A representação da questão indígena nos jornais impressos de MS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

A REPRESENTAÇÃO DA QUESTÃO INDÍGENA NOS JORNAIS IMPRESSOS DE MATO GROSSO DO SUL

RAFAEL RONDIS NUNES DE ABREU Campo Grande JULHO / 2013


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

A REPRESENTAÇÃO DA QUESTÃO INDÍGENA NOS JORNAIS IMPRESSOS DE MATO GROSSO DO SUL Monografia apresentada como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul sob orientação da Profª Drª Márcia Gomes Marques.

RAFAEL RONDIS NUNES DE ABREU Campo Grande JULHO / 2013



4 DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a Ñanderu (Deus), aos povos indígenas, aos meus pais e demais familiares, à minha namorada, ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), aos membros do Coletivo Nacional Levante e à minha orientadora.


AGRADECIMENTOS Agradeço à minha orientadora, Márcia Gomes, não só pela imprescindível orientação desta monografia, mas pelas aulas ministradas ao longo do curso de Comunicação – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) que foram fundamentais para a minha formação. Aos indígenas, por todo aprendizado e pela resistência na luta por seus direitos. Aos meus pais, pelo esforço diário e incentivo de me manter na universidade. À minha namorada, Marina Peralta, pela paciência e por ter acompanhado de perto esse momento tão importante da minha vida. À minha irmã, Laís Rondis, pela ajuda. Aos meus amigos e camaradas de organização, Matheus Carneiro de Oliveira, Vinicius Mena Barreto (vulgo Euclides) e Carla Stuermer pela ajuda, paciência e por terem me escutado durante horas sobre a monografia. Ao Coletivo Nacional Levante e ao Movimento Estudantil brasileiro por toda contribuição política de minha formação enquanto individuo coletivo em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Venceremos!


5 RESUMO

Esta monografia analisa a questão da representação da questão indígena nos jornais impressos de Mato Grosso do Sul. Os jornais analisados foram o Estado de Mato Grosso do Sul e o Correio do Estado de Campo Grande e o Progresso e o Diário de Mato Grosso do Sul de Dourados. O período corresponde à pesquisa foi de três (03) de outubro a três (03) de novembro de dois mil e doze (2012), sendo que essa escolha do período foi feita de forma aleatória. Três fatos importantes aconteceram no período: 1) Retomada de terra dos índios da etnia Kadiwéu; 2) Eleições municipais; 3) Divulgação de uma carta que ganhou visibilidade internacional de um grupo de índios da etnia Guarani-Kaiowá que falava da possibilidade de se cometer suicídio coletivo na região de Iguatemi. A questão indígena é um tema polêmico e complexo que pode ser mais bem abordado tanto pelo Jornalismo quanto pela academia. Observa-se que a questão indígena está muito presente no agendamento dos jornais impressos sul-mato-grossense, majoritariamente abordando temas como o Conflito Agrário e o tema Policial. Palavras-chaves: Representação, Conflito Agrário, Questão Indígena, Imprensa.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 07 I - JORNALISMO, CONHECIMENTO E REALIDADE SOCIAL ............................. 09 1.1 O Jornalismo Como Forma de Conhecimento.............................................. 09 1.2 OS Efeitos da Mídia na Construção da Imagem da Realidade Social: A hipótese da Agenda – Setting............................................................................ 13 1.3 Noticiabilidade e o Valor-Notícia: Os Critérios de Seleção e Construção da Notícia................................................................................................................. 18 1.4 As Representações Sociais, Os Estereótipos e A Ideologia da Mídia.......... 22 1.5 A Cultura Profissional, A Ética e A Deontologia............................................ 27 II – JORNALISMO, TECNICIDADE E REALIDADE SOCIAL.................................. 32 2.1 O Jornalismo Investigativo: Técnica e Estratégias Peculiares na Construção do Texto Jornalístico............................................................................................ 32 2.2 As Modificações da Concepção de Identidade e A Definição e O Conceito de Cultura................................................................................................................. 36 2.3 Os Métodos Antropológicos: A Teoria Etnográfica no Jornalismo................. 40 2.4 A Questão Indígena em seu Contexto Político e Cultural.............................. 42 III – DESCRIÇÃO E ANALISE DOS JORNAIS ESTUDADOS............................... 45 3.1 Os Jornais Estudados.................................................................................... 47 3.1.1 O Estado de Mato Grosso do Sul....................................................... 47 3.1.2 O Diário de Mato Grosso do Sul......................................................... 52 3.1.3 O Correio do Estado........................................................................... 56 3.1.4 O Progresso........................................................................................ 59 3.1.5 Comparação entre os jornais estudados.......................................... 64


3.2 Análise dos Dados......................................................................................... 65 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................78 APÊNDICES.............................................................................................................. 83 1. Tabela do Jornal O Estado de Mato Grosso Do Sul.................................83 2. Tabela do Jornal O Correio do Estado......................................................87 3. Tabela do Jornal O Progresso...................................................................90 4. O Diário de Mato Grosso do Sul..............................................................93 ANEXOS..................................................................................................................100 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 121


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INTRODUÇÃO Esta monografia analisa a representação da questão indígena nos jornais impressos de Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, serão analisados os jornais o Estado de Mato Grosso do Sul e Correio do Estado de Campo Grande, o Progresso e o Diário de Mato Grosso do Sul de Dourados. Inicialmente, foram selecionados todos os textos publicados que faziam alguma referência à questão indígena no período correspondente a três de outubro a três de novembro de dois mil e doze, a escolha do período foi feita de forma aleatória. As publicações dos quatro jornais somadas chegaram a cento e dez edições, sendo que cinquenta delas abordavam a questão indígena, com setenta e quatro textos diferentes distribuídos nos cadernos e editorias. Entretanto, foi feito um recorte para a análise dos textos de oito notícias publicadas nos quatro jornais, sendo classificadas em típicas (as que envolviam o conflito agrário) e as atípicas (que fugiam dessa lógica). Os textos analisados são notícias e notas, mas ao longo das publicações também foram encontrados artigos de opinião, coluna, entrevista e editorial. Três fatos importantes aconteceram nesse período: 1) Retomada de terra dos índios da etnia Kadiwéu; 2) Eleições municipais; 3) Divulgação de uma carta que ganhou visibilidade internacional de um grupo de índios da etnia Guarani-Kaiowá que falava da possibilidade de se cometer suicídio coletivo na região de Iguatemi. O porquê desta monografia se dá a partir da necessidade de uma melhor abordagem sobre a violência histórica e diária nas quais estão envolvidas as etnias indígenas em Mato Grosso do Sul. Essa discussão extrapola as barreiras geográficas do estado e os envolvidos no conflito que são os indígenas, os fazendeiros e o estado brasileiro. É uma discussão universal que cria instabilidade e que atinge todas as pessoas mesmo que indiretamente. Portanto, trata-se de uma iniciativa de trazer esse debate tão complexo para dentro da academia, e de defender uma formação diferenciada e específica para o jornalista. Os meios de comunicação de massa muitas vezes legitimam a intolerância e o preconceito. O que é passado é apenas um ponto de vista. O Jornalismo é limitante e


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limitado na abordagem da questão indígena. São três limitações principais: a) subjetiva (que está relacionada à abordagem do próprio jornalista e sua cultura profissional; b) técnica (falta de técnica específica que dê conta de melhor abordar a questão pela sua complexidade); e política (que é a linha editorial e o envolvimento do dono do jornal com os latifundiários). Diante disso, os principais objetivos da análise, são os de tentar suprir de alguma forma as limitações que foram colocadas ao longo desta monografia e que são enfrentadas no dia a dia das redações e mostrar qual a representação da questão indígena nos jornais impressos sul-mato-grossense. Para além dos objetivos principais, existem os específicos, que são o inicio do desenvolvimento de uma pesquisa mais minuciosa sobre a cobertura jornalística referente à questão indígena, extrapolar os horizontes da teoria do Jornalismo e da Comunicação Social, contribuir para melhorar cada vez mais o curso de Comunicação Social / Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e o próprio desafio de fazer uma monografia como Trabalho de Conclusão de Curso. O primeiro capítulo apresenta a discussão do Jornalismo enquanto produção de conhecimento, a questão do agendamento e os critérios de noticiabilidade, a construção das representações sociais e os estereótipos através da ideologia, a cultura profissional do jornalista, a ética e a deontologia. No segundo capítulo é abordada a questão do jornalismo investigativo enquanto técnica, as mudanças de definição de identidade e o conceito de cultura, os métodos antropológicos no jornalismo e a questão indígena e a violação de seus direitos. O terceiro capítulo apresenta a descrição de todos os dados coletados no período correspondente à pesquisa e a analise dos textos selecionados à luz da teoria apresentada nos dois primeiros capítulos. Proponho, para solucionar parte desta limitação, a utilização da técnica do jornalismo investigativo e métodos antropológicos, como por exemplo, a etnografia. Mas, vale lembrar que existem muitos outros elementos a serem explorados tanto no jornalismo quanto nas ciências para que se possa ter uma melhor abordagem da complexa situação dos indígenas de Mato Grosso do Sul.


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I – JORNALISMO, CONHECIMENTO E REALIDADE SOCIAL 1.1 O JORNALISMO COMO FORMA DE CONHECIMENTO Sem dúvida nenhuma o Jornalismo é muito mais que técnica ou atividade intelectual. Ainda que parte dos jornalistas o sugira como solução para os problemas do século XXI, é difícil achar uma definição para o Jornalismo e mais ainda achar um consenso sobre sua definição na Teoria do Jornalismo. Porém, o que nunca pode passar despercebido é a sua capacidade de produzir e reproduzir conhecimento. Na hipótese defendida por Meditsch (1997) o Jornalismo é uma forma de produção de conhecimento, que pode tanto servir para reproduzir determinado saber ou degradá-lo, inclusive, coloca a possibilidade de acontecerem às duas questões ao mesmo tempo. Devido à complexidade do tema admitem-se muitas interpretações que são simplificadas pelo autor em três principais abordagens. A primeira trata o conhecimento como um ideal abstrato a alcançar. Depois que é estabelecido este ideal, ele passa a ser termômetro para julgar todo conhecimento humano produzido. A Ciência é encarada como a única fonte fidedigna e o método científico é aceito como conhecedor e dominador do mundo. Qualquer conhecimento que fuja desta lógica é considerado pouco preciso. Portanto, o Jornalismo não pode produzir conhecimento válido, o que o coloca apenas como contribuinte para a degradação do saber. (MEDITSCH, 1997, p. 1-13) A segunda ainda situa o Jornalismo como uma ciência menor, mesmo não o achando totalmente inútil. O conhecimento não é um ideal, mas um dado da vida humana. Assim, as pessoas estão simultaneamente ligadas às várias espécies de conhecimentos. De acordo com James (apud MEDITSCH, 1997), há um “conhecimento de” que é utilizado no cotidiano e um “conhecimento sobre”, que é sistematizado e produzido pelas ciências. Já para Park (apud MEDITSCH, 1997), existe uma graduação entre estes dois conhecimentos e a notícia apareceria em um nível intermediário. A terceira abordagem surgiu para dar muito mais ênfase para o que o Jornalismo tem de único e original. Não há uma preocupação em dizer se o Jornalismo revela mal ou menos a realidade social, mas sim, que ele revela diferente. Além de ter uma


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maneira diferente de produzir conhecimento também há uma maneira diferente de reproduzir, devido à função de comunicação que lhe é vinculada. O conhecimento vai muito além do que o Jornalismo próprio produz, mas abrange também aquilo que é produzido por outras instituições sociais. Portanto, há uma hipótese que coloca o Jornalismo como reprodutor de um conhecimento mais complexo do que a simples transmissão jornalística no processo da cognição social, ou seja, como produtor e reprodutor de conhecimento. (Ibid., 1997) Para se tornar aceitável esta terceira abordagem, faz-se necessário refletir sobre alguns pressupostos. Na concepção de Paulo Freire (apud MEDITSCH, 1997) o saber não pode ser transmitido, pois o cérebro humano não é uma caixa passível de se depositar conhecimento. Não há uma transmissão de conhecimento, mas sim, o reconhecimento, que implica uma relação de cognição, em que quem “aprende” tem o mesmo papel ativo de quem “ensina”. Ambos não se limitam a produção de um saber que antecede seus atos, mas re-criam esses saberes nos próprios atos de “aprender” e “ensinar”. Assim não há transmissão, mas reprodução. Portanto, na cognição não há um arquivamento ou um registro de informações de quem a recebe, mas um processamento, contextualização e classificação que reconstitui a informação recebida a partir da interpretação e informações prévias sobre determinado tema. Não se pode cometer o equívoco de achar que há uma transferência mecânica da mensagem do emissor para o receptor, por um modelo simples de codificação e decodificação, pois esse pressuposto já foi superado devido ao atual conhecimento do cérebro humano. (DAMÁSIO apud MEDITSCH, 1997) De acordo com Lage (apud MEDITSCH, 1997, p.6) “o Jornalismo descende da mais antiga e singela forma de conhecimento – só que agora, projetada em escala industrial, organizada em sistema, utilizando fantástico aparato tecnológico”. Conforme Genro Filho (apud MEDITSCH, 1997) o Jornalismo como forma de conhecimento difere da percepção individual, já que a imedicidade do real é um ponto de chegada e não de partida. Portanto, o Jornalismo atua através do senso comum, que até pouco tempo era desprezado como forma de conhecimento e negado pela ciência moderna.


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A partir do momento em que houve uma valorização por parte das Ciências Humanas na observação do cotidiano para o estudo das relações sociais, o senso comum começa a aparecer como um dos objetos principais da teoria do conhecimento. (SANTOS apud MEDITSCH, 1997) Os estudos de Berger & Luckmann (apud MEDITSCH, 1997) apontam que o senso comum é uma atitude de cognição natural. Sendo assim, é o conhecimento que é partilhado entre as pessoas na vida cotidiana, que através da cognição natural estabelece uma percepção da realidade como dominância. Ao mesmo tempo em que o Jornalismo se fragiliza por atuar no campo da realidade dominante, ele ganha sua força argumentativa através dela. Ainda na esteira de Meditsch, vemos que: É frágil enquanto método analítico e demonstrativo, uma vez que não pode se descolar de noções pré-teóricas para representar a realidade. É forte na medida em que essas mesmas noções pré-teóricas orientam o princípio de realidade de seu público, nele incluídos cientistas filósofos quando retornarem à vida cotidiana vindos de seus campos finitos de significação. Em consequência, o conhecimento do jornalismo será forçosamente menos rigoroso do que o que qualquer ciência formal, mas em compensação, será também menos artificial e esotérico. (MEDITSCH, 1999, p. 7)

É importante salientar que o senso comum não é tão democrático como sugere o termo. Devido ao fato de um individuo não conhecer tudo o que é conhecido por outros indivíduos, o conhecimento se torna complexo e socialmente repartido. A sua distribuição social ocorre não só em quantidade (quem conhece mais que o outro), mas em qualidade (quem conhece diferente do outro). O conhecimento acaba sendo compartilhado em um “auditório” específico, que causa diferença no modo de conhecimento entre as ciências e o Jornalismo. (Ibid., 1997) Para Vieira Pinto (apud MEDITSCH, 1997) a linguagem formal dos cientistas concede a universalidade ideal de seu auditório. Assim, a linguagem acaba circulando apenas em determinadas redes, gerando uma “incomunicação” crescente entre as diversas linguagens específicas das ciências. Partindo deste princípio, quanto mais as ciências produzem conhecimento, mais estes se tornarão opacos. Nesse sentido o Jornalismo leva vantagem por caminhar em outra direção:


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O auditório universal que idealmente persegue refere-se a uma outra rede de circulação de conhecimento, constituída pela comunicação para devolver à realidade a sua transparência coletiva. É uma universalidade de fato, embora precária, porque só estabelecida institucionalmente de forma indireta e imperfeita, tal e qual o espaço público pressuposto pelo ideal democrático que a precede e a requer. Sua amplitude é também limitada em outra direção, a intenção do emissor na delimitação do universo do público alvo. Mas é na preservação deste auditório ideal que o Jornalismo encontra uma de suas principais justificações sociais: a de manter a comunicabilidade entre o físico, o advogado, o operário e o filósofo. Enquanto a ciência evolui reescrevendo o conhecimento do senso comum em linguagens formais e esotéricas, o Jornalismo trabalha em sentido oposto. (MEDITSCH, 1997, p. 7/8)

Há uma defesa de que o Jornalismo não seria capaz de revelar o novo como a Ciência. Portanto, a novidade apresentada pela notícia é limitada. A argumentação contida na notícia pressupõe que o “auditório” já sabia ou era previsível que soubesse. “Se o avião caiu, é claro que existia o avião e que o avião pertence à categoria das coisas capazes de cair”. (LAGE apud MEDITSCH, 1997, p. 8) Para Meditsch (1997) existe uma diferença na forma que se chega ao novo na Ciência e no Jornalismo. A Ciência se utiliza de diferentes fatos e tenta estabelecer leis na relação que há entre eles. Por outro lado, o Jornalismo tem a função da revelação do fato em si, levando em consideração a sua singularidade e os aspectos que são desprezados pelas ciências. No método científico a hipótese estabelece um corte abstrato na realidade através de variáveis que buscam obter respostas a um questionamento baseado em arcabouço teórico anterior. Já o Jornalismo não parte nem de uma hipótese, nem de um arcabouço teórico anterior. No que tange o corte abstrato, o isolamento de variáveis é substituído pela busca de apreender o fato de todos os pontos de vista relevantes. (Ibid., 1997) O Jornalismo não pode ser considerado uma “ciência mal feita”, porque não é uma ciência. Como forma de conhecimento, o Jornalismo pode revelar aspectos da realidade que passam despercebidos pela metodologia das ciências, mas não pode explicar por si só, aspectos da realidade que ele mesmo se propõe a revelar. (Ibid., 1997)


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Por estar ligado ao senso comum, o conteúdo jornalístico necessita estar ligado a um contexto histórico e cultural, pois só assim adquire sentido. Além de estar subjetivamente ligado ao contexto dos profissionais que participam da produção da notícia (Ibid., 1997, p. 1-13). Portanto, o Jornalismo é uma forma de conhecimento que está historicamente ligada à sociedade capitalista, mas apresenta potencialidades independentes de seu modo de produção. (GENRO FILHO apud ROCHA, 2008) Meditsch (1999) aponta alguns problemas do Jornalismo enquanto forma de conhecimento. A primeira é a falta de transparência, pois a notícia é apresentada como realidade, e não como parte da realidade. Mesmo que o público perceba, é quase impossível ter acesso das tomadas às decisões e os critérios utilizados pelos profissionais e pelas empresas jornalísticas: O modo particular como os jornalistas veem o mundo, passando pelos objetivos, a estrutura e a rotina da organização onde trabalham, as condições técnicas e econômicas para a realização de suas tarefas e, finalmente, o jogo de poder e os conflitos de interesses que estão inextricavelmente implicados na circulação social desta informação. (MESQUITA apud MEDITSCH, 1997, p. 10)

O segundo problema se refere à velocidade que representa uma limitação na apuração da notícia, mas que por outro lado representa uma vantagem em relação a outros modos de conhecimento. A terceira é a espetacularização como característica da notícia devido a não obrigatoriedade que o “auditório” tem na leitura do texto jornalístico, diferente dos textos científicos. Assim, a utilização de elementos dramáticos para chamar a atenção se torna quase que uma regra com o objetivo de chamar a atenção do leitor. O problema se intensifica quando estes elementos são utilizados para uma função não cognitiva, como a luta por audiência e o esforço político de persuasão. (Ibid., 1997) O Jornalismo não é ciência, mas como colocado, é capaz de produzir conhecimento. A utilização de um ou mais métodos na produção da notícia pode dar muito mais qualidade e precisão para o texto jornalístico. 1.2

OS EFEITOS DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DA

REALIDADE SOCIAL: A HIPÓTESE DA AGENDA-SETTING


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Os efeitos causados pelas mídias e a forma como é construída a imagem da realidade social, representam um dos mais complexos e significativos temas a serem debatidos pelos estudiosos dos meios de comunicação de massa das mais variedades áreas. Para isso é necessário entender que esses dois temas estão ligados, e as questões que possam ser enfrentadas por um, serão utilizadas no outro e vice-versa. (WOLF, 2005, p. 138-180) O efeito deve ser entendido como cognitivo, isto é, conhecimento do indivíduo devido ao seu consumo de comunicações de massa. Há também uma mudança na questão temporal, que descarta os efeitos pontuais que se prendiam à exposição de cada mensagem, para efeitos cumulativos que são construídos durante o processo comunicacional (Ibid., 2005). Portanto, o entendimento é de que “as comunicações não intervêm diretamente no comportamento explícito; de preferência, tendem a influenciar o modo como o destinatário organiza a própria imagem do ambiente”. (ROBERTS apud WOLF, 2005, p.138) Os efeitos cumulativos (exposição cotidiana, normal e continuada) abandonam o modelo transmissível da comunicação por outro modelo baseado na significação. Com isso, as mídias desenvolvem uma função de construção da realidade e ajudam a “estruturar a imagem da realidade social durante o longo período, a organizar novos elementos dessa imagem, a formar novas opiniões e crenças”. (ROBERTS apud WOLF, 2005) Segundo Noelle Neumman, não estamos mais no campo dos efeitos intencionais ligados a um contexto de comunicação limitada no tempo e caracterizada por objetivos que visam obter tais efeitos: passamos agora para efeitos em certa medida latentes, implícitos no modo como determinadas distorções na produção das mensagens se reverberam no patrimônio cognitivo dos destinatários. Hoje, no centro da problemática dos efeitos, coloca-se, portanto, a relação entre a ação constante dos meios de comunicação de massa e o conjunto de conhecimentos sobre a realidade social, que dá forma a uma determinada cultura e nela age dinamicamente. (NEUMANN apud WOLF 2005, p. 142)


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Em suma, os meios de comunicação “estabelecem as condições da nossa experiência do mundo além das esferas de interações nas quais vivemos”. (FISHMAN apud WOLF, 2005, p. 143) A evolução desse paradigma está ligada a hipótese da agenda-setting, pois em consequência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público é ciente ou ignora, dá atenção ou descuida, enfatiza ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas tendem a incluir ou excluir dos próprios conhecimentos o que a mídia inclui ou exclui do próprio conteúdo. Além disso, o público tende a conferir ao que ele inclui uma importância que reflete de perto na ênfase atribuída pelos meios de comunicação de massa aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas. (SHAW apud WOLF, 2005, p. 143).

Além de que, a hipótese da agenda-setting não sustenta que a mídia tenta persuadir [...]. Descrevendo e precisando a realidade externa, a mídia apresenta ao público uma lista de fatos a respeito dos quais se podem ter uma opinião e discutir [...]. A asserção fundamental da agenda-setting é que a compreensão das pessoas em relação a grande parte da realidade social é modificada pelos meios de comunicação de massa”. (SHAW apud WOLF, 2005, p.143).

Como afirma Cohen, se é verdade que a imprensa “pode não conseguir, na maior parte do tempo, dizer às pessoas o que pensar, por outro lado ela se encontra surpreendentemente em condições de dizer aos próprios leitores sobre quais temas pensar alguma coisa”. (COHEN apud WOLF, 2005, p.143-144) Segundo Roberts, à medida que o destinatário não é capaz de controlar a exatidão da representação da realidade social, com base em algum padrão externo à mídia, a imagem que ele forma para si mesmo mediante essa representação acaba por ser distorcida, estereotipada ou manipulada. (ROBERTS apud Wolf, 2005, p. 144)

Nesse sentido, Wolf (Ibid., 2005) destaca que a hipótese da agenda-setting coloca o problema de uma continuidade em nível cognitivo entre as distorções que se originam nas fases de produção da informação e os critérios de relevância, de organização dos conhecimentos que os usufruidores de tal informação assimilam e tornam seus.


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Não se pode esquecer que “os meios de comunicação de massa fornecem algo que é mais do que simplesmente certo número de notícias. Eles fornecem também as categorias em que os destinatários podem facilmente situá-las de modo significativo”. (SHAW apud WOLF, 2005, p.145) A hipótese de agenda-setting traz as experiências vividas pelos indivíduos e os conhecimentos e interpretações apresentados pelos meios de comunicação de massa na construção da realidade social. Nas sociedades industriais de capitalismo maduro, seja por causa da diferenciação e da globalização social, seja também devido à função central dos meios de comunicação de massa, tem ocorrido um aumento da presença de fatias e “pacotes” de realidade que os indivíduos não provam diretamente nem definem interativamente na vida cotidiana, mas que “vivem” exclusivamente em função ou por meio da mediação simbólica dos meios de comunicação de massa. (GROSSI apud WOLF, 2005, p.145).

