Pesquisa e seleção de repertório: Bruno
Santos de Lima, Carlos Arzua, Jonas Lopes e Téo Souto Maior. Gravura da capa:
Renato Prospero. Logotipo: Lucas Nery. facebook.com/sindicatis
Wilson Baptista 100 anos: o samba foi sua glOria ‘
Wilson Baptista (03 de julho de 1913 - 07 de julho de 1968) não foi um sambista comum. De seus primeiros passos no Rio à polêmica com Noel, até a fama sem fronteiras, viveu intensamente, tornou-se um cronista de sua época e compôs mais de 600 sambas. Mas não se engane. A obra do Cabo Wilson não é datada, tanto que muitos dos temas abordados em suas letras permanecem atuais, como “Pedreiro Waldemar”. Intuitivo, Wilson era uma gema bruta. Criava letras e harmonia batendo na caixa de fósforo, resultando em sambas antológicos. Foi protagonista do Café Nice, acompanhou o início das escolas de samba e falou em versos sobre Estácio, Mangueira e Salgueiro. Foi gravado pelos principais cantores da Época de Ouro da Rádio e essa fama o levou a turnês pelo Brasil e pelo mundo. Com o parceiro Erasmo Silva, formou a dupla “Verde e Amarelo” entre 1936 e 1939 e neste entremeio passou por Curitiba, onde se apresentou em cassinos da cidade. Os sambas “Casa Vazia” e “Que malandro você é” da dupla inclusive estão neste repertório. Wilson teve grandes parceiros. Vale destacar Roberto Martins, Haroldo Lobo, Ataulfo Alves e Jorge de Castro. Mas, para sobreviver, vendeu muitos sambas a “comprositores”. Em alguns ficou de fora da parceria. Em outros colocou a mulher e o filho como autores, para garantir algum a eles. No sucesso “Não tenho lágrimas”, regravado inúmeras vezes até hoje, de Paulinho da Viola a Nat King Cole, dizia que foi usurpado por Max Bulhões e Milton de Oliveira. Em suas memórias, o capítulo que escreveu sobre o fato é intitulado “Dois ratos no meu samba”. Pois bem, nesta homenagem ao Cabo Wilson, nós do Samba do Sindicatis selecionamos sambas de todas as vertentes e temáticas abordadas pelo compositor. Vida boêmia, amor, futebol, malandragem, guerra, desigualdades sociais, existencialidade, escolas de samba e o cotidiano do Rio. Claro, muita coisa boa ficou de fora, pois Wilson não dava ponto sem nó e não fazia samba ruim. Morreu pobre e sem pompa. No cair da noite de 8 de julho de 1968, no cemitério do Catumbi, foi velado por Donga, Jota Efegê, Nássara, Roberto Martins e mais alguns poucos amigos. Esperaram o crepúsculo para o sepultamento, pois ninguém tinha amado tanto a noite como Cabo Wilson. Apesar do ostracismo no fim da vida, deixou seu nome na história e com toda certeza fez do samba sua glória. Aqui em Curitiba não poderíamos deixar de fazer nossa singela e justa homenagem a este que foi considerado por Paulinho da Viola e Madame Satã o maior sambista de todos os tempos.
Salve Wilson Baptista! Avante Sindicatis!
‘
INDICE 1. Apaguei o nome dela [p.06] 2. A Voz do Sangue [p.06] 3. Boca de siri [p.06] 4. Cabelo Branco [p.06] 5. Cabo Laurindo [p.07] 6. Canta [p.07] 7. Casa vazia [p.07] 8. Comício em mangueira [p.07] 9. Conversa fiada [p.08] 10. Chico brito [p.08] 11. Datilógrafa [p.08] 12. Deixa de ser convencida [p.08] 13. Terra de cego [p.09] 14. Desacato [p.09] 15. Diagnóstico [p.09] 16. Ela é [p.09] 17. Emília [p.10] 18. E o 56 não veio [p.10] 19. Essa mulher tem qualquer coisa na cabeça [p.10] 20. Eu não sou daqui [p.10] 21. Frankstein [p.11] 22. Ganha-se pouco, mas é divertido [p.11] 23. Garota dos discos [p.11] 24. Gênio mau [p.11] 25. Gosto mais do Salgueiro [p.12] 26. Hildebrando [p.12] 27. História da Lapa [p.12] 28. Inimigo do batente [p.12] 29. Juca do Pandeiro [p.13] 30. Lá vem Mangueira [p.13] 31. Lá vem o Ipanema [p.13] 32. Louca alegria [p.14] 33. Lealdade [p.14] 34. Lenço no pescoço [p.14]
35. Louco [p.14] 36. Mania de falecida [p.15] 37. Mãe solteira [p.15] 38. Meu drama [p.15] 39. Meu assunto é sambar [p.15] 40. Meu mundo é hoje [p.15] 41. Mocinho da Vila [p.16] 42. Mundo de Zinco [p.16] 43. Mulato calado [p.16] 44. Não era assim [p.16] 45. Não sei dar adeus [p.17] 46. Não sou Manuel [p.17] 47. Nega Luzia [p.17] 48. Nelson cavaquinho [p.17] 49. No mundo da lua [p.18] 50. Bonde de São Januário [p.18] 51. Outras mulheres [p.18] 52. O teu riso tem [p.18] 53. Oh! Seu Oscar [p.18] 54. Pedreiro Waldemar [p.19] 55. Perdi meu carinho [p.19] 56. Preconceito [p.19] 57. Que malandro você é [p.19] 58. Rei chicão [p.20] 59. Refletindo bem [p.20] 60. Rosalina [p.20] 61. Sabotagem no morro [p.21] 62. Sambei 24 horas [p.21] 63. Será [p.21] 64. Tá maluca [p.21] 65. Tenho que fugir [p.22] 66. Transplante de coração [p.22] 67. Vagabundo [p.22] 68. Venha manso Edgar [p.22] 69. Vinte e cinco anos [p.22]
