Mato Grosso do Sul: A criação de um estado | Beatriz Gomes Monteiro Camargo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DEJORNALISMO

MATO GROSSO DO SUL: A CRIAÇÃO DE UM ESTADO

BEATRIZ GOMES MONTEIRO CAMARGO

Campo Grande NOVEMBRO /2018


MATO GROSSO DO SUL: A CRIAÇÃO DE UM ESTADO

BEATRIZ GOMES MONTEIRO CAMARGO

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientadora: ProfªDrª Rose Mara Pinheiro



AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por sempre me mostrar o caminho certo e pela luz nessa jornada. Agradeço meus pais, Ana Rosa e Rodnei, e minha irmã, Bruna. Vocês sempre serão minha base na vida e não tenho palavras para descrever meu amor. E a toda minha família, que esteve comigo e acredita no meu trabalho. Aos meus amigos, que de alguma forma ajudaram esse trabalho a ficar do meu jeito. Em especial à Thayná Oliveira e GeovannaYokoyama, obrigada por serem vocês. A minha orientadora, ProfªDrª Rose Mara Pinheiro, por ter aceitado esse desafio comigo.


SUMÁRIO Resumo

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Introdução

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1. Atividadesdesenvolvidas 1.1 Execução 1.2Dificuldadesencontradas 1.3 Objetivosalcançados 2. Suportesteóricosadotados

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Consideraçõesfinais

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Referências

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RESUMO: O documentário Mato Grosso do Sul: a criação de um Estado pretende resgatar a história e as memórias sobre o clima e a situação vivenciada pelas pessoas em Campo Grande na época da fundação do Estado. Tendo como principal referência teórica Bill Nichols (2005), a pesquisa também buscou personagens da divisão do estado, ocorrida em 11 de outubro de 1977 pelo então presidente Ernesto Geisel, como o primeiro bebê nascido na Maternidade Cândido Mariano da capital sul-matogrossense, o fotógrafo que registrou as comemorações pela cidade e o historiador que investigou a influência da companhia Mate Laranjeira e da ferrovia Noroeste do Brasil no processo de fundação de Mato Grosso do Sul, entre outros. Em 20 minutos, o vídeo-documentário resgata fatos marcantes na construção do Estado.

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo; Divisão de Mato Grosso; Criação de Mato Grosso do Sul; História de Mato Grosso do Sul; primeiro bebê de Mato Grosso do Sul.

FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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INTRODUÇÃO O produto documentário audiovisual tem como objetivo mostrar a divisão do Estado de Mato Grosso, ocorrida em 11 de outubro de 1977, entendendo suas razões, as pessoas envolvidas nessa decisão e os efeitos para as unidades federativas de MS e MT. A divisão foi promulgada por meio da Lei Complementar número 31, assinada pelo presidente Ernesto Geisel, mas as ideias separatistas começaram muito antes, já no final do século XIX, mas principalmente com a chegada da companhia Mate Laranjeira (de erva-mate) e da ferrovia Noroeste do Brasil (que ligava São Paulo ao sul do estado de Mato Grosso). Segundo os pesquisadores, o processo envolveu diversas questões políticas e sociais, já que Campo Grande era uma cidade muito relevante para as pessoas do sul do Estado de Mato Grosso. A população sulista sofria para resolver os problemas burocráticos em Cuiabá, capital de Mato Grosso, situada a 700 quilômetros de Campo Grande, e também esperava por uma capital mais próxima de suas necessidades. A ocupação do Estado por população não indígena, no início, se deu em grande parte em função dos cursos dos rios Paraguai e Paraná, que foram caminho para os “desbravadores” chegarem ao centro do país, como menciona Marisa Bittar (2009), em “Mato Grosso Do Sul: a Construção de um Estado”. O Estado teve a conquista dada graças a atividade pecuária e depois a agricultura, sendo que a extração de erva Mate foi chamativo ao povoamento das terras. Mato Grosso do Sul é o Estado com maior número de fronteiras do Brasil. São cinco nacionais (com os Estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná) e duas internacionais (com o Paraguai e a Bolívia). Atualmente, 2.748.023 pessoas, segundo estimativa do IBGE, ocupam os 79 municípios, distribuídos em 357.145,531 km² de extensão. O documentário Mato Grosso do Sul: a criação do Estado, título com forte influência do livro da historiadora Marisa Bittar (2009), expõe por meio de entrevistas o “clima” e o pano de fundo das decisões pré-separatistas, os interesses, a


