UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
À MESA – CAMPO GRANDE DE CULTURAS
JACINTO RODRIGUES CUNHA
CAMPO GRANDE, MS ABRIL/2014
À MESA – CAMPO GRANDE DE CULTURAS
JACINTO RODRIGUES CUNHA
Relatório Final apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientador: Prof. José Marcio Licerre.
UFMS CAMPO GRANDE, MS ABRIL/2014
Página destinada ao PARECER da banca avaliadora, que documentará a nota final da disciplina. O aluno e os membros da Banca assinarão após tomarem conhecimento do Parecer (aprovação, reprovação, recomendações, etc.)
Agradecimentos
Primeiramente a Deus, pela luz, sabedoria e pelo Seu amor infinito, bem como pela evolução por que passei, me tornando uma pessoa melhor. Ao amigo e orientador José Marcio Licerre, pelas importantes contribuições, pelas preciosas dicas e opiniões, e por acreditar na minha capacidade. Aos amigos Kleomar da Silva Carneiro e André Patroni, pelo incentivo e apoio. Ao amigo Leomar da Silva Carneiro, pela importante contribuição nesta pesquisa. E, agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente fizeram parte deste projeto. Sinto-me iluminado e muito grato.
Uma cena Ê como uma peça de um ato, que se encaixa na cena anterior e na seguinte para formar o todo. Edward Mabley
SUMÁRIO RESUMO .........................................................................................................................7 1 Alterações no plano de trabalho .................................................................................8 2 Atividades desenvolvidas.............................................................................................9 2.1
Período preparatório ...............................................................................................9
2.2
Execução ..............................................................................................................11
2.3
Revisão bibliográfica ............................................................................................17
2.4
Redes, sites e outros .............................................................................................18
3 Suportes teóricos adotados ........................................................................................19 3.1
Elementos ............................................................................................................20
3.2
Proposta ...............................................................................................................22
3.3
Pesquisa ...............................................................................................................24
3.4
Mato Grosso “Do Sul”..........................................................................................25
3.5
Identidade campo-grandense ................................................................................26
3.6
Culinária ..............................................................................................................28
3.6.1 Sopa paraguaia .....................................................................................................28 3.6.2 Churrasco gaúcho .................................................................................................29 3.6.3 Sobá .....................................................................................................................30 4 Objetivos Alcançados ................................................................................................33 5 Dificuldades encontradas ..........................................................................................34 6 Despesas (orçamento) ................................................................................................35 7 Conclusões .................................................................................................................36 8 Apêndice (Roteiro) ....................................................................................................37
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RESUMO O vídeo documentário “À mesa – Campo Grande de culturas” tem 25 minutos e mostra a influência dos imigrantes na construção da identidade campo-grandense. O assunto abordado se refere a gastronomia e foram escolhidas três receitas típicas trazidas por imigrantes de algumas partes do mundo para a cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Os alimentos ditos "importados," sendo eles: o sobá, a sopa paraguaia e o churrasco. As receitas foram selecionadas de acordo com a abrangência, pois uma delas expressa a influência regional/nacional (churrasco gaúcho/índios), a outra tem proximidade com a fronteira do Paraguai (sopa paraguaia) e o último, o sobá, vem do Japão (Okinawa). Buscou-se descobrir além da característica de cada receita, por que os imigrantes vieram e se fixaram em Campo Grande. Como esses pratos se tornaram típicos da cidade? Como essas “receitas” foram modificadas com o tempo e pela regionalização?
Palavras chave: sobá, churrasco, sopa paraguaia.
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1 Alterações no plano de trabalho A ideia inicial para esse trabalho de conclusão de curso era apresentar a criação de um documentário, desde a pesquisa até a edição. A ideia buscada era expor que, com uma boa história e uma câmera na mão pode-se, aliado a um bom planejamento e trabalho de pesquisa, poderia surpreender sua plateia. Com essa ótica buscou-se demonstrar as etapas de produção, tais como: o que é um documentário, como são escolhidas as imagens que serão utilizadas, a voz que narra a história e as entrevistas fundamentais para sua produção e como o cineasta precisaria agir para conduzir seu trabalho e efetivar esta realização. Contudo, o produto final desta pesquisa seria a criação de um documentário regional sobre culinária e restringimos a abordar somente os dados relevantes ao tema, deixando assim de lado o detalhamento teórico inicialmente planejado, entretanto, a pesquisa serviu de base teórica. Após algumas pesquisas iniciais passamos a selecionar somente os pratos que influenciaram no perfil da culinária do campo-grandense da atualidade em específico, os imigrantes que introduziram os alimentos: sopa paraguaia, churrasco e sobá.
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2 Atividades desenvolvidas Basicamente as atividades desenvolvidas para a realização deste trabalho foram: inicialmente reuniões e contatos para delinear o foco da pesquisa e quem seriam os entrevistados e posteriormente houve o planejamento de execução das ações necessárias para a produção do documentário. Em resumo, foram realizadas as pesquisas bibliográficas, entrevistas e edição do material para a criação da obra áudio visual.
2.1 Período preparatório No período preparatório foi realizado um levantamento sobre bibliografias no Arquivo Público, sendo encontrados as seguintes obras que são expostas com o intuito de demonstrar que toda a pesquisa que foi realizada para a produção deste trabalho, tais informações foram importantes para a montagem da pauta e os conhecimentos prévios deram um norte as ideias que ainda estavam sendo montadas para a elaboração do documentário.
SOPA PARAGUAIA: (MISCELÂNEA) Segundo Macedo, 1983 relata fatos e costumes de Ladário em seus tempos idos, textos com linguagem simples, a última parte do livro é composta por contos. A apresentação é de Waldemir Coelho
PONTA PORÃ: POLCA, CHURRASCO E CHIMARRÃO Entre vários assuntos, encontra-se: História da Fundação de Ponta Porã; Ponta Porã - as fazendas e ervais; A Empresa Mate Laranjeira; Polca, churrasco e chimarrão (Elpídio, 1981).
AYUMI: A SAGA DA COLÔNIA JAPONESA EM CAMPO GRANDE Segundo Ayumi, 2005, a saga dos japoneses em Campo Grande. A garra, a luta, o sofrimento e o amor daqueles que, na maioria das vezes, por motivos diversos vieram partilhar suas vidas com nossa gente.
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CENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NA GRANDE DOURADOS Segundo Associação Cultural Nipo-Brasileira Sul-Mato-Grossense (2008) este livro retrata a situação atual dos nipônicos e nipo-brasileiros dos municípios e localidades do Sul de Mato Grosso do Sul, que foram povoados, principalmente, depois do término da Segunda Guerra Mundial em 1945. Mostra os aspectos históricos e comemorativos do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.
ESCOLA JAPONESA. A CONSTRUÇÃO DA ETNICIDADE EM MATO GROSSO DO SUL Segundo Brito, 2000 trata sobre a educação na colônia de japoneses em Campo Grande, e a imigração destes.
IMIGRAÇÃO JAPONESA PARA O BRASIL: OS JAPONESES EM DOURADOS: SÉCULO 19 E 20.
Segundo Inagaki, 2008 a publicação informa sobre a Imigração Japonesa para o Brasil, enfatizando os aspectos positivos e negativos vividos por essas pessoas. Analisa a Migração para Mato Grosso e Dourados. Aponta-se em especial a vinda dos Nikkeis para a Região de Dourados, mostrando desde os fatores que impulsionaram na saída de São Paulo até o caminho percorrido pelos Japoneses.
KASATO- MARU: UMA VIAGEM PELA HISTORIA DA IMIGRAÇÃO JAPONESA Segundo Kasaro-Maru (2009) relata sobre a Imigração Japonesa para o Brasil ao longo do século 20.
UM JAPONÊS EM MATO GROSSO: SUBSÍDIO PARA A HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO JAPONESA NO BRASIL Homenagens a autoridades. Autobiografia; Relato dos acontecimentos verificados em Campo Grande, durante e após segunda Guerra Mundial; Atuação política em prol da imigração japonesa, com correspondência de autoridades. Possui fotografias. Apres. José Jaime Ferreira de Vasconcelos. Pref. Kiyoshi Yamamoto (Kokichi, 1959).
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2.2 Execução No período de execução houve a pesquisa propriamente dita, aliada com contatos para marcar as entrevistas, bem como o planejamento das pautas, conforme seguem na integra:
Pauta Benito Cristaldo Benito Cristaldo entra no início do documentário com a colônia paraguaia. Roteiro previsto Vamos conversar com ele sobre os motivos que trouxeram os paraguaios para Campo Grande. Ele foi indicado pela colônia paraguaia por ter conhecimento sobre o assunto. Temos que saber com ele qual a dimensão da presença paraguaia em Campo Grande, e a dimensão da influência nos costumes e hábitos dos campograndenses. Elementos cenográficos Vamos conversar com ele como um “especialista na história da imigração paraguaia na cultura campograndense”. Como não conhecemos o local da entrevista seria bom sugerir que ele fizesse em uma sala com uma estante de livros, ou elementos de arte que remetem ao Paraguai. Perguntas Quando ocorre a primeira vinda de paraguaios para Campo Grande, em grande número? A proximidade é muito grande, dizem que parte do estado foi Paraguai antes. Como se deu esse povoamento aqui? Os paraguaios vieram direto para Campo Grande? Quando isso aconteceu? Por que se estabelecem por aqui?
