Folha de sala ANTÓNIO E CLEÓPATRA 2016

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© magda bizarro

são lu i z teatro m u n i c i pal

15 a 17 jul

Festival Glorioso Verão

António e Cleópatra Texto e encenação Tiago Rodrigues

Sexta e sábado às 21H domingo às 17h30 Sala Luis Miguel Cintra; M/12 €12 a €15 (com descontos €5 a €8,40) Duração 1h20

j u lho 2016


© magda bizarro

antón io e cleópatr a

Sobre o espectáculo Uma colaboração amorosa Tiago Rodrigues “Este António e Cleópatra não é a peça de William Shakespeare. É uma peça original que construímos alicerçada na memória da tragédia de Shakespeare, que por sua vez tinha os seus fundamentos no retrato biográfico que Plutarco faz de Marco António nas Vidas Paralelas, ele próprio herdeiro de diversos escritos e relatos de viva voz (Plutarco chega a citar o seu próprio bisavô no capítulo sobre Marco António). Assumimos estas heranças e outras, menos antigas mas igualmente monumentais, como o filme-maratona de 1963, realizado por Mankiewicz com o casal Taylor-Burton (do qual usamos fragmentos de música) e também a parafernália resultante da aura de fascínio que o romance de António e Cleópatra ainda lança sobre historiadores, ficcionistas e público. Nessa fronteira ambígua entre o plágio e a citação que tanto agradaria a Shakespeare (usamos diversas frases da tragédia, retiradas da notável tradução de Rui Carvalho Homem para edição da Campo das Letras), aceitamos também que este fenómeno da transmissão de um episódio histórico e literário está marcado pela erosão. A erosão do tempo e da linguagem que condenam a memória a uma incompletude e que, por isso mesmo, abrem portas ao nosso contributo pessoal. Se soubéssemos tudo, saberíamos demais e não teríamos urgência em fazer este espectáculo. Shakespeare escreveu (provavelmente tê-lo-á feito em 1606) um António e Cleópatra que, ao longo do tempo, tem tido dificuldade em subir ao pódio das suas obras trágicas, ocupado por Hamlet, Otelo, Rei Lear ou Macbeth. Para tal, contribuiu a reputação de obra imperfeita ou transgressora dos cânones, que se deve à multiplicidade e dispersão de tempos e espaços da acção, em clara desobediência dos parâmetros “aristotélicos”, combinada com aquilo a que John Drakakis

António e Cleópatra Se dizemos um dos nomes, o outro surge de seguida. A nossa memória não consegue evocar um sem o outro. Plutarco escreveu que, a partir deles, o amor passou a ser a capacidade de ver o mundo através da sensibilidade de uma alma alheia. Misturaram amor e política e inventaram uma política do amor. São uma história de amor histórico. São um romance baseado em acontecimentos reais frequentemente romanceados. Shakespeare ergueu-lhes um monumento verbal que transformou na verdade mais verdadeira aquilo que nunca lhes aconteceu. No filme de Mankiewicz que levou a 20th Century Fox à falência, Richard Burton e Elizabeth Taylor foram o casal celuloide e real que eles nunca e sempre foram. Neste espectáculo que Tiago Rodrigues escreve e dirige, Sofia Dias e Vítor Roriz são a dupla aqui-e-agora do que eles foram ali-e-então. São e não são António e Cleópatra. São o António a ver o mundo pelos olhos da Cleópatra. E vice-versa. Sempre vice-versa. Vice-versa como regra do amor. Vice-versa como regra do teatro. Este espectáculo é ver o mundo através da sensibilidade das almas alheias de António e Cleópatra. 2


