Passeando em Sampa com o guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho.

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Passeando em Sampa com o guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho


Passeando em Sampa com o guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho

2018


Desejo deixar aqui registrado os meus sinceros agradecimentos a todos que escreveram a meu respeito. Vocês me deram um grande presente: reconhecimento ao meu trabalho, lembranças de momentos agradáveis, revelações de situações que encantaram as pessoas e que para mim tinham sido apenas cumprimento de minhas obrigações, emoções que às vezes fizeram as lágrimas surgirem. Obrigado, porque vocês me doaram o que de mais precioso existe, que é o TEMPO! Tempo para pensar, para escrever, para enviar os e-mails para a Thais fazer este e-book. Obrigado por abrirem o coração e falarem do seu sentimento para comigo. Obrigado a todos vocês que lerão este livro. Obrigado Thais por me proporcionar essa homenagem em vida, coisa rara, normalmente quando aparecem, é só depois que o homenageado já não está mais aqui e não pode ler o que foi dito dele. Com um sincero e cordial abraço a todos OBRIGADO! Laercio Cardoso de Caravalho


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Acervo fotográfico: todas as fotografias contidas nesta publicação pertencem ao acervo dos autores da antologia. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Passeando em Sampa com o guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho – São Paulo: Editora Matarazzo, 2018. 76 p. Il. ISBN 978-85-69167-87-0 I. Turismo (São Paulo, SP). II. História (São Paulo, SP), III. Literatura brasileira - Antologia. II. Título CDD 918.161 www.editoramatarazzo.com www.editoramatarazzo.blogspot.com livros@editoramatarazzo.com Fones: (11) 3991-9506 Curta nossa fan page no Facebook: Editora MatarazzoSP Visite nossa loja virtual: www.editoramatarazzo.com


ÍNDICE APRESENTAÇÃO..........................................6 CAMINHADA NOTURNA.............................9 SÃO PAULO POR UM GUIA DE TURISMO...12 ANA REGINA BASTIANELLI........................21 MIQUELI ANDRIGO................................... 26 PRISCILLA DANTAS................................... 27 SHIRLEY SUELY DE CAMARGO DAMY....... 29 ROSANA SALVADOR.................................30 Ana Camargo......................................... 31 Guias

do

Projeto

Caminhos

do

Triângulo............................................... 34 THAIS MATARAZZO................................... 39 SÉRGIO PAZ............................................... 42 COM A PALAVRA... LAERCIO!.................46 ICONOGRAFIA...........................................51


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APRESENTAÇÃO

A pedido dos escritores que participam das nossas antologias, entramos em contato com o guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho, nosso amigo, para a realização de tours temáticos pelos bairros paulistanos. Os autores queriam realizar um passeio a pé, para se inspirarem e tirarem fotografias, de redutos tradicionais da cidade. O Laercio aceitou o desafio. Uma vez acertada a parceria, o primeiro tour aconteceu em março de 2017, no bairro do Belenzinho. Não foi difícil para o Laercio arquitetar o roteiro: ele é morador do bairro! O ponto de concentração foi junto às catracas da estação Belém do Metrô, linha vermelha. Aos poucos foram chegando os participantes, alguns autores convidados nossos e muitos amigos do Laercio, que se interessaram pelo tema. A parceria teve êxito e novos tours aconteceram, todos especiais e inesquecíveis: Brás, Mooca, Penha, Vila Buarque, Santa Cecília, República, Minhocão, Avenida São João etc. “É muito bom poder contar com o trabalho profissional e impecável do Laercio como guia de turismo”, é o que todos os seus amigos “turistadores” afirmam. Profundo conhecedor da história da nossa amada São Paulo, Laercio sabe mostrar aos turistas e amigos detalhes especiais


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e revela memórias adormecidas que passam despercebidas pela maior parte dos olhares. Ele é o guia oficial da Caminhada Noturna, que ocorre todas as quintas-feiras, às 20 horas, faça chuva, frio, calor, feriado, seja o que for, ela sempre acontece! A concentração dá-se na escadaria do Theatro Municipal. O idealizador e animador da Caminhada é Carlos Beutel, militante pela recuperação do Centro, e proprietário do restaurante vegetariano APFEL. Indagamos ao Laercio se ele tinha ideia de quantos tours por São Paulo já havia realizado, ele respondeu que não tem noção, pois não faz contas... Mas que são centenas, talvez milhares... E acreditamos que sejam mesmo!!! Realizamos um tremendo esforço para recolher depoimentos em tributo ao trabalho do Laercio para esta obra, mas muitas pessoas ficaram tímidas em escrever por não terem o hábito de o fazer, solicitaram que nós enviássemos abraços e cumprimentos ao Laercio e que ele sempre fará parte de suas vidas e histórias. Laercio, aceite esta nossa singela homenagem por seu trabalho cultural e educador, que nos faz amar, respeitar e nos encantarmos com São Paulo. Por fim, agradecemos a artista plástica Camila Giudice pela ilustração da capa, representando o Laercio a apresentar aos turistas aspectos do Theatro Municipal Cordialmente. Editora Matarazzo


Laercio na “Caminhada Noturna”. Foto: Mike Peel


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C A M I N H A D A NOTURNA

As ruas da região central da cidade de São Paulo ficam mais animadas às quintas-feiras, a partir das 20 horas. De 50 a 100 pessoas participam todas as semanas do projeto Caminhada Noturna, que promove um percurso cultural e gratuito, de duas horas, pelas imediações do Theatro Municipal - seu ponto de início e fim. A Caminhada Noturna é um presente aos paulistanos e a todos os turistas interessados nos aspectos históricos e arquitetônicos da cidade, que tem uma das melhores infraestruturas da América Latina. O centro é berço da cidade, que tem 555 anos de história: foi pela região que os jesuítas “de gatinhas”, subiram a escarpada serra do mar e escolheram este planalto, atingindo a área depois chamada Pateo do Colegio - marco inicial do nascimento da cidade. A Caminhada, que já ultrapassou a marca de 500 edições, conta sempre com a participação de especialistas e personalidades de segmentos como Arquitetura, Artes Plásticas, Administração Pública, História e Urbanismo. É uma oportunidade para todos aqueles que desconhecem o centro de São Paulo e neste passeio, o simples ato de caminhar, observar e contar histórias, fazem com que percebamos o signifi-


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cado e a grandiosidade desta metrópole. Histórico Em setembro de 2005 surge a ideia da Caminhada. Carlos Beutel, militante pela recuperação do centro, planejou e idealizou uma caminhada, que a princípio seria realizada durante o dia e por razões inexplicáveis, não aconteceu. Nesta época, um grupo de pessoas da comunidade da Rua Barão de Itapetininga e entorno, se reuniam - e ainda se reúnem - semanalmente, para debater sobre as problemáticas da localidade, as possíveis soluções, viabilidades e encaminhamentos político-administrativos. Numa destas reuniões, Beutel comentou sua ideia de criar uma caminhada pelo centro. Duas senhoras presentes Carmen Gimenez, moradora da região e Nadir Khouri antiga proprietária do restaurante Arroz de Ouro e esposa do famoso cineasta Walter Hugo Khouri, perguntaram-lhe por que não fazia um passeio noturno pelo centro, como já se fazia em Barcelona? A resposta de Carlos foi imediata: “Vocês me ajudam e também acompanham?”. Assim, em setembro de 2005, com a ajuda de Ângela Carroceli - grande liderança e moradora da região da Bela Vista -, e com a presença da comunidade local, foi realizada a primeira edição da Caminhada Noturna. A partir de 2006, pensando na sua continuidade, foram contratados guias de turismo credenciados, ajudando a garantir e promover ainda mais o evento, que hoje é um dos


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Ă­cones paulistanos. Contato: contato@caminhadanoturna.com.br Fonte: https://www.caminhadanoturna.com.br

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SÃO PAULO POR UM GUIA DE TURISMO

Thais Matarazzo

Laercio Cardoso de Carvalho é paulistano e guia de turismo, especializado em São Paulo. Tem realizado interessantes tours pela nossa cidade. Um trabalho cultural de alta qualidade. Em 2017 fechou algumas parcerias com a editora Matarazzo, realizando passeios pelos bairros paulistanos (inspirados nas nossas coletâneas) e organizando lançamentos de livros junto com os tours. Foi incrível! Uma modalidade diferente para a apresentação das obras. Para sabermos mais sobre a interessante carreira e os seus passeios de Laercio, realizados uma entrevista com ele para esta antologia, que também é uma viagem por São Paulo “de todos os tempos”. Como você se tornou guia de turismo? Comecei a trabalhar como guia de turismo exatamente no Dia do Trabalho em 1980. Uma agência de turismo de São Paulo le-


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vou um grupo para passar o final de semana prolongado em São Bento do Sapucaí, SP. Naquela época, creio que nenhum guia de turismo conhecia o local. Havia um senhor que divulgava o hotel para as agências de turismo de São Paulo e informou que eu poderia mostrar a cidade, contar suas histórias, e levar o grupo para Campos do Jordão. Não havia sido mencionado que eu iria receber por esse trabalho, eu iria fazer o tour por amizade com o dono do hotel, mas esse senhor disse: “Você fez o trabalho de um guia local, deve receber por isso, vou ver quanto pagam lá em Brasília”. Ele verificou e cobrou da agência que operou a excursão. Foi meu primeiro trabalho remunerado, depois, quando ele oferecia o hotel já agregava o meu trabalho. Aguardava o grupo lá ou já saia com o grupo daqui de São Paulo. Naquela época não havia credenciamento de guia de turismo, isso só aconteceu em 1983 quando a Embratur credenciou todos os que comprovaram que atuavam como guia há pelo menos dois anos. Nessa época, eu estava trabalhando para a agência Hobbytour há mais de dois anos, fazendo roteiros para o sul do Brasil e Vale do Itajaí. Não sei se havia cursos para se tornar guia de turismo... Fui aprendendo na prática. Depois um curso específico passou a ser obrigatório. Eu conhecia bem São Bento do Sapucaí. Não nasci lá, mas passei a residir na cidade em 1972. Como toda pessoa de fora, percebi os valores locais, artesanato, folclore, artistas,


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pessoas ilustres que nasceram lá. Em 1976, nas comemorações do aniversário da cidade, montei uma programação que mostrasse o valor do homem sambentista: exposição de artesanato (não se falava nisso ainda e não havia apoio governamental), mostra de folclore, shows com talentos da locais e outras atividades. Descobri muitos escritores nascidos na cidade ou que lá moraram e escreveram histórias que se passaram em São Bento etc. Com essa mostra passei a ser conhecido porque sabia muitas coisas sobre a cidade, mais do que os próprios habitantes, mesmo porque muitos talentos eram pessoas simples da zona rural. Algumas professoras da cidade que haviam feito apenas o Curso Normal, posteriormente, precisaram fazer o curso de Pedagogia em Itajubá, MG. Na faculdade receberam um trabalho escolar onde deveriam apresentar a cidade para as colegas de turma, pois, elas eram de diversas cidades de Minas Gerais. Fui convidado, juntamente com o escultor Ditinho Joana e o professor Prianti, para falarmos de São Bento do Sapucaí. Enquanto falávamos sobre as atrações culturais da cidade percebemos uma movimentação. As alunas e a professora resolveram montar uma excursão de um dia para conhecer tudo aquilo que estávamos contando. Marcaram o dia e foram. E eu circulando pela cidade, mostrava o que havia comentado, ou seja, fazia o trabalho de um guia de turismo. Não teve remuneração, nem imaginei que


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iria dar continuidade a isso. Dois anos depois é que realizei o primeiro trabalho como guia de turismo, aquele que mencionei no início desta resposta. O diretor de uma das agências que realizou a excursão para São Bento, me convidou para acompanhar um grupo para o Vale do Itajaí. Como havia morado em Blumenau e conhecia Florianópolis, aceitei. Depois vieram outras excursões. De 1981 a 2003 acompanhei diversos grupos em excursões rodoviárias pelo Brasil. Roteiros mais realizados: sul do Brasil em dez dias, Vale do Itajaí em cinco dias; Cidades Históricas, Foz do Iguaçu, vários municípios do interior de São Paulo. O trajeto mais longo foi para Porto Seguro, 24 horas de viagem! Foram tempos heroicos para os guias de turismo. Não havia muitos guias locais e onde existiam as agências não os contratavam, então, éramos nós que tínhamos que saber tudo sobre os inúmeros locais por onde passávamos. E note bem, não havia internet, Google. Minha pesquisa era na enciclopédia Barsa, em folhetos sobre as cidades, revistas como 4 Rodas e os Guias Brasil, matérias nos suplementos de turismo. Havia muito trabalho e poucos guias. O Turismo Rodoviário estava em alta. Grandes agências, que hoje só trabalham com roteiros internacionais, tinham seus pacotes rodoviários. Num feriadão uma agência conseguia sair com mais de 100, sim, 100 ônibus!