Na visão de Wolf (Ibid., 2005) essa questão se configura em dois níveis: a) a “ordem do dia” dos temas e b) a hierarquia e a prioridade de como esses elementos estão colocados na “ordem do dia”. Sobre a questão da hierarquização Donald Shaw apresenta que, os acontecimentos ou os temas públicos importantes, por parte de um indivíduo, assemelha-se à avaliação dos mesmos problemas praticada pela mídia, mas apenas se a agenda dos meios de comunicação de massa for medida em relação a um período longo, como um efeito cumulativo. (SHAW apud WOLF, 2005, p.146)

É importante destacar que a questão do efeito cumulativo e temporal aparece até mesmo na hierarquização do que será apresentado como prioridade a ser discutida e a ser construída como realidade pelo destinatário. Não bastando simplesmente serem apresentados de forma hierárquica, os textos e os temas são constantemente colocados na “ordem do dia” para que haja algum efeito cognitivo. Wolf (Ibid., 2005) destaca que a capacidade de agenda-setting dos meios de comunicação de massa deve ser situada segundo a modalidade específica de cada meio e a sua capacidade ou incapacidade de gerar esse efeito. Wolf (2005) também levanta a questão da omissão e da não-cobertura, e até mesmo de uma cobertura mais branda ou prejudicada por várias circunstâncias em todos os meios.


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Shaw (apud WOLF, 2005, p. 152) afirma que “a pesquisa em agenda-setting reconhece que os atributos psicológicos e sociais dos eleitores determinam o seu uso político dos meios de comunicação de massa” e também que: a agenda-setting reconhece a importância dos contatos interpessoais ao determinar o impacto definitivo do conteúdo da mídia no público. A agenda-setting usa os fatores interpessoais para ajudar a explicar as condições nas quais os efeitos de agenda-setting são mais pronunciados. (SHAW apud WOLF, 2005, p. 152)

A hipótese da agenda-setting é de que existe certa eficiência na construção da imagem da realidade que o destinatário estrutura de acordo com a totalidade de informação que ele organizou e acumulou durante o consumo dos meios de comunicação de massa. Não só através dos meios, mas também de seus valores e crenças que foram construídos e estruturados ao longo de sua vida. Os meios de comunicação de massa e a própria comunicação entra como parte do processo, afirmando assim, o caráter processual da comunicação e a capacidade de construir novos significados ou até mesmo afirmá-los. Portanto, “a formação da agenda do público torna-se o resultado de algo muito mais complexo do que a “simples” estruturação de uma ordem do dia de temas e problemas por parte da mídia”. (Ibid., 2005) Com isso, parece existir “uma tendência à persuasão temperada pela persistência: as opiniões pessoais dos destinatários parecem agir no sentido de integrar a agenda subjetiva com a proposta pela mídia”. (Ibid., 2005) Deve-se levar em consideração que “quanto menor for a experiência direta das pessoas em relação a uma determinada área temática, mais ela dependerá da mídia para obter as informações e os quadros interpretativos relativos àquela área”. (ZUKER apud WOLF, 2005, p.155) Essa consideração deve servir não apenas para os leitores dos jornais, mas também para os jornalistas que escrevem as matérias. A hipótese do agendamento é central para entendermos quais temas aparecem na ordem do dia dos jornais e qual contribuição os meios de comunicação querem dar para a construção da noção de realidade dos indivíduos. Por isso, é necessário observar o porquê de alguns temas serem mais importantes que outros nas publicações dos jornais.


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NOTICIABILIDADE E O VALOR-NOTÍCIA: OS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

E CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA O fato se torna notícia através de determinados critérios de relevância, que definem a sua noticiabilidade. Esta nada mais é, que a capacidade dos acontecimentos de adquirir destaque suficiente para que ocorra à existência pública da notícia. Para isso acontecer deve ser cumprida uma série de requisitos que dizem respeito à estrutura do trabalho nos aparatos informativos e ao profissionalismo dos jornalistas. (WOLF, 2005, p. 181-228) De acordo com Traquina (2008, p. 79-94), a noticiabilidade pode ser entendida como um conjunto de valores que definem se o acontecimento é susceptível de virar notícia ou não. Wolf (Ibid., 2005) destaca também o conjunto de critérios, operações e instrumentos com que se deparam os aparatos informativos na escolha cotidiana de um número imprevisível e indefinido de acontecimentos, que serão transformados em uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias. Ainda segundo Wolf (Ibid., 2005), o conjunto de fatores que definem os acontecimentos que vão se tornar notícias permite, por um lado, a realização cotidiana da cobertura da informação e, por outro, dificulta o aprofundamento de vários fatores significativos dos fatos por serem apresentados como notícia. Portanto, há uma distorção mesmo que involuntária na cobertura da informação dos meios de comunicação de massa. Em suma, os critérios de noticiabilidade representam um conjunto de elementos através do qual os aparatos informativos controlam e administram a quantidade e que tipo de acontecimento será selecionado e utilizado para construir as notícias através do seu valor-notícia. Este valor-notícia pode ser entendido comoo componente da noticiabilidade que representa a resposta da seguinte pergunta: “quais acontecimentos são considerados suficientemente interessantes, significativos, relevantes, para serem transformados em notícias?”. (WOLF, 2005, p. 202) De acordo com Bourdieu (apud TRAQUINA, 2008) os jornalistas têm seus próprios óculos e através deles enxergam certas coisas e deixam de ver outras, e


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quando enxergam alguma coisa, é de certa maneira. Isso significa que há uma seleção e uma construção do que é selecionado. Wolf (apud TRAQUINA, 2008) destaca que os valores-notícia estão ao largo de todo processo da produção jornalística. Isso significa que fazem parte do processo de seleção dos acontecimentos e do processo de elaboração e construção da própria notícia. Portanto, existe uma distinção entre valores-notícia de seleção e os valoresnotícia de construção. Os valores notícia de seleção são os critérios utilizados pelos jornalistas na seleção dos acontecimentos e embasam a decisão sobre qual acontecimento se transformará em notícia. Os valores-notícias de seleção de subdividem em dois subgrupos: a) critérios substantivos e b) critérios contextuais. (WOLF apud TRAQUINA, 2008) Para Wolf (Ibid., 2005) os critérios substantivos se articulam na importância e no interesse da notícia. É, portanto, necessário explicar a aplicação operativa dos dois fatores, afinal, dizer que uma notícia é escolhida por ser importante ou interessante é muito pouco. Para a importância existem quatro variáveis no que tange a aplicação operativa. A primeira é o grau e o nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável. Segundo Galtung-Ruge (apud WOLF, 2005, p. 208) “quanto mais o acontecimento interessar às nações de elite, maior será sua probabilidade de se tornar notícia”; “quanto mais o acontecimento interessar as pessoas de elite, maior será a probabilidade de se tornar notícia”. (GALTUNG-RUGE apud WOLF, 2005, p. 208) O grau de poder institucional, a sua relevância de outras hierarquias não-institucionais, a visibilidade, a extensão e o peso social e econômico dessas organizações são fatores que definem operativamente o valor-notícia. Para Gans (apud WOLF, 2005) o fato de o critério se sobrepor às fontes, favorece o uso de fontes oficiais e de grau elevado.Lembrando que não há simplesmente uma racionalização na escolha dessas fontes, mas sim um comportamento autônomo e determinante na noticiabilidade. A segunda é o impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional. Estes representam os acontecimentos e a potencialidade de influir ou incidir sobre os


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interesses do país. Para Galtung-Ruge (apud WOLF, 2005), o acontecimento deve ser significativoe, portanto, interpretável dentro do contexto cultural do ouvinte ou do leitor. A proximidade também é um fator determinante no valor-notícia, seja como questão geográfica ou cultural. Na questão cultural essa proximidade é determinada pelos eventos pertencerem ou não à esfera normal de experiência tanto dos jornalistas quanto do seu público. Há também a questão geográfica, que pode ser distorcida pelos mecanismos de coleta das notícias. É muito difícil cobrir os acontecimentos da África, onde há muitos Estados, pois poucos possuem infraestrutura política e social para se produzir notícia. (Ibid., 2005) A terceira é a quantidade de pessoas que o acontecimento envolve. De acordo com Gans (apud WOLF, 2005) os jornalistas atribuem um grau de importância maior quando o fato diz respeito a muitas pessoas e quanto mais elevado for seu número. Golding-Elliott (apud WOLF, 2005) complementa que quanto maior for o número de pessoas envolvidas num desastre ou caso haja “nomes importantes” envolvidos, maior é seu valor-notícia. Há uma correlação direta entre a afinidade cultural e a distância. Porém, um evento que envolve um número limitado de pessoas, mas ocorre nas proximidades, é mais noticiável do que o mesmo tipo de evento que envolve muito mais vítimas, mas que ocorre em local mais distante. (Ibid., 2005) A quarta é a relevância e significatividade do acontecimento em relação aos desenvolvimentos futuros de uma determinada situação. São acontecimentos que tem a sua duração prolongada. Gans (apud WOLF, 2005) elenca categorias que identificam esse quesito de noticiabilidade: a) histórias de pessoas comuns que passam a agir em situações insólitas, ou histórias de homens públicos observados em sua vida privada cotidiana; b) histórias em que há uma inversão de papéis (“o homem que morde o cão”); c) histórias de interesse humano; d) histórias de feitos excepcionais e heroicos. (Ibid., 2005) TRAQUINA (2008, p. 79-94) estabelece onze critérios de noticiabilidade: a) morte; b) notoriedade (o quanto o autor é notável); c) proximidade (geográfica ou cultural); d) relevância (acontecimento que causa impactos na vida das pessoas); e) novidade (o interesse pela “primeira vez”); f) tempo (questão da atualidade da notícia); g) notabilidade (ser visível ao público ou até mesmo tangível); h) inesperado (o que


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surpreende a comunidade jornalística e subverte a rotina); i) conflito e controvérsia (a violência física ou simbólica, e também a disputa política); j) infração (violação da regra); l) escândalo. Os critérios contextuais são os que dizem respeito ao contexto do processo de produção da notícia a não à característica do tipo de acontecimento. (WOLF apud TRAQUINA, 2008) O

primeiro

valor-notícia

de

seleção

nos

critérios

contextuais

é

a

disponibilidade, que é a facilidade de fazer a cobertura de determinado acontecimento, já que as empresas jornalísticas têm recursos limitados. (Ibid., 2008). O equilíbrio, como sendo a quantidade de notícias sobre determinado acontecimento ou assunto que já existiu há pouco tempo no material informativo da empresa jornalística. (Ibid., 2008) A visualidade, que é a existência de elementos visuais, como por exemplo, fotografias ou filme. Um bom material visual é determinante na seleção de um acontecimento como notícia. (Ibid., 2008) A concorrência também é outro critério determinante, pois as empresas jornalísticas não funcionam no vazio, elas tem seus concorrentes. Todas as empresas jornalísticas são concorrentes, porém cada uma tem seu concorrente direto. Os jornalistas e as empresas procuram situações que a concorrência não explore, o que também é uma questão de exclusividade. (Ibid., 2008) O último valor-notícia de seleção desse subgrupo (critérios contextuais) é o dia noticioso.

Todo dia é um dia diferente para o jornalismo, pois há dias ricos em

acontecimentos com valor-notícia e outros dias pobres em acontecimentos com valornotícia. Por isso existem dias em que acontecimentos com pouca noticiabilidade conseguem ser notícia de primeira página. Os valores-notícia de construção são os critérios de seleção dos elementos do acontecimento que estarão no processo de elaboração da notícia. (Ibid., 2008) O primeiro valor-notícia de construção é simplificação. Este significa que quanto mais o acontecimento for desprovido de ambiguidades e de complexidade maior é a possibilidade da notícia ser compreendida.


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A amplificação do acontecimento aumenta a possibilidade do mesmo ser notado pela própria amplificação do ato, do interveniente ou das supostas consequências do próprio ato. (Ibid., 2008) A relevância do acontecimento e sua capacidade de fazer “sentido” e ter significado na vida das pessoas. A personalização, que é a acentuação do fator pessoa, portanto a valorização das pessoas envolvidas no acontecimento. A dramatização, que funciona como reforço dos aspectos mais críticos, o lado emocional e a natureza conflitual. (Ibid., 2008) Por último vem à consonância. Quanto maior a notícia se insere a um acontecimento já estabelecido, maior a possibilidade da notícia ser notada. Portanto, a notícia deve ser interpretada em um contexto já conhecido, pois esta corresponde à expectativa do receptor. (Ibid., 2008) O valor-notícia e os critérios de noticiabilidade são fundamentais para que se torne possível entender quais critérios são utilizados pelos jornais para que um fato se torne notícia. Mesmo que haja vários critérios para um fato se tornar notícia, não significa que ele aparecerá nas páginas dos jornais no dia seguinte. Se esses critérios realmente existem, por que é que apenas alguns fatos se tornam notícia? É uma pergunta de difícil resposta. Mas, talvez mais importante do que tentar entender o porquê de determinados fatos não se tornarem notícia - mesmo que se encaixem nos critérios de noticiabilidade e nos valores notícia - é entender de que forma e em quais circunstâncias esses determinados fatos se tornam notícias. 1.4

AS

REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS,

OS

ESTEREÓTIPOS

E

A

IDEOLOGIA DA MÍDIA Com o tempo os meios de comunicação de massa transformam o não familiar em conhecido, os conceitos em imagens, as ideias em representações. A significação dessas imagens em ideias e dessas ideias em imagens é feita através das representações, que foi teorizada por Serge Moscovici, com base nos fundadores das ciências sociais na França, especialmente em E. Durkheim.


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Ainda que Moscovici tenha evitado conceituar a representação social, procurou constantemente torná-la clara, baseado no conceito de “representação coletiva” de Durkheim. (SANCOVSCHI, 2007, p. 1 - 8). Em suas palavras: É óbvio que o conceito de representações sociais chegou até nós, vindo de Durkheim. Mas nós temos uma visão diferente dele – ou, de qualquer modo, a psicologia social deve considera-lo de um ângulo diferente – de como o faz a sociologia.(MOSCOVICI, 2011, p.45)

De acordo com Duveen (apud SANCOVSCHI, 2007, p. 1- 8), Durkheim tratou as representações coletivas ao longo de sua teoria, como formas estáveis de compreensão coletiva, enquanto Moscovici explorou as variações e as diversidades de ideias coletivas nas sociedades modernas, na qual essas diferenças refletem uma desigualdade de poder, que gera uma gama de representações heterogêneas. Para Sancovschi (Ibid., 2007), Moscovici busca no desenvolvimento de seu estudo entender como o senso comum se apropria dos conhecimentos gerados nas mais variadas áreas, conferindo sentido através das criações de representações sociais. Embora se estabeleça distinção entre o conhecimento científico e o senso comum, Moscovici não estabelece nenhuma hierarquia entre os dois, mas defende que o senso comum não se trata de um conhecimento distorcido, mas que este transforma os conteúdos científicos em explicações práticas sobre a realidade social, produzindo redes de comunicação e tornando a sociedade viva. A substituição do termo “coletivo” para “social” se deu para enfatizar a distinção entre o sentido clássico das representações coletivas, que se constitui através de um instrumento explanatório e se referem a uma cadeia completa de formas intelectuais que incluíam a ciência, mito, religião, modalidades de tempo, espaço, etc; da necessidade de se tratar, descrever e explicar esses fenômenos de forma específica e diretamente relacionada com o modo particular de compreender e de se comunicar. (MOSCOVICI, 2011, p. 45 - 49) Qualquer tipo de crença, emoção ou ideia que aparece em determinada comunidade é incluído nas suas formas intelectuais. Isso representa um problema sério, pois querer compreender tudo é perder tudo. Dessa forma, é impossível compreender um número grande de acontecimentos e crenças, pois eles são


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demasiadamente heterogêneos, além de não poderem ser definidos por poucas características gerais. (Ibid., 2011) As representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o que nós já sabemos. Elas ocupam, com efeito, uma posição curiosa, em algum ponto entre conceitos, que têm como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem e percepções, que reproduzam o mundo de uma forma significativa. Elas sempre possuem duas faces, que são interdependentes como duas faces de uma folha de papel: a face icônica e a face simbólica. Nós sabemos que: representação = imagem/significação; em outras palavras, a representação iguala toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem. (MOSCOVICI, 2011, p. 46)

Porém, deve ser levado em conta que na maioria das vezes antes de ver alguma imagem, a representação desta já está definida, já que a cultura a definiu, o que confirma a tendência de o indivíduo perceber aquilo que anteriormente foi captado de forma estereotipada. O que imagina ser o relato de um fato, na verdade é sua transfiguração. (LIPPMAN, 2008, p. 83 - 102) Pouco do que o individuo tem em sua consciência foi meramente dado, a grande maioria dos fatos foram criados por meio de suas relações tanto com a natureza, o meio em que vive e a sociedade. Portando, um relato é produto do conhecedor e do conhecido - que é sempre seletivo e criativo. Nesse sentido, o que o indivíduo vê depende de onde este está posicionado e do hábito que os olhos deste indivíduo observam. (Ibid., 2008) Se não podemos compreender completamente os atos de outras pessoas até que conheçamos o que elas pensam, então para fazer justiça temos que apreciar não somente a informação que tem estado à sua disposição, mas as mentes através das quais as informações foram filtradas. (LIPPMAN, 2008, p. 88)

A rapidez com que as relações humanas se estabelecem na modernidade gera também o distanciamento físico vital para a relação dos indivíduos. Com a falta de tempo, falta também a oportunidade de os indivíduos conhecerem intimamente os sujeitos com quem se relacionam todos os dias.

A consequência disso é que se

observa apenas um traço que marca algo muito conhecido, e o resto da imagem que se constrói é preenchida por estereótipos carregados na consciência. (Ibid., 2008)


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As mais sutis e difundidas de todas as influências são aquelas que criam e mantêm o repertório de estereótipos. Conta-nos sobre o mundo antes de nós o vermos. E estas pré-concepções, a menos que a educação tenha nos tornado mais agudamente conscientes, governam profundamente todo o processo de percepção. Eles marcam certos objetos como familiar ou estranho, enfatizando a diferença, de forma que o levemente familiar é visto como muito familiar, e o de alguma forma estranho como profundamente alienígena. (LIPPMAN, 2008, p. 92)

Ao se deparar com as situações, pequenos sinais que inundam a visão de imagens antigas são estimulados, projetando o mundo através da memória. A necessidade de economizar atenção é inevitável por parte do indivíduo, e é por isso que a renúncia total aos estereótipos consegue empobrecer a vida humana. O que mais interessa no falar estereotipado é o seu caráter e a forma com que este é empregado. (Ibid., 2008) As fotografias têm o tipo de autoridade sobre a imaginação hoje, da mesma forma que a palavra impressa tinha ontem, e a palavra falada tinha antes ainda. Elas parecem completamente reais. Nós acreditamos que elas vieram diretamente a nós sem a intervenção humana, e elas são o alimento imaginável da mente que menos esforço demanda. Qualquer descrição em palavras, ou mesmo em imagem inerte, requer um esforço de memória antes que a imagem possa existir na mente. Mas na tela todo o processo de observar, descrever, reportar, e então imaginar, é feito para você. Sem qualquer outro problema, a não ser o de estar desperto o resultado que sua imaginação está sempre buscando é apresentado na tela. (LIPPMAN, 2008, p. 93)

Os sistemas de estereótipos de alguém na maioria das vezes são a essência da sua tradição pessoal e as defesas de sua posição diante da sociedade. A imagem de mundo é ordenada, e é onde os hábitos, gostos, capacidades, confortos e esperanças se agrupam. Por isso, uma imagem pode não ser a visão completa de mundo, mas uma imagem de mundo possível onde é constantemente adaptada pelos sujeitos (Ibid., 2008). Dessa maneira são construídos os “sistemas de representação” compostos de conceitos, ideias, mitos e imagens, no qual os indivíduos vivem suas relações imaginárias com as reais condições de existência. (ALTHUSSER apud HALL, 2008, p. 169)


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Nesse sentido, os sistemas de representação, que servem para dar significado a visão de mundo para os indivíduos, transformam a ideologia em um caráter essencialmente discursivo e semiótico. Por ideologia eu compreendo os referenciais mentais – linguagens, conceitos, categorias, conjunto de imagens do pensamento e sistemas de representação – que as diferentes classes e grupos sociais empregam para dar sentido, definir, decifrar e tornar inteligível a forma como a sociedade funciona. (HALL, 2003, p.250)

A ideologia pode ser tanto um processo de representação quanto um processo de figuras e ideias. Pode-se concluir então, que através de um conjunto de representações uma ideologia dominante pode ser fixada. Sendo assim, as ideologias da cultura da mídia devem se analisar a partir de um contexto de luta social e disputa política. (KELLNER, 2001, p. 77 - 86) Quando as pessoas percebem que a cultura da mídia transmite representações opressivas de classe, raça, sexo, sexualidade, etc. e também percebem a sua capacidade de influenciar pensamentos e comportamentos, a tendência é que haja um distanciamento crítico em relação aos produtos midiáticos; e assim aumenta a possibilidade de adquirir “poder” sobre a cultura em que vivem. (Ibid., 2001) A ideologia pressupõe que “eu” sou a norma, que todos são como eu, que qualquer coisa diferente ou outra não é normal. Para a ideologia, porém, o “eu”, a posição da qual a ideologia fala, é (geralmente) a obra do branco masculino, ocidental, de classe média ou superior; são posições que veem raças, classes, grupos e sexos diferentes dos seus como secundários, derivativos, inferiores e subservientes. A ideologia, portanto diferencia e separa grupos em dominantes/dominados e superiores/inferiores, produzindo hierarquias e classificações que servem aos interesses das forças e das elites do poder. (KELLNER, 2001, p. 83)

Portanto, a ideologia é parte de um sistema de dominação que aumenta a opressão e legitima forças e instituições que oprimem e reprimem. Na cultura da imagem dos meios de comunicação de massa, as representações constroem a visão de mundo, de identidade e de sexo de um individuo, formando estilos e modos de vida, além de pensamentos e posições políticas. (Ibid., 2001)


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É como produto da interação, da comunicação e do equilíbrio específico desses processos de influência social que as representações sociais tomam sua forma, confirmando assim, a relação sutil entre representações e influências comunicativas. (MOSCOVICI, 2011, p. 45 - 49) Os jornais são responsáveis diariamente, através da ideologia, por construir ou reconstruir, transmitir ou retransmitir representações de forma estereotipada. Quanto menor for o conhecimento de um individuo sobre uma determinada coisa (ou até mesmo o seu desconhecimento), maior será a possibilidade de esse vazio ser preenchido, possivelmente sem críticas, pelos discursos dos meios de comunicação de massa. Todos esses elementos devem ser levados em consideração antes que se trate como “verdade” tudo o que é publicado pela mídia. Não se pode esquecer que para além do trabalho jornalístico há a linha editorial do jornal, que é pura ideologia e serve a determinados interesses que na maioria das vezes são econômicos e políticos. 1.5

A CULTURA PROFISSIONAL, A ÉTICA E A DEONTOLOGIA

Assim como em todas as outras profissões, os jornalistas também têm a sua própria cultura profissional diferente de todas as outras. Isso não significa que são melhores que alguém ou que a sua profissão é mais importante que outra qualquer. A cultura profissional está diretamente relacionada com a sua maneira peculiar de agir diante dos fatos, sua rotina dentro das redações e de como se sair dos dilemas éticos, morais e de ontológicos presentes no cotidiano de sua profissão. Não podemos desconsiderar que a cultura profissional do jornalista é uma cultura rica em mitos, símbolos e representações sociais que fornecem toda uma liturgia de figuras bem definidas dos vilões e heróis e a quem os membros da tribo prestarão homenagem - ou odiarão (TRAQUINA, 2008, p. 50 - 60). Daniel Hallin (apud TRAQUINA, 2008) destaca a ideologia jornalística como um mito. Está longe de ser apenas ilusão ou mentira, mas é um sistema de consciência mantido em cada jornalista, que afeta tanto a prática jornalística como a estrutura da organização noticiosa.


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Segundo Traquina (2008) a natureza que sobressai na cultura jornalística é a dos sacrifícios pessoais, ausência da vida privada, problemas de saúde, casamento desfeitos, família adiada, economia fraca. Na cultura profissional jornalística há um compromisso absoluto com a profissão, mesmo que o jornalista corra perigo de vida. Para além da dedicação exaltada na sua ideologia profissional, a dinâmica da concorrência leva o surgimento de alguns mitos que circundam a esfera profissional. O mito do scoop (o “furo”) é importantíssimo na cultura jornalística e alimenta o interesse dos próprios jornalistas, dando-lhes um gozo particular e o prazer de um conquistador. Uma conquista associada ao brilhantismo profissional, justificado pela vaidade pessoal, prestígio e a possibilidade de progredir na carreira profissional (Ibid., 2008). O mito da “grande estória”, que é a cobertura de mega-acontecimentos, aparece como o momento de maior prestígio da carreira profissional. Um momento de glória, delírio, o sonho de uma vida. Segundo Elliott (apud Traquina, 2005) esse mito funciona como uma fonte de inspiração e ajuda o jornalista a superar e passar o tempo gasto nas estórias cotidianas e na própria dinâmica de rotina dentro a atividade profissional (Ibid., 2008). O mito do jornalismo enquanto aventura, evocado pela mitologia jornalística na figura do repórter. Aquele sujeito que está em cima do acontecimento, que tem contato direto, que é a testemunha ocular da história. O mito do jornalismo como detetive, que procura a verdade acima de tudo. Além da mitologia do repórter, aparece também a do “grande repórter”, jornalista de investigação, que é representado como se fosse um caçador. Este caça a sua presa, vai atrás do acontecimento, vai atrás da notícia, extrapola as aparências e revela a verdade (Ibid., 2008). Portanto, na visão comum existe um nevoeiro de mitos que encobrem a atividade profissional do jornalista. Assim, na narrativa mitológica do jornalista ele vai ser aquele sujeito que não tem partido político, que serve acima de tudo a verdade, que está do lado do cidadão contra o tirano e acima de tudo, o guardião da democracia (Ibid., 2008). Mas, para além do imaginário e da mitologia jornalística existe a vida real e a ética, que Christofoletti (2008, p. 15 - 25) destaca como mais que rótulo, um acessório.


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No exercício diário da profissão a conduta ética se mistura com a própria qualidade técnica de produção da notícia. Os repórteres, redatores, editores precisam saber utilizar os equipamentos profissionais e a linguagem, sem se distanciar dos seus comprometimentos e valores. No cotidiano das redações há quem diga que o jornalismo se define por sua ética (Ibid., 2008). Karam (1997, p. 33 - 36) coloca como sendo muito comum escutar afirmações como “isto é um problema ético”, “aquele indivíduo feriu a ética”, “aquela é uma atitude antiética”. Essa generalização de que tudo tem relação com a ética pode ser perfeitamente entendida, já que não é possível que algo que tenha significado humano não possua nenhuma conexão com a moral constituída precisamente pelos indivíduos em suas trajetórias. Ética deriva do grego ethos e moral, é originária do latim moralis. Em sua origem, ambas tinham significados que se referiam ao caráter, costume, maneira de ser. Ao longo da história humana, ética e moral foram se diferenciando, a primeira por um teor de reflexão sobre o mundo moral dos humanos, e a segunda envolvida num conjunto de normas que reflete determinados comportamentos humanos, a cultura e o período (Ibid., 1997). Assim como na cultura profissional, existem alguns mitos que estão relacionados com a ética. Christofoletti (2008, p. 15 - 25) enumera cinco mitos que circundam o senso comum e que nos cercam no cotidiano. O primeiro mito é o “cada um tem sua ética”, essa frase é muito comum de se ouvir dos profissionais quando estes devem escolher por um caminho no jornalismo. Com base nesse mito, o jornalista ou editor buscaria os seus valores morais pessoais para, por exemplo, publicar ou não o rosto de um suspeito do crime na capa do jornal. Essa afirmação é verdadeira apenas pela metade, pois a ética não toca apenas o lado individual das pessoas. Dessa forma, quando o editor tiver que optar em colocar ou não a foto do acusado na capa do jornal, além de recorrer à sua consciência, terá de recorrer também às regras sociais: linha editorial do jornal, encaixe ou não no perfil moral de seu leitor, concorrência mercadológica, definição de notícia para aquele jornal, o contexto sociocultural e histórico envolvido, etc. (Ibid., 2008).


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O segundo é o da “ética é uma coisa abstrata”, que aparece com a justificativa de que a ética não consiste em algo concreto, um objeto, algo que possa ser tangível. O que não é levado em consideração nessa afirmação é que as implicações de uma escolha podem interferir materialmente na vida de pessoas ou grupos sociais. Portando, se a ética não contém materialidade, também não é só uma abstração ou sombra. A ética é um conjunto de processamentos mentais e reflexivos que derivam em práticas concretas nas vidas das pessoas (Ibid., 2008). O terceiro é o “a ética é uma só”, de onde a maior contribuição para esse mito vem do jornalista Claudio Abramo, em seu livro A regra do jogo. Para Abramo (apud CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 20): “O jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista”. Karam contesta essa afirmação. Vemos isso na seguinte passagem: De certa forma, Abramo fala no comportamento do jornalista diante dos fatos, diante da empresa e dos colegas. Refere-se ao profissional, também cidadão, diante do governo, do Estado, da democracia e da opressão. Com relação a isso, está correto. Mas é insuficiente. O jornalista não é um profissional que faz uma cirurgia do coração. E existe alguma diferença entre lidar eticamente com a cirurgia como ato médico e contá-la aos outros como acontecimento que possui interesse social ou relevância pública. Embora exista conexão entre as várias particularidades dos atos humanos, há também alguma distinção entre o ato particular de realizar uma operação cirúrgica por intermédio de um especialista – o medido – e o ato de levar este fato ao conhecimento das pessoas, que se apropriam dele sem tê-lo vivenciado, pela mediação de um outro profissional, precisamente o jornalista. Esta distinção é óbvia mas importante para detectarmos a necessidade de que, se preliminarmente estamos de acordo em que deve haver honestidade similar entre médico e jornalista, é igualmente imprescindível constatar que medicina não é igual a jornalismo. Embora possa haver uma ética social que os aproxime, é preciso, no interior desta generalidade moral, desvendar as particularidades do trabalho de cada um. É indispensável, portanto, constituir o campo da ética jornalística. (KARAM, 1997, p. 41)

O quarto é “ética é um assunto acadêmico”. De fato muito das reflexões teóricas sobre a conduta dos jornalistas são produzidas dentro das universidades, nos artigos científicos, livros e manuais. Porém, a academia não é o único berço do conhecimento


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humano, os saberes práticos também se constroem na prática do dia a dia, através das repetições, nas buscas de soluções e na ousadia de sempre ter novas ideias. O quinto é “ética se aprende na escola”. Assim como a ética não fica restrita apenas ao âmbito acadêmico, também não se aprende só na escola, nem só em casa, círculo de amigos, trabalho, etc. É importante destacar que a formação moral de uma pessoa é muito mais complexa do que imaginamos. O desenvolvimento humano de cada indivíduo, a relação recíproca com os grupos sociais, o contexto histórico-social em que o sujeito vive, influencia também na formação do caráter e da personalidade de uma pessoa. Para além da ética, existe a deontologia, que é derivada do grego deontos, cujo significado quer dizer o que deve ser. É a cristalização mesmo que provisória do mundo moral, validado pela reflexão ética através de normais sociais concretas que viram

princípios

formais,

chegando

até

a

se

tornar

normas

jurídicas

(CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 15 - 25). Segundo Bertrand (1999), na grande maioria das nações onde o regime não é o ditatorial existe pelo menos um código de imprensa. Às vezes ele se chama código de ética, de honra ou de conduta – ou ainda carta dos jornalistas, regras de boa conduta ou declaração de princípios. Os franceses, sem dúvida por causa do Código Civil e do Código Penal, têm aversão ao termo “código”. Preferem “carta” apesar de originalmente carta ser uma lista de direitos (e não de deveres), geralmente outorgados por um soberano. (BERTRAND, 1999, p. 79)

No Brasil existe o Código de Ética dos Jornalistas que esta em vigor desde 1987, após ser aprovado no Congresso Nacional dos Jornalistas. Dividido em dezessete artigos com três capítulos (Direito à Informação, Conduta Profissional do Jornalista e Responsabilidade Profissional do Jornalista) é, por motivo diverso, uma realidade distante no cotidiano das redações. Mas isso não faz com que ele seja um elemento obsoleto. Segue anexa a essa monografia o Código de Ética dos Jornalistas brasileiros para ajudar na análise da pesquisa.


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II – JORNALISMO, TECNICIDADE E REALIDADE SOCIAL 2.1

O

JORNALISMO

INVESTIGATIVO:

TÉCNICA

E

ESTRATÉGIAS

PECULIARES NA CONSTRUÇÂO DO TEXTO JORNALÍSTICO As técnicas utilizadas no jornalismo são muito parecidas, mesmo com alterações de métodos e circunstâncias. O resultado final de uma reportagem é consequência da apuração de algum fato pelo repórter, a partir da utilização de fontes diversas, documentais e pessoais. O que diferencia o jornalismo investigativo são as circunstâncias dos fatos - que na maioria das vezes são complexas -, sua extensão noticiosa e o tempo de duração, que deve ser maior, embora exercido sempre com muita pressão. (FORTES, 2007, p. 35 - 42) Fortes (Ibid., 2007) apresenta algumas fases na construção da reportagem pelo jornalismo investigativo: A primeira é a pesquisa minuciosa de cada parte do fato, que deve ser feita com o olhar crítico de todo bom repórter. O olhar do repórter deve extrapolar a curiosidade e assumir um quê de detetive, e por isso é importante fugir das fontes oficiais e óbvias (Ibid., 2007). A segunda é a paciência e concentração. Uma boa investigação é demorada, cheia de análise de documentos, dados, estatística, legislações e códigos. Na maioria das vezes não é apenas por uma fonte ou um documento que se chega à informação, mas pelo cruzamento de vários deles (Ibid., 2007). A terceira é a insistência e perseverança da própria intuição e das informações fragmentadas. Alguns fatos “cheiram” à notícia, sobretudo aqueles que são deliberadamente ocultados. Não se deve esperar colaboração de quem estiver sendo investigado, nem do grupo de interesse do qual ele pertence (Ibid., 2007). A quarta é a atenção especial a todos os tipos de documentações disponíveis, sem menosprezar as documentações públicas. Os relatórios anuais de empresas, registros de imóveis, certidões, contratos, processos judiciais transitados em julgado, sites de internet, cadernos de revistas e jornais (Ibid., 2007).


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A quinta são as entrevistas, muitas entrevistas, que tem como objetivo obter o maior número possível de informação, críticas, contrapontos, pistas e contradições de dentro da apuração (Ibid., 2007). A sexta é o conhecimento policial básico, pois é de grande valia entender sobre investigação policial, seleção de pistas, análise de provas e indícios. A excelência nesse tipo de cobertura advém da convivência com boas fontes policiais, promotores, procuradores e magistrados (Ibid., 2007). A sétima é a curiosidade e desconfiança. Quanto mais denso o assunto, mais curioso deve ser o repórter, já que será a curiosidade que levará o homem a olhar um buraco escuro no chão. Por outro lado, a desconfiança é que vai impedi-lo de colocar a mão sem antes pesquisar o que há dentro (Ibid., 2007). A oitava é a discrição. O movimento silencioso do repórter pode ser a chave de uma reportagem de sucesso. O repórter de maneira nenhuma deve participar socialmente da vida das fontes, e vice-versa (Ibid., 2007). A nona é o checar, checar, checar. Toda vez que a informação parecer estranha, imprecisa, inconsistente ou óbvia demais a informação deve ser chegada o máximo de vezes possíveis. Faz parte do bom jornalismo, principalmente nas notícias sensíveis, abortar uma reportagem, por mais que seja doloroso, caso tenha falhas ou incongruências apresentadas na apuração (Ibid., 2007). A décima é a liberte-se de preconceitos. Jamais parta de princípios pessoais, religiosos, ideológicos ou coisa que o valha para definir o rumo de sua apuração. Uma boa notícia pode surgir de qualquer contexto, mesmo que inicialmente as circunstâncias não pareçam favoráveis (Ibid., 2007). A décima primeira parte de arquivos bem organizados. Quanto maior a reportagem, maior é a necessidade de contextualização daquilo que o jornalista escreve. Uma solução é separar todos os documentos, textos e anotações por pastas ou envelopes grandes (Ibid., 2007). A décima segunda é a frieza, objetividade e precisão. O político ladrão, aquele pastor safado, aquele padre pedófilo, aquele juiz corrupto, toda essa gente é fonte inesgotável de notícia, principalmente quando se fala de jornalismo investigativo. Mas, o segredo para desmascará-los não é ir para cima como um cão raivoso. Na medida do


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possível eles devem ser tratados com respeito. Não tem nada melhor do que uma matéria que trata um pilantra de forma respeitosa. O leitor consegue decodificar uma informação desse tipo, desde que seja precisa, objetiva e honesta (Ibid., 2007). A décima terceira é a lealdade ao leitor, que deve ser a razão de toda atividade jornalística. O repórter que faz só o que o patrão manda, que na maioria das vezes é incapaz de contrapor as ordens absurdas ou desmandos editoriais, está na profissão errada. O resultado positivo de uma matéria investigativa tem que ser compartilhado com toda a sociedade (Ibid., 2007). A décima quinta é a coragem e responsabilidade. O jornalismo investigativo é por natureza uma atividade de risco. Enfrentar as máfias é um ato de muita grandeza profissional, e fazer isso de qualquer jeito é se meter em encrenca. De maneira nenhuma vale à pena correr risco de morte para tocar uma pauta. O bom repórter é corajoso, mas não é burro (Ibid., 2007). A décima sexta é o respeito às fontes,que é uma das questões centrais da profissão. Quando uma fonte fala em off, essa informação deve continuar assim. Em hipótese nenhuma, mesmo que pressionado, o repórter deve abrir suas fontes (Ibid., 2007). Por fim, a décima sétima é a clareza e simplicidade que deve estar presente na construção do texto e na sua edição final. Não se deve terminar o texto com um emaranhado de nomes, número, vocábulos e expressões ininteligíveis, pois o leitor quer ler uma boa notícia, e não apreciar o brilhantismo intelectual do repórter (Ibid., 2007). Assim como o interpretativo, o jornalismo investigativo é uma categoria que emergiu com a transformação das empresas jornalísticas em indústrias de comunicação, quando o leitor/consumidor passa a ser o fim e o objetivo do produto jornal. É quando a reportagem ganha, então, novo sentido, passando a conter os seguintes elementos: uma dimensão comparada, a remissão ao passado, a interligação entre outros fatos (contexto) e a incorporação do fato a uma tendência e sua projeção para o futuro. O jornalismo investigativo não se diferencia do jornalismo interpretativo pelo formato do texto ou pela apresentação gráfica da reportagem, mas pelo processo de trabalho do profissional, pelas estratégias que ele utiliza na fase de apuração. (SEQUEIRA, 2005, p. 61/62)


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O jornalismo investigativo vai muito além de um texto jornalístico que contém cifras, estatísticas, porcentagens econômicas, documentação e declarações. Essas informações podem ser extraídas de alguma fonte oficial ou documentação (SEQUEIRA, 2005, p. 61 - 94) No processo de apuração das informações a relação entre o repórter e fontes é uma das questões cruciais enfrentadas pelos profissionais durante sua rotina diária. Não se pode nunca esquecer que o repórter investigativo, na maioria das vezes, aborda questões de difícil acesso e quem as detém (fontes) deve deixá-las fora do alcance do grande público, tanto por questão de segurança, quanto por questões éticas e deontológicas (Ibid., 2005). Segundo Lage (2009, p. 48 - 63) as fontes são divididas em oficiais, oficiosas e independentes. As oficiais são aquelas que são mantidas pelo Estado, instituições que tem algum poder de Estado, empresas e organizações (como sindicatos, associações, fundações, etc.). As oficiosas, aquelas ligadas entidades ou até mesmo a um indivíduo, mas que não estão autorizadas a falar em nome dela ou dele, podendo assim, ser desmentida. Já as fontes independentes são as fontes que não tem relação de poder ou interesse específico em algum caso. Ao analisar as fontes das notícias publicadas em portais eletrônicos, TELLAROLI (2006) acrescenta mais duas categorias de fonte. São elas: as não específicas (aquelas em que não é possível identificar a fonte da informação de maneira precisa) e os próprios veículos de comunicação ou a Internet, que são utilizados como fonte. O texto jornalístico, portanto, se transforma em jornalismo investigativo quando pelo repórter, são utilizadas técnicas e estratégias peculiares que fogem a lógica da rotina dos jornalistas de atualidade, e quando este torna público os acontecimentos que os grupos de poder querem esconder. O que pressupõe que o repórter investigativo caminha em direção a uma meta, um propósito - que é a verdade dos fatos (SEQUEIRA, 2005, p. 61 - 94). A “verdade” é um termo muito complexo de ser definido e, nesse contexto, vai muito além da sua definição. O que interessa nesse caso é que a noção de “verdade no jornalismo” sempre estará ligada à credibilidade. No jornalismo investigativo


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representa mostrar “a verdade” de alguém que deseja esconder e é nesse sentido que a investigação jornalística tem como meta chegar a “verdade jornalística” (Ibid., 2005). Podemos concluir com base nas rotinas de trabalho dos jornalistas que fazem reportagens investigativas, que cada reportagem é única e necessita de técnicas e metodologias próprias na sua apuração. Cada repórter investigativo também é único na sua forma de avaliar e se relacionar com as fontes (Ibid., 2005). A utilização da técnica do jornalismo investigativo é um dos mecanismos que existem para melhorar a abordagem das questões mais complexas que exigem investigação e olhar diferenciado. 2.2 AS MODIFICAÇÕES DA CONCEPÇÃO DE IDENTIDADE E A DEFINIÇÃO E O CONCEITO DE CULTURA Ainda que o jornalista consiga melhorar sua técnica para abordar questões complexas que fogem do seu dia a dia, não será suficiente para que o produto final tenha bom resultado. Um repórter que não compreende as modificações que sofrem as identidades ao longo da história e a definição de cultura, diariamente reproduz uma visão distorcida da realidade. O conceito de identidade é muito complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido pela ciência social contemporânea. (HALL, 2005, p. 7 - 8) Para Hall (Ibid., 2005), um tipo de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. O resultado disso é a fragmentação das paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que antigamente nos forneciam uma sólida localização enquanto indivíduos sociais. Essas transformações acabaram por mudar nossas identidades pessoais, abalando a ideia do sujeito integrado. Assim é gerada uma perda de “sentido de si” estável, que é chamada de deslocamento ou descentração do sujeito. O deslocamento do sujeito - que é duplo por haver uma descentração dos indivíduos em relação ao seu lugar no mundo social e cultural, e a si mesmo - gera uma “crise de identidade” para o indivíduo (HALL, 2005, p. 7 - 8).


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Existem três concepções de identidade muito distintas que surgiram ao longo da história. A primeira é a do sujeito do Iluminismo que estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico” a ele – ao longo da existência do indivíduo. O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa. (HALL, 2005, p. 10)

A segunda é a do sujeito sociológico que refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava (...) De acordo com essa visão, que se tornou a concepção sociológica clássica da questão, a identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. (HALL, 2005, p. 10)

Nessa concepção o sujeito tem um núcleo ou uma essência interior que é o “eu real”. Este é formado e modificado através do contato com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que são oferecidas por esses mundos. Assim, nessa concepção sociológica, o espaço entre o “interior” e o “exterior” é preenchido. A identidade, nesse sentido, vai estabilizar os sujeitos e os mundos culturais que estes habitam, tornando-os reciprocamente mais unificados e previsíveis (Ibid., 2005). Hall destaca que o sujeito não tem mais sua identidade unificada e estável, porque com o passar do tempo, esta vai se fragmentando. Portanto, ele é composto de várias identidades, algumas muitas vezes contraditórias e não resolvidas. Até mesmo o processo de identificação no qual se projeta as identidades culturais, tornou-se provisório, variável e problemático. (Ibid., 2005). Nesse processo nasce à terceira concepção, que é a do sujeito pós-moderno e que rompe com a identidade fixa, essencial e permanente. Segundo Hall, a identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpretados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987). É


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definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. (...) Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu” (veja Hall, 1990). (HALL, 2005, p. 13)

Para o crítico, a identidade plenamente unificada, completa, segura, coerente e estável não existe, é uma fantasia. Na medida em que há uma multiplicação dos sistemas de significação e representação cultural, também há um confronto de multiplicidades de identidades possíveis, que pode ser identificado por qualquer sujeito, ao menos temporariamente. (Ibid., 2005). Nesse sentido Martin Barbero (2006) destaca que até pouco tempo atrás, falar sobre identidade era falar sobre as raízes do indivíduo, que são seus costumes e seu território. Hoje falar de identidade é falar de migrações e mobilidades, de redes e fluxos, de instantaneidade e fluidez. Nesse sentido, a diversidade cultural se torna interculturalidade nos territórios e nas memórias dos indivíduos e também nas redes, que resistem, enfrentam e interagem com a globalização e, como consequência, acabam transformando-a (SOSOES apud MARTÍN BARBERO, 2006). É importante destacar a história, o uso do termo cultura devido a sua complexidade, e a dificuldade de sua definição, para que se possa entender seu significado. O termo cultura estava inicialmente relacionado ao cultivo de vegetais ou animais (criação e reprodução),e por extensão, ao cultivo ativo da vida humana. (WILLIAMS, 2000, p. 11 - 12). O termo Culture foi introduzido no vocábulo inglês por Edward Tylor (18321917), após a sistematização de dois termos no final do século XVIII. O primeiro termo era germânico – Kultur -, que era utilizado para simbolizar os aspectos espirituais de determinada comunidade, e o segundo era francês – Civilization -, que destacava as realizações materiais de um povo. Na primeira definição de cultura, esta aparece como um tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquiridos pelo homem


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como membro de uma sociedade. (GEERTZ apud LARAIA, 2004, p. 24) O primeiro a empregar o significado plural – culturas - foi Herder (1784-91) para propositalmente diferenciar do sentido singular do termo que estava ligado a “civilização”. Esse termo pluralista amplo foi fundamental para a evolução da antropologia comparada do século XIX, quando continuou sendo designado ao termo um modo de vida global e característico (WILLIAMS, 2000, p. 11 - 12). Por outro lado, no uso mais geral, houve um grande desenvolvimento do termo cultura como cultivo ativo da mente e existe uma gama de significados que podem ser distinguidos. O primeiro é um estado mental desenvolvido, que é a “pessoa de cultura”, a “pessoa culta”. O segundo são os processos desse desenvolvimento, os “interesses culturais”, as “atividades culturais”. E o terceiro e último, o sentido geral mais comum, os meios desse processo – a cultura considerada enquanto “as artes” e o “trabalho intelectual” (Ibid., 2000) Embora todos esses termos sejam usuais, muitas vezes, eles coexistem desconfortavelmente com o uso antropológico e o amplo uso sociológico de “modo de vida global” de determinado povo ou grupo social. Essas posições são classificadas como: a) idealistas e b) materialistas. Segundo Williams: a) ênfase no espírito formador de um modo de vida global, manifesto por todo o âmbito das atividades sociais, porém mais evidente em atividades “especificamente culturais” – uma certa linguagem, estilos de arte, tipos de trabalho intelectual; e b) ênfase em uma ordem social global no seio da qual uma cultura específica, quanto a estilos de arte e tipos de trabalho intelectual, é considerada produto direto ou indireto de uma ordem primordialmente constituída por outras atividades sociais. (WILLIAMS, 2005, p. 11/12)

Na segunda metade do século XX a sociologia da cultura desenvolvia suas atividades a partir dessas duas posições. Hoje as obras contemporâneas já trazem certa convergência prática entre os sentidos antropológicos e sociológicos do termo cultura. Nesse sentido, a veem como “modo de vida global”, um “sistema de significações” definido como essencial em todas as formas de atividade social; e o sentido especializado e mais geral de cultura, como “atividade artística e intelectual”, já que devido à ênfase em um sistema de significações geral, ou seja, definidas de


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maneiras mais ampla, possibilitou a inclusão de todas as “praticas significativas” (linguagem, artes, filosofia, jornalismo, moda, publicidade, etc.) (Ibid., 2005). Portanto, a cultura está essencialmente ligada a uma atitude mental coletiva e suas ideias e valores são expressas através de símbolos. Dessa forma, pode ser descrita como um sistema simbólico, que aparece numa gama de formas quase infinitamente variáveis. (KUPER, 2002) 2.3 - OS MÉTODOS ANTROPOLÓGICOS: A TEORIA ETNOGRÁFICA NO JORNALISMO Um dos grandes desafios dos jornalistas é conseguir enxergar para além da sua rotina e do seu cotidiano. Dessa forma, ele deve deixar suas visões estereotipadas e seus conceitos já formados para conseguir enxergar pontos de vista diferentes nas mais diversas angulações e contextos. (PENA, 2008, p. 150 - 153) Esta não é uma missão muito fácil já que estamos condicionados a nossa própria cultura, que funciona como uma lente através da linguagem, dos costumes, dos rituais e valores. (Ibid., 2008) O difícil é tirar nossos óculos culturais e conseguir enxergar com os dos outros. A imagem parece embaçada, turva, quase opaca. Mas não há outra maneira de subverter a lógica unilateral de nossos próprios limites conceituais e evitar o que os antropólogos chamam de etnocentrismo, ou seja, tomar o mundo pelo centro de nossa própria cultura. (PENA, 2008, p. 150)

