Versos Soltos - Poesia VIII - Poemas do Nello

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Poemas do Nelo Versos Soltos

POESIA VIII 1


Ilustrações de capa de José Régio e serigrafia de contracapa de Júlio, o realista mágico. Pintor, desenhador, escritor e poeta. Tem fotografias minhas nas ilustrações dos textos e também do Google.

PREFÁCIO Poesia e Utopia, por vezes é uma sinfonia. Versos soltos é precisamente isso. É um desejo, uma inspiração, um soltar de palavras que vem momentaneamente à cabeça e são escritas na altura. Alguém ou alguma coisa o desperta e abre a fechadura da inspiração.

DEDICATÓRIA Um poema não é um lema Mas é uma inspiração para todos São sentimentos, alegria e tristezas Que todos sentem. É para a minha e vossa alma Que ela se acalma.

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ÍNDICE TÍTULO

PÁGINA

Este País

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Marinheiro

6

Não sei o que gostava de ser…

7

Quadro

8

Ventos do mar

9

Latino e africano

10

Versos soltos

12

Meu arado

13

Não é na folha de palma

14

Para além do mar

15

Paixão

16

Estes filhos da Nação

17

Tempo

18

A nossa vida por vezes é um caleidoscópio

18

Mestre do destino

19

Loucura

20

Pedras que não voam

21

As Estações

22

Expressar-me

23

Mentes insanas

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Como o tempo passa!...

25

O Coro

26

Opostos

27

Meninice

28

A magia da poesia

29

A poesia

31

Há um silêncio na praia

32

As pandemias

33

Chuva

34

Mudanças

35

Rumores

37

Quando for maior

38

Outono

39

Capacidade

40

Quadras soltas

41

Nas ondas do mar

43

Soltas, são os versos e as quadras

44

Sim, você pode encantar

46

Uma nova estrela brilhará no céu 47 O homem do leme

49

Sim, você pode encantar

50

Eternidade 51 Há sempre algo

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Lisboa

53

As palavras

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Este País Este é o País em que vivo A moral de quem lido Lusitano de fora Que vive neste mundo agora. É um canto de quem sou E que não procurou Donde eu venho De outro país estranho. É desta terra mãe em que a alma passou Para outro país a noite virou Outra língua, outro costume Vida por vezes no estrume. Tem que se dar outro sentido Pelo meu próprio ser eu movido De alheio me perco Da terra que mantém o cerco. É assim que vivo e canto Não tem outro encanto Mas é o fado da vida Por quem é mantida.

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Marinheiro Que passem este dia com bastante alegria camarada e companheiro aventureiro marinheiro. Por mares mansos Por mares revoltos Por mares insanos E por rumos soltos Valente marinheiro És sempre o primeiro A dar o corpo ao manifesto Sem nenhum protesto. Andas de porto em porto Muitas vezes sem conforto És destemido e aventureiro Mas também bom companheiro.

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Não sei o que gostava de ser… Hás vezes não sei o que gostava de ser ou do alto ver apenas imaginar que o sonho é voar Voar para mais longe ou clausurado como um monge libertando o espírito o astral por um escrito. Não sei o que gostava de ser para que não seja logro sair do meu corpo num pássaro com outros olhos ver. Imagino-me outro ser Sem realmente o ser Ter outros olhos ver Etéreo para melhor favorecer. Não sei o que gostava de ser Por haver tanta variedade Outra maneira de ver Sem alguma conflitualidade. 7


Quadro Enquanto o tempo durar E a pintura perdurar Fica um quadro congelado No tempo pendurado. Pendurado para se admirar De soslaio mirar A beleza congelada A Natureza finalizada. Enquanto o tempo perdurar E o quadro durar O significado continua Mesmo que seja uma beleza nua.

Amor, memória e saudade Conspiram juntos 8


E por tudo o que amamos Por tudo o que desejamos Eles estão sempre juntos Quer queiramos ou não É ditado do coração.