01 APAGUEI O NOME DELA (Wilson Baptista, Haroldo Lobo e Jorge de Castro)
03 BOCA DE SIRI (Wilson Baptista, Haroldo Lobo e Jorge de Castro)
Chegou o fim Chegou ô ô pra mim Até o nome dela Da minha cuíca Eu mandei apagar Seu retrato da sala Já mandei retirar Do lugar
Eu saí de sarongue Mas que calor, mas que calor, mas que calor Cantei no Bonde de São Januário, Alá Alá-la-ô, alá-la-ô Até dancei de índio, auê, auê, auê, auê Quem encontrar o meu moreno por aí Faça-me o obsequio, boca de siri Quase que morri de insolação Jogaram pó de mico Mas não fiquei jururu Continuei me exibindo Me desmilinguindo no paço do canguru O trem atrasou quando eu fui pra Meriti Faz boca de siri
Suas cartas queimei Seu retrato também Eu não quero, eu não quero Eu não quero Recordação de ninguém Fiz um samba pra ela Já não vou mais gravar Tinha o nome de Estela Eu mudei pra Guiomar 02 A VOZ DO SANGUE (Valfrido Silva - Wilson Baptista)
04 CABELO BRANCO (Wilson Baptista e Orestes Barbosa)
Confesso que chorei chorei Não foi por amor sofrendo Quebrei o espelho ao ver O primeiro fio de cabelo branco Eu preciso mudar o meu ritmo de vida É o tempo que vem chegando Mas não posso, o samba não quer me Estou sentindo em mim deixar Peço meu amor não me abandone Ficou louco quando escuto um tamborim Pois tenho medo de chegar sozinho assim É a voz do sangue que fala dentro de mim Fio de cabelo branco é o ar Eu não arranco Quando o coração ordena É o tempo deixa assim Não há quem possa evitar Vivi sonhando Ele manda na cabeça Vivi cantando Mas os pés não podem controlar Não quis ouvir conselhos Eu sinto que a idade vem chegando E hoje me olhando nos espelhos Mas tenho que morrer sambando Eu tenho medo de chegar sozinho assim
6
05 CABO LAURINDO (Wilson Baptista e Haroldo Lobo)
07 CASA VAZIA (Wilson Baptista e Erasmo Silva)
Laurindo voltou Coberto de glória, Trazendo garboso no peito A Cruz da Vitória Oi! Salgueiro, Mangueira, Estácio, Matriz estão agindo Para homenagear O bravo cabo Laurindo! As duas divisas que ele ganhou, mereceu Conheço os princípios Que Laurindo sempre defendeu Amigo da verdade, Defensor da igualdade. Dizem que lá no morro Vai haver transformação. Camarada Laurindo, Estamos à sua disposição!
Por eu querer a maldita boemia Meu amor partiu, ai ai meu Deus Minha casa está vazia Sinto falta de seus passos De seus beijos e da sua voz Minha vida esta vazia Criei esse drama entre nós
06 CANTA (Wilson Baptista) Canta, meu bem, canta Quero ouvir o teu cantar Chora, meu bem, chora Quero ver a tua lágrima derramar Sofre porque foste a culpada Apele para a justiça do meu coração Talvez não sejas condenada O teu pranto me faz confusão E por isso eu fiz essa canção Depois de uma grande falsidade Terei que dizer que sinto muita saudade No tribunal do meu coração Vou pedir tua absolvição Nossa vida foi uma quimera Se voltares hás de ser muito sincera
08 COMÍCIO EM MANGUEIRA (Wilson Baptista e Geraldo Augusto) Houve um comício em Mangueira E o cabo Laurindo falou Toda escola de samba aplaudiu, ô Toda escola de samba chorou Eu não sou herói Era comovente a sua voz Heróis, são aqueles Que tombaram por nós Houve missa campal Bandeira à meio pau Toda escola de samba rezou Laurindo então lembrou os nomes Dos batuqueiros que tombaram Mangueira tomou parte na vitória Mangueira, mais uma vez na história
7
09 CONVERSA FIADA (Wilson Baptista)
11 DATILÓGRAFA (Wilson Baptista e Jorge Faraj)
É conversa fiada dizerem que o samba na Vila tem feitiço Eu fui ver para crer e não vi nada disso A Vila é tranqüila porém eu vos digo: cuidado! Antes de irem dormir dêm duas voltas no cadeado Eu fui à Vila ver o arvoredo se mexer e conhecer o berço dos folgados A lua essa noite demorou tanto Assassinaram o samba Veio daí o meu pranto
De manhã, no mesmo bonde Você vem, não sei de onde, Para o escritório cruel Onde a máquina lhe espera E você se desespera Para dar vida ao papel. Datilógrafa querida Eu queria ser borracha Pra seus erros apagar... Datilógrafa querida Eu queria ser patrão Pra você não trabalhar. Datilógrafa querida Você tem na minha vida Emprego de mais valor Venha escrever, eu lhe peço Sem erro e sem retrocesso, A história do nosso amor.
