Lado a Lado: Reportagem multimídia sobre a empatia no jornalismo | Silvia Helena Carvalho de Souza

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO CURSO DE JORNALISMO

LADO A LADO REPORTAGEM MULTIMÍDIA SOBRE A EMPATIA NO JORNALISMO

SILVIA HELENA CARVALHO DE SOUZA

Campo Grande

NOVEMBRO/2018

FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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LADO A LADO REPORTAGEM MULTIMÍDIA SOBRE A EMPATIA NO JORNALISMO

SILVIA HELENA CARVALHO DE SOUZA

Relatório apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Projeto Experimental II do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Orientadora: Profª. Drª Rose Mara Pinheiro.

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SUMÁRIO

Resumo

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Introdução

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1. Atividades desenvolvidas

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1.1 Execução

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1.2 Dificuldades encontradas

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1.3 Objetivos alcançados

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2. Suportes teóricos adotados

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2.1 Empatia

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2.2 Jornalismo

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2.3 Entrevista

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2.4 Reportagem multimídia

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3. Considerações finais

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4. Referências

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5. Anexos

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6. Apêndice

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6.1 Roteiro de perguntas

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6.2 Print screen do site

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RESUMO “Lado a Lado – reportagem multimídia sobre empatia no jornalismo” traz uma reflexão sobre a empatia na prática jornalística profissional, especialmente no processo de construção de uma reportagem. A partir de revisão bibliográfica e entrevistas exclusivas com jornalistas de renome no cenário nacional, o trabalho ladoaladoreportagem.com retrata em texto, áudio e vídeo as experiências da profa. Dra. Cremilda Medina, autora do livro “A Arte de Tecer Afetos – Signo da Relação 2: cotidianos” (2018), e dos jornalistas Chico Felitti, Vinicius Lima e Cláudia Gaigher. Os profissionais citados revelam como foram impactados ao contarem as histórias de seus personagens nos produtos jornalísticos “Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece” (BuzzFeed, 2017), “A Sós” (TCC PUC SP 2017) e “Íscas” (TV Morena, 2004). PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo; entrevista; reportagem multimídia; empatia.