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tom jocoso mas compreensivo que “a alma do amante vive sempre em corpo alheio”. Esta tirada de Plutarco, que fala dum António que se desliga da sua identidade, destruindo a sua reputação e honra, para ver o mundo pelos olhos de Cleópatra, tem tanto de tese amorosa como de paradoxo teatral. É essa alma em corpo alheio que tentamos quando a dupla Sofia e Vítor tentam ver o mundo pelos olhos de António e Cleópatra, mas também através dos olhos um do outro. É dessa alma em corpo alheio que falamos quando inventamos uma peça de teatro para uma dupla de coreógrafos. À imagem da confusão das duplas que trocam de corpo, quisemos criar um espectáculo onde a escrita teatral e a encenação compreendessem o mundo através dum corpo alheio: o da linguagem matemática e lúdica, rigorosamente poética do universo coreográfico de Sofia Dias e Vítor Roriz. Este António e Cleópatra foi escrito a imaginar o teatro pelos seus olhos. Do mesmo modo que as suas interpretações estão apostadas em estar no palco, usando um corpo de texto e de teatro que lhes é alheio, embora familiar. Porque é importante dizer que “alheio” não implica distância. Muito pelo contrário. Esta colaboração nasce do reconhecimento de que há afinidade artística com esse corpo alheio. Que embora seja de outrem, poderíamos imaginá-lo nosso. E ao trocarmos de corpos, não perdemos irremediavelmente o nosso. Emprestamo-lo temporariamente. Para que esses corpos emprestados se traduzam numa colaboração, literalmente, num trabalho juntos. O espaço cénico de Ângela Rocha e a iluminação de Nuno Meira, pautados por uma ideia de instabilidade e movimento perpétuo, dão forma ao campo de jogos aparentemente sem regras onde acontece esta colaboração artística inspirada por uma ideia de colaboração amorosa. Também colaboramos com a História, com Plutarco, com Shakespeare. E, finalmente, colaboramos com o público, esse indispensável e último dos colaboradores. Esse corpo alheio onde queremos que a nossa alma de amante habite.”

chamou uma “desconstrução avant la lettre” originada por uma linguagem que parece ter uma origem num “fio de consciência”. Nas leituras que fizemos de Shakespeare, logo nos primeiros ensaios deste projecto, foi precisamente este espírito transgressor da estrutura da peça que nos empurrou para o espaço de liberdade (e quase irresponsabilidade) necessário para nos atrevermos a criar a nossa própria António e Cleópatra. A tragédia de Shakespeare é um inventário de dicotomias: oriente e ocidente; razão e sentimento; masculino e feminino; política e sexo; guerra e amor; trabalho e ócio; tragédia e comédia. Em confronto, em paralelo, em complementaridade ou simbiose, cada ingrediente desta peça encontra sempre o seu par ou o seu reverso. À semelhança da dupla que dá nome à obra. Fascinados por esta ideia de dupla, reduzimos o elenco faraónico de Shakespeare a dois intérpretes: a Sofia Dias e o Vítor Roriz. Que são muito mais a Sofia e o Vítor do que uma representação de uma Cleópatra e de um António. Ou talvez devesse dizer de um António e duma Cleópatra. Porque neste espectáculo a Sofia fala obsessivamente dum António e o Vítor fala com igual minúcia de Cleópatra. A Sofia sempre descrevendo o que faz e diz um António que vive numa imaginária encenação. E vice-versa. “Sempre vice-versa”, dizemos na sinopse do espectáculo. Vice-versa poderia, aliás, ter sido um título para esta peça. Assim, procurámos inventar uma dupla que fala duma outra dupla, relatando e evocando continuamente uns invisíveis António e Cleópatra, ao ponto de mergulharem por instantes nesses nomes, dando-lhes uma forma visível. Alimentamos a confusão de identidades entre António e Cleópatra, mas também entre intérpretes e personagens. Propomos a confusão que é sempre uma dupla. Essa ideia que o próprio Plutarco propõe quando, na passagem em que descreve o modo como António foge da batalha para seguir no encalço de Cleópatra, escreve em

novembro, 2014 3


18 A 23 JUL TROCAVA A MINHA FAMA POR UMA CANECA DE CERVEJA Criação e interpretação: Rui Neto e Teresa Sobral Teatro São Luiz, Jardim de Inverno