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Os ônibus não apresentavam o conforto que tem hoje. Inicialmente só possuía um toca fita que ficava no painel do motorista. O guia tinha que ser um animador, pois, havia longos trechos, por exemplo, o roteiro sul do Brasil: a saída era às oito horas e a chegada às 20 horas em Lages, só com algumas paradas para lanche. Eu apresentava informações sobre os locais onde passávamos, organizava brincadeiras, entre elas, o famoso “Amigo secreto” a ser revelado no último dia da viagem, juntamente com a troca dos presentes, mas incrementado todos os dias com os bilhetes lidos no microfone lá na frente de todos (às vezes, para dar início e desinibir a turma, o guia mesmo escrevia alguns bilhetes e quanto mais picantes mais interessantes). Além de Guia de Turismo, ministrei aulas em cursos de guia na Grafiti, no Senac. Também faço palestras em espaços para a Terceira Idade e no Salão São Paulo de Turismo. Até 2004, quando dos festejos dos 450 anos de São Paulo, não havia trabalho como guia de turismo aqui em São Paulo. Não existia mais do que duas ou três agências que faziam o receptivo, mesmo assim, era muito simples: Av. Paulista e oferecia-se pacotes para Litoral Norte e Campos do Jordão. Os festejos dos 450 anos não teve a grandeza dos festejos dos 400 anos, mas foi muito importante, pois, despertou nos paulistanos o desejo de conhecer a cidade. Livros antigos foram reimpressos, os estabelecimentos comerciais começaram a colocar fotos antigas de São Paulo, matérias surgiram em revistas como


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a Vejinha e a Revista da Folha, que de matérias gerais passaram a se especializar em São Paulo. Desde então passei a trabalhar como guia de turismo aqui em São Paulo. Quantos países você já visitou como guia de turismo? Como guia de turismo nunca saí do Brasil, a não ser nas cidades Del Este e Puerto Iguazu quando fazia o roteiro de Foz do Iguaçu. Você deve ter muitas histórias pitorescas desses passeios. Tem alguns que pode nos relatar? Fatos pitorescos? Foram tantos que é até difícil lembrar, vou escolher um dos últimos. No passeio com a editora Matarazzo, pela Vila Buarque, de repente uma senhora se aproximou do grupo e perguntou do que se tratava, de repente, soubemos que ela tinha sido empregada da Cacilda Becker quando ela morou na Rua Major Sertório. Contou algumas histórias de artistas que frequentavam a Vila Buarque. Foi uma agradável surpresa. Tem ideia do número de ‘tours’ que realizou em São Paulo? Não tenho ideia do número de tours que fiz por São Paulo. Sei que foram muuuuuuitos, só na Caminhada Noturna foram mais de 500 ao longo de 13 anos.


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Desses ‘tours’ por São Paulo quais você mais gostou de fazer? Tem os que foram propostos pelas agências. Tours temáticos que criei, como o de Portas, Pisos e Vitrais, Monumentos, Roteiro Ramos de Azevedo; tours do site Arqbacana, os Arquetours, acompanhei quase todos eles, alguns como guia de turismo acompanhando arquitetos que explicavam os prédios, outros apresentando o tour Vilas Operárias. Os tours da Câmara Municipal quando da presidência do vereador Police Neto, nos últimos domingos do mês, não só pelo centro, mas por outros locais como São Miguel Paulista, Guarapiranga. Os tours em parceria com a Thais Matarazzo, tendo como tema os livros editados pela editora Matarazzo. Tours no Belenzinho, Mooca, Brás, Tatuapé, Vila Buarque e as Boates, Avenida São João. Gostei de todos os tours que realizei, mas foram dois os mais marcantes: o primeiro, 2005, quando a revista Vejinha pediu para alguns guias de turismo que apresentassem um roteiro que idealizaram, mesmo que não estivesse sendo operado. Sugeri o roteiro São Paulo de Todas as Crenças. Num belo e envolvente texto a redatora descreveu o roteiro, inseriu fotos e colocou o telefone do guia, o valor do trabalho, a duração do tour. No sábado quando a revista chegou aos assinantes, alguns já ligaram querendo fazer o passeio. Depois foram escolas católicas ou leigas, de São Paulo, Santos, São José dos Campos,


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que até hoje fazem esse passeio, tendo colocado na programação da escola. Doze anos em cartaz, isso prova que foi uma boa ideia, por isso, gosto muito desse. O outro passeio que apreciei muito foi o do Belenzinho, com a editora Matarazzo, gostei por razões sentimentais, aconteceu no dia 11 de Março 2017, o primeiro deles. Era o dia do meu aniversário e foi no bairro do Belém, onde cresci. Nunca havia guiado um passeio pelo meu bairro, mostrando locais ligados à minha infância e adolescência. Nos conte como surgiu a ideia de fazer o seu livro “Quando começou em São Paulo? 458 informações pelo guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho”? Sempre me diziam que eu deveria escrever um livro sobre São Paulo. Comecei a selecionar material. Vi que grande parte das informações que havia pesquisado se referiam a pioneirismos em São Paulo. Comecei então a pesquisar quando uma série de atividades tiveram início em São Paulo. Percebi em quantos temas São Paulo deteve o pioneirismo nacional, ou sul-americano, procurei destacar isso no livro, bem como o início da participação feminina nas atividades mencionadas. Separei as informações por categorias, por exemplo, aviação, bancos, saúde, transporte, esporte etc. Essas categorias e as informações foram organizadas por ordem alfabética e numeradas, fixei em 458, pois quando lancei o livro São Paulo estava fazendo 458 anos.


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Conte-nos um pouco sobre a “Caminhada Noturna”... A partir de 2005 fui convidado para participar como guia da Caminhada Noturna que acontece, desde então, todas às quintas-feiras. De início, dividia o trabalho como minha colega Vera Lúcia Dias, que havia me apresentado ao Carlos Beutel (na foto ao lado, com Laercio), proprietário do restaurante vegetariano Apfel e patrocinador da Caminhada. Ela fazia numa quinta-feira e eu na outra quinta. Depois ela passou a ter outras atividades e eu passei a fazer a Caminhada Noturna todas às quintas-feiras. Experiência muito gratificante, pois nela tivemos participações importantes como a do jornalista e escritor Laurentino Gomes, o professor Lefevre, o arquiteto e na época diretor do DPH Walter Pires, o jornalista e autor de diversos livros Moacir Assunção e vários outros. Também a Caminhada Noturna foi alvo de várias reportagens ao longo desses anos: TV Globo, TV Aparecida, TV Gazeta, Diário do Comércio, e vários outros, o que fez com que eu me tornasse bastante conhecido. Além disso, foram inúmeras as pessoas de São Paulo e de diversos locais do Brasil que passaram pela Caminhada Noturna, muitas se tornaram grandes amigas minha. E quais são os seus contatos?


