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FISIOTERAPIA E A HANSENÍASE NA CRIANÇA
TAMBÉM CONHECIDA COMO LEPRA, A HANSENÍASE É UMA DOENÇA CRÓNICA, INFECCIOSA, CAUSADA PELO MYCOBACTERIUM LEPRA, QUE TEM UMA GRANDE CAPACIDADE DE INFECTAR UM GRANDE NÚMERO DE INDIVÍDUOS (ALTA INFECCIOSIDADE). NAS CRIANÇAS, A FAIXA ETÁRIA MAIS ACOMETIDA VARIA DOS 10 AOS 15 ANOS.
No entanto, poucas crianças adoecem (baixa patogenicidade), o que se deve não só às suas características intrínsecas, mas depende, sobretudo, da sua relação com o hospedeiro e o grau de endemicidade do meio, entre outros aspectos.
O domicílio é apontado como um importante espaço de transmissão da doença, embora ainda existam lacunas de conhecimento quanto aos prováveis factores de risco implicados, especialmente aqueles relacionados ao ambiente social.
A Hanseníase é altamente incapacitante, independentemente da idade, pelo poder imunogénico do M. leprae. Esta incapacidade deve-se às suas manifestações clínicas, tais como:
• Manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou acastanhadas em qualquer parte do corpo, com perda ou alteração de sensibilidade;
• Área de pele seca e com falta de suor;
• Área da pele com queda de pêlos, especialmente nas sobrancelhas;
• Área da pele com perda ou ausência de sensibilidade ao calor, dor e tacto (a pessoa queima-se ou magoa-se sem perceber);
• Sensação de formigueiro (parestesias);
• Dor e sensação de choque;
• Fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas;
• Inchaço das mãos e pés;
• Diminuição da força dos músculos das mãos, pés e face, devido à inflamação dos nervos, que, nesses casos, podem estar engrossados e doloridos;
• Úlceras nas pernas e pés;
• Caroços (nódulos) no corpo, nalguns casos, avermelhados e dolorosos;
• Febre;
• Edemas e dor nas juntas;
• Entupimento, sangramento, ferida e ressecamento do nariz;
• Ressecamento nos olhos.
Os locais do corpo com maior predisposição para o surgimento das manchas são as mãos, os pés, a face, as costas, as nádegas e as pernas. Mas importa saber que, nalguns casos, a Hanseníase pode ocorrer sem manchas.
As bactérias atacam as terminações nervosas e destroem a capacidade do corpo de sentir dor e ferimentos. Sem sentir dor, as pessoas não percebem quando se magoam e as suas lesões são frequentemente graves e podem infectar. As alterações na pele também deixam o paciente susceptível a úlceras, que, se não tratadas, podem causar danos adicionais, feridas e desfigurações visíveis no rosto e nos membros. Se o nervo facial for afectado, isso pode interferir com a capacidade de uma pessoa piscar os olhos, o que eventualmente pode causar cegueira.
O tratamento, além de medicamentoso, sendo adequado conforme a idade, pela grande incapacidade que pode acometer os pacientes, deve ser interdisciplinar, prestado por uma equipa de saúde, onde realçamos a importância da Fisioterapia. Por ser a especialidade de saúde que visa prevenir, diagnosticar e reabilitar qualquer disfunção que acomete o indivíduo, é de suma importância para devolver a funcionalidade e independência física destes pacientes, assim como promover a qualidade de vida dos mesmos.
Dentro da Fisioterapia, o Fisioterapeuta Neurofuncional é o especialista que deve lidar com estes pacientes, pois tem todas as ferramentas técnicas e teóricas para tal.
O acompanhamento pela Fisioterapia deve começar logo que fechado o diagnóstico, tendo ou não limitações instauradas, para que se faça a prevenção do aparecimento das mesmas, se necessário, e continua até terminar o tratamento medicamentoso, para adaptar as sequelas, quando existentes.
O atendimento em Fisioterapia Neurofuncional na criança deve respeitar cada fase do seu desenvolvimento neuromotor, visando não só tratar, mas também potencializar o alcance dos marcos de desenvolvimento, que podem ser afectados pela doença. Por exemplo, a manipulação de objectos, virar, gatinhar, ficar em pé e andar são algumas das habilidades funcionais que podem ser prejudicadas pela alteração de sensibilidade e pela presença de feridas que podem, inclusive, causar a amputação patológica das extremidades. O Fisioterapeuta pode prevenir, reverter e, quando assim não for possível, adaptar essa criança para a execução destas habilidades e devolvê-la ao convívio social e à inclusão. No nosso meio, infelizmente, esta não é uma realidade, pela falta de conhecimento das valências e áreas de actuação da Fisioterapia, pela escassez de Fisioterapeutas especialistas e generalistas e pela escassez de centros de reabilitação. Daí a importância deste tipo de publicação, para informar sobre saúde, as suas vertentes e possibilidades, permitindo, assim, que novos horizontes possam ser trilhados rumo à melhoria da prestação dos serviços de saúde no nosso país e para a nossa população.