UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE JORNALISMO
RESISTIR: SÉRIE DE PODCASTS SOBRE SUICÍDIO
MARCELLE MARQUES FLÔRES ACOSTA
Campo Grande NOV /2018
RESISTIR/SÉRIE DE PODCASTS SOBRE SUICÍDIO
MARCELLE MARQUES FLÔRES ACOSTA
Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Orientador(a): Profa. M.a Cristina Ramos da Silva Ribeiro
SUMÁRIO Resumo
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Introdução
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1. Atividades desenvolvidas
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1.1 Execução
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1.2 Dificuldades encontradas
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1.3 Objetivos alcançados
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2. Suportes teóricos adotados
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3. Considerações finais
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4. Referências
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5. Apêndices
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RESUMO: O projeto experimental Resistir é uma série de podcasts feita com o objetivo de prevenção ao suicídio. Foram gravadas entrevistas em estúdio de rádio, editadas e colocadas na Internet. Com a intenção de garantir versatilidade na exibição do produto e que as informações possam alcançar o máximo de pessoas, ouvintes tanto na Rede Mundial de Computadores quanto no rádio podem ter acesso. Os assuntos abordados foram Sinais, prevenção e ajuda, fatores que levam ao suicídio e luto. O suicídio é a causa de morte de 11 mil pessoas no Brasil todos os anos, segundo o Ministério da Saúde (2017). A média de mortes masculinas por suicídio em Mato Grosso do Sul é maior que a média nacional: 13,3 contra 8,7. A média feminina também, com 3,7 contra 2,4. A série de podcasts Resistir contribui para informar a população sobre como reconhecer que uma pessoa pensa em suicídio, como ajudá-la, o que não fazer, quais as causas do problema e como passar pelo luto.
PALAVRAS-CHAVE: Radiojornalismo; podcast; suicídio.
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INTRODUÇÃO
O produto desenvolvido é uma série de podcasts sobre suicídio. A narrativa foi desenvolvida através de entrevistas com profissionais da área e estudiosos, bem como bibliografia. Foram abordados dados, prevenção, tratamento, e outros enfoques do assunto para conscientizar a população. O tema é relevante pois o número de suicídios no país aumentou 12% entre 2011 e 2015 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Essa é uma tentativa de trazer conscientização que possibilite menos crescimento desses números. Foi escolhido o formato podcast por ser uma mescla entre rádio e Internet, com a facilidade de alcance de ambos, assim populações excluídas poderão ter acesso, como por exemplo, os indígenas, parte expressiva desses números. A série de podcasts tem 4 episódios, que variam de 9 a 15 minutos. Foram realizadas entrevistas em estúdio, para a qual havia um roteiro com perguntas preparadas, mas foram feitas outras, e até mesmo comentários, pois podcast é um formato livre, que pode ter conversas informais, como o Nerd Cast, podcast do site Jovem Nerd, que aborda todo tipo de assunto, de cotidiano e política a filmes e séries (LUIZ; ASSIS, 2010). O suicídio é um tema que precisa ser discutido para que se levantem alternativas e que aprenda-se a identificar sinais, pois é a causa de morte de 11 mil pessoas no Brasil todos os anos, segundo o Ministério da Saúde (2017). O relatório do Ministério da Saúde também revelou que a média de mortes masculinas por suicídio no Mato Grosso do Sul é maior que a média nacional: 13,3 contra 8,7. Os óbitos femininos são de 3,7 no estado e 2,4 no país. Portanto, o assunto precisa ser tratado com mais profundidade do que geralmente se vê nas matérias diárias, que relatam suicídios acontecidos, sem apresentar linhas telefônicas que ajudem, como o GAV, ou como identificar uma pessoa com esses pensamentos e ajudá-la. Mostram fotos dos acontecimentos, explicando os métodos e apenas apresentando informações não recomendadas. É necessário seguir o que indica a Organização Mundial da Saúde (2000), que é o contrário disso.
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Para isso, rádio é o meio ideal, pois segundo Barbosa Filho (2009), ele atinge pessoas de diferentes áreas sociais, demográficas, geográficas, devido a sua linguagem simples e baixo custo. Por causa disso, também é um formato propício para reportagens de utilidade pública e se torna ideal para propagar um tema tão importante e ser efetivo em causar um impacto positivo e servir de auxílio à população. A maior parte das mortes por suicídio no estado ocorre nas cidades do interior (Mapa da Violência, 2014), assim é conveniente a escolha do rádio, pois ele chega até em locais sem energia elétrica. Com a explosão tecnológica de hoje, a opção pelo podcast, entre todos os formatos do rádio, vai completar o grande alcance, chegando a pessoas que não possuem aparelhos radiofônicos ou computadores, mas possuem telefones celulares, que quase todos têm hoje em dia.
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1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
1.1 - Execução: Fui a todos os eventos sobre suicídio dos quais fiquei sabendo a partir da decisão pelo tema em março até setembro, para conseguir contatos. Dos palestrantes, foram entrevistadas a professora mestra em Psicologia da Saúde da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, que trabalha com assistência estudantil no Serviço de Atendimento Psicológico (SAP) da faculdade, Janis Faker e Raquel Icassati Almirão, formada em Psicologia com mestrado, 20 anos na área da Saúde com pacientes crônicos, cuidados paliativos e luto, professora graduação e pós-graduação na FCG Facsul e na Anhanguera e possui trabalhos de grupoterapia de luto e dor e de luto de suicídio. Edilson dos Reis já era conhecido, pois é Capelão, capitão do Corpo de Bombeiros e coordenador do primeiro curso no Brasil de prevenção ao suicídio na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian. Emerson Leite de Brito foi abordado devido ao Projeto Labirinto, o qual criou e coordena. Luciene Ferreira foi escolhida por ser a criadora do Grupo Espiritual de Apoio ao Luto e Roberto Sinai por ser Coordenador de Divulgação do Grupo Amor Vida. Ambos os projetos eu conheci devido às palestras de Patrick Alif Batista e Victor Sanches Pereira, autores de Espelhos Quebrados (BATISTA, P. A. F.; PEREIRA, V. S., 2015). Primeiro foram gravadas as vinhetas no dia 18 de setembro, durante a aula da professora orientadora Cristina Ramos, que gravou as vinhetas, assim como gentilmente, seus dois alunos Maria Paula Garcia e Gustavo Zampieri. Elas foram encaminhadas para Oswaldo Ribeiro da Silva, que colaborou com a edição de trilha, vinhetas e do áudio. Ele criou a trilha sonora da série de podcasts no programa GarageBand em 21 de setembro e editou as vinhetas no programa Samplitude Music Estúdio 2013 e o texto no Sound Forge 11.0. Foram elaborados roteiros de rádio. O primeiro episódio gravado foi o número 2 sobre “Prevenção e ajuda”, com a psicóloga Janis Faker e o criador e coordenador do
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Projeto Labirinto Emerson Leite de Brito. O segundo a ser gravado foi o número 4 sobre luto, com a professora mestra Raquel Icassati Almirão e a criadora do GAEPE Luciene Ferreira. O terceiro foi o número 3 sobre razões do suicídio, com Capelão Edilson Reis. O último a ser gravado foi o primeiro episódio sobre sinais, com Roberto Sinai do GAV. Eles foram feitos no período de 26 de setembro a 09 de outubro. As entrevistas que envolveram duas pessoas fluíram mais como conversa, o que gera um melhor podcast, por isso acabaram muito maiores. Um OFF foi gravado no dia 09, logo após o encerramento da gravação do terceiro episódio, em que corrigi um e-mail do episódio do luto. Outro foi gravado em 17 de outubro, em que eu falei os telefones do serviço de atendimento psicológico da UEMS, para o episódio de prevenção. Todas as entrevistas e OFFs foram ouvidos e no dia 27 de outubro, foram encaminhados para Oswaldo, com um texto que dizia pontos específicos que deveriam ser cortados, que vinheta colocar em cada local. Oswaldo editou os programas no Sound Forge 11.0. Criei o endereço programaresistir.wordpress.com para ser o site e passei os arquivos para o SoundCloud, criando duas playlists (uma para os programas e uma para os drops) e colocando no site em duas postagens separadas pelo código embed. No SoundCloud, permiti todo tipo de reprodução, incluindo download e o feed RSS (Rich Site Summary), sistema que avisa o assinante de que há um novo programa a ser ouvido, que caracteriza os podcasts. Isso já torna essa página quase um agregador de podcasts, porém ainda pretendo colocar o programa em um agregador de verdade, pois lá ele será encontrado por pessoas que já ouvem o formato, enquanto SoundCloud é um pouco mais para músicas. Tentarei também colocar o programa no Spotify. Já pesquisei como faz e tem diversas maneiras, dependendo de estar em agregador ou não, e de qual agregador. Os episódios e drops no SoundCloud já receberam algumas curtidas e provavelmente foram ouvidos. Os programas foram transcritos (em apêndice, p.20). 1.2 - Dificuldades Encontradas Marcar as gravações. Articular os horários de mais de uma pessoa é difícil, por isso dois episódios que deveriam ter tido dois entrevistadas, foram feitos com apenas
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um. Muita remarcação foi feita e duas pessoas acabaram não fazendo parte. Pelo tema também, cujo alguns dos especialistas são pessoas que têm consulta o dia inteiro (médicos, psicólogos) pode ser difícil encontrar qualquer horário durante a manhã ou tarde. Corrigir ou adicionar informações que faltaram. Não foi uma grande dificuldade, pois foram apenas dois OFFs que precisei gravar. Eu só percebi que a entrevistada não havia dito o telefone de atendimento psicológico após a entrevista e a outra errou o email. Pedi para que as próprias entrevistadas gravassem, pois pareceria mais real e provavelmente seria mais fácil de arrumar na edição, porém não foi possível. Locução. Empostação de voz não é o meu ponto forte. Até mesmo na abertura, algumas vezes ela está fraca e quando a abertura está boa, durante a conversa ela volta ao normal, principalmente porque o podcast é realmente uma conversa, e não só uma entrevista. O jeito foi me acostumar um pouco com minha própria voz e com meu nervosismo. Eu deveria ter sido mais rápida para formular perguntas sem esse tipo de dificuldade. Eu gostaria que as entrevistas fossem um pouco mais longas, porém algumas acabaram bem reduzidas. Por isso, publicarei futuramente as versões completas, sem vínculo com a disciplina de Projeto Experimental.
1.3 - Objetivos Alcançados Criei a série de podcasts sobre o tema suicídio. O trabalho realizado consegue ser classificado como série de podcasts, pois está a fácil acesso na Internet, tanto em um endereço próprio quanto em um site que possa se considerar agregador de podcasts, que permite eles serem baixados e a assinatura de um sistema que avisa o usuário de novos episódios. Também pois tratou-se de uma conversa entre locutor e entrevistados, e entrevistados entre si. Ele possui episódios com assuntos diferentes dentro de um mesmo tema. Realizei pesquisa bibliográfica e documental sobre narrativas de rádio e o tema do suicídio. Li documentos de diversas organizações como Conselho Nacional de Psicologia, Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde, Mapa da Violência
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2014 assim como o primeiro estudioso famoso do suicídio, o sociólogo Émile Durkheim, e o trabalho de conclusão de curso Espelhos Quebrados. Li os materiais referência de rádio, de Barbosa Filho, Chantler e Harris, Jung e mais alguns sobre podcast. Realizei entrevistas com estudiosos e combatentes do suicídio. Foram seis pessoas ao todo e as entrevistas foram gravadas entre o final de setembro e o início de outubro. Todas as entrevistas foram muito produtivas e foi difícil cortar o conteúdo delas. Redação e locução de podcast. Redigi os roteiros com perguntas preparadas para as entrevistas, de forma a informar e gerar uma conversa, e fiz a locução das entrevistas, logo do podcast. Edição das entrevistas e locuções para o produto final. As edições foram feitas por Oswaldo da Silva Ribeiro, nos programas GarageBand para a trilha, Samplitude Music Estúdio para as vinhetas e Sound Forge 11.0 a junção de tudo com os textos. Material para prevenção do suicídio. O produto consegue informar as pessoas sobre a prevenção e incentivar ações a respeito, como conversar, sugerir tratamento. Ele fornece telefones e e-mails de contato de instituições que têm trabalhos de prevenção e tratamento do suicídio. Aumento do conhecimento sobre órgãos que auxiliam a população e os atendimentos psicológicos de universidades pelas entrevistas. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, campanha do Setembro Amarelo na Anhanguera, que gerou o pedido dos alunos de um grupo de apoio, Projeto Labirinto, Grupo Espiritual de Apoio ao Luto. Aumento do conhecimento sobre suicídio pela literatura e as entrevistas e de conhecimento sobre podcast pela literatura e desenvolvimento. Descobri muitos dados e instituições sobre suicídio, muitas pessoas que poderiam ser entrevistadas, muitas dicas de como lidar com uma pessoa nessa situação e dos erros cometidos. Quanto ao podcast, aprendi toda uma linguagem nova, como agregadores, feed RSS, aprendi sobre o formato como o fato de serem conversas mais fluidas, como é feita a distribuição e divulgação, como montar os programas e escolher a ordem dos episódios.