10 CHICO BRITO (Wilson Baptista e Afonso Teixeira) Lá vem o Chico Brito, Descendo o morro nas mãos do Peçanha, É mais um processo! É mais uma façanha! Chico Brito fez do baralho seu melhor esporte, É valente no morro, Dizem que fuma uma erva do norte. Quando menino teve na escola, Era aplicado, tinha religião, Quando jogava bola era escolhido para capitão, Mas, a vida tem os seus revezes, Diz sempre Chico defendendo teses, Se o homem nasceu bom, e bom não se conservou, A culpa é da sociedade que o transformou.
8
12 DEIXA DE SER CONVENCIDA (Wilson Baptista e Noel Rosa) Deixa de ser convencida Todos sabem qual é Teu velho modo de vida És uma perfeita artista, eu sei bem, Também fui do trapézio, Até salto mortal No arame eu já dei. E no picadeiro desta vida Serei o domador, Serás a fera abatida Conheço muito bem acrobacia Por isso não faço fé Em amor, em amor de parceria (Muita medalha eu ganhei!)
13 TERRA DE CEGO (Wilson Baptista)
15 DIAGNÓSTICO (Wilson Baptista e Geraldo Augusto)
Perde a mania de bamba Todos sabem qual é O teu diploma no samba. És o abafa da Vila, eu bem sei, Mas na terra de cego Quem tem um olho é rei. Pra não terminar a discussão Não deves apelar Para um barulho na mão Em versos podes bem desabafar Pois não fica bonito Um bacharel brigar
Eu fui ao doutor, Me consultar Ele me levou ao raio X Boa amiga, eu não quero lhe desgostar Mas você tem uma saudade no peito Só o tempo é que pode lhe curar Eu sinto muito, mas não há remédio Pra combater esse malvado tédio O micróbio da saudade é renitente Custa muito a abandonar O coração da gente A medicina está muito avançada Mas no seu caso não adianta nada É incurável a sua enfermidade Não há remédio pra curar uma saudade
14 DESACATO (Wilson Baptista, Murilo Caldas e P. Vieira) Me desacatou Vou lhe reprovar Guarde na memória Hei de me vingar. Diga porque você me deixa a casa E vai para a orgia Me desobedece (oi neném) Perca esta mania (meu bem). Um desacato assim Ninguém pode aturar Ela abandona a casa E vai pro morro sambar Não quero que ela faça Como fez da outra vez Encheu a cara de cachaça E só voltou no fim do mês. Pancada não dá jeito Por mais que eu lhe bata Pois ela não respeita E sempre me desacata Se ela não mudar o seu procedimento vou deixar um bilhetinho: Adeus, adeus, mau elemento!
16 ELA É (Wilsob Baptista e Claudionor Cruz) Ela é morena e sem coração Ela é autora da minha aflição Ela é a criatura mais desigual que conheço Não me corresponde Diz que não mereço Mas posso até morrer que não lhe esqueço Ela é minha dor eu bem sei É também o amor que sonhei Ela é todo meu coração Faz o que eu não mereço Mas posso até morrer que não lhe esqueço
9
17 EMÍLIA (Wilson Baptista e Haroldo Lobo) Quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar Que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar Só existe uma E sem ela eu não vivo em paz Emília, Emília, Emília Não posso mais Ninguém sabe igual a ela preparar o meu café Não desdazendo das outras, Emília é mulher Papai do Céu é quem sabe A falta que ela me fez Emília, Emília, Emília Não posso mais 18 E O 56 NÃO VEIO (Wilson Baptista e Haroldo Lobo)
19 ESSA MULHER TEM QUALQUER COISA NA CABEÇA (Wilson Baptista e Cristóvão Alencar) Tudo que ela quis eu dei Tudo que ela pediu eu fiz Por sua causa quase me arruinei E ela ainda acha que não é feliz Só peço a Deus que ela desapareça Essa mulher tem qualquer coisa na cabeça Tudo que ela quis eu dei... Eu não vivo satisfeito Depois de tudo que fiz Ela não tem o direito de me fazer infeliz Já perdi a paciência Ela que não me aborreça Essa mulher tem qualquer coisa na cabeça 20 EU NÃO SOU DAQUI (SOU DE NITERÓI) (Wilson Baptista e Ataulfo Alves)