Ventos do mar Vêm ninfas e sereias que apanham boleias nas ondas que vêm bater na areia longa medusa se apeia Ventos vêm, perfumam o ar que dos lados do mar vêm e cheiram a maresia que ao pôr do sol se faz poesia. Por entre as nuvens esfarrapadas apressadas e desvairadas que de algodão se desfazem em cantos suaves do alto trazem leves e suaves brisas que de Neptuno trazem nas suas brigas que num beijo suave e em abraços morrem na areia em brancos traços que de ao de leve vêm trazendo e de volta ao mar vão fazendo. São seres, para tu veres imaginários ou não depende do teu coração que na areia tu escreves e no papel tu descreves.

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Latino e africano Tenho coração latino Apesar de ser africano Um ser bacano Que não sabia do tino Mas foi este o meu destino Que agora afino Por tudo o que se sente E ter alma quente. Uma costela africana Com latino coração Não foi por opção Emigrante da tropicana. De Portugal veio a dança E com ela toda a esperança De uma nova vida Quente e atrevida. Foi na selva africana No calor da emoção Que embalou o coração Tal alma africana. 10


São coisas do destino Que procuramos com afinco Fado de emigrante De alma grande. Na África negra nasceu Na Europa branca cresceu E por cá viveu. Ao longo da vida venceu. São coisas da natureza Em que não se serve a pureza Mas sim a beleza A vida é bela com certeza! Natureza latina Costela africana É este o meu fado Que foi contratado. São dois firmamentos São dois sentimentos Que se misturam E que se aturam. São dois mundos diferentes Mas são referentes Um pequeno e outro grande Ambos num mundo distante.

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Versos soltos Na areia da praia Aonde o mar se espraia Ouves o murmúrio das ondas Onde tu perscrutas e sondas Apenas ouves a brisa soar E as gaivotas a voar E apenas ouves o mar.

O fado é uma cultura Que se tornou escultura Imaterial para a Humanidade Devido à sua humildade.

Povo que lavas as mágoas no rio Te deixas enganar facilmente Político acha que é gentio Para enganar amavelmente.

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Uma gracinha à portuguesa Quem é a próxima freguesa É de uma casa portuguesa Fado, pão e vinho com certeza.

Meu arado Não ponho o meu arado Por terras incultas Nem por ideias vaiado Mas para florescer terras cultas. Sulco a terra por arado Por tiras agarrado Elevando a imaginação Libertando o peso do coração. O meu arado não é de ferro nem de madeira Que semeia a esmo a eira É de pena por que é escrita A ideia que é prescrita. O meu arado é uma pena Que tem por lema Sonhar e imaginar Na escrita paginar. Arado desbrava a terra da ignorância Cultivar tem sempre importância Elucidar é sempre elevar Ler é aprender e cativar.

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Não é na folha da palma Não é a folha de palma que nos leva a alma nem a luz de uma estrelinha leva o voo de uma andorinha. A nossa elevação que vem da nossa alma vem também do coração e de uma paisagem calma. Na suave brisa da tarde em que o espírito parte e no sonho se reparte na tela se vê a arte. Não é na folha da palma que com ela se espalma a nossa simples solidez ou a nossa estupidez. Não é na folha de palma Que se vê a nossa alma Nem o nosso destino Nem o tino ou desatino.

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Para além do mar Sempre vivi ao lado do mar vivi ao lado do rio não estive lá para o amar das manhãs nevoentes de frio. Tinha casa por perto sem varanda a céu aberto mal dava para ver a vida penosa a sofrer Mal via o dia sem alegria nem a noite ou a Lua que pela noite ela flutua do rumor eu tinha alergia. Não fora o singelo mar e a Lua namoradeira para amar ia embora para longe a aventura longe da brasa queimadura. Vivi sempre ao pé do mar por vezes junto ao rio que hás vezes até me rio das venturas a queimar. 15


Vi para lá do infinito desde de sempre, de pequenito naveguei ao longo dele com cheiro a maresia, foi sempre ele. Mais do que uma fonte para lá do horizonte para além do mar não há mais ninguém para amar.

