GE R T RUDE DE WIN WELLS ENCENAÇÃO FERNANDA LAPA
S T E IN
© Margarida Dias
INTERPRETAÇÃO CUCHA CARVALHEIRO LUCINDA LOUREIRO NUNO VIEIRA DE ALMEIDA (AO PIANO)
ESPAÇO CÉNICO E FIGURINOS ANTÓNIO LAGARTO
E AC
19 A 30 JUNHO 2019
E T N A H N A P M O
A história de amor
inúmeras privações e teve que contar com a ajuda de uns poucos amigos, pois, ainda que em testamento Gertrude lhe tenha deixado parte de sua coleção de arte moderna, o olhar atento dos herdeiros impediu a sua comercialização.
Gertrude Stein (1874-1946) e Alice Babbete Toklas (1877-1967) Gertrude e Alice nasceram e foram educadas nos Estados Unidos, sendo ambas originárias de famílias judias. Em viagem por Paris, Alice conheceu Gertrude em 1907 e ficou fascinada com a sua aparência, a sua voz, o seu porte altivo. Juntou-se à escritora e ao grupo de artistas expatriados com os quais esta mantinha uma estreita relação. Dois anos depois, passaram a viver juntas e Alice assumiu a posição de secretária, amante, administradora da casa e, de certo modo, da vida pessoal e profissional de Gertrude. Cercadas por um círculo invejável de amigos que se tornariam ilustres, desfrutaram constantemente da sua presença, mas foi Alice que cuidou ou conseguiu afastar aqueles que considerava indignos do salão de Stein. Esta, por seu turno, habituada a ser cuidada e a deixar que os outros realizassem por ela as mínimas tarefas, cuidou apenas da sua produção literária, o que não lhe exigia muito esforço, pois o seu ritmo de trabalho era lento – apenas escrevia e Alice datilografava e traduzia se fosse necessário. Além disso, Gertrude considerava-se um génio e afirmava que “quando se é um génio, tem que se ficar sentado, sem fazer nada, realmente sem fazer nada”.
Gertrude Stein Alice B. Toklas por Carl Van Vechten, 1949
Alice desempenhou, pois, um papel central na vida de ambas e, em especial, na carreira literária de Stein, que acompanhava com extremo zelo, mesmo depois da sua morte. A Autobiografia de Alice B. Toklas (1933) é a obra que dá visibilidade a Alice, mas sempre sob a pena de escritora de Gertrude Stein, reproduzindo literariamente, desse modo, o que foi a vida de ambas, aliás, também fielmente traduzida nos livros escritos por Toklas: O Livro de Cozinha de Alice B. Toklas (1954) e What is Remembered (1963). Foram quase 40 anos de uma convivência intensa, em que Alice e Gertrude estiveram sempre juntas. Vítima de cancro, a escritora sucumbiu aos 68 anos. Alice ficou desolada e só, mas continuou a exercer o seu papel de administradora da obra de Stein. A sua velhice foi difícil no meio de alguma pobreza e Alice sofreu 2
Escritora americana de origem judia associada à Literatura Modernista e à Pintura Cubista. Gertrude e o seu irmão Leo estiveram entre os primeiros colecionadores de obras cubistas e de outros pintores desse período – Pablo Picasso (que pintou o retrato de Gertrude e sobre quem esta escreveu o livro Picasso), Henri Matisse, Georges Braque, entre outros. No seu Salão da Rue de Fleurus, em Paris, conviveram escritores que lutaram na Primeira Guerra Mundial e a quem Gertrude Stein chamou “A Geração Perdida” – Ernest Hemingway, Scott Ftzgeralg, Ezra Pound, John Dos Passos, T.S. Eliot, etc. Hemingway, no seu livro Paris é uma Festa, refere a sua relação de amizade com Gertrude e a sua presença frequente em sua casa. Maioritariamente conhecida pela sua linguagem e escrita avant-garde, Stein rejeitou as tradições literárias patriarcais. Produziu romances, poesia, peças de teatro e libretos de ópera, facilmente
Gertrude Stein, por Picasso
reconhecidos pela multiplicidade de significados, ausência de pontuação e repetições. A Autobiografia de Alice B. Toklas é a sua obra mais conhecida e menos característica do seu estilo, tendo-se tornado, após a sua publicação em 1933, rapidamente popular. Na sequência deste sucesso, escreve Everybody’s Autobiografy, em 1937. Na sua dramaturgia, maioritariamente escrita no seu estilo experimental, destacam-se: What Happened (1913), Ladies’ Voices (1916), A Circular Play (1920), Four Saints In Three Acts (1934) com música de Virgil Thomson, assim como The Mother of Us All. Destacamos Doctor Faustus Lights the Lights (1938), que se tornou uma espécie de ritual de passagem para o chamado Teatro Avant-Garde nos Estados Unidos – La MaMa Experimental Theatre Clube, Living Theatre, Bob Wilson, etc. 3
