Operário Futebol Clube na Copa Brasil de 1977 sob a ótica da imprensa esportiva | Lucas de Castro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE JORNALISMO

LUCAS BARBOSA DE CASTRO

OPERÁRIO FUTEBOL CLUBE NA COPA BRASIL DE 1977 SOB A ÓTICA DA IMPRENSA ESPORTIVA: UMA ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS JORNAIS CORREIO DO ESTADO E DIÁRIO DA SERRA

Campo Grande (MS) Novembro/2018


OPERÁRIO FUTEBOL CLUBE NA COPA BRASIL DE 1977 SOB A ÓTICA DA IMPRENSA ESPORTIVA: UMA ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS JORNAIS CORREIO DO ESTADO E DIÁRIO DA SERRA

LUCAS BARBOSA DE CASTRO

Monografia apresentada como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientador: Prof. Dr. Mario Luiz Fernandes



AGRADECIMENTOS Antes da graduação, fui mais um, entre centenas de milhares de brasileiros a correr atrás do sonho de ser jogador de futebol. Não consegui. Depois de muitos anos treinando física e tecnicamente para tentar ser um atleta profissional (praticamente, desde os quatro anos de idade), recebi várias negativas em testes nos clubes e desisti, principalmente porque minha idade havia avançado e chegava o momento de prestar vestibular. O que fazer a partir daí? Ao término do ensino médio, o jornalismo era uma meta. A principal justificativa para esta escolha foi a paixão e o desejo incessante de estar imerso no segmento jornalístico voltado à cobertura de esportes. Cursar jornalismo para trabalhar com esportes é uma forma de estar sempre próximo do que gosto e me sentir bem. Pois bem, vamos aos agradecimentos. Primeiramente, agradeço a minha mãe Florinda, mulher mais importante da minha vida, por ter me trazido ao mundo e me ensinado a ser alguém antes de ter, pelo imenso amor, carinho, por nunca ter deixado nada faltar dentro de casa e ter me acompanhado na rotina de estudos nesses quatro anos e, principalmente na realização deste estudo. A segunda mulher mais importante da minha vida, minha amada, companheira Carolinna, que esteve ao meu lado dando todo o apoio e incentivo, principalmente nos momentos mais difíceis, de ansiedades e receios. Muito obrigado por acreditar em mim até quando eu mesmo não acreditei. Aos meus amigos e colegas de graduação, meu enorme agradecimento pelos momentos compartilhados, de alegria, algazarras, festas, conselhos, estudos, preocupações. Foi um prazer fazer parte da vida de vocês e tê-los comigo nesses últimos quatro anos. Gostaria de agradecer também ao meu estimado orientador Mario Luiz Fernandes, por ter cumprido sua função de modo muito prestativo, atencioso e exemplar. Sou imensamente grato pelas conversas esclarecedoras, pelas recomendações que nortearam meu trabalho e pelos bate-papos informais e descontraídos após as orientações. E, por fim, mas não menos importante, agradeço ao jornalista e escritor Hélder Rafael por ter me presenteado com sua obra Almanaque do Futebol Sul-Mato-Grossense (2017), que foi de suma importância para a realização deste trabalho, e também por servir de espelho em minha futura carreira jornalística.


“O futebol é passional porque é jogado pelo pobre ser humano”. (Nelson Rodrigues)


LISTA DE FIGURAS Figura 1. Capa da primeira edição do jornal Correio do Estado.............................................50 Figura 2. Editoria de Esportes do Correio do Estado..............................................................52 Figura 3. Página 2 da primeira edição do Diário da Serra......................................................54


LISTA DE QUADROS E TABELAS Tabela 1. Partidas do Operário F.C. na Copa Brasil de 1977..................................................45 Tabela 2. Edições analisadas do Correio do Estado................................................................63 Tabela 3. Edições analisadas do Diário da Serra.....................................................................64 Tabela 4. Total de matérias analisadas qualitativamente (nos)...............................................152 Tabela 5. Total de matérias analisadas qualitativamente (%)................................................153 Tabela 6. Quantidade de matérias na editoria esportiva do Correio do Estado.....................154 Tabela 7. Quantidade de matérias na editoria esportiva do Diário da Serra..........................157


RESUMO CASTRO, L. B. de. Operário Futebol Clube na Copa Brasil de 1977 sob a ótica da imprensa esportiva: uma análise de conteúdo dos jornais Correio do Estado e Diário da Serra. Monografia (Graduação em Jornalismo) — Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Campo Grande – MS, novembro de 2018.

O presente trabalho analisou a cobertura esportiva da Copa Brasil de 1977 pelos jornais Correio do Estado e Diário da Serra, em particular a respeito da campanha do Operário Futebol Clube na competição. Foram analisadas 21 edições pós-jogo de cada periódico, entre 18 de outubro de 1977 e 2 de março de 1978, período que compreende a duração do campeonato nacional. Constatou-se, com este estudo monográfico, por meio da análise de conteúdo quantitativa e qualitativa, se os jornais realizaram uma cobertura neutra e imparcial, negativa, positiva ou apaixonada em relação à equipe campo-grandense. São analisadas a quantidade de textos jornalísticos dedicados à Copa Brasil nas 42 edições totais, o teor e o posicionamento de cada matéria presenta nestas.

Palavras-chave: Jornalismo Esportivo. Correio do Estado. Diário da Serra. Copa Brasil. Futebol. Operário Futebol Clube.


SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 1 REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ....................................................... 14 1.1 O esporte enquanto fenômeno sociológico e cultural.................................................. 14 1.2 O esporte na imprensa ................................................................................................. 18 1.2.1 Jornalismo esportivo como especialização........................................................ 18 1.2.2 Jornalismo esportivo: desafios e prática ............................................................ 22 1.2.3 Paixão versus objetividade no jornalismo esportivo ......................................... 26 1.3 Mídia impressa esportiva no Brasil ............................................................................. 33 1.4 Breve história do futebol em Mato Grosso do Sul ...................................................... 38 1.4.1 Operário Futebol Clube: do amadorismo à profissionalização ......................... 40 1.4.2 Copa Brasil de 1977: Operário tão perto do sonho ........................................... 43 1.5 A imprensa sul-mato-grossense................................................................................... 48 1.5.1 Correio do Estado ............................................................................................. 49 1.5.2 Diário da Serra ................................................................................................. 53 1.6 A Análise de Conteúdo como metodologia ................................................................. 58 1.6.1 Análise de Conteúdo: conceito e funções.......................................................... 58 1.6.2 Corpus da pesquisa ............................................................................................ 63 1.6.3 Codificação, categorização e elaboração de categorias analíticas..................... 66 1.6.4 Descrição do processo analítico ........................................................................ 70 2 O OPERÁRIO NAS PÁGINAS DO CORREIO DO ESTADO........................................ 72 2.1 Edição de 18 de outubro de 1977 ................................................................................ 72 2.2 Edição de 24 de outubro de 1977 ................................................................................ 74 2.3 Edição de 28 de outubro de 1977 ................................................................................ 76 2.4 Edição de 8 de novembro de 1977 .............................................................................. 78 2.5 Edição de 11 de novembro de 1977 ............................................................................ 79 2.6 Edição de 18 de novembro de 1977 ............................................................................ 81 2.7 Edição de 21 de novembro de 1977 ............................................................................ 83 2.8 Edição de 24 de novembro de 1977 ............................................................................ 84 2.9 Edição de 28 de novembro de 1977 ............................................................................ 86 2.10 Edição de 2 de dezembro de 1977 ............................................................................. 88 2.11 Edição de 5 de dezembro de 1977 ............................................................................. 90 2.12 Edição de 8 de dezembro de 1977 ............................................................................. 92 2.13 Edição de 19 de dezembro de 1977 ........................................................................... 94


2.14 Edição de 2 de fevereiro de 1978 .............................................................................. 96 2.15 Edição de 16 de fevereiro de 1978 ............................................................................ 98 2.16 Edição de 20 de fevereiro de 1978 ............................................................................ 99 2.17 Edição de 21 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 101 2.18 Edição de 23 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 104 2.19 Edição de 26 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 106 2.20 Edição de 27 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 109 2.21 Edição de 2 de março de 1978 ................................................................................. 111 3 O OPERÁRIO NAS PÁGINAS DO DIÁRIO DA SERRA ............................................ 114 3.1 Edição de 19 de outubro de 1977 .............................................................................. 116 3.2 Edição de 25 de outubro de 1977 .............................................................................. 117 3.3 Edição de 28 de outubro de 1977 .............................................................................. 119 3.4 Edição de 8 de novembro de 1977 ............................................................................ 120 3.5 Edição de 11 de novembro de 1977 .......................................................................... 122 3.6 Edição de 18 de novembro de 1977 .......................................................................... 123 3.7 Edição de 22 de novembro de 1977 .......................................................................... 124 3.8 Edição de 24 de novembro de 1977 .......................................................................... 126 3.9 Edição de 29 de novembro de 1977 .......................................................................... 127 3.10 Edição de 2 de dezembro de 1977 ........................................................................... 128 3.11 Edição de 6 de dezembro de 1977 ........................................................................... 129 3.12 Edição de 9 de dezembro de 1977 ........................................................................... 133 3.13 Edição de 20 de dezembro de 1977 ......................................................................... 135 3.14 Edição de 2 de fevereiro de 1978 ............................................................................ 137 3.15 Edição de 16 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 138 3.16 Edição de 19 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 139 3.17 Edição de 21 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 141 3.18 Edição de 23 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 144 3.19 Edição de 26 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 145 3.20 Edição de 28 de fevereiro de 1978 .......................................................................... 147 3.21 Edição de 2 de março de 1978 ................................................................................. 149 3.22 Resultados finais da análise ..................................................................................... 151 3.22.1 Números do Correio do Estado..................................................................... 153 3.22.2 Números do Diário da Serra ......................................................................... 155 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 159 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 163 ANEXOS ............................................................................................................................... 166


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INTRODUÇÃO No Brasil, quando se fala em elite nacional futebolística, logo vem à mente o futebol praticado por equipes do eixo formado por quatro estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Dificilmente um time de outro estado ou região do país desponta com facilidade em busca de títulos de expressão como o do Campeonato Brasileiro de Futebol da primeira divisão, composta até por clubes detentores de conquistas em nível mundial. Todavia, equipes de unidades federativas consideradas periféricas já se aventuraram em meio aos obstáculos. Algumas, com campanhas relâmpagos, outras, com persistência, resultando em uma evidência nacional. Em Mato Grosso do Sul não foi diferente. A modalidade esportiva destacou-se por um período muito curto. O estado teve seus “anos de ouro” da metade da década de 1970, antes do processo divisionista, quando ainda era Mato Grosso, até a metade da década de 1980, com aparições de times como Operário Futebol Clube e Esporte Clube Comercial em competições de nível nacional. Esta última equipe foi a primeira representante campo-grandense (e por que não sul-mato-grossense?) no Campeonato Brasileiro, em 1973. Entretanto, o ponto mais alto do futebol sul-mato-grossense se deu quatro anos mais tarde, com a terceira colocação do clube operariano na Copa Brasil de 1977 (o que se conhece hoje por Campeonato Brasileiro, o popular “Brasileirão”). A equipe de Campo Grande perdeu na semifinal para o São Paulo Futebol Clube que, na época, figurava entre os melhores clubes do país. E como os jornais mato-grossenses retrataram essa campanha histórica e inédita para o estado? A presente pesquisa visa compreender como foi feita a cobertura jornalística da campanha operariana. A reportagem provocou o entusiasmo do público, da torcida campograndense? Esta reportagem apresentou-se de modo favorável à equipe operariana ou a cobertura foi equilibrada, imparcial e neutra? Os dois jornais escolhidos para a análise foram o Correio do Estado e o Diário da Serra. Na década de 1970 e 1980, estes eram os principais jornais que circulavam em Campo Grande e os mais conhecidos pela população. Por meio da análise, investigou-se qual o teor e posicionamento adotados pela imprensa esportiva campo-grandense, voltando-se especificamente para os textos que retratam o Operário Futebol Clube na Copa Brasil. Do ponto de vista metodológico, a construção do presente estudo monográfico se sustentará através da Análise de Conteúdo (AC). De acordo com Bardin (2016), mediante à AC, pode-se realizar uma pesquisa com objetivos quantitativos e qualitativos. Sob a perspectiva da análise quantitativa, é possível obter números que indiquem a frequência de ocorrência de determinadas temáticas e a quantidade de matérias encontradas


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em uma edição de periódico. Assim sendo, este trabalho tem por objetivo averiguar a forma de cobertura dada pelos jornais Correio do Estado e Diário da Serra a respeito da competição nacional. A Copa Brasil foi prioridade ou não da editoria esportiva? E quanto à abordagem do Operário neste campeonato? Por outro lado, a Análise de Conteúdo possibilita encontrar resultados qualitativos, através da investigação de aprofundamento do conteúdo jornalístico, a fim de analisar o teor do que foi escrito em uma página de jornal. Em vista disso, este estudo buscar salientar se os textos produzidos pendem para um relato positivo ou até mesmo deixando transparecer uma paixão1 em relação à equipe operariana ou se estão de acordo com o que gênero jornalístico informativo: o relato puro do fato, a tentativa de aproximação mais fiel à imparcialidade, neutralidade, não deixando transparecer opiniões e pontos de vista. Diante disso, mais indagações surgem: os jornais esperavam que um time local faria tanto sucesso numa competição a nível nacional? A partir de que momento os jornais perceberam que o clube de Campo Grande poderia avançar no campeonato, chegando a uma semifinal? A partir de que partida os jornais notaram que o Operário tinha chances reais de vencer a Copa Brasil de 1977 e trazer a taça a Campo Grande? Todos esses questionamentos respondidos podem proporcionar um panorama de como foi feita a cobertura do início ao fim do campeonato, destacando-se possíveis sentimentos de otimismo, confiança, positividade ou até mesmo de frustração, negatividade. Afinal, era apenas a quinto ano de participação de uma equipe do interior do Mato Grosso. O corpo do trabalho é constituído por três capítulos. O primeiro, referente à fundamentação teórico-metodológica, é dividido em seis tópicos. O primeiro tópico consiste em ressaltar o papel do esporte enquanto fenômeno social e identitário, principalmente do futebol, que ultrapassa os conceitos de uma modalidade esportiva baseada na competitividade, em resultados, vencedores versus perdedores. O segundo tópico discute a representação do esporte na imprensa e como esta área foi firmando-se como especialização nos veículos de comunicação, assim como política, ciência e economia ao longo dos anos, mesmo o jornalismo esportivo sendo um dos segmentos mais sujeitos a julgamentos de inferioridade dentro do cenário jornalístico e até em meio às redações jornalísticas. Além disso, este discorre a respeito da linha tênue entre paixão versus

Rossi (1984, p. 11) ressalta que “mesmo em assuntos de reduzida influência política, como é o caso de uma partida de futebol, a objetividade é quase inatingível” e que a maioria dos jornalistas esportivos torcem por um determinado time e que por isso podem deixar transparecer suas “paixões pessoais”. A partir da definição de “paixão”, associado a um relato subjetivo, este será o termo utilizado neste estudo monográfico para designar as matérias jornalísticas que apresentem muito mais do que um relato favorável ao Operário, que contenham um teor “apaixonado”. 1


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objetividade, que permeia o jornalismo esportivo e é alvo de constantes debates no ambiente profissional e acadêmico. Até que ponto os membros da imprensa esportiva reproduzem a realidade fidedigna dos fatos e deixam de lado a emoção? Na editoria de esportes, qual o limite entre informação e opinião? Para tentar responder tais indagações, buscou-se trazer uma discussão em torno dos conceitos de objetividade jornalística e subjetividade da notícia, evidenciando-se o que se entende por “bom jornalismo”, ético, atendo-se aos preceitos de imparcialidade e isenção do relato noticioso como elementos essenciais, tanto na absorção, quanto na divulgação dos fatos. O terceiro contextualiza historicamente o esporte na imprensa brasileira, visando compreender quando e como as modalidades esportivas começaram a penetrar nos veículos midiáticos impressos. Coelho (2003) relata que o esporte demorou a ter êxito, sendo constante o advento e fechamento de jornais e revistas esportivas especializadas que tentavam se aventurar nesse universo. Por sua vez, o quarto tópico explana brevemente como o futebol surgiu no sul do estado de Mato Grosso, desde os princípios de equipes e competições amadoras, até chegar à profissionalização. Também foi realizado um relato histórico desde as origens e os aspectos em torno da fundação do Operário Futebol Clube, até atingir uma posição de mais destaque, caracterizada pela terceira colocação na Copa Brasil de 1977. O quinto apresenta os periódicos Correio do Estado e Diário da Serra, descrevendo como foi realizado o processo de fundação e manutenção destes. O primeiro, fundado no dia 7 de fevereiro de 1954, é o principal jornal impresso de Mato Grosso do Sul, com ininterruptos 64 anos de circulação diária. Por outro lado, o Diário da Serra, fundado em 28 de maio de 1968, pertencia aos Diários Associados de Assis Chateaubriand e chegou a Campo Grande com o objetivo de espalhar pelo Brasil os principais fatos ocorridos em Mato Grosso. Em torno destes jornais, o questionamento que fica, em relação ao foco da pesquisa, é: teria o Correio do Estado realizado uma cobertura mais favorável e até sensacionalista sobre o Operário na Copa Brasil, por ter sido criado em um contexto interiorano, “ter raiz matogrossense” e, de certo modo, acompanhado a ascensão do clube campo-grandense? Em contrapartida, o Diário da Serra, por ser um jornal “de fora2” do estado, com uma linha editorial e de conduta central, regida pelos Diários Associados e sua credibilidade jornalística, fez um relato noticioso mais neutro, independente e imparcial a respeito da equipe operariana, por não possui um vínculo local?

“De fora”, “estrangeiro”, no sentido de não possuir vínculos originários com o estado de Mato Grosso e ser instalado seguindo uma lógica organizacional de um conglomerado nacional, com uma política editorial centralizada. 2


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Parte-se do pressuposto que os jornais de caráter estritamente local, “menor”, davam maior liberdade para a opinião dentro dos textos e que os grandes veículos de comunicação possuem normas mais rígidas e deveriam atuar mais com a neutralidade, numa realidade menos opinativa presente nas matérias. Esta é mais uma proposição provisória a ser explorada nesta monografia. Por fim, o sexto tópico descreve a metodologia utilizada e objetiva elucidar a escolha da Análise de Conteúdo o corpus da pesquisa, os elementos da pesquisa, o detalhamento das etapas da análise e, finalmente, a análise de cada edição selecionada para o presente estudo. Neste tópico secundário, serão expostas com mais clareza as designações em torno da escolha das unidades de registro e categorias analíticas da pesquisa, bem como o enquadramento das matérias analisadas em suas respectivas classificações, no que diz respeito à abordagem factual e o teor dos textos veiculados por cada jornal. Nos capítulos dois e três, foram realizadas as análises do conteúdo publicado por Correio do Estado e Diário da Serra, respectivamente. Foram escolhidas edições diárias posteriores às partidas do Operário na Copa Brasil de 1977, entre 18 de outubro de 1977 e 3 de março de 1978, período de duração do campeonato. Foi realizada uma análise quantitativa e qualitativa sobre os textos: a quantidade de matérias; se houve destaques de capa; qual a abordagem factual dos assuntos feita por cada jornal na editoria esportiva; se há posicionamento neutro/imparcial, negativo, positivou ou apaixonado dos periódicos em relação ao Operário no Campeonato Brasileiro. Por último, um tópico do capítulo três foi destinado à exposição dos resultados encontrados na análise de conteúdo. São evidenciados quais os números conclusivos do estudo; a quantidade de matérias dedicadas à Copa Brasil de 1977; se há mais matérias neutras/imparciais, negativa, positivas ou apaixonadas sobre o Operário. Este tópico é fundamental para complementar os capítulos dedicados às analises propriamente ditas das matérias do Correio do Estado e Diário da Serra, a fim de não tornar a pesquisa enfastiante e incompreensível. No que diz respeito à justificativa acadêmica, este é o primeiro trabalho a abordar o futebol e, mais especificamente, um time sul-mato-grossense sob a ótica da cobertura esportiva dos meios de comunicação. O Operário F. C., principalmente, já foi muito tratado por outros estudos acadêmicos, mas nunca por um viés voltado de modo exclusivo à pesquisa científica, de caráter teórico. A maioria dos trabalhos desenvolvidos sobre esta temática é de cunho prático, direcionada aos relatos históricos em produtos jornalísticos, como impressos (grandes reportagens, livros-reportagens, revistas), videodocumentários e radiodocumentários.


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Entre alguns dos produtos sobre o futebol em Mato Grosso do Sul estão o videodocumentário O que era aquilo? (2013), de João Conrado Kneipp e Pedro Nogueira Heiderich, que analisa o auge e decadência do futebol regional e relata as principais histórias ocorridas no período de apogeu dos clubes do estado, entre elas a suposta aparição de um Objeto Voador Não Identificado na partida entre Operário x Vasco, no Morenão, em 1982; a revista Quatro décadas do Estádio Morenão (2013), de Dayane Suellen Fernandes e Renata Tano Portela, que descreve os acontecimentos mais relevantes do estádio em seus 40 anos de existência; o livro-reportagem Gigante de Chumbo (2014), de Jones Mário de Avila Minervini Júnior, que retrata os aspectos da construção do Estádio Morenão relacionados às políticas ufanistas e a difusão de ideais nacionalistas, adotados durante a ditadura militar; Especificamente sobre os clubes locais, destaca-se o videodocumentário Comerário – 38 anos de História (2011), de Daiany de Albuquerque Proença, conta a história do maior clássico campo-grandense, entre Comercial e Operário, retomando como se deu a origem destes clubes, o princípio da rivalidade e algumas histórias dos jogos, baseadas nos relatos e lembranças de torcedores, profissionais da imprensa e jogadores. O despertar da temática para a realização deste estudo monográfico muito se deve a uma tentativa de valorização e resgate regional, tanto da imprensa esportiva, quanto do futebol sul-mato-grossense, que teve seu auge no cenário nacional no final da década de 1970, caracterizado, sobretudo, pela terceira colocação do Operário Futebol Clube na competição futebolística mais relevante do país. Hoje, o futebol local encontra-se no esquecimento, principalmente no tangente à administração pública responsável pelo esporte no estado de Mato Grosso do Sul.


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1 REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS 1.1 O esporte enquanto fenômeno sociológico e cultural As práticas esportivas podem ser compreendidas muito além do estudo de suas modalidades, de competições, resultados e regras. O esporte deve ser encarado como campo de investigação sociológica, devido a sua significância enquanto ciência para a sociedade. Para Martins (2016, p. 21), “a sociologia, enquanto ciência busca entender as relações entre grupos sociais, seu comportamento, que venha a justificar as ações do homem com o próprio meio”. Raiter; Oelke e Wiggers (2012) afirmam que o esporte está inserido na sociedade brasileira como um fenômeno. “Sua presença permeia os diversos setores da nossa sociedade e faz parte do conteúdo do debate acadêmico, pois sua discussão extrapola a esfera esportiva” (RAITER; OELKE; WIGGERS, 2012). O futebol, esporte mais praticado no Brasil, é parte integrante da identidade nacional. Inicialmente, a modalidade era praticada somente pela elite, excluindo a população negra e os socialmente abastados, principalmente por um viés econômico, por ser um esporte consideravelmente caro, visto que grande parte do material usado, como chuteiras e bolas, era importado. Diante dessa situação socioeconômica, Said e Gomes (2015) relatam que

o futebol era praticado como lazer, diversão e ambiente de confraternização entre as elites, por isso ainda não despertava paixão por caracterizar o esporte de poucos. Posteriormente o esporte foi levado as fábricas onde os operários o praticavam em horário de almoço, disseminando o esporte em outras classes sociais. (SAID e GOMES, 2015, p. 9)

A identificação popular com o futebol foi ganhando forma com o passar dos anos, principalmente ao ser inserido no processo de massificação, quando “começou a se moldar ao jeito brasileiro e foi muito bem aceito no país” (SAID e GOMES, 2015, p. 9). Por este motivo, a modalidade arraigou-se tanto em solo nacional que muitos acreditam que o futebol é originariamente brasileiro. Deste modo, Said e Gomes (2015) consideram que o esporte passou a ser encarado com uma representação da sociedade brasileira, uma espécie de linguagem ritual. Na mesma linha de raciocínio, Helal (2011) ressalva que, desde chegou ao país, o futebol atravessou um processo de incorporação cultural, “até se constituir no que chamamos de ‘paixão nacional’, como se afirmássemos que o nosso futebol é o melhor do mundo e o Brasil é o lugar onde mais se ama e se entende do assunto” (HELAL, 2011, p. 28).


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A obra Universo do Futebol: Esporte e Sociedade Brasileira (1982), de Roberto DaMatta, é encarada como pioneira para a formação basilar dos estudos na Academia sobre o futebol no Brasil. O autor procura, principalmente, utilizar-se da linguagem ritualística para compreender o fenômeno como “drama” da vida social brasileira. DaMatta (1982) argumenta que o futebol pode ser entendido “como um modo privilegiado de situar um conjunto de problemas significativos da sociedade brasileira” e sustenta que “o futebol seria popular no Brasil porque ele permite expressar uma série de problemas nacionais, alternando a percepção e elaboração intelectual com emoções e sentimentos concretamente sentidos e vividos” (DAMATTA, 1982, p. 40). Em A bola corre mais que os homens (2006), DaMatta afirma que o esporte não pode ser visto como um artifício que objetiva reproduzir as políticas de uma ideologia dominante. O teórico acredita que o futebol, por exemplo, pode ser usado como instrumento político e social a favor da igualdade como princípio, contribuindo, assim, para a popularização do esporte entre as massas, o que transfigura a modalidade em paixão nacional, celebrada pelo povo.

Essa relação entre povo e futebol tem sido tão profunda e produtiva, que muitos brasileiros se esquecem de que ele foi inventado na Inglaterra e pensam que ele é, como a mulata, o samba, a feijoada, o jogo do bicho, o cafuné, a sacanagem e a saudade, um produto brasileiro. Tal ousadia em mudar, canibalizando, uma história recente e bem documentada apenas indica o quanto o “futebol” foi devidamente apropriado pelas massas que com ele mantêm uma invejável intimidade. Intimidade que o torna nativo e o redefine como uma instituição brasileira, contrariando as visões xenófobas cujo ponto de partida é a ideia de que o Brasil é uma sociedade tão débil e pronta a ser iludida que suas elites têm que protegê-la de tudo o que chega de fora. (DAMATTA, 2006, p. 143)

De acordo com DaMatta (2006), o futebol chegou em terras tupiniquins através de um procedimento histórico de disseminação cultural. Para ele, a modalidade foi imprescindível para propagar e enraizar a prática esportiva da nação, responsável por escancarar os acessos da sociedade brasileira a um conjunto de atividades assinaladas por disputas democráticas e instigantes. Em estudo relacionando a história e o firmamento do futebol com a consolidação de uma identidade brasileira, Guterman (2009) acredita que o esporte é o fenômeno social máximo do país, pois retrata a identidade nacional e adquire significância em relação aos desejos de potência de grande parte dos brasileiros. O autor trata o futebol como autêntica


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construção histórica, concebido como fragmento intrínseco da difusão da vida econômica e política brasileira. Ainda segundo os pensamentos de DaMatta (2006), o futebol foi encarregado de suscitar a cidadania brasileira. Na concepção do autor, entre os principais fundamentos do esporte para essa concessão estão as regras igualitárias, que não mudam de cidadão para cidadão e amparam a totalidade; pelo fato do futebol proporcionar o significado de pertencimento, sem a necessidade de intermediações eruditas e complexas, além de oferecer o conhecimento, a experiência com a vitória e com a primazia.

No futebol e pelo futebol, o povo aprendeu que pode vencer seus problemas sem salvacionismos messiânicos ou ideológicos. Com ele, o Brasil teve uma grata e apaziguante experiência com a vitória, com a excelência, com a competência, com a paciência e com o amor, esses valores sistemática e significativamente ausentes dos projetos políticos. Nesses papéis, ao contrário do futebol, a sociedade brasileira surge como uma entidade vazia de valores, destinadas a ser reeducada e transformada pelo Estado. É, pois, o futebol que engendra essa cidadania positiva e prazerosa, profundamente sociocultural, que transforma o Brasil dos problemas, das vergonhas, da competência e das vitórias. Uma coletividade que pode finalmente contar com suas próprias forças e talento. Com o futebol, o Brasil não nos enche de vergonha – como ocorre no discurso dos políticos – mas de orgulho, carinho e amor. (DAMATTA, 2006, p. 124)

Ademais, na observação de Elias e Dunning (1995), o esporte pode ser classificado como uma válvula de escape para as tensões cotidianas, uma maneira de se retirar do mundo real e vivenciar a felicidade, sem preocupações com os afazeres e obrigações da contemporaneidade. Além disso, na visão dos autores, o esporte tem a atribuição de catalizador das emoções e desague das decepções e fracassos em uma sociedade cada vez mais pressionada pelo sucesso e desenvolvimento profissional no trabalho. Para eles, as atividades esportivas preencheram o espaço anteriormente exclusivo das práticas religiosas e às crenças, no que tange ao relaxamento, descontração frente às limitações impostas aos indivíduos e, de um modo geral, à sociedade no dia a dia. Baseando-se no mesmo raciocínio do esporte como alívio das aflições e preocupações, DaMatta (1994) refere-se ao futebol como uma arte oposta ao “serviço direto ou explícito dos valores que constituem o mundo diário do trabalho, do dinheiro e do controle” (DAMATTA, 1994, p. 13).

Diferentemente do trabalho, portanto, que tem uma relação direta com o “dever”, com a “obrigação”, com o “castigo”, com o “pecado” e com a “dureza da vida”, o esporte é uma atividade paradoxal porque não é produtiva no


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sentido radical de provocar uma transformação da natureza e da sociedade. Voltadas antes de tudo para si mesmas, esporte e arte são esferas da vida que negam o utilitarismo dominante e, por isso mesmo, promovem um efeito de pausa, feriado, ou descontinuidade com a sofreguidão exigida pela lógica do lucro, do trabalho e do êxito a todo custo. (DAMATTA, 1994, p. 13)

Nesta comparação entre o trabalho e o esporte como válvula de escape, DaMatta (1994), atribui dois sentidos distintos ao corpo humano, tanto para a labuta cotidiana, quanto como instrumento competitivo em uma competição esportiva. “No campo de futebol [...] o que se observa não é mais o corpo maltratado e deselegantemente liquidado pelo trabalho que o controla e consome, mas um corpo que desafia o tempo, o espaço e outros corpos” (DAMATTA, 1994, p. 15). Mesmo estando em atividade laboriosa, árdua, este corpo esportivo é capaz de transformar um evento em emoção e positividade ao público. Estes eventos, por sua vez, diante da ideologia econômica capitalista, geram lucro, diante de uma massa cada vez mais aficionada. Isto é, o esporte (e, principalmente, o futebol no Brasil) é, acima de tudo, negócio.

Assim, no esporte, em contraste com o que ocorre no trabalho industrial, sobretudo em países como o Brasil, onde o trabalho tem uma carga cultural negativa, o corpo sintetiza novamente disciplina obrigatória com prazer e beleza. Com isso, o esporte reintegra intelecto e ação, mostrando como corpo e alma podem marchar lado a lado num espetáculo capaz de eventualmente produzir a mais profunda emoção estética. Tudo isso gerando lucro e atraindo aos estádios massas que, diante do evento esportivo, esquecem o seu massacrante dia a dia nas fábricas, nas favelas e nos bairros insalubres. (DAMATTA, 1994, p. 15)

DaMatta (1994) salienta também para questão do esporte enquanto fenômeno originador de festas populares nos estádios de futebol, por exemplo, entre os públicos pertencentes à massa, em oposição à erudição de concertos e teatros, onde os espectadores e atores estão formalmente separados. O teórico afirma que, em ginásios e estádios, “as multidões urbanas podem deleitar-se com as inúmeras emoções de um espetáculo de grande poder de sedução visual e auditivo [...] além de serem atores ativos de um espetáculo” (DAMATTA, 1994, p. 15). Essa junção entre público e atores cria significados simbólicos e é responsável pela formação do torcedor, “aquele ou aquela que torce, contorna e retorce o seu corpo para que o seu time seja vencedor, [...] aquele que urra dentro do estádio” (DAMATTA, 1994, p. 15).


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1.2 O esporte na imprensa Neste tópico, procura-se estabelecer uma pequena exposição de como o esporte foi inserido na imprensa brasileira e de que forma, devido a sua importância e audiência, acabou constituindo-se um tema tratado cotidianamente nos periódicos, rádios e emissoras de televisão e, consequentemente, firmando-se como especialização nos veículos de comunicação, assim como política, ciência e economia. Primeiramente, busca-se explicar como o jornalismo esportivo começou a ganhar forma e adotar condição de jornalismo especializado, que tem como principais características a divisão de assuntos, a especificação de matérias, o envolvimento de um público próprio e até mesmo a demanda pela criação de veículos direcionados a esse grupo consumidor cativo. Ademais, buscar-se-á entender a linha tênue que, muitas vezes, permeia o jornalismo esportivo e a paixão. Posteriormente, como o foco da pesquisa está relacionada à análise de jornais impressos, foi explicitado quando e como apareceram as primeiras notícias de esporte nas páginas dos periódicos, primeiro, numa visão nacional e, em seguida, na mídia impressa sulmato-grossense, com foco nos jornais Correio do Estado e Diário da Serra. 1.2.1 Jornalismo esportivo como especialização Antes de qualquer explanação específica sobre jornalismo esportivo como segmento noticioso do jornalismo, é necessário conceituar o que é especialização nessa área. Especializar-se é passar a possuir conhecimentos específicos ou habilidades em determinadas áreas e assuntos, diminuir o campo de atuação profissional, aprofundando-se num só objeto ou questão. No jornalismo, isso não é dessemelhante e a especialização mostra-se necessária diante da infinidade de informações veiculadas cotidianamente a um público cada vez menos homogêneo e que possui relações íntimas com determinados temas e assuntos específicos. De acordo com Ana Abiahy em sua obra O jornalismo especializado na sociedade da informação (2000), o jornalismo especializado cria a sensação de identidade a um público específico e isso pode ser determinado por meio da linguagem utilizada e dos critérios de noticiabilidade empregados. Ou seja, a especialização do conteúdo noticioso produzido pelos jornalistas pode ter o papel de “conversar” diretamente com o leitor, ouvinte ou telespectador.

A aceitação das produções segmentadas indica que os indivíduos necessitam encontrar um fator de união e de identificação entre si. O que pode ser


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conseguido através da partilha de interesses com o segmento que busca o mesmo tipo de informação. (ABIAHY, 2000, p. 4)

A autora argumenta ainda que a lógica da especialização do jornalismo está associada com o desenvolvimento econômico, representado por conglomerados midiáticos que se firmaram com intensidade na sociedade contemporânea e que necessitam atingir todos os públicos possíveis por meio da segmentação dos produtos informativos. Dividir os conteúdos é alcançar quase que por completo os diversos consumidores e isso é mais lucrativo ainda para as empresas do ramo da comunicação.

Não é tanto a produção em massa que conta, mas a fabricação de produtos especializados a serem consumidos por mercados exigentes e segmentados”. Deixamos de ser massa para sermos “consumidores”. Vivemos agora, a “angústia da escolha”, na ótica empresarial. (ORTIZ apud ABIAHY, 2000, p. 3)

No campo de estudos científicos sobre jornalismo no Brasil, há uma carência de autores e referenciais teóricos exclusivos sobre jornalismo especializado. Um dos autores que traz esta concepção é Nilson Lage, ao conceituar a reportagem especializada na imprensa, associando as editorias como fragmentos, dentro do periódico, das áreas de trabalho de interesse jornalístico e, a partir desse fundamento, exerce um raciocínio sobre o sentido da especialização. Para desenvolver seu raciocínio a respeito da especialização no jornalismo, o teórico apoia-se em uma indagação a respeito da segmentação em editorias e seus respectivos conteúdos informativos específicos:

Se cada área dessas pressupõe algum conhecimento específico, por que não transformar especialistas (urbanistas, criminologistas, cientistas políticos, técnicos de educação física, economistas, cientistas, artistas, promotores culturais) em jornalistas, e não o contrário? (LAGE, 2005, p. 109)

Para construir seu argumento, três respostas são dadas pelo autor. Para a primeira, o teórico baseia-se no que chama de “teoria da inocência”, para explicar que o trabalho desenvolvido pelo jornalista não pode ser realizado por um especialista. Como agente do público, o jornalista tem a obrigação de observar a realidade e relatar as coisas do mundo com critérios do senso comum, atividade essa que não realizaria um especialista, calcado por um conhecimento sistemático de teorias e estudos científicos. Tal argumento, segundo o autor, é inocente, inconsistente e exemplifica que “um professor de primeiro grau não precisa ser


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criança para comunicar-se com seus alunos, nem um médico abandonar o que sabe para expor um diagnóstico a alguém” (LAGE, 2005, p. 109 – 110). A segunda resposta tem mais coerência e diz respeito aos valores éticos e corporativos de cada profissão, conservados no decorrer de uma vivência histórica. O que vale para um médico, por exemplo, não cabe a um jornalista. Caso os especialistas fossem transferidos para a profissão de jornalista, teriam que deixar de lado determinados valores de suas atividades originárias. A mais completa e consistente é a terceira resposta, que envolve aspectos relacionados à capacitação profissional. Lage (2005) argumenta que há um árduo investimento intelectual na formação de um especialista e haveria grande perda social em mudar a posição de um físico teórico em jornalista, por exemplo. É mais conveniente e “produtivo” que um jornalista se especialize em um ou mais assuntos, além de não haver ganho algum para a sociedade ao alterar a posição de um profissional que custou a adquirir conhecimentos específicos para outra atividade, como a jornalística. Por fim, para cobrir áreas de conhecimento, o autor recomenda a especialização de jornalistas em cursos de pós-graduação, com a absorção de conceitos e aplicações para que este profissional seja competente a se familiarizar com áreas tão específicas. Para Lage (2005), estritamente no esporte, a cobertura não pode ser unicamente noticiosa, isto é, sem aprofundamento como numa notícia ou nota, que se delimita exclusivamente à apresentação de notícias sobre os fatos, porque “cada acontecimento pressupõe algo exterior a ele que lhe dá sentido” (LAGE, 2005, p. 115), exemplificado como a situação de uma equipe em um determinado campeonato e no ranking de clubes. Especificamente no jornalismo esportivo, o teórico afirma que o repórter deve evitar que a paixão apareça em seus textos, mesmo apontando que o conteúdo passional é inevitável em qualquer reportagem esportiva. Todavia, estas expressões emocionais somente podem estar atribuídas às crônicas esportivas, visto que “revela de algum modo o viés de quem escreve e se nutre da emoção das arquibancadas semoventes” (LAGE, 2005, p. 115). Além disso, o jornalista que se dedica à cobertura de eventos esportivos não deve nunca perder de vista as questões éticas do esporte, “seu poder de catarse – catalisador de tensões sociais – e a finalidade educativa de sua prática, que deve voltar-se para a saúde física e mental” (LAGE, 2005, p. 115), evidenciando que esporte não é direcionado somente a uma disputa por posições, vencer ou perder, mas envolve inúmeras indagações. O professor e jornalista Mário Erbolato, em seu livro Jornalismo Especializado: emissão de textos no jornalismo impresso (1980), trata sobre a capacitação profissional e o


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papel desempenhado pelo profissional da imprensa dedicado à cobertura de esportes. O autor acredita que, para escrever sobre cada assunto específico, é necessário que o jornalista tenha um bom conhecimento e não só encare o jornalismo como pesquisa, redação, diagramação e ilustração, mas sim o fato de se dedicar a compreender e dominar o assunto que será abordado. No capítulo O noticiário esportivo, Erbolato (1980) reconhece que o repórter esportivo deve ter ciência de regras e regulamentos de grande parte das modalidades esportivas e assuntos minuciosamente específicos como a obtenção de alvará, condições para ser árbitro, quórum para as decisões das assembleias gerais dos clubes, transferência de amadores e profissionais, obrigatoriedade da divulgação de boletins financeiros mensais, proibições impostas aos atletas, prazo mínimo de horas entre uma e outra partida, criação de ligas, federações e confederações existentes, repressão ao doping, garantias aos profissionais e amadores que viajam para o exterior, funcionamento da Justiça Desportiva [...] (ERBOLATO, 1980, p. 13-14)

No mesmo capítulo, o autor destaca a importância de o repórter familiarizar-se profundamente, conhecer por completo cada modalidade esportiva antes de qualquer cobertura. Dentro dos aspectos do jornalismo especializado, sua obra ganha relevância prática ao indicar uma espécie de guia/manual de especialização para o jornalista esportivo penetrar-se no assunto, apresentando propostas e recomendações de abordagens ou de coberturas particulares de cada modalidade, como regras, medidas de campos ou quadras, infrações e infinitas características dos mais variados esportes como bocha, esgrima, halterofilismo, natação, paraquedismo, entre outros. Para Erbolato (1980), o destaque da editoria de esportes está precisamente na multiplicidade de temas abordados, tanto em setores onde há a profissionalização, quanto nas práticas esportivas em nível amador. A informação no jornalismo especializado só terá qualidade se o jornalista possuir conhecimentos específicos. Deste modo, ele deve ser um especialista na área. “Para cada especialidade recomenda-se um jornalista que entenda do assunto e que explique e comente as possibilidades dos concorrentes e as consequências de uma vitória, derrota ou empate em algumas competições. Aplicando-se as regras gerais sobre entrevista, reportagem, redação e diagramação, pode uma Seção Esportiva abordar aspectos variadíssimos, dependendo da orientação da Editoria e da Produção”. (ERBOLATO, 1980, p. 15)


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1.2.2 Jornalismo esportivo: desafios e prática O que leva uma pessoa decidir seguir para o resto da vida uma carreira como jornalista esportivo? Para Paulo Vinicius Coelho3, popular PVC, em sua obra Jornalismo Esportivo (2003) – referência teórica praticamente obrigatória em todas as pesquisas e trabalhos acadêmicos dedicados ao jornalismo esportivo – a resposta para um profissional do ramo jornalístico dirigir-se para a cobertura esportiva será encontrada na infância, antes mesmo da universidade e do primeiro emprego.

O jornalista esportivo é, antes de tudo, um apaixonado pelos assuntos com os quais lida todos os dias. Apaixonado desde pequeno. Talvez seja esse o maior diferencial em relação aos colegas de outras editorias. Um diferencial saudável, mas também perigoso. Não se deve imaginar, e esse tem sido um erro comum, que a paixão é suficiente para construir um bom profissional. É preciso seguir os fundamentos do jornalismo afinco para buscar informações, isenção no trato com as fontes, discernimento para julgar o que é de fato relevante, criatividade para encontrar novos ângulos. (COELHO, 2003, contracapa)

Ao ler diariamente as notícias sobre esporte nos jornais ou assistir a uma roda de debate sobre futebol em um canal fechado especializado como SporTV4 ou ESPN5, deve-se pensar que trabalhar com a área esportiva no jornalismo é fácil, não exige demasiado esforço como, por exemplo, na editoria de política ou economia. Esse pensamento provavelmente surja pelo fato de o “linguajar” do jornalista esportivo ser mais solto, sem uma solidez, engessamento comum nos demais segmentos jornalísticos. Esta descontração na linguagem pode ser caracterizada como uma forma de atrair e “falar” cada vez mais com um público cativo, relacionando este pensamento aos conceitos abordados anteriormente no que diz respeito ao

Paulistano, Paulo Vinicius de Mello Coelho desde sempre trabalhou como jornalista esportivo e pode – na verdade, deve – ser considerado um dos mais completos profissionais da mídia brasileira esportiva, pelo seu vasto conhecimento histórico e, consequentemente, amplo repertório em sua memória (datas, jogos, histórias de fundação dos clubes, entre outros acontecimentos ligados ao esporte), além do acesso constante a informações de bastidores fidedignas em primeira mão, por meio do trato com fontes e informantes em vários locais do país. PVC, como é conhecido popularmente pelos fãs de esporte, começou sua carreira jornalística aos 18 anos de idade, em 1987, no jornal Gazeta do ABC. Quatro anos mais tarde, foi contratado pela revista Placar. Em 1998, participou do projeto de criação do diário exclusivamente esportivo Lance!. Começou a trabalhar na televisão no ano de 2002, como chefe de reportagem e comentarista de futebol da ESPN Brasil. Atualmente, PVC atua no canal televisivo Fox Sports e também faz parte da equipe de esportes da Rádio Globo/CBN. 4 O SporTV é um canal brasileiro de televisão por assinatura com foco na cobertura de esportes, fundado em 19 de outubro de 1991 e pertencente ao Grupo Globo. 5 A Entertainment and Sports Programming Network (ESPN) – ou, no português brasileiro, Rede de Programação de Esportes e Entretenimento – é uma emissora estadunidense de televisão por assinatura voltada à cobertura esportiva, lançada no dia 7 de setembro de 1979. A ESPN Brasil, franquia brasileira, é regida pela The Walt Disney Company e transmite os mais variados tipos de esporte, tanto em âmbito nacional, quanto internacional desde 17 de junho de 1995. 3


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jornalismo especializado. Coelho (2003) é assertivo ao declarar que “a editoria é frequentemente tida como a menos nobre de um jornal e costuma ser a primeira da fila na hora dos cortes e redução de despesas” (COELHO, 2003, contracapa). O autor aponta ainda que o jornalismo esportivo é a área mais sujeita a julgamentos de inferioridade dentro do jornalismo e mais intimamente dentro das redações jornalísticas.

Talvez não haja área do jornalismo tão sujeita a intempéries quanto a cobertura de esportes. O profissional enfrenta o preconceito dos próprios colegas, que a consideram uma editoria menos importante, e também do público, que costuma tratar o comentarista ou repórter esportivo como mero ‘palpiteiro’. Muitos jornalistas esportivos têm se comportado como tal, é verdade. (COELHO, 2003, contracapa)

Inclusive, este menosprezo pelo segmento está vinculado, sobretudo, à questão salarial. Não é na editoria de esporte que estão presentes os mais bem pagos e sonhados salários dentro de uma grande redação jornalística. Para preencher os cadernos de esporte (ou pedaço da página destinado a este tipo de cobertura), são enviados os focas, os novatos recémformados, desejosos para trabalhar e com sede de crescimento na profissão, prontos para “mostrar serviço”. Desde que o jornalismo é jornalismo no Brasil, os jovens principiantes são logo encaminhados para a editoria de esporte ou a de cidades. Coelho (2003) vê essa situação com bons olhos e classifica como “ótimo para quem quer seguir carreira em outras áreas. E péssimo para o desenvolvimento da própria carreira de jornalista esportivo” (COELHO, 2003, p. 27). Mas por quê? A resposta é definida pelo autor com uma contradição da profissão. Com o passar dos anos, todo profissional jornalista adquire experiência, no sentido de atingir grau de maturidade tão elevado para ser promovido à colunista, após anos de exaustão na cobertura de pautas como repórter de rua. Além disso, no cultivo diário de fontes, mantendo uma estreita relação e, ao mesmo tempo, não, nada tão íntimo e fiel a ponto de impedir a veiculação de uma notícia que envolva esta mesma fonte e tenha grande relevância ao conhecimento público. De acordo com Coelho (2003), estas circunstâncias não só acontecem com os mais renomados profissionais da imprensa política e econômica. O tempo corre e o jornalista esportivo também melhora, adquire considerável grau de conhecimento prático da profissão, “tanto que deixa de atuar na área esportiva” (COELHO, 2003, p. 46). Portanto,

o repórter cresce, evolui, adquire tanto conhecimento que se torna caro demais para que o jornal o mantenha. Ou perde motivação para continuar na batalha por 12, 15 horas de trabalho diário e prefere o caminho mais fácil da assessoria


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de imprensa. [...] No caso do jornalista esportivo, a contradição é mais grave porque a falta de anunciantes e a dificuldade que têm as redações de manter bons salários as empurram para a economia de guerra. E empurram também o jornalista de esportes para outras áreas cuja remuneração seja melhor. (COELHO, 2003, p. 46)

O livro Manual do jornalismo esportivo (2006), de Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel, será igualmente importante para o desenvolvimento deste estudo monográfico. Na mesma linha de raciocínio de Coelho (2003) sobre a desvalorização do jornalismo esportivo frente às outras editorias presentes num periódico enquanto segmento noticioso “menos denso”, que só serve para a rasa divulgação de resultados de competições, Barbeiro e Rangel (2006) afirmam que os repórteres esportivos precisam pôr um fim nas piadas que fazem a respeito do seu trabalho, e mostrar que é possível produzir boas reportagens, como em qualquer outro assunto. Afinal, “jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social. [...] A essência não muda porque sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e ao interesse público” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 13). A reportagem é essência do jornalismo e deve ser feita por qualquer profissional da imprensa com correta apuração, checagem rigorosa das informações e perguntas feitas para fontes certas no momento oportuno. Por fim, para a produção de uma boa reportagem, é necessário o detalhamento, escolhas de ângulos ainda não abordados e ter consciência da possível repercussão das informações fornecidas no tema explorado. Se seguir à risca esses fundamentos, o “repórter esportivo tem tudo para ser um bom profissional” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 20). Ademais, como em qualquer ramo do jornalismo, a produção deve ter como componente mais relevante o repórter e

no esporte isso não é diferente. Porém, não se pode confundir pequenos boletins de conteúdo especulativo, sem profundidade, apenas para dar um registro do clube, com reportagem de jornalismo esportivo. [...] Por isso é essencial fugir daquelas perguntas eternamente repetidas para os atletas antes, durante ou depois das competições como: “o que você acha do jogo” ou “como você está vendo o jogo” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 20)

Além disso, mesmo tratando-se de conteúdos noticiosos especializados, a linguagem da reportagem esportiva deve ser sempre acessível a qualquer tipo de leitor e, para isso, “os termos técnicos não podem poluir o entendimento” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 22). Na visão dos autores, o jornalista esportivo deve também fazer diariamente uma suíte instrutiva, para rememorar fatos divulgados em dias anteriores a um público de conhecimento tido como mediano, sendo que mesmo o mais assíduo fã de esporte pode ter “ficado de fora”


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de alguma informação relevante. Na verdade, o jornalista deve ter conhecimento específico sobre o esporte que está cobrindo. Para este tipo de cobertura, é necessário conhecer muito sobre qualquer assunto, principalmente quando se trata de esportes muito específicos como o automobilismo. Em seu livro, Coelho (2003) retrata a arrogância de alguns pilotos no trato com os jornalistas. Exemplo é o de Nelson Piquet, piloto de Fórmula 1, que esclareceu não gostar de repórteres despreparados, que disparam perguntas consideradas frívolas sem qualquer conhecimento sobre sua profissão de piloto e as funcionalidades básicas de um carro de corrida e de uma pista automobilística. Não à toa, o esportista ganhou inúmeras vezes, na década de 1980, o Prêmio Limão, ofertado aos esportivas mais antipáticos dentro do circuito da Fórmula 1. A falta de paciência de Piquet evidencia que o jornalismo esportivo é, de fato, uma espécie de jornalismo especializado e que o profissional deve se preparar tecnicamente com mais afinco a esportes que exigem um conhecimento minucioso. No futebol, entretanto, a problemática é diferente. No país do futebol, todo mundo algum dia já assistiu a uma partida, seja na televisão ou no estádio e sabe minimamente as regras da modalidade. Então,

o esporte das massas é visto por quem chega ao mercado como a área da qual todo mundo entende. Visão equivocada, mas avalizada por boa parte dos editores. Todo mundo viu futebol um dia na vida. Então, pronto! Está definido o futuro do jornalista sem especialidade”. (COELHO, 2003, p. 43)

Todavia, para falar de futebol em jornalismo é preciso dedicação. Como foi elucidado no início deste tópico, o desejo de seguir a carreira de jornalista esportivo surge muitas vezes na infância, principalmente em um país onde o futebol é a paixão nacional. “Ninguém entende mais do assunto do que um garoto de 12 anos” (COELHO, 2003, p. 39). A frase destacada por Coelho (2003) é simbólica no sentido de evidenciar um desejo latente em muitos meninos brasileiros: tornar-se um jogador de futebol. E, diante deste desejo incessante, além de gostar demasiadamente do assunto e ter tempo de sobra nesta faixa etária, o garoto de 12 anos sabe tudo sobre futebol, pois assiste a todos os noticiários esportivos na TV, acompanha na internet as notícias sobre os campeonatos, ouve programas, jogos e demais boletins informativos sobre clubes no rádio, além de ser o primeiro a abrir o caderno de esportes quando o jornal impresso chega até sua casa. Sobre a carreira de jogador de futebol, há grandes chances de o menino não ser um craque de bola, o que o fará pensar em seguir outro rumo profissional na vida. “Na cabeça de muitos profissionais que hoje atuam com esportes, foi nessa faixa etária que passou pela primeira vez a ideia de virar jornalista de esportes” (COELHO, 2003, p. 40).


