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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
RAFAELA ROQUE FERNANDES
A CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING: O USO DO SNAPCHAT EM CIBERJORNALISMO
Campo Grande (MS) DEZEMBRO/2017
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A CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING: O USO DO SNAPCHAT EM CIBERJORNALISMO
RAFAELA ROQUE FERNANDES
Monografia apresentada como requisito parcial
para
aprovação
na
Projetos Experimentais do
disciplina Curso de
Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientador: Prof. Dr. Gerson Luiz Martins
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AGRADECIMENTOS
Para Deus. Meus pais, pelo que contribuíram para minha formação como pessoa. Ao meu orientador, Prof. Dr. Gerson Luiz Martins, pelo apoio, atenção, disponibilidade e ajuda. Você sempre acreditou em meu trabalho e colaborou com seu tempo e conhecimento durante os anos de curso e na realização deste trabalho. A todo o corpo docente pelo empenho, dedicação nas aulas ministradas. Todos os ensinamentos contribuíram para a minha formação como profissional e ser humano. Aos meu colegas de faculdade. Especialmente para Juliana Cristina, Juliane Grisoste e Mayara Bakargi, que estiveram sempre presentes e proporcionaram momentos inesquecíveis e muito felizes nesta jornada.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Gráfico estatísticas dos usuários de internet, dispositivos móveis e redes sociais (We Are Social 2017)...................................................................12 FIGURA 2 - Gráfico mudança de mídia Brasil (Reuters Institute 2017).............13 FIGURA 3 – Gráfico principal fonte de notícias por idade – em todo o mercado (Reuters Institute 2017)......................................................................................16 FIGURA 4 – Exemplo de capas dos conteúdos disponíveis na aba Discover...20 FIGURA 5 – Gráfico crescimento Snapchat Discover (Reuters Institute 2017)..21 FIGURA 6 – Exemplo de filtro de geolocalização...............................................23 FIGURA 7 – Mapa do aplicativo.........................................................................23 FIGURA 8 – Exemplo de compartilhamento de notícias para um amigo na plataforma..........................................................................................................24 FIGURA 9 – Exemplo de compartilhamento de notícias na aba “Minhas Histórias” do usuário..........................................................................................................25 FIGURA 10 - Exemplo da exibição “em destaque” na aba “histórias”...............27 FIGURA 11 – Exemplo de publicação Daily Mail...............................................31 FIGURA 12 – Exemplo de capa principal no Discover........................................33 FIGURA 13 – Exemplo de capa interna do Daily Mail........................................34 FIGURA 14 - Exemplo de publicação em selfie do jornal The Washington Post....................................................................................................................41 FIGURA 15 - Exemplo de publicação de entrevista do jornal The Washington Post....................................................................................................................42 FIGURA 16 - Exemplo de interação com os leitores do jornal The Washington Post....................................................................................................................43 FIGURA 17 - Utilização de geofiltro na publicação do jornal The Washington Post...................................................................................................................44 FIGURA 18 - Exemplo de narrativa de bastidores do jornal The Washington Post...................................................................................................................45 FIGURA 19 - Exemplo de publicação do jornal português Expresso................46
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RESUMO O presente trabalho se propõe a examinar o conteúdo jornalístico publicado na rede social Snapchat, a partir da análise dos conteúdos temporários da plataforma Discover, disponibilizados pelo jornal britânico Daily Mail e a emissora de televisão norte-americana CNN, além dos conteúdos publicados nos perfis do jornal norte-americano The Washington Post e o jornal português Expresso. A popularidade do Snapchat entre os jovens torna necessária a compreensão da nova rede social e as possibilidades que oferece para o ciberjornalismo. A pesquisa usa como referências conceituais as teorias sobre a convergência midiática de Henry Jenkins (2012), as redes sociais de Raquel Recuero (2009 e 2014) e as características de ciberjornalismo estruturadas por João Canavilhas (2014). De acordo com as observações realizadas no trabalho, a plataforma é uma ferramenta que possibilita a sintetização das notícias diárias dos jornais, em diversos tipos de narrativa, de forma objetiva, prática e exclusiva para os usuários da rede social.
Palavras-chave: Jornalismo. Ciberjornalismo. Redes sociais. Snapchat. Discover. Convergência midiática. Storytelling.
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ABSTRACT The present work proposes to examine the journalistic content published in the Snapchat social network, based on the analysis of the temporary contents of the Discover platform, made available by the British newspaper Daily Mail and the American television station CNN, in addition to the contents published in the profiles of the the Washington Post and the Portuguese newspaper Expresso. Snapchat's popularity among young people makes it necessary to understand the new social network and the possibilities it offers for cyberjournalism. The research uses as conceptual references the theories on the media convergence of Henry Jenkins (2012), the social networks of Raquel Recuero (2009 and 2014) and the characteristics of cyberjournalism structured by JoĂŁo Canavilhas (2014). According to the observations made in the paper, the platform is a tool that enables the synthesis of daily newspaper news, in different types of narrative, in an objective, practical and exclusive way for social network users.
Keywords: Journalism. Cyberjournalism. Social Networks. Snapchat. Discover. Media Convergence. Storytelling.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................10
1. O USO DOS SMARTPHONES E DAS REDES SOCIAIS......................12 1.1 O CONSUMO DE NOTÍCIAS NAS REDES SOCIAIS................14 1.2 MILLENIALS E SUAS INFLUÊNCIAS........................................15
2. O APLICATIVO SNAPCHAT..................................................................18 2.1 CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING NA PLATAFORMA DISCOVER.......................................................................................19 2.1.1 AS CARACTERÍSTICAS DE CIBERJORNALISMO............21 2.1.2 HIPERTEXTUALIDADE.......................................................21 2.1.3 MULTIMEDIALIDADE..........................................................22 2.1.4 INTERATIVIDADE...............................................................23 2.1.5 MEMÓRIA............................................................................25 2.1.6 INSTANTANEIDADE...........................................................26 2.1.7 PERSONALIZAÇÃO............................................................26 2.1.8 UBIQUIDADE.......................................................................27
3. METODOLOGIA.....................................................................................29
4. DAILY MAIL............................................................................................31 4.1 CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING DO DAILY MAIL........32 4.2 RESULTADOS DAILY MAIL..................................................36