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INTRODUÇÃO Lado a Lado é uma reportagem multimídia que propõe uma reflexão sobre a relação entre empatia e jornalismo. Para sua composição foram realizadas entrevistas exclusivas com quatro jornalistas de renome no cenário nacional sobre o processo de construção de reportagens com foco na empatia. Tratar sobre o assunto com profissionais atuantes na Internet, Televisão e no meio acadêmico é de grande valia para desmistificar a questão do distanciamento do jornalista, demonstrando que a empatia e os afetos são importantes e estão presentes na construção da reportagem. Krznaric (2013) define a empatia como a arte das pessoas conseguirem olhar com os olhos do outro e compreenderem tudo o que estabelece e determina seu modo de agir. Essa conexão que a empatia produz pode ser estabelecida entre o jornalista e sua fonte no momento da entrevista, quando o entrevistador não deve ser apenas um ouvinte de respostas, mas sim alguém que sabe conduzir e transformar o instante em uma conversa (MEDINA, 1986). Ouvir e entender o próximo são fundamentais não só no jornalismo, mas no dia a dia. Hoje vivenciamos uma sociedade, mediada e midiatizada pela tecnologia, em que as relações sociais estão muito afastadas, as pessoas deixaram um pouco de conversar “face a face” e muitas delas estão conectadas a outras que estão mais distantes (RODRIGUES; HENNIGEN, 2011, p. 50). A fragilidade das relações é sentida em todos os níveis na sociedade contemporânea, onde as pessoas mais conectadas digitalmente podem se tornar menos conectadas com o sentimento do outro, sendo menos “tocadas” pelas necessidades e histórias do próximo. Especialmente no jornalismo, é essencial que a relação entre fonte, jornalista e público aconteça de modo oposto a essa tendência de desencontros emocionais e pessoais. Como contador de histórias, o jornalista deve conseguir criar um laço com a fonte, se permitir ser tocado pela fonte e ser capaz de transmitir essa história da forma mais honesta e sensível para o seu público. Para fins de análise, nesta reportagem multimídia Lado a Lado foram selecionados trabalhos que demonstram a importância da empatia no processo de produção jornalística. Referência no ensino de jornalismo no FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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Brasil, a professora Cremilda Medina foi entrevistada para falar sobre a relação de afeto no jornalismo, sobre como funciona essa relação antes que tenha a oportunidade de conhecer a construção das matérias mencionadas. Cremilda Medina é uma das mais importantes teóricas do jornalismo brasileiro, nasceu em Portugal, mas veio para o Brasil e se formou em Jornalismo e Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) com Mestrado e Doutorado na área de Comunicação Social. Em seus mais de quarenta anos de trabalho, Cremilda Medina tem diversos livros e ensaios publicados, seu interesse de pesquisa são os afetos no jornalismo. A longform do jornalista Chico Felitti, “Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece” foi publicada no site BuzzFeed em outubro de 2017. Utilizando o jornalismo investigativo, Felitti apurou por meses a história de Ricardo, um homem que tinha uma carreira próspera, mas decidiu finalizar seus dias de vida com um personagem conhecido na rua Augusta, uma das ruas mais conhecidas da cidade de São Paulo, pelo apelido “Fofão da Augusta”. Em novembro de 2018, a reportagem proporcionou ao jornalista a premiação na categoria “Prêmio Especial de Inovação” do Prêmio Petrobras de Jornalismo. O documentário “A Sós”, do jornalista Vinicius Lima, produzido como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na PUC São Paulo, em 2018, mostra as relações sociais, familiares e amorosas de pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. Lima escolheu o tema e a maneira de abordagem influenciado pelo seu projeto SP Invisível, que desde 2014 tem como objetivo fazer com que as pessoas comecem a notar quem vive em situação de rua e a provocar o desejo de ajudá-las. E, por fim, foi selecionada a reportagem televisiva da jornalista Cláudia Gaigher, “Iscas”, produzida para a TV Morena em 2004. A matéria revelou a rotina das crianças catadoras de iscas no Pantanal sul-mato-grossense, enfatizando os perigos que as cercavam e o motivo para que não frequentassem a escola. A repercussão da reportagem fez com que escolas fossem construídas na região e, para a jornalista, o reconhecimento veio por meio do Prêmio Ethos de Jornalismo. Para fins organizacionais e de melhor entendimento, a reportagem multimídia foi dividida em tópicos entre os entrevistados. Cada um deles conta, de maneira singular, FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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como foi afetado pelo processo de produção, a relação criada com as fontes e personagens, a maneira como teve de lidar com isso e como a empatia com seus personagens foi transmitida para o público. Na reportagem também foi apresentado o conceito de empatia que, de acordo com Ferreira (2011), é considerar a situação do outro para que seja possível entender os sentimentos e emoções sentidos pelo próximo. Nas entrevistas realizadas para a reportagem multimídia Lado a Lado, os jornalistas puderam expressar os pontos altos e baixos de olhar para o mundo da mesma maneira que suas fontes. As pesquisas bibliográficas sobre empatia e jornalismo contribuíram para que o tema fosse trabalhado de forma minuciosa e completa e a união dos conhecimentos teóricos com as práticas dos profissionais no mercado de trabalho foi essencial para que o assunto fosse construído e concluído. A escolha pela produção de uma reportagem foi feita para que pudesse ocorrer o aprofundamento do tema. A reportagem se diferencia por apresentar mais informações do que a notícia, por isso necessita de mais fontes para que seja construída. Ela demanda mais tempo para elaboração, dando ao jornalista maior tempo para fazer contato com fontes e, quando necessário, apurar de maneira presencial as informações. A reportagem utiliza de recursos visuais para complementar e ilustrar o assunto tratado. O formato multimídia foi escolhido para acrescentar informações à reportagem devido a sua capacidade de fazer com que o conteúdo seja mais atrativo e dinâmico. A internet possibilita o uso de hiperlinks, vídeos, áudios e boxes, essas alternativas fazem com que o produto se torne diferenciado e completo, prendendo a atenção do leitor e acrescentando informações úteis. Dessa maneira, o objetivo desta reportagem multimídia, que é revelar o papel da empatia na produção de conteúdo jornalístico, é alcançado, visto que a sensibilidade do conteúdo é apresentada por meio de palavras, vídeos, áudios e outros recursos disponíveis no ambiente da internet. É uma oportunidade para identificar na prática o que a jornalista Eliane Brum (2006) refletiu em seu livro “A Vida que Ninguém Vê”. A rotina e as decepções do cotidiano fazem com que as pessoas só enxerguem o que são “programadas para ver”, mas, quando é apresentada a novas realidades e as ligações FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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que ocorrem a partir delas, um novo modo de encarar a vida surge e novos ângulos são descobertos. Com o material disponível, a reportagem multimídia Lado a Lado traz uma oportunidade de conhecer e analisar detalhes presentes no processo de construção de suas reportagens e que não foram expostos no produto final, mas que têm influência em suas significações e importância.

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1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