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perspectiva de desenvolvimento regional e a realidade vivenciada pelos sul-matogrossenses. Trabalhar com vídeos e imagens sempre foi uma das minhas partes favoritas no curso de jornalismo, dar sentido a diversas falas, sabendo organizá-las e criando uma narrativa para o telespectador é algo muito animador, para mim, por isso escolhi o gênero documentário para realizar o meu trabalho. Mesmo sabendo dos desafios da edição, utilizar o gênero no formato de memórias sempre foi um produto que quis realizar durante o curso. “Num filme mais recente, não precisa ser dominante um modo mais recente. Ele pode voltar-se para um modo mais antigo, embora ainda inclua elementos de modos mais recentes” (NICHOLS, 2005. p. 136). Podemos entender neste trecho de Nichols que essa fala do autor traz uma afirmativa ao trabalho, já que é essencialmente histórico e poderia ser considerado “fora do tempo”. Sempre tive muita curiosidade sobre a história do mundo, e quando me mudei para fazer universidade em Campo Grande, percebi que não conhecia muito sobre a história do Estado. Ao longo dos anos, fui descobrindo a cultura local, seu folclore, mas ainda muito pouco, sobre tudo o que tem a história da divisão do Estado.


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1- ATIVIDADESDESENVOLVIDAS O objetivo do documentário foi fazer uma série de entrevistas em formato de memórias com cinco personagens selecionados, contando como cada um vivenciou a divisão do Estado de Mato Grosso para a criação de Mato Grosso do Sul. As entrevistas foram todas gravadas com a câmera do curso de jornalismo, uma Nikon D7000, com um cartão de memória de 16GB, em três dias diferentes. Todas as entrevistas foram feitas e roteirizadas por mim, sempre com uma conversa anterior com os entrevistados. Durante todo o documentário, a minha maior preocupação foi deixar claras as razões para a criação do Estado. Outra preocupação foi com o fluxo de informações, de forma a não deixar o produto muito denso ou tedioso. A solução encontrada foi apresentar uma dinâmica entre as fontes que foram entrevistadas, trazendo uma sequência das entrevistas e temas de forma a propor uma conversa entre os entrevistados, que juntos puderam explicar o que aconteceu, sem necessidade de uma narração. Todas as imagens, tanto da internet, quanto de arquivos pessoais, foram creditadas, assim como as trilhas sonoras. As trilhas sonoras não foram de artistas locais pela questão de direitos autorais gratuitos, apesar de no início ter sido cogitado, não achei nenhuma que pudesse usar gratuitamente. No começo do projeto, o objetivo era mostrar qual o papel da imprensa nesse panorama, mas devido à ausência de acervos da época era inviável esse projeto. Porém, durante as entrevistas com a mestra Vera Furlanetto, Roberto Higa e com os acervos da senhora Ivanete da Silva, consegui ter ideia de como eram as coberturas jornalísticas antes e pós-criação do Estado. Todas as etapas que foram sugeridas no pré-projeto foram seguidas, apenas com mudanças no cronograma. A proposta de fazer um vídeo em linguagem simples e de fácil acesso foi executada.


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1.1 Execução: Fui em busca de fontes que tivessem pesquisas sobre divisão do estado ou que tivessem de alguma forma participado do processo de separação. O primeiro personagem escolhido foi o professor Rubens Silvestrini, que pesquisa a influência da erva-mate no Estado e também a importância da delimitação das terras. Depois, conversei com Carlos Adriano da Silva, o primeiro sul-matogrossense que nasceu no dia da divisão do Estado e mostrou uma versão mais afetiva sobre o tema, junto com a sua mãe, a senhora Ivanete da Silva. Para incrementar a parte histórica, fiz uma entrevista com Vera Furlanetto, mestra em História, com a pesquisa relacionada às fronteiras, atualmente pesquisa sobre o tema mas não pelo CNPq. Por último, o fotógrafo Roberto Higa foi o escolhido por ter registrado o clima da cidade de Campo Grande e ter um acervo de fotos sobre a realidade da época. Todo o roteiro do documentário foi pensado para que ficasse de fácil compreensão para o telespectador. A ideia inicial era que começasse com os depoimentos do bloco “O sonho do Sul”, seguido do bloco explicando as questões históricas e finalizasse com as memórias do primeiro bebê do MS. Durante a edição foi analisado que o fluxo de informações poderia ficar muito cortado se fosse assim, além de ser cansativo para o telespectador; então foi alterado para o bloco histórico iniciar a narrativa, para já explicar os motivos da divisão, depois trouxesse uma narrativa mais humanizada no final do documentário. Todas as gravações foram feitas com a câmera emprestada do curso de jornalismo, uma Nikon D7000, mas que estava com o foco para perto quebrado, então as imagens de jornais e livros foram feitas pelo meu celular, um iPhone 6s. A câmera estava com um cartão de memória de 16GB, que captou todos os arquivos durante as gravações. As gravações foram feitas por mim e como não havia um tripé para apoiar a câmera, normalmente era apoiada em vários livros e algumas caixas. Quando o enquadramento ficava muito destoante, foi corrigido na edição. As entrevistas não foram transcritas, mas durante a decupagem para