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Este menino de 12 anos pode sobressair-se a outros jornalistas que cobrem esportes, mas este conhecimento sobre futebol adquirido na infância não define o grande jornalista. No entanto, Coelho (2003) afirma que dificilmente

aquele menino que vira jornalista brilhante tem contato tão cedo com o que mais tarde se tornará sua matéria-prima: a informação sobre o assunto destacado. Por contraditório que pareça, o conhecimento adquirido pelo garoto de 12 anos raras vezes é tratado como algo relevante. De acordo com o mercado, o menino de 12 anos gostava de esporte. De futebol. Não sabia nada de jornalismo, por mais que o conhecimento que adquirisse viesse sempre de mãos dadas com o bom relato ou a boa matéria. (COELHO, 2003, p. 41)

Assim sendo, saber sobre futebol não é a garantia para o desenvolvimento profissional na atividade do jornalista esportivo. O que importa, de verdade, é ter consigo os conceitos que servem como síntese da profissão: saber elaborar uma boa história, privilegiar a informação, ter conhecimentos das técnicas jornalísticas como a construção do lide da matéria e a conexão de ideias para tornar o produto jornalístico interessante aos olhos do leitor. Em síntese, é necessário, acima de tudo, dominar os princípios do bom jornalismo: a apuração de informações inéditas e construção de matérias precisas, fidedignas, confiáveis. 1.2.3 Paixão versus objetividade no jornalismo esportivo No jornalismo esportivo, há uma importante questão na diferenciação e divisa entre informar e emitir opinião. Afinal, o jornalista pode interferir na divulgação dos fatos, tomando partido e deixando transparecer seu ponto de vista? A imparcialidade e isenção do observador e objetividade no momento de reproduzir o factual é realmente existente? Etimologicamente falando, a palavra “objetividade” (objetivo + idade), remete à qualidade do que é objetivo, ou seja, seria algo que possui relação com o objeto, independente de quem o observa. Por outro lado, “subjetividade” (subjetivo + idade) refere-se ao particular, relacionado ao sujeito, isto é, dependendo, então, do que cada indivíduo observa. Mas o que vem a ser objetividade e subjetividade no jornalismo? Lage (2001, p. 34) aponta que “o conceito de objetividade posto em voga consiste basicamente em descrever os fatos tal como aparecem; é na realidade, abandono consciente das interpretações, ou do diálogo com a realidade, para se extrair desta apenas o que se evidencia”. A objetividade jornalística é um assunto muito debatido na Academia pelos estudiosos, principalmente nos cursos de graduação e pós-graduação da área, no que se refere a Teorias do Jornalismo. Todavia, encontra-se dois pontos opostos na discussão acadêmica


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sobre a noção de objetividade jornalística, responsável por legitimar e orientar o exercício profissional. Para Henriques (2016, p. 2), “é entendida de um lado como sendo algo tão 'óbvio' e 'evidente' que não precisa de discussão, e, por outro, como um conceito cuja investigação não vale a pena, [...] 'cujo consenso é impossível de se alcançar'”. Guerra (1998) evidencia que a objetividade é um conceito acadêmico essencial para explicar o jornalismo, tanto teoricamente, quanto sobre os aspectos práticos da profissão. Para ele,

do ponto de vista acadêmico, é quase consensual a crítica à objetividade que, apesar disso, ainda hoje é um dos pilares sobre os quais a instituição jornalística se sustenta. Essa situação é marcada, portanto, por um descompasso entre a prática profissional e as pesquisas teóricas que se fazem sobre o jornalismo. (GUERRA, 1998, p. 7)

De fato, a discussão em torno da objetividade e subjetividade da notícia surgiu a partir de meados do século XIX, quando se debateu os preceitos de imparcialidade e isenção do relato noticioso como elementos essenciais da ética no jornalismo, na absorção e divulgação dos fatos. Amaral (1996) relata que, antes dos anos 1850, tal inquietação não existia, visto que os veículos de comunicação eram explicitamente de teor opinativo e com evidências pessoais nos textos. Efetivamente, os preceitos éticos de objetividade e imparcialidade que sustentam o “bom jornalismo” foram estabelecidos pela lógica industrial jornalística norte-americana. Após este período de opiniões dentro do jornalismo, os profissionais da imprensa passaram a se preocupar em reproduzir a realidade fidedigna dos fatos, influenciados por uma ideologia positivista, baseada na razão como valor primordial. Dentro desta corrente de pensamento, o conhecimento científico seria o superior e verdadeiro conhecimento. Diante disso, o Oliveira (2003, p. 2) salienta que “o jornalismo passou a recorrer a dispositivos para ‘objetivar’ o discurso, como, por exemplo, o uso de aspas e a responsabilização de fontes, pelas citações”. Amaral (1996) afirma que a objetividade pode ser considerada uma condição de valor ideal pretendido pelos jornalistas aos escreverem seus textos e se faz necessária não só como um cânone, um preceito fiel a se seguir, mas também como um fundamento que deve orientar, passo a passo, as etapas da produção em jornalismo. De acordo com os pensamentos de Luiz Amaral, Henriques (2016) aponta que “desde o momento em que se pensa a pauta, passando pela maneira correta de apuração da notícia, até a forma de sua apresentação, a noção de objetividade se faz presente” (HENRIQUES, 2016, p. 5).

Apesar do amplo reconhecimento da objetividade como um caro valor


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fundamental da atividade, não se pode negar toda a carga de subjetividade que cada um de nós carrega. Todos, inclusive os jornalistas, temos nossas crenças, valores, preconceitos, históricos familiares, formação escolar, enfim, nossos afetos e desafetos, de modo que a objetividade como ideal acaba sempre sendo confrontada com o seu contrário, isto é, com a subjetividade. (HENRIQUES, 2016, p. 5)

Além das crenças, valores e formação sociocultural de cada indivíduo, de acordo com Amaral (1996, p. 51), “há alguns obstáculos no caminho da verdade”, que podem ser exemplificados pelo preconceito, capaz de distorcer a visão real dos acontecimentos; pelos interesses superiores da empresa jornalística, que visam o lucro e defendem o ponto de vista de seus donos; a pressa, correria cotidiana da profissão, que impede a investigação precisa e profunda da notícia a ser divulgada ao público leitor; os empecilhos de tempo e espaço, que pode fazer com que fragmentos importantes da matéria sejam retirados pelos editores-chefes e a omissão do jornalista, proposital ou não, mas que possui a capacidade de deformar o fato. Para Sponholz (2003), a objetividade não pode ser compreendida como o inverso de subjetividade, mas sim como uma procura incessante de aproximação com a realidade e a subjetividade também está imersa neste processo. Além disso, sob o ponto de vista da autora, não existe um conhecimento incontestável, o que coloca em xeque a discussão da objetividade como princípio absoluto. Um texto não pode ser considerado objetivo quando ele espelha a realidade e isto também não pode ser cobrado do jornalista. Como não se pode conhecer a realidade de maneira completa e absoluta, objetividade passa a ser uma questão de grau. A objetividade absoluta, entendida como o conhecimento absoluto e total da realidade, não existe. Além disso, todo conhecimento passa a ter um caráter hipotético, que sempre pode ser substituído por novas possibilidades que se aproximem melhor da realidade. [...] O fato de a observação ter sido feita por um sujeito, ou seja, a partir de uma perspectiva, não impede que se possa se aproximar da realidade. O fato de um repórter relatar o que viu a partir de um ponto de vista não significa que o que ele conta é mentira ou invenção sua. (SPONHOLZ, 2003, p. 112-113)

Na editoria de esportes, qual o limite entre informação e opinião? Para Rossi (1984), a objetividade não pode ser atingida até mesmo em temáticas de discreto envolvimento político como, por exemplo, uma partida de futebol.

Afinal, não há como ignorar que 99% dos jornalistas esportivos torcem por uma determinada equipe – e seria ingenuidade acreditar que, ao vestirem a armadura de jornalistas, eles se desfaçam de suas paixões pessoais e consigam comentar uma partida de sua equipe apenas com os dedos que batem nas teclas da máquina de escrever e não com o coração, feliz ou amargurado, do torcedor vencedor ou vencido. (ROSSI, 1984, p. 11)


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Pode-se dizer que o assunto esporte amadureceu nas páginas dos periódicos de modo simultâneo ao crescimento do futebol e sua profissionalização no Brasil na década de 1930. Com isso, surgiram também os relatos emocionados nos jornais do Rio de Janeiro, escritos pelos icônicos cronistas esportivos Mário Filho6 e Nelson Rodrigues7. Mário, tão prestigiado pelos cariocas a ponto de ser homenageado com seu nome intitulando o estádio do Maracanã, foi o responsável por fundar o primeiro diário exclusivamente esportivo e, claro, altamente dedicado ao futebol: o Jornal dos Sports, em 1936. As transmissões radiofônicas também despontam. A Copa de 1938, sediada na França, foi narrada pela Rádio Nacional, pela primeira vez, ao vivo para toda a nação brasileira. Isto é, o desenvolvimento do futebol profissional e o avanço da radiodifusão esportiva na narração de jogos em tempo real fez com que a paixão pelo futebol fosse despertada entre os brasileiros. Assim, nasce a identificação com os clubes do país (surgem os torcedores, as torcidas organizadas) e, principalmente, com a seleção nacional, fazendo com que cresça ao mesmo tempo a procura cotidiana pelos noticiários esportivos. É nos anos 1940 que se consolida a romantização das narrativas futebolísticas e este novo cenário é liderado pelos já mencionados Mário Filho, Nelson Rodrigues, além de Armando Nogueira8. Coelho (2003) coloca que a maneira que se fazia jornalismo não era exatamente jornalismo, visto que, nesta época, “importava menos a informação precisa. Os cronistas cuidavam mais do personagem e suas histórias, eventualmente romanceando-as” (COELHO, 2003, p. 17).

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Foi jornalista esportivo e escritor pernambucano, irmão de Nelson Rodrigues, nascido no dia 3 de junho de 1908, em Recife - PE. “No final dos anos 40 [...] lutou para que o novo estádio, que seria construído para a copa do mundo de 1950, fosse erguido no terreno do antigo Derby Club, no bairro do Maracanã. Em sua homenagem o estádio recebeu o seu nome” (FRAZÃO, 2015). Como escritor, Mário Filho registrou as obras “O negro no futebol brasileiro”, “Viagem em torno de Pelé”, “Copa do Mundo de 62”, entre outras. Para muitos, foi considerado o principal responsável por desenraizar a imprensa esportiva da marginalidade, com coberturas superficiais e como espaços limitados, geralmente, na última página dos periódicos da época. Mário Filho morreu de enfarte em 17 de setembro de 1966, com 58 anos, na capital carioca. 7 Foi jornalista, escritor e dramaturgo, nascido em Recife – PE no dia 23 de agosto de 1912. Ingressou aos 13 anos na carreira jornalística, como repórter da editoria de polícia no jornal A Manhã, fundado por seu pai Mário Rodrigues. Anos depois, além de escrever peças de teatro, Nelson Falcão Rodrigues destacou-se por escrever relatos exclusivamente dedicados ao futebol, empregando, assim, toda sua a aptidão dramaturga nas páginas dos diários esportivos. Suas crônicas futebolísticas ficaram marcadas por terem a capacidade de transformar partidas consideradas normais em jogos emocionantes aos olhos do leitor, além de fantasiar jogadores da época, convertendo-os em personagens heroicos. Nelson Rodrigues faleceu em 21 de dezembro de 1980, aos 68 anos de idade, no Rio de Janeiro - RJ. 8 Nascido em Xapuri – AC no dia 14 de janeiro de 1927, foi escritor, jornalista e cronista esportivo, seguindo a mesma linha poética dos relatos futebolísticos de Mário Filho e Nelson Rodrigues. Armando Nogueira foi um dos pioneiros na televisão brasileira e, durante os 25 anos na emissora Globo, ajudou na criação do departamento de jornalismo em nível nacional e na fundação do Jornal Nacional e Globo Repórter. O jornalista participou da cobertura de 15 Copas do Mundo, sete Olimpíadas, além de escrever dez livros sobre esportes. Vítima de câncer, faleceu aos 83 anos de idade, no dia 29 de março de 2010, no Rio de Janeiro - RJ.


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Com o objetivo de seduzir cada vez mais o leitor, as crônicas esportivas passam a incluir relatos com dramaticidade, com linhas dominadas de emoção. Neste panorama, os jornalistas se identificavam com o torcedor, que passa ler as histórias fantasiadas, dado que a subjetividade se sobressaia nos relatos. Ainda neste sentido, a verdade é que “essas crônicas motivavam o torcedor a ir ao estádio para o jogo seguinte e, especialmente, a ver seu ídolo em campo” (COELHO, 2003, p. 18).

A miopia de Nelson Rodrigues tirava-lhe a possibilidade de enxergar qualquer coisa em jogo de futebol, ainda mais em estádio grande como o Maracanã. E daí? Romance era com ele mesmo. Crônicas recheadas de drama e de poesia enriqueciam as páginas dos jornais em que Nelson Rodrigues e Mário Filho escreviam. [...] Até jogo violento era por eles tratado como rara dramaticidade”. (COELHO, 2003, p. 17)

Num jornal, entretanto, há espaço para todos os gêneros e, naturalmente, tem-se a expectativa de que todo jornal saiba mesclar os dois estilos em suas páginas, mas a crônica não pode estar no mesmo texto que uma matéria puramente informativa, isto é, precisa e que retrate os fatos reais. Este é o principal problema apontado por Coelho (2003) quanto à mistura dos dois tipos de matérias em um veículo, porque “nem todo mundo é capaz de diferenciar o que é jornalismo do que não é” (COELHO, 2003, p. 19), do que é opinião, verdade e mito. De certo modo, deve-se sempre analisar uma situação pensando no contexto em que estava inserida a imprensa e a sociedade brasileira como um todo. É equivocado compreender autenticamente o passado com base em comentários tecidos nos moldes dos valores contemporâneos. Ora, tem de se lembrar que nas décadas de 1940 e 1950 a disposição do jornalismo esportivo era outra devido às duas únicas maneiras de fazer o público acompanhar e se manter informado sobre as partidas: por meio de matérias em jornais impressos e/ou via rádio. Desta forma, até por um viés econômico para os veículos de comunicação, era preciso aguçar o imaginário do leitor/ouvinte para que este viesse a comprar o jornal religiosamente de domingo a domingo ou fizesse parte de uma audiência fiel durante as transmissões ao vivo ou em programas radiofônicos voltados à cobertura de esportes. E, claro, os cronistas esportivos cumpriam com muita devoção este objetivo. Para Coelho (2003), a imprecisão das matérias jornalísticas que relatavam as partidas de futebol diminui significativamente nas páginas dos periódicos a partir dos anos 1970, mediante a um compromisso da imprensa de propalar a pura e tão só verdade. O diário paulistano Jornal da Tarde, criado em 1967, foi um dos que encabeçaram esta nova posição de se fazer jornalismo, ajudando a suprimir a lenda.


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Diante deste aclaramento, as perguntas que ficam para o presente trabalho são: o Diário da Serra e o Correio do Estado teriam excluído os relatos subjetivos de suas páginas durante a campanha do Operário Futebol Clube na Copa Brasil de 1977? Houve adjetivação excessiva, carregada de emoção, com o objetivo de exercitar o imaginário do leitor? No entanto, Coelho (2003) acredita que a precisão fidedigna dos acontecimentos tem seu lado insatisfatório, visto que “o resultado é, muitas vezes, uma crônica tão desprovida de paixão que é capaz de jogar na vala comum atletas que certamente já merecem lugar na história” (COELHO, 2003, p. 19). Atualmente, para ser jornalista esportivo é preciso muito mais do que ser fã de esportes desde a infância e ter domínio dos conceitos e técnicas que permeiam a profissão, é necessário lidar com pressões diárias. Uma delas é proveniente dos próprios torcedores em um país aficionado por esporte, principalmente pelo futebol. Silveira (2009) assegura que escrever para a editoria de esportes é enfrentar algo não muito evidenciado em outros segmentos do jornalismo: a paixão. Por vezes, este sentimento não é só oriundo do público receptor, mas também do próprio jornalista. Afinal de contas, “ele é um ser humano e, muitas vezes, escolheu essa área justamente por ser torcedor e gostar muito de esporte” (SILVEIRA, 2009, p. 60). Obviamente que o repórter não deve abortar este fascínio, sentimento que, em muitos casos, guiou-o até a escolha do jornalismo esportivo e que o desperta cotidianamente em busca da notícia. Em entrevista concedida à pesquisadora Silveira, Coelho explica que

muitos jornalistas perdem a paixão sem perceber. Culpam o futebol de hoje, comparando-o com o do passado, sem a medida correta de comparação. O que você vê aos 10, 12 anos, vê com olhos apaixonados. O que analisa aos 40 faz com senso crítico. [...] O menino de 10 anos que você foi mente para o homem de 40 que você se tornou. Mente porque analisava sem o mesmo senso crítico. (SILVEIRA, 2009, p. 60)

Uma das principais preocupações do jornalista de esportes é fornecer a informação completa, para que o público tire suas conclusões e façam suas avaliações críticas. Conforme Fonseca (1981, p. 46), “o público, apesar das posições pré-concebidas em função de suas preferências clubísticas ou por determinados atletas, é influenciado pela opinião do jornalista”. Barbeiro e Rangel (2006) deixam claro que a emoção é o princípio vital do esporte, não é possível dissociar essa condição, principalmente no jornalismo esportivo, pois “em nenhuma outra área do jornalismo a informação e o entretenimento estão tão próximos” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 45). Mas, são categóricos em afirmar que o predomínio de sentimento impossibilita o rigor da apuração. Na maior parte do tempo, os jornalistas estão


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mais próximos dos jogos, dos atletas, dos árbitros e do público. Isso quer dizer que estão mais próximos dos centros geradores de emoção, e por isso são os que sofrem maior impacto. Emoção é um atributo de todo ser humano [...] Não se pode confundir com a paixão, que cega quem tem o dever de enxergar ou atrela o jornalismo a uma causa ou a um ídolo. A paixão emperra a apuração, incentiva a notícia sem acurácia, atrapalha a busca contínua da isenção e da ética. (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 22)

Possivelmente, esta seja a editoria mais complexa para se trabalhar quando se analisa a relação das emoções humanas com o profissionalismo do jornalismo calcado em um dos princípios mais sustentados pelo ofício: a objetividade. Nesta profissão, ela é de suma importância, sendo que o jornalista é, cotidianamente, um formador de opiniões. É por isso que este profissional deve estar ciente que “as emoções são contagiosas” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 46). Os autores concordam que um bom jornalismo não deve abolir de vez as emoções, “mas sempre com o compromisso com a verdade também presente” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 46). A emoção tem a obrigação de ser dosada e repleta de isenção para que não se crie um atrito ético. Então, todo o trabalho jornalístico de um profissional da imprensa pode ser comprometido quando se permite que a paixão tome conta dos noticiários e coberturas esportivas. O público, por sua vez, quer que o jornalista “informe pura e simplesmente. O jornalista esportivo não precisa torcer com o torcedor e muito menos pelo torcedor” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 46). Por conseguinte, ao fazer parte da imprensa, principalmente esportiva, torcer é capaz de distorcer informações, modificá-las. O torcedor sim, dotado de um encanto irrefreável por uma instituição esportiva ou por um determinado atleta, pode distorcer à vontade e com certa naturalidade. Por outro lado, como formador de opinião, o jornalista tem o encargo de ser o mais objetivo possível para que os receptores e, provavelmente, torcedores tirem suas conclusões e se posicionem. Além de colocarem em evidência as responsabilidades do jornalista esportivo frente à emoção, Barbeiro e Rangel (2006) reconhecem que a paixão é uma característica inerente ao ser humano, principalmente aflorada em competições esportivos e deve ser respeitada. Assim sendo, nenhum jornalista esportivo precisa “se transformar no Homem de Lata, do Mágico de Oz, que não tinha coração” (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 48). Os autores deixam claro que o objetivo de tal explanação é trazer o equilíbrio e não a exclusão das emoções humanas, sendo que qualquer sentimento tem seu devido valor e significado. Por isso,


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o jornalista esportivo, pela tipicidade do seu trabalho, precisa estar apto a lidar com frustações, controlar emoções e se relacionar com pessoas. Isso não quer dizer que outros fatos sociais também não exijam isso, mas o esporte exige mais e com maior frequência. Não faz mal a ninguém manter um acompanhamento psicoterápico. (BARBEIRO e RANGEL, 2006, p. 48)

E quanto à revelação dos clubes de futebol do coração por parte dos jornalistas esportivos? É uma forma de prejudicar a tão cobrada isenção? Coelho (2003) acredita que não. Para ele, é bobagem a insistência de o jornalista esportivo esconder a equipe de futebol para o qual torce. Além disso, o autor afirma que ocultar pode fazer com que o profissional da imprensa perca credibilidade por não expor aquilo que se sabe desde a infância: seu time do coração. Não existe – ou é raro – repórter que trabalhe com futebol na redação, que nunca tivesse torcido por algum time quando criança. Inclusive, “fica feio dizer que nada na vida jamais o atraiu no futebol. E que não tem um time de coração” (COELHO, 2003, p. 56). De fato, há inúmeros casos na imprensa esportiva brasileira de jornalistas que revelaram seus clubes do coração e nem por isso foram acusados pelo público de distorcer informações. O cronista João Saldanha9 é um exemplo. Botafoguense de paixão, até assumiu a equipe alvinegra carioca como técnico durante a disputa do campeonato estadual do ano de 1957. Nem por isso, foi incriminado de pender para um lado – ou para seu clube - em seus escritos como colunas e comentários. “Saldanha conhecia futebol porque acompanhava o esporte desde os primeiros anos de vida. E porque conhecia o esporte nunca tratou de forçar a mão para um ou outro lado” (COELHO, 2003, p. 57). Para Coelho (2003), há de se seguir uma linha de conduta, considerada a ideal para o jornalista esportivo: não é necessário tonificar que se é adepto de um determinado clube, nem é exigido negar. “Reforçar poderá dar a impressão de que o comentário não é isento. [...] Não reforçar pode significar não dizer no ar, mas dar explicações fora da telinha” (COELHO, 2003, p. 58). 1.3 Mídia impressa esportiva no Brasil Para se conhecer a história da cobertura esportiva no Brasil, é necessário entender quais esportes eram mais populares. No final do século XIX e início do XX, a prática esportiva 9

João Alves Jobim Saldanha nasceu em Alegrete - RS em 3 de julho de 1917 e faleceu com 73 anos de idade em Roma, na Itália, no dia 12 de julho de 1990. Além de jornalista e cronista esportivo, atuou como militante político pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) e foi treinador de futebol. Contratado em 1957, pelo seu time do coração, o Botafogo do Rio de Janeiro, ganhou o campeonato estadual daquele mesmo ano, apesar de sua inexperiência. Em 1969, foi anunciado técnico da seleção brasileira e a dirigiu até 17 de março de 1970, quando demitido, mesmo tendo classificado a equipe nacional para a Copa do Mundo de 1970.


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que mais atraía a atenção dos brasileiros era o remo. De certo modo, foi dessa modalidade que passaram a surgir alguns clubes futebolísticos como o Botafogo de Futebol e Regatas, Clube de Regatas Vasco da Gama e o Clube de Regatas do Flamengo, todos do Rio de Janeiro. O futebol, no entanto, ainda não “pegava” no país. Segundo Coelho (2003), muitos estavam convencidos de que o esporte jogado com os pés e criado pelos ingleses não vingaria em terra tupiniquim, entre eles, o escritor Graciliano Ramos que palpitou: “Futebol não pega tenho certeza; estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho”. Entretanto, nem o remo, nem o futebol, nem qualquer outra modalidade esportiva era tida como relevante para ganhar destaque em manchetes de jornais. O melhor esporte para os próprios jornalistas era duvidar de que cadernos especializados poderiam ser completos com notícias esportivas. Para Bahia (1990), o esporte brasileiro começou a penetrar na imprensa no ano de 1856, com o periódico O Atleta que, basicamente, trazia em suas páginas algumas instruções sobre aperfeiçoamento físico dos habitantes do Rio de Janeiro. Trinta anos mais tarde, começam a circular os jornais Sport e Sportman, com a grafia disposta na língua inglesa. O Sport, na capital paulista, apresentava conceitos sobre o corpo humano, principalmente a respeito da parte física e mental. Já Coelho (2003), relata que o primeiro jornal a tratar de assuntos esportivos foi o Fanfulla em 1910, mas nada comparado com o que é caracterizado como jornalismo esportivo nos dias de hoje. O periódico trazia relatos e fichas de jogos de times amadores de origem italiana em São Paulo e isso foi importante para se ter registro das primeiras partidas realizadas entre clubes paulistas como o Santos e Corinthians. Em uma de suas edições, havia um convite para a criação de um clube de futebol em meio à Segunda Guerra Mundial e, desse modo, nasceu o Palestra Itália que, posteriormente, passa a se chamar Palmeiras. O jornal direcionado aos italianos também retratava outros assuntos além do futebol:

A primeira cesta no Brasil, o primeiro saque. Tudo foi registrado. Tudo meio a contragosto. Porque nas redações do passado – e isso se verifica também nas de hoje em dia – havia sempre alguém disposto a cortar uma linha a mais dedicada ao esporte. (COELHO, 2003, p. 8-9)

O futebol carioca, por sua vez, já tomava maiores proporções e, gradativamente, os jornais traziam em suas páginas espaços para a cobertura, ainda discretos, todavia mais do que em outras localidades do país. Para impulsionar de vez o futebol na imprensa, faltava popularização. Nisso, o Vasco da Gama, pioneiro na inserção de jogadores negros em seu


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plantel, venceu a segunda divisão em 1923, que também significou um marco na luta contra o racismo no Brasil e uma alavanca para a afirmação da modalidade. Entretanto, não só o preconceito racial tomava conta do futebol e, consequentemente, de sua cobertura jornalística. Conforme Coelho (2003, p. 9), “durante todo o século passado, dirigir redação esportiva queria dizer tourear a realidade”, pois era necessário:

Lutar contra o preconceito de que só os de menor poder aquisitivo poderiam tornar-se leitores desse tipo de diário. O preconceito não era infundado, o que tornava a luta ainda mais inglória. De fato, menor poder aquisitivo significava também menor poder cultural e, consequentemente, ler não constava de nenhuma lista de prioridades. (COELHO, 2003, p. 9)

Ou seja, o jornalismo esportivo não gerava lucro, pois seu público leitor não tinha condições de adquirir as edições diárias. Assim, era constante o surgimento e fechamento de jornais e revistas esportivas especializadas, que tentavam se aventurar nesse universo. Em 1931, nasceu o Jornal dos Sports na capital carioca, considerado o primeiro periódico com dedicação exclusiva à cobertura esportiva no país. Ademais, este foi o “primeiro a lutar ferozmente contra a realidade que tomou conta de todos os diários esportivos a partir daí” (COELHO, 2003, p. 9). A Gazeta Esportiva havia nascido dois anos antes do Jornal dos Sports, porém como um acréscimo do jornal A Gazeta, que só se tornou um veículo de comunicação impressa exclusivamente esportivo no ano de 1947. Em meio ao cenário adverso para a propagação de novos veículos de comunicação sobre esporte no país, a carioca Revista do Esporte, atravessou momentos de ouro entre o final dos anos 50 e início dos 60, mas também não resistiu e logo encerrou suas atividades. A revista “viu nascer Pelé e o Brasil ganhar títulos mundiais. Viu o futebol [...] viver momentos de estado de graça. E nem assim sobreviveu às adversidades” (COELHO, 2003, p. 10). O cenário só começou a mudar no fim da década de 1960, período em que os grandes cadernos esportivos ocuparam os jornais. Por outro lado, isso não significou estabilidade da editoria. De lá para cá, os principais jornais paulistas e cariocas lançaram cadernos de esportes e deles se desfizeram com a maior facilidade. Por fim, mesmo com oscilações, o Brasil foi classificado, na segunda metade dos anos 1960, como um dos países com imprensa esportiva de larga extensão. No tangente a jornalismo esportivo como especialização no Brasil, mencionado anteriormente, não há como deixar de evidenciar a revista Placar, principal publicação do país quando o assunto é futebol. O veículo impresso especializado foi lançado em 20 de março de 1970, pela Editora Abril, com periodicidade mensal, meses antes da Copa do Mundo do


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México, na qual a seleção brasileira conquistara o tricampeonato mundial. Assim como outros periódicos esportivos, Coelho (2003) salienta que a Placar nunca se estabilizou por um longo período, viveu fases de queda e ressurgimento com novas ideias e estratégias, mesmo existindo até hoje e por isso pode não ser incluída na lista de veículos que fizeram mais sucesso pela Abril. A revista “viveu bons momentos logo depois do título [tricampeonato], mas meses depois já estava ameaçada de extinção” (COELHO, 2003, p. 98). Coelho (2003) afirma que, para impulsionar as vendas e amenizar as ameaças de fechamento da empresa, o novo diretor de redação Mílton Coelho da Graça “aproveitou o lançamento da nova loteria, a esportiva, e criou um bolão que alavancou as vendas da revista. Toda edição trazia palpites sugerindo as melhores escolhas [...] da loteria” (COELHO, 2003, p. 98). Com essa nova estratégia, a revista vendeu mais de 250 mil exemplares em uma edição do ano de 1972. Por outro lado, Ceolin (2011) ressalta que a loteria esportiva acabou atrapalhando o crescimento das vendas anos depois.

Com as suspeitas de fraudes nos sorteios, a revista fez, em 1982, uma grande reportagem contra a loteria, com denúncias de manipulação de resultados e corrupção. Após isso, ninguém que foi investigado acabou preso. A Loteca perdeu credibilidade, mas o pior para a revista aconteceu: muitos leitores que a compravam por causa dos palpites deixaram de adquiri-la, ocasionando outra queda brusca nas vendas da revista. (CEOLIN, 2011, p. 21)

De acordo com Ceolin (2011), a revista sempre precisou reinventar-se nestas quase cinco décadas de existência, isto é, sempre procurou trazer novidades para seu público leitor. Exemplo disso ocorreu em 1984, quando “começou a colocar outros esportes em suas edições, algo que durou somente de abril a novembro daquele ano” (CEOLIN, 2011, p. 21). Coelho (2003) explica que essas mudanças frequentes realizadas pela Editora Abril eram provocadas pelo medo de perder o título, que não trazia o retorno financeiro esperado, mas era um nome conhecido pelos fãs de futebol. Em outubro de 1990, por exemplo, “foi lançada uma edição especial toda dedicada ao aniversário de cinquenta anos de Pelé” (COELHO, 2003, p. 98) e outras edições com pôsteres e matérias especiais de times específicos e de ganhadores dos campeonatos estaduais. Em janeiro de 1991, em editorial redigido pelo diretor de redação, Juca Kfouri10, foi anunciado que a Placar passaria a ter periodicidade mensal, iniciando uma nova 10

José Carlos "Juca" Amaral Kfouri é jornalista esportivo brasileiro, nascido dia 4 de março de 1950 em São Paulo - SP. O profissional é considerado um dos principais nomes no segmento esportivo do país, principalmente pelo seu currículo extenso de relevantes atuações em grandes veículos de comunicação. O jornalista começou a trabalhar na Editora Abril em 1970 como funcionário do Departamento de Documentação. Em 1974, recebeu o convite para ser chefe de reportagem da revista Placar e por lá também foi diretor de redação. Pela mídia impressa, Kfouri já trabalhou como colunista de futebol no O Globo e Folha de S. Paulo, além de atuar no diário esportivo


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fase com edições temáticas. Na Copa do Mundo de 1994, a revista conseguiu alavancar-se novamente. Coelho (2003) destaca que, neste período, foram vendidos mais de 120 mil exemplares, “três vezes mais do que quando iniciou suas edições temáticas, em 1991” (COELHO, 2003, p. 101). A edição comemorativa do tetracampeonato brasileiro vendeu aproximadamente 500 mil exemplares. Um ano depois, a partir do mês de abril, a revista passou por um novo processo de reformulação em sua linha editorial. O projeto ficou conhecido como “Futebol, sexo e rock ‘n’ roll”. Na primeira edição, “a nova Placar vendeu 240 mil exemplares”, mas “o novo formato durou mais dois anos” (COELHO, 2003, p. 103).

Dos 240 mil exemplares do primeiro mês, a revista foi caindo, até chegar à casa dos 120 mil. Verdade que as assinaturas, processo que a editoria havia iniciado junto com o projeto futebol, sexo e rock ‘n’ roll, deixava as vendas perto dos 180 mil exemplares por mês. Mas os custos de produção de cada edição tornavam inviável a manutenção do projeto. [...] Uma produção plausível, se Placar tivesse, naqueles tempos, os índices de faturamento do Jornal Nacional, da Rede Globo. Não tinha. (COELHO, 2003, p. 103)

Ceolin (2001) relata que, em outubro de 2008, a Placar mergulhou em mais uma onda de modificações. Desta vez, a revista tentou seguir o caminho de um periódico diário, o Jornal Placar. “Apenas nos dias úteis, seriam produzidos 70 mil exemplares, no início com distribuição gratuita. Após algumas idas e vindas, porém, em janeiro de 2011, o Jornal Placar não foi mais publicado” (CEOLIN, 2011, p. 22). No ano de 2010, a revista completou 40 anos. Em 2 de junho de 2015, “a Editora Abril anunciou [..] a venda de sete títulos de revistas para a Editora Caras” (ABRIL..., 02 jun. 2015), entre eles a revista Placar. Em outubro do ano seguinte, a Abril anunciou oficialmente a sua recompra. “Na internet, o título passa a integrar o portal da Veja, onde o conteúdo de futebol terá a marca Placar” (STOCCO, 2017). Segundo Stocco (2017), a revista passou a atuar também em formatos alternativos para o público leitor, como edições digitais, matérias específicas sobre futebol além do factual, dossiês, guias, livros especiais de fotos, além de conteúdos nas redes sociais.

Lance!. O jornalista também foi comentarista esportivo da Rádio América e CBN. Na televisão, foi diretor de esportes da TV Tupi, além de atuar na Record, SBT, Rede Globo, Cultura, RedeTV e ESPN Brasil. Atualmente, Kfouri é blogueiro do portal UOL.


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1.4 Breve história do futebol em Mato Grosso do Sul A história de Mato Grosso do Sul está entrelaçada com a do estado de Mato Grosso11 e no futebol não é diferente. Curiosamente, a prática do esporte não começou na capital mato-grossense, como comumente ocorre em outras localidades do país. Rafael (2017) menciona que a bola começou a rolar em Mato Grosso uno no início do século XX, com a cidade de Corumbá destacando-se como pioneira na organização dos primeiros times e campeonatos amadores na porção sul pantaneira. Eram tempos em que a cidade prosperava graças ao porto fluvial – um dos maiores da América Latina na época – e por onde desembarcavam as principais novidades vindas dos grandes centros econômicos nacionais e estrangeiros. Não à toa, o foot-ball chegou primeiro à Cidade Branca. Datam desse período: Sul América e Sete de Setembro (criados em 1910, mas atualmente extintos), e Corumbaense (fundado em 1914). (RAFAEL, 2017, p. 10)

Rafael (2017, p. 10) destaca que “a partir da década de 1920, começam a surgir as ligas citadinas em Corumbá, Campo Grande, Miranda e Aquidauana”. O primeiro campeonato que reuniu times de variados municípios do estado foi realizado em 1928, pela Federação Sportiva Matto-Grossense, instituição até então responsável pela organização de campeonatos ainda na fase amadora, sediada na Cidade Branca.

Com o passar dos anos, cidades de menor porte na região sul de Mato Grosso uno também começaram a desenvolver a prática do futebol, com ligas funcionando em Maracaju, Ponta Porã, Bela Vista e Porto Murtinho. Os primeiros anos foram prolíficos para o futebol no sul de Mato Grosso. Havia times em praticamente todas as principais cidades sulistas. Entretanto, poucos sobreviveram até os dias atuais. Além do Corumbaense, são remanescentes o Operário (1938) e o Comercial (1943), ambos de Campo Grande. (RAFAEL, 2017, p. 10)

Na região onde está localizado, atualmente, o território sul-mato-grossense, Araújo (1998) afirma que o futebol nasceu oficialmente em agosto de 1938, com a criação da Liga Esportiva Municipal de Amadores (LEMA) que, depois, recebeu o nome de Liga Esportiva

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A divisão do estado de Mato Grosso foi realizada no dia 11 de outubro de 1977, por meio da Lei Complementar nº 31, sancionada pelo presidente Ernesto Geisel e, assim, criando a nova unidade federativa Mato Grosso do Sul. O processo de divisão levou em consideração aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais e teve sua oficialização dois anos mais tarde, no dia 1º de janeiro de 1979, com a instalação da nova unidade federativa. Como em qualquer outro movimento divisionista, há argumentos favoráveis dos defensores e críticos dos que se opuseram à decisão do governo militar que vigorava na época.


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Municipal Campo-Grandense (LEMC). A entidade foi responsável pela organização dessa prática esportiva tanto em Campo Grande, quanto em toda a região Sul, que ainda integrava a unidade federativa de Mato Grosso. Pode-se dizer que o município de Corumbá é o que mais agrega valor histórico ao desenvolvimento econômico e cultural do estado de Mato Grosso do Sul. Além disso, a cidade foi pioneira na organização judicial e administrativa dos esportes antes mesmo da divisão estadual em 11 de outubro de 1977, pelo fato de ter fundado a Federação Mato-Grossense de Desportos, entidade que dirigiu as práticas esportivas até 1941. Conforme Barbosa (2015), após essa data, o governo de Getúlio Vargas estabeleceu as primeiras bases para a organização do esporte em todo o país e o controle corumbaense do desporto passou para a capital Cuiabá.

A confecção da lei não observava detalhes como os fatores geográficos brasileiros. Mato Grosso (leia-se Cuiabá, a capital) estava com uma distância de 700 km de sua mais importante cidade do interior, que era Campo Grande. Não havia estradas, nem telefones, prevalecendo rivalidades e bairrismos. [...] Foram formando-se comissões para resgatar o futebol que havia sido abandonado pelo Norte. Uma dessas comissões, formada por Elias Gadia e Radio Maia, chegou até o Rio de Janeiro, fazendo sugestões e solicitações no intuito de buscar soluções para o futebol. (BARBOSA, 2015)

Rafael (2017) discorre que a instituição do Conselho Nacional de Desportos (CND), criado pela política varguista na ditadura do Estado Novo, transformou significativamente a organização do desporto no Brasil, refletindo diretamente no futebol de Mato Grosso. Mesmo com os entraves, no que diz respeito aos aspectos geográficos, para a realização de um campeonato estadual extensivo, as ligas municipais mantiveram-se acesas nas duas décadas posteriores, comprovando que “diante do isolamento geográfico, a paixão dos esportistas não deixou o futebol enfraquecer”. (RAFAEL, 2017, p. 10-11) Profissionalmente, o futebol praticado no sul do estado de Mato Grosso só se estabeleceu na década de 1960, graças a organizações de eventos esportivos como o 1º Congresso Esportivo e a construção do estádio Pedro Pedrossian em Campo Grande, conhecido popularmente como Morenão. Segundo o projeto experimental Futebol em Campo Grande: origem, apogeu e decadência (1993), de Antônio Teixeira, Leandro Rosa e Lúdio da Silva, a criação do estádio foi um dos fatores que incentivou a entrada dos times sul-mato-grossenses na disputa do campeonato nacional.

Campo Grande reunia no ano de 1972 dois ingredientes fundamentais para a participação nos campeonatos nacionais. Tinha bons clubes com um campeonato amador bem organizado e um estádio novo, praticamente ocioso,


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que poderia tranquilamente ser palco para os jogos do campeonato brasileiro. O único ingrediente que faltava era a existência de clubes profissionais na cidade (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 28)

No sul do estado, o primeiro clube a se profissionalizar foi o Esporte Clube Comercial no dia 8 de dezembro de 1972. Uma semana mais tarde, no dia 15 daquele mês, o alvinegro Operário Futebol Clube tornava-se o segundo time oficializado profissionalmente em Campo Grande. Para Rafael (2017), as rivalidades futebolísticas entre equipes da região só começaram a surgir em 1967 com a profissionalização do futebol em Cuiabá e em 1972, em Campo Grande. No cenário estadual, os times campo-grandenses comandaram os campeonatos disputados entre 1973 e 1978, sendo este o último ano da competição antes de ser efetivada a divisão do estado de Mato Grosso. Dos seis troféus em disputa, as equipes de Campo Grande conquistaram cinco.

O Operário levou quatro taças (1974, 1976/77/78), enquanto que o Comercial, uma (1975). O Operário de Várzea Grande-MT ficou com o título em 1973. Nesse período, destaca-se que o estádio Morenão, inaugurado em 1971, foi um fator importante para que clubes sulistas levassem vantagem sobre os adversários do Norte. O novo estádio motivou a dupla Comerário a se profissionalizar, e já em 1973 as equipes disputavam o Campeonato Brasileiro. (RAFAEL, 2017, p. 11)

O ano de 1979 foi marcado pela efetivação da divisão do estado e pela organização do primeiro campeonato estadual sul-mato-grossense. Assim, “o futebol sul-mato-grossense libertou-se das amarras nortistas e passou a caminhar com as próprias pernas” (RAFAEL, 2017, p. 11). A edição inaugural teve a participação de nove equipes e o Operário foi o campeão. Naquela época, havia um número considerável de clubes interioranos que faziam parte da competição, mas quem predominava era a dupla campo-grandense Comercial e Operário, que dispunham de melhores estruturas para a preparação de atletas. Vale ressaltar que, neste período, a dupla da capital disputava a elite do Campeonato Brasileiro. Então, conquistar a competição estadual dava direito a jogar o certame nacional. 1.4.1 Operário Futebol Clube: do amadorismo à profissionalização O Operário Futebol Clube foi o segundo clube a ser oficializado profissionalmente, mas o primeiro do estado de Mato Grosso do Sul a atingir prestígio no cenário futebolístico


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nacional. Como dito nas linhas acima, a oficialização ocorreu em 1972, mas a história do “Galo da Bandeirantes” (como era conhecido por ter, durante muito tempo, sua sede na Avenida Bandeirantes, em Campo Grande) começou no ano de 1938, exato ano em que o país tomavase por uma efervescência devido ao terceiro lugar conquistado pela seleção brasileira na Copa do Mundo sediada na França, após derrotar por 4 a 2 a Suécia. Araújo (1998) aponta que a raiz do Operário possui ligação histórica com o Clube dos Trinta, agremiação criada por trinta rapazes de origens humildes que não tinham acesso ao mais tradicional palco de dança da cidade: o Rádio Clube, frequentado somente por membros da elite campo-grandense. Chamado de “célula comunista”, os jovens idealistas sofreram grande perseguição e tiveram que anunciar o fechamento do clube alternativo. Nos anos trinta, além dos eventos dançantes em Campo Grande, o futebol também era um esporte exclusivo da alta sociedade. Fechado o grêmio dos trinta jovens idealistas, os fundadores e associados, grande parte trabalhadores da construção civil, decidiram fundar em anonimato, na tarde do dia 21 de agosto de 1938, o Operário Futebol Clube. Teixeira; Rosa e Silva (1993) relatam que a reunião que anunciou a fundação ocorreu na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, na avenida Maracaju e teve líder e primeiro presidente provisório o pintor Plínio Bittencourt. O objetivo principal era consolidar um ambiente de socialização, confraternização e recreação entre operários, soldados e demais militares de baixa patente, imigrantes paraguaios e outros estratos sociais que eram discriminados, por meio do futebol e demais eventos sociais. O time nasceu somente para disputar partidas amadoras e, naquele momento, não pretendia ser uma grande força no futebol. Aos poucos, o alvinegro foi ganhando simpatia da população mais humilde em uma cidade pequena do sul do Mato Grosso com poucas opções atrativas de lazer.

A ideia era botar em campo encanador, eletricista, pedreiro [...] Os operários já tinham seu sindicato de classe, e com um time formado só de trabalhadores da área. Foi o povo que o batizou com esse nome. E como a maioria de seus integrantes torcia para o Botafogo do Rio de Janeiro, o uniforme ficou sendo calção preto, meias brancas e camisas listradas em preto e branco (ARAÚJO, 1998, p. 58)

Teixeira; Rosa e Silva (1993) afirmam que, na fase amadora, o Galo de Campo Grande conseguiu sobreviver graças ao apoio dos simpatizantes.

Durante 35 anos foi apenas um time de futebol. Disputava os campeonatos da


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Liga e cedia jogadores a seleções amadoras de Campo Grande para os jogos contra outras cidades. Conheceu a glória e também uma má fase. Foi um longo jejum de 21 anos sem títulos no amador até 1965. (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 6)

Com a profissionalização no início da década de 1970, o clube conquistou seus primeiros títulos estaduais. Em 1974, levantou seu primeiro troféu oficial, o do Campeonato Estadual Mato-Grossense. Mais tarde, a equipe foi tricampeã ainda por Mato Grosso uno (1976, 1977 e 1978). Após a divisão do estado, o alvinegro anotou 11 títulos pelo Estadual Sul-MatoGrossense. O maior reconhecimento em nível nacional dos clubes sul-mato-grossenses foi marcado pelas décadas de 1970 e 1980 e o “Galo da Bandeirantes” foi o principal responsável em trazer visibilidade ao estado. No ano de 1973, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD)12 havia confirmado uma vaga no campeonato brasileiro daquele ano para um clube do sul de Mato Grosso. Em reunião oficial com a presença das diretorias do Comercial e Operário, além da cúpula da Federação Matogrossense de Desporto (FMD), ficou acertado a realização de um torneio seletivo de três jogos (conhecido popularmente como “melhor de três”). Por fim, a equipe do Esporte Clube Comercial foi o representante sulista no Nacional. Teixeira; Rosa e Silva (1993) descrevem a façanha eliminatória do primeiro representante do sul de Mato Grosso na principal competição do Brasil:

Primeiro jogo: 06 de maio de 1973. O Morenão lotado assiste um futebol de alto nível, onde não faltaram lances que levantaram a galera. Copeu [jogador do Comercial] calou a massa alvinegra determinando a vitória do Colorado por um tento a zero. Com a vantagem de jogar no empate no segundo jogo, o Comercial entrou em campo confiante na conquista da vaga para o nacional. Era quinta-feira, 10 de maio de 1973. Com a pressão alvinegra, o Colorado se defendia. Nos contra-ataques rápidos conseguiu mais uma vitória. [...] Placar de dois a um. O Comercial saiu do Morenão com o passaporte carimbado para o brasileiro. (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 32)

Após a primeira participação comercialina no Campeonato Brasileiro de 1973, foi 12

A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) foi o órgão brasileiro incumbido pela administração, organização e fomento de todas as práticas esportivas no país e teve suas atividades iniciadas no dia 20 de agosto de 1916. Em 1923, a CBD ingressou ao quadro de entidades filiadas à Federação Internacional de Futebol Associação (FIFA). Em 24 de setembro de 1979, a Confederação Brasileira de Desportos foi renomeada para Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por meio de um decreto da FIFA, que determinou que todas as entidades nacionais de futebol teriam o encargo de lidar exclusivamente com a sustentação e desenvolvimento desta modalidade esportiva. Até o ano da reformulação, todos os campeonatos brasileiros de futebol eram organizados pela CBD e são reconhecidos até hoje pela atual CBF, assim como as participações, títulos e demais estatísticas das equipes.


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a vez do Operário estrear em palco nacional. A CBD e FMD fizeram um acordo, no qual os dois times campo-grandenses alternariam13 suas participações no torneio nacional dos anos seguintes e foi assim que o “Galo da Bandeirantes” garantiu sua presença no campeonato nacional de 1974. Na segunda participação do Galo na maior competição do país, em 1976, a equipe tinha como objetivo atingir uma posição de mais destaque, para esquecer a vigésima colocação no Brasileiro de 1974. Na primeira fase, a equipe fez uma campanha razoável, com seis empates e apenas uma vitória no Morenão nas sete partidas iniciais. A esperança era vencer o Vasco da Gama na oitava partida para garantir a classificação. Teixeira; Rosa e Silva (1993) explanaram acerca do jogo mais importante do ano para a equipe alvinegra:

Havia somente uma esperança: vencer o Vasco da Gama em pleno São Januário e conquistar a quarta e última vaga do grupo. Nem o mais fanático operariano acreditava nessa possibilidade. Em campo, os jogadores colocaram o coração no bico da chuteira. O Galo partiu para cima dos cariocas logo no começo. Aos 23 do primeiro tempo Zé Carlos cobrou lateral para Everaldo que viu o goleiro Mazzaropi adiantado e o encobriu com um toque sutil. Galo 1 x 0. O goleiro Rui garantiu o resultado até o final, classificando o Operário e mandando o Vasco para a repescagem. (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 48)

Com a vitória operariana, Teixeira; Rosa e Silva (1993) relatam que “o Jornal Diário da Serra do dia 30 de setembro de 1976 conta que milhares de torcedores lotaram a 14 de julho com bandeiras e muita alegria” (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 48). Contudo, apesar da classificação, a equipe não conseguiu emplacar na segunda fase da competição e deu adeus à etapa final do Brasileiro. 1.4.2 Copa Brasil de 1977: Operário tão perto do sonho O Campeonato Brasileiro de 1977, vigésima edição14 do torneio brasileiro 13

Nos anos 1978, 1979 e 1986 o Operário Futebol Clube e o Esporte Clube Comercial disputaram o Campeonato Brasileiro, o que “anulou” o acordo da CBD e FMD de alternância entre os clubes na competição nacional. Em 1978, o Galo da Bandeirantes terminou o campeonato em 20º lugar e os comercialinos em 48º na classificação geral. Em 1979, o Alvinegro campo-grandense foi quinto colocado e coroou sua segunda melhor campanha na divisão superior do Campeonato Brasileiro. Neste mesmo ano, o Colorado encerrou sua campanha em 37º lugar. Em 1986, terceiro ano em que os dois rivais disputaram juntos a mesma competição e última campanha dos times sul-mato-grossenses na elite nacional, o Comercial acabou em 33º e o Operário em 38º lugar no ranking final. 14 Os campeonatos nacionais de futebol começaram a surgir a partir de 1959. Entre 1959 e 1968, o principal campeonato brasileiro de futebol chamava-se oficialmente Taça Brasil de Futebol e foi a primeira competição legítima entre clubes tendo como base organizacional a CBD. Ainda sem questões logísticas como transporte e determinação de calendário de jogos, a competição atendia, normalmente, apenas os clubes campeões de cada estado, além do detentor do título do ano anterior.