1.1 Execução: No primeiro momento foi realizado o levantamento bibliográfico sobre os temas que foram abordados na construção do trabalho. Procurei livros, artigos e trabalhos acadêmicos a respeito de empatia, entrevista e, como era o objetivo inicial, sobre documentários. Após ser feito o levantamento e a leitura dos mesmos, pude definir minhas fontes. Como o objeto principal do meu trabalho é empatia, acreditei ser essencial contatar a jornalista Cremilda Medina para participar, visto que seus livros e pesquisas são sobre o afeto e as relações humanas dentro do jornalismo. Durante o processo de levantamento, lembrei da reportagem de Chico Felitti e conheci o documentário de Vinicius Lima, ambos falam com sensibilidade sobre pessoas que no dia-a-dia não são tratadas com o respeito que merecem A escolha pela matéria da Cláudia Gaigher foi devido a uma urgência de mostrar matérias empáticas produzidas no estado de Mato Grosso do Sul. No começo do cronograma fiz contato com todas as possíveis fontes para garantir a produção do meu produto. Cremilda Medina, Chico Felitti e Vinicius Lima aceitaram fazer parte do meu trabalho. Como eles moram em São Paulo, foi necessário ir para lá a fim de entrevistá-los, visto que o intuito era realizar um documentário. Entre abril e maio analisei os trabalhos de cada um dos entrevistados para elaborar perguntas que permitissem eles expressarem os sentimentos que tiveram ao lidar com suas fontes e personagens. A viagem aconteceu entre os dias 2 e 9 de julho. O encontro com Cremilda Medina foi no dia 4 e nele tive a oportunidade de gravar em vídeo a entrevista. Ela falou a respeito do afeto no jornalismo, contou sobre um perfil que teve que escrever nos anos 80 a respeito de uma mulher sobrevivente de campo de concentração e forneceu informações sobre seus livros para que eu lesse e aprendesse mais sobre o assunto. O encontro com Chico Felitti ocorreu no dia 9 de julho, o local não era adequado para obter o áudio com qualidade, mas mesmo assim a entrevista foi realizada e gravada em vídeo. Nela, o jornalista detalhou como foram os FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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meses que dedicou a conhecer Ricardo, o personagem de sua reportagem. Infelizmente, não consegui fazer contato com Vinicius durante os dias da viagem para confirmar nosso encontro. Durante o mês de setembro realizei a decupagem das entrevistas e, na tentativa de ainda ter condições de produzir um documentário, contratei serviço de edição de áudio para recuperação. Muito foi salvo, mas alguns trechos importantes do relato continuaram com baixa qualidade. Percebi que não teria mais como produzir um documentário e, como ainda queria mostrar o material coletado, decidi que mudaria para reportagem multimídia, assim teria oportunidade de utilizar trechos dos vídeos. Com essa decisão feita no meio do mês de setembro, tive de refazer meu cronograma. Descartei todo o material e a revisão bibliográfica sobre documentário que já estava pronta para pesquisar sobre meu novo produto. Fiz o novo levantamento bibliográfico e reescrevi metade do meu trabalho. A mudança de produto me deu a oportunidade de voltar a entrar em contato com Vinicius Lima, visto que agora eu faria uma reportagem multimídia, poderia realizar a entrevista pela internet e ele me enviaria o material multimídia que tinha em seu arquivo pessoal. Entre os dias 17 e 21 de setembro estruturei a reportagem multimídia e escrevi sobre Cremilda Medina e Chico Felitti. Decidi dividir em relatos. O dedicado a Cremilda Medina era voltado ao afeto no jornalismo, minha intenção era contextualizar a importância do jornalista sentir essa ligação com suas fontes e personagem ao escrever sobre algo. Esse relato me deu a oportunidade também de falar um pouco sobre o perfil que a jornalista produziu nos anos 80 para o jornal O Estado de São Paulo, era sobre uma sobrevivente de campo de concentração que a princípio não desejava se abrir com Cremilda Medina, mas, ao final da entrevista, ambas tiveram uma conexão tão profunda que a personagem se sentiu à vontade com a jornalista. O relato de Chico Felitti conta desde o primeiro momento que o jornalista se interessou pelo seu personagem, como criou o senso de identificação e o que ele teve de fazer para conseguir alcançar seu objetivo de conhecer Ricardo e se aproximar dele. A relação que Chico Felitti construiu com todas suas fontes, desde o próprio personagem quanto a família, os amigos e até mesmo o ex-cônjuge. Como ele lida com FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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elas após a publicação da reportagem e como tudo isso o afetou como jornalista e ser humano. Entre a última semana de setembro e a primeira de outubro, consegui realizar a entrevista com Vinicius Lima. Expliquei as mudanças que ocorreram no meu trabalho e pude enviar o roteiro de perguntas que já estava preparado desde o início do ano. Vinicius enviou vídeos respondendo cada uma delas. Suas respostas me deram a oportunidade de falar um pouco sobre o projeto do qual é co-fundador, o SP Invisível, o que considerei oportuno por ser um trabalho que fala com frequência sobre o olhar empático e incentiva com conteúdo multimídia e relatos escritos, milhares de pessoas em várias regiões a enxergarem todos que vivem em situação de rua. Nessa altura da produção, ainda não tinha certeza se conseguiria incluir Cláudia Gaigher no meu trabalho, mas felizmente consegui marcar uma entrevista com ela e obter uma cópia da reportagem “Iscas” que, por ter ido ao ar há catorze anos, não estava disponível na internet, apenas no acervo da TV Morena. A entrevista com Cláudia foi a mais longa, falamos sobre a relação que ela tem com as fontes, como foi produzir uma reportagem que falava sobre crianças que trabalhavam em situação de risco e as mudanças que ocorreram com toda comunidade após ter ido ao ar o produto final. Foi interessante abordar a relação que ela ainda mantém com as crianças, que hoje são jovens adultos. Ao mesmo tempo em que os textos eram escritos, produzi o site em que eles seriam publicados em forma de reportagem multimídia. Escolhi a plataforma Wix por já ter familiaridade e pouco tempo para aprender a utilizar softwares específicos. Os textos foram separados para que cada entrevistado fosse apresentado de maneira particular, enfatizando a singularidade de cada relato. 1.2 Dificuldades Encontradas As dificuldades surgiram na segunda fase do trabalho. Mudar o produto nas últimas semanas antes da entrega do trabalho não foi problemático, mas tive de reorganizar o cronograma para que ele não ficasse atrasado. Trabalhar sozinha em um projeto oferece a liberdade e a oportunidade de fazê-lo FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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da maneira que achar melhor, mas também sobrecarrega mais do que o necessário. Dividir o tempo entre a parte prática e o estágio obrigatório consome mais do que o acadêmico pode oferecer, principalmente quando ainda há disciplinas que exigem produções escritas. A minha sugestão é que o estágio obrigatório fosse realizado no mesmo semestre da definição do projeto de pesquisa, a primeira fase do trabalho de conclusão. Os trabalhos que têm a finalidade de produto não têm tempo suficiente para que as entrevistas, decupagem, edição e estruturação sejam realizadas. O acadêmico acaba se encontrando em momentos que precisam fazer escolhas injustas para conseguir fazer tudo o que necessita. No processo de produção, aprendi que a reportagem multimídia é um segmento do jornalismo que está crescendo, então senti falta, na minha turma, de disciplinas que ensinassem o básico de softwares que podem ser utilizados em produções de longform, de edição de vídeos e áudios. Com isso, o tempo que poderia utilizar para me aprofundar no tema ou desenvolvê-lo melhor, tive de usar para aprender sozinha como fazer o que precisava ser feito no trabalho. O que não pude aprender, devido ao tempo, precisei pagar alguém para fazer por mim.

