Quatro décadas do Estádio Morenão

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CONHEÇA A HISTÓRIA DO

MAIOR ESTÁDIO

DE MATO GROSSO DO SUL


~1972~

Foto: Roberto Higa Jogo entre Operรกrio e Comercial em 1972


Agradecimentos

Editorial

Ninguém consegue alcançar seus objetivos sozinho. Por isso, deixamos aqui os nossos agradecimentos a todos os que tiveram participação nesta revista e tornaram esse sonho possível. Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer às nossas famílias por todo apoio, estrutura e compreensão, sem eles nada disso seria possível. Deixamos aqui o nosso reconhecimento ao professor Silvio da Costa Pereira, que nos orientou no processo de produção da revista, também aos professores José Mario Licerre e Mário Cabreira, que estiveram dispostos a nos ajudar e muito acrescentaram ao trabalho. Agradecemos ao Roberto Higa que nos contou as histórias da melhor forma possível com suas belíssimas fotografias, aos senhores Alberto Dias Filho, Celestino Gonçalves e Jair Sartorel o, que se dispuseram e se prontificaram a responder à todas nossas ligações, e-mails e perguntas que foram feitas. Agradecemos ao ARCA e seus funcionários pelo cuidado e preocupação com a história de Campo Grande. O nosso muito obrigado aos colegas João Kneipp e Pedro Heiderich que nos ajudaram com informações, contatos e a disponibilização de materiais. E, por fim, a todos os que se dispuseram a contribuir, de alguma forma, com o material desta revista. Deixamos nossa gratidão aos amigos que tiveram toda a paciência e compreensão conosco enquanto realizávamos este trabalho e, finalmente, agradecemos a Deus por toda confiança e, também, por colocar em nossas vidas obstáculos para que os vençamos, fazendo de nós pessoas mais sábias e fortes.

Duas pesquisas rápidas nos ajudaram a calçar a chuteira do pontapé inicial desta revista. Procurar documentos sobre a história do Estádio Universitário Pedro Pedrossian no Google e no site da Biblioteca Central da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) foi o suficiente para perceber que apenas algumas partes da história do estádio foram documentadas e que, ainda assim, estão todas dispersas. Logo, nos propusemos a escrever essa revista para organizar, em apenas um documento, a história desse majestoso estádio mais conhecido como Morenão. Para tanto, contamos nesta edição como surgiu a ideia da construção do estádio, porque ele foi edificado nas dependências da então Universidade Estadual do Mato Grosso e atual UFMS, além de alguns fatos que marcaram sua trajetória de mais de quatro décadas, como alguns dos maiores jogos, uma das competições mais importantes e até mesmo a aparição de um OVNI. Também reunimos aqui algumas fotografias de autoria do consagrado fotógrafo Roberto Higa, que ajudam a contar a história do estádio. Como em todo trabalho de pesquisa em que dependemos de terceiros, neste tivemos alguns desapontamentos, mas que não nos impediram de continuar trabalhando. Também, infelizmente, não conseguimos entrevistar todas as pessoas que pretendíamos, como o Sr. Pedro Pedrossian, um dos idealizadores do estádio e que dá nome à obra, que, por motivos de saúde, não pôde nos atender. Mas também passamos por bons momentos e tivemos o prazer de conversar com pessoas que vivenciaram muitas ocasiões no estádio Morenão e puderam nos ajudar a contar essa história de 42 anos. Agradecemos então a todos os que colaboraram de alguma forma para que esta revista pudesse ser produzida, cada mínima ajuda foi de grande importância. Deixamos também um agradecimento aos que não acreditaram, pois nos fizeram mais fortes e com maior determinação para executarmos esse projeto que, embora simples, garantimos conter um relato fiel dos aspectos mais importantes da história do Estádio Universitário Pedro Pedrossian. Propomos então a você, leitor, desfrutar dessa revista que traça o desenvolvimento do Morenão, desde que este era apenas uma ideia, até se tornar o consagrado estádio que é hoje. Boa leitura!

