IDENTIDADE URBANA - O Centro Histórico de São Paulo

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IDENTIDADE URBANA O Centro Hist贸rico de S茫o Paulo



CADERNO DE INVESTIGAÇÃO

5 percursos no Centro Histórico de São Paulo



1º DIA - 14/03 Casa- Trem - Santo André- Brás - Sé - São Bento. Saio da Estação São Bento do metrô e tenho uma grande surpresa. Várias pessoas acumuladas em frente ao Mosteiro. Tem um pessoal em roda observando um cara fazendo mágica, ao lado tem outro vendendo carregadores portáteis para celular, já outro vendendo brinquedos com duas crianças em volta, outro vendendo pulseiras e colares para duas moças, outro oferecendo garrafinhas de água e, do outro lado, uma senhora pedindo esmolas e várias barracas enfileiradas de diversos tipos de comida com uma grande quantidade de pessoas formando fila. Fiquei sem reação primeiramente. Tiro algumas fotos. Após observar tudo por uns 20 minutos, avisto um banquinho livre próximo a um grupo de pessoas sentadas em volta de uma mesa batendo papo e comendo lanches. Pergunto se posso usar o banquinho e a resposta foi sim. Tiro um bloco de folha canson da bolsa, lápis e borracha para começar um desenho do Mosteiro. Várias pessoas começam a me olhar e fico um pouco envergonhada pois não esperava ser tão observada. Fico insegura. Alguns minutos depois escuto um barulho de moeda caindo no chão em minha direção, olho para os lados procurando a pessoa que deixou cair, mas logo percebo que um moço acompanhado de uma criança tinha jogado para mim. Fico surpresa, pela segunda vez no dia, e penso: “Será que ele pensou que eu era uma artista que vendia desenhos na rua?!” Não sei a resposta. Meia hora depois quando estava tentando desenhar as pessoas juntamente das barracas, dando um tempo do desenho do mosteiro, uma senhora senta próximo a mim para comer uma porção de milho na mesa. Ela me olha por um tempo e depois pergunta meu nome. Faço o mesmo. Ela responde dizendo que se chama Elizabete e logo depois me pergunta quanto eu cobrava para fazer um desenho. Terceira surpresa no dia. Pensei novamente: Será que por eu estar rodeada de

diversos comerciantes, as pessoas estão pensando que estou aqui para vender desenhos?! Respondo Elizabete dizendo que estou ali fazendo um trabalho para faculdade e explico sobre o tema. Ela fica surpresa e me deseja boa sorte. Pouco tempo depois duas pessoas sentam junto à Elizabete. Acho que eram os filhos. Posteriormente, sinto um pingo de chuva na minha cabeça, guardo tudo apressadamente com medo de molhar as minhas folhas e saio correndo para uma loja de eletrônicos do outro lado da rua a fim de abrigo. Percebo que poucas pessoas fizeram o mesmo. Fico ali em baixo do toldo da loja por meia hora e fico observando as pessoas, que mesmo com chuva, não paravam de circular ali no calçadão. Considerando que a chuva não ia parar tão cedo porque o céu estava ficando cada vez mais cinza, decido voltar pra casa. No metrô, repasso em minha cabeça tudo o que tinha acontecido e penso novamente: Será que em minha próxima visita terei mais surpresas com as que tive? Espero que sim. São Bento - Sé - Brás - Santo André - Casa.


MOSTEIRO DE Sテグ BENTO



2º DIA - 21/03 Casa - Trem - Santo André - Brás - Sé. Decido que hoje começarei pela Catedral da Se´. Como sempre, a praça esta cheia. Os acontecimentos são inúmeros e os mais diversos. O que chama mais a minha atenção primeiramente é um enorme grupinho de pessoas em frente à Catedral. Me aproximo para ver o que está acontecendo. Como diz a plaquinha que uma moça está segurando, se trata de um “Free Walking Tour”. Há um moço contando a história da Catedral em inglês, logo, associo que a maioria do grupo é formado por estrangeiros. Fico junto a roda escutando o relato até todos entrarem na catedral. Tiro algumas fotos e sento perto do altar. Começo o primeiro esboço do dia. Enquanto desenho escuto uma mulher à minha esquerda dando risada. Olho pra ela. Ela ri de novo e aponta para um senhor em nossa extrema direita. Ele está soltando leves roncos enquanto sua cabeça está pendendo para frente aos poucos até levar uma espécie de “choque” e voltar com sua postura. A moça ri mais uma vez. Volto minha atenção aos rabiscos. Tiro mais duas fotos e saio da catedral. De volta à praça, avisto pessoas engraxando sapatos. São 9 barracas ao todo e quase todas estão ocupadas. Tem pessoas dormindo no chão próximo às arvores e monumentos, outras tirando fotos ou selfies tendo como fundo a Catedral. Uns gritam vendendo chocolate, outros vendendo água, colares, bíblias, carregadores portáteis, fones de ouvido, meia, toucas e medalhões. Há três rodas de pessoas. No centro de cada uma tem um homem falando em alto e bom som sobre alguma passagem da bíblia. Me aproximo do marco zero da cidade, observo mais pessoas tirando fotