UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
FUTEBOL É MAIS QUE UM JOGO
AMANDA BOGO E PEDRO CENTENO
Campo Grande DEZEMBRO /2015
FUTEBOL É MAIS QUE UM JOGO AMANDA BOGO E PEDRO CENTENO
Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientador: Prof. Dr. Edson Silva
UFMS Campo Grande DEZEMBRO - 2015
SUMÁRIO
Resumo .....................................................................................04 1 - Alterações no plano de trabalho ...........................................05 2 - Atividades desenvolvidas ......................................................06 3 - Suportes teóricos adotados .................................................. 10 4 - Objetivos alcançados .............................................................12 5 - Dificuldades encontradas .......................................................13 6 - Despesas (orçamento) ...........................................................14 7 - Conclusões ............................................................................ 15 8 - Apêndices .............................................................................. 17
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RESUMO: O Livro-reportagem, Futebol é mais que um jogo, tem como objetivo central narrar a história de torcedores (as) fanáticos (as) por futebol e pelo time que torcem, contando suas histórias e mostrando a influência do futebol em suas decisões pessoais e profissionais, descrevendo os ambientes e os aspectos na vida desses torcedores. O trabalho foi dividido em quatro capítulos que apresentam reportagens ancoradas nos conceitos de tipologia da reportagem impressa de Oswaldo Coimbra, expressos no livro O texto da reportagem impressa. Enfatizamos os recursos da reportagem narrativa e descritiva. Entendemos que as ferramentas textuais apresentadas por Coimbra atendem nosso foco de estudos: contar histórias de forma humanizada e que aproximam cada vez mais o leitor dos personagens. Apresentamos neste livro a história de cinco personagens centrais e usamos como critério de seleção fontes que acompanham clubes da série A do Campeonato Brasileiro e de times de Campo Grande que possuem relevância no cenário esportivo de Mato Grosso do Sul.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Futebol; Fanatismo; Jornalismo Esportivo; Reportagem.
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1- ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO O projeto não sofreu nenhuma alteração quanto ao seu objetivo final. A mesma metodologia de apuração das informações e as ferramentas textuais propostas desde o início foram utilizadas durante toda a produção do material. Todas as atividades previstas no pré-projeto foram realizadas no período determinado. Apenas o título sofreu pequena alteração, retirando o artigo inicial e sendo apresentado de forma direta, deixando de ser “O futebol é mais que um jogo” para “Futebol é mais que um jogo”.
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2- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS - Escolha do tema - Levantamento bibliográfico - Elaboração do pré-projeto - Apresentação do projeto - Coleta de informações - Seleção das fontes que participaram do projeto - Análise dos dados coletados - Redação do trabalho - Organização dos capítulos do livro - Revisão - Redação final
2.1 PERÍODO PREPARATÓRIO: Foram feitas diversas reuniões. Começamos com a leitura da bibliografia indicada para o desenvolvimento do projeto com os livros: Páginas Ampliadas: O livroreportagem como extensão do jornalismo e da literatura, de Edvaldo Pereira Lima; A invenção do país do futebol. Mídia, raça e Idolatria, de Antônio Jorge Gonçalves Soares, Hugo Rodolfo Lovisolo e Ronaldo Helal; O texto da reportagem Impressa, de Oswaldo Coimbra; entre outros. Após a leitura, nos reunimos com o orientador para definir as etapas de produção do trabalho. Definimos as maneiras que seriam elaboradas as entrevistas, as
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ferramentas textuais utilizadas no trabalho e o cronograma de desenvolvimento do projeto. Passada essa etapa, começamos a buscar, por meio de redes sociais e pessoas conhecidas, as fontes que se encaixavam no perfil determinado pelo livro.
2.2 EXECUÇÃO: Após o levantamento, fizemos contato com as fontes que se encaixavam no perfil delimitado para participar do projeto e agendamos as entrevistas, e com auxílio do orientador organizamos os roteiros com as perguntas. Todas as entrevistas foram gravadas em áudio para depois serem decupadas e desgravadas, e algumas foram fotografadas para acrescentar material fotográfico autoral ao livro. Outras fotos utilizadas no projeto são de arquivo pessoal das fontes. Após a decupagem, começamos a estruturar os textos. Com o material pronto, fizemos a organização do produto, com a ordem dos capítulos e a produção da capa, fazendo a diagramação do livro. Após revisões textuais e de layout, o livro foi impresso em gráfica.
2.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:
2.3.1 LIVROS: LIMA, Edivaldo Pereira. Páginas Ampliadas: O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura.4ª ed. Barueri,SP. Manoele,2009.
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HEAL,R; SOARES, A. J; LOVISOLO, H. A invenção do país do futebol. Mídia, raça e Idolatria. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.
TOLEDO, Luiz Henrique de. Torcidas organizadas de futebol. Campinas, 1996.
COIMBRA, Oswaldo. O texto da reportagem impressa. Ed. Ática, 2004.
FREUD, S. O mal-estar na civilização in Edição Standart brasileira das obras completas de Freud. Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago. 1974
MURAD, M. A Violência no Futebol. Rio de Janeiro, Ed. Benvirá. 2012
2.3.2 REDES,SITES E OUTROS:
BRASIL, Lei n. 10.671, de 15 de maio de 2003. Dispõe sobre o Estatuto de Defesa do Torcedor e dá outras providências. Disponível em <http://www.mpce.mp.br/nespeciais nudetor/legislacao/estatuto_do_torcedorlei_10671.pdf>. Acesso em 26 Out. 2015
BDO RCS Auditores Independentes. Indústria do Esporte: Futebol, a maior paixão dos brasileiros. Potencial mercadológico atual. Disponível em
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<http://www.bdobrazil.com.br/pt/analises/esporte/Futebol,%20a%20maior%20paix%C3 %A3o%20dos%20brasileiros.pdf>. Acesso em 26 Out. 2015.
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3- SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS Usamos como suporte teórico para o desenvolvimento do projeto o conceito de livro reportagem, abordado por Oswaldo Coimbra no livro O texto da reportagem impressa. Assim, o livro de Coimbra colabora com a construção textual de nosso trabalho, oferecendo subsídios sobre a tipologia da reportagem. Nosso produto é elaborado a partir dos conceitos jornalísticos do livro-reportagem com alguns traços do jornalismo literário. Para buscar aprofundamento e falar sobre torcedores e suas relações sociais, usamos como material de pesquisa os livros Torcidas Organizadas de Futebol, de Luiz Henrique de Toledo, e A invenção do país do futebol. Mídia, raça e Idolatria, de Hugo Rodolfo Lovisolo, Antônio Jorge Golçalves Soares e Ronaldo Helal. Para levantamento de dados e compreensão do futebol como mercadoria, usamos a pesquisa Indústria do Esporte: Futebol, a maior paixão dos brasileiros Potencial mercadológico atual, onde levantamos dados relacionados aos números de praticantes e apreciadores da modalidade. Para a compreensão dos direitos do torcedor e como ele é amparado por lei, pesquisamos o Estatuto do Torcedor. Algumas disciplinas durante o curso foram fundamentais para o desenvolvimento do trabalho. Redação Jornalística I, com o professor Mário Fernandes, onde trabalhamos pela primeira vez como abordar um texto jornalístico e tivemos contato com o livro Técnicas de decodificação em jornalismo, de Mario Erbolato. A matéria Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística, lecionada pelo professor Marcos Paulo da Silva, ajudou na execução das entrevistas.
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A disciplina Jornalismo de revista que está sendo cursada paralelamente a produção do trabalho também contribuiu para o desenvolvimento do projeto. Porém uma matéria que foi fundamental para o desenvolvimento e escolha deste tema foi Redação Jornalística V, lecionada pelo professor Edson Silva, onde trabalhamos profundamente a descrição para a edição do Projétil e estudamos a revista Realidade.
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4- OBJETIVOS ALCANÇADOS O trabalho foi executado dentro do prazo fixado em nosso cronograma e dentro do que estava proposto em nosso projeto. Todas as nossas fontes presentes no livro contemplaram os critérios necessários: paixão incondicional pelo time que torce e influência do mesmo em suas relações pessoais e profissionais. Conseguimos, por meio das ferramentas textuais, levar ao leitor uma narrativa mais intimista e que o aproxima de nossos personagens, fazendo com que ele se identifique com as histórias, fugindo assim do engessamento do jornalismo diário, preso ao lead e ao factual dos fatos.
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5- DIFICULDADES ENCONTRADAS No começo tivemos dificuldades em selecionar as fontes que atendessem aos nossos critérios pré-determinados. Fora isso, não encontramos dificuldades em realizar as atividades propostas pelo orientador e necessárias para o desenvolvimento e construção do projeto. Encontramos apoio de nosso orientador, que se mostrou prestativo em todos os aspectos do trabalho. Tivemos dentro da universidade os materiais de embasamento teórico e os equipamentos necessários para a produção do livro, além de espaço físico para a produção e execução das entrevistas e capítulos.
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6- DESPESAS (ORÇAMENTO) Nossos gastos com o projeto estão relacionados a transporte, incluindo passes de ônibus e combustível para locomoção com automóvel próprio para encontrar as fontes e realizar as entrevistas, além dos custos com impressão do livro e deste relatório. Todo o restante do material utilizado para o desenvolvimento do livro não gerou gastos, já que os materiais de apoio teórico e presentes em nossa bibliografia estavam disponíveis na biblioteca da Universidade ou em formato digital. O equipamento fotográfico utilizado para a produção visual do livro foi emprestado do próprio curso. Os celulares para realizar as gravações das entrevistas e os computadores para a produção do material são de uso pessoal, não tendo sido necessário comprar nenhum tipo de equipamento.
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7- CONCLUSÕES Conseguimos com o trabalho desenvolver grande parte das técnicas que foram ministradas durante os quatro anos de curso e assim realizar nosso projeto. Todo o cronograma previsto desde o começo foi realizado dentro do tempo esperado, assim como o resultado do trabalho. O livro “Futebol é mais que um jogo” consegue passar informações usando ferramentas textuais que fogem das características do jornalismo diário, não se prendendo aos leads e eventos factuais, sem perder o seu papel de ser uma grande reportagem. O uso dos gêneros narrativos e descritivos apresentados na obra servem para aproximar o leitor das histórias e mostrar um jornalismo mais leve e com alguns traços literários, sendo acessível ao leitor que quer compreender mais sobre a relação entre torcedor e futebol. As histórias que contamos no livro estão de acordo com o que delimitamos como enfoque de nossos personagens: ambos são fanáticos e tem histórias de interesse e com relevância para o desenvolvimento do projeto. O trabalho possibilitou que pudéssemos realizar um trabalho na área do jornalismo esportivo com enfoque no futebol e que foge do que vem sendo feito pelas grandes mídias especializadas na modalidade, dando grande enfoque na rotina dos grandes clubes do cenário nacional e nas disputas que participam. Mostramos aqui o outro lado do esporte, o que está fora das quatro linhas, mas que é o fator principal e ao que se deve todo esse peso que o futebol tem hoje: a torcida. Sem torcedores não existirá grandes campeonatos e grandes equipes. É o
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torcedor que apoia nas vitĂłrias e nas derrotas, e ĂŠ ele que consideramos ser o pĂşblico alvo deste trabalho.
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8 - APĂ&#x160;NDICES Anexamos aos apĂŞndices o termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelas fontes que participaram do livro e as entrevistas completas com as fontes.
Qual o seu nome, sua idade e profissão? Meu nome é Caio Possari, tenho 27 anos e sou jornalista.
Vindo de uma família santista, como o Palmeiras surge na sua vida? O Mauro Beting escreveu uma vez que “o Palmeiras acolhe mais do que a gente escolhe”. Eu acho que é uma coisa que tinha que acontecer. Eu sou de agosto, mês do aniversário do clube, nasci no mesmo dia que o Marcos e pra mim é o um grande privilégio, maior ídolo do clube. Minha família é de Araçatuba e de São Paulo, tem palmeirense, eu não tinha contato direto com essas pessoas na época. Eu tinha dois grandes amigos que até hoje um eu sou muito próximo. Ele e o pai foram influências.
Eu via no santos e nos meus pais algo que não tem nada a ver com o Palmeiras. Não tinha energia, essa coisa de cantar e vibrar, essa coisa da resistência. E acho que é muito essa questão de identidade, de resistência mesmo. Eu associo o Palmeiras à um estilo de vida. Não tem um dia que eu não fale do palmeiras, de manhã com os colegas de trabalho, na hora do almoço com meu irmão, a noite na academia, é assim todos os dias.
O Palmeiras surgiu no contato com dois amigos, mas muito também por não enxergar no santos o perfil que eu queria para mim. Acho que a cor é diferente de São Paulo, Corinthians, Santos. O verde é diferente, mas muito pela história, pelo que significa isso. Essa questão de família, do italiano que chegou e lutou pelo espaço dele, essa questão da tradição, são valores que a minha família me passou e eu peguei pelo lado palmeirense. Graças a Deus.
Quando conheceu o futebol e se interessou?
Eu amo futebol, tentei ser jogador de futebol e por isso caminhei para o jornalismo, porque eu gostava de esporte e gostava de escrever sobre esporte.
A torcida tem a tendência de crescer em épocas que o time ganha campeonatos, a década de 90 foi boa para o Palmeiras. Isso te influenciou?
