Catetinho - toda história tem um começo

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um olhar alternativo

CATETINHO: PORQUE TODA HISTÓRIA TEM UM COMEÇO SOUSA, Diego Aristófanes Dias de – diegoaristofanes@hotmail.com LIMA, Ítalo Santos de – surfistaprateado_00@hotmail.com ROMANO, Elisabetta – UFPB - elisabetta.romano@gmail.com


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Resumo Esta pesquisa bibliográfica tem como por objetivo uma reflexão a cerca da importância que o Catetinho, primeira residência oficial em Brasília, desempenhou no episódio da construção da referida cidade, constituindo um dos eixos temáticos que compõem o trabalho intitulado Brasília, um olhar alternativo, proposto nas aulas da disciplina de Metodologia Científica, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba, compreendendo o período 2010.1. O tema é abordado com base em uma narrativa histórica, que se refere ao Catetinho como sendo uma influência primordial na realização do plano de construção de Brasília. Palavras-chave: Reflexão. Catetinho. Brasília.

Abstract This bibliografical research aims to a reflection about the importance that Catetinho, the first official residence in Brasilia, performed in the episode of this city’s construction, being one of the themes composing a work titled Brasilia, um olhar alternativo (an alternative look), proposed in the Scientific Methodology classes of the Architecture and Urbanism course, in the Paraíba’s Federal University, comprehending the 2010.1period. The subject is broached on the basis of an historical narrative, which refers Catetinho as being a primordial influence in the realization of the Brasilia’s building plan. Keywords: Reflection. Catetinho. Brasília.

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I n t rodução O estudo deste trabalho tem como enfoque algumas considerações a respeito do

Catetinho, a primeira residência oficial, de caráter provisório, construída em Brasília. Em acordo com a proposta apresentada em sala de aula na disciplina de Metodologia Científica do período 2010.1, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba, o tema faz parte de um conjunto de 13 eixos temáticos que constituem um trabalho intitulado “Brasília, um olhar alternativo”, cujo objetivo prima reflexões a cerca de vários fatores, sociais, culturais, arquitetônicos, que compõem um grande palco de contrastes que seria Brasília, em decorrência de esta estar completando 50 anos de fundada. O tema será abordado através de reflexões a cerca de uma narrativa histórica sobre a construção do Catetinho e de eventos ocorridos paralelos ao mesmo, para que se possa observar a importância que um simples prédio de madeira, adquirindo o caráter de um símbolo, pode chegar a possuir diante de eventos tão marcantes na história da humanidade.

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Desenvolvimento O ano de 1956 prometia ser de grandes transformações no contexto econômico e

social do Brasil. Neste ano, Juscelino Kubitschek de Oliveira tomou posse do cargo de presidente da república, com promessas de desenvolvimento nos setores da energia, do transporte, da alimentação, da indústria e da educação e, além de tudo isto, com a idéia de transferir a sede do governo federal para o centro do Brasil, de forma que esta transferência servisse de base para o desenvolvimento daquela região e para uma maior integração entre cada uma das regiões que compunham o Brasil. Como toda e qualquer nova idéia que se tente concretizar, surgiram de pronto adeptos para com a realização do feito de se criar Brasília, bem como aqueles que se opunham ao mesmo. Críticas ferrenhas foram postas contra a política de Kubitschek e até mesmo parceiros de ideal chegaram a duvidar da tarefa. Segundo Oliveira (1978), em 02 de outubro de 1956, ao visitar em companhia de representantes do governo pela primeira vez o local onde seria construída a nova capital do Brasil, na Fazenda do Gama, sertão de Goiás, a descrença de que seus objetivos se realizassem naquela terra era aparente nos rostos da maioria dos ali presentes, ainda mais por que o prazo para o termino das obras era de três anos e dez meses, antes que seu mandato como presidente acabasse. A pressão opositora era muito forte, e aqueles que se puseram ao seu lado deixavam-se cair no desânimo. Só uma alavanca inspiradora poderia trazer à tona a coragem necessária para que algo que tão grandioso pudesse ser feito. Foi este o papel do Catetinho,


