Nas ondas da história

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

NAS ONDAS DA HISTÓRIA:

Rádios de Campo Grande, Vozes de memórias

Michel Lorãn Ribeiro Amaral

Campo Grande Novembro/2014


Michel Lorãn Ribeiro Amaral

NAS ONDAS DA HISTÓRIA: Rádios de Campo Grande, Vozes de memórias

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social habilitação Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientador(a): Profª Drª Daniela Cristiane Ota

UFMS Campo Grande Novembro/2014


Página destinada ao PARECER da banca avaliadora, que documentará a nota final da disciplina. O(a/s) aluno(a/s) e os membros da Banca assinarão após tomarem conhecimento do Parecer (aprovação, reprovação, recomendações, etc.)


SUMÁRIO

Resumo ......................................................................................................................... 05 1 - Alterações no plano de trabalho ............................................................................... 06 2 – Atividades desenvolvidas .........................................................................................07 3 - Suportes teóricos adotados ...................................................................................... 11 3.1 – Rádios de Campo Grande ….................................................................................14 3.2 – Linguagem e Prática Radiofônica …..................................................................... 17 3.3 – Documentário ….................................................................................................... 18 3.4 – Memória …............................................................................................................ 18 4 - Objetivos alcançados .............................................................................................. 22 5 - Dificuldades encontradas......................................................................................... 23 6 - Despesas (orçamento) ............................................................................................ 24 7 - Conclusões ............................................................................................................. 25 8 - Apêndices ................................................................................................................. 28


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RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo retratar a história de importantes locutores de Campo Grande. Para isso foi realizado um radiodocumentário com entrevistas dos personagens da radiodifusão local. Selecionou-se um personagem da comunicação rural, um do entretenimento e um do radialismo esportivo. Para discorrer sobre os aspectos técnicos e teóricos da produção radiofônica, utiliza-se da classificação de gêneros e formatos de Barbosa Filho (2009), da característica da linguagem radiofônica de Balsebre (2005), de memória social da Eclea Bosi (2003) e por fim das referências da história do rádio no Brasil e no mundo de Prado (2013) e Ferraretto (2001). Outro ponto que também será mencionado nesse trabalho é o processo de migração das rádios AM para FM, e como isso afetará a audiência dos programas locais, segundo os radialistas entrevistados. PALAVRAS-CHAVE: Radiodocumentário, História e memória, locutores, Campo Grande-MS


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1- ALTERAÇÕES DO PLANO DE TRABALHO O Trabalho de Conclusão de Curso que planejei desde o início da graduação teve que ser alterado. Originalmente, produziria um radiodocumentário na cidade de Corumbá–MS, distante 444km de Campo Grande. Devido a falta de tempo hábil e o pouco capital disponível foi necessário alterar a ideia original. Nesse meio tempo, percebi que deveria partir para uma outra proposta de TCC. Foi então que após duas reuniões com minha orientadora, decidi que faria um trabalho semelhante ao que faria em Corumbá, mas com radialistas de Campo Grande. Em relação ao projeto, durante a prática da pesquisa, percebeu-se que não haveria tempo hábil para catalogar e contar a história dos programas mais antigos no ar, visto que só as rádios são mais de quinze. Conciliar a produção do radiodocumentário com o estágio foi um desafio. Com o decorrer das produções das entrevistas, dois personagens não se dispuseram a participar do projeto, sendo obrigado a reduzir para três o total de entrevistados.


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2- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 2.1 Período Preparatório: Foram feitas reuniões de orientações, trocas de e-mails com orientadora e discussões com colegas de graduação para explorar o que já existia sobre a história do rádio em Campo Grande-MS. Uma das principais preocupações durante esse período, foi descobrir de maneira pessoal a importância de tal projeto para a sociedade, visto que eu tinha interesse em produzir um material que tivesse utilidade e ajudasse no resgate história dos programas e dos locutores que ajudaram a construir a história do rádio em Campo Grande

2.2 Execução: Primeiro buscou-se estabelecer uma revisão bibliográfica que pudesse ser usada para orientar teoricamente a produção do trabalho. Feito isso, foi necessária uma leitura das obras para embasar a pesquisa. Foram feitas diversas visitas à biblioteca, seguindo a lista de leituras recomendadas pela orientadora, assim como uma intensa pesquisa de artigos científicos sobre os temas tratados. Foram realizados contatos telefônicos com as rádios para pesquisar se haveriam personagens dispostos a serem entrevistados. Nesse momento, percebeu-se que coincidentemente, a maior parte dos personagens se encontravam em uma mesma empresa, a Cultura AM. Em uma reunião informal com a responsável pela rádio, a responsável pelas finanças da empresa, Leila Mendes ficou entusiasmada com a proposta do trabalho, e me apresentou três locutores que poderiam me servir como personagens para o produto final: Vanderley Lopes, Júlio Marcos (Brejinho) e Marcelo Nunes. Em outra oportunidade, fui apresentado ao locutor Reinaldo Ayala que também aceitou participar do resgate histórico. No dia 06 de setembro visitei a rádio Cultura AM e conversei com o radialista Vanderley Lopes. Dois dias depois, entrevistei o radialista Reinaldo Ayala. Ambos no estúdio da empresa, descartando a necessidade de repetir as entrevistas caso os aúdios estivessem prejudicados por ruídos externos. O instrumento usado para captar


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as sonoras foi o aplicativo de celular PCM Recorder, para sistema operacional Android, e que está disponível para download gratuito na Google Store. Essas duas entrevistas foram realizadas, e em seguida os processos de decupagem e transcrição, com o auxílio do site Otranscribe (www.otranscribe.com), separando cada pergunta e resposta feita aos entrevistados. No dia 28 de setembro, após duas reuniões desmarcadas, entrevistei meu último personagem, o radialista Marcelo Nunes. Essa entrevista foi realizada em um estabelecimento comercial próximo a casa do personagem já que o mesmo tinha pouco tempo disponível para me atender. Os ruídos externos podem ter prejudicado as sonoras, mas o conteúdo não poderia ser dispensado. Após entrevistá-lo, decupei a entrevista e separei também em perguntas e respostas que me facilitariam a produção do roteiro. Parte da transcrição da entrevista de Marcelo Nunes foi feita com a colaboração de Thiago Penegondi. Terminada a decupagem e transcrição das entrevistas, comecei a pensar nas possibilidades de roteiro para o radiodocumentário. Consultei a homeroteca do curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFMS, e encontrei o trabalho de conclusão de curso dos jornalistas Maxuel Locatelli, Neusa Oliveira e Rafael Cogo “No ar: a tradição dos programas radiofônicos em Campo Grande (2006)”. Como os três personagens possuíam histórias ricas na sintonia AM, optei por contar a história resgatando a proximidade entre o locutor e o ouvinte dessa modalidade. Apresentei o roteiro a minha orientadora, e ela aprovou o projeto. O passo seguinte foi gravar os offs que complementariam as histórias. Como no projeto eu criei um personagem chamado “Rádio”, eu necessitava diferenciar esse personagem através de uma voz desconhecida. Então convidei técnico administrativo da UFMS, Agnaldo Cardoso Nunes, para fazer o personagem. Ele aceitou a proposta e gravamos todos os off's e participações do roteiro nos dias 22 de outubro, sendo necessário acrescentar alguns trechos ao roteiro e gravar no dia 29 de outubro. As escolhas de trilhas, vinhetas e jingles foi decidida por meio de músicas que fizeram parte da minha infância e que me remeteram a influência do programa “Alô,


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Pantanal” da rádio Difusora de Corumbá-MS, a qual cresci ouvindo todos os dias na hora do almoço. Para a edição do radiodocumentário, optei pelos programas SoundForge Pro 10.0 para editar as sonoras e o Sony Vegas Pro 11.0 para finalizar e renderizar o produto. Ao finalizar o produto, percebi que o objetivo de criar um radiodocumentário contando um pouco da rica história das emissoras de rádio de Campo Grande foi alcançado. Entretanto acredito que o projeto serviu como um piloto e em um segundo momento, estenderei o número de personagens entrevistados, criando a possibilidade de produzir uma série com a mesma temática. 2.3 Revisão Bibliográfica: Para discorrer sobre os aspectos técnicos e teóricos da produção radiofônica, utilizou-se da classificação de gêneros e formatos de Barbosa Filho (2009), da característica da linguagem radiofônica de Balsebre (2005), de memória social da Eclea Bosi (2003) e por fim das referências da história do rádio no Brasil e no mundo de Prado (2013) e Ferraretto (2001), entre outros conforme citados abaixo:

2.3.1 Livros ABADIA, J. M. Introducción a la tecnología audivisual/Televisión, vídeo, radio. 5. edición. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1995. ARNHEIM, R. O diferencial da cegueira: estar além dos limites dos corpos. In: MEDITSCH, E. Teorias do Rádio – Textos e Contextos. Florianópolis: Insular, 2005. BALSEBRE, A. A linguagem radiofônica. In: MEDITSCH, E. Teorias do Rádio – Textos e Contextos. Florianópolis: Insular, 2005. BARBOSA FILHO, A. Gêneros Radiofônicos. Os formatos e os programas em áudio. São Paulo: Paulinas, 2003. BOSI, E. O Tempo Vivo na Memória: Ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. BRAGA, E. A Constituição Social da Memória: Uma perspectiva histórico-cultural.


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Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2000. CÔRREA, Miguel Angelo. PRI-7: Achegas para uma historiografia do rádio no CentroOeste. In: 2º Simpósio Brasileiro de Radiojornalismo, 2014, Campo Grande. Campo Grande: UFMS, 2014. DEL BIANCO, Nélia R. O Tambor Tribal de McLuhan. Universidade de Brasília. FERRARETTO, L. Rádio – O Veículo, A História e A Técnica. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto, 2000. HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990. MOREIRA, S. Nikola Tesla, o inventor no ambiente de criação da transmissão sem fio. In: MEDITSCH, E. Teorias do Rádio – Textos e Contextos. Florianópolis: Insular, 2005. PRADO, Emilio Estrutura da Informação Radiofônica. São Paulo: Editora Summus Editorial, 1989. PRADO, M. História do rádio no Brasil. São Paulo: Editora Da Boa Prosa, 2012. PRATA, N. Charaudeau e o discurso radiofônico. IN: MEDITSCH, E. Teorias do Rádio – Textos e Contextos. Florianópolis: Insular, 2005. RODRIGUES FILHO, L.C. Cinejardim: memória e patrimônio. Trabalho de Conclusão de Curso. Bacharelado em Comunicação Social - Jornalismo. Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande: UFMS, 2013. TAVARES, Mariza Manual de Redação CBN. São Paulo: Editora Globo, 2011.