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2. SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS:
2.1 - Suicídio Suicídio ou autocídio é o ato intencional de matar a si mesmo. O principal fator responsável são transtornos mentais. Segundo a Associação Brasileira de Psicologia (2010), correspondem a 90% dos casos. Por muito tempo, não houve juízos de valor acerca do termo, este era apenas uma forma de descrever o ato. Foi a partir de Santo Agostinho, no século V, que se passou a considerar o suicídio um pecado. Na Idade Média, o ato torna-se crime. Quem o cometesse, tinha seus bens tomados pela Coroa e seus cadáveres também sofriam consequências. Com o fim da Idade Média, a conotação negativa do autocídio mudou de pecado para loucura, após médicos associarem-no a patologias (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013). O sociólogo Émile Durkheim (2000) divide a definição de suicídio em três tipos. Suicídio egoísta é causado por um individualismo exacerbado. A vida só é tolerável se há algum vínculo com a sociedade. Se o vínculo com a vida acabou, é porque esse outro vínculo também não existe. O segundo tipo é o oposto: quando se tem um vínculo muito grande com a sociedade. Trata-se do suicídio altruísta. Este é anterior ao egoísta. Guerreiros dinamarqueses suicidavam-se por acharem vergonhoso morrer de velhice ou doença. A morte natural também tinha uma conotação negativa para os godos, e na Índia havia esse costume. Nesses povos, muitas vezes as viúvas deviam se matar devido à morte de seus maridos. “Em 1817, 706 viúvas se suicidaram apenas na província de Bengala, e, em 1821, contaram-se 2.366 em toda a Índia” (DURKHEIM, 2000, p.271). Em outros lugares, como a Gália e o Havaí, servidores eram forçados ao suicídio após a morte de seu príncipe ou chefe. São essas as três categorias de suicídio altruísta. O terceiro tipo, suicídio anômico, é provocado pela situação do local onde se vive: o número de suicídios sempre aumenta com crises econômicas. O Ministério da Saúde (2017) divulgou que em média 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil. Entre 2011 e 2016, foram 62.804 pessoas. Idosos são a faixa etária que possui a maior taxa de morte por suicídio, 8,9 para cada 100 mil
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habitantes. Os números também são maiores para os indígenas com 15,2 mortes por 100 mil habitantes. A média de óbitos no Mato Grosso do Sul é maior que a nacional com 13,3 contra 8,7 óbitos masculinos e 3,7 contra 2,4 para mortes por suicídio femininas. Entre O Mato Grosso do Sul foi o terceiro estado com maior número de óbitos por violência autoprovocada, atrás de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 8,5 óbitos por 100 mil habitantes no MS, 8,8 em SC e 10,3 no RS. Segundo a Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018), mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todo ano. É mais do que a quantidades de mortes por homicídios, guerras e desastres naturais, que somam 669 mil por ano (KERN, 2015). No Brasil, segundo o Mapa da Violência (2014), entre 1980 e 2011 houve 216.211 mortes por suicídio, 1.041.335 por acidentes de transporte e 1.202.245 por homicídios. O número de suicídios deve ser maior pois como a OMS afirma, eles são sempre subreportados, e eram mais ainda no período da pesquisa, pois, por exemplo, somente em 2014 foi publicada a Portaria MS nº 1.271 que torna obrigatória a notificação imediata de tentativas de suicídio em todo o país para a Secretaria Municipal de Saúde em até 24 horas, assim como os acompanhamentos de emergência. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). As mortes de indígenas por suicídio são maiores em oito cidades do Mato Grosso do Sul. No Mapa da Violência (2014), Dourados, Amambai, Paranhos, Coronel Sapucaia, Japorã, Tacuru, Bela Vista e Caarapó, cidades com grande concentração indígena no estado, dividem a lista com apenas 5 cidades do Amazonas e nenhuma de outro estado. Pelo Censo Demográfico de 2010, temos 2,9% de indígenas em nossa população e 19,9% de suicídios indígenas. O Amazonas possui um por cento a mais de suicídios de indígenas (20,9%) quando a população de índios lá é quase o dobro da nossa, 4,9%. Então, proporcionalmente temos mais suicídios dessas populações do que os amazonenses. Enquanto, os autocídios de indígenas no Amazonas representam 4 vezes mais o número esperado pela participação demográfica, no MS o número é 7 vezes maior do que deveria.
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Muitas populações tem alto índice de suicídio indígena, no entanto nos outros países, eles “se suicidam de dez a vinte vezes mais que a população em geral” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p.65). Estatisticamente, no Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul (DSEI/MS), 39% do total de mortalidade no ano de 2012 ocorreu por causas externas. Estes óbitos, além dos casos de suicídio, correspondem aos homicídios, acidentes de trânsito, diversos traumatismos, queimaduras, etc. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013, p.66).
Ainda no Mapa da Violência (2014), a lista de 100 municípios com maior taxa de suicídio de jovens na população total de cidades com mais de 20.000 habitantes também há algumas cidades sul-mato-grossenses. Amambai aparece em 4º lugar e Costa Rica em 89º. Mais cidades aparecem na lista de maiores taxas de suicídio jovem em municípios com mais de 15.000 jovens. São elas Dourados, em 19º, Ponta Porã, em 50º e Três Lagoas em 95º. Assim, vemos que não só nas cidades de população indígena temos índices altos. O suicídio precisa ser abordado na mídia com cuidado. Quem o comete pode ser influenciado pela cobertura que é feita, no chamado Efeito Werther, nome oriundo do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, no qual o personagem principal comete suicídio. O romance provocou uma onda de autocídios na Europa no período de sua publicação, em 1774, utilizando o mesmo método (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000). No século XIX, nos Estados Unidos, foi publicado o livro Solução Final – Praticabilidade da Auto-eliminação, de Derek Humphry, e os números de suicídio aumentaram, também utilizando-se dos métodos descritos. David P. Phillips observou um aumento de suicídios 10 dias após um caso ser mostrado na televisão. Por esses motivos, a Organização Mundial da Saúde publicou um manual para profissionais de mídia, pois “o relato de suicídios de uma maneira apropriada, acurada e cuidadosa, por meios de comunicação esclarecidos, pode prevenir perdas trágicas de vidas” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000, p.5).
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O manual orienta a ter cuidado com os números de suicídio, pois países diferentes registram de forma distinta e não é uma boa ideia comparar. Ele atenta para o fato de que a contabilização de suicídios de crianças e de idosos é menor do que a realidade. Para os jornalistas, a OMS oferece uma lista de fontes com dados confiáveis sobre o suicídio, dicas para noticiá-lo no geral, em específico e como não noticiá-lo. Entre essas dicas estão omitir detalhes do suicídio para evitar o Efeito Werther previamente mencionado. Nada de fotos, descrições do método ou mencionar o local. Já em tentativas de suicídio não fatais, pode-se dizer o estado da vítima, pois isso desestimula alguns com o pensamento suicida. Deve-se sempre procurar trazer falas de profissionais para não ficar nos estereótipos e soluções simplistas e aproveitar e ajudar na prevenção (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2000). O produto foi realizado com base nessas e nas outras orientações da Organização Mundial da Saúde para obter resultados positivos na conscientização do tema e possível prevenção, diferenciando-se de grande parte da imprensa local, como o portal de notícias Campo Grande News, que de seis matérias sobre suicídios no Estádio Morenão, três apresentavam fotos da vítima no alto da torre. (BATISTA, P. A. F.; PEREIRA, V. S., 2015, p.24).
2.2 - Jornalismo no rádio Podcast é um formato do meio rádio. Rádio é interessante para a prevenção do suicídio, pois é muito acessível, móvel e íntimo. Segundo Barbosa Filho (2009), a transmissão e dispersão do rádio, especialmente por satélite são responsáveis pelo grande alcance do rádio, que chega à maioria dos lugares, até onde ainda não tem energia elétrica ou transmissão televisiva. Além disso, todos tem um rádio devido a seu baixo preço. Muitos aparelhos não necessitam tomadas e fios, logo podem ser ouvidos em qualquer lugar para onde sejam transportados. Ele também pode ser ouvido a qualquer hora, pois ouve-se enquanto realiza outras tarefas. Ao mesmo tempo, o rádio é pensado para o seu ouvinte, com expressões que se aproximam dele como “amigo ouvinte”, que o tornam um companheiro. Ele permite que se ouça a emoção humana por meio do choro, do riso. Assim, ouvir o rádio é uma experiência mais intensa do que
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ler sobre o mesmo acontecimento. “Isso porque o modo de dizer é mais importante do que o que é dito” (CHANTLER; HARRIS, 1998, p.21). A linguagem simples do rádio também faz com que ele seja acessível. “Uma simplicidade quase infantil é a essência de um bom texto de rádio. Quando você conversa num bar ou durante o cafezinho, você normalmente está falando num estilo radiofônico” (CHANTLER; HARRIS, 1998, p.52). Deve-se escrever de um jeito que seja facilmente compreendido, optando sempre pelas palavras mais simples como “começo”, “fim”, em vez de “início”, “desfecho”. O texto do rádio tenta utilizar o mínimo de palavras possível e ter muito clareza. Assim, o rádio é entendido pela grande massa. Segundo Barbosa Filho (2009), todas essas características fazem com que o rádio seja um formato que tem uma função social: informar e formar o público. Desde sua origem, ele se firmou como um veículo de utilidade pública. As funções do rádio incluem informações sobre o mercado de trabalho; vigiar os que detêm o poder e propiciar contato entre eles e o público; contribuir para a cultura; ajudar a arrecadação de renda pública ou privada e “facilitar o diálogo entre indivíduos e grupos, promovendo a noção de comunidade” (McLEISH apud BARBOSA FILHO, 2009, p.50). De acordo com Jung (2007), após a entrada do rádio na Internet, não há mais como ele deixar a rede. Para ele, o meio radiofônico é a mídia mais beneficiada pela Internet, pois áudios são mais rápidos de carregar que imagens e o internauta pode ouvir enquanto faz outras coisas, assim como um rádio normal. Na Internet, isso é importante, pois raramente se faz uma coisa de cada vez com o nosso tempo de atenção muito mais curto (CARNETI, 2015). Não conseguimos ler uma notícia enquanto fazemos outra coisa, a menos que seja ouvir música, portanto assim que nossa atenção acaba, fechamos e vamos para outra coisa, já o áudio podemos continuar a ouvir. Assim, o formato de áudio, no caso série de podcasts, é muito útil. Ainda para Jung (2007), a era digital proporcionou ao ouvinte uma maneira de sintonizar uma emissora sem dificuldades. Em 2007, as tecnologias para celular não eram tão avançadas, mas ele já diz imaginar ouvir rádio no celular e comenta a previsão de Bill Gates de uma carteira computadorizada que ao reproduzir áudio
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poderia ser chamada de rádio. Previsão que hoje foi concretizada, até para além das expectativas. A classificação de gênero jornalístico informativo no rádio para Barbosa Filho (2009), possui um formato educativo-cultural chamado “programa temático” que assemelha-se ao tipo de podcast pretendido. Sem ser recorrente nas rádios comerciais, ele é próprio das educativas. Logo, ótimo para ser reproduzido na rádio Educativa UFMS. O programa temático tem como objetivo produzir conhecimento acerca de determinado tema e sua duração é de 5 minutos a uma hora, geralmente sendo de tempo curto. O formato programete de serviço dura geralmente até três minutos, pretende aproveitar melhor os boletins e as notas, traz assuntos de utilidade pública, como cuidados com a saúde. Apesar de não ser uma série de episódios, e mais um drop que aparece dentro de programas maiores, ele é útil para a discussão, pois parte do podcast desenvolvido pode passar desse jeito na programação, tornando-se mais recorrente do que um radiodocumentário, justificando a escolha desse formato. Devido a isso, a ideia no pré-projeto era fazer programas de 5 minutos, mas todos acabaram maiores. Por isso, foram feitos também drops de 1 minuto para ter certeza que possa passar até nos intervalos da programação da Educativa UFMS, pois a intenção era que os programas fossem mantidos com as entrevistas inteiras já que ficaram muito boas. No entanto, todas acabaram editadas para até 15 minutos. Podcasts não têm um tempo determinado. Assim como os programas temáticos podem ser curtos ou longos. Observando-se a página inicial do Podflix, página da Internet que hospeda e agrega podcasts, são encontrados episódios de mais de uma hora e episódios de menos de 20 minutos, até mesmo do mesmo podcast. De acordo com Luiz e Assis (2010), a definição de podcast seria de programas que são hospedados em um agregador de podcasts (site ou programa que reúne todo tipo de podcast) e podem ser assinados via RSS (Rich Site Summary) e ser baixados, no entanto para alguns, basta ser “um programa de rádio que pode ser ouvido via Internet” (LUIZ; ASSIS, 2010, p.11). O feed RSS era usado primeiro em blogues que mandavam pelo e-mail os novos textos publicados. No âmbito do podcasting, ele informa o ouvinte de que há um programa novo a ser ouvido.