5. CABLE NEWS NETWORK (CNN).........................................................37 5.1 CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING DA CNN...................37 5.2 RESULTADOS CNN.............................................................39 6. CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING NOS PERFIS DOS JORNAIS ‘THE WASHINGTON POST’ E ‘EXPRESSO’...........................................................40
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................48
REFERÊNCIAS........................................................................... ......................50
ANEXO..............................................................................................................52
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INTRODUÇÃO O Ciberjornalismo é definido pela Carla Schwingel (2012) como modalidade jornalística presente no ciberespaço que utiliza sistemas de produção de conteúdo que possibilitam narrativas hipertextuais, multimidiáticas, interativas, customizadas, armazenadas, atualizadas e flexibilizadas. Nos últimos anos, a evolução das tecnologias deu lugar para os dispositivos móveis, por exemplo, o notebook (computadores portáteis), smartphones e tablets com diversos tamanhos de tela, sistema de operações e aplicações. Com esses avanços tecnológicos, novas oportunidades de conteúdos jornalísticos surgiram e foram produzidas por softwares e distribuídos em aplicativos, em uma narrativa diferenciada e à base do toque. Cada meio antigo de comunicação – jornal impresso, rádio, TV e computador – foi forçado a conviver com os meios emergentes e suas funções, assim como seu status, foram transformados com a introdução das novas tecnologias móveis. A convergência dessas mídias, de acordo com Henry Jenkins (2012), altera a forma como a indústria midiática opera, assim como o público consome notícia e entretenimento. O uso diário dos dispositivos móveis foi impulsionado com a melhoria na rede de internet e a criação das redes sociais para potencializar as relações humanas, a partir dos anos 2000. A interação social, a conexão de pessoas e a difusão das informações foram alteradas com a criação das redes sociais. Essas redes modificam os processos sociais e informacionais de uma sociedade, e assim como o sistema social, estão em constante mudança que implicam em novos padrões estruturais das relações sociais. O
estudo
dessas
redes
é
importante,
sobretudo,
para
compreendermos a sociabilidade contemporânea. Essas ferramentas são apropriadas como forma de expressão individual, são lugares de fala, construídos por atores que querem interagir e se expressar com outras pessoas geograficamente distantes. Os consumidores atuais participam da cultura de convergência, sob suas próprias condições. Essa busca pela democracia na política de participação, faz com que os produtores de conteúdos midiáticos mudem o foco
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da qualidade do conteúdo, atrelado ao número de acessos, para a reação do público às publicações. A ênfase sairá das novas tecnologias e estará nos protocolos e nas práticas sociais em que este público está inserido, para mudar a lógica de mercado. O tema de estudo deste trabalho visa compreender o funcionamento do aplicativo Snapchat lançado em 2011 para compartilhar fotos, vídeos e texto, com tempo limite de exibição. A partir de 2015, as empresas jornalísticas começaram a utilizar o Snapchat na plataforma Discover para propagar informações de um jeito inovador para alcançar a audiência dos jovens entre 12 a 24 anos. O Snapchat possibilita a criação de uma nova forma de fazer jornalismo, por meio do smartphone, a partir da construção do storytelling - termo em inglês que significa contar uma história, a partir de uma estrutura narrativa e que permite o compartilhamento de conhecimentos, ideias e interesses. No período de ascensão da web, a partir de 2004, o método de construção do storytelling trouxe novas possibilidades, principalmente em marketing digital e na publicidade, para promover venda direta e persuasiva de produtos, serviços e informações. De acordo com Nassar e Cogo (2011, p.11 apud Anita C. Magalhães, 2014, p. 98) o storytelling garante atratividade, compreensão e retenção nos conteúdos, em tempos que a atenção é difusa, há uma diversidade nas fontes emissoras de informação, além de sobrecarga nas informações presente nas redes. Os métodos de pesquisas utilizados são de revisão bibliográfica, principalmente das sete características de ciberjornalismo (CANAVILHAS, 2014) atreladas à observação e análise do conteúdo produzido pelas empresas jornalísticas britânica Daily Mail e norte-americana Cable News Network (CNN) na plataforma Discover do aplicativo, nos dias 19 (quinta-feira), 21 (sábado) e 23 (segunda-feira) de outubro de 2017. Também foram observadas as histórias publicadas pelos perfis criados no aplicativo dos jornais norte-americano The Washington Post, nos dias 23 (quinta-feira) e 27 (segunda-feira) de novembro, e o português Expresso, no dia 27 de novembro de 2017. Todos os conteúdos foram observados em dias aleatórios para compreender a dinâmica da plataforma, assim como os temas abordados e as linguagens utilizadas pelas empresas jornalísticas, em diferentes dias da semana.
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1. O USO DOS SMARTPHONES E DAS REDES SOCIAIS A interação social, assim como a difusão das informações são alteradas na sociedade com o uso de dispositivos móveis e a criação das redes sociais. Segundo a pesquisa realizada pela empresa britânica We Are Social em 2017, das estatísticas dos usuários de internet, dispositivos móveis e redes sociais, a população mundial é de 7,476 bilhões, destes, 4,917 bilhões são usuários únicos de smartphones (Figura 1). FIGURA 1 – Gráfico estatísticas dos usuários de internet, dispositivos móveis e redes sociais
FONTE: We Are Social 2017
A pesquisa do Reuters Institute 2017 mostra que as plataformas digitais são as principais fontes de informação no Brasil (Figura 2), principalmente para pessoas que vivem em áreas urbanas, com maior nível de renda e educação. Em 2016, os smartphones ultrapassaram os computadores como principal fonte de consumo de notícias, de acordo com a Brazilian Media Survey, presente na pesquisa do Reuters Institute 2017, 91% dos usuários da internet no país acessam a web via celular.
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FIGURA 2 - Gráfico mudança de mídia Brasil
FONTE: Reuters Institute 2017
Com o surgimento da internet, as informações são difundidas de forma mais rápida e interativa, o que explica o advento das ferramentas de publicação pessoal mais conhecida como os aplicativos de redes sociais que cada vez mais desempenham um papel importante no consumo de notícias. Essas redes são constituídas por atores sociais, que criam valores e impressões, de acordo com seus interesses, percepções, sentimentos e perspectivas, quando divulgam ou publicam algo nessas redes. As interações que acontecem na ferramenta são capazes de influenciar as práticas comunicativas e informativas da sociedade contemporânea. As interações que acontecem nesse meio são nomeadas por Raquel Recuero (2014) como ‘conversação em rede’ - conversas públicas e coletivas que são capazes de influenciar a cultura, de disseminar informações, fomentar debates, organizar protestos, entre outros. É a partir da conversação, compartilhamento, criação e negociação de sentido, nessas redes que os integrantes reafirmam os laços sociais. E, assim como no processo social natural, em que o indivíduo adquire conhecimento, também acontece na cultura de convergência. Para Henry Jenkins (2012), a cultura de convergência está relacionada à convergência dos meios de comunicação, a cultura participativa e a inteligência coletiva, que caracteriza as novas produções dos mesmos conteúdos em plataformas diferentes.
