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Voz

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sILVIa rodrIgues

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MaRI VIeIRa Instagram: @amarivieira Facebook: Mari Vieira

UM tetO PaRa eNCONtRaR SUa VOZ

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As mortes por Covid-19 atingiram um índice alarmante no Brasil. Ficar em casa mais que recomendação é necessidade para evitarmos a piora do cenário. No entanto, o que seria proteção tem se revelado um sofrimento terrível para muitas mulheres no mundo todo. No Brasil, as denúncias ao 180 subiram cerca de 40%, somados aos números de feminicídios temos uma pandemia dentro da pandemia cujas vítimas são mulheres.

As notícias me rememoram Virginia Woolf que afirma “uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu, um espaço próprio, se quiser escrever ficção”. A mulher tem essas necessidades para exercer qualquer trabalho, para realizar qualquer conquista, além de sobreviver as demandas do mundo pandêmico. Sob o julgo de companheiros violentos a segurança das mulheres está ainda mais ameaçada durante o confinamento, além de enfrentarem o empobrecimento com a perda de empregos.

O início da vacinação sinaliza para um novo normal, mas, e para as mulheres quando será possível uma vida sem violência? No livro, Quarto de despejo - diário de uma favelada, Carolina Maria de Jesus fala de sua rotina e relata as agressões à algumas vizinhas: “O senhor Alexandre começou a bater na esposa. (...) Ele dava ponta-pé nos filhos. Quando ele ia enforcar a Dona Nena, a Dona Rosa pediu socorro”. Quantas Donas Nenas, neste Brasil de 2021, estão convivendo diariamente com a violência?

Continua na próxima eDição.

aLfabetIZaçãO & gIbIS

Crônica de Thais Matarazzo

Meu primo Márcio Matarazzo é três anos mais velho do que eu. Na infância, nossas famílias eram vizinhas.

Ele possuía, na estante da sala de estar da sua casa, uma considerável coleção de gibis: era o meu fascínio!

Como era menor, pedia para ele ler as histórias pra mim. Márcio lia com gosto, até que um dia perdeu a paciência e resolveu que iria me alfabetizar! — Você precisa aprender a ler sozinha! — resolveu o garotinho, no alto dos seus 8 anos.

Pegou uma cartilha usada, me apresentou o alfabeto e a juntar as sílabas. Mostrei-me boa aluna, memorizei rapidamente. Tinha 5 anos

e estava empolgada com a descoberta da leitura. Não demorei e passei a treinar a leitura nos gibis da Turma da Mônica e do Tio Patinhos, os meus preferidos.

Na minha casa, tínhamos alguns livros infantis, também passei a lê -los. Não queria ajuda, só quando tropeçava em algum novo vocábulo. Aliás, passei a ler tudo o que achava: revista, jornal, propagandas, outdoors.

Quando passava em frente a uma banca de jornal, pedia gibis, minha mãe achava que ler revista em quadrinhos não era bom e não comprava. Ai de mim! O negócio era recorrer ao primo. Ele ficava furioso, não queria me emprestar, então eu pegava escondido e depois devolvia. Mas se ele dava falta... começava a briga. Um dia, falou muito sério para minha mãe: — Ô tia Ia — assim os sobrinhos a chamam — vê se compra gibis pra sua filha lá na banca. Ela vem aqui e pega os meus. Deixa de ser “mão de vaca”! — aquela “bronca” surtiu efeito.

Mamãe passou a comprar semanalmente quadrinhos variados. Foi uma festa!

Eu gostava muito das edições do Chico Bento e do Cebolinha. Tinha um homem que morava aqui no bairro que parecia o personagem Louco, o cabelo era igualzinho! Quando calhava de ver o homem, não aguentava e falava. “– Olha lá o Louco!”.

Uma vez, ganhei de algum parente uma moedinha com a estampa do tio Patinhas. Era a pataca número 1, do Banco de Patópolis – moeda valiosa e de estimação do rico e avarento pato, pois foi a primeira que ele ganhou na vida aos 10 anos, quando vivia na Escócia, sua terra natal. Ela ficava deitada em uma almofada e coberta por uma cúpula de vidro. Mesmo tendo somente um valor sentimental, vários personagens queriam pegá-la, pois a consideravam um talismã, Pato Donald, Huguinho, Zezinho, Luisinho, Gastão e a Maga Patalójika. Entre muitas histórias e gibis, guardo essa moedinha até hoje.

Eu amava passar em frente das bancas de jornal! Minha mãe sempre repetia “prefira os livros!”.

Bah, que nada. A leitura das histórias em quadrinhos em nada prejudicou minha alfabetização, pelo contrário, despertava a curiosidade e o desejo de aprender mais. Soltou minha imaginação! Depois da leitura, eu recortava as tirinhas, os personagens, os cenários, e colava-os em um caderno ou folha de sulfite, inventando novos enredos, à minha maneira. Acredito que já ensaiava para ser escritora no futuro!

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