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futebolístico de maior destaque e visibilidade, tinha como nome oficial Copa Brasil, intitulado pela extinta CBD. Os jogos tiveram início no dia 15 de outubro de 1977 e término em 5 de março de 1978. A competição contou com a participação de 62 clubes15 e a fórmula de disputa era dividida em três fases, semifinais e final. Ao todo, a bola rolou em 485 partidas. No campeonato, cada vitória valia dois pontos. Em caso de vitória por diferença de dois ou mais gols, o clube vencedor era bonificado com três pontos (2 pontos + 1 extra). O empate valia um ponto. Nesta edição, não houve rebaixamento. Na primeira fase, as 62 equipes foram separadas em seis grupos (ou chaves): quatro de 10 clubes e dois de 12. Basicamente, todos os clubes jogavam contra todos em turno único, dentro de cada grupo formado. Os cinco primeiros de cada grupo classificavam-se para a próxima fase e as equipes restantes participavam da repescagem. Na segunda fase, os 30 classificados foram divididos em seis chaves de cinco, no mesmo formato de enfrentamento entre si em um único turno. Para a terceira e última fase classificavam-se os três primeiros times de cada grupo. Já na repescagem, as 32 equipes que não atingiram a classificação na primeira fase foram divididas em novos seis grupos, com quatro de cinco times e dois de seis. Apenas o vencedor de cada chave estava classificado para a terceira fase do campeonato. Mais enxuta, a terceira fase contava com os 24 clubes qualificados: 18 vindos da segunda fase e seis da repescagem. A divisão foi feita em quatro grupos de seis equipes. Também em turno únicos, todos contra todos decidiam as vagas para a fase final. Somente o primeiro colocado de cada grupo teria a qualificação garantida. O esquema de disputa das semifinais era eliminatório, como jogos de ida e volta (dentro e fora de casa). A vantagem do mando de campo e do duplo empate era destinada às equipes com melhor desempenho em toda a competição nas três fases anteriores. A final era decidida em jogo único. O clube com melhor campanha tinha o benefício de realizar o jogo decisivo em seu estádio. Em caso de empate no tempo regulamentar, a decisão prosseguia para a tempo adicional (prorrogação) e disputa de penalidades. Em 1977, mesmo ano em que nasce o estado de Mato Grosso do Sul, por meio da

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Assim como em setores econômicos e sociais, a ditadura militar realizava frequentes intervenções no futebol nacional e exigia a participação de diversas equipes do Brasil para, sob a ideologia nacionalista, transformar a modalidade em algo puramente nacional, além de cativar significativos militares da política brasileira em regiões onde o futebol não era demasiadamente competitivo. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul entravam na lista de estados onde o futebol ainda não se desenvolvia como uma potência. O excessivo inchaço continuou em 1978, com 74 equipes fazendo parte do torneio nacional e em 1979, com o recorde de 94 clubes na elite do futebol brasileiro.


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sanção do presidente e comandante da ditadura militar brasileira16 Ernesto Geisel, o Operário realizou a maior façanha até hoje do futebol regional: terminou o campeonato brasileiro da primeira divisão em terceiro lugar, após perder para o São Paulo Futebol Clube na semifinal.

Manga, Paulinho, Silveira, Biluca e Escurinho; Edson, Roberto César e Marinho; Tadeu Santos, Everaldo e Peri. Um supertime no papel e um supertime dentro de campo. Com esse elenco, o Operário enfrentou de igual para igual os maiores times do país e, por pouco, muito pouco, não conseguiu o impossível: ser campeão nacional. (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 50)

O alvinegro campo-grandense fez uma campanha regular na primeira fase, mas conseguiu classificar-se com certa tranquilidade. Ao todo, foram nove jogos: quatro vitórias, três empates e duas derrotas nesta etapa do campeonato. Na segunda fase, o Operário disputou quatro partidas, sendo duas vitórias e dois empates e, deste modo, classificou-se para a terceira e última fase. Nesta, a equipe de Campo Grande garantiu três vitórias, um empate e uma derrota, totalizando cinco jogos realizados. Teixeira; Rosa e Silva (1993) salientam que a última partida desta etapa qualificatória ficou para a história: “Vitória sobre o Palmeiras pelo placar de 2 x 0. Foi acompanhado por mais de 38 mil pessoas: recorde absoluto de público no Estádio Pedro Pedrossian até hoje” (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 50). Abaixo, na tabela 1, estão todos os 20 jogos do Operário na Copa Brasil de 1977: Tabela 1 – Partidas do Operário F.C. na Copa Brasil de 1977

DATA

PARTIDA

ESTÁDIO (LOCAL)

PRIMEIRA FASE

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16/10/1977 – Domingo

Operário 0 x 0 Internacional RS

Morenão (Campo Grande – MT)

23/10/1977 – Domingo

Operário 0 x 1 Grêmio Maringá – PR

Morenão (Campo Grande – MT)

27/10/1977 – Quinta-feira

Operário 1 x 0 Juventude – RS

Morenão (Campo Grande – MT)

A Ditadura Militar no Brasil foi instaurada no dia 31 de março de 1964, com a execução do denominado Golpe de 64, que depôs o então presidente João Goulart, com a finalidade de pôr fim ao desenvolvimento das organizações populares do governo, classificado e repreendido como comunista. O regime teve 21 anos de duração (1964-1985), caracterizado, como em qualquer outro governo autoritário, pela restrição aos direitos políticos, perseguição rígida aos antagonistas do regime e censura à liberdade de expressão e de imprensa.


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07/11/1977 – Segunda-feira

Operário 3 x 1 Dom Bosco – MT

Morenão (Campo Grande – MT)

10/11/1977 – Quinta-feira

Operário 2 x 0 Joinville – SC

Morenão (Campo Grande – MT)

17/11/1977 – Quinta-feira

Coritiba – PR 1 x 0 Operário

Couto Pereira (Curitiba – PR)

20/11/1977 – Domingo

Avaí – SC 0 x 1 Operário

Orlando Scarpelli (Florianópolis – SC)

23/11/1977 – Quarta-feira

Caxias – RS 3 x 3 Operário

Centenário (Caxias do Sul – RS)

27/11/1977 – Domingo

Grêmio – RS 3 x 3 Operário

Olímpico (Porto Alegre – RS)

SEGUNDA FASE 01/12/1977 – Quinta-feira

Operário 0 x 0 Botafogo – SP

Morenão (Campo Grande – MT)

04/12/1977 – Domingo

Operário 2 x 1 Fluminense – RJ

Morenão (Campo Grande – MT)

07/12/1977 – Quarta-feira

Botafogo – RJ 1 x 1 Operário

Maracanã (Rio de Janeiro – RJ)

18/12/1977 – Domingo

CSA – AL 0 x 2 Operário

Rei Pelé (Maceió – AL)

TERCEIRA FASE 01/02/1978 – Quarta-feira

Operário 0 x 0 Santa Cruz – PE

Morenão (Campo Grande – MT)

15/02/1978 – Quarta-feira

Operário 5 x 0 Desportiva – ES

Morenão (Campo Grande – MT)

18/02/1978 – Sábado

América – RJ 0 x 2 Operário

Maracanã (Rio de Janeiro – RJ)

20/02/1978 – Segunda-feira

Remo – PA 2 x 0 Operário

Alacid Nunes (Belém – PA)

23/02/1978 – Quarta-feira

Operário 2 x 0 Palmeiras – SP

Morenão (Campo Grande – MT)

SEMIFINAIS 26/02/1978 – Domingo

São Paulo – SP 3 x 0 Operário

Morumbi (São Paulo – SP)


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01/03/1978 – Quarta-feira

Operário 1 x 0 São Paulo – SP

Morenão (Campo Grande – MT)

Fonte: Rafael (2017, p. 95)

Qualificado para a fase final, o Galo chegou como favorito à semifinal para enfrentar o São Paulo Futebol Clube, levando consigo a segunda melhor campanha da competição, atrás somente do Atlético Mineiro. A primeira partida foi realizada no Cícero Pompeu de Toledo, o Estádio Morumbi, e a volta marcada para o Morenão. Teixeira; Rosa e Silva (1993) narram e exaltam em linhas a partida que ficou singularizada como a mais emblemática para o futebol de Mato Grosso do Sul:

Mais de 110 mil torcedores foram ao Morumbi, naquela tarde de domingo para tentar empurrar o tricolor paulista. [...] O esquema montado por Carlos Castilho deu certo até os 31 minutos do segundo tempo. O placar de 0 x 0 daria tranquilidade para que o Galo pudesse garantir a vaga na final da competição no jogo em Campo Grande. Aí o inesperado aconteceu. Quando alguns são-paulinos já abandonavam o Morumbi, o centroavante Serginho, faltando quatorze minutos para o fim do jogo, marca em completo impedimento. Para piorar a situação, José Roberto Wright expulsa o lateral Escurinho, por reclamação. Com um jogador a menos e a moral abalada, o meio-campista Neca faz o segundo em outro impedimento. Serginho fecha o placar do jogo, com o único gol legal da partida: 3 x 0. (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 50)

Jogando em casa, em Campo Grande, a torcida, com todo seu apoio nas arquibancadas do Morenão, tinha esperança de que o Operário pudesse reverter o placar de três tentos do jogo de ida e conquistar a vaga para a decisão. Não aconteceu, mas, por fim, a equipe operariana demonstrou dentro de campo porque foi digna da segunda melhor campanha das fases anteriores, ao ganhar por 1 a 0 no Morenão do Tricolor do Morumbi. O resultado em si não bastou para levar o time campo-grandense à tão sonhada e inédita final do Campeonato Brasileiro de 1977, mas até a atualidade aquele 1º de março de 1978 é recordado em Mato Grosso do Sul com contentamento e nostalgia pelos torcedores operarianos e demais aficionados pelo futebol de um modo geral.

O gol de Tadeu Santos deu a vitória ao Alvinegro sobre o time que dois jogos mais tarde seria o campeão brasileiro de 1977. Final de campeonato, e a melhor classificação até hoje: terceiro lugar. (TEIXEIRA; ROSA; SILVA, 1993, p. 52)

Para a próxima temporada, a esperança dos torcedores operarianos era que o time


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pelo menos igualasse a surpreendente campanha de 77. Contudo, o título era tido como praticamente impossível, devido ao desmanche do elenco responsável por chegar à semifinal da Copa Brasil contra o São Paulo. No fim, não deu: o Operário não chegou nem perto do que havia conquistado no ano anterior, terminando a competição na vigésima colocação. Uma década depois da maior façanha operariana (e, pode-se dizer do futebol de Mato Grosso do Sul), o mesmo alvinegro da capital sul-mato-grossense conquistava em 1987 o Módulo Branco17 do campeonato brasileiro, que correspondia à terceira divisão na época em um campeonato organizado pelo Clube dos 1318. Essa foi a última vez que um clube de Mato Grosso do Sul esteve bem colocado em cenário nacional, evidenciando a decadência ao longo dos anos dessa modalidade esportiva. O último Campeonato Brasileiro disputado pelo Operário foi o de 1986, no qual terminou na 38ª posição no ranking geral. Diante disso, os clubes passaram a se dedicar somente à disputa dos campeonatos estaduais e, ocasionalmente, realizavam partidas contra equipes de maior expressão de outros estados como, por exemplo, na Copa do Brasil, em amistosos ou, pelas categorias de base, na Copa São Paulo de Futebol Júnior, para jogadores com até 20 anos. O público no Morenão nunca mais foi o mesmo, até mesmo em jogos entre Comercial e Operário, o “Comerário”. 1.5 A imprensa sul-mato-grossense Neste tópico, foi realizada uma contextualização histórica dos dois periódicos sulmato-grossenses que são objetos deste estudo monográfico: Correio do Estado e Diário da Serra. O primeiro ainda circula diariamente na atual capital sul-mato-grossense e é considerado o veículo de comunicação impressa de maior expressão e abrangência no estado. Por outro lado, o Diário da Serra, que teve seu auge nas décadas de 70 e 80, foi extinto no segundo semestre de 1998. No período demarcado para a análise de conteúdo desta pesquisa, ou seja, de outubro de 1977 a março de 1978, os dois periódicos predominavam nas bancas da Cidade Morena.

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O Campeonato Brasileiro de 1987, tanto da série A, quanto da série B foi dividido em módulos pela CBF, com o objetivo de não “inflar” a competição com muitos clubes, como foi visto, por exemplo, no campeonato de 1977. A primeira divisão foi separada em Módulo Verde e Módulo Amarelo e a segunda divisão, de caráter mais regional, em Módulo Azul e Módulo Branco. 18 Organização brasileira criada no dia 11 de julho de 1987, que objetiva defender os interesses políticos e econômicos de 13 clubes de futebol do país: Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo, Vasco e Bahia, que eram os trezes primeiros colocados no ranking oficial da CBF e os times com mais torcida na época e, portanto, considerados tradicionais.


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1.5.1 Correio do Estado O jornal Correio do Estado foi fundado no dia 7 de fevereiro de 1954, em Campo Grande - MS, por um grupo político vinculado ao partido de orientação conservadora União Democrática Nacional (UDN)19, com a finalidade de difundir os ideais e discursos udenistas. Segundo Scwhengber (2008), seus membros fundadores foram o então governador Fernando Corrêa da Costa; o corumbaense José Manuel Fontanillas Fragelli, primeiro diretor-presidente do jornal campo-grandense, pecuarista e ex-figura política, atuando como deputado federal e governador de Mato Grosso e senador pelo estado de Mato Grosso do Sul; além de José Inácio da Costa Moraes principal acionista do periódico. Além destes, outros personagens históricos do ramo empresarial, da estrutura política e demais profissionais liberais ligados ao udenismo20 fizeram parte da construção do Correio do Estado: Wilson Barbosa Martins, Vespasiano Martins, Laucídio Coelho e Laudelino Barcellos. Os primeiros anos do jornal condizem com uma época destacada pela paixão político-partidária na imprensa do Brasil. Partidos de maior expressão em âmbito nacional, como o Partido Social Democrático (PSD), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e União Democrática Nacional (UDN) faziam uso do espaço dos diários de ampla circulação para propagarem e sustentarem seus argumentos. Este cenário foi presenciado na porção sul do estado de Mato Grosso, com alguns jornais que nasciam vinculados a siglas partidárias. Scwhengber (2008) define "como maiores expressões os jornais O Progresso (PSD), no município de Dourados, e o Correio do Estado (UDN), em Campo Grande" (SCWHENGBER, 2008, p. 2). Vale salientar a respeito das características do jornal que, quando surgiu, possuía tiragem de dois mil exemplares, periodicidade diária (vespertina) e oito páginas em formato tabloide. Nos primeiros anos de atuação, o jornal circulava para uma população campograndense de 50 mil habitantes. Em 1957, o redator José Barbosa Rodrigues foi contratado pelo Correio do Estado para assumir a vaga do editor Arani Souto, demitido pela empresa. O novo jornalista possuía em seu currículo a passagem pelo periódico Jornal do Comércio, tido na década de 1950 como 19

Fundado em 7 de abril de 1945, com contundente oposição a Getúlio Vargas e ao seu regime Estado Novo. Era formado, basicamente, por oligarquias enfraquecidas pela Revolução de 30, grupos liberais e demais opositores ao regime getulista. O partido teve como principal líder o jornalista Carlos Lacerda, figura udenista emblemática na ferrenha perseguição política a Vargas e seus aliados. A UDN foi extinta pelo Ato Institucional nº 2 (AI-2), decretado pelos militares durante a ditadura. 20 Nome dado ao programa de ação política de vinculado ao partido político brasileiro União Democrática Nacional (UDN), identificado com a defesa do liberalismo tradicional, aspectos relacionados à moralidade e contrário aos ideais populistas.


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o mais relevante no sul de Mato Grosso. Anos depois, quando o grupo político-empresarial liderado por Fernando Corrêa da Costa renunciou ao Correio, Rodrigues tornou-se gerente e tomou a decisão de continuar editando no jornal ao lado do ainda acionista José Inácio, que não havia desistido de apostar suas finanças no veículo. Mais tarde, Rodrigues adquiriu a parte pertencente a José Inácio e se transformou no único dono do jornal. A seguir, na figura 1, segue a capa da primeira edição do periódico, em 7 de fevereiro de 1954: Figura 1 - Capa da primeira edição do jornal Correio do Estado21

Após tornar-se proprietário, José Barbosa Rodrigues fez questão de empregar seus filhos no jornal: Antônio João Hugo Rodrigues, José Maria Hugo Rodrigues, Marcos Fernando Hugo Rodrigues e Paulo de Tarso Hugo Rodrigues22. Além disso, no que tange ao conteúdo das matérias – principalmente sobre política – o Correio só exprimiu, de modo claro, os vínculos partidários enquanto era administrado pelo grupo político, que atendia aos interesses da UDN. Após a aquisição de José Barbosa, jornal deixou de lado sua posição conservadora de direita. De acordo com Scwhengber (2008), o periódico passou a “se tornar um pouco mais profissional e acompanhar as mudanças tecnológicas e de conteúdo que ocorreram na imprensa nacional” (SCWHENGBER, 2008, p. 3).

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Disponível em: <https://www.correiodoestado.com.br/cidades/campo-grande/correio-do-estado-continua-comambicao-de-servir-o-povo/270025/>. Acesso em: 17 set. 2018. 22 Atualmente, só o primeiro dos três filhos citados ainda está vivo, Antônio João Hugo Rodrigues.


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Na administração dos Rodrigues, o Correio do Estado ficou afamado pelo investimento maciço em modernização gráfica, por meio da administração de Antônio João, nomeado na época gerente da gráfica do jornal. Zanatta (1996) afirma que o Correio do Estado aderiu ao formato standard a partir da edição número 703, em 2 de julho de 1956.

O Correio do Estado foi pioneiro dentre os periódicos do antigo sul de Mato Grosso e também do já criado Mato Grosso do Sul a implantar algumas tecnologias, a exemplo das máquinas que agilizaram o processo impressão. Em 1999, o periódico era o único do país a imprimir todas as suas páginas coloridas. O investimento em tecnologia foi uma tendência da grande imprensa brasileira a partir da década de 1950, que o Correio do Estado acompanhou. As inovações que se implantavam nos jornais do Rio de Janeiro e São Paulo logo chegavam ao periódico campo-grandense, que sempre teve O Estado de São Paulo como seu paradigma. (SCWHENGBER, 2008, p. 5)

Para Scwhengber (2008), outra condição atrativa foi a reforma gráfica da empresa, “por meio da qual passou a imprimir todas as suas páginas em cores” (SCWHENGBER, 2008, p. 8), que também motivou a atração de mais anúncios publicitários. Zanatta (1996), salienta que as cores no Correio do Estado passaram a existir no dia 5 de setembro de 1994, “mas seu processo de informatização começou em 1990” (ZANATTA, 1996, p. 36). Até 2003, José Barbosa Rodrigues comandou o jornal e, posteriormente, seu filho Antônio João foi o responsável por assumir a direção do periódico, além de ser, atualmente, o detentor da maior parte das ações. Andrade e Fernandes (2015) salientam que o jornal originou o grupo Barbosa Rodrigues, “hoje formado pela TV Campo Grande, o portal de notícias Correio do Estado e as emissoras de rádio Cultura AM e Mega 94 FM” (ANDRADE e FERNANDES, 2015, p. 9). Desde fevereiro de 1981 o Correio do Estado permanece na avenida Calógeras, 356 e se configura como o principal jornal impresso de Mato Grosso do Sul, com ininterruptos 64 anos de circulação diária. Segundo o departamento comercial, atualmente, o periódico circula de segunda-feira a domingo23, varia de 18 a 24 páginas e é dividido em três cadernos: A (opinião, editorias de política, economia, Brasil&Mundo, cidades e esportes), B (cultura, famosos/celebridades e variedades) e C (classificados). A edição de segunda-feira possui ainda o caderno Rural e a de sábado/domingo o caderno Veículos. Ao observar as edições atuais do jornal, constata-se que a editoria de esportes normalmente fica na página 10, uma antes do Caderno B, exceto em dias de maior repercussão

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A edição de sábado e domingo é única e possui um número maior de páginas em comparação com os outros dias da semana: 24.


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de assuntos sobre política e economia e, consequentemente, maior número de matérias destas editorias. A maioria dos textos jornalísticos de esporte é de âmbito nacional e internacional, fornecidos por agências de notícias, com a assinatura “agências” logo abaixo do título da matéria. São raras as matérias assinadas pelos repórteres da redação. Além disso, as matérias sobre futebol predominam, com mais de 80% do espaço na única página dedicada à editoria esportiva. Segue, na figura 2, um exemplo da página de Esportes do Correio do Estado: Figura 2 - Editoria de Esportes do Correio do Estado24

O formato do Correio do Estado permanece standard, medindo 48 por 76 centímetros. De acordo com o Mídia Kit25 2018, auditado pelo Instituto Verificador de Comunicação (IVC) o jornal tem tiragem de 11.750 exemplares distribuídos em 43 municípios de Mato Grosso do Sul, além de 9.500 assinantes. Os atuais diretores são Ester Figueiredo Gameiro e Marcos Fernando Alves Rodrigues. Estampado na página de cada edição, o preço do jornal, atualmente, é R$ 1,30 na capital e R$ 1,50 no interior.

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Edição de sexta-feira, 7 de setembro de 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2QfpMyE>. Acesso em: 30 set. 2018. O Mídia Kit mencionado é válido de janeiro a dezembro de 2018. 25


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1.5.2 Diário da Serra Junto ao Correio do Estado, havia outro jornal que circulava diariamente na capital sul-mato-grossense e se aproximou da ascendência e atuação caracterizada pela empresa dos Rodrigues: o Diário da Serra. Fundado em 28 de maio de 1968, nove anos antes da criação do estado de Mato Grosso do Sul, sob a direção do jornalista José Adirson Vasconcelos, o periódico pertencia aos Diários Associados26, conglomerado de mídia criado por Assis Chateaubriand27, jornalista, empresário e uma das figuras públicas mais renomadas quando se fala em história da imprensa brasileira. Na época, a proposta de Chateaubriand era levar a cada estado brasileiro um órgão associado, seja ele jornal impresso, televisão ou rádio. Sua primeira edição trouxe uma abordagem especial sobre as especificidades das cidades mato-grossenses. Além disso, foram reproduzidas as condecorações feitas pelo Poder Legislativo, por meio de declarações de deputados e senadores em sessões ao fundador Assis Chateaubriand, que veio a óbito um mês antes da inauguração do jornal, no dia 4 de abril de 1968, em São Paulo – SP. O título oficial do periódico era estampado em negrito, com o nome de seu fundador e dono dos Associados escrito abaixo. Logo na capa da primeira edição referente a 29 e 30 de maio de 1968 (quarta e quinta-feira), foi exposta toda a solenidade de instauração e o editorial do periódico sob a forma de um texto de apresentação, intitulado Voto Solene. O “Diário da Serra” vem para transmitir ao povo de Campo Grande e de Mato Grosso a mesma mensagem de confiança e de fé dos demais órgãos dos “Diários Associados”, no propósito de espalhar com absoluta fidelidade os sentimentos e interesses públicos, fazendo desses interesses a bandeira que temos de sustentar com firmeza, sejam quais forem as vicissitudes que os tempos impõem a quantos se afervoram na luta para a realização dos ideais da coletividade. [...] Trazemos aqui mais do que esperanças. Temos viva a certeza de que tudo quanto prometemos será cumprido, pois que é esse o ponto de honra mais sensível daqueles que continuam a obra e o nome de Assis Chateaubriand, com a mesma inabalável dedicação à segurança e grandeza da pátria. (DIÁRIO DA SERRA, 1968, capa)

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Lançado em 1924, também denominado Condomínio Acionário dos Diários e Emissoras Associados, ou somente Associados, firmaram-se como o sexto maior conglomerado de empresas midiáticas brasileiras, formado por jornais impressos, revistas, emissoras de rádio e estações televisivas. Vale destacar que o grupo já foi o maior da história da imprensa do país entre as décadas de 1930 e 1960 e teve como veículos mais renomados as extintas TV Tupi e revista O Cruzeiro. 27 Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, nascido no dia 4 de outubro de 1892 em Umbuzeiro – PB, era o dono dos Diários Associados. Em 1954, entrou para a Academia Brasileira de Letras, designado à cadeira nº 37. Além de jornalista e empresário, Chateaubriand fundou o Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1947 e foi eleito senador duas vezes, pelo estado da Paraíba em 1951 e Maranhão em 1954. De 1957 a 1960, foi embaixador do Brasil no Reino Unido. Assis Chateaubriand veio a óbito no dia 4 de abril de 1968, aos 75 anos, em São Paulo – SP, vítima de trombose.


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Na página dois do primeiro número, também dedicada à apresentação do jornal, uma nota de texto evidenciava a linha de conduta do jornal na qual Chateaubriand gostaria que o diário atuasse, segundo os princípios dos Associados. O objetivo era “estender a todos os recantos do país um programa patriótico de defesa dos mais altos interesses da nação e de elevação do nível cívico e cultural do povo brasileiro” (DIÁRIO DA SERRA, 1968, p. 2). Segundo o diretor José Adirson Vasconcelos, o jornal não possuía nenhum vínculo políticopartidário. “Para ele foi o primeiro jornal a aparecer no Mato Grosso sem patrocínio de políticos ou interesses políticos partidários” (ZANATTA, 1996, p. 44). Embora redigido e editado em Campo Grande, o jornal também teria circulação “logo às primeiras horas da manhã na cidade de Cuiabá, capital do Estado, com um noticiário sobre os principais fatos de interesse administrativo e geral de Mato Grosso” (DIÁRIO DA SERRA, 1968, p. 2). De fato, o periódico era distribuído nas cidades mais importante do estado: Corumbá, Dourados, Aquidauana, Três Lagoas, Ponta Porã, Miranda e Maracaju (pertencentes hoje ao estado de Mato Grosso do Sul), além de Rondonópolis e Cáceres (cidades de Mato Grosso). Ademais, a página de apresentação ressaltava a criação conjunta de uma filial da Agência Meridional, com a justificativa de que “a presença de um jornal ‘associado’ em Mato Grosso permitirá, por igual, uma maior contribuição à divulgação do Estado noutras áreas brasileiras” (DIÁRIO DA SERRA, 1968, p. 2). Deste modo, a agência de notícias, instalada na mesma sede do Diário da Serra, foi responsável por transmitir aos demais jornais do conglomerado chateaubriandense espalhados pelo Brasil os principais fatos ocorridos em solo mato-grossense. Observa-se, na figura 3, a segunda página da primeira edição do jornal: Figura 3 - Página 2 da primeira edição do Diário da Serra


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De acordo com Pais (2017), a oficina gráfica do novo periódico veio diretamente de Brasília, “onde estava sendo usada para imprimir o Correio Braziliense28, que ganhou novos equipamentos” (PAIS, 2017) que imprimiam as páginas do jornal em offset29. Chateaubriand havia falecido no mês anterior e a inauguração do jornal ocorreu ainda no clima das homenagens póstumas prestadas à sua memória. Artistas, intelectuais, políticos e autoridades de várias cidades do Estado estiveram presentes. O bispo Dom Antônio Barbosa abençoou as máquinas e instalações e o governador Pedro Pedrossian foi convidado a acionar o painel eletrônico da “rotoplana Buhler”, fazendo aparecer na esteira o primeiro exemplar impresso. Discursou o jornalista Edilson Cid Varela, diretor superintendente regional, seguido pelo prefeito Plínio Barbosa Martins. (PAIS, 2017)

Com o slogan “Com você onde estiver”, o Diário da Serra tinha periodicidade diária, só não circulava às segundas-feiras. Numa leitura exploratória do arquivo histórico, notase que, ao todo, o jornal possuía oito páginas, salvo terça-feira, que possuía 10 ou 16 páginas, edição “inchada” de informações que não haviam sido divulgadas no dia anterior. O formato era standard, medindo 56 por 38 centímetros. Para Campo Grande, o preço do exemplar era de três cruzeiros (Cr$ 3,00) e, para as demais cidades do estado, quatro cruzeiros (Cr$ 4,00). Os valores também vinham estampados na capa de cada edição. Na primeira equipe editorial, que consta na página do expediente do Diário da Serra, estavam nomeados os seguintes cargos: Cesar Quintas Guimarães, como diretor executivo; Waldemar Hozano, o redator-chefe e, de Brasília, o diretor superintendente era Edilson Cid Varela, além do já citado diretor e supervisor regional José Adirson Vasconcelos. Por volta das 17 horas de terça-feira, dia 4 de outubro de 1977, o prédio da empresa desabou e ocasionou uma série de prejuízos ao veículo. O Correio do Estado, concorrente na época, emitiu um comunicado ao público em sua capa no dia seguinte ao acidente:

O Diário da Serra, em virtude do desabamento total da cobertura de sua sede, danificando seriamente toda a sua infraestrutura operacional, encontra-se impossibilitado de circular hoje. [...] De imediato, o Diário da Serra recebeu solidariedade dos demais órgãos de imprensa, e de modo especial do Correio 28

Periódico brasileiro fundado em 21 de abril de 1960, que pertence aos Diários Associados, com sede em Brasília – DF. Seu nome é proveniente do histórico jornal Correio Braziliense (ou Armazém Literário), que circulou de 1 de junho de 1808 a 1 de dezembro de 1822, publicado por José Hipólito da Costa, português tido como o iniciador do jornalismo brasileiro. 29 Traduzido do inglês “off-set”, ou seja, “fora do lugar”. Processo de impressão que se baseia na mistura entre água e gordura (a tinta offset tem textura gordurosa). Neste tipo de impressão, o processo ocorre de forma indireta, isto é, a imagem é transpassada da matriz para a blanqueta (cilindro de impressão) e só é passada ao papel posteriormente. Com este procedimento é possível ler antes mesmo da impressão, o que difere dos processos diretos, na qual a matriz é espelhada e os textos aparecem escritos inversamente. Devido a alta qualidade dos produtos finais, a impressão offset é a mais utilizada para fins comerciais.


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do Estado. [...] O Diário da Serra, uma vez baixado o pó do desabamento, toma todas as providências para voltar às mãos de seus leitores o mais rápido possível, provavelmente nesta quinta-feira. (CORREIO DO ESTADO, 1977, capa)

De acordo com Zanatta (1996), como prometido no comunicado oficial dado pelo Correio do Estado, a edição do dia 6 de outubro de 1977 foi impressa e circulou. Edição esta “com menor número, impressa nas oficinas do Jornal do Comércio. A instalação provisória foi feita na rua 14 de julho. Era diretor do jornal César Quintas e dono do prédio Ibrahim El Zaher” (ZANATTA, 1996, p. 44). De fato, a primeira década de existência do jornal foi uma mistura de dificuldades e conquistas. Para Zanatta (1996), a receptividade do povo mato-grossense foi essencial para a implantação do jornal no estado. Deste modo, o “Diário da Serra logo ganhou uma posição de prestígio e liderança, passando a circular também no norte do estado, onde instalou uma sucursal em Cuiabá” (ZANATTA, 1996, p. 44). A partir de 24 de novembro de 1977, o Diário da Serra passou a contar com 16 páginas diárias. Analisando o arquivo histórico do periódico, percebe-se que um dos principais motivos para a ampliação das páginas foi o aumento do número de anúncios publicitários e as suas dimensões, que chegavam meia ou uma página inteira como, por exemplo, as publicidades da General Motors, estampando carros da Chevrolet famosos na época. Nesta mudança, houve a entrada do “Caderno 2”, que abrangia matérias e informações dos mais variados temas: horóscopo, matérias de serviço, entretenimento, anúncios de empregos e demais tipos de classificados. Basicamente, notou-se que a criação do Caderno 2 objetivava separar as matérias de política, economia, polícia, cidades e esportes dos outros conteúdos presentes no jornal. Além do acréscimo no número de páginas, de novembro para dezembro de 1977 o Diário da Serra mudou sua sede administrativa, onde funcionava também tanto a redação jornalística, quanto a oficina gráfica de impressão. Da Avenida Calógeras, 1326, o jornal passou a ter como novo endereço a Rua Cândido Mariano, 1684, entre as ruas 13 de Maio e Rui Barbosa, no centro de Campo Grande. Com o processo de informatização30 da redação e instalação de um telefoto31, o Diário da Serra passou a disponibilizar aos seus leitores e anunciantes uma modernização De acordo com Zanatta (1996), o jornal começou “a ser informatizado em junho de 1991 e chapado no dia 1 de agosto de 1995” (ZANATTA, 1996, p. 49). 31 Equipamento de telecomunicação criado na década de 1920 que permitia o envio e recepção de imagens fotográficas à distância, por meio de ondas hertzianas. As imagens em preto e branco eram convertidas em impulsos elétricos e a transmissão ocorria pela linha telefônica em que algum aparelho estivesse conectado. Dependendo das condições técnicas do telefonema, o tempo de envio era de, aproximadamente, 20 minutos. A agência de notícias estadunidense Associated Press (AP) foi a primeira a utilizar este método de transmissões, em janeiro de 1935. 30


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técnica. Contudo, o veículo não teve o apoio suficiente dos comerciantes locais e de nenhum outro representante da iniciativa privada. Por outro lado, a superintendência do jornal não permitia qualquer suporte financeiro governamental. De acordo com os diretores dos Diários Associados, “seria impossível um jornal diário, responsável, com liberdade e ética, ficar na dependência de verbas do Governo do Estado e Prefeitura” (ZANATTA, 1996, p. 45). Diante do cenário econômico desfavorável e a dificuldade no equilíbrio das contas e despesas, além da falta de auxílio dos representantes comerciais para sustentar a evolução informatizada de produção, a unidade de Campo Grande foi vendida pelos Diários Associados em 1995. Após uma última tentativa, sem sucesso, de firmar parcerias com outras companhias do setor de comunicação, o jornal foi vendido a Leonildo Bachega e Antônio João Rodrigues, filho de José Barbosa Rodrigues, do Correio do Estado. Para Zanatta (1996), “a maior dificuldade enfrentada na compra do jornal foi a falta de circulação e os equipamentos ultrapassados que o jornal possuía” (ZANATTA, 1996, p. 45). Os maquinários do parque gráfico que estavam imprimindo o jornal eram os antigos provenientes do Correio do Estado. Efetuada a compra, Bachega responsabilizou-se pela função administrativa do veículo, enquanto Antônio João ficou responsável pela parte editorial. No dia 14 de fevereiro de 1995 o jornal trouxe o editorial Um novo jornal nas ruas, no qual trazia a apresentação da nova direção com aspectos relacionados ao desenvolvimento econômico e social do novo estado brasileiro:

Está sendo apresentado à população sul-mato-grossense o novo Diário da Serra, que ingressa numa fase de transformações, deflagradas a partir das mudanças do seu controle acionário. Mais do que um jornal modernizado internamente, com equipamentos de última geração, a proposta é oferecer a Mato Grosso do Sul um veículo ágil, moderno, contemporâneo, capaz de atender as vocações e anseios da população de um estado jovem, progressista e antenado com os avanços deste final de milênio. (DIÁRIO DA SERRA, 1995, capa)

Na mesma data do ano seguinte, o Diário da Serra lançou a sua primeira edição colorida e, na capa, em referência ao texto do editorial exposto acima, esclareceu aos leitores as mudanças que estavam ocorrendo no jornal, dentre elas avanços tecnológicos e estéticos. Segue um trecho: A 14 de fevereiro de 1995 – este Diário da Serra, iniciando uma fase de transformações que marcava sua nova identidade, assumia em editorial uma série de compromissos. Todos subordinados aos interesses da sociedade estadual, a quem o jornal se propunha servir com altivez e independência


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editorial. Hoje, exatamente um ano depois, o Diário da Serra chega às mãos de seus leitores trazendo em suas páginas o testemunho mais eloquente de que aqueles compromissos vêm sendo resgatados. As cores que hoje dão novo visual a páginas nobres do jornal, expressam tanto a árdua e desafiadora evolução tecnológica conquistada, quanto a confirmação do propósito de oferecer um produto à altura de nossos leitores e da própria sociedade estadual. (DIÁRIO DA SERRA, 1996, capa)

Segundo Zanatta (1996), quando adquiriu parte do jornal, Bachega vislumbrava a oportunidade de vender o jornal para obter um bom retorno financeiro em comparação ao valor de compra. Sendo assim, vendeu sua parte da empresa à Antônio João Rodrigues, que passou a ser proprietário único a partir do mês de maio de 1996. Até julho deste mesmo ano, o quadro de funcionários era de 140 pessoas, com 19 trabalhando na redação jornalística, 20 eram responsáveis pela circulação e 24 estavam encarregados da parte industrial. O Diário da Serra foi extinto no segundo semestre de 1998. Em Campo Grande, seu último endereço foi a rua Engenheiro Roberto Mange, 849, bairro Amambaí. 1.6 A Análise de Conteúdo como metodologia Realizada a fundamentação teórica, foi elucidado neste capítulo os instrumentos metodológicos empregados para a análise das matérias jornalísticas dos periódicos Correio do Estado e Diário da Serra. Categoricamente, explanar-se-á a escolha da Análise de Conteúdo, o corpus da pesquisa, os elementos da pesquisa, o detalhamento das etapas da análise e, finalmente, a análise de cada edição selecionada para o presente estudo monográfico. 1.6.1 Análise de Conteúdo: conceito e funções A Análise de Conteúdo (AC) foi a técnica metodológica de pesquisa escolhida, por corresponder precisamente aos objetivos propostos para este trabalho. Por meio da AC é possível obter tantos resultados quantitativos, isto é, no que se refere à frequência de ocorrência de determinados assuntos e a quantidade de matérias encontradas em uma edição de jornal. Além disso, este método permite chegar-se a produtos qualitativos, aprofundar-se no conteúdo das matérias, analisar o teor das linhas escritas pelo repórter, além do que se subentende e que não está explicitamente redigido em uma página de jornal, apurando-se, assim, os vestígios dos textos. Com isso, buscar-se-á evidenciar se as matérias jornalísticas esportivas pendem claramente para um lado apaixonado ou se estão de acordo com o que regem os bons, tradicionais e velhos conceitos que regem o jornalismo: a tentativa de aproximação mais fiel à


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imparcialidade, neutralidade, não deixando transparecer pontos de vistas em um conteúdo jornalístico informativo, para que, afinal, o leitor possa, por si próprio, tirar conclusões. Ainda relacionado ao “encaixe” da metodologia à aplicação deste estudo, Chizzotti (1991) afirma que a Análise de Conteúdo tem o papel de permitir um trabalho em que se empregue tanto a pesquisa quantitativa, quanto a qualitativa, superando a dicotomia entre esses dois estudos. Para ele, o método analítico de conteúdo visa a complementaridade mútua. Com isso, é possível realizar uma boa exploração qualitativa de dados estritamente quantitativos ou uma coleta de material com técnicas qualitativas que possam ser agregados a métodos quantitativos.

O objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas. A decodificação de um documento pode utilizar-se de diferentes procedimentos para alcançar o significado profundo das comunicações nele cifradas. A escolha do procedimento mais adequado depende do material a ser analisado, dos objetivos da pesquisa e da posição ideológica e social do analisador. (CHIZZOTTI, 1991, p. 98)

Em sua obra Análise de Conteúdo (2016), Laurence Bardin define Análise de Conteúdo como um conjunto de instrumentos metodológicos caracterizado como esforço interpretativo, que tem como função crucial o desvendar crítico, voltado especificamente às comunicações, seja para uma compreensão científica de caráter sociológico, psicológico, histórico, linguístico ou de qualquer outro campo de estudos. Para a autora francesa, o fator comum do conjunto que fundamenta esta metodologia de pesquisa é uma “hermenêutica controlada, baseada na dedução: a inferência” e o presente mecanismo analítico é capaz de oscilar “entre os dois polos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade” (BARDIN, 2016, p. 15). Isto é, a análise de conteúdo tem a capacidade de instigar, suscitar no investigador o desejo em realizar a paciente tarefa de “desocultação”, ser atraído pelo que não está aparente por meio de uma dupla leitura no material a ser analisado e poder, por fim, destrinchar por meio de um rigor científico (quantitativo e qualitativo) todo o conteúdo, o que estava retido. A primeira leitura é aquela realizada com o “correr dos olhos”, aos leigos tida como leitura simples, normal. A segunda, entretanto, é a da averiguação profunda, a do “agente duplo, detetive, espião...” (BARDIN, 2016, p. 15). Assim, a Análise de Conteúdo permite que, por meio de investidas em procedimentos técnicos, possa-se obter interpretações definitivas de


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intuições aleatórias antes de alguma intenção de verificar determinado conteúdo (aqui, no caso, de matérias jornalísticas). Ademais, a justificativa para a escolha da Análise de Conteúdo se dá em decorrência de a presente pesquisa coincidir com os dois objetivos desta técnica de metodológica apresentados por Bardin (2016), que norteia, como uma espécie de manual ou mapa metodológico, este estudo monográfico. Para a autora, a análise de conteúdo tem como escopo a superação da incerteza e o enriquecimento da leitura. Contudo, quais as definições para estes componentes e como servirá de base para os propósitos levantados por este trabalho? A superação da incerteza tem a intenção de comprovar que a perspectiva do analisador do texto não se limita uma intuição peculiar, pessoal e que também pode ser, posteriormente, assentida a todos que forem explorar o estudo do observador/pesquisador principal. Diante da descrição desse elemento, Bardin (2016) interroga:

O que julgo ver na mensagem estará lá efetivamente contido, podendo esta “visão” muito pessoal ser partilhada por outros? Por outras palavras, será a minha leitura válida e generalizável? (BARDIN, 2016, p. 35)

Portanto, compete ao analista empenhar-se sobre a ideia para atestar se isso é plausível. Na condição deste estudo, o questionamento em evidência é: o Correio do Estado e Diário da Serra realizaram uma cobertura equilibrada, isenta e objetiva da campanha do Operário na Copa Brasil de 1977? O segundo elemento, enriquecimento da leitura, objetiva expender componentes encontrados no material textual analisado que passam despercebidos numa primeira leitura (“correr dos olhos”), de caráter ligeiro e espontâneo. Este objetivo perseguido pela Análise de Conteúdo visa produzir pertinência a um texto, através de uma leitura mais atenta, aprofundada, “enriquecida”. Bardin (2016, p. 35) define-o como pretensão de “aumentar a produtividade”. Desse modo, se uma publicação escrita, ao ser lida de maneira rasa, acarretar uma dúvida, não é o ideal aprofundar a leitura, estudar densamente para se buscar um enriquecimento da compreensão e, assim, passar a entender plenamente o que se quis dizer por escrito? Então, para este trabalho, a pergunta que fica é a seguinte: realizando uma leitura mais profunda e enriquecida das matérias pós-jogo sobre o Campeonato Brasileiro de 1977, cujo objetivo principal era somente informar (ou pelo menos deveria ser), será possível descobrir componentes que podem desvelar intenções e pontos de vista na matéria? Qual o posicionamento do texto jornalístico em relação ao Operário na competição nacional?


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Chegadas às principais questões que encaminham os objetivos desta técnica metodológica, Bardin (2016) também estabelece as duas principais funções da AC que, na prática, podem desenvolver ou não uma ligação: a função heurística e de “administração da prova”. Mas o que isso quer dizer? A função heurística é clarificada como o objetivo de se dedicar à descoberta dos fatos, tendo a Análise de Conteúdo a finalidade de prosperar no que tange à tentativa investigativa. “É a análise de conteúdo ‘para ver o que dá’” (BARDIN, 2016, p. 35). A outra função apresentada pela autora é a de “administração da prova”, na qual informações ou questões provisórias servem como ponto de partida e direção para uma análise sistemática do objeto que se pretende averiguar. Em outras palavras, questionamentos iniciais (ou hipóteses), serão levados em importante consideração e verificados no decorrer do processo analítico na intenção de uma confirmação ou de uma invalidação de uma possibilidade estimada como válida. “É a análise de conteúdo ‘para servir de prova’” (BARDIN, 2016, p. 36). No momento de colocar em prática, as funções “para ver o que dá” e “para servir de prova” podem exercer complemento mútuo, principalmente quando o pesquisador não domina a investigação ou se depara com um tipo de mensagens com limitações de exploração, faltando, assim, concomitantemente, a problemática de sustentação e os métodos a empregar. Assim sendo, as duas funções interagem, reforçando-se uma à outra. A análise “às cegas” [...] pode fazer surgir hipóteses que, servindo então de guias, conduzirão o analista a elaborar as técnicas mais adequadas à sua verificação. Enquanto que, por outro lado, os analistas já orientados à partida para uma problemática teórica poderão, no decorrer da investigação, “inventar” novos instrumentos suscetíveis, por sua vez, de favorecer novas interpretações. (BARDIN, 2016,

p. 36) Dessa maneira, a análise de conteúdo permite o enriquecimento constante de novos métodos, que se aprimoram progressivamente até se encaixar satisfatoriamente ao tipo de interpretação objetivado. Logo, a estrutura teórica de base em um procedimento de leitura sistemática interpretativa, como hipóteses e resultados, pode ser remodelada, reinventada a cada momento, não existe nenhum mecanismo formado do começo ao fim neste processo de análise. Por vezes, “esse vaivém contínuo possibilita facilmente a compreensão da frequente impressão de dificuldade no começo de uma análise, pois nunca se sabe exatamente ‘por qual ponta começar’” (BARDIN, 2016, p. 36).


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Para a realização de uma análise de conteúdo apropriada, Bardin (2016) a desmembra em três etapas: • Pré-análise; que remete à parte do trabalho na qual será estruturada a pesquisa, decidido o corpus, definida e dividida as categorias de análise; • Exploração do material, onde ocorrerá a análise textual, reunido os dados, as amostragens e seus detalhes; • Tratamento dos resultados, a inferência e interpretação, voltada à disposição significativa dos resultados alcançados com o estabelecimento de quadros, diagramas e demais procedimentos do gênero para a organização dos dados finais colhidos. Tendo os resultados em mãos, é o momento para o autor da análise apresentar inferências e prosseguir com as interpretações tendo em vista os objetivos prenunciados. No presente estudo monográfico, a pré-análise foi desenvolvida ainda neste capítulo, nos tópicos seguintes. Posteriormente, foi realizada a exploração do conteúdo, onde evidenciou-se, em um capítulo separado, o detalhamento das leituras das edições dos jornais analisados, com as devidas explicações. Por fim, realizar-se-á o tratamento dos resultados, a inferência e interpretação, com a avaliação conclusiva em linhas dedicadas tanto no capítulo subsequente do detalhamento por cada edição analisada do jornal, quanto no desfecho dos resultados obtidos e, finalmente, na conclusão geral do trabalho. A pré-análise é compreendida como a fase organizacional do processo analítico. É nesta etapa que “se deixa tudo pronto” para que, posteriormente, realize-se a leitura profunda e exaustiva do conteúdo, com fins interpretativos. Bardin (2016) evidencia que, por meio de um plano/programa estabelecido preciso e sistematizado, mas que pode ser flexibilizado no decorrer do processo de análise, a pré-análise tem como objetivo “tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas” (BARDIN, 2016, p. 125). Para a teórica francesa, esta primeira fase da pesquisa dispões de três atribuições: a escolha do material a ser subordinado à análise (corpus da pesquisa), a elaboração das hipóteses e dos objetivos e a formulação de indicadores que embasem a interpretação final do documento, ou seja, a escolha de índices que a análise irá explicitar. Segundo Bardin (2016), no processo organizacional da análise, estas três missões essenciais para a análise de conteúdo da pesquisa não precisam, necessariamente, estar numa ordem cronológica, mesmo que esses fatores estejam intimamente relacionados uns aos outros. Isto quer dizer que a escolha do corpus da pesquisa necessita da definição dos objetivos, ou, o contrário, a descrição dos objetivos só é viável consoante aos materiais/documentos


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disponíveis. A posteriori, a referenciação dos indicadores será elaborada em conformidade com as hipóteses, ou, de modo oposto, as hipóteses serão concebidas perante determinados índices/indicadores. 1.6.2 Corpus da pesquisa Para o presente estudo, foram escolhidas 42 edições, 21 do Correio do Estado e 21 do Diário da Serra. Do primeiro jornal, serão analisadas as edições de 18 de outubro de 1977 a 2 de março de 1978. Do segundo, de 19 de outubro a 2 de março de 1978. O espaço temporal compreende a duração da Copa Brasil de 1977. A pesquisa teve como foco a análise de conteúdo das matérias das edições nos dias posteriores aos jogos do Operário Futebol Clube na competição nacional. Foram analisadas somente as matérias do clube campo-grandense que relacionadas à Copa Brasil. Matérias acerca de assuntos internos do time de Campo Grande e que abordem outros clubes e temas envolvendo a Copa Brasil, bem como textos de outras temáticas e modalidades esportivas, foram descartadas. No total, a equipe campo-grandense realizou 20 partidas. Do Correio do Estado, foram analisadas as seguintes edições, de acordo com a tabela 2: Tabela 2 – Edições analisadas do Correio do Estado

1ª edição: 18/10/197732

8ª edição: 24/11/1977

15ª edição: 16/02/1978

2ª edição: 24/10/1977

9ª edição: 28/11/1977

16ª edição: 20/02/197833

3ª edição: 28/10/1977

10ª edição: 02/12/1977

17ª edição: 21/02/1978

4ª edição: 08/11/1977

11ª edição: 05/12/1977

18ª edição: 23/02/197834

5ª edição: 11/11/1977

12ª edição: 08/12/1977

19ª edição: 26/02/197835

6ª edição: 18/11/1977

13ª edição: 19/12/1077

20ª edição: 27/02/1978

7ª edição: 21/11/1977

14ª edição: 02/02/1978

21ª edição: 02/03/1978

O primeiro jogo do Operário na Copa Brasil de 1977 foi contra o Internacional, de Porto Alegre – RS, em 16 de outubro de 1977. O ideal seria analisar a edição pós-jogo, ou seja, 17 de outubro de 1977, mas esta não foi encontrada no acervo de pesquisa do Correio do Estado, pois foi extraviada. 33 O jogo América – RJ x Operário ocorreu em 18 de fevereiro de 1978, sábado. Como o Correio do Estado veiculava edição conjunta sábado/domingo, a edição de 20 de fevereiro de 1978, segunda-feira, foi analisada como pós-jogo que, coincidentemente, também era a edição do dia do jogo entre Remo x Operário, em Belém – PA. 34 O jogo Operário x Palmeiras foi realizado em 23 de fevereiro de 1978 e, como a edição pós-jogo (24/02/1978) não foi encontrada no acervo do Diário da Serra, decidiu-se analisar a edição do dia do jogo para evitar enviesamento amostral de pesquisa. 35 Excepcionalmente, a edição de 26 de fevereiro de 1978 é a do dia do jogo entre São Paulo x Operário, no Estádio Morumbi, e foi analisada qualitativamente, pois julgou-se importante para complementar a pesquisa, devido a relevância do jogo, a primeira semifinal de Campeonato Brasileiro de uma equipe mato-grossense/sul-matogrossense. Para equilibrar e não enviesar a pesquisa, o mesmo dia também foi analisado no Diário da Serra. 32


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Do Diário da Serra, segundo a tabela 3, foram analisadas as edições: Tabela 3 – Edições analisadas do Diário da Serra

1ª edição: 19/10/197736

8ª edição: 24/11/1977

15ª edição: 16/02/1978

2ª edição: 25/10/197737

9ª edição: 29/11/1977

16ª edição: 19/02/1978

3ª edição: 28/10/1977

10ª edição: 02/12/1977

17ª edição: 21/02/1978

4ª edição: 08/11/1977

11ª edição: 06/12/1977

18ª edição: 23/02/197838

5ª edição: 11/11/1977

12ª edição: 09/12/197739

19ª edição: 26/02/1978

6ª edição: 18/11/1977

13ª edição: 20/12/1077

20ª edição: 28/02/1978

7ª edição: 22/11/1977

14ª edição: 02/02/1978

21ª edição: 02/03/1978

Decidiu-se abordar somente as edições do dia posterior a cada partida, uma vez que se julga que estas apresentam matérias mais elaboradas pelos jornais sobre como foi a partida, os principais lances e acontecimentos, ou seja, que contêm um material textual mais detalhado para se executar a análise de conteúdo, obter unidades de registro e realizar as inferências/interpretações. Numa leitura exploratória inicial, identificou-se que as edições do dia dos jogos apresentavam matérias rasas, abordando somente informações superficiais de preparação das equipes para a partida, de onde seria o jogo, horário e as escalações dos dois times. Por sua vez, as matérias pós-jogo retratam a fundo o que se pode compreender da partida, com eventuais juízos de valores e posicionamentos dos periódicos, favoráveis ou não ao Operário. Assim sendo, o período em que o Operário participou da competição, por si só, justifica a escolha do corpus da pesquisa e também como cada veículo retratou os jogos, fazendo-se, assim, uma análise comparativa entre estes veículos impressos de comunicação.