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definir a sequência das imagens, fui anotando o momento exato para cada situação, identificando para o corte na edição. A responsável pela edição, Thayná Oliveira egressa do curso de jornalismo da turma de 2017, deu bastante suporte depois do primeiro esboço que havia montado e utilizou o Adobe Premiere para a edição. As trilhas sonoras foram escolhidas para trazer uma ideia de história e darem uma sensação mais humana e menos técnica ao documentário. Todas as imagens escolhidas para cobrir a fala dos personagens são de acervos próprios ou de imagens da Internet, devidamente creditadas.

1.2 DificuldadesEncontradas

O primeiro desafio que encontrei na execução do projeto foi achar na internet arquivos sobre esse momento. Havia pequenas matérias, pouco informativas sobre o tema, por isso, toda a minha base teórica foi realizada em livros da biblioteca da faculdade e artigos em jornais e revistas. Meu projeto inicial era fazer uma pesquisa sobre a cobertura midiática da época sobre a divisão do Estado, mais especificamente, a cobertura televisiva, mas por falta de acervos, essa ideia foi descartada. Durante o processo, tive dificuldades em achar na faculdade os materiais necessários, tanto que a lapela usada nas entrevistas foi emprestada pela Empresa Júnior de Comunicação Brava e o tripé (que só existem dois para empréstimo dos alunos no curso) já estavam emprestados por outro acadêmico e não tinha previsão de retorno, foi improvisado. Nossa turma é a primeira de jornalismo da UFMS e nossa grade é também pioneira nos projetos experimentais individuais. Acredito que fazer um relatório e um produto, com embasamento teórico e qualidade para entrega sozinha dificultou em vários momentos, tanto na produção, que acabou sendo toda para uma única pessoa, quanto em questão financeira, já que muitos entrevistados moravam distantes, custos com o projeto e afins. Fora que com a maior quantidade de bancas, nosso prazo foi reduzido de dezembro para novembro.


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1.3 ObjetivosAlcançados

O objetivo inicial do pré-projeto era realizar um produto documentário audiovisual sobre a divisão do estado e explicar melhor como foi esse processo, reforçando as questões históricas e situações de pessoas que viviam aqui na época. Acredito que com a escolha das fontes, o processo de edição e também as imagens, esse ponto foi cumprido e também de fácil linguagem, uma das minhas maiores preocupações ao entrevistar pesquisadores da área. Pretendia, no começo, conversar com mais jornalistas da época, para saber como eram os rumores do que acontecia para criação na mídia, o que acontecia na mídia, já que estavam em um período de ditadura onde a imprensa tinha menos liberdade. Eu não consegui entrar em contato com jornalistas da época, essa questão foi mais difícil, mas consegui entrar em contato com o fotógrafo de diversos jornais no período, Roberto Higa, e também conversar com a mestra cujo trabalho foi uma análise de jornais da época para falar sobre a divisão. No início, imaginei que o produto teria em média 15 minutos, mas com o fluxo das entrevistas, percebi que esse tempo seria ultrapassado pela quantidade de conteúdo. O produto final ficou com 22 minutos.