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Assim como a rĂĄdio web, o podcast tem baixo custo, pois pode ser feito com equipamentos pessoais, com menos pessoas envolvidas e sem a necessidade de pagar uma concessĂŁo. (JAVORSKI, 2017, p.242.)
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho foi muito importante, pois trata de um tema relevante e procura trazê-lo à tona do jeito recomendado, seguindo a Organização Mundial da Saúde. Foram colocados contatos de emergência em todos os episódios no início e no fim para que ninguém precise esperar o fim ou pausar logo no início para anotar ou esquecer. Só o episódio de Razões do Suicídio que, infelizmente, está sem os contatos no final. Foi gravado, porém não ficou após a edição. Os entrevistados foram todos muito colaboradores e entendidos do tema. A experiência me ensinou muito sobre o tema, sobre a linguagem do rádio e o podcast, responsabilidade, entre outros. Também me ajudou a cumprir o papel social do Jornalismo, trazendo relevância e informações corretas para um tema considerado tabu e pouco falado. Minha saída da universidade e entrada no mercado de trabalho já se dará com respeito a diversas características do Jornalismo que aprendi no curso, como escrever sobre algo de interesse público, mesmo que não seja interesse do público, defender os Direitos Humanos e minorias, entre outros. O projeto foi muito enriquecedor para a minha formação de jornalista e cidadã. O objetivo é de que ele atinja muitas pessoas, pois o suicídio afeta todos os grupos sociais. Indígenas, idosos, homens, jovens, todos estes são grupos com altos índices de suicídio segundo o Ministério da Saúde (2017). Mulheres têm alto índice de tentativas de suicídio. A série de podcasts foi desenvolvida por meio de entrevistas em estúdio de rádio, as quais redigi o roteiro e fiz locução e edição, com adição de vinhetas, feita por Oswaldo da Silva Ribeiro e foi colocado então na Internet. Espera-se que ele também passe na rádio Educativa UFMS para alcançar todos os grupos mencionados. A abrangência de Internet e rádio aliados foi um grande motivo para a escolha deste formato de jornalismo.
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4. REFERÊNCIAS
BARBOSA FILHO, A. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2009. BATISTA, P. A. F.; PEREIRA, V. S. Espelhos Quebrados: Dor, sofrimento vida e morte na linguagem suicida. 2015. 55f. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, p.25, 2015. CARNETI, K. Nossa atenção é menor do que de peixe dourado, diz Microsoft. Exame, São Paulo, SP, 19 maio 2015. Ciência. Disponível em: < https://exame.abril.com.br/ciencia/nossa-atencao-e-menor-do-que-de-peixe-douradodiz-microsoft/>. Acesso em 12 nov. 2018. CHANTLER, P.; HARRIS, S. Radiojornalismo. São Paulo: Summus, 1998. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. O Suicídio e os Desafios para a Psicologia. Brasília: CPF, 2013. DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. JAVORSKI, E. Radiojornalismo: do analógico ao digital. Curitiba: InterSaberes, 2017. JUNG, M. Jornalismo de rádio. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2007. KERN, S. Suicídio mata mais que homicídio e desastres. SuperInteressante, 14 jan 2015, atualizado 2018. Comportamento. Disponível em: < https://super.abril.com.br/comportamento/suicidio-mata-mais-que-homicidio-edesastres/>. Acesso em: 09 dez. 2018. LUIZ, L.; ASSIS, P. O Podcast no Brasil e no Mundo: um caminho para a distribuição de mídias digitais. In: XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (INTERCOM), 2010, Caxias do Sul (RS). Anais eletrônicos... Caxias do Sul: INTERCOM, 2010. Disponível em: < http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2010/resumos/R5-0302-1.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2018. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Suicídio. Saber, agir e prevenir. Brasil, 2017. Disponível em: < http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/2017-025-Perfilepidemiologico-das-tentativas-e-obitos-por-suicidio-no-Brasil-e-a-rede-de-atencao-asaude.pdf>. Acesso em: 09 dez. 2018.
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Setembro Amarelo: Ministério da Saúde lança Agenda Estratégica de prevenção ao Suicídio. Brasil, 2017. Disponível em: < http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/Coletiva-suicidio-2109.pdf>. Acesso em 12 nov. 2018. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da mídia. Genebra: Departamento de Saúde Mental, transtornos mentais e comportamentais, 2000. WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2014: Os jovens do Brasil. Rio de Janeiro: Flacso Brasil, 2014. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Preventing suicide: A community engagement toolkit. Genebra: Department of Mental Health and Substance Abuse, 2018.
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5. APÊNDICES Data: 09/10/2018 Programa: Resistir
Apresentador: Marcelle Marques Redator: Marcelle Marques
Tempo: 9´01”
Retranca: Sinais
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VINHETA DE ABERTURA LOC MARCELLE
OLÁ, ESTÁ COMEÇANDO O PROGRAMA RESISTIR, PODCAST QUE TEM COMO OBJETIVO A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO. SUICÍDIO É CAUSA DE MORTE DE ONZE MIL PESSOAS TODOS OS ANOS NO PAÍS, SEGUNDO DADOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE DE 2017. NO MATO GROSSO DO SUL, HÁ UMA MÉDIA DE 13,3 MORTES POR SUICÍDIO, NÚMERO MAIOR QUE A MÉDIA NACIONAL DE 8,7. POR ISSO, REUNIREMOS NESSE PROGRAMA CONVIDADOS
PARA
DEBATER
O
TEMA
E
TRAZER
CONHECIMENTO. EU SOU MARCELLE MARQUES E HOJE AQUI NO ESTÚDIO ESTÁ ROBERTO SINAI, COORDENADOR DE DIVULGAÇÃO DO GRUPO AMOR VIDA (GAV). OBRIGADA PELA PRESENÇA.
ROBERTO SINAI
OBRIGADO PELO CONVITE, MARCELLE. ESTAMOS AQUI PARA FALAR DE ALGO TÃO IMPORTANTE QUE É A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO. MUITO IMPORTANTE LEMBRAR QUE A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE DIZ QUE MAIS DE 90% DELES PODEM SER PREVENIDOS QUANDO NÓS OBSERVAMOS OS SINAIS.
LOC MARCELLE
SE VOCÊ SE IDENTIFICAR COM OS ASSUNTOS TRATADOS, LIGUE PARA O GAV 141 NA CAPITAL OU 33834112 NO INTERIOR. 33824112
ROBERTO SINAI
OU A PESSOA QUE QUISER CONVERSAR PESSOALMENTE PODE NOS PROCURAR TAMBÉM NA NOSSA SEDE QUE FICA NA RUA ALAN KARDEC, NÚMERO 87, SALA 11.
LOC MARCELLE QUAIS SÃO OS SINAIS QUE PODEMOS PERCEBER NUMA
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DESCE VINHETA
PESSOA QUE TEM AS IDEIAS DE SUICÍDIO?
ROBERTO SINAI A GRANDE MAIORIA DOS SINAIS, ELES SÃO MASCARADOS, MAS SE NÓS ESTIVERMOS ATENTOS, NÓS VAMOS PERCEBER PORQUE É MUITO COMUM VOCÊ OUVIR DE UM COLEGA DE TRABALHO, DE UM COLEGA DE IGREJA, OU ATÉ MESMO DE ESCOLA DIZER “OLHA, EU ESTOU PRA PARTIR PRA OUTRA, EU NÃO AGUENTO MAIS, ANDO CANSADO DESSA VIDA. SE EU PARTIR PRA OUTRA, NÃO VOU FAZER FALTA, NINGUÉM ME AMA. ESSES SÃO OS SINAIS EVIDENTES QUE NÓS OUVIMOS TODOS OS DIAS E MUITAS VEZES NÓS NÃO SABEMOS RECEPCIONAR.
NÃO
EXISTEM
MUITAS
FORMAS
DE
COMUNICAÇÃO PRA PESSOA FALAR SOBRE A INSATISFAÇÃO DELA COM A VIDA. LEMBRANDO QUE NINGUÉM QUER MORRER NEM SE MATAR. AS PESSOAS QUEREM SE LIVRAR DE UMA DOR, DE UM SOFRIMENTO, QUE MUITAS VEZES SE TORNA INSUPORTÁVEL.
LOC MARCELLE
A AUTOMUTILAÇÃO ESTÁ RELACIONADA AO SUICÍDIO?
ROBERTO SINAI
NÃO DIRETAMENTE, MAS ELA É UM CAMINHO DE MORTE. EU DIZIA HÁ POUCO QUE AS PESSOAS NÃO QUEREM MORRER, ELAS QUEREM SE LIVRAR DE UMA DOR. E AS PESSOAS QUE SE MACHUCAM MUITAS VEZES É PRA ALIVIAR A DOR DA ALMA. A DOR É TÃO PROFUNDA, TÃO INTENSA, QUE ELA NÃO ENCONTRA NENHUM TIPO DE MEDICAMENTO QUE POSSA DIMINUIR. ENTÃO ELA ACABA SE MACHUCANDO PRA QUE ESSA DOR DA ALMA SEJA SUBSTITUÍDA POR UMA DOR FÍSICA.
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LOC MARCELLE
ALGUMAS PESSOAS MUDAM A APARÊNCIA QUANDO ESTÃO PENSANDO EM SUICÍDIO, QUAL O OBJETIVO DESSA MUDANÇA?
ROBERTO SINAI
EXISTE DIVERSAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO DA IDEAÇÃO DE AUTODESTRUIÇÃO.
ALGUMAS
PESSOAS
ATRAVÉS
DO
COMPORTAMENTO FÍSICO, OUTRAS PESSOAS ATRAVÉS DAS MÍDIAS SOCIAIS QUE SÃO MUITO USADAS HOJE, DEIXAM MAIS EVIDENTES, NÉ, E TAMBÉM PESSOAS QUE TÊM O CAPRICHO DE DEIXAR SEU GUARDA-ROUPA ARRUMADO, AS SUAS CONTAS PAGAS, PESSOAS QUE PARTILHAM HERANÇA AINDA EM VIDA. SÃO SINAIS PREOCUPANTES, MAS ELES VÃO MUITO ALÉM DISSO. E TAMBÉM NÓS TEMOS QUE OBSERVAR MUITO OS SINAIS
SILENCIOSOS.
COMUNICAM
COM
REALMENTE
MUDAM
AQUELAS
PESSOAS DE
PESSOAS MAIS
HÁBITO,
QUE
ÍNTIMAS
PASSAM
A
SÓ OU
SE QUE
PRATICAR
SITUAÇÕES QUE NÃO ERAM COMUNS PRA ELA, IR A LUGARES ESTRANHOS, NÃO DORMIR À NOITE, PROCURAR AMIGOS DIFERENTES
OU
ATÉ
MESMO
ISOLAMENTO
SOCIAL,
NA
MAIORIA DAS VEZES.