36

O Diário da Serra não circulava às segundas-feiras e por isso não foi possível analisar a edição exata pós-jogo (17 de outubro de 1977). Além disso, a edição de 18 de outubro de 1977, extraviada, não foi encontrada no arquivo histórico do jornal. Analisou-se, portanto, a edição pós-jogo mais próxima possível, que foi a de 19 de outubro de 1977. 37 Os jogos do Operário que ocorreram aos domingos não puderam ser analisados nas edições pós-jogo do Diário da Serra, visto que o jornal não circulava às segundas-feiras. Todavia, foi analisada a edição pós-jogo mais próxima, neste caso a de 25 de outubro de 1977, terça-feira. O mesmo ocorreu nas edições analisadas: 22/11/1977 (jogo ocorreu em 20/11/1977); 29/11/1977 (jogo ocorreu em 27/11/1977); 06/12/1977 (jogo ocorreu em 04/12/1977); 20/12/1977 (jogo ocorreu em 18/12/1977); 28/02/1978 (jogo ocorreu em 26/02/1978). 38 O jogo contra o Palmeiras, que seria realizado em 22 de fevereiro de 1978, foi alterado para 23, um dia depois. A edição do Diário da Serra pós-jogo, de 24 de fevereiro de 1978, não foi encontrada no acervo de pesquisa e, por isso, foi analisada a edição do dia do jogo. 39 A edição pós-jogo do Diário da Serra de 8 de dezembro de 1977 não foi encontrada no arquivo de pesquisa. Portanto, foi escolhida para a análise a edição mais próxima, 9 de dezembro de 1977.


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Desta forma, o corpus se limita às 70 matérias jornalísticas do Operário sobre o Campeonato Brasileiro de 1977, presentes nas 42 edições dos periódicos campo-grandenses. Além disso, decidiu-se analisar somente notícias, eliminando matérias opinativas (colunas, artigos de opinião, crônica etc.), que poderiam enviesar o estudo, sendo que são dotadas de comentários. De acordo com Marques de Melo (2010), o gênero jornalístico informativo tem como eixo a informação, a matéria-prima jornalística, que deve se preocupar em relatar os fatos, num processo de descrição objetiva e dotada de imparcialidade, mesmo que imparcialidade e objetividade sejam temas de constantes debates, como evidenciado anteriormente. Para o teórico, o gênero informativo apresenta os formatos: nota, notícia, reportagem e entrevista.

A distinção entre a nota, a notícia e a reportagem está exatamente na progressão dos acontecimentos, sua captação pela instituição jornalística e acessibilidade de que goza o público. A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão em processo de configuração e por isso é mais frequente no rádio e na televisão. A notícia é um relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social. A reportagem é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que já são percebidas pela instituição jornalística. Por sua vez, a entrevista é um relato que privilegia um ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade. (MARQUES DE MELO, 2003, p.66)

Para analisar a definição de notícia por meio do senso comum e popular, Marques de Melo (2010) buscou o significado da palavra no Dicionário Houaiss e chegou à conclusão de que a notícia “é relato de fatos e acontecimentos, recentes ou atuais, ocorridos no país ou no mundo, veiculado em jornal, televisão, revista, etc.” (HOUAISS apud MARQUES DE MELO, 2010, p. 86). No que diz respeito ao conceito técnico jornalístico, o autor consultou o Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo e destacou que a notícia se configura como o registro único e claro dos fatos, sem qualquer viés opinativo, tendo como princípio a exatidão no relato. Para Lara (2007, p. 12), dentro dos formatos jornalísticos do gênero informativo, “a notícia é a mais corriqueira, a mais conhecida e veiculada pelos meios de comunicação”.

Sob o "manto sagrado" de apenas informar, de transmitir a verdade ao leitor, a notícia aparenta ser um texto neutro, livre de opiniões e, por não fazer análise profunda dos fatos, parece apenas mostrá-los como aconteceram. Entretanto, é importante lembrar que a notícia não é o fato, mas o relato do mesmo, portanto, numa leitura mais aprofundada, iremos perceber a ideologia que reflete e refrata a realidade por ela veiculada e que procura se ocultar sob um


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texto coberto de consensos e de supostas verdades. (LARA, 2007, p. 12)

O Diário da Serra, a partir da edição de 2 de fevereiro de 1978, adicionou a coluna opinativa “Cadeira Cativa” à cobertura esportiva, que trazia comentários do jornalista Silvio Martinez a respeito do Operário na Copa Brasil, após a realização de cada partida, na terceira fase da competição. Este foi um diferencial do jornal dos Diários Associados em relação ao Correio do Estado, visto que trouxe à editoria de Esportes uma atenção especial ao clube campo-grandense, a medida que este avançava no campeonato nacional. Todavia, “Cadeira Cativa” enquadra-se como um formato do gênero opinativo, definido por Marques de Melo (2010) como um gênero que apresenta textos jornalísticos cuja função é fazer uma leitura da realidade, por meio da interpretação de fatos com base no discurso de opinião de determinados autores, não expondo um relato objetivo e imparcial. O autor elenca o editorial, o artigo, a resenha/crítica, crônica, coluna, carta ao leitor, caricatura e charge como os formatos deste gênero. O jornalismo opinativo pode estar relacionado a comentários provenientes da própria empresa jornalística ou do profissional jornalista, que elabora o produto jornalístico. Assim sendo, “Cadeira Cativa” é classificada como uma coluna opinativa, que reproduz os comentários e argumentos do repórter Silvio Martinez e, por isso, não foi analisada neste estudo monográfico. 1.6.3 Codificação, categorização e elaboração de categorias analíticas Com o objetivo de realizar a codificação do material selecionado, isto é, o tratamento dos dados colhidos e metodicamente organizados para subsequente interpretação e inferência, foi utilizado o procedimento apresentado por Bardin (2016) denominado análise temática. Portanto, antes de tudo, é necessário definir o que se entende por tema. O cientista comportamental americano Bernard Berelson, conceitua tema como

uma afirmação acerca de um assunto. Quer dizer, uma frase, ou uma frase composta, habitualmente um resumo ou uma frase condensada, por influência da qual pode ser afetado um vasto conjunto de formulações singulares. (BERELSON apud BARDIN, 2016, p. 135)

Efetivamente, Bardin (2016) afirma que o tema é uma unidade de significação que espontaneamente se desprende de um texto analisado de acordo com determinados fundamentos criteriosos referentes à teoria que se adequa como orientação à leitura. Neste tipo de análise, o


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fragmento textual pode ser recortado em citações, proposições e enunciados que condutores de significações separáveis. M.C. d’Unrug também define o que é tema:

Unidade de significação complexa, de comprimento variável; a sua validade não é de ordem linguística, mas antes de ordem psicológica: podem constituir um tema tanto uma afirmação como uma alusão; inversamente, um tema pode ser desenvolvido em várias afirmações (ou proposições). Enfim, qualquer fragmento pode remeter (e remete geralmente) para diversos temas. (M.C. D’UNRUG apud BARDIN, 2016, p. 135)

Neste sentido, realizar uma análise temática significa enxergar os “núcleos de sentido” que constituem o conteúdo comunicativo. Sua existência, ou repetição de manifestação, pode expressar algum sentido para a finalidade analítica adotada. Enquanto unidade de registro, o tema pode ser classificado com uma regra de recorte de sentido (diferente da forma) não proporcionada, sendo que a fragmentação decorre do nível de análise, ao contrário da aparição regulada. Diante da escolha desta técnica analítica, Bardin (2016) reforça o objetivo proposto ao afirmar que “o tema é geralmente utilizado como unidade de registro para estudar motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, de tendências etc” (BARDIN, 2016, p. 135). E por que a designação do tema como unidade de registro utilizada para este estudo monográfico e não a escolha da palavra? Acredita-se que com a apuração do tema é possível organizar de modo mais preciso as categorias de análise apreendidas no momento da primeira leitura feita no material, ou seja, o que Bardin (2016) classifica como “leitura flutuante”. Além disso, julga-se que, analisando frases e as classificando nas categorias, melhores resultados podem ser obtidos no processo de interpretação e inferência do conteúdo. Isto é, reter unicamente palavras-chave, isoladas, não oferece uma conclusão profunda em comparação com o procedimento organizacional e classificatório baseado em temas. Posteriormente, é preciso explanar o que se entende por categorias de análise. Para esta conceitualização, faz-se necessária, antes, a realização de um procedimento denominado categorização. O que significa? Bardin (2016) explica que se trata de

Uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. (BARDIN, 2016, p. 147)

Em consequência, as categorias de análises ou categorias analíticas são “rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse


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efetuado em razão das características comuns destes elementos” (BARDIN, 2016, p. 147). Portanto, enumerar componentes em categorias determina a verificação do que cada um deles tem em comum com outros. “O que vai permitir o seu agrupamento é a parte comum existente entre eles” (BARDIN, 2016, p. 148). Isto significa que, durante a exploração do material selecionado para análise, as categorias analíticas serão responsáveis por congregar números de temas que forem escolhidos. Estas categorias de análise são idealizadas por meio do procedimento de categorização, incumbido de reunir esses temas e implementa uma categoria em que eles são distribuídos, categorizados. E como se estabeleceu estas categorias no presente trabalho? As definições foram concebidas após uma primeira leitura do corpus da pesquisa, como já evidenciado o que Bardin (2016) chama por “leitura flutuante”, que se fundamenta no primeiro contato com os documentos que passarão pela análise de conteúdo, a fim de conhecer o material textual numa visão mais ampla, sem qualquer intenção interpretativa profunda. Nesta leitura inicial é que surgem as impressões e orientações. Tais efeitos foram responsáveis pelo aparecimento de questionamentos sobre todas as impressões que ficaram após a leitura do texto, auxiliando, assim, a elaboração de hipóteses. Num instante inicial, questionou-se a relevância do assunto nos jornais: quantas matérias dedicadas à cobertura da Copa Brasil de 1977 foram publicadas em cada edição? Houve matéria sobre o assunto presente na capa? Se sim, a matéria foi manchete? Também se interrogou a respeito da abordagem dos fatos: qual o número de matérias específicas sobre o Operário, retratando assuntos internos? E de matérias sobre o clube de Campo Grande relacionado à Copa Brasil? Os jornais publicaram matérias de outros clubes e assuntos que envolvem a competição nacional? Quantas? No terceiro e último momento, mais profundo, as perguntas que ficam tangem ao teor dos textos e as tendências sentidas, ou seja, os pontos de vistas e juízos de valores implícitos, o que está subentendido: que tipo de visão o jornal teve a intenção de passar sobre o Operário? Esta mensagem foi transmitida de modo positivo, neutro/imparcial, negativo ou apaixonado/emocional? As matérias sobre o Operário na Copa Brasil são dotadas de objetividade jornalística ou percebe-se um texto romanceado, de maneira emotiva, que deixa transparecer paixões? Os jornais demonstram otimismo acerca da campanha do Operário no campeonato? Quais são os elementos textuais característicos de neutralidade/imparcialidade, negatividade, positividade e paixão? As matérias do Correio do Estado e Diário da Serra foram calcadas na isenção, durante a cobertura da Copa Brasil de 1977? Qual era o grau de adjetivação das matérias? Houve presença de um posicionamento nitidamente favorável ou


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sentimentalismo crescente em relação ao Operário no decorrer do campeonato, conforme o time foi ganhando as partidas e avançando na competição? Por fim, diante das indagações, constituiu-se com as seguintes divisões que serão abordadas no processo de análise:

1) Relevância do assunto e abordagem factual a. Quantidade em números de páginas do periódico acerca dos assuntos esportivos (editoria de Esportes). Comparações com a quantidade de páginas para o resto da edição total do dia (representação com número e porcentagem); b. Quantidade total de matérias, por edição, sobre o assunto Copa Brasil de 1977 (relativas ao Operário, outros assuntos e clubes na competição). Rotulação das matérias em matérias principais, secundárias, notas; colunas e quadros (caso tenha); c. Fotos presentes nas matérias: se há, número de quantidade delas; d. Número de matérias específicas sobre o Operário Futebol Clube (temas internos do clube, sem relação com a Copa Brasil). A classificação foi dada pela expressão “OFC”. e. Número de matérias sobre o Operário Futebol Clube e a relação com a Copa Brasil. A classificação foi dada pelo termo “OFC/CB-77”. f. Número de matérias sobre outros clubes nacionais, participantes da Copa Brasil de 1977 e de outras temáticas relacionadas ao campeonato. A classificação foi evidenciada pela expressão “Outros/CB-77”. g. Número de matérias sobre assuntos não referentes à Copa Brasil e acerca de outras modalidades esportivas. A classificação foi dada como “outros assuntos e esportes/modalidades esportivas”.

2) Análise discursiva a. Tratamento dos textos, aspectos relacionados à abordagem das matérias sobre o Operário Futebol Clube (se foi de modo positivo, neutro/imparcial, negativo, apaixonante); b. Objetividade e isenção versus sentimentalismo, expressado por paixão, esperança, comemoração, empolgação, surpresa, otimismo, frustração. O que está presente nos textos?


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c. Destaque de trechos textuais que evidenciem tendências ou isenção por nas matérias.

Presume-se que, com a divisão e classificação das matérias jornalísticas e temas nestas categorias analíticas e seus subtipos, é possível alcançar o objetivo proposto por este estudo e responder todas as perguntas que permeiam a discussão da problemática exposta. Afinal, houve equilíbrio na cobertura sobre o Operário em sua campanha na Copa Brasil de 1977? Qual o posicionamento dos jornais em relação ao representante mato-grossense na competição? Qual o teor de paixão (se houve) presente nas matérias? As respostas serão dadas nos capítulos subsequentes. A seguir, estabelecidas as categorias analíticas da metodologia de pesquisa e esclarecido procedimento organizacional da análise de conteúdo, explicitou-se, de modo descritivo, como esta foi realizada. 1.6.4 Descrição do processo analítico Este estudo monográfico tem como primordialidade tanto a coleta de dados quantitativos das matérias relativo à abordagem factual e diversidade dos assuntos presentes na editoria esportiva, quanto a coleta de unidades de registro no conteúdo do corpus da pesquisa, da mesma maneira que a classificação destes fragmentos textuais temáticos em categorias analíticas, após uma análise qualitativa dos textos. Assim sendo, é de suma importância mapear e esquematizar o número de matérias esportivas em relação aos conteúdos retratados, para verificar o quão relevante foi o assunto Copa Brasil e, mais ainda, a abordagem factual da equipe operariana, vinculada à competição. Além disso, julga-se necessário colocar o número de matérias classificadas em suas respectivas categorias de análise, referente ao teor textual e o posicionamento das notícias. Explicada a elaboração de tabelas quantitativas, será exposto o procedimento organizacional da presente pesquisa. Ao todo, serão seis fases, constituídas deste modo:

1) Exploração do material e classificação das matérias: em cada edição investigada, tanto do Correio do Estado, quanto do Diário da Serra, um subcapítulo foi criado para a descrição da quantidade de matérias, suas classificações quanto ao tema abordado (OFC; OFC/CB-77; Outros/CB-77 e outros assuntos e modalidades esportivas) e à hierarquia na página (matérias


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principais; secundárias; notas, colunas e quadros), destaque de capa, tamanho ocupado, presença ou não de fotos. 2) Identificação e destaque das unidades de registro: no corpo textual da análise de conteúdo, serão salientados os fragmentos textuais (unidades de registro40) que revelem tendências e/ou posicionamentos dos jornais com referência à participação do Operário na Copa Brasil. As palavras ou expressões de maior relevância para a definição do posicionamento das matérias serão grifadas/sublinhadas. 3) Classificação das matérias nas categorias de análise: após a evidenciação das unidades de registro encontradas nas matérias, estas serão classificadas em suas adequadas

categorias

analíticas,

determinadas

anteriormente

(paixão,

positividade, neutralidade/imparcialidade, negatividade), elucidando-se os argumentos e justificativas para a classificação. 4) Tabelamento das matérias: nesta etapa, serão tabeladas quantativamente as matérias em classificações quanto ao tema abordado (OFC; OFC/CB-77; Outros/CB-77 e outros assuntos e esportes/modalidades esportivas) e quanto ao posicionamento das matérias identificados e detalhados na análise discursiva, em

suas

categorias

analíticas

(paixão,

positividade,

neutralidade/imparcialidade, negatividade). 5) Exposição dos resultados: após terem sido realizados os procedimentos quantitativos e qualitativos da pesquisa, foi feita a exposição final dos resultados obtidos em um tópico à parte. Serão detalhados os resultados encontrados somando-se os dois jornais e também os aspectos de cada veículo em particular. e a comparação entre os dois periódicos escolhidos para a análise. 6) Conclusão do estudo monográfico: finalizada a análise de conteúdo do material, seguidamente foi elaborada a conclusão da pesquisa realizada, com a comparação (semelhanças e diferenças) entre os dois periódicos a respeito da cobertura realizada, peculiaridades, os apontamentos finais, opiniões, sensações e a exposição de argumentos do autor sobre o resultado descoberto. 40

Conhecidas também por unidades de análise ou unidades de significado.


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2

O OPERÁRIO NAS PÁGINAS DO CORREIO DO ESTADO Neste capítulo, serão analisadas 35 matérias41 pós-jogo de 21 edições do Correio

do Estado, de 18 de outubro de 1977 a 2 de março de 1978, período que compreende do início ao fim da Copa Brasil de 1977, para examinar e interpretar como o jornal fez a cobertura do Operário Futebol Clube na disputa da competição nacional. Verificou-se se as matérias possuem caráter imparcial/neutro, negativo, positivo ou apaixonado em relação à equipe campo-grandense por meio da Análise de Conteúdo, destacando-se dos textos as unidades de registros que possam ser submetidas a inferências e enquadradas nas categorias analíticas (paixão, positividade, neutralidade/imparcialidade e negatividade). No período analisado, todas as edições diárias tiveram 10 páginas e a editoria de Esportes esteve sempre na última, abrangendo 1/10 (10%) do espaço. A edição de 26 de fevereiro de 1978, domingo, foi exceção, teve 12 páginas e a editoria esportiva ocupou 1/12 (8,4%) do espaço. 2.1 Edição de 18 de outubro de 1977 A edição do Correio do Estado de 18 de outubro de 1977, terça-feira, dois dias após o jogo Operário x Internacional, teve seis matérias esportivas. Três versam sobre a Copa Brasil, mencionando outros clubes participantes e outros assuntos (Outros/CB-77): Agora, o Dom Bosco quer descontar no Inter; Para o Inter, “um empate excelente”, que aborda o ponto de vista da equipe gaúcha sobre o jogo de estreia contra o Operário e O recorde de público ainda não foi batido. Duas matérias retratam o Operário, relacionadas com a Copa Brasil (OFC/CB-77): Contusões podem manter mesmo time contra o Maringá, já mencionando a preparação o segundo confronto; e O empate na estréia foi um bom resultado, a típica matéria pós-jogo, que trata da atuação do time operariano. A matéria restante é referente a outros assuntos e modalidades esportivas. Dentre as matérias que envolvem a Copa Brasil, Contusões podem manter mesmo time contra o Maringá é matéria principal e tem chamada na capa. Na página 10, ela ocupa, aproximadamente, 1/4 da página, do lado superior esquerdo e não possui fotografia. O empate na estréia foi um bom resultado, Para o Inter, “um excelente empate” e O recorde de público

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Todas as matérias estão nos anexos deste trabalho. Ver página 166.


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ainda não foi batido são matérias secundárias. Dentre estas três, a primeira apresenta três fotos, que destacam os lances de ataque do Operário na partida contra o Internacional. Agora, o Dom Bosco quer descontar no Inter é uma nota, comprimida no cantor superior direito da página. Análise discursiva - A matéria principal Contusões podem manter mesmo time contra o Maringá é apresentada de modo neutro, diz respeito à preparação e situação física do plantel operariano, não apresentando nenhum juízo de valor explícito. No texto, estão relacionados, basicamente, os jogadores contundidos e os que estão à disposição do treinador do Operário, além de uma descrição das atividades preparativas. O título também se apresenta com neutralidade, principalmente com o emprego do verbo “podem”, que dá o sentido de algo que tem a capacidade e possiblidade de acontecer, sem tomar partido diante de uma decisão. Em quatro momentos aparecem citações diretas do treinador Carlos Castilho, que avalia o desempenho de seus jogadores na partida de estreia na Copa Brasil e as condições físicas para o próximo jogo. Sob o ponto de vista da neutralidade, vale destacar que as citações diretas de fontes é uma das principais características do jornalismo informativo, que busca o mais próximo da isenção e neutralidade, evitando o julgamento de valores explícitos do repórter. A única unidade de registro identificada, que pode reproduzir implicitamente a opinião na matéria é: “O empate frente ao Internacional provocou um ambiente alegre e descontraído, ontem no alojamento do clube. [...] Castilho estava bastante brincalhão com os jogadores”. Entrementes, logo após, uma fala do treinador confirma a satisfação do plantel com o empate, ao dizer que “jogamos dentro das expectativas. Houve progresso, pois, afinal temos trabalhado para isso”. Assim sendo, Contusões podem manter mesmo time contra o Maringá pode ser classificada como neutra. Apesar do empate na estreia, jogando em casa, O empate na estréia foi um bom resultado traça uma avaliação positiva da equipe de Campo Grande. Num primeiro momento, o jornal evidencia que se esperava pouco do time alvinegro, pelas modificações realizadas de última hora por Castilho. Entretanto, numa análise pós-jogo, afirma-se que “o Operário foi mais time do que o Internacional”. A matéria demonstra assertividade e crítica ao evidenciar que a equipe do Sul jogou de modo “medíocre”, o que não se esperava do atual bicampeão brasileiro. Tal ponto de vista é destacado nesta unidade de registro: “O Operário [...] foi o time que mais chutou em gol, que menos errou. Para se ter uma ideia da medíocre atuação do Internacional, o goleiro Zé Luis, no primeiro tempo, só foi exigido em uma bola” (grifo deste autor). O adjetivo “medíocre” é habitualmente utilizado para referenciar aquilo que tem pouco merecimento, insignificante. Neste caso, o termo teve sentido pejorativo, com a intenção de provocar, insultar a falta de talento dos colorados, reforçando a superioridade do Operário.


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Superioridade realçada em: “[...] o Operário assustou Benitez logo a um minuto [...] obrigando difícil defesa”. Ou seja, com o uso do verbo assustar, a matéria dá a impressão de que equipe da casa foi amplamente superior, logo no primeiro minuto de jogo. Predomínio que não resultou em vitória. Como forma de salientar positivamente a atuação do Operário, a matéria deixou claro a expressiva inferioridade técnica dos jogadores adversários, com o uso de advérbios de intensidade e, além disso, chegando a “alfinetar” os gaúchos após o término da partida. Destacase a unidade de registro:

O Internacional, muito aquém daquele time que foi bicampeão brasileiro, com jogadores de baixo nível técnico como Beliato, João Carlos e até mesmo Luisinho, aceitou a correria do Operário e o empate de 0 a 0 acabou sendo um resultado que contentou a todos os gaúchos. (CORREIO DO ESTADO, 18/10/1977, grifos deste autor)

Além de se expressar de modo irônico, o texto especifica os jogadores que tiveram má atuação durante os 90 minutos. Não houve algum posicionamento do treinador ou dos jogadores colorados quanto ao nível técnico da equipe, tanto sobre o contentamento em sair do Morenão com o empate, sobressaindo, portanto, a opinião de quem escreveu o texto. Assim, a matéria pode ser classificada como positiva, a favor do Operário. 2.2 Edição de 24 de outubro de 1977 No dia 24 de outubro, segunda-feira, um dia após o jogo entre Operário x Grêmio Maringá – PR no estádio Morenão, no qual a equipe campo-grandense foi derrotada por 1 a 0, o Correio do Estado teve cinco matérias sobre esportes. Dentre estas, uma aborda especificamente o Operário na Copa Brasil (OFC/CB-77): Zé Luis, o herói do Grêmio que retrata a derrota operariana em casa diante da equipe paranaense. Quinta tem Juventude está vinculada a outros clubes e assuntos envolvendo a Copa Brasil (Outros/CB-77). As outras três matérias restantes retratam outros esportes, como o voleibol e o atletismo. Sobre as matérias que envolvem a Copa Brasil, Zé Luis, o herói do Grêmio é matéria principal, ocupando metade da página de Esportes, além de três fotografias e uma charge como elementos de ilustração e complemento. As três fotos foram batidas em campo, no momento da partida, demonstrando lances do jogo. Todas possuem legenda. A charge, por sua vez, ironiza a má atuação do goleiro Zé Luis, do Operário, que falhou no último gol da partida e que deu a vitória ao Grêmio Maringá. A matéria é manchete da capa, acompanhada de uma foto grande


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(a maior da capa) evidenciando o goleiro operariano, tido como o personagem principal da partida. A chamada na capa é extenso, ocupando duas colunas. Quinta tem Juventude é matéria secundária, além de estar num espaço desfavorecido, no canto inferior direito da página 10. Análise discursiva - Por ser a matéria que retrata a atuação do Operário na segunda rodada da Copa Brasil, ainda na primeira fase da competição, Zé Luis, o herói do Grêmio foi a escolhida para ser analisada. Primeiramente, o título da matéria remete a uma tendência negativa da derrota sofrida diante do Grêmio Maringá, enaltecendo que o arqueiro operariano foi o principal responsável pelo revés do time campo-grandense. Percebe-se uma interpretação sarcástica do texto. Além disso, a chamada da capa tem teor notoriamente diferente do texto na página 10. A chamada apresenta-se crítica, a ponto de ser ácida em alguns trechos, como por exemplo: “O Operário foi uma equipe medíocre, sem espírito de luta e ainda mais prejudicada pelas péssimas alterações promovidas pelo técnico Castilho” (grifos deste autor). É perceptível que a matéria atribui comentários, demonstra seu ponto de vista tanto em relação ao desenvolvimento da equipe durante o jogo, quanto às escolhas feitas pelo treinador nas substituições. Além disso, o texto expõe o seu descontentamento com a equipe da casa e, principalmente, com o goleiro, o qual classifica como o dono de um dos maiores constrangimentos no estádio de Campo Grande. Logo no início do parágrafo do texto na capa, destaca-se: “O arqueiro Zé Luis, do Operário, foi o grande herói do Grêmio Maringá, ontem no Morenão, ao ‘comer’ um dos maiores ‘frangos’ que o Morenão já presenciou” (grifo deste autor). “Grande” e “maiores” são os adjetivos da matéria. Expresso no texto, qual o significado de herói? Segundo a mitologia grega, os heróis eram tidos como semideuses, personagens míticos que se distinguiam por serem filhos de deuses. Etimologicamente, do latim heros, herói significa o protagonista de uma história, aquele que demonstra bravura e coragem anormais, com o objetivo de resolver situações delicadas, graves, principalmente quando envolve a segurança de outras pessoas. Interpreta-se, assim, que a matéria destaca o goleiro Zé Luis como o “salvador”, figura principal do jogo, só que para o time adversário, o que evidencia uma negatividade ao Operário. Há uma ironia acentuada na matéria, que remete à história, ao destacar que o erro do goleiro operariano foi um dos principais marcos negativos históricos da então recente trajetória do estádio Morenão, que havia sido construído há pouco mais de seis anos. Erro este que foi conotado não como uma simples falha, mas como uma falha grotesca do goleiro. Do ponto de vista discursivo, essas afirmações são significativas para se analisar tendências.


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Em outro instante, a matéria reforça sua visão negativa da partida ao classificar o resultado como “trágico”, capaz de comprometer tanto o resto da campanha operariana na Copa Brasil, quanto à arrecadação com a venda dos ingressos, diante do suposto desapontamento da torcida alvinegra com a derrota em pleno estádio Morenão. O termo “trágico” é relativo a tragédia, querendo, assim, denotar o revés como um acontecimento fatal, algo mais agudo que um insucesso, uma derrota numa partida de futebol. Para o Correio do Estado, os torcedores esperavam uma exibição muito melhor diante do time paranaense. A frustração passada pelo jornal, exemplifica-se neste fragmento do texto: “A derrota operariana, ontem, deixa o técnico e toda a equipe numa situação delicada junto à torcida, que não aceitou o resultado”. No texto completo, dentro da editoria, a matéria é um pouco mais branda em suas críticas, exceto no primeiro parágrafo, no qual demonstra rancor com o auxiliar técnico do Operário, João Benedito Ferreira, responsável por viajar até Maringá para acompanhar o cotidiano da equipe paranaense dias antes da partida em Campo Grande e obter informações táticas, sendo, assim, chamado de “espião” pelo treinador Castilho e dirigentes operarianos. A matéria ironiza o otimismo expresso por João Benedito Ferreira em relação ao Grêmio Maringá: “Pelo otimismo do auxiliar-técnico João Benedito Ferreira, o ‘espião’ de Castilho na Copa Brasil, o Operário poderia ganhar três pontos em cima do Grêmio, ‘um time sem segredos’”. O restante da matéria é constituído de relatos dos momentos mais importantes da partida, evidenciando as oportunidades desperdiçadas pelo Operário e pelas características defensivas adotas dentro de campo pelo grupo maringaense. O único momento em que se observa um leve posicionamento a favor do Operário, é quando a matéria desaprova o desempenho do árbitro do jogo, acusado de favorecer o time visitante em alguns lances da partida. Mesmo assim, não há como deixar de classificar a matéria como negativa. 2.3 Edição de 28 de outubro de 1977 Em 28 de outubro de 1977, uma sexta-feira, o Correio do Estado apresentou sete matérias de esportes. A edição registrou uma matéria sobre o Operário Futebol Clube e a participação na Copa Brasil (OFC/CB-77): Roberto César dá a vitória ao galo, que relata e analisa a primeira vitória da equipe campo-grandense contra o Esporte Clube Juventude, de Caxias do Sul – RS, em partida válida pela terceira rodada da Copa Brasil. Sobre essa competição, mas não envolvendo estritamente o Operário, há uma matéria (Outros/CB-77): Orione confessa: disputa da vaga será com Seletivo, que diz respeito à única vaga do estado de


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Mato Grosso reservada à Copa Brasil do ano seguinte, que seria disputada através de um torneio seletivo de dois turnos entre Mixto, Comercial e Operário de Várzea Grande. No mais, cinco matérias abordam outros assuntos e modalidades esportivas. Roberto César dá a vitória ao galo é classificada como matéria principal e a manchete da edição, possuindo uma chamada que ocupa duas colunas e fotografia que abrange metade da capa. O texto, na editoria, toma 1/4 da página, no canto superior esquerdo, dividido em quatro colunas. Além disso, possui duas fotos. Orione confessa: disputa da vaga será com Seletivo recebe classificação de matéria secundária, ocupando cerca de 1/5 da página. Análise discursiva - Apesar de ser a edição pós-jogo entre Operário x Juventude – RS, com a vitória do time campo-grandense e se esperar uma cobertura minimamente marcada pela exaltação, por ser o primeiro triunfo operariano no campeonato nacional, Roberto César dá a vitória ao galo apresenta-se como uma matéria equilibrada, tecendo elogios a ambas a equipes. Com um direcionamento maior ao grupo de jogadores locais, mas sem exagero. Podese perceber esse equilíbrio pelo título, conciso e direto para a tão esperada primeira vitória após três partidas jogando no Morenão. Há, sim, uma análise positiva do Operário, com o emprego de termos que indicam intensidade, porém não deixa de reconhecer a qualidade da equipe de Caxias do Sul, que “vendeu caro” a derrota fora de casa. Pode-se destacar a unidade de registro:

O Operário jogou melhor ontem à noite e conseguiu a primeira vitória na Copa Brasil. [...] O alvi-negro deixou de ganhar três pontos, perdendo várias chances de gol na etapa final mais pelas defesas incríveis do goleiro Vandeir do que pela má finalização do ataque operariano. (CORREIO DO ESTADO, 28/10/1977, grifo deste autor)

Observa-se também: “O Operário conseguiu se apresentar melhor, ser mais agressivo e chegar à vitória que os jogadores procuraram durante os 90 minutos. A equipe entrou em campo lutando muito, empenhando-se ao máximo, com a garra suplantando a deficiência técnica” (grifos deste autor). Fica evidente que a matéria destaca a vitória operariana, mas não deixa de exaltar com elogios à atuação do goleiro, por exemplo. O adjetivo “incrível” significa algo que é mais do que bom ou ótimo, a ponto de ser extraordinário, que não se consegue acreditar. Além disso, a matéria critica implicitamente o plantel do Operário no que se refere aos aspectos técnicos, salientando o esforço físico como superação à falta de habilidade dos jogadores, principalmente os atacantes. A insuficiência do ataque foi justificada pela escassez


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de finalizações no primeiro tempo. Uma deu origem ao gol e a outra foi “uma péssima finalização de Everaldo, aos 20 minutos iniciais”, conforme relatado. Sobre a qualidade dos jogadores gaúchos, a matéria ressalta que

o Juventude, um time muito aguerrido, de toque rápido e bons jogadores individuais, como Assis, Luisinho, Miguel Amaral e Maurinho, deu um suador muito grande ao Operário no primeiro tempo [...] aproveitando principalmente as falhas de marcação de Escurinho em Luisinho. (CORREIO DO ESTADO, 28/10/1977)

Conclui-se que, mesmo com a vitória do Operário por 1 a 0, a matéria foi equilibrada, imparcial, com elogios e críticas à equipe campo-grandense e, por isso, é neutra. 2.4 Edição de 8 de novembro de 1977 A edição do Correio do Estado de 8 de novembro de 1977, terça-feira, pós-jogo entre Operário e o conterrâneo Dom Bosco – MT, trouxe oito matérias esportivas. Há duas específicas sobre o Operário Futebol Clube (OFC): Federação entregou a taça do bicampeonato, versa sobre a entrega da taça do título do campeonato estadual mato-grossense ao Operário por parte da Federação Mato Grossense de Desportos, antes da partida contra os dombosquinos; e Alcir foi dispensado é uma nota que comenta a rescisão de contrato do volante operariano Alcir. Sobre a equipe de Campo Grande na competição nacional (OFC/CB-77), tem-se: Operário faz três pontos em cima do Dom Bosco, é a tradicional matéria pós-jogo na Copa Brasil, que retrata descritivamente a partida, os principais lances e atuações de atletas; A matéria Joinville vem motivado é sobre a Copa Brasil e aborda os preparativos da equipe catarinense (Outros/CB-77), o confronto da próxima rodada contra o Galo de Campo Grande. Além destas, outras quatro matérias mencionam outras assuntos e modalidades esportivas, sem nenhuma relação com a Copa Brasil ou Operário. Operário faz três pontos em cima do Dom Bosco é matéria principal. Na última página, ela abrange 1/4 do espaço, contendo três colunas textuais e uma foto, ilustrando um dos gols operariano da partida. A matéria também tem chamada na capa, bem ao centro da página e possuindo a maior foto de destaque. Há, inclusive, duas colunas de chamada. A outra matéria sobre a Copa Brasil, Joinville vem motivado, é secundária e toma menos de 1/8 de página, com texto dividido em duas pequenas colunas, sem foto.


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Análise discursiva - Mais uma vez, a matéria pós-jogo feita pelo Correio do Estado é equilibrada, pendendo um pouco para o Operário em alguns momentos, mas nada que revele juízos de valor acentuados favoráveis à equipe campo-grandense. Em Operário faz três pontos em cima do Dom Bosco, a moderação nas palavras pode ser observada em: “O jogo começou com os dois times dispostos a tudo”. O texto deixa claro a todo momento que o time da casa sempre tomou a iniciativa do jogo, entrando em campo “decididamente para ganhar os três pontos e dominou amplamente a partida, embora descuidando-se muito com os pontas velozes do Dom Bosco”. Percebe-se, inclusive, um elogio aos jogadores cuiabanos e, em mais um jogo, a crítica amena a alguns atletas do Operário, mesmo com o resultado favorável de 3 a 0. No mais, o texto descreve ou relembra ao leitor os momentos marcantes do jogo, as jogadas incisivas e o detalhamento dos gols, sem qualquer adição adjetiva ou expressão que pode indicar exaltação, sentimentalismo. Outra unidade de registro que pode remeter a uma tendência é: “O Operário foi garra, espírito de luta e vontade, sobretudo, de fazer três pontos para compensar a derrota no Morenão para o Maringá. [...] O Operário conseguiu a vitória que necessitava” (grifos deste autor). O uso de “espírito”, por se referir à alma, à atribuição imaterial humana e algo que transcende ao exercício do próprio corpo físico e “luta”, que faz alusão a um combate, corpo a corpo, numa batalha, pode significar uma apreciação à atuação da equipe operariana de modo que ultrapassa ao relato neutro. O emprego de “garra” reforça a inclinação positiva ao Operário. A palavra, em sua essência, significa “unha aguçada e curva de feras e aves de rapina” (FERREIRA, 2010, p. 373), ou seja, referente à anatomia zoológica. No texto, o termo foi usado no sentido figurado, com o objetivo de expressar força de vontade, disposição e entusiasmo, aquilo que se agarra e não deixa escapar, assim como a unha de um felino, por exemplo. Em vista disso, a matéria pode ser definida como positiva. 2.5 Edição de 11 de novembro de 1977 O Correio do Estado de 11 de novembro de 1977, sexta-feira, um dia após o jogo entre Operário e Joinville – SC, teve seis matérias sobre esportes. Uma versa especificamente sobre o Operário Futebol Clube (OFC): Lançada 2ª etapa do “Galo Milionário”, que diz respeito a um programa de arrecadação de verba do clube por meio dos sócios torcedores. Joinville vai à lona. Operário massacra: 2 a 0 destaca a vitória operariana na quinta rodada da Copa Brasil (OFC/CB-77).


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Sobre a Copa Brasil (Outros/CB-77), está Dom Bosco perde em Maringá: 2 a 1, retratando a derrota do time cuiabano no interior do Paraná pelo grupo “A”. As três matérias que restaram na editoria são sobre outros assuntos e modalidades esportivas. O texto Joinville vai à lona: Operário massacra: 2 a 0 é o principal da editoria esportiva e abrange a metade da página 10, dividido em três colunas textuais e acompanhado de três fotografias que mostram os dois gols da partida. Na capa, a matéria é a manchete do dia e ocupa metade da lauda. Lançada 2ª etapa do “Galo Milionário” e Dom Bosco perde em Maringá: 2 a 1 são notas. Análise discursiva – Das cinco primeiras edições analisadas, esta é a edição mais positiva até o momento. Imediatamente, percebe-se isso pelo título: Joinville vai à lona. Operário massacra: 2 a 0 (grifos deste autor). A expressão “vai à lona” é uma referência ao boxe e demais artes marciais, que remete a uma derrota inquestionável, um desastre, fracasso, no qual o lutador que perde, indefeso, vai a nocaute e cai na lona, o material sintético que reveste os ringues de luta. “Ir à lona” também significa “estar na pior”, enfrentar uma jornada de constantes insucessos e, por isso, ser vulnerável. Ainda no título, o verbo massacrar, de origem etimológica francesa de massacrer, é muito mais do que derrotar, tem sentido de “matar cruelmente, chacinar” (FERREIRA, 2010, p. 492), sem dar qualquer possibilidade de defesa a um oponente. Para o contexto de um jogo de futebol, “massacrar” configura-se uma hipérbole. Lendo-se o título, a princípio, já se entende que o Operário foi muito superior ao Joinville, mas com um certo exagero, sendo que 2 a 0 não é um placar tão dilatado, não chega a ser uma goleada. A matéria é só elogios à atuação alvinegra no Morenão, principalmente no primeiro tempo de jogo. Destaca-se a unidade de registro:

O alvi-negro impôs um futebol veloz, dando um sufoco tremendo ao fraco time catarinense e conseguiu, graças ao espírito de luta e muita garra do time, a vitória por diferença de dois gols que seria necessária, em termos de classificação. (CORREIO DO ESTADO, 11/11/1977, grifo deste autor)

Fica claro que o êxtase evidente no texto é por causa da conquista dos três pontos, que só era possível através de um resultado com diferença de dois gols. Com a vitória, o Operário fica mais próximo da classificação para a segunda fase. O emprego do termo sufocar, que expressa “impedir a respiração, matar por asfixia” (FERREIRA, 2010, p. 716) manifesta, descomedidamente, que o desempenho operariano foi além de bom ou satisfatório, teve a capacidade de controlar por inteiro o adversário. O termo é


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reforçado pelo adjetivo “tremendo”, aquilo que “causa tremor, que faz tremer” e que pode estar relacionado a algo “extraordinário” (FERREIRA, 2010, p. 755). O time de Santa Catarina, por sua vez, é avaliado como fraco, ou seja, impotente, desprovido de qualquer capacidade de reação perante um domínio excessivo. O texto, um relato pós-jogo, deixa em evidência que toda atitude tomada pela equipe visitante foi logo amenizada pelos donos da casa, como em:

Nem mesmo a tentativa do técnico Poletto, do Joinville, em colocar a campo um time defensivo, para tentar o empate, foi possível para segurar o rolo compressor de Castilho [...] o que apavorou totalmente a defensiva catarinense. (CORREIO DO ESTADO, 11/11/1977, grifos deste autor)

A ofensiva operariana foi caracterizada por uma figura de linguagem, a metáfora, como um “rolo compressor”, equipamento/máquina usado para imprimir força sobre uma superfície e nivelar terrenos. Ou seja, a equipe alvinegra “passou por cima” do plantel catarinense, de acordo com a matéria. Mais do que ganhar, o Operário causou pavor ao adversário. Constata-se um forte uso de figuras de linguagens, como a metáfora e a hipérbole, todas com sentido de superestimar, valorizar a vitória. E mais, “se forçasse o jogo, como no primeiro tempo, o Operário, fatalmente, chegaria a uma goleada”. Por outro lado, não foi encontrado qualquer aspecto que elogie ou favoreça o Joinville. Sendo assim, a matéria pode ser classificada como positiva, claramente a favor do Operário. 2.6 Edição de 18 de novembro de 1977 Na sexta-feira, 18 de novembro de 1977, o Correio do Estado contou com sete matérias esportivas. Já contratado, Manga pode estrear em Caxias descreve a chegada do goleiro Manga a Campo Grande, novo contratado operariano e os trâmites realizados pela diretoria para inscrevê-lo na Copa Brasil a tempo de enfrentar o Caxias pela oitava rodada. ‘Ainda sou um dos melhores’ é uma matéria exclusiva sobre a trajetória do goleiro Manga dentro dos gramados. Essas duas matérias são especificamente sobre o Operário (OFC). Operário perde no final: Coritiba, 1 a 0 descreve o que aconteceu na partida entre Operário x Coritiba – PR no dia anterior (OFC/CB-77). As outras quatro matérias são sobre outros assuntos e modalidades esportivas. A matéria primária da edição é Operário perde no final: Coritiba 1 a 0 e abrange um pequeno espaço na página 10, cerca de 1/8, além de não possuir foto. Na capa, a notícia tem


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manchete: Operário tropeça no fim e dá a vitória ao Coritiba e possui foto de destaque e uma pequena chamada de duas colunas. Já contratado, Manga pode estrear em Caxias é secundária, mas possui chamada na capa também, com foto e chamada. Na editoria, a matéria também tem uma foto de Manga, ocupando três colunas. ‘Ainda sou um dos melhores’ também é matéria secundária. Análise discursiva - Relatando o jogo Coritiba 1 x 0 Operário, a matéria Operário perde no final: Coritiba 1 a 0 é equilibrada e deixa claro que o time campo-grandense foi melhor durante toda a partida, mesmo não tão inspirado como em jogos anteriores e que, por falta de atenção, deixou o empate escapar na capital paranaense. Isto ficou claro por meio da observação destas unidades de registro, que não apresentam maiores indícios de juízos de valor, mas possuem termos capazes de equilibrar o texto: 1) “O time alvi-negro, embora não reeditando suas melhores apresentações, equilibrou a partida nos 90 minutos, inclusive chegando com mais perigo ao gol de Romeu”; 2) “Se defendendo bem [...] e ainda com o meio campo trocando muitos passes errados, o Operário teve todas as chances de sair com pelo menos um empate de Curitiba” e 3) “A péssima pontaria foi um dos motivos da derrota do Operário, que poderia, até, ter vencido o jogo” (grifos deste autor). Interpreta-se que a matéria quis expressar que a equipe alvinegra não esteve tão bem na partida, apresentando erros técnicos, porém esteve melhor a ponto de conseguir vencer o time curitibano. Na chamada na capa, há alguns elementos textuais que auxiliam na compreensão do equilíbrio do texto. Nota-se um leve sentimento de lamentação misturado com confiança em:

Se tivesse empatado ontem em Curitiba o Operário estaria com 10 pontos e com a classificação praticamente assegurada. Os jogadores comentaram ao final da partida que foi um ‘tremendo azar’ o gol no ante-penúltimo minuto de jogo, mas estão animados para o encontro de domingo, em Florianópolis, contra o Avaí. (CORREIO DO ESTADO, 18/11/1977, grifos deste autor)

Em um último momento, em tom de alerta, a notícia deixa claro que o Operário tem a obrigação de vencer o próximo confronto, visto que “se não conseguir pelo menos um empate, o alvi-negro vai ficar em situação bastante incômoda”. Assim sendo, a ausência de elementos que intensifiquem uma tendência saliente tanto para um lado positivo, quanto negativo, muito menos apaixonado/sentimental, pode-se classificar a matéria como neutra.


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2.7 Edição de 21 de novembro de 1977 A edição do Correio do Estado de 21 de novembro de 1977, segunda-feira, um dia após Avaí x Operário, apresentou sete matérias para compor a editoria esportiva. Duas matérias retratam o Operário Futebol Clube na Copa Brasil (OFC/CB-77): Tadeu marca e classifica o Operário, noticia a vitória operariana em Florianópolis com os principais lances e observações táticas da partida. Castilho elogia a disciplina tática refere-se à avaliação do técnico do clube sobre o desenvolvimento tático da equipe nos setes jogos realizados na Copa Brasil. Dom Bosco perde de três no Verdão é sobre a Copa Brasil (Outros/CB-77) e retrata a derrota do time mato-grossense para o Grêmio de Porto Alegre - RS, jogando em Cuiabá MT. As quatro matérias restantes enquadram-se em outros assuntos e modalidades desportivas. A matéria principal de Esportes é Tadeu marca e classifica o Operário, que abrange 1/4 da página 10, em três colunas de texto, além de uma foto, que ilustra o gol de Tadeu Santos. Ademais, a matéria é evidenciada na capa, sendo a manchete da edição, possuindo uma coluna de texto e uma fotografia. Castilho elogia a disciplina tática e Dom Bosco perde de três no Verdão são textos secundários e, juntos, ocupam cerca de 1/4 da última página. Ambos não apresentam foto como recurso ilustrativo. Análise discursiva - No texto Tadeu marca e classifica o Operário não há grandes trechos a se destacar. Vale, antes de tudo, salientar que a matéria é proveniente de Florianópolis - SC e não se sabe se foi escrita por um repórter correspondente do Correio do Estado ou por algum jornalista de algum veículo catarinense. Percebe-se que o texto é sutilmente otimista no sentido de já dar como certa a classificação operariana para a segunda fase da Copa Brasil, sendo que ainda restam dois jogos, ambos fora de casa, no Rio Grande do Sul, contra Caxias e Grêmio, e outros clubes da chave A possuem chances de avançar à fase seguinte. Este otimismo fica evidente nestas unidades de registro: “Um gol de Tadeu, aos 14 minutos finais, não só deu a vitória ao Operário sobre o Avaí, ontem à tarde no Orlando Scarpelli, como garantiu a classificação do alvinegro para a segunda fase do Campeonato Brasileiro” e “Depois da injusta derrota nos minutos finais para o Coritiba, o Operário reabilitou-se e conseguiu garantir a sua vaga no Grupo dos Vencedores” (grifos deste autor). Por estas duas unidades de análise, infere-se que há certa frustração ainda com o jogo passado, quando a notícia afirma que a derrota para o Coritiba foi injusta. Na verdade, mesmo ganhando do Avaí, a equipe campo-grandense necessitava, matematicamente, ainda de um ponto para confirmar a classificação. Isso não ficou claro na matéria. Inclusive, o título enfatiza imediatamente a qualificação.