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3- SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS Conhecer a história do rádio em Campo Grande é entender o desenvolvimento midiático e cultural da cidade e de que maneira os eventos e avanços de conteúdo e tecnologias no país afetaram o modo de produzir e consumir a informação radiofônica localmente. Num primeiro momento, é necessário trazer a historiografia do rádio como veiculo de comunicação de massa eletrônico e como tecnologia no Brasil, perpassando pelos registros já estabelecidos por Ferrareto (2000), que trabalha os aspectos mais técnicos e cronológicos desta história, e em Prado (2012) que prefere contar essa história a partir de uma perspectiva mais afetiva e cultural, baseada na experiência e entrevistas com os principais locutores de cada estado brasileiro. A partir de então há o interesse em tratar dos elementos formadores da prática do rádio como meio de comunicação e linguagem. O rádio é tecnologia que usa das ondas eletromagnéticas para se propagar no espaço. Diferentes pesquisas apontam a invenção da tecnologia a dois cientistas, o italiano Guglielmo Marconi e o brasileiro Roberto Landell de Moura¹ . Mas a invenção desse aparato tecnológico é, possivelmente, a maior injustiça feita a um cientista, como explica Sônia Virgínia Moreira (2005). Enquanto Marconi e Landell de Moura descobririam o alcance e poder das ondas eletromagnéticas no início do século XX, Nikola Tesla, natural da região da atual Sérvia, já havia conseguido feitos nessa área no ano de 1891. A principal descoberta feita pelo sérvio indicou a possibilidade da amplificação de voltagem através de ondas terrestres estacionárias, que possibilitariam a comunicação entre dois pontos na superfície do planeta por meio das ondas, com o uso de tecnologia sem fio. O texto de Moreira (2005) descreve que em 1900, Tesla consegue as primeiras patentes do rádio no EUA, mas que lhe foram tiradas em 1904, por motivos de interesse econômico e também pelas pequenas tragédias, como a falta de investidores e o incêndio do seu laboratório em Nova Iorque, que acabou prejudicando suas pesquisas. Seu invento foi retirado do hall das descobertas da humanidade, tornando um dos mais injustiçados cientistas da história. Nesse mesmo período em que Tesla fazia suas descobertas, na Itália, Guglielmo Marconi solicita as patentes relacionadas a transmissão de sinais telegráficos, a longas


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distâncias, sem fio, em código Morse, denominado Radiotelegrafia. Sua maior façanha ocorreu em 1901, quando conseguiu repassar uma curta mensagem em código Morse do continente Europeu ao continente Americano. Sob investimentos e apoio de grandes empresas e também do governo italiano, consegue para si a patente do rádio, feito esse que lhe garantiu o Prêmio Nobel de Física do ano de 1909, pela sua contribuição ao desenvolvimento da comunicação. Mas o que Marconi conseguiu, foi apenas um contato sonoro, mais precisamente, transmitir o signo “S ou Três Pontos” do código morse entre duas localidades distantes. Feito esse que não lhe garante a autêntica autoria da invenção do rádio, visto que não houve transmissão da voz humana. E é nesse quesito que se cria o impasse onde Robert Landell de Moura, padre gaúcho, se destaca. Nascido e criado em Porto Alegre, aos 18 anos se mudou para Rio de Janeiro para estudar, conforme explica Magali Prado (2012). Mas sua estadia foi curta, já que logo embarcaria com seu irmão para Roma, onde frequentou o Colégio Pio Americano e a Universidade Gregoriana, onde estudou com intensidade Física e Química. Landell de Moura teria em 1894 conseguido transmitir através das ondas eletromagnéticas a voz humana entre as cidades de Campinas no interior do estado de São Paulo, com a capital São Paulo. Mas como suas pesquisas não tiveram apoio do governo brasileiro, sua obtenção das patentes foi prejudicada, fazendo com que o crédito fosse dado a Marconi. A criação do rádio aqueceu o fascínio dos europeus e norte americanos pelas comunicações já nos primeiros quinze anos do século XX. Apesar da sua aparente fácil implantação, a primeira transmissão do rádio no Brasil, só ocorreu em 07 de setembro de 1922 (PRADO, 2012). Na época, as indústrias eletro-eletrônicas norte-americanas, cujo sistema capitalista constituia sua base, estavam acumulando prejuízos, já que suas vendas haviam sido atingidas pela ocorrência da Segunda Guerra Mundial. Em busca de novos mercados, a Westinghouse, uma das mais importantes empresas de fabricação de eletro-eletrônicos, traz ao Brasil 80 aparelhos de recepção de sinal de rádio e executa pela primeira vez uma transmissão radiofônica no país, durante a Exposição Internacional do Rio de Janeiro. O evento foi inaugurado com um discurso do então presidente Epitácio Pessoa, e em seguida ocorreu a leitura do trecho de “O Guarani”, de Carlos Gomes. O sinal foi recebido não só nem cidades cariocas, como


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também se estenderam até São Paulo. A partir daí começa o fascínio brasileiro com a tecnologia chamada Rádio. Para Luiz Ferrareto (2000) o mais importante entusiasta da época na propagação da tecnologia radiofônica no Brasil foi o cientista e professor Edgard Roquete Pinto , considerado nos dias atuais como o pai do rádio brasileiro. Durante a primeira transmissão ocorrida em 1922, Roquete-Pinto escreveu dizendo que, apesar da iniciativa das empresas em divulgarem a fantástica tecnologia, poucas pessoas souberem entender a importância daquele evento. Devido à problemas técnicos e ao grande de número de pessoas concentradas em um espaço, a transmissão não foi perfeitamente audível. Percebendo o alcance do rádio, o professor mobilizou um grupo de pensadores da Academia Brasileira de Ciências para usar da ferramenta para fins educativo e cultural. Em 20 de abril de 1923, cria-se a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com o empréstimo de uma hora da aparelhagem adquirida pelo governo brasileiro para que houvesse transmissões de programas de notícias de interesse geral, recitação de poesias, conferências literárias, reprodução de músicas instrumentais, fazendo com que o rádio começasse a conquistar cada dia mais espaço no cotidiano das famílias brasileiras. As décadas de 20 e 30 do século XXI são marcadas por diversas rebeliões de alas da sociedade brasileira, como protesto contra o governo oligárquico. Nesse período, o rádio além de caráter cultural e educativo, conquista a classe política. Entretanto, o acesso à aparelhagem era muito cara, fazendo com que poucos brasileiros tivessem acesso ao rádio. Trazendo para o contexto local, podemos dizer que história do rádio em Campo Grande está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento social e urbanístico da cidade. Sua importância social tornou-o o mais popular meio de comunicação. As empresas de radiodifusão, por meio da sua programação popular, promoveram atrativos tanto de informação, diversão, promoção social e política, e até a valorização da cultura popular. No campo do entretenimento, as empresas realizavam os chamados Bailes Beneficientes, nos chamados Rádio Clubes ou Rádio Sociedade, onde grande parte dos


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seus ouvintes se reuniam para festar. Mas o cárater educacional e informativo das programações não foi deixado de lado, pelo contrário. O rádio trouxe à população, em sua maioria analfabetos e moradores de áreas rurais, o mínimo de consciência sobre quais os direitos que tinham e como reivindicá-los, além de se manterem informados sobre tudo que acontecia no estado. Ainda em relação ao acesso à população, o rádio também deu visibilidade às ocorrências politicas, sejam elas de denúncias ou mesmo nas benfeitorias. Além é claro de denunciar os favores políticos (BARBOSA FILHO, 2009). Há algumas décadas, personagens do rádio tornaram-se representantes políticos do povo, muito devido à empatia da população com seus programas radiofônicos. E na cultura, importantes cantores alçaram voos nacionais através de suas canções marcantes, como no caso dos Espíndolas – Tetê Espíndola com a música 'Escrito nas Estrelas' venceu em 1985 o Festival dos Festivais da Rede Globo, e no mesmo período chegou a receber o Disco de Ouro, por ter vendido 1 milhão de vinis 1ao qual também fez parte do movimento chamado Morenismo 2, produzindo juntamente com muitos outros artistas regionais, os chamados festivais, como o festival Prata da Casa, realizado nos dias 15 e 16 de maio de 1982, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

3.1 Rádios de Campo Grande Segundo dados do Portal de Mídia da UFMS (2014), Campo Grande conta com 14 emissoras de rádio, divididas em: AM, FM, Comunitárias, e Educativas. Durante as entrevistas, foram citadas três dessas rádios, e avaliei necessário buscar informações sobre a história de cada uma delas. 1

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Informação conforme matéria publicada no site da revista Veja, no dia 18/02/2011, disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/10-mais/musica/os-10-cantoresbandas-que-nao-duraram-mais-do-queum-hit/9/#ancoratopo>. Acesso em 10/08/14 O Morenismo surge para divulgar e valorizar o que é a Cultura de Campo Grande, promovendo ações que contribuam para a auto-estima do cidadão local sobre a identidade regional que temos. É um movimento de afirmação, de aproveitamento do que produzimos. Não se trata de criar modelos e nem linhas, mas sim de afirmar: é de Campo Grande sim. Mesmo que tenha sua origem fora da Cidade, é como o povo que aqui se instalou, trouxe suas contribuições e aqui criou características próprias. Informação disponível no blog http://morenismo.blogspot.com.br/2010/11/musica-do-mato-grosso-dosul.html. Acesso em 25/07/14.


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Rádio Difusora: Em Campo Grande, a primeira emissora a se instalar foi a Sociedade Rádio Difusora de Campo Grande AM-1240KHz, em 26 de agosto de 1939, como presente pelos 40 anos de emancipação econômica da cidade. Segundo o pesquisador Miguel Angelo Côrrea, a Difusora não foi a primeira a ser criada no estado, como afirmam Donato e Rezende (1994). Entretanto, ela foi a primeira de Campo Grande. Naquele tempo, Campo Grande era um pequeno município do então estado do Mato Grosso, a 700 quilômetros da capital, Cuiabá. Com uma população estimada em 35.170 habitantes sendo que grande parte vivia no campo (23.054 pessoas viviam na cidade a 12.116 pessoas moravam na zona rural- os dados são do IBGE/1940). Tão importante foi a vinda do rádio para o município, que políticos da capital temiam que essa chegada fortalecesse uma futura divisão do estado. O cuiabano Peri Alves Campos é o responsável pela implantação da primeira rádio de Campo Grande. Ele havia sido diretor da Biblioteca Municipal do município. Na época, o Ministério da Aviação era o órgão federal responsável pelas concessões de rádio no Brasil. Um representante do Ministério apareceu na cidade em meado de 1930, e vendeu a concessão da difusora a Peri Alves. Em seguida, Peri viajou a São Paulo e comprou todos os equipamentos da Rádio Record que eram equipamentos velhos e que a emissora estava substituindo por outros mais novos. Ele passou a organizar a PRI-7 praticamente sozinho. Além de dono, foi diretor artístico, programador e radialista. (DONATO E REZENDE, 1994). Ainda segundo Côrrea (2014), a emissora hoje está com 74 anos, a pioneira, ao menos tecnicamente, continua na vanguarda. Além de atingir um raio de 300 km em linha reta, abranger 70% do estado, e estar na Internet, seus ouvintes interagem pedindo músicas pelo telefone, enviando “torpedos” para o celular da rádio, escrevendo na página da rede social Facebook ou deixando recados para os locutores ou ouvintes na página do site. Segundo B. de Paula, que comanda o programa Boca do Povo na Difusora, a emissora é líder de audiência em AM, e “briga” com as FMs, com o maior faturamento líquido de ambas as faixas.


