Análise da cobertura midiática no segundo mandato de Dilma Rousseff

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

RAQUEL DE SOUZA JERONYMO

ENQUADRAMENTO NOTICIOSO: UMA ANÁLISE DA COBERTURA MIDIÁTICA DO PRIMEIRO ANO DO SEGUNDO MANDATO DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF NAS REVISTAS VEJA E ISTOÉ

CAMPO GRANDE 2015/2


RAQUEL DE SOUZA JERONYMO

ENQUADRAMENTO NOTICIOSO: UMA ANÁLISE DA COBERTURA MIDIÁTICA DO PRIMEIRO ANO DO SEGUNDO MANDATO DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF NAS REVISTAS VEJA E ISTOÉ

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob orientação do Prof. Dr. Marcos Paulo da Silva.

UFMS CAMPO GRANDE 2015/2


RAQUEL DE SOUZA JERONYMO

ENQUADRAMENTO NOTICIOSO: UMA ANÁLISE DA COBERTURA MIDIÁTICA DO PRIMEIRO ANO DO SEGUNDO MANDATO DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF NAS REVISTAS VEJA E ISTOÉ

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob orientação do Prof. Dr. Marcos Paulo da Silva.

Campo Grande, 2015/2

COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof. Dr. Gerson Luiz Martins

Prof.ª Dr.ª Márcia Gomes Marques

Prof. Dr. Marcos Paulo da Silva (orientador)




DEDICATÓRIA Aos meus pais, Gláucia Barbosa de Souza e Valter Jeronymo, por terem me apoiado incondicionalmente durante toda a graduação.


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, sem o qual não acredito que minha vida seria possível, por ter me dado a oportunidade de ingressar no curso de Comunicação Social - Jornalismo e pela sabedoria que me concedeu para cursá-lo e conclui-lo. Aos meus pais, Gláucia Barbosa de Souza Jeronymo e Valter Jeronymo, que foram meus maiores incentivadores desde a escolha do curso até o presente momento, que acreditaram no meu potencial e foram os maiores formadores do meu caráter. Agradeço por todo o apoio e pelo amor e cuidado que me dedicaram durante toda a minha vida. Ao meu namorado, Lucas Akayama, por ser a pessoa que esteve do meu lado em todos os momentos durante esses quatro anos, por ter me dado força nos momentos difíceis e por ter comemorado comigo cada pequena conquista. Minha gratidão e meu amor por você não cabem em palavras. Ao professor e orientador, Marcos Paulo da Silva, por todo o apoio não só durante o projeto de conclusão de curso, mas durante toda a graduação. Agradeço por ter acreditado na minha capacidade em todos os momentos, por ter me guiado de maneira tão paciente por todas as etapas dessa pesquisa e por todos os ensinamentos éticos e práticos transmitidos. Aos docentes do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), responsáveis por todo conhecimento adquirido nas diversas áreas de atuação da profissão durante minha jornada acadêmica, que me inspiraram através de seus exemplos a perseguir a mesma carreira. Aos meus familiares e amigos, por todo o incentivo, apoio, paciência e amor, e por terem compreendido todo o tempo em que estive ausente na elaboração desse projeto.


"Uma premissa fundamental, portanto, orienta tudo o que se segue: para compreender o que são notícias e, ainda mais, o que as notícias significam, é essencial compreender como as notícias são feitas." (Leon V. Sigal)


RESUMO SOUZA, Raquel de. Enquadramento Noticioso: Uma Análise da Cobertura Midiática do Primeiro Ano do Segundo Mandato da Presidente Dilma Rousseff nas Revistas Veja e IstoÉ. 2015. Monografia (Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande - MS, Dezembro de 2015. Esta monografia tem como objetivo desenvolver uma análise de enquadramento noticioso da cobertura que duas das revistas brasileiras de maior tiragem, Veja e IstoÉ, fizeram de 2015 com relação ao governo da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT), adotando-se como recorte empírico os meses de janeiro e dezembro. Ao optar por esse tema, a monografia busca evidenciar a importância de estudar mais a fundo as mensagens produzidas pelos veículos midiáticos e identificar quais enquadramentos noticiosos estes têm adotado para seus produtos. Por meio da análise de uma série de fatores, tais como a seleção de fontes, argumentos e elementos visuais, a quantidade de matérias e o destaque e espaço concedidos a cada uma, é possível examinar o papel da mídia na construção de representações sociais e sua contribuição como formadora de opinião em diversas áreas. As análises quantitativa e qualitativa visam demonstrar como as escolhas editoriais interferem no conteúdo noticioso e problematizam alguns dos princípios editoriais que regem os veículos escolhidos. De modo geral, é possível afirmar que tanto a Veja como a IstoÉ transmitem por meio de suas escolhas um enquadramento noticioso negativo em relação à presidente Dilma Rousseff, ao seu antecessor, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ao Partido dos Trabalhadores. Essa tendência não se manifesta somente nos recursos identificados nas matérias analisadas, mas também nas opiniões enfatizadas nos editoriais e nas entrevistas de destaque de cada edição. Palavras-Chaves: Comunicação; Jornalismo; Enquadramento Noticioso.


ABSTRACT SOUZA, Raquel de. News Framing: An analysis of media coverage of the first year of the second mandate of President Dilma Rousseff in the magazines Veja and IstoÉ. 2015. Monograph (Graduation in Communication - Journalism). Federal University of Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande - MS, December 2015. This monograph aims to develop a framework analysis of news coverage that two of the Brazilian magazines of greater circulation, Veja e IstoÉ, made of the government of the re-elected President Dilma Rousseff (PT) in the months of January and December of 2015. By choosing this theme, the monograph pursuit to highlight the importance of studying further the messages produced by media vehicles, and identify which news framings they have adopted for their products. Through the analysis of a number of factors such as the selections of fonts, of arguments, of visual elements, the quantity of news and the prominence and space given to each, it is possible to examine the role of media in building social representations and their contribution as a trendsetter in several areas. Quantitative and qualitative analysis demonstrates how editorial choices interfere in news content, and question some of the editorial principles that rule the chosen vehicles. Generally, it is possible to affirm that both Veja and IstoÉ transmit through their choices a negative news framing about President Dilma Rousseff, her predecessor, the former President Luiz Inácio Lula da Silva, and about the Partido dos Trabalhadores. This tendency manifests itself not only in the resources identified in the analyzed news, but also in the opinions emphasized in editorials and on the featured interviews of each edition. Keywords: Communication; Journalism; News Framing.


ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Reprodução de matéria revista IstoÉ, 14 de janeiro de 2015............................54 Figura 2. Reprodução de matéria revista IstoÉ, 21 de janeiro de 2015............................56 Figura 3. Reprodução de matéria revista IstoÉ, 28 de janeiro de 2015............................58 Figura 4. Reprodução de matéria revista IstoÉ, 2 de dezembro de 2015.........................60 Figura 5. Reprodução de matéria revista IstoÉ, 9 de dezembro de 2015.........................62 Figura 6. Reprodução de matéria revista IstoÉ, 16 de dezembro de 2015.......................64 Figura 7. Reprodução de matéria revista IstoÉ, 23 de dezembro de 2015.......................66 Figura 8. Reprodução de matéria revista Veja, 7 de janeiro de 2015...............................68 Figura 9. Reprodução de matéria revista Veja, 14 de janeiro de 2015.............................70 Figura 10. Reprodução de matéria revista Veja, 21 de janeiro de 2015...........................72 Figura 11. Reprodução de matéria revista Veja, 28 de janeiro de 2015...........................74 Figura 12. Reprodução de matéria revista Veja, 2 de dezembro de 2015........................76 Figura 13. Reprodução de matéria revista Veja, 9 de dezembro de 2015........................78 Figura 14. Reprodução de matéria revista Veja, 16 de dezembro de 2015......................80 Figura 15. Reprodução de matéria revista Veja, 23 de dezembro de 2015......................82 Figura 16. Reprodução de matéria revista Veja, 30 de dezembro de 2015......................84 Figura 17. Reprodução detalhe matéria “A pior travessia”...............................................97 Figura 18. Reprodução detalhe matéria “Eles disseram não para Dilma”........................99 Figura 19. Reprodução da matéria “As primeiras trombadas”.......................................101 Figura 20. Reprodução da matéria “As promessas e a realidade”.................................101 Figura 21. Reprodução da matéria “Parece fim de governo”.........................................102 Figura 22. Reprodução da matéria “A pior travessia”....................................................102 Figura 23. Reprodução da matéria “De volta ao passado” (parte 1)...............................104 Figura 24. Reprodução da matéria “De volta ao passado” (parte 2)...............................104 Figura 25. Reprodução da matéria “De volta ao passado” (parte 3)...............................105 Figura 26. Reprodução da matéria “De volta ao passado” (parte 4)...............................105 Figura 27. Reprodução da matéria “A origem do mal”...................................................107


ÍNDICE DE QUADROS E TABELAS Quadro 1. Fontes utilizadas na matéria “As primeiras trombadas”..................................54 Quadro 2. Fontes utilizadas na matéria “Eles disseram não para Dilma”.........................56 Quadro 3. Fontes utilizadas na matéria “O blecaute de Dilma”........................................58 Quadro 4. Fontes utilizadas na matéria “Dilma sabia”.....................................................60 Quadro 5. Fontes utilizadas na matéria “A pior travessia”................................................62 Quadro 6. Fontes utilizadas na matéria “Que país teremos?”..........................................65 Quadro 7. Fontes utilizadas na matéria “A guerra de poderes chega ao auge”................67 Quadro 8. Fontes utilizadas na matéria “Mandato novo, problemas velhos”....................69 Quadro 9. Fontes utilizadas na matéria “Parece fim de governo”....................................70 Quadro 10. Fontes utilizadas na matéria “As promessas e a realidade”..........................72 Quadro 11. Fontes utilizadas na matéria “E não se fez a luz”..........................................74 Quadro 12. Fontes utilizadas na matéria “A testemunha”................................................76 Quadro 13. Fontes utilizadas na matéria “Impeachment não é guerra”...........................78 Quadro 14. Fontes utilizadas na matéria “De volta ao passado” .....................................81 Quadro 15. Fontes utilizadas na matéria “A origem do mal”............................................82 Quadro 16. Fontes utilizadas na matéria “O preço do descrédito”...................................84 Tabela 1. Canais de informação das matérias analisadas da revista IstoÉ......................87 Tabela 2. Canais de informação das matérias analisadas da revista Veja.......................90


SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................11

1. ENQUADRAMENTO NOTICIOSO..............................................................................15 1.1 O conceito de enquadramento noticioso...............................................................15 1.2 Seleção de fontes.....................................................................................................20 1.3 Rotinas e convenções jornalísticas........................................................................24 1.4 A objetividade jornalística e sua origem histórica................................................27 1.5 Critérios de noticiabilidade e valores-notícia........................................................29 1.6 Interesse público e o jornalismo “cão de guarda”.................................................34

2. HISTÓRICO DESCRITIVO DA ASCENÇÃO DO PT AO PODER................................37 2.1 A trajetória do Partido dos Trabalhadores.............................................................37 2.2 A carreira política de Dilma Rousseff.....................................................................44 2.3 As eleições de Dilma em 2010 e 2014......................................................................46 3. ANÁLISE DE ENQUADRAMENTO DAS REVISTAS VEJA E ISTOÉ.........................51 3.1 Análise descritiva do material analisado...............................................................51 3.2 Análise de fontes e critérios noticiosos.................................................................85 3.2.1 Análise de fontes e canais de informação...........................................................85 3.2.2 Análise dos critérios noticiosos e valores-notícia.............................................92 3.3 Análise argumentativa e de recursos visuais........................................................96 3.3.1 Análise argumentativa..........................................................................................96 3.3.2 Análise recursos visuais......................................................................................99 3.4 Inferências: manifestação do enquadramento hegemônico ............................ 108

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................114 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS................................................................................116 ANEXOS.......................................................................................................................120


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INTRODUÇÃO Este projeto visa o desenvolvimento de uma análise de enquadramento noticioso (GITLIN, 2003; PORTO, 2002) da cobertura que duas das revistas brasileiras de maior tiragem – Veja e IstoÉ – com tiragem média somada de 1 milhão e 400 mil exemplares, segundo dados da ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas), fizeram de 2015 com relação ao governo da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT). O ano de 2015, primeiro do segundo mandato presidencial, foi marcado por grande instabilidade política e econômica no Brasil. Depois de um embate acirrado nas eleições presidenciais de 2014, quando venceu com uma diferença de apenas três pontos percentuais para o segundo candidato, o senador Aécio Neves (PSDB), Dilma Rousseff enfrentou um ano permeado por denúncias de corrupção na estatal Petrobras, com investigações que geraram repercussão midiática, como a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras e a Operação Lava Jato. Além disso, uma crise econômica provocou a desvalorização do Real, o aumento dos juros para conter a inflação e o rebaixamento do grau de investimento do Brasil por grandes agências internacionais de crédito. Para desenvolver este estudo serão tomados como recorte empírico os exemplares do primeiro e do último mês de 2015 de cada revista. O corpus leva em consideração a ampla relevância que o assunto teve em ambos os veículos, que dedicaram mais de 50% de suas capas ao longo do ano para tratar de assuntos relacionados diretamente ou indiretamente à presidente, como denúncias relacionadas ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu antecessor e aliado político. Como forma de viabilizar o estudo de enquadramento noticioso, serão considerados alguns pressupostos e concepções já sedimentados no campo das Ciências Humanas e Sociais, particularmente nas pesquisas em Comunicação, tal como a superação dos paradigmas da objetividade e da imparcialidade jornalísticas (GITLIN 1,

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O livro The Whole World is Watching, do sociólogo Todd Gitlin, foi publicado originalmente em 1980, mas a versão consultada é uma reedição do ano de 2003.


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2003; PORTO, 2002; GANS 2, 2004; TRAQUINA, 2008; SCHUDSON 3, 2010), conceitos ainda disseminados numa perspectiva normativa e num discurso de autolegitimação da prática jornalística. De outro lado, a pesquisa buscará compreender os mecanismos – práticos e simbólicos – que podem ocultar a difusão de tais concepções. Nesta lista, pode-se incluir uma série de fatores como a seleção de fontes, argumentos e elementos visuais, a quantidade de matérias e o destaque e espaço concedidos a cada uma. Em resumo, deve-se voltar o olhar analítico a algumas das principais escolhas editoriais que podem ser tomadas no momento da produção jornalística. Todas elas serão analisadas e interpretadas com a finalidade de entender eventuais motivações para as escolhas e a construção dos enquadramentos noticiosos adotados. Diante da máxima ainda amplamente difundida de que o jornalismo é, ou deveria ser, imparcial, evidencia-se a importância de estudar mais a fundo as mensagens produzidas pelos veículos midiáticos, e quais enquadramentos noticiosos estes têm adotado para seus produtos. Para isso, do ponto de vista teórico-conceitual, leva-se em consideração que “enquadrar” é eleger e selecionar aspectos da realidade, promovendo interpretações, avaliações e tratamentos diferenciados para os acontecimentos noticiados. Através deste estudo, visa-se examinar o papel da mídia na construção de representações sociais e sua contribuição como formadora de opinião em diversas áreas. A escolha dos enquadramentos pode evidenciar como cada veículo midiático, utilizando-se de premissas como “a “isenção da informação jornalística” para direcionar a interpretação dos acontecimentos cotidianos, exerce seu poder de representação social da realidade sobre os consumidores de notícias. Por isso, a necessidade de ampla análise da temática e dos atores envolvidos, pois a comparação de discursos, sejam eles declaradamente antagônicos ou não, auxilia na percepção de fatos negligenciados por

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O livro Deciding What’s News: A Study of CBS Evening News, NBC Nightly News, Newsweek and Time, do sociólogo Herbert Gans, foi publicado originalmente em 1979, mas a versão consultada é uma reedição do ano de 2004. 3 O livro Discovering the News – A Social History of American Newspapers, do sociólogo Michael Schudson, foi publicado originalmente em 1978, mas foi consultada a versão traduzida para o português publicada em 2010 pela Editora Vozes.


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um veículo e noticiados por outro, ou qual o espaço dado para determinado fato em cada um, além da maneira como cada acontecimento é retratado. A temática foi definida levando em consideração o cenário de instabilidade instaurado no primeiro ano do segundo mandato da presidente reeleita Dilma Rousseff, marcado por denúncias de corrupção, entraves políticos e uma grave crise econômica, acontecimentos que pautaram os veículos midiáticos no direcionamento de seus produtos. Já a escolha pela análise de enquadramento noticioso de revistas semanais se deu pelo fato de esses periódicos se configurarem muitas vezes como protagonistas de polêmicas envolvendo suas escolhas editoriais, e também devido a seu alcance amplo (juntas somam uma tiragem de mais de 1 milhão e 400 mil exemplares semanalmente, segundo dados da Associação Nacional de Editores de Revistas) e alto poder de influência no campo político. Além da importância de se entender o tema no campo teórico, pesaram em sua escolha a familiaridade com as metodologias de análise de enquadramento noticioso (GITLIN, 2003; PORTO, 2002) e de critérios noticiosos (GANS, 2004; TRAQUINA, 2008; SCHUDSON, 2010), obtidas durante a graduação e utilizadas na produção de artigos no decorrer do curso. Já a escolha pelo formato monográfico se deu devido à intimidade e interesse pela área acadêmica. Como anteriormente mencionado, o método central do trabalho será a análise de enquadramento noticioso. Para tanto, as etapas metodológicas escolhidas são a pesquisa bibliográfica sobre o enquadramento noticioso na comunicação política, bem como o levantamento de conteúdo jornalístico em revistas impressas. Como leituras obrigatórias, além da bibliografia específica sobre o método da análise de enquadramento, constam O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas, e outras publicações relacionadas aos temas da seleção noticiosa e da construção da narrativa jornalística. O objetivo principal é desenvolver uma análise de enquadramento noticioso para identificar e estudar quais os enfoques utilizados pelas duas revistas brasileiras de maior circulação, a IstoÉ, da Editora Três, e a Veja, do Grupo Abril, na cobertura de acontecimentos diretamente relacionados à presidente Dilma Rousseff durante o primeiro


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e o último mês de 2015, amostra adotada para representar o primeiro ano do segundo mandato da presidente O trabalho será divido em três capítulos. O primeiro, com base na pesquisa bibliográfica realizada, consistirá numa apresentação teórica dos conceitos utilizados para a análise de enquadramento noticioso. O capítulo posterior será voltado a um breve histórico descritivo da ascensão do PT ao poder e situará o atual momento político do país diante de um contexto socioeconômico e político, buscando entender os motivos por trás da crise que se instaurou em 2015. Finalmente, no terceiro capítulo, a análise de enquadramento será conduzida tanto de maneira quantitativa como qualitativa, buscando investigar a quantidade de notícias que se referem diretamente à presidente, e também o espaço destinado a elas, as fontes entrevistadas e a argumentação adotada. Serão verificadas as edições das duas revistas – Veja e IstoÉ – que se encaixam no período amostral definido, correspondente ao primeiro e último mês do ano de 2015, para levantar quantas e quais foram as notícias diretamente relacionadas à presidente Dilma Rousseff. Dessa forma, serão avaliados os critérios adotados pelas revistas para veicular estas notícias – editoria escolhida, espaço delimitado na edição, uso de material visual, escolha de fontes, bem como relevância da notícia e como essas escolhas se relacionam com os princípios e escolhas editoriais dos veículos selecionados. Serão comparados, por fim, os enquadramentos adotados pelos dois veículos, levando em consideração suas linhas e escolhas editoriais e os artigos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (FENAJ, 2007).


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1. ENQUADRAMENTO NOTICIOSO Este capítulo tem por objetivo definir e problematizar o conceito de “enquadramento noticioso” sob a perspectiva de autores de referência no cenário nacional e internacional, como Todd Gitlin (2003), Leon V. Sigal (1974) e Mauro Porto (2002). Busca-se estabelecer a base teórica que sustentará a análise a ser desenvolvida nos próximos capítulos sobre os enquadramentos noticiosos utilizados pelas revistas Veja e IstoÉ para noticiar acontecimentos relacionados à presidente Dilma Rousseff nos meses de janeiro e dezembro de 2015.

1.1 O conceito de enquadramento noticioso

Como afirma Leon V. Sigal (1974, p. 2, tradução nossa) em seu estudo clássico Reporters and Officials, "para compreender o que são notícias e, ainda mais, o que as notícias significam, é essencial compreender como as notícias são feitas" 4. Como forma de guiar a compreensão sobre “como as notícias são feitas”, utiliza-se nesta pesquisa o conceito de enquadramento noticioso (framing). A expressão começou a ser utilizada em estudos acadêmicos na década de 1970 e, segundo Porto (2002, p. 1), “suas aplicações têm dinamizado o campo da comunicação política, oferecendo uma nova perspectiva para entender o papel da mídia”. Um dos primeiros autores a utilizar o conceito foi o sociólogo Erving Goffman, no livro Frame Analysis (1986), traduzido no Brasil como Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. De acordo com Goffman (2012, p. 31): Qualquer acontecimento pode ser descrito em termos de um enfoque que inclui um espectro amplo ou um espectro estreito e (...) em termos de um enfoque em primeiro plano ou distante. E ninguém tem uma teoria sobre qual abertura e qual o nível que serão efetivamente empregados.

Goffman afirma que “quando os papeis dos que participam numa atividade são diferenciados (...) a visão que uma pessoa tem daquilo que está acontecendo será 4

Texto original: “In order to comprehend what news is and, even more, what news means, it is essential to understand how news get made.”


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provavelmente muito diferente da visão de outra”, e explica que “interesses diferentes produzirão relevâncias motivacionais diferentes” (2012, p. 31). De acordo com Mauro Porto (2002, p. 4), “Goffman define enquadramentos como os princípios de organização que governam os eventos sociais e nosso envolvimento nestes eventos”. Anos mais tarde, o sociólogo norte-americano Todd Gitlin cunhou algumas das definições até hoje mais referenciadas sobre enquadramento noticioso no livro The Whole World Is Watching, originalmente publicado em 1980, onde aborda o impacto da cobertura midiática dos movimentos estudantis da chamada “nova esquerda” americana e, mais especificamente, de uma das principais organizações do movimento, a SDS (Students for a Democratic Society), que protestava contra causas como a Guerra do Vietnã. Segundo Gitlin (2003, p. 7, tradução nossa, itálicos no original): Enquadramentos de mídia, largamente silenciados e desconhecidos, organizam o mundo para os jornalistas que o relatam e, em algum grau importante, para nós que dependemos de seus relatos. Enquadramentos de mídia são padrões persistentes de cognição, interpretação e apresentação, de seleção, ênfase e exclusão, pelos quais manipuladores de símbolos rotineiramente organizam discursos, sejam verbais ou visuais. 5

Todd Gitlin busca também desconstruir uma das metáforas mais utilizadas para definir o jornalismo, que defende que a atividade noticiosa estaria apenas “segurando um espelho para a realidade”, quando diz: Meios de comunicação são holofotes móveis, não espelhos passivos da sociedade; seletividade é o instrumento de suas ações. Uma notícia adota um determinado enquadramento e rejeita ou minimiza o material que é discrepante. Uma história é uma escolha, uma maneira de ver um evento que também equivale a uma forma de triagem de pontos de vista. (GITLIN, 2003, p. 49-51, tradução nossa). 6

Assim, enquadramentos de mídia são definidos pelo autor como princípios que fazem com que o mundo pareça natural além da experiência direta, e que também compõe em parte a realidade (GITLIN, 2003). Outro autor que definiu o enquadramento

5 Texto original: “Media frames, largely unspoken and unacknowledged, organize the world both for journalists who report it and, in some important degree, for us who rely on their reports. Media frames are persistent pattern of cognition, interpretation, and presentation, of selection, emphasis, and exclusion, by which symbol-handlers routinely organize discourse, whether verbal or visual.” 6 Texto original: “Media are mobile spotlights, not passive mirrors of the society; selectivity is the instrument of their actions. A news story adopts a certain frame and rejects or downplays material that is discrepant. A story is a choice, a way of seeing an event that also amounts to a way of screening from sight.”


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noticioso de maneira semelhante foi Robert Entman, em Framing: Toward clarification of a fractured paradigm, publicado em 1994, onde diz: O enquadramento envolve essencialmente seleção e saliência. Enquadrar significa selecionar alguns aspectos de uma realidade percebida e fazê-los mais salientes em um texto comunicativo, de forma a promover uma definição particular do problema, uma interpretação causal, uma avaliação moral e/ou uma recomendação de tratamento para o item descrito. (ENTMAN, 1994, p. 294 apud PORTO, 2002, p. 7, itálicos no original).

De acordo com Gitlin (2003), os enquadramentos – considerados por seus debatedores como processos intrínsecos à prática jornalística – habilitam os jornalistas a processarem grandes quantidades de informação de forma rápida e rotineira, a reconhecerem informações como notícias e transformá-las para que sejam retransmitidas de forma eficiente para seus públicos. “Assim, por razões organizacionais, enquadramentos são inevitáveis e o jornalismo é organizado para regular sua produção" (GITLIN, 2003, p. 7, tradução nossa) 7. Longe de serem vistos como práticas inocentes, os enquadramentos são também considerados instrumentos de poder responsáveis pela construção e manutenção da hegemonia das classes econômicas e políticas dominantes (GITLIN, 2003; PORTO, 2002). Problematiza Mauro Porto (2002, p. 2): Tomando como base os argumentos de Hackett, Tankard (2001, p. 96-97) argumenta que o conceito de enquadramento oferece um instrumento para examinar empiricamente o papel da mídia na construção da hegemonia, no sentido gramsciano de uma direção intelectual e moral na sociedade civil.

