CORA Nº 1
Quem é SoulRa?
A MC douradense fala sobre os desafios de ser uma artista independente
CORA revista de moda de Dourados/MS JULHO 2022 Diretora Geral Letícia Franco Diretora Editorial Letícia Franco Diretora de Redação Letícia Franco Orientação Geral Rafaella Peres REDAÇÃO Diretora Executiva Letícia Franco Editora de Moda e Beleza Letícia Franco Repórter Letícia Franco MODA Estilo Raíssa Souza Carvalho (colaboradora) ARTE Direção de Arte Rafaella Peres Ilustração Laura Braga (colaboradora) Diagramação Letícia Franco COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Fotografia Tatiana Varela Coluna Éveli Monique Schaedler PRODUÇÃO Revista produzida (conteúdo, identidade visual e projeto gráfico) como Projeto Experimental de finalização do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
EDITORIAL A moda sempre fez parte da minha vida. Quando era criança, minha mãe me levava para comprar roupa e me lembro de sempre ficar animada, adorava olhar todas as roupas nas araras, sentir o tecido na ponta dos dedos e montar looks com todas as peças que gostava. Desde que entrei no curso de jornalismo da UFMS, penso em trabalhar na área da moda. Não é uma área fácil de trabalhar fora dos grandes centros, mas se gosto tanto desse segmento, porque não arriscar? E daí surge a ideia de criar a Cora, revista de moda de Dourados, da minha cidade. Seria um desafio, a cidade parece estar atrasada em tantos aspectos em pelo menos 3 anos, como eu poderia criar uma revista inteirinha sobre moda? No entanto, foi possível. Muitas pessoas se interessam pelo assunto, mais até do que eu imaginava, e há um movimento jovem que quer mudar a monotonia do padrão de cidade do interior. Dourados tem muito potencial, só precisa ser explorado. Essa experiência me permitiu conhecer muita gente diferente e criativa, e posso até dizer que fiz amigos. Cada entrevista foi um aprendizado e conheci lugares novos, ganhei uma perspectiva que antes eu não tinha. Dourados me surpreendeu, de novo. Então, a Revista Cora é mais que um Trabalho de Conclusão de Curso, é um projeto que quero levar para a minha carreira profissional e que essa não seja a primeira e única edição. A Cora é especial, fruto de um processo muito trabalhoso, em muitos momentos pensei até em desistir, mas ver ela pronta é tão gratificante que não consigo descrever em palavras. Agradeço a todos que trabalharam para que ela existisse. Aproveitem a leitura, espero que gostem..
ução
Diretora de prod
SUMÁRIO
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MODA 6
Tendências para não passar frio
10 New Aesthetics COMPORTAMENTO 14
Be Cult
16 Depois do 42 CULTURA 19 Vamos balaiar! GIRL BOSS
BELEZA 38 Brow lamination
ELES 39 Moda não combina com preconceito
22 Acessórios místicos FEATURE 26 Mais que cantora, MC
COLUNA 42
o pós alguma coisa que ainda não sei se já acabou
colaboradores
Laura Braga Acadêmica de Artes Visuais na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, especialista em ilustração. Tatiana Varela Fotógrafa e fundadora do estúdio Punto Aureo. O estúdio Punto Aureo nasceu em Lugo, Espanha, em Dezembro de 2010, por Fabricio Borges e Tatiana Varela. No ano de 2010, Fabrício e Tatiana ingressam na Escola de Artes e Superior de Deseño Ramón Facón de Lugo (Espanha), onde se conheceram e começaram o projeto: Estúdio de Fotografia e Audiovisual Punto Áureo. Começaram atuando nas áreas de reportagem social, moda e publicidade. No ano de 2013 mudaram para Dourados-MS, ampliando a área de atuação audiovisual e fotográfica, como a da música, do teatro, documental e cinema.
Raíssa Souza Carvalho Além de ser a SoulRa, fundou a min4 zik4, marca de roupas slow fashion. Éveli Monique Schaedler Artista, escritora e professora.
MODA
tendências para não passar frio Durante as frentes frias em Dourados, a temperatura pode chegar a 0ºC nas madrugadas mais geladas. É possível se vestir bem sem passar frio? A resposta é “claro que sim!”, e aqui te mostro como por Letícia Franco
C ouro
ou P.U. Atemporal, uma peça de couro deixa qual-
FOTO: @CLAIREGUILLON
quer look mais fashion. A melhor parte é o couro ser um dos melhores materiais para se manter aquecido, já que é resistente e não tem espaço no tecido - como o algodão por exemplo - para a entrada de vento. E se engana quem associa somente ao estilo rocker, hoje é possível montar looks mais versáteis, até mesmo românticos.
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FOTO:@CLAIREGUILLON
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PUFFER
Mais uma peça perfeita para um inverno rigoroso. A jaqueta puffer é statement, qualquer look mais básico fica fashionista e criativo. A peça fica ainda mais cool quando sai da paleta de cores sóbrias para adicionar cor e brilho, variação que vai ajudar a ditar o mood do estilo, indo do mais básico a mais elegantes e elaborados. Não tem como discordar que a puffer é muito descolada!
Normalmente associado ao visual de trabalho, a alfaiataria está cada vez mais presente nos looks casuais e modernos. Que tal colocar uma calça de alfaiataria com uma t-shirt básica? Ou trocar os sapatos de salto por um tênis? A criatividade é sem limites. As peças de alfaiataria são confortáveis e práticas, e são mais versáteis do que se pensa.
FOTO:@CLAIREGUILLON
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ALFAITARIA
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MODA
C alça Cargo
e Jogger
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FOTO: @CLAIREGUILLON
Para montar um look mais dramático, o coturno é perfeito. O calçado é associado ao visual militar, porém nada mais divertido que sair do óbvio e apostar em combinações mais coloridas. Pode usar com vestido - fica um high low perfeito -, calça com estampa, até mesmo peças de paetê. E é garantido: sem sentir frio nos pés!
FOTO: @NBAFASHIONFITS
COTURNO
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FOTO: @CLAIREGUILLON
FOTO: @CLAIREGUILLON
Direto dos anos 2000, as calças cargo e jogger são despojadas e confortáveis, e depois da pandemia, conforto virou parte do mundo fashion. Apesar de parecidas, as calça cargo e jogger são diferentes: a calça cargo tem quantidade maior de bolsos, que são quadrados e distribuídos pelas laterais, enquanto a jogger é mais básica, suas características principais são elástico na altura do calcanhar e cordão para amarrar na cintura. As duas são ótimas para deixar um look casual mais fashionista.