Paixão Ferve o sangue deixa o corpo exangue tal é o aquecimento que deixa ver o firmamento Uma bola de fogo excitante um clímax fortificante de um tremor tonificante um expoente gratificante. Tal é esta grande excitação tal é esta bela paixão que nos deixa exaustos de prazer que novamente se quer fazer.

A Madeira continua viva Tem muita vida Não é a pérola adormecida 16


Apesar da pandemia Continua com a sua alegria A pequena sereia não está torcida. Ai!... Minha Amélia Como és tão bonita Como uma camélia Alegre e catita.

Estes filhos da Nação Ai estes filhos da Nação dão-me cabo do coração não sabem cantar uma canção não têm alguma salvação Põem tudo a arder até as orelhas a doer falam, falam sem dizer nada com a pandemia ninguém tem nada. Não dá para acreditar muito menos para editar o que fazem estes filhos da Nação, que todos falam e ninguém tem razão.

Há várias escolas da vida... Nenhuma delas é fácil e muito poucas, ou quase nenhumas, de mão beijada. 17


Há umas com escola outras sem escola nenhuma delas é esmola mas o que o destino quis é o fado de muita gente em que toda a gente sente.

Tempo Há muita gente com falta de tempo, Porque não tem tempo Anda sempre a correr Enquanto o tempo está a decorrer, Pois o tempo vai passando E nós envelhecendo... Não dá para dar tempo ao tempo Pois é ele que não nos dá tempo.

A nossa vida por vezes é um caleidoscópio A vida por vezes é colorida outras vezes cinzentas e algumas vezes desfragmenta-se como um arco-íris 18


e outras vezes são fracturantes como um caleidoscópio. Na nossa vida complicada diversificada, por vezes multiplicada são imagens espectrais helicoidais em círculos ascendentes outros descendentes como um parafuso de Arquimedes são assim os nossos espelhos da vida os nossos aspectos de vida da outra face ou faces que temos.

Mestre do destino Como eu gostava de ser mestre do meu destino! Mas não sou! Porquê? Porque há muitos factores externos que fazem mudar o meu destino, Embora eu não queira. Muitas vezes é um desatino. Muitas vezes até sou alheio aos acontecimentos, Sou apenas um dano colateral... A vida está cheia de acasos, Mas também de escolhas No meio de uma encruzilhada. Sou mestre do meu destino? Depende do caminho, Depende da escolha, Ou da obrigação de um acontecimento Que te abalou a vida?... Mestre do meu destino? Só às vezes! Como gostava de ser mestre do meu destino! Só que há coisas que nos transcende Para além do nosso escrutínio Quando a vida desce ou ascende 19


É preciso ter o dom da clarividência Para se ver a evidencia Que não temos o poder nas mãos Nem nos nossos corações São poucas as vezes Que temos o nosso destino Nas nossas mãos Mesmo que tenhas fé e rezes O destino não é teu Pois ele já te venceu.

Loucura De que é pouco todos nós temos de louco ou de cabeça ouca a mente se treslouca... Se não é loucura o que procura o que franze a tez o mal ela desfez. Não é ideal nem social muito menos especial mas fugir à responsabilidade pode trazer alguma felicidade. Fingir loucura é uma desculpa que não se culpa é fugir da procura. Não é infame nem inflama nem clama fama 20


nada que o chame. Temos tudo de um pouco até para lá de louco de um som rouco rio como se fosse louco.

Pedras que não voam Há águias estilizadas por pombas fertilizadas há dragões que não cospem fogo há gárgulas espalhados por altos pináculos anjos nos altos beirais que de pedra espalhais monumentos empedernidos por tais granitos que se erguem ao alto como se estivessem num planalto, ou na horizontal com boca escancarada que do céu a água cai. São antigos, muito antigos estas pedras urbanas estas alegorias do passado que antigamente eram cabanas e do fogo assado a pedra substituiu. É paisagem urbana que não abana a um simples tremor e que espera a bênção do Senhor. 21


São lendas, são mitos Há-os em todos os sítios Em todos os lugares Pelos cantos separados. São entes estilizados Com asas que não voam São protectores Não são detratores Que do passado evocam E que vivem nos dias de hoje. São apenas seres estilizados em pedra.

