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WHAT IF: CENÁRIOS FUTUROS CONSTRUÍDOS EM GRUPO
what if:
Análise da rodada 3 do What If.
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cenários futuros construídos em grupo
Para estimular a turma de Design Experimental a imaginar cenários futuros de forma coletiva, a sala toda foi convocada a participar do What If, um jogo criado pela Rito, empresa que desenvolve experiências imersivas de aprendizagem. Jogado dentro de um grupo de WhatsApp, tem por objetivo inspirar a geração de hipóteses com base na combinação de dois sinais. “Na nossa visão, sinal é um acontecimento com potencial de grande impacto, mas para o qual ninguém está prestando muita atenção ainda. Quem percebe antes consegue se preparar melhor para as mudanças que virão dali”, diz Bruno Macedo, um dos sócios da Rito, que aplicou e moderou o jogo. Bruno também foi o responsável por selecionar sinais relacionados ao tema do Afrofuturismo para as três rodadas realizadas com a turma.
Segundo as regras, cada participante deveria elaborar ao menos uma hipótese de futuro inspirada pelos sinais lançados e enviá-la ao grupo de WhatsApp do jogo. Quem não mandasse nenhuma, era eliminado da rodada seguinte. Não havia limite máximo de número de hipóteses. Todas as formulações deveriam começar com a expressão “E se….” Ao longo de cada rodada (que durava 24 horas), a ideia era suspender o julgamento e soltar a criatividade. Apenas hipóteses podiam ser postadas, nada de críticas ou réplicas.
1RODADA
Sinal 1: Em uma parceria com o grupo RZO, inteligência artificial criou música inédita do falecido rapper Sabotage, sendo alimentada com textos e letras de músicas escritas pelo rapper.
Sinal 2: Batalhas de rap crescem com streaming no YouTube e emergem como forma de disseminação das memórias ancestrais, cultura pop, transformação social e protesto sem violência.
HIPÓTESES GERADAS: 87
2RODADA
Sinal 1: Monumentos e personagens negros colocados nas ruas com realidade aumentada como ação de reivindicação do seu espaço no imaginário popular.
Sinal 2: Iniciativa de educação cria franquia de entretenimento que utiliza heroína negra para estimular crianças africanas a aprenderem a ler e escrever a partir de uma figura representativa.
HIPÓTESES GERADAS: 55
EXEMPLOS DE HIPÓTESES QUE SURGIRAM:
“E se as inteligências artificiais programadas para fazer rap começassem a vencer todas as batalhas, tirando, assim, a voz e o espaço dos artistas?”
“E se para entrar na universidade os alunos tivessem que participar de batalhas de rap sobre os assuntos que pretendem estudar e uma inteligência artificial escolhesse os melhores?”
“E se a inteligência artificial fosse péssima em atividades criativas, mas excelente na execução de processos, e assim liberasse o ser humano para explorar seu potencial criativo enquanto as máquinas se ocupassem de outras tarefas?”
EXEMPLOS DE HIPÓTESES QUE SURGIRAM:
“E se a realidade aumentada pudesse projetar orixás nos santos católicos conforme o sincretismo religioso e permitisse a apropriação e o uso compartilhado de igrejas católicas por religiões de matriz afrobrasileira?”
“E se um game de heróis orixás fosse produzido e pudesse ser jogado por crianças no meio da rua em seu bairro?”
“E se toda a história da África fosse apresentada às crianças em realidade aumentada (construções, pirâmides, saberes) e todo mundo crescesse com a ideia de que os povos negros realizaram feitos gigantes?”
Ilustração do Yemi Yung.
3RODADA
Sinal 1: Bitnation é um movimento de código aberto para pessoas se tornarem cidadãs de qualquer nação — ou até mesmo criar a sua própria nação — apenas com um aplicativo de smartphone.
Sinal 2: Finlândia desenvolve uma identidade digital única para refugiados operada em blockchain. O cartão MONI funciona como uma conta bancária que permite comprar, pagar contas e até mesmo receber depósitos diretos dos empregadores, oferecendo inclusão financeira. Todas as transações são registradas em um banco de dados público, virtualmente incorruptível.
HIPÓTESES GERADAS: 47
EXEMPLOS DE HIPÓTESES QUE SURGIRAM:
“E se depois da unificação do mundo por meio da Bitnation surgisse um novo idioma universal?”
“E se existisse um sistema monetário em que as pessoas ganhassem ou perdessem créditos conforme suas atitudes com os outros?”
“E se as criptomoedas levassem à extinção do dinheiro físico e do sistema bancário tradicional, e isso acentuasse ainda mais a exclusão de quem não tem acesso a internet, smartphone, computador?”
Após a geração de hipóteses, a turma recebeu a tarefa de produzir uma análise e transpor essa interpretação para uma representação gráfica. Os alunos decidiram então classificar as hipóteses quanto ao tipo de futuro (possível, preferível, provável e improvável), identificar os temas principais e secundários (tecnologia, política, economia, educação, religião, comportamento, sociedade) e tabular essas ocorrências com o objetivo de criar gráficos e uma nuvem semântica para cada rodada.
O What If, fora ser um ótimo exercício de imaginação de cenários futuros, foi importante para sinalizar para a turma a ligação entre o Afrofuturismo e o campo dos ritos e da ancestralidade, assunto que ressurgiria nas conversas com os convidados das aulas e que também está presente no trecho do conto Cangoma trabalhado pelos alunos. As hipóteses surgidas na rodada 2 que propõem o uso compartilhado de igrejas católicas por religiões de matriz africana e um game com heróis orixás foram bastante significativas, pois mostram que a combinação de tecnologia com ancestralidade tem potencial para produzir experiências cheias de simbolismo.
Ilustração do Yemi Yung.