Folha de sala É IMPOSSÍVEL VIVER

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© virgílio ferreira

são lu i z teatro m u n i c i pal

19 a 29 NOV TEATRO

É Impossível Viver A partir de Franz Kafka Quinta a Sábado às 21h Domingo às 17h30 Teatro-Estúdio Mário Viegas, M/14 €12 (com descontos €5 a €8,40) duração: 1h30

nove m bro 2015

Dramaturgia e encenação

Ana Luena

a partir da tradução de José Maria Vieira Mendes Interpretação

João Lagarto Sérgio Praia


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Mantive a Boca Aberta Durante Um Bocado Para Que a Agitação Me Saísse Por Ela. in Descrição de uma luta e Ser infeliz, Franz Kafka, trad. José Maria Vieira Mendes

algodão de Koltès e foi essa uma das pontes para chegar a Descrição de uma luta, um conto de Franz Kafka editado apenas após a sua morte, cujas múltiplas versões foram encontradas em vários cadernos e maços de folhas do autor. O caráter fragmentário destes manuscritos, inacabados e irregulares, é especialmente trabalhado e explorado ao longo de toda a montagem dramatúrgica e adaptação. Em Descrição de uma luta é estabelecido um modo de perceção idêntico ao veiculado pelo conceito Unheimlich, no sentido freudiano. Aí e em Ser infeliz, textos incluídos nesta versão para cena, o espetador tem a oportunidade de presenciar a evolução de um insólito processo de identificação e de separação, de uma espécie de exorcismo da infelicidade. O narrador defronta-se com uma série de encontros – com o estranho companheiro, o devoto, o bêbado, a criança-fantasma – que, num ambiente em que a tensão entre o que faz sentido e o que não faz sentido se torna tangível, projetam e testemunham processos de identificação, separação, estranheza e ambiguidade individuais. É impossível viver está ampla e profundamente ligado a temas que me inquietam e que persigo no trabalho e na vida, e eu não consigo desassociar as duas coisas. Estamos em constante transformação, o outro também. Somos isto e também aquilo. Somos tudo isto.

Ana Luena Isto parece que foi feito para nós. É esta impossibilidade de comunicação que por vezes até parece que é impossível viver. Estamos em guerra e vivemos do outro e para o outro. Disse-me uma vez o Sérgio ou fui eu que entendi que ele queria dizer isto. Mas tudo começou muito antes. Estava eu a fechar uma porta e cruzo-me com o João e o Sérgio, que me dizem que havia já algum tempo, não sei precisar quanto, ponderavam e desejavam contracenar numa peça para dois atores, construída a partir de Kafka. Eu, por outro lado, desde que experimentei encenar e adaptar Kafka, nunca mais o larguei. E agora mais de que nunca faz-me sentido, faz-nos sentido, faz sentido não sendo linear, sendo contraditório, negro, quase insuportável, e é como um nó onde queremos estar. Desde julho de 2014, começaram os nossos encontros onde surgiram as linhas conceptuais e dramatúrgicas do espetáculo e depois de leituras de textos soltos do autor, o João fala sobre Na solidão dos campos de 2


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Os encontros têm, afinal, a urgência dos sonhos, onde o confronto expõe, por vezes de forma risível, por vezes de forma absurda, as nossas vulnerabilidades e impasses: o conflito, a solidão, a luta, a dor. E Bem Hajam: João Lagarto e Sérgio Praia, Peixe, Rui Monteiro, Luís Puto e José Luís Ferreira pela demonstração de que é possível viver.

Kafka, um autor de sempre excerto de Kafka, um escritor eterno de Gonçalo Vilas-Boas, Jornal de Letras, de 2 Setembro 2015, p.9 (…) As leituras são construções de cada leitor, e, assim, haverá tantas atribuições de sentido como pessoas a abeirar-se dos textos. A minha leitura também não é mais do que uma entre milhares. Lembre-se, a este propósito, o filósofo austríaco Ernst Fischer, que escreveu: “Na negação total a que Kafka dá corpo, também está escondida a negação da negação”. Isto é: o percurso das figuras que Kafka cria nas suas ficções, correspondendo a algumas questões que o autor se coloca a si próprio, é essencialmente negativo, e acaba muitas vezes com a morte. São percursos que levam à destruição, a um “não sentido”. Ao nível da superfície do texto, não há, de facto possibilidades positivas. Mas Kafka diz que só fala da negatividade, porque só conheceu esse lado da vida; o outro lado, o positivo, não lhe foi dado a conhecer. Reconhece que talvez ele exista, mas não sabe como lá chegar. Mas quem tem a culpa? E que culpa? Kafka não recorre a narradores que saibam mais do que as personagens, por isso limita-se às perspectivas delas; e as suas personagens optam por caminhos aparentemente errados, pois não sabem procurar os verdadeiros. É sempre fora deles e não neles que procuram as soluções, como o capelão de O Processo diz a José K., na catedral. O leitor negará a negação apresentada, como explica Fischer, negará, por falta de empatia e compreensão, os trajectos das figuras. (…)