LOC MARCELLE
NO CASO DA ARRUMAÇÃO E ATÉ DA CARTA, VOCÊ ACREDITA QUE ESSAS SÃO TENTATIVAS DE SE DESCULPAR OU TENTAR SE EXPLICAR COM OS ENTES QUERIDOS?
ROBERTO SINAI O SUICÍDIO, ELE É MUITO DIFÍCIL, PORQUE A MORTE NATURAL NÓS TEMOS UMA TENDÊNCIA EM ACEITAR, ACOSTUMAR COM A PERDA ATÉ CINCO ANOS. AGORA O SUICÍDIO ELE DEIXA UM RASTRO
DE
PERDA,
UM
RASTRO
DE
VIOLÊNCIA,
DE
CONSEQUÊNCIAS E SEQUELAS EM ATÉ 60 PESSOAS. A FAMÍLIA DE PRIMEIRO, SEGUNDO, TERCEIRO GRAU, OS AMIGOS, OS
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COLEGAS DE IGREJA, DE FACULDADE, TODAS ESSAS PESSOAS SOFREM PORQUE MUITAS VEZES ELAS DIZEM “COMO ISSO ACONTECEU AQUI PERTO DE MIM, DEBAIXO DOS MEUS OLHOS E
EU
NÃO
PERCEBI?”.
ENTÃO
ISSO
É
ALGO
MUITO
PREOCUPANTE. MAS ESSES SINAIS, ELES VÊM AO LONGO DE MUITO TEMPO, E AS PESSOAS TÊM ESSAS DIVERSAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO; LEMBRANDO QUE SUICÍDIO TAMBÉM, ALÉM DE SER UMA FUGA, É FUGIR DE UMA DOR, UM DESESPERO, MUITAS VEZES É TAMBÉM UMA FORMA DE FAZER CONTRA MIM O QUE EU GOSTARIA DE FAZER CONTRA VOCÊ. EXISTE PESSOAS QUE SE AUTODESTROEM POR NÃO SUPORTAREM A DOR, EXISTEM PESSOAS QUE SE AUTODESTROEM POR VINGANÇA DE OUTRAS PESSOAS. É AQUILO QUE EU DISSE, FAZER CONTRA MIM O QUE EU GOSTARIA DE FAZER CONTRA VOCÊ. É UMA FORMA DE VINGANÇA MUITAS VEZES EM RELACIONAMENTOS DESFEITOS, EM SITUAÇÕES QUE EU ME TORNEI IMPOTENTE, EU ME SENTI PERSEGUIDO, ME SENTI ACUADO E ACABO FAZENDO ISSO CONTRA MIM, MAS EU GOSTARIA DE FAZER CONTRA VOCÊ.
LOC MARCELLE
O QUE VOCÊ ACHA IMPORTANTE QUE OS OUVINTES OUÇAM SOBRE OS SINAIS?
ROBERTO SINAI
A PREVENÇÃO PRIMÁRIA COMEÇA EM CASA. NÓS NÃO PODEMOS DEIXAR AGRAVAR A PONTO DE PRECISAR DE INTERVENÇÃO MÉDICA. É CLARO QUE O PSICÓLOGO É UM EXCELENTE AMIGO, É UMA MÃO AMIGA, O PSIQUIATRA É UM BRAÇO FORTE E NÓS PRECISAMOS QUEBRAR ESSE TABU. EU QUANDO PRECISO DE UM REMEDINHO PRA EQUILIBRAR O MEU
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HUMOR, EU NÃO POSSO TER ESSA RESISTÊNCIA. ASSIM COMO NÃO POSSO TER RESISTÊNCIA QUANDO VOU TOMAR MEU REMÉDIO PRA DIABETES, QUANDO VOU TOMAR REMÉDIO PRA PRESSÃO, QUE É A VIDA TODA. NÓS PRECISAMOS TER ESSE ENTENDIMENTO.
AGORA,
ESSES
SINAIS
PRECISAM
SER
OBSERVADOS DENTRO DE CASA, NO AMBIENTE DE TRABALHO, NO AMBIENTE DE FAZER. SÃO AQUELES SINAIS EVIDENTES QUE EU DISSE NO COMEÇO DA MATÉRIA, MAS MUITAS VEZES TAMBÉM NÓS ACABAMOS OUVINDO AQUILO QUE NÓS NÃO DESEJARÍAMOS OUVIR. “AH, É FRESCURA, É FALTA DE DEUS, É PRA CHAMAR ATENÇÃO”. NÃO, HOJE NÓS QUEREMOS FALAR COM VOCÊ, QUE ESTÁ OUVINDO O NOSSO PROGRAMA, QUE PRECISA DAR ATENÇÃO ÀS PESSOAS QUE USEM ESSA FORMA DE COMUNICAÇÃO. NÃO É FRESCURA, É SÉRIO, ESSA PESSOA ESTÁ ADOECENDO A CADA DIA. OS GRITOS DE SOCORRO DELA PRECISAM SER OUVIDOS AINDA QUE DAS MAIS DIFERENTES FORMAS. NÃO É FRESCURA, NÃO É FALTA DE DEUS. SE FOSSE FALTA DE DEUS, PADRES, PASTORES E LÍDERES ESPIRITUAIS NÃO
SE
SUICIDARIAM.
REALMENTE
É
UM
REALMENTE
PROBLEMA
QUE
É
UMA
PODE
DOENÇA,
SER
DESDE
PSIQUIÁTRICO A UMA DEPRESSÃO MODERADA OU CRÔNICA QUE PRECISA ATENÇÃO DE UM PROFISSIONAL DA ÁREA DA SAÚDE PRA QUE ISSO NÃO VENHA A OCORRER. TEM JEITO? CLARO. A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE DIZ QUE MAIS DE 90%
DESSES
CASOS
PODEM
SER
EVITADOS
QUANDO
DETECTADOS HÁ TEMPO. LOC MARCELLE
EXPLIQUE PARA NÓS SOBRE O GAV. COMO O OUVINTE PODE PROCURAR OU ATÉ SE TORNAR UM VOLUNTÁRIO?
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ROBERTO SINAI
PRA SER UM VOLUNTÁRIO, BASTA TER MAIS DE 18 ANOS E UM ESPÍRITO
SOLIDÁRIO.
NÓS
OFERECEMOS
UM
CURSO
GRATUITO QUE DURA EM MÉDIA DE SEIS MESES. SÃO FEITOS AOS FINAIS DE SEMANA PRA QUE A PESSOA APRENDA SOBRE O PODER DA ESCUTA PORQUE NO GAV NÓS MUITO MAIS OUVIMOS DO QUE FALAMOS. E ALGUMAS PESSOAS FALAM “MAS VOCÊS SÓ OUVEM?” PORQUE NÓS NÃO JULGAMOS, NÃO DIRECIONAMOS E NEM ACONSELHAMOS. MAS NÓS TEMOS AS FERRAMENTAS QUE FACILITAM O DESTRAVAMENTO DO NOSSO INTERLOCUTOR. E ESSA PESSOA PODE NOS PROCURAR PELO TELEFONE 141 SE ESTIVER NA CAPITAL, E EM QUALQUER OUTRO MUNICÍPIO DO ESTADO, OU MESMO EM OUTROS ESTADOS, PELO 33834112. AS PESSOAS QUE QUISEREM TAMBÉM UMA PALESTRA GRATUITA DO GAV PODEM LIGAR EM UM DESSES TRÊS TELEFONES E PEDIR QUE NÓS TAMBÉM ESTAREMOS ATENDENDO ATRAVÉS DE AGENDA. EU GOSTARIA QUE OS NOSSOS OUVINTES TAMBÉM VISITASSEM O NOSSO SITE QUE É WWW GRUPO AMOR VIDA PONTO ONG. LOC MARCELLE
OBRIGADA ROBERTO.
COMEÇA TRILHA NO FUNDO ROBERTO SINAI
OBRIGADA PELA OPORTUNIDADE, UM GRANDE ABRAÇO A TODOS. O GAV ESTÁ SEMPRE DE BRAÇOS ABERTOS PARA AJUDAR A SALVAR VIDAS.
LOC MARCELLE VINHETA ENCERRAMENTO
OBRIGADA A VOCÊ, OUVINTE. O PODCAST RESISTIR FICA POR AQUI, ATÉ MAIS.
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Data: 26/09/2018 Programa: Resistir
Apresentador: Marcelle Marques Redator: Marcelle Marques
Tempo: 11’58’’
Retranca: Prevenção e ajuda
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VINHETA DE ABERTURA
OLÁ, ESTÁ COMEÇANDO O PROGRAMA RESISTIR QUE TEM COMO OBJETIVO A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO. NÓS JÁ FALAMOS
LOC MARCELLE
SOBRE SINAIS DO SUICIDA E HOJE VAMOS FALAR DE COMO AJUDAR UMA PESSOA QUE TEMEMOS COMETER O SUICÍDIO E TAMBÉM COMO LEVAR A PREVENÇÃO PARA TODOS. ESTÃO AQUI COMIGO JANIS NAGLIS FAKER, GESTALT-TERAPEUTA, PROFESSORA MESTRA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL, QUE TRABALHA COM ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL; E EMERSON LEITE DE BRITO, CRIADOR E COORDENADOR DO PROJETO LABIRINTO. OBRIGADA PELA PRESENÇA DE VOCÊS.
JANIS NAGLIS FAKER LOC MARCELLE
OBRIGADA.
SE VOCÊ OUVINTE PRECISAR DE AJUDA, LIGUE PARA O PROJETO LABIRINTO, NO NÚMERO 998509197, 998509197. APÓS DETECTAR QUE UM CONHECIDO ESTÁ PENSANDO EM SUICÍDIO, COMO DEVEMOS AGIR?
JANIS A PRINCÍPIO, QUANDO VOCÊ PERCEBE QUE ALGUÉM ESTEJA DESCE TRILHA
PENSANDO, PLANEJANDO COMETER UM SUICÍDIO, O PRIMEIRO PASSO É VOCÊ SE APROXIMAR DESSA PESSOA E TENTAR CONVERSAR COM ELA, NÉ, SE COLOCAR DISPONÍVEL PARA ELA, NO SENTIDO DE DIZER “OLHA, EU ESTOU AQUI, VOCÊ NÃO ESTA SOZINHO, EU GOSTARIA DE TE AJUDAR, DE QUE FORMA QUE EU POSSO TE AJUDAR”. ENTÃO VOCÊ FALAR, VERBALIZAR
LOC MARCELLE
ISSO PRA ELA PORQUE ÀS VEZES, VOCÊ SÓ FICA PENSANDO “AH, EU PODIA FAZER ISSO OU AQUILO”, MAS VOCÊ NÃO SE APROXIMA DA PESSOA. ENTÃO, PRIMEIRO PASSO IMPORTANTE
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É APROXIMAÇÃO. CLARO QUE ÀS VEZES A PESSOA NO PRIMEIRO MOMENTO, ELA VAI TER UMA RESISTÊNCIA, NEM SEMPRE ELA VAI DIZER PARA VOCÊ O QUE ELA QUER, OU O QUE ELA ESTÁ PENSANDO, NÉ? MAS VOCÊ TEM QUE DEIXAR ESSE CONTATO ABERTO E LIVRE PARA QUE ELA SEJA, NO MOMENTO QUE ELA QUISER VOCÊ VAI ESTAR OUVINDO ELA. ENTÃO, PASSA NÉ, NO CASO O SEU CELULAR, O NÚMERO DO CONTATO, O ENDEREÇO DA SUA CASA, ALGO QUE ELA POSSA, OU SE ELA JÁ É SUA AMIGA ELA JÁ SABE O HORÁRIO QUE ELA PODE TE ENCONTRAR. SE CASO ELA TE LIGAR, EU FALO QUE ASSIM, QUANDO A GENTE SE COMPROMETE COM ALGUÉM PARA A GENTE AJUDAR, A GENTE TEM QUE ESTAR COMPROMETIDO MESMO, SE ESSA PESSOA LIGA PARA VOCÊ DUAS HORAS DA MANHÃ, VOCÊ TEM QUE ATENDER O SEU CELULAR ÀS DUAS HORAS DA MANHÃ. ENTÃO, ISSO TEM QUE ESTAR BEM ALINHADO NO SENTIDO DE VOCÊ E O OUTRO TER ESSA CONCORDÂNCIA. ENTÃO TÁ, VOCÊ QUER ME AJUDAR, ENTÃO EU VOU ESTAR TE PROCURANDO.
