UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
JORNALISMO UFMS: DUAS DÉCADAS E MEIA EM RELATOS DE PROFESSORES E EX-ALUNOS
BRENDA CIRINO GONÇALVES LAYS MARQUES DOS SANTOS COLOMBELLI
Campo Grande NOVEMBRO /2014
JORNALISMO UFMS: DUAS DÉCADAS E MEIA EM RELATOS DE PROFESSORES E EX-ALUNOS BRENDA CIRINO GONÇALVES LAYS MARQUES DOS SANTOS COLOMBELLI
Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientador (a): Profa. Dra. Taís Marina Tellaroli Fenelon
UFMS Campo Grande NOVEMBRO - 2014
SUMÁRIO
Resumo ...................................................................................... 05 1 - Alterações no plano de trabalho ........................................... 06 2 - Atividades desenvolvidas ...................................................... 07 3 - Suportes teóricos adotados ................................................... 11 4 - Objetivos alcançados ............................................................. 14 5 - Dificuldades encontradas ....................................................... 15 6 - Despesas (orçamento) ........................................................... 16 7 - Conclusões ............................................................................ 17 8 - Apêndices .............................................................................. 18 9 - Anexos ................................................................................... 130
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RESUMO O livro-reportagem intitulado “Jornalismo UFMS: Duas décadas e meia em relatos de professores e ex-alunos”, tem como objetivo retratar a trajetória do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, que em 2014 comemora 25 anos de criação. Após anos de luta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul, articulado com outros segmentos da sociedade, o curso foi criado pela UFMS. A primeira turma ingressou em 1989. Com base em entrevistas e pesquisa documental da época, este trabalho apresentará perfis de pessoas que ilustram os acontecimentos, mudanças profissionais e tecnológicas e o contexto atual do primeiro curso de Comunicação Social de Mato Grosso do Sul. Este trabalho visa preservar a memória deste curso tão importante para a sociedade e para o cenário jornalístico. PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo – UFMS – Entrevista;
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1- ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO Ao iniciarmos as pesquisas para determinar personagens iniciais e questões a serem discutidas neste projeto, nos deparamos com a seguinte dificuldade: por haver somente um relato, o Projeto Experimental “Jornalismo UFMS, a primeira década (1989-1999): Opiniões de professores e acadêmicos”, que contava a história do curso de Jornalismo da UFMS. Priorizamos em nosso trabalho os últimos 15 anos, devido ao grande número de informações a serem trabalhadas e o pouco tempo disponível. O formato do produto não se alterou, apenas a proposta de abordar as duas décadas e meia de existência do curso de Jornalismo na UFMS foi modificada. Inicialmente foi proposto no projeto que o livro seria dividido em quatro partes, sendo elas: criação do curso, primeira década, segunda década e últimos cinco anos. Fizemos uma contextualização histórica da criação do curso, com base na documentação encontrada e no trabalho de conclusão de curso já citado. Assim, a partir da fonte mais importante do trabalho, o professor Edson Silva, que estava diretamente ligado à luta do Sindicato em prol da criação do curso, destrinchamos fatos importantes do início da Comissão Pró-Curso de Comunicação, criação do curso pelo Centro de Ciências Humanas e Sociais, bem como sua homologação pelo Conselho Universitário e Conselho de Centro, até as primeiras conquistas e desafios do curso recém-criado. Outra alteração, era que inicialmente tínhamos em mente entrevistar dois exalunos de cada ano a partir do ano de 2000, incluindo os autores do projeto experimental “Jornalismo UFMS, A primeira década (1989-1999): opiniões e relatos de professores e acadêmicos”, o que não foi possível por conta do curto prazo para a elaboração deste trabalho. Devido a isso, entrevistamos dez alunos de anos alternados, escolhidos com base na atuação no mercado, proximidade com o curso e indicação de professores. Além disso, outros três entrevistados que estão citados como professores também foram alunos do curso e contaram ambas as experiências.
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2- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Foram feitas 24 entrevistas, que englobam: professores atuais do curso de Jornalismo da UFMS, ex-acadêmicos e alguns ex-professores. Inicialmente com o professor Edson Silva, personagem que acompanhou de perto a luta sindical e da sociedade para criação do curso de Jornalismo da UFMS, além de ter sido membro da comissão de criação instituída pelo então reitor Jair Soares Madureira e ser atualmente docente do curso. Outros personagens entrevistados foram os professores José Márcio Licerre, Greicy Mara França, Marcos Paulo da Silva, Silvio da Costa Pereira, Taís Marina Tellaroli Fenelon, Marcelo Cancio, Daniela Ota, Márcia Gomes, Mario Luiz Fernandes, Katarini Miguel, Gerson Luiz Martins, Mauro Silveira e Jorge Ijuim. É importante salientar que três docentes atuais do curso também estiveram presentes em outra fase como acadêmicos, e as entrevistas tentaram abordar as duas fases. Pesquisa documental de projetos pedagógicos antigos e atuais (e digitalização dos mesmos para arquivo), lista de professores que já foram docentes do curso (2002 – 2014), lista de alunos ingressos até o ano de 2012, lista de alunos concluintes até 2013. Contato e pesquisa de fontes e fotografias antigas. Elaboração de roteiro de perguntas, entrevistas gravadas e não gravadas, transcrição de entrevistas gravadas, decupagem, fotografias, e elaboração do projeto gráfico do livro. Diagramação e impressão do produto e relatório. 2.1 Período Preparatório: Foram pesquisados trabalhos que pudessem ter abordado o assunto (livros, textos, entrevistas, vídeos, etc.), para entender um pouco do contexto da época e seus acontecimentos em linhas gerais, para que nos proporcionasse o entendimento do tema e desse o suporte para elaboração das entrevistas. Feito isso, buscamos no texto de Jorge Duarte (2005), os métodos de entrevistas utilizados e a melhor maneira de conduzi-las. Houve reuniões e trocas de email com a orientadora, para correções de projeto e esclarecimento de dúvidas. A partir disso foram delimitadas quais eram as fontes mais urgentes a serem entrevistadas e datas de entrevista.
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A preparação para o assunto ainda se manteve, pelo fato de que a cada entrevista ou pesquisa documental surgiam novos fatos que desconhecíamos, e que não haviam sido abordados profundamente no material em que temos nos baseado. A leitura de outros autores se fez necessária para embasar não só nossas entrevistas, mas também a escrita do livro-reportagem. 2.2 Execução: Após uma primeira conversa com o professor Edson Silva sobre o tema, entrevista e indicação de fontes e documentos, houve um estudo do tema para início da coleta de informações. Entre o período das entrevistas, houve a transcrição e a decupagem do material e organização das fontes no livro. Foram feitas vários ajustes, correções e novas decupagens nas entrevistas, além da seleção de fotos e documentos. Grande parte das entrevistas foram realizadas na Universidade, para que as fontes tivessem comodidade e também para que elas pudessem relembrar fatos importantes através do contato com o espaço. Além das entrevistas, foram desenvolvidas narrativas que contextualizam alguns fatos ocorridos e que situam o leitor antes da leitura do assunto. 1. Entrevista Edson Silva em 20/08/2014. 2. Entrevista Greicy Mara França em 27/08/2014. 3. Entrevista Jose Márcio Licerre em 27/08/2014. 4. Entrevista Marcos Paulo da Silva em 28/08/2014. 5. Entrevista Silvio da Costa Pereira em 05/09/2014. 6. Entrevista Taís Marina Tellaroli Fenelon em 11/09/2014. 7. Entrevista Raphela Potter em 19/09/2014. 8. Mario Luiz Fernandes em 20/09/2014. 9. Entrevista Juliana Feliz em 25/09/2014. 10. Entrevista Daniela Ota em 26/09/2014. 11. Entrevista Lucas Mourão em 27/09/2014. 12. Entrevista Priscilla Bitencourt em 01/10/2014. 13. Entrevista Katarini Miguel em 01/10/2014.
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14. Entrevista Gerson Martins em 01/10/2014. 15. Entrevista Márcia Gomes em 01/10/2014. 16. Entrevista Aline Maziero em 06/10/2014. 17. Entrevista Geziel Rocha em 07/10/2014. 18. Entrevista Lynara Ojeda em 08/10/2014. 19. Entrevista Mauro Silveira em 12/10/2014. 20. Entrevista Paulo Ricardo Gomes e Waldemar Gonçalves Júnior em 13/10/2014. 21. Entrevista Marcelo da Silva Pereira em 13/10/2014. 22. Entrevista Jorge Ijuim em 17/10/2014. 23. Entrevista Marcelo Cancio em 24/10/2014. 24. Entrevista Robson Ramos em 27/10/2014. 2.3 Revisão Bibliográfica: 2.3.1 Livros DUARTE, Jorge. Entrevista em Profundidade. In: DUARTE, Jorge e BARROS, Antonio (Orgs.). Métodos e Técnicas de Pesquisa Em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005. GOMES, Paulo Ricardo; GONÇALVES Jr, Waldemar; Jornalismo UFMS, A primeira década: opiniões e relatos de professores e acadêmicos. Campo Grande, 1999. LIMA, Edivaldo Pereira. Páginas Ampliadas: O livro reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. Campinas: Editora Unicamp, 1993. MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o presente: narrativa e cotidiano. São Paulo: Editora Summus, 2003. MEDINA, Cremilda. Entrevista, o diálogo possível. 2. Ed. São Paulo, SP: Ática, 1990. OYAMA, Thaís. A arte de entrevistar bem. São Paulo: Contexto, 2008. PENA, Felipe. Jornalismo Literário. São Paulo: Contexto, 2006. 2.3.3 Redes, sites, e outros: HIME, Gisely Valentin Vaz Coelho. Construindo a Profissão de Jornalista: Cásper Líbero e a Criação da Primeira Escola de Jornalismo do Brasil. V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. Disponível em:
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http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/12540642196780734527275517044180093096 5.pdf. Acesso em: 20/05/2014. Relatório de autoavaliação Setorial 2012. Disponível em: http://facom.ufms.br/~higa/CPA/2012/Relatorio_CPA-CCHS_2012.pdf. Acesso em 14/09/2014. 3.3.4 Outros documentos: Resolução 021/85. Conselho Universitário. UFMS. Campo Grande, 1985. Acesso em: 02/10/2014. Resolução 089. Implantação do Curso de Jornalismo. UFMS. Campo Grande, 1987. Acesso em: 22/09/2014. O Curso de Jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Curso de Comunicação Social - Jornalismo UFMS. Campo Grande, 1993. Acesso em: 22/09/2014. Curso de Jornalismo da UFMS - 20 anos. Curso de Jornalismo, UFMS. Campo Grande, 2009. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pNd363M8UwE. Acesso em: 10/05/2014. Egressos do Curso de Jornalismo UFMS. Arquivo Pessoal Edson Silva. Acesso em: 27/08/2014. Professores concursados do Curso de Jornalismo UFMS. 2002-2014. Acesso em: 08/09/2014. Grades curriculares, tabelas de equivalência de disciplinas e histórico do curso. Acesso em 11/09/2014.
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3- SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS A partir do movimento originário do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no ano de 1984, instituiu-se uma “Comissão Pró-Curso de Comunicação Social” em Campo Grande, que faria as devidas reivindicações para que se criasse o curso dentro da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Segundo Gomes e Gonçalves (1999, p. 11) “o trabalho desta comissão era buscar informações sobre como seria possível instalar a nova cadeira acadêmica na UFMS”. O Curso foi aprovado pelo Conselho Universitário (COUN) em 24 de outubro de 1985 (Anexo 1) e posteriormente aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão em 28 de novembro de 1987 (Anexo 2), e após uma jornada de cinco anos, em meio a brigas internas e outras burocracias, inicia seu primeiro ano letivo em fevereiro de 1989. Segundo Gomes e Gonçalves (1999, p.14) a história que foi contada no Projeto Experimental
é a de um curso de Jornalismo que enfrentou interesses internos para sua criação, após grande contenda sindical. Assistiu também a guinada tecnológica ocorrida na década de 90, com a chegada dos microcomputadores, da internet e seus recursos imensamente vinculados à profissão.
Tomamos como base para o desenvolvimento do produto o autor Edivaldo Pereira Lima (2009, p.26) em seu livro Páginas Ampliadas, que define um livroreportagem como um “veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos”. Para Pereira Lima, o livro-reportagem pode ser classificado em três aspectos. O primeiro diz respeito ao conteúdo, cujo objeto abordado deve ter relação com o factual e onde a veracidade dos fatos é fundamental. O livro-reportagem pode ser classificado quanto a linguagem empregada, montagem e edição do texto. Pode ser também identificado pela sua função, tendo ela inúmeras finalidades dentro do Jornalismo, como orientar, explicar e informar.
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O livro-reportagem pode ser fruto da inquietude do jornalista, que busca dizer algo com profundidade, mas não encontra espaço na mídia ou da vontade de realizar um trabalho que lhe possibilite utilizar seu potencial de escritor. A proposta deste trabalho é a da construção de um livro-reportagem que retrate a trajetória de duas décadas e meia do curso de Jornalismo através do relato dos fatos iniciados há 30 anos. Edivaldo Pereira Lima classifica a variedade de livrosreportagens em relação à temática e aos modelos narrativos. Com base nessa definição é que chegamos a dois tipos: o livro-reportagem-depoimento e o livroreportagem-história. Segundo Edivaldo Pereira Lima (2009, p.54), o livro-reportagem-história “focaliza um tema do passado recente ou algo mais distante no tempo”, onde o tema tem alguma ligação com o presente, o que cria um elo com o leitor. Pereira Lima assemelha o livro-reportagem que tem como objetivo a reconstituição do passado, com um grande romance, devido a sua qualidade literária. Já
o
livro-reportagem-depoimento
(2009,
p.52),
“reconstitui
um
acontecimento relevante, de acordo com a visão de um participante ou de uma testemunha privilegiada”, e pode ser escrito pelo personagem principal ou com assistência de um jornalista. Há uma dificuldade em definir uma única categoria, já que este trabalho se propõe a contar uma história através da visão de seus participantes. Para a construção da narrativa foram utilizadas as técnicas da entrevista semi-estruturada, apresentadas na entrevista em profundidade. Segundo Jorge Duarte (2005, p.63)
o texto, limitado pelo espaço disponível e objetivo, trata da entrevista individual em profundidade, técnica qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada. Entre as principais qualidades dessa abordagem está a flexibilidade de permitir ao informante definir os termos da resposta e ao entrevistador ajustar livremente as perguntas. Este tipo de entrevista procura intensidade nas respostas, não-quantificação ou representação estatística.
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Utilizamos essa técnica como forma de desvendar a história do Curso de Jornalismo através dos olhos dos personagens que vivenciaram seu desenvolvimento. Marques de Melo (2001) e Duarte (2001) definem como levantamentos históricos e biográficos. Em relação ao agendamento de entrevista, o espaço utilizado em quase todas as conversas foi o próprio Departamento de Jornalismo, não só pela comodidade do lugar, mas para também que o entrevistado pudesse relembrar fatos através da identificação com o espaço. Segundo Thaís Oyama (2008, p.10), “o território do entrevistado é sempre preferível. Deixa a fonte mais confiante e mais à vontade”. Entendemos que a Universidade seria este território, pois a maioria dos espaços continua o mesmo e tiveram poucas alterações. Auxiliaria na composição das perguntas e na identificação das mudanças em relação à época da graduação ou início de docência para os dias atuais. Para fechar a compilação das entrevistas e dos textos que explicam passagens cruciais do desenvolvimento do Jornalismo na UFMS, tentamos colocar um pouco de nossas experiências, como personagens desse processo. O estudante fica quatro anos na Universidade (ou até mais), amadurece e sai com várias histórias para contar. Não utilizamos o mesmo método de entrevista pingue-pongue, pois nos tornamos narradores-personagens. O que tentamos experimentar foi o Jornalismo Gonzo, originado no New Journalism, criado e popularizado por Hunter J. Thompson, repórter da revista Rolling Stones. Segundo Felipe Pena (2006, p.57), o “Jornalismo Gonzo consiste no envolvimento profundo e pessoal do autor no processo da elaboração da matéria. Não se procura um personagem para a história; o autor é o próprio personagem. Tudo que for narrado é a partir da visão do jornalista”. Antes de sermos jornalistas escrevendo um livro sobre o início do Jornalismo no Estado e na UFMS, somos acadêmicas deste curso. E nossa visão sobre ele, experiências e dificuldades também são relatos que ajudam a construir esta história. O Jornalismo Gonzo permite explorar a parcialidade do jornalista sobre um assunto, quando ele deveria ser isento.
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4- OBJETIVOS ALCANÇADOS Com base nos objetivos apresentados no projeto inicial, o livro-reportagem Jornalismo UFMS: Duas décadas e meia em relatos de professores e ex-alunos, conseguiu através da compilação de entrevistas, textos e documentos construir um relato que ilustre a criação do primeiro curso de Comunicação Social – Jornalismo do estado. Além da criação, o livro-reportagem trouxe a visão de personagens sobre as mudanças, melhorias, mercado jornalístico em MS e também expectativas para o futuro do Jornalismo UFMS e a profissão de jornalista. Não seria possível contar toda essa história com profundidade, este é um trabalho que demanda uma pesquisa incansável e minuciosa, e, sobretudo tempo hábil. E isso foi um ponto percebido durante a elaboração deste trabalho. Há muitas histórias, muitos personagens envolvidos em 25 anos de luta. A escolha dos ex-acadêmicos do curso levou em conta as conquistas alcançadas tanto no mercado, quanto na carreira acadêmica. A partir das entrevistas, podemos ter um panorama das possibilidades que o mercado oferece, e este era um dos objetivos a serem alcançados com este projeto. Outro objetivo alcançado foi a descrição da trajetória da também criação do Mestrado em Comunicação, outra conquista do Curso de Jornalismo UFMS.
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5- DIFICULDADES ENCONTRADAS Nosso trabalho dependeu exclusivamente da boa memória de nossas fontes, uma vez que foi através delas que contamos a trajetória de 25 anos do curso de Jornalismo da UFMS. E essa foi uma das nossas principais dificuldades, pois com o decorrer do tempo fatos importantes podem ter sido perdidos totalmente ou em partes. Outro ponto que dificultou é a disponibilidade das fontes e a falta de organização dos documentos existentes para contar essa história. Com relação ao equipamento, nossa dificuldade foi com relação a gravador. Algumas gravações tiveram problemas que impediram a compreensão de partes do áudio, mas nada que comprometesse toda a entrevista. Boa parte das gravações foram feitas no celular e algumas com gravador. Outra dificuldade encontrada foi a escassez de fotografias do início do curso e imagens cedidas pelos entrevistados. Algumas imagens foram produzidas durante as entrevistas ou em outras ocasiões. Quando não havia fotografia que ilustrasse o momento da conversa, era solicitado ao próprio entrevistado fotos que ele pudesse ceder. Com uma longa lista de entrevistas, o curto tempo disponível para a elaboração do trabalho e a pouca disponibilidade de horário de fontes importantes e de fontes que surgiram na última hora, algumas entrevistas foram realizadas via email. A importância dos personagens para o trabalho resultou na utilização desse recurso para que relatos significativos fossem adicionados ao livro. Alguns personagens não puderam dar suas contribuições. Eron Brum e Marcos Morandi também foram peças importantes nesse contexto e mencionadas em várias entrevistas. Porém, como não havia mais tempo e não houve retorno das fontes sobre uma entrevista por email, encerramos a coleta de relatos.
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6- DESPESAS (ORÇAMENTO) As despesas maiores com o trabalho foram a impressão final do livro e dos relatórios. Tiramos poucas fotocópias e impressões, pois utilizamos textos de livros da biblioteca ou arquivos em pdf. Com deslocamento e refeição ainda os gastos foram mínimos, pois a maior parte das entrevistas que realizamos foram feitas dentro da UFMS e durante um horário que já estávamos aqui para algumas aulas ou desenvolvimento do próprio trabalho de conclusão. Além disso, a Prefeitura oferece o vale-transporte para os estudantes que moram a mais de dois mil metros do local onde estudam o que favorece que as nossas entrevistas sejam marcadas neste local. Não foram adquiridos equipamentos especiais para o desenvolvimento deste trabalho, e toda a parte gráfica de elaboração e diagramação foi feita também por nós. Revisão também não precisou ser paga, pois foi feita por cordialidade.
Gastos gerais
Material de apoio
Material de consumo
Fotocópias: R$ 15,00
Computador de mesa,
Folhas sulfite A4, bloco de
netbook, pendrive,
anotações.
impressora.
Impressões de relatório,
Gravadores: celular
capa dura e outros
Samsung S5300, Nokia
documentos,
documentos: R$ 88,00
Lumia 520 – aplicativo The
marca texto.
Sound Recorder e gravador portátil.
Confecção do livroreportagem (3 exemplares): R$ 280,00
Livros e pdfs.
Pasta
organizadora canetas
de e
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7- CONCLUSÕES O curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul completa neste ano, 25 anos de luta não só contra a burocracia das Universidades, a falta de equipamentos, professores e espaço físico. Completa 25 anos de existência que ajudaram a formar cerca de 717 profissionais da área até 2013, profissionalizando tanto na graduação como desde 2011, também no Mestrado em Comunicação. Este trabalho é uma homenagem a todas essas lutas e conquistas. É também o registro, mesmo que pequeno, da história de vários personagens que ao longo desses anos ajudaram a compor essa trajetória. O curso de Jornalismo sempre foi marcado pela luta política, denúncia e pelo relacionamento com diversos movimentos sociais. E ao longo dessas 23 entrevistas, personagens, histórias e sentimentos, percebemos que apesar das mudanças estruturais, perfil acadêmico, grade curricular, o Jornalismo UFMS continua o mesmo em sua essência. Em 24 de outubro de 1985, o primeiro passo foi dado para que Mato Grosso do Sul tivesse seu primeiro curso de Comunicação Social. Em fevereiro de 1989, a UFMS recebia seus primeiros alunos para o curso que surgiu de uma necessidade do mercado e da vontade da sociedade. Apesar das dificuldades e do tempo apertado, muita história foi recuperada, descoberta e atualizada. A reunião de toda essa pesquisa pode futuramente (e deveria), servir de base para que futuros jornalistas busquem conhecer melhor o curso e acrescentem maiores informações a tudo o que foi feito aqui. Há muitas coisas que gostaríamos de ter abordado, e que certamente poderia ter espaço na mídia e o interesse dos alunos em pesquisar esses fatos. Este trabalho nada mais é do que a ânsia de duas acadêmicas em buscar histórias. O retrato do Jornalismo pelos próprios jornalistas.
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8 - APÊNDICES Transcrição de entrevistas Algumas entrevistas tiveram ruídos que prejudicaram a compreensão de palavras ou pedaços da frase. Este sinal (?) se refere às partes prejudicadas. Edson Silva – entrevista em 20/08/2014 A criação do curso de jornalismo não seguiu um roteiro que normalmente acontece na Universidade, que é da própria Universidade identificar a necessidade de oferta de cursos de uma determinada área e a partir daí se estabelece a um processo para criação do curso. O curso de jornalismo foi criado a partir de toda uma mobilização da sociedade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Assim, capitaneada pelo Sindicato dos Jornalistas, então a iniciativa foi do Sindicato dos Jornalistas, mas de outros setores, outras pessoas, profissionais ate mesmo o Governo do Estado entrou no processo, os veículos de comunicação acabaram apoiando a criação do curso. E também o curso começa em uma gestão que foi a minha gestão como presidente do Sindicato, que lá é uma diretoria, e acaba sendo criado numa outra gestão. Então foram duas diretorias, e demorou muito tempo, que entre o pedido da criação do curso e criação efetivamente foram 5 anos, O que provavelmente se vocês fizeram um levantamento aqui na universidade federal sobre a historia da criação de cada curso você vai ver que não demora tanto tempo assim, então acho que é importante retomar um pouco essa historia porque não fica apenas num procedimento burocrático para a criação de um curso, a demanda apresentada a Universidade Federal ela tinha uma sustentação que tinha uma preocupação com a ética, tinha uma preocupação com a formação técnica do jornalistas, uma preocupação com o fortalecimento da categoria, então tinha toda uma intenção de fortalecer a categoria do jornalista, não só da formação ética mas também do ponto de vista uma categoria que tem um transito político na sociedade tem uma responsabilidade enorme q é trabalhar a visibilidade de todas as questões e tal e tal, “O curso era demandado pela categoria mas também por vários segmentos que tinham interesse no aperfeiçoamento do fazer técnico e ético dos jornalistas.” Professor, o senhor disse que outros cursos não demoraram tanto tempo para serem homologados, é lógico que tem o processo burocrático e tudo,o senhor sabe se haveria outro motivo pelo qual a universidade queria barrar o curso ou achasse que não fosse de importância para a sociedade? Nós temos que entender que momento de criação do curso, que durou 5 anos, aqui na Universidade Federal,vamos dizer assim, ela tinha duas correntes: uma era formada por essa demanda que vinha do sindicato dos jornalistas que trazia consigo outros apoios
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para a criação do curso, então era uma demanda que era de fora pra dentro da universidade, que normalmente acontece é que os cursos são criados a partir da universidade, oferecidos a sociedade, nesse caso nos pedimos através de documento, oficio pedindo a criação do curso de jornalismo. Então juntos com jornalistas, com o pessoal da área da comunicação com outros segmentos que apoiavam o Sindicato de Jornalistas, porque nós mobilizamos outros setores. Junto com isso estava também a gestão da reitoria na época, que era o Professor Jair Madureira que era o Reitor e que apoiou a ideia, então o Professor Jair Madureira enquanto reitor, ele durante a campanha para a candidatura a reitoria da UFMS, a exemplo de outros candidatos, empenhou a palavra no sentido de que se ele fosse eleito reitor, tivesse na condição de reitor, ele apoiaria essa ideia da criação do curso de jornalismo, então o Professor Jair Madureira foi o escolhido e a partir do momento em que ele tomou posse, nós viemos enquanto Diretoria do Sindicato conversar com ele e ele obviamente honrou esse compromisso, que era da criação do curso. Mas mesmo tendo esse apoio externo, essa iniciativa do sindicato, mesmo tendo o apoio do reitor, nós nos defrontamos com uma outra situação, vamos dizer assim, uma outra ala, que era a resistência interna, nós tivemos a resistência interna, porque o curso ia cair num departamento grande, nesse departamento tinha mais de 60 professores, vários cursos que co-habitavam nesse departamento, então era muito compreensível a resistência, porque nos vivíamos numa situação em que o Governo Federal não era assim, como nós temos hoje, recursos, fontes de financiamentos, então assim, os cursos que aqui estavam instalados e funcionando, muitos cursos e professores que coordenavam os cursos pensavam assim: - puxa, mas se nós que estamos aqui dentro mal conseguimos nos alimentar, já não há condições, vamos botar mais um curso aqui, para poder dividir os recursos com os que já estão aqui, certo? Então alguns professores resistiram e dificultaram, sabe? Nós tivemos, vamos dizer assim, não chegou a atrapalhar,mas tivemos colegas profissionais de outras áreas de comunicação, como rádio e RP, queriam entrar juntos, como outras habilitações, ou seja, não criar só o jornalismo, mas criar outras habilitações como rádio e televisão, enfim.. Eles fizeram também algumas gestões junto com a reitoria, a reitoria recebeu esses profissionais e reivindicavam a criação de outras habilitações. O sindicato dos jornalistas foi alertado que não caberia todo mundo, outras habilitações, então, também, o fato de entrar o pedido de outras habilitações poderia dificultar. Então, de pronto, o Sindicato, também disse: olha, nós estamos indicando pra ser jornalismo, então deixa a gente entrar primeiro depois a gente criar outra habilitação, então foi mais ou menos esse entendimento. Então houve resistência, dificuldade, a gente teve que lutar, ir a fora, no mundo político, tinha deputado na Assembléia Legislativa que queria reivindicar o curso o direito da criação do curso, eles queriam os créditos, sabe? Então assim, a gente sabia também que esses que eram apresentados, esses que queriam a criação do curso em outra universidade, que não era a pública. Então, eram muitos interesses, foi uma época muito efervescente, o sindicato teve muito trabalho pra poder conduzir um processo pra chegar na condição
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de, então muita gente trabalhou, muita gente que queria mesmo, foi muito surpreendente, foi muito difícil pra criar o curso. Tanto é que o processo do curso é um negócio de 200 paginas. Na época em que estavam lutando pela criação do curso, que não existia de fato, o Sindicato era formado por quem? Profissionais de fora do estado, pessoal que trabalhava com imprensa aqui e não tinha formação, como era? O Sindicato daqui foi derivado do estado de Mato Grosso, quando dividiu o sindicato ficou lá no norte e aqui ficou o Sindicato dos jornalistas Profissionais do MS, então foi da associação que derivou o sindicato dos jornalistas (de MS), então a presidente Ecilda Stefanello, da Associação, ai quando chegou a carta sindical que abriu um processo para eleição da diretoria do sindicato, nós escrevemos uma chapa, então o sindicato foi formado por jornalistas que atuavam no estado, estavam atuando no mercado, agora, eles vinham de vários lugares, do Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais, tinha eu que era daqui de MS, mas todos da base sindical. Então essa primeira diretoria foi eleita, começou a trabalhar, como eu disse, com o primeiro ato dessa diretoria, nós chamamos uma assembléia bem mobilizada e nesse momento nós fizemos a propostas de criação de várias comissões, comissões de ética, de regularização profissional, comissão do jornal Jabaculê e uma comissão que ficou encarregada da criação do curso de Jornalismo. O estado demandava de mão de obra de fora? Nós tínhamos até pouco tempo, ainda tínhamos os jornalistas daqui, bons jornalistas que ainda estão no mercado de trabalho, a maioria não tinha formação. Quando eu cheguei aqui, em 1981, 1982, na Delegacia Regional do Trabalho, nós tínhamos 9 jornalistas registrados aqui. Mas no mercado tinha mais. A maioria absoluta era de jornalistas provisionados, porque aqui não tinha ainda o curso então podia contratar jornalistas que não tinham formação. Então a chegada do curso também deu uma regulada no mercado. Formalizou o mercado, o que não significa que a gente não tinha bons profissionais antes da chegada do Sindicato e do curso. Nós tínhamos profissionais que trabalhavam bem, que faziam jornal, televisão, rádio. Qual mídia já tinha aqui na época?O correio do Estado já tinha? Tinha rádio, televisão, jornal. O Correio do Estado ele é de 1954, fez 60 anos. O Sindicato faz 30 anos e o curso de jornalismo 25. Então, se o curso foi criado por iniciativa do Sindicato, dá pra ver que nós levamos 5 anos de processo pra criação do curso. Foram 5 anos ininterruptos. Não parou, pra não dizer assim: não, nós vamos parar pra daqui dois anos voltar. Vamos começar de novo, não foram 5 anos de gestões aqui na UFMS. Então se não tivesse uma preocupação do sindicato não teria nem tido o curso?
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Não sabemos como. Mas hoje eu posso dizer, com tranqüilidade que o fato de o curso nascer da iniciativa do sindicato, isso permitiu que a gente desse um norte pra categoria, foi iniciativa nossa, não foi dos empresários, poderia ter sido. Os empresários podiam chegar na universidade e falar: - olha nós temos muitos veículos de comunicação, mão de obra, tudo bem, legal, mas a gente quer mão de obra formada na academia, ok? Mas isso foi feito por nós. Professor, essa era uma pergunta que eu ia fazer mais pra frente, mas como o senhor está tocando nisso, como a criação do curso foi uma demanda social, como o senhor enxerga a não obrigatoriedade do diploma, por que se a sociedade queria que tivesse um curso pra formar bons profissionais, e 20 anos depois eles derrubam a obrigatoriedade do diploma. E parece que está voltando. A coisa já ta revertida. É, eu acho que esse dado, essa situação se localiza nessa esteira, nesse campo, em que a gente observa que o jornalismo, é um objeto de valor, um instrumento da sociedade, mas é muito disputado por empresários, que acham que tem que determinar, tem que decidir, como a comunicação tem que ser feita, como o jornalismo tem que ser feito. O jornalismo é um instrumento do poder econômico, que o jornalismo é um instrumento de poder político. O mundo político manipula o jornalismo, o mundo cultural manipula, o mundo econômico manipula, não é? E por outro lado você tem a força dos jornalistas que tem um compromisso ético e técnico com a informação, porque quem tem que se preocupar com a qualidade do jornalismo, antes de tudo, de todo mundo, é o profissional do jornalismo, porque nós vivemos disso, é o nosso objeto a informação, é o que nós temos a oferecer, vamos dizer assim, é o nosso produto. A informação precisa ter qualidade. Então o que vocês podem perceber é que já no nascedouro do curso de jornalismo, e também nos inicio, nos primeiros meses do Sindicato, ou seja, a categoria tratou de andar de braços dados com a sociedade. Tanto é que nós não ficamos defendendo o corporativismo, o jornalista, a categoria, não, não... Se vocês forem estudar a fundo a historia do sindicato, principalmente nesse período que precede a criação do curso de jornalismo, vocês vão ver que o sindicato, ele se envolveu de forma muito intensa com varias atividades, nós participamos intensamente das Diretas Já, fomos estratégicos, o veículo de comunicação era o Jabaculê, nós distribuímos o Jabaculê, nós temos exemplares com manchetes que fazem alusão as Diretas já, então isso é a prova de que nós tínhamos um envolvimento político, não era partidário, mas era político com o momento do pais, nos também nos envolvemos por exemplo, com alguns segmentos historicamente marginalizados, com outros sindicatos, nós fomos base pra criação depois, do Sindicato dos assistentes sociais que teve como sede o sindicato dos jornalistas, nós fomos base pra criação de entidades do movimento negro, no caso, o Grupo Tez, que tem aqui em Campo Grande, que trabalha e estuda o Zumbi, que já foi muito forte na época, lá em 80 e poucos, esse grupo nasceu também dentro do Sindicato dos Jornalistas. Assim, então a gente tinha um envolvimento, então por
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isso que o Sindicato adotou como estratégia buscar esses parceiros, sem preconceito, tanto é que buscou apoio dentro do Governo do Estado, que na época era do Ludio Martins, nós fomos buscar lá dentro, que os resistentes diziam que a Universidade não tinha estrutura, laboratórios pra formar os alunos, então nos fomos no Governo do Estado e pedimos que a Rádio e TV Educativa fossem liberadas pra servir como laboratório pro curso de jornalismo, e o governador disse positivo. Então a gente ia lá, pegava essas informações, documentava e trazia pra universidade. “Não, se a questão é laboratório nós vamos fazer um trabalho dentro da TV e Rádio Educativa”. Todas as vezes que levantavam aqui dentro, que poderia ser considerado como impedimento, a gente trazia uma resposta de fora. Quer ver outro impedimento que surgiu, a universidade não tem espaço, não tem sala de aula disponível, ah é? Nós tínhamos dentro da comissão de criação do curso de jornalismo, um professor, que era técnico na época, hoje já falecido, que é o Jorge Manhães, que trabalhava com planejamento, fazia parte da Pró-reitoria de planejamento. Ele pertencia ao grupo Tez, o grupo negro, ai você vê a importância da articulação política com outras entidades. Então, o Jorge me chamava aqui, “Edson vai lá na Universidade que eu preciso conversar com você”, me dizia ”o negócio da parando aqui”, “os caras vão dizer que não vai dar”, entende? Nós tínhamos uma espécie de informante aqui dentro. Então assim, “eles vão dizer que não tem sala de aula aqui, a tarde e de manhã, mas eu vou te dizer que horas tem e onde estão as salas.” Então ele passava pra gente um relatório. Quando chegava na hora, a gente mudava as coisas, ah então o curso não vai ser a tarde, o curso vai ser a noite. Por isso era a noite. Por isso começou a noite, a origem era noturno. Por dois motivos: por conta da gente viabilizar o espaço, e a gente desejava que muita gente da categoria que não tinha universidade pudesse cursas, mas o cara só saia do jornal a 7 horas da noite. Não tem? Tá, a gente chegava aqui no CCHS e tinha um monte de sala vazia a noite. Opa, então vamos ocupar. Então por muitos anos o curso de jornalismo foi uma espécie de vigia aqui da universidade. Porque a gente ficava aqui, trabalhando nesse mesmo espaço, até 10, 11, meia noite, 2 horas da madrugada, trabalhando com os alunos aqui, fechando Projétil... Então a gente virou meio que guarda da universidade, ninguém ficava aqui, mas a gente ficava... Porque a gente precisava de fazer o trabalho. Então assim teve essa resistência, mas não era algo que se apresentava e depois desaparecia. O professor de Artes, que era do Conselho, muita gente do Conselho resistia. Se vocês observarem, tem uma foto que é do dia em que foi votada a aprovação do curso de jornalismo, que aparecem todas as televisões aqui, uma mesa como essa aqui, todos sentados, e aparece todos os cinegrafistas em cima ali, que essa foto é muito representativa de como foi a mobilização. Praticamente todos os veículos de comunicação, se vê mais a televisão, por causa das câmeras, estavam aqui fazendo a pressão para que o curso fosse aprovado. Então, o curso não é de um grupo de pessoas, que estavam interessados, demandado pela categoria, sabe?
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O senhor começou a dizer sobre a estrutura, como era a estrutura inicial aqui? Não tinha computadores ainda, o que vocês tinham, o espaço, como era pra conseguir papel de sulfite e etc... Bom, o curso começou no tempo da chamada “lauda” de papel, que você escrevia, não dava certo, amassava e jogava começava com outra e por ai ia. Nós começamos com uma sala. Aquela sala era a sala do primeiro ano, depois foram aparecendo outras salas ai. Depois se tornou a redação. E a redação tinha mesinhas, cadeiras, e maquinas de escrever, que não eram de jornalistas, eram maquinas de escritório, tinham maquinas que tinha um carro desse tamanho. Porque o cara gerava aqueles relatórios imensos, então veio tudo pra nós, a gente aceitou, “olha a gente ta trocando as maquinas aqui, não vamos mais precisar aqui, o jornalismo quer? Claro, manda aqui pra nós, a gente consegue trabalhar com isso”. Então, era a nossa redação. Começamos a trabalhar como os alunos. Depois fomos pra uma sala que era aqui na esquina, que hoje é do Mestrado. O laboratório de televisão não tinha câmera, depois surgiu uma câmera só, a gente começou a trabalhar com uma câmera, depois que foi comprando equipamento. O primeiro equipamento de televisão foi comprado quando a gente fez um projeto pro FNDE(Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação), então a pretexto de produzir programas voltados para o ensino fundamental e ensino médio nos recebemos equipamento do FNDE. E com esse equipamento começamos a ministrar telejornalismo. Aquela briga que o senhor mencionou sobre a parcela do CCHS que não queria que o curso se instalasse, pelo fato deles terem que dividir o recurso que tinha com mais um curso se manteve depois da criação do curso, de alguma, tentando impedir de comprar material, equipamento, ou eles entenderam de fato que teria que dividir... É, depois que a gente entrou, e dá pra ver pela foto,é bem representativa. Entrou sobre pressão, e ai nós caímos aqui dentro, começamos o curso com uma professora que foi a Ana Maria, que não era da área de jornalismo. E ela tratou de chamar gente que tava no mercado pra trabalhar aqui, que foi o Celso Pellozi, mas era contratado, não concursado e tal. Depois do primeiro semestre foi feito o primeiro concurso. Agora, depois que nos entramos, nos éramos uma espécie de “óvni” aqui dentro, era um ser estranho.Primeiro porque o jornalismo não tinha tradição acadêmica. Enquanto os alunos iam aprendendo a fazer jornalismo, a gente ia aprendendo a dar aula, aqui não tinha nenhum mestre formado, aqui não tinha nenhum doutor formado, de área especifica. Então todos aqueles professores foram formados aqui, e por muito tempo os professores que eram daqui ficaram sem fazer porque ficaram aqui, trabalhando, a gente tinha que levantar, botas o curso de pé. Então, tinham pequenas resistências, mas como a gente já tava dentro, eles foram percebendo que a gente era bons de serviço, e que os alunos que não eram só nossos alunos, porque a gente dependia de professor de psicologia, sociologia, antropologia, redação, que vinham de Letras, então
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foram percebendo que o curso de jornalismo trazia um contingente de alunos com muita vontade e com perfil bom. Como é até hoje, a gente tem um perfil bom de alunos que chegam com muita vontade, interessados, participativos, questionadores... Então eles foram percebendo que não era bem assim, que não tinham que ficar tão resistentes a eles e tal. E como a gente não guardou mágoa nesse período, embora a gente soubesse que muita gente fez força, e a gente veio cair exatamente ao lado do professor que tinha dito não pra gente... Depois de algum tempo a gente tava na mesma mesa votando, decidindo as mesmas coisas... Então essa resistência acabou se quebrando, ate a gente ganhar independência que a gente tem hoje, com os laboratórios com a capacidade de fazer todo o trabalho, a gente tinha uma coerência, uma regularidade, por exemplo, o Projétil tem 22 anos, ele nunca quebrou. A gente acabou convencendo que era uma boa. E quanto tempo demorou pro curso ficar firme? Assim, agora a gente pode buscar coisas a mais pra melhorar... Levou tempo, eu posso dizer pra você que a gente continua correndo até hoje... Pra você ver, a gente não têm rádio. Rádio Externa? Rádio como a UCDB, a Uniderp... No caso deles, a rádio é universitária, mas voltada pro comercial. Exatamente, então nós não temos uma radio universitária. E ai tem que tomar cuidado porque talvez o dia que tivermos, como o rádio é um instrumento de muito potencial, provavelmente vai ficar sob controle da reitoria, como é a TV Universitária- TVU. Sob controle da reitoria e não do curso de jornalismo, então repete o modelo que tem ai fora. Por que os governos Estadual e Federal têm veículos de comunicação, então a radio que ta vindo ai, não sei como vai ser a gestão dela. Será que o curso de jornalismo pode fazer programa dentro da radio? Será que vai ter censura? Tem um projeto pra criação dessa rádio? Tá criada. Eu lembro que a professora Daniela disse na aula pra gente no começo do ano passado, na aula de rádio, que o projeto tava andando, que mais ou menos em 2 anos já sairia... O senhor tinha falado da Rádio Alternativa, quando começou e quando terminou? Puxa, tenho que fazer as contas. Mas a Rádio Alternativa foi objeto da minha dissertação de mestrado. A Rádio Alternativa é a parte prática daquilo que eu estudei na tese, parte teórica da tese. Então, falar de Rádio Alternativa, o estudo não era
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voltado só pra o radio em si, mas a comunicação alternativa como um todo, o impresso, TV alternativa comunitária, vários veículos varias possibilidades de trabalho da comunicação alternativa. Então assim, eu trabalhava na universidade, uma disciplina chamada Comunicação Alternativa I e II, e eu criei um laboratório chamado Rádio Alternativa. Fui estudando e trabalhando isso, e terminando o mestrado, a ideia foi trabalhar pegando a Rádio Alternativa e mostrando como poderia fazer uma comunicação diferenciada dessa comunicação convencional, trabalhar com comunidade, trabalhar com movimento social e sindical, só que depois que eu testei a radio e fiz o trabalho inicial no âmbito da comunicação alternativa e no âmbito da minha dissertação de mestrado... como a universidade nunca teve rádio e nunca teve laboratório de radio, a Alternativa se tornou o laboratório pra ensinar rádio, que foi no período que eu fiquei afastado, então nesse período quem ficou aqui transformou a Rádio Alternativa no laboratório de rádio. Então, aquele projeto que era pra trabalhar na comunidade, ele ficou meio retido aqui dentro. Porque na primeira fase da Rádio Alternativa, era pra gente desenvolver junto com os alunos esse espírito do alternativo, do comunitário, capacitando dentro da universidade. Então, a Rádio Alternativa tinha um modelo que depois a gente adaptaria nas comunidades. Então nos fizemos essa primeira fase, que era desenvolver a Rádio Alternativa aqui dentro e no final da primeira turma, nos primeiros 4 anos, nos projetos experimentais. Nós conseguimos fazer dois projetos experimentais aqui dentro, que foi a Rádio Popular São Benedito, e o Vídeo Popular chamado “Tia Eva, sua história continua”, como conseqüência de todo esse trabalho que foi feito em Comunicação Alternativa I e II e em decorrência daquilo que eu havia desenvolvido na minha dissertação de mestrado. Então nós fizemos esses dois projetos experimentais na comunidade que são referencia. Essa ideia de dar procedimento, voltado pra essa coisa da comunicação comunitária, foi refreado quando o departamento transformou esse num laboratório num laboratório convencional. Então as disciplinas de rádio passaram a ser ministradas nesse laboratório que tinha o lab. básico e tinha a transmissão via ondas eletromagnéticas que pegavam aqui no Campus e pegava num pedaço da cidade, e não podia! Por que a gente não tinha autorização pra funcionar, e era uma espécie de uma rádio clandestina, pirata. E eu sempre disse que não era nada disso, nem clandestina porque ela tinha endereço, nem pirata porque não visava ouro. Bom, como é que funcionava a rádio? Eu tinha os alunos de jornalismo que fazia, por exemplo, a disciplina jornalismo cientifico, que diziam que queriam participar do projeto Rádio Alternativa, e eu dizia, tudo bem, o que você tem pra propor? A gente queria fazer sobre jornalismo cientifico, a gente vai fazer um programa falando da produção cientifica da universidade federal...Tudo bem, então põe no papel, então eles montavam o programa e tinha um horário da rádio, meia hora, uma hora por semana... Um cara de Física disse, “professor nós temos uma banda de música e a gente quer promover, a gente tem composição nossa, musica que a gente produz e a gente quer um espaço na rádio... Tudo bem, uma hora de programa. O cara ia lá no dia e tocava ao vivo. E a rádio tinha um telefone, e tinha o feedback... o cara tava lá na
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química e tava ouvindo, “ó, nós estamos ouvindo, ta legal! não ta muito bom, aumenta o som...” A rádio era um pouco precária, mas funcionava, o cara pedia musica. Tinha um pessoal que era da obra que trabalhavam na obra aqui, entrava as 7h, eles chegavam as 6h com programa dele no script, e o programa era de musica sertanejo, chamava Bom dia Universidade. Tocava todas e ainda trazia as duplas, mandava abraço pra mulher, “ mulher, to aqui trabalhando, deixei o café já pronto pra você...” Ele montava um programa que era pro setor dele, só que esse setor interessava também pra outras áreas. Ele tinha o público dele, porque quando ele chegava e dizia que queria montar um programa de musica sertaneja eu dizia pra ele fazer a proposta. Eu trazia pra reunião, o conselho da radio era montado por quem tinha programa. Eu era coordenador. Ai quando chegava aqui na mesa pra discutir, trazia o cara, pra falar do programa. Ai você imagina o cara, pedreiro, vem aqui pra falar do programa dele, falava tudo errado e aqui queimavam ele... Mas eu dizia, “isso aqui é uma rádio comunitária então tem que ter espaço pra todo mundo. Por que o cara não pode fazer o programa?” E sem ter programação musical, cultural, vocês não conseguem fazer rádio. Ela funcionava todo dia. Tinha um horário fixo? Tinha horário fixo, todas ás tarde. Tem que ver a programação. Eu estou dizendo o período que eu coordenava. Teve uma vez que chegou um rapaz que trabalhava num setor aqui, e disse “Professor, eu quero montar um programa lá da minha igreja, um programa evangélico.” Foi bravo essa hein... Falei, “vamos lá conversar com os meninos...” Olha, eu disse “fique tranquilo, vai fazer o programa...” Mas os caras encheram tanto o saco dele que ele desistiu... A rádio é democrática, só não pode tomar conta partido político, igreja... Tinha um cara que montou um programa que era de seresta. Ele fechava a rádio 21h. Esse negócio de montar a lista dele, eles traziam aquelas fitinhas com todas as musicas que eles queriam? Sim, a fita cassete. Era bem precária ainda na época né? Você viram o tanto de fita que tem lá na minha sala, o bolachão... Eu ainda tenho as fitas, o prefixo da rádio “Rádio Alternativa, o laboratório de Comunicação Alternativa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, sintonize 105,5.” Professor, falando agora da estrutura pedagógica e como ela era? Existia um padrão do MEC ou vocês criaram tudo do zero? Quando fizemos o projeto de criação do curso, essa comissão encarregada de criar o curso apresentou uma grade. Eu me recordo da época em que nós levantamos várias
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grades, nós consultamos vários cursos. Até pouco tempo, o pessoal achava estranho nós termos jornalismo cientifico. Então não tinha um padrão do MEC? Não, o MEC exigia as disciplinas daquele tronco, aquela base da formação do profissional, e as outras disciplinas nós fomos introduzindo de acordo com a necessidade, por exemplo, ter comunicação rural, era importante ter. Na época eu me recordo que sugeri jornalismo científico, porque eu achava que era importante trabalhar isso, porque tava dentro de uma universidade, comunicação alternativa é a mesma coisa, era importante ter... Então nós introduzimos essas disciplinas além das obrigatórias, ou seja, aquelas que o MEC exigia na época. Tem alguma história da primeira turma que é marcante? A primeira turma foi muito importante sim. Como isso vinha do Sindicato, teve essa resistência, então assim, a primeira turma acreditou nisso... Num projeto com um grupo de professores que mesmo concursados eram professores que só tinham graduação, não entrou ninguém com mestrado e doutorado. Foi uma opção do senhor não entrar logo como docente e esperar uma qualificação melhor? É, tem uma historinha que eu ainda não posso contar desse processo todo, por que quando o curso tava quase sendo criado minha gestão terminou.... Eu pensei, bom esse curso vai ser criado, então eu vou me capacitar porque eu quero dar aula nesse curso. Então eu fui embora pra São Paulo e trabalhei na imprensa local e fiz o mestrado. Quando eu estava no final do mestrado o curso foi criado. E eu fiz o concurso. Só que antes da criação mesmo, teve um professor que me chamou e disse, olha nós vamos adotar tal procedimento aqui e a gente avisa que você vai ser um dos professores, e eu disse, como se eu ainda estou fazendo mestrado, já vai ter concurso? Não, não vai ter concurso mas nós vamos adotar um procedimento que vamos arrumar mais professores e você vai ser um deles. Então a gente quer saber se você aceita? E eu disse não. Por que como vocês vão colocar esse cara ali dentro, pela janela? Eu não quero. Estou fazendo mestrado, quero que abra um concurso, que eu venho fazer, quero passar no concurso, quero ser professor efetivo da universidade, porque como eu tive um compromisso com a criação do curso, eu quero ter um compromisso com a manutenção da universidade. Eu quero estar lá dentro, quero acompanhar... Demorou a chegar professores qualificados que tinham formação em jornalismo? Então, nós tivemos o primeiro grupo que foi selecionado, nós tivemos um concurso que aprovou 6 professores, só que desses, só tinham 4 vagas, foram chamados, e depois os outros 2. Entre esse pelotão, demorou um tempinho de uns dois anos. Depois
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demorou um tempão. Mas foram chegando aos poucos... A Ruth Vianna. Teve outro concurso.. ai que entrou o Mario, ah não, o Mario entrou comigo... Mas o senhor chegou pra turma de 89? Quando eu fiz o concurso, eu não era mestre. Porque o concurso não exigia o mestrado, eu ainda era graduado. Tanto é que o ultimo ano do meu mestrado eu fiz viajando... Eu trabalhava e fazia mestrado e São Paulo,ai quando eu passei no concurso, eu voltei lá e pedi demissão.e comecei trabalhar aqui, ai comecei a viajar. Viajava toda semana. Criação do Projétil, os primeiros anos. Deixa eu ver se me recordo. O Projétil sempre acompanhou esse modelo de hoje, que é de 3 professores trabalhando que é um prof. de redação, um de edição e um de planejamento gráfico. Sempre foi de uma forma aberta, pra que o aluno pudesse participar e dar sugestões. Fizemos inicialmente um concurso pra saber qual seria o jornal laboratório, e acabou saindo esse nome O Projétil. Os professores trabalham de forma bastante unida e aberta... Os alunos participam abertamente da pauta. Não me recordo como era tecnicamente o jornal, mas sempre foi tablóide, como é hoje, em cores, as primeiras edições eram coloridas. Imprimiam em gráficas fora da universidade. Mas o modelo sempre foi assim, onde o aluno tinha autonomia pra sugerir, produzir, pegava o jornal com vontade. O Projétil recebe algum tipo de subsídio da universidade? A universidade que paga a impressão, e a universidade contrata as edições. Quanto tempo o senhor levou do mestrado para o doutorado? Eu comecei meu mestrado antes de começar o curso, eu terminei meu mestrado em 92, eu levei 4 anos pra fazer mestrado... Em 1996, eu sai pro doutorado, e fiquei 3 anos. Voltei só com exame de qualificação pro doutorado, não defendi, esse primeiro doutorado não foi defendido. Voltei, assumi minhas atividades, tive problemas pessoais, inclusive de saúde. E fiquei trabalhando pra ver se dava conta de concluir o doutorado. Isso não foi possível pois acabei me envolvendo com várias coisas, com Projeto, com as atividades aqui, porque o grupo de professores era um grupo pequeno então a gente tinha uma carga horária bastante excessiva, embora hoje não seja muito diferente. E depois de 2000, quando voltei e reassumi, eu só fui mexer com doutorado agora em 2010, então fiquei um período longo, de mais de 10 anos tentando voltar pra terminar o doutorado,e só agora em 2010 eu consegui viabilizar um orientador, que foi na Universidade Autônoma de Barcelona que foi onde eu fiz o doutorado. O senhor ficou três anos lá?
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Eu fiquei 3 anos fazendo o doutorado, a maior parte eu fiquei lá, teve períodos que eu fiquei fazendo pesquisa de campo, então eu voltava pro Brasil, e fiz 22 entrevistas pro doutorado. Uma parte foi no Brasil e uma parte lá. O senhor saiu em 2010 e voltou em 2014, qual foi a maior mudança que o curso teve, na sua opinião? Eu ainda não consegui assimilar. Mas o que eu percebo é que o curso é outro, o grupo de professores é um grupo novo. Os professores antigos ou estão aposentados, ou morreram, se foram... Dos professores antigos, tem eu e o Licerre,e o restante é tudo considerado professor novo. Quando eu sai em 2011, já estavam chegando o prof. Silvio, o Mário Luiz. E quando eu cheguei tinham mais professores novos. Então, essa coisa de ter professores novos é uma diferença, então mudou a cara do curso. Eu percebo também a diferença no perfil dos alunos, tem muitos alunos bons com perfil interessante, mas assim, o curso parece que era mais político antes, e mais pegada política e perfil voltado pro social. Era mais engajado socialmente. O Projétil era mais social, o curso era mais voltado pro social. Então, assim quando eu voltei eu percebi que comunicação alternativa, essa coisa voltada pra comunidade, ela foi cortada por alguma orientação interna do curso, dos professores, percebi essa coisa do Projétil, de envolvimento político. Ele é bem feito dentro do processo e tal. Mas parece que os alunos, no processo, já não apresentam mais perfil, mas talvez isso não tenha a ver com o perfil. Será que o fato de muitos novos estudantes serem de outros estados? Também, as novas tecnologias, o fato de ter alunos de vários pontos que não conhecem a realidade cultural, social daqui, a mudança na grade curricular que teve. Eu me recordo que quando eu sai em 2010, eu propus a criação de uma disciplina que substituía a alternativa, que é dada no quarto ano, não sei se vocês tiveram, “tecnologias, movimentos sociais”. Porque já em 2010 a gente entendia que aquilo que nós tínhamos, as dificuldades dos anos anteriores, ou seja, pra trabalhar com comunidade, você praticamente não tinha possibilidade, pois não tinham instrumentos, porque pra fazer um jornal precisa de mimeógrafo, Xerox, usava essas tecnologias pra fazer o jornal, os movimentos não tinham dinheiro, era caro o jornal. Jornal é uma coisa cara até hoje. Hoje, com um computador e um celular eu tenho uma estação montada: eu escrevo, conecto com o mundo, eu fotografo, mando torpedos, recebo. Então a comunicação de duas mãos, com dois mil reais, uma comunidade aqui do MS fala com seus irmãos da África, ou seus irmãos, em qualquer lugar do mundo. Então, nós tratamos de propor essa disciplina, e pra nossa surpresa, ela saiu do lugar, que era no primeiro ano. E não no último. Por quê? Porque você botaria o pé aqui na universidade e seria uma disciplina de apresentação, esses alunos seriam apresentados à esses movimentos sociais, comunidades, o compromisso seria isso, visitar, gerar relatório, fotografar, conhecer, pra ele ter sob a mesa um menu de possibilidades pra poder fazer
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um trabalho mais comunitário mais voltado pra os movimentos social e sindical.Quando isso vai pra o ultimo ano, tudo bem, também dá pra fazer alguma coisa, mas o tempo já passou. Não há tempo pra mais nada. Isso é uma coisa estranha. Você deixa pro final, Você basicamente já definiu qual é seu projeto experimental. Então, como é que você vai fazer um projeto experimental com comunicação alternativa se você agora foi apresentado. Pra grade que vai ser implantada no ano que vem, o senhor propôs alguma comunicação alternativa? Não, eu cheguei aqui as coisas estavam andando, mas como tem essa, acho que ainda dá pra salvar alguma coisa. Propus como optativa e não obrigatória, propus livro reportagem. Depende do curso dizer, olha livro reportagem vai ser oferecido esse ano. Porque pra oferecer, eu tenho que ter o horário pra isso. O senhor viu, está por dentro da nova grade? Eu conheço, recebi a grade, mas não me debrucei sobre a grade pra ver. Sei que há alterações na pesquisa jornalística, pesquisa com entrevista dissociada da reportagem. Não sei se é uma boa, tem que ver também. Existe já um projeto pro doutorado de comunicação? Que eu saiba não. Outra coisa nova que tinha quando eu voltei eram as instalações do mestrado. Eu não participei desse processo. Acredito que pensar em doutorado daqui uns 10 anos... Tem que formar essas turmas ai, tem mais gente, todo um processo. Antes de o senhor ir pro mestrado, já se pensava na criação do mestrado? Já, várias tentativas de criar o mestrado. Professora Greicy Mara França, entrevista em 27/08/2014. Formação acadêmica – Sou graduada em matemática (FUCMAT) com mestrado (UFPB) em informática, entrei nessa universidade por concurso para a computação. Em 94, comecei a dar informática no curso, e em 96 eu vim removida pra cá. Aí eu fiz especialização em comunicação e doutorado em comunicação (UMESP). Como foi sua entrada na UFMS e posteriormente no curso de Jornalismo? Em 94, eu comecei a dar aula de informática no curso (de jornalismo), aí eu tinha interesse em sair lá do departamento, o jornalismo tinha interesse em ter um professor de informática, aí a gente negociou, tentei duas vezes, na segunda vez consegui a remoção pra cá. Quais disciplinas trabalhou no início? Quais trabalha atualmente?
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Na época eu só dava Informática, depois que eu fiz especialização eu comecei a dar História da Imprensa. Depois do doutorado,eu dou metodologia, planejamento da pesquisa, cientifico, ambiental, comunicação e saúde. Eu já trabalhei comunicação comparada, quando eu voltei do doutorado que hoje é aquela sistemas de comunicação que vocês tem no primeiro ano, né, mudou de nome. A senhora já tinha algum interesse na área de jornalismo antes da senhora vir pra cá? Não. Eu comecei dar aula e comecei a me envolver. Por que o que acontece, quando eu comecei a dar aula, foi quando o curso teve o primeiro laboratório de informática. Um laboratório com cinco micros pensa um laboratório com cinco micros. Naquela época você tinha que ligar em rede, o Márcio (Licerre) não tava conseguindo, ele pediu minha ajuda, na época meu marido ajudou também, nós colocamos o laboratório pra funcionar. E aí com cinco micros, eu tinha aula de noite até de madrugada, porque eu tinha que dividir a turma. Foi aí que começou meu envolvimento com o curso, e aí fui me envolvendo, tinha interesse de vir pra cá, aí eu vim. Período de coordenação do Jornalismo - Como foi? Três vezes, não me pergunte os períodos que eu não lembro mais. Assim que eu vim pra cá, que eu vim pra cá tipo, se foi 96 ou 97 não lembro direito, setembro. Em fevereiro, eu assumi a coordenação porque a coordenadora adotou uma criança e saiu de licença maternidade, ninguém queria, a Greicy ficou. (outra questão) Sempre, todas as vezes que eu peguei a coordenação, foi nessa situação. Na segunda vez, nessa foi pra substituir, daí depois foi pra, venceu o mandato, ninguém queria, ninguém queria, jogaram pra mim. Mas como eu não tinha formação na área na época, foram na direção de centro consultar se eu podia, aí falou “oh, se ninguém quer” aí eu peguei de novo, aí depois teve outra vez que ninguém quis de novo e eu peguei de novo. E agora não pego mais. Mas ainda existe essa briga por causa da coordenação? Sim! Aqui agora nós estamos numa situação assim, “você tá em estágio probatório né Marcos Paulo, pega”. O Silvio pegou na mesma situação, porque eles queriam jogar pra mim, vieram jogar pra mim daí até o Fernandes (Mário) falou “a gente precisa fazer um rodízio” falei, “concordo”. Eu já fui coordenadora três vezes, a hora que todo mundo passar pela coordenação três vezes eu pego de novo. Boa viagem. Porque ninguém quer, é um abacaxi gente. Mas é por causa dos problemas internos do curso ou é muita coisa pra resolver? É muita coisa pra resolver e a burocracia da universidade é uma desgraça. Tendeu? Houve muitas desavenças entre o Jornalismo e outros cursos desde a criação. Você se lembra de algum episódio importante seja ele relacionado a desavenças entre cursos ou internas? Não, quando eu entrei aqui, o jornalismo e a artes eram um departamento só, era o departamento de comunicação e artes, era junto tá? Ficava ali onde fica o Projele. Aí depois, não sei em que ano, aí vocês tem que fazer o levantamento histórico, aí foi construído aquele bloco onde está a artes hoje, na época eu era até coordenadora. Aí
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nós optamos por não ir pra lá, porque nós iríamos pra lá enquanto sala de professores e os laboratórios ficariam aqui, o curso era noturno. Ou seja, se eu tivesse numa sala lá e tivesse que vir dar aula, eu teria que vir no escuro. Então nós optamos em não ir pra lá em função disso. Aí o quê que aconteceu, eles foram pra lá, nós entramos de férias, quando nós voltamos a universidade tinha leiloado aquele espaço ali do Projele, metade pra não sei quem, metade pra não sei quem, nós não estávamos nem lá e nem aqui, nós estávamos no meio do corredor, o jornalismo. Aí nós fomos pra cima da reitoria e da vice-reitoria, nós tínhamos feito uma vez uma reunião com o vice-reitor e com o reitor e nós tínhamos um documento por escrito que esse espaço ia ficar pra gente. Nós tivemos que ir a esse nível pra não ficar no meio da rua, porque pra universidade nós estávamos lá com a artes, e nós não tínhamos ido. E eles tinham pego o espaço e dividido pra outros setores e a gente estava no meio da rua. E aí com esse documento nós conseguimos garantir ali, só que era pra sabe aquelas salas de fora, onde é a rádio e do lado? Eram salas de aula, então era pra ficar tudo pra gente e nós teríamos as quatro salas de aula do curso aqui. Aí o diretor de centro na época, não sei, acho que era o Jesus Eurico, pegou, negociou e passou as salas de aula pra frente sem comunicar a gente. Então é assim, uma briga de espaço desde que nós estamos aqui. Aí eu fui pro doutorado, quando eu voltei do doutorado tinham dividido, e tinham criado o departamento de jornalismo, que era na época, sabe onde é ali a secretaria acadêmica, tem aquela parte da janela e tem a outra parte de cá não tem, aquela metade lá é onde ficava o jornalismo. Tanto não tinha espaço, que quando eu voltei do doutorado, eu fiquei numa mesinha na hemeroteca porque não tinha onde ficar. Aí depois eu acabei pegando a chefia do departamento que não tinha nem gratificação porque ninguém queria também, e eu dividia a sala com outro professor porque não tinha como ter uma sala só pra chefe de departamento. Aí depois que as pró-reitorias foram lá pra cima, a PROPP era aqui, a pró-reitoria de pesquisa e planejamento, a direção de centro viria pra cá, e nós ficaríamos com todo o espaço. Só que lá na secretaria acadêmica, tem um armário que fica a pasta de todos os alunos que um dia passaram pelo CCHS, e aquele armário pra desmontar e tirar ele de lá dava muito trabalho e acho que era muito caro, então eles negociaram com a gente, nós viemos pra cá e eles ficaram com o espaço lá, por isso que hoje a gente tem um espaço grande, se não a gente estaria naquele espaço lá. E com relação as salas de aula, que o curso ainda não tem esses espaços.. tem alguma proposta pra isso? E nem vai ter. Não vai ter isso, porque na realidade, se você perceber a universidade ela ta criando os espaços pra todo mundo, a unidade 6 é assim e o multiuso é assim. Pra não ficar nessa coisa, a sala é minha e ninguém usa, né porque na realidade o que acontecia era isso, aquela sala era de letras, e não sei o que, esse aqui fica implorando pra usar, as vezes você não tinha sala, então a universidade ta criando esse processo. Tanto que, por exemplo a multiuso não é de ninguém, ela ta cadastrada na pró-reitoria porque quem responde por aquele espaço é a pró-reitoria, pra não dizer “ah é do jornalismo, é da computação”, entendeu, então eles estão criando espaços assim. Quer dizer, hoje já está bem em termos de espaço, porque a gente tem espaço lá e tem no mestrado, mas teve época que não tinha nem onde enfiar aluno, né.
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Quando a senhora chegou aqui de volta do doutorado, quais foram as principais diferenças que a senhora encontrou aqui no curso. Não só em questão física e pedagógica, mas de professor também. Não sei se tinha mudado alguma coisa... Não, o que havia mudado é que a Márcia tinha passado no concurso. Era a única pessoa diferente que tava era a Márcia. Teve alguma mudança no projeto pedagógico quando a senhora estava fora? Sim. Não, quando eu tava fora não, depois que eu voltei mudou a grade. É a grade que vocês estão hoje. Porque tinha uma grade que antiga, aí teve uma provisória, que na realidade era a mesma de vocês, mas era meio que um experimento. Aí depois entrou essa grade, que é a que vocês estão agora. A grade tem um período pra ficar ou ela depende do MEC? Não, ela depende da gente. Entendeu? A gente que atualiza. Porque assim, na grade antiga, pelo assim que eu sei de quando eu entrei no jornalismo, tinha uma normatização da grade, que tinha que ter tais disciplinas, tanto que planejamento do Márcio (gráfico), planejamento gráfico, umas disciplinas que a gente achava desnecessária, porque você podia condensar em outras, você não podia tirar da grade era já uma normativa pra criar. E aí, quando eles liberaram isso, aí nós mudamos a grade pra melhorar a grade. E isso a gente tem mantido até agora, e agora a gente vai mudar porque agora se institucionalizou que agora não vai ser mais bacharelado disso e daquilo, vai ser bacharelado em jornalismo, em publicidade, não vai ser em comunicação-habilitação. Então nós estávamos aguardando a aprovação disso pra mudar a grade. Então a partir do ano que vem, a grade é nova e o curso se chama bacharelado em jornalismo. Segundo o trabalho de conclusão de 99, você participou da informatização do curso nos anos 90. Como foi? Houve muita dificuldade? Olha, a gente brigou a vida inteira por isso, não sei em que período, o Marcio deve saber melhor do que eu isso. Nós recebemos uma leva grande de computadores. Foi a primeira redação decente que nós tivemos. Dali nós ficamos só remendando computadores, remendando, remendando até que, sei lá, um tempo atrás que vieram computadores novos. Em termos de informatização foi sofrido. Marcio te conta melhor isso, porque ele sempre foi o coordenador a redação. O que fez melhorar, foi meu projeto do Núcleo de Jornalismo Científico, até imprimi dois artigos pra você usarem depois no livro ta, o que acontece, esse projeto, foi encabeçado pelo Mauro, o Jorge, que hoje estão na Federal de Santa Catarina, eu, o Licerre e o Davi. Aí fizemos reuniões lá com secretaria de informática do Estado, eles apoiaram a gente, a gente tentou o projeto e não conseguiu. Depois foi tentado de novo com o apoio do deputado Biffi, que conseguiu uma emenda parlamentar pra aprovar o projeto. Foi aprovado, mas sei lá, o dinheiro só veio um ano depois. O que aconteceu? Quando a verba veio, o que a gente tinha pedido de equipamento já estava tudo desatualizado. Ai fizemos um novo levantamento, uma nova lista de material, mandamos pro Ministério da Ciência e Tecnologia pra aprovação dessa compra. Porque assim, quando você tem aprovado um projeto por qualquer financiadora que seja, você não pode mudar o que ta escrito lá, mesmo que você chegue numa loja e compre dois computadores pelo preço do que ta um ali, se eu falei que ia comprar um, eu tenho que comprar um naquela especificação
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que ta lá, não posso mudar nada. Aí nós fizemos isso, foi aprovado, e aí nesse período o Mauro já tinha ido, porque ele passou em primeiro lugar no concurso, ele foi, daí com o tempo o Jorge tinha passado em segundo e foi chamado, ele foi por transferência e eu fiquei na responsabilidade do projeto. Eu comprei todos os equipamentos, só que a contra-partida da universidade era a reforma do espaço. Esses computadores ficaram sei lá, dois, três anos amontoados na minha sala. Todos os equipamentos. E aí o que aconteceu, teve um período, foi até a turma do Lairtes, acho que em 2009 eles fizeram informática comigo, e a redação tava sucateada, que não tinha como dar aula. E aí, eu dei a parte teórica e não tinha laboratório. Como tinha mudado a grade, eu tinha a turma do segundo ano que na grade antiga informática era no segundo ano e tinha a turma nova com informática no primeiro ano, e aí o que eu fiz: eu instalei dez computadores aqui, porque na época eu e o Lanari ficávamos na outra sala, instalei dez computadores aqui e dividi a turma do segundo ano em três turmas pra poder dar aula, porque a turma do primeiro ano você ainda recupera depois, a turma do segundo ano eu tinha que fazer andar. Fiz três turmas pra atender a turma, pra dar aula de informática e eles irem. Nessa sala aqui, a redação nossa era essa sala aqui. Eu e o Lanari dividíamos a sala lá, os equipamentos estavam tudo empilhados aqui, aí o Márcio consegui que instalasse dez computadores aqui, e eu dava aula aqui. Aí depois de um tempo eu e o Márcio conseguimos que viessem computadores novos pra redação. E ai conseguimos a reforma lá do laboratório do núcleo, que foi montado lá e nós ficamos com dois laboratórios, aquela sala da frente ali, multimeios, é do projeto. Eu equipei praticamente o curso inteiro. Secretaria, a impressora da secretaria é do meu projeto, vários professores têm computadores do meu projeto. A rádio estava sem computadores, a gente tava com computadores parados, aí eu cedi pra Dani (Daniela Ota) instalar lá pra ter o laboratório de rádio. Quer dizer, o Núcleo por um bom tempo foi o que segurou o curso, em termos de laboratório, computadores que os professores usam são do projeto, a secretaria sequer tinha impressora pro secretário imprimir as coisas, a que ta lá é do projeto, ou tinha ou não tinha. Como eu recebi outra impressora, eu cedi a que ta lá. Com relação ao novo projeto pedagógico que vai entrar em vigor no ano que vem, em que a nova grade pode beneficiar os novos alunos? Eu acho. Aquelas disciplinas do sétimo semestre que vocês tem, científico, ambiental, rural, vai tudo passar a ser optativa. Que eu acho que é o correto, porque assim, você que tem que optar a área que você quer. Hoje não, você gostando ou não gostando de científico, você é obrigado a assistir aula, gostando ou não gostando de ambiental, você assiste. Se você detestar rural, você vai lá pra Embrapa e acabou a conversa. Eu acho que você chega num momento, que você tem que optar qual are você quer trabalhar. Então essas disciplinas passam todas a ser optativas. Eles tão começando a deixar o aluno mais solto pra poder escolher pra que lado que vai. E eu acho que isso é uma grande vantagem pra vocês, você faz uma disciplina de redação e uma de tele, se você se interessar você vai lá e faz um optativa da área. Mas se você põe tudo na grade, o aluno é obrigado a fazer tudo, inclusive aquilo que não interessa pra ele. Que eu acho que vai reduzir um cargo pros alunos. Outra coisa que mudou e vai beneficiar, planejamento da pesquisa passa a ser projeto experimental I e sai do sexto semestre e vai pro sétimo. E aí, no final da disciplina você vai ter que qualificar o projeto, não vai pra ficar brincando na minha aula de fazer um projeto à toa, e depois mudar. Aí vai ser
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projeto experimental I e II, no I você faz o projeto e qualifica e no II você termina de desenvolver o seu TCC. Qual o problema da grade hoje, que ai você brinca no sexto semestre, chega no sétimo você tem um monte de disciplinas, que aí você não tem tempo nem de pensar no TCC, quando você pensa nele já tem que entregar o projeto.Aí você surta. E dessa forma não, porque o problema é que fique esse espaço, porque no sétimo semestre você não tem um professor pra te puxar ali, olha o TCC, olha vamos fazer. E tendo uma disciplina que você tem que qualificar, você vai ter um professor te cobrando ali e você sabe que no final do semestre ou você qualifica ou você volta ano que vem. Isso vai ajudar o aluno a não ficar perdendo tempo. Como vc vê o curso hoje, em relação a todas as mudanças ocorridas, sejam elas pedagógicas e de estrutura... Há algo ainda que melhorar? Ah, eu acho assim, que em termos de laboratório, de quando começou e como nós estamos hoje... Ah, olha aí o homem da informática! Assim, melhorar, melhorou muito! Bastante, porque é aquela história, você compra equipamento hoje e ano que vem já está defasado. Se você pegar os laboratórios, com exceção talvez da rádio, o resto talvez esteja tudo defasado. Segundo, o nosso maior problema é técnico. Laboratório nenhum aqui tem técnico. Porque os funcionários da universidade não querem trabalhar. Então tipo, “isso não é minha função”. Chegamos num ponto em que o técnico ficava sentado numa sala com o data show, você ia lá, ele te dava o data show, a chave da porta da sala, você assinava um papelzinho, ia lá abria a porta e instalava no meio da aula você precisava de um técnico não tava. Aí eu falei pro pessoal “gente, se for pra fazer isso a gente não precisa de um técnico, você põe tudo na secretaria e cada um pega o seu. Hoje é desse jeito, os data shows estão na secretaria. Ou seja, qual o problema dessa universidade também, ela não pude os funcionários. Eu enquanto chefe de departamento, punha gente a disposição, enquanto coordenadora de curso punha gente a disposição, o que acontece? Passam a mão na cabeça e colocam ali do outro lado, e continuam sem trabalhar do mesmo jeito. Ai você faz o que? Agora que a gente conseguiu um secretário, porque nem secretário tinha! Em termos de apoio técnico nós não tem nenhum dentro do curso, a gente se vira sozinho. Eu tenho um data show que é do núcleo, então não preciso ficar esperando lá, cato o meu e levo. Mas a gente tem que abrir a porta, tem que fechar a porta, se eu for a última a sair do daqui tem que ligar o alarme... Eu não ganho pra isso. Você se importa de fazer isso? Não, uma vez ou outra.. mas virou lugar comum né. Eles não estão nem aí se você está sem funcionário, se vira! Nossa grande defasagem sempre foi os técnicos. Os técnicos da TV, são todos contratados, não são nenhum do quadro da universidade. Se amanhã ou depois o ministério falar “proibido contratação externa”, nós ficamos sem técnico pro laboratório. Eles não são funcionários da universidade, são terceirizados. Então essa defasagem, anos! Professor de fotografia, desde que começou o curso o primeiro professor de fotografia que nós tivemos quem foi? Silvio. Quantos anos fazem que o curso existe? Sempre na base do substituto, teve uma época que foi o Hélio Godoy, aí você sabe que substituto muitas vezes não atendem as necessidades que você quer mas, é o que tem. Então, entendeu? Agora o grande passo que a gente deu, foi o mestrado. Depois de anos! Com relação ao quadro de professores, o curso ta bom ou...
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Considerando o que já foi, nós estamos bem. O que fez crescer foi a força do mestrado. Por exemplo, o Jorge foi embora nós conseguimos depois de anos um concurso, porque na realidade como ele foi transferido precisava vir uma vaga de lá pra cá. O Mauro saiu, nós fizemos um concurso. Teve outra professora, Desirée que saiu pra fazer doutorado na Metodista, aí o marido dela fez concurso no ES, ela foi embora pra lá com ordem judicial, porque a constituição reza que a família não pode ser dissociada, foi embora e nós ficamos a ver navios, porque nós ficamos séculos pra conseguir um concurso pro lugar dela. Então nós perdemos professores. A Desirée, Mauro, Jorge. Já conta menos três. Se a gente tivesse esses três, e aumentasse... Mas né, nós perdemos. Aí teve a morte do Ramires (Mário), a Ruth aposentou. Mas aí nós fomos repondo, fomos substituindo. Porque até certo momento era assim, você perdia professor o problema era seu. Hoje não. Se um professor morre, se um professor se aposenta, nós temos direito a um concurso. E antes não era assim, você tinha que brigar pra que o MEC e a universidade desse uma vaga pra concurso. Então já é automático, se eu aposentar hoje o curso já tem direito de abrir concurso na minha vaga. Daí antes não era assim. Você ia perdendo os professores e não conseguia repor. E agora a gente consegue, a Ruth aposentou e já automaticamente já conseguiu uma vaga. Então isso melhorou também. Porque agora a gente não precisa brigar pela vaga de quem sai ou de quem morre ou se aposenta, entendeu? Porque a lei garante que você tem direito, mas antes não tinha, por isso era defasado. A gente foi perdendo e não conseguia repor. O Jornalismo UFMS e o Jornalismo em si tem cumprido sua função social? Eu acho que o curso tenta e o jornalista, não digo que ele não tenta, mas o problema do jornalista é que ele tem que seguir as normas da empresa que ele ta. Então você pode até achar que é errado, mas ou você faz ou... Você sabe disso. Você vai pra qualquer mídia você vai ter que seguir a linha editorial da empresa, então não adianta dizer nada. A gente diz o que é o correto, agora o problema é você chegar no mercado e querer impor o que não ta na linha editorial. Entendeu? Então a maioria das vezes ele não cumpre o papel social, porque se você for analisar o jornal só tem desgraça, gente. Só sensacionalismo. Cumpre o papel social em partes, mas não é só isso. Jornalismo não é só mostrar as tragédias. Tem dia que não dá pra assistir jornal gente, morreu num sei quem aonde, a bomba estourou, não tem nada de digamos assim útil, que não seja gente morrendo. E jornalismo não é só pra isso. É que vocês não tiveram ambiental comigo, mas uma coisa que eu sempre digo pros alunos é que assim, de eventos que eu já participei com jornalistas formados, “a gente não consegue que o editor deixe a gente pautar matéria de ambiental”, só que o ambiental não precisa ser ambiental por si só. Ele pode estar atrelado a uma matéria do cotidiano basta você saber. Fernando Correa da Costa quando chove não inunda? Por quê? Tem uma questão ambiental lá. Você pode trabalhar a questão ambiental de que inunda numa matéria que pode ser capa. Se aquilo inundar vai ser matéria de capa. Por quê? Eles calçaram tudo, a água vem não tem como absorver, o que acontece, ela vai empurrando de onde é canalizado até a parte onde não ta canalizado. Quando chega onde não é canalizado, não tem terra pra absorver, daí inunda. Porque que aquela parte da avenida lá desmoronou, por causa disso, porque vai canalizando, chega um ponto que a água empurrou lá e começa a desmoronar. Isso é uma questão ambiental, eu não preciso que o editor me permita fazer uma matéria sobre a questão ambiental. Se eu souber o conteúdo
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ambiental, eu coloco numa matéria de cotidiano. Aí você vai ta trabalhando ambiental e também educando. Entendeu? Essas coisas que o jornalista teria que estar levando em consideração, pra poder fazer a parte dele. Porque não é que meu editor não deixa que eu não vou conseguir brechas, tem que querer. Aí o querer também vai depender de cada pessoa. José Márcio Licerre, entrevista em 27/08/2014 Quando chegou? Como era o curso? Precisava alguém que ensinasse essa parte de produção gráfica. Quando eu fiz a minha graduação que eu estudei com o professor Ramires e a Marília Leite, que depois eles acabaram se conhecendo melhor e se casando. E quando eles vieram pra cá, o estado foi criado em 75, mas começou a funcionar em 79. Eu fui pro Itaú em 74, trabalhar com o professor Mário numa divisão de material promocional. A gente estudava junto e precisa de alguém que fosse produtor gráfico, e quando eu fiz minha faculdade de Publicidade e Propaganda na FAAP, eu fui pra essa área, queria ser diretor de arte, trabalhar com criação. E quando fui fazer estágio lá na Sales Interamericana pessoal falou, você quer aprender vai fazer estagio no Lastre Fotolitos, pra você aprender o processo de criação vendo,vendo layouts, vendo artes finais. Não tinha nada dessa moleza de pagemaker e do coreldraw, não existia isso. Era tudo feito na tesoura e nas tiras de texto. E quando eles vieram pra cá, que o estado virou com um grupo de amigos a Neusa Chacha, Mirian Duailibi que é parente do Duailibi, acho que irmã do Duailibi... E o Mário e a Marília resolveram fazer uma revista, que é a revista Grifo, ai eles me convidaram, fizeram a número 1 e precisava de alguém pra ajudar na área de produção gráfica, o Mário já me conhecia tinha estudado junto, me convenceram pra vir pra MS, de 79 pra 80, eu vim pra cá. Vim trabalhar na universidade em 94. O curso começou em 89, e 93 eu vim, porque não tinha nenhum professor, prestei um concurso e não passei. Só fui passar num segundo concurso, acabei vindo trabalhar aqui. Vim trabalhar nessa área, porque precisava de um professor de planejamento gráfico. Aí que eu vim trabalhar na universidade, já tinha agência de propaganda, o mercado de propaganda tava mudando muito, aí eu resolvi. O Mario me convenceu que a gente trabalhou junto na revista, ele falava “não você tem que ir lá dar aula, ensinar isso pros alunos”, depois que trabalhamos juntos na revista Grifo. Comecei trabalhar aqui com uma turma do 3º ano, era turma de pessoal mais velho, não tinha nada de computador, tava começando a surgir à informática, computador era muito caro. Veio chegar aqui quase 8 anos depois. Ai informatizou e ficou mais fácil trabalhar com os alunos. As primeiras turmas penaram muito porque não tinha as condições. Por exemplo, o laboratório de telejornalismo. A professora Ruth Vianna fez projeto e conseguiu montar um laboratório de telejornalismo com aquelas máquinas mais modernas, graças a um projeto que ela fez no FNDE para ajudar a produzir aulas pras TVs educativas que estavam começando a ser formadas.Quer dizer, graças a ela
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nós conseguimos montar o laboratório de telejornalismo. Professora Maria Francisca ela que dava a parte de rádio, não sei se a Greicy contou isso pra vocês, quem conseguiu comprar o primeiro transmissor pra fazer rádio como deveria ser feito, foi a prof. Greicy. Ela não contou isso pra vocês? Eu não sei como a Greicy conseguiu comprar, tem que contar essa história. A Anatel já tava entrando, já existia a Anatel... Então eles estavam combatendo essas rádios piratas e agente funcionou mais de 10 anos na 107,4. 107,4? Sabe quem vai falar isso direitinho pra vocês? É o professor Marcelo que dá aula de rádio. Até que um dia em janeiro, que não tinha ninguém aqui na universidade, o pessoal veio e a polícia federal veio e levou o transmissor. Era com a turma do D2, ele vai lembrar. Tanto é que aquela sala de ciberjornalismo que o professor Gerson montou, a gente apelidou de Maria Francisca. Por conta dessa história, porque ali funcionava a rádio. Ai tinha um professor, o professor Robson Ramos, que era também do mercado, era tudo gente que vinha dar aula aqui tinha uma formação jornalística e acabavam que vinha dar aula. O Robson Ramos sempre trabalhou como professor substituto, porque depois que a professora Maria Francisca ficou doente e veio a falecer, ele fez assim. Eu consegui com o professor Amaury duas bolsas-trabalho, uma ficou com o D2 e outra com outro menino o Eder. O Eder hoje acho que é assessor do Vander Loubet, fez jornalismo aqui. Então um tocava a rádio das 7h até a 13h da tarde, aí o D2 ticava da 13h às 19h da noite quando começavam as aulas porque não tinha aula a tarde. O professor Robson vinha pra fazer a aula que era assim, sabe onde era a salinha do David? Ali que era a cabine de som. Aquelas duas salinhas eram a parte de som, a parte de locução era tudo ali. E a sala de aula que era do lado, então ele transmitia a aula na rádio, dava aula e transmitindo na rádio. Então era assim, o pessoal até falava que quem não vinha na aula podia ligar o rádio e via a aula em casa. Era muito legal. Foi um tempo bom, muita saudade. E o Projétil? Ah! O Projétil quando eu cheguei o professor Ramires já tinha feito a edição sete ou oito do projétil. Já tinha um pessoal que fazia o projétil, porque assim eu vim trabalhar na terceira turma de jornalismo. Então teve duas turmas antes, e eles fizeram isso, acho que foi isso mesmo, seis ou sete edições do projétil. E era feito assim, era um sacrifício. Quem fazia era o professor Mário, o Esdon ajudava e o professor Mauro Silveira. Era os que faziam a parte do projétil e assim o projétil já existia, aí quando eu vim pra cá eu implementei isso. Eles sofriam muito pra fazer o projétil. Aí eu vim dava essa disciplina planejamento gráfico e dava outra disciplina que era preparação de originais, provas e videotexto. Que era uma disciplina que tinha 36 horas/aula, uma disciplina que por sinal era pro pessoal trabalhar na lauda. Era muito legal, o curso é assim, como só funcionava à noite a universidade 18h da tarde não tinha mais ninguém aqui. As coisas eram né, a biblioteca fechava 21h da noite, as condições de laboratórios eram bem precárias, mas o pessoal ta aqui até hoje né.
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Demorou muito para ter essa estrutura quem tem agora? Nossa demorou muito. Essa estrutura que tem agora, por exemplo, o laboratório como ele é foi feito graças ao apoio do FNDE, esse projeto da professora Ruth, tanto é que naquele espaço que era o laboratório, onde hoje é o laboratório era o espaço da redação do projétil. Ali que funcionava a redação do projétil. Que era uma salona grande, que nem aquela sala onde era o primeiro ano, e tinha um monte de carteiras com umas trinta máquinas de escrever, e uma mesa bem velha, esses dias ainda vi essa mesa por aí, que ficava no meio da sala e a gente usava pra reunir os alunos. E aí quando todo mundo tava trabalhando, era aquele barulho de máquina de escrever. E assim, as máquinas não eram muito iguais, tinha umas máquinas Hamilton, tinha umas Olivetti, então a lauda nunca dava pra padronizar porque as máquinas eram diferentes. Aí a gente pegava essa laudas mandava pra composição, vinha montava as artes. Eu me lembro que eu consegui vim do curso de artes uma prancheta que a gente usava ela pra montar as artes. Depois quando a gente foi montar aquele laboratório de telejornalismo, a gente acabou ocupando onde é o núcleo de jornalismo científico, aí as máquinas vieram pra lá e depois a gente separou e quando vieram aqueles cinco computadores que eu falei pra vocês que a gente conseguiu montar uma redação pequenininha, os alunos vinham e digitavam os textos, eles vinham e digitavam os textos e a gente tinha um programinha que chamava Ventura, mas ele era o primórdio do pagemaker, ele soltava os textos em coluna e imprimia na impressora a laser. Aí a gente já conseguia montar as artes finais, cortando e colando, até chegar a essa redação. Muito legal, hoje o curso ta com 25 anos, aquela redação que hoje funciona ali no aquário, aquela redação que ta ali hoje a gente foi invadindo. Sabe o multimeios? Então terminava a parede do anfiteatro do CCHS, você pode ver, agora não porque tampou lá... mas era assim, a gente foi invadindo, a gente foi arrumando divisória velha e foi montando a sala de divisórias velhas, e a gente chamava de favelinha, porque as divisórias eram tão velhas que parecia mesmo favela. E ali do anfiteatro do CCHS até uma portinha que dá pro jardim ali era um corredor, um corredor grande. Tinha um prefeito o professor David Werneck ele brigou com a gente, nós mudamos, invadimos ali, depois o professor Edson conseguiu fazer aquele pedaço onde é o multiuso e onde é o C.A, ali foi o professor Edson conseguiu um projeto desses negócios que ele trabalha de enfrentamento, conseguiu um dinheiro a gente tirou as divisórias e fizemos de alvenaria. Onde era a redação era tudo de divisória velha, ai a gente conseguiu umas divisórias de vidro, a gente tava dando aula o pessoal passava pra aula no laboratório de tele e ficava tudo olhando o pessoal dentro da redação pelo vidro e ali funcionou muito tempo, e não tinha tudo aqueles micros, vieram muito tempo depois. Mais foi legal, o núcleo de jornalismo científico veio os equipamentos, mas custou à gente fazer a obra, a obra ali do núcleo só saiu na primeira reforma depois de dois anos e meio, o projeto já tinha acabado. Com o núcleo de jornalismo científico nós conseguimos montar aquele laboratório. A gente conseguiu pegar aquela sala onde é o estúdio de radio e também saiu na primeira reforma, o estúdio de rádio era terrível aí a
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gente conseguiu montar a sala de aula, aquela redação e aquela parte técnica. Hoje eu digo assim, a única coisa que a gente não conseguiu é montar a redação do projétil, projétil sempre funcionou na redação, mas aquela redação é de todas as disciplinas. Agora o que estaria faltando é montar a redação do projétil que é um sonho que eu ainda que tenho de tentar conseguir. Sabe aquela onde agora é a educação do campo, que era a sala do primeiro ano que a gente foi desalojado dali. Trazer o primeiro ano que é turma grande pra aquela sala porque educação no campo vai pra um prédio novo lá em cima que eles estão construindo, a idéia é levar pra lá e aquela salinha do lado que tem o laboratório de letras, ali a minha idéia era reformar aquele espaço porque letras pra um espaço novo lá do lado do lago do amor e fazer ali a redação do projétil. Ai a gente ficaria com mais uma redação naquele esquema de gôndolas de máquinas onde todo mundo pode usar. E que mais que a gente ainda precisa né, ter a parte de fotografia do professor Silvio, ter um laboratório de fotografia que talvez possa ser nessa reforma, se a gente conseguir o espaço pra fazer a redação do projétil ser o laboratório do professor Silvio também. Porque o projétil usa, dá pra usar a gente precisa só de computador né, se ele pudesse usar ali como laboratório dele. E ter um laboratório pequeno pra fazer a parte analógica da fotografia que eu acho importante ensinar pros alunos, mesmo com toda a dificuldade de material fotográfico que é difícil de conseguir encontrar, mas enfim, ainda deve ser possível. Mas foi assim ó, o curso na verdade, como foi um curso que veio de fora pra dentro então pra ele chegar naquilo que tá hoje que a gente considera uma boa estrutura, foi uma briga porque a gente era o filho pródigo. Nós pegamos uma época que principalmente o FHC, por isso que eu falo que não voto no PSDB, que na verdade eles gostariam muito de ter privatizar tudo isso, quer dizer pra fazer ensino universitário o cara teria que pagar como é nos Estados Unidos, como é na Europa. Só que o pessoal que precisa é fácil conseguir o financiamento pra estudar, é fácil você conseguir bolsa. E a idéia deles era privatizar, então tem que parabenizar o Lula que devolveu isso, pelo contrário trouxe mais universidades, ampliou as vagas, esse dinheiro todo dessas reformas vem por conta disso. E professor né, professor sempre foi uma dificuldade. Professor de fotografia, nossa foi uma briga, uma luta pra conseguir um professor de fotografia concursado. Abriu o concurso o primeiro que passou foi o professor Silvio, mas foi uma luta conseguir um professor de fotografia. Hoje a gente diz que o curso tem até uma estrutura razoavelmente boa pra fazer ensino, mas durante uns quinze, dezoito anos a estrutura era bem precária. Foi bem precária e hoje a gente consegue. Ainda tem coisa pra arrumar, ainda falta professor, tem que melhorar as salas de aula. Por exemplo, o professor Hélio pedagogicamente teve que sair lá das Artes, porque lá o projeto pedagógico deles tá indo pra um rumo que não tinha como ele se adaptar. Aí o professor Helio tem que vir pra cá, onde é que a gente vai enfiar o professor Hélio? Uai, enfia aqui. Tinha um espaço que era do professor Mário, traz o professor Hélio pra cá não faz uma boa ficar apertado, também eu não paro aí por causa do meu cargo, mas mesmo que parasse aí. Aí deu pra mexer esse doce, mexer essa estrutura. Aqui
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também, foi uma coisa muito legal. Sabe onde é a direção de centro? O curso era pra ser lá, que a gente já ficava ali meio do lado. Mas graças a um bendito arquivo que tem lá, onde tem as pastas de aluno, os arquivos de alunos do CCHS, era um arquivo muito complicado. Pra desmontar o arquivo e montar o arquivo aqui, era pra todo esse espaço ser pro CCHS, pra direção de centro. O professor Mesquita queria fazer um, não sei o que ele queria fazer, uma enorme direção de centro. E ai como tinha que trazer aquele arquivo e não tinha como desmontar o arquivo de lá, tinha rebentar tudo pra tirar o arquivo de lá porque n tinha como desmontar, aí ele acabou ficando com aquele espaço que é as coordenações de Psicologia, não tem umas coordenações ali do lado? Aí aumentou um pouco lá, a gente veio pra cá e ficou com esse espaço que deu pra montar o laboratório de pesquisa jornalística e entrevista do professor Edson. Ai a gente distribuiu melhor os professores, deu pra se acomodar, mas já é um espaço que tá pequeno. O que a gente precisa agora é torcer pra sair a obra do povo de letras, pro povo de letras sair daí pra gente invadir esse pedaço. Porque não dá pra gente abandonar esses laboratórios e pedir pra construir um prédio novo pro jornalismo. Porque como a gente vai refazer esses laboratórios, por exemplo, refazer um laboratório de tele. Laboratório de tele já é a terceira reforma que a gente faz, e ficou um laboratório legal, só que a gente precisava agora informatizar. Vocês estão que ta reformando o anfiteatro do CCHS né? Então nessa reforma eu consegui deixar toda a tubulação pra gente ser um auditório pra poder fazer programa ao vivo, gravar programa lá. Então já vai ter como a gente ter as câmeras de TV do estúdio, vai ser possível usar pra gravar programa lá. Então eu posso gravar, já vamos deixar de um jeito pra gravar editando, fazendo os cortes com três câmeras e já ia automaticamente publicando isso na internet. Então vai dar pra fazer ao vivo pela internet. E se a TV universitária conseguir entrar no canal aberto e não ficar só na NET, a idéia do Ministério da Educação pro futuro já sinalizou que a ela vai funcionar como canal aberto. Então a gente teria dentro do curso de Jornalismo, o anfiteatro como mais um laboratório do curso de jornalismo. Um auditório, não vai ser um auditório grande, 92 lugares, mas vai dar pra você fazer programa ao vivo lá com toda acústica, com ar condicionado, com toda uma tecnologia nova pra poder transmitir ao vivo. Pelo menos pela internet vai dar, e tanto pra transmitir ao vivo quanto pra fazer videoconferência. Então vai ficar um espaço legal pra fazer vídeo-conferência. Um pesquisador em Nova Iorque pode dar uma palestra e a gente assistir aqui. Porque a fibra que ta pedindo pra deixar, vai ficar pertinho daquela casinha que tem naquele jardinzinho de interno, ali chega um cabo poderoso de fibra ótica ali. A gente vai ter um cabinho de fibra ótica diferente desse azulzinho e vermelhinho chegando lá no anfiteatro pra transmitir e receber videoconferência. Então a gente pode fazer uma videoconferência aqui com três câmeras e transmitir essa videoconferência, como a gente também pode receber uma videoconferência. Formação acadêmica?