Expediente Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da UFMS Orientador: Silvio da Costa Pereira Redatores: Dayane Fernandes e Renata Portela Direção de arte e diagramação: Gustavo Arakaki, Thiago Dharlan Colaboradores: Roberto Higa, Larissa Cristina Mello, ARCA, Correio do Estado e Revista Placar Impressão: Gráfica Só Cópias


Foto: Correio do Estado / 1971


Festa de inauguração ...........................................08 Mini-Copa ...........................................................12 Reformas e melhorias ...........................................14 Partidas com torcedores de outro mundo ..............17 Tempos de glória e decadência .............................19 Datas importantes ...............................................22

Roberto Higa/Dayane Fernandes

Sumário

O início: A construção do gigante ........................06


O INÍCIO: GIGANTE Roberto Higa

A CONSTRUÇÃO DO

Vista aérea do estádio universitário Pedro Pedrossian

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ao projeto, pois houve quem, a princípio, não concordasse com a obra. A UEMT contava, na época, apenas com a Faculdade de Odontologia (FAODO) e o bloco então denominado Instituto de Ciências Biológicas. Segundo o relato de João Rosa em seu livro, alguns membros do conselho administrativo do Instituto temiam que o barulho das partidas de futebol pudesse atrapalhar o desempenho de aulas e pesquisas ali realizadas. Como contra-argumento, foi dito a eles que os jogos no estádio atrairiam mais pessoas para os arredores da Universidade, e também que

Roberto Higa

O Estádio Universitário Pedro Pedrossian, popularmente conhecido como Morenão, foi criado a partir de um projeto de desenvolvimento do sul do estado de Mato Grosso, promovido pelo governador da época, Pedro Pedrossian. Tal projeto político visava o divisionismo do estado, sua expansão e progresso, tendo como uma de suas propostas a construção de universidades. Em função disso, Levy Dias, então presidente da Liga Esportiva Campo-Grandense (LEMC) e assessor da Companhia de Desenvolvimento do Mato Grosso (CODEMAT), havia solicitado ao técnico de desenhos Ciríaco Maymone o projeto de um estádio de futebol para ser construído na saída para Aquidauana. Juntos, Pedrossian e o Sr. Levy Dias, conseguiram firmar um acordo para que o estádio fosse edificado no complexo universitário da Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT). João Pereira da Rosa, Reitor da época, relata em seu livro “As Histórias da Universidade”, a construção do estádio ficou a cargo da CODEMAT que, por não dispor de recursos financeiros suficientes para as obras, lançou à venda mil cadeiras cativas do estádio, “cujo produto foi empregado como parte do pagamento, realizado em parcelas pelo Governador José Fragelli que sucedeu o Governador Pedro Pedrossian”. Mas não foi assim tão fácil dar o pontapé inicial

Autoridades presentes na construção do Morenão


ção do estádio. Segundo Carlos China, arquiteto da Coordenadoria de Projetos e Obras da UFMS, o estádio possui 48.676m². Jornais à época da construção se referiam ao Morenão como “o gigante de concreto armado” China fala também sobre como o estádio afetou no crescimento de Campo Grande. “Uma coisa monstruosa que era o estádio, construído num local que a cidade era deserta [...] com a construção da Cidade Universitária e do estádio, começa a haver um êxodo, isso atrai a população e a cidade cresce!”.

Nome Planta do Estádio Morenão

técnicos, professores e até alunos poderiam trabalhar nos dias de jogos em troca de remunerações. Além disso, como a maioria dos jogos ocorria em finais de semana ou à noite, não colidiriam com os horários habituais de aula e de trabalhos de pesquisa nos laboratórios. Havia ainda a intenção de abrigar, embaixo das arquibancadas do estádio, órgãos administrativos da Universidade. O ex-Reitor relata que “Após discussão acalorada, os conselheiros aprovaram a localização com restrições”. As obras do Morenão foram concluídas em pouco mais de um ano e meio, tempo recorde que impressionou quem trabalhava nas imediações da então Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT).

Dimensões do Morenão

Dayane Fernandes

Por ser uma obra grandiosa, o estádio chamava a atenção de todos que passavam pelas imediações da Cidade Universitária. O técnico-administrativo da UFMS, Celestino Gonçalves, que trabalhou junto ao primeiro administrador do Morenão, José Maravieski, relata que muitos paravam para assistir a constru-

O estádio Pedro Pedrossian leva esse nome como uma homenagem ao governador da época, que encerrou seu mandato no ano da inauguração da arena esportiva. O estádio é popularmente conhecido como “Morenão”, devido ao apelido da cidade onde fica situado, Campo Grande, a cidade Morena. Segundo matéria publicada no site do jornal Correio do Estado em 26 de agosto de 2011, escrita pela jornalista Rosana Siqueira, esse título foi dado à cidade em meados do ano de 1900, pelo então vereador da cidade, José Vieira Damas. Conhecido como Zeca Cassemiro, ele enfrentava diariamente a poeira vermelha que subia do chão batido quando ia visitar a jovem Olívia. De pele muito clara, Zeca chegava com o rosto vermelho de sujeira, dizendo assim que ficava “todo moreno”. Ele dizia que a cidade era toda vermelha, toda morena, daí o apelido.