Dessa forma, a partir de uma abordagem política para explicar o que é ou não notícia, Todd Gitlin explicita a noção gramsciana de hegemonia para cunhar o termo “enquadramento hegemônico”, definido por ele como “um processo histórico no qual uma imagem do mundo é sistematicamente preterida sobre outras, usualmente através de rotinas práticas” (GITLIN, 2003, p. 257, tradução nossa) 8 . Para o sociólogo norteamericano, os enquadramentos hegemônicos seriam utilizados pelos detentores dos meios de comunicação – deliberadamente ou não – para assegurar a manutenção do sistema político e econômico dominante do qual eles mesmos são parte.

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Texto original: “Thus, for organizational reasons alone, frames are unavoidable, and journalism is organized to regulate their production”. 8 Texto original: “Hegemony is an historical process in which one picture of the world is systematically preferred over others, usually through practical routines and at times through extraordinary measures.”


18 O trabalho da hegemonia, apesar de tudo, consiste em impor suposições padronizadas sobre eventos e condições que devem ser "cobertas" pelos preceitos dos padrões de notícias predominantes. (GITLIN, 2003, p. 264, tradução nossa). 9

Para Murilo César Soares (2009), “os enquadramentos podem dominar de tal forma o discurso, a ponto de serem tidos como senso comum ou descrições transparentes dos fatos, em vez de interpretações”. Citando Carragee&Roefs (2004), Soares afirma que: Os enquadramentos das elites são geralmente favorecidos, devido a seus recursos econômicos, à centralização da coleta de notícias em instituições e à tendência dos repórteres a atribuir maior credibilidade a fontes oficiais do que aos seus desafiadores. (SOARES, 2009, p. 61)

Assim, segundo esta visão, a preferência pelas fontes e relatos oficiais identificada por Sigal (1974) e por Gans (2004) estaria fundamentada na manutenção de um enquadramento hegemônico que daria preferência à ordem social, econômica e política estabelecida nas sociedades capitalistas, marginalizando manifestações contrárias a ela. Este pensamento vai ao encontro ao estudo desenvolvido por Soley (1992), que apontou que fontes com maior status quo atraem mais a atenção da mídia, ao passo que: As mulheres representam mais de metade da população dos EUA, negros compõem mais de 12%, enquanto os sindicatos representam cerca de 20 por cento da força de trabalho, no entanto, membros desses grupos raramente estão entre as fontes escolhidas pelos jornalistas. (SOLEY, 1992, p. 17, tradução nossa) 10

Para Herbert Gans (2004), com alguma simplificação "seria justo dizer que as notícias suportam a ordem social dos setores da sociedade públicos, empresariais e profissionais, de classe média-alta, meia-idade, masculinos e brancos" (GANS, 2004, p. 61, tradução nossa) 11. Negros e mulheres obtém sucesso na medida em que “se movem para a ordem social existente”, e não se apresentam como “separatistas que querem alterá-la”.

9 Texto original: “The work of hegemony, all in all, consists of imposing standardized assumptions over events and conditions that must be “covered” by the dictates of the prevailing news standards.” 10 Texto original: “Women compromise over half of the U.S. population, backs comprise over 12 percent, while labor unions represent about 20 percent of the work force, yet members of these groups are rarely among the sources chosen by journalists.” 11 Texto original: “It would be fair to say that the news supports the social order of public, business and professional, upper-middle-class, middle-aged, and white male sectors of society.”


19 Em sua defesa da democracia altruísta e oficial, as notícias defendem uma mistura de valores liberais e conservadores (...) Por outro lado, no seu respeito pela tradição e sua nostalgia de pastorialismo e individualismo, as notícias são descaradamente conservadoras, como também é sua defesa da ordem social e sua fé na liderança. Se as notícias tivessem que ser rotuladas ideologicamente, elas seriam liberais de direita ou conservadoras de esquerda. (GANS, 2004, p. 68, tradução nossa) 12

No entanto, Gans evita a visão simplificadora de que as notícias seriam simplesmente usadas como “apoiadoras complacentes de elites ou estabelecimentos de classe dominante”, mas afirma que elas “encaram nação e sociedade através de seu próprio conjunto de valores e com suas próprias concepções de boa ordem social" (GANS, 2004, p. 62, tradução nossa) 13, que não são cristalizadas, mas podem mudar com o passar do tempo e as transformações da sociedade. Compreendidos como critérios de interpretação, apresentação, seleção, ênfase e exclusão (GITLIN, 2003), os enquadramentos estão, portanto, intrinsicamente ligados aos critérios de noticiabilidade operantes no contexto em que o jornalista trabalha e também às fontes que ele escolhe, como define Sigal (1974, p. 2, tradução nossa): Mas o enquadramento não é inteiramente subjetivo. É o produto de um tempo, uma cultura, e, mais imediatamente, uma vida de trabalho compartilhada com outros. Em segundo lugar, informações sobre eventos vem de outros homens, fontes com suas próprias estruturas de significado e seus próprios interesses a proteger. As fontes de um jornalista falam para moldar em grande parte o que ele relata. 14

É sobre a complexa relação entre jornalistas e fontes, tema problematizado por autores como Gans (2004), Carvalho e Leal (2014) e, sobretudo, pelo próprio Sigal (1974), que a discussão se volta a partir de agora.

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Texto original: “In its advocacy of altruistic and official democracy, the news defends a mixture of liberal and conservative values (…) On the other hand, in its respect for tradition and its nostalgia for pastoralism and rugged individualism, thee news is unabashedly conservative, as it is also both in its defense of the social order and its faith in leadership. If the news has to be pigeonholed ideologically, it is right-liberal or left-conservative.” 13 Texto original: “Still, the news is not simply a compliant supporter of elites or the Establishment or the ruling class; rather, it views nation and society through its own set of values and with its own conceptions of the good social order.” 14 Texto original: “Yet the framework is not entirely subjective. It is the product of a time, a culture, and, most immediately, a worklife shared with others. Second, information about events comes from other men, sources with their own frameworks of meaning and their own interests to protect. The sources a newsman talks to largely shape what he reports.”


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1.2 Seleção de fontes

Os relatos mais tradicionais traçados pelos jornalistas, ou seja, as notícias, independentemente de qual seja o veículo ou a plataforma midiática, dependem essencialmente de fontes de informação. Conforme explica Sigal (1974, p. 187; tradução nossa), devido a limitações físicas, econômicas e de mão-de-obra, os jornalistas testemunham pouquíssimos eventos em primeira mão; ou seja, “na coleta de informações, eles devem depender das fontes de notícias” 15. Segundo o pesquisador norte-americano, "para o repórter, em suma, a maioria das notícias são não o que aconteceu, mas o que alguém diz que aconteceu, tornando a escolha de fontes crucial" (SIGAL, 1974, p. 69, tradução nossa)16. Ainda de acordo com Sigal (1974, p. 69, tradução nossa), mesmo quando observam um evento diretamente, os repórteres relutam em “oferecer suas próprias interpretações publicamente, preferindo confiar em suas fontes de notícias" 17 . Isso acontece devido ao modus operandi que rege o jornalismo ocidental desde o começo do século XX, modelo que insere – por razões que ainda serão mais profundamente estudadas a frente – as concepções de “objetividade” e de “imparcialidade” como estandartes nas redações, ocultando as opiniões e interpretações das notícias pelos repórteres, ou pelo menos tornando-as subjetivas. Desse modo, “qualquer material interpretativo que aparece nas colunas de notícias deve ser atribuído a uma fonte de notícias" (SIGAL, 1974, p. 66, tradução nossa) 18. Ainda assim, “(os repórteres) podem esconder interpretações em suas histórias selecionando cuidadosamente declarações de fontes das notícias e citando-as verbalmente ou parafraseando-as” (SIGAL, 1974, p. 67, tradução nossa)19.

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Texto original: “In gathering information, they must depend on news sources.” Texto original: “For the reporter, in short, most news is not what has happened, but what someone says has happened, thus making the choice of sources crucial.” 17 Texto original: “Even when he is in a position to observe an event directly, he remains reluctant to offer interpretations of his own overtly, preferring instead to rely on his news sources.” 18 Texto original: “Any interpretative material that does appear in the news columns must be attributable to a news source.” 19 Texto original: “They might smuggle interpretation into their stories by carefully selecting statements from news sources and quoting them verbatim or paraphrasing them without comment”. 16


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Entretanto, nem as fontes e nem os repórteres exercem papeis neutros no processo de produção da notícia. Seja por limitações técnicas ou por convenções já cristalizadas no ambiente jornalístico, “os jornais são organizados para escolher algumas fontes e não outras" 20 (SIGAL, 1974, p. 187, tradução nossa). Em Reporters and Officials, ao analisar o conteúdo de dois dos principais jornais norte-americanos, o The New York Times e o The Washington Post, Leon Sigal (1974) desenvolve um extensivo e detalhado estudo sobre a seleção de fontes e de canais de comunicação no contexto dos Estados Unidos. Ao fazê-lo, o autor identifica e classifica os principais canais e fontes que estavam por trás das notícias analisadas. Os canais, “caminhos pelos quais informações atingem o repórter, são classificados em três categorias: de rotina, informais e corporativos” (SIGAL, 1974, p. 120, tradução nossa) 21 . Na primeira categoria estão inclusos procedimentos oficiais, comunicados e conferências de imprensa, palestras, cerimônias, entre outros. Já os “canais informais” incluem, por exemplo, vazamentos, processos não-governamentais, reuniões de associações ou convenções sindicais. Finalmente, os “canais corporativos”, são as entrevistas realizadas por iniciativa do repórter, eventos que o repórter testemunha em primeira mão, como incêndios, tumultos e catástrofes naturais, e as conclusões ou análises do próprio jornalista (SIGAL, 1974). Já as fontes, que na definição do autor são caracterizadas como “indivíduos ou organizações que passam informações através de um determinado canal” (SIGAL, 1974, p. 121, tradução nossa)22, são classificados em cinco categorias: as fontes oficiais do governo dos EUA; as fontes oficiais de governos estrangeiros; as fontes oficiais de governos estaduais e locais nos Estados Unidos; estrangeiros que não trabalham para nenhum governo; e cidadãos particulares (SIGAL, 1974). No contexto estudado, Leon Sigal identifica a predominância de fontes oficiais – especialmente do governo americano – até mesmo nas notícias que tratam de outros países.

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Texto original: “Newspapers are organized to tap some sources and not others.” Texto original: “Channels, the paths by which information reached the reporter, are classified into three categories: routine, informal and enterprise.” 22 Texto original: “Those individuals or organizations passing information through a channel, or sources as they are known…” 21


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A aderência a essas fontes recorrentes, caracterizadas por Sigal (1974, p. 130, tradução nossa) como “canais de rotina”, permite que os jornalistas “lidem com o mundo incerto do jornalismo”23. Nas palavras do autor: Jornalistas se aglomeram ao redor destes canais, cada um reunindo muitas das mesmas informações que seus colegas. Incerteza adora companhia: a semelhança das suas histórias fornece alguma garantia de que jornalistas compreendem o que está acontecendo em seu mundo. Para homens que não sabem e não podem saber quais são as notícias "reais", as rotinas de newsgathering produzem "notícias certificadas" – informações que parecem válidas na medida em que são de conhecimento comum entre jornalistas e suas fontes." (SIGAL, 1974, p. 130, tradução nossa) 24

Entretanto, da mesma forma que a escolha das fontes segue uma série de critérios estabelecidas pelos jornalistas ou pelos jornais nos quais trabalham, as fontes também têm motivações próprias ao selecionar as informações que compartilham com os jornalistas. Conforme define Sigal (1974, p. 181; tradução nossa), “as mesmas rotinas e convenções que jornalistas usam para lidar com a incerteza, porém, são exploradas pelas suas fontes para inserir informações em notícias ou para propagandear” 25. O sociólogo Herbert Gans utiliza a metáfora da dança para explicar essa relação: A relação entre fontes e jornalistas se assemelha a uma dança, pois fontes buscam acesso aos jornalistas, e jornalistas buscam acesso às fontes. Embora sejam precisos dois para dançar tango, fontes ou jornalistas podem conduzir, mas mais frequentemente são as fontes que conduzem. Com pessoal e tempo em falta, jornalistas procuram ativamente apenas um pequeno número de fontes regulares, que têm sido disponíveis e apropriadas no passado, e são passivos em relação a outras fontes de notícias possíveis. (GANS, 2004, p. 116, tradução nossa) 26

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Texto original: “Adherence to routine channels allows newsmen to cope with the uncertain world of journalism.” 24 Texto original: “Newsmen cluster around these channels, each gathering much the same information as his colleagues. Uncertainty loves company: the similarity of their stories provides some reassurance that newsmen understand what is going on in their world. For men who do not and cannot know what the “real” news is, the routines of newsgathering produce “certified news” – information that seems valid insofar as it is common knowledge among newsmen and their sources.” 25 Texto original: “The very routines and conventions that newsmen use to cope with uncertainty, though, are exploited by their sources either to insert information into the news or to propagandize.” 26 Texto original: “The relationship between sources and journalists resembles a dance, for sources seek access to journalists, and journalists seek access to sources. Although it takes two to tango, either sources or journalists can lead, but more often than not, sources do the leading. Staff and time being in short supply, journalists actively pursue only a small number of regular sources who have been available and suitable in the past, and are passive toward other possible news sources.”


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Outra metáfora não tão elegante utilizada por Gans para explicar a relação entre jornalistas e fontes é o cabo de guerra, onde fontes tentam colocar a melhor luz sobre si mesmas, e jornalistas tentam extrair das fontes as informações que eles querem (GANS, 2004, p. 117). As fontes muitas vezes não são inocentes quanto à influência que exercem, e "se veem como pessoas com a oportunidade de fornecer informações para promover seus interesses, para divulgar suas ideias, ou em alguns casos, apenas para colocar seus nomes e rostos nas notícias" (GANS, 2004, p. 117, tradução nossa) 27. Para explicar as fontes noticiosas, o autor Lawrence Soley utiliza uma abordagem semelhante à utilizada por Sigal, que foca a análise nos indivíduos que são entrevistados pelos meios de comunicação, ao invés de tentar interpretar o que esses indivíduos disseram (SOLEY, 1992, p.11). Soley divide as fontes de notícia em duas classificações, os “news makers”, que participam ativamente dos eventos noticiosos (criminosos e vítimas, funcionários do governo, líderes militares, terroristas e seus reféns, dentre outros) e os “news shapers”, que são procurados pela mídia na busca por

“informações privilegiadas, planos de fundo ou previsões sobre o resultado das histórias que ainda estão em desdobramento” (SOLEY, 1992, p. 2, tradução nossa)28. Soley atenta para o fato de que, apesar de serem apresentados como analistas imparciais, através de classificações gerais como “cientistas políticos”, “especialistas” ou “estudiosos”, os “news shapers” muitas vezes são ex-funcionários do governo e até mesmo antigos políticos, e "não há nenhuma razão para acreditar que eles são imparciais e objetivos, apesar de serem apresentados como tais" (SOLEY, 1992, p. 19, tradução nossa)29. No artigo De fontes a agentes jornalísticos: a crítica de uma metáfora morta, os pesquisadores brasileiros Bruno Souza Leal e Carlos Alberto de Carvalho (2014) vão ainda mais fundo no estudo das motivações das fontes e de seu papel na construção noticiosa, criticando inclusive o próprio termo utilizado para nomeá-las – “fonte” –,

27 Texto original: “But sources see themselves as people with a chance to provide information that promotes their interests, to publicize their ideas, or in some cases, just to get their names and faces into the news.” 28 Texto original: “’News shapers’ that the media go to for inside information, background, or predictions concerning the outcome of still-unfolding stories.” 29 Texto original: “Even when news shapers clearly have some knowledge about a topic, there is no reason to believe that they are detached and objective, despite being presented as such.”


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colocando-o como uma metáfora morta. Para explicar essa proposição, os autores se baseiam em conceitos traçados pelo sociólogo Érik Neveu: A metáfora da fonte de informação é cheia de mal-entendidos. Ir à fonte sugere um comportamento ativo para se abastecer de um produto (água ou informação) naturalmente disponível. Esse jogo de conotações combina com as imagens do jornalismo curioso e investigador. Ele induz ao erro, não porque os jornalistas sejam desprovidos de espírito de iniciativa e habilidades para acessar a informação escondida, mas porque as fontes são hoje fundamentalmente ativas. Se uma metáfora aquática pode fazer sentido, é a de jornalistas submersos num dilúvio de informações oferecidas pelas fontes (NEVEU, 2006, p. 94-95).

Leal e Carvalho (2014, p. 4) propõem, portanto, a utilização do termo “agente”, em detrimento de fonte, “para designar os atores que conformam e atuam na notícia”. Esses agentes, por sua vez, têm caráter proativo e “possuem papel ativo na definição dos sentidos atribuídos aos acontecimentos narrados” (LEAL & CARVALHO, 2014, p. 11). São eles os responsáveis por atuar como promotores dos acontecimentos, por auxiliar jornalistas no entendimento dos mesmos e também os que se apresentam de certa forma como protagonistas das narrativas. O termo agente se aplica a diferentes operadores, que atuam de modo distinto na cadeia noticiosa: na promoção do evento a ser noticiado; na produção da notícia; na superfície narrativa da história construída e posta em circulação pelas mídias informativas; no entendimento dos sentidos e implicações dessa história (LEAL & CARVALHO, 2014, p. 11).

Entretanto, independentemente do termo adotado – fontes ou agentes –, os processos jornalísticos que permeiam tais escolhas podem ser compreendidos com mais clareza a partir de um estudo mais detalhado sobre as convenções e rotinas jornalísticas. 1.3 Rotinas e convenções jornalísticas

De acordo com o teórico norte-americano Walter Lippmann, no livro Opinião Pública, escrito em 1922: Todo jornal quando alcança o leitor é o resultado de uma série completa de seleções sobre que itens e em que posições devem ser publicados, quanto espaço cada estória deve ocupar, que ênfase deve ter. Não há padrões objetivos aqui. Existem convenções (LIPPMANN, 2010, p. 301).


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Tais convenções foram incorporadas à prática jornalística no decorrer da história e interferem de forma ativa nos processos de produção da notícia e na notícia em si. Como explica Gitlin (2003, p. 4, tradução nossa, itálicos no original): As rotinas do jornalismo, situadas entre os interesses econômicos e políticos das organizações de notícias, normalmente e regularmente se combinam para selecionar certas versões da realidade sobre outras. Dia após dia, procedimentos organizacionais normais definem "a história", identificam os protagonistas e os problemas, e sugerem atitudes adequadas para eles. 30

Historicamente, muitas dessas práticas foram adotadas de modo a simplificar o trabalho dos envolvidos na produção noticiosa, pois, segundo Sigal (2003, p. 65, tradução nossa), “mais informações chegam ao repórter na pauta do que ele poderia possivelmente incluir em sua história” e “mais histórias fluem para a redação do que editores poderiam possivelmente encaixar no jornal” 31. Lippmann exemplifica bem esse processo quando diz que: Todos os repórteres do mundo trabalhando todas as horas do dia não poderiam testemunhar todos os acontecimentos no mundo. Não existem assim tantos repórteres, e nenhum deles tem o poder de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo (...) Mesmo assim o alcance de assuntos que estes comparativamente poucos homens conseguem cobrir seria realmente um milagre, se não fosse por causa de uma rotina padronizada (LIPPMANN, 2010, p. 289).

Ainda segundo Sigal, essas convenções ajudam a padronizar o conteúdo do jornal e formam bases sobre as quais as pautas são discutidas na redação e na prática. Para Gitlin (2003, p. 211, tradução nossa), as rotinas noticiosas de escolhas de notícias e os procedimentos de enquadramento estão intrinsicamente ligados, uma vez que são eles “que operam, noite após noite, para governar o conteúdo das notícias" 32 . Complementa Sigal (1974, p. 66, tradução nossa):

30 Texto original: “The routines of journalism, set within the economic and political interests of the news organizations, normally and regularly combine to select certain versions of reality over others. Day by day, normal organizational procedures define “the story”, identify the protagonists and the issues, and suggest appropriate attitudes toward them”. 31 Texto original: “More information comes to the reporter on the beat than he can possibly include in his story. More stories flow into the newsroom than editors can possibly fit into the newspaper.” 32 Texto original: “The routine (or hegemonic) news-gathering and framing procedures are the ones that operate night after night to govern the content of news.”


26 Esses hábitos mentais, como as rotinas de ação, parecem reduzir o âmbito da incerteza dos jornalistas, fornecendo um conjunto de normas para a seleção de notícias e um catalisador para cristalizar o consenso. Independentemente de sua validade, eles na verdade rotinizam certezas. Finalmente, convenções são úteis para legitimar a seleção feita e para desviar a crítica externa. 33

Apesar de algumas práticas terem se originado dos próprios jornalistas, outras foram pensadas pelos proprietários das grandes corporações de mídia. Argumenta Sigal (1974, p. 101; tradução nossa): Repetidas vez após vez, essas ações se tornam procedimentos operacionais padrão. Como outros funcionários de grandes organizações, repórteres engajados em newsgathering seguem rotinas estabelecidas. (…) Decoradas durante o aprendizado, reforçadas na experiência diária de trabalho, elas se tornam "o jeito como as coisas são feitas". 34

A padronização, os estereótipos e a rotina de julgamentos praticada nas redações – isto é, a sistematização – fazem parte, segundo Lippmann, de um modelo de jornalismo industrial que tem como objetivos principais a economia de tempo e esforço, assim como uma garantia parcial contra o fracasso (LIPPMANN, 2010, p. 300). Muitas vezes, esses procedimentos já tão cristalizados não são identificados de maneira clara nem mesmo pelos próprios jornalistas, pois "essas rotinas são estruturadas nas formas com que os jornalistas são socializados desde a infância, e em seguida treinados, recrutados, ordenados, editados, recompensados e promovidos no trabalho” (GITLIN, 2003, p. 11, tradução nossa)35. Dentre tais convenções jornalísticas contemporâneas, localizam-se a objetividade e a imparcialidade.

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Texto original: “These habits of mind, like the routines of action, seem to reduce the scope of newsmen’s uncertainty by providing a set of standards for selecting news and a catalyst for crystallizing consensus. Regardless of their validity, they in effect routinize certitude. Finally, conventions are useful for legitimating the selection made and for deflecting outside criticism.” 34 Texto original: “Repeated time after time, these actions become standard operating procedures. Like other organization men, reporters engaged in newsgathering follow established routines. (…) Learned during apprenticeship, reinforced in daily experience on the job, they become ‘the way things are done’.” 35 Texto original: “These routines are structured in the ways journalists are socialized from childhood, and then trained, recruited, assigned edited, rewarded, and promoted on the job.”


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1.4 A objetividade jornalística e sua origem histórica

No livro Descobrindo a Notícia: Uma história social dos jornais nos Estados Unidos, publicado originalmente em 1978, o sociólogo norte-americano Michael Schudson (2010) demonstra como o conceito de “notícias objetivas” (straight news) é um produto social envolvido nos processos de democratização da vida política, econômica e social no século XX; isto é, trata-se de uma construção histórica que acaba por se tornar hegemônica. “Antes de 1830, a objetividade não era um ponto crucial. Até então, esperava-se que os jornais norte-americanos apresentassem um ponto de vista partidário, em vez de uma posição neutra” (SCHUDSON, 2010, p. 14). Uma das explicações apresentadas para a adoção da objetividade como regra nas redações é o surgimento da primeira agência de notícias norte-americana, a Associated Press, que para vender suas notícias para jornais “com alianças políticas amplamente diversificadas, só poderia obter êxito ao tornar sua reportagem ‘objetiva’ o suficiente para ser aceita por todos os seus membros e clientes” (SCHUDSON, 2010, p. 14). Contudo, Schudson (2010) logo derruba esse argumento ao lembrar que no final do século XIX, quando a Associated Press estava se consolidando, a reportagem objetiva ainda não havia se tornado norma ou prática principal do jornalismo. Segundo o sociólogo, somente depois da Primeira Guerra Mundial, quando “jornalistas, como outros profissionais, perderam a confiança em verdades tidas como certas numa sociedade democrática de mercado” (SCHUDSON, 2010, p. 17) é que o cenário começou a mudar. Nos anos de 1920 e de 1930, muitos jornalistas observaram com crescente ansiedade que os fatos, por si só, ou o que eles haviam tomado como fatos, não poderiam ser confiáveis. Uma resposta a esta visão desconfiada foi a institucionalização, no jornal diário, de novos gêneros de reportagem subjetiva, como a coluna política. Outra resposta fez subir a ansiedade à cabeça do jornalista, encorajando-o a substituir uma simples confiança nos fatos por uma lealdade a normas e procedimentos criados por um mundo no qual os próprios fatos estavam em questão: isso era a “objetividade” (SCHUDSON, 2010, p. 17).

