![](https://assets.isu.pub/document-structure/200511154849-f334ba43c198d97df664cbb8ac4ec816/v1/8f9931d3ba51368d1564b769b3532e75.jpg?width=720&quality=85%2C50)
4 minute read
COMPOSIÇÃO DE UM REPERTÓRIO AFRO DE MATRIZ BRASILEIRA
despertar do guerreiro repertório afro de matriz brasileira COMPOSIÇÃO DE UM
Depois que os painéis semânticos revelaram que a pesquisa de referências da turma ainda precisava de aprimoramento, o professor Anderson Penha propôs um novo exercício: a criação de dioramas em grupo, reproduzindo um experimento de composição de cena que ele havia vivenciado no workshop de direção de arte ministrado pelo estilista Jum Nakao. A sala deveria recriar o momento do encontro entre Akin e Moss, do conto Cangoma, num cenário feito de papel pluma com três níveis de profundidade. Mais importante do que garantir o material de papelaria necessário, porém, era assegurar o aprofundamento da pesquisa. Desta vez, os alunos teriam de procurar suas fontes na cultura afro brasileira. Nesse ponto da aula, Michel Cena7 explicou a simbologia do ideograma sankofa, a figura do pássaro que olha para trás: “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”. A ancestralidade, portanto, era um elemento importante a ser buscado.
Advertisement
A construção de um repertório sobre Afrofuturismo de matriz brasileira passa por entender que aqui chegaram povos africanos de origens diversas: Angola, Congo, Moçambique e da região do Golfo de Benim, entre Gana e Nigéria 1 . Essas nações são o berço de elementos culturais que evoluíram no Brasil, como capoeira, candomblé, acarajé, vatapá, caruru, feijão preto, festividades, linguagem e música, embora, devido ao sincretismo, nem sempre seja possível fazer a associação direta com os países citados.
Diante dessa gama de manifestações, compreende-se que a cultura afro resistiu e também foi influenciada pelos indígenas e europeus, dando, assim, origem a novas expressões. É nesse pano de fundo que o afro brasileiro surge, se constrói e se estabelece como cultura; que não é só negra, mas é essencialmente brasileira.
Na nova pesquisa de imagens para a composição dos dioramas, os alunos seguiram sugestões de fontes dadas pelos convidados ou trilharam caminhos próprios. Nas próximas páginas, alguns depoimentos da sala:
1 Era da Escravidão
Uma discussão que me marcou nas aulas foi sobre como era impossível criar uma estética afrofuturista brasileira sem levar em conta nossa miscigenação histórica. O maracatu me veio à mente como uma das manifestações mais ricas nessa mistura da cultura negra, indígena e branca e pensei que o caboclo de lança seria uma ótima personificação da Moss e seu estilo guerreiro. Para compor o cenário, imaginei transformar tudo numa guerrilha de favela. Então, misturei referências do maracatu, da quebrada e de artistas contemporâneos, como Cemfreio, Edgar e André Firmiano. Bruno Lindolfo “ ”
Maracatu.
Mulheres Ngqoko, África do Sul.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/200511154849-f334ba43c198d97df664cbb8ac4ec816/v1/aa3b5bd72c9f68673e176ff0f7dfada0.jpg?width=720&quality=85%2C50)
Por indicação da Carla Andrade, iniciei a leitura de Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, e me apaixonei pela prosa da autora. No texto, procuro observar vários pontos levantados ao longo das aulas, como o simbolismo dos elementos da natureza, os rituais e as questões do corpo negro, especialmente da mulher. Lúcia Gurovitz “ ”
“Comecei a pesquisar músicas, movimentos artísticos, visitei o ateliê do Michel Cena7 e fui também ao Museu Afro Brasil, cheio de referências que me ajudaram a mergulhar no contexto afro brasileiro. No museu, as referências às religiões de matrizes africanas chamaram a minha atenção. Essas manifestações carregam muitos elementos culturais presentes na realidade brasileira.”
Ciro Koshiyama
![](https://assets.isu.pub/document-structure/200511154849-f334ba43c198d97df664cbb8ac4ec816/v1/efcbfc151cf76a256bb567ed7e1ed304.jpg?width=720&quality=85%2C50)
“Vinha de uma trajetória de desenvolvimento individual, a partir da experiência com os orixás cultuados na umbanda. Foi quando percebi que o que eu sabia precisava ser ampliado e aprofundado em outras esferas, integrando ao espírito o corpo e a mente. Ao corpo, uni o início da formação em dança afrobrasileira, podendo experimentar na materialidade, a origem. E à mente, o início de um processo de investigação psíquica com base nos arquétipos, que sinto que existirá por muito tempo.”
![](https://assets.isu.pub/document-structure/200511154849-f334ba43c198d97df664cbb8ac4ec816/v1/1170fdaefc8a05049270a69cee6b60da.jpg?width=720&quality=85%2C50)
Roberta de Barros Barreto
No dia do exercício, cada aluno trouxe seu material de criação (imagens impressas). A sala foi dividida em seis equipes, e dentro de cada grupo, os integrantes compartilharam sua pesquisa com os demais integrantes para chegar a um consenso a respeito dos elementos que comporiam o diorama. Michel orientou a turma ao longo do processo, dando sugestões de como distribuir e equilibrar formas e cores dentro da espacialidade do cenário. Ao final da aula, Anderson pediu que a sala elegesse os dois dioramos favoritos e se dividisse novamente, desta vez em dois grupos, para passar à fase seguinte — a criação de duas experiências físicas com base nas cenas eleitas. Havia ainda um desafio extra, colocado desde o primeiro dia de aula da disciplina: ambos os grupos deveriam explorar o gelo como materialidade em algum momento de suas narrativas.
Criação dos dioramas na sala de aula.
Ilustração de Iemanjá.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/200511154849-f334ba43c198d97df664cbb8ac4ec816/v1/0726da7b9a9685f10a338c57c27fd71f.jpg?width=720&quality=85%2C50)
![](https://assets.isu.pub/document-structure/200511154849-f334ba43c198d97df664cbb8ac4ec816/v1/15e4ee266611faa7118b271662f8e76e.jpg?width=720&quality=85%2C50)