FOTO: @CLAIREGUILLON FOTO: @ULTRAMOON
Quentinhas e confortáveis, as peças de tricô podem ser de todas as cores e tamanhos. Combina com looks mais básicos e sóbrios, também mais divertidos e diferentes. Outra ideia é fazer sobreposições, com camisas para office looks, ou usar uma peça de couro para conseguir um visual despojado. Tire aquela blusa que a vovó fez e crie uma combinação diferente!
FOTO: @JU_ROMANO
FOTO: @CLAIREGUILLON
FOTO: @CLAIREGUILLON
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TRICÔ
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MODA
New
Ae s th e ti c s
Nos últimos anos, pelo Instagram, Tik Tok e Pinterest, novos e diferentes estilos surgiram. Mas como identificar e saber o nome deles? Nessa matéria trouxemos três dos estilos que estão em alta nas redes sociais por: Letícia Franco
ilustração: Laura Braga
por
Y2K
FOTOS: @CLAIREGUILLON
E porque não começar pelo mais polêmico? Amada por uns, odiada por outros, a sigla “Y2K” significa “Year 2 Thousand”, traduzida “Anos 2000”. Logo, as referências para esse estilo são peças que marcaram a primeira década do século, a Geração Z está reciclando os looks usados pelos Millenials! Cintura baixa, brilho, óculos grandes, o estilo Y2K é mais exagerado e divertido, esperado para o período pós-pandêmico.
Regencycore A série “Bridgerton” conquistou fãs ao redor do mundo, e além disso, influenciou o reaparecimento de outro estilo: o regencycore! É reference ao período regencial no Reino Unido, mesma época que se passa a série da Netflix. Marcado por corsets, mangas bufantes, pérolas, o regencycore tem ar romântico e elegante. É para se sentir verdadeiramente como uma Bridgerton. FOTOS: @SAMMII.ASH
Preppy
FOTOS: @CLAIREGUILLON
Originado nos anos 70, o estilo preppy remete ao estilo que jovens de famílias classe alta usavam na época: a roupa colegial e esportiva para praticar tênis, polo, golfe, que eram os esportes praticados por essa elite. Hoje, mais associado à moda do que a um lifestyle, o estilo vira tendência pela Geração Z com peças mais despojadas, mas sem abrir mão das saias colegiais, polos e gravatas. Para se inspirar, que tal uma maratona de Gossip Girl - ou assistir ao reboot?
COMPORTAMENTO
Be Cult
Está sem ideias do que assistir, ler ou ouvir? Aqui estão lançamentos do primeiro semestre de 2022 que você por Letícia Franco não pode perder
Heartstopper A série da Netflix é adaptação dos quadrinhos da britânica Alice Oseman e conta a história de Charlie e Nick. Os dois começam a sentar um ao lado do outro na escola e começam uma amizade, mas enquanto Nick é o astro do time de rugby, Charlie é um menino gay e tímido, que saiu do armário há pouco tempo.
REPRODUÇÃO NETFLIX
Ele começa a gostar de Nick, e talvez Nick também goste dele. É uma história emocionante para quem é LGBTQIAP+, além da representatividade, os temas são abordados com leveza e é impossível não se emocionar. A dona Netflix já confirmou que teremos pelo menos mais duas temporadas.
Mano a Mano
O rapper Mano Brown criou um podcast e lançou a primeira temporada em agosto do ano passado na plataforma de steaming Spotify. A segunda temporada estreou em março, e logo no primeiro episódio ele recebe ninguém mais ninguém menos que o Emicida! Os dois dão aula sobre rap, racismo, política e história. Alguns dos outros convidados de outros episódios são: Jojo Toddynho, Kondzilla e a ex-presidente Dilma Roussef.
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REPRODUÇÃO SPOTIFY
Os Rokesbys
Esse não é um lançamento desse ano… Mas é da mesma autora dos Bridgertons, que estreou a segunda temporada no final de março. A história dos irmãos Rokesbys se passa antes dos Bridgertons e é tão encantadora e romântica quanto. No entanto são mais novos, Julia Quinn trouxe personagens femininas fortes e decididas, e os irmãos Rokesbys são apaixonantes. Nos últimos livros, Violet e Edmund aparecem como coadjuvantes e podemos ver um pouco como era a relação de Anthony e Benedict quando eram crianças.
REPRODUÇÃO AMAZON
Inventando Anna Baseada em fatos reais… e outros nem tanto assim, a série retrata a história de Anna Delvey - ou Anna Sorokin (seu nome real) -, uma russa que engana ricos e famosos de Nova Iorque dizendo ser uma herdeira alemã. A história é envolvente, no início você até acredita que
Anna diz a verdade sobre quem é e torce para que tudo dê certo, mesmo quando ela é presa, e isso não é um spoiler. Independente se você a achar culpada ou inocente, a série te faz questionar o mundo dos negócios, que é machista, e o ego enorme da elite nova iorquina.
REPRODUÇÃO NETFLIX
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COMPORTAMENTO
Depois do
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Você sabia que o número plus size começa a partir da numeração 44? Segundo dados da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), o mercado plus size cresce pelo menos 10% ao ano. No entanto, em Dourados, esse cenário é bem diferente
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ecentemente, lojas populares nacionais acrescentaram a linda plus size em suas coleções: Marisa, C&A, Malwee, Renner. No entanto, mulheres plus e mid size douradenses não veem essa novidade refletir no comércio de Dourados. As lojas direcionadas a esse público na cidade vendem peças mais sérias e com preços pouco acessíveis. Mariana Muza tem 23 anos e não se enxerga nessas roupas. “Eu não compro roupa em Dourados porque não tem. O que tem são umas roupas mais sérias. Aqui em Dourados é muito complicado, e eu acabo comprando de lojas na internet”, ela relata. Laryssa Zavarise, de 25 anos, tem o mesmo problema. “As lojas plus size que tem aqui na cidade são exorbitantes, elas são muito caras comparado a lojas que tem para as pessoas magras. Então eu sempre tive muita dificuldade para achar as roupas que eu gostava para a minha idade”, afirmou. As lojas de fast fashion da cidade, como Riachuelo e Renner, também não comercializam a linha plus size de suas marcas. O cenário não é ideal nem para quem as mulheres mid size. Isabella Silveira tem 24 anos e usa 44 a 46. Até os 21, ela usava 42, mas depois de mudar de numeração, precisou adequar o modo que consumia em algumas lojas. “Foi um processo de um ano e meio pra entender que lugar
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por Letícia Franco
eu posso ir sem ter receio de entrar no provador e me sentir mal procurando alguma coisa, porque até perceber isso, você começa a pensar ‘nossa fui de novo provar um short e não serviu, nada fechou’’’, revelou. Iara Cardoso, de 24 anos, também aumentou sua numeração recentemente. Como boa parte das pessoas, ela ganhou peso durante a pandemia. Com a volta dos eventos presenciais, ela foi convidada para um casamento e precisou comprar um vestido de festa. “Quando começou a pandemia eu vestia 40, 42, e agora eu visto 46, então muitas das coisas que eu tinha, eu perdi de roupa”, ela contou. Para achar um vestido do seu tamanho, ela precisou comprar em uma loja plus size, onde tinha a numeração.