Eu não sou daqui Eu sou de Niterói Sinto muito mas não posso Eu ontem esperei ás 7 em ponto Aceitar o seu amor Ainda dei uma hora de desconto Na terra do Arariboia Os ponteiros do relógio pareciam me dizer É que eu tenho quem me quer “Vai embora meu amigo ela não vai aparecer” Passe bem seja feliz Será que ela não veio porque se zangou? Até quando Deus quiser Ou o bonde Alegria descarrilhou? Juro tenho compromisso Houve qualquer coisa de anormal Seu moço preste atenção Ela sempre foi pra mim tão pontual Do outro lado da baía Fui ao chefe da Light*, perguntei ao inspetor Empenhei meu coração “O que houve com o 56? Esse bonde semVou embora até loguinho pre trouxe o meu amor” Por favor não leve a mal Estou em cima da hora A barca deu o sinal
10
21 FRANKSTEIN DA VILA (Wilson Baptista)
23 GAROTA DOS DISCOS (Wilson Baptista)
Boa impressão nunca se tem Quando se encontra um certo alguém Que até parece um Frankenstein Mas como diz o rifão: por uma cara feia perde-se um bom coração Entre os feios és o primeiro da fila Todos reconhecem lá na Vila Essa indireta é contigo E depois não vá dizer Que eu não sei o que digo Sou teu amigo
Garota que vende meu disco Por traz do balcão Toda prosa Adora Chopin Conhece de cor Noel Rosa A freguesia da loja lhe tem admiração Eu também faço parte Faço parte dessa multidão Garota, garota Diga pra essa madame Essa é a nossa canção Garota, garota Ah, eu queria ser disco Pra viver na sua mão (E no seu coração!)
22 GANHA-SE POUCO, MAS É DIVERTIDO (Wilson Baptista e Ciro de Souza) Ele trabalha de segunda a sábado Com muito gosto sem reclamar Mas no domingo ele tira o macacão, E manda no barracão, põe a família pra sambar Lá no morro ele pinta o sete Com ele ninguém se mete Ali ninguém é fingido Ganha-se pouco, mas é divertido Ele nasceu sambista, Tem a tal veia de artista, Carteira de reservista Está legal com o senhorio... Não pode ouvir pandeiro, não Fica cheio de dengo É torcida do Flamengo Nasceu no Rio de Janeiro
24 GÊNIO MAL (Wilson Baptista e Rubem Soares) Ele tem, ele tem um gênio mau, Quando eu digo, pedra é pedra, Ele diz que pedra é pau. Mas assim o nosso amor vai se acabar, É demais, eu não posso continuar, Ele um dia é capaz de me estranhar, Eu darei um golpe certo, Mandando esse homem andar....
11
25 GOSTO MAIS DO SALGUEIRO (Wilson Baptista e Geraldo Augusto)
27 HISTÓRIA DA LAPA (Wilson Baptista e Jorge de Castro)
Não posso sair do Salgueiro Estamos em fevereiro Você quer me levar pra Copacabana Quer me ver toda bacana Mas já tenho pandeiro Samba primeiro, samba primeiro Gosto muito de você Mas tenho amor ao meu Salgueiro Eu sou lá no morro A porta-estandarte Já ganhei medalha Sambar é uma arte Já me batizaram O samba em pessoa Mas deixo o Salgueiro Assim a toa
Lapa, dos capoeiras, Miguelzinho camisa preta, Meia Noite e Edgar, Lapa, minha Lapa boêmia, A lua só vai pra casa, Depois do sol raiar. Falta uma torre na igreja, Vou lhe contar, meu irmão, Foi na briga de Floriano, Foi um tiro de canhão, E nesse dia a Lapa vadia, Teve sua gloria, Deixou seu nome na história
26 HILDEBRANDO (Wilson Baptista e Haroldo Lobo) Sempre descansando o Hildebrando Isso assim não pode ser Você leva o dia inteiro Perambulando na rua Não quer procurar o que fazer Vai trabalhar! Vai trabalhar! Você precisa trabalhar pra se defender Na casa do Hildebrando A sopa está́ se acabando e as criancinhas coitadas só vivem chorando e ele sempre esperando que o dinheiro em casa jorre diz que a esperança é a última que morre
12
28 INIMIGO DO BATENTE (Wilson Baptista e Germano augusto) Eu já não posso mais! A minha vida não é brincadeira Estou me esmilinguindo igual a sabão na mão da lavadeira Se ele ficasse em casa ouvia a vizinhança toda falando Só por me ver lá no tanque Lesco-lesco, lesco-lesco Me acabando Se lhe arranjo um trabalho Ele vai de manhã, de tarde pede as contas E eu já estou cansada de dar murro em faca de ponta Ele disse pra mim que está esperando ser presidente Tirar patente no sindicato dos inimigos do batente Meu Deus eu já não posso mais A minha vida não é brincadeira Estou me esmilinguindo igual a sabão na mão da lavadeira Se ele ficasse em casa ouvia a vizinhança toda falando Só por me ver lá no tanque