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uma singela edificação sem valor aparente, mas que desempenhou um papel fundamental neste contexto, tornando-se a personificação do companheirismo nos momentos mais críticos. A idéia de se construir o Catetinho surgiu de uma forma meio que inesperada, numa conversa entre amigos em uma mesa de bar. Amigos íntimos de Juscelino como os engenheiros José Ferreira Chaves e Roberto Penna e figuras como o arquiteto Niemeyer e o jornalista e compositor Emydio Rocha, conversavam no Juca’s bar, localizado no hall do Hotel Ambassador, Rio de Janeiro, e discutiam como se daria o acompanhamento das obras no local onde seria construída Brasília pelo presidente. Um conjunto de trinta barracas havia sido ofertado pelo Ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, anteriormente àquela conversa, mas logo chegaram à conclusão de que dormir em barracas não seria algo apropriado a um presidente. João Milton Prates, ex-comandante e piloto da FAB, e seu irmão César Prates, que também estavam na conversa, havia juntamente com JoséFerreira e Roberto Penna discutido em seu quarto sobre a idéia de construir um abrigo provisório, mesmo que de madeira e com os próprios recursos. A idéia foi proposta naquele meio e aceita de pronto, logo por que ali se encontravam dois engenheiros. Niemeyer no mesmo instante pediu uma folha de papel e caneta ao garçom e fez um croqui de sua idéia para a construção e os dois engenheiros calculam o valor estimado do custo de produção.Esta conversa se passou no dia 12 de outubro de 1956 e nela ficou acertado entre seus integrantes que tudo seria mantido em sigilo, para que se pudesse fazer uma surpresa ao presidente. O grupo dividiu entre si as tarefas que cada um desempenharia no arranjo das providências necessárias e decidiu que se reuniriam dali a nove dias (dia 21 de outubro), para o inicio das obras, e que tudo estaria terminado no dia 31 do mesmo mês para que pudesseser entregue no dia 1º de novembro. No dia 13 de outubro, Niemeyer já havia acabado o projeto definitivo. Pensou-se em um edifício que conferisse uma visão panorâmica da região, portanto, os principais aposentos foram postos no primeiro andar e o térreo foi destinado à parte de serviço. Ele seria composto essencialmente por madeira, dado à maior facilidade que seria lidar com este material e à rapidez de se construir com o mesmo. Tanto os materiais de construção, como maquinário e mão-de-obra necessários foram arranjados em uma cidade da microrregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba de nome Araxá. Nesta, além de por iniciativa privada terem conseguido estes recursos, também tiveram grande contribuição de uma empresa de nome FERTISA, que cedeu por empréstimo tratores, operários, caminhonetes, etc., que foram de grande valia para que o “Palácio de Tábuas”, como foi apelidado, pudesseser erguido.

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A relação entre a FERTISA (uma fábrica de fertilizantes) e Juscelino Kubitschek é bem próxima pelo fato de esta ter sido criada pelo próprio enquanto governador de Minas Gerais, na mesma década em que se elegeu presidente da república. Foi por esta empresa possuir uma fábrica em Araxá, que ficava relativamente próxima à antiga Fazenda do Gama, que todos os recursos materiais foram ali arranjados. Além de engenheiros, fizeram-se presentes no dia 21 de outubro outros profissionais essenciais para a manutenção do ambiente, como técnicos em rádio amador, bombeiros-encanadores, empresários na ária de carpintaria e um aviador. As dificuldades para que o comboio de Araxá chegasse ao destino em hora certa foram tremendas, pois que as estradas para que se chegasse lá eram bastante precárias e tiveram que enfrentar muita lama e chuva, além do fato de um mesmo caminhão ter apresentado defeito duas vezes. Dividido em dois, o primeiro grupo de carretas e caminhões partiu no fim da tarde do dia 19 de outubro de 1956 e o último caminhão só chegou à Luziânia (a Fazendo do Gama localizava-se na estrada entre Luziânia e Formosa, ambas no Nordeste de goiano) na manhã de 21 de outubro. A chegada à fazenda se deu por volta do inicio da noite do mesmo dia. Do grupo dos idealizadores do projeto, estava presente no grupo que partoi de Araxá apenas Roberto Penna. A caravana formada por aqueles que ficaram no Rio chegou no dia 22 de outubro pela manhã, integrada por Milton e César Prates, José Ferreira Chaves, Dilermando Reis, Emydio Rocha e Osório Reis, além de um eletricista que trabalhava na firma construtora de JoséFerreira. As obras tomam início no dia da chegada da última caravana, para que pudessem estar concluídas no dia 31 do mesmo mês. Ali próximo às nascentes de água que primeiro serviram como referência para a construção de Brasília, abriu-se uma clareira. A vegetação desmatada serviu de auxílio na obtenção de alguma madeira. No mesmo dia à noite, foi posto ao ar uma estação com o rádio, que a partir dali seria utilizado para manter comunicações constantes com o Palácio do Catete (casaoficial do presidente enquanto sediado no Rio). Apesar de toda a simplicidade, o “Palácio de Tábuas”, como era conhecido até então, não dispensava de recursos de primeira necessidade como instalação de água quente e fria, instalação elétrica e sanitária e fogão à lenha. No dia programado para a inauguração, o presidente não se pôde fazer presente, tendo esta que ser adiada para o dia 10 de novembro. Mesmo assim, o termino das obras foi motivo de comemoração. Foi também no dia primeiro que surgiu a idéia por Dilermando Reis de apelidar a construção como Catetinho, em alusão ao Palácio do Catete. Também se aproveitou durante a construção a disposição dos funcionários da FERTISA e seu maquinário para a ampliação e melhoramento da pista de pouso, que possibilitou pela primeira vez o pouso do “ douglas” (um certo tipo de avião) presidencial em