1.3 Objetivos Alcançados Com a alteração do produto de documentário para reportagem multimídia, os objetivos também foram modificados para que se encaixasse melhor com o novo produto. mas todos eles foram alcançados: 

Produzir uma reportagem multimídia para mostrar, por meio de relatos de jornalistas, como a empatia afeta a produção de conteúdo jornalístico e o próprio jornalista.

Conhecer recursos empregados por jornalistas para se aproximar do público.

Aprofundar o entendimento a respeito do assunto empatia e como ela é importante no jornalismo. FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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Compreender o processo de diferentes produções jornalísticas.

Aprender a utilizar a reportagem multimídia como um meio de propagação de ideias.

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2. SUPORTES TEÓRICOS ADOTADOS 2.1 – Empatia O filósofo Roman Krznaric (2013, p. 45) define a empatia como: a arte de se pôr no lugar do outro e ver o mundo de sua perspectiva. Ela requer um salto da imaginação, de modo que sejamos capazes de olhar pelos olhos dos outros e compreender as crenças, experiências, esperanças e os medos que moldam suas visões do mundo.

A capacidade de se colocar no lugar do próximo surge por meio da habilidade da pessoa sentir as emoções e, de certa forma, se identificar com situações alheias. Dessa maneira, a empatia é capaz de entender os sentimentos e vivências. A empatia é uma capacidade psicológica dos seres humanos, algo fisiológico, existem conexões no cérebro entre o sistema límbico e o córtex pré-frontal que são responsáveis pela possibilidade do ser humano conseguir se imaginar no lugar do próximo, por isso é a origem de comportamentos altruístas (FRETES, 2014). Baseado em pesquisas médicas, Ehrenberg (2009) afirma que pesquisadores e filósofos envolvidos nelas acreditam que nos sistemas neurais pode ser encontrado “a base biológica da cognição social, porque esses neurônios materializam em seu próprio cérebro o que se passa na cabeça de um outro” (p. 118). É importante ressaltar a diferença entre empatia e pena. No segundo caso, geralmente o sentimento de culpa acompanha e pouca coisa é feita para resolver a situação. Já a empatia envolve “tentar nos transportar para o personagem e a realidade vivida de outrem”, realizar ações que mudem a situação existente e, com isso, “criar vínculos humanos” (KRZNARIC, 2013, p. 45). Diferentemente da pena, a simpatia tem uma relação próxima com a empatia, ambos os sentimentos tem a capacidade de “desencadear desejos altruístas que permitem entrar em ressonância com os outros”, fazendo com que seja possível estabelecer uma relação social (EHRENBERG, 2009, p.119). A empatia não deve ser pensada somente como algo que envolve duas pessoas, mas ela também pode ser encontrada em ações que envolvam várias pessoas, visto FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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que “também é um fenômeno de massa, com o potencial de produzir mudança social básica” (KRZNARIC, 2013, p. 56). Nesse contexto, o jornalista tem a capacidade de atingir as massas e pode fazer mudanças sociais pelo contato que consegue estabelecer com a sociedade, o profissional “está tão perto da vida humana, do cotidiano, da experiência social, sua imprevisibilidade e complexa luta da sobrevivência” que é considerado autor do signo da relação (MEDINA, 2018, p.35). 2.2 – Jornalismo O jornalismo se baseia em pelo menos três valores fundamentais: objetividade, fatos verídicos e imparcialidade. Considerando os três pontos, Traquina (2005, p. 34) encara o processo do jornalismo desde sua criação até os dias de hoje como algo estrutural e ainda há conservação de valores, “a notícia, a procura da verdade, a independência, a objetividade, e uma noção de serviço ao público – uma constelação de ideias que dá forma a uma nova visão do ‘polo intelectual’ do campo jornalístico”. Ideais que nortearam jornalistas na época que a profissão expandia no século XIX ainda resistem até hoje. Ao falar sobre o papel do jornalismo, Netto (2014) afirma que ele “racionaliza a vida social e promove transformações radicais nas condições de existência”, como também se adequa conforme as mudanças tecnológicas vividas pela sociedade de um modo geral. É papel do jornalista contextualizar seu público, “explicar e contextualizar tem adquirido relevância na medida em que a discussão em torno dos desafios impostos ao jornalismo pelo desenvolvimento das novas mídias também tem se ampliado” (LÜCKMAN e FONSECA, 2017, p. 163). Explicando e contextualizando o material, o jornalista poderá encontrar similaridades com acontecimentos de sua vida e captar a atenção de seu público. Correia (2009) adiciona o termo relevância além do componente atual para a produção de notícias, para que, assim como disse Lückman e Fonseca (2017), o conteúdo possa influenciar sua audiência de acordo com os contextos sociais e culturais vividos pela mesma. A contextualização e o conteúdo inserido nas notícias jornalísticas são FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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promovidos, muitas vezes, por meio das palavras. As palavras se tornam a base da comunicação entre quem produz e quem despende tempo consumindo, ela promove a “conversação, unindo os participantes da fala numa situação bem distinta e verticalizada: eu informo, tu consomes” (NETTO, 2014, p. 2). Isso faz com que a urgência por informação que a pessoa sente, seja suprida. Sobre o papel do jornalista, Lückman e Fonseca ainda afirmaram que Obter informações, elaborar perguntas, saber localizar documentos cruciais, decifrar rotinas ou idiossincrasias de organizações, cultivar fontes, observar em primeira mão, analisar documentos e discursos, acompanhar uma infinidade de fontes primárias digitais que se atualizam em tempo real, entre outros procedimentos, são práticas de apuração características do trabalho jornalístico profissional. (2017, p. 167)