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Por outro lado, na chamada, garante-se que, por enquanto, nada está definido. Observa-se o destaque: “Um gol de Tadeu, aos 14 minutos da etapa final, praticamente garante ao Operário a classificação para a segunda fase do Campeonato Nacional”. A não classificação é considerada “praticamente impossível”, segundo o texto. Ou seja, nota-se uma contradição entre o texto de capa e a matéria da página 10. Sob a análise da partida em Florianópolis, o texto demonstra equilíbrio nas ações dos dois times. Tanto Operário, quanto Avaí alternavam momentos ofensivos, de maiores perigos às defesas, ninguém dominou a partida por completo. Embora tenha ganhado o jogo, a matéria faz críticas à atuação do meio campo e do ataque operariano: “O meio campo demorava a lançar e os atacantes finalizavam mal. Isso propiciou ao Avaí [...] um novo equilíbrio a partida, levando sérios perigos ao gol de Rui”. A exibição operariana não foi exaltada, sendo que “jogou o suficiente para ganhar do Avaí, um time muito fraco e que joga em função de Lico, ontem bem marcado”. Observa-se que a equipe catarinense foi classificada como “muito fraca” e que depende somente de um jogador, enquanto o Operário jogou de forma mediana, mas cumpriu o “dever de casa”. Sendo assim, a matéria pode ser classificada como positiva, devido à confirmação precipitada de que o time campo-grandense estaria classificado para a próxima fase com este resultado, evidenciando um otimismo. Em Castilho elogia a disciplina tática os indícios que podem determinar tendências são muito mais escassos do que em Tadeu marca e classifica o Operário. Ambas as matérias foram produzidas direto da capital catarinense. Basicamente, Castilho elogia a disciplina tática retrata o bom desempenho tático do Operário, no qual os jogadores obedeceram a tudo o que foi passado pelo treinador. Entretanto, das quatro colunas de texto que compõem a matéria, pode-se dizer que 3/4 são de citações diretas do técnico Castilho e, por esse motivo, não é possível interpretar qualquer intenção implícita no conjunto do texto. Todas as afirmações feitas na matéria são confirmadas pelas falas do treinador. Fora das aspas, não há qualquer adjetivação, figuras de linguagem e outros elementos que deem significado a um relato positivo ou negativo. Tendo isto em vista, a matéria pode ser classificada como neutra. 2.8 Edição de 24 de novembro de 1977 O Correio do Estado de quinta-feira, 24 de novembro de 1977, possui oito matérias esportivas. Unicamente sobre o Operário (OFC), tem-se a matéria Operário contrário a mudança no calendário, que retrata o posicionamento do clube campo-grandense acerca da


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alteração no calendário do futebol brasileiro para o ano de 1978, devido a Copa do Mundo. Operário empata com passe de Manga enquadra-se em matéria sobre o Operário na Copa Brasil (OFC/CB-77) e faz o relato pós-jogo entre a equipe alvinegra versus Caxias do Sul, no Estádio Centenário, evidenciando os principais acontecimentos da partida, entre eles, a estreia do goleiro Manga. As outras seis matérias de Esportes são sobre outros assuntos. Operário empata com passe de Manga é a matéria principal de esportes. Com diagramação “blocada”, a matéria ocupa 1/4 da página 10, dividida em quatro colunas, sem a presença de fotos. Na capa, a matéria é a manchete do dia, possuindo um texto relativamente grande e uma foto. Operário contrário a mudança no calendário é secundária, abrangendo, aproximadamente, 1/8 da última página, sem foto. Análise discursiva - A matéria Operário empata com passe de Manga condiz muito com o resultado de 3 a 3, apresentando equilíbrio nos relatos principais da partida. Esse equilíbrio é justificado pelos elogios e críticas feitas às duas equipes. O desempenho operariano é aprovado, embora não deixe de ser alvo de julgamento, que pode ser percebido por meio destas unidades de registro: “O Operário fez uma boa partida, embora a defesa tivesse falhando muito, marcando à distância os velozes ponteiros João Carlos e Jurandir. Os zagueiros falhavam muito nas bolas pelo alto, ao contrário da defesa do Caxias” e

Apesar dessas falhas na zaga e dos gols incríveis perdidos [...] o Operário mostrou que é um time tranquilo, que não se desespera quando o adversário está na frente do marcador e pressionando, como fez o Caxias ontem à noite. (CORREIO DO ESTADO, 24/11/1977, grifos deste autor)

Repara-se que os elogios não são expostos com contundência, há cautela significativa em salientá-los. Numa primeira impressão, acreditava-se que a matéria, de certo modo, demonstrasse entusiasmo com a estreia do goleiro Manga pelo alvinegro de Campo Grande, devido ao seu status de goleiro de seleção brasileira e por ter custado muito caro aos cofres operarianos. A transação movimentou a cidade e foi o alvo das atenções. Essa euforia não ocorreu de modo acentuado. Sua primeira partida ficou muito mais marcada pelas falhas do que pelo passe que originou um dos gols do Operário, como pode ser visto nestas unidades de análise: “O goleiro Manga fez sua estreia, falhando no primeiro gol do Caxias, a 3 minutos de partida e sua contratação só foi justificada quando do ‘passe’ que deu no gol de empate, marcado por Peri, aos 43 minutos finais”. Na chamada na capa é retratado que Manga


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fez uma estreia decepcionante e até medíocre, acompanhado pela defesa alvinegra. [...] O único lance que justificou a contratação do novo goleiro, foi o autêntico passe que ele deu [...] e resultou no gol que garantiu a classificação, em definitivo, do Operário. (CORREIO DO ESTADO, 24/11/1977, grifo deste autor)

A matéria é neutra quanto aos elogios e críticas, direcionado a ambas as equipes, mas não é imparcial. No texto, foram evidenciadas duas situações de pênalti, uma para o Operário e uma para o Caxias. A penalidade para a equipe visitante não foi assinalada, porém, em outra ocasião, foi para a equipe gaúcha. A notícia trata o pênalti não marcado a favor do Operário como “legítimo” e afirma ter sido um erro do árbitro. Por outro lado, a penalidade pró Caixas foi contestada: “pênalti inexistente” e “penalidade máxima ajeitada pelo péssimo juiz Renato Oliveira Braga” (grifo deste autor). Esse ponto de vista é confirmado através de uma citação direta do zagueiro operariano, que nega a falta dentro da área. No entanto, ninguém do Caxias foi ouvido, sequer o juiz da partida. A matéria pode ser classificada como neutra, pois critica o funcionamento da equipe em campo, principalmente do arqueiro estreante e ao mesmo tempo vai contra o árbitro, que prejudicou o time mato-grossense, sem demonstrar uma opinião contrária. 2.9 Edição de 28 de novembro de 1977 Segunda-feira, 28 de novembro de 1977, o Correio do Estado traz edição com quatro matérias de Esportes. Três versam sobre o Operário e sua participação na Copa Brasil (OFC/CB-77): Operário, o “terremoto” do Olímpico vira o jogo e derruba o Grêmio, que descreve a partida na qual a equipe campo-grandense arrancou um empate de 3 a 3, em Porto Alegre – RS; Castilho: empate foi presente de aniversário, abordando a manifestação pós-jogo do treinador e aniversariante Carlos Castilho, que classificou a vitória operariana como seu presente de aniversário e Cronistas elogiam teste do Operário, texto que comenta a apresentação alvinegra sob o ponto de vista dos cronistas gaúchos. A matéria que restou é enquadra-se em outros assuntos e modalidades esportivas. A matéria principal é Operário, o “terremoto” do Olímpico vira o jogo e derruba o Grêmio. Ela ocupa horizontalmente metade da página 10 e, ao invés de foto, contém uma charge como recurso ilustrativo e satírico sobre o empate obtido no Sul. A matéria é a manchete de capa da edição, contendo chamada em duas colunas e foto. Castilho: empate foi presente de aniversário e Cronistas elogiam teste do Operário são matérias secundárias. Juntas, abrangem um pouco mais de 1/4 da folha. A primeira possui uma fotografia do técnico Castilho.


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Análise discursiva - Em Operário, o “terremoto” do Olímpico vira o jogo e derruba o Grêmio o título aponta para um caráter positivo, manifestamente a favor da equipe do Operário, ao retratar “terremoto” do Olímpico e que “derruba” o Grêmio. O termo terremoto é claramente uma hipérbole, figura de linguagem relacionada ao exagero. Quer dizer, a atuação operariana foi comparada a um fenômeno natural que movimenta o interior da Terra, causando um abalo sísmico. Na mesma linha de significado, o verbo derrubar expressou o ato de “lançar por terra, abater” (FERREIRA, 2010, p. 228), dando a entender que o desempenho alvinegro foi capaz de dominar e provocar um estrago na equipe adversária. Quem lê o título da matéria pensa que o time de Campo Grande goleou o Grêmio, em pleno Estádio Olímpico, em Porto Alegre – RS. Mas, o jogo foi 3 a 3. Além disso, há um equívoco no título ao mencionar que o Operário virou o jogo, o que não aconteceu. Tal euforia pode ser explicada pelo fato de o alvinegro estar perdendo por dois gols de diferença e, mesmo assim, conseguir o empate, que veio através de um gol de bicicleta de Everaldo no final da partida. Destaca-se a unidade de registro:

Resultado excelente no Estádio Olímpico, onde a equipe alvi-negra derrubou o Grêmio e empatou em três tentos, depois de estar perdendo por 3 a 1 até 15 minutos do 2º tempo. Foi uma exibição primorosa do Operário que em nenhum momento jogou na retranca. (CORREIO DO ESTADO, 28/11/1977, grifos deste autor)

Mais do que bom, satisfatório, o resultado foi classificado como excelente, numa exibição primorosa, isto é, dotada de “perfeição, excelência, beleza, encanto” (FERREIRA, 2010, p. 611). A matéria, ainda, faz questão de deixar claro que a equipe visitante, mesmo perdendo por diferença de dois gols, não se abalou diante da superioridade do Grêmio. O relato da partida é deveras extasiado, a ponto de afirmar que o elenco operariano amedrontou os jogadores gremistas e “fez entristecer a torcida gaúcha” em pleno Olímpico. Percebe-se essa positividade em quatro unidades de registros: 1) “O 'galo' campograndense [...] passou a pressionar cada vez mais, irritando os gremistas, assustando o técnico Telê Santana e desagradando a torcida presente no Olímpico”; 2) “novo ataque perigosíssimo do Operário” e o “Grêmio começou a dar mostras de apavoramento total”; 3) “O Operário foi um autêntico "terremoto" na vida do Grêmio e o resultado foi até injusto”; 4) “[O goleiro] Corbo [...] [era] o mais apavorado dos gremistas”. Vale destacar também que o texto considera injusto o empate em Porto Alegre e justifica esse ponto de vista ao salientar que “os comentaristas gaúchos achavam que o Operário estava muito mais próximo do empate do que o Grêmio da vitória”. Verdade que o placar não


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deve ser considerado o motivo para tal entusiasmo na matéria, mas sim o fato de a equipe já estar classificada desde a rodada anterior, contra o Caxias, e jogar com tranquilidade perante o tricolor gaúcho. Por causa disso, é necessário avaliar que o texto valoriza exageradamente o empate do Operário, encerrando a participação na primeira fase com uma boa atuação e, por isso, deve ser considerado positivo. A matéria Cronistas elogiam teste do Operário foi feita em cima de uma análise da avaliação de cronistas a respeito da atuação operariana. De acordo com a matéria,

os cronistas esportivos elogiaram e muito, ontem, a apresentação do Operário [...] garantindo que a equipe campograndense foi a que mais deu trabalho ao Grêmio nos últimos tempos e lembraram que nem mesmo o Internacional suportou o rolo compressor gremista, caindo de goleada por quatro tentos a zero. (CORREIO DO ESTADO, 28/11/1977, grifos deste autor)

Como o texto foi escrito reproduzindo os relatos de cronistas gaúchos, que rasgaram elogios aos jogadores operarianos, deve-se considera-lo neutro, pois não emite de fato o juízo de valor propriamente do Correio do Estado. Por outro lado, Castilho: empate foi presente de aniversário não apresenta nenhum elemento que suscite sentimentalismo a favor do time operariano. A matéria não levanta maior suspeita sobre suas tendências, tendo em vista que foi realizada em cima de uma declaração feita pelo treinador Carlos Castilho. Este afirmou que o empate em Porto Alegre foi o melhor presente de aniversário que poderia ganhar dos atletas, visto que a equipe não tinha nenhuma obrigação de vencer, pois já entrou em campo classificada. A curta matéria, basicamente, retrata esta afirmação pós-jogo e pode ser considerada neutra, sem exposição clara de opinião, muito menos relato sentimental. 2.10 Edição de 2 de dezembro de 1977 A edição do Correio do Estado de 2 de dezembro de 1977, sexta-feira, teve sete matérias. Há duas sobre o Operário no Campeonato Brasileiro de 1977 (OFC/CB-77): Operário aceita o jogo do Botafogo e empata, que descreve a partida entre Operário vs. Botafogo, de Ribeirão Preto - SP e evidenciar os melhores lances para ambos os lados. Manga diz que time não atacou retrata uma declaração do goleiro operariano à beira do gramado no final da primeira partida da segunda fase da Copa Brasil, em Campo Grande. Acerca da Copa Brasil no geral (Outros/CB-77), está Outros jogos ontem pelo Brasileiro, um pequeno resumo do placar da rodada e Flu vem cauteloso, matéria com


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informações provenientes do Rio de Janeiro, que analisa a preparação do Fluminense para o próximo jogo contra o Galo de Campo Grande. Três matérias versam sobre outros assuntos e modalidades esportivas. Operário aceita o jogo do Botafogo e empata é matéria principal e ocupa um pouco mais que 1/4 da página 10, com quatro colunas de texto e duas fotos como recurso de ilustração. Além disto, a matéria é a manchete do dia, possuindo, inclusive a maior foto da capa e uma coluna de chamada. Manga diz que time não atacou é secundária e abrange 1/8 na página da editoria, sem foto. Análise discursiva - Como de costume, Operário aceita o jogo do Botafogo e empata, a matéria principal do dia posterior ao jogo, traz a descrição da partida, com foco no relato dos principais lances tanto do primeiro, quanto do segundo tempo. De acordo com a notícia, o Operário jogou mal e não impôs o seu ritmo de jogo, visto que jogava em seus domínios. Essa é a principal crítica feita no texto. Destaca-se esta unidade de registro: “O empate de zero a zero é um mau resultado para o Operário, que não foi o mesmo time que jogou em Caxias e Porto Alegre, deixando que o adversário impusesse um ritmo morno ao jogo em busca do resultado que veio buscar: o empate” (grifos deste autor). A análise crítica é feita à equipe com a justificativa de que o time paulista era inferior técnica e organizacionalmente em campo, desperdiçando assim uma chance de começar bem a segunda fase do Nacional. Infere-se que a matéria critica a postura do Operário em não atacar constantemente o gol botafoguense. Na avaliação do jornal, o Botafogo – SP veio ao Morenão com seu elenco retrancado na defesa. Vale destacar estas unidades de registro: 1) “O Operário só chegou ao gol de Aguilera com perigo na primeira etapa, quando errou menos e aproveitou melhor as falhas do frágil miolo de zaga do Botafogo”; 2) “O Operário foi se entregando aos poucos ao joguinho defensivo do Botafogo e acabou empatando em casa” e 3) “A defesa do Botafogo era fácil de ser driblada” (grifos deste autor). Diante de tudo isso, o Operário aceitou o estilo de jogo “covarde” (expresso, com eufemismo, por “joguinho defensivo”) da equipe visitante e não quis pressionar de modo mais ofensivo, segundo a matéria. O jornal ainda descreve a zaga botafoguense como “fácil de ser driblada” e “frágil” para enfatizar a má atuação operariana, que foi incapaz de se sobressair a um time considerado inferior. O texto, de modo geral é morno, não transmite grandes emoções alguma. As críticas também não são acentuadas, mas infere-se que há um juízo de valor que expressa negatividade em relação ao Operário, classificando a apresentação alvinegra como “muito aquém das piores perspectivas” e evidenciando que “o time não esteve bem”. Não se percebe indício de


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pessimismo com o resultado no primeiro jogo da nova fase da Copa Brasil. Porém, considerase esta matéria negativa em sua análise do jogo, desfavorável à equipe campo-grandense. Manga diz que time não atacou também não possui tendências, uma vez que se trata de um relato sobre a declaração do goleiro Manga. O arqueiro, em sua primeira partida a frente da torcida em Campo Grande, não poupou críticas ao seu grupo em entrevista após a partida. A matéria mostra imparcialidade ao trazer também declarações de outros personagens do jogo e com opiniões diferentes a do goleiro operariano, entre entes o zagueiro Silveira e o treinador Castilho, que consideraram o 0 a 0 um “resultado normal”. Logo, é uma matéria neutra. 2.11 Edição de 5 de dezembro de 1977 O Correio do Estado de 5 de dezembro de 1977, segunda-feira, teve sete matérias na editoria de Esportes. A respeito da equipe operariana, há três matérias, todas elas envolvendo também a Copa Brasil (OFC/CB-77): Peri e Everaldo levam Operário à vitória caracteriza os principais lances da partida de domingo, na qual o time campo-grandense conseguiu sua primeira vitória na segunda fase. Roberto César e Paulinho, os desfalques retrata as estratégias que o técnico Castilho terá que adotar para o próximo compromisso, diante do Botafogo, no Rio de Janeiro, perante a ausência de dois jogadores titulares. Quebrado recorde de público traz informações do valor de arrecadação da partida entre Operário e Fluminense, que superou a renda do estado de Mato Grosso e também o número de pessoas presentes no estádio Morenão. Outras quatro matérias falam de modalidades esportivas diferentes. Peri e Everaldo levam Operário à vitória é a matéria esportiva principal da edição e ocupa quase metade da página 10, com quatro colunas textuais e acompanhada de três fotos da partida. A matéria também foi apresentada na capa, sendo a manchete e abrangendo quase metade da página, com uso de uma foto, destacando o gol que deu a vitória ao Galo. Roberto César e Paulinho, os desfalques e Quebrado recorde de público. são secundárias e, juntas, preenchem cerca de 1/4 da última página. A segunda, possui foto dos torcedores, no maior público até então no estádio Pedro Pedrossian. Análise discursiva - O texto Peri e Everaldo levam Operário à vitória faz a exposição descritiva da partida Operário 2 x 1 Fluminense, realizada no dia anterior. Esperavase, inicialmente, um mínimo de euforia, já que foi a primeira vitória do alvinegro campograndense na fase semifinal. A matéria, ao contrário, é significativamente neutra e foca totalmente nos acontecimentos do jogo, não havendo muitas unidades de registro a se identificar.


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Nota-se que a matéria tece críticas e elogios a ambas equipes. Referente ao Operário, destaca-se: 1) “Mesmo caindo de produção na etapa final [...] o Operário conseguiu a sua primeira vitória”; 2) “O Operário fez um bom primeiro tempo, embora sem impor um futebol mais veloz”; 3) “O Operário, se impusesse um futebol mais rápido no primeiro tempo poderia ter conseguido mais de um gol”. Relacionado ao Fluminense, tem-se as unidades de registro: 1) “Na etapa final, o Fluminense impôs um futebol mais corrido e exigiu do time do Operário que já mostrava-se sem condições físicas”; 2) “O Fluminense não teve nenhum ataque de perigo ao gol de Manga”; 3) “O primeiro gol do Operário surgiu de uma falha incrível do zagueiro Edevaldo”. Os apontamentos são bem equilibrados, não se percebe nenhum exagero em termos de adjetivação, uso de figuras de linguagem, que possam demonstrar sentimentalismo, favorecendo uma equipe ou outra. O Correio do Estado enfatiza que a equipe operariana deixou de impor um ritmo de jogo veloz no primeiro tempo e que estava sem condições físicas na etapa complementar. Este foi o principal motivo apontado para o time campo-grandense não ter ampliado o marcador. Infere-se que para o jornal a vitória foi tratada como normal, um “dever” do Operário jogando em casa. Desta forma, a matéria pode ser considerada neutra. A matéria secundária Roberto César e Paulinho, os desfalques, sucintamente aborda os desfalques que o treinador Castilho terá para o próximo confronto do dia 7 de dezembro, diante do Botafogo – RJ, no Maracanã. Percebe-se uma certa cautela no texto, mas essa preocupação é atribuída ao próprio técnico operariano, que faz declaração por meio de citação direta. A matéria mostra-se despretensiosa no que se refere a pender para um relato positivo ou negativo, é bem objetiva e simples. Portanto, pode ser taxada como neutra. A neutralidade até agora vista nas duas matérias analisadas não se repete em Quebrado recorde de público, que denota uma satisfação quanto à quebra de recorde de público pela torcida do Operário, jogando no Morenão. Esse aparente contentamento da matéria passa por uma questão político-econômica efervescente, ao superiorizar Campo Grande frente à cidade de Cuiabá. Destaca-se a unidade de registro: “Com a renda de ontem, Campo Grande conseguiu uma grande vantagem sobre Cuiabá e a terceira vaga está praticamente garantida ao Comercial (se a FMD não mudar de ideia, agora)”. Percebe-se uma “alfinetada” à federação responsável pela administração do futebol em Mato Grosso e, ainda, do novo estado de Mato Grosso do Sul, por ter como terceiro representante42 em 1978 na Copa Brasil a equipe sul-mato-

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Em 1977, estava em discussão a abertura da terceira vaga para um time mato-grossense na Copa Brasil do ano posterior. Até 1977, apenas dois estavam na disputa: Operário e Dom Bosco, de Cuiabá. De acordo com a leitura de matérias do Correio do Estado e Diário da Serra (inclusive de edições não delimitadas à análise), constatou-se


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grossense do Comercial. Ora, a arrecadação recorde do Operário é usada como instrumento político e isso fica muito claro na matéria. O texto é um tanto equilibrado e informativo, até apresentar adjetivação em: “Para se conseguir a excelente arrecadação de ontem, foi feita uma campanha muito intensa, principalmente pela imprensa, e com a diretoria do Comercial também conclamando sua torcida para ir ao estádio” (grifos deste autor). A matéria pode ser classificada como positiva, a favor do Operário e de sua representação sulista. 2.12 Edição de 8 de dezembro de 1977 Na edição de 8 de dezembro de 1977, quinta-feira, sete matérias compõem a página esportiva do Correio do Estado. Dos sete textos da editoria, um trata somente do Operário (OFC): E Dito Cola rescindiu é sobre assunto interno do clube, relevando a rescisão de contrato do jogador Dito Cola, diagnosticado anteriormente com hepatite e que também não agradou a diretoria do clube com suas atuações em campo. Gol de Cuca deixa Operário a um passo da final é sobre o time campo-grandense na Copa Brasil (OFC/CB-77) e relata o empate do alvinegro de Mato Grosso em 1 a 1, contra o Botafogo, no Rio de Janeiro, com destaque para o gol de Cuca. As cinco matérias restantes tratam de outros assuntos e modalidades esportivas. A matéria principal é Gol de Cuca deixa Operário a um passo da final, responsável por ocupar exatamente 1/4 da página 10, em quatro colunas de texto. A matéria não possui foto, somente no destaque da capa, na qual é manchete. Além disso, possui duas colunas de chamada

que, segundo o interventor da CBD na época, Carlos Orione, a terceira vaga era uma decisão verdadeira. A FMD, por outro lado, não confirmava e, em diversas ocasiões, desmentiu este decreto. Segundo a matéria Vaga ao Comercial depende das rendas, da edição de 30 de novembro de 1977 do Correio do Estado, Orione afirmara que “a disputa não será no campo e nem nos gabinetes, mas nas bilheterias. A vaga será do Comercial [terceiro time em questão] desde que Campo Grande arrecade mais que Cuiabá na Copa Brasil”, embora fontes não evidenciadas da FMD “tenham dito o contrário”. Ou seja, o representante de Campo Grande na Copa Brasil de 1977 deveria quebrar recordes de bilheteria para “impressionar” a CBD e garantir a terceira vaga. Diante disso, a diretoria comercialina resolveu convocar (e, de certo modo, incitar) sua torcida a comparecer aos jogos do rival no Morenão, deixando de lado a rivalidade, a “rixa”, por um “bem maior”. Pode-se dizer que os responsáveis pela gestão do futebol da porção sul do estado de Mato Grosso (quase Mato Grosso do Sul) uniram-se em prol de uma maior representação do futebol mato-grossense em palcos nacionais. A matéria E o Comercial resolve conclamar sua torcida, de 1º de dezembro de 1977, do Correio do Estado, é enfática neste sentido, ao destacar que “os dirigentes [do Comercial] já faziam apelos à torcida colorada para ir aos jogos do Operário, no Morenão, para aumentar suas rendas e, consequentemente, garantir a terceira vaga ao clube”. Por fim, a estratégia comercialina deu certo e, em 1978, o estado de Mato Grosso teve mais do que três representantes, e sim quatro na competição nacional: Dom Bosco e Mixto, de Cuiabá e Operário e Comercial, de Campo Grande. Fica aqui o registro histórico de um acontecimento inédito, no qual a rivalidade entre dois clubes campo-grandenses foi colocada em segundo plano para que o sul do estado (e já se pensando em Mato Grosso do Sul dividido) tivesse maior visibilidade no maior campeonato do país.


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para introduzir o assunto. A secundária E Dito Cola rescindiu toma 1/8 de espaço na última página e possui uma pequena foto do jogador no entorno do texto. Análise discursiva - Como já visto anteriormente, boa parte das matérias no dia seguinte ao jogo, focam na descrição e narrativa dos melhores momentos da partida, para que o leitor, que não pôde acompanhar o jogo, imagine estes lances. Gol de Cuca deixa Operário a um passo da final não foge a essa regra, é uma matéria que faz o relato da peleja, mas também acrescenta elementos, como a pluralidade de citações diretas, ouvindo mais jogadores. Além disso, ineditamente, possui um entretítulo (A torcida promete outra grande festa na chegada), adicionando mais informações do contexto pós-jogo ao leitor. A matéria até certo ponto é equilibrada em seu relato descritivo-narrativo, atendose mais à menção explicativa dos principais acontecimentos no gramado. Chega a ser crítica ao caracterizar a atuação operariana no primeiro tempo, classificando-a como “péssima”, “temerosa”, com seu meio campo “falhando muito e dando chances aos botafoguenses”. Contudo, apresenta termos e expressões que remete a uma positividade a favor do Operário, mesmo que de modo não muito latente. Observa-se isto, primeiramente, no título: “Gol de Cuca deixa Operário a um passo da final” (grifo deste autor). Quer dizer, o texto, de certo modo, engrandece e dá importância ao gol de Cuca, responsável por colocar o time como líder do grupo J e praticamente classificar o Operário à fase final. Nota-se também que este jogador é o protagonista da partida e alvo de elogios do jornal, como em: “Cuca acabou sendo o herói do Operário na partida de ontem contra o Botafogo”. O atleta, que entrou nos minutos finais do cotejo, foi colocado elevado à posição de herói, isto é, situado na matéria numa condição interposta entre deus e homem, de acordo com a mitologia grega, por marcar o gol de empate. Esse heroísmo também é salientado por seu um jovem jogador, o que dá credibilidade e esperança para um futuro de sucesso na equipe. Vale ressaltar que o status de herói de Cuca, em parte, é justificado na matéria pelo fato de o Operário ter feito “um péssimo primeiro tempo, só conseguindo ajustar-se depois dos 30 minutos quando equilibrou as ações” e por ter empatado com uma equipe tradicional carioca, “conseguindo um ponto precioso dentro do Maracanã, [...] com um belo gol de Cuca” (grifos deste autor). Cuca, pode-se dizer, “salvou” os operarianos de uma derrota, que complicaria a situação do time na segunda fase da competição. Percebe-se também que o texto valoriza o empate como uma vitória, por ter sido dentro do mais famoso e respeitado estádio brasileiro. A manchete e a chamada são essenciais para determinar a predominância positiva da matéria. O título estampado na capa Cuca dá rasteira no Botafogo e Operário continua líder ironiza o grupo carioca e exalta o fato de o Operário ter dificultado as chances de classificação


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da equipe botafoguense à fase final. Destaca-se a unidade de registro, colhida da chamada: “O tento do garoto Cuca [...] foi praticamente uma rasteira no Botafogo, que viu diminuir, em muito, as suas chances de disputar a final”. Rasteira, “movimento ardiloso e brusco com que se deslocam as pernas de outra pessoa para desequilibrá-la” ou ainda “ato traiçoeiro” (FERREIRA, 2010, p. 640) remete, no contexto da matéria, a um golpe desferido ao Botafogo, que seria o empate em seus domínios, deixando-o em condição desfavorável na classificação do grupo. A chamada adjetiva o resultado como “excelente” e rotula o Operário de “fantasma do Nacional”, ou melhor, equipe considerada inferior, por ser de um centro não muito tradicional futebolisticamente, que desbanca times de grande reputação no cenário nacional. Num outro momento, a matéria destaca o ambiente de otimismo dos botafoguenses e da imprensa local: “O Botafogo tentou no sufoco a vitória. A confiança de seus jogadores era demais. Falava-se em ganhar três pontos, inclusive a crônica carioca não acreditou no Operário”. Julga-se que a alfinetada ao Botafogo no texto, com o termo “rasteira”, muito se deve à subestimação que a matéria evidencia na atmosfera carioca pré-jogo. Contudo, estas afirmações feitas no texto não foram articulas e embasadas em nenhuma declaração por parte dos botafoguenses, muito menos dos cronistas. A matéria não apresenta citações que possam confirmar este ponto de vista. Pelo enaltecimento à Cuca e por deixar claro que o “ponto precioso” do empate fora de casa foi um bom resultado, a matéria pode ser classificada como positiva. 2.13 Edição de 19 de dezembro de 1977 A edição de 19 de dezembro de 1977, segunda-feira, é a última analisada antes do período de recesso de final de ano e pausa na temporada futebolística. Neste dia, o Correio do Estado teve sete matérias esportivas. Na página 10, Operário vai expurgar Farina e Operário é o campeão do Grupo J: 2 a 0 no CSA. A primeira, traz a decisão operariana em rescindir contrato com o diretor Irineu Farina, por este ter feito um acordo com o Botafogo de Ribeirão Preto – SP para receber dinheiro em troca de uma vitória sobre o CSA, em Alagoas. O texto, portanto, explicita o que a diretoria fará em relação ao seu dirigente e pode ser considerada matéria sobre os acontecimentos internos do clube (OFC). Por sua vez, a segunda aborda a partida na qual o Operário saiu vencedor, contra o Centro Sportivo Alagoano (CSA) e se classificou para a terceira fase (OFC/CB-77). Na edição,


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não há matérias relacionadas puramente à Copa Brasil, com relato de outros clubes. As outras cinco matérias dizem respeito a outros assuntos modalidades esportivas. Mesmo sendo matéria principal, julga-se que Operário vai expurgar Farina não se destaca para ser analisada. A matéria abrange um pouco menos de 1/4 da página 10, em cinco colunas textuais, sem foto e é a manchete de capa, que também contém uma curta chamada. O texto secundário Operário é o campeão do Grupo J: 2 a 0 no CSA e que interessa à análise, tem o mesmo tamanho que a matéria principal, só que possui foto, demonstrando o goleiro Rui, que defendera um pênalti. A matéria também está estampada na capa do jornal, no topo da página, com a presença de uma foto e significativa chamada de quatro colunas textuais. Análise discursiva - Operário é o campeão do Grupo J: 2 a 0 no CSA faz a descrição da partida na qual o Operário saiu vencedor, anotar dois tentos a zero no Centro Sportivo Alagoano (CSA), em Maceió. Pelo fato de ser a partida que selou a classificação alvinegra para a fase final da competição, a matéria possui um relato positivo a favor da equipe campo-grandense. O título já passa uma percepção inicial do que será o conjunto do texto, ao destacar que Operário é o campeão do Grupo J: 2 a 0 no CSA. De fato, a equipe terminou o seu grupo em primeiro lugar, mas não existe um “campeão” nestas fases pré-final, o que já mostra um enaltecimento ao Operário na matéria. Assim como na matéria pós-jogo Botafogo – RJ 1 x 1 Operário, Gol de Cuca deixa Operário a um passo da final, do dia 8 de dezembro, Operário é o campeão do Grupo J: 2 a 0 no CSA tece elogios à atuação operariana em Alagoas. Destacam-se as unidades de registro: 1) “Jogando um futebol altamente competitivo e mostrando mais uma vez um excelente preparo físico, o Operário derrotou o Alagoano ontem”; 2) “O time jogou um futebol consciente, tocando muito bem a bola”; 3) “Fez um excelente primeiro tempo, envolvendo totalmente o Alagoano”; 4) “A defesa portou-se muito bem e garantiu a vitória”; 5) “O time alvi-negro, jogando com muita tranquilidade, não se preocupou com a pressão do CSA e procurou ‘esfriar’ o adversário”; 6) “O goleiro operariano foi bastante acionado [...] mas saiu-se muito bem”; 7) “Contra-atacando bem, o Operário chegou aos 2 a 0 e também perdeu outras chances de ampliar o placar”; 8) Na chamada da capa: “O Operário derrotou ontem com tranquilidade [...] a equipe do Centro Sportivo Alagoano” (grifos deste autor). Lendo-se todos as unidades destacadas, percebe-se que a matéria quis expressar que o Operário controlou a partida e soube administrar o resultado de 2 a 0, diante de uma equipe alagoana que chegou a pressionar, mas não levou muito perigo ao gol de Rui, substituto de Manga. As congratulações ao alvinegro campo-grandense não foram tão exageradas. Nota-se


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uma repetição das expressões “muito bem”, “excelente” e “tranquilidade” para qualificar o desempenho do time. Na matéria, não há nenhum elogio sequer feito à equipe de Alagoas, o que contribui para a definição de positividade quanto a sua tendência. Além disso, o texto salienta a atuação de um jogador do Operário, o atacante Roberto César. Observa-se a unidade de registro: “Roberto César, artilheiro do Operário no Campeonato, com seis gols, foi o dono do jogo”. A expressão “dono do jogo” quer dizer que o atacante operariano foi o jogador que mais se destacou na partida. E foi mesmo, por ter marcado os dois gols que deram a vitória ao Galo. Nota-se também que não houve um “endeusamento” como ocorreu com Cuca na partida anterior. Este, aliás, foi criticado na matéria, como visto em: “Cuca, que substituiu a Tadeu, pecou nos passes e complicou um pouco” (grifo deste autor). Nenhuma crítica mais ácida, relativizada com o advérbio de intensidade “pouco”. Na chamada, a matéria ressalta que “a vitória também serviu para comprovar que o Operário não é equipe de se vender”, quer dizer, exalta a campanha operariana na Copa Brasil e afirma que o time tem suas qualidades, que devem ser consideradas pelos adversários. “De se vender” significa que não se pode subestimar, desdenhar. Assim sendo, a matéria pode ser classificada como positiva. 2.14 Edição de 2 de fevereiro de 1978 Na quinta-feira de 2 de fevereiro de 1978, o Correio do Estado trouxe, na editoria esportiva, oito matérias. Apenas duas matérias informam sobre o Operário. Um empate que não estava nos planos do Operário foca na descrição narrativa do jogo dia anterior, Operário versus Santa Cruz, no Morenão (OFC/CB-77). Ela é a matéria principal da editoria e manchete de capa da edição. Na última página do jornal, ocupa 1/4, em quatro colunas de texto, com a ilustração de uma foto. A diagramação quase sempre “blocada” do periódico na página 10 não permite maior destaque do texto em relação aos outros. A nota Rui será vendido ao Náutico: 400 mil traz informações básicas dos detalhes financeiros que envolvem a transferência do goleiro operariano ao time pernambucano (OFC). As seis matérias que restaram na editoria de Esportes referem-se a outros assuntos e modalidades esportivas. Análise discursiva - Um empate que não estava nos planos do Operário demonstra equilíbrio e amenização em críticas e elogios no relato pós-jogo do Morenão, que terminou em 0 a 0 entre Operário e Santa Cruz. Em grande parte do texto, alguns apontamentos críticos são


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feitos ao Operário que, nesta altura do campeonato, desperta mais interesse tanto da população campo-grandense, quanto da imprensa local, por ter chegado tão longe no principal campeonato do país. Observa-se que as observações feitas são muito construtivas do que assoladoras. Destaca-se algumas unidades de registros que representam isso: 1) “O principal erro do Operário [...] foi finalizar pouco contra o gol do bom goleiro Joel Mendes”; 2) “O time alvinegro não soube aproveitar as falhas da defesa do Santa Cruz [...] e acabou não conseguindo o resultado que todos esperavam”; 3) “Na etapa final, alguns jogadores [...] caíram de produção, por falta de condições físicas e prejudicaram a equipe em alguns lances que poderiam resultar em gols”; 4) “O meio campo também perdeu um pouco de seu brilho do primeiro tempo”; 5) “O meio campo truncou muito o jogo, na etapa final [...] trocando passes errados”; 6) “Outra falha operariana foi tentar chegar ao gol de Joel Mendes pelo alto” (grifos deste autor). As críticas são suavizadas pelo uso do advérbio de intensidade “pouco” e se percebe que a matéria procura não tecer comentários mais ásperos e contundentes, esquiva-se, diante da condição do próprio time campo-grandense no campeonato, chegando à terceira fase ineditamente. Nesta altura tão importante do campeonato, o título da matéria frisa que o empate não foi um bom resultado, mas com cautela: Um empate que não estava nos planos do Operário. Na chamada, o empate foi avaliado como “amargo”, palavra usada no sentido figurado para expressar desagrado e que até “exprime dor, tristeza, desilusão” (FERREIRA, 2010, p. 39). Todavia, não se nota um desapontamento excessivo no texto, que reconhece que o Operário foi melhor na partida, “com sua defesa se portando muito bem”, mas que “poderia ter vencido o Santa Cruz”. “Melhor no primeiro tempo, o Operário teve excelentes chances nesta etapa da partida”. Além disso, a matéria evidencia que “Castilho, no final da partida, não reclamou do resultado por entender que seu time jogou melhor”. O treinador, entretanto, não teve fala em citação direta apresentada no texto. Ademais, o principal motivo apontado para o empate foi a falta de preparo físico dos jogadores, após um período de recesso de final de ano. Por fim, é nítido um certo desapontamento, com críticas dosadas, o que é natural quando a equipe local joga em seus domínios. Porém, nenhum comentário que pende para um teor negativo, muito menos positivo. Não há frustração, nem pessimismo. A matéria, desta forma, deve ser considerada neutra.


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2.15 Edição de 16 de fevereiro de 1978 O Correio do Estado de 16 de fevereiro de 1978, uma quinta-feira, apresentou sete matérias esportivas. Sobre a equipe alvinegra campo-grandense, há somente uma matéria, a tradicional descritiva-narrativa Operário, demolidor, massacra a Desportiva Ferroviária: 5 a zero, trazendo o relato dos principais lances ofensivos e defensivos da partida, terminou com o maior placar já aplicado pelo Operário na competição (OFC/CB-77). A Copa do Brasil, assunto abordado de modo geral no jornal (Outros/CB-77), possui uma matéria: a pequena nota Remo não quer jogar em São Januário, na segunda, que analisa, sob o ponto de vista da equipe paraense, a decisão da CBD em mudar o local da partida entre Remo x Operário, que seria em Belém – PA e foi reagendada para acontecer no estádio do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro – RJ. As demais matérias abordam outros assuntos sobre futebol, além de outros esportes. Operário, demolidor, massacra a Desportiva Ferroviária: 5 a zero é a matéria principal da última página, possuindo o total de quatro colunas de texto, sem uso de fotografias e que abrange 1/4 da lauda. Na capa, a matéria é manchete, destacada com uma foto grande que ilustra o primeiro gol do Operário na goleada. Ademais, possui uma coluna de chamada. Por sua vez, Remo não quer jogar em São Januário, na segunda é uma nota, localizada em um canto estreito no alto da página 10. Análise discursiva - A matéria Operário, demolidor, massacra a Desportiva Ferroviária: 5 a zero faz a leitura do jogo, descrevendo as principais jogadas. Pelo placar elástico de 5 a 0 para o Operário, contra a Desportiva, do Espírito Santo, previa-se uma matéria totalmente positiva, pendendo até para um sentimentalismo na narrativa, com adjetivação excessiva e enaltecimento à equipe em demasia. O título, com o uso das palavras “demolidor” e “massacra” já aponta para um caráter intensamente positivo a favor do time campo-grandense. Nada disso foi encontrado no texto. Na matéria da página 10 do jornal, encontra-se poucas unidades de registro que possam definir por completo a positividade da matéria. Os elogios são contidos, há cautela para descrever os lances da partida. Evidencia-se três unidades de significado: 1) “O Operário dominou totalmente a partida e poderia ter feito um placar ainda maior”; 2) “O Operário foi totalmente ofensivo desde os minutos iniciais” e 3) “Foi uma grande vitória alvi-negra”. De fato, a vitória sobre o Fluminense no Morenão foi a mais apaixonada até agora da análise. Esperava-se, ao ler o título principalmente, que nesta edição se encontraria algo parecido.


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O texto ainda faz uma análise questionadora em relação às chances perdidas pela equipe de Mato Grosso do Sul e afirma que “perdendo essa sequência de chances, veio a impressão de que o Operário encontraria dificuldades para ganhar três pontos da Desportiva”. Não elogios ao time visitante, mas também não qualquer espécie de ironia e chacota pela goleada sofrida. Se não fosse pela chamada na capa, a matéria até teria certo equilíbrio, visto que a análise que evidencia que o Galo “dominou totalmente a partida” e “foi totalmente ofensivo” foi toda em cima do que os jogadores apresentaram em campo. Efetivamente, o Operário dominou a partida e o placar de cinco gols reflete isso. O texto na capa, por outro lado, é mais decisivo para se confirmar a positividade da matéria, podendo, aqui, destacar: “O Operário goleou implacavelmente [...] a Desportiva Ferroviária” e “Desde os primeiros minutos os operarianos mostraram que estavam dispostos a uma autêntica demolição na equipe espírito-santense, possuidora de um sistema defensivo bastante falho”. Mesmo com o exagero ao empregar o termo “demolição”, o texto faz um leve elogiou à equipe do Espírito Santo, afirmando que “apesar do elástico marcador de cinco tentos a zero mostrou ser uma equipe combativa e perigosa, em alguns momentos”. A matéria, deste modo, é positiva, sem sentimentalismo. 2.16 Edição de 20 de fevereiro de 1978 A edição de 20 de fevereiro de 1978, segunda-feira, do Correio do Estado, teve quatro notícias de Esportes. Duas matérias abordam o Operário, ambas com relação à Copa Brasil de 1977 (OFC/CB-77). Por ser a matéria do dia do jogo entre Remo e Operário, em Belém - PA, Três pontos hoje podem garantir classificação do Operário faz a análise pré-jogo, principalmente matemática, na qual simula todas as possibilidades de classificação ou não da equipe operariana. O texto também evidencia a preocupação da comissão técnica campograndense com o desgaste físico dos jogadores. Já A grande vitória, apesar dos problemas de viagem esmiúça o que aconteceu no jogo passado, na qual o Operário saiu vencedor, ao marcar dois tentos a zero, no cotejo contra o América, do Rio de Janeiro. As duas matérias restantes são classificadas em outros assuntos e modalidades esportivas. Três pontos hoje podem garantir a classificação do Operário é a matéria esportiva principal, ocupando 1/4 da última lauda do periódico, com três colunas de texto e não há presença de fotos. Além do mais, a matéria tem um pequeno destaque na capa. A grande vitória,


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apesar dos problemas de viagem é secundária, mas possui o mesmo tamanho que a matéria principal, sem fotografia. Análise discursiva - A matéria principal Três pontos hoje podem garantir a classificação do Operário mistura cautela, neutralidade e leve otimismo e esperança ao fazer uma análise pré-jogo das condições da equipe operariana para a partida contra o Remo, em Belém – PA. O texto deixa claro que o jogo é decisivo e pode praticamente ratificar a classificação para a semifinal da Copa Brasil. Entretanto, tudo está incerto. Primeiramente, nota-se a cautela no título da matéria: Três pontos hoje podem garantir classificação do Operário. O emprego do verbo poder remete à possibilidade, não cravando ou prevendo o que pode acontecer em solo paraense. A matéria ressalta que o jogo contra o Remo “não será fácil”, demonstrando equilíbrio, por considerar a disputa complicada e igual para ambos os times. Tal incerteza quanto a previsão de uma vitória é justificada pelo desgaste físico sofrido pela equipe campo-grandense, que teve o local de seu jogo alterado de última hora pela CBD. A partida que antes seria realizada no Rio de Janeiro, foi confirmada em Belém. Essa decisão contribuiu para o desgaste físico, visto que o Operário jogara a partida anterior no Rio, contra o América e, por sua vez, o Remo enfrentou a Desportiva Ferroviária em Vitória – ES. Salienta-se as unidades de registro: “O técnico Carlos Castilho está preocupado com o desgaste físico da viagem, mas tem muita confiança na equipe” e o “Remo também enfrentará esse desgaste, talvez mais do que o Operário já que sua viagem foi mais longa (Vitória-Rio-Belém)”. O texto ainda faz questão de mostrar a situação de cada clube na chave, fazendo uma análise matemática, probabilística e pondera que “um empate ainda por ser considerado bom resultado, pois o Operário se igualaria ao Santa Cruz, com oito pontos ganhos, ficando a decisão do grupo para quinta-feira”. A matéria não pende para nenhum lado, não aponta favorito para o jogo em Belém e, desta forma, deve ser considerada neutra. Em A grande vitória, apesar dos problemas de viagem, há pouquíssimos ou provavelmente nenhum indício de tendência. A matéria é consideravelmente informativa, simples e neutra, não apresentando elogios a jogadores, técnicos e a nenhuma equipe em específico. Além disso, como uma típica matéria descritiva-narrativa pós-jogo, essa o faz de modo muito sucinto, comparada a outros textos de edições anteriores. O relato deixa a desejar por sua superficialidade. É um texto morno inclusive em certos trechos a que se pode sugerir algum comentário com posicionamento mais evidente. Destaca-se a unidade de registro:

A vitória do Operário sobre o América por 2 a 0 [...] onde mais uma vez


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surpreendeu a parcial crônica esportiva carioca, pode ser considerada a mais difícil que o time alvi-negro conseguiu até agora [...] face aos problemas que ocorreram na véspera da partida. (CORREIO DO ESTADO, 20/02/1978, grifo deste autor)

O único termo que chama a atenção é “parcial” ao qualificar os cronistas cariocas, considerados jornalistas que, normalmente, tomam partido, de modo fiel, aos times locais. O texto demonstra equilíbrio ao dosar comentários a ambas as equipes, como em: “O Operário dominou a partida principalmente na etapa final quando teve as melhores chances de gol, embora o América também tenha dado muito trabalho ao goleiro Manga”. A afirmação que aponta que o Operário dominou a partida foi feita em decorrência das oportunidades de gol criadas e, por isso, não se configura como um juízo de valor. Quanto à análise dos jogadores operarianos, o texto foi equilibrado, principalmente na descrição do desempenho do atacante Roberto César: “Roberto César foi o jogador que mais sentiu esses problemas [desgastes físicos causados pela viagem]. Estava abatido e não conseguiu impor seu futebol. [...] Perdeu pelo menos quatro gols e acabou sendo substituído”. Percebe-se que os elogios ficaram por conta do treinador Castilho, ao qual a matéria dedicou quase uma coluna de texto com citação direta. Mesmo com a importante vitória fora de casa, por diferença de dois gols, que resulta em três pontos, a matéria teve significativa moderação quanto ao uso de adjetivos, com neutralidade e imparcialidade nos relatos. Portanto, pode ser classificada como neutra. 2.17 Edição de 21 de fevereiro de 1978 A edição de terça-feira, 21 de fevereiro de 1978, trouxe oito matérias esportivas publicadas. Das oito, três referem-se ao Operário. Duas delas dizem respeito à Copa Brasil (OFC/CB-77): Operário vai tentar derrotar o Remo no tapetão, que retrata a tentativa jurídica operariana em ganhar os pontos do jogo contra o time paraense, que escalou jogador irregular e Derrota deixa time em situação difícil, que aborda como foi o confronto em Belém – PA, no qual a equipe campo-grandense saiu derrotada por 2 a 0. A matéria Nogueira será contratado trata da recente contratação de um jogador proveniente da Ponte Preta, de Campinas – SP. Esta é uma matéria interna do clube operariano (OFC). Os textos Ademir da Guia pode jogar quinta-feira e CBD confirmou 2ª vaga para Cuiabá abordam outros clubes e assuntos relacionados à Copa Brasil (Outros/CB-77). A primeira relata que o principal jogador do Palmeiras tem possibilidades de jogar contra o Operário, em Campo Grande, além de retratar as chances do clube quanto à classificação para


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a fase seguinte. A segunda matéria é sobre a confirmação de uma nova vaga um clube de Cuiabá disputar a competição nacional, edição de 1978. As outras três matérias da editoria são relacionadas a outros assuntos e modalidades esportivas. Operário vai tentar derrotar o Remo no tapetão é a principal matéria da edição e também é a manchete de capa do jornal, estampando além do título, uma chamada expressiva, que toma 1/4 da página inicial. Não foto na capa. Na página 10, a matéria abrange 1/6 da lauda, em cinco colunas, sem foto. Derrota deixa time em situação difícil e CBD confirmou 2ª vaga para Cuiabá são matérias secundárias. Nogueira será contratado e Ademir da Guia pode jogar quinta-feira são notas. Análise discursiva - A matéria Operário vai tentar derrotar o Remo no tapetão explica a situação pós-jogo em Belém – PA, na qual, supostamente, o Remo teria escalado um jogador irregular, o centroavante Mesquita, na partida contra o Operário. O texto tem como foco a tentativa da equipe campo-grandense em entrar com recurso no Tribunal de Justiça da CBD e possui um caráter equilibrado. Não há grandes unidades de registro a se destacar, uma vez que a matéria é informativa, “direta ao ponto”. A matéria é informativa, objetiva, mas não imparcial. Percebe-se parcialidade no que diz respeito a consulta de fontes para tratar do assunto. O texto menciona superficialmente o posicionamento de defesa dos dirigentes do Remo, alegando que o jogador já havia cumprido sua suspensão automática por ter recebido três cartões amarelos ao longo da competição, mas não identifica ao menos o nome de um representante remista, só os cita de modo genérico no texto. Por outro lado, o espaço dedicado para o posicionamento operariano é maior, tendo, inclusive, um entretítulo (“A força do Operário”) dedicado ao lado campo-grandense da questão judicial. Além disso, é explicitado o nome do advogado que defenderá o Operário na disputa, Valed Perry, considerando-o “um dos maiores juristas desportivos do Brasil”. Destaca-se a unidade de registro que pode remeter a uma tendência a favor do alvinegro: “No recurso operariano, prevalece a orientação líquida e certa do desporto brasileiro, que considera como jogadores aptos a jogar apenas aqueles que assinaram a súmula na data do jogo” (grifo deste autor). A expressão “líquida e certa”, na verdade, é mencionada como um argumento do jurista Valed Perry, mas não há citação direta dele no texto. Percebe-se também um certo julgamento a irregularidade do Remo ao escalar Mesquita, por parte da matéria, sendo que a decisão oficial ainda não foi tomada pelo tribunal responsável, muito menos a defesa do clube


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paraense foi clarificada. Desta maneira, a matéria pode ser definida como positiva, com leve tendência a favor do time operariano. Já a matéria secundária Derrota deixa time em situação difícil é a responsável da editoria esportiva por fazer o relato do jogo que acontecera em Belém um dia antes. Derrotada, esperava-se um texto pendendo para a negatividade em relação ao Operário. E isso ocorreu, mesmo que de maneira amena e pouco profunda. A matéria tenta mais justificar o revés operariano do que apontar as falhas do time. Pode-se, aqui, destacar duas unidades de registro que exemplificam e definem este fundamento: “Prejudicado pela arbitragem do José Leandro Serpa, [...] o Operário perdeu ontem à tarde de 2 a 0 para o time paraense e agora ficou em situação mais difícil para tentar a classificação” e “Choveu muito durante o jogo e o campo também não ajudou o alvi-negro”. Percebe-se que a matéria, de certo modo, tenta justificar a derrota por causa da arbitragem e do mau tempo, que encharcou o gramado do estádio Alacir Nunes, o antigo Mangueirão, na capital paraense. O primeiro argumento é até válido, pelo fato de o árbitro ter mesmo prejudicado os visitantes, ou não. O segundo é prejudicial a ambas a equipes. Ora pois, o terreno em condições ruins é desvantajoso para todos que estiverem jogando, seja o mandante ou o visitante. Portanto, o texto é incoerente neste sentido. A crítica à arbitragem é reforçada com um apontamento: “O jogo de ontem [...] teve a arbitragem de José Leandro Serpa, chamado até de ‘ladrão’ pelos cronistas paraenses que reclamara nada menos do que seis pênaltis”. Nota-se um rancor em relação ao árbitro, que tem seu nome explicitado a todo momento no texto e também apontando que a crônica esportiva local o criticou, mas isso não fica muito claro na matéria, não há nenhuma citação ou trecho comprobatório, é pura contestação. Ademais, o texto também critica levemente a atuação operariana, afirmando que “o Operário não conseguiu apresentar seu melhor futebol” e ao ressaltar que “o time da casa passou a pressionar muito [...] levando sempre a melhor sobre Biluca e Silveira e obrigando Manga a defesas difíceis”. A matéria também faz elogios ao time paraense que, mesmo desgastado fisicamente após longa viagem e vários jogos em um curto período de tempo, conseguir sobressair-se na parte física: “O time do Remo, cansado, como o Operário, corria muito em campo e era muito perigoso nos contra-ataques” (grifos deste autor). Os elogios são tecidos sem exageros, por meio do advérbio de intensidade “muito”. A matéria, então, pode ser considerada negativa, em desfavor à equipe campo-grandense.


