UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
PELICANO: PARA QUE OUTROS POSSAM VIVER
JOÃO GABRIEL SERRANO FUSQUINE LARISSA MORETI DE LIMA RIBEIRO LARISSA VIZONI SCUDELLER GOMES
Campo Grande NOVEMBRO /2017
PELICANO: PARA QUE OUTROS POSSAM VIVER JOÃO GABRIEL SERRANO FUSQUINE LARISSA MORETI DE LIMA RIBEIRO LARISSA VIZONI SCUDELLER GOMES
Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projetos Experimentais do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientadora: Me. Kárita Francisco Coorientadora: Profa. Dra. Rose Mara Pinheiro
UFMS Campo Grande NOVEMBRO - 2017
SUMÁRIO Resumo
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Introdução
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1. Atividades desenvolvidas
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1.1 Execução
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1.2 Dificuldades encontradas
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1.3 Objetivos alcançados
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2. Suportes teóricos adotados
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2.1 Busca e Salvamento no Brasil
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2.2 Esquadrão Pelicano
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2.3 A origem do nome Pelicano
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2.4 Vídeo-documentário
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2.5 Entrevista jornalística
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Considerações finais
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Referências
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Anexos
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Apêndices
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RESUMO: Este trabalho consiste em um vídeo-documentário que busca retratar, por meio dos depoimentos dos indivíduos que compõem o Segundo Esquadrão do Décimo Grupo de Aviação (2º/10º GAV) – Esquadrão Pelicano, da Base Aérea de Campo Grande, o significado do que os militares chamam de Espírito SAR (Search and Rescue) - o espírito de busca e salvamento da equipe. O produto reconstrói a história e os principais acontecimentos do Esquadrão com documentos e imagens de arquivos, enfatizando os agentes humanos que o integram e apresentando uma análise mais aprofundada sobre o tema no ano em que o 2º/10º GAV completa 60 anos de existência.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Documentário; Esquadrão; Pelicano; Militar; Campo Grande.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho é um vídeo-documentário sobre a essência do Segundo Esquadrão do Décimo Grupo de Aviação (2º/10º GAV) – Esquadrão Pelicano, a qual consiste na vocação e devoção de seus integrantes para a realização de missões de busca e salvamento, conhecidas na Força Aérea Brasileira como Espírito SAR – Search and Rescue (Busca e Salvamento). O Esquadrão Pelicano foi criado no dia 6 de dezembro de 1957, na Base Aérea de São Paulo, e em 1981 foi transferido para a Base Aérea de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, devido à localização central privilegiada da cidade em relação à América do Sul, para atender às necessidades de mobilidade e flexibilidade da instituição vantagens evidenciadas por Barros e Junior (2007, p. 38): Próxima das regiões Sul e Sudeste, área mais industrializada do país e com as maiores populações (quase 60% dos brasileiros) e tráfego aéreo (60% dos vôos e 64% dos passageiros), serve também de porta de entrada da chamada Amazônia Legal - formada pelos estados de Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins e oeste do Maranhão (BARROS E CLARO JUNIOR, 2007, p. 38).
Após a mudança, o Esquadrão Pelicano passou por uma série de problemas operacionais envolvendo equipamentos e teve que realizar missões com aeronaves emprestadas de outros esquadrões. Foi somente 13 meses após a mudança de localidade que a equipe recebeu o helicóptero UH-1H, o que facilitou o trabalho. A partir de então, com a adoção de novas técnicas nas operações, como o paraquedismo e o resgate em combate, o Pelicano ampliou seu repertório de missões executáveis. Atualmente, é o único núcleo da Força Aérea Brasileira (FAB) dedicado exclusivamente a realizar missões de busca e salvamento, considerado um dos mais tradicionais e importantes esquadrões. A especialidade do 2º/10º GAV é realizar resgates em casos de emergência em todo o âmbito nacional - marítimos ou terrestres. Dentre as inúmeras missões efetuadas durante a história do Pelicano, podemos destacar a de auxílio às vítimas de um terremoto no Peru, em 1970; a ajuda à população das cidades de Tubarão e Florianópolis (SC) durante as enchentes de 1971 e 1973, respectivamente; a busca da
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aeronave VARIG, em 1989, no interior da Floresta Amazônica; o resgate marítimo de quatro tripulantes de um avião monomotor Cessna, que naufragou na costa sul-brasileira; a busca de sobreviventes do veleiro “Nagô”, no litoral catarinense em 1995 e a busca dos sete tripulantes do barco pesqueiro “Verde Vale II”, no litoral rio-grandense. Além disso, a equipe do Esquadrão também é responsável pelas chamadas “Operações Especiais”: infiltração e exfiltração de Tropas Especiais, Controle Aéreo Avançado (Forward Air Control), ataque ar-solo e Combate SAR com os helicópteros UH-1H Iroquois, armados com metralhadoras e lançadores de foguetes. Barros e Claro Junior (2007, p. 72) explicam que o esquadrão é o único da Força Aérea Brasileira a voar asas fixas e rotativas, o que facilita o trabalho em todo o território brasileiro e de fronteira, com um perfil operacional altamente flexível: Assim sendo, missões distintas sem o envolvimento de auxílio à vida podem igualmente ser realizadas como o transporte de urnas eletrônicas em regiões isoladas de Acre, Amazonas e Goiás ou a manutenção dos marcos de fronteira, como em 2003 entre Peru e Acre. (BARROS E CLARO JUNIOR, 2007, p. 72)
O produto, então, reconstrói a história, desde a criação do esquadrão até os dias atuais e as percepções das pessoas que o compõem, criando uma narrativa que expõe as principais mudanças e eventos importantes que tenham contribuído para o desenvolvimento do esquadrão e sua postura organizacional atualmente. O principal objetivo é apresentar as pessoas que o compõem, o espírito de trabalho em equipe e a abdicação da vida pessoal dos integrantes para salvar vidas. A ideia de trabalhar com o tema surgiu em 2015, a partir da produção de um documentário curta-metragem de aproximadamente seis minutos sobre o helicóptero UH1H, uma das aeronaves utilizadas nas missões do Esquadrão, para a conclusão da disciplina de Documentário II, ministrada pelo professor Hélio Godoy no curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Devido à didática do trabalho do grupo e repercussão do material na plataforma Youtube (mais de 12.600 visualizações de outubro de 2015 a novembro de 2017), comentários em grupos e páginas de redes sociais, e matérias em blogs e até mesmo no site oficial da Força Aérea Brasileira, surgiu a possibilidade de abordar outros
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aspectos no âmbito militar, com a história do Pelicano e a motivação e devoção ao trabalho, bem como os escopos psicológicos dos profissionais envolvidos. Outro fator que levou à escolha do tema foi o fato do pai de um dos integrantes do grupo ter participado do Esquadrão por mais de 30 anos, presente em algumas das missões de busca e salvamento mais importantes do país, como o resgate dos sobreviventes da queda da aeronave VARIG, voo 254, em 1989 e a procura pelos corpos do acidente com o avião Air France, voo 447, em 2009. O Esquadrão completa 60 anos de existência em 2017, o que fará com o que o documentário sirva como uma forma de homenagear os feitos mais importantes da história do 2º/10º GAV - a criação em 1957, a transferência do núcleo da cidade de Florianópolis para Campo Grande, em 1980; as principais missões civis e militares e, principalmente, as personalidades que fizeram ou ainda fazem parte dele. Diante da quantidade de informações discutidas no produto, o documentário foi o tipo de suporte escolhido pelo caráter não ficcional e por enfatizar as imagens, sons e efeitos, que legitimam e facilitam o entendimento e o envolvimento do espectador sobre o tema, visto que organiza os acontecimentos em uma narrativa visual. Além disso, a experiência positiva que a equipe obteve na realização do curtametragem relacionado ao tema exercitou e expandiu o conhecimento sobre algumas das técnicas necessárias de planejamento, roteirização, filmagem, montagem e edição para a produção de documentário.
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1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
1.1 Execução:
Após a escolha definitiva do tema do trabalho em fevereiro de 2017, os próximos quatro meses do ano foram reservados para o levantamento bibliográfico e a elaboração do pré-projeto de conclusão de curso, seguindo o cronograma inicial definido no projeto de pesquisa. Primeiro, foram levantados conteúdos relacionados ao suporte escolhido (documentário) - materiais, livros, artigos e referências - para definir a estrutura do produto. Depois, a temática em si passou por um aprofundamento, com o objetivo de conhecer um pouco da história do Esquadrão Pelicano por meio de livros e reportagens, além de conversas com possíveis fontes, para determinar o enfoque narrativo do vídeo. Depois da entrega do projeto em 11 de setembro, a parte prática do produto começou e no dia 12 de setembro ocorreu a primeira visita à Base Aérea de Campo Grande, com o intuito de apresentar a proposta de trabalho para o comandante da equipe do Esquadrão Pelicano, o Coronel Martins. Após essa etapa, iniciou-se a esquematização do processo de produção. A ferramenta Trello foi empregada para organizar os afazeres: as entrevistas e decupagens a serem realizadas, bem como as tarefas relacionadas à parte teórica do trabalho (aprofundamento da revisão teórica e elaboração do relatório para qualificação) foram enumeradas e categorizadas em listas (“a fazer”, “em andamento” e “concluído”) e etiquetas coloridas de acordo com o “tipo” de tarefa (azul para aquelas relacionadas ao trabalho teórico e amarela para as relacionadas ao prático). Criou-se um roteiro básico de perguntas destinadas aos ex-integrantes do Esquadrão, envolvendo questões relacionadas à história do 2º/10º GAV, o trabalho que o entrevistado exercia nele, os motivos que o levaram a escolher sua profissão, momentos marcantes em sua carreira e o que ele entendia como Espírito SAR. A primeira entrevista ocorreu no dia 21 de setembro, com o suboficial da reserva João Batista Fusquine. A conversa com o ex-integrante do Esquadrão, que também é historiador, serviu para nortear o trabalho, oferecendo uma perspectiva ampla
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da parte histórica da instituição, ao mesmo tempo em que apresentou um personagem de extrema relevância para o 2º/10º GAV. Ao longo de seus 34 anos de trabalho, o militar da reserva se destacou pela excelência nos serviços prestados e pelos inúmeros cursos militares (paraquedismo, mergulho de combate, sobrevivência na selva e no gelo, etc), que o tornaram reconhecido no Esquadrão Pelicano. No dia 25 de setembro, aconteceu a entrevista com Rubens Fernando Fernandes, ex-resgateiro1, que foi membro do Esquadrão desde as antigas instalações em Florianópolis e veio para Campo Grande com a transferência da instituição, em 1981. Além de poder narrar os momentos primordiais do Esquadrão, o militar da reserva conseguiu expressar bem o caráter emocional procurado para retratar o Espírito SAR ao relatar missões e descrever momentos marcantes em sua carreira de maneira saudosista. Depois, houve uma alteração de perspectivas das entrevistas realizadas até então. No dia 26 de setembro, foi coletado o depoimento do então Tenente Coronel Frederico Reis Pouso Salas, do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul, que sobreviveu a um acidente ocorrido em 23 agosto de 2001. O bombeiro voava em direção à Serra da Bodoquena para apagar um incêndio florestal quando o avião agrícola que tripulava caiu. Desta forma, o entrevistado não só compartilhou sua experiência envolvendo a utilização dos serviços do Esquadrão Pelicano, como também pôde debater a questão de trabalhar diariamente com resgates e acabar ele próprio por ser resgatado: Eu tive um serviço aéreo especializado por parte do SAR, por parte do Esquadrão Pelicano, da Força Aérea Brasileira, essa cadeia de resgate, essas sucessões de atendimentos especializados fizeram com que eu estivesse hoje aqui [...] Essa atuação das equipes em todo esse desenvolvimento desse meu acidente vem basicamente da essência dos homens que ali estavam envolvidos, de se dedicarem ao Corpo de Bombeiros, se dedicarem à Força Aérea, se dedicarem ao Esquadrão Pelicano com o espírito único e mútuo, e comum, de salvar, de atender ao próximo, de estender o braço mesmo nas situações de dificuldade, atender aquele que mais necessita. (SALAS, 2017)
No dia 6 de outubro, foram realizadas duas entrevistas. A primeira foi com o jornalista e ex-resgateiro Paulo Cruz. Optou-se por entrevistá-lo porque, além de membro
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Nomenclatura utilizada pelos integrantes do Esquadrão Pelicano para identificar os membros da equipe de resgate.
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do Esquadrão Pelicano, ele foi responsável pelas Relações Públicas da Base Aérea e é um personagem acessível com vasto conhecimento teórico e prático sobre a atuação do 2º/10º GAV, capaz de preencher quaisquer lacunas que pudessem surgir na narrativa. A segunda entrevista do dia foi com a esposa de Paulo Cruz, a jornalista Scheila Canto. A ideia de conversar com algum membro da família dos militares surgiu a partir das declarações que se manifestaram nas entrevistas sobre a constante abdicação que os integrantes do Pelicano tinham que fazer em prol das missões. Muitos relataram passar longo tempo longe dos familiares e perder importantes datas comemorativas por estarem em serviço. Foi proposto, então, retratar a perspectiva de quem fica para trás nesta situação. A entrevista com a jornalista trouxe uma visão interessante e positiva sobre o assunto: ela fala com orgulho do trabalho do marido e afirma que a postura dele também a influencia em vários aspectos da sua vida e relacionamentos. Todas as entrevistas até então tiveram os áudios gravados por um microfone de lapela com captação em estéreo e foram filmadas com duas câmeras Nikon D3100 e uma Canon T5i Rebel, em três posições diferentes. Cada enquadramento é o resultado de uma série de escolhas relativas aos atores predispostos a serem filmados e às modalidades técnicas da filmagem (COSTA, 2003, p. 179). A partir disso, definimos os três tipos de enquadramento - um Meio Primeiro Plano, com a figura humana enquadrada da cintura para cima; um Primeiro Plano, enquadrado do peito para cima; e um Primeiríssimo Plano, enquadrado dos ombros para cima - todos filmados no ângulo normal, no nível dos olhos da pessoa entrevistada, com as câmeras nas posições frontal, em linha reta, e ¾, em um ângulo de aproximadamente 45 graus em relação à pessoa filmada. Para as imagens de apoio, foi utilizado também o plano Detalhe, evidenciando objetos relacionados às fontes. Três variações de enquadramento foram escolhidas para facilitar na captação de diferentes minuciosidades durante a entrevista. Além disso, a diversificação e a troca das imagens ajuda a prender a atenção do telespectador e confere expressividade ao relato, como explica Lucena (2012, p. 55): “A combinação de planos e enquadramentos cria a movimentação que faz que a imagem ganhe vida na tela, deixe de ser apenas o registro de uma situação e adquira características criativas e artísticas.”
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Optou-se também por decupar as entrevistas para facilitar o processo de roteiro, edição do vídeo e redação do relatório. A aplicação gratuita oTranscribe foi usada para transcrever os relatos e adicionar marcas de tempo em trechos considerados importantes, de modo a facilitar a localização dos mesmos. No dia 10 de outubro, três HDs com mais de 290 GB de arquivos relacionados ao Esquadrão Pelicano foram disponibilizados pelo suboficial da reserva João Batista Fusquine, também responsável pelo Museu da Aviação de Busca e Salvamento, localizado na Base Aérea de Campo Grande. Os dispositivos contêm fotos, vídeos, textos e recortes de jornais sobre a equipe e missões realizadas. A permissão para gravar imagens e depoimentos nas imediações da instituição aconteceu no dia 30 de outubro, pelo comandante da Base Aérea, Coronel Daniel Cavalcanti de Mendonça. Com isso, o grupo pode marcar as entrevistas com os atuais militares do Esquadrão. A partir deste período, para otimizar o tempo das gravações, realizou-se mais de uma entrevista no mesmo dia, e a equipe do trabalho optou por utilizar apenas duas das três câmeras - uma Nikon D3100 e a Canon T5i Rebel - de modo a economizar bateria para coletar as imagens das instalações. Os planos e enquadramentos utilizados foram o Meio Primeiro Plano e o Primeiríssimo Plano, filmados no ângulo normal nas posições frontal e em um ângulo de 45 graus em relação aos entrevistados. No dia 9 de novembro, os entrevistados foram o Coronel Jorge Marcelo Martins da Silva, comandante do Esquadrão Pelicano, e o membro da equipe de resgate, William Silva do Nascimento. A entrevista com o Coronel Martins teve como principal objetivo reunir informações operacionais da equipe atualmente - quantos integrantes compõem a equipe, quais são as aeronaves utilizadas, qual a principal função do Esquadrão, os tipos de missões realizadas, entre outros aspectos técnicos. O depoimento de William Nascimento, membro do Esquadrão desde 2015, trouxe ao documentário uma nova perspectiva sobre o 2º/10º GAV. Por estar na equipe há pouco tempo, o discurso apresenta um deslumbramento pela profissão e admiração pelos homens de resgate que atingem um alto nível de operacionalidade dentro da organização, os chamados “hooks”.
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Sua entrevista também relata uma nova experiência em relação aos outros membros já entrevistados do Pelicano, visto que o militar exerce as atividades em uma época diferente, em que muitos processos sofreram alterações - desde o modo de ingresso até os trabalhos realizados. No dia 16 de novembro, ocorreram as três últimas entrevistas necessárias para finalizar o elenco de fontes do trabalho. A primeira foi com a Sargento Janaína Moraes de Araújo Rezende da Rosa, a primeira mulher a exercer a função de observadora SAR2 na Força Aérea Brasileira e no Esquadrão Pelicano. Por ser mulher, militar e mãe, seu ponto de vista é importante por trazer uma vivência diferenciada das mesmas situações. Além disso, com o nascimento dos filhos, a militar se viu obrigada a trocar de cargo e sair do Esquadrão Pelicano para conseguir ficar próxima da família, já que o trabalho de observadora exigia tempo e disponibilidade para viagens e treinamentos constantes. A segunda entrevista foi com o Coronel Daniel, comandante da Base Aérea. O militar, além de ser a autoridade máxima dentro da instituição atualmente, também já passou pelo Esquadrão Pelicano como membro da equipe de resgate e comandante. Dessa forma, o Coronel possui conhecimentos abrangentes sobre a atuação do 2º/10º em si e seu posicionamento operacional dentro da Base Aérea. Também foram captadas imagens de apoio do hangar, das instalações e de duas aeronaves utilizadas pelo Esquadrão para o produto final: o helicóptero UH-1H e o avião SC-105 Amazonas, que estavam realizando voos de treinamento no dia. Foram registradas imagens de todo o processo - desde os preparativos até a decolagem. Para isso, utilizou-se as três câmeras citadas anteriormente e o apoio de um slider3 reto Maxi Grua de um metro de comprimento para fazer os takes de travelling4, que incluíram imagens do hangar, dos militares trabalhando e detalhes das aeronaves.
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O observador SAR é o militar que fica nas janelas laterais do avião durante a busca tentando localizar o foco da missão (o local dos destroços e sobreviventes ou corpos do acidente, por exemplo). 3 Acessório utilizado na captação de vídeos em diferentes ângulos, planos e posições que estabiliza a câmera e permite o acompanhamento de movimentos com base fixa. Atua em conjunto com a DSLR ou filmadora. 4 Gravação de imagem em que ocorre o deslocamento da câmera, seja nas mãos do cinegrafista, sobre um carrinho ou em uma grua.
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Ainda no dia 16 de novembro, a psicóloga Daiane Ribeiro foi entrevistada, com o propósito de esclarecer os conceitos de pertencimento a um grupo, motivação, orgulho pela profissão e propagação da tradição existente dentro do Esquadrão. Paralelo ao período de gravações, as entrevistas foram decupadas e as imagens das câmeras foram sincronizadas com os áudios, a fim de facilitar o processo de montagem do documentário. Com isso, deu-se início ao processo de edição do produto no dia 20 de novembro, com a estruturação do roteiro em seis partes - abertura, história do Esquadrão, Espírito SAR, técnicas operacionais, relacionamento familiar e encerramento - e a montagem do vídeo de abertura. Optou-se por organizar primeiro os depoimentos disponíveis dentro dos blocos criados, de modo a interligar as falas e criar coerência na narrativa. Depois, inseriu-se os geradores de caracteres para identificar as fontes e as imagens de apoio, que variaram entre fotos e vídeos de arquivo e os materiais gravados pela equipe de trabalho durante as visitas técnicas. Os softwares utilizados para a edição foram o Adobe Premiere CC 2015, o Adobe After Effects CC 2015, o Photoshop CC 2015 e o Adobe Audition CC.
1.2 Dificuldades Encontradas
A dificuldade mais evidente e que se tornou um grande impasse foi o fato de não autorizarem a gravação das imagens dentro das imediações da Base Aérea de Campo Grande a princípio. Essa adversidade foi contornada com a realização de entrevistas fora do local e com a busca de fontes documentais e de arquivo para enriquecer o trabalho. No entanto, o problema foi resolvido posteriormente, quando a permissão foi concedida, o que possibilitou a coleta dos últimos depoimentos e imagens que faltavam para completar o documentário. Também houve menos tempo do que o habitual para realizar o trabalho, devido à alteração do calendário da Universidade. Foram poucos meses de planejamento e preparação e um período de produção intensa para conseguir cumprir os prazos estabelecidos. Além disso, dificuldades técnicas menores que não chegaram a prejudicar a execução do trabalho, afetaram o desenvolvimento das entrevistas e da captação das
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imagens. Duas das três câmeras utilizadas gravam vídeos com um tempo limite de, em média, 12 minutos devido ao aquecimento dos aparelhos, o que acarretou em um constante processo de ligar e desligar os equipamentos, perda de certos enquadramentos e arquivos de vídeo fragmentados em várias partes. As falhas, no entanto,
foram
sustentadas
pela
imagem
da
câmera
principal,
que
grava
ininterruptamente. Já na edição, a sincronização dos áudios nativos com as imagens foi trabalhosa e demandou tempo, visto que nas duas primeiras entrevistas as câmeras não gravaram os áudios e não foi possível comparar a faixa de som delas com a do microfone de lapela. Portanto, a sincronização foi feita a partir da movimentação da boca dos personagens.
1.3 Objetivos Alcançados
Com base nos objetivos apresentados no projeto inicial, o trabalho foi bemsucedido em reconstruir a memória do Esquadrão Pelicano e dos serviços prestados por ele através de um vídeo-documentário, reunindo alguns dos principais acontecimentos e feitos na história da equipe. Todas as entrevistas caminharam no sentido de não só salientar a importância das missões realizadas pelo 2º/10º GAV, mas mostrar os agentes humanos por trás delas. Dados sobre o Esquadrão foram levantados a fim de um melhor entendimento a respeito da sua história e atuação. As fontes foram elencadas de modo a explicar como funciona o treinamento e o serviço de Busca e Salvamento, além de reforçar a importância da equipe para a sociedade. Por último, através de visitas à Base Aérea e conversas com pessoas relacionadas ao Esquadrão, foi possível assimilar o que os militares da unidade chamam de Espírito SAR - o espírito de busca e salvamento, identificado por eles como o principal fator que une a equipe em torno do objetivo comum e garante que ela cumpra a missão acima de qualquer interesse pessoal. Dessa forma, o vídeo-documentário cumpriu a função de trazer a conhecimento público o funcionamento do Esquadrão; sua operacionalidade; o âmbito
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em que atua; e como as pessoas que o compĂľem o enxergam e exercem suas tarefas, aproximando os militares do foco de sua atividade: a sociedade.
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2. SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS:
2.1 Busca e Salvamento no Brasil O surgimento da Busca e Salvamento (em inglês, “Search and Rescue” - SAR) no Brasil se deu a partir da entrada do país na Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), em 1944, que regulamentou e supervisionou uma série de procedimentos referentes à aviação civil. O acordo gerou compromissos para os países participantes, entre eles a recomendação de que se criassem medidas para o auxílio de aeronaves passando por complicações em seus territórios. Barros e Claro Junior (2007, p. 18) explicam que “foi nessa época que primeiro se discutiu a institucionalização de um serviço de busca e salvamento no Brasil”. Um acidente em 1947 acabou por evidenciar a necessidade de se ter aparatos para lidar com situações emergenciais. Um avião do Grupo de Patrulha de Belém desapareceu na Amazônia e as expedições enviadas para procurá-lo tiveram muitos empecilhos para chegar ao local do acidente, uma região pantanosa e de difícil acesso: A resposta das autoridades das autoridades aeronáuticas locais foi a criação de uma Comissão Organizadora do Serviço de Busca e Salvamento da 1ª Zona Aérea. O Catalina FAB 6519 do 1º/1º GP foi modificado, recebeu a pintura laranja do padrão internacional SAR com uma inscrição SAR-Belém dentro de um retângulo laranja embaixo da cabine. Foi a primeira aeronave de busca e salvamento da FAB (BARROS; CLARO JUNIOR, 2007, p. 18).
Depois da criação de várias divisões que atuavam prestando apoio SAR, como o Serviço de Busca e Salvamento Aeronáutico, em 1950; o Centro de Treinamento de Quadrimotores, em 1951; e o 1/6º GAV, em 1953; a FAB, por fim, direcionou as atividades SAR em uma única unidade aérea com dedicação exclusiva: o Esquadrão Pelicano.
2.2 Esquadrão Pelicano Em 6 de dezembro de 1957, surgiu o 2º/10º Grupo de Aviação, o Esquadrão Pelicano, que veio a ser o único na FAB a realizar estritamente missões de busca e salvamento. Os primeiros aviões adquiridos eram os Albatroz, designados especialmente para o serviço SAR (Search and Rescue) - eram anfíbios, podiam voar por períodos
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longos e pousar e decolar em mar aberto, o que justificava a escolha de uma base próximo à costa marítima do país. Dessa forma, “por dispor de melhor infraestrutura e do apoio do PASP - Parque de Aeronáutica de São Paulo” (BARROS; CLARO JUNIOR, 2007, p. 24), o novo esquadrão foi para a Base Aérea de São Paulo (BASP), em Cumbica. Em 1972, mudanças na estrutura organizacional da Força Aérea Brasileira fizeram com o que o grupo de aviação fosse incorporado à Base Aérea de Florianópolis, onde permaneceu até 1980. Em janeiro de 1981, foi deslocado para a Base Aérea de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Campo Grande é a única cidade do país que possui uma base da Força Aérea Brasileira com unidades das três Forças Aéreas, designadas nas categorias transporte, caça e busca e salvamento. Barros e Claro Junior (2007) salientam a localização privilegiada da instituição ao afirmarem que “a Base Aérea de Campo Grande se encontra não apenas no centro do Brasil, mas também está a meio caminho de duas realidades distintas” (p. 38), próximo às regiões Sul e Sudeste do Brasil e da Amazônia Legal.
2.3 A origem do nome Pelicano O significado do nome “Pelicano” traz à equipe uma sensação de propósito e comprometimento, de abdicação em relação aos interesses pessoais dos membros. O sentimento é traduzido por meio de uma metáfora que relaciona o trabalho dos militares envolvidos de dar a própria vida em função dos resgates de outras pessoas com o comportamento destes animais, que na ausência de comida, rasgam seu peito e alimentam os filhotes com a própria carne. Barros e Claro Junior (2007, p. 80) trazem o contexto no qual o nome foi estabelecido: “De acordo com uma antiga lenda de origem obscura, em tempos de fome uma mãe pelicano corta o seu próprio peito para alimentar com seu sangue os filhotes. [...] A lenda do Pelicano é tradicionalmente associada à busca e salvamento”.
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2.3 Vídeo-documentário A história do documentário surge com os filmes de Robert Flaherty5 no ano de 1920, quando, ao visitar uma comunidade de esquimós, criou o que é considerado como o primeiro filme de não ficção - Nanook, o esquimó, em 1922. Com os registros de Flaherty, o documentário passou a ser considerado como uma produção audiovisual que registra fatos, personagens e situações que tenham como cenário o mundo real (ou histórico) e os indivíduos como protagonistas (LUCENA, 2012, p. 10). Outro pioneiro no movimento documentarista foi o escocês John Grierson, fundador da escola inglesa de documentário. Foi a partir do desenvolvimento de seu pensamento que, segundo Penafria (1999, p. 45), a palavra documentário foi então adotada para designar um gênero de filme com características específicas que originaram uma prática e produção próprias. As ideias que sustentaram o documentário enquanto gênero foram por ele desenvolvidas em vários textos. [...] Grierson acredita então que a capacidade de o cinema se movimentar e fazer seleções a partir da própria vida pode ser explorada numa nova forma de arte, possibilidade essa que tem sido ignorada pelos estúdios; no ator original ou nativo assenta uma melhor interpretação do mundo modernos através do ecrã e, finalmente, as histórias retiradas do próprio mundo são mais reais, em sentido filosófico, que as representadas, e o gesto espontâneo das primeiras assume, no ecrã, um valor especial. (PENAFRIA, 1999, p. 45).
O caráter não ficcional das produções documentárias é o que enfatiza o viés jornalístico pressuposto pelo trabalho, visto que pretende apresentar a realidade do Esquadrão. Para Nichols (2005, p.20), “a tradição do documentário está profundamente enraizada na capacidade de ele nos transmitir uma impressão de autenticidade”. Além disso, o uso de imagens, sons e efeitos permitem a melhor representação do tema: Os documentários de representação social são o que normalmente chamamos de não ficção. Esses filmes representam de forma tangível aspectos de um mundo que já ocupamos e compartilhamos. Tornam visível e audível, de maneira distinta a matéria de que é feita a realidade social, de acordo com a seleção e a organização realizadas pelo cineasta. (NICHOLS, 2005, p. 26).
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Robert Flaherty (1884, Iron Mountain, Michigan, EUA - 1951, Brattleboro, Vermont, EUA) foi um cineasta norte-americano, considerado como um dos pais do filme documentário no início do cinéma vérité (cinema directo). Também é o inventor da docuficção (gênero híbrido de documentário e ficção) Moana, de 1926.
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De acordo com Lucena (2012, p. 11), “o documentário, realizado com ‘sujeitos’ do mundo real, procura informar o espectador, sem se preocupar com o entretenimento. O happy end é uma das marcas do filme de ficção; no caso do documentário, destaca-se a mensagem aberta”. A produção de conteúdos não-ficcionais, porém, ainda abre espaço para a criação. Segundo Penafria (1999, p. 50), o recolhimento de material in loco não se limita à mera reprodução das coisas, já que o documentarista faz um tratamento criativo dessas imagens. A criatividade se manifesta por meio da montagem do material obtido, como ressalta Penafria (1999): A criatividade dos autores de ficção encontra-se na manipulação da câmera, na iluminação, nos cenários, na direção de atores, etc. O documentarista, por seu lado, é, também, um artista, pois organiza o seu material segundo uma determinada forma, seja ela encontrada a partir do próprio conteúdo, tal como em Flaherty, ou introduzida no mesmo, de modo mais ou menos forçado, mais ou menos original (PENAFRIA, 1999, p. 50).
A produção do documentário também pressupõe a pesquisa de campo aprofundada. O trabalho do documentarista se dá nos espaços de convivência dos objetos de seu vídeo. No caso deste trabalho, era preciso entender mais sobre a profissão e a motivação da equipe do Esquadrão, por isso, os personagens foram entrevistados em suas residências ou locais de trabalho. São ambientes que fazem parte das suas histórias e contribuem para a construção narrativa do documentário, além de oferecer elementos visuais importantes para o desenvolvimento dos indivíduos retratados (objetos pessoais, itens de decoração da casa, fotos, etc). Esse material recolhido in loco dá ao documentarista a oportunidade de exercer a sua criatividade, fugindo da mera reprodução da realidade. Essa criação se constrói a partir da seletividade das ferramentas disponíveis, como explica Penafria (1999): Esse mesmo material dá-lhe a oportunidade de desempenhar um trabalho criativo e revela-se um desafio à sua seletividade. Quando o documentarista é seletivo, é criativo. É, portanto, um artista. A arte medese pela seletividade dos meios ao seu dispor. Sem essa seletividade o documentário estaria diminuído à mera «reprodução da realidade» (PENAFRIA, 1999, p. 50).
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A partir disso, os personagens relacionados ao Esquadrão Pelicano foram selecionados de acordo com sua importância e influência. Levou-se em conta também sua capacidade de manifestar emoções e facilidade em expressar seu ponto de vista, conforme pesquisa e contato prévio. Dessa forma, optou-se por construir uma história sem a presença de um narrador, contada apenas pelas fontes, considerando que as entrevistas conseguem sustentar sozinhas a estrutura do documentário. Em seu livro Writing, Directing, and Producing Documentary Films and Videos, Alan Rosenthal evidencia alguns dos inconvenientes de se utilizar a narração em voz over: Existe uma série de desvantagens no uso do comentário que não podem ser ignoradas. Com freqüência, a narração tende a ser autoritária, dando a impressão de uma voz de Deus falando [...]. O tom pode ser paternalista, e se for mal feito, a narração pode parecer uma horrível palestra forçada sobre a audiência. Finalmente, ao invés de estimular a reflexão e a participação, a narração pode produzir uma passividade mortal que distancia os telespectadores do filme (ROSENTHAL, 2002, p. 219).
Quando a tecnologia de sincronização de áudio ainda não existia, era necessário utilizar o recurso de narração em voz over para cobrir as lacunas deixadas pela falta das falas. Atualmente, com meios mais modernos de filmagem e captação de som, o método é utilizado de acordo com a preferência dos produtores e com o tipo de produção desenvolvida. 2.5. Entrevista jornalística
Criou-se um roteiro com perguntas pré-definidas para realizar as entrevistas com personagens que possuíssem um mesmo perfil (militares da reserva, por exemplo, que contam experiências do passado e informam sobre o contexto histórico do Esquadrão). No entanto, o roteiro não foi utilizado de maneira rígida e engessada, criando a possibilidade de se realizar a chamada entrevista intensiva ou não-diretiva, que traz o centro do diálogo para o entrevistado e permite fluidez na relação inter-humana (MEDINA, 1986, p.11). Tais fatores trazem mais autenticidade para o relato, característica fundamental a ser transmitida para o telespectador na construção do documentário, além
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de possibilitar a obtenção de informações significativas que poderiam não surgir em um depoimento regido por perguntas fechadas. Edgar Morin ressalta os atributos positivos da entrevista intensiva: Antes de tudo, ela dá a palavra ao homem interrogado, no lugar de fechálo em questões preestabelecidas. É a implicação democrática da nãodiretividade; em seguida, ela pode ajudar a viver, provocando um desbloqueio, uma liberação; enfim, ela pode contribuir para uma autoelucidação, uma tomada de consciência do indivíduo. (MORIN apud MEDINA, 1986, p. 13).
É possível reconhecer ainda sinteticamente dois tipos de entrevistas: uma para espetacularizar o ser humano e outra para compreendê-lo (MEDINA, 1986, p.11). Dos quatro tipos de entrevistas classificados por Morin em seu discurso - entrevista-rito, anedótica, entrevista-diálogo e neoconfissões - este trabalho foi composto por coletas de depoimentos que se encaixam no que o autor denomina de entrevista-diálogo: Em certos casos felizes, a entrevista se torna diálogo. Este diálogo é mais que uma conversação mundana. É uma busca em comum. O entrevistador e o entrevistado colaboram no sentido de trazer à tona uma verdade que pode dizer respeito à pessoa do entrevistado ou a um problema (MORIN apud MEDINA, 1986, p. 15).
No caso deste video-documentário, buscava-se um entendimento de um conceito indefinidamente abstrato aos personagens: o Espírito SAR. As perguntas caminharam no sentido de obter uma definição em comum que fizesse sentido ao grupo de trabalho, aos entrevistados e ao público que assistisse ao vídeo, definição esta que os próprios personagens não tinham de prontidão e tentaram construir no momento da interlocução. Medina (1986, p. 15) agrupa as entrevistas classificadas por Morin em outras divisões e subdivisões, “à medida que o jornalismo e a comunicação coletiva vão desenvolvendo estilos de abordagem e aproveitamentos dinâmicos”. Dentre as categorizações propostas, os depoimentos deste trabalho se encaixam no perfil humanizado, do subgênero da compreensão—aprofundamento. Neste modelo, o foco é demarcar um perfil para captar os conceitos, valores, comportamentos e histórico de vida da fonte (MEDINA, 1986, p. 18).
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No ano em que o Esquadrão Pelicano completa 60 anos de história, este vídeo-documentário aborda os principais acontecimentos e explica, através de diversas perspectivas - de ex-integrantes, atuais membros, familiares e no âmbito psicológico -, o que é o sentimento de devoção à profissão dos militares que pertencem ao 2º/10º GAV. O trabalho procura mostrar o que move os militares a exercer suas funções independente dos riscos, prejuízos e sacrifícios que elas trazem - em uma representação do real feita a partir de depoimentos dos atores principais da história do tema tratado e de participantes secundários que, de alguma maneira, cruzaram o caminho do Esquadrão Pelicano. Cada entrevista se mostra única ao expressar de maneira singular as percepções dos resgateiros em relação à sua atuação, captando a essência da motivação para o trabalho de Busca e Salvamento. As conversas conseguiram exprimir a sensação de unidade em torno de uma emoção comum: orgulho pela profissão. Dessa forma, o objetivo de desmistificar a postura rígida e fechada que o militarismo exibe foi cumprido, já que as entrevistas tiveram um cunho emocional que buscou demonstrar como esses profissionais pensam e como lidam com tarefas tão delicadas. Muitos expressam traços pessoais de sua atuação técnica, com suas próprias personalidades, indo além do caráter operacional e inflexível que as instituições militares costumam ter. O produto final também oferece uma abordagem diferente dos materiais produzidos até o momento, de caráter mais institucional ou reportagens pontuais sobre o Esquadrão de forma superficial (quando citado). A equipe é a protagonista do filme e apresenta um ponto de vista mais humanizado em relação ao lema do Esquadrão, em uma tentativa de quebrar a barreira construída entre sociedade civil e a instituição militar. A partir disso, com as visitas à Base Aérea de Campo Grande e conhecendo um pouco melhor os integrantes do Esquadrão, o grupo pôde entender o significado do Espírito SAR, o sentimento de devoção ao trabalho que faz com que a maioria dos militares abdiquem de momentos importantes em família para salvar vidas de desconhecidos.
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As falas dos entrevistados também ressaltam o trabalho em equipe, a divisão de tarefas e a prontidão em ajudar o próximo para que a missão seja bem-sucedida quando tentam definir o que é o Espírito SAR, afirmando que ele existe fora do âmbito militar, em suas relações pessoais. Trazendo esse conceito para o trabalho de conclusão de curso em questão, o grupo de acadêmicos pôde entender esse Espírito na própria divisão de tarefas. O trio esteve presente em todas as etapas de produção do documentário, contribuindo de acordo com suas habilidades – produção de texto, entrevista, filmagem, edição, etc – para que o produto final saísse conforme o planejado inicialmente dentro do prazo estabelecido. Cada ideia foi levada em conta no processo. No entanto, por envolver três pessoas diferentes, desde o início foi combinado que cada um embasasse suas opiniões da melhor forma possível. Acredita-se que, ao final do trabalho, esse acordo em conjunto com as novas experiências tenham desenvolvido a capacidade dos alunos de lidar com ideias distintas e de defender seus pontos de vista. A questão da produtividade em relação ao período de entrega dos materiais também precisou ser constantemente trabalhada, sempre buscando otimizar o tempo “livre” para entrevistas e visitas de campo. Outro ponto a ser considerado é que as duas acadêmicas que produziram este material nunca tiveram um contato próximo com o Esquadrão retratado, diferente do terceiro membro do grupo que sempre se relacionou com este âmbito em sua vida. Assim, entende-se que a experiência foi nova e enriquecedora por apresentar realidades, pontos de vista e concepções diferentes - o que, para o Jornalismo, é sempre significativo.
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4. REFERÊNCIAS
BARROS, Mauro Lins de; CLARO JUNIOR, Oswaldo. Esquadrão Pelicano - 50 Anos de História - 1957-2007: Para que outros possam viver!. Rio de Janeiro: Adler Editora, 2007. ELIAS, João. PARA QUE OUTROS POSSAM VIVER...: 26 de junho - Dia da Aviação de Busca e Salvamento. 2016. Disponível em: <http://fab.mil.br/buscaesalvamento/>. Acesso em: 12 out. 2017. COSTA, Antonio. Compreender o cinema. 2. ed. São Paulo: Editora Globo, 2003. LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários: conceito, linguagem e prática de produção. São Paulo: Summus Editorial, 2012. MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: O diálogo possível. São Paulo: Ática, 1986. MIGON, Adeéle. O Esquadrão Pelicano em Cumbica: 2º/10º Grupo de Aviação. Rio de Janeiro: Incaer, 2000. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. São Paulo: Papirus Editora, 2005. PENAFRIA, Manuela. O filme documentário: História, identidade, tecnologia. Lisboa: Edições Cosmos, 1999. ROSENTHAL, Alan. Writing, directing, and producing documentary films and videos. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2002. SALAS, Frederico Reis Pouso. Entrevista pessoal. Realizada em: 26 set. 2017. SOARES, Sérgio J. Puccini. Documentário e roteiro de cinema: da pré-produção à pósprodução. 2007. 250 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-graduação em Multimeios, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. UH1H - O descanso de um guerreiro. Campo Grande: João Fusquine, Larissa Moreti e Larissa
Vizoni,
2015.
(6
min.),
son.,
color.
Disponível
em:
<https://www.youtube.com/watch?v=E1B8VOd140U&t=23s>. Acesso em: 12 out. 2017.
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5. ANEXOS ANEXO A – Documentário UH-1H – O Descanso de um Guerreiro
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ANEXO B – Matéria da Força Aérea Brasileira sobre o documentário UH1H – O descanso de um guerreiro
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ANEXO C – Código de Honra do 2º/10º GAV - Esquadrão Pelicano É meu dever, como membro do serviço de busca e salvamento da FAB, socorrer feridos e salvar vidas. Estarei pronto em qualquer ocasião para cumprir com esse dever, colocando-o acima de meus interesses pessoais e bem-estar. E o cumprirei, para que outros possam viver…”
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ANEXO D – HINO SAR Letra: Monclar da Rocha Bastos Música: Waldemar Henrique Instrumental: Zótico Guimarães Santos
I Da busca, o alerta, a mensagem Do Esquadrão, a doutrina constante Destemor, elevar a missão Num trabalhar de arrojada pujança Jurando todos salvar, sempre salvar Por uma vida a ordem é lutar Estribilho Do pelicano, a bandeira do SAR Que tem por alvo o resgate tentar E o perigo jamais conhecer Para que outros possam viver II Avante o destino não importa Decolar, desprezando a hora Arrostar o momento de rijo Pois que o tempo avançando ligeiro Traduz premência, voltando a lembrar Por uma vida a ordem é lutar III Forjada na intensa instrução Em contínuo e adulto labor Temperada, moldada na paz Da perspicácia a coragem audaz Legenda mestra propósito do SAR Por uma vida a ordem é lutar
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6. APÊNDICES
APÊNDICE A – Roteiro “Pelicano: Para que Outros Possam Viver” ROTEIRO IMAGEM
ÁUDIO Bloco 1 - Abertura
00:00 - 00:21 - Fundo preto com legenda do áudio de uma missão de busca
“Ali é o local aonde foi avistada a aeronave. Então foi constatado realmente que já foi encontrada essa aeronave pela equipe dos Pelicanos...”
00:23 - 00:40 - Fotos de missões e resgates
Barulho do helicóptero UH-1H
00:40 - 00:51 - Fundo preto por três segundos e em seguida vídeos de arquivo de saltos, resgates e treinamentos
Trilha Fala Janaína Rosa: “É uma coisa que você sente. Sente, sabe? É uma coisa que vem de dentro, assim. Você querer estar ali, você querer fazer aquela missão. Você 00:52 - 01:00 - Dissolução cruzada para decolar de madrugada, você não vê entrevista em plano médio da exhorário, quando você tá em missão você membro do Esquadrão Janaína Rosa não pensa na sua família. Você pensa na sua missão.” 01:00 - 01:02 - Vídeos de arquivo de saltos, resgates e treinamentos
Trilha
01:03 - 01:09 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista planos com o comandante da Fala Daniel Cavalcanti: “Eu queria tentar BACG Daniel Cavalcanti fazer a diferença em alguma coisa, e a gente sabe o quão o Esquadrão Pelicano é diferente.” 01:10 - 01:12 - Vídeos de arquivo de saltos, resgates e treinamentos
Trilha
01:13 - 01:28 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista planos com o ex-membro do Fala Paulo Cruz: “A gente tem essa Esquadrão Paulo Cruz vontade, a gente sabe que, até no nosso lema, no hino, que diz o seguinte "por uma vida, a ordem é lutar", então pode ter um
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acidente com 100 pessoas ou com uma só. O nosso empenho é pra salvar todo mundo.” 01:29 - 01:34 - Vídeos de arquivo de saltos, resgates e treinamentos
Trilha Fala Rubens Fernandes: “Porque você vê o espírito...”
01:35 - 01:46 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com o exmembro do Esquadrão Rubens Fernandes
Trilha Fala Rubens Fernandes: “Parece que tem uma coisa, uma aura, alguma coisa que você vê que não é um esquadrão... Me perdoe o termo, não é um esquadrãozinho qualquer.”
01:46 - 01:48 - Fade para fundo preto
Sem som
01:49 - 01:50 - Abertura: texto “UM FILME DE” com imagens do hangar do Esquadrão Pelicano de fundo
Trilha
01:51 - 01:52 - Texto: “JOÃO FUSQUINE” com imagens dos helicópteros do Esquadrão Pelicano de fundo
Trilha
01:53 - 01:54 - Texto: “LARISSA MORETI” com imagens do hangar do Esquadrão Pelicano de fundo
Trilha
01:54 - 01:55 - Texto: “LARISSA VIZONI” com imagens dos helicópteros do Esquadrão Pelicano de fundo
Trilha
01:56 - 01:59 - Imagens das instalações Trilha do Esquadrão 02:00 - 02:12 - Fade para fundo preto / Texto: “PELICANO PARA QUE OUTROS POSSAM VIVER”
Trilha
02:13 - 02:17 - Fundo preto
Trilha Bloco 2 - História
02:15 - 02:19 - Fundo preto
Fala João Batista Fusquine: “O pelicano é a ave símbolo do 2º/10º”
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Fala João Batista Fusquine: “Diz a lenda que quando os filhotes do pelicano estão famintos e quando não há alimentos, a mãe ela rasga o próprio peito e arranca das suas próprias entranhas pra alimentar os seus filhotes. Então esse simbolismo, ele 02:31 - 02:38 - Ilustração da lenda do sugere aos militares do esquadrão, às pelicano pessoas dedicadas à busca e salvamento, que elas tenham o sacrifício da própria vida 02:39 - 03:27 - Dissolução cruzada para pra entregar àqueles que estão em entrevista alternando planos com João situação difícil, acidentados, moribundos, Batista Fusquine aguardando pelo SAR. A origem do Esquadrão Pelicano se dá por uma necessidade de se ter o SAR no Brasil e uma vez que, no mundo, o SAR já existia por conta da necessidade de recuperar as tripulações abatidas durante a Segunda Guerra.” 02:20 - 02:19 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com João Batista Fusquine TEXTO: João Fusquine / ex-membro do Esquadrão Pelicano
03:28 - 04:05 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Paulo Cruz TEXTO: Paulo Cruz / ex-membro do Esquadrão Pelicano
Fala Paulo Cruz: “A guerra acabou, felizmente, e a aviação deu um boom, ela cresceu muito. A aviação civil começou a aumentar muito no mundo inteiro e precisava desse serviço também para a aviação civil, porque os aviões são máquinas que podem cair, eles podem sofrer algum acidente. Alguém tinha que ir lá e fazer esse tipo de resgate. Então, à Força Aérea coube essa missão de fazer esse tipo de serviço. E no Brasil, não foi diferente. E aí começou um serviço que chama SAR - Search and Rescue, que também é a sigla que... É uma sigla adotada no mundo inteiro. Então por tratados internacionais, os países que fazem parte desse tratado, eles precisam ter o Esquadrão de Busca e Salvamento.”
04:06 - 04:13 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com João Batista Fusquine
Fala João Batista Fusquine: “E com isso, então, foi criado no Brasil, através e no âmago da Força Aérea Brasileira, o SAR. Não foi de imediato que surgiu o Esquadrão Pelicano. O Esquadrão Pelicano ele teve sua origem em 1957. Foi criado na Base Aérea de São Paulo, em Cumbica, e operava com aeronaves
04:15 - 04:24 - Fotos históricas
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04:25 - 04:29 - Dissolução cruzada para Albatroz, SA16 e helicópteros H13 e SH19. entrevista alternando planos com João Então, em Cumbica, em São Paulo, se deu Batista Fusquine o início do serviço de busca e salvamento na Força Aérea Brasileira.” 04:30 - 04:38 - Fotos das aeronaves 04:39 - 04:41 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com João Batista Fusquine 04:42 - 04:45 - Fotos históricas 04:46 - 04:50 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “O Esquadrão saiu de entrevista alternando planos com Paulo São Paulo, foi para a Base Aérea de Cruz Florianópolis porque ele operava aviões anfíbios e, na época, a Amazônia não tinha 04:51 - 05:04 - Fotos históricas pista de pouso e os campos de pouso eram os rios e a gente precisava de ter avião 05:05 - 05:09 - Dissolução cruzada para anfíbio. Esses aviões saíam da Base Aérea entrevista alternando planos com Paulo de Florianópolis e pousavam na Amazônia. Cruz Eram os famosos albatroz, um avião muito emblemático para a Força Aérea. Como a 05:10 - 05:13 - Foto do avião Albatroz Amazônia começou a ser desenvolvida e havia uma necessidade de você otimizar 05:14 - 05:42 - Dissolução cruzada para também a missão de busca e salvamento, entrevista alternando planos com Paulo então o Esquadrão Pelicano foi trazido para Cruz Campo Grande. Se a gente olhar o mapa da América do Sul e você botar o dedo mais ou menos no meio, você vai chegar próximo a Campo Grande. Então por questões estratégicas, era muito interessante ter um Esquadrão que pudesse em poucas horas de voo atender o Brasil inteiro, porque o Pelicano é um esquadrão que faz missão em todo o território nacional.” 05:43 - 05:47 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “O esquadrão entrevista alternando planos com veio pra Campo Grande em 1981. Nós não Rubens Fernandes tínhamos moradias pra todos e vieram duas tripulações completas. Mecânico, 05:48 - 05:57 - Fotos históricas rádio, pessoal do resgate, enfermeiro. Ficamos aqui operando durante seis meses 05:58 - 06:03 - Dissolução cruzada para só nós. Depois que o pessoal de Floripa entrevista alternando planos com começou a chegar, lá pra agosto de 1981 Rubens Fernandes chegou o restante do esquadrão. Então nós
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06:04 - 06:12 - Fotos históricas
ganhamos em tempo, e tempo em busca e salvamento é primordial.”
06:13 - 06:17 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Rubens Fernandes 06:18 - 06:36 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “Então Campo Grande entrevista alternando planos com Paulo foi uma base estratégica pra colocar o Cruz Pelicano. E aí os aviões anfíbios, que não tinha mais fundamento você ter um avião 06:37 - 06:50 - Fotos de aeronaves anfíbio no Centro-Oeste, porque ele precisa de água pra decolar, então ele começou, a aviação ela foi sendo substituída pelos Bandeirantes. Então o Albatroz, que era o avião anfíbio, foi substituído pelo Bandeirante, que era um avião de fabricação nacional. Isso inclusive era um incentivo pra própria Embraer, que era a fabricante do avião, pra que a Força Aérea usasse o Bandeirante.” 06:51 - 07:05 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “Só mudou os entrevista alternando planos com equipamentos, nós voávamos com avião Rubens Fernandes antigo que não tinha muito conforto e foi desativado, e aí vieram os Bandeirantes, 0 km. Mas a filosofia continua a mesma, só mudou os equipamentos.” 07:06 - 07:26 - Dissolução cruzada para Fala João Fusquine: “O esquadrão ele, entrevista alternando planos com João desde sua origem, ele sempre atendeu Fusquine com prioridade as missões de busca e salvamento. Fazendo uma análise de sua história, a gente pode perceber isso que a vocação do 2º/10º, ele seguiu os mandamentos do decreto de sua criação.” 07:27 - 08:10 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Jorge Martins TEXTO: Jorge Martins / comandante do Esquadrão Pelicano 08:10 - 08:15 - Vídeo de simulação do Alerta SAR
Fala Jorge Martins: “O Esquadrão tem 60 anos. O Esquadrão por si só já tem vida, a missão dele é... Quando você fala de busca e salvamento, a primeira coisa que você pensa na Força Aérea Brasileira, é o 2º/10º. Quem realmente faz, quem é o desenvolvedor de doutrina, quem realmente está à frente do primeiro momento que aconteceu algo que é totalmente improvável ou totalmente
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adverso, o primeiro toque de sirene, as pessoas lembram do 2º/10º.” 08:16 - 08:29 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com William Silva TEXTO: William Silva / resgateiro do Esquadrão Pelicano
Fala William Silva: “A gente fala que a gente é a ponta da linha, né. Entre toda a equipe SAR que tem, a gente é o pessoal que vai descer ali pra dar um primeiro atendimento e pra tirar a vítima do ambiente em que ela se encontra.”
08:30 - 08:50 - Transição com imagens de aeronaves
Trilha
Bloco 3 - Espírito SAR 08:51 - 09:05 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Janaína Rosa TEXTO: Janaína Rosa / ex-membro do Esquadrão Pelicano
Fala Janaína Rosa: “Me chamou atenção trabalhar lá. É uma missão muito nobre, você ajudar o próximo. Fazer pelo outro, né. Quando a gente faz pelo outro, a gente tá fazendo por nós também. Você acaba que você também se ajuda. É muito bom ajudar.”
09:06 - 09:22 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Daniel Cavalcanti TEXTO: Daniel Cavalcanti / comandante da Base Aérea de Campo Grande
Fala Daniel Cavalcanti: “Ter esse tipo de sensação, de estar participando, de fazer o bem. E a gente, no Esquadrão, a gente tem isso muito aflorado. E depois que você chega, que você realmente vive, que você tem ideia do que é isso, aí é um sentimento que é muito difícil de expressar.”
09:23 - 09:37 - Dissolução cruzada para Fala João Fusquine: “Quem pertence ao entrevista alternando planos com João serviço de busca e salvamento e Fusquine particularmente ao Esquadrão Pelicano, ele tem um compromisso inegociável de 09:38 - 09:43 - Vídeo de militares cumprir a sua missão. Essa pessoa ela saltando de paraquedas e fazendo divide a sua vida entre respirar e cumprir a resgates missão do 2º/10º. Não há outra saída. Se ele não dedicar 100% ao trabalho, ele vai 09:44 - 10:08 - Dissolução cruzada para cumprir mal a sua missão. E é justamente o entrevista alternando planos com João Espírito SAR que mantém essa Fusquine necessidade sempre em voga, sempre acesa. Os homens dos 2º/10º sempre cumprirão sua missão.”
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10:09 - 10:15 - Dissolução cruzada para Fala Daniel Cavalcanti: “Quando você entrevista alternando planos com Daniel chega no 2º/10º é que você tem ideia da Cavalcanti magnitude do que o 2º/10º representa. As pessoas que nos antecederam, esse 10:16 - 10:32 - Vídeos de arquivo legado que elas deixaram, esse entusiasmo, esse sentimento, isso tudo te 10:33 - 10:41 - Dissolução cruzada para contagia de uma forma que não tem muito entrevista alternando planos com Daniel como você explicar. Você quer viver aquilo Cavalcanti ali e vira um impulso muito grande no seu dia a dia. Você se motiva mais, aí, com 10:42 - 10:47 - Vídeos de militares isso, você se prepara mais, você estuda treinando mais, você se capacita mais, você quer voar mais e é por isso que o Esquadrão é 10:48 - 11:04 - Dissolução cruzada para referência na aviação de busca e entrevista alternando planos com Daniel salvamento. Ele é o desenvolvedor de Cavalcanti doutrina porque as pessoas aqui fazem a diferença, mas fazem a diferença por causa do Espírito SAR. Essa coisa que te move e que não tem muita explicação.” 11:05 - 11:22 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “São coisas entrevista alternando planos com simples, o trabalho de equipe, uma coisa Rubens Fernandes que você... Imbui na missão e vai fazer tudo pra aquela missão mesmo que você... Não vá colocar a mão na massa, mas vai ajudar aqueles que vão. Ver uma missão bem cumprida, mesmo que você não tenha participado.” 11:23 - 11:58 - Dissolução cruzada para Fala William Silva: “Eu sinto dentro de entrevista alternando planos com mim. Eu tenho pouca experiência, comecei William Silva agora, to engatinhando ainda, tenho diversos quadrinhos pra cumprir, diversas coisas pra fazer, mas eu sinto. Eu vivencio esse espírito, sim. E não só em mim, tudo que a gente faz aqui, tudo que a gente olha, a gente vive esse sentimento de SAR, né, essa coisa de homem SAR. E isso não reflete só aqui dentro, reflete em todo ambiente que a gente tá. Seja numa rua, em algo que a gente vai fazer, a gente leva esse espírito SAR, a gente tem essa tradição.”
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11:59 - 12:30 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Daiane Ribeiro TEXTO: Daiane Ribeiro / psicóloga
Fala Daiane Ribeiro: “Você pode ter o mesmo objetivo, que é salvar vidas, mas as motivações são completamente únicas. É outra coisa que te move. Então, por isso que eu falo que é do um pro social, mas tem algo do social que motiva cada um. Então um motiva o outro. Só que na verdade a motivação ela é única e é nossa. Então tem algo do grupo que motiva a pessoa, que talvez não seja a mesma coisa que motiva todos os outros, mas que acabam se encontrando ali no que é comum, que é o Esquadrão.”
12:31 - 12:52 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “Esse Espírito SAR é entrevista alternando planos com Paulo algo que é muito forte no integrante do Cruz Esquadrão Pelicano. É a certeza que a gente tem de cumprir a missão, independente da situação, do tempo, se tá chovendo, se é Natal, se é Ano Novo... A gente tem que cumprir essa missão. É uma dedicação, é algo muito pessoal e o integrante do Esquadrão Pelicano tem que viver isso. Aqueles que não são assim, não ficam entre nós.” 12:53 - 13:00 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “Tem missões entrevista alternando planos com que a gente vibrava, a gente aqui no solo Rubens Fernandes em Campo Grande, as lágrimas correndo, vibrando com o cara que tá lá. Eu era da 13:01 - 13:04 - Vídeos de aeronaves área de Comunicações, então no momento em que terminava uma missão... Eu fiz muita gente chorar e muita gente fez eu chorar.” 13:05 - 13:06 - Dissolução cruzada para Fala Jorge Martins: “Isso é o Espírito entrevista alternando planos com Jorge SAR. Quando você fala das pessoas que Martins trabalham diretamente, eu acho que é simplesmente a vontade, independente do 13:07 - 13:26 - Vídeo e fotos de conforto, independente de qualquer coisa, simulações, treinamentos e resgates para realmente fazer com que a missão seja cumprida, a pessoa seja salva no 13:27 - 13:30 - Dissolução cruzada para menor tempo possível.” entrevista alternando planos com Jorge Martins
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13:31 - 13:53 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com Daniel Fala Daniel Cavalcanti: “Mas a verdade é Cavalcanti que você dificilmente consegue quantificar aquilo que você vai viver, dificilmente você 13:54 - 14:04 - Vídeos de simulações, consegue qualificar aquilo que você vai treinamentos e resgates sentir. A explicação é essa, é você querer fazer a diferença no mundo que você vive, na vida de alguém, mas que te contagia, contagia todo mundo, contamina todo mundo.” 14:05 - 14:14 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com João Fala João Fusquine: “Estender a mão a Fusquine quem precisa é sempre o ponto máximo que você pode atingir na sua vida. Então, 14:15 - 14:28 - Vídeos de resgates quando você aproxima disso, quando você consegue ser aquela última mão, aquele 14:29 - 14:35 - Dissolução cruzada para braço que puxa pra dentro do helicóptero, entrevista alternando planos com João aquela pessoa que aplica um Fusquine medicamento, aquela pessoa que minimiza a dor de um sobrevivente, então é muito recompensador e realmente traduz todo um esforço, todo um processo, quando você está nessa ponta da linha.” 14:36 - 14:47 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com Fala Daiane Ribeiro: “Porque salvar vidas Daiane Ribeiro é o máximo do ser humano. Criaram-se métodos, né, criaram-se ciências pra salvar 14:48 - 14:52 - Fotos de resgates vidas. E eles se utilizam do braço, da força, da garra, da luta, pra salvar uma vida. Não 14:53 - 15:00 - Dissolução cruzada para é ligar a pessoa a uma máquina. É eles entrevista alternando planos com que estão salvando, é corpo a corpo. É Daiane Ribeiro algo muito real, muito forte. Que foge assim, até do simbólico, talvez eles não 15:01 - 15:07 - Fotos de militares na conseguissem muitas palavras pra definir o mata que eles fazem por causa disso. Porque é muito real. Tá muito no corpo. E o que é do 15:08 - 15:16 - Dissolução cruzada para corpo a gente não consegue definir muito entrevista alternando planos com bem, é quase inalcançável pras palavras.” Daiane Ribeiro 15:17 - 15:25 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com Fala Janaína Rosa: “Quando você é Janaína Rosa acionado, você torce pra não ser. Porque quando você é acionado, alguém, pessoas
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15:26 - 15:34 - Fotos de resgates
estão precisando de você, entendeu? E muitas vezes, infelizmente, a gente chega e a pessoa já não está mais ali, né. Já se foi, pelo acidente, a gravidade.”
15:35 - 15:41 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com João Fala João Fusquine: “Quando você chega Fusquine numa cena de um acidente, primeiro que você vive a expectativa de encontrar. E nós 15:42 - 15:50 - Fotos de busca dentro somos de busca e salvamento. Então o do helicóptero nosso primeiro passo é localizar. E sempre que a gente tá buscando, nós temos essa 15:51 - 15:52 - Dissolução cruzada para interrogação: como estará essa aeronave? entrevista alternando planos com João O que terá acontecido com os tripulantes e Fusquine passageiros?” 15:53 - 15:55 - Vídeo de acidente 15:56 - 15:59 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com João Fusquine 16:00 - 16:04 - Fundo Preto
Trilha Fala Frederico Reis: “Em agosto de 2001, 16:04 - 16:30 - Dissolução cruzada para teve um grande incêndio florestal aqui em entrevista alternando planos com Mato Grosso do Sul, na Serra da Frederico Salas, sobrevivente Bodoquena. Eu estava responsável por resgatado uma equipe que estava fazendo o combate TEXTO: Frederico Salas / sobrevivente às chamas em solo. E nessa saída, foi no resgatado final da manhã, por volta de 11 horas, no meio da nossa missão, e a nossa aeronave 16:31 - 16:40 - Prints de notícias do teve uma perda de altura, vindo a colidir na acidente Serra da Bodoquena. E nessa colisão, veio o nosso piloto a morrer e eu fiquei 16:41 - 16:42 - Dissolução cruzada para desacordado por um bom período de entrevista alternando planos com tempo na aeronave. O Esquadrão Pelicano Frederico Sala conduzindo até o hospital de Bonito e aí uma aeronave também do Esquadrão Pelicano, um Bandeirantes, vindo de Campo Grande até Bonito para retirar, fazer minha retirada de Bonito para a Santa Casa de Campo Grande.” 16:43 - 16:50 - Dissolução cruzada para Fala Daniel Cavalcanti: “O que você sente entrevista alternando planos com Daniel quando você realmente tem a oportunidade Cavalcanti de chegar perto de um sobrevivente é
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16:51 - 16:57 - Fotos de resgates
impagável. Você não consegue explicar a alegria, o sentimento que se envolve.”
16:58 - 18:09 - Dissolução cruzada para Fala Frederico Reis: “Quando entra nessa entrevista alternando planos com profissão de ajudar o próximo a salvar e a Frederico Sala resgatar, a gente não espera que um dia a gente seja resgatado. E eu tive esse prazer - porque hoje eu estou vivo - de ter vivenciado os dois lados. Sempre resgatei e um dia eu precisei ser resgatado. Eu dedico essa continuidade da minha vida e carreira ao bom resgate que eu tive. Bem resgatado porque eu tive um serviço aéreo especializado por parte do SAR, por parte do Esquadrão Pelicano, da Força Aérea Brasileira, que, essa cadeia de resgate, essas sucessões de atendimentos especializados fez com que eu estivesse hoje aqui, fez com que eu tivesse uma boa recuperação das minhas fraturas, fez com que eu estivesse saudável hoje para estar completando basicamente aí, praticamente 16 anos do meu resgate.” 18:10 - 18:17 - Dissolução cruzada para Fala Jorge Martins: “Para a gente, para entrevista alternando planos com Jorge mim, eu acho que é um trabalho essencial Martins para a sociedade brasileira. Quando a gente decola para ajudar, atrás de toda o 18:18 - 18:31 - Fotos de missões e suporte que a sociedade dá para a gente, a resgates sociedade é o nosso cliente maior, a sociedade é o nosso chefe, mas a gente 18:32 - 18:40 - Dissolução cruzada para poder ajudar pessoas, tirar pessoas de entrevista alternando planos com Jorge situações de perigo, resgatar, e quando Martins não tiver mais jeito, a gente trazer o conforto do familiar... Isso é o que dá o 18:41 - 18:49 - Fotos de sobreviventes sentimento de dever cumprido, fazer com com a família que a gente entenda que o que a gente faz é o certo.” 18:50 - 18:54 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Jorge Martins 18:55 - 18:59 - Dissolução cruzada para Fala João Fusquine: “ No acidente da entrevista alternando planos com João Varig, mais especificamente, isso foi em Fusquine 1989, nós tivemos ali um caos estabelecido, porque a nossa capacidade
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19:00 - 19:10 - Fotos do acidente da Varig
dentro de um helicóptero é muito pequena. Nós tripulamos um helicóptero desse com, no máximo, estourando, três resgateiros, e 19:11 - 19:20 - Dissolução cruzada para de repente, descemos por uma corda numa entrevista alternando planos com João clareira onde nós temos 54 almas, dentre Fusquine estas, 44 vivas.” 19:21 - 19:35 - Foto e vídeos do resgate da Varig 19:36 - 19:37 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “Eu tive o privilégio de entrevista alternando planos com Paulo fazer parte da primeira equipe que chegou Cruz no local desse acidente. Foi uma missão muito desgastante física e 19:38 - 19:44 - Vídeo de entrevista com psicologicamente porque a situação era Paulo Cruz para a Rede Globo muito difícil. Isso foi em 1989, a gente tinha... Os nossos equipamentos eram 19:45 - 19:47 - Dissolução cruzada para muito precários ainda, nossos entrevista alternando planos com Paulo equipamentos que a gente carregava era Cruz até meio improvisado. Tinha alguma coisa, mas não era o que se tem hoje, hoje a 19:48 - 20:04 - Foto e vídeos de pousos gente tem um equipamento muito bom pra da aeronave e resgate dar suporte médico, né, hoje melhorou muito. Mas a missão foi difícil pra chegar no local, nesse acidente eles caíram num domingo à noite e a gente só foi chegar na terça-feira.” 20:05 - 20:07 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “Eles deram entrevista alternando planos com muita sorte porque Deus ajudou. Era para Rubens Fernandes ter morrido tudo. Porque as asas foram amortecendo... Ele não pegou uma 20:08 - 20:17 - Fotos do acidente e castanheira pelo charuto, as asas foram resgate da Varig amortecendo a queda. E os que morreram, morreram porque as cadeiras soltaram e os 20:18 - 20:19 - Dissolução cruzada para de trás prensaram os da frente.” entrevista alternando planos com Rubens Fernandes 20:20 - 20:25 - Dissolução cruzada para Fala João Fusquine: “É muito difícil você entrevista alternando planos com João ter que empreender ali todo um Fusquine conhecimento, distribuir funções, agir rapidamente. Então lidar com corpos, lidar 20:26 - 20:38 - Fotos do resgate dos com gritos, gemidos, angústias, é muito sobreviventes da Varig difícil. É nesta hora que você vê que o seu treinamento tem que ser árduo.”