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Eu sou formado pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Eu fiz o curso lá de Comunicação Social - habilitação em Publicidade e Propaganda. Lá era Comunicação Social. Na verdade eu sou do mercado. Pessoal fala assim porque você não fez mestrado? Até tentei, fui com o professor Marcelo lá na USP. Aí assim, cheguei lá fui conversar com o professor Coelho. Eu fui lá, levei meu portifólio, expliquei o que eu gostaria de trabalhar com os alunos. Qual é a coisa que eu mais acho importante de trabalhar com vocês, que eu acho que é a contribuição que eu posso passar pra vocês é assim, além da parte prática do planejamento gráfico, entra lá indesign, corel, pagemaker. Trabalhar no software e poder produzir páginas essas coisas todas que vocês estão vendo aí. A minha contribuição que eu acho que posso trabalhar legal com vocês é a questão do processo de criação, e eu gostaria de ter feito um mestrado lá na USP exatamente em cima disso. Que alguém me orientasse que eu pudesse no mestrado estudar melhor essa questão do processo de criação e pudesse ao final do mestrado ter o trabalho de dissertação pra defender essa história, e depois deixar alguma coisa tipo uma publicação, uma apostila, um livro ou disponibilizar isso na internet, sei lá de que maneira, trabalhando essa questão do processo de criação. Aí eu fui lá conversar com o professor Coelho, falei, falei. Meia hora, uma hora e ele disse “Márcio, isso é muito complicado rapaz. Vamos estudar a helvética, que tá fazendo 50 anos. É mais tranqüilo, mais fácil”. Aí eu voltei, pensei, que contribuição que eu vou trazer pro curso estudando a helvética? Primeiro isso aqui não é um curso de Design Gráfico, que helvética você sabe toda comunicação visual de placa de rua e de sinalização é tudo helvética. E a helvética tava fazendo 50 anos da sua invenção. Então que contribuição eu vou trazer pros alunos estudando helvética? Pergunta se eu voltei lá pra conversar com o professor de novo. Como foi a transição dos equipamentos manuais como a datilografia para o computador? Aconteceu também com a publicidade e propaganda aqui. Essa parte foi mais ou menos assim. A transição foi rápida no sentido de, a máquina de escrever ”vou fazer uma comparação”. Como que os dinossauros desapareceram da face da terra? A hipótese maior é a do meteoro que caiu. Quando o computador pessoal surgiu, o problema maior dele eram as saídas que eram as impressoras. E rapidamente, a Xerox já existia muito antes do PC. Quando o pessoal inventou o PC que era uma máquina de escrever que ao invés de por papel você via tudo no vídeo e a saída era uma impressora ou jato de tinta ou a impressora laser. A jato de tinta veio primeiro e depois as impressoras a laser, que a tecnologia da Xerox acabou indo para as impressoras a laser. A máquina de escrever morreu, digo que ela morreu como o meteoro que caiu. Foi muito rápido, foi coisa de cinco anos. O PC custava muito caro, eu me lembro que comprei um IBM-486 e paguei na época 1800, e de repente, hoje com 500 você compra um computador de mesa. Então assim, foi coisa meio rápida. Antes, o pessoal escrevia, a gente pegava as laudas e através do cálculo de texto e de catálogos, você sabia mais
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ou menos como é que ia pedir o texto. Aí você ia pra uma empresa aqui, que chamava empresa de fotocomposição, que compunha. Eram máquinas enormes que soltavam os textos em tiras, e de acordo que você tinha desenhado no gabarito de diagramação. Mandava compor os textos, tinha as pranchas que era igual o gabarito de diagramação, cortava, montava, isso ia pra uma máquina enorme chamada de fotoliteira. Fazia todo o processo de impressão. Com o advento do PC, que você já podia soltar as tiras, que isso durou anos. E daí, em seguida surgiu um programa chamado ventura, e esse programinha era mais ou menos o embrião do pagemaker. Você já conseguia desenhar na tela do computador quase igual ao que a gente fazia com o pagemaker. Então foi assim, foi coisa de surgir o PC. Essa produção do jornal, quando gente conseguiu aquela redaçãozinha que eu contei a história, que o professor Antonio Osório achou que as máquinas que vieram eram pra ele, já se existia o aldos Pagemaker, que foi o primeiro programinha que a gente instalou na redação. Só que assim, como a impressora a laser era pequenininha, a gente desenhava as páginas e depois imprimia toda em pedaços e aí montava pra fazer as artes, grudava os pedaços até montar as artes. Isso aconteceu assim, mais ou menos uns seis anos desde que inventou o PC. Depois o Aldus Pagemaker foi comprado pela Adobe e virou o Adobe Pagemaker. Então foi assim, muito rápido. Foi uma coisa assim que eu considero que caiu um meteoro e matou todas as máquinas de escrever e já veio o PC. Um pouco antes disso, em 87 pra 88 que eu tinha agência de propaganda, eu cheguei a ter 25 funcionários. Porque a gente ia fazer um layout disso daqui que hoje a gente faz no computador, pra fazer um layout desse e levar pro cliente provar, a gente fazia isso no pincel no guache, um pintado que a gente chamava. Pra depois transformar vir às composições e transformar em arte pra ser impresso, essas composições grandes desse jeito não existia. Então foi uma coisa que quando eu percebi que desse jeito que a gente trabalhava nas agências produzindo as artes finais, quando eu senti isso lembro que falei pra minha esposa “vou ter que aprender esse negócio de computador se não a gente vai morrer de fome”. Porque os layouts men que era o pessoal que trabalhava, quem pintava um quadro tinha condição de assim, no pincel fazer um layout. Isso com o advento da informática e do pc cada vez mais tendo a possibilidade de obter saídas e das pessoas podendo comprar, então praticamente acabou com a máquina, com o negócio de fazer arte, com o fotolito. Então quando eu vim pro curso em 94, quando foi em 98 a gente já tava fazendo as artes no computador. Então você vê de três pra quatro anos, é uma coisa muito rápida. A informática transformou essa parte da comunicação impressa. E os jornais se adaptaram muito rapidamente. Então por exemplo arte finalista morreu, layout men morreu. Eu falava pra minha esposa eu tenho que aprender esse negócio de computador. E outra meio que na marra, meio que leigo, aí começaram a surgir os birôs. Então eu tinha muita facilidade, eu mexia com publicidade. Eu criava os textos, desenhava fazia os layouts no papel, e levava na Grafix, eles tinham os computadores e eles faziam as artes finais. Que o que era caro era comprar os programas e não tinha tanta pirataria, não dava pra piratear muitos
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programas. Eu me lembro que o primeiro Pagemaker que a gente instalou ele veio assim... Tinha um jornal lá da Grande Dourados e eles tinham comprado o pagemaker, o programa. O professor Eron Brum que era muito amigo dos donos, falou “eu tenho que levar esse programa pra Campo Grande pra ensinar os alunos”. Ai o pessoal fez uma cópia e trouxe. Porque não tinha como comprar. Aí com professor Jorge Ijuim, aprendi um pouco com ele e um pouco com um aluno, o Éser Cáceres, que eu acho que hoje é o editor do Midiamax impresso. Aí foi os dois que me ensinaram a trabalhar nesse programa na parte de fazer jornal. E com o pessoal da Grafix eu aprendi a mexer no corel. Eu fazia os layouts, aí a Eliane tirava um print pra mim e salvava no disquete. Aí eu pegava esse disquete e ia pondo as coisas do jeito que eu queria. Então ela fazia mais um pouquinho, ela montava as artes e daí eu fui aprendendo mexer. Eu mexia nas artes desse jeito que eu aprendi e fui trabalhar com os alunos. Aí comprei um tutorial, comprei computador, uma IBM. Esse IBM era legal, tenho saudades desse IBM. Até o dia que o ladrão entrou e levou ele embora. Quais as principais mudanças que o curso sofreu nesses 25 anos? A principal mudança que eu acho que aconteceu, as primeiras gerações dos alunos vinham fazer jornalismo porque queriam ser jornalistas. Era um pessoal mais maduro, com mais idade. E hoje muito pelo contrário, já é um pessoal mais novo, que às vezes até não sabe muito bem o que ta fazendo aqui no curso. Eu sinto um pouco isso. As primeiras gerações eram de alunos que também vinham pelo horário de funcionamento do curso porque era noturno, então você já recebia alunos que já estavam com mais idade, que vinham atrás de uma formação, de uma capacitação e que já estavam no mercado, hoje não é mais isso que acontece. Você vai na sala do primeiro, é uma garotada realmente nova e que nem sabe direito porque veio estudar jornalismo. Eu acho que assim, mudou muito o perfil do aluno que procura o curso de jornalismo. Eu acho que pra fazer jornalismo tem que gostar muito de ler, eu sempre insisto nisso, que a única forma de aprender a escrever é lendo. Hoje o perfil do aluno que entra aqui é diferente do perfil do aluno que entrou há 20 anos atrás. Um pouco por conta do pessoal com mais idade descobrir que seu negócio era jornalismo. É claro, e os meios de comunicação não eram os mesmos de 20 – 25 anos atrás. Então hoje o mercado mudou, os meios de comunicação mudaram, a internet hoje é uma coisa que ta levando muita gente a trabalhar com comunicação desde cedo. Então eu acho que, mudou muito. E eu vou dizer mais uma coisa pra vocês, nem sei se vou conseguir chegar até lá. Hoje já tem uma garotadinha de 4, 5 ou 6 anos que já tem tablet, tem celular que o dedinho funciona pra achar as coisas. Por exemplo, eu tenho um sobrinho que vai fazer 6 anos agora, que faz filme dele falando pra mandar pra Laurita que ta lá em Paris que é a madrinha dele. Ele já fala no celular, já quer gravar e daqui quando ele tiver idade pra entrar na faculdade, com 16, 18 anos. Então como vai ser ensinar pra essa garotada que já domina as tecnologias, que produzem informação. Como é que vai ser ensinar comunicação, ensinar como é que vai ser ensinar jornalismo, ensinar
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Publicidade e Propaganda pra essa garotada que já ta na rede social, que já usa rede social. Então, eu vejo que vai chegar um tempo que aqui no curso, por exemplo, quantos alunos hoje que já tem notebook que pode levar pra sala de aula? Então se você começar a pensar, ter uma redação... Vai chegar um tempo que todos os alunos terão seu notebook, terão seu tablet. E você pode tá numa lousa digital que você ta trabalhando na lousa com o PowerPoint e eles já estarem com slides no computador. Hoje no 1° ano, todas as minhas aulas eu já consigo uma semana antes mandar o todo o material que eu vou trabalhar na aula. Então eu já mando os powerpoint e ele pode ter no computador dele. Hoje a gente ta começando um seminário aqui, esse ciber, essa garotada já vai vir no ciberespaço há muito tempo. Quando essa garotada chegar aqui, essa tecnologia eles já vão dominar. Então o quê que a gente vai ter que ensinar? Criação, como trabalhar o texto, porque mexer nos programas o pessoal já vai vir sabendo. Os de vídeo principalmente. Então você vê hoje como a questão do vídeo, ele lá editadinho na rede, o cara não estudou isso, não veio fazer uma faculdade de comunicação. Então acho que vai ser legal, os professores principalmente vão ter que evoluir pra poder trabalhar melhor essa questão. Então eu acho, o que eu vejo o que ta mudando é que, assim como as máquinas de escrever morreram como morreram os dinossauros num piscar de olhos e tudo mudou, eu acho que essas mudanças serão mais intensas a partir de agora. Por exemplo, certas coisas que eu ensinava de planejamento gráfico, as medidas, a própria forma de produzir não vão fazer mais sentido, você vai contar histórias. Então eu vejo livros de planejamento gráfico de 15, 20 anos atrás, que não tem mais sentido você adotar pro pessoal ler, porque nada dali que tá explicado ali vale hoje. Então a mudança é bem em cima disso, dessa coisa que foi mudando, mudando e que vai continuar mudando mais rápido do que a gente imagina. Então os professores têm que estar sintonizados nessas mudanças. Quais disciplinas o senhor trabalha? Sempre foi planejamento gráfico e tinha outra que era preparação de originais, revisão, provas e videotexto. Que a gente resolveu incorporar, mas que eu ainda explico a lauda, o cálculo de texto, que eu acho que o pessoal precisa ter noção disso. Marcos Paulo da Silva - Entrevista em 28/08/2014. Formação acadêmica. Sou formado em jornalismo pela UNESP/Bauru, Universidade Estadual Paulista. Aliás na UNESP eu tive uma história bastante longa, 10 anos eu estudei lá, porque a UNESP tem um colégio técnico, e fui pra Bauru bastante jovem, fui pra lá pra estudar, fiz colégio técnico e depois fiz a graduação pra jornalismo. Dois anos depois ingressei no mestrado em comunicação então eu fiquei 10 anos lá, depois no mestrado eu trabalhava em Bauru, em 2009, deixei Bauru e me dediquei ao doutorado, em São
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Bernardo do Campo na Universidade Metodista de São Paulo, e eu conclui no final de 2012, antes de entrar aqui na UFMS, com período de estágio fora do país.. O senhor disse que chegou em 2012? Explica melhor como foi. Qual cenário que se defrontou na coordenação? Quando eu ingressei no doutorado em comunicação, as coisas têm um processo em cadeia, eu quando fazia o mestrado em 2006, eu passei no concurso da USP como jornalista, assessoria de imprensa, era um bom lugar pra trabalhar, era algo que eu tinha pensado em levar muitos anos da minha vida, colocando um pé na vida acadêmica, com o mestrado, eu vi que não era o que eu queria, assim... eu estava disposto a arriscar, que eu queria mesmo era trabalhar com ensino de jornalismo. Nesse meio tempo eu comecei a cursar um doutorado na UNESP como aluno especial no campus de Assis, na área de história e quando eu decidi de fato que eu queria trabalhar na área de ensino, na área de comunicação. Deixei a ideia de cursar doutorado na área de historia. E Tive a oportunidade de ir pra São Bernardo do Campo que foi uma oportunidade que colocou um grande ponto de interrogação na minha vida. Era uma universidade confessional, era pago, eu não tava disposto nem tinha condição de pagar a mensalidade do doutorado, então solicitei uma bolsa parcial e consegui integral, ou seja, solicitei para não pagar a mensalidade, minha ideia era que eu continuasse trabalhando, mas me ofereceram a bolsa integral, de dedicação exclusiva...pedi demissão e fui viver só do doutorado com uma bolsa, que não pagava todas as despesas, tive que vender meu carro, mas arrisquei porque queria concluir o doutorado e migrar pra vida acadêmica. Não me arrependo, hoje é fácil dizer, não me arrependi por vários motivos, mas um deles é que eu tive a oportunidade de morar fora do país, porque eu não tinha condição de bancar.. eu fiz o chamado doutorado sanduíche, eu fiquei 2011 lá na Universidade de Syracuse nos Estados Unidos, no estado de Nova Iorque. Quando eu voltei eu me deparei com a reta final do doutorado,e ai começou bater aquele desespero, porque quando eu sai da USP, tinha emprego, era concursado, tinha 4 anos pela frente de bolsa garantido, tranqüilo, não era equivalente ao meu salário mas tinha a bolsa. Quando eu voltei dos EUA, tinha mais um ano pra concluir minha tese, e ai começou a me bater quase um desespero, mas meu orientador, Jose Salvador Faro me apoiava muito, começou bater uma ansiedade sentimento que beirasse o arrependimento,”ah se eu tivesse ficado La na USP...” aquelas coisas ligadas à bens materiais, mas vinculados à estabilidade... Conversava com os amigos que tinham ficado lá, isso foi bastante difícil porque mexeu com minha saúde, tive síndrome do pânico, tive que fazer tratamento, ainda hoje estou na fase final, porque eu sou muito ansioso, perfeccionista, então ao mesmo tempo que eu tinha muita pressão pra concluir minha tese e fazer um bom trabalho, eu começava a projetar o futuro, que seria do dia seguinte à eu defender o doutorado, ia virar um desempregado. Então eu comecei a vasculhar empregos, concursos que eu pudesse prestas, só que eu gostaria de prestar o concurso quando eu tivesse concluísse o
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doutorado, e isso acabou fazendo mal pra minha saúde. Em 2012, voltei em janeiro, fiz contato com universidades particulares, e comecei a lecionar em universidades pequenas, lecionei em cursos de publicidade e fui conseguindo sobreviver e me ajudou a projetar meu futuro, até que eu pudesse me encaixar numa universidade federal, que era minha intenção... mas não em qualquer uma universidade, e sim uma que tivesse uma certa estrutura... Tem um parêntese, que é uma curiosidade, esse concurso que eu prestei, em dezembro de 2012, foi aberto em janeiro do mesmo ano, eu tava nos EUA. Ao ler a ementa desse concurso eu disse, esse concurso é pra mim, é o que eu to estudando, mas eu tava fora do país, e disse, ah não é pra ser. E pra minha surpresa, em outubro, novembro de 2012 eu abri o email e vi, novamente a mesma ementa. E depois eu fiquei sabendo que era o mesmo e aquela vaga não tinha sido preenchida. E deu pra eu prestar. E vim, mas não foi uma escolha ao acaso, porque a ementa e a bibliografia era o que eu estudava, e tinha uma coisa que me chamou a atenção é que aqui tinha mestrado. Era um mestrado recém-inaugurado, mas um dos meus focos era lecionar numa instituição que tivesse também o mestrado, pra que eu pudesse manter a pesquisa acadêmica, e não se limitar a questão do ensino... Então o fato de ter o mestrado foi determinante pra eu prestar o concurso. Meu orientador falava pra eu ir pra UFSC, porque tem uma linha de pesquisa muito próxima do que eu estudava no doutorado. Mas ao ver a vaga, não titubeei. Eu tinha umas ligações com Campo Grande, ao acaso, em 2000, 2001, eu nunca tinha saído do estado de São Paulo, a minha primeira viagem fora do estado foi pra Campo Grande, pra um Congresso, o Intercom, e vim com os alunos, e descobri que vários colegas daqui também foram. E foi na Uniderp. Eu lembro com mais clareza que ficamos hospedados no CMO, e fiquei com uma impressão bem legal da cidade e nunca me passava na cabeça que eu viria morar aqui. Em 2005, voltei como jornalista a trabalho, como assessor da USP, num evento onde ela era parceira numa instituição aqui em CG, o evento foi na av. Mato Grosso. Eu ficava mais ali, não circulei muito na cidade, eu ficava muito focado no evento, as únicas saídas que eu tive foram pra visitar os veículos de comunicação, levar releases, visitar as empresas de comunicação.. mas nunca imaginava que eu ia voltar, e no final de 2012, foi tudo muito rápido, e já tinha minhas aulas atribuídas pra 2013 onde eu dava aula, e eu prestei o concurso, e geralmente, espera a ser publicado o resultado... o concurso pra professor sai no dia, você faz a prova e é corrigido, você faz a prova didática, eles dão a nota, e no fiquei sabendo o resultado na hora, e falei nossa que loucura... e eu to falando de 19 de dezembro de 2012, véspera de natal, e eu tinha que me mudar,tinha um detalhe: o concurso exigia o titulo de doutor, eu tava com a tese pronta e eu não tinha defendido ainda. E ai, nesses casos tem que defender até dia 31 de janeiro, pra dar tempo de defender e tomar posse. E foi um estresse muito grande. O meu orientador viajava no dia do natal e voltava dia 25 de janeiro. Ou seja, do dia 19 a 25 de dezembro eu tive que fechar minha banca, fazer os convites, enviar exemplares, e meu orientador tinha um carinho pelo meu trabalho e ele não queria convidar qualquer professor pra minha banca. Eu tinha uma lista de professores seleta e tinha que ser um
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daqueles. Se eles não aceitarem, paciência. Você vai defender lá em março. Ai um aceitou, outro negou... E teve alguns professores que não aceitaram, mas que negaram, por ser nessa época. Conseguimos fechar a banca, nos 47 do segundo tempo, com uma boa banca, prof. Wilson Gomes, prof. Silvia Moreti, da Federal Fluminense, profa. Elizabeth Gonçalves. Eles aceitaram, e 31 de dezembro eu defendi o doutorado, peguei a ata de aprovação, tirei cópia, e poucos dias depois eu já estava aqui fazendo exames de saúde e morando em hotel.Fechei minhas coisas, minha vida tava um pouco mochileiro, minhas coisas estavam tudo um pouco encaixotado, um pouco na minha mãe, e um pouco na casa da minha noiva, hoje minha esposa. Eu peguei o mesmo carro que eu tenho hoje, um Pálio, enchi de livros, o porta mala com meus livros, e com o que eu ia precisar pra começar minha vida aqui. Fiz uma mala de roupas e vim. Meu pai veio comigo, pra me ajudar a dirigir, são 700 km. E aos poucos as coisas foram se arrumando. Se arrumando tanto na vida pessoal quanto aqui. Cheguei aqui e fui ocupar a sala, antiga sala da professora Ruth, a sala tava cheia de caixas, e eu fiquei em 1m². O Silvio, na época, coordenador do curso foi me ajudando a tirar as coisas... O Cancio também me ajudou muito, apresentar a cidade. Eu disse que precisava tirar os livros do carro, ai ele pegou e trouxe pra dentro da sala, e aos poucos fui arrumando. Ai comecei a carreira acadêmica, como todos os professores começam, com uma carga horária grande e peguei 3 disciplinas com o primeiro semestre. Quais disciplinas ministra? Sistema de comunicação, redação, e cidadania, ciência e tecnologias, então eu peguei logo o 1º e o ultimo ano, e foi uma experiência bastante diferente, porque eu achei que ia ter muita resistência e eu nunca tinha lecionado pra alunos do ultimo ano, sempre lecionei pra 2º e 3º ano. Eu achei que fosse ter bastante resistência, professor novo, jovem, sabia que o pessoal já estava muitos no mercado, e ai o que eu achei que o primeiro ano fosse ser mais fácil... Foi ao contrario, é uma turma muito volumosa e eu tive mais dificuldade de mantê-los atentos com as discussões que eu queria promover, e com o ultimo ano foi uma parceria muito legal. Quando eu passei no concurso eu entrei no site da universidade e vi a matriz curricular, teoricamente eu ia dar aula de redação, e teorias de jornalismo. Mas você acaba dando outras aulas. E eu achava que essa disciplina de Ciências, tecnologias e cidadania era optada por aquelas pessoas da área de tecnologias... Mas foi muito legal, eu propus uma discussão mais teórica. É a única disciplina mais teórica do ultimo ano. Me lembro dessa turma, tivemos que repor algumas aulas, e seria numa sexta-feira a noite, me propus a não dar falta... Quando cheguei a sala tava lotada. E assim foi meu ingresso. Meio por acaso, mas um acaso programado. Quando eu me demiti da USP, eu fiquei muito surpreso, acho que foram entre 150 e 200 jornalistas pra preencher uma vaga, que era a vaga que eu estava. Assim, era muitos jornalistas em postos de referencia lá, ancora da filiada da Globo, editor de jornais impressos, ai ei fiquei com a pulga atrás da orelha, “será que eu to
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fazendo um bom negócio, por que tanta gente quer a vaga?”... Agora eu to tranqüilo, gosto muito daqui, só não espera assumir a coordenação. Como é a experiência de ser coordenador com menos de dois anos de instituição? Eu encontrei o professor Wilson Gomes, em julho, em Belém do Pará, num dos principais congressos do Brasil, e falei com ele “Oi, professor, lembra de mim? Você tava na minha banca.. e ele disse e ai, foi pro MS, fui e já cai na coordenação de curso, e ele brincou, é, é a pegadinha das federais”. É um cargo que exige muita dedicação, e muitas vezes acabam ficando com professores mais jovens na instituição, antes de mim foi o prof. Silvio, foi uma situação muito semelhante. Por que ocorre muitas vezes esse processo? Porque a vida acadêmica também te cobra muito, tem que dar aula, tem que corrigir trabalho, fazer prova, escrever artigo pra congresso, publicar em revista, ter projeto de pesquisa... Se você for fazer isso bem feito, leva tempo. Você não vai pra uma banca de mestrado, numa instituição que você vai como convidado vai como avaliador, e vai ler de qualquer modo o trabalho, a dissertação do candidato tinha 150 paginas, e 150 de anexo. Então assim, você tem que ler com calma, e isso toma tempo, e se você for fazer tudo isso bem feito, e fica quase impossível. A coordenação em si só, toma muito tempo. É uma atividade que muitas vezes os pesquisadores que estão há mais tempo na instituição, as vezes eles falam que já cumpri meu legado pro mais jovem, como eu entrei, entra com muito gás assim, eu com as orientações de tempo, leciono graduação e mestrado, oriento na graduação e no mestrado, eu consigo fazer as coisas que a academia exige. O simples fato de ser vinculado com o mestrado você tem prestar uma série de gráficos, a CAPES avalia os cursos semestralmente, ou você é desvinculado. Pra graduação, é dar aula. A exigência é que você seja um bom professor... pra ser professor de mestrado, você precisa de uma série de coisas, você acaba abrindo mão da sua vida pessoal... ano passado, eu chegava 8 da manhã e saia 22h. por que demanda têm, a coordenação tem uma demanda de ordem burocrática, que os mais antigos aqui fazem uma comparação, antes quando era departamentalizada, tinha um chefe de departamento. Se eu to aqui e cai o teto dentro da sala, é uma coisa de ordem técnica e não pedagógica... Isso quem tomava conta era o chefe. Com a extinção, ficou confuso. Como coordenação de curso precisa resolver questões burocráticas e não só pedagógica. E outra coisa que toma muito tempo é a mediação entre alunos e alunos, alunos e docentes. Tem dia que eu brinco de adicional psicólogo, e eu não to reclamando disso, faz parte do trabalho. Tem muita coisa legal na coordenação também, mas tem muita coisa desgastante. O Silvio me ajudou muito, nesse processo de transição de coordenador... Como manusear o Siscad, quando é coordenador tem acesso a um monte de coisas a mais, processo de matricula, como fazer a matricula dos alunos, mas tem que saber a fazer o processo... e completei mais um ano ai. Ano que vem vai ser um processo bastante importante, mudança de projeto pedagógico, quem entrou ate 2014 vai concluir o curso como entrou. Mas quem entrar
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em 2015 entra numa nova proposta. O curso passa a ser de manhã e tarde. Esse projeto pedagógico novo tem alguns elementos que não eram exigidos no projeto atual, por exemplo estagio obrigatório, o MEC recomenda que seja curricular. Você vai ter que entregar o relatório de estagio. Ai como você vai chegar pra um aluno do 3º, 4º ano e dizer “ah agora você precisa de 200 horas de estágio”, então tem que garantir o direito de quem entrou se formar com a grade de quando entrou. Pra quem vai entrar na academia é importante contato com o mercado de trabalho? Não tem regra definida, eu conheço pessoas que têm trabalho de relevância na vida acadêmica e sempre foi acadêmico, fez iniciação cientifica entrou no mestrado, doutorado... Tenho colegas que fizeram caminho contrário coincidentemente tanto nas minhas turmas de mestrado e doutorado, eram turmas e pessoas mais experientes. Tinha muita gente do mercado, então tinha muita gente, editores, eram outros tipos de discussão, assim como no doutorado, sempre cito o Julio Veríssimo, um jornalista com mais de duas décadas de Folha de São Paulo, que eu respeito muito, terminou o doutorado e ta mais ligado a vida acadêmica. Mas ele era um cara do mercado mesmo, e as vezes você tinha aquele embate, que era superado pelos dois campo, porque o que era pra ser uma relação de dueto, acaba sendo uma relação de duelo. Não tem regra, dependendo a área que você vai trabalhar, você tem que ter o mínimo de contato com a prática. Por exemplo, eu poderia ter passado no concurso pra telejornalismo, eu poderia ter estudado sobre tele, ia saber na teoria, poderia preparar uma aula impecável, e se eu tivesse um bom currículo, mas eu seria um bom professor? Eu nunca trabalhei com telejornalismo. Eu tinha como parâmetro as áreas que eu tinha conhecimento, eu convivi em ambientes de redação e jornal, de curioso, desde os 19 anos, chegava a noite, pra ver fechamento de edição. Me atraia, desde criança, sempre me interessei pela imprensa escrita, na faculdade comecei a fazer estágio . Mergulhei na área de assessoria, mas por acaso, e eu consegui um estagio na Secretaria de Bauru, com assessoria de imprensa eu ficava na Assessoria do Teatro Municipal, Galeria de Artes, das Bibliotecas, Centro cultural, o que gerava pauta geralmente e tinha muito contato, estagiário tinha acesso gratuito, entrava junto com a equipe de produção. E isso, embora ganhasse muito, você ta ali mais pra aprender do que pra ganhar. Era uma outra forma de retribuição, eu ganhava também cultura. O mercado de SP tem empregado bem mais gente que as redações, e a profissionalização da assessoria de imprensa, “feliz de quem vai fazer assessoria pra uma pessoa que vocês compartilham idéias”. Eu acho que deve ser desgastante frustrante, defender alguém. Embora eu não tenho uma longa carreira, seja como estagiário como profissional, era um dos lugares que eu fazia assessoria acreditando nas coisas. Eu acho importante ter contato com o mercado sim, mas por outro lado a academia tem cada vez mais jovens pesquisadores.
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O senhor passou por faculdades importantes do Brasil e uma fora do país, como foi sua visão em relação à estrutura física da UFMS? As universidades públicas de modo geral, passaram por uma reestruturação, quando eu voltei à UNESP, eu vejo que a estrutura que eles tem lá, não é a mesma que eu tive. Isso eu convivi durante o curso, quando eu cursei fotojornalismo, era praticamente dentro de um banheiro, uma salinha, meio que emendando com o banheiro. Meus veteranos tiveram aula de telejornalismo de uma forma semelhante, era uma coisa mambembe, eu já peguei laboratório de tele novo. Era tudo voltado ainda a questão analógica, mas tem uma coisa muito clara, eu estudei graduação e mestrado, e doutorado foi uma confessional, esse lapso entre estrutura física da univ. pública da privada sempre vai acontecer. Porque são modos operandi diferentes. O diferencial da universidade pública nunca foi estrutura física, mas sempre foi o capital humano. As universidades públicas através de projetos conseguem laboratórios mais modernos, e você tem que ter o mínimo de tecnologia pra levar as atividades acadêmicas. Quando eu cheguei aqui não achei nenhum desmérito, tem laboratório de televisão, tem laboratório de rádio, tem redações, e com algumas possibilidades que não haviam no meu tempo. Eu tive aula de radiojornalismo, que era focado em produção de pauta e locução, porque a gente dependia de um técnico, então a gente não fazia todas as etapas. Eu vejo com bons olhos as estruturas, mas é lógico que você não vai ter uma câmera HD de mão pra cada aluno. Não dá pra comparar com a estrutura que tinha lá nos EUA. A nossa universidade mais antiga e mais tradicional é a USP, tem 75 anos. O jornalismo tem 25 anos e é o mais antigo do estado. No Brasil, na Cásper Libero em São Paulo é começo do Séc. XX. A gente precisa reconhecer que na ultima década voltou-se a valorizar o ensino superior publico no Brasil, como contratação de professores. Os profs. mais experientes do curso vão relatar isso. Professores chegaram a bater na reitoria e dizer que iriam fechar o curso. Eu cheguei em 2012, e depois já foram abertos uns três. Tem investimento em capital humano e físico. Há 15 anos os lapsos eram maiores ainda. Houve investimento, valorização grande. A gente ta num período de transição de corpo docente... Transição é essencial, nessa passagem de bastão, era o pessoal mais novo. Pra se criar esse curso teve muita dificuldade, por todas essas transformações que o curso passou. Como o senhor vê o curso pra frente? Foi minha obrigação saber a história, lógico que eu não tenho a mesma memória de quem viveu, professor Edson, professor Licerre. Outros professores que saíram daqui. Mas eu procurei me informar, mas meu propósito é visualizar daqui pra frente. Do modo como está, pra eu me aposentar eu preciso ficar pelo menos 30 anos. Eu tenho que valorizar aqui. O que eu tenho tentado, de 2007 pra cá, ingresso da professora Ota, Silvio, Fernandes. São outros momentos históricos. O professor de hoje já chega titulado, se você pega professores da época é assim, a área acadêmica é muito recente no Brasil. O primeiro mestrado na área de comunicação, se não me engano, na época
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de 60, é tudo muito recente. O ensino de jornalismo eram pessoas do mercado que vinham e depois iam buscar formação acadêmica. Hoje não, já se exige formação. Até porque ele tem um custo financeiro e pedagógico social pro curso bastante grande. O Prof. Silvio entrou com mestrado, e ele tem todo direito de pedir licença pra doutorado. O prof. Silvio movimenta o curso, projeto de extensão, é um pesar ficar 3 anos sem ele. Então é mais interessante a faculdade selecionar professores com doutorado, ai você pode pedir afastamento pra pós-doutorado, mas é no máximo um ano. Mas o perfil hoje é outro, e tem pessoas dispostas a saírem de uma região mudar pra outra pra trabalhar, como foi meu caso. As pessoas chegam com novas idéias, de outros estados, outros países. Eu tenho como meta minha, mas eu tenho certeza que outros professores pensam como eu. Eu tenho como meta que em 10 anos, cerca de 2023, ter um curso de referência, como é por exemplo o curso de Santa Catarina. Porque eu comparo com Santa Catarina? Centros hegemônicos, como SP, RJ, RS... Mesmo Bauru não ficando no centro, o PIB do interior de SP só perde pra região metropolitana. Circula muita gente, muito dinheiro e é mais fácil ser um curso de referencia nesses lugares. E Florianópolis é uma cidade fora dessa região e conseguiu fazer um curso de referencia de jornalismo, que as pessoas saem de outros lugares do país e vão pra lá por conta do curso.Tem o atrativo da cidade e etc. As pessoas de outros lugares do Brasil e vão pra lá. E eu queria que as pessoas vissem no curso de jornalismo da UFMS, porque UFMS é referencia, é diferente, tem pesquisadores, mestrados, tem essa linha... Não é fácil, envolve, muito capital humano. Eu to muito disposto, e considero um bom curso, e espero que seja referente em vários sentidos. Melhorando as estruturas físicas. É um desafio sem esquecer todo o legado deixado ai, porque tem que falar, o curso de jornalismo não é o mesmo de 25 anos atrás, Campo Grande não é a mesma a 25 anos atrás. O mercado jornalístico não é o mesmo. A realidade do país não é a mesma que a 25 anos atrás. E são vários desafios, contrapartida social que o Governo Federal passou a exigir, ao mesmo passo em que investe mais, você também cria mecanismo de inclusão social, como programa de cotas, então você traz faixas da população que não tinha acesso a isso. Não só negros, mas deficientes, indígenas, quilombolas, e isso cresça nos próximos anos, com 50% de cotistas, mas um desafio bastante grande. Por que é um desafio? Porque esse sistema acaba refletindo na universidade, as deficiências do ensino básico tem que ter mecanismo de nivelamento, pra que todos absorvam da mesma forma o conteúdo. Educação era relegada a elite. É difícil ver hoje uma família que não tem um na universidade, isso tudo são novos desafios que vamos lidando no dia-a-dia. Outro desafio é pensar no jornalismo a partir da crise do jornalismo. Jornalismo vive um período de crise em linguagens suporte, como sobreviver economicamente, todos esses modelos estão passando por abalos. Isso é pra os professores não se acomodem. Daí a importância do programa de pósgraduação, tem que se manter ativo, pesquisando... Não e nenhuma garantia, mas também volta a questão do capital humano, mais que ensinar fazer jornalístico, ensinar
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o saber, tem que ensinar o pensar o fazer, acho o grande desafio da universidade pública. Silvio da Costa Pereira – entrevista em 05/09/2014 Formação acadêmica? É graduado em Engenharia Mecânica, em 1989, em Comunicação Social – Jornalismo, em 1997 e mestre em Educação, todos pela Universidade Federal de Santa Catarina. Quando chegou em Campo Grande? Eu cheguei aqui em agosto de 2010,começando a trabalhar em agosto de 2010. Exatamente 22 de agosto de 2010 eu tomei posse aqui. Eu tinha vindo antes pra fazer o concurso, toda aquela parte burocrática de assumir e tal, mas eu vim por uma questão de foco, que num momento da minha vida eu queria trabalhar com educação. Essa guinada que começou em 2005, mais ou menos, culminou aqui em CG. Eu vim pra trabalhar. Já tinha lecionado em outras universidades professor? Já, lá em Santa Catarina eu era professor da Estácio, do curso de jornalismo e publicidade, trabalhei de 2008 até 2010. Fui professor substituto no curso de computação em Florianópolis na UFSC, em 1993, não lembro exatamente o ano, no lattes tem, eu trabalhava há muitos anos com cursos de informática, aprender a lidar com na época, software de engenharia, sou engenheiro também, então, parte estrutural, desenho mecânico, AutoCAD, eu dava curso disso, eu dava outros cursos, então fiz esse concurso pra professor substituto e dei aula por 6 meses Ministra quais disciplinas atualmente? Já deu quais? Hoje eu trabalho fotografia e fotojornalismo, trabalho uma optativa, que tento ministrar anualmente, que é prática em reportagem fotográfica, e desde o ano passado eu estou trabalhando laboratório de produção gráfica II. Essas são as disciplinas que estou trabalhando além de TCC. Aqui na UFMS, eu já trabalhei redação V, com o Ramires, foi uma experiência muito legal, ele pegou uma turma e eu peguei outra, só que como era Projétil, a gente trabalhava junto. E trabalhei legislação e ética também. Uma questão geral, como era a estrutura física que o curso tinha? Mudou, a estrutura física está melhorando, não tanto quanto a gente gostaria, mas dentro do possível, temos que ser realistas. Quando eu cheguei aqui só tinha o laboratório de redação. De lá pra cá, foi criado o laboratório de jornalismo cientifico, que é outro espaço importantíssimo pra gente dar aula, foi criado o laboratório de rádio, eu não sei se ele funcionava em outro lugar antes. Eu não lembro de ter entrado lá, mas então ele migrou pra um espaço próprio que tem o aquário, tem a parte de gravação, a
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parte de computadores, a parte de sala de aula, fantástico... A gente usa muito, o mestrado usa. Não tinha mestrado, então o próprio espaço do mestrado, que tem salas, secretária, com duas salas de aulas que usamos, o laboratório de ciberjornalismo, o espaço do projeto Observatório de Mídia, que o prof. Gerson trabalha. Dentro de tele não existiam os espaços que os alunos estão começando a trabalhar com edição de vídeo, só quem fazia era o técnico, isso está começando a migrar pra os alunos. A gente não tinha nenhuma rede sem fio aqui, ai o prof. Gerson trouxe um roteador sem fio da casa dele e instalou, agora estão entrando os roteadores da própria universidade. Ai pensando, no jornalismo, nós não tínhamos câmeras digitais DSL, que fotografam e filmam, então os alunos que quisessem filmar, era por conta em risco deles, o laboratório de fotografia analógica estava desativado, eu reativei esse laboratório. Mais como apresentação. Por exemplo, esses dias, tinham dois ex-alunos que estão fazendo um filme e estavam procurando na cidade um laboratório de revelação que precisavam filmar, filmamos ali. Então são usos às vezes didáticos, as vezes de pesquisa e as vezes de extensão, como este. Mas mudou bastante coisa, esperamos que mude mais. Laboratório de fotojornalismo já (risos). E que mais você quer, de estrutura pra dar a melhor aula de fotografia? Que ainda falta? Laboratório de fotojornalismo já. Na verdade é uma coisa que ta na minha cabeça já faz um tempo, mas como eu to pra sair pra o doutorado, não botei no papei, porque é uma coisa de 5 a 10 anos pra executar... Então eu tava deixando, agora com a entrada do professor Helio nós começamos a conversar mais. Porque, o que eu quero, o espaço ideal pra fotografia: uma sala onde você possa ter espaço pra trinta/quarenta alunos, com um projetor fixo no qual eu possa plugar o computador com rede sem fio acessível, projetor calibrado, um dos grandes problemas aqui é a não calibração dos projetores que me abram um quadro grande na parede, com isso eu já trabalho fotografias vídeos. Nessa sala ou numa sala junta, próxima, que tenha 10 pcs pra podermos interagir aula teórica-aula pratica e do lado um espaço do laboratório molhado, pra se quisermos fazer a parte química e interagir. Porque hoje a minha dificuldade em laboratório químico é que os alunos não tem o que fazer. Lá na Estácio a gente interagia muito com isso, os espaços eram muito próximos e eu tinha a ajuda de um técnico. Meio baseado no espaço de rádio, um espaço com ambientes pra laboratório molhado, laboratório digital com projetor calibrado e um furo na parede, não sei se vocês lembram das aulas de fotografia mas eu falava da câmera escura, um espaço todo fechado que tem um furo e por esse furo passa a luz e projeta na parede oposta a imagem invertida...eu queria q essa sala fosse uma câmera escura também. São coisas que são didáticas, que os materiais daqui pudessem migrar pra lá. Eu to conversado com o professor Hélio Godoy, que entrou faz pouco tempo, e trabalha fotografia há muito mais tempo aqui e ele transita pelo vídeo-documentário então o que a gente ta conversando, esse espaço, poderia e deveria servir por uma questão de economia de
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recursos, pra parte de vídeo-documentário, ou seja, hoje a professora Taís busca um espaço para que as alunos editem os vídeos, onde ela pudesse trabalhar com uma turma, projeção, então essa sala e esses computadores poderiam ser tanto pra edição de vídeo, produção de audiovisual. Porque existe uma tendência, e eu quero explorar no meu doutorado, uma aproximação de foto e vídeo. O vídeo é um filho da fotografia. A fotografia nasce no século XIX, o cinema nasce da fotografia, se separam no século XX e agora começam a se juntar... Tem gente que tá dizendo que daqui 50 anos não exista maquinas de vídeo e foto. Vai ser uma câmera que filma e quando quiser tira frame. É uma coisa que pode servir pra gente até por causa dessa aproximação que está acontecendo. Esse é o espaço que eu imagino que sirva pra fotografia e pra desenvolvimento que eu imagino que eu vou fazer quando eu voltar do doutorado pra fotografia e vídeo. Com relação aos equipamentos que o curso tem hoje? Quando eu cheguei, nós tínhamos câmeras analógicas, seis. Com algumas lentes muito boas, tripés, flashes, câmeras digitais velhas e amadoras. Não dava pra trabalhar digital, eu acabo mantendo, eu tava com projetos em escolas, ta ali. Eu não dei baixa ainda. Antes da turma de vocês entrar, eu trabalhei com os alunos com minha câmera. Uma câmera minha. Alunos traziam suas câmeras. Um projeto de extensão chamado prata da casa, nos convidaram pra. Mas não temos equipamento. Eram pra ser dois câmeras, vieram 10 câmeras. Não são suficientes, seguram bem Nikon d7000 daqui a pouco vão começar a dar problema, a universidade não consegue fazer manutenção periódica. Outro problema são cartões essas câmeras, três queimaram os cartões. A gente sabe, quem usa cartões simples, Como foi seu período de coordenação? Eu conheci a universidade, vi o que funciona, o que não funciona. Fiz meu mapa, sabe quem são os parceiros aqui dentro. Essa parte é fantástica, consigo transitar. Taís Marina Tellaroli Fenelon – entrevista em 20/08/2014 Graduação e experiência profissional: entrou na UFMS em 2000, fiz jornalismo no período de 4 anos, me formei no fim de 2003 e em 2005, fiz pós na UFSC, em jornalismo e mídia, em 2006, mestrado em Comunicação midiática na Unesp de Bauru, e 2009 eu entrei no doutorado na Metodista de são Paulo, terminei o doutorado em 2013, e na mesma semana eu passei no concurso na UFMS, pra ser professora. Experiência profissional no mercado? Em todo esse tempo que me dediquei a área acadêmica eu paralelamente atuava no mercado, fiz estágio na TVU e TV morena, trabalhei como profissional na TV Campo Grande, lá eu fui apresentadora, repórter, editora,trabalhei em todas as áreas e
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trabalhei 1 ano na Band no Programa do Picarelli, e 2 meses na Record, no Programa do Picarelli também, lá eu fazia matéria política dele e não matéria policial. E quando eu voltei de São Paulo, eu tava cursando o doutorado simultaneamente, o Picarelli me convidou pra assumir a Diretoria de televisão da Assembléia Legislativa. Então eu fui diretora de divulgação rádio e TV por 1 ano e alguns meses lá da Assembléia. E lá eu era responsável por toda programação da TV, gerenciamento de funcionário, eu era responsável por tudo. Em que ano entrou? Em 2000, quando entrei, o curso era noturno, nossas aulas eram só a noite, e eu não tinha muita noção do que seria a profissão de jornalista, não tinha a menor ideia, não sabia também o que eu queria, só que no decorrer do curso a gente vai se apaixonando pela profissão.. Como era a estrutura física do curso de jornalismo? O curso tinha uma estrutura bem precária, a gente não tinha equipamento de fotojornalismo, lembro que essa disciplina a gente mal teve. Como o curso era noturno nossa produção ficava mais complicada, diferente de hoje que os alunos acabam produzindo muito mais que naquela época. Então comparando hoje, além do quadro de professores estar maior, a estrutura de laboratório tá infinitamente melhor. O curso melhorou muito. Quais professores davam aula? Eu tive aula com o professor Edson Silva, Marcelo Cancio, Mario Ramires, Ruth Vianna, Licerre. Tive aula com professores voluntários, substitutos. Algum fato diferente/importante marcou a época que era acadêmica do curso? Ah, nas externas que a gente fez... a professora Monique Klein levou a gente pra fazer um programa de rádio ao vivo no Bairro Coophavila 2 que acontece uma feira, se não me engano na terça-feira a noite, e a gente tem até foto desse dia que foi um evento bem legal. A gente foi pro pantanal com o prof. Edson, fazer entrevista e pesquisa jornalística, acho que no segundo ano essa viagem, e foi quando a gente começou a entender o que era fazer uma entrevista, a gente tinha que escrever uma reportagem sobre o Pantanal, a gente foi de ônibus, aqui da universidade, e a gente ficou hospedado na base da UFMS de Corumbá. Já existiam laboratórios nessa época? Laboratório de TV sim, no mesmo lugar, não mudou muito do laboratório de hoje. A rádio funcionava, a gente chegou a ter um programa ao vivo de rádio, então a gente aprendeu na prática mesmo, tinha audiência, as pessoas ligavam e pediam música.
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Naquela época não tinha internet direito então não existia jornalismo online, ciberjornalismo. A gente não produzia nem aprendeu a fazer isso. Disciplinas, era parecido ou diferente? No geral, não mudou muito, mas o que tem diferente hoje é a produção dos laboratórios que é mais intensa, a disciplina nova de ciberjornalismo, que não existia, e talvez as disciplinas do primeiro ano, que eu tive antropologia, sociologia, economia, não sei se hoje os alunos tem isso. A gente teve psicologia da comunicação. Quando veio lecionar, quais foram as diferenças observadas, tanto de questões físicas quanto pedagógica? Primeiro o quadro de professores que é bem maior, pessoas novas que chegaram, com doutorado pra fazer o curso crescer e a estrutura física que por incrível que pareça melhorou. Pensava em ser professora aqui? E como decidiu? Já, desde o começo quando eu comecei a cursar aqui a faculdade eu já sabia que ia fazer mestrado e doutorado e já ia seguir essa área. Já tinha isso como objetivo. E como é voltar pra universidade onde se graduou pra dar aula? Qual é a sensação? É muito bom saber que eu posso contribuir com esse curso, de alguma forma a ajudar a formar as pessoas que começaram como eu que antes eu também não tinha muito essa noção de o que era o jornalismo, e hoje muitos alunos chegam assim, meio perdido. Só que eu sei que vai chegar uma hora que eles vão se encontrar na profissão e vai dar tudo certo. Como a senhora vê o curso hoje? Perspectiva do futuro do curso. Na minha época não tinha Laboratório de rádio, de foto, o de jornalismo cientifico, só tinha o de TV e uma rádio que funcionava ao vivo, então o curso de estrutura melhorou muito, os alunos tem muito mais acesso, e eu acho que só tende a melhorar, tá abrindo vaga pra contratação pra professor, a gente abriu uma vaga. Na minha época de aluno era muito difícil. Bem dizer, no período de um ano, entrou o Marcos, eu e a Katarini pra dar um reforço e provavelmente a gente vai abrir mais uma ou duas vagas. Então a tendência é melhorar mesmo.