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2.18 Edição de 23 de fevereiro de 1978 Na quinta-feira, 23 de fevereiro de 1978, sete matérias compõem a edição do Correio do Estado. Sobre o Operário na Copa Brasil (OFC/CB-77): Operário tenta hoje sua consagração definitiva, matéria pré-jogo que faz uma análise comparativa do time no Nacional de 1976 com o de 1977 e algumas previsões para a partida contra o Palmeiras, considerada a “consagração definitiva”; Um apelo à torcida: incentive seu time, matéria que objetiva convocar os operarianos não só para irem ao Morenão, mas também para incentivarem o time durante os 90 minutos e Bom treino aumenta confiança do time, texto que traz os últimos detalhes táticos e técnicos do treinamento final antes de encarar o time alviverde paulista pela última rodada da terceira fase da Copa Brasil. Sobre o campeonato nacional, mas retratando outros clubes e assuntos (Outros/CB77), foram publicadas as matérias Palmeiras preparado para a pressão dos torcedores, abordando o lado da equipe visitante para o duelo contra o Operário e seus preparativos finais, bem como a chegada do plantel em Campo Grande; e Santa Cruz x Remo: resultado que interessa, que, conforme diz o título, traça os resultados ideais desta partida para sacramentar a classificação operariana à semifinal inédita da Copa Brasil. As duas matérias que restam na página 10 são sobre outros assuntos e modalidades esportivas. A matéria principal da editoria, Operário tenta hoje sua consagração definitiva, ocupa, dentro da diagramação “blocada” característica do Correio do Estado, cerca de 1/6 da última página do periódico, com uma foto e três colunas de texto. Um apelo à torcida, incentive seu time, Bom treino aumenta confiança do time e Palmeiras preparado para a pressão dos torcedores são matérias secundárias, sendo que esta última está estampada como manchete na capa do jornal, com uma foto do goleiro Leão na chegada do Palmeiras no aeroporto de Campo Grande, dando autógrafos aos torcedores. Santa Cruz x Remo: resultado que interessa é uma nota, colocada num espaço estreito no alto da página. Análise discursiva - A matéria Operário tenta hoje sua consagração definitiva traz um panorama do contexto pré-jogo, da partida mais importante da história, até então, do Operário de Campo Grande, contra o Palmeiras. Já no título, evidencia-se a relevância e proporção do confronto. O uso de “consagração definitiva” refere ao fato de que

uma vitória [...] sobre o Palmeiras [...] pode representar não apenas uma classificação para a fase final do Campeonato Brasileiro mas a consagração definitiva do Operário e do futebol campograndense no cenário esportivo


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nacional, comprovando mais uma vez a força do interior43. (CORREIO DO ESTADO, 23/02/1978, grifo deste autor)

Este comentário foi traçado como se fosse um torcedor operariano escrevendo, imprimindo muita positividade no que se refere à representação que o Operário Futebol Clube tem, não só para Mato Grosso do Sul, mas para todo o futebol fora dos grandes centros hegemônicos do país. Diante dessa importância, o texto afirma que “o jogo desta noite, no Morenão, é de muita responsabilidade para o time alvi-negro” e que “a classificação para a fase final [...] mais uma vez depende do futebol competitivo do Operário e do espírito de luta, garra e amor à camisa de seus jogadores” (grifo deste autor). Observa-se que o relato ultrapassa a positividade e atinge um sentimento de paixão, ao salientar que os jogadores precisam dar o máximo de si, com “amor à camisa”, buscar jogar não só com a parte física, mas também tendo consigo um “espírito de luta”, uma dedicação que deve extrapolar, assim, os princípios materiais humanos. Tudo isso para garantir o próximo passo, rumo à semifinal inédita. Mais do que simplesmente informar, ao ler a matéria, percebese que esta também induz o leitor a um sentimentalismo, de colocar “todo o seu coração” a favor do time, transcendendo a uma mera partida de futebol. Imagine-se também que o texto sirva de estímulo para os jogadores e por isso foi escrito desta maneira pelo Correio do Estado. Outras unidades de registro podem ser destacadas para que se determine completamente a positividade do texto jornalístico: “Há muita confiança na vitória sobre o Palmeiras” e “O Operário já enfrentou o Palmeiras pelo Nacional, em 13 de março de 1974, ganhando de 1 a 0”. Repara-se que estas unidades de registro evidenciadas expressam otimismo, reforçado por uma retomada histórica, ao lembrar que a equipe campo-grandense já derrotou o Palmeiras em oportunidade anterior, o que produz uma certa expectativa positiva e confiança, fazendo questão de mostrar que o rival não é imbatível. Há, assim, uma injeção de ânimo voltada ao torcedor. A matéria pode ser classificada como apaixonada. Em Um apelo à torcida: incentive seu time como o próprio título já diz, é mais do que uma matéria que visa objetivamente informar, passando a atuar como um texto de chamamento, quase uma súplica para que o torcedor operariano compareça ao Morenão e incentive o time. Ressalta-se a unidade de registro:

A presença maciça da torcida operariana hoje à noite no Morenão, demonstrando o amor a seu time e proporcionando novo recorde de público e Pode-se dizer que mais do que uma “consagração definitiva” do Operário enquanto clube de futebol, estava em jogo o sentimento de autoafirmação e independência de uma população da porção sul do estado que nascia e construía uma identidade particular. 43


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renda, não é o bastante para quem aspira a classificação para a fase final do Campeonato Brasileiro. Uma vitória do Operário sobre o Palmeiras depende muito também da torcida, de seu incentivo ao time durante os 90 minutos da partida. (CORREIO DO ESTADO, 23/02/1978, grifos deste autor)

Soa também como uma crítica à torcida alvinegra que só faz volume, porém não é capaz de estimular seu clube. Para fundamentar o apontamento crítico, a matéria faz uma análise do comportamento dos torcedores em Campo Grande e relembra uma partida na qual a torcida operariana mostrou-se apática na última partida da segunda fase da Copa Brasil de 1976, onde o Operário perdeu de 1 a 0 para o Coritiba, em pleno Morenão. Na ocasião, “vinte e seis mil pessoas assistiram, em silêncio profundo, a derrota. E por alguns instantes chegaram até a vaiar o Operário” e, desta forma, o texto acrescenta que “mais do que o barulho das charangas e dos 20 mil apitos distribuídos, é preciso que o grito da torcida esteja presente esta noite no Morenão”. A matéria também utiliza afirmações do treinador Carlos Castilho para basear sua crítica. Considera-se, assim, um texto neutro, pois convoca o torcedor, retrata o seu papel de incentivo numa partida decisiva, mas, ao mesmo tempo, critica-o, apresentando fundamentação. Bom treino aumenta confiança do time é uma matéria básica e que descreve os últimos treinamentos e preparativos para a decisiva partida contra o Palmeiras. A única unidade de registro que se pode destacar e que remete a uma tendência, é: “O treino [...] agradou inteiramente, aumentando a confiança que Carlos Castilho deposita no time e também o otimismo dos próprios jogadores que prometem todo o empenho para conseguir a vitória”. Esse aumento de confiança pré-jogo e agrado no treinamento foi retirado de uma fala do próprio técnico operariano e por isso não pode ser classificado com um comentário que pende a favor do Operário. A matéria, portanto, deve ser tachada de neutra, sem qualquer inclinação explícita. 2.19 Edição de 26 de fevereiro de 1978 O Correio do Estado de 26 de fevereiro de 1978, domingo, edição conjunta com o sábado, contou com cinco matérias esportivas. Duas são sobre o Operário no Nacional de 1977 (OFC/CB-77): “Vamos chegar à final”, garante Castilho, que traz uma afirmação esperançosa do treinador operariano antes do primeiro jogo da semifinal, contra o São Paulo, no estádio Morumbi; e Uma classificação que representa muito ao futebol de MT, tratando a classificação operariana como um marco histórico para a história do futebol mato-grossense e interiorano. As outras três matérias retratam outros assuntos e modalidades esportivas.


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A matéria principal de Esportes é “Vamos chegar à final”, garante Castilho, mesmo ocupando 1/8 do espaço na página 10 e com duas colunas de texto, além de não possuir foto. Por outro lado, a matéria tem destaque na capa do jornal, com três colunas de chamada, maior do que a matéria presente na editoria. Uma classificação que representa muito ao futebol de MT e O que os jogadores pensam da classificação são matérias secundárias e, juntas, preenchem meia página. A primeira, está acompanhada de fotografia. Análise discursiva - “Vamos chegar à final”, garante Castilho é uma matéria pautada precisamente em cima de uma declaração feita pelo treinador operariano Carlos Castilho, no último treino antes de encarar o São Paulo, no estádio Morumbi, pelo jogo de ida de semifinal. O texto é curto e o que não é citação direta do técnico ocupa menos de 1/3 das linhas. Basicamente, a matéria expõe o que foi dito treinador alvinegro e por isso não há como não a classificar como neutra, sem nenhuma unidade de registro a se destacar. A matéria secundária Uma classificação que representa muito ao futebol de MT já transparece sua positividade favorável ao Operário pelo título ao estampar que a classificação para a semifinal “representa muito ao futebol de MT”. Ou seja, classifica o feito operariano não só como um simples avanço numa competição de futebol, mas como um marco histórico. Ao colocar “futebol”, a matéria, sem hesitar, inclui até os torcedores rivais do Operário neste conjunto, tratando a modalidade esportiva do estado, agora nacionalmente reconhecida, como um bem maior. Num primeiro momento, o texto procura evidenciar que a classificação alcançada com “muita garra e amor” e obtida devido ao “esforço, espírito de luta e muito amor à camisa alvi-negra de todos os jogadores, começando pelo veterano Manga que tem sido líder em campo” (grifo deste autor). Mais uma vez, o goleiro Manga é exaltado. Vale ressaltar que, um dia antes de a matéria ser escrita (24/02/1978), o treinador da seleção brasileira Cláudio Coutinho havia deixado de fora o arqueiro da convocação preparatória para a Copa do Mundo da Argentina. Entende-se que este elogio do Correio do Estado também serviu como uma “cutucada” ao treinador canarinho e também como consolo a Manga. O foco elogioso da matéria, entretanto, é voltado ao treinador Carlos Castilho, ao qual foi dedicado quase 3/4 do texto. Toda as glórias da campanha operariana até a semifinal da Copa Brasil, tida pelo jornal como inimaginável, foram destinadas ao técnico, como em: 1) “O futebol e a campanha consagradora que o Operário conseguiu até hoje, contudo, deve-se a apenas um homem: o técnico Carlos Castilho” e “Esse trabalho, duro, sério e principalmente honesto, resultou na classificação para a final” (grifo deste autor). Para justificar as congratulações ao treinador o texto faz questão de resgatar a formação às pressas do elenco


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alvinegro para o campeonato nacional, na qual “o time foi formado a duas semanas da estreia, contra o Inter, mas já neste mostrava sua força”. O futebol apresentado pelo Operário nos gramados recebeu a alcunha do jornal de “futebol força”, pois Castilho, com um grupo de jogadores até então desconhecidos para trabalhar, “conseguiu, num pequeno espaço de tempo, transformar o Operário num time que hoje enfrenta qualquer adversário de igual para igual. E isso foi comprovado nos empates, até então considerados impossíveis, com o Grêmio no Olímpico e o Botafogo no Maracanã”. De fato, o enaltecimento não é deveras exagerado, a ponto de rasgar adjetivos ao treinador. A matéria ressalta que “Castilho trabalhava em silêncio e com humildade, sem nunca, porém, esconder seu otimismo e sua confiança ao time” (grifo deste autor). A todo momento, o texto ressalva que nem mesmo os mais otimistas operarianos acreditavam em chegar entre os quatro melhores clubes do país, visto que “ser finalista era muita pretensão, mas o trabalho de Castilho e sua comissão técnica tinha essa finalidade”. O texto fecha seu comentário apaixonado ao enfatizar que

a consagração definitiva do futebol matogrossense aconteceu naquela memorável noite de quarta-feira, no Morenão. A classificação do Operário marcou uma fase histórica para nosso futebol, antes esquecido e pobre. Seus jogadores, hoje, são considerados heróis. Assim como ocorreu com os desbravadores desse rico Estado44. (CORREIO DO ESTADO, 26/02/1978, grifos deste autor)

Do ponto de vista discursivo, a comparação entre os jogadores operarianos, tido como “heróis” e os personagens pioneiros de Mato Grosso é demasiadamente significativa para confirmar o relato emocional da matéria. Além disso, há uma exaltação, comparando-se, em tom de superioridade, o futebol mostrado em 1977/1978 com o do passado, sendo esse considerado muito inferior em qualidade e reconhecimento em âmbito nacional. Nota-se também que esta é a primeira vez que o jornal se inclui no texto, com o uso do pronome em primeira pessoa do singular, o que reforça ainda mais o comentário explicitamente apaixonado. Sem dúvidas, a matéria é mais do que positiva, é dotada de paixão.

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Nota-se uma tentativa do Correio do Estado em relacionar o feito inédito e imprevisível do Operário ao mito da construção da identidade e desbravamento das terras mato-grossenses, transformando-as em solo fértil para o progresso. Inclusive, é uma notável e curiosa coincidência o fato de a ascensão inesperada do Operário coincidir com a criação do estado de Mato Grosso do Sul e tenha acontecido precisamente como o cume de um movimento divisionista, presente em diversos aspectos da sociedade mato-grossense naquele período.


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2.20 Edição de 27 de fevereiro de 1978 A edição de 27 de fevereiro de 1978 do Correio do Estado, segunda-feira, teve nove matérias na editoria esportiva. A respeito do time campo-grandense na Copa Brasil (OFC/CB77), há três matérias. São elas: Operário lutou muito, mas não resistiu: 3 a 0, que faz uma análise da primeira partida válida pela semifinal da Copa Brasil, narrando e detalhando os lances fundamentais da partida na qual o São Paulo abriu três tentos de diferença contra o Operário; A chance: vencer de 4 a 0, na quarta, texto que retrata os preparativos, quais são as chances e estratégias do Operário para passar à final da competição nacional e A revolta pelo gol impedido, matéria curta que traz alguns depoimentos de jogadores operarianos sobre o gol impedido validado ao São Paulo no domingo. A vitória do Atlético é a única matéria que aborda a Copa Brasil sem mencionar o Galo de Campo Grande (Outros/CB-77), evidenciando a outra partida da semifinal, entre Londrina versus Atlético Mineiro. As demais matérias tratam de outros assuntos e modalidades esportivas. Quanto à classificação das matérias, Operário lutou muito, mas não resistiu: 3 a 0 é a principal. Ela ocupa um pouco menos de 1/4 da última página, sem a presença de foto e com cinco colunas de texto. A matéria é a manchete do dia e traz na capa uma chamada de duas colunas, além de uma foto. A chance: vencer de 4 a 0, na quarta e A revolta pelo gol impedido são matérias secundárias. A vitória do Atlético é uma nota. Todas estas três ocupam 1/4 da página 10. Análise discursiva - Se era quase espontâneo que relatos positivos favoráveis ao Operário surgissem após o mesmo conseguir derrotar seus adversários e avançar cada vez mais na competição, quase natural também esperar relatos negativos, após a derrota por 3 a 0, na semifinal, para o São Paulo, resultado que praticamente irreversível e que eliminava o time campo-grandense. Surpreendentemente, isto não ocorreu. Apesar do revés, não surgem aspectos de crítica e frustração. A matéria principal Operário lutou muito, mas não resistiu: 3 a 0 já revela, preliminarmente, por seu título, o teor do relato pós-jogo. O verbo lutar, expresso no sentido figurado, indica que a equipe se esforçou e deu tudo de si para buscar a vitória. Na sequência, o emprego do verbo resistir, de certo modo, assume a superioridade e capacidade do adversário, jogando em seus domínios e a também assente que, na realidade, a vitória por quatro gols de diferença no jogo de volta, no Morenão, é improvável. Destaca-se a unidade de registro, presente na chamada de capa: “O Operário lutou muito ontem no Morumbi, mas não conseguiu


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segurar o ataque sãopaulino (nem o juiz), acabando por perder por 3 tentos a zero, num resultado que praticamente elimina a equipe campograndense da Copa Brasil” (grifo deste autor). Percebe-se na unidade de significado a ironia quanto ao desempenho do juiz, tido como coadjuvante na vitória do São Paulo. A chamada ainda é assertiva ao ressaltar que “durante 75 minutos, o Operário se defendeu com muita garra, deixando os sãopaulinos no desespero pelo equilíbrio do jogo” e que “foi um resultado altamente injusto” (grifos deste autor). Além do “desespero” aos sãopaulinos, a matéria relata positivamente a atuação do Operário, que “foi um time brigador durante os 90 minutos” e “surpreendeu ao grande público e a crônica esportiva paulista, que esperava uma goleada desenhada logo no primeiro tempo” (grifos deste autor). O texto faz questão de evidenciar a todo momento que, apesar da derrota expressiva com diferença de três tentos, “foi uma grande partida do Operário” (grifo deste autor). Nota-se, claramente, que o Correio do Estado procura não criticar veementemente nenhum jogador operariano, mas faz algumas observações de desaprovação superficiais, como em: “Prejudicado pela ausência do ponta esquerda Peri, com Cuca, seu substituto, não conseguindo uma boa atuação talvez pela responsabilidade do jogo e sua pouca experiência, o Operário acabou não resistindo a forte pressão e foi derrotado pelo São Paulo” e “Cuca era o único intranquilo no time alvi-negro” (grifo deste autor). As críticas são brandas ao jogador Cuca, que justifica sua má atuação pela inexperiência e relevância do confronto na capital paulista. A performance do goleiro Manga, tão elogiado pelo jornal em edições anteriores, também recebe apontamentos críticos, porém sutis e tentando, por outro lado, valorizá-lo apesar de sua atuação na semifinal. Observa-se: “O terceiro gol, que deixou o Operário em pior situação quanto às suas possibilidades de ainda ir à finalíssima ocorreu [...] numa única falha do goleiro Manga que salvou o Operário de uma goleada ainda maior” e “Manga foi muito exigido [...] e mostrou que ainda, apesar dos 44 anos, é um dos melhores goleiros do Brasil” (grifos deste autor). A presença do termo “única” ameniza a falha cometida pelo arqueiro alvinegro, logo depois classificando-o como um dos melhores de sua posição. Efetivamente, o foco da matéria não é julgar os jogadores, mas sim culpabilizar, em maior proporção, a arbitragem pela derrota, que deixou de marcar um “impedimento clamoroso”, isto é, gritante, escandaloso, claro, que estava nítido, segundo o texto jornalístico. Segundo a matéria, o gol ilegítimo, o segundo marcado pelo São Paulo na partida, “acabou tirando todo o entusiasmo dos jogadores principalmente pela irregularidade ocorrida e a expulsão de Escurinho”.


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Num último momento, o texto, como forma de valorizar a vitória operariana e confirmar o seu posicionamento positivo em relação a equipe campo-grandense, satiriza a vitória são-paulina, como evidenciado pela unidade de registro: “Na etapa final, o São Paulo, à base do desespero e jogando muito mal, acabou conseguindo uma vitória injusta pelo placar”. Por defender o Operário e reconhecer o empenho da equipe, mesmo perdendo, a matéria pode ser classificada como positiva. O texto secundário A chance: vencer d e 4 a 0, na quarta é básico, curto e informativo, relatando a situação do Operário para o jogo de volta e deixa claro o que a equipe terá de fazer: vencer pelo menos por quatro gols de diferença. O regulamento da competição é citado para apontar que, se vencer somente por 3 a 0, a vitória será dada ao São Paulo, por ter maior número de pontos ganhos no campeonato. Não há indícios que pendem a favor de uma equipe ou outra. A matéria, desta forma, tem de ser classificada como neutra. A revolta pelo gol impedido realiza a descrição da reação dos jogadores operarianos após o final da partida, com a marcação do gol impedido, salientando a indignação do elenco. A matéria colhe declarações de quatro jogadores: Escurinho, expulso por reclamação à arbitragem, após a validação do gol irregular; Roberto César, Everaldo e Manga. A matéria é pequena, composta praticamente por citações diretas, com pouco texto escrito pelo Correio do Estado e que possa emitir algum juízo de valor. Portanto, é neutra. 2.21 Edição de 2 de março de 1978 A edição de 2 de março de 1978, quinta-feira, última do Correio do Estado que interessa ao estudo teve sete matérias. Duas abordam exclusivamente o alvinegro operariano (OFC): Castilho renova por mais 1 ano, aborda a renovação de contrato do técnico e jogadores operarianos após a temporada e Operarianos pedem para Rui ficar é uma pequena matéria que retrata um manifesto feito pela torcida do Galo pedindo que o clube desista de vender o arqueiro Rui ao Náutico, de Recife – PE. A matéria sobre o representante mato-grossense na Copa Brasil (OFC/CB-77), Operário vence de 1 a 0 e fica em terceiro lugar, narra a partida de volta da semifinal, Operário 1 x 0 São Paulo, destacando as jogadas mais relevantes. As matérias Atlético empata e decide em casa e Suspensão de Serginho: São Paulo vai recorrer retrata especificamente os clubes classificados à finalíssima da Copa Brasil. Além destas, Renda do Campeonato Nacional: 216 milhões informa rapidamente sobre qual foi o valor arrecadado pelo público que compareceu aos estádios durante a competição. Estas três são enquadradas em outros clubes e assuntos


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relativos à Copa Brasil (Outros/CB-77). Apenas uma matéria é sobre outros assuntos e modalidades esportivas. Operário vence de 1 a 0 e fica em terceiro lugar é a matéria principal da editoria esportiva, abrangendo 1/4 de página, com uma foto e quatro colunas textuais. A matéria também é manchete e ocupa metade da capa do jornal, com uma foto enorme ilustrando um lance de ataque do Operário. As secundárias são: Castilho renova por mais 1 ano, Operarianos pedem para Rui ficar e Suspensão de Serginho: São Paulo vai recorrer. Foram classificadas como nota Renda do Campeonato do Campeonato Nacional: 216 milhões e Atlético empata e decide em casa. Análise discursiva - Segundo a matéria Operário vence de 1 a 0 e fica em terceiro lugar, que se dedicou a fazer o relato da partida de volta da semifinal, no Morenão, vencida pelo Operário por 1 a 0, aponta que a equipe mandante acabou “dominando totalmente o acomodado São Paulo, que desfalcado de Serginho e temendo ser goleado jogou totalmente defensivo, o Operário lutou muito para ganhar a partida” (grifos deste autor). Salienta-se que o texto faz questão de “alfinetar” e menosprezar o comportamento tático em campo do tricolor paulista. A matéria relata, positivamente, que o alvinegro campograndense “realizou um primeiro tempo excelente, deixando o São Paulo totalmente encurralado” e que “nos primeiros 30 minutos, com o apoio da torcida, o Operário foi todo à frente, trocando passes rápidos e deixando a defesa do São Paulo em pânico”. Mais uma vez observa-se o desprestígio em relação ao posicionamento totalmente defensivo são-paulino, mas sem exagerar em qualquer adjetivação. Depois do gol do Operário, aos 34 minutos do segundo tempo, “o jogo ficou paralisado 5 minutos com o juiz José Carlos Félix dando um jeito de esfriar o Operário para expulsar Everaldo e Estêvão, por troca de pontapés” (grifo deste autor). Assim como na matéria principal da edição anterior, o texto, de certo, modo procura justificar o revés operariano. Naquela ocasião, no Morumbi, com um gol irregular, era até válida a justificativa. Aqui, entretanto, a matéria apela para o sarcasmo em relação ao juiz. O texto julga a paralisação do jogo e as expulsões como desnecessárias, mas se contradiz ao relatar que os jogadores trocaram agressões, o que é motivo óbvio para aplicação do cartão vermelho. O Operário dominou a partida, segundo o Correio do Estado, mas também pecou em desperdiçar diversas chances reais de gol. Nota-se um sentimento de lamentação, de que a equipe operariana poderia alcançar o resultado necessário para chegar à final, em: “Se tivesse marcado pelo menos um gol no primeiro tempo, ante a série de oportunidades que surgiram, talvez o Operário teria chegado aos quatro gols”.


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O texto também tenta defender a equipe operariana ao dizer que “a chuva atrapalhou o sistema de jogo do Operário”, mas, em contrapartida, avalia que as condições climáticas não impediram a “vitória da equipe do Mato Grosso do Sul ontem à noite no Morenão: com esse resultado, o alvi-negro é o terceiro colocado na Copa Brasil, resultado altamente significativo para a nova Capital brasileira. [...] Foi um bom espetáculo” (grifos deste autor). Verifica-se, além disso, a exaltação da terceira colocação, como “altamente significativa” e da vitória por 1 a 0 no último jogo, mesmo eliminado, que “veio premiar todo o trabalho realizado pelo clube [...] em que o Operário provou, mais uma vez, porque chegou às finais do Brasileiro”. Deste modo, a matéria pode ser apontada como positiva.


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O OPERÁRIO NAS PÁGINAS DO DIÁRIO DA SERRA Neste capítulo, serão analisadas 35 matérias45 de 21 edições do Diário da Serra, de

19 de outubro de 1977 a 2 de março de 1978, período que compreende do início ao fim da Copa Brasil de 1977, para examinar, inferir e interpretar como o jornal fez a cobertura do Operário Futebol Clube na disputa da competição nacional. Assim como no capítulo anterior, aqui foi averiguado se as matérias possuem caráter imparcial/neutro, negativo, positivo ou apaixonado em relação ao time operariano. A metodologia utilizada foi a Análise de Conteúdo, com destaque de unidades de registros dos textos que possam ser inferidas e classificadas nas categorias de análise (paixão, positividade, neutralidade/imparcialidade e negatividade). Diferentemente do Correio do Estado, o Diário da Serra não teve um número padrão de páginas diárias no período analisado. Até a edição de 22 de novembro de 1977, o jornal publicava oito páginas, com exceção das terças-feiras, que tinham 10, pelo fato de o periódico não circular na segunda-feira e acumular mais notícias para o dia posterior. Diariamente, o periódico destinava apenas a última página à editoria de Esportes. Quatro edições analisadas tiveram a editoria esportiva ocupando 1/8 (12,5%) do espaço total do jornal. São elas: 19/10/1977 (quarta-feira); 28/10/1977 (sexta-feira); 11/11/1977 (sexta-feira) e 18/11/1977 (sexta-feira). Com 1/10 (10%) do total de páginas, ficaram as edições de 25/10/1977; 08/11/1977 e 22/11/1977, todas de terça-feira. A partir da edição de 24 de novembro de 1977, o jornal passou por uma reestruturação editorial e aumentou seu número de páginas para 16. Até esta edição, apenas uma página era dedicada à cobertura esportiva e, posteriormente, o periódico destinou duas ou até três páginas aos Esportes. A página oito, que era a última do jornal (com exceção das terças-feiras) antes da reestruturação, continuou sendo o ponto central dos Esportes, com matérias expandidas às páginas vizinhas (7 e/ou 9) em edições com maior dedicação à cobertura esportiva. Após a mudança editoria, somente a edição de 24/11/1977 ficou com 1/16 (6,25%) do espaço. Ao todo, 10 edições ficaram com a editoria esportiva preenchendo 2/16 (12,5%) do total de páginas do Diário da Serra. São estas: 02/12/1977 (sexta-feira); 09/12/1977 (sextafeira); 20/12/1977 (terça-feira); 02/02/1978 (quinta-feira); 16/02/1978 (quinta-feira);

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Todas as matérias estão nos anexos deste trabalho. Ver página 188.


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19/02/1978 (sexta-feira); 21/01/1978 (terça-feira); 23/02/1978 (quinta-feira); 26/02/1978 (domingo) e 02/03/1978 (quinta-feira). Apenas três edições abrangeram 3/16 (18,75%) do espaço: 29/11/1977 (terça-feira); 06/12/1977 (quinta-feira) e 28/02/1978 (terça-feira). Dessemelhantemente do Correio do Estado, o Diário da Serra teve um diferencial na cobertura do Operário na Copa Brasil de 1977. Em 2 de fevereiro de 1978, o jornal introduziu na página de Esportes a coluna opinativa “Cadeira Cativa”, assinada diariamente pelo jornalista Silvio Martinez, que tecia comentários após cada partida do clube campo-grandense no campeonato nacional. A coluna surgiu exatamente na primeira edição pós-jogo da terceira e última fase da Copa Brasil. Fica claro, deste modo, que o periódico chateaubriandense investiu mais do que o seu concorrente na cobertura e destaque do representante mato-grossense na competição de maior relevância do país. Por trazer a opinião, os argumentos e os pontos de vista explícitos de Silvio Martinez, a coluna, que ocupava, aproximadamente, 1/8 de página na editoria esportiva, de 2 fevereiro de 1978 a 2 de março de 1978, não foi levada em consideração no processo analítico das matérias deste trabalho. A notícia foi o formato escolhido, dentro do gênero jornalístico informativo, para se aplicar a metodologia da Análise de Conteúdo nos textos. Portanto, por ser uma coluna de opinião e se enquadrar como um formato do gênero opinativo, segundo Marques de Melo (2010), “Cadeira Cativa”, neste estudo, destaca-se apenas como elemento de curiosidade e relevância quanto à particularização da cobertura feita pelo Diário da Serra. Além da coluna opinativa, o jornal também trouxe, na edição de 6 de dezembro de 1977, uma matéria opinativa escrita pelo jornalista Sérgio Oliveira, do periódico carioca O Globo. Intitulado Futebol de 1ª linha, o texto traz as considerações e impressões do repórter do Rio de Janeiro acerca do futebol de Mato Grosso, mais especificamente de Campo Grande. Os comentários são tecidos dois dias após a vitória de 2 a 1 do Operário sobre o Fluminense, tido como um dos times favoritos na competição. A matéria também descreve algumas sugestões do jornalista de como fazer o bom momento futebolístico mato-grossense, exaltado através do Operário, manter-se evidente no cenário nacional por um longo período e, até mesmo, consolidar-se. Mesmo retratando a participação do Operário na Copa Brasil, Futebol de 1ª linha não foi analisada qualitativamente, por se tratar de um texto opinativo, com comentários emitidos por um jornalista de outra cidade e estado.


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3.1 Edição de 19 de outubro de 1977 A edição de 19 de outubro de 1977 do Diário da Serra, quarta-feira, três dias após a estreia do time campo-grandense na Copa Brasil teve, no total, quatro matérias de esportes. Acerca do Operário na Copa Brasil (OFC/CB-77), está Castilho ainda sem time para domingo. Roberto, Alcir e Traira, contundidos, que retrata os preparativos do plantel para o jogo do dia 23 de outubro contra o Grêmio Maringá – PR e os problemas de escalação para o técnico Castilho. Sobre a Copa do Brasil, mas não envolvendo diretamente o alvinegro (Outros/CB-77), o jornal apresenta uma matéria: Dom Bosco e Inter, em busca da reabilitação em Cuiabá, texto produzido em Cuiabá que versa sobre o confronto pelo grupo “A”, que será realizado na capital mato-grossense. As duas matérias restantes abordam assuntos e modalidades esportivas diferentes. Com chamada na capa, a matéria principal da editoria é Castilho ainda sem time para domingo. Roberto, Alcir e Traira contundidos, preenchendo 1/4 da página oito. Seu texto está dividido em três colunas e possui uma pequena foto. Dom Bosco e Inter, em busca de reabilitação em Cuiabá é secundária e abrange 1/8 do espaço, em duas pequenas colunas, sem nenhuma foto. Análise discursiva - Mesmo após um empate na estreia, considerado positivo frente ao então bicampeão brasileiro Internacional, a matéria Castilho ainda sem time para domingo. Roberto, Alcir e Traira contundidos visivelmente aponta para um relato mais cauteloso. Na chamada de capa, Contusões começam a atrapalhar Castilho já deixa um ar de apreensão. O verbo “atrapalhar” alude a um obstáculo, perturbação que impede de alcançar um objetivo. Pode-se dizer que, diante das dificuldades, deve haver confusão e preocupação. Na página da editoria, o título Castilho ainda sem time para domingo. Roberto, Alcir e Traira, contundidos dá a entender que o time entrará desfalcado dos seus principais jogadores contra o Grêmio Maringá – PR, o que pode gerar cautela. Porém, não é que se observa. A matéria é muito mais neutra do que cautelosa e, em determinados momentos, apresenta expectativa pela rápida recuperação dos atletas. Como exemplificado nesta unidade de registro:

Roberto César, Traíra e Alcir são os principais problemas do treinador operariano [...] entregues ao Departamento Médico. [...] Dos três, o que inspira maiores cuidados é Roberto César, que sofreu uma luxação na costela. [...] Já Alcir e Traíra, tudo indica que serão liberados para o apronto, quando Castilho define o time que enfrenta o Maringá, já na esperança de obter um melhor resultado. (DIÁRIO DA SERRA, 19/10/1977, grifo deste autor)


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Em suma, os problemas são apresentados, mas não há também maior preocupação explícita na matéria, muito menos um relato positivo. Tudo está indefinido e o texto deixa isso claro. Portanto, a matéria pode ser identificada como neutra. 3.2 Edição de 25 de outubro de 1977 O Diário da Serra de 25 de outubro de 1977, terça-feira, trouxe quatro matérias de Esportes. Duas relatam o Operário na Copa Brasil (OFC/CB-77): Reforços, tudo é indefinição no Galo, que retrata um período de indecisão nas negociações alvinegras, para reforço do elenco e Operário perde uma e o público começa a abandonar Morenão, que discorre sobre a queda no número de pessoas e, consequentemente, da arrecadação com a venda de ingressos, nos jogos do Operário em Campo Grande. As duas matérias restantes podem ser enquadradas em outros assuntos e modalidades esportivas. Reforços, tudo é indefinição no Galo é a matéria principal da editoria de Esportes, ocupando 1/4 da página, em três colunas de texto e duas fotografias. Além disso, diferentemente de outras matérias analisadas anteriormente, esta apresenta subtítulo/linha-fina. A matéria também tem chamada de capa, sendo o último título destacado na página. As secundárias são Operário perde uma e o público começa a abandonar Morenão e Laércio indeciso entre Cruzeiro e Dom Bosco que, juntas, ocupam um pouco mais de 1/4 da página. Cada uma possui uma fotografia. Análise discursiva - Em Reforços, tudo é indefinição no Galo, o foco é a transferência de jogadores, que chegam como reforços para o plantel alvinegro. Num primeiro momento, a matéria revela a angústia do Operário em buscar soluções imediatas, pois perdera a oportunidade de somar pontos jogando em casa nas duas primeiras rodadas da Copa Brasil. Percebe-se que a indefinição é a principal causa apontada na matéria para o insucesso da equipe: indefinição nas contratações e também quanto ao retorno à titularidade de jogadores contundidos, considerados importantes. Não há afirmações contundentes no texto, tudo está no plano da possibilidade. Além disso, não há elementos suficientes para apontar indícios de tendências, tanto negativa, quanto positiva. Fica evidente que “nem tudo está perdido”, mas “também não há nada ganho”. A matéria, como um todo, é fiel ao trecho de seu título: “tudo é indefinição”. Sobre a incerteza nas transações, destacam-se as unidades de registro: “Irineu Farina [dirigente operariano] lembrou-se de Serginho e Tadeu, ambos do Juventus, sendo que este último, pertence ao Galo e está emprestado ao time paulista até o final do ano. Um contato foi mantido


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com a diretoria juventina, mas nada ficou certo” e “Na parte da tarde, por ocasião da reunião entre membros da diretoria operariana, surgiram os nomes de Xaxá e Bracali, que o Juventus colocou à disposição do Galo. Após quase 3 horas reunidos, os dirigentes deixaram a sede do clube e nada ficou acertado” (grifos deste autor). Sobre a indefinição quanto à preparação do time para o próximo jogo, elenca-se: “Castilho ainda não pensou se fará modificações no próximo jogo do clube, contra o Juventude, de Caxias do Sul. ‘Isso vai depender da recuperação de alguns jogadores que estão contundidos’” e “Hoje haverá treinamentos em dois períodos e amanhã no coletivo apronto, na parte da tarde. Na ocasião, o time será definido pelo técnico alvi-negro, que também não sabe se continua com Zé Luis, no gol” (grifos deste autor). Perante os fragmentos textuais sublinhados, a matéria é evidentemente indeterminada, imprecisa, não pende nem para um relato positivo, nem para um negativo. Logo, pode ser classificada como neutra. Operário perde uma e público começa a abandonar Morenão, por outro lado, é um tanto quanto negativa. A matéria afirma clube campo-grandense está sendo “abandonado” por seu torcedor. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), na época, confirmou que o estado de Mato Grosso (e nisso, ainda se inclui o novo estado de Mato Grosso do Sul, não oficializado) só teria um terceiro representante (Dom Bosco, Operário e mais um) na Copa Brasil de 1978 se o valor das arrecadações nos estádios fosse significativo. Esse outro participante, provavelmente, seria o Comercial. Em cima disto, o texto critica as atuações operarianas nos primeiros jogos e, consequentemente, o valor arrecadado no Morenão, evidente nesta unidade de registro: “Quanto mais o novo Estado necessita de melhores arrecadações, o futebol que o Operário vem apresentando está afastando o público do Morenão”. Nota-se nesta unidade de análise que o texto exagera com o uso do verbo afastar, visto que o clube jogou apenas duas partidas na competição nacional. Afastar significa “tirar do caminho, distanciar, separar” (FERREIRA, 2010, p. 21) e dá entender que o torcedor não sente mais a necessidade de acompanhar o time ao longo do campeonato. Aliás, na matéria não há o uso de fala de torcedores, que comprove esse ponto de vista. Isto é, há uma generalização. A matéria aponta que, no primeiro jogo entre Operário x Internacional, o Morenão foram arrecadados 557 mil cruzeiros e, na segunda partida, na qual o Operário enfrentou o Grêmio Maringá, a renda total foi de 408 mil. Há um exagero, uma negatividade, evidenciada no texto por “sensível baixa”. Esta baixa foi de apenas 26,76% entre o valor da primeira partida comparado com o da segunda, não sendo algo tão significativo a ponto de ser interpretar um “abandono” por parte do torcedor operariano.


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Em outra ocasião, o texto já prevê que no próximo jogo no Morenão, contra o Juventude – RS, a renda será ainda mais baixa, como observa-se nesta unidade de registro: “O Operário caiu bastante de produção, tudo indicando que a renda do próximo jogo do Galo, contra o Juventude, será mais baixa, principalmente levando-se em consideração que o encontro será realizado na quinta-feira, às 21h”. Percebe-se, portanto, que o texto, de certo modo, põe em xeque as motivações e sentimentos do torcedor para continuar indo ao estádio, sem ao menos consultar a opinião de uma fonte. A partida contra o Grêmio Maringá – PR, pela segunda rodada, foi considerada “péssima” pelo jornal e coloca um “peso” nas costas do Operário por não garantir a terceira vaga mato-grossense para o rival Comercial. A todo momento, a matéria reafirma esta situação. Assim, considera-se o texto com uma tendência negativa. 3.3 Edição de 28 de outubro de 1977 Na sexta-feira, 28 de outubro de 1977, um dia após a terceira partida do Operário na Copa Brasil, o Diário da Serra teve, excepcionalmente, a matéria esportiva principal, que relatava a vitória operariana (Galo vence a primeira), escrita inteiramente na capa, sendo a manchete da edição. No total, o jornal publicou duas matérias esportivas: a da capa, já mencionada e Amistosos e empréstimos: Comercial, matéria local na página 8, que aborda a tratativa colorada com outros clubes do país para a realização de partidas amistosas e negociações de jogadores para compor elenco, visando os campeonatos de 1978. Esta entra para a classificação de matérias de outros assuntos e modalidades esportivas, que não envolvem a Copa Brasil. Percebe-se, claramente, a carência de matérias de esportes na editoria especializada, visto que a página destinada a essa cobertura está tomada por cinco anúncios publicitários e quatro comunicados oficiais. A única matéria específica sobre o Operário na Copa Brasil (OFC/CB-77), Galo vence a primeira é, evidentemente, matéria principal e ocupa metade do espaço da capa do diário, com a presença de quatro fotos, que demonstram os principais lances do jogo e duas colunas de texto. Observa-se, também, que esta é a primeira matéria esportiva que possui subtítulo/linha-fina. Análise discursiva - Diante da primeira vitória do Operário contra o Juventude RS, esperava-se, num primeiro momento, um relato minimamente positivo a favor do time da casa, principalmente pelo fato de a matéria estar exclusivamente na capa, o que chama a


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atenção. Surpreendentemente, não foi o que ocorreu. A matéria Galo vence a primeira apresenta pouquíssimos elementos qualificativos para ambas as equipes. O texto substancialmente faz o relato dos lances mais relevantes da partida e demonstra equilíbrio. Não se percebe que a vitória operariana é exaltada na matéria. Pelo contrário, mesmo com o triunfo, nota-se uma ponderação sobre a atuação do time campograndense, que poderia ter obtido um resultado mais satisfatório, como exemplificada nesta unidade de registro: "O Galo poderia até mesmo ter ganho por maior diferença de gols, o que lhe valeria o ponto extra [...] mas em vista do insucesso de sua linha de frente e muito mais pela soberba atuação do goleiro Wandeir, o Juventude conseguiu escapar de uma derrota por placar elástico". Nota-se que, ainda derrotado, o goleiro adversário é elogiado, o que evidencia uma avaliação equilibrada da partida, não pendendo para um relato positivo a favor do Operário, após a esperada primeira vitória na Copa Brasil. A palavra “soberba” foi mais utilizada para expressar o papel do goleiro gaúcho para evitar a derrota por mais gols, do que por pura presunção e arrogância, como o significado literal dá a entender. Por outro lado, o texto salienta que o ataque do Galo não foi bem-sucedido. As críticas não foram poupadas mesmo com a conquista dos dois pontos pela vitória no Morenão. Além disso, o revés gaúcho é, em parte, justificado no texto, como nesta unidade de registro: "Os gaúchos, bastante desfalcados e por isso mesmo considerados presa fácil, chegaram a surpreender pela velocidade e boa postura em campo, conseguindo equilibrar a partida em boa parte e até ameaçando a vitória alvinegra". Constata-se que o texto, portanto, trata a vitória do Operário não mais que um "dever de casa", ao ter mais lances ofensivos e oportunidades de gol ao longo do jogo. Em outras palavras, não houve brilho e maior dedicação, ocasionando um leve desapontamento, expresso no texto. Não há outra forma de classificar a matéria, a não ser neutra. 3.4 Edição de 8 de novembro de 1977 Na terça-feira, 8 de novembro de 1977, o Diário da Serra trouxe quatro textos na editoria esportiva. Uma matéria (Operário consegue os três pontos) analisa o jogo Operário 3 x 1 Dom Bosco – MT, trazendo relatos principais da partida da Copa Brasil (OFC/CB-77). O texto Xaxá e Bracale não vem mais e Tadeu será vendido: 350 mil é específico sobre o Operário (OFC) e aborda a transação de três jogadores. As outras duas matérias remetem a outros assuntos e modalidades esportivas, que não são o foco da análise.


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A matéria Operário consegue os três pontos é principal e possui destaque na capa, ocupando menos de 1/8 de página, com foto. Na página 10, o texto está distribuído em três colunas, que abrange um pouco mais de 1/4 da lauda e sem a presença de fotos. Xaxá e Bracale não vem mais e Tadeu será vendido: 350 mil preenche 1/4 da página e é classificada como matéria secundária, com uma foto adornando o texto. Análise discursiva - A matéria Operário consegue os três pontos foca totalmente na descrição do jogo. O texto apresenta pouquíssimos (quiçá nenhum) indícios de tendências, vai direto ao ponto e apresenta detalhes dos lances mais relevantes da partida. A matéria não arrisca nenhum elogio ou crítica contundente a nenhum jogador, treinador ou sobre a organização tática e empenho da equipe como um todo. O único comentário negativo é em relação ao árbitro, taxado de “irregular”, visto que “num contra-ataque do Dom Bosco, o lateral Escurinho [do Operário] aparou a bola com a mão dentro da área, num pênalti claro na frente do juiz”, que “incrivelmente deixou de assinalar a penalidade máxima”. Por outro lado, o texto afirma que o juiz foi correto ao validar o segundo gol operariano, no qual a bola não chegou a balançar a rede, mas passou da linha da meta. Destacase a unidade de registro: “O árbitro, em cima da jogada, validou o gol sob protesto de todo o time do Dom Bosco”. O fato de mencionar que o árbitro estava bem colocado no momento do lance do gol é um ponto positivo e reflete que a matéria não só o criticou no momento da penalidade “clara” não marcada, mas também fez elogios à validação do segundo tento operariano. A única parte textual que pode indicar uma ligeira inclinação para o Operário é esta: “Confirmando seu favoritismo, o Operário passou facilmente pelo Dom Bosco de Cuiabá por 3 a 1, ontem no Morenão, conquistando três preciosos pontos”. É evidente que a equipe que joga em casa tem um grau de favoritismo. O Dom Bosco, por outro lado, não havia ganhado de ninguém ainda na competição, estando na lanterna da tabela. Nem por isso a matéria deixou de destacar alguns pontos favoráveis ao plantel cuiabano, relatando que a equipe começou “com bastante ímpeto, quase surpreendendo a defensiva campo-grandense logo de cara, somente não abrindo a contagem por falhas do ponteiro direito Gonçalves. O clube cuiabano, todavia, não passou disso”. Em nenhuma ocasião, o texto deixou de evidenciar que o Galo teve mais volume de jogo, dominou as ações e levou mais perigo à meta adversária, podendo até ter ampliado o resultado. O placar de 3 a 1 simplesmente esclarece esta atuação. Duvidava-se inicialmente, numa preconcepção, antes de qualquer leitura mais aprofundada e analítica do texto, que a matéria teria alguns relatos mais favoráveis ao time campo-grandense, principalmente pelo momento político em que se passava Mato Grosso e por


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defrontar uma equipe do norte do estado, numa espécie de “rixa” ideológica e demais divergências. Vale lembrar que, há, aproximadamente, um mês antes, o estado viria a ser dividido em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nenhum relato que remeta ao processo divisionista aconteceu. O texto jornalístico é significativamente balanceado e simples, segue uma linha dentro dos moldes do jornalismo informativo e, por isso, não há como classificá-lo de modo diferente de neutro. 3.5 Edição de 11 de novembro de 1977 Em 11 de novembro de 1977, uma sexta-feira, o Diário da Serra apresentou cinco matérias de Esportes. Dois textos são sobre o Operário e relacionam-se com a Copa Brasil (OFC/CB-77): Operário vence e consegue os três pontos, retratando o que ocorreu no Morenão um dia antes, na vitória operariana sobre o Joinville, de Santa Catarina; Quinto colocado terá 9 pontos, que comenta a projeção matemática do presidente alvinegro Paulo Américo dos Reis para a classificação à próxima fase. Apenas um texto é sobre outro assunto do clube operariano (OFC): Lançada 2ª etapa do Super Galo Milionário, que aborda uma espécie de loteria esportiva voltada ao clube, no qual o benefício é usado em infraestrutura de treinamento e investimentos em jogadores. As outras duas matérias da editoria são sobre outros assuntos e modalidades esportivas. Operário vence e consegue os três pontos é a matéria principal de Esportes. Ela abrange 1/4 da última página, divididas em duas colunas textuais cheias, além de conter uma foto. Ademais, está estampada na capa, ocupando 1/8 do rodapé da página, com uma pequena foto. Quinto colocado terá 9 pontos e Lançada 2ª etapa do Super Galo Milionário são secundárias. Cada uma preenche 1/4 da página e a segunda é ilustrada por uma foto do presidente Paulo Américo. Análise discursiva - Operário vence e consegue os três pontos segue o clássico estilo de matéria pós-jogo, na qual são descritos sucintamente os lances mais relevantes da partida, com ênfase nas jogadas que originaram os gols. O texto não apresenta tendências, não deixa evidente enunciações que possam remeter a um posicionamento favorável ou desfavorável relativo ao alvinegro campo-grandense. É integralmente neutro. De acordo com a matéria, o Galo venceu e “caminha a passos largos para sua classificação na Chave A”, sendo que a vitória sobre os catarinenses lhe valeu “mais três pontos, melhorando ainda mais sua situação no Grupo”. Não se interpreta qualquer indício de


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positividade ou sentimentalismo para ambas as equipes. É tudo simples e básico, o texto vai direto ao ponto. Assim, deve-se considerar esta matéria neutra. Em Quinto colocado terá 9 pontos percebe-se um maior otimismo em relação à classificação operariana para a segunda fase. Porém, a previsão otimista é toda do presidente do clube, Paulo Américo dos Reis, que realiza o acompanhamento matemático do Operário. Todo o discurso assertivo do texto é feito por meio de citação direta do dirigente alvinegro. Como praticamente toda a matéria é construída por meio de falas em aspas, evidencia-se que a matéria é neutra, não há qualquer sinal que especifique um juízo de valor expresso. 3.6 Edição de 18 de novembro de 1977 O Diário da Serra de 18 de novembro de 1977, uma sexta-feira, possui cinco notícias esportivas. Uma matéria diz respeito ao Operário na competição nacional (OFC/CB77): Coritiba mantém tabu, que relata a partida em Curitiba, pela sexta rodada da Copa Brasil. O texto Torcida ajudou e Manga é operariano retrata a definição da contratação do goleiro Manga, sua chegada a Campo Grande e suas primeiras atividades em solo mato-grossense, além de um pequeno histórico de sua carreira até então. Essa é classificada como matéria interna, específica sobre o clube e sem relação com a Copa Brasil (OFC). As outras três matérias de esportes são sobre outros assuntos e modalidades esportivas que não envolvem o Campeonato Brasileiro, nem o Operário. Coritiba mantém tabu é a matéria principal e está escrita inteiramente na capa, não tendo nenhuma correspondência com a página oito, dedicada à cobertura esportiva. Acreditase que esta novidade é devido ao fato de ser a primeira partida do Operário fora de casa, ao qual o leitor procura imediatamente o jornal para se informar no dia seguinte ao jogo. Na capa, a matéria ocupa a metade da folha, possui subtítulo/linha-fina, três fotos no entorno do texto, que ocupa duas colunas. Torcida ajudou e Manga é operariano é secundária e possui chamada na capa. Na editoria, a matéria preenche 1/4 da página, com três colunas e meia de texto e uma fotografia. Análise discursiva - Coritiba mantém tabu descreve a partida entre Coritiba x Operário no estádio Couto Pereira, em Curitiba, de uma forma um tanto quanto desapontada com o resultado final: vitória da equipe paranaense por 1 a 0, no final do jogo. Esse desapontamento é evidenciado pelo fato de o texto explanar que o Operário teve mais chances de sair vitorioso do que o Coritiba, mas não soube aproveitá-las. A derrota não foi justificada pela falta de sorte, mas também por crítica, como destacada nesta unidade de registro: “uma


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falha do bloco defensivo, ao apagar das luzes, impediu que alcançasse pelo menos o empate – muito importante a essa altura do campeonato”. Um superficial sentimento de lamentação é percebido e isso decore da relevância da partida, na casa do adversário, com poucos jogos do fim da primeira fase. O resultado ao final da partida foi avaliado como “um autêntico castigo ao Operário” (grifo deste autor). O verbo castigar é o termo mais acentuado nesta unidade de registro, significando o ato de “causar sofrimento, pena que se inflige a um culpado” (FERREIRA, 2010, p. 147). Com outras palavras, interpreta-se a derrota foi culpa do Operário e se confirma que não foi por falta de sorte. Mesmo criticando de forma não contundente o desperdício das chances apresentadas no decorrer da partida, o texto dá a entender que ainda há esperança quanto à classificação para a próxima frase, contornando a situação presenciada em Curitiba. Destacamse as unidades de análise: “A derrota não complica o posicionamento do Operário na Chave A, pelo menos por enquanto. [...] Teoricamente, a situação do alvinegro campograndense é muito boa e apenas com mais dois pontos a almejada classificação pode ser conquistada pela segunda vez” e “A surpreendente derrota não abala o otimismo do time, que nesse compromisso [em Florianópolis, contra o Avaí] deve consolidar sua vaga no grupo dos vencedores” (grifos deste autor). Com a crítica feita às oportunidades desaproveitadas e, posteriormente, uma amenização do resultado negativo em Curitiba, garantindo um otimismo para as próximas partidas do Operário na Copa Brasil, conclui-se que a matéria é neutra. 3.7 Edição de 22 de novembro de 1977 Na terça-feira, dia 22 de novembro de 1977, o Diário da Serra teve o total de quatro matérias. Sobre o Operário, em específico (OFC), foi produzida a matéria Manga é a dúvida, que especula a escalação do goleiro recém-contratado para sua estreia. O texto Galo precisa de mais 1 ponto para ratificar classificação, que faz uma análise completa da situação dos clubes no grupo A da Copa Brasil e as chances de classificação do clube alvinegro, envolve o Nacional de 77 (OFC/CB-77). Sobre a Copa Brasil, mas não envolvendo a equipe operariana (Outros/CB77), está a matéria Dom Bosco volta à carga, que retrata os pontos fracos da equipe cuiabana e suas pretensões no mercado, mirando alguns jogadores para reforçar o elenco. Por fim, a última matéria é sobre outra modalidade esportiva.