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10 de novembro de 1956 no local. Neste dia ocorreu a inauguração do Catetinho, que contou com a presença não só dos pioneiros que realizaram aquele feito, como de autoridades e outras pessoas da sociedade Goiana, tudo feito de forma muito simples, com um almoço no térreo da edificação, já que na hora caia uma chuva que impediu eventos a céu aberto. De pronto, ao ver o que seusamigos fizeram, Juscelino demonstrou seu agrado:

- Se meus amigos praticaram este milagre em tempo recorde, apenas com idealismo e sem recursos oficiais, por que não poderei construir a nova Capital, já que disponho, no Governo, de toda uma infra-estrutura administrativa e de recursos financeiros? (VASCONCELOS,1989)

A partir daquele dia, Juscelino Kubitschek revigorou o ânimo quanto à construção de Brasília. O Catetinho tornou-se o símbolo que trazia a certeza de que tudo o que havia sido planejado seria possível e que de que o presidente contava com o apoio de amigos que não desistiriam jamais. Mesmo desprovidos de quaisquer recursos oficiais, com a mais pura vontade de demonstrar um sentimento de companheirismo, seus parceiros realizaram um feito de desbravamento, o primeiro passo rumo à construção da nova capital do Brasil. Foi uma simples construção de madeira, feita em dez dias, que posta nos contexto e hora certos, influenciou de forma significativa na concretização de um dos maiores feitos já realizados não só no Brasil, como também no mundo. Em tributo ao feito dos pioneiros, foi posta no Catetinho uma placa de bronze em 10 de novembro de 1958, segundo aniversário da obra. Nela estão contidos os nomes de João Milton Prates, Oscar Niemeyer, Cesar Prates, José Ferreira de C. Chaves, Roberto Penna, Oilermando Reis, Emídio Rocha, Vivaldo Lírio, Osório Reis e Agostinho Montandon. Em 21 de Julho de 1959 o Presidente Juscelino Kubitschek determinou o tombamento do Catetinho, assim, eternizando na memória da história da construção de Brasília um dos episódios mais marcantes que nela ocorreu.

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Conclusões Através da narrativa da história da construção do Catetinho e de eventos paralelos

ao mesmo, foi possível identificar a importância que esta singela construção conferiu na realização de uma obra grandiosa. Este representou um ato de pioneirismo rumo ao desenvolvimento da porção central do Brasil e da interligação entre todas as regiões do país, pois eis que foi a primeira construção onde seria erguida a nova capital do Brasil, tudo a partir dos recursos de amigos do próprio Juscelino Kubitschek, o que também revela um ato de companheirismo por parte daqueles que sempre estiveram ao seu lado.

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Vale ressaltar, que foi esta casa, construída em dez dias, que reacendeu os ânimos de todos os que sonhavam como pronto o projeto de Brasília, quando muitos pensaram ser esta uma missão impossível. O Catetinho constituiu um símbolo. Foi ele a flama inspiradora que me ajudou a levar à frente, arrostando o pessimismo, a descrença e a oposição de milhões de pessoas, a idéia de transferência da sede do Governo. (Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1956, citado por GUIMARÃES,2008).

Referências OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. 50 anos em 5: meu caminho para Brasília. v.3. Rio de Janeiro: Bloch Editores S.A., 1978. VASCONCELOS, José Adirson de. A epopéia da construção de Brasília . Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1989 GUIMARÃES,Ahilton. A construção do catetinho . Disponível em: <http://www.aconstrucaodocatetinho.com.br/index.html>. Acessoem: 12 de abril de 2010. A vida de JK . Disponível em: <http://www.memorialjk.com.br/jk/indexjk.htm>. Acesso em: 12 de abril de 2010. Araxá. Disponível em: <http://www.cidades.com.br/cidade/araxa/001282.html>. Acesso em: 12 de abril de 2010. Catetinho nasceu num bar. Visão, SãoPaulo: Companhia Lithographica Ypiranga, 20 dez. 1959. Disponível em: <http://doc.brazilia.jor.br/HistDocs/Pubs/1959visaoCatetinho.htm>. Acessoem 12 de abril de 2010.

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