Raphaela Potter – entrevista em 18/09/2014 Formação: Jornalista pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
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Como que foi aquela época dos quatro anos da faculdade? Naquela época eu lembro que no primeiro dia de aula a gente não teve aula. Então foi mais ou menos uma semana sem aula porque não tinha sala, não tinha um dia certinho que a gente podia usar tal sala pq a gente dependia muito do curso de letras. Então a gente demorou mais ou menos uma semana depois do dia que era para começar pra ter aula e o primeiro dia de aula foi no aquário que hoje não é mais aquário. A gente chamava de aquário, mas acho que hoje é a redação, que eu acho que é a redação pra vocês ainda, ali no cantinho do corredor. Lá não era aquilo cheio de computador, era uma sala que chamava de aquário porque chovia e alagava e porque tinha uns negócios de vidros, foi com a Márcia Gomes a aula, Teoria de Comunicação de Massa. Ai esse primeiro ano foi legal, porque apesar dessa primeira dificuldade de sala tudo, depois a gente conseguiu se acertar e a gente sempre tinha aula. E eu achei um ano muito importante pra parte teórica, que hoje eu não sei se vocês já tem tanto isso de parte teórica. Nesse primeiro ano a gente tinha Teoria de Comunicação de Massa, que eu acho que são disciplinas que ainda tão na grade. Comunicação Comparada com a Márcia, a gente tinha Antropologia, Sociologia, Psicologia da Comunicação, Filosofia. Então eram matérias densas, muito livro, muita teoria. A gente não foi direto pra prática pra entender o que era o Jornalismo de rua no primeiro ano. No segundo ano, a gente já teve uma vivência maior, já teve umas aulas de redação com o Gerson, uma matéria de projeto? que era com o Licerre, que eu acho que vocês na tem mais, Planejamento gráfico... mas não era planejamento gráfico, era antes. A gente até se perguntava pra que essa aula meu deus? Então a gente começou a entender um pouquinho melhor o que de escrever texto, de estrutura. Ainda tinha a parte teórica, mas a gente começou a entender um pouquinho melhor. E separou a turma um pouco, uma turma fazia matérias mais a tarde e outra turma mais a noite. No terceiro ano a gente teve prática mesmo, porque daí separou de vez, separou a turma só a tarde e a turma só a noite. Então muita gente que trabalha eu já tinha começado a fazer estágio, eu já tava no meu estágio então eu fazia só a noite. O que mais me marcou nesse ano foi rádio e tele foram as coisas que eu mais gostei, e também projétil me marcou super. Por causa do Ramires, que infelizmente está mais com a gente, um professor que me marcou muito. A gente trabalhava muito pra conseguir fechar o projétil, era como uma redação mesmo, como se a gente tivesse ganhando pra fazer aquilo. Então o terceiro ano foi o ano da prática mesmo, que a gente descobriu mesmo o que era o jornalismo, e assim não dava pra fugir muito, chegou até ali vamos terminar, mesmo quem não gostasse. Então cada um se identificava com alguma coisa, muita gente já trabalhava na época. E no quarto ano foi TCC. A gente já entrou no quarto ano com clima do tcc, porque a gente só tinha aula um semestre e o no outro semestre era só pro tcc. Então a gente já entrou pensando, fazendo dupla, trio ou pessoa sozinha. Escolhendo o que ia fazer, escolhendo orientador. Porque tinha um negócio que eu acho que tem até hoje, que orientador só podia pegar até três trabalhos. Era uma disputa por orientador. Eu fiz com a Cláudia Camargo, uma dupla. E a gente queria muito o Cancio e no fim a gente conseguiu. Mas eu lembro que tinha essa disputa, e a gente só pensava nisso. A estrutura no quarto ano mudou bastante. A partir do terceiro e quarto ano a estrutura do curso começou a mudar. Antigamente a gente não tinha sala, aquela coisa de sempre ter aula no mesmo lugar. O aquário virou redação, a gente até fechou alguns jornais do Projétil lá. Eram computadores novos. Eu peguei uma redação onde é o Núcleo. A Greicy agora tem um núcleo né? Ali tá tudo reformado, bonitinho. Pelo menos da última
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vez que eu vi. Ali que a gente tinha aula de planejamento gráfico com o Licerre, naqueles computadores de tubo brancos. A gente levava disquete ainda. No primeiro ano foi a época que surgiu o pendrive, mas como no computador não suportava pendrive, a gente chegou a levar disquete pra imprimir trabalhos. Então nesse período eu peguei a fase de transição. Que era o curso antigo, que não tinha redação, os computadores eram todos velhos e funcionavam três, que não tinha sala. Depois quando eu fui pro 3° e 4° ano, já começou a mudar, chegar investimento. Só que a gente n aproveitou MT isso, porque a gente já tinha feito três anos desse jeito. Eu considero que eu entrei nesse período de transição, teve a questão da mudança da grade... a gente não pegou mas o calouros já pegaram. Então quando eu conversava com os calouros, eles tinham uma matéria e a gente tinha outras. Então foram quatro anos que a gente acha aproveitou o máximo até as mudanças que tiveram. Eu não sei desde quando tava o curso como quando eu entrei, acredito que muito tempo. Então a gente foi a última turma, 2011, que pegou o curso naquela fase mais velha, na transição que ta hoje em dia. Quando eu entrei ainda era vestibular, eram dois dias de prova, o curso era concorrido, tinha 11 por vaga. Era vestibular de inverno, mas o curso só começava no outro ano. Então eu fiz vestibular, passei, mas esperei até o começo do outro ano pra poder começar a faculdade no outro ano. E dos professores quem você lembra? Ah! lembro da Márcia Gomes, do Cancio, do Ramires, que são os que mais me marcaram e que eu gosto muito. Mas eu também lembro da Greicy que ta ai até hoje. A gente teve aula com o professor Éser Cáceres, que saiu acho que hoje em dia ele trabalha no Midiamax. Teve aula com o professor Orlando de Filosofia que largou no meio do curso, aí veio outro professor Djalma que pegou o bonde andando sabe, ai muitos alunos reprovaram e deu o maior rolo. Tem o Mário Márcio Cabreira que dá aula de em escola, deu aula pra gente no primeiro ano. Tinha a professora Lívia de Psicologia da Comunicação, Silvino de Antropologia, a Dani Ota de rádio. Aí tem o Gerson também que deu aula pra gente de redação no segundo ano e o Ramires depois no terceiro. Não era muito dava pra contar no dedo. Era sempre essa dificuldade de ter professor, muitos eram temporários, voluntários. O que tem motivou a fazer jornalismo? Então desde que eu tava na sétima serie, que queira fazer jornalismo. Então eu coloquei isso na minha cabeça, e como na época era vestibular e minha mãe sempre falou “você tem q passar na federal”, ai eu estudei pra isso. Eu sempre gostei de ler, de escrever, eu gostava de ler matéria, de ler revista e de jornal, sempre achei que era uma coisa que combina comigo e ainda acho. Mas quando você entra no mercado de trabalho você se decepciona com muitas coisas, daí fica pensando “porque eu não mudei de curso?”, mas eu não me arrependo porque eu ainda acho que Jornalismo combina comigo. Eu gostei das pessoas que eu conheci na faculdade, eu gostei das matérias que eu fiz, eu gostei dos trabalhos que eu fiz, gostei do meu tcc, dos professores. Eu acho que se eu tivesse feito outra coisa eu não seria feliz. Problemas têm, mas ai já vira uma outra questão não com jornalismo, uma questão de empresa, de emprego. Mas com o curso mesmo com as dificuldades eu n me arrependo de ter feito não. Me motivou isso, achar que combinava comigo e ainda acho que combina. Porque às vezes quando eu to estressada e falo “quero largar tudo”, eu penso “mas se
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eu largar tudo eu vou fazer o que?”, daí não penso em mais nada. Então por isso que eu acredito que jornalismo era minha primeira opção e vai continuar sendo. Teve algum fato inusitado ou legal que te deixou muito marcada durante a faculdade? Teve. No primeiro ano que a gente entrou caiu o diploma, o Gilmar Mendes derrubou o diploma e todo mundo ficou muito revoltado. Então a gente se juntou, mas foram poucos da minha turma acho que foram quatro. Eu, a Keyciane, o Flávio, e um outro menino que se formou ano passado, o Rafael. Então fomos nós e um pessoal da Uniderp lá no Palácio Popular da Cultura, porque o Gilmar Mendes veio pra cá logo depois que caiu o diploma. Então a gente fez protesto, bateu panela, usou nariz de palhaço, fez um monte de coisa. Só que aí o Gilmar não viu a gente, ele entrou pelos fundos e a gente ficou lá fora. E aí o pessoal foi embora, e eu falei “não a gente tem que ficar aqui, a gente tem que falar com ele”. E o pessoal dos outros dos outros cursos das outras universidades, mas eu, a Keyciane, o Rafael e o Flávio ficamos. Aí a gente entrou lá, e conseguimos entrar onde ele tava dando a palestra. Na hora que a gente entrou onde ele tava dando a palestra, acabou, bateram palma. E era pro pessoal de direito, tinha gente daqui da UFMS. Ai eu peguei e fiquei louca, peguei uma câmerazinha, hoje vocês têm tudo né, essas câmeras semiprofissionais. A minha era uma Sony Cybershot. E enlouquecidamente me juntei com os jornalistas e ficava gritando “porque você vai depor o diploma do curso de jornalismo, por quê?” Aí uma jornalista disse “pode deixar que eu vou perguntar”, ela viu que eu não era jornalista de nenhum veículo, eu era aluna, acadêmica. Mas aí ele respondeu e eu gravei tudo. E a Keyciane, o Flávio ficaram olhando assim, o Rafael lá do lado de fora, eles ficaram olhando “como você fez isso”. Aí a gente fez um texto postou no blog, a resposta dele. Não isso foi no segundo ano, que ele veio pra cá. Isso ficou marcado e até a gente lembrou o episódio na formatura, foi uma coisa que marcou bastante do curso aqui. Mas tem muitas outras coisas. E como que foi acontecendo assim a sua vida, onde você está aonde você chegou? Como por exemplo, com o telejornalismo e o Jornalismo em si. Então o que eu vejo hoje aqui, é que vocês têm mais dificuldade de fazer estágio do que a gente. Os professores estão viabilizando pouco e por exemplo, vocês me disseram que ano que vem o curso vai ser de manhã e de tarde. Impossível, não tem como. Eu acho muito importante essa vivência na redação, porque é lá que a gente vai ver como realmente funciona, o deadline, a hora que você tem que entregar tudo e eu era muito curiosa quanto a isso. Mas eu comecei a fazer estágio no segundo ano na Plaenge, eu trabalhava na comunicação no atendimento online, eu atendia as pessoas que queriam comprar apartamento pela internet, tinha nada a ver com jornalismo isso. Eu tava vendendo, falando o vocabulário certo. Mas depois de um tempo, uns dois meses que eu tava lá, a TV Morena abriu seleção pra estagiário, que lá também tinha isso. Então tinha uma prova, ai depois da prova tinha uma nota de corte, depois da nota de corte tinha uma entrevista e depois da entrevista tinha três dias na redação pra eles avaliarem como você trabalhava. Hoje em dia não é assim, mais lá. Acho que é mais indicação. Faz a prova, uma entrevista, mas não tem mais todo esse processo seletivo que tinha. Aí o Fernando da Mata que é um colega meu que era da minha turma, fez a prova e passou, começou a trabalhar lá. Aí como eu era curiosa porque eu só vendia
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apartamento e eu queria saber como que funcionava, eu perguntei pro Fê e ele falou “olha Rapha, tem mais estagiário saindo de lá e vai abrir outro processo seletivo”. Aí ele me passou o email da Andréia que na época era secretária lá e eu mandei um email, “olha meu currículo, to sabendo que tem seleção, tal”. Aí ela me respondeu “olha tem seleção tal dia, se quiser vem cá fazer a prova”. E nisso, todo mundo da turma já tava sabendo, umas dez, quinze pessoas foram fazer essa seleção pro estágio. Daí eu fiz, passei na nota de corte. Era uma prova assim, português, conhecimentos gerais, e algumas coisas assim “escreva uma nota pelada, escreva uma nota coberta” e eu não fazia a menor idéia o que era isso, mas eu fiz. E eu passei nessa nota, fui pra entrevista com os chefes e depois me chamaram pra fazer o período de acompanhamento. Aí me chamaram pra estagiar, chamaram eu e mais a Samira que também era acadêmica aqui, o André Patroni que era nosso veterano pra trabalhar de manhã e a Michele que era da minha turma. Então foram três da minha turma dos dez que se inscreveram. E ai a gente começou a trabalhar lá, e eu era muito encantada. Logo que eu comecei me encantei, falei nossa aqui é minha segunda casa, não ligava de passar horas e horas lá. Aprendi bastante. Mas desde que eu entrei, na entrevista, antes de eu fazer o período de estágio, eles falaram “você gosta do quê?”, ai eu falei “eu gosto de esporte”. Ai todo mundo assim, olhou aquela menina muito loira, parecia que não sabia de nada falando que gosta de futebol. Pela faculdade eu ia pro estádio, a gente tinha um blog. Eu acordava domingo 8h da manhã pra vir pro Morenão, pegava dois ônibus da minha casa até aqui pra assistir jogo da série B do estadual. Eu, a Dai, o Eduardo Líbio e o Júlio. Eu falei “ai não eu tenho um blog, eu faço isso e tal”. E isso já chamou a atenção deles, por que é muito difícil alguém gostar de esporte aqui no estado, de ir em jogo. Acho que foi, acho não, tenho certeza que foi por isso que eles me contrataram. Me deram essa chance. Ai eu fiquei dois anos lá, ai nesse tempo eu produzia e depois teve a oportunidade de experiência de fazer vídeo, que era fazer o mapa tempo. Ai eu apresentava o tempo, mas ainda era estagiária não ganhava rios de dinheiro, ganhava minha bolsa de estagio. Só aumentou o trabalho e o dinheiro nada. E fiquei dois anos lá. No dia que eu apresentei meu tcc, eu sai. 30 de novembro de 2011. Ai eu falei que eu gostaria de continuar trabalhando na empresa, porque foi lá que eu aprendi tudo que eu sabia de tele. E não era uma coisa que eu queria muito tele, pra deixar claro. Que eu quando era mais novinha, queria aparecer na televisão. Não. Eu queria ser jornalista, eu gostava de escrever, e gostava de todas as possibilidades. Na faculdade o que eu mais gostei de fazer foi rádio. Só que aqui não tem como. Era uma coisa que eu gostava. Gostava até mais do que tele, bem mais. Só aqui no estado não tem muita área pra trabalhar. Mas como apareceu essa oportunidade. Mas quando eu sai ele não tinha vaga pra trabalhar lá e eu fiquei esperando. Aí eu comecei a pedir emprego em outros lugares. Fui procurar em assessoria, fui procurar em TV. Consegui um trabalho em janeiro, na TV campo grande cobrindo férias. Aí vinte dias depois o Alfredo que é o gerente de jornalismo lá da TV me chamou, perguntou se eu queria trabalhar em Corumbá. Aí eu falei “quero demais!”. Porque era a TV morena, porque a Vivian de Castro que era a editora regional lá tinha trabalhado comigo quando eu era estagiaria, ela gostava de mim e eu gostava muito dela. Falei não éa gora que eu vou, sabe quando você não pensa. Ah mas você tem sua família aqui, tem tudo. Falei quer saber de uma coisa eu vou. Falei tchau TV campo grande e fui. Lá em Corumbá foram 2 anos e 15 dias, mas eu aprendi muito mais ainda do que no estágio. Era como se fosse uma extensão do estágio. Porque no estagio eu produzia. Vocês sabem né, produzir, marcar
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pauta, escrever pro repórter qual é a intenção da matéria, marcar com os entrevistados. Dar o encaminhamento, isso você faz todos os dias. Mas não é a mesma coisa que entrevistar e escrever um texto. Então quando eu cheguei lá eu tinha dificuldade de escrever texto, demorava muito, os offs eram muito longos e na TV não dá porque se a pessoa dorme se for um off muito longo. Eu tive que aprender objetividade, eu aprendi a fazer ao vivo, meu primeiro ao vivo foi horrível, foi estadual eu fiquei uns 30 segundos sem falar nada no ar de nervosa, sem falar nada, ainda bem que o cinegrafista derivou a imagem porque não aparecia eu parada. Eu olhava pro papel e não achava o que eu tinha que falar, aí eu achei. Na hora que eu achei, fiz de conta que nada tinha acontecido e terminei o link, mas fiquei esse tempo parada. Mas depois eu comecei a fazer ao vivo todos os dias. Porque lá assim, a equipo é reduzida e o mesmo jornal que tem aqui que é o MS 1°edição tem lá só que de Corumbá e região. E a gente que fecha. São duas pessoas de manhã e duas a tarde, e um dos repórteres da manha apresenta o jornal, não tem como ele fazer muita coisa. Era muito corrido. Eu chegava na redação, não tinha produção e nem produtor. Eu via o que tava acontecendo no site e ia pra rua. Ligava pra policia, pro bombeiro pra ver o que tava acontecendo. Fazia o VT, entrevistava, voltada escrevia o texto, gravava o off e ia editar a matéria, imprimia os links e ia pro link do jornal. Fazia tudo isso sozinha. A Vivi lógico olhava meu texto, me liberava, fazia meu link, marcava o entrevistado. Ela fecha o jornal lá, mas era muita coisa ao mesmo tempo. Eu que chegava ia pra rua sem pauta, eu que tinha que achar a pauta, escrevia o texto, editava e depois saia pra rua de novo pra fazer link do jornal. E como são 40 minutos e a equipe é pequena às vezes eu tinha três entradas de links com quatro minutos cada de baixo do sol quente. Então você aprende, não tem pra onde você fugir. Eu fui pra lá e me propus esse desafio, não dá pra na primeira dificuldade desistir. E lá tem muito evento, tem festival da America do sul, tem carnaval, trabalha até de madrugada tinha dia que eu chorava que não agüentava mais trabalhar. Entrava oito da manha e saia dez da noite, era super complicado, mas foi onde eu aprendi muito. E a recompensa vinha, você tinha hora extra, tinha banco de horas, tinha a folga. Nesse primeiro ano eu só ralei. Aí no segundo ano o Bruno que era o apresentador saiu, e eu tive a oportunidade de apresentar. Então eu ficava lá no estúdio, no ar condicionado tranqüila e feliz e os outros iam pro link, os novos que chegavam. Então já foi um crescimento. Ai como foi que eu vim pra cá, tava gostando muito de Corumbá, até pro meu relacionamento pessoal foi muito bom, eu cresci muito pessoalmente. Então foi muito bom pra mim, aí eu comecei a aparecer mais, e eu tive a oportunidade de vir pra cá esse ano. Criaram um novo programa de esporte, o Morena Esporte. Porque antes só tinha o globo esporte, aquele programinha de 6 a 8 minutos que passa depois do MS 1° edição antes do Globo Esporte nacional. Esse programa morena esporte tem 35 minutos e precisava de alguém pra produzir e não tinha aqui na equipe. Ai como sempre souberam que eu gostava de esporte me chamaram pra cá. E ai eu vim. Eu entrei na TV dizendo que eu queria trabalhar com esporte se eu dissesse não, apesar de eu estar lá numa fase muito boa e feliz eles iam ficar confusos “mas ela não era a menina que sempre gostou de esporte, então porque ela n vem agora pra um desafio?”. E eu vim, to trabalhando, to lutando, mas assim não to mais tão apegada por conta de alguns problemas que aconteceram internamente na TV, é umas coisas mais gerenciais, mas só to expondo o que é a realidade. Acho que eu tava mais feliz quando eu tava em Corumbá do que aqui. Mas assim as duas partes foram boas, e apesar dos problemas que acontecem em toda empresa, eu me sinto feliz com o que eu to fazendo
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hoje. Quando eu to de saco cheio, falo não quero mais, eu paro e penso o que eu vou fazer e não vem nada. Mas eu to gostando é sempre um crescimento. É como você cresce na faculdade até o TCC, depois você cresce no seu estágio até ser contratada e depois você cresce até ter outro desafio. Você manteve contato com seus colegas, e eles trabalham em outros veículos de comunicação. Queria saber o que vocês pensam sobre o atual cenário jornalístico do estado? Eu mantive contato por um tempo, depois ficou só aquele grupinho. Porque muita gente mudou, teve gente que foi pra outro estado, teve gente que voltou pra sua terra natal, teve gente que começou a fazer outro curso. O cenário assim, não é muito animador, acho que em termos de salário mesmo e oportunidades aqui no estado. É muito difícil eu encontrar alguém no nosso grupo que esteja completamente feliz tanto no trabalho quanto no salário. As pessoas começaram a se adaptar ao que elas gostam de fazer. Eu gosto de TV então continuei nesse ramo. Meu amigo Eduardo Lívio foi pra São Paulo trabalhar com mídias sociais e ta adorando, ta ganhando bem. Minha amiga Gabi também trabalha com mídias sociais bem mais pra aquele lado de publicidade e tal, ela fez um curso de redação publicitária pra trabalhar com isso. Mas acho que a melhor de todos que ta é a Thayssa, que ta concursada. Então acho que é isso, quem ta concursado ta melhor que todo mundo. Ela ta trabalhando na UFGD, que era uma coisa que ela já tinha experiência porque ela trabalhou em assessoria de imprensa aqui na universidade. Acho que de concurso, as pessoas que fizeram concurso estão melhores ou as pessoas que foram pra mídias sociais que uma coisa que cresceu muito. Você pouca estabilidade no cenário, e pra gente que é muito novo não agüenta. Não é como antigamente você ficava lá agüentando enchenção de saco do chefe. Agora você procura os direitos e não ficam agüentando nada não. Mesmo depois de formada você ainda tem contato com o curso e com a universidade? Eu gosto de saber, eu fico no grupo do facebook. Eu fico acompanhando os calouros, gosto de saber, pergunto. Fiquei muito chateada com esse negócio do estágio que colocaram umas normas. Não gostei sabe. Falei sobre os calouros sobre isso. Enfim, eu fico sabendo. Eu sempre gosto. Eu não venho aqui com freqüência. Eu não venho porque não tava aqui, então era difícil. A semana de jornalismo sempre quis participar, mas nunca pude. Eu gosto de ver tcc dos calouros, mas não dava porque tava lá. Eu gosto entendeu. Não sou daquelas pessoas ah saiu da UFMS nunca mais. Agora quando tiver as coisas dá rpa vir mais. Nunca vou negar nada se for alguma coisa da ufms, sempre vou fazer com o maior prazer. Tenho muito amor e carinho pelo curso. Você se arrependeu de alguma coisa que fez no curso? Não acho que não. Acho que talvez eu me arrependo de não ter lutado um pouco mais pelo curso sabe, porque chegou uma época a gente não tava nem ai sabe, tava cansada. Podia ter corrido atrás das coisas mais. Ah, já sei do que me arrependo. Me arrependo de quando eu entrei no estágio eu ter deixado a UFMS em segundo plano, de ter dado mais prioridade pro estágio. Primeiro a UFMS era minha segunda casa e depois o estágio virou minha segunda casa. Eu poderia ter aproveitado muito mais da universidade, ter absorvido mais as coisas por conta do estágio. Não acho que estágio
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seja uma coisa ruim, foi uma escolha minha. Eu acho que todo mundo tem que fazer estágio, mas fazer lembrando da universidade. Agora é impossível você fazer quatro horas de estagio por dia, não é essa a vivencia. Isso é culpa das empresas, elas poderiam se adequar, mas elas não vão fazer isso. Hoje em dia por conta dessa dificuldade elas já estão eliminando os estagiários. E o projétil, foi seu único contato com o impresso? Sim, nunca tive outro contato com impresso fora daqui. Eu amei gostei muito, o Ramires fazia a gente discutir, questionar. Sentada na mesa pra fazer a reunião, discutia. Era muito legal a discussão da pauta se ela valia ou não, qual que era o interesse. Um fato engraçada é que teve uma vez, foi a primeira vez no curso que ameaçaram a não ter um segundo projétil na minha turma. Teve briga, teve gente que não quis fazer a matéria. E ai ficou eu, a Samira e o Fernando vindo até quando não tinha mais aula, o jornal saiu depois das férias pra terminar de diagramar e fazer matéria. Eu e a Samira fizemos mais uma matéria pra preencher o espaço em branco que um colega deixou de fazer a matéria. A matéria que preencheu o espaço vazio foi o do ariano suassuna, a gente entrevistou ele no hotel aproveitando que ele ia dar uma entrevista pro atualidades. Aquele dia foi só pra preencher um espaço em branco, hoje eu vejo que foi épico. São coisas que compensam muito, não só de vc ter essas oportunidades que são únicas, mas também por ter o poder de questionar. E o período que você era a moça do tempo? Lá em Corumbá eu fiquei famosa, todo mundo me conhece. Aqui não, eu era a moça d tempo, mas eu chegava com uma bolsa, material e minha roupa de apresentar, era sofrido. Aí eu saia de lá só calçava um tênis e vinha pra faculdade toda maquiada porque não dava tempo de tirar. Nessa época não tinha luxo nem nada. E o que você levou das suas experiências daqui da UFMS? Eu acho que de tudo a UFMS foi o que me levou a carreira inicial que eu tenho hoje. Eu devo tudo aqui, eu não acredito que foi pelo estágio e pelas coisas que eu fiz fora, porque seu eu não tivesse entrado aqui eu não teria tomado todos esses rumos. Tanto que eu tinha uma idéia do que era o jornalismo, aqui eu aprendi o que era o jornalismo e na redação eu vivi o jornalismo. E eu tenho certeza de que a UFMS é o principal de tudo que eu consegui, do trabalho que eu tenho hoje sabe, claro que vem o esforço e tudo mais, mas foi daqui que eu decidi que eu queria fazer. E você tem planos ligados ao jornalismo? Então meninas eu não sou assim não. Eu não tinha o sonho de aparecer na TV. Eu tenho pensado muito em estudar, voltar pra universidade fazer mestrado e doutorado. Pensando a longo prazo, eu penso em voltar pra universidade. Não quero demorar muito pra isso porque eu já vou fazer 24 anos. É diferente você pegar o ritmo de estudo depois de muito tempo, não sei se aqui ou se fora, mas eu quero estudar jornalismo. E a TV vai me acompanhando, é o que eu tenho, é minha experiência, meu ganha pão. Ultimamente minha tendência é essa voltar a estudar. Mario Luiz Fernanes – entrevista em 20/09/2014.
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Porque assim, ó. Na época, quando eu comecei a levantar a história domestrado, o professor Mauro César Silveira mandou uma síntese para mim, o seguinte. A ideia de fazer um mestrado aqui na UFMS, na Comunicação, é uma ideia que nasceu em fevereiro de 2002. Então foi constituída uma comissão. O professor Mauro César Silveira foi o coordenador dessa comissão. Presidente, enfim, dessa comissão, para começar os levantamentos. Porque, acho que vocês sabem, qualquer curso de pós graduação, mestrado e doutorado, ele é liberado, ele é gerenciado pela Capes, que é um órgão ligado ao governo federal, certo? Ao Ministério da Educação, tá? Então a Capes tem poder de vida e morte sobre os programas de pós graduação. Ela que autoriza, ela que fiscaliza e ela que pode inclusive fechar os cursos se eles não corresponderem às exigências da Capes. Então a Capes, ela faz uma série de exigências. Por exemplo: número mínimo de oito professores doutores. A biblioteca tem que ter pelo menos quatro mil títulos da área da comunicação e áreas afins. Os professores têm que ter um índice, um nível de publicação, o que a gente chama de produção intelectual, produção acadêmica, que é publicação de livros, publicação de artigos em revistas científicas, publicação... enfim, de várias coisas. Então são vários indicadores que a Capes leva em consideração para autorizar ou não um curso de mestrado ou de doutorado, certo? Eles são bastante rigorosos. Aí vem uma comissão pra cá, fazem uma avaliação disso. Instalações físicas, por exemplo, isso aqui, esse espaço não é porque a gente quer ou porque a Universidade achou bonito. É uma exigência da Capes. O mestrado tem que ter uma secretaria própria, no caso, hoje nós temos ali a Mariana, o coordenador tem que ter uma sala própria, os alunos têm que ter uma sala própria, tudo tem que ser diferente, separado da graduação, enfim, a Capes tem todas essas exigências. E nessa época, em 2002, quando eles montaram essa comissão, pensando em fazer um doutorado, inclusive veio uma comissão da Capes aqui para fazer uma avaliação prévia das condições e se constatou, óbvio, que, na época, a Universidade não tinha essa estrutura, esse suporte. Desde número de professores, que não tinha os oito professores mínimos, não tinha a biblioteca. Enfim, não tinha uma série de coisas. Então não foi possível a UFMS montar um mestrado sozinha. O que o professor Mauro e a comissão da época fizeram? Eles foram até a UnB, a Universidade de Brasília, para criar uma modalidade de mestrado que a Capes chama de “Minter” ou “Minter dinter”, são duas siglas lá que vocês têm que procurar para a tradução correta disso. Então essa modalidade de mestrado nada mais é do que um mestrado em parceria com outras universidades que já tenham mestrado ou que já tenham doutorado. Que daí vão compartilhar professor de lá para dar aula aqui. Então vai preencher aquele número mínimo de professores que precisavam, a oferta de bibliografia e uma série de coisas. Então a Universidade chegou a fazer esse contato com a UnB de Brasília para fazer esse mestrado em formato... na modalidade de “Dinter”. E inclusive... tem uma... Eu cheguei, na época, e lembro que achei isso em algum lugar, não sei se foi em um desses boletins informativos da Universidade, aquele Jornal Mural. Eu acho que foi em 2005, que a Universidade inclusive chegou a anunciar que ia ser mestrado... Achei também em um jornal lá na hemeroteca. Acho que era 2004, se não me engano. Falava que no ano que vem ia abrir mestrado.
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Achou esse? Então pode ser. Que no ano que vem já ia abrir matrícula e tal, que ia ser esse mestrado em parceria com a UnB de Brasília, com a Universidade de Brasília. Então já tinha sido assinado alguns protocolos, documentos com o reitor daqui com o reitor de lá, enfim. Parecia que a coisa estava toda encaminhada, mas de repente, no meio do caminho, aconteceu alguma coisa que a gente não sabe exatamente o que, e a coisa foi por água abaixo, murchou, o mestrado simplesmente não aconteceu. Até posso depois olhar com mais cuidado alguns documentos, alguma coisa que o professor Mauro me mandou. Mas a coisa não aconteceu. Estava anunciado. Por isso que todo mundo hoje me pergunta: “pois é, esse mestrado, há muito tempo que todo mundo falava”. Mas como é que todo mundo sabia? “Porque saiu até matéria no jornal, na época” e etc. Porque estava assim, praticamente confirmado. Aconteceu alguma coisa em algum momento ali que... não aconteceu. Enfim, aí a coisa esfriou de vez, o professor Mauro, ele foi para Santa Catarina, lá para a Federal de Santa Catarina, eu acho que em 2007 ou 2008, então foi menos um professor, já era pouco e daí tinha menos um professor. Depois o professor Jorge Ijuim também foi para Santa Catarina, pediu transferência para lá. Então foram menos dois professores. E eram justamente os dois, principalmente o Mauro, que estava conduzindo o processo. Aí a coisa esfriou. Eu descobri assim, eu não tenho datas, mas depois, mais tarde, deve ter sido acho que em 2009, por aí, foi criada uma outra comissão, que aí a professora Ruth Viana, que acho que ela deve ter dado aula ainda para vocês. A professora Ruth Viana era coordenadora dessa comissão, mas aí também eu não sei, eu cheguei aqui em 2009. Em fevereiro de 2009 que eu vim para cá, para Campo Grande, e eu lembro que, nesse momento, a professora Ruth era coordenadora dessa comissão, mas a coisa não estava fluindo, não estava caminhando, também não sei nem por que motivo. Mas quando eu estava aqui, a gente chegou a fazer umas duas reuniões sobre isso, sobre o mestrado. Aí eu peguei, tomei a iniciativa, fiz alguns levantamentos. Por exemplo: fiz uma listagem de todos os mestrados que tinham no Brasil, na área da comunicação e não sei o que, e comecei a levar esses materiais para a reunião para ver se começava a render alguma coisa. Mas aí teve um momento, que foi assim um momento digamos meio delicado no curso, que chegou em um determinado momento que o professor Dercir Pedro de Oliveira, que era o pró-reitor de pesquisa e pós graduação, faleceu agora, no começo desse ano, chegou em um determinado momento lá que ele chamou todos os professores do Jornalismo em uma reunião na sala dele e questionou a gente. “Como é que é? Esse mestrado vai ou não vai sair? O que está acontecendo? Vamos fazer”. Porque ele tinha, nesse momento, isso foi em 2010, acho que foi 2010, começo de 2011, ele nos relatou que tinha recebido um contato com o pessoal da Capes, porque a Capes estava em uma política de levar os mestrados e doutorados em Comunicação para o interior do país, porque a maioria deles está no eixo Rio – São Paulo, Porto Alegre... nas grandes capitais... Belo Horizonte... mais ou menos por aí. E a Capes tinha uma proposta de levar os mestrados e doutorados para o interior, para as regiões menos desenvolvidas, digamos assim. Então ele recebeu esse telefonema de um coordenador da Capes lá, que ligou para ele, e aí ele nos chamou para uma reunião meio que cobrando da gente a história do mestrado. “Vai sair? Vai acontecer? Não vai acontecer? Como é que está?” E não sei o que. Aí nós falamos para ele que tinha uma comissão que estava começando a fazer todo o levantamento da história toda, o projeto, e que essa comissão era coordenada pela professora Ruth. Só que o professor, ele não chamou a professora Ruth para essa reunião. Ele chamou todos os outros
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professores e não chamou a professora. Aí também não sei por que, ele já morreu também. Mas enfim, ele chamou a gente e destituiu a comissão que existia, apesar de a gente, como professor, ter avisado para ele que tem um processo que está em andamento, coordenado pela professora, não seria bacana atropelar o negócio todo. Mas o professor Dercir é um cara assim que... ele tem um jeito muito peculiar, digamos assim, de fazer as coisas. Ele não é um cara de muita formalidade. Tem que fazer, tem que fazer, não importa como. Aí ele destituiu essa comissão e ali na hora ele determinou que a gente criasse uma outra comissão. Aí, como estavam na reunião, eu, o professor Gerson, a professora Greicy acho que estava, a Márcia... eu não vou lembrar exatamente todos que estavam ali, mas praticamente todos os professores estavam ali, os professores doutores. E aí foi criada uma comissão e ali naquela comissão eu fiquei como coordenador da comissão do mestrado e etc. E foi em um prazo de assim uns três, quatro meses, eu acho, que a gente montou o projeto. Porque a Capes, ela tem um prazo. Quer abrir um curso novo no ano que vem, por exemplo, 2016, você tinha o prazo de até agosto desse ano para apresentar proposta. Aí eles vão analisar e final do ano agora, outubro, novembro, eles autorizam e você começa no ano seguinte. É assim que funciona a mecânica do negócio. Então, dessa reunião que o Dercir teve com a gente, que eu acho que foi em abril, se não me engano, acho que essa reunião foi em abril de 2009. Não, 2009 não, abril de 2011. Nosso mestrado começou em 2011. De abril de 2011 a julho de 2011 era o prazo que nós tínhamos para desenvolver toda essa... e é um documento longo, é um documento de muitas páginas, tem que levantar um monte de coisa. Não foi 2011, foi 2010. É, acho que esse projeto foi montado... Acho que foi abril de 2010 e aí a gente entregou o projeto em abril de 2011. Tenho que ver direitinho, depois até posso passar por e-mail para vocês. Mas enfim, o fato é que a gente tinha o período de uns três meses para montar o projeto todo. E nesses três meses, a gente realizou ali umas cinco ou seis reuniões para fechar todo o projeto. E foi assim que foi feito. Mas assim, mas aí até as reuniões fluíram, por que? Porque eu desenvolvi todos os documentos, entendeu? Regulamento do curso e não sei o que, é um documento bem extenso, de umas quarenta páginas, mais ou menos. Então eu fiz os documentos, e aí eu levava para as reuniões o documento pronto. Aí a gente botava lá no data show e ia lendo, no caso do regulamento do curso, por exemplo. Artigo por artigo, código por código, não está certo? Para a coisa poder agilizar, entendeu? Acho que assim está certo, vamos mudar, vamos tirar isso, vamos tirar aquilo, vamos fazer assim, entendeu? Mas eu levava os documentos prontos para a reunião. Por isso que agilizou bastante. E a gente só ia conferindo lá, item por item, o que estava de acordo, o que o grupo achava interessante mudar e coisa e tal. E aí aquilo que eu falei no início. A gente tinha que levantar, por exemplo, o acervo bibliográfico, tem que fazer levantamento na biblioteca do que tinha, a quantidade que tinha da área de comunicação, áreas afins, infraestrutura, corpo de professores, grupos de pesquisa, tinha que fazer levantamento, produção bibliográfica... produção intelectual dos professores... Tinha que levantar tudo, artigo por artigo do que publicou em algum evento, em alguma revista, livro, capítulo... Sabe? Tinha que fazer todo um... É um negócio meio trabalhoso. E a gente conseguiu fazer isso em um tempo recorde. Porque o professor Dercir colocou essa pressão e tinha o prazo da Capes para a gente entregar o projeto e a gente teve que fazer dentro desse espaço de tempo. E foi assim que a coisa aconteceu. Resumidamente foi isso assim. Ah! Uma coisa que é interessante que o Mauro colocou aqui nesse resuminho que ele mandou para mim um
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tempo atrás, que o nosso mestrado era para ser o primeiro mestrado em Jornalismo especificamente. Era para ser o primeiro mestrado em Jornalismo do Brasil. Porque todos os mestrados que existem são em comunicação. Todos. De 2007, se não me engano, 2008, que a Federal de Santa Catarina criou o primeiro mestrado especificamente em Jornalismo. Criou o primeiro mestrado, esse ano agora de 2014, eles criaram o primeiro doutorado em Jornalismo. E além da Federal, tem acho que, se não me engano, mais um mestrado em Jornalismo da cidade de Ponta Grossa, que é do interior do Paraná, que também foi criado agora, dois anos atrás. E tem acho que um mestrado na Paraíba ou Piauí, se não me engano. Então são dois ou três mestrados que tem hoje, no Brasil, em Jornalismo, e todos começaram de 2007 para cá. A proposta de criação do nosso, em 2002, que foi discutido e etc, era para ser um mestrado em Jornalismo, que até então não existia, porque todos os mestrados são em Comunicação, que é uma área mais ampla que abrange o Jornalismo, que abrange Publicidade e Propaganda, abrange Relações Públicas, então são mestrados mais amplos. Então essa é uma característica interessante. Uma característica na verdade não é porque não aconteceu. Não se concretizou essa proposta. Mas era a intenção de fazer um mestrado em Jornalismo e não em Comunicação. No nosso caso, depois que a gente montou, em 2011, a gente acabou montando em Comunicação mesmo. Aí a nossa proposta... Nós mandamos a nossa proposta para a Capes, aí veio novamente uma comissão aqui para avaliar as condições, ver que aquilo que estava no papel realmente estava funcionando e etc, se estava dentro dos conformes, aí essa comissão ainda sugeriu mais algumas mudanças e etc, e a gente fez novos ajustes, mandamos novamente o processo para a Capes, para uma segunda avaliação. Aí foi em abril, em abril de 2011... É, então o que eu estava falando antes era 2010. Em abril de 2011 é que saiu a autorização. Vocês estão autorizados a instalar o mestrado. Mas essa parte de infraestrutura, tanto é que vocês sabem, esse bloco saiu no começo do ano passado e tudo. Então na nossa cabeça de nós professores, a ideia era, como saiu em abril de 2011, a nossa ideia, até para dar um tempo, para localizar algumas coisas, era começar em março do ano seguinte, que seria 2012. Mas aí o professor Dercir novamente: “Não, vamos começar agora, por isso e por aquilo e tal e tal”. Porque, para uma Universidade representa muito ponto você ter curso de mestrado. Porque o fundamento da Universidade é o que? É o ensino, que é no caso da graduação, vocês que estão se preparando tecnicamente para trabalhar em várias atividades, Medicina, Jornalismo, etc. Então o fundamento da Universidade está no ensino, que é o da graduação. Está na extensão, que são as atividades que as Universidades fazer perante a comunidade ou para a comunidade, para auxiliar a comunidade e etc. Por exemplo, sei lá, você vai lá na Medicina, o hospital atente um monte de gente, o escritório de advocacia e etc. E a pesquisa, é o segundo... é o terceiro fundamento da Universidade é a pesquisa. E a pesquisa a gente faz, basicamente, nos cursos de mestrado e doutorado. Na graduação se faz bem pouca pesquisa, muito pouco, até porque o objetivo da graduação é um pouco outro. Claro que a gente tenta estimular e etc etc, mas a graduação ainda tem o objetivo que é preparar profissionais e a pesquisa é na pós graduação. Então, quanto maior o número de cursos de pós graduação que uma Universidade tem, da própria graduação e etc, mais verba ela recebe do Governo Federal. Ela é melhor avaliada, porque as Universidades também têm uma avaliação, nota quatro, cinco, seis. Têm os cursos individualmente e tem a Universidade no todo. Então a nossa autorização saiu em abril e nossa ideia então era começar o curso no ano seguinte, 2012, começo do
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ano. Mas aí o professor Dercir: Não, vamos começar agora já em agosto, no segundo semestre de 2011, para que daí a gente, quando formasse a primeira turma, fechava o triênio de avaliação da Universidade. Aí a Universidade (?) com mais pontos e etc. Então a gente acabou criando a primeira turma em agosto de 2011, que começou a se titular agora, dois anos depois, agosto de 2013. Então a primeira turma se titulou agora no ano passado, metade do ano passado. Agosto, setembro, cada um defende um (?) diferente. Aí nós tivemos uma turma em agosto de 2011, uma turma em março de 2012, outra turma em março de 2013 e outra turma de agora, em março de 2014, porque a entrada é sempre anual. A gente começou em agosto por conta dessa urgência aí, mas é sempre uma entrada anual. São dez aluno que entram cada ano. Nós tivemos uma turma que se titulou, outra turma que está se titulando agora também. Então daqui para frente a gente sempre vai ter vinte alunos no curso. Dez que entram no primeiro ano, fazem um ano de disciplina e, no ano seguinte, eles vão para o ano inteiro de dissertação, pesquisa. Inclusive eu estou com uma aluna que está qualificando a dissertação dela. Então o curso vai sempre funcionar com vinte alunos. Dez fazendo disciplina e dez fazendo dissertação. Aí aqueles dez saem, outros dez sobem, vêm dez novos e assim vai. E como está o mestrado hoje que já tem três anos? Ele está... Começou a primeira turma em agosto de 2011... Em que sentido assim que você diz? Questão de estrutura, de professores... Ah, bom, infraestrutura, como vocês sabem, vocês também utilizam esse espaço aqui. A gente conseguiu esse bloco no ano passado, foi feito todo uma reforma e etc, vocês devem ter visto aí. Então a gente tem uma estrutura física bastante boa, ótima. Porque nós não temos um grande número de alunos, como eu falei, são sempre vinte alunos. Sempre vinte. Então nós temos aí as duas salas de aula, a coordenação, a sala de secretaria, que são coisas que a Capes exige, tem uma sala aqui de orientação para os professores orientarem seus alunos, grupos de pesquisa também, a sala de estudos também que está ali. Então assim, em termos de infraestrutura nós estamos muito bem. Um outro ponto que eu acho que a gente avançou muito é a nossa biblioteca. Eu não sei se vocês costumam freqüentar a nossa biblioteca, na área da comunicação, no caso. Quem frequentava a nossa biblioteca há dois anos atrás e quem vai hoje lá reconhece, porque ela simplesmente mudou. Nós fizemos um mutirão entre os professores. Em dois anos seguidos nós já solicitamos a compra de mais de mil e quinhentos livros. A gente pediu e a Universidade comprou. Hoje, se você quiser estudar a história da imprensa italiana escrita por um autor italiano em italiano, você vai lá na biblioteca e você vai achar. Se você quer um livro sobre a história da imprensa francesa escrita por um francês em francês, você tem lá. Americano, espanhol e etc. Então quem conhecia a nossa biblioteca há uns dois anos atrás e quem conheceu hoje... Mudou. Ainda não é o ideal. A gente sempre ta solicitando. Eu sempre estou pedindo aos professores sugestões de livros, porque é sempre um professor que tem que pedir. Sempre. E a Universidade compra. Então, nesses dois primeiros anos do curso a gente fez, como eu falei, dois mutirões assim. Em um ano a gente pediu uns oitocentos livros, no outro ano a gente pediu mais uns setecentos e poucos livros. Título, fora a quantidade, por que as vezes você pede mais de um por título e tal. Então
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a biblioteca é o meu xodó. Esse ano... até eu tenho que fazer um levantamento ali, não sei, mas eu acho que a gente deve ter pedido mais uns quatrocentos livros novamente. E a biblioteca compra. Só não compra quando ela não encontra. Livros às vezes que esgotou, velho, que não está mais em catálogo. A gente sempre procura mandar livro novo, mas às vezes tem umas coisas assim. Então a biblioteca é meu xodó. Eu sou um cara que a cada duas, três semanas, eu estou visitando a nossa biblioteca. Eu vou olhar, chego lá, converso com os bibliotecários, converso com a coordenadora geral da biblioteca, encho o saco deles às vezes, critico eles por uma série de problemas que tem. Eu não sei se vocês foram agora, mas eles reformaram toda a disposição dos livros nas prateleiras. Antes era um negócio escuro, fechado e etc. Hoje você vai lá, nossa, a biblioteca está melhor iluminada, está melhor arejada, só pelo fato deles distribuírem melhor os livros nas prateleiras. Porque antes ficava uma coisa fechada, socada, é horrível. Às vezes eu tenho a impressão que o engenheiro que projetou a nossa biblioteca nunca entrou na biblioteca. Porque ela é mal iluminada, a ventilação é horrível, aquele sol batendo na janela, eles colocam as cadeiras para os alunos ficarem justamente no lado do sol, onde bate aquilo lá. Ninguém consegue ficar ali mais de vinte minutos fazendo uma leitura. Mas enfim, erro de projeto. Mas, algumas coisas ali que poderiam ser melhoradas e agora o pessoal da biblioteca fez e ficou excelente, está muito bom, está arejado, está claro, está iluminado e etc, distribuíram melhor os livros nas estantes, ficou melhor. Então a biblioteca é meu xodó. Eu pego duas, três semanas, estou olhando lá. Bom, corpo docente. A gente também evoluiu bastante. Se você chegasse aqui, sei lá, uns seis, sete anos atrás, eu não estava aqui ainda, mas os professores falam muito. O curso na graduação mesmo tinha quatro, cinco professores do núcleo do Jornalismo. Fora professores colaboradores de outras áreas. Hoje, nós estamos em onze professores. Professores doutores. Porque nós temos alguns que ainda não são doutores, que é o caso do Licerre, do Sílvio e do professor Lanari. São os três únicos que, hoje, não são doutores. O professor Edson também não era doutor, mas terminou agora este ano, que eu acho que vocês sabem muito bem. O restante, todos são professores doutores. Então, deixa eu lembrar aqui, tem eu, o Marcos, a Taís... O Marcos é um professor novo. Eu também sou novo, na verdade. Mas eu, o Marcos, a Taís, recém chegada, a Katarini que é recém chegada, a professora Daniela, que é já mais veterana, a professora Greicy, o professor Ramires infelizmente faleceu, a professora Ruth se aposentou, o Edson, que se doutorou agora, tem o professor que veio para o nosso curso agora também que é o professor da fotografia lá, o Hélio Godoy, que veio do departamento de Artes para nós aqui. E aí no nosso núcleo do mestrado, além desses que eu falei, nós temos ainda a professora Maria Luceli, que é a professora de linguagens, dá aula no mestrado de Linguagens e da aula para o nosso aqui também, o professor Álvaro Banducci, que é da antropologia social, também dá aula conosco aqui. Ah, e eu esqueci do nosso núcleo ainda a professora Márcia Gomes. Então hoje o mestrado tem onze professores que também dão aula na graduação. Então, em termos de corpo docente, a gente está muito consolidado também. E nós ainda temos mais uma vaga para concurso agora. Na verdade a gente fez o concurso agora, em julho. Só que a professora que foi aprovada é uma brasileira, mas ela mora na Alemanha há muitos anos e não conseguiu ser liberada de lá, o marido dela é médico e etc, e aí acho que o cara não conseguiu sair de lá e ela não veio. Mas foi feito o concurso agora. Então já que ela não preencheu a vaga, a gente vai ter que fazer um concurso novamente. Então a gente tem mais uma possibilidade
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de vaga. A gente vai para doze professores. Isso é um número muito bom, significativo. Considerando que a Capes exige o mínimo de oito. E outro fator também que é muito bom é a nossa produção acadêmica, a chamada produção intelectual. Os professores estão publicando cada vez mais livros. (?) capítulo meu, capítulo do professor Marcos. Tem um outro livro que saiu novo agora recente também, o segundo de lá para cá, o livro Critérios de Noticiabilidade, que é um livro produzido por mim e pelo Marcos e uma professora de Santa Catarina. Os professores estão participando mais de eventos, publicando mais em revista científica. A gente até está fazendo o levantamento agora porque semana que vem a gente tem fechar o novo relatório anual, porque todo ano a gente tem que mandar esse relatório para a Capes. Então eu estou fazendo esse levantamento. Não tenho esse número exato agora, mas pelo que eu estava olhando a gente já tem um número bem significativo assim. Ah! E uma coisa que é importante falar é que no corpo docente, é que os nossos professores também estão fazendo pósdoutorado, que é mais um nível, mais um avanço na formação de professores. Então nos dois, três anos para cá, no comecinho do mestrado para cá, a gente acordou também para buscar o aperfeiçoamento, vamos dizer assim. Então nós tivemos a professora Márcia que fez pós-doutorado em Barcelona, o professor Gerson Martins que também fez doutorado em Barcelona, o professor Marcelo Cancio que está lá agora, chega essa semana agora que vem, ele está de volta. Eu agora, mês que vem, em outubro, eu estou indo para Portugal, na cidade do Porto, fazer um pós-doutorado com o professor Jorge Pedro de Souza, eu acho que talvez vocês conheçam, porque é um autor que a gente usa bastante aí. Então nós temos, nos últimos dois anos e meio, nós tivemos quatro professores que fizeram, ou o meu caso, que vão iniciar um pósdoutorado. Isso é muito positivo também. (?) expressivo. E além desses pósdoutorados, nós tivemos outros professores que também estiveram em Barcelona fazendo cursos de curta duração, de um mês, sessenta dias. Eu já estive lá, na Universidade Autônoma de Barcelona, o Marcelo também já tinha ido, a Daniela. E o professor Edson que se doutorou agora, terminou esse ano lá em Barcelona também, não sei se vocês conversaram com ele, mas... Vocês vão conversar com cada professor, não é? Então, o professor Edson também se doutorou. Ele ainda não faz parte do nosso quadro do mestrado porque a gente tem um processo que a gente chama de... esqueci o nome desse negócio agora... Credenciamento. O professor, ele tem que se credenciar para o mestrado. Então ele tem que apresentar uma candidatura. Olha, eu quero fazer parte do mestrado. Aí ele tem que apresentar lá as produções dele e etc, para ver se as produções dele tem um número suficiente para se candidatar a se credenciar para dar aula no mestrado. Mas ele ainda está fazendo a convalidação do diploma dele de Barcelona. Ele tem que reconhecer o diploma em alguma Universidade para depois solicitar. Mas é um professor que amanhã ou depois, daqui um ano ou sei lá quando, também vai fazer parte desse grupo. Já existe uma ideia, um projeto para o doutorado? Então, Brenda. Tem a ideia do doutorado aí é um pouco voltando aquilo que a gente falou de novo com Brasília, como foi a ideia do mestrado. Estamos encaminhando, na verdade, o processo de criação do doutorado em Comunicação no sistema de rede. O que é isso? É um doutorado formado pelo nosso mestrado aqui de Comunicação, o mestrado da Federal de Goiás, o mestrado da Universidade Católica de Brasília e da
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UnB, Universidade Nacional de Brasília. Então são quatro só mestrados de Comunicação que existem no Centro-Oeste. E a gente está se juntando para fazer esse doutorado. Só que esse doutorado... A ideia é fazer esse doutorado dentro de uma instituição, vamos dizer assim, chama Rede Pró Centro-Oeste. O que é essa Rede Pró Centro-Oeste? A Rede Pró Centro-Oeste é uma rede de pesquisa criada dentro do Ministério de Ciência e Tecnologia. Ela é, digamos assim, um braço, uma instituição ligada diretamente ao Ministério. O Ministério criou três redes: uma no Centro-Oeste, uma no Norte e uma no Nordeste. Do Norte é Bionorte, se não me engano. Do Nordeste, eu não lembro. Por que o Ministério criou isso? O Ministério criou isso para o seguinte: para promover o desenvolvimento científico nessas regiões que são mais carentes. Por que o Sul e o Sudeste já são as regiões mais ricas e têm as grandes Universidades e etc. Só que são redes criadas para a área de biotecnologia e biodiversidade. Mas o que tem a ver com Comunicação? Elas são redes para promover o desenvolvimento científico dentro da área de biotecnologia, biodiversidade, ecologia, meio ambiente, essas ciências ambientais de um modo geral. Só que aí essa rede, essa ideia do doutorado nasceu aqui também. Uma conversa minha com o coordenador geral da Rede Pró Centro-Oeste, que é o professor Rui Caldas. Então foi uma ideia que nasceu de uma conversa minha com o coordenador geral da Rede Pró Centro-Oeste, que é o professor Rui Caldas. Era um professor de Brasília, mas que agora mudou, de últimos tempos ele mudou aqui para Campo Grande e está trabalhando lá na UCDB. E o professor Rui Caldas, ele é o assessor do Ministro, foi assessor do Ministro da Ciência e Tecnologia, o Antônio Carlos Ralp, que foi o ministro que ficou até o finalzinho do ano passado agora, mas ele saiu, mudou, não sei se ele concorrer eleição, sei lá, sei que ele saiu e entrou um ministro novo. Mas o professor Rui Caldas era o coordenador geral dessa rede e era assessor, um dos assessores da equipe científica do ministro. E aí a gente sentando, conversando, trocando ideias, veio a ideia de fazer o doutorado pelo seguinte: porque no campo da ciência, da pesquisa, no Brasil, se faz muita coisa, muita pesquisa, muito avanço tecnológico e etc, ainda que o Brasil no patamar de primeiro mundo, mas se produz bastante. E isso que se produz não chega para as pessoas, pessoas comuns. Então se eu descubro um cientista lá, um pesquisador que descobre uma maneira simples de combater a diarréia lá com soro caseiro e não sei o que, essa informação não chega para aquele cidadão comum lá e tal e tal. Quem faz isso é a imprensa, não tem jeito, a imprensa que faz esse papel de mediador, de divulgador das (?). Então qual é a ideia do doutorado? A ideia do doutorado, uma das linhas de pesquisa é Jornalismo Científico, ou seja, preparar doutores, que vão depois para a sala de aula com um olhar mais crítico, com um olhar mais diferenciado, com o olhar mais aguçado sobre Jornalismo Científico. E esse doutor então, ele vai para a sala de aula ensinar o pessoal da graduação a ter esse olhar diferenciado, mais atento, mais crítico em relação à Ciência. E aí esse jornalista, no caso, vocês, vai sair da sala de aula com essa nova visão da Ciência, com esse novo conhecimento teórico e técnico da Ciência e vocês depois vão chegar amanhã no jornal, no rádio, na televisão, no site, etc, e vão começar a produzir matérias mais interessantes, matérias mais focadas na divulgação científica. E aí nós vamos mais divulgação científica chegando até a casa das pessoas. Essa coisa de desmistificar a ciência, de que a ciência é uma coisa de gênio, de pessoa iluminada, que fica trancada num laboratório, mas não é assim. Aquilo que ele fica trancado, produzindo no laboratório tem e deve chegar até a vida das pessoas, no dia-a-dia, seja o que for. O remédio que eles escolhem para
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combater a praga do arroz, um fungo da soja, um sabonete que vai evitar diarreia. Sei lá, qualquer coisa. Então isso tem que chegar para as pessoas. E quem faz isso é o Jornalismo. E cada matéria que você faz em uma revista, em um jornal, na televisão e etc. Só que o jornalista tem que estar melhor preparado para isso. Então a ideia do doutorado é isso: é trabalhar a divulgação científica. O que o governo gosta de usar o termo, que é um termo bem do PT, do governo do PT, é a popularização da Ciência. Essa é a ideia do doutorado. Só que, claro, aí depende de uma série de coisas também. A gente está conversando, porque tem outras Universidades envolvidas, porque nós sozinhos ainda não temos esse suporte para fazer, por questões de corpo docente ainda, principalmente aquele item que eu falei de produção intelectual nossa ainda não está no patamar para montar um doutorado. Então a gente tem que se juntar com essas outras Universidades porque a proposta é essa mesmo. É o Centro-Oeste, não é Mato Grosso do Sul, é o Centro-Oeste como um todo. É promover o desenvolvimento da divulgação científica do Centro-Oeste. A Rede Pró Centro-Oeste existe para isso. Tem o site também. Rede Pró Centro-Oeste. Coloca no Google lá que vocês vão achar. Aí vocês vão entender também o que é essa rede, qual é o objetivo dela, e por que nós estamos inseridos dentro dela. Então eles estão desenvolvendo a Ciência e Tecnologia e nós entraremos no sentido de divulgar essa Ciência. Mas é uma proposta que eu espero, pelo menos, que aconteça no ano que vem. Não é uma coisa que depende só da gente, depende de toda essa articulação. Uma coisa assim que eu estou um pouco com o pé atrás é porque a Rede Pró Centro-Oeste foi criada agora em 2009, tudo é político, mas ela foi criada em 2009, mas com um prazo de validade. Ela tem uma duração de cinco anos. O prazo de atuação dela termina justamente este ano, agora 2014. E aí depende de continuar. E aí o ministro da Ciência e Tecnologia, o novo ministro que assumiu agora no começo do ano tem que dar o aval para a rede prorrogar por mais cinco anos, de 2015 a 2020. Só que o antigo ministro já estava meio que acertado, mas verbalmente, não tinha nada de papel assinado, e aí o ministro saiu, agora entrou um novo que eu nem sei qual é o nome, depois vocês pesquisam aí porque eu não sei o nome do novo ministro de Ciência e Tecnologia. E aí tem que ver qual é a cabeça desse novo ministro. Se ele quer dar continuidade a esse projeto na rede ou não. E além do Ministério de Ciência e Tecnologia, essa rede é apoiada também, ela é articulada pelas fundações estaduais de pesquisa, então, no caso, a Fundect aqui do Mato Grosso do Sul, a Fundect faz parte, a fundação de pesquisa lá de Goiânia, de Brasília, de Mato Grosso, também fazem parte, então tudo isso é muito político, sabe? Vem do ministério, passa pelas fundações estaduais até chegar nas Universidades. Nós somos a pontinha miúda do processo. Então depende muito deles articularem e definir isso. A rede vai existir por mais cinco anos, de 2015 a 2020? A hora que o ministro der o canetaço, porque ele não deu ainda, a hora que ele der o canetaço, as coisas ficam mais tranqüilas para a gente desenvolver o doutorado. E também vai ser muito interessante trazer esse tipo de pesquisa para cá, para popularizar a ciência. Porque eu mesma me interesso pela área, estou procurando mestrado e encontro poucos cursos. A gente percebe isso, tem muito aluno procurando, é um campo que muita gente está despertando o interesse, tem alunas nossa aqui que já se formaram também e que estão aí na espera, e que na verdade a gente não tem. Seria eu acho que o primeiro doutorado com essa linha de popularização da Ciência. Que eu saiba, seria o primeiro.