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Manga é a dúvida; e Galo precisa de mais 1 ponto para ratificar classificação praticamente possuem as mesmas características: ambas estão estampadas na capa do jornal, mas nenhuma é manchete; têm o mesmo tamanho e ocupam o mesmo espaço na página 10; e cada uma possui uma foto. A primeira é matéria principal, possui título maior e, consequentemente, com mais destaque. Por sua vez, Galo precisa de mais 1 ponto para ratificar classificação é secundária, junto com Dom Bosco volta à carga, que abrange 1/4 da página esportiva e é ilustrada por uma foto. Análise discursiva - A matéria Galo precisa de mais 1 ponto para ratificar classificação faz uma análise da situação da chave A da Copa Brasil e considera a classificação operariana para a segunda fase como praticamente certa, principalmente após a vitória sobre o Avaí, em solo catarinense. Faltando apenas dois jogos pela frente ainda na fase inicial, o texto afirma que um dos indícios que apontam para a qualificação alvinegra são os retrospectos dos outros times da chave, principalmente quando jogam em seus domínios. A unidade de registro a seguir é um dos poucos elementos encontrados: “A prevalecer o atual comportamento dos times da chave A, onde o favoritismo e o fator campo nem sempre se confirmam, o Operário está tranquilamente classificado à outra fase da Copa Brasil” (grifo deste autor). Entende-se que o relato é dotado de positividade, julgando o time campo-grandense como “tranquilo” quanto à classificação, isto é, numa situação “em que reina a calma, o equilíbrio” (FERREIRA, 2010, p. 749), certo de que avançará. Nota-se também que o texto justifica esta tranquilidade ao subestimar o potencial das equipes em seus respectivos estádios. Outra unidade de significado interessante é:

A situação do representante sulmatogrossense, deve-se ressaltar, é muito boa pois se encontra atrás apenas das maiores forças do grupo, ou seja Internacional, Grêmio e Maringá. E importante: acima dos times do bloco intermediário. [...] Num elenco de tal natureza, a quarta posição assim é honrosa. (DIÁRIO DA SERRA, 22/11/1977, grifos deste autor)

Interpreta-se que há um elogio à situação do time de Campo Grande e se reconhece a inferioridade diante de outros clubes e, por isso, a quarta posição é digna de reconhecimento. Quer dizer, existe um julgamento quanto ao nível técnico operariano, que é neutralizado ao se reconhecer a campanha feita até o momento. O entusiasmo só não se confirma, visto que, em outro momento, a análise matemática da chave A do campeonato nacional é explicada no texto, amenizando esta suposta “tranquilidade” do Operário. Esta unidade de registro nega uma informação previamente apresentada: “Analisando-se friamente a tabela, sob o aspecto puramente matemático, a


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classificação do alvinegro local não pode ser considerada com tanta segurança como a propalada” (grifo deste autor). Mesmo assim, o aspecto matemático não é levado em consideração pela notícia, não há cautela e se percebe uma alguma confiança e garantia quanto à classificação operariana, como nesta unidade de análise:

O Galo campograndense tem lugar mais privilegiado, pois os 11 pontos praticamente garantem a classificação. Além disso, nos dois jogos restantes pode subir mais, uma vez que não trata-se de tarefa muito difícil arrancar ponto (ou pontos) do Caxias em pleno Estádio Centenário, em Caxias do Sul e tão pouco do Grêmio (campeão gaúcho desta temporada) em pleno Estádio Olímpico na cidade de Porto Alegre. (DIÁRIO DA SERRA, 22/11/1977, grifos deste autor)

Compreende-se que haja uma refutação no texto, que ignora o que havia dito anteriormente, ao apontar o Grêmio porto-alegrense como uma das principais forças do grupo e, posteriormente, subestimando seu favoritismo dentro de casa, onde é “fácil de arrancar pontos”. A matéria é claramente a favor do Operário e, deste modo, considerada positiva. 3.8 Edição de 24 de novembro de 1977 O Diário da Serra de quinta-feira, 24 de novembro de 1977, apresentou quatro matérias esportivas. Destas, Manga estreou e Galo classificou-se é a única sobre o Operário Futebol Clube na Copa Brasil (OFC/CB-77), que versa sobre a penúltima partida do alvinegro na primeira fase do campeonato brasileiro, diante do Caxias, de Caxias do Sul – RS. A matéria Com 80 clubes, MT terá 4 vagas, diz respeito à Copa Brasil e sobre as vagas destinadas às equipes mato-grossenses no próximo ano da competição (Outros/CB-77). As duas matérias que restam abordam outros assuntos e modalidades esportivas. Manga estreou e Galo classificou-se é a matéria principal. Esta contém exatamente 1/4 da página, em duas colunas de texto, acompanhada de uma fotografia. Na capa, a matéria é a manchete do dia. Com 80 clubes, MT terá 4 vagas é a matéria secundária e preenche 1/8 de página, sem foto. Análise discursiva - Manga estreou e Galo classificou-se faz um apanhado geral dos melhores momentos da partida em Caxias do Sul, no jogo em que o Operário garantiu a classificação à segunda fase da Copa Brasil. Não há adjetivação que expresse e exalte uma das equipes. Além disso, não fica evidente qualquer espécie de entusiasmo pela qualificação, muito


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menos pela estreia do arqueiro Manga. Tudo é simples e objetivo, o que já se percebe ao ler o título. O mais próximo de uma tendência para o Operário pode ser destacado nestas unidades de registro: “apesar do time de Campo Grande ter demonstrado um melhor futebol, durante boa parte do encontro, somente aos 44 minutos da segunda etapa é que conseguiu ratificar a sua tão sonhada classificação” e “O Operário iniciou o jogo com muita tranquilidade e mesmo sofrendo o primeiro tento aos 3 minutos, através de Paulinho (contra), os comandados de Castilho souberam manter a serenidade e partir em busca do empate” (grifos deste autor). A matéria destaca o bom desempenho operariano ao não se desesperar por estar sempre atrás do placar e buscar o empate, sem adjetivar ou exagerar. Além disso, a penalidade não assinalada a favor do Operário não foi tão contestada no texto, mantendo a neutralidade. Ademais, mesmo com as falhas do goleiro Manga, não se percebe uma crítica mais acentuada, que inferiorize a atuação do recém-contratado. De certa maneira, a matéria é fria, não explana para algo mais detalhado além dos lances de mais destaque na partida. No texto, permeia-se a neutralidade, não deixando vestígios de juízos de valores excessivos, além de ser informativo e simples. Então, pode-se classificá-lo como neutro. 3.9 Edição de 29 de novembro de 1977 Em 29 de novembro de 1977, terça-feira, o Diário da Serra publicou três notícias esportivas. Bota-SP e Flu-RJ em casa. Bota-RJ e CSA fora, os jogos do Operário na semi-final é a matéria principal da edição e a única que está na página oito, a que cotidianamente é exclusiva aos assuntos esportivos. O texto aborda a definição dos próximos confrontos do Operário na segunda fase da Copa Brasil (OFC/CB-77). A matéria está estampada na capa do diário sob o título Conhecendo os próximos adversários, o Galo é recebido com beijos, com uma coluna de chamada e uma foto que ilustra a chegada dos jogadores do Operário ao aeroporto de Campo Grande, após um período de jogos na região Sul do país, ainda pela fase preliminar. Na página oito, tomada por publicidade e informativos da loteria esportiva, a matéria ocupa menos de 1/8 de folha, sem a presença de fotos. A título de curiosidade, nota-se, ainda na página oito, uma nota do prefeito municipal de Campo Grande, Alberto Cubel Brull, congratulando a equipe campo-grandense pela classificação à segunda fase do campeonato nacional e exaltando essa conquista do novo estado de Mato Grosso do Sul, num período fortemente marcado pelo processo de divisão


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estadual. Diante deste cenário político e econômico, percebe-se um entusiasmo e expectativa ainda maior com a qualificação alvinegra, que serve como símbolo para enaltecer o sul de Mato Grosso. Na página 6, está a matéria Federação de mãos dadas com os operarianos, que se apresenta como um texto jornalístico, mas, logo depois, observa-se que é uma matéria de teor publicitário, que exalta a Federação Matogrossense de Desportos pela forma atual da equipe operariana. Ou seja, é uma mensagem publicitária remodelada a um formato jornalístico, que se assemelha a uma matéria e pode ser denominada atualmente de informe publicitário, matéria paga ou publieditorial. Ela foi enquadrada em matéria específica sobre o Operário, sem relação com a Copa Brasil (OFC). Ela ocupa 1/4 da página e possui duas fotos. A matéria da página 10 versa sobre outra modalidade esportiva e não possui relevância para elucidação nesta análise. Análise discursiva - Apenas a matéria Bota-SP e Flu-RJ em casa. Bota-RJ e CSA fora merece destaque para a análise. O texto é objetivo ao traçar o caminho que o Operário terá que seguir nesta altura da competição, após anúncio oficial da CBD, que determinou os confrontos. O texto não apresenta nenhum elemento que possa ser interpretado, para que se julgue uma tendência. Sem delongas, a matéria explicita os clubes adversários, quais jogos serão disputados no estádio Morenão e fora de casa. A única opinião expressa foi a do treinador Carlos Castilho, que avaliou, por meio de entrevista, os próximos adversários que sua equipe terá de enfrentar. Por ser básica e simples, a matéria deve ser classificada como neutra, sem qualquer sensibilidade textual que possa ser interpretada. 3.10 Edição de 2 de dezembro de 1977 Na edição de 2 de dezembro de 1977, sexta-feira, o Diário da Serra apresentou oito matérias. Dom Bosco com novo treinador, quer reabilitação em Curitiba, trata das estratégias do time cuiabano para a reabilitação na Copa Brasil, pelo Turno do Perdedores (Outros/CB77). Sobre o Operário na Copa Brasil (OFC/CB-77), há uma matéria: Deu empate no Morenão, que faz um apanhado geral do que ocorreu no Morenão, no empate sem gols entre Operário e Botafogo, de Ribeirão Preto – SP. No mais, as seis matérias restantes abordam outros assuntos e modalidades esportivas. A matéria principal da editoria é Deu empate no Morenão, que preenche mais de 1/4 da página oito, dividida em cinco colunas textuais, subtítulo/linha-fina contendo três fotos


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no entorno do texto. Ela está estampada na capa, sendo manchete do jornal, com título e subtítulo/linha-fina, utilização de duas fotos e uma coluna de chamada. Dom Bosco com novo treinador, quer reabilitação em Curitiba é matéria secundária e ocupa exatamente 1/8 de lauda, sem foto. Análise discursiva - A matéria Deu empate no Morenão aponta que o Operário não atuou suficientemente bem para ganhar a partida, mas não critica de modo específico e contundente o desempenho dos jogadores ou as escolhas táticas do técnico Castilho, justificando a derrota por falta de sorte, como vê-se no subtítulo: “Operário necessitava da vitória mas por falta de sorte não a conseguiu”. E também por falta de tranquilidade no momento das finalizações, como na seguinte unidade de registro: “O time de Carlos Castilho não conseguiu reeditar sua boa atuação do jogo contra o Grêmio e apesar de diversas chances surgidas, não teve tranquilidade suficiente para abrir o marcador”. O relato, tanto dos principais lances ofensivos e defensivos do Operário, quanto do Botafogo, é consideravelmente equilibrado, neutro e simples, não havendo significativas unidades de registro a se destacar. Nota-se que a matéria é um tanto quanto fria inclusive em fragmentos textuais a que se pode propor alguma interpretação de posicionamento. Observa-se estas unidades de significado: “Esse empate complicou a situação do Operário que não podia pensar nesse resultado dentro de casa, se pretende de fato conquistar uma das três vagas à final da Copa Brasil” e “No domingo o time de Castilho enfrenta o Fluminense e terá de dar tudo para conquistar um resultado melhor, para continuar com chances de classificação”. De fato, é senso comum afirmar que toda equipe mandante tem a pretensão de obter um resultado positivo, principalmente tratando-se de uma competição onde há chances reais de prosseguir às fases finais. Por isso, em Deu empate no Morenão não há o que se interpretar no tocante a tendências nas unidades de registro evidenciadas. A matéria não enaltece nenhum lado, não passa emoção alguma e pode ser classificada como neutra. 3.11 Edição de 6 de dezembro de 1977 Em 6 de dezembro de 1977, quarta-feira, o Diário da Serra veiculou 15 matérias de Esportes. A página sete trouxe quatro notícias. Destas, Mickey sofre fratura mas Serginho retorna, Inter poderá ter Luizinho contra América e Junior pode desfalcar Flamengo abordam times nacionais na Copa Brasil (Outros/CB-77). Além disso, matéria é sobre a Seleção Brasileira, enquadrada em outros assuntos e modalidades esportivas.


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Na página seguinte, Hepatite pode tirar Dito da Copa, versa sobre o Operário Futebol Clube na Copa Brasil (OFC/CB-77), destacando os desfalques para a próxima partida contra o Botafogo, no Rio de Janeiro. Entre eles, o médio volante Dito Cola, diagnosticado com hepatite e que poderia voltar a atuar somente em 1978. Sobre a Copa Brasil (Outros/CB-77), está Bota quer 3 pontos para firmar posição na chave J, que também menciona o alvinegro campo-grandense, mas com foco no relato dos preparativos finais botafoguenses para o jogo do dia seguinte, contra o Galo de Campo Grande. Outras três matérias da página retratam outros assuntos e modalidades esportivas. A página nove ou primeira do caderno 2 é preenchida por quatro matérias sobre o Operário, relacionadas à Copa Brasil de 1977 (OFC/CB-77), todas assinadas por jornalistas, as primeiras observadas até agora. Trata-se de uma espécie de página especial, com a presença de um compilado de sete fotos a capa do segundo caderno e ilustrando-o. A afirmação do futebol de Campo Grande é um texto com a assinatura de Silvio Martinez, que enaltece a campanha da equipe operariana até o momento na competição nacional, com relatos que fogem ao factual. Fase de evolução, assinada por Nilson Pereira, faz um retrato íntimo do vestiário do Fluminense após derrota inesperada para o Galo no Morenão. Reveja o jogo, do repórter Antonio Carlos, é responsável por realizar a descrição da partida que acontecera há dois dias, em 4 de dezembro, com os melhores momentos entre o tricolor carioca e o Operário. A lição de Castilho, com a assinatura de J. A. Sá Maia, é um texto totalmente voltado à apreciação do treinador Castilho e de seu comando técnico-tático a frente do alvinegro campo-grandense. A matéria principal é Hepatite pode tirar Dito da Copa, estampada também na capa do jornal. Além desta, oito matérias foram classificadas como secundárias (Mickey sofre fratura mas Serginho retorna, Inter poderá ter Luizinho contra América, Junior pode desfalcar Flamengo, Bota quer 3 pontos para firmar posição na chave J, A afirmação do futebol de Campo Grande, Fase de evolução, Reveja o jogo e A lição de Castilho). Análise discursiva - A um dia do próximo compromisso contra o Botafogo, no Rio, Hepatite pode tirar Dito da Copa analisa a situação dos jogadores e dos preparativos finais para o jogo. A matéria tende para neutra. O texto, basicamente, preocupa-se somente em detalhar as lesões e condições de jogo dos atletas, apontar quem não jogará a próxima partida por estar suspenso ou machucado. Nada além disto. Não há nenhuma unidade de registro relevante a se destacar. Desta maneira, a matéria pode ser classificada como neutra. A primeira matéria da análise é A afirmação do futebol de Campo Grande, de Silvio Martinez, que rasga elogios à campanha operariana, traçando comentários dotados de adjetivação em excesso, como se fosse um torcedor escrevendo. Destacam-se as unidades de


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registro: 1) “A excelente arrecadação [...] e o futebol de envergadura praticado pelo Operário, não tomando conhecimento dos grandes clubes aqui e fora de seus domínios dão a medida exata do que Campo Grande representa hoje no cenário futebolístico nacional”; 2) “A boa vitória operariana em cima do tricolor carioca [...] veio consagrar a brilhante campanha do representante de Mato Grosso do Sul na atual Copa Brasil”; 3) “O Flu veio crente na conquista de uma vitória em pleno Morenão [...] mas acabou fulminado. Derrotar o Operário em sua casa, alardeia-se intensamente, é uma ‘pedreira’”; 4) “O alvinegro campograndense consolidou, acima de tudo, a posição de liderança no Centro-Oeste” (grifos deste autor). Sem dúvidas, os fragmentos destacados e, principalmente, os termos sublinhados dão a certeza de que o jornalista vê o Operário não só como um clube, mas como um agente capaz de evidenciar Campo Grande no cenário nacional. Percebe-se, ainda, a subestimação em relação aos clubes que vêm jogar no Morenão, onde o jornalista relata ser um ambiente adverso aos oponentes. Observa-se que a matéria faz questão de evidenciar o papel do clube sob uma perspectiva de elemento identitário do estado recém-dividido, capaz de unir a população sulmato-grossense. Tem-se a unidade de análise:

Fato marcante é a confiança depositada pelos sulmatogrossenses em seu representante. O assunto futebol invade todas as áreas, num otimismo notável. Muita gente até então desligada do futebol, agora frequenta o Morenão e incentiva o time. (DIÁRIO DA SERRA, 06/12/1977)

Os elogios não só contemplam o elenco como um todo, mas especifica também o enaltecimento a determinados jogadores, como o arqueiro Manga, tido como símbolo de prestígio na campanha operariana, perceptível em: “Ninguém deixava de reconhecer Manga. O veterano e competente goleiro, dono de uma coleção de significativos títulos, goza de uma admiração fantástica. Ele, deve-se salientar, veio trazer maior atenção ao futebol local” e “Como um dos monstros sagrados do futebol brasileiro, Manga é a mais cara e acertada aquisição campograndense em termos de projeção nacional”. A matéria fecha seu comentário apaixonado a favor do Operário com: “Caso não chegue às finais da Copa, embora seja favorito [...] o alvi-negro pode considerar sua missão cumprida. Campo Grande já desfruta de respeito nacional”. Assim sendo, a matéria é claramente apaixonada, não comensurando elogios à equipe campo-grandense. Em Fase de evolução, o jornalista Nilson Pereira, faz uma revelação acerca do ambiente interno do Fluminense após a derrota para o Operário fora de casa. De acordo com o


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texto, “a derrota [...] deixou dirigentes e jogadores tricolores bastante abatidos, já que não acreditavam em insucesso em Campo Grande”. A matéria foi construída em cima das declarações do presidente do Fluminense, José Lemos, que confidenciou essa informação. O dirigente tricolor reconhece o seu menosprezo ao adversário e, depois, admite a qualidade operariana. O texto é constituído basicamente por citação direta, porém, percebe-se que o jornalista coletou apenas afirmações positivas em relação ao Operário e ao futebol praticado no estado de Mato Grosso, feitas pelo dirigente tricolor. Deste modo, mesmo com o recurso de citação direta, é evidente que o repórter “fala através da fonte”, por meio dos seus comentários positivos. A matéria destaca que a opinião emitida por José Lemos a respeito do desenvolvimento do futebol de Mato Grosso tem um significativo grau de importância. Observa-se a unidade de registro: “Para ele – e isso é muito importante, pois trata-se de dirigente num dos maiores centros do País – o futebol matogrossense encontra-se em franca evolução, devendo ocupar um lugar de destaque no cenário nacional em curto espaço de tempo”. Fica claro que a matéria exalta o papel de José Lemos para o futebol brasileiro e que, de certo modo, este comentar sobre a prática futebolística mato-grossense é uma “honra”. Ou seja, Fase de evolução faz uso constante das falas de uma relevante fonte pessoal para elogiar o Operário e o que este clube representa à ascensão do futebol estadual. Portanto, a matéria pode ser classificada como positiva. A matéria Reveja o jogo, assinada pelo repórter Antonio Carlos, faz uma descrição detalhada dos principais acontecimentos do jogo Operário vs. Fluminense. É a típica matéria pós-jogo, só que com características um pouco diferentes das usuais, como a descrição do cenário pós-jogo, dentro do vestiário de cada e time, além do uso de um “nariz de cera” para contextualizar o ambiente antes da partida. Assim como Hepatite pode tirar Dito da Copa, o texto Reveja o jogo não transmite emoção alguma e, por isso, não apresenta muitos trechos que possam ser interpretados. A matéria é equilibrada, como se percebe na única unidade de registro a que se pode propor alguma análise:

No vestiário do Operário, tudo era alegria, menos para Paulinho e Roberto César, que ficam fora do jogo contra o Botafogo; receberam o terceiro cartão amarelo. No do Fluminense, o nervosismo era geral, principalmente por parte de Francisco Horta, presidente. O dirigente mandou fechar as portas e conversou quase meia hora com todos os jogadores. (DIÁRIO DA SERRA, 06/12/1977)


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Quer dizer, a matéria mostra os dois lados, no ambiente pós-partida. Não foi constatada tendência, sendo considerada uma matéria neutra. A matéria A lição de Castilho, com assinatura do jornalista João Sá Maia (grafado J.A. Sá Maia), exalta a orientação técnico-tática implementada pelo treinador Carlos Castilho, consagrando-o como um dos responsáveis pela ascensão do futebol campo-grandense. Fazendo um resgate histórico entre os principais técnicos que contribuíram para o surgimento e estabelecimento do futebol local, o texto inclui o comandante operariano nesta lista. Destacase a unidade de registro:

Firma-se a figura destacada de Carlos Castilho, como uma das mais importantes conquistas do esporte matogrossense, não apenas pelas inovações táticas nem técnicas que introduziu no moderno futebol operariano, mas, principalmente, pelo trabalho sério e consequente que vem dedicando ao time em que trabalha. (DIÁRIO DA SERRA, 06/12/1977)

O texto também faz questão de ressaltar que o sucesso do Operário na Copa Brasil de 1977 muito se deve ao treinador, capaz de vencer “duelos táticos”, jogando contra as mais importantes e tradicionais equipes brasileiras, como o Fluminense. Como finalização, a matéria rasga elogios à Castilho não só pelo sucesso de um time de futebol, mas por proporcionar a elevação de outras atividades que movimentam Campo Grande. Nota-se a unidade de registro:

Castilho [...] vem fazendo do futebol campograndense uma força de reconhecida projeção nacional, chamando para esta cidade as atenções, em primeiro plano dos desportistas do País, e em segundo plano de toda uma gama de interesses das mais diversas atividades econômicas, turísticas e profissionais. (DIÁRIO DA SERRA, 06/12/1977)

Percebe-se um engrandecimento e entusiasmo em demasia sobre a figura de Castilho. A matéria pode ser considerada, então, positiva. 3.12 Edição de 9 de dezembro de 1977 A edição de 9 de dezembro de 1977, sexta-feira, do Diário da Serra, teve 14 matérias esportivas. Acerca do Operário no campeonato nacional (OFC/CB-77), estão as matérias: Apenas 8 operarianos retornam e evitam falar sobre classificação, que retrata a chegada dos jogadores após jogo no Rio de Janeiro contra o Botafogo; Cuca fez um gol e se tornou herói no Galo, que aborda de modo sucinto a carreira do jogador e o seu momento de destaque vivido na equipe campo-grandense.


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Sobre a Copa do Brasil e retratando outros clubes nessa competição (Outros/CB77), há oito matérias: Zico melhora mas ainda depende de novo teste; São Paulo pode mudar a defesa contra o Inter; Telê espera liberação de Eurico; Barbatana só tem uma dúvida no Atlético-MG; Bahia tem festa da torcida no regresso; Santa Cruz fica sem Lula, já vetado pelos médicos; América-RN reclama, mas está quase desclassificado; Empate deixa Botafogo em situação difícil. As quatro matérias restantes da editoria abordam outros assuntos e modalidades esportivas. A matéria principal da página sete é Zico melhora mas ainda depende de novo teste e ocupa 1/3 da página, com uma foto e três colunas de texto. Já na página oito, Apenas 8 operarianos retornam é o texto principal, preenchendo 1/3 da página, também com uma foto, três colunas textuais e é manchete de capa da edição. Por sua vez, as matérias secundárias são: São Paulo pode mudar a defesa contra o Inter, Telê espera liberação de Eurico, Barbatana só tem uma dúvida no Atlético-MG, Santa Cruz fica sem Lula, Empate deixa Botafogo em situação difícil e Cuca fez um gol e se tornou herói no Galo. A editoria tem como notas Bahia tem festa da torcida no regresso e América-RN reclama, mas está quase desclassificado. Análise discursiva - A matéria principal da editoria, Apenas 8 operarianos retornam, não apresenta enunciados que possam remeter a uma interpretação de teor favorável ou desfavorável à equipe campo-grandense, pois foca pura e simplesmente em informar qual jogadores retornaram a Campo Grande após a partida contra o Botafogo, no Rio de Janeiro, há dois dias. O texto menciona, nome por nome, quem ficou no Rio e quem regressou para a capital sul-mato-grossense. A matéria também relata como foi a chegada dos jogadores no aeroporto e colhe algumas falas de alguns, utilizando o recurso de citação direta em vários momentos no corpo do texto. A única unidade de registro que se pode interpretar uma tendência é: “Irineu Farina e Cláudio Orsi foram os dirigentes que estavam no aeroporto esperando o time. Bastante tranquilidade envolviam os dois dirigentes que estão praticamente certos de uma nova classificação” (grifos deste autor). Percebe-se também considerável cautela ao tratar da classificação para a fase semifinal. A matéria coloca todas as hipóteses e probabilidades de o clube avançar na competição nacional na fala dos jogadores, em aspas, que, de certo modo, pregaram cautela ao comentar a situação do time. A matéria, assim sendo, pode ser classificada como neutra, visto que não há indícios claros de positividade ou negatividade a favor do Operário, muito menos um relato com sentimentalismo e exaltação.


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A matéria secundária Cuca fez um gol e se tornou herói no Galo é voltada exclusivamente ao personagem Cuca, autor do gol que deu o empate ao Operário, na capital carioca, contra o Botafogo no dia 7 de dezembro. O texto é escrito com base nas declarações do meio-campista que, de um modo mais íntimo e sentimental, relata as motivações para ter feito o gol e também a que familiares dedicou este tento. Percebe-se que, para coletar estes relatos, o Diário da Serra acompanhou o jogador ao chegar em Campo Grande, do aeroporto até sua chegada ao centro de treinamento do clube. Ademais, o texto faz uma pequena retomada, analisando desde quando Cuca vem sendo utilizado por Castilho e seu desempenho ao longo das partidas. Há significativas falas em aspas do jogador, que descreve, sucintamente, como foi a sensação de marcar um gol no Maracanã e a importância deste para o progresso da equipe no campeonato. A única unidade de registro a que se pode interpretar alguma tendência é: “Cuca foi recebido como herói no aeroporto na manhã de ontem. [...] Os operarianos o receberam com muito carinho na chegada a Campo Grande”. Classificar o jogador como “herói” é um juízo de valor por parte do texto. É importante salientar que o Diário da Serra voltou-se totalmente a uma cobertura pessoal do jogador Cuca, que deixou transparecer, por meio de citação direta no texto, sua confiança antes da partida contra o Botafogo e, de um modo geral, sua satisfação com o momento pelo qual passava o time, com chances de avançar ainda mais na competição. A matéria é, de certo modo, sensacionalista ao apelar para um relato emotivo do jogador ao evidenciar sua expectativa em entrar em contato, por telefone, com seu pai e cunhado após o término da partida no Maracanã. Destaca-se a unidade de registro: “‘Tenho certeza que eles seguiram o jogo e devem estar bastante emocionados, não vejo a hora de telefonar para São Paulo e falar com eles’, comentou o jovem jogador, herói do dia em Campo Grande” (grifos deste autor). O texto vai além de um relato equilibrado e descritivo da chegada do jogador a Campo Grande, aprofunda ao retratar seu lado íntimo e o trata como “herói”. Portanto, a matéria pode ser considerada positiva, com posicionamento a favorável a Cuca e, consequentemente, ao Operário Futebol Clube. 3.13 Edição de 20 de dezembro de 1977 O Diário da Serra de terça-feira, 20 de dezembro de 1977, foi veiculada com nove matérias sobre assuntos esportivos. Duas matérias apenas discorrem sobre o Operário na Copa Brasil (OFC/CB-77). São elas: Irineu se defende: tudo não passou de fofocas, que retrata o caso de suborno envolvendo o diretor operariano Irineu Farina e o clube Botafogo, de Ribeirão Preto


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– SP; Apenas 10 retornaram, que traz a relação dos jogadores que regressaram à Campo Grande após o jogo em Maceió – AL, contra o Centro Sportivo Alagoano (CSA). Sobre a Copa Brasil, mas sem envolver a equipe campo-grandense (Outros/CB-77), há três matérias: Copa Brasil-77 arrecadou mais de 150 milhões; Classificação do Vitória da Bahia está ameaçada; Fantoni: Vasco pegou o grupo mais difícil. No mais, quatro matérias tratam de outros assuntos e modalidades esportivas. Irineu se defende: tudo não passou de fofocas é a matéria principal da editoria e abrange 1/4 de página, com uma foto e três colunas de texto. A matéria tem um pequeno destaque de capa, com uma coluna de chamada. Os outros textos da edição são todos secundários. Não há notas nem colunas. Análise discursiva - A matéria Irineu se defende: tudo não passou de fofocas aborda a defesa do diretor de futebol do Operário, acusado de suborno junto ao Botafogo de Ribeirão Preto, que envolvia combinação de resultados para favorecer a equipe paulista. Em edições anteriores, o Diário da Serra retratou detalhadamente o caso. Nesta, Irineu se defende: tudo não passou de fofocas somente retrata a chegada do dirigente a Campo Grande, após viagem à Maceió, chefiando o Operário diante do jogo contra o CSA e seu posicionamento diante das acusações. A matéria é equilibrada, imparcial, evidenciando e explicando a acusação em questão e exibindo os argumentos de Irineu Farina, por meio de citação direta. Além disso, a matéria informa que o clube emitirá uma nota oficial esclarecendo o acontecimento. A matéria é neutra. Apenas 10 retornaram cobre a chegada do clube alvinegro em Campo Grande, após vitória sobre o CSA, em Alagoas, por 2 a 0 no dia 18 de dezembro. A matéria anuncia os jogadores que retornaram e relata como foi a recepção dos torcedores, descrevendo o ambiente que tomou conta do aeroporto e quais foram os jogadores mais visados pela torcida. Além disso, há a informação de que os jogadores entrarão em férias e a data prevista de reapresentação para treinamentos, voltados à terceira fase da Copa Brasil. Destacam-se as unidades de registro: “A alegria foi contagiante dos torcedores que procuravam os jogadores para satisfazerem suas alegrias” e “Todos mostravam-se satisfeitos com a conquista do time e alguns no aeroporto, diziam ser realistas e já esperavam isto do clube” (grifos deste autor). Nota-se que as unidades de significado explicam como estava o aeroporto, num clima de euforia, após a vitória que garantiu a classificação operariana à fase final da Copa Brasil. Infere-se que este ambiente de euforia foi criado pela matéria, que não deixa claro o número de torcedores presentes no aeroporto, nem entrevista algum destes para caracterizar


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a satisfação com a vitória em Alagoas. A matéria seria neutra se apenas relatasse que os jogadores chegaram à Campo Grande e que havia um determinado número de torcedores. Os trechos sublinhados “foi contagiante”, “satisfazerem suas alegrias”, “satisfeitos com a conquista”, “ser realistas” e “já esperavam isto do clube” foram afirmações da própria matéria, que descreveu o momento por meio da estratégia discursiva da generalização. Isto é, ela retrata por si só o comportamento dos torcedores operarianos e transmite uma visão generalizada. Logo, o texto pode ser considerado positivo. 3.14 Edição de 2 de fevereiro de 1978 A edição de 2 de fevereiro de 1978, quinta-feira, pós-jogo entre Operário x Santa Cruz, após o recesso de final de ano, foi composta por 14 matérias esportivas. O Operário na Copa Brasil foi mencionado em uma matéria (OFC/CB-77): Operário e Santa Cruz não saíram do empate: 0 x 0 faz o relato narrativo-descritivo da partida no Morenão. Roberto treina para voltar no amistoso em Cuiabá dia 9 trata da volta do atacante operariano aos gramados após um período contundido e Tadeu Macrini já treina no Cruzeiro, que aborda a negociação entre o clube campo-grandense e o mineiro, visando a próxima temporada. Estes dois são textos específicos sobre o cotidiano operariano (OFC). As matérias que abordam a competição nacional, de modo geral (Outros/CB-77), são: Zanata deve jogar contra o Santos. Fantoni pediu; e “Zagalo é o melhor técnico e com ele o Botafogo será campeão brasileiro” As oito matérias restantes são de outros assuntos e modalidades esportivas. A matéria primária da editoria é Operário e Santa não saíram do empate: 0 x 0, que preenche metade da página oito, trazendo cinco fotos e três colunas de texto. Ela é manchete da edição na capa, ocupando também metade da página, com quatro fotos, subtítulo/linha-fina e uma coluna de chamada. Roberto treina para voltar no amistoso em Cuiabá dia 9 e Zanata deve jogar contra o Santos. Fantoni pediu são secundárias. “Cadeira Cativa” é coluna fixa. Análise discursiva – Operário e Santa não saíram do empate: 0 x 0 faz a descrição narrativa do duelo Operário 0 x 0 Santa Cruz, válido pela primeira rodada da fase final da Copa Brasil. É uma matéria que faz os relatos dos principais lances da partida e destaca os jogadores utilizados de ambos os times. O texto demonstra equilíbrio ao relatar as ações das duas equipes de modo igual. Isto fica evidente principalmente na chamada, com destaque para as unidades de registro: “O alvi-negro conseguiu maiores condições de abrir o marcador, mas talvez por falta de sorte não


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o conseguiu, possibilitando ao time pernambucano levar de Campo Grande um ótimo resultado, levando-se em consideração de que jogaram fora de seus domínios”; “Durante todo o tempo de jogo, o Operário foi mais time do que o Santa Cruz. Mas nem por isso, o Santa deixou de levar alguns perigos ao gol defendido por Manga” (grifos deste autor). Nota-se que o Operário dominou as ações do jogo, mas é, de certo modo, coerente, visto que jogava em casa. Em contrapartida, por jogar fora casa, o Santa Cruz levou para o Pernambuco um “ótimo resultado”. A matéria elogia ambas as equipes, sem exageros, de acordo com o que apresentaram na partida. O texto, portanto, pode ser classificado como neutro, por não apresentar juízos de valor que pendem para algum lado. 3.15 Edição de 16 de fevereiro de 1978 Em 16 de fevereiro de 1978, quinta-feira, o Diário da Serra contou com seis matérias esportivas. Uma matéria é sobre o Operário na competição nacional (OFC/CB-77): Operário vence fácil: 5 x 0, que analisa a partida do dia anterior diante da Desportiva Ferroviária, de Vitória – ES; CBD confirma jogo com Remo no Rio, que trata da alteração do local do próximo jogo do Operário contra o paraense Remo é uma matéria que relata especificamente o ponto de vista operariano para a partida e os preparativos (OFC). Há uma matéria que trata da Copa Brasil, envolvendo outros clubes (Outros/CB-77): Torcedores do Remo movem ação popular contra a CBD. As outras duas matérias da editoria tratam de outros assuntos. Operário vence fácil: 5 x 0 é a matéria principal, ocupa, aproximadamente, meia página da página 8, quatro colunas de texto e uma foto que abrange duas colunas. A matéria também tem destaque significativo de capa, bem ao meio da página, com três fotografias e uma coluna de chamada, mas não é manchete. As matérias secundárias são CBD confirma jogo com Remo no Rio e Torcedores do Remo movem ação popular contra a CBD. “Cadeira Cativa” é coluna. Análise discursiva - Com uma goleada de 5 a 0, era de se esperar uma matéria de caráter positivo em relação ao Operário. Por certo, Operário vence fácil: 5 x 0 é positiva, mas não apresenta excessos que possam remeter a um relato mais emocionado. O emprego de “vence fácil”, no título, reconhece o desempenho superior do Operário, em um jogo em que dominou as ações. A matéria se preocupa mais em fazer a descrição dos melhores momentos da partida, evidenciando, principalmente, os lances ofensivos operarianos e as poucas vezes em que a equipe da Desportiva Ferroviária, de Vitória – ES, chegou ao ataque. O texto não


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menosprezou esta por ter sido derrotada por um placar esclarecedor de cinco tentos, mas também não deixa de congratular o clube campo-grandense por tal feito. De acordo com a matéria, “o Operário conseguiu na noite de ontem uma grande vitória sobre a Desportiva [...] que lhe deixa em boa situação na tabela de classificação”. O texto ainda aponta que “a goleada podia ser bem maior”, pois o Galo de Campo Grande “apresentou seu melhor futebol, agressivo, não encontrando dificuldades em chegar ao gol adversário, principalmente pelas pontas, onde Peri e Tadeu tiveram ótimo desempenho” (grifos deste autor). De fato, há elogios ao time como um todo, bem como às atuações individuais de Peri e Tadeu, porém estes enaltecimentos são tímidos, contidos, expressos pelos termos “bem maior”, “grande”, “boa”, “melhor”, “ótimo”. Quanto a uma análise da equipe adversária, o Diário da Serra também exprime com moderação e superficialidade. A matéria destaca que “a Desportiva tentava uma reação, partindo em contra-ataques, mas como não havia conecção (sic) entre a defesa e o ataque, nada dava certo, possibilitando assim o trabalho da defensiva operariana que jogava com tranquilidade” (grifo deste autor). Percebe-se também que em vários momentos, o texto exalta a atuação do goleiro do time capixaba. Vale salientar as unidades de registro: “A goleada podia ser bem maior se não fosse a presença do goleiro Samuel” e “Samuel por diversas ocasiões, salvou seu time de uma maior goleada”. A matéria pode ser considerada como positiva a favor do Operário, devido muito ao resultado em si, entretanto, externando ligeiramente alguns elogios. 3.16 Edição de 19 de fevereiro de 1978 O Diário da Serra, na sexta-feira, 19 de fevereiro de 1978, contou com 10 matérias na editoria esportiva. Duas são sobre a equipe alvinegra campo-grandense, relacionada à Copa Brasil (OFC/CB-77). Para fazer o relato e a narração dos principais lances no pós-jogo de América – RJ 0 x 2 Operário, tem-se a matéria Operário segue firme rumo à final: arrasou o América carioca no Rio. O texto Agora é em Belém evidencia o time que Castilho levará a campo contra o Remo já no dia seguinte, 20 de fevereiro. A matéria Italívio visitou poli-esportiva do Galo retrata especificamente o acompanhamento do senador Italívio Coelho às obras do novo centro de treinamento operariano (OFC). Na página 7, só há matérias sobre outros times e assuntos na Copa Brasil (Outros/CB-77). São as quatro: Londrina pode perder por um gol, mas Vasco joga tudo por 3


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pontos, São Paulo nem precisa vencer Grêmio para ser finalista; Botafogo-RJ tem jogo decisivo; e 4ª vaga: Orione quer decisão amanhã na CBD. As outras três matérias que restaram abordam outros assuntos e modalidades esportivas. A principal matéria da editoria é Operário segue firme rumo à final: arrasou o América carioca no Rio, que possui subtítulo/linha-fina e abrange 1/4 da página 8, com três colunas de texto. A matéria é a manchete do dia e possui a foto de maior destaque da capa. Agora é em Belém; Italívio visitou poli-esportiva do Galo; Londrina pode perder por um gol, mas Vasco joga tudo por 3 pontos; São Paulo nem precisa vencer Grêmio para ser finalista são os textos secundários. Botafogo tem jogo decisivo são notas. Análise discursiva - Preliminarmente, sempre se acredita que uma vitória, principalmente fora de casa, possa apresentar matérias com relatos positivos favoráveis ao time vencedor. Em Operário segue firme rumo à final: arrasou o América carioca no Rio, esta ideia pode até ser confirmada com o que foi expresso no subtítulo da manchete de capa “Ontem no Maracanã [o Operário] arrasou também o América, conquistando 3 pontos” e também com a linha-fina da matéria na editoria “Os operarianos não tomaram conhecimento do adversário no Maracanã” (grifos deste autor). “Arrasou” e “não tomou conhecimento do adversário” são expressões análogas, que, no meio futebolístico, significam que uma equipe foi muito superior ao time adversário, não encontrando complicações para garantir a vitória. Com mesmo sentido, esta ênfase positiva ao desempenho operariano também foi salientada na seguinte unidade de registro:

Um Operário arrasador pôde ser visto ontem [...] quando da brilhante vitória sobre o América do Rio por 2 a 0, conquistando assim, mais três pontos, totalizando sete e partindo assim, decisivamente para a grande finalíssima, já que agora está em excelentes condições de ser campeão do grupo. (DIÁRIO DA SERRA, 19/02/1978, grifos deste autor)

Verifica-se, ainda, na unidade de análise destacada um otimismo por parte do Diário da Serra, que dá, praticamente, o resultado diante do América, do Rio de Janeiro, como decisivo para garantir a presença operariana nas finais da Copa Brasil. Por outro lado, a matéria equilibra seu relato positivo inicial ao criticar o time de modo contundente. Para o jornal,

o time campograndense não apresentou um bom futebol no primeiro tempo. Nesta etapa, mostrava-se irresestivelmente (sic) um pacato clube de futebol, não mostrando a sua força, a rapidez que todos os campograndenses estão acostumados a ver. Diversas falhas foram notadas, principalmente a tática de


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impedimento que não estava sendo bem aplicada pelos operarianos. (DIÁRIO DA SERRA, 19/02/1978, grifos deste autor)

Quanto aos apontamentos críticos individuais, destacam-se: “Peri foi um dos jogadores que perdeu gols feitos, por pura displicença (sic)”; “Tadeu, Marinho e Roberto César erraram três gols feitos num espaço de 5 minutos” (grifos deste autor). Percebe-se, manifestamente, que o texto explicita sua insatisfação e que a vitória por diferença de dois gols não foi suficiente para o que o time poderia apresentar. Não é a primeira vez que se observa críticas feitas ao setor ofensivo da equipe por errar demasiados gols, considerados fáceis. Desta vez, a matéria não titubeou em evidenciar que Peri foi displicente e que Tadeu, Marinho e Roberto César perderam três oportunidades claras de dilatar o marcador. Ademais, a matéria ressalta que “Manga foi responsável por umas três defesas portentosas, salvando seu time do empate, que prejudicaria o clube campograndense” (grifos deste autor). Há elogios ao goleiro operariano que realizou defesas de caráter de portento, isto é, fora do comum, extraordinário e, até mesmo, considerado milagroso, mas também há crítica quando se refere que “salvou” o time do empate, visto que este jogara mal como um todo, apesar do resultado. Por demonstrar equilíbrio em elogios e críticas, a matéria pode ser classificada como neutra. Agora é em Belém é a matéria pré-jogo entre Remo x Operário, em Belém – PA, que traz de modo superficial sobre o embarque do time operariano rumo à capital paraense, as expectativas e a equipe titular definida pelo treinador Carlos Castilho. O texto traz alguns elementos que podem ser identificados como favoráveis ao Operário, com posicionamento mais evidente, como: “Com o futebol apresentado ontem no segundo tempo contra o América, o time de Carlos Castilho já acredita em mais três pontos contra o Remo” e “O time deve chegar nas primeiras horas da manhã à Belém e mesmo sabendo que chegarão cansados, os operarianos não temem a agremiação do Remo” (grifos deste autor). Os termos destacados nas unidades de registro revelam otimismo. No texto, não há fala em aspas dos jogadores ou do técnico operariano. Isto é, a afirmação otimista que “o time já acredita em mais três pontos” e “que não temem” o Remo partiu do próprio jornal, sendo assim uma opinião, juízo de valor. A matéria, desta forma, pode ser classificada como positiva, favorável ao Operário. 3.17 Edição de 21 de fevereiro de 1978 Na edição de 21 de fevereiro de 1978, terça-feira, o Diário da Serra teve sete matérias de Esportes. Operário recorre e deve ganhar os pontos do Remo; Derrota diminui


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chance do Operário aborda exclusivamente o Galo de Campo Grande na Copa Brasil (OFC/CB-77). A primeira traz a denúncia operariana contra o Remo, por ter escalado jogador irregular na partida anterior. A segunda, faz o relato pós-jogo, após a derrota alvinegra em Belém – PA. Os textos Zagalo espera tropeço do Atlético para comemorar; Mais de 200 milhões já foram arrecadados na copa; e Londrina parou para receber os “heróis” são a Copa Brasil num panorama geral (Outros/CB-77). Apenas uma matéria é enquadrada em outros assuntos e modalidades esportivas. Operário recorre e deve ganhar os pontos do Remo é a principal de Esportes, abrangendo, aproximadamente, 1/4 da página 8, sem foto e com duas colunas de texto. Esta também é a matéria manchete na capa, que só possui título e subtítulo/linha-fina, sem a presença de fotos ou chamada. As matérias secundárias são Derrota diminui chance do Operário, Zagalo espera tropeço do Atlético para comemorar, Mais de 200 milhões já foram arrecadados na copa e Londrina parou para receber os “heróis”. Análise discursiva - A matéria principal de Esportes, Operário recorre e deve ganhar os pontos do Remo informa a respeito do recurso operariano enviado ao tribunal esportivo para anular a vitória do Remo por 2 a 0, em Belém – PA, devido à escalação irregular de Mesquita, jogador do time paraense que estava suspenso com três cartões amarelos e entrou em campo. O texto não explicita nenhum posicionamento, sendo substancialmente informativo, direto e explicando o que diz o Artigo 33 do Regulamento do Campeonato Brasileiro de Futebol Profissional da época. Além disso, a matéria traça uma análise simulatória de como ficaria a classificação geral do grupo cinco da Copa Brasil e as chances de o clube campo-grandense se garantir na próxima fase da competição. A matéria não pende nem para o lado operariano, muito menos para o remista, não apresentando também nenhuma unidade de registro que interesse à análise. Considera-se, então, neutra. Derrota diminui chance do Operário, a primeira matéria assinada do Diário da Serra, pelo jornalista Silvio Martinez, sem ser a coluna “Cadeira Cativa”, num primeiro momento, apresenta um relato desesperançoso após a derrota de 2 a 0 para o Remo, expresso em: “Agora, para concretizar esse difícil sonho, terá obrigatoriamente de fazer três pontos em cima do Palmeiras [...] e ainda torcer por um empate entre Santa Cruz e Clube do Remo” (grifo deste autor). O autor trata a classificação à semifinal como um “difícil sonho”, percebendo-se, assim, um certo lado torcedor do jornalista, ao destacar a chegada operariana às fases finais como algo que se almeja com paixão e desejo. De um modo geral, Silvio Martinez critica o nível técnico da partida. Destacam-se as unidades de registro: “O cansaço dos dois times, que jogaram com intervalo inferior a 48


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horas, e a precariedade do gramado [...] foram ingredientes de um jogo tecnicamente muito fraco, com todos se embolando e às vezes mesmo descambando para um corpo a corpo violento” e “Com a chuva, o índice técnico da partida caiu bastante, pois os jogadores logo revelaram todo o cansaço que sentiam e passaram a decidir as disputas na base do corpo a corpo”. Entretanto, nota-se que houve críticas particulares somente para a equipe operariana, que “foi pior que o adversário nos primeiros 45 minutos” e cuja

defesa não começou nada bem. [...] Meio atabalhoada com o gol, a equipe alvi-negra preferiu adotar o jogo cauteloso [...] sendo dominada territorialmente pelo Clube do Remo. Vez por outra arriscava um ataque, porém sem precisão. (DIÁRIO DA SERRA, 21/02/1978, grifos deste autor)

Dentre os principais erros cometidos pela equipe operariana e que não escapou das críticas de Martinez,

a maior foi na tática de impedimento, sempre utilizada por Castilho, em qualquer jogo. Os laterais Paulinho e Escurinho demoravam em demasia e isso resultou em inúmeras jogadas de perigo. [...] E foi justamente numa dessas falhas na tática do impedimento que surgiu o segundo tento do Clube do Remo. (DIÁRIO DA SERRA, 21/02/1978)

Ou seja, o correspondente especial, enviado à Belém, culpa, em partes, a derrota aos laterais do Operário e a uma especificidade tática malsucedida adotada por Castilho. Em contrapartida, a matéria também elogia a atuação de alguns jogadores em particular, que só foram destacados por causa das falhas dos laterais no jogo. Salienta-se a unidade de significado:

Com as falhas dos laterais, os zagueiros Silveira e Biluca e o goleiro Manga passaram a ser bastante exigidos, mostrando muita garra e firmeza. O veterano goleiro foi obrigado a fazer difíceis defesas para evitar a queda de sua meta maior número de vezes. Esta, aliás, foi a sua primeira derrota desde que defende o gol operariano. (DIÁRIO DA SERRA, 21/02/1978, grifo deste autor)

Fica a percepção de que há valorização do goleiro Manga e, de certa forma, uma amenização da culpa pela derrota, ao lembrar que esta foi a primeira derrota do arqueiro com a camisa do Galo e que foi o responsável por a equipe não ter tomado mais gols na capital


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paraense. Este enaltecimento a Manga já foi visto anteriormente em outras edições. Por mostrar superficialidade e balancear as críticas e elogios, a matéria pode ser apontada como neutra. 3.18 Edição de 23 de fevereiro de 1978 Em 23 de fevereiro de 1978, quinta-feira, dia decisivo para a classificação do Operário às semifinais do Nacional, em jogo contra o Palmeiras no Morenão, oito matérias compuseram a editoria esportiva do Diário da Serra. Apenas a matéria Operário pode obter classificação até com vitória de 2 pontos hoje faz a cobertura operariana na competição nacional (OFC/CB-77). Nenhuma matéria abordou a Copa Brasil, envolvendo outros clubes participantes. As seis matérias que sobraram dizem respeito a outros assuntos do futebol e sobre outras modalidades esportivas. Ocupando 1/4 da oitava página do jornal, com subtítulo/linha-fina e uma foto, a matéria Operário pode obter classificação até com vitória de 2 pontos hoje é a principal de Esportes. Ela preenche, inclusive, metade da capa com sua manchete, acompanhada de três fotos e uma pequena chamada. “Cadeira Cativa” é classificada como coluna. Análise discursiva - Em Operário pode obter classificação até com vitória de 2 pontos hoje, há confiança e otimismo quanto à vitória do Operário diante do Palmeiras. Na chamada, na capa, nota-se um princípio de euforia por parte do Diário da Serra, ao afirmar que “com o Operário conseguindo a tão sonhada classificação para a finalíssima da Copa Brasil, Campo Grande pode se tornar em festa” (grifos deste autor). Ainda na manchete do jornal, o término em primeiro lugar do grupo cinco e, consequentemente, a classificação à semifinal é cogitado de modo confiante, já colocando o Operário como o campeão da chave, mesmo havendo outros clubes com chances reais de classificação. A chamada relata que “o título, tão almejado pelo treinador Carlos Castilho, [...] irá lhe dar maior alegria ainda no futebol”. A matéria pré-jogo, além de trazer todas as combinações de resultados possíveis, ponderando até uma classificação do Remo, Santa Cruz e Palmeiras, cria um clima de entusiasmo, esperança e positividade ao afirmar que

os operarianos estão com o objetivo de alcançar três pontos e a torcida promete ajudar o time comparecendo ao Morenão, pois já declararam guerra ao Palmeiras ou a qualquer outro time que aparecer em Campo Grande, já que estão cansados de ver o Operário ser massacrado fora de Campo Grande. (DIÁRIO DA SERRA, 23/02/1978, grifos deste autor)


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Verifica-se, inclusive, um teor de desabafo, exagero e incoerência quanto ao emprego de “guerra ao Palmeiras”, que pode provocar um ambiente mais intenso e descontrolado para a última e decisiva partida da terceira fase da Copa Brasil. Incoerência e exagero porque o Operário não foi “massacrado” jogando fora de seus domínios. O time campograndense havia perdido apenas duas de oito partidas disputadas como visitante, um desempenho significativo, tendo apenas 25% de derrotas. Além disso, jogando fora do Morenão, até o momento, o Operário havia ganhado três partidas e empatado três também. Para o último confronto do grupo 5, o texto arrisca um prognóstico a favor da equipe de Campo Grande ao declarar que “o movimento é intenso em torno do encontro, com muitos torcedores já preparando um outro carnaval, para comemorar a conquista operariana: chegar à grande finalíssima da Copa Brasil” (grifo deste autor). Nenhum torcedor foi entrevistado, não há falas em aspas também de jogadores, dirigentes ou qualquer membro da comissão técnica, considerando-se, assim, um relato que pende a favor do Operário. A matéria deve ser classificada como positiva. 3.19 Edição de 26 de fevereiro de 1978 A edição do primeiro jogo da semifinal da Copa Brasil, em 26 de fevereiro de 1978, domingo, trouxe seis matérias esportivas. Na página 8, matéria Operário a caminho do título traz a declaração e os preparativos finais do técnico Carlos Castilho para a partida no estádio do Morumbi. Numa página especial, a de abertura do Caderno 2, há também uma matéria sobre o Operário na Copa Brasil: São Paulo enfrenta o Operário bastante motivado. Jogo duro, que coloca frente a frente as duas equipes e suas respectivas motivações para a partida de ida da semifinal. Além destas, os textos Pela 1ª vez, clubes do interior disputam finais da Copa Brasil, que especifica o Londrina e o Operário como os clubes interioranos que chegaram ineditamente a uma final de campeonato brasileiro e a trajetória dos quatro times finalistas na competição até chegar a esta fase. Estas três matérias têm relação com o clube campo-grandense no Campeonato Brasileiro (OFC/CB-77). Atlético, o melhor de todos, recebe o Londrina, a sensação aborda outros times na Copa Brasil (Outros/CB-77). Manga: sou o melhor, é um pequeno texto, que retrata a declaração do goleiro Manga após sua não convocação para a seleção brasileira, sendo classificada em outros assuntos e modalidades esportivas. A matéria principal é Operário a caminho do título que ocupa metade do espaço na página 8, com uma foto de Carlos Castilho à beira do gramado e seis colunas de texto. Na capa,


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a matéria é a manchete, que tem duas fotos e toma 1/3 da página, com uma pequena nota de chamada. As outras matérias são todas secundárias, exceto Manga: sou o melhor, que é uma notinha e “Cadeira Cativa”, coluna fixa. Análise discursiva - O texto Operário a caminho do título descreve os momentos antes do embarque do Operário para a capital paulista, descrevendo os últimos treinamentos do elenco e quais foram as opções táticas escolhidas por Carlos Castilho. A matéria é imparcial, não pendendo para um sentimentalismo mesmo diante do jogo mais importante da história do Operário Futebol Clube. O equilíbrio da matéria e seu caráter informativo dão-se, principalmente, pelo uso constante de falas em citação direta. Todo o otimismo e confiança vem dos jogadores e do técnico em suas declarações no texto, entre eles o goleiro Manga, o capitão Paulinho e o técnico Carlos Castilho. Inclusive, uma enquete foi feita com os jogadores para saber qual dos quatro três times (São Paulo, Atlético Mineiro e Londrina) era o mais difícil de se enfrentar numa possível final. O resultado foi exposto na fala dos atletas e ficou decidido que “o time mais temido é o Atlético Mineiro”. Não há qualquer relato que possa ser salientado e classificado como negativo, cauteloso ou positivo. Além do mais, não se notou qualquer prognóstico, vitória antecipada pela matéria. A texto, assim, pode ser classificado como neutro. A matéria Pela 1ª vez, clubes do interior disputam finais da Copa Brasil é totalmente informativa e objetiva. Ela apresenta, em números, como foi a campanha dos quatros clubes que estão na semifinal da Copa Brasil, suas respectivas classificações nos grupos das fases anteriores até chegara à etapa final do campeonato. Além disso, o texto traz quem foram os campeões brasileiros até 1976. A única unidade de registro em que se pode buscar alguma interpretação quanto à tendência é: “Pela primeira vez na história da Copa Brasil, a fase decisiva contará, não só com um clube do Paraná e outro de Mato Grosso, como também do interior como é o caso de Londrina e Operário, ambos finalistas da competição e as grandes zebras” (grifo deste autor). O termo “zebra”, no âmbito futebolístico, significa um resultado inesperado e, nestas circunstâncias, de fato é, visto que Operário e Londrina eram clubes sem tradição alguma no cenário nacional, principalmente por não estarem numa capital até então (Campo Grande ainda era considerada cidade interiorana do estado de Mato Grosso). Logo, não há dúvidas de que a matéria é neutra. Em São Paulo enfrenta o Operário bastante motivado, evidencia-se, particularmente, as campanhas de Operário e São Paulo, adversários de uma das semifinais, destacando como foi o desempenho de cada equipe na terceira e última fase de grupos, demonstrando considerável equilíbrio, ao elogiar ambas as equipes. Sobre o São Paulo, o texto


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diz que “o time do Morumbi cumpriu excelente campanha na fase final, onde venceu com relativa facilidade o grupo 'U'” e que “o São Paulo participa pela terceira vez dos jogos decisivos pelo Campeonato Brasileiro. Depois de tentativas frustradas em 71 e 73, espera conquistar um título que está faltando em sua coleção: Campeão Brasileiro”.