Texto Tiago Rodrigues com citações de António e Cleópatra de William Shakespeare Encenação Tiago Rodrigues Com Sofia Dias e Vítor Roriz Cenografia Ângela Rocha Figurinos Ângela Rocha Magda Bizarro Desenho de luz Nuno Meira Música excertos da banda sonora do filme Cleopatra (1963) de Alex North Colaboração artística Maria João Serrão Thomas Walgrave Construção do mobile Decor Galamba Produção executiva na criação original Magda Bizarro Rita Mendes Produção TNDM II a partir de uma criação original pela companhia Mundo Perfeito Co-produção Centro Cultural de Belém Centro Cultural Vila Flôr Temps d'Images Residência artística Teatro do Campo Alegre TNSJ alkantara

20 A 23 JUL BY HEART De Tiago Rodrigues Teatro Nacional D. Maria II, Sala Estúdio

ainda no Glorioso Verão 14 A 23 JUL ROMEU E JULIETA Direcção de Rui Horta Interpretação: Artistas da Companhia Nacional de Bailado e os actores Carla Galvão e Pedro Gil; Bruno Pernadas e Ensemble Teatro Nacional D. Maria II, Sala Garrett 16 E 17 JUL RECITAL IF MUSIC BE THE FOOD OF LOVE Direcção de Nuno Vieira de Almeida; Interpretação: Rita Blanco, Susana Gaspar e Nuno Vieira de Almeida Teatro São Luiz, Jardim de Inverno

21 A 24 JUL hOtelo Direcção de Pedro Lacerda Criação e Interpretação: Paula Diogo, Pedro Lacerda e Vitor d’Andrade; Uma leitura a partir de Otelo de William Shakespeare Teatro São Luiz, Sala Mário Viegas 28 A 31 JUL SHAKE, SHAKE, SHAKE, MEU AMOR Encenação de Francisco Salgado; A partir da tradução de Muito barulho por nada de Sofia de Mello Breyner Andresen; Espetáculo final da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa Teatro Nacional D. Maria II, Sala Garrett 3 A 13 AGO CIMBELINO Encenação de António Pires Ruínas do Convento do Carmo

Agradecimentos Ana Mónica, Ângelo Rocha, Carlos Mendonça, Luísa Taveira, Manuela Santos, Toninho Neto, Rui Carvalho Homem, Salvador Santos, Bomba Suicida Apoio Museu de Marinha

bilhete suspenso

Começa por ser uma forma de oferecer a quem não se conhece a oportunidade de assistir a um espectáculo no Teatro São Luiz. O bilhete custa 7 euros sendo o restante valor suportado pelo teatro e fica suspenso na bilheteira para usufruto de pessoas apoiadas pelas entidades às quais estamos associados: Associação Coração Amarelo, Associação Gulliver, Lar Jorbalán, Fundação Luís António de Oliveira ou Casa de Abrigo da APAV. Mais informações: bilheteira@teatrosaoluiz.pt tel: 213 257 650

São luiz teatro municipal Direcção Artística Aida Tavares Direcção Executiva Joaquim René Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direcção Executiva Margarida Pacheco Secretariado de Direcção Olga Santos Direcção de Produção Tiza Gonçalves (Directora), Susana Duarte (Adjunta), Andreia Luís, Margarida Sousa Dias Direcção Técnica Hernâni Saúde (Director), João Nunes

(Adjunto), Iluminação Carlos Tiago, Ricardo Campos, Sara Garrinhas, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Cláudio Ramos, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Responsável de Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Secretariado Técnico Sónia Rosa Direcção de Cena José Calixto, Maria Távora, Marta Pedroso, Ana Cristina Lucas (Assistente) Direcção de Comunicação Ana Pereira (Directora), Elsa Barão, Nuno Santos Design Gráfico silvadesigners Registo e Edição vídeo Tiago Fernandes Bilheteira Cristina Santos, Hugo Henriques, Soraia Amarelinho Frente de Casa Letras e Partituras Coordenação Ana Luísa Andrade, Cristiano Varela, Teresa Magalhães Assistentes de Sala Ana Catarina Bento, Ana Sofia Martins, Catarina Ribeiro, Daniela Magalhães, Domingos Teixeira, Helena Malaquias, Helena Nascimento, Hernâni Baptista, João Cunha, João Pedro, Manuela Andrade, Paulo Daniel Pereira, Raquel Pratas, Sara Fernandes Segurança Securitas LIMPEZA Astrolimpa


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