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São Luiz Te atro M unici pa l
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VOZ ÓPERa Francis Poulenc Jean Cocteau
3, 5, 7, 11 NOV 2016
humana TEMPS D’IMAGES LISBOA NO SÃO LUIZ
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FRAGMENTOS DE ENSAIOS
TEMPS D’IMAGES LISBOA
ÓPERA
João Paulo Santos: Na partitura, o composi-
3, 5, 7 e 11 nov
tor já definiu 90% das intenções; o trabalho de um cantor já está condicionado por isso. Temos que perguntar o que nos pede o texto mas sobretudo o que se passa musicalmente. A liberdade é limitada pelas inflexões musicais: há escolhas interpretativas que já não são possíveis, o compositor já previu a encenação. Ao contrário do ator que escolhe o ritmo ou o tom da personagem e da cena, em ópera há um ritmo de ação pré-definido. A execução do canto limita ainda mais certas escolhas porque obriga a um esforço físico muito específico. Não existe hipótese de ignorar esta realidade. Por outro lado, não existe hipótese de um cantor não cantar sinceramente, pela necessária implicação física. A emoção subjacente ao ato de cantar pode sublinhar o texto, ou contrariá-lo, mas essa escolha já condiciona a interpretação. Lúcia Lemos: Em ópera, a interpretação é feita de dentro para fora, o cantor invade a intimidade do público, pelo artifício da voz cantada, pela sua exposição excessiva que cria proximidade e consequentemente veracidade. Este projeto, no cruzamento do canto lírico, da performance e da imagem em movimento procura acentuar ainda mais esta proximidade pela força das imagens ampliadas. João Paulo Santos: O material musical não se desenvolve, justapõe-se, não há evolução dos temas: a modernidade de Poulenc está numa construção sem desenvolvimento. N’ A Voz Humana, os fragmentos musicais não vão para lado nenhum; encontramos repetições e alterações de tonalidade que põem a personagem num beco sem saída. Aqui as evoluções harmónicas
A VOZ HUMANA LA VOIX HUMAINE
Francis Poulenc
Libreto Jean Cocteau quinta, sábado, segunda e sexta
Jardim de Inverno, 18h30; m/12 €12 (com descontos €5 a €8,40) Em francês com legendas em português Duração (aprox.): 1h
Uma mulher sem nome, Elle, expõe a intimidade e o drama do último encontro telefónico com o seu antigo amante que rompe com ela. Nesta ópera de um só intérprete, a música de Poulenc e a prosa de Cocteau criam uma alternância entre o coloquial e o poético. Na interseção da cena lírica, da performance e da imagem em movimento, a proposta cénica sublinha a personagem central: uma voz, talvez mais humana porque cantada, assumidamente fora do registo naturalista pelo envolvimento físico e emotivo da expressão musical. Lúcia Lemos – Elle (Soprano) João Paulo Santos - Direção musical e piano Direção cénica e desenho de luz: Jean Paul Bucchieri; Direção de imagem: Vasco Araújo; Direção de produção: Isabel Machado; Maquilhagem: Inês Pais; Cabelos: Patrick; Legendagem: Catarina Wallenstein; Tradução: Lúcia Lemos Coprodução: C.R.I.M., Festival Temps d’Images Lisboa e São Luiz Teatro Municipal Agradecimentos: Alda Giesta, Alexandre Oliveira, Beatriz Jarmela, Graça Castanheira, Joana Ferreira, Jorge Ramos do Ó, Mariana Wallenstein, Paula Garcia, Rodrigo Dâmaso, Rodrigo Delgado, Bazar do Vídeo, Teatro Nacional de São Carlos, Teatro do Bairro, Teatro Viriato, SPA Projeto apoiado por Governo de Portugal – Ministério da Cultura/ DGArtes
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« le mélange du théâtre, du prêche, de la tribune, du livre, étant justement le mal contre lequel il faudrait intervenir: (Theâtre pur, p. 9, 10). Parti destas premissas para construir uma personagem que nos retratasse a todos, pelo menos em algum momento da vida: ambíguos, sinceros e cruéis, desprotegidos, esperançosos, mentirosos, chantagistas, frágeis e heróicos… Elle é todos e ninguém: vive um momento intenso, mas não definitivo, de luta com as ambiguidades da vida e dos sentimentos. Talvez o pensamento de Cocteau subjacente a toda esta historieta banal esteja no Arioso p. 58, que Poulenc procura não enfatizar, não transformando esta página em nenhum clímax especial: « Pour les gens, on s’aime ou on se déteste, les ruptures sont des ruptures, ils regardent vite, tu ne leur feras jamais comprendre, tu ne leur feras jamais comprendre certaines choses. Le mieux est de faire comme moi, et de s’en moquer, complètement». João Paulo Santos: A orquestra (o piano) é por vezes uma outra voz, não um comentário ao cantor, mesmo quando estão juntos. Existe um jogo de discordâncias, entre a linha da orquestra e a voz, ao contrário da música verista na qual a música está sempre a sublinhar o texto. Aqui, a orquestra nunca é uma ilustração ou um acompanhamento. Os silêncios têm que ser ouvidos: é a orquestra que se cala e a voz que se cala. Os silêncios correspondem a indicações de abandono total. Poulenc a Georges Prêtre: «je veux mes silences».