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1.1 O CONSUMO DE NOTÍCIAS NAS REDES SOCIAIS O consumo de informações nas redes se tornou um processo coletivo, como afirma Pierre Lévy (1998, apud Henry Jenkins, 2012, p. 30) por ‘inteligência coletiva’: Nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades. A inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder midiático. Estamos aprendendo a usar esse poder nas nossas interações diárias dentro da cultura da convergência. (JENKINS, 2012, p.30)
Essa cultura do conhecimento, de acordo com Lévy (1998) serve de “motor invisível e intangível” para circulação e troca de produtos de massa. Isso explica porque esse emergente conhecimento não pode escapar da influência da cultura de massa, assim como estas não podem funcionar fora das restrições do estado-nação. São as comunidades de conhecimento que possuem o poder de negociar com os produtores de mídia. Em 2013, Suzana Barbosa e Luciana Mielniczuk no livro “Jornalismo e tecnologias móveis” afirmam que as redes sociais são incorporadas no dia a dia da população e seu uso provoca mudanças na produção jornalística. Essa conectividade atrai a disponibilização de conteúdo de entretenimento, ao mesmo tempo que possibilita uma maior participação do público com essas informações de fácil acesso. O público tem direito de participar e isso representa uma ameaça às corporações jornalísticas que detém o poder das informações. As empresas de mídia precisam aprender a distribuir o conteúdo em diversas mídias e consolidar seu compromisso com o público. As novas tecnologias distribuem as informações de forma justa, devido a “era da delegação de poder”, de acordo com Joe Tripp (2014, apud Henry Jenkins, 2012, p. 290) Se informação é poder, então esta nova tecnologia - a primeira a distribuir informação de forma justa - está realmente distribuindo poder. O poder está se deslocando das instituições que sempre governaram de cima para baixo, sonegando informações, dizendo como devemos cuidar de nossa vida, para um novo paradigma de poder, distribuído democraticamente e compartilhado por todos nós. (JENKINS, 2012, p. 290)
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Para Jenkins (2012), os consumidores aprenderam a utilizar as tecnologias e enfrentam os protocolos sociais, culturais e políticos, para interagir e participar deste meio. A criação de um novo mercado remodelado pela convergência dos meios, a cultura participativa e a inteligência coletiva, atendem a perspectiva e a expectativa do consumidor. Ainda de acordo com Jenkins (2012), as mídias adotam a cultura de convergência devido às [...] estratégias baseadas na convergência exploram as vantagens dos conglomerados; a convergência cria múltiplas formas de vender conteúdos aos consumidores; a convergência consolida a fidelidade do consumidor, numa época em que a fragmentação do mercado e o aumento da troca de arquivos ameaçam os modos antigos de fazer negócios. Em alguns casos, a convergência está sendo estimulada pelas corporações como um modo de moldar o comportamento do consumidor. Em outros casos, a convergência está sendo estimulada pelos consumidores, que exigem que as empresas de mídia sejam mais sensíveis a seus gostos e interesses. Contudo, quaisquer que sejam as motivações, a convergência está mudando o modo como os setores da mídia operam e o modo como a média das pessoas pensam sobre sua relação com os meios de comunicação. Estamos num importante momento de transição, no qual as antigas regras estão abertas a mudanças e as empresas talvez sejam obrigadas a renegociar sua relação com os consumidores. A pergunta é se o público está pronto para expandir a participação ou propenso a conformar-se com as antigas relações com as mídias. (JENKINS, 2012, p. 325 e 326)
1.2 MILLENNIALS E SUAS INFLUÊNCIAS Os jovens, de acordo com a pesquisa da Reuters Institute 2017, exercem maior influência nas mídias que consomem e desempenham um papel muito mais ativo nas redes sociais em todo o mundo (Figura 3). Esses jovens, nascidos entre 1980 e 1995, são conhecidos como millennials ou geração Y, geração que cresceu em um mundo marcado pelas facilidades tecnológicas e são propensos a obter informações e notícias do mundo por meios alternativos, ao invés do jornalismo tradicional. FIGURA 3 – Gráfico principal fonte de notícias por idade – em todo o mercado
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FONTE: Reuters Institute 2017
No estudo “Dossiê BrandLab: The Millennial Divide” de 2017 do Google Brasil, realizado pelo Google BrandLab São Paulo, um jovem adulto nascido nos anos 80 não possui os mesmos interesses que os jovens nascidos nos anos 90. Há distinção dos dois grandes grupos dentro dessa mesma geração, os young millennials, de até 24 anos e os old millennials, de até 34 anos, mostram que essa geração Y não possuem comportamento idêntico de consumo e devem ter tratamento especial das empresas na produção de conteúdo. Os old millennials não cresceram com acesso à internet, smartphones e aplicativos, assim como os young millennials, mas se adaptaram às novas tecnologias na vida adulta. Segundo a análise do Google Brasil, o ponto de encontro da geração Y é a facilidade no acesso e a busca pela informação, inspiração e entretenimento, 24 horas por dia. As redes sociais mais usadas pelos millenials são Facebook, Instagram e Snapchat. De acordo com o eMarketer, o Facebook que lidera o ranking das redes, em 2017 teve uma diminuição de usuários adolescentes entre 12 a 17 anos e jovens nas faixas etárias de 18 a 24 anos, principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido. A diminuição do uso e permanência desses usuários é devido à migração para as plataformas do Snapchat e Instagram, que apelam mais no conteúdo visual e proximidade com o público. Em 2017, nos
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Estados Unidos, o número de usuários do Snapchat entre essa faixa etária ultrapassou o Instagram. A previsão do eMarketer é de que o aplicativo tenha crescimento na participação em até 40,8%.
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2. O APLICATIVO SNAPCHAT O aplicativo do Snapchat foi lançado em 2011 na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, e desenvolvido pelos estudantes da Universidade de Stanford, Evan Spiegel, Bobby Murphy e Reggie Brown para compartilhar fotos, vídeos e texto, com tempo limite de exibição. O Snapchat possui conteúdo “autodestrutivo”, onde as mensagens, fotos e vídeos dos usuários desaparecem em até 10 segundos quando enviadas no privado, ou até 24 horas se publicadas na Minha História. O conteúdo que se autodestrói traz a sensação de tornar real aquilo que a memória digital tornou escasso: o compartilhamento de informações que não podem ser armazenadas no banco de dados, e que consequentemente não podem ser acessadas posteriormente pelos usuários. No dia 24 de setembro de 2016 o nome da companhia foi alterado para Snap Inc., porque o Snapchat era o único produto desenvolvido, mas com o desenvolvimento de outros produtos, como por exemplo o óculos ‘Spectacles’, a empresa criou um nome para especificar a marca e não apenas um produto. O Snapchat é uma rede social, conforme o conceito de Raquel Recuero (2014), porque é apropriado e adaptado pelos usuários nas práticas sociais. [...] Essas tecnologias passam a [...] representar um espaço de lazer, lugares virtuais onde as práticas sociais começam a acontecer, seja por limitações do espaço físico, seja por limitações da vida moderna, seja apenas pela comodidade da interação sem face. Tratam-se de novas formas de “ser” social que possuem impactos variados na sociedade contemporânea a partir das práticas estabelecidas no ciberespaço. (RECUERO, 2014, p. 16 e 17)
As empresas jornalísticas foram inseridas neste aplicativo na seção Discover, criada em janeiro de 2015 para propagar informação de forma diferenciada, pelo smartphone, para atingir um público mais jovem. A aba é destinada para empresas de jornais e revistas, definida no seu lançamento pelo blog da empresa como “uma nova forma de compartilhar histórias de diferentes times editoriais. É o resultado da colaboração entre líderes mundiais midiáticos para construir um formato storytelling, que tem a narrativa como prioridade” (SANTOS, 2015 , p. 53).
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De acordo com o We Are Social 2017, o storytelling continuará a evoluir, na mesma medida em que os aplicativos móveis como Snapchat e Instagram apresentam novos recursos. Na perspectiva de Hootsuite's 2017, o Snapchat tem papel importante na distribuição de conteúdo e envolvimento do público. Snapchat amadureceu como um canal de marketing social, mas possui um foco maior no conteúdo do que em outras redes sociais. Marcas como a MTV, National Geographic e Vice foram bem sucedidas ao usar Snapchat para distribuição de conteúdo1.
2.1 CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING NA PLATAFORMA DISCOVER Como uma plataforma de curadoria, o Snapchat Discover hospeda 19 canais de meios de comunicação para oferecer conteúdo imersivo, com opções de exibição, como, por exemplo, gráficos em tela inteira ou sobreposições de textos, fotos, animações e sons. O conteúdo é produzido pelos editores das marcas e a editoria do Snapchat que pode ser acessada pelos usuários, assim que clicar na capa principal de cada empresa (Figura 4), em edições diárias que se autodestroem após 24 horas. O objetivo principal da plataforma, segundo a equipe do Snapchat, é promover a publicidade dentro da plataforma. FIGURA 4 – Exemplo de capas dos conteúdos disponíveis na aba Discover
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Tradução livre da autora. Texto original: Hootsuite's perspective - Snapchat: Content distribution. Audience engagement. - Snapchat has maturet as a social marketing channel. But there's a greater focus on content than other networks. Brands such as MTV, National Geographic, and Vice have been sucessful at using snapchat to distribute content.