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20:39 - 20:42 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com João Fusquine 20:43 - 21:21 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “ E eu lembro que a entrevista alternando planos com Paulo gente ficou nessa missão... Entre a gente Cruz chegar e sair, 42 horas trabalhando. Sem dormir, comendo muito pouco, se alimentando... Porque não tinha, a comida e água que a gente tinha a gente direcionava pros sobreviventes, então a gente ficava ali perto da exaustão. Mas quando eu deitei na cama, eu não consegui dormir. As imagens do resgate, aquilo vinha na minha cabeça, parecia um filme, se repetindo, de tão forte que era a situação que a gente tinha vivido, foi muito forte. E aí a gente comentou "daqui a 100 anos, as pessoas ainda vão estar lembrando do que a gente fez", porque foi uma missão realmente muito marcante.” 21:22 - 21:50 - Dissolução cruzada para Fala Daiane Ribeiro: “Cada missão é uma entrevista alternando planos com né, mas a missão deles é estar ali. E eles Daiane Ribeiro estão. E eles pertencem. Então ali tudo ganha cor. Tudo ganha sentido. Então não importa se a missão é difícil, se a missão é uma batalha muito grande pessoal assim, se vai ser arriscado, perigoso, se vai ser fácil, se vai ser difícil. Não importa, porque o que importava é ela estar lá.” 21:51 - 21:53 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “Porque eu acho entrevista alternando planos com que não tem missão mais gratificante que Rubens Fernandes essa. Não tem nada mais gratificante do que você chegar em casa e ter a certeza 21:54 - 21:55 - Vídeo de fim da missão que deu o seu melhor e que aquele seu melhor realmente foi o melhor para uma 21:56 - 22:07 - Dissolução cruzada para outra pessoa, e que aquela pessoa jamais entrevista alternando planos com vai lhe esquecer. Mesmo que você nunca Rubens Fernandes mais veja aquela pessoa, tenho certeza de que ela jamais vai esquecer.” Bloco 4 - Operacional
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22:08 - 22:19 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “É o que a gente fala: a entrevista alternando planos com Paulo gente pode passar 100 anos sem ser Cruz empregado, mas a gente não pode passar um dia sem estar preparado para ser 22:20 - 22:24 - Vídeos de missões empregado. Então o treinamento continua, a missão continua, então assim, para quem 22:25 - 22:39 - Dissolução cruzada para pensar em entrar no Esquadrão Pelicano, entrevista alternando planos com Paulo entre, mas com vontade, porque ali Cruz realmente tem que colocar o seu coração para fora para poder fazer parte dessa... O que, para mim, eu falo que é a elite da Força Aérea.” 22:40 - 22:51 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “Servi em outros entrevista alternando planos com esquadrões, tenho afeição por eles, mas o Rubens Fernandes segundo do décimo... ele é diferente. Todos eram bons, mas não chegam aos pés do segundo décimo.” 22:52 - 22:58 - Dissolução cruzada para Fala Daniel Cavalcanti: “O Esquadrão tem entrevista alternando planos com Daniel peculiaridades. É o único esquadrão da Cavalcanti Força Aérea que tem, tanto aviação de asa rotativa, como a aviação de asa fixa em 22:59 - 23:02 - Vídeos das aeronaves função das características da nossa atuais do Esquadrão missão. Missão que realizamos: salvar vidas; busca e salvamento.” 23:03 - 23:07 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Daniel Cavalcanti 23:08 - 23:16 - Dissolução cruzada para Fala Jorge Martins: “Nós possuímos as entrevista alternando planos com Jorge aeronaves... Os helicópteros UH-1H, de Martins fabricação americana e as aeronaves Amazonas SC-105 e as SC-105 SAR, 23:17 - 23:23 - Vídeos do hangar e das ambas de fabricação espanhola. (00:40) aeronaves atuais do Esquadrão Nós temos o prédio, que atuam 50 militares e nós temos o pessoal que voa no Esquadrão, que aí vai para em torno de 120 militares, por aí.” Fala Daniel Cavalcanti: “Nós somos responsáveis pela localização de qualquer sinistro e pelo resgate dessas pessoas, dos 23:33 - 23:46 - Dissolução cruzada para sobreviventes ou interações que se fazem entrevista alternando planos com Daniel necessárias por ocasião de um acidente, Cavalcanti por ocasião de um sinistro. E a gente fala de acidente, mas não é só o acidente 23:24 - 23:32 - Vídeos de missões e fotos de resgates
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aéreo. A gente não atua só na busca e salvamento, as pessoas têm uma ideia às vezes um pouco restrita do que é a busca e salvamento. A busca e salvamento é muito mais do que você decolar, fazer uma localização, depois ir lá e fazer um resgate. A busca e salvamento é uma filosofia de vida.” 23:57 - 24:09 - Dissolução cruzada para Fala João Fusquine: “A Força Aérea não entrevista alternando planos com João tem por especialidade, na Escola de Fusquine Especialistas, a especialidade de resgateiro, então esse segmento ele 24:10 - 24:22 - Vídeos do curso de abarca todos os militares voluntários. Então resgate tem que haver um chamamento pessoal, aquela coisa de "eu quero fazer, eu quero 24:23 - 24:28 - Dissolução cruzada para pertencer", e tem que haver um entrevista alternando planos com João desprendimento muito grande, porque a Fusquine nossa vida inaugural nessa atividade é o curso de resgate, que nos põe à prova 24:29 - 24:37 - Vídeos do curso de fisicamente, emocionalmente, então os resgate obstáculos, os desafios são muito grandes.” 24:38 - 24:40 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com João Fusquine 24:41 - 25:03 - Dissolução cruzada para Fala William Silva: “Então, quando você entrevista alternando planos com chega aqui, a gente não faz parte da William Silva equipe de resgate né, então a gente é como se fosse um calouro na faculdade. A gente é e não é da equipe de resgate. Porque você só pode ser da equipe de resgate a partir do momento que você... A gente chama de "cumprir quadrinho", que é cumprir uma etapa, que é fazer o curso SAR.” 25:04 - 25:06 - Dissolução cruzada para Fala Janaína Rosa: “A formação não é entrevista alternando planos com fácil. É realmente ser forjado mesmo.” Janaína Rosa Fala William Silva: “A gente faz no dia a dia treinamentos, em virtude disso, com os 25:18 - 25:23 - Dissolução cruzada para equipamentos e com os voos, com as entrevista alternando planos com aeronaves, a gente procura estar sempre William Silva treinando isso, nosso dia a dia é treinar 25:07 - 25:17 - Vídeos de treinamentos
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25:24 - 25:35 - Vídeos de treinamentos e do curso de resgate
isso, estar praticando as atividades físicas pra nos dar as condições pra conseguir atingir todos esses objetivos, na parte 25:37 - 25:40 - Dissolução cruzada para física, psicológica. Então a gente entrevista alternando planos com administra também instruções, a gente William Silva ministra instruções em outros ambientes. Nosso dia a dia é basicamente esse. Lidar com toda essa parte de resgate.” 25:41 - 25:44 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “Nosso entrevista alternando planos com treinamento era muito forte, nós tínhamos Rubens Fernandes muito treinamento. Muito treinamento. O treinamento é importante porque a gente 25:45 - 25:48 - Vídeos de treinamentos aprende as coisas não é por aqui, a gente aprende é por aqui - fazendo, 25:49 - 25:54 - Dissolução cruzada para acompanhando. Então, o treinamento era entrevista alternando planos com e acho que continua sendo - o dia inteiro. Rubens Fernandes Sempre treinando, sempre se aprimorando, sempre procurando aprimorar os métodos. 25:55 - 26:00 - Vídeos de treinamentos Se dava muito sangue, muito sangue. Procurar sempre cumprir o que o 26:01 - 26:04 - Dissolução cruzada para treinamento determinava.” entrevista alternando planos com Rubens Fernandes 26:05 - 26:12 - Vídeos de treinamentos 26:13 - 26:17 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Rubens Fernandes 26:18 - 26:25 - Transição com imagens atuais das instalações do Esquadrão
Trilha
Bloco 5 - Família 26:26 - 26:53 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “Enquanto a gente é entrevista alternando planos com Paulo solteiro, é muito fácil. Você não tem aquela Cruz preocupação com a família. Era muito comum, inclusive, de eu ser voluntário para as várias missões. Às vezes tinha um amigo que a esposa estava grávida, e "pô, você pode ir na missão pra mim" e eu ia em todas. Era um "rato de missão", como a gente fala. Tudo que era missão, pra mim era mais fácil. Só que quando a gente começa a pensar na família, aí você já...
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não que você vá deixar de cumprir a missão, mas já começa a pesar mais.” 26:54 - 27:41 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Sheila Canto, esposa de Paulo Cruz TEXTO: Scheila Canto / esposa
Fala Scheila Canto: “Sempre foi um grande desafio, o relacionamento era desafiador ao mesmo tempo muito dinâmico. A gente casou com dois anos de namoro e com 2 meses de casamento nós tínhamos 4 dias de convivência. Como isso? Comemorando os 2 meses de casamento e nesse tempo ficamos juntos apenas 4 dias. O Paulo emendou uma missão na outra e ele ficou direto e nem voltou pra casa. De cara, meus primeiros meses já foi um grande desafio. Mas eu já sabia disso, sempre foi assim.”
27:42 - 28:15 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “Embora a entrevista alternando planos com família seja a coisa mais importante que Rubens Fernandes tudo, mas naquele momento os outros precisavam mais de mim do que minha família. Filho meu nenhum ia morrer porque eu não passei o natal, o aniversário e talvez o outro lá morresse. Meus filhos podem ser que tenham, nunca me falaram mas naquele momento eu não era importante pra eles, era importante para outras coisas.” 28:16 - 28:41 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “A minha esposa, eu falo entrevista alternando planos com Paulo o seguinte: ela foi uma mulher separada Cruz por Deus para estar comigo. A gente até brinca, nós somos os Pelicanos e nós temos as Pelicanas, e as Pelicanas vivem a missão junto com a gente. Porque você tem um filho pequeno que adoeceu e o pai não está perto, está chegando o aniversário de um aninho do seu filho e você está numa missão... Isso é muito comum.” 28:42 - 29:11 - Dissolução cruzada para Fala Scheila Canto: “E naquela época não entrevista alternando planos com era como hoje, não tinha celular, Scheila Canto Whatsapp, Facetime... Ele ficava longe e às vezes eu nem sabia pra onde ele tinha ido. Demorava dias para saber onde ele tava, quando ele voltaria... Eu passei natal,
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ano novo, meu aniversário, com ele longe. Mas antes de casar eu já sabia desses desafios todos. E naquela época não era como hoje, não tinha celular, whatsapp, facetime... Ele ficava longe e às vezes eu nem sabia pra onde ele tinha ido. Demorava dias pra saber onde ele tava, quando ele voltaria... Eu passei natal, ano novo, meu aniversário, com ele longe. Mas antes de casar eu já sabia desses desafios todos.” 29:12 - 29:35 - Dissolução cruzada para Fala Janaína Rosa: “E assim, com os entrevista alternando planos com meninos é diferente. Com os militares Janaína Rosa homens. Porque eles viajam, mas suas esposas ficam em casa cuidando dos filhos, e comigo é ao contrário, eu sou a mulher. Eu sou a militar, e sou a mulher, e sou a mãe. Então aí eu tive que optar. E pra mim foi um luto. Eu passei por um luto quando eu tive que pedir pra não estar mais nesse clã.” 29:36 - 29:57 - Transição com imagens atuais das aeronaves e instalações do Esquadrão
Trilha
Bloco 6 - Encerramento 29:58 - 30:30 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com Fala William Silva: “O Esquadrão pra mim William Silva foi uma decisão que eu parei, sentei, independente de crença religiosa, mas eu 30:31 - 30:36 - Foto com sinalizador na orei a Deus ali, porque... Como eu vou mata explicar... Eu tinha a oportunidade na minha vida de hoje estar do lado da minha 30:37 - 30:50 - Dissolução cruzada para família, estaria hoje do lado da minha entrevista alternando planos com família ali. Mas... O amor pela cor laranja, o William Silva amor pela missão e pelo Esquadrão foi maior. O Esquadrão, tudo de SAR que eu tenho hoje foi o Esquadrão que me deu, as oportunidades... É algo que eu jamais vou esquecer.” 30:51 - 30:58 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com Paulo Fala Paulo Cruz: “O Esquadrão Pelicano Cruz foi um Esquadrão que me deu muito
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30:59 - 31:11 - Fotos históricas
orgulho, algo que eu falo com muito orgulho. São experiências de vida que a 31:12 - 31:14 - Dissolução cruzada para gente teve, que a gente carrega para entrevista alternando planos com Paulo sempre. Os momentos mais intensos da Cruz minha vida eu passei ali, nas missões, nos treinamentos, nos amigos que a gente tem 31:15 - 31:19 - Foto da equipe do até hoje. Nós éramos realmente uma Esquadrão equipe, e uma equipe unida, porque na missão um depende muito do outro.” 31:20 - 31:26 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com Fala Janaína Rosa: “Eu amo demais o Janaína Rosa Esquadrão. É uma coisa assim que só quem já foi ou quem viveu. Tudo que nós 31:27 - 31:30 - Vídeos das aeronaves e fazemos na vida, nós temos que ter amor. da equipe Então assim, é amor. Sabe? É amor pelo próximo, é amor por você ajudar. Acho que 31:31 - 31:39 - Dissolução cruzada para o Esquadrão é isso: é amor.” entrevista alternando planos com Janaína Rosa 31:40 - 32:04 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com Jorge Fala Jorge Martins: “É realmente o Martins desenvolvedor. A gente termina com a sensação de dever cumprido, mas não de mudar o Esquadrão, e sim de colocar mais um tijolinho na construção do que é essa grande unidade aérea. A gente tem uma expectativa de fazer muitas coisas e, na verdade, o Esquadrão tem uma vida própria.” 32:05 - 32:15 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com João Fala João Fusquine: “O Esquadrão Fusquine Pelicano não precisa somente das pessoas que amam o Esquadrão Pelicano, mas ele 32:16 - 32:23 - Vídeos de missões e precisa muito daqueles que fazem com treinamentos perfeição o seu trabalho. Eu deixo às novas gerações aí o meu pedido de que se 32:24 - 32:45 - Dissolução cruzada para dediquem, de que façam o seu melhor entrevista alternando planos com João porque não é justo ocupar esse lugar sem Fusquine que se tenha o verdadeiro Espírito SAR.” 32:46 - 32:49 - Dissolução cruzada para Trilha entrevista alternando planos com Daniel Fala Daniel Cavalcanti: “Envolve vida. É o Cavalcanti que eu falei para vocês, envolve sonho, envolve fazer a diferença no mundo que
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32:50 - 32:58 - Vídeos de missões 32:59 - 33:22 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Daniel Cavalcanti 33:23 - 33:37 - Vídeos da equipe 33:38 - 33:48 - Dissolução cruzada para entrevista alternando planos com Daniel Cavalcanti
você vive. É poder ajudar sem ter nada em troca, é trabalhar para fazer a diferença na vida de alguém. É você agir para que outros possam viver, que é o nosso lema. O lema do Esquadrão é "Para que outros possam viver", é um lema mundial da Aviação de Busca e Salvamento, da Aviação SAR. É você fazer a diferença no mundo que você vive de alguma forma. É você decolar, não interessa a hora, não interessa o motivo, não interessa quando. É você largar o seu lar, a sua família, mas você faz isso tudo com essa motivação que você está falando porque tem alguém que está precisando de você. Esse é o seu pagamento. É você decolar com essa esperança, com essa chama acesa no seu coração de que você vai decolar daqui e você vai achar alguém.”
33:49 - 34:14 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “Todos os anos, todos os entrevista alternando planos com Paulo aniversários fora de casa, os Natais, todos Cruz os amigos que eu chorei, que a gente deixou, que morreram cumprindo a missão (e eles sabiam que tinha um objetivo)... Como eu disse, a regra é essa. A gente sabe que a regra desse jogo não é fácil, mas tudo vale a pena.” 34:15 - 34:20 - Dissolução cruzada para Fala Rubens Fernandes: “O presente, na entrevista alternando planos com realidade, não é de quem nós salvamos, o Rubens Fernandes presente foi eu que ganhei.” 34:21 - 34:36 - Dissolução cruzada para Fala Paulo Cruz: “O Esquadrão Pelicano entrevista alternando planos com Paulo realmente é algo que marca. Tá marcado, Cruz tá tatuado. Inclusive, tem a tatuagem da equipe de resgate que a gente carrega aqui. Uma tatuagem emblemática que é essa aqui, que só algumas pessoas têm.” 34:37 - 34:55 - Dissolução cruzada para Trilha - Hino SAR entrevista alternando planos com João Fala João Fusquine: “Se eu tivesse uma Fusquine palavra pra definir a minha trajetória na Força Aérea e particularmente no 2º/10º, não poderia ser outra senão "obrigado".
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Obrigado pelo privilégio de ter pertencido a essa unidade.” 34:56 - 35:18 - Dissolução cruzada para Trilha - Hino SAR entrevista alternando planos com Fala Janaína Rosa: “Eu sempre digo Janaína Rosa assim: nós não somos piores e nem melhores que ninguém. Nós só somos Pelicanos. É assim, é simples. É simples assim. Porque quando você é Pelicano uma vez, você nunca deixa de ser Pelicano. Você sempre é Pelicano, entendeu? É como se você arrancasse sua pele e embaixo estivesse laranja. É sem palavras.” 35:19 - 35:45 - Dissolução cruzada para Trilha - Hino SAR entrevista alternando planos com Daniel Fala Daniel Cavalcanti: “É isso que essa Cavalcanti missão te dá. A gente não decola achando que não vai achar ninguém, a gente 35:46 - 35:52 - Vídeo de aeronave atual sempre decola achando que vai achar alguém, que vai fazer essa diferença, que a 35:53 - 35:55 - Vídeo de retorno de gente vai trazer alguém para casa, que a missão gente vai devolver um pai, a gente vai devolver uma mãe, a gente vai devolver 35:56 - 35:57 - Dissolução cruzada para alguém no seio do seu lar. É isso que a entrevista alternando planos com Daniel gente espera que façam pela gente, é isso Cavalcanti que a gente tenta fazer pelos outros e é isso que o Esquadrão te ensina. Essa missão é muito mais do que voar. Ela é muito mais do que ser piloto. É um estado de espírito. Ser da Busca e Salvamento é um estado de espírito. É o que você escolhe para você, é o que você escolhe fazer e isso aí não tem preço.” 35:58 - 36:06 - Dissolução cruzada para Trilha - Hino SAR entrevista alternando planos com Fala Rubens Fernandes: “Essa Rubens Fernandes satisfação, esse prazer de dizer ‘pô, valeu a pena. Valeu a pena. E vale a pena’.” 36:07 - 36:10 - Fundo preto
Trilha - Hino SAR
36:11 - 37:10 - Créditos TEXTO - Direção e produção: João Fusquine, Larissa Moreti e Larissa Vizoni
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Orientação: Kárita Francisco e Rose Pinheiro Roteiro: Larissa Moreti e Larissa Vizoni Edição: João Fusquine Imagens: Arquivo - Base Aérea de Campo Grande, João Fusquine, Larissa Moreti e Larissa Vizoni Música: Hino SAR / Letra: Monclar da Rocha Bastos; Música: Waldemar Henrique; Instrumentação: Zótico Guimarães Santos / Execução: Matheus Augustus Agradecimentos: Daiane Ribeiro, Daniel Cavalcanti, Frederico Reis, Guilherme Maia, Hélio Godoy, Janaína Moraes, João Batista Fusquine, Jorge Martins, Kayron Andrade, Matheus Palhano, Paulo Cruz, Rubens Fernandes, Scheila Canto e William do Nascimento 37:11 - 37:21 - Título final TEXTO: PELICANO / Para que outros possam viver / Universidade Federal de Mato Grosso do Sul / 2017 ©
Trilha - Hino SAR
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APÊNDICE B – Roteiro de perguntas (ex-integrantes do Esquadrão Pelicano)
1. Como surgiu o Esquadrão Pelicano? 2. Qual foi o seu trabalho específico dentro do Esquadrão? 3. Por que escolheu essa profissão? 4. Houve algum momento marcante em sua carreira? 5. Presenciou ou cometeu algum erro durante alguma missão? 6. Para você, o que é o Espírito SAR?
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APÊNDICE C – Cronograma de entrevistas
Data
Nome
Descrição
21/09/2017
João Fusquine
Ex-integrante do Esquadrão
25/09/2017
Rubens Fernandes
Ex-integrante do Esquadrão
26/09/2017
Frederico Salas
Sobrevivente
06/10/2017
Paulo Cruz
Ex-integrante do Esquadrão
06/10/2017
Scheila Canto
Esposa
09/11/2017 William do Nascimento
Membro da equipe de resgate
09/11/2017
Coronel Martins
Comandante do Esquadrão
16/11/2017
Janaína Moraes
Primeira Observadora do Esquadrão
16/11/2017
Coronel Daniel
Comandante da Base Aérea de Campo Grande
16/11/2017
Daiane Ribeiro
Psicóloga
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APÊNDICE D - Decupagens
1. João Batista Fusquine, Suboficial da reserva Entrevista realizada no dia 21 de setembro de 2017, 15h30, na casa do entrevistado. Pergunta: Pode começar contando para a gente um pouco da história do Esquadrão Pelicano… Resposta: Falar da história do Esquadrão Pelicano, a gente tem que considerar a origem do SAR, que se deu pela necessidade de recuperar as tripulações abatidas durante a Segunda Guerra Mundial. A origem do Esquadrão Pelicano se dá por uma necessidade de se ter o SAR no Brasil e, uma vez que, no mundo, o SAR já existia por conta da necessidade de recuperar as tripulações abatidas durante a Segunda Guerra e ao final desta mesma guerra, os Países do Eixo, já sabedores da vitória, eles conseguiram prever um aumento significativo da aviação civil, um desenvolvimento muito grande da aviação civil. Isso forçou as nações a organizarem esse serviço para que as atividades área se dessem de uma maneira mais coordenada e, com isso, foram feitas várias convenções, inclusive a mais importante delas e precursora, a de Chicago, que determinou que os países signatários deste acordo estabelecessem um serviço de busca e salvamento dentro do seu território, dentro da sua jurisdição. Com isso, então, foi criado no Brasil através e no âmago da Força Aérea Brasileira o SAR. Não foi de imediato que surgiu o Esquadrão Pelicano. O Esquadrão Pelicano teve sua origem em 1957. Foi criado na Base Aérea de São Paulo, em Cumbica, e operava com aeronaves Albatroz, SA-16 e helicópteros H13 e SH-19. Então, em Cumbica, em São Paulo, se deu o início do serviço de busca e salvamento na Força Aérea Brasileira. Posteriormente, essa unidade foi deslocada para Florianópolis, em Santa Catarina, onde ficou por um bom tempo e se transferiu, finalmente, para Campo Grande, onde se encontra até hoje.
Pergunta: Por que essa transferência?
Resposta: Quando o Esquadrão foi fundado em Cumbica, havia uma necessidade de aproximar a unidade, o esquadrão, dos meios materiais disponíveis que aconteciam no Rio de Janeiro, mais especificamente no Parque de Material do Galeão, na Ilha do
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Governador. Depois, com a existência do Parque de Material de São Paulo, esse problema ficou ainda mais facilitado, ficou mais patente ainda a necessidade de ficar em São Paulo. A ida para Florianópolis foi uma decisão, digamos assim... Mais que política da Força Aérea, e quando o Esquadrão saiu de São Paulo, ele foi uma parte para Florianópolis e outra parte para Belém. E já no início da década de 1980, a transferência para Campo Grande, ela se deu porque as coisas estavam acontecendo mais ao centro do país. Os acidentes envolvendo aeronaves, a explosão do garimpo na Amazônia, isso tudo fez com que essa necessidade se fizesse mais presente nesse eixo central do país.
Pergunta: Quando o esquadrão começou, de que maneira ele operava, tendo em vista como ele opera hoje? Tiveram muitas mudanças ou o objetivo sempre foi o mesmo?
Resposta: O Esquadrão, desde sua origem, sempre atendeu com prioridade as missões de Busca e Salvamento. Fazendo uma análise de sua história, a gente pode perceber isso que a vocação do 2º/10º... Ele seguiu os mandamentos do decreto de sua criação. Diferenças assim que a gente pode ressaltar foram algumas flutuações, o Esquadrão no começo, na sua origem, ele não tinha equipe de resgate, então as atividades praticadas por uma tropa terrestre eram feitas pelos homens do PARA-SAR, que é uma organização de elite da Força Aérea Brasileira, que cumpre missões em terra e no ar e no mar. Então, esse pessoal esperava pelo Esquadrão, o Esquadrão ia até o Rio, pegava esse pessoal e partia para as suas missões. E mesmo estando em Florianópolis, e continuou acontecendo, do Esquadrão deslocar-se de Florianópolis, passar no Rio, pegar esse pessoal e seguir para as missões, até que se criou, através de um corpo de enfermeiros, prioritariamente, a equipe de resgate do 2º/10º, e aí nós tivemos esta junção aí, de asa fixa, asa rotativa e uma equipe aeroterrestre dedicada ao 2º/10º.
Pergunta: Qual o trabalho o senhor exercia dentro do esquadrão?
Resposta: A minha formação na Força Aérea Brasileira é de mecânico de aeronaves. Eu sou mecânico de aeronaves de asa fixa e rotativa. Mas muito cedo me identifiquei
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com a missão do pessoal da equipe de resgate. Operando no helicóptero, eu sempre desembarcava pessoal, ou no avião fazia com que eles saltassem, mas no fundo, no fundo, eu me sentia assim... Meio que convocado a participar daquele segmento da missão. E aos poucos, eu fui conseguindo me aproximar da equipe, consegui fazer a minha formação junto aos membros da equipe e me tornar um membro desta equipe.
Pergunta: Quanto tempo você ficou nesse cargo?
Resposta: Eu cumpri minhas missões de mecânico desde 1982 até 1989, e em 1989, então, eu deixei as minhas atividades de mecânico e parti para cumprir missões com a equipe de resgate, isso até 2011.
Pergunta: Como foi essa mudança?
Resposta: Olha, é uma boa pergunta porque o esquadrão, ele sempre vive de altos e baixos com relação a efetivo, quantitativo de pessoal. Então não é uma troca fácil de se experimentar, porque muitas vezes se pensa que um mecânico formado talvez não fosse a pessoa mais indicada para migrar para atividade de resgate. Mas acontece que, no tempo, na época em que eu me formei no resgate, havia uma carência muito grande de resgateiros e havia um quantitativo bem razoável de mecânicos, então isso facilitou a minha passagem do corpo de mecânicos para o corpo de resgateiros.
Pergunta: O senhor comentou um pouquinho sobre se sentir convocado. Como foi essa escolha interna para participar dessa equipe?
Resposta: O que acontece: toda vez que você sai pra uma missão, você faz parte dela de
maneira
bem
ativa
no
2º/10º.
Nós
contamos
com
pilotos,
mecânicos,
radiotelegrafistas, enfermeiros e... E os resgateiros. E o que acontece: cada um de nós, cada um desses militares dedicados na sua parte, ele contribui de forma significativa para a missão. Desde o soldado que coloca uma fonte de força para que a gente possa decolar até o burocrata que apresenta nossa missão ao final, todos têm uma participação muito
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importante. Todos fazem parte de um conjunto harmônico sem o qual seria impossível cumprir a missão. Mas que a parte final, o segmento que realmente coloca seus olhos nos olhos do sobrevivente é o resgateiro. Essa possibilidade, esta conquista de operacionalidade, ela atrai muita gente, então é lá que a maioria das pessoas quer estar. Na ponta da corda, pendurado no paraquedas, mergulhando. Ou seja, quer ser aquela pessoa que consegue contar até o final da nossa missão.
Pergunta: Como é esse contato humano com o sobrevivente?
Resposta: O ser humano, ele tem a sua natureza boa. Eu acredito muito nisso. Então, independente e a despeito de formação e credos religiosos, eu acho que estender a mão a quem precisa é sempre o ponto máximo que você pode atingir na sua vida. Então, quando você aproxima disso, quando você consegue ser aquela última mão, aquele braço que puxa pra dentro do helicóptero, aquela pessoa que aplica um medicamento, aquela pessoa que minimiza a dor de um sobrevivente, então é muito recompensador e realmente traduz todo um esforço, todo um processo, quando você está nessa ponta da linha.
Pergunta: A partir do momento que você decide que quer seguir essa carreira, quais caminhos você tem que percorrer?
Resposta: A Força Aérea não tem por especialidade, na Escola de Especialistas, a especialidade de resgateiro, então, esse segmento abarca todos os militares voluntários. Então, tem que haver um chamamento pessoal, aquela coisa de "eu quero fazer, eu quero pertencer" e tem que haver um desprendimento muito grande, porque a nossa vida inaugural nessa atividade é o curso de resgate, que nos põe à prova fisicamente, emocionalmente, então, os obstáculos, os desafios são muito grandes. E vencida essa primeira barreira, você tem as especialidades, você vai se tornar um mergulhador, um paraquedista, um mestre de salto, um montanhista, um especialista em sobrevivência, um paramédico. Então... É bem árduo o caminho, mas ele parte do princípio do voluntariado e do esforço, da dedicação e da conquista.
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Pergunta: Existe algum momento marcante na sua carreira que você gostaria de compartilhar?
Resposta: Eu poderia citar vários momentos marcantes, várias missões que me deixaram assim... De forma bem tocada. E a gente sempre lembra daquelas que são mais badaladas pela mídia, que são mais volta e meia lembradas por alguém, né?! Mas eu acho que a missão que mais me tocou foi uma missão em que nós, participando de uma tripulação de Bandeirantes, que era o avião que nós usávamos até final dos anos 1990, início dos anos 2000, nós tivemos a oportunidade de realizar um parto a bordo da aeronave. Esta é uma missão que nos parece sempre muito distante, né, até pra carregar o material suficiente, a gente tem que acreditar realmente que um dia vai acontecer. E eu lembro que eu sempre tinha comigo esse material suficiente, e esse material vence por data, dependendo das condições de armazenamento ele deve ser trocando também. Mas eu sempre me preocupava em trocá-lo, porque eu sempre tive comigo que iria acontecer. E numa dessas trocas de material, eu consegui essa benção de ter essa visão de que valeria a pena manter essa possibilidade sempre viva. E nós efetuamos um parto com muito sucesso na aeronave. Decolamos de Iauaretê para São Gabriel da Cachoeira, isso tudo na Amazônia, e a neném nasceu no meio do caminho, nasceu no nosso Bandeirante. Então, foi um momento muito recompensador, porque se você não tem a persistência, se você não acredita que um dia você pode cumprir a missão, você abre mão de algumas possibilidades, você não executa.
Pergunta: Tem algum erro ou alguma situação crítica que você presenciou ou até mesmo que você tenha cometido na sua carreira?
Resposta: Tem, eu mesmo tive a oportunidade de... Experimentar alguns gostos ruins na minha operacionalidade. Eu lembro que eu fui fazer um lançamento de paraquedistas na região de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, e havia uma nuvem bem carregada próximo da zona de lançamento, então a responsabilidade pelo lançamento era meu, eu é que decidia se os homens sairiam ou não. Naquele momento, percebendo aquela
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nuvem, eu conversei com eles, com os paraquedistas, expliquei a situação e todos ávidos por saltar, como é de praxe a todo paraquedista, decidimos que lançaríamos. E assim aconteceu. Nós entramos na final para o lançamento, sempre vigilante com relação à nuvem, mas de uma maneira em que a minha avaliação não foi a melhor. Quando os paraquedistas saltaram, a nuvem tragou os paraquedistas e ao invés deles descerem... Esse lançamento ocorreu a mais ou menos 8 mil pés, eles subiram para 12 mil. Então saíram do avião e ascenderam para 12 mil. E nós mesmos de avião não conseguimos pousar na pista. Então, houve umas boas horas de aflição porque os paraquedistas todos se perderam, se dissiparam, e nós saímos por terra em busca deles, mas felizmente todos pousaram bem, ninguém se machucou, deu tudo certo, ficou como experiência.
Pergunta: Você chegou a analisar isso posteriormente, ter algum tipo de problema com essa situação, tanto pessoalmente, quanto profissionalmente?
Resposta: É interessante, porque quando se comete um erro, ele é muito mais forte do que um acerto. Então fica muito patente pra mim que um mal tempo, uma situação adversa, um limite de vento, é... É sempre melhor você não lançar. A gente sabe que são os maremotos, as tempestades que moldam o bom marinheiro, mas se você puder em treinamento evitar ao máximo arriscar as vidas, é sempre mais prudente.
Pergunta: Quando decidimos fazer esse documentário, nossa proposta era muito mais estudar e documentar as pessoas do que as operações. Eu queria perguntar pro senhor, na sua percepção, o que é o Espírito SAR?
Resposta: O Espírito SAR ele é um sentimento. De devoção ao serviço de busca e salvamento. Então quem pertence ao serviço de busca e salvamento e particularmente ao Esquadrão Pelicano, ele tem um compromisso inegociável de cumprir a sua missão. Essa pessoa ela divide a sua vida entre respirar e cumprir a missão do 2º/10º. Não há outra saída. Se ele não dedicar 100% ao trabalho, ele vai cumprir mal a sua missão. E é justamente o Espírito SAR que mantém essa necessidade sempre em voga, sempre acesa. Os homens dos 2º/10º sempre cumprirão sua missão.
