Folha de sala RUÍNAS

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© joana villaverde

são lu i z teatro m u n i c i pal

6 A 16 JAN TEATRO

Ruínas

De Lynn Nottage

Terça a Sábado às 21h Domingo às 17h30 Sala Principal; M/16 €12 A €15 (com descontos €5 a €10,50) Sessão LGP: 10 JAN Duração (aprox.): 2h

jan e iro 2016


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Sobre este texto

comprámos máscaras artesanais, cestos, jóias e tecidos, bebemos o licor local, fomos a um safari, fizemos rafting descendo o Nilo e caminhámos horas para ver os gorilas. (...) O principal compromisso de Ruined é celebrar e examinar o espectro da vida humana em todas as suas complexidades: o sagrado com o profano, o transcendente com o letal, o egoísmo com a generosidade. Lynn tem o dom de olhar para o interior de momentos de profunda rutura, testemunhando o caos, absorvendo o dano psicológico, e depois sintetizá-los numa narrativa que nos mostra como somos capazes de muito mais. Kate Whoriskey, encenadora da versão de estreia em Nova Iorque

Há alguns anos, Lynn e eu descobrimos que ambas admirávamos Mãe Coragem. O paradoxo cruel desta mulher que lucra com a guerra que lhe levou os seus filhos parecia-nos um terreno teatral fértil. Lynn queria fazer uma versão passada no Congo. Uma guerra violenta devastava a região há anos. Passaram-se meses, até que Lynn me ligou: “Comprei um bilhete para o Uganda. Queres vir?”. No Uganda havia uma base da Amnistia Internacional com congoleses que tinham atravessado a fronteira. Ali, Lynn poderia entrevistar algumas mulheres e conhecer as suas histórias. (…) Tinha-me perguntado muitas vezes porque é que a violação é parte integral de qualquer guerra. Depois de entrevistar estas mulheres, apercebi-me que não era apenas uma ferramenta para as humilhar ou degradar a masculinidade do inimigo. Era uma forma de lhes retirar os seus úteros. O dano físico era tão grave que ficavam sem a capacidade de engravidar. Como muitos dos que perpetram crimes sexuais, os homens que as violaram eram eles próprios vítimas de uma violência indescritível. Rebeldes que queriam recrutar soldados invadiam as casas das famílias e faziam com que os rapazes matassem os seus pais como forma de se salvarem a si próprios. Os rapazes ficavam tão perturbados que acabavam por se juntar ao grupo que os tinha forçado a fazerem esta escolha hedionda. (…) A mistura de pobreza e guerra é uma combinação letal. O corpo humano torna-se a arma, o rapaz adolescente o terror e o útero de uma mulher o “campo de batalha”. À medida que entrevistávamos mais pessoas, tornou-se claro que não queríamos estar confinadas às ideias de Brecht. Mas o que mais nos impressionou durante a viagem foi a determinação dos congoleses em construirem as suas vidas na região, mesmo com todo o caos e destruição. Porque ali é a sua casa. Testemunhámos grande beleza, força e arte naquele povo. Visitámos orfanatos com centenas de crianças, ouvimos música incrível, vimos cómicos de stand-up,

Ruined venceu o Prémio Pulitzer em 2009

Sobre esta encenação Assim que li este texto, percebi que tinha de o encenar. Senti que sempre me tinha pertencido, que tinha a missão de pô-lo em cena, quanto mais não seja porque nasci num tempo e num país em guerra. É uma peça de repertório contemporâneo, que nos dá um olhar cru do nosso mundo e nos confronta com histórias verdadeiras de mulheres refugiadas congolesas. Mas, para mim, era fundamental aproximá-lo de cada uma das pessoas que vêm aqui, hoje, a esta sala do São Luiz. Nessa tentativa de aproximação, cortei algumas referências geográficas do texto original (apesar de manter alguns termos em francês) e transferi a ação para um local indefinido, que pode ser qualquer lugar. Essa opção refletiu-se também na composição da música que, substitui os temas afro-americanos da versão original por sonoridades lusófonas, de uma África mais próxima da realidade portuguesa. Porque a guerra não é um fenómeno distante, não está só nos livros de história ou nos artigos de jornal. A guerra está no nosso prédio, no nosso bairro, ao nosso lado.

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Muito agradeço ao São Luiz pela possibilidade de estrear aqui este espetáculo. A sua colaboração com o Teatro do Bairro, que se iniciou há alguns anos e que tem resultado num diálogo artístico continuado, permitiu finalmente que ele acontecesse. Mas quando li o texto pela primeira vez, há mais de cinco anos, estava longe de imaginar que ele se iria tornar ainda mais relevante e, sobretudo, ainda mais urgente e atual. Como artista, tenho de saber interpretar as oportunidades que a vida me dá. Tenho a responsabilidade de o fazer, por mim e por todos estes maravilhosos artistas que fizeram questão de aqui estar (todos eles também com histórias pessoais de guerra), pela sua comovente entrega a este projeto. Talvez agora, em janeiro de 2016, seja de facto a altura mais certa para este “Ruínas” estar em cena. A guerra está a acontecer agora. E pode acontecer a qualquer um de nós. António Pires, encenador

Em complemento: PERCURSO FOTOGRÁFICO Ruined, de Tony Gerber 7 a 17 Janeiro, nas ruas de Lisboa (Bairro Alto / Chiado)

Os retratos das seis mulheres cujas experiências pessoais deram origem ao texto do espectáculo estarão expostos nas ruas de Lisboa, num percurso fotográfico entre o Teatro do Bairro e o Teatro São Luiz. As imagens foram captadas momentos depois destas mulheres terem partilhado as suas histórias.