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ANA REGINA BASTIANELLI

Impossível falar sobre São Paulo sem lembrar do Laercio, pelo menos para nós, apaixonados que somos por nossa cidade, participantes assíduos ou esporádicos das Caminhadas Noturnas pelo Centro de SP.

E a vida me levou até ele através de uma simples e despretensiosa atividade: em meados de 2016, eu tinha ido até a Biblioteca Mário de Andrade, para tentar resgatar de um tal Almanak, informações sobre meu avô, pintor-decorador italiano que aqui se estabeleceu a partir de 1914 e que, como tantos outros imigrantes, colaborou com sua arte nas obras de Ramos de Azevedo. Nessa busca, acabei conhecendo a Norma Haru, responsável pelos livros sobre SP, que, observando meu interesse pela enorme pilha de livros que ela havia me disponibilizado além do Almanak, me falou sobre a Caminhada Noturna. Não conheci meu avô, mas ele me deu indiretamente um ótimo presente, pois a indicação que ela me forneceu sobre esses passeios, acabou me abrindo uma grande porta, através da qual eu seria conduzida a uma infinidade de novas e interessantes informações sobre nossa cidade, além de fazer novas amizades. Na primeira vez em que participei desse passeio, fui movida por uma grande curiosidade e ao mesmo tempo por um receio enorme,


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porque achava que seria perigoso percorrer a região central, principalmente à noite. Mas foi tudo muito tranquilo. Várias dezenas de pessoas e muitos fotógrafos, já fazendo registros de SP nos seus melhores ângulos noturnos, aguardavam o início daquela Caminhada. Cruzamos a Avenida São João e é desse momento que me vem à memória a imagem de uma pessoa carismática, catalisando a atenção de todos, que se expressava muito bem, com leveza, muito seguro e totalmente à vontade para falar sobre um assunto que dominava e ainda muito bem humorado. Com microfone em punho, se fazia ouvir através de um pequeno autofalante, e próximo à Igreja amarelinha do Largo do Paissandu, a de Nª. Srª. do Rosário dos Homens Pretos. Pensei... “Eu poderia ficar durante horas ouvindo seus relatos sem me cansar”. Uns meses antes, eu já havia lido os dois livros do Roberto Pompeu de Toledo, Capital da Solidão e da Vertigem, que foram divisores de águas e que me fizeram “descobrir” e amar ainda mais a minha cidade, e a redirecionar o meu olhar, não mais para as desinteressantes vitrines das lojas populares do centro, para a sujeira, pichações, quantidade de moradores de rua, para o abandono geral, mas para os detalhes dos prédios, igrejas, ruas e praças, contemplando sua beleza, arquitetura, portas, cúpulas, janelas e vitrais. Eu, que já gostava muito de História apesar da minha formação acadêmica em Economia, tinha uma pessoa diante de mim que


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poderia ampliar infinitamente o conteúdo daqueles livros. Essa pessoa era o Laercio, que nos abastece semanalmente com a grande maioria das informações nos passeios e que enriquece, com detalhes adicionais e absoluta propriedade, também os relatos dos palestrantes convidados da Caminhada. Através dele é que ouvimos tantas histórias culturalmente valiosas e importantes, fatos curiosos, esquecidos, ignorados, situações engraçadas, nomes, datas... Hummmmm, datas ! Sim, é admirável como ele lembra perfeitamente de tudo, “sem pestanejar”, como se dizia há tempos atrás. “Alguém tem alguma dúvida ou quer saber mais alguma coisa? Pergunte ao Laercio!”. Ele tem respostas para praticamente tudo. Já ouvi com frequência, de outros “caminhantes”, uns murmúrios do tipo: “ele conhece muito”!... E quem é esse Laercio? Com certeza não sou a melhor pessoa para responder a essa pergunta, mas, pelo pouco que sei, ele é muito maior do que aquele guia de turismo, formalmente credenciado, que veste um colete amarelinho, que usa boné, o qual, diga-se de passagem, só é tirado muito respeitosamente ao entrar nas igrejas, como sinal de fé adquirida provavelmente nos tempos de estudante do Colégio do Carmo. Além da já mencionada excepcional memória, é dono de um sorriso fácil, vegetariano, generoso nas atitudes e possui gosto refinado por vários tipos de música, das populares, orquestradas, às mais eruditas, mantidas cui-


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dadosamente na sua grande discoteca de vinil. Muitas delas lhe tocam profundamente a alma, como a Lacrimosa, de Mozart e o Messias, de Handel. É leitor e comprador voraz de livros, o que foi intensificado principalmente agora que ele aprendeu o caminho da “perdição” financeira que é a feira anual da USP: como os descontos são significativos, no final da visita é comum levar para casa incontáveis sacolas recheadas. Ele não me disse até hoje quantos livros comprou da última vez, mas devem ter sido muiiiiiitosssss!!! Além de ser professor e de ter publicado o livro Quando Começou em SP?, o mais importante e sem a mínima sombra de dúvida, é que ele é o mais conhecido e o melhor Guia de Turismo de Sampa, por seu profissionalismo, dedicação, competência e conhecimentos acerca de cada cantinho da cidade, estratosfericamente muito acima da média dos demais guias com quem já tive contato em outros passeios (que me perdoem, mas é a mais pura verdade). Recentemente, ouvi de outra pessoa que ela própria também disponibiliza passeios similares ao da Caminhada Noturna, só que durante o dia, do qual também já participei uma única vez. Então respondi para mim mesma. “Não é similar, não... Nem um pouco... sabem por quê ? Por que eles não tem o Laercio lá!”. Eu sempre comento que o Laercio não tem a exata dimensão de quanto é competente no que faz. E é também muito querido por todos


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que o conhecem. Às vésperas de seu aniversário e como parte dessa merecida homenagem que estão organizando, desejo a você, Laercio, um caminho pontilhado de muitas bênçãos, muita paz, lindas emoções e infinitas alegrias no seu coração. Que o seu anjo da guarda o leve para bem longe das ribanceiras, para o seu bem, para o nosso e de toda a Caminhada Noturna. Você já sabe, desde sempre, que admiro e tenho grande respeito por você e pelo seu lindo trabalho. É muito bonito ver alguém que realiza suas atividades profissionais com todas as qualidades que mencionei, num Brasil muitas vezes medíocre, onde muitos não dão a mínima importância para esses valores que fazem toda a diferença. Muito obrigada por todas as informações que você compartilha conosco e, no que depender de mim, serei sua eterna ouvinte. Com carinho, da “caminhante” Ana Regina Bastianelli São Paulo, 4 de março de 2018.