Liberdade
Aceitar o próprio corpo é difícil para muitas pessoas, apenas uma pequena parcela da sociedade se encaixa nos padrões impostos pelas redes sociais. Para quem está mais distante disso, o processo de aceitação é mais difícil. Foi com a ajuda da terapia que Mariana parou de odiar seu corpo. “Por muitos anos eu achei que tinha que mudar, que eu tinha que me encaixar, mas é a sociedade que tinha que me aceitar e me abraçar”.
Ela começou a se interessar por moda depois que entrou em um relacionamento amoroso e seu namorado a incentivou. “Ele começou a me mostrar várias coisas que eu não tinha conhecimento, eu fui inserida nisso aos poucos com ele. Ele fala que é o meu stylish, que ele que me veste”, ela contou. Laryssa passou pelo processo inverso: depois de terminar um relacionamento em que seu ex-parceiro não a deixava nem usar saia curta, decidiu vestir tudo o que sentiu vontade, desde crop top a shorts jeans “eu quero ser livre, eu sou livre
“Por muitos anos eu
recido com o meu, passei a me olhar de uma forma diferente, Você não vai conseguir ver beleza em você, se não olhar outra pessoa como um espelho e se identificar”, ela destacou. Uma de suas influencers preferidas é a Ju Romano, justamente por ter o mesmo tamanho de quadril que o seu. Isabella também procura seguir pessoas que contrariam o padrão de beleza do corpo magro, e por isso gosta de acompanhar a Jéssica Lopes. “Ela tem um estilo muito parecido com o meu, de corpo nem tanto porque ela é uma mulher maior, só que ela abrange essa problemática muito bem, sobre a questão de saúde também. Eu acho muito importante a gente falar não só de como a roupa é bonita, mas também de como pode estragar a nossa saúde de certa forma.”, enfatizou.
achei que tinha que mudar, que eu tinha Hora de mudar que me encaixar, mas Iara é a única não douradense das meninas, da região metropolitana de São Paulo, se mudou é a sociedade que em 2016 e enxerga a falta de variedade.”É claque tem muita diferença da oferta de estitinha que me aceitar e ro los e tamanhos, até porque aqui no estado não existe um pólo de indústria têxtil e confecção. me abraçar” Mariana Muza pra usar o que eu quiser, o corpo é meu”, declarou. Ela é influencer nas redes sociais, e no começo, quando era chamada para fazer publi de loja de roupas na cidade, normalmente para promover camisetas, surpreendia: “eu colocava essa t-shirt e fazia um nózinho, as pessoas ficavam surpresas, falavam ‘ela tá usando uma t-shirt de nózinho’. Eu quebrava aquele paradigma, aquela coisa de só camisetão”. A partir desse momento, ela virou referência para outras mulheres. O feed do Instagram faz diferença no processo de aceitação. Mudar suas influências foi outro fator que ajudou Mariana. “Eu passei a ver mais pessoas com corpos reais, com o corpo mais pa-
Muito do que é vendido aqui em Dourados é comprado em São Paulo no Brás ou das marcas que revendem”, observou. Normalmente, essas roupas só chegam até a numeração 40. Investir em uma linha plus size não é barato, donas de lojas que Mariana tem como amigas já comentaram sobre esse interesse, mas, segundo ela, desistem ao entender como é a tabela de tamanhos. “Algumas pessoas esbarram nisso e pensam em fazer até o 48, mas não atende todo mundo, só uma parcela. Quando veem a dificuldade, o pessoal meio que explana.”, ela ponderou.
Como influencer, Laryssa também tem contato com donos de loja que demonstraram esse interesse, mas argumentaram que o público não é tão
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COMPORTAMENTO abrangente. Ela discorda “as pessoas que têm o corpo gordo às vezes acabam vestindo camiseta e legging, por exemplo, porque não conseguem achar uma roupa que elas se sintam bem. Eu entendo que é questão de necessidade”.
Laryssa Zavarise, 25 anos @LARYSSAZAVARISE
Mariana Muza, 23 anos
@AMUZAMARI
@IARA___________
Iara Cardoso, 24 anos @BEBELLAMOR
Isabella Silveira, 24 anos
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CULTURA
Vamos
Balaiar!
FOTO: @OBALAIOFEIRA
Balaio é um cesto grande, usado para guardar e carregar vários objetos. Com a volta gradual dos eventos, o Balaio Feira teve sua 10ª edição após 2 anos de pandemia da Covid-19 por: Letícia Franco
Pela primeira vez depois da pandemia, visitantes e feirantes puderam ficar mais próximos.