As Estações Norte para uns Sul para outros Este, Oeste são comuns Lá chegaremos aos poucos. Primavera para uns Outono para outros apesar de diferentes destinos estamos sempre vespertinos. Verão para uns Inverno para outros todos temos o mesmo destino o caminho da vida é um hino. O mesmo futuro Mesmo que seja Outubro Caminharemos juntos Como barco de juncos.

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Expressar-me Expressar-me a mim próprio para expressas para vocês sem os devidos porquês comportamento sóbrio Sendo filho da Natureza com riqueza ou pobreza depende da sua condição dos batimentos do seu coração. Expresso escrevendo em pleno movimento é apenas uma das artes formas e culturas em partes. Expressar-me a mim próprio não tem nada de impróprio se o compartilhar convosco a essência do mosto. Dou-vos a minha expressão Dou-vos a minha emoção 23


Como se fosse letra de canção Saindo do meu coração.

Mentes insanas Os ciganos não são os doces vagabundos que nós pensamos ser... E por assim ver, por não terem raízes desdém os próprios juízes. Não são cidadãos comuns mas são considerados como tais. E nós, normais, andamos sempre aos ais com eles e são sempre afugentados. Têm má fama... Mas há muitos mais brancos que são piores do que eles. Há de tudo mau neles. São escória humana de mente insana piores do que tamancos que todos os dias nos afligem e somos obrigados a conviver com eles... Não são os duendes da noite nem as feiticeiras que atravessam as fronteiras. 24


que de noite anda com foice... a maioria é parasitária é pária que andam pela natureza sem a sua beleza. Mas são também humanos embora por vezes desumanos. Desdém E não é racismo!...

Como o tempo passa!... Como o tempo passa!... Nem damos conta ela nos devassa nem sequer nos aponta! Fica no sótão da memória pegada poeirenta de alguma arca escrita algures numa história que por vezes nos lança uma farpa. Como o tempo passa! como ela nos repassa e nem a vemos passar dormentes, a descansar. Como nos perdemos na memória como nos esquecemos e como trememos a tentar encontrar a nossa história. Como o tempo passa!... Como ela nos trespassa!... 25


As lacunas aparecem e os pensamentos desparecem…

O coro O Planeta fervilha de vida e toda ela é servida de um grande coro e por vezes de um grande choro... Basta simplesmente ouvir basta simplesmente sentir todas estas vozes estas batalhas atrozes De tanta comunicação que por vezes é uma confusão mas é uma profusão um coro de palpitação. São vozes que ecoam lamentos que soam cantos que evocam as realidades provocam. É apenas coro um coro de vozes 26


a partirem-se como nozes e no vento ecoa o choro. É apenas um coro uma sinfonia de vozes nem é um choro apenas uns algozes…

Opostos Tanto a Primavera como o Outono há uma aquarela de cores. Umas a despontar outras a esmorecer, despontam no horizonte em cores de aquarelas douradas e amarelas, que a Natureza pinta Tanto na Primavera, como no Outono. As cores são as rainhas que despontam das grainhas que enfatizam toda a beleza desta bela Natureza.

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Batas brancas Como pombas brancas São parte da paz Da saúde ser capaz.

Meninice A rua aonde brinquei, o quintal aonde brinquei, é maior do que uma cidade, assim como a árvore que trepei a pensar que era um avião roncava a cada pulsação e voava para além do horizonte sonhava por cima das nuvens e aterrava na terra dura no sopé da árvore. Era a minha meninice de sonhos perdidos num baú como se fossem tesouros que eu hoje vou tirando querendo voltar a ser menino... Não sou caçador de sonhos mas no nosso sótão 28


as memórias que lá pomos será apenas um bater de coração que nos arranca um sorriso uma saudade perdida numa memória já confundida. A rua aonde brinquei o quintal aonde brinquei não há nada no mundo que seja comparável. Foi preciso crescer para saber ver o valor da meninice e da nossa inocência que nunca foi penitência. Bem pelo contrário!