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Seria uma coisa inovadora. A gente está caminhando no que dá, mas tem coisas que vêm lá de cima que amarram. Na verdade, esse projeto era pra ter sido encaminhado para capes este ano, mas, em função dessa mudança de ministro, a coisa ficou no ar, a gente está trabalhando para encaminhar no ano que vem. Qual a importância do mestrado? Eu acho que vocês poderiam responder melhor do que a gente. Do ponto de vista assim, não sei se a palavra é técnica, mas, por exemplo assim, operacional, sei lá. Parte da biblioteca, por exemplo, eu vejo que vocês ganharam um monte com a biblioteca. Nós temos trazido muita gente do exterior para cá. Agora mesmo, no começo do ano, (?) uma palestra com um professor da Espanha, da Universidade de Navarra. Volta e meia a gente está trazendo palestras com professores, outros espanhóis que já estiveram aqui, de Barcelona, de Navarra. Tivemos um português agora no seminário de ciberjornalismo. Tivemos palestras com professores de outras Universidades brasileiras aqui, de vários lugares, do Sergipe. Quer dizer, são pessoas que estão chegando toda hora, participando de palestras, seminário, não sei o que, que trazem ideias diferentes para o curso, que vão oxigenar o curso, que trazem novos pontos de vista, novas análises e etc, novo entendimento sobre o Jornalismo. Que são coisas que, pela graduação, dificilmente a gente teria como trazer essas pessoas para cá, esses professores. Dificilmente. Então essa coisa dessa circulação de ideias é uma coisa fundamental. Em termos de infraestrutura, eu penso que a biblioteca seja um avanço muito importante. O próprio aperfeiçoamento dos professores nossos aqui da casa hoje que estão saindo para pós doutorado, que estão saindo para cursos de curta duração fora, em Barcelona, no caso eu agora vou para Portugal. E aí a gente vai, aprende um pouquinho, traz alguma novidade. É assim que o processo acontece. Então essas saídas todas, se não fosse pelo mestrado, a gente dificilmente teria essas mudanças. Então eu acho que a mudança está nisso, na oxigenação de ideias, no aperfeiçoamento do professor e etc, os próprios alunos do mestrado estão produzindo Ciência, pesquisa. Se eu perguntar para vocês qualquer coisa sobre o sistema, os meios de comunicação de Mato Grosso do Sul, vocês não vão saber, porque não existem dados. O que é a Comunicação em Mato Grosso do Sul? Ninguém sabe. Como se faz? Por que se faz? Se faz bem? Se faz mal? Qual o efeito do que a mídia produz aqui no Mato Grosso do Sul? Qual é o efeito disso para as pessoas que lêem jornal, que assistem televisão? Ninguém sabe. Não tem dados sobre isso. A gente não sabe em que mundo nós estamos atuando aqui dentro do Mato Grosso do Sul. O que é a nossa mídia. Qual o efeito. Não se sabe. Por que? Porque nunca se fez pesquisa. Nunca se avaliou isso. Nunca se dimensionou isso. Porque pesquisa, como eu falei, é mestrado e doutorado. Graduação não é. Não é exatamente a área da graduação. Claro que a graduação faz pesquisa também e deve fazer, mas é um outro grau de compreensão, outra freqüência de pesquisa e etc. Então, no mínimo, o que a gente está começando, lógico, a gente está com três anos. No mínimo, o que a gente está trazendo é uma nova dimensão, uma nova compreensão do que é a Comunicação no Mato Grosso do Sul. O que tem e o que não tem. O efeito que isso causa. Nós acabamos de terminar um trabalho aqui da Fernanda França, que defendeu agora, duas, três semanas atrás, fazendo o mapeamento do ciberjornalismo do Estado do Mato Grosso do Sul. Ela detectou 328 sites jornalísticos. Isso é muita coisa. Eu acho, não sei, a gente não tem referência de outros Estados, mas é um índice acima de muitos outros Estados brasileiros,
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proporcionalmente ao número de habitantes ou de municípios e etc. É um Estado com 79 municípios, mas que tem 328 sites jornalísticos. É claro, eu estou falando aqui um número, é só um número, mas por trás disso a pesquisa dela vai desdobrando muitas outras coisas, para entender o porquê desse universo. Então agora que a gente está começando a entender um pouquinho isso. E quando a gente se entende, se conhece, a gente faz melhor depois, lá na frente. Não sei se o senhor vai continuar como coordenador, mas o senhor tem alguma perspectiva para o mestrado? Como eu vou sair agora mês que vem para fazer o pós-doutorado, vai entrar um outro coordenador no meu lugar, mas eu acho que assim, a grande perspectiva nossa é a criação do doutorado. A sequência do mestrado é o surgimento do doutorado, se ele vier. Como eu falei, depende de uma série de questões políticas. Mas vai ser nosso grande salto. E o mestrado também é o seguinte, a Capes, que regulamenta o curso, a cada três anos ela dá uma nota. O curso tem nota três, quatro, cinco, seis... Uma nota que vai até sete. No Brasil, na área de Comunicação, nós não temos nenhum mestrado com nota sete. Esse ano agora teve avaliação de 2010 a 2012. Pela primeira vez nós tivemos quatro doutorados e mestrado juntos com nota seis. O restante é tudo cinco, quatro, e três. A maioria três. Os cursos novos que são criados, nosso caso, nota três. Eles sempre são criados com nota três. Então a nossa grande ambição agora, no momento, é, na próxima avaliação que termina no final do ano que vem agora, 2016 já, quem sabe conseguir chegar um conceito quatro. Por enquanto a nota é três. Ele nasceu com nota três e teve uma avaliação que foi do período, para todos, lógico, de 2010 a 2012. Então 10, 11 e 12. Só que como nós surgimos na metade de 2011, então nós não tínhamos ainda uma avaliação plena, cheia. A primeira avaliação cheia que nós vamos passar vai ser agora, que está contando o ano passado, 2013, conta este ano e conta o ano que vem. Aí em 2016 sai o resultado do triênio. Qual é a sua formação acadêmica? Eu sou formado em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, em 1989. Aí eu fiz mestrado na Universidade Católica do Rio Grande do Sul, a PUC. Terminei no ano 2000. E o doutorado também lá na PUC, na Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Terminei em 2007. Juliana da Costa Feliz – entrevista em 25/09/2014. Formação e atual profissão: Com 12 anos eu decidi fazer jornalismo, foi uma das grandes pequenas certezas que eu tive cedo, eu escolhi jornalismo porque eu queria defender direitos sociais, direitos humanos, tinha pensado fazer direito mas ai eu estaria muito mais defendendo direitos individuais que coletivos. Por isso que eu acabei optando por jornalismo e por eu gostar de escrever gostar muito de ler. Sempre tive mais o talento pra escrita desde o tempo da escola, e porque eu não tinha talento em outras coisas. Então eu era muito ruim de matemática muito ruim nas áreas exatas, então eu pensei, já que eu to tão ruim nisso eu preciso seguir alguma coisa que eu tenho mais talento, que é área de comunicação e arte. Entrei no curso em 1996, se não me engano a 9ª turma, não entrei no 1º vestibular, fiquei na lista de espera e era na época que o vestibular era 4 dias de
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provas, e você tinha que ir bem em boa parcela delas e era concorridíssimo, a gente concorria com 800 alunos, 16 por 1 vaga. Hoje há outras formas de ingresso no curso né, de ensino superior, e na época era muito difícil e só tinha uma vez por ano, e não tinha na época curso nas universidades particulares, a UCDB a Uniderp, não tinha outros cursos então eu fiz na UFMS e na UFMT, saiu o resultado lá, saiu o resultado aqui, mas ou menos na mesma época, e optei por fazer aqui, porque minha família é daqui, Eu to em CG tem 20 anos, vim pra cá com 14 anos, fiz ensino médio, cursinho e entrei no curso de jornalismo. Já no curso de jornalismo eu comecei a trabalhar na Tendência, eu tava no segundo ano, mas no período que eu fiquei na universidade, eu vivi muito o curso, eu participava de eventos, organizava eventos, tava envolvida com os professores, sempre envolvida nos projetos, era também de ficar o dia inteiro na universidade.. Depois quando eu tava no terceiro ano, na época era chamada Telems, depois virou Centro-oeste celular e depois virou vivo, e lá eu fiquei 2 anos fazendo estagio mais na área de comunicação e marketing, fazia até mais trabalho de publicidade, fazia na área de assessoria também.. Aprendi muito de eventos e comunicação e foi uma boa experiência. Hoje eu uso as experiências que tive lá, por ser uma grande empresa, já era uma grande corporação na época, então eu já comecei numa empresa grande, pra mim foi uma boa escola. Fiquei lá até me formar depois pedi pra sair, até porque eu queria uma coisa mais na minha área... Conclui o curso e fui trabalhar na Secretaria de Reestruturação e Reajuste fazia um boletim informativo para os funcionários públicos, fui convidada pra trabalhar com uma jornalista na época que ela era da Gazeta Mercantil quando tinha GM aqui em Campo Grande, ficava no mesmo prédio onde eu trabalhava, ela me convidou, fiquei 6 meses trabalhando lá, fazia informativo com ela, um mensal e um semanal que ia dentro do diário oficial. Ai no meio do ano, me casei e fui morar na Inglaterra, eu e meu marido. Fui ter essa experiência fora do Brasil, antes de eu ter um bom emprego, ter filhos, ter outras coisas que depois eu não ia querer deixar. A gente ficou 6 meses morando lá ai teve o 11 de setembro enquanto estávamos fora.Foi um período bem tenso, porque eles não estavam renovando visto e muita pressão, mesmo na Inglaterra tem 115 bases militares americanas dentro do país, e a gente morava ao lado de uma base militar, via aviões caças, dia 12 a gente não dormia com o barulho dos aviões. Então assim, a gente foi em agosto, em dezembro a gente já voltou pra cá, mas foi uma boa experiência, enriquecedora, a gente conheceu países, teve acesso a outras culturas. A gente votou pra cá e eu voltei pro mesmo trabalho que tava. Fazia uma parte de comunicação interna, eu a Claudia Sandes, o Geziel Rocha, o Lucas Santiago não ta mais aqui, ta no Maranhão, é professor lá. Ai eu comecei a trabalhar mais com assessoria, a gente montou uma cooperativa de assessoria de imprensa, a Comunicativa, que durou 2 anos, a questão é que a gente reuniu vários jornalistas, publicitários, pessoas na área de eventos, e funcionou super legal a cooperativa, só que os próprios clientes contratavam nossa equipe. A gente começou a atender vários clientes legais, bons clientes na cidade, até porque não tinha ainda muitas assessorias nessa época, nessa área, mais ou menos em 2002. Duas pessoas começaram a atender o cliente, o cliente gostou do trabalho e não queria mais fazer pela cooperativa, contratou, e inclusive eu fui contratada. Foi bom porque a gente fez muita amizade, fez vários trabalhos juntos, e as coisas boas não precisam ser eternas. A gente resolveu encerrar por conta disso, as pessoas tiveram oportunidades, novas chances por causa disso.. Ai eu entrei na Gira Solidário, que é uma organização que trabalha na área dos direitos das crianças e
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adolescentes da Rede Andes Brasil, então eu entrei pra trabalhar como jornalista responsável e eu fazia toda a parte de pesquisa , analise de mídia, produzia pauta pra imprensa daqui, clipagem, era uma serie de coisas, era eu e uma equipe que hoje são jornalistas formados aqui na UFMS, Alcindo Rocha, foi estagiário, Fernanda Maia, Camila abelha, Antonio Sardinha, tivemos uma equipe boa, fiquei 10 anos lá desenvolvendo não só o trabalho de Rede Ande, como depois na liderança pelo projeto aqui no MS, mas também trabalhando com projeto de Educomunicação, então a gente trabalhava com jornal na escola, que também é uma das pesquisas do professor Ijuim, que foi professor nosso, eu trabalhei com produção de vídeo, documentários, vídeos jornalísticos, vídeos de ficção com crianças e adolescentes La em Ribas, que é um projeto chamado Lanterna Mágica,a gente também trabalhou com a revista viração que é uma revista de jovens para jovens, foram inúmeros projetos que a gente desenvolveu La com essa equipe de comunicadores, depois a Fernanda Pereira, ela acabou assumindo meu lugar depois desses 10 anos que eu fiquei lá. Enquanto eu estava na gira solidário e rede Andes também, um dos marcos foi a questão da criança indígena que foi um movimento muito forte, que teve repercussão muito grande, costumo dizer que foi nossa melhor pauta, e enquanto eu trabalhava na Gira, eu comecei a fazer freelancer em assessoria de imprensa, comecei a dar aula aqui na Estácio, na UFMS, como substituta em 2006, 2007, e 6 meses como voluntaria na época pra substituir o professor Jorge, que estava indo embora. Então era como se fosse algo que precisava ter alguém que o substituísse pra ele poder ir também. Fiquei só com uma disciplina que era comunicação alternativa, e até que a minha experiência La na Gira pode desenvolver um bom trabalho. Em 2007, eu ingressei no Mestrado, antes disso eu fiz uma especialização em Imagem e Som, depois eu fiz o mestrado no curso de Letras, em Linguagem e Semiótica, e fiz minha pesquisa falando de violência sexual contra mulher no Jornal Primeira Hora, de matérias de estupro relacionadas a sessão “garota da hora” depois passo pra vocês darem uma olhada, e minha área acadêmica eu segui nessa área de gênero, tanto na especialização que trabalhei com mulher e cerveja na publicidade, depois a questão do estupro na mídia, falei do jornalismo policial e uma serie de coisa. Trabalhei em vários lugares, mas tive uma experiência em jornal impresso, que eu fiquei dois dias no jornal. O editor pediu pra eu copiar umas matérias de outros sites, pra por no jornal, não achei aquilo ali legal, no outro dia eu já pedi minha demissão. E eu já tava mais ou menos vendo a Gira e outras coisas, sempre tive dois, três empregos ao mesmo tempo. Sou uma jornalista que não tenho experiência no jornalismo diário, não trabalhei em redação, quando eu tava fazendo o curso de jornalismo eu imaginei que fosse trabalhar em televisão, em jornal, mas a minha vida foi caminhando pra outros lados e eu aceitei, hoje eu vejo que foi melhor pra mim, uma escolha pessoal, hoje eu sou professora, eu aceitei de forma tão grande fez tanta diferença na minha vida... Aqui na Estácio, eu dou aula no curso de pós-graduação coordeno a pós-graduação, que também é uma área que eu tenho mais experiência, área de pesquisa, algo que eu gosto muito, pretendo ingressar no doutorado futuramente, e agora eu to concluindo o curso de licenciatura em Letras, que foi algo que eu sempre quis fazer, eu pensei que podia fazer Letras...e to terminando e abre um campo de aula, gosto de estar com alunos, gosto de tentar trabalhar a questão da ética profissional na comunicação, a responsabilidade do comunicador na sociedade e tentar levar essas questões sociais para a sala de aula. Eu coloquei esse compromisso pra mim como profissional. Que eu seja uma multiplicadora dessas idéias, valores e
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conceitos em qualquer disciplina que eu venha a ministrar. Na pós-graduação eu trabalho com assessoria para o 3º setor e meu trabalho é mais voltado pra isso hoje, mas tenho outros projetos, estou terminando uma biografia, escrevendo um livro biográfico, foi uma experiência nova pra mim, to produzindo um livro ainda, e o que eu penso pro meu futuro, quanto mais tempo a gente tem de sala de aula, mais experiência, mais a gente estuda, melhor a gente vai ficando. É algo que eu penso, mesmo que eu esteja bem velhinha, mesmo numa cadeira de rodas, eu vou continuar trabalhando. Eu sou realizada assim. Aqui na Estácio, eu dou aula na pós, mas com disciplinas mais teóricas que publicidade, teorias da comunicação, comunicação e semiótica, comunicação integrada, são disciplinas que eu tenho experiência mas que trabalho curso de publicidade. E nos outros cursos aqui, de Direito, eu dou aula de analise textual. E é isso. Como era a estrutura física da UFMS na sua época de aluna? Como era a redação, os laboratórios? Quando eu entrei, comunicação e artes eram num departamento só, o curso ficava onde era o Projele hoje, a gente tinha aula ali e no 6, o curso nunca tinha o espaço só dele, ficava espalhado, um pouco aqui e um pouco ali. Eu lembro que a gente tinha uma sala bem fechada que a gente chamava de BatCaverna, que era dividido com o espaço de fotografia. A gente fazia o trabalho de banho, o que vocês não fazem mais, a gente tinha câmeras Pentax 10, câmeras manuais, e a gente tinha que saber trabalhar com obturador, era bem mecânico, fotografava preto e branco e fazia a revelação manual, e as matérias do projétil eram com essas fotografias. Então quando eu vejo aluno querendo pegar foto de banco de imagem, eu quero morrer. A gente tinha que fotografar, revelar e usar aquela foto no Projétil. Hoje ta tudo muito fácil pros alunos, por um lado é bom, por terem mais tempo, acaba desenvolvendo outros talentos, por outro lado, eles não fazem o oficio com aquele trabalho, que PE importante vocês saberem como faz. O método Edson, Licerre e o Ramires de ser era assim, a gente tinha que fazer gabarito de Projétil, quando eu entrei no laboratório de redação. tinha acabado de chegar computadores e ainda tinham máquinas de escrever. Era dividido. A redação era onde é hoje o laboratório do Jornalismo científico, eu tenho uma foto de quando eu era professora, eu dei aula ali ainda. Tinham computadores bem antigos, do lado tinha uma salinha menor que era do Licerre, e as maquinas de escrever ainda ficavam ali e não tinha estúdio de TV, quando eu tava fazendo o curso, tava na fase de terminar o laboratório de TV, que é o estúdio que tem hoje, que na época era algo assim incrível, que a gente não sonhava. Onde era o estúdio era na sala onde tem a sala, Maria Francisca, que eu me lembre era o estúdio de TV, e tava entrando e não tenho certeza e o pessoal dizia que era ali o estúdio de TV, muito improvisado, pra poder trabalhar, era na época Betacam, o aluno que ia fazer o projeto experimental tinha que comprar uma fita Betacam pra poder gravar e depois ir pra televisão ... O estúdio de radio era bem pequenininho, ele ficava ali onde era, em frente a Maria Francisca, que era um cubículo, e eu participei na época quando a gente tinha a radio aberta que era a Rádio Alternativa, eu fiz programa pra radio alternativa, e a minha sala, junto com o Professor Robson Ramos, conseguiu que a gente fizesse a radio ficar o dia inteiro no ar... A gente dividia as equipes da turma, e tinha umas turmas que entravam as 8h da manhã, outra das 9h as 10h, até 19h, todos os dias.A gente fazia um resumo das noticias mais importantes do dia e lia, das 6h as 7h, a gente trabalhava o dia inteiro e depois ainda ia
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pra aula... Então foi muito legal, e daí fecharam a rádio porque ela tinha um bom alcance, e as vezes os alunos falavam mal do reitor... E ai eles fecharam a radio alternativa, eu já tinha saído, eu lembro que quando eu tava lá, ainda era bem ativa., Pegava 7, 8 km... Pegava em lugares longe da cidade, era bem legal e a gente fazia com fita cassete, na época tinha a prof. Maria Francisca só que quando eu entrei no curso um ano depois, ela se aposentou, tava muito doente. O prof. Robson Ramos entrou como substituto e entrou no lugar dela. A radio tava funcionando bem. O projétil, a minha turma fez uma coisa bem diferente, a gente quis fazer o primeiro projétil colorido e semanal, a gente conseguiu fazer 4 em um mês, minha turma era muito boa, turma 2000, bem produtiva. Então a gente fez... Na semana que o pessoal produzia a pauta e rodava, a gente conseguiu fazer e nem todos a gente conseguiu imprimir. Lembro que tava no meu estágio, na Telems na época e teve uma invasão no Banco do Brasil, na 13 com a Afonso Pena, chegaram a diagramar mas não rodou... A gente queria fazer isso, mas por pouco tempo. Quando eu vejo aluno reclamar de fazer Projétil em um semestre... digo que tem que se esforçar. A parte de TV, era o professor Cancio e ele fazia os telejornais com a gente, e no final do ano tinha exibição de todos os telejornais produzidos. Era tipo um evento. Eu não vejo que o curso tenha faltado alguma coisa pra mim, vivi tão intensamente ao curso, estudei muito, até porque eu queria entrar, pra mim foi importante eu queria viver tudo, eu pegava o plano de ensino, e falava prof. Você não trabalhou isso aqui... Coisa que eu nunca vi aluno fazer. E pra mim depois foi uma conquista dar aula com os professores, eu sempre vou sentir que eu nunca vou estar a altura do curso de tão importante que ele foi. Como era a grade curricular, quais professores davam aula? Eu lembro da professora Desirée, não lembro se ela se aposentou, se faleceu,e ela foi professora de Teorias da Comunicação. Oswaldo Coimbra, A professora Ruth, que estava fazendo doutorado fora, ele era casado com a Ruth, ai ele foi pro Para e a Ruth veio depois, a Ruth deu aula de Comunicação Rural, fomos pra base do Pantanal, fomos de 2 a 4 vezes, e montamos uma radio na base da universidade a gente fez trabalho bem legal. eu lembro do professor Ramires, de edição. Jorge Ijuim, professor de comunicação comparada. Ele tirava foto de todos alunos, um por um e tinha uma chamada que era ficha do aluno. E fichava todo mundo, anotava se o entregou trabalho, as notas, se o aluno faltava, aluno por aluno. Pra acompanhar o desenvolvimento de cada um ele tirava uma foto da sala inteira e recortava essas fotos e fazia essas fichas. Porque era um grupo muito seleto, éramos 40 alunos e não tinha outra conversa... Morandi, substituto que deu aula de assessoria pra mim, professora de economia foi Kátia Viviane, ela é mãe de uma aluna que fez jornalismo lá, Fernanda Kintschner. Professora de Filosofia foi a Ana Lucia Valente, Dra em antropologia que depois foi candidata a reitora, professora de psicologia, Sonia Urch, hoje é do mestrado em educação de filosofia Sandino, ele de estar aposentado. O professor de inglês era o professor Kurien que era indiano. A grade era totalmente diferente do que é hoje, eram anuais, não eram disciplinas semestrais. Primeiro ano eram as disciplinas mais básicas das humanas e no terceiro ano já vinham as praticas. As aulas de educação física eram para os alunos não ficarem só estudando, aí eles praticavam um esporte. Eu fiz natação durante um ano. Você chegava lá escolhia o esporte que queria fazer e fazia. De optativa tinha produção audiovisual com o professor Hélio. Então a gente trabalhava no primeiro ano muito mais a literatura, pra você ter liberdade no seu texto, pra depois
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trabalhar o lead, até chegar no terceiro ano pra fazer o projétil. A gente teve uma vivência das matérias que a gente fez, coisas que tinham antigamente que hoje eu vejo mais, que se perderam. Não um texto só voltado para o lead, pro mercado. As saídas que os professores proporcionavam pra gente, de ir pra aldeia, pra comunidade quilombola isso foi importante pra gente. Isso é o que nos diferencia dos demais. Porque se não tiver isso, o que nos torna diferente dos alunos das outras instituições? A UFMS está formando pessoas que pensam, que questionam, que estão mais voltadas ao lado acadêmico. O curso já formou vários profissionais que hoje são professores de jornalismo em vários estados do Brasil. Diploma. Depois que caiu o diploma teve uma queda vertiginosa, muitas universidades particulares fecharam seus cursos porque não conseguiram mais formar turma. É um curso caro e que não dá lucro pra universidade. Então uma coisa que eu vejo se perdendo é o jornalismo humanizado, voltado pras questões sociais. Mas eu vejo que um jornalista que se forma num curso tão antigo, tem que aprender o jornalismo tradicional. Sentar com a fonte olho no olho na hora de entrevistar. Não só no nosso curso, mas com vários outros profissionais. Tem o ciberjornalismo tem, mas a gente não teria que se voltar um pouco mais pra qualidade da noticia e não só pela urgência da noticia? Não é parar no tempo, mas é não perder as características essenciais da nossa profissão. Teve alguma coisa inusitada ou fato importante da sua época de acadêmica? Meu tcc foi algo muito importante na minha vida. Foi sobre os catadores de papel da Coopervida, que montaram uma cooperativa. Foi o primeiro tcc que quebrou o protocolo da história do curso de jornalismo, onde os professores não saíram pra dar nota, deram ali mesmo. Então foi uma coisa que me marcou muito. Então a gente apresentou nosso trabalho e ficou muito bom. Nós fizemos em quatro alunas porque era multimídia. Então nós fizemos um site com entrevistas perfil dos catadores, na época que quase ninguém tinha fazia isso, fizemos um documentário de dez minutos, um material de divulgação deles mais na cara do alternativo, spots de rádio e mais a monografia, trabalhando a questão sociológica dos catadores, dessa mudança de você estar excluído da sociedade e depois fazer parte de uma sociedade organizada como a cooperativa. O professor Licerre que foi o orientador. Primeira vez que a gente entregou projétil na rua também foi muito importante e hoje os alunos não valorizam mais isso. Quais foram os maiores desafios pra aprender o jornalismo? A gente fazia com o que tinha, se virava pra fazer as coisas, não foi empecilho pra fazer as coisas. Não ficava dependendo de nada do curso. Eu lembro que na época foi que a TVU começou, e ela meio que tomou conta e isso foi muito ruim na época. Eles chamavam alunos de outros cursos pra apresentar programas, gente de fora ao invés de dar espaço pra gente. Virou uma TV da reitoria. A gente sofreu muito. E outras turmas depois da gente sofreram também, porque a gente via a qualidade ruim dos programas e não tinha espaço, tinha que brigar pra poder fazer um trabalho pra disciplina dentro da TV. Rádio e projétil a gente fez com o que tinha, o papel fotográfico a gente comprava porque a universidade não dava. Câmera também não agüentava esperar pra emprestar a Pentax 10. Não gostava de ficar dependendo das coisas que a universidade dava porque era tudo muito ruim, não dava. Hoje vocês estão no paraíso. No sonho mais feliz que a gente podia imaginar. Não é o melhor que podia ser, mas é muito mais do que a gente tinha. Vocês também podem fazer mais coisas porque tem
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estrutura, a redação, muito boa, tem espaço, mais de um laboratório, lá (na minha época)devia ter 15 computadores pra 40, se chegasse a 15. Eram em 2 ou 3, ia se organizando e ia fazendo. A gente não gostava do curso a noite, porque achávamos que ficávamos muito isolados. Na época era proibido estagio. Eles achavam que o aluno não déia ser explorado. Isso acontecia e acontece hoje. Aluno deixa a desejar na sua faculdade e depois não é contratado. Fica sempre rodízio de estagiário. Quando voltou pra UFMS, quais foram as maiores mudanças que te surpreenderam? Em 2006 e 2007, eu já achei que tinha melhorado bastante coisa, e agora também, mas na parte de infra-estrutura. A grade eu não acho que está boa, era melhor. Agora é amontoado, misturado. Já tinha base, preparação, era primeiro o Projétil e depois TV e rádio... Já tinha trabalhado técnicas de reportagem, entrevista... ia pra TV e radio sabendo fazer isso. E por ter virado semestral, não sei se funciona... A gente tinha um tempo maior, e era feito com mais qualidade. Era outro tempo, hoje as coisas são feitas com outro ritmo. Demoramos a ter acesso a internet na redação, hoje tudo entra, na minha época não era assim. Ali você tava trabalhando com o texto. Minha sensação pessoal foi emoção de ter sofrido pra entrar no curso e eu já ter dado aula no curso. Ver que o curso desenvolveu em varias área, triste por outras coisas, que eu vejo que universidades particulares estão a frente, de cobranças, de aluno ter presença, se comportar, ter compromisso. Eu vejo na particular que os professores e alunos tem horário. Eu via as coisas meio soltas, meio largadas... Professor não vai, qualquer motivo falta, e eu acho que isso perde em qualidade. Aqui a gente tem uma exigência muito grande... Acho que minha turma em 96 tinha um nível de cobrança muito maior do que eu vi, até qualidade de TCC, eu participei de bancas e vi que caiu muito a qualidade, trabalhos superficiais, sem base e profundidade teórica... Não sei se é a safra de alunos que ta vindo ou professores que não cobram. Inclusive matéria do projétil, matérias fracas, sem contexto social, político, matérias de programas de variedades.. Me deixou triste de pensar: nossa esse é o curso que eu sai?! Você percebe a diferença de perfil do acadêmico atualmente? Os alunos da minha época eram muito mais militantes ou queriam muito a profissão, queriam transformar a sociedade, não era discurso, eles acreditavam muito na profissão. Hoje não sei se é a forma de ingresso, o Enem, que o aluno queria fazer direito, mas a pontuação não dava e acabou fazendo jornalismo. Não ta ali pelo desejo de ser jornalista. Tem exceções. Minha entraram 40 e 36 formaram. Era um curso que o aluno entrava e saía. Hoje eu não sei como ta. Evasão ta alta, deve estar entrando 45 e formava uns 25. O curso de jornalismo era um curso de menor evasão. E porque agora formam 20? Onde está o problema? Será que é a forma que estão entrando, é o desinteresse pela profissão? No vestibular você tinha uma única opção. Hoje tem alunos que dizem: eu não gosto de escrever, não gosto de ler... Como você vai fazer jornalismo? Tem alguma coisa errada. Eu não tenho conhecimento da magnitude que isso ta acontecendo. Tem alunos brilhantes, mas tem alunos que você pensa que ta ocupando a vaga publica. Como foi receber a notícia que o diploma tinha caído?
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Ah foi horrível, desvaloriza. Eu era coordenadora do curso aqui na Estácio, e foi ruim, de 2008 não abriu mais turma aqui, vinham 5 ou 6 alunos interessados, migravam pra publicidade, e os que queria jornalismo iam embora. Tem aluno que queria fazer jornalismo e acabou mudando a área. Foi um golpe não só contra a profissão mas contra a sociedade inteira. E a gente ainda ta colhendo fruto ruim disso. O que você trouxe da faculdade pra sua profissão? Acrescentou muito, eu tinha uma visão um pouco romântica do jornalismo, acho que todo mundo tem, hoje menos.o que me marcou foi vivencia com professores, antigos com historias de vários lugares que vieram, mas era um curso que tinha pensamento ideológico. Eles acrescentaram muito como pessoa e como profissional. Coisas ruins aconteceram, mas eu trouxe coisas boas, respeito e admiro os professores que eu tive. Pelo Ijuim, Licerre, Ramires, Edson, Coimbra, marcaram muito e pra mim são o coração do curso. Sei que tem grandes profissionais estão entrando, e eu não queria que essa historia se perdesse no tempo, que não se lembrasse no futuro, eles foram o inicio, a memória é a base, o alicerce do que o curso é hoje. Cada um põe seu tijolinho na história, esses precursores e até professores que eu não conheci, que vieram outros desses tenham seu valor e isso não pode ser esquecido, se isso existe hoje é graças à eles, se não tivesse tido esse inicio, esse desejo de vamos fazer um curso de jornalismo no MS, os jornalistas eram de fora, os professores eram de fora. Imagina se até hoje a gente tivesse importando os profissionais. Como você teve contato com questões sociais, com os direitos das crianças... Eu já gostava da área social, todas as matérias que eu fiz sempre eu tentei caminhar pra isso. Não sei se teve tanta influencia, mas eu já gostava. Uma disciplina semestral lá no quarto ano eram disciplinas condensadas. Assessoria de imprensa era uma disciplina que também não tinha muita importância que hoje a gente vê que tem muito mercado. Daniela Ota – entrevista em 26/09/2014 Qual turma era a sua professora? Turma de 92. Se eu não me engano, a minha turma foi a primeira a se formar em quatro anos. Porque o curso era quatro anos e meio, ai houve uma alteração curricular e nós já entramos como período de conclusão total do curso de quatro anos. Nós pegamos aquela parte de implantação do curso. Não trabalhávamos nada de meio digital, eu lembro que as primeiras pautas que nós fizemos foi em máquina de escrever, não tínhamos suporte laboratorial ainda. As práticas a gente fazia, mas sem a estrutura que a gente tem hoje. Hoje a gente tem suporte, salas pra atender tudo isso, naquela época não. Chegou uma época que todos os coordenadores de curso de Jornalismo aqui em Campo Grande eram egressos da UFMS. O corpo docente também não estava montado por completo, a gente estava numa fase de transição tinha muitos professores substitutos. Eu fiz concurso em 2005, e eu já vinha de uma leva de muitos anos sem concurso. Recentemente o curso recebeu uma leva muito boa de professores, agora a gente começou a completar o quadro, tem uma boa estrutura laboratorial, agora a partir da entrada do Mário Luiz o curso começou a se estruturar não só em relação a recursos humanos, mas em relação a estrutura física mesmo.