Elenco por ordem de entrada em cena Pianista: Filipe Raposo Percussionista: Gueladjo Sané Mama Nadi: Zia Soares Christian: João Araújo Sophie: Selma Uamusse Salima: Elizabeth Pinard Josephine: Cheila Lima Sr. Harari: Rafael Fonseca Jerome Kisembe: Matamba Joaquim Comandante Osembenga: Daniel Martinho Fortune: Giovanni Lourenço Simon: Fernando Nobre Laurent: Timóteo Tiny Soldados Rebeldes: Adriano Diouf, Maxime Nemorin, Timóteo Tiny Soldados do Governo: Adriano Diouf, Fernando Nobre, Maxime Nemorin, Mistah Isaac, Timóteo Tiny Cooperante: Maxime Nemorin

Debate Refugiados de Guerra 7 Janeiro, 18h30, Teatro do Bairro

Com Ana Gomes (eurodeputada), Irene Pimentel (historiadora), Lisa Matos (Serviço Jesuíta aos Refugiados), Tony Gerber (documentarista e fotógrafo de “Ruined”) e Associação Coragem Disponível – Apoio a Refugiados e Imigrantes. Moderação: Daniel Oliveira 20 a 24 Jan Ruínas (versão acústica) Teatro do Bairro

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ru í nas Título Original: Ruined Texto: Lynn Nottage Tradução: Mariana Wallenstein Letras: Kalaf Encenação: António Pires Com: Adriano Diouf, Cheila Lima, Daniel Martinho, Elizabeth Pinard, Fernando Nobre, Filipe Raposo, Giovanni Lourenço, Gueladjo Sané, João Araújo, Matamba Joaquim, Maxime Nemorin, Mistah Isaac, Rafael Fonseca, Selma Uamusse, Timóteo Tiny, Zia Soares e James dos Reis (intérprete substituto) Música original: Filipe Raposo Direcção do coro: Carlos Ançã Desenho de som: Paulo Abelho Desenho de luz: Vasco Letria Cenografia: João Nunes, Inaki Zoilo Figurinos: Luís Mesquita Designer para figurinos africanos: Teresa Samissone Mestra costureira: Rosário Balbi Construção de cenário: Fábio Paulo Assistente de encenação: Diogo Xavier Assistentes de guarda-roupa: Neuza Lopes, Vitória Raminhos Ilustração do cartaz: Joana Villaverde Comunicação: Isabel Marques Direcção de produção: Manecos Vila-Nova Administração de produção: Ana Bordalo Produtor: Alexandre Oliveira Co-produção: Ar de Filmes / Teatro do Bairro e São Luiz Teatro Municipal em colaboração com o Teatro Griot Ar de filmes é uma estrutura financiada pelo Governo de Portugal – Secretário de Estado da Cultura/ DGArtes e pela Câmara Municipal de Lisboa .

em breve

20 a 24 jan TEATRO

Albertine, O Continente Celeste

Quarta a Sábado às 21h; Domingo às 17h30 Sala Principal, M/12 €12 A €15 (com descontos €5 a €10,50) Texto e encenação: Gonçalo Waddington Interpretação: Carla Maciel e Gonçalo Waddington

bilhete suspenso

Convidamos o público do São Luiz a adquirir um bilhete pelo valor de 7 euros, que fica suspenso na nossa bilheteira e que reverte para pessoas apoiadas pelas entidades associadas. O restante valor do bilhete é suportado pelo Teatro. O Bilhete Suspenso é um projecto que se insere na política de responsabilidade social do São Luiz Teatro Municipal. Conheça, junto da bilheteira do Teatro, as entidades associadas. bilheteira@teatrosaoluiz.pt tel: 213 257 650

são luiz teatro municipal Direcção Artística Aida Tavares Direcção Executiva Joaquim René Programação Mais Novos Susana Duarte, Inês Almeida (Estagiária) Adjunta Direcção Executiva Margarida Pacheco Secretariado de Direcção Olga Santos Direcção de Produção Tiza Gonçalves (Directora), Susana Duarte (Adjunta), Andreia Luís, Margarida Sousa Dias Direcção Técnica Hernâni Saúde (Director), João Nunes (Adjunto) Iluminação Carlos Tiago, Ricardo Campos, Ricardo Joaquim, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Cláudio Ramos, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Secretariado Técnico Sónia Rosa Direcção de Cena José Calixto, Maria Távora, Marta Pedroso, Ana Cristina Lucas (Assistente) Direcção de Comunicação Ana Pereira (Directora) Elsa Barão, Nuno Santos Design Gráfico silvadesigners Vídeo Tiago Fernandes Bilheteira Cristina Santos, Hugo Henriques, Soraia Amarelinho Consultoria para a Internacionalização Tiago Bartolomeu Costa Frente de Casa Letras e Partituras Coordenação Ana Luísa Andrade, Teresa Magalhães Assistentes de Sala Ana Sofia Martins, Catarina Ribeiro, Helena Malaquias, Helena Nascimento, Hernâni Baptista, Inês Macedo, João Cunha, Raquel Pratas, Sara Garcia, Sara Fernandes Segurança Securitas Limpeza Astrolimpa


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