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HANSENÍASE ENTRE NÓS
A HANSENÍASE É UMA DOENÇA INFECTOCONTAGIOSA CAUSADA PELA MYCOBACTERIUM
LEPRAE (BACILO DE HANSEN). APRESENTA
UMA EVOLUÇÃO CRÓNICA, ATINGINDO PREDOMINANTEMENTE A PELE, OS NERVOS PERIFÉRICOS E PODE TAMBÉM ATINGIR
OUTROS ÓRGÃOS E SISTEMAS. É CONSIDERADA POTENCIALMENTE INCAPACITANTE, EMBORA CURÁVEL. O SEU DIAGNÓSTICO AINDA
CAUSA GRANDE IMPACTO PSICOSSOCIAL E COMPROMETIMENTO DA QUALIDADE DE VIDA.
SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), ANGOLA É CONSIDERADA UM PAÍS ENDÉMICO E FAZ PARTE DOS PAÍSES PRIORITÁRIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA GLOBAL PARA A LEPRA 2021-2030.
Em Angola, existe um Programa Nacional de Controlo da Lepra na Direcção Nacional de Saúde Pública/MINSA, que tem como objectivo geral reduzir o fardo da Lepra (Hanseníase). As estratégias de implementação das actividades para o alcance deste objectivo assentam na busca activa no seio das comunidades, para diagnosticar e tratar precocemente todos os novos casos de Hanseníase, através da MDT - Multidrogaterapia, de acordo o protocolo recomendado pela OMS, por um lado, e promover a participação comunitária nas actividades de educação para saúde e no combate à discriminação das pessoas atingidas pela Hanseníase e seus familiares, por outro. Neste último quesito, reforça-se o desuso da terminologia Lepra, por apresentar uma tendência discriminatória segundo a deliberação consensual dos direitos humanos. Para a transmissão da Hanseníase, é necessário um convívio prolongado com o paciente infectado com o Bacilo de Hansen e que não faz tratamento. Tais bacilos são eliminados pelas secreções nasais, da orofaringe e gotículas de saliva dos indivíduos multibacilares, que penetram no organismo do indivíduo sadio pelas vias aéreas superiores. A doença, inicialmente, manifesta-se por meio do aparecimento de lesões na pele, tais como manchas hipocrómicas ou avermelhadas bem delimitadas, que apresentam alteração da sensibilidade (táctil, dolorosa e térmica), pápulas e nódulos infiltrativos. Essas lesões ocorrem em qualquer região do corpo, mas com maior frequência na face, orelhas, nádegas, braços, pernas e no dorso. Podem apresentar nervos periféricos engrossados, doloridos, diminuição da sensibilidade nas áreas inervadas, resultado do dano neural sensitivo. Levam a alterações das glândulas sudoríparas e sebáceas e são responsáveis pelas incapacidades e deformidades características da Hanseníase. O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado nos sinais e sintomas cardinais, no exame da pele durante a avaliação dermatoneurológica dos nervos periféricos e na história epidemiológica. Excepcionalmente, há necessidade de auxílio laboratorial para a confirmação diagnóstica. A Hanseníase é uma enfermidade associada aos adultos, devido ao seu longo período de incubação, em média cinco anos. No entanto, em áreas endémicas, e quando ocorrem casos na família, o risco das crianças adoecerem aumenta. A ocorrência de Hanseníase em crianças menores de 15 anos reflecte a exposição precoce e intensa, com alta carga bacilar. Dessa forma, a ocorrência de Hanseníase em crianças é considerada um indicador da prevalência da doença na população em geral e a sua detecção precoce é importante, uma vez que induz a necessidade de intensificar a vigilância epidemiológica para a busca dos contactos e identificação do foco inicial. A actual situação epidemiológica da Hanseníase em Angola, apresentada pelo Programa Nacional de Controlo da Lepra durante as jornadas científicas do serviço de Dermatologia do Hospital Américo Boavida, revela que, no ano 2022, se registaram 93 novos casos diagnosticados em crianças e cerca de 115 novos casos diagnosticados nos adultos. Apresentavam deformidades de grau 2, o que implica alta exposição do Bacilo de Hansen no seio das comunidades.
O relato de experiência abaixo demostra a necessidade da massificação das acções de busca activa e rastreio de contactos, para o diagnóstico e tratamento precoce, prevenindo deste modo as deformidades e incapacidades e, consequentemente, a discriminação de pacientes com Doença de Hansen e seus familiares. agravamento com deformidades/ incapacidade e, consequentemente, para o estigma, a discriminação e a exclusão social, desestruturando as famílias. Por isso, durante as buscas activas, todos casos diagnosticados são registados e imediatamente iniciam o tratamento na unidade sanitária do local onde vivem, para o fácil acesso e continuidade do tratamento com MDT (Multidrogaterapia disponibilizada pela equipa do Programa de Controlo da Lepra).
Apesar da estratégia do envolvimento das comunidades, as campanhas de busca activa são acompanhadas com a divulgação de informações de educação para a saúde bem direccionadas, para desmitificar os mitos e incentivar a auto-referência precoce e atitudes positivas em relação às pessoas atingidas pela Hanseníase. Outras necessidades constatadas são a formação e capacitação contínua dos técnicos de saúde das unidades sanitárias da rede primária, para a gestão da doença de forma integrada com outras Doenças Tropicais Negligenciadas com manifestações cutâneas, desde o diagnóstico, tratamento e prevenção das incapacidades e melhorar o acesso destas comunidades aos cuidados de saúde, especificamente na área de Hanseníase. Trilhando este caminho, podemos alcançar a meta de reduzir a carga da Hanseníase em Angola, rumo a Zero Hanseníase (Estratégia Global para a Lepra 2021-2030).
No que concerne o nível de literacia em saúde das famílias com pessoas atingidas pela Hanseníase, destaca-se a falta de acompanhamento, a falta de
Embora haja iniciativas institucionais engajadas na interrupção da transmissão e na obtenção de zero casos, desde os tempos remotos, as pessoas vulneráveis sempre foram as mais afectadas pela Hanseníase, por apresentarem um baixo perfil socioeconómico, o que dificulta o acesso precoce às unidades sanitárias, no início da doença, dando espaço para o treinamento para o autocuidado e a falta de oportunidades de abordagem sobre as ocorrências de reacções hansénicas no decurso ou depois do tratamento, as possibilidades de prevenir as deformidades, agravadas com a exclusão social devido à discriminação, mesmo sem evidências das incapacidades. Para contrapor estes eventos, a equipa aconselha evitar o abandono terapêutico e orienta um acompanhamento psicossocial adaptado e integrado durante o tratamento, advertindo os eventos de recaída e o surgimento de outras complicações irreversíveis, tais como a cegueira, o agravamento das incapacidades, a osteomielite, as ulcerações, a progressão das deformidades do grau 1 para o grau 2 e o aumento do sofrimento emocional das pessoas atingidas e dos seus familiares.