Ventre é vida - A dança do ventre como terapia complementar a depressão | Bárbara Rezende Rodrigues

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DEJORNALISMO

VENTRE É VIDA – A DANÇA DO VENTRE COMO TERAPIA COMPLEMENTAR A DEPRESSÃO

BÁRBARA REZENDE RODRIGUES CESARETTO

Campo Grande NOVEMBRO /2018


VENTRE É VIDA – A DANÇA DO VENTRE COMO TERAPIA COMPLEMENTAR A DEPRESSÃO

BÁRBARA REZENDE RODRIGUES CESARETTO

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Orientadora: Prof. Dra. Daniela Cristinane Ota



SUMÁRIO Resumo

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Introdução

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1. Atividades desenvolvidas

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1.1 Execução

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1.2Dificuldades encontradas

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1.3 Objetivos alcançados

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2. Suportes teóricos adotados

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2.1 Entrevistas

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2.2 Dança do Ventre

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2.3 Psicologia da dança

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Considerações finais

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Referências

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Anexos

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Apêndice

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RESUMO: Este vídeo documentário tem como objetivo apresentar outro lado da dança do ventre, que vai além de estigmas como o da sensualidade, na qual ela torna-se aliada no tratamento de transtorno depressivo, uma das doenças mais comuns no mundo atual de acordo com a psicóloga Maria Lopes Cristina (2016). O tema será abordado por meio do relato de três bailarinas de diferentes idades e profissões que enfrentam a depressão e uma quarta que estuda a psicologia aplicada a dança. Todas essas mulheres encontraram no movimento realizado pelo ventre um modo de melhorar sua qualidade de vida.

PALAVRAS-CHAVE: Vídeo Documentário; Dança do ventre; Terapia; Depressão.


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INTRODUÇÃO A capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, recebeu diversos imigrantes árabes que fugiram da guerra em seu país ao final do século XIX, e tornouse uma grande colônia desse povo como relatado por Jardim e Machado de Oliveira (2007). Devido a esse fator, a cultura árabe está presente no cotidiano do campograndense através da gastronomia, em restaurantes e pratos típicos como esfihas e quibe e das danças típicas, muito comuns em casamentos,onde homens e mulheres fazem a recepção dos noivos na festa, ao estilo árabe. A dança do ventre é uma arte milenar e muito popular em todo o mundo. Em Campo Grande não é diferente, são diversos estúdios de dança especializados. Ainda não se tem uma pesquisa com o número exato, mas, quando questionada, Nidal Abdul, a primeira professora de dança do ventre de Campo Grande, afirma que no total são mais de vinte escolas ativas. Os movimentos da dança do ventre requerem atenção, concentração, força e sutileza. Por trabalhar partes do corpo, isso faz com que as alunas prestem atenção em si mesma, nos detalhes de anatomia. As roupas das bailarinas são feitas sob encomenda, com pedras brilhosas, tecidos luxuosos, fazendo com que pareçam artistas. A dança do ventre pode proporcionar diversos benefícios como explicado no vídeo documentário produzido, por exemplo, o autoconhecimento, auto aceitação, liberação do hormônio da felicidade e a interação em grupo. Este projeto tem o objetivo de mostrar outro lado da dança do ventre, quando essa arte passa a se tornar um tratamento complementar para mulheres que enfrentam o transtorno depressivo, a partir de questões como a interação social, disciplina e prazer na atividade. Com isso, foi dado início a diversas discussões sobre o assunto na sociedade. Porém, apesar do crescente aumento de informações sobre, os transtornos mentais, em especifico, a depressão, ainda causa muitas dúvidas na população e com isso,estigmas Estima-se que a depressão seja a segunda doença de maior preocupação em termos de saúde pública no mundo. O Brasil possui mais de 5% da população enfrentando o transtorno. O país é um dos que mais apresentam casos de suicídios no


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mundo, tendo os maiores números em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, de acordo com a última pesquisa divulgada em 2015 pela OMS. Avalia-se que a depressão seja a segunda doença de maior preocupação em termos de saúde pública no mundo. Mesmo com esse fato, a capital enfrenta grandes filas de espera no atendimento em hospitais psiquiátricos público e privado. Além disso, o tratamento para depressão tem um custo elevado, tanto nas despesas com o atendimento médico e no valor de medicamentos. Nesses casos é indicado além do tratamento médico, um acompanhamento com um psicólogo. Ambos profissionais indicam aos pacientes exercícios físicos. É nesse momento que a dança do ventre entra, sendo uma terapia complementar que tem ajudado as pessoas na melhoria do bem estar. Durante a pesquisa, foram visitados os estúdios Nidal Abdul, Leticia Zanezi, Hana Aysha, Projeto Tocando em Frente 1e Rede Solidária 2e foi possível perceber que é cada vez mais comum o aumento da procura por aulas a partir da indicação médica. Este projeto visa apresentar histórias de mulheres que sofreram ou sofrem com a depressão e que procuraram a dança do ventre para auxiliá-las na superação da doença. É o momento de desmistificar a dança do ventre, apresentando a realidade de profissionais e não profissionais da dança em como lidam com as situações do dia a dia e como a dança influencia em suas vidas. Para a maioria dessas pessoas, a dança não é simplesmente um passa tempo, é o momento em que o quadril as empodera, momento de se sentirem livres e afastadas dos problemas pessoais e dos padrões de beleza. É o momento de superação e de serem protagonistas da própria história.

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Projeto social idealizado pela professora Rose Modesto que oferece aulas de dança gratuitas em regiões carentes de Campo Grande 2 Programa do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul junto a Secretaria dos Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho que visa desenvolver diversas atividades a bairros do estado, incluindo a dança do ventre.


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1- ATIVIDADES DESENVOLVIDAS A escolha do tema teve motivação pessoal, pois pratico a dança do ventre desde os oito anos de idade e nesse tempo pude acompanhar diversas histórias, além de ter enfrentado a depressão e ter incorporado a dança do ventre como recurso terapêutico. Foi realizado um estudo referente a cultura árabe desde a sua origem, assim como um especifico sobre a dança do ventre até sua disseminação, (chegando no Brasil, Mato Grosso do Sul e Campo Grande,) por meio de monografias, artigos, documentários, livros e reportagens. Também foram identificados estúdios de dança do ventre em Campo Grande. Nessa fase houve conversa com as proprietárias dos estúdios Leticia Zanezi, Nidal Abdul, Hana Aysha e as professoras dos projetos Tocando em Frente e Rede Solidária, para explicar as ações e atividades e ter conhecimento de possíveis alunas que faziam dança do ventre e que também enfrentavam a depressão. Após essa conversa, entrei em contato com possíveis fontes, onde foi realizada uma pré-entrevista para explicar o objetivo do trabalho e conhecer melhor a história de vida de cada uma e perguntar sobre o aceite de convite para realização da entrevista. Para entender melhor sobre a depressão houve uma conversa com a psiquiatra Pérola Pechman e a psicóloga Maria Cistina Lopes, uma das percussoras do estudo da psicologia da dança no Brasil, onde ambas indicaram leituras para maior compreensão do tema. Antes de iniciar as gravações foi elaborado um roteiro simulando a forma como o documentário deveria ser. Também foi feito um roteiro com as perguntas que seriam feitas as entrevistadas e as imagens que deveriam ser captadas. Ao fim de cada gravação foi realizada a decupagem de todo o material. Para a entrega do produto final, foi elaborada uma capa para o CD, utilizando o editor CorelDraw, contendo as principais informações sobre o trabalho, como nome do trabalho, da acadêmica e orientadora e a identidade visual do curso de jornalismo e da Universidade.


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1.1 Execução:

As quatro entrevistas foram realizadas no mesmo local, no estúdio da NidalAbdul pois todas freqüentavam a escola, sendo um pedido das mesmas para facilitar o agendamento das entrevistas. Asfilmagens tiveram duração de trinta minutos à uma hora, sendo que duas foram realizadas no período da noite e outras duas no período vespertino. A filmagem foi realizada com auxílio de dois cinegrafistas devido a disponibilidade dos mesmos e das fontes. As entrevistas foram filmadas frontalmente e eu me sentei ao lado da câmera, de forma que a personagem não olhasse para a câmera e na imagem ficasse de lado. Por terem sido feitas por dois cinegrafistas, houve discrepância na qualidade da filmagem devido à diferença de equipamentos utilizados, pois cada cinegrafista possuía seu próprio material. As duas primeiras entrevistas foram realizadas a noite, com barulho de chuva e com microfone na mão, o que fez com que ficasse inferior, já que as outras duas ocorreram no período vespertino e com lapela. As primeiras entrevistas foram realizadas no dia 27 de setembro (quintafeira) com a Smenia Moura e Nathalia Geber as 19h no restaurante árabe Zahle3 que fica no interior do Studio Nidal Abdul. A entrevista com a Giovanna Xavier e Nidal Abdul acorreram no dia 05 de outubro (sexta-feira) as 14h na sala de aula também do estúdio. Após as entrevistas foi solicitado que as depoentes dançassem uma música para que essas imagens fossem utilizadas como imagem de apoio. Durante a gravação no período noturno, havia aula regular, então foi filmado o momento em que diversas alunas dançavam em sala de aula, incluindo Nathalia Geber e Smenia Moura. Ao final de cada entrevista foi realizada decupagem de imagens e sonoras. Em um documento Word transcrevi cada entrevista e em outro as imagens de apoio que seriam utilizadas e em um terceiro as falas a serem colocadas no documentário. Quando finalizadas todas as entrevistas, no dia 7 de outubro (domingo), no fim da tarde foram gravadas as cenas das meninas dançando no Parque das Nações Indígenas4. O intuito era que fosse representado um momento de lazer ao ar livre,

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Zahle é a capital de Beqaa no Líbano. Um dos parques mais movimentados de Campo Grande, localizado em uma das principais avenidas da capital.


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deixando as imagens leves e coloridas. Foram convidadas diversas alunas do estúdio de dança em questão e apenas uma das entrevistadas pode comparecer por tratar-se de domingo de eleição. A gravação com essas alunas está presente no início do vídeo documentário. Depois de finalizada as gravações, iniciei a montagem do roteiro. Inicialmente foi feita montagem prévia com post-its em papel branco de forma a organizar as idéias e a seqüência. Quando visualizado de forma clara, montei o roteiro em um documento Word de forma livre, apenas escrevendo-o. Após esse passo, o roteiro foi inserido na lauda de roteiro, junto ao tempo, imagem de apoio e offs para que pudesse facilitar o processo de edição. A edição foi realizada através do programa Premiere. Primeiramente, eu realizei os cortes das falas a serem usadas, após este procedimento, montei o documentário. As animações, inserção de off, imagem de apoio e finalização foram realizados por um profissional de edição.

1.2Dificuldades Encontradas

A depressão é um assunto delicado de se tratar pois existem diversos estigmas referente a mesma. Foi necessário ter o cuidado para não infringir o código de ética dos jornalistas ao abordar tal assunto que também envolve o suicídio. Muitas possíveis fontes não se sentiam prontas para abordar o assunto em público, por esse motivo, as entrevistadas são do mesmo estúdio, pois é o local que eu freqüento para fazer aulas e consegui ter uma conversa mais intima para convencê-las. Por se tratar de uma doença, existem na internet muitas informações, no entanto a maioria era para leigos, como eu, senti a necessidade de entender o assunto cientificamente. No momento da leitura de artigos científicos, uma das dificuldades, entender os termos técnicos. Neste momento houve a entrevista com psiquiatra Pérola Pechman, para que pudesse explicar de forma mais clara a depressão como doença. Médicos possuem


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uma agenda muito cheia e não estão acostumados a explicar de forma mais completa a depressão. Foram meses tentando marcar uma conversa com tal profissional. Outro problema encontrado foi referente à disponibilidade dos cinegrafistas para realizar a filmagem. Outro aspecto inicial era realizar uma entrevista com algum homem que fazia aulas de dança do ventre, mas o mesmo recusou de última hora a oportunidade. Uma das gravações realizadas foi no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) Aero Rancho, onde existe um projeto chamado “Divas da Dança” que consiste em aulas de dança do ventre para paciente que sofrem de algum transtorno mental. Neste local foram realizadas entrevistas com duas pacientes, a professora que também é psicóloga e a psiquiatra responsável. Porém, foi necessária autorização da Secretaria Municipal de Saúde (SESAU) para a vinculação do projeto, que foi recusada, tendo a necessidade de retirar as imagens captadas do trabalho. Durante o curso de jornalismo não foram oferecidas disciplinas que ensinassem a edição de vídeo. Na fase de edição do documentário, iniciei sozinha mas devido a complexidade de editar um vídeo de vinte minutos, precisei de auxílio do meu cinegrafista. Devido ao seu trabalho e ao meu pedido para estar junto na hora da edição foi um processo exaustivo e demorado.

1.3 Objetivos Alcançados

A execução do projeto foi concluída com sucesso. Foi possível realizar as entrevistas em vídeo, mesmo sendo uma exposição para as fontes, elas aceitaram o convite. No vídeo a psicóloga Giovanna Xavier explica a depressão e como ela é estudiosa

da

área

da

psicologia

da

dança,

contribuiu

positivamente

na

contextualização. Por meio da Giovanna foi possível contatar a psicóloga Maria Cristina Lopes, uma das precursoras dos estudos de psicologia da dança no Brasil, no entanto, ela reside no Rio de Janeiro, o que fez com que a conversa fosse possível apenas via


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internet. A conversa com a médica psiquiatra Perola Pechman teve bom proveito já que é responsável por indicar tratamentos com remédios e debater sobre o que é discutido sobre em sua classe. As entrevistadas possuem uma ótima dicção, beneficiando entendimento de suas histórias e também facilitando a edição. O recurso da imagem foi favorável em diversas ocasiões dos depoimentos, entre elas, em momentos de emoção. O principal objetivo alcançado foi ter a oportunidade de divulgar a dança do ventre de uma forma nunca vista antes, contar histórias de vida de mulheres reais e abordar um tema tão importante como a saúde mental.


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2 SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS:

O documentário é uma forma livre de narrativa, onde quem o produz possui liberdade para apresentar um fato, uma questão, ou uma história de inúmeras maneiras. Para Bill Nichols (2007, p.47), “não é uma reprodução da realidade, é uma reprodução do mundo em que vivemos’’. Nichols explica a definição de documentário afirmando que é uma questão mais complexa do que o imaginado, pois na prática, as razões que levaram a elaboração do conteúdo vão influenciar no conceito de vídeo documentário. A criação do roteiro é livre, podendo abordar qualquer questão. A definição de “documentário’’ é sempre relativa ou comparativa. Assim com o amor adquire significado em comparação com indiferença ou ódio, e cultura adquire significado quando constratada com barbárie ou caos, o documentário define-se pelo contraste com filme de ficção ou filme experimental e de vanguarda. (NICHOLS, 2007, p.47)

Neste trabalho, o documentário é usado para mostrar as expressões das pessoas que relatam suas experiências através da ferramenta imagem, de modo a abordar um assunto relevante, que precisa ser discutido e que apenas a voz não poderia narrar o que as imagens ajudam a contribuir, como em algumas cenas em que é narrada a diversidade de alunas e aparece a imagem de aula. Nichols (2007, p.51), fala sobre o modo de retratar essa questão: “estratégias reflexivas que questionam o ato de representação abalam a suposição de que o documentário se funda na capacidade do filme de capturar a realidade’’. Teixeira (2004, p. 12) faz uma comparação com a época em que os documentários começaram a surgir, a fim de mostrar uma realidade que não era possível ser apresentada por outros meios de comunicação.

Tais remanejamentos na história do documentário, que põem em ação o dispositivo do lastro temporal, o selo de antiguidade no qual se adentra uma forma artística, tornam-se mais reiterativos quanto mais o gênero


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ocupa um lugar de relevo na reflexão da produção audiovisual contemporânea, quanto mais se altera seu regime de produção de imagens e ganham

complexidade

seus

processos construtivos.

(TEIXEIRA, 2004, p.12)

Outro ponto importante durante a elaboração do documentário é a entrevista a ser feita com as fontes. O relato deve parecer algo espontâneo, onde os personagens contam suas histórias de sua própria forma, entretanto, muitos dos entrevistados não estão acostumados com uma câmera os filmando e para assim o relato ficar o mais sincero e real possível, é preciso formular bem as perguntas para instigar as respostas para que não pareçam superficiais (MEDINA, 1986, p. 15). Sobre a importância da formulação de boas perguntas para obter ótimas respostas e histórias contadas, Coutinho (2013, p. 31) entende:

Em primeiro lugar, julgo extremamente importante elaborar uma entrevista bem consistente, ou seja, você deve conhecer bem as perguntas que vai fazer, deve conhecer bem a trajetória ou ao menos alguns momentos mais decisivos da vida do seu entrevistado...,mas é igualmente fundamental que deixe o seu depoente – seja no cinema, seja na história oral – expressar livremente a sua visão de mundo e a sua ideologia, a sua forma de pensar...As perguntas não podem ser respondidas da maneira que você quer, que você gostaria que a pessoa respondesse. Se isso acontece, as coisas ficam sem sentido. Isso não quer dizer, porem, que você não possa, muitas vezes, fazer algumas perguntas que levem o seu entrevistado a refletir sobre determinados aspectos. O modo como você formula a sua pergunta é determinante (COUTINHO, 2013, p.31).

O documentário é uma ótima ferramenta para trabalhar os retratos da realidade e fazer críticas sociais. Muitas vezes quem assiste a esse formato se surpreende com o que é apresentado. É uma forma complexa de contar algum assunto, tornando-o mais humanizado possível.


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Desde a elaboração do roteiro, as primeiras entrevistas, as imagens captadas sobre aquela realidade fomentam um bom resultado, como afirma Nichols

O vínculo indexador do som e da imagem com o que é gravado atesta o envolvimento do filme num mundo que não é inteiramente resultante de seu projeto. O documentário re-presenta o mundo histórico, fazendo um registro indexado dele; ele representa o mundo histórico, moldando seu registro de uma perspectiva ou de um ponto de vista distinto. (NICHOLS, 2001, p.67).

2.1 – ENTREVISTAS Esta pesquisa, situada no âmbito comunicacional, usou fontes das ciências tecnológicas no campo prático para compreender melhor o impacto da tecnologia junto à relações psíquicas de pessoas na comunicação audiovisual. E, o uso da imagem em vídeo documentário para retratar histórias de pessoas reais. Foi possível por meio das entrevistas, descobrir que as histórias de Smenia Moura e Nathalia Geber se assemelham, como em relação a crise com o corpo e o enfrentamento de um relacionamento abusivo, assim como Giovanna Xavier e Nidal Abdul relatam que tiveram que enfrentar uma fase em que tiveram dilemas quanto a carreira profissional. Com o objetivo de responder às perguntas de pesquisa, optou-se por utilizar como metodologia o Estudo de Caso, onde foi analisado o comportamento e relação das freqüentadoras do estúdio Nidal Abdul junto ao relato de quatro praticantes e como técnicas de coleta de dados a observação direta e entrevista em profundidade. O estudo de caso como metodologia de pesquisa é amplamente utilizado em pesquisas de diversas áreas, inclusive na área da comunicação, tornando-se uma ferramenta importante para o avanço científico. Para Robert Yin (2001, p.13), “a pesquisa empírica avança somente quando vem acompanhada pelo pensamento lógico e não quando é tratada como esforço mecanicista”, sendo assim, considera-se que o estudo de caso, assim como outras metodologias, só trará bons resultados quando exercido com comprometimento e esforço por parte do pesquisador ao fazer indagações relevantes.


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Yin define o estudo de caso como uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno contemporâneo que se realiza na vida real, principalmente quando os limites do contexto e do fenômeno não estão estabelecidos de forma clara. Esta metodologia é uma estratégia de pesquisa abrangente que investiga um fenômeno a partir de procedimentos preestabelecidos.

A investigação de estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de triângulo e, como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados (Yin, 2001, p. 32).

Este estudo se caracteriza como um estudo de caso incorporado, pois vão ser analisados casos isolados, ao mesmo tempo em que envolve mais de uma pessoa ou grupo de análise. “Isso ocorre quando, dentro de um caso único, dá-se atenção a uma subunidade ou a várias subunidades” (Yin, 2001, p. 64). O autor explica que, geralmente, o estudo de caso é utilizado quando a pesquisa tem como questão ou problema, perguntas que pretendem responder como ou por que um fenômeno ocorre. Neste trabalho optou-se inicialmente pela técnica de coleta de dados – entrevista em profundidade – a fim de buscar dados que contribuam para o levantamento de informações, no sentido de responder às indagações, formuladas no problema de pesquisa. Primeiramente foram realizadas entrevistas com pessoas que atuam diretamente na arte da dança do ventre. As entrevistas, segundo Yin (2001, p. 112-114), são umas das mais importantes fontes de informação no estudo de caso, pois constituem uma fonte imprescindível de evidências, mas, para que esta tenha valor, é preciso confrontá-la com informações colhidas em todas as entrevistas e na observação direta. As provas observacionais são, em geral, úteis para fornecer informações adicionais sobre o tópico que está sendo estudado. Se o estudo de caso for sobre uma nova tecnologia, por exemplo, observar essa tecnologia


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no ambiente de trabalho prestará uma ajuda inestimável para se compreender os limites ou os problemas dessa nova tecnologia (YIN, 2001, p. 115).

Como afirmou Yin, a observação é uma ferramenta capaz de identificar problemas e apresentar informações que não seriam percebidas pelo pesquisador, se este não estivesse presente na rotina do evento. No trabalho pode ser notada a interação entre alunas e a maneira como se portavam durante os exercícios, ver na prática elas se olhando, buscando o auto conhecimento, como citada diversas vezes neste trabalho. Para realizar essas análises, foram feitas entrevistas em profundidade com as bailarinas profissionais da dança, Giovanna Xavier e Nidal Abdul, alunas que investem na dança por indicação médica, Smenia Moura e Nathalia Geber, alunas com diferentes motivações para início da prática e também por psicólogos, para entender por meio de um profissional da saúde mental, os benefícios e possíveis ganhos com a prática da dança do ventre. Duarte também defende as entrevistas, pois a medida que a conversa se estende é possível identificar aspectos antes não pensados pelos entrevistadores e que podem contribuir de forma significativa para a entrevista

É uma técnica dinâmica e flexível, útil para apreensão de uma realidade tanto para tratar de questões relacionadas ao íntimo do entrevistado, como para descrição de processos complexos nos quais está ou esteve envolvido (DUARTE, 2011, p.64).

A observação direta consistiu em assistir algumas aulas e apresentações de dança do ventre, onde se pode avaliar o comportamento dos praticantes, como também a dinâmica que ocorre entre eles, perceber as possíveis dificuldades e a rotina dos mesmos. Com essas formas de pesquisar, foi possível entender a dinâmica na qual funciona a dança do ventre, o fazer documentário de narrativa indireta livre e entender os motivos que levaram as pessoas a procurar pela dançado ventre e o que as mantêm


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praticando, além de perceber os possíveis problemas e dificuldades enfrentados por mulheres que dançam.

2.2- DANÇA DO VENTRE

A dança do ventre é uma arte originária do oriente médico, no antigo Egito, porém não se sabe o local exato de onde começou. Estima-se que a dança existe desde 7.000 a.C. O nome original é RackselSharqi, que significa “dança do leste’’. Acreditava-se que era uma forma de magia que proporcionava as mulheres a fertilidade, no entanto, no momento de ser semeada, segundo a historiada e pesquisadora Wendy Buonaventura:

A dança, tal qual é executada hoje em dia, está longe de se parecer com a dança dos antepassados, uma das danças mais antigas da criação. [...] Ela era encontrada em culturas do mundo todo, com movimentos das ancas, ora vigorosos, ora leves e ondulantes, onde então era sua principal

expressão.

Originalmente tinha

um

significado

preciso

enquanto rito e cerimônia, para expressar os mistérios da vida e da morte tal qual eles eram entendidos. Como todas as danças primitivas, ela começou como um culto religioso, numa época onde a religião fazia parte integrante da vida cotidiana e se aplicava a todos os aspectos da existência. Mas com o crescimento das culturas, que se tornavam mais sofisticadas, as civilizações suprimiram as crenças dos tempos mais antigos dos ritos conectados as religiões. Assim pouco a pouco foram apagadas as danças pélvicas das mulheres em muitas partes do mundo. Em certas regiões, no entanto, elas perderam seu caráter religioso e se transformaram em entretenimento secular. (BUONAVENTURA, 1998 p. 10-11)

Por ser uma cultura muito antiga, a real localização, o motivo dessa tradição, assim como a forma que a dança do ventre foi difundida, existem diversas teorias. Segundo Bernard Lewis, uma delas é de que a dança começou a ser disseminada a


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partir da invasão dos árabes ao Egito em 641. No Brasil recebe o nome de “dança do ventre’’, nos Estados Unidos de “Bellydance’’ e na França é chamada de “Danse’’. De acordo com o artigo “Aspectos históricos da dança do ventre e sua prática no Brasil’’ escrito por Sandra Aparecida Queiroz Kussunoki e Carmen Maria Aguiar, o significado da dança do ventre em sua forma mais pura era um ritual entre as mulheres para celebrar a vida, mas a partir da invasão árabe esse significado foi alterado e “passou a ser exibida também na forma de entretenimento para convidados no palácio... por volta do século XVI a dança começou a ser executada em locais de prostituição’’. Mohamed analisa as questões culturais atuais em que a dança do ventre é praticada e como as bailarinas buscam se portar.

A dança do ventre é uma dança que se situa entre o folclore e a criação pessoal, porque por um lado possui uma estrutura básica constante e por outro, existe também um componente importante de improvisação que oferece à dançarina uma liberdade ampla para realizar seus movimentos num extraordinário equilíbrio entre regra e liberdade, sujeição e criatividade pessoal. É através desta improvisação que se pode exteriorizar todas as suas qualidades expressivas e alcançar a distinção artística a que chegam as grandes dançarinas da atualidade. (MOHAMED, 1995, p.10)

Ainda de acordo com o artigo de Kussunoki e Aguiar, a dança do ventre sofre diversos estigmas tanto no Brasil e em outros países, devido a uma tradição e o senso comum.

A dança do ventre, por ser extremamente sensual, foi e é utilizada de forma deturpada em relação ao seu caráter e significados antigos, sendo apresentada em “shows” de "strip-tease", em locais de prostituição de todo o mundo. Esta visão relacionada ao sexo ou à sedução é normalmente a primeira que aparece quando se fala de dança do ventre, atualmente.(AGUIAR E KUSSUNOKI, 2008, p.72)


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Diversas praticantes da dança do ventre atualmente, procuram apenas por aulas, como forma de exercício. Outras já realizam apresentações em festivais e diferentes eventos. E muitas utilizam a dança do ventre como um trabalho também, junto a sua profissão. Mato Grosso do Sul é um estado com diversos imigrantes árabes o que contribui com o grande número de locais que oferecem as aulas de dança do ventre. Não existem relatos quanto ao número mas quando questionada, Nidal Abdul, que foi a primeira professora de dança do ventre de Campo Grande, afirma que são mais de vinte escolas ativas. A gastronomia é outra característica conhecida, fazendo um combinado da tradição dos árabes de “casas de chá’’. Denise Fagundes Jardim e Marco Aurélio Machado de Oliveira explicam o processo de imigração.

Todavia, as circunstâncias a viagem, ou a impossibilidade de conseguir o visto de entrada aos Estados Unidos, os levou na maioria das vezes, em direção ao Brasil. Além do mais, não fazia muito tempo, o Brasil era conhecido por seu boom econômico, o boom da borracha, o quaç concedeu-lhe, desde a década de 1890, um destino privilegiado. (JARDIM e MACHADO, 2007, p.64)

2.3 Psicologia da dança Para entender o que os estudos da psicologia ligada a dança é preciso entender o que é a psicologia. A psicóloga Maria Lopes Cristina argumenta sobre a necessidade de estudar a saúde mental.

Psicologia

se

propõe

a

estudar

comportamento,

pensamentos,

aprendizagem, emoções, cérebro e interações dos seres humanos. Essa ciência se preocupa em tratar e promover a saúde nestes âmbitos. (LOPES; M.C, 2017, p. 9)

Seguindo por sua linha de pesquisa Lopes defende que a psicologia da dança não precisa ser apenas um estudo direcionado apenas a profissionais da área acadêmica, mas também necessária para pais, alunos e professores.


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A psicologia da dança não deve ser utilizada apenas por psicólogos, mas pelos professores de dança que também precisam se apropriar de conhecimentos nessa área para melhorar as aulas (LOPES;M.C. 2017 p. 10) A dança com a psicologia se forma por professores que compreendem técnicas e estratégias para a sala de aula e elaboram boas avaliações do aluno no seu contexto. São professores que entendem que o aluno não se representa apenas por físico ou técnica, mas que entendem a importância do diálogo e o praticam.(LOPES, M.C, 2017 p. 11)

Durante

a

elaboração

deste

projeto

experimental

ficou

claro

que

precisávamos falar sobre a saúde daqueles que buscam os mais diversos tipos de dança pelos mais variados motivos. O mais notório relacionava-se a necessidade da realização de uma atividade física. Para quem pratica a dança do ventre, um dos benefícios notórios logo no início das primeiras aulas é o autoconhecimento e auto aceitação. A partir dos movimentos que necessitam de concentração, força e a feminilidade e as aulas acontecerem de frente a um espelho, recupera-se algo perdido.

O corpo daquela que dança é a matéria artisticamente transformada a partir de uma diretriz estética, que, centrada no belo, visa criar o feminino sensual como objeto de contemplação estética: A bailarina. O Feminino é, na dança do ventre, um valor esteticamente produzido, através de um complexo aparato técnico-composto pelo repertório de movimentos específicos dessa dança, a atitude cênica da bailarina, as musicas, o figurino e a maquiagem -, que faz do corpo que dança um lugar privilegiado de expressão e reconhecimento de um modo de ser socialmente construído como feminino. (REIS; ALICE CASANOVA DOS, 2007, p.40)

Uma questão citada no vídeo documentário pela mestre em psicologia Giovanna Xavier mostra que durante uma aula de dança do ventre é preciso conhecer


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os alunos, as suas motivações e tomar cuidado com as exigências em sala de aula, assim como a necessidade de elaboração de disciplinas lúdicas.

A auto-eficácia se refere a percepção de capacidade de sucesso. É importante

desenvolvê-la

no

aluno

para

existir

motivação

e

aprendizagem. Afinal, se não acredito que sou bom e posso ter sucesso naquela atividade não há possibilidade de me motivar. Para explorar a auto eficácia é possível oferecer desafios correspondentes a capacidade percebida pelo aluno e sempre elogiá-lo pelos seus acertos. (LOPES; M.C 2017, p.69-70)

Durante a elaboração do projeto houve a necessidade de estudar de maneira aprofundada a psicologia da dança, a fim de entender os seus aspectos e como ela atua na prática. O fator relevante é como o profissional irá lidar com seus alunos e suas diversidades e obter prudência quanto às cobranças (LOPES, 2017, p. 21).


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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final deste trabalho pode-se perceber que a dança do ventre tem diversos benefícios para os praticantes. Entre eles estão os que são mais divulgados, como o exercício físico, gasto calórico, aumento da auto-estima, como comprovados durante o documentário. Porém, foi apresentada a dança do ventre de uma maneira nunca antes divulgada, como auxílio na melhoria da saúde mental. A dança do ventre tornou-se uma parte importante na vida das entrevistadas e serviu, inclusive, como ferramenta de cura, de auto aceitação, de amor próprio e de uma reinserção no convívio em grupo e podendo ser uma oportunidade para outras pessoas que se identifiquem com suas histórias, sofrendo de depressão ou não. Foi possível perceber que a dança do ventre é mais do que uma dança. É também uma terapia que auxilia, de maneira positiva, pessoas que tenham algum tipo de transtorno mental e ajuda a prevenir o desenvolvimento dessas doenças. O gênero escolhido proporcionou que as emoções estampadas nos rostos das personagens fossem mostradas como realmente são. Pode-se apresentar a dança, cheia de vida, em um local de lazer, com muita natureza e a interação e dedicação das participantes umas com as outras durante as gravações das imagens de apoio no Parque das Nações Indígenas. Todavia foi apresentado que a dança do ventre também não é milagrosa, uma forma de cura assegurada ou perfeita, como foi esclarecido em depoimentos presentes no vídeo documentário. Existe a necessidade de procurar tratamento com profissionais da área, psiquiatras e psicólogos, assim como prestar atenção para que a própria dança não se torne um transtorno. Durante as entrevistas foi possível perceber a importância da figura do jornalista pois eu já tinha contato com as personagens em questão e tinha algum conhecimento de sua história de vida, o que tornou a entrevista um desafio, mas a partir do roteiro de perguntas e o diálogo aprofundado, foram feitas revelações que não eram de meu conhecimento, assim como foram reveladas diversas situações na qual as entrevistas não haviam falado abertamente antes sobre.


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Outro ponto a ser levado em conta é o fato de atuar como professora e profissional da dança do ventre. Ficou claro durante todo o processo que é preciso falar sobre a saúde física e mental de bailarinas e bailarinos até mesmo para que esse profissionais rendam melhor no trabalho. A dança do ventre foi apresentada como uma dança de diversidade, mulheres sentem-se representadas neste meio. A discussão sobre os padrões de beleza da sociedade é um assunto muito discutido e pode ser apresentado por meio deste projeto, pelas falas das personagens e das imagens de mulheres dançando. O combate a violência doméstica também é um fator a ser combatido e pudemos abrir um espaço para discutir essa situação, dando voz as meninas que vivenciaram tal situação, a superaram e agora podem contar sua história, o que pode, inclusive, acarretar no incentivo a denúncias. Por fim, este trabalho rendeu discussões entre várias praticantes. Recebi diversos relatos por meio das redes sociais e pessoalmente, de pessoas contando como era sua vida antes e a depois de iniciar as aulas, ou seja, houve o sentimento de identificação com o tema.


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4. REFERÊNCIAS

ASSEIRO, Erika Antunes. Dançado Ventre para crianças - uma abordagem pedagógica. Monografia da Pós-graduação Latu Senso em Docência no Ensino Superior. Guarulhos - SP, 2011. BORGES, Ana Claudia Gianini. A Contribuição da Dança do Ventre para a saúde da mulher. Monografia (Graduação Bacharelado em Educação Física) – Faculdade Anhanguera, Osasco, 2016. BOURDIEU, P. O poder simbólico. Tradução de Fernando Tomáz. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1989 BUONAVENTURA,

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World.Nova Iorque: Interlink Books, 1998 COMPARATO, Doc. Da Criação ao Roteiro. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998. COMPARATO, Doc. Roteiro. Editora Globo, Rio de Janeiro, 1996 COUTINHO, E. O Olhar no Documentário. São Paulo: Cosac Naify, 2013. DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (ORG). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2011. JARDIM, Denise Fagundes; MACHADO DE OLIVEIRA, Marco Aurélio. Os árabes e suas américas . 1. ed. Campo Grande: Ufms, 2007. 274 p. KURBHI, Fabiana Haddad. Dança do Ventre: o papel do corpo na individuação feminina. 2001. Monografia (Bacharelado em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. KUSSUNOKI, Sandra Aparecida Queiroz; AGUIAR, Carmen Maria. Aspectos históricos da dança do ventre e sua prática no Brasil. Motriz, Rio Claro, v.15 n.3 p.708-712, jul./set. 2009. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/20764/WOS000270451700026.pdf ?sequence=3> . Acesso em: 03 ago. 2018. LEWIS. Bernard. Os árabes na história. 1. Ed. Lisboa: editora Estampa, 1982. 216 p. LOPES, M.C. Psicologia da dança: um e-book sobre a história da psicologia da dança naciência e na prática. Maria Cristina Lopes, Rio de Janeiro, 2017 MOHAMED, S. . La danza mágica Del ventre. 1. Ed. Madrid: Mandala, 1995


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NICHOLS, Bill et. al. Introdução ao documentário. 2. Ed [S.I]: editora Papirus, 2001. 270 p. PENNA, L. Dance e recrie o mundo. 2. ed. São Paulo: Summus, 1993. REIS; A. C. A atividade estética da dança do ventre. 2007 Dissertação (Mestrado em psicologia) – Curso de pós Graduação em Psicologia - Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina, 2007. SALLES, João Moreira. Três questões sobre o documentário. Folha de S. Paulo, Mais!, 04, mar. 2001 TEIXEIRA , Fancisco Elinaldo. Documentário no brasil : tradição e transformação. 1. ed. São Paulo: Summus, 2004. 370 p. VASCONCELOS, lara Mônica Santiago Santana e MARINHO, Pedro Lucas Lima do Nascimento. A Influência da Prática de Dança do Ventre sobre a Percepção da ImagemCorporal de mulheres. Artigo (Bacharelado em Educação Física) - Escola da Saúde, Universidade Potiguar (UnP), Natal, Rio Grande do Norte, 2015. YIN, R. K. (1994). Pesquisa Estudo de Caso - Desenho e Métodos (2 ed.). Porto Alegre: Bookman.


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ANEXOS Anexo a) ViolĂŞncia contra a mulher


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ANEXO B) Matéria sobre o retorno da Nidal Abdul as apresentações


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5. APÊNDICES 5.1.1 Roteiro de perguntas utilizadas nas entrevistas

1. Qual o seu nome, idade e profissão. 2. Como você descobriu a depressão? 3. Por que começou a fazer aulas de dança do ventre? 4. O seu médico indicou alguma terapia complementar? 5. Como foi a sua primeira aula de dança do ventre? 6. Como é para você se apresentar em público? 7. Você indica a dança do ventre para pessoas a sua volta? 8. O que te faz dançar? 9. O que é a dança do ventre para você?

5.1.2 Roteiro de perguntas utilizadas com médico e psicóloga

1. O que é a depressão? 2. Quais os tipos de depressão? 3. Quais os principais sintomas? 4. O que é a psicologia da dança? 5. Como a medicina trata a terapia complementar?

5.2 Transcrição das entrevistas

Entrevista a) Giovanna Xavier Nome: Giovanna Silveira Xavier Idade: 27 anos Profissão: Mestre em psicologia, estudos focados em psicologia da dança e bailarina.

Vídeo OJOA9871


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Giovanna, pode começar falando o seu nome, idade e como entrou no mundo da dança do ventre

Meu nome é Giovanna Silveira Xavier, tenho 27 anos e sou psicóloga e bailarina. Eu comecei a dança e a psicologia em 2009, a dança do ventre né, porque eu já dançava desde criança, ai eu fiz bale, ballet moderno, clássico e depois eu fiquei um tempo sem dançar. Ai eu conheci a dança e a psicologia em 2009, então foi assim, as duas paixões da minha vida eu conheci ao mesmo tempo. Por que você decidiu fazer a dança do ventre e como foi a sua primeira aula? Isso tudo foi muito natural. Eu comecei na dança do ventre inicialmente porque eu queria voltar a dançar mas eu queria fazer uma dança diferente porque eu adorava o ballet mas eu não me sentia, como eu posso dizer, eu ainda não tinha me encontrado totalmente e ai eu tinha um tio que tinha descendência árabe libanesa e a filha dele falaram: porque você não faz dança do ventre ? vai lá conhecer o estúdio da NidalAbdul ai eu vi um vídeo da Nidal tremendo, fazendo o shimmie, fiquei encantada ai eu falei: eu vou Ai eu vim pra minha primeira aula toda nervosa e eu falo que desde que eu comecei a dança do ventre foi o encontro da dança da minha vida. No começo eu percebia que conseguia me expressar através da dança de uma forma que eu não conseguia me expressar no dia a dia até porque naquela época eu tinha 17 anos, hoje eu tenho 27 então faz 10 anos. Então nessa época eu era um pouco adolescente, tinha acabado de sair da adolescência, era um pouco tímida e via que eu conseguia através da dança me expressar, falar coisas pras pessoas que através da fala, verbalmente eu não conseguia. Eu fui me descobrindo, minha auto estima melhorou muito, aqui era um espaço onde eu podia expressar minhas emoções e eu fui me descobrindo como bailarina de dança do ventre. A dança passou a ser pra mim, muito mais do que um lazer, eu acho que desde o começo eu nunca vi a dança assim como um lazer apenas, ela sempre foi pra mim um sonho, então eu sempre sonhava em aprender mais, a buscar mais, então foi


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assim que foi acontecendo. Quando eu vi foram se passando os anos e eu comecei a dançar com a Nidal em eventos, ai aos poucos eu fui me sentindo mais segura, quando eu vi eu já tava dançando em vários eventos, buscando crescer profissionalmente, surgiram oportunidades de festivais. ao longo desses 10 anos fui participando e quando eu vi eu tinha me tornado uma bailarina profissional Ai a dança tem fases, a fase do sonho, tem o momento em que você realiza coisas e tem o momento também, eu passei por isso de desencanto, que é quando você se depara com algumas coisas do meio, por exemplo, inveja, fofocas, esse tipo de coisa e isso ia me desmotivando. Eu nunca parei de dançar, mas parei por um período apático, nunca parei de dançar mas não tinha mais aquele sonho. Nesse período eu conheci a psicologia da dança, estava estudando psicologia, me formei, comecei o mestrado em psicologia, eu descobri possibilidades de aplicação de psicologia na dança, com a psicóloga do Rio de Janeiro Maria Cristina Lopes. Ai eu fiquei muito encantada então isso me deu um ar. Eu fui sentindo um buraquinho e eu percebi que a dança pra mim é vida, eu tenho um propósito pra cumprir com a dança, a dança é a minha vida, eu não posso levar a dança do jeito que eu to levando. Dançando por dançar, a dança é o meu sonho, eu posso ajudar a modificar a vida de outras pessoas juntando a psicologia e a dança e eu quero voltar a sonhar com a dança. Eu liguei pra Nidal e falei tudo que eu estava pensando e sentindo e comecei a dar aulas de dança do ventre. Então eu comecei a dar aula pra começar a me dedicar de novo. Foi a melhor escolha que eu fiz pois eu pude ver na pratica o quanto a dança muda a vida das pessoas através das minhas alunas. A cada aula eu via elas evoluindo, como na dança como elas quanto mulheres, mais felizes, conhecendo o próprio corpo. Elas sempre comentavam comigo: nossa eu nunca tinha reparado nesse ossinho, nessa musculatura. Eu vi elas desabrocharem, foi rico e enriquecedor pra mim. E depois disso surgiram diversos novos sonhos e desafios depois que eu estou perseguindo. Então pra você a dança do ventre acabou sendo uma terapia ? (07:13) Com certeza. O que é a psicologia da dança ? (07:24)


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A psicologia da dança é basicamente o conhecimento cientifico da psicologia aplicada ao contexto da dança. Então a psicologia da dança é feita de estudos, pesquisas e intervenções. A psicologia da dança tem uma preocupação com três pilares principais que é saúde, rendimento e aprendizagem. Então como a gente pode inserir a psicologia na dança pra desenvolver saúde, rendimento e aprendizagem. Vídeo OJOA9871 Como saber se uma pessoa tem depressão ? A primeira coisa é buscar informação porque existe diferença entre tristeza, luto e depressão. Para diagnosticar alguém com transtorno depressivo, ela precisa passar por atendimento medico e psicológico. A primeira coisa é buscar fontes seguras de informação e procurar profissionais pra que ela possa relatar o que ela esta sentindo e eles assim a diagnosticarem. Então quando falamos em depressão, quais são os sintomas mais comuns, que sabemos através dos relatos de quem sentem e de pessoas que estão próximos e relatam esses sintomas. Na depressão a gente vê um humor que é considerado um humor triste, vazio ou irritável, perda de interesse ou prazer em atividades que antes a pessoa sentia prazer e a gente também percebe comportamentos que vão de um extremo ao outro, por exemplo, ou perda de apetite ou apetite em excesso, dorme muito ou perde o sono, fadiga, pensamentos de culpa. A pessoa passa a se sentir excessivamente culpada pelas coisas, sentimento de inutilidade, enfim, são esses sintomas, desesperança, pensamentos de morte. Tudo isso compõe o comportamento depressivo. Algo importante a se falar é o tempo de duração da depressão, algumas pessoas relatam que esses sintomas sentem na maior parte do dia. Hoje a gente sabe que existem tipos de depressão. Tem a depressão maior que tem duração menor, então ele pode durar duas semanas, desaparece, pode retornar, tem a distimia que é o transtorno mais severo que pode durar de dois anos até mais. Como a dança pode ajudar no combate a depressão e até na prevenção A gente tem estudos na psicologia da dança sobre isso. Foram feitos estudos. A dança vai ser trabalhada pra tratar sintomas como para melhorar qualidade


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de vida. As pessoas podem estar pré dispostas a desenvolver mas a dança entra prevenindo doenças. A dança ajuda em diversos aspectos. Foi feito um estudo em um hospital psiquiátrico com pacientes que tinham depressão. Separam eles em dois grupos e um deles passava por uma sessão de 30 minutos de aula de dança com uma musica bem enérgica, e o outro grupo só escutava a musica. O primeiro grupo relatou que os sintomas depressivos diminuíram e ficaram com sentimento de vitalidade. Já os que apenas ouviram relataram que se sentiram mais depressivos. Outra pesquisa foi feito com meninas adolescentes, que faziam aula de dança por 12 semanas e relataram que os sintomas depressivos diminuíram. Isso pode ser comprovado hoje até pelo nível de hormônio no corpo. Hoje você pega uma amostra de saliva da pessoa e vê o quanto de hormônio de estresse tem no corpo e depois de uma aula de dança ou depois de doze semanas e ver o nível de cortisol que é o hormônio do estresse e a endorfina e serotonina tinham aumentado. Vídeo OJOA9873 A gente vê benefícios físicos e comportamentais. Um dos efeitos principais da dança é a auto estima, auto eficácia, Ela se descobre, aumenta por conta dos exercícios o sono, o humor, o apetite. A dança traz benefícios em diversas áreas, promove qualidade de vida. Outra coisa que esta atrelada a dança é a relação grupal, muitas vezes quem tem depressão esta sozinha, sem ninguém pra conversar e quando ela vem pra uma aula de dança elas conhecem outras pessoas, que as vezes estão passando pelos mesmos problemas, ou por outros, ela amplia a rede de apoio social, a dança promove qualidade de vida no aspecto físico, psicológico, social, enfim. Em relação as apresentações de dança do ventre É muito bacana você falar sobre isso porque quando a gente fala da dança como promotora de saúde, isso é verdade, mas temos que ter alguns cuidados. Por exemplo, uma pessoa que apresenta um transtorno depressivo e ela vêm pra sala de aula e ela começa a ser extremamente cobrada vai ter o efeito contrario, então de vez ela se sentir eficaz ela vai se sentir “ruim”. É muito importante que o professores saibam reconhecer as especificidades dos seus alunos.


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Uma pessoa que apresenta sintomas depressivos é importante não focar apenas em técnica, mas proporcionar momentos mais lúdicos, a aula de dança precisa ter esse equilíbrio e quando ela for ter aula de dança cai na mesma coisa, ela precisa ser respeitada no tempo dela, se ela não se sentir pronta ainda, não tem problema, você já ta linda aqui em sala de aula, vamos continuar aprendendo, quando você se sentir pronta a gente tenta. O professor precisa ter muito jogo de cintura pra saber lidar com o aluno. É respeitar o tempo da aluna e estimular ela sempre, trabalhando a auto-estima em sala de aula, expressão de emoções e não só a parte técnica. A dança precisa ter efeito positivo e não negativo. Como é em relação a visão que elas tem ao próprio corpo A dança do ventre ela nesse aspecto é muito rica porque ela abraça mulheres de todos os tipos, de todas as idades, com todos os corpos. Quando uma mulher chega na aula de dança do ventre ela se reconhece nas outras porque não existe um padrão na dança do ventre. Isso promove a aceitação do corpo. Os movimentos da dança do ventre trabalham muito a consciência corporal então ela descobre que o corpo dela é capaz de fazer movimentos lindos. A mulher passa a se sentir bonita, aceita. Em uma palavra, pra você, o que é a dança do ventre ? (07:47) Amor, pra mim é amor. Porque pra mim é esse amor que transforma todas as outras coisas. Eu falo que sem amor eu nada seria. A gente pode ter uma técnica fenomenal mas se não temos o amor a dança fica vazia. Quando a gente se conscientiza de todos os benefícios que a dança traz pra nossa vida, a nossa técnica fica mais clara, leitura musical fica mais clara, conseguimos nos dedicar com mais firmeza. Então a dança do ventre é isso, é amor, porque ela nos ensina a nos amar e também a poder a amar as outras pessoas, conhecer outras pessoas, amar nossa dança, nossa história e amar as pessoas que estão a nossa volta, as amizades que a gente faz. É algo que só quem vive pode saber o quanto que transforma a gente e as pessoas que dançam. Entrevista b) NathaliaGeber – Vídeo 00008


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Nome: NathaliaGeber Idade: 26 anos Profissão: estudante Meu nome é Nathalia eu tenho 26 anos sou estudante, descobri meu problema de depressão há 10 anos atrás, tinha 16 anos, por problemas de relacionamento abusivo, desenvolvi problemas de só ficar trancada dentro do quarto, não queria ver ninguém. Consultando um médico eu descobri que tinha desenvolvido a depressão e um pouco de síndrome do pânico e nisso tudo desencadeou na ansiedade também, eu não conseguia fazer nada sem sentir medo, sentir receios, comecei a ganhar peso e tudo isso me impedia de ser quem eu sou, de fazer coisas que eu gosto, por exemplo, dançar. Eu descobri a dança do ventre ainda criança quando todas as meninas da minha idade descobriram com o Clone, com certeza, ficamos todas encantadas vendo Jade dançar, eu fui uma delas, eu brincava de dançar no meio da casa, com oito ou nove anos de idade e nisso eu parei com tudo, me afastei de amigos, comecei a querer sair da escola, estava terminando o ensino médio, tive problemas em casa tudo pelo medo, pelo meu medo de encarar o mundo, de sair do portão de casa. Nisso eu me impedia de olhar no espelho pelo meu ganho de peso, me sentia feia, nada contra quem é mais gordinho mas eu comecei a me achar assim por ver minhas roupas não me servirem mais, só que quando eu descobri outro problema de saúde, estava a beira de um câncer de útero, eu me voltei a mim, pensei: eu não posso deixar que outra pessoa que tentou destruir minha vida faça isso comigo, então eu tenho que me levantar. Fui atrás de alguma atividade física, academia nunca funcionou pra mim, nunca gostei e lembrei da dança do ventre. Na Nidal eu entrei há dois anos e pouquinho, dois anos e meio e nisso eu me redescobri como uma pessoa que realmente sou. A dança me fez de novo ser uma pessoa feliz, uma pessoa que conseguia olhar pro espelho e pensar: eu preciso me amar. Porque o que aquela pessoa ali no espelho faz com amor em cada movimento, com a dedicação que aquela pessoa no espelho tinha, eu via, eu posso amar aquela pessoa. Ainda estou lutando com meu peso, ainda luto muito com minha depressão, ainda tenho crises direto mas já são coisas muito mais controladas porque eu coloquei


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na minha mente: eu preciso me amar acima de tudo. Muitas pessoas, amigos me dão bronca: para de achar que você é feia porque você não é. Eu fico naquele receio de acreditar né, a gente fica “não, eu sou eu sou”, mas a gente tem que olhar um pouco dentro também, o que vai fazer aquela pessoa ali feliz e o que me faz feliz é dançar, eu posso ta no meu pior dia, eu vou pra minha aula ou tenho alguma apresentação, eu mudo, eu sou o que eu realmente sou quando eu to dançando, que eu sou feliz, eu sou uma pessoa alegre, sou uma pessoa pra cima. Eu sempre tentei ajudar e tento ainda ajudar todo mundo e sempre esqueci de mim e a dança fez eu lembrar que eu preciso focar em mim também, eu não posso abraçar o mundo sem me abraçar antes e com tudo tudotudo que já aconteceu comigo, eu to juntando aqueles caquinhos de vidro aos poucos mas eu já consegui juntar muitos e divagarzinho a dança ta me ajudando muito a recuperar a minha auto estima o meu amor próprio. Então, a minha primeira apresentação há dois anos atrás eu chorei, porque eu me olhei no espelho e falei: eu não vou mostrar o meu corpo, apesar de ele estar um pouquinho escondido e a minha professora de dança NidalAbdul, me ajudou muito com isso, tive ajuda da minha mãe, de amigos e todos falaram: não é o seu corpo que dita quem você é, é quem ta aqui dentro, você consgue fazer, então você vai e você faz. E eu não me arrependo. Eu tento lógico, todas as minhas roupas de dança do ventre são escondidinhas, não mostra a barriga, mas é como eu estou me sentindo confortável no momento. Um dia, pode ser amanhã, que eu esteja bem vou ficar com a barriga de fora mesmo, eu vou e coloco se eu estiver me sentindo bem, mas eu acho que isso nunca seria um empecilho pra mim, não mais, como eu tentei fazer com que fosse, não vai mais ser um empecilho pra mim. Eu sou muito chata comigo mesmo, me cobro muito, sou auto critica, penso que tenho que fazer com perfeição, só que ao mesmo tempo eu penso que a gente tem que fazer com o coração. Quando a gente faz com a alma, a perfeição ta ali, então é isso que eu penso, que eu tenho que colocar ali quem eu sou na minha dança e eu acho que é isso que faz a minha dança ser diferente das outras também, cada uma tem seu estilo de dança, então eu acho que é isso que faz a diferença. Vídeo 00009


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Eu não só diria como eu já digo, a dança do ventre trás amor para nós mesmos, a gente se ama, a gente se admira, passa nem que seja dois segundos na frente do espelho, pensa poxa eu to bonita. Aos poucos isso vai mudando todos os problemas que alguém já causou na nossa vida de querer dizer que nós somos feias, que nós não sabemos fazer as coisas, porque a dança faz com que a gente queira fazer tudo com perfeição. Eu acho que cada passo que a gente aprende cada movimento a gente tem que se dedicar de uma forma que provavelmente a gente não pense que precisa. As pessoas pensam que a dança do ventre é fácil, só fazer um movimento, mas é uma coisa que você se apaixona tanto que você acaba se esquecendo de todos os problemas de antes e eles vão se curando aos poucos, pq não é só um exercício físico, pra mim não é, é meu momento de cura, ta na dança é minha terapia é o que me faz sorrir ao mesmo tempo que é o que me faz pensar em crescer e é o que eu digo a todas as mulher que eu posso: se vocês tiverem a vontade, independente do corpo que vocês tenham, vão e façam que isso vai te fazer bem assim como faz bem pra mim. Entrevista c) Smenia Moura – Vídeo 0000

Nome: Smenia Moura Idade: 44 anos Profissão: Professora de química Meu nome é Smenia Moura, eu tenho 44 anos, sou professora. Eu comecei a desenvolver a depressão quando eu entrei na adolescência, eu tive varias crises depressivas, só que naquela época minha mãe não sabia o que estava acontecendo, minha família não sabia, ninguém sabia, eu até perdi o primeiro ano do ensino médio, eu reprovei. Na fase adulta quando eu já estava casada, já fazia um tempo, uns dois anos de casada eu comecei a desenvolver de novo a depressão por problemas no próprio casamento, só que essa depressão foi se prolongando mais ou menos dos vinte e três anos até os 35 quando ela atingiu um pico elevadíssimo e se tornou uma depressão grave, principalmente por motivos emocionais dentro do próprio casamento.


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Eu fiquei bastante debilitada nessa época e eu precisei ser internada, fiquei um mês e meio no hospital, numa clinica pra fazer o tratamento porque ela se tornou uma depressão extremamente grave, fora do controle. Nessa época eu não tomava banho, não escovava os dentes, então eu fiquei muito magra, fiquei pesando 32 kg e o IMC ficou em torno de quase 13 que é um risco altíssimo. Nesta época também devido a depressão eu fiquei com problema nos rins que pararam de funcionar e precisei ser internada urgente porque chegou num ponto que eu não conseguia mais nem andar e parei de me alimentar também. No dia da internação além de eu estar com 32kg eu estava em um estado de desnutrição muito grave e desidratação. Então minha pele estava toda desidratada, toda descamada e muito muito magra. Por esse motivo eu tive que ficar com uma sonda naso gástrica, que pra mim foi extremamente traumático ter que colocar aquela sonda. A sonda porque eu parei de me alimentar, meu esôfago fechou. Então era uma depressão assim, realmente bem grave. Não saia do quarto no hospital, eu tive que ficar acompanhada de um familiar e dentro do hospital a tentativa para que eu me recuperasse e fosse La fora, olhar o sol, olhar a vida eu tinha que ir de cadeira de rodas. E fiquei acompanhada por três psiquiatras, uma equipe de psicólogos do próprio hospital e um clinico geral que ficou fazendo os exames de sangue, acompanhando peso, aumento de peso, se os rins estavam voltando a funcionar. A depressão foi muito grave, me deixou bastante debilitada e eu perdi completamente o sentido da vida. Depois dessa fase eu voltei pra casa, o casamento realmente não teve mais como seguir diante, acabou mesmo o casamento me separei, e fui morar sozinha em outra casa. Sozinha assim, sendo vigiada pela família toda porque realmente eu não podia ficar sozinha, tinha que sempre ficar alguém comigo observando, com medo de eu ter alguma regressão. Alguns anos depois, mais ou menos uns três anos depois eu conheci um rapaz, pra mim eu já tava me apaixonando por ele, estava feliz com ele, estava muito interessada em começar uma vida nova. E esse rapaz era de uma família rica daqui de Campo Grande, bem estruturado financeiramente, bonito e parecia estar extremamente apaixonado então na minha cabeça eu estava tendo a chance de recomeçar. E esse rapaz cometeu uma violência sexual comigo e me machucou muito, foi quando eu tive


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de novo a queda da depressão, um segundo, na verdade um terceiro caso de depressão na minha vida. Ai eu tive que continuar o tratamento, quatro vez fazendo por semana tratamento psicológico e voltei a tomar um monte de remédios de novo, fiquei bem desiludida. Porque que eu estou contando essa parte desse rapaz, porque na primeira fase eu sofri uma rejeição muito grande no casamento, era um casamento que eu não me sentia amada, não me sentia querida, não me sentia desejada, isso causou em mim um bloqueio muito grande em relação ao corpo. Eu já era muito tímida e num casamento onde você não se sente amada acaba com você. Então eu vestia roupas muito fechadas, eu não gostava de mostrar o corpo, eu fui me fechando cada vez mais, o que também agravou no meu casamento, foi um dos motivos que acabou. Quando eu já superei essa fase, da separação, sofri muito e tal, quando eu estava saindo desse estado depressivo que eu encontrei esse outro rapaz eu comecei de novo a ter essa rejeição com o corpo que eu já tinha superado um pouco e daí eu comecei a me olhar de uma forma horrível, eu não conseguia mais me olhar no espelho, não conseguia gostar nem um pouco do meu corpo, nada fazia eu gostar então eu me tornei uma pessoa extremamente fria comigo mesma, eu não me olhava no espelho, eu não gostava de me arrumar muito, eu arrumava o básico, batom, coisas muito simples. Só que como eu já estava há 10 anos fazendo tratamento psiquiátrico e psicológico e eu percebia que a melhora era pouca, que eu não conseguia evoluir muito nos resultados, o próprio médico, que é um dos melhores de Campo Grande eu posso dizer, ele disse pra mim: porque você não procura métodos alternativos pra eu tirar você desses remédios. Ai ele me explicou que ficar muitos anos tomando a medicação poderia algum dia me trazer problemas nos rins, e outros problemas também e eu comecei a ficar apavorada, e ele disse: procura métodos alternativos, escreva agora pra mim no papel tudo aquilo que você gosta de fazer. Eu já estava em um estagio melhor, ainda não me aceitava em relação ao corpo, mas já estava bem melhor eu já tinha avançado e eu escrevi, musica, dança, poesia, instrumentos musicais, ballet e ele pediu pra eu colocar o que eu poderia fazer naquele momento, o que eu mais gostava e eu coloquei em primeiro lugar a dança .


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Eu demorei mais de seis meses pra resolver dançar. Abriu uma academia de ginástica perto da minha casa e eu fui lá.No primeiro dia de aula ela me colocou de frente para o espelho mas eu não olhava. A dança na verdade, eu entendo da seguinte forma, primeiro eu vou falar o que eu entendo do corpo, o que é o corpo hoje. Eu entendo que o corpo da gente é algo extremamente sagrado, alguém nessa vida rejeitou o meu corpo, seja La qual foi o motivo, que na minha cabeça teve uma rejeição, não olhou o meu corpo, não desejou, não quis o meu corpo, me maltratou emocionalmente. O corpo hoje eu vejo como uma casa, extremamente sagrado. Nas primeiras aulas de dança eu não gostava de me olhar no espelho, apesar de tudo isso, eu já não gostava muito do corpo, sofri muito bullying na escola. O corpo da gente na minha opinião, eu aprendi isso, é a casa da alma, você não pode deixar ninguém machucar seu corpo, muito menos você. Ninguem pode chegar na casa da pessoa e debochar e maltratar, eu comecei a enxergar dessa forma, ninguém poder maltratar, ele esta abrigando algo muito maior que é a alma. Só que é uma alma machucada, demais da conta, porque algumas pessoas vem já com essa alma mais frágil, e entram num corpo frágil como o meu. Eu comecei a refletir muito sobre meu corpo e essa reflexão veio justamente por causa da dança. Eu precisava de um tratamento alternativo porque eu já estava me entupindo de remédio. Eu chegava pra fazer aula de dança e via as meninas dançando, gordinhas, magrinhas, negras, brancas, não tinha uma definição de mulher para estar dançando. E eu La no canto sem olhar pro espelho (risada). Comecei a ver mulher sorrindo, mulher feliz, e comecei a perceber que cada mulher também tinha uma história. Talvez a minha não era a mais triste, a mais sofrida. Eu comecei a olhar o movimento que eu fazia com o braço, o que eu conseguia fazer com a cintura, com o quadril. Estou pulsando pra fazer esse movimento, eu comecei a ver vida em cada movimento, vida que eu tinha durante muito tempo perdido. Comecei a ver que dançar pra mim não era pra agradar os outros eu via nas outras bailarinas que quando dançavam parecia que ela queriam passar pra alguém algo tão mais importante do que a beleza física.


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Eu estava percebendo que fazia diferença quando eu chegava na aula de dança e quando eu saia da aula de dança, comecei a perceber que era uma outra Smenia. Veio aquele glamour, a maquiagem, a roupa, comecei a me interessar, a olhar vídeos de meninas dançando. Eu fui convidada pra fazer apresentação em um aniversario do pai de uma amiga e eu aceitei. Ai eu comprei a roupa e só fui vê-la direito quando cheguei em casa, e eu não conseguia mais tirar e de me olhar no espelho. Eu fiquei em frente ao espelho, eu olhava eu sentava e voltava de novo e eu fica pensando: nossa, é bonito, é muito bonito. Qualquer movimento que eu fazia parece que ficou gigante com aquela roupa. E aquela sensação de: será que eu dou conta ? Acho que eu fiquei umas três horas com a roupa, eu te juro. Passei um batom, fiz uma maquiagem e comecei a imaginar eu dançando com aquela roupa. Pra mim, esse movimento da dança, a roupa, o envolvimento que a dança traz, não só o movimento físico mas o movimento emociona, de você se olhar e ver que você está arrumando uma casa, que está em movimento, que não esta mais triste, desarrumada. Eu até escrevi isto que eu preciso voar. A dança não esta de fora para dentro, ela esta de dentro pra fora. Uma vez eu disse: quando eu danço, parece que eu estou colocando pra fora, tipo uma nuvem, uma borboleta, não sei explicar isso. Aquela mulher machucada, aquele trauma, aquela dor, aquela rejeição, parece que tudo some, que todos os problemas ficaram tão pequenos quando você esta dançando. Eu dança pra mim, e quando eu estou dançando, eu quero que a mulher que me veja dançando interprete o porque, eu não estou dançando pra falar que a roupa é bonita, a maquiagem é bonita, “olha como eu danço bem” e sim que eu tenho toda uma história assim como você deve ter também e quando você olha eu dançar é como se você visse você também. É tão bonito a essência da pessoa. A dança te da os passos para vc se conhecer, um auto conhecimento, e isso te da alegria, te ajuda a superar traumas. Eu já recebi alta dos dois, do psiquiatra e da psicóloga, que fez um elogio de período rápido e acredito que seja por conta da dança. Ela me questionou sobre o corpo e eu respondi: o que eu mais gosto de fazer agora é sentar de frente para o espelho e ficar me olhando, uma coisa que eu não fazia de jeito nenhum antes. Eu não preciso falar nada mas


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parece que estou conversando comigo mesmo. É importante tem esse momento, eu gosto de colocar a roupa de dança e me ver dançando. Mas o melhor é me ver cuidando da casa, da alma e do corpo. Eu tomei vários remédios mas nenhum me ajudou tanto quanto o eu me conhecer através do movimento. Tem uma colega minha que é bastante debilitada e ela falou pra mim que um dia queria dançar mas que não conseguia e eu respondi: você dança com os olhos, com a alma, com o sorriso. Porque tudo isso faz parte da dança. Se eu dançar triste, as pessoas vão ficar tristes, sorrindo as pessoas vão ficar felizes. Fiquei extremamente emocionada. Como é para você quando você tem aula ? Eu só não vou para a aula se tiver alguma coisa bem importante que me impeça. Se eu não faço aula não me sinto bem, porque a sensação da aula, as mulheres, você se sente acolhida, você se sente também acolhendo. Eu adoro as aulas de dança do ventre e mexe corpo, alma, movimento, sentimento. Tem que tirar proveito, não pode desanimar. Vídeo 0002 Qual foi a importância da Nidal pra você ? Quando eu era pequena eu tive vários problemas, transtorno alimentar, tive tudo quanto é problema que uma criança pode ter, como problemas respiratório. Um médico recomendou que meu pai me levasse pra fazer alguma atividade física. Meu pai não achava lugar pra levar criança para fazer atividade física em Campo Grande, então ele pesquisou bastante algumas técnicas de ginástica rítmica e começou a fazer comigo em casa. Nós acordávamos as cinco da manha e ficávamos ate as seis fazendo atividade física. Só que no emprego dele, ele passou por uma outra função que tinha que viajar muito e não pode mais me acompanhar. Anos depois quando eu estava na dança do ventre a Nidal começou com o carinho, atenção, fazia eu lembrar do carinho do meu pai. Eu penso que a dança em si ela não vai te curar de alguma doença, não sozinha tipo: vou dançar pra curar. Ela vai te curar de uma depressão se do seu lado


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tiver alguém que te ajude, não adianta entrar em qualquer lugar porque dependendo do lugar você vai sair ainda pior. Entrevista d) NidalAbdul – Vídeo OJOA9876 Nome: NidalAbdul Idade: 36 anos Profissão: Professora e bailarina de dança do ventre Como você começou na dança do ventre ? Minha família é libanesa, eu iniciei através da minha avó que era cantora árabe e eu ia nos shows dela. Nisso eu via as bailarinas que ela contratava e eu me interessei. No começo ela não gostou muito mas depois se tornou a minha maior incentivadora, pagou meus estudos com dança, com professores da síria e do Líbano e eu iniciei meus estudos, mais ou menos aos 11 anos de idade e com 13 anos ela cedeu um espaço da casa dela pra eu estudar e com 14 anos eu comecei a dar aulas. Estudando muito, assiduamente.

Falando da depressão e ansiedade, em que momento você percebeu que não estava bem ? A gente trabalha com a dança da vida, eu falo. Eu acredito que a dança do ventre, assim como ela fez eu me encontrar, eu fui diagnosticada com autismo, isso eu acho que nunca nem falei pra ninguém, eu era muito quieta e isolada na escola e a dança fez com que eu me socialize, tivesse amigos, eu mudei, porque eu era uma pessoa muito sozinha, por nada, simplesmente porque eu não conseguia me socializar. Através da dança eu fui resgatada, eu falo mas foi através da dança que eu tive também, não digo que a dança foi a responsável mas o meio artístico e as cobranças que envolvem esse mundo, eu me vi tendo crise de ansiedade, na qual quando uma pessoa começa a ter ela não sabe o que ta acontecendo, os meus eram físicos, mais difíceis ainda de diagnosticar, depois comecei a passar mal emocionalmente e as crises passaram de seis meses pra três semanas e depois todos os dias. Quando eu percebi que estava assim eu procurei um medico, eu vi que não tinha mais jeito, pensei que não fosse conseguir sobreviver a tudo isso porque foi muito


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difícil, ainda é. Eu vivo um dia de cada vez mas acredito que eu não morri por causa da dança do ventre, o que ela me faz viver, que era todos os dias descer pra dar aula de dança do ventre e ver pessoas tão maravilhosas me esperando com um sorriso no rosto, esperando que eu de uma aula, as pessoas saem da casa dela. Isso faz eu querer seguir em frente que é muito difícil pra quem trata depressão, síndrome do pânico, desenvolvi problemas respiratórios. Hoje eu tomo vários remédios, faço tratamento, não tenho pressa pra receber alta. Eu acho que a pessoa que passa por isso, ela se transforma em um ser humano melhor. Uma pena que tenha que ser pela dor. Mas quando ela consegue sobreviver, quando ela passa por isso ela se torna altruísta, porém muito mais sentimental, delicado, sensível aos fatores da vida. A gente passa a olhar tudo de uma maneira diferente. Vou levando a vida, tentando prestar atenção pra viver e não sobrevier. Ninguém tem depressão do dia pra noite, isso é uma reflexão minha, isso vem se desenvolvendo, eu acho que a pessoa já tem traços e uma hora o copo transborda. As pessoas não sabem que dentro de você algo não estava bom. Como foi pra você como pessoa publica quando você se afastou dos palcos? (07:12) Um preconceito muito grande, principalmente porque eu tive um ganho de peso muito considerável. Um dos motivos foi a depressão, mas também não vou culpar apenas ela mas sim a falta de auto estima, da vontade de viver, de se arrumar, de alegria do dia a dia que você perde. Você levanta todos os dias sem nenhuma vontade de ir fazer suas atividades mas você tem a obrigação de fazer porque precisa sobreviver. Agora estou me apaixonando por mim mesma novamente. É um processo demorado e árduo, respeitando os meus limites que através da dor hoje eu pude conhecê-los. Quando eu me afastei dos palcos, porém nunca me afastei das aulas, era se como se a NidalAbdul não existisse mais. Pra algumas pessoas você é pautado apenas pela carcaça que você tem. Tudo as pessoas podem tirar de você menos o seu conhecimento. Então com todos esses anos o meu conhecimento nunca acabou mas


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pra algumas pessoas “mas ela já não é magra, mas ela não dança”. Eu parei por um tempo, eu precisei parar, eu comecei a ter crises de asma, eu desenvolvi um problema respiratório. Por que você nunca parou de dar aulas ? (08:48) Primeiro lugar porque eu preciso sobreviver, vou ser muito franca e em segundo lugar que hoje é o primeiro é porque é a dança da vida, que foi através do meu trabalho de descer todos os dias que eu não morri. O meu pilar foi receber o amor e carinho das pessoas através da dança. Você olhar e pensar “nossa, ainda tem pessoas que se apaixonam pela arte”. Quando a gente trabalha com a arte o ego das pessoas do meio artístico é muito aflorado. Tem pessoas que encontrou em certa arte uma maneira de sobressair, uma coisa que ela nunca conseguiu na vida ela vê uma oportunidade. Se a gente não toma cuidado, a gente adoece junto. Como é para você como professora quando chega uma aluna e relata que sofre de transtorno depressivo ? (09:57) É muito engraçado, eu não sei se aumento ou se eu não reparava. Hoje o que aparece de pessoas com a mesma doença que a minha, é um absurdo. Talvez as pessoas não tivessem abertura pra conversar ou eu não reparasse. Hoje eu tento conversar, dar atenção, não se esquecer da pessoa, dar apoio, todo suporte. Pra mim não é aquela coisa de que eu tive e nunca mais vou ter, se você não se cuidar tem toda uma propensão a ter de novo. Muitas pessoas me procuram hoje, muitas. Você acredita que a dança do ventre esta te ajudando no tratamento ? (10:54) Inclusive estou me apaixonando por ela de novo. Não só uma pessoa que tem depressão mas uma pessoa quando fica muito tempo em uma profissão, com falta de estrutura, apoio, um caso de desamor. É um processo, quando a gente trabalha com as pessoas, com arte não pode ser supérfluo. Há alguns anos eu conseguiria não estar bem e subir no palco e arrasar, hoje não, hoje preciso mostrar uma verdade. Como você se sente hoje quando tem uma apresentação ? (12:11)


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É ótimo. Estou voltando aos poucos, sem me cobrar, sem me julgar, tenho estudado bastante, procurado me conectar com a verdade da dança e com as necessidades das minhas alunas. Por um tempo eu descia só pra dar aula por sobrevivência e eu me julguei muito por isso e fui julgada mas hoje eu sei que ninguém tem o direito de me julgar, todos nos estamos suscetíveis a passar pelo que eu passei. Por que uma pessoa deve procurar a dança do ventre ? (13:05) Porque a dança cura, mas assim, a dança não é um milagre, você precisa de varias coisas, um acompanhamento médico, um suporte, alimentação melhor. Com a dança você vai se conectar com partes do seu corpo que as vezes você nem sabia que existia. O encontro social que ela promove com outras mulheres e nisso ela promove a o feminino, com isso a pessoa vai melhorando. É uma dança da vida mas precisa de n coisas trabalhadas em conjuntos, não é um milagre, cura, pra que a pessoa se sinta vida. Tenha a auto estima retomada porque uma das piores coisas dessa doença é a auto-estima, ela afetar você, fazer você não se gostar, não se aceitar. Entrevista e) Médica Psiquiatra Pérola Pechman O que é a depressão? A depressão, na verdade a chamamos de transtorno depressivo, é um distúrbio caracterizado pela perda de prazer nas atividades do dia a dia, a pessoa se sente triste, sem vontade de levantar da cama para ir trabalhar, por exemplo. Em casos específicos ela pode até ser provocada pelo uso de alguns determinados remédios, só que existe muita discussão referente, ou por questões não comuns da vida, algum trauma, alguma situação complicado que faça com a pessoa venha a desenvolver o transtorno depressivo. É verdade que quem apresenta este transtorno depressivo nem sempre vai estar se demonstrando triste? É muito relativo porque estamos tratando de pessoas e pessoas são diferentes, têm sintomas diferentes, como por exemplo, quando se tem alguma infecção, cada organismo reage de uma forma, então nem sempre quem apresenta um quadro depressivo vai estar triste, chorando, com aspecto desnutrido, às vezes ela


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pode estar normal, com aspecto físico normal, a diferença é que isso apenas no convívio social, quando ela está reclusa ela se mostra como realmente se sente. Como vocês médicos tratam a dança como tratamento? Acredito que isso seja muito recente, temos poucos estudos científicos mas em contrapartida tempos muitos relatos de pacientes que se sentem melhor após uma aula de artesanato, futebol, música e dança. Faz parte do tratamento a reintegração social do paciente e atividades físicas são aliadas, claro, se o paciente se sentir confortável quanto a isso. Entrevista f) Psicóloga Maria Cristina Lopes A dança do ventre pode ser utilizada como tratamento complementar alternativo para depressão? A dança não é encara como tratamento, mas uma terapia complementar. De onde surgiu seu interesse por pesquisar a psicologia da dança? Da minha experiência pessoal. Sou bailarina e professora de ballet e senti a necessidade de estudar a fundo uma maneira de ajudar meus alunos a terem uma melhor qualidade de vida, a saber, lidar com julgamentos, cobranças, os desafios da dança. Como você atua? Meu trabalho é voltado para psicólogos mas também principalmente para professores de dança e pais de alunos.

ROTEIRO

Imagem

Áudio

Abertura Vídeo 00101 – Meninas no parque dizendo em apenas uma palavra significado da danço do ventre em suas vidas Vídeo 00090 – (00:50 – 00:54) (02:10 – 02:14) Trilha: Souheir Zaki – Horus Arab Music

Sama: Minha vida/ Nadya: amor, muito amor/ Marli: vida/ Thaís: Evolução feminina


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Vídeo 00083 – (04:00 -04:02) Entra nome doc (04:02 – 04:06) Volta dança véu (02:17 -02:26) Imagem preto e branco (02:26 – 02:30) Trilha: Souher Zaki – Horus Arab Music Bloco 1 – Relatos histórias depressão (00:18 – 01:22) – Nathalia relatando “descobri meu problema de sua história. depressão há 10 anos atrás, tinha 16 anos, por problemas de relacionamento abusivo, desenvolvi problemas de só ficar trancada dentro do quarto, não queria ver ninguém. Consultando um médico eu descobri que tinha desenvolvido a depressão e um pouco de síndrome do pânico e nisso tudo desencadeou na ansiedade também, eu não conseguia fazer nada sem sentir medo, sentir receios, comecei a ganhar peso e tudo isso me impedia de ser quem eu sou, de fazer coisas que eu gosto, por exemplo, dançar. Eu descobri a dança do ventre ainda criança quando todas as meninas da minha idade descobriram com o Clone, com certeza

Jade, o Clone, dançando (1:41 – 2:21)

“ficamos todas encantadas vendo Jade dançar, eu fui uma delas” “pelo meu ganho de peso, me sentia feia, nada contra que é mais gordinho mas eu comecei a me achar assim por ver minhas roupas não me servirem mais, só que quando eu descobri outro problema de saúde, estava a beira de um câncer de útero, eu me voltei a mim, pensei: eu não


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posso deixar que outra pessoa que tentou destruir minha vida faça isso comigo, então eu tenho que me levantar. Fui atrás de alguma atividade física, academia nunca funcionou pra mim, nunca gostei e lembrei da dança do ventre.” (00:25 – 01:02) (01:14 – 01:54)

“quando eu entrei na adolescência, eu tive varias crises depressivas, só que naquela época minha mãe não sabia o que estava acontecendo, minha família não sabia, ninguém sabia, eu até perdi o primeiro ano do ensino médio, eu reprovei. “Na fase adulta quando eu já estava casada, já fazia um tempo, uns dois anos de casada eu comecei a desenvolver de novo a depressão...! Eu fiquei bastante debilitada nessa época e eu precisei ser internada, fiquei um mês e meio no hospital, numa clinica pra fazer o tratamento porque ela se tornou uma depressão extremamente grave, fora do controle. Nessa época eu não tomava banho, não escovava os dentes, então eu fiquei muito magra, fiquei pesando 32 kg e o IMC ficou em torno de quase 13 que é um risco altíssimo. Por esse motivo eu tive que ficar com uma sonda naso gástrica, que pra mim foi extremamente traumático ter que colocar aquela sonda.

(03:00 – 03:33)

“Na depressão a gente vê um humor que é considerado um humor triste, vazio ou irritável, a gente também vê perda de interesse ou prazer em atividades que antes a pessoa sentia prazer e a gente também percebe comportamentos que vão de um extremo ao outro, por exemplo,a


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gente pode observar, ou perda de apetite ou apetite em excesso, dorme muito ou perde o sono, fadiga, pensamentos de culpa. Hoje a gente sabe que existem tipos de depressão. Tem a depressão maior que tem duração menor, então ele pode durar duas semanas, desaparece, pode retornar, tem a distimia que é o transtorno mais severo que pode durar de dois anos até mais. Entra imagens de matérias de jornais locais falando sobre a depressão e em seguida dados escritos.

(05:17 – 06:12) (07:10 – 07:20)

“Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde, a depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo. Esse total que representa cerca de 5% da população mundial só deve aumentar com o tempo fazendo que se torne a segunda maior preocupação em termos de saúde pública no planeta. Quando nos voltamos ao Brasil, temos 5,8% da população sofrendo de depressão, ou seja, um total de 11,5 milhões de brasileiros. Ainda de acordo com a OMS, entre os países da América Latina, o Brasil é o país que possui maior número de pessoas em depressão. O Mato Grosso do Sul ocupa a terceira posição em casos de suicídio no país. Alguns anos depois, mais ou menos uns três anos depois eu conheci um rapaz, pra mim eu já tava me apaixonando por ele, estava feliz com ele, estava muito interessada em começar uma vida nova. E esse rapaz era de uma família rica daqui de Campo Grande, bem estruturado financeiramente, bonito e parecia estar extremamente apaixonado então na minha cabeça eu estava tendo a chance de recomeçar. E esse rapaz cometeu uma violência sexual comigo e me machucou muito, foi


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quando eu tive de novo a queda da depressão” OFF Bárbara Imagens violência doméstica

Histórias com a de Smenia e Nathalia se repetem a cada minuto. De acordo com a mais recente pesquisa do Ministério dos Direitos Humanos, 1 mulher é vítima de violência sexual a cada minuto. Só no primeiro semestre de 2018 foram quase 73 mil denúncias contra a violência física, sexual e psicológica que inclui a humilhação e tentativa de diminuir a auto-estima.

Bloco 2 – Dança do ventre como terapia (07:44 – 08:12)

(02:25 – 02:55)

“Só que como eu já estava há 10 anos fazendo tratamento psiquiátrico e psicológico e eu percebia que a melhora era pouca, que eu não conseguia evoluir muito nos resultados, o próprio médico, que é um dos melhores de Campo Grande eu posso dizer, ele disse pra mim: porque você não procura métodos alternativos” “Eu demorei mais de seis meses pra resolver dançar. Abriu uma academia de ginástica perto da minha casa e eles colocaram aulas de dança do ventre e eu fui lá.” “Só que nas primeiras aulas, quer dizer, em todas as aulas, eu fiquei um ano fazendo aula, eu não conseguia me olhar no espelho, pra mim, eu olhava as meninas dançando, olhava ela mas eu não conseguia me olhar. Fiz um ano ela fechou o estúdio e eu fiquei perdida de novo. Ai eu vim fazer aula com a Nidal Abdul. No primeiro dia de aula ela me colocou de frente para o espelho. “Na Nidal eu entrei há dois anos e pouquinho, dois anos e meio e nisso


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eu me redescobri como uma pessoa que realmente sou. A dança me fez de novo ser uma pessoa feliz, uma pessoa que conseguia olhar pro espelho e pensar: eu preciso me amar. Porque o que aquela pessoa ali no espelho faz com amor em cada movimento, com a dedicação que aquela pessoa no espelho tinha, eu via, eu posso amar aquela pessoa.” (08:00 – 00:15) (00:50 – 01:23)

“Minha família é libanesa, eu iniciei através da minha avó que era cantora árabe eu iniciei meus estudos, mais ou menos aos 11 anos de idade e com 13 anos ela cedeu um espaço da casa dela pra eu estudar e com 14 anos eu comecei a dar aulas. Estudando muito, assiduamente”. “Hoje o que aparece de pessoas com a mesma doença que a minha, é um absurdo. Talvez as pessoas não tivessem abertura pra conversar ou eu não reparasse. Hoje eu tento conversar, dar atenção, não se esquecer da pessoa, dar apoio, todo suporte, toda experiência que eu tive, porque é como eu falo, é um dia de cada vez né”

(01:38 – 02:10)

“Um dado bem interessante pra gente pensar também foi feito um estudo foi feito com meninas adolescentes, que faziam aula de dança por 12 semanas e relataram que os sintomas depressivos diminuíram. Isso pode ser comprovado hoje até pelo nível de hormônio no corpo. Hoje você pega uma amostra de saliva da pessoa e vê o quanto de hormônio de estresse tem no corpo e depois de uma aula de dança ou depois de doze semanas e ver o nível de cortisol que é o hormônio do estresse e a endorfina e


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serotonina tinham aumentado.” (02:32 – 02:54)

Eu chegava pra fazer aula de dança e via as meninas dançando, gordinhas,magrinhas,negras, brancas, não tinha uma definição de mulher para estar dançando. E eu la no canto sem olhar pro espelho (risada).

(07:23 – 08:04)

“é a relação grupal, muitas vezes quem tem depressão esta sozinha, sem ninguém pra conversar e quando ela vem pra uma aula de dança elas conhecem outras pessoas, que as vezes estão passando pelos mesmos problemas, ou por outros, ela amplia a rede de apoio social, a dança promove qualidade de vida no aspecto físico, psicológico, social, enfim.”

(05:20 – 06:12)

BLOCO 3 – OUTRO LADO DA DANÇA DO VENTRE “a dança fez com que eu me socialize, tivesse amigos, eu mudei, porque eu era uma pessoa muito sozinha, por nada, simplesmente porque eu não conseguia me socializar. Através da dança eu fui resgatada, eu falo mas foi através da dança que eu tive também, não digo que a dança foi a responsável mas o meio artístico e as cobranças que envolvem esse mundo, eu me vi tendo crise de ansiedade, na qual quando uma pessoa começa a ter ela não sabe o que ta acontecendo, os meus eram físicos, mais difíceis ainda de diagnosticar, depois comecei a passar mal emocionalmente e as crises passaram de seis meses pra três semanas e depois todos os dias.” “Foi em 2009 que eu conheci a dança a dança do ventre e no mesmo ano eu entrei em psicologia. Então foi


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assim, as duas paixões da minha vida eu conheci ao mesmo tempo.”

Giovanna dançando trilha (03:07 – 04:00)

(06:23 – 06:58)

(09:17 – 10:24)

“Eu vim na minha primeira aula, toda nervosa, e eu falo que desde que eu comecei a dança do ventre foi o encontro com a dança da minha vida, e no começo a dança ela tinha pra mim, no começo eu percebia que conseguia me expressar através da dança de uma forma que eu não conseguia me expressar no dia a dia” “Ai ao longo desses 10 anos eu falo que muitas coisas aconteceram né, Ai a dança tem fases, a fase do sonho, tem o momento em que você realiza coisas e tem o momento também, eu passei por isso de desencanto, que é quando você se depara com algumas coisas do meio, por exemplo, inveja, fofocas, esse tipo de coisa e isso ia me desmotivando” “Quando eu me afastei dos palcos, porém nunca me afastei das aulas, era para algumas pessoas como se como se a Nidal Abdul não existisse mais. Pra algumas pessoas você é pautado apenas pela carcaça que você tem. Tudo as pessoas podem tirar de você menos o seu conhecimento. Então com todos esses anos o meu conhecimento nunca acabou mas pra algumas pessoas “mas ela já não é magra, mas ela não dança”. Eu parei por um tempo, eu precisei parar, eu comecei a ter crises de asma, eu desenvolvi um problema respiratório, e foi assim” “Ai eu comprei a roupa e só fui vê-la direito quando cheguei em casa, e eu não conseguia mais tirar e de me olhar no espelho. Eu fiquei em frente


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ao espelho, eu olhava eu sentava e voltava de novo e eu fica pensando: nossa, é bonito, é muito bonito. Qualquer movimento que eu fazia parece que ficou gigante com aquela roupa, e aquela sensação de que: será que eu dou conta ? e eu parava, acho que fiquei umas três horas com aquela roupa, eu te juro, andando em casa com a roupa” (08:09 – 09:11)

(08:57 – 09:14)

(08:09 – 08:30)

“A aula de dança do ventre precisa ter esse equilíbrio, e ai quando forem surgir apresentações cai na mesma coisa, então a pessoa precisa ser estimulada mais também precisamos respeitar o tempo dela, caso ela não se sinta pronta ainda, tudo bem, você já ta linda aqui em sala de aula, vamos continuar aprendendo, quando você se sentir pronta, ai você se apresenta” “Quando a gente trabalha com as pessoas e com a arte não pode ser algo supérfluo né, tem que ser algo que saia de dentro pra fora, há alguns anos atrás eu conseguiria estar muito mal e subir num palco e arrasar, hoje eu preciso do viver a verdade, pra fazer algo que realmente saia de dentro de mim” “Eu penso que a dança em si, ela não vai te curar de uma depressão, sozinha ela não vai, a dança vai curar você da depressão se do seu lado tiver uma pessoa que te ajude, não é querer entrar em qualquer estúdio e pensar: eu vou dançar pra sarar, eu vou dançar pra melhorar, porque dependendo do lugar que você entrar você vai sair pior, sua auto-estima vai sair ainda pior. Depende muito da professora, depende muito de quem esta te acompanhando, de quem esta do seu lado pra te ajudar”


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(07:08 – 07:32)

(07:02 – 07:09)

(09:09 – 09:40)

Imagem Giovanna dançando Reina de la noche-ILHAHUN Trilha ao fundo Reina de la noche-ILHAHUN Trilha no fundo Reina de la noche-ILHAHUN Trilha aumenta Reina de la noche-ILHAHUN Trilha Reina de la noche-ILHAHUN

“Ainda estou lutando com o meu peso, ainda luto muito com minha depressão, tenho crises direto mas Eu acho que cada passo que a gente aprende cada movimento a gente tem que se dedicar de uma forma que provavelmente a gente não pense que precisa. As pessoas pensam que a dança do ventre é fácil, só fazer um movimento, mas é uma coisa que você se apaixona tanto que você acaba se esquecendo de todos os problemas de antes e eles vão se curando aos poucos, pq não é só um exercício físico, pra mim não é, é meu momento de cura, ta na dança é minha terapia é o que me faz sorrir ao mesmo tempo que é o que me faz pensar em crescer e é o que eu digo a todas as mulher que eu posso: se vocês tiverem a vontade, independente do corpo que vocês tenham, vão e façam que isso vai te fazer bem assim como faz bem pra mim. “Eu apenas descia pra dar aula... passar pelo que eu passei” .. “foi descer todos os dias... ainda tem pessoas que se apaixonam pela arte” “Pra mim é amor..o amor e todas as coisas.. “Eu falo que sem amor eu nada seria “ela ensina a gente a se amar e também amar ao próximo.” Nome do trabalho Nome trabalho e subtítulo Ficha – nome do trabalho


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