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oupas, acessórios, artesanato, comida, as edições da Feira Criativa ‘O Balaio’ são sempre marcadas pela pluralidade de produtos e expositores, e não poderia ser diferente na 10ª edição, que aconteceu nos dias 7 e 8 de maio deste ano. Depois de 4 anos de Balaio, com 2 anos de pandemia no meio, é seguro dizer que a feira hoje se estabeleceu no cenário cultural de Dourados. A primeira edição aconteceu em 2018 a partir da ideia de três amigos artistas independentes que não tinham muitas oportunidades de vender o seu trabalho na cidade. Fernanda Sabô, Gabriela Miura e Raique Moura organizaram a primeira edição da Balaio e convidaram outros artistas para participarem. No início, a feira era no estacionamento do Parque dos Ipês, muito menor comparada com a última edição, mas já chamou a atenção e cresceu a cada edição. A produtora cul-
tural Thays Nogueira integrou o time um pouco depois, e participou das edições mais recentes. A Secretaria Municipal de Cultura (SEMC) reconhece a importância da feira para a cidade. A servidora Andiara Pacco Coquemala acredita que o Balaio pode ser consolidado como uma das maiores feiras de arte e artesanato de Mato Grosso do Sul. A prefeitura sempre apoiou o evento, e está aberta para ajudar a realizar projetos que promovam a cultura local. Em 2022, o sucesso da feira é tão grande que a última edição aconteceu no ‘Jorjão’, Complexo Esportivo Jorge Antônio Salomão, espaço cedido pela prefeitura, com a presença de mais de 200 expositores dos setores de artesanato, botânica, roupas e brechós, artes visuais, alimentação e bebidas, higiene e cosméticos, sebos e serviços. Gabriela Miura, junto dos outros organizadores,
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FOTO: LETÍCIA FRANCO
Parte dos brincos da Olimpio Acessórios estava em promoção na feira.
FOTO: LETÍCIA FRANCO
sempre sonhou que a feira tomasse essa proporção. “Desde o começo a gente sempre teve vontade de fazer uma coisa grande, uma coisa especial, a gente fala que é um passinho de cada vez, então a cada edição a gente vai melhorando, vai conseguindo realizar um sonho”, conta. A escolha dos expositores é feita cerca de um mês antes da próxima edição, e quem tem interesse pode se inscrever por um formulário online disponibilizado na página do Instagram da feira: @obalaiofeira. No entanto, por ser uma feira criativa e para produtores independentes, há regras que devem ser seguidas. A primeira é que os produtos vendidos devem ser feitos à mão, com exceção dos brechós, estes devem ter curadoria e não podem ser de desapego. A segunda regra é a originalidade, os projetos devem inspirar ideias novas e, como terceira regra, também precisam ter qualidade. Por último, é importante manter a comunicação com possíveis clientes, o que significa que as redes sociais devem estar sempre atualizadas. Ainda, é cobrada uma taxa de valor acessível para ajudar nos custos da limpeza, energia e atração musical. Assim que passa o prazo de cadastro, os organizadores se reúnem e selecionam os expositores a partir dos nichos e objetivos da feira. Depois da 10ª edição, já é possível dizer que ‘O Balaio’ tem criado tendências em Dourados. Segundo Gabriela muitas pessoas com vontade de produzir estão se sentindo mais incentivadas a começarem seus projetos. “Eu acho que teve muita gente que começou a produzir coisas para poder participar do Balaio, vejo que hoje em dia tem muito mais gente conseguindo vender arte, por exemplo, que na época que eu comecei éramos só eu e o Raíque que vendiam ilustração”, observa. A feira se tornou local para os produtores independentes de Dourados atraírem novos clientes e ampliarem os contatos. Márcia e Sara Selzler são mãe e filha, e sócio-proprietárias da ‘Olimpo Acessórios’, a primeira loja de Mato Grosso do Sul a fazer acessórios em cerâmica plástica. Foi a terceira vez que elas participaram. “O balaio serve muito pra mostrar o que a gente faz e mostrar coisas diferentes, porque aqui tem muitos expositores e cada um tá trazendo uma coisa diferente do outro, tem como mostrar a sua identidade, e isso é muito importante, ao mesmo tempo a gente cria laços também com outros expositores”, conta Sara.
Os acessórios vendidos pela BEGÊ são parte comprados de fornecedores e parte feitos artesanalmente.
FOTO: LETÍCIA FRANCO
Para achar a arara do brechó Como Se Llama, era só procurar pelo desenho de uma lhama.
Gabriela Beneli é dona da ‘BEGÊ Shop’, uma loja de bijuterias folheadas e banhadas. Ela começou o seu próprio negócio durante a pandemia, quando estava desempregada e sem saber o que fazer. O negócio prosperou, mas por conta da pandemia, Gabriela Beneli teve dificuldade para conhecer suas clientes. “Como a minha loja é só online, elas acabam não me conhecendo pessoalmente, então é uma experiência bem legal as clientes poderem experimentar as peças, e também de conhecer novos clientes”. Outro nicho que teve muito impulso foi o dos brechós com curadoria. Gabriela Miura percebeu que as pessoas estão perdendo o preconceito com roupas usadas, comumente taxadas como ruins ou velhas e decidiu abrir espaço para eles na feira. Tatiane Espindola é dona do brechó online ‘Como Se Llama’, e ela montou a sua loja depois de perceber a facilidade de garimpar peças que outras pessoas gostam. O estilo das peças vendidas pela Tatiane são alternativas e ela não escolhe nenhuma peça por gênero, seus clientes já procuram a sua loja querendo exatamente uma peça de brechó. Esta foi a quinta vez que ela participou do Balaio, e conta que foi o que a ajudou a conseguir pelo menos
metade de seus clientes. “A maior parte das pessoas que eu conheci, tanto de brechó, quanto de cliente, eu conheci pessoalmente mesmo foi no Balaio”. Ana Clara da Costa, dona do brechó ‘Basic 4 You’, vende peças mais básicas. No início era desapego pessoal, até que começou a garimpar em brechós maiores e vender as peças no Instagram. O brechó só conseguiu ser selecionado para expor quando a feira passou a acontecer no ‘Jorjão’, comportando mais expositores. A partir da primeira participação Ana Clara já percebeu progresso nas vendas. “A visibilidade é muito grande, quem vê o movimento resolve parar, já que no Instagram é mais da pessoa buscar você, ou achar por acaso. Mas aqui, pela pessoa estar andando, ela para, olha e compra, por isso o Balaio é incrível”. Mesmo com toda a diversidade de produtos e expositores, Gabriela Miura acredita que ainda há muito a ser explorado no cenário da arte e moda de Dourados e na própria feira, como marcas de roupas autorais - de slow fashion - e jóias em prata feitas à mão. Com o fomento do comércio local na ‘O Balaio’, outras opções se abrem para Dourados explorar novos cenários.
