© Estelle Valente
H I STÓ R
I AS D E L X
L A P I C I N U M O R T A E S ÃO LUIZ T
5 A 16 J U N H O 2019
TE ATRO MERIDION A L
À conversa com Natália Luiza, a propósito de Histórias de LX
espetáculo: falar bem dos portugueses. Somos um povo muito generoso, do bem – e aqui falo de todas as pessoas que fazem hoje Lisboa, com a sua diversidade cultural. Nesta peça está lá o romantismo de Lisboa e o coração nas mãos dos lisboetas, mas é preciso denunciar que nos estão a comprar aos bocados. Pomos isso no palco para ser espelho de uma reflexão que falta fazer.
É uma Lisboa magoada esta? Há uma Lisboa que é bela e que será sempre. Tem a ver com a luz, com o Tejo, com as populações que a habitam e com a nossa identidade enquanto povo. Mas não podemos falar, neste momento, de uma cidade alegre, ficando só contente com os valores da economia, com o crescimento económico e com os turistas. Há uma parte de Lisboa – e que surge nas conversas com toda a gente, inclusive nas conversas desta equipa durante a construção do espetáculo – em que se sente um mau trato relativamente aos habitantes de Lisboa. Vamos aos cafés e já não nos servem bem nem têm lugar para nós… a cidade vestiu-se para o turista. Os habitantes de Lisboa estão a ser arredados da cidade, porque não ganham o suficiente para aqui poder habitar. Estamos ao serviço do estrangeiro, já nem sempre sentimos a cidade como nossa. Não defendo o estatismo, mas há mudanças que têm de ser pensadas e não me parece que em Lisboa isso esteja a acontecer. E a mesma coisa no Porto… ser tratada como uma turista numa cidade do meu país, magoa.
Há uma personagem de fora, a comentar a cena e a desconstruí-la. Porquê? Como dizia Fernando Pessoa, falta-nos rir de nós próprios. Esta personagem faz um zoom de distanciação que pode ser interessante e irónico. Gostava que todas as interrogações que se têm quando se levanta um espetáculo estivessem ali, porque esta distanciação é também o olhar do espectador. A ação começa com os ratos da cidade… É a Lisboa invisível, que cada vez mais vive nas margens. É a gente que existe, mas que ninguém vê. São os zé-ninguéns que mantêm qualquer coisa de humano. E depois a cena cola com as empregadas de limpeza que começam a trabalhar às cinco da manhã, a limpar e a preparar a cidade para os outros. Neste cenário cabe a Lisboa inteira, com as suas estratificações e diferenças. Temos a Lisboa na horizontal extremamente design, com linhas
Era imperativo trazer essa Lisboa para o palco? Sim, porque é fundamental manter as pessoas na cidade. Mas há uma coisa que quero mesmo neste 2
Só se ouve o barulho do Tejo e há duas pessoas, em que ninguém repara, que se abraçam… Cada um fará as histórias que quiser. Para mim, Lisboa é também uma cidade de abraços.
muitas retas, e uma outra Lisboa que é a das varandas e onde os edifícios não têm sido cuidados. Optou, desde o início, por este teatro quase sem palavras? Sim. É um bocadinho Tati. Há momentos em que se fala, mas sobretudo vamos vendo acontecer.
Existe um texto por detrás destas histórias não faladas? Sim, escrevemos as histórias e todas estas personagens sabem de onde vêm, têm uma vida construída por trás. O teatro vive do invisível e é o que está sustentado que permite que a cena aconteça. Ninguém passa aqui por acaso. E os espectadores podem construir outras histórias.
… tal como vemos acontecer na cidade. … só que na cidade não temos tempo de nos sentar a ver. E por isso a trazemos para o teatro. Neste mundo de virtualização da realidade, dentro de pouco tempo, vir ao teatro será Antropologia… Viremos observar outros seres humanos como quem vai ao zoo…?!
As ações sucedem-se numa velocidade intensa. Às vezes quis ir mais depressa do que o tempo, outras vezes mais devagar do que o tempo, e quis ter uma cena, junto ao rio, em que não se passa praticamente nada…
Como se juntou este grupo de intérpretes com experiências tão diferentes? Isto é Lisboa também. Quis trazer abordagens, entendimentos, formações, idades diferentes. Gosto muito de juntar pessoas e encontrar caminhos com elas. Além dos atores profissionais, temos ex-alunos do Chapitô, alunos da ACT – Escola de Actores, que estão a fazer estágio, e três alunas da Universidade Sénior de Marvila. Com a ausência de verbas, os elencos são cada vez mais pequenos e já não aprendemos uns com os outros, não trocamos experiências, não passamos testemunho. E quis que aqui fosse diferente e é bom! Gostamos de estar juntos!
… a não ser estarem todos a olhar para o telemóvel.