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Rádio Educação Rural: A Rádio Educação Rural, foi a terceira emissora de rádio de Campo Grande. Foi uma concessão do Governo Federal a Igreja Católica. O Bispo Dom Antônio Barbosa foi pessoalmente a Brasília pedir a concessão da rádio, ao então Presidente da República, Juscelino Kubitscheck. lmediatamente, JK concedeu a autorização para montar a rádio. Foi assim que no dia 25 de agosto de 1960 , nasceu a Rádio Educação Rural. Naquela época, a Igreja Católica em Campo Grande era submetida à Arquidiocese de Cuiabá, capital do estado do Mato Grosso. No entanto, não houve resistências, nem problemas com os religiosos cuiabanos. Só por volta de 1977, com a divisão do estado, e a oficialização em outubro de 1979, seria criada a Arquidiocese de Campo Grande. No começo, a Rádio Educação Rural funcionava no Palácio Episcopal, residência do Bispo Dom Antônio Barbosa, na esquina da rua Rui Barbosa com Dom Aquino. A proposta da emissora era uma programação séria, diversificada, mas sem causar espanto aos ouvintes. O programa que se destacou desde a criação da rádio foi “A hora do fazendeiro", que segundo Ailton Guerra (DONATO & REZENDE, 1995) esteve no ar desde que a rádio Educação Rural foi criada em 1960 até 2006. Hoje a Rádio Educação Rural chama-se Rádio Imaculada, e quem a administra é a instituição católica Milícia da Imaculada.

Rádio Cultura AM: A rádio Cultura AM foi fundada em 09 de dezembro de 1949, por Arquimedes Pereira, então presidente do Diretório Regional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) no estado. A custa de muito investimento, uma boa dose de ousadia e sorte, a Cultura provou que merece o titulo "Sua majestade no ar", criado na década de 50 para promover a emissora. Representada por um leãozinho risonho, num desenho bem infantil, a Cultura literalmente abocanhou todos os índices de audiência. Prova disso, foi a viagem de Antônio Carlos Martins ao Rio de Janeiro em 1952, onde acabou morrendo. Martins era dono da Rádio Difusora na época. O motivo da viagem era


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comprar um novo transmissor para aumentar a potência da PRI-7 e, tentar assim, superar a audiência conquistada pera Cultura. Hoje, a Rádio Cultura AM é considerada, segundo a gerente financeira da empresa, Leila Mendes3, a sexta emissora mais importante de Campo Grande. Estando a frente de rádios FMs, com uma audiência média de 8 pontos.

3.2 Linguagem e Prática Radiofônica Segundo Armand Balsebre (2005), o rádio é o meio de comunicação, difusão e expressão que tem duas metas importantes: a reconstituição e a recriação do mundo real e a criação de um mundo imaginário e fantástico. Mas para isso é necessário que haja sintonia entre o emissor e o receptor da mensagem, isto é, “a comunicação só é possível quando o repertório de elementos é conhecido pelo emissor e receptor” (BALSEBRE, 2005. p. 327). A essa simplicidade nas estratégias de produção de mensagens, devem ser incorporados a preocupação com a forma e conteúdo, o semântico e o estético. O semântico é tudo que diz respeito ao sentido mais direto e manifesto dos signos de uma linguagem, transmite o primeiro nível de significação sobre o que se constitui o processo comunicativo. O estético é o aspecto da linguagem que trata mais da forma de composição da mensagem e se fundamente na relação variável e afetiva que o sujeito da percepção mantém com os objetos de percepção. (BALSEBRE, 2005)

Balsebre elenca também um outro elemento importante no contexto da palavra radiofônica: a integração entre o texto escrito e a improvisação verbal. Segundo o pesquisador, o radialista/locutor precisa reproduzir o texto com naturalidade, e certa intimidade para que haja a sensação de proximidade com o seu ouvinte. Nas palavras do autor, “a arte da improvisação verbal pode ser sistematizada em três regras: não falar do que não se conhece, não afastar-se do tema e aprender a liberar-se fisicamente” (Op.Cit. p.330) Para Rudolf Arnheim (2005), em concordância com Balsebre, há uma necessidade de tratamento sonoro para a palavra e considera quatro fatores como determinantes na produção das cores do som: intensidade, volume, intervalo e ritmo. 3

Entrevista realizada em 02/10/2014


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As vozes mais graves dos radialistas dão sensação de proximidade, enquanto as mas agudas dão sensação psicológica de distanciamento. Através dessa teoria, constatou-se que as vozes mais graves são mais indicadas para programas noturnos, enquanto a voz mais aguda é indicada para os programas diurnos. No Manual de Redação da CBN (TAVARES, 2011) a Clareza é definida como o elemento-chave para transmitir a informação sem confundir o ouvinte. “Para esse entendimento ser eficiente, o profissional (âncora, repórter, comentarista) deve dominar não só o conteúdo sobre o qual discorre, mas também a técnica para se fazer compreendido. Um repórter que fala rápido demais e atropela as palavras vai deixar, em quem o ouve, uma impressão forte de descontrole e até de angústia, ou seja, a notícia acabará sendo posta em segundo plano. Resumindo: conteúdo objetivo e conciso, corretamente “envelopado” com ritmo, entonação, respiração e volume de voz adequados.”

3.3 Documentário Autores como André Barbosa Filho (2003) enumeram como sete os gêneros radiofônicos. Sobre esses gêneros, a pesquisadora Nair Prata (2005), caracterizamos da seguinte forma para melhor compreensão. 1- Gênero Jornalístico: nota, notícia, boletim, reportagem, entrevista, comentário, editorial, crônica, radiojornal, documentário jornalístico, mesas-redondas ou debates, programa policial, programa esportivo, divulgação tecnocientífica. 2- Gênero Educativo-Cultural: programa instrucional, audiobiografia, documentário educativo-cultural, programa temático. 3- Gênero de Entretenimento: programa musical, programação musical, programa ficcional, programete artístico, evento artístico, programa interativo de entretenimento. 4- Gênero Publicitário: spot, jingle, testemunhal, peça de programação. 5- Gênero Propagandístico: peça radiofônica de ação pública, programas eleitorais, programa religioso. 6- Gênero de Serviço: notas de utilidade pública, programete de serviço, programa de serviço. 7- Gênero Especial: programa infantil, programa de variedades. (PRATA, 2005, p.238),


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Barbosa Filho (2009) afirma que o documentário jornalístico radiofônico tem como função: Aprofundar determinado assunto construído com a participação de um repórter condutor. O documentário jornalístico mescla pesquisa documental, medição in loco, comentários de especialistas e envolvidos no acontecimento, e desenvolve uma investigação sobre um fato ou conjunto de fatos reais, oportunos e de interesse atual, de conotação não-artística. É realizado por meio de montagem – edição final do material produzido em aúdio – com matérias gravadas anteriormente ou, ainda, juntando-se esse material às cabeças – introdução aos temas enfocados – e a algumas matérias temporais 'ao vivo’. (BARBOSA FILHO, 2009)

Neste trabalho teremos como foco o formato do radiodocumentário na construção de um produto radiofônico que permita a narrativa da memória das rádios em Campo Grande. Segundo Ferrareto (2000), o documentário radiofônico baseia-se em uma pesquisa de dados, e de arquivos sonoros, reconstituindo ou analisando um fato importante. Com a inclusão de recursos de sonoplastia, montagens e elaboração de roteiro prévio. O formato estabelecido foi definido também por ser de fácil confecção para todos, precisando apenas de cuidado com as sonoras. O rádiodocumentário registra de forma correta a importância do resgate das histórias dos profissionais do rádio.

3.4 Memória Optou-se por este formato e tema para o Trabalho de Conclusão do Curso para que a história não seja perdida com o passar do tempo e com a inevitável morte dos personagens que a marcaram. Para tal, a metodologia da memória social se faz útil e necessária, pois permite o registro sem grandes interferências do entrevistador e inclui sentimentos e caracteres afetivos nos tons de voz e nas pausas das narrativas conforme demonstrado em outros trabalhos do gênero como o de Rodrigues Filho (2013) ao utilizar do formato radiofônico na captação da memória social sobre um extinto cinema no município de Jardim -MS. Entende-se no âmbito deste projeto memória social como toda formação de memória coletiva (HALBWACHS, 1990) e como elemento estrutural da sociedade e do


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sujeito que explora o vínculo com o passado na formação das identidades. “Na história descrita sobre diversos pontos de vista”, conforme explica Ecléa Bosi (2003). As captações de sonoras para registrar essa verdadeira memória radiofônica pelos personagens que a constituíram ganha notoriedade na perspectiva da memória social quando entendemos que “a duração da memória estaria relacionada à força e à duração do grupo; o lugar ocupado no conjunto define as pessoas e os fatos a serem lembrados ou esquecidos” (BRAGA, 2000). A escolha das lembranças dos personagens para conduzir o documentário se consolidou após as entrevistas. No princípio não havia indícios de que os radialistas que hoje estão no ar fossem os mesmos que há décadas já ajudam a construir a história do rádio em Campo Grande. Resgatar a memória enquanto se tem personagens disponíveis para entrevistas foi uma decisão tomada como forma de homenagear esses importantes radialistas enquanto estão vivos. Migração AM para FM Durante a pesquisa foi necessário o acréscimo de um novo tópico na produção do produto final. Os locutores que tive acesso são, em sua maioria, funcionários de uma rádio AM (ondas médias). Segundo informações retiradas do site do Ministério das Comunicações do Governo Federal, as rádios que estão situadas em ondas médias, deverão em um prazo, que inicia em agosto, migrar para a freqüência FM. Em Mato Grosso do Sul, segundo pesquisa de Rodrigues Filho (2014), existem 60 emissoras de rádio operando em ondas curtas. Dessas, 51 requereram a autorização para migrarem para FM. Para o Governo Federal, tal medida se deve ao fato de que as ondas curtas não servem de forma eficiente aos municípios que tem crescido rapidamente, afetando o sinal de transmissão. Outra explicação segundo o Ministério das Comunicações seria a falta de estrutura para que o sinal de ondas médias tenha a possibilidade de serem transmitidas através de smartphones e tablets. Em resumo, esse trabalho pretende registrar as importantes histórias vividas pelos radialistas, fazendo com que não se percam no tempo. Resgatar essas histórias, em um período marcado para a extinção das rádios AM vem a calhar já que os ouvintes


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dessa frequência se comportam de maneira mais receptiva e calorosa do que o público das FM's. Em Mato Grosso do Sul, os lugares distantes dos centro urbanos, como chacarás e fazendas no Pantanal, ainda são os principais ouvintes das AM's, o que cria um suspense de como irá ocorrer essa migração e se a audiência irá acompanhar as emissoras.


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4- OBJETIVOS ALCANÇADOS

Objetivo Geral: -

Produzir um radiodocumentário com foco nas sonoras dos personagens

que compuseram a história do rádio em Campo Grande desde a sua chegada até os dias atuais, a fim de preservar sua memória utilizando de técnicas da linguagem e do potencial expressivo do meio.

Objetivos Específicos: -

Mapear se há e quais são os profissionais que estão há mais tempo na

rádio campo-grandense; 

Compor as experiências dos locutores de modo a formar um registro

histórico; 

Contribuir no resgate e na documentação da história do rádio, dos

programas e dos locutores que fizeram história em Campo Grande 

Refletir sobre a extinção das AM e o impacto com as audiências na opinião

dos locutores.