Os jornalistas enxergam o mundo através de sua própria cultura profissional, que também é uma forma de etnocentrismo. A ausência de uma observação distanciada sobre a sua profissão ajuda a explicar a dificuldade que os jornalistas demonstram em entender que as notícias não são o reflexo preciso da realidade. Sua rotina profissional consome todo o seu tempo disponível, contribuindo para o aprofundamento de seus preconceitos e estereótipos. (Ibid., 2008). A palavra etno quer dizer cultura. A metodologia etnográfica pressupõe que o pesquisador não só conheça profundamente a cultura que está estudando, como se aproprie dela, ou melhor, faça parte de sua dinâmica. Só assim é possível a tal compreensão das atitudes do


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nativo. E o instrumento para isso é a pesquisa de campo. (PENA, 2008, p. 151)

A aproximação entre a antropologia e o jornalismo se intensifica com os estudos da mídia no meio urbano a partir de um olhar antropológico da Escola de Chicago no início do século XX. Segundo o autor: De lá para cá essa relação estreitou-se, com a recorrência crescente da metodologia antropológica em pesquisas dentro da comunicação e junto ao jornalismo. (...) Mas, em que consiste a “abordagem etnográfica”? A rigor, uma etnografia é o produto de um determinado tipo de trabalho de campo, formatado dentro de uma disciplina específica, a Antropologia. (LAGO, 2008, p. 49)

A etnografia é a descrição da cultura de um povo a partir de intenso contato com esta. Tal contato se dá por meio do trabalho de campo e da observação participante como forma norteadora. Com o passar do tempo há a ruptura com os chamados “etnógrafos de gabinete” que faziam suas pesquisas por relatos de terceiros (viajantes, administradores das colônias). A nova metodologia de pesquisa só foi possível graças à mudança de concepção que passou a ser feita dos outros povos, os “selvagens”. De sem cultura, foram colocados pelos antropólogos como sujeitos com códigos e leis próprias que deveriam ser levadas em consideração. (LAGO, 2008, 48 - 63) Obviamente essa ruptura, num primeiro momento, não significou perceber os códigos e normas dessas “sociedades primitivas”, como de valor igual aos da “sociedade do homem civilizado”, que tinha a prerrogativa de pesquisar e entender a culturas “nativas”. Essa mudança de concepção foi sendo alcançada aos poucos graças, penso, em parte à contaminação afetiva que a convivência como o outro culturalmente diferente passou a exercer sobre aqueles que se lançaram ao trabalho de campo em terras distantes, mas, principalmente, graças ao processo de descolonização, que mudou as relações políticas entre antropólogos-da-metrópole e nativos-daperiferia. (LAGO, 2008, p. 50)

Com o passar dos anos o método antropológico acabou sendo marcado por um intenso relativismo, que trata agora o “nativo” não mais como bárbaro desprovido de cultura. Nesse sentido, a cultura do antropólogo não é melhor nem pior que a cultura que esta sendo estudada, ela é apenas diferente. Pois, segundo o autor:


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Como podemos depreender até agora, o método etnográfico pressupõe uma relação específica com o trabalho empírico de campo (...). Portanto, ao voltarmos nosso foco para a aplicação do método etnográfico em pesquisas que têm como objetivo o jornalismo, continuamos dentro do mesmo panorama, apesar de precisarmos realizar algumas adequações. A principal delas já colocadas por Roberto da Matta (1978), quando afirma que as pesquisas sobre populações urbanas devem fazer um caminho inverso às pesquisas tradicionais junto a grupos culturalmente distintos do grupo de pertencimento do antropólogo. Ou seja, devem transformar o “familiar em exótico”, em vez do “exótico em familiar”. Ao fim e ao cabo, trata-se de perceber o grupo por meio do olhar antropológico. (LAGO, 2008, p. 51).

Na narrativa do cotidiano, a imagem do discurso jornalístico vem sendo traduzida como verdade absoluta. Mas existem dois elementos desse imaginário que jamais podem ser esquecidos: a imparcialidade e a sua objetividade. Não se pode esquecer o caráter limitado e limitador na narração jornalística e sua lógica autoritária que propõe o apagamento daquele que fala (RESENDE apud LAGO, 2008) Nesse sentido, o método antropológico pode ser mais preciso por ser “fundado sobre a percepção da subjetividade (e, portanto, da não neutralidade), é como se estivéssemos extirpado

do

método

tudo

o

que

lhe

força

e

razão

de

ser

usado

interdisciplinariamente”. (LAGO, 2008, p. 60) 2.4 - QUESTÃO INDÍGENA EM SEU CONTEXTO POLÍTICO E CULTURAL Para Martín Barbero (2009, p. 263 - 280) pensar o indígena na América Latina é ir muito além da questão dos 26 milhões de índios agrupados nas cerca 400 etnias; é pensar seu sentido político e cultural, que atinge e complexifica até os países que não tem populações “indígenas”. Durante muito tempo houve um pensamento populista e romântico em relação aos indígenas, que os identificava com sendo os mesmos (desconsiderando as etnias) e como sendo primitivo. Nesse sentido, o indígena passou a ser o único traço que restou da autenticidade conservando a pureza de nossas raízes culturais. Todo o “resto” não passa de contaminação e perda de identidade. Portando, o índio foi assim


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convertido no que é inconcebível pela modernidade e privado da sua própria existência positiva. (Ibid., 2009) Pensá-lo na dinâmica histórica já é pensa-lo a partir da mestiçagem, na “impureza” das relações entre etnia e classe, da dominação e da cumplicidade. É justamente desta maneira que hoje se procura pensar, reconceituando o índio a partir do espaço político e teórico do “popular”, isto é, como culturas subalternas, dominadas, porém possuidora de uma existência positiva, capaz de desenvolvimento. (MARTÍN BARBERO, 2009, p. 264)

Se a tendência mais forte no popular é pensar o índio como um outro, primitivo e fora da história, evocado automaticamente no rural, no camponês. No popular urbano o que mais é frequente é a negação da sua própria existência cultural. O mito é tão presente que os seus traços de identificação são o natural e o simples que, quando se estabelecem no meio urbano, automaticamente são superados pela cidade por serem entendidos como artificial e complexo (Ibid., 2009). Existem teorias idealistas que coloca o índio em situação de exterioridade ao modelo desenvolvimentista capitalista e que supervaloriza a capacidade de sobrevivência cultural das etnias entre duas vertigens: nem as culturas indígenas podem existir com a autonomia pretendia por certos antropólogos ou folcloristas, nem são tampouco meros apêndices típicos de um capitalismo que tudo devora” (CLACINI apud MARTÍN BARBERO, 2009, p. 264).

Nesse sentido se tem uma nova perspectiva que considera as culturas indígenas como parte integrada à estrutura capitalista, que não se esgota apenas nessa afirmação. Desconsiderar ou desconhecer que há uma integração ao modelo desenvolvimentista do capitalismo é abordar a identidade cultural dos indígenas a um tempo mítico que impossibilita a compreensão das mudanças sofridas em suas entidades. Afirmar que seja apenas isto, é entrar na lógica capitalista e negar ao índio a sua capacidade de poder se desenvolver em suas culturas (Ibid., 2009). Ainda na esteira de Martín Barbero, vejamos a seguinte passagem: A dimensão da afirmação étnica não está tão à vista quanto as pressões, nem se deixa ler como as mediações trabalhadas pela hegemonia. Seu acesso se encontra obstaculizados pelos préconceitos, os pressupostos de um etnocentrismo que penetra com igual


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força no discurso do antropólogo e no do militante político, sobre o qual se apoia secretamente a nossa própria necessidade de segurança cultural. Etnocentrismo que nos impede de perceber o sentido do desenvolvimento daquelas culturas. (MARTÍN-BARBERO, 2009, p. 266).

De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) existem no Brasil 817 mil índios, o que equivale a 0,4% da população brasileira, dados do Censo de 2010. No Mato Grosso do Sul existem 73 mil índios divididos nas etnias: Atikum, Guarany (Kaiowá e Nhandéwa), Guató, Kadiwéu, Kamba, Kinikinawa, Ofaié, Terena e Xiquitano. É o segundo estado que mais possui indígenas no Brasil, perdendo apenas para o estado de Amazonas com 167 mil indígenas. A visão homogênea de Nação que hoje se estabelece na concepção de democracia e a sua centralização, nega a pluralidade étnica e cultural dos indígenas. Além da sua desvalorização, através da tentativa de esmagamento e dissolução das identidades étnicas que continuam vivas, não só na vigência de seus ritos, mas também nas lutas por direito à terra, sua forma específica de organização, trabalho, cultura e expressão simbólica (Ibid., 2009)


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III – DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS JORNAIS ESTUDADOS Os jornais utilizados na pesquisa foram o Estado de Mato Grosso do Sul e Correio do Estado de Campo Grande e Progresso e Diário de Mato Grosso do Sul de Dourados. O período analisado é de três (03) de outubro de dois mil e doze (2012) a três (03) de novembro do mesmo ano; e esta escolha foi feita de forma aleatória. As publicações dos quatro jornais somadas chegaram a cento e dez (110) edições. Quarenta e nove (49) delas abordavam a questão indígena, com setenta e quatro (74) textos diferentes distribuídos nos cadernos e editorias. Três fatos importantes ocorreram neste período: 1) Retomada de terra dos índios da etnia Kadiwéu; 2) Eleições municipais; 3) Divulgação da carta de um grupo de índios da etnia Guarani-Kaiowá que falava da possibilidade de um suicídio coletivo na região de Iguatemi, e que ganhou visibilidade internacional. A retomada dos Kadiwéus foi uma surpresa, já que há muito tempo não havia um conflito agrário tão grande envolvendo índios desta etnia e fazendeiros. Os Kadiwéus tem uma área com pouco mais de 538.000 hectares, que se localiza em Porto Murtinho. São conhecidos como índios guerreiros, que com seus cavalos e suas armas participaram da Guerra do Paraguai; por isso receberam a doação de suas terras de D. Pedro II. As eleições municipais, principalmente de Campo Grande e da região de Dourados, foram o foco do jornal no período. Mas apareceram vários textos com abordagens relacionadas à questão indígena com predominância no conflito agrário, inclusive relacionadas às eleições. Na Câmara Municipal de Dourados o vereador Gino Ferreira (DEM), que apareceu em uma edição sendo contrário à criação de mais uma aldeia, não se reelegeu, enquanto pela primeira vez na história um indígena foi eleito: Aguilera de Souza (PSDC) da etnia Guarani-Ñandeva. A divulgação da carta (ANEXO 09) teve início nas redes sociais e acabou sendo compartilhada por milhares de pessoas, expondo a situação de conflito na qual se encontram os Guarani-Kaiowá de Mato Grosso do Sul à visibilidade internacional. Em função de tal visibilidade, o conflito agrário envolvendo fazendeiros e índios da etnia desta etnia fez com que o governo brasileiro se pronunciasse e tomasse determinadas medidas.


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Uma tabela de cada jornal pesquisado foi feita (APÊNDICES 1, 2, 3 e 4) com o objetivo de sistematizar a abordagem da mídia nesse período. Os itens desenvolvidos e destacados na análise do material encontrado foram: a) Dia; b) Editoria; c) Página; d) Gênero textual; e) Atores (pessoas ou instituições envolvidas na construção dos textos); f) Quem tem voz? (não necessariamente quem teve citação direta, mas quem, mesmo que indiretamente teve voz nas publicações); Capa; Tem destaque? (se é capa do jornal e se tem destaque em relação aos outros textos na página); e Jornalista (para saber se existe ou não um jornalista específico para a abordagem da questão indígena). Paralelamente a esta tabela, existe outra (ANEXO 10) feita pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que traz os acontecimentos de violência contra a pessoa e contra o patrimônio relacionados à questão indígena no período exato correspondente a pesquisa. Esta tabela foi utilizada para identificar o universo desses tipos de ocorrências para que assim, se torne possível compreender qual porcentagem destes fatos foram para a página desses jornais, e quais critérios de seleção foram utilizados para a construção das notícias. O confronto das duas tabelas mostrou que algumas ocorrências foram publicadas e outras não. O item 3.1 apresenta a descrição e a comparação de todas as informações contidas nos quatro jornais no período da pesquisa. No item 3.2, os dados foram analisados à luz da teoria apresentada no Capítulo I e II. Dos setenta e quatro (74) textos correspondentes aos quatro jornais diferentes, foram selecionados oito (08). Posteriormente, estes textos foram divididos em típicos (relacionados ao conflito agrário com predominância de fontes oficiais) e atípicos (exceções ou que fogem da lógica de produção das notícias). As tabelas sistematizadas (APÊNDICES 1, 2, 3 e 4), carta dos Guarani-Kaiowá de Iguatemi (ANEXO 09), a tabela do Conselho Indigenista Missionário (ANEXO 10) e o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (ANEXO 11), também foram utilizados como elementos de análise.


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3.1 - OS JORNAIS ESTUDADOS Nos itens abaixo as informações coletadas aparecerão sistematizadas em forma de dados, dando destaque aos itens: Tema, Editoria e Atores/Quem tem voz? Tais itens são fundamentais para entender como é construída a representação social da questão indígena. Os gêneros estão divididos em sua maioria, entre notas e notícias. Pouco aparece editorial, coluna ou entrevista. Das setenta e quatro (74) publicações, nenhuma

foi

caracterizada

como

reportagem,

que

não

houve

nenhum

aprofundamento dos temas tratados. Os atores se referem às instituições, organizações e sujeitos que estão diretamente envolvidos na construção dos textos e/ou servindo como fontes. Quem tem voz? são as fontes. Aparecem não necessariamente como citação direta, que são maioria, mas também indireta, como por exemplo, os relatórios públicos, sentenças e boletins de ocorrência. Capa? Tem destaque? está dividido da seguinte forma: 1) Não é capa e não tem destaque (não é capa e não tem destaque no corpo da página em relação aos outros textos); 2) Não é capa e tem destaque (não é capa e tem destaque no corpo da página em relação aos outros textos); 3) É capa, mas não tem destaque (apenas aparece na capa sem grandes destaques); 4) É capa e tem destaque (aparece na capa com destaque, podendo ser o principal texto ou um dos principais). 3.1.1 O Estado De Mato Grosso Do Sul O jornal o Estado de Mato Grosso do Sul, no período correspondente à pesquisa, publicou: Edições 28

Abordavam a questão indígena 13

Quantidade de texto 17

Tabela 1: Apresenta as publicações do jornal o Estado de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.


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Não houve edições nos dias sete (07), quatorze (14), vinte e um (21) e vinte e oito (28) de outubro, pois aos domingos o jornal não publica nenhuma edição. Os dias em que apareceu algum texto relacionado à questão indígena foram três (03), dez (10), quinze (15), dezessete (17), dezoito (18), vinte (20), vinte e dois (22), vinte e seis (26), vinte e sete (27), trinta (30) e trinta e um (31) de outubro e dois (02) e três (03) de novembro de dois mil e doze (2012). Os dias em que não aparece nenhum texto sobre a questão indígena são quatro (04), cinco (05), seis (06), oito (08), nove (09), onze (11), doze (12), treze (13), dezesseis (16), dezenove (19), vinte e três (23), vinte e quatro (24), vinte e cinco (25), vinte e nove (29) de outubro de primeiro (01) de novembro de dois mil e doze (2012). Os textos apareceram em quatro (04) editorias diferentes: Cidades, Interior, Polícia e Opinião.

Editorias Cidades Interior Polícia Opinião

Nº 12 03 01 01

% 70% 18% 06% 06%

Tabela 2: Apresenta as editorias em que apareceram os textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Estado de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

O jornal divide as editorias em quatro cadernos diferentes. O Caderno A tem as editorias: Opinião, Política, Geral e Economia; o Caderno B tem as editorias: Cidades, Esportes e Mundo; o Caderno C tem a editoria Artes e lazer; e o Caderno D tem as editorias: Classificados e Concursos.


49

Editoria 14 12 10 8 6 4 2 0 Cidades

Interior

Política

Opinião

Figura 1: Apresenta as editorias em que apareceram textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Estado de Mato Grosso do Sul, no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

As páginas em que mais apareceram textos sobre a questão indígena foram a B4 (sete textos), B2 (dois textos), B3 (dois textos) e B5 (dois textos). As outras páginas A2, A3, B1, B8 tiveram um (01) texto publicado em cada, no período correspondente a pesquisa. Pode-se observar que a predominância na publicação dos textos é no caderno B.

Gêneros Jornalísticos Notícia Nota Artigo de Opinião

Nº 09 07 01

% 53% 41% 06%

Tabela 3: Apresenta os gêneros jornalísticos nas publicações do jornal o Estado de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Apareceram três (03) temas nas publicações: Conflito Agrário, Policial e Educação. O Conflito Agrário aparece majoritariamente com doze (12) publicações, sendo uma (01) dessas relacionada à manifestação e protesto. Em segundo lugar vem o Policial, com um (01) texto sobre um estupro, outro (+01) relacionado a um


50

assassinado e outro (+01) sobre uma morte de causa desconhecida. O último tema que aparece é Educação com dois (02) textos. O tema Conflito Agrário representa setenta por cento (70%) das publicações sobre a questão indígena nas publicações de textos correspondentes ao período estudado, seguido do Policial com dezoito por cento (18%) e Educação com doze por cento (12%).

Temas 14 12 10 8 6 4 2 0 Conflito Agrário

Policial

Educação

Figura 2: Apresenta os temas em que apareceram textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Estado de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

É setenta e sete (77) o número de atores envolvidos nos textos relacionados à questão indígena. Os indígenas tiveram voz seis (06) vezes, mas nenhuma com citação direta. Dentre elas, um indígena acusado de assassinato, professores GuaraniKaiowá que organizavam um evento que discutia a qualidade da educação indígena, e a carta (ANEXO 09) que dizia que não deixariam o local (área do conflito) nem vivos e nem mortos, que apareceu quatro (04) vezes. Na maioria desses textos, quem falou pelos indígenas foi o Ministério Público Federal, a Fundação Nacional do Índio e o Conselho Indigenista Missionário.


51

Classificação Estado brasileiro Polícia Organizações Indígenas Fazendeiros Outras*

Atores 39 11 06 12 03 06

Quem tem voz? 17 04 03 06 03 01

Tabela 4: Apresenta os atores e quem tem voz nas publicações do jornal o Estado de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Conforme abordado no Item 2.1 por Lage (2009) e Tellarolli (2006), as fontes foram divididas em: oficiais, oficiosas, independentes, específicas e internet. Pode-se se observar que a preferência utilizada pelo jornal são as fontes oficiais. Das seis (06) vezes que os indígenas tiveram voz, quatro (04) foram através da carta divulgada na internet (ANEXO 09).

Fontes Oficiais Oficiosas Independentes Específicas Internet

Nº 24 00 01 05 04

% 70% 00% 03% 15% 12%

Tabela 5: Apresenta as fontes utilizadas na construção dos textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Estado de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Nenhum texto foi capa e na maioria das vezes não tinha destaque em relação às outras matérias. Foram doze (12) textos que não tiveram destaque e cinco (05) com destaque em relação às outras notícias. Dos dezessete (17) textos publicados quatro (04) não tiveram assinatura. Dos treze (13) restantes, os jornalistas Jeozadaque Garcia e Rafael Bueno assinaram quatro (04) textos cada. Os jornalistas Patricia Belarmino e Carlos Henrique Wilhelms assinaram um (01) cada. Um (01) artigo de opinião foi escrito por Ernesto Caruso, um (01) texto da Agência Brasil e outro (+01) da Folhapress.


52

3.1.2 O Diário de Mato Grosso do Sul O jornal o Diário de Mato Grosso do Sul, no período correspondente à pesquisa, publicou: Edições 22

Abordavam a questão indígena 10

Quantidade de texto 15

Tabela 6: Apresenta as publicações do jornal o Diário de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Não houve edições nos dias onze (11), doze (12), treze (13), quatorze (14), vinte (20), vinte e um (21), vinte e sete (27), vinte e oito (28) de outubro e dois (02) e três (03) de novembro de dois mil e doze (2012), pois aos sábados, domingos e feriados o jornal não publica nenhuma edição. Os dias em que aparecem textos relacionados à questão indígena foram os dias três (03), seis (06), oito (08), nove (09), quinze (15), vinte e três (23), vinte e cinco (25), vinte e seis (26) e trinta e um (31) de outubro e primeiro (01) de novembro de dois mil e doze. Os dias em que não aparece nenhum texto sobre a questão indígena são quatro (04), cinco (05), sete (07) – edição especial, dez (10), dezesseis (16), dezoito (18), dezenove (19), vinte e dois (22), vinte e quatro (24), vinte e nove (29) e trinta (30) de outubro de dois mil e doze (2012). Os textos apareceram em quatro (04) editorias diferentes: Cidade, Polícia, Política e Região. Editorias Cidade Polícia Política Região

Nº 08 04 02 01

% 53% 27% 13% 07%

Tabela 7: Apresenta as editorias em que apareceram os textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Diário de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.


53

O jornal divide as editorias em cinco cadernos diferentes. O Caderno A tem as editorias: Opinião, Política, Economia e Cidade; O Caderno B tem a editoria: Variedades; O Caderno C tem as editorias: Esporte e Polícia; e o Caderno D tem a editoria: Região, e; O Caderno D tem as editorias: Classificados e Atos Oficiais.

Editoria 14 12 10 8 6 4 2 0 Cidades

Interior

Política

Opinião

Figura 3: Apresenta as editorias em que apareceram textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal O Diário de Mato Grosso do Sul, no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

As páginas em que mais apareceram textos sobre a questão indígena foram a três (03) e a seis (06) com quatro (04) textos, seguida da página sete (07) com três (03) textos. As páginas dois (02), quatro (04), cinco (05) e oito (08) tiveram um (01) texto publicado em cada uma no período correspondente a pesquisa. Pode-se observar que a predominância na publicação dos textos são as páginas iniciais do jornal. Gêneros Jornalísticos Notícia Nota

Nº 10 05

% 75% 25%

Tabela 8: Apresenta os gêneros jornalísticos nas publicações do jornal o Diário de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.


54

Apareceram quatro (04) temas nas publicações: Conflito Agrário, Policial, Eleições e Inauguração de Obras. O tema Conflito Agrário aparece majoritariamente com seis (06) publicações, na sequencia o Policial com quatro (04) publicações, Eleições com três (03) publicações e Inauguração de Obras com duas (02) publicações. O tema Conflito Agrário representa quarenta por cento (40%) das publicações sobre a questão indígena nas publicações de textos correspondentes ao período estudado, Policial com vinte e seis por cento (26%), Eleições com vinte por cento (20%) e por último, Inauguração de Obras com treze por cento (13%) das publicações.

Temas 7 6 5 4 3 2 1 0 Conflito Agrário

Policial

Eleições

Inauguração de obras

Figura 4: Apresenta as editorias em que apareceram textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal O Diário de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

É sessenta e quatro (64) o número de atores envolvidos nos textos relacionados à questão indígena. Os indígenas tiveram voz sete (07) vezes e na maioria com citações diretas envolvendo as eleições municipais. Três indígenas (03) tiveram voz em um texto relacionado à Reserva Indígena de Dourados e suas dificuldades de realizar as eleições municipais; e a sua importância para a disputa eleitoral. O indígena Guarani-Ñandeva, Aguilera de Souza, eleito vereador de Dourados, teve voz por duas (02) vezes. Uma indígena que sofreu um acidente após a explosão de uma pedreira


55

próxima a Reserva Indígena também teve voz, assim como um indígena acusado de homicídio. Classificação Estado brasileiro Polícia Organizações Indígenas Fazendeiros Outras*

Atores 35 04 02 14 01 08

Quem tem voz? 08 01 01 07 00 06

Tabela 9: Apresenta os atores e quem tem voz nas publicações do jornal o Diário de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Conforme abordado no Item 2.1 por Lage (2009) e Tellarolli (2006) as fontes foram divididas em: oficiais, oficiosas, independentes, específicas e internet. Foi utilizado pelo jornal quase o mesmo número de fontes oficiais e de fontes específicas. Na maioria das vezes as fontes específicas eram os indígenas, que falavam sobre as eleições municipais. Fontes Oficiais Oficiosas Independentes Específicas Internet

Nº 10 00 04 09 00

% 43% 00% 18% 39% 00%

Tabela 10: Apresenta as fontes utilizadas na construção dos textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Diário de Mato Grosso do Sul no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Quatro (04) textos foram capa, dois (02) com destaque em relação às outras notícias e duas (02) sem destaque. Foram oito (08) textos com destaques em relação às outras notícias e três (03) sem destaque. Dos quinze (15) textos publicados, nove (09) não tiveram assinatura. Dos seis (06) restantes, o jornalista André Bento assinou cinco (05) textos e a jornalista Fabiana Dorta assinou um (01) texto.