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O que está acontecendo no Paraguai nesta época? E em outras épocas de grande fluxo migratório? *(guerra do paraguai, guerra do chaco, ditadura no Paraguai) Qual o tamanho da colônia de paraguaios em Campo Grande? Como a culinária e gastronomia paraguaias são presentes na cultura paraguaia? E em Campo Grande? O que pode falar sobre a história da Sopa Paraguaia?
Pauta Celso Higa (vai falar sobre a história e vinda dos japoneses) Celso Higa vai entrar mais pro fim do documentário, já com a colônia japonesa, última a ser abordada neste vídeo. Roteiro previsto A ideia é conversar com ele sobre as condicionantes históricas que favoreceram a vinda de japoneses e okinawanos para Campo Grande-MS no início do século passado. Ele provavelmente vai falar sobre o império japonês, seu avanço sobre Okinawa, que passa a pertencer ao Japão. A situação dos Okinawanos, subjugados. Também deve falar sobre o que estava acontecendo no Brasil nessa época, fim da escravidão e busca por mão-de-obra imigrante, o que proporciona acordos internacionais e a primeira vinda de japoneses e okinawanos para aportar em Santos com o Kasato Maru. Eles vieram para as lavouras de café. Neste interim acontece a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil no Mato Grosso do Sul, cujo entroncamento se daria em Campo Grande. Japoneses e okinawanos vem para participar da construção da estrada de ferro, e fixam-se em Campo Grande.
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Aqui adquirem chácaras. Plantam verduras e comercializam em feira. Surge a feira central. Anos mais tarde um prato típico de okinawa feito para consumo dos próprios imigrantes passa a ser comercializado e se populariza. Elementos cenográficos Ele disse que vai dispor em uma mesa fotos antigas e até pedaços de trilho que ele tem em casa. A entrevista será em sua casa, cenário ainda desconhecido. Como ele é um “especialista”, sugiro enquadramento menos pessoal, um plano mais aberto, como uma fonte de “history channel”, por exemplo. Uma luz principal iluminando ele e um fundo com estante de livros, ou obras de arte orientais, por exemplo, iluminado com uma luz mais fraca e levemente desfocado. Filmar o rosto dele em close, como tem traços orientais podemos utilizar se falarmos dos povos. Perguntas As colônias de Japoneses e Okinawanos tem expressão significativa em Campo Grande? De que maneira percebemos? O que aconteceu no oriente para que japoneses e okinawanos viessem para Campo Grande? Eles vieram para o Brasil trabalhar? Onde? O que motivou a virem de São Paulo para MS? E por que especificamente Campo Grande? Que atividades desempenhavam em Campo Grande? Como surge a feira central? Quando o sobá aparece na história da cidade? O que fez o sobá ser popular em Campo Grande? Qual a origem do sobá?
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Tem conhecimento de visitas de japoneses e okinawanos a Campo Grande para saber como fazemos o sobá, e, ainda, como os okinawanos daqui falam (já que preservariam a língua antiga)?
Pauta Marlei Sigrist Marlei Sigrist vai entrar no documentário como estudiosa em cultura. Ela deve aparecer de maneira recorrente. Roteiro previsto Vamos conversar com ela sobre de que maneira a cultura é concebida, para que fique mais nítida a relevância da gastronomia nesse contexto. Nosso documentário mostra que somos o que comemos e que a história vem à mesa com a gente. Elementos cenográficos Vamos conversar com ela como um “especialista na história”. Como não conhecemos o local da entrevista seria bom sugerir que ele fizesse em uma sala com uma estante de livros, ou elementos de arte. Perguntas O que é cultura? De que maneira a gastronomia pode expressar a cultura de um povo? Campo Grande é rica em influências de imigrantes, isso torna a identidade campo-grandense sincrética? Como percebemos esse sincretismo? Diante
do
quadro
que
estamos
investigando
percebemos
uma
apropriação simbólica no campo gastronômico. Que fatores tornam possíveis essa assimilação por um conjunto semelhante de pessoas? Por que sobá, sopa paraguaia e churrasco podem ter sido aceitos enquanto outros elementos da cultura desses povos não o são?
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Somos o que comemos? A história está à mesa?
Pauta Paulo Cabral Paulo Cabral é sociólogo e vai entrar no documentário como estudioso em cultura. Ele deve aparecer de maneira recorrente. Roteiro previsto Vamos conversar com Cabral para enriquecer o debate sobre a relevância cultural da gastronomia. Vamos discutir sobre que elementos da comida (como a coletividade na hora de comer, por exemplo), são reveladores de tradição, história e cultura. Elementos cenográficos Vamos conversar com ela como um “especialista em sociologia”. Como não conhecemos o local da entrevista seria bom sugerir que ele fizesse em uma sala com uma estante de livros, ou elementos de arte. Perguntas O que é cultura? De que maneira a gastronomia pode expressar a cultura de um povo? Comer é um ato coletivo? Social? Campo Grande é rica em influências de imigrantes, isso torna a identidade campo-grandense sincrética? Como percebemos esse sincretismo? Diante
do
quadro
que
estamos
investigando
percebemos
uma
apropriação simbólica no campo gastronômico. Que fatores tornam possíveis essa assimilação por um conjunto semelhante de pessoas? Qual sua opinião sobre o nome da franquia “Sobá de Campo Grande”?
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Por que sobá, sopa paraguaia e churrasco podem ter sido aceitos enquanto outros elementos da cultura desses povos não o são? Somos o que comemos? A história está à mesa? Sobre a vinda de imigrantes para Campo Grande (paraguaios, gaúchos e japoneses) e a relevância de cada um deles: Como é formado o povo de Campo Grande? Como os gaúchos aparecem nesse cenário? Aqui foi Paraguai? Como os Okinawanos conseguem ter um prato tradicional em Campo Grande?
Pauta Rui Ávila diretor do CTG Tropeiros da Querência Rui Ávila entra no meio do documentário com a colônia gaúcha. (Ele será creditado como diretor cultural do CTG?) Roteiro previsto Vamos conversar com ele sobre os motivos que trouxeram os gaúchos para Campo Grande. Ele vive o CTG, é curioso o fato de ter sido um dos primeiros estados do país a ter CTG. Temos que saber qual a dimensão da presença gaúcha em Campo Grande, e se há mesmo a influência no costume de assar carne. Elementos cenográficos Vamos conversar com ele como um “especialista na história”. Como não conhecemos o local da entrevista seria bom sugerir que ele fizesse em uma sala com uma estante de livros, ou elementos de arte que remetem ao campo, a comitivas. Perguntas
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Quando ocorrem os primeiros processos migratórios de gaúchos para MS, em peso? Eles vêm direto para Campo Grande? Quando isso acontece? Por que se estabelecem por aqui? O que estava acontecendo no RS nesta época? Qual o tamanho da colônia de gaúchos em Campo Grande? Quantos CTGs tem aqui, e como é isso de a cidade ter um dos primeiros CTGs fora do RS? Como o churrasco é presente na cultura gaúcha? E em Campo Grande? Desde quando existe essa tradição? Por lá é um patrimônio? Como se deu isso?
Posteriormente a realização das entrevistas, todo o material foi reunido e sofreu o processo de edição
2.3
Revisão bibliográfica
BERNARD, S. C. Documentário. Técnicas para uma produção de alto impacto. 2ª edição. Tradução Saulo Krieger. Ed. Elsevier. Rio de Janeiro, RJ, 2008. LINS, C; MESQUITA, C. Filmar o real. Sobre o documentário brasileiro contemporâneo. 2ª edição. Ed. Zahar. Rio de Janeiro. 2011. MEDINA, C. A. Entrevista O diálogo possível 4ª edição 5ª impressão, Ed. Ática. São Paulo, 2005. NICHOLS, B. Introdução ao documentário - tradução Mônica Saddy Martins, 5ª edição. Ed. Papirus. Campinas, 2010. ROSENTHAL, A. Writing, directing, and producing documentary films and vídeos. Carbondale: Southern Illinois University Press, 1996.
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SENAC, DN. BOSISIO, A; SIGRIST, M; MEDEIROS, H. Pantanal: Sinfonia de sabores e cores. Ed. Senac Nacional, Rio de Janeiro, 2003. SIGRIST, M. Chão Batido. A cultura popular de Mato Grosso do Sul. Folclore, tradição. Ed. UFMS. Campo Grande, 2000. PUCCINI, S. Roteiro de documentário, da pré-produção à pós-produção: Papirus. Campinas, 2010 MACEDO. João Lisbôa. Sopa Paraguaia: Corumbaense de Letras, 1983. 173 p.
(Miscelânea).