É, E ASSIM, UMA DICA LEGAL PARA QUEM TRABALHA COM EMERSON LEITE DE BRITO ESSA ÁREA SÃO ALGUMAS CLASSIFICAÇÕES QUE EXISTEM NÉ, O NÍVEL DE CADA PESSOA. PESSOAS QUE SÓ A MENTE NA IDEAÇÃO, IGUAL A PSICÓLOGA FALOU, UMA BOA CONVERSA, UM BOM OMBRO AMIGO, ESTAR À DISPOSIÇÃO É IMPORTANTE, MAS MUDA UM POUQUINHO PARA PESSOAS QUE JÁ TEM PLANOS DEFINIDOS, DATAS DEFINIDAS, QUE ESTÃO SE DECIDINDO. AÍ É MUITO IMPORTANTE O ENCAMINHAMENTO PARA O SERVIÇO DE PSICOLOGIA OU DE PSIQUIATRIA OU O POSTO DE SAÚDE LOCAL PARA QUE POSSA SER FEITA UMA AVALIAÇÃO MAIS FIDEDIGNA.
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COMO EU FALEI, O PRIMEIRO MOMENTO, SE VOCÊ PERCEBE JANIS
ISSO, É CLARO, VOCÊ TEM QUE SE APROXIMAR. MAS SE VOCÊ JÁ SABE QUE ISSO REALMENTE ESTÁ ACONTECENDO, NÉ, A PESSOA JÁ COLOCOU NÉ QUE ELA, É FUNDAMENTAL O TRATAMENTO, VOCÊ ENCAMINHAR PARA O TRATAMENTO. E PRINCIPALMENTE ASSIM, COMUNICAR PARA A FAMÍLIA. OU COM ALGUÉM QUE ESTEJA PRÓXIMO A ELA.
LOC MARCELLE
QUANDO ENCONTRAMOS ALGUÉM TENTANDO O SUICÍDIO, O QUE PODEMOS FAZER PARA QUE A PESSOA NÃO CONTINUE E COMO CHAMAR A AJUDA MAIS EFETIVA QUE VAI FAZER COM QUE ELA SOBREVIVA SEM DANOS?
EMERSON
Ã, A GENTE JÁ TEVE NESSES ANOS TODOS ALGUMAS EXPERIÊNCIAS ASSIM. EU VOU COMEÇAR DE TRÁS PARA FRENTE PARA DIZER. PRIMEIRO QUE OS PROTOCOLOS PARA PESSOAS QUE ESTÃO ARMADAS, TANTO COM ARMA BRANCA QUANTO ARMA DE FOGO, O PROTOCOLO QUE SE PEDE É QUE SE SEJA COMUNICADO À POLÍCIA MILITAR QUE AUTOMATICAMENTE ACIONA O BATALHÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS. SOMENTE O BOPE É AUTORIZADO A RETIRAR ARMAS DE FOGO. ENTÃO JÁ PARA COMEÇAR AOS OUVINTES DIZENDO QUE NUNCA TENTE RETIRAR ARMA DE FOGO DE UMA PESSOA NESSAS SITUAÇÕES, QUE ELAS GERALMENTE DÃO SURTO, É UMA MANOBRA DE RISCO QUE O BATALHÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS COM SEU NEGOCIADOR VAI FAZER ESSA RETIRADA. AGORA, PESSOAS QUE ESTÃO EM PONTE, QUE ESTÃO EM RODOVIAS, UMA BOA NEGOCIAÇÃO, UMA BOA CONVERSA É POSSÍVEL NUMA SITUAÇÃO QUE VOCÊ NÃO
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TENHA, QUE VOCÊ ESTEJA NA EMERGÊNCIA ALI, VOCÊ PODE FAZER ESSA NEGOCIAÇÃO. EU JÁ FIZ UMA VEZ, UM RAPAZ NUMA PONTE ALI NA AVENIDA AFONSO PENA, ELE ALCOOLIZADO, A GENTE FOI CONVERSANDO COM ELE, SEM ENCOSTAR NELE, SEM MANOBRAS BRUSCAS, NUNCA ENCOSTAR NA VÍTIMA. A GENTE FOI CONVERSANDO E ELE DEPOIS DE UNS 10, 15 MINUTOS, EM TROCA DE UM LANCHE, DE UMA COCA COLA, ELE ELE DESCEU DA PONTE, ENTÃO NUNCA ENCOSTANDO NA VITIMA, NUNCA FAZENDO NENHUM TIPO DE MOVIMENTO BRUSCO. E SE VOCÊ PERCEBER QUE NÃO VAI DESCER, QUE É UMA SITUAÇÃO DE RISCO, JÁ ACIONAR A POLÍCIA MILITAR, O CORPO DE BOMBEIROS PARA QUE SEJA FEITA A NEGOCIAÇÃO. ISSO SÃO AS EXPERIÊNCIAS MAIS SIMPLES QUE A GENTE TEVE. JANIS
ESSAS SÃO OS TIPOS DE ABORDAGEM, NÉ? ENTÃO, ESSAS ABORDAGENS ELAS SÃO MUITO IMPORTANTES PORQUE INCLUSIVE, O PESSOAL DO BATALHÃO NÉ, CORPO DE BOMBEIROS TAMBÉM, ELES TÊM TODA UMA TÉCNICA, JÁ TEM TODO UM TREINAMENTO EM SITUAÇÕES DESSAS QUE REALMENTE ENVOLVEM UM RISCO, RISCO DE VIDA PARA A PESSOA E RISCO DE VIDA PARA QUEM TAMBÉM ESTÁ QUERENDO SOCORRER, NÉ? ENTÃO TEM QUE TER ESSE CUIDADO.
LOC MARCELLE
ALGUMAS VEZES, PESSOAS INCENTIVAM O SUICÍDIO. EM CURITIBA, POR EXEMPLO, UMA PESSOA ESTAVA JÁ SENDO DISSUADIDA PELO BOMBEIRO DE NÃO PULAR E AS PESSOAS GRITAVAM “PULA, PULA” E ACABOU PULANDO. COMO QUE A GENTE EVITA ISSO?
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JANIS
A PESSOA QUE FAZ ISSO ELA PODE SIM SER ENQUADRADA NO SENTIDO DE RESPONDER POR ISSO, INCLUSIVE SER PRESA E SE RESPONSABILIZAR POR ISSO PORQUE DENTRO DA PSICOLOGIA O QUE QUE A GENTE FALA? ISSO É UM SENTIMENTO DE MASSA, NÉ, É UM SENTIMENTO COLETIVO, ENTÃO SE VOCÊ COMEÇA A DIZER PARA A PESSOA “PULA, PULA”, OUTRO QUE ESTÁ POR PERTO, ÀS VEZES ESTIMULADO, VAI COMEÇAR A MANIFESTAR ISSO TAMBÉM, ENTÃO ISSO É UM SENTIMENTO QUE PODE PROVOCAR ALGO COLETIVO, ENTÃO AS PESSOAS INFELIZMENTE... ISSO A GENTE SABE QUE NÃO É DE AGORA, ESSES ACONTECIMENTOS VÊM DESDE NÉ, O INÍCIO DAS DÉCADAS PASSADAS, SÉCULOS PASSADOS, QUE GRANDES, POR EXEMPLO, QUANDO OCORRIA NA GRÉCIA, EXISTIA AQUELE INCENTIVO DA MASSA “MATA, MORRE, MATA” E ISSO JÁ É UMA COISA INFELIZMENTE PRIMITIVA DO SER HUMANO, JÁ DE MUITOS E MUITOS TEMPOS, NÉ?
EMERSON
É, É UM FENÔMENO QUE REPRESENTA MUITO DO QUE O SUICÍDIO REPRESENTA, NÉ? ACHO QUE ELE AINDA TEM MUITO DO QUE É FRESCURA, DO “QUEM QUER SE MATAR, SE MATA LOGO”, TODOS OS TABUS QUE EXISTEM AINDA, QUE ELES MUITAS VEZES VÊM À TONA NESSAS SITUAÇÕES, NÉ. O GRANDE DIFERENCIAL PARA COMEÇAR A MUDAR ISSO É TRANSFORMAR A FORMA COMO A GENTE VÊ SUICÍDIO. ACHO QUE AO LONGO DO TEMPO A GENTE VEM VIVENCIANDO ISSO, ERA ALGO SOMENTE ESPIRITUAL, NÉ, OS MARTE ALI DE SATÃ, DEPOIS DO KEN VEM E DÁ UM STATUS SOCIAL, HOJE A GENTE TRATA COMO UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA, MAS A GENTE A PESAR DE TUDO PRECISA HUMANIZAR ISSO, A GENTE PRECISA TRANSFORMAR ESSE ATO NUM ATO MAIS HUMANO
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PORQUE AINDA HOJE ELE É UM ATO DE MUITO JULGAMENTO, DE PRECONCEITO, ENTÃO AS PESSOAS É “PULA, PULA, VAMOS PULAR”. ENTÃO, ACHO QUE É UMA NOVA REVOLUÇÃO E O SETEMBRO AMARELO VEIO TRAZER UM POUCO DISSO, É A GENTE COMEÇAR A FALAR SOBRE ISSO PARA QUE AS PESSOAS POSSAM ENTENDER QUE AS PESSOAS QUE ESTÃO NA SITUAÇÃO SOFREM OU ESTÃO COM PROBLEMAS PSICOLÓGICOS E MENTAIS, ENTÃO NÃO É ALGO DE FRESCURA, DE QUERER CHAMAR ATENÇÃO E É ALGO, UM PROBLEMA QUE ELA ESTÁ MOSTRANDO NÉ.
LOC MARCELLE
NÓS QUE ESTAMOS DENTRO DO ASSUNTO DO SUICÍDIO TEMOS MAIS ACESSO A INFORMAÇÕES, POR EXEMPLO, NESSE ANO PESQUISANDO PARA O MEU TCC, EU VI MUITAS PALESTRAS, MUITOS CURSOS A RESPEITO. VOCÊS ACHAM QUE ESSAS NOTÍCIAS DOS EVENTOS, ESSAS INFORMAÇÕES CHEGAM A GRANDE PARCELA DA POPULAÇÃO?
EMERSON
MELHOROU MUITO, ACHO QUE O SETEMBRO AMARELO ELE ESTÁ TRAZENDO UM NOVO, UM NOVO CONCEITO PARA ESSE TEMA NA MÍDIA. É UM TEMA QUE ENVOLVE MUITO TABU, OS PRÓPRIOS CURSOS DE JORNALISMO TINHAM DIFICULDADE EM TRABALHAR ISSO, OS GRANDES SITES TÊM DIFICULDADE EM TRABALHAR ISSO E QUANDO TRABALHAM, MUITAS VEZES TRABALHAM DE MANEIRA INCORRETA, MAS EU ACHO QUE COM O ADVENTO DO SETEMBRO AMARELO, OS DEPARTAMENTOS DE MÍDIA ESTÃO SE CAPACITANDO MAIS, ESTÃO TRAZENDO ISSO MAIS À TONA.
JANIS
E A GENTE PERCEBE QUE EXISTEM PESSOAS, POLÍTICOS
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INTERESSADOS EM IMPLANTAR PROJETOS, LEIS, PARA QUE ISSO SE ESTENDA ATÉ AS ESCOLAS, TEM EQUIPE DE PROFISSIONAIS PARA FAZER ATENDIMENTO. ENTÃO É POR AÍ MESMO, A GENTE TEM QUE, A GENTE FALA “AH, MAS QUE QUE ADIANTA ESSA CAMPANHA?”. ADIANTA E MUITO. SE VOCÊ SAI NA RUA DIVULGANDO, FALANDO, ISSO CHAMA A ATENÇÃO.
LOC MARCELLE
AGORA GOSTARIA QUE VOCÊS CONTASSEM SOBRE OS PROJETOS DE VOCÊS. EMERSON, O QUE O PROJETO LABIRINTO OFERECE E COMO FAZ PARA PARTICIPAR?