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MIQUELI ANDRIGO Guia de Turismo

Senhor Laercio Cardoso de Carvalho, venho reunir nessas letras meu agradecimento. Agradeço pela oportunidade de tê-lo como Professor, parceiro em profissão, Amigo de conversas e caminhadas, e ainda, compartilhar seus conhecimentos quando preciso. Hoje atuando como Guia de Turismo, eu agradeço muito a você Laercio. Sua maneira de conduzir os grupos me fez assemelhar a você, ora fala sério, explica, mostra e, ora faz uma piada, um comentário hilário e sempre conseguindo atenção. Obrigado por hoje eu ter pessoas que solicitam minha presença à frente de seus passeios, turismo, peregrinações... É gratificante estar aqui lhe agradecendo e fazendo parte desta sua história. Deixo aqui os meus Parabéns pela sua presença, Amizade e profissionalismo.


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PRISCILLA DANTAS

Conheci o Laercio através do projeto Caminhada Noturna, que ocorre todas às quintas-feiras a partir das 20 horas, percorrendo as ruas do centro de São Paulo, sempre focando em um tema diferente. Após conhecê-lo nessa Caminhada, participei de outros passeios, dessa vez diurnos, guiados por ele. Logo de cara simpatizei muito com o Laercio. É uma pessoa que detém muito conhecimento sobre diversos temas ligados à história da nossa cidade, além de demonstrar extrema paixão pelo que faz. Em cada um desses passeios descobri várias curiosidades e aspectos diferentes da história dessa cidade que tanto amo e admiro. Minha identificação com o Laercio vem do amor que ele demonstra por cada canto dessa cidade e sua história que, afinal de contas, é a nossa própria história. Todos os passeios que fiz guiados por ele foram incríveis. Um deles, no entanto, foi o mais especial para mim. Tratase do dia em que conhecemos melhor os bairros de Santa Cecília e Vila Buarque. Estou morando nessa região há quase dois anos e, ter a oportunidade de conhecer melhor as riquezas culturais próximas ao meu bairro foi algo incrível. Pude visitar e aprender sobre a história da Santa Casa de Misericórdia e sua famosa Roda dos Expostos. Conhe-


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ci o complexo educacional do Mackenzie e, o mais bacana, fui apresentada à Biblioteca Pública Municipal Infanto-juvenil Monteiro Lobato. Ali, aprendi sobre a história dessa que é a mais antiga biblioteca infantil em funcionamento no Brasil e que foi criada na época em que o grande Mário de Andrade foi Diretor do Departamento de Cultura. A biblioteca expõe a biografia de Monteiro Lobato e mantém vivo o encanto que é mergulhar na Literatura desde a mais tenra idade. Sem palavras para descrever o que senti. E tudo graças ao Laercio. Simpatia e humildade ajudam a definir esse guia, que recebe a todos com carinho e compartilha seus vastos conhecimentos com alegria e satisfação. Cada passeio com ele é a garantia de momentos extremamente agradáveis, enriquecedores, com diversão e novas descobertas sobre nossa querida cidade. Se você, assim como eu, também é um apaixonado por São Paulo e tudo que está ligado à sua história, não perca a oportunidade de fazer um passeio guiado pelo Laercio Cardoso de Carvalho. Tenho certeza de que você não irá se arrepender.


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SHIRLEY SUELY DE CAMARGO DAMY

Laercio, um querido amigo e profissional que respeito muito. Nos conhecemos no final do século passado no Senac/ Osasco. Estabelecemos uma bela parceria , criamos muitos roteiros e desenvolvemos vários projetos. Inovamos, criamos e nos divertimos bastante com o nosso trabalho. Fui parceira e aprendiz, coordenadora e aluna e juntos rodamos centenas de quilômetros com nossos alunos e caminhamos por essa São Paulo, quando ninguém fazia passeios a pé com regularidade. Fico muito feliz por poder participar desta homenagem. Você merece! Pessoa alegre, brincalhona e generosa - tanto que mesmo quando estou “turistando” sou convidada falar, como registraram na foto abaixo. Gratidão por todos esses anos de convívio. Para-


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béns pelos serviços prestados à nossa cidade!

ROSANA SALVADOR*

Laercio: Pessoa admirável!!! Possui uma “bagagem” cultural rica, interessante e enriquecedora. Com o dom da palavra; Encanta e conduz grupos de jovens até a terceira idade. Irradia paixão naquilo que faz; Sempre compartilha informações curiosas e fascinantes; Explana com eloquência lugares inusitados; Suas aulas nos levam à “viagens” incríveis! Quem contigo viajou conheceu o “melhor dos mundos”; Diante desses adjetivos; Há uma certeza: Seus alunos orgulham-se de ser seus discentes! * Aluna do Laercio, no curso de Guia de Turismo do Senac Osasco, em 2001/2002.


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Ana Camargo

Nas pegadas de Anchieta

Poucos anos após minha chegada a São Paulo, soube que existia um grupo de pessoas que faziam caminhadas noturnas pelo centro, eu ainda estava me adaptando à capital, não tinha amigos e pouco conhecia sobre a cidade. Certo dia, criei coragem e fui me aventurar... Ao chegar fui recepcionada pelo guia Laercio, que hoje já se tornou um grande amigo. Para mim era tudo novo, mas em poucos minutos ele me apresentou para os demais colegas e, eu apesar da timidez, me senti muito confortável. Certamente era uma oportunidade ótima, pois além de poder fazer novos amigos, ainda teria uma aula in loco e, tudo gratuitamente. Naquela época a situação não era fácil, a grana era curta, tudo tinha que ser colocado na ponta do lápis. De lá para cá, foram muitas idas ao centro, muitas caminhadas com preciosas informações que me agregavam muito conhecimento. Acho que a partir dali comecei a ter uma outra visão da cidade, aquilo ampliou meu horizonte. Em vários textos publicados, menciono que


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SP é uma cidade linda e multicultural. Posso garantir que há uma beleza oculta, mas somente com um olhar mais apurado é que conseguimos descobrir os seus encantos. Por trás de cada edifício e de cada monumento há uma história a ser contada. Infelizmente poucos a conhecem mais profundamente, a maior parte das pessoas acabam tendo uma visão negativa da cidade. Ao andar pelo centro podemos notar a evolução da cidade através de suas construções e adornos. Lá podemos encontrar inúmeros prédios, de diversos estilos, formas e tamanhos, com uma belíssima arquitetura. Eu tive a oportunidade de conhecer SP, através do olhar do guia de turismo Laercio. É uma experiência fascinante, ele nos ajuda a apurar nosso olhar e nos transmite, de maneira muito sábia, todo o entendimento que ele possui sobre o assunto. Com o passar dos anos nosso amigo ampliou o percurso e, criou as caminhadas diurnas. Com isso, pudemos conhecer vários bairros de SP e até outras cidades. Sem dúvida, todas as caminhadas foram muito enriquecedoras, seria difícil relatar todas as aventuras que vivenciei, ou mensurar todo conhecimento que adquiri ao longo de todos esses anos. Mas existe sempre aquela caminhada que fica mais marcada em nossa memória: era um sábado chuvoso, o tema daquele dia seria sobre as portas. Estávamos eu e meu esposo, ansiosos aguardando a chegada dos de-