A magia da poesia Tem de saber tem de ver tem de correr que o grande busílis da poesia não é fantasia. Consiste na arte de agradar, o sonho desbravar e essa arte está toda na magia de mover, de remexer, da forma como se quiser, todas as paixões que escondemos no coração, para além da nossa palpitação fazer comover, explodir todo o nosso sentir. Abrir a alma às ninfas apesar de serem lindas é a elas que fazemos poesia a nossa inspiração 29


e explodimos a nossa amorosa fantasia. A nossa renovação Os nossos votos E os nossos pólos.

Nascer em liberdade Nem sempre é verdade Em que o Mundo é uma aventura Para quem nela se aventura.

Que os astros iluminem o teu perfil que ninguém que seja vil te obscure o pensamento para iluminar o firmamento.

As pessoas esperam mudança Ainda têm confiança Mas ela não tem fiança 30


Mas ainda há alguma esperança.

Aonde estão os teus olhos negros negros, negros, Como o carvão Mas quentes de coração. As nossas fontes são as nossas pontes para além do horizonte seja para que sítio se aponte.

A poesia Claro que a poesia é uma busca pela perfeição. Claro que a poesia segue as palpitações do coração. Claro que a poesia é uma busca pela iluminação, Pela elevação, pela entoação, Pelo amor e pela dor Pela paixão e pelo ardor. É um hino há Natureza Um hino à beleza, Um hino à felicidade Um hino à Humanidade.

Nós somos muitas vezes pioneiros, muitas vezes timoneiros De um Povo Por vezes mal compreendido 31


Mas que faz sentido Para um futuro não muito longínquo.

Um novo dia sempre virá Não sabemos o que acontecerá Este já está a acabar Mas ainda dá para amar.

Há um silêncio na praia Há um silêncio na praia quebrado pelo morrer das ondas Um Outono ventoso que ao longo da areia se espraia no pau perdido e espinhoso ao longo dos areais rondas. Há um silêncio na praia vazia e silenciosa que até a gaivota vaia deixando a concha preciosa morrendo na espuma branca nas lágrimas de uma santa. Há um silêncio na praia que a tarde espraia e o frio escorrega pela areia e limos e conchas semeia 32


anunciando um ocaso beijando a Lua por acaso. Há um silêncio na praia que se espreguiça que nos enfeitiça para lá do horizonte o pensamento é uma ponte que a noite estrelada ensaia.

As pandemias As pandemias vão e voltam... Será que aprendemos alguma coisa?... Será porque sempre nos lembraremos Tudo aquilo que perdemos Que não voltaremos a ver Será que devíamos de saber? Não vale a pena ser ágeis Se somos frágeis E daqui partiremos Para o fundo em tábuas iremos. Alguém viverá Alguém saberá No futuro contar E apontar Tudo o que aconteceu Por alguém que teceu. 33


Não há nuvens passageiras Nem passagens ligeiras Os tempos são turbulentos Os tempos são virulentos.

Chuva Hoje há muitas nascentes cai água como estrelas cadentes todas elas sedentas das nuvens cinzentas enchem as fontes muito para além das pontes. Não são castiçais não são serviçais são apenas gotas como se fossem garotas molhando marotas todas as pessoas. Não cai suavemente Cai a potes 34


Que nem os capotes Nos protege Vai do cinzento ao bege Cai ao vento livremente.

Mudanças Neste mundo de mudanças Que tudo anda em andanças Que de tempos a tempos Há vários tempos que em ciclos De ciclos em ciclos Há pandemias Há pestes Há fome Há crises Caem e nascem impérios Caem e nascem países Em que tudo fica alterado Fica tudo devastado. Nada é estático 35


Tudo é dinâmico Não podemos ficar parados Temos que evoluir De substituir De mudar De outros horizontes rumar Pois o amanhã é uma incerteza Nada é adquirido Mas inquirido Questionado sobre esta natureza. Este Mundo está cheio de mudanças Mas também com muitas esperanças.