Corumbá:
Academia
REIS, Elpídio. Ponta Porã: Polca, churrasco e chimarrão. Apresentação Aparício Fernandes. Rio de Janeiro, 1981. 155 p., il., 21 cm AYUMI: A saga da colônia japonesa em Campo Grande. Campo Grande: SABER Sampaio Barros Editora Ltda, 2005. 219 p. (em português) 227 p. (em japonês) il. Associação Cultural Nipo-Brasileira Sul-Mato-Grossense. Centenário da imigração japonesa na Grande Dourados. Dourados, MS: [s.n.], 2008. 399 p. il BRITO. Cláudia. Escola japonesa. A construção da etnicidade em Mato Grosso do Sul. Campo Grande: Ed. UNIDERP, 2000. 143 p. INAGAKI, Edna Mitsue. Imigração japonesa para o Brasil: os japoneses em Dourados: século 19 e 20. Dourados: Ed. UEMS, 2008. 97 p. fotos. Kasaro- Maru: uma viagem pela história da imigração japonesa. São Paulo, SP: Arquivo Público do Estado de São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009. 94 p. il. KOKICHI, Guenka. Um Japonês em Mato Grosso: Subsídio para a História da colonização japonesa no Brasil. [s.l]: [s.e], 1959. 159p. il. 22cm.
2.4 Redes, sites e outros http://novo.itaucultural.org.br/participe/editais-programa-rumos/ Acesso em 11/8/2013. http://www.msrecord.com.br/noticia/ver/98650/confusao-com-nome-do-estado-e-inspiracaopara-filme- Acesso em 12/8/2013. http://blogdamamadii.blogspot.com.br/search/label/história%20da%20Sopa%20Paraguaia Acesso em 13/8/2013. http://arrotandopicanha.wordpress.com/2010/06/13/origem-do-churrasco-gaucho/ Acesso em 14/8/2013. http://www.ilovemsoficial.com/2013/01/historia-do-soba.html Acesso em 15/8/2013.
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3 Suportes teóricos adotados A primeira informação que se faz necessária sobre um documentário é encontrar a sua definição, entretanto, não foram localizadas as mesmas respostas utilizadas por autores distintos e há até aqueles que buscam explicá-lo comparandoo a definição do que é o amor. Segundo Nichols (2010, p. 47), A definição de documentário é sempre relativa ou comparativa. Assim como amor adquire significado em comparação com indiferença ou ódio, e cultura adquire significado quando contrastada com barbárie ou caos, o documentário define-se pelo contraste com filme de ficção ou filme experimental e de vanguarda.
De acordo com Nichols (2010, p. 26 e 27), “todo filme é um documentário” e pode-se dizer que existem dois tipos distintos denominados documentários de satisfação de desejos e documentários de representação social. O primeiro refere-se à ficção ou ao fruto da imaginação e o segundo refere-se à não ficção ou a compreensão sobre a realidade. Para Bernard (2008, p. 2), Os documentários conduzem seus espectadores a novos mundos e experiências por meio da apresentação de informação factual sobre pessoas, lugares e acontecimentos reais, geralmente retratados por meio do uso de imagens reais e artefatos.
No mesmo sentido, Nichols (2010, p. 30), afirma que os documentários mostram aspectos de uma parte do mundo histórico. Para o autor, isto significa ou representa os pontos de vistas de indivíduos distintos e até mesmo os de grupos e instituições. Puccini (2010, p. 15) declara que; O documentário é também resultado de um processo criativo do cineasta, marcado por várias etapas de seleção, comandadas por escolhas subjetivas desse realizador. Essas escolhas orientam uma série de recortes, entre a concepção e a edição final do filme, que marcam a apropriação do real por uma consciência subjetiva.
Nesta pesquisa exploratória o que se observa inicialmente é que o enfoque ao documentário pretendido para este trabalho trata-se do tipo não ficção ou documentário propriamente dito que busca oferecer um retrato do mundo real.
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Com base nesta constatação compreende-se o questionamento de Bill Nichols (2010, p. 30 e 31), que indaga sobre o “por que as questões éticas são fundamentais para o cinema documentário?” Conforme cita o autor Nichols (2010, p. 30 e 31), Nos filmes de ficção a resposta é simples: pedimos que façam o que queremos... No caso da não ficção, a resposta não é tão simples. As pessoas são tratadas como atores sociais: continuam a levar a vida mais ou menos como fariam sem a presença da câmera.
Neste contexto, pode-se destacar que o valor buscado para um documentário de não ficção é o comportamento espontâneo onde o ator representa seu próprio papel na vida cotidiana (NICHOLS, 2010). Para Bernard (2008, p. 3), em alguns casos, trabalhos de não ficção são produzidos “a toque de caixa para atender as necessidades de mercados de caráter estritamente temporal” enquanto que outros são gastos anos de pesquisa para a sua realização. Conforme se observa, a definição de documentário é distinta entre diversos autores pesquisados, sendo comum encontrarmos nas obras literárias consultadas indicações sobre outras obras audiovisuais, premiadas ou não, tal como; Forrest Gump, citado por Nichols (2010, p. 18) ou Ônibus 147 citado por Lins e Mesquita (2011, p. 17), entre outras, porém, todos buscam ilustrar que existem diferentes elementos a serem explorados pelo gênero denominado documentário e que, consequentemente, produzirão histórias distintas. Em resumo, “o documentário busca representar o mundo da mesma forma que um advogado representa o interesse do seu cliente”. (NICHOLS, 2010, p. 30). Neste sentido é oportuno destacar que a compreensão específica sobre a definição de documentário passa a ser menos importante sendo relevante a partir de agora, a identificação dos elementos que compõem a narrativa da história, em outras palavras, restam as lacunas a serem preenchidas, perguntas a serem respondidas, tais como; Que história será contada? Quem contará a história? Onde ela acontecerá?
3.1 Elementos
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Os elementos necessários para a produção de uma obra audiovisual são numerosos.
Trata-se de elementos que vão desde minúcias até a classe dos
fundamentais. Todos, afinal, são relevantes e poderiam ser abordados, entretanto, nesta fase buscou-se não explorar todo o universo que envolve a produção de um documentário, mas sim, alguns pontos fundamentais para a conclusão deste trabalho exploratório. Corroborando com esta busca, Bernard (2008, p. 15) cita que, Uma história é a narrativa, é contar um acontecimento, ou uma série de acontecimentos, elaborada de modo a suscitar o interesse do público, seja ele composto de leitores, ouvintes ou espectadores. Em suas linhas gerais, uma história compreende início, meio e fim. Tem personagens cativantes, uma tensão crescente e um conflito que chega a alguma espécie de resolução.
O que se compreende com os ensinamentos da autora é que um documentário conta uma história, um fato, uma série de fatos ou aborda assuntos supostamente de interesse do espectador. Este entendimento fica completo quando buscamos a conveniência dos ensinamentos de Nichols (2010, p. 40), que formula uma relação tripolar; “Eu falo deles para você.” O cineasta que conta uma história diretamente ou usa um substituto denominado narrador com voz de Deus, que em geral não vemos. Essa voz anônima e substituta surgiu na década de 1930, como uma forma conveniente de descrever uma situação ou problema, apresentar um argumento, propor uma solução e, às vezes, evocar um tom ou estado de ânimo poético (NICHOLS, 2010, p. 40).
O cineasta denota o assunto a ser abordado que pode ser sobre uma pessoa, a criação de um Estado, entre outros, porém o sentido buscado aqui é a compreensão de que é a escolha de que história irá ser contada; sobre o que será falado. Deles, ainda remete ao entendimento de que se está falando de alguém. O eu que fala não é idêntico àqueles de quem ele fala (Nichols 2010, p. 42). Temos
o entendimento de que o autor está referindo-se aos
espectadores. Uma pessoa fala e a outra escuta. No caso da produção de um documentário o narrador fala e o público vê (ibd.). Nichols (2010, p. 43), complementa o entendimento da necessidade dos elementos para a produção de um documentário quando cita em sua obra sobre o uso da retórica.
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A retórica é a forma de discurso usada para persuadir ou convencer os outros de um assunto para o qual não existe solução ou resposta definida, inequívoca (NICHOLS, 2010, p. 43).
Nichols (2010, id), complementa a explicação apontando que a retórica difere do raciocínio utilizado para chegar a uma demonstração matemática ou a uma conclusão científica. Também difere do discurso poético ou narrativo, mas mesmo assim, a retórica pode usar a poética, a narrativa ou elementos lógicos, entretanto, esses elementos são utilizados para convencer os espectadores sobre um assunto que é possível mais de um ponto de vista ou conclusão. Outra abordagem aos elementos de um documentário é feita pela autora Sheila Bernard (2008, p. 62 - 69), que as enumera e as define como blocos de construção de um filme que são; tomada, cena, seqüências, ato, incidente que provoca a ação, ponto de ataque e história de fundo. Entende-se aqui que os elementos destacados pela autora (id) formam uma espécie de fundação onde a história será construída e para cada nomenclatura exposta existe sua aplicação prática para o cineasta que busca realizar sua obra.