Esse ato de cultivar fontes se encaixa com a relação explicitada por Sodré quando ele afirma que deve haver um laço afetivo entre os lados, um diálogo recíproco, não apenas uma conexão de contato. Comunicação era, para ele [Paulo Freire], a "co-participação dos sujeitos no ato de pensar", implicando um diálogo ou uma reciprocidade que não pode ser rompida. Contato e afeto eram, a seu modo de ver, categorias centrais para a compreensão do agir comunicativo. (SODRÉ, 2006, p. 20)

A maneira que o jornalista pode alcançar esse laço afetivo pode ser iniciada pela entrevista, conforme Kotscho (2000) quando aponta que cada história contada deve ser encarada como algo singular, por isso tem a necessidade de receber um tratamento sob medida. 2.3 – Entrevista A entrevista é o meio clássico utilizado para que as informações sejam extraídas das fontes (LAGE, 2001) e mostra com mais clareza as intenções das mesmas. Cremilda Medina (1986, p. 8) define a entrevista como “uma técnica de interação social, de interpenetração informativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais; pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática de informação”. FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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A entrevista é uma arte e Medina (1986) defende a ideia de que deve ser baseada na “arte de ouvir, perguntar, conversar”, por isso “o entrevistador deve investir, de imediato, na própria personalidade para saber atuar numa inter-relação criadora” já que “a presença decisiva de sua personalidade” é importante para que o entrevistador não se resuma em um simples ouvinte de respostas (MEDINA, 1986, p. 10). A fim de categorizar o tipo de entrevista necessária para a produção da reportagem, as classificações feitas por Lage (2001) foram utilizadas. Ele nomeia a entrevista ritual, geralmente breve, a temática, em que há um tema a ser considerado, a testemunhal que compõe-se do relato de quem é entrevistado, e a do tipo em profundidade, na qual é construída “uma novela ou um ensaio sobre o personagem, a partir de seus próprios depoimentos e impressões” (LAGE, 2001, p. 75). Após análise das citadas, a entrevista temática parece ser a mais apropriada para aprofundar o relacionamento com a fonte, uma vez que ela possibilita uma exposição mais detalhada. aborda um tema, sobre o qual se supõe que o entrevistado tenha condições e autoridade para discorrer. Geralmente consiste na exposição de versões ou interpretações de acontecimentos. Pode servir para ajudar na compreensão de um problema, expor um ponto de vista, reiterar uma linha editorial com o argumento de autoridade (a validação pelo entrevistado) etc. (LAGE, 2001, p. 74)

E quanto às circunstâncias em que as entrevistas devem ser feitas, Lage (2001) descreve os tipos: a ocasional, que não é combinada; o confronto, quando o jornalista tem o papel de contra-argumentar o entrevistado a todo o momento; a coletiva, que reúne vários jornalistas fazendo perguntas para um único entrevistado; e a dialogal, quando jornalista e entrevistado combinam horário e local. Ao considerar a questão do afeto, a circunstância ideal para a produção da reportagem se encaixa melhor com a entrevista dialogal. É a entrevista por excelência. Marcada com antecipação, reúne entrevistado e entrevistador em ambiente controlado - sentados, em geral e, de preferência, sem a intervenção de um aparato (como uma mesa de escritório) capaz de estabelecer hierarquia (quem se senta diante das gavetas da mesa assume, de certa forma, posição de mando). Entrevistador e entrevistado constroem o tom de sua conversa, que evolui a partir de questões propostas pelo primeiro, mas não se limitam a esses FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


20 tópicos: permite-se o aprofundamento e detalhamento dos pontos abordados. (LAGE, 2001, p. 77)