56

3.1.3 O Correio do Estado O jornal Correio do Estado, no período correspondente à pesquisa, publicou:

Edições 32

Abordavam a questão indígena 10

Quantidade de texto 11

Tabela 11: Apresenta as publicações do jornal o Correio do Estado no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Os dias em que apareceu algum texto relacionado à questão indígena foram três (03), sete (07), dez (10), dezessete (17), vinte (20), vinte e cinco (25), vinte e seis (26), vinte e sete (27) e vinte e oito (28) de outubro e dois (02) de novembro de dois mil e doze (2012). Os dias em que não apareceu nenhum texto sobre a questão indígena foram quatro (04), cinco (05), seis (06), oito (08), nove (09), onze (11), doze (12), treze (13), quatorze (14), quinze (15), dezesseis (16), dezoito (18), dezenove (19), vinte e um (21), vinte e dois (22), vinte e três (23), vinte a quatro (24), vinte e nove (29), trinta (30), trinta e um (31) de outubro e primeiro (01) e três (03) de novembro de dois mil e doze (2012). Os textos apareceram em quatro (04) editorias diferentes: Cidades, Polícia, Correio + e Brasil. Editorias Cidades Política Correio + Brasil

Nº 08 01 01 01

% 76% 08% 08% 08%

Tabela 12: Apresenta as editorias em que apareceram os textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Correio do Estado no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

O jornal divide as editorias em quatro cadernos diferentes. O Caderno A tem as editorias: Opinião, Política, Economia, Correio +, Brasil, Mundo e Especiais; O Caderno B tem as editorias: Cidades e Esportes; O Caderno C tem a editoria Correio B; e o Caderno D tem a editoria: Classificados.


57

Editoria 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Cidades

Correio +

Política

Brasil

Figura 5: Apresenta as editorias em que apareceram textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal O Correio do Estado no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

As páginas em que mais apareceram textos sobre a questão indígena foram às páginas quatorze (14) e quinze (15), com três (03) textos cada. As demais, quatro (04), oito (08), nove (09), dez (10) e treze (13), tiveram um (01) texto publicado em cada, no período correspondente a pesquisa. Pode-se observar que a predominância na publicação dos textos são as páginas mais próximas do final do jornal. Gêneros Jornalísticos Notícia Nota

Nº 09 02

% 81% 19%

Tabela 13: Apresenta os gêneros jornalísticos nas publicações do jornal o Correio do Estado no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Apareceram quatro (04) temas nas publicações: Conflito Agrário, Policial, Eleições e Educação. O tema Conflito Agrário aparece majoritariamente com oito (08) publicações, na sequencia vem o Policial, Eleições, Educação com uma (01) publicação cada. O tema Conflito Agrário representa setenta e seis por cento (76%) das publicações sobre a questão indígena nas publicações de textos correspondentes ao período estudado. Policial, Eleições e Educação representam vinte e quatro por cento (24%) cada.


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Temas 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Conflito Agrário

Policial

Eleições

Educação

Figura 6: Apresenta as editorias em que apareceram textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal O Correio do Estado no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

É oitenta e três (83) o número de atores envolvidos nos textos relacionados à questão indígena. Os indígenas tiveram voz cinco (05) vezes e nenhuma delas com citação direta. Um indígena acusado de homicídio e seus familiares tiveram voz, e o indígena Guarani-Ñandeva, Aguilera de Souza, eleito vereador de Dourados, teve destaque em uma nota sobre as eleições municipais. Duas vezes os indígenas tiveram voz através da carta (ANEXO 09). Na maior parte das vezes quem falou por eles foi o Ministério Público Federal, Fundação Nacional do Índio e Conselho Indigenista Missionário. Os fazendeiros tiveram voz seis (06) vezes, com seus advogados e os próprios produtores rurais se posicionando sobre o conflito. Classificação Estado brasileiro Polícia Organizações Indígenas Fazendeiros Outras*

Atores 57 02 03 10 06 05

Quem tem voz? 07 01 01 05 06 00

Tabela 14: Apresenta os atores e quem tem voz nas publicações do jornal o Correio do Estado no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.


59

Conforme abordado no Item 2.1 por Lage (2009) e Tellarolli (2006), as fontes foram divididas em: oficiais, oficiosas, independentes, específicas e internet. Foi utilizado pelo jornal o mesmo número de fontes oficiais e fontes específicas. Na maioria das vezes as fontes específicas eram os produtores rurais e seus advogados. Fontes Oficiais Oficiosas Independentes Específicas Internet

Nº 09 00 00 09 01

% 47% 00% 00% 47% 06%

Tabela 15: Apresenta as fontes utilizadas na construção dos textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Correio do Estado no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Apenas um texto foi capa e com destaque. Sete (07) não tiveram destaque e três (03) tiveram destaque em relação às outras notícias. Dos quinze (15) textos publicados, um (01) não teve assinatura. Dos quatorze (14) restantes, os jornalistas Fábio Dorta e Celso Bejarano assinaram três (03) textos cada. O jornalista Gabriel Kabad assinou dois (dois) textos, um (01) em conjunto com a jornalista Anahi Zurutuza. Os jornalistas Clodoaldo Silva e Daniella Arruda assinaram um (01) texto cada. 3.1.4 O Progresso O jornal O Progresso, no período correspondente a pesquisa, publicou:

Edições 28

Abordavam a questão indígena 16

Quantidade de texto 31

Tabela 16: Apresenta as publicações do jornal o Progresso no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Os dias em que apareceu algum texto relacionado à questão indígena foram quatro (04), seis/sete (06/07), oito (08), nove (09), quinze (15), dezesseis (16), dezoito (18), dezenove (19), vinte/vinte e um (20/21), vinte e três (23), vinte e quatro (24), vinte e cinco (25), vinte e seis (26), vinte e sete/vinte e oito (27/28), vinte e nove (29) e trinta


60

(30) de outubro de dois mil e doze (2012). Os dias em que não aparece nenhum texto sobre a questão indígena são três (03), cinco (05), dez (10), onze (11), doze (12), treze/quatorze (13/14), dezessete (17), vinte e dois (22), trinta e um (31) de outubro e primeiro (01), dois (02) e três (03) de novembro de dois mil e doze (2012). Os textos apareceram em doze (12) editorias diferentes: Dia a Dia, Meio Ambiente, Polícia, Caderno B, Política, Opinião, Cidades, Brasil/Mundo, Rural, Editorial, D mais, Economia. Editorias Dia a Dia Ambiental Polícia Caderno B Política Opinião Cidades Brasil/Mundo Rural Editorial Economia D mais

Nº 09 05 04 03 02 02 01 01 01 01 01 01

% 29% 16% 13% 10% 07% 07% 03% 03% 03% 03% 03% 03%

Tabela 17: Apresenta as editorias em que apareceram os textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Progresso no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

O jornal divide as editorias em cinco cadernos diferentes. O Caderno A tem as editorias: Opinião, Política, Economia, Meio Ambiente, Brasil/Mundo e Rural; O Caderno B tem a editoria: Variedades; O Caderno C tem a editoria Dia a Dia; O Caderno D tem as editorias: Esportes e Polícia; O Caderno E tem a editoria Cidades, e; O Caderno F tem a editoria Classificados.


61

Editoria 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

Figura 7: Apresenta as editorias em que apareceram textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal O Progresso no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Dentre as páginas em que apareceram textos sobre a questão indígena, destaca-se a página A4 em que se repete oito vezes, seguida das páginas A2 e A6 com textos cada, depois a página D2 com dois (02) textos e as páginas A7, B3, D3, D4, C1, A5, B2, B1, A3, B4 e C4 com somente um texto publicado no período correspondente a pesquisa. Pode-se observar que a predominância na publicação dos textos é no caderno B. Gêneros Jornalísticos Notícia Nota Artigo de Opinião Entrevista Coluna Editorial

Nº 20 05 03 01 01 01

% 65% 16% 10% 03% 03% 03%

Tabela 18: Apresenta os gêneros jornalísticos nas publicações do jornal o Progresso no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Apareceram oito (08) temas nas publicações: Conflito Agrário, Policial, Inauguração de Obras, Educação, Eleições, Produção Cultural e Economia. O tema Conflito Agrário aparece majoritariamente com dezenove (19) publicações, sendo uma associada às eleições e uma associada a manifestações e protesto. Na sequencia


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aparece o tema Educação com cinco (05) publicações e Produção Cultural e Polícia com (02) duas cada. Por fim, Inauguração de Obras, Eleições e Economia com uma (01) publicação cada. O tema Conflito Agrário representa cinquenta e nove por cento (59%) das publicações sobre a questão indígena nas publicações de textos correspondentes ao período estudado, seguido de Educação com dezesseis por cento (16%), Produção Cultural e Polícia com seis por cento (06%) cada, Inauguração de Obras, Eleições e Economia com três por cento (03%) cada.

Temas 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0

Figura 8: Apresenta as editorias em que apareceram textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal O Progresso no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

É cento e cinquenta e um (151) o número de atores envolvidos nos textos relacionados à questão indígena. Os indígenas tiveram voz oito (08) vezes, duas (02) através da carta (ANEXO 09), uma (01) no caso do Guarani-Ñandeva, Aguilera de Souza, eleito vereador de Dourados, duas (02) no caso das lideranças indígenas que entraram em conflito com a Fundação Nacional do Índio, uma (01) no caso da indígena que foi estuprada por oito (08) pistoleiros - não é citação direta – uma (01) vez se referindo ao vice-líder da Aldeia Jaguapiruí e um acidente envolvendo uma indígena após a explosão de uma pedreira na Reserva Indígena de Dourados. Os fazendeiros tiveram voz duas (02) vezes. Uma (01) através de seu advogado e outra (+1) na


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entrevista de um produtor rural que contava os traumas e dramas das “invasões” indígenas. Classificação Estado brasileiro Polícia Organizações Indígenas Fazendeiros Outras*

Atores 72 05 14 23 05 32

Quem tem voz? 22 00 07 08 02 14

Tabela 19: Apresenta os atores e quem tem voz nas publicações do jornal o Progresso no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Conforme abordado no Item 2.1 por Lage (2009) e Tellarolli (2006), as fontes foram divididas em: oficiais, oficiosas, independentes, específicas e internet.

Fontes Oficiais Oficiosas Independentes Específicas Internet

Nº 33 00 08 10 02

% 62% 00% 15% 19% 04%

Tabela 20: Apresenta as fontes utilizadas na construção dos textos jornalísticos que abordavam a questão indígena no jornal o Progresso, no período de três de outubro a três de novembro de dois mil e doze.

Oito (08) textos foram capa, sete (07) com destaque em relação às outras notícias e um (01) sem destaque. Treze (13) textos tiveram destaques em relação às outras notícias e dez (10) não tiveram. Dos trinta e um (31) textos publicados, onze (11) não foram assinados. Os vinte (20) restantes foram assinados nominalmente, seja por jornalista ou entidade: Marcos Santos aparece como autor de três (03) textos, seguido de Valéria Araújo, Mariana Tokarnia, Flávio Verão e Agência Brasil com dois (02) textos cada, e de O Progresso (Editorial), José Alberto Vasconcellos, Grupo Acaba, Marli Lage, Wilson Matos da Silva, Assessoria da Câmara, Vannildo Mendes, Paloma Rodrigues e Agência Estado com um (01) texto cada.


64

3.1.5 Comparação entre os jornais estudados O Estado de Mato Grosso do Sul publicou vinte e oito (28) jornais no período analisado. Das publicações, a questão indígena aparece em treze (13) edições com dezessete (17) textos diferentes. O tema principal foi o Conflito Agrário, seguido de Educação e Policial. A principal editoria é Cidades, seguida de Interior. Publicações feitas por quatro (04) jornalistas, um (01) leitor que escreveu um artigo de opinião e dois (02) textos de agências de notícias. O jornalista que mais escreveu textos foi Rafael Bueno com seis (06) textos, seguido de Jeozadaque Garcia com quatro (04). Não há um jornalista específico para cobrir a questão indígena. O Diário de Mato Grosso do Sul publicou vinte e duas (22) edições no período estudado. Das publicações, dez (10) abordaram a questão indígena com quinze (15) textos diferentes. O tema Conflito Agrário é o que mais aparece, mas não de forma tão majoritária quanto nos outros jornais, pois houve polarização com o tema Eleições. A editoria Cidade é principal, seguida de Polícia. A maioria dos textos não tinha assinatura de nenhum jornalista. O Correio do Estado publicou trinta e duas (32) edições no período analisado. Das publicações a questão indígena aparece em dez (10) edições com onze (11) textos diferentes. O tema principal é o Conflito Agrário e logo em seguida, Eleições. A principal editoria é Cidades. São sete jornalistas que abordaram a questão indígena no período, com maior número de publicação para Celso Bejarano e Fábio Dorta. O Progresso foi o jornal que mais publicou, com vinte e oito (28) edições no período analisado. Dezesseis (16) edições abordavam a questão indígena em trinta e um (31) textos. O tema principal mais uma vez foi o Conflito Agrário, seguido de Educação. Diferente dos outros três jornais analisados, as editorias foram variadas. As que mais tiveram textos foram a Dia a Dia, Meio Ambiente, Polícia e Caderno B. Os jornalistas que mais publicaram texto foi Marcos Santos e Valéria Araújo, sendo que muitos textos não foram assinados. No período analisado, os quatro jornais publicaram cento e dez (110) edições. Das publicações quarenta e nove (49) abordavam questões relacionadas aos indígenas. São setenta e quatro (74) textos diferentes. O Progresso foi o jornal que


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mais abordou o tema, seguido do O Estado de Mato Grosso do Sul, Correio do Estado e Diário de Mato Grosso do Sul. Das etnias Guarani- Kaiowá, Guarani-Ñandeva, Kadiwéu, Terena e Guató, os indígenas da etnia Guarani-Kaiowá foram os que mais apareceram. Também etnias que extrapolam a fronteira geográfica política do estado, como: Xavantes, Xipaia, Kuruia, Parakanã, Arara, Juruma e Assurini. Em muitos textos há uma generalização que nega a pluralidade das etnias e que se refere ao indígena, seja qual for sua etnia, apenas como “índio”. A predominância dos temas é o Conflito Agrário, seguido da Educação. Os gêneros utilizados na maioria das vezes são notícias. Os atores majoritariamente fazem parte do Estado brasileiro, mas observa-se uma grande presença dos indígenas. Os indígenas tiveram pouca voz nos textos publicados, na maioria das vezes eram representados pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Conselho Indigenista Missionário. Os fazendeiros, na maioria das vezes que foram atores, tiveram voz, em grande parte através de seus advogados. As fontes majoritariamente foram oficiais, mas o Correio do Estado utiliza muitas fontes específicas, na maioria das vezes ligadas aos fazendeiros. Já o Diário de Mato Grosso do Sul utiliza fontes específicas ligadas aos indígenas. 3.2 - ANÁLISE DOS DADOS I. Conforme apresentado no Item 1.1, o Jornalismo tanto pode reproduzir um saber, quanto degradá-lo. Nas publicações analisadas ambos os fatos aconteceram simultaneamente. Deve-se ressaltar que a reprodução do conhecimento pelo Jornalismo é bem mais complexa que apenas dizer existir uma transmissão de informações que os leitores, através dos textos e informações diárias, arquivam ou registram. O que há na verdade é um processamento, contextualização e classificação das informações recebidas por parte do leitor.


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Os fatos narrados nos jornais analisados são tidos como realidade incontestável. Na maioria dos textos, são as fontes oficiais que aparecem majoritariamente, tendo voz; as mesmas que, na maior parte das vezes, se colocam ao lado dos fazendeiros no conflito pela disputa territorial. As fontes específicas variaram de jornal para jornal, na maioria das vezes também se colocam do lado dos fazendeiros no conflito agrário. Por ser grande a proporção de indígenas situados em Mato Grosso do Sul, os mesmos que foram expulsos de suas terras no século passado e também pela alta concentração de terras nas mãos de poucas pessoas, o Conflito Agrário é o tema que mais aparece nas edições dos jornais e isso não é novidade. Novidade seria uma abordagem diferente e menos superficial sobre o tema. O conhecimento reproduzido através de apenas um ponto de vista ajuda a intensificar ainda mais o conflito, além de prejudicar a possibilidade de se achar uma solução. Há a espetacularização sobre a questão indígena como tentativa de chamar a atenção do leitor, e o esforço político de persuasão muito forte que não só coloca, mas legitima os indígenas de forma negativa perante a sociedade. Não foi encontrado nenhum texto caracterizado como reportagem nas várias notícias publicadas, já que o assunto parece muito pouco aprofundado e explorado pelos jornais. O índio é taxado como violento e como principal responsável pelo intenso conflito que se estabelece há muito tempo em Mato Grosso do Sul. Os atores que mais aparecem são o Estado brasileiro e os indígenas, demonstrando assim que apenas uma parte (os indígenas) do conflito aparece envolvido nos textos jornalísticos, por outro lado os fazendeiros quase não são relacionados ao conflito. Todas as vezes em que os fazendeiros foram atores, tiveram voz. A lógica de rapidez na produção da notícia que é imposta ao jornalista, também parece ter dificultado a construção de textos mais elaborados, com a presença de vários pontos de vistas, com características peculiares presentes na cultura indígena, e com a possibilidade de desvendamento das próprias informações publicadas. A necessidade da velocidade de publicação prejudica a sua apuração. Mas, por outro lado, pode e poderia ter sido utilizada como vantagem em relação a outros modos de conhecimento.


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Por ser o conhecimento reproduzido pelo Jornalismo, o conhecimento do senso comum, só adquire sentido estando ligado a um contexto histórico e cultural. O contexto histórico e cultural é praticamente desconsiderado nos textos publicados, e a impressão que se passa é a de que o conflito se iniciou há pouco tempo. O Jornalismo não foi capaz de explicar os elementos que ele mesmo se propôs a revelar. Por isso, não seria ruim a utilização de alguns elementos que rompam com a rotina dos jornais. Assim, a utilização do conhecimento científico somado ao conhecimento do senso comum, pode contribuir muito para uma melhor cobertura da mídia sobre a questão indígena, principalmente se relacionada ao conflito agrário. II. Conforme tratado no Item 1.2 e no Item 1.3, os jornais influenciam consideravelmente a forma como seus leitores organizam sua própria imagem a respeito da questão indígena. Os textos que apareceram nesse período ajudaram a estruturar e organizar as opiniões e crenças desses leitores. Ao seu conhecimento foi incluído o que a mídia incluía como conteúdo: o conflito agrário, principalmente relacionado à questão de Pyelito Kue, em Iguatemi. Tal conflito ganhou repercussão internacional após a publicação da carta que anunciava o possível suicídio coletivo dos Guarani Kaiowa (ANEXO 09). Na sequência da análise, aparece a tabela de cobertura dos jornais O Estado de Mato Grosso do Sul, O Progresso, Correio do Estado e Diário de Mato Grosso do Sul (APÊNDICE 1, 2, 3 e 4) e a tabela de acontecimentos relacionados à questão indígena (ANEXO 10) no mesmo período, feita pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) que facilita a compreensão do que entrou e do que não entrou no agendamento do jornal. Não se pode esquecer que os meios de comunicação vão muito além do fornecer um número de noticias. Nesse período, esses meios determinaram quais acontecimentos deveriam ser debatidos e quais acontecimentos deveriam ser esquecidos. Segundo os dados do CIMI (sintetizados no ANEXO 10), “um historiador, um advogado (funcionário do CIMI) e quatro lideranças foram perseguidos por homens


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armados em seis caminhonetes. As vítimas estavam fazendo uma visita às comunidades indígenas onde ocorrem vários conflitos, e foram perseguidas enquanto saíam da área dos Kadiwéu” (CIMI, 2012). Na opinião dos jornais, tal fato deveria ser esquecido, assim como a reintegração de posse dessa área, que foi citada apenas através de nota. Nesse caso, o que os jornais queriam que fossem lembrado e debatido estava exposto no título da Matéria do Dia: “Fazendeiros discutem retirada de índios da região do Nabileque”. Registro de ocorrências

Reintegração de posse Assassinato Tentativa de assassinato e ameaça de morte Estupro Trancamento de passagem*

01 04 03 02* 01

Tabela 21: Apresenta os ocorrências envolvendo a questão indígena no período correspondente a pesquisa do relatório de 2012 do Conselho Indigenista Missionário.

