Reportagem Fotojornalística Fruto (A) Colhido

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Reportagem fotojornalĂ­stica sobre o extrativismo sustentĂĄvel de frutos nativos do Cerrado em Mato Grosso do Sul

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Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul e um dos mais ricos do Brasil. Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente (MMA), ele abriga 11.627 espécies de plantas nativas, sendo parte deste número de plantas alimentícias. As árvores frutíferas do Cerrado fornecem frutos tão ricos quanto o bioma ao qual pertencem.

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Ă rvore de baru


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lguns dos frutos mais conhecidos do bioma são o pequi, o baru, a bocaiúva, o jatobá, a mangaba, o jenipapo e a guavira. Eles são consumidos tanto in natura quanto em receitas de pães, biscoitos, bolos, bebidas e geleias. Nos lotes de assentamentos rurais do interior de Mato Grosso do Sul, as árvores do Cerrado crescem em abundância. Os moradores fo-

Os moradores possuíam os pés dos frutos nativos em seus quintais e de fácil acesso, mas não faziam uso dos mesmos e queimavam as suas árvores

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ram orientados por técnicos e pesquisadores de instituições de ensino, meio ambiente e agronegócio, sobre o uso dos frutos nativos como uma alternativa econômica viável. Em algumas dessas comunidades há associações voltadas para o uso e comercialização dos frutos nativos, como a Associação de Mulheres do Assentamento Monjolinho (Amam), no município de Anastácio, e o Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec), do Assentamento Andalúcia, em Nioaque. Antes de conhecerem as potencialidades dos frutos, os moradores não davam valor às árvores frutíferas e elas eram arrancadas para dar lugar a pequenas hortas ou queimadas para virarem carvão. Isabel Custódio é do Assentamento Monjolinho e conta que na época em que se mudaram para o local, eles desconheciam o uso dos frutos e achavam que alguns deles eram tóxicos. “Quando nós chegamos aqui, cambaru para nós era veneno. Às vezes as crianças passavam no meio do pasto, no meio dos galhos, catava cambaru e vinha para quebrar e nós gritávamos ‘isso é veneno, joga fora!’. É castanha, não é veneno. Agora é castanha do cambaru e todo mundo deu de quebrar o cambaru!”. Para trabalhar com os frutos, são realizadas três etapas: a colheita, o processamento e a comercia-


Marinalva de Brito e seu marido, Geraldo Fernandes, moram no Assentamento Andalúcia e saem de casa às cinco horas da manhã para colher os frutos. Chegam a catar por dia o equivalente a quase 500 quilos de baru in natura lização. A colheita é feita na época certa de maturação dos frutos, para apanhar aqueles que já caíram no solo e, para coletar, cada um faz o seu horário e sua rota.

Gilda da Silva, moradora do Assentamento Monjolinho, colhe em seu lote o baru, o jatobá e a mangaba para vender para a Amam, e diz que a atividade é cansativa. “Estou can-

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sada de subir morro, ó não é brinquedo não ficar de bunda para cima catando baru. É fogo! Para catar eu visto uma calça comprida, sento no chão e vou me arrastando, porque eu não aguento”.

Maria Vera Lúcia trabalha com a Bocaiuva

A quebra dos frutos requer concentração para não se ferir e manter os frutos em perfeitas condições para a comercialização

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Após a colheita, o processamento começa com a preparação dos frutos, que é feita de maneira manual, com facas para descascar e martelos ou marretas para quebrar. A moradora do Assentamento Conceição, Maria Vera Lúcia dos Santos, diz que esta etapa da atividade é tão benéfica quanto uma terapia. “Tomei medicamento por dez anos, a partir do momento que eu comecei a trabalhar com isso, foi uma terapia para mim. Faz seis meses que eu não tomo remédio”. O processamento dos frutos deve seguir as normas de boas práticas de manipulação e fabricação de alimentos. A adequação às regras são realizadas nas sedes das associações. Elas possuem cozinhas industriais equipadas para a fabricação de alimentos enriquecidos. Depois das etapas de colheita e processamento, é hora de comercializar. As associações vendem os produtos em feiras da cidade mais próxima ou na capital.