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FONTE: Aplicativo Snapchat
Segundo o site da empresa Snap Inc., ao contrário de outras mídias sociais, o conteúdo publicado no Discover é curado por especialistas e não por algoritmos, o que dá ao Snapchat um maior controle de qualidade nos conteúdos publicados, independentemente do número de cliques, compartilhamentos, ou notícias mais vistas para determinar o que é importante para o consumidor. Isso significa para o público uma melhor experiência e para as empresas uma audiência mais engajada. De acordo com a pesquisa da Reuters Institute 2017, houve um crescimento no tráfego do Discover nos Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e França, em relação a 2016 (Figura 5). Segundo a pesquisa, o acesso do público alvo de 18 a 24 anos foi impulsionado principalmente quando o aplicativo permitiu aos usuários se inscreverem diretamente no conteúdo Discover de editores individuais.
21 FIGURA 5 – Gráfico crescimento Snapchat Discover
FONTE: Reuters Institute 2017
O aplicativo está disponível em 22 idiomas, e uma das causas do baixo acesso ao conteúdo disponível no Discover deve-se à predominância do conteúdo produzido por empresas norte-americanas e inglesas, que resulta na soberania de informações desses territórios, além de predominar empresas de revistas de entretenimento, que informam basicamente sobre a vida das celebridades.
2.1.1 AS CARACTERÍSTICAS DE CIBERJORNALISMO A seguir serão avaliadas as sete características de Ciberjornalismo, apresentadas no livro “Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença” (2014), organizado por João Canavilhas, para entender como o aplicativo utiliza as características - hipertextualidade, multimedialidade, interatividade, memória, instantaneidade, personalização e ubiquidade - na construção do storytelling.
2.1.2 HIPERTEXTUALIDADE A hipertextualidade é considerada por João Canavilhas (2014) a arquitetura – aberta e interativa - da notícia na web que permite a leitura nãolinear atendendo a duas necessidades dos leitores: os que buscam uma
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informação específica e aqueles que navegam na notícia e precisam ser guiados pela sua estrutura. Moherdaui (2002) define hipertexto como capaz de construir uma estrutura de um texto em rede. Cada link utilizado funciona como um “nó” e integra na notícia fragmentada os blocos de informações que complementam o texto principal. Os links podem ser vídeos, outras notícias, cibermeios relacionados ao tema, resultados de pesquisas, entre outros. Para ter acesso rápido ao conteúdo do Snapchat, mesmo na rede de telecomunicação móvel sem fio (wireless – 3G e 4G) ou rede wi-fi de baixa velocidade, as imagens tem tamanhos comprimidos e os vídeos tem tempos reduzidos. Um dos diferenciais do aplicativo é que os conteúdos não demoram a carregar, assim como acontece em outras plataformas por exemplo, que redirecionam para o cibermeio das notícias. O conteúdo Discover é produzido exclusivamente para o aplicativo, atendendo às exigências do meio e uma melhor experiência ao usuário.
2.1.3 MULTIMEDIALIDADE Para Ramón Salaverría (2014), multimedialidade é o uso de distintas linguagens midiáticas – imagem, texto e som – na construção de uma notícia e a combinação entre eles contribuem para que a narrativa tenha diferentes formas de compreensão. A multimedialidade para Abadal e Guallar (2010, p.42) é “a utilização conjunta de formas básicas de informação, isto é, texto, som e imagem fixa e animada, no mesmo ambiente e de forma justaposta ou integrada”. O texto atua como elemento mais eficaz de contexto e documentação das informações mais importantes. A fotografia se democratizou e tem uma presença ubíqua nos cibermeios e nas redes sociais em diversas variantes – panorâmicas, 360°, megafotografias, carrosséis, geolocalização, zoom de alta definição, imagens em movimento sem som (GIF). Outros elementos icônicos são os gráficos e as ilustrações que permitem uma navegação ativa e determinante. No aplicativo Snapchat, os usuários podem compartilhar fotos e vídeos com um prazo de validade pré-estipulado de 0 a 10 segundos, ou
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ilimitado. É possível criar histórias para que todos os seus contatos possam visualizar em até 24 horas. Além disso, as fotos e vídeos podem ser produzidas com filtros animados ou em 3D e tratadas com desenhos, emojis, texto, filtros de geolocalização, horário, temperatura e velocidade. Nos vídeos também é permitido acelerar ou diminuir o movimento e alterar o som da voz. Os filtros de geolocalização (Figura 6) são uma imagem ou logotipo linkado a uma localização no sistema de mapas do aplicativo. A partir desses filtros, a equipe do Snapchat pode realizar curadoria de histórias, de acordo com locais ou festividades, para serem transmitidas a todos os usuários do Snapchat por meio do mapa do app (Figura 7).
FIGURA 6 - Exemplo de filtro
FIGURA 7 - Mapa do aplicativo
de geolocalização
FONTE: Aplicativo Snapchat
FONTE: Aplicativo Snapchat
2.1.4 INTERATIVIDADE Possibilidade de entrar em contato com os jornalistas ou contribuir para a produção de uma reportagem dão poder à audiência, para participar da
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seleção de conteúdos de informação, e possibilidade de expressão. Pierre Lévy (2000, p. 13) explica que a interatividade no cibermeio permite que cada um se torne um emissor, porque o ambiente proporciona uma interação de “todos e todos”. E não mais no conceito de produção e consumo linear, proposto por David K. Berlo (2003). A informação é selecionada pelo emissor que codifica uma mensagem concreta, que percorre um canal e atinge um receptor. A comunicação não para no momento em que a mensagem é decodificada e abstraída pelo receptor, porque comunicar requer relacionamento entre os indivíduos que participam do processo. A interatividade para Henry Jenkins (2012, p.189), “refere-se ao modo como as novas tecnologias foram planejadas para responder ao feedback do consumidor”. E cada vez mais, a indústria de mídia depende de consumidores ativos e envolvidos, para divulgarem a marca do jornal no mercado saturado. O Snapchat facilita o compartilhamento da notícia e da marca entre os usuários (Figura 8), além de proporcionar a interatividade pelo touch screen dos dispositivos móveis e tablets que oferecem ao usuário novas formas de explorar e consumir a informação. FIGURA 8 – Exemplo de compartilhamento de notícias para um amigo na plataforma
FONTE: Aplicativo Snapchat
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FIGURA 9 – Exemplo de compartilhamento de notícias na aba “Minha História” do usuário
FONTE: Aplicativo Snapchat
2.1.5 MEMÓRIA Capacidade de armazenar as informações em uma espécie de biblioteca infinita de material noticioso. Não é uma particularidade do meio digital, porque os jornais impressos, emissoras de rádio e TV mantinham arquivos físicos das suas produções jornalísticas nas redações. Atualmente, a informação efêmera presente nas redes sociais auxiliam na intensidade da experiência do usuário para visualizar imagens, vídeos ou texto. Os dados autodestrutivos produzidos principalmente por aplicativos de dispositivos móveis, como por exemplo no Snapchat modificam a forma como o usuário recebe e absorve a informação, assim como explica Jungerson (2013b, apud Gabriela Santos, 2015, p. 47): Por exemplo, o cronômetro de contagem regressiva do Snapchat demanda uma urgência de atenção; quando você olha rápido, você olha intensamente. A imagem pode não ser lembrada perfeitamente, mas a história que ela conta e como você se sente naquele momento se tornam mais proeminentes. Redes sociais permanentes focam nos detalhes da foto, enquanto que redes sociais temporárias focam no significado da foto e como ela te comoveu. (SANTOS, 2015, p. 47)
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O aplicativo Snapchat possui o diferencial da efemeridade. As histórias, assim como as publicações no Discover, têm prazo de validade e podem ser acessadas pelos usuários durante 24 horas. A ideia é disponibilizar um novo tipo de produção e consumo de notícias, para que as informações se tornem diretas e próximas ao leitor.