No período correspondente a pesquisa, o relatório de Violência contra os povos indígenas no Brasil de 2012 do Conselho Indigenista Missionário aponta alguns registros de ocorrências: a) reintegração de posse das áreas ocupadas da etnia Kadiwéu; b) Quatro (04) assassinatos (três desses assassinatos apareceram nas publicações); c) três (03) tentativas de assassinato e ameaça de morte, uma envolvendo um advogado do Conselho Indigenista Missionário; d) Dois (02) estupros (um foi divulgado, mas o outro referente á de uma criança indígena não foi publicado); e) Trancamento da entrada em Laranjeira Nhanderu (área indígena) que impedia as crianças de irem para a escola e a ambulância entrar na comunidade para prestar socorro. Os quatro critérios substantivos que Wolf (2005) destaca foram utilizados: a) grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável, determinado pelo interesse da elite em que o acontecimento se torne notícia; b) impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional, no caso a questão econômica que parece vir acima de tudo; c) quantidade de pessoas que o acontecimento envolve; não só de pessoas, mas de atores principais, como o Estado brasileiro; d) relevância e


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significatividade do acontecimento para determinados desenvolvimentos futuros; aqueles acontecimentos de duração prolongada, como o conflito agrário estabelecido. Dos onze critérios estabelecidos por Traquina (2008) sete foram utilizados: 1) morte; 2) notoriedade - já que apareceram assuntos notados e discutidos até fora do país nesse período; 3) proximidade - nesse caso só geográfica; 4) relevância – se os acontecimentos causam impacto na vida das pessoas; 5) tempo - levando em consideração o conflito agrário como atual e ao mesmo tempo muito antigo; 6) notabilidade – já que extrapolou a questão de ser apenas assunto de Mato Grosso do Sul; 7) conflito e controvérsia – nesse caso, a disputa pelos territórios e as violações de direitos humanos. Foram também utilizados os valores-notícias de construção: 1) amplificação - a possibilidade de o acontecimento ser notado; 2) relevância - na vida das pessoas; 3) dramatização - o lado emocional e a natureza conflitual. III. Conforme abordado no Item 1.4, as representações sociais igualam toda imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem. Nos textos jornalísticos publicados analisados, todo o processo de observar, descrever, reportar e imaginar já veio pronto para o leitor. Antes mesmo dos leitores lerem as notícias sobre a questão indígena, suas culturas já a definiram de forma estereotipada. Portanto, não existe mero relato dos fatos, mas sim a sua transfiguração. As representações dos índios nos jornais sul-mato-grossenses estão ligadas ao conflito agrário e a violência. No geral, ainda é difícil identificar as etnias envolvidas nos textos publicados, e isso minimamente tem avançado. No período estudado apareceram no jornal doze etnias indígenas que estão no território brasileiro (Guató, Terena, Guarani Kaiowá e Ñandeva, Kadiweu, Xavante, Xipaia, Kuruia, Parakaña, Arara, Juruma e Assurini). Das nove etnias situadas em Mato Grosso do Sul, cinco delas estão entre essas doze. Os Guarani-Kaiowá foram os que mais apareceram e em quase todas às vezes, envolvidos em conflito de terra. A forma como os textos foram construídos colocam os índios como “invasores”, trazendo a ideia de que o conflito se iniciou a partir das


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retomadas de suas terras. Mas uma parte da história é negada: a de que os indígenas, na década de 30 do século passado, foram violentamente expulsos de seus territórios. Os indígenas, na maioria das vezes em que tiveram voz foi através de trechos da carta (ANEXO 09) de Pyelito Kue e relacionados à questão das eleições, com destaque para a eleição do primeiro vereador indígena Guarani Ñandeva Aguilera de Souza. Nos assuntos policiais, todas às vezes os indígenas tiveram voz de forma indireta (“ele disse” ou através da perícia inicial ou Boletim de Ocorrência) com a confissão relacionada a assassinato ou homicídio. A exceção apareceu no jornal o Diário de Mato Grosso do Sul e no Progresso que deram voz a uma indígena que sofreu um acidente após a explosão de uma pedreira na Reserva Indígena de Dourados. Ambos com o envolvimento de um vereador. O Progresso também deu voz para um vice-líder da Aldeia de Jaguapiru e para duas lideranças em um conflito relacionado à disputa da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). O Estado de Mato Grosso do Sul deu voz, de forma indireta, em uma nota relacionada à educação indígena para professores da etnia Guarani-Kaiowá. Os fazendeiros foram pouco envolvidos como atores do conflito, mas na maioria das vezes que foram relacionados, tiveram voz. A falta de pluralidades de fontes e vozes também é determinante no desenvolvimento das representações sociais sobre os indígenas, e a fazem carregar valores distorcidos e negativos. Mas, isso não é novidade, já que historicamente, a representação que se tem do índio no país é carregada de muito preconceito. Inclusive, apesar de ser grande o número de indígenas existentes no Brasil, a questão é muito pouco debatida e compreendida pelo imaginário geral. Os jornais impressos de Mato Grosso do Sul legitimam a intolerância e a negação dos direitos dos indígenas. IV. Conforme abordado no Item 1.5, existe uma série de mitos que envolvem a cultura profissional do jornalista, e que muitas vezes a coloca acima de tudo e de todos. Existe um fetichismo absurdo presente tanto nas redações dos jornais, quanto nas salas de aulas dos cursos de jornalismo, que supervaloriza os jornalistas de forma


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extremamente fantasiosa. As publicações que foram analisadas no período estudado ajudam a reforçar e desconstruir os mitos que encobrem essa profissão. Nesse período não apareceu nenhum grande furo jornalístico, mas apenas a reprodução de dados de forma bastante superficial. Oportunidade para que isso acontecesse não faltou, inclusive porque a carta (ANEXO 09) dos Guarani-Kaiowá, por exemplo, trouxe muitos elementos que não foram explorados pelos jornalistas. Os fatos que aconteceram no período e a carta divulgada apresentam vários elementos que dariam grandes estórias. É difícil analisar a questão ética que envolve o caso, já que as interpretações são muito relativas. O que fica visível é que a linha editorial do jornal teve grande peso na construção e divulgação das notícias. As escolhas do que viraria noticia e do que deveria ser esquecido influenciaram materialmente na vida das pessoas. Quando o jornal coloca, por exemplo, a foto do “Capitão Carlito” o definindo como liderança indígena da retomada da Fazenda Campo Belo, em Porto Cambira, sem refletir as consequências disso (verificar Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros – ANEXO 11), escancara-se uma grande falha ética. Não foi levado em consideração o número de assassinatos de lideranças que ocorrem em Mato Grosso do Sul como forma de desmobilizar a retomadas. A publicação dessa foto transformou o indígena em “isca fácil” para a outra ponta do conflito. A superficialidade em explorar os elementos relacionados ao conflito agrário e os deslizes éticos cometidos pelos jornalistas não são apenas responsabilidade do jornalista, mas principalmente do jornal. O que reforça a ideia de que o jornalista é trabalhador igual todos os outros e, portanto, subordinado às ordens do patrão e da linha editorial estabelecida. O que pode diferenciar um jornalista de outro, no cotidiano das redações dos jornais sul-mato-grossenses, é a sua capacidade de encontrar brechas na linha editorial do jornal. Nada, além disso. V. Conforme abordado no Item 2.1, o texto do jornalismo investigativo não é um texto que contém cifras e número, vai muito mais além. O jornalismo investigativo é a


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técnica utilizada pelo repórter para a construção da notícia, e não o formato de um texto. Em nenhum momento da análise dos textos e publicações dos jornais no período correspondente a pesquisa, foi apresentado um texto jornalístico que teve como base a pesquisa minuciosa. Não houve um olhar crítico do repórter e não houve fuga da padronização da utilização de fontes obvias e oficiais. A insistência e a perseverança foram abandonadas pelos repórteres na construção da notícia. Havia muitos elementos no período correspondente à publicação dos textos, que facilmente virariam grandes reportagens por meio da técnica do jornalismo investigativo. A atenção especial tão necessária na utilização da técnica apareceu pouco; não ocorreu a utilização de documentações disponíveis que fugissem da lógica das fontes oficias. A única documentação utilizada que fugiu dessa lógica foi a que foi retirada dos relatórios do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Os textos publicados não demonstram ter sido feitos a partir de muitas entrevistas, apesar de aparecerem algumas citações diretas dos fazendeiros e de algumas organizações pertencentes ou não ao Estado brasileiro. Não é demonstrado no texto o aprofundamento da utilização da entrevista. A única vez nesse período que apareceu a entrevista enquanto gênero foi no caso de um fazendeiro que falava do seu medo em ter suas terras “invadidas” pelos indígenas e o quanto eles eram ruins. O conhecimento policial básico, para entender o que os polícias, promotores, procuradores, juízes estavam falando foi bastante utilizado. Houve bastante publicação que fazia menção a partes de sentenças, trechos de entrevistas com juízes, procuradores, etc. Talvez pelo conflito ser tão latente e existir há tanto tempo, os jornalistas, através da convivência quase que diária com as autoridades, conseguem traduzir a difícil linguagem utilizada por esses profissionais. Não houve curiosidade e nem desconfiança na busca de informações e dados, que fugisse do cotidiano das redações. A exaustiva checagem das informações não parece ter sido utilizada, já que há muitas informações desencontradas, incompletas e insuficientes, inclusive a ausência de respostas aos leitores do jornal quanto à questão da carta dos Guarani Kaiowá de Pyelito Kue; se esta falava de suicídio coletivo ou não. Vários outros elementos que são descritos no Item 2.1 não foram utilizados para a


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construção do texto. A técnica do jornalismo investigativo é uma das saídas possíveis para melhorar a abordagem jornalística nas questões indígenas de Mato Grosso do Sul. VI. Conforme abordado no Item 2.2, falar de identidade é falar de diversidade cultural. Por mais que possa ser considerado avanço o fato de alguns textos jornalísticos do período estudado diferenciarem as etnias indígenas, isso ainda não é o comum. Os índios ainda continuam a ser tratados como todos de um povo só e sua história e cultura são negadas nas linhas dos jornais. Portanto, é fundamental que os jornalistas entendam a questão das identidades e a definição de cultura. Em um país como o Brasil, não compreender e não explorar a diversidade cultural é cometer um crime com o seu próprio povo. Existem várias etnias que se localizam no estado de Mato Grosso do Sul. As que geralmente estão envolvidas nos processos de retomada de suas terras são a GuaraniKaiowá (grande maioria), Guarani-Ñandeva e Terena. Nesse período houve a retomada de terra das áreas dos Kadiwéus, que desde que receberam o título de seu território por D. Pedro II, após terem lutado ao lado do país na Guerra do Paraguai, não entravam em um conflito dessa proporção. Nos títulos das notícias também é difícil encontrar a diversidade étnica. Mesmo que no decorrer da matéria haja alguma citação da etnia, na maioria das vezes, as referências feitas a estas são generalizadas na palavra “índio”. Mas, existe a exceção e é fundamental que ela seja comentada. Devido a grande repercussão da carta dos Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue, essa etnia passou a ser mais bem definida e diferenciada, inclusive aparecendo no título das notícias. Na maioria das vezes foi o conflito agrário que fez parte do agendamento dos jornais. O que de fato aparece, é a negação das identidades e culturas indígenas no estado por parte dos jornais sul-mato-grossenses, além do pouco explorar da sua diversidade e pluralidade de línguas, rituais, religião, arte, costumes, tradição. Por isso,


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é considerada surpresa uma notícia que aborda a questão indígena de forma ampla, livre de preconceitos e estereótipos. Durante o período analisado, foi publicado no jornal Progresso (ANEXO 07) uma noticia sobre uma mostra cultural na Escola Estadual Guateka Marçal de Souza. Um texto atípico, que pode ser considerado um avanço. Valorizar a cultura indígena é uma das maneiras de diminuir o preconceito e as violações de direito que esses povos sofrem historicamente e diariamente. O índio, como qualquer outro indivíduo, tem sua identidade formada e transformada a partir das interpretações que ele próprio faz do sistema cultural que o rodeia. Entender que hoje os indivíduos são compostos de várias identidades, mesmo que algumas vezes pareçam contraditórias, é fundamental. Nesse sentido, não deve ser considerado perda de identidade o fato de um indígena usar calça jeans ou celular. VII. Conforme abordado no Item 2.3, a etnografia é a descrição da cultura de um povo, feita através de um método: o trabalho de campo e a observação participante. Isso não significa que os jornalistas devem, a partir de agora, virar antropólogos ou passar longas temporadas junto às diversas etnias de Mato Grosso do Sul. Mas, significa que os jornalistas devem ter minimamente uma noção desse método e dos seus resultados, já que este possibilita uma melhor abordagem sobre a questão indígena. Por ser um assunto delicado e em constante conflito, além de se tratar de uma cultura que não é nem do jornalista e nem do leitor, o cuidado, a criatividade e a utilização de uma técnica e método mais elaborado, que fuja do cotidiano das redações, são mais do que necessários. No passado a antropologia fez a ruptura com os “etnógrafos de gabinete” que faziam seus relatórios antropológicos por informações repassadas dos viajantes e dos administradores da colônia. O jornalista precisa romper com o “jornalismo de gabinete” feito através das ligações de dentro das redações, e ir até os locais de conflito. Mas vale lembrar que somente ir até o conflito não basta. É necessário que se observe


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outros elementos, como a questão das identidades, elementos culturais e métodos antropológicos. O jornalista precisa enxergar além das paredes da redação e da sua própria cultura profissional, ainda que represente uma tarefa não muito fácil e talvez um dos maiores desafios que são enfrentados pelos profissionais. Portando, o jornalista pode ir até o local de conflito, utilizar técnicas e métodos diferentes e também deixar de lado as suas visões estereotipadas e o seus conceitos já construídos, para que possa enxergar pontos de vistas diferentes. Os textos publicados no período analisado e a forma como foram construídos os agendamentos, reforça ainda mais que o jornalismo é limitante e limitador para abordar a questão indígena. A falta de um método e de uma técnica mais aprimorada somada à linha editorial do jornal é também o que faz com que diariamente os jornais sul-matogrossenses legitimem estereótipos e preconceitos. A reprodução da parte da sentença e do Boletim de Ocorrência que trata os indígenas que retomaram suas terras como “réus” e “invasores”, a exemplo na matéria publica no jornal o Progresso (ANEXO 03), só reforça a intolerância. Não utilizar um método mínimo e uma técnica diferenciada para abordar a questão indígena, assim como desconsiderar a dificuldade dos indígenas de registrar Boletins de Ocorrência e de ter acesso à justiça, gera uma serie de imagens distorcidas da realidade. Só a utilização desse método e técnica diferenciados tornará possível enxergar além do que as fontes e documentos oficiais relatam. VIII. A luta por direito à terra coloca o estado de Mato Grosso do Sul como o portador de um dos maiores índices de violações de direitos indígenas do mundo. Segue abaixo três tabelas retiradas do Relatório “Violência contra os povos indígenas no Brasil” do Conselho Indigenista Missionário (CIMI):


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Assassinatos no Brasil e no Mato Grosso do Sul:

Tabela 22: Dados do Conselho Indigenista Missionário - Retirada do relatório sobre violência contra os povos indígenas no Brasil do Conselho Indigenista Missionário.

O número de assassinatos voltou a crescer no ano de dois mil e doze (2012). O estado de Mato Grosso do Sul representou sessenta e seis por cento (61%) dos assassinatos de indígenas no Brasil. Nos últimos dez anos foram assassinados trezentos e dezessete (317) indígenas em Mato Grosso do Sul, número muito superior que a média nacional.

Tabela 23: Dados do Ministério da Saúde – Retirada do relatório sobre violência contra os povos indígenas no Brasil do Conselho Indigenista Missionário.

O Ministério da Saúde traz dados diferentes do CIMI, e aponta que em dois mil e doze (2012) foram quarenta e três (43) assassinatos só em Mato Grosso do Sul. Nos últimos doze (12) anos o número de assassinatos de indígenas em Mato Grosso do Sul chegou a trezentos e sessenta e um (361). Suicídio entre indígenas (2000 a 2012) em Mato Grosso do Sul:

Tabela 24: Dados do DIASI/DSEI-MS (2000 a 2012) – Retirada do relatório sobre violência contra os povos indígenas no Brasil do Conselho Indigenista Missionário.


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O número de suicídios no ano de dois mil e doze (2012) aumentou para cinquenta e seis (56) casos. Esses dados são novos e se apresentam bem maiores do que já vinha sendo apontado pelo CIMI nos últimos anos. Esse fenômeno acontece devido aos confinamentos nas pequenas reservas indígenas. Desvendar esses números e fenômenos deve ser prioridade para os jornalistas sul-mato-grossenses. São muitos os elementos que podem virar grandes reportagens e contribuir para amenizar o conflito. Diante desse cenário é inadmissível que os jornais continuem contribuindo para legitimar a intolerância e o preconceito contra os povos indígenas.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo a teoria do agendamento, os meios de comunicação de massa diariamente introduzem os assuntos que devem ser debatidos pelas pessoas, o que confirma o papel importante que o Jornalismo cumpre para a manutenção do status quo. Os jornais não dizem ao indivíduo o que pensar, mas quais os temas devem nortear o pensamento. Logo, não dizem o que se deve pensar a respeito dos indígenas, mas qual tema deve ser associado a eles: o conflito agrário. Os fatos narrados sobre os indígenas aparecem como verdades incontestáveis. A rapidez exigida pela lógica produtivista que é imposta dentro das redações prejudica muito o trabalho final. Assim como a espetacularização da questão indígena, principalmente do conflito agrário e dos assassinatos, como forma de chamar a atenção do leitor e tentar persuadi-lo politicamente. O conflito agrário e os assuntos policiais aparecem majoritariamente no agendamento dos jornais. Estes são selecionados e construídos através de alguns critérios muitas vezes subjetivos ou políticos. Um exemplo é a morte, que é um critério de noticiabilidade, mas que não vira sempre notícia. No que se refere ao conflito agrário, aparecem apenas os indígenas que retomaram suas terras, mas nunca os assassinatos das lideranças. Os valores notícia e os critérios de noticiabilidade são muito soltos e relativos. Existe algum elemento a mais que influencia no agendamento dos jornais: a linha editorial dos jornais. Esta é quem estabelece dois pesos e duas medidas na utilização dos critérios. O Jornalismo é limitado e limitador para a abordagem da questão indígena. Isso não significa que deve ser desprezado, já que consegue chegar a lugares em que a ciência também se mostrou limitada. Portanto, através do senso comum, o Jornalismo faz a construção dos fatos. E isso não retira a necessidade da utilização de um método científico e de uma técnica mais apurada para a abordagem da questão indígena. Os métodos antropológicos e a teoria etnográfica no Jornalismo podem suprir essa limitação, desde que o jornalismo investigativo enquanto técnica seja utilizado. A falta de elementos como esse não é responsabilidade apenas dos profissionais. Com


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relação ao que a academia pode contribuir nessa questão, as disciplinas de Antropologia, que são ministradas no curso de Comunicação Social / Habilitação em Jornalismo, deveriam apontar para essa perspectiva. Deveria também haver uma ênfase no conceito antropológico de cultura e nos debates acerca da identidade. Para além dessa adaptação na disciplina de Antropologia, seria importante haver uma disciplina sobre Jornalismo Investigativo na grade do curso, mesmo que optativa. Ela daria mais ferramentas para uma formação mais completa dos repórteres que em seu desempenho profissional devam apurar fatos peculiares de Mato Grosso do Sul. Desde o início, quando esta monografia não passava de um rascunho, a teoria estava montada encima de três limitações que foram abordadas ao longo dos capítulos. A primeira é a limitação subjetiva do repórter, que analisa outra cultura através da sua. Por isso, é muito importante que o repórter tenha noção sobre o conceito antropológico de cultura e sobre as definições de identidade. A segunda é a limitação técnica do jornalismo, de tratar a questão indígena. Para isso, como relatado anteriormente, nesse trabalho é indicada a necessária utilização dos métodos antropológicos e do jornalismo investigativo. A terceira limitação é a política, ou seja, a ligação que os donos dos jornais têm com a oligarquia agrária e o seu atrelamento econômico, que faz a linha editorial pesar mais que qualquer outro fator na produção das notícias. Essa última limitação não foi muito desenvolvida durante a pesquisa devido a sua complexidade, mas poderá ser trabalhada futuramente. O primeiro e o segundo capítulo trazem questões importantes que devem ser levadas em consideração para que seja entendido o processo de construção das notícias, desde a produção até a recepção. O terceiro capítulo, num primeiro momento, descreve os dados recolhidos no período correspondente à pesquisa e posteriormente analisa oito matérias dos quatro jornais estudados. Foram utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa, as formulações de Meditsch (1997), sobre o Jornalismo enquanto forma de conhecimento; o conceito de agenda-setting, desenvolvido por Wolf (2005), e os valores-notícias e critérios de noticiabilidades; a teoria sobre as representações sociais, de Moscovici (2011), e as contribuições da psicologia social; as formulações de estereótipos, de Lippman (2008), e de ideologia, de Kellner (2001) e Hall (2008); o debate sobre a cultura profissional,


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levantado por Traquina (2008), e as formulações sobre ética e moral, de Karam (1997) e Cristofoletti (2008). Na parte mais técnica do desenvolvimento da pesquisa, Fortes (2007) e Sequeira (2005) trazem os elementos da técnica do jornalismo investigativo de forma aprofundada. As identidades são analisadas nas perspectivas de Hall (2005) e Martín Barbero (2006), e o conceito de cultura a partir dos Estudos Culturais de Williams (2000), da antropologia de Laraia (2004) e de Kuper (2002). São utilizadas as formulações de Lago (2008) e Pena (2008) nos métodos antropológicos e na teoria etnográfica no Jornalismo. O debate sobre a questão indígena é baseado em Martín Barbero (2009) e nos relatórios do Conselho Indigenista Missionário. O desenvolvimento da pesquisa foi longo e passou por várias etapas. Em primeiro momento foi levantado o questionamento quanto à abordagem ou não dos jornais impressos sul-mato-grossenses da questão indígena. Nesse sentido, para averiguar esse ponto, foram escolhidos os jornais Correio do Estado, o Estado de Mato Grosso do Sul, o Progresso e o Diário de Mato Grosso do Sul em uma data escolhida aleatoriamente (de 03 de outubro a 03 de novembro de 2012), a partir do qual foi verificada que havia presença da questão indígena nesses jornais, e com esse material foi feita então a coleta de informações. A partir dessa amostra foi constatado que de cento e dez (110) edições no período, quarenta e nove (49) delas abordavam a questão indígena, com setenta e quatro (74) textos diferentes. Após esse período foi feita uma tabela que sistematizou todo o conteúdo publicado nos jornais escolhidos, durante o período. O resultado foi surpreendente, como mostrado no Item 3.1.5., pois em todos os jornais o Conflito Agrário esteve presente como tema em quase 70% das publicações, seguido pelo tema Policial, que chegou a aparecer em aproximadamente 20% dos casos. O Progresso de Dourados foi o que mais publicou e que mais deu destaque para o Conflito Agrário. Os jornalistas eram diversos, que é o indicativo de que não havia nenhum repórter específico com formação diferenciada ou especialização no tema para cobrir esses acontecimentos. A análise das matérias mostrou que os textos são construídos apenas a partir de um único ponto de vista. As fontes utilizadas, majoritariamente, são oficiais, e quando


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são específicas pendem para o lado dos fazendeiros. Os indígenas são expostos e é negada a compreensão deles enquanto indivíduos. Os indígenas quase não tem voz nos jornais impressos de Mato Grosso do Sul. Quando tem, é através de representações da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e do Ministério Público Federal (MPF), que fazem parte do Estado brasileiro e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ligado à igreja católica, que também esteve ligado durante alguns séculos a esse conflito. A FUNAI é o antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que após o Massacre do Paralelo 11 (chacina do povo Cinta-Larga no Mato Grosso) e sua repercussão internacional, muda de nome depois da reação do Governo brasileiro em resposta aos protestos internacionais. O mesmo SPI que foi responsável pela retirada violenta dos indígenas de suas terras em Mato Grosso do Sul. É curioso que sejam justamente o CIMI e a FUNAI os que falem quase que com exclusividade em nome deles. Dos fatos ocorridos no período analisado na pesquisa, nem todos entravam no agendamento dos jornais, mas apenas partes do conflito agrário e alguns assassinatos. Após essa observação foi feita outra tabela com os dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) no período correspondente a pesquisa. Assim, se as tabelas forem colocadas lado a lado, será possível observar que nem todo conflito agrário vira notícia, e nem todo assassinato aparece na linha dos jornais. Pelo acirramento do conflito é de se esperar que ele apareça tantas vezes nos jornais. No entanto, duas questões devem ser levadas em consideração: a) como o conflito aparece; b) quais aspectos do conflito aparecem. As contribuições teóricas de Martín Barbero (2009) nos permitem enxergar que a questão indígena em Mato Grosso do Sul vai muito além do conflito agrário e dos setenta e três (73) mil indígenas existentes no estado, agrupados nas nove (09) etnias existentes. É o pensar de todo o seu contexto político e cultural que é negado diariamente pelos jornais impressos sul-mato-grossense. Os indígenas ainda são tratados como sendo os mesmos, não sendo diferenciados pelas etnias das quais pertencem, e continuam a serem vistos como seres primitivos, privados da sua própria existência positiva. Além do mais, existe a tentativa de colocá-los em situação exterior ao modelo desenvolvimentista capitalista, o


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que é impossível aos indígenas sul-mato-grossenses por vários fatores. O mais grave deles é que o índio sul-mato-grossense foi convertido através da necessidade de sobrevivência a lógica do sistema econômico, após serem expulsos violentamente de suas terras. Assim, os indígenas foram automaticamente transformados em mão-deobra

barata

(muitas

vezes

análogas

ao

trabalho

escravo)

do

modelo

neodesenvolvimentista, que tem como ponta de lança aqui no estado, a implementação das usinas de álcool e a lógica do corte de cana-de-açucar, que de 2007 para cá se intensifica com as vinte e três (23) unidades construídas. É fundamental que haja uma melhor cobertura sobre a questão indígena, principalmente no que diz respeito aos conflitos. Caso contrário, os jornais sul-matogrossenses continuarão legitimando o preconceito e a intolerância que rondam os povos indígenas de Mato Grosso do Sul. O conflito agrário é muito intenso e faz muitas vítimas há anos. Entretanto, o escopo desta monografia não é o de ser uma sistematização de um período de publicações dos jornais impressos sul-mato-grossenses, mas o de ser o início de um período de estudo e pesquisa mais sistemático e com outro olhar sobre a questão indígena. A academia deve assumir a responsabilidade de trazer o debate sobre a questão indígena das mais variadas formas para dentro das salas de aula e para as linhas de pesquisa. Não há hoje lugar que possa ser mais democrático para uma discussão tão polêmica e complexa, que as universidades. Finalmente, destaco que o processo de pesquisa foi importante e de muito aprendizado. O desafio de pensar o tema e conciliar a teoria com a prática foi um dos maiores desafios da análise. Além da dificuldade de sistematizar as pilhas de jornais que foram circulados no período devido à forma, na maioria das vezes superficial, com que os textos foram construídos. Permito-me dizer que esses desafios foram superados. Mas essa é apenas uma parte de um processo de busca por respostas que tenho planos de percorrer.


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APÊNDICES APÊNDICE 1 – TABELA DO JORNAL O ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

Dia

Editoria

Página

Gênero

Tema

Atores

Quem tem voz?

Capa? Tem destaque?

Jornalista

03/10/2012

Cidades

B3

Notícia

Conflito Agrário

Polícia Federal; Carlos Fernando de Souza, advogado dos fazendeiros; 2ª Vara Federal de Campo Grande, juíza substituta Raquel Domingues do Amaral; Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Polícia Federal; Carlos Fernando de Souza, advogado dos fazendeiros; FUNAI.