EMERSON
O PROJETO LABIRINTO ELE É UM PROJETO QUE SURGIU HÁ CINCO ANOS NUM CURSO DE CAPELANIA ESCOLAR AQUI NA UNIVERSIDADE FEDERAL COM O CAPELÃO REIS, O PROFESSOR REIS AQUI DA UNIVERSIDADE TAMBÉM. E ESSE PROJETO ELE NASCEU COMO UM PROJETO DE PREVENÇÃO PRIMÁRIA. ENTÃO A PREVENÇÃO PRIMÁRIA CONSISTE NO QUÊ? DESMISTIFICAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO E ENCAMINHAMENTO DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RISCO, ENTÃO QUEM QUISER, PRECISAR CONVERSAR COM A GENTE, MARCAR ALGUMA PALESTRA OU FAZER PARTE DO PROJETO, O TELEFONE É 998509197 OU PROCURE NAS NOSSAS REDES SOCIAIS PROJETO LABIRINTO E NO INSTAGRAM LABIRINTO AMOR À VIDA.
LOC MARCELLE
JANIS, QUEM ESTIVER OUVINDO E GOSTARIA DE SER ATENDIDO NA UEMS, COMO FAZ, QUEM PODE SER ATENDIDO QUAL O CONTATO?
JANIS
NA UEMS, EXISTE ESSE SERVIÇO QUE CHAMA SAP (SERVIÇO
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DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO) QUE É UM ATENDIMENTO VOLTADO PARA A COMUNIDADE ACADÊMICA DA UEMS E ESSE PROJETO É UM PROJETO LIGADO À PRÓ-REITORIA DE ASSUNTOS COMUNITÁRIOS DA UNIVERSIDADE. QUE QUE A GENTE TEM FEITO NUM SENTIDO DE COMUNIDADE? REALIZANDO PALESTRAS, FAZENDO PARTICIPAÇÃO EM CAMPANHAS, ATENDENDO O PÚBLICO EM GERAL NO SENTIDO SOBE TRILHA
DE FAZER ALGUM TIPO DE TREINAMENTO, ALGUM TIPO DE CAPACITAÇÃO, ENTENDEU?
LOC MARCELLE
O SERVIÇO DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL PODE SER AGENDADO PELO ENDEREÇO ATENDIMENTOPSICOLOGICO@UEMS.BR, ATENDIMENTOPSICOLOGICO@UEMS.BR. E PELO TELEFONE 39014621 NO CAMPUS DE CAMPO GRANDE E 39022633 NO CAMPUS DE DOURADOS, REPETINDO 39014621 NO CAMPUS DE CAMPO GRANDE E 39022633 NO CAMPUS DE DOURADOS. O PODCAST RESISTIR FICA POR AQUI, OBRIGADA PELA COMPANHIA E ATÉ A PRÓXIMA.
SOBE
VINHETA
ENCERRAMENTO
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Data: 03/10/2018 Programa: Resistir
Apresentador: Marcelle Marques Redator: Marcelle Marques
Tempo: 09’29’’
Retranca: Razões do suicídio
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VINHETA DE ABERTURA DESCE E FICA A TRILHA LOC MARCELLE
OLÁ, ESTÁ COMEÇANDO O PROGRAMA RESISTIR, PODCAST QUE TEM COMO OBJETIVO A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO. ESTÁ AQUI COMIGO EDILSON DOS REIS, COORDENADOR DO PRIMEIRO CURSO
NO
BRASIL
DE
PREVENÇÃO
AO
SUICÍDIO
NA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO MARIA APARECIDA PEDROSSIAN E CAPITÃO DO CORPO DE BOMBEIROS. OBRIGADA PELA PRESENÇA. SE VOCÊ SE IDENTIFICAR E PRECISAR DE AJUDA, LIGUE PARA O GAV 141 OU 33834112, 141 OU 33834112. QUANDO SE FALA EM SUICÍDIO, ALGO MUITO IMPORTANTE É ENTENDER AS RAZÕES E FATORES DE RISCO, QUAIS SÃO OS MAIS RECORRENTES?
EDILSON DOS REIS
OS MAIS RECORRENTES INFELIZMENTE É A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO, DO COMPORTAMENTO SINAL DE ALERTA. QUE TIPO DE MUDANÇA? A PESSOA DEIXA DE FAZER COISAS QUE ELA FAZIA ANTES E HOJE ELA NÃO FAZ, ISOLAMENTO SOCIAL, ISOLAMENTO FAMILIAR E PRINCIPALMENTE AQUELE SENTIDO DE NÃO QUERER FAZER COISAS QUE ANTES ELA TINHA PRAZER, HOJE ELA DEIXA DE FAZER. SINAL DE ALERTA. OUTRO GRANDE SINAL DE ALERTA É VERIFICAR O QUE A PESSOA ESTÁ FALANDO NA SUA ORALIDADE OU POSTANDO NAS REDES SOCIAIS, TAIS COMO SE AUTODEPRECIANDO, NÃO DANDO VALOR A ELA E PALAVRAS-CHAVE TAIS COMO “AS PESSOAS VÃO SER MAIS FELIZES SEM MIM”, “EU NÃO SIRVO PRA NADA”, “EU NÃO TENHO VALOR NENHUM”. SÃO PALAVRAS QUE A GENTE PODE ENTENDER QUE
A
PESSOA
ESTÁ
PENSANDO
OU
ESTÁ
EM GRANDE
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PROCESSO DE SOFRIMENTO PSÍQUICO OU DESORDEM MENTAL.
LOC MARCELLE
E QUAIS AS RAZÕES QUE MAIS CAUSAM O SUICÍDIO?
EDILSON
SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, ELA PRECONIZA QUE 90% DOS CASOS DE TENTATIVA DE SUICÍDIO OU SUICÍDIO ESTÁ RELACIONADO A TRANSTORNOS MENTAIS TAIS COMO DEPRESSÃO, SÍNDROME BORDERLINE, SÍNDROME DO PÂNICO E AS DESORDENS MENTAIS. O QUE NÓS TEMOS QUE ENTENDER É QUE QUALQUER PESSOA PODE TER UM TRANSTORNO MENTAL, PRINCIPALMENTE A DEPRESSÃO. DEPRESSÃO, SEGUNDO OS ESTUDOS RECENTES, MOSTRA QUE O BRASIL É UM DOS CAMPEÕES, É UM PAÍS COM ALTA TAXA DE PESSOAS DEPRIMIDAS E DEPRESSÃO TEM TRATAMENTO. QUANDO EU VOU ADERIR AO TRATAMENTO, O QUE EU TENHO QUE ENTENDER É QUE EXISTE VÁRIOS TIPOS DE DEPRESSÃO. ELAS VÃO SE DIVIDIR EM MÉDIA, SEVERA, MODERADA E CRÔNICA. PRECISAMOS TER O MANEJO E O DIAGNÓSTICO, DADO POR UM PSICÓLOGO OU POR UM PROFISSIONAL DE SAÚDE MENTAL COMO UM PSIQUIATRA.
LOC MARCELLE
SEGUNDO O MAPA DA VIOLÊNCIA 2014, O MATO GROSSO DO SUL POSSUI OITO DAS TREZE CIDADES COM MAIS SUICÍDIOS DE INDÍGENAS NO BRASIL. ALÉM DA NOSSA GRANDE POPULAÇÃO INDÍGENA, QUAIS SERIAM OS OUTROS MOTIVOS?
EDILSON
BOM, OUTROS MOTIVOS É O QUE VOCÊ ACABOU DE FALAR, OS INDICATIVOS MOSTRAM, NÉ, MAS ESSA TAXA DE POPULAÇÃO INDÍGENA JÁ CAIU MUITO. MATO GROSSO DO SUL TEM A SEGUNDA MAIOR POPULAÇÃO INDÍGENA DO BRASIL. PRINCIPALMENTE ESSES SUICÍDIOS ELES SÃO DECORRENTES ALI NA REGIÃO DO
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CONESUL, QUE ABRANGE A REGIÃO DO CONSEUL DE FRONTEIRA COM O PARAGUAI, OS GUARANI KAIOWÁ, TÁ? HOJE O SUICÍDIO ELE ESTÁ MAIS NA ÁREA URBANA, COM O BRANCO, TÁ? OS TRABALHOS FEITOS PELA SESAU, NÓS MESMOS, A UNIVERSIDADE FEDERAL, NÓS FIZEMOS O MANEJO DO CURSO DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO, POPULAÇÃO INDÍGENA, ALI NA REGIÃO DE AMAMBAI. ENTÃO ISSO TROUXE UM ALÍVIO MUITO GRANDE, AS TAXAS DE SUICÍDIO DIMINUI. MAS SÃO ELEVADÍSSIMAS EM POPULAÇÃO RECORRENTE
A
OUTROS
PAÍSES
QUE
ESIDE
POPULAÇÃO
INDÍGENA. MAS UMA DAS COISAS QUE A GENTE TEM QUE ENTENDER É QUE O MANEJO E, PRINCIPALMENTE, A NOTIFICAÇÃO ELEVA AS TAXAS DE SUICÍDIO. AS PREFEITURAS DE MATO GROSSO DO SUL HOJE ELAS SE CONSCIENTIZARAM QUE TEM QUE FAZER O QUÊ? A CAPACITAÇÃO, MAS PRINCIPALMENTE A NOTIFICAÇÃO TANTO DO SUICÍDIO QUANTO TENTATIVA DE SUICÍDIO, AÍ OS NÚMEROS DISPARAM, MAS NÓS SIM TEMOS ALTA TAXA DE SUICÍDIO POR 100 MIL HABITANTES AQUI NO MATO GROSSO DO SUL.
LOC MARCELLE EDILSON
QUAIS SÃO OS TABUS INCORRETOS SOBRE SUICÍDIO?
UM DELES É QUE QUEM FALA QUE VAI COMETER SUICÍDIO, NÃO COMETE. ISSO É UM MITO, ISSO É UMA MENTIRA, ISSO É UM TABU. QUEM FALA, FAZ. QUEM FALA ESTÁ PEDINDO SOCORRO E AJUDA. OUÇA COM AFETIVIDADE, OUÇA COM CARINHO, JAMAIS JULGUE, CONDENE ALGUÉM. PORQUE A PESSOA EM SOFRIMENTO, QUE QUE ELA QUER? ALGUÉM PARA OUVIR, ALGUÉM PARA CONFIAR E ALGUÉM QUE ELA POSSA FALAR DA SUA DOR, DA SUA ANGÚSTIA. TÁ? ISSO É UM DOS MITOS MUITO GRANDES, QUE A GENTE PRECISA ACABAR COM ISSO. E MAIS: O SUICÍDIO PODE SER
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EVITADO QUANDO EU OUÇO COM AMOR, CARINHO, ACOLHO E NÃO JULGO, ENCAMINHO PARA UM TRATAMENTO MÉDICO OU PSICOLÓGICO.
LOC MARCELLE
COMO FUNCIONA O CURSO DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO?
EDILSON BOM, COMO É UM CURSO NOVO A NÍVEL DE BRASIL, ELE ESTABELECE ALGUNS PADRÕES. PRIMEIRO VOCÊ QUEBRA O MITO DO
SUICÍDIO,
O
PARADIGMA
DISSO
PORQUE
A
PRÓPRIA
ORGANIZAÇÃO DE SAÚDE, A ASSOCIAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE MENTAL INDICA QUE 90% DOS CASOS DE SUICÍDIO PODEM SER EVITADOS EM UM NÚMERO MUITO ALTO. EVITADO COMO? O PAPEL DA MÍDIA, VOCÊ MESMA INICIOU SUA FALA DIZENDO AONDE BUSCAR TRATAMENTO.
SÃO
AÇÕES SIMPLES
DE
MANEJO,
ACOLHIMENTO, INFORMAÇÕES E MUDANÇA DE CULTURA DE QUEM VAI ACOLHER EM PRIMEIRO LUGAR ESSA PESSOA QUE ESTÁ EM SOFRIMENTO PSÍQUICO E DESORDEM MENTAL. O ACOLHIMENTO HUMANO, FRATERNO, NO PROCESSO DA BUSCA DO ATENDIMENTO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA JÁ É UM PROCESSO
FANTÁSTICO.