2.1.6 INSTANTANEIDADE Afeta a forma de publicação, consumo e distribuição nas mídias, porque cria uma rivalidade entre as empresas de quem vai entregar a notícia primeiro. A audiência considera o furo jornalístico um mérito, especialmente em uma era que o avanço tecnológico agiliza o compartilhamento das informações. Diferente dos outros meios – televisão e rádio – a internet não possui programação estipulada e em qualquer horário as notícias podem ser disponibilizadas. Além da publicação de informação, a instantaneidade também se propaga na atualização das notícias em tempo real. No aplicativo, as matérias do Discover são publicadas uma vez ao dia pelas empresas de comunicação, pelas suas respectivas redações. O conteúdo pode ser acessado pelo usuário em até 24 horas, assim como as histórias publicadas pelos perfis de amigos, famosos ou empresas que seguem. A atualização nos perfis é instantânea, porque o jornalista grava os vídeos ou tira as fotos para publicar de imediato na plataforma. Mas, no Discover, a produção de conteúdo demanda mais tempo e por isso não pode ser publicado de imediato.
2.1.7 PERSONALIZAÇÃO Nova forma de oferecer conteúdo jornalístico de acordo com os interesses individuais do usuário. A personalização fornece aos usuários novas formas de encontrar o que gostam, além de inovar de como o conteúdo pode ir até a audiência. A distribuição do conteúdo no Snapchat pelo Discover foca em pequenas audiências, entre jovens de 18 a 24 anos e permite que os usuários ‘assinem’ as empresas jornalísticas que possuem as notícias de seu interesse,
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para as capas principais aparecerem logo abaixo das notícias “em destaque” da aba histórias (Figura 10). FIGURA 10 - Exemplo da exibição “em destaque” na aba “histórias”
FONTE: Aplicativo Snapchat
O aplicativo não permite que o usuário personalize o tipo de conteúdo que ele quer ver. A possibilidade do usuário marcar quais os assuntos mais o interessam, por meio de assuntos gerais, como por exemplo política, economia e esporte, permitiria que as empresas tivessem um controle de quais assuntos gerais que seus consumidores buscam no aplicativo.
2.1.8 UBIQUIDADE Significa estar em todo o lugar, simultaneamente. No contexto de mídia, John Pavlik (2014) explica que a ubiquidade implica que um indivíduo
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tenha acesso potencial a uma rede de comunicação interativa e em tempo real. O meio digital possibilita a conexão mundial e todos os indivíduos podem buscar informações noticiosas ou de entretenimento. O aplicativo Snapchat está disponível em 22 idiomas para os aparelhos IOS ou Android e permite a produção e compartilhamento do conteúdo como, por exemplo, de imagens e vídeos, além de geolocalização pelo uso de filtros geográficos ou sua localização atual no mapa. Por ser um aplicativo usado no mundo todo, as 19 empresas que possuem parceria e produzem conteúdo para o Snapchat Discover são americanas ou britânicas e as publicações não têm tradução para os outros idiomas. Os perfis não se limitam ao inglês, qualquer empresa jornalística que queria produzir conteúdo no aplicativo pode criar uma conta e ser seguida pelos consumidores, que podem ser provenientes do seu país ou não, mas que entendam a língua nativa.
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3. METODOLOGIA A metodologia usada neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é classificada por Gil (2002) como pesquisa exploratória, que possui como objetivo a familiaridade com o problema apresentado e construção de hipóteses no fato estudado. Essa pesquisa envolve o levantamento bibliográfico sobre o tema geral, além da análise de exemplos que estimulam a compreensão dos fatos apresentados. A pesquisa bibliográfica do trabalho propõem a análise de estudos históricos e as diversas distinções sobre a utilização dos smartphones como objeto de consumo de notícias em aplicativos. O levantamento de como são construídas as notícias no aplicativo, oferece uma solução possível para o problema apresentado. A observação dos conteúdos diários publicados no Snapchat fornece indícios para conhecimento geral e explicativo sobre o objeto analisado. O estudo de caso oferece uma base para a análise, mas não proporciona um conhecimento preciso das características, e sim, uma visão geral do problema e a identificação de possíveis fatores que influenciam na construção do storytelling no Snapchat. O seguinte capítulo irá apresentar a análise do conteúdo jornalístico a partir das publicações feitas pelas empresas do jornal britânico Daily Mail e a emissora de televisão estadunidense Cable News Network (CNN) na plataforma Discover do aplicativo Snapchat. Ambos os jornais foram observados durante três dias (quinta-feira, 19 de outubro de 2017; sábado, 21 de outubro e segundafeira, 23 de outubro), para compreender a dinâmica da plataforma e as linguagens utilizadas pelas empresas. O Daily Mail foi escolhido para ser analisado devido ao conteúdo publicado seguir a maioria dos modelos das outras empresas que possui canal no aplicativo, com foco nas notícias de entretenimento e comportamento. O conteúdo para análise foi classificado em quatro assuntos gerais: a) celebridades; b) artigos de curiosidades; c) vídeos da internet que viralizaram na rede e viraram notícia; e d) conteúdos pertinentes que seriam veiculados em um jornal diário. A CNN publica conteúdo desde o lançamento da plataforma Discover no aplicativo com foco no jornalismo tradicional diário. O conteúdo da emissora
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se difere das demais empresas, devido ao show de notícias, denominado “The Update”, lançado em 2017 para criação de conteúdo de TV móvel. O storytelling da CNN é semelhante as construções de conteúdo e narrativa de uma TV, mas inova ao compilar imagens estáticas e textos em movimento, além de criar gráficos, para atender às exigências da plataforma e atrair o público jovem. Os perfis criados pelas empresas jornalísticas no aplicativo, a serem analisados, são dos jornais norte-americano The Washington Post e o português Expresso, ambos com origem no jornalismo tradicional diário. O foco das notícias do jornal norte-americano na plataforma é de política, manifestações e datas comemorativas. O jornal Expresso publica notícias sobre desastres ambientais, política e economia.