O Operário, por sua vez, nunca figurou como finalista na Copa Brasil e vai representar o futebol de Mato Grosso nesta reta final. A equipe possui jogadores de categoria, como o famoso goleiro Manga, e ainda Silveira, Biluca, Marinho, Everaldo Tadeu e Roberto César. (DIÁRIO DA SERRA, 26/02/1978, grifo deste autor)

Efetivamente, a imparcialidade da matéria é salientada nesta unidade de registro, ao destacar o favoritismo são-paulino, mas, em contrapartida, a motivação operariana: “Não há o que negar o favoritismo do time de Rubens Minelli [São Paulo], mas o Operário, bastante motivado pela condição de finalista, promete jogar de igual para igual e até obter um resultado favorável” (grifos deste autor). O texto ainda afirma que a equipe operariana “está bastante motivada e jogará ofensivamente, a exemplo de outras partidas” (grifos deste autor). Devido ao balanceamento de elogios feitos na apresentação pré-jogo das equipes que vão disputar uma das semifinais, a matéria deve ser enquadrada como neutra. 3.20 Edição de 28 de fevereiro de 1978 O Diário da Serra de terça-feira, 28 de fevereiro de 1978, apresentou 13 matérias esportivas. Três retratam o Operário e estão relacionadas à Copa Brasil (OFC/CB-77): Só quatro gols salvam o Operário no Morenão analisa o que ocorreu no estádio do São Paulo há dois dias e retrata o retorno do plantel alvinegro a Campo Grande; Torcida promete nova festa, como o título já diz, descreve os preparos da festa operariana em Campo Grande e como recepcionaram os jogadores no aeroporto após a derrota e Minelli despreza jogo em CG e já pensa na decisão domingo. A matéria específica sobre o Operário, não envolvendo o Nacional de 77 (OFC), Manga dificilmente acerta, informa a respeito do fim do contrato do goleiro operariano e a sua não renovação com o time campo-grandense para a próxima temporada. Na abertura do Caderno 2, Ingressos mais caros amanhã no Morenão aborda a venda de ingressos, o quanto foi vendido e o público esperado para a partida decisiva. Esta também é exclusivamente sobre o Operário (OFC).


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Cobrindo os outros times da Copa Brasil (Outros/CB-77), o Diário da Serra trouxe cinco matérias: Atlético certo que poderá usar Reinaldo em Londrina; Reinaldo e Serginho ameaçados no Tribunal; Reinaldo é recordista de gols; Torcida recepciona Londrina e não acredita na classificação; e Pelas perspectivas, Atlético e São Paulo devem decidir a Copa, no Mineirão. A matéria principal da editoria de Esportes é Só quatro gols salvam o Operário no Morenão, que ocupa 1/6 de página, na 8, com uma pequena foto e duas colunas de texto. A matéria também tem destaque na capa do jornal, assim como Minelli despreza jogo em CG e já pensa na decisão domingo, mesmo esta última sendo matéria secundária. As outras secundárias são: Atlético certo que poderá usar Reinaldo em Londrina, Reinaldo é recordista de gols, Reinaldo e Serginho ameaçados no Tribunal, Torcida recepciona Londrina e não acredita na classificação, Torcida promete nova festa, Atlético e São Paulo devem decidir a Copa, no Mineirão e Ingressos mais caros amanhã no Morenão. O texto Manga dificilmente acerta é uma nota e “Cadeira Cativa” coluna. Análise discursiva - A matéria Só quatro gols salvam o Operário no Morenão descreve o ambiente operariano pós-jogo, entre jogadores e comissão técnica, após a derrota por 3 a 0 para o São Paulo, no Morumbi, e os preparativos já para o dia seguinte, no jogo de volta da semifinal, no Morenão. A matéria expõe claramente a condição para o Operário passar à final: “Somente uma vitória por diferença de quatro gols salvam o Operário, amanhã”. Tudo é muito simples e direto e a matéria não retrata frustração pela derrota significativa e nem otimismo para a segunda partida. Segundo o texto, “o Operário teve condições de terminar empatado”. E teve mesmo, visto que tomou o primeiro gol já na etapa final da partida, aos 32 minutos. Ou seja, a afirmação tem como base o que ocorreu na partida e não se configura meramente uma opinião, juízo de valor. Dez minutos após tomar o primeiro gol, os operarianos sofreram o segundo, em um lance irregular do ataque são-paulino, em impedimento. Com isso, “os comandados de Castilho se desesperaram e levaram o terceiro, que diminui as chances do clube campograndense de disputar o título”. A matéria mantém a neutralidade, não pendendo para nenhum lado. Já a matéria Minelli despreza jogo em CG e já pensa na decisão domingo aborda o lado são-paulino para o segundo jogo da decisão. O título evidencia que o técnico do São Paulo, Rubens Minelli, despreza o jogo em Campo Grande, mas estas conclusões foram tiradas da própria declaração do treinador em entrevista concedida. Minelli afirma, em citação direta apresentada na matéria, que já pensa no Atlético Mineiro como o seu adversário na final da competição e por isso o texto trata a afirmativa como “desprezo”. O treinador mostra-se


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desinteressado pelo jogo de volta da semifinal nas declarações concedidas. Se o próprio treinador fez questão de evidenciar este ponto de vista do “desprezo” pelo jogo de volta, a matéria não apresenta nenhum posicionamento e pode, assim, ser considerada neutra. O texto secundário Torcida promete nova festa retrata o ponto de vista dos torcedores após a derrota. Percebe-se um leve otimismo para o jogo de volta da semi, ao relatar que “independente do resultado de amanhã contra o São Paulo, os torcedores do Operário já prepararam uma grande festa para homenagear seu clube que na Copa Brasil de 77 conseguiu ficar entre os quatro finalistas e em condições de disputar o título da competição” (grifos deste autor). O Diário da Serra procura noticiar o clima de chegada ao aeroporto dos jogadores, dirigentes e torcida. Esta é a primeira matéria, até agora no processo analítico, a ouvir um torcedor, com sua fala destacada em citação direta no texto, para delinear o que será essa “grande festa” e quais as expectativas para o jogo no Morenão. Segundo a matéria, o apoio da torcida na chegada à Campo Grande “deu maior incentivo aos jogadores e dirigentes para uma boa vitória contra o São Paulo, considerada a revanche” (grifo deste autor). Mesmo com um relato otimista superficial, a matéria preocupa-se mais em descrever e informar a respeito do que se espera para o segundo confronto, do que demonstrar um entusiasmo e supor uma vitória do Operário. O texto, de certo modo, possui uma semelhança com a matéria Apenas 10 retornaram, da edição de 20 de dezembro de 1977. Entretanto, Torcida promete nova festa basicamente, relata o entusiasmo da festa para o clube operariano evidenciando a fala da fonte, diferente do que ocorreu no aeroporto no dia 20 de dezembro, no qual o jornal criou por conta própria o clima de euforia na recepção dos jogadores. Logo, não se interpreta nenhum indício que possa remeter a um posicionamento a favor do Operário. A matéria pode ser classificada como neutra. 3.21 Edição de 2 de março de 1978 A última edição da análise é a de 2 de março de 1978, quinta-feira, um dia após o jogo de volta da semifinal, no Morenão, o mais importante da história operariana. Nesta data, cinco matérias constituíram a editoria esportiva do Diário da Serra. A matéria Operário venceu só de um e é o terceiro do Brasil, que faz as observações da partida no Morenão, é o texto que retrata o Operário Futebol Clube na Copa Brasil (OFC/CB77). Vale destacar também que a página 7 foi dedicada uma galeria de fotos da partida entre Operário x São Paulo, no Morenão. Não há texto, somente sete fotos que preenchem todo o


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espaço. Sobre a Copa Brasil de um modo geral (Outros/CB-77), tem-se os textos: Serginho ainda nega agressão e espera ter a pena reduzida; Da cabine, Minelli viu seu time perder; Ainda invicto, Atlético na final do Copão de 78. Além disso, esta é a primeira, das 21 edições analisadas, que não apresenta matérias sobre outros assuntos e modalidades esportivas. Operário venceu só de um e é o terceiro do Brasil é a matéria principal da editoria. Possui seis colunas, duas fotos pequenas e abrange quase metade da oitava página do periódico. Na capa, a matéria é manchete e ocupa grande espaço, passando de metade da página, acompanhada de seis fotos que ilustram o jogo, além do título de maior destaque visto até agora: “Operário, o terceiro melhor time do Brasil!”. Todas as outras matérias mencionadas são secundárias. Análise discursiva - A manchete de capa Operário venceu só de um e é o terceiro do Brasil demonstra contento e satisfação com a vitória simples por 1 a 0 no jogo de volta da semifinal, contra o São Paulo, e a conquista do terceiro lugar da Copa Brasil, ao estampar em exclamação: “Operário, o terceiro melhor time do Brasil!”. Todavia, a matéria da página oito não demonstra todo esse entusiasmo, mantendo uma certa neutralidade. O texto afirma que “O Operário não conseguiu fazer os quatro gols, mas mesmo assim ficou em terceiro lugar na Copa Brasil” e pronto, não faz questão de salientar o feito de o clube ser o terceiro melhor entre 62 clubes que participaram do Nacional. Pelo que o Operário teria que propor em campo para conseguir a vaga para a final, “o encontro foi emocionante”, com a equipe campo-grandense “fazendo uma grande pressão sobre os sãopaulinos, mas não conseguindo furar o bloqueio defensivo”. O que se percebe de mais saliente na matéria é o rancor com que trata a equipe paulista. Talvez um rancor guardado ainda da primeira partida, no Morumbi, onde dois gols contra o Operário foram mal assinalados pela arbitragem. E, ainda mais, pelo fato do time de São Paulo ter vindo a Campo Grande com uma estratégia totalmente defensiva. Observa-se esta unidade de registro: “Os paulistas irão decidir o título contra o Atlético domingo, mas com pouquíssimas chances, por ser um time fraco e que fora de casa se torna até covarde, e não terá assim, muitas chances domingo” (grifos deste autor). A matéria, que apresenta toda a mágoa pela derrota e repulsa aos são-paulinos, faz um prognóstico, acreditando e até, de certo modo, torcendo para que o Atlético Mineiro seja o campeão brasileiro. O rancor continua no texto, após relatar a confusão entre os jogadores Estevam, do São Paulo e Everaldo, do Operário, que trocaram pontapés. Diante do tumulto que durou quase cinco minutos, a matéria aponta que policiais entraram no gramado para evitar “agressões ao trio [de arbitragem], por parte dos sãopaulinos, que já se acostumaram a praticar o ato” (grifo


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deste autor). Ou seja, o texto atribui grande parte da culpa pelo transtorno aos são-paulinos, considerando-os agressivos e acostumados a serem violentos nas partidas. Em “o então árbitro Luiz Carlos Félix iniciava sua trama, prejudicando sensivelmente o Operário, em faltas vencidas e truncando muito o jogo” vê-se que a matéria também fez críticas ao árbitro, satirizando-o. Com o uso de “sua trama”, de “tramoia”, significando um artifício com propósitos ilícitos, que busca prejudicar alguém, o texto dá a entender que, mais uma vez, os responsáveis pela arbitragem faziam questão de prejudicar o alvinegro campo-grandense ainda, claro, queixando-se do primeiro jogo na capital paulista. A matéria não declara explicitamente seu posicionamento a favor do Operário e muito menos exalta o time por ser o terceiro melhor do país, mas tanto o evidente desapreço pela equipe paulista, quanto as críticas à arbitragem, sugerem que Operário venceu só de um e é o terceiro do Brasil penda para o lado operariano. Portanto, a matéria é positiva. 3.22 Resultados finais da análise Foram analisadas 42 edições, 21 de cada jornal. Juntas, totalizam 498 páginas. A editoria de Esportes esteve em 58 delas, ocupando 11,65% do espaço. O assunto Copa Brasil de 1977 esteve presente em todas edições analisadas, demonstrando, assim, que o campeonato nacional teve relevância de cobertura para ambos os periódicos. O Operário Futebol Clube foi capa em todas as edições (100%) e manchete em 28 edições (66,67%) dos jornais analisados. O Correio do Estado e Diário da Serra veicularam 283 matérias esportivas ao todo, entre as específicas sobre o Operário, sem qualquer relação com a Copa Brasil (OFC46); matérias a respeito da equipe alvinegra campo-grandense relacionadas ao campeonato nacional (OFC/CB-7747); matérias sobre outros clubes e assuntos envolvendo a Copa Brasil (Outros/CB7748) e textos acerca de outros assuntos e modalidades esportivas. Somando-se os dois periódicos, tem-se a média de 6,74 textos de esportes por edição. Entre os dois jornais, a edição do Diário da Serra de 6 de dezembro de 1977 foi a que apresentou mais matérias esportivas durante o período de análise, 14 no total. Das 283 matérias totais, 128 abordaram a Copa Brasil de 1977 (incluindo a ligação com o Operário, outros clubes e assuntos envolvendo a competição: OFC/CB-77 + Outros/CB-

46

Expressão utilizada para se referir às matérias específicas sobre o Operário Futebol Clube (temas internos do clube, sem relação com a Copa Brasil). 47 Expressão utilizada em referência às matérias sobre o Operário Futebol Clube e a relação com a Copa Brasil. 48 Expressão utilizada para se referir às matérias sobre outros clubes nacionais, participantes da Copa Brasil de 1977 e de outras temáticas relacionadas ao campeonato


152

77). Em média, cada edição teve 3,05 matérias sobre a competição. O assunto Copa Brasil foi tema de 45,23% das matérias na editoria de Esportes. Especificamente sobre o Operário Futebol Clube (OFC), os dois jornais publicaram 22 matérias, ficando com 7,78% do espaço na editoria. A média por edição foi de 0,53. A respeito do Galo de Campo Grande e sua participação na Copa Brasil de 1977 (OFC/CB-77), foram encontradas 70 notícias, com média de 1,67 por edição. O Operário na Copa Brasil representou 24,74% das matérias totais da editoria. Além disso, o clube campo-grandense esteve presente em 54,69% das matérias sobre o campeonato brasileiro. O Correio do Estado e Diário da Serra, juntos, publicaram 58 matérias sobre outros clubes e assuntos que envolvem a Copa Brasil (Outros/CB-77), com média de 1,39 entre as notícias esportivas. Ao todo, abrangeu 20,50% do espaço em Esportes. No que se refere a outros temas não associados ao campeonato nacional e que retratam outras modalidades esportivas, os periódicos veicularam 133 textos, com média de 3,17 matérias por edição e 46,99% do espaço entre todos os 283 textos esportivos. Qualitativamente, por meio da Análise de Conteúdo, as 70 matérias que retratam o Operário na Copa Brasil foram analisadas. Vale ressaltar que este estudo objetiva fazer uma análise quanto à subjetividade presente e ao modo que o Correio do Estado e o Diário da Serra abordaram a participação do alvinegro campo-grandense na mais tradicional competição de futebol do país. Em ordem classificatória, as matérias neutras/imparciais foram predominantes e totalizaram 42 (60%), seguidas de positivas, que foram representadas por 21 textos (30%). As negativas foram as terceiras mais prevalecentes e tiveram quatro matérias (5,72%). Por último, ficaram as matérias apaixonadas, com três textos (4,29%). Segue a tabela 4, com os números das matérias analisadas na pesquisa qualitativa: Tabela 4 – Total de matérias analisadas qualitativamente (nos)

Pesquisa qualitativa – Números

Correio do Estado Diário da Serra TOTAL

Apaixonada

Positiva

Neutra/Imparcial

Negativa

TOTAL

2 1 3

12 9 21

18 24 42

3 1 4

35 35 70


153

Abaixo, está a tabela 5, com as porcentagens das matérias analisadas na pesquisa qualitativa: Tabela 5 – Total de matérias analisadas qualitativamente (%)

Pesquisa qualitativa – Porcentagens

Correio do Estado Diário da Serra MÉDIA

Apaixonada

Positiva

Neutra/Imparcial

Negativa

TOTAL

5,72 2,86 4,29

34,29 25,72 30

51,43 68,58 60

8,58 2,86 5,72

100 100 100

3.22.1 Números do Correio do Estado O Correio do Estado teve 21 edições analisadas, de 18 de outubro de 1977 a 2 de março de 1978, que totalizaram 212 páginas. A editoria de Esportes esteve em 21 dessas, preenchendo 9,91% de espaço. Apenas uma página por dia foi dedicada à cobertura esportiva, a última de cada edição, que contou com 10 páginas diárias durante todo o período analisado, com exceção da edição de 26 de fevereiro de 1978, que teve 12. A Copa Brasil de 1977, assim como todas as outras notícias de esportes, foram restringidas somente ao espaço da editoria, a décima e última página. O representante mato-grossense na Copa Brasil de 1977 foi estampado na capa do jornal em todas as edições (100%), sendo que em 17 (80,96%) as matérias foram manchete. Ao todo, foram encontradas 141 matérias esportivas, tendo, em média, 6,72 por edição. As edições de 28 de novembro de 1977 e 20 de fevereiro de 1978 foram as que menos apresentaram matérias, com quatro cada. Com nove, 27 de fevereiro de 1978 foi o dia em que o Correio do Estado mais trouxe notícias esportivas. A Copa Brasil foi responsável por 55 matérias, incluindo matérias sobre o Operário, de outros clubes e assuntos que envolvem o campeonato (OFC/CB-77 + Outros/CB-77) e representou 39,01% dos textos da editoria de Esportes. Cada edição teve, em média, 2,62 matérias sobre o Nacional de 77. Curiosamente, nenhuma edição destoou das demais no número de matérias sobre o campeonato brasileiro. Sobre o Operário, em específico (OFC), o Correio do Estado apresentou 11 matérias, ficando com 7,81% do total. Por edição, o jornal trouxe, em média, 0,53 matéria deste assunto. Por outro lado, relacionando o alvinegro campo-grandense com a Copa Brasil (OFC/CB-77), 35 matérias foram publicadas, representando 24,83% das matérias esportivas. Em média, por edição, houve 1,67 matéria. Importante destacar que o Galo configurou 63,64%


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do total de textos sobre o assunto Copa Brasil de 1977, demonstrando, deste modo, uma valorização e prioridade para com o clube local na competição mais relevante do Brasil. O Correio do Estado veiculou 20 textos sobre outras equipes e conteúdos que possuem relação com a Copa Brasil (Outros/CB-77), tendo 14,19% do espaço entre as matérias de Esportes. Cada edição teve, em média, 0,96. A publicação de notícias a respeito de outros clubes e temas relacionados representou 36,37% da totalidade de matérias sobre a Copa Brasil. A primeira e a última edição do processo analítico (18 de outubro de 1977 e 2 de março de 1978) foram as que mais destacaram este tipo de matéria, com três cada. Os outros assuntos alheios à Copa Brasil e que destacam outras modalidades esportivas foram os mais representados pelo jornal, com 75 matérias ao todo, abrangendo 53,20% do total de matérias trazidas na editoria. Cada edição trouxe, em média, 3,58 textos, aproximadamente, 26,81% a mais que a média de matérias por edição sobre a Copa Brasil. Os dias 24 de novembro de 1977 e 2 de fevereiro de 1978 foram os que mais trouxeram textos sobre esta temática, seis em cada edição. Analisando-se quantativamente, os números desta categoria de matérias são importantes para evidenciar que o Correio do Estado não priorizou a Copa Brasil de 1977, muito menos o Operário, tanto em assuntos internos, quanto relacionado à competição brasileira. Vale salientar que o clube campo-grandense não foi prioridade no que se refere à comparação numérica com as outras matérias. Entretanto, em termos de relevância do texto, a equipe foi sempre destacada na capa e inúmeras vezes como manchete. A tabela 6 traz os números quantitativos da abordagem factual do Correio do Estado: Tabela 6 – Quantidade de matérias na editoria esportiva do Correio do Estado

Análise quantitativa de matérias - Números Correio do Estado Edição OFC 18/10/77 24/10/77 28/10/77 08/11/77 11/11/77 18/11/77 21/11/77 24/11/77 28/11/77 02/12/77 05/12/77

0 0 0 2 1 2 0 0 0 0 0

Abordagem factual – Assuntos/Temas Outros OFC/CB-77 Outros/CB-77 assuntos e esportes 2 3 1 1 1 3 1 1 5 1 1 4 1 1 3 1 0 4 2 1 4 1 1 6 3 0 1 2 2 3 3 0 4

Total 6 5 7 8 6 7 7 8 4 7 7


155

08/12/77 19/12/77 02/02/78 16/02/78 20/02/78 21/02/78 23/02/78 26/02/78 27/02/78 02/03/78 Total de matérias Média

1 1 1 0 0 1 0 0 0 2

1 1 1 1 2 2 3 2 3 1

0 0 0 1 0 2 2 0 1 3

5 5 6 5 2 3 2 3 5 1

7 7 8 7 4 8 7 5 9 7

11

35

20

75

141

0,53

1,67

0,96

3,58

6,72

Pela análise qualitativa, por uma ordem de classificações, as matérias neutras/imparciais predominaram, com o total de 18 (51,43%), seguidas das positivas com 12 textos (34,29%). As negativas foram representadas por três matérias (8,58%) e, por último, ficaram as apaixonadas, com duas matérias (5,72%). Não houve uma ordem cronológica apresentada nitidamente, que possam apontar que o Correio do Estado iniciou a cobertura num contexto e mudou bruscamente no decorrer do campeonato. As matérias são bem distribuídas em suas categorias temáticas do começo ao fim do período analisado. Mesmo apresentando um maior número de matérias neutras/imparciais, o jornal não se estendeu por um longo período em neutralidade/imparcialidade, havendo sempre uma intercalação, principalmente com as matérias positivas. 3.22.2 Números do Diário da Serra De 19 de outubro de 1977 a 2 de março de 1978, foram analisadas 21 edições do Diário da Serra, com o total de 286 páginas. Apenas 37 foram destinadas à editoria de Esportes, ocupando 12,94% do espaço. Diferentemente do Correio do Estado, o Diário da Serra não reservou somente uma página diária à cobertura esportiva do começo ao fim do período analítico. De 19 de outubro de 1977 a 24 de novembro de 1977, apenas uma página era de Esportes e, a partir de 27 de novembro de 1977, o periódico passou a designar duas ou três páginas para este segmento noticioso. Destaca-se também que, desde essa data, o veículo passou por uma reformulação editorial e acrescentou, assim, o dobro de páginas em suas edições diárias. Antes da reestruturação editorial, o jornal possuía oito páginas diárias, salvo às terças-feiras que totalizavam 10 páginas, pelo fato de o veículo não circular às segundas-feiras


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e, desta maneira, acumular notícias para o dia seguinte. Após a modificação, percebida, dentro do período escolhido para a análise, exatamente em 24 de novembro de 1977, o periódico passou a ter 16 páginas. A Copa Brasil de 1977, assim como todas as outras matérias esportivas, foram limitadas ao espaço da editoria, exceto no dia 29 de novembro de 1977, em que uma matéria esportiva teve na página seis do jornal, no caderno Panorama, que retratava em pequenos textos as celebridades e artistas de destaque no cenário campo-grandense. Nesta mesma edição, um texto de Esportes também foi publicado na página 10 (ou segunda página do caderno 2), em meio a anúncios publicitários. Todas as edições (100%) do Diário da Serra tiveram chamada de capa sobre o Operário Futebol Clube na Copa Brasil. As matérias foram manchete em 11 edições (52,39%). No que se refere às matérias, o jornal publicou 142 esportivas. Em média, o periódico trouxe 6,77 matérias por edição. O dia 28 de outubro de 1977 foi o que menos apresentou matérias, com duas no total. Por sua vez, a edição de 6 de dezembro de 1977 teve 14 matérias, apresentando um crescimento de 85,72%. O Diário da Serra veiculou 73 textos sobre a Copa Brasil, abrangendo tanto matérias operarianas, quanto a respeito de outras agremiações e demais assuntos vinculados ao campeonato (OFC/CB-77 + Outros/CB-77). Estas representaram 51,41% do total de matérias de Esportes. Em média, cada edição apresentou 3,48 textos sobre a competição. Destaca-se a edição de 9 de dezembro de 1977, que teve o maior número de matérias sobre a Copa Brasil, com 10 ao todo. Em contrapartida, quatro edições (28/10/1977, 08/11/1977, 18/11/1977 e 29/11/1977) publicaram apenas uma matéria cada. Exclusivamente retratando o Operário, evidenciando-se assuntos internos do clube e desvinculados à Copa Brasil (OFC), 11 matérias foram apresentadas pelo jornal, ocupando 7,75% do total de textos. Cada edição, em média, divulgou 0,53 matéria específica sobre o clube. Em contrapartida, a equipe operariana relacionada à Copa Brasil, teve 35 matérias, o que representou 24,65% do total. Por edição, o Diário da Serra apresentou, em média, 1,67 textos. Salienta-se, ainda, que o clube de Campo Grande foi responsável por 47,95% das matérias dentro do assunto Copa Brasil de 1977. Foram publicadas 38 matérias acerca de outros clubes e temáticas que compreendem a Copa Brasil (Outros/CB-77), ficando com 26,77% do total de matérias esportivas do diário. Em média, foi veiculada em cada edição 1,81 matéria. As notícias sobre outros clubes do país e demais assuntos envolvendo a competição nacional representou 52,06% do total de matérias sobre a Copa Brasil, no geral. A edição de 9 de dezembro de 1977 distinguese das demais, por ser a que apresenta mais matérias sobre esta categoria, com oito no total.


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Fica evidente, portanto, que o Operário Futebol Clube não foi prioridade de cobertura do Diário da Serra quando o assunto tratado era a Copa Brasil. Assim como no Correio do Estado, outros assuntos não relativos à Copa Brasil de 1977, além de diferentes modalidades esportivas, representaram o maior número de matérias da editoria de Esportes nas 21 edições do Diário da Serra analisadas. Ao todo, foram 58 textos, representando 40,85% do total. A cada edição, em média, foram publicadas 2,77 matérias. No veículo dos Diários Associados, a média de matérias de outros assuntos e modalidades esportivas, por edição, é menor do que sobre a Copa Brasil, tendo 20,40% de textos a menos. Assim, evidencia-se que o Diário da Serra privilegiou a cobertura noticiosa a respeito da maior competição futebolística do país. Abaixo, na tabela 7, foram expostos os números quantitativos da abordagem factual feita pelo Diário da Serra: Tabela 7 – Quantidade de matérias na editoria esportiva do Diário da Serra

Análise quantitativa de matérias - Números Diário da Serra Edição OFC 19/10/77 25/10/77 28/10/77 08/11/77 11/11/77 18/11/77 22/11/77 24/11/77 29/11/77 02/12/77 06/12/77 09/12/77 20/12/77 02/02/78 16/02/78 19/02/78 21/02/78 23/02/78 26/02/78 28/02/78 02/03/78 Total de matérias Média

0 0 0 1 1 1 1 0 1 0 0 0 0 2 1 1 0 0 0 2 0

Abordagem factual – Assuntos/Temas Outros OFC/CB-77 Outros/CB-77 assuntos e esportes 1 1 2 2 0 2 1 0 1 1 0 2 2 0 2 1 0 3 1 1 1 1 1 2 1 0 1 1 1 6 5 4 5 2 8 4 2 3 4 1 2 8 1 1 2 2 4 3 2 3 1 1 0 6 3 1 1 3 5 2 1 3 0

Total 4 4 2 4 5 5 4 4 3 8 14 14 9 13 5 10 6 7 5 12 4

11

35

38

58

142

0,53

1,67

1,81

2,77

6,77


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Na parte da análise qualitativa, verifica-se que as matérias neutras/imparciais prevaleceram, totalizando 24 (68,58%) e, posteriormente, as positivas foram as segundas mais representadas, com nove matérias (25,72%). Por fim, ficaram as negativas, com um texto (2,86%) e as matérias apaixonadas, também representadas por uma das matérias (2,86%). Observa-se que as matérias neutras/imparciais ultrapassaram mais de 18% da metade dos textos sobre o Operário na Copa Brasil. Além disso, tiveram diferença de 15 matérias (42,86%) das classificadas como positivas, que ficaram com a segunda melhor posição na ordem classificatória. Dentre as 21 edições analisadas, a primeira matéria positiva surgiu somente na sétima edição da análise (22/11/1977), no nono texto analisado (Galo precisa de mais 1 ponto para ratificar classificação), o que evidencia uma cobertura equilibrada e imparcial do Diário da Serra. A maioria das matérias positivas foi aparecer a partir de 6 de dezembro de 1977, na metade da segunda fase da Copa Brasil, após a vitória do Operário por 2 a 1, diante do Fluminense. Pode-se ressaltar que as matérias têm início em um contexto de neutralidade/imparcialidade, porém, o avanço do Operário na competição faz com que os textos fiquem gradativamente positivos, principalmente entre o segundo jogo da segunda fase (Operário 2 x 1 Fluminense) e a primeira partida da semifinal, contra o São Paulo (São Paulo 3 x 0 Operário).


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CONSIDERAÇÕES FINAIS Realizada a análise de conteúdo e delineado os resultados gerais da pesquisa, podese chegar a determinadas conclusões acerca dos detalhes da cobertura do Correio do Estado e Diário da Serra, os pontos de vista e posicionamentos de cada jornal sobre a participação do Operário na Copa Brasil de 1977. Tanto o Correio do Estado, quanto o Diário da Serra tiveram o mesmo número de matérias tratando do Operário na Copa Brasil, com 35 textos cada. Assim, foi possível compreender exatamente como foi a cobertura de cada um e os posicionamentos, comparandose os dois jornais. Por outro lado, percebe-se que o diário chateaubriandense deu uma dedicação maior ao acompanhamento do representante campo-grandense no campeonato nacional. Isto fica destacado pela entrada da coluna opinativa Cadeira Cativa, assinada por Silvio Martinez, a partir da primeira edição pós-jogo da terceira fase da Copa Brasil, em 2 de fevereiro de 1978. Esta, por sua vez, não foi considerada no processo analítico qualitativo da pesquisa. Dois meses antes, em 6 de dezembro de 1977, o Diário da Serra também trouxe as primeiras matérias assinadas, numa página especial, a de capa do caderno 2. Ao todo, foram seis textos publicados. Todavia, apenas cincos destes foram analisados qualitativamente, visto que a matéria Futebol de 1ª linha possuía caráter opinativo e foi escrita por um jornalista do jornal O Globo, retratando suas percepções a respeito do futebol que vinha sendo desenvolvido em Mato Grosso. Em contrapartida, o Correio do Estado não teve nenhuma matéria assinada, nem coluna opinativa, do início ao fim da Copa Brasil, demonstrando, assim, um menor destaque da cobertura. O assunto Operário na Copa Brasil foi capa em todas as edições, de ambos os jornais. A partir das manchetes, conclui-se que o Correio do Estado deu maior visibilidade a estas matérias, colocando como destaque principal da capa seis matérias a mais (17 a 11, diferença de 28,57%) do que o Diário da Serra. Além disso, o Correio do Estado apresentou maior número de matérias sobre o Operário na Copa Brasil, levando em conta todos os textos jornalísticos sobre a competição (OFC/CB-77 + Outros/CB-77). Dentre as 55 matérias gerais veiculadas acerca do campeonato, 35 foram relativas ao Operário (63,64%). O Diário da Serra priorizou a veiculação de notícias de outros clubes participantes e assuntos em relação a Copa Brasil, com 38 textos. Com três a menos, o Operário teve 35 matérias das 73 (OFC/CB-77 + Outros/CB-77) referentes à competição. Uma das possíveis explicações para a maior quantidade de matérias sobre outros clubes e assuntos na Copa Brasil está no fato de que o jornal dos Diários Associados passou por uma reestruturação editorial,


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incrementando mais páginas de Esportes em suas edições (de uma, foi para três). Em várias edições, percebeu-se que, ao menos, duas das três páginas estavam repletas de matérias nacionais. Ademais, a facilidade de ser fazer cobertura nacional pode ser explicada pela rede de veículos de comunicação dos Diários Associados, além das agências de notícias do grupo, que enviavam notícias de outros clubes do país prontas para veiculação/reprodução. Somando os dois periódicos, o clube campo-grandense teve prevalência em cima das matérias totais da Copa Brasil, pois esteve presente em 54,69% das matérias. Na editoria de Esportes, a Copa Brasil não foi prioridade para o Correio do Estado, que publicou 86 matérias sem qualquer vínculo com a competição (OFC + outros assuntos e modalidades esportivas), enquanto o Campeonato Brasileiro ficou com 55 matérias. Do outro lado, o seu concorrente privilegiou a reportagem acerca desta competição, com 73 matérias frente a 69 a respeito de outros assuntos e outros esportes. No que diz respeito ao teor das matérias, pode-se afirmar que os jornais retrataram a campanha histórica do Operário na Copa Brasil de modo predominantemente equilibrado, neutro e imparcial. Em sua maioria, as matérias do Correio do Estado e Diário da Serra formam classificadas em neutras/imparciais, com 42 (60%) do total de matérias. Ademais, a cobertura neutra/imparcial foi 30% maior do que a positiva, 54,28% a mais do que os textos negativos e 55,71% superior ao relato apaixonado. Infere-se que, mesmo diante do desenvolvimento progressivo do time de Campo Grande, os jornais analisados não se entusiasmaram e deixaram transparecer isto aos textos, numa postura totalmente favorável à equipe alvinegra, já que a maior parte das matérias pós-jogo se preocuparam apenas em descrever e narrar os principais lances da partida. Na comparação, o Diário da Serra foi muito mais neutro e imparcial do que o Correio do Estado (24 x 18 matérias; 68,58% x 5,43). O jornal ainda apresentou uma cobertura menos apaixonada (1 x 2 matérias; 2,86% x 5,72%), positiva (9 x 12 matérias; 25,72% x 34,29%) e negativa (1 x 3 matérias; 2,86% x 8,58%) do que o seu concorrente. Portanto, confirma-se a hipótese, enunciada na introdução, de que o Diário da Serra, por ser um jornal sem vínculos regionais, com uma linha editorial rígida e determinada pelos Diários Associados, diante de sua credibilidade jornalística pelo país, faria um relato noticioso mais neutro, independente e imparcial a respeito do Operário na Copa Brasil. Por outro lado, também se reconhece que o Correio do Estado realizou uma cobertura mais favorável, positiva em relação ao clube campo-grandense, por ter sido criado num contexto interiorano e ter origem mato-grossense. Todavia, esperava-se, hipoteticamente, que o jornal tivesse, ao menos, uma postura positiva, mas sem exageros. Confirmou-se, entretanto, que,


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mesmo que o jornal tenha feito uma reportagem menos neutra/imparcial do que o Diário da Serra, esta também fez prevalecer a neutralidade/imparcialidade. Pode-se afirmar que, em um primeiro momento, o Diário da Serra inicia sua cobertura de modo significativamente neutro/imparcial, de 16 de outubro de 1977 a 6 de dezembro de 1977. Até esta última data, o periódico havia apresentado 10 matérias neutras/imparciais, enquanto as positivas e negativas ficam com uma cada. Interpreta-se que, a partir da vitória do Operário por 2 a 1 frente ao Fluminense (6 de dezembro de 1977), a cobertura começou a trazer notícias com relatos mais positivos, mesmo havendo, ainda, uma predominância da postura de neutralidade/imparcialidade. Inclusive, esta foi a edição que teve um maior número de matérias voltadas à análise qualitativa. Assim sendo, diante da indagação feita na introdução do trabalho, nota-se que o Diário da Serra passou a ter um significativo otimismo, confiança e, inclusive, acreditar na conquista operariana da Copa Brasil, a partir da vitória contra o tricolor carioca no Morenão. Sob outra perspectiva, o Correio do Estado fez uma distribuição considerável das matérias e suas respectivas classificações quanto ao posicionamento adotado. A cobertura do Operário na Copa Brasil mescla edições com matérias neutras/imparciais, negativas e positivas. As duas matérias apaixonadas encontradas concentram-se na reta final da campanha operariana. A primeira foi identificada na edição pós-jogo contra o Palmeiras (23 de fevereiro de 1978). Na ocasião, o Operário derrotou o clube alviverde paulista por 2 a 0. A segunda foi classificada na edição de 26 de fevereiro de 1978, a única analisada no dia do jogo, o primeiro da semifinal contra o São Paulo. Aponta-se, então, que o Correio do Estado percebeu com mais intensidade que o Operário tinha significativas chances de vencer a competição entre o último jogo da terceira fase e o primeiro da semifinal, nos momentos finais da participação operariana. Além de apresentar um maior número de matérias positivas, pode-se concluir que o Correio do Estado demonstrou mais entusiasmo em relação ao avanço do Operário na competição e a possibilidade de título. Isto ficou evidente principalmente em torno da semifinal contra o São Paulo. Em 26 de fevereiro de 1978, dia do jogo de ida, no Estádio do Morumbi, única edição analisada sem ser pós-jogo, o jornal publicou a matéria Uma classificação que representa muito ao futebol de MT, classificada como apaixonada e que define a chegada à semifinal como “consagração definitiva do futebol mato-grossense”, enfatizando o goleiro Manga e o técnico Carlos Castilho como os principais personagens deste feito histórico. Para retratar e caracterizar a campanha operariana, o jornal criou o apelido/alcunha “futebol força”, pelo fato de a equipe enfrentar em pé de igualdade times tradicionais do futebol brasileiro, como


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Internacional (até então bicampeão brasileiro, em 1975 e 1976), Grêmio, Botafogo, Palmeiras e Fluminense. Na edição pós primeiro jogo da semifinal, o Correio do Estado, além de publicar duas matérias neutras/imparciais, trouxe uma matéria positiva (Operário lutou muito, mas não resistiu: 3 a 0). É possível afirmar, então, que o jornal tratou “com orgulho” a caminhada do operário até a semifinal, mesmo tendo perdido por um placar esclarecedor de três gols e, praticamente, ter encerrada sua chance de disputar o título. Por outro lado, percebeu-se que o Diário da Serra não teve o mesmo entusiasmo, sendo que, tanto na edição do dia do jogo, quanto na pós-jogo, fez um relato totalmente neutro. Nesses dois dias, as seis matérias publicadas foram neutras/imparciais. É válido ressaltar também que, mesmo que os jornais tenham feito, de modo geral, uma cobertura neutra/imparcial, não se pode deixar de afirmar que as matérias positivas inevitavelmente surgiriam nas páginas do Diário da Serra e Correio do Estado, visto que estes são jornais mato-grossenses, dirigido a um público leitor de Mato Grosso, principalmente da cidade de Campo Grande. É necessário frisar também que estes jornais, como empresas privadas, possuíam interesses econômicos, são voltados ao lucro, necessitavam vender exemplares diariamente e, por isso, as matéria de caráter positivo apareceriam como forma de atrair consumidores, desejosos a ter notícias de seu representante no campeonato nacional, que avançara às fases seguintes, chegando à semifinal.


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ANEXOS Anexo 1 – Matérias analisadas do Correio do Estado

18/10/1977 - Matérias Contusões podem manter mesmo time contra o Maringá e O empate na estréia foi um bom resultado


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24/10/1977 - Matéria Zé Luis, o herói do Grêmio


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28/10/1977 – Matéria Roberto César dá a vitória ao galo


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08/11/1977 – Matéria Operário faz três pontos em cima do Dom Bosco

11/11/1977 – Matéria Joinville vai à lona. Operário massacra: 2 a 0


170

18/11/1977 – Matéria Operário perde no final: Coritiba, 1 a 0

21/11/1977 – Matéria Castilho elogia a disciplina tática


171

21/11/1977 – Matéria Tadeu marca e classifica o Operário

24/11/1977 – Matéria Operário empata com passe de Manga


172

28/11/1977 – Matéria Operário, o “terremoto” do Olímpico vira o jogo e derruba o Grêmio


173

28/11/1977 – Matérias Castilho: empate foi presente de aniversário e Cronistas elogiam teste do Operário

02/12/1977 – Matéria Manga diz que time não atacou


174

02/12/1977 – Matéria Operário aceita jogo do Botafogo e empata


175

05/12/1977 – Matéria Quebrado recorde de público

05/12/1977 – Matéria Roberto César e Paulinho, os desfalques


176

05/12/1977 – Matéria Peri e Everaldo levam Operário à vitória


177

08/12/1977 – Matéria Gol de Cuca deixa Operário a um passo da final


178

19/12/1977 – Matéria Operário é o campeão do Grupo J: 2 a 0 no CSA


179

02/02/1978 – Matéria Um empate que não estava nos planos do Operário


180

16/02/1978 – Matéria Operário, demolidor, massacra a Desportiva Ferroviária: 5 a zero49

20/02/1978 – Matérias Três pontos hoje podem garantir classificação do Operário e A grande vitória, apesar dos problemas da viagem A matéria já estava “cortada”, com a tarja preta, no acervo do Correio do Estado, devido a um erro ocorrido na fotocopiadora durante o processo de scanner de todo o material disponível para pesquisa e, portanto, não foi recortada e/ou modificada por este autor. 49


181

21/02/1978 – Matéria Operário vai tentar derrotar o Remo no tapetão


182

21/02/1978 – Matéria Derrota deixa time em situação difícil

23/02/1978 – Matéria Bom treino aumenta confiança do time


183

23/02/1978 – Matérias Operário tenta hoje sua consagração definitiva e Um apelo à torcida: incentive seu time


184

26/02/1978 – Matéria “Vamos chegar à final”, garante Castilho


185

26/02/1978 – Matéria Uma classificação que representa muito ao futebol de MT


186

27/02/1978 – Matérias Operário lutou muito, mas não resistiu: 3 a 0 e A chance: vencer de 4 a 0, na quarta


187

27/02/1978 – Matéria A revolta pelo gol impedido

02/03/1978 – Matéria Operário vence de 1 a 0 e fica em terceiro lugar


188

Anexo 2 – Matérias analisadas do Diário da Serra

19/10/1977 – Matéria Castilho ainda sem time para domingo. Roberto, Alcir e Traira, contundidos

25/10/1977 – Matéria Reforços, tudo é indefinição no Galo


189

25/10/1977 – Matéria Operário perde uma e o público começa a abandonar Morenão

28/10/1977 – Matéria Galo vence a primeira50

50

Matéria exposta inteiramente na capa do jornal nesta edição.


190

08/11/1977 – Matéria Operário consegue os três pontos

11/11/1977 – Matéria Operário vence e consegue os três pontos


191

11/11/1977 – Matéria Quinto colocado terá 9 pontos

18/11/1977 – Matéria Coritiba mantém tabu51

51

Matéria exibida inteiramente na capa do periódico.


192

22/11/1977 – Matéria Galo precisa de mais 1 ponto para ratificar classificação


193

24/11/1977 – MatÊria Manga estreou e Galo classificou-se


194

29/11/1977 – Matéria Bota-SP e Flu-RJ em casa. Bota-RJ e CSA fora, os jogos do Operário na semi-final


195

02/12/1977 – Matéria Deu empate no Morenão


196

06/12/1977 – Matéria Hepatite pode tirar Dito da Copa

06/12/1977 – Matéria A lição de Castilho


197

06/12/1977 – Matéria A afirmação do futebol de Campo Grande

06/12/1977 – Matéria Reveja o jogo


198

06/12/1977 – Matéria Fase de evolução

09/12/1977 – Matéria Apenas 8 operarianos retornam e evitam falar sobre classificação


199

09/12/1977 – Matéria Cuca fez um gol e se tornou herói no Galo


200

20/12/1977 – Matéria Irineu se defende: tudo não passou de fofocas


201

20/12/1977 – MatÊria Apenas 10 retornaram


202

02/02/1978 – Matéria Operário e Santa Cruz não saíram do empate: 0 x 0


203

16/02/1978 – Matéria Operário vence fácil: 5 x 0


204

19/02/1978 – Matéria Operário segue firme rumo à final. Arrasou o América carioca no Rio

19/02/1978 – Matéria Agora é em Belém


205

21/02/1978 – Matéria Operário recorre e deve ganhar os pontos do Remo


206

21/02/1978 – Matéria Derrota diminui chance do Operário


207

23/02/1978 – Matéria Operário pode obter classificação até com vitória de 2 pontos hoje


208

26/02/1978 – Matéria Operário a caminho do título

26/02/1978 – Matéria Pela 1ª vez, clubes do interior disputam finais da Copa Brasil


209

26/02/1978 – Matéria São Paulo enfrenta o Operário bastante motivado. Jogo duro

28/02/1978 – Matéria Só quatro gols salvam o Operário no Morenão


210

28/02/1978 – Matéria Minelli despreza jogo em CG e já pensa na decisão domingo

28/02/1978 – Matéria Torcida promete nova festa


211

02/03/1978 – Matéria Operário venceu só de um e é o terceiro do Brasil


212

Anexo 3 – Matérias especiais

02/02/1978 – Coluna “Cadeira Cativa” 1 – Diário da Serra

16/02/1978 – Coluna “Cadeira Cativa” 2 – Diário da Serra


213

19/02/1978 – Coluna “Cadeira Cativa” 3 – Diário da Serra

21/02/1978 – Coluna “Cadeira Cativa” 4 – Diário da Serra


214

23/02/1978 – Coluna “Cadeira Cativa” 5 – Diário da Serra

26/02/1978 – Coluna “Cadeira Cativa” 6 – Diário da Serra


215

28/02/1978 – Coluna “Cadeira Cativa” 7 – Diário da Serra

02/03/1978 – Coluna “Cadeira Cativa” 8 – Diário da Serra


216

06/12/1977 – Matéria opinativa Futebol de 1ª linha, de Sérgio Oliveira (O Globo) – Diário da Serra

29/11/1977 – Matéria em caráter de informe publicitário sobre a FMD – Diário da Serra


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