Entrevista realizada em maio de 2019, por Gabriela Lourenço / Teatro São Luiz
No início houve uma inspiração na banda desenhada, que acabou por se diluir. Sim, mas a banda desenhada ficou na fisicalidade, nas suspensões, na passagem das personagens. A lógica da banda desenhada está na forma como às vezes se atravessa a cena e acontece qualquer coisa, como numa tira ou vinheta.
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© Estelle Valente
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Os ratos Eugénia Tung, Jerónimo Salgado, Alves dos Reis, Manuel Espertinho, Leonel Sound Bite, Mísia Caliente, Max Trotiskinho e João Tocabem © Estelle Valente
Os profissionais Vascondeus, Maria Tantofaz, Judite Dístico, Abílio Calçadas, Marco Vêtudo, Babi, Carteiro Sensêlo e Almeida
Os da Terra Rui Ritmado, Maria José Povo, Melro, Manuel Solidário, Joaquim do Bairro, Graça da Reboleira, Maria Lisboa, Rosa Silva, Maria da Crença, Chassus, Ausências e Júlio Relento
Os do restaurante Abel Predileções, Manel Dá, Quim Dé e Verena Direitinha
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O crítico do espetáculo Salvador Verdades
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As das limpezas Halyna Limpinha, Keila Lavanda e Neusa Arrumada
Os estrangeiros John Cracavelos, Brigide Kartoffel, Alba, Asger Oluf Jorn, Doroteia, Bill Malanoar, Enzo das Flores, Ching Compla, Viviane Amour, Clarie Dabussola e Ling Tladuz
Os cozinheiros Margot Muibuena, Leo Prepara, Alain Tempêra e Armando Leva
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5 a 16 junho teatro estreia
HISTÓRIAS DE LX
TEATRO MERIDIONAL Quarta a sábado, 21h; domingo, 17h30 Sala Luis Miguel Cintra; m/6 €12 a €15 com desconto Duração: 1h25 CONVERSA COM A EQUIPA ARTÍSTICA APÓS O ESPETÁCULO
9 junho, domingo, 17h30
Dramaturgia e Encenação Natália Luiza
Construção de estrutura cenográfica Netos Decor
Assistência artística e Desenho de luz Miguel Seabra
Costureiras Oficina
Espaço cénico Marta Carreiras
Apoio geral Catarina Pereira e Sara Luzio (estagiárias)
Figurinos Maria Luiz
Realização de making of Patrícia Poção
Música original e Espaço sonoro Rui Rebelo
Produção executiva Rita Conduto
Interpretação Catarina Guerreiro, Luciano Amarelo, Paulo B., Susana Madeira, Vitor Alves da Silva e Catarina Ribeiro, Felipe Oliveira, Filipe Almeida, Joana Silva, Pedro Caetano, Telmo Duarte, com os atores estagiários Andreia Galamba, Beatriz Peixoto, Catarina Berkemeier, Constança Brandling, Filipe de Castro, Filipe Costa Morais, Hugo Teixeira, Margarida Leão, Rúben Brandão, e a participação das alunas da Universidade Sénior de Marvila Cila Ferreira, Dina Félix e Maria Augusta Ferreira Textos Maria Sofia Magalhães Instrumentos gravados Bruna de Moura (violoncelo), Filipe Rebelo (guitarra portuguesa), Rini Luyks (acordeão) Assistência de encenação Nuno Távora e Catarina Moreira Pires (estagiária) Assistência de cenografia Marco Fonseca Assistência de figurinos Rita Osório Operação técnica Nuno Figueira
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
Assistência de produção Susana Monteiro Assessoria jurídica Diogo Salema Assessoria de gestão Mónica Almeida Direção artística do Teatro Meridional Miguel Seabra e Natália Luiza Apoios ACT-Escola de Actores, Anlorbel, Biblioteca Municipal de Marvila, Chapitô, Companhia Palco13, C2Catering, Garrafeira Nacional, Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos, Junta de Freguesia de Marvila, Sola do Sapato Produções, Têxteis Lameirinho, SP Televisão, Teatro dos Aloés, Teatro Experimental de Cascais, TNDMII, Turismo de Lisboa Agradecimentos Cláudia Nóvoa, Cláudia Ribeiro, Elsa Valentim, Graça Magalhães, Maria João da Rocha Afonso, Maria Sofia Magalhães, Raquel Trindade, Rita Silva, Rui Manuel Coprodução Teatro Meridional e São Luiz Teatro Municipal
Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Joaquim René Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Produção Mafalda Santos (Diretora), Andreia Luís, Catarina Ferreira, Margarida Sousa Dias, Mónica Talina, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde (Diretor), João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago, Nuno Samora, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Paulo Lopes, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Direção de Cena Marta Pedroso (Coordenadora), Maria Tavora, Sara Garrinhas, Ana Cristina Lucas (Assistente), Rita Talina (Camareira) Direção de Comunicação Elsa Barão (Diretora), Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, Renato Botão
TEATROSAOLUIZ.PT