“Estávamos talvez naquele intervalo muito pequeno e sossegado entre o dia e a noite em que a cabeça, sem que o esperemos, está presa ao nosso pescoço e em que tudo, sem que o notemos, está parado, porque não reparamos, e depois desaparece. Em que ficamos sozinhos com o corpo arqueado, depois olhamos à nossa volta mas já não vemos nada, deixamos até de sentir a resistência do ar, mas agarramo-nos interiormente à recordação de que existem casas, a uma determinada distância, com telhados e felizmente também com chaminés através das quais entra o escuro para dentro das casas. E é uma sorte amanhã ser um dia em que, por incrível que pareça, se conseguirá ver tudo.” in Descrição de uma luta, Franz Kafka, trad. José Maria Vieira Mendes

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é i m possíve l vive r Encenação e dramaturgia: Ana Luena a partir da tradução de José Maria Vieira Mendes Interpretação: João Lagarto e Sérgio Praia Música original: Pedro Cardoso (Peixe)* Gravação e mistura: Manuel Reis Desenho de luz: Rui Monteiro Assistência de encenação: Luís Puto Cenografia e figurinos: Ana Luena Construção de cenário: Tudo Faço Fotografia: Virgílio Ferreira

14 NOV CONVERSA

Mantive a boca aberta durante um bocado para que a agitação me saísse por ela

Em parceria com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa A partir dos contos de Kafka Descrição de Uma Luta e Ser Infeliz sábado às 18h Jardim de Inverno Entrada livre Com Eugénia Vasques, Gonçalo Vilas-Boas e Gerald Bär e a participação da equipa do espectáculo

* Música interpretada por: violino Ianina Khmelik Pacheco; violoncelo Sónia Amorim; viola de arco Irma Skenderi; gravação e mistura Manuel Reis Produção delegada: Antunes Fidalgo Unipessoal Co-produção: Teatro Municipal do Porto – Rivoli. Campo Alegre, São Luiz Teatro Municipal e Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco Apoios: Lojas Prassa, Fnac, Galeria, Chic Dream Restaurante, Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, Oporto Wisch Apartaments, Wook l Grupo Porto Editora.

em breve

27 a 29 NOV TEATRO

sabotage

De Miguel Castro Caldas

Encenação e interpretação: Lígia Soares Temps d’Images Sexta a Domingo às 19h Jardim de Inverno, a classificar pela CCE 12 € (com descontos €5 a €8,40)

Agradecimentos: Manuela Leitão, Pedro Aparício, Estelle Valente, Fernando Alvim, Fátima Vieira, Ricardo Cunha, Américo Castanheira

bilhete suspenso

Convidamos o público do São Luiz a adquirir um bilhete pelo valor de 7 euros, que fica suspenso na nossa bilheteira e que reverte para pessoas apoiadas pelas entidades associadas. O restante valor do bilhete é suportado pelo Teatro. O Bilhete Suspenso é um projecto que se insere na política de responsabilidade social do São Luiz Teatro Municipal. Conheça, junto da bilheteira do Teatro, as entidades associadas. bilheteira@teatrosaoluiz.pt tel: 213257650

são luiz teatro municipal Direcção Artística Aida Tavares Direcção Executiva Joaquim René Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direcção Executiva Margarida Pacheco Secretariado de Direcção Olga Santos Direcção de Produção Tiza Gonçalves (Directora), Susana Duarte (Adjunta), Andreia Luís, Margarida Sousa Dias Direcção Técnica Hernâni Saúde (Director), João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago, Ricardo Campos, Ricardo Joaquim, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Cláudio Ramos, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Secretariado Técnico Sónia Rosa Direcção de Cena José Calixto, Maria Távora, Marta Pedroso, Ana Cristina Lucas (Assistente) Direcção de Comunicação Ana Pereira (Directora) Elsa Barão, Nuno Santos Design Gráfico silvadesigners Vídeo Tiago Fernandes Bilheteira Cidalina Ramos, Hugo Henriques, Soraia Amarelinho Consultoria para a Internacionalização Tiago Bartolomeu Costa Frente de Casa Letras e Partituras Coordenação Ana Luisa Andrade, Teresa Magalhães Assistentes de Sala Ana Sofia Martins, Catarina Ribeiro, Helena Malaquias, Helena Nascimento, Hernâni Baptista, Inês Macedo, João Cunha, Raquel Pratas, Sara Garcia e Sara Fernandes, Carlos Ramos (Assistente) Segurança Securitas Limpeza Astrolimpa


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