3.2 Proposta Compreende-se até aqui que o documentário origina-se na vontade de se investigar e divulgar uma história, mas para isto acontecer algumas questões devem ser anteriormente resolvidas, uma delas é (escolhida como exemplo), qual será o suporte financeiro que viabilizará o trabalho? Não necessariamente buscou-se as técnicas para se obter o suporte financeiro citado neste ponto, mas sim, a formulação de um roteiro para a produção do documentário e neste sentido encontramos nos ensinamentos de Puccini (2010), as metodologias tidas como as mais adequadas para a elaboração de uma obra audiovisual. De acordo com os ensinamentos de Puccini (2010, p. 27), para que a proposta possa apresentar uma maneira clara e concisa o tipo de documentário que o proponente tem em mente sugere uma estrutura para seu conteúdo; neste sentido o autor utiliza os ensinamentos de Rosenthal (1995, p. 26) para balizar alguns tópicos pertinentes a esse documento;
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(ROSENTHAL 1995, p. 26 apud. PUCCINI, 2010, p. 27), 1. Declaração inicial, trazendo o título e assunto do filme, sua duração aproximada (formato do filme, em duas ou três linhas). 2. Breve apresentação do assunto, para introduzir o leitor da proposta ao tema do projeto, com justificativa, para fazê-lo perceber a importância de se fazer o filme. A extensão dessa apresentação dependerá da quantidade de informações pertinentes sobre o assunto. 3. Estratégias de abordagem, estrutura, estilo. Qual(is) a(s) maneira(s) mais adequada para abordar o assunto? Qual(is) o(s) ponto(s) de vista contemplados no filme? Haverá conflito entre os depoimentos? Como o filme será estruturado, quais serão as principais seqüências e como elas estarão alinhadas? Qual o estilo de tratamento de som e imagem? [Rosenthal sugere que as respostas a essas questões sejam apenas esboçadas, prevendo eventuais mudanças no decorrer da produção]. 4. Cronograma de filmagem. [Rosenthal colo o tópico como opcional, especificar somente quando existir um determinado evento com data marcada ou quando determinada época do ano for mais conveniente para as filmagens]. 5. Orçamento. [A sugestão é que se inclua um orçamento aproximado]. 6. Público alvo, estratégias de marketing e distribuição. [Outro tópico opcional]. 7. Currículo do diretor e cartas de apoio e recomendação. 8. Anexo. Fotos, vídeos, desenhos, mapas, qualquer coisa que enriqueça a proposta e ajude a vender o projeto.
Este ensinamento proposto por Rosenthal (ibid) já seria o suficiente para a compreensão do norte que se deve seguir para efetivamente se obter a produção de um documentário. Entretanto, para fins de ilustração e também sendo pertinente à pesquisa, é relevante citar que no Brasil uma das referências para modelos de propostas são os editais de concursos, como exemplo o Projeto Rumos, do Itaú Cultural citado por Puccini1 (2010), que pede uma apresentação de projeto menos detalhada e mais aberta, balizada por apenas três tópicos que são: 1. Descrição do conteúdo e concepção do documentário. 2. Plano de realização com cronograma de atividade/produção. 3. Orçamento estimado. (PUCCINI, 2010, p. 30).
Todos estes ensinamentos nos levam a compreender que a história é o
1
Disponível em http://novo.itaucultural.org.br/participe/editais-programa-rumos/ Acesso em 11/8/2013.
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dispositivo que faz com que essa organização seja possível. Para Bernard (2008, p. 3), Uma história pode começar de uma idéia, de uma hipótese ou de séries de questões. Seu foco se intensifica no decorrer do processo de rolagem, até que o filme acabado passa a ter um inicio intrigante, um meio inesperado e um final convincente. Nesse curso, quanto melhor se entender a história, durante sua evolução, mais preparado se estará para contá-la criativamente – e bem (BERNARD, 2008, p. 3).
Neste contexto, entende-se que o trabalho da escolha da história é fundamental para a elaboração da proposta, entretanto, uma vez definidos os tópicos citados pelos autores pesquisados, o próximo passo crucial para a elaboração do documentário se dá através de pesquisas sobre a história a ser contada entre outros aspectos cinematográficos a serem decididos.
3.3 Pesquisa
Viu-se nos tópicos anteriores que o documentário conta uma história e para a sua realização, depende de alguns elementos distintos que se fundem no final, produzindo um pré-projeto denominado proposta. Para alguns autores, um bom documentário depende diretamente de uma boa pesquisa. Segundo Bernard (2008, p. 115), É preciso encontrar um tema, entender sua história e ter certeza de que se está apresentando um ponto de vista equilibrado e preciso – pelo menos deveria, se deseja que o filme satisfaça algum público (BERNARD, 2008, p. 115).
Portanto, fica claro neste momento que anteriormente ao aprofundamento do assunto, o referido assunto a ser abordado no documentário deve ser encontrado. Puccini (2010, p. 31), complementa este sentido declarando que; A segunda etapa de pesquisa, que se inicia após a aprovação da proposta, deverá ser seguida pela seleção estabelecida na primeira etapa, que serviu para definir as principais hipóteses para o documentário.
O autor se refere a segunda etapa da pesquisa por considerar que a
25
busca pelo assunto abordado no documentário seja o ponto de início dos trabalhos de pesquisa. Neste sentido, Rosenthal (1996, p. 37 apud Puccini 2010, p. 31) diz; O que conduz sua pesquisa é sua hipótese de trabalho.
Dentro dos
limites de seu assunto, você deve tentar descobrir tudo aquilo que for dramático, atraente e interessante. O autor (ibid) ainda apresenta uma lista com quatro relevantes fontes de pesquisa; 1. 2. 3. 4.
Material Impresso. Material de arquivo (filmes, fotos, arquivos de som). Entrevistas. Pesquisas de campo nas locações de filmagem.
Dentre as fontes de pesquisa citadas pelo autor (id), algumas serão detalhadas posteriormente no projeto proposto para este trabalho. Para ilustrar esta informação, a melhor referência teórica encontrada é descrita por Puccini (2010, p. 32), Cabe ao documentarista aprofundar seu conhecimento sobre o assunto certificando-se da quantidade e qualidade de material visual e textual disponível para o filme, além da real viabilidade de todas as possíveis locações.
O autor ainda ressalta que podem existir exceções à regra e que tudo depende muito do assunto e do estilo de abordagem. Não se esgotam aqui as análises e providências que se deve tomar para se produzir um documentário. Mapear e esboçar um cuidadoso estudo é somente o início de tudo. Para se obter um bom produto final é necessário realizar pesquisas de campo, identificar os personagens, entrevistá-los, definir o argumento a ser utilizado definindo sua ideia. Para (Puccini, 2010, p. 37), as funções do argumento dentro das etapas de produção de um filme, resumidamente respondem questões tal como; O que? Quem? Quando? Onde? Como? e Por que?
3.4 Mato Grosso “Do Sul” Apesar do Estado do Mato Grosso do Sul ser politicamente um Estado
26
jovem, a sua identidade já é sólida para os cidadãos sul-mato-grossenses, entretanto, vez ou outra alguém “de fora” comete a gafe de dizer que Campo Grande é a capital do Mato Grosso ou tem aquele turista de passagem por Corumbá que atende seu celular e logo em seguida diz; estou no Pantanal do Mato Grosso. Aproveitando-se desta confusão o diretor e roteirista Fábio Flecha lançou em março deste ano (2013), um curta metragem chamado Do Sul. “O tema da história, é uma coisa que acontece no dia a dia do sulmato-grossense, que é a troca de nomes do Estado do Mato Grosso do Mato Grosso do Sul, e quando isso é um evento público você escuta sempre a platéia responder “Do Sul”, daí vem o nome do nosso filme”, diz Fábio Flecha2.
Diante de tal argumentação o leitor pode achar que o assunto aqui exposto se trata da manifestação de uma mágoa, talvez uma crise de identidade ressentida pela confusão, mas não é isso. Este assunto nem ao menos será citado no trabalho e meramente esta sendo usado de gancho para expor que, diferente de Fecha (2013, id) que faz desta confusão o foco da sua obra audiovisual, o documentário aqui elaborado pretende apresentar a riqueza cultural e as tradições sul-mato-grossenses. E foi visando falar sobre a identidade sul-mato-grossense que encontrouse a primeira resposta para a criação do documentário que é sobre o que será narrado.
3.5 Identidade campo-grandense Nota-se nesta fase da pesquisa que há a necessidade de se buscar um maior entendimento sobre este assunto; a descoberta da identidade. A priori tem-se a idéia de que estamos falando sobre quem são estas pessoas, o que elas fazem para se tornarem distintas? Muito se fala sobre o Pantanal, sobre o seu belíssimo e inestimável ecossistema, seus pássaros, suas águas e planícies. Muito se fala
2
Disponível em http://www.msrecord.com.br/noticia/ver/98650/confusao-com-nome-do-estado-e-inspiracaopara-filme- Acesso em 12/08/2013.
27
desse extraordinário estado de natureza. Muito é preciso se falar, no entanto, de um Pantanal que integra culturas e raças, de um estado de cultura que supera os desafios da natureza e floresce na coragem e hospitalidade da alma pantaneira. (SENAC DN, 2003).