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5- DIFICULDADES ENCONTRADAS:

Para a realização do projeto foi necessário que houvesse uma pesquisa exploratória para catalogar os nomes dos possíveis personagens do trabalho. Apesar de haver mais de 10 rádios em Campo Grande-MS, só entrei em contato com duas rádios AM da capital, visto que os radialistas mais antigos trabalham nesse tipo de rádio. E uma delas, a Cultura AM, disponibilizou os funcionários e o espaço físico para que eu realizasse as entrevistas. Mas para isso, eu tive que adaptar meus horários de estágio para realizar as entrevistas nos intervalos dos programas dos radialistas. Outra dificuldade foi encontrar material bibliográfico para consulta sobre a história da radiodifusão em Campo Grande. Existem poucos registros sendo os existentes realizados recentemente na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).


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6- DESPESAS (ORÇAMENTO) Item

Despesas (R$)

Transporte

100,00

Impressão de relatórios

80,00

Mídias e Impressão de Artes

40,00

Total

220,00


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7- CONCLUSÕES O projeto de trabalho de conclusão de curso resultou em um aprendizado ímpar, já que resultou em um maior conhecimento sobre a história da radiofonia na cidade de Campo Grande. O que a princípio era apenas uma alternativa para substituir a ideia original, tornou-se interessante e rico em informações. Durante as entrevistas, mesmo sem um aviso prévio sobre o que seriam perguntados, os radialistas se recordavam de muitas histórias com o público. Especialmente os ouvintes da freqüência AM que segundo os três entrevistados formam uma audiência mais consolidada: - O público do rádio AM é menos frio. Porque é o público AM é aquele que eu citei. Amiga dona de casa, ela liga o rádio, ela quer ouvir o capítulo da novela dela, o signo dela, e ouve também pelo comunicador (Reinaldo Ayala – Radialista da Cultura AM e da Mega FM) - O ouvinte do AM é fiel a você. Ele ouve a sua emissora, ele participa, ele liga, ele conta a história para você. Então ele tem você como alguém da família dele. (Vanderley Lopes – Radialista da Cultura AM) - O público do AM é o público que valoriza mais o comunicador. É o cara que valoriza o rádio, é o cara que tem o rádio como um parceiro, como um amigo, como um companheiro. (Marcelo Nunes – Radialista da Rádio Cultura AM) E tais afirmações podem ser embasadas após a leitura do texto “Rádio, o Tambor tribal”, retirado do livro Understanding Media: The Extensions of Man, do pesquisador McLuhan, publicado em 1964. No qual ele identifica que o rádio como um meio de comunicação “quente”, pois oferece a possibilidade de construção de uma relação afetiva entre locutor-ouvinte. Essa força arcaica do rádio, segundo McLuhan, está na própria natureza tecnológica do meio. Ao produzir imagens auditivas, o rádio cria um ambiente totalmente inclusivo e absorvente que propicia às pessoas um mundo particular em meio às multidões. Alarga o sentido da audição e as faculdades humanas, tornando-se uma extensão do sistema nervoso central. Por essa característica, altera os índices de sensibilidade ou modos de percepção de quem transita em ambientes moldados por ele. Nesse sentido, o rádio envolve as pessoas num sistema nervoso de informação com notícias, hora certa e prestação de serviço em tempo real; ou mesmo quando cria um ambiente de cumplicidade e intimidade com a comunicação afetiva do disc-joquei.'” (DEL BIANCO, 2005)


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Apesar de existirem trabalhos que abordam a história da radiodifusão no estado, o assunto não se esegota. Pelo contrário, todos os dias surgem uma nova história, como foi dito por Reinaldo Ayala durante entrevista: “É que no rádio, você aprende algo novo a cada milésimo de segundo”. E essa constatação da proximidade entre locutor e ouvinte relatada pelos radialistas do rádio AM é algo que em breve precisará ser analisada, já que no futuro próximo as ondas curtas não mais abrigarão as emissoras de rádio AM. Essa mudança causa incerteza nas empresas de comunicação, pois não é garantida a manutenção dos indíces de audiências. A construção da relação de familiaridade entre locutor e ouvinte reflete na importância do rádio ao longo das décadas na vida dos brasileiros. O que no início era considerado um meio de comunicação para as elites, tornou-se a principal fonte de informação para as camadas mais vulneráveis da sociedade tanto regionalmente quanto nacionalmente. E é nesse contexto que é necessário o resgate das histórias dos radialistas. Pois através de seus relatos é possível compreender como se deu o desenvolvimento social e econômico de Campo Grande. Importantes setores da economia estavam ligados aos programas de rádio, como exemplo a agropecuária e o programa “A Hora do Fazendeiro”. Com o passar do tempo as lembranças tendem a desaparecer, o que é de certa forma amenizado pela produção de documentários que possam registrar tais eventos. A breve existência humana pode ser superada pelo registro das histórias e que estarão disponíveis as próximas gerações. Para os próximos trabalhos propõem-se que haja maior abrangência no número de entrevistados, evitando que as histórias desapareçam com a morte dos radialistas. Durante o curso de Comunicação Social habilitação Jornalismo por vezes os acadêmicos foram desafiados a tornar a prática jornalística menos engessada e calculista, tornando-se uma “conversa com o ouvinte/leitor/telespectador”. E é foi justamente esse a conclusão a qual o rádio documentário proporcionou.


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Conclui-se, portanto que a produção do rádiodocumentário mostrou que o principal objetivo do jornalismo seja ele, televisivo, impresso, radiofônico, virtual, é produzir uma relação de confiança entre emissor e receptor. Uma relação em que a trocas de experiências sejam recíprocas e construtivas.


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8-APÊNDICES


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Sobe Som

MÚSICA

Música: Comitiva Esperança – Almir Sater Sonora – Reinaldo Ayala

“O rádio é uma imagem que a gente faz para o ouvinte.”

Sobe Som – Comitiva Esperança – Almir Sater

MÚSICA

SONORA – SENHOR RÁDIO (AGNALDO CUNHA)

SEJA MUITO BEM-VINDO, CARO OUVINTE. AQUI QUEM VOS FALA, É SEU AMIGO DE SEMPRE, AQUELE QUE LHE ACOMPANHA DESDE OS PRIMEIROS RAIOS DE LUZ DO DIA. AQUELE QUE DIVIDE O CAFÉ FEITO NO VELHO COADOR DE PANO. SOU O AMIGO DE SEMPRE, DAS HORAS BOAS E DAS HORAS RUINS. DESDE 1922, SENDO O BRASILEIRO DAS MULTIDÕES. SOU O RÁDIO E A PARTIR DE AGORA, VOCÊ OUVE UM POUCO DE TUDO QUE VIVI EM UM CERTA CIDADE NO INTERIOR DO PAÍS, FUNDADA POR MINEIROS, CONSIDERADA A CAPITAL DOS IPÊS. OU MELHOR, QUERIDA CAMPO GRANDE. DEIXE-ME APRESENTAR MEU AMIGO MICHEL LORÃN. ELE É JORNALISTA E VAI ME AJUDAR A RELEMBRAR ESSAS HISTÓRIAS. SABE, DEPOIS DE DÉCADAS, A MEMÓRIA PRECISA DE AJUDA PARA FUNCIONAR.

SONORA – MICHEL LORÃN

É UM PRAZER FAZER ESSA VIAGEM AO PASSADO COM O SENHOR, MEU AMIGO RÁDIO.

MÚSICA: COMITIVA ESPERANÇA – ALMIR SATER

MÚSICA


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VINHETA MÚSICA: BALANCÊ – CARMEN MIRANDA MÚSICA SOBE SOM –

MÚSICA

SONORA – SENHOR RÁDIO

HÁ 75 ANOS, LÁ NO DIA 26 DE AGOSTO DE 1939, FUI TRAZIDO PARA CAMPO GRANDE COMO CONVIDADO ESPECIAL NO QUADRAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA CIDADE. FOI UMA GRANDE FESTA. NA ÉPOCA, O RÁDIO CLUBE ERA O PONTO DE ENCONTRO DA POPULAÇÃO QUE SE REUNIA PARA ME OUVIR DIRETAMENTE DO RIO DE JANEIRO. ERA UMA DIFICULDADE DE OUVIR AS EMISSORAS A CENTENAS DE QUILÔMETROS NUM RÁDIO SEM ANTENA. MICHEL, LEMBRA QUE JÁ LHE CONTEI ESSA HISTÓRIA? VOCÊ PODE CONTAR A PARTIR DAQUI?

MICHEL LORÃN

LEMBRO SIM, SENHOR RÁDIO. DEIXE COMIGO! NAQUELE TEMPO, CAMPO GRANDE ERA UMA PEQUENO MUNICÍPIO DO ESTADO DO MATO GROSSO, DISTANTE APROXIMADAMENTE 700 QUILÔMETROS DA CAPITAL, CUIABÁ. COM UMA POPULAÇÃO ESTIMADA EM 35 MIL HABITANTES SENDO QUE UM TERÇO DESSAS PESSOAS VIVIAM NO CAMPO, SEGUNDOS OS DADOS DO IBGE DE 1940. CAMPO GRANDE FOI UMA DAS PRIMEIRAS CIDADES DA REGIÃO CENTRO-OESTE E A PRIMEIRA DO MATO GROSSO, A TER UMA EMISSORA DE RÁDIO. CONTASSE QUE NA ÉPOCA, OS POLÍTICOS DA CAPITAL TEMIAM QUE A PROPAGAÇÃO DO RÁDIO AUMENTASSE A VONTADE DE DIVIDIR O ESTADO. O RESPONSÁVEL PELA SUA VINDA, SENHOR RÁDIO, FOI UM CUIABANO CHAMADO PERI ALVES CAMPOS, QUE LHE DEU O NOME DE RÁDIO DIFUSORA, COM O PREFIXO PRI7. PERI HAVIA SIDO DIRETOR DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE CAMPO GRANDE. NA ÉPOCA, O MINISTÉRIO DA AVIAÇÃO ERA O ÓRGÃO FEDERAL RESPONSÁVEL PELAS CONCESSÕES DE RÁDIO NO BRASIL. UM REPRESENTANTE DO MINISTERIO APARECEU NA CIDADE


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EM MEADO DE 1930, E VENDEU A CONCESSÃO DA DIFUSORA A PERI ALVES. GETÚLIO VARGAS ERA PRESIDENTE DO PAÍS NA OCASIÃO. EM SEGUIDA, PERI VIAJOU A SÃO PAULO E COMPROU TODOS OS EQUIPAMENTOS DA RÁDIO RECORD QUE ERAM EQUIPAMENTOS VELHOS E QUE A EMISSORA ESTAVA SUBSTITUINDO POR OUTROS, BEM MAIS NOVOS. ELE PASSOU A ORGANIZAR A PRI-7 PRATICAMENTE SOZINHO. ALÉM DE DONO, FOI DIRETOR ARTÍSTICO, PROGRAMADOR E RADIALISTA. ISSO TUDO FAZ PARTE DA MINHA HISTÓRIA QUE JÁ FOI DOCUMENTADA PELOS JORNALISTAS OSWALDO PIRES DE REZENDE JR. E VERUSKA COSTA DONATO EM 1995. PASSADOS 10 ANOS DA CHEGADA DO RÁDIO EM CAMPO GRANDE, O ENTÃO PRESIDENTE DO DIRETORIO REGIONAL DO PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB) NO ESTADO, ARQUIMEDES PEREIRA LIMA FUNDOU A RÁDIO CULTURA, EM NOVE DE DEZEMBRO DE 1949. JÁ NA DÉCADA DA SUA CRIAÇÃO, A RÁDIO RECEBEU O TÍTULO DE “A MAJESTADE NO AR”, E FICOU NA LIDERANÇA DA AUDIÊNCIA POR MAIS DE 5 DÉCADAS SEGUIDAS. HOJE, EM 2014, CONTINUO SENDO A RÁDIO AM MAIS OUVIDA DE CAMPO GRANDE. E É DELA QUE HOJE APRESENTAREMOS TRÊS IMPORTANTES RADIALISTAS QUE AJUDARAM E AJUDAM AINDA A CONSTRUIR A HISTÓRIA DO RÁDIO EM CAMPO GRANDE. VINHETA SONORA – VANDERLEY LOPES

VANDERLEY LOPES DA SILVA, EU NASCI NO DIA 14 DE MAIO DE 1960. SOU PROFISSIONAL, TENHO MEU DRT, EXERÇO MINHA PROFISSÃO DESDE OS 17 ANOS.