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Pergunta: De onde vem isso? Por que você acha que surge esse Espírito SAR no militar que está lá dentro?
Resposta: O Espírito SAR eu não sei dizer se ele surge. Eu acredito que ele é passado de geração em geração. Assim como eu herdei o Espírito SAR do Sargento Belo, do Coronel Rola, do Coronel Toledo, do Suboficial Eduardo, do Suboficial Sussumo e tantos outros, eu espero que uma sementinha desse Espírito SAR tenha passado de mim para aqueles que me sucederam.
Pergunta: Como o senhor mesmo falou, é uma vida inteira dedicada a isso. Houve algum momento em que você quis seguir outro caminho?
Resposta: Jamais. E se outra vida tivesse, seguiria pelos mesmos passos. Eu acho que não há nada mais recompensador do que ter a oportunidade de pertencer a um grupo destes.
Pergunta: De onde vem o nome Pelicano?
Resposta: O pelicano é a ave símbolo do 2º/10º. Diz a lenda que quando os filhotes do pelicano estão famintos e quando não há alimentos, a mãe ela rasga o próprio peito e arranca das suas próprias entranhas para alimentar os seus filhotes. Então, esse simbolismo, ele sugere aos militares do Esquadrão, às pessoas dedicadas à Busca e Salvamento, que elas tenham o sacrifício da própria vida para entregar àqueles que estão em situação difícil, acidentados, moribundos, aguardando pelo SAR.
Pergunta: Você participou de acidentes que foram bastante repercutidos pela mídia, como o do Air France e o da Varig. Como é participar de uma missão desse porte, onde, por exemplo, em uma delas tiveram sobreviventes, na outra foram resgatar corpos. Como foi para você fazer parte dessas duas missões?
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Resposta: Quando você chega numa cena de um acidente, primeiro que você vive a expectativa de encontrar. O acidente aéreo ele é... E nós somos de Busca e Salvamento. Então, o nosso primeiro passo é localizar. E sempre que a gente tá buscando, nós temos essa interrogação: como estará essa aeronave? O que terá acontecido com os tripulantes e passageiros? No acidente da Varig, mais especificamente, isso foi em 1989, nós tivemos ali um caos estabelecido, porque a nossa capacidade dentro de um helicóptero é muito pequena. Nós tripulamos um helicóptero desse com, no máximo, estourando, três resgateiros, e de repente, descemos por uma corda numa clareira onde nós temos 54 almas, dentre estas, 44 vivas. Então é muito difícil você ter que empreender ali todo um conhecimento, distribuir funções, agir rapidamente. Então, lidar com corpos, lidar com gritos, gemidos, angústias, é muito difícil. É nesta hora que você vê que o seu treinamento tem que ser árduo. Ele tem que ser o mais próximo possível da realidade porque as situações que se apresentam são muito difíceis, e quando você sabe que está num lugar onde ninguém vai chegar, só você conseguiu chegar e ninguém mais vai chegar, aí bate aquela coisa do "eu estou no caminho certo. Estou estudando, me preparando porque a situação é essa".
Pergunta: O lema do Esquadrão, "Para que outros possam viver", está totalmente relacionado com essa devoção e esse sentimento de chamado que você descreveu. Como você analisa isso no seu psicológico, nas pessoas com quem você trabalhou? Como esse lema se constrói dentro das pessoas que integram o Esquadrão?
Resposta: O Esquadrão é muito rígido, então, desde tarefas pequenas até as maiores, tudo é muito cobrado, tudo é muito exigido na sua perfeição, então, eu acho que isso já faz parte de um ambiente onde se você não age de maneira perfeita, você deixa escapar uma vida, por exemplo. Se você não faz um documento bem feito, aquilo tem um efeito grande. Isso é uma base de dedicação que vai num crescente. Quando você embarca numa aeronave para fazer um treinamento, você já está envolvido numa atmosfera de busca de perfeição, numa atmosfera de "eu tenho que fazer o meu melhor", e nós todos somos assim. Quem não consegue responder desta forma, acaba abandonando o
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esquadrão, acaba buscando outros caminhos também meritórios, mas esta falta de adequação, ela acaba separando as pessoas que estão irmanadas na missão e pessoas que de certa forma são surpreendidas com o tamanho, com o compromisso inegociável do Esquadrão Pelicano.
Pergunta: Existe um sentimento e talvez até um estereótipo de uma distância que existe entre as instituições militares e a sociedade civil, e o Esquadrão Pelicano parece representar uma certa aproximação justamente por lidar diretamente com as pessoas. Como é isso? Você já sentiu esse distanciamento, essas muralhas que se colocam entre uma pessoa comum e o militar?
Resposta: Eu sou nascido na década de 1960, então naturalmente que eu senti os efeitos do governo militar atuando sobre uma sociedade clamando por democracia. Mas eu tive a felicidade de, ao ingressar na Força Aérea e ao levantar a bandeira do SAR, de verificar que onde nós chegávamos, nós trazíamos primeiramente o encanto do avião. O avião é sempre bem-vindo. Ele é uma conquista, um flerte com tecnologia que atrai as pessoas. É difícil de você ser mal recebido quando você carrega na cauda do seu avião o cocar da Força Aérea Brasileira. E a missão de Busca e Salvamento é dividida em missão de misericórdia, missão de busca propriamente dita, de resgate, missão humanitária. Todos esses títulos sugerem um atendimento à sociedade brasileira e até a países conveniados. Então, particularmente, eu nunca experimentei hostilidade, separação ou discriminação por ser militar, muito pelo contrário. Eu sempre vi a população brasileira, os nossos irmãos brasileiros sempre muito receptivos à Força Aérea e receptivos ao Esquadrão Pelicano.
Pergunta: Se você pudesse dizer uma coisa ou deixar alguma coisa a ser lembrada, tanto para as pessoas que vão vir a trabalhar no Esquadrão quanto para as pessoas que vão usufruir dos serviços dele, o que vocês gostaria que essas pessoas soubessem?
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Resposta: Eu gostaria de dizer que o Esquadrão Pelicano não precisa somente das pessoas que amam o Esquadrão Pelicano, mas ele precisa muito daqueles que fazem com perfeição o seu trabalho. Eu deixo às novas gerações aí o meu pedido de que se dediquem, de que façam o seu melhor porque não é justo ocupar esse lugar sem que se tenha o verdadeiro Espírito SAR.
Pergunta: Como o senhor definiria todos esses anos de trabalho em poucas palavras?
Resposta: Se eu tivesse uma palavra pra definir a minha trajetória na Força Aérea e particularmente no 2º/10º, não poderia ser outra senão "obrigado". Obrigado pelo privilégio de ter pertencido à essa unidade.
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2. Rubens Fernando Fernandes, Suboficial da reserva Entrevista realizada no dia 25 de setembro de 2017, 14h30, na casa do entrevistado. Pergunta: O senhor veio de Florianópolis?
Resposta: Sim, de Florianópolis para cá. 1981. O esquadrão veio para Campo Grande em 1981. Nós não tínhamos moradias para todos e vieram duas tripulações completas. Mecânico, rádio, pessoal do resgate, enfermeiro... Ficamos aqui operando durante seis meses só nós. Depois que o pessoal de Floripa começou a chegar, lá para agosto de 1981 chegou o restante do esquadrão.
Pergunta: Diferente das outras pessoas que entrevistamos até agora, o senhor vivenciou essas duas etapas do Esquadrão. Quais foram as principais diferenças que o senhor reparou?
Resposta: Só o equipamento. Porque o espírito era o mesmo, a missão era a mesma. Ficou mais fácil, porque na época até não se entendia porquê o Esquadrão estava em Florianópolis. As missões, a maioria, era aqui pra cima. Então, o esquadrão estava muito longe, até que teve alguém que teve uma ideia mais sensata de trazer o Esquadrão para Campo Grande que fica mais central. Então, nós ganhamos em tempo, e tempo em busca e salvamento é primordial. Nós estávamos mais perto da onde se ia operar. Só mudou os equipamentos, nós voávamos com avião antigo que não tinha muito conforto e foi desativado, e aí vieram os Bandeirantes, 0km. Mas a filosofia continua a mesma, só mudou os equipamentos.
Pergunta: Qual era o trabalho do senhor dentro do Esquadrão?
Resposta: Eu, de origem, eu era radiotelegrafista de voo. Operei até acabar a telegrafia, nos anos 75/76. Quando não existia mais telegrafia na Força Aérea, nós passamos a ser de Comunicações. Então, eu era da área de Comunicações, embora esse termo "Comunicações"
eu
acho
que
semanticamente
Telecomunicações, de Comunicações são vocês.
está
errado...
Eu
era
de
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Pergunta: E o que o senhor fazia?
Resposta: Eu era responsável pela manutenção eletroeletrônica e as comunicações entre aeronave com solo, essa era a minha parte.
Pergunta: O senhor trabalhou a vida inteira na Força Aérea?
Resposta: Sim. A vida inteira. Só depois que fui para a reserva, fui trabalhar com uma coisa totalmente diferente, num centro universitário.
Pergunta: O que motivou o senhor a escolher essa carreira?
Resposta: Olha, filha, você sabe que às vezes é o destino, a sorte ou o azar. Eu fui para a Força Aérea porque meu pai era muito humilde, naquele tempo para estudar não era fácil e eu pensei "preciso ganhar dinheiro. Vou para a Força Aérea". E fui. E por sorte... eu fico imaginando se eu não fosse da Força Aérea, o que eu seria da minha vida. Então, eu caí, não sei se... Na época não se falava em vocação, não se tinha teste vocacional, a gente ia para ganhar dinheiro. E fico pensando "se eu não tivesse ido, que que eu ia ser da vida?". Eu até brinco com o pessoal da Força Aérea. Eu fiquei 30 anos na Força Aérea e nunca trabalhei. Eu sempre me diverti. Sempre fiz aquilo com prazer. Não tinha cansaço. Não era trabalho. É a mesma coisa de jogador de futebol, recebe para fazer aquilo que gosta. E foi exatamente o que aconteceu comigo e acredito que todos. Porque quem não tiver o perfil para isso não aguenta o tranco. Eu fui um dos privilegiados, nessa minha vida toda nunca trabalhei, fui trabalhar depois que saí da Força Aérea, mas até então sempre foi diversão.
Pergunta: O senhor falou "não aguenta o tranco"... Essa motivação tem um impacto muito grande na maneira como vocês fazem o trabalho de vocês?
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Resposta: Sim. Mas nós aprendemos ali no Esquadrão, acho que é importante para a vida, não é só para a Força Aérea, não é só para... Trabalho em equipe. Como é importante. As pessoas não valorizam isso. Você ser ajudado, ajudar. Porque nem sempre a gente tá bem. Às vezes você não consegue carregar aquela mesa. E não precisa você me pedir "ô cara, você não tá vendo que não estou aguentando a mesa?", eu vou lá te ajudar a carregar a mesa. Isso é uma coisa importante na missão de busca, a coisa mais importante que tinha era o trabalho de equipe. Porque dependia de todos. O êxito da missão não dependia de um nem de outro, de todos. Se não fosse uma equipe coesa, que a gente se entendesse, que a gente se auxiliasse, ia voar, voar, voar, sem... Hoje já tem equipamentos, mas na época era tudo no esforço físico, era tudo visual. Você voava na Amazônia naquele mato, árvore grande pra caramba, você ficava procurando uma agulha no palheiro horas e horas e horas e horas ali. Com fome, com sede, com calor. Porque ar condicionado é uma coisa recente, a gente tinha que voar com portas abertas. Voava baixo. Um mal estar, muito calor. Tirava a roupa, ficava às vezes só de calção pra aguentar. Então dependia de todos, um auxiliar o outro, porque tinha dia que você não acordava bem. E a gente tinha que se policiar nos nossos próprios pensamentos. Isso era uma coisa que nos preocupava muito, porque às vezes você tá ali olhando, procurando o seu objetivo, mas você tem mulher, você tem filho, você deixou sua mulher doente, seu filho tá no hospital, e você não pode divagar. Você não tem o direito de o seu pensamento sair do que você tá fazendo. Isso era muito complicado, porque às vezes você começava... A mente ia embora. Ia embora, acabou a missão. Então nós estávamos sempre nos motivando, sempre... Para a gente não sair da real. E isso é uma coisa difícil, é difícil você controlar o seu pensamento. Ninguém de nós consegue dizer "não vou pensar nisso". Não tem como fazer isso. É complicado, mas era muito satisfatório. Quando a gente achava... Eu lembro de uma história, era o Belo, não sei se tu conhece o Belo. Nós estávamos indo para uma missão em Alta Floresta, caiu um garimpeiro e um piloto. Nós saímos com o Bandeirantes daqui, despinguelamos para Alta Floresta, que hoje é uma cidade, antigamente não tinha nada, era só uma pista só e não tinha nada, era só garimpo. Conseguimos localizar o avião do cara, o helicóptero chegou no entardecer, vetoramos o helicóptero até... Os dois caras estavam machucados, mas estavam bem. O helicóptero resgatou o piloto e o garimpeiro. Na hora
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que nós pousamos... O helicóptero veio, nós pousamos, a garimpeirada... Os caras desceram andando. Passaram uma noite no mato, mas desceram andando, com os braços machucados. A carga deles correu na hora que eles bateram e eles escoraram a carga no braço, então quebraram o braço. Os garimpeiros dando banho de champanhe no helicóptero, na tripulação... Eram dois caras. Uma coisa que jamas nenhum de nós vai esquecer aquilo ali. Se fosse um… Às vezes não é só questão da vida, trazer o cara, claro, o mais importante era trazer com vida. Mas também nos preocupava aqueles que não estavam mais vivos. Porque a vida... Não sei como tá agora, mas o cara que falece e não foi encontrado, o corpo não morreu, ele está desaparecido. A vida da viúva, dos filhos, para tudo. Ela não recebe seguro, não recebe nada, porque ele não morreu. Às vezes, claro, o mais importante, a gente sempre queria achar com vida, mas também trazer o corpo para que tenha um enterro digno. E que a vida dos familiares prossiga. Porque senão ficavam cinco anos, a viúva quieta, porque o cara não morreu. Agora, quando achava com vida era uma coisa... A gente mesmo vinha pra casa, estourava o champanhe. Coisa boa. Presente que Deus me deu. Isso se fosse um. Já era muito.
Pergunta: Interessante o senhor comentar isso porque nas outras entrevistas que a gente fez, a gente sempre batia na tecla de que era um trabalho que lidava com vidas, né? Mas e lidar com a morte, como é?
Resposta: Sim. Era... Quando eu... Eu senti muito isso quando... Quando são pessoas desconhecidas, claro, a gente sente, porque é morte... Agora, quando é da nossa própria carne... O caso daquele do helicóptero, do Albatroz que cravou no morro lá em Floripa um pouco antes, que foi o que talvez tenha colocado a pá de cal pro avião se aposentar... Quando você vai resgatar gente da nossa, aí... Aí é duro. É duro os outros, mas é muito pior. Porque é gente que conviveu contigo, gente que fez missões contigo, que salvou gente com você, e de repente você tá resgatando. Aí é complicado. Aí bate... Bate muito doído. Nesse daqui de Aquidauana, no helicóptero, tinha um caso mesmo, o filho do Van Dyke. O pai dele serviu comigo, ele foi pra academia, veio servir no esquadrão, o pai dele era suboficial no esquadrão. Aí o pai dele foi pra reserva e ele ficou como piloto do esquadrão. E teve esse acidente aqui em Aquidauana. Um guri que eu vi crescer com a
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gente ali no esquadrão, um menino, e de repente... Tava fazendo busca com a gente e de repente, foi lá e teve que resgatar ele falecido. A morte é coisa complicada, mas... A gente aprende a viver com isso, né. Mas assim mesmo choca. Choca. Mesmo que seja gente que a gente não conheça, dá uma tristeza. A gente pensa "se a gente tivesse chegado antes, será que não...". Porque essa é uma das coisas que a gente sentia muito e hoje tá muito mudado, né, porque o tempo era muito importante. Era muito importante. De ser acionado. Por isso que o esquadrão tinha autonomia, hoje não tem mais. Antigamente o esquadrão mesmo definia que ia e acabou. Hoje tem que esperar ordem, tem aquela burocracia e às vezes demora, e a gente sabe que o cara está lá esperando, a gente sabe que a gente vai. E a gente quer chegar, chegar mais rápido. Já teve caso de se perder gente assim. Do cara estar num avião sozinho, chegamos no avião, no terceiro dia, chegamos no avião, o pessoal do resgate desceu no avião e não tinha ninguém no avião. O cara saiu, foi na beira do rio e foi comido pela onça na beira do rio. Não morreu no acidente, morreu porque a onça pegou, foram tomar água na mesma hora. E a gente diz "se a gente tivesse chegado 15 minutos antes...". Naquele tempo era tudo braçal. Hoje o satélite pega. Naquele tempo não tinha. A gente saía procurando uma agulha no palheiro, naquele padrãozinho, pesquisando tudo, a maior probabilidade... Às vezes, o cara voava daqui pra lá, como foi o 2068, o cara tá voando daqui para lá, caiu lá. E você vai procurando as possibilidades maiores, né. Até você começar a ir lá... Era um avião lento, um avião que não tinha muito recurso. Mas se fez muitas missões maravilhosas. Uma só pagou a vida da gente toda. E a gente fez muito.
Pergunta: Houve algum momento que o senhor, ou alguém que o senhor percebeu, lidou com o sentimento de culpa?
Resposta: Não, não. Sentimento de culpa, não. A gente ia muito imbuído de cumprir a missão. Muita garra. Mas sentimento de culpa, não. A gente sabia que não podia deixar a peteca cair. Às vezes, com o tempo, o ano vai arrefecendo e a gente se auto motivava, né. "Não, hoje vamos, e hoje vamo e vamo" e muitas vezes não se achava nada. Isso era uma coisa muito perigosa que acontecia porque a gente lutava pra que essas coisas não vazassem. Teve um ano que eu passei o ano fora de casa de graça. Era um cara
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que saiu de Paranaguá para Foz do Iguaçu. E o avião dele não chegou em Foz do Iguaçu e nós fomos acionados. Era até o Major Darcisinho, era o comandante do avião. Nós voamos Natal, Ano Novo, ali na região de Paranguá-Foz do Iguaçu, que é longe. Depois do sexto, sétimo dia... Não deu sensação de culpa, não, mas deu uma raiva. Fomos descobrir que o cara era sócio de uma joalheira, o dono do avião. Estava ele e a secretária no avião, ele, simplesmente, no final de semana pegou tudo que tinha na joalheira dele com a secretária e fugiram para o Paraguai. Depois de uma semana que a polícia paraguaia achou o avião abandonado lá dentro do Paraguai. Ele pegou tudo e.. E nós dando o maior gás, e o cara tinha fugido. Deu o golpe no sócio e fugiu para o Paraguai. E nós passamos Natal e Ano Novo longe da nossa família procurando um... Deu vontade de pegar esse cara e dar uma surra nele. Graças a Deus estava vivo, mas...
Pergunta: Pro senhor, como foi entrar no Esquadrão Pelicano lá atrás, como foi esse processo?
Resposta: Eu entrei sem saber direito. Porque quando eu servi em Belém, eu tinha muita vontade de voltar pro Sul. Servi em Manaus duas vezes e servi em Belém. Em Belém, eu conheci o Tenente em Armamento Monclar da Rocha Bastos. Monclar da Rocha Bastos era um tenente, simplesmente, ele nunca serviu no 2º/10º, mas ele era o autor do hino, é o autor do hino SAR, e nunca serviu no esquadrão. E eu de serviço com ele, perguntou "rapaz, porque você não vai pra Floripa lá, o Esquadrão 2º/10º lá" e eu "não, mas eu quero voltar pro Sul". E ele me falou no esquadrão, disse que era bom, mas aí eu naquele negócio, eu era noivo no Rio Grande do Sul, queria voltar, voltei para o Rio Grande do Sul, me casei no Rio Grande do Sul. Em 1976, o avião que eu servia, que era o DC-3, o C-47, acabou. Nós tínhamos que pedir transferência para onde quisesse. Aí me voltou o Monclar da Rocha Bastos na cabeça. Falei "é agora. Agora vou atender o que o Monclar da Rocha Bastos falou". E ele era um cara tão humilde, que ele nunca me falou desse hino. Eu fui saber que ele era o autor quando cheguei no Esquadrão e vi lá "autor do hino: Monclar da Rocha Bastos". O filho da mãe nunca me falou isso. Ele serviu no 1º/10º, em Cumbica, que era um outro esquadrão, e fez um hino do nosso esquadrão, o qual ele nunca serviu. E ele sempre falou maravilhas do Esquadrão. Então eu cheguei no 2º/10º
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com a informação do Monclar de 10 anos atrás. Como... Ele me conhecia e ele me recomendou, porque diz que antigamente alguém tinha que falar pra você, não era "eu quero ir e vou". Então... Eu com uma semana que eu estava no esquadrão, eu já era do esquadrão. Não tive fase de adaptação. Aquilo ali eu acho que estava destinado que era aquilo que eu tinha que fazer. Só que no primeiro contato que ele falou comigo, eu tava com aquele negócio de "eu quero voltar pro Rio Grande do Sul". Porque eu nunca tinha servido no sul. Eu tinha servido em São Paulo, Manaus, duas vezes em Belém. E eu queria ir para o Sul. E fui. E como acabou, eu falei "é agora" e de lá não saí mais. Aí vim pra cá, fui para a reserva e aqui fiquei.
Pergunta: Quando o senhor entrou no Esquadrão, o senhor sentiu que era um esquadrão diferente?
Resposta: Sim. Sim. Sim. Isso não tem como... Não sentir isso.
Pergunta: Por quê?
Resposta: Porque você vê o espírito... Parece que tem uma coisa, uma aura, alguma coisa que você vê que não é um esquadrão... Me perdoe o termo, não é um esquadrãozinho qualquer. Tem coisas muito diferentes, no jeito que as pessoas tratam, parece assim... Quer dizer, teve muita gente que teve e não se deu bem. Aquilo, você vai entrando, é automático. E tem gente que não entra. Ele não aguenta. Ele mesmo pede pra ir embora. Porque o cara que não entrar nessa coisa de trabalho em equipe, de espírito... Eu brincava com os caras "pô, eu não sou mecânico, que que eu tô subindo num motor?". Não sou mecânico, mas uma chave de fenda eu sei que que é, para alcançar pro cara. O cara quer mecânico, mas uma chave de fenda, uma chave de boca... Porque o Albatroz é um avião muito alto, então o cara pra descer, pegar... Eu alcanço para o cara. Já ajudei. Então essa equipe... Na realidade, no 2º/10º, não tinha especialidade. A menina dos olhos do Esquadrão é o resgate. Tinha a busca e depois o resgate. Mas o resgate é a cereja do bolo. Então a gente vivia em função do resgate. O resgate era o Esquadrão. A gente vivia ali pra dar meios ao resgate para que ele
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executasse seu trabalho. Então no resgate só tinha o fera. O fera do Esquadrão era o pessoal do resgate. E acredito que ainda seja. Acredito que isso não tem como mudar.
Pergunta: O que é o Espírito SAR?
Reposta: Essa é uma coisa difícil né, não tem como explicar o que é o Espírito SAR. São coisas simples, o trabalho de equipe, uma coisa que você... Imbui na missão e vai fazer tudo para aquela missão mesmo que você... Não vá colocar a mão na massa, mas vai ajudar aqueles que vão. Ver uma missão bem cumprida, mesmo que você não tenha participado. Tem missões que a gente vibrava, a gente aqui no solo em Campo Grande, as lágrimas correndo, vibrando com o cara que tá lá. Eu era da área de Comunicações, então no momento em que terminava uma missão... Eu fiz muita gente chorar e muita gente fez eu chorar. Eu era encarregado da estação tática. Então a determinação era a seguinte: na hora que terminou a missão, todo mundo sossegado. Chama o cara pelo rádio, abre o mic pra todo mundo e a gente lia o código de honra SAR. A gente no solo e o cara no meio do mato. Aquilo ali era uma choradeira a bordo, a gente parabenizando o cara pela missão e a gente sentia orgulhoso, embora não fez nada, de “pô, esse cara é meu amigo”. Aquilo dava um orgulho pra gente. Talvez essa seja uma explicação, uma das, do espírito SAR. A gente tem que vibrar com a missão realizada e bem feita, embora não tenha colaborado para nada. Só de ser do mesmo time, vibrava muito com isso. E era muito alegre quando chegava de uma missão bem executada. Pergunta: Você acha que o espírito é hereditário ali dentro do esquadrão?
Resposta: É. É. Não tem como. O cara que chega ele vai adquirindo sem ninguém falar nada. É aquele ditado: as palavras convencem, mas os exemplos arrastam. Então, o garoto que chega e ver o SOB velho ali carregando uma cruz pesada, aquilo ali não precisa dizer nada. Vai chegar a vez dele e ele vai fazer com o maior prazer como se fosse natural.
Pergunta: Em algum momento o senhor pensou em fazer outra coisa da vida?
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Resposta: Não. A aviação tem dessas coisas. Tem momentos que tem aquele rompante: “Eu não quero saber dessa merda mais”. Dez minutos depois, começa a fazer tudo de novo e nem lembra mais o que disse. Tem hora que cansa. Vai para casa e volta como se nada tivesse acontecido. Eu imagino que para todos que saem da Força Aérea. Ou de qualquer trabalho. Ele sente saudade quando se aposenta ou não pode mais... Mas o Esquadrão Pelicano, a Busca... não tem quem sinta mais saudade disso. Eu estou há 24 anos e ainda sonho. Sonho com missões, sonho que estou atrasado. Eu tenho certeza que todos os caras que passaram têm a mesma coisa que eu. Uma das coisas mais gostosas que tem, e agora que a gente vai para a reserva a gente começa a pensar nisso, é você se sentir útil. Esse é o grande problema da reserva. Você começa a se sentir inútil. E na busca e salvamento, a gente sente que é útil, vai servir para alguém, não sei para quem. Aquele treinamento puxado, aquela ralação, vai servir para alguém. Um dia, aquilo vai ser empregado. Alguém vai se beneficiar daquelas horas que eu não tive de lazer. Eu to me ralando aqui, mas quem sabe o amanhã?
Pergunta: O senhor comentou que perdeu vários aniversários dos filhos... Em algum momento a família foi contra a sua carreira?
Resposta: Não. Mas a gente só pensa nisso depois que passa. Durante, a gente não pensa nisso. Não foi sacrifício. Talvez eles tenham sentido. Mas pra gente não era assim. Era tão importante naquele momento, tem que ter cuidado com as palavras, mas naquele momento, a missão era mais importante que minha família. Embora a família seja a coisa mais importante que tudo, mas naquele momento os outros precisavam mais de mim do que minha família. Filho meu nenhum ia morrer porque eu não passei o Natal, o aniversário... E talvez o outro lá morresse. Meus filhos podem ser que tenham, nunca me falaram mas naquele momento eu não era importante para eles, era importante para outras coisas.
Pergunta: Como foi esse afastamento para a reserva?
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Resposta: Olha, foi complicado. Foi difícil. Os primeiros 30 dias não, pensei que tava de férias e tal. Mas depois o tempo vai passando, vou trabalhar, mas não é mais lá. A gente viveu com essa gente tantos anos, o trabalho já estava no sangue e de repente, não é mais o seu trabalho, seus amigos não são mais aqueles, o seu trabalho não é mais aquele, você não faz mais aquilo que te deu um prazer enorme durante a vida toda, você vai fazer outra coisa que não vai chegar aos pés daquilo que você fez. Não é fácil, não. É por isso que muita gente entra em depressão. Por sorte, continuei a trabalhar na área, de manutenção de equipamentos eletrônicos, claro que não com a mesma coisa. Já tenho dificuldades de visão, de audição, os equipamentos eletrônicos estão cada vez menores... Mas deu para preencher. Servi em outros esquadrões, tenho afeição por eles, mas o 2º/10º... Ele é diferente. Todos eram bons, mas não chegam aos pés do 2º/10º. É muito bom você sentir que faz diferença para alguém, que você fez diferença para uma pessoa. Isso é muito importante. É igual aquela história do passarinho. Ele ia lá na água para ajudar a apagar o incêndio da floresta. “Mas pô, tu não vai apagar…”. “Mas a minha parte eu estou fazendo”. Eu sei que meu pinguinho não vai apagar esse fogo, não, mas a minha parte eu estou fazendo.
Pergunta: Se o senhor pudesse falar alguma coisa para o Esquadrão... O que falaria?
Resposta: Olha, eu gostaria que o tempo não tivesse passado e eu estivesse lá até hoje. Que aquilo ali foi uma vida de dedicação, mas aquilo que eu disse: eu nunca trabalhei no 2º/10º. Sempre foi um prazer enorme, o cara acordar de madrugada e sair carregando, arrumando mala. Sempre foi uma das coisas mais gratificantes durante os meus 70 anos de vida, foram esses 17 que eu ali passei. Prazer, alegria, esforço, sempre estar procurando melhorar para fazer a diferença para os outros. Para mim, eu nunca fiz nada. A ideia do esquadrão é essa, é por isso que o lema é esse: para que outros possam viver. Eu não sou importante, os outros sim.
Pergunta: O senhor contou várias histórias, mas tem alguma mais marcante na sua carreira?
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Resposta: Tem muitos momentos. Teve um que foi um misto de alegria, tristeza, raiva. Vontade de pegar o pai do menino e meter o cacete nele. Saímos daqui e fomos para Corumbá, para pegar um menino que tinha se queimado e trazer para Campo Grande. Chegando lá, descobrimos que era um casal, tinha dois filhos. Moravam em um sobrado e saíram para dançar, e deixaram as duas crianças em casa. Dois meninos pequenos e foram dançar. Trancaram os meninos em casa e foram. Deixaram um ventilador ligado e ele deu um curto e a casa pegou fogo. Um sobradinho todo gradeado. O menorzinho, que trouxemos para cá com o pai, conseguiu passar pela grade e chegou lá embaixo, o maiorzinho não teve como sair. Então ficou a mãe enterrando um lá em Corumbá e nós trouxemos um bastante queimado, graças a Deus tudo bem, e levamos de volta, mas que deu raiva do pai dele, deu. Da irresponsabilidade do pai de fazer isso. Um morreu queimado e o menor se jogou, mas escapou. Ali eu vim com aquele pensamento, olhava para aquele menino e pensava nos meus que também eram da mesma faixa etária e pensava: que irresponsabilidade desse pai! Fiquei com pena dele, mas ao mesmo tempo fiquei com raiva. Como é que o cara deixa as crianças trancadas na casa gradeada e vai sair para dançar e não tem uma janela para criança pular. Ali me deu um misto de pena e raiva desse pai. Isso a gente viu muito.
Pergunta: Como foi a missão do Garcez?
Resposta: A do Garcez nós fomos acionados aqui, o Paulo foi, inclusive, no meu avião. Nós fomos acionados ao entardecer, dormimos em Porto Nacional e eu escutava... Naquela época ele tinha um elt, mas o elt ainda não era obrigatório. Então ele tinha um elt usado erradamente que era pra mar, é um que é acionado com o contato com a água. Mas eles caíram em terra. Então o que eles fizeram: para acionar, eles acionaram quando alguém urinava ali, urinava em cima dele, mas ele dava o sinal fraquinho porque não era... E a gente perdia o sinal, saía desesperado. Quando conseguimos chegar, no outro dia à tarde, que foi localizado, o helicóptero chegou, conseguiu resgatar os primeiros feridos, que estavam mais graves. Na realidade, o Garcez deu muita sorte. Eles deram muita sorte porque Deus ajudou. Era para ter morrido tudo. Porque as asas foram
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amortecendo... Ele não pegou uma Castanheira pelo charuto, as asas foram amortecendo a queda. E os que morreram, morreram porque as cadeiras soltaram e os de trás prensaram os da frente. Mas pela situação... ali foi uma bobeira, aquele segundinho de bobeira, né. Porque o acidente não foi uma coisa só, foi uma sucessão de coisas que vão acontecendo e acaba. Se você interromper aqui, não acontece lá. É tipo um dominó - se você tirar uma peça daqui, ele não derruba tudo. Ali foi uma missão das mais pesadas. Ali o povo do resgate... Porque nós ficamos como Bandeirantes, nós chegamos no local, pousamos na fazenda. Nós estávamos acho que em três Bandeirantes. E a base de apoio ficou sendo Cachimbo, que dava 30, 40 minutos de voo pro helicóptero não perder tempo, porque não tinha reabastecimento. Então a gente decolava levando os feridos, enchia o avião de combustível até o talo, voltava para a fazenda, retirava o combustível do helicóptero e ficava só com o mínimo para a gente chegar de novo. Aí juntava mais feridos, levava... Então o helicóptero ficou ali o tempo todo sem precisar sair, porque o helicóptero, se tivesse que sair para reabastecer, aí ia demorar um mês. Então nós íamos para Cachimbo, levava os feridos e trazia o tanque cheio de combustível para tirar para o helicóptero não parar a missão. Ali foi uma missão legal, embora um drama filho da mãe daquele povo. Mas, felizmente, a maioria escapou.
Pergunta: Então, como foi saber que tinham sobreviventes naquele desastre?