Lesco-lesco, lesco-lesco Me acabando Ele dá muita sorte É um moreno forte, é mesmo um atleta Mas tem um grande defeito Ele diz que é poeta Ele tem muita bossa e compôs um samba e que é de abafar É de amargar Eu não posso mais Em nome da forra, vou desguiar 29 JUCA DO PANDEIRO (Wilson Baptista e Augusto Garcez) Lá no Largo do Estácio Eu conheci o Juca O Juca do pandeiro Dava gosto a gente ver Tocava por prazer Não tocava por dinheiro, não Tinha alma de artista Era um malabarista Com o pandeiro na mão Cherche la femme Sempre a mulher na vida do homem Por ela deixou o pandeiro Por ela quase não o nome na história Esse Juca que eu falo Hoje tem cabelo branco Não tem um centavo no banco Mas tem uma mulher na memória
30 LÁ VEM MANGUEIRA (Wilson Baptista) Lá vem Mangueira Outra vez descendo o morro Com harmonia Lá vem Mangueira Sem Laurindo Na frente da bateria Perguntei Conceição, O que aconteceu? Laurindo foi pro front E esse ano não desceu Mandei perguntar Sem ele aqui Se a escola de samba podia sair Ele respondeu Pode ensaiar Porque o povo precisa sambar 31 LÁ VEM O IPANEMA (Wilson Baptista e Haroldo Lobo) Lá vem o Ipanema, O bonde que nunca viaja vazio Lá vem o Ipanema, Trazendo as mais lindas cabrochas do Rio Quando ele entra triunfal no tabuleiro Meu coração vibra mais forte que um pandeiro É ele quem resolve o meu problema Trazendo Isabel, trazendo Marina, trazendo Iracema
13
32 LOUCA ALEGRIA (Wilson Baptista)
34 LENÇO NO PESCOÇO (Wilson Baptista)
Todo mundo Cantou Numa louca alegria Ô ô. Só eu sei a verdade Eu conheço a viúva Do verdadeiro autor Da melodia Eu conheci Tião Foi um sambista legal Não teve a sorte de ouvir o seu sucesso. Morreu antes do carnaval
Meu chapéu do lado Tamanco arrastando Lenço no pescoço Navalha no bolso Eu passo gingando Provoco e desafio Eu tenho orgulho Em ser tão vadio Sei que eles falam Deste meu proceder Eu vejo quem trabalha Andar no miserê Eu sou vadio Porque tive inclinação Eu me lembro, era criança Tirava samba-canção Comigo não Eu quero ver quem tem razão E eles tocam E você canta E eu não dou
33 LEALDADE (Wilson Baptista e Jorge de Castro) Serei, serei leal contigo Quando eu cansar dos teus beijos, te digo E tu também liberdade terás Pra quando quiseres bater a porta Sem olhar pra trás
Se o teu corpo cansar dos meus braços Se o teu ouvido cansar da minha voz 35 Quando os teus olhos cansarem dos meus olhos LOUCO Não é preciso haver falsidade entre nós. (Wilson Baptista e Henrique de Almeida) Louco, pelas ruas ele andava O coitado chorava Transformou-se até num vagabundo Louco, para ele a vida não valia nada Para ele a mulher amada Era seu mundo Conselhos eu lhe dei Para ele se aquecer Aquele falso amor Ele se convenceu Que ela nunca mereceu Nem reparou Sua grande dor Que louco! 14
36 MANIA DA FALECIDA (Wilson Baptista e Ataulfo Alves)
38 MEU DRAMA (Wilson Baptista e Ataulfo Alves)
Não quero que você beba, Quem bebe não tem juízo, Tome cuidado com a sua vida, Eu não quero ver você Com a mesma mania da falecida, Mulher
Vejam só o que eu fui arranjar Já não sou mais o dono da minha vida Ela é, quem me faz soluçar E sem ela já sei, que não posso ficar Vejam só o que eu fui arranjar Já não sou mais o dono da minha vida
Você tem o direito, meu bem Pode ir brincar, Pode entrar no samba, E ficar até o sol raiar, Eu só não quero, Que perca a linha, Tome cuidado, Com a língua da vizinha...
Sem ela minha vida se resume Martírio sofrimento e nada mais Sem ela vivo louco de ciúme E com ela, eu não vivo em paz.