MICHEL LORÃN

VANDERLEI NASCEU NA CIDADE DE TANABI, INTERIOR DE SÃO PAULO. AOS 17 ANOS COMEÇOU SUA CARREIRA NO RÁDIO.

SONORA VANDERLEY LOPES

EU COMECEI NO RÁDIO, SIMPLESMENTE, PRIMEIRAMENTE PASSEI PELO JORNAL. EU SAÍ PARA PROCURAR MEU PRIMEIRO EMPREGO E ACONTECEU QUE FUI A UM JORNAL. LÁ EU COMECEI COMO OFFICE BOY. DE OFFICE BOY, EU FUI PARA A SALA DE


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REDAÇÃO, E COMECEI A FAZER ALGUNS TRABALHOS DENTRO DA SALA DE REDAÇÃO DO JORNAL. EXISTIA UM DIRETOR DE UMA EMISSORA DE RÁDIO QUE SIMPATIZOU COM MINHA VOZ. ENTÃO ELE ACREDITOU QUE EU PODERIA SER LOCUTOR. PEDIU PARA QUE EU FOSSE NA EMISSORA DE RÁDIO. ISSO ACONTECEU EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. NAQUELA ÉPOCA O RÁDIO, NÃO FAZ TANTO TEMPO, MAS O RÁDIO EXIGIA VOZ. AS VOZES TINHAM QUE TER UMA VOZ DE PESO PORQUE O PÚBLICO JÁ EXIGIA AQUILO. O PÚBLICO JÁ GOSTAVA DE VOZ BONITA. DE VOZ COM PESO. E EU COMECEI COM 17 ANOS. COMECEI GRAVANDO, AÍ ELE COLOCOU COMO LOCUTOR COMERCIAL E COM O PASSAR DO TEMPO... UM ANO QUE EU ESTAVA NA EMISSORA, O LOCUTOR TITULAR QUE FAZIA DAS OITO AS ONZE, ERA MEIO ESTRELINHA E ELE ANDOU DISCUTINDO COM O DIRETOR DA EMISSORA. DAÍ O DIRETOR DA EMISSORA MANDOU ELE EMBORA NA HORA E CHAMOU EU PARA ASSUMIR. NA ÉPOCA EU NÃO TINHA IDADE. TINHA DE 16 PARA 17 ANOS E NÃO PODIA FAZER RÁDIO SEM A AUTORIZAÇÃO DO JUIZADO. PORQUE O RÁDIO SEMPRE TEVE QUE TER RESPONSABILIDADE

MICHEL LORÃN

SONORA – VANDERLEY LOPES

ACOMPANHANDO A FAMÍLIA, VEIO PARA CAMPO GRANDE. O SEU PRIMEIRO TRABALHO EM JORNALISMO IMPRESSO. EU TIVE VÁRIAS PASSAGENS POR RÁDIO. LÁ EM RIO PRETO EU TRABALHEI EM DUAS. MONTES CLAROS MINAS GERAIS TRABALHEI TAMBÉM. E AÍ COMO A MINHA FAMÍLIA, NA ÉPOCA, VENHO PARA CAMPO GRANDE, EU ERA SOLTEIRO NA ÉPOCA AINDA. CHEGUEI AQUI E FUI TRABALHAR EM JORNAL SEMANAL, PARA FAZER BICO. TRABALHEI ALGUNS TEMPOS, E ACONTECEU QUE NA ÉPOCA, A RÁDIO DIFUSORA ERA NO PÁTIO DA TV MORENA. E UM DIA O VALENTIM QUE ERA O GERENTE DE LÁ, EU ENCONTREI COM ELE, E CONVERSANDO ELE DISSE: VOCÊ NÃO QUER FAZER RÁDIO? EU DISSE, Ó, EU GOSTARIA. DEPENDE DO QUE EU VOU GANHAR PARA FAZER RÁDIO AQUI EM CAMPO GRANDE. NÃO SEI O QUE EU VOU GANHAR. - EU TÔ ASSUMINDO A RÁDIO GUANANDI AM, E EU VOU PRECISAR DE LOCUTORES LÁ.


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- TUDO BEM. DAÍ ELE ME CONVIDOU, EU COMECEI NA RÁDIO GUANANDI.

MICHEL LORÃN

SONORA – VANDERLEY LOPES

MAS A SUA ENTRADA NA RÁDIO GUANANDI NÃO DURARIA MUITO TEMPO. COMO NUM GOLPE DE SORTE OU CAPRICHO DO DESTINO, SEU TALENTO E VOZ MARCANTE O LEVARAM A UMA NOVA OPORTUNIDADE EM MENOS DE 30 DIAS. COM 30 DIAS QUE EU ESTAVA NA RÁDIO GUANANDI, EU FUI OUVIDO PELO DIRETOR DA RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL. A RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL, NA ÉPOCA, PRO LOCUTOR ENTRA LÁ DENTRO, ELE FAZIA FILA PARA SER CONTRATADO. TINHAM LOCUTORES QUE FAZIAM FILAS. ESPERAVAM QUANTO TEMPO PARA ENTRAR. E EU TIVE A FELICIDADE, DO DOUTOR AILTON GUERRA, DIRETOR GERAL DA RÁDIO EDCAÇÃO RURAL, ELE ME OUVIU NA GUANANDI E MANDOU UM LOCUTOR DELE ME PROCURAR. QUE É O LOCUTOR JÁ FALECIDO HOJE, JOÃO DE DEUS. E O JOÃO ME PROCUROU NA GUANANDI E FALOU: - OLHA, VANDERLEI. TENHO UMA SURPRESA PARA VOCÊ. - O QUE QUE É? - DOUTOR AILTON MANDOU TE CHAMAR. ISSO NÃO ACONTECE NUNCA. PORQUE ELE NÃO CHAMA NINGUÉM PARA CONVERSAR. E VOCÊ FOI ESCOLHIDO. FOMOS LÁ. CHEGUEI NA EMISSORA, SENTEI DE FRENTE A MESA DELE. - DOUTOR, VOCÊ QUER FALAR COMIGO? - QUERO FALAR COM VOCÊ. - SOBRE O QUÊ, DOUTOR? - EU TÔ QUERENDO CONTRATAR UM LOCUTOR AQUI, PARA FAZER A NOITE. DAS 9 ATÉ MEIA NOITE. E EU QUERO LOCUTOR AO VIVO. - PARA MIM NÃO TEM PROBLEMA. PARA MIM É FÁCIL. ATÉ AS 5 DA MANHÃ, DEPENDE DO QUE EU VOU GANHAR. AÍ ELE ME FEZ UM SALÁRIO E UMA COMISSÃO DE VENDA. PORQUE, HOJE AQUI EM CAMPO GRANDE, SE O


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LOCUTOR NÃO TIVER, NÃO SOUBER FAZER UM TRABALHO DE MARKETING-VENDA, ELE NÃO GANHA DINHEIRO.SÓ O SALÁRIO DA RÁDIO, ELE MORRE DE FOME. ENTÃO ELE FALOU: - OLHA, EU VOU TE DAR TANTO SALÁRIO E VOU TE DAR 20% DO QUE VOCÊ VENDER PARA A EMISSORA. - 20% EU NÃO TRABALHO. SÓ TRABALHO POR 30. AÍ ELE FALOU ASSIM: - MAS AQUI NEM OS MEUS MELHORES LOCUTORES GANHAM 30%. NA ÉPOCA ERA: WILSON DE AQUINO, ALI TINHA UMA EQUIPE MUITO FORTE. MUITO FORTE MESMO. - TUDO BEM, NÉ. SÓ QUE EU QUERO 30. ELE FALOU: - 30 EU NÃO FAÇO. - EU VOU EMBORA DOUTOR. DEIXA QUIETO. EU VOU CONTINUAR NA GUANANDI. ENTÃO O QUE QUE ACONTECEU, AÍ EU FUI EMBORA. ELE PEDIU QUE EU VOLTASSE. EU VOLTEI NOVAMENTE, AÍ ACERTAMOS FINANCEIRAMENTE TUDO.

MICHEL LORÃN

CALMA, CARO OUVINTE. ANTES DE CONTINUARMOS NOSSA CONVERSA COM O RADIALISTA VANDERLEI LOPES, PRECISO CONTAR QUEM ERA ESSA TAL RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL, PODE SER?

VINHETA SAIBA MAIS MICHEL LORÃN

“EM AGOSTO DE 1960, DOM ANTÔNIO BARBOSA QUE ERA O BISPO DA REGIÃO VIAJOU ATÉ BRASÍLIA PARA SOLICITAR AO PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHECK A CONCESSÃO DE UMA RÁDIO. O PEDIDO FOI IMEDIATAMENTE ACEITO E NASCIA NO DIA 25 DE AGOSTO A RADIO EDUCAÇÃO RURAL. ELA FICOU SOB OS CUIDADOS DA IGREJA CATÓLICA, E FUNCIONAVA NO PALÁCIO EPISCOPAL, RESIDÊNCIA DO BISPO DOM ANTÔNIO BARBOSA, NA ESQUINA DA RUA RUI BARBOSA COM DOM AQUINO.“


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VINHETA SAIBA MAIS SONORA – VANDERLEY LOPES

MICHEL LORÃN

VANDERLEY LOPES

SOBE SOM – MÚSICA: O CANTO DA CIDADE – DANIELA MERCURY

MICHEL LORÃN

“NAQUELA ÉPOCA, NA RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL, NÓS TINHAMOS UMA EQUIPE MUITO FORTE. A RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL, ALÉM DELA ABRANGER TODO O ESTADO, ATÉ O BRASIL INTEIRO.” APESAR DE NÃO SER UMA PESSOA QUE GRAVA DATAS COMEMORATIVAS, ELE FAZ QUESTÃO DE SE LEMBRA O DIA DA ENTRADA NA RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL 91. DIA PRIMEIRO DE JUNHO DE 1991. EU ENTREI FAZENDO UM PROGRAMA A NOITE, DAS 9 ATÉ MEIA NOITE, CHAMADO...O NOME DO PROGRAMA ERA... [COMO É QUE ERA O NOME DO PROGRAMA? MEU DEUS, ERA.] TEM UM NOME DE UMA MÚSICA QUE FALA... ATÉ TEM UMA MÚSICA QUE FALA, (SIC) "A TARDE DESSA CIDADE, SOU EU...".ERA O CANTO DA CIDADE.