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E o que motivou a ser jornalista? Porque Jornalismo? Eu sempre soube que ia fazer área de humanas, nunca gostei da área de exatas e nem da área de biológicas. Então eu fiquei na época de segundo grau muito na dúvida entre Direito e Jornalismo que sempre foram duas coisas que me chamaram muito atenção. Cheguei a passar em Direito na UNESP de Bauru, mas eu fiz a opção de continuar em Campo Grande, até por questões familiares, financeiras, porque você mudar de cidade tem uma série de implicações. A minha opção era Jornalismo também porque eu sempre gostei de escrever, de ler, que são características bem pertinentes pra quem gosta da área de Jornalismo. Como só existia o curso de Jornalismo aqui naquela época os estagiários saiam tudo daqui. Não to dizendo que isso é bom não, às vezes era até prejudicial. Porque existe um conflito com o que se faz no mercado e o que se faz na academia. Porque o mercado as vezes não dá pra apurar todas as informações, tem a questão da linha editorial. Mas como naquela época a gente tinha três jornais diários, tinha uma certa efervescência. Então tinha uma demanda por mão de obra, a gente começava a trabalhar muito cedo. Eu sempre trabalhei com impresso no tempo da universidade. Eu trabalhei no Diário da Serra que era do grupo Correio do Estado. Um jornal de Brasília que o Correio comprou. Então eu comecei em cidades que eles chamam de clínica, cabe tudo. O foca sempre entra em cidades pra começar a aprender o que é pauta, desenvolver os textos jornalístico. Fui editora de economia e editei suplemento rural. Então foi uma experiência muito boa, que eu aprendi bastante. E quando eu era editora de economia, o Mcdonalds estava vindo ser instalado aqui e eles me convidaram pra ser assessora de imprensa deles. Que eu era editora de economia e eles acharam que era uma área afim porque eles estavam com muita dificuldade em achar assessor de imprensa. Isso foi em 97, foi quando eu comecei a trabalhar com assessoria de imprensa. Aí fui contrata pela Uniderp pra ser assessora de imprensa também. Nessa época a Uniderp tava implantando o curso de jornalismo com o professor Eron Brum que também é professor antigo aqui do curso. Aí fiquei uns dois anos na assessoria de imprensa, e surgiu um curso de especialização com Cátedra da Unesco, lá na UNESP de São Bernardo do Campo com o professor Marques de Melo. Eu tava na Uniderp, e acabei fazendo essa especialização e da especialização fui pro mestrado. No meio do mestrado o Eron me convidou pra dar aula. Eu não queria porque eu achei que o meu foco era o mercado e assessoria de imprensa. Ai o Eron me colocou pra dar aula com ele, ele falou não então a gente faz o seguinte terça é minha aula teoria e sexta é minha aula prática, você vai pro laboratório com os alunos. E na verdade eu brinco que foi uma enganação. Porque ele ficou dois dias comigo e depois falou toma que a aula é sua e eu assumi. Quando eu estava terminando o mestrado, já tava com a defesa marcada o Eron falou que não estava mais interessado em coordenar o curso e que tinha me indicado. Então a vida acadêmica foi surgindo e quem foi o fio condutor desse direcionamento da vida acadêmica foi o Eron. Foi ali que eu tive experiência administrativa de universidade, de coordenação de curso e de aula. Qualquer janela que eu tinha eu ia cobrindo, só não dei aula de tele o resto dei aula de todas as disciplinas. A questão administrativa ela te impede de avançar academicamente, então foi o período resolvi investir na carreira acadêmica e fui fazer doutorado. Fiz doutorado na USP. Eu tava no meio do doutorado na USP e surgiu aqui um concurso aqui na área de rádio que era exatamente o que eu trabalhava. E como não tinha indicação de doutor, era mestre, eu podia fazer. Eu fiz
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concurso, passei, assumi em agosto e defendi minha tese em setembro. Então até no curso eles brincaram que eles pediram um mestre e ganharam uma doutora. Hoje a gente só abre concurso pra doutor, mas naquele tempo não. Então quem entra mestre ele fica um tempo no curso e depois vai se capacitar. Aí eu comecei a trabalhar a minha experiência no rádio. Foi no doutorado que efetivamente eu mergulhei na área, porque a minha primeira orientadora foi a primeira doutora em rádio do Brasil. Aí ela faleceu antes da minha qualificação, mas eu passei dois anos com ela. Mas nesse período inicial de dois anos eu me envolvi muito na rádio USP, trabalhando modelos educativos, culturais, checando e verificando o que era essa condução, como que se dava a produção. Então aí efetivamente consolidou muito essa área na minha vida. Como era a estrutura física quando você estudava aqui? A universidade tinha poucos cursos noturnos, então a noite a gente ficava meio que isolado lá. A gente tinha poucos recursos humanos, tinha poucos professores do quadro e muitos preenchidos com professores substitutos. Eu acho que um diferencial das outras turmas pra essa é que antes eram pessoas do mercado que faziam a universidade, e hoje o perfil é completamente diferente, são pessoas muito jovens que acabaram de sair do ensino médio e vieram fazer universidade. Então eram pessoas que não eram jornalistas ou que atuavam há muito tempo na área ou trabalhavam a pouco tempo e queriam entender esse processo. Então tinha um acirramento, uma discussão muito crítica. O mercado as vezes te impõe algumas coisas e que quando você vem pra academia e entende o processo, você entende mais na hora de fazer lá no mercado não dá. Então isso gerava uma discussão muito grande nas primeiras turmas. Eu acho que a partir dos anos 2000, o perfil começou a mudar. Até porque também foi o boom das universidades privadas de abrir cursos de Jornalismo. A gente tinha muita carência de recursos humanos e carência laboratorial. Mas eram turmas que faziam. Muitos colegas falam que hoje as turmas têm tudo, tem uma estrutura montada pra fazer e fazem muito menos do que se fazia antes. Eu lembro que a gente fazia cobertura de jornal diário de evento que tinha no Glauce pra fazer exercício laboratorial e eu me lembro que a gente ficava o dia inteiro na universidade pra fazer isso. Mas a gente fazia muita coisa, não com uma estrutura adequada, mas fazia. Talvez porque o curso estava em fase de implantação, e os alunos se sentiam um pouco responsáveis por esse processo de um curso que estava nascendo, de um curso que era polêmico. Quando eu entrei no mercado o povo fazia questão de dizer “pra que ta fazendo curso se não sabe nem escrever”, eles faziam questão de dizer isso pra falar que a gente estava perdendo tempo de fazer faculdade. Então era um povo muito antigo com uma galera muito nova. Eu achava que resolvia pra caramba, não só de você ver a estrutura e o processo, mas discutir a área que isso é o que a academia te fornece. E como foi voltar pra cá como professora? Eu não tinha foco quando eu me formei pra trabalhar com viés acadêmico. Como eu fiquei quase dez anos na Uniderp eu tinha experiência de dar aula de trás pra frente e de frente pra trás. Foi uma coisa diferente porque aqui as turmas são pequenas, e eu dava aula no auditório na Uniderp. Então essa dinâmica eu já estava acostumada com muitos alunos. Eu sempre quis voltar pro curso pra dar alguma devolutiva, me formei aqui e gostaria de ajudar a formar outras gerações aqui também. Porque quando você é
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aluna de um curso, você entende o processo, as dificuldades que passaram e como estamos hoje. E aí eu voltei porque eu queria trabalhar em uma universidade federal e na universidade que eu me formei. Voltar foi muito bom, porque primeiro rever os professores. Eu fui bem recebida. Eu fui a primeira ex-aluna a voltar. Eu fui a primeira ex-aluna a me tornar professora do curso. Então os professores estavam muito empolgados porque eles falavam que iria começar uma geração de ex-alunos a voltar pra dar aula no curso. Então é um movimento. E é muito bom quando você tem pessoas que quando escolhem o mundo acadêmico podem voltar pra contribuir de alguma forma com o crescimento do curso. Quais disciplinas tinham? A aula que eu mais me lembro é de rádio. Na verdade duas. Eu sou capaz de descrever tudo. Eu me lembro da primeira aula do Eron em que ele sentou todo mundo na máquina de escrever e mandou fazer uma redação. Eu me lembro que todo mundo tirou C e D, porque todo mundo pensou que era redação e não matéria jornalística. Ninguém tava acostumado, porque a gente escrevia na mão. Aí foi a primeira barreira. Então eu me lembro perfeitamente disso das pessoas sofrerem com isso, de estar acostumado com outra dinâmica. E da aula da Chica, eu me lembro que a gente tinha um estúdio pequeno que era gravado em rolo e que ela deu um exercício de fechamento do semestre que era montar um programa de rádio e que a gente podia montar o programa que a gente quisesse. Por incrível que pareça de aula, o que eu me lembro era isso. A primeira matéria jornalística que eu fiz na vida que foi na máquina de escrever na aula do Eron, e a aula da Chica que foi a montagem desse programa de rádio. Me lembro da aula de tele pouco, eu não gostava de tele. Porque eu não gostava dessa dinâmica de câmera. Mas se você me perguntar quais recordações eu tenho, eu digo essas duas, a da Chica e do Eron. Como se interessou por rádio? Foi no mestrado. Quando eu entrei na Uniderp, eu não imaginava, porque eu trabalhava na assessoria de comunicação. E quando surgiu a oportunidade do mestrado eu pensei qual seria um projeto bacana pra trabalhar aqui no estado. Aí surgiu a oportunidade de conhecer a comunidade Furnas de Boa Sorte, que é uma comunidade remanescente quilombo e que na época que eu estudei tinha gente que nunca tinha visto televisão na vida. Eu fiz o mestrado, acho terminei em 2000. E pra mim naquela época alguém que nunca tinha visto televisão era impressionante. Ai tudo facilitou porque como é que eu conheci essa comunidade, o Eron tinha um sítio do lado da comunidade. Aí fui conheci a comunidade fiquei um tempo lá. Ai o curso de Farmácia e Medicina da Uniderp começou a atender a comunidade, porque eles tinham muitas doenças ligadas a verminose. Eles não tinham água encanada, banheiro nem nada. Eles tinham um riozinho que passava, eles cozinhavam e usavam o rio de banheiro. Só que eles faziam o inverso, eles pegavam água aqui de baixo e se escondia pra fazer xixi e outras coisas lá em cima, então a água que descia era contaminada. Então eles começaram a fazer um estudo de verminose lá, e eu comecei a acompanhar esse estudo pra me envolver com a comunidade. E ai, eles só ouviam um programa que era a hora do fazendeiro da educação rural. Eles amavam rádio, pra eles o que o rádio falava era verdade absoluta. Ai começou a nascer esse projeto e eu comecei a me interessar por rádio. Ai quando eu comecei a estudar rádio, eu comecei a conhecer pessoas da área. E aí assim
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começaram a me dar muitas dicas e muita informação sobre o meio. Ai eu não sabia o que eu ia fazer no doutorado, mas sabia que ia ser alguma coisa com o rádio. Eu gosto da rádio, pra mim é uma linha muito específica. Como é estar aqui em 2014 e ver as mudanças? É muito legal. Quando eu cheguei aqui em 2005 e me mostraram o laboratório, eu falei nesse laboratório eu não posso dar aula. Porque desde a morte da Chica, nunca tinha tido um professor fixo de rádio. Então teve o Robson Ramos e foi um outro professor substituto o tempo que eles conseguiam. Então eles achavam que quando tivesse um professor efetivo, ele resolveria a área. Então os primeiros anos foram muito complicados. Eu tinha um laboratório em fita cacete e todo mundo já estava trabalhando em computador, com programas. Eu comecei a fazer a transição em 2005, e o laboratório efetivamente com as condições ideais foi ter em 2011. Então de 2005 a 2011 a gente começou a estruturar primeiro com equipamentos, depois com programas, com softwares. Eu lembro que o laboratório tantos anos, porque os professores só davam aula em sala. O laboratório estava muito comprometido com fungos e sem limpeza. A gente depois que conseguiu equipamento, começou a trabalhar com formatos digitais de áudio a gente começou a pensar no espaço físico. Então prioritariamente era resolver esse problema de equipamento, e em 2010 começou a possibilidade de a gente ter um espaço físico que também não era ideal porque não tinha acústica. Então trabalhar a prática era complicado. E em 2010, começou a correr o processo pra reforma e hoje a gente tem as condições ideais. Eu fico muito feliz, porque eu acho que mostra uma evolução. Eu tenho quase dez anos de UFMS, e eu ficaria muito triste se depois de dez anos meu laboratório ainda tivesse as mesmas condições. Então eu acho que houve uma evolução. A gente sempre quer melhorar, dar melhores condições, sempre quer que o aluno tenha uma formação mais próxima de mercado possível. Mas eu acho que hoje os alunos já tem uma formação bem bacana. E tem mercado de trabalho pra rádio aqui no estado? Tem. Mas os salários não são muito bons. Quem gosta de rádio tá indo muito pras AM’s. a gente acha que não porque a gente ouve pouco. Ouve rádio no carro, ouve rádio no celular. Mas o público de AM é imenso, um público muito fiel. É um nicho. Eu acho que mercado tem o que precisa é as pessoas focarem. Eu concordo é difícil trabalhar em FM, a estrutura é ruim e os programas não são muito jornalísticos. Eu entendo quando as pessoas dizem que não querem ir pra não queimar o currículo. Lucas Mourão – entrevista em 27/09/2014 Formação acadêmica. Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela UFMS, bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) de Londrina e mestre em Comunicação – UFMS. O que te motivou a fazer Jornalismo? Gosto muito de comunicação e de lidar com pessoas. Todas as disciplinas do curso e as ferramentas para se trabalhar no jornalismo me atraíram. Sempre admirei essa
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profissão. E me considero alguém das Ciências Humanas. Não gosto de Exatas e Biológicas. Lembra do seu período de graduação? Das disciplinas, estrutura física do curso... Como eram? Lembro sim. O curso passava por uma grande reestruturação - de professores, disciplinas e infra-estrutura. Lembro que nos primeiros semestres não tínhamos tanto ânimo, por não cursar nenhuma disciplina prática. Mas no segundo em diante a paixão pelo jornalismo cresceu gradativamente. Tivemos ótimos professores e inesquecíveis experiências nas rotinas das reportagens. Quem dava aulas? Os professores dos primeiros semestres eram quase todos de outros departamentos. Mas me lembro bem dos excelentes docentes que foram o Marcelo Cancio, Mario Fernandes, Mario Ramires, Daniela Ota. Todos sempre muito preocupados com nosso aprendizado. Naquela época, havia muita diferença do curso que você viveu enquanto acadêmico do curso para o que você encontrou quando entrou no mestrado? Quais? Sim. Hoje enxergo um curso mais estruturado. O que facilita para o aluno. Apesar de que a falta de estrutura sempre nos fez correr atrás do prejuízo. A estrutura física hoje é mais acessível, o quadro de professores está melhor estruturado e o curso tem mais base para poder educar os universitários. Ainda pode melhorar muito. Mas vejo que está numa crescente. Qual foi a sensação de retornar a UFMS, como mestrando e também como docente por um tempo? É curioso, pois você volta com outra mentalidade, outra visão. A forma como você enxerga o mundo afeta muito a maneira como se comporta na universidade e como interpretará os conteúdos. Na faculdade eu sentia que tínhamos pressa, estávamos ansiosos pelo resultado. Hoje, um pouco mais sossegado, pode-se refletir melhor, seja no mestrado (que tem uma dinâmica diferente da graduação), seja na docência. Como professor, aprendi bastante. Dei aula para uma turma interessante, que me instigou a aprender mais. O engraçado foi estar la na frente sabendo exatamente o que os alunos estão passando e pensando. Como sou novo, ainda estão frescas todas as experiências que pelas quais passei. Acho que isso foi bom para eu repensar a maneira de dar uma aula. Tem algo que você levou da graduação, das suas vivências dentro a UFMS pra sua vida profissional? Aprendi a duvidar e investigar com cuidado. Trabalhar em equipe em situações de tensão e com pouco tempo. Dedicação em fazer um trabalho bem feito. Lidar com diferentes tipos de pessoas. Entre outras. Priscilla Bitencourt – entrevista em 01/10/2014
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Formação acadêmica: Formada em 2007 e repórter de rede e apresentadora TV SERGIPE/Globo SE. O que te motivou a fazer jornalismo? Eu gostava de escrever, era comunicativa, vinha de muitos anos de trabalho no teatro e não queria fazer direito. Por pouco não fiz Artes Cênicas, mas entrei na UFMS com 17 anos. Para minha família era muito nova para me mudar para o RJ e me aventurar por esse caminho. Comecei jornalismo pensando em parar, mas me apaixonei. A princípio acreditava que minha vocação estava no impresso. Com o tempo a vida foi me levando para a TV. O primeiro repórter de TV que me inspirou foi o Marcelo Canellas. Como era a estrutura física do curso quando era estudante? Bastante precária. Laboratórios antigos, salas velhas, pouco ou quase nenhum equipamento e, é claro, tudo analógico. Até as aulas de fotografia foram dadas com câmeras analógicas o que, pra mim, não era necessariamente um problema. O conceito é o mesmo. Era engraçado porque a nossa "redação" tinha computadores muito antigos e acesso restrito à internet. Coisa quase impossível numa redação de grande porte. Quais disciplinas você lembra que teve?Quais professores? Ah! Eram muitas. Mas as disciplinas teóricas do primeiro ano foram as que mais me "pegaram". Acho que é porque você sai de um universo pré-determinado do ensino médio e aí recebe uma enxurrada de conhecimento que te "abre" os olhos pra reflexão. Isso foi muito marcante na minha vida. Eu fui monitora, participei de um grupo de pesquisa e fiz Iniciação Científica (sem bolsa) com a Márcia Gomes e é natural que gostasse muito de Teoria da Comunicação e Cultura de Massa. Me lembro do Álvaro Banducci, de antropologia, Inara Leão, de psicologia, do Jorge Ijuim de Redação e Expressão Oral (que foi também meu orientador do projeto de conclusão), Márcio Licerre de diagramação e afins, cuja maior lembrança está no Projétil, Edson Silva, Ido Michels, de estudos socioeconômicos (que nunca compareceu a nenhuma aula), do Marco Túlio de fotografia. Na época o Marcelo Cancio estava fazendo o doutorado em Portugal e tivemos telejornalismo com a professora Ruth Vianna e tinha também a Greicy Mara... Enfim, faz um tempo já. Não me lembro de todos. Além disso, fiz algumas disciplinas optativas nos cursos de Letras, Ciências Sociais e Direito. Aconteceu algum fato importante que marcou você durante o curso? Foi muito importante a experiência de pesquisa científica e discussão de teorias que tive com a Márcia Gomes. Foi algo que realmente eu só poderia ter feito naquele momento e foi de grande importância na minha vida. Por muito tempo pensei em seguir carreira acadêmica por influência dela, que é uma grande intelectual e muito excêntrica e engraçada também. Um projeto que adiei mas pretendo retomar no momento apropriado da minha vida. No segundo ano, eu e uma grande amiga, que é uma jornalista excelente, chamada Nina Rahe decidimos escrever sobre a Festa do Divino na Pontinha do Cocho para o Projétil e isso terminou em cerca de 2 anos de pesquisa e um projeto pelo qual tenho imenso afeto, que foi a nossa conclusão de curso. Mas, para mim, o mais importante foi o encontro que a Universidade proporcionou. O fato de ter um ingresso por vestibular que era bem concorrido, o curso acabava tendo um grupo muito heterogêneo. Alunos tão diferentes com algumas semelhanças tão
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marcantes. Antagônicos e similares ao mesmo tempo. Era lindo!! Fomos descobrindo juntos esse universo de conhecimento, essa possibilidade de pensar, de questionar, de ceder, de argumentar. Era por isso que eu acreditava muito no vestibular. Além disso, a concorrência era grande, uma turma de nerds rebeldes reunidos. A relação com os professores também foi importante e eu não posso deixar de mencionar o Jorge Ijuim que foi um grande amigo nesses anos de UFMS. Quais foram as maiores dificuldades ou desafios enfrentados para aprender o jornalismo? Acho que não aprendi jornalismo na Universidade. Na verdade, nem sei se já aprendi 7 anos após concluir o curso. Jornalismo se aprende no dia a dia. No desafio diário, na dúvida que surge das situações mais inusitadas, no exercício de se escrever uma nova história todo dia. Nova mesmo, mas, muitas vezes, com notícias já ditas milhares de vezes. Não conheço ninguém que tenha alcançado esse grau de conhecimento apenas com a sala de aula. Acho que a reflexão na Universidade te dá ferramentas para ser capaz de aprender. De cumprir esse desafio sabe? Foi todo esse universo de conhecimento que já mencionei que me deu base para entender a imensa complexidade que é a realidade. Ou pra tentar entender. Não é fácil ser uma garota de 21 anos e sair por aí cobrindo assuntos completamente distantes do seu universo. É por isso também que acredito na Educação. Porque há uma grande diferença em uma formação voltada para a técnica de uma formação voltada para o raciocínio. Seu TCC foi sobre o que? Fizemos um documentário chamado Terra e Céu, sobre uma festa religiosa centenária que acontece todos os anos na Pontinha do Cocho. Uma comunidade do município de Figueirão que, até pouco tempo, tinha acesso restrito por uma estrada de chão complicada e, por isso, manteve intactos alguns ritos dessa tradição. Decidimos o tema no 2º ano. Fizemos uma matéria para o Projétil. Depois começamos uma pesquisa, entrevistamos pessoas, analisamos, fizemos pesquisa histórica e isso resultou em um pré-projeto bem fundamentado sobre a importância de retratarmos essa festa. Por fim fizemos um documentário e um Plano de Mídia e divulgação. Exibimos o vídeo na UFMS, no CINECULTURA e no MARCO, onde realizamos uma espécie de "lançamento" com coffee break. Conseguimos patrocínio para os panfletos e cartazes e fizemos também camisetas promocionais. Tudo patrocinado. Convidamos o cineasta Roberto Berliner, autor do documentário A pessoa é para o que nasce para a nossa banca. Hoje, talvez fizesse algumas coisas diferentes no documentário. Sou mais experiente. Mas acredito que para duas estudantes demos o nosso máximo por esse trabalho e me orgulho disso. O professor Ijuim foi nota dez só nos dava asas. Como foi seu contato com tele, rádio e impresso na faculdade? Como descobriu seu talento pra tele? Eu fiz um estágio muito rápido na TVU antes de entrar na TV Morena, considero que aprendi tudo mesmo durante o estágio. Quando tive aula de tele no 3º ano já sabia muita coisa. Tivemos um programa de rádio que ia ao ar às 18h na rádio corredor e era muito bacana, foi minha única experiência com rádio. Era uma mistura de entrevista, música, poesia e reportagens. Eu gostava bastante. No impresso, além do Projétil, eu
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publiquei uma reportagem em um livro da Fundação de Cultura do Estado chamado Vozes do Teatro, isso já depois de formada. A princípio eu achava que teria uma carreira no impresso. Uma vez fui convidada a fazer um estágio na TVU onde fiquei por uns 3 meses e fiz pouca coisa. Nesse mesmo ano (o final do segundo de faculdade) uma colega que estava se formando e me conheceu na TVU me indicou para um processo seletivo da TV Morena para estágio. Fiz teste de vídeo, prova escrita, teste com psicóloga, teste de redação e entrevista. Fui aprovada e entrei na emissora em Novembro de 2005 como estagiária na produção. Acho que foi aí que percebi que gostava daquilo. Não acredito muito em talento, acredito em dedicação, empenho e oportunidades. Qualquer um pode fazer qualquer coisa. Como começou a trabalhar na TV? Comecei como estagiária na TV MORENA. Lá fui encaminhada a uma fonoaudióloga, onde comecei a me preparar pra ir pra rua. Depois aprendi um pouco de edição e reportagem. Em Novembro de 2007, quando me formei, fui contratada como repórter em Tangará da Serra-MT afiliada do mesmo grupo, onde fiquei quase 2 anos. Depois retornei a Campo Grande onde fiquei até 2013. Trabalhou em outros veículos, além da TV Morena? Na TVU, por poucos meses. Na TV Morena em praças de Corumbá, Dourados e Campo Grande. Na TV Centro América em Tangará da Serra. E na TV SERGIPE. Também tive algumas experiências na Globo como 1 semana no Globo Rural e uma semana como produtora no Fantástico. A falta de estrutura da universidade de alguma forma te prejudicou na profissão? Não. Acho que é mais difícil aprender a pensar do que aprender a técnica. Até porque, esses recursos técnicos mudam muito rápido, mudam de emissora pra emissora e, claro, são fáceis de dominar. Difícil mesmo é ter ética, é ter bases teóricas pra analisar uma situação, pra duvidar, pra questionar. Acho que a Universidade é esse espaço aberto para a reflexão. Quando um aluno entra na Universidade tentando logo gravar uma passagem ele comete um erro, porque é só a plástica. Difícil mesmo é ele saber o que dizer, porque dizer, como dizer o que é preciso. É isso que o torna diferente. Uma amiga minha brincava que, na UFMS, a gente vivia como que numa bolha separada do mundo. Por um lado acho que é importante esse universo paralelo e até utópico. Porque se não sonharmos como vamos melhorar o real? Em 2013, você foi convidada pelo Prof. Marcelo Cancio para ir conversar com acadêmicos da minha turma, infelizmente eu não estava presente, mas como foi voltar na UFMS depois de alguns anos e que tipo de diferenças você notou? Fui muito bem recebida por todos. Conversamos e debatemos. Percebi que era uma turma mais novata e ouvi algumas perguntas que, talvez, minha antiga turma não faria. Coisas sobre a maquiagem que eu usava, não me lembro muito bem. Mas é natural, é um universo curioso mesmo. O que eu já esperava (e que aconteceu) foi aquele embate ideológico sobre as políticas editoriais da empresa da qual faço parte. Natural também. Pelas mesmas questões ideológicas alguns estudantes de Universidades Públicas questionam muito o mercado, condenam, como se não fossem fazer parte dele
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um dia. Acho que o caminho é justamente tentar melhorá-lo em vez de abominá-lo. Conheço pessoas que fazem parte desse mercado e que são verdadeiros poetas do telejornalismo, como o já citado Marcelo Canellas, que tive a honra de conhecer pessoalmente na minha carreira. Gente que faz muita coisa boa com as palavras, com essa loucura chamada jornalismo e toda essa parafernalha que nos cerca. Se eu voltasse hoje ao meu tempo de estudante certamente repetiria essa escolha: a de me inspirar em quem faz coisas boas e tentar realizá-las a meu modo. Quem sabe um dia eu possa fazer algo realmente memorável. Katarini Miguel – entrevista em 01/10/2014 Formação acadêmica Jornalista pela Universidade do Sagrado Coração (USC), mestre em Comunicação pela UNESP/Bauru e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Atuou em radiojornalismo e assessoria de imprensa na área de jornalismo ambiental. Porque fazer concurso para docência? Então depois que eu fui fazer doutorado, eu tinha intenção de entrar em uma universidade pública, onde você tem plano de carreira, onde você tem mais reconhecimento onde você pode se dedicar mesmo a docência, tem toda a estrutura. Porque a universidade particular é muito difícil, eles te pagam só pela hora/aula, eles não valorizam pesquisa e nem extensão, você vai lá pra dar aula. E pra você conseguir ter um salário razoável numa particular você tem que dar muita aula. E, além disso, é muito instável, se tiver um corte eles não pensam duas vezes antes de te mandar embora. Então tinha essa questão da estabilidade que eu queria, tinha essa questão de me dedicar mesmo à pesquisa, a docência, que eu só conseguiria numa universidade pública. Então a gente começa a pesar e ver que o melhor seria prestar concurso. Só que não é tão simples, porque concurso tem uma exigência muito grande, tem muita concorrência. E qual foi a primeira impressão do curso, quando se fala de estrutura? Olha, eu achei muito tranquilo na verdade. É um curso que tem uma estrutura muito legal, muito parecida com o que eu estava acostumada a ver tanto na faculdade que eu fiz graduação quanto na UNESP. Muito melhor do que tinha lá. Mas parece que isso é recente. Você conversa com as pessoas antigas, elas falam que nem sempre foi assim. Era mais sucateado, que agora que vocês tem laboratórios, computadores, máquinas fotográficas. Eu fiquei surpreendida com a quantidade de máquinas fotográficas que vocês tem ali, porque é difícil ter tanto material a disposição assim. Ou mesmo a TV que é super equipada, tem técnico lá o tempo todo, o laboratório de rádio também. Eu achei a estrutura bem legal, tem salas boas, tem sala pra professores. Tem muitas particulares, por exemplo, na UNIP onde eu dei aula, que não tem sala para professores. Tinha uma sala de professores onde ficava todo mundo junto. Não tinha um espaço pra trabalhar, você tinha que trabalhar em casa. Então não tinha isso o que a gente tem aqui, de ter esse contato com o aluno que é muito importante. De poder se dedicar integralmente as aulas e as pesquisas que você está fazendo.
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Quais outras disciplinas que você leciona? Atualmente eu dou redação jornalística II, redação para rádio, assessoria de imprensa que é uma reoferta e legislação e ética. Mas meu concurso foi para as disciplinas de assessoria de imprensa e administração da empresa jornalística que eu trabalhei com a turma do quarto ano no semestre passado. Você consegue perceber uma mudança no perfil dos alunos de quando você se graduou para os dias de hoje? Mudou muito. Principalmente por conta das tecnologias. Internet eram algumas salas da universidade que tinha, poucos computadores com acesso e poucas máquinas. Fotografia eu fiz analógica, tive que aprender a revelar, ampliar. Não era essa agilidade que vocês tem hoje. A gente não conseguia fazer nada sozinho igual vocês fazem hoje, baixa um software e estuda um pouquinho e já consegue. Acho que aluno é aluno independente do tempo e espaço. Talvez no jornalismo em geral eu perceba uma preguiça. Uma precarização da categoria que não estimula a gente a se empenhar, a realmente se dedicar aquilo. Isso eu vejo muito mais hoje, por conta dessa facilidade, de que as tecnologias criam essa tentação. Porque se ali na internet já tem tudo, porque eu vou pesquisar, vou só copiar. Então essa preguiça me preocupa bastante. Márcia Gomes – entrevista em 01/10/2014 Formação acadêmica Possui graduação em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro(1990), especialização em Cooperazione e Sviluppo pela Scuola Di Politica Internazionale Cooperazione e Sviluppo (1997), mestrado em Comunicación pela Pontificia Universidad Javeriana(1995), doutorado em Scienze Sociali pela Pontificia Università Gregoriana(2002), pós-doutorado pela Universitat Autonoma de Barcelona (2011) e aperfeicoamento em Educazione Allo Sviluppo pela Università Degli Studi Di Roma La Sapienza (1997) Professora, como foi a experiência de estudar fora? Eu estudei Comunicação Social no mestrado e foi uma experiência muito enriquecedora. Eu estudei na Colômbia e no México o mestrado e na PUC, que são Pontifícias. E estudei Comunicação Social. Foi uma entrada bem interessante na área de Comunicação porque eu já me interessava por esse campo de estudo, tanto que minha monografia de final de curso foi sobre os meios de comunicação, foi sobre a Rede Globo, o programa Globo Repórter. Eu tinha bastante interesse de conhecer mais sobre a Comunicação e fui estudar. Eu apliquei para o mestrado em Comunicação na PUC. Eu vinha de uma PUC e apliquei para a PUC de Bogotá. Foi bastante interessante porque uma das questões mais enriquecedoras do mestrado foi ter contato com os autores latino americanos. Tem uma grande produção, tem uma reflexão bem interessante sobre os meios de comunicação em vários países latino-americanos. E a gente não tem tanto acesso a essa produção aqui. Além do mais, há uma intensa produção em meios de comunicação. A gente tem vários países produtores muito importantes em nível de mercado mundial. Por exemplo, a Argentina, a Colômbia, México, são países que têm uma tradição na produção. Naquele momento, a Venezuela produzia muito em comunicação também, para meios de comunicação,
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principalmente televisão. Tinha uma produção importante de novelas, de ficção seriada televisiva. E para mim foi muito enriquecedor. Eu conheci mais dessa produção, seja do meio de comunicação factual, ficcional, unitários, produção em série, desses países. Eu tive contato, porque esses países têm uma integração maior, em termos de América Latina, do que o nosso país. Também pela língua, mas não é só isso. Existe um interesse maior de integração. Me familiarizei, por exemplo, com as produções em telejornalismo, talk shows, ficção seriada peruana, bastante argentina, mexicana, sul dos Estados Unidos, que tem uma presença latino-americana muito forte. E a respeito da bibliografia, foi muito enriquecedor, eu acho que é uma experiência que vale a pena. Nós temos uma série de possibilidades de fazer intercâmbio e a gente tem feito pouco intercâmbio com a América Latina. Eu acho que seria uma ação interessante essa aproximação. A senhora estudou em lugares renomados fora do país. Por que escolheu trabalhar na UFMS? Quando eu voltei do doutorado, eu estava interessada em dar aulas em Universidades. Por razões de ordem pessoal, eu... Quando voltei do doutorado, eu voltei primeiramente para o Mato Grosso do Sul, eu conhecia muito pouco da UFMS, na verdade. Não conhecia nada. E aí surgiu a possibilidade de dar aula em uma Universidade, em uma outra faculdade aqui de Campo Grande, depois logo surgiu essa possibilidade de dar aula aqui. Eu considero Campo Grande uma cidade com uma qualidade de vida muito alta. Comparada com os grandes centros, tem uma qualidade de vida mais alta. Na estrutura que oferece para a gente... Do dia-a-dia, não é? Estrutura física da cidade. De ser uma cidade menos violenta e mais agradável do que o dia-a-dia dos grandes centros. Eu pensei na questão de que a UFMS talvez não seja tão integrada ao mundo acadêmico de uma forma geral. Naquele momento, não havia mestrado aqui, mas um dos colegas aqui do curso me assegurou que o grupo aqui da Universidade queria desenvolver o mestrado e que era uma intenção. Eu tinha muita vontade de trabalhar na pós-graduação e ele me garantiu que esse era um projeto que ia ser implementado aqui. E eu comecei a trabalhar aqui primeiro como... Apareceu uma vaga aqui primeiro como... Como é que chama? Professor substituto? Naquela época havia menos concursos do que agora. E eu achei o perfil acadêmico do curso bem interessante. Eu vi muita potencialidade nos alunos, uma vontade grande de crescer e de saber, de empreender e levar a diante projetos... E isso é uma coisa bastante interessante, então teve uma combinação de fatores. Embora eu não tivesse pensado na possibilidade de vir trabalhar na UFMS, quando eu cheguei aqui, se apresentou a possibilidade. Eu vi uma série de qualidades na cidade e nos alunos com os quais eu me deparei quando comecei a dar aula como substituta aqui. Embora o meu projeto de morar em Campo Grande fosse um projeto provisório. Eu estava aqui por alguns meses, de passagem. Eu comecei a ver que tinha muita coisa interessante aqui na cidade. A qualidade de vida aqui da cidade e os alunos, eu achei os alunos daqui bem interessantes. E, de fato, continuo com a mesma percepção: aqui tem gente muito interessante, muita gente promissora. E, de fato, isso se concretizou. Essa impressão que eu tinha, eu confirmei ela. Tem muito potencial aqui. O que precisa é possibilidades de desenvolvimento disso. Em que ano a senhora começou a dar aula aqui?
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Aqui, em 2003, exatamente. Eu cheguei aqui. Voltei do doutorado em setembro de 2002. Acho que eu fiz teste para substituta em janeiro... Era carnaval de 2003. Eu fiz o teste e entrei. Nem foi pular carnaval, professora? Não pulo. Não aprecio tanto o carnaval. Gosto mais de ver pela televisão. A senhora gosta? Se diverte vendo aqueles carros enormes? Isso. Faz muitos anos que eu não gosto de pular carnaval. Quando a senhora chegou, como era a estrutura física do curso e estrutura pedagógica? Com o que a senhora se defrontou? Olha. Eu tive que adaptar as minhas expectativas. A estrutura do curso era bem mais precária do que é agora, não é? Nós estávamos em um outro local, as salas eram compartilhadas por vários professores, havia pouco espaço para os acadêmicos, os laboratórios eram... As máquinas antigas, com problema de funcionamento, as salas de aula também eram compartilhadas. Então, eu vinha de uma Universidade particular, com uma estrutura física muito curada (?), com muita manutenção. A biblioteca nossa era uma biblioteca bastante modesta. Então essa foi a primeira impressão que eu tive. Ou seja, as salas de aula a gente compartilhava. Eu dava aula para o primeiro ano. Era uma sala do curso de letras. Nós usamos por alguns anos aquela sala para o primeiro ano. Era uma sala ampla, mas com alguns problemas de mosquito, de iluminação, de instalação de equipamentos. Mas logo a gente começou a ver uma modificação nessa estrutura. Primeiro o departamento conseguiu esse espaço aqui. Foi uma boa notícia para o curso. Eu acho que isso ajudou muito no florescimento desse curso. Claro que aqui tinha todo o potencial, porque tinha muita gente com vontade de trabalhar, com vontade de fazer projetos. Mas essa estrutura que a Universidade nos propiciou, desse espaço físico, ela deu lugar ao desenvolvimento de uma série de ações. À maior inserção dos alunos de pós-graduação na Universidade, maior tempo de integração entre pós e graduação. Então, a estrutura teve um melhoramento muito intenso nesses últimos anos. Eu não saberia nem dizer há quantos anos a gente vem usufruindo dessas melhoras. Mas, primeiro os projetos da Fundect que nos propiciaram todas as máquinas que você vê aqui. São projetos de pesquisa que possibilitaram a compra de equipamentos que são disponibilizados para estudantes, para o trabalho de pesquisa. Então são várias ações, sabe? De um lado o Governo Federal, de outro lado a Universidade que está prestando atenção nessas demandas dos cursos. E, por outro lado, a Fundect, que é nossa agência estadual de pesquisa, que também tem sido sensível a essa demanda, a essa melhora de condições. Mas teve bastante modificação. Tanto no ensalamento. A gente tem agora um prédio multiuso. Agora está tendo reforma do Anfiteatro do CCHS. Então tem tido uma melhora gradual das instalações de forma geral. E quanto as disciplinas que a senhora já deu. Sempre foram as mais teóricas, voltadas para a sociologia? A minha prova aqui foi para a área de Teoria da Comunicação, foi para essa matéria. Essa é uma matéria que eu dou aula desde o meu mestrado. Foi a primeira disciplina que eu comecei a dar aula. Quando eu fazia mestrado, eu dei aula dessa disciplina em
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duas faculdades. Na (?) onde eu estudava, em outra Universidade, na Universidad Central. E eu dei aula dessa disciplina também durante o meu doutorado. Eu substituí meu professor em várias ocasiões. Ele dava aula de Teoria da Comunicação. E a minha disciplina, ela não é voltada à Sociologia, ela é voltada à Comunicação. A disciplina que é voltada à Sociologia é a Sociologia da Comunicação, que ela não é que seja Sociologia (?) intersecção entre a Sociologia e Comunicação. E aí é uma disciplina que eu sou particularmente habilitada para dar porque eu tenho a formação universitária nas duas áreas. Eu sou formada em Sociologia e tenho mestrado em Comunicação e doutorado em Ciências Sociais, na área de Comunicação. Então, o que acontece? É uma disciplina que eu gosto muito a Sociologia da Comunicação, que é mais recente. Eu dou aula de Teoria da Comunicação aqui desde 2003. E Sociologia da Comunicação, eu acho que eu dou aula desde 2010. Eu tinha oito anos de curso, eu acho, quando eu comecei a dar aula... Sete anos de curso quando eu comecei a dar aula de Sociologia da Comunicação. E eu dou aula de Cultura de Massa, que é uma disciplina que está absolutamente dentro da Comunicação também, ela é completamente dentro da Comunicação. E são disciplinas mais voltadas para a teoria, sim. É a minha área de atuação principal, que é a área de Teoria da Comunicação. Todas elas são voltadas para essa área, que é o embasamento teórico da nossa área de atuação. Eu já dei aula de Metodologia, que é uma disciplina que eu gosto muito. Eu estou bastante também habilitada para trabalhar Metodologia porque, dentro da Sociologia, a gente tem bastante formação específica para pesquisa. E já dei aula também de História da Imprensa, que eu dei aula especificamente sobre a imprensa, mas trabalhei bastante a história da mídia, porque eu, obviamente, como muitos professores que têm doutorado na área, a gente estuda bastante sobre a história dos meios de comunicação. Todos nós, ou muitos de nós, estamos bastante qualificados sobre a reflexão sobre a história da mídia em geral, principalmente dos meios eletrônicos de comunicação. Minha área de interesse é mais essa parte do audiovisual, televisão e cinema. Então eu tenho especial atenção no desenvolvimento da história do cinema e da televisão. Conheço bastante essa área. Estudo desde sempre. Desde a graduação eu estudo isso. Então essa matéria, que na época se chamava História da Imprensa, eu só dei no primeiro ano em que eu estava aqui. Eu dei metodologia por alguns anos. E agora, no mestrado, eu dou Teorias da Comunicação no um (?). E no outro mestrado eu dou Estudos de Recepção. Eu venho trabalhando com Estudos de Recepção dentro da área de Comunicação Social desde o mestrado, que é minha linha de estudos dentro da Comunicação Social. Como o mestrado contribui com a profissão? A pós-graduação, ela é fundamental para o desenvolvimento de qualificação profissional aqui. Você tem que qualificar a região e qualificar os quadros que vão dar aulas nas instituições de ensino. Atualmente, já não cabe mais que você tenha professores com nível de graduação dando aula para a graduação. Você precisa se especializar em áreas e você, principalmente, dar aulas naquelas matérias que você aprofunda mais o conhecimento nelas e você amplia e aprofunda e se detém mais. Então, nós necessitávamos... O primeiro fator de colaboração é a qualificação de pessoas que vão dar aula nos cursos de graduação da região. A gente precisa de, pelo menos, o nível de mestrado, que é um tipo de formação que é mais sistemática, com mais aprofundamento teórico, com mais discussão, com mais reflexão, com mais
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varredura do conhecimento. A gente precisa de formar esses quadros, mas, além disso, é importante ter cursos de pós-graduação interagindo com a graduação porque você amplia os horizontes do estudante. Algumas vezes, os estudantes, em lugares onde só há graduação, eles nem pensam na possibilidade de fazer pós-graduação. E o mercado de trabalho, ele pede um profissional mais qualificado atualmente. E uma das formas de qualificação recorrentes, exigidas atualmente, é a pós-graduação stricto sensu ou lato sensu. Mas, principalmente, a stricto sensu, porque ela te capacita para algumas coisas. Ela te dá uma maior autonomia reflexiva e criativa até, porque ela desenvolve algumas habilidades em você. Então, é importante ter essa relação porque o estudante de graduação, vendo essa possibilidade de perto dele, interagindo com todo esse movimento que é propiciado pela presença da pós graduação, com professores de outras instituições que vêm dar mini-cursos, ou que vêm dar palestras, ou alunos estudando, consultando livros, ele consegue visualizar de uma maneira mais próxima, mais concreta, toda a potencialidade que há por trás de uma qualificação mais acurada, mais dedicada. Ele consegue visualizar como ele pode usufruir de uma maior dedicação de estudos, de atuação, de inserção em projetos de pesquisa, de extensão. Ele vai ter uma formação mais... Como se diz? Mais circular, que desenvolvam vários aspectos. Sabe? Não só as habilidades técnicas. Quando a senhora foi coordenadora do curso? Eu acho que foi no ano de 2005. Entre 2005 e 2007, acredito. Nós tínhamos uma outra grade. Nós ainda estávamos em outro lugar. Nós estávamos em uma fase anterior à essa, em todos os sentidos. Tínhamos outra grade, depois disso, tivemos uma intermediária e agora vamos para outra. Os acadêmicos iam na sua sala reclamar de alguma coisa específica? Olha, nosso perfil de estudante era diferente. Na época, nós tínhamos vestibular, por exemplo. E nós tivemos uma grande modificação do perfil do acadêmico depois que entrou o Enem. Um outro elemento que era bastante diferenciador do perfil do acadêmico, era que nosso curso era noturno. Quando eu entrei, o curso era noturno. Eu não estou bem lembrado, mas eu acredito que, quando eu saí, ele já era vespertino e noturno. Quando eu saí da coordenação. Eu não lembro de qual ano é a passagem do curso vespertino, mas eu acredito que houve essa transição, esse alargamento do curso para o vespertino. Isso também fez com que o nosso estudante modificasse um pouco o perfil. Porque o nosso estudante, grande parte dele ia trabalhar, mesmo quando não necessitasse. Tinha menos bolsas de estudo também. Eu tive, no ano de 2005, tive os meus primeiros bolsistas de Pibic aqui. Não era muito freqüente a presença de bolsas Pibic para o departamento. Na época, departamento de Comunicação. Não era muito comum que houvesse sempre propostas para Pibic e que essas propostas fossem aprovadas. Isso foi modificando também. Eu tenho a impressão que eu já tive, nesses anos de instituição, uns 18 estudantes de Pibic, por aí. Então, esse estudante, ele foi modificando, porque, na medida que ele tinha bolsa Pibic, ele tinha que ficar mais na instituição. Mas não havia, por exemplo, esse espaço físico para receber esses estudantes. Ele era um estudante que não tinha toda essas acomodações de agora, de laboratório. Então, tinham muitas diferenças. Na época, nós tínhamos muitos professores substitutos. Por quê? Porque alguns professores são afastados para pós-graduação. E nós tínhamos um quadro menor de professores
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também. Então, esse era uma das dificuldades do curso. E eram professores substitutos que, na maioria das vezes, não tinham pós-graduação. Aqui nós não tínhamos muitas pessoas com pós-graduação. Tínhamos pouquíssimas pessoas com pós-graduação. Então, as pessoas que faziam a prova para substituto... Quando eu fiz a prova para substituto, eu acredito que tinham duas pessoas também tentando substituto que tinham mestrado. Todos os outros eram graduados. Eu não lembro de ter visto muita gente, nesse tempo todo, tentando substituto que tinha mestrado. A maioria eram pessoas que tinham só a graduação. Eram profissionais que estavam no mercado e que vinham dar aula à noite aqui. Então, nós tínhamos uma situação muito diferente. Um quadro menor de professores fixos. Um quadro muito menor de doutores. Nossa! Não estou nem lembrada de quantos são, mas têm várias contratações de lá para cá. A questão dos substitutos... Era um perfil de professores diferente. Quanto ao perfil do próprio aluno, a senhora disse que mudou, até quando o curso passou a ser vespertino e noturno. De 2003 para cá, a senhora que o perfil do estudante de jornalismo está muito diferente? Porque essa é uma questão que todos os professores têm tocado. Ele está diferente, sim. Isso é bom ou ruim? Olha, eu acho que a pergunta aí... Não sei se dá para fazer juízo de valor. Mas o que acontece é tem algumas modificações na profissão, não foi só a queda da necessidade do diploma, mas também toda esse conjunto de mídias que temos agora, e produção, ligadas ou não ao exercício direto da profissão, e notei que tem uma maior participação de estudantes do interior que antes, eu noto maior presença do interior do MS que antes. Antes tínhamos uma percentagem de estudantes que vinham do oeste do estado de SP agora variou um pouco mais. Tem gente de varias localidades. Essa mistura de origens eu acho produtiva, o que eu acho que por enquanto esta sendo algo que deve ser verificado é a intenção de fazer o curso ou não. Eu não sei se esses novos mecanismos de canalização de estudantes pegam estudantes que querem fazer jornalismo ou não. Ou nosso curso era de comunicação e vai passar a ser jornalismo, acho que vai ter outra modificação ai. Eu notava que havia uma porcentagem dos que chegavam de fora não necessariamente clareza que o curso era jornalismo. As vezes esse estudante queria fazer cinema ou publicidade e esse estudante estava aqui porque era possibilidade de fazer um curso gratuito no curso de comunicação, e o favor gratuito era uma fator importante pra esse estudante. Agora vamos ver o que vai acontecer. Na disciplina da senhora muda alguma coisa? Melhora porque quando eu cheguei eu tinha uma carga horária, que na ultima grade as disciplinas teóricas diminuíram. Nós tivemos uma ampliação das disciplinas práticas no laboratório e diminuição das teóricas, agora com a grade nova(implantada em 2015) por diretivas deve haver mais equilíbrio e aumento das teóricas, então há um aumento de carga horária. Acho que vai modificar o perfil outra vez do aluno. Como o nome vai ser jornalismo, pode ter uma variação quando ele chegar... Um dos desafios agora é diminuir a evasão né.
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Gerson Luiz Martins – entrevista em 01/10/2014 Formado em Filosofia pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB- 1983), em Psicologia pela UCDB (1989) em Jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1999), Mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1991), doutor em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (1999) e pós-doutor em Ciberjornalismo pela Universidade Autonoma de Barcelona, Espanha (2012). Eu tive um período trabalhando como jornalista profissional sem ter o curso, e ai eu entendi que era muito importante ter o curso, e foi suado porque fazer a graduação e o doutorado ao mesmo tempo é complicado. E já estava no mercado de jornalismo? Isso, eu trabalhava na UCDB como assessor de comunicação e professor. Eu fiz mestrado em comunicação e foi uma auto-cobrança minha a ter a graduação, depois de já ter registro trabalhar como jornalista e fazer o doutorado em jornalismo. Pra mim era muito importante, não só o curso de graduação, porque sempre defendi a exigência do diploma, e não podia ser eu alguém que não tivesse. E no doutorado eu fiz questão de fazer em jornalismo, e o José Marcos de Melo foi meu orientador. Já estudava ciberjornalismo? Eu sempre gostei de tecnologia, mas em 95 começou a internet no Brasil. Me lembro que meus colegas de doutorado diziam: Gerson você vinha com o computador na mão, trocando e-mails com o Zé Marques, e eu tava naquela época, fazendo comunicação por email, então sempre tive interesse nisso, de aliar o jornalismo com tecnologia. Quando comecei a mexer com isso exatamente não sei, sempre fiz parte dessa coisa. Sempre me interessei em cuidar da pagina de jornalismo da UCDB, sempre tive essa coisa. E depois que eu já era formado, trabalhei 18 anos na UCDB. Então eu comecei a pesquisar e estudar, me preparar ciberjornalismo especificamente. Quando eu entrei na UFRN, havia uma disciplina optativa de jornalismo online e eu assumi essa disciplina e, no sentido de tê-la como obrigatório. Na minha cabeça como é que o futuro do jornalismo era uma optativa. Desde que eu trabalhava em CG eu comecei a mexer com ciberjornalismo, isso foi em 2000, 2001. Como era a estrutura física? Quais professores te deram aula? Na época era o Ijuim, o Mauro Silveira, a Francisca, a Desiree, o Edson, mas eu não tive aula com ele, eram esses. A infra-estrutura era muito fraca, muito ruim. O curso basicamente eram salas de aula e, como posso dizer a vontade de trabalhar dos professores... Então haviam máquinas de escrever, depois trocou pra computadores e eram IBM não eram novos, eram usados, não haviam como hoje, que a universidade compra novos. Eram usados por outros setores que eram doados pro curso de jornalismo. A situação de infra-estrutura de laboratório na época sempre foi muito ruim, bastante precário. Hoje que nós temos uma situação, que não é ideal ainda, mas muito mais confortável que era antigamente. Quanto à estrutura pedagógica, o que o senhor achava? É interessante observar que havia um grupo de professores que eram concursados, o caso do Mauro, Edson, Licerre... Os primeiros professores do curso, e havia um grande
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numero de professores substitutos, e aí é um problema, porque um professor substituto, haviam mais problemas. Não tinha uma turma, como eu já tinha graduações... Eu me lembro que uma das turmas que eu participei tiveram um problema sério e pediram pro professor sair, então era bem problemático. Haviam muitos. E hoje não tem mais. Quase metade do curso eram de professores substitutos. Havia dificuldades nesse sentido e o professor não atendia as necessidades. Qual era o maior desafio nessa época? Sem dúvida a pedagógica, era a capacidade dos professores, o Curso de jornalismo na UFMS nasceu da demanda dos profissionais de jornalismo Campo Grande e os primeiros professores eram professores do mercado, que tinham boa experiência profissional. Essa experiência aliada a vontade de qualificar o aluno, foi fundamental pra ter uma qualidade do curso, em detrimento mesmo não obstante ao problema de laboratório de infra-estrutura. O curso nasceu noturno, a primeira expectativa era atender os jornalistas que estavam no mercado. As primeiras turmas eram pessoas que estavam no mercado e vieram fazer o curso. Quais diferenças você percebe da época em que fez parte do curso e agora como professor? Tanto estrutura física quando pedagógica... A universidade como um todo está mais organizado. Do ponto de vista dos professores, tem um grupo de professores grande, na época tinha 4 ou 5 professores, em 2008, já tem um grupo maior, uma melhoria da infra-estrutura, ainda não o ideal, o que gostaríamos, mas uma melhoria da infra-estrutura. Já tem uma redação informatizada, laboratório de televisão e radio tudo informatizado, que é uma coisa natural e fundamentalmente, que faz a grande diferença no curso da UFMS, que tem um grupo de professores mesmo com a entrada dos mais novos que tem uma experiência profissional aliada a uma bagagem acadêmica. Essa sempre foi uma característica daqui nos últimos anos, agora é claro, que com a abertura de vagas você recebe alguns professores que fazem concurso que algumas vezes não tem uma boa experiência de mercado. Há outros cursos que os professores saem da formação e já ingressam na universidade. Como o senhor vê a diferença do perfil dos alunos? O grupo de alunos era muito mais maduro, os primeiros alunos eram profissionais do mercado, para a universidade, a faixa etária caiu muito, quando diminui muito, muitas vezes o aluno entra na universidade sem saber direito o que quer. Antes fazia 2 anos de disciplinas teóricas, e só no 3º ano, fazia disciplinas práticas. E só ia descobrir o que queria no 3º ano. Com a mudança que houve nos últimos anos, com disciplinas mais práticas no primeiro semestre, então ajuda aos estudantes a escolherem a profissão. Naquela época os ingressos sabiam o que queriam, muitos estavam no mercado. Essa era a diferença dos alunos, naquela época os ingressos do curso já sabiam o que queriam, muitos já estavam no mercado. Ministrou quais disciplinas? Redação, assessoria de imprensa, sistemas de comunicação, ética em jornalismo, ciberjornalismo, história da imprensa. Foi o senhor que implantou o ciberjornalismo aqui na UFMS?