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GIRL BOSS
Acessórios Místicos A Gypsy é uma marca concretizada no mercado de Dourados. Por trás dela está a empresária Letícia Ramos Mussury, uma mulher que teve uma ideia revolucionária e mudou o consumo por: Letícia Franco de bijuterias na cidade
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edras, cristais, maximalismo e muita cor, essas são as características dos acessórios da Gypsy. Ao pensar na marca, logo pensamos no rosto por trás dela, a empresária Letícia Ramos Mussury, de 26 anos. Muito mais que uma loja de acessórios feitos à mão, a Gypsy trouxe para o mercado da cidade acessórios que fogem das joias e semi joias finas e bijuterias baratas. A marca foi oficialmente fundada há 6 anos, como consequência da venda de acessórios que Letícia fazia enquanto cursava Direito na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul). Na época, a estudante vendia semi joias que pouco tinham a ver com as características da Gypsy de 2022. Depois de conversar com uma amiga, as duas criaram uma curadoria e a marca Gypsy, chegando a ter revendedoras em mais quatro cidades do sul do estado. Depois de dois anos trabalhando de porta em porta e recebendo clientes em casa, Letícia decidiu que era o momento de abrir um espaço físico. “Eu ia na casa das clientes, as clientes iam em casa, e isso começou a se tornar algo que não estava sendo legal, tanto pra minha vida pessoal, quanto para profissional, porque eu já não atendia somente pessoas que eu conhecia”, conta Letícia. Desta necessidade de mudança e ampliação
nasceu o ‘Ateliê Gypsy’, um espaço físico pequeno e intimista onde as clientes poderiam ter um atendimento personalizado, com hora marcada. No entanto, no dia da inauguração a demanda de clientes foi muito maior do que o esperado e as proprietárias perceberam que a Gypsy havia se tornado uma loja. Também, já na inauguração do ateliê, cinquenta por cento das peças dispostas para venda
ARQUIVO GYPSY
O Brinco Frida é um dos mais vendidos pela Gypsy.
eram de fabricação própria. “Nós ficamos com receio da quantidade de mercadoria que tínhamos disponível, que eram mercadorias de outros fornecedores, os outros 50%”, expõe Letícia. O que surpreendeu foi o sucesso que os acessórios autorais tiveram, a intenção inicial não era de produzir as peças artesanalmente. A partir desse momento, a Gypsy fortaleceu a produção própria de acessórios, e deu início a outro processo: o da criação. Com muitos erros e acertos, a Gypsy cresceu e em tem seu espaço próprio, a Casa Gypsy, localizado na rua Albino Torraca, número 1740, mesmo endereço da oficina onde são fabricados os acessórios. Com várias coleções e peças que são a identidade da marca, como o brinco Frida, Letícia se tornou a única dona da Gypsy. “Eu sempre fui de pensar fora da caixa, ter percepções diferentes, uma coisa que uso de referência é o desenho do chapéu da história do Pequeno Príncipe, que os adultos enxergam como um chapéu, mas ele desenhou uma cobra que engoliu um elefante”. O sucesso da Gypsy se deve muito ao apoio que Letícia recebeu de outras mulheres. Além do apoio da mãe, a empresária foi aconselhada
por outras mulheres comerciantes de Dourados. Mas a quem Letícia tem muita gratidão são as clientes da Gypsy, chamadas carinhosamente de Gytanas, que confiam no seu trabalho. “Eu vejo muitas clientes que querem comprar um presente para uma amiga e elas, ao invés de comprar em uma franquia grande, optam pela Gypsy, porque é uma marca que elas conhecem, sabem de onde vem, sabem que aqui tem muitas mulheres envolvidas”. Essa é uma prova de que o empreendedorismo feminino tem muito potencial e força. Para se criar uma marca de sucesso é necessário ter ambição, e isso é algo que não falta para a dona da Gypsy. Os próximos passos que ela quer dar com a marca é a criação de um site, para poder fazer venda e envio para todos os estados brasileiro. No entanto, seu maior sonho é tornar a Gypsy uma marca nacional, porém relacionada com a identidade de Dourados. “É como a FARM, logo que você pensa no nome da marca, vem acompanhado de ‘FARM Rio’. Sei que meu sonho vai se realizar quando a Gypsy, em qualquer lugar do Brasil, for citada como: ‘Gypsy Dourados’”.
Os acessórios da Gypsy misturam elementos delicados, pérolas, com lementos mais robustos, como as pedras.
LETÍCIA FRANCO
Letícia usa brinco Frida azul Foto: Arquivo Gypsy
Letícia usa brinco e colar Elefante dourado Foto: Arquivo Gypsy
SoulRa usa min4zik4
FEATURE
mais que cantora
, MC
Raíssa Souza Carvalho, mais conhecida como SoulRa, é artista independente de Dourados e tem muito orgulho de suas raízes. Em ascensão com sua música, virou referência de cantora no estado por Letícia Franco fotos Tatiana Varela
1. Quando você começou a ter vontade de ser cantora?
Eu sempre gostei, desde pequena. Cantei no coral da escola e tocava muito pros meus amigos e na igreja. Mas eu não tinha essa visão de trabalhar com música, de ser algo profissional. Eu cresci ouvindo que eu tinha que estudar, tanto pela questão da representatividade, quanto pela estabilidade financeira. Mas quando me formei em Direito, fui apresentar um trabalho no Congresso de Direitos Humanos em Coimbra, Portugal. Fiquei na casa de um amigo do meu pai, e em uma social em casa, toquei o violão e cantei. Uma amiga dele falou “Por que que você não tá tocando nos bares e vivendo disso?”. Eu percebi então que minha postura mudava, que aquele era o meu lugar de realização, inclusive para trabalhar. Quando eu me formei, fiquei muito aliviada, eu sabia que eu não queria trabalhar com isso. E então eu escrevi À Flor da Pele que é minha primeira música. Expressei ali uma carga muito grande do que eu queria dizer, de várias vivências, não só enquanto mulher negra, mas como trabalhador também.
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2. Como foi em casa depois que você decidiu viver de música? Meus pais não tiveram uma boa recepção. Meu pai é do direito, ele é professor, e foi a educação que transformou a vida dele e da minha família. Eu cresci ouvindo que eu tinha que estudar, tanto nessa questão da representatividade quanto de estabilidade financeira. Foi um choque, foi frustrante. Por isso eu não me permiti começar de maneira amadora, eu já era uma mulher feita, com um diploma na mão, com 22 anos, eu precisava fazer profissionalmente o meu trabalho. Arrumei um emprego que não tinha nada haver nem com a minha faculdade, nem com a minha arte, em uma escola, pra juntar uma grana, produzir meu som, gravar o clipe que eu queria, cuidar de figurino, cuidar de cenário e tudo mais. Eu tive que me provar lá dentro.