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2. SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS 2.1 - Divisão do Estado O Estado do Mato Grosso, localizado na região Centro-Oeste do Brasil, passou pela sua divisão territorial no ano de 1977, quando a região Sul foi desmembrada e tornou-se o estado de Mato Grosso do Sul. Com um início tumultuado, em apenas um ano houve três governadores no Estado, segundo Aline dos Santos em matéria para o Campo Grande News, e com orçamento de Cr$ 4.725.340.000,001, moeda que circulava na época. Por conta da distância e dos meios de comunicação da época, o sul de Mato Grosso não tinha muito contato com a capital, Cuiabá, o que dificultava para a população a solução de problemas e pendências, até então só resolvidas por lá. “Abordar a história de Mato Grosso do Sul implica, de pronto, em olhar de alcance mais largo que deve ir “às fronteiras onde o Brasil foi Paraguai”” (BITTAR, 2009, p.35). A decisão da divisão foi tomada pelo então presidente Ernesto Geisel, o terceiro na linhagem do regime ditatorial, visando em destaque a um projeto para desenvolvimento da região amazônica na porção norte de Mato Grosso, com a assinatura da Lei Complementar nº 31, em 11 de outubro. A implantação dessa lei, fisicamente, se deu em 1º de janeiro de 1979. A diferença ocorreu para que no período de, aproximadamente, 14 meses pudessem ser construídos prédios públicos e nomeados os responsáveis por determinados cargos etc. Na época, muitos chegaram a pensar que: Como Mato Grosso do Sul estava mais perto de São Paulo e Paraná, e havia hidrovia, ferrovia e mais conexão de logística de transporte, a expectativa era que se tornasse mais desenvolvido e, Mato Grosso, mais atrasado2.(2007)

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Matéria MS nasceu com orçamento de 4 bilhões e 3 governadores em um ano, escrita por Aline dos Santos, para o Campo Grande News. Disponível em <https://www.campograndenews.com.br/cidades/ms-nasceu-com-orcamentode-4-bilhoes-e-3-governadores-em-um-ano> [Acessado em 06 /12/ 2018] 2

Matéria Divisão do Estado de Mato Grosso completa 30 anos, escrita pelo G1, em São Paulo, com informações da TV Centro América. Disponível em <http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL148365-5598,00.html>[Acessado em 25/04/2018]


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A criação do Estado, mesmo sendo promulgada somente em 1977, teve seus inícios há muito tempo, desde a chegada da estrada de Ferro Noroeste, que foi recebida com festa em Campo Grande e teria causado sentimento de inferioridade em Cuiabá, e da empresa de erva-mate, Mate Laranjeira. A ferrovia chegou ao estado na década de 50, com as políticas desenvolvimentistas, como cita Bittar (2009) e de interiorização do Brasil, que foram reforçadas pelo governo, presidido então, por Juscelino Kubitschek. Mesmo que pequenos alguns movimentos puderam ser vistos, até então chamados de agitadores. Antes, a capital Cuiabá não se importava nem em cobrar impostos da região sul do Estado, pois era muito longe e não seriam quantidades rentáveis, cenário que muda com a exploração da erva-mate na região. Os movimentos não eram muito significativos, pois existiam conflitos entre os próprios “rebeldes”, principalmente por questões da posse de terras ou jogos políticos. Na década de 30 surgem participações maiores e a divisão passa a ser mais cogitada. “Após a derrota de Bento Xavier nos confrontos de 1907 a 1911 o movimento divisionista arrefece e só volta a ser agitado na década de 30” (BITTAR, 2009. p.131). Muito se estuda as divergências entre Campo Grande e Cuiabá, mas mesmo na porção sul do Estado já existia diferentes opiniões. Quanto a Campo Grande, é consenso entre os estudiosos que, dentre as povoações atingidas pela Noroeste em Mato Grosso, ela açambarcou de Corumbá a liderança das atividades econômicas e tornou-se, no dizer de Azevedo, a “capital comercial” não só da região sul do estado como de todo ele. A sua preponderância assinalaria também a rivalidade que daí em diante se estabeleceria entre Cuiabá e Campo Grande, que empalmou a causa separatista e se tornou aspirante à capital (BITTAR, 2009. P57).