37 MÃE SOLTEIRA (Wilson Baptista e Jorge de Castro)
Eu sou assim Quem quiser gostar de mim eu sou assim Eu sou assim Quem quiser gostar de mim eu sou assim Meu mundo é hoje Não existe amanhã pra mim Eu sou assim Assim morrerei um dia Não levarei arrependimentos Nem o peso da hipocrisia
Hoje não tem ensaio não Na escola de samba O morro está triste E o pandeiro calado Maria da Penha A porta-bandeira Ateou fogo às vestes Por causa do namorado O seu desespero Foi por causa de um véu Dizem que essas Marias Não tem entrada no céu Parecia uma tocha humana Rolando pela ribanceira A pobre infeliz Teve vergonha de ser mãe solteira
39 MEU MUNDO É HOJE (Wilson Baptista)
Tenho pena daqueles Que se agacham até o chão Enganando a si mesmos Com dinheiro, posição Nunca tomei parte Desse enorme batalhão Pois sei que além de flores Nada mais vai no caixão
15
40 MOCINHO DA VILA (Wilson Baptista) Você que é mocinho da Vila Fala muito em violão, barracão e outros fricotes mais Se não quiser perder Cuide do seu microfone e deixe Quem é malandro em paz Injusto é seu comentário Falar de malandro quem é otário Mas malandro não se faz Eu de lenço no pescoço desacato e também tenho o meu cartaz 41 MEU ASSUNTO É SAMBAR (Wilson Baptista e Lourival Ramos)
43 MULATO CALADO (Wilson Baptista, Marina Baptista e Benjamin Baptista) Vocês estão vendo Aquele mulato calado Com o violão do lado Já matou um, já matou um Numa noite de sexta-feira Defendendo a sua companheira A polícia procura o matador Mas em Mangueira Não existe delator Me dou com ele É o Zé da Conceição O outro atirou primeiro Não houve traição Quando a lua surgiu Terminada a batucada Jazia um corpo no chão Mas ninguém sabe de nada
Lá vem a polícia pro lado de cá Quem não tem documento é melhor se largar Tenho no bolso uma folha corrida Tenho calo na mão de tanto trabalhar 44 É por isso que eu gingo que eu gingo com corpo NÃO ERA ASSIM Ô Dona Justina, meu assunto é sambar (Wilson Baptista e Haroldo Lobo)
42 MUNDO DE ZINCO (Wilson Baptista e Henrique Almeida) Aquele mundo de zinco que é mangueira Desperta com o apito do trem Uma cabrocha, uma esteira Um barracão de madeira Qualquer malandro em mangueira tem Aquele mundo de zinco é mangueira... Mangueira fica pertinho do céu Mangueira vai assistir o meu fim Mas deixo o nome na história O samba foi minha glória E sei que muita cabrocha vai chorar por mim
16
Não era assim que a bateria falava, não era assim As cabrochas não sambavam assim Você vai lá em São Carlos, Mangueira, Salgueiro, Matriz, todo morro enfim Pode perguntar se era assim Não havia bateria, era tudo diferente A cabrocha não sambava esse ritmo tão quente Pergunte ao João da Baiana, que vai responder por mim Se o samba, se o samba era assim...
45 NÃO SEI DAR ADEUS (Wilson Baptista e Ataulfo Alves)
47 NEGA LUZIA (Wilson Baptista e Jorge de Castro)
Eu não sei dar adeus a ninguem Sem meu pranto cair Eu nem sei iludir O meu coração Com sorriso em vão Eu tentei me conter Mas quando ela Disse adeus eu chorei Falo alto até grito eu chorei Como de fato Eu acho até bonito Chorar por seu bem querer Nos versos de um poeta consagrado Eu li muito bem Chorar por seu amor Não envenrgonha ninguém Mas eu chorei Porque muito amei.
Lá vem a nega Luzia No meio da cavalaria Vai correr lista lá na vizinhança Pra pagar mais uma fiança Foi cangebrina demais Lá no xadrez Ninguém vai dormir em paz Vou contar pra vocês O que a nega fez Era de madrugada Todos dormiam O silêncio foi quebrado Por um grito de socorro A nega recebeu um Nero Queria botar fogo no morro
46 NÃO SOU MANUEL (Wilson Baptista e Roberto Martins)
48 NELSON CAVAQUINHO (Wilson Baptista)
O telefone tocou pro Manoel E o Manoel saiu armado E foi pra Niterói Mas na viagem ele refletiu Na consciência nada me dói Não sou Manoel, não sou casado Eu sou Joaquim O que é que eu vou fazer em Niterói?