A entrevista livre, mais aberta, permite o diálogo entre o entrevistador e entrevistado, a situação interpessoal permite a fluidez do assunto e o ponto abordado pode alcançar a clareza (MEDINA, 1986, p. 11). Medina citou o exemplo da economista e professora universitária Maria da Conceição Tavares que chorou durante um programa da TV Globo, em 1986, ao comentar a respeito da Reforma Monetária. Todos os que assistiram se emocionaram com a humanidade e sinceridade demonstrada pela professora. “O mundo inteiro se pôs no rosto expressivo de Conceição Tavares” (1986, p. 42). Esse conteúdo emocional se difere quando se trata do jornalismo convencional, visto que as emoções comumente são suprimidas, mas ao mostrar o personagem sensibilizado com sua fala para o público “tais momentos podem ser os mais significativos e importantes” (LAGE, 2001, p.83). 2.4 – Reportagem multimídia Nos dias atuais a internet ocupa um importante espaço nas vidas das pessoas. É natural que o jornalismo siga a tendência e se apodere de recursos on-line para alcançar seu público. Winques (2016) corrobora quando afirma que a grande reportagem que antes tinha seu espaço no meio impresso, agora também está ocupando o meio digital. O formato da reportagem migrou para o ambiente da internet devido a sua facilidade de agregar diversos formatos midiáticos como os exemplificados por Oliveira e Seixas (2011, p. 3): “em reportagens geralmente há, além do texto principal, infográficos, imagens, box e cronologia dos fatos”. Dessa maneira, é possível sustentar um conteúdo mais completo e abrangente. Pode parecer paradoxal, mas o jornalismo on-line, habituado aos formatos de notícia fragmentados, facilitados pelas possibilidades do uso de links da linguagem hipertextual e hipermidiática, há alguns anos vem sendo ocupado por textos jornalísticos mais longos e aprofundados. (LONGHI e WINQUES, 2015, p. 111) FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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Essa é a cultura da convergência, objeto de estudo de Jenkins (2008), queafirma que “os velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias”. (JENKINS, 2008, p. 41 e 42). A convergência possibilitou que a interatividade no jornalismo on-line aumentasse e que a reportagem se tornasse mais completa com um conteúdo trabalhado de forma mais profunda. Canavilhas (2014a) afirma que a reportagem é o gênero do jornalismo com maior importância, pois ela é detalhista e sua apuração é mais completa, isso traz riqueza na construção e qualidade do assunto abordado, além de ter a possibilidade de usar todo o tipo de conteúdos (texto, imagem fixa, imagem em movimento, som) e de ligar estes conteúdos através de hipertexto, criando vários percursos de leitura, são elementos diferenciadores da reportagem na Web. (CANAVILHAS, 2014a, p. 7).

A grande reportagem on-line e seu uso de diversos meios midiáticos proporcionaram ao jornalista a oportunidade de deixar todas as informações desejadas no texto, sem a necessidade de cortar blocos para se encaixar em um espaço limitado, como ocorre no meio impresso. Canavilhas (2014b, p. 17) afirma que dessa maneira o jornalista que não tem um espaço restrito “concentra-se na estrutura da notícia, procurando encontrar a melhor maneira de oferecer toda a informação disponível de uma forma apelativa”. O longform, recurso utilizado pela grande reportagem, aproveita de narrativas que empregam outros meios midiáticos como som, imagem e vídeo para que o leitor se sinta envolvido com o conteúdo, visto que “desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo” (JENKINS, 2008, p. 138). Por ter flexibilidade em usos de diversos materiais, Winques (2016, p. 59) afirma que a reportagem multimídia “se consolida como um dos principais modelos expressivos do webjornalismo contemporâneo”. Além de reunir na grande reportagem multimídia arquivos de produção do jornalista, nela “não se descarta a possibilidade de FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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receber em sua estrutura produções amadoras, tais como vídeos e fotos” (WINQUES, 2016, p. 115). Toda a informação que o jornalista consegue reunir para acrescentar em sua reportagem auxilia a melhor compreensão e absorção do tema, visto que segundo Souza (2011, p. 53) “os conteúdos são apresentados em diferentes mídias como se fossem textos distintos que propiciam a compreensão aditiva da história. À medida que o público lê os textos, disponíveis em diferentes plataformas, amplia o entendimento sobre o todo.” A grande reportagem multimídia, segundo Longhi e Winques (2015), está em expansão e jornais digitais já a utilizam em espaços dedicados a esse tipo de narrativa e em seus posts jornalísticos diários. E para Souza (2011), a maior vantagem é que somente esse meio do jornalismo é capaz de unir o hipertexto, multimídia e a interatividade, o que torna possível disseminar uma informação completa e de qualidade.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Falar sobre a empatia no jornalismo foi muito importante. Hoje muito se vê nos meios midiáticos matérias e reportagens que retratam de maneira ou muito supérflua ou muito exagerada pessoas que vivem em realidades distantes de quem vive bem nas cidades. Resgatar histórias e conhecer jornalistas que se interessaram genuinamente por elas fazem com que ainda exista esperança no jornalismo que estimula o engajamento social nas questões que abordam. Conhecer pessoalmente Cremilda Medina e ouvir o que ela tinha para dizer sobre as relações entre jornalista e fonte fizeram com que eu entendesse a expressão estar afeto a que ela utiliza em suas obras. Ouvir dos jornalistas o quanto se envolveram com suas fontes mostrou que é possível transmitir histórias com a sutileza e delicadeza que todos deveriam ser tratados. O processo que precisei enfrentar para que conseguisse entregar o produto pronto também foi desafiador. Precisei encontrar meios e palavras para transmitir a sensibilidade que me transmitiram. Sinto que acendeu em mim uma vontade de continuar a trabalhar com esse tema, seja por meio de estudos ou por meio de mais reportagens. Durante a produção, percebi que todos os jornalistas entrevistados optaram por dar voz aos seus sentimentos e produziram algo que condizia com as sensações que tiveram enquanto estavam em contato com suas fontes. A relação que eles tiveram foi tão próxima que não conseguiram se desvincular delas, o contato permaneceu mesmo após o produto ter sido publicado. Ao finalizar meu processo, percebi que todos os jornalistas que entrevistei, afirmara que utilizaram a sensibilidade para construir seus produtos, não planejaram maneiras complexas para repassar seu material, eles produziram de acordo com o que sentiram no momento da coleta de informações. A aproximação da fonte, conexão com ela e a maneira que foi repassado para a produção final foram itens relevantes aprendidos durante as entrevistas, o estar afeto a se tornou presente para os jornalistas, não houve uma quebra na comunicação entre as fontes e os profissionais, FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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os próprios afirmaram que não desejavam que esse desligamento acontecesse. Na minha experiência também foi possível identificar a importância do ato presencial, percebi que fui mais envolvida com os entrevistados que tive a oportunidade de conversar pessoalmente do que com o qual tive contato apenas por meio da internet. Encontrei um nicho do jornalismo com o qual me identifiquei, antes já me interessava pelo jornalismo interpretativo, mas com esse trabalho pude especificar ainda mais esse interesse e notei que o que mais me atrai nessa profissão é a relação que o jornalista consegue criar com as fontes e suas histórias que, para ele, até então eram totalmente desconhecidas.