A disputa entre Campo Grande e Dourados por ser o centro político do novo Estado também era notada e evidenciava as divergências da região sul de Mato Grosso. A historiografia enfoca as disputas entre as cidades de Campo Grande e Cuiabá, notadas e concebidas como representantes de interesses antagônicos entre sul e norte, respectivamente. No


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entanto, as divergências ocorridas na região sul do antigo estado uno foram pouco abordadas. Muito há que se pesquisar sobre os contornos do processo da divisão de Mato Grosso, sobre os agentes envolvidos e sobre as consequências em termos políticos, econômicos, culturais e sociais, pois existem várias perspectivas possíveis a serem exploradas. Esses aspectos foram impulsionadores dessa pesquisa, que buscou um novo olhar sobre regiões bastante próximas, as cidades de Campo Grande e Dourados, nos conflitos relacionados ao divisionismo. (FURLANETTO, 2018. p. 12)

Depois da separação, o governo atual procurou focar em medidas para resolver os problemas sociais, de educação e saúde, além de ações para prevenção do Pantanal, segundo o site Visite o Brasil3. 2.2 – Documentário O trabalho é um vídeo documentário em formato de memórias, trazendo relatos de pessoas que estavam aqui ou que tiveram parentes no período, além de professores e estudiosos mostrando um panorama da separação. Segundo Lucena, os argumentos para um documentário podem ser: O argumento do documentário é quase sempre aberto, porque filmar personagens reais, fatos e locações realistas envolve o acaso, um elemento sempre presente nesse tipo de produção. Ao fazer uma entrevista, mesmo sabendo o que vai perguntar, você pode se surpreender e obter respostas, ou novos fatos, que levam a caminhos totalmente diferentes dos previstos no seu argumento, provocando uma mudança de locações, por exemplo. (LUCENA, 2011. p. 47)

Entende-se, aqui, que mesmo já tendo uma ideia sobre o tema, sempre será surpreendente o que as pessoas têm a falar sobre, no caso do projeto, é diferente imaginarmos as ruas que conhecemos no dia a dia como a 14 de julho, o bairro AeroRancho ou a maternidade Cândido Mariano, com escolas de samba, multidões ou pessoas andando de boi pela avenida. O gênero jornalístico documentário sempre teve como uma característica do senso comum a ideia de um produto com mais profundidade, como diz Cristina de Melo

3Disponível

em <https://www.visiteobrasil.com.br/centro-oeste/mato-grosso-do-sul/historia/conheca/a-divisao-doestado> . Acessado em 13/11/2018.


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(1992). Mas o que diferenciaria o documentário de uma grande reportagem, por exemplo, não seria a profundidade nem o tempo de duração é bem verdade que no documentário, o tempo se amplia em explicações analíticas e contextualização de caráter histórico, supondo, talvez, uma menor urgência de divulgação. Assim, o documentário se caracteriza por ser uma observação, mais distanciada do fato, daí sua atemporalidade (MELO etall, 1999, p.2)

Entende-se que o tempo e a profundidade não seriam os únicos motivos, mas também o olhar e a observação que seria feita deste tema. Cristina de Melo ainda ressalta que a questão do gênero jornalístico documentário traz à tona a discussão enquanto registro histórico e social, como reflexões sobre o real e ficcional, a fala encaixa perfeitamente com o tema de cunho histórico do projeto, que seria a criação de um novo Estado em 1977. Produzir um produto de tal gênero é interessante pois não é algo que as pessoas podem ver normalmente em canais de televisão abertos, no dia a dia, como reforça Ramos: Acreditamos que isso se dá porque nas TVs comerciais o ritmo de produção jornalístico é pautado, prioritariamente, pela informação factual e pelo imediatismo na transmissão da informação. Isso dificulta o investimento na produção de documentários, pois, estes requerem uma pesquisa mais aprofundada e detalhada do tema abordado (MELO etall, 1999, p.2)

Quando falamos de documentário, muitas vezes já vem a imagem de produtos para o cinema sobre diversos assuntos, mas como questionado por Márcia Carvalho (2006), precisamos compreender o que é de fato um produto jornalístico Nos dias de hoje podemos perceber uma revitalização na produção de documentários para cinema e para televisão. No entanto, há uma diversidade muito grande de tendências e estilos que nos fazem, muitas vezes, questionar sobre quais destes documentários vistos no cinema e na televisão são efetivamente documentários jornalísticos. (CARVALHO, 2006)

Analisando essa perspectiva, podemos justificar o documentário como um projeto de conclusão de curso para o curso de jornalismo por ser de fato um produto da área, podendo abordar com mais profundidade temas factuais das matérias dos