3. Qual a importância do rap na sua música? Eu sempre fui da cultura, sempre me identifiquei com o hip hop, foi algo que me norteou na minha caminhada quando eu era criança. E o rap, o funk que eu ouvia na escola, no intervalo, no basquete, na rua, com minha galera da escola, fazia sentido pra mim, pulsava em mim. Então eu sempre amei isso, me sentia muito negona, era empoderador. Ouvir Racionais, Negra Li, eu percebia no meu cotidiano, vivências minhas, da minha família. E eu venho do rap das batalhas de Dourados, foi onde eu comecei a fazer show profissionalmente. Eu gosto de falar que sou MC porque sou rimadora, eu quero carregar isso comigo. É um ativismo meu que as pessoas respeitem os MCs e as MCs, é importante.
onde tocar .Tem que organizar nossos próprios eventos ou se apresentar nos bares de rock, que geralmente abraçam toda cultura alternativa.
5. Qual é a visão que pessoas fora do estado têm de uma artista sul-matogrossense? Lá fora a gente nem é chamado pelo nosso nome certinho,é chamado de Mato Grosso, a nossa capital para eles é Cuiabá, não é Campo Grande, e eu tenho que explicar que não é uma coisa só. Já é uma forma de invisibilizar e não reconhecer a nossa existência. As pessoas têm a visão de que aqui não é muito urbanizado e têm o estereótipo de um estado que tem uma cultura sertaneja muito forte e o agronegócio muito presente. Isso é trabalhado também ideologicamente, reforçado. O que acontece é que o Mato Grosso do Sul é um estado novo que foi povoado por imigrantes de várias regiões do Brasil, inclusive a minha família é Nordestina Não faz sentido a gente querer impor uma monocultura aqui no estado, mas o latifúndio ele tem essa necessidade de fortalecer a monocultura, e não dar margem para outras.
6. O que significa o nome SoulRa?
Eu gosto muito de black, sempre venho com essas referências negras, seja ela brasileira ou não. Raissa é meu nome pessoal, é muito bonito, mas eu queria algo mais impactante, que me desse a oportunidade de ter meu momento Raissa, de me recolher na minha, o SoulRa é uma parada que é pra todo mundo, que é pública. E aí como a música, realmente é uma coisa que eu não separo da minha vida, a soul music pra mim é a melhor música que tem no mundo, tem muita emoção, tem uma das expressões mais bonitas 4. Quais os maiores que é o negro que teve acesso aos instrumentos, é desafios de ser uma um gênero musical que eu amo e dá base pro rap. A artista independente em hora que eu pensei na soul music, pensei no significado em inglês, que é alma. Meu apelido é Ra, e na Dourados? cosmologia kemeti africana, que é o Egito, é o deus A dificuldade maior é ser respeitado aqui dentro messol. Pra mim, o sol é realmente uma força vital. mo. O MS é um estado plural, e a gente é induzido a aceitar uma ideia de monocultura, mas não é a realiComo é o trabalho dade. Quando isso é imposto marginaliza outras artes, 7. não reconhecendo, respeitando, apoiando, não dando burocrático de ser uma artista espaços. Quem é do underground, que é essa cultura independente? alternativa, tem que fazer uma luta muito grande pra ter Tem que saber documentação, saber fazer um proje-
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to, e isso demanda coisas que ninguém imagina. Galera acha que a gente não trabalha. Além disso, tem que entender tudo em um show. Precisa de um repertório, mandar pros músicos. Tem que achar disponibilidade pra todo mundo ensaiar, pagar estúdio para os ensaios. A partir disso, precisa de uma mapa de palco,dizer tudo o que precisa pra equipe técnica de som, colocar tudo o que precisa, até onde precisa ter tomada. Eu tenho que entender de instrumentos que eu nem toco, porque eu tenho que fazer um mapa de palco e uma lista descrevendo tudo. Preciso de um mapa de iluminação, e eu posso pagar pelo serviço também, mas mesmo que você pague, é importante você saber o que você quer. Depois direção de arte do show, direção criativa, para dialogar com o que você quer apresentar. É importante ter um MEI, senão metade do cachê vai em imposto. Depois fundamentar porque o show é importante, apresentar uma proposta, um vídeo para entenderem o que é o show. O portfólio funciona como um currículo. Preciso também do portfólio principal da equipe, meus músicos precisam de comprovação dos anos de atuação. Já tive que arrumar o meu portfólio e de gente da minha equipe. Fora que você tem que estar sempre escrevendo, gravando música, lançando, fazendo clipe, organizando o lançamento, divulgando. O artista faz muito mais do que só cantar, escrever, se apresentar.
8. Como você explicaria o seu estilo?
minhas redes sociais que era todo feito de lacre de latinha, o povo ficou chocado.
9. Quais são as suas maiores conquistas nesses 3 anos de carreira?
Uma é no top 10 do Vans Global Musicians Wanted, que é um concurso global da Vans, voltado para artistas novos ou que estão na caminhada, mas não estão no mainstream. Eu fui a única selecionada da região Centro Oeste e o Criolo compartilhou o meu clipe. Outra é ter dividido o palco com o Djonga no Campão Cultural, um cara que é referência do rap atual nacional, para mim foi como um reconhecimento do meu estado. Também foi muito importante ter me apresentado no aniversário de Mato Grosso do Sul, eu estava ao lado de pessoas que eu respeito muito e simbolizam, sintetizam muito a música sul-matogrossense. Ser tão nova e a única de Dourados significa que a galera daqui conhece e respeita o que eu faço.
10. Quais são as suas próximas metas?
As minhas metas aqui, no estado, antes de partir pra outros lugares, é fazer uma turnê pelo interior. É um projeto que já está escrito, foi submetido e passou pela primeira fase, e não é um projeto barato. Também quero tocar no festival de Bonito. Mas depois de fazer essa turnê e gravar meu primeiro EP, quero morar dois meses em Assunção, no Paraguai. São Paulo é o lugar que eu vou depois disso, sem me desvincular de Dourados, isso é inevitável, a minha base familiar tá aqui. É um lugar que vai me ajudar na logística, eu vou poder ser contratada pelo Brasil inteiro, e as áreas vão ser mais baratas. É muito difícil me contratarem para tocar em qualquer lugar morando no MS, daqui pra qualquer lugar é muito caro, eu vou ter que ter um endereço em São Paulo.