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mais participantes. O Laercio estava lá, foi o primeiro a chegar. Alegre e animado como sempre, para ele não tem tempo ruim. Tristemente, naquele dia não mais houve participantes. Ao percebermos que éramos só nós, dissemos para que remarcasse em outra data, não ficaríamos incomodados, mas Laercio não esmoreceu, insistiu que faria a caminhada. Confesso que foi o melhor passeio que fizemos. Ele foi brilhante. Realmente nos impressionou. Com sua paciência e entusiasmo, nos passou com maestria todo conhecimento sobre o tema proposto. Visitamos vários pontos da cidade, conhecemos inúmeras portas e obviamente os mais relevantes edifícios. E depois de tantos anos caminhando juntos, acabamos estreitando as relações de amizade. Ele, muito observador, já nos conhece bem o suficiente, para saber sobre nossas inclinações pela boa gastronomia, sendo assim, de forma muito gentil e sutil, ele termina todos os passeios em frente a um restaurante... Glup!


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Guias do Projeto Caminhos do Triângulo

Laercio, mais que um guia de turismo, sempre foi um camarada, um mestre com humildade suficiente para dividir seus conhecimentos com qualquer pessoa. Quantas vezes recorremos a ele para tirar dúvidas e aprender mais sobre São Paulo e sobre outros lugares do país? Amigo e fundador do nosso Projeto Turístico nos idos do ano de 2013. Com garra articulou os vários guias para estruturar nosso trabalho. Se o profissional de turismo é um guia dos olhares de outros sobre os lugares que visitam, Laercio, por seu interesse e paixão, guia também todos nós, a amarmos nossa profissão, com dedicação e respeito aos clientes. Com humor e sabedoria percorre ruas e lugares da cidade doando sabedoria. Nós te homenageamos Laercio e agradecemos à pessoa e ao profissional que você é. Grande abraço da nossa turma para você, nosso grande mestre!



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THAIS MATARAZZO

Realizar os tours com o Laercio pelo centro da cidade e pelos bairros foi uma experiência bastante feliz. Muitas vezes eu circulava pelos bairros na companhia do meu tio Robertinho para tirar fotos e ele me contava várias histórias, pois conhece bem a cidade, na adolescência trabalhou como office-boy. Mas realizar os tours com o Laercio e outros participantes também foi enriquecedor porque todos possuem histórias para contar. Então se agregam informações e isso é muito importante! Também fiz várias amizades, é ótimo poder conversar com pessoas que gostam de história e valorizam o patrimônio cultural. Nem sempre é fácil encontrar espaços para realização de atividades culturais e literárias, como lançamento de livros, aqui em São Paulo. Um fator é a monumental concorrência das agendas dos equipamentos públicos de cultura centrais, entre outros obstáculos burocráticos, ou melhor, como diz o meu amigo Marcello Laranja, presidente do Clube do Choro de Santos, são “burocráticos”. Diante desses contratempos, o Laercio sugeriu que eu fizesse o lançamento do meu livro Giro Noturno: fragmentos das noites paulistanas (2017) junto com um tour pela Vila Buarque, local que no passado, anos 1950 e 60, abrigou as casas noturnas mais chiques e famosas da cidade. A prin-


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cípio achei um pouco estranha a ideia, lançar um livro na rua, pareceu-me uma alternativa desairosa: mas não foi! Pelo contrário, foi uma experiência enriquecedora, exatamente porque estamos in loco, onde tudo aconteceu naquela época. Nosso ponto de encontro foi na esquina na Rua Major Sertório, perto do Pão de Açúcar, o logradouro que concentrou maior número de boates e uma casa de prostituição de luxo, a La Licorne, o sobradinho ainda está lá e hoje abriga uma igreja evangélica... Junto com o Laercio, fomos contando histórias sobre as boates, bares, os cantores, músicos, as músicas, os romances e diversos “causos” divertidos. Encontramos com a Dora, uma senhora que trabalhou para a atriz Cacilda Becker e conversou conosco por bastante tempo, foi um papo curioso. Quer dizer, nos tours sempre aparecem surpresas que não estavam no script. Numa outra ocaisão, estávamos fazendo um passeio pela região da Sé e entramos na paróquia da Boa Morte, um templo antigo, lindo e que foi restaurando a pouco tempo. De repente, no pá-


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tio, estavam servindo café da manhã gratuito e nos convidaram para tomar um lanchinho também, tudo grátis! Foi através desses passeios que realizamos em parceria com o Laercio que acabei por participar de algumas edições da Caminha Noturna em 2017 e 2018, abordando histórias rádios, artistas de rádio, das noites paulistanas e sobre o Carnaval. A primeira vez que participei como convidada da Caminhada indaguei ao Laercio. “Mas como funciona, eu terei que falar durante duas horas sozinha? Eu nunca participei da ‘Caminha’ e nem sei como funciona? Etc... etc...”. Ele me tranquilizou e disse que ele iria apresentando o tema e eu entrava em determinados momentos para fazer comentários. Ufa, deu tudo certo! E teve vezes que alguns participantes inconvenientes (para não dizer outra coisa), fazem perguntas desconfortáveis e até desafiadoras, e o Laercio, como é mestre em turismo em São Paulo, sempre se sai bem nas respostas... Laercio parabéns pelo seu trabalho, em apresentar as memórias da nossa cidade a tanta gente, porque os turistas não são somente os que vêm de fora, diversos dos participantes são moradores dos quatro cantos da cidade, paulistanos da gema. Sucesso sempre.