Notas de encenação
Fernanda Lapa
1. O fantástico no palco Mortos e vivos encontram-se, conversam, discutem, revivem e amam no lugar onde tudo é possível – o Palco. Já os Gregos antigos, Shakespeare e, mesmo Gil Vicente, o tinham feito. 2. O estilo A peça Gertrude Stein e Acompanhante, de Win Wells, está próxima do estilo “popular” de Stein no seu Autobiografia de Alice B. Toklas. Encarámo-la como uma 4
a história de Gertrude Stein e Alice Toklas, duas mulheres que partilharam a vida, da juventude à velhice. Consta que Gertrude Stein aprendeu a conduzir o Ford, a que as duas chamavam “Titi”, mas nunca aprendeu a fazer marcha atrás. Nós também não. E esperamos não ter perdido a embalagem! Como diz Gertrude em Gertrude Stein e Acompanhante, “nós continuamos sempre. E ainda somos assim. Sempre. Vamos ser sempre assim”.
© Margarida Dias
© Margarida Dias
“Alta Comédia” para duas Atrizes e um Músico. Escrita para um público americano, não erudito, e desconhecedor das duas personagens – Gertrude Stein e Alice B. Toklas, (Diz Stein na peça, “Na América, eu não era eu, porque muitos só tinham ouvido falar de mim”) – expurgámo-la de todo o excessivo didatismo e centrámo-nos na relação amorosa destas duas mulheres. Com um cenário minimalista, mas significante, no qual a música se inscreve, a direção das atrizes foi prioritária. Em conjunto com elas e com o seu talento e experiência, com base em relatos, registos fonográficos e fotografias, imaginámos estas duas figuras em ação. As duas são protagonistas e o autor, trazendo Toklas para um plano de igualdade, torna a peça numa merecida homenagem a essa mulher discreta e vagamente misteriosa, (“bem capaz de ser fogo e fúria sem nunca mostrar a chama…nem a fúria”) e que Picasso apreciava, Hemingway detestava e Gertrude Stein amava.
Sem marcha atrás
Cucha Carvalheiro
Em 1985, com a ajuda da família e dos amigos, produzi o espetáculo Embalagem Perdida, na sequência do fim do Teatro do Mundo, uma das muitas companhias de teatro que, nos anos oitenta do século passado, não teve condições para continuar. Entre as múltiplas críticas a esse espetáculo, num tempo em que felizmente havia críticos, José Manuel da Nóbrega escreveu, no jornal Sete: “Felizmente há atrizes.” As atrizes eram a Lucinda Loureiro e eu própria. As personagens da peça, duas jovens mulheres que partilhavam a casa e os sonhos. Trinta e cinco anos depois, a Fernanda Lapa resolveu juntar-nos de novo, para contarmos
Embalagem Perdida, 1985
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A única referência à arte do início do séc. XX, que Gertrude Stein colecionou, é a presença central duma assumidamente fotografia/retrato de Gertrude, na pose a que nos fomos habituando a vê-la...
António Lagarto
Ao contrário duma cenografia impositiva com paredes ou outros elementos de grandes dimensões que contivessem o espaço cénico, optei por assumir o espaço negro da Sala Mário Viegas e delimitar o espaço da intimidade de Gertrude Stein e Alice B. Toklas a apenas um grande tapete de pelo, cor nuvem clara, que silenciasse os seus passos, permitindo-nos ouvir as suas vozes e perscrutar as suas inquietudes e paixão..., acompanhadas pelo som dum piano de meia-cauda. Os únicos elementos que, com elas, coabitam este espaço são uma miniatura para criança de cadeirão de orelhas, forrada num tecido de rosas esbatidas (como reminiscência dos Nenúfares, de Monet), lugar por excelência de Gertrude que, assim, “amplifica” a sua dimensão; e uma mesinha “de escrita”, qual mesa de mágico-ilusionista, e respetiva cadeira de braços (Magritteana?). O espaço cénico assim determinado funciona como uma collage de elementos de mobiliário, pré-existentes e transformados, como uma daquelas caixas assemblage tão características de Joseph Cornell.