MÚSICA

EMBORA FOSSE O PRIMEIRO PROGRAMA QUE APRESENTOU, ESSE NÃO FOI O MAIS SIGNIFICATIVO EM SUA CARREIRA. PARA ELE, O MAJESTOSO “A HORA DO FAZENDEIRO” FOI SEU PROGRAMA MAIS MARCANTE.

MÚSICA SOBE SOM – MÚSICA MODA DE VIOLA

SONORA – VANDERLEY LOPES

PASSEI POR TODOS OS PROGRAMAS, ENTRE ELES, UM DOS PROGRAMAS MAIS OUVIDO CHAMADO A HORA DO FAZENDEIRO, QUE FOI O PROGRAMA QUE TEVE DOIS APRESENTADORES SÓ. TRÊS, NÉ. QUE FOI O JUCA


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GANSO, O CIRO NASCIMENTO E EU. FIZ O PERÍODO DE DOIS, TRÊS ANOS. ENTÃO, EU FUI O QUE FINALIZEI A HORA DO FAZENDEIRO. FOI UM PROGRAMA DE UTILIDADE PÚBLICA, QUE ELE COMEÇOU SEM FIM LUCRATIVO. ELE COMEÇOU PORQUE EXISTIA EM CAMPO GRANDE UMA CASA CHAMADA "CASA DO FAZENDEIRO". E QUE ELES VENDIAM COISAS PARA FAZENDA. SAL, ESSES NEGÓCIOS AÍ. E A CASA DO FAZENDEIRO, ELA PATROCINOU ESSE PROGRAMA. ERA UM PROGRAMA QUE TINHA, PARA MANDAR AVISOS PARA AS FAZENDAS. ENTÃO, A PESSOA IA LÁ E COMPRAVA UM SACO DE SAL PARA MANDAR PARA A FAZENDA, E GANHAVA COMO BRINDE, UM AVISO NA RÁDIO. FOI O PROGRAMA DE MAIOR AUDIÊNCIA NO RÁDIO SUL-MATO-GROSSENSE, TINHA UMA AUDIÊNCIA TÃO GRANDE QUE SE VOCÊ PEGASSE UMA ESTRADA PASSANDO PELAS FAZENDAS, 90% DOS RÁDIOS NAS FAZENDAS ESTAVAM OUVINDO A EMISSORA. POR QUÊ? OS PRÓPRIOS PATRÕES, NA ÉPOCA NÃO TINHA CELULAR, SÓ TINHA RÁDIO AMADOR NÉ? ENTÃO OS PRÓPRIOS PATRÕES FAZIAM COM QUE OS FUNCIONÁRIOS DELES OUVISSEM. PORQUE QUANDO ELE TINHA AVISO PARA MANDAR, ELE MANDAVA PELA EMISSORA. ENTÃO, EXISTE ATÉ UM LOGO QUE FICOU MARCADO, QUE EU NÃO FALAVA, MAS OUTROS FALAVAM. "QUEM OUVIR FAVOR AVISAR.". ERA MUITO DIFÍCIL FAZER. PARA VOCÊ TER UMA NOÇÃO, O LOCUTOR TINHA QUE FALAR SEM FUNDO MUSICAL. E ERA ASSIM, VAMOS SUPOR QUE TINHA 60 AVISOS. CADA AVISO TINHA QUE SER TRÊS VEZES, DUAS VEZES, TRÊS VEZES. ENTÃO VOCÊ PEGAVA OS AVISOS, SAIA OS COMERCIAIS GRAVADOS, VOCÊ ENTRAVA NOS AVISOS.

MICHEL LORÃN

SOBE SOM – TOQUE

O PROGRAMA A HORA DO FAZENDEIRO NÃO SERVIA APENAS COMO ANÚNCIO DE ENVIO DE MATERIAL PARA AS FAZENDAS, MAS MUITAS VEZES ERA O MEIO PARA AVISAR AS PESSOAS DA ÁREA RURAL SOBRE A MORTE DE ALGUM FAMILIAR OU AMIGO.


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DE BERRANTE SONORA – VANDERLEY LOPES

“"ATENÇÃO, FAZENDA BELA VISTA. DONA MARIA CLEMENTINA DE JESUS AVISA TODO OS SEUS FAMILIARES, QUE O PEDRO MANUEL DA SILVA ACABA DE FALECER EM CAMPO GRANDE. QUEM OUVIR, FAVOR AVISAR."

TOQUE DE BERRANTE

MICHEL LORÃN

SONORA – VANDERLEY LOPES

MICHEL LORÃN

SONORA – VANDERLEY LOPES

E FOI JUSTAMENTE UM DESSES ANÚNCIOS QUE SE TORNOU UM MOMENTO MARCANTE EM SUA CARREIRA PROFISSIONAL. UM QUE ME MARCOU FORTEMENTE. QUANDO O CIRO NASCIMENTO QUE ERA O APRESENTADOR DA A HORA DO FAZENDEIRO TITULAR, QUE ELE ESTEVE HOSPITALIZADO NO PERÍODO DE UM ANO, EU ENTREI PARA FAZER OS ANÚNCIOS, COMECEI A FAZER OS ANÚNCIOS, DE REPENTE NO MEIO DOS ANÚNCIOS TINHA UM FALANDO ASSIM: " ATENÇÃO PANTANAL. ATENÇÃO FAMILIAR DE CIRO NASCIMENTO DE JESUS, CIRO JESUS DO NASCIMENTO. A SUA FAMÍLIA COMUNICA QUE, CONVIDA OU CHAMA PARA QUE VENHAM PARA CAMPO GRANDE, POIS O MÉDICO ALERTOU QUE ELE PODERÁ FALECER NESSA NOITE." ENTÃO EU LEVEI UM CHOQUE. É COMO VOCÊ TER SEU AMIGO E DE REPENTE, VOCÊ ENTRAR NO AR PARA FALAR UMA COISA DESSA. E ISSO FOI VERÍDICO, TANTO É QUE A MULHER SAIU DO HOSPITAL, PASSOU A ROUPA DELE PARA VELAR NO DIA SEGUINTE. SÓ QUE ELE NÃO FALECEU. VANDERLEY RECORDA DO SEU PRIMEIRO CONTATO COM UM APARELHO DE RÁDIO. E COM A LEMBRANÇA DO RÁDIO, VEM JUNTO A EMOÇÃO DE FALAR SOBRE A INFÂNCIA NO INTERIOR DE SÃO PAULO. UMA COISA QUE FICOU MARCANTE TAMBÉM NA MINHA VIDA PROFISSIONAL... EU VENHO DE FAMÍLIA DO INTERIOR. EU MOREI EM TANABI, NO INTERIOR, NOS ANOS 70. EU LEMBRO ATÉ HOJE, MEU PAI ADQUIRIU UM RÁDIO. EU MORAVA NA FAZENDA, ENTÃO ESSA


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HISTÓRIA DO RÁDIO FICOU MARCANTE. UM DIA EU CONTEI NO PROGRAMA, E O PESSOAL ACHOU GRAÇA. PORQUE NA VERDADE EU ERA CAIPIRA-PIRA-PORA. QUE É AQUELE PAULISTA, QUE ALÉM DE SER CAIPIRA, AINDA É PIRA-PORA. E MEU PAI COMPROU UM RÁDIO ABC GRANDE, E DEIXOU EM CASA. ENTÃO, VINHA TODO AQUELE PESSOAL DE SÍTIO, VINHA TODO MUNDO PARA OUVIR O RÁDIO. UM DIA EU DISSE PARA MEU PAI "PÔ, ONDE ESTÁ ESSE HOMEM QUE ESTÁ CANTANDO, QUE TÁ FALANDO?" ELE ERA FILHO DE MINEIRO, RESPONDEU: "Ó, CÊ PARECE BOBO. NÃO TÁ VENDO QUE ESSE HOMEM ESTÁ EM SUM PAULO, NA CAPITAR (SIC)" FALAVA ASSIM. E AQUILO FICOU MARCANTE, E EU FUI OUVINDO O RÁDIO E TINHA NA ÉPOCA UM LOCUTOR CHAMADO EDGAR DE SOUZA. ESSE LOCUTOR ERA O MAIOR SUCESSO NO BRASIL INTEIRO, PORQUE NAQUELA ÉPOCA VOCÊ OUVIA GLOBO, RÁDIO TUPI, RÁDIO NACIONAL. PORQUE ERA O MAIOR SUCESSO QUE TINHA. EU OUVIA LÁ, A VOZ DAQUELE CARA BONITA, SABE. AQUELES PROGRAMAS GOSTOSOS A NOITE, MEU PAI FICAVA OUVINDO. FOI MARCANTE.

MICHEL LORÃN

SONORA – VANDERLEY LOPES

APÓS FAZER SUCESSO NAS MAIS IMPORTANTES RÁDIOS DO PAÍS, EDGAR DE SOUZA NÃO SOUBE LIDAR COM A FAMA. DESEMPREGADO, VISITOU EMISSORAS EM BUSCA DE NOVA OPORTUNIDADE. E EM UMA DESSAS VIAGENS ELE CHEGOU ATÉ A RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL

UM BELO DIA EU ESTOU AQUI NA RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL, PASSO PELA PORTARIA, MEU PROGRAMA ERA DAS 4 ÀS 6. A MENINA DA RECEPÇÃO FALOU: - VANDERLEI, TEM UM SENHOR QUE O DOUTOR MANDOU VOCÊ ATENDER ELE. - ÓTIMO EU ABRI A PORTA E ENTREI, TINHA UM SENHOR MORENINHO, MAGRINHO, JÁ IDOSO SENTADO. QUANDO EU ENTREI ELE FALOU ASSIM: - BOA TARDE. - BOA TARDE. - VOCÊ É O VANDERLEI LOPES. - SOU EU. - Ó, ME DISSERAM QUE VOCÊ VAI ME ENTREVISTAR


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- EU VOU. COMO É QUE É SEU NOME? - EU SOU O EDGAR DE SOUZA. O CARA QUE EU OUVI LÁ, QUANDO EU TINHA SETE ANOS DE IDADE. SUCESSO NO BRASIL INTEIRO, DE REPENTE FUI ENTREVISTAR O HOMEM. EU ATÉ FALEI SOBRE ISSO AÍ, DO OCORRIDO, NO AR CONVERSANDO COM ELE. QUANDO EU TINHA SETE ANOS, OITO ANOS POR AI, EU OUVIU ELE. ELE ERA UM CARA ASSIM, NAQUELA ÉPOCA TINHA CIRCOS NO INTERIOR DO ESTADO, ELE IA E LEVAVA UMA MULTIDÃO. TINHA CIRCO QUE CABIA A POPULAÇÃO DA CIDADE. FICAVA PARA FORA.