Diante do exposto, tem-se em mente a idéia do povo pantaneiro, mas o que torna o pantaneiro único? Para responder esta questão fez-se necessária a realização de uma pesquisa específica sobre os argumentos expostos com o intuito de obter os insumos necessários para avançar na produção da obra audiovisual. Neste sentido, tomamos emprestados os ensinamentos da autora Marlei Sigrist (2000) que cita; entende-se por folclore tudo aquilo que o homem do povo faz e reproduz como tradição (SIGRIST, 2000, p. 7). A autora publicou em 2000 sua obra intitulada Chão Batido tratando dos assuntos sobre o folclore do Mato Grosso do Sul, usos e costumes da cultura popular. Destinado não apenas a professores e acadêmicos, a obra trouxe novas respostas à pesquisa, pois, descobriu-se muito sobre a região; festas, expressões, danças, mitos, lendas e costumes. A obra da autora trouxe para esta pesquisa novos subsídios necessários para o planejamento final do documentário. O folclore se transmite de pessoa a pessoa, de grupo a grupo e de uma geração a outra, segundo os padrões típicos da reprodução popular do saber, ou seja, oralmente, por imitação direta e sem organização de situações formais e eruditas de ensino aprendizagem. [...] Há quem diga que as pessoas fazem tudo isso para não esquecerem que são... (SIGRIST, 2000, p. 7)
Buscou-se aqui traçar um perfil do homem a ser falado e para isso notouse que o projeto que está sendo criado não poderia ser contado por um aspirante a jornalista e como, neste caso, surgiram novas indagações, tal como; quem contaria a história? Teríamos competência para falar sobre a identidade de um povo? Neste momento desvendou-se outro ponto crucial para a produção do documentário. Observou-se aqui que seria necessário narrar a história com o auxílio de outras pessoas, quer sejam elas pessoas comuns que de fato fazem parte do foco da pesquisa, pesquisadores ou até mesmo profissionais consagrados e a autora Marlei Sigrist, foi a primeira a ser anotada como possível colaboradora do documentário.
28
3.6 Culinária Uma vez decidido sobre vários aspectos a serem abordados no documentário temos, neste momento, a oportunidade de explorar um perfil mais restrito que é a culinária sul-mato-grossense ou sendo mais restrito ainda, a culinária campo-grandense. Neste aspecto contou-se novamente com o auxílio da obra da autora Marlei Sigrist (2000, p. 119), que cita; Em Mato Grosso do Sul, os alimentos básicos são o arroz, o feijão, a carne, a mandioca e a farinha de mandioca. Além do arroz branco comum, pode-se encontrá-lo cozido com outros alimentos, como por exemplo...
Seria possível falar sobre todos os pratos típicos encontrados no Mato Grosso do Sul? Sigrist (2000, p. 124); Antes da estrada de ferro (1914), a culinária pantaneira recebeu forte influência dos países platinos, devido à navegação pelo rio Paraguai, cujos navios aportavam em Corumbá. Depois da construção da ferrovia, o estado recebe também a influência da culinária boliviana, [...] também os japoneses trouxeram seus costumes alimentares para a população poder saborear o sobá, o yakimexi, o yakisoba e outros pratos nas feiras livres de Campo Grande e casas especializadas (SIGRIST, 2000, p. 124).
Após esta leitura algumas indagações mais instigantes surgiram, tais como: Antes da estrada de ferro? Influência estrangeira? De que estão falando? Esses são alguns dos inúmeros pratos da culinária sul-matogrossense, cujas receitas encontram-se nas mãos das grandes cozinheiras, detentoras do saber popular e, por isso, o assunto merece uma obra a parte (SIGRIST, ibd).
Aproveitando esta deixa, decidiu-se então sobre o que narrar que é referente às heranças culinárias trazidas pelos imigrantes que povoaram o Estado do Mato Grosso do Sul, em específico Campo Grande,
3.6.1 Sopa paraguaia
Os desbravadores, formando grupos constituídos de portugueses (a
29
hegemonia), negros (os escravos) e mestiços (subjugados), trouxeram toda sua bagagem cultural, para mesclar-se com a cultura nativa (também subjugada) e depois, com maior rapidez, com os costumes paraguaios, pois após a Guerra com o Paraguai, o governo brasileiro demarca a fronteira entre os dois países e em 1874, inicia-se o período denominado ciclo da erva mate.
Nos grandes ervais,
trabalhavam paraguaios nativos, fugitivos da perseguição de Solano Lopes, constituindo-se em mão-de-obra barata. Centenas deles instalaram-se ao longo da fronteira, trazendo os costumes (tereré, alimentação, chás) dos Guaranis. (SIGRIST, 2000, p. 39 e 40). Assimilada da cultura paraguaia, os vizinhos de fronteira sul, a sopa paraguaia nada se assemelha à sopa conhecida dos brasileiros. De sopa, somente o nome, pois se trata de um bolo salgado, consumido diariamente em padarias e lanchonetes. Nas casas, a sopa paraguaia é prato obrigatório durante a Semana Santa e outros dias festivos, dado o seu valor nutritivo que o prato oferece. (SENAC, DN. 2003, p. 92) Não foram encontradas obras específicas sobre a origem da sopa paraguaia e na busca por mais detalhes sobre este prato típico, sendo vastamente encontrado somente a receita. De acordo com Mamadi3 (2013), a sopa paraguaia foi inventada por volta de 1840, pela cozinheira do presidente paraguaio, Carlos Antonio Lopez, acidentalmente. Ao fazer a sopa ela errou a mão na farinha de milho. Na hora de servir o jantar, em vez da sopeira levou uma travessa de torta à mesa. E o presidente gostou e batizou de sopa Paraguaia. Diz a lenda que os soldados paraguaios levavam para os campos de batalha durante a Guerra do Paraguai sopas, e por essa não ser líquida e ser fácil de transportar, eles passaram a levar.
3.6.2 Churrasco gaúcho Da mesma forma que ocorreu na busca pela origem da sopa paraguaia, não foram encontradas obras específicas sobre a origem do churrasco gaúcho,
3
http://blogdamamadii.blogspot.com.br/search/label/história%20da%20Sopa%20Paraguaia
30
porém, a sopa teve origem paraguaia devido a guerra e a necessidade das tropas se alimentarem, já o churrasco teve origem indígena e foi incorporada a tradição gaúcha devido a outros fatores. Depois chegaram os gaúchos que, desencantados com a revolução no Rio Grande do Sul (1892 – 1895), instalaram-se no sul do Estado. Trouxeram novas técnicas de plantio, o hábito de tomar chimarrão, a apreciação do xote, mazurca (rancheira) e vaneirão. (SIGRIST, 2000, p. 40).
Segundo indica os fatos históricos, foi no século XVII que surgiu a forma gaúcha de se fazer churrasco4. Difundida por todo o país e reconhecida e apreciada mundialmente, tornou-se sinônimo de festa e confraternização entre familiares e amigos. A descoberta do churrasco é atribuída aos índios, habitantes da costa das três Américas, que assavam a carne ao ar livre, numa fogueira sobre pedras com o auxílio de uma grelha de madeira verde. Porém foi na região do grande pampa que o churrasco encontrou seu ambiente ideal. A pecuária sempre foi uma das maiores riquezas do Uruguai, da Argentina e do Sul do Brasil, e a lida com o gado afastava os homens do campo por longos períodos de suas casas.
O churrasco era uma forma mais prática de fazer uma refeição, pois tudo que era necessário para o preparo estava à mão: uma boa faca afiada, uma fogueira em um buracão cavado no chão, um espeto de vara que podia ser preparado com galhos, um generoso pedaço de carne e sal grosso. Aliás, o sal grosso era e é utilizado na alimentação dos bovinos e também no tempero de um bom churrasco.
3.6.3 Sobá Ainda no inicio do século XX, com a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil, chegaram os japoneses, servindo de mão-de-obra naquela
4
http://arrotandopicanha.wordpress.com/2010/06/13/origem-do-churrasco-gaucho/
31
empreitada. Contribuíram para a cultura do Estado na alimentação e na forma de construção, principalmente na cobertura da casa folclórica. (SIGRIST, 2000, p. 40) Mais uma vez notou-se não haver obras específicas sobre a origem do sobá, entretanto, em entrevistas descobriu-se que isso aconteceu por acaso e este é o prato mais campo-grandense de todos. Encontrado na grande rede, temos a informação não confirmada que o sobá está se tornando um patrimônio imaterial e para ilustrar esta pesquisa decidiuse apresentar ao leitor a integra do documento encontrado; 5 De prato típico a patrimônio imaterial de Campo Grande, o sobá se enraizou definitivamente na cultura da capital de Mato Grosso do Sul, terceira cidade no País com o maior número de descentes japoneses. O sobá de Campo Grande sofreu adaptações a partir da receita original do Okinawa Sobá, e adquiriu o status de bem cultural de natureza imaterial, por meio do decreto municipal n° 9.685, de 18 de julho de 2006 e foi tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Mais do que conhecido, o sobá é um verdadeiro astro da culinária local. Na Feira Livre de Campo Grande, por exemplo, existem 20 restaurantes especializados. O local reúne facilmente duas mil pessoas consumindo vorazmente. Uma das barracas mais tradicionais da feira vende uma média de 100 sobás por dia. O caldo do sobá tem um segredinho que eles não passam para a gente. O detalhe é que o sobá é um prato extremamente saudável, como toda a culinária de Okinawa, um dos motivos para o local abrigar a maior concentração de pessoas centenárias no planeta. Aos poucos, por exemplo, dona Amélia, Antônia e companhia vão criando mais artimanhas para atrair os campo-grandenses, como substituir a carne de porco por carne de boi, frango e até mesmo dobradinha dependendo do gosto do freguês. “Como descendente me orgulho de toda a população de Campo Grande gostar de sobá, um prato que veio da colônia, mas que atinge pessoas de todas as raças e idades”, reflete Anísia Higa. Ah, e atenção: não confunda o sobá de trigo sarraceno com o sobá de Okinawa, muito famoso em Campo Grande, que é feito de trigo normal, é mais grosso e não tem a cor escura característica. (Recomendações de Koichi Mori, que
5
http://www.ilovemsoficial.com/2013/01/historia-do-soba.html
32
trabalha hรก 30 anos com o preparo do sobรก no Japรฃo).