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4. DAILY MAIL
O jornal britânico foi criado em 1896 pelos irmãos Alfred Harmsworth e Harold Sidney Harmsworth. Originalmente publicado no formato standard, alterou para o formato tabloide em maio de 1971. O jornal perdeu circulação na década de 1970 e em 2003, o cibermeio MailOnline foi lançado para distribuir conteúdo gratuito. Para publicar conteúdo na plataforma Discover, em 2015 contava com uma equipe de oito funcionários responsáveis pela curadoria das notícias no Snapchat. O formato que é usado desde o começo pelo jornal, segue o estilo de revista com capas chamativas, com exibição de gráficos, vídeos, sobreposição de texto, animação e som em tela inteira, e experiência de conteúdo imersivo, com notícias no formato longform (Figura 11). FIGURA 11 – Exemplo de publicação Daily Mail
FONTE: Aplicativo Snapchat
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4.1 CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING DO DAILY MAIL Durante os três dias de análise, o jornal britânico Daily Mail publicou 129 notícias e a média de publicações diárias é de mais de 40 notícias, classificadas em assuntos sobre a vida das celebridades, artigos sobre curiosidades, vídeos da internet que viralizaram na rede e viraram notícia e conteúdos pertinentes, que seriam publicados em um jornal diário. A maior parte das notícias são de celebridades, com 88 publicações nos três dias analisados, seguido de 16 publicações sobre vídeos da internet, 14 sobre artigos de curiosidades e 11 sobre conteúdos pertinentes. Pela análise, não foram encontrados os critérios utilizados pelos jornalistas na ordem de publicações das notícias. São feitas aleatoriamente e não seguem uma ordem de conteúdo mais importante para o menos importante, porque misturam os conteúdos de forma desordenada. A capa principal (Figura 12) utilizada para chamar a atenção dos leitores para o consumo de notícias na plataforma traz a imagem de celebridades conhecidas. No primeiro dia de análise, a capa principal do jornal britânico trazia a imagem da personalidade televisiva, Kim Zolciak; no segundo dia, a imagem da modelo americana Ashley Graham; e no terceiro dia, a atriz, modelo e estilista Kourtney Kardashian. FIGURA 12 – Exemplo de capa principal no Discover
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FONTE: Aplicativo Snapchat
As capas internas (Figura 13) são trabalhadas em três características de ciberjornalismo, a multimedialidade pelo uso de fotos, vídeos ou imagens em movimento; a customização com a sobreposição desses recursos midiáticos com o título da matéria; e os níveis de interatividade pelo uso do touch screen para abrir a matéria, ou passar para a próxima notícia, além da possibilidade de enviar a matéria para um amigo “snapchater”. FIGURA 13 – Exemplo de capa interna do Daily Mail
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FONTE: Aplicativo Snapchat
Quando as notícias possuem vídeos, geralmente um trecho dele está na capa interna e quando o leitor arrasta a tela para cima, para abrir a notícia, embaixo do primeiro parágrafo, há um aviso para rolar para baixo e assistir ao vídeo completo. O vídeo raramente está abaixo do subtítulo, o leitor tem que rolar a página, pelo menos uma vez, para encontrar o recurso audiovisual. No primeiro dia de análise, quinta-feira, 19 de outubro de 2017, 44 notícias foram publicadas – 28 sobre celebridades, sete de curiosidades, cinco sobre vídeos da internet e quatro com “assuntos pertinentes”. A primeira notícia sobre conteúdo pertinente abordava sobre uma tia de um falecido soldado das forças especiais que chamou o presidente de “sem coração e desagradável” e utilizou além do texto, nove imagens na narrativa. A segunda notícia com o título “ISIS planeja novo 11 de setembro – Chefe de segurança interna diz que fanáticos estão planejando outro ataque em massa”, além do texto utilizou duas imagens.
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A terceira notícia tratava do depoimento do primeiro-ministro canadense que chorou ao declarar a morte do amigo e músico Gord Downie. Foram utilizados além do texto, quatro fotos e um vídeo de 48 segundos da declaração oficial do primeiro-ministro sobre a morte do músico. E a quarta notícia pertinente do dia é de que um homem ajudou uma jovem de 16 anos a planejar suicídio e foi acusado de assassinato em primeiro grau. Na notícia foram utilizadas cinco fotos, além do texto. No sábado, 21 de outubro de 2017, segundo dia de análise, o total publicado pela equipe do Daily Mail foi de 42 notícias – 31 sobre celebridades, três sobre curiosidades, cinco sobre vídeos da internet e três “notícias pertinentes”. A primeira notícia considerada importante, abordava sobre um casal desaparecido no Joshua Tree Park foram encontrados mortos. Além do texto, a notícia tinha nove fotos, uma foto do parque onde o carro foi encontrado, e um vídeo do jornal KTLA com duração de um minuto e 18 segundos para explicar o caso. Na segunda notícia foram usadas quatro imagens no total, para referir-se a extensão da poluição plasmática nas vias navegáveis do mundo. Uma das imagens mostra um mapa da poluição. E a última notícia do dia, considerada mais pertinente, utilizou sete imagens e um vídeo de um minuto e 56 segundos do jornal Fox Five News para explicar sobre o caso de uma mãe em San Diego acusada de vender drogas para estudantes da escola católica das filhas. Na segunda-feira, 23 de outubro de 2017, último dia de análise, o Daily mail publicou 43 notícias – 29 de celebridades, quatro de curiosidades, seis sobre vídeos da internet e quatro “notícias pertinentes”. A primeira é que um diretor de Hollywood, James Toback foi acusado por 38 mulheres de assédio sexual. A notícia tinha 14 imagens e no texto também menciona sobre o caso do produtor hollywoodiano Harvey Weinstein que é acusado de assédio. A segunda notícia mais importante do dia não possui texto e sim um vídeo de 34 segundos para mostrar que uma mulher foi empurrada nos trilhos de um trem em Hong Kong. A terceira notícia fala sobre o senador do Arizona, John McCain que atacou o presidente americano Donald Trump devido à falta de serviço militar na noite de domingo. A notícia tinha nove imagens e um vídeo de 47 segundos com o depoimento de McCain. O vídeo apareceu logo no
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começo da notícia. E a quarta matéria publicada no dia possui nove imagens de bebês desnutridos e um texto enxuto para retratar a realidade da guerra na Síria.
4.2 RESULTADOS DAILY MAIL Durante os três dias de coleta de informações foi possível perceber que o jornal britânico Daily Mail publica mais de 40 notícias por dia no Snapchat Discover. O principal objetivo é sintetizar as matérias produzidas pela equipe jornalística de forma objetiva e mais descontraída para os millennials. É importante salientar que as notícias publicadas não são atualizadas ao longo do dia, pela própria lógica do aplicativo de não permitir o acesso do conteúdo depois de 24 horas. A consequência disso, é que se o usuário que quer ter mais informações sobre determinada notícia, deve entrar no cibermeio ou em outras mídias do jornal para procurar as possíveis atualizações de informações. A utilização de animações em vídeo ou fotos na maioria das capas internas publicadas pelo jornal, torna a interface mais profissional, além de permitir uma identidade visual da marca do Daily Mail no aplicativo.
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5. CABLE NEWS NETWORK (CNN) O primeiro canal de televisão a oferecer cobertura jornalística durante 24 horas, foi criada pelo empresário Ted Turner e inaugurada em junho de 1980 na cidade de Atlanta, nos Estados Unidos. A CNN foi uma das primeiras empresas a integrarem conteúdo desde o lançamento da plataforma Discover no aplicativo. De acordo com o site de notícias TechCrunch, em 2015 a CNN tinha uma equipe específica para publicação do Snapchat, composta por dois editores e um design gráfico. O formato usado pelo jornal era o mesmo das outras empresas, no estilo revista e formato longform. Em 2017, lançaram o “The Update”, notícias diárias organizadas por equipes editoriais e de design, no formato de vídeo vertical do Snapchat. Este é o segundo lançado na plataforma, o pioneiro foi da NBC News, “Stay Tuned”, que é atualizado duas vezes ao dia e no primeiro mês atingiu 29 milhões de visualizações. A CNN seguiu o modelo da NBC para apresentar relatórios e atualizações dos breaking news pelos próprios âncoras, correspondentes e repórteres da emissora. A diferença é que as notícias da CNN são atualizadas na medida em que ocorrem.