MICHEL LORÃN

VANDERLEY LOPES ATUALMENTE APRESENTA DOIS PROGRAMAS NA RÁDIO CULTURA AM: O “A TARDE É NOSSA” DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA, DAS 13 ÀS 15 HORAS, E NO DOMINGO “O ESTILO DA TERRA” DAS OITO AS 12 HORAS.

MÚSICA MÚSICA: MODA DE VIOLA

MICHEL LORÃN

CONTINUANDO NOSSA VIAGEM PELO PASSADO DO RÁDIO EM CAMPO GRANDE, APRESENTAMOS OUTRO RADIALISTA DA CULTURA AM.

EFEITO SONORO VINHETA SONORA – REINALDO AYALA

ALÔ, PESSOAL. AQUI QUEM FALA É REINALDO AYALA, NASCIDO NO DIA 11 DE JULHO DE 1968. HÁ VINTE E NOVE ANOS, REINALDO ESTÁ NO AR DIARIAMENTE.

MICHEL LORÃN


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SONORA – REINALDO AYALA

EU ACREDITO QUE O RÁDIO SURGIU NA MINHA VIDA COMO UMA COMPLEMENTAÇÃO DE REALIZAÇÃO COMO PESSOA. PORQUE SEMPRE GOSTEI MUITO DE RÁDIO, E QUANDO MUITO MENINO AINDA, UMA VEZ EU LIGUEI PARA A RÁDIO FM CANARINHO, E DISNEY COELHO QUE ERA O LOCUTOR DA ÉPOCA, CONVERSEI COM ELE PEDINDO UMA MÚSICA.

TRILHA SAIBA MAIS

MICHEL LORÃN

SONORA – REINALDO AYALA

A RÁDIO FM CANARINHO FOI A PRIMEIRA EMISSORA DE RÁDIO FM DO ESTADO. ELA FOI CRIADA NO DIA 11 DE OUTUBRO DE 1978, E HOJE É CONHECIDA COMO MEGA FM, E OPERA NA FREQUÊNCIA 94.3 FM NAQUELE TEMPO A FM CANARINHO TOCAVA SÓ MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, AQUELA COISA TODA. E EU QUANDO FALEI COM ELE, ELE ME DISSE ASSIM: - Ô CARA, VOCÊ NÃO QUERIA SER LOCUTOR DE RÁDIO, NÃO? - COMO ASSIM? - VEM AÍ FAZER UM TESTE. ENTÃO EU VIM AQUI NA RÁDIO FM CANARINHO E FIZ UM TESTE. PASSADO UNS DOIS, TRÊS DIAS DEPOIS, AÍ ME CHAMARAM E EU VIM ATÉ A EMISSORA.

MICHEL LORÃN

SONORA – REINALDO AYALA

O CONVITE SURPRESA PARA FAZER UM TESTE FOI RECEBIDO COM ENTUSIASMO PELO PEQUENO MENINO. MAS A RESPOSTA TALVEZ NÃO FOSSE A MAIS ESPERADA E NA ÉPOCA TINHA UM GERENTE COMERCIAL, QUE ERA TAMBÉM ARTÍSTICO DA RÁDIO, CHAMAVA JOSÉ FRANCISCO. E NESSE MEIO TEMPO, QUANDO EU CHEGUEI NA RÁDIO EU TINHA 14, PARA 15 ANOS DE IDADE E ELE ME DISSE ASSIM: VOCÊ FOI QUEM FEZ O TESTE? FOI EU MESMO. ENTÃO TÁ, É O SEGUINTE, VOCÊ ESTÁ COM ESSE


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SEU VOZEIRÃO AGORA MAS VOCÊ ESTÁ MUDANDO DE VOZ. AMANHÃ VOCÊ PODE (FALANDO NO AGUDA ESTRIDENTE), AQUELA COISA TODA. EU NÃO SABIA COMO É QUE SAIA DA RÁDIO. TIPO ASSIM, EU ME SENTI HUMILHADO. PORQUE NAQUELE TEMPO TINHA NA RÁDIO FM CANARINHO, MARTA MARIA, LUIZ HUMBERTO ASPESI, REINALDO CARAVANTE, O PRÓPRIO DISNEY COELHO. OS GRANDES NOMES DO RÁDIO NAQUELE TEMPO ESTAVAM DENTRO DA PROGRAMAÇÃO DA RÁDIO FM CANARINHO.

MICHEL LORÃN

SONORA – REINALDO AYALA

APESAR DO EPISÓDIO DA ACOLHIDA DO GERENTE COMERCIAL, REINALDO NÃO DESISTIU DA FUTURA CARREIRA

UMA SITUAÇÃO QUE EU CONVIVIA MUITO COM LUIZ HUMBERTO ASPESI. E EU VIA NELE, UM CARA QUE TRABALHOU NA RÁDIO NACIONAL DE BRASÍLIA, NA RÁDIO TUPI EM SÃO PAULO, NAQUELES TEMPOS QUE O QUE MANDAVA MESMO NO RÁDIO ERA O CANUDO DE VOZ. MAS UMA SITUAÇÃO QUE MARCOU MUITO PARA MIM, FOI QUE A GENTE SEMPRE DESCIA JUNTO. PORQUE ELE ENTRAVA, ELE VINHA GRAVAR O PROGRAMA "CLASSE A" FINALZINHO DE TARDE. E EU SAIA DA RÁDIO, NA ÉPOCA, OITO HORAS DA NOITE. ENTÃO TINHA, NAQUELE ESPAÇO DA "A VOZ DO BRASIL", ELE GRAVA O PROGRAMA "CLASSE A". E AÍ ELE ME ESPERAVA QUANDO ELE FAZIA A PROGRAMAÇÃO DELE, PARA PODER ME DAR CARONA, E A GENTE DESCIA JUNTO. A GENTE IA MUITO NO RESTAURANTE MANURA, QUE AINDA TEM NA AVENIDA MATO GROSSO, A GENTE IA NA CANTINA ROMANA, A GENTE SEMPRE IA FAZER O HAPPY HOURZINHO (SIC) DA NOITE. E UMA CERTA VEZ ELE ME DISSE ASSIM: - AYALA, TENHA SEMPRE DENTRO DO SEU CORAÇÃO, VOCÊ É UM CARA QUE VAI EXPLODIR NO RÁDIO. DE


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SUCESSO. SÓ QUE NUNCA ESQUEÇA QUE O CARTÃOPOSTAL DE TODO SER HUMANO É A HUMILDADE. ENTÃO NAQUELE TEMPO, EU ME SENTI COMO UM ABRAÇO ACOLHEDOR. PORQUE OUVIR AQUILO DE UM CARA QUE, POLIGLOTA, VIAJADO O MUNDO TODO, TRABALHADO EM ÍCONES DO RÁDIO, COMO EU CITE AQUI: RÁDIO NACIONAL BRASÍLIA, RÁDIO GLOBO, RÁDIO TUPI. PARA MIM AQUILO ERA UM TRAVESSEIRO. E NO MEU OUVIDO ENTROU COM UMA SONORIDADE PARA MIM (SIC) PARA A ETERNIDADE NA MINHA VIDA PROFISSIONAL. E MARCOU MUITO O COMEÇO DA CARREIRA.

MICHEL LORÃN

SONORA – REINALDO AYALA

NESSES 29 ANOS DE CARREIRA, REINALDO COMANDOU IMPORTANTES PROGRAMAS DE RÁDIO, COMO O CLASSE A, O POVO SE DEFENDE, E O INOVADOR ALMOÇANDO COM MÚSICA, QUE DO MEIO DIA A UMA HORA DA TARDE, TOCAVA SOMENTE MÚSICA CLÁSSICA. MESMO COM TANTO TEMPO DE ESTRADA, O RADIALISTA AINDA É SURPREENDIDO PELO CARINHO DOS OUVINTES

“É QUE NO RÁDIO, VOCÊ APRENDE ALGO NOVO A CADA MILÉSIMO DE SEGUNDO” NO RÁDIO AM, ESSES DIAS, EU FUI SURPREENDIDO COM UMA PARTICIPAÇÃO, ACREDITE VOCÊS, UMA SENHORA DE 101 ANOS. NO DIA DO ANIVERSÁRIO DELA, ELA ME LIGOU. ME DIZENDO QUE HÁ MAIS DE 20 ANOS ME ACOMPANHAVA NO RÁDIO. E AQUILO MARCOU MUITO PARA MIM PORQUE, ÀS VEZES, A GENTE IMAGINA ASSIM QUE A GENTE ESTÁ COM A VIDA MEIO LASCADA, COMO DIZ O TERMO CHULO, AÍ VOCÊ RECEBE UMA SENHORA DE 101 ANOS, TE LIGANDO NO DIA DO ANIVERSÁRIO, TOTALMENTE LÚCIDA PARA FALAR QUE TE ACOMPANHA NO RÁDIO HÁ MAIS DE 20 ANOS.

E AÍ EU RETORNO A UMA LEMBRANÇA QUE O RAMON ACHUCARRO ME FALOU: - AYALA, QUANDO NÓS CHEGARMOS A UM CONTEXTO EM QUE A PESSOA ACABA RECONHECENDO VOCÊ PELA


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PRÓPRIA VOZ, É QUE VOCÊ FORMOU UMA CARTEIRA MUITO GRANDE DE AMIGOS NO RÁDIO. -ENTÃO EU DIGO HOJE QUE EU NÃO TENHO OUVINTES, EU CONSTRUO UM AMIGO A CADA MOMENTO NO RÁDIO

MICHEL LORÃN

VINHETA – TRILHA DE FUTEBOL

MICHEL LORÃN

SONORA – MARCELO NUNES

MICHEL LORÃN

REINALDO AYALA HOJE COMANDA O “BOM DIA MEGA”, NA RÁDIO MEGA 94, DAS QUATRO DA MANHÃ ATÉ AS OITO. EM SEGUIDA, ELE PARTE PARA A CULTURA AM, ONDE APRESENTA O PROGRAMA “DE BEM COM A VIDA”, DAS OITO E MEIA ATÉ MEIO DIA. E AOS SÁBADOS, O RADIALISTA COMANDA O “SABADÃO SENSAÇÃO” DAS OITO E TRINTA ÀS DOZE HORAS.

A HISTÓRIA DO RÁDIO SUL-MATO-GROSSENSE TAMBÉM FICOU MARCADA PELOS PROGRAMAS ESPORTIVOS E PELAS NARRAÇÕES DE PARTIDAS DE FUTEBOL, TANTO EM CAMPEONATOS ESTADUAIS QUANTO NACIONAIS

BOA TARDE AMIGOS DA CULTURA, UM GRANDE ABRAÇO COM MUITO CARINHO NÓS ESTAMOS CHEGANDO ATRAVÉS DAS ONDAS DA CULTURA. VAMOS JUNTOS ATÉ AS TRÊS DA TARDE, E QUEM TEM O PRAZER DE SAUDÁ-LOS AQUI É MARCELO NUNES, UM GRANDE ABRAÇO E VAMOS JUNTOS ATÉ AS TRÊS DA TARDE.