A Feira Municipal da Agricultura Familiar e da Economia Solidária no município de Anastácio é uma das chances que as mullheres da Amam, do Assentamento Monjolinho, têm para vender seus produtos

Segunda elas, o “carro chefe” da barraca é o prato feito de frango com pequi, que acompanha arroz, mandioca e farofa

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“É porque a gente come que a gente conserva o Cerrado” - Gilda da Silva

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extrativismo e comercialização dos frutos por moradores de assentamentos em Mato Grosso do Sul tem sido um importante meio para ajudar na conservação do bioma e na valorização das plantas nativas. O viés econômico do trabalho com os frutos incentivou os moradores a valorizá-los e a cuidar do meio ambiente. Eles pararam de desmatar as árvores e começaram a plantar novas mudas. Implantar esses frutos na alimentação diária

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também contribuiu para a preservação deles e, consequentemente, do bioma.

chão, para que animais se alimentem e realizem o processo de propagação de sementes.

Maria da Penha Macedo, presidente da Amam, explica que ao trabalhar com os frutos sua consciência sobre preservação mudou e hoje ela repassa o que sabe aos outros moradores. “Eu falo para eles ‘não pode cortar o pequi, não pode cortar o cambaru’. Assim que chove eu planto uma semente. Aonde eu vou, eu estou dizendo que tem que plantar, tem que preservar, que ele [fruto] faz bem para a saúde, então eu pratico nessa forma”.

A partir da valorização, contato com os frutos e conservação do meio ambiente, os assentados também aprenderam que alguns frutos contêm muitos nutrientes e podem substituir outros alimentos do dia a dia.

Os moradores também a­prenderam que é essencial respeitar o limite de coleta para que as sementes se espalhem naturalmente pela natureza e as árvores continuem produzindo. Eles sempre deixam de 10 a 30% dos frutos nas árvores ou no

Apesar da abundância de frutos no estado, é comum que as pessoas nas cidades sequer conheçam outros além do pequi. Segundo Altair de Souza, morador do Andalúcia e membro do Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec), isso ocorre pela falta de divulgação sobre os alimentos. “Eu acho que tem pouca informação e que os meios de comunicação, inclusive os meios de comunicação públicos, deveriam estar mais atentos para divulgar”.

Os moradores aprenderam que o baru (à esquerda) ajuda na redução do colesterol e no combate à anemia, e o jatobá (à direita) possui três vezes mais cálcio do que o leite

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esmo com os lucros financeiros e pessoais obtidos pelo extrativismo de frutos do Cerrado, diversas dificuldades são enfrentadas durante todo o processo de trabalho. O problema mais apontado pelos moradores é a questão de transporte, tanto para a colheita quanto para comercialização. Eles sentem a necessidade de algum veículo que os transporte para os locais de colheita ou para as associações, pois há moradores que vivem a mais de 10 km de distância do local onde são processa-

dos os frutos. Também faltam veículos adequados e seguros para levá-los até a cidade para vender. No Monjolinho, para chegar à Feira Municipal da Agricultura Familiar e da Economia Solidária, no município de Anastácio, o transporte é realizado em um antigo ônibus escolar doado pela prefeitura, quando a frota da cidade foi renovada. Maria da Penha sente falta de investimento e recursos de fomento que ajudam a aumentar a produção e assim expandir o campo mercadológico. Já no processamento, a dificuldade encontrada é a falta de maquinário para se trabalhar com os frutos. Eles são manuseados de forma artesanal e os equipamentos

A maioria dos bancos está quebrada, algumas janelas não possuem mais vidros e não há cintos de segurança. Mesmo com tal precariedade, eles veem o veículo como um avanço, já que antes não havia acesso a qualquer meio de transporte gratuito

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Coletar estes frutos e vendê-los se tornou um trabalho que ajudou na complementação de renda destas famílias, proporcionando mais conforto e qualidade de vida.

A única máquina desenvolvida para o processamento com os frutos e acessível aos assentados é a feita para a quebra de baru

da agroindústria são para a fabricação dos alimentos processados.

Após quase 20 anos, a procura por esses produtos tem aumentado, tanto pela persistência dos moradores em continuar com este trabalho quanto pelo surgimento e disseminação de movimentos de alimentação saudável e consumo sustentável. Quanto mais popularizado o consumo de frutos nativos, mais os produtores dos assentamentos rurais terão incentivos para continuar o seu trabalho, o que irá contribuir significativamente para a manutenção, valorização e conservação do Cerrado.

Segundo Altair, a casa que tem hoje é resultado do trabalho que realizou com o extrativismo de frutos do Cerrado

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Esta reportagem fotojornalística foi produzida como parte do projeto experimental “Fruto (a)colhido: narrativa transmídia sobre o extrativismo sustentável de frutos nativos do Cerrado em Mato Grosso do Sul” para conclusão do curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Leticia Bueno Thayná Oliveira

Profª. Dr.ª Katarini Giroldo Miguel

Confira a reportagem completa em:

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