33
4 Objetivos Alcançados Tendo como parâmetro que o objetivo desta pesquisa era mostrar como a influência dos imigrantes moldou o perfil campo-grandense da atualidade, pode se dizer que todos os objetivos esperados foram alcançados, ou seja, a produção do documentário foi bem sucedida e apresenta o tema gastronomia para ilustrar este aspecto cultural em Campo Grande. Alguns aspectos tal como o contato com o entrevistado, a apresentação da ideia e a entrevista propriamente também foram considerados como objetivos alcançados pois, requer uma antecipação do cronograma, sendo que, em alguns casos, houve até o cancelamento da entrevista e este imprevisto acarretou em um pequeno atraso na edição final e consequentemente elaboração final do documentário, mas tudo se deu em tempo hábil. Em se tratando da parte da pesquisa, obteve-se bom aproveitamento das informações sugeridas nas obras consultadas e foi de grande valia o aprendizado baseado nos autores pesquisados. Referente aos contatos houve grande enriquecimento social e cultural, pois a equipe sentiu-se bem acolhida em todos os eventos de filmagens, sem contar que tratar de culinária é uma excelente opção para acadêmicos de todos os cursos.
34
5 Dificuldades encontradas Dificuldades foram encontradas em todas as etapas da produção do documentário. Desde a decisão sobre o que fazer até a entrega do trabalho pronto alguns contratempos sempre colocam a prova a nossa capacidade de êxito. As
principais
dificuldades
apontadas
são
a
agenda
cheia
dos
entrevistados. Tal problema afetou o cronograma previsto e em vários momentos foi considerada a mudança de planos em relação ao entrevistado, entretanto, como se tratam de especialistas e personagens históricos, alguns deles jamais poderiam deixar de ser descartados ou substituídos. A parte de edição e desenvolvimento da narrativa também foram bastante difíceis, pois, apesar de parecer simples na teoria, na pratica colocar tudo em ordem coesa não é tão simples quanto parece ser.
35
6 Despesas (orçamento) Gastos com material para a elaboração do documentário não foram computados pois, os mesmos pertencem aos amigos que me ajudaram a fazer a obra áudio visual e também parte do material é do laboratório de televisão do curso de jornalismo da universidade. Despesas
como
telefonemas,
energia
elétrica,
infraestrutura,
combustíveis, entre outros também não foram computados, pois são incomputáveis separadamente para a pesquisa propriamente dita. Gastos com encadernação e impressão em capa dura está estimada em R$500,00. R$ 3.000,00 foram gastos com locação de câmeras e ilhas de edição da produtora magnético.
36
7 Conclusões A criação do vídeo documentário “À mesa – Campo Grande de culturas” não foi tarefa fácil e aliado ao trabalho de conclusão de curso nota-se que a cada filmagem, a cada entrevista tem-se novamente vários caminhos a serem seguidos, em outras palavras, o cineasta pode, a seu critério contar a história da forma com que ele deseja e utilizar-se das suas escolhas para criar a obra, porém, todo o trabalho é exaustivo e finalizá-lo foi o maior desafio. A maior parte dos dados contidos neste trabalho foi colhida da ideia inicial de como se fazer um documentário que fale do povo de Campo Grande, um povo enraizado, com cultura e conteúdo, em outras palavras, buscou-se expor a verdadeira identidade do povo, mas muito ainda deve-se mostrar e muito ainda temos que aprender neste caminho denominado, documentário, principalmente sobre a cultura campo-grandense. Concluímos com este trabalho que no campo da descoberta científica, por mais que aprendemos a construir um bom trabalho, nota-se que nada sabemos e um aprofundamento disso ou daquilo sempre será necessário. Na criação do vídeo documentário não foi diferente, pois a cada escolha feita outras escolhas eram necessárias. Concluímos também que o vídeo documentário “À mesa – Campo Grande de culturas” é uma declaração pública de opinião direta apresentando os pratos típicos da região.
37
Apêndice (Roteiro) À MESA – CAMPO GRANDE DE CULTURAS ROTEIRO Logo
de
Arte 1
abertura
diversos países.
do
documentário Imagens de
danças
Nome
típicas estados
de e
OFF 1
Campo Cento
e
Grande.
quatorze
anos.
Aproximadamente oitocentos mil habitantes. Capital
de
Mato
Grosso do Sul, acolheu em sua formação povos de vários lugares do mundo. Dessa
forma,
indígenas, mineiros, paulistas, gaúchos, nordestinos se uniram a paraguaios,
portugueses,
italianos, japoneses, árabes e outros mais para construir esta cidade
de
características
modernas. A contribuição desses povos permitiu o desenvolvimento econômico e social, e também se manifesta nos costumes locais. Outro revelador
da
elemento presença
imigrantes: a gastronomia.
é dos
38
Seja na feira central com o sobá, nas rodas de amigos com
o
tereré
ou
nas
comemorações em pizzarias e churrascarias,
a
influência
cultural se torna explícita no ato de comer.
Marlei Sigrist - pesquisadora
Sonora Marlei 1
Em instância,
o
necessidade
primeira comer
é
biológica,
uma mas
dependendo dos produtos que você usa, a escolha é social. Como você prepara esses pratos também é uma escolha social. O comer sozinho ou coletivamente e a escolha de quais alimentos eu devo ou não comer isso tudo é um produto das relações sociais. Paulo
Sonora Paulo
Quando
você
se
39
Cabral - sociólogo
1
aproxima de uma pessoa e essa relação se torna mais intensa, você a chama para tua casa, e oferece alimento. Se você for estrangeiro, de outro lugar, em algum
momento
preparar
uma
você
comida
vai típica.
Porque é uma forma de você se doar, ao mesmo tempo em que você
está
marcando
a
tua
identidade originária. Talvez por isso a gente possa afirmar que o paladar
tem
um
sentido
primordialidade.
de
Você
simplesmente sente o gosto, sente o sabor das coisas. Isso, de algum modo, facilita a integração dos diferentes grupos e povos. Você não
ficar
teorizando.
Você
simplesmente experimenta, gosta ou não. Imagens da
OFF 2
Com
o
tempo,
feira central de Campo
culinária típica se forma com
Grande,
forte e rica contribuição dos
durante
festival do Sobá.
o
imigrantes. Alguns
pratos
se
destacam e se tornam populares, independentemente de sua origem ser estrangeira ou nacional. Em meio
a
isso,
existe
uma
característica que se ressalta: a cidade
vive
um
intenso
e
40
revelador diálogo intercultural.
Marlei
Sonora
Sigrist - pesquisadora
Marlei 2
Eu diria que o traço mais forte da nossa identidade cultural como um todo é o traço paraguaio. Tanto é que ele é fortíssimo no meio musical, no linguajar e na gastronomia.
Logo
de
Arte 2
Logo dos paraguaios
Sonora
Sinceramente, Campo
capítulo Benito Cristaldo - pesquisador
Benito 1
Grande, para nós paraguaios, é praticamente um país nosso.
Danças típicas
OFF 3
paraguaia,
apresentadas
Com origens comuns no povo guarani, o sul-mato-
na
grossense
e
o
paraguaio
Colônia Paraguaia de
superam, na culinária, a barreira
Campo Grande
geográfica imaginária delimitada pela fronteira.
Benito Cristaldo - pesquisador
Sonora Benito 2
Porque,
hoje,
a
culinária, principalmente, aqui em Campo Grande, é como se fosse o Paraguai, poxa vida. O pessoal toma o seu tereré aqui,
41
tereré lá, come sua chipa, sua sopa,
sua
dança.
É
tudo
compartilhado com os brasileiros. Paulo
Sonora Paulo
Cabral - sociólogo
2
Na
realidade,
essa
influência cultural eu identifico como uma base comum guarani, porque
os
guaranis
predominantes
na
são cultura
paraguaia, da mesma forma que os guaranis ocupam esse território todo fronteiriço. Cenas
da
OFF 4
A Sopa Paraguaia é
feitura e degustação da
um prato típico que se encontra
sopa paraguaia
com frequência entre os salgados vendidos nas padarias de Campo Grande. Atrai a atenção de turistas por ser um bolo apesar do nome.
Marlei Sigrist - pesquisadora
Sonora Marlei 3
A sopa paraguaia, ao invés de ser um caldo, uma sopa, embora o preparo seja na forma do caldo, ela se transforma num bolo. A origem disso vem da língua Guarani, "bolo".
Guarani, "sopa"
porque quer
Traduzindo
por
em dizer um
português que a gente possa entender quer dizer o bolo. Edelmira Amarilla - cozinheira
Sonora Edelmira 1
Sim, primeiro lugar tem que colocar a Milharina na tigela com meio litro de leite para
42
molhar, para crescer mais a Milharina. Depois colocar ovo, cebola e o leite no liquidificador. Aí mistura. E o queijo, tudo junto. Coloca uma pitadinha de Royal, e sal a gosto. Essa aí que é a minha receita da sopa. Marlei Sigrist - pesquisadora
Sonora Marlei 4
Os ingredientes são aqueles
muito
usados
pelos
guaranis, pelos nossos índios. O milho é a base da alimentação é esse milho. E o queijo já é de uma aculturação mais ibérica, a utilização do queijo. Tanto os portugueses quanto os espanhóis usavam muito esses derivados em vários pratos brasileiros. Imagens da
OFF 5
Do
Paraguai
para
sopa paraguaia sendo
Campo Grande, a receita sofre
preparada
modificações, seja no modo de fazer,
seja
ingredientes,
na
seleção
como
conta
de a
cozinheira Edelmira, brasileira que aprendeu a fazer o prato com a mãe Paraguaia. Edelmira Amarilla - cozinheira
Sonora Edelmira 2
Minha mãe fazia sopa paraguaia, mas só que minha mãe cozinhava a cebola grande. Esse daí já é batido tudo liquidificador, esse que eu faço agora. É de milho saboró que nós fazemos a
43
sopa lá em Porto Murtinho e aqui em Campo Grande eu faço de fubá da Milharina. A diferença que tem é só isso. Mas é a mesma coisa, é uma delícia também do fubá, do nosso fubá do Paraguai. É mais delicioso, porque é um fubá mais gostoso. Edelmira
OFF 6
Ainda que o modo de
exibe
reportagem
fazer a receita sofra alterações, o
publicada
em
costume
jornal
sobre a sopa paraguaia
à
religiosidade se mantém.
Paulo Cabral - sociólogo
associado
Sonora Paulo 3
Alguns
alimentos,
também ao longo da história de vários povos e culturas, você vai ter alimentos rituais. Comidas que se comem associadas à determinados fatos. Por exemplo, entre os católicos, o jejum da carne, que antes se fazia durante toda a quaresma, às quartas e sextas,
mas
ainda
hoje
se
conserva na semana santa. O jejum da carne é ritual e em razão dele você vai ter alguns pratos que
não
consumíveis
levam nesse
carne, dia
de
restrição. Benito Cristaldo - pesquisador
Sonora Benito 2
A semana santa, na quinta-feira tem que estar tudo pronto. Chipa, sopa paraguaia,
44
tudo.
Sexta-feira
ninguém
trabalha, porque o paraguaio, em si, é muito católico. São muito devotos, então eles fazem essa dieta. Não comem carne de jeito maneira
e
comem
só
sopa
paraguaia e chipa, que está tudo pronto. Passam o dia comendo sopa e chipa. Edelmira
Sonora
Amarilla - cozinheira
Edelmira 3
A minha mãe ensinou nós para que um dia para começar a trabalhar. Se um dia ela ficasse longe de nós para a gente se virar, para fazer as coisas. E assim nós aprendemos com a minha mãe.
Edelmira
OFF 7
Quando
os
mostra foto antiga dela
ingredientes se misturam naquela
com a mãe
receita aprendida em família as lembranças
ressurgem
temperando o alimento. Edelmira
Sonora
Amarilla - cozinheira
Edelmira 4
Lembro
da
minha
mãe, da minha mãe sempre eu lembro. Isso daí eu nunca vou esquecer. Porque hoje em dia eu não tenho mais mãe, mas sempre eu lembro.
Logo
de
Arte 3
Logo dos gaúchos
Imagens de
OFF 8
A vinda de gaúchos
capítulo
jovens
gaúchos
para Mato Grosso do Sul também
45
dançando e o churrasco
acrescentou elementos à cultura e
sendo feito
reforçou traços de identidade na capital do estado. Um dos pratos que ganharam força com a presença de sulistas em Campo Grande foi o churrasco, cuja origem
é
debatida
pelos
quero
separar
historiadores. Rui Ávila –
Sonora Rui 1
Não
diretor cultural do CTG
isso aí. Não tem como separá-los:
Tropeiros da Querência
Rio Grande do Sul de churrasco. Existem estudos que dizem que o churrasco, no Brasil, teria nascido na nossa região das Missões.
Marlei Sigrist - pesquisadora
Sonora Marlei 5
Embora o churrasco, por exemplo, que é um prato típico, conhecido como um prato gaúcho, para nós ele também é um prato típico que existe desde a época
que
existia
para
os
gaúchos. A forma de se fazer é uma
forma mais da cultura
indígena, a forma do preparo da carne. Os indígenas já faziam esse preparo com as carnes de caça. Na medida em que o gado foi sendo introduzido, também foi sendo consumido. Rui Ávila –
Sonora Rui 2
Nós temos pinturas
diretor cultural do CTG
rupestres que desenham os povos
Tropeiros da Querência
primitivos caçando carne, pela
46
conservação que ela tinha. Porque uma carne de uma caça abatida, em um dia é putrefata. Marlei Sigrist - pesquisadora
Sonora Marlei 6
Então
isso
é
um
hábito que ocorreu em toda a fronteira brasileira. Desde Mato Grosso até o Uruguai.
Rui Ávila –
Sonora Rui 3
Tem vários pais na
diretor cultural do CTG
execução do churrasco. E hoje
Tropeiros da Querência
nós temos especialistas de todos os estados do Brasil.
Marlei Sigrist - pesquisadora
Sonora Marlei 7
Agora, os gaúchos se especializaram
na
feitura
da
carne, no preparo da carne de uma forma intensa. Rui Ávila –
Sonora Rui 4
Lá, ele é o prato
diretor cultural do CTG
principal
das
reuniões
entre
Tropeiros da Querência
amigos. Não é do dia a dia da família. Mas nas reuniões entre amigos ele é o prato principal. Não se tem o encontro de dois ou três que não com churrasco.
Mais imagens
de
OFF 9 danças
Tal tipo de migração, estimulada pelo governo, por
típicas gaúchas
meio de facilidade na concessão de terras, carrega o propósito de povoamento de fronteiras e da expansão agrícola.
Família Golin – Muriel, Miro,
Sonora
Sempre
é
uma
escolha. Você sair de lá e vir para
47
Marília e Gabriel
Família Golin 1
cá. Mas, tem hora que você tem que optar se você quiser crescer na vida. Buscar suas realizações. Todo mundo pensa em crescer e ganhar dinheiro e aqui é um estado novo, então as chances são muito maiores do que lá embaixo. Lá embaixo está muito antigo, difícil de você crescer.
Mais imagens
de
OFF 10 danças
Com econômico
típicas gaúchas
o
viés
favorável,
esse
cenário também possibilitou a incorporação de elementos da cultura gaúcha.
Marlei
Sonora
Sigrist - pesquisadora
Marlei 8
Ele construir,
consegue
enfim,
todo
esse
universo cultural, de uma muito mais
fácil
do
que
outras
populações. Mais imagens
de
OFF 11 danças
Estabelecidos
longe
do lugar de origem, os gaúchos
típicas gaúchas. Cenas
também
da entrega de faixa à
formar uma espécie de colônia:
“prenda”
os
durante
do
CTG, evento
se
Centros
organizam
de
para
Tradições
Gaúchas, que em Campo Grade
realizado no local
são dois, um dos quais figura entre
os primeiros a serem
criados fora do Rio Grande do Sul. Rui Ávila – diretor cultural do CTG
Sonora Rui 5
Nós
vamos
buscar
aquilo que nós aprendemos e está
48
Tropeiros da Querência
enraizado.
Nossas
crianças
aprenderam a fazer isso. Eu era criança lá no Rio Grande, vim pra cá, e de repente eu sou adulto aqui. E agora eu sou dono de uma recordação que está dentro de mim, então eu buscar alguma coisa que me trouxe conforto. É psicológico, não adianta. A
Família
OFF 12
A tradição de fazer
Golin prepara a carne e
churrasco é viva na casa da
demais
Família Golin. Miro, junto de
ingredientes
para o churrasco em
seus
filhos
e
sua
esposa,
casa
preparam a casa para receber os amigos. Esse costume de se reunir para comer carne assada também é parte da identidade do campograndense, e é reforçada com a presença dos gaúchos na cidade. Paulo
Cabral - sociólogo
Sonora Paulo 4
Aí a culinária passa ser um fator bastante sugestivo de troca cultural. Porque também o imigrante
passa
a
consumir
algumas coisas da culinária local. Mais
OFF 13
O
diálogo
imagens do churrasco
intercultural, via de mão dupla,
na casa da Família
mistura elementos de traduções
Golin
diferentes, difundindo hábitos de origens distintas. Família
Sonora
Não é costume comer
49
Golin – Muriel, Miro, Família Golin 2
mandioca
Marília e Gabriel
gaúcho.
no É
churrasco por
do
influência
paraguaia do tereré. Eu acho aqui a cultura e o calor que nós temos hoje, você agrega. Quase 40 graus tomar um chimarrão não dá. Vamos tomar um tereré que é mais gostoso. Você se adapta. Logo
de
Arte 4
Logo dos japoneses
OFF 14
Depois do Japão, o
capítulo Imagens de coreografias e danças
Brasil é o lugar com maior
japonesas
número
de
japoneses.
Atualmente, Campo Grande tem a quarta maior colônia japonesa do país. Entre as contribuições destes
imigrantes
para
a
gastronomia da cidade, está um dos
principais
pratos
típicos
campograndenses: o Sobá. Mas a origem
deste
prato
é
bem
específica, atravessou o oceano partindo
de
Okinawa,
uma
província que no fim do século dezenove foi conquistada pelos japoneses. Celso Higa pesquisador
Sonora Celso 1
Muita
gente
pensa
que é a mesma coisa, mas não é. A questão do japonês é tudo de cara igual, mas não é. Okinawa já foi uma província, um reino
50
independente Riu Kiu e foi anexado ao Japão em 1879. Celso Higa
OFF 15
Com a plantação de
exibe fotos antigas de
hortaliças
em
chácaras
de
seu arquivo
Campo Grande, os imigrantes japoneses passam a vender sua produção na feira central. Paulo
Cabral - sociólogo
Sonora Paulo 5
Vinham para a feira e ela era demorada, durava pelo menos 20 horas. De quando começava, na quarta, logo depois do almoço, até na quinta pela manhã.
E
de
sábado
para
domingo... era preciso que eles se alimentassem,
porque
eles
vinham de longe. Celso Higa pesquisador
Sonora Celso 2
Um dia passou um curioso lá e perguntou: o que você está comendo aí? Esse aqui é um sobá, que era geralmente feito para os mais chegados, familiares.
“Deixa
eu
Aí
ele
experimentar.”
experimentou e a cortina abriu para a comunidade. Paulo Cabral - sociólogo
Sonora Paulo 6
O sobá vem para a feira não com essa coisa turística de
agora,
mas
com
uma
finalidade muito concreta, que era alimentar os feirantes que vinham
51
trazer as suas mercadorias. Celso Higa pesquisador
Sonora Celso 3
Desde então ele vem tendo
esse
sucesso
que
extravasou e hoje traz muito turista curioso para saber como é e que prato é esse. Cenas
do
OFF 16
O sobá em Campo
sobá sendo servido na
Grande é tão expressivo que atrai
feira. Imagens do casal
a curiosidade de quem visita a
de
que
cidade. O casal de japoneses
Campo
vindos de Tóquio estava de
japoneses
visitaram Grande
passagem e se interessou em provar o prato típico proveniente de Okinawa. Ryuichi
Tazaki
–
Sonora
engenheiro Ryuichi 1
Eu informações
automobilístico
encontrei sobre
esse
restaurante na internet. Então viemos comer o sobá de Okinawa aqui. Eu pedi um grande e ela um médio.
Modo preparo
do
demais
sobá
de
OFF 17
e
influências
usados na sua feitura
Tazaki
–
engenheiro Ryuichi 2
automobilístico
sobá
feito
em
Campo Grande também sofre
utensílios
Ryuichi
O
locais
e
torna-se
diferente do original de Okinawa. Sonora
Notamos três pontos diferentes do sobá lá do Japão. O primeiro foi o caldo. O caldo daqui é um pouco mais salgado e o de lá é mais suave. O segundo ponto é o macarrão. O macarrão
52
daqui é um pouco mais “macio”. Momoko
Sonora
Kobayashi - professora
Momoko 1
O terceiro ponto é a carne. A carne que se come no Japão
é
um
pouco
mais
gordurosa. E lá, ela também tem um sabor mais doce. A carne daqui eles cortam em pedaços menores e tem um gosto bem diferente. Imagens da
OFF 18
Hoje incorporado à
feira central de Campo
cultura local, o prato foi tombado
Grande,
como
onde
são
servidos pratos de sobá
patrimônio
imaterial.
diversas
sobarias
Existem
espalhadas pela cidade. Só na Feira Central, são vinte e oito restaurantes de sobá, capazes de servir mais de seis mil unidades de sobá por noite. Paulo Cabral - sociólogo
Sonora Paulo 7
E o sobá, que é uma das coisas mais típicas e se torna patrimônio imaterial de Campo Grande. É uma coisa louca. Nem no Japão o sobá é patrimônio cultural e imaterial e aqui em Campo Grande é.
Imagens da
OFF 19
Estabelecidos desde a
família Shirado em sua
década de quarenta na colônia
casa. Yemko prepara o
Mata do Segredo, a família
sobá
Shirado
é
de
uma
geração
descendente da imigração vinda
53
de Okinawa. Família Shirado
–
Sonora
Nilton, Família Shirado 1
Yemko e Paulo
Eu vi minha mãe fazer. A família nossa era muito grande, tinha que fazer sobá para deixar eles comer.
Yemko faz a
OFF 20
massa do sobá
Na receita aprendida, a feitura da massa leva um elemento curioso, a chamada “água de cinza”, que consiste na mistura da água com a cinza que sobrava da lenha queimada no forno,
muito
utilizado
no
passado. Família Shirado
–
Sonora
Nilton, Família Shirado 2
Yemko e Paulo
A minha mãe sempre falou que tem que ser madeira boa.
Eu
comprei angico
na
cidade, aí colocamos no fogão e tiramos a cinza. Aí minha mãe deixou por três horas. Mistura bem com a água e deixou por três horas, até decantar toda a cinza, aí depois tirou a água, coou a água. Aí essa água usou-se no preparo do sobá. Imagens de outras
etapas
preparo do sobá
do
OFF 21
O ingrediente garante um macarrão mais resistente ao escaldo.
Com
o
tempo,
no
entanto, a massa passou a ser feita de outras maneiras e não leva mais água de cinza.
54
Paulo
Sonora Paulo
Cabral - sociólogo
8
A cultura é uma coisa viva. Sendo viva, é inevitável que ela
traga
em
si,
já
estruturalmente, uma perspectiva de mudança. Tudo aquilo que é vivo vai estar num processo de transformação,
de
mudança.
Qualquer coisa viva se modifica. O
sobá
é
OFF 22
Além
de
símbolo
servido para familiares
gastronômico da capital de Mato
na
Grosso do Sul, o prato também
casa
Shirado.
da
família
Cenas
da
será um elemento de propaganda
fachada e entornos da
da cidade em outros territórios.
loja Sobá de Campo É
Grande
empresários
o
que
alguns
da
feira
central
esperam com a criação de uma franquia especializada na venda de sobá. O nome da franquia é a
síntese
dessa
apropriação
cultural, pois identifica a origem do sobá, que não é mais o “Sobá de Okinawa”, mas agora o “Sobá de Campo Grande”. Marlei Sigrist - pesquisadora
Sonora Marlei 9
A partir do momento que você consegue exportar um prato
típico,
você
está
reafirmando a sua cultura e valorizando o que se tem no local, para que ela não morra.
55
Paulo
Sonora Paulo
Cabral - sociólogo
9
Como
os
okinawa
eram meio que discriminados, marginalizados
no
Japão.
Obviamente que um elemento da sua cultura não vai ser valorizado pelos outros japoneses. Que são os que estão no Paraná e em São Paulo, sobretudo. Então, é uma coisa menor. Agora, no momento em que Campo Grande resgata esse prato e o coloca como algo seu, provavelmente nós teremos condição até de dar uma maior visibilidade e difundir ainda mais o sobá. Família Shirado
–
Sonora
Nilton, Família Shirado 3
Yemko e Paulo
Olha, okinawanos,
eu,
nós
sentimos
muito
orgulhosos. Graças aos nossos irmãos campograndenses a nossa cultura permanece viva. Se não fosse
isso,
a
nossa
cultura
praticamente estava morta. Cenas
OFF 23
Assim, a influência
gerais da preparação
exercida
pelas
da sopa paraguaia, do
imigrantes que se estabeleceram
churrasco e também do
em Campo Grande, hoje ajudam
sobá
a formar a gênese daquilo que se caracteriza
como
colônias
de
Identidade
Cultural campograndense. Marlei Sigrist - pesquisadora
Sonora Marlei 10
A
gastronomia
se
torna traço de uma identidade a
56
partir do momento que ela é utilizada no seu cotidiano, ela é repetida por muitas e muitas vezes. E vai ser passada de uma geração para outra. É isso que vai dar o traço de tradicional para ela. Paulo
Sonora Paulo
Cabral - sociólogo
10
Quando se diz que você é o que você come não é só aquilo que se come, mas também como se come. E tudo isso, obviamente, faz parte da cultura.
Marlei
Sonora
Sigrist - pesquisadora
Marlei 11
Como vocês sabem, cultura é dinâmica. Cada geração tem o seu toque a ser dado ou contribuído
para
determinado
prato. Quanto maior o tempo de duração dessa gastronomia, num determinado local, ela vai se tornando um traço mais forte para ser eternizado. Logo encerramento Créditos finais
de
Arte 5
Logo encerramento Créditos finais
de