5.1 CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING DA CNN As imagens de capa principal são pouco trabalhadas, que remetem ao assunto abordado e um título elaborado para fazer o leitor clicar e acessar o conteúdo publicado. Os vídeos são construídos na vertical, para melhorar o acesso e a interação dos consumidores com a notícia, mesmo aqueles que são usados na TV e reutilizados na plataforma. Na quinta-feira, 19 de outubro de 2017, três manchetes foram exibidas em quatro minutos e 44 segundos pela equipe da CNN. A primeira manchete tratava sobre a queda da riqueza de Trump. De acordo com o ranking da revista Forbes das 400 pessoas mais ricas dos Estados Unidos, em 2016, Trump tinha $3,7 bilhões e ocupava o 156º lugar na lista, agora o presidente americano tem $3,1 bilhões e caiu para a 248º posição. O top três do ranking é composto por Bill Gates, Jeff Bezos e Warren Buffet.
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Na notícia foram utilizados um compilado de arquivos de TV cortados com declarações de Trump “i’m rich” (“eu sou rico”), além das falas do empresário e político Michael Bloomberg, do ativista político da Turquia Cenk Uygur, do editor da revista Forbes Randall Lane e o comediante John Mulaney. Também foram usados prints dos tweets do presidente. Os editores do conteúdo usaram diversos recursos – como imagens estáticas – e textos com transições para criarem um efeito de gráfico. Também utilizaram textos em cima dos vídeos, para frisar a fala mais importante do entrevistado. A segunda notícia foi anunciada por um jornalista da CNN, Chris Cuomo, sobre a representante da Câmara dos Estados Unidos da Flórida, Frederica Wilson que acusou o presidente Trump de fazer uma insensível declaração para a viúva de um dos soldados David Johnson, que perdeu sua vida na emboscada da Nigéria e que o presidente ignorou por dias. Foram utilizadas imagens de vídeo com off da voz do correspondente da CNN de Washington, Joe Johns, as declarações de Frederica Wilson por telefone e por gravações de vídeo. A terceira e última notícia do dia era sobre o tiroteio que aconteceu em Maryland, onde cinco pessoas foram baleadas no estacionamento de um escritório em Edgewood. Três delas morreram. A suspeita era de que as cinco pessoas eram funcionárias da Advanced Granite Solutions. A notícia foi construída com imagens de segurança do estacionamento, com informações escritas e com melodia ‘dramática’ de fundo. Além disso, foram utilizados o tweet da tropa de choque para atualizar as informações das pessoas baleadas e a declaração do delegado da cidade, Jeffrey Gahler. No sábado, 21 de outubro de 2017 foi produzida uma notícia que durou quatro minutos e 26 segundos. As informações foram apresentadas pelo produtor da CNN, Donie O’Sullivan para explicar sobre a investigação de como a Rússia e as mídias sociais interferiram nas eleições da presidência dos EUA no ano passado. Os editores utilizaram as gravações no estúdio com o produtor, O’Sullivan, além de vídeos e imagens que remetem ao mundo virtual, com sobreposição de texto das informações mais importantes faladas. Na segunda-feira, 23 de outubro de 2017 a notícia de quatro minutos e sete segundos, apresentada pelo correspondente do Congresso da CNN, Phill Mattingly abordava a preocupação de que o gabinete da Casa Branca invoque a
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25ª emenda. Em uma matéria explicativa, a CNN detalha sobre o que a emenda estabelece um caminho para a remoção do presidente, caso comprovado a ineficiência ou incapacidade de administrar o país. Os editores utilizaram recursos visuais, inclusive a criação de gráficos para deixar o conteúdo mais explicativo.
5.2 RESULTADOS CNN Durante os três dias de coleta de informações foi possível perceber que a CNN no Snapchat Discover constrói as notícias por meio de vídeos na vertical, que facilita a visualização e a interatividade do público pelo smartphone ou tablet. As publicações seguem o estilo das reportagens feitas para a televisão, mas com uma estética mais descontraída, que chama a atenção e aproxima a geração dos leitores que consomem informação na plataforma. Foi percebido que as notícias são publicadas conforme acontecem, mas não são publicadas instantaneamente, devido ao processo de produção e montagem das matérias. Com a possibilidade de atualização a qualquer hora do dia, faz com que o leitor aproveite sua entrada na plataforma várias vezes ao dia, para buscar mais informações na plataforma da CNN no Discover.
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6. CONSTRUÇÃO DO STORYTELLING NOS PERFIS DOS JORNAIS ‘THE WASHINGTON POST’ E ‘EXPRESSO’ Entre os dias 1 e 28 de novembro de 2017, somente dois dias o perfil do jornal norte-americano The Washington Post publicou conteúdo, em 23 e 27 de novembro de 2017. O jornal português Expresso, publicou no perfil somente no dia 27 de novembro de 2017. Mesmo com pouco conteúdo publicado para ser analisado no presente trabalho, foi possível perceber que os jornais usam o aplicativo para informar de forma rápida e instantânea as notícias diárias mais importantes. Diferentemente do Discover, as características de ciberjornalismo que mais se destacam nos perfis são instantaneidade e interatividade. O jornalista faz a foto ou o vídeo no próprio aplicativo e automaticamente publica na área "Minha História", para que os usuários que o seguem possam ter acesso ao conteúdo. A interação nos perfis é mais fácil devido à aproximação do jornalista com o leitor, que passa a informação de forma informal e descontraída. A particularidade do Snapchat também está presente nos perfis, porque os conteúdos não ficam armazenados na plataforma, as postagens somem depois de 24 horas. Vanessa Kannenberg (2017), a partir de contribuições teóricas dos autores Mielniczuk (2003) e Bradshaw (2016), elaborou os conceitos de narrativa utilizados pelos perfis de empresas jornalísticas no Snapchat. A narrativa pode ser classificada em: a) Cobertura de fato noticioso; b) Comentário sobre fato noticioso, c) Entrevista; e d) Bastidores. A cobertura do fato é narrado no local do acontecimento, que pode ser feito por selfie - auto representação em foto ou vídeo feito pelo próprio jornalista - ou mostrar o que acontece no local do fato. O comentário noticioso normalmente é apresentado no formato de selfie, mas pode ser representado por uma imagem com legenda, sem necessariamente o jornalista estar no local do fato. Na entrevista, o jornalista realiza perguntas para as fontes que estão presentes no acontecimento. E nos bastidores, o narrador mostra a produção das notícias.
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O The Washington Post explora mais os recursos do Snapchat para informar aos millennials, além de tentar ao máximo a aproximação com o leitor. As quatro narrativas descritas acima são utilizadas na produção de conteúdo do Snapchat do The Washington Post. Na quinta-feira, dia 23 de novembro, a jornalista publicou uma sequência de vídeos para abordar sobre o "Thanksgiving" - feriado do dia de Ação de Graças celebrado nos Estados Unidos, Canadá e nas ilhas do Caribe, que celebra com orações e festas a gratidão à Deus pelos bons acontecimentos que ocorreram durante o ano. Nos três primeiros vídeos, a gravação é feita no formato de selfie para introduzir o conteúdo, além de chamar os leitores para participar das mensagens de gratidão (Figura 14). FIGURA 14 - Exemplo de publicação em selfie do jornal The Washington Post
FONTE: Aplicativo Snapchat
Na sequência, os cinco vídeos são gravados no formato narrativo de entrevista, onde quatro jornalistas que trabalham no The Washington Post são entrevistados pela narradora. (Figura 15).
