no

ia fazer compra, pegava um táxi tava em casa, porque é 10 minutos,

mapinha, coloco o nome da rua, sabe? Não tem aquela história, né?

entendeu? É assim do lado, então, quer dizer… Mas eu tenho... Meu

Então aí monto o mapinha, aí eu vou no site da SPTrans e aí ajuda pra

sonho seria dois lugares, ou morar aqui na Vila Mariana ou voltar a

descobrir.

morar lá em Interlagos, entendeu? Porque eu moro lá mas não por opção, assim moro porque tô lá, é meu, e é uma coisa que é de

J: Aí você põe qual informação, da onde você tá saindo até...? Y: Da onde eu vou até... Só fiz isso, pra ir, quer ver, uma vez, acho que foi no médico, não sei, eu não sei aonde foi que eu fui... E aí eu coloquei, e aí deu tudo certinho porque aí eu vi, saiu um itinerário certinho, número, nome da linha, e o número do ônibus, e deu certo. Ah é. Normalmente eu vou pesquisar o que eu quero saber, aí eu ponho lá no google, ponho no google. Digito o nome aí sai, se tem site aparece site, aí você mexe lá até descobrir tudo, entendeu?

herança, que é meio complicado vender e tal, se eu sair de lá e Deus quiser conseguir comprar uma casa, eu alugaria lá, entendeu? E colocaria na mão de advogado, de imobiliária, alugaria lá e tranquilo assim, mas não pensava duàs vezes porque o bairro não é nada favorável, assim, tudo muito difícil, se você quer comprar qualquer coisa cê tem que ir ou em Sto. Amaro, ou no Jardim Ângela, hoje o Ângela já tá bem mais, sabe, povoado, já tem bastante loja, já tem banco, até, agora, já tem até uma Caixa Econômica no Ângela, mas assim até uns 5, 3 anos atrás, era assim uma coisa que você só

J: E... Só me fala mais uma coisa você nasceu em São Paulo?

encontrava alguma coisa em Sto. Amaro pra lá, de Sto. Amaro pra cá, entendeu? Então, quer dizer… Hoje já tá bem melhor, há 10 anos atrás

Y: Nasci em São Paulo, nasci aqui. J: Aonde?

quando eu morava lá, quando eu cheguei lá dava vontade de chorar né? Porque pra quem morava em Interlagos pra viver assim... Então realmente você vai porque é o jeito, mas é uma coisa louca assim que

Y: Exatamente no Jardim Ângela, (risos). Nasci lá mesmo, só que eu

você... Mas você vê, a minha pretensão é, sabe, criar meus filhos num

moro lá há 10 anos, morei lá quando pequena, aí mudei e fui morar em

lugar mais, porque a violência lá também é muito grande, sabe? Tudo

Interlagos, então, quer dizer… Cresci em Interlagos, é, nossa, morei

bem, violência tem em qualquer lugar, mas lá... Porque assim é o quê?

quase toda a minha vida lá. Aí fui morar no Jardim Guarujá, moro lá há

É zona sul, é periferia é bem afastado, então já é... Pessoal, bem, o

10 anos, mas assim, ainda não me acostumei, porque eu morava em

nível das pessoas é outro, que nem eu tava falando, nossa, a gente sai

Interlagos ali do lado do Shopping Interlagos, bem do ladinho, da minha

pra trabalhar, a gente anda em outro lugar, você dá bom dia as pessoas

casa ao Shopping era 10 minutos, 10 minutos a pé, eu vi construir o

respondem, você dá boa noite as pessoas respondem, as pessoas

Shopping Interlagos, assim, passo a passo. Mas lá eu pagava aluguel,

sorriem pra você. Lá não, lá é um clima pesado, todo mundo só anda

e aí meu pai faleceu, tal, aí tinham as casas, tal, aí essa casa lá no

de cara fechada. Porque a violência é muito grande, entendeu? Então,

Jardim Guarujá ficou pra mim, entendeu? Aí eu fui morar lá, eu falei

quer dizer... Um pai de famííia...

bom, “lá vou eu” né? É minha e tal, aí eu falei, entre pagar aluguel, né? Eu tinha que pagar aluguel, falei bom, como eu não tenho de pagar aluguel eu vou pra lá, entendeu? Só que o barato acaba saindo caro, né? Porque até hoje eu não acostumo morar lá, porque em Interlagos tudo fácil, tudo bem acessível. J: Você preferiria hoje ter continuado pagando aluguel...

87 | ANEXOS

J: E os seus filhos estão com quantos anos? Y: 15, 10, 7 e 3. Então, quer dizer… Cinco anos entre um menino e um menino, mais velho, os dois né? Que eu só tenho uma menina, depois tem o menor de três.