ELE NASCEU EM PORTO MURTINHO, CIDADE A 427 QUILOMETROS DE CAMPO GRANDE, NO DIA 22 DE DEZEMBRO DE 1965. INICIOU NA CARREIRA DE RADIALISTA NO ANO DE 1986, COBRINDO EVENTOS DA ALTA SOCIEDADE CAMPO GRANDENSE. CIRANDA DA NOITE FOI SUA ESTRÉIA, MAS ELE SE DEFINE COMO UM RADIALISTA ESPECIALISTA EM


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ESPORTE E POLÍTICA. E É ATRAVÉS DA SUA HISTÓRIA NA COBERTURA DE JOGOS DE FUTEBOL QUE CONTAREMOS UM POUCO SOBRE A VIDA DESSE PROFISSIONAL.

TRILHA – TEMPO FUTEBOL

MICHEL LORÃN

SONORA – MARCELO NUNES

1995. FINAL DO CAMPEONATO BRASILEIRO ENTRE OS TIME DO BOTAFOGO DO RIO DE JANEIRO, E SANTOS DE SÃO PAULO. ENTRE AS FINAIS QUE EU PARTICIPEI FOI SANTOS E BOTAFOGO NO MORUMBI, OU MELHOR, NO PACAEMBU E NO MARACANÃ. EU TRABALHAVA NA RÁDIO EDUCAÇÃO RURAL. EU TRANSMITI ESSES DOIS JOGOS PELO CAMPEONATO BRASILEIRO, FINAIS DE CAMPEONATOS BRASILEIRO. TRANSMITI VÁRIOS MAS ESSE FOI MARCANTE PELO SEGUINTE. LÁ NO MARACANÃ CHOVIA TANTO, E NO MARACANÃ NA ÉPOCA A IMPRENSA DE FORA, DIGAMOS, ERA MUITO MAL TRATADA. O CARO TRANSMITIA FUTEBOL AO RELENTO ASSIM. COMEÇOU A CHOVER, E O ARTUR MÁRIO QUE ERA O NARRADOR E EU ESTAVA NA PISTA DO MARACANÃ PARA TRANSMITIR O JOGO E FAZER A REPORTAGEM. ELE ESTAVA LÁ EM CIMA, E ME LEMBRO QUE ESSE MARCOU PORQUE QUASE MORREU LÁ. ELE RECEBEU UM CHOQUE, QUE O MICROFONE MOLHOU, E ELE RECEBEU UM CHOQUE. SE NÃO TIVESSE ALGUNS COLEGAS DA IMPRENSA DO RIO, DA RÁDIO CLUBE, DA RÁDIO TUPI, ELE TERIA MORRIDO LÁ. EU NÃO VI, MAS ME CONTARAM QUE ELE PASSOU MAL E OS CARAS CONSEGUIRAM TIRAR ELE. ELE TEVE QUE TRANSMITIR O JOGO DO MEU LADO EMBAIXO, DO GRAMADO. OUTRO FOI NO PACAEMBU. O PRIMEIRO JOGO FOI NO MARACANÃ E O SEGUNDO JOGO FOI NO PACAEMBU. ACHO QUE O JOGO TERMINOU EMPATADO, E O BOTAFOGO FOI CAMPEÃO. TINHA MAIS OU MENOS UMAS 100 EMISSORAS DE RÁDIO TRANSMITINDO FUTEBOL LÁ. TINHA EMISSORAS DO BRASIL TODO, E ALÉM DE EMISSORAS DO EXTERIOR TAMBÉM TRANSMITINDO


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FUTEBOL. DO URUGUAI, DA ARGENTINA, DO PARAGUAI, ENFIM. EU TIVE PROBLEMA NA MINHA LINHA, EU FUI LÁ PRA CIMA NO PACAEMBU, E NA VOLTA QUANDO EU PASSEI NO MEIO DA TORCIDA DO SANTOS, EU QUASE FUI AGREDIDO. OS CARAS ME EMPURRARAM E ME DERRUBARAM. OS CARAS ESTAVAM TÃO NERVOSOS QUE PENSAVAM QUE EU ERA DA TORCIDA DO BOTAFOGO. NAQUELA TRANSMISSÃO TAMBÉM FICOU MARCANTE PORQUE EU TIVE PROBLEMA NA MINHA LINHA, NA ABERTURA DA TRANSMISSÃO. EU NÃO TINHA LINHA, DEU PROBLEMA NA LINHA. EU FAZIA REPORTAGEM PELO ORELHÃO, PELO TELEFONE PÚBLICO. LIGAVA PARA A RÁDIO, A RÁDIO ME CONECTAVA E EU IA ENTREVISTAR PAULO AUTUORI, O TÉCNICO DO BOTAFOGO. ENTREVISTEI ELE PELO TELEFONE, PELO ORELHÃO. ENTÃO ESSA FINAL FICOU MARCADA POR ISSO. O IMPORTANTE ERA O QUE ESTAVA NO AR, EU TINHA QUE PASSAR A NOTÍCIA. PEGAVA ATLETAS DO SANTOS, DO BOTAFOGO NO ORELHÃO, NO LUGAR QUE DÁ ACESSO AOS VESTIÁRIOS. A GENTE ABRIA A JORNADA UMA HORA E MEIA ANTES, O JOGO IA COMEÇAR AS QUATRO LÁ EM SÃO PAULO, TRÊS DAQUI, A GENTE ENTRAVA NO AR UMA E MEIA DA TARDE. EU TINHA QUE LEVAR A NOTÍCIA.

MICHEL LORÃN

ENTUSIASTA DO FUTEBOL SUL-MATO-GROSSENSE, MARCELO RELEMBRA OS TEMPOS AÚREOS DO ESPORTE NO ESTADO, E CONTA COMO CONTRIBUIU PARA SALVAR OS RELATOS.

A MINHA MARCA NO RÁDIO FICOU MUITO MAIS COMO PLANTÃO ESPORTIVO. EU FUI VISTO COMO UM HISTORIADOR DO FUTEBOL. EU TENHO UM ARQUIVO DA SONORA - MARCELO HISTÓRIA DO FUTEBOL QUE NINGUÉM TEM. TODOS NUNES ESSES NÚMEROS E DADOS ESTÁTISTICOS QUE TEM HOJE EM DIA SOBRE A HITÓRIS DO FUTEBOL QUE A IMPRESA TEM E VOCÊ ENCONTRA NOS SITES, QUEM PASSOU FUI EU. FOI UM TRABALHO DE PESQUISA DE


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APROXIMADAMENTE SEIS ANOS. PARA LEVANTAR TODA A HISTÓRIA DO FUTEBOL PROFISSIONAL, NÉ. O AMADOR NÃO CONSEGUI LEVANTAR. EU ME ESPECIALIZEI MUITO NA HISTÓRIA DO FUTEBOL AQUI. O RÁDIO ERA OUVIDO, O RÁDIO ESPORTIVO O CARA COLOCAVA O RÁDIO NO OUVIDO PARA OUVIR. HOJE EXISTE ISSO EM SÃO PAULO, RIO, PORTO ALEGRE, PARANÁ. HOJE AQUI NÃO EXISTE MAIS ISSO, AINDA TEM O PÚBLICO DO RÁDIO ESPORTIVO. ÉPOCA DE COMERCIAL E OPERÁRIO A CIDADE PARAVA. SÓ SE FALAVA O QUE É HOJE O GRENAL, O ATLÉTICO E CRUZEIRO. VOCÊ VAI EM BELO HORIZONTE, LÁ NO RIO GRANDE DO SUL. SEMANA DE CLÁSSICO A CIDADE PARA, SÓ SE FALA NISSO. E AQUI ERA IGUAL. QUALQUER CLÁSSICO ENTRE COMERCIAL E OPERÁRIO ERA JOGO PARA TRINTA MIL PESSOAS.

MÚSICA MÚSICA: PARTIDA DE FUTEBOL – SKANK

O RADIALISTA HOJE TRABALHA NA RÁDIO CULTURA AM, ONDE COMANDA O PROGRAMA RC 360.

MICHEL LORÃN

VINHETA – TEMPO FUTEBOL SONORA – SENHOR RÁDIO

QUANTA HISTÓRIA BOA, NÉ OUVINTES. E PODE ACREDITAR, ESSES TRÊS SÃO ALGUNS DOS MUITOS AMIGOS QUE JÁ FIZ NESSA MINHA LONGA ESTRADA AM. FORAM MUITOS ANOS DE TOCA FITAS, GRAVADORES DE ROLO, E CARTUCHEIRAS. E DEPOIS DE 92 ANOS DESDE QUE CHEGUEI AO PAÍS, MIGRAREI TODAS AS MINHAS HISTÓRIAS DAS ONDAS CURTAS PARA O ONDAS LONGAS. É, ESTOU RUMO AO MEU CENTENÁRIO. ISSO MESMO, NO DIA 07 DE NOVEMBRO DE 2013, O GOVERNO FEDERAL EMITIU O DECRETO PRESIDENCIAL


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Nº 8139, QUE AUTORIZA AS RÁDIOS AM'S DE TODO O PAÍS A MIGRAREM PARA A FREQUÊNCIA FM. A EXPECTATIVA É QUE AS RÁDIOS AM RECUPEREM A AUDIÊNCIA, JÁ QUE NÃO PODEM SER SINTONIZADAS POR DISPOSITIVOS MÓVEIS, COMO CELULARES E TABLETS, OU APARELHOS MAIS MODERNOS. SEMPRE FUI ALGUÉM QUE ACOMPANHOU A EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA PARA CONTINUAR PRÓXIMO AOS MEUS OUVINTES. E SE A MUDANÇA É NECESSÁRIA PARA FICAR MUITOS MAIS ANOS ANOS PRÓXIMOS AOS MEUS AMIGOS OUVINTES, EU A FAREI. AH, JÁ IA ME ESQUECENDO... POR ISSO É TÃO IMPORTANTE QUE AS MEMÓRIAS SEJAM REGISTRADAS PARA QUE NÃO SE PERCA NO TEMPO E AS PRÓXIMAS GERAÇÕES SAIBAM COMO FORAM MINHAS AVENTURAS EM TERRAS BRASILEIRAS. ENTÃO É ISSO AMIGOS! ESTAREI POR PERTO MESMO EM OUTRA FREQUÊNCIA. ABRAÇO E ATÉ A PRÓXIMA.

MÚSICA MÚSICA: MARIA MARIA – ELIS REGINA

VOCÊ OUVIU O RÁDIO DOCUMENTÁRIO “NAS ONDAS DA HISTÓRIA: RÁDIOS DE CAMPO GRANDE, VOZES DE MEMÓRIA.” PRODUÇÃO, NARRAÇÃO E EDIÇÃO DO ACADÊMICO CRÉDITOS – MICHEL MICHEL LORÃN SOB A ORIENTAÇÃO DA PROFESSORA LORÃN DOUTORA DANIELA CRISTIANE OTA. PROJETO EXPERIMENTAL PRODUZIDO E APRESENTADO EM NOVEMBRO DE 2014 PARA A CONCLUSÃO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL.


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