Quem é esse sambista de cabelos brancos Que nas madrugadas esbanja melodias De violão nos braços Arranjando rimas Que só vai pra casa Quando vier o dia? Boêmios noturnos aplaudem o artista Eu também tomo parte nos salgadinhos É mais uma cerveja É mais um conhaque Na mesa do Nelson Cavaquinho
Mas Joaquim Que é a favor da economia Aproveitou esse boato Fez a barba e deu uma voltinha Pois lá em Niterói É tudo mais barato
Não podia esquecê-lo no meu álbum Com sua simplicidade E seu grande valor Essa figura da noite Que alegrou tantos bares do Rio Aos que carregavam uma dor
17
49 NO MUNDO DA LUA (Wilson Baptista e José Gonçalves) Seu gemido comovido Seus lamentos doloridos, ai Como eu sofro por te ver sofrer A culpa não é minha, nem é tua Vivemos no mundo da lua Sofremos sem querer O pranto nos meus olhos fez morada A tristeza não me deixa, nem por nada Se Deus olhar o meu sofrer Não me deixará morrer Sem ter um dia de prazer 50 O BONDE DE SÃO JANUÁRIO (Wilson Baptista e Ataulfo Alves)
Sempre fui um leviano E a coitada a padeceu De joelhos imploro: Vocês devem me esquecer Sem vocês eu vivo, outras mulheres Mas sem ela não posso viver. 52 O TEU RISO TEM (Wilson Baptista e Roberto Martins) O teu riso tem Tem, tem, tem Tem qualquer coisa Que me domina, meu bem Tua boca é alvorada Nunca vi sorriso assim Sem teu riso não sou nada Dá um sorriso pra mim
Quem trabalha é quem tem razão Eu digo e não tenho medo de errar Há quem diga que o sorriso O Bonde São Januário leva mais um operário É prenúncio de saudade Sou eu que vou trabalhar Mas o teu traz o aviso Da minha felicidade Antigamente eu não tinha juízo Mas hoje eu penso melhor no futuro Meu viver foi transformado Graças a Deus sou feliz, vivo muito bem Desde o dia em que te vi A boemia não dá camisa a ninguém Por teu riso abençoado Passe bem! Que nunca mais esqueci 51 OUTRAS MULHERES (Wilson Baptista e Jorge Castro)
53 OH! SEU OSCAR (Wilson Baptista e Ataulfo Alves)
É por causa de vocês, outras mulheres Que ela já não é a mesma para mim É por causa de vocês, outras mulheres Que eu e ela já chegamos ao fim
Cheguei cansado do trabalho Logo a vizinha me falou: - Oh! seu Oscar Tá fazendo meia hora Que sua mulher foi-se embora E um bilhete deixou O bilhete assim dizia: “Não posso mais Eu quero é viver na orgia” Fiz tudo para ter seu bem-estar
Vocês me fizeram leviano Vocês me ajudaram a fracassar É por causa de vocês, outras mulheres Que ela vai me abandonar Sempre quis a vocês todas 18
Até no cais do porto eu fui parar Martirizando o meu corpo noite e dia Mas tudo em vão Ela é, é da orgia É... parei! 54 PEDREIRO WALDEMAR (Wilson Baptista e Roberto Martins) Você conhece o pedreiro Waldemar? Não conhece? Mas eu vou lhe apresentar De madrugada toma o trem da Circular Faz tanta casa e não tem casa pra morar Leva marmita embrulhada no jornal Se tem almoço, nem sempre tem jantar O Waldemar que é mestre no oficio Constrói um edifício E depois não pode entrar Você conhece o pedreiro Waldemar? Não conhece mas eu vou lhe apresentar De madrugada toma o trem da Circular Faz tanta casa e não tem casa pra morar 55 PERDI MEU CARINHO (Wilson Baptista) Fui obrigado a embrulhar o que era meu Uma camisa de malandro Foi ela quem me deu Eu esperava que ela dissesse: “Não vá coração” Duas lágrimas rolaram dos meus olhos Ao bater o portão do barracão E houve quem me dissesse Não sei se por intriga Que perdi meu carinho Pois ela recebe cartas De um outro malandrinho E quando passo no morro Não olho para não ter a recordação Da maior história Dos amores do meu coração
56 PRECONCEITO (Wilson Baptista e Ataulfo Alves) Eu nasci num clima quente Você diz a toda gente Que eu sou moreno demais Não maltrate o seu pretinho Que lhe faz tanto carinho E no fundo é um bom rapaz Você vem de um palacete Eu nasci num barracão Sapo namorando a lua Numa noite de verão Eu vou fazer serenata Eu vou matar minha dor Meu samba vai, diz a ela Que o coração não tem cor 57 QUE MALANDRO VOCÊ É (Wilson Baptista e Erasmo Silva) Tome o seu chapéu Pode ir embora Vá pra casa da Helena Vai pro braços da Aurora São todas chiques, são todas belas Mas o meu dinheiro Você não pode Gastar com elas Eu pago o alfaiate Cigarro, bebida e pensão Todo dia uma nota aí mesmo No bolso de seu jaquetão Você gastando com elas Que malandro você é! Mas aqui da mamãezinha Nem mais um níquel pro café
19
58 REI CHICÃO (Wilson Baptista)
59 REFLETINDO BEM (Wilson Baptista e J. Cascata)
Malandro subia o morro Querendo arranjar confusão Descia em disparada Na frente das balas do Rei Chicão Cabrocha de vida fácil Pra dar festa no seu barracão Tinha que falar primeiro Falar primeiro com o Rei Chicão Até a lua quando aparecia Jogando o seu clarão Tinha que chegar primeiro No barraco do Rei Chicão O Rei tinha muitos amores Não dava o seu coração Os nomes delas todos gravados Na madeira do seu violão Hoje quem sobe o morro Vê aquele velho caído no chão Não conhece sua história Ele foi o Rei Chicão Foi há mais de trinta anos Ajudou a vencer a revolução As autoridades lhe entregaram o morro Ele então coroou-se Rei Chicão A polícia subia o morro Pra prender um ladrão Tinha que falar primeiro Falar primeiro com o Rei Chicão Bicheiro do mundo de zinco Respeitava a lei do cão O Rei jogava na cobra E recebia no leão Até o doutor deputado Na demagogia da enganação Tinha que falar primeiro Pagar pedágio pro Rei Chicão O Rei tinha muitos amores Não dava o seu coração Os nomes delas todos gravados Na madeira do seu violão
Refletindo o caso bem Eu acho que você tem razão Você manda e não pede no meu coração Eu desisto da orgia E sou capaz até de quebrar o meu violão
20
Por você eu farei tudo Sem mudar de opinião Jogo fora meu baralho Mas quero compensação Pois não vou ser resistente Como foi o Claudionor Que pra sustentar família Foi bancar o estivador 60 ROSALINA (Wilson Baptista e Haroldo Lobo) Sou eu, sou eu que vou batendo surdo De porta-estandarte, é Rosalina quem vai Mas já vou prevenir Se eu não sair Rosalina, também não sai Fizeram veneno de mim, lá na Escola Que eu já não dou mais no couro Que ando batendo surdo, mal Mas Rosalina, que é minha do peito Diz que é falta de respeito Que vai protestar, no jornal!