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Sérgio Paz

Deve ter sido o Laercio!... Com informações obtidas no livro Quando começou em SP? 458 respostas pelo guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho

Acho que já participei de uns 300 passeios a pé por São Paulo, conduzidos pelo guia de turismo Laercio Cardoso de Carvalho. E, pela segurança e riqueza de detalhes com que ele faz suas narrativas, eu sempre fico com a sensação de que ele esteve presente em todos os episódios históricos que ele relata... e de que ele vivenciou todos os “causos” que ele conta, sempre com muito bom humor. Eu desconfio, por exemplo, que foi ele o “coroinha” da missa celebrada em 25 de janeiro de 1554, numa cabana de 14 por 10 passos, com as presenças de Nóbrega e Anchieta. Acho que foi por decisão dele que São Paulo passou a ser “cabeça” (capital) da Capitania de São Vicente, em 1681. Na partida da grande bandeira de Raposo Tavares, tenho quase certeza de que lá


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estava o Laercio, conferindo se nas arcas dos viajantes já estava tudo o que eles iriam precisar durante sua longa expedição. Em 7 de setembro de 1822, não tenho dúvidas de que, preocupado com as dores de barriga que incomodavam o príncipe, foi o Laercio quem prestou assistência a Sua Alteza na hora do aperto (aliás, pode-se notar, no quadro do Pedro Américo, que, de fato, um dos garbosos cavaleiros que ali estão tem a cara do Laercio!) Durante o império, posso apostar que ele, sempre muito elegante, era um dos assíduos frequentadores das festas e saraus promovidos tanto por Dona Domitila, em sua casa na Rua do Carmo, como por Dona Veridiana, em seu palacete de Higienópolis. Homem de confiança de Jules Martin, o construtor do primeiro Viaduto do Chá, em 1892, o Laercio deve ter sido o responsável pela cobrança dos três vinténs de pedágio para a travessia do Centro Velho para o Centro Novo. Companheiro de Charles Miller, só pode ter sido dele o passe que redundou no primeiro gol marcado no Brasil, num campinho às margens do Tamanduateí, na Várzea do Carmo, em 1895. Como também deve ter sido dele o desenho que, mostrado a seu amigo Guilherme de Almeida, levou o jovem poeta a fazer o projeto do Brasão da Cidade, que lhe rendeu um belo prêmio, em 1917. Também aposto que o Laercio ainda guarda o programa da Semana de Arte Moderna, a que ele sem dúvida compareceu, em 1922,


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no Theatro Municipal... Local, aliás, que ele conhecera já no dia da sua inauguração, 11 anos antes, tendo sido um dos responsáveis pelo enorme congestionamento que se formou ali na esplanada do Chá, por querer estacionar seu luxuoso automóvel bem na porta do teatro! Suponho que tenha sido com esse mesmo carro que ele percorreu pela primeira vez a recém asfaltada Avenida Paulista, em 1909. Suponho, também, que o Laercio coordenou a coleta de doações para financiar as forças paulistas na Revolução Constitucionalista de 1932, organizando as filas que se formavam na Praça do Patriarca, bem em frente à Casa Fretin e à loja do Mappin, onde ele certamente fazia todas as suas compras. Algo me diz que ele foi contratado por Assis Chateaubriand para ser o “cameraman” que registrou a imagem da pequena Sonia Maria Dorce, vestida de indiozinho, inaugurando a TV no Brasil, em 1950. Apaixonado pelo pioneiro da aviação, Edu Chaves (de quem ele tem uma foto em tamanho natural, na parede do quarto de sua mansão, no Belém), o Laercio deve ter sido um dos pilotos que despejou toneladas de pequenos triângulos de papel alumínio sobre a cidade, formando a “chuva de prata” que marcou as festas do Quarto Centenário. Membro do comitê que recepcionou a Rainha Elizabeth II no dia da inauguração do MASP, bombeiro que salvou diversas vidas nos incêndios do Andraus e do Joelma, assistente


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de D. Paulo Evaristo na cerimônia ecumênica em homenagem a Vladimir Herzog na Praça da Sé, idealizador do comício pelas “Diretas Já” no Vale do Anhangabaú, motorista dos caminhões que conduziram o esquife de Ayrton Senna até sua última morada no Morumbi e os campeões mundiais de futebol de 1994 e 2002 em desfiles comemorativos do tetra e do penta, segurança especialmente contratado para acompanhar Madonna em suas noitadas paulistanas e Paul McCartney em suas pedaladas pelas ciclovias da cidade... Tenho o sentimento de que o Laercio assumiu todos esses papéis! E de que ele só não aceitou dar o pontapé inicial no jogo de abertura da Copa de 2014, no Itaquerão, por pura modéstia... Bem... pode ser que eu esteja exagerando um pouco, e que nada disso tenha, de fato, acontecido. Não importa! Mesmo assim, como diz o Carlos Beutel, criador e patrocinador da Caminha Noturna, o Laercio vai continuar sendo o “melhor guia de turismo de São Paulo”! E, espero, por muitos anos ainda, sempre com muita saúde e disposição, para continuar contando para todos nós, seus admiradores, tantas histórias e curiosidades da nossa querida cidade. P.S.: Laercio, por favor, reserve uma vaga para mim, no passeio que você conduzirá no ano do Quinto Centenário, OK?


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COM A PALAVRA... LAERCIO!

Não poderia deixar de escrever algumas palavras para o livro que Thais Matarazzo está editando sobre meu trabalho. Devo dizer que fiquei muito honrado e emocionando com a proposta do livro. Em primeiro lugar o agradecimento aos amigos pela ideia do livro, depois a Thais que de pronto topou a ideia e começou a divulgação pela internet e nos lançamentos de suas publicações. O agradecimento para a Camila Giudice. Parabéns pelo seu trabalho. Gostei muito da capa. Lá estou eu na porta do Theatro Municipal, com o bonezinho, de óculos e com o aparelho tipo “pochete” para amplificar a voz. Traço diferente criativo, mas quem me conhece identifica imediatamente. Quantas pessoas “turistaram” comigo em Sampa? Não sei, não sei nem o número de tours que já fiz aqui. Só pela Caminhada Noturna foram mais de 500. Todas às quintas-feiras, sempre com um tema diferente. Várias reportagens foram feitas sobre ela, a TV Aparecida, por exemplo, mostrou de uma forma compacta todo o desenrolar da Caminhada, desde a chegada dos participantes até a finalização. Fui guia em mais de 20 caminhadas que a Câmara Municipal, na presidência do vere-


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ador Police Neto oferecia à população, sempre no último domingo do mês e não apenas no centro mas em bairros como São Miguel Paulista, Santo Amaro, Tatuapé. No projeto Caminhos do Triângulo que ajudei a criar, os temas eram os mais diversos na região do Triângulo (ruas Direita, São Bento e XV de Novembro). No grupo contavam com vários guias, cada um com um ou mais roteiros, o meu era sobre portas, outro era sobre cinemas e teatros e mais um sobre redações de jornais. Realizei muitos roteiros para atender escolas e grupos de outras cidades. Os tours em Sampa começaram em 2004 com os festejos dos 450 anos, até então poucos queriam fazer tour em São Paulo, muitos menos os que aqui moravam. As revistas começaram a divulgar mais São Paulo, suas curiosidades. Na edição de 1º de junho de 2005 a Veja São Paulo fez uma matéria muito interessante e que prestigiou muitos os guias. Matéria de capa: Turismo em Casa no rodapé acrescentava: “com passeios por cemitérios, vilas, templos e cenários de música guias revelam cartões postais da cidade que os paulistanos desconhecem”. Fiz com a repórter Nana Caetano o roteiro São Paulo de Muitas Crenças mostrando a diversidade religiosa de São Paulo e tive a felicidade da capa da revista estampar a linda foto da cúpula interna da Mesquita Central, aquela que fica situada na Av. do Estado. Foi publicado o contato de cada guia, o valor do passeio, e para que tipo de público era indi-