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4. REFERÊNCIAS BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2006. CANAVILHAS, João. A reportagem paralaxe como marca de diferenciação da Web. In: Paula Requeijo Rey y Carmen Gaona Pisonero (Orgs.). Contenidos innovadores en la Universidad Actual. Madrid: McGraw-Hill Education, 2014a, p. 119-129. ______. Hipertextualidade: novas arquiteturas noticiosas. In: João Canavilhas (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. 1. ed. Covilhã: Editora Livros LabCom, 2014b, p. 3-24. CORREIA, João Carlos. Teoria e Crítica do Discurso Noticioso: Notas sobre Jornalismo e representações sociais. Covilhã: Livros LabCom, 2009. EHRENBERG, A. O cérebro social: quimera epistemológica e verdade sociológica. Periferia, v. 1, n. 2, p.114-131, 2009. FRETES, Vasco Manuel Cunha. A arte da empatia: A importância da empatia no sistema de desenvolvimento humano - biodanza. 2014. 88p. Monografia de Biodanza Escola de Biodanza SRT, Lisboa, 2014. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2008. KOTSCHO, Ricardo. A Prática da Reportagem. ed. 4. São Paulo: Editora Ática, 2000. KRZNARIC, Roman. Sobre a arte de viver: Lições da história para uma vida melhor. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. 12. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. LONGHI, Raquel; WINQUES, Kérley. O lugar do longform no jornalismo online: Qualidade versus quantidade e algumas considerações sobre o consumo. Brazilian Journalism Research. Brasília, v. 11, n. 1, p. 110-127, 2015. Disponível em: <http://bjr.sbpjor.org.br/bjr/article/view/693>. Acesso em: 19 set. 2018. LÜCKMAN, Ana Paula; FONSECA, Virginia Pradelina. Contexto e contextualização no Jornalismo: uma proposta conceitual. Estudos em Jornalismo e Mídia, Florianópolis, v. 14, n. 2, p. 162-174, jan. 2018. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/view/19846924.2017v14n2p162/35866>. Acesso em: 20 out. 2018. MEDINA, Cremilda. A arte de tecer afetos: Signo da Relação 2: cotidianos. 1 ed. São Paulo: Edições Casa da Serra, 2018. FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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______. . Entrevista: O diálogo possível. 4. ed. São Paulo: Ática, 1986. NETTO, Álvaro Mozartt Brandão. A Linguagem Do Jornalismo: As marcas conversacionais e a interação virtual na subjetividade do texto factual no jornalismo. p. 01-12. In: Apontamentos Midiáticos, Maceió, v. 2, n. 4, mar. 2014. Disponível em: <http://www.ichca.ufal.br/grupopesquisa/intermidia/Revista2014/artigos.htm> . Acesso em: 19 out. 2018. OLIVEIRA, Laura Márcia Magalhães; SEIXAS, Lia. A Reportagem Enquanto Gênero Jornalístico. In: XXXIV Congresso Brasileiro De Ciências Da Comunicação, 2011, Recife. Anais eletrônicos Recife: 2011. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2011/resumos/R6-0810-1.pdf>. Acesso em: 19 out. 2018. RODRIGUES, Luciana; HENNIGEN, Inês. Jornalismo, a questão da verdade e a produção de subjetividade. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 68, n. 2, p. 45-57, 2006. SODRÉ, Muniz. As Estratégias Sensíveis: Afeto, Mídia e Política. Petrópolis: Editora Vozes, 2006. SOUZA, Maurício Dias. Jornalismo e Cultura da Convergência: a narrativa transmídia na cobertura do cablegate nos sites El País e Guardian. 2011. 251 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Departamento de Ciências da Comunicação, Universidade Federal de Santa Maria, 2011. TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo (vol.1): porque as notícias são como são. 2. ed. Florianópolis: Insular, 2005. WINQUES, Kérley. “Tem que ler até o fim?”: o consumo da grande reportagem multimídia pelas gerações x, y e z nas multitelas. 2016. 352 p. Dissertação (Mestrado em Jornalismo) - Universidade Federal de Santa Catarina., 2016.

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6. ANEXOS

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6. APÊNDICE 6.1 – Roteiro de perguntas Profa. Dra. Cremilda Medina ● No livro “Entrevista, o diálogo possível”, você afirma que a entrevista é a arte de ouvir, perguntar, conversar e que o entrevistador não pode ser apenas um ouvinte de respostas. como você acha que isso contribui para que o jornalista desenvolva empatia com a fonte? ● Com essa iniciativa do jornalista, ele já está colocando em prática a empatia? ● Quando o jornalista recorre ao particular da fonte, igual você falou no livro, como você acha que tem que ter essa diferenciação entre invadir a privacidade da fonte e o jornalista explorar essa ligação que os dois podem ter nesse momento? ● Você acha então que essa humanização, essa empatia pode ser a diferença entre você fazer uma reportagem com esse tato humano, com esse cuidado, de uma reportagem sensacionalista, que é só para causar impressão nas pessoas? ● No livro você falou também sobre o exemplo da Conceição Tavares que foi uma mulher que chorou na TV e isso causou uma comoção muito grande, você acha que essas histórias que mostram as pessoas chorando, as pessoas sensíveis, mostram esse lado mais frágil delas é importante para o jornalista conseguir transmitir esse sentimento pro público? ● Quão necessário é pra você o jornalista sentir essa empatia, essa ligação tanto ele como jornalista como ele como pessoa? ● E pra você, o que é empatia?

Jornalista Chico Felliti ● O que te motivou a ir atrás da história do Ricardo? ● Como você conseguiu se aproximar dele? ● Ir atrás de fontes que estavam relacionadas a vida dele te auxiliou a FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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entender de que maneira que ele via o mundo, que ele vivia? ● E como que encontrar com o irmão dele e a mãe dele te ajudou também a entender Ricardo como pessoa? ● E quando o irmão dele falou que não queria ver ele porque não queria mais sentir medo ou vergonha? ● A rejeição que ele tinha em Araraquara te ajudou a simpatizar mais com ele? ● Qual foi o sentimento que você teve quando a assistente social disse que o Ricardo não queria mais ficar no abrigo? ● Você falou que não pensou na hora de escrever, como estruturar e tudo mais. Então achou que escrevendo conforme a experiência foi, com o coração, você acha que conseguiu fazer com que os leitores se aproximassem muito do sentimento que você teve? ● Com tanta repercussão que essa reportagem teve, você acha que conseguiu fazer com que as pessoas que lessem, conhecessem, não chamassem de Fofão da Augusta, mas pelo nome dele? ● No final da sua experiência como você passou a enxergar o Ricardo? Pra você, quem ele foi? ● No post do falecimento do Ricardo, você escreveu “uma honra que não é profissional, mas muito humana”. Você acha que é possível separar o Chico jornalista que escreveu sobre o Ricardo e o Chico pessoa que conheceu Ricardo? ● Pra você, o que é empatia? ● Qual é a importância dela no jornalismo?

Jornalista Vinicius Lima, fundador da SP Invisível ● Sobre o que fala seu documentário “A Sós”? ● O que te fez decidir tratar sobre esse tema? ● Como foi a aproximação com seus personagens? ● A empatia foi importante para isso? ● Logo no início, um dos personagens diz que “prefere andar só do que ter FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário 79070-900 - Campo Grande (MS) Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br


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um amigo”. Como encarar essa visão te impactou? ● Conhecer de maneira tão íntima as relações que as pessoas em situação de rua tem umas com as outras, o momento em que afirmam que manter essas relações as mantém sãs e seguindo em frente, mudou sua maneira de olhar para elas? ● Como se sentiu ao ouvir sobre as dificuldades que os personagens enfrentam? ● Em que momento percebeu que estava envolvido com suas fontes? ● Ao montar o documentário, como decidiu a maneira que o estruturaria? Imaginar a recepção do público teve alguma influência? ● Como a sua visão foi modificada sobre seu tema após a produção do documentário?

Jornalista Cláudia Gaigher, repórter da TV Morena ● Como a pauta surgiu? ● Quanto tempo você ficou por lá? Como foi esse contato com as famílias? ● E nesse período, nesses momentos, quais foram seus pensamentos com relação a isso? ● Acha que teve um impacto tanto em você quanto na reportagem final entrevistar as crianças também? ● Quando você foi lá e era tudo escuro, te causou alguma coisa? Por lá ter cobras, jacaré e um dos meninos falou sobre um ataque que aconteceu… ● E quando você terminou de gravar e foi montar a reportagem, como é que foi esse seu processo? Você quis priorizar alguma coisa que te tocou mais? ● Depois que a reportagem foi ao ar, quais mudanças ocorreram em você e naquelas crianças? ● E como você se sente sabendo que mudou a vida dessas crianças? São mais de trezentas e cinquenta que você falou, né? ● Qual é a relação que você tem com as crianças hoje? ● Pra você, o que é empatia e qual a importância dela no jornalismo?

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6.2 – Print screen do site

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