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Foi, quando eu cheguei aqui. Primeiramente eu trabalhava ciber na disciplina de redação. E depois na reforma que eu e a Daniela fizemos em 2009, implantada em 2010, a gente criou a disciplina. A internet começa em 1995, mas impregna em 2000, 2001, então em 2003, 2004 estava começando jornalismo na internet nos cursos de jornalismo. Ainda pra muitos cursos era uma disciplina optativa.
Quais foi sua experiência em rádio? Trabalhei um ano na rádio Educação Rural, como locutor. Comecei a fazer programa gravado no domingo e depois ao vivo. É outra coisa. Antigamente a rádio AM tinha uma audiência muito grande, aquela coisa do ao vivo, tinha que atender telefone do ouvinte, aquela interatividade com o ouvinte, fantástico!! Adoro rádio! Já falei pra professora Daniela que quando abrir a rádio aqui na UFMS eu sou candidato a ter um programa lá. Quando eu fazia graduação aqui o curso tinha uma rádio comunitária. Trazia discos de casa... Teve experiência com tele ou impresso? Tive, trabalhei na TV morena, produção de programa. E fui responsável pela TV UCDB, quando trabalhei lá. Redação impressa como colaborador, eu colaborava no Diário da Serra, que já não existe mais, no Correio do Estado, vivenciava aquela coisa de redação. Como o mestrado está colaborando com o mercado? Esses tempos atrás eu escrevi na minha coluna sobre isso. Com o mestrado, a mídia local vai ser analisada, criticada, avaliada pela academia, pela universidade. Então, é um trabalho ainda no começo. Mas já tem dissertações que foram defendidas tem contribuições para a mídia local. Agora, a mídia local é resistente à academia. O mercado, as empresas jornalísticas não está bem preparado, embora já houve iniciativas da redação para que o curso de jornalismo possa oferecer cursos para formação. É um primeiro passo. Ainda não foi concretizado mas é interessante nesse aspecto. Outro fato interessante é que muitos jornalistas do mestrado são do mercado. Vários que trabalham nas redações. Como o senhor recebeu a noticia da não obrigatoriedade do diploma? Pessimamente, toda minha vida eu entendi que o diploma é fundamental, que o curso de jornalismo é uma das áreas estratégicas para a democracia de um país. Um curso dessa importância, necessariamente os profissionais tem que ser oriundos da universidade, não pode ser alguém da prática. É uma condição imprescindível para o jornalismo de qualidade. Hoje em dia, 90% dos jornalistas que estão no mercado tem formação e temos problemas, imagina se não tivesse formação universitária. Existe uma proposta que vai fazer um doutorado que vai unir a UNB, a católica de Brasília, a Federal de Goiás e a UFMS, então será um doutorado com 4 universidades. Isso da mais qualidade pro curso, uma diversidade maior, você pode ter disciplinas com professores de outras universidades. Isso enriquece. Eu acredito que mais uns 3 anos a gente consiga.
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O que o senhor acha que falta pra o curso de jornalismo da UFMS pra ser 5 estrelas? Precisamos de mais professores, nosso grupo é pequeno, é uma coisa. E segunda coisa, é o mestrado, que é importantíssimo pra qualificação, a possibilidade do doutorado, o mestrado pra os alunos da graduação é uma coisa distante, mas é imprescindível que os professores façam essa integração. E puxar os alunos da graduação pra o lado da pesquisa. Hoje sobram bolsas de iniciação cientifica. Na graduação poucos têm interesse em fazer pesquisa. Se pensar em evento de ciberjornalismo no Brasil é o evento de CG. Nós já temos essa marca. Aline Maziero – entrevista em 06/10/2014 Formação e o que faz atualmente? Jornalista e mestre em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Atualmente acadêmica do curso de Letras- habilitação Português/Espanhol também pela UFMS. O que te motivou a fazer Jornalismo? Posso dizer simplesmente que o que me motivou a fazer jornalismo foi a identificação com a profissão, porque eu sempre tive um lado meu meio inconformado, que queria lidar com as injustiças do mundo e achava que podia fazer isso escrevendo. Sim, porque o jornalismo pra mim sempre foi escrever. Pode perguntar aos meus professores de radio e telejornalismo, Marcelo Cancio e Daniela Ota, mas eu sempre fui uma negação falando. E mesmo assim, adorava aquilo. Acho que a razão principal de eu ter feito jornalismo foi eu querer me mudar da cidade do interior onde eu morava, Nova Andradina. Então, em 2006, quando os vestibulares ainda eram de somatória e guardavam vaga pro início do ano seguinte, eu escolhi jornalismo por ser um curso que não tinha na minha cidade e eu queria sair. Passei. Daí, tive de me mudar pra Campo Grande no ano seguinte, trazendo papai e mamãe. E numa cadeira de rodas, porque eu tenho paralisia cerebral e certa dificuldade para andar, enfim, dificuldades com a coordenação motora. Enfim, cheguei a Campo Grande, adorei a cidade e criei uma identificação muito forte com a UFMS. Eu adoro aquele lugar, tanto que continuo lá até hoje, estou cursando Letras habilitação português/espanhol, depois de ter feito o mestrado em Estudos de Linguagens, orientada pela professora Márcia Gomes. A professora Márcia, aliás, foi minha primeira referência. As disciplinas que ela ministrava eram as que mais tinham a ver com comunicação, eu adorava os exemplos que ela dava, quase sempre tirados da ficção seriada. Aprendi muito, e sofri bastante pra aprender também, mas valeu a pena. Teoria é das coisas que você só valoriza depois que tem mesmo, acho. Que outras referências você tem do tempo de estudante de jornalismo? No segundo ano, minha grande referência foi o professor Edson. Na época, ele estava precisando de um monitor para o site Caminhos, cujas pautas se relacionavam com direitos humanos e eu gostei da ideia. Naquele ano, nas pesquisas jornalísticas eu e o meu grupo falamos de "acessibilidade" e discutimos o tema dentro e fora da UFMS. Engraçado que depois disso acabo sempre falando em acessibilidade, já em várias
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ocasiões para alunos do curso mesmo. Fiquei três anos como bolsista, convivendo bastante com o professor Edson e ele se tornou meu orientador de TCC. Eu, assim como você, trabalhei com histórias de vida e memórias, no meu caso de passageiros do trem da ferrovia Noroeste do Brasil, num livro-reportagem intitulado "Sobre os trilhos dessa terra". Foram com o professor Edson as minhas primeiras experiências jornalísticas mesmo, de pesquisa, apuração, essas coisas. No segundo ano, ainda, chegou à UFMS o professor Gerson Martins, que ministrava a disciplina de Redação Jornalística já com recursos do ciberjornalismo, mas ainda na grade antiga. Essas matérias a gente tinha de fazer a cada semana e foi uma experiência muito enriquecedora também, e eu sempre fui uma aluna daquelas muito certinhas, que faziam tudo no prazo, e faziam tudo mais ou menos bem. Mas antes de eu terminar o curso e chegar ao Mestrado, deixe contar do meu terceiro ano: o ano que eu mais amei o curso, eu acho. No terceiro ano, pela antiga grade, a gente tinha tudo que era bom: rádio, Projétil e tevê. E era tudo em grupo, o que complicava um pouco as coisas pra mim que precisava ajustar o meu horário, o da minha mãe - que me levava – e o do restante do grupo e se fosse tevê, por exemplo, ainda o horário do cinegrafista. Era meio complicado, mas foi também a fase da minha vida que mais me senti inclinada ao jornalismo. Isso por causa, talvez dos professores fantásticos que eu tive: tinha a Daniela Ota, pra quem a gente fazia vários roteiros de "Rádio Corredor", segmentados, radiodocumentários. Era um ritmo intenso - pelo menos pra mim - e um pouco sofrido, porque eu às vezes falava rápido demais e ficava sem ar. Tinha o Marcelo Cancio, que me pediu refazer uma passagem até que eu ficasse de olhos abertos diante da câmera, um dos momentos mais marcantes da graduação pra mim. Mostrou pra mim que ele nunca ia desistir de um aluno, por menos apto que ele fosse. E teve os professores do Projétil - Mário Luiz, Mário Ramires e Márcio Licerre - que foram três das pessoas mais incríveis que eu conheci na UFMS. O Mário Ramires estava nesse curso desde a fundação como o professor Edson e era absolutamente fantástico. Adoro minhas matérias do Projétil e destaco uma sobre a possibilidade de Campo Grande sediar a Copa do Mundo de 2014. Acho que cada professor com o qual eu tive contato me modificou um pouco, mas eu precisava citar o Ramires. Daqueles que fazem a gente pôr em dúvida todas as certezas, para escrever melhor, ser melhor. E a estrutura do curso e da UFMS com relação a acessibilidade? Quando eu cheguei à UFMS não havia muitas rampas e as que havia eram bem íngremes, alguns lugares como o Anfiteatro do LAC não permitiam o meu acesso, não havia banheiro pra que a minha cadeira pudesse entrar, nem a rampa principal, nem rampa no Anfiteatro do CCHS, - que aliás, no dia em que fomos estreiar, eu e meu amigo Flávio, caímos. De modo geral, vejo que a Universidade tem tentado melhorar, mas isso não se prova eficaz. Digo isso, porque, por exemplo, eu tenho um pouco de mobilidade, posso descer as escadas do laboratório de TV, mas e quem não consegue? Esse é só um exemplo, mas de modo geral, acredito que as pessoas, a UFMS, e talvez até o próprio curso, têm de se conscientizar que o que se precisa mesmo no campo da acessibilidade é uma política de longo prazo. Não é você resolver o problema imediato, de um acadêmico. É perceber que assim como no passado houve alguém que precisou de estrutura e não teve possibilidades de usufruir dela, no futuro outras pessoas vão precisar. Não vou ficar aqui te apontando cada coisa que poderia
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ser melhorada e não foi nesses quase oito anos de universidade. Só digo que isso envolve antes de tudo uma mudança de mentalidade, o que é um pouco mais complicado que uma série de medidas paliativas.
E como foi seu contato com o mestrado logo depois da graduação? No quarto ano eu já estava com dor no coração por deixar a UFMS e foi aí que eu tive a ideia de fazer Mestrado - em Estudos de Linguagens - e voltei a ter mais contato com a professora Márcia Gomes. Resolvi fazer um projeto sobre adaptação de obras literárias na ficção seriada, estava fazendo o TCC, mas estudava a noite e de madrugada e assim, passei na prova escrita. No dia da fase final - entrevista - nem tinha defendido o TCC ainda. Foi um fim de ano muito diferente, muito bom, porque não sinto como se tivesse me dedicado pouco para fazer o TCC, foi um trabalho exaustivo, exasperante e emocionante como quase tudo, e ainda assim, tinha passado no Mestrado, tinha perspectiva de futuro, tinha possibilidade de bolsa CAPES e tal. E meu Mestrado não foi em Comunicação, porque ainda não havia aberto o curso - eu iniciei em março de 2011, as aulas do Mestrado de Comunicação começaram em agosto - mas foi um momento excelente da minha vida, recompensador e assustador. Eu estava na UFMS, mas em um departamento que me era estranho, minha orientadora estava na Espanha e eu tinha muito o que aprender sobre cinema e literatura. Por outro lado, no ano seguinte fiz algumas disciplinas do Mestrado de Comunicação, já que a preocupação maior da minha dissertação era com os meios de comunicação, a relação emissor/receptor e tal. Acho que esse intercâmbio que a professora Márcia faz, dando aula nos dois Mestrados e fazendo os acadêmicos conhecerem os dois lados, é muito produtivo. E quais são seus próximos passos? Algum no Jornalismo? Bom, não trabalhei com jornalismo, decidi me dedicar à vida acadêmica, estou na segunda graduação e espero em breve iniciar um doutorado na área de Letras. Geziel Rocha – entrevista em 07/10/2014 Você é formado em que ano? Eu me formei em abril de 2002, porém eu sou da turma de 2001, turma originalmente prevista para terminar em 2001. Vindo a me formar apenas em 2002 por conta de duas greves que ocorreram durante o período em que eu estive na Universidade Federal. Onde trabalha atualmente? Teve experiências em veículos de comunicação? Minha experiência com veículos de comunicação, mesmo após mais de doze anos de formado, é muito limitada. Eu fiquei três meses trabalhando em uma revista impressa de Campo Grande, a Metrópole, que não existe mais. E, depois, quatro meses nas funções de repórter especial e editor de economia, mundo e agronegócios do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul. O restante da minha vida profissional foi dividida em trabalho na comunicação interna do Governo do Estado, assessor de imprensa parlamentar, na Assembléia Legislativa. Depois eu fiquei mais de dois anos fora do Brasil, morando na Europa, não exercendo atividade de Jornalismo. Quando eu voltei
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para MS, trabalhei no jornal e logo em seguida assumi a função de chefe de comunicação aqui da Prefeitura de Corumbá, fazendo comunicação institucional em órgão público. Atualmente, eu trabalho na mineradora Vale aqui em Corumbá, ocupando o cargo de relações institucionais para o MS na empresa. Eu me divido entre Corumbá e Campo Grande, fazendo relacionamento institucional da empresa nos dois municípios, Corumbá e Ladário, quanto juntamente ao Governo do Estado em Campo Grande. Eu assumi a função em que estou hoje, fazendo relacionamento institucional sem nenhuma conexão, portanto, com veículos de comunicação ou mesmo com qualquer prática jornalística. Eu digo isso porque eu não considero o período em que eu estive em assessorias de imprensa ou comunicação como uma prática jornalística. Eu sou da opinião de que as assessorias de comunicação ou imprensa não são Jornalismo. São funções e profissões perfeitamente exercidas por jornalistas. Eu entendo que são os profissionais mais qualificados para exercer essas funções, porém não as considero Jornalismo. O que te motivou a fazer Jornalismo? Eu acredito que é o que motiva a maior parte dos jornalistas, das pessoas que gostam e fazem Jornalismo. Sempre gostei muito de escrever, tive muita facilidade, eu acredito que uma espécie de dom natural para escrever. Uma paixão muito grande pela possibilidade de contar histórias de pessoas simples e humildes principalmente. Também, uma vontade de contribuir com a sociedade em termos de tentar mostrar aquilo que eu via que estava errado. E também um desejo intrínseco de viajar, de conhecer outros cenários, outras culturas, outros ambientes em geral. Gostando de escrever, gostando de experimentar novas culturas, enfim, adquirir sempre mais conhecimento sobre coisas diferentes e não fazer a mesma coisa sempre. Essa, pelo menos, era a ideia inicial. E, também, gostando muito de contar histórias. Eu, na verdade, sempre quis ser jornalista. Desde dez, onze anos de idade, eu me lembro, que comecei a pensar em exercer uma profissão. Eu já pensava em ser jornalista, já tinha fascínio pela ideia que eu tinha, na época, do que era ser um jornalista, que eu acreditava ser um profissional que tinha toda a condição de conhecer coisas novas do mundo. Infelizmente, durante o curso, principalmente nos últimos anos, a gente vai tomando mais consciência do que é a profissão, do que é a função de jornalista, a gente vai observando que não é bem daquele jeito que a gente imaginava. E essa noção vem mesmo quando a gente precisa ganhar a vida. Quando a gente se forma e descobre. Bom, e agora? O que eu vou fazer para ganhar a vida? E aí a gente vê que ser jornalista, na verdade, é muito mais sofrido e muito menos possibilitador de experiências diversificadas do que a gente imaginava. Por isso, eu nunca tive a coragem e disposição de exercer o Jornalismo plenamente. Como era a estrutura física do curso? O que eu me lembro da estrutura física do curso de Jornalismo é que foram quatro anos com muita transformação. Nós tivemos anos bons, anos ruins, anos com péssima estrutura, anos com boa estrutura. Então foi muito variado. Haviam anos que nós tínhamos três, quatro professores doutores excelentes, com grande bagagem. E anos que nós tínhamos quase só professores substitutos, praticamente na mesma condição que nós, recém formados. Então foi muito variado. Nós iniciamos o curso com uma estrutura de certa forma bastante deteriorada, bastante defasada, praticamente sem
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computadores nas redações, embora havia chegado uma ilha de edição de vídeo recentemente, mas ainda era tudo muito arcaico, ultrapassado, porque já se usava o digital e até então tudo era analógico. Mas, de um modo geral, a gente tinha uma boa estrutura de pessoal inicialmente, porque, pelo menos no primeiro ano, nós tivemos bons professores, de muito gabarito teórico, intelectual. Até porque o primeiro ano é todo teórico mesmo. Já no nosso segundo ano, nós ganhamos um laboratório de informática novinho, portanto uma redação novinha. Mas o nível dos nossos professores caiu demais. Nós passamos a ter muitos professores substitutos. Vários professores do curso se afastaram para fazer doutorado ou até foram transferidos. E nós perdemos muito em qualidade da docência do curso. Nosso terceiro ano, um ano inteiramente prático, com muito laboratório de rádio, de TV e redação. O trabalho com o Projétil. E com uma equipe bem entrosada de docentes, formada pelos professores Edson Silva, Mário Ramires e Marcos Morandi, que embora substituto, teve uma boa participação, sobretudo na área de redação para o Projétil. Nós tivemos uma grande condição de aprender muito. Tivemos a possibilidade de aprender muito da prática jornalística. Foi um ano pesado, um ano puxado. A estrutura, embora não fosse tão boa, nos permitiu aprender muito daquilo que a gente precisava aprender para ir para o mercado.E nós tivemos um professor excelente de rádio, chamado Robson Ramos, que embora substituto, era uma pessoa com muita experiência na área, com muita condição de ensino e que nos ensinou coisas fantásticas na área de radiojornalismo. No quarto ano nós voltamos a ter uma situação semelhante a do segundo ano. As matérias voltaram a ser mais teóricas, muita coisa segmentada, como Jornalismo Empresarial, Comunicação Rural, Assessoria de Imprensa, enfim. Muitas dessas matérias eram dadas por professores substitutos. Não havia muita prática. E a maioria de nós já estava com a cabeça no projeto experimental, já estava trabalhando em alguma coisa, naquele clima de saída da faculdade. Mas, mesmo assim, ainda conseguimos fazer um bom ano, fechar o curso de uma forma muito interessante, muito integrada, muito unida e com um grande aprendizado.Portanto, em termos de técnica, eu sempre achei muito tranquilo e acho até hoje o aprendizado e exercício do Jornalismo. É triste saber que basicamente a única coisa que o jornalista precisa saber bem, do ponto de vista técnico, que é escrever bem, a maioria ainda não sabe. Então isso é muito desolador. No entanto, agora quero tocar em outro aspecto, tem dois grandes desafios no meio jornalístico, para fazer um bom jornalista. Eu entendo que o desafio... Antes, poderia falar de um desafio estético, que demanda um certo senso de cuidado, de apuro, de qualificação, de busca por conhecer, por saber melhor, por estar sempre se qualificando. Essa é uma coisa. Quais professores te deram aula? Quanto aos professores, não vou me lembrar de todos, mas alguns que marcaram... No primeiro ano: Ana Lúcia Valente. No segundo ano, nós já tivemos o Edson Silva, Mário Ramires, Jorge Ijuim, Márcio Licerre, Marcos Morandi, que inclusive deu nome à nossa turma. No quarto ano, tivemos professores como Márcia Chiad, Monique Kleim... Teria que ver os arquivos antigos para lembrar de outros, porque já são entre dezesseis e doze anos. Então é bastante tempo para lembrar. Eu fui orientado pelo professor Edson Silva no projeto de conclusão de curso. E, no quarto ano, um professor muito importante que nós tivemos, que eu tive como co-orientador de projeto, o Mauro Silveira, um professor que ficou bastante marcado na história do curso.
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Como foi sua experiência na faculdade? O curso de Jornalismo nunca foi um curso que exigiu muito, em comparação com outras profissões, outros cursos, como as engenharias, medicina, direito, enfim. Foi um curso muito tranquilo, relativamente muito fácil. Eu tive a possibilidade de vivenciar muita coisa. Agora falando por mim, pude fazer muitas disciplinas extracurriculares. Pude fazer, por três anos, iniciação científica. Participar de projetos de extensão. Participar de inúmeros congressos e eventos diversos, tanto na Universidade como fora. Tive a oportunidade de participar de Centro Acadêmico. Tive uma vivência universitária realmente muito intensa. Quais foram os desafios para se aprender jornalismo? O Jornalismo é uma profissão que, do ponto de vista técnico mesmo, exige muito pouco. Eu digo que a obrigação do jornalista é escrever bem, é saber daquilo que está escrevendo e seguir algumas regras muito elementares, como ouvir os dois lados, só dizer aquilo que realmente foi checado e apurado, ter todos os cuidados com o tratamento da informação. Você há de convir comigo que não é nada comparado a construir uma ponte, um edifício ou operar o peito ou a cabeça de uma pessoa, ou mesmo levar uma peça judicial, uma peça jurídica para um tribunal, coisas assim. Não menosprezando a nossa profissão, mas vamos ser honestos que não é lá muito grande coisa. Para mim, aprender Jornalismo, que já gostava de escrever e gostava de contar histórias, não foi muito desafiador. Eu entendo que ser ético é fundamental para ser um bom profissional, para se manter íntegro consigo mesmo. E esse talvez seja o principal desafio, principalmente no que é o desafio seguinte, que é nesse mercado que se tornou extremamente prostituído, destituído de qualquer noção de profissionalismo de valorização, talvez essa seja a palavra. Porque, por mais que seja um curso relativamente fácil, que tenha uma demanda técnica muito inferior às demais profissões mais complexas, mas está extremamente desvalorizado. O profissional de Jornalismo hoje, de certa forma, é visto como quase nada, já que qualquer um pode exercer o Jornalismo. E eu não estou dizendo que isso tem a ver ou não com a exigência ou não do diploma. Para quem realmente quer ser jornalista, quer exercer essa profissão no dia-a-dia e quer se manter ético, é realmente um grande desafio, porque essas coisas dificilmente andam juntas. A situação em que nos colocaram de horas exaustivas de trabalho, de um estresse sobrenatural, tanto que o Jornalismo é constantemente colocado nas listas das profissões mais estressantes do mundo. E a remuneração mais vergonhosa e pífia que existe para uma profissão de nível superior. Tanto que qualquer profissão, hoje, de nível superior, tem uma remuneração, tem um piso maior e uma remuneração média para recém formados e, principalmente, para profissionais mais seniores, muito maior do que o Jornalismo.E, se você me perguntasse se eu faria Jornalismo de novo, eu diria imediatamente: jamais! Porque foi uma profissão na qual eu realmente não me realizei, não me encontrei, não tenho nenhum aspecto que eu possa dizer que valeu a pena. Isso eu estou falando em termos de Jornalismo propriamente dito. Eu não estou falando de outras possibilidades que a Comunicação Social oferece como a Comunicação Organizacional, a Comunicação Institucional em órgãos públicos, enfim, em instituições de um modo geral, o próprio relacionamento institucional, que é a área que eu atuo hoje. Eu entendo que, o jornalista hoje que está disposto a sair da faculdade e se manter como jornalista, para trabalhar nos veículos convencionais ou mesmo nos novos sites, blogs, seja lá o que for, ele está fadado a uma vida de sofrimento e privações. Eu, infelizmente, tenho que dizer isso para ser
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honesto, mas, para mim é isso, uma vida de sofrimentos e privações. Você não tem vida pessoal, você não tem tempo para si mesmo, você não tem tempo para lazer, você não tem condição financeira de viabilizar aquilo que está à disposição, não tem condição de viajar, que é a coisa mais espetacular do mundo. Eu diria: fez Jornalismo, escolheu a Comunicação, então busque os caminhos alternativos que existem. Como eu havia falado dos grandes desafios, o outro é o desafio ético. Eu acho que ser ético e ter a noção da ética no exercício da profissão é muito complicado, principalmente do ponto de vista dos veículos que nós temos no nosso Estado, e, se a gente for olhar de forma mais ampla, em todo Brasil e em todo o mundo. Você, por exemplo, hoje, se sujeitar a escrever para veículos que pura e simplesmente têm o propósito de defender os interesses de seu proprietário, como é o caso do nosso maior jornal do Estado. É uma situação muito complicada e que coloca muito conflito para nosso exercício do Jornalismo ou daqueles que o exercem de fato. Muitos fatos marcaram a minha passagem pela faculdade, é claro. Acho que o que mais chama a atenção foi a união da minha turma. Uma turma que até hoje se comunica constantemente por todos os meios eletrônicos possíveis. Que até hoje se reúne para se confraternizar, para comemorar as datas importantes do curso. E que até hoje se mantém muito conectada. É uma turma realmente agradável, gostosa, harmoniosa. Claro que quebrava muito pau discutindo questões de cunho jornalístico, teórico, político também. Mas que sabia se respeitar muito e conviver de uma forma muito gostosa, muito harmoniosa e unida. Lynara Ojeda – entrevista em 08/10/2014 Formação acadêmica e onde trabalha atualmente? Graduação em Jornalismo pela UFMS e especialização em Linguagem Jornalística pela Uniderp/Anhanguera. Assessora de Comunicação e coordenadora de atividades do Programa Escola de Conselhos e Assessora de Comunicação do Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no Território Brasileiro (PAIR) no Contexto das Grandes Obras, pelo Instituto Aliança e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. O que te motivou a fazer Jornalismo? Minha motivação era a mais superficial e comum de todas! Sempre fui comunicativa, então sempre achei que deveria fazer alguma graduação nessa área. Prestei vestibular para Rádio e TV e para Jornalismo, já que era o único curso de Comunicação na UFMS. Ao passar em Jornalismo, é claro que não tive dúvidas e iniciei a graduação na UFMS. Felizmente, o tempo na Universidade me fez desconstruir toda a idéia superficial que tinha sobre a profissão. Ao longo da graduação me apaixonei pelo fazer jornalismo em sua essência, o compromisso e a responsabilidade social da profissão me fascinam. O fato é que na Universidade pude conhecer e admirar muito o Jornalismo.
Quando você era estudante como era a estrutura do curso, tanto física como pedagógica? Nossa turma (2008) teve muita sorte. A Universidade vinha de algumas greves nos anos anteriores, então lembro que uma turma (do terceiro ano) estava com a grade
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toda atrasada e tals. Mas nós não tivemos esse tipo de problema, nem mesmo com a falta de professores. Tínhamos vários que não eram Doutores concursados, mas no geral tivemos bons professores, mesmo os substitutos. As dificuldades eram mais de estrutura e equipamentos, computadores velhos, máquinas fotográficas antigas. Era um desafio, mas acredito que a turma se virou muito bem nesse sentido. Tinha muita reclamação, é claro, mas não deixamos isso prejudicar a formação da turma. Sempre estive entre os alunos que reivindicavam melhorias para o curso, mas não deixava de lado o foco, que era a formação. Tem algum fato importante/engraçado que te marcou durante a graduação? Vários, mas um dos fatos mais interessantes e importantes pra mim como aluna foi voltarmos a ter um coordenador de curso graduado em Jornalismo. Quando entramos na Universidade há um tempo nosso curso era coordenado por professores que vinham de outras áreas, não estou dizendo que eram ruins, mas acreditávamos que somente um jornalista conseguiria de fato compreender as necessidades que nós acadêmicos tínhamos no processo de formação. Então brigamos para que o novo coordenador fosse jornalista e conseguimos em 2007 (se não me engano) e a coordenação passou a ser da professora Daniela Ota. Quais foram as maiores dificuldades ou desafios enfrentados para aprender jornalismo? Acredito que os maiores desafios sempre foram éticos. Pois aprender a técnica em si é muito fácil e simples. Mas compreender de fato qual é o meu papel e, principalmente, quais são os meus limites enquanto profissional sempre foram minhas dificuldades. Qual foi o tema do seu TCC? Fiz um livro-reportagem em trio (Andressa Domingos de Mello e Luisa Amorim) sobre abuso sexual contra crianças no âmbito intrafamiliar e suas conseqüências na vida adulta, intitulado: Verbos libertos – Relatos de Abuso Sexual. Orientado pelo professor Edson Silva. Como você teve contato com a Escola de Conselhos? Porque optou trabalhar as questões sociais? Meus primeiros contatos com área dos Direitos Humanos foram nas aulas de Técnicas de Reportagem do professor Edson Silva, e de cara me apaixonei, então entre 2006 e 2007 fui voluntária no Caminhos, que era um site laboratório coordenado pelo Esdon e que trabalhava nessa área. Foi ótimo, aprendi muita coisa lá. E em abril de 2007 entrei numa seleção de estágio na Escola de Conselhos. No estágio pude ter contato aprofundado não só com o tema, mas com pesquisas e também com a atuação dos profissionais que atuam na promoção dos direitos humanos. Posso dizer que me descobri. Estou na Escola há 7 anos, e não me vejo fazendo outra coisa. Não acho que escolhi a área, foi ela que me escolheu. Fora que acredito muito na necessidade de termos mais jornalistas atuando diretamente com a temática, de forma aprofundada e responsável. O tema é sério, delicado e exige muito compromisso. Trabalhou em algum outro veículo, meio?
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Sim, trabalhei paralelamente durante 18 meses no Jornal de Domingo. Foi uma experiência interessante, era bem diferente, mas foi o suficiente para perceber que enquanto eu puder, continuarei atuando na área dos Direitos Humanos. As limitações da universidade te prejudicaram na profissão? Não, muito pelo contrário, por mais clichê que pareça, as dificuldades te tornam mais “safo”, sabe? Fora que você aprende a encontrar alternativas com mais facilidade, você precisa se virar e se vira. Entrei no curso de Jornalismo da UFMS há 9 anos e desde então conheci mestres incríveis. E também encontrei pessoas que se tornaram amigos pra vida toda, presentes maravilhosos que agradeço todos os dias por tê-los comigo! Mas foi no Jornalismo também que descobri minha vocação, minha luta. Descobri que o exercício responsável e ético da minha amada profissão pode ser transformador, libertário, humano... Descobri que ser jornalista vai muito além de saber fazer um textinho redondinho, com bom lead, um gancho bacana, ser jornalista é a busca eterna pela mudança, pela transparência, pela cidadania, pela igualdade, pela garantia de direitos. Sou muito abençoada por ser jornalista e ainda mais por poder fazer do jornalismo um instrumento singular na construção de um mundo mais justo. Isso tudo só foi possível por eu ter passado pelo Curso de Jornalismo da UFMS, tenho certeza! Mauro César Silveira – entrevista em 12/10/2014 Atualmente, leciona qual (quais) disciplinas na UFSC? Atualmente, ministro as disciplinas História do Jornalismo e Redação VII na graduação e Os primórdios do jornalismo nos países do Cone Sul na pós-graduação (Mestrado e Doutorado). Também coordeno o Grupo de Estudos de História do Jornalismo na América Latina, que integra o Diretório do CNPq. O primeiro contato como professor foi na UFMS? Sim, minha primeira experiência como docente foi no curso de Jornalismo da UFMS. Qual foi a maior dificuldade que o senhor enfrentou nesse período? A falta de infra-estrutura foi o maior obstáculo nos primeiros anos. Mas superamos alunos e professores - as deficiências com garra e determinação. Ainda lembro que a primeira edição do Projétil gerou muita repercussão em Mato Grosso do Sul, destacando na capa os conchavos entre as oligarquias políticas do Estado. Alunos e professores chegaram a dar entrevista à TV Morena, comentando essa nova opção jornalística em Campo Grande. A improvisada redação, com carteiras apertadas e velhas máquinas de escrever, ficava numa apertada (e quente) salinha ao lado do auditório do CCHS. Lembra-se de algum fato diferente/interessante que tenha acontecido enquanto era professor na UFMS? Foram muitos momentos emocionantes - com muitas conquistas, incluindo os sonhados laboratórios, depois de sucessivas ocupações do curso na Reitoria - e algumas situações pitorescas. Uma dessas cenas engraçadas que guardo na memória foi a reação de alguns professores do CCHS diante da chegada dos quatro primeiros professores do novo curso - na época, eu, o Edson Silva e os já falecidos Mario
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Ramirez e Maria Francisca Marcello, todos jornalistas. Um desses professores chegou a se queixar ao diretor do CCHS naquela época que "o pessoal do Jornalismo não trabalha muito, pois passa o dia inteiro lendo jornal e vendo televisão..." Naqueles primeiros anos, destinaram uma pequena sala, bem no meio do prédio, próxima à direção, onde contávamos apenas com um aparelho de TV e os jornais que levávamos de casa. Como estávamos na mira dos curiosos olhares dos professores das outras áreas, a novidade chamou atenção... Como era estrutura física do curso em 2007? Quais foram as maiores conquistas de espaço que o jornalismo teve enquanto o senhor era professor aqui? Penso que em 2007 a maior conquista em termos de espaço físico foi o laboratório de telejornalismo, que permitia a realização de bons programas veiculados na TV universitária. Embora todos tenham se envolvido nessa luta, destaco o nome dos professores da área, Marcelo Cancio e Ruth Vianna, decisivos para essa conquista. Na entrevista de 2000, o senhor fala do perfil dos alunos, que tinha altos e baixos na participação. Hoje, o senhor acha que esse perfil mudou muito? Não, aqui na UFSC, também o senti o mesmo. As turmas oscilam muito ano após ano. Quando retornei da Espanha, nos primeiros dias de setembro passado, por exemplo, tive uma agradável surpresa, depois de um ano desenvolvendo um projeto de pesquisa de pós-doutorado. O entusiasmo e a participação dos alunos é muito grande, incluindo uma disciplina que às vezes não empolga muitos acadêmicos de Jornalismo como História do Jornalismo. Estou muito animado depois do meu regresso. Afinal, os alunos e alunas são a razão de tudo. Como o senhor recebeu a notícia da queda do diploma? Recebi a notícia da queda da obrigatoriedade do diploma com uma certa indiferença, por mais surpreendente que isso possa parecer. Por um bom tempo, fui um ferrenho defensor da exigência do diploma para o exercício do Jornalismo no Brasil. Mas quando saiu essa decisão e perguntaram minha opinião respondi que a dura realidade das últimas décadas mostrou que, como outros diplomas legais do país, incluindo decisões emanadas da Constituição Federal, a lei da obrigatoriedade do diploma nunca foi respeitada pelas empresas de comunicação, que sempre contrataram pessoas não formadas sob o eufemismo de "estágio", que também era proibido. Então, quando uma lei que não era cumprida caiu imaginei que a situação não mudaria muito, como de fato ocorreu. Os profissionais continuaram sendo muito explorados, a política de "estágios" seguiu firme e a preferência do mercado ainda recai sobre aqueles oriundos dos cursos de Jornalismo. Quer dizer, quase nada mudou. Infelizmente, os empresários de comunicação do país continuam tratando o Jornalismo como um negócio qualquer, sem nenhum compromisso social. Felizmente, as redes sociais e o novo cenário digital permitem outras experiências de Jornalismo, alternativas e colaborativas. Paulo Ricardo Gomes e Waldemar Gonçalves Júnior – entrevista em 13/10/2014. Onde trabalham atualmente? Waldemar: Eu trabalho no Midiamax.
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Paulo Ricardo: Eu atualmente trabalho no Instituto Federal de Educação de Mato Grosso do Sul, sou jornalista concursado e trabalho na AMV Comunicação que é uma agência de publicidade. Porque escolheram jornalismo? Waldemar: Eu sempre gostei, tem essa coisa de ser rebelde e querer mudar o mundo, de gostar de escrever. Encarei e fiz. Paulo Ricardo: No segundo grau, eu tinha uma banda de rock e escrevia letras de música, tinha uma professora na época que ela começou a curtir o que eu escrevia e começou a “pilhar”e dizia “você tem que fazer jornalismo ou letras...” E aquilo ficou na minha cabeça, na época eu não queria fazer nada, tanto é que eu fiz o primeiro vestibular pra odontologia, e tinha tipo, 40 por vagas, e falei “não vou passar mesmo, mas pelo menos eu não passo bonito!”. Mas a ideia do jornalismo ficou martelando, martelando... E até que fiz, curti, e estou ai. Como vocês se lembram da estrutura física e pedagógica do curso? Waldemar: Deve ter algumas coisas que vocês devem brigar até hoje. Quando vocês me falaram que faz 25 anos e quando a gente se formou o curso tava completando 10, eu tomei um susto. Na minha cabeça não passou 15 anos. E antes da gente começar aqui eu fiz um tour ali pelas salas e, pra fazer um comparativo, as coisas estavam começando de alguma forma, a internet tava chegando, o laboratório da TVU, tinha um vice-reitor, que por alguma coisa que interessava à ele, ele investia na TV. Então tínhamos uma verba extra direto da reitoria pra TVU. Paulo Ricardo: Foi nosso primeiro emprego. Waldemar: É, de alguma forma. Foi meu primeiro estágio e na assessoria. Então eu lembro que as coisas estavam começando, que estavam comprando equipamentos, era essa briga. Uma briga pra melhorar os equipamentos, pra melhorar a estrutura. Não sei se isso acontece hoje, mas tinha muito professor que não parava. Vinha, ficava duas semanas e ia fazer doutorado na Cochinchina. Depois ele volta e vai fazer pósdoutorado na Cochinchina do Sul. Ficava aquela coisa do curso meio abandonado. E tava começando a estrutura, como na TVU. Por outro lado, tinha uma energia muito legal, um povo muito bacana. Veteranos e calouros que a gente olha com muito carinho. A gente tinha professores que eram dedicados, tinha essa turma bacana e a estrutura, era bem deficitária, mas a gente teve oportunidade de fazer muita coisa bacana. No primeiro ano, eu fiz um trabalho na rádio, totalmente calouro, chamava “Barulheira”, era muito legal. A gente fez outros programas de rádio, a gente viajava pro Pantanal. Fazia trabalhos lá... O curso era capenga mas era legal. Paulo: Eu acho que eu o Waldemar era um pouco exceção na turma porque a gente tava sempre interagindo com alguma coisa. TVU, rádio universitária. Waldemar: As calouras... (Risos) Paulo: A gente teve uma turma boa. Nossa turma entraram 48 e formaram 50. Agregaram mais 2. E ninguém desistiu. Nossa turma teve índices de desistência muito pequena. Era muito ligada, as aulas eram legais, pela turma. Isso foi construindo. Waldemar: A nossa turma era legal porque era uma turma muito misturada. Tinha gente de todo tipo. Tinha caras mais velhos, mais convencionais, galera mais maluquinha, as patricinhas... Era bem misturado, isso tornou nossa turma bacana.
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Paulo: Uma das coisas que eu me lembro, era fazendo Projétil, nossa turma fez 4 edições na raça. Eu lembro que eu e o Éser Cáceres, a gente chegou na redação, tinham 5 computadores e nenhum deles funcionava. A gente desmontou e colocou 3 pra funcionar pra conseguir diagramar o jornal. Waldemar: Eu vejo hoje o número de sala que tem aqui, departamento específico, são coisas que não tínhamos na época. Era gambiarra pra fazer o jornal, era na garra, na raça. Mas já tinha algumas coisas. Com certeza, as turmas precedentes eram piores. Paulo: Se vocês estão analisando o histórico e pegaram nosso trabalho, o pessoal antes da gente não tinha nem como fazer jornal, TV muito menos. Uma colega nossa que contou que a primeira passagem dela, fez com uma caneta Bic, pra simular. Então as deficiências na época não impediam de aprender jornalismo? Paulo: Eu tenho uma teoria sobre isso. Depois que a gente foi pro mercado, eu comecei a perceber que quando eu precisava contratar pessoas, as que vinham da Federal, elas estavam mais acostumadas a resolver problemas. Acaba sendo o que o mercado precisa. Pessoas que vem de outras universidades com mais estruturas tinham conhecimento, mas na hora que as coisas apertavam, você precisa ser rápido, trazer soluções pro seu editor. Waldemar: Existe uma coisa que é a academia e existe uma coisa que é a realidade. São coisas completamente diferentes. Aqui me deu alguma base, alguns conceitos, noções que eu carrego até hoje. Mas eu aprendi a fazer jornal, a executar jornalismo na rua, não foi aqui. Aprendi no dia-a-dia e conhecendo o mercado. Existe uma distancia gigantesca entre o que faz aqui e lá fora. Vocês trabalharam com impresso, TV? Paulo: No terceiro ano o Waldemar já estava na Folha do Povo. Waldemar: É, eu comecei a trabalhar em jornal impresso, de internet também, fiquei 8 anos trabalhando fora do jornalismo mas trabalhando com texto, com redação. E depois voltei pro jornalismo. E ter um diploma da Universidade Federal, pelo peso da instituição, é uma porta gigantesca aberta ai fora. E o nosso mercado parece pequeno, mas as possibilidades desse pequeno são muito variáveis. A universidade é fundamental, mas existe uma distância muito grande entre a exigência do o mercado e a prática enquanto formação. Paulo: Eu só não trabalhei em rádio. Trabalhei em todas as TVs, no jornal O Estado, no Midiamax, assessoria, faço até hoje. Quando eu sai da universidade, meu primeiro trabalho foi na Tv Educativa, uma baita de uma escola, depois pra TV Campo Grande, fui pro Mato Grosso, trabalhar na Centro-América. Vocês já haviam retornado a universidade depois da graduação? Waldemar: Hoje, eu acho uma injustiça eu falar mal de qualquer coisa da época. Talvez , na época, você quer mais pra se formar e tal. Hoje, eu to fazendo uma matéria e lembro de um lance que um cara falou pra mim, e essa turma, essa energia, os professores que estavam, tentavam, o Marcio, Jorge, Mauro.. tantos caras bacanas que deram aula pra gente. Deve ter problema até hoje... Mas na minha época, o maior problema além de estrutura e de corpo docente era a distancia que existia pro mercado.
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Paulo: Esse distanciamento, eu acredito que tem porque os estagiários que passaram por onde eu trabalhei, tinham a mesma postura de quando a gente saia da faculdade. Vocês percebem que o perfil do acadêmico de jornalismo mudou? Waldemar: Tudo mudou. Acho que foram 15 anos de mudanças muito grandes . O nível de acesso a informação que tem é muito maior. Qualquer pessoa tem no mínimo todas condições de ser bem informada. Isso é importante pro jornalismo, e já muda o perfil. Paulo: E pesquisa, o Google ensina a fazer. Se o cara não chegar com algo mais... Waldemar: O que eu vejo é o jornalista se adaptando às novas mídias, qualquer cidadão faz um blog e posta a opinião dele, e isso vira informação. Ele ta fazendo o que a gente faz? De certa forma sim. Então, onde que a gente tem que fazer diferente? Acho que o perfil obrigatoriamente tem que ser diferente. Hoje, a gente tem mais ferramentas pra lidar com a informação, não tem nem como ser igual na nossa época. Na minha opinião, a grande deficiência é o básico. É saber escrever. Tem que saber onde é o começo, o meio e o fim. Paulo: E ter o mínimo de argumentos pra fazer um começo diferente do convencional. O que vocês se lembram do TCC? Paulo: Eu lembro que a gente teve a ideia, sabia que o curso ia completar 10 anos e foi o resultado de meio que uma indignação, “pô, não vai ter nada de 10 anos do curso? Vamos fazer alguma coisa.” Waldemar: A gente tinha tanto envolvimento com o curso, brigou por tanta coisa, curtiu tanta coisa que é uma relação amor e ódio. A gente trouxe muito disso enquanto estava escrevendo. Paulo: A gente tava escrevendo a biografia de um parente. Waldemar: Me lembro que isso foi ressaltado na banca, os dez primeiros anos. Paulo: A primeira década. Waldemar: Essa imagem da capa foi um amigo meu, o Israel. Isso era a porta do departamento.Ele fez a capa e ajudou a gente na diagramação... Paulo: A gente procurou, procurou e de repente, a porta do departamento! Waldemar: Tem muito dessa relação próxima que a gente teve com o curso. Paulo: A coisa foi surgindo, a gente foi orientado pelo Edson e pela Alda, me lembro que essa parte do planejamento a gente até apresentou, porque tinham fichas de planejamento, fichas de entrevistados, a gente catalogou tudo, era tudo documentado em vídeo.Waldemar: Lembro de um termo que a Alda falou na nossa apresentação, que eu achava que ela tava criticando a gente, mas ela tava elogiando, a gente usou ironia socrática. Se hoje a gente fosse editar, faria muita coisa diferente. Tem muita essência na forma como a gente via as coisas. Paulo: A gente tomou esse cuidado de trazer a característica do personagem para o título. Waldemar: A gente poderia ter pesquisado mais. Mas por a gente ter entrevistado N pessoas, ficou uma coisa documental, de relatos. Mas não teve caráter “fuçador”. A gente cortou umas madrugadas fazendo isso, as entrevistas eram à noite. Paulo: A gente decupou entrevista de madrugada e no meio do trabalho eu tive uma crise de criação, não conseguia escrever.
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Waldemar: O nosso trabalho traz esse “push” juvenil e amador. Não tinha como ser diferente. Hoje seria uma outra história. O levantamento histórico que vocês conseguiram foi entrevistando reitor e etc ou documentado pelo Edson? Paulo: Foi em tudo, o Edson, todos os alunos ajudaram a gente... Waldemar: O Edson era o presidente do Sindicato dos Jornalistas na época. O cara sabia muito, e até por isso ele foi nosso orientador. Ele falava, entrevista fulano, entrevista ciclano. Paulo: Uma coisa que eu me lembro é que ele nunca falou faz assim, faz assado... Ele dava orientação para você fazer o seu caminho. E na época eu ficava puto, que eu chegava com um monte de dúvida e eu queria que ele me respondesse e ele me dava os caminhos. Waldemar: A gente não tinha toda essa noção do que tava fazendo, tinha algumas, lógico. Mas eu tinha muito essa visão de que era um documento que depois alguém ia ver. Paulo: Quando vocês me contataram eu disse: Ufa!! Alguém viu! (risos) Waldemar: Tem que ter um documento que conte com riqueza de informação o que acontece aqui. Essa noção a gente tinha. Paulo: Essa foi nossa indignação. Tem que ter alguma coisa, com 10 anos de curso e o pessoal que já viveu, que não viveu, como é que isso vai ficar registrado? A gente discutiu isso altas vezes. Waldemar: A gente pensava, “esse curso forma gente que é boa pra caramba”, “a gente tem que entrevistar esses caras, porque se eles conseguiram, a gente também vai.” Era muito latente essa história do curso, de como surgiu, como influenciou o mercado. A gente praticamente não tinha concorrência, o curso da Uniderp tava começando. Paulo: A gente via um pouco mais. A gente comia bandejão no RU, tinha acesso aos professores no corredor, com os alunos antigos, trocava ideia, não é todo mundo do curso que teve essa vivência. Waldemar: Eu vivi muito isso. Meu primeiro estágio foi na assessoria da universidade, trabalhando com jornalismo científico e com TV. A gente tinha um programa chamado Quark, que é uma partícula pré-átomo que dá explosão e origem das coisas, que era feito com supervisão da assessoria, departamento de comunicação da universidade. Aproveitei bastante. A gente percebe que essa é uma característica dos ex-alunos, eles contaram muito isso, que viajavam, que professor levava os alunos pra base do Pantanal... Waldemar: Eu fui muito pra base, aquele lugar é genial, tem uma estrutura incrível, acredito que eles devam ter mantido e melhorado. Eu era completamente urbano, comecei a me ligar em natureza quando comecei a ir pra lá, na vivência, comecei a aprender... Eu lembro que a gente foi com o Cancio. Paulo: Com a turma a gente foi com o Cancio e com a Alda. Mas como a gente trabalhava na TVU, a gente ia sozinho com a equipe da TV, a gente ia fazer matéria, reportagem... “É melhor você ter um lado que fingir que é um jornalista imparcial. Porque tem gente que recebe dinheiro por baixo do pano e quando aparece na mídia é o cara imparcial. Prefiro trabalhar com assessoria por isso.”