Acho que ele é ousado, e eu não estou muito presa a um gênero, a um estilo. Pra mim a moda, assim como a música, é mecanismo de expressão. Tudo em mim, desde o meu cabelo, unhas, maquiagem, tecidos que me cobrem e meus acessórios, eu vou dizer, e acredito que eu sempre digo sobre ousadia. Eu não consigo me ver básica. Eu sou maloqueira, essa é a linguagem. Eu gosto de trabalhar estéticas que não são vistas como elegante pela moda tradicional, tipo marquinha de fita, coisas da quebrada, estética da funkeira, essa estética que eu acho linda, ela me aflora. Quando eu faço show, pra escolher roupa eu penso no lugar, público, as músicas que eu vou cantar. No Campo Cul- Acompanhe a SoulRa: tural, eu fiz uma roupa toda de lacre de latinha. No palco parecia Swarovski, de tanto brilho que Instagram: @soulra_inha deu com a iluminação. Quando eu postei nas Site: www.soulra.com.br
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SoulRa usa vestido da Miss Dourados 1999
SoulRa usa min4zik4
SoulRa usa min4zik4
SoulRa usa vestido da Miss Dourados 1999
SoulRa usa vestido da Miss Dourados 1999
SoulRa usa min4zik4
SoulRa usa min4zik4
SoulRa usa vestido da Miss Dourados 1999
BELEZA
Brow Lamination Você gosta de sobrancelhas naturais e preenchidas? Se a resposta for sim, você precisa conhecer a técnica da Brow Lamination!
por Letícia Franco
FOTO: ALINE CAMPANO
FOTO: LETÍCIA FRANCO
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O design das sobrancelhas já passou por vários tipos de formatos: arredondado, arqueado, fino. Atualmente, as sobrancelhas perfeitas são as grossas e mais preenchidas. A micropigmentação foi a última febre, mas pra quem não gosta de agulha e prefere naturalidade, a técnica da brow lamination é ideal. Aline Campano é designer de sobrancelhas e uma das pioneiras da brow lamination em Dourados, decidiu se especializar nessa técnica por gostar de resultados mais naturais. “Há muito tempo eu já trabalhei com micropigmentação, e eu não era feliz. Eu acompanho muito o trabalho das russas, e quando a brow chegou na Rússia, aí eu pirei.”, ela revelou. O procedimento é simples e indolor. Aline aconselha a deixar a sobrancelha crescer antes, para ficar mais volumosa e bonita. O produto aplicado é semi químico e tem formol, em proporção bem menor que a de um alisamento. Depois de aplicado, deve agir por dez minutos no máximo, ou corre o risco de quebrar o pêlo da sobrancelha, até mesmo cair. A sobrancelha fica com os pêlos mais lisos e macios, o que dá a facilidade de pentear para cima e cria o efeito de volume. Indicada principalmente para quem tem falhas na sobrancelha, a brow garante hidratação e crescimento dos pêlos. Depois da sessão, Aline dá aos clientes um pequeno kit com hidratante, óleo, pincel de sobrancelha e aplicador. Para durar mais, a indicação é passar o óleo nas sobrancelhas todo dia antes de dormir. A duração é de 60 dias, e você pode voltar para refazer o procedimento. Mas atenção: se você pintar a sobrancelha, não pode fazer a brow. O produto em contato com a água oxigenada pode estragar as sobrancelhas. Aline Campano mudou de cidade durante a montagem dessa revista, a entrevista realizada antes disso. Se fizer a brow, procure um profissional responsável!
ELES
MODA não combina com
preconceito
A moda deixou de ser algo somente do universo feminino. No entanto, em Dourados, homens que gostam do assunto ainda passam por Letícia Franco por julgamentos
N
os últimos anos, muitos artistas e personalidades masculinas estão se destacando no universo da moda. Harry Styles foi o primeiro homem a estampar uma capa da revista Vogue, Kanye West é uma das pessoas mais influentes na moda e jogos de basquete da NBA parecem até um desfile. Eles inspiram pessoas no mundo todo, assim como os jovens douradenses Alison Raidan, Ícaro Franco e Maycon Fujizawa. Alisson é professor de design de interiores na Unigran e gosta de relacionar a moda
com o trabalho ao propor trabalhos de design para seus alunos. Sua paixão pelo tema começou desde criança, quando assistia desenhos na televisão. “Comecei a gostar de moda com Power Rangers, eu gostava da ideia das cores, uniformes e brilho”, ele lembra. Moda sempre foi uma linguagem não verbal. Ícaro, acadêmico na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), também lembra de gostar de moda desde muito novo. “Quando eu tinha os meus dez anos, já gostava de me vestir diferente, eu me atraía
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por estilos que fugiam do padrão”, conta. O processo de Maycon foi mais tardio, depois de fazer 18 anos. Por frequentar a igreja, se reprimia por conta dos valores religiosos. “Minha mãe comprava uma calça reta e eu não conseguia usar, achava feio porque eu queria uma calça skinny, mas eu não conseguia me permitir”, ele lamenta. Em 2018 ele abriu o seu brechó de curadoria e hoje tem espaço físico.
Preconceito
Dourados tem a economia voltada para o agronegócio e isso gera influência no âmbito social. O vestuário masculino na cidade é heteronormativo e padronizado, segrega aqueles que não se identificam. Ícaro sofreu julgamento ainda adolecente, na época que calça colorida era tendência e ele usou para ir à escola “os meninos, principalmente os mais velhos, tiravam sarro, faziam bullying, eu cresci com isso”, relata. No entanto, não o desencorajou a usar o que gosta e o que quer. O cenário não é ideal, mas já foi pior. Maycon sente isso pelo olhar das pessoas, percebe o julgamento, principalmente de outros homens. “Eu percebo quando uso um shorts mais curto ou uma peça mais trabalhada, é um olhar diferente”. Alisson analisa que a visão de moda em Dourados divide o masculino e o feminino. Por não associar moda a gênero, já sofreu algumas dores de cabeça. “Uma vez eu fui em uma loja de departamento, fui provar uma camiseta da sessão feminina, a moça da loja falou que eu tinha que ir para o provador feminino”, revela. Não foi uma situação isolada. Como dono de brechó, Maycon gosta de garimpar peças, nesse processo se atrai mais para a “ala feminina” para o consumo próprio. Suas influências de moda
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@ICAROFRANCO_
são mulheres: Maju Trindade, Nati Vozza, Hailey Bieber e Kendall Jenner. Afirmar que moda não tem gênero ou sexualidade já é cansativo para Alisson, que aponta Kanye West como inspiração “ele trouxe uma moda acessível a todos, eles e elas, ele veste qualquer pessoa, ele vestia a Kim Kardashian”.
pedindo socorro com alguma roupa, eu paro tudo o que eu estou fazendo”, ele brinca. Mais homens estão sentindo necessidade de se vestir melhor, entender como a moda funciona. Traz mais confiança, destaque e expressividade, mas para quem acabou de começar a se interessar pelo assunto, Alisson tem um conselho importante: “é importante usar o que te faz sentir confortável, não use uma peça que você não consegue sustentar”.