6.3 Índice de Imagens

p.31_ Mapa da área H de Santiago, disponível em www. transantiago.cl

Capa_ Releitura do trabalho de tipografia para a imagemsíntese deste TFG. (J.C.S., 2007)

p.32_ Ficha-questionário desenvolvida para as pesquisas com usuários para este TFG.

p.10_ Gravura sobre papel. (J.C.S., 2006)

p.33_ Frame do vídeo “Registros Flagrantes”, produzido neste TFG.

p.12_ Tipografia. (J.C.S., 2006) p.16_ Gravura sobre color plus vermelho. (J.C.S., 2006)

p.35_ Fotos do percurso Campo Belo - Parque Jardim Mônica. Fotos da autora.

p.20_ Página do site www.tfl.gov.uk.

p.36_ Mapa de localização das referências empregadas no discurso de Luzia. Fonte do mapa base: Guia Mais (www.guiamais.com.br)

p.20_ Detalhe do mapa da página 22/23.

p.38_ Fotos aéreas. Fonte: www.google.com

p.21_ Mapa turístico do centro de Londres. Fonte: www. tfl.gov.uk

p.42_ Mapa de localização das referências empregadas no discurso de Yone. Fonte do mapa base: Guia Mais (www.guiamais.com.br)

p.18_ Gravura sobre tipografia. (J.C.S., 2006)

p.22/23_ Cartaz informativo de linhas de ônibus de Londres. Fonte: www.tfl.gov.uk p.24/25_ Mapa de linhas de ônibus de Manhattan. Fonte: New York City Transit - www.mta.info p.24_ Mapa da rede de metrô de Nova York. Fonte: www. mta.info p. 26_ Material de divulgação de linha de ônibus disponível no site da EMT de Valência. p.27_ Mapa de linha de ônibus de Paris. Disponível em: www.paris.fr p.28/29_ Panfleto da linha 3 de São Pedro. Disponível em: www.viainfo.net p.29_ Imagens extraídas do vídeo de explanação sobre o sistema de informações de São Pedro. Disponível em: www.viainfo.net

p.43_ Padaria Menininha. Foto da autora. p.45_ Mapa sobre a mudança de rota da linha 675i10, São Paulo. Fonte do mapa base: Guia Mais (www. guiamais.com.br) p.47_ Pico do Jaraguá visto do bairro Jardim Ângela. Foto da autora. p.48_ Percurso das linhas municipais e intermunicipais da RMSP. Mapa gerado pelo sistema SIG. p.52_ Terminal da Lapa; ponto de ônibus em Moema; ponto de ônibus no corredor Vereador José Diniz; ponto de ônibus no Campo Belo. Fotos da autora. p.53_ Placa improvisada no Terminal Ana Rosa. Foto da autora. p.53_ Ponto final de ônibus na Vila Olímpia. Foto da autora.

p.30_ Imagens retiradas do site: www.transantiago.cl

ANEXOS | 88


ORIENTAÇÃO NA METRÓPOLE | a informação no sistema de transporte coletivo

p.54_ Sinalizações em veículos. Foto da autora. p.55_ Divisão de áreas por cores do Município de São Paulo. Fonte: www.sptrans.com.br p.55_ Novas placas de rua com as cores de cada área. Fonte: www.perkons.com.br p.55_ Projeto de sinalização de veículos por cores das áreas. Fonte: Prefeitura de São Paulo. São Paulo Interligado. O plano de transporte público urbano implantado na gestão 2001-2004. São Paulo: Prefeitura Municipal, 2004. p.56_ Imagem escaneada do Jornal do ônibus. p.56_ Página do site da SPTrans. Fonte: www.sptrans. com.br p.57_ Imagens do site da SPTrans e do programa Google Earth. p.58_ Placa em ponto próximo ao Hospital do Servidor Público. Foto da autora. p.59_ Reprodução de panfleto da SPTrans / Casas Bahia. p.60_ Monotipia. (J.C.S., 2006) p.63_ Fotos da 5ª Bienal Internacional de Arquitetura (São Paulo). Fotos da autora. p.64_ Área de Estação de Transferência e Localização das Estações de Transferência. Fonte: Prefeitura de São Paulo. São Paulo Interligado. O plano de transporte público urbano implantado na gestão 2001-2004. São Paulo: Prefeitura Municipal, 2004. p.66_ Gravura sobre papel. (J.C.S., 2006) p.68_ Tipografia sobre papel. (J.C.S., 2006) p.70_ Tipografia sobre testes de impressão off-set e colagem sobre color plus preto. (J.C.S., 2006)

89 | ANEXOS


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