Em Reporters and Officials, Leon Sigal (1974, p. 66) também retoma o início dos jornais como periódicos de opinião, mas cita duas tendências que “convergiram para silenciar o tom partidário da imprensa nos Estados Unidos” e fizeram com que as notícias objetivas entrassem em voga depois da virada do século XX:


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Primeiro, o movimento de editores para impulsionar a circulação e depois o crescimento da publicidade como uma fonte de receita garantida pela imparcialidade nas colunas de notícias: promulgar opiniões partidárias que possam ofender leitores ou anunciantes simplesmente não se paga. (SIGAL, 1974, p. 66, tradução nossa). 36

Assim, em 1896, o The New York Times, por intermédio de seu editor Adolph Ochs, foi um dos pioneiros em adotar o “modelo de ‘informação’, em detrimento do modelo ‘narrativo’” (SCHUDSON, 2010, p. 15). Por fim, “nos anos de 1960, ambos, críticos e defensores da imprensa, tomaram a objetividade como o emblema do jornalismo norte-americano” (SCHUDSON, 2010, p. 20), e até hoje esse ideal não foi substituído, sendo também adotado em outros países cujos modelos de jornalismo se espelham no norte-americano. Dessa forma, fatos deixaram de ser aspectos do mundo para se tornarem afirmações validadas consensualmente a respeito dele, bem como a “objetividade, nesse sentido, passou a significar que as afirmações de uma pessoa sobre o mundo podem ser confiáveis se forem submetidas a regras estabelecidas consideradas legítimas pela comunidade de profissionais” (SCHUDSON, 2010, p. 17). Mas o próprio Schudson argumenta contra o “mito” da objetividade, e explica que “a objetividade como um ideal tem sido usada, e ainda é usada, mesmo de forma dissimulada, como uma camuflagem para o poder” (SCHUDSON, 2010, p. 187). Gans também formula uma explicação para o fato da objetividade continuar sendo utilizada como um ideal através do tempo: Mas acima de tudo, a objetividade é reforçada pela necessidade: a necessidade de proteger a credibilidade jornalística. Se os jornalistas não fossem vistos como sendo objetivos, cada história poderia ser criticada como resultado de um ou outro viés jornalístico, e as notícias seriam desacreditadas por um número ainda maior de telespectadores e leitores do que acontece agora. Por esta razão, a objetividade é também uma consideração comercial. (GANS, 2004, p. 186, tradução nossa) 37

36 Texto original: “First, the drive of publishers to boost circulation and the growth of advertising as a source of revenue made for impartiality in the news columns: promulgating partisan views which might offend readers or advertisers simply did not pay.” 37 Texto original: “But above all, objectivity is reinforced by necessity: the need to protect journalistic credibility. If journalists were not viewed as being objective, every story could be criticized as resulting from one or another journalistic bias, and the news would be distrusted by even larger numbers of viewers and readers than is now the case. For this reason, objectivity is also a commercial consideration.”


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Os critérios de noticiabilidade e os valores-notícia adotados pelos jornalistas são fatores relevantes para a elaboração das notícias, e auxiliam também na desconstrução do ideal da objetividade, na medida em que a diversidade de fatores de escolha disponíveis inviabiliza a crença em uma única versão da realidade. 1.5 Critérios de noticiabilidade e valores-notícia

As discussões teóricas já traçadas sobre enquadramento noticioso, seleção de fontes e objetividade jornalística apresentadas anteriormente sustentam argumentos contra o conceito do jornalismo como “espelho” da realidade. Uma vez que nem os repórteres nem as fontes exercem papeis neutros no processo de produção da notícia, é preciso entender como funciona esse processo, e quais os preceitos que o regem. Antes de tratar sobre os critérios de noticiabilidade, no entanto, Gislene Silva (2014), no livro Critérios de Noticiabilidade: problemas conceituais e aplicações, apresenta uma definição do conceito de noticiabilidade como: Todo e qualquer fator potencialmente capaz de agir no processo da produção da notícia, desde características do fato, julgamentos pessoais do jornalista, cultura profissional da categoria, condições favorecedoras ou limitantes da empresa de mídia, qualidade do material (imagem e texto), relação com as fontes e com o público, fatores éticos e ainda circunstâncias históricas, políticas, econômicas e sociais (SILVA, 2014, p. 52).

No mesmo livro, o autor Marcos Paulo da Silva problematiza a utilização dos conceitos “critérios de noticiabilidade” e “valores-notícia” como sinônimos, afirmando que são “categorias semânticas distintas que precisam ser entendidas em seus universos multifacetados” (SILVA, 2014, p. 29-30), e define: Os valores-notícia, nesse cenário, são vistos como os aspectos da noticiabilidade imbricados nas rotinas jornalísticas – ou seja, constituem os critérios de noticiabilidade utilizados no interior das rotinas profissionais para selecionar os fatos que serão efetivamente noticiados (SILVA, 2013, p. 76).

Como essa diferenciação não é unânime entre os demais autores que serão apresentados, serão mantidos os conceitos utilizados por cada autor, entendendo que, apesar de não serem sinônimos, são todos parte da dinâmica de seleção noticiosa praticada por jornalistas e demais profissionais envolvidos na produção da notícia. No livro Sobre a Televisão, Bourdieu classifica “essas estruturas invisíveis que organizam o


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percebido, determinando o que se vê e o que não se vê” (BOURDIEU, 1997, p. 25) através da metáfora dos óculos. “Os jornalistas têm "óculos" especiais a partir dos quais veem certas coisas e não outras; e veem de certa maneira as coisas que veem. Eles operam uma seleção e uma construção do que é selecionado”. Já para o autor britânico John Hartley, os valores-notícia “formam um código que vê o mundo de uma forma muito particular (peculiar até). Os valores-notícia são, de fato, um código ideológico” (HARTLEY, 1982, p. 80 apud TRAQUINA, 2008, p. 86). O teórico britânico Stuart Hall refere-se aos valores-notícia como um “mapa cultural” do mundo social” (TRAQUINA, 2008). Na terminologia de Stuart Hall, os valores-notícia operam como uma estrutura de primeiro plano, que pressupõe uma “estrutura profunda”, que está escondida – as noções consensuais sobre o funcionamento da sociedade que ajudam a marcar as fronteiras entre o “normal” e o “desvio”, entre o “legítimo” e o “ilegítimo”. (TRAQUINA, 2008, p. 86)

Para Traquina (2008, p. 62): Os valores-notícia são (...) um aspecto fundamental da cultura profissional. Segundo Golding e Elliott (1978), são um importante elemento de interação jornalística e constituem referências claras e disponíveis a conhecimentos práticos sobre a natureza e os objetos das notícias, referências essas que podem ser utilizadas para facilitar a complexa e rápida elaboração das notícias.

O autor define o conceito de noticiabilidade como “o conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é, possuir valor como notícia” (TRAQUINA, 2008, p. 63), e apresenta os critérios de noticiabilidade como o conjunto de valores-notícia que determinam se “um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar notícia” (TRAQUINA, 2008, p. 63). Traquina apresenta uma abordagem histórica através de três épocas distintas para argumentar que os valoresnotícia apresentam “um “padrão” geral bastante estável e previsível” (2008, p. 63). Assim, ele retorna aos séculos XVI e XVII, quando surgiram na Europa as “folhas volantes”, precursoras dos jornais modernos, e apresenta como os primeiros valores-notícia, isto é, os acontecimentos mais recorrentes na época: milagres, abominações, catástrofes, e acontecimentos bizarros. Outros valores-notícia importantes eram o insólito, “isto é, os acontecimentos que produziam o maior espanto, a mais profunda maravilha, a maior surpresa” (TRAQUINA, 2008, p. 65) e a noticiabilidade do


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ator principal do acontecimento, “os atos e as palavras das pessoas importantes, as crônicas e as proezas de personalidades da “elite” (TRAQUINA, 2008, p. 65). Já na década de 30 do século XIX, com o surgimento da chamada “pennypress”, “New York Sun dava ênfase às notícias locais, às histórias de interesse humano, e apresentava reportagens sensacionalistas de fatos surpreendentes.” (TRAQUINA, 2008, p. 67). Num terceiro momento histórico, a década de 70 do século XX, Traquina se baseia no livro Deciding Whats News, do teórico Herbert Gans, já mencionado anteriormente, que demonstra em primeiro lugar a importância do valornotícia “notoriedade”, ao demonstrar que no contexto norte-americano, assim como em todas as nações modernas, “as pessoas que aparecem mais frequentemente nas notícias são aquelas conhecidas, e, na maior parte, aquelas em posições oficias” (GANS, 2004, p. 9, tradução nossa)38, ocupando de 70 a 85% de todo o material noticioso analisado pelo autor. Para que as pessoas “desconhecidas” se tornassem notícia, no cenário estudado por Gans (2004), seria necessário que elas participassem de acontecimentos como protestos e crimes, ou fossem parte de atividades “bizarras” ou “excêntricas”. Traquina afirma que “as semelhanças entre as notícias nestes três momentos diferentes que abrangem quase quatro séculos de história não devem surpreender” (2008, p. 69), pois segundo o historiador Mitchell Stephens “a humanidade tem permutado uma mistura semelhante de notícias com consistência através da história” (1988, p.34 apud TRAQUINA, 2008, p. 63). Stephens define como “qualidades duradouras” das notícias “o extraordinário, o insólito (“o homem que morde o cão”39), o atual, a figura proeminente, o ilegal, as guerras, a calamidade e a morte” (TRAQUINA, 2008, p. 63). Partindo para uma análise acadêmica dos valores-notícia, Traquina classifica o estudo desenvolvido por Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge (1965/1993) como a primeira tentativa de identificar e classificar os valores-notícia 40, “ou, na linguagem dos autores, os fatores que influenciam o fluxo de notícias” (2008, p. 69).

38 Texto original: “In American news, as in the news of all modern nations, the people who appear most frequently in the news are Knowns, and, for the most part, those in official positions.” 39 Expressão extraída da frase proferida originalmente por Charles Anderson Dana (1819-1897): “when a dog bites a man that is not news, but when a man bites a dog that is news”. 40 Galtung e Ruge (1965) optam no estudo original pelo uso do termo “fator”, a utilização da expressão “valores notícia” se constitui como uma opção semântica do autor Nelson Traquina (2008).


32 Em resposta à pergunta “como é que os acontecimentos se tornam notícia”, Galtung e Ruge enumeram doze valores-notícia: 1) a frequência, ou seja, a duração do acontecimento; 2) a amplitude do evento; 3) a clareza ou falta de ambiguidade; 4) a significância; 5) a consonância, isto é, a facilidade de inserir o “novo” numa “velha” ideia que corresponda ao que se espera que aconteça; 6) o inesperado; 7) a continuidade, isto é, a continuação como notícia do que já ganhou noticiabilidade; 8) a composição, isto é a necessidade de manter um equilíbrio nas notícias com uma diversidade de assuntos abordados; 9) a referência a nações de elite; 10) a referência a pessoas de elite, isto é, o valornotícia da proeminência do ator do acontecimento; 11) a personalização, isto é, a referência às pessoas envolvidas; e 12) a negatividade, ou seja, segundo a máxima “bad news is good news”. (2008, p. 69-70)

Galtung e Ruge escrevem também que “um acontecimento será tanto mais noticiável quanto maior número de valores possuir, embora não seja uma regra absoluta” (1965/1993 apud TRAQUINA, 2008, p. 73). Já para Ericson, Baranek e Chan os valoresnotícia, ou os critérios de noticiabilidade “não são imperativos, mas sim elementos que ajudam o jornalista a reconhecer a importância dos acontecimentos, a proceder a escolhas dentre as alternativas, e a considerar as escolhas a fazer” (1978, p. 139-140 apud TRAQUINA, 2008, p. 73). Estes autores elaboraram uma lista de valores notícia que inclui: 1) a simplificação; 2) a dramatização; 3) a personalização; 4) a continuidade; 5) a consonância; 6) o inesperado; e 7) a infração. Para estes autores, “há um limiar de noticiabilidade abaixo do qual algo não será noticiado” e “este limiar varia enormemente de acordo com o que estiver mais disponível, a proximidade cultural, quem está envolvido no acontecimento e outros fatores” (TRAQUINA, 2008, p. 74). Baseado nestes autores e também em outros acadêmicos como Fishman (1978, 1980), Gans (1979), Hartley (1982), e Wolf (1987), Traquina (2008) elabora sua própria classificação dos valores-notícia, que divide em “valores-notícia de seleção” e “valores-notícia de construção”, fundamentando-se na distinção elaborada pelo acadêmico italiano Mauro Wolf: Para Wolf, os valores-notícia de seleção referem-se aos critérios que os jornalistas utilizam na seleção dos acontecimentos, isto é, na decisão de escolher um acontecimento como candidato à sua transformação em notícia e esquecer outro acontecimento. Os valores-notícia de seleção estão divididos em dois subgrupos: a) os critérios substantivos que dizem respeito à avaliação direta do acontecimento em termos da sua importância ou interesse como notícia, e b) os critérios contextuais que dizem respeito ao contexto de produção da notícia. Os valores-notícia de construção são qualidades da sua construção como notícia e funcionam como linhas-guia para a apresentação do material, sugerindo o que deve ser realçado, o que deve ser omitido, o que deve ser prioritário na construção do acontecimento como notícia. (TRAQUINA, 2008, p. 78)


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Os critérios substantivos dos valores-notícia de seleção são, para Traquina (2008): morte; notoriedade; proximidade (em termos geográficos e culturais); relevância; novidade; tempo (atualidade ou data específica); notabilidade (quantidade de pessoas envolvidas, inversão, insólito, falha, excesso/escassez); inesperado; conflito ou controvérsia (violência física ou simbólica); e infração. Já os critérios contextuais dos valores-notícia de seleção são: disponibilidade; equilíbrio; visualidade; concorrência (busca pelo “furo); e dia noticioso. Os valores-notícia de construção são classificados em: simplificação; amplificação; relevância; personalização; dramatização; e consonância. No entanto, além dos valores-notícia, outros fatores podem influenciar na produção noticiosa, como a política editorial da empresa jornalística, incluindo a disposição de recursos, a existência ou não de espaços específicos para diferentes tipos de assuntos e até mesmo a interferência dos diretores das empresas jornalísticas. Os valores-notícia estão “enterrados nas rotinas jornalísticas” (TRAQUINA, 2008, p.93), portanto o contato com as fontes e a pressão por produtividade também são fatores que devem ser levados em conta. Além disso: Os valores-notícia não são imutáveis, com mudanças de uma época histórica para outra, com sensibilidades diversas de uma localidade para outra, com destaques diversos de uma empresa jornalística para outra, tendo em conta as políticas editoriais. (TRAQUINA, 2008, p. 95)

Retomando o autor Marcos Paulo da Silva (2014), que cita o autor português Jorge Pedro Sousa: Embora o caráter noticiável de um evento – o seu valor como notícia – não conceda automaticamente a ele o espaço nas pautas dos meios de comunicação (posto que outros diversos fatores devem ser levados em consideração nessa multifacetada dinâmica), por outro lado, “se um fato for enquadrado e percepcionado como sendo notável e potencialmente noticiável devido à obediência a um ou vários critérios de noticiabilidade, então poderá mais facilmente vir a tornar-se notícia” (SOUSA, 2004, p. 40-41 apud SILVA, 2014, p. 30-31)


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1.6 Interesse público e o jornalismo “cão de guarda”

Assim como a objetividade, outro valor que perdura entre os ideais jornalísticos é a defesa do interesse público, utilizado, segundo Wilson Gomes (2009, p. 67), com o propósito de “afirmar a legitimidade social” da profissão. Para entender o surgimento desse discurso, utilizado pelo jornalismo há pelo menos duzentos anos como razão máxima de ser, Gomes remete ao século XVIII, quando a ascendente burguesia europeia formulava um modelo de poder adversário ao Estado aristocrático, onde “a decisão política legítima seria aquela capaz de refletir a posição e a vontade da esfera civil, seria a opinião do público, opinião pública” (GOMES, 2009, p. 73). O fato é que a imprensa que nasce desse modo recebe de tal nascimento um certo destino e um conjunto de propriedades. Nasce burguesa, portanto em polêmica contra o Estado e a favor da esfera civil (...) Nasce iluminista, por conseguinte, convencida dos valores representados pela argumentação, pelo debate público pela racionalidade. (...) Nasce também liberal, portanto ciosa da sua autonomia em face do Estado ou dos poderes e convicta de que a liberdade de expressão, opinião e imprensa são instrumentos fundamentais para um modelo de sociedade baseada na autodeterminação dos sujeitos. (GOMES, 2009, p. 73-74)

Apesar de todas as mudanças ocorridas no mundo e em suas instituições desde então, e até mesmo no próprio de jornalismo, que “deixa o modelo da imprensa de opinião para assumir decididamente o modelo da imprensa empresarial" (GOMES, 2009, p. 75), “o discurso de autolegitimação do jornalismo, pelo menos em sua maior parte, continua o mesmo, não obstante todas as mudanças nas condições sociais de sua existência e nos modelos em que ele é praticado” (GOMES, 2009, p. 76). Assim, marcas que estavam presentes no surgimento do jornalismo, continuam a constituir “as bases da estrutura discursiva da sua autolegitimação social” (GOMES, 2009, p. 74). Uma dessas marcas citadas por Gomes continua muito presente no modelo de jornalismo praticado pelos grandes veículos da imprensa brasileira: Antes de tudo, a desconfiança com relação à esfera política e ao governo em nome de um reafirmado vínculo com a esfera civil, cujos interesses precisam ser protegidos contra as outras esferas. A meta aqui é reduzir os nichos do segredo, possivelmente sequestrando para o domínio público aquilo que o Estado ou o campo político gostariam de manter reservado. (2009, p. 74)


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Essa característica foi herdada do modelo de jornalismo americano, que, conforme explica Gomes, assumiu com orgulho a função de “cão de guarda” (watchdog) do interesse público, principalmente contra o campo da política. Faz parte das tradições mais arraigadas do discurso liberado a afirmação de que a função democrática mais fundamental do jornalismo é a de agir como watchdog a vigiar o Estado, para revelar os abusos contra o interesse público cometidos nas esferas governamental e política e para fomentar o debate público sobre o funcionamento do governo (Cf. Curran, 1993 p. 84-90; tb. Marcondes Filho 2000).” (GOMES, 2009, p. 70-71)

Traquina (2008) também se utiliza dessa mesma expressão ao utilizar um dos valores-notícia listados por ele, o valor-notícia da infração, que se refere sobretudo à violação, à transgressão das regras, para explicar um tipo de acontecimento que tem extrema importância para a comunidade jornalística: o “escândalo”. Segundo Traquina (2008, p. 85), “este tipo de acontecimento corresponde à situação mítica do jornalista como “cão de guarda” das instituições democráticas”. Ainda se referindo ao valor-notícia da infração, Traquina (2008, p. 75) explica que “a infração das leis, a má gestão, o mau comportamento por parte de um funcionário ou qualquer autoridade responsável, e mesmo uma sugestão de impropriedade, tem noticiabilidade”. Os estudiosos canadenses Ericson, Baranek e Chan (1987 apud TRAQUINA, 2008), responsáveis por identificar a infração como valor-notícia, “atribuem ao jornalismo uma função de policiamento da sociedade, com particular atenção ao governo, em que o desvio e o crime mobilizam a atenção dos membros dessa comunidade interpretativa” (TRAQUINA, 2008, p. 75-76). Outro autor citado por é Daniel Hallin (1986 apud TRAQUINA, 2008), que divide o mundo do jornalista em três regiões simbólicas: a esfera do consenso, a esfera da controvérsia e a esfera do desvio. Nessa terceira esfera: A neutralidade entra de novo em declínio e os media noticiosos tornam-se, parafraseando Parsons, um “mecanismo de manutenção de fronteiras”: desempenham o papel de expor, condenar ou excluir da agenda pública os que violam ou desafiam os valores de consenso, e apoiam a distinção consensual entre atividade política legítima e ilegítima. (2008, p. 87-88)

A visão do jornalismo como “cão de guarda” deriva da problemática do papel do jornalismo de servir ao interesse público, que deveria “garantir que o que interessa à esfera civil, ao público, possa ter influência na produção da decisão política” (GOMES,


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2009, p. 79), ou seja “oferecer à esfera civil a possibilidade de se ver representada e satisfeita nos procedimentos regulares da esfera política” (GOMES, 2009, p. 79). Como o serviço que o jornalismo pode prestar é a produção e circulação de informações, servir ao interesse público significaria colocar à disposição do público os repertórios informativos necessários para que ele possa influenciar a decisão política e a gestão do Estado, para que possa fazer-se valer na esfera política (2009, p. 79).

No entanto, como no modelo de jornalismo industrial o “público” anteriormente relacionado a povo, a cidadania, passa a ser sinônimo de audiência (GOMES, 2009, p. 83), a utilização de recursos como o “escândalo” se configura como uma prática para atrair a atenção dos consumidores de informação. Todos os tópicos mencionados neste capítulo incorporam a lógica do enquadramento noticioso, foco da pesquisa, mas entende-se que para compreender o cenário das matérias analisadas é essencial retomar o contexto histórico da chegada de Dilma Rousseff ao poder. Visando abranger uma conjuntura mais ampla, será apresentada também a carreira política de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, responsável por levar o PT (Partido dos Trabalhadores) à presidência do Brasil, fato considerado por autores como Singer (2009) como responsável pela ascensão da esquerda brasileira ao poder pela primeira vez.


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2. HISTÓRICO DESCRITIVO DA ASCENÇÃO DO PT AO PODER Após a revisão sobre o conceito de enquadramento e sobre algumas das variáveis que devem ser consideradas no desenvolvimento dessa modalidade de análise (capítulo 1), se faz necessário estudar mais a fundo o objeto em foco nesta monografia, neste caso o governo de Dilma Rousseff, mais especificamente o primeiro ano de seu segundo mandato. Para entender esse recorte com mais propriedade é preciso levar em consideração a trajetória política da presidente, de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, e do próprio Partido dos Trabalhadores (PT), suas origens e possíveis transformações ideológicas ao longo do tempo e até sua chegada ao poder. Para a análise descritiva a seguir, todos os trabalhos acadêmicos utilizados estão indexados na base SciELO (Scientific Electronic Library Online) e no banco de teses e dissertações da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

2.1 A trajetória do Partido dos Trabalhadores Em 2002 o Brasil passou por uma importante mudança política quando o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lula, ex-operário e líder sindical de origem humilde, foi eleito presidente da república com 61,3% dos votos no segundo turno, que disputou contra o candidato José Serra. A carreira política de Lula 41 havia começado muito tempo antes, através da atividade sindical, para a qual entrou em 1966. Eleito primeiro-secretário e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, ele chegou a ser preso pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) por um mês durante o Regime Militar e participou, em fevereiro de 1980, da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), tendo sua chapa eleita para comandar a executiva da sigla alguns meses depois. Como explica Bruno Reis (2014, p. 115):

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Informações sobre a biografia de Luiz Inácio Lula da Silva obtidas no site do Instituto Lula (http://www.institutolula.org/biografia) e em edição especial sobre o Governo Lula elaborada pela Folha Online em 2002 (http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/governolula/presidente-biografia.shtml).


38 A agitação política e cultural dos anos 1960 trouxe os movimentos sociais para o proscênio, intensificando a aposta na participação – principalmente quando ela ocorria à margem do sistema formal de representação eleitoral: “de costas para o estado, longe do parlamento”, era o slogan dessa tendência por volta de 1980 (Evers, 1983). Nesse caldo de cultura, formou-se o PT, no início da década de 1980.

Ainda segundo o autor, “fundamentalmente, o PT constituiu-se como um partido outsider em relação ao sistema político-institucional estritamente considerado” (2014, p. 115), e instituiu-se a partir de três bases fundamentais: 1. uma poderosa base sindical no núcleo duro da indústria brasileira (os metalúrgicos do ABC paulista), que rapidamente ramificou-se rumo a um associativismo civil mais amplo, incluindo o virtual controle dos sindicatos e das associações de servidores públicos; 2. uma considerável capilarização Brasil afora, favorecida pela adesão (ou mera simpatia) dos setores politicamente mais engajados da Igreja católica, agrupados em torno da então relativamente influente Teologia da libertação, ocasionalmente mobilizados nas chamadas comunidades eclesiais de base; e ainda, 3. uma militância civil, que nas grandes cidades reuniu estudantes universitários, intelectuais e mesmo alguns remanescentes dos pequenos grupos armados que haviam confrontado a ditadura militar nos anos 1970 (REIS, 2014, p. 115-116).

De acordo com o cientista político Eliel Machado (2009, p. 23), “depois de aproximadamente 15 anos de ditadura militar, nascia um partido de massas, com grande capacidade de mobilização, oriundo das lutas populares e operárias por melhores condições de vida, trabalho e salário”. Diferentemente dos partidos e sindicatos proletários, “o PT propunha-se a ser um partido de novo tipo e a não repetir os ‘erros’ daqueles que se ‘espelhavam’ no bloco soviético”. Lula disputou o governo de São Paulo em 1982 e em 1984 foi uma das principais lideranças do movimento “Diretas Já”, que reivindicava a realização de eleições presidenciais diretas no Brasil após um período de duas décadas de regime militar de exceção. Em 1986, foi eleito o deputado federal com a maior votação do país para a Assembleia Nacional Constituinte. Em 1989, disputou pela primeira vez as eleições para presidente, quando foi derrotado por Fernando Collor de Mello (PRN) no segundo turno. Participou novamente das duas eleições seguintes (1994 e 1998), sendo derrotado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) nas duas oportunidades, até que em 2002 foi finalmente eleito presidente da República.


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Desde seu surgimento, o Partido dos Trabalhadores trilhou “uma trajetória ascensional impressionante: aumento de cadeiras nos parlamentos (municipais, estaduais e federal), a conquista de prefeituras, de governos estaduais e (...) do governo federal” (MACHADO, 2009, p. 23). Conforme ressalta Bruno Reis (2014, p. 116): Esse sucesso eleitoral, conquistado paulatinamente a partir de prefeituras de cidades médias rumo às das capitais, dali para o governo de alguns estados e finalmente a Presidência da República em pouco mais de 20 anos, significou em si mesmo – dada a condição outsider do partido – a promoção de novas elites políticas.

Na perspectiva de Singer (2009, p. 90, grifos no original), a eleição de 2002 foi “comemorada como sendo a da demorada ascensão da esquerda em país de tradição conservadora”. Mas, o fato de Lula ter se unido a um partido de centro-direita e ter assinado a “Carta ao povo brasileiro”, que, segundo Machado (2009, p. 28),“tinha outros destinatários que não exatamente o ‘povo brasileiro’: os banqueiros estrangeiros e nacionais, os credores das dívidas externa e interna” e as “frações da burguesia industrial brasileira, (...) bem como latifundiários ligados ao agronegócio”, suscitam discussões quanto a possíveis transformações político-ideológicas que teriam ocorrido dentro do Partido dos Trabalhadores. O PT teria se “comprometido inicialmente com as classes trabalhadoras, mas (...) ao longo de sua trajetória, muda de postura e ‘flexibiliza’ seus compromissos iniciais” (MACHADO, 2009, p. 23). Para Machado (2009, p. 26), com a finalidade de “‘vender’ um produto palatável ao ‘eleitor-consumidor’”, “a guerra ideológica de 1989, entre esquerda e direita, foi sepultada pelo próprio partido”. Essa tendência é reiterada por André Singer (2009, p. 101) quando afirma que: O fato de Lula receber votos à esquerda e à direita de modo equivalente seria o reflexo do realinhamento em curso, a partir do qual Lula passa a representar uma opção nova, que mistura elementos de esquerda e de direita, contra uma alternativa de classe média organizada em torno de uma formulação de centro.

Já na reeleição de Lula em 2006, segundo Singer (2009, p. 90), “operou-se uma transformação que se faz necessário entender”. Se nas corridas presidenciais que disputou entre 1989 e 2002 a principal base de apoio a Lula “estava entre os eleitores dos níveis superiores de escolarização nos Estados mais urbanizados e industrializados


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do Sul e do Sudeste” (HUNTER E POWER, 2007, p. 4 apud SINGER, 2009, p. 90, tradução do autor), em 2006 houve um “deslocamento que, com o aspecto superficial da consagração do lulismo, pode ter significado, na verdade, um importante realinhamento político de estratos decisivos do eleitorado” (SINGER, 2009, p. 83). Para Singer (2009, p. 86), “os dados mostram que o lulismo foi expressão de uma camada social específica, e o descolamento entre eleitores de baixíssima renda e de ‘classe média’, que (...) outorgou um caráter único à eleição de 2006”. De acordo com Marcos Coimbra (2007, p. 6): Os “lulistas” seriam eleitores que foram, a cada vez que votavam de novo em Lula, ficando mais “lulistas”, mais comprometidos com suas próprias escolhas passadas e mais predispostos a, mesmo na adversidade, continuar a ser “lulistas”.

Em sua análise, Coimbra propõe uma explicação para esse deslocamento entre eleitores. Segundo o autor: O principal fundamento da aprovação de grande parte da população do governo Lula foi a sensação de eleitores de renda baixa e média de que seu poder de consumo aumentara, seja em produtos tradicionais (alimentos, material de construção), seja em novos (celulares, DVDs, passagens aéreas). Somada ao Bolsa Família e programas semelhantes (PRO-UNI, Luz para Todos, etc.), formou-se uma base de boa avaliação do governo, que explicou a opção pela candidatura Lula por muitos eleitores “ocasionais” e mesmo alguns “nãoeleitores” (COIMBRA, 2007, p. 11).

Tal como mencionado por Coimbra (2007), “a partir do final de 2003, com o lançamento do Programa Bolsa Família (PBF), inicia-se uma gradual melhora na condição de vida dos mais pobres” (SINGER, 2009, p. 91). Se no início o Bolsa Família configurava-se apenas como a unificação de programas de transferência de renda criados na administração de Fernando Henrique Cardoso, “aos poucos a quantidade de recursos destinados ao PBF o converteu em uma espécie de renda mínima para todas as famílias brasileiras que comprovassem situação de extrema necessidade”. O orçamento destinado ao programa saltou de R$ 570 milhões em 2003 para 7,5 bilhões de reais em 2006, o número de famílias atendidas aumentou de 3,6 milhões para cerca de 11,4 milhões em todas as unidades da federação, e “diversos estudos encontraram indícios de que o PBF teve influência nos votos recebidos por Lula em 2006” (SINGER, 2009, p. 91).


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Porém, para Coimbra (2007, p. 7) “a importância do Bolsa Família não deve ser subestimada e nem exagerada”, pois apesar do programa ter sido considerado decisivo ao cumprir a “promessa” de Lula de privilegiar os mais pobres, “sozinho, não bastaria para explicar o resultado da eleição”. Outros fatores também colaboraram para a fidelização dos eleitores de baixíssima renda, como o controle dos preços, o aumento do salário mínimo, a concessão de crédito consignado e outras iniciativas que tinham por objetivo expandir o financiamento popular, a promulgação do Estatuto do Idoso, dentre outros. Além dessas medidas de alcance geral, que propiciaram a ativação de setores antes inexistentes na economia (por exemplo, clínicas dentárias para a baixa renda), uma série de programas focalizados, como o Luz para Todos (de eletrificação rural), regularização das propriedades quilombolas, construção de cisternas no semiárido etc. favoreceram o setor de baixíssima renda (SINGER, 2009, p. 93).

Nesse cenário, “o tripé formado pela Bolsa Família, pelo salário mínimo e pela expansão do crédito, somado aos referidos programas específicos, resultaram em uma diminuição significativa da pobreza a partir de 2004” (SINGER, 2009, p. 93), aliada ao crescimento da economia e ao aumento de vagas de emprego. “É isso que Marcelo Neri chama de “o Real de Lula”” (NERI, 2007 apud SINGER, 2009, p. 93), em referência ao Plano Real, programa considerado decisivo para a reeleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso. O “Real de Lula” teve, portanto, influência na reeleição do líder petista, pois, segundo um cruzamento realizado pelo Datafolha em junho de 2006 e citado por Yan Carreirão, “os números mostram que a intenção de voto em Lula pulava de 39%, na média, para 62%, quando o entrevistado participava de algum programa federal” (CARREIRÃO, 2009 apud SINGER, 2009, p. 93). Para Singer (2009, p. 94), “examinadas em seu conjunto, as ações governamentais do primeiro mandato vão muito além de simples ‘ajuda’ aos pobres”, uma vez que “constituem uma plataforma no sentido de traçar uma direção política para os anseios de certa fração de classe”, na medida em que “sugerem um caminho a seguir: manutenção da estabilidade com expansão do mercado interno, sobretudo para os setores de baixa renda”. Prossegue o autor:


42 Convém lembrar que Lula é o primeiro presidente que viveu a experiência da miséria, o que não é irrelevante, dada a sensibilidade que demonstrou, uma vez na presidência, para a realidade dos miseráveis. Por isso, é plausível a suspeita de Francisco de Oliveira de que a eleição de 2006 comprove ter Lula se elevado “à condição de condottiere e de mito” (SINGER, 2009, p. 94, itálicos no original).

Singer também analisa a hipótese apresentada por Machado (2009) de que teriam

ocorrido

“transformações

político-ideológicas”

dentro

do

Partido

dos

Trabalhadores depois de sua chegada ao poder, e atribui essa desconexão entre as bases do “lulismo” e do “petismo” à entrada em cena de uma “força nova, constituída por Lula à frente de uma fração de classe antes caudatária dos partidos da ordem”, que “indicava a emergência de outra orientação ideológica” (SINGER, 2009, p. 96, itálicos no original). Nossa hipótese é de que o governo se afastou de aspectos do programa de esquerda adotado pelo PT até o final de 2001 (...) com a finalidade de impedir que uma reação do capital, voltada para criar dificuldades à mudança, provocasse instabilidade econômica e atingisse os excluídos das relações econômicas formais.” (SINGER, 2009, p. 97)

Para Armando Boito Jr. e Tatiana Berringer (2013, p. 33): O que se passou desde então foi que esse partido, que lutava, ao longo da década de 1990, pela implantação de um Estado de bem-estar social no Brasil e pelo reforço do capitalismo de Estado, esse partido foi atraído pela grande burguesia interna, que vinha fazendo crítica moderada ao neoliberalismo, e, na virada da década de 1990 para a década de 2000, mesclando sua tradição de origem com a insatisfação burguesa, converteu-se, de modo empírico e marcado pelas circunstâncias, no criador e no instrumento partidário do neodesenvolvimentismo.

Se até 2002 a esquerda não havia sido capaz de dar direção ao subproletariado (SINGER, 2009), categoria que segundo Paul Singer inclui “empregados domésticos, assalariados de pequenos produtores diretos e trabalhadores destituídos das condições mínimas de participação na luta de classes” (SINGER, 1981, p. 22 apud SINGER, 2009, p. 98), “o primeiro mandato de Lula terminou por encontrar outra via de acesso ao subproletariado, amoldando-se a ele, mais do que o modelando, porém, ao mesmo tempo, constituindo-o como ator político (SINGER, 2009, p. 99). Para Singer (2009), numa perspectiva histórica, essa classe de trabalhadores estaria nas mesmas condições políticas que os camponeses da França analisados por Karl Marx em O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Apesar de serem milhões, eram


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trabalhadores conectados apenas por uma ligação local, e “a similitude de seus interesses não cria entre eles comunidade alguma, ligação nacional alguma, nem organização política” (MARX, 1986, p. 116). Na ótica marxista, “(os camponeses) são, consequentemente, incapazes de fazer valer seu interesse de classe em seu próprio nome, (...) não podem representar-se, têm que ser representados” (MARX, 1986, p. 116, parêntese nosso). Nas palavras do filósofo alemão: Seu representante tem, ao mesmo tempo, que aparecer como seu senhor, como autoridade sobre eles, como um poder governamental ilimitado que os protege das demais classes e que do alto lhes manda o sol ou a chuva. A influência política dos pequenos camponeses, portanto, encontra sua expressão final no fato de que o Poder Executivo submete ao seu domínio a sociedade (MARX, 1986, p. 116).

Da mesma forma, o subproletariado tende a ser politicamente constituído desde cima, e teria encontrado em Lula alguém disposto a dar projeção às suas aspirações, como resume Singer (2009, p. 84) ao classificar a emergência do lulismo como “um fenômeno de representação de uma fração de classe que, embora majoritária, não consegue construir desde baixo as suas próprias formas de organização”. A forma de governo de Lula, todavia, não é unanimidade entre os autores estudados. Para Armando Boito (2005), o investimento de Lula em programas como o Bolsa Família: Não se trata de uma proposta de organização política dos trabalhadores pauperizados pelo capitalismo neoliberal para fazer deles uma força pela mudança do modelo econômico. O Governo Lula mantém essa população pobre desorganizada e desinformada, explora-a politicamente - para ser mais preciso, explora-a eleitoralmente - porque sabe que a organização do povo poderia criar uma situação que o obrigaria a substituir a oferta de bolsas pela consolidação de direitos (BOITO, 2005, p. 10).

Em perspectiva semelhante, Armando Boito Jr. e Tatiana Berringer (2013, p. 34), afirmam que o governo Lula, assim como o de sua sucessora Dilma Rousseff, optou por destinar renda à chamada massa marginal, social e politicamente desorganizada, “sem se preocuparem – nem esses governos, nem o seu partido, o PT – em organizálos”, afirmação que pode ser novamente comparada ao texto já citado de Karl Marx (1986). Nesse contexto, forma-se “uma base eleitoral desorganizada e passiva que é convocada a intervir no processo político apenas por intermédio do voto para sufragar os candidatos da frente neodesenvolvimentista” (BERRINGER; BOITO, 2013, p. 34).


44

Eliel Machado (2009, p. 33) completa a crítica ao afirmar que Lula “deu um alento importante ao desgastado projeto neoliberal, garantindo-lhe mais tempo de sobrevida com apoio das camadas mais pobres e desorganizadas da população”. Ainda assim, essa camada mais pobre da população não foi a única responsável pela manutenção de Lula no poder, como explica o autor: O governo Lula tem-se destacado por capitanear amplo apoio popular, principalmente entre os pobres mais pobres, por meio dos chamados programas sociais, como o Bolsa Família, sem, contudo, criar indisposições políticas com as frações hegemônicas (MACHADO, 2009, p. 28).

Murilo César Soares (2009) também aborda o assunto em seu estudo “Representações, Jornalismo e a Esfera Pública Democrática”, no qual afirma que: Certamente, ele [Lula] não foi eleito apenas com o voto dos mais pobres, podendo contar também com setores de classe média, mas sua votação mais consistente ocorreu nos estados brasileiros em que a presença do governo foi muito importante para diminuir um pouco as distâncias sociais, em especial nas camadas de menor renda (SOARES, 2009, p. 188).

Com a impossibilidade de concorrer novamente nas eleições de 2010, Luiz Inácio Lula da Silva se viu na difícil tarefa de eleger um “sucessor”. A escolhida, nomeada oficialmente pré-candidata no 4º Congresso Nacional do PT, realizado de 18 a 21 de fevereiro de 2010 em Brasília, foi Dilma Rousseff, que havia sido ministra de Minas e Energia e da Casa Civil durante os dois mandatos de Lula.

2.2 A carreira política de Dilma Rousseff A movimentada carreira política da mineira Dilma Rousseff 42 teve início quando ela, aos 16 anos, começou a militar como simpatizante na Organização Revolucionária Marxista - Política Operária, conhecida como Polop. Aos 19 anos, Dilma aderiu ao Comando de Libertação Nacional (Colina), divisão da Polop que era a favor de ações armadas. Em 1969, a Colina e a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária)

42

Informações sobre a biografia de Dilma Rousseff obtidas em cronologia publicada pelo site de notícias UOL em 21/02/2010 (http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2010/02/21/veja-cronologia-davida-de-dilma-rousseff.htm).


45

decidiram se unir e formaram a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VARPalmares), da qual Dilma e seu então marido, Carlos Araújo, se tornaram alguns dos dirigentes. A militante foi presa em 1970 e condenada em três Estados, mas conseguiu redução de pena no STM (Superior Tribunal Militar) e foi libertada no final de 1972. Em 1977, formou-se em Ciências Econômicas pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). No dia 16 de julho de 1980, ingressou na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, onde trabalhou até 31 de dezembro de 1985, a maior parte do tempo como assessora da bancada do PDT (Partido Democrático Trabalhista). Nesse mesmo ano, participou da campanha vitoriosa de Alceu Collares (PDT) a prefeito de Porto Alegre e, em 1986, foi nomeada secretária da Fazenda da Prefeitura da capital gaúcha. Com o fim da gestão do PDT na Prefeitura de Porto Alegre, deixou o cargo de secretária da Fazenda, mas foi indicada pelo partido e assumiu o cargo de diretora-geral da Câmara porto-alegrense de Vereadores em 1989. Participou novamente da campanha de Alceu Collares, dessa vez ao governo gaúcho, e foi nomeada presidente da FEE (Fundação de Economia e Estatística) em 1991. Dois anos depois, tornou-se secretária de Minas, Energia e Comunicações do governo Collares. Em 1999, assumiu novamente o mesmo cargo, dessa vez na administração de Olívio Dutra (PT). Quando o PDT rompeu a aliança política com o PT no Rio Grande do Sul, em 2001, Dilma optou por deixar o partido e filiar-se ao Partido dos Trabalhadores. Em 2002, participou da formulação do plano de governo na campanha presidencial de Lula e integrou a equipe de transição de governo do PT, em Brasília. Em 20 de dezembro, Lula anunciou a indicação de Dilma para o cargo de ministra de Minas e Energia, cargo que ocupou até ser nomeada ministra da Casa Civil, em 2005, depois da saída de José Dirceu. Com a reeleição de Lula, continuou no Ministério e foi chamada por Lula de "mãe do PAC" 43 depois de coordenar as ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma compilação de obras de infraestrutura e medidas econômicas anunciada em 2007.

43

Expressão utilizada por Luiz Inácio Lula da Silva em discurso no dia 07 de março de 2008, quando ainda era presidente, durante a inauguração de obras de saneamento e habitação no Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro.


46

Terminou o ano de 2009 em segundo lugar na pesquisa presidencial Datafolha, com 23%, enquanto o senador José Serra (PSDB) liderava com 37%, mas foi eleita presidente no segundo turno das eleições de 2010 com cerca de 56% dos votos contra 44% de José Serra. 2.3 As eleições de Dilma em 2010 e 2014

O fato de Dilma Rousseff ter chegado ao poder sem nunca ter disputado uma eleição e o apoio declarado do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva geraram muitas discussões e resultaram em vários estudos acadêmicos que buscaram mensurar e problematizar se a influência do padrinho político e de medidas criadas em seu governo, como o Bolsa Família, foram relevantes para a vitória de Dilma nas urnas. O próprio slogan da candidatura de Dilma em 2010, “Para o Brasil seguir mudando”, e a participação

ativa

de

Lula

na

campanha

contribuem

para

inflamar

esses

questionamentos. Um desses estudos foi conduzido por André Matos Magalhães, Marcelo Eduardo Alves da Silva e Fernando de Mendonça Dias (2015). Por meio de diferentes modelos de análise estatística (regressão, regressão com correção espacial e defasagem espacial) e com análise de quatro variáveis 44para avaliar os desempenhos eleitorais de Dilma em 2010 nos dois turnos e o de Marina Silva (PSB) no primeiro, os pesquisadores buscaram investigar se houve contribuição do padrinho político de Dilma (Luiz Inácio Lula da Silva) e de seu principal programa de governo na eleição de 2010. Segundo os autores, “como esperado, os resultados indicam um forte efeito conjunto do Bolsa Família e do ex-presidente Lula para as votações recebidas por Dilma no primeiro e segundo turnos” (DIAS; MAGALHÃES; SILVA, 2015, p. 535). Para eles: É possível interpretar esse resultado como sendo uma consequência do desempenho do segundo mandato de Lula: o aprofundamento do BF na segunda gestão ampliou a sua força além daquela sentida no pleito de 2006 e rendeu mais dividendos eleitorais. O efeito Lula foi, entretanto, maior do que aquele gerado pelo programa (2015, p. 560).

44

As variáveis analisadas pelos autores foram: “efeito do Bolsa Família”, “força de Lula”, “características municipais” (partido dos prefeitos, PIB, concentração de renda, proporção de pobres na população, nível de educação, tamanho, grau de urbanização e localização) e “religião”.


47

Outro ponto relevante levantado pela pesquisa é que “a votação de Dilma tendeu a ser proporcionalmente maior nos municípios menores, menos urbanizados e com maior taxa de analfabetismo” (DIAS; MAGALHÃES; SILVA, 2015, p. 560). Já as prefeituras do PT “não foram particularmente favoráveis a Dilma, confirmando um descolamento entre o perfil do seu eleitor e aquele do PT”. Esses resultados se alinham com a mudança observada no eleitorado que elegeu Lula em 2002 e em 2006, “de um perfil mais disperso para um mais concentrado em municípios menores e mais pobres (com forte participação no Norte e Nordeste)” (DIAS; MAGALHÃES; SILVA, 2015, p. 560). Os autores concluem que, com base nos resultados obtidos, “a eleição de Dilma em 2010 foi de fato uma segunda reeleição de Lula”. Já para a reeleição de 2014, os autores apontam um contexto distinto, pois Dilma não era mais desconhecida e não só deu continuidade a programas como o Bolsa Família, mas também lançou novos programas, como o Mais Médicos e o Minha Casa Minha Vida, que “certamente reforçaram a relação que o eleitor fez entre os governos Dilma e Lula” (DIAS; MAGALHÃES; SILVA, 2015, p. 560-561). Para Armando Boito Jr. e Tatiana Berringer (2013, p. 31), as importantes modificações que a vitória de Lula na eleição presidencial de 2002 desencadeou se consolidaram não só nos oito anos de governo de Lula, mas também no governo de Dilma Rousseff. Ocorreu, em primeiro lugar, uma mudança no interior do bloco no poder. A grande burguesia interna brasileira, fração da classe capitalista que mantém uma base própria de acumulação de capital e disputa posições com o capital financeiro internacional, ascendeu politicamente em prejuízo dos interesses desse capital internacional e de seus aliados internos. Em segundo lugar, essa mudança esteve e está vinculada a uma mudança mais ampla na política nacional. Isso porque a ascensão da grande burguesia interna só foi possível graças à constituição de uma frente política que reúne, além dessa fração burguesa, os principais setores das classes populares (BERRINGER; BOITO, 2013, p. 31).

Outro estudo que teve a transição de poder entre Lula e Dilma como tema foi conduzido por Lucas Gandin (2012, p. 12) e trata da transferência de “ethos” – “a imagem produzida pelo discurso falado ou escrito por alguém”, “que pode ser construída tanto por argumentos racionais como pelos emocionais” – de Lula para Dilma na campanha presidencial de 2010. Conforme afirmação de Francisco de Oliveira (2007) em matéria


48

publicada na revista Piauí 45, mencionada anteriormente por André Singer (2009), Lula teria se elevado “à condição de condottiere 46 e de mito”, e essa personificação de figuras que compõem a narrativa mítica na política moderna é estudada por Gandin (2012, p. 52), que afirma que: A última característica do mito político moderno exposto por Mendonça (2002) é a questão da personalização, quando o poder se cristaliza em uma pessoa ou grupo. Segundo a autora, isso ocorre pela dificuldade de dar corpo à instituição abstrata que é o Estado. Isso faz com que a imagem do Estado se apague e criese o simbolismo sobre a visibilidade dos governantes. Diante do anseio coletivo em tempos de crise ou adversidade, a personalização do poder será responsável por evocar diversas lendas e arquétipos de um salvador capaz de devolver a ordem à sociedade.

Gandin (2012, p. 53-57) agrupou os personagens em três figuras: o herói, o líder e o patriarca, “tendo em vista que estas três figuras congregam os personagens e as formas primitivas de organização política”, e são também comumente adotados para se referirem a Lula – tanto por ele como por seus aliados e eleitores. O herói político se diferencia do herói ficcional ou mitológico na medida em que “viria a atender um clamor requerido pelo grupo, que se vê incapaz de resolvê-lo”. Já o líder na concepção weberiana seria aquele “cuja personalidade o dota de uma qualidade extraordinária que é vista pelos demais como sobrenatural”, “a pessoa a quem o grupo segue e considera seu chefe ou orientador”. “A figura do pai aparece quando o político assume o papel social orientado a assistir o povo, mas diferente do líder, com sentimentos que suscitam carinho e amor e atitude benevolente, agindo como um pai agiria com seus filhos” (GANDIN, 2012, p. 62). Essas três figuras são comumente usadas para se referirem a Lula, que ficou conhecido durante seu governo como “pai dos pobres”, devido às políticas assistencialistas e de distribuição de renda que adotou. Já a figura de líder aparece quando Lula é retratado, durante a campanha eleitoral de Dilma Rousseff, em 2010, como “o agente que conduz a economia e a sociedade para a situação do Brasil do presente”, responsável não só por guiar o país como também por transformá-lo, tornando-o melhor e mais justo (GANDIN, 2012, p. 88).

45

Hegemonia às avessas. Piauí, Rio de Janeiro, n.4, jan. 2007. Disponível em: <http://revistapiaui.estadao.com.br/materia/hegemonia-as-avessas/>. Acesso em: 17. fev. 2016. 46 Condottiere: chefe, comandante, líder. (POLITO, 2011)


49

Quanto à última figura estudada por Gandin (2012, p. 78): A construção da imagem de Lula como herói, perpassa todas as etapas da saga do herói apontadas por Campbell (2007) – nascimento em ambiente humilde, afastamento de mundo, penetração em uma fonte de poder, provações, retorno, partilhamento das dádivas e glorificação.

Por meio de métodos qualitativos e quantitativos de investigação, Gandin (2012, p. 126) analisou os programas eleitorais de Dilma Rousseff veiculados na televisão durante a campanha para o primeiro turno da eleição presidencial de 2010, e concluiu que “o ethos e as imagens de Dilma insinuam uma correspondência com os de Lula, o que aponta para a nossa hipótese de transferência de ethos do ex-presidente para a candidata”. Os resultados revelaram que ethos do ex-presidente foi transferido a Dilma sob a forma de imagens correspondentes. Se Lula é o herói, Dilma é a guerreira que vai lutar para acabar com a pobreza, melhorar todo o sistema de saúde e continuar e aperfeiçoar o grande trabalhado do presidente Lula (ROUSSEFF, HGPE, 2010). Dilma só é vista como a mãe do povo porque Lula é o pai do povo e porque o pai sai de cena e deixa seus filhos para serem conduzidos pela mãe. A imagem de líder de Lula se reflete em Dilma na imagem de gestora, construída principalmente pelo ethos de competência. (p. 141-142)

Com participação ativa do ex-presidente na campanha eleitoral, Dilma era apresentada como coautora das principais ações do governo de Lula, e “a transferência ocorre principalmente quando Lula afirma que Dilma é igual a ele e que votar nela seria o mesmo que votar em si” (GANDIN, 2012, p. 142), e através da utilização de expressões como “no governo de Lula e Dilma”, “no nosso governo” e “com Lula e Dilma” (p. 146). Sobre o pleito de 2014, o estudo desenvolvido por Oswaldo do Amaral e Pedro Floriano Ribeiro (2015, p. 118) com base nos resultados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) buscou classificar quais seriam os determinantes do voto para presidente nos dois turnos, e quais deles explicariam a reeleição de Dilma. Algumas das conclusões foram que “à primeira vista, grande parte do eleitorado não responsabilizava o governo pelos problemas econômicos, então amplamente divulgados pelos meios de comunicação”, pois “46% dos eleitores avaliavam o governo como ótimo/bom, mas apenas um quarto considerava que a economia havia melhorado no último ano”.


50

Outra variável relevante para o voto em Dilma, segundo os autores, é a avaliação sobre outras políticas públicas. Apesar do Programa Bolsa Família ter se mostrado relevante apenas no segundo turno: É razoável pensar que outras políticas do governo federal - como as que visam impulsionar o desenvolvimento do Nordeste ou as mais impactantes na região se tornaram tão ou mais importantes como balizadoras do voto quanto o programa de transferência de renda” (AMARAL; RIBEIRO, 2015, p. 118).

A possibilidade levantada pelos autores para explicar o aparecimento do efeito eleitoral do Bolsa Família no segundo turno estaria ligada ao acirramento da disputa eleitoral e às afirmações por parte da campanha petista de que “os programas sociais implantados nos doze anos anteriores estariam sob ameaça com uma eventual vitória do candidato tucano” (AMARAL; RIBEIRO, 2015, p. 119). No ano de 2014 Dilma foi reeleita presidente no pleito mais disputado desde a redemocratização 47. No primeiro turno ela alcançou cerca de 41% dos votos válidos, contra 33% de Aécio Neves (PSDB) e 21% de Marina Silva (PSB). Já no segundo turno venceu com uma margem de apenas três pontos percentuais para o segundo candidato, o senador mineiro Aécio Neves, diferença que representa 3,4 milhões de votos.

47

Dados divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).


51

3. ANÁLISE DE ENQUADRAMENTO DAS REVISTAS VEJA E ISTOÉ 3.1 Análise descritiva do material analisado

Para o desenvolvimento da análise de enquadramento proposta, o corpus escolhido baseia-se em duas das revistas de maior circulação no Brasil, a Veja 48, do Grupo Abril, e a IstoÉ 49, da Editora Três, que juntas possuem tiragem média de 1 milhão e 400 mil exemplares segundo dados da ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas). Levou-se em consideração para a escolha das revistas em questão, além da tiragem, o fato de serem as mais antigas dentre os três periódicos com maior circulação média (Veja, Época e IstoÉ), e o fato da segunda colocada nesta lista, a revista Época, com diferença de aproximadamente 70 mil exemplares para a IstoÉ, não contar com banco de dados digital, o que restringe as possibilidades de pesquisa exploratória. Por opção metodológica, adotou-se como recorte empírico os exemplares do primeiro e do último mês de 2015 de cada revista, de maneira a analisar os enquadramentos realizados pelos periódicos no início e no final do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff. O corpus leva em consideração a ampla relevância que o assunto teve em ambos os veículos, que dedicaram grande parte de suas capas para tratar de assuntos associados diretamente ou indiretamente à presidente, como denúncias relacionadas ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu antecessor e aliado político. Em números, a Veja mencionou ou retratou a presidente Dilma em 17 de suas 52 capas ao longo do ano, mas o total sobe para 27 se levadas em conta também as capas relacionadas a Lula e ao PT, o que representa 52% do total de edições. No caso da IstoÉ, são 20 capas para Dilma e mais 10 para Lula e o PT, totalizando 60% do total de revistas em 2015. Ao todo foram 16 revistas analisadas, somadas edições dos dois veículos midiáticos escolhidos. Da Veja foram estudados nove exemplares, quatro do mês de

48 Fundada em 1968 pelo jornalista Mino Carta, circulação média: 1.167.928 (ANER, 2014). Perfil do leitor: 48% Homens, 52% Mulheres. 62% pertencem às classes econômicas AB e 65% têm entre 25 e 54 anos (VEJA, 2015). 49 Fundada em 1976 também pelo jornalista Mino Carta, circulação média: 322.518 (ANER, 2014). Perfil do leitor: 47% Homens, 53% Mulheres. 74% pertencem às classes econômicas AB e 67% têm entre 20 e 49 anos (ISTOÉ, 2015).


52

janeiro e cinco do mês de dezembro, e da IstoÉ sete exemplares, três de janeiro e quatro de dezembro. A IstoÉ conta com um número menor de exemplares, pois não houve circulação da revista nas semanas dos dias 07 de janeiro e 30 de dezembro de 2015 50. Analisou-se uma matéria de cada edição, adotando-se como critérios de seleção os parâmetros de proeminência – da temática Dilma Rousseff no conjunto de matérias sobre o tema – e relevância – do assunto no contexto geral de matérias da edição. São marcadores relevantes o fato de a matéria figurar ou não na capa da revista, a quantidade de páginas que ela ocupa na edição e a quantidade de vezes que Dilma Rousseff é mencionada ou retratada na matéria. Para a confecção do quadro que classifica as fontes encontradas nas matérias, foram considerados autores como Lage (2005) e Soley (1992). Para Lage (2005, p. 65-66), as fontes primárias “são aquelas em que o jornalista se baseia para colher o essencial de uma matéria; fornecem fatos, versões e números”. Já as fontes secundárias “são consultadas para a preparação de uma pauta ou a construção das premissas genéricas ou contextos ambientais”, ou seja, não participam diretamente do fato, mas são consultadas para contextualiza-lo, interpreta-lo, comenta-lo. Essa classificação é bem semelhante à adotada por Soley (1992, p.2, tradução nossa), apesar do autor norte-americano adotar outra nomenclatura, definindo fontes primárias e secundárias, respectivamente, como “news makers” – aqueles que “que genuinamente fazem parte dos eventos noticiosos” – e “news shapers”, aqueles “que a mídia procura para obter informações privilegiadas, plano de fundo ou previsões sobre o resultado das histórias que ainda estão em desdobramento” 51 . Para esta análise, as fontes foram divididas também em fontes diretas e indiretas, a saber: aquelas cujas declarações são citadas entre aspas, de maneira direta, e aquelas apenas mencionadas na matéria ou cujas falas são utilizadas de maneira indireta, ou seja, são referenciadas como paráfrases pelo autor da matéria mas seu conteúdo original não figura no texto.

50

A edição 2404 foi comercializada na semana do dia 30 de dezembro de 2015, mas apesar de constar com esta data no site oficial da revista IstoÉ, tem impressa na capa a data 06 de janeiro de 2016, e por isso não foi considerada 51 Texto original: “‘News shapers’ that the media go to for inside information, background, or predictions concerning the outcome of still-unfolding stories. News shapers differ from news makers, who are part of a bona fide news event.”


53

Ainda no âmbito das opções de análise, leva-se em conta para a utilização do termo “infográfico” a definição do mesmo como “forma de representar informações técnicas como números, mecanismos e/ou estatísticas, que devem ser sobretudo atrativos e transmitidos ao leitor em pouco tempo e espaço” (CAIXETA, 2005, p. 1 apud CAMPOS, 2014, p. 24). Já para a concepção de “fotomontagem”, a definição adotada é a da Enciclopédia Itaú Cultural, que a classifica como “termo genericamente empregado para designar a associação de duas ou mais imagens, ou fragmentos de imagens, com o propósito de gerar uma nova imagem” (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL, 2016). Nos quadros apresentados, as fontes de cada matéria estão organizadas em ordem decrescente, das fontes com maior número de ocorrências para as fontes com menos ocorrências. Quando as fontes apresentaram o mesmo número de ocorrências foram organizadas em ordem alfabética.

Análise quantitativa IstoÉ - Edições janeiro 2015

Edição nº 2354 - 14 de janeiro de 2015 Na edição nº 2354 de 14 de janeiro de 2015, Dilma Rousseff não está presente na matéria de capa da revista, que dá destaque aos atentados terroristas contra o jornal “Charlie Hebdo”, em Paris. A presidente também não é citada no editorial e na entrevista principal. Ao todo são três matérias relacionadas a Dilma. A matéria selecionada para compor o corpus de análise é intitulada “As primeiras trombadas”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 30 e 33, ocupando um total de quatro páginas. O texto é articulado com três imagens, sendo uma delas uma fotomontagem, e um infográfico. A presidente aparece na fotomontagem, localizada nas páginas 30 e 31, e também em parte do infográfico, na página 32.


54

Figura 1 – Reprodução de matéria revista IstoÉ, 14 de janeiro de 2015

(Fonte: Edição nº 2354, 14/01/2015, páginas 30 e 31, revista IstoÉ)

O tema da matéria selecionada são as eventuais divergências políticas travadas por ministros do governo federal nos primeiros dias de seu segundo mandato. Dilma Rousseff é citada sete vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Todos as funções atribuídas às fontes nas notas de rodapé dos quadros estão descritas das maneiras nas quais aparecem nas matérias analisadas, exceto quando o texto não explicita atribuição. Quadro 1 - Fontes utilizadas na matéria “As primeiras trombadas” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta 52 Kátia Abreu 2 X X (1) X (1) Nelson 2 X X Barbosa Patrus Ananias 2 X X (1) X (1) Canindé 1 X X Pegado Marta Suplicy 1 X X 52

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: ministra da Agricultura; ministro do Planejamento; ministro do Desenvolvimento Agrário; secretário da União Geral dos Trabalhadores (UGT); senadora (PMDB); setorial de Direitos Humanos do PT.


55

Setorial de Direitos Humanos do PT

1

X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “As primeiras trombadas”, da edição nº 2354 de 14 de janeiro de 2015 da revista IstoÉ.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “representantes dos movimentos dos trabalhadores sem terra”; “aliados”.

Edição nº 2355 - 21 de janeiro de 2015 Na edição nº 2355, de 21 de janeiro de 2015, Dilma Rousseff novamente não está presente na matéria de capa da revista, cujo tema são os exames genéticos que prometem ser “o futuro da saúde”. Entretanto, a presidente aparece no editorial intitulado “A agenda da incoerência”, bem como na foto escolhida para ilustrá-lo, e é citada na entrevista de destaque da revista, com um dos fundadores do PT, Frei Betto, cujo título tem em destaque a frase “O governo é um coral desafinado”. Ao todo são cinco matérias relacionadas a Dilma. A matéria que será analisada é intitulada “Eles disseram não para Dilma”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 26 e 29, ocupando um total de quatro páginas. É ilustrada com quatro imagens, sendo uma delas uma fotomontagem, e um infográfico. A presidente aparece em uma das fotos da matéria, localizada na página 28.


56

Figura 2 – Reprodução de matéria revista IstoÉ, 21 de janeiro de 2015

(Fonte: Edição nº 2355, 21/01/2015, páginas 26 e 27, revista IstoÉ)

A matéria selecionada trata das dificuldades que a presidente Dilma Rousseff enfrentou na formação de seu ministério, especialmente das eventuais negativas que recebeu de vários dos nomes que haviam sido escolhidos inicialmente. Dilma Rousseff é citada 27 vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 2 - Fontes utilizadas na matéria “Eles disseram não para Dilma” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Dilma 3 X X 53 Rousseff Abílio Diniz 2 X X Joseli Camelo 2 X X (1) X (1) Assessores 1 X X próximos a Dilma Blairo Maggi 1 X X

53 Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: presidente da República; ex-dono do Grupo Pão de Açúcar e presidente do conselho de administração da BRF; piloto oficial da presidente e brigadeiro; fonte não identificada; senador (PR-MT); filho caçula do falecido ex-vice-presidente José Alencar e presidente da Coteminas; presidente do conselho de administração do Bradesco; fonte não identificada.


57

Josué Gomes da Silva Luiz Trabuco Um dos conselheiros da presidente

1

X

1 1

X

X X X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “Eles disseram não para Dilma”, da edição nº 2355 de 21 de janeiro de 2015 da revista IstoÉ.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “seus ministros”; “intermediários”; “assessores próximos a Dilma”.

Edição nº 2356 - 28 de janeiro de 2015 Na edição nº 2356, de 28 de janeiro de 2015, a presidente Dilma Rousseff não é tema da matéria de capa da revista, que aborda a discussão acerca da pena de morte e de suas consequências. Dilma também não é mencionada na entrevista de destaque desta edição, mas é citada e ilustra o editorial intitulado “O custo do populismo com a energia”. Ao todo, são três matérias relacionadas à presidente. A matéria que será analisada é intitulada “O blecaute de Dilma”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 36 e 39, ocupando um total de quatro páginas. É ilustrada com quatro imagens, sendo uma fotografia da presidente Dilma Rousseff, localizada na página 38, e um infográfico. Contém um box com uma entrevista do engenheiro eletricista Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia, cuja frase de destaque é “Vamos atrair investimentos”.


58

Figura 3 – Reprodução de matéria revista IstoÉ, 28 de janeiro de 2015

(Fonte: Edição nº 2356, 28/01/2015, páginas 36 e 37, revista IstoÉ)

A matéria selecionada trata da situação energética do país, com foco no apagão ocorrido no dia 19 de janeiro de 2015, que deixou 11 Estados sem energia por mais de uma hora. Dilma Rousseff é citada três vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 3 - Fontes utilizadas na matéria “O blecaute de Dilma” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta As 4 X X (1) X (3) autoridades 54 Hermes Chipp 2 X X (1) X (1) Paulo Abi2 X X (1) X (1) Ackel CBIE 1 X X Rafael 1 X X Herzberg

54

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: fonte não identificada; diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS); deputado (PSBD-MG) e Titular da Comissão de Minas e Energia da Câmara; Centro Brasileiro de Infra Estrutura; consultor da Interact Energia; presidente da Enecel, empresa que comercializa energia.


59

Raimundo de Paula Batista

1

X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “O blecaute de Dilma”, da edição nº 2356 de 28 de janeiro de 2015 da revista IstoÉ.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “os brasileiros”; “o governo”; “o comércio”; “o brasileiro”; “o Planalto”; “as autoridades”; “especialistas da consultoria PSR”; “estudos”; “os tucanos”; “a oposição”; “as companhias do setor”; “os consumidores”.

Edições dezembro 2015

Edição nº 2400 - 2 de dezembro de 2015 Na edição nº 2400, de 02 de dezembro de 2015, Dilma Rousseff não é tema da matéria de capa da revista, que trata da prisão do senador petista Delcídio do Amaral e de outros acontecimentos políticos relacionados a esse fato. Dilma também não é citada na entrevista de destaque da edição, mas aparece de maneira indireta no editorial intitulado “República Desonrada”. Apesar de seu nome não ser mencionado no texto, o mesmo se refere a Dilma como “a mandatária”. Ao todo, são duas matérias relacionadas à presidente na edição. A matéria que será analisada é intitulada “Dilma sabia”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 48 e 49, ocupando um total de duas páginas. É ilustrada com apenas uma imagem, justamente uma fotografia da presidente Dilma Rousseff, localizada na página 48, e um infográfico.


60

Figura 4 – Reprodução de matéria revista IstoÉ, 2 de dezembro de 2015 55

(Fonte: Edição nº 2400, 02/12/2015, páginas 48 e 49, revista IstoÉ)

A matéria que será analisada trata da delação premiada de Nestor Cerveró 56, com foco na declaração de que Dilma tinha conhecimento de procedimentos ilegais na compra da refinaria de Pasadena 57, nos Estados Unidos. Dilma Rousseff é citada sete vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Fontes Nestor Cerveró 58 Delcídio do Amaral 55

Quadro 4 - Fontes utilizadas na matéria “Dilma sabia” Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta 3 X X (1) X (2) 2

X

X

As reproduções das matérias de dezembro da revista IstoÉ aparecem grifadas pois foram digitalizadas após a análise. 56 Ex-diretor da área internacional da Petrobras e delator da Operação Lava Jato. 57 Refinaria de petróleo em Pasadena, Texas (EUA), cuja compra pela Petrobras levantou suspeitas de superfaturamento e evasão de divisas na negociação. 58 Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: ex-diretor internacional da Petrobras; senador (PT-MS); fonte não identificada; fonte não identificada; Partido dos Trabalhadores; expresidente da estatal (Petrobras); Tribunal de Contas da União.


61

A apuração Investigações da Operação Lava Jato PT Sérgio Gabrielli TCU

1 1

X X

X X

1 1

X X

X X

1

X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “Dilma sabia”, da edição nº 2400 de 2 de dezembro de 2015 da revista IstoÉ.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “Palácio do Planalto”; “outros integrantes do colegiado”; “outros executivos da estatal”.

Edição nº 2401 - 9 de dezembro de 2015 Na edição nº 2401, de 09 de dezembro de 2015, Dilma Rousseff é tema da matéria de capa da revista, que estampa a manchete “O que falta para ela sair?”, tratando da possibilidade de abertura do processo de impeachment contra a presidente. Dilma não é citada na entrevista de destaque da edição, apesar de o assunto principal ser o partido que ela integra, o PT (Partido dos Trabalhadores), mas é tema do editorial intitulado “Dilma no Limite”, ilustrado com uma fotografia de Dilma. No total, são cinco matérias relacionadas à presidente na edição. A matéria selecionada tem como título “A pior travessia”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 32 e 39, ocupando um total de oito páginas. É ilustrada com dez imagens e Dilma está presente em duas delas, na fotografia principal da matéria, localizada na página 33, e na fotografia que encerra a mesma, na página 39. São utilizados também dois infográficos.


62

Figura 5 – Reprodução de matéria revista IstoÉ, 9 de dezembro de 2015

(Fonte: Edição nº 2401, 09/12/2015, páginas 32 e 33, revista IstoÉ)

A matéria que será analisada tem como tema a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra a presidente e suas possíveis implicações para o país. Dilma Rousseff é citada 32 vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 5 - Fontes utilizadas na matéria “A pior travessia” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Murillo de 3 X X (2) X (1) Aragão 59 Antonio Paim 2 X X Levantamen2 X X tos internos do partido (PT) Lula 2 X X (1) X (1) 59

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: sociólogo e mestre em ciência política; filósofo e autor do livro “Momentos decisivos da história do País”; fonte não identificada; expresidente da República; vice-presidente da República; presidente do PSDB e senador; fonte não identificada; presidente da TAM; instituto de pesquisa pertencente ao Grupo Folha; presidente da República; poeta, escritor e abolicionista dos Estados Unidos, primeiro editor da revista literária The Atlantic Monthly; ministro da Casa Civil; um dos integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre); deputado (PT-RS); presidente do PT.


63

Michel Temer Aécio Neves Auxiliares da presidente Claudia Sender Datafolha Dilma Rousseff James Russel Lowell Jaques Wagner Kim Kataguiri Paulo Pimenta Rui Falcão

2 1 1

X X X

1 1 1

X

1 1 1

X (1) X

X

X X

1 1

X (1) X

X X

X X

X X

X X X

X X X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “A pior travessia”, da edição nº 2401 de 9 de dezembro de 2015 da revista IstoÉ.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “os brasileiros”; “empresários”; “líderes políticos”; “a maioria da população”; “todos”; “as mais recentes pesquisas de opinião”; “a população”; “líderes de movimentos de rua”; “a oposição”; “o governo”; “os oposicionistas”; “personalidades políticas”; “líderes empresariais”; “o chamado PT lulista”; “o Planalto”; “opinião pública”; “os governistas”; “políticos”; “integrantes da sociedade civil”; “a população”; “os atores políticos”.

Edição nº 2402 - 16 de dezembro de 2015 Na edição nº 2402, de 16 de dezembro de 2015, a presidente Dilma Rousseff é tema da capa da revista, que se desdobra em uma seção especial de 24 páginas, agrupando nove matérias. Além disso, a presidente também é citada na entrevista principal da edição, com Gustavo Franco, um dos formuladores do Plano Real e presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, entre 1997 e 1998, que tem como título “O impeachment será um recomeço”. Dilma também é mencionada e ilustra o editorial nomeado “O momento de decisão”. Ao todo, são nove matérias relacionadas a Dilma. A matéria analisada é intitulada “Que país teremos?”, pertence à seção Capa e está localizada entre as páginas 60 e 63, ocupando um total de quatro páginas. É ilustrada com duas imagens, sendo uma fotografia de Dilma Rousseff, que ocupa parte das páginas 60 e 61, e um infográfico.


64

Figura 6 – Reprodução de matéria revista IstoÉ, 16 de dezembro de 2015

(Fonte: Edição nº 2402, 16/12/2015, páginas 60 e 61, revista IstoÉ)

O tema da matéria selecionada é o cenário político e econômico do Brasil sob o governo de Dilma no primeiro ano de seu segundo mandato. Dilma Rousseff é citada 15 vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo.


65

Quadro 6 - Fontes utilizadas na matéria “Que país teremos?” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Alberto 2 X X (1) X (1) Ramos60 Goldman 2 X X Sachs Getúlio Vargas 1 X X Marta Suplicy 1 X X Nélson 1 X X Rodrigues Tasso 1 X X Jereissati (Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “Que país teremos?”, da edição nº 2402 de 16 de dezembro de 2015 da revista IstoÉ.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “os recentes dados sobre a situação econômica brasileira”; “os economistas mais pessimistas”; “o governo”; “os mesmos que hoje bradam contra o ‘golpe’”; “o governo petista”, “qualquer pesquisa de opinião”; “o brasileiro”, “o Congresso”.

Edição nº 2403 - 23 de dezembro de 2015 Na edição nº 2403, de 23 de dezembro de 2015, Dilma Rousseff não está presente na matéria de capa da revista, que trata da delação premiada do pecuarista José Carlos Bumlai, réu na Operação Lava Jato, e também não é tema do editorial, que aborda o mesmo assunto da capa. No entanto, a presidente é mencionada na entrevista com o economista e ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto, cujo título é uma de suas frases de destaque, “Depois da Lava Jato, o Brasil será um país melhor”, e aparece em uma das fotografias que ilustram a entrevista. No total, são quatro matérias relacionadas a Dilma. A matéria que será analisada é intitulada “A guerra de poderes chega ao auge”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 36 e 40, ocupando um total de cinco páginas. É ilustrada com sete fotografias e um infográfico, mas Dilma não está presente em nenhuma das imagens. A matéria possui também um

60

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: economista sênior do Goldman Sachs; grupo financeiro; líder trabalhista e presidente do Brasil por dois períodos, totalizando 18 anos; senadora (PMDB); dramaturgo; senador (PSDB-CE).


66

box 61, que trata do pedido cautelar de afastamento do qual o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi alvo no dia 16 de dezembro. Por opção metodológica, o box não será analisado, pois a presidente Dilma Rousseff não é mencionada nenhuma vez em seu conteúdo. Figura 7 – Reprodução de matéria revista IstoÉ, 23 de dezembro de 2015

(Fonte: Edição nº 2403, 23/12/2015, páginas 36 e 37, revista IstoÉ)

A matéria selecionada trata da decisão do STF que alterou o andamento do processo de solicitação de abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Dilma é citada 11 vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo.

61

Box: material adicional usado em uma matéria. Serve para destacar uma parte do tema ou para dar explicações adicionais ao leitor. “Texto curto que aparece cercado por fios, em associação com outro texto, mais longo. Pode ser texto de serviço, biografia, reprodução integral de um documento, diálogo, pequena entrevista pingue-pongue, comentário, aspecto pitoresco da notícia etc” (ESTADO DE S. PAULO, 1996).


67

Quadro 7 - Fontes utilizadas na matéria “A guerra de poderes chega ao auge” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Lúcio Vieira 3 X X (2) X (1) Lima 62 Arthur Lira 2 X X X Barão de 2 X X Montesquieu Carlos Velloso 2 X X Gilmar 2 X X Mendes O Estado de 2 X X S. Paulo Miguel Reale 2 X X Jr. Ayres Britto 1 X X Bruno Araújo 1 X X Constituição 1 X X Dilma 1 X X Rousseff Eduardo 1 X X Cunha Miro Teixeira 1 X X PMDB 1 X X (Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “A guerra de poderes chega ao auge”, da edição nº 2403 de 23 de dezembro de 2015 da revista IstoÉ.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “o governo”; “os jornais”; “o Planalto”; “a oposição”; “deputados”.

Análise quantitativa Veja - Edições janeiro 2015

Edição nº 2407 - 7 de janeiro de 2015 Na edição nº 2407, de 07 de janeiro de 2015, Dilma Rousseff ilustra a capa da revista, que apresenta a manchete “O Poder e o Saber”. A presidente também é citada em editorial, que no caso da revista Veja leva o nome de “Carta ao Leitor”, com o título 62 Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: parlamentar (PMDB-BA);presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (PP-AL);filósofo, escritor francês e iluminista do século XVII; ex-ministro do STF; ministro do STF; jornal fundado em 1875 e ainda em circulação; jurista e um dos signatários do pedido de impeachment de Dilma; ex-ministro do STF; deputado (PSDB-PE) e líder da minoria na Câmara; Constituição da República Federativa Do Brasil de 1988; presidente da República; presidente da Câmara (PMDB-RJ); deputado (Rede-RJ) e representante da Câmara no julgamento do STF; Partido do Movimento Democrático Brasileiro.


68

“Agora, ao trabalho...”. Ao todo, são duas matérias relacionadas a Dilma. A matéria que será analisada é intitulada “Mandato novo, problemas velhos”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 36 e 43, ocupando um total de oito páginas. É ilustrada com 21 imagens, mas 18 das fotografias integram dois grandes infográficos presentes na matéria. Dilma aparece em quatro fotografias, na imagem que abre a matéria, ocupando toda a página 36 e parte da 37, e outras três vezes integrando os infográficos. Figura 8 – Reprodução de matéria revista Veja, 7 de janeiro de 2015

(Fonte: Edição nº 2407, 07/01/2015, páginas 36 e 37, revista Veja)

O tema da matéria selecionada, que é também o destaque de capa da revista, são as eventuais dificuldades enfrentadas por Dilma nos primeiros dias de seu segundo mandato. Dilma Rousseff é citada 37 vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Todos as funções atribuídas às fontes nas notas de rodapé dos quadros estão descritas das maneiras nas quais aparecem nas matérias analisadas, exceto quando o texto não explicita atribuição.


69

Fontes Dilma Rousseff 63 Lula Facções petistas

Quadro 8 - Fontes utilizadas na matéria “Mandato novo, problemas velhos” Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta 6 X X 1 1

X X

X X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “Mandato novo, problemas velhos”, da edição nº 2407 de 7 de janeiro de 2015 da revista Veja.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “predadores internos e inimigos externos”; “oposição”; “grupos mais radicais do PT”; “siglas aliadas”; “governo petista”; “empreiteiras”; “a mesma turma complicada do PR”; “turma onipresente nos escândalos”; “atletas e entidades da área”; “descontentes”; “inimigos”.

Edição nº 2408 - 14 de janeiro de 2015 Na edição nº 2408, de 14 de janeiro de 2015, Dilma Rousseff não é tema da capa da revista, que apresenta a manchete “Às armas, cidadãos!”, chamando para uma seção especial de 24 páginas sobre os atentados terroristas contra o jornal “Charlie Hebdo”, em Paris. Dilma também não aparece na Carta ao Leitor, que trata do mesmo tema, mas é mencionada na entrevista com o senador Pedro Simon (PMDB), que tem como título “É preciso ir para as ruas”. Nesta edição figuram duas matérias relacionadas a Dilma. A matéria que será analisada é intitulada “Parece fim de governo”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 46 e 49, ocupando um total de quatro páginas. É ilustrada com 11 fotomontagens, que agregam fotografias de personagens políticos com caricaturas, formando uma modalidade de infográfico. Dilma aparece em uma destas fotomontagens, localizada na página 47.

63

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: presidente e primeira mulher eleita presidente do Brasil; ex-presidente e antecessor de Dilma; fonte não identificada.


70

Figura 9 – Reprodução de matéria revista Veja, 14 de janeiro de 2015

(Fonte: Edição nº 2408, 14/01/2015, páginas 46 e 47, revista Veja)

O tema da matéria selecionada são eventuais divergências públicas protagonizadas pelos ministros empossados por Dilma em seu segundo mandato. Dilma Rousseff é citada 12 vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 9 - Fontes utilizadas na matéria “Parece fim de governo” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Rubens 5 X X (2) X (3) Figueiredo 64 Roberto 2 X X Romano Dilma Rousseff 1 X X George Hilton 1 X X PMDB 1 X X (Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “Parece fim de governo”, da edição nº 2408 de 14 de janeiro de 2015 da revista Veja.)

64

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: cientista político; filósofo; presidente da República; pastor evangélico e novo ministro do Esporte; Partido do Movimento Democrático Brasileiro.


71

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “esquerda”; “direita”; “aliados” “siglas menores”. Edição nº 2409 - 21 de janeiro de 2015 Na edição nº 2409, de 21 de janeiro de 2015, Dilma Rousseff é o assunto principal da capa da revista, que ilustra eventuais promessas de campanha da presidente com indicadores que mostram possíveis contradições na conduta da presidente em seu segundo mandato. No entanto, Dilma não figura na Carta ao Leitor e também não é mencionada na entrevista principal da revista. No total, são duas matérias relacionadas a Dilma. A matéria que será analisada é intitulada “As promessas e a realidade”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 36 e 43, ocupando um total de oito páginas. É ilustrada com 6 fotografias e dois infográficos. Dilma não aparece em nenhuma das imagens, mas uma fotografia da presidente é usada como pano de fundo para o infográfico que abre a matéria, ocupando parte das páginas 36 e 37. A matéria contém também um box que ocupa toda a página 41 e parte da 40, com uma entrevista com o senador e candidato a presidente nas eleições de 2014, Aécio Neves (PSDB), ilustrado com uma foto do mesmo.


72

Figura 10 – Reprodução de matéria revista Veja, 21 de janeiro de 2015

(Fonte: Edição nº 2409, 21/01/2015, páginas 36 e 37, revista Veja)

O tema da matéria selecionada são as eventuais contradições entre as promessas feitas por Dilma na campanha eleitoral e as medidas adotadas pela presidente no primeiro mês de seu segundo mandato. Dilma Rousseff é citada 24 vezes no decorrer da matéria, mas aparece como fonte em apenas três delas, e ainda assim com declarações obtidas em “canais oficiais” (SIGAL, 1974). As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 10 - Fontes utilizadas na matéria “As promessas e a realidade” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Joaquim 6 X X (2) X (4) Levy 65 Sergio Vale 4 X X Dilma Rousseff 3 X X Antonio Carlos 2 X X Porto Gonçalves 65

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: ministro da Fazenda; economistachefe da consultoria MB Associados; presidente do Brasil; economista e professor da Fundação Getúlio Vargas; senador (PSDB) e candidato a presidente nas últimas eleições pelo PSDB; economista; fonte não identificada; ex-presidente da República; candidata a presidente nas últimas eleições pelo PSB.


73

Aécio Neves Antonio Delfim Netto Estimativas das consultorias Fernando Collor Marina Silva

1 1

X X

1

X

1

X

1

X X X

X X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “As promessas e a realidade”, da edição nº 2409 de 21 de janeiro de 2015 da revista Veja.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “os brasileiros”; “o governo”; “economistas do PT”; “outros especialistas na área”. Edição nº 2410 - 28 de janeiro de 2015 Na edição nº2410, de 28 de janeiro de 2015, a capa da revista não está relacionada a Dilma Rousseff e apresenta uma seção especial de 19 páginas sobre a estiagem no Sudeste e a crise energética instalada em todo o território nacional durante o período. Dilma também não é mencionada na Carta ao Leitor e na entrevista principal da revista, mas possui referências em três matérias da edição. A matéria que será analisada é intitulada “E não se fez a luz”, pertence à editoria Especial e está localizada entre as páginas 72 e 75, ocupando um total de quatro páginas. É ilustrada com três fotografias e dois infográficos, nenhum deles relacionado a Dilma.


74

Figura 11 – Reprodução de matéria revista Veja, 28 de janeiro de 2015

(Fonte: Edição nº 2410, 28/01/2015, páginas 72 e 73, revista Veja)

O tema da matéria selecionada é o blecaute em onze estados e no Distrito Federal ocorrido no dia 19 de janeiro de 2015, e a ameaça de uma possível crise energética com o atraso de obras e a falta de infraestrutura para enfrentar uma crise hídrica sem depender exclusivamente da geração hidrelétrica de energia. Dilma Rousseff é mencionada duas vezes no decorrer da matéria, mas o termo “o governo” é utilizado sete vezes para se referir de maneira indireta à presidente, na posição de chefe máxima do governo brasileiro. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 11 - Fontes utilizadas na matéria “E não se fez a luz” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Eduardo 3 X X (1) X (2) Braga 66 José 2 X X Goldemberg 66

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: ministro de Minas e Energia; professor e presidente do conselho de sustentabilidade da Fecomercio SP; Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres; professor de engenharia elétrica da Coppe/UFRJ; fonte não identificada; Programa de Proteção e Defesa do Consumidor.


75

Abrace Djalma Falcão O órgão responsável pela gestão do setor Procon

1 1 1

X X X

1

X X X

X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “E não se fez a luz”, da edição nº 2410 de 28 de janeiro de 2015 da revista Veja.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “a indústria”; “o governo”; “as empresas”; bancos e consultorias”; “distribuidoras de energia”.

Edições dezembro 2015 Edição nº 2454 - 2 de dezembro de 2015 Na edição nº 2454, de 02 de dezembro de 2015, a presidente Dilma é mencionada na matéria de capa da revista, que apresenta a manchete “A Testemunha”, e trata da prisão do senador petista Delcídio do Amaral e de seus desdobramentos. A presidente não é citada na Carta ao Leitor, nem na entrevista de destaque, mas aparece em mais uma matéria para além da referenciada na capa, totalizando duas matérias na edição. O texto que será analisado integra a já mencionada matéria de capa intitulada “A testemunha”, que pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 60 e 67, ocupando um total de oito páginas. É ilustrada com nove fotografias, com a presidente Dilma sendo retratada em apenas uma, duas reproduções de documentos no formato fac símile 67e um infográfico. A matéria contém também um box com uma foto, cujo conteúdo não será analisado por não ser relacionado diretamente à presidente Dilma Rousseff.

67

Latim: reprodução exata da edição original.


76

Figura 12 – Reprodução de matéria revista Veja, 2 de dezembro de 2015

(Fonte: Edição nº 2454, 02/12/2015, páginas 60 e 61, revista Veja)

O tema da matéria selecionada, como mencionado acima, trata da prisão do senador petista e líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, e seus eventuais desdobramentos políticos. Dilma Rousseff é citada 19 vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 12 - Fontes utilizadas na matéria “A testemunha” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Delcídio do 9 X X (4) X (5) Amaral68 Lula 3 X X Marcos Valério 2 X X Aloizio 1 X X Mercadante Cármen Lúcia 1 X X 68 Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: senador petista e líder do governo no Senado; ex-presidente da República; empresário e operador do esquema do Mensalão; ex-ministro da Casa Civil; ministra do STF; ministro e decano do STF; fonte não identificada; presidente da República; presidente da Câmara (PMDB-RJ); presidente do grupo Odebrecht; Partido dos Trabalhadores; dono da UTC (UTC Engenharia S.A); sócio do grupo Schahin.


77

Celso de Mello Colaborador próximo ao parlamentar Dilma Rousseff Eduardo Cunha Marcelo Odebrecht PT Ricardo Pessoa Salim Schahin

1 1

X

1 1

X X

X X

1

X

X

X

X

X X

1 2

X

X X

1

X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “A testemunha”, da edição nº 2454 de 2 de dezembro de 2015 da revista Veja.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “regime lulopetista”; “um colega de partido”; “as empreiteiras”; “um colaborador próximo ao parlamentar”; “seus chefes”; “caciques do PT e do PMDB”; “governistas”; “interlocutores”; “o Planalto”; “um interlocutor”; “um protagonista do petróleo”; “candidatos a delator do petróleo”; “os investigadores da Lava-Jato”; “empreiteiros do petróleo”; “diretores corruptos da Petrobras”; “mensaleiros”; “petistas”; “as entranhas do governo”.

Edição nº 2455 - 9 de dezembro de 2015 Na edição nº2455, de 09 de dezembro de 2015, Dilma Rousseff é tema não só da matéria de capa da revista, mas também de uma seção especial de 24 páginas que tem como tema a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra a presidente. Dilma também é o assunto principal da Carta ao Leitor, que tem como título “A beleza do impeachment”, e é ilustrado por uma fotografia da governante. Dilma não é citada na entrevista de destaque. No total, são cinco matérias relacionadas à presidente nesta edição. A matéria que será analisada tem como título “Impeachment não é guerra”, pertence à editoria Especial e está localizada entre as páginas 54 e 61, ocupando um total de oito páginas. É ilustrada com cinco fotografias, e Dilma está presente na principal delas, que preenche inteiramente as páginas 54 e 55. São utilizados também um infográfico e um box, que fala sobre os autores do pedido de impeachment de Dilma acolhido inicialmente


78

pela Câmara, Janaina Paschoal, Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., contando com uma fotografia onde aparecem dois dos personagens mencionados.

Figura 13 – Reprodução de matéria revista Veja, 9 de dezembro de 2015

(Fonte: Edição nº 2455, 09/12/2015, páginas 54 e 55, revista Veja)

O tema da matéria selecionada é a possibilidade de abertura de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff, e todas as implicações políticas que esse acontecimento poderia desencadear. Dilma Rousseff é citada 39 vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 13 - Fontes utilizadas na matéria “Impeachment não é guerra” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Dilma 2 X X Rousseff 69 Michel Temer 2 X X

69

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: presidente da República; vicepresidente da República (PMDB-SP); fonte não identificada; deputado (PMDB-RJ) e presidente da Câmara; ministro do STF; jurista; advogada; ministro-chefe da Casa Civil; ex-presidente do Brasil; ex-ministro da Justiça;


79

Antigo auxiliar de Dilma Eduardo Cunha Gilmar Mendes Hélio Bicudo 70 Janaina Paschoal Jaques Wagner Lula Miguel Reale Jr.

1

X

1 1 1 1

X X X X

1 1 1

X X X

X X X X X X X X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “Impeachment não é guerra”, da edição nº 2455 de 9 de dezembro de 2015 da revista Veja.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “as indústrias”; “o comércio”; “as lideranças políticas”; assessores e ex-assessores da presidente da República”; “os brasileiros”; “os agentes econômicos”; “seus colegas de partido”; “alguns petistas”; “a rua”; “petistas e governistas”; “o governo”; “caciques do PSDB e do DEM”; “parcela do PMDB”; “setores do governo e da oposição”; “ministros do governo”; “a sociedade”.

Edição nº 2456 - 16 de dezembro de 2015 Na edição nº2456, de 16 de dezembro de 2015, Dilma Rousseff é o assunto de destaque na matéria de capa da revista, cuja manchete é “A máquina do atraso de Dilma”, ilustrada com uma fotomontagem na qual a presidente está presente. Ao todo, são três matérias relacionadas a Dilma, mas ela também é citada na Carta ao Leitor, intitulada “A igrejinha arcaica”, que apresenta mais uma fotomontagem da presidente, e na entrevista principal das páginas amarelas, com o senador Paulo Paim, ex-PT, que tem como título “Vergonha e tristeza”. A matéria que será analisada é intitulada “De volta ao passado”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 58 e 65, ocupando um total de oito páginas. É ilustrada com dez fotografias, sendo que nove delas integram um infográfico no formato de linha do tempo, ilustrado com imagens de arquivo de momentos históricos, que perpassa todas as páginas da matéria. A outra fotomontagem apresenta Dilma Rousseff dentro de um aparelho antigo de televisão.

70

Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal são citados juntos e indiretamente através do pronome “eles”.


80

Figura 14 – Reprodução de matéria revista Veja, 16 de dezembro de 2015

(Fonte: Edição nº 2456, 16/12/2015, páginas 58 e 59, revista Veja)

O tema da matéria são eventuais problemas gerados pela política econômica da presidente Dilma Rousseff, como a inflação e a recessão. Dilma Rousseff é citada 17 vezes no decorrer da matéria, mas aparece como fonte em apenas duas ocasiões. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo.


81

Quadro 14 - Fontes utilizadas na matéria “De volta ao passado” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Heron do 4 X X Carmo Dilma 2 X X Rousseff 71 Ernesto Geisel 2 X X Sergio Vale 2 X X Guido Mantega 1 X X H.G. Wells 1 X X (Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “De volta ao passado”, da edição nº 2456 de 16 de dezembro de 2015 da revista Veja.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “a indústria”; “o governo”; “os petistas”; alguns economistas”; “qualquer pessoa letrada em economia”; “militares”; “seus conselheiros”; “estatais”; “as empreiteiras”; “investidores em todo o mundo”; “a população”; “os brasileiros”; “os demais países em desenvolvimento”.

Edição nº 2457 - 23 de dezembro de 2015 Na edição nº 2457, de 23 de dezembro de 2015, Dilma Rousseff não é tema da capa da revista, não figura na Carta ao Leitor e também não é citada na entrevista principal da revista, apesar de o entrevistado, o economista Mansueto Almeida, se referir várias vezes de maneira indireta à sua gestão, através do termo “o governo”. No total, são três matérias relacionadas a Dilma. A matéria que será analisada é intitulada “A origem do mal”, pertence à editoria Brasil e está localizada entre as páginas 60 e 68, ocupando um total de oito páginas. É ilustrada com sete fotografias, uma fotomontagem e um infográfico. Dilma aparece em uma das imagens, localizada na página 63.

71

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: economista e professor da FEAUSP; presidente da República; general e presidente do Brasil de 1974 a 1979; economista da MB Associados; ex-ministro da Fazenda; escritor inglês de ficção científica.


82

Figura 15 – Reprodução de matéria revista Veja, 23 de dezembro de 2015

(Fonte: Edição nº 2457, 23/12/2015, páginas 60 e 61, revista Veja)

O tema da matéria selecionada é uma das etapas da Operação Lava Jato, com foco no cumprimento de 53 mandatos de busca e apreensão pela Polícia Federal em casas e escritórios de ministros e aliados do governo, ex-ministros, dentre outros. Dilma Rousseff é citada 18 vezes no decorrer da matéria, mas não aparece como fonte nenhuma vez. As fontes mencionadas na matéria e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 15 - Fontes utilizadas na matéria “A origem do mal” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta Renan 3 X X Calheiros 72 Michel Temer 2 X X Alberto Youssef 1 X X Celso de Mello 1 X X Eduardo Cunha 1 X X Gilmar Mendes 1 X X 72

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: presidente do Senado (PMDB-AL); vice-presidente da República (PMDB-SP); doleiro; ministro e decano do STF; presidente da Câmara (PMDB-RJ); ministro do STF; ministro do STJ; ex-presidente da República; ex-presidente da República; cônsul romano.


83

Jorge Mussi José Sarney Lula Marco Túlio Cícero

1 1 1 1

X X X

X X X X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “A origem do mal”, da edição nº 2457 de 23 de dezembro de 2015 da revista Veja.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “os peemedebistas”; “as autoridades”; “estrelas petistas”; “políticos de diferentes partidos”; “uma testemunha que ameaçava implicar o ex-presidente”; “os petistas”; “os investigadores”; “caciques do PMDB”; “o Palácio do Planalto”; “cabeças coroadas da República”; “os advogados de defesa”; “empresários investigados no petróleo”; “políticos governistas”; “ministros empossados recentemente”; “terceiros”; “executivos de construtoras beneficiadas com contratos superfaturados na Petrobras”; “o governo”; “a população”; “senadores do PMDB investigados na Lava-Jato”.

Edição nº 2458 – 30 de dezembro de 2015 A edição nº 2458, de 30 de dezembro de 2015, constitui um número especial de retrospectiva do ano de 2015, por isso não segue todos os parâmetros tradicionais visto nas demais edições analisadas. A capa e a matéria principal são dedicadas ao juiz Sergio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato. Dilma Rousseff não é mencionada na matéria e também não aparece na Carta ao Leitor. A edição não conta com as tradicionais “páginas amarelas”, que dão destaque à principal entrevista da revista em cada semana. Além da matéria de capa, que ocupa nove páginas, e de uma matéria sobre o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, com total de três páginas, a seção especial de retrospectiva é majoritariamente composta por matérias curtas, de apenas uma ou duas páginas, relacionadas a assuntos selecionados pela revista de 2015 no cenário nacional e internacional. Dilma figura em sete dessas matérias.


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Figura 16 – Reprodução de matéria revista Veja, 30 de dezembro de 2015

(Fonte: Edição nº 2458, 30/12/2015, páginas 34 e 35, revista Veja)

A matéria que será analisada é intitulada “O preço do descrédito”, pertence à seção A Semana e está localizada entre as páginas 34 e 36, ocupando um total de três páginas. É ilustrada com duas fotografias e um infográfico. A presidente Dilma Rousseff está presente em uma das imagens, localizada na página 34. O tema da matéria selecionada é a posse do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e os eventuais desafios que o novo ministro irá encontrar no cenário econômico para alcançar o equilíbrio fiscal. Dilma Rousseff é citada dez vezes no decorrer da matéria. As fontes mencionadas e suas devidas classificações estão sistematizadas no quadro abaixo. Quadro 16 - Fontes utilizadas na matéria “O preço do descrédito” Fontes Ocorrências Primária Secundária Direta Indireta 73 André Perfeito 2 X X Alberto Ramos 1 X X

73

Funções das fontes citadas, na ordem em que aparecem no quadro: economista-chefe da corretora Gradual Investimentos; economista e chefe de pesquisas para a América Latina do banco americano Goldman Sachs; fonte não identificada; fonte não identificada; presidente da República; fonte não identificada; ministro da Casa Civil; economista e ex-ministro da Fazenda; ministro da Fazenda; fonte não identificada;


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Análises de bancos e consultorias Analistas Dilma Rousseff Investidores e empresários Jaques Wagner Joaquim Levy Nelson Barbosa Os governistas

1

X

X

1 1 1

X

X X X

1 1 1 1

X X X X X

X X X X

X

(Fonte: Quadro desenvolvido pela autora para as finalidades desta monografia a partir da matéria “O preço do descrédito”, da edição nº 2458 de 30 de dezembro de 2015 da revista Veja.)

Foram identificadas as seguintes generalizações mencionadas pela revista: “a população”; “ao distinto público”; ”o governo”; “candidatos de oposição”; “empresários e consumidores”; “ninguém”. 3.2 Análise de fontes e critérios noticiosos 3.2.1 Análise de fontes e canais de informação A primeira parte da análise das fontes utilizadas nas matérias examinadas baseia-se no estudo desenvolvido por Leon Sigal (1974) – que culminou no livro Reporters and Officials – e no conceito de canais de informação – “caminhos pelos quais informações atingem o repórter” (SIGAL, 1974, p. 120, tradução nossa) – traçado pelo autor, que classifica esses canais em três categorias: de rotina, informais e corporativos. Como mencionado no primeiro capítulo, na primeira categoria estão inclusos procedimentos oficiais, comunicados e coletivas de imprensa, palestras, cerimônias e outros tipos e eventos não-espontâneos. Os “canais informais” incluem, por exemplo, vazamentos, processos não-governamentais, reuniões de associações ou convenções sindicais e também matérias publicadas em outros veículos de imprensa. Finalmente, os “canais corporativos” são as entrevistas e pesquisas realizadas por iniciativa dos próprios repórteres, eventos nos quais os jornalistas testemunham em primeira mão e as conclusões ou análises tomadas nesse processo (SIGAL, 1974). Serão utilizadas essas mesmas classificações, bem como o modelo de tabela desenvolvido por Sigal (1974) de modo a categorizar os canais de informação utilizados pelas revistas Veja e IstoÉ na construção das matérias. Por opção metodológica, embora


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não constem na formulação original de Sigal (1974), as declarações obtidas pelas revistas via redes sociais na Internet foram classificadas como pertencentes ao “canal informal”. A última categoria, denominada aqui como canal “não identificado” é uma tradução livre da expressão “not as certainable” utilizada por Sigal (1974) e se refere a situações em que não é possível determinar com base no conteúdo do texto noticioso qual foi o canal utilizado para a obtenção da informação analisada. Para esta análise não serão eliminadas fontes mencionadas mais de uma vez, pois a mesma fonte pode ter sido alcançada por meio de canais de informação diferentes. Todavia, em termos analíticos, considera-se uma ocorrência de cada fonte em cada matéria. Outra categoria de análise das fontes noticiosas utilizadas baseia-se nos conceitos traçados pelo autor Lawrence Soley (1992), que divide as fontes de notícia em duas classificações: os “news makers”, que participam ativamente dos eventos noticiosos; e os “news shapers”, que são procurados pela mídia na busca por

“informações privilegiadas, planos de fundo ou previsões sobre o resultado das histórias que ainda estão em desdobramento” (SOLEY, 1992, p. 2, tradução nossa). Serão classificadas como “news makers” as chamadas “fontes “primárias e como “news shapers” as “fontes secundarias”, uma vez que se entende que o conceito elaborado por Lage (2005) para as fontes primárias e secundárias se alinha ao utilizado por Soley (1992). Para esta análise cada fonte somente será contabilizada uma vez, mesmo que apareça novamente em outras matérias.

Análise fontes revista IstoÉ No caso da revista IstoÉ, os canais regulares mais utilizados foram o corporativo e o de rotina, com 30% e 22% das 62 fontes respectivamente, mas os casos nos quais não é possível identificar o canal empregado se igualam à porcentagem do canal corporativo. O canal de rotina foi utilizado majoritariamente para fontes oficiais, como políticos e instituições de pesquisa, levando-se em consideração a identificação de que as declarações utilizadas nas matérias foram retiradas de coletivas de imprensa, eventos oficiais ou notas e relatórios elaborados para os veículos de comunicação. A distribuição

entre fontes

primárias

e

secundárias foi bem equilibrada,

aproximadamente 54% de fontes primárias e 46% de fontes secundárias.

com


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Tabela 1 – Canais de informação das matérias analisadas da revista IstoÉ Rotina Informal Corporativo Não identificado Total

14 10 19 19 62

22,5% 16,1% 30,6% 30,6% 100%

Fonte: Tabela desenvolvida pela autora para as finalidades desta monografia a partir da análise das edições de janeiro e dezembro de 2015 da revista IstoÉ, baseada no modelo elaborado por Sigal (1974).

O canal corporativo apresenta declarações de fontes que derivaram de trabalho jornalístico de apuração, entrevista e pesquisa. Foi utilizado em 95% das ocasiões para apresentar fontes secundárias, sendo 28% destas ocorrências advindas de livros e outras plataformas consultadas. Os outros 72% representam os chamados “news shapers”, “especialistas” consultados para analisar, embasar e comentar informações da matéria. O canal informal foi utilizado para apresentar citações diretas e indiretas extraídas de redes sociais, vazamentos de informações ou dados oriundos de outros veículos midiáticos. Em 70% das dez ocorrências, a revista IstoÉ usou fontes entrevistadas por outras empresas jornalísticas, bem como em 71% dessas sete ocasiões não referenciou a fonte das declarações, checadas para essa pesquisa por meio de mecanismos de busca. É o caso da seguinte frase do ex-ministro do STF Carlos Velloso, retirada da matéria “A guerra de poderes chega ao auge”, da edição nº 2403, de 23 de dezembro de 2015: "Na Constituição não está escrito que o Senado pode rever a admissibilidade. Essa é uma atribuição da Câmara". Sem qualquer menção, a alegação foi retirada integralmente da matéria “Ministros que conduziram caso Collor divergem sobre rito do afastamento”, publicada no site da Folha de S. Paulo, no dia 15 de dezembro de 2015. O mesmo ocorreu com a citação: “Estava na cara que iria dar errado. É muita operação tabajara junta. É muita incompetência”, da senadora Marta Suplicy (PMDB), publicada na edição 2402, do dia 16 de dezembro de 2015, dentro da matéria “Que país teremos?”. Ela foi adaptada de duas citações (“Estava na cara, não tinha como dar certo”; e “É muita operação tabajara junta. É muita incompetência”) extraídas de uma entrevista concedida por Marta ao Correio Braziliense e publicada no site do jornal no dia 11 de outubro de 2015. Em termos deontológicos, essa conduta entra em choque com o inciso VIII do Art. 7º, intitulado “O jornalista não pode”, do Código de Ética dos Jornalistas


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Brasileiros, que versa: “assumir a responsabilidade por publicações, imagens e textos de cuja produção não tenha participado” (Capítulo II, FENAJ, 2007). De um ponto de vista argumentativo, a utilização recorrente de fontes advindas de canais não identificados, principalmente quando se tratam de nomes importantes – a exemplo do ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até mesmo da própria presidente Dilma Rousseff –, resulta em lacunas na medida em que descredibiliza as informações obtidas por meio de declarações desses personagens. Outra prática que coloca em xeque a credibilidade dos argumentos da matéria é a utilização de fontes não identificadas, tais como “assessores próximos a Dilma” e “um dos conselheiros da presidente”, mencionados indireta e até diretamente na matéria “Eles disseram não para Dilma”, da edição nº 2355, de 21 de janeiro de 2015. Apesar de a divisão entre fontes primárias e secundárias apresentar equilíbrio, com a identificação de 29 fontes primárias e 33 fontes secundárias, uma análise das 93 ocorrências mostra uma diferença importante entre as duas categorias. Adotando-se como parâmetro as 45 ocorrências de fontes primárias nas revistas analisadas, em 38% dos casos as citações são diretas e em 62% são indiretas. Já no caso das fontes secundárias a situação se inverte, com 61% dos casos em citações diretas e 39% em citações indiretas. Mesmo que o número de ocorrências seja praticamente o mesmo para cada uma das categorias, a desigualdade apresentada entre citações diretas e indiretas desequilibra consideravelmente o quadro na medida em que – numa ótica argumentativa – a representação direta da fala possui um peso simbólico de veracidade maior do que sua menção indireta, pois esta última redunda num risco maior de edições e distorções – voluntárias ou não – do jornalista que redige a matéria. Das fontes secundárias utilizadas (excluindo-se as que não foram identificadas, bem como as que foram fruto do aprofundamento da pesquisa jornalística, a exemplo de citações de livros por exemplo, e as que não estão identificadas como pessoas físicas), faz-se pertinente uma análise do perfil dos indivíduos ouvidos pela revista. Das 20 fontes restantes, oito exerciam cargos políticos eletivos, como deputados ou senadores, quando foram mencionadas. Destas, quatro pertenciam ao PSDB, principal partido de oposição ao governo de Dilma Rousseff, com destaque para o


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senador e presidente do partido Aécio Neves, que foi candidato nas eleições de 2014 à presidência da república e acabou derrotado por Dilma no segundo turno. Do restante, um deputado pertence ao partido Rede, que se classifica como oposição independente, e um ao Partido Progressista, que apesar de ser da base aliada do governo, faz oposição ao PT em estados como o Rio Grande do Sul. O deputado Lúcio Vieira Lima, a despeito de sua filiação ao PMDB-BA, partido aliado do governo, participou de manifestações que pediam a saída de Dilma Rousseff em agosto de 2015, e chegou a dar declarações públicas criticando o governo ao site baiano Metro1. Por fim, Marta Suplicy, também pertencente ao PMDB, foi filiada ao Partido dos Trabalhadores – partido da presidente Dilma – por 33 anos, e em 2015 deixou o PT por divergências políticas. Assim, numa generalização que leva em conta tais particularidades, pode-se dizer que todos os políticos mencionados pela IstoÉ se posicionam de alguma forma como oposição ao governo de Dilma. Nenhum político do partido da presidente, o PT, foi ouvido pela revista, e a menção indireta ao presidente do partido, Rui Falcão, na matéria “A pior travessia”, da edição nº 2401, refere-se apenas a uma nota oficial. Dentre as fontes secundárias sem cargos políticos, vale destacar a presença do jurista Miguel Reale Jr., um dos signatários do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, e de Kim Kataguiri, coordenador do MBL (Movimento Brasil Livre), uma das entidades responsáveis por organizar protestos em todo o país por meio das redes sociais na Internet, com reivindicações de impeachment e acusações diretas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores. Esses dados respaldam a conclusão de Lawrence Soley (1992) de que, apesar de os “news shapers” serem muitas vezes apresentados como analistas isentos, "não há nenhuma razão para acreditar que eles são imparciais e objetivos" (SOLEY, 1992, p. 19, tradução nossa).

Análise de fontes da revista Veja Baseando-se nas análises das nove edições selecionadas da revista Veja, os canais regulares mais utilizados foram o de rotina, com aproximadamente 42% das 72 fontes, e o corporativo, com 21%. Assim como no caso da revista IstoÉ, ocorrências nas quais o canal de informação não pôde ser identificado representam grande parcela do total das fontes, neste caso 30%. As fontes oficiais (políticos pertencentes à esfera


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nacional ou regional, autoridades e órgãos ligados ao governo, dentre outros) novamente foram as mais acessadas por meio do canal de rotina, via coletivas de imprensa, eventos oficiais e notas e relatórios enviadas para a imprensa ou divulgadas de maneira pública. A distribuição entre fontes primárias e secundárias prioriza o primeiro grupo, com 63%, contra 37% dos chamados “news shapers” (SOLEY, 1992). Tabela 2 – Canais de informação das matérias analisadas da revista Veja Rotina Informal Corporativo Não identificado Total

28 3 19 22 72

38,8% 4,1% 26,3% 30,5% 100%

Fonte: Tabela desenvolvida pela autora para as finalidades desta monografia a partir da análise das edições de janeiro e dezembro de 2015 da revista Veja, baseada no modelo elaborado por Sigal (1974).

O canal corporativo, que reúne apuração, entrevista e pesquisa jornalística por iniciativa da própria redação, foi utilizado em 87% das vezes para dar voz a fontes secundárias. Identifica-se que 30% dessas ocorrências foram extraídas de livros e outros suportes e as outras 70% recaem sobre indivíduos que foram ouvidos diretamente pela Veja. A revista aparentemente não tem como prática a postura identificada na IstoÉ de utilizar fontes de “segunda mão” – cujas declarações foram concedidas anteriormente a outro veículo de comunicação –, utilizando o canal informal em apenas 4% dos casos. No entanto a utilização excessiva de fontes cujo canal de procedência não é explicitado na matéria, bem como de fontes não identificadas, que representam cerca de 12% do total, entra em choque, numa perspectiva normativa (ideal), com o modelo denominado quality paper (jornalismo de qualidade). Pode-se interpretar que essa prática não respalda o inciso II do Art. 7º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, com “diretrizes contrárias à precisa apuração dos acontecimentos e à correta divulgação da informação” (Capítulo II, FENAJ, 2007). Alguns exemplos de fontes não identificadas utilizadas nas matérias analisadas são: “facções petistas”; “colaborador próximo ao parlamentar”; e “antigo auxiliar de Dilma”, mencionadas indireta e diretamente, respectivamente, nas matérias “Mandato novo, problemas velhos”, “A testemunha” e “Impeachment não é guerra”, das edições nº 2407, 2454 e 2455. Em comparação com a IstoÉ, a divisão entre fontes primárias e secundárias da Veja apresenta desequilíbrio, com 45 fontes primárias e 27 fontes secundárias. No


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entanto, a análise das 119 ocorrências leva a um resultado bem semelhante ao da outra publicação analisada. Entre as 77 declarações de fontes primárias analisadas, em 66% dos casos elas foram citadas de maneira indireta e em 34% de maneira direita. No caso das fontes secundárias, são 69% de ocorrências em citações diretas e 31% em citações indiretas. Para análise das fontes secundárias utilizadas, novamente optou-se por excluir as que não foram identificadas, as que foram fruto do aprofundamento da pesquisa jornalística (em livros e relatórios, por exemplo) e as que não estão identificadas como pessoas físicas. Das 12 fontes restantes, apenas duas delas são relacionadas diretamente à política: o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves, candidato derrotado por Dilma Rousseff no segundo turno das eleições para a Presidência da República de 2014; e Marina Silva, fundadora do partido Rede Sustentabilidade, que também foi candidata nas eleições de 2014. No entanto, mesmo fontes sem cargos políticos e apresentadas muitas vezes como “analistas imparciais” não devem ser vistas como isentas e objetivas, como afirma Soley (1992). Sergio Vale, por exemplo, mencionado pela revista Veja apenas como “economista-chefe da consultoria MB Associados”, utilizado como fonte secundária em duas matérias – “As promessas e a realidade”, edição nº 2409, de 21 de janeiro de 2015; e “De volta ao passado”, edição nº 2456, de 16 de dezembro de 2015 – afirmou de modo otimista em entrevista concedida ao site InfoMoney, no dia 01 de março de 2015, que vê 70% de chances de saída de Dilma. Já o cientista político Rubens Figueiredo publicou um artigo em parceria com Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil por dois mandatos e filiado ao PSDB, partido que faz oposição a Dilma Rousseff. Em seu estudo sobre os “news shapers” no contexto do jornalismo dos Estados Unidos, Soley (1992) conclui que o grupo de especialistas consultados pelos jornalistas é muito pequeno, sendo constituído de aproximadamente 90 indivíduos em todo o território norte-americano. Esse pressuposto respalda em certa medida os resultados obtidos pela presenta análise. Por meio de buscas em mecanismos de pesquisa na Internet, identificou-se que dos doze “especialistas” elencados tanto nas matérias da Veja como da IstoÉ, onze deles puderam ser encontrados com facilidade no mesmo período como fontes em matérias de pelo menos cinco outros veículos de mídia.


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Uma dessas fontes secundárias, um “economista sênior” do grupo financeiro Goldman Sachs, é o único mencionado tanto em matéria da IstoÉ – “Que país teremos?”, edição nº 2402, de 16 de dezembro de 2015 – quanto da Veja – “O preço do descrédito”, edição nº 2458, de 30 de dezembro de 2015.

3.2.2 Análise dos critérios noticiosos e de valores-notícia Para análise dos critérios noticiosos empregados na escolha e na produção das notícias, adotou-se a classificação de Nelson Traquina (2008), que divide os critérios entre valores-notícia de seleção (substantivos e contextuais) e valores-notícia de construção. Considerando-se que todas as matérias estudadas se referem em certa medida a uma mesma temática, ou seja, o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, optou-se, como forma de evitar repetições, por analisá-las como um todo para elencar os valores-notícia utilizados na cobertura. Dentre os valores-notícia de seleção, “os critérios que os jornalistas utilizam na decisão de escolher um acontecimento como candidato à sua transformação em notícia” (TRAQUINA, 2008, p. 78), conclui-se que praticamente todos os tópicos elencados na subdivisão dos critérios substantivos (“que dizem respeito à avaliação direta do acontecimento em termos da sua importância ou interesse como notícia”) estão presentes no material noticioso analisado. São eles: •

a notoriedade do ator principal do acontecimento, neste caso da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros atores políticos presentes nas matérias;

a relevância, que “responde à preocupação de informar o público dos acontecimentos que são importantes porque têm um impacto sobre a vida das pessoas” (TRAQUINA, 2008, p. 80), levando-se em consideração que de certa forma praticamente todas as decisões tomadas na esfera política tem algum tipo de influência no cotidiano da população de um país;

a novidade, que se refere não só à prática de noticiar o que é novo, mas também de utilizar acontecimentos recente para voltar a falar de um mesmo assunto, conduta que pode ser identificada nas revistas analisadas na medida em que todos


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os acontecimentos políticos remetem a um mesmo pano de fundo, o governo de Dilma Rousseff; •

o tempo, que remete novamente à atualidade, valor-notícia essencial para os veículos de comunicação analisados, que são revistas de periodicidade semanal;

a notabilidade, que segundo Traquina (2008, p.82-83) alerta para o fato de o campo jornalístico dar mais destaque à cobertura de acontecimentos do que de problemáticas, e que se relaciona também com a quantidade de pessoas que o acontecimento envolve – “quanto mais elevada for a presença de ‘grandes nomes’, maior é a notabilidade desses acontecimentos”, conceitos que mais uma vez encontram respaldo nas matérias selecionadas para a presente análise;

o conflito ou a controvérsia, a violência física ou simbólica, exemplificados por Traquina (2008) como uma disputa verbal entre líderes políticos, atitude que fica subentendida em matérias como “As primeiras trombadas” (revista IstoÉ, edição nº 2354); “A guerra de poderes chega ao auge” (revista IstoÉ, edição nº 2403); “Parece fim de governo” (revista Veja, edição nº 2408); dentre outras.

a infração, que “refere-se sobretudo a violação, a transgressão das regras” (TRAQUINA, 2008, p. 85), valor-notícia que explica o destaque dado aos possíveis escândalos de corrupção desencadeados no governo de Dilma Rousseff, e que resultaram em matérias como “Dilma sabia” (revista IstoÉ, edição nº 2400) e “A testemunha” (revista Veja, edição nº 2454)”.

Dentre os critérios contextuais dos valores-notícia, destacam-se três dentro das matérias analisadas: disponibilidade, visualidade e concorrência. A disponibilidade relaciona-se com a facilidade com que é possível fazer a cobertura de um evento, fator que não pode ser desconsiderado na medida em que a política, por ser um assunto cotidiano na imprensa brasileira, conta com repórteres que rotineiramente acompanham os acontecimentos e decisões, principalmente em Brasília, sede não só do Palácio do Planalto como também da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A visualidade é determinada pela presença ou não de elementos visuais, como fotografias e infográficos, categoria que será estudada de maneira mais aprofundada em outra categoria da análise (ver item 3.3.2). A concorrência leva em consideração a procura pelo “furo” jornalístico,


94

ou seja, por novas informações que determinada empresa jornalística obtém e que a concorrência ainda não teve acesso. Isso justifica algumas práticas adotadas pelos dois veículos analisados, como a de divulgar na Internet a capa da edição da semana antes que ela chegue às bancas, apenas para evitar o risco de que a “concorrente” consiga as mesmas informações nesse intervalo. Nas edições analisadas, outros mecanismos estão presentes, como a utilização do termo “exclusivo”, na edição nº 2402 da revista IstoÉ, e declarações dadas pelas duas revistas em seus respectivos editoriais, como: “Lustra nosso orgulho o fato da VEJA ser o órgão jornalístico que mais revelações exclusivas vem fazendo sobre o escândalo do petróleo...” (Carta ao Leitor, revista Veja, edição nº 2454); e “Em fevereiro deste ano, quando ISTOÉ revelou com exclusividade as operações suspeitas...” (Editorial, revista IstoÉ, edição nº 2403). Tratando dos valores-notícia de construção, ou seja, dos “critérios de seleção dos elementos dentro do acontecimento dignos de serem incluídos na elaboração da notícia” (TRAQUINA, 2008, p. 91), novamente grande parte das possibilidades listadas por Traquina (2008) podem ser exemplificadas com os resultados obtidos na presente análise de enquadramento noticioso. A simplificação, ou o fato de o acontecimento ser desprovido de ambiguidade e complexidade, que Traquina (2008) exemplifica com o uso de clichês, estereótipos e ideias feitas, pode ser relacionada com o estudo de fontes (ver item 3.2.1), que comprovou que ambas as revistas não tem como prática ouvir “o outro lado”, bem como utilizam recorrentemente fontes que se opõe explicitamente ao governo e não dão oportunidade para que aliados e representantes do próprio governo apresentem seus pontos de vista, o que resulta justamente na simplificação das perspectiva apresentadas pelo material noticioso. Outro valor-notícia de construção, a amplificação, versa que “quanto mais amplificado é o acontecimento”, mais possibilidades tem a notícia de ser notada, quer seja pela amplitude do ato ou por suas consequências. Esse fator pode justificar as capas tanto da Veja como da IstoÉ na semana do dia 09 de dezembro de 2015, quando ambas deram destaque à possibilidade da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, com seções especiais de várias páginas e cinco matérias cada uma para tratar do assunto, mesmo que se tratasse apenas de um estágio inicial, que acabou sendo interrompido pelo Supremo Tribunal Federal pouco tempo depois.


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A “relevância”, como valor-notícia de construção, refere-se à habilidade do jornalista de construir sua narrativa de modo a conceder um valor simbólico ao acontecimento como se este apresentasse uma relevância única para todas as pessoas, característica encontrada em matérias como “Que país teremos?” (revista IstoÉ, edição nº 2402), que deixa implícito que a saída de Dilma seria a solução para todos os problemas políticos e econômicos instaurados no Brasil no momento apresentado; e “De volta ao passado”, que por meio de recursos gráficos e textuais insinua que a política econômica da presidente Dilma Rousseff causou retrocesso e trouxe de volta problemas já superados ou que estavam sob controle do país. A

“personalização”,

ou

a

valorização

das

pessoas

envolvidas

no

acontecimento, pode justificar a relação que ambas as revistas fazem de todos os problemas políticos e econômicos do país no período em que as matérias foram produzidas – resultado não só das decisões personalizadas da presidente, mas de todo o aparato político e econômico, como ministros, deputados, senadores, mercado financeiro, dentre outros – com a figura de Dilma Rousseff, cuja imagem aparece em 14 das 16 matérias analisadas, mesmo que o assunto não estivesse diretamente relacionado a ela. Essa prática vincula-se também ao valor-notícia da “dramatização”, ou seja, do reforço do lado emocional para destacar determinados aspectos das notícias, prática reforçada pelo uso de títulos como “O blecaute de Dilma” (revista IstoÉ, edição nº 2356), em matéria cujo tema era a possibilidade de um racionamento energético no país, e “A origem do mal” (revista Veja, edição nº 2457), para tratar de uma operação da Polícia Federal que cumpriu mandatos de busca e apreensão em propriedades de vários políticos, sem no entanto efetuar prisões ou apresentar conclusões concretas. Por fim, a “consonância” refere-se mais uma vez à prática de inserir acontecimentos em uma “narrativa” mais ampla e já disseminada, relacionada aqui com a eventual crise política e econômica instaurada no Brasil em 2015, pano de fundo para a maior parte das matérias analisadas. Alguns dos critérios de noticiabilidade listados por Traquina (2008) podem ser relacionados ao conceito de jornalismo watchdog (“cão de guarda”) do interesse público, principalmente no campo da política, discurso de autolegitimação da prática jornalística difundido pela tradição norte-americana ao longo do século XX (GOMES, 2009) – tema


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que foi explanado no primeiro capítulo. Dois desses critérios são o valor-notícia da “infração”, que, na concepção do autor, pode ser associado a um tipo de acontecimento “muito importante para a comunidade jornalística”; e o “escândalo”, tipo de acontecimento que “corresponde à situação mítica do jornalista como ‘cão de guarda’ das instituições democráticas” (TRAQUINA, 2008, p. 85). Essa constatação encontra respaldo na intepretação de Wilson Gomes (2009) para o discurso de legitimação do campo noticioso: “a afirmação de que a função democrática mais fundamental do jornalismo é a de agir como watchdog a vigiar o Estado, para revelar os abusos contra o interesse público cometidos nas esferas governamental e política” (GOMES, 2009, p. 70-71). Tal prática pode ser relacionada também aos valores-notícia da “relevância” e da “controvérsia”, corroborando as opções das revistas estudadas de dedicarem 68% e 73%, IstoÉ e Veja respectivamente, de suas capas para tratar de assuntos vinculados à esfera política, com ênfase em possíveis escândalos de corrupção. Das 16 edições analisadas, esse comportamento se aplica com mais clareza às capas das edições nº 2400 e 2403 da revista IstoÉ e da edição nº 2454 da revista Veja.

3.3 Análise argumentativa e de recursos visuais 3.3.1 Análise argumentativa Para uma análise ampliada do conteúdo noticioso das matérias selecionadas, faz-se necessário estudar, além das fontes, os argumentos utilizados na construção do texto. Ainda que seja um pressuposto deontológico das notícias basear-se em fatos e em informações fornecidas por fontes, encontra-se nas matérias analisadas um número significativo de argumentos sem nenhuma relação concreta a uma informação de autoria identificada, o que deixa margem para a conclusão de que se trata de fruto da opinião – não necessariamente calcada na veracidade – do jornalista ou do veículo de imprensa. Muitos desses pressupostos se baseiam nas generalizações mencionadas na análise quantitativa, a exemplo da frase a seguir, extraída da página 63, da matéria “Que país teremos”, pertencente à edição nº 2402 da revista IstoÉ: “Qualquer pesquisa de opinião é capaz de atestar: hoje, o brasileiro quer trocar o certo – três anos de barafunda política e caos econômico – pela perspectiva de mudança, ainda que duvidosa”. Outro exemplo pode ser encontrado na página 36 da matéria “O preço do descrédito, da edição


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nº 2458 da revista Veja: “(...) ninguém acredita na discussão nem na aprovação de medidas importantes nesse período”. Mais um fato que chama a atenção é a descrição de acontecimentos e afirmações atribuídas a diversas fontes sem que fique claro como o jornalista teve acesso às informações. A descrição de como a presidente teria recebido a notícia da abertura do processo do impeachment, que inicia a matéria “A pior travessia”, publicada na edição nº 2401 da revista IstoÉ, constitui um bom exemplo dessa prática:

Figura 17 – Reprodução detalhe matéria “A pior travessia”

(Fonte: Edição nº 2401, 09/12/2015, detalhe página 34, revista IstoÉ)

Outro exemplo pode ser encontrado na edição nº 2457 da revista Veja, na matéria “A origem do mal”: No fim de julho, Renan recebeu Lula num café da manhã, em Brasília, do qual participaram senadores do PMDB, investigados na Lava-Jato e Delcídio do Amaral. Depois de ouvir o ex-presidente José Sarney dizer que o juiz Sérgio Moro havia sequestrado a Constituição, Lula sugeriu aos convidas um pacto destinado a deter a Lava-Jato. A meta era a salvação geral e irrestrita. (VEJA, 2015, p. 68).