Já não há uma carta para ti Do muito pouco que hoje vi Só há apenas mensagens Breves e simples passagens De letras comidas à pressa Que nem compõem uma peça...

A nossa sina O nosso fado Neste País mal fadado Que ninguém atina Em que há mais fome Jovem que se forme São aos milhões 36


Com poucos tostões...

Entrelaçam no bico da pena Como se fosse uma dança Palavras com alguma cena Ditam alguma esperança Palavras de amor Para afugentar a dor.

Rumores Rumores são apenas distúrbios como as ondas de um lago são apenas murmúrios que de longe afago. Rumores são por vezes temores algumas dores ou apenas uma azia que nada fazia. Rumores são por vezes tumores de maus odores que não se deve acreditar 37


mas que se deve meditar. Rumores não são nada de mais do exagero a mais são apenas mal dizeres que não deves fazeres.

Quando for maior Quando for maior quero ser o melhor quero ser um príncipe aviador ou doutor e não apenas um índice um anónimo na multidão... Mas que desilusão! Crescemos, passamos a juventude que sempre sonha e se ilude e caímos na realidade na verdade, como fatalidade apenas nua e crua que a vida não é só felicidade. Que não é assim tão pura como a imaginamos como a sonhamos... 38


Ela é bastante dura! Tem que se batalhar Tem que se trabalhar. Se levantou o véu e nos caiu o céu. Pois não há sempre Primavera a vida não é uma quimera em que a flor está sempre a florir e os lábios sempre a sorrir. Quanta ilusão ouve no teu coração?...

Outono As flores caem ao vento Perdem-se os aromas do tempo Que trouxe o Outono ficando apenas o tronco. As folhas ficam douradas deixaram de ser esverdeadas espalhadas pelo caminho sem o mínimo carinho. Já não há flores nem tão bonitas cores nos jardins e nos campos se perderam os encantos.

39


Neste momento os meus olhos são os vossos o meu sentimento e consentimento é posto nos vossos olhos porque nestes abrolhos, porque estou meio confinado não vou a lado nenhum e meio aprisionado não tiro partido algum. O que sei é por alguém são de todos e de ninguém.

Capacidade Há bons e maus momentos há bonança e tormentos e nos lábios sempre um sorriso... Com lágrima no olho, há um ligeiro riso. Mesmo que o coração doa mesmo que a alma grite e não soa há sempre uma capacidade de sorrir daquilo que não se pode admitir... Os outros nada sabem apesar de saber o que fazem há um mistério naquele sorriso que descair pode ser um risco. 40


Está tudo bem quando está tudo mal ânimo que convém com mel e fel se afasta o mal. Há bons e maus momentos há outros firmamentos não desfiguramos nem transfiguramos. Fazer de conta doendo rir apesar do tormento ninguém deve notar nada apesarem de notar que é fadada. Que ilusão tão mórbida tão fora da sua órbita apesar de hipocrisia tem de ser a sua fantasia…

Quadras soltas O vício da liberdade É com o da felicidade Adagia e contagia Como se fosse dia a alegria.

Há um surrealismo Dentro de um determinado realismo Há um determinado ardor Como se fizesse amor.

41


A pão e a água Vou tirar a minha mágoa Não há alternativa Nesta vida aflitiva...

Escrever para ler Poetar para amar Para além de se ver Sentimento desbravar.

Nem sempre o que parece ser é!... ilusão de óptica, ou falsa interpretação. Não basta ter fé Se não tiver coração.

Língua... É quase tudo à míngua Esta pandemia É uma sodomia Como é que se pode falar Ou até palrar Em todas as estâncias Se todas estão em distâncias? Língua... 42


É apenas antíqua.

