UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
LAURA TOLEDO TAVARES LUANA RODRIGUES CAMPOS MIKAELE TEODORO LOURENÇO
RÁDIO DOCUMENTÁRIO FACEBOOK: O papel da rede social na articulação das manifestações de junho de 2013, em Campo Grande, MS
UFMS CAMPO GRANDE - MS DEZEMBRO DE 2013
LAURA TOLEDO TAVARES LUANA RODRIGUES CAMPOS MIKAELE TEODORO LOURENÇO
RÁDIO DOCUMENTÁRIO FACEBOOK: O papel da rede social na articulação das manifestações de junho de 2013, em Campo Grande, MS
Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais, do Curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orientadora: Prof. Dra. Daniela Ota
UFMS CAMPO GRANDE - MS DEZEMBRO DE 2013
RESUMO
TOLEDO, Laura; CAMPOS, Luana; LOURENÇO, Mikaele. Rádio Documentário Facebook: O papel da rede social na articulação das manifestações de junho de 2013, em Campo Grande, MS. Campo Grande, 2013. Relatório de Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCHS), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande (MS), 2013.
Em junho de 2013, o Brasil foi palco de uma onda de grandes manifestações de rua, que sacudiram mais de 438 cidades do país, segundo dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). O estopim dessa crise foi o aumento do valor das passagens de ônibus em várias capitais e em outras cidades, revelando os altos preços e a má qualidade do transporte público. Em Campo Grande (MS), mais de 45 mil pessoas participaram dos atos nos dias 20, 21 e 22 daquele mês, sendo o fim da corrupção, a reforma política e melhorias na educação e saúde públicas algumas das principais reivindicações apresentadas durante o movimento. Diante de tal realidade, o objetivo deste rádio documentário foi analisar a importância das redes sociais, em especial o Facebook, para a articulação dessas manifestações. O presente projeto foi baseado em revisão bibliográfica e em entrevistas coletadas durante os protestos, a princípio com participantes e organizadores das manifestações e, posteriormente, com pesquisadores dessa temática. Palavras-chave: Facebook; manifestações; movimentos sociais; rádio documentário.
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................. 04
1 ALTERAÇÕES NO PLANO DE TRABALHO ............................................................... 06
2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS................................................................................... 08 2.1 PERÍODO PREPARATÓRIO ............................................................................................ 08 2.2 EXECUÇÃO ...................................................................................................................... 10 2.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 14 2.3.1 Livros .............................................................................................................................. 14 2.3.2 Endereços de Internet ................................................................................................... 14
3 SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS ............................................................................ 18
4 OBJETIVOS ALCANÇADOS ........................................................................................... 23
5 DIFICULDADES ENCONTRADAS ................................................................................. 25
6 DESPESAS (ORÇAMENTO) ............................................................................................ 27
CONCLUSÕES....................................................................................................................... 28
ANEXOS ................................................................................................................................. 31
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1.
ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO
Houveram mudanças no cronograma inicialmente apresentado, causadas, principalmente, pela explosão de manifestações em junho de 2013 em todo Brasil. Inicialmente, a ideia era estudar o papel das redes sociais como articuladoras de movimentos específicos. Para tal, seria produzido um vídeo documentário baseado em fatos importantes que ocorreram em Mato Grosso do Sul, onde exemplificaríamos o poder desses meios como uma ferramenta mobilizadora. Alguns dos exemplos que abordaríamos seriam o ato a favor dos índios Guarani Kaiowá e o caso de Joevellyn Aghata Martins, que desapareceu depois de ir passar férias na casa de uma amiga e foi encontrada na Bahia por seus familiares graças a compartilhamentos no Facebook. As alterações no projeto começaram a partir do dia 06 de junho, quando 150 jovens protestaram no centro da cidade de São Paulo, na hora do rush, rumo à Avenida Paulista. Era o primeiro protesto do Movimento Passe Livre (MPL)1, responsável por suscitar as manifestações que nos dias seguintes atrairiam os holofotes da imprensa e se espalhariam como "epidemia" pelo Brasil, contagiando rapidamente a população de diferentes cidades. Em Campo Grande (MS), mais de 45 mil pessoas tomaram a Afonso Pena, principal avenida da capital nos dias 20, 21 e 22 de junho. O fim da corrupção, da reforma política e melhorias na educação e saúde públicas estiveram entre as principais reivindicações apresentadas nos atos. O que todas as manifestações ocorridas durante o período tiveram em comum foi a articulação das ações feitas por meio da rede social Facebook. Apenas o evento intitulado “I Ato Público de Apoio a Manifestação Nacional - Campo Grande, MS” teve mais de 35 mil participantes confirmados. A facilidade de compartilhar e viralizar2 informações sobre o ato por meio da internet colaborou para a divulgação de tal debate para um número muito maior de pessoas. A possibilidade de criar eventos e convidar inúmeras pessoas para tais ampliou a capacidade de pulverização de informações. O que outrora foi feito pelo rádio, nas décadas de 1930 e 1940, foi, nessa ocasião, refeito e fortalecido pelas mídias digitas, mais precisamente os aplicativos e as redes sociais. Nesse contexto, surgiu a necessidade de se entender como funcionam as relações entre o público e tais mídias. 1
Passe Livre é o coletivo que atua em São Paulo (SP) e em diversas capitais do país debatendo as melhorias no transporte público, entre elas a gratuidade das passagens desde 2005. 2 Termo disseminado na internet que significa a ação de espalhar uma informação, semelhante ao efeito viral.
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Assim, definiu-se como objeto dessa pesquisa a análise do papel das redes sociais como articuladoras do que ficou conhecido como as “Jornadas de Junho”. Por conta da dificuldade que seria identificar e analisar as inúmeras redes sociais existentes, decidiu-se por enfocar apenas o Facebook, por possuir maior visibilidade e fluxo de acessos no período em questão. Apenas no Brasil, tal rede alcançou a marca de 76 milhões de usuários cadastrados em agosto de 2013, segundo dados fornecidos pela própria empresa. Além do tema, houve mudança ainda na plataforma utilizada, passando do vídeo documentário para o rádio documentário, principalmente por conta do histórico do rádio como articulador de massa – veículo amplamente disseminado em todo o mundo e de grande alcance popular, o rádio era o grande fenômeno da comunicação de massa até o surgimento da televisão. Em 1930, o rádio começou a se estruturar no Brasil e se tornou um dos veículos pioneiros como comunicador de multidões no país. Para Dines (2007), a transmissão radiofônica foi uma ferramenta importante nas articulações políticas no século XX, não só no Brasil, mas também em outros países. No mais, o projeto manteve seus objetivos iniciais, ou seja, desenvolver uma análise da importância das redes sociais para articulações da sociedade civil. Também as fontes escolhidas seguiram o perfil traçado no início do projeto. Foram realizadas entrevistas com o organizador do evento no Facebook, Ítalo Buarque Gusmão, com alguns dos participantes que confirmaram presença nos atos e com especialistas em comunicação, mídia livre e um filósofo, que colaboraram para a identificação das principais ferramentas que garantem a capacidade de articulação às redes sociais.
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2.
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
2.1 PERÍODO PREPARATÓRIO
Devido à explosão repentina das manifestações por todo Brasil, houve apenas um breve período de preparação antes do início da coleta das entrevistas com os participantes de tais atos em Campo Grande (MS). Do dia 13 de junho, ocasião em que o evento foi criado no Facebook para convidar a população ao primeiro ato de protesto realizado na cidade, até o momento da primeira coleta, passaram-se apenas sete dias. Durante essa semana, ocorreram vários encontros pré-ato e reuniões para definições de pautas a serem levadas à manifestação. Esses poucos dias foram utilizados para acompanhar a grande gama de informações veiculadas nacionalmente e também nas mídias locais. Iniciamos as entrevistas no dia 16 de junho de 2013, durante assembleia que reuniu cerca de 300 jovens no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, para organizar os protestos que vieram a acontecer nos dias 20, 21 e 22 do mesmo mês. Nos dias 18 e 19 participamos de mais duas reuniões pré-ato onde foram coletados outros depoimentos. Antes do primeiro dia de manifestação, 20 de junho, tivemos uma primeira reunião com a orientadora do projeto, Prof. Dr.ª Daniela Ota. Ota nos indicou alguns pontos importantes a serem indagados aos entrevistados, que foram incorporados às perguntas iniciais elaboradas previamente. Naquela reunião decidimos também se teríamos ou não um perfil definido de manifestantes a abordar. Foi consenso, entre o grupo e a orientadora, que não haveria qualquer tipo de perfil pré-determinado. O objetivo, com tal escolha, foi abordar os mais variados tipos de participantes e de alguma forma mapear o público presente. A variedade de idades, pautas, posicionamentos ideológicos e motivações foi confirmada na prática. Depois de coletados os primeiros materiais, iniciamos a decupagem dos áudios destas entrevistas. Dividimos os conteúdos e salvamos os arquivos com os nomes dos participantes. A partir das degravações realizadas, iniciamos uma maratona de encontros semanais com a orientadora, que nos auxiliou no desenvolvimento do projeto entregue na secretaria do curso no dia 21 de agosto de 2013. Nesses meses realizamos o fichamentos de alguns dos livros que constam em nossa revisão bibliográfica (a saber: Pinho, J. B.: Jornalismo na Internet, 2003; Castells, M.: A Sociedade em Rede, 2010; Castells, M.: A Galáxia da Internet, 2003; entre
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outros) e clipping do material veiculado na imprensa sobre as manifestações ocorridas entre 20 e 22 de junho. Após a entrega do projeto, nossas reuniões e pesquisas seguiram no sentido de definir as melhores fontes a serem entrevistadas na sequência do trabalho. Nos meses seguintes, continuamos com as leituras sobre o assunto, principalmente artigos e postagens na rede social, que contribuíram para o desenvolvimento da abordagem aos especialistas e, posteriormente, na preparação do roteiro e edição do rádio documentário.
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2.2 EXECUÇÃO
Começamos a coleta do nosso material no dia 16 de junho de 2013, durante a assembleia que reuniu cerca de 300 jovens no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, para organizar os protestos. O evento, criado no Facebook pelo grupo “Anonymous MS”, discutiu e encaminhou pautas para as mobilizações locais, as rotas por onde passariam os manifestantes e, ainda, definiu o evento criado pelo estudante Ítalo Gusmão como oficial, isto é, onde todos deveriam confirmar presença. Nos dias 18 e 19, participamos de mais duas reuniões pré-ato, convocadas via Facebook, que ocorreram na Praça do Rádio Clube, no centro de Campo Grande, durante as quais ouvimos diferentes opiniões e posições políticas diversas. Nestes dois dias, a quantidade de pessoas era bem reduzida, mas tivemos a chance de conversar com um público mais diversificado e engajado, uma vez que as discussões eram conduzidas por integrantes de movimentos sociais na cidade. Durante os três dias de manifestações, munidas de um gravador digital (que acabou não sendo utilizado por falha técnica), uma câmera fotográfica e um aparelho celular Iphone, nos misturamos à multidão que tomou as ruas da capital. Nossa intenção foi conseguir o maior número de entrevistas possível, focadas em descobrir como os participantes souberam das manifestações; se havia sido por meio das redes sociais, os motivos que os levaram a participar do ato e se acreditavam que, sem o Facebook como ferramenta de divulgação, os protestos teriam tomado a mesma proporção que tomaram. Ao todo, foram captadas 26 entrevistas nesses três dias. Um ponto observado pelo grupo foi a presença de bandeiras extremamente opostas entre os manifestantes. Enquanto em algum local do trajeto alguns gritavam “aonde o boi berra o índio pede terra”, defendendo a causa indígena no estado, em outro havia quem declarasse que estava ali pela insatisfação de ver fazendeiros perdendo suas terras injustamente. O mesmo aconteceu com a discussão sobre a votação da PEC 37, sobre a qual alguns se mostravam a favor, enquanto outros eram contra e, ainda, com discussão sobre a legalização da maconha, entre outros exemplos. No entanto, apesar das múltiplas bandeiras, o motivo escolhido pelos entrevistados em sua maioria, que os levara até aquele momento de manifestação, era o desejo de dizer basta à corrupção brasileira e pedir melhorias na educação e na saúde.
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Durante os dias que se seguiram acompanhamos as discussões na mídia local e nacional através da internet. Fizemos várias leituras de versões oficiais e também alternativas publicadas em sites, blogs e compartilhadas em diversos perfis e páginas do Facebook. Depois disso, veio a primeira fase de decupagem. Todos os áudios coletados durante as manifestações foram degravados. Em seguida, começamos a busca por fontes que dessem sustentação a nossa proposta: mostrar como o Facebook influenciou na articulação das Jornadas de Junho. Entramos em contato então com o criador do evento no Facebook, o estudante Ítalo Gusmão, de 18 anos. Combinamos nosso bate-papo na Praça do Rádio e tudo correu de maneira bastante natural e espontânea. Ítalo estava acompanhado de um amigo, que o ajudou na organização do evento, e nos contou os motivos que o levaram a tal feito. Ainda falou sobre os problemas que teve com veículos midiáticos locais, que segundo ele, distorceram sua versão dos fatos, e os ataques pessoais que sofreu por conta dessas informações. Depois de saber como aconteceu a criação do evento que levou cerca de 45 mil campograndenses às ruas, partimos em busca de peritos no assunto. A primeira escolha foi o sociólogo Sérgio Amadeu, definida por conta da limitação de não termos encontrado especialistas em nossa esfera local e o fato de Amadeu ser um pesquisador reconhecido na área de software livre. Infelizmente, depois de muitas entrevistas desmarcadas devido a sua agenda cheia, e visto que nosso tempo estava escasso por conta dos prazos estabelecidos inicialmente, decidimos encontrar outro estudioso da área. Foi quando descobrimos, por indicação do editor de um dos veículo alternativos que atuaram na cobertura das manifestações nacionais, o Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fabio Malini. Malini é professor adjunto do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo e escreveu o livro “A Internet e a Rua” (2013). Contatamos Malini pelo Facebook e o entrevistamos via Skype. A conversa foi de extrema relevância, uma vez que Malini apresentou pontos de vista bastante consistentes, graças às análises que faz sobre as redes sociais e como elas extrapolam os limites do virtual nas manifestações que aconteceram na Espanha em 2011, no Movimento 15M, e na Primavera Árabe, que teve início em 2010. Depois dessa entrevista, procuramos o filósofo Ricardo Pereira Melo, Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Professor Assistente da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. O motivo da escolha de Melo foi por ele ter participado de um debate
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logo após as manifestações, abordando pontos que nos interessavam, como as controvérsias das versões da mídia tradicional e a diferença entre as gerações de manifestantes. Na intenção de coletar dados substanciais e comerciais sobre o Facebook, contatamos o analista em sistemas de web Alexandre Montello. Dono de uma empresa de marketing que utiliza a rede social como ferramenta de publicidade ele pode nos dar a visão de como a plataforma é utilizada comercialmente. Prevíamos ainda uma entrevista com a especialista em Radiodifusão, a Doutora em Ciências da Comunicação Sonia Virginia Moreira, mas nos deparamos mais uma vez com o problema de incompatibilidade de agendas, assim como ocorreu com o sociólogo Sérgio Amadeu. Chegamos então ao nosso último entrevistado, o mídia-livrista Luiz Felipe Marques, integrante do coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), grupo que ganhou notória fama durante o período das manifestações por oferecer uma cobertura próxima a realidade vivida pelos manifestantes, diferentemente da mídia corporativa, e em tempo real, através de aparelhos celulares conectados à internet e das redes sociais. A entrevista aconteceu via Skype, uma vez que Luiz está morando em Brasília. Terminado esse processo, veio a segunda parte de decupagem e a formulação do roteiro. O produto ficou dividido em quatro blocos. O primeiro bloco contextualiza as mobilizações em Campo Grande, com dados como número de manifestantes, qual foi a importância do Facebook como ferramenta de articulação e como foi criado o evento na capital. Foram utilizados recursos como captação do áudio de matérias televisivas para dar uma dinâmica mais fluida ao ouvinte. No segundo bloco, abordamos o perfil dos manifestantes e suas principais reivindicações. No terceiro bloco foi discutida a criminalização dos manifestantes e a diferença de abordagens entre a mídia corporativa e a mídia livre. Aqui, nos valemos das falas dos jornalistas Arnaldo Jabor e José Luiz Datena, por terem impulsionado exponencialmente o „meme‟3 criado na rede Facebook sobre o assunto. O recurso de utilizar matérias televisivas nacionais neste ponto se dá com o intuito de contextualizar as manifestações em nível de Brasil e substituir a utilização de muitos offs, por acreditarmos que isso tornaria o documentário cansativo. Por fim, no quarto e último bloco, procurarmos estimular nos espectadores uma reflexão a respeito da crise política que se evidenciou com as mobilizações. Citamos a fala da Presidente 3
Sátira que se espalha pela internet geralmente a partir de um tema cotidiano polêmico.
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Dilma Rousseff, durante um pronunciamento em cadeia nacional sobre as manifestações, e finalizamos com um trecho do texto “A mídia, os artistas, o medo e o silêncio” do escritor João Paulo Cuenca, o qual tomamos conhecimento por intermédio de Fabio Malini e que nos chamou a atenção fortemente. A escolha da música de encerramento do rapper Emicida, “Samba do fim do mundo” se deve pelo fato de ela, de certa forma, compilar toda a temática que tentamos transmitir com o nosso produto final.
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2.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.3.1 Livros
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede, São Paulo, SP, p.57;442-457, Paz e Terra, 2011. CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e Esperança – Movimentos Sociais na era da Internet. Zahar, 2013. DINES, Alberto; MEDITSCH, Eduardo. O Rádio na Era da Informação. Florianópolis, p. 123-128, Insular Ltda, 2007 MALINI, Fábio; ANTOUN, Henrique. A Internet e a Rua: Ciberativimo e Mobilização nas redes sociais. Porto Alegre, RS: Editora Sulina, 2013. LAGE, Nilson. Linguagem Jornalística. São Paulo: Ática. 1985 PINHO, J.B. Jornalismo na internet: Planejamento e produção da informação. São Paulo, Summus, 2003 TARGINO. M. das G. Jornalismo cidadão informa ou deforma? Brasília, DF, p. 72-83, UNESCO, 2009.
2.3.2 Endereços de Internet BOITO, Armando Jr. O impacto das manifestações de junho na política nacional. 2 de agosto de 2013. Disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/node/15386>. Acesso em 11 de nov. de 2013. CHAUÍ, Marilena. Manifestações de junho de 2013 na cidade de São Paulo. 27 de junho de 2013. Disponível em <http://www.teoriaedebate.org.br/materias/nacional/manifestacoes-de-junho-de-2013-nacidade-de-sao-paulo?page=full>. Acesso em 11 de nov. de 2013. CARTA CAPITAL. Os protestos de junho entre o processo e o resultado. 27 de outubro de 2013. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/os-protestos-dejunho-entre-o-processo-e-o-resultado-7745.html>. Acesso em: 11 de nov. de 2013. CNT. Redes sociais têm ganhado cada ve mais importância no cenário político brasileiro. 17 de julho de 2013. Disponível em:
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SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS
Para entender a relevância das mídias globais no aspecto cultural e político nos movimentos sociais, é preciso buscar como se deu a introdução e a evolução dos meios de comunicação de massa no Brasil. O que outrora foi feito pelo rádio, em sua fase de ouro, consolidada em 1940, agora é fortalecido pelas mídias digitais, mais precisamente pelos aplicativos e as redes sociais. Entre as décadas de 30 e 50, o rádio teve um papel central nos acontecimentos políticos e foi completamente transformado por eles. Para os autores Alberto Dines e Eduardo Meditsch, a dimensão política desse veículo está ligada à sua própria história. O pesquisador Nilson Lage também define a radiodifusão, no período, como instrumento político dos Estados. Sob os cuidados de Getúlio Vargas, o rádio, outrora limitado apenas às camadas mais altas da sociedade brasileira, teve sua difusão incentivada. A possibilidade de acesso de um número cada vez maior de pessoas concedeu ao veículo o status de ferramenta de difusão de propagandas varguistas. O rádio, hoje, é considerado uma mídia por demasiado fragmentada, destacando-se apenas por sua vocação regional ou local. Dando base para a criação e implantação da televisão, que começou a ser popularizada em 1948, o rádio foi rapidamente superado. Graças ao desenvolvimento de uma linguagem própria, a televisão transformou-se no principal e mais consumido meio de comunicação entre as mídias. Essa realidade, no entanto, vem se transformando cada dia mais desde a criação da Internet. Criada em 1990, a Internet (INTERaction ou INTERconnection between computers NETwork), é “a rede das redes, o conjunto das centenas de redes de computadores conectados em diversos países dos seis continentes para compartilhar a informação” (PINHO, 2003, P. 41). Ela opera como “mecanismo de transporte que conduz os dados por um caminho de milhões de computadores interligados” (PINHO, 2003, P. 42). Nascida para o uso militar a ARPAnet, considerada o primórdio da Internet, pouco a pouco se tornou um sistema de comunicação não-hierárquica, no qual não existe um elemento central que chefia. O novo sistema proposto é composto de interconexões com todos os pontos e dos pontos entre si. É como uma esfera, na qual cada nódulo está conectado com todos os outros e ainda com o central por múltiplos links. (PINHO, 2003, P. 23)
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Mais tarde, em 1976, com a criação da Usenet (de quem as atuais redes sociais se originam) – um novo programa de intercomunicação que utilizava a ARPAnet como principal canal de distribuição – formaram-se grupos de discussão que se espalharam rapidamente. Nesses grupos, os leitores compartilhavam informações, ideias, dicas e opiniões. Em 1983, a ARPAnet se liberta das origens militares e passa a ser uma rede de pesquisa que começa a ser chamada de Internet. Mas é apenas no ano de 1984 que surge o ciberespaço, ambientes virtuais comunitários e participativos dos grupos de discussões. De acordo com Fabio Malini e Henrique Antoun (2013), a “guerrilha midiática” acontecia com a produção de contra informação usando o meio da radiodifusão (rádio, especialmente). Com a invenção do ciberespaço, a guerra de informação ocorre de modo subterrâneo, entre aqueles que possuem centrais de comunicação mediadas por computador. A Internet trouxe consigo várias transformações sociais, tecnológicas, econômicas e culturais. A passagem dos meios de comunicação de massa tradicionais para um sistema de redes horizontais de comunicação, organizadas em torno da internet e da comunicação sem fio, introduziu uma multiplicidade de padrões de comunicação na base de uma transformação cultural fundamental à medida que a virtualidade se torna uma dimensão essencial da nossa realidade. (CASTELLS, 2010, P. II) Foi graças as redes horizontais de comunicação que surgiram as comunidades virtuais. Vindo desde meados dos anos 80, elas formam, segundo Castells (2010), uma sociedade virtual diversificada e difusa da qual fazem parte centenas de milhões de usuários com menos de 30 anos Com a série de evoluções pelas quais passou, a internet foi, gradativamente, se inserindo no cotidiano das pessoas. Quando os usuários passaram a não apenas encontrar um conteúdo, mas compartilhá-lo, a adesão à internet cresceu muito. Depois da revolução do compartilhamento, o poder de publicação migra dos detentores de grandes audiências para os que acumulam mais interações. O valor de uma rede deixou de ser calculado apenas pela quantidade de público de um site, ganhando maior importância o cálculo da quantidade de grupos criados e mobilizados na Internet por alguém (perfil ou coletivo), o que transformou fãs e seguidores em parceiros da produção de uma agenda informativa, a cultura das popularmente chamadas redes sociais na Internet ou Web 2.0 (MALINI; ANTOUN, 2013, P. 216). O número de pessoas com acesso à internet no Brasil ultrapassou pela primeira vez a casa dos 100 milhões, segundo estudo divulgado pelo Ibope Media. Os dados referentes ao primeiro
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trimestre de 2013 indicam que o país tem 102,3 milhões de internautas. Um dos destaques da internet são as redes sociais. O DNA das redes sociais é o perfil convertido em autor coletivo interconectado com os outros. Então, nas redes sociais, a priori, não há espectador (e se houver será rechaçado como aquele que espia: o stalker), mas uma comunidade de parceiros em conversa numa timeline, gerando um efeito de sobreposição discursiva no regime da economia de atenção. Sua base é a fala transformada nos “muitos que narram a partir da ocupação do mundo” (MALINI; ANTOUN, 2013, P. 214).
Seguindo o modelo de web 2.0, o usuário tem uma “timeline”, deixa de ser usuário para se tornar um perfil. A timeline funciona como um mural de notícias, cuja atualização vai sendo feita, ao mesmo tempo, pelo dono ou por qualquer outro perfil que ele decida incorporar nela; seja como amigo, seguidor ou membro do seu “círculo”. E é justamente a possibilidade de compartilhar, curtir, comentar e visualizar na timeline, que fez da rede social Facebook uma das mais importantes na articulação das manifestações ocorridas em Campo Grande e em todo Brasil. Dados divulgados em março de 2013 pela comScore (empresa de pesquisa de mercado digital) revelam que o tempo que os brasileiros passam em redes sociais aumentou de 342 minutos em média por usuário ao mês, em outubro de 2011, para impressionantes 579 minutos por usuário ao mês, em dezembro de 2012. Eles passam a maior parte desse tempo (93%) no Facebook, que ocupa a primeira posição na categoria. O Facebook também se destaca em número de usuários, é a rede social que possui o maior número de cadastrados no mundo. Apenas no Brasil, a plataforma alcançou a marca de 76 milhões de usuários em junho de 2013, segundo a própria empresa. O número mantém o país no posto de segundo maior mercado em número de usuários da rede social no mundo – o primeiro posto ainda é ocupado pelos Estados Unidos – um total correspondente a 7% do número total de cadastrados no site, que chegou recentemente a 1,15 bilhão de pessoas. Essas ferramentas tecnológicas possibilitaram a revisão de conceitos como liberdade de informação, dando lugar a assuntos como comunicação compartilhada, inteligência coletiva, fim da passividade do receptor e direito à intercomunicação. Essas mudanças trouxeram enormes repercussões em nossa vida social, econômica, política e simbólica. Para Targino (2009), as mudanças sociais constituem expressão comum nos dias de hoje. A prática de expressar e compartilhar ideias por meio de ferramentas da internet é cada vez mais frequente. A autora, em sua obra “Jornalismo Cidadão Informa ou deforma?”, chama essa prática
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de bookcrossing, na qual várias pessoas juntam-se para expressar suas alegrias e mazelas em um espaço público por uma corrente ininterrupta e sem imposições. A autora faz ainda menção ao termo “ciber-cidadão”, que utiliza do espaço online para exercitar deveres e reivindicar direitos perante o estado; o que percebemos é que as redes sociais também estão entre os meios on-line de propagação dessas ideologias. Nessa perspectiva, Targino conclui que a tecnologia junto da informação determina transformações na sociedade, pois está em todos os setores do nosso dia-adia, interferindo em valores pessoais e coletivos. Além da facilidade de se compartilhar conteúdo, o Facebook possui ainda outra ferramenta que teve papel fundamental na articulação das manifestações: o evento. A possibilidade de se criar um evento, convidar amigos e compartilhar conteúdo na página de convidados do evento proporcionou uma potencialização da organização de grandes grupos de pessoas, sendo um dos principais mecanismos usados para reunir e informar os participantes antes dos atos realizados em junho de 2013. Em entrevista, Fabio Malini afirma ser este o grande trunfo dos movimentos sociais responsáveis pela articulação das manifestações de junho: “o evento se tornou um lugar por onde passa a ação política dos protestos, o evento se tornou uma grande praça, por que a praça é o local por onde você passa e em geral não conhece as pessoas que estão por ali. E o evento era um lugar que você via pessoas que não eram pessoas da sua timeline. E isso foi interessante por que também permitia que a gente saísse um pouco da saturação do outro que habita a nossa timeline”. Para ele o Facebook foi importante para expressar e compartilhar as revoltas acumuladas pela população, o que leva o usuário a um dos locais originários da internet, os fóruns e grupos de discussão. Além de serem consideradas as principais ferramentas de articulação de vários movimentos sociais recentes, como o 15M espanhol, a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street (sucedido por uma série de ocupações de espaços públicos de diversas cidades do mundo), o Facebook, mesmo sendo uma marca corporativa, e as outras tantas redes sociais foram fundamentais também para a ascensão da chamada mídia livre, uma mídia sem filtros corporativos que se vale da tecnologia para compartilhar e difundir conteúdos. Essa mídia, alternativa às grandes empresas comunicacionais, surgiu em 1999. O IMC foi criado por organizações e ativistas da mídia independente e alternativa, com o propósito de ofere-
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cer uma rede para a cobertura jornalística dos protestos de novembro de 1999 contra a OMC (organização Mundial do Comercio) em Seattle. Contudo, é inegável destacar que, nesse novo cenário de mídia, publicar significa que existem muito mais meios de comunicação social e que o “assunto do momento” não é apenas resultado da rotina produtiva das instituições da notícia (imprensa), mas gerado pela mistura de veículos formais, coletivos informais e indivíduos, que fazem provocar a emergência não somente de novas formas de espalhar, de modo colaborativo, as notícias, mas sobretudo de contálas. (MALINI; ANTOUN, 2013, P. 216) O advento da web 2.0 e da revolução do compartilhamento fortaleceram as mídias independentes e fizeram delas grandes portais de vozes minoritárias, com especial atuação nos eventos acima citados e, mais recentemente, nas manifestações de junho de 2013 no Brasil. Surge, a partir desse momento a figura do midia-livrista ou ciberativista, que se apropria das ruas e das redes munidos de celulares com acesso à internet 3G ou wi-fi e que passam a transmitir ao vivo os acontecimentos ao mesmo tempo em que colabora para a construção dos mesmos. No Brasil, durante as manifestações de junho, a repercussão da Mídia Ninja (acrônimo de Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) registrou seu ápice. A cada duas horas, em média, o grupo postava uma nova foto, link ou relato em sua conta no Facebook. Continuamente, o site PósTV fez a transmissão dos protestos em tempo real. A grande justificativa apresentada por Luiz Felipe Marques, midia-livrista do grupo Mídia Ninja, em entrevista concedida como fonte para este rádio documentário, foi a proximidade da cobertura com os eventos ocorridos. Assim, o midia-livrista além de reportar a realidade dos fatos, acaba por construir e participar do processo, sendo esse o papel do ciberativista. Em toda parte, imagens, sons, textos e vídeos registravam a movimentação ou veiculavam o debate de questões sociais em múltiplos canais em tempo real, produzindo mais interações e conversações. Eles conseguiram, ao se plugar da rua à Internet, fazer com que as lutas locais tornassem-se mundiais, como ficou evidenciado durante as Jornadas de Junho brasileiras.
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OBJETIVOS ALCANÇADOS
Pela proximidade dos eventos, a temática “manifestações de junho 2013” segue como causadora de muitas inquietações e indagações para pesquisadores, políticos, estudantes e para a maioria dos brasileiros. Com este rádio documentário pudemos contribuir para a construção de material teórico e reflexões acerca daquela que é apontada como a maior mobilização no país desde o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.
A ideia central do nosso trabalho, de trazer à tona um debate sobre o papel da rede social Facebook como ferramenta articuladora dos atos que movimentaram o país em 2013, foi possível por meio de entrevistas com manifestantes, estudiosos e um mediador da mídia independente. Por ser um tema atual, existem poucas referências bibliográficas sobre o período. Por isso, vimos a necessidade de documentar e analisar esse fato histórico, que sem dúvida, mexeu com a estrutura política brasileira. Um dos focos do trabalho foi trazer a discussão para o local, em que mostramos como o fato foi simbólico para a cidade de Campo Grande, que nunca havia sediado uma movimentação popular de tal proporção. Estivemos presentes nos três dias de protestos em Campo Grande (MS), que ocorreram nos dias 20, 21 e 22 de junho de 2013.
Em nossa cobertura, colhemos depoimentos dos
manifestantes, material que nos permitiu afirmar que a maioria das pessoas ali presente foi mobilizada pela rede social Facebook. A rede possibilitou a criação de eventos, um espaço para organização e debate das reinvindicações dos manifestantes, como visto no evento criado na rede para organizar a manifestação em Campo Grande, que obteve mais de 35 mil pessoas confirmadas. No primeiro dia, de acordo com a Polícia Militar, o número se confirmou, havia pelo menos 30 mil pessoas nas ruas. Além de analisar a rede social como ferramenta mobilizadora, outro objetivo para a criação deste produto foi ainda discutir sobre o perfil dos manifestantes, as divergências entre as mídias tradicional e independente e a crise de representatividade política identificada dentro dos protestos. Para isso, entrevistamos estudiosos no assunto, que nos ajudaram a analisar e constatar esses aspectos como características desse período. A entrevista com o doutor em Comunicação e Cultura, que lançou o livro “A Internet e a Rua”, baseado nas manifestações de junho, permitiu o entendimento sobre o papel das redes
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sociais na ampliação do livre fluxo de informações e a importância da ferramenta em emergir uma política corporativa por meio das páginas públicas virtuais. Já na conversa com o filósofo, alavancamos pontos interessantes como a diferença entre o perfil dos manifestantes deste período em relação a outras gerações. Foi possível também traçar uma discussão sobre as divergências nas coberturas dos protestos das mídias corporativas e as mídias livres, que, em tempo real, postavam notícias nas redes sociais utilizando de dispositivos móveis. Nesse aspecto, a entrevista com o midialivrista e a análise de matérias televisivas foi fundamental para constatar a diferença de abordagens entre as duas mídias.
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DIFICULDADES ENCONTRADAS
O primeiro empecilho foi a falta de uma melhor orientação sobre como montar um préprojeto. Cremos que a dinâmica das aulas de Metodologia Científica poderia ter sido mais clara e objetiva quanto a isso, porque as dúvidas que surgiram sobre a montagem do relatório poderiam ter sido sanadas já no primeiro semestre de 2013, ainda que nosso foco tenha sido definido depois que concluímos a disciplina. Desde o início, quando começamos a conceber o projeto, soubemos que nossa maior dificuldade seria a de encontrar fontes qualificadas para as entrevistas e bibliografia específica, devido ao fato de as Jornadas de Junho serem um tema bastante factual e que ainda gera desdobramentos. Nesse sentido, a maioria dos livros que a biblioteca da UFMS oferece fala sobre a internet como um todo e sobre convergência digital de maneira generalizada, sem um aprofundamento na parte das redes sociais e sua relação com a sociedade. A falta de livros mais atuais que acompanhem essa abordagem dificultou o processo de desenvolvimento de uma linha de raciocínio, dificuldade essa que veio a ser contornada nas entrevistas. Outro desafio enfrentado foi a escassez de tempo, uma vez que mudamos o nosso foco no decorrer do trabalho, e até mesmo pelas mobilizações terem acontecido pouco tempo antes da entrega dos pré-relatórios. Por não termos encontrado pessoas que estejam estudando a relação das redes sociais com as manifestações em Mato Grosso do Sul, procuramos através do próprio Facebook especialistas em outras partes do Brasil. Chegamos ao renomado sociólogo Sérgio Amadeu. Conseguimos o contato e ele se mostrou bastante solicito ao nosso pedido, mas desistimos da entrevista já que ele acabou desmarcando conosco inúmeras vezes e nos demos conta de que já não tínhamos mais tempo hábil para tal. Nesse mesmo sentido, também não conseguimos entrevistar a pesquisadora especialista em Radiodifusão Sonia Virginia Moreira, num primeiro momento pela falta de familiaridade dela com o Skype, que era justamente o instrumento que estávamos utilizando para essas entrevistas à longa distância. Decidimos então entrevistá-la por telefone, mas surgiu a dificuldade técnica de conseguir instrumentos que possibilitassem isso, uma vez que os recursos oferecidos pela UFMS para gravar entrevistas por telefone não estavam funcionando. Quando finalmente contornamos essa dificuldade, não conseguimos mais contatar a Professora Sonia Virginia. Como o episódio se deu no mesmo período das tentativas de entrevistar Sérgio
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Amadeu, abandonamos a ideia de entrevistá-los e fomos em busca de outras fontes, do contrário a falta de tempo acabaria comprometendo a qualidade final do nosso documentário radiofônico.
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DESPESAS
Edição: R$ 300,00 Impressão de material gráfico: R$ 200,00 Revisão textual: R$ 50,00 Material bibliográfico: R$ 50,00
TOTAL: R$ 600,00
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CONCLUSÕES
Com a produção desse rádio documentário pudemos constatar o importante papel que as redes sociais desempenharam na articulação das manifestações de junho de 2013, em Campo Grande (MS). Seja pela facilidade de selecionar e compilar conteúdos de interesse individual ou pela facilidade de compartilhar e comentar informações, o fato é que as redes sociais obtiveram o posto de grande mobilizador e agregador de pessoas. Nas entrevistas realizadas durante os protestos em Campo Grande, nos dias 20, 21 e 22 de junho, esse papel ficou muito evidente. Dos 26 entrevistados, nos três dias, 24 afirmaram ter tido contato com a organização das manifestações na Capital por intermédio das redes sociais. Além disso, muitos deles admitiram duvidar da ocorrência dos protestos caso as informações não estivessem disponíveis nessas plataformas. Posteriormente, os depoimentos de especialistas e pesquisadores entrevistados por nós confirmaram a importância central das redes sociais no desencadeamento dos eventos ocorridos. Entre outras coisas pudemos concluir também que as demandas e insatisfações apresentadas nas ruas não surgiram instantaneamente, mas são resultados de décadas e décadas de anseios não atendidos, de carências sociais e de deficiências no atendimento do Estado. Nesse sentido, as redes sociais funcionaram como um espaço de compartilhamento desses anseios e revoltas. Em meio a uma enorme gama de mídias sociais existentes, preferimos nos limitar a observação apenas do Facebook nesse processo de articulação, principalmente por ser a rede social de maior utilização e acesso no Brasil e, também, por esta apresentar ferramentas que se sobressaíram às demais no quesito organização e convocação de pessoas. Podemos citar a possibilidade de compartilhar conteúdos e, principalmente, a criação de eventos e a facilidade de se convidar amigos para tais como os maiores destaques dessa plataforma. Observamos também que, assim como foram importantes para o desencadeamento dos atos, as redes sociais garantiram ainda o acesso de boa parte da população a uma quantidade incontável de fontes de informações que não apenas os meios impressos e televisivos. Esse fator foi importante para a explosão de manifestações por todo Brasil, incluindo cidades pequenas, médias e grandes, além, é claro, das metrópoles São Paulo e Rio de Janeiro, nas quais a onda de manifestações adquiriu caráter mais profundo e radical. O fim da corrupção,
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a reforma política e melhorias na educação e saúde pública estiveram entre as principais reivindicações apresentadas pelos manifestantes. Além da ampla diversidade de pautas e demandas, os perfis, isto é, as idades, posicionamentos políticos ideológicos e estratos sociais também se apresentaram absolutamente multiformes. Apesar disso, a necessidade de se tomar a rua e verbalizar desejos e anseios antes esquecidos pode ser considerada comum a todos eles. Essa radicalização das demandas e volta das ações diretas foram acompanhadas de perto e construídas a todo momento pela figura dos midia-livristas que, em certa altura das manifestações, obtiveram maior destaque que as próprias ações organizadas, justamente pela proximidade entre sua pauta e sua causa. Esses mediadores, munidos de celulares com acesso à internet 3G ou por meio do compartilhamento de redes wi-fi cedidas pela população, mostraram de perto e de dentro a verdadeira face das movimentações sociais como nunca antes haviam sido relatadas pela mídia tradicional. Valendo-se de transmissões ao vivo e pouquíssimas edições no material, considerado por muitos bruto demais para ser transmitido, esses ciberativistas permitiram o acompanhamento diferenciado desse período histórico. Blogs, perfis e páginas na internet pipocaram durante todos os meses decorridos desde os atos iniciais suscitados pelo Movimento Passe Livre, em São Paulo, que levou milhares de paulistanos às ruas para protestar contra o aumento das passagens e a péssima qualidade do transporte público da cidade. Como fogo em palheiro, o movimento cresceu e se alastrou por todo o Brasil. Muito dessa expansão se deve justamente a esses canais alternativos de comunicação, a mídia livre, em desenvolvimento no Brasil há mais de 10 anos, mas que viveu especial ascensão e notoriedade durante as manifestações. Essa ascensão da mídia livre muito se explica pela procura da população, antes rara, por versões diferentes daquelas apresentadas pela mídia tradicional, evidenciando para um grande número de pessoas as interferências e vícios de coberturas desses veículos consagrados. Com isso, cai também o estereótipo, a máscara de “despolitizados” presa historicamente à população brasileira. Exemplo disso são as pesquisas que apontaram que os posts mais curtidos durante o período de manifestações tratavam-se de textos corridos. Isso mostra que existiu uma busca por informação e conteúdos complementares ao apresentados no rádio, na televisão e jornais impressos.
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O fim da passividade política e o despertar do interesse social de uma parcela da população menos atuante pode ser considerada como grande consequência dessas manifestações, que são apontadas por muitos como a maior mobilização desde o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992. À luz de toda movimentação, articulação e mudanças de condutas e pensamentos, pudemos concluir que a principal herança desse período de manifestações foi a consciência a respeito de duas crises profundas arraigadas no Brasil. Em primeiro lugar, a crise da comunicação e a necessidade imediata de uma reformulação do modelo jornalístico, obsoleto e estagnado, adotado pelos grandes veículos de comunicação. E, ainda, a urgência da democratização da comunicação e o repensar do modo superficial de abordagem da mídia corporativa para com os movimentos sociais. Em raríssimos momentos da história da comunicação do Brasil, os veículos tradicionais foram tão questionados pela população. Também são poucas as vezes que verificamos tão claramente as dificuldades por parte destas empresas de se entender e acompanhar o desenvolvimento das pautas defendidas pela população e incessantemente negadas pelas mesmas. Do mesmo modo, nunca nos pareceu tão notável a tentativa de criminalizar, desqualificar e diminuir ações espontâneas da sociedade. Em segundo lugar, e talvez ocupando lugar mais simbólico como resultado dessas jornadas, podemos elencar a crise da representação política. A negação por parte da população de todo modelo de política praticado no Brasil, com base nas trocas de favores, conchavos e disputas de poder e a necessidade urgente de uma oxigenação da democracia brasileira com as garantias legais garantidas pela constituição à sociedade nunca foram tão discutidas. Partidos, sindicatos e todos os símbolos que caracterizam esse modelo democrático representativo estão sob julgamento popular. A renovação é iminente e a busca por alternativas não deve se limitar às redes sociais, mas sim ultrapassá-las, ganhar as ruas e fazer ruir toda a estrutura cristalizada por anos e anos de apatia política, processo esse iniciado com as Jornadas de Junho. Por todos os motivos citados, o desenvolvimento deste rádio documentário, que nos permitiu acesso a uma grande quantidade de artigos, bibliografias e opiniões acerca do que representaram tais manifestações, nos levou à conclusão de que o período conhecido como Jornadas de Junho já obteve lugar de destaque no hall dos grandes eventos históricos, políticos e sociais do Brasil.
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ANEXOS
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ANEXO 1 - FICHA TÉCNICA Título: Rádio Documentário: Facebook - O papel da rede social na articulação das manifestações de junho de 2013, em Campo Grande, MS Direção e Produção: Laura Toledo, Luana Campos e Mikaele Teodoro Edição: Celso Petit Software utilizado: Soundtrack Duração: 25‟ 34‟‟
Relações de entrevistados Fábio Malini – Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Ricardo Pereira Melo – Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Professor Assistente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Luiz Felipe Marques – Integrante do Coletivo Mídia Ninja (Narrativas, Independentes, Jornalismo e Ação) Ítalo Gusmao – Estudante de direito e criador do evento de manifestação em Campo Grande no Facebook Alexandre Montello – Analista em Sistemas de Web Carolina de Almeida Lima – Manifestante Alice Hellman – Manifestante Marcelo Vieira Sater – Manifestante Sonora Rogério Assef - Manifestante Nikele Oliveira Santos – Manifestante Maria Aparecida de Souza – Manifestante Valderson Laurentino do Amaral – Manifestante Patrick Adam – Manifestante
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ANEXO 2 - ROTEIRO DE EDIÇÃO
FALA DO RENATO MACHADO “Escalada” Carolina de Almeida lima – estudante e professora 00:29 Eu soube pela internet, pelo Facebook, através dos milhares de compartilhamentos 00:33 Alice Hellman 01:16 Tem grupo no whatsapp, tem grupo no facebook que reúne todos os manifestantes.01:22 Marcelo Vieira Sater O que me trouxe aqui realmente foram as redes sociais (01:31 à 01:46) Carlos Henrique Saímos do Facebook (01:41 à 1:43) OFF 1: Mais de 30 mil pessoas foram as ruas do centro de Campo Grande protestar por melhorias na saúde, educação, transporte e principalmente no combate acorrupção. O movimento teve início e ganhou grande repercussão nas redes sociais. - Entram matérias televisivas com 2 ou 3 repórteres falando (pessoas que participaram, em quantos dias e o que eles reivindicavam) OFF 2: A redes sociais realmente foram as responsáveis pelas mobilizações? Para o Doutor em Comunicação Fabio Malini, autor do livro ”A Internet e a Rua” sim! Sonora Fabio Malini Bom eu acho que as redes sociais ela tem uma importância enorme nessas manifestações que aconteceram. Não apenas como um espaço por onde as informações e a articulação e organização dos processos aconteceram dos protestos aconteceram, afinal foi ali que surgiram os eventos mobilizadores. Foi ali que surgiram os canais participativos, que as pessoas produziam as informações sobre o que acontecia na rua, mas além disso, o espaço, como espaço de distribuição da informação ela foi um lugar de produção também de manifestação. (01:01 à 01:53) OFF3: O Brasil é o segundo país em número de usuários no Facebook, com 76 milhões de cadastrados, de acordo com dados de agosto de 2013 da própria empresa. Durante as manifestações, umas das
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principais ferramentas que permitiram mobilização dos atos foi a possibilidade de criar eventos e convidar amigos. Sonora Fabio Maline O evento se tornou um lugar por onde passa a ação política dos protestos, o evento se tornou uma grande praça, por que a praça é o local por onde você passa e em geral não conhece as pessoas que estão por ali. E o evento era um lugar que você via pessoas que não eram pessoas da sua timeline. E isso foi interessante por que também permitia que a gente saísse um pouco da saturação do outro que habitam a nossa timeline. Entao o fb foi importante para expressar essa revolta, compartilhar essa revolta, mas ao mesmo tempo em lugares muito meados por usuários do fb, o evento. Isso é uma coisa muito legal de observar, porque de certa maneira aquele lugar ali é o local originário da internet. (43:11 à 44:23) OFF 4: Em Campo Grande o idealizador do principal evento mobilizador dos protestos, foi o estudante Ítalo Gusmão, de 18 anos.
Sonora Ítalo Gusmão O evento foi criado no dia 13 de junho, numa quinta-feira de madrugada eu criei ele, foi quando eclodiu mesmo nacionalmente. (00:25 à 00:33). Eu falei cara, tenho que fazer parte disso‟, isso é uma coisa histórica. Vai acontecer só daqui 20 ou 40 anos se acontecer. Aí eu fui lá e criei o evento. Simplesmente criei, muita gente desacreditava no começo e tudo mais. Chegavam a tirar sarro da minha cara. (02:29 à 02:45). E aí como eu vi que deu repercussão e tudo mais, muita gente entrando em contato, mídia, político, todo tipo de gente entrando em contato. (04:58 à 05:12) Por dia era em média umas 10 mil confirmações assim. Depois do domingo foi umas dez doze mil confirmações por dia e eu fiquei louco lá. (03:44 à 03:55). Você apertava F5 lá cara era milhares de publicação assim em minutos, milhares mesmo (06:51 à 06:57)
BLOCO PERFIL DOS MANIFESTANTES
“Escalada” Sonora Alice Helman Eu sou pelas mudanças, pela reciclagem dos ideais e realmente pela abertura dos olhos da população
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Sonora Rogério Assef É hora da gente reivindica um Brasil mais limpos, sem corrupção sem gastos públicos ineficientes, tudo aquilo que o pessoal ta colocando aí eu concordo. Sonora Carolina de Almeida Hoje além de todas as reivindicações contra a corrupção e tudo mais em especial ao foco em CG que é a corrupção no hospital HU, eu quero fora Dorsa, em respeito a todas as famílias que perderam familiares no hospital do câncer Sonora Marcelo Vieira Sater O que mais me indigna e que me trouxe aqui é a indignação com relação a corrupção. Sonora Nikele Oliveira Santos E vim participar desse fato importante na cidade, no Brasil. Apoiando tudo que é necessário de mudança. Contra a corrupção e tudo que eles investem mal investido. Colocam dinheiro publico em coisas fúteis enquanto tem existem muitas outras coisas e pessoas precisando de ajuda. Maria Aparecida A gente precisa viver com dignidade. E só vindo para rua para mostrar para os políticos que nós queremos
viver
com
dignidade
e
que
vamos
mudar
o
Brasil.
Valderson Laurentino do Amaral Vim lutar por melhoras para mim, para minha família e para todos nós. Sonora Fabio Malini Gosto muito do termo da Ivana Bentes, o movimento dos desorganizados. Claro que fazendo uma critica ironia, a sociedade civil desorganizada. Então não é um movimento da sociedade civil organizada, é um movimento da sociedade civil desorganizada. O perfil é esse, a sociedade civil dos desorganizados, sujeitos precários da sociedade. Que reivindicam a radicalização dos direitos. Direito ao transporte, direito as a transparência, enfim, uma infinidade de pauta. OFF 5: Para o analista em sistemas de web, Alexandre Montello, o fator multiplicação é o principal trunfo do Facebook como ferramenta de organização do movimento. Sonora Alexandre Montello
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O evento ele tem uma opção lá, se você adiciona a pessoa como organizadora ela pode convidar os amigos, entendeu? Se você abrir. Então, se eu tenho mil amigos e convido meus amigos e aí convida mais mil e assim vai. Por isso que eu falei a ferramenta meio que deu uma organizada também no negócio (24:48 á 25:12). Então você pega o que tava acontecendo que tinha mil compartilhamentos. Você pega mil vezes, cada um tem mil amigos, é muita gente. ( 24:39 à 24:45) OFF 6: Malini também enfatiza esse poder de abrangência do Facebook Sonora Fabio Malini Quem vem estudando a dinâmica das redes a gente tem a percepção não apenas de in site, mas a percepção cientifica de que é muito corriqueiro que a emoção produzida pelos twites, pelos posts, pelas atualizações de status, pelos compartilhamentos, produza uma emoção na rua. A rua produz a emoção que produz mais posts, mais compartilhamentos, mais curtidas, cada vez mais blogs, enfim, produz uma série de criações digitais e isso leva mais gente a compartilhar o que leva a um circulo virtuoso do ponto de vista dos movimentos sociais (20:40 à 21:28) OFF 7: O midialivrista Luiz Felipe Marques, integrante do Mídia Ninja, grupo que ganhou notoriedade durante as manifestações de junho por realizar transmissões em tempo real dos protestos em todo o Brasil aponta as transformações tecnológicas que permitiram esse tipo de cobertura. Sonora Luiz
04:50 acho que a rede social ela digitaliza um trabalho que vinha sendo feito de forma analógica pela mídia livre vamos dizer assim.(04:55)05:17 Os caras não tinham wi-fi pra ficam mandando informação em tempo real da rua 05:20 05:21 então eles chegavam em casa, upavam esse conteúdo, colocavam em um site, era toda uma estrutura pesada analógica. A partir do momento que você tem um twitter um Facebook, qualquer celular que você tem na mão você consegue acessar essas redes sociais. (05:35)
Off 8: O servidor público, Patrick Adam, concorda que as redes sociais possam ser um espaço alternativo para troca de informações.
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Sonora Patrick Adam 07:20 Acho que é um espaço muito benéfico que possibilita uma rede de informações alternativas, que você não vê na grande mídia, blogs alternativos, sites alternativos e que através doce a sua Timeline ou do Twitter você pode ter acesso. A internet é uma grande ferramenta de acesso a informação então seria muito importante também uma democratização do uso da internet. 07:57
OFF 9: As jornadas de junho, maior mobilização no país desde o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, tiveram como ponto de partida a insatisfação pelo aumento da passagem do transporte público em São Paulo. O movimento ganhou força e se espalhou por pelo menos 100 cidades brasileiras. Mais de um milhão de pessoas participaram dos atos. Sonoras Matérias televisivas nacionais OFF 10: A proximidade dos manifestantes, que foi a marca da cobertura da Mídia Ninja, permitiu ao grupo uma visão distinta da explorada pela mídia tradicional Sonora Luiz Então começou com os vinte centavos ali em SP ecada manifestação vinha mais gente e a pressão policial só ajudava a aumentar o meme que tava se criando ali e isso foi pegando. Enfim indignações no Brasil inteiro e foi pipocando de uma certa forma. Pra gente que estava acompanhando isso como mídia livrista e que tava postando isso nas redes sociais o tempo todo era muito interessante porque chegava foto que a gente não tava buscando. Chegava de cidade que a gente não conhecia, de gente que a gente nunca ouviu falar, e gente mandando e-mail e falando “ó tá rolando aqui também e criando evento no Facebook e foi uma coisa que se espalhou de uma forma muito brutal né (00:01 à 00:44)
Off 11: Vândalos, mascarados, ou baderneiros. Desde o começo das manifestações a mídia tradicional foi acusada de criminalizar o movimento. No auge dos protestos, um programa de grande apelo popular apresentado pelo jornalista José Luiz Datena deixou isso explicito. Sonora Datena
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(00:30 à 01:08) depois (01:17 à 01:35)
Sonora Luiz
00:45 Pegando em contexto, eu acho que, os vinte centavos né, o meme todo que a imprensa criou em cima disso, ele foi muito importante eu não sei se foi um tiro no pé ou se foi uma coisa intencional. Mas assim no começo das manifestações que quando eu tava em SP principalmente, a imprensa como um todo, se pegar a imprensa como um todo mais a imprensa tradicional né. O Jabor, o Datena, todo mundo que tava falando sobre aquilo, tava criminalizando né, falando que eram vândalos. Agora eles tão fazendo de novo, mas em determinado momento eles tentaram cooptar tudo aquilo. 01:18
OFF 12: Tentativas de desqualificar as pautas e os manifestantes surgiam a todo o momento. Uma das falas mais emblemáticas é a do jornalista Arnaldo Jabor durante o jornal da Globo do dia 18 de junho de 2013.
Sonora Arnaldo Jabor Jornal da Globo
OFF 13: Quatro dias após essa declaração e diante da repercussão negativa nas redes sociais, Jabor faz uma retratação pública na rádio CBN.
Sonora Arnaldo Retratação
(00:03 à 00:56)
OFF 14: Os comentários de Datena e Jabor que acabamos de ouvir deram ainda mais força ao movimento
Sonora Luiz
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01:47 Mas isso tudo contribui muito pra memetizar essa questão nas redes sociais. Então quando o Jabor ia lá e falava ah não é só 20 centavos, ou é só 20 centavos por causa de burguês que não anda de ônibus. Isso aí inflamava muito dentro dos eventos e dentro dos posts.
OFF 15: Há mais de 10 anos em desenvolvimento no Brasil, a mídia livre, ou seja, a uma mídia sem filtros corporativo viveu especial ascensão durante as manifestações de junho. Malini fala um pouco das características desses novos mediadores.
Sonora Fabio Malini
04:27 Bom eu acho que tem aí toda uma discussão importante aí da mídia né, no campo eu diria mais amplamente da áreas de comunicação. Tem a ver com a emergência de novos mediadores da cultura e da comunicação. Esses novos mediadores da comunicação é claro que se formaram, numa cultura livre da internet. Essa cultura livre da internet, ela exige algumas características. 04: 58 04:59 A primeira a capacidade de você produzir conteúdo de qualidade em tempo real (05:06).
05:22 Segundo é a possibilidade de não existir nenhum tipo de filtro corporativo, sindical, jornalístico (05:30) 05:44 Terceiro como uma prática de rua que já há algum tempo estava abandonada também pelas narrativas jornalísticas tradicionais. A rua se transformou num lugar que se ia de vez em quando. Ou quando se ia, se ia desde um certo ponto de vista do poder. São aqueles jornalistas que ficam atrás dos policiais em grandes manifestações.06:12
OFF 16: Outra crítica feita à mídia tradicional e reforçada pelo filósofo Ricardo Pereira Melo foi a falta de debate e aprofundamento das pautas durante a cobertura dos protestos.
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Sonora Ricardo Pereira Melo
21:48 Talvez o papel da mídia né, que eu tenho acompanhado. As grandes mídias, os grandes monopólios que são financiados pelo BNDS por dinheiro que vem do governo. São infraestruturas inteiras de televisão que tem placas de financiamento público. E ai a relação da mídia com o grande capital, e essa relação basta você observar como foi a mídia diante das manifestações. Ela teve o momento de crítica no início. Aí ela viu que não poderia ir contra, na verdade apoia e ai ela começa a soltar uma série de quem seriam os vândalos. Ela pega questões muito particulares e esquece das pautas. Você pode ver que nenhuma mídia, pelo menos a que eu assisti, nenhuma mídia televisiva vai diante dos pontos, do que pode avançar, do que pode melhorar. (22:46)
OFF 17: Para Luis Felipe o contraste da cobertura entre a mídia tradicional e mídia independente ficou muito claro. Sonora Luiz 10:19 Então essa dicotomia, esse contraste ficou muito claro, entre o que a grande mídia tava cobrindo e o que a mídia independente tava cobrindo. Em muitos momentos a grande mídia precisou se utilizar de fontes de informação da mídia independente pra completar suas matérias. Então eu acho que isso gerou, não sei se foi só isso, mas assim, pelo menos cristalizou uma crise que já vinha sendo discutida pelo menos no meio da comunicação há certo tempo que é essa crise do jornalismo e da comunicação e da democratização da comunicação, enfim são poucas famílias, é uma linha editorial muito única. Todo esse debate que a gente tem sobre a mídia faz um tempo, acho que ele se expandiu e cristalizou pra muita gente que não tava envolvida e que começou a perceber isso de uma forma mais primitiva 11:02
OFF 18: Outra crise identificada dentro do movimento foi com relação a representação política. Em várias ocasiões manifestantes com bandeiras de partidos foram hostilizados e expulsos das mobilizações. O Ninja Luis Filipe considera crise positiva.
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12:33 Ficou claro por um lado a crise de representação dos partidos né. Ninguém queria camiseta de partido dentro das manifestações. Muita gente viu isso como um movimento fascista, como um movimento perigoso. As pessoas ficaram, principalmente as pessoas que estão envolvidas mais nesse meio político, institucional, eles viram isso como um movimento ruim né. Porque, enfim, os partidos eles representam o surgimento de uma democracia que é nova no Brasil, eles representam o meio mais, um meio mais, institucional de luta política, enfim, que vieram pós ditadura militar, mas eles também representam a politicagem, representam enfim, trocas que a gente não concorda muito, eles representam todo um meme que tem em volta do político hoje de corrupção, de isso e aquilo 13:27 13:28 Mas, eu achei bom por um lado que essa crise aconteceu, porque pelo menos trouxe um debate da reforma política à tona. Não foi pra frente à reforma que a presidenta Dilma propôs, mas esse debate veio à tona, da reforma política, da necessidade de financiamento publico de campanha e outros pontos. 13:46
OFF 19: No dia 21 de junho após mais de um milhão de pessoas tomarem às ruas a presidente Dilma Rouseff fez um pronunciamento em cadeia nacionalapontando a necessidade de oxigenar o sistema político brasileiro. 06:32 a 07:04 Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular. É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático. Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representantes. OFF 20: Malini enxerga a crise como dois mundos em conflito Sonora Fabio Malini
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Então essa dinâmica entre uma política muito hierarquizada baseada em caciques e uma política de redes extremamente horizontalizada, baseada num jogo de parcerias, elas se chocam, produzindo um efeito de desencaixe de uma sociedade que vive uma dinâmica baseada na sonegação de informação, na falta de transparência, na hierarquia das estruturas partidárias, por outra, que se ativa por conversação, por meio da ação direta, de certa horizontalidade. Porque eu o fato dos movimentos impedirem a presença de bandeiras vermelhas, azuis e amarelas, ou qualquer outra bandeira que lembre partido político ou movimento sindical não significa uma recusa, ou negação por completo dessas estruturas se não uma critica dura, firme, de que essas estruturas ao se colocarem em determinada situação traem as suas próprias bandeiras. Na hora de apertar a mão do Maluf, não há bandeira que foi requerida, pelo contrário ela foi esquecida no banheiro de casa.
SONORA JOÃO PAULO CUENCA Apresentação: Você ouviu o documentário radiofônico Facebook: o papel da rede social na articulação das manifestações em junho de 2013 em Campo Grande, desenvolvido pelas acadêmicas Laura Toledo, Luana Campos e Mikaele Teodoro, sob a orientação da doutora em ciências da comunicação Daniela Ota, com o objetivo de conclusão do curso de Comunicação Social, Jornalismo da Universidade Federal de Mato grosso do Sul. Sobe música (Emicida)
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ANEXO 3 - QUESTIONÁRIOS
Questionário aplicado aos manifestantes
Qual seu nome e idade e profissão? É ligado a partidos políticos, sindicatos ou coletivos? Como soube das manifestações em Campo Grande? Sem as redes sociais seria possível mobilizar essa quantidade toda de pessoas? Já havia participado de manifestações de rua? Qual a diferença entre os manifestantes daquela época e os de hoje? Qual a sua principal reivindicação? O que acha da mistura de pautas?
Questionário aplicado aos pesquisadores e ao midialivrista As redes sociais foram o estopim das manifestações de julho de 2013?
Qual a relação da midialivre com as redes sociais e a importância disso tudo para junho
A diferença do militante, ciberativista para o “militante tradicional” houve uma migração deles para as redes?
As manifestações e a as redes sociais fizeram com que a imprensa tradicional fosse desmascarada e delimitou seu espaço de atuação?
As manifestações forçaram tocar a estrutura da TV que nunca foi tão tocada?
Falta liderança de esquerda que gera ojeriza?
Dispersão de pautas pode ser considerada natural e costumeira nessas manifestações?
Junho deixou claro o fim da polaridade direita esquerda e uma crise identitária?
Esse movimento balançou as estruturas do conservadorismo dominante no Brasil?
O que fica de resultado estrutural no país, na comunicação/ Haverá o rearranjo de forças políticas?
De algum modo aconteceu o despertar da população para a política e para a importância de lutas nas ruas?
Que importância as redes sociais tem para o mundo hoje, para o Brasil hoje?
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ANEXO 4 - DECUPAGENS Entrevista Fabio Malini: Qual a importância das redes sociais na articulação das manifestações de junho de 2013 Bom eu acho que as redes sociais ela tem uma importância enorme nessas manifestações que aconteceram. Não apenas como um espaço por onde as informações e a articulação e organização dos processos aconteceram dos protestos aconteceram, afinal foi ali que surgiram os eventos mobilizadores. Foi ali que surgiram os canais participativos, que as pessoas produziam as informações sobre o que acontecia na rua, mas, além disso, o espaço, como espaço de distribuição da informação ela foi um lugar de produção também de manifestação. Então ali surgiam vários canais, sites, blogs, tumblers, etc. que tentavam criar algum de articulação paralela para gerar pressão política. Eu acho que isso não advêm apenas de um de algo totalmente episódico ou algo espontâneo. Pelo menos nos últimos três anos que há uma toma de micro indignações no Brasil que passa pela questão indígena, passa pela questão das minorias, passa pela questão da crise e falência dos métodos da democracia representativa nas suas estruturas mais importantes como o poder legislativo e o que aconteceu com o mensalão, compra de votos e etc. passa pelo desejo de radicalidade de informação transparente, passa também pela questão da mobilidade urbana, pela questão do transporte público de qualidade, etc. Então as redes sociais elas já há algum tempo se transformaram nesse espaço de produção e difusão de informação e também como produção, desculpa, distribuição de informação e também como produção de movimento, vários movimentos, há de se destacar dois pelo menos, os Black Blocks que surgem e se articulam na redee um nato da rede que são os anonymous, os anonymous tropicalizados em diferentes versões, anonymous RJ, anonymous SP, anonymous PE, anonymous DF, anonymous ES, então é isso, né.
Sobre a nova maneira de se compartilhar conteúdo: caminho alternativo para a mídia tradicional
Bom eu acho que tem aí toda uma discussão importante aí da mídia né, no campo eu diria mais amplamente da áreas de comunicação. Tem a ver com a emergência de novos mediadores da cultura e da comunicação. Esses novos mediadores da comunicação é claro que se formaram, numa cultura livre da internet. Essa cultura livre da internet, ela exige algumas características.
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A primeira a capacidade de você produzir conteúdo de qualidade em tempo real com as vozes minoritárias da sociedade que muitas vezes são bloqueadas pelo silencio dos jornalistas e da mídia tradicional. Vamos também colocar os jornalistas nessa conta Segundo é a possibilidade de não existir nenhum tipo de filtro corporativo, sindical, jornalístico que inviabilize qualquer pessoa ter a capacidade de produzir informação sobre algum acontecimento público de grande abrangência 05:43 Terceiro como uma prática de rua que já há algum tempo estava abandonada também pelas narrativas jornalísticas tradicionais. A rua se transformou num lugar que se ia de vez em quando. Ou quando se ia, se ia desde um certo ponto de vista do poder. São aqueles jornalistas que ficam atrás dos policiais em grandes manifestações.06:12 O que a gente viu então, uma certa confusão, no estilo positivo do termo, entre a capacidade de narrar trazida pelos dispositivos todos que as redes e as tecnologias nos dá ou nos dão, ou dá a alguns, ou dá a muitos. Essa capacidade de se aparelhar com ferramentas de publicação em tempo real de um lado e do outro um amadurecimento do midiativismo, do midialivrismo que passa a narrar com a sua audiência e ao mesmo tempo que se amplia essa audiência. Então não se trata simplesmente de narrar isoladamente. A audiência participa enviando fotos, comentários. Tem uma série de questionamentos que são novos de uma certa perspectiva e que se amadureceram com os protestos de junho. Então quando junho chegou, esse midiativismo já estava madurecido 07:20 Então o que aconteceu com junho para os midialivristas foi a ampliação da audiência. Realmente a audiência de vários canais cresceu muito. Protesto Belo Horizonte, por exemplo, feito por estudantes de jornalismo que administravam a página no Facebook: 100 mil usuários. E é claro o mais paradigmático de todos a mídia ninja chegando com duzentos mil usuários acompanhando em tempo real então isso é uma mudança importante no cenário brasileiro que é uma mudança que se inicia, que se inicia e que de uma certa maneira contamina já vários lugares da sociedade não o público que passa a compartilhar aquilo que é produzido, mas também encoraja outras pessoas com ou sem formação em jornalismo a produzirem com qualidade aquilo que vozes minoritárias ou as vezes majoritárias querem expressar.
Qual o perfil dos manifestantes?
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Gosto muito do termo da Ivana Bentes, o movimento dos desorganizados. Claro que fazendo uma critica, ironia, a sociedade civil desorganizada. Então não é um movimento da sociedade civil organizada, é um movimento da sociedade civil desorganizada. Ou seja, não está aparelhado com nenhum partido político, nenhum sindicato, nenhum partido político. São na verdade os precários, aqueles que ainda não teve a oportunidade de estarem empregados, jovens que vêem seu futuro pela frente e querem mais direitos. Uma parcela de jovens universitários mais críticos que reivindicam novos direitos. Vários ativistas ligados a movimentos novos, em termos de grande popularidade no Brasil, ativismo gay, GLBTT, ativismo ligado meio ambiente. Um grupo bem heterogêneo, mas que tem essa característica de não estar mediado fortemente por esse aparelhamento tradicional que está em estado de falência há algum tempo e que as manifestações sepultaram. Sepultaram uma forma de fazer política baseada na boquinha, no aperto de mão, no beija mão, na chantagem para se ganhar edital. Ou seja, toda uma política quem tem sido construída para de certa forma incluir de forma abstrata e excluir de forma concreta, muita gente. O perfil é esse, a sociedade civil dos desorganizados, sujeitos precários da sociedade. Que reivindicam a radicalização dos direitos. Direito ao transporte, direito as a transparência, enfim, uma infinidade de pauta.
Após as manifestações houve alguma mudança no pensamento político dos brasileiros? Bem são duas questões né? Primeiro a questão da politização. Gosto muito do texto do João Paulo Cuenca, A mídia, os artistas, o medo e o silêncio, e ele termina esse texto, um texto lindíssimo, solto no contexto desse mês, e ele encerra o texto assim: “somos todos políticos agora. o silêncio é a sua mão suja.” Esse texto explicita, primeiro, a dinâmica brasileira, que é bem diferente da dinâmica turca, espanhola, da primavera árabe, que é uma dinâmica de reivindicação de direitos. A segunda é o fato de que os protestos no Brasil, o salto mais positivo deles, tenha sido a mudança de mentalidade política. Isso já é muito importante, já é um grande salto pra além das conquistas locais de cada estado, de redução de tarifa, de instituição do passe livre, ou mesmo o 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde, enfim, uma série de atos concretos que foi conquistado por essas manifestações, a mais importante delas é a mudança de mentalidade político. Hoje a gente continua sendo viralizado, contaminado, contagiado por uma Timeline muito política no Brasil, por que os protestos não sessão em vários
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locais do Brasil, e mesmo em locais em que sessão ou se abrandam a nossa Timeline é permeada por pessoas de outros estados, ou por colegas mais atentos a dinâmica de outros estados que ainda tem protestos que acabam compartilhando e a gente tem acesso ao que tem acontecido. Então a questão política passou a ter certa tolerância mesmo daquelas pessoas que são mais iconoclastas, ou seja, que riem de qualquer discussão política. Sem dúvida alguma, uma das nossas maiores conseqüências é o volume de assuntos políticos que viraram a discussão do momento nos últimos três, quatro meses. Começa do tarifa zero e hoje estamos discutindo uma Timeline do por que você atirou em mim?”, se referindo ao policial que atirou no menino. Então veja, Essa mudança de mentalidade, de questionamento critico não terminou ainda. Então, temos esse saldo, um belo saldo, de discussão política, e como temos um ano eleitoral ainda a chegar, essa questão não vai sair.
Sobre a discussão dos textos não lidos, etc. Eu tava analisando as principais fan pages de protestos no Brasil um das curiosidades é ver que os posts mais lidos, de muitas dessas fan Page, mais lidos não, mais curtidos e compartilhados e comentados, são posts de texto puro. Isso é muito interessante, por que vai contra a superficialidade, da leitura, e ao contrário, as pessoas estão atentas a depoimentos, a testemunhos que muitas vezes não tem registro em vídeo, em foto ou áudio. Então quanto mais a gente ficar atento a essa estrutura nova de mídia, mais a gente nota que mais escritores, mais repórteres textuais surgem como sujeitos políticos que fazem um novo tipo de mediação de cultura e comunicação. Essa é uma tese muito interessante, por que não se baseia simplesmente em um chute. Baseia-se já na constatação quantitativa do volume de posts e a identificação dos textos como aquilo que é mais lido e compartilhado. Crise de representatividade e 2014: Eu acho que nós a gente vai ter vários surtos, vários picos de protestos sobre tudo por que há varias situações controversas ainda não resolvidas no Brasil. Por exemplo, que possivelmente vocês conhecem muito aí em Campo Grande, que é a essa relação do agronegócio e as populações indígenas, que é uma questão muito mal resolvida no Brasil, e a atual política brasileira é muito hostil as populações indígenas. Hoje inclusive um desembargador federal acabou de dar uma liminar solicitando a paralisação de Belo Monte, por exemplo.
Então
questões como esta, e questões ligadas ao passe-livre, ao direito das mulheres e etc. que é algo bastante discutido no Brasil, a policia que é uma coisa bastante questionada. Enfim, são tantas
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coisas bizarras no Brasil que me parece que vamos ter momentos intensos e momentos de certa calma, momentos intensos e de certa calma. Teremos a copa, isso vai voltar na Copa e em seguida vêm as eleições. Então eu acho que é isso, acho que tem uma dinâmica acontecendo e quem vem estudando a dinâmica das redes a gente tem a percepção não apenas de in site, mas a percepção cientifica de que é muito corriqueiro que a emoção produzida pelos twittes, pelos posts, pelas atualizações de status, pelos compartilhamentos produza uma emoção na rua, a rua produz a emoção que produz mais posts, mais compartilhamentos, mais curtidas, cada vez mais blogs, enfim, produz uma série de criações digitais e isso leva mais gente a compartilhar o que leva a um circulo vicioso do ponto de vista dos movimentos sociais e um circulo de forte pressão pros políticos e empresários que se vêem numa situação de que uma quantidade muito grande de pessoas em uma velocidade intensa é capaz de produzir na rua e na rede níveis de indignação que acabam por obviamente romper qualquer pacto já estabelecido pelas estruturas de poder no país. Eu acho que essa é uma questão interessante a gente ta num circulo de mobilizações no Brasil que se iniciou em julho e vamos ver quando vai acabar. Talvez possa acabar com a eleição de um novo presidente, talvez possa acabar com adoção de medidas mais democráticas, planos de diferentes governos, pelas políticas do congresso, ampliação da justiça social no Brasil Acho que é um pouco por aí. Dificuldade das estruturas políticas entender as ruas e as redes Olha, acho que isso tem muito haver com o fato de a política Brasileira tem sido feita por grandes caciques. Os partidos no Brasil se formaram, muitos deles, em verdadeiras maquinas de aluguel para que pactos pudessem ser feitos. Em pouco tempo foi aprovado dois partidos políticos pela justiça Brasileira que não tem nenhuma consistência programática. Então, essa falência no sistema político tem explicitado essa dificuldade desses setores compreendam como é o funcionamento, como é circuito potente das redes, por que as redes é ação direta, a rede não passa por nenhum intermediador, não passa por nenhum português hyper que vai estabelecer o que deve ser discutido e o que não deve ser discutido. Por isso é que os políticos odeiam internet, porque é o espaço de franqueza que eles negam, eles adoram remover conteúdo da internet. Então essa dinâmica entre uma política muito hierarquizada baseada em caciques e uma política de redes extremamente horizontalizada, baseada num jogo de parcerias, elas se chocam, produzindo um efeito de desencaixe de uma sociedade que vive uma dinâmica baseada na sonegação de informação, na falta de transparência, na hierarquia das estruturas partidárias, por um outra, que
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se ativa por meio conversação, por meio da ação direta, de uma certa horizontalidade. Então são dois mundos em conflito. E sem duvida alguma ninguém quer voltar a viver em um mundo hierarquizado, ninguém quer viver em um mundo extremamente intermediado por figuras de poder que injeção determinadas liberdades políticas, civis e econômicas. Então esses caras não produzem mais uma tendência do que vais ser a política no mundo. E é por isso que o João Paulo diz que chegou a hora, somos todos políticos no Brasil. Quem se silencia se silencia para esse futuro E esse silencio não é só a mídia que faz, o silencio também é aquilo que a gente vê muito nos perfis da timeline que não se colocam politicamente muito em função de regalias, funções, boquinhas, e etc. Então eu acho que essa é uma questão muito interessante muito importante que a gente vive no Brasil que não passa simplesmente pela contestação da estrutura de poder vigente mas de uma critica de nós mesmos. Manifestações balançaram a estrutura conservadora do Brasil? Eu acho que balançou toda a estrutura política brasileira, toda estrutura republicana, a justiça brasileira está em questão. O poder legislativo está em questão, os poderes executivos estão em debate, não há nenhum deles que não tem um a crítica como formas políticas que são ineficientes que não são radicalmente democráticas, não estabelecido paramentos populações mais miseráveis como prioridade. É claro que existem ao mesmo tempo, aqueles que estão em seus espaços e interpretam essa dinâmica, fazem a sua auto-critica e dando resposta que acolhem esses direitos, Mas não me parece que isso ainda forte como tendência geral da política brasileira. Sequestro de pautas Bom, essa discussão de que o protestos no Brasil foram hegemonizados por um discurso mais reacionário surgiu de uma rede esquerdista sem compromisso com mudanças mais radicais no país. Sobretudo por que são grupos que vivem dos governos que estão colocados no Brasil independente se esses governos destroem povos indígenas, enfim. Essa tese foi destruída pelos próprios movimentos, por que foi destruída? Porque eu o fato dos movimentos impedirem a presença de bandeiras vermelhas, azuis e amarelas, ou qualquer outra bandeira que lembre partido político ou movimento sindical não significa uma recusa, ou negação por completo dessas estruturas se não uma critica dura, firme, de que essas estruturas ao se colocarem em determinada situação traem as suas próprias bandeiras. Na hora de apertar a mão do Maluf, não há bandeira que foi requerida, pelo contrário ela foi esquecida no banheiro de casa. Então essa é que é uma questão importante a ser colocada. Então é uma tese que foi uma tese superada, a gora por um
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lado você tem uma estrutura de poder que não se compreende. Você vê agora pela situação do Coronel da PM em São Paulo e o menino que foi morto por um policial, em que a presidenta da república, o ex-governador José Serra e a ministra dos Direitos Humanos se colocaram em solidariedade ao Coronel da PM e em relação ao menino que foi morto em São Paulo ninguém prestou solidariedade. É essa política que está em desencaixe, totalmente em desencaixe. Uma policia que criminaliza, os Black Block que querem botar em pauta dos direitos firmes e radicais e ao mesmo tempo a policia que mata cotidianamente vários Amarildos. É esse elemento que está em discussão. Ou seja, um discurso de ordem, por que parte-se do ponto de que a ordem traz paz, e o discurso de que só a justiça traz paz. A ordem não traz paz, a ordem traz uma paz que é estruturada a partir do medo. A justiça traz paz, ela que condiciona a paz. Enquanto existir um país que provoque muitas injustiças, não há possibilidade alguma de paz. Então essa é que é a questão que estamos vivenciando. Essa é a questão que os grupos mais a esquerda, os esquerdistas, e também os setores mais reacionários não compreenderam muito bem. Polaridade direita x esquerda no Brasil Eu acho que os pontos de vista mais libertários e os mais conservadores vão continuar existindo. Até por que as estruturas partidárias tal como estão no Brasil não vão mudar em 2014. Então as posições políticas ideológicas continuam também existindo. Há diferenças entre o PT, PMDB,PST Solidariedade,PStU PSOL, é claro que tem diferenças é claro que tem proximidades ideológicas em diferentes planos e repulsão ideológica em outros. Portanto varias polaridades aconteceram. O que me parece que os protestos produziram foi o rompimento das polaridades constituídas de governo e oposição como estava acontecendo no Brasil. Aqueles que eram contra o Mais Médicos eram necessariamente tucanos e os favoráveis eram necessariamente petistas, não. O que eu acho que aconteceu foi a entrada de um novo conjunto de forças desencadeadas por esses desorganizados que vão criar pautas novas que não estavam presentes nesses dois pontos de força. De fato isso já aconteceu, a rede tornou visível esse conjunto de força e agora a política brasileira tenta interpretar esse terceiro conjunto de forças que não é a Marina Silva, que não é o Eduardo Campos, mas que é a rua. Eu não vejo nenhuma semelhança com essa dimensão do tambor McLuhiano com as redes. Eu acho que as redes, na lógica dos perfis conectados de forma generalizada na internet, o modo como essa sociedade de perfis é o modo de informações baseadas em tempo real, que se relaciona, que se compartilha e que se difunde de maneira muito rápida e também dependendo da
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discussão que se propõe. Eu acho que o rádio tem elementos lembram essa sociedade de perfil, o rádio tem essa capacidade de transmitir com rapidez certas informações. No entanto, quando estamos falando do radio, do rádio jornalismo, não me parece que essa velocidade acontece de forma concreta. Isso muito em função da maneira como as estruturas comerciais, financeiras e editoriais de rádio estão montadas. Então muitas vezes um fato está ocorrendo 9 horas da manhã em um determinado lugar, só que nesse mesmo horário está rolando uma programação nacional, então até começar se dá um certo tipo de tempo. Mas ao mesmo tempo me parecem mundos totalmente diferentes. Até mesmo por que o Rádio requer um mediador ou poucas pessoas que vão que vai autenticar a informação, e a rede não tem esse mediador. A rede é uma estrutura dos muitos, de uma narrativa monstruosa, por que ela depende dos muitos se articularem tanto para fazerem difundir uma informação, quanto checar a veracidade dessa informação também muito rapidamente. Então são universos muito diferentes. E claro que muitas vezes a gente tende a associar uma coisa a outra, até porque a rádio também está na internet, mas essa transposição de veículo para a internet faz mudar a forma como ele se estrutura. Por isso muitas vezes, em geral, quem alimenta o site na rede não tem nada a ver com quem faz a produção dos conteúdos jornalísticos da rede. Isso mostra a verdadeira fissura geracional de mundos, o mundo de um jornalismo tradicional que ainda acha que sozinho é capaz de mudar ou formar a opinião alheia e o outro mundo de um cara que ta ali organizando a difusão do que ta passando ali na rede e vê passar por ele uma série de narrações diferentes das suas mas que também não pode replicar por que o jornal não pode encampar um LP, um compartilhamento, o jornal não pode comentar. Por que ele pensa como um político que acha que só ele é capaz de produzir a verdade da informação, ou ele ou qualquer engajamento de qualquer causa só acontece quando essa causa é absolutamente conservadora. Acho que isso que é a questão que temos colocado e visto acontecer. Solidariedade Eu acho que é da natureza do movimento social produzir solidariedade, é da natureza do movimento social, o amor, a amizade a relação de suspensão de qualquer nível de intolerância, é chover no molhado, acho que o Sérgio tem razão quando diz isso. Acho que a rede foi mais que isso, ela foi condutora de novos conflitos, novas temáticas novas ações ela foi inovadora em trazer novos atores políticos. Ela reverberou apenas solidariedade, ela reverberou indignação, conflito, raiva, essas questões tão importantes pra além da moral e religiosidade franciscana.
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Facebook e sua importância É eu acho que o Facebook foi uma das, é claro que a gente esta mais conectado ao Facebook por ele nos toma mais ação. Me parece que no Facebook as pessoas ocuparam um lugar nas suas próprias timelines, óbvio, mas toda a potência do face estava no nível de compartilhamento das revoltas, que tem a ver com a movimentação das nossas timelines ou aquilo que o Facebook mais negava ou os próprios usuários detestaram, que é a notificação de eventos. O evento se tornou um lugar por onde passa a ação política dos protestos, o evento se tornou uma grande praça, por que a praça é o local por onde você passa e em geral não conhece as pessoas que estão por ali. E o evento era um lugar que você via pessoas que não eram pessoas da sua timeline. E isso foi interessante por que também permitia que a gente saísse um pouco da saturação do outro que habitam a nossa timeline. Então o Facebook foi importante para expressar essa revolta, compartilhar essa revolta, mas ao mesmo tempo em lugares muito meados por usuários do Facebook, o evento. Isso é uma coisa muito legal de observar, porque de certa maneira aquele lugar ali é o local originário da internet. As comunidades virtuais, as comus como se dizia no Orkut, os fóruns da internet, são lugares do encontro do povo. O local daqueles que não se conhecem que passam a se conhecer, a se gostar ou a se odiar. Como é o caso do menino aí que criou o evento e 40 mil pessoas participaram e você passava a reconhecer aquela figura mesmo que momentaneamente e até na rua.
Entrevista com Ítalo Gusmão Durante a preparação dos atos em Campo Grande houve uma entrevista coletiva dos organizadores no Comando Geral da PM, o que aconteceu? Eu tinha reparado no dia anterior que ia ter a coletiva e eu falei pro pessoal olha vai ter a coletiva e tal, vamos tentar sair antes da coletiva, porque assim, não faria diferença, já estava sendo um boom mesmo. Todo mundo já ia participar de qualquer maneira, não precisava da coletiva. Mas o próprio pessoal lá recomendou, achou que era uma boa e também não deu nem tempo. A gente saiu e o pessoal já veio em cima já, e já queria saber como ia ser, porque ia ser, quando ia ser e como ia ser, então a gente já falou bom Tanto é que eu nem fui nessa coletiva porque eu não queria me expor mais do que eu já estava me expondo e aí me falaram, não, vamo! Vamo! E eu falei não, vai vocês. Falei eu já dei muitas entrevistas mas não quero dar mais minha cara assim. E aí foi, eles deram a coletiva lá e aí foi...
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É justamente na intenção só de trazer segurança É informar as pessoas de casa que fossem ver e tudo mais, aí teve muita gente que começou a criticar, ah não sei o quê, promoção pessoal e nãnãnã. Essa mesma pessoa que criticou assim é normalmente quem queria estar lá né, queria que fosse a carinha dele na mídia lá. Muita gente que eu notei é isso, porque a primeira oportunidade que teve, o primeiro microfone que tinha na frente ele ia lá. Eu cheguei a ver pessoas pedindo entrevista. Eu vi ele chegando na jornalista e pedindo entrevista. E essas mesmas pessoas eram as que criticavam e falavam muita coisa e blábláblá é promoção pessoal deles é não sei o que, entendeu e não foi promoção pessoal. Tinha que falar porque eu criei e se eu me omitisse o pessoal ia falar, ah o cara que criou ta se omitindo aí. E ninguém lá fez nenhum tipo de promoção pessoal a gente só falou do trajeto mesmo e como seria o esquema de segurança. Sobre a imagem negativa que a mídia fez deles Não foi geral, foi só um site ou outro... Teve um site que foi muito imparcial que eu gostei bastante foi o RBV que ele nunca colocou a gente como líder e esse foi o grande erro. Teve muito site que colocou a gente como líder e a gente nunca falou isso, nunca nunca e as pessoas estavam abominando essa palavra líder, organizadores, acaba ficando tachado mas quando me perguntavam, não o que que você é? Cara eu criei o evento só isso. Culpa da mídia em geral? Não. Foi associação errônea de um site ou outro que tem popularidade aí acaba gerando isso né? Pessoa lê, se deixa levar, não confirma a fonte, nem sequer assiste a entrevista, só lê a matéria. E a entrevista foi dada pra vários telejornais, não foi só pra jornais, então você podia confirmar o que a pessoa falou. Mas a pessoa ia lá compartilhava, criticava ou não, entendeu. Eu sei que foi complicado. Você acha que por não fazer parte de movimentos sociais tradicionais do estado pode ter sofrido algum descrédito? As vezes justamente por não ser de um movimento tradicional é que vocês estão sendo tão criticados, porque vocês não tem história, vocês não tem credibilidade nenhuma ainda, entendeu. Então quem são voces? Meu amigo falou. Por isso que as pessoas talvez tenham caído em cima da nossa imagem. Essa é uma nova geração de movimento social. Você vê que a cada vinte anos o Brasil sofre uma revolução. Nó tivemos ai quando nós nascemos.
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Você vê ali que aproximadamente quando você nasceu, quando nós estávamos nascendo a gente teve o fora Collor né que foi os caras pintadas. E antes disso toda a luta pelo processo de redemocratização. Então a cada geração o Brasil sofre uma mudança ideológica. A gente ta na revolução da representatividade agora eu acredito na minha opinião. Esses movimentos talvez de alguma forma tenham ficado retrógrados. Sirvam agora a outras classes e não a nossa, a nossa ideologia, a nossa linha de pensamento. Não que eles deixaram de representar totalmente mas que existem novos ideais que as pessoas identificam mais. Não que nós vamos ser propulsores de grandes movimentos sociais. Não isso foi um acaso que o Brasil se juntou pra fazer diferença. Mikaele questiona a ligação deles com partidos, se é possível articular um movimento partido da sociedade civil desorganizada. Se você parar pra pensar as pessoas criticam muito partido político, mas poucas pessoas entram nos partidos políticos pra participar. Se você não entra pra mudar você vai ficar criticando quem ta La fazendo? É quase que um pouco o ditado, se você não ta achando bem feito vai e faça você mesmo. Faça política, não fica criticando só do seu sofá. Não adianta você ficar em casa criticando se você não ir lá e participar. Participa da reunião, vai lá na câmara, o microfone ta aberto pro cidadão. O cidadão vai lá e emite a opinião dele. Então não adianta nada você criticar. Por exemplo na nossa organização, tinham várias, na nossa organização tinha uma pessoa que era filiada a partido político, mas nunca discutiu-se partido político. A gente não tava nem aí. Entendeu? Desde fosse uma extrema esquerda, de extrema direita, tanto é que vários grupos assim se juntaram, uniram forças, mesmo que quisessem se quebrar no pau depois, eles estavam lá, fazendo força pra sociedade ver. Não! Vamos fazer diferença, vamos fazer aquilo lá, vamos manifestar. Não tinha nenhuma visão política. Mas talvez alguém de outra ideologia política... Política partidário lá tinha 80%. 80 % era partidário, filiado a algum partido, esquerda ou direita, meio cima, em baixo, mas isso não interferiu de certa forma. Tinha gente que tentou denegrir e tudo mais. E mas isso são coisas. A gente conseguiu lidar depois, a gente soube lidar porque Cara a gente vê a imagem do nosso amigo ser espalhada, sei lá teve mais de 100 compartilhamentos e as pessoas nem liam o que estava escrito, nem se davam ao trabalho de pesquisar fonte, nem liam a matéria nem nada e acabavam com ele. Então isso é muito perigoso sabe. Não é saudável você pegar a imagem de uma pessoa que você nem conhece e detonar só
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porque ele é filiado a partido político. Eu me senti mal por ele, eu me senti péssimo, eu fiquei com medo de ficar, de aparecer na manifestação e ser linchado por causa de uma coisa dessas.
Entrevista com o Mestre em Filosofia Ricardo Pereira Melo
Qual a diferença de pautas e dos manifestantes das gerações passadas para esta? É difícil traçar um perfil, até porque eu não pesquiso a década de 60 até agora. Mas talvez a principal mudança de perfil é o longo processo de luta política que houve ate 1964, se você pegar mesmo do período Vargas com a ditadura houve uma série de manifestação. São Paulo foi palco na década de 30 contra o varguismo, o tenentismo que também estava dentro desse movimento, as ligas japonesas, inclusive grupos evangélicos, principalmente católicos, então houve uma grande marcha nessas manifestações ate chegar 64. Então eu, na minha leitura, essas marchas diem que foram bloqueadas na ditadura e retomam agora. Na verdade é um início de outras marchas que podem vir a acontecer. A minha análise é o seguinte, atual o nível que eu chamo dentro da teoria muito do nível que a gente chama de circulação. É muito no nível do que? Do comércio... nível da nossa vida cotidiana que ataca, mensalidade escolar, alimento, custo da moradia, custo do transporte, na minha leitura seria como ganhar mais determinações, quando começa avançar onde é o nível de vida da população que é o trabalho. Ele está num nível ainda do consumo, que eu chamo de circulação e não avançaram no nível do trabalho. Qual seria o nível do trabalho? O nível do trabalho é o salário propriamente dito. Você que não houve nenhuma manifestação com a classe trabalhadora. Houve, mas alguns dias quando as manifestações no Brasil na verdade diminuíram a CUTE junto com as outras centrais sindicais e chamaram a greve geral, mas que pouca repercussão teve. Talvez essa que seria uma grande mudança, não é no perfil, mas é que agora, na minha leitura, estaria começando um ciclo de manifestações que ainda está no nível do consumo.
O senhor citou a CUTE e outros movimentos sindicais... umas das marcas da jornada de junho é uma crise de representatividade, uma negação dessas instituições mais tradicionais. Isso não seria uma falha, não ter acontecido essa greve geral ... no sete de setembro não ter tido uma grande manifestação. Isso seria um rompimento, uma característica dessas novas manifestações?
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Como o nível do consumo, que eu chamo de circulação, ´w um nível ainda muito indeterminado no ponto de vista político, é muito comum a gente chamar, ao invés de algo determinado do ponto de vista político. É muito comum a gente chamar ao invés de algo determinado , uma greve, uma organização... a gente chamar apenas “a massa vai às ruas”. Massa é uma coisa muito indeterminada, mas ali que teve um certo perfil como você levantou, de grupo que estão contra partidos. Mas isso eu vejo, não só eu, como vários pensadores, a gente vê ai essa crise de representatividade também como uma grande crise política por que quando você nega política e chama a nação, isso o nazismo, o fascismo e a própria ditadura militar fez isso muito bem. Então é muito comum, como na minha fala que vocês assistiram, eu trouxe uma imagem do globo né e eu falei que as mesmas falas que foram feitas nas manifestações que é o segundo momento das manifestações que era contra qualquer partido, “o meu partido é a nação”. Então isso também eram bandeiras que foram levantadas um dia depois do golpe militar. Então a não representação, não significa algo melhor, pode significar um rumo aberto para a série de pessoas que vão apropriar dessa fala e viver uma... o que é uma nação unida em torno de uma projeto que nós mal sabemos que não é uma ditadura militar. Então os partidos vão ter que repensar, recriar em uma aproximação cada vez maior com o que a gente chama de massa. Então é isso que vem ocorrendo de maneira ainda muito tímida, que vem ocorrendo essa aproximação dos políticos com as massas.
O senhor acha que há uma dificuldade por parte dos políticos entender essas demandas, entender essas massas? Não, acho que não é questão de entender, eles entendem muito bem quais são as contradições que eles vivem ai nos bairros, caso nosso de Campo Grande, bairro , favelas, não vou dizer favelas, mas semi favelas que nós temos aqui. Eles sabem da dificuldade, o problema é que massa calada é um prato cheio para a corrupção, é um prato cheio para a não discussão. Então quando essas discussões saem lá dos bairros, das periferias, nas grandes cidades e vem para o centro onde você consegue conglomerar várias pessoas e o protesto isso assusta bastante. Então não é falta de informação, é o peso da luta dessa manifestação.
E trazendo um pouquinho para as redes sociais. Qual a importância das redes na articulação disso tudo?
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Realmente ocorreu pela internet, principalmente o facebook né. É uma nova tendência que a gente vai observar nos próximos anos. É uma forma como vocês estão estudando na área do jornalismo, mas era comum as manifestações serem chamadas pelas greves ou pelos jornais dos operários que reduz muito, por que? No Brasil, você tem centrais sindicais que recebem dinheiro do governo, são de certa forma ligada ao governo. Então há um grande bloqueio você circular jornais operários que chamam greve geral como um apelo contra o governo. Há uma limitação para isso. Então começou algo muito indeterminado que é o facebook que não tem uma relação política direta, uma representação direta de classe, você começa jogar informações e essas informações chegam de pessoas desde o desempregado a estudantes, a intelectuais, a o que for. Então as pessoas vão as ruas que é uma massa que tem como ponto incomum o que eu chamei dá de consumo de circulação. A gente não pode menospreza o que é tradição nas histórias das manifestações que são jornais de cunho sindical, de greve, não é que acabou, houve na verdade no Brasil um bloqueio de anos nas centrais, primeiro chamado dos sindicatos maiores e de 2006, 2007 pra cá, centrais sindicais. A censura pra mim é presente sempre. O facebook começou basta ver que no mundo inteiro tá sendo uma piada, as redes, a internet, basta ver países que conseguiram fortalecer isso muito bem como a chin. Você tem um centro imenso que pesquisa redes, internet, comunicação, e-mails e os Estados Unidos tá sendo agora também tá sendo monitorado porque ele monitorava uma série de países do mundo que não é só a Andy América, tava vigiando também os movimentos sociais, partidos políticos no Brasil, manifestações, movimentações. Então a censura é presente sempre. Agora tem uma grande diferença, quando esses meios de comunicações são apropriados pelo Estado pra fazer contra propaganda com a propaganda partidária. Isso pode acontecer de diversas formas, desde a censura a livros, censura a redes sociais, censura a páginas de internet, censura a professores, a estudantes, então a censura é muito presente desde o início da história, tem que sempre ficar antenado nessas novas formas de censura que podem ocorrer na rede.
O que fica de mudança depois das manifestações pra campo Grande, houve uma mudança ou ainda é muito recente para analisar? A gente tá marcando um primeiro movimento dessa massa ainda bastante indeterminada. Para quem participou das manifestações, que esteve lá no meio, sabe que eram jovens, mais velhos, aposentados, trabalhadores, diferentes tipos de classe no meio das manifestações. Na minha
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opinião, vai marcar apenas o início das manifestações tanto que continua em todo o Brasil, diferentes âmbitos. Então eu acredito que para Campo Grande essas manifestações devem continuar para os próximos anos sim por que essas contradições da vida urbana vão continuar, não serão resolvidas.
Sobre a aversão dos manifestantes a partidos e centrais sindicais mais tradicionais, o que demonstra essa característica do movimento? Isso mostra claramente que a objetividade que o nosso modo de vida que toso levamos que é a forma capitalista de produção e ela tem um ponto que ataca a todos que é nessa esfera que eu falo mais indeterminada tratada que é essa esfera que eu chamo de circulação. Ali quem consome são pobres e ricos, empregados e empregados quem tem dinheiro consome. Então naquele nível de produção da passagem atacava diversos segmentos da sociedade que reivindicavam a questão da moradia, dotransporte. Eram movimentos ligados ou por partidos ou não mas que tinham suas pautas. O que começou num ponto só que impulsionou essa manifestação é que todos levavam um tipo de vida que tá sendo massacrada há alguns anos, que o consumo nos últimos anos foi o que? Massacrados pelo endividamento e a redução do consumo do nível de vida da população. Enquanto o Brasil esteve em crescimento mesmo que pífio mas teve um crescimento em que as pessoas estavam empregada e gastando o seu salário durante os trinta dias que recebia e estavam vivendo muito bem não há motivo para manifestação. A manifestação fica na esfera ainda muito da generalidade. Agora quando ataca, esse nível da circulação ataca diferentes frações de pessoas, elas se reúnem em um pauta instantânea. Então cabe a esses movimentos fazer a leitura correta desse movimento e começar a entender a pauta maior e essas pautas muito particulares.
Os movimentos sociais, os mais tradicionais vão ter que se adaptar a esse novo momento? Acho que adaptar não seria o termo correto, mas precisam aprofundar a pauta. Não basta por exemplo a redução apenas da passagem de ônibus. É necessário entender as licitações que são feitas na cidade, são licitações públicas, deve ser visto qual é a taxa, é uma licitação então deve ter benefício público. Até que ponto que a taxa de lucro dessas grandes empresas são grandes monopólios ligados ao município, ao estado, aferem lucros acima doa contratos. Então na verdade não é readaptar e sim aprofundar a pauta.
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Você acredita no fim da polarização da direita e esquerda no Brasil, isso ficou evidente nessas manifestações? Então, quando a gente pensa em direita e esquerda no Brasil, pensamos que Pt seria esquerda e tudo que não é PT seria direita. Então é essa a leitura que nós temos. Mas é uma leitura muito incorreta. Porque a origem teórica dos dois maiores partidos que seria, tirando o pmdb, que seria o psdb e o pt, que disputaram nos últimos anos as eleições presidenciais, tem pontos teóricos muito similares, muito próximos a sua origem. É complicado a gente falar o que é direita e esquerda sem fazer uma reflexão do que é realmente a esquerda. É difícil fazer essa polarização.
E para o ano que vem, o que esperar dessas manifestação, elas deve continuar ocorrendo na sua opinião? Elas podem causar uma mudança estrutural na política brasileira? Mudança estrutural é muito complicado. Por que basta ver como está sendo feita por exemplo a copa do mundo e as olímpiadas no Brasil. Na verdade é pra financiar vários grupos que são financiados pelo BNDS, que é um dinheiro público, que é pra financiar grandes estruturas que tem destinações claramente privadas. Basta ver as obras de mobilidade urbana que estão sendo feitas no pais , mais de 50% não vão ser concluídas até 2014. Enquanto houver essas contradições que é a manifestação mais visível a ocorrer na cidade, essas contradições que eu acredito que vão continuar por longos anos, as manifestações vão continuar.
Sobre Campo Grande, foi uma grande surpresa cerca de 40 mil pessoas na rua aderindo ao manifesto? Se você for analisar Campo Grande é uma grande ilha. Você anda 100 km para qualquer direção a gente não ve grandes conglomerados de pessoas e pra gente achar qualquer cidade maior de 400 mil habitantes, você tem que andar mais de 500 quilômetros. Então na verdade, isso colabora muito para que uma cidade que é de médio porte, onde é muito claro os guetos políticos que tem aqui, no caso o PMDB polariza durante muitos anos. É muito fácil você conseguir uma hegemonia diante de determinados seguimentos da população. Se você tem hegemonia não há necessidade de protestos. Então você vê as pessoas vão às manifestações mas em geral que eu tenho acompanhado em Facebook, as pessoas foram muito satisfeitas nos anos do PMDB na prefeitura e nos anos do PMDB agora no estado.
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Depois dessa “onda” de manifestações em 2013, você que os jovens estão procurando se politizar mais? Eu acredito que sim. Porque aquele que não vê, que não tem experiência prática de uma manifestação, do que pode conseguir com uma manifestação, se não ocorre nada disso, o espírito do jovem fica parado, agora se ocorre, as massas andam em grande marcha, ela não para.
Mais alguma consideração que o senhor deseja fazer? Talvez o papel da mídia né, que eu tenho acompanhado. As grandes mídias, os grandes monopólios que são financiados pelo BNDS por dinheiro que vem do governo. São infra estruturas inteiras de televisão que tem placas de financiamento público. E ai a relação da mídia com o grande capital, e essa relação basta você observar como foi a mídia diante das manifestações. Ela teve o momento de crítica no início. Aí ela viu que não poderia ir contra, na verdade apoia e ai ela começa a soltar uma série de quem seriam os vândalos. Ela pega questões muito particulares e esquece das pautas. Você pode ver que nenhuma mídia, pelo menos a que eu assisti, nenhuma mídia televisiva vai diante dos pontos, do que pode avançar, do que pode melhorar. Então é o papel que a mídia vai ter e que vai ser maior ainda nas manifestações que podem ocorrer determinante para o movimento. Então a nova mídia que seriam os blogs põe modificar muito coisa. Apesar que as pessoas ainda, a grande massa da população não acessa. É muito restrito pessoas que gostam de ler e ver questões que fogem da mídia. O que na verdade elas estão preocupadas? Elas estão preocupadas em ver um programa que interprete a realidade pra ela de uma maneira mais fácil e simples. Esse é um papel, um desafio que vocês tem que enfrentar nos próximos anos. Essas falas, esses termos que são utilizados a mídia apoia, as pessoas indo para as manifestações com a bandeira do Brasil falando para tirar os partidos, dissolver o congresso, falando que todo mundo é corrupto, isso a mídia também apoia, a grande mídia. Basta ver que no golpe de 1964 também eles falavam que a mídia tava contaminada pelos chamados comunistas, a mídia tava contaminada contra a família, então, era necessário dissolver os partidos porque os partidos não traziam benefício às famílias. A massa, a maioria católica, então era necessário o que? Instaurar um novo governo que mantem a família. Por coincidência também estão vindo essas novas pautas de política, exatamente muitos termos parecidos, que é o que? A homofobia, o casamento gay, são exatamente pautas que não são de direitos amplos, mas que são de direitos restritos, de pessoas ligadas à grupos específicos no congresso que não
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interessa os grandes políticos ou as grandes confrontações. Então não à toa, que no meio das manifestações surgiram figuras históricas ligadas à ditadura militar que apoiaram as manifestações, como o Bolsonaro. Ele veio na mídia e falou que isso era importantíssimo. Então essa guinada da mídia, essas mudanças também tem que ser interpretado com muita cautela.
Entrevista com o mídia livrista Luiz Felipe Marques, integrante do coletivo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação)
COMO TUDO COMEÇOU Então começou com os vinte centavos ali em SP e cada manifestação vinha mais gente e a pressão policial só ajudava a aumentar o meme que tava se criando ali e isso foi pegando. Enfim indignações no brasil inteiro e foi pipocando de uma certa forma. Pra gente que estava acompanhando isso como mídia livrista e que tava postando isso nas redes sociais o tempo todo era muito interessante porque chegava foto que a gente não tava buscando. Chegava de cidade que a gente não conhecia, de gente que a gente nunca ouviu falar, e gente mandando e-mail e falando “ó tá rolando aqui também” e criando evento no facebook e foi uma coisa que se espalhou de uma forma muito brutal né? E aí, pegando em contexto, eu acho que, os vinte centavos né, o meme todo que a imprensa criou em cima disso, ele foi muito importante eu não sei se foi um tiro no pé ou se foi uma coisa intencional. Mas assim no começo das manifestações que quando eu tava em SP principalmente, a imprensa como um todo, se pegar a imprensa como um todo mais a imprensa tradicional né. O Jabor, o Datena, todo mundo que tava falando sobre aquilo, tava criminalizando né, falando que eram vândalos. Agora eles tão fazendo de novo, mas em determinado momento eles tentaram cooptar tudo aquilo. Que eram vândalos e que não sei o que, e que eram só vinte centavos e que era um bando de burguês, enfim, tentaram desqualificar de toda forma o início daquilo tudo né. E aí veio aqueles editoriais da Folha e do Estadão que basicamente liberavam a polícia a atacar os manifestantes. O que acabou dando errado porque atacaram sei lá, 15 jornalistas da Folha, mais 10 do Estadão e aí eles mudaram de postura na sequencia né? Mas isso tudo contribui muito pra memetizar essa questão nas redes sociais. Então quando o Jabor ia lá e falava ah não é só 20 centavos, ou é só 20 centavos por causa de burguês que não anda de ônibus. Isso aí inflamava muito dentro dos eventos e dentro dos posts. Ou então
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na questão da repressão policial. Saiu muitas fotos de repressão policial e aquilo acaba virando meme. Teve a questão do vinagre que contribuiu muito, da proibição do vinagre. Então a gente ve isso como um movimento muito orgânico vamos dizer assim, dentro das redes sociais, porque ele foi tendo elementos a todo momento pra crescer e pra gerar mais desejo. Então você postava um foto de sei lá 10 mil pessoas na praça antes de começar a manifestação, em dez minutos essa foto já tinha 200, 300 compartilhamentos e tava explodindo assim. Então era uma coisa que todo mundo queria ver. Todo mundo queria saber mais sobre o que tava acontecendo e conforme as pessoas iam vendo elas iam querendo fazer mais coisas nas suas próprias cidades. Então foi um movimento assim, a gente não esperava que fosse acontecer tudo isso, mas foi bem interessante. E aí sobre as redes sociais acho que foi fundamental né. Tanto pela horizontalidade que elas permitem né, até por ser um movimento espontâneo, de não ter uma liderança. Tinha lógico uma coordenação social do movimento PL não só em SP como em outras cidades. Começou essa movimentação toda a partir disso. Mas o modo como ela foi se difundindo, éeeeee, casa bem com a dinâmica das redes sociais, que é essa coisa de não ter liderança. Essa coisa de vamo criar um evento e vamo todo mundo junto e vamos ver o que a gente faz lá. Então, a gente vê semelhança né, no que aconteceu na primavera árabe ou no ocuppy wall street, ou no indignados da Espanha, com o que aconteceu no Brasil. Essa coisa de uma indignação e uma alimentação memética de conteúdo que pode ter sido intencional ou não, mas que passa por tudo isso né. Pela violência policial, pela postura da imprensa e por tudo que houve. Todo mundo ficou sabendo da questão dos vinte centavos e etc. E contribuiu muito pra que isso virasse uma bola de neve mesmo que a gente vê acontecendo muito nas redes sociais, mas a gente vê acontecendo com um videozinho aqui, com um meme ali. E aí acabou acontecendo isso com um assunto sério, com um assunto que levou a galera pra rua de uma forma impressionante. A gente recebia foto até de Altamira com 10 mil pessoas na rua, sabe (rs). Rcebia foto de interior do Pará, interior do Amapá, cidades pequenas com 10, 15, 20 mil pessoas na rua. Era muito interessante.
PERGUNTA SOBRE O SIGNIFICADO DA REDE SOCIAL PARA A MÍDIA LIVRE Acho que a rede social ela digitaliza um trabalho que vinha sendo feito de forma analógica pela midia livre vamos dizer assim. Se a gente pegar o surgimento do CMI por exemplo, centro de mídia independente, sei lá acho que no fim dos anos 80, início dos anos 90, não vou saber a data exatamente. Eles trabalhavam com uma tecnologia toda analógica né. Tinha um site que eles
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postavam conteúdo, mas eles tinham que upar o conteúdo, não tinham uma velocidade tão grande, tinha toda uma dificuldade de logística. Os caras não tinham wi-fi pra ficam mandando informação em tempo real da rua. Então eles chegavam em casa, upavam esse conteúdo, colocavam em um site, era toda uma estrutura pesada analógica. A partir do momento que você tem um twitter um facebook, qualquer celular que você tem na mão você consegue acessar essas redes sociais. Tanto o twitter pela vantagem dele de conseguir unificar uma hashtag. Então você conseguia colocar lá várias hashtags, você vai clicando e vai interagindo com várias outras pessoas. Quanto o facebook por conseguir misturar principalmente a questão da foto e das imagens e da questão mais visual né. Então ela digitaliza esse fluxo e você não precisa mais chegar em casa, ou então ficar mandando alguém ficar ir voltando pra casa, subindo conteúdo, você consegue mandar conteúdo em tempo real e consegue postar isso numa velocidade muito grande, apurando informação e com texto básico assim. Então, eu acho que o papel das redes sociais foi de digitalizar esse processo mesmo. Então é um processo que já vinha acontecendo, uma metodologia que a gente não tirou do nada. A gente vinha fazendo a partir de experiências que a gente já via acontecer, mas que nas redes sociais, eles tomaram uma proporção maior por ter essa facilidade né. E também por ter, éeeee... por ser muito fácil da pessoa produzir conteúdo. Então a pessoa que sei lá, ou compartilha uma foto, ou posta um conteúdo, não é só mídia livrista, não é só mídia ninja, ou viu na rua, ou conexão jornalismo, ou o próprio anonymous, ou a página do black block que tá postando conteúdo. É o próprio cara que vai pra rua que tá com o celular, posta uma foto e aí aquela foto é a primeira que saiu. Todo mundo tava querendo ver aquilo, compartilha, aí vem uma mais bonita, aí aquilo domina o tema deuma forma que é incontrolável assim. Então você passa de um processo um processo um pouco mais analógico pra uma velocidade muito rápida com o twitter e facebook. E aí puxando um pouco mais especificamente pra questão da transmissão ao vivo, o tweet cast ele pega muito essa propriedade do twitter né, porque quando você abre um tweet cast e uma pessoa comenta, o coment dela vira um twitter pra própria rede. Aí a rede do cara vê, aí vai lá e comenta, aí pá outra rede do outro cara vê, aí isso tem um efeito em cadeia aí que é muito surreal assim. Então em termos de produção de conteúdo, em termos de importância do midia livrismo, ele já tem essa mesma importância, e já vem construindo esse processo já há mais de dez anos. Mas o que as redes sociais fazem é dar uma guinada e uma aumentada brutal nessa velocidade de tramitação de informação.
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PERGUNTA SOBRE O DESMASCARAR DA MÍDIA TRADICIONAL Eu acho que sim. Acho que foi uma das principais conclusões que a gente tem das manifestações foi que éee... foram dois pontos que a gente deixava muito claro. Primeiro a rejeição aos partidos, que as pessoas expulsavam as pessoas que estavam com camiseta de partido, etc, atc e o que a gente tira disso e que muita gente falou é a crise de representação política. As pessoas não se sentem representadas pelos partidos. Mas a gente via isso acontecendo com veículos de imprensa também. Então a gente via repórter da globo impedido de fazer seu trabalho, a gente via o outro cara ali, enfim a gente via queimar carro de repórter, via gente sendo hostilizada. Não que a gente concorde ou não com isso, mas fica claro que ali tava colocada uma crise de representação também da mídia. Também da grande mídia. E a gente vai ver o porque disso, que por um lado, a Globo, a Record, a SBT, enfim, as outras mídias tavam sendo expulsas das manifestações, a mídia ninja e outros grupos de midialivrismo tavam sendo convidados e tavam sendo convidados VIP vamos dizer assim. A gente entrava, participava das reuniões, dialogava com todo mundo, porque a gente tava ali como manifestante também. Então eu acho que isso ajudou a criar um contraste muito grande do que que é uma narrativa oficial da grande mídia, do que que é uma narrativa mais próxima daquilo tudo que tá acontecendo. Voce via tipo imagens de helicóptero versus imagem da rua. Você via um foto tirada do meio do caos, com uma foto tirada de cima de um prédio e além disso ficou claro algumas, não vou dizer manipulações porque eu não quero acusar ninguém também, mas assim ficou claro versões muito diferentes de um mesmo fato. As vezes você via a grande mídia cobrir uma coisa que a gente via como violência policial, eles falavam que os manifestantes começaram, mas por outro lado a mídia independente falava que não, que os manifestantes não tinham começado, que isso tinha sido provocação da polícia. Então essa dicotomia, esse contraste ficou muito claro, entre o que a grande mídia tava cobrindo e o que a mídia independente tava cobrindo. Em muitos momentos a grande mídia precisou se utilizar de fontes de informação da mídia independente pra completar suas matérias. Então eu acho que isso gerou, não sei se foi só isso, mas assim, pelo menos cristalizou uma crise que já vinha sendo discutida pelo menos no meio da comunicação há um certo tempo que é essa crise do jornalismo e da comunicação e da democratização da comunicação, enfim são poucas famílias, é uma linha editorial muito única. Todo esse debate que a gente tem sobre a mídia faz um tempo, acho que ele se expandiu e cristalizou pra muita gente que não tava envolvida e que começou a perceber isso
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de uma forma mais primitiva. Então acho que o papel da mídia livre foi importante nesse ponto pra conseguir apresentar contrapontos e acho que isso que provocou até um certa mudança de postura da grande mídia vamos dizer assim. Porque enfim, a gente viu o Arnaldo Jabor voltando atrás, a gente viu a grande mídia falando que não era vandalismo, que as manifestações eram boas e etc. Em determinado momento a gente viu uma tentativa de criminalização, dos entre aspas vândalos black blocks, que enfim quando você ia ver na mídia alternativa não era bem aquilo. Eu acho que ficou bem claro esse contraste e gerou, não gerou uma crise, mas explicitou uma crise que já vinha acontecendo e que é uma crise normal do jornalismo, não tem tanto a ver com as manifestações, mas é que eles estão passando por uma fase que éee... a internet, as redes sociais, o fluxo de informação que é livre e maluco, ele tá quebrando um pouco a lógica desse jornalismo industrial.
PERGUNTA SOBRE A POLARIDADE POLÍTICA Ficou claro por um lado a crise de representação dos partidos né. Ninguém queria camiseta de partido dentro das manifestações. Muita gente viu isso como um movimento fascista, como um movimento perigoso. As pessoas ficaram, principalmente as pessoas que estão envolvidas mais nesse meio político, institucional, eles viram isso como um movimento ruim né. Porque, enfim, os partidos eles representam o surgimento de uma democracia que é nova no Brasil, eles representam o meio mais, um meio mais, éeee... institucional de luta política, enfim, que vieram pós ditadura militar, mas eles também representam a politicagem, representam enfim, trocas que a gente não concorda muito, eles representam todo um meme que tem em volta do político hoje de corrupção, de isso e aquilo mas, eu achei bom por um lado que essa crise aconteceu, porque pelo menos trouxe um debate da reforma política à tona. Não foi pra frente a reforma que a presidenta Dilma propôs, mas esse debate veio à tona, da reforma política, da necessidade de financiamento publico de campanha e outros pontos. Sobre a questão de esquerda/direita, eu acho que houve tentativa de cooptação de vários lados assim, a gente não consegue ter uma leitura tão clara do que que foi junho assim. A gente ainda vai passar sei lá uns 10 anos pensando nisso, eu acho. Mas houve uma tentativa de cooptação por parte, não vou dizer da direita mais radical, mas por parte da mídia, por parte do stablishment, dos estabelecidos, das corporações, porque ninguém vai querer lutar contra 1,2,3 milhões de pessoas nas ruas né, é meio ilógico fazer isso. Mas eu acho que não teve muito resultado prático assim, a gente vê hoje em dia todo mundo
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tentando, éee... como é que eu vou falar, se apropriar, tentando ganhar em cima das manifestações, todo mundo cita elas, todo mundo fala elas, todo mundo fala da importância delas, mas de prático não teve ninguém que ganhou uma representação muito forte com ela. A pessoa mais próxima que a gente veria sendo beneficiada com isso, seria a Marina Silva que trazia um discurso de renovação e de nova política etc, e da rede, sustentabilidade, que era partido horizontal, etc. E não... você não vê muito resultado prático em tudo aquilo que ela colocou e em termos de pesquisa eu acho que esse é um movimento que ainda vai ficar em debate por mts anos e ele traz uma quebra que até então no Brasil eram principalmente movimentos sociais e partidos de esquerda que organizavam as manifestações e que levavam bilhões e milhões pras ruas e nessa não. Nessa foi uma coisa espontânea e que até gerou um movimento de crise de protagonismo pra alguns atores da esquerda assim. De falarem ah quem são esses caras que tão aí na rua, eles são fascistas, eles querem quebrar tudo, eles querem acabar com os partidos que era um movimento natural por tudo que tava acontecendo no brasil mas que quando você coloca milhões de pessoas é algo que vai virar uma coisa que preocupa as pessoas. Mas acho que no geral é isso assim. Foi uma coisa que quebrou um pouco a lógica de tudo. Mas a gente ainda vai ficar refletido sobre isso por muito tempo.
PERGUNTA SOBRE A COBERTURA E O FOCO DA MÍDIA NINJA Eu acho que o trunfo foi principalmente o dia 17 né. Foi o dia onde houve a maior repressão policial lá em SP e que toda grande imprensa já tinha ido embora da manifestação. A manifestação aconteceu, as pessoas começaram a ir embora, começou uma repressão policial, já não tinha mais nenhuma imprensa na rua, já não tinha ninguém pra conseguir passar aquilo pra frente e o carioca que é lá de SP tava com o celular na mão e tava enfim apto a transmitir e começou a ir e buscar situações. Então ele pegou situações muito simbólicas como, por exemplo, a destruição daquele painel da Coca-Cola, pegou a questão da violência policial e pegou um série de outros pontos na noite que as pessoas acho que nunca tinham visto aquilo de uma forma tão próxima assim. Nunca tinham acompanhado de uma forma tão em primeira pessoa vamos dizer assim e repercutiu de uma forma muito rápida assim. Então a gente teve nesse dia 30 mil pessoas acompanhando um único link assim. Era meio que um ponto no ibope se a gente fosse medir. E muita gente twittando. A gente via jornalista correspondente da Globo em Nova Iorque que tava twittando. Tava falando do ninja, da transmissão. Não sei quem mais tava twittando. Muita gente
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que tem influencia na rede, nas redes sociais, vamos dizer assim, tava twittando e tava acompanhando e tava comentando. Eu acho que o trunfo foi principalmente esse. Conseguir trazer uma informação mais sincera né feita em primeira pessoa, feita de maneira próxima, feita ali em tempo real, sem corte. A pessoa tá vendo enquanto tá acontecendo. Então ela não vai desconfiar, ela não vai achar que a pessoa tá de sacanagem, enfim. E uma novidade que são muitos materiais que ninguém viu né. São muitas coisas que ninguém tinha visto. E aí acho que isso explodiu de uma forma que a transmissão ao vivo, mídia ninja, e quem são esses caras e etc. Eu avalio que a gente tava no lugar certo na hora certa assim, mas a gente tinha se preparado por muitos anos pra tá no lugar certo na hora certa. Então esse é um trabalho que começa desde o início da rede fora do eixo que é de pensar em produção de conteúdo pra conseguir formar uma mídia independente que a principio era voltada principalmente pro campo da cultura e das atividades que a gente fazia como coletivo, mas que em determinado momento a gente vira pra fora e começa a cobrir pautas externas e começa a desenvolver metodologias a fazer conexões com movimentos e enfim com jornalistas, com mídia livristas pra conseguir tá mais conectado e ter mais laços dentro desse meio. Então quando acontecem as manifestações a gente já tava preparado pro que fosse acontecer. É obvio que ninguém, muito menos a gente tava esperando que fosse tão grande assim. Tanto as manifestações quanto a repercussão do trabalho que a gente fez, mas a gente tava preparado pra conseguir falar e ir demonstrando uma vez que a gente viu que a transmissão era uma demanda muito grande, pelo print tinha 30 mil pessoas acompanhando as 3 da manha uma transmissão a gente começou a espalhar ainda mais essa tecnologia, que era uma tecnologia ainda incerta. Essa questão da transmissão com celular. Foi, a gente já tinha feito várias vezes, tanto na Tunísia que foi o lançamento do ninja, quanto em outros lugares mas quando ela pegou mesmo e virou uma tecnologia mais oficial da nossa parte foi nesse ponto aí e além disso eu acho que a criação de narrativa mesmo sabe, a pagina do ninja se você ver tem uma questão estética ali tem uma criação de narrativa que a gente cuida muita bem. Então não era só uma pessoa na rua transmitindo ao vivo e despreparada. Não! Essa pessoa tinha bateria, ela tinha um outro celular pra ficar em contato. A gente que tava na base tava em contato direto com ela, sabe, a gente tava passando informação, tava falando o que tava sendo twittado, o que tava sendo comentado, tava falando onde que tava rolando treta, tava com canal de noticias ligado pra ver o que que tava rolando e qual que era a versão oficial. Então eu acho que essa preparação toda e a vontade de trazer mesmo essa informação da rua que foi que fez com que a gente não só, vamos
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dizer assim, ganhasse repercussão, mas conseguisse lidar com essa repercussão, que é o mais difícil uma vez que você ganha uma repercussão muito grande as pessoas esperam muito mais de você e a gente tinha que tá preparado pra corresponder a essa expectativa.
PERGUNTA SOBRE NÚMERO DE COLABORADORES A gente tem mais ou menos assim uma divisão de equipe que são mais ou menos 30 pessoas ninja do brasil inteiro. De Brasília, porto alegre, Belém, do Macapá, de São Paulo, do rio, éee... acho que eu não deixei nenhuma cidade de fora, e Maceió também. Que são pessoas que fazem a curadoria da pagina do ninja. Então elas cuidam das postagens, enfim. Recebem e-mails e respondem e-mail e veem o que tá chegado no inbox, o que tá sendo twittado. Faz esse acompanhamento em tempo real de conteúdo e a gente tem também uma base de colaboradores ninja que já deve tá chegando em mil pessoas já. Que se cadastraram nesse tempo todo e mandaram e-mail querendo participar. Então são mais ou menos mil colaboradores que a gente tem entre tradutores, fotógrafos, vídeo makers, editores, redatores, enfim, que tem uma serie de habilidades aí. Mas foi bastante gente assim. Acho que o que colaborou nesse período no brasil inteiro com certeza foram mais de 200, 300 pessoas assim. Que a gente começou a receber muito material espontâneo também né. As pessoas descobriam nosso e-mail, algumas delas se cadastravam queriam participar, queriam entrar, outras delas não, mandavam conteúdo direto. Então teve um colaboração muito grande assim, de muita gente, centenas de pessoas assim que produziram conteúdo diretamente pro ninja.
PERGUNTA SOBRE A PERIODICIDADE DAS POSTAGENS Naquela época não tinha muita essa demanda porque era muita coisa rolando o dia inteiro. A gente tinha que se preocupar pra conseguir postar tudo assim. Era muita conteúdo chegando, era muita coisa rolando, muita coisa que a gente tinha que abordar e aí nego ia preso e aí em outro lugar chegava uma foto com 40 mil pessoas no interior. Então a gente não se preocupava muito com isso porque tinha conteúdo em abundancia hoje a gente tem que ter mais essa preocupação, tem que fazer um planejamento semanal, tem que começar a abordar pautas que fogem um pouco das manifestações, enfim a gente tem que pegar um pouco mais as consequências do que rolaram na lance das manifestações. Então a gente tem essa dinâmica mais azeitada hoje, mas na época era uma loucura muito grande assim, era tipo pau na mula e vamos criando a narrativa em tempo
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real. Daí pra isso a gente tem uma dinâmica ali e a gente tem um chat entre essas 30 pessoas que tem a pagina do ninja que são mais orgânicas a esse processo. A gente tem uma editoria colaborativa. Então tem um chat no whatsapp, a gente tá sempre se comunicando, ó tá acontecendo isso aqui vou postar, beleza, postou lá e o outro manda em outro lugar, ó vou postar isso aqui, beleza, vamos posta. Então ficava nessa dinâmica mais tempo real mesmo.
PERGUNTA SOBRE TEMPO DE FUNCIONAMENTO Ela foi criada em março desse ano durante o fórum mundial da Tunísia. Fórum mundial social da Tunísia.
PERGUNTA SOBRE NÚMERO DE CURTIDAS Foi durante as manifestações mesmo. A gente teve de março pra cá é... de zero curtirs que a gente criou a página a gente tá com quase 250 mil , 230 mil. Então, éee rolou um pico principalmente durante as manifestações, chegou sei lá 100 mil, 150 mil em um mês assim, era uma coisa muito rápida mas a gente já tinha também, só pra contextualizar um pouco mais também a pagina do ninja como plataforma oficial, ela surgiu em março desse ano. Mas a gente já tinha o conceito do ninja pensado desde jun/jul do ano passado mais ou menos. Só que a gente trabalhava com varias paginas diferentes. Então a gente não tinha ainda uma plataforma central, que a gente acreditava que o ninja era mais um conceito do que uma plataforma. Mas em determinado momento a gente viu a necessidade de se criar essa plataforma. Então a gente já tinha um pouco de nohall de como conseguir curtir na pagina, sabe, tinha um nohall de social media, de a hora melhor pra fazer a postagem. Então tinha um contexto de narrativa ali que a gente conseguia lidar bem com isso. Mas lógico que 200 mil curtidas em 3, 4 meses é um negócio excepcional 25:46
PERGUNTA SOBRE O NUMERO DE COMPARTILHAMENTOS Olha esse dado diário na mão eu não tenho não. Mas assim eram muitas fotos que saiam assim com mais de mil compartilhamentos, 2.500, teve vários casos desses assim. Que aí eu não vou ter o numero exato na map, mas...
PERGUNTA SOBRE ASCENÇÃO DA MÍDIA LIVRE
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Sim a gente entende isso de fato como uma tentativa de desqualificar, porque assim a gente tem uma equipe grande que apura as informações e que liga e que tá preparada pra conseguir deixar as coisas claras que a gente faz. É logico que a gente não é perfeito, a gente comete erro e a gente assumiu esse erro na pagina algumas vezes. Nada que seja um problema muito grande. Mas eu acho que a motivação dessas criticas era muito mais assim uma crise de protagonismo ou recalque ou medo porque a mídia tradicional acho que a mídia tradicional nunca foi tão questionada assim, do que de fato uma critica mais séria. Porque assim, uma galera falava sobre a critica que a gente tinha uma técnica ruim. Ah sabe, tudo bem a gente tem uma técnica ruim, mas a gente não tem uma estrutura de milhões e milhões como a globo tem. Ou então que ahhh, vocês não fazem apuração direito. Cara a gente tenta produzir o máximo de conteúdo em tempo real possível Então, a gente leva ao limite máximo assim essa demanda de produção em tempo real. Então é obvio que uma vez ou outra a gente não vai conseguir lidar com um fluxo de informação tão corretamente. Mas isso tudo a gente foi aprendendo na prática né. E num contexto daquele como junho, assim era muito coisa, muita pressão e muita repercussão em tempo real assim. Se você pegar, tinha um horário mais nobre assim que era entre sei lá seis da tarde e meia noite, de 1, 2 da manha que qualquer coisa que você postasse no ninja cara , ele chegava em 20. 30, 40 mil pessoas em sei lá, 5 minutos. Então a gente tinha uma margem de erro muito pequena, uma pressão muito grande e muita coisa acontecendo no Brasil inteiro. Então é obvio que erros vão acontecer. A gente nunca negou que erros acontecem, mas eu acho que a motivação das criticas foi muito mais éee, parte crise de protagonismo, e parte medo porque nunca havia tido de fato um veículo que contraposse uma Globo por exemplo e acho que foi mais ou menos por aí assim.
PERGUNTA SOBRE PREPARATIVOS PARA O FUTURO Vai ser uma loucura. Ano que vem a gente acredita que vai voltar muito forte essa questão das manifestações. O rio de janeiro é uma cidade em que não parou isso em nenhum momento. É logico que o numero de pessoas diminuiu, mas as manifestações estão muito pulverizadas. E já houve casos de sei lá 200 mil pessoas na rua depois de junho. Agora o que tem pra acontecer daqui até lá e muita coisa. Tem muita coisa pra ser decidida. Tem a copa do mundo que vai acontecer aqui, que certamente vai gerar um monte de crise, um monte de debate e um monte de manifestação e as eleições em si né. Que naturalmente já leva muita gente pra rua é logico que com caráter partidário mas gente na rua é gente na rua né. Então a gente tá esperando uma
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movimentação muito grande. Acho que não acabou e vai ficar cada vez mais intenso essas movimentações. E acho que 2014 simbolicamente falando têm muito mais elementos pra levar as pessoas pra rua do que teve 2013. A gente não sabe né, porque foi um movimento que acho que ninguém consegue explicar por mais que as pessoas tentem, mas a gente tá contando com isso, vamos dizer assim. De que vai voltar e vai ser ainda mais forte.