ACESSO
FÁCIL
E
RÁPIDO
A
TRATAMENTO. A PESSOA COM SOFRIMENTO PSÍQUICO, IDEAÇÃO SUICIDA ELA TEM QUE SER MANEJADA NO ESTADO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA. ACESSO RÁPIDO, POSTOS DE SAÚDE DE UNIDADE BÁSICA
TENDO
PESSOAS
CAPACITADAS,
SÃO
FORMAS
DE
MANEJO E QUE A ESTRUTURA SOCIAL MUITO BEM. É ISSO QUE A GENTE VAI INDICAR NO CURSO. OUTRA COISA, NO CURSO A GENTE VAI MOSTRAR QUE TUDO É POSSÍVEL QUANDO PESSOAS IMBUÍDAS ESTÃO PRESTES A ISSO. ENTÃO NÓS VAMOS FAZER MUITO ESTUDO DE CASO, SEMINÁRIOS DENTRO, MUDANÇA DE ATITUDE, MUDANÇA DE HÁBITO, QUEBRA DE PARADIGMA E A
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CULTURA DA PREVENÇÃO AO SUICÍDIO. NO BRASIL, NÓS NÃO TEMOS A CULTURA DE PREVENÇÃO, A NOSSA SOCIEDADE ELA NÃO TRABALHA COM A PREVENÇÃO, A NOSSA MEDICINA, QUANDO EU FALO ENGLOBA TODO O UNIVERSO DA SAÚDE, ELA É CURATIVA E NÃO PREVENTIVA, E AS AÇÕES TÊM QUE SER PREVENTIVAS. IR NAS ESCOLAS, SEMINÁRIOS, ESCLARECER, MOSTRAR CAMINHOS E POSSIBLIDADES AONDE ENCONTRAR SOCORRO PARA QUEM ESTÁ EM SOFRIMENTO.
LOC MARCELLE
E QUEM TIVER INTERESSE EM PARTICIPAR DO CURSO, ONDE VAI OU ONDE CONTATA?
EDILSON
ESTE ANO O CURSO JÁ ESTÁ ENCERRANDO, AGORA EM NOVEMBRO NÓS ENCERRAMOS ESSE CURSO E PROVAVELMENTE A GENTE VAI ABRIR AS OUTRAS INSCRIÇÕES PARA O ANO QUE VEM, A GENTE VAI ESTAR INFORMANDO, ESCLARECENDO O PÚBLICO, A VOCÊS PARA INFORMAR PORQUE TODO ANO A GENTE FAZ UM MODELO DE INSCRIÇÕES DIFERENTE E ACESSO ÀS INSCRIÇÕES PARA A MÍDIA PARTICIPAR PARA ESCLARECER A POPULAÇÃO. MAS ESSE CURSO É ABERTO A SOCIEDADE, PRINCIPALMENTE VISANDO OS ACADÊMICOS DA ÁREA DE SAÚDE, MAS É ABERTO ACIMA DOS 18 ANOS DE IDADE. ANO QUE VEM NÓS QUEREMOS TRABALHAR MUITO, VAMOS DAR MUITA VAGA PARA OS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE, AQUELE AGENTE, AQUELE PROFISSIONAL DA SAÚDE QUE VAI NA SUA CASA PORQUE ESSAS PESSOAS TÊM ACESSO DIRETO À POPULAÇÃO DENTRO DA CASA. ESCLARECER, INFORMAR, ESTABELECER UM CONTATO COM ESSE INDIVÍDUO EM SOFRIMENTO E TER IMEDIATAMENTE O ACESSO À UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE. MAS É ABERTO À SOCIEDADE, À COMUNIDADE ACADÊMICA.
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SOBE TRILHA LOC MARCELLE
OBRIGADA EDILSON.
EDILSON NÓS QUE AGRADECEMOS A OPORTUNIDADE E LEMBRAMOS QUE EXISTEM
PESSOAS,
EXISTEM
PROFISSIONAIS
APTOS
PARA
MANEJAR E OUVIR VOCÊ, BASTA VOCÊ IR A UMA UNIDADE BÁSICA DE
SAÚDE
OU
PROCURAR
UM
PSICÓLOGO,
UM
MÉDICO
PSIQUIATRA, UM ENFERMEIRO NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE, MAS JAMAIS FIQUE SOZINHO COM SUA DOR, SUA ANGÚSTIA.
NÓS
QUE
AGRADECEMOS
A
OPORTUNIDADE,
OBRIGADO.
LOC MARCELLE
E O PROGRAMA RESISTIR FICA POR AQUI. OBRIGADA PELA COMPANHIA, ATÉ MAIS.
VINHETA DE ENCERRAMENTO
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Data: 05/10/2018 Programa: Resistir
Apresentador: Marcelle Marques Redator: Marcelle Marques
Tempo: 15’02’’
Retranca: Luto
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VINHETA DE ABERTURA LOC MARCELLE
OLÁ! ESTÁ COMEÇANDO O PROGRAMA RESISTIR, QUE TEM COMO OBJETIVO A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO. HOJE ESTÃO
AQUI
RAQUEL
ICASSATI
ALMIRÃO,
PROFESSORA
MESTRA NA FCG FACSUL E ANHANGUERA E PSICÓLOGA QUE TRABALHA COM CUIDADOS PALIATIVOS E LUTO. E LUCIENE FERREIRA, CRIADORA DO GRUPO DE APOIO ESPIRITUAL A PESSOA ENLUTADA, O GAEPE. OBRIGADA PELA PRESENÇA. SE VOCÊ ESTIVER PASSANDO POR ALGO AQUI FALADO LIGUE PARA O GAEPE PARA FREQUENTAR AS REUNIÕES: 99221-3910. 99221-3910. O LUTO POR UMA VÍTIMA DE SUICÍDIO É MAIS DEMORADO E DIFÍCIL QUE OUTROS LUTOS, POR QUE ISSO ACONTECE? RAQUEL ICASSATI ALMIRÃO
OBRIGADA MARCELLE, PELO CONVITE. PELA OPORTUNIDADE, INCLUSIVE DE ESTAR CONHECENDO A LUCIENE, POIS EU JÁ ESCUTO HÁ MUITO TEMPO DO GRUPO QUE ELA COORDENADA. ENTÃO, ASSIM, É UM MOMENTO MUITO ESPECIAL PARA MIM. O LUTO, ELE É UM SENTIMENTO QUE A GENTE VIVE DIANTE DE UMA PERDA. ELE PODE SER ATRAVÉS DA PERDA DE ALGUMAS PESSOAS, COMO TAMBÉM DE OBJETOS. DE SUJEITOS OU DE OBJETOS. O SUICÍDIO ELE É UM ATO AUTOAPLICÁVEL, QUE UMA PESSOA COMETE, OCASIONANDO A SUA MORTE. ENTÃO, QUANDO
ALGUÉM
COMETE
UM
ATO
DESSE,
TEM
UM
COMPORTAMENTO DESSE, AS PESSOAS QUE FICAM TÊM MUITA DIFICULDADE EM COMPREENDER O PORQUÊ. O QUE EU PODERIA TER FEITO? ONDE FOI QUE EU FALHEI? ENTÃO ESTAS SITUAÇÕES DE NÃO CONSEGUIR, DE NÃO TER OPORTUNIDADE DE
SE
DESPEDIR.
OU
TER
A
SENSAÇÃO
DE
CULPA,
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SENTIMENTO DE CULPA PORQUE A PESSOA DESISTIU DE VIVER, SÃO MUITO CONFLITANTES E ELE NÃO TEM UM LUGAR PARA AMPARAR. ELES NÃO TÊM UMA RESPOSTA. NESSE SENTIDO QUE EU QUERO DIZER. ENTÃO O FATO DE EU TER QUE
ELABORAR A
PERDA DE
UMA
PESSOA SEM TER
CONDIÇÕES DE PEDIR DESCULPA, DE ME DESPEDIR. ELE TRANSFORMA ESSE LUTO DIFERENTE. QUANDO A GENTE FALA DIFÍCIL, MARCELLE, MAIS DIFÍCIL. EU ACHO DELICADO A GENTE FAZER UMA AFIRMAÇÃO DESSA. EU COMO PROFISSIONAL EU TENHO DIFICULDADE DE FAZER UMA AFIRMAÇÃO. EU DIGO ASSIM, QUE REALMENTE, ELE É MUITO DIFERENTE DE OUTROS TIPOS DE LUTO. ISSO FAZ COM QUE ELE TENHA AS PARTICULARIDADES POR ESSAS QUESTÕES DO SUICÍDIO. ENTÃO, ISSO PODE SER O QUE AJUDE A RESPONDER A ESSE PORQUÊ QUE VOCÊ COLOCOU. ELE É MUITO DIFERENTE POR ESSAS PARTICULARIDADES. E O SUICÍDIO, COMO A MORTE NÃO TEM, ELA É ALTAMENTE DEMOCRÁTICA. ELA NÃO VEM COM UMA IDADE “X” OU UMA IDADE “Y”, COM UMA CREÇA “X” E A OUTRA NÃO. OU QUESTÕES VARIADAS. ELA VEM. A MORTE ELA
CHEGA.
NO
SUICÍDIO
ELA
TAMBÉM
TEM
ESSA
CARACTERÍSTICA. CRIANÇA, ADOLESCENTE, ADULTO IDOSO. PODEM PASSAR POR ESSA EXPERIÊNCIA E PODEM MORRER POR ESSA EXPERIÊNCIA. ENTÃO, ELE FICA BEM DIFERENTE. A GENTE QUE ESTUDA COSTUMA DIZER QUE SOCIALMENTE ELE FICA SEM UM LUGAR.
LUCIENE FERREIRA SIM, EU TAMBÉM QUERO AGRADECER ESSA OPORTUNIDADE DE VIR ATÉ AQUI PARA DAR ESSE APOIO. DE FALAR SOBRE O QUE PODEMOS FAZER REFERENTE AO LUTO. O GAEPE É UM GRUPO DE APOIO ESPIRITUAL AOS ENLUTADOS. NÃO TEMOS
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ESSA PRETENSÃO DE FALAR DENTRO DA PSICOLOGIA, DESSA ÁREA, POR ISSO TEMOS ATÉ DUAS VOLUNTÁRIAS QUE TAMBÉM SÃO TERAPEUTAS QUE NOS ACOMPANHAM. NOS DÃO ESSE SUPORTE PARA QUE, ASSIM COMO A RAQUEL ACABOU DE DIZER, TAMBÉM AGRADEÇO MUITO. FICO MUITO CONTENTE DE CONHECE-LAS. ENTÃO, DENTRO DO LUTO A GENTE PROCURA FAZER ESSE PARALELO, PARA QUE POSSAMOS FALAR A MESMA LINGUAGEM, TANTO NA ÁREA DA PSICOLOGIA QUANTO NA ÁREA ESPIRITUAL. A GENTE PERCEBE QUE QUANDO UMA FALA OS OUTROS QUE ESTÃO NO GRUPO CONCORDAM, PORQUE A GENTE ESTÁ FALANDO A MESMA LINGUAGEM. EXCETO QUE, QUANDO HÁ UM ESTUDO DENTRO DESSA ÁREA DA PSICOLOGIA É UM OUTRO UNIVERSO, PORÉM A GENTE CONSEGUE FALAR A MESMA COISA. O GAEPE SENDO ESSE APOIO ESPIRITUAL ELE NÃO DEIXA TAMBÉM DA GENTE DAR UM ATENDIMENTO, INCLUSIVE EM CASA. ÀS VEZES A PESSOA NÃO TEM CONDIÇÕES DE IR ATÉ AS NOSSAS REUNIÕES QUE ACONTECEM SOMENTE AOS SÁBADOS, ÁS 9:30 A MANHÃ. ENTÃO, ÀS VEZES A PESSOA ESTÁ TÃO DEBILITADA QUE ELA NÃO CONSEGUE IR. ENTÃO, ELA LIGA E PERGUNTA SE ALGUM FAMILIAR. NORMALMENTE É UM FAMILIAR QUE PROCURA, OU UM AMIGO, NÉ? E AÍ PERGUNTA SE ALGUÉM PODE IR ATÉ ESTA PESSOA PARA DARMOS UMA ORIENTAÇÃO, CONVERSAR. ÀS VEZES A PESSOA PRECISA SOMENTE DE ALGUÉM PARA DESABAFAR. PRA CHORAR. ALGUÉM QUE NÃO DIGA A ELA QUE ELA ESTÁ ERRADA, QUE ELA NÃO PODE CHORAR. QUE ELA NÃO PODE SOFRER. ENTÃO, SÃO VÁRIAS SITUAÇÕES. E AÍ, EU FICO, SABE, MUITO ASSIM, ALEGRE, VAMOS DIZER.: DE QUE O LUTO ESTÁ SENDO TÃO COMENTADO E FALADO ULTIMAMENTE. QUE ANTES TINHA, MUITO, COMO A GENTE DIZ... NÃO SE
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FALAVA. ERA UM TABU, NÉ? FALAR SOBRE LUTO. FALAR SOBRE LUTO ERA FALAR SOBRE MORTE. ENTÃO NINGUÉM QUERIA FALAR. ÀS VEZES ATÉ BATIAM NA MADEIRA, NÉ? NÃO, NOSSA, NÃO QUERO NEM FALAR SOBRE ISSO! E QUE BOM QUE AGORA ESTÃO TODOS OS TABUS ESTÃO SENDO QUEBRADOS, NÉ?