Entre nós Entre vós Não há nenhuma diferença Não há nenhuma semelhança... Nem laços Nem traços.

Há poetas improváveis Que são louváveis Desconhecidos escritores De poemas pintores.

Nas ondas do mar Nas ondas do mar Espero que venham notas em sondas Nas ondas do mar estou à espera Que tragam alguma mensagem Do outro lado do mar. Na espuma branca do mar Estou à espera de desenhos, de letras Símbolos do outro lado, Que desaparecem na areia. Que do outro lado À vivência, alguém para amar Que no horizonte se espraia Que não dá para uma viagem De vontade quebrado Olhando vagamente as ondas no mar 43


Á espera de falsas esperanças Que da memória vem as lembranças. Esvaem-se pela espuma branca Ao longo da ondeada areia Que no sótão se tranca. Nas ondas do mar Ainda há muito para amar Ainda há muito para remar Muito para lembrar…

Soltas são os versos e as quadras Uma vida dentro de outra vida. São duas faces numa Uma airosa e atrevida Outra vaporosa como uma espuma... Navegam numa nevoenta escuna Leve como uma pluma De uma vida espremida…

Nós somos o sal da Terra... Mas também somos veneno com a guerra. Com ferro ferra Se mata 44


Com o arado aterra. Na terra se semeia Nela se desmata E com amor se planta Na alegria se desplanta.

Um conto para a realidade Não pode ser uma fatalidade Mas sim educar E também elucidar. Um livro para a fealdade Um conto para a felicidade Nada mais falta Para estar em alta.

Nada é o que parece ser Mesmo que estejamos a ver... É quase como ser cego E não ver o bico do prego.

Sou mais de Tecnologia e Ciência E nesta convivência Cabe também alguma poesia Uma letra para além da fantasia.

45


Deixa voar bem alto a fantasia Deixa voar bem alto o teu sonho E escreve um conto E eleva a tua ambição Sem enganar o teu coração. É preciso voar! É preciso sonhar! Isto é poesia!

Não sou Fank Nem tão pouco Punk. Talvez um de Rock Mais para o Pop.

Sim, você pode encantar Você pode sonhar Você pode cantar Você pode espantar Você pode encantar. Você tem palavras Bonitas bravatas Em letras encravadas Em quadras encaixadas. Sim, você pode sonhar Sim, você pode encantar Levar o vento à vela Em sonoridade bela. 46


Sim, você pode espantar Alegria espalhar Uma bela canção De encher o coração.

Não há alucinações Não há verificações Não há soluções... Há caminhos Há carinhos E neles, carrinhos...

Uma nova estrela brilhará no céu Morreu uma bonita estrela Uma bonita voz Que agora estará a brilhar no céu, Num acidente trágico, Que nunca devia de acontecer, Que não se deveria de ver De um som meigo e mágico Ela partiu desfeita Menina, mulher feita Imortal jovem se tornou estrela Que na recordação do amor Deixou na Terra dor Que no tempo desaparecerá Numa brilhante estrela no céu aparecerá. 47


Morreu uma bonita estrela Filha de boas vozes De boas músicas Que ficaram para sempre Na eterna memória Que se imortalizará E se valorizará Numa voz que desapareceu Mas que nunca se desvaneceu E na música e no céu Para sempre brilhará. Uma nova estrela estará Para sempre no céu.

Escrever não dói Nem a pena na mão mói O que dói É não saber o que escrever Sem necessidade de prescrever...

Por entre as estrelas gosto de nadar Por entre elas gosto de sonhar Por entre elas gosto de navegar À luz delas gosto de amar.

48


Estamos vestidos de branco! Há muito tempo que já não nevava assim. Maravilhoso! Que bonito manto branco! Cheio de charme e estiloso Até parece um festim!

Não é fácil perdoar Porque a dor de recordar Do mal que nos atingiu No nosso corpo rúgio.