anteriores não são significativas, os pedaços são quase intercambiáveis. À medida que a separação se vai aproximando, o discurso já não é tão fragmentado, a melodia vai-se tornando mais consoladora, avança por grandes secções com objetivos maiores, de forma irreprimível para o fim da despedida. Lúcia Lemos: A personagem de Cocteau/ Poulenc é sobretudo uma afirmação sonora, uma Voz Humana. Não tem nome, é apenas uma ela (Elle), universal na temática da dependência e do amor. É uma mulher que sofre uma rutura amorosa mas poderia ser um homem: aliás, a personagem foi criada por dois homens. É o que é, uma pessoa normal «medíocre, amoureuse d’un bout à l’autre» (Cocteau, Préface, 2002, p. 16), uma voz humana. João Paulo Santos: N’ A Voz Humana existem certas décalages entre o que está a ser dito e a melodia e onde a emoção nasce da forma musical distanciando-se por vezes da palavra cantada. Há momentos em que não se pode seguir o texto, nos quais o que se diz não é relevante. Nesses momentos, a música é a linguagem que impera, é necessário cantar mais, de forma mais vocal, mais melódica, para sublinhar a linguagem poética. Tentar exprimir emoção a mais pode estragar a emissão vocal e limita a beleza da linha vocal, o elemento puramente musical. Lúcia Lemos: Na construção desta personagem, procurei afastar-me de algumas leituras onde Elle surge quebrada, num longo lamento de dependência amorosa. Nada indica a meu ver, nem em Cocteau nem em Poulenc, um desfecho obrigatoriamente suicida ou vingativo, como é muitas vezes inferido. Cocteau não pretende também encontrar uma solução para um problema psicológico:
Lúcia Lemos: Procurei um final, sem desenlace, sem solução: um manifesto apenas humano, contra a convicção da redenção pelo amor, da tirania sexual, da complementaridade obrigatória. Uma voz na sua crueza, a humanidade na sua crueza. No fim: «je t’aime» como uma interrogação. 3
TEMPS D’IMAGES LISBOA são luiz fora de portas VÍDEO-INSTALAÇÃO estreia nacional
16-27 nov
CAPTURE PRACTICE Arkadi Zaides
Palácio Príncipe Real, Praça do Príncipe Real, 19 Abertura 16 novembro, 19h Entrada livre
Programa completo em: www.tempsdimages-portugal.com Facebook @tempsdimageslisboa Instagram #tempsdimageslisboa
No São Luiz posso… Comprar um bilhete suspenso Começa por ser uma forma de oferecer a alguém a oportunidade de assistir a um espetáculo no Teatro São Luiz. O bilhete custa 7 euros e fica suspenso na bilheteira para usufruto de pessoas apoiadas pelas entidades às quais o São Luiz se associa: Albergues Nocturnos de Lisboa, Associação Coração Amarelo, Associação Gulliver, Associação SOL, Lar Jorbalán, Fundação Luís António de Oliveira, Casa de Abrigo da APAV ou CMPL – Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa.
São Luiz Teatro Municipal — Direção Artística Aida Tavares Direção executiva Joaquim René Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta direção executiva Margarida Pacheco Secretária de direção Olga Santos Direção de produção Tiza Gonçalves (Diretora), Susana Duarte (Adjunta), Andreia Luís, Margarida Sousa Dias Direção técnica Hernâni Saúde (Diretor), João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago, Ricardo Campos, Sara Garrinhas, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Cláudio Ramos, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Responsável de manutenção e segurança Ricardo Joaquim Secretariado técnico Sónia Rosa Direção de cena José Calixto, Maria Távora, Marta Pedroso, Ana Cristina Lucas (Assistente) Direção de comunicação Ana Pereira (Diretora), Elsa Barão, Nuno Santos Relação com os públicos Inês Almeida Design gráfico SilvaDesigners Registo e edição vídeo Tiago Fernandes Bilheteira Ana Ferreira, Cristina Santos, Soraia Amarelinho Frente de casa Letras & Partituras Coordenação Ana Luísa Andrade, Teresa Magalhães, Cristiano Varela Assistentes de sala Ana Catarina Bento, Ana Sofia Martins, Catarina Ribeiro, Carolina Serrão, Daniela Magalhães, João Cunha, João Pedro, Manuela Andrade, Raquel Pratas, Sara Fernandes, Gonçalo Cruz Segurança Securitas Limpeza Astrolimpa
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