61 SABOTAGEM NO MORRO (Wilson Baptista e Haroldo Lobo)
63 SERÁ (Wilson Baptista e Ataulfo Alves)
Eu quase que chorei Quando alguém me falou O Salgueiro não sai
Porque será que meu amor vai me deixar? Porque será? Eu não sei porque será! Será que só eu é que tenho amizade Será que só eu é que sinto saudade Não choro pra não ver alguém sorrir de mim E levo ao fim minha opinião Sempre amei sincero e ela não
É sabotagem, não está legal As cabrochas gastaram dinheiro, Meu samba está pronto Pro ensaio geral Eu quase que chorei Quando alguém me falou O Salgueiro não sai Encontrei tamborins e cuícas Em pedaços jogados no chão O estandarte da escola rasgado Na porta do meu barracão Eu saí pelo morro correndo Com o livro de ouro na mão Sete peles de gato resolvem a situação Pra fazer um tamborim? 62 SAMBEI 24 HORAS (Wilson Baptista e Haroldo Lobo) Sambei 24 horas, sambei Sambei tanto que a sandália furou Ele me viu de madrugada pulando na calçada Quando cheguei não quis abrir a porta do chatô Ai, ai, ai amor, não deixa sua pretinha no sereno que ela vai se resfriar Ai pretinho, eu venho de Madureira Tô cansada quero descansar
Todo mundo quer saber mas eu não quero dizer quem me faz soluçar na questão Ela é o meu castigo Por isso guardo comigo Não digo quem é ela, não 64 TÁ MALUCA (Wilson Baptista e Geraldo Augusto) Já observei minha mulher, Tá maluca, tá maluca Já brigou com toda a vizinhança Tem prazer em me ver em sinuca Quando o galo canta E o sol vai me espantar Ela se levanta, lava o rosto e vem brigar Toda vez que eu chego em casa Do portão eu ouço um grito Vem ferir os meus ouvidos E por isso eu vivo aflito Todos os dias o jornaleiro me chama atenção (Noite! Globo!) João ninguém, maria fumaça em primeira edição
21
65 TENHO QUE FUGIR (Wilson Baptista e Germano Augusto) Eu tenho que fugir, De trem ou de vapor, Talvez posso esquecer esse amor. O coração desse malvado É uma arapuca, Vou me embora Enquanto é tempo, Senão acabo maluca. Quando nós vimos A primeira vez, Meu coração fez Tique-taque,tique-taque. Ele se inspirou et recitou Um lindo trecho de Bilac: No Rio nas tardes de verão, Só não se apaixona Quem não tiver coração, Refletir... 66 TRANSPLANTE DE CORAÇÃO (Wilson Baptista) Por favor, doutor Por favor, doutor Transplante o coração do Chicão O que não falta é voluntário Pra fazer a doação Ai, doutor! O senhor não sabe quanto o morro deve a esse bamba Foi ele quem fincou nosso primeiro barraco Foi ele o fundador da Escola de Samba Chicão foi no samba o cobra Andou por Vila Isabel Com o violão no braço Enfrentou até Noel Ai, doutor! Diga quando irá acontecer Porque o sambista quando é grande demais Não deve desaparecer 22
67 VAGABUNDO (Wilson Baptista e Jorge de Castro) Eu vou beber Eu vou jogar Quando você Meu amor Me deixar Vou ficar Sozinho no mundo Vou me tornar um vagabundo Meu lar vai ser um botequim Quando você, amor Cansar de mim 68 VENHA MANSO EDGAR (José Baptista e Marina Baptista) Furaram o tambor do Edgard E a escola sem ele não vai desfilar O pobre coitado chorou Chorou e quer brigar Ê ê ê ê devagar Venha manso Edgard Todo mundo suspeita Que foi a Leonor que furou Com ciúme das cabrochas Que admiram o Edgard Que é can-can no tambor 69 VINTE E CINCO ANOS (Wilson Baptista e Christóvão de Alencar) Eu tenho vinte e cinco anos de idade Agora é que eu devia gozar a mocidade Mas você me trouxe tantos desenganos Que eu pareço ter cinquenta anos. É verdade! Quando alguém pergunta a minha idade Tenho até vergonha de dizer Pois ninguém acredita que a saudade. Foi quem fez tão depressa envelhecer
23