LOC MARCELLE
QUAL A MANEIRA MAIS SAUDÁVEL DE LIDAR COM OS PERTENCES DO FALECIDO? ESPECIALMENTE, TAMBÉM, NO CASO DE SUICÍDIO. ÀS VEZES SE TIVER UMA CARTA?
RAQUEL
A QUESTÃO DOS PERTENCES, DOS OBJETOS DA PESSOA QUE COMETEU O SUICÍDIO, NOVAMENTE A GENTE RETOMA A IDEIA DOS VÍNCULOS ENTRE A FAMÍLIA E A PESSOA QUE COMETEU O SUICÍDIO. QUANDO VOCÊ FALOU DE UMA POSSIBILIDADE DE CARTA. SE A FAMÍLIA CONSEGUIR, PORQUE TÊM FAMÍLIAS QUE NÃO VÃO CONSEGUIR, NA MESMA RAPIDEZ DA CARTA, DE COMPARTILHAR,
DOAR
OS
OBJETOS
DA
PESSOA
QUE
COMETEU O SUICÍDIO. POR OUTRO LADO, DENTRO DESSE PROCESSO DE ENTENDIMENTO OU DE ACEITAÇÃO DA MORTE DO ENTE QUERIDO, PODE SER QUE ALGUMAS MUDANÇAS QUE ELES FAÇAM, ENCORAJADOS PELOS GRUPOS DE APOIO. ENCORAJADOS
PELAS
TERAPIAS.
ENCORAJADOS
PELAS
QUESTÕES ESPIRITUAIS, NÉ? PELAS IGREJAS QUE ELES FREQUENTAM. APOIADOS
APOIADOS
NA
FAMÍLIA.
COM
OS
ELES
GRANDES VÃO
AMIGOS.
PENSANDO.
EXPERIMENTANDO O QUE É SE DESFAZER DE UM OBJETO. E AÍ ELES VÃO EXPERIMENTANDO SE É POSSÍVEL OU COMO QUE ELES SOBREVIVERAM OU COMO QUE ELES VÃO MANTER A VIDA. NÃO VOU FALAR NEM EM PRESSA. É NO TEMPO DO ENTENDIMENTO, DE ACEITAÇÃO DO LUTO, DE VERIFICAR ESSE
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VÍNCULO COM A PESSOA. E MUITO, MUITO APOIO, QUE É O QUE DÁ CORAGEM PRA VIVER UM DIA APÓS O OUTRO.
LUCIENE
EU PERCEBO ASSIM TAMBÉM, QUE AINDA MAIS NESSA ERA QUE NÓS VIVEMOS. DE REDES SOCIAIS E TUDO MAIS. QUANDO HÁ UM CASO DE SUICÍDIO OS FAMILIARES CORREM PARA ESSAS REDES EM BUSCA DE ALAGO QUE POSSA DIZER PRA ELES: ELE TAVA FALANDO ISSO, ELE JÁ TAVA DIZENDO ISSO. POSTOU
TAL
COISA.
TALVEZ
UM
SINAL.
ENTÃO,
ELES
COMEÇAM A VASCULHAR ESSA PÁGINA, ESSE COMPUTADOR E TUDO MAIS. VÃO NOS LIVROS, NOS CADERNOS. VÃO OLHAR. SERÁ QUE DEIXOU ALGUMA COISA? SERÁ QUE DEIXOU ALGUMA COISA ESCRITA? ENTÃO, HÁ PRIMEIRO ESSA BUSCA, QUANDO REALMENTE NÃO TEM CONDIÇÕES DE SABER O PORQUÊ QUE COMETEU AQUELE SUICÍDIO. NO CASO DE QUANDO DEIXA UMA CARTA. NÓS NÃO TIVEMOS... NÃO. TIVEMOS SIM. UMA SENHORA QUE A FILHA VINHA DIZENDO EU VOU COMETER, EU VOU ME SUICIDAR. ELA DEIXOU UMA CARTA. O BOMBEIRO QUE ENCONTROU QUANDO ENTROU, QUE ABRIU, ARROMBOU A PORTA, O BOMBEIRO ENCONTROU. E ESSA MÃE NÃO QUIS LER A CARTA. ATÉ HOJE ELA NÃO LEU. CADA CASO É UM CASO. ENQUANTO UNS VASCULHAM TUDO PRA SABER. QUEM SABE ELE DEIXOU ALGUMA COISA PRA MIM? QUEM SABE ELE ESCREVEU ALGUMA FRASE PRA MIM? ENQUANTO UNS PROCURAM TUDO ISSO PARA SE AGARRAR. OUTROS NEM QUEREM SABER. NÃO QUEREM LEVAR ADIANTE ISSO AÍ. O QUE SERÁ QUE TERIA NAQUELA CARTA DE TÃO PIOR QUE O ATO EM SI? QUE FOI O SUICÍDIO. O QUE SERÁ ? SERÁ QUE TÁ PUNINDO AQUELA MÃE? SERÁ QUE ESTÁ CULPANDO AQUELA MÃE? ENTÃO ELA PREFERE NÃO VER. PREFERE
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DEIXAR LÁ. O BOMBEIRO QUE ENTREGOU E ELA NÃO QUIS ABRIR. QUANTO A OUTROS PERTENCES EU VOLTO A DIZER. É A MESMA SITUAÇÃO COM OUTROS FAMILIARES DE ENLUTADOS. DEPENDE DE CADA UM. TÊM PESSOAS QUE ACABA DE ACONTECER
ELA
JÁ
COMEÇA
A
DOAR.
VAI
EM
UMA
INSTITUIÇÃO DE CARIDADE E FICA COM ALGUMA COISINHA DE LEMBRANÇA. TÊM OUTROS QUE JÁ MAIS SE DESFAZEM DOS PERTENCES DA PESSOA. JAMAIS SE DESFAZ. NÃO. DEIXA LÁ: SÃO MALAS, MALAS, MALAS.
LOC MARCELLE
RAQUEL, VOCÊ TEM UM GRUPO DE TERAPIA DE LUTO E DOR. E UM GRUPO DE LUTO PARA SOBREVIVENTES DO SUICÍDIO. CONTA PARA NÓS SOBRE ELES. COMO OS OUVINTES PODEM ENTRAR EM CONTATO?
RAQUEL
A MANEIRA DE VOCÊ TER INFORMAÇÃO SOBRE O GRUPO QUE NÓS JÁ TIVERMOS ANDAMENTO AGORA DESDE AGOSTO, NÓS TEMOS OS DOIS GRUPOS FUNCIONANDO. O GRUPO DO SUICÍDIO ESTÁ SENDO O MAIS DIFÍCIL DE MONTAR ELE EFETIVAMENTE. ENTÃO, A GENTE FAZ MAIS CONVERSAS VIA WHATSAPP PRA SABER, PORQUE TEM QUE TER O NÚMERO MÍNIMO DE PESSOAS TAMBÉM. NORMALMENTE SÃO CINCO OU SEIS PESSOAS. PRA GENTE PODER NOMEAR UM GRUPO TERAPÊUTICO. ENTÃO, A GENTE ACABA ATENDENDO ESSAS PESSOAS, COMO FAMÍLIA, NUMA TERAPIA FAMILIAR OU NUMA TERAPIA INDIVIDUAL. A GENTE TEM UM E-MAIL QUE A GENTE DISPONIBILIZA, QUE AS PESSOAS PODEM MANDAR MENSAGEM. MANDAR O TELEFONE. É: GRUPOTERAPIACG@GMAIL.COM . E TAMBÉM NO FACEBOOK O MESMO NOME: GRUPO TERAPIA CG. NO FACE A GENTE DISPONIBILIZOU UMA FANPAGE, NÉ, QUE
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FALA? E ASSIM A GENTE ESTÁ CAMINHANDO. O PROJETO QUE INICIOU ESTE ANO, COM MUITO CARINHO, ELE É MUITO CARO PRA NÓS. EU TENHO 18 ANOS, FIZ 18 ANOS E PRA MIM, O GRUPO SEMPRE FOI UM GRANDE MOTIVO DE INVESTIMENTO PROFISSIONAL. ACREDITO MUITO NO TRABALHO EM GRUPO.
LOC MARCELLE
LUCIENE, ONDE SÃO AS REUNIÕES DO GAEPE ? E COMO PODEM PARTICIPAR?
LUCIENE
NOSSAS REUNIÕES PRESENCIAIS SÃO TODOS OS SÁBADOS, ÀS 9:30 DA MANHÃ NA SOBRELOJA DA ARCTÉCNICA QUE É NA RUA DOM AQUINO, 431. TODAS AS PESSOAS PODEM PARTICIPAR. A GENTE SEMPRE PEDE QUE CHEGUEM NO HORÁRIO. POR QUE TEM TODO AQUELE PROCESSO. VOCÊ COMEÇA COM UM PREÂMBULO, DEPOIS VEM UMA PRECE. DEPOIS VEM UMA LEITURA DO EVANGELHO. E AÍ A APRESENTAÇÃO DE QUEM É NOVO, QUE VEIO PELA PRIMEIRA VEZ OU SENÃO CONTINUAM AS HISTÓRIAS SENDO CONTADAS. E ENCERRA NOVAMENTE COM UM UMA PRECE. E O ABRAÇO FRATERNAL, PORQUE NINGUÉM PODE SAIR DE LÁ SEM O ABRAÇO, O ACOLHIMENTO. TEMOS TAMBÉM A FANPAGE. FACEBOOK GAEPE_GRUPODEAPOIOESPIRITUALAOS ENLUTADOS. O INSTAGRAM TAMBÉM TEM: GAEPE_APOIOAOLUTO. E UM GRUPO DE WHASTAPP. NORMALMENTE NO WHATSAPP QUEM PARTICIPA SÃO O PRÓPRIO GRUPO, QUEM VAI ATÉ LÁ E PEDE QUE QUER ENTRAR NO GRUPO. O GAEPE É UM GRUPO ECUMÊNICO. PARA QUE AS PESSOAS SINTAM-SE À VONTADE DE IR E DE FALAR DE SI, O QUE QUISER FALAR, INDEPENDENTE DE SUAS CRENÇAS. ISSO É MUITO IMPORTANTE.
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LOC MARCELLE
LUCIENE
OBRIGADA RAQUEL, OBRIGADA LUCIENE.
EU QUE AGRADEÇO. QUE BOM QUE ESSE TEMA, TANTO O LUTO QUANTO O SUICÍDIO ESTÁ AGORA, SENDO PROPAGADO E FALADO. E COMENTADO. E QUE A GENTE TENHA ESSAS OPORTUNIDADES
QUE
AQUI
A
MARCELLE
ESTÁ
NOS
OFERECENDO PRA GENTE VIR AQUI E FALAR DO NOSSO TRABALHO TAMBÉM. ISSO É MUITO BOM. EU QUE AGRADEÇO IMENSAMENTE. RAQUEL
EU REFORÇO ESSE AGRADECIMENTO. FAÇO CORO A ESSE AGRADECIMENTO. DIZENDO O SEGUINTE: ESPAÇOS COMO ESSE, MARCELLE, É OPORTUNIDADE VALIOSÍSSIMA PARA NÓS PROFISSIONAIS PODERMOS ESTAR DIVULGANDO O QUE A GENTE
ESTÁ
ESTUDANDO,
COMO
A
GENTE
ESTÁ
TRABALHANDO E O QUE É QUE A GENTE PODE ESTAR PROPORCIONANDO
DE
BOM,
DE
PRODUTIVO
PARA
A
SOCIEDADE. OBRIGADA.
LOC MARCELLE
O PROGRAMA RESISTIR FICA POR AQUI. OBRIGADA OUVINTE. ATÉ A PRÓXIMA.
VINHETA ENCERRAMENTO