Não é capa e não tem destaque

Rafael Bueno

10/10/2012

Interior

B4

Notícia

Conflito Agrário

Polícia Federal; Índios da etnia Kadiwéus; Carlos Fernando de Souza, advogado dos fazendeiros; 2ª Vara Federal de Campo Grande, juíza substituta Raquel Domingues do Amaral; Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Carlos Fernando de Souza, advogado dos fazendeiros e FUNAI.

Não é capa e não tem destaque

Sem assinatura

15/10/2012

Cidades

B4

Nota

Policial (Assassinato)

Rodrigo Morales Machado, indígena; Anderson de Souza Garcia Flores, apontado como autor do crime; Andreia Alves, delegada civil; testemunha não identificada; Polícia Civil.

Andreia Alves, delegada civil; Anderson de Souza Garcia Flores, apontado como autor do crime.

Não é capa e não tem destaque

Carlos Henrique Wilhelms

15/10/2012

Cidades

B4

Nota

Policial (Morte)

Domiciano Vera, indígena; Polícia Civil.

Polícia Civil através da pericia inicial.

Não é capa e não tem destaque

Jeozadaque Garcia

17/10/2012

Cidades

B5

Nota

Conflito Agrário

Índios da etnia Guarani-Kaiowá e

Indígenas Guarani-

Não é capa e

Rafael Bueno


84

Henrique Bonachela, juiz federal.

Kaiowá através da carta (ANEXO 09).

não tem destaque

17/10/2012

Cidades

B4

Notícia

Educação

Dilma Rousseff (PT), presidenta da república; Instituto IBGE; Ministério da Educação (MEC); Universidade Federal da Grande Dourados; Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Dilma Rousseff (PT), presidenta da república, através de decreto.

Não é capa e não tem destaque

Jeozadaque Guarcia

18/10/2012

Cidades

B2

Notícia

Conflito Agrário

Justiça Federal de Corumbá; Fundação Nacional do Índio; Índios da etnia Guató; Douglas Camarinha Gonçalves, juiz; Ministério Público Federal (MPF)

Ministério Público Federal.

Não é capa e não tem destaque

Sem assinatura

18/10/2012

Cidades

B2

Nota

Conflito Agrário

Índios da etnia Guarani-Kaiowá, Tribunal Regional Federal da 3ª Região

Indígenas GuaraniKaiowá através da carta (ANEXO 09)

Não é capa e não tem destaque

Sem assinatura (anexada a matéria acima)

20/10/2012

Política

A3

Nota

Conflito Agrário (Protesto e manifestações)

Comunidades Indígenas, entidades de defesa dos Direitos Humanos, Conselho Indigenista Missionário.

Conselho Indigenista Missionário.

Não é capa e não tem destaque

Folhapress

22/10/2012

Cidades

B3

Nota

Educação

Professores da etnia GuaraniKaiowá e Adir Casaro Nascimento, professor da UCDB

Professores da etnia Guarani-Kaiowá.

Não é capa e não tem destaque

Sem Assinatura

26/10/2012

Cidades

B4

Notícia

Conflito Agrário

Ministério Público Federal de Dourados; Tribunal Regional da 3ª Região; Justiça Federal de Naviraí; Avaaz, site de abaixoassinado; Conselho Indigenista Missionário; índios da etnia Guarani-Kaiowá

Ministério Público Federal de Dourados; Justiça Federal de Naviraí; Avaaz; Conselho Indigenista Missionário

Não é capa e tem destaque

Jeozadaque Garcia

27/10/2012

Interior

B8

Notícia

Conflito Agrário

Indígenas Guarani-Kaiowá; Justiça de Mato Grosso do Sul; organizações indigenistas;

Indígenas GuaraniKaiowá, através da carta (ANEXO 09);

Não é capa e tem destaque

Agência Brasil


85

Ministério Público Federal; Sérgio Henrique Bonachela, juiz federal da 1ª Vara Federal de Naviraí; Marco Antonio Delfino, procurador da república; Marco Antonio Arce, diretor do cartório do Fórum de Iguatemi; Conselho Indigenista Missionário.

Justiça Federal de Mato Grosso do Sul; Sérgio Henrique Bonachela, juiz federal da 1ª Vara Federal de Naviraí; Marco Antonio Delfino, procurador da república; Conselho Indigenista Missionário.

30/10/2012

Interior

B5

Nota

Policial (Estupro)

Índia da etnia Guarani-Kaiowá; oito pistoleiros; Conselho Indigenista Missionário.

Polícia Civil, através do relato prestado pela índia.

Não é capa e não tem destaque

Rafael Bueno

31/10/2012

Cidades

B4

Notícia

Conflito Agrário

Ministério Público Federal; Justiça Federal de Dourados; Polícia Federal, Agripino da Silva, índio que se suicidou da etnia GuaraniKaiowá; Polícia Civil e militar; Procuradoria-Geral do Estado; Rafael Coldibelli Francisco, procurador-geral do Estado; Marco Antonio Delfino, procurador da república.

Ministério Público Federal; Rafael Coldibelli Francisco, procurador-geral do Estado; Marco Antonio Delfino, procurador da república.

Não é capa e tem destaque

Jeozadaque Garcia

31/10/2012

Cidades

B4

Notícia

Conflito Agrário

Tribunal Regional Federal da 3ª Região; Justiça Federal de Naviraí, Índios da etnia GuaraniKaiowá; Eduardo Cardoso, ministro da Justiça; Secretaria de Direitos Humanos da Presidência; Força Nacional; Polícia Federal; lideranças indígenas; Deborah Duprat, procuradora-geral da República; Ministério Público Federal.

Eduardo Cardoso, ministro da Justiça; Deborah Duprat, procuradora-geral da República; índios da etnia GuaraniKaiowá através da carta (ANEXO 09).

Não é capa e tem destaque.

Rafael Bueno (anexada a matéria acima)

02/11/2012

Cidades

B1

Notícia

Conflito Agrário

Não é capa e tem destaque

Patricia Belarmino

Procurador da República em Dourados, Marco Antonio Delfino; Ministério Público Federal;

Procurador da


86

03/11/2012

Opinião

A2

Artigo

Conflito Agrário

Agência Brasil; Delcidio do Amaral, Senador de Mato Grosso do Sul (PT); Presidenta da Fundação Nacional do Índios (FUNAI), Marta Maria do Amaral Azevedo; Sarney Filho, deputado (PV); Justiça Federal de Naviraí; Tribunal Regional Federal da 3ª Região

República em Dourados, Marco Antonio Delfino; Delcidio do Amaral, Senador de Mato Grosso do Sul (PT); Presidenta da FUNAI, Marta Maria do Amaral Azevedo;

*

Ernesto Caruso, militar reformado.

Não é capa e tem destaque

Ernesto Caruso


87

APÊNDICE 2 – TABELA DO JORNAL O CORREIO DO ESTADO

Dia

Editoria

Página

Gênero

Tema

Atores

Quem tem voz?

Capa? Tem destaque?

Nome do Jornalista

03/10/2012

Cidades

15

Notícia

Conflito Agrário (Associado às eleições)

Índios da etnia Kadiweu; Raquel Domingues do Amaral, juíza federal; Carlos Fernando de Souza e Igor Vilela Pereira, advogado dos fazendeiros; Polícia Federal; Supremo Tribunal Federal; Regina Flávia, procuradora jurídica da Advocacia-Geral da União.

Carlos Fernando de Souza e Igor Vilela Pereira, advogado dos fazendeiros; Polícia Federal; Regina Flávia, procuradora jurídica da Advocacia-Geral da União.

Não é capa e não tem destaque.

Celso Bejarano

07/10/2012

Correio+

9

Notícia

Conflito Agrário (Associado às eleições)

Índios da etnia Guarani-Kaiowá; Força Nacional; Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Juliana Mello, chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Território da FUNAI de Ponta Porã.

FUNAI; Juliana Mello, chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Território da FUNAI de Ponta Porã.

Não é capa e tem destaque.

Fábio Dorta

07/10/2012

Cidades

15

Notícia

Policial (Assassinato)

Claudio Modesto, índio da etnia Guarani-Kaiowá; Arnando Ximenes Benites, acusado de ser autor do assassinato; Força Nacional; Familiares da vítima.

Arnando Ximenes Benites, acusado de ser autor do assassinato; Familiares da vítima.

Não é capa e não tem destaque.

Fábio Dorta

10/10/2012

Política

4

Nota

Eleição

Aguilera de Souza, índio GuaraniKaiowá; Gino Ferreira; Albino Mendes; Cemar Arnal; Walter Hora; Délia Razuk; Pastor Sérgio; Maurício Lemes; Ideonor Machado; Pedro Pepa; Alan Guedes, Cido Medeiros; Madson; Elias Ishy; Dirceu Longhi; Juarez de Oliveira; Raphael Mattos;

Não há citação direta, mas com destaque a Aguilera de Souza.

Não é capa e não tem destaque.

Fábio Dorta


88

Alberto dos Santos; Virgília Magrini; Pastor Cirilo; Nelson Sudário; Marcelo Mourão; Silas Zanata. 17/10/2012

Cidades

14

Notícia

20/10/2012

Brasil

10

Nota

Conflito Agrário

Conflito Agrário (Protesto e manifestações)

Funcionários da Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Juliana Mello, chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Território da FUNAI de Ponta Porã; Marta Maria do Amaral Azevedo, presidenta da FUNAI; Luis Inácio Lula da Silva, ex-presidente do país; Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal; Força Nacional.

Juliana Mello, chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Território da FUNDAI de Ponta Porã.

Não é capa e não tem destaque.

Gabriel Kabad

Comunidades Indígenas, entidades de defesa dos Direitos Humanos, Conselho Indigenista Missionário; Congresso Nacional; Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; Justiça Federal de Naviraí.

Conselho Indigenista Missionário; Os índios da etnia Guarani-Kaiowá, mas através da carta.

Não é capa e não tem destaque.

Sem assinatura

25/10/2012

Cidades

13

Notícia

Conflito Agrário

Índios da etnia Kadiweus; Polícia Federal; Carlos Fernando de Souza, advogado dos fazendeiros; Adriana Delboni Taricco, juíza da 2ª Vara Federal de Corumbá; Gustavo Ferreira Lopes, advogado dos fazendeiros; Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Governo estadual.

Carlos Fernando de Souza, advogado dos fazendeiros; Gustavo Ferreira Lopes, advogado dos fazendeiros;

Não é capa e tem destaque.

Anahi Zurutuza e Gabriel Kabad

26/10/2012

Cidades

15

Notícia

Conflito Agrário

Índios Guarani-Kaiowá; Justiça Federal de Naviraí; Maria do Rosário Nunes, ministra dos Direitos Humanos; Dilma Rousseff; André Puccinelli, governador de Mato Grosso do Sul; Armando Albuquerque,

Índios GuaraniKaiowá, mas através da carta; Armando Albuquerque, advogado do fazendeiro;

É capa e tem destaque.

Daniella Arruda


89

advogado do fazendeiro; Sergio Henrique Bonachella, juiz federal; Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Proprietário Rural que não quis divulgar o nome.

Proprietário Rural que não quis divulgar o nome.

27/10/2012

Cidades

14

Notícia

Conflito Agrário

Índios da etnia Guarani-Kaiowá; Maria do Rosário, ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Ministério da Justiça; Ministério da Saúde; Ministério do Desenvolvimento Social; Secretaria Geral da Presidência; Ministério Público Federal.

Maria do Rosário, ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República;

Não é capa e não tem destaque.

Celso Bejanaro

28/10/2012

Cidades

14

Notícia

Educação

Ministério da Educação (MEC).

MEC

Não é capa e não tem destaque.

Celso Bejarano

02/10/2012

Cidades

8

Notícia

Conflito Agrário

Índios da etnia Guarani-Kaiowá; Marco Antonio Delfino, procurador da república; Senado Federal; União; Senado Federal; Dilma Rousseff; Ministério da Justiça; Ministério do Planejamento; Presidência da República; Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.

Marco Antonio Delfino, procurador da república.

Não é capa e tem destaque.

Clodoaldo Silva


90

APÊNDICE 3 – O DIÁRIO DE MATO GROSSO DO SUL

Dia

Editoria

Página

Gênero

Tema

Atores

Quem tem voz?

Capa? Tem destaque?

Nome do Jornalista

03/10/2012

Cidade

06

Notícia

Conflito Agrário

Gino Ferreira, vereador de Dourados; produtores rurais; índios.

Gino Ferreira

Não é capa e tem destaque

Sem assinatura

06/10/2012

Cidade

06

Notícia

Conflito Agrário

Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Edward Luz, antropólogo; Jorge Eremites, professor de antropologia.

Edward Luz, antropólogo; Jorge Eremites, professor de antropologia.

Não é capa e tem destaque

André Bento

08/10/2012

Polícia

03

Nota

Policial (Assassinato)

Claudio Modesto, índio da etnia Guarani-Kaiowá assasinado; Arnando Ximenes Benites, acusado de ser autor do assassinato; Força Nacional; Testemunhas não identificada.

Testemunhas não identificadas.

Não é capa e não tem destaque.

Sem assinatura

08/10/2012

Política

05

Notícia

Eleições

Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Carlilhar Souza, missionária evangélica; Caudemir Pereira, índio da etnia Terana; Leomar Mariano Silva, vicecapitão; Izabel Vargas Machado, índia guarani.

Carlilhar Souza, missionária evangélica; Caudemir Pereira, índio da etnia Terana; Leomar Mariano Silva, vicecapitão; Izabel Vargas Machado, índia guarani.

Não é capa e tem destaque.

Fabiane Dorta

08/10/2012

Cidade

06

Nota

Eleições

Aguilera de Douza, vereador eleito Guarani-Ñandeva

Aguilera de Douza, vereador eleito Guarani-Ñandeva

Não é capa e tem destaque.

André Bento


91

09/10/2012

Cidade

08

Notícia

Eleições

Aguilera de Douza, vereador eleito Guarani-Ñandeva

Aguilera de Douza, vereador eleito Guarani-Ñandeva

É capa e tem destaque.

André Bento

15/10/2012

Polícia

03

Nota

Policial (Assassinato)

Rodrigo Morales Machado, indígena morto; Anderson Garcia Flores, réu confesso, indígena.

Anderson Garcia Flores, réu confesso, indígena.

É capa e não tem destaque

Sem assinatura

15/10/2012

Polícia

03

Nota

Policial (Morte)

Domiciano Vera, indígena morto;

Perícia inicial.

É capa e não tem destaque

Sem assinatura

23/10/2012

Cidade

07

Notícia

Conflito Agrário

Dirceu Longhi, vereador de Dourados; Ministério Público; Equipe Engenharia Ltda; Floriza Souza Silva, índia; Departamento jurídico da Câmara.

Dirceu Longhi, vereador de Dourados; Floriza Souza Silva, índia;

Não é capa e tem destaque.

Sem assinatura

23/10/2012

Região

02

Notícia

Inauguração de obra

Mateus Palma Farias, prefeito de Caarapó; Assessoria da prefeitura; Ministério do Turismo; Delcidio do Amaral, senador de Mato Grosso do Sul; Vander Loubet, deputado federal; MEC; Antonio Biffi, deputado federal; Ministério da Saúde; Valter Pereira, ex-senador; Mário Valério, prefeito eleito.

Mateus Palma Farias, prefeito de Caarapó.

Não é capa e tem destaque.

Sem assinatura

Política

04

Notícia

Conflito Agrário

Gino Ferreira, vereador; Ministério Público Federal; Tribunal Regional Federal 3ª Região; Funai.

Gino Ferreira, vereador.

Não é capa e não tem destaque.

Sem assinatura

26/10/2012

Polícia

03

Nota

Policial (Morte)

Polícia Civil; Elizangela Ramires Franco, indígena encontrada morta; Secretaria Especial da Saúde Indígena; Instituto Médico Legal; Agente funerário.

Agente funerário.

Não é capa e tem destaque.

Sem assinatura

31/10/2012

Cidade

06

Notícia

Conflito Agrário

Deborah Duprat, vice-procuradora; Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Ministério Público Federal; Índios da etnia GuaraniKaiowá; Justiça Federal; Marco

Deborah Duprat, vice-procuradora; Conselho Indigenista Missionário.

Não é capa e tem destaque.

André Bento

25/10/2012


92

Antonio Delfino, procurador da República; Conselho Indigenista Missionário. 31/10/2012

Cidade

07

Notícia

Inauguração de obra

Geraldo Resende, deputado federal; Governo do Estado; MEC; Osmarilda dos Santos Pires de Araújo, diretora da escola Guateka.

Geraldo Resende, deputado federal; Osmarilda dos Santos Pires de Araújo, diretora da escola Guateka.

Não é capa e não tem destaque.

Sem assinatura

01/11/2012

Cidade

07

Notícia

Conflito Agrário

Ministério Público Federal; União; Justiça; André Puccinelli, governador do estado de Mato Grosso do Sul; Governo do Estado de Mato Grosso do Sul; Policia Civil; Polícia Militar; Procuradoria Geral do Estado; Rafael Doldibelli Francisco, procurador-geral; Procuradores federais; Polícia Federal.

Ministério Público Federal; Procuradores federais.

É capa e tem destaque

André Bento


93

APÊNDICE 4 – TABELA DO JORNAL O PROGRESSO

Dia

Editoria

Página

Gênero

Tema

Atores

Quem tem voz?

Capa? Tem destaque?

Nome do Jornalista

04/10/2012

Polícia

04

Notícia

Conflito Agrário/Eleições

Índios; Polícia Federal; Polícia Militar; Polícia Civil; Mauro Nering Karloh, juiz da 19ª Zona Eleitoral de Ponta Porã; Jackson Lop Lima, representante da Coligação”União e Trabalho”; Justiça Eleitoral.

Jackson Lop Lima, representante da Coligação”União e Trabalho”

Não é capa e tem destaque.

Sem assinatura

06-07/10/12

Dia a Dia

04

Notícia

Conflito Agrário

Força Nacional; Índios; Juliana Mello, chefe de Gestão Ambiental e Territorial da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) de Ponta Porã; Polícia Federal; Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Ministério da Justiça; Silvio Raimundo da Silva, coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em Ponta Porã.

Juliana Mello, chefe de Gestão Ambiental e Territorial da FUNAI de Ponta Porã; Ministério da Justiça, através de portaria publicada no Diário Oficial da União; Silvio Raimundo da Silva, coordenador regional da FUNAI em Ponta Porã.

Não é capa e tem destaque.

Valéria Araújo

08/10/2012

Dia a Dia

04

Notícia

Conflito Agrário

Ministério Público Federal; Tribunal Federal da 3ª Região; Justiça Federal de Dourados; Valdeci dos Santos, juiz federal; Carlito Oliveira, “capitão” que comandou a ocupação; Cícero Alves da Costa, advogado do fazendeiro; Esmael Barbosa Chaves, fazendeiro; Supremo Tribunal Federal; Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Cícero Alves da Costa, advogado do fazendeiro; Tribunal Federal da 3ª Região, através da decisão; Supremo Tribunal Federal, através da sentença.

É capa e tem destaque.

Marcos Santos


94

08/10/2012

Política

04

Notícia

Eleições

Aguilera de Souza, vereador indígena eleito em Dourados; Fernando de Souza, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena; Murilo Zauith, prefeito eleito; Keliana Fernandes, Delane Borges, Zé Roberto (candidatos a prefeito derrotados); Wilson Matos, Curu e Jorge Paredes (candidatos a vereadores indígenas que não se elegeram).

Aguilera de Souza, vereador indígena eleito em Dourados; Fernando de Souza, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena.

É capa e tem destaque

Valéria Araújo

09/10/2012

Dia a dia

04

Notícia

Educação

Cleber Dias, professor da escola municipal Tengatui Marangatu, na Aldeia Jaguapiru; Prefeitura Municipal de Dourados; Secretaria Municipal de Meio Ambiente; Instituto do Meio Ambiente (Imam); Núcleo de Educação Ambiental; Associação dos Agentes de Dourados (Agecold).

Cleber Dias, professor da escola municipal Tengatui Marangatu, na Aldeia Jaguapiru.

É capa e tem destaque.

Sem assinatura

15/10/2012

Meio Ambiente

06

Nota

Conflito Agrário

Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Defensoria Pública do Estado do Pará; Ministério Público Federal, juiz envolvido no caso que não tem o nome citado; Conselho Indigenista Missionário; Índios da etnia Xipaia, Kuruia, Parakanã, Arara, Juruma e Assurini.

Conselho Indigenista Missionário.

Não é capa e não tem destaque.

Agência Brasil

15/10/2012

Meio Ambiente

06

Nota

Conflito Agrário

Justiça Federal; Norte Energia; Ministério Público Federal; Marcelo Honorato, juiz federal.

Justiça Federal; Norte Energia; Ministério Público Federal; Marcelo Honorato, juiz federal.

Não é capa e não tem destaque.

Agência Brasil

16/10/2012

Polícia

04

Notícia

Conflito Agrário

Justiça Federal; Índios da etnia

Índios da etnia

É capa e tem

Sem assinatura


95

Guarani-Kaiowá; Conselho Indigenista; Henrique Bonachela, juiz federal; Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Guarani-Kaiowá, através da carta; Conselho Indigenista, através de uma nota; Henrique Bonachela, através da sentença.

destaque.

18/10/2012

Dia a dia

02

Notícia

Conflito Agrário

Índios da etnia Guarani-Kaiowá; Tribunal Regional Federal da 3ª Região; Ministério Público Federal; Conselho Indigenista Missionário; Flávio Machado, coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Tribunal Regional Federal da 3ª Região, através da decisão; Conselho Indigenista Missionário; Flávio Machado, coordenador regional do CIMI.

É capa e tem destaque.

Mariana Tokarnia

18/10/2012

Meio ambiente

06

Notícia

Conflito Agrário

Norte Energia; Marcelo Honoratto, juiz federal de Altamira; procurador da Fundação Nacional do Índio (FUNAI); lideranças indígenas; Agência Brasil.

Agência Brasil.

Não é capa e tem destaque.

Agência Estado

18/10/2012

Meio ambiente

06

Notícia

Educação

Faculdade de Direito da USP; Rodrigo Sergio Meirelles Marchini, pesquisador.

Faculdade de Direito da USP, através da pesquisa; Rodrigo Sergio Meirelles Marchini, pesquisador.

Não é capa e tem destaque.

Paloma Rodrigues

19/10/2012

Caderno B

04

Notícia

Educação

Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

UFGD, através da assessoria.

Não é capa e tem destaque.

Flávio Verão


96

20-21/10/12

Brasil/Mundo

07

Notícia

Conflito Agrário (Protesto e manifestações)

Fundação Nacional do Índio (FUNAI); lideranças indígenas; índios da etnia Guarani-Kaiowá; manifestantes em prol dos direitos indígenas; José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça; Sarney Filho, deputado federal; Supremo Tribunal Federal; Conselho Indigenista Missionário; Tribunal Regional da 3ª Região.

Sarney Filho, deputado federal; FUNAI, através de nota; Conselho Indigenista Missionário, através de dados.

Não é capa e tem destaque.

Vannildo Mendes

23/10/2012

Caderno B

B3

Notícia

Produção Cultural

Sidney Vilhalba Araujo e Jânio Oliveira Cabera, integrantes do grupo de rap Jovens Conscientes; Dauzely Batista Costa, produtora do grupo.

Dauzely Batista Costa, produtora do grupo.

Não é capa e não tem destaque.

Sem assinatura

23/10/2012

Dia a dia

D2

Notícia

Conflito Agrário

Fundação Nacional do Indío – FUNAI, regional Dourados; Lucas Paiva, Chatali Benites, Renato de Souza e Dores Ajala, lideranças indígenas; Maria Aparecida Mendes de Oliveira.

Lucas Paiva e Renato de Souza, indígenas.

Não é capa e tem destaque.

Flávio Verão

23/10/2012

Dia a dia

D3

Nota

Educação

Comissão Permanente de Assuntos Indígenas da OAB; Fórum Permanente de Assuntos Indígenas da ONU.

Sámia Roges Jordy Barbieri Presidente da Copai/OAB

É capa e não tem destaque.

Sem assinatura

23/10/2012

Dia a dia

D4

Notícia

Conflito Agrário

Dirceu Longhi, Vereador; Ministério Público; Pedreira; Floriza Souza Silva.

Não é capa e não tem destaque.

Assessoria da Câmara

23/10/2012

23/10/2012

Opinião

Cidades

02

C1

Artigo

Notícia

Dirceu Longhi, Vereador; Floriza Souza Silva.

*

Wilson Matos da Silva

Não é capa e não tem destaque.

Wilson Matos da Silva

Mateus Palma de Farias, Prefeito

Mateus Palma de Farias, Prefeito de

Não é capa e tem destaque.