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A matéria “A testemunha”, da edição nº2454 da revista Veja, apresenta outra ocorrência: Ao deixar o Palácio do Planalto, Delcídio definiu Dilma a um colega de partido como “autista”, espantado que ficou com o aparente desconhecimento da presidente sobre o umbilical envolvimento do PT com as empreiteiras implicadas na Lava-Jato. (VEJA, 2015, p. 63)

Na mesma matéria, a frase “Isso é problema do Lula” é creditada no decorrer da matéria, na página 63, como tendo sido proferida por Aloizio Mercadante, ao comentar a prisão de Marcelo Odebrecht. No entanto, na legenda da fotografia que apresenta Dilma e Lula na página 62, a mesma frase é creditada à presidente. Um pouco à frente, nas páginas 65 e 66, a frase: “Presidente, a gente precisa enterrar com dignidade nossos mortos. O Bumlai tem uma extensa lista de serviços prestados, inclusive em Santo André” é atribuída ao senador Delcídio do Amaral em um suposto encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas mais uma vez não fica claro como ela chegou ao conhecimento do jornalista responsável pela matéria. Na matéria “Eles disseram não para Dilma”, edição nº 2355 da revista IstoÉ, esse recurso é utilizado diversas vezes, com destaque para as três ocorrências encontradas na página 29 e apresentadas abaixo, destacadas com grifos:


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Figura 18 – Reprodução detalhe matéria “Eles disseram não para Dilma”

(Fonte: Edição nº 2355, 21/01/2015, detalhe página 29, revista IstoÉ)

Chama a atenção também o uso explícito de opiniões – do jornalista ou do veículo de comunicação, sem que fique clara a autoria – encontradas em meio ao texto supostamente informativo, como na matéria “Impeachment não é guerra”, edição nº2455 da revista Veja: “Se há um golpe em curso, como estrilam alguns petistas, é contra a inteligência alheia” (página 58); bem como na matéria “Que país teremos?”, edição nº 2402 da revista IstoÉ: “Os projetos para o País, se existem, repousam em alguma gaveta empoeirada do Palácio do Planalto” (página 60).

3.3.2 Análise recursos visuais Partindo do pressuposto que as imagens possuem natureza informativa no conjunto do conteúdo noticioso, revela-se primordial uma análise também dos recursos gráficos utilizados nas 16 matérias selecionadas dos dois veículos midiáticos que


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integram o corpus do trabalho. O primeiro item analisado é a utilização de registros da própria presidente Dilma Rousseff, cujo ano inicial do segundo mandato se constitui como tema principal da pesquisa proposta. Como mencionado anteriormente, Dilma é representada visualmente em 14 das 16 matérias. Em apenas uma fotografia a presidente é apresentada sorrindo. Em todas as demais treze ocorrências foram escolhidas imagens nas quais Dilma Rousseff aparece com expressões de descontentamento e preocupação. Nesse sentido, destacam-se as matérias “As primeiras trombadas” (revista IstoÉ, edição nº 2354), “As promessas e a realidade” (revista Veja, edição nº 2409), “Parece fim de governo” (revista Veja, edição nº 2408) e “A pior travessia” (revista IstoÉ, edição nº 2401), ilustradas abaixo. No primeiro caso, Dilma Rousseff integra uma fotomontagem que denota um embate com o então ministro do Planejamento Nelson Barbosa. Todavia, não é possível identificar o contexto do qual a imagem original foi retirada. No segundo exemplo, a imagem da presidente é utilizada como pano de fundo para um infográfico que compara suas promessas de campanha a supostas medidas contraditórias tomadas no início de seu segundo mandato. Em metade do infográfico, que ocupa parte das páginas 36 e 37, o rosto de Dilma Rousseff é coberto por um intenso tom de vermelho, que em situações negativas costuma representar sentimentos de raiva e tensão. Na terceira matéria, Dilma integra um conjunto de fotomontagens que agregam fotografias de personagens políticos com caricaturas, e aparece como protagonista de um “puxão de orelha” na representação caricaturada do ministro Nelson Barbosa. Na quarta representação, a presente Dilma aparece em uma fotografia com uma expressão de descontentamento enquanto atravessa uma rua na direção contrária do vento. O título e o subtítulo, alinhados à fotografia, denotam as dificuldades que a presidente enfrentaria em “atravessar” um possível processo de impeachment.


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Figura 19 – Reprodução da matéria “As primeiras trombadas”

(Fonte: Edição nº 2354, 14/01/2015, páginas 30 e 31, revista IstoÉ)

Figura 20 – Reprodução da matéria “As promessas e a realidade”

(Fonte: Edição nº 2409, 21/01/2015, páginas 36 e 37, revista Veja)


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Figura 21 – Reprodução da matéria “Parece fim de governo”

(Fonte: Edição nº 2408, 14/01/2015, páginas 46 e 47, revista Veja)

Figura 22 – Reprodução da matéria “A pior travessia”

(Fonte: Edição nº 2401, 09/12/2015, páginas 32 e 33, revista IstoÉ)


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Ainda sob o ponto de vista da análise dos recursos visuais utilizados pelas publicações, identifica-se casos nos quais, mesmo sem estar representada diretamente, Dilma Rousseff é colocada em posição crítica pelo contexto apresentado. Nesse cenário, podem ser mencionadas como exemplos as matérias “De volta ao passado” (revista Veja, edição nº 2456) e “A origem do mal” (revista Veja, edição nº 2457). Na primeira, um infográfico perpassa todas as oito páginas em formato de linha do tempo e reúne acontecimentos históricos variados (esportivos, políticos e culturais), aliando imagens impressas em preto e branco e pequenos gráficos com representações econômicas do ano de 2015. A composição – imagens somadas ao título da fotomontagem – denota que a política econômica personalizada na figura da presidente Dilma Rousseff levou o Brasil “de volta ao passado”, uma vez que teria causado retrocesso e revistado problemas já superados ou que estavam sob controle das instâncias políticas e econômicas do país. Infere-se isso, pois os eventos e personagens históricos representados – a exemplo da final entre Brasil e Uruguai, na Copa do Mundo de 1950, e a Princesa Diana, em 1997 – não trazem informação complementar, diferentemente de infográficos como os utilizados nas matérias “Eles disseram não para Dilma” (revista IstoÉ, edição nº 2355) e “Impeachment não é guerra” (revista Veja, edição nº 2455), que trazem informações adicionais às citadas no decorrer do texto.


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Figura 23 – Reprodução da matéria “De volta ao passado” (parte 1)

(Fonte: Edição nº 2456, 16/12/2015, páginas 58 e 59, revista Veja)

Figura 24 – Reprodução da matéria “De volta ao passado” (parte 2)

(Fonte: Edição nº 2456, 16/12/2015, páginas 60 e 61, revista Veja)


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Figura 25 – Reprodução da matéria “De volta ao passado” (parte 3)

(Fonte: Edição nº 2456, 16/12/2015, páginas 62 e 63, revista Veja)

Figura 26 – Reprodução da matéria “De volta ao passado” (parte 4)

(Fonte: Edição nº 2456, 16/12/2015, páginas 64 e 65, revista Veja)


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Na segunda matéria tomada como exemplo, “A origem do mal” (revista Veja, edição nº 2457), o elemento gráfico que mais chama a atenção é a fotomontagem utilizada nas páginas 60 e 61. A imagem mostra uma figura masculina que aparenta ser José Carlos Bumlai (não é possível afirmar com certeza pois não há nenhuma legenda nem identificação aparente), apresentado na matéria como “amigo do ex-presidente Lula”. Das mãos do personagem saem raios que se ligam a uma figura que remete à Estrela da Morte, uma estação de batalha utilizada pelo Império Galáctico na série cinematográfica de ficção científica Star Wars, num claro dialogismo com o filme que estampa a capa da edição da matéria analisada. No enredo da série cinematográfica Star Wars, a Estrela da Morte é utilizada pelo grupo que representa o “mal”, numa referência explícita ao título escolhido para a matéria.


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Figura 27 – Reprodução da matéria “A origem do mal”

(Fonte: Edição nº 2457, 23/12/2015, páginas 60 e 61, revista Veja)

Finalmente, quanto à utilização nas matérias estudadas do recurso visual do box (tecnicamente, um texto curto que aparece cercado por fios em associação a outro texto mais longo), considerou-se relevante, sob um ponto de vista metodológico, destacar apenas duas das quatro ocorrências identificadas no corpus, uma vez que as outras duas eram compostas de conteúdo não relacionado diretamente à presidente Dilma Rousseff. Na edição nº 2409 da revista Veja, integrando a matéria “As promessas e a realidade”, o box que ocupa toda a página 41 e parte da página 40 concede destaque a uma entrevista com o senador e presidente do PSDB Aécio Neves. O quadro apresenta o título “O país foi enganado” e uma fotografia de Aécio com parte de uma bandeira do Brasil destacada ao fundo. Também na revista Veja, na edição nº 2455, esse recurso ocupa parte da página 61, e traz mais detalhes sobre os autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (em especial, Janaina Paschoal e Hélio Bicudo, presentes na fotografia que ilustra o material e referidos no título “A ex-cara-pintada e o ex-petista”).


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3.4 Inferências: a manifestação do enquadramento hegemônico

Segundo o Código de Ética que normatiza a profissão no Brasil, “o compromisso fundamental do jornalista é com a “verdade no relato dos fatos”, razão pela qual deve-se pautar pela precisa apuração e pela sua correta divulgação” (Capítulo II, Art. 4º, FENAJ, 2007). No entanto, a discussão teórica apresentada no primeiro capítulo mostrou que a “verdade” não é um conceito absoluto e que “meios de comunicação são holofotes móveis, não espelhos passivos da sociedade” (GITLIN, 2003, p. 49-51, tradução nossa) e direcionam esses holofotes para dar destaque a alguns acontecimentos em detrimento de outros. Retomando o conceito de enquadramento noticioso, que fundamenta essa análise, como “padrões persistentes de cognição, interpretação e apresentação, de seleção, ênfase e exclusão, pelos quais manipuladores de símbolos rotineiramente organizam discursos” (GITLIN, 2003, p. 7, tradução nossa), entende-se que os enquadramentos são inerentes ao processo de produção das notícias. Desse modo, considerando que uma revista semanal possui um número determinado de páginas impressas, inevitavelmente passa-se por processos de seleção para definir o que será ou não publicado e de que maneira o conteúdo será apresentado. Esse processo inclui diversas variáveis e começa com a definição adotada pelos próprios meios de comunicação sobre o que é ou não notícia – ou seja, os critérios de noticiabilidade escolhidos, definidos como “o conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico” (TRAQUINA, 2008, p. 63). Adotando-se a premissa de que os critérios de noticiabilidade são conjuntos de “valoresnotícia” e que esses valores são classificados em uma extensa lista de possibilidades, a diversidade disponível de fatores de escolha colabora para inviabilizar a crença em uma única versão da realidade. Outro fator determinante é a escolha das fontes ouvidas pelos jornalistas, visto que "para o repórter, em suma, a maioria das notícias constitui não o que aconteceu, mas o que alguém diz que aconteceu, tornando a escolha de fontes crucial" (SIGAL, 1974, p. 69, tradução nossa). Identificadas como “news makers” ou “news shapers” na acepção de Soley (1992), são as fontes que fundamentam os pontos de vista traçados nas


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matérias analisadas, ainda que suas falas sejam passíveis de edições e alterações pelos repórteres e editores. Dentre a multiplicidade de opções disponíveis, no entanto, “os veículos são organizados para escolher algumas fontes e não outras" (SIGAL, 1974, p. 187, tradução nossa) – o que é ratificado pela análise. Além disso, as próprias fontes não podem ser vistas como “imparciais”, uma vez que elas em sua maioria são cientes de seu papel e "se veem como pessoas com a oportunidade de fornecer informações para promover seus interesses, para divulgar suas ideias" (GANS, 2004, p. 117). Tais constatações dialogam com a problematização realizada por Leal & Carvalho (2014) sobre o próprio uso da terminologia “fonte” no jornalismo. Baseando-se no pensamento do sociólogo francês Érik Neveu, os autores brasileiros consideram o termo uma “metáfora morta”, pois “ir à fonte sugere um comportamento ativo para se abastecer de um produto (água ou informação) naturalmente disponível”. Com base nas reflexões propostas pelos autores, entende-se que a metáfora clássica da “fonte” deve, de fato, ser problematizada, pois não se aplica ao modelo de jornalismo praticado pelos veículos analisados. Leal e Carvalho (2014, p. 4) propõem, entretanto, a utilização do termo “agente”, em detrimento de fonte, “para designar os atores que conformam e atuam na notícia” – concepção mais próxima do cenário identificado na análise das revistas Veja e IstoÉ. Além das fontes propriamente ditas, é importante se atentar para os “canais de comunicação” ou “caminhos pelos quais informações atingem o repórter”, segundo conceito traçado por Leon Sigal (1974). Ainda que a fonte seja a mesma, importa diferenciar se a informação foi obtida através de coletivas de imprensa, vazamentos de informação ou se foi fruto do trabalho de pesquisa e apuração do repórter. Todos esses fatores integram as rotinas e convenções presentes nas redações dos meios de comunicação. Embora auxiliem no processo de padronização do conteúdo dos veículos (SIGAL, 2074), tais elementos, entretanto, dependem também de outras variáveis, como os recursos disponíveis para as coberturas, o formato do produto final e as posições ideológicas adotadas pelas corporações de mídia. A padronização, os estereótipos e a rotina de julgamentos praticada nas redações – isto é, a sistematização – fazem parte, segundo Lippmann (2010), de um modelo de jornalismo industrial que tem como objetivos principais a economia de tempo e esforço (LIPPMANN, 2010, p. 300),


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sendo já tão cristalizados que muitas vezes nem mesmo os próprios jornalistas os identificam de maneira consciente. Dentre tais convenções jornalísticas contemporâneas, localizam-se as ideias de “objetividade” e de “imparcialidade”, definidas por Michael Schudson (2010) como frutos de uma construção histórica que se tornou hegemônica no jornalismo ocidental no decorrer do século XX. Os motivos por trás da disseminação dos conceitos na prática noticiosa moderna são variados e difíceis de identificação com clareza, mas o fato é que ambas as ideias ainda se fazem presentes nos princípios editoriais dos veículos escolhidos para o corpus da presente pesquisa. Na Carta do Editor escrita pelo ex-editor Roberto Civita (1936-2013) e mantida no Mídia Kit da revista Veja (VEJA, 2015), o veículo se autodeclara como uma publicação “independente, isenta, inteligente e responsável”, ressalta “não admitir pressões de governos e governantes, amigos e inimigos, acionistas e anunciantes”, bem como anuncia buscar a objetividade e ser comprometida com a liberdade e a verdade. Ao fim, reitera seu compromisso permanente “com a isenção e a responsabilidade jornalística, e com a defesa intransigente dos interesses do Brasil”. Da mesma maneira, a revista IstoÉ, em texto institucional extraído de seu Mídia Kit (ISTOÉ, 2015), coloca-se como “a mais combativa revista semanal do País”, adotando como um de seus pilares “a defesa do Estado Democrático de Direito”, caracterizada por “uma linha editorial independente, jamais atrelada a grupos políticos ou econômicos, e por levar ao leitor notícia a notícia com informações que provocam a reflexão e a visão além dos fatos”. Os resultados obtidos pela presente análise, porém, apontam que os valoresnotícia adotados pelas duas publicações não se distanciam do “padrão” encontrado por Traquina (2008) em classificação histórica. Em outros termos, se as “folhas volantes” do séculos XVI e XVII davam prioridade para catástrofes, acontecimentos bizarros ou insólitos – “os acontecimentos que produziam o maior espanto, a mais profunda maravilha, a maior surpresa” (TRAQUINA, 2008, p. 65) –, bem como para a notabilidade do ator principal da ação, certa relação pode ser feita com a preferência dos veículos estudados em estamparem em suas capas escândalos políticos, especialmente se


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relacionados a figuras proeminentes como a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A constatação de que as revistas estudadas, IstoÉ e Veja respectivamente, dedicaram 68% e 73% de suas capas durante o ano para tratar de assuntos relacionados à esfera política se relaciona também com a função de watchdog do interesse público que o jornalismo brasileiro assimilou do modelo norte-americano ao longo do século XX (GOMES, 2009). Faz-se importante destacar que, sob o ponto de vista do modelo democrático de organização social, a presente análise não esvazia a pertinência de que desvios morais e éticos de pessoas públicas sejam objeto da investigação e da cobertura jornalística. Todavia, volta-se o olhar para a própria problematização histórica do conceito de “interesse público”. Na perspectiva de Wilson Gomes (2009), a concepção de “público” passou a ser ressignificada no modelo de jornalismo industrial, uma vez que seus lanços com os conceitos de espaço público e de esfera pública foram gradativamente substituídos pelo sinônimo de audiência (GOMES, 2009, p. 83). Entende-se, nesse contexto, que a utilização seletiva de recursos como o “escândalo” como ênfase da cobertura midiática se configura mais como uma ação voltada aos consumidores de informação de um determinado veículo do que propriamente como um recurso voltado ao debate na esfera pública política. Quando à escolha das fontes, os resultados encontrados, além de todos os dados pormenorizados na análise, respaldam as conclusões oriundas dos estudos de Lawrence Soley (1992) sobre a constituição de um padrão hegemônico das fontes no jornalismo norte-americano. De todas as fontes presentes nas dezesseis matérias selecionadas, apenas 10% eram mulheres, 6% eram negros e menos de 2% representavam grupos sindicais ou associações de trabalhadores. A própria presidente Dilma Rousseff, principal personagem da análise desenvolvida, não foi ouvida diretamente pelos jornalistas em nenhuma ocorrência, sendo suas falas resumidas a trechos de comunicados oficiais, entrevistas coletivas ou até mesmo sem ter a procedência identificada. O uso de fontes não identificadas ou cujos canais de comunicação não ficam explícitos na matéria, também foram práticas recorrentes em ambas as revistas.


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Levando-se em conta todas as características apresentadas, conclui-se que os dois veículos, apesar de considerados concorrentes no segmento das revistas semanais, utilizam um enquadramento bem semelhante na elaboração de seus produtos. Como os enquadramentos são também interpretados como instrumentos de poder (GITLIN, 2003; PORTO, 2002) e levando-se em consideração o público numericamente relevante que ambas as revistas atingem, identifica-se uma categoria de “enquadramento hegemônico” (GITLIN, 2003) sendo utilizada pelos dois veículos comunicacionais. Isso se confirma na medida em que as publicações – em seus processos de seleção de critérios noticiosos, de fontes, de recursos visuais e, sobretudo, de argumentos – expõem seus pontos de vista sem dar margem a opiniões contrárias, bem como pela utilização dos argumentos da “objetividade” e da “isenção” para, como afirma Schudson (2010), “camuflar” o enquadramento temático e ideológico que os meios exercem sobre seus públicos. A constatação vai ainda ao encontro da concepção de Gitlin (2003) de que o trabalho da hegemonia, numa ótica gramsciana, “consiste em impor suposições padronizadas sobre eventos e condições” que são encobertas nas entrelinhas das notícias predominantes. Assim, de modo geral, é possível afirmar que tanto a Veja como a IstoÉ transmitem por meio de suas escolhas editoriais já pormenorizadas um enquadramento noticioso negativo em relação à presidente Dilma Rousseff, ao seu antecessor, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ao Partido dos Trabalhadores. Essa tendência não se manifesta somente nos recursos identificados nas matérias analisadas (escolha de fontes, argumentos utilizados, representações gráficas, dentre outros), mas também nas opiniões enfatizadas nos editoriais e nas entrevistas de destaque de cada edição. Nas revistas em que a presidente foi tema, identifica-se a comparação realizada em várias ocasiões com o ex-presidente Fernando Collor, protagonista de uma ação de impeachment nos anos 1990, bem como a discrepância de tratamento em relação ao vice-presidente Michel Temer (PMDB), representado de forma positiva em diversas matérias (eleito inclusive o brasileiro do ano de 2015 na política pela revista IstoÉ, edição nº 2403), e até mesmo a comparação depreciadora do governo de Dilma Rousseff com o chamado bolivarianismo praticado em alguns países da América do Sul.


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O mesmo tratamento não é dado, por exemplo, ao presidente do principal partido da oposição (PSDB), o senador Aécio Neves, que além de ter sido ouvido como fonte direta em duas matérias, tem uma entrevista de mais de uma página publicada em um box em uma das matérias analisadas (“As promessas e a realidade”, revista Veja, edição nº 2455). O senador é também tema de outras duas entrevistas publicadas em edições que integram o corpus de análise (edição nº 2401 da revista IstoÉ e edição nº 2458 da revista Veja), assinando, inclusive, uma seção especial na edição nº 2355 da revista IstoÉ.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por seu âmbito (um projeto experimental) e por sua área de conhecimento (a Comunicação Social), o presente estudo não apresenta a pretensão de discutir a ordem social, econômica e política respaldada pelos enquadramentos midiáticos identificados na análise, sobretudo se considerado o pressuposto de que os ambientes político e econômico mantêm-se em constante processo de transformação e tensionamento no interior de um sistema democrático. O foco do trabalho, portanto, estabelece-se na análise do conteúdo noticioso propriamente dito, pois como afirma Gans (2004), as notícias não são apenas “apoiadoras complacentes das elites ou estabelecimentos da classe dominante”, mas “encaram a nação e a sociedade por meio de seu próprio conjunto de valores”. Entende-se, nesse contexto, que os estudos de enquadramento noticioso revestem-se de importância para uma análise crítica do jornalismo brasileiro e para uma melhor compreensão dos processos de produção das notícias em qualquer parte do mundo. Como projeto experimental de conclusão de curso em Jornalismo, por conseguinte, esse olhar analítico se fez ainda mais fundamental, uma vez que contriuiu para a formação acadêmica e profissional da autora. Com base na visão crítica adquirida durante a graduação a partir da desconstrução de conceitos como a “imparcialidade” e a “objetividade”, acredita-se que o aprofundamento nos pormenores de todos os processos que estão por trás das notícias seja a melhor maneira de se compreender as problemáticas envolvidas na utilização desses ideais no discurso de autoafirmação do jornalismo contemporâneo. Assim, baseando-se na premissa formulada por Leon V. Sigal (1974) de que "para compreender o que são notícias e, ainda mais, o que as notícias significam, é essencial compreender como as notícias são feitas", a escolha de um estudo dessa natureza apresentou como objetivo desde seu início a tentativa de identificar e problematizar justamentamente os processos de seleção e de construção dos argumentos de duas das revistas semanais de maior circulação no país, veículos de comunicação considerados em diferentes aspectos como parâmetros críveis de referência para grande parcela dos leitores.


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A escolha do tema foi inspirada na agitação política pela qual passou o Brasil no ano de 2015 (período de realização da monografia), bem como na ampla cobertura que as revistas analisadas conferiram aos eventos relacionados ao governo de Dilma Rousseff e na importância de decisões e acontecimentos que se desenrolaram nos diversos âmbitos da esfera política e acabaram por influenciar a sociedade em diferentes aspectos. Dada a complexidade do tema, voltou-se, por opção metodológica, a um recorte empírico específico: os enquadramentos construídos em torno da figura da Presidente da República. Da mesma forma, a revisão teórico-conceitual construída ao longo do primeiro capítulo passou por pontos distintos que se convergem na possibilidade de construção de diferentes análises do jornalismo. Pelos limites intrínsecos do presente trabalho (uma monografia de graduação), não se vislumbrou o esgotamento de todos esses aspectos. Outras possibilidades analíticas se abrem a partir do embasamento teórico construído e da própria complexidade do objeto de estudo. Entende-se que a escolha por outros veículos da mesma natureza (revistas semanais) levaria possivelmente a outros resultados, bem como a análise de materiais noticiosos em outras plataformas (a exemplo da televisão ou da internet) poderia conduzir a reflexões diferenciadas. Com base no exposto, compreende-se que o trabalho cumpriu seus objetivos nos planos teórico-conceital e analítico. Como não poderia ser diferente, todavia, o tema permanece latente, visto que ficaram de fora do recorte empírico da análise situações políticas relevantes desenroladas nos primeiros meses de 2016 e que merecem ser objeto de futuras pesquisas sob a ótica da análise de enquadramento noticioso.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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120

ANEXOS Revista IstoÉ – 14/01/2015 (Edição 2354), páginas 30-33


121

Revista IstoÉ – 21/01/2015 (Edição 2355), páginas 26-29


122

Revista IstoÉ – 28/01/2015 (Edição 2356), páginas 36-39


123

Revista IstoÉ – 02/12/2015 (Edição 2400), páginas 48-49


124

Revista IstoÉ – 09/12/2015 (Edição 2401), páginas 32-35


125

Revista IstoÉ – 09/12/2015 (Edição 2401), páginas 36-39


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Revista IstoÉ – 16/12/2015 (Edição 2402), páginas 60-63


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Revista IstoÉ – 23/12/2015 (Edição 2403), páginas 36-39


128

Revista IstoÉ – 23/12/2015 (Edição 2403), página 40


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Revista Veja – 07/01/2015 (Edição 2407), páginas 36-39


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Revista Veja – 07/01/2015 (Edição 2407), páginas 40-43


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Revista Veja – 14/01/2015 (Edição 2408), páginas 46-49


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Revista Veja – 21/01/2015 (Edição 2409), páginas 36-39


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Revista Veja – 30/12/2015 (Edição 2458), páginas 34-36


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