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Cinco personalidades negras ganharão estátuas na cidade de São Paulo Geraldo Nunes

SÃO PAULO

de todos os tempos

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GErALdo NuNES

Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.

CiNCo pErSoNALidAdES NEGrAS GANhArão ESTáTuAS NA CidAdE dE São pAuLo

Após a polêmica com a estátua do Borba Gato incendiada por manifestantes contrários aos bandeirantes, por escravizar índios e negros, a Prefeitura de São Paulo anunciou que irá erguer cinco estátuas para homenagear personalidades afrodescendentes que fazem parte da história recente da cidade.

Estão na lista, a escritora Carolina Maria de Jesus, que aparece na foto acima e, além dela, o atleta olímpico Adhemar Ferreira da Silva, a sambista Deolinda Madre e os compositores Geraldo Filme e Itamar Assumpção.

Geraldo Filme, também era chamado de Geraldão da Barra Funda. Meu xará frequentava assiduamente a Rádio Eldorado. Compositor de

sambas refinados com muita poesia nas letras, gravou seu único long-play pela Gravadora Eldorado e ficou amigo da casa. Dele, ficou para mim a lembrança das aulas informais que me deu sobre desfiles carnavalescos. Ele me ensinou como verificar quando uma escola está indo bem ou mal em um desfile e como funciona a decisão dos jurados.

Durante essas conversas informais, Geraldo Filme explicou que o principal quesito é a evolução, depois a harmonia e o samba-enredo. Todas as alegorias e fantasias devem estar de acordo com a letra da música e os componentes da escola, além de sambar, precisam também cantar o samba. “Escola calada perde pontos”, me explicou Geraldão, acrescentando que, “esses são alguns dos detalhes que os jurados levam em consideração antes de dar suas notas”.

Na época dessas conversas o meu programa de rádio, São Paulo de Todos os Tempos, estava no ar há poucos meses. Aproveitei para marcar uma entrevista em estúdio com ele e combinamos para depois dos festejos do ano novo, só que não deu tempo.

Geraldo Filme morreu de repente, em 5 de janeiro de 1995, aos 67 anos. Lembro desta data com muita tristeza até hoje. Fiz questão de apresentar no programa o samba, “Silêncio no Bexiga”, composto por ele em homenagem ao Pato N’ Água, outro sambista da que partiu cedo e deixou saudades.

Sobre Deolinda Madre, outra figura do samba paulista que foi embora em 1995, pesquisei sua biografia para o meu primeiro livro, “São Paulo de Todos os Tempos”, lançado pela RG Editores, em 2001. Chamada carinhosamente de Madrinha Eunice, fundou em 1937, a Escola de Samba Lavapés, a mais antiga de São Paulo e a maior vencedora dos carnavais entre as décadas de 1940 e 1950.

Foram dez títulos consecutivos, mas depois a escola declinou por teimosias entre os sambistas e a Lavapés foi caindo, mas sobrevive desfilando nos bairros embora nunca tenha colocados os pés no sambódromo do Anhembi.

A respeito de Carolina Maria de Jesus, autora do best-seller “Quarto de Despejo”, obtive informações com o próprio Audálio Dantas, jornalista que a entrevistou em maio de 1958 e me deixou um depoimento gravado.

Em uma reportagem para a Folha da Noite a respeito da Favela do Canindé, surgida nas margens do Rio Tietê, Audálio encontrou no barraco onde ela vivia, dezenas de cadernos com anotações e percebeu de imediato a força daqueles escritos para a matéria que iria redigir.

A repercussão de seu texto ajudou a transformar em livro as anotações da autora e, após estrondoso sucesso de vendas, acabou traduzido para 13 idiomas, além de adaptações para o teatro e a televisão.

Audálio Dantas apenas suprimiu do livro alguns trechos considerados repetitivos e alterou a ortografia de algumas palavras para tornar a leitura mais palatável. “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, está sendo relançado pela Editora Ática e já se encontra em todas as boas livrarias.

Quanto a Itamar Assumpção, só posso dizer que fui fã desse artista e compareci a alguns de seus shows no extinto Teatro Lira Paulistana, que funcionava em um porão na Praça Benedito Calixto, em Pinheiros. O lugar hoje é considerado o berço da cena alternativa musical que dominou São Paulo entre 1979 e 1985.

Em setembro de 2014, um dos fundadores do Lira, Riba de Castro, lançou o livro “Lira Paulistana - Um delírio de porão”, onde é contada a trajetória do teatro e de seu artista maior, o cantor e compositor, Itamar Assunção que também morreu cedo, vítima de câncer. Este livro se encontra fora de catálogo e só se consegue adquiri-lo nos sebos.

Do bicampeão olímpico Adhemar Ferreira da Silva, me lembro tê-lo entrevistado quando trabalhei na Rádio Capital. Na ocasião ele se recusou a responder uma pergunta que fiz. Se era verdade que havia competido mesmo doente de tuberculose. Sua trajetória de atleta está contada no livro: “Heroi por Nós: Adhemar Ferreira da Silva, o Ouro Negro Brasileiro”, assinado por Tânia Maria Siviero e a venda no Mercado Livre.

Confira os possíveis endereços das novas cinco estátuas

1 – Carolina Maria de Jesus: Parque Linear Parelheiros. 2 – Geraldo Filme: Praça David Raw, próximo ao antigo Largo da Banana – Barra Funda. 3 – Adhemar Ferreira da Silva: Canteiro central da Avenida Braz Leme – Casa Verde. 4 – Deolinda Madre (Madrinha Eunice): Praça da Liberdade. 5 – Itamar Assumpção: Local ainda não definido.

Sugiro que seja na Praça Benedito Calixto, importante espaço cultural da cidade próximo ao antigo Teatro Lira Paulistana.

Podem ainda acontecer outras alterações de endereços, pois ainda não há uma data definida para a inauguração dessas estátuas.

Fontes

https://guianegro.com.br/qual-sera-o-tamanho-das-cinco-novas-estatuas-negrasde-sao-paulo/ https://jornal.usp.br/cultura/carolina-maria-de-jesus-e-referencia-para-quem-contesta-o-poder/ https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/08/17/carolina-de-jesus-geraldofilme-e-outras-personalidades-negras-irao-ganhar-estatuas-na-cidade-de-sp.ghtml

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