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jornais diários, como reforça Márcia Carvalho (2006). Entendemos assim, que devido ao maior tempo de produção depositado para ele, o maior número de fontes e embasamento teórico, ele não seria um produto quer veríamos no cotidiano das televisões abertas, mas sim como programas especiais a serem exibidos, mas sempre de caráter jornalístico. O que é um documentário jornalístico? O documentário é o formato de produção audiovisual que lida com a verdade, mostra fatos reais ou não imaginários, o que normalmente chamamos de "não-ficção". Aborda um tema ou assunto em profundidade a partir da seleção de alguns aspectos e representações auditivas e visuais. Para eleger um tema é preciso pensar sobre a sua importância história, social, política, cultural, científica ou econômica. Além disso, não devemos esquecer que o documentário pode reconstituir ou analisar assuntos contemporâneos de nosso mundo histórico vistos por uma perspectiva crítica. (CARVALHO, 2006)

O modo escolhido para o projeto será o expositivo que, segundo o autor Bill Nichols (2005, p.143), “agrupa fragmentos do mundo histórico numa estrutura mais retórica ou argumentativa do que a estética ou a poética”. Ainda sobre os modos que Nichols menciona “No modo expositivo, a montagem serve menos para estabelecer um ritmo [...] do que para manter a continuidade do argumento” (2005, p. 144), assim, compreende-se que a utilização das imagens e outros recursos nesse modo é utilizado também para a incrementar a fala do personagem. “Os documentários expositivos dependem muito de uma lógica informativa transmitida verbalmente” (NICHOLS, 2005, p. 145) assim, entendemos que este modo de documentário agrega o formato jornalístico passar um conteúdo, de forma informativa para o público. As técnicas de entrevista utilizadas foram as propostas por Cremilda Medina (1990) em Entrevista: O diálogo possível, onde é possível vermos a diferença entre um mero ping pong de perguntas e um verdadeiro diálogo com a fonte. A entrevista pode ser apenas uma eficaz técnica para obter respostas pré-pautadas por um questionário. Mas certamente não será um braço da comunicação humana, se encarada como simples técnica. Esta – fria nas relações entrevistado-entrevistador-não atinge os Limites possíveis da inter-relação, ou, em outras palavras do diálogo. (MEDINA, 1990. p.5)


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Medina também cita a diferença entre o modo de entrevistar o personagem, em entrevistas que se quer espetacularizar a pessoa ou que tem intenção de compreendê-la. O projeto é essencialmente uma conversa para revelar as memórias e entender a realidade.


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3. CONSIDERAÇÕESFINAIS Quando me mudei de Suzano, na Grande São Paulo, para Campo Grande, enfrentei diversos obstáculos. Morar sozinha, aprender a administrar uma casa, a lidar com dinheiro e afins, aos 17 anos, foi um desafio. Durante toda essa caminhada, fui tendo contato com uma nova cultura, com novas realidades e todas essas experiências me ensinaram e moldaram o que sou hoje. Descobrir qual tema eu queria desenvolver para o TCC foi difícil, mas uma coisa era certa queria unir o jornalismo audiovisual, já que tenho grande interesse na área de telejornalismo, e história, que foi um campo que eu sempre tive curiosidade. Apesar de não dominar a edição de vídeos, queria me propor a esse desafio. Durante o curso não tive muitas experiências com o audiovisual, mas com a ajuda de uma amiga e egressa do curso Thayná Oliveira consegui finalizar o produto. Enquanto fazia o roteiro de perguntas e definia quais seriam os meus personagens para o trabalho, pensei em como seria mesclar a parte técnica do processo, com as fontes especializadas, e a parte mais afetiva, com as fontes pessoais. Durante todo o projeto, o maior desafio foi deixar tudo em uma linguagem de fácil acesso e fazer com que as pessoas não especializadas entendessem o porquê houve a criação do Estado. O documentário audiovisual “Mato Grosso do Sul: A Criação de um Estado” foi uma experiência única para mim. Todas as entrevistas me ensinaram a ter mais desenvoltura com um assunto especializado, a ter uma visão mais humana de um conteúdo tão denso e pude aprender um pouco mais a usar o jornalismo e a história de maneira mais didática. Quando consegui conversar com o primeiro sul-mato-grossense, por exemplo, tinha o dever de mostrar todas as promessas que fizeram para ele quando criança e não foram cumpridas. Essa conversa com o Carlos Adriano da Silva me fez refletir se o descaso do poder público com a criança símbolo do Estado não seria também um descaso do poder com o próprio Estado. Quando conversei com a sua mãe, Ivanete da Silva, e com o fotógrafo Roberto Higa, pude entender como era a