42 FIGURA 15 - Exemplo de publicação de entrevista do jornal The Washington Post
FONTE: Aplicativo Snapchat
A última publicação do dia foi uma imagem de fundo preto, com um emoji de “Thanksgiving” e uma legenda que convoca os leitores a responderem à história do jornal para compartilharem suas gratidões (Figura 16). Todas as publicações deste dia foram acompanhadas por legendas com fragmentos das falas dos jornalistas, além do uso de emojis para tornar o conteúdo mais 'divertido'. FIGURA 16 - Exemplo de interação com os leitores do jornal The Washington Post
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FONTE: Aplicativo Snapchat
Na terça-feira, 28 de novembro de 2017, uma jornalista do The Washignton Post reporta diretamente do Palácio Kensington, Londres, o pedido de noivado do Príncipe Harry e a atriz norte-americana, Eghan Markle. Os dois primeiros vídeos são representações em selfie da narradora para introduzir ao tema que será descorrido nos próximos stories do jornal. Nas publicações foram utilizados geofiltros com a localização do Palácio para ambientar os leitores (Figura 17). FIGURA 17 - Utilização de geofiltro na publicação do jornal The Washington Post
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Os dois vídeos seguintes são de um morador que é entrevistado pela jornalista e que relata sua opinião à respeito do anúncio do casamento. O seguinte vídeo traz os bastidores da notícia, para mostrar a quantidade de mídias nacionais e internacionais que estavam do lado de fora do Palácio (Figura 18). FIGURA 18 - Exemplo de narrativa de bastidores do jornal The Washington Post
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FONTE: Aplicativo Snapchat
Os próximos 10 vídeos são entrevistas com seis pessoas que ela encontrou na rua, ou no metrô, para fornecerem depoimentos sobre o noivado. No último vídeo em selfie, a jornalista se despede e informa aos leitores para acessarem o cibermeio do The Washington Post que possui mais informações sobre o acontecimento. Em todos os vídeos publicados foram usados legenda para complementar ou explicar a fala dos entrevistados. No perfil do jornal português Expresso, a maior parte das publicações é de fotos que são tiradas da tela de um computador, com imagens que ilustram sobre o tema abordado, acompanhada de grandes legendas, para informar sobre o fato narrado. Algumas vezes, a jornalista responsável pelo Snapchat do jornal aparece nos vídeos em selfie, para atualizar as informações que chegam na redação. Nas publicações de terça-feira, do dia 28 de novembro de 2017, a jornalista traz várias imagens para abordar sobre diversos temas do dia. As primeiras nove imagens são de fotos tiradas da tela do computador, para
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informar sobre as atualizações das investigações de um incêncio que ocorreu no mês de junho de 2017. Como as informações estão nas grandes legendas (Figura 19), as imagens não tem limite de tempo para visualização, o que obriga o usuário a tocar a tela no canto direito para passar para o próximo snap, a fim de continuar as histórias. FIGURA 19 - Exemplo de publicação do jornal português Expresso
FONTE: Aplicativo Snapchat
As próximas imagens informam sobre campanha de vacinação contra a gripe, aviso de fortes chuvas em algumas regiões do país, disponibilização do UberEATS em Lisboa para entrega de comidas e a divulgação da lista dos 50 melhores álbuns de 2017 da revista Rolling Stone. O último story publicado é um vídeo sem som, para mostrar na tela do computador, a lista completa dos próximos shows que acontecem em Portugal. A breve análise permite observar as várias possibilidades que o aplicativo oferece para criação de conteúdo nos perfis da plataforma. A instantaneidade e a interatividade é o diferencial para quem cria uma conta no
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aplicativo e consegue ser bem exploradas pelos dois perfis dos jornais analisados, principalmente pelo The Washington Post.
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante os três dias de análise foi constatado que o principal objetivo das notícias veiculadas na plataforma Discover do Snapchat é sintetizar as notícias diárias dos jornais em uma narrativa multimidiática de forma objetiva, prática e de forma exclusiva para os usuários mais jovens que utilizam a rede social. A vantagem de publicar no aplicativo é que o conteúdo veiculado no Discover possui identidade visual de cada empresa, principalmente nas capas internas publicadas pelo Daily Mail e no conteúdo audiovisual da CNN. A interface também oferece um diferencial porque todas as notícias publicadas podem ser visualizadas pelo usuário, o que não ocorre nas outras redes sociais por causa dos algoritmos que mostram os conteúdos relevantes, de acordo com os gostos do usuário - que considera as “curtidas”, compartilhamentos, comentários, links abertos e o tempo em que o usuário permanece na publicação. Outra vantagem é que as narrativas são construídas com diferentes tipos de linguagens como, por exemplo, imagens, sons e vídeos, para dar ao usuário diversas formas de compreensão da notícia. Para abrir a matéria o usuário não é redirecionado para o cibermeio das empresas jornalísticas, o que permite que o usuário permaneça na rede social por mais tempo. As narrativas estão hospedadas na plataforma durante 24 horas e o conteúdo que se autodestrói é contrário às redes sociais convencionais e modificam a forma que o usuário recebe a informação, porque faz com que conteúdo seja mais efêmero. O conteúdo do aplicativo que se autodestrói não substitui os portais de notícias que possuem banco de dados para guardar informações e permitir o acesso posterior do usuário. Assim, reforça o principal objetivo da plataforma que é a veiculação de notícias sintetizadas, de fácil acesso e rápido consumo. Os dois aspectos não muito explorados nas narrativas do Discover são a instantaneidade e a personalização. A atualização das matérias não são instantâneas, porque precisam de mais tempo para ser produzida de forma exclusiva para o aplicativo. E a personalização permitiria ao usuário selecionar as notícias de seu interesse, o que aumentaria as visualizações das publicações na plataforma.
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A desvantagem é de que o aplicativo, mesmo disponível em 22 idiomas para os aparelhos IOS ou Android, os conteúdos disponibilizados no Discover são todos em inglês. As 19 empresas que produzem conteúdo no Snapchat são norte-americanas ou britânicas e não possuem conteúdos de empresas jornalísticas de outras localidades, e consequentemente, de outros idiomas. O resultado é a soberania de informações desses países de língua inglesa, e é uma das causas do baixo acesso ao conteúdo do Discover em outros locais. Na breve análise dos perfis dos jornais The Washington Post e Expresso foi possível perceber que os dois utilizam o aplicativo de formas totalmente diferentes para informar seus leitores. Em comparação, o The Washington Post consegue explorar mais os recursos que o aplicativo tem e utiliza todas as formas de narrativas possíveis para informar os seus leitores. A aproximação com o usuário é mais evidente no jornal norte-americano devido à linguagem descontraída utilizada e o apelo dos jornalistas para o envolvimento dos seus leitores dentro do aplicativo. Com isso, é possível notar que o aplicativo Snapchat é uma ferramenta que oferece diversos tipos de produção de narrativas e tem potencial para proporcionar uma nova fase no jornalismo nas redes sociais. O Discover pode abranger jornais, revistas e canais de TV de todos os países para ser mais acessado e as empresas jornalísticas devem criar perfis no aplicativo a fim de explorar a ferramenta e atender o público mais jovem que se informa pela rede social.
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51 SANTOS, Gabriela S. C. A efemeridade da comunicação nas redes sociais: Um estudo sobre o uso jornalístico do Snapchat. Porto Alegre, PUCRS, 2015. Disponível em: https://www.academia.edu/20043691/A_efemeridade_da_comunica%C3%A7%C3%A3 o_nas_redes_sociais_um_estudo_sobre_o_uso_jornal%C3%ADstico_do_Snapchat. Acesso em: 11 de fevereiro de 2017. SCHWINGEL, Carla. Ciberjornalismo. São Paulo: Paulinas, 2012. – (Coleção comunicação em pauta).
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ANEXO Todas as publicações do aplicativo Snapchat que foram analisadas neste trabalho estão disponíveis no DVD. As gravações servem como documentação do conteúdo publicado pelas empresas jornalísticas, uma vez que o aplicativo não possibilita a visualização das histórias após 24 horas.