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cado.Quando a revista chegou aos assinantes logo começaram as chamadas querendo fazer o passeio. Desde então tenho feito esse roteiro para escolas católicas ou laicas, de São Paulo e de outras cidades. Agora eu estava mostrando minha cidade, que mostrei para os turistas tantas outras cidades, pois, quando fui guia de excursões rodoviárias as agências dificilmente contratavam guias locais, nos guias acompanhantes tínhamos que falar de todas as cidades por onde os tours eram realizados. Quando o programa Globo Repórter fez uma matéria sobre a noite paulistana apresentou a Caminhada Noturna e o repórter me perguntou: “Qual a sensação de mostrar a cidade para os próprios moradores?”, respondi. “Ouvir no final do passeio o participante dizer: nasci aqui, passei tantas vezes por esse local e nem tinha percebido algo que você nos mostrou”. Se aquelas pessoas nunca antes notaram o que era mostrado, que dirá conhecer a sua história? Por exemplo, que fez aquele monumento, quando, porquê, e outras informações... Começaram os tours temáticos por São Paulo e não apenas histórico na área central. Criei vários, um deles sobre portas, na área central, foi matéria na TV Gazeta, na Veja São Paulo de 14 de novembro de 2012. Se ensinei muitas coisas às pessoas? Não sei, espero que sim. Sei que aprendi muito com todos esses tours com temas tão diversos, pois como já foi dito “só se aprende quando


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temos que ensinar”. Quando a Thais me convidou para fazermos um passeio pelo Belenzinho - bairro onde cresci e moro - aprendi em poucos dias mais sobre o bairro do que em muitos anos de vivência na região. Foi nosso primeiro passeio em parceria em 2017, dia 11 de março, dia do meu aniversário. Depois vieram tours em outros bairros e novos aprendizados. Sempre digo no final dos passeios que o objetivo do tour cultural não é esgotar o assunto, mas despertar a curiosidade, fazer com que o participante vá procurar mais informações, visite o museu que indiquei. Menciono o site, mostro o livro falo das fonte de consulta. Isso acho que tenho conseguido. É gratificante ver pessoas participantes dos tours comentarem que foram em exposições sobre São Paulo, me trazerem o catálogo. Publicarem fotos no Facebook, comentários. Gratificante ver participantes tornarem-se “habitués” nos passeios, não só nos gratuitos, mas nos pagos também, e agora ver alguns deles escrevendo nas antologias da Editora Matarazzo. Nossos tours agora registrados em livros. Na internet é muito comentário e logo substituído por outros, mas o Livro dá ideia de permanência. Thais, grato pelo livro, quando a minha caminhada aqui terminar e eu tiver que partir o livro permanecerá, será uma lembrança do meu trabalho que desempenhei com muito amor, procurando fazer sempre o melhor possível. Quem quiser comunicar-se comigo pode fazer


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pelos e-mails laercioguiadeturismo@gmail. com ou laerciocardosodecarvalho@yahoo. com.br, ou pelo whatsapp (11) 99837-4063.


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ICONOGRAFIA

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Tour Cultural pelo bairro do Belezinho, marรงo de 2017. Foto: Thais Matarazzo


Museu do Tribunal de Justiça, à Rua Conde de Sarzedas, setembro/2017. Foto: Thais Matarazzo


Santa Casa de Misericรณrdia de Sรฃo Paulo, marรงo/2018. Foto: Gilberto Cantero


Santa Casa de Misericรณrdia de Sรฃo Paulo, marรงo/2018. Foto: Gilberto Cantero


Visita ao Centro Histรณrico e Cultural Mackenzie, marรงo/2018. Foto: Gilberto Cantero


Renato Lisboa Santana e Laercio Cardoso de Carvalho no Parque Praรงa Buenos Aires, marรงo/2018. Foto: Thais Matarazzo


Tour pela Avenida São João na Jornada do Patrimônio 2017, ocorrida em agosto. Foto: Gilberto Cantero


Tour pela Avenida São João na Jornada do Patrimônio 2017, ocorrida em agosto. Foto: Gilberto Cantero


Tour “Taxi-dancings e histórias musicais de São Paulo”, ocorrida em janeiro/2018. Foto: Thais Matarazzo


Marco Antonio e Laercio no tour de portas temรกticas do centro de Sรฃo Paulo. Foto: Ana Camargo


Fachada do Theatro Municipal de SĂŁo Paulo. Foto: Gilberto Cantero


Dois flagrantes da “Caminha Noturna” de 5 de abril de 2018. Acima, à esquerda, vemos, Carlos Beutel, idealizador do projeto, e com o microfone em mãos Laercio Cardoso de Carvalho. Fotos: Gilberto Cantero


Laercio por Eli K. Hayasaka.


Bandeira da Caminhada Noturna. Foto: Gilberto Cantero


Tour pela Vila Buarque que focalizou a história das boates em São Paulo nos anos 1950/60. Acima, vemos o grupo na Rua Major Sertório, ao fundo está a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato. Foto: Ana Camargo. Abaixo, o grupo na Galeria Metrópole. Dois importantes endereços da vida noturna da Pauliceia de outrora. Foto: Ana Camargo


Tour pela Avenida São João na Jornada do Patrimônio 2017, ocorrida em agosto. Foto: Gilberto Cantero

Abaixo vemos a edição da Caminhada Noturna em 2017 que visitou a lindíssima igreja da Ordem Terceira de São Francisco. Foto: Gilberto Cantero


Tour pelo bairro da Mooca em 2017. Nesta foto, o grupo estĂĄ em frente a sede do Juventus. Foto: Eli K. Hayasaka.

Grupo em frente a Biquinha de Anchieta de SĂŁo Vicente, SP, 10/3/2018. Foto: Gilberto Cantero


Grupo em frente a Igreja Matriz de SĂŁo Vicente, SP, 10/3/2018. Foto: Gilberto Cantero


EdifĂ­cio Altino Arantes. Foto: Ana Camargo

Arcos da Rua Jandaia, Bela Vista. Foto: Ana Camargo


Caminhada Noturna. Ao centro, vemos, Carlos Beutel e Laercio C. Carvalho. Foto: Ana Camargo

Rua Roberto Simonsen, centro. Foto: Ana Camargo




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