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lendo e aprendendo nazareth ferrari

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reflexo

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lendO e apRendendO

nazaReth feRRaRI

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Aquela senhora de rosto enrugado, velhinha e corcunda, sentada à porta de sua casa pequenina e tão humilde quanto ela, escondia dentro de si um universo de contos e histórias que atraiam a garotada do vilarejo.

Vó conta uma história? E lá ia ela, atendendo ao pedido da garotada da rua, viajando em seu universo criativo e cheio de suspense, onde bruxas, fantasmas, lobisomens e seres encantados criavam vida dentro do mundo de fantasias de sua mente quase centenária, deixando a garotada de olhos arregalados e mente fértil para soltar a imaginação através de suas histórias e criar a imagem do personagem narrado. Certamente, que a noite não dormiam sossegados, pois a contadora de histórias tinha uma maneira especial de transmitir sua arte, fazendo a mente infantil mergulhar por inteiro no mundo mágico vindo da boca desdentada e daqueles olhos miúdos enrugados como papel crepom, mas tão brilhantes, onde nem o tempo conseguiu ofuscar o brilho.

Querida por todos no bairro onde morava a tanto tempo, fazendo de sua vida solitária tomar outro rumo, cercada pelas crianças que tratava como “fios”, em sua humilde linguagem. Talvez dentro dela escondesse o sonho de realmente ter tido muitos filhos, pois adorava os pequenos, mas dentro de sua solteirice não conseguira formar família.

Como era seu verdadeiro nome nunca contava, ria com a boca desdentada, dizendo em tom forte e solene: “Sou a vó dos contos, vó dos medos, vó das histórias, vó dos mistérios”. E assim prosseguia sua vida, com um grande segredo dentro de si: conseguir ler as histórias dos livros, que outras pessoas escreviam, mas que as páginas desses, com seus símbolos gráficos, ela não sabia decifrar. Assim ia, levando e criando

sonhos, mas escondendo seu próprio sonho: saber ler, pois se achava muito velha para conseguir se alfabetizar, e as letras continuavam sendo, para ela, um grande mistério.

Mas como dizia a vó dos contos, “que tudo tem seu dia certo”, um dia chegou ao pequeno vilarejo uma nova professora vinda da cidade grande. Mocinha simples, olhos grandes e azuis, tão brilhantes quanto os da nossa vó, meiga e sempre sorridente. Era um anjo em forma de gente. As crianças ficaram encantadas com a nova professora, mas ela não sabia contar as histórias da vó dos contos.

No pequeno lugar, logo a professorinha de sorriso de anjo conheceu a vó das histórias e passou a escutá-las também. Como ela queria aprender a contar estórias tão fascinantes quanto aquela velha senhora contava e esta por sua vez queria tanto aprender a ler, como aquela encantadora professorinha lia os livros de histórias de outras pessoas famosas. Tornaram-se amigas e em suas confidencias, uma pela sabedoria do tempo, a outra pela cultura dos livros, elas perceberam que poderiam ajudar-se e trocar conhecimentos.

E assim, a professorinha das histórias do livro, ensinou a vó das histórias aprender a ler e a escrever, e a vó se encantou com as histórias que se escondiam no mundo das letras. Por sua vez, ela ensinou a jovem professora a desbloquear o mundo de imaginação que se escondia dentro dela, atrofiada pelo medo de se expor, e que escondia dentro de si um baú de sonhos e fantasias que só precisava ser desbloqueado, para que as palavras formassem histórias.

Assim, lendo e aprendendo, a vó dos contos começou a escrever um fantástico e maravilhoso livro, “o seu livro de histórias”!

nazaReth feRRaRI

Natural de Taubaté, SP. É pintora, escultora, escritora, professora, Pós-Graduada em História da Arte, Engenheira Civil e Membro Titular da Academia Valeparaibana de Letras e Artes. Conquistou inúmeros prêmios em literatura e artes visuais, possuindo obras na Alemanha e na França.

SãO paUlO

elISabete GOnçalveS (bel GOnçalveS)

Minha São Paulo querida, Da garoa já esquecida Embrião da minha vida, O Mundo se expande aqui.

Floresces em concreto, E seu verde já acinzentado Aos poucos vai desaparecendo Na menção de ficares moderna.

Crescimento? O conhecimento e desenvolvimento Em meio às várias Culturas Tudo faz parte de sua engrenagem.

Um verde mínimo sem colorido Finge amenizar... Mas o ar continua Seco e a agonizar.

Tudo passa por Ti Cosmopolita na Alma Para qualquer lugar que se vá Seu aroma nos faz refletir...

Sacomã, São Bernardo e Rudge Ramos Solidificaram a primeira infância, E ainda muito pequena sem entender O novo rumo que surgia. Do Belenzinho à Formosa Entre sotaques cresci, Timidamente ansiando E em busca de novos horizontes saí.

Pelo conhecimento embriagante Em outras paradas também cresci. Guarulhos na profissão amadureci, E entre tantos sonhos me iludi.

Dos sonhos de infância Tão distantes agora. Caminhos percorridos e amadurecidos em Cotia Sem volta para o passado, esqueci.

Ainda és minha São Paulo querida, Na essência e nos meus erres, Incorporados ao meu Português de berço, Grata por ser Paulista, mas preocupada pelo seu rumo.

Desde menina tem adoração pelos desenhos/pinturas/esculturas, e, em especial pelas palavras em forma de poesias, sempre dedilhadas no decorrer da vida. Participou de várias publicações, como: a) Crônica – Revista de Negócios; b) Conto – Infantil; e, c) Poesias – Antologias (várias).

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