Problemas com o nome Em 2011, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) que renomeasse os prédios que faziam referência a pessoas vivas, pois infringiam a Lei nº 6.454 de 24 de outubro de 1977. Vinte e sete laboratórios, anfiteatros, bibliotecas, entre outros prédios estavam em situação irregular nos campus de Campo Grande, Pantanal, Três Lagoas, Chapadão do Sul, Coxim e Paranaíba. Houve muita especulação a respeito da troca do nome do estádio Pedro Pedrossian, pelo fato do ex-governador ainda estar vivo. Porém, como o estádio foi nomeado em 1971, seis anos antes da lei ser sancionada, sua renomeação tornou-se desnecessária. M

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Roberto Higa

FESTA DE INAUGURAÇÃO

Maria Aparecida Pedrossian fazendo o descerramento da placa de inauguração do Morenão

O dia 7 de março de 1971 entrou para a história da cidade de Campo Grande como a data de inauguração do estádio Pedro Pedrossian. Conforme relato do fotógrafo Roberto Higa, ao meio-dia os portões do Morenão foram abertos afim de receber a multidão que se reunia para assistir às festividades de inauguração do estádio e que, aos poucos, ia tomando conta das arquibancadas. Às 15h, a Banda Mirim de Três Lagoas deu início a uma apresentação, com marchas e dobrados, arrancando aplausos do público que lotava o Morenão. Aproximadamente às 16h, o então governador Pedro Pedrossian e sua esposa, Maria Aparecida Pedrossian, juntamente com o Presidente da Confederação Brasileira de Desportos, João Havelange, o Presidente Federação Matogrossense de Desportos, Agripino Bonilha Filho, o Presidente da Liga Esportiva Campo-Grandense, Nelson Borges de Barros, entre outras autoridades adentraram ao gramado ao som de gritos e aplausos da população pre-

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sente. Pedro Pedrossian e João Havelange hastearam as bandeiras do Brasil e do Mato Grosso, encerrando a solenidade com uma volta olímpica no estádio, ao lado dos demais convidados. O público, agora, aclamava de pé.

Jogo de estreia Encerrados os atos solenes, deu-se início ao confronto que estreava, oficialmente, o gramado do Morenão. O jogo foi entre o Clube de Regatas Flamengo, formado por Ubirajara Alcântara, Murilo, Onça, Reyes, Rodrigues Neto, Zanata, Liminha, Buião, Roberto, Fio e Caldeira, e o Sport Club Corinthians Paulista, com Ado, Zé Maria, Almeida, Luiz Carlos, Sadi, Tião, Rivellino, Adão, Lindoia, Paulo Borges, Mirandinha e Aladim. Logo no início da partida, aos 5 minutos do primeiro tempo, Buião marcava o primeiro gol no estádio Pedro Pedrossian, abrindo o placar do que veio a ser uma vitória de 3 a 1 do time


Roberto Higa

carioca sobre o clube paulista. Além da vitória, o Flamengo levou para casa o Troféu Pedro Pedrossian. Em seu livro, João Pereira da Rosa no livro também relata que o público, que lotou o estádio em sua inauguração, também havia levado mensagens de carinho ao governador Pedro Pedrossian e a seu sucessor, José Fragelli, com bandeirinhas que continham os dizeres “Bem-vindo Fragelli, obrigado Pedrossian”. Assim, Campo Grande passou a ter o maior estádio universitário do país. Primeiro jogo oficial no Morenão, gol do Flamengo sobre o Corinthians

Dayane Fernandes

Capacidade

Roberto Higa

Placa de homenagem do Flamengo sobre o jogo da inauguração do Morenão

O estádio Pedro Pedrossian é, por vezes, erroneamente apontado como o maior estádio universitário da América Latina. Na época de sua inauguração o Morenão contava com capacidade para 45 mil torcedores, mas ficava atrás do estádio olímpico universitário do México que, segundo o site da Universidade Nacional Autônoma do México, foi inaugurado em 1952, com capacidade para pouco mais de 68 mil pessoas. M

Solenidade de inauguração do Morenão em 1971

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Foto: Roberto Higa Arquibancadas do estĂĄdio MorenĂŁo lotadas em dia de jogo

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MINI

Em 1972, pouco mais de um ano após sua inauguração, o Morenão foi palco de um dos maiores espetáculos esportivos que já ocorreram em seus gramados, a Taça da Independência. Popularmente conhecida como Mini-Copa, ela era uma competição de futebol entre seleções nacionais, que fez parte das comemorações do Sesquicentenário da Independência do Brasil. Para ela, o estádio recebeu um a visita de inspeção da FIFA, que logo em seguida concedeu aprovação para que o Morenão pudesse sediar alguns dos jogos da Taça da Independência, A inspeção contou com a presença do Presidente da Liga Esportiva Campograndense, Levy Dias, do Presidente da Federação Matogrossense de Desportos, José Agripino Bonilha Filho, do Presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF), João Havelange, do governador José Fragelli e de Stanley Rous, Presidente da entidade máxima do futebol mundial, a FIFA. Em 2012, o site da revista Veja Rio publicou uma matéria a respeito da competição, apontando que, na 1ª fase, 15 seleções foram divididas em três grupos. No grupo 1 ficaram (Argentina, França, Seleção Africana, Colômbia e Seleção da CONCACAF - Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe. No grupo 2 estavam Portugal, Chile, Irlan-

Convite para a Mini-Copa que foi vinculado nos jornais locais

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Roberto Higa

COPA

Cartaz da Taça da Independência, a Mini-Copa de 1972

da, Equador e Irã e no grupo 3 jogaram Iugoslávia, Paraguai, Peru, Bolívia e Venezuela. O estádio Morenão sediou três jogos do Grupo 3, realizadas nos dias 11, 14 e 18 de junho de 1972. Sediaram outros jogos da competição, as cidades de Manaus, Natal, Recife, Maceió, Aracaju, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Na segunda fase da competição, os campeões de cada grupo se juntaram às cinco seleções pré-selecionadas para jogar em dois grupos. A final da Mini-Copa foi realizada em 9 de julho de 1972, no estádio do Maracanã, entre Brasil e Argentina, onde a seleção brasi-


Roberto Higa Recontrução da marquise após o desabamento

leira se consagrou campeã, com vitória de 1 a 0.

Queda da marquise Pouco depois do término dos jogos da Taça da Independência, o Estádio Universitário Pedro Pedrossian quase vivenciou uma catástrofe. No dia 18 de junho, cinco horas após o fim do último jogo do

Planta da construção da marquise do estádio

Grupo 3, entre Bolívia e Iugoslávia, cerca de 100m² da marquise do estádio caíram, mais precisamente no local onde ficavam as cadeiras numeradas. Por sorte, o estádio estava vazio. Caso contrário, cerca de 500 pessoas poderiam ter sido atingidas. Logo após o episódio, uma comissão de engenheiros foi chamada para examinar o local do desabamento, avaliar as condições do estádio e fazer testes de resistência em toda a marquise, para assim determinar se havia risco de outros desmoronamentos. Para isso, o Morenão foi interditado e ficou cerca de dois meses sem poder receber jogos. O Engenheiro Civil José Francisco Lima explica que a marquise é uma estrutura de concreto armado, ou seja, concreto com armações de aço em seu interior. “O concreto é muito bom para compressão e péssimo para tração, por isso colocam uma armadura bem na parte tracionada”. Na execução, essa armação deveria ficar na parte superior. Segundo José Francisco, é provável que os pedreiros, ao caminhar sobre a armação durante a concretagem (colocação do cimento). Com a marquise torta, a parte que deveria estar sob compressão acabou sendo tracionada, e não resistiu, quebrando. M

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REFORMAS E

MELHORIAS Assim que foi inaugurado, o Morenão possuía capacidade para assentar cerca de 45 mil torcedores, mas com a entrada em vigor da Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003, conhecida como Estatuto de Defesa do Torcedor, houve a exigência, por parte do corpo de bombeiros, da redução do número máximo de espectadores para 30 mil. Como o estádio não possui cadeiras numeradas, esse cálculo foi feito pelos bombeiros, medindo a área disponível nas arquibancadas e dividindo pelo espaço que cada pessoa tem o direito de ocupar. Em novembro de 2007 a Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul constituiu uma comissão para avaliar as condições estruturais do Morenão, determinando a interdição do estádio para quaisquer atividades até o término do trabalho, que incluía a contagem de pessoas que poderiam frequentar o Morenão. Após um ano, o estádio retornou às atividades normais, com capacidade de público reduzida. O Morenão também vem recebendo adequações em função do que foi definido no capítulo 4 do Estatuto, que assegura acessibilidade aos torcedores com deficiência ou mobilidade reduzida. Segundo o atual administrador do Morenão, João Jair Sartorelo, a questão de acessibilidade não foi pensada na época de construção do estádio, portanto não havia um elevador ou rampa que facilitasse o acesso de torcedores que possuem necessidades específicas. Por isso, os bombeiros também exigiram que as devidas providências fossem tomadas. Segundo Raony Grau e Silva, chefe da Divisão de Revitalizações e Adequações dos Espaços Físicos da UFMS, o estádio possui agora acessibilidade no portão 26, com a instalação de rampa e parapeito, além de um banheiro adequado para portadores de necessidades especiais. De acordo com Raony, estas adequações foram feitas na área descoberta da arquibancada porque a entrada para a área coberta já é realizada apenas através de rampas.

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Dayane Fernandes

Capacidade e Acessibilidade

Rampas de acessibilidade construídas no estádio, a entrada de torcedores com deficiência física e mobilidade reduzida poderá ser feita pelo portão 25


Morcegos

Dayane Fernandes

Um fato sempre muito comentado, por vezes com desgosto, a respeito do estádio Morenão é a presença de morcegos. Um projeto foi feito no segundo semestre de 2012, para acabar com esse problema que desagradava torcedores e também moradores da região e consistia em realizar a vedação das juntas de dilatação, locais onde os animais costumavam ficar. Perdendo o local onde estavam vivendo, os morcegos deveriam migrar para outros lugares. Esta proposta atende o que estava disposto na lei 9.605 de 1998, que considera crime ambiental provocar a morte de espécimes da fauna silvestre. O projeto, portanto, foi desenvolvido com a intenção de que os animais abandonassem o estádio sem que sofressem qualquer dano. Segundo Jair Sartorelo, o trabalho ainda está sendo executado, porém já pode ser notada a diminuição na quantidade de morcegos no estádio.

Gramado Em 2009, para receber o jogo das eliminatórias da Copa do Mundo, entre as seleções do Brasil e Venezuela, o Morenão recebeu uma reforma completa em seu gramado, que estava muito duro e com muitos formigueiros. Dois anos depois, mais especificamente em março de 2011, o estádio serviu como palco para a apresentação da dupla sertaneja Fernando e Sorocaba. Devido à chuva que caiu no dia e à estrutura precária do show, metade do campo (área destinada à festa) transformou-se em um lamaçal. Embora os danos causados ao gramado fossem de total responsabilidade dos contratantes do evento, o caso de degradação repercutiu por sites de notícia de Campo Grande e, mais uma vez, acabou sendo motivo de revolta para os que preferem ter o estádio apenas como arena de jogos. Ao final de 2011, teve início a troca dos 7 mil metros quadrados de grama-

A junta de dilatação é uma separação entre duas partes de uma estrutura, que permite movimentação de ambos os elementos sem que haja transmissão de esforço entre eles

do do Morenão e, com ela, a decisão de proibir que outros shows e festas viessem a ocorrer. O gramado ficou pronto após cinco meses de trabalho, mas só foi reinaugurado em junho de 2012, com um jogo do campeonato estadual sul-mato-grossense sub-18. Ainda no mesmo ano, no dia 12 de dezembro, o estádio veio a receber seu primeiro show após a reforma. No entanto, desta vez o gramado foi poupado, apenas as arquibancadas foram utilizadas.

Dayane Fernandes

Manutenção e reformas

Manutenção das juntas de dilatação para a contenção dos morcegos

Segundo Jair Sartorelo, não há um custo fixo mensal de manutenção. O grande número de unidades administrativas instaladas no Morenão torna isso bastante inviável. “Só no gramado nós temos três pessoas para cuidar, e esse trabalho tem que ser intenso, porque tem que cortar grama, ver se aparece algum fungo, ver se aparece alguma erva-daninha... O trabalho é rotineiro e diário”. Atualmente, há vários setores administrativos da UFMS situados sob as arquibancadas do More-

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não. Entre eles está a Pró-Reitoria de Infraestrutura (PROINFRA). Raony Grau e Silva, que trabalha lá, conta que muitas salas embaixo do estádio eram utilizadas como depósitos ou oficinas e agora foram reformadas. Onde hoje está a PROINFRA, funcionava o setor de refrigeração da Universidade. “Quem cuidava disso foi aposentando e não há mais vagas de concurso para isso. Quem cuida agora é terceirizado. Não tem lógica construir um lugar sendo que você tem um espaço para aproveitar”. Segundo Raony, são poucas as demandas para reformas e manutenção no estádio, no que diz respeito à sua utilização voltada para o esporte. “A gente só adequa aquilo que os bombeiros exigem mesmo, aquilo que tem que ser feito para ter os jogos. No estádio mesmo é difícil mexer”.

Dinheiro

Administração Em seu primeiro ano, o Morenão era administrado pela Federação Mato-Grossense de Desportos, vindo a ser oficialmente passada para a Universidade Estadual de Mato Grosso apenas no início de 1972. O então Reitor da Universidade, João Pereira da Rosa, nomeou o Militar da reserva, Major José Maraviski, como o primeiro administrador do estádio. Maravieski ocupou o cargo até a segunda metade da década de 80. Atualmente o cargo é ocupado pelo Gerente de Serviços Gerais da UFMS, João Jair Sartorelo. M

Dayane Fernandes

Como o Morenão não é sede de nenhum clube sul-mato-grossense de futebol, para um time jogar no estádio como mandante, ele o aluga. Segundo Jair Sartorelo, os valores são fixos e foram instituídos pela Resolução Nº 64, de 7 de dezembro de 2009, do Conselho Diretor da UFMS. Os preços de aluguel variam de R$1,1 mil a R$2,5 mil para campeonatos

estaduais, de acordo com o dia e se há uso ou não de refletores. Para campeonatos nacionais como Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, a taxa mínima é de R$9 mil, independente de uso ou não de refletores. O dinheiro arrecadado com o aluguel não fica exclusivamente para o estádio. “O valor do aluguel é recolhido pelo que chamamos de Guia de Recolhimento da União [...] Esse dinheiro fica como recurso próprio da universidade. Fica para a Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Finanças (PROPLAN)”, explica Sartorelo.

Pintura da linha de marcação do gramado período antes do campeonato estadual de 2013

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PARTIDA COM TORCEDORES DE

Larissa Cristina Mello

OUTRO MUNDO

Uma partida comum era esperada entre Vasco da Gama e o Operário Futebol Clube no dia 06 de março de 1982. O time da casa, o Operário, venceria o adversário cruzmaltino por 2 a 0 naquela noite, num jogo disputado pelo Campeonato Brasileiro. O estádio Pedro Pedrossian, também conhecido como Morenão, estava com casa cheia, com um público pagante de 24.573 pessoas. Mas, naquela noite, não foram só os gols do Galo contra o Vasco que abrilhantaram os olhos dos espectadores. Era uma noite de sábado tranquila e quente na cidade, as pessoas já estavam acomodadas nas arquibancadas do estádio para assistirem o tão esperado jogo. O árbitro José Assis de Aragão deu o apito inicial e a partida seguia tranquilamente até que, aproximadamente aos 15 minutos corridos do primeiro tempo, o estádio inteiro parou ao surgir um intenso e rápido jogo de luzes, oscilando entre vermelho, verde, amarelo, azul e branco, pairando no céu de

Campo Grande naquela noite. Ninguém soube identificar o que era, mas muitas pessoas, como o técnico-administrativo da UFMS, Alberto Pontes Filho, dizem ter visto aquele objeto voador não identificado (OVNI) sobrevoando a cidade com rapidez imensurável e uma luz semelhante a efeitos pirotécnicos. Para quem viu, era impossível não se surpreender e, como ninguém sabia do que se tratava aquilo, as pessoas comentaram a hipótese de ser um disco voador. Alberto relata que, bem na hora do ocorrido, estava levando a parcial das vendas dos ingressos para os repórteres, conseguindo ter a visão do OVNI. “Avião não era! Era um equipamento grande e a luz muito forte, do jeito que ela vinha nós achamos que ia bater no placar do estádio, mas dali foi embora. Ninguém soube identificar o que seria, daí então começou: ‘deve ser um disco voador’, porque era bem parecido. Era redondo e tinha luzes muito fortes. Mas foi acontecido, foi real!”.

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Maringá (UEM), o agora ufólogo Ademar Gevaerd. Ademar conta que quem avistou o OVNI naquela noite foi o seu professor de Cálculo I, que relatou o fato a ele contando que viu “luzes penduradas” no céu da cidade e que não sabia do que se tratava. Na semana seguinte, vários jornais noticiavam o avistamento coletivo no morenão, e isso instigou ainda mais a curiosidade de Gevaerd, o fazendo vir até Campo Grande para investigar o fato. “Quando eu cheguei que fui ter idéia da dimensão da ocorrência que se viu no Morenão, foi algo muito além do que normalmente se encontra em ocorrências ufológicas.” As aparições do dia 06 de março de 1982 foram fator decisivo para que Gevaerd se especializasse em Ufologia e viesse a lançar, em 1985, a revista Ufologia Nacional & Internacional. Mais a frente, em 1986, deixou seu emprego de professor para se dedicar integralmente ao estudo sobre extraterrestres. Ademar afirma que o caso do Morenão é uma das aparições com maior credibilidade: “Até hoje foi um dos casos recordistas em ocorrência de avistamento coletivo, que é uma coisa rara. Na ufologia, quanto mais próximo o objeto, quanto mais tempo ele demorar sendo observado e mais gente observar, maior sua credibilidade. No caso do Morenão ele tem uma altíssima credibilidade por que foi visto por milhares de pessoas.” Desde o ocorrido, em 1982, não houve mais relatos a respeito de aparições de OVNIs no estádio Morenão. M

Reprodução/Correio do Estado

Segundo relatos, o OVNI fez uma aparição com cerca de 15 segundos sobre o Morenão, antes de seguir na direção sul e sumir por entre as nuvens, mas foi tempo suficiente para causar espanto em quem ali estava. Com essa rápida visão, muitas pessoas não conseguiram identificar ao certo o formato do objeto, mas as variações de formas relatadas foram de disco, charuto e até mesmo uma garrafa. Ainda hoje não se sabe qual o formato verdadeiro do OVNI. Apesar do furor do objeto sobrevoando o estádio, o jogo prosseguiu e o artilheiro Jones do Operário fez os 2 gols da partida contra o time carioca. Principal jornal local da época, o Correio do Estado noticiou o fato nos dias que se seguiram e, assim, foi possível identificar que o “disco voador” não foi visto apenas no Morenão naquela noite, mas em boa parte da cidade de Campo Grande, traçando o sentido norte-sul e parando por cima do estádio durante alguns segundos. A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária - INFRAERO - informou ao jornal que não havia nenhum registro oficial sobre um OVNI nos céus de Campo Grande. Foi constatado que vários outros OVNIS foram avistados na mesma noite e no mesmo horário em outros lugares do Brasil, além de Paraguai e Bolívia. Na cidade de Maringá, que fica localizada ao noroeste do estado do Paraná, um objeto voador não identificado também foi visto, despertando a curiosidade de um estudante de química da Universidade Estadual de

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TEMPOS DE GLÓRIA E DECADÊNCIA visitar algumas vezes a obra quando era criança, na companhia de seu pai, que trabalhou na construção do estádio. Depois da inauguração do Morenão, ele também ia aos jogos “Eu tinha 12 anos, era molequinho! E tinha um rapaz que trabalhava na DERSUL (Departamento de Estradas e Rodagens de MS) com o meu pai, que tinha um caminhão de caçamba e morava pertinho de casa. Daí em dia de jogo eu olhava pra minha mãe e pro meu pai, subia na caçamba e ia embora...”. Com o estádio, os bairros ao redor do Morenão foram crescendo e o fluxo de pessoas aumentou. Era de se imaginar que, assim, o público nos jogos seria cada vez maior. Porém, com o crescimento de Campo Grande, também surgiram outras formas de entretenimento e o estádio que viveu dias gloriosos de jogos repletos de torcedores, começou a passar por momentos de arquibancadas vazias. Não existe um motivo concreto ou um culpado pelo baixo público no Morenão. Segundo dirigentes de clubes, há alguns fatores que contribuíram para o atual cenário do futebol sul-mato-grossense. Entre eles está a falta de incentivo por parte da Fe-

Roberto Higa

Arquibancadas lotadas. Gritos, vaias, olas e olés, aplausos, assovios, cantorias. Até aproximadamente a segunda metade da década de 80, o estádio Morenão sediava jogos sempre com alto índice de torcedores, fossem eles fanáticos, ou até mesmo os menos entendidos de futebol, mas que compareciam para prestigiar os grandes espetáculos esportivos e para se entreter em meio à emocionante agitação que sempre era vista no estádio. Não importava se o jogo era entre grandes ou pequenos times, se era um campeonato entre seleções nacionais ou uma disputa entre equipes que nasceram no recémcriado estado de Mato Grosso do Sul. Qualquer competição atraía grande número de apreciadores de toda Campo Grande e até mesmo de outras cidades, como relata o fotógrafo Roberto Higa. Havia uma grande mobilização para assistir aos jogos. Como a região do estádio estava em desenvolvimento na época, o acesso à UEMT não era tão fácil, com isso, as “caronas amigas” eram sempre bem vindas. E foi assim, com essas caronas que Marino Gomes, atual dirigente do clube Portuguesa -MS, começou a frequentar o estádio. Marino foi

Estacionamento do Morenão no ano de 1972

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Dayane Fernandes número de público

Carlos Versoza, historiador e torcedor do Operário

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ano

Dayane Fernandes

deração de Futebol de Mato Grosso do Sul. O atual dirigente do Operário Futebol Clube, Tony Vieira, tece uma série de críticas em relação ao esporte no estado: “Deveria ter mais campeonato no estado. Aqui não tem calendário. Não conseguimos revelar nossos atletas, não temos campeonato de base. Os jogadores ficam ativos 3 meses ao ano, que é durante o campeonato estadual, no resto do ano ficam parados. No campeonato estadual, a gente paga pra jogar: aluguel do estádio, ambulância, árbitro e segurança. E isso deveria ser despesa do contratante. A nossa premiação não incentiva nada, se ganha um troféu e vai pra casa. A federação de futebol parece que não trabalha para o futebol, parece que é uma entidade particular, as coisas não funcionam como tem que funcionar, são

Tony Vieira, dirigente o Operário Futebol Clube

vários fatores somando um ao outro, que vão afastando quem tem interesse no futebol. Eu mesmo já não tenho expectativa nenhuma com o futebol de Mato Grosso do Sul”. O uso do estádio Morenão apenas por 3 meses ao ano, durante o campeonato estadual, faz com que o torcedor sul-mato-grossense fique afastado por muito tempo das arquibancadas. O historiador Carlos Versoza, membro da torcida organizada do Operário comenta sobre a sua relação com o estádio: “Eu frequento o Morenão desde os meus 6 anos de idade e futebol aqui era bem mais fomentado, bem mais legal. Havia programas de rádio, de televisão que debatiam futebol, a visibilidade no futebol era muito boa, os principais times daqui, Operário e Comercial, tinham categoria de base, hoje em dia não tem mais isso. Hoje você vai no estádio, você acaba conhecendo todo mundo que está lá, são todos parentes de jogador, amigos, e alguns apaixonados como eu, que ainda frequentam. O Morenão deixou de ser um lugar de grandes eventos esportivos, pra ser um elefante branco, que de vez em quando tem jogo e serve de sede pra órgãos da universidade.” Conheça quais foram os jogos com maior e menor público pagante, durante todos os 40 anos do Morenão. Os dados foram retirados do


Dayane Fernandes Final do Campeonato Estadual de Mato Grosso do Sul em 2013, com a chuva a arquibancada coberta estava praticamente cheia

mil torcedores foram prestigiar o jogo. O CENE sagrou-se campeão, derrotando o Naviraiense por 4 a 0. O Morenão, bem como outros estádios brasileiros, recebeu muitos shows, que também vieram a lotar as arquibancadas. Nos anos 2000, o estádio passou a ser palco de festivais de música eletrônica e de outros shows. E com isso, surgiram muitas

Roberto Higa

Registro de Atividades Financeiras do estádio. É visível o declínio de público com o passar dos anos. Em 2013 a TV Morena, emissora local afiliada da Rede Globo voltou a transmitir jogos do campeonato sul-mato-grossense, dando maior visibilidade para o futebol estadual. Na final do campeonato disputada, entre os times CENE e Naviraiense, mesmo debaixo de chuva, aproximadamente 2,5

Jogo entre Operário e Comercial em 1972 mostra a diferença atual de público

21


Dayane Fernandes

Jogadores e torcedores do CENE, campeão estadual de 2013, comemorando o título

reclamações a respeito da depredação do estádio (principalmente do gramado), também a cerca do barulho das festas e shows e tiveram início discussões sobre o uso do estádio para funções não esportivas e seus malefícios à estrutura do monumento. O Morenão possui hoje, em suas instalações, mais de 20 unidades administrativas da UFMS.

Pró-Reitoria de Infraestrutura, duas salas de dança, uma sala de coral, Escola de Conselhos, Arquivo Central da universidade, entre outros, são órgãos que funcionam diariamente embaixo das arquibancadas do estádio. Por isso, é possível afirmar que, atualmente, o Morenão é mais utilizado para fins administrativos do que esportivos. M

DATAS IMPORTANTES 1971

1972

1978

1982

2009

Inauguração 07 de março

Taça da independêcia 11, 14 e 18 de junho

Recorde de público 22 de junho

Aparição de OVni 06 de março

eliminatórias da copa 06 de março

38.122 pagantes

22

vasco 0 x 2 operário

brasil x venezuela


~2013~

Foto: Dayane Fernandes Jogo da final do Estadual de 2013 entre CENE e Naviraiense


Dayane Fernandes

Trabalho de ConclusĂŁo de Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul AcadĂŞmicas: Dayane Fernandes e Renata Portela Orientador: Silvio da Costa Pereira


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