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Que critério vocês usaram pra escolher as fontes? Paulo: A gente tinha meta, de pegar 3 egressos por ano. A gente tinha esse lance de procurar as pessoas certas, mas teve uma época que a gente não achava as pessoas certas. Waldemar: Normal, é claro que procura as pessoas referências, é tão natural quanto impossível. Paulo: Na época isso ajudou a gente a tirar o melhor de cada entrevistado. A gente tinha o planejamento, e quando não dava certo a gente acabava procurando tirar o melhor do entrevistado. Waldemar: Tinha ícones, mas a gente procurou diversificar. A gente procurou trazer a história desses caras. Vocês entrevistaram todos os professores que deram aula pra vocês ou pesquisaram os que já tinham passado pelo curso? Paulo: Não lembro se teve critério. Lembro que tinha uma professora que tava fazendo doutorado na Espanha e quando ela chegou ficou brava que não tava no livro, a Ruth. Waldemar: Tinham os professores que eram lendas, que estavam fora... Eu gostei da parte que eu sentava na frente do computador e escrevia. Paulo: Era assim, “Paulo, faz p planejamento”, eu fazia. “Paulo faz o texto, eu congelava.” Eu lembro que falaram 10, 10... e a gente não esperava. Eu não consegui dormir depois do 10. Waldemar: Foi todo esse perrengue, fazia o livro de madrugada. O Paulo tem uns métodos muito f*das. A correria toda quem fez foi ele. Foi legal porque na apresentação os professores começaram falar com garbo e elegância. E a gente pensava, que iam f**er com nós. Paulo: E a gente só pensava “̈%$#$”. Waldemar: Lembro de uma que a Alda mandou uma que até hoje eu lembro. Ela mandou uma correção ortográfica sobre o uso da palavra onde, no lugar de no qual. Na nossa apresentação. E nunca mais esqueci disso. Pensavam em dar continuidade, manter o projeto? Paulo: A gente tinha ideia que era importante e que em algum momento ele seria retomado. Depois que a gente acabou, nunca pensei vou fazer um mestrado, um doutorado baseado no TCC... Mas a gente tinha noção da importância histórica e do peso que ele tinha pro curso, justamente por essa dificuldade que vocês têm hoje, achar ata de criação, achar foto de reunião do curso. Tem tudo isso no nosso trabalho. A gente conseguiu um material bem bacana. A gente sabia que naquelas páginas, esses documentos estariam preservados. Daqui 25, 30 anos alguém ia dizer que tiveram dois malucos que fotografaram uma porta e pá de coisa legal nesse caderno. Waldemar: Quando a gente começa a falar a gente começa a lembrar tanto coisa. Paulo: A gente tocava música em fita cassete. Houve algum fato que vocês apuraram durante a pesquisa e que não puderam colocar no livro? Paulo: Não havia censura.
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Pensavam em voltar à UFMS? Waldemar: Em 2012, eu vim receber o Prêmio de Jornalismo das Águas Guariroba. O maior defeito que a profissão tem, é que você é formado pra ser empregado, não pra ser um empreendedor. A profissão peca nesse sentido. Paulo: Na nossa época a gente já discutia isso. Quando eu fui ser chefe de assessoria de comunicação, não tinha noção nenhuma de chefia. A criar demanda, meta, objetivo, relatório, coisa que a gente não tinha na universidade. A gente foi editor no online, no impresso. Waldemar: O mercado sempre tem lugar pra quem é bom e tem vontade de ser bom. Marcelo da Silva Pereira – entrevista 13/10/2014 O que você se lembra da sua época de graduação? Existem duas coisas no Jornalismo: a primeira é a história e a segunda são as estórias. Das duas partes, eu passei por bastante delas, ou pelo menos por algumas marcantes. Com relação à história do curso, o que me marcou muito foi a falta de estrutura. Eu fui um dos caras que não abandonou o curso. Eu terminei o curso e continuei frequentando a UFMS. Um pouco antes também de entrar no curso, eu já frequentava a UFMS. Não exatamente no Jornalismo. Mas depois que eu me formei em Jornalismo, eu continuei vindo aqui. Tanto é que o pessoal falava que eu era do quinto ano de Jornalismo. Na época não era seriado por semestre, era por ano. Depois de um tempo, havia uma pós graduação também que eu acabei acompanhando. Apesar de não ter feito, eu acabava acompanhando por outros motivos. E mantinha uma relação de amizade com outros colegas. Esse tipo de coisa fortaleceu muito. A relação de amizade com as pessoas. Não que eu fizesse da Universidade um lugar para convívio social, mas naquela época esse convívio era mais facilitado. As turmas não eram divididas. Todas as aulas eram todos juntos, exceto rádio e TV. Tirando essas duas disciplinas por conta do laboratório, todos os alunos ficavam na mesma sala. Então fortalecia essa questão da turma. As pessoas adotavam camisetas como uniforme. O fato de ficar mais localizado em um bloco facilitava para as pessoas se conhecerem. Então desde o primeiro ao quarto ano as pessoas se conheciam. E foi desse jeito que eu acabei conhecendo as outras pessoas. E a coisa que mais me marcou no curso, primeiro: foram os melhores anos da minha vida, sem sombra de dúvidas. Na graduação e até nesta história recente, eu acho que tive um período mais legal na minha vida e não consigo dissociar da UFMS hoje, mesmo sendo mestrando aqui da UFMS. Outra coisa que me marcou bastante foi a questão da rádio. Porque a rádio era um negócio que estava parado, os veteranos nossos tentaram tirar do papel. Mas a figura do estágio, o mercado de trabalho tinha mais vagas do que tem hoje, não que fosse mil maravilhas, mas tinha mais vagas. Acadêmico que era bom no estágio, os caras contratavam como jornalista. Não importava se tinha ou não diploma. E aí tinha um monte de gente fazendo exercício ilegal da profissão. Lembrando que o curso era noturno e as pessoas trabalhavam de manhã e à tarde. Então, de manhã e à tarde tinha que tocar a rádio. O pessoal falou assim: “vamos chamar os calouros”. Aí eu, o Éder e a (?) fomos chamados pelo professor Márcio, pelo Edson Silva. E eles falaram assim: “o que vocês acham de tocar a rádio? Têm uns veteranos que tocam, mas a gente quer que vocês fiquem”. E naquela época o assédio do mercado de trabalho existia. Para quem estava
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no segundo, primeiro ano não era tão forte. O jeito que eles (?). “Vocês vão levar a sério?“. Falei vamos levar a sério, mas a gente quer levar a sério para oficializar a rádio, que é uma concessão, poder ampliar o sinal para a cidade inteira e tal. Naquela época não tinha FM Uniderp e nem UCDB. E a gente foi trabalhando para fazer isso. Montamos um projeto. O projeto, ele foi aprovado só em uma primeira parte. E daquelas que alguém senta em cima e não toca para frente. Porque é um projeto caro, uma rádio é uma coisa cara, apesar de ser um veículo mais barato. Na época, a UFMS era uma pindaíba sucateada. Ninguém queria tocar uma rádio. Onde você vai colocar uma rádio aqui dentro? E aí conseguiram duas bolsas. Era uma bolsa milionária de cento e vinte e quatro reais. Duzentos e poucos reais divididos por dois. Era informal o negócio. A gente recebia a bolsa. Um mês eu recebia e passava a metade para o Éder, outro mês ele recebia e passava a metade para mim. Umas gambiarras loucas. E aí a gente começou a tocar a rádio. A gente viu, dentro do Jornalismo, quem queria tocar a rádio com a gente. A gente viu que não dava para preencher. Por que? Trazer o acadêmico de Jornalismo da noite para fazer programa de manhã era muito difícil. Tinha seis só que conseguiam vir de manhã aqui porque morava perto ou porque o pai trabalhava perto e pagava carona. E à tarde já tinha um pouquinho mais, principalmente depois das três, porque o povo vinha para o programa cinco, seis horas e ficava direto para a aula. O que aconteceu? Eu falei ó, professor Márcio, não dá para ficar tocando só com esse pessoal aqui e o Robson Ramos que era o professor de rádio da época. Para a rádio ficar no ar com programa, a gente tem que abrir para os outros cursos. “Ah, mas não sei o que”. Eu falei assim dá porque se a gente fizer isso vai integrar. E aí eu, o Fernando e o Éder... O Fernando hoje é professor de matemática lá na Bahia. Ele não é professor de matemática, ele tem uma loja em um shopping de brinquedos matemáticos lá na Bahia. Aí falei assim olha, vamos fazer isso aí com os outros cursos. Demorou. Aí falou assim “Não, não pode porque tem que ter alguém que oriente”. Aí eu falei assim bem, eu vou ficar meio período, o Éder vai ficar no período da tarde, então a gente coordena os trabalhos. Não pode deixar o acadêmico de outro curso querer mexer na mesa e tal. Então, desde o começo, era o acadêmico que mexia na mesa. O técnico de som “ó, o transmissor está alto”. Ele só falava isso. E às vezes nem isso. No meio, a gente entrava na rádio e ele já saia pelo corredor, conversando. E aí aconteceu que a gente abriu. E os primeiros cursos que eu lembro que vieram foi o Física, eles tinham um programa muito legal que tocava essencialmente rock e blues, que se chamava Física Ótico. Era um programa muito bem ouvido e vou explicar por quê. Eles tocavam ao vivo? Era. Só que eram dois caras. Um era o Sassá e o outro era o Buzi. O Buzi que traziam os caras para tocar ao vivo. Eram dois programas da Física. São pessoas que eu lembro. Alguns programas tinham seis pessoas. Medicina tinha dois programas. Um era Vísceras, o outro eu não lembro o nome. Cada um dos programas, um era seis e o outro tinha oito acadêmicos. Era onze horas o programa deles. Era justamente onze horas, meio dia, os horários que ninguém queria. Mas era o horário que dava para eles saírem do HU, vir para cá a pé e tocar o programa de rádio. Então chegavam os caras todos vestidos de branco, tocavam suas músicas, faziam seus comentários, davam dicas de saúde. Era muito legal. Alguns faziam entrevistas. Quando tinha algo muito espetacular, de difícil compreensão. Teve um pessoal de Letras com um programa à tarde que comentavam livros do vestibular, sabe? Dava dicas. Você que vai prestar
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para ser acadêmico de tal coisa, na prova de literatura, prestar atenção, Machado de Assis faz parte desse movimento e não sei o que a semana de vinte e dois. Então tinha essa contextualização muito legal. Era muito bem trabalhado esse tipo de questão. A gente ajudava na produção disso aí. E tudo era muito artesanal porque a UFMS não tinha tanto computador. A rádio mesmo tinha um computador só. Quase não tinha CD. No segundo ano só que o computador foi tocar mp3. O cabeamento da UFMS era fibra ótica, era muito rápido para a época, comparado com outros lugares. A gente usava o Napster para baixar música. Quando entraram os principais que eu falei, Medicina, Engenharia, tinha outros e, lógico, do Jornalismo, tinha o pessoal do Mix Total, que era um pessoal da minha turma com umas veteranas, que era um programa de manhã com notícias de variedades e música. Mas, os programas de Jornalismo, muitos com Jornalismo mesmo. Tinha um programa esportivo, Chega Chipa, ele era um programa que era antes do horário da aula, o último programa, era seis horas da noite e acabava às sete e sete horas começava a aula. O Chega Chipa era essencialmente esporte e algumas notícias vinculadas a esporte e cultura, mas o foco dele era de esporte. Eu não vou puxar a sardinha para mim, mas já puxando, um dos programas mais marcantes também, que na época todo mundo conhecia, era o Já Basta. Porque a gente fez o seguinte, a gente fez um mutirão com o pessoal da exatas, porque eles tinham um projeto de ficar com um programa, mas ia dar briga entre duas turmas que queriam. E aí a gente abriu um terceiro horário. Os dois que queriam ficariam com o horário. E o terceiro horário se eles pegassem as caixas de som e consertassem. Além deles consertarem as caixas de som, eles pegaram a antena da rádio e levantaram. Aí começaram as nossas dores de cabeça. Por quê? Teve gente que fez um flyerzinho bem pequeno. Tinha show no Fly que vinha lá, apoio Rádio Alternativa 107,7, a rádio da UFMS. Aquilo começou a ficar maior do que a gente dava conta. Por quê? Porque o sinal começou a pegar no Noroeste, no Nova Lima, começou a pegar no Itamaracá. Tinha um programa de um menino da Artes e outro de Matemática, eles até estão por aí ainda, era um programa de rap. Eu não lembro de qual bairro que os caras eram, mas eles estavam tocando uma banda de rap, e os caras do bairro muito longe, tipo Nova Lima, para lá do Nova Bahia, Novos Estados, aqueles Bairros (?) Estrela do Sul ou Estrela Dalva, não lembro. Os caras eram daquele Bairro. Eles escutaram e ligaram na rádio, falou valeu por estar tocando nossa música e não sei o que não sei o que lá. Aí começou a ligar gente do Recanto dos Pássaros, Coophasul. A rádio começou a pegar em Campo Grande inteira e é óbvio, não vai ficar só o pessoal que escuta a Rádio Alternativa. E naquela época não existia o search do rádio digital, o povo girava o negocinho. Então tinha programa de MPB e os caras achavam que estava tocando a 104, que é a FM Educativa. Começou a dar essa coisa de estar interferindo na 104. E de ali a pouco, quem que tinha a maior audiência, na época? A Rádio Ativa. Foi antes de ser Ativa Gospel, que era a 102.7. Começou a ter essa... Eles falarem que estava entrando e tal. Em um evento a gente até encontrou os caras e falou que não estava entrando. A partir daí foi um passo para começar uma série de denúncias. Quando começou essa série de denúncias era porque o transmissor estava transmitindo para além daquilo que era permitido. Queriam colocar regras nas rádios comunitárias, mas não era uma rádio comunitária, era uma rádio universitária, mas não tinha no papel dizendo que era universitária, era só uma concessão de uma rádio educativa.Essa rádio funcionava o dia inteiro nos corredores?Ela funcionava nos corredores praticamente o dia inteiro. Sete da manhã o técnico chegava, ligava o som para tocar música. Oito
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horas eu entrava com o primeiro programa. Nove horas vinha o Mix Total. Era das nove às onze. Às onze horas entrava o Já Basta. Meio dia o técnico saía. Ele saia onze horas e eu ficava com a chave até meio dia, trancava o laboratório, e o Éder vinha depois. Ou ele vinha meio dia e meio, às vezes atrasava e tal, e a gente passava a chave um para o outro. De meio dia até uma hora era só música que estava tocando. Quando era por volta da uma e meia, acho que duas horas, o Éder entrava com o programa dele. E aí começava outros programas da tarde até as dezenove horas. Alguns dias, se não me engano era terça e quinta, tinha aula de rádio para algumas turmas. Tinha professor que dava aula ao vivo. O professor pegava o microfone e começava a dar aula com os alunos. Era o Robson Ramos totalmente louco. Ele dava aula ao vivo. Hoje, engraçado, quando eu dou aula de rádio, eu fico impressionado como os alunos têm medo do ao vivo. E equipamento da época, tudo muito rudimentar, tudo muito rústico. Eram dois decks de K7 e dois decks de CD. Depois, um pouco mais para frente, teve a saída do computador. Só que era só saída, não dava para montar nada no computador. No máximo você colocava uma playlist de mp3 e ficava play, pause, play, pause, abrindo o microfone e tal. Foi super legal. A gente trouxe Chico César para entrevistar. Alguns políticos a gente trouxe, deputados, vereador, secretário de Estado. Teve um cara do MEC uma vez, eu não lembro qual era exatamente o cargo dele no MEC, mas o cara foi entrevistado. E a gente trazia pessoas assim, que eram importantes. A gente fazia um trabalho, por mais que fosse alternativo e experimental, era uma coisa que era experimental no sentido de era Jornalismo, era experimental porque a gente fazia coisas que eram formatos que ninguém adotava. Mas era puramente jornalístico. Essa, para mim, foi a maior contribuição. Permitiu a experimentação para além de alguns formatos. Você hoje tem muita coisa assim, o cara pega o microfone e quer imitar o Galvão Bueno, o Sílvio Santos, o Sílvio Luiz. A postura do cara na mesa é parecida com fulano. Sempre tem essa influência, mas é sempre perto de um padrão, um padrão da massa. E aqui a gente tinha muita liberdade para criar. O Já Basta, por exemplo, era um formato que eu nunca vi. E na época a gente criou uma rede de contato com outras rádios universitárias de outros lugares do Brasil. E alguns são amigos meus até hoje. O Paulão, a Larissa, que era da Brasil Dois Mil lá em São Paulo, outros que eram da faculdade Cásper Líbero, perdi um pouco de contato com o pessoal que era da UnB e da USP, pessoal da Federal de Minas Gerais. A gente foi trocando ideia por e-mail, ficava sabendo de evento, não vai dar para a gente ir mas conta o que vai ter nesse congresso e tal. E aí a gente foi trocando esse tipo de informação. Aí sim já tinha internet. Quando cresceu muito essa coisa de ampliar o sinal, foram alunos mesmo, isso aí não foi professor. Pelo contrário, o Márcio Licerre no começo deu apoio, mas depois ele viu que o troço virou uma bola de neve que ele não aguentava mais segurar. Tomou uma proporção gigantesca, muito grande. Quando foi uns tempos depois. Em 2000, foi a primeira vez moderna, vamos dizer assim, que o transmissor foi lacrado e a gente falou pô, o transmissor foi lacrado. E aí conversaram, beleza, dois, três dias depois, estava tudo normal. Voltamos dentro daquela coisa. Abaixa a antena, vamos colocar dentro da regularidade. Mas não demorou muito, mesmo com a antena baixa, começou a interferir em outros bairros. As reclamações continuaram e a fiscalização em cima da gente sempre era muito grande. Não era só questão de rádio. Estágio... Era uma perseguição terrível. Você tinha medo praticamente de atravessar a rua e ir no Atacadão, que não era aqui, era lá onde é o Filizola hoje. Era complicadíssimo, entendeu? Parece que a mentalidade aqui, nos anos
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90, era dos anos 70 nos grandes centros. Ditatorial, enfim. Depois de um tempo, a gente continuou e teve mais uma vez que... Acho que nessa época já era Anatel... Veio para lacrar de novo o aparelho. Só que eu não sei porque cargas d’águas eles tinham feito dois transmissores, um conectado no outro, mas um não funcionava, e eles lacraram o mesmo daquela vez, só que era o que não funcionava. Eles vieram na hora do almoço e só estava o técnico. O técnico tinha saído, o Éder não tinha chegado, eu tinha saído. E foi quando eles lacraram o transmissor mais uma vez. Só que aí foi simples, foi só tirar um cabo, colocar no outro e continuamos tocando a rádio. Fora isso, teve uma época que o transmissor, um pouco antes, o transmissor ficava no carro. A gente levava os cabos todos até o estacionamento e o transmissor ficava no estacionamento no carro de alguém. Se a Anatel chegasse, a gente saia correndo com o transmissor. Era muita loucura. Aliás, até se acontecesse isso, eu não sei como seria. Os caras estão chegando, a gente sai correndo, solta os cabos. Mas é da época. Era aventura. Tinha o seu lado maduro de fazer Jornalismo, um produto de boa qualidade. Mas ao mesmo tempo tinha uma inconsequência do tamanho do mundo. Depois dessa época, teve mais uma vez que o transmissor explodiu. Final de 2000, o transmissor explodiu dentro da rádio. Eu cheguei e tinha pó de extintor de incêndio em cima da mesa, na parede onde ficava o transmissor. Pegou fogo mesmo. Aí sossegou um pouco porque o curso não tinha dinheiro, a rádio dava dor de cabeça... A professora Daniela Ota contou que, quando ela veio para cá, em 2005, o laboratório estava fechado há anos. Fazia uns três anos. Eu sei que, a partir daí, eles pegaram uma mesa, pelo menos os dois anos seguintes, eles pegaram a mesa de som e colocaram na sala onde hoje é a redação de ciber ali. E colocaram o transmissor lá com os microfones. Algumas aulas passaram a ser ali. Mas houve a troca de professor também. Deixou de ser o Robson Ramos e passou a ser a Márcia Chiad. Você entrou em 99 e se formou em 2002? Não, eu me formei em 2003. Porque na época existia uma disciplina obrigatória chamada greve. Geralmente eram seis meses. Como eu era bom aluno, eu peguei nove meses de greve. Minha formatura que era para ser no final de 2002, eu fui me formar em março de 2003. Quando a rádio acabou, foi por conta da explosão ou foi por conta da Polícia Federal? O que aconteceu foi o seguinte: a Polícia Federal veio, lacrou o transmissor e a gente deslacrou e continuou as transmissões. O dia que o transmissor explodiu, a rádio estava no ar à tarde normalmente. O que eu fiquei sabendo foi que tentaram consertar o transmissor. Era muito caro para consertar. E o curso de Jornalismo já tinha recebido notificação da Anatel. Essa, pelo menos, foi a história que eu escutei e que não duvido muito que seja verdade, com relação à Anatel ter vindo aqui. Porque eles chegaram a lacrar de fato. Só que quando eu estava no terceiro ano, já não funcionava mais a Rádio Alternativa, ela já não estava mais funcionando. Tinha um técnico que por algumas vezes, o Sílvio Granja e o Dejair, eles começaram a tocar algumas coisas só para manter no ar. E algum dia, quem sabe, vai ter a Rádio Universitária, Alternativa, enfim, coisa que não se concretizou. Também para eles terem uma ocupação porque,
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imagina, são dois técnicos num lugar onde é difícil ter técnico na UFMS. Depois de um tempo eu sei que o Sílvio foi para outro departamento e o Dejair aposentou. Então ficou sem técnico e só tinha a aula. Até uma vez que a Márcia Chiad estava dando aula, ela me chamou para auxiliar na aula. E eu vi como estava tudo zoado. Ninguém entendia da mesa e ninguém mexia na mesa. Eu tive que ir lá, modulação, tal, não sei o que, do que eu lembrava ainda. Que houve a explosão e de ali então não houve mais transmissão para Campo Grande inteira ou que seja experimental, não houve mais. Mas o que pode ter acontecido foi colocarem para o corredor, só nas caixinhas de som. Isso pode ter acontecido, porque aí não precisa de um transmissor, precisa só da ligação de cabo normal. Agora, com relação à polícia ter fechado, a polícia fechou em outras. A polícia vem com a Anatel porque é protocolar deles. Não vai prender ninguém, acho. E também muita coisa que aconteceu era menor de idade, então tocava horror para isso. Então acabou eu tenho quase certeza que foi na explosão, não foi quando a Polícia Federal veio. Então o final da história da Rádio Alternativa é um pouco... É bem nebuloso. Envolve saída de professor, porque a Márcia Chiad parou de dar aula. Eu não lembro quem assumiu a disciplina dela. Em 2001, ainda era o Robson Ramos. 2001 a Márcia Chiad entrou, só que ela dava Assessoria de Imprensa. 2002 eu acho que ela passou a dar aula de rádio. Eu acho que ela deve ter ficado até 2003. Em 2003, ela foi para a Assembléia Legislativa. E em 2003, eu fui para a Assembléia Legislativa também. A gente trabalhou junto lá. Aqui no curso, eu sei que teve um concurso temporário para três cargos. Um era para professor de TV, o outro era para rádio e outro para fotografia. Eu lembro quem era de fotografia. Será que não era o Cabreira de rádio? Entraram uns professores que não eram do departamento. Cada um. Eu lembro dos dois de TV. O primeiro foi a Maristela Bruneto e a segunda foi a Amani Jaber, que era minha veterana. Então eles abriam concurso temporário. Não tinha doutor que aparecia, óbvio, doutor não se interessa por concurso temporário, baixava para mestre, mestre tinha pouco então pegava os especialistas. Maricleide Vasques foi de foto. Agora não lembro quem foi de rádio depois da Márcia Chiad. Em 2005, veio a Daniela Ota. Tem um hiato aí de dois anos ou um ano. A gente pode perguntar para a Dani depois... Mas o interessante era isso. Tinha uma rotatividade no curso. Como a gente era integrado no Jornalismo, tinha um povo integrado com os outros cursos. E a rotatividade porque, por exemplo, era o oitavo semestre medicina. Eram o segundo de engenharia. Era o quinto de física. Então tinha gente que estava saindo da faculdade, tinha gente que estava entrando. Medicina tinha uma turma do segundo ano, uma turma quase no último ano, os caras estavam se formando. Eu lembro que uma das brincadeiras que a gente falava era: só não pode chamar um ao outro de doutor no microfone, o resto... Foi um período super legal. Campanhas especiais. A gente fez oficina de rádio na aldeia. Fiz oficina de rádio na Furnas Boa Sorte ou Furnas Dionísio. Teve até recurso do MEC para montar laboratórios experimentais em colégios. Na época, a gente montou para um colégio na Júlio de Castilho, perto do Comper. Chegaram a ir para o Tia Eva também?
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Para o Tia Eva. Aham. No Tia Eva era antes de eu entrar no curso até, porque era o projeto experimental da Márcia Chiad quando ela fazia graduação. Depois que ela fez graduação, ela veio ser professora. Os moldes do mesmo projeto do Tia Eva, a gente montou para as escolas, para Furnas Boa Sorte ou Furnas Dionísio, que eu não lembro agora, e para a aldeia Marçal de Souza. Só que, por conta de recursos, acabou não dando certo. Aquelas parcerias que a gente entrava com as oficinas, mas o equipamento tinha que ser do Governo Federal. Só Deus sabe para onde foi esse dinheiro todo.Tinha umas vinhetas sensacionais também. A vinheta do Já Basta eu não esqueço até hoje. Até pouco tempo, eu tinha ela em mp3. Era um programa hiper alternativo porque ele começava com... Abraço pros mano, beijo pras mina, aí galera do xadrez, gatas da zona, gurizada da rua e excluídos em geral. Com vocês, mais um Já Basta. Jorge Kanehide Ijuim - entrevista em 17/10/2014 Chegada Desembarquei em Campo Grande em fevereiro de 1994. Fui recebido pela professora Lúcia Mont’Serrat então chefe do Departamento de Comunicações e Artes (DAC), e pelo coordenador do curso na época professor Edson Silva. Iniciava-se um desafio em terras estranhas após ter passado por quase treze anos na Unesp de Bauru. A adaptação foi mais rápida e tranquila do que eu imaginava. Assumi disciplinas e tarefas que estava bem à vontade para cumprir. Tive apoio e estímulo para desenvolver as atividades, o que ajudou a estabelecer uma atmosfera favorável para minha integração ao curso e à Universidade. Estávamos nos fins do governo Itamar Franco e início da gestão de Fernando Henrique. Nesse meio de caminho houve alguns percalços. Meio do caminho O governo FHC foi marcado por restrições econômicas drásticas. O recente implantado Plano Real trazia como “júbilo” o controle inflacionário, mas carregava no seu bojo uma onda de cortes que atingia aspectos essenciais para a consecução das atividades fins da Universidade, como em pessoal e infraestrutura. Pessoal e infraestrutura Em meados da década de 1990, o quadro de professores do curso era razoável, mas sobre ausências inesperadas como duas aposentadorias (uma delas por invalidez), colegas que se afastaram para qualificação ou por cedência ao Governo do Estado. A política econômica federal congelou contratações de qualquer tipo de servidor. O time da casa tinha que dar conta de todo o trabalho. Certa vez, o colega Edson Silva se deu conta de que contávamos com apenas cinco professores efetivos (e outros cinco substitutos) e lamentou que “nosso curso cabia num fusca”. Se não bastasse, os investimentos em equipamentos para o ensino caíram a zero. Uma sala informatizada – a nossa Redação – instalada no início dos anos 1990 sobreviveu quase 20 anos sem renovação significativa; teve apenas alguns upgrades paliativos. Na área de TV, não fossem iniciativas individuais de alguns colegas, estariam ainda na era Betacam. A produção laboratorial, por isso, era desenvolvida muito mais pela criatividade e esforço de professores e estudantes do que pela retaguarda disponível. A equipe de técnicos – sempre minguada – foi reforçada temporariamente por profissionais terceirizados,
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contratados via projeto junto a uma fundação. Mas essa prática foi logo interrompida por questionamentos à sua legalidade. Sobre salas de aula, a grande maioria delas, eram mal mobiliadas, as aulas tinham que acontecer na base de quadro e giz. Os velhos retroprojetores viviam com as lâmpadas queimadas. O primeiro Datashow disponível era “disputado a tapas”. A falta de espaço físico fez com que partíssemos para o improviso, fechando corredores para ganhar mais duas salas de aula. Esse espaço criado “na marra” foi apelidado carinhosamente (ou ironicamente) de “favelinha”. Eu me orgulho de ter ministrado muitas aulas nessa favelinha. Equipe de fôlego – conquistas O bom da história é que sempre contamos com uma equipe de fôlego. Se as condições de trabalho não eram as melhores, a disposição, o empenho e o desprendimento de pessoas valorosas mantiveram o curso em pé. Vieram os anos 2000 e tivemos um momento, para mim, especial. Eu e Marcelo Cancio formamos uma dupla para enfrentar o desafio de comandar o curso. O Marcelo como chefe de departamento e eu na coordenação do curso. Batemos de porta e porta em todos os setores da Universidade – das pró-reitorias ao GRM. Naquele momento, também conseguimos estreitar as relações com a TV e Rádio Educativa, do Estado. Na falta de um estúdio de rádio suficiente, o sempre disposto professor Robson Ramos levava os alunos à Rádio Educativa para a produção de programas ao vivo. Se os resultados eram tímidos (ou só paliativos), o clima de boa vontade e desejo de superação foram extraordinários – e contagiantes. Essa atmosfera, no meu entender, refletiu na qualidade do ensino. Por exemplo, os projetos experimentais – o momento alto do curso – eram vigorosos e de alta relevância social. Outro episódio que nos orgulhou muito foi o fato de, pela primeira vez, em 2003 (ou 2004?) o curso de Jornalismo deve “A” no Provão, o Exame Nacional de Desempenho do Inep. (Peça confirmação do ano para a Marina foi a turma dela). Conquistas como estas só foram possíveis pelos esforços individuais e coletivos, em outros termos, pelo privilégio ao relacionamento humano. Penso, logo existo Se a infraestrutura, as tecnologias atualizadas ou as condições de trabalho nunca foram os pontos fortes do nosso curso, o grande empenho pela conjugação entre “ação e reflexão” sempre foi sua marca. O esforço contínuo e persistente pela qualificação dos professores, a atenção à pesquisa e à extensão repercutiram de força consistente no maior interessado – o estudante. Enquanto outros cursos do Estado estavam muito bem estruturados, equipados com tecnologias de última geração, nosso curso se destacava pela dedicação ao pensar. Ainda assim, o Projétil nunca deixou de circular, vários alunos venceram concursos de reportagens – no Estado e também nacionais. No encontro do Intercom Centro-Oeste, sediado na UFMS em 2006 (confira esta data), nosso curso foi o que apresentou o maior número de trabalhos – professores e acadêmicos. Saída Algumas realizações que considero muito importantes foram minha participação em algumas ações fundamentais para os passos futuros do curso. O primeiro que gostaria de destacar foi liderar um grupo de pesquisa sobre Narrativas (cadastrado no CNPq) durante dois anos. Seus membros eram todos alunos e ex-alunos do curso e hoje
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vários deles já defenderam o mestrado e/ou são professores em várias instituições pelo país. Outro momento relevante foi a reestruturação do projeto pedagógico do curso, em 2006-2007, quando tive atuação intensa especialmente na fundamentação do novo projeto. Um terceiro foi tomar parte numa comissão que deu os primeiros passos para a implantação de um mestrado em Jornalismo, entre 2005 e 2006. Este não pode se concretizar naquela época, mas ajudou a criar um espírito de corpo que tornou possível esta conquista mais tarde. Por fim, vale lembrar dos esforços de uma equipe, que também tive o privilégio de liderar, no sentido de constituir o Núcleo de Jornalismo Científico. Este começou com um seminário sobre o tema e a edição de uma revista, em 2006. Em seguida, elaboramos um projeto e o apresentamos ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Aprovado, iniciamos sua implantação, mas não houve tempo para que eu visse pessoalmente este sonho se concretizar. Em fevereiro de 2008, me transferi para a UFSC. Após quase oito anos em Florianópolis, quando me perguntam se sinto falta de Campo Grande e da UFMS, eu respondo que sim e que não. Por quê? Porque não me apego a lugares, me apego a pessoas. Não sinto falta dos prédios ou da instituição UFMS, nem das casas e avenidas de Campo Grande. Sinto falta das pessoas da UFMS e de Campo Grande. Sinto falta de pessoas valorosas com Maria Francisca Marcello e Mário Marques Ramires, que infelizmente não estão mais entre nós, de técnicos administrativos como Telma D. Vera. Alunos... são tantos que não convém mencionar para não cometer injustiças. Sobre esses 14 anos de UFMS não tenho necessariamente um mar de lamentações, mas a consciência de muitos desafios extraordinários, e muito para agradecer. Marcelo Cancio – entrevista em 24/10/2014. Como e quando foi sua chegada aqui? Eu comecei a trabalhar na UFMS em 1994, como professor substituto por dois anos.Depois retornei em 1996, eu fiz concurso e entrei como professor efetivo. Entrei dando aula de Telejornalismo, História da Imprensa e Comunicação Rural. Como o senhor veio parar em MS? Era uma época que estava difícil trabalho no Rio de Janeiro, aqui era um Estado que tinha sido criado recentemente. Havia necessidade de profissionais não só na área de comunicação, mas de todas as áreas. E acho que vim na hora certa. E as experiências que o senhor teve de mercado aqui? Foram muito boas, porque rapidamente comecei a trabalhar na TV Morena e fiquei dez anos. Trabalhei como repórter, editor, apresentador, muito tempo no MS Rural e foi uma experiência fantástica para mim, eu queria trabalhar em televisão. Tive a oportunidade de trabalhar e agarrei com determinação. Depois trabalhei também na assessoria de Imprensa do Governo do Estado. Depois na Impaer e na Fontoura Vídeo, na TV Educativa e aqui na Universidade. O senhor sempre foi para essa área de televisão? Meu maior período de trabalho foi em televisão, quase vinte anos de trabalho ligado à televisão, em telejornais. E em outros programas também, na TV Educativa fiz programa rural, de educação, debates, entrevistas. Mas sempre no telejornalismo.
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Produzia vídeos que eram veiculados na TV Campo Grande. Na TVE me pediram e eu fiz uma proposta de jornal, que eles não tinham. Foi criado o Jornal da TVE, em 1994. Naquela época, introduzimos uma questão que era diferente nos outros jornais que permitia a participação das pessoas. A partir de um tema central, sempre haviam dois entrevistados que debatiam e as pessoas em casa podiam ligar e fazer perguntas ao vivo para aqueles entrevistados. Naquele momento, isso foi uma diferença entre os telejornais que haviam na época. Hoje isso é mais comum. Era um jornal que tinha uma dinâmica, um retorno do telespectador muito interessante. Ele marcou uma divisão dentro da história do telejornalismo no MS, pela situação nova que criou. E eu tive a felicidade de criar o projeto, apresentar a ideia desse telejornal e depois ser o diretor de telejornalismo e apresentador. Por que o senhor resolveu sair do mercado e vir dar aula? Porque eu percebi que a televisão estava excluindo os profissionais mais antigos, para contratar profissionais mais novos, e não havia por parte da emissora valorizar a experiência profissional, valorizar o trabalho que você realizava. Durante meu período na TV Morena eu ganhei três prêmios de jornalismo. E mesmo assim isso não importava para eles. Eu vi na Universidade um novo campo de trabalho. De atuar na área de Comunicação que antes não existia, o curso não existia ainda. A principio eu não pensava nisso, mas depois percebi que era um campo interessante que me permitia estudar mais, e realmente, depois que entrei aqui eu pude fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado. Uma coisa que se eu estivesse no mercado até hoje eu sei que eu não ia conseguir. Com toda experiência profissional que eu tinha, isso ia me ajudar muito nesse novo desafio. Eu gostei, era um trabalho diferente, mas continuei dando aula e acompanhando os alunos. Eu deixei de fazer esse processo para ensinar os alunos a fazer isso. E essa nova função foi uma coisa que me deixou contente. Embora aqui tivesse deficiência de equipamentos de mão-de-obra, cinegrafistas... mas me dava prazer. E depois ver os alunos no mercado e saber que suas primeiras gravações foram aqui no estúdio, isso dá uma satisfação pessoal. Com o passar do tempo percebi que era o trabalho que eu devia investir e continuar exercendo. Como se lembra da estrutura que tinha para ensinar tele? Tinha equipamentos que precisavam de manutenção, e isso era um problema. Quando um dos equipamentos deixava de funcionar era uma situação complicada. Tinha deficiência do estúdio, de lâmpada, de ar condicionado e lá esquentava absurdamente. Me lembro de ter comprado com dinheiro do meu bolso spots de iluminação, porque nunca resolvia. Os cinegrafistas eram contratados por três meses e tinha que fazer uma renovação por mais três meses e depois tinha que contratar outro. Também era um programa sério, porque quando ele começava a entender como era o funcionamento, porque com aluno é muito diferente, tem que trabalhar individualmente. O cinegrafista que vem do mercado para cá, tem que saber que tem que ter muita paciência, muito cuidado porque não está trabalhando com profissional, está trabalhando com alunos e eles estão aprendendo. Tem que trabalhar toda a auto-estima do aluno para que ele perceba que aquilo é um processo de aprendizagem. Ele não está trabalhando profissionalmente, ele está aprendendo a fazer e o cinegrafista também tem que saber disso.
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Então tinha que trazer gente que tivesse paciência, que cuidasse do equipamento. Era um problema sério porque você fica seis meses com um cinegrafista ai tem que trocar. Agora com esse processo de uma empresa que contrata e o cinegrafista fica à disposição, isso ajuda bastante. O curso de Jornalismo é um curso diferenciado, tem que fazer reportagem fora daqui, precisa de um veículo, precisa de um motorista, de telefone, de máquina fotográfica, precisa de equipamentos... Então não é um curso de sala de aula, é um curso de ir buscar as coisas fora daqui. Durante muito tempo a Universidade não entendia o curso de jornalismo como um curso diferenciado, que tem características diferentes dos demais. A estrutura para atender isso foi muito deficiente. Se estraga um microfone, não pode levar seis meses para consertar, têm 40 alunos para dar aula, que vão usar esse microfone. Essa estrutura operacional da Universidade foi muito falha, por uma série de fatores. Não tem uma agilidade como no mercado. Algumas coisas dificultavam as práticas que o curso tinha que ter. Isso realmente melhorou, nós temos um laboratório que está bem montado, com um ar condicionado que funciona, com iluminação, os materiais chegam com maior rapidez. Melhorou também a questão dos números de professores. Eu fui chefe de departamento em 2002 e fiz um levantamento de que precisaríamos ter um quadro de treze professores e o número de disciplinas pudessem ser distribuídas entre os professores sem sobrecarregar muito e que pudessem fazer pesquisa, participar de congresso, comissões e etc. Agora em 2014, que estamos próximos de chegar à esse número, sendo que nesse meio tempo foi criado o Mestrado, que aumentou a carga de trabalho dos professores. O Mestrado possibilita muitas coisas interessantes para o curso e para os alunos e até para os professores, mas ele aumenta a carga de trabalho sem que haja remuneração para isso. Ele dá aula no Mestrado como contribuição. Então os professores que atuam na graduação e mestrado sabem que vai aumentar a carga e vai ser um acréscimo de trabalho e não de remuneração. Os professores, por mais que atuem, participem, dêem aula e tudo, eles não conseguem , o numero de solicitações exigidas dos professores às vezes não permite que ele consiga publicar em congressos... Eu acho que nosso curso de quando começou, ele deu um avanço em vários sentidos, na estrutura física, sala de professores, avançou no numero de professores, novos concursos, na criação do Mestrado, nas instalações e isso reflete para vocês que são alunos, vocês terão mais professores, que prepararão melhor uma aula. Acho que o curso, nesse nível que ele está, vai avançar mais. Vem em um processo crescente de melhoria estrutural e de recursos humanos e de equipamentos, e a tendência é melhorar mais. Com equipamentos cada vez mais próximos da realidade do mercado... Tem alguma história que marcou, algum fato engraçado que marcou? Me lembro de um caso que aconteceu coma Aline Maziero, ela saiu e foi gravar uma passagem em uma escola e ela gravou, com toda a dificuldade dela. Ela me mostrou o material e eu falei “Aline, olha, eu tenho que dizer para você que bom não está”, eram erros de enquadramento, não ficou bem coordenado isso. Ela foi com a mãe dela de novo e gravaram novamente. E dei orientações sobre como devia fazer. Então, vou dizer para a Aline também, que ela mostrou para mim naquele dia que foi uma troca.
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Ela me mostrou vontade, determinação, coragem, ela me demonstrou um monte de coisa. E foi emocionante, porque ela me mostrou toda orgulhosa. Realmente tinha ficado melhor. Foi um aprendizado para ela e para mim também. Com algumas experiências, eu aprendi que eu sempre tenho que insistir com um aluno. Quantos alunos passaram por aqui, quantos estão trabalhando, ganhando a vida depois do ensinamento que ele teve aqui, bom ou ruim. Quando um aluno entra na Universidade, é o acumulo de conhecimento dele, não é uma aula ou outra, uma disciplina ou outra. Mas é o acumulo, cada coisa que ele assimila é que vão tornar esse aluno um cidadão que sairá daqui e nem percebe, mas esse acumulo possibilita que cada um siga uma carreira. A Universidade proporciona é um processo contínuo de ensinamento, conhecimento, de assimilação do aluno, que vai transformá-lo num profissional. Ele demonstrou o conhecimento adquirido que foi passado por nós, professores. Esse conhecimento da Universidade é muito importante para a formação das pessoas. Os alunos entram aqui muito novos. - Como o senhor vê a mudança do perfil do estudante de jornalismo? Eu vejo a mudança do aluno que entra no primeiro ano e quando sai no quarto ano. O primeiro ano, com cara de assustados, a maneira como se comportam, muitas brincadeiras, não dão muita importância para aquilo. Quando chega no quarto ano, na época das defesas dos TCCs, você percebe como o aluno madureceu em quatro anos. Ele já viveu experiências e o jornalismo permite isso. Vocês se desenvolvem muito, escutam muita gente com experiência de vida falando, fazem matérias, escrevem... E isso vai incorporando. Quando chega ao quarto ano, tem uma mudança visível de comportamento, está mais preocupado que tem que entrar no mercado. Está mais amadurecido, está preocupado com a vida dele, e isso se repete. A diferença de 1994 para cá, que eu percebo era a diferença de idade. Eram alunos mais maduros que já estavam no mercado. E hoje o perfil é muito mais novo. O perfil do aluno está mudando por conta das tecnologias, é uma mudança comportamental, a possibilidade de ter informações mais rápidas que tínhamos há vinte anos. O senhor acha que o curso tem formado bons profissionais? Sim, mas isso não depende só do curso, depende das pessoas. Mas com certeza. Tem pessoas que se sobressaem profissionalmente. Uma coisa fundamental que o curso proporcionou foi que, existia uma geração de pessoas antes de existir o curso, que trabalhavam na área já fazia muito tempo, que não tinha uma preocupação com questões éticas, de redação, por exemplo, que a profissão exige, que com o curso, com a formação de seguidas turmas que concluíram o curso e foram para o mercado, a mudança que houve foi da mentalidade que existia antes e depois do curso de Jornalismo. Então, começa-se a ter profissionais nas redações com outro tipo de comportamento, preocupação em fazer o processo jornalístico. Agora, com o Mestrado, alunos que se formaram há 15 anos estão voltando para se aprimorar. Daqui pra vente vamos ter gerações que passaram pela Universidade. O aluno que se formou, ao trabalhar com outros que também se formaram, terão uma preocupação com o conhecimento adquirido na Universidade.
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Vai depender do esforço, dedicação e caráter dele, e isso é falado no curso, de como ele deve agir profissionalmente, que deve ter espírito de equipe, que o jornalismo não se faz sozinho. O jornalista precisa ter muita disposição para ter um trabalho que tenha relevância na sociedade, se ele vai fazer isso ou não, vai depender de cada um. Depois que ele se forma, você não pode sair por ai apontando e dizer “olha, você está trabalhando mal”. Depende de cada um. O curso dá base e informações suficientes para que ele seja um profissional de bom para cima. São muitos profissionais que saíram e hoje estão no mercado, que hoje estão fazendo um trabalho muito legal, muito digno, correto, que tem valor social, que falam coisas importantes a serem ditas. E espero que vocês acompanhem isso e melhorem. Robson Ramos – entrevista em 27/10/2014. A oportunidade surgiu através dos concursos para professor substituto. Nas duas vezes que eu entrei, foi como professor substituto. Faz-se aquela avaliação, você dá uma aula para os professores que já fazem parte do quadro e aquele que é considerado o mais apto acaba sendo o escolhido. Para mim foi interessante ter voltado depois de ter feito o curso de Jornalismo por lá. Eu já exercia a profissão como locutor há muito tempo, e fiz o Jornalismo para não ficar por baixo em relação àqueles que se consideravam até melhores que os demais porque tinham diploma ou provisonamento. Aí fiz na primeira turma de Jornalismo. Depois voltei para dar aula, porque achei que seria interessante. Morava perto da Universidade. E foi um período interessante, no sentido de absorver também da rapaziada nova um pouco da energia, do idealismo, de estudando em uma escola pública fazer rádio como objetivo de transformação social, em um momento político interessante. Havia toda aquela mística da rádio alternativa, uma rádio que não tinha censura. Você podia dizer o que quisesse. A rádio começou como alternativa, e era de fato um laboratório bem deficiente em todos os sentidos. Não chegava a ser um laboratório, porque um laboratório tem que reproduzir as condições de trabalho que o aluno vai encontrar depois. Mas era um espaço interessante. O problema é que nós tínhamos um sonoplasta surdo que se achava o dono do laboratório. Não queria que os alunos mexessem e nós liberamos para a gurizada mexer, aprender. Inventamos. Introduzimos por nossa conta na ementa, Introdução ao Radialismo. Abrimos espaço para todo mundo, com agendamento prévio operar, falar no rádio. A gente tinha programação praticamente o dia todo. Do período da tarde até a noite, nós tínhamos alunos transmitindo. Potência fraquinha e tal, mas era interessante. Inclusive a Glaura Vilalba, que está no ar pela TV Record, estava toda tarde lá. Fazia duas ou três vozes, era bacana. Nesse período houve uns enfrentamentos por conta desse sonoplasta surdo, acabei até me afastando um pouco do laboratório. Aí fizeram uma mobilização “Volta Robson”. Retornei e dei aula por dois anos. Com essa Introdução ao Radialismo, que eram as primeiras noções de rádio para quem nunca tinha feito rádio, e só depois então, os formatos jornalísticos do rádio. Fiquei lá por dois anos, e depois mais dois anos fora. Fiz de novo o concurso para professor substituto, e aí já não se tinha uma rádio. Não havia mais professor, só tinha o laboratório e umas caixinhas de som espalhadas pelo corredor. Foi nesse período que nós conseguimos um convênio com a Rádio Educativa. Isso foi convênio meu, não iniciativa da Universidade. Então toda terça-feira nós tínhamos um programa ao vivo feito pelos alunos do curso. Nós formamos se eu não me engano, quatro ou
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cinco equipes. Todas elas atuavam nos dias de programa. Uma estava com o programa no ar, outra era responsável por repercutir o programa em um bar onde ele era ouvido, o Esquina 20, que nos permitiram colocar o som da Rádio Educativa e interagir com os clientes do bar sobre os assuntos que estavam sendo tratados. Eram sempre mesas redondas, debates em relação a um tema específico. Outro grupo ficava na Universidade avaliando o programa, tinha um grupo que ficava fazendo repercussão dos temas do programa para o site de notícias. Nós mandávamos a cada dez, quinze minutos o que estava acontecendo no programa e dos momentos mais interessantes. E isso nós fazíamos por nossa conta. A gente se reunia na Universidade, saía cada um com seu carro e levava três ou quatro colegas, eu levava mais alguns no meu carro. Isso na terça-feira. Na quarta-feira, nós avaliávamos como tinha sido o programa. Foi muito interessante o trabalho. Não retornei mais para a Universidade perdi o interesse, perdi a motivação porque na segunda vez que eu estava dando aula lá a minha esposa adoeceu. Acabou internada no Hospital Universitário, e morreu de infecção hospitalar sem qualquer assistência de professor do curso de Medicina. Fiquei muito frustrado com isso, mas se vocês observarem tem uma placa onde eu sou paraninfo e outra placa que muito me orgulha, onde eu sou nome de turma. Para mim isso é importante demais, eu reencontro com os alunos no mercado de trabalho e tenho o maior orgulho deles. Rádio é o que sobre para quem não é nem bonito e nem intelectual. O bonitinho faz Jornalismo e vai para a TV, o intelectual faz Jornalismo para ir para o impresso. O que não é nem bonitinho e nem intelectual vai para o rádio, que é gostoso, não precisa ter cara boa. Na segunda fase que eu retornei e tal, no laboratório não era mais o sonoplasta surdo. Nós já tínhamos um técnico muito competente, que era o Granja. A mesma equipe que repercutia os debates da Rádio Educativa fazia uma divulgação para o site no dia anterior, tipo uma assessoria de imprensa, sobre qual seria o tema que os convidados debateriam.
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9- ANEXOS Anexo 1 – Resolução 021/85 - Conselho Universitário
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Anexo 2 – Resolução n° 089