Eu não sei. Provavelmente isso faça diferença. Hoje eu tenho essa percepção do que é o Palmeiras, mas na época escolhendo um time quando você é criança você não percebe todas essas coisa. Eu posso falar que peguei essa época boa. O meu irmão era santista, o do meio (Daniel), e ele virou palmeirense em 2003 durante a série B. Eu acho que muito pelo amor que eu tinha pelo Palmeiras. Eu tenho muito orgulho do Palmeiras ter jogado a segunda divisão em 2003 porque foi o primeiro clube a voltar dentro de campo. O Palmeiras é um guia pra mim, eu enxergo o Palmeiras nas coisas.. Se eu não faço tudo que eu tenho que fazer no meu trabalho eu já acho que o palmeiras não vai ganhar, se eu não acordo bem. Então é muito intenso isso. Eu tenho uma ex-namorada que gostava muito de futebol e era gremista doente, ela virou palmeirense, a gente terminou em 2008 e ela é palmeirense até hoje. E pra mim, o dia que eu morrer, o cara pode falar lá no caixão pra mim que eu era um cara amigo, família, tranquilo, e um baita palmeirense. Pra mim vai valer.
O Palmeiras influencia nas decisões da sua vida?
Um pouco. Eu deixei de ir ao casamento do meu primo pra ir conhecer o Allianz Parque, em um jogo do campeonato paulista. Eu não fui na minha missa de formatura. Porque ia ter palmeiras, primeiro jogo da Copa do Brasil de 2012, contra um timeco que não tinha importância nenhuma. Acho que o Palmeiras é tão presente em todos os dias que ele é um imã que tenho. Realmente eu queria jogar futebol quando era criança, até morei fora, e eu queria jogar no Palmeiras. Influencia em muita coisa Eu deixo de ir em baladas pra comprar camisa do Palmeiras. É por isso que eu criei essa questão de identidade, mas em relação às escolhas, eu acho muito natural, está no meu dia-a-dia.
Como funciona a questão da distância com o Palmeiras?
Pela TV não é a mesma coisa. Eu conheci o antigo Palestra, lembro do meu primeiro jogo lá e é muito diferente. A questão da distância, quando a gente nasce longe do time do coração a gente se acostuma. Você aprende a conviver
com aquilo e nem por isso o seu amor é diferente. Sempre tentei encurtar isso. Pelo Palmeiras, parcelo viagem em 12 vezes. Em 2014 ia ter um show do Bon Jovi em São Paulo e eu, meu irmão e as nossas namoradas compramos o ingresso e o Bon Jovi quase em uma tabela comigo mudou o show de sábado para domingo. No que ele cancelou tinha Palmeiras x Sport no Pacaembu pela série B. Pensei “Que pena! Vocês vão ter que me ressarcir e eu vou no jogo”. Levei todo mundo na lábia. Eu acho que eu faço o máximo para estar próximo.
Qual a sua definição de ídolo? Quais são os seus maiores ídolos e como foi conhece-los?
O cara para ser ídolo precisa correr mais do que os outros, ele precisa ter vontade. Não adianta ele fazer uma jogada bonita e fazer um gol, eu quero dele vontade. Tanto é que nessa época das vacas magras eu adorava o Pierre e hoje eu acho ele um volante meia boca. Pô, o Pierre ser ídolo do Palmeiras? Eu tenho como ídolo o Marcos, como o maior de todos eles, e o Edmundo. Eles são os dois ídolos que eu tive dentro do Palmeiras. O Marcos, a história dele no clube fala por si só, e o próprio Edmundo depois que ele sai, volta, ele não dá um depoimento falando do Palmeiras sem chorar. Era absurdo o que ele jogava em clássico e isso para mim sem título fazia uma diferença absurda. Eu podia não ser campeão, mas do meu rival eu não perdia. Então conhecê-los, são realizações, foram sonhos que eu posso dizer que eu consegui realizar. Principalmente o Marcos.
Conheci o Edmundo em uma oportunidade. A loja que é a franquia do Palmeiras fez um evento em londrina. Eu fui para londrina, fiquei o dia todo no shopping para conhecê-lo. Depois eu fui lanchar e quando eu voltei tinha uns 4 caras. E eu fiquei preocupado porque o evento era às 19h e o ônibus saia às 21h. Era 19h30 e nada dos caras. Comecei a conversar e perguntaram de que bairro de londrina eu era e eu respondi que eu era de MS e eles falaram que eu era louco, que eu tinha ido lá só para isso, e eu respondi que sim. Aí eles falaram “Você é o primeiro da fila, sério! Olha o que você fez para vir conhecer o cara” e eu passei
na frente de todo mundo. E ele foi o Edmundo calmo, totalmente diferente do que ele era em campo, ele falou comigo, me cumprimentou, e eu valorizo essas coisas.
E o Marcos, eu fui na despedida dele. Em 2008 eu tentei perseguir o time de qualquer jeito. Na medida que eu fui amadurecendo eu fui vendo a importância do Marcos, eu gostava e admirava o cara mas o que ele fazia pelo clube e até quando ele errava, o Marcos era muito sincero, quando eu descobri que eu faço aniversário no mesmo dia do cara eu me gabava. Então eu tenho livro, dvd, camiseta dele , bonequinho. A primeira vez que eu cheguei perto dele foi em 2012. Uma amiga que já tinha levado uma camiseta minha na frente do CT e ela foi no dia do aniversário do marcos, um ano antes da despedida, levou minha camiseta, queria que eu fosse mas era meu aniversário, não tinha como, e conseguiu o autógrafo. Eu fiquei todo feliz, a moldura só tinha o autógrafo dele.
Depois eu fui para o jogo dele, a despedida foi bem legal. Eu fiz um texto antes da despedida dele, foi quando começou a cair a ficha que o Marcos não ia ser mais o goleiro do meu time. Quando cheguei no estádio eu chorava, a hora que eu vi ele no gol e ele fez uma defesa, o Rivaldo quase fez um gol de cobertura e ele deu um tapinha, pô é a última vez que ele ta defendendo o nosso gol,e pra mim isso foi marcante. Mas eu não conheci ele e eu venho pra Campo Grande e fico naquela “vai ser difícil conhecer”. Aí surge o evento da Copa, do Tour Oficial da Copa, cada capital do País recebia um Penta Campeão do mundo, um campeão do mundo, não penta. Aí, eu fico sabendo na noite anterior ao evento, eu vejo que era o Marcos. Aí eu fiquei louco, né? Falei “Pô, tenho que ir nisso, vai ser essa vez ou nunca mais”. Depois da coletiva dele, ele fica atendendo todo o pessoal num canto e vai recebendo um por vez. Eu falei brevemente com ele, agradeci por tudo que ele havia feito pelo Palmeiras, falei que ele era meu ídolo no futebol, no Palmeiras, e pedi pra dar um abraço nele assim, cumprimentei e tirei a foto. E depois que eu falei isso, o Marcos daquele jeito dele respondeu pra mim assim “Que isso cara”, aí bateu no meu ombro, “Num precisa agradecer não”, daquele jeito bem caipirão dele. Sabe? Foi muito legal, a forma como ele me tratou e é o
espelho do que ele sempre fez por todo mundo. Vim pra casa, minha mãe, todo mundo, o pessoal sabia o que aquilo significava, né? Encontrar meu ídolo.
Você bateu o carro por causa do Palmeiras. Como é essa história?
Fui levar uma ex-namorada, depois de um jogo que perdeu pro São Paulo e eu com aquilo: Vamos reverter! Porque a gente não aguentava mais fila. Eu saí puto, mas com a camisa, comigo não tem essa, eu visto a camisa. Sempre.
Fui levar minha namorada e quando eu estava voltando, um cara falou comigo e eu não entendi. Eu diminuí e o cara falou “chupa sofredor, palmeirense filha da p...”. Do jeito que ele falou, ele começou a descer a rua, eu estava com o vidro abaixado, eu falei “seu filho da p..., semana que vem é o troco, pode esperar que vai ter”. E o carro andando. Eu vi o carro da menina subindo a rua e eu passei direto no Pare. Buum! A menina naquele desespero e eu tudo de verde. Saí do carro e ela tão novinha, falei “Cara, você não tem CNH provisória? Faz assim, eu vou te dar meu cartão, meu pai tá vindo aqui, ele vai garantir que eu trabalho. Eu vou pagar isso pra você”. Eu lembro que ela falou assim, chorando: “Eu não tenho provisória, a minha é definitiva. Do que você tá falando?” Eu pensei, só eu to com a provisória. Daí ela não chamou a polícia, foi gente boa, tenho até hoje no Facebook. Um dia encontrei ela e o namorado, “ó esse aí é o menino que bateu no meu carro”. Mas nunca falei pra ela que foi por causa de jogo, mas foi por isso. Pô bater no trânsito por causa de jogo. Cê é louco! Nunca mais. Posso xingar, mas olhando pra frente. E ela falou isso pra mim “Por que você tava de costas moço?” E eu, num vou falar pra menina que tava olhando pro outro lado pra xingar o cara. E eu não falei, né? Foi isso que aconteceu... Passei cada coisa.
Caio, eu queria que você contasse como surgiu essas coisas da superstição. Como que surgiu e quais são?
Nossa! Vou falar? Será que vai dar azar?
Conta um pouco. Quando você descobriu o que tinha que fazer pro Palmeiras ganhar os jogos? Foi uma relação de erro e acerto?
É, isso acontece. Mas por exemplo, se pega uma derrota e você tá com um traje. Não repito nunca mais. O dia que teve Palmeiras e Inter no estádio do Palmeiras. Palmeiras tinha empatado no Beira-rio. E a gente tava sem uma moça que ajudava em casa e a roupa acumula, acumula. E eu uso roupa do Palmeiras todo jogo, jogo toda semana, a tendência era usar as que eu gosto. Chegou no dia e as da sorte não estavam no armário. E eu esqueci de ver isso. Eu falei, “o que eu vou fazer agora?”. Peguei uma nova, cara, esse negócio de pegar camisa nova dá um rolo. E eu fui com ela e ganhou. Daí, pensei “Ela é da sorte”. Eu tenho que fazer as minhas coisas. Aí você vai falar “isso é coincidência”. Mas eu acredito. Por exemplo contra o vasco, perdeu por 2 a 0, eu não tinha feito algumas coisas.
O que você não fez?
Eu tenho uma coleção de copos, canecas, objetos acima da minha TV no meu quarto. Eu olhei e falei “Bicho, tá sujo isso aqui, preciso limpar”. Aí eu tirei um copo por vez, aí eu lavei a maioria assim e não terminei. Rá! Aí dá mer... Se eu não arrumar minha cama. Teve Palmeiras e Ponte Preta pelo paulista, e a Ponte fez um gol com 3 minutos, assim, muito rápido. E eu tava na casa de um amigo meu. E a hora que eu entrei na sala Del, eu fui e posicionei meu chinelinho, igual eu sempre posiciono. Meu amigo pegou meu chinelo e jogou longe. Eu falei “Eu to na sua casa, mas num pega meu chinelo”. A Ponte abriu o placar. Daí os caras já “Tá vendo, esse chinelinho num vale nada, você num vale nada”. Falei pra minha namorada “vamos embora. Quero ir embora”. Cara, eu cheguei em casa, assisti o jogo, posicionei meu chinelo, Palmeiras ganhou aquele dia de 3 a 2 da ponte e eu mandei a porra da foto do chinelo pra eles. “Chupa! Filha da p...”. Entendeu? Então, assim, cara, é muita coisa de maluco, sabe?
Que maneira você pretende, se você pretende constitui uma família, de que modo você vai passar isso pro seus filhos?
Sugeri isso pra minha namorada. Eu tinha acordado com ela. Colocar o nome do filho de Marcos. Mas acho que a coisa de passar pro filho é como você vive. Meu pai ama o Santos, mas meu pai não é um cara fanático, louco de passar. Então acho que é muito de como você transmite isso. Cara, eu acho que é camiseta, é cercar o menino.
E se seu filho for pra outro time?
Não. Não vai. Isso aí não cogita. Eu até tenho um amigo, que é corintiano, fui padrinho de casamento dele, ele falou “Não, os seus filhos...”, falei “Velho! Você não começa, não termina a frase, porque você vai ter os seus e eu não vou cagar neles. Então não vem aqui destruir os meus”. Eu quero que meus filhos sejam palmeirenses, lógico que eles vão ter o direito de escolha. Mas eu acho muito difícil, um cara que consegue passar pra valer assim.
- Alex, começa falando pra mim seu nome completo, sua idade... Meu nome é Alex Sandro de Castro Souza, tenho 29 anos e sou professor de Educação Física, no bacharel e na licenciatura
- Você trabalha com Ed. Física? Trabalho, sou personal trainer.
- Alex me conta como você conheceu o Comercial e por que você começou a torcer pro Comercial. Como é que foi essa fase de você se apaixonar pelo time. Essa história vem antiga por causa do meu vô, ele jogava na década de 50, então toda a família tem essa afinidade com o time, então desde quando eu comecei a acompanhar o futebol, eu venho acompanhando o Comercial. Conforme eu fui crescendo, eu fui acompanhando ainda mais o time e hoje eu não perco nenhum jogo do time aqui em Campo Grande principalmente e eu sempre to tentando apoiar.
– Conta um pouco pra mim sobre seu vô, né? Você ter ele na família e ele ter sido zagueiro do Comercial, como que é isso? É Um orgulho, né? Já foi lançado até um livro do comercial, que fala a história do comercial, feito pelo professor João Bosco, inclusive nesse livro tá o meu avô, e fala um pouco da história dele. Eu tenho um orgulho de falar que eu tenho um vô que joga pelo time que eu gosto muito e a família inteira tem um apreço muito grande pelo comercial devido a essa fase que meu vô teve no comercial. Inclusive, meu vô chegou a jogar no Bahia, mas na época ele tava começando uma relação amorosa com a minha vó, então ele acabou voltando pra Campo Grande, ele não aguentou ficar jogando lá. Aí ele voltou pra Campo Grande, isso na década de 50 ainda, ele acabou casando com a minha vó e decidiu parar de jogar. E ele me fala que na época que ele jogava, Comercial
era praticamente imbatível, muitos times tinham receio de jogar com o Comercial.
- O que você acha dele ter voltado pra cá pra ficar com a sua vó, iniciado a família que no final das contas saiu você? Fica meio contraditório assim, porque se ele tivesse continuado no Bahia, as vezes ele poderia ter até jogado num time de um pouco de maior expressão, ele chegou até a treinar no Corinthians, mas não chegou a jogar, mas por outro lado ainda bem que ele voltou, aí eu vim mais cedo e pude ter essa oportunidade de estar torcendo pelo Comercial e conhecido a história.
- E como foi essa relação de você ter viajado quando era mais novo, de ter se distanciado? Foi ruim porque eu não conseguia ter notícias do clube em outros estados, lá é mais falado dos times da onde eu morava. Então, morei em Minas só se falava em Atlético e Cruzeiro. Morei no Rio Grande do Sul, também só se falava em Grêmio e Internacional. Mas quando eu voltei que eu tive mais contato mesmo. Quando eu morei fora, é muito difícil você ficar sabendo de alguma coisa dos times do Mato Grosso do Sul.
- Como foi essa fase distante? Você torceu pra outro time? Você se desligou um pouco do futebol? Como que foi? Como eu não tinha notícias dos times aqui do estado, eu tinha uma finidade com o time do Flamengo, então eu acompanhava mais o time do Flamengo na época.
- Como você sente essa relação tem de você ter um carinho especial pelo Flamengo e torcer pelo Comercial, você acha que uma coisa atrapalha a outra? Como que funciona? Eu acho que é bacana, até porque é uma coisa eu torcer pro Comercial não vai atrapalhar eu torcer pro Flamengo e vice-versa. Até porque eu moro em Campo Grande e o Comercial é um time de Campo Grande, eu tenho um interesse maior porque tem essa proximidade. A relação com o Flamengo já é uma questão mais cultural, quando eu era criança, eu tinha pessoa que torciam pelo Flamengo e acabou me influenciando. Então, quando eu comecei a me entender por gente em relação ao futebol, que eu comecei a conhecer melhor a história do clube, então eu comecei a me envolver mais e ter mais interesse. Como a gente era de Campo Grande, mato Grosso do Sul, eu acjo que todo Campo Grandense teria que pegar essa cultura do que é nosso mesmo e correr atrás, conhecer e apoiar.
- O que você acha das pessoas daqui de Campo Grande torcerem pra times de outros estados? Na verdade é uma influencia que já vem dos próprios pais. As vezes um pai ou um tio que já torce pra um time de fora e isso acaba influenciando as crianças. Eu acho que a culpa mesmo da própria população não torcer pros times da capital é devido a criação. Os pais não mostrarem essa cultura que já tinha do futebol e passar uma cultura que é de outro estado que, infelizmente, muitos não tem a oportunidade de ir no estádio ver jogo. Não tem a possibilidade de conhecer as estruturas do time. Em vez de apoiar os times daqui, nem conhece as vezes.
- E como é essa relação de você torcer pro um time que não tem destaque nacional? Que a Globo não se importa e a Band não fala sobre. O que você acha disso?
È uma que eu acho que todo sul-mato-grossense tem, porque a gente só tem a mídia aqui do nosso estado e mesmo a mídia do nosso estado, eu acho que é muito pouco divulgado, tem muitas poucas pessoas querendo ajudar o futebol sul-mato-grossense. Deixo bem claro que acredito que a Federação do Futebol do mato Grosso do Sul teria que ser reformulada porque tá muito tempo do mesmo jeito, com o mesmo comando. Então acho que isso dificulta a expansão do nome do nosso campeonato a nível nacional.
- Como é a sua relação diária com o time? O que você faz que você sente que o Comercial te influencia no dia a dia? Eu sempre procuro notícias do time nos sites de esporte aqui do estado, nós temos grupos de Whats App, Facebook, a gente sempre tá comentando alguma coisa do time, vendo quem tá sendo contratado, se os jogos vão ser no morenão... Tudo que é relacionado ao Comercial a gente discute diariamente, mesmo quando não tá em época de jogos.
- você acha que o Comercial de alguma maneira influenciou nas suas decisões pessoais? Como escolha da profissão, escolha do que estudar ou hoje em dia você ser um personal, tem influencia do comercial nisso? Não. Eu acho que por ser hoje professor de educação física não chegou a influenciar, mas não deixa descartar que no futuro eu possa querer desenvolver algum tipo de atividade relacionada a isso. Ou trabalhando com o time dentro de alguma administração ou as vezes até mesmo como um auxiliar técnico. Por que não?
- E como que tá sua relação com essa nova diretoria do comercial? O que você tá fazendo pra ajudar? É, eu tenho contato com a diretoria, quase que diariamente a gente conversa através de mensagens de aplicativos de telefone e é muito boa. A relação que
a diretoria tem com a torcida, ela é muito ampla, nós passamos algumas situações e eles acabam pegando, tem algumas situações que eles falam e a gente acaba vendo essa transparência, então acho muito legal. È muito difícil pra qualquer clube grande, no caso nós que é um time de Campo Grande, que até então a gente percebe essa displicência do torcedor de estar acompanhando. Então acho assim, muito bom mesmo, acho fantástica da gente ter essa relação muito próxima mesmo.
- Tem algum plano? Pelo menos uma vontade de trabalhar com a diretoria, de fazer alguma coisa nesse sentido? Eu tenho vontade sim de trabalhar junto com a diretoria, não necessariamente voltada pra área que eu trabalho, que é a educação física, mas poderia ser também uma área da administração ou até mesmo da área, mas em algum lugarzinho da diretoria eu gostaria de me encaixar, de me enquadrar pra estar ficando mais próximo do time.
- O que você acha que já fez de loucura pelo Comercial ou para o Comercial? Bom, no final do estadual desse ano de 2015, a gente foi na final em Ivinhema e eu falei que ia pintar a barba de vermelho pra ver o jogo lá porque eu tinha certeza que a gente ia ser campeão. E realmente eu pintei a barba de vermelho, o cabelo de vermelho e quando eu cheguei no ônibus pra gente viajar, o pessoal ficou meio abismado “Cara, você pintou mesmo?”, eu falei “pintei cara”. Inclusive, cheguei a aparecer na televisão por causa disso. Foi uma das loucuras que eu fiz pelo comercial que eu fiz, o pessoal deu muita risada.
- Conta certinho como que foi a historia de você ter pintado o cabelo e a barba de vermelho.
Essa brincadeira acontece porque quando a gente chegou na semifinal, a gente ficou naquela apreensão se realmente na final a gente ia conseguir ser campeão ou não. E aí, um belo dia, eu tava em casa com a minha esposa e eu falei pra ela “poxa, eu queria fazer alguma coisa pra mostrar que realmente a gente tá indo lá com vontade de ganhar e de ser campeão”. Aí eu fui fazer umas compras no mercado e eu acabei vendo alguns sprays de tinta e eu vi que tinha vermelho. Então eu não pensei duas vezes, eu vou pintar meu cabelo e minha barba. Minha esposa deu risada, mas concordou. Eu acabei comprando e quando eu cheguei na viagem lá, todo mundo deu risada, mas todo mundo gostou, achou bacana. Inclusive acabei fazendo uma entrevista lá pra TV Morena.
- Funcionou? Foram campeões? Funcionou, Graça a Deus. Fomos campeões.
- Que sacrifício você já fez pelo time? Alguma coisa que você já deixou de fazer pelo Comercial. Sacrifício financeiro, alguma coisa assim. Por exemplo, pra ver os jogos fora do estado, gera um custo, apesar da gente ter algumas vezes, alguma ajuda, mas com certeza já deixei de pagar algumas contas pra poder ver o jogo e depois a gente vê o que faz pra poder pagar a conta. Graças a Deus deu tudo certo.
- Como você acha essa relação do torcedor com o estádio? Ir no estádio em vez do torcedor de sofá que só fica ali na sala acompanhando o time dele.. Eu acho que, eu que acompanho os jogos aqui em campo grande, a cada ano tá tendo uma queda. Mas isso a gente tem que levar em consideração também locais dos jogos. Hoje os jogos não são feitos mais no nosso estádio, o morenão, é feito na moreninha, então é mais longe, é mais difícil acesso pra
população, acredito eu. E a falta de incentivo também, se você não incentivar a população de alguma forma a ir aos jogos, como você fazer propaganda em televisão, promoções, enfim. Aí a população não vai, fica difícil.
- Como é a experiência pra você de ir no estádio torcer pelo comercial? Olha, é uma emoção que não dá pra descrever. Realmente, você torcer por um Time que você gosta muito e que, principalmente quando o time está em ótimas condições, a gente foi campeão em 2015 pelo estadual. É indescritível, é difícil falar a sensação. É muito bom, muito bom.
- Qual foi a sua maior alegria torcendo pelo Comercial? Posso te falar que minha maior alegria, por enquanto, foi eu consegui ver a final de 2010, onde o Comercial foi campeão, e de 2015 agora onde o Comercial também foi campeão. Em outras épocas eu não tive a oportunidade de estar acompanhando, porque eu morei fora. Mas dessa vez que eu acompanhei aqui, eu tive essa oportunidade de acompanhar melhor e dar a sorte do Comercial ter sido campeão
- Você presenciou os dois título no estádio? Os dois títulos,
- E como foi a comemoração depois? Nossa! Foi boa demais, o pessoal ficou muito eufórico, a gente foi mais pra acompanhar o time e de uma certa forma apoiar, porque esse ano de 2015, a gente teve um começo de campeonato muito ruim, então a gente não esperava que o Comercial fosse chegar a final do sul-mato-grossense e ainda mais ganhar um título. Então nossa festa foi muito grande. Ainda mais na casa do adversário.
- E qual foi a sua maior tristeza? Na verdade a minha maior tristeza ainda tá sendo, eu falo que nem teve um episodio assim, mas é o como está o nosso futebol atualmente, a gente não consegue trazer um patrocinador, a gente não consegue trazer as vezes uma transparência melhor, eu entendo que falta muita informação que tem que ser passado pros torcedores, eu falo que qualquer torcida do Mato grosso do sul. Isso me deixa triste quando eu vejo um estádio que a gente tem fechado, grande daquele jeito que poderia muito bem ser aproveitado, não só pelo futebol, mas para outras áreas como o atletismo. Isso me deixa muito triste com o futebol, acho também que a federação deveria ser reformulada como eu falei antes, acho que se em vez de, ahh, devia reformular até pra ajudar a trazer novas ideias pro nosso estado em relação ao futebol.
- Conta pra mim como que é sua relação com sua esposa? Como começou, como o Comercial influenciou nisso, de vocês torcerem jutos... A gente se conheceu na faculdade e em algumas ocasiões eu comentava que via jogos do Comercial e ela sempre relatou que gostava muito, achava legal o futebol de Campo Grande e aí eu comecei a convidar ela pra ver os jogos do Comercial e até hoje a gente vê todos, é difícil a gente faltar, é só por uma ocasião muito difícil mesmo, mas todos a gente tá tentando ir e a nossa relação é muito boa. Eu vou com ela no estádio e ela as vezes torce muito mais do que eu, grita muito mais do que eu, muita gente vem e fala “Nossa! Vocês torcem mesmo”, eu falei “Não, a gente torce, a gente vai, não falta” e eu encho o saco do pessoal “Vamos embora, vamos ver” o pessoal dá risada as vezes, mas a maioria pelo menos vai quando eu chamo.
- E como você sente que é dividir essa experiência com ela? De torcer pro comercial
Ah, eu acho muito boa, porque é difícil você achar uma mulher que gosta de futebol e você achar uma mulher que gosta ainda de acompanhar o seu clube, que gosta do seu clube, é muito melhor. A relação fica muito mais fácil.
- E o que eles perguntaram pra você? O que você falou? Eles perguntaram pra mim se valia tudo, até pintar o cabelo, pra ver o comercial ser campeão, falei que “sim, porque é um time que não tem explicação, porque quando a gente ama mesmo o clube a gente faz qualquer coisa.
- Nome da sua esposa? Marília dos Santos Amaral, educadora física também.
- Quais foram os períodos que você ficou fora de MS e de que ano a que ano? Eu mudei pro RS primeiro eu tinha +ou- uns de 13 pra 14 anos, então eu voltei pra campo grande com uns 15 anos, e já mudei pra MG, então quando eu fui pra MG, eu tive uma experiência interessante de perceber que a rivalidade de Cruzeiro e Atlético-MG é muito grande, muito grande, muito grande. Então tudo que você conversa com o pessoal lá é essa rivalidade. E eu achei aquilo muito interessante e eu fica lembrando de Campo Grande. “Nossa, Campo Grande tem a rivalidade de Comercial e Operário” e eu acho que tinha que ser um jogo que realmente parasse a cidade, como era antigamente. Antigamente, tinha jogo do Comercial e Operário e a cidade parava. Lotava o estádio, inclusive era uma rivalidade que as vezes gerava até umas brigas, mas enfim, falando em rivalidade boa, era um jogo que parava Campo Grande e eu sei que isso acontece em MG, quando tem o clássico, para a cidade de Belo Horizonte, mas eu fiquei sem poder saber do noticiário do meu clube, aí eu acabei acompanhando um pouco o futebol de MG na época e aí eu pude voltar pra
Campo Grande quando eu tava com aproximadamente 17, 18 ano e aĂ eu pude voltar a acompanhar os times de Campo Grande, mato Grosso do Sul como um todo.
- André, fala pra mim seu nome completo, sua idade, sua profissão
Meu nome é André Knonner Monteiro Cabral, tenho 27 anos, estou pra completar 28 agora no dia 23 de janeiro. Minha formação acadêmica é geografia, licenciatura, meu trabalho atualmente é produtor e consultor cultural.
- André, como qu você entrou em contato com o Operário? Como você conheceu o time? Como foi o inicio da sua história com o Operário?
Quando eu era criança, meu pai é administrador escolar, ele foi professor durante muitos anos, hoje ele trabalha no município. Quando ele não trabalhava no município, ele sempre foi transferido de cidade pra cidade, eu sou campograndense, nascido aqui, mas a gente sempre viajava. Nova Andradina, Dourados, sempre morava no interior, Corumbá, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. E eu lembro quando eu tinha entre 8 e 9 anos, mais ou menos, antes da gente mudar pro Rio Grande do Sul, a gente passava na Bandeirantes e ele sempre contava milhões de histórias do Operário e ainda existia a sede. Então aquilo ficou no meu imaginário, acho que foi meu primeiro contato com o ideia, com o conceito de Operário Futebol Clube. Depois com o tempo, conforme a gente vai crescendo, a gente vai conhecendo a história, o tamanho do time, dos torcedores, apesar desse aparente marasmo, desse aparente abandono da torcida ou das pessoas que podem movimentar o futebol, né? Aí a gente vai se envolvendo e vai conhecendo a história, e é um sentimento que contagia, cara. Num tem. É dificil explicar. Mas há uns 8 anos atrás, eu não morava mais aqui, morava no Rio Grande do Sul sozinho, e quando eu retornei de lá, meu pai e meus primos já estavam frequentando o Morenão em uma época que ainda tinha 2, 3 mil pessoas no Morenão num estadual. É claro que 3, 4 mil pessoas no Morenão é mosca, um estádio que cabe 40 mil. Aí a gente vai no estádio e vai se contagiando, a gente vai conhecendo torcedores, vai fazendo amizade, vai viajando com a torcida para acompanhar o time e meu,
vai gritando gol, tá ligado? Vai sentindo que aquilo é parte da sua vida e já se passaram anos e você tá lá com uma galera e uma história.
- Seu pai é operariano?
Meu pai é operariano.
- Você acha que passou isso de pai pra filho ou voce acedita que mesmo que seu pai torcesse pra outro time voce iria torcer para o Operário?
Acho que se não fosse, bom o Operário é o time de Campo Grande, apesar dessa crise que tem, se voce... Qualquer pessoa um pouco mais curiosa que vai investigar o futebol do estado, acaba por se deparar com o Operário ou Comercial, mas acho que no meu caso foi algo familiar sim. De pai pra filho, de primos para primos, enfim.
- Como que é sua relação diária com o time? O que voce faz que o Operário tá todo dia na sua vida?
Agora, especificamente nesses ultimos 2, 3 meses, a produtora em qual eu trabalho. Minha esposa e eu trabalhamos, a Mahuá Arte Cultura*. A gente produziu um projeto para o clube, para 2016. Então a relação diária está sendo intensa, profissional. Com reuniões com diretores, presidente, tentando amadurescer o sentimento de torcedor para um sentimento profissional que apesar de toda história que o futebol aqui do estado tem, hoje é um profissionalismo embrionário. Então a gente tá contribuindo pra isso coletivamente, colaborativamente, que é o mais importante. Minha relação diária com o clube é essa. Mas como torcedor, é vestir preto e branco, é voce tá na rua e ver um amigo no terminal de onibus ou na moto, e trocar uma ideia com a torcida organizada, ver notícias sobre o clube. É uma relação natural de identidade cultural.
Voce acredita que o Operário influencia sua vida? Profissionalmente? Onde morar ou frequentar?
Claro. Com absoluta certeza. Em 26/12/2014, minha esposa e eu saímos pra fazer um mochilão pela américa latina, sem grana, sem nada. De carona. E longe de MS, longe de Campo Grande, com outra cultura, putras referencias, outras ideias, outras crenças, outras espiritualidades, enfim. Mesmo distante, voce sempre vê que sua cabeça tá lá. Vai começar o estadual, daí voce já fica nervoso. Você tá lá na ponta do continente, em puntarenas* no Chile e sua cabeça tá “puta, será que vai dar tempo de chegar para o começo do Estadual?”. Então influencia com certeza, em qualquer lugar do mundo que eu estiver. Aqui em campo grande, especificamente, quando nós voltamos dessa viagem, a gente não parou de viajar porque o estadual começou. Então daqui a gente foi pra Rio Brilhante, Corumbá, Aquidauana, Itaporã, tudo pra acompanhar o time. É uma história que voce cria. Vai eu, meu pai, minha parceira, meu primo, alguns amigos. Vai pro estádio, se classifica, invade o gramado, entendeu? É história, com certeza influencia.
- Sua esposa torce pelo operário?
Operariana roxa, fiel.
- Tem alguma relação do time com voces terem se conhecido ou não?
Tem. Então, meu sogro e minha sograsta tinham um ponto de cultura. Pontão de Cultura Guaicuru. Ficava ali na 13 perto da zahram. Eles desenvolveram um projeto chamado Campo Grande Meu Amor, que era um curso de cinema que durava uns dois meses aproximadamente. Vierama cineastas, Marinete de Pinheiro, ela é campo grandense e luiz Geller que são daqui de campo Grande, mas foram fazer faculdade em Cuba. Super Foda. Voltaram pra Campo Grande e deram esse curso de cinema. Então as pessoas iam dando várias ideias de fazer esse curta metragem. E na época eu sugeri fazer uma do Operário, e aí quando a gente começou essa produção do curta, a gente ficou amigo e daí
quando acabou a produção, eu fiquei lá no Pontão e a gente se conheceu e se apaixonou e escolhemos caminhar juntos, com amor. E é isso. Com o tempo ela ia no estádio comigo, a gente saía junto, enfim. Eu apresentei pra ela o Operário, fomos conhecendo juntos também, né? Porque conhecimento é assim. A gente vai no estádio junto, viaja junto, grita e chora junto, torce.
- Que loucura que voce já fez pelo Operário?
Loucura, loucura cara. Eu num sei o que é loucura. Teria que conceituar o que é essa loucura.
- O que você acha que você já fez assim que foge do torcedor normal, de ir no estádio...
Eu acho que torcedor é torcedor. O Silvão, o presidente da torcida organizada, ele fala bem assim “nós só somos apaixonados e pela nossa paixão a gente vai até o final”. Ele teve o privilégio de ver a força e o significado dessa força para Campo Grande atravé do Operário Futebol Clube. Eu tenho o privilégio de participar de um outro período histórico, que é o da resistência. Talvez a loucura maior seria torcer pro clube na segunda divisão de um estadual extremamente enfraquecido e mal organizado, infelizmente. Talvez essa seja a maior loucura. Mas eu não vejo como loucura porque é um sentimento natural, que talvez se eu fosse um coreano que vim morar aqui pra campo grande e que se apaixonou pelo Operário, talvez fosse uma loucura. Mas não, sou campo grandense, meu pai é sul-matogrossense, minha mão de santa catarian mas está aqui há muitos anos. Então não é algo muito estranho, eu acho que não pode ser considerado algo muito louco torcer pra um time de sua cidade. Claro que levando em consideração a situação que o clube está, serie d do brasileiro. Mas é um sentimento que contagia, é um sentimento permanente, no meu caso da cultura do campo grandense, é um sentimento permanente. Num sei.
Cara a gente já viajou várias vezes, a gente já veio pra cá na chuva, no frio. Cara, a gente já veio na chuva e no frio em um domingo 9 horas da manhã, veio aqui no morenão. Brigar talvez seja uma loucura, com os comercialinos. Duas vezes já brigamos aqui no estadio. Isso é uma loucura, mas não é interessante, mas é uma loucura. Enfim. E é uma coisa estranha porque tenho vários amigos comercialinos e eu gosto deles, mas quando chega aqui no estádio a getne fica aqui e eles lá, daí dá uma vontade de roubar a faixa deles e eles roubar a nossa. Tá ligado?
Ah, meu TCC foi sobre a territorialiedade do Morenão e a base de pesquisa foi a história, porque a história do morenão ela se envolve com dois protagonistas muito fortes. O operário e o comercial. Três, eu diria, operário, comercial e a torcida. Fazer um TCC é uma loucura, não né? Tem que pensar nisso.
- E sacrifício? Você já sacrificou dinheiro, tempo?
Assim, tudo que eu faço pelo Operário, tudo que eu tenho feito, eu faço por amor, é com prazer. Desde a primeira vez. A gente foi rebaixado duas vezes, a primeira vez foi doído, a gente chorou, sofreu. Mas fomos pra série b de cabeça erguida, com orgulho. Num tem sofrimento, quer dizer, tem sofrimento, mas é por amor, então a gente faz com prazer. É a historia que a gente tá escrevendo. Igual meu primo fala, quando a gente se classificou, tinha umas 115 pessoas lá no estádio do Aguia Negra, em Rio Brilhante. Se a gente perdesse, a gente tava perdendo o jogo e precisava empatar, e a gente tava lá e aos 45 do 2 tempo só eu, meu primo e mais umas 4 pessoas, que cantavam. Uma chuva e a gente não tinha mais voz pra cantar, uma loucura mesmo. E de repente o guri fez o gol, ninguém acreditou. Todo mundo que tava quieto saiu e foi automático, pessoal invadiu o campo. Então acho que é isso, o sacrifício maior, num tem, é luta, normal. Se a gente não torcesse pelo operário a gente ia tá se sacrificando por outra coisa e num é só o operário, por trás existe uma reflexão cultural com a identidade de Mato Grosso do Sul muito importante, sabe? Pra sociedade campo grandense, mas sobre tudo pra nossa geração, sabe? Quem não tem identidade cultural, não tem historia, não tem força, não
consegue mudar a perspectiva do lugar, sempre vai viver em função da ideologia de outras pessoas, outros lugares. Acho que é isso. Sacrifício maior, faz parte da identidade do torcedor operariano se sacrificar. Seja com o dinheiro, tempo que é o mais valiosos, seja com as emoções. O pessoal fala que “eu largo minha família pra te ver jogar”. Assim, eu largo minha família, mas tá meu pai, minha mão, minha vpo, primos, minha parceira. Que sacrifício que é esse? É um sacrifiio que vale a pena. Nenhum sacrifício é tão grande ou algo que nõa seja necessário. Acho que todo sacrifício é algo que vale a pena desde que seja parte da sua construção de identidade, da sua construção cultural. Eu acho que esse seja meu objetivo maior ao torcer para o operário, porque é um sentimento natural que teve da minha parte de vestir a camiseta e ira para o estádio. Na época que eu comecei a vir ao estádio, ainda tinha 3, 4 mil pessoas, então não era algo uito estranho. Quando eu percebi que ia 100 pessoas no estádio, aí começou a dar uma dorzinha no coração “Pô, cadê os campo grandenses? Cadê as 45 mil pessoas que lotavam o estádio?”. Nesse estudo que a gente fez do morenão, influencia territorial do morenão, no campeonato brasileiro, alguns campeonatos brasileiros que o operário disputou especificamente, era média de 20 jogos e esses 20 jogos a média de público era de 20 mil pessoas. Isso na década de 70, sem todo aquele apelo publicitário, sem toda aquela insustria do entreterimento que existe hoje. Hoje, com todas essas técnicas desenvolvidas pra voce fazer mega eventos, times super tradicionais do brasil e do mundo não tem essa média de público, de 20 mil pessoas. “Ah, mas o operário num tem. Uma coisa é 70 e outra coisa é hoje”, sim, obviamente. Mas tá registrado na história. Faz parte da história. Já teve, porque não pode ter de novo?
Esse ano, os caras vão liberar o morenão e pelo andar da carruagem, o operário vai vir forte. O campeonato vai vir forte. Existe uma expectativa muito grande pra mais um estadual, pra mais uma serie d. Vamos supor que no comerário apareça aí 20, 25 mil pessoas. Pra quem nunca foi, realmente vai ser algo “Uau!”. Que evento em campo grande reúne 20 mil pessoas semanalmente? Nenhum.
Existe um evento em campo grande, no estado de mato grsso do sul, que semanalmente reúnia uma média de 20 mil pessoas que é o estadio morenão. E isso num tem nada a ver com eventos, produções publicitárias, isso era uma coisa que fazia parte da identidade do cidadão. Então, voltou essa galera toda, vai ser surpreendente? Vai. Vai ser bonito, vai encher essa galera de orgulho. Que cidadão que não quer ver essa cidade competitiva a nível nacional? Agora não é uma novidade. A gente tá estudando bastante a estratégia de marketing de outros clubes. Por exemplo a Chapecoense, que é um clube que não tem tradição no futebol brasileiro, a não ser em Santa Catarina, mas que nos ultimos 6 anos conseguiu desenvolver uma identidade em Santa Catarina super profissional. Então os caras desenvolvem uma atividade lá, tem uma estratégia super interessante, mas ainda não é um clube tradicional, não tem muitos títulos, vai pra terceira participação no campeonato brtasileiro. E tá desenvolvendo um trabalho super admirável, incrível. Só que é uma coisa muito local, específico. Oeste de Santa Catarina, cidade de Chapecó. Cidade pequena. Em Campo Grande porque não? É uma novidade lá pra eles. Poxa, uma cidade de 200 mil habitantes, pouco mais de 70 anos já participou de competição internacional, a copa sul-americana, ganhou do River Plate. Cara, isso é uma novidade pra eles. Pra nós, talvez seja uma novidade pra nossa geração, talvez, mas pra história de campo gande não é uma novidade. Enfim...
- Como você se sente torcendo pro um time que não tem destaque nacional?
Cara, eu me sinto super bem. Super orgulhoso. Super orgulhoso de torcer para o Operário. Assim, num tem destaque nacional no presente, sempre que o Operário vai contratar ou alguma coisa... Por exemplo, essa semana, chegaram alguns jogadores, né? Vai começar o estadual, vamos ver como vai se desenvolver as noticias do Operario nesse estadual. Por exemplo Comercial ganha, CENE ganha, Naviraiense ganha e não sai em nenhum lugar. Operário perde e é rebaixado, sai em vários sites a nível nacional, entendeu? Vários. Operário subiu agora e saiu em vários sites também. Enfim, me sinto bem, super orgulhoso, super feliz. Eu acho que Operário futebol clube está
psicologicamente preparado pra enfrentar qualquer time do Brasil e do mundo. Por um motivo muito simples, porque já enfrentou e já ganhou. Já é um registro histórico que tá marcado na memória do torcedor e das pessoas que se envolveram. É isso cara, eu me sinto super bem, eu num tenho vergonha, um orgulho imenso de ser campo grandense, de comer mandioca, de comer coxinha feita de mandioca, de tomar tereré, de tomar cerveja artesanal daqui, de comer churrasco, sopa paraguaia, tá ligado? Ter o privilégio de acordar de manha e sair pra correr e ver as araras nos parques, como se fosse um passarinho no quintal. Tenho super orgulho e me sinto confortável com a ideia. Agora, nada disso tira a importância de levar a sério esse sentimento, principalmente pra quem é envolvido profissionalmente com isso, no caso dos dirigentes, dos representantes de times, dos presidentes dos clubes de mato grosso do sul, as entidades que estão envolvidas com o futebol. No caso a UFMS, queira ela ou não queira, o maior estádio universitário da América Latina está no campus dela, apesar deles não colocarem essas grades aí também para identificar o estádio, mas faz parte. A gente vive um momento muito fértil da nossa cultura. Voce ve a quantidade de artistas. Sabe o que eu acho que aconteceu com a historia de Mato Grosso do Sul, e do brasil em geral, mas epecificamente com a Mato Grosso do Sul, se tenta há muitos anos através das pessoas que estão no poder construir uma identidade que não é a identidade real das pessoas su mato grossense. Então, tentam a todo modo nos impor certos costumes, certos hábitos, que não fazem parte da nossa cultura, naturalmente falando. O que seria esse naturalmente falando, por exemplo, não sei como que é aqui nessa região do centro, mas na periferia a gente ainda joga bola na rua e ainda toma terere até meia noite na frente de casa, tranquilamente. Sem aquela pressão policial que tem em são paulo. Voce viu aquele video do casal se beijando? Casal se beijando assim no carro e o policial falou “o que voce tá fazendo aqui cidadão? Cê tá louco? Aqui a essa hora. Vai vir um bandido aqui e vai estrupar a sua menina, num sei o quê. Vai, vaza”. O cara fala “pô, só to dando uns beijinhos na minha namorada”. “Tá dando uns beijinhos na sua namorada? Cê tá louco, vai ser assaltado. Vai, vaza”. Quer dizer, essa cultura de medo, não faz parte da identidade do campo grandense, porque a gente sempre caminhou pela cidade e a gente sempre esteve a frente de nossas casas tomando terere com o vizinho, de boas, com
os amigos. E esse medo todo que tentam impor em nossa sociedade é algo desproporcional, algo escroto e injusto.
Mas voltando a falar da identidade cultural e do sentimento de torcer, acho que isso faz parte ou seja, além de tudo isso, além dessa identidade cultural do sul matogrossense e do campo grandens, torcer pra um clube local é algo normal, é alçgo que faz parte da identidade, apesar do enfraquecimento do futebol. Isso ninguém nega o enfraquecimento do futebol daqui, mas ninguem pode negar tambem a potencialidade que ele pode ter.
- O que voce acha das pessoas que são daqui, nascidas e criadas, e torcem pra times de outros estados?
Ah cara. Eles não são culpados, eles não têm culpa. É só uma questão de informação. Vamos supor a gente tá na série D, vamos supor que esse ano a gente tenha uma série D organizada e um time potencialmente competitivo. Cê acha que a galera não vai voltar?
Olha, por exemplo, o presidente, os fundadores, da raça fla, da gaviões, pavilhão, mancha e da independente, todos eles já esteiverem em alguma momente como torcedores do operário no estádio em algum momento. Na coração operariana, principalmente na década de 90, que era a torcida organizada da época. Naquela época, lotava, normal. Então acho que a questão não é do campo grandense que torce pra fora, é uma questão de se identificar, tem que ser atrativo também, né cara? Se não for atrativo, se o futebol continuar bosta, ninguém vai querer ficar apoiando e torcendo pro um futebol disprevelegiado de técnica, profissionalismo, de atrativos, de sentimento, de emoção. Eu acho que é uma questão de tempo. Porque, eu acho que assim, se a gente sobe agora ou se torna um time competitivo como vai acontecer.... Porque faz parte da história, essas crises e esses retornos, é impossível campo grande se desenvolver ou dar sequência pra essa história sem que a identidade cultural daqui seja renascida. Não tem como se desenvolver um lugar sem que se tenha uma identidade cultural, voce pode criar identidades
novas ou simbolos novos, mas pra voce se desenvolver com cultura de outro lugar, voce vai ter um lugar aritficial, sem emoção e esses lugares nãoi existem porque nada é tão regido assim se tratando de ser humano, né? A gente tá falando de pessoas. Se a gente sai na rua aí de Campo Grande, por exemplo nesse trabalho que a gente fez do território, a gente ficou oito anos pesquisando, do território do morenão. Então a gente fez entrevista com advogado, padeiro, lixeiro, presidiário, traficante, empresário, professor, estudante, velho, velha, prostituta velhas e novas, a gente fez com dono de bancas de jornais, com advogado, a gente fez entrevista assim com todos os encaixes sociais a gente fez. E a pergunta era “você torce pro operário ou comercial?” 70, 80 % das pessoas falavam Operário. A outra pergunta era “Voce acredita que o futebol vai voltar?”. E unanime, 100% das pessoas falavam “não, não acredito” e elas continuavam “Se continuar do jeito que está”. Aí desenolvia. E a outra pergunta era “se não continuar do jeito que está, vocês voltariam pro estádio?” e uns 90% falavam “sim, com absoluta certeza”. Por isso que a gente tá conversando, por ser parte de um hábito, é algo que contagia, quem que não quer ver um espetáculo de futebol, comer uma pipoca, um cachorro quente, sentar confortávelmente com a família e ver seu time ganhar de 3 a 0 do outro, com estádio lotado. Participar dos eventos nacionais, campeonato brasileiro, sul-americana, copa do brasil, libertadores da américa, enfim.. Eu acho que é isso, o campo grandense é uma pessoa inteligente. Fora daqui, do MS, nós somos conhecidos por exportar excelentes profissionais, o sul matogrossense. A parte artísitica, literária e cultural de Corumbá. A parte de pesquisa e genética da região de dourados. A parte do empresariado, da administração e dos professores aqui de Campo Grande. Históricamente aqui é uma terra de oportunidades, a cidade quando ela foi pensada, ela foi pensada por essa prosperidade. Tudo se prospera em Campo Grande, até a corrupção. Infelizmente. O futebol também, eu acho que esse momento que a gente tá passando é uma reorganização natural de quem não teve maturidade e prática profissional. Normal. Imagina, voce não pode colocar um jogo no verão de MS, óbvio que a gente tem esse negócio das 4 estações em um dia, enfim. Não dá pra colocar um jogo do Operário, do Comercial ou de qualquer outro time, às 14h, 15h de domingo no Morenão, impossível, o calor daqui é muito forte. Mas nada impede de fazer um jogo sábado após o por do sol, as 20h, 19h, antes de
todo mundo ir pra suas festas e fazer um puta evento aqui, de noite, nada impede. Tem que ligar a luz, tem que limpar o morenão, por exemplo a gente tava falando sobre a revitalização, sobre a reforma, os caras querem gastar milhões pra adequar o morenão. Cara, não precisam gastar milhões pra adequar o morenão fisicamente. Eles podem gastar milhares de reais em vez de milhões e investir na adequação humana, já que não tem acessibilidade, vamos criar essa acessibilidade humana. Ou seja, não precisa contratar uma empreiteira agora pra revitalziar e colocar rampas de acesso conforme os padrões da FIFA e da CBF, não. Investe nas pessoas que vão ali pegar os cadeirantes no estádio e vai orientar as pessoas. É uma alternativa super simples e que as pessoas podem fazer se elas quiserem. Por favor, essas pessoas, o governador, o presidente de clubes, empresário, empreiteiros, o reitores de universidades, pessoas que estão no poder de campo grande hoje, são pessoas muito inteligentes. O que falta é esse articular profissionalmente, ter maturidade intelectual pra reconhecer o que funciona e o que não funciona e encontrar um caminho mais humano pra gente ter acesso ao nosso estádio. Isso falando só culturalmente, sem se aprofundar no impacto econômico que isso causa na cidade. Ontem por exemplo, chegaram 11 jogadores do operário, 7 pela rodoviária e o restante pelo aeroporto. Se não existisse futebol em campo grande, se não existisse Operário, quem que ia ocupar o lugar desse cara ou no ônibus ou no avião, no restaurante, aeroporto, quem? Ninguém, ia ficar vazio.
- Como que é que você se sente que pra torcer de verdade, você tem que ir no estádio?
Ah, com certeza. Num sei, né? Minha opinião particular. Ah cara, se você... Ó, se voce vai no estádio lotado é muito melhor, né? Mas se voce for em um estádio não lotado, é legal igual. É super massa. Voce come espetinho, pra quem gosta de espetinho, voce come pipoca, pra quem gosta de pipoca, toma cerveja pra quem gosta de cerveja, toma suco, água, entendeu? Voce conhece pessoas, voce namora, voce se apaixona, vish cara, tem tanta história dentro do morenão. Tinha algumas torcedoras, hoje elas já são velhinhas, não vou
falar o nome delas pra não compromete-las, operarianas, e elas contam que na época do morenão, elas vinham com os namorados e se escondiam, todo mundo ia embora, elas dormiam aí, transavam com os caras, faziam festinhas ocultas no morenão, escondidos no outro dia quando abria o morenão, elas iam pra aula, passavam direto pra universidade, tomavam café da manha e já era. Cara, isso fica marcado na história de qualquer pessoa, imagina, domir no estádio.
Eu acho que torcedor de verdade, torcedor de verdade... Só o próprio torcedor pode falar se ele é ou não. Mas tem diferença por exemplo torcedor de sofá que o pessoal fala, que ve pel TV ou internet e nunca foi no estádio de futebol, precisa ir pra saber o que que é voce ficar naquela aflição aos 45 minutos e o cara fazer um gol, ou voce ficar no estádio e nos primeiros 20 minutos já tá 5 a 0 pro adversário e voce tá chorando lá. Ou voce tá dentro do estádio e a torcida rival te fechar e tá voce e mais 60 torcedores e a unica saída é voce se fortalecer e falar “bom, seja o que Deus quiser”. Você xingar juiz gritar gol, gritar gol acho que é a parte mais massa. Voce pintar bandeira... Cara, umas das experiências mais massas que eu tive ano passado foi pintar bandeira, eu, meu primo e natália, qu é minha esposa, parceira, melhor amiga, a gente pintou uma bandeira que é uma faixa de 7 metros e a gente colocou no estádio, uma faixa que falava assim “destinado a ser campeão”, que é um trecho do hino do operário. E foi super emocionante ver a nossa faixa lá no estádio, o estádio de rio brilhante é pequeno e a gente achava que nossa faixa era enorme, mas quando a gente chegou lá a gente viu que a nossa faixa era pequenininha, tá ligado? Pro tamanho do estádio, comparado com o tamanho das faixas da organizada que a gente faz parte, da garra operariana ou da esquadrão operariano, que é enorme as faixas. Eu acho que tem diferença sim. Qual seria essa diferença talvez? Tem que pensar. Eu acho que a maior diferença ou uma das diferenças, é que o torcedor de casa, o torcedor num respira, num sente o ar, voce nao pega onibus, não compra ingresso na bilheteria, não escuta os caras te xingando, voce não xinga os caras, voce acaba por se introduzir em um mundo que só se conhece quando se pratica. Pra mim esse é o conceito de realidade, só se conhece a realidade quando se pratica, quando se vive nela, quando não se vive nela, por mais que se estude,
dificilmente voce vai entender ela, pode ser um conhecedor da realidade do outro, mas pra viver a realidade tem que tá ali, se não não se sabe como é, não conhece. Entende talvez, tem teorias, mas não conhece. Acho que essa é a principal diferença. Eu conheço muita gente em campo grande que é torcedor de sofá e tem uma curiosidade enorme de vir no morenão, mas o morenão tá fechado, tem que esperar. Muita gente falando também que “ah, o morenão é uma bosta. Esse concreto, num tem conforto”. Tipo, aaahh, na minha parte, pessoalmente falando, eu acho que é uma frescura do caralho, mas olhando de uma maneira política, de interesse social, realmente precisa de conforto. Não dá pra correr o risco de tá aqui no morenão e desabar a marquize em cima da galera, não dá pra correr esse risco, mas o morenão tá bem, tem todos os laudos aprovados pela engenharia, falta dos bombeiros, falta mesmo é vontade política pra liberar. É uma conversa com o MP, com a UFMS, dirigentes esportivos, federação, com bombeiros, com polícia, governo, município e falra assim “olha, a gente vai desenvolver um campeonato daqui pra frente permanente e pronto”. Vamos liberar pras pessoas que estão em casa, assistirem dentro do estádio também. Esse ano o campeonato vai tá legal, eu aposto em um campeonato legal esse ano.
- Qual é a sua maior alegria como torcedor?
Fazer parte da história.
- Tudo bem, seja mais específico que isso, porque fazer parte da história é uma honra perpétua, por assim dizer. Assim, não precisa ser a maior alegria, mas uma vez que voce ficou muito emocionado positivamente.
Então, o clube pelo qual eu torço, ele estava em crise e quando eu falo fazer parte da história, só quem esteve no dia-a-dia do clube sabe o que que é voce lidar com o semi-profissionalismo, com amadorismo, sabe? Então eu me orgulho de fazer parte de poucas pessoas que mantiveram esse sentimento de resistencia e não olhava pra crise, quer dizer a gente olhou pra crise porque a gente vizualisava, mas não mantinha os nossos olhos na crise, nossos olhos
estavam voltados pra outra coisa, lá na frente, que é o objetivo principal, que é a retomada do time. Então eu acho que ter nascido na época que eu nasci e ser torcedor no momento em que sou torcedor, neste momento específico do clube, que é o momento da pior crise no futebol do estado, me enche um pouco de orgulho porque a gente já superou a crise. Qual que era a pior crise do futebol de MS? A ignorância, falta de informação, a não articulação entre as pessoas, o não diálogo entre os setores da sociedade. Hoje não, hoje a federação e a presidencia dos clubes já conversam, o governo e os clubes já conversam, a UFMS e o governo já conversam, então fazer parte desse momento histórico que, porra, a quantidade de gente que torcia contra, que falava “não, o operário já morreu, tá enterrado e tá no céu. O futebol daqui já era”. Voce conviver com essa energia de pessoas que não sonham na verdade, de pessoas que não tem perspectiva. As pessoas que sobrevivem, né? Não são as pessoas que vivem, são as que sobrevivem. Pessoas superficiais, que não tem perspectivas, que não conseguem enxergar uma perspectiva diferente da que lhes atribuem, acabam por ser escravos. Não escravos históricos, outro tipo de escravos. Acabam por perder a virtude,sabe? Então minha maior alegria é ter enfrentado junto com outros torcedores, um grupo pequeno de torcedores, um grupo pequeno de pessoas, ter pasado por essa crise e agora estar vivendo em uma outra fase. Minha maior alegria. De saber, de poder ter a certeza de saber que meu clube não morreu, nã faliu como falaram que ia falir, não fechou, não decretou falencia, não sumiu do mapa, não acabou com a história, não colocou um ponto final. Pelo contrário, continua escreve, e agora tá super emocionante, super legal.
- E sua maior tristeza?
Cara, a minha maio tristeza é ver a possibilidade de grandeza desse estado, e aí já não falo nem em futebol, falo em cultura geral, serem proteladas, rapinadas, extraídas, decapitas, minimizadas. Acho que essa é a minha maior tristeza, voce ver essa , como que as pessoas que tem poder, no brasil todo, conseguem dar tanta visibilidade e tanta voz pras pessoas que não constroem, destroem. Como que elas conseguem dar tanta visibilidade pro ódio por
exemplo, aquelas pessoas que não conseguem, que enxergam com muita clareza o problema e do problema pra solução, elas já olham o estágio supremo da solução, elas não conseguem enxergar o processo. Acho que essa é a minha maior tristeza. Essa quantiudade de gente que no brasil ganhou força nos ultimos anos, ou mais visibilidade, acho que elas sempre existiram, mas conseguiram mais visibilidade e conseguiram interferir em coisas muito importante na nossa cultura, entendeu? Quando eu olho pra história do nosso próprio povo, eu fico triste. A gente nunca participou do nome do nosso próprio estado por exemplo, o estado de MS, nunca hoube um plebiscito, quando o estado foi criado na época dos militares, nunca houve um diálogo “e aí? Que nome voces querem pro estado novo de voces?”. Beleza,a história do nosso estado é super bonita, mas sempre é contada pelas mesmas pessoas, pelas mesma viéis. Por exemplo, nunca contaram a história do nosso estado através da viéis indigena que eu acho que é a maior contribuição cultural que MS tem, pra identidade sul matogrossense, é a indigena. Nunca contaram a história, sempre é a participação ali, como povo, como participante, nunca como ideologia, como cultura, como identidade. Acho que essa é a minha maior tristeza. Essa semana por exemplo, mataram um indiozinho lá em SC. Poxa, a sociedade em SC ficou arrasada porque mataram essa criança lá. E aqui no nosso estado a gente ainda enfrenta esse problema e é encarado de uma forma natural pra algumas pessoas, pra outras não. Pra mim é um absurdo, pra outras pessoas que eu conheço também é um absurdo e a galera tá mexendo isso, tá indo pra cima. Tem um menino aqui que eu admiro muito, se chama Luiz Henrique, que eu quero conhecer ainda, é advogado. O cara. Luiz Henrique Eloy, o cara vai pra baixo e pra cima, viaja o mundo todo, lutando pelas causas dos direitos indígenas de MS. E aí voce vê, que em pleno séc. XXI, a gente precisa disputar espaço com o ignorantes que pelo processo histórico um dia ser superado, como foram superados os outros extremismos históricos, como nazismo e outros fascimos que existiram ao longo da história, escravidão e essas coisas. Eu acho que isso é a minha maior tristeza hoje, ter que lidar com isso, humanamente falando, independentemente da fé, tá ligado? Da espiritualidade, acho que esse é o maior desafio, não vou falar tristeza, vou falar desafio. Lidar com isso emocionalmente. Como lidar com isso emocionalmente com pessoas que estão no poder, que podem desenvolver,
revitalizar, reviver, pintar, colorir, ocupar os lugares com vida e não o fazem. Como a gente lidar com isso? Tem todo uma estrutura particular e pessoal pra gente lidar com isso no dia-a-dia, porque a gente sabe que a força é desproporcional, né? Infelizmente. Pra isso existem as universidades, né? Universidades, cursos, mestrado, doutorado, as carreiras, pra isso que existe, né? Que louco, né? A gente precisa de carreiras pra se posicionar com méritos, pra mudar ou não as coisas, pra ser ouvido. Acho que esse talvez seja meu maior desfioa viu irmão? Um sentimento de a gente fica “pô sacanagem”, coisas tão simples de resolver pra quem tem poder e ver a galera gastam um tempo preciosissímo, gasta dias, meses, anos, num temática que só atrasa, que só segrega, que só afasta, que só distancia, que só pesa, mas a gente tá aí pra superar isso tudo. Faz parte da vida também. Se não, não tem sentido. E o futebo de MS tem desafios gigantescos, vamos ver o que a torcida vai responder. O Operário Futebol Clube só tá vivo por causa da torcida, não tem outro motivo. Várias histórias quando a antiga gestão ia declarar falência, ia por o ponto final no clube, na história do clube, a torcida se mobilizou. Isso é algo que a imprensa não mostra, não é interessante parece, quer dizer, eu acho super interessante, mas talvez pela proporção não ser com milhões de pessoas, sei lá. 50 mil pessoas na praça ari coelho pedindo o retorno do futebol de MS. Se acontecesse isso ia ser lindo, mas acontece isso em proporções diferentes. Se não fosse a torcida do Operário Futebol Clube e de outras torcidas do estado, do Corumbaense, Comercial, Naviraiense, Águai Negra, se não fosse esses caras acreditarem no futebol aqui do estado, já era, já teria acabado há muito tempo, já ia mudar o nome do estádio, da cidade, o nome dos times, provavelmente nem campo grandenses nós seríamos, seríamos qualquer outra coisa, seráimos novos paulistas, sei lá, novos sulistas, novos paraguaios, novos bolivianos, qualquer coisa assim. Por sorte não somos, por luta, por resitência não somos. Somos pelo contrário, um povo super aberto, aqui tem gente de tanto lugar, boliviano, paraguaio, colombiano, argentino, tem muito argentino aqui, chilenos, quantidade de chilenos que tem no comercio daqui, chines, japones e é uma coisa, esses dias tava falando com um amigo meu de SP que veio pra cá e ele “cara, não consigo entender. A gente vem de fora pra cá e ver tanta oportunidade pra se dar bem aqui na vida e a galera daqui tranquila, tomando terere, felizes. Porra, o que acontece?”, falei assim “ah,
mano. CĂŞ ve que a felicidade, o sucesso profissional ou financeiro nĂŁo garante o sono tranquilo, talvez o terere garantaâ&#x20AC;?.
Qual o seu nome, sua idade e profissão? Meu nome é Schimene Weber, tenho 21 anos e sou jornalista.
Como surgiu seu interesse pelo futebol ? O meu pai sempre gostou muito de assistir aos jogos e quando eu era pequena, ele me colocava para assistir com ele, mas eu não entendia muito bem. Eu achava que era só um passatempo. Em 2005, quando o Inter ficou em segundo lugar naquele campeonato brasileiro com aquele roubo com o Corinthians, eu comecei a gostar de acompanhar mais, porque eu vi o sofrimento das pessoas que torciam para o Inter. Logo em seguida, em 2006, o Inter ganhou a libertadores e o mundial, então isso acendeu esse gosto pelo futebol. Na sua família tem gremistas. Porque você escolheu o Internacional e não o Grêmio? Quando eu comecei a ter esse discernimento de um time para outro, mesmo com a influência do meu pai, também tinha outras coisas que me chamavam a atenção, não foi só influência. Comecei a procurar a história do clube, a identificação com os jogadores, e para mim a história do Inter sempre foi muito mais bonita que a história do Grêmio. Eu via o Inter ganhando as coisas, sabe? Eu só escutava os gremistas falando que o Grêmio é um time grande, mas eu não via o grêmio ganhar nada, até hoje eu não vi! Então para mim foi mais uma questão de procurar e me identificar mais com o Inter do que com o Grêmio. Como o amor pelo futebol influenciou nas escolhas da sua vida Graças a Deus eu fiz muitos amigos pelo futebol, tanto aqui em Campo Grande como no Rio Grande do Sul e no Paraná. Isso pela internet, conversando em fóruns e tal. Na época que o Orkut ainda existia, tinha uma comunidade do Internacional e ela gerou muita amizade entre os membros, de conversar, perguntar de jogo, de discutir durante os jogos, quando tinha jogos eram feitos tópicos para acompanhar ao vivo... A minha melhor amiga se tornou minha amiga graças ao Internacional. Na Libertadores nós vamos assistir aos jogos juntas.
No primeiro semestre de 2015 eu sempre faltava a aula para ver o jogo, ia para o bar assistir a Libertadores. Eu não conseguia ficar na aula para falar a verdade, ficava nervosa. Eu começava a ouvir o jogo e falava “tenho que ir assistir”, não conseguia não ir. Profissionalmente a área do jornalismo esportivo me chama muito a atenção. Eu fiquei alguns meses do fim de 2015 para cá em um site esportivo desenvolvendo um estágio colaborativo, e eu estava na editoria chefe. Eu comecei na editoria do Rio Grande do Sul e basicamente só falava do Inter. As vezes escrevia matéria do Grêmio porque a gente não pode escolher só um lado. Mas essa área de jornalismo esportivo sempre me chamou muito a atenção. Principalmente esse amor pelo futebol e pelo Inter influenciou muito.
Como você faz para superar a questão de torcer para uma equipe de outro Estado? Eu procuro sempre estar me inteirando da situação do clube, acessando o site. Em casa nós assinamos o Première para poder acompanhar tudo. Viajar para Porto Alegre não é uma coisa viável de fazer sempre, tanto que a duas semanas atrás eu estava lá fazendo um concurso e infelizmente não teve jogo nenhum do Inter, daí acabei indo a arena assistir um jogo do Grêmio, meu primo me arrastou para assistir um amistoso. Mas não é viável para eu, como estava fazendo estágio e faculdade, não tinha como simplesmente largar tudo aqui e ir embora para Porto Alegre. Mas quando o Inter veio em 2011 eu assisti a partida contra o América Mineiro no Morenão e acompanhei todos os jogadores, desde o aeroporto até o hotel, e depois ao jogo. Eu espero que agora que estou formada, que eu passe nesse concurso e mude para Porto Alegre, aí vai melhorar muita coisa. Você escolheu prestar concurso em Porto Alegre por causa do Internacional? Sim, o Inter influenciou muito. Eu poderia escolher Paraná ou o Rio Grande do Sul porque tenho família nos dois lugares, e inicialmente eu precisaria ir para
um lugar onde eu conhecesse alguém. Minha mãe perguntou o que eu queria e eu falei “quero Porto Alegre porque é mais perto do Beira Rio”. Lá eu posso assistir ao jogo e no Paraná não. Sai caravana do Paraná, mas não é a mesma coisa que você morar em uma cidade onde você pode acompanhar tudo de perto. O que é ídolo para você? Quem são seus ídolos? Ídolo é aquele cara que além de jogador, é torcedor. Uma pessoa que independente de rixa política dentro do clube ou mal-estar no vestiário, da situação do time no campeonato, ele dá o seu melhor sempre, justamente porque ele torce para o time e sabe como o torcedor se sente na arquibancada vendo o time sem o desempenho bom, ele tenta dá algo a mais. Ídolo para mim tem o Fernandão, que é um cara acima da média e pode não ter sido um craque do futebol, mas a liderança dele dentro do campo e com a torcida e o fato dele ter sido um dos responsáveis pela campanha do Inter na Libertadores e no mundial pesou muito. E o D’Alessandro, que recentemente saiu do Inter para o River Plate. Ele é craque, o Fernandão não era, era um jogador muito esforçado e que pelo esforço que teve conseguiu muita coisa. O D’Alessandro é craque, ele está mais velho mas a diferença que ele fazia em campo para o Internacional era muito grande. Sinceramente estou preocupada com o que vai ser do time esse ano porque não tem nenhum pulso firme nem nada.
Você conheceu algum deles? Conheci o D’Alessandro quando ele veio a Campo Grande. Eu tirei uma foto e peguei o autógrafo dele. É uma pessoa muito simpática, é pequenininho... é engraçado porque você vê na tv e parece que ele é maior. O Fernandão infelizmente não pude conhecer, mas é um cara que eu admiro muito. Quando aconteceu o acidente parecia que um amigo meu tinha morrido de tanto que eu
chorei, fiquei desolada, até hoje quando lembro disso fico meio triste... é inacreditável, sabe? Como foi conhecer D’Alessandro? Eu fui para o aeroporto esperar os jogadores e lá não consegui a atenção de quase ninguém. O Falcão e o Oscar falaram comigo, o resto passou muito rápido. Quando eu fui para o hotel e eles estavam saindo, o D’Alessandro veio falar comigo. Meu olho encheu de lágrimas, eu fiquei alucinada, parecia que eu estava vendo o amor da minha vida. Era ele ali naquele momento! Eu nem sabia o que falar, só perguntei “eu posso te dar um abraço? ” E ele começou a rir e respondeu que podia, eu abracei ele e tirei uma foto. Infelizmente eu não tenho mais a foto porque meu computador foi formatado e eu perdi ela. Na hora eu fiquei sem reação, meu olho encheu de lágrima e eu não sabia o que falar. Eu só queria ficar olhando para ele. Você torce para outros times? O único time que eu torço é o Internacional. Eu gosto de assistir jogos de futebol independente do time que esteja jogando. Por exemplo, se estiver passando Corinthians agora na tevê eu sento e assisto. Não por simpatizar, mas porque eu gosto. Mas eu só torço para o Inter e pela seleção. Qual a sua lembrança mais feliz e mais triste relacionada ao internacional? A lembrança mais feliz que eu tenho do Inter é o mundial de 2006. Aquilo como torcedora me fez ter a certeza de que eu estava torcendo para o time certo, porque era um jogo que ninguém acreditava no Inter. O Inter vai jogar contra o Barcelona do Deco e do Ronaldinho. Que chance tinha um time com Fernandão, Iarley e Gabiru? Que chance que um time com esses jogadores tinha de ganhar do Barcelona? E até hoje quando eu assisto o jogo eu fico emocionada e choro. Parece que estou vivendo toda aquela emoção de novo porque o Inter é muita coisa na minha vida. Eu sou apaixonada pelo clube, pela história, pelos jogadores, independente do time não estar na melhor fase eu continuo acompanhando e não vou deixar de acompanhar por nada.
A minha lembrança mais triste do Inter foi em 2009. Por incrível que pareça não foi a derrota para o Mazembe no Mundial Interclubes, aquilo me deixou brava, eu fiquei com raiva daquele jogo, porque foi absurdo. A lembrança mais triste é de 2009 quando o Inter estava com uma campanha muito boa no campeonato brasileiro. O time estava ganhando de 3 a 0 do botafogo e no 2º tempo o Bota empatou o jogo. E foi nesse jogo que nós perdemos o Campeonato Brasileiro, porque na última partida o Inter e o Flamengo estavam com a mesma quantidade de pontos e a diferença é que se o Flamengo ganhasse aquele jogo contra o Grêmio, ele seria campeão. Logo no começo do jogo o Grêmio fez um gol e eu fiquei maluca. Eu pensava “Nossa, esse time está ajudando mesmo o inter? De verdade? ” E depois o Flamengo virou e ganhou aquele jogo. Isso me doeu porque o título do Campeonato Brasileiro e o da Copa do Brasil são os que eu mais espero ver o Inter ganhar, e aquele ano a gente chegou muito perto e eu fiquei muito triste. Você já fez alguma loucura pelo internacional? Algo que você fez e hoje pensa que foi algo muito fora do comum? Ah tem as histórias da faculdade e jogo. Ano passado eu estava em época de prova e não sabia se a prova ia ser naquele dia ou na outra semana, nem o professor sabia direito. E no mesmo dia tinha jogo. Daí eu pensei “ah cara, eu vou para o jogo. Eu vou assistir e se eu reprovar por causa disso depois eu vejo o que eu posso fazer, eu pago a disciplina ou a prova extra, é 25 reais mesmo”. Pensamento absurdo. Hoje em dia eu não falto prova por causa de jogo, mas aquela vez eu estava alucinada, eu tinha quase certeza de que o Inter ia ser campeão da Libertadores de 2015. Graças a Deus não teve a prova no dia, eu pude fazer porque foi na outra semana, não tinha jogo e eu fiquei na aula. E também teve a vez que eles vieram para Campo Grande e eu passei o dia inteiro atrás dos jogadores. Eu não fiz mais nada e eu tinha coisa para fazer no dia. 2011 era a época que eu tinha cursinho preparatório do Enem e várias coisas para fazer. E eu simplesmente ignorei tudo e fui acompanhar os jogadores. Hoje em dia a gente para e pensa “meu Deus, por que eu fiz isso? ” Mas sei lá, esse amor todo que você sente pelo time justifica essas coisas.
A que ponto os resultados dos jogos do Internacional influenciam no seu humor? Eu fico brava e não quero falar com ninguém quando perde, eu me tranco no meu quarto e fico quieta. Se o Inter ganha eu fico a pessoa mais bemhumorada do mundo. Eu fico dando risada à toa. A minha mãe mesmo fica brava comigo, fala “ah, mas os caras estão ricos e você não está ganhando nada, você fica estressada à toa”, mas eu acho que realmente influencia demais. Eu fico bem mau humorada quando o Inter perde uma partida, mesmo que o jogo não valha nada. Eu acho que o time tem que jogar o máximo em tudo. Você é supersistiosa? Eu tenho superstição com camisa de time. Eu só assisto jogo com a camisa do Inter, independente da camisa. Eu tenho a sensação de que isso sempre interfere toda vez. Aquele jogo contra o Tigres que o Inter foi eliminado da Libertadores, eu estava com a camisa vermelha, não estava com nada do clube e o Inter perdeu. E o outro jogo que eu tinha assistido com a camiseta do Inter, o time ganhou. Não acho que isso vá realmente fazer alguma diferença no campo, entendeu? Mas eu tenho o costume de sempre assistir com a camiseta do clube. Você já sofreu preconceito por ser mulher e gostar de futebol? Que tipo de preconceito você sofre? Como é gostar de futebol e querer ser jornalista esportiva? Sim, eu acho que esse preconceito é muito visível. Teve uma vez que eu estava no bar com uma amiga e nós estávamos alucinadas, xingando a televisão. Os garçons do bar falaram “olha as meninas gostando de futebol” como se isso fosse uma grande coisa. Nos grupos do WhatsApp, quando os meninos estão falando de futebol e eu tento falar alguma coisa, sempre tem um engraçadinho que fala “ah, o que que uma mulher sabe de futebol? O que mulher quer opinar de futebol? ”.
E eu acho que no lado do jornalismo isso tá mais fácil assim, nós já temos algumas jornalistas esportivas. Tem a Renata Fan, a Fernanda Gentil, a Glenda Kozlowski. Eu acho que dentro da profissão esse preconceito está um pouco mais leve do que se você estiver conversando com um homem falando sobre futebol e você discorda dele. Principalmente quando você discorda dele sempre tem isso de “ah mas você é mulher, o que você sabe sobre futebol?”. Eu acho que no jornalismo isso é mais fácil de lidar do que na sociedade que a gente vive. A minha avó acha um absurdo eu gostar de futebol, ela acha que eu deveria gostar de cozinhar, de outras coisas. E eu já vejo isso como uma coisa muito normal. A minha mãe não gosta de futebol, mas ela nunca falou “ah minha filha, você é menina e não pode gostar de futebol”. Eu acho que a sociedade ainda tem um certo preconceito na questão de a mulher discutir futebol e gostar de futebol muito mais do que a própria profissão. Como você pretende passar esse amor para os seus filhos? Se você se casasse com seu atual namorado que é São paulino, como você faria? Eu acho que vou fazer basicamente o que o meu pai fez comigo, o primeiro contato que eu tive com o Inter foi graças a ele. Quando a criança é pequena você dá roupinha do clube, você mostra e fala “olha, esse é bonito, esse outro aqui do papai não presta”. Você fazer essas brincadeiras com a criança e de certa forma você acaba influenciando. Eu acho que contar os grandes ídolos que eu vi jogar, as grandes conquistas que eu vi o time conseguir e passando isso de uma forma carinhosa influencia muito. Meu pai contava muito dos jogos que ele via. Eu vi duas grandes pessoas jogar no Inter que são os meus ídolos, e eu acho que se você passa isso de uma forma mais carinhosa para uma criança, ela acaba compartilhando esse sentimento de admiração. Essa admiração que faz alguém torcer para um clube, é a admiração que ele tem pela história, pelos jogadores... é o que eu vou fazer. Não que eu vou obrigar a criança a torcer para o Inter.... E se for gremista? OI? Gente... eu só lamento! Eu vou falar assim “você não vai ver seu time ganhar nada! Nunca! ”. Eu não ia brigar ou ficar revoltada, é muito mais uma
questão de escolha. Se eu quisesse torcer para o Grêmio o meu pai iria ficar muito chateado, óbvio, do mesmo jeito que se o meu filho quisesse torcer para o grêmio eu ia ficar muito chateada, mas eu ia fazer o que? Não posso obrigar o menino à torcer para time nenhum. Eu ficaria muito chateada, muito mesmo, porque é o principal rival.... Se quiser torcer para o Fluminense ou o Flamengo, beleza. Mas paro grêmio é uma coisa mais pessoal. Eu não faria nada mas ficaria bem triste.
Nome completo, sua idade, profissão... Renan Kanashiro, 28 anos, trabalho no mercadão como balconista.
Como você virou corintiano? Voce tem descendência familiar corintiano? A maioria do pessoal da família é corintiano, inclusive meu pai. Aí fui vivendo e aprendendo, virando corintiano graças a ele. Aí é aquela história, corintiano a gente não vira, nasce. Aí foi. Tanto que teve um aniversário meu que foi tudo do Corinthians, essas coisa. Aí pegou, não tinha como.
Qual a sua primeira memória do Corinthians? 2001, num lembro quem cruza a bola, o ricardinho chega batendo, na semifinal contra o santos. Também tem a chapelada do Marcelinho contra o santos em 95. Foda!
Qual a sua relação diária com o time? Cara, eu tento seguir, ver as notícias do time. Facebook, instagram. Quem chega, quem sai do time. Ficar sempre atento, porque sempre que vou falar de futebol no serviço, essas coisas, pra estar ligado no assunto.
Voces falam muito de futebol no serviço? Apesar que lá é proibido falar, não tem como. Os fregueses chegam lá e comenta, tal, sabe que eu sou corintiano, essas coisas. Daí todos começam a falar comigo.
Voces tem grupo no whats de torcedor?
Tem, tanto que eu faço parte de dois grupos do pavilhão 9, um mais pra zoeira e outro mais pra discussão sobre o time. Sobre a torcida também.
Como que o Corinthians influenciou nas decisões da sua vida? Diretamente ligada a minha pessoa não, porque, apesar de ser torcedor fanático, sempre acompanho, mas num vai influenciar nada particularmente. Em campo Grande não tem como, mas se fosse no estado de São Paulo, lugar mais próximo. Poderia até fazer parte da organizada lá.
Como você lida com a distância do Corinthians? É ruim demais, Além de ser um torcedor fanático, sempre que puder assistir um jogo, acompanhar, eu sempre vou tá lá. Mas é difícil, a distância não ajuda. Fica complicado.
Você tem uma fama de pé frio. AS vezes que você foi no estádio, o Corinthians perdeu. Quais foram as vezes, como que foram os jogo? 2013, aqui em campo grande mesmo, Corinthians e Portuguesa aqui no Morenão, perdemo de 4 a 0, o time tava mais ou menos, portuguesa num tava lá essas coisas. Portuguesa foi e meteu 4 a 0 no Corinthians. Aí teve em 2014 lá em Cuiabá, jogo valendo pela Copa do Brasil, perdemo de 1 a 0, viajei do nada, na rapidez pra ver o time, chega lá e acaba perdendo também. Aí teve a oportunidade pra mim ir em são Paulo conhecer a arena Corinthians, ainda clássico, Corinthians e Palmeiras, Corinthians tava mais ou menos, inicio de campeonato, 4ª ou 5ª rodada, aí fomo lá e perdemos dentro de casa por 2 a 0.
Voce sente que tem alguma coisa a ver com isso ou vai continuar indo até quebrar a zica?
Com certeza, tem que continuar, apoiar o time até quebrar a zica. Mas eu num tenho nada a ver com isso não, era má fase do time mesmo. Tanto é que ano passado que eu fui, o Corinthians foi campeão brasileiro.
Que sacrifício você faz pelo time? Financeiro, de tempo... Eu nunca fiz sacrifício não. Apesar de tempo, como eu trabalho, você pegar sair um dia, como eu moro em Campo Grande mais de num sei quantos km, saí num dia pra cá e voltar no outro dia, um pé lá, outro aqui. Coisa mais rápido que eu já fiz.
Como foi sua ida pro jogo de Cuiabá? Na verdade, eu trabalhei como se fosse um dia normal, não tirei hora de almoço pra poder sair mais cedo logicamente, aí a passagem tava marcada pra umas 17h30, eu trabalhei até umas 14h, aí só chegue em casa, arrumei as coisas, fui pro aeroporto, 17h30. Cheguei lá, meu irmão que mora lá me pegou no aeroporto, já fomos direto pro estádio, acabou o jogo, perdemos. Fomos tomar umas ainda e 7h30 da quinta já tava retornando pra Campo Grande.
Quanto você gastou? 300 reais, tinha onde ficar e comer. Só passagem e ingresso.
Sua maior felicidade acompanhando o Corinhians? Pra todos, né? Acho que libertadores e mundial, ainda mais pela zuação que os Antis fazia aí. Depois nós ganhamos a libertadores e o mundial, acabou a zica dos antis.
Onde você tava? Assisti com meus amigos, todo mundo corintiano. Depois do jogo fui dar uma passada lá na praça do rádio, tava uma concentração do pessoal da pavilhão lá. Eu frequentava ´so de vez em quando e depois fui embora pra casa. Deixie pra comemorar nos outros dias. No mundial, o fds do mundial foi corrido. Na sexta teve um show acho, na exposição, daí eu ia ter folga, mas eu queria folga no domingo por causa dop jogo. Na sexta fui pro show, amanheceu o dia, fui trabalhar no sábado 6h30, trabalhei até 19h. Daí pensei, domingo to livre, né? Resolvi sair, cheguei em casa 5h30, num tinha nem dormido. 7h, meus amigos me acordaram pra assistir o jogo, fui assistir com o mesmo pessoal da libertadores. Foi campeão da libertadores e mundial, mas eu não frequentava o pavilhão, fui assistir com os amigos. A libertadores eu fui assistindo em casa de tio, amigos, na minha casa, foi assim.
E sua maior tristeza? O rebaixamento de 2007 pra 2008. Mas tem outras, perder pros rivais é foda, aguentar zuação depois. Tirando isso. Mas foi o rebaixamento.
Como você se sentiu? Ah, o time caiu aí que tem que apoiar. Não adianta o time cair e criticar, aí que os jogadores não vão mais ter vontade pra jogar e essas coisas. Caiu, tem que chegar e apoiar, e criticar menos. Tanto que desde que caiu, 2008 pra cá, cada ano tá ganhando um título. Porque o torcedor ajuda, sempre tá lá apoiando o time inteiro e assim vai.
O corintiano é diferente? Com certeza. A gente quer tá ali do lado querendo assistir e independente de estar em qualquer lugar que agente estiver, você pode num tá assistindo, mas
quer saber notícia, placar, grudado no celular. O torcedor do Corinthians só quem é sabem como é, num tem explicação. Não adianta explicar, tem que sentir essa emoção.
E o que seria da sua vida se não torcesse pro Corinthians? Ah, sei lá, acho que ia tá fudido. Ia ser nada. Sou corintiano, graças a deus. Num tem essa questão não.
Seu maior ídolo? Marcelinho Carioca, ele é foda. Tem épocas também, depende da época, tem o Ronaldo, 2, 3 anos ele fez gol. Neto... Ah, mas o Marcelinho é fenomenal, batendo falta igual ele num tinha. Antes tinha o neto tal, mas igual o Marcelinho não tem, o cara é foda.
Quem você mais odeia? Num sei. Num gostava do Danilo, ex-são Paulo, que raiva, odiava ele. Num pode ser o guerrero também, ajudou a gente. Num sei.
TORCIDA ORGANIZADA
Como que é a sua relação com a torcida? (Pavilhão 9) A minha relação com todos é ótima, não tem intriga com ninguém, sempre respeito todos. E outra, lá é como se fosse um 2ª família pra mim. Todos jogos do Corinthians eu to lá presente. E assim vai.
Quanto tempo você já faz parte da torcida? Indo diretamente vai fazer 2 anos.
O que você sente fazendo parte da torcida? Ahh, mais um louco no bando, no meio da torcida. É como se você tivesse lá na arquibancada. Todo mundo vibrando, cantando 90 minutos, apoiando o time.
Você sente que esse apoio faz diferença pro time? Ah, apesar da distancia, a gente cantando aqui, vibrando, com certeza faz diferença pro time.
O que você acha das torcidas organizadas em geral? Eu acho importante sim, é um apoio pro time. Mas as brigas, os diferentes conceitos que cada torcida tem, isso pode atrapalhar um pouco. A questão de briga, essas coisas. Apesar que aqui em Campo Grande eu nunca vi essas coisas, negócio de atrito entre torcidas organizadas rivais. Agora já no estado de São Paulo, o bicho pega, lá é diferente.
Você acha que o torcedor da organizada torce mais que o torcedor comum? Ele é mais apaixonado? Com certeza. Organizada sempre tá ali do lado do time. Sempre que tem alguma coisa no clube, no time, quem que tá sempre lá apoiando? Junto com o time? Lá no CT as coisas sempre são da torcida organizada, sempre tá ali, pra apoiar ou criticar. Sempre tão junto, ali do lado.
Voces foram lá depois da chacina da torcida da pavilhão, como que tava o clima lá? Em questão da segurança tava tranquilo, apesar que na chacina que aconteceu na torcida organizada da pavilhão 9 aconteceu no dia antes de um jogo com palmeiras. Daí tinha aquela hipótese de que a torcida do palmeiras que poderia ter feito isso e por coincidência o jogo que eu fui assistir, foi Corinthians e palmeiras na arena. Depois levantaram outras hipótese e viram que não tinha nada a ver, mas o clima ainda tava tenso, principalmente torcedores da pavilhão 9 que ainda tavam sentido pelo acontecimento. Ainda mais a derrota, teve aquele negócio do estádio inteiro, tem aquelas músicas que eles cantam lá, falaram da polícia que os 8 que mataram lá não tava envolvido com crime. Eles ficaram cantando. Cantaram pra polícia de lá que os 8 não eram bandidos.
Como que tava o clima na torcida? Tipo assim, depois que aconteceu, o pessoal tem que ficar unido que nem tipo assim, a família tem que continuar unida, independente de tudo, pessoal que faleceram, já foi presidente da pavilhão de SP, tinha um pessoal que ocupou cargos importantes lá, só que a torcida tava meio tensa, num tinha como ter clima de festa ainda mais com a derrota no jogo. Daí ficou aquele clima meio ruim.
Voces ficaram com a torcida das gaviões antes do jogo? Sim, antes de ir pro estádio porque a sede da pavilhão tava fechada, porque quando aconteceu a chacina eles fecharam o lugar, daí não tinha mais local pra ficar lá. Daí fomos ficar com a gaviões, fomos bem recebidos pelo pessoal, daí ficamos lá na sede até dar o horário de partir pro jogo. Tanto que passou
um busão lá pra pegar a gente, da pavilhão. A gente não ia ficar com o pessoal da gaviões no estádio, chega lá e é tudo separado, cada um no seu canto.
E a arena? Top, né fii? Estádio de copa. Top. Primeiro mundo.
Só esses jogos que você assistiu em loco? Teve outro jogo aqui no Morenão, Corinthians e misto, copa do Brasil,em 2009 quando fomos campeões. 2 a 0. Teve um outro amistoso, Corinthians e Comercial, 6 a 0.
Relação das torcidas organizada daqui? Faz 2 anos que eu vou direto na pavilhão, e nesses dois anos em nenhum momento eu tive a oportunidade de dar de cara com os caras das outras to’s. Mas que eu saiba aqui num tem tanta rivalidade que nem em outros estados. Aqui é mais tranquilo na verdade. Que nem o acontecimento que aconteceu essa semana na pavilhão, picharam o muro lá, alguma coisa cruzando o braço. O pessoal já sabe quem que é, o cara já foi expulso da torcida organizada, já sabe o nome, endereço, tudo essas coisas. Pro cara ser expulso. O pessoal da pavilhão chegou a essas informações porque o pessoal da outra organizada passou, o cara foi expulso. Aqui a coisa é mais amenizada, é mais pacifico.
E em SP? Até tem essa coisa de pacificação, mas entre os cabeça, porque mesmo quando eu fui em maio no jogo. Saiu no noticiário, o cara com agasalho da mancha na linha do metrô, dois caras da camisa 12 viram o cara sozinho e quiseram arrancar o agasalho dele. Tem alguns torcedores de organizada que
só vai só pra brigar, mas o pessoal é mais pacífico. Aqui em campo grande mesmo rola mais o pessoal pacifico, mais tranquilidade.
Por que você é sócio da pavilhão e não do Corinthians? Poderia ser dos dois, né? Mas sou da pavilhão porque tem a sub sede, dá pra eu acompanhar todos os jogos. Mas dá sim pra eu virar fiel torcedor, posso pegar um plano mais barato, vou tá ajudando o clube e tal. Tenho amigo que até tem, daqui de campo grande. Eu num faço porque pra mim num vai dar em nada, porque na verdade o fiel torcedor é do estado, bom pra quem vai no estádio, no meu caso é raro eu ri pra lá. Então, mas quem sabe eu posso cadastrar o fiel torcedor, mas só pra ajudar o time mesmo.
Como é o clima da TO aqui em CG? Em casa o negócio é mais sossegado, o clima lá é mais quente. Voce ouve a bateria, que lá é como se fosse na arquibancada, a bateria tocando 90 minutos, você cantando junto com a torcida apoiando o time e o calor humano, todo mundo junto ali, é uma família unida. Por isso que eu gosto de ir pra lá, em casa você vai ficar quieto, sentado. O negócio é ficar pulando, gritando, junto com o time.
Sua ida pro jogo do palmeiras como que foi? O jogo se não me engano era 31 de maio, meu aniversário é dia 28. Aí o pessoal de casa queria fazer uma festa pra mim. Falei que não queria festa, presente pode ser. Como eu faço parte da pavilhão, ia ter a caravana lá. Conversei com o pessoal de casa que eu queria ir pro jogo, eles liberaram. Aí não folguei a semana inteira, no sábado trabalhei até umas 14h30 pra descansar, pra aguentar a ida, madrugada inteira cantando e vibrando dentro da van. Pra chegar lá no outro dia, tinha que tá bem. Aí, gastei uns 350 reais. Na ida fomos bagunçando, na volta depois da derrota foi mais tranquilo. Clima
no estádio depois da derrota é ruim, mas mesmo com a derrota a torcida do Corinthians apoia o time 90 minutos e mesmo depois da derrota a torcida continua apoiando, diferente de outras torcidas que tem que só sabe criticar.
TATUAGENS Voce tem 3 tatuagens do Corinthians? Isso.
Voce tem outras tatuagens? Tenho.
Quantas no total? 6. 3 do Corinthians e outras 3.
Qual foi a primeira que você fez? Meu sobrenome japonês escrito no braço direito. A segunda foi do Corinthians no braço esquerdo. Terceira foi um dragão na perna direita. A quarta foi uma escrita no ante braço direito. A quinta foi uma frase do Corinthians “Contra tudo e contra todos”, uma frase que saiu na época de 2012 na libertadores que tava todo mundo criticando antes da gente vencer e o primeiro símbolo do Corinthians. A sexta as iniciais do Corinthians, Sport Club Corinthians Paulista, SCCP na panturrilha.
Quando você fez a primeira do Corinthians?
Essa daqui vai fazer, tem 3 anos. Na verdade quando eu fiz meu sobrenome, já tinha a mentalidade de fazer a do Corinthians, tava só pensando numa ocasião, aí ganhamos a libertadores, em 2012, aí antes do mundial, meados de outubro/novembro, já comecei a fazer essa daqui, quando fomos campeões do mundial em 2012, acho que uma semana depois eu terminei ela.
Por que você fez? Apesar de antes ser campeão da libertadores eu já tinha vontade de fazer a do Corinthians. Se eu já tinha feito uma e ninguém em casa falou nada, falei “puta, vou meter uma do Corinthians agora”, daí foi passando aí tava sobrenado, tinha acabado de ser campeão da libertadores. Olhei o desenho, mandei pro tatuador, ele fez outro desenho e foi o que ele fez.
Como você se sentiu? Vish, tatuagem do Corinthians, pô. Lembro que quando foi campeão do mundial, na parte da manhã, fui pra af pena, saí na minha moto buzinando e mostrando. Foi louco fii.
E a segunda? Essa é uma história. Que assim, eu já tava em mente fazer essa daqui, as duas na verdade,a escrita e o símbolo. Falei “ah, vamos esperar um pouco e tal”, já tava em mente. Um ou dois anos depois da primeira. Aí por coincidência, ano passado, em 2015. Fomos eliminados pelo Guaraní, precocemente, chegou na quinta-feira, falei “vou meter essa, ‘contra tudo e contra todos’”. Ia ser só a frase, mas como eu já queria fazer o símbolo também. Já mandei pro tatuador “coloca essa frase e esse símbolo aqui, tamanho tal”. Daí, como fomos eliminados na quarta, na quinta feira já tava fazendo essa daqui. E foi campeão brasileiro depois. Aí, essa terceira foi no meio do brasileiro. Eu já tinha o desenho no celular, a maioria das tatuagens que manda no grupo do
Corinthians, eu já deixo guardado. Daí eu vi essa daqui, falei “puta, vou meter uma aqui (panturrilha) também”. Aí resolvi guardar.
E sua família? No começo ficaram só olhando, mas depois acostumaram. Normal.
Pretende fazer mais? To estudando a possibilidade, tem que ver certinho. Procurar. Pegar uma e gostar mesmo, eu pego e faço. Porque tatuagem num é fazer essa pronto e acabou, tem que olhar mesmo e gostar, porque depois num pode se arrepender. Não me arrependi de nenhuma minha. Muita gente fala pra mim “Tira,num sei o que”, eu falo que não. Não tem como. Tem que fazer alguma coisa que você gosta.
As tatuagens você faz pra mostrar pros outros o que o Corinthians significa pra você ou é uma coisa sua com o time mesmo? Cara, por um lado uma relação minha e por outro lado é pra mostrar pro pessoal mesmo. Sou corintiano, fanático mesmo. Apesar que a maioria do pessoal que vê mesmo, vê só a parte do braço, o resto fica tampado. As vezes eu mostro. O foda é quando tem gente que consegue confundir o símbolo do Corinthians com o do palmeiras, aí num dá. Fico louco já, tá errado esse negócio aí.