Folha de sala L´Architecture de la Paix

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10 a 13 jul

Festival de Almada no São Luiz TEATRO / DANÇA — ESTRE IA NACIONAL

PIGEONS INTERNATIONAL L’ARCHITECTURE DE LA PAIX DE PAULA DE VASCONCELOS E EVELYNE DE LA CHENELIÈRE

QUINTA A SÁBADO ÀS 21H DOMINGO ÀS 17H30 SALA PRINCIPAL; M/12 €12 a €15 (com descontos: €5 a €10,50)

duração: aprox. 65 minutos Em francês legendado em português


A figuração da palavra (nota da autora) Quando a memória das primeiras raças se sentiu sobrecarregada, quando a bagagem das memórias da espécie humana se tornou tão pesada e confusa que a palavra, nua e volante, se arriscava a perder o norte, transcrevemo-las no solo da maneira mais visível, mais durável e mais natural. Selamos todas as tradições debaixo de um monumento. Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris

A escrita-material Evelyne de la Chenelière

Tanto a Paula de Vasconcelos como eu falamos de um teatro-objecto em que a escrita revela o invisível e os corpos exprimem o indizível. Uma partição de texto pontuada por brechas, que são como nichos dos quais se apoderam todos os elementos, visuais e sonoros, inanimados e vivos, da escrita cénica. O texto é um “material de construção”, tal como tudo o que serve para construir o espectáculo. A minha escrita está, mais do que nunca, aberta à interpretação, mas também a perturbações, confrontos e reviravoltas. Portanto, ao escrever, lembro-me que a encenadora, a “arquitecta do espectáculo”, estabelece associações e fragmentações, servindo a sua própria escrita, a sua própria arquitectura. Esta noção de “escrita-material” leva-me a encarar a dimensão sensível e material da escrita na sua totalidade; esta noção, aplico-a à minha própria ficção. Assim, as personagens no palco procuram reconstruir usando a linguagem, como se contrapusessem a sua materialidade consistente ao desaparecimento dos seres e das coisas, à evanescência dos momentos que nunca mais voltam.

Resistir à história É a história de um casal que perdeu tudo e que tenta obstinadamente relembrar os acontecimentos nomeando-os, fazendo uma “crítica da lembrança”. Querem reconstruir um lugar que se estende até ao passado, onde tudo é possível. Uma maneira, talvez, de esconjurar um fado que já aconteceu e de inverter o progresso mortífero do tempo. Uma arquitectura da paz A palavra torna-se portanto arquitectura do mundo, a sua nova ordem, como se fosse necessário inventar o próprio olhar para reinventar novas formas. Para ter paz, na esperança de edificar um mundo que não se pareça com nada familiar, escolhem desenvolver a linguagem com toda a sua energia. Querem recomeçar, evitando a todo o custo retomar. Num palco de teatro O teatro é a oficina do possível. Convida-nos, com efeito, a construir o sentido, a tornar-nos arquitectos da nossa própria memória, da nossa própria história. O palco torna-se o vector de uma fricção entre a perenidade e a imediatez, a marca e o devir, o luto e a esperança. Por isso mesmo sinto-me sempre grata a todos os que fazem com que o teatro exista, que o espectáculo aconteça, que o sentido desabroche, que a poesia triunfe. Obrigada a todos.


Nota da encenadora Paula de Vasconcelos

Sentada num café, dou por acaso com uma revista de arquitectura, sobre a recente Bienal de Veneza, dedicada à arquitectura da paz. Descubro que inúmeros arquitectos, jovens ou mais consagrados, reflectem acerca de princípios filosóficos que deveriam, segundo eles, constituir a base de qualquer projecto de reconstrução. O seu trabalho assenta na convicção, tantas vezes confirmada, do potencial de cura de um espaço. O espaço oferece a possibilidade de trazer paz e serenidade e de elevar as consciências. Uma ideia que me comoveu profundamente. A mecânica criativa começou inconscientemente a funcionar no meu espírito. Criaria um espectáculo intitulado A Arquitectura da Paz. Aqui está como tudo se passou: Primeiro, contactei a Evelyne de la Chenelière para lhe perguntar se estaria interessada em escrever um espectáculo sobre a arquitectura da paz em parceria comigo (ela, com as palavras, e eu, com a encenação). Ela disse que sim, que a temática lhe interessava muito. Fui então encontrar-me com o José Luís Ferreira, no Teatro São Luiz em Lisboa, a quem propus a co-produção d’ A Arquitectura da Paz. Ele disse que sim. Perguntei-lhe se havia maneira de incluir dois artistas portugueses na produção. Disse que sim, que seria maravilhoso que a nossa colaboração desse azo a um encontro efectivo entre artistas de Montréal e de Lisboa. Encontrei-me com Ginette Noisieux no Teatro Espace GO para saber se era possível que Pigeons aí apresentasse esta nova criação e ela disse que sim, que era possível. Voltei a Lisboa para fazer um ateliê com dezoito artistas do meio do teatro, da dança e da música, com o objetivo de encontrar dois artistas. Perguntei à Ana Brandão e ao Carlos Mil-Homens se queriam ir trabalhar para Montréal connosco, e eles disseram que sim. Perguntei à Pascale