Ser estiloso
A moda é uma forma de expressão e Maycon usa isso ao seu favor. Por ser tímido, escolhe suas roupas para demonstrar como está o seu humor “dependendo do dia eu estou mais introspectivo, me visto de um jeito, quando eu mais animado, sou mais criativo, ouso na hora de me vestir”. Seus looks ajudam na autoconfiança. Ícaro é fã de basquete e o esporte tem influência no seu estilo. Colecionador de tênis, mescla história e gosto pessoal quando compra um novo par. “É uma cultura que nasceu com o Michael Jordan, ele é considerado o maior atleta de todos os tempos não só nas quadras, mas por conta de todo o impacto cultural que ele teve”, explica. Alisson gosta de peças icônicas e conhece a história de coleções de grandes marcas. Sua paixão é tanta, que gosta de ajudar a vestir outras pessoas “meus amigos me ligam
@MAYCONFUJIZAWA
@ALISSON_OR
COLUNA
o pós alguma coisa que ainda não sei se já acabou por: Éveli Monique Schaedlerr arte: Laura Braga
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i, Não sei ao certo quantos anos se passaram desde que tive o primeiro medo, também não sei contar direito se foram anos, meses, dias ou séculos. Minha percepção de tempo se embaralhou. Assim como a de vida, amizades, amores, casa, e até mesmo a minha cara no espelho está diferente. Parece que já não sei nada, que desaprendi tudo aquilo que eu já sabia, ou talvez até, que eu nunca soubera mesmo. Me lembro bem quando anunciaram no rádio que também não sabiam: o que era, o que viria, do que exatamente temer ou no que confiar e por quanto tempo. Começaram os anúncios de vendas urgentes: a compra poderia ser feita no tecido, tnt, no material cirúrgico ou mesmo no formato empresarial. O essencial e o mais importante era que se tapasse o sorriso. E tapamos. Por um tempo muito longo que eu já não sei quanto tempo faz, e também não sei ao certo dizer se já acabou. Ouso dizer que não, ainda não acabou. E talvez as dores que fomos construindo dia a dia com muito cuidado, nunca mais irão cessar. Talvez a gente simplesmente aprenda a viver com um buraco no peito. Que horas afrouxa, horas aperta. É claro que já voltamos a fazer inúmeras coisas que nos dão prazer. Um parêntese aqui: esses dias mesmo, me percebi no mercado cheirando amaciante direto da embalagem sabe? Em plena luz do dia. E sem ter medo de ser pega no flagra. Realizando assim um grande sonho pandêmico digno de novela das 6. A vida é boa. Mas as ausências ficaram, não há outubro esperançoso que recupere certas negligencias. A minha casa doí e sangra, por todos os assentos vazios em volta da mesa. Penso aqui agora em todas as mensagens que não enviei e me arrependo eternamente de todas as festas que não fui antes das bombas estourarem. Talvez eu devesse ter aprendido a viver melhor, quando a gente de fato podia viver melhor. Mas agora, me percebo como um bicho do mato, uma onça pantaneira, que desaprendeu a se relacionar com seu meio, a se compreender como ser constituinte de uma coisa muito maior. Não reconheço minha
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imagem. Fiz amizade com Rivotril e com o frontal, mas me distanciei de muitos amigos de longa data. Tive relacionamento sério e transei com o meu aparelho celular. Gritei em silencio. Já não sabia mais o que dizer. Conversei com as paredes do meu quarto, essas me convenceram de que o mundo acabaria amanhã e que por isso, não faria sentido nenhum continuar sendo vegetariana, já que eu gostava tanto de carne. Então comi um bife à parmegiana com fritas, mas a angustia não passou. “A vida é boa e a felicidade existe, e eu sei pois já estive lá.” Eu sempre me dizia isso quando o desespero batia. Era uma espécie de mantra para mim. Nunca havia antes sido tão só, ao mesmo tempo em que estava conjunto com tanta gente. Parei de fumar e substitui o vício por passear pelas prateleiras do supermercado. Decorei a ordem dos produtos e caminhava dia-a-dia a espera de encontrar alguém que não soubesse onde estava o açúcar. Viria aí o início de um romance digno de século 21?
Acho que no fundo eu só queria dizer alguma coisa em voz alta, para ouvir o som da minha voz para além da minha cabeça. Mas esse cenário hipotético nunca aconteceu. A vida estava sem sal. Mas o gosto que o medo tinha na época, é diferente do gosto que a falta faz agora. Virei expert em faxina, fiquei obcecada com lives do Instagram, criei um ranking dos melhores detergentes existentes, comecei a pegar um pouco de sol pela fresta da garagem e passei a odiar as lives do instagram. Isso tudo no mesmo dia, dia esse, que na verdade durou um século. E agora? Tem sido sobre juntar as partículas do que sobrou, tentar re-amarrar os laços que se desfizeram por falta de força. Aprender a desdecorar as prateleiras do mercado, a se refazer como parte do todo e recomeçar de onde eu parei. Voltar ao “normal” é mais difícil do que parece, ainda mais quando o novo normal não passa de uma mera cópia barata da estrutura original. Uma
versão limitadíssima que é cheia de furos. Mas que é o que tem para hoje. E há quem garanta que ainda estamos bem longe dos créditos finais. Por hora, é saber aproveitar quando o álcool em gel disponível é Giovana Baby e não aqueles melequentos que nunca secam. É esperançar, como diria Paulo Freire. É aproveitar a festa da sobrevivência. E não mais esquecer de mandar aquele “eu te amo” pra quem ainda tá junto com a gente nessa. Reparar nos detalhes e confiar que um novo amanhã tão bom e cheio de si, é tão possível de existir quanto uma pandemia mundial de um vírus mortal. Atenciosamente,
tem a d in a e u q m é u Alg ia d m u e d a ç n a r e p es descobrir.
CORA @coradourados revistacoradourados@gmail.com