O homem do leme O homem do leme Que nada teme Enfrenta o mar Para o navegar. O homem do leme Mantem sempre o rumo Com afinco e aprumo Nunca deixa o leme. Não para o amar Não para o temer 49


Mas da pesca viver Nas águas revoltas remar. É o homem do leme Que o mar teme Mas é dele que ganha o pão Que faz forte o coração. É o homem do leme Que não treme Que leva sempre a bom porto Até ao último sopro.

Orgulho e preconceito É esse o nosso defeito Que temos em nós Desde os nossos avós.

Sim, você pode encantar Você pode sonhar Você pode cantar Você pode espantar 50


Você pode encantar. Você tem palavras Bonitas bravatas Em letras encravadas Em quadras encaixadas. Sim, você pode sonhar Sim, você pode encantar Levar o vento à vela Em sonoridade bela. Sim, você pode espantar Alegria espalhar Uma bela canção De encher o coração.

Eternidade Há!... A eternidade Edificamos um deus na eternidade. Demos um nome a uma eternidade No negro mar da serenidade. Quando olhamos para o céu noturno Olhamos para a eternidade Não para a felicidade ou fraternidade Mas para sentimento egoísta e soturno Que nem a santidade 51


Tira a nossa mocidade O branco imaculado manchei Mas por ela marchei. Não somos puros Nem olhamos para os muros E sonhamos com a eternidade Juventude eterna na felicidade. Não queremos morrer Queremos sempre ver Queremos sempre aprender Sem a juventude ofender.

Há sempre algo Na realidade há sempre algo novo algo que nos surpreende nunca estávamos à espera... Há sempre uma surpresa há sempre alguma coisa que nos deslumbra há sempre alguma coisa que nos entristece há sempre alguma coisa que nos enraivece. Nunca podemos dizer que não há algo de novo... Há sempre algo que nos abala que nos deixa sem fala. Há sempre algo para escrever 52


há sempre algo para absorver.

Não podemos fugir Mas podemos rugir Por estarmos confinados De saúde não refinados.

Desejamos sempre o melhor Mas o que está para vir Será possivelmente pior Do menos mau temos de servir…

Lisboa Morreu um pouco a cidade Foi uma infelicidade Mas assim é a vida O fado é assim vivida. É uma cidade aos pulos Nas ruas brincam os putos Chora esta Lisboa Da castanha quentinha e boa. Lisboa chora 53


Lisboa cora Porque alguém sofreu Alguém querido morreu. Já não vai boa Esta Lisboa Desde Alfama a Madragoa A saudade nos magoa. Lisboa cantada Lisboa encantada Chora o seu amor Com bastante dor...

Aconteça o que acontecer, Estamos cá para ver Estamos cá para a viver E para conviver.

O que nasce também morre. O princípio também tem um fim. Nós vivemos no meio deles. Por isso temos que ser forte, Com um aceno de um sim 54


Somos como outros seres Choramos, rimos, brincamos para além da morte. É assim que nós ficamos. Somos simples humanos Não podemos ser desumanos…

A Humanidade por vezes anda às avessas E isto paira sobre as nossas cabeças Precisamos de um novo rumo Para além do nosso aprumo.

Há nuvens negras Negras e pretas Ventos cinzentos Pairam sobre os nossos aposentos…

As palavras As palavras têm cheiro As palavras têm sabor As palavras têm sentimentos Descrevem firmamentos. As palavras têm a suavidade de uma brisa como têm a força de uma tempestade. Têm a força de uma profecia vêm o passado, o presente e o futuro. Tudo, as palavras as descrevem. Tudo, elas sentem. 55


A poesia é a linguagem dos sentidos Que a transformam em música que alegram os espíritos. É através da poesia e da música que se faz um Mundo melhor. Todos os actos são tecedeiras Do Tempo que decorre Que ao longo dele percorre Das teias são verdadeiras. O verbo no infinito Não quer dizer que esteja longe Nem é um lugar indefinido... Pode estar bem perto e não longe. Todas as histórias são verdadeiras, Todos os mitos são verdadeiros, Todas as lendas são verdadeiras.

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