Sem Assinatura

Educação

Inauguração de Obras


97

de Caarapó; Câmara dos Vereadores; Ministério do Turismo; Delcidio do Amaral, Senador; Vander Loubet, Deputado Federal; Ministério da Educação; Antônio Carlos Biffi, Deputado Federal; Ministério da Saúde; Valter Pereira, ex-senador; Mário Valério, Presidente da Câmara dos Vereadores;

Caarapó.

Superintendência Federal de Agricultura; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa; Associação de Produtores Orgânicos de MS – Apoms; Pastoral da Terra; Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS.

Superintendência Federal de Agricultura; Associação de Produtores Orgânicos de MS – Apoms.

24/10/2012

Economia

A5

Notícia

Economia

25/10/2012

Polícia

04

Notícia

Policial (Assassinato)

Polícia Federal; Índios das reservas de Dourados; Força Nacional; Escritório das Nações Unidades sobre Drogas e Crimes; Neumar Mariano Silva, vice-líder da Aldeia Jaguapiruí; ONU.

26/10/2012

Dia a Dia

B2

Notícia

Conflito Agrário

Ministério Público Federal; Fundação Nacional do Índio (FUNAI); Índios da etnia GuaraniKaiowá; Tribunal Regional da 3ª Região; Justiça Federal de Naviraí; Henrique Bonachela, juiz federal; Osmar Bonamigo, fazendeiro; Conselho Indigenista Missionário; Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado; Paulo Paim, senador e presidente da Comissão.

Não é capa e tem destaque.

Sem assinatura

Escritório das Nações Unidades sobre Drogas e Crimes, através de dados; Neumar Mariano Silva, vicelíder da Aldeia Jaguapiruí; ONU, através de dados.

É capa e tem destaque.

Sem assinatura

Ministério Público Federal, através de nota da assessoria; Índios da etnia Guarani-Kaiowá, através da carta; Paulo Paim, senador e presidente da Comissão.

É capa e tem destaque.

Marli Lage


98

27-28/10/12

D mais

D2

Artigo

Conflito Agrário

*

Grupo Acaba

Não é capa e não tem destaque.

Grupo Acaba

27-28/10/12

Opinião

A2

Artigo

Conflito Agrário

*

José Alberto Vasconcellos

Não é capa e não tem destaque.

José Alberto Vasconcellos

29/10/2012

Caderno B

B1

Notícia

Produção Cultural

Cleber Dias, Sandra Adriana de Macedo, Simone A. Rosa Ponse, Nacilene dos Santos, Eliane V. Araújo, Maria Alaíde Seixas Arcanjo, Neuraci B. Alencar, Lidimara F. Valério, Marília M. Duarte, Marcos José S. Cesco, Michely V. Rodrigues e Josué Gabriel de Leão, educadores responsáveis pela Mostra Cultural; Osmarilda dos Santos Pires, diretora da Escola Estadual Guateka Marçal de Souza;

Osmarilda dos Santos Pires, diretora da Escola Estadual Guateka Marçal de Souza;

Não é capa e tem destaque.

Sem Assinatura

29/10/2012

Meio Ambiente

A6

Nota

Conflito Agrário

Ministério Público Federal; Índios da etnia xavantes; Justiça Federal; Tribunal Regional Federal da 1ª Região; Supremo Tribunal Federal; Superior Tribunal de Justiça.

Ministério Público Federal

Não é capa e não tem destaque.

Sem assinatura

29/10/2012

Política

A3

Coluna

Conflito Agrário

*

Marcos Santos

Não é capa e tem destaque.

Marcos Santos

30/10/2012

Dia a Dia

B4

Nota

Conflito Agrário

Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa; Índios da etnia Guarani-Kaiowá; Ministério das Cidades; Tribunal Regional Federal da 3ª Região; Paulo Paim, senador e presidente da

Paulo Paim, senador e presidente da Comissão

Não é capa e não tem destaque

Sem assinatura


99

Comissão; Conselho Indigenista Missionário; Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 30/10/2012

Editorial

A2

Editorial

Conflito Agrário

*

O Progresso

Não é capa e tem destaque

O Progresso

30/10/2012

Polícia

C4

Nota

Policial

Indígena da etnia Guarani-Kaiowá, oito pistoleiros; Polícia Civil; Instituto Médico Legal.

Indígena da etnia Guarani-Kaiowá, oito pistoleiros, através do Boletim de Ocorrência.

Não é capa e não tem destaque.

Sem assinatura

30/10/2012

Rural

02

Entrevista

Conflito Agrário

Esmael Barbosa Chaves, fazendeiro.

Esmalte Barbosa Chaves, fazendeiro.

Não é capa e tem destaque.

Marcos Santos


100

ANEXOS

ANEXO 1 – Fazendeiros discutem retirada de índios da região do Nabileque (02/10/2012, Correio do Estado)


101

ANEXO 2 – Índio é morto a facadas em Dourados (07/10/2012, Correio do Estado)


102

ANEXO 3 – MPF perde apelação sobre Passo Piraju (07/10/2012, Correio do Estado)


103

ANEXO 4 – “Nossa história mudou de página”, diz 1º índio eleito vereador em Dourados (09/10/2012, Diário MS)


104

ANEXO 5 – Evento discute qualidade da educação indígena no Estado (22/10/2012, Estado MS)


105

ANEXO 6 – Índios prometem resistir até a morte e ganham apoio nacional (26/10/2012, Correio do Estado)


106

ANEXO 7 – Mostra Cultural (29/10/2012, Progresso)


107

ANEXO 8 – MPF pede bloqueio de repasses federais para forçar governador a policiar aldeias (29/10/2012, Diário MS)


108 ANEXO 9 – Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/MbarakayIguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil A carta na íntegra: Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-IguatemiMS para o Governo e Justiça do Brasil

Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 000003287.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.

Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.

Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território


109 antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.

Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos. Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.

Atenciosamente, Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay

Relatório do conselho Aty Guasu explica a situação dos Guarani Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay Este relatório é do conselho da Aty Guasu Guarani e Kaiowá, explicitando a história e situação atual de vida dos integrantes das comunidades Guarani-Kaiowá do território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay, localizada na margem de Rio Hovy, 50 metros do rio Hovy, no município de Iguatemi-MS. O acampamento da comunidade guarani e kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay começou no dia 08 de agosto de 2011.

É importante ressaltar que os membros (crianças, mulheres e idosos) dessa comunidade proveniente de uma reocupação, no dia 23 de agosto de 2011, às 20h00, foram atacados de modo violentos e cruéis pelos pistoleiros das fazendas. A mando dos fazendeiros, os homens armados passaram permanentemente a ameaçar e cercar a área minúscula reocupada pela comunidade Guarani-Kaiowá na margem do rio que este fato perdura até hoje.


110 Em um ano, os pistoleiros que cercam o acampamento das famílias guarani-kaiowá, já cortaram/derrubaram 10 vezes a ponte móvel feito de arame/cipó que é utilizada pelas comunidades para atravessar um rio com a largura de 30 metros largura e mais de 3 metros de fundura. Apesar desse isolamento pistoleiros armados ameaçam constantemente os indígenas, porém 170 comunidades indígenas reocupante do território antigo Pyelito kue continuam resistindo e sobrevivendo na margem do rio Hovy na pequena área reocupada até os dias de hoje, estão aguardando a demarcação definitiva do território antigo Pyelito Kue/Mbarakay.

No dia 8 dezembro de 2009, este grupo já foi espancado, ameaçado com armas de fogo, vendado e jogado à beira da estrada em uma desocupação extra-judicial, promovida por um grupo de pistoleiros a mando de fazendeiros da região de Iguatemi-MS. Antes, em julho de 2003, um grupo indígena já havia tentado retornar, sendo expulso por pistoleiros das fazendas da região, que invadiram o acampamento dos indígenas, torturaram e fraturaram as pernas e os braços das mulheres, crianças e idosos. Em geral os Guarani e Kaiowa são hoje cerca de 50 mil pessoas, ocupando apenas 42 mil hectares. A falta de terras regularizadas tem ocasionado uma série de problemas sociais entre eles, ocasionando uma crise humanitária, com altos índices de mortalidade infantil, violência e suicídios entre jovens.

No último mês a Justiça Federal de Navirai-MS, deferiu liminar de despejo da comunidade Guarani e Kaiowá da margem do rio Hovy solicitado pelo advogado dos fazendeiros e, no despacho cita “reintegração de posse”, mas observamos que o grupo indígena está assentado na margem do rio Hovy, ou seja, não estão no interior da fazenda como alega o advogado dos fazendeiros. De fato, não procede à argumentação dos fazendeiros e por sua vez do juiz federal de Navirai sem verificar o fato relatado, deferir a reintegração de posse. Não é possível despejar indígenas da margem de um rio. Por isso pedimos para Justiça rever a decisão de juiz de NaviraiMS. No sentido amplo, nos conselhos da Aty Guasu recebemos a carta da comunidade de Pyelito Kue/Mbarakay em que consta a decisão da comunidade que passamos divulgar a todas as autoridades federais e sociedade brasileira.

Tekoha Pyelito kue/Mbarakay, 08 de outubro de 2012 Atenciosamente, Conselho/Comissão de Aty Guasu Guarani e Kaiowá do MS. (Retirado de: http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=6553)


111

ANEXO 10 – TABELA CRIADA A PARTIR DO RELATORIO DO CONSELHO INDIGENÍSTA MISSIONÁRIO “VIOLÊNCA CONTRA OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL” DE 2012 (Dados retirados de 03/10/2012 a 03/11/2012) VIOLÊNCIA CONTRA O PATRIMÔNIO - CONFLITOS RELATIVOS A DIREITOS TERRITORIAIS Povo KADIWÉU

Terra Indígena KADIWÉU

Tipo de Dano/Conflito Descrição Conflito fundiário Cerca de 60 indígenas ocuparam parte da terra Kadiwéu no dia 27 de abril. A terra foi demarcada em 1981, mas se encontra invadida. São 23 propriedades dedicadas à criação de gado de corte. Cansados de esperar por providências do governo, as famílias retomaram o domínio da área já demarcada que se encontra em litígio judicial. No dia 1° de novembro a Polícia Federa iniciou a retirada das famílias da área.

Fonte Cimi Regional MS; MPF

VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA Vítima

Povo

Terra Indígena

Município

Claudino Modesto

GUARANI KAIOWÁ

DOURADOS

DOURADOS

Local da Ocorrência Aldeia Jaguapiru

Descrição Dois indígenas estavam conversando e ingerindo bebida alcoólica. Por um motivo fútil se desentenderam e, após uma discussão, o acusado atingiu a vítima que morreu na hora. O autor do crime confessou e foi encaminhado à Delegacia, sendo autuado em flagrante por homicídio.

Meio Empregado Arma Branca

Fonte Campo Grande News, 6/10/2012


112

Rodrigo Moraes Machado

Homem

Ronilson Samuel Custodio

Irineu Espíndola

GUARANI KAIOWÁ

DOURADOS

DOURADOS

Penitenciária de A vítima estava cumprindo pena Asfixia Dourados News, segurança máxima por tentativa de homicídio 14/10/2012 quando, após uma discussão, foi atacada pelo acusado e não resistiu. GUARANI TAQUAPERÍ CORONEL * O corpo da vítima foi Espancamento G1 MT, KAIOWÁ SAPUCAIA encontrado pelo capitão da 01/11/2012 aldeia com sinais de espancamento em várias partes do corpo. O crime está sendo investigado. Campo Grande Bairro Nova TERENA TAUNAY/IPEQUE AQUIDAUANA A vítima foi encontrada morta Ferramenta News; Cimi com golpes de enxada em casa Campo Grande, Regional MS por um amigo. Segundo relato Rua 103 do amigo, eles ingeriram bebidas alcoólicas na noite anterior na residência da vítima e que por volta das 20h30, foi embora para a casa do pai com a esposa. O agressor é dono da casa onde a vítima morava. A polícia esta investigando o caso. O agressor está foragido. GUARANI DOURADOS DOURADOS Aldeia Bororó A casa do indígena foi cercada Arma de Fogo Dourados Agora, KAIOWÁ por jovens armados com paus e 04/10/2012 com espingarda de chumbinho. Um deles, após várias ameaças, atirou com a espingarda na testa da vítima. Ele foi socorrido e encaminhado ao Hospital da


113

Missão. Genito Gomes

GUARANI KAIOWÁ

GUA Y VIRI (LIMA CAMPO)

Luiz Henrique Eloy

TERENA

KADIWÉU

Comunidade GUARANI KAIOWÁ

M.B.R

GUARANI KAIOWÁ

LARANJEIRA NHÃNDERU

TEKOHÁ PYELITO KUE

Rodovia MS – 485, A vítima estava com a esposa e que liga Amambaí um tio esperando um ônibus na beira da estrada para irem à a Aral Moreira cidade de Amambaí, quando, de repente, um carro passou em alta velocidade e aos gritos apontou a arma para a vítima. AQUIDAUANA Estrada vicinal que Um historiador, um advogado liga a aldeia (funcionário do Cimi) e quatro lideranças foram perseguidos por homens armados em seis caminhonetes. As vítimas estavam fazendo uma visita às comunidades indígenas, onde ocorrem vários conflitos e foram perseguidos quando saíam da área dos Kadiwéu. O fazendeiro colocou uma cerca RIO Acampamento com tronco de árvore e arame BRILHANTE Laranjeira farpado, obstruindo a entrada Nhãnderu vicinal utilizada pelos indígenas. Os alunos não puderam estudar porque o ônibus não pôde pegálos para levar à escola. IGUATEMI Fazenda São Luís A indígena se dirigia para o centro urbano de Iguatemi, quando o motoqueiro que a levava mudou de rota, entrou numa fazenda onde oito ARAL MOREIRA

Ameaças

Cimi Regional MS

Ameaça de morte

Cimi Regional MS, março/2013

Trancamento de estrada

Cimi Regional MS

Estupro

Assessoria de Comunicação do Cimi, 25/10/2012


114

Criança

GUARANI KAIOWÁ

DOURADOS

DOURADOS

Aldeia Bororó

pistoleiros aguardavam a indígena e a violentaram sexualmente. Conforme relato da vítima, os pistoleiros a amordaçaram e a ameaçaram com uma faca, fazendo perguntas sobre a terra indígena Pyelito Kue e suas lideranças. A criança foi abusada sexualmente. Os pais procuraram pela Força Nacional de Segurança, responsável pelo policiamento da aldeia, porém o atendimento foi negado. Para deter o suspeito, o pai da criança e um pastor conseguiram amarrá-lo. O acusado foi encaminhado ao 1° Distrito Policial da cidade, onde foi autuado em flagrante por estupro de vulnerável.

Estupro

MS Record, 03/11/2012


115

ANEXO 11 - Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros

Capítulo I – Do direito à informação Art. 1º O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o direito fundamental do cidadão à informação, que abrange seu o direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação. Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão por que: I – a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica – se pública, estatal ou privada – e da linha política de seus proprietários e/ou diretores. II – a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público; III – a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão; IV – a prestação de informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo as não-governamentais, é uma obrigação social. V – a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade, devendo ser denunciadas à comissão de ética competente, garantido o sigilo do denunciante. Capítulo II – Da conduta profissional do jornalista Art. 3º O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social, estando sempre subordinado ao presente Código de Ética. Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação. Art. 5º É direito do jornalista resguardar o sigilo da fonte. Art. 6º É dever do jornalista: I – opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos; II – divulgar os fatos e as informações de interesse público; III – lutar pela liberdade de pensamento e de expressão;


116

IV – defender o livre exercício da profissão; V – valorizar, honrar e dignificar a profissão; VI – não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha; VII – combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com o objetivo de controlar a informação; VIII – respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão; IX – respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas; X – defender os princípios constitucionais e legais, base do estado democrático de direito; XI – defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos idosos, dos negros e das minorias; XII – respeitar as entidades representativas e democráticas da categoria; XIII – denunciar as práticas de assédio moral no trabalho às autoridades e, quando for o caso, à comissão de ética competente; XIV – combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza. Art. 7º O jornalista não pode: I – aceitar ou oferecer trabalho remunerado em desacordo com o piso salarial, a carga horária legal ou tabela fixada por sua entidade de classe, nem contribuir ativa ou passivamente para a precarização das condições de trabalho; II – submeter-se a diretrizes contrárias à precisa apuração dos acontecimentos e à correta divulgação da informação; III – impedir a manifestação de opiniões divergentes ou o livre debate de idéias; IV – expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua identificação, mesmo que parcial, pela voz, traços físicos, indicação de locais de trabalho ou residência, ou quaisquer outros sinais; V – usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime; VI – realizar cobertura jornalística para o meio de comunicação em que trabalha sobre organizações públicas, privadas ou não-governamentais, da qual seja assessor, empregado, prestador de serviço ou proprietário, nem utilizar o referido


117

veículo para defender os interesses dessas instituições ou de autoridades a elas relacionadas; VII – permitir o exercício da profissão por pessoas não-habilitadas; VIII – assumir a responsabilidade por publicações, imagens e textos de cuja produção não tenha participado; IX – valer-se da condição de jornalista para obter vantagens pessoais. Capítulo III – Da responsabilidade profissional do jornalista Art. 8º O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu trabalho não tenha sido alterado por terceiros, caso em que a responsabilidade pela alteração será de seu autor. Art. 9º A presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística. Art. 10º A opinião manifestada em meios de informação deve ser exercida com responsabilidade. Art. 11º O jornalista não pode divulgar informações: I – visando o interesse pessoal ou buscando vantagem econômica; II – de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes; III – obtidas de maneira inadequada, por exemplo, com o uso de identidades falsas, câmeras escondidas ou microfones ocultos, salvo em casos de incontestável interesse público e quando esgotadas todas as outras possibilidades de apuração; Art. 12º O jornalista deve: I – ressalvadas as especificidades da assessoria de imprensa, ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas; II – buscar provas que fundamentem as informações de interesse público; III – tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar; IV – informar claramente à sociedade quando suas matérias tiverem caráter publicitário ou decorrerem de patrocínios ou promoções; V – rejeitar alterações nas imagens captadas que deturpem a realidade, sempre informando ao público o eventual uso de recursos de fotomontagem, edição de imagem, reconstituição de áudio ou quaisquer outras manipulações;


118

VI – promover a retificação das informações que se revelem falsas ou inexatas e defender o direito de resposta às pessoas ou organizações envolvidas ou mencionadas em matérias de sua autoria ou por cuja publicação foi o responsável; VII – defender a soberania nacional em seus aspectos político, econômico, social e cultural; VIII – preservar a língua e a cultura do Brasil, respeitando a diversidade e as identidades culturais; IX – manter relações de respeito e solidariedade no ambiente de trabalho; X – prestar solidariedade aos colegas que sofrem perseguição ou agressão em conseqüência de sua atividade profissional. Capítulo IV – Das relações profissionais Art. 13º A cláusula de consciência é um direito do jornalista, podendo o profissional se recusar a executar quaisquer tarefas em desacordo com os princípios deste Código de Ética ou que agridam as suas convicções. Parágrafo único. Esta disposição não pode ser usada como argumento, motivo ou desculpa para que o jornalista deixe de ouvir pessoas com opiniões divergentes das suas. Art. 14º O jornalista não deve: I – acumular funções jornalísticas ou obrigar outro profissional a fazê-lo, quando isso implicar substituição ou supressão de cargos na mesma empresa. Quando, por razões justificadas, vier a exercer mais de uma função na mesma empresa, o jornalista deve receber a remuneração correspondente ao trabalho extra; II – ameaçar, intimidar ou praticar assédio moral e/ou sexual contra outro profissional, devendo denunciar tais práticas à comissão de ética competente; III – criar empecilho à legítima e democrática organização da categoria. Capítulo V – Da aplicação do Código de Ética e disposições finais Art. 15º As transgressões ao presente Código de Ética serão apuradas, apreciadas e julgadas pelas comissões de ética dos sindicatos e, em segunda instância, pela Comissão Nacional de Ética. § 1º As referidas comissões serão constituídas por cinco membros. § 2º As comissões de ética são órgãos independentes, eleitas por voto direto, secreto e universal dos jornalistas. Serão escolhidas junto com as direções dos sindicatos e da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), respectivamente.


119

Terão mandatos coincidentes, porém serão votadas em processo separado e não possuirão vínculo com os cargos daquelas diretorias. § 3º A Comissão Nacional de Ética será responsável pela elaboração de seu regimento interno e, ouvidos os sindicatos, do regimento interno das comissões de ética dos sindicatos. Art. 16º Compete à Comissão Nacional de Ética: I – julgar, em segunda e última instância, os recursos contra decisões de competência das comissões de ética dos sindicatos; II – tomar iniciativa referente a questões de âmbito nacional que firam a ética jornalística; III – fazer denúncias públicas sobre casos de desrespeito aos princípios deste Código; IV – receber representação de competência da primeira instância quando ali houver incompatibilidade ou impedimento legal e em casos especiais definidos no Regimento Interno; V – processar e julgar, originariamente, denúncias de transgressão ao Código de Ética cometidas por jornalistas integrantes da diretoria e do Conselho Fiscal da FENAJ, da Comissão Nacional de Ética e das comissões de ética dos sindicatos; VI – recomendar à diretoria da FENAJ o encaminhamento ao Ministério Público dos casos em que a violação ao Código de Ética também possa configurar crime, contravenção ou dano à categoria ou à coletividade. Art. 17º Os jornalistas que descumprirem o presente Código de Ética estão sujeitos às penalidades de observação, advertência, suspensão e exclusão do quadro social do sindicato e à publicação da decisão da comissão de ética em veículo de ampla circulação. Parágrafo único – Os não-filiados aos sindicatos de jornalistas estão sujeitos às penalidades de observação, advertência, impedimento temporário e impedimento definitivo de ingresso no quadro social do sindicato e à publicação da decisão da comissão de ética em veículo de ampla circulação. Art. 18º O exercício da representação de modo abusivo, temerário, de má-fé, com notória intenção de prejudicar o representado, sujeita o autor à advertência pública e às punições previstas neste Código, sem prejuízo da remessa do caso ao Ministério Público.


120

Art. 19º Qualquer modificação neste Código só poderá ser feita em congresso nacional de jornalistas mediante proposta subscrita por, no mínimo, dez delegações representantes de sindicatos de jornalistas. [Vitória, 04 de agosto de 2007 – Federação Nacional dos Jornalistas]


121 REFERÊNCIAS BERTRAND, Claude-Jean. A deontologia das mídias. Bauru, SP: EDUSC, 1999. CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008. CIMI, Conselho Indigenista Missionário. Relatório Violência conta os povos indígenas no Brasil – Dados de 2012. Brasília, DF: CIMI FORTES, Leandro. Jornalismo Investigativo. São Paulo: Contexto, 2007. HALL, Stuart. A identidade cultural na pos-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. HALL, Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. KARAM, Francisco José Castilhos. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 1997. KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001. KUPER, Adam. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru, SP: EDUSC, 2002. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2009. LAGO, Cláudia. Metodologia de pesquisa em jornalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2004. LIPPMANN, Walter. Opinião Pública. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. MARTÍN-BARBERO, Jesús. Tecnicidades, identidades, alteridades: mudanças e opacidade da comunicação no novo século. In: MORAES, Denis (Org.). Sociedade Midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. MEDITSCH, Eduardo. O jornalismo é uma forma de conhecimento? Conferência feita nos Cursos da Arrábida – Universidade, setembro de 1997. Disponível em: <http://revistas.univerciencia.org/index.php/mediajornalismo/article/viewFile/1084/52 52> MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigação em psicologia social. Petrópolis. Rio de Janeiro: Vozes, 2011


122

PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008. ROCHA, Melani Paula. A importância do jornalismo como ciência no processo de profissionalização da carreira. Trabalho apresentado ao NP Teorias da Comunicação, do VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom (2008). Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/rocha-paula-importancia-jornalismo.pdf> SANCOVSCHI, Beatriz. Sobre a noção de representação em S. Moscovici e F. Varela. Psicol. Soc. [online]. 2007, vol.19, n.2, pp. 7-14. ISSN 1807-0310. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v19n2/a02v19n2.pdf>. SEQUEIRA, Cleofe Monteiro. Jornalismo investigativo: o fato por trás da notícia. São Paulo: Summus, 2005. TELLAROLI, Taís Marina. Análise das fontes em notícias publicadas na editoria de geral em dois portais locais de informação de Campo Grande-MS. Trabalho apresentado no XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste do INTERCOM SUDESTE (2006). Disponível em: <http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/7386803854873477357631743594393437 2343.pdf > TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Porque as notícias são como são. Vol. I. Florianópolis: Insular, 2018. WILLIAMS, Raymond. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa; tradução Karina Jannini. São Paulo: Martins Fontes, 2005.


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