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realidade da população durante aquela “bagunça” política que enfrentaram no começo dos rumores da divisão. Descobrir um pouco sobre a história do novo Estado e como o Mato Grosso do Sul que conhecemos hoje saiu do papel para uma nova esperança para tantas pessoas foi um dos passos mais gratificantes do trabalho. Usar um equipamento que eu não tinha contato até então, aprender a usar os recursos da câmera e fazer filmagens foram muito diferentes para mim e fiquei satisfeita com a qualidade das imagens que consegui captar. Além de ter criado maior aptidão com um material tão pouco explorado, consegui realizar o trabalho de cinegrafista e jornalista ao mesmo tempo, e fico feliz que essa multitarefa não tenha atrapalhado a qualidade do projeto. Esse processo me ensinou a ser perseverante e não desistir do tema que sempre quis apesar das dificuldades, sempre buscar uma solução para os problemas que enfrentarei no meu futuro na profissão. Desde o começo o plano inicial era fazer um documentário sobre a cobertura televisiva da criação do Estado, mas logo na primeira conversa com o professor Marcelo Câncio descobri que não havia registros da época na TV Morena. Depois dessa informação, eu não sabia mais se esse tema seria viável, mas em conversa com a minha orientadora, ela me mostrou que um documentário sobre a criação já seria um produto jornalístico em si. Depois de todo o medo e aflições de um TCC, ver o documentário finalizado provou que todo o esforço valeu a pena e que esse sempre foi o produto que eu quis entregar, mesmo quando não tinha esboçado todo o projeto. Conhecer o passado do local onde você mora é fundamental para compreender o seu presente e os problemas que sua cidade/Estado tem. Espero que com esse documentário, as pessoas consigam entender um pouco o porquê Mato Grosso do Sul é como o conhecemos hoje.


4. REFERÊNCIAS BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul: A construção de um Estado. 1. ed. Campo Grande: Editora UFMS, 2009. CAMPO GRANDE NEWS. MS nasceu com orçamento de 4 bilhões e 3 governadores em um ano. Disponível em <https://www.campograndenews.com.br/cidades/ms-nasceu-com-orcamento-de-4-bilhoes-e-3governadores-em-um-ano> Acessado em 06/12/2018 CARVALHO, Márcia. O Documentário e a prática jornalística. Revista PJ:Br, Jornalismo Brasileiro, 7ª edição – 2º semestre, 2006. Disponível em<http://www2.eca.usp.br/pjbr/arquivos/ensaios7_d.htm>. Acessado em 06/12/2018 FURLANETTO, Vera Lucia. Mato Grosso do Sul: Sua criação pelas representações dos jornais O Progresso e Correio do Estado. Dourados: UFGD, 2018. G1. Divisão do estado de Mato Grosso completa 30 anos. Disponível em <http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL148365-5598,00.html>. Acessado em 25/04/2018 IBGE. Mato Grosso do Sul. Disponível em <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/panorama>. Acessado em 13/11/2018. LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários: Conceito, linguagem e prática de produção. 2. ed. SP: Summus Editorial, 2012. MATO GROSSO DO SUL. (Estado) Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas. Dados de Mato Grosso do Sul. Disponível em <http://www.reflore.com.br/dados/dados-de-mato-grosso-do-sul>. Acessado em 25/04/2018 MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: O diálogo possível. 2. ed. SP: Ática. 1990. MELO, Cristina, MORAIS, Wilma de, e GOMES, Isaltina. O documentário como gênero jornalístico televisivo. Campinas:1999. Disponível em <http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/e969053bfccdc7be14f5e0a009b95215.pdf>. Acessado em 06/12/2018 NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. 1. ed. Campinas: Papirus Editora, 2005. PACIVIETCH, Thais. História de Mato Grosso do Sul. Disponível em <https://www.infoescola.com/mato-grosso-do-sul/historia-do-mato-grosso-do-sul/> Acesso em 25/04/2018 PORTAL DO MS. (Estado) Governo do Estado de mato Grosso do Sul. Disponível em <http://www.ms.gov.br/a-historia-de-ms/>. Acessado em 13/11/2018 FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br/ jorn.faalc@ufms.br


VISITE O BRASIL. A divisão do Estado. Disponível em<https://www.visiteobrasil.com.br/centro-oeste/mato-grosso-do-sul/historia/conheca/adivisao-do-estado> Acessado em 13/11/2018

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