Montpetit, ao Jean-François Casabonne e ao Olivier Rousseau se queriam entrar no espectáculo, e eles disseram que sim. Stéphane Ménigot, Owen Belton e Jean-François Bernier também entraram nesta aventura. Por último, perguntei ao Élie da Kif-Kif Import se podia importar uns belos biombos em vime que eu vira no verão passado em Marraquexe. Ele disse que sim, que mos podia arranjar. Mais uma vez me apercebo do poder da palavra sim. Uma palavra tão pequena e que nos leva tão longe. A debruçar-nos sobre o outro. E esse debruçar pode tornar-se viga, arco e parede-mestra.

Pigeons International Em 1987, Paula de Vasconcelos e Paul-Antoine Taillefer fundaram a companhia Pigeons International, situando-a desde logo na confluência entre o teatro e a dança. Nas suas criações fundem-se texto e corpo, jogo e dança, grave e lúdico, os gestos da vida e a sua estilização pela arte. Para ambos, o espectador é um sonhador para o qual criam os sonhos. A encenadora e coreógrafa Paula de Vasconcelos explora, com a sua equipa, os temas universais da condição humana. A sua linguagem estimula uma empatia para com a alteridade e as diferentes dimensões fundamentais das relações humanas. Amor e solidão, desejo e desespero, aqui e lá, ontem e amanhã, são os temas que aprofunda no seu trabalho, com pertinência e subtileza, recorrendo à vasta panóplia de possibilidades que o espectáculo ao vivo oferece. Uma das razões de ser da Pigeons International é a valorização da riqueza que advém da abertura a outras culturas e da abolição das fronteiras, quer sejam culturais, sociais ou artísticas. A companhia já realizou dezanove criações. Em tournée, apresentou as suas obras em mais de trinta e cinco cidades em Portugal, Itália, Alemanha, Áustria, Colômbia, Brasil, assim como em várias cidades canadianas e americanas.


Texto Evelyne de la CHENELIÈRE Encenação Paula de Vasconcelos Luz Stéphane Ménigot Paisagem sonora Owen Belton Guarda-roupa e cenografia Paula de Vasconcelos Assistente de guarda-roupa Noémi Poulin Interpretação Ana Brandão Pascale Montpetit Jean-François Casabonne Olivier Rousseau Músico em palco Carlos Mil-Homens Direcção de produção Paul-Antoine Taillefer Régie e montagem do décor Jean-François BERNIER Tradução Olho de Boi Apoio

Agradecimento João Paulo Esteves da Silva Co-Produção Pigeons International São Luiz Teatro Municipal

www.teatrosaoluiz.pt

São Luiz tEatro municipal Direcção Artística Temporada 2013-2014 José Luís Ferreira Directora Aida Tavares Adjunta da Direcção Margarida Pacheco Secretariado de Direcção Olga Santos Direcção de Produção Tiza Gonçalves (directora) Susana Duarte (adjunta) Mafalda Sebastião Margarida Sousa Dias Direcção Técnica Hernâni Saúde (director) João Nunes (adjunto) Iluminação Carlos Tiago Ricardo Campos Ricardo Joaquim Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma Cláudio Ramos Paulo Mira Vasco Ferreira Som Nuno Saias Ricardo Fernandes Rui Lopes Encarregado Geral Manuel Castiço Secretariado Técnico Sónia Rosa Direcção de Cena José Calixto Maria Távora Marta Pedroso Ana Cristina Lucas (assistente) Direcção de Comunicação Ana Pereira Luís Gouveia Monteiro Nuno Santos Bilheteira Cidalina Ramos Hugo Henriques Soraia Amarelinho Frente de casa Letras e Partituras Assistentes de sala Carla Pignatelli Carolina Alves Carolina Serrão Cristiano Varela Delfim Pereira Domingos Teixeira Filipa Matta Hernâni Baptista Inês Worm João Cunha Leonor Martins Manuel Veloso Maria Veloso Paulo Daniel Paulo Soares Severino Soares Carlos Ramos (assistente) Segurança Securitas Limpeza Astrolimpa

© Anne-Flore de Rochambeau

Os artesãos do espectáculo


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