Carta de Gertrude a Virgil
© Margarida Dias
Legenda para um espaço cénico de Gertrude Stein e Acompanhante
9 julho 1927 Meu querido Virgil Onde estás tu e como estás tu e que aconteceu contigo algo de bom espero eu e tu a gostar muito espero eu também. Quanto a nós não é por culpa da Alice que as cópias da ópera não tenham sido feitas mas eu quis de alguma maneira gozar os nossos rouxinóis com manteiga pacificamente e faremos isso na próxima semana as duas cópias e pronto. Diz ao Bebé Berard M. Christian Berard [o cenógrafo escolhido por Thomson para a ópera, em detrimento de Picasso, sugerido por Gertrude] para ficar de olho em espantalhos, são muito santificadores. Vimos uma camisa branca numa cruz, um corpete apertado em cima e em baixo e um pássaro com uma asa aberta num pau e vamos ver outras enquanto o grão matura, mas ele sabe. De qualquer forma aqui é tranquilo e bonito e tudo nos faz pensar com felicidade na querida e longínqua Paris. Dá notícias tuas e lembra-nos a toda a gente. … Saudades para todos e sobretudo para ti. Tua Gtrde
Os compositores e as obras tocadas ao vivo no piano por Nuno Vieira de Almeida Stravinsky – Tilim-bom Cole Porter – Begin the beguine Eric Satie – Gnossienne nº 1 Francis Poulenc – Novelette III Francis Poulenc – Pablo Picasso Virgil Thomson – The land of dreams
Gertrude Stein conhece Virgil Thomson, através de George Antheil, em 1926. A escritora, que considerava Antheil simpático, mas não “especialmente interessante”, achou Virgil Thomson menos simpático, mas “muito interessante”. Estes dois formidáveis “egos” colaboraram na ópera Quatro santos em três actos, (texto de G. S.) e mantiveram uma relação de amizade, com altos e baixos, é um facto, até ao fim da vida de Stein. 6
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19 a 30 junho teatro estreia
GERTRUDE STEIN E ACOMPANHANTE DE WIN WELLS ENCENAÇÃO DE FERNANDA LAPA
Autoria: Win Wells; Tradução: Fernando Villas-Boas; Encenação, Dramaturgia e Versão cénica: Fernanda Lapa; Espaço cénico e Figurinos: António Lagarto; Interpretação: Cucha Carvalheiro, Lucinda Loureiro e Nuno Vieira de Almeida (ao piano); Assistência de encenação: Marta Lapa; Fotografia: Margarida Dias; Desenho de Luz: Paulo Santos; Mestra de Guardaroupa: Aldina Jesus; Assistente do espaço cénico: Jesús Manuel; Direção de produção: Ruy Malheiro Coprodução: Escola de Mulheres e São Luiz Teatro Municipal 67.ª produção Escola de Mulheres www.escolademulheres.com
Quarta a sábado, 21h; domingo, 17h30 Sala Mário Viegas; m/12 €12 com descontos Duração: 1h30 A Escola de Mulheres é financiada por CONVERSA COM A EQUIPA ARTÍSTICA APÓS O ESPETÁCULO
23 junho, domingo
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
Com o apoio de
Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Ana Rita Osório Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Programação Mais Novos Susana Duarte Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Produção Mafalda Santos (Diretora), Andreia Luís, Catarina Ferreira, Mónica Talina, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde (Diretor), João Nunes (Adjunto), Margarida Sousa Dias (produção), Iluminação Carlos Tiago, Tiago Pedro, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinistas António Palma, Paulo Lopes, Paulo Mira, Vasco Ferreira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Ricardo Fernandes, Rui Lopes Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Direção de Cena Marta Pedroso (Coordenadora), Maria Tavora, Sara Garrinhas, Ana Cristina Lucas (Assistente), Rita Talina (Camareira) Direção de Comunicação Elsa Barão (Diretora), Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Bilheteira Cristina Santos, Diana Bento, Renato Botão.
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