Resposta: Quando o pessoal chegou, o primeiro helicóptero ali, eles tomaram pé da situação. Então já selecionaram aqueles mais [feridos], os outros estavam bem. Os outros não tinham tanta pressa. Claro, tinha que tirar, mas aqueles primeiros dez ou doze que eles tiraram, que tiraram naquela tarde, aqueles eram os mais críticos. E felizmente, só essa senhora faleceu, mas faleceu porque ela relaxou. Ela estava bem, conversando com a gente... Aí faleceu. Ela dormiu e pronto. Porque nós corríamos o risco de decolar sem abastecimento, sem combustível para ciscar. Era decolar e chegar. E não era pista, era um pasto, com cupinzeiro. E noturno, quer dizer, quando ela faleceu, não tinha mais a necessidade da gente correr o risco. Não tem mais o que fazer por ela. Com ela viva, nós íamos sair, chegamos a taxear. Eu, pelo menos, não tinha pego uma missão com tanta gente. Normalmente é um avião pequeno, três, quatro, cinco... Ali foram dezenas de
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vidas. Foi uma missão complicada, uma missão dura. Mas felizmente correu tudo bem. Os caras cortaram árvores com machado, e eles tinham que abrir a clareira para o helicóptero chegar. Os caras passaram a noite no facão para derrubar árvore. Atendendo o pessoal, acalmando e revezando lá no facão para, de manhã, o helicóptero pousar no lugar.
Pergunta: Como esse voo teve sobreviventes, teve esse fator a mais que é você lidar com o desespero das pessoas. Como foi isso?
Resposta: As pessoas que escaparam, elas não estavam... Eles ficaram meio anestesiados. Porque quando passa o sufoco, depois as coisas tendem a se acalmar. Quando eles se sentiram seguros, viram que estavam apoiados, localizados, estavam achados, depois que o cara vai cair a ficha. Ali no momento parece que o cara dá aquela... Foi o que, infelizmente, aconteceu com essa senhora. Ela estava na adrenalina e de repente, quando ela se sentiu dentro do nosso avião, segura, apoiada e medicada, ela parece que desistiu. Então ela estava lutando e, de repente, foi que ela faleceu. Faleceu sem dizer uma dor, nada, nada, nada... Conversando com a gente, perguntando pela irmã. Preocupada com a irmã, porque a irmã ficou, como tava melhor. Tiveram que selecionar aqueles que estavam mais graves para ir embora logo. Eles ainda ficaram mais uma noite no mato, com o nosso pessoal. Acompanhados do nosso pessoal do resgate. Atendendo um, atendendo outro, acalmando a situação.
Pergunta: Alguma vez o senhor presenciou alguém que cometeu um erro por conta dessa adrenalina do momento?
Resposta: Não. Nosso treinamento era muito forte, nós tínhamos muito treinamento. Muito treinamento. Que eu lembre, não vi ninguém. Porque ali a gente sempre se apoiava muito e o treinamento entrava nisso. O treinamento é importante porque a gente aprende as coisas não é por aqui, a gente aprende é por aqui - fazendo, acompanhando. Então, o treinamento era - e acho que continua sendo - o dia inteiro. Sempre treinando, sempre se aprimorando, sempre procurando aprimorar os métodos. Mas às vezes tinham
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situações que não eram previstas, mas não lembro de ter perdido ninguém por alguma omissão, alguma bobeira nossa. Nosso pensar era, e digo pelos 17 anos que passei lá, mas era muito imbuído aquilo que nós tínhamos que fazer. Muito. Se dava muito sangue, muito sangue. Procurar sempre cumprir o que o treinamento determinava.
Pergunta: De onde o senhor acha que surge esse Espírito?
Resposta: Quando eu cheguei já tinha, porque o Esquadrão é de 57, eu cheguei 20 anos depois. Então, essa coisa já existia e eu não sei como ela vai se transmitindo, porque eu via os caras mais antigos que eu, e aquilo era uma doutrina. Aquilo entrava no sangue sem esforço nenhum. E os outros passaram, eu passei pros outros, os outros que eu passei, passaram pros outros... Sem ninguém tocar no assunto a coisa vai acontecendo. Esse espírito, esse vestir a camiseta, esse comprometimento com a missão. Então é o que eu disse, a gente não tá pensando no aniversário do filho. Claro que é importante, mas naquele momento, não tinha importância nenhuma. E não tinha mesmo. Naquele momento, não. Ali não tinha tempo para isso. O foco era a missão. O foco de todos nós era a missão. Então, a gente não se preocupava se tinha almoçado, se tinha jantado, se tomou café, se estava com sede... A gente não tinha tempo para pensar nisso.
Pergunta: Quando o senhor entrou no Esquadrão, quais eram as aeronaves utilizadas?
Resposta: Era o SA-16, que era o Albatroz e o helicóptero velho de guerra já estava lá.
Pergunta: Quando o senhor veio para cá, presenciou essa troca?
Resposta: Sim, quando nós viemos para cá, que houve uma ruptura - depois do acidente em 80, que o Albatroz foi desativado - nós ficamos sem avião. Nós chegamos em Campo Grande operando no P-95, que era o avião-patrulha. A Base Aérea de Salvador nos emprestou três patrulhas, até porque o Bandeirante, o SC-95 estava em construção na Embraer. Nós ficamos um tempo sem o Bandeirante, e esse tempo foi coberto pelo P-95,
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que era o patrulha. Era um avião inadequado, ainda, não tinha preparo nenhum, não era um avião específico para busca, mas era o nós tínhamos. Porque o Albatroz, embora fosse um avião antigo, era um avião equipado para busca. Então, nós ficamos um ano, acredito, operando no P-95 até entregarem o Bandeirante de busca e salvamento que era o SC-95. Aí nós também ficamos sem helicópteros, começaram a mandar de volta os helicópteros que nós tínhamos entregue. Porque o Esquadrão receberia, na época, o pro mar, só que, quando a Base veio para Campo Grande, mudou o planejamento. O pro mar foi para o Rio de Janeiro e nós ficamos sem helicóptero aqui. Aí começamos a pegar de volta os helicópteros que nós tínhamos entregue em Santa Maria, em Santos...
Pergunta: Sobre o que é o Código de Honra do Esquadrão Pelicano?
Resposta: É meu dever... Alguma coisa sobre meu dever e tal, e terminava com "para que outros possam viver". E dito assim, não é aquele negócio... Agora, você no calor de uma missão, na hora em que termina uma missão, que foi tudo certinho e você ouve isso... É um reconhecimento que não é de ninguém de fora, não é o jornalista, o presidente que está dizendo... Somos nós que estamos reconhecendo o nosso próprio trabalho. É um colega, um cara que viveu contigo e treinou contigo que tá ali contigo, e ele que tá te transmitindo isso com orgulho, com muita satisfação como se fosse eu que estava na missão. Aquilo chega a arrepiar todo mundo. É uma coisa que não tinha quem resistisse, quem não chorasse. É muito legal, muito legal.
Pergunta: Se o senhor tivesse a oportunidade de voltar, o senhor voltaria?
Resposta: Com essa idade, não, porque aí eu iria decepcionar os outros. Eu não tenho mais preparo físico para aguentar o tranco, porque exige muito, não só mentalmente como fisicamente. Eu lembro que essa última missão, do Garcez, ali eu raciocinei que eu estava com medo de começar a preocupar minha equipe por minha causa. Ali me despertou que estava na hora de eu ir embora. Senão, eu iria começar a atrapalhar.
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Pergunta: Se fosse para o senhor deixar alguma frase, algum pensamento para as próximas gerações que vão usufruir ou trabalhar no Esquadrão... O que o senhor gostaria de dizer?
Resposta: É complicado, porque eu acho que não tem missão mais gratificante que essa. Não tem nada mais gratificante do que você chegar em casa e ter a certeza que deu o seu melhor e que aquele seu melhor realmente foi o melhor para uma outra pessoa, e que aquela pessoa jamais vai lhe esquecer. Mesmo que você nunca mais veja aquela pessoa, tenho certeza de que ela jamais vai esquecer. O presente, na realidade, não é de quem nós salvamos, o presente foi eu que ganhei. Essa satisfação, esse prazer de dizer "pô, valeu a pena. Valeu a pena. E vale a pena".
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3. Frederico Reis, coronel do Corpo de Bombeiros Militar Entrevista realizada no dia 26 de setembro de 2017, 15h00, no Quartel do Comando Geral do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul. Pergunta: Como foi a experiência de sofrer um acidente e ser resgatado?
Resposta: Sou o Coronel Frederico, do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul. Entrei na nossa corporação no ano de 1995 e durante esses anos de carreira, teve um fato muito peculiar, interessante na minha carreira, que foi de sofrer um acidente aeronáutico no ano de 2001. Em agosto de 2001, teve um grande incêndio florestal aqui em Mato Grosso do Sul, na Serra da Bodoquena, que foi uma grande operação, onde foram empregados diversos homens, equipamentos, materiais e até foi utilizado o uso de aeronaves para o combate nesse incêndio florestal. Em um desses combates, eu estava tripulando uma aeronave agrícola que nela estava carregando água para gente fazer o combate direto às chamas. E neste dia, 23 de agosto de 2001, eu sofri um acidente com essa aeronave no combate às chamas, na Serra da Bodoquena. Nesse acidente, causou a morte do piloto da aeronave, que era um piloto terceirizado pelo Ibama, um funcionário civil, e a minha pessoa veio a sofrer diversas fraturas e, graças a Deus, nada mais sério e hoje estou aqui fazendo esse depoimento pra narrar qual o sentimento de ser resgatado, sendo que a gente foi treinado, capacitado e formado para resgatar. Então, é algo que a gente, quando entra nesse espírito de resgate, quando entra nessa profissão de ajudar o próximo a salvar e a resgatar, a gente não espera que um dia a gente seja resgatado. E eu tive esse prazer - porque hoje eu estou vivo - de ter vivenciado os dois lados. Sempre resgatei e um dia eu precisei ser resgatado. Hoje eu estou aqui, podendo falar, e continuei minha carreira. Já se passaram 16 anos do ocorrido e minha carreira seguiu normalmente, sem nenhuma sequela. Trabalhando e continuando resgatando. Eu dedico essa continuidade da minha vida e carreira ao bom resgate que eu tive, bom resgate dos bombeiros que foram treinados e capacitados para me abordarem no local, me retirarem da aeronave. Bem resgatado porque eu tive um serviço aéreo especializado por parte do SAR, por parte do Esquadrão Pelicano, da Força Aérea Brasileira, que, essa cadeia de resgate, essas sucessões de atendimentos especializados, fez com que eu estivesse hoje aqui, fez com que eu tivesse uma boa recuperação das minhas fraturas,
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fez com que eu estivesse saudável hoje para estar completando basicamente aí, praticamente 16 anos do meu resgate. Então, essa atuação das equipes em todo esse desenvolvimento desse meu acidente vem basicamente da essência dos homens que ali estavam envolvidos, de se dedicarem ao Corpo de Bombeiros, se dedicarem à Força Aérea, se dedicarem ao Esquadrão Pelicano com o espírito único e mútuo, e comum, de salvar, de atender ao próximo, de estender o braço mesmo nas situações de dificuldade, atender àquele que mais necessita. Então, todo esse meu acidente, a minha condição hoje, meu bem estar hoje foi uma consequência de atendimentos bem sucedidos.
Pergunta: Como foi o acidente?
Resposta: O acidente ocorreu no dia 23 de agosto de 2001. Eu estava responsável por uma equipe que estava fazendo o combate às chamas em solo dentro da Serra da Bodoquena e nós tínhamos a missão, como oficiais, de estar coordenando essas equipes. Então, existiam dois períodos do dia que nós teríamos que fazer um sobrevoo para plotar, identificar novos focos e ver se aqueles que as equipes estavam trabalhando, atuando, eles tinham sido resolvidos. Ou seja, apagado as chamas. Então, essa minha saída no dia 23, aproximadamente umas 11 horas da manhã, foi quando eu subi na aeronave Dromader (uma aeronave civil, aeronave essencialmente agrícola), que tem uma capacidade de armazenamento de água para fazer esse tipo de atendimento. E eu, juntamente com o piloto, fui fazer um sobrevoo em toda área. Não era uma missão de lançamento de água nas linhas de fogo, mas era uma missão de reconhecimento das áreas - se já tinham sido resolvidas e a identificação de novos focos. E nessa saída, foi no final da manhã, por volta de 11 horas, a gente fez o sobrevoo muito tranquilo, um sobrevoo baixo para identificar e plotar no GPS aonde estavam localizados os novos pontos de foco de fogo. Nessa saída, infelizmente, a gente não conseguiu retornar. No meio da nossa missão, a aeronave, não sei te informar, não foi fechado o inquérito que determinou a causa do acidente, e a nossa aeronave teve uma perda de altura, vindo a colidir na Serra da Bodoquena. E nessa colisão, veio o nosso piloto a morrer e eu fiquei desacordado por um bom período de tempo na aeronave. Sendo identificada a nossa queda logo de imediato pelas equipes que trabalhavam na área, aí iniciou todo o processo
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de atendimento, de socorro - o acionamento das equipes de terra para localizar a aeronave, o acionamento do Esquadrão Pelicano para dar o apoio de retirada, da minha retirada da mata, da serra, e isso se perdurou umas 6 horas. Eu só fui ser localizado e retirado pelas equipes no final do dia 23 de agosto. As pessoas, os militares que fizeram meu atendimento, os militares que tiveram esse espírito de resgate, esse espirito de atendimento ao próximo... E um próximo tão próximo, né, que era um companheiro de serviço, um companheiro de farda... Eles me narraram que a situação mais difícil desse resgate foi a colocação da minha pessoa na maca na aeronave do Esquadrão Pelicano. Haja visto que a aeronave não poderia pousar, não tinha local de pouso, em uma mata muito densa na Serra da Bodoquena e a aeronave teve que fazer um voo pairado, com grande destreza do piloto. Faço até uma homenagem ao piloto do meu resgate, na época, Tenente Singi, hoje em memória, né, faleceu num acidente aeronáutico dentro da Base Aérea de Campo Grande, fazendo um treinamento, ele veio a ter um acidente aeronáutico no mesmo tipo de helicóptero que veio fazer o resgate, mas no dia, ele fez um voo pairado, de grande dificuldade. As pás do motor da aeronave batiam no topo das árvores, na copa das árvores, e foi bem arriscado, mas foi com êxito, com aquele espírito de arriscar a vida para salvar o próximo e, com isso, a gente foi retirado da mata e foi deslocado para a cidade de Bonito para o primeiro atendimento médico. Como o piloto estava falecido no local, e pelo longo período que demorou o resgate, ele infelizmente só foi retirado no outro dia de manhã, com a mesma equipe que retornou ao local, logo que amanheceu, para retirar o corpo do piloto que estava preso às ferragens da aeronave. Em consequência disso, eu saí do hospital de Bonito e fui transferido para o Hospital Santa Casa de Campo Grande. Isso tudo aconteceu no mesmo dia, com uma grande força tarefa montada. O Corpo de Bombeiros, o Corpo de Bombeiros Militar retirando do local, o Esquadrão Pelicano conduzindo até o hospital de Bonito e aí uma aeronave também do Esquadrão Pelicano, um Bandeirantes, vindo de Campo Grande até Bonito para retirar, fazer minha retirada de Bonito para a Santa Casa de Campo Grande.
Pergunta: Como foi pro senhor no momento a realização de que você estava caindo e ia se envolver em um acidente?
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Resposta: Então, como que eu posso dizer... A sensação que eu tive de estar caindo... Todo mundo, quando embarca num avião, pensa assim, né: “puts, se esse avião cair... será que vai dar tempo de…”. Hoje, com essa tecnologia nas nossas mãos, pode dar tempo de eu mandar uma mensagem “ó, tô caindo... amo todo mundo”. Na verdade, nosso cérebro é tão perfeito que ele apaga essa memória, apagou essa memória da minha cabeça. Eu não lembro de nada, eu lembro que eu estava sobrevoando, olhando, buscando os focos de fogo e, de repente, eu acordei no meio da mata, sendo resgatado. Não lembro de nada que aconteceu. Deve ter demorado um tempo de queda, né, porque a gente estava numa certa altura considerada. A última visão que eu tinha era uma visão, uma altura bem considerada para a aeronave, e não me recordo simplesmente de nada. Fazíamos uma curva, na hora que o avião se posicionou na posição horizontal, eu acordei no meio do mato. Então, tudo quebrado, ensanguentado, a aeronave toda amassada... Eu acordei com gente me retirando dessa aeronave. Não tive sensação nenhuma, a sensação foi depois de você se antenar de que “puxa, caí de avião”. O piloto faleceu e hoje estou aqui contando a história, narrando e trabalhando.
Pergunta: Como é pro senhor conviver com esse espírito de também viver cada dia em prol de uma outra vida?
Resposta: Bem, conviver com esse espírito de resgate, esse espírito de salvamento, é algo que está destinado na pessoa. Ela pode conviver isso diariamente, como o Corpo de Bombeiros, o seu serviço de atendimento ao cidadão, diuturnamente, 7 dias na semana, 30 dias no mês, 12 meses no ano, e isso pode estar entranhado - e deve estar - entranhado no espírito SAR do Esquadrão Pelicano, que está preparado para atender isso. Então, a alma do resgatista, independente se ele atende uma, duas, dez ocorrências por dia, ou atende uma por ano, é esse espírito que faz ele arriscar a vida em prol da vida dos outros. A gente tem um lema do Corpo de Bombeiros que é mais abrangente, é "vidas alheias e riquezas salvar". Ou seja, a gente trabalha pra salvar vidas, bens, patrimônios, que são as riquezas do ser humano. A vida e o patrimônio.
Pergunta: Por que o senhor escolheu ser bombeiro?
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Resposta: Porque esse espírito de salvar, ajudar o próximo, dedicar a sua vida a salvar pessoas e bens eu tenho em casa. Meu pai é coronel da reserva do Corpo de Bombeiros e eu convivi isso por 21 anos da minha vida. Então, quando eu entrei no bombeiro eu tinha 21 anos e meu pai tinha acabado de se aposentar como coronel. Hoje, eu tenho 22 anos de bombeiro e tenho dentro de casa meu pai, que já está há 23 anos na reserva. Então, esse espírito, igual eu acabei de dizer, a alma, o espírito de quem salva e resgata já acompanha a pessoa. A gente é escolhido, mesmo que a gente não saiba que é isso que a gente quer. Porque eu nem pensava em ser bombeiro, fazia faculdade de administração e meu pai já estava na reserva, em casa. E eu passando, observei um banner “venha ser oficial do Corpo de Bombeiros” e falei “ah, vou fazer essa inscrição aí para ver que que dá” e fiz a inscrição, passei nas fases, fui chamado, fui designado a fazer o curso de 3 anos de oficial e depois que você entra, que você passou a quarentena, os 40 primeiros dias do curso de 3 anos.... Você aguentou, passou, superou a quarentena, o vírus do resgate, do salvamento te contamina. Aí é só quando a gente morre.
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4. Paulo Cruz, Suboficial da reserva Entrevista realizada no dia 06 de outubro de 2017, 15h00, na casa do entrevistado.
Pergunta: Pode começar se apresentando, por favor...
Resposta: Meu nome é Paulo Henrique Cruz, eu tenho 50 anos, cheguei no Esquadrão em 1987 e trabalhei até dois anos atrás, dois anos e meio atrás. Fiquei 30 anos, 28 anos praticamente, na Base Aérea de Campo Grande. Desses 28 anos, a metade foi no Esquadrão Pelicano.
Pergunta: Você pode contar pra gente um pouco sobre a história do Esquadrão?
Resposta: Sim, o Esquadrão Pelicano nasceu em 1956. Havia uma necessidade, a aviação no Brasil, ela estava crescendo e precisava ter alguém que cuidasse da aviação, na parte de acidente. Como a aviação aumentava, o número de acidentes também aumentava. Então, voltando um pouquinho, se a gente for falar a origem... A história da busca e salvamento nasceu no tempo da Guerra. Era muito mais fácil você construir um avião do que formar um piloto. Então havia necessidade de se resgatar os pilotos que eram abatidos em combate. Começou a se desenvolver uma técnica de salvamento. No primeiro momento, os canais aconteciam muito sobre o mar e se colocavam kits, botes com equipamento de sobrevivência pra que, se o piloto caísse, ele pudesse acessar, chegar a um daqueles botes e conseguir se salvar. Mas isso era muito ineficaz porque o avião podia cair em qualquer lugar. Então a Força Aérea dos países aliados, que envolvia os Estados Unidos e outros países, começaram a pensar em uma maneira eficaz para resgatar esse piloto. E aí começou um serviço que chama SAR - Search and Rescue, que também é a sigla que... É uma sigla adotada no mundo inteiro. Então por tratados internacionais, os países que fazem parte desse tratado, eles precisam ter o Esquadrão de Busca e Salvamento. Você imagina, um avião que vem dos Estados Unidos por exemplo, que vai sobrevoar aqui o Brasil, o americano precisa saber que aqui tem também um esquadrão que pode resgatá-lo. O Esquadrão foi criado em 1956, na Base Aérea de São Paulo, em Cumbica, para dar esse suporte. Na época, a Amazônia tava
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sendo explorada, então o Esquadrão tinha uma base avançada também em Belém. Então o Esquadrão ficava meio dividido. E a aviação foi crescendo, foi crescendo a necessidade de você melhorar esse serviço, não era só pra aviação militar, mas era pra toda a aviação. Havia a necessidade de crescimento. Então o Esquadrão foi transferido depois para Florianópolis. O Esquadrão operava com aviões anfíbios, aí ficava mais fácil você decolar da Base Aérea de Florianópolis, que ela fica na frente do mar. Então o Esquadrão ficou ali por um bom tempo e quando foi em 1981, ele foi transferido para Campo Grande. Se a gente pegar Campo Grande, você botar o dedo no meio do mapa do Brasil, quase da América do Sul, você vai ver que Campo Grande tá mais ou menos no meio. Então por questões estratégicas, era muito interessante ter um Esquadrão que pudesse em poucas horas de voo atender o Brasil inteiro, porque o Pelicano é um esquadrão que faz missão em todo o território nacional. Então Campo Grande foi uma base estratégica pra colocar o Pelicano. E aí os aviões anfíbios, que não tinha mais fundamento você ter um avião anfíbio no Centro-Oeste, porque ele precisa de água pra decolar, então ele começou, a aviação ela foi sendo substituída pelos Bandeirantes. Então o Albatroz, que era o avião anfíbio, foi substituído pelo Bandeirante, que era um avião de fabricação nacional. Isso inclusive era um incentivo pra própria Embraer, que era a fabricante do avião, pra que a Força Aérea usasse o Bandeirante. O Bandeirante foi adaptado pra missão de busca e salvamento, não era o avião ideal, né, porque o avião ele tem asa baixa, então a busca é toda visual, então aquela asa ela atrapalha, porque a gente fica atrás do avião fazendo observação, numa janela, e a asa do avião atrapalha. Então não era o avião ideal, mas era o que a gente tinha. Junto com ele também o helicóptero UH-1H, que depois mudou de nome e ficou H-1H, que é o famoso Sapão. Os helicópteros que voavam lá na Guerra do Vietnã eram os mesmos que voavam aqui com a gente. Essa era a aviação que a gente tinha. E aí, nos anos, começo dos anos 2000, esses aviões foram substituídos pelo C-105 Amazonas, que é um avião mais moderno, um avião espanhol grande. Aí esse sim, agora o Esquadrão está bem adequado para as suas missões.
Pergunta: Qual era a sua função no Esquadrão?
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Resposta: Eu fui voluntário, quando vim para Campo Grande. Quando eu era pequeno, morava no Rio de Janeiro, perto do Campo dos Afonsos, que é uma base no Rio de Janeiro, no subúrbio carioca. Em cima da minha casa, passavam os aviões da brigada paraquedista. Passavam os paraquedistas ali e eu ficava vendo. Eu falei "puxa, eu quero ser um militar especial. Não quero ser um militar comum. Eu quero ser um militar, mas eu quero fazer algo diferente". Mais para esse lado operacional. E aí quando eu estava na... Fui para a escola militar, minha família, meu avô é militar, meu pai é militar, então é aquela coisa da... A gente vai carregando isso junto, né. E quando eu fui para a Escola de Especialistas de Aeronáutica, em Guaratinguetá, eu fui conhecendo mais os esquadrões da Força Aérea, e eu sabia que tinham dois esquadrões que eu gostaria de ir. Um era o PARA-SAR, no Rio de Janeiro, que é um Esquadrão mais de operações especiais, um Esquadrão também muito operacional. E tinha o Segundo do Décimo em Campo Grande, que era o Esquadrão de Busca e Salvamento. E eu falei "eu tenho que ir pra um desses dois". Quando eu me formei, abriu a vaga em Campo Grande, e eu mais do que rapidamente, vim pra... Fui voluntário para vir para o Esquadrão. A minha especialidade... Eu fui da equipe de resgate, então ali você tem várias especialidades. Você tem o mecânico, o rádio telegrafista, o infantaria, o enfermeiro. Eu era o equipamento de voo. O equipamento de voo é quem cuida dos equipamentos da aeronave. Paraquedas, kit de sobrevivência, de vários equipamentos da aeronave. E eu queria ser da equipe de resgate. Então, eu cheguei em Campo Grande, aí fui voluntário pra fazer o curso de resgate. Não é um curso fácil, é um curso que exige muito fisicamente, psicologicamente, mas eu consegui, era novo, eu brinco que isso foi 20 quilos atrás. A gente... Eu queria muito. Fui fazendo os cursos e aí a gente foi progredindo ali na carreira militar até virar instrutor de resgate. Aí ficou mais fácil.
Pergunta: E de onde veio essa vontade de ser resgateiro?
Resposta: Então, assim... Eu acho que essa... Não sei se isso faz parte de um sonho que a gente tem de... Sei lá, hoje, até nos filmes a gente vê aquele soldado mais especializado, aquela coisa de ser realmente uma pessoa diferente. E o fato de ser da equipe de resgate é algo que me deu muito orgulho. Eu tive assim o privilégio de
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participar, eu falo, das melhores missões de resgate da minha era. Tive o privilégio de... Deus me colocou lá naquele momento, eu fui lá e consegui fazer a missão. Então foi muito bom. Era uma vontade muito forte. De realmente ser um militar, mas ser um militar diferente. Um militar que realmente tivesse um sentido a mais. Não só ficar no quartel, mas que realmente tivesse um sentido diferente.
Pergunta: Tem algum momento marcante na sua carreira que você sempre se lembra? Alguma coisa que aconteceu que te marcou?
Resposta: Tem vários momentos. Como eu falei, as missões são muito marcantes. Em 1989, caiu um Boeing da Varig com 54 pessoas a bordo e 45 sobreviveram. Eu tive o privilégio de fazer parte da primeira equipe que chegou no local desse acidente. Foi uma missão muito desgastante física e psicologicamente porque a situação era muito difícil. Isso foi em 1989, a gente tinha... Os nossos equipamentos eram muito precários ainda, nossos equipamentos que a gente carregava eram até meio improvisados. Tinha alguma coisa, mas não era o que se tem hoje, hoje a gente tem um equipamento muito bom pra dar suporte médico, né, hoje melhorou muito. Mas a missão foi difícil pra chegar no local, nesse acidente eles caíram num domingo à noite e a gente só foi chegar na terça-feira. Então assim, esse avião caiu no domingo, a gente só foi conseguir chegar no local na terça-feira, no final da tarde. E quando a gente desceu no rapel, não tinha como saltar, não tinha área nem pra fazer um salto de paraquedas, nada, a gente tinha que descer no rapel. E eu lembro assim... O local era de difícil acesso, aquelas árvores da Amazônia gigantes, a gente desceu no meio duma árvore caída, duma galhada, até a gente sair daquela galhada já foi muito difícil, porque imagina você no meio de uma árvore caída. E quando a gente foi chegando perto dos sobreviventes, alguns que podiam andar vinham, nos abraçavam, choravam. Algumas pessoas pediam "me tira daqui", outras pessoas a gente ia atender e "não, não precisa se preocupar comigo", então a gente vê também a reação de cada pessoa. Essa foi uma missão muito marcante, pelo número de pessoas que estavam lá vivas, que precisavam do nosso socorro, e nós éramos só em quatro militares, tinham 45 sobreviventes. Depois, à noite, chegou uma equipe por terra que aí sim a gente conseguiu melhorar o atendimento, mas foi uma situação muito tensa. E eu
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lembro que a gente ficou nessa missão... Entre a gente chegar e sair, 42 horas trabalhando. Sem dormir, comendo muito pouco, se alimentando... Porque não tinha, a comida e água que a gente tinha a gente direcionava pros sobreviventes, então a gente ficava ali perto da exaustão. E quando a gente voltou pra base de Cachimbo, que a gente comentava "poxa, agora a gente vai desmaiar, a gente vai deitar na cama e vai dormir três dias sem parar". Mas quando eu deitei na cama, eu não consegui dormir. As imagens do resgate, aquilo vinha na minha cabeça, parecia um filme, se repetindo, de tão forte que era a situação que a gente tinha vivido, foi muito forte. E aí a gente comentou "daqui a 100 anos, as pessoas ainda vão estar lembrando do que a gente fez", porque foi uma missão realmente muito marcante. E aconteceram outras, menores. Eu lembro também de uma cozinheira de garimpo que caiu na Amazônia num avião que tinha cinco pessoas, ela foi a única sobrevivente. Ela chama Maria Aparecida da Silva, uma cozinheira, um metro e meio de altura, e o avião caiu numa situação muito difícil, caiu num morro e a gente chegou... Conseguimos chegar até ela mais de 30 horas depois da queda. E ela tava bem machucada, tava com fratura na costela, luxação de ombro, fratura no fêmur... Ela tava bem machucada. Mas quando a gente chegou até ela... Uma das pessoas que estavam no avião, já morta, tava em cima dela, ela tava presa entre os corpos. E ela falou um negócio muito bacana assim pra gente, ela falou "olha, se vocês não tivessem chegado eu ia virar comida de onça". Porque ela, à noite, e ela era uma mulher da selva, uma cozinheira de garimpo, acostumada, ela falou que escutou onça, animais rondando o avião à noite, e se a gente não chega, a probabilidade era ela ter virado comida de onça mesmo. Então são missões marcantes, e cada missão que a gente faz, cada situação que a gente enfrenta, ela é marcante, independente de quantas pessoas estão ali. A gente tem essa vontade, a gente sabe que, até no nosso lema, no hino, que diz o seguinte "por uma vida, a ordem é lutar", então pode ter um acidente com 100 pessoas ou com uma só. O nosso empenho é pra salvar todo mundo. E as missões também, algumas que marcam, são aquelas que a gente não resgatou. Não achou. Tem uma que me marcou muito, até hoje eu penso nisso. A gente tava em Alta Floresta, um piloto sozinho num avião e ele caiu, desapareceu. E nós fomos pra lá e todo dia, quando a gente pousava e quando a gente decolava, o pai do piloto tava lá no aeroporto. Sempre trazia um refrigerante, trazia um queijo, um biscoito. A gente falava que não precisava e ele "não,
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mas vocês estão procurando meu filho, tenho certeza que vocês vão achar, o meu coração de pai sabe que ele tá vivo, meu filho tá vivo, vocês vão achar". E a gente voou quinze dias procurando aquele avião, até mais do que... A gente cobriu toda a área, era um avião muito pequeno e a área era muito grande, ele podia estar em qualquer lugar. E nós prolongamos aquela missão por mais uma semana e nós não achamos aquele avião. E quando nós voltamos, que pousamos pra encerrar a missão, o pai dele virou e falou assim pra gente "olha, eu tenho certeza que meu filho tá vivo. Eu sei que vocês cumpriram a missão de vocês, mas o meu coração de pai diz que ele tá vivo". Então essas missões marcam muito a gente também.
Pergunta: O que é o Espírito SAR?
Resposta: O Espírito SAR é uma coisa difícil de a gente explicar. É uma vontade, uma dedicação, é aquela certeza que você tem que cumprir a missão. Esse Espírito SAR é algo que é muito forte no integrante do Esquadrão Pelicano. É a certeza que a gente tem de cumprir a missão, independente da situação, do tempo, se esatá chovendo, se é Natal, se é Ano Novo... A gente tem que cumprir essa missão. No nosso lema a gente diz o seguinte: "vamos cumprir a missão colocando-a acima de meus interesses pessoais e bem-estar". Isso é fato, é um juramento que a gente faz. Então a gente realmente precisa, e ninguém tem dúvida. Quando cai um avião, quando uma missão é acionada, a gente não pensa se é meu aniversário ou se é aniversário do meu filho, ou se a esposa tá grávida. É uma dedicação, é algo muito pessoal e o integrante do Esquadrão Pelicano tem que viver isso. Aqueles que não são assim, não ficam entre nós. É bem assim. Se a pessoa não tem o que a gente chama de Espírito SAR... E a gente já perdeu muitos amigos, muitos companheiros em treinamento, a gente até lamenta isso, mas na missão a gente se arrisca. Eu já me arrisquei muito, já achei que ia morrer várias vezes, mas sabia que estava fazendo a missão e sabia que estava fazendo o que era certo. Então o Espírito SAR é isso: é você viver a missão, sem titubear um minuto, você vai cumprir a missão.
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Pergunta: O senhor acha que, às vezes, essa busca de ser sempre perfeito na missão pode acabar atrapalhando?
Resposta: O nosso treinamento é realmente muito intenso. E a gente treina na paz, para sofrer menos na guerra. Isso é uma máxima também no militar. Então o nosso treinamento às vezes é até mais intenso do que a missão. É claro que a missão é sempre permeada de muita emoção, no nosso caso, a gente sabe que tem alguém ali que depende da gente para continuar vivo. É uma carta que está fora do baralho e a gente vai trazer ela de volta pro jogo. Tem pessoas que já se consideravam realmente fora, "eu vou morrer". Uma vez a gente resgatou um senhor que estava num veleiro. Esse veleiro naufragou, ele foi para um bote-sobrevivência, ficou seis dias perdido no mar e ele, quando a gente o resgatou, ele viu o avião e nem acreditava. Ele falou "pô, esse cara não pode estar aqui por mim". "Poxa, eu já era carta fora do baralho e agora eu sou a bola da vez". Então ele foi trazido à vida de volta. Isso é muito intenso. Nosso treinamento tem que ser intenso para que a missão seja mais fácil. Acidentes acontecem, como eu disse, a gente já perdeu mais pessoas do que a gente gostaria no treinamento. O treinamento é forte, mas isso também faz parte do Espírito SAR. A gente sabe que tem que ser assim. Acho que talvez essa seja uma das diferenças, que às vezes algumas pessoas me perguntam: "o militar é diferente?". Não, o militar não é diferente. O militar sabe que tem uma missão, então isso é muito importante. E a gente vai cumprir. Talvez essa seja a diferença mais básica da gente.
Pergunta: Você carrega esse espírito hoje para a sua vida fora do Esquadrão?
Resposta: Esse Espírito SAR, eu falo que, se eu fosse traduzir, é igual uma tatuagem. Ela não sai, você não consegue tirar ela. Não é uma roupa que você "ah, eu não sou mais do Esquadrão, agora eu não tenho mais". É uma coisa que você carrega. É muito comum em qualquer tipo de situação que eu me deparo na rua, um acidente, qualquer coisa, uma pessoa que precisa de ajuda, eu sou o primeiro a ir lá ajudar. Acho que é algo que fica intrínseco em você, como eu falei, é como se isso estivesse tatuado no seu corpo e você não tem como tirar isso mais.
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Pergunta: Há quanto tempo você está na reserva?
Resposta: Eu tô na reserva há dois anos, dois anos e meio. E assim, a minha vida militar, vou contar um pouquinho aqui, ela foi marcada por dois momentos. Eu entrei para a Força Aérea, sempre quis ser de um Esquadrão especial e acabei vindo parar no Pelicano, e isso realmente me enche de orgulho. Paralelo à essa minha vida militar, eu acabei fazendo uma faculdade. Eu não sei como eu fiz faculdade, porque a gente viajava muito. Eu até brinco que eu conheci minha esposa na faculdade e que no meu diploma tinha que vir o meu nome barra o nome dela, porque ela que me dava todo o suporte nas provas. Isso me ajudava muito. Aí eu comecei também, como eu sempre gostei muito de escrever, de contar história, comecei a gostar de contar as histórias do Esquadrão Pelicano também. Aí eu fui trabalhar na parte de Comunicação Social do Esquadrão, e chegou um momento em que eu tive que optar, foi uma ruptura muito grande na minha vida. Eu comecei a escrever como jornalista também, me formei na faculdade de Jornalismo, isso lá nos anos de 94, 95. Aí eu tive que tomar uma decisão muito difícil: sair da equipe de resgate. Continuei no Esquadrão por um bom tempo, dando instrução, porque eu era instrutor de resgate, então a gente dava instrução, participava de várias aulas, mas não atuava mais na linha de frente da equipe de resgate. Isso foi muito difícil. Isso aí foi uma ruptura na minha vida, mas o Espírito SAR, a vontade, o Esquadrão... ainda permanecem no coração.
Pergunta: Como você fez essa escolha?
Resposta: Eu acho que a nossa vida é feita de ciclos. Então eu já tinha vivenciado muita coisa na equipe de resgate. Eu fiz as maiores missões da nossa era, eu fiz os cursos que eu queria, viajei para lugares no Brasil que nem tem no mapa, são lugarejos que se você procurar no mapa, você não acha. A gente pousava nesses lugares, nas aldeias de índios da Amazônia... O Esquadrão é muito rico na sua missão, não é só a busca e salvamento, ele faz outros tipos de missão. Isso aí era muito bacana. E quando eu me formei em Jornalismo, eu tive a oportunidade de começar a escrever num jornal daqui de Campo Grande, e falei "puxa vida, é uma nova fase da minha vida. Eu preciso experimentar essa
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nova fase também". Como eu falei, eu continuei ligado ao Esquadrão, mas já não na linha de frente, como a gente fala, não era mais o ponta de lança, mas cada helicóptero que decolava, cada missão, cada sirene que tocava no Esquadrão, meu coração acelerava, dava vontade de ir junto porque ainda estava muito forte. Até hoje ainda é muito forte. Quando eu vejo as missões, quando a gente sabe de alguma missão, pensa "puxa, caramba, como seria legal se eu estivesse lá". Foi uma nova fase da vida e eu acabei indo para ela também.
Pergunta: Como era sua vida profissional, de viagens e resgates, aliada à sua vida pessoal, com a família?
Resposta: Enquanto a gente é solteiro, é muito fácil. Você não tem aquela preocupação com a família. Era muito comum, inclusive, de eu ser voluntário para as várias missões. Às vezes tinha um amigo que a esposa estava grávida, e "pô, você pode ir na missão pra mim?" e eu ia em todas. Era um "rato de missão", como a gente fala. Tudo que era missão, pra mim era mais fácil. Só que quando a gente começa a pensar na família, aí você já... não que você vá deixar de cumprir a missão, mas já começa a pesar mais. Mas eu falo, o homem de resgate, o militar do Esquadrão Pelicano, é esse juramento que a gente faz, a gente realmente coloca missão acima do nosso interesse pessoal. É simples assim. Essa é a regra do jogo. Se a pessoa não se enquadrar nisso... E aí algumas coisas engraçadas aconteceram, por exemplo, eu namorava uma menina, a irmã dela estava casando, e ela era madrinha. E eu, por tabela, ia ser o padrinho. Eu passei em casa, já com tudo pronto, passei só para pegar o paletó e quando eu estou saindo de casa, para a Kombi do Esquadrão. A Kombi do Esquadrão era o terror. Quando encostava a Kombi, a gente sabia que era alguma missão. A Kombi parou atrás do meu carro e falaram "sargento, acionou uma busca!", aí eu falei "pô, cara, eu não sou o 'da vez'", "pô, não achamos ninguém, só tem o senhor", "então eu vou, né". Aí a menina falou assim "não, você não pode ir, porque se você for, você não precisa me procurar mais". Falei "olha, sinto muito, eu vou". Aí, conclusão: acabou ali. Até porque, foi até bom que isso tenha acontecido ali porque realmente ela não era a pessoa certa. Porque isso fatalmente iria acontecer de novo e ela não entendeu. Então são situações assim... Natal, Ano Novo,
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até o começo do meu casamento foi bem tumultuado nesse sentido também. Era bem assim, as coisas aconteciam e a gente ia. Até porque na década de 80, 90, tinha muito garimpo na Amazônia, então a aviação era muito intensa por lá e os aviões voavam sem nenhuma condição. E caía muito avião. Então era comum a gente decolar para uma busca que geralmente durava de 10 a 15 dias e aquela busca emendar em outra, emendar em outra... Às vezes, a gente no mesmo lugar estava procurando dois, três aviões que tinham caído naquela área e você ia ficando, ia ficando. Esse que é o Espírito SAR: você se dedicar e ir para a missão e "vambora".
Pergunta: Em algum momento da sua carreira você teve alguma dúvida da sua escolha de seguir essa profissão?
Resposta: Não. Eu sou muito ligado ao meu avô, pai da minha mãe, e eu lembro que quando ele morreu, eu estava numa missão. Eu morei junto com ele, então foi um momento difícil, que eu queria estar perto da minha mãe, eu queria estar presente e eu não estive lá. Eu estava, lembro até hoje, em Florianópolis, num treinamento de resgate no mar e naquela época nem celular a gente tinha, todo mundo ficava na fila do orelhão para falar com a família. E quando eu liguei para a minha mãe, ela me deu a notícia que meu avô tinha tido um infarto e tinha morrido. Ela chorava muito e eu falei "mãe, queria muito estar com você, mas não posso". Mas assim, em nenhum momento eu tive esse "puxa, o que eu estou fazendo aqui?", foi sempre uma vida muito intensa, muito emocionante. Não tem uma rotina, "ah, eu vou para o quartel e vou para a Base, e vai ser assim". Não. Aquela missão que eu falei do resgate do boeing que caiu, eu lembro que quando eu cheguei na Base, eu vi um movimento diferente - carro para um lado, viatura para um lado e tal - falei "pô, tá diferente o negócio aqui". Quando eu entrei no Esquadrão, aquele tumulto todo e o pessoal falou "cara, caiu um boeing!" e eu falei "caraca, nessa missão eu tenho que ir". E eu não era o cara da vez, eu tinha acabado de voltar de uma missão. Eu falei "puxa vida, eu vou perder essa missão. Eu não vou". Só que tinha um amigo meu que estava escalado, Cabo De Oliveira, lembro disso muito bem, e o Del (que a gente chamava dele de Del, De Oliveira) estava com a esposa grávida e eu encontrei com ele e falei "Del, tu vai viajar, cara? Tua esposa tá grávida, bicho! É
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melhor tu ficar, eu vou no teu lugar. Pode deixar que eu vou trocar!". Aí eu subi na Sala de Operações, e como estava aquele tumultuo, tinha as ordens de missão em cima da mesa. Aí eu vi o nome dele, peguei um, o que na época a gente chamava de errorex, uma tinta branca que você passava... Até hoje tá lá esse negócio rasurado. Eu apaguei o nome dele e escrevi lá. Tirei o "De Oliveira" e coloquei lá "Sargento Paulo". Aí eu falei "Del, já troquei, já falei com todo mundo" - não tinha falado com ninguém. Já falei "eu vou!". Peguei minha mochila, a gente sempre carregava uma mochila, e a mochila do homem de resgate é o seguinte: você tanto pode sair para fazer uma missão no Sul, mais frio, como você pode ir para a Amazônia, pode ir para o Nordeste. Então você tem que ter um casaco, tem que ter um short, tem que ter tudo. A mochila é enorme, pronta para tudo. Então passei a mão na mochila, que já estava pronta, e fui para a missão. Era aquela empolgação. São situações que a gente lembra que são mais pitorescas, eu acho.
Pergunta: Se você pudesse falar alguma coisa para as pessoas que vão entrar no Esquadrão, pessoas que vão usufruir do Esquadrão, pessoas que estão lá... De acordo com todos esses anos de experiência que você teve, o que você gostaria de falar?
Resposta: A Força Aérea hoje mudou um pouco. As Forças Armadas mudaram. Eu sou de um tempo que a gente era militar com mais vocação, eu diria. A gente tinha algo mais romântico até, fazia tudo com muita vontade. Hoje, infelizmente, no mundo militar a gente vê algumas pessoas que não são mais militares, elas só estão militares. Pessoas que fizeram concurso e acabaram entrando numa escola militar porque, às vezes, não tinham muita opção. Essas pessoas, elas não servem para o Esquadrão Pelicano. Se elas forem pra lá, é só pra se arrebentar. Um esquadrão igual ao Pelicano precisa de pessoas que sejam realmente militares na sua essência. Aquele cara que entenda o que é honra, o que é comprometimento, o que é dedicação. O Esquadrão vai exigir muito. A pessoa vai precisar de muita vontade para estar ali na missão. Hoje, nós temos menos acidentes. Isso é muito bom. Com o garimpo na Amazônia, que era algo muito forte nos anos 80, 90, caía muito avião, a gente passava muito tempo na Amazônia procurando avião, mas essa fase passou. Então a gente vê hoje que são poucos acidentes que acontecem, mas
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assim mesmo, nessa situação, o militar tem que estar sempre pronto. É o que a gente fala: a gente pode passar 100 anos sem ser empregado, mas a gente não pode passar um dia sem estar preparado para ser empregado. Então o treinamento continua, a missão continua, então assim, para quem pensar em entrar no Esquadrão Pelicano, entre, mas com vontade, porque ali realmente tem que colocar o seu coração para fora para poder fazer parte dessa... O que, para mim, eu falo que é a elite da Força Aérea.
Pergunta: E se você pudesse falar alguma coisa para o Esquadrão? O que você diria?
Resposta: O Esquadrão Pelicano foi um Esquadrão que me deu muito orgulho, algo que eu falo com muito orgulho. As pessoas que sabem que eu fui do Esquadrão Pelicano me perguntam e eu sempre falo com muito carinho. São experiências de vida que a gente teve, que a gente carrega para sempre. Os momentos mais intensos da minha vida eu passei ali, nas missões, nos treinamentos, nos amigos que a gente tem até hoje. Nós éramos realmente uma equipe, e uma equipe unida, porque na missão um depende muito do outro. Então, eu diria o seguinte: Pelicano, tudo valeu a pena. Todos os anos, todos os aniversários fora de casa, os natais, todos os amigos que eu chorei, que a gente deixou, que morreram cumprindo a missão (e eles sabiam que tinha um objetivo)... Como eu disse, a regra é essa. A gente sabe que a regra desse jogo não é fácil, mas tudo vale a pena. O Esquadrão Pelicano realmente é algo que marca. Tá marcado, tá tatuado. Inclusive, tem a tatuagem da equipe de resgate que a gente carrega aqui. Uma tatuagem emblemática que é essa aqui, que só algumas pessoas têm. Até para fazer isso aqui você tem que ganhar o direito de fazer essa tatuagem, então realmente tá tatuado aqui no corpo e não sai mais.
Posso repetir a primeira resposta, sobre a história do Esquadrão?
Pergunta: Pode, claro.
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Resposta: O Esquadrão de Busca e Salvamento é muito importante para a Força Aérea e para o Brasil. Todos os países precisam desse tipo de serviço. Isso garante não só a segurança da aviação militar, mas também da aviação civil. A origem da Busca e Salvamento remonta lá atrás, lá no início da aviação. Era muito mais fácil você construir um avião, do que formar um piloto. Principalmente no tempo de guerra. A gente sabe que a guerra sempre traz muito avanço para a humanidade, se desenvolvem muitos processos durante uma guerra e um dos processos que foi muito desenvolvido foi o da Busca e Salvamento. Os pilotos que eram abatidos durante a guerra, principalmente na Segunda Guerra Mundial, precisavam voltar para a ativa. A produção de avião era fácil. Então começaram a ser desenvolvidas as técnicas de salvamento, tanto no mar, quanto em terra. A guerra acabou, felizmente, e a aviação deu um boom, ela cresceu muito. A aviação civil começou a aumentar muito no mundo inteiro e precisava desse serviço também para a aviação civil, porque os aviões são máquinas que podem cair, eles podem sofrer algum acidente. Alguém tinha que ir lá e fazer esse tipo de resgate. Então, à Força Aérea coube essa missão de fazer esse tipo de serviço. E no Brasil, não foi diferente. O Esquadrão foi criado em 1956, na Base Aérea de Cumbica, em São Paulo, com essa missão específica e até hoje é o único esquadrão da Força Aérea que é dedicado exclusivamente à missão de busca e resgate. Nós fomos criados para isso. O Esquadrão saiu de São Paulo, foi para a Base Aérea de Florianópolis porque ele operava aviões anfíbios e, na época, a Amazônia não tinha pista de pouso e os campos de pouso eram os rios, e a gente precisava de ter avião anfíbio. Esses aviões saíam da Base Aérea de Florianópolis e pousavam na Amazônia. Eram os famosos Albatroz, um avião muito emblemático para a Força Aérea. Como a Amazônia começou a ser desenvolvida e havia uma necessidade de você otimizar também a missão de busca e salvamento, então o Esquadrão Pelicano foi trazido para Campo Grande. Se a gente olhar o mapa da América do Sul e você botar o dedo mais ou menos no meio, você vai chegar próximo a Campo Grande. Campo Grande é uma localização estratégica. De Campo Grande, como eu disse, o Esquadrão é o único de Busca e Salvamento no Brasil inteiro, então você pode chegar com poucas horas de voo a qualquer lugar do Brasil. Campo Grande foi estrategicamente escolhida. Aí não tinha mais a necessidade do avião anfíbio, e a Força Aérea começou a adotar então os aviões Bandeirantes, fabricados pela Embraer, uma
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fabricante nacional de aviões. Nem de perto, era a aeronave ideal para busca e salvamento - asa baixa, pouca autonomia... Mas era o que a gente tinha. E voamos muito tempo com essa aeronave, até nos anos mais recentemente, agora lá pelos anos do novo século aqui, a gente começou a receber os aviões-casa, o C-105 Amazonas, são aviões mais modernos. Aí sim a aviação de Busca e Salvamento, hoje, está bem adequada. Então a gente passou por esse processo - lá da criação em Cumbica, em 1956, foi para Florianópolis, Florianópolis-Campo Grande e ainda com avião não adequado, o helicóptero que a gente tem até hoje e ainda voa com ele é o H-1H, oriundo da Guerra do Vietnã, da Guerra da Coreia, um helicóptero muito robusto e que também está sendo substituído. A aviação de Busca e Salvamento, hoje, melhorou muito. Ela cresceu, tanto em aeronaves, quanto no preparo e no equipamento que a gente usa, o próprio equipamento de resgate evoluiu muito.
Pergunta: Como sua família lidava com a sua profissão?
Resposta: A minha esposa, eu falo o seguinte: ela foi uma mulher separada por Deus para estar comigo. A gente até brinca, nós somos os Pelicanos e nós temos as Pelicanas, e as Pelicanas vivem a missão junto com a gente. Porque você tem um filho pequeno que adoeceu e o pai não está perto, está chegando o aniversário de um aninho do seu filho e você está numa missão... Isso é muito comum. A família tem que estar junto, até porque quando a gente está aqui, a gente procura unir a família - faz festinha, faz evento, faz churrasco - e tem que estar todo mundo junto. E o Esquadrão é o seguinte: a gente fala que é uma segunda família. É um dando apoio para o outro. Se o cara está viajando e aconteceu um problema com o filho, algum amigo vai dar o suporte, porque a gente tem que estar realmente um dando apoio ao outro. A família sofre, sim, porque a nossa ausência, a gente sabe quando vai, mas não sabe quando volta. A missão pode demorar, a gente pode ir e achar o avião no dia seguinte, como pode demorar um mês e dali já emendar para uma outra missão. Então a família sente muito, mas eu tenho certeza também que se orgulha muito. Eu brinco que a Scheila casou comigo porque ela achava que eu era o Rambo. Eu chegava das missões contando história na faculdade, todo mundo vinha e tal, então ela achava que eu era o Rambo e acabou casando comigo.
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Pergunta: Como você definiria sua vida militar?
Resposta: A vida militar, para mim, ela pode ser definida em uma única palavra: orgulho. Eu tenho muito orgulho de ter servido meu país, de ter participado do Esquadrão Pelicano. Não me arrependo em nenhum momento de nada do que eu fiz, porque, como eu disse, a missão realmente é muito intensa e o que eu sinto é esse sentimento de orgulho e de dever cumprido. E se me chamar, eu volto, hein.
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5. Scheila Canto, esposa Entrevista realizada no dia 06 de outubro de 2017, 16h30, na casa da entrevistada. Pergunta: Como você conheceu seu marido?
Resposta: Eu conheci o Paulo, ele já fazendo parte [do Esquadrão] e foi uma das coisas que me chamou atenção. A primeira vez que eu escutei ele contando as histórias a gente estava na faculdade, com um bando de meninas tudo novinhas e todas sentadas escutando aquele bando de histórias. "Poxa vida, ele é o herói, é o cara e tal". E, de repente, aquilo me chamou atenção um pouco mais, a admiração acabou virando uma paixão. Eu acabei me apaixonando por ele logo nos primeiros meses da faculdade, em dois meses que tinha iniciado as aulas a gente já namorava e, com certeza, as histórias foram o que mais me chamaram a atenção.
Pergunta: Como foi o começo do namoro com as viagens dele?
Resposta: Eu vibrava muito, achava aquilo o máximo. As histórias de busca e salvamento saíam na mídia e eu falava “nossa meu namorado está lá”... Então, ele sempre era o centro das atenções e eu estava ali do lado, então eu vibrava, torcia por ele, com os cursos... Eu sempre apoiei, torci e vibrei com todo esse espírito que eles falam, o espírito do Pelicano, das missões, do resgate e foi interessante, eu tive que entender. Para que outros possam viver, que era o lema deles, né? E eu falava “você vai arriscar sua vida?". “Essa é minha missão”. E eu achei sempre muito legal e sempre apoiei. Sempre foi um grande desafio, o relacionamento era desafiador ao mesmo tempo muito dinâmico. Eu ajudava na faculdade em tudo que era possível, e a gente casou com dois anos de namoro. Com dois meses de casamento, nós tínhamos quatro dias de convivência. Como isso? Comemorando os dois meses de casamento e nesse tempo ficamos juntos apenas quatro dias. O Paulo emendou uma missão na outra e ele ficou direto, e nem voltou para casa. De cara, meus primeiros meses já foram um grande desafio. Mas eu já sabia disso, sempre foi assim. E naquela época não era como hoje, não tinha celular, WhatsApp, FaceTime... Ele ficava longe, e às vezes eu nem sabia para onde ele tinha ido. Demorava dias para saber onde ele estava, quando ele voltaria... Eu
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passei Natal, Ano Novo, meu aniversário, com ele longe. Antes de casar eu já sabia desses desafios todos. Mas eu nunca pedi, desestimulei, falei para ele sair do esquadrão, não. Quando eu entrei, eu já sabia e gostava disso. Então, eu também vesti todo esse espírito Pelicano, por mais que eu ficasse com esse medo, por ele arriscar a vida dele. Ficava com certo receio de perdê-lo, mas no fundo eu sabia que a missão dele era abençoada e ele estava ali por algo muito maior do que ele. E se acontecesse alguma coisa, como aconteceu com amigos, eu ficava bastante triste com esposas, namoradas que perderam os companheiros, maridos. Mas eu falava, se isso tiver que acontecer comigo, já estava predestinado isso.
Pergunta: Como foi quando vieram os filhos?
Resposta: Quando os filhos chegaram, eles nasceram com sete anos de casados e já foi numa outra fase. O Paulo teve duas fases durante o período dele na FAB. Então, por 10 anos no Esquadrão e depois ele foi para a Comunicação Social da Base, viajava menos e não tinha mais essa missão do resgate em si, era outro trabalho. Uma viagem de quem é do Esquadrão é que você não sabe para onde ele vai e quando ele volta. É sempre incerto. Não são viagens programadas.
Pergunta: Você teve algum momento de crise, em que se sentiu sozinha?
Resposta: Teve um momento inusitado, que a minha vizinha de parede do apartamento, que também era casada com um Pelicano, que hoje também está aposentando. E nós duas passamos Natal e Ano Novo, as duas sozinhas. Fizemos nossa ceia, tomamos champanhe, brindamos e não tinha celular pra gente viver aquele momento com os dois, né, não tinha como falar. Era só fixo e nesse episódio eles estavam na Amazônia, não tinha contato, era via rádio. Nós tínhamos que ligar para o Esquadrão pra saber alguma notícia... Pensa! Realmente foi o meu primeiro Natal, casada e sem ele. É algo que eu fiquei triste, mas quando você entra em um relacionamento, aquilo não vai modificar o seu sentimento, seria errado se eu quisesse mudá-lo. “Não, você não vai viajar a gente está casado…”. Eu já sabia muito bem como seria e sempre muito consciente, ficava
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triste, mas isso não mudava nada. Ele sempre trazia um presentinho para mim e estava tudo certo.
Pergunta: Como você enxerga o trabalho dele e a função que ele desempenhava lá no Esquadrão Pelicano?
Resposta: Na verdade, parecia um grande fetiche. Eu era muito jovem, conheci ele com 17 anos e eu tinha na minha cabeça que eu queria casar com um militar, e esse militar vai ter pelo menos uns 25 anos. E o Paulo era o “tiozão” da faculdade. Pensa que, na faculdade, a média era entre 16 e 17 anos e ele entrou com 25. Quando ele chega com essa história, fardado na faculdade, senta e começa contar as histórias que até hoje encanta qualquer tipo de pessoa, histórias reais, interessantes, e ele ali como personagem... E isso me atraiu, passou de admiração. Aí foi assim, começamos a namorar porque eu fui muito direta com ele. Falei “olha, eu acho que estou gostando de você, se quiser namorar comigo vai ter que ser sério” e começou assim, passou todo o tempo da faculdade, a gente tava junto como namorado, casamos um pouquinho antes da formatura e estamos juntos até hoje. Isso fazem 25 anos.
Pergunta: Teve algum momento que você quis que ele fizesse outra coisa?
Resposta: Não. Para mim, foi bem doído quando ele teve que escolher entre ser operacional ou ser um cara burocrata. “Poxa, Paulo, vai largar toda a sua missão operacional, de rapel, para-quedas, aquela coisa toda…”. Eu vibrava com aquilo tudo, então eu torci, mas achei interessante também a saída. Quando ele foi para a área do Jornalismo, ele começou a fazer documentários sobre o Esquadrão, entrevista, continuou ainda vivendo muito naquilo que ele poderia fazer na comunicação. O Esquadrão nunca saiu do coração dele e do meu também não. Eu admiro demais todas as pessoas que trabalham ali. Lógico que parece que tudo foram flores... Minhas lembranças são todas positivas. Eu não consigo lembrar de coisas ruins, um aniversário fora, outro... Mas nada demais. Eu sinto saudade do tempo que ele corria, era mergulhador, escalava montanha, saltava... Eu achava muito legal e são fases na vida. Admiro até hoje tudo o que ele faz
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e o trabalho que eles desempenham, mas a missão em si e todo o comportamento do Paulo é de um cara que viveu tudo aquilo que ele viveu.
Pergunta: Você acha que esse espírito contaminou um pouco você?
Resposta: Sim, um pouco! Eu trabalhava com jornalista e fiz até matérias no exército, quando as mulheres entraram para o exército e aí eu falei “olha, dá para eu também descer essa cachoeira, fazer rapel, saltei de para-pente…”. Achava muito legal. E muito mais essa coisa de ajudar, de ser solidária, amar o próximo, fazer o bem, de sempre tentar... Fica impregnado. De colocar a sua situação em segundo plano. Isso te pega de tal maneira que às vezes você fala “poxa, estou sendo um pouco bobo ou talvez as pessoas estejam aproveitando”... Mas isso vem de onde? Onde começou? Quando você abre mão do seu conforto, de coisas que você poderia estar fazendo para beneficiar o outro, onde você chega? No lema deles. Então isso acontece muito no nosso convívio até hoje. É positivo ou negativo? Não sei, às vezes a gente pensa depois... Mas a gente tem que ver o lado bom, você sempre tentar ajudar, colocando o benefício do outro em detrimento do seu, então, acho que é uma das coisas que ficou no nosso relacionamento, do nosso jeito de ser até hoje.
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6. William Silva do Nascimento, membro da equipe de resgate Entrevista realizada no dia 09 de novembro de 2017, 15h00, no hangar do Esquadrão Pelicano. Pergunta: Pode começar falando o seu nome, a sua idade e o que você faz dentro do Esquadrão?
Resposta: Meu nome é William Silva do Nascimento, eu tenho 27 anos e aqui no Esquadrão Pelicano eu sou membro da equipe de resgate. A gente fala que a gente é a ponta da linha, né. Entre toda a equipe SAR que tem, a gente é o pessoal que vai descer ali pra dar um primeiro atendimento e pra tirar a vítima do ambiente em que ela se encontra. Então a gente faz no dia a dia treinamentos, em virtude disso, com os equipamentos e com os voos, com as aeronaves, a gente procura estar sempre treinando isso, nosso dia a dia é treinar isso, estar praticando as atividades físicas para nos dar as condições para conseguir atingir todos esses objetivos, na parte física, psicológica. Então a gente administra também instruções, a gente ministra instruções em outros ambientes. Nosso dia a dia é basicamente esse. Lidar com toda essa parte de resgate.
Pergunta: Como você descobriu o Esquadrão Pelicano?
Resposta: Eu descobri o Esquadrão Pelicano antes de a gente chegar aqui para... Na nossa formação de sargento na Escola de Especialistas, a gente fica dois anos na Escola. Lá nessa instituição de ensino da Força Aérea, a gente tem contato com alguns instrutores, e um dos instrutores que passaram lá foi membro aqui da equipe de resgate do 2º/10º, na época o Suboficial Fonseca, hoje Tenente Fonseca, ele contava as histórias do Esquadrão no decorrer das instruções e eu ia escutando, percebendo. Aí fui criando esse sentimento. Aí tive o contato com outros instrutores também membros aqui da equipe de resgate do 2º/10º, e aí fui me interessando, fui gostando, e no momento de eu escolher a minha vaga, que lá quando você escolhe, você escolhe o local que você vai trabalhar, com o que você vai trabalhar e onde você vai trabalhar. Então procurei direcionar pro resgate e pro 2º/10º em si. Aí eu vim para Campo Grande.
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Pergunta: E quando você chegou, quais foram as suas primeiras impressões? Era o que você esperava?
Resposta: Quando eu cheguei, eu cheguei bastante empolgado e também ansioso, né. Porque a gente escuta muito falar lá de fora das missões do Esquadrão e dos instrutores, e a nossa chegada aqui para mim foi... Como eu falei, eu fiquei muito ansioso né, e a gente fala que foi bastante quente. Então o pessoal da antiga né, que é o pessoal veterano, da antiga, a gente chama aí de os "casca grossa", que receberam a gente, né, o pessoal que já lida com isso há muito tempo, que já tem muita experiência. Então eles conversam com a gente, tem toda uma conversa, e eles procuram ensinar tudo que eles podem para a gente, para a gente conseguir os nossos objetivos, que são os cursos né. Para eu ser da equipe de resgate eu preciso ter um curso especial, então eles nos ajudaram a treinar, nos preparar para esse curso, e... Então quando eu cheguei foi basicamente isso, pegar o máximo de informação, conversar com o pessoal mais antigos para eles irem nos ensinando e nos mostrando tudo que a gente tinha que fazer e o caminho que a gente tinha que andar. Ainda continua, porque ainda sou novo aqui.
Pergunta: Você chegou aqui e aí pra entrar na equipe de resgate precisa fazer um curso. Como que foi isso?
Resposta: É, exatamente. Então, quando você chega aqui, a gente não faz parte da equipe de resgate né, então a gente é como se fosse um calouro na faculdade. A gente é e não é da equipe de resgate. Porque você só pode ser da equipe de resgate a partir do momento que você... A gente chama de "cumprir quadrinho", que é cumprir uma etapa, que é fazer o curso SAR. Quando a gente chegou aqui, tem toda a mística e toda a tradição. A gente pratica alguns exercícios a mais, faz algumas coisas a mais até ir pra esse curso. Quando dá a época desse curso, a gente intensifica os treinamentos e aí o pessoal da antiga, o pessoal que já passou por isso ensina para a gente o que que a gente tem que fazer, como a gente tem que se preparar, e a gente vai para esse curso. Esse curso tem uma duração de três meses e ele é ministrado em diversas partes do Brasil, com diversas fases. A gente foi para o Rio de Janeiro, a gente foi para
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Pirassununga, foi para Analândia, foi para Cachimbo, e a gente participou também de diversas situações por diversos ambientes. A gente teve ambiente de mar, ambiente de selva, ambiente de montanha, passou também por algumas necessidades, que é necessário aprender também. Aí após a gente concluir esse curso, a gente chegou aqui no Esquadrão. Quando a gente chega no Esquadrão a gente tem uma recepção. Os homens de resgate se reúnem, fazem uma chegada aconchegante aí com todos os... Com tudo aquilo que a gente tem direito né. A gente recebe o gorro laranja, que é esse gorro que a gente anda aqui né, então um resgateiro que já era antigo, que é nosso padrinho, entrega esse gorro e a gente tem o direito de usar essa bolacha aqui, esse símbolo aqui. Porque a gente tem o símbolo do Esquadrão, aqui tá o símbolo do Esquadrão, certo? Que é o Esquadrão Pelicano, mas se reparar só anda com esse símbolo aqui que é a bolacha do resgate quem faz esse curso. Só quem tem esse curso tem o direito de poder usar esse...
Pergunta: Uma moral a mais?
Resposta: Uma moral a mais. A gente é visto ali como um homem de resgate agora, né.
Pergunta: É legal você comentar isso porque isso tem tudo a ver com a tradição que você falou, né?
Resposta: É, tem tudo a ver com a tradição, é algo... Para a gente, a gente fala que antes de tudo ali... O que cativa a gente, o que dá força para a gente é essa tradição, essa tradição que a gente leva. Se não fosse essa tradição, acho que a gente nem conseguiria começar a fazer as coisas que a gente faz.
Pergunta: Muita gente que a gente entrevistou sempre comentou desse espírito SAR, do trabalho em equipe e tudo o mais. Você já sente isso dentro de você?
Resposta: Eu sinto dentro de mim. Eu tenho pouca experiência, comecei agora, tô engatinhando ainda, tenho diversos quadrinhos para cumprir, diversas coisas para fazer,
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mas eu sinto. Eu vivencio esse espírito, sim. E não só em mim, tudo que a gente faz aqui, tudo que a gente olha, a gente vive esse sentimento de SAR, né, essa coisa de homem SAR. E isso não reflete só aqui dentro, reflete em todo ambiente que a gente tá. Seja numa rua, em algo que a gente vai fazer, a gente leva esse espírito SAR, a gente tem essa tradição. E não porque eu sou homem de resgate, mas o homem de resgate, por ele estar na ponta da lança, a gente tem essa chama mais acesa ainda, mais viva. E no curso a gente também aprende muito isso no curso SAR, porque no curso SAR você não consegue levar o curso sozinho. Você sempre precisa de uma ajuda, de um companheiro. Então a gente lida diariamente nessa situação lá no curso e isso só vai cativando e só vai crescendo. O sentimento SAR eu acho que é algo... se você perguntar pra qualquer pessoa, não precisa ser uma pessoa militar, não precisa ser uma pessoa do âmbito do resgate, acho que se você perguntar pra qualquer pessoa, qualquer civil, ela já tem isso nela, só que a gente acaba aflorando mais porque a gente tá vivendo isso no cotidiano, no dia a dia.
Pergunta: Você entrou aqui no Esquadrão quando?
Resposta: Eu entrei no Esquadrão em 2015, no segundo semestre de 2015, então foi ali em agosto, setembro.
Pergunta: E há quanto tempo você fez o curso?
Resposta: O curso eu fiz no ano de 2016, no final de 2016 e eu fiquei um ano me preparando para o curso. A gente ficou um ano se preparando, não só eu, outros amigos também. Alguns concluíram, conseguiram êxito, outros não e vão tá fazendo ano que vem aí se Deus quiser.
Pergunta: Você já participou de uma missão real?
Resposta: Missão real do Esquadrão eu ainda não tive a oportunidade nem o privilégio ainda de participar. A gente fala isso não para que ocorra um acidente, a gente fala isso
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porque na verdade se dependesse da gente a gente nunca atuaria né, porque a gente acaba atuando num momento difícil, mas participar e ajudar é muito importante. Eu não participei no Esquadrão, mas através do Esquadrão e através da equipe de resgate, eu já tive oportunidade, porque a gente pratica alguns estágios, algumas coisas que a gente faz e a gente acaba participando. No curso SAR eu tive a oportunidade de estar tendo algumas instruções reais e participando no curso SAR com bombeiro, por exemplo. E a gente teve vítima, então eu já tive oportunidade de participar de uma parada, né, e a pessoa voltar, praticar ali, a pessoa voltar. Já participei através disso de alguns acidentes de vítimas reais, então... Já foi importante pra mim.
Pergunta: Como foi a primeira vez que você teve que lidar com uma situação real?
Resposta: Aconteceu isso né, como eu falei, não pelo Esquadrão em si, na aeronave, mas através desse preparo que a gente tem, desse treinamento que a gente tem, a gente acaba tendo essa situação real. A primeira vez, na verdade fiquei bastante nervoso, porque como eu disse não tenho muita experiência, não tenho muito contato, então eu fiquei ali meio que nervoso, meio sem saber um pouco o que fazer no momento, mas acabou fluindo. Na hora eu comecei a lembrar de tudo que a gente treinou, de tudo que a gente treina, e também fui ganhando experiência com os outros militares envolvidos e graças a Deus a gente teve sucesso, a pessoa voltou, a pessoa reviveu ali, foi bastante bacana. Foi um misto, um misto de nervosismo. Eu lembro que no momento o pessoal, eles ficaram bastante comuns né, porque eles lidam com essa situação no dia a dia, já eu fiquei todo eufórico, foi um dia para mim que eu cheguei em casa falando para todo mundo, encontrava um amigo e falava "pô, a gente reanimou e a pessoa voltou". Eu falava, eu comentei nos grupos com os amigos. Foi um misto. E só firmou que a gente tá no lugar certo.
Pergunta: No seu coração, o que é fazer parte do Esquadrão?
Resposta: O Esquadrão para mim foi uma decisão que eu parei, sentei, independente de crença religiosa, mas eu orei a Deus ali, porque... Como eu vou explicar... Eu tinha a
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oportunidade na minha vida de hoje estar do lado da minha família, estaria hoje do lado da minha família ali. Mas... O amor pela cor laranja, o amor pela missão e pelo Esquadrão foi maior. O Esquadrão, tudo de SAR que eu tenho hoje foi o Esquadrão que me deu, as oportunidades... É algo que eu jamais vou esquecer. E nesse âmbito aí eu acho que o Esquadrão é algo muito importante, como se fosse tudo da minha parte profissional, e até me ajuda a crescer bastante na minha vida pessoal.
Pergunta: Diferente de todo mundo que a gente entrevistou até agora, você é uma pessoa que está na ativa e entrou faz pouco tempo. E para todo mundo a gente perguntou o passado. De você, queríamos saber o futuro: o que você espera aqui dentro do Esquadrão? O que você quer atingir?
Resposta: Eu quero ser igual o pessoal da antiga. Quero ter as missões que eles têm, quero ter a experiência que eles têm. E quero prosseguir, continuar crescendo. São diversos cursos para um homem de resgate, um homem de resgate precisa se especializar bastante, porque quanto mais especializado, é mais uma oportunidade que ele tem de salvar uma vida. Eu espero ter a oportunidade de crescer e... Quando eu atingir esse ápice aí, quando eu atingir esse nível alto eu poder passar isso para alguém, para não deixar morrer. Porque isso não pode morrer, pelo contrário, isso tem que crescer cada vez mais. Que surjam mais Willians aí, tem um amigo que chegou comigo também, Pereira, então que surjam mais pessoas como a gente para que a gente venha se tornar pessoas da antiga. As lendas aí, a gente chama de "hooks" né, aqui quando você tem um nível alto de operacionalidade, você chega no topo do homem SAR, a gente dá o nome de hook.
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7. Jorge Marcelo Martins da Silva, Comandante do Esquadrão Pelicano Entrevista realizada no dia 09 de novembro de 2017, 16h00, na sala do entrevistado, no Esquadrão Pelicano.
Pergunta: O senhor pode falar, por favor, o seu nome, o seu cargo e o que o senhor faz aqui no Esquadrão?
Resposta: Meu nome é Jorge Marcelo Martins da Silva, eu sou o Comandante do 2º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação, Esquadrão Pelicano.
Pergunta: Atualmente, existem quantos integrantes no Esquadrão Pelicano?
Resposta: Nós temos o prédio, que atuam 50 militares e nós temos o pessoal que voa no Esquadrão, que aí vai para em torno de 120 militares, por aí.
Pergunta: E quais são as aeronaves?
Resposta: Nós possuímos as aeronaves... Os helicópteros UH-1H, de fabricação americana e as aeronaves Amazonas SC-105 e as S5 SAR, ambas de fabricação espanhola.
Pergunta: Eu queria que o senhor explicasse um pouquinho a atuação operacional aqui no Esquadrão, como funciona, o que vocês fazem...
Resposta: O Esquadrão é um esquadrão especializado em busca e salvamento, onde nós montanhamos 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano aeronaves e pessoas preparadas para o atendimento a missões de busca e salvamento em todo o território sob responsabilidade do Estado Brasileiro. Isso significa 22 milhões de km².
Pergunta: Surge uma situação de emergência e vocês são acionados. Quais são os procedimentos a partir daí?
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Resposta: O Esquadrão é acionado através da Seção de Operações, a partir desse momento, as informações são levantadas e o pessoal é acionado. Então vem de imediato para o Esquadrão, seja helicóptero ou avião, as tripulações guarnecem e decolam em menor tempo possível para fazer o atendimento.
Pergunta: Como é a divisão dos militares aqui dentro do Esquadrão?
Resposta: O Esquadrão, atualmente, a Força Aérea, passa por um momento de reestruturação. O Esquadrão até há pouco tempo atrás possuía toda a parte de, não só de pessoal, logística e operacional, mas também de comunicação social, várias outras atividades. Essa parte foi enxugada do Esquadrão. Atualmente, o Esquadrão tem somente a parte operacional, então nós estamos dedicados exclusivamente à parte operacional. A parte logística e outros serviços são realizados pela Ala 5.
Pergunta: O senhor está aqui há quanto tempo?
Resposta: Estou há um ano e 10 meses.
Pergunta: Como comandante?
Resposta: Como comandante.
Pergunta: E no Esquadrão?
Resposta: No Esquadrão só há um ano e 10 meses. Eu atuei em outros esquadrões da Força Aérea na busca e salvamento.
Pergunta: Quando o senhor chegou, foi contagiado por esse espírito que existe aqui dentro do Esquadrão? Como foi chegar e encontrar esse Esquadrão que já é famoso pela união?
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Resposta: Na verdade, eu já convivia com isso desde o início da minha carreira. Parecia que o 2º/10º... sempre alguma coisa acontecia que não era o momento de eu vir para o Esquadrão. Quando eu me formei, eu entrei na Força Aérea pela Escola de Especialistas, eu fui graduado, eu voei... Meu primeiro esquadrão operacional era o helicóptero, eu, até então não conhecia, passei a conhecer. Participei de inúmeras missões de resgate como tripulante, a partir daí eu fui para a Academia da Força Aérea, e aí eu comecei a trabalhar realmente ali, o que eu queria era isso. Então, estar ali trabalhando, voando, sempre em prol de ajudar o próximo. Terminando a Academia, eu fui fazer uma especialização operacional já no helicóptero. Por caminhos ou outros eu fui parar em Belém, voando o H1H, que é o helicóptero que nós voamos hoje, e lá eu já realizava várias missões, tive muitas missões junto já com o 2º/10º. E aí, após isso, outros caminhos que eu tomei, trilhando. Muitos continuando fazendo resgates... Até que surgiu a oportunidade, finalmente, de vir para o Esquadrão, que já era um desejo de muito anos.
Pergunta: Como o senhor conheceu o Esquadrão?
Resposta: Eu conheci o Esquadrão Pelicano ainda como graduado, quando eu participei de uma missão aqui, uma reunião do Dia da Aviação de Busca e Salvamento, salvo engano em 1992. Eu era graduado e vim participar de uma confraternização, de uma reunião que aconteceu. Eu tive a primeira impressão, ainda era no outro hangar, tive o primeiro contato com o pessoal, após isso, o esquadrão que eu voava no Rio de Janeiro, que era o 3º/8º, teve alguns problemas logísticos e o esquadrão foi operar a parte de lá, no alerta SAR e eu tive uma aproximação maior. Após isso, como piloto já, no 1º/11º, alguns cursos foram feitos pelo 2º/10º lá. Passou-se um ano, eu estava em Belém, fui designado para fazer o CTBS - que é o Curso Teórico de Busca e Salvamento. A partir daí, eu realmente me identifiquei completamente com o Esquadrão. Foi muito interessante. A partir daí, desse momento, todas as missões, praticamente, reais que nós fazíamos, o 2º/10º estava engajado junto, trabalhando junto com a gente.
Pergunta: Como foi para o senhor quando chegou a informação de comandar o 2º/10º?
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Resposta: Inicialmente, foi uma surpresa, porque eu não esperava, realmente. Foi um baque, assim, pela grande responsabilidade que é comandar esse Esquadrão. Não só pelas pessoas que estão aqui, mas pela missão. A responsabilidade de tratar tanto a parte operacional, como a motivação para tratar, para fazer com que esses militares todos consigam entender a importância da missão que está sendo cumprida aqui. Isso aí foi realmente o primeiro impacto que eu tive, o primeiro pensamento. "Como eu vou fazer isso?". E na verdade, o que eu observei desde a minha chegada foi exatamente que a missão, por si só, ela já motivacional o suficiente para o Esquadrão. Todos os componentes já trabalham, vivem, respiram essa sensação de ajudar o próximo, de fazer com que a missão seja cumprida e muito bem cumprida.
Pergunta: Como o senhor acha que se espalha esse famoso Espírito SAR? O que é e como ele acaba contagiando todos os militares que entram aqui?
Resposta: Acaba impregnando a partir do momento que você vê, no acionamento, a mobilização de todo o Esquadrão para que a missão saia. Independente, na hora que tem o acionamento, não só vem o pessoal que vai tripular a aeronave, vem o Esquadrão todo, vem todo mundo ajudar a preparar para decolar no menor tempo possível. Isso eu via principalmente nos meus primeiros dias de comando, quando aconteceram vários acionamentos pro H-1H, todos eles de madrugada e era impressionante a quantidade de gente que estava aqui presente.
Pergunta: Para o senhor, o que significa esse trabalho que vocês exercem aqui?
Resposta: Para a gente, para mim, eu acho que é um trabalho essencial para a sociedade brasileira. Quando a gente decola para ajudar, atrás de toda o suporte que a sociedade dá para a gente, a sociedade é o nosso cliente maior, a sociedade é o nosso chefe, mas a gente poder ajudar pessoas, tirar pessoas de situações de perigo, resgatar, e quando não tiver mais jeito, a gente trazer o conforto do familiar... Achamos, infelizmente não sobreviveu, mas a gente traz esse conforto familiar. Isso é importante. Isso é o que dá o sentimento de dever cumprido, fazer com que a gente entenda que o
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que a gente faz é o certo. A gente procura se especializar, procura trabalhar dia a dia para melhorar todos os processos relativos à nossa missão principal.
Pergunta: Hoje, nós temos essas duas aeronaves que estão sendo empregadas aqui, que nem o senhor comentou. O UH-1H está para ser substituído... Quais são as próximas mudanças que vão acontecer no Esquadrão?
Resposta: O UH-1H está em processo de... Ainda vai acontecer um processo de escolha definitiva do helicóptero que vai substituir o UH-1H. A grande modificação que aconteceu nesse ano é, realmente, a entrada e operação S5 Amazonas SAR. Essa aeronave realmente é um marco na missão da busca e salvamento. Estou falando isso porque ela não é simplesmente uma aeronave nova, é uma aeronave que possui equipamentos específicos para missões de busca. A partir da operação dela, da entrada, nós passamos não só a fazer a busca visual que era feita nos últimos 60 anos, nós passamos a fazer busca eletrônica. Então, muitas situações onde haviam uma cobertura de nuvens ou era simplesmente fazer uma missão à noite, tinha uma série de dificuldades pra gente, essas dificuldades estão sendo extremamente atenuadas por conta dos equipamentos a bordo da aeronave - os radares, a possibilidade de fazer imageamento termal... Isso aí é um grande avanço, um grande ganho operacional na aviação de busca e salvamento que nós estamos tendo a partir desse ano de 2017.
Pergunta: O senhor comentou essa mudança que já ocorreu. Existe alguma futura?
Resposta: Então, futura... Na verdade, hoje, o que está acontecendo: o equipamento chegou. Quando você compra um equipamento desse, o pessoal ensina como utilizar o equipamento. Agora a tática em si, ninguém ensina. Isso aí é um desenvolvimento que vai acontecer, e o desenvolvimento vai acontecer a partir de fevereiro do ano que vem, com a primeira avaliação operacional da aeronave e aí vai poder explorar todas as possibilidades. O potencial dela é incrível. Quando você voa na aeronave, você se sente muito mais confiante de que você vai conseguir fazer o trabalho o mais rápido possível.
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Pergunta: A missão do senhor vai até quando como Comandante?
Resposta: A passagem de comando acontecerá no dia 11 de janeiro de 2018.
Pergunta: Como o senhor avalia esse tempo todo de trabalho aqui como comandante? O homem que o senhor entrou e vai sair agora, mudou muita coisa?
Resposta: Muda. Muda muita coisa porque nós... a gente tem uma expectativa de fazer muitas coisas e, na verdade, o Esquadrão tem uma vida própria. O Esquadrão tem 60 anos. O Esquadrão precisa de suporte para continuar cumprindo sua missão. O Esquadrão por si só já tem vida, a missão dele é... Quando você fala de busca e salvamento, a primeira coisa que você pensa na Força Aérea Brasileira, é o 2º/10º. Quem realmente faz, quem é o desenvolvedor de doutrina, quem realmente está à frente do primeiro momento que aconteceu algo que é totalmente improvável ou totalmente adverso, o primeiro toque de sirene, as pessoas lembram do 2º/10º. É realmente o desenvolvedor. A gente termina com a sensação de dever cumprido, mas não de mudar o Esquadrão, e sim de colocar mais um tijolinho na construção do que é essa grande unidade aérea.
Pergunta: Como o senhor descreveria o Espírito SAR? Como o senhor percebe ele presente na rotina das pessoas daqui?
Resposta: É difícil você dizer o que é o Espírito SAR. O Espírito é... Você não tem como descrever. Talvez na atitude perseverante das pessoas, talvez na busca do aperfeiçoamento pessoal, talvez na vontade de fazer qualquer atividade, mesmo que ela não seja relacionada com a atividade aérea, mas buscar ajudar quem vai fazer a missão. Isso eu vi em vários momentos aqui no Esquadrão. E quando eu falo isso, eu falo de soldados. São realmente pessoas que não voam, não estão ligadas diretamente, mas eles sabem que o trabalho deles é fundamental para que a missão seja cumprida. Mesmo nessas pessoas que não estão envolvidas diretamente, eles têm esse sentimento que precisa fazer o melhor possível para que a missão seja cumprida. Isso é o Espírito SAR.
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Quando você fala das pessoas que trabalham diretamente, eu acho que é simplesmente a vontade, independente do conforto, independente de qualquer coisa, para realmente fazer com que a missão seja cumprida, a pessoa seja salva no menor tempo possível. A gente sabe que qualquer tempo depois do acionamento a gente já está atrasado. Qualquer tempo que passou, a gente vai estar diminuindo a possibilidade de achar alguém em condições de ser reintegrado a sua família, aos seus entes queridos.
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8. Janaína Moraes de Araújo Rezende da Rosa, 1ª observadora SAR da Força Aérea Brasileira e do Esquadrão Pelicano Entrevista realizada no dia 16 de novembro de 2017, 14h00, na área de lazer da Base Aérea de Campo Grande.
Pergunta: Pode começar contando para a gente um pouco da experiência que você teve chegando no Esquadrão Pelicano. Como você chegou?
Resposta: Bem, eu cheguei lá assim: eu cheguei na Base, a minha data de praça é 10 de junho de 1996, então eu cheguei aqui em setembro do mesmo ano. E daí eu fiquei por oito anos, não no Esquadrão. Eu sempre quis ir para o Esquadrão, sempre quis esquadrão de voo, e eu já conhecia pelas reportagens, coisas que a gente vê na televisão, o 2º/10º, e outros esquadrões também de busca e salvamento, com a mesma finalidade. E aí eu não consegui ir logo que eu cheguei, fiquei em outro esquadrão por oito anos também. Aí houve, depois de oito anos, houve a oportunidade de uma transferência, aí assim eu fiz, né. E aí eu cheguei no Esquadrão, lá, transferida mesmo como efetivo. Aí no início surgiu um... Foi diferente, né, pra eles, foi diferente. Já havia uma menina lá, tinha chegado um ano ou dois anos antes de mim, por transferência da Escola mesmo, e ela por vontade dela mesmo, ela não quis seguir a carreira de voo. Eu não, eu já queria voar, mesmo, já queria fazer todas as atividades que eu pudesse. Até coisas a mais, eu era muito mais nova, tinha muito mais pique e tudo o mais. Mas algumas coisas não eram próprias do corpo feminino, vamos dizer. E aí eu fiquei três anos em formação, porque a formação para observador SAR são várias ordens de instrução que você tem que seguir, cumprir, e em 2006, mais precisamente acredito que 26 de agosto, eu fui homologada como a primeira observadora SAR da Força Aérea, e do Esquadrão Pelicano também, consequentemente. Cumpri todas as missões que tinha que cumprir, todas as minhas missões foram missões reais, né... Busca de sobreviventes, aeronaves, homem ao mar, alertas, fizemos muito alerta na região da Amazônia, e sempre acionavam a gente pra fazer alguma missão ali na região mesmo. Então assim, eu tive esse prazer de todas as minhas missões serem reais mesmo.
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Pergunta: Você não é daqui de Campo Grande, né?
Resposta: Não, eu sou do Espírito Santo, eu sou capixaba, não nasci aqui, mas já moro aqui há 21 anos. Já me agreguei aqui.
Pergunta: E como você escolheu essa carreira?
Resposta: Eu venho de uma família de militares. Meu pai foi militar na Marinha e me incentivou bastante a isso. Não digo me incentivar porque a gente não tinha muita convivência, mas isso me inspirou. Eu sempre quis ser militar. Daí fiz o concurso, passei, tive a graça de passar, e aí vim parar em Campo Grande, por escolha própria minha mesmo. Mas por causa dos esquadrões, das atividades afins, que eu tinha muita afinidade.
Pergunta: Você já conhecia o 2º/10º?
Resposta: Eu já conhecia o 2º/10º só de falar. Não de conhecer, conhecer. Sabia da missão, mas não sabia bem o que significa, porque o 2º/10º não é só busca e salvamento, tem outras missões que englobam. Missões humanitárias, EVAM (evacuação aeromédica), e uma série de outras missões que o Esquadrão também faz, mas que só fica em destaque mesmo a busca e salvamento.
Pergunta: Aí quando você ouviu falar do Esquadrão pela primeira vez, te chamou atenção trabalhar lá?
Resposta: Me chamou atenção trabalhar lá. É uma missão muito nobre, você ajudar o próximo. Fazer pelo outro, né. Quando a gente faz pelo outro, a gente tá fazendo por nós também. Você acaba que você também se ajuda. É muito bom ajudar.
Pergunta: Aí você tinha esse conhecimento. Como foi quando você chegou e começou a exercer mesmo a profissão lá no Esquadrão?
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Resposta: Ah, aí foi maravilhoso, né. Porque você luta muito por uma coisa. A formação não é fácil. É realmente ser forjado mesmo. Para mim eu acho que foi mais difícil, assim. Porque tudo que é novidade é mais sugado. Não que eu tenha sofrido qualquer tipo de coisa, não, nada disso. Eu tive muito apoio, por parte de muitas pessoas lá dentro. Principalmente dos mais antigos. E assim fiz, e graças a Deus correspondi com o que eles esperavam de mim, o Esquadrão também, pelo período que eu fiquei lá. Foi muito bom. É muito nobre, muito nobre pertencer. Porque quando você é Pelicano uma vez, você nunca deixa de ser Pelicano. Você sempre é Pelicano, entendeu? É como se você arrancasse sua pele e embaixo estivesse laranja. É sem palavras.
Pergunta: A gente ouviu pelas entrevistas muita gente comentar do Espírito SAR. O que que é isso?
Resposta: Cara, olha, é até emocionante falar isso, porque assim, é uma coisa que você sente. Sente, sabe? É uma coisa que vem de dentro assim. Você querer estar ali, você querer fazer aquela missão. Você decolar de madrugada, você não vê horário, quando você tá em missão você não pensa na sua família. Você pensa na sua missão. Você está ali para o trabalho, para exercer aquilo. Ajudar, mesmo. Procurar. Quando você é acionado, você torce para não ser. Porque quando você é acionado, alguém, pessoas estão precisando de você, entendeu? E muitas vezes, infelizmente, a gente chega e a pessoa já não está mais ali, né. Já se foi, pelo acidente, a gravidade. Mas assim, é uma coisa de sentir. Sentir, é quase inexplicável. Não sei se eu consegui passar, mas é uma coisa assim de alma, é além. Você exercer a função, você estar ali.
Pergunta: Você passou por um momento em que você acabou tendo que escolher, né?
Resposta: É, eu tive uma escolha. Eu como mulher tive que escolher minha vida pessoal. Eu fiquei grávida, eu engravidei em 2009. Tive um casal de gêmeos, o Diogo e a Sussena. Aí até aí tudo bem, mas quando eles estavam com quatro meses de vida, eu estava grávida de novo. Aí eu engravidei da Mahara. E daí ficou meio difícil conciliar as duas
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coisas. Eles eram muito crianças, precisavam de mim. E assim, com os meninos é diferente. Com os militares homens. Porque eles viajam, mas suas esposas ficam em casa cuidando dos filhos, e comigo é ao contrário, eu sou a mulher. Eu sou a militar, e sou a mulher, e sou a mãe. Então aí eu tive que optar. E para mim foi um luto. Eu passei por um luto quando eu tive que pedir para não estar mais nesse clã. Eu tive que pedir para sair do Esquadrão. E eu passei por uma parte emocional bem grande, é como se alguém realmente tivesse morrido dentro de mim. Eu tive que escolher pela minha família, fiz a escolha. Eu não me arrependo. Eu sinto muita falta das missões que eu fazia, isso eu sinto mesmo, porque faz parte de mim. É o meu espírito. Eu não estou mais lá, mas é como se eu estivesse, lá sempre vai ser minha casa. Sempre. Pode mudar comandante, pode mudar as pessoas, mas lá sempre vai ser minha casa. Porque eu fui forjada lá. Minha vida operacional nasceu no 2º/10º, no Esquadrão Pelicano. Para sempre eu vou ser Pelicano. A gente fala Albatroz, né, os suboficiais e sargentos. Mas assim, todos nós nos consideramos Pelicanos.
Pergunta: Se você pudesse em poucas palavras resumir essa experiência de trabalho, todas essas coisas que você falou aqui para a gente, como você descreveria todos esses anos que você ficou no Pelicano?
Resposta: Olha, eu acho que nós... Tudo que nós fazemos na vida, nós temos que ter amor. Então assim, é amor. Sabe? É amor pelo próximo, é amor por você ajudar. Acho que o Esquadrão é isso: é amor. Profissionalismo. É isso. Assim que eu descreveria.
Pergunta: E o que você gostaria que essas próximas gerações que vão tanto trabalhar quanto usufruir dos serviços do Esquadrão… O que você diria para essas pessoas?
Resposta: Eu diria que não deixasse que as tradições se perdessem. Porque eu acho que... Acho não, eu tenho certeza: as tradições é que comandam as coisas. A gente não pode deixar que as novas gerações percam as tradições daquelas pessoas que já passaram pelo Esquadrão. Essa é a alma do Esquadrão. Não é o Esquadrão que se
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adapta às pessoas, são as pessoas que se adaptam ao Esquadrão. Então, que não se perdessem as tradições. Isso é muito importante. É a alma do Esquadrão.
Pergunta: Você tem alguma experiência de alguma missão, alguma coisa que foi mais marcante pra você?
Resposta: Sim. Nós tivemos uma missão que nós fizemos lá em Boa Vista. Era um Papa Tango. Tinha a bordo três PAX, que são três passageiros. Era o piloto, um agente de saúde e uma enfermeira... Não, minto, um enfermeiro. Aí eles estavam fazendo visitação nas aldeias e numa pernada dessa, de uma aldeia para a outra, o avião era monomotor e o motor pifou e eles tiveram que planar, planar, planar, planar, só que o avião estava cheio de combustível, ainda não tinha gasto todo aquele combustível. Então quando o avião bateu no solo, ele... Não é que ele explodiu, mas ele pegou fogo. E no impacto, as pessoas não morreram, assim... Não morreram por causa do impacto. Duas ficaram desacordadas, e esse agente de saúde foi que... Ele levou a porrada assim, no caso, né, o impacto, e acordou logo. Só que quando o avião estava pegando fogo ele não conseguiu tirar os dois ocupantes a tempo de não se machucarem, não se queimarem. Tanto que o piloto morreu ali na hora, em decorrência disso. E o enfermeiro ficou bastante queimado. Durante esse período que eles ficaram na mata, eles... Ele passava pra aliviar a dor do... Porque eles foram aleijando, jogando fora as medicações e as coisas que estavam dentro do avião durante a queda para ver se conseguia planar mais. Quando bateu que eles se viram nessa situação, não tinha mais as medicações necessárias para estar fazendo os curativos. Então ele usava a lama do Igarapé para aliviar a dor desse senhor. Mas ele infelizmente não conseguiu, ele faleceu lá, e só ficou esse agente de saúde mesmo. Então que que ele fez... Lá na Floresta Amazônica, a gente acha que é tudo plano, mas não é plano, a floresta por baixo é toda assim. E ele falou assim "poxa, ninguém vai me achar aqui, porque o avião tá lá para baixo, pegou fogo, não tem nada de branco". Porque na floresta é assim: é tudo verde. Tudo que for diferente na parte de cima é avistado lá embaixo, então um ponto branco que seria no caso do tamanho de uma asa, mas lá de cima fica como se fosse um ponto, é visível. É muito assim "pá", você bate o olho e você vê. E daí o que ele fez, ele pegou um facão, que estava sem cabo,
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enrolou na camiseta e começou a fazer uma clareira, foi derrubando as árvores maiores que caíam em cima das menores e fez essa clareira lá. Só que nesse dia, em Boa Vista é assim: as tempestades vêm de uma hora para outra, o tempo muda. E tinha um esquadrão, o Esquadrão Escorpião, e o que aconteceu: aconteceu que o tempo fechou de uma hora só e nós estávamos com essa missão de decolagem e nós já tínhamos avistado... Um amigo nosso avistou esse senhor, outro esquadrão de helicóptero fez esse resgate e em um ponto avião e helicóptero se encontraram, esse senhor passou para dentro do avião e veio. E aí nós tínhamos três esquadrões querendo pousar, que era o outro Esquadrão do A-29, o nosso Esquadrão com o paciente a bordo, e o Esquadrão de Reconhecimento que estava fazendo tudo isso por cima. E o que que aconteceu: o Esquadrão do A-29 não conseguiu pousar, alguns aviões foram parar em estradas, até teve um acidente, um bateu e o piloto ejetou e veio a óbito, foi uma coisa bem ruim. Mas esse sobrevivente, o nosso avião como tinha o sobrevivente a bordo tinha prioridade de pouso. Pousou, ele foi para o hospital, depois nós fomos fazer a visita para ele lá, explicar para ele que a gente tinha, né... Fazer um reconhecimento e tal. Foi até na época dos 50 anos do Esquadrão, isso entrou para a história lá. Mas enfim, foi isso. Essa foi uma missão muito chocante porque a gente salvou uma vida, mas no meio de toda aquela missão que não era nossa, o outro Esquadrão, que é irmão né porque é da Força Aérea, veio a ter essa fatalidade lá. E aí foi bem chocante. Essa foi uma das que chocou. Mas teve várias outras, teve bastante mesmo. Da gente estar removendo soldado dos Batalhões de Fronteira, na Amazônia tem os batalhões do Exército que são de fronteira. Muitos brasileiros não sabem disso, mas eles relatam muitos conflitos porque não tem um muro que separa um país do outro. Não tem, as pessoas entram e saem assim. E quem que faz esse policiamento? São essas pessoas, esses militares, brasileiros, porém estão lá. E numa dessa, um dos militares sofreu um tiro acidental no pé, um soldado. Nós estávamos em Tabatinga, o 2º/10º estava de alerta lá numa operação Timbó, e fomos acionados. Aí fomos buscar esse militar lá porque em Tabatinga tem um hospital grande, um Hospital Geral, e lá não tinha condições de tratar ele. Quando chegamos lá o Tenente na época, hoje ele já é Coronel, Rodrigo, ele foi e falou assim "olha, vamos olhar aí pra ver se tem alguma fenda para a gente entrar" porque estava cheio de nuvens. Aí todo mundo foi para as janelas e tal e falando na rádio e achamos e fomos. Quando nós
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avistamos a pista, as árvores eram muito altas, então o Bandeirante na época fez assim e já pousou. O Tenente falou assim "olha, Jana, eu não vou cortar o motor da esquerda, só o da direita mesmo, para a gente pegar o paciente e sair". Aí era um médico do Exército que estava a bordo, então fizemos assim, ele foi falar com o médico e eu fui buscar o paciente. Quando eu desci, todos os militares do Exército estavam virados para a mata de fuzil em punho. Eu falei "meu Deus do céu, o que que tá acontecendo? Então vamos, vamos pegar esse garoto e sair, vamos vazar". E eu fui perguntando "por que que vocês estão olhando para a mata?", fiquei arisca né. E eles disseram "não, porque aqui tem muito guerrilheiro" e eu "misericórdia! Vamos, vamos, vamos, logo, vamos embora!". E fomos embora e graças a Deus deu certo, a gente decolou rapidinho e chegamos em Tabatinga sãos e salvos, porque... Mas é cada coisa que a gente passa assim, que vou te falar, cara. Só Jesus mesmo, só Deus na causa.
Pergunta: Você ainda participa das coisas do Esquadrão, quando tem jantar, comemoração?
Resposta: Sim, eu participo. Agora dia 25 se não me engano tem a Ceia dos Pelicanos. Eu sempre vou. Esse ano vamos ver aí, se os astros alinharem, se tudo der certo, estarei lá também. Nunca faltei uma Ceia, nunca. Eu, nossa... Eu amo demais o Esquadrão. É uma coisa assim que só quem já foi ou quem viveu uma parte do Esquadrão, porque as famílias também vivem isso, sabe como que é. É uma coisa diferente. Eu sempre digo assim: nós não somos piores e nem melhores que ninguém. Nós só somos Pelicanos. É assim, é simples. É simples assim.
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9. Daniel Cavalcanti de Mendonça, Comandante da Base Aérea de Campo Grande Entrevista realizada no dia 16 de novembro de 2017, 15h00, na sala do entrevistado, na Base Aérea de Campo Grande
Pergunta: Coronel, pode começar contando como foi o seu início no Esquadrão Pelicano.
Resposta: Quando eu me formei na Academia, eu passei um ano no Comando Aéreo de Treinamento, que é sediado em Natal, onde todos os oficiais aviadores fazem um estágio na sua formação. Nesse estágio, eu fui selecionado para a aviação de asas rotativas e fui, ao término desse estágio, classificado aqui em Campo Grande para fazer parte do Esquadrão Pelicano, 2º/10º Grupo de Aviação. Isso nos idos de 93, quando eu cheguei aqui no final do ano na, então, Base Aérea de Campo Grande que sediava o Esquadrão Pelicano. Cheguei aqui como Segundo Tenente para iniciar toda a minha formação operacional na aviação de busca e salvamento, que é a que eu tinha escolhido na época. Iniciei essa formação operacional em 1994, ainda como Segundo Tenente, fiz toda a minha formação operacional básica na aviação de asas rotativas no helicóptero na antiga, na então Base Aérea de Santos, e retornei ao fim desse curso para a continuidade da minha formação operacional no 2º/10º, na aviação de asas rotativas, voando o UH-1H e o então C-95 Bandeirante SAR, na parte de asa fixa. O Esquadrão tem peculiaridades. É o único esquadrão da Força Aérea que tem, tanto aviação de asa rotativa, como a aviação de asa fixa em função das características da nossa missão. Missão que realizamos: salvar vidas; busca e salvamento. Nós somos responsáveis pela localização de qualquer sinistro e pelo resgate dessas pessoas, dos sobreviventes ou interações que se fazem necessárias por ocasião de um acidente, por ocasião de um sinistro. E a gente fala de acidente, mas não é só o acidente aéreo. O Esquadrão tem outras obrigações, outras interações que se fazem oportunas, como por exemplo: a gente faz busca no mar, a busca é o tipo de missão que nós realizamos com o avião ou com o helicóptero, mas é a parte de localização. Quando a gente fala que a gente realiza uma missão de busca, a gente está procurando, buscando encontrar algo - desde um pequeno barco de pesca que fica à deriva até um sinistro que a gente sabe (um avião que venha
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a ter que fazer um pouso de emergência ou que venha a colidir com o solo por algum motivo). Isso a gente chama de busca, que é a localização. O salvamento, o resgate, é o que vem depois. É quando tem algum sobrevivente ou a gente precisa chegar àquele local com a aviação de asa rotativa para fazer esse resgate desse sobrevivente ou algo que necessite do nosso apoio.
Pergunta: O senhor passou por etapas dentro do Esquadrão...
Resposta: É. Como Tenente, eu fiquei aqui até 1998 e fiz toda a minha formação operacional na aviação de busca e salvamento. Fiz toda a minha formação no UH-1H na parte de resgate e fiz toda a minha formação operacional também no C-95 Bandeirante. Depois eu saí no Esquadrão, em 1998 para 1999, e retornei em 2012 para comandar a Unidade Aérea, como Comandante do Esquadrão do 2º/10º. Fiquei até 2014, que foi a minha segunda etapa. E agora, uma terceira etapa no retorno a Campo Grande, no ano de 2016 como Comandante da, então, Base Aérea de Campo Grande. E hoje, exercendo o cargo de Comandante da Ala 5, que está sediada naquele complexo, naquela Base Aérea de Campo Grande que a gente comentou agora. Foram três etapas, três passagens pela vida do Esquadrão e que realmente me realizaram muito. Onde eu tive toda a minha escola, onde eu nasci como piloto, onde eu cresci como piloto, onde eu me desenvolvi operacionalmente, onde eu aprendi tudo que eu podia ter aprendido da aviação de busca e salvamento e depois o privilégio de comandar a Unidade onde eu nasci, já como Tenente Coronel durante dois anos, o que foi realmente uma realização profissional muito grande. E agora, inicialmente, no primeiro ano como o comandante administrativo da Unidade que eu comandei, que eu vivi, que eu cresci, e nesse segundo ano, como comandante operacional da Unidade. Porque todos os esquadrões aéreos sediados na Ala 5 são comandados pelo comandante da Ala. Nós temos os comandantes dos esquadrões, que fazem toda a gerência operacional, mas que estão subordinados ao Comandante da Ala operacionalmente agora. Essas foram as três etapas que eu vivi. São características importantes, marcantes que trazem à gente uma experiência muito interessante. Eu falo que eu nasci aqui porque tudo que eu aprendi, tudo que eu sei, tudo que eu sou, eu devo à essa Unidade. Foi o que eu escolhi para mim, foi o ideal que eu
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tenho desde Aspirante. Sempre quis trabalhar, primeiro ser piloto de helicóptero, mas com esse viés. Eu queria tentar fazer a diferença em alguma coisa, e a gente sabe o quão o Esquadrão Pelicano é diferente. A gente sabe o que a gente pode fazer fazendo parte dessa missão, estando inserido nesse contexto. Foi aquilo que eu sonhei porque eu idealizei isso, eu gosto de viver esse tipo de... Ter esse tipo de sensação, de estar participando, de fazer o bem. E a gente, no Esquadrão, a gente tem isso muito aflorado. E depois que você chega, que você realmente vive, que você tem ideia do que é isso, aí é um sentimento que é muito difícil de expressar. Porque a gente não atua só na busca e salvamento, as pessoas têm uma ideia às vezes um pouco restrita do que é a busca e salvamento. A busca e salvamento é muito mais do que você decolar, fazer uma localização, depois ir lá e fazer um resgate. A busca e salvamento é uma filosofia de vida. A busca e salvamento é uma dedicação, é uma abnegação muito grande de todos os elementos de todos aqueles que o compõem, que compõem o sistema de busca e salvamento da Força Aérea. Ela não é só decolar e ir procurar, para vocês terem uma ideia, missões que a gente realiza, o Esquadrão já realizou ao longo de sua história e hoje a Força Aérea está pronta para realizar: apoio a enchentes, deslizamentos, esses deslizamentos de terra que nós vemos na Serra de Teresópolis, enchentes que nós vemos no Sul, Joinville que a gente já escutou falar um monte, naquela serra de Santa Catarina onde tem muito problema de enchente, o Esquadrão está presente. Apoio a Nações Amigas em terremotos, como já teve no Peru, no Chile recentemente, a Força Aérea está presente. O Esquadrão sempre se faz presente por causa dessa expertise. São 60 anos realizando essa missão. É muito tempo, desde 1957 lá em Cumbica, onde tudo nasceu, passando por Floripa, chegando aqui em Campo Grande. Então são 60 anos salvando vidas, envolvido nessa missão. Isso realmente é o que move, esse sentimento que você adquire no Esquadrão, é isso que te move. É como se fosse um... Algo que te faz falta quando você se vê fora. Então, por isso que eu falo para vocês que eu sou realmente um privilegiado de poder ter voltado três vezes e fazer coisas parecidas, me envolver, poder me envolver três vezes numa carreira ligeiramente curta e ter essa oportunidade. Isso me faz muito feliz. Realizar missões humanitárias, apoio a pessoas que estão precisando. Isso não tem preço. Você não quantifica isso, você nem qualifica isso. O que você sente quando você realmente tem a oportunidade de chegar perto de
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um sobrevivente é impagável. Você não consegue explicar a alegria, o sentimento que se envolve. Quando você localiza um barco que está à deriva há uma semana, e eu tive esse privilégio no litoral de Florianópolis, de Santa Catarina, é impagável quando você sobrevoa, sabe que tem uma pessoa precisando de você e você consegue localizar aquela embarcação pequenininha e você de repente olha lá para baixo e vê um monte de gente acenando para você. Você vê a diferença que você faz num mundo tão grande onde você só vê aquela quantidade enorme de água, como esse exemplo, e você consegue chegar e fazer a diferença na vida de alguém. A Força Aérea te proporciona isso. E esse Esquadrão é diferenciado nesse sentido.
Pergunta: Tirando a nobreza da missão do Esquadrão, por que é diferente? Por que a gente vê esse entusiasmo de quem fala do Esquadrão?
Resposta: Envolve vida. É o que eu falei para vocês, envolve sonho, envolve fazer a diferença no mundo que você vive. É poder ajudar sem ter nada em troca, é trabalhar para fazer a diferença na vida de alguém. É você agir para que outros possam viver, que é o nosso lema. O lema do Esquadrão é "Para que outros possam viver", é um lema mundial da Aviação de Busca e Salvamento, da Aviação SAR. É você fazer a diferença no mundo que você vive de alguma forma. É você decolar, não interessa a hora, não interessa o motivo, não interessa quando. É você largar o seu lar, a sua família, mas você faz isso tudo com essa motivação que você está falando porque tem alguém que está precisando de você. Esse é o seu pagamento. É você decolar com essa esperança, com essa chama acesa no seu coração de que você vai decolar daqui e você vai achar alguém. A gente não decola achando que não vai achar ninguém, a gente sempre decola achando que vai achar alguém, que vai fazer essa diferença, que a gente vai trazer alguém para casa, que a gente vai devolver um pai, a gente vai devolver uma mãe, a gente vai devolver alguém no seio do seu lar. É isso que a gente espera que façam pela gente, é isso que a gente tenta fazer pelos outros e é isso que o Esquadrão te ensina. É isso que essa missão te dá. Essa missão é muito mais do que voar. Ela é muito mais do que ser piloto. É uma filosofia de vida. É um estado de espírito. Ser da Busca e
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Salvamento é um estado de espírito. É o que você escolhe para você, é o que você escolhe fazer e isso aí não tem preço.
Pergunta: Você acha que o senhor foi aprendendo a ser assim durante toda a carreira? Já é uma coisa que está lá e quando você se insere lá dentro, a pessoa entra e vai pegando de quem estava antes? Como que o ocorre o contágio desse sentimento?
Resposta: Não tenho dúvida. Você conhecer um pouquinho do Esquadrão, claro que ajuda. É a escolha inicial. Mas a verdade é que você dificilmente consegue quantificar aquilo que você vai viver, dificilmente você consegue qualificar aquilo que você vai sentir. Quando você chega no 2º/10º é que você tem ideia da magnitude do que o 2º/10º representa. As pessoas que nos antecederam, esse legado que elas deixaram, esse entusiasmo, esse sentimento, isso tudo te contagia de uma forma que não tem muito como você explicar. Você quer viver aquilo ali e vira um impulso muito grande no seu dia a dia. Você quer viver mais, você quer fazer mais. Você se motiva mais, aí, com isso, você se prepara mais, você estuda mais, você se capacita mais, você quer voar mais e é por isso que o Esquadrão é referência na aviação de busca e salvamento. Ele é o desenvolvedor de doutrina porque as pessoas aqui fazem a diferença, mas fazem a diferença por causa do Espírito SAR. Essa coisa que te move e que não tem muita explicação. A explicação é essa, é você querer fazer a diferença no mundo que você vive, na vida de alguém, mas que te contagia, contagia todo mundo, contamina todo mundo. Um empurra o outro, um segura a barra do outro para que a missão seja cumprida, porque em primeiro lugar vem a missão. A gente cuida da família, a gente se preocupa com todo mundo, mas a gente vive a missão, a gente respira isso. A gente quer muito que as coisas deem certo, para que as pessoas consigam ser atendidas, que as pessoas consigam ser resgatadas, que a gente consiga devolver a um lar aquilo que a gente gostaria que realmente acontecesse. A gente queria que não tivesse acontecido nada, mas se aconteceu, a gente queria trazer de volta aquilo que está faltando. E é isso que nos move, é isso que nos contagia. Um contamina o outro, como se fosse um impulsozinho que a gente recebe. Um vai empurrando o outro e isso aí é muito legal.
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Pergunta: Como o senhor descreveria todos esses anos e todas essas etapas que viveu no Esquadrão? Em poucas palavras, o que o senhor diria sobre essa sua experiência?
Resposta: Eu me considero um privilegiado. Se só tivesse sido a primeira passagem, eu já seria um privilegiado por ter tido a oportunidade de viver isso, mas a Força Aérea, o caminho que eu trilhei... A Força Aérea me deu a oportunidade de voltar outras duas vezes - onde eu nasci, como eu falei que foi o berço de tudo que eu aprendi, onde eu tenho uma gratidão absurda e eu ainda ganhei o presente de comandar a unidade onde eu nasci. E quando eu pensei que tinha acabado, a Força Aérea me dá a oportunidade de comandar a Ala que, a Base Aérea que esse Esquadrão está sediado. Então eu vivi... Foram quase dez anos no total, aproximadamente dez anos de muita alegria, onde eu realmente me considero esse privilegiado. É um presente muito grande. Foram fases, ok, essa fase acabou aqui, se encerrou como Tenente, vamos ver se eu volto um dia. E eu tive a oportunidade de voltar como Comandante do Esquadrão. Quando eu penso que acabou, eu volto de novo e consigo conviver nesse ambiente por mais dois anos e me envolver, e enfim, tentar fazer dessa estrutura uma estrutura melhor por causa do nível gerencial que você vive. Eu vivi níveis gerenciais dentro da estrutura da Força Aérea no que diz respeito à Busca e Salvamento. Eu vivi o nível operacional, onde eu trabalhei, onde eu aprendi tudo que eu tinha que aprender, onde eu tive oportunidades que poucos teriam como piloto, como membro da Aviação de Busca e Salvamento. Eu voltei num nível gerencial diferente, onde a experiência traz algumas coisas para você ajudar um pouquinho mais aquela missão no seu nível, em outro nível, no nível de gerência, no nível de, realmente, proporcionar algum crescimento no nível operacional. E depois, eu retornei nessa terceira vez no nível de Comandante da Ala onde eu sou muito mais apoio, onde eu posso, com uma visão maior ainda de gerencial, tentar trazer essa estrutura ou ajudar naquilo que talvez falte um pouquinho aqui, um pouquinho ali, mas num nível de apoio, de fazer as coisas acontecerem para que a missão continua a ser cumprida. Então eu me considero um privilegiado.
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Pergunta: Quando chega algum militar agora, novo, o senhor fala algo para ele do Esquadrão?
Resposta: Não só eu. Eu, principalmente, porque eu sou o primeiro a ter o contato com todos os militares que chegam por ser o Comandante da organização. Todo mundo que chega, o primeiro lugar que vem é aqui. E aqueles que chegam para o 2º/10º, não tenha dúvida: é aquele que é o mais cobrado, é o mais "ó, a sua responsabilidade é grande, essa missão...", mas é no sentido de motivar, é no sentido de "ó, isso aqui eu vivi quando eu cheguei".
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10. Daiane Ossuna Ribeiro, psicóloga Entrevista realizada no dia 16 de novembro de 2017, 19h30, no consultório da entrevistada.
Pergunta: A gente percebeu que eles têm uma sensação de orgulho por estar fazendo alguma coisa por uma causa nobre, mas eles sempre bateram na tecla do "é um Esquadrão diferente, eu queria ser um militar especial". Tem alguma relação com essa coisa de querer pertencer, querer ser único?
Resposta: Tem. Todo ser humano, quer dizer, todos não, mas... O ser humano tem uma tendência a querer participar de grupos. Então é muito difícil você ver uma pessoa que quer "ah, quero viver sozinha". É muito difícil isso acontecer. Então querer pertencer ao grupo diferente é legal. E isso é do meio social. A gente se identifica com algumas coisas. "É um grupo diferente, então eu me identifico com o diferente, eu vou lá. Eu quero fazer parte deste grupo". Então seria uma coisa assim de singular, de único, totalmente motivacional para o ser humano.
Pergunta: E como isso se prolifera lá? Porque ele quer participar, aí ele entra, mas isso continua lá dentro, ele continua falando para a pessoa que está de fora, ele continua compartilhando dessa sensação lá com os companheiros dele...
Resposta: É, é um espírito de equipe total. Uma equipe, eles têm essa tendência de falar "ah nossa, o nosso time, nós somos sensacionais". Então um motiva o outro. Só que na verdade a motivação ela é única e é nossa. Não tem como eu falar "ai, olha, vou te motivar". Então tem algo do grupo que motiva a pessoa, que talvez não seja a mesma coisa que motiva todos os outros, mas que acabam se encontrando ali no que é comum, que é o Esquadrão.
Pergunta: Você acha que a missão deles, que é busca e salvamento, salvar vidas... Isso de certa forma já motiva as pessoas a querer fazer parte disso, pela nobreza
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do trabalho e tudo o mais? Você acha que isso influencia também, ou é mais uma coisa só psicológica assim de querer pertencer a algo único?
Resposta: Não, isso com certeza influencia, porque é muito nobre. Então a gente vive numa sociedade, onde "oh, quer salvar uma vida, deu a vida pelo outro", isso é heroico, né. Então o heroico é socialmente aplaudido. Então... "Por que não eu? Por que eu não posso fazer parte desse heroísmo?".
Pergunta: E por que existe essa necessidade tão grande da gente fazer coisas que façam com que a gente não passe batido na vida?
Resposta: Então, basicamente é um instinto. O ser humano tem instintos de vida e instintos de morte. O instinto de vida é fuga, é não ser atacado ou paralisado, não morrer. E o instinto de morte é aquela coisa: "vou saltar de paraquedas". Então a gente fica andando nesses dois eixos, entre A e B, entre vida e morte. A gente faz isso o tempo todo. Participar disso é o que dá vida. É uma motivação, é um desejo. A gente não é nada se a gente não deseja as coisas, mas se a gente só deseja e não faz nada com isso, a gente também não se move na vida.
Pergunta: Supondo que a gente seja uma pessoa que não faça parte disso... Não é uma profissão comum, né? A gente tem aquele objetivo de se formar, de constituir família, e esse vai ser o ponto alto da nossa vida. E eles deixam isso de lado. A família fica para trás e eles colocam outra coisa à frente ali. Como eles conseguem se desligar, de certa forma, de uma parte que para o resto do mundo é o máximo, o essencial?
Resposta: Eu acho que na verdade o desejo vira outro. Lógico, tem amor, tem querer pela família, de estar perto, mas o desejo máximo, o que realmente move a pessoa é salvar vidas, é fazer buscas, é participar deste grupo. Então não é nem que deixou de lado, mas é que realmente não tá nesse ângulo. "Meu desejo de vida é salvar pessoas. Então minha família está salva". Eles têm essa garantia: "minha família está ali salva".
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Lógico, tem as contingências, isso aí é inevitável, mas "ah, minha família está ali segura e essas outras pessoas não estão e esse é o meu papel".
Pergunta: Outra coisa que eles sempre mencionam é a questão da tradição, que para eles é o mais importante e que todos ele usaram para justificar essa coisa de que todo mundo que entra lá é contagiado, todo mundo que entra lá sai falando... Porque tem a tradição. Um entrevistado hoje inclusive falou que não é o Esquadrão que se molda às pessoas, são as pessoas que se moldam ao Esquadrão. Tem essa responsabilidade e tem essa questão de você repassar dentro do seu grupo, né?
Resposta: É, é bem estranho, porque vai totalmente do oposto da empresa privada. Na empresa privada não tem como pessoas só se adaptarem à empresa ou empresa se adaptar à pessoa, se não ninguém trabalha. Mas... Existe toda essa tradição dentro dos militares, né. Do Exército como um todo. Então... Não sei explicar, é como se pertencer àquilo fizesse mais sentido do que se adaptar a qualquer outra coisa. "Ah não, se existe isso aqui, justifica", é quase obsessivo. Vai, vai lá e faz. E é assim que vai acontecer. É mais seguro. Não tem tanto aquela coisa do "e agora, o que que eu faço?". Isso existe por isso e se faz desse jeito. É mais tranquilo, você não precisa inventar moda.
Pergunta: É uma coisa arriscada o que eles fazem, então cria-se aquele sentimento de orgulho, de achar que o que eles estão fazendo... Eles sentem uma superioridade.
Resposta: A única coisa que pode fazer um ser humano se perder é a morte. Porque não tem explicação. Você morre. O que acontece depois, independente de crenças que você tem, ninguém vence a morte. E cada vez que eles saem vivos de uma situação perigosa, é "eu venci a morte". Ou pelo menos "eu venci o risco de morte". Por isso esse ar de superioridade. De "venci a morte. Olha como eu sou imbatível. Eu sou imortal. Venci a morte".
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Pergunta: Mas aí também tem o outro lado que eles salvam pessoas de morrer. Muitas vezes eles resgatam de um acidente, a pessoa está preste a morrer e ele salva uma vida.
Resposta: Sim. Porque salvar vidas é o máximo do ser humano. Então, vai assim contra tudo que a gente acha que é certo, "pera, eu não sou capaz de salvar uma vida, mas de repente eu salvei". Legal. Criaram-se métodos, né, criaram-se ciências para salvar vidas. E eles se utilizam do braço, da força, da garra, da luta, para salvar uma vida. Não é ligar a pessoa a uma máquina. É eles que estão salvando, é corpo a corpo. É algo muito real, muito forte. Que foge assim, até do simbólico, talvez eles não conseguissem muitas palavras para definir o que eles fazem por causa disso. Porque é muito real. Tá muito no corpo. E o que é do corpo a gente não consegue definir muito bem, é quase inalcançável para as palavras.
Pergunta: Outra coisa essencial lá é o espírito de equipe. Eles trabalham com uma coisa que seria muito fácil eles quererem se exaltar ali dentro, mas todo mundo com quem a gente falou sempre colocou o trabalho em conjunto, o um ajuda o outro, um faz uma coisa que às vezes nem está relacionado diretamente, mas ajudou de alguma maneira. A gente tem essa sensação de ser tão individualista, e aí a gente vai ali dentro de uma instituição militar, que é muito regida a mérito, e eles conseguem ter esse senso de equipe de que todo mundo ali é necessário.
Resposta: É. Muito provavelmente isso faz parte do treinamento deles porque você não vai salvar uma pessoa sozinho. Pelo que eu entendo, por isso sempre tem polícia, sempre tem um parceiro, uma pessoa para estar junto, para saber onde você está, para te acompanhar, para você não ir sozinho, então... Eles valorizam muito essa coisa da equipe porque vai que você tenta salvar sozinho e você morre também. Então talvez seja para isso não acontecer. "Para não perdermos um soldado, vamos dois tentar salvar, vamos uma equipe tentar se ajudar". E acaba que um complementa o outro. Porque as características que eu tenho, você não tem. Ou as características que a gente tem em comum, ela talvez não tenha. Então acaba que um sempre vai completar a ideia do outro.
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Se algo aqui não deu certo na minha tentativa, "ah, isso daqui pode tentar", então é sempre bom ter alguém de fora, junto ali, outra pessoa, para te dar outras ideias. E trabalhar em equipe é exatamente para isso. Se não fica muito do um e nunca se muda nada. "Ah, aquele lá faz. Aquele lá resolve, isso aí é dele", que a gente vê muito nas empresas privadas, por exemplo. Esse aqui digita, esse aqui imprime, esse aqui faz xerox. Cada um faz uma coisa e se colocar o que tira xerox para imprimir, para digitar, talvez não saia tudo tão perfeito. E eles têm que trabalhar em equipe porque, sei lá, numa guerra, numa situação de muito risco, você vai precisar do outro. Ficar sozinho não vai ser vantajoso pra você.
Pergunta: Eles lidam com um negócio que costuma estar distante da gente que é a morte. A gente conversou com gente que fala que teve pesadelo, que teve problema, que chegou e viu situações devastadoras assim e teve que manter aquela pose. Como a gente consegue separar o momento em que pode entrar em pânico e o momento que tem que deixar isso de lado pra fazer o que se tem que fazer?
Resposta: É instinto. Nem sempre a pessoa vai conseguir deixar de lado ou não travar. Mas como eles são muito bem treinados, o instinto fica ali, como é inconsciente a coisa, fica no "vamos lutar, depois a gente vê o que a gente faz". Então o cérebro ele tem isso. Ele se arranja fácil. Ele é plástico. Então "tá, isso aqui é horrível, mas talvez tenha coisa pior que eu não vi ainda. Então vamos lá". E depois que a gente lida com o trauma da imagem, do que a imagem representou, vem depois. Porque na hora ali todos os hormônios a flor da pele, adrenalina, aí o corpo consegue se ajustar para a situação.
Pergunta: A gente queria entrar na questão do porquê eles fazem o que eles fazem. A gente queria buscar alguma coisa, alguma teoria, algum conceito que talvez conseguisse explicar como eles entram lá e são contaminados por essa motivação que a gente comentou, e continuam, e tem esse orgulho, e entram nesse ciclo, e repassam isso. É uma coisa assustadora porque eles batizaram esse sentimento de Espírito SAR. Eles chamam assim. E normalmente a gente recebe um pouco
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isso, trazendo pra nossa vida civil... Entra numa empresa nova, entra na vibe... Mas lá é muito forte. Além de todo esse risco da profissão, parece que transcende, porque a pessoa começa a ser assim fora, no trânsito, ele é assim se ele encontra uma pessoa, numa viagem que ele fez, oferece ajuda. Todas as vezes quando a gente entrevistou alguém, foi sempre isso de "não tem explicação". Eles nem pensavam. A primeira resposta era isso. E sempre muito emocionado. É o trabalho em equipe, é você ser o mecânico, mas tem um resgateiro que precisa da sua ajuda e você ajeita as coisas para ele porque sabe que ele precisa mais do que você naquela hora. É abdicar das suas coisas pessoais para ajudar o outro naquela hora sem pensar. E se você traz para o seu emprego, por exemplo, você vê que não tem isso. A pessoa não adianta o trabalho dela para ajudar o trabalho da outra. Pode ter, mas não é aquela coisa constante, diária.
Resposta: Não é tão forte. É difícil de explicar exatamente porque não tem muitas palavras. É o que eu falei: é muito do real, do corpo. O ser humano tem três estruturas básicas, que é a linguagem e o corpo e a mente. Então, tá tudo interligado. Com a palavra, a gente dá conta de muitas coisas da mente, muitos sentimentos, muitos pensamentos. A gente consegue assim por uma borda, mas com o corpo a gente não consegue por borda até que aquilo te toca realmente, até que você tem que fazer uma força, até que você tem que lutar, até que você tem que, sei lá, se bater, cair. Então é um acontecimento, assim, com a gente. No corpo. Talvez não entre na linguagem, nunca. Talvez não tenha uma palavra para realmente definir o Espírito SAR. Mas tá ali, pulsante, fervendo nas veias das pessoas, porque é muito forte. Mas aí, se você falar "não, tenta me definir em uma palavra o que é", ninguém vai falar a mesma coisa. E se falar e você tentar destrinchar aquela palavra, não vai ser o mesmo significado. Porque é do um. Então, eu acho que o mais interessante que desde que vocês falaram comigo sobre isso eu venho pensando, é como isso é algo do social, do grupo, que vem para o um. E que características do um vão para o social e vão formando esse espírito, esse trabalho, essa coisa que é tão forte e que não cabe em palavras. Então talvez não tenha uma palavra para definir "ah olha, é isso que motiva todo mundo desse lugar". Talvez não tenha. Porque talvez isso seja realmente do um. E o que é do singular, pode tentar 300 mil
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palavras para definir e talvez não chegue em alguma coisa que a pessoa fale: "é isso" com fé, com força, "isso aqui, acabou", sem neura nenhuma. Talvez nunca chegue numa palavra, mas... Acho que talvez por isso que as pessoas ainda vão. Ainda querem ser, ainda querem fazer parte. "Porque se não dá pra falar, dá pra sentir, então eu vou lá". Então talvez por isso que seja tão forte esse sentimento, porque não cabe em palavras. "Ninguém sabe me descrever e eu sou aventureiro, quero desvendar isso, eu vou", é um mistério, é algo aí fora da palavra, do corpo mesmo.
Pergunta: Isso do um pro todo, do todo pro um, é quase como se eles fossem um organismo.
Resposta: É um corpo pulsante, um corpo vivo.
Pergunta: Algumas pessoas que a gente entrevistou comentaram que é meio que uma vocação que eles têm. Que algumas pessoas chegam lá e se encontram totalmente e outras pessoas chegam e não conseguem se adaptar. Entra naquilo que você comentou da pessoa conseguir se desligar, de saltar de paraquedas, e de outras pessoas terem uma barreira com isso?
Resposta: Pode ser. Pode ser que sim, mas a vocação é tipo um perfil, né. Tem gente que tem perfil pra outras coisas e vai ser tão útil quanto. O que eles pedem talvez tenha esse algo a mais, que ninguém sabe o que é, e que algumas pessoas não se identificam com essa busca. E como ser um buscador de pessoas, de situações, se você não sabe o que você está buscando? Para algumas pessoas, algumas vezes não faz sentido esse sentimento tão forte. É tipo "ah, tanto faz. Vocês têm esse Espírito SAR aí, mas não me contagiou". Por isso que eu falo que a motivação, não tem como eu te motivar. A gente vê pessoas, sei lá, "nossa, é uma história de superação, você está aí super me motivando" e na verdade você se motivou com aquilo por alguma outra razão que não é aquela pessoa que está fazendo isso com você. É você que faz isso com você mesmo. Às vezes as pessoas realmente não encontraram sentido nessa busca de algo que não se sabe o que é. E por isso não se adaptam.
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Pergunta: Até porque se não todo mundo seria capaz de fazer tudo. Se fosse só questão de você ir lá e querer fazer. Aí nesse caso que você falou, a vontade não basta. Porque ela teve ali a vontade inicial de chegar e tentar participar e aí não deu. É até o que o Rubens tinha comentado, que tem um pessoal que chega a fazer todo o treinamento e na hora de saltar de paraquedas, trava.
Resposta: Vai saber o que não ouviu falar de sobre saltar de paraquedas. E basta uma palavra para traumatizar uma pessoa. Basta uma palavra para traumatizar alguém, não precisa viver a situação.
Pergunta: Você pode explicar para a gente mais teoricamente o que é essa motivação? Explicar esse contexto, como que funciona, mais mastigado.
Resposta: Olha, a motivação ela é muito pessoal. A Psicologia traz aí como vontade, como uma força, até o conceito na Psicologia é meio vago, eu fui ler sobre isso e falei "cara...". Nunca foi algo que me atraiu porque eu sempre trabalhei com as outras palavras de motivação. Então, o quanto você quer o que você deseja? Eu acho que essa é a questão básica, porque não basta só desejar e não basta só querer. "Ah, eu quero entrar", mas se você não deseja aquilo muito, "ah, vou lá, faço o treinamento, se der deu, se não der não deu". Então você tem que desejar demais aquilo que você tá querendo e querer demais aquilo que você tá desejando. Isso é básico para você fazer qualquer coisa na vida. Não só entrar para um grupo desse, mas a motivação ela é muito singular. Talvez o que motive, sei lá, cada um a ir na academia buscar seu ideal de corpo... O objetivo é o mesmo: um corpo sarado. Mas a motivação é totalmente outra. "Ah, eu quero ter saúde", "eu quero ficar bem na fita". Depende muito. Você pode ter o mesmo objetivo, que é salvar vidas, mas as motivações são completamente únicas. É outra coisa que te move. Então, por isso que eu falo que é do um pro social, mas tem algo do social que motiva cada um. Então isso é o objetivo, o social é o objetivo, fazer parte, ter o Espírito SAR. "Ah, vamos lá ver que que é isso". Maneiro, mas por quê? É isso o que vem antes de você fazer as coisas. O porquê que você faz as coisas, a motivação é essa. É quando
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você se questiona "por que estou fazendo isso?", é "o que está me motivando a estar aqui?". E aí isso é seu. Não importa que palavra que você encontre para definir.
Pergunta: Será que você conseguiria projetar isso para a situação deles?
Resposta: Pode ser tipo assim... Eles têm um objetivo?
Pergunta: Cumprir a missão.
Resposta: Cumprir a missão. Que missão? Resgatar dez pessoas que caíram de avião. "Por que eu estou aqui?". É a mesma coisa que você pode fazer todos os dias antes de acordar. De levantar para fazer o que você tem que fazer: "por que eu vou fazer isso? Por que eu trabalho no que eu trabalho, por que eu me relaciono com quem eu me relaciono?". É o que que te motiva, o que você tem nessa situação que é quase um ganho secundário aí. Então pode ser "ah eu vou ser um herói" na situação deles, pode ser "porque se eu fizer isso eu vou ser um herói", ou pode ser "meu Deus, salvar vidas e ajudar pessoas é o que dá sentido a minha vida". Para cada um, vai ser sempre uma coisa diferente, mas esse objetivo é muito nobre, e talvez seja isso o que realmente... Do mistério aí, o que é esse Espírito SAR, o que é esse Esquadrão, aquela coisa... Seja o que movimente eles para fazer isso primeiramente. "Vamos lá, vamos tentar entrar. Entrei". Então agora é hora de buscar o porquê você vai fazer isso. Porque se ninguém encontrar uma definição, eles não vão se adaptar. Eles não vão ficar. Porque se você não tem uma explicação, se aquilo não tá fazendo sentido para você, por que você está aqui? É muito difícil fazer as coisas tão assim no automático porque você é obrigado. Você vai ser infeliz, e se você vai ser infeliz isso vai ficar notável no seu trabalho. Você não vai fazer, não vai conseguir dividir essa situação de "vou pra longe da minha família numa missão de 60 dias", como os outros fazem tão bem. "Não, minha família tá aqui, tá tudo certo, e eu vou para lá porque lá que precisam de mim". Então se você não tem isso, essa explicação, esse porquê, você não vai conseguir pular do avião, você não vai conseguir salvar pessoas. Você não vai conseguir cumprir a missão. Porque você não tem porquê estar ali. E vai ficar muito claro. O corpo ele não reage sem esse desejo que
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pulsa. Ele fica ali. Se é obrigado ele faz. Mas aparentemente ninguém tá ali com uma arma na cabeça porque eles tão sendo obrigados. Eles estão lá porque eles querem.
Pergunta: Como a Psicologia explica algumas pessoas que desejam salvar vidas muito acima do esperado e acabam cometendo algum erro operacional?
Resposta: A gente tem capacidades de autorregulação. Quando a gente tá numa situação qualquer... Ah a gente quer chorar. Você chora. Você quer rir, você ri. Mas porque você consegue se regular. Agora uma pessoa que não consegue se regular, ela não vai conseguir fazer as coisas direito porque ela vai estar muito focada naquilo. Por exemplo... Não conseguiu completar aqui essa atividade do treinamento. Porque estava muito ansioso. A pessoa está tão focada em terminar que ela tá perdendo todos os detalhes. As pessoas têm perfis também mentais, digamos assim. Então se você não consegue se regular, você não consegue terminar as coisas porque você tá focado em terminar. Mas aí você tem todo um processo para terminar. É quase que uma dispraxia aí, você não consegue fazer a prática do negócio porque você tem que ter iniciativa, planejar, sequenciar, executar e finalizar, para terminar uma tarefa. E aí se você tá muito focado só em finalizar, todos os outros processos ficam para trás. As pessoas precisam aprender a se regular para poder terminar as atividades que elas planejam. Tem muita gente que entra em estado de euforia. Tipo "ah vou viajar, isso era o que eu queria" e fica no estado de euforia eterno, rindo à toa, "como a vida é bela", e de repente alguma coisa dá errado e aquilo desmorona a pessoa. E aí ela desiste até da viagem. Porque não tem essa capacidade de regulação. Essa inteligência emocional para lidar aí com as situações, com as contingências, os acasos, né. A gente não tem tantas certezas na vida para a gente se planejar perfeitamente pra tudo.
Pergunta: Você acha que eles falam tão bem, falam tanto do Esquadrão, levam para onde for essa positividade que eles sentem de tudo que passou, porque a missão deles foi bem cumprida?
Resposta: Pode ser. Às vezes a missão deles... Claro, cada missão é uma né, mas a
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missão deles é estar ali. E eles estão. E eles pertencem. Então ali tudo ganha cor. Tudo ganha sentido. "Tudo que eu queria era fazer parte do Esquadrão. Sou parte. Consegui". Então não importa se a missão é difícil, se a missão é uma batalha muito grande pessoal assim, se vai ser arriscado, perigoso, se vai ser fácil, se vai ser difícil. Não importa, porque o que importava é ela estar lá. Então talvez por isso essa positividade "ah não, entra aqui, é maneiro, vem fazer parte", essa propaganda do produto. Porque o produto é fazer parte do Esquadrão. É "olha como é massa". E aí o que você faz com esse produto, depois você vê. "Faça parte. Veja, sinta. É maravilhoso fazer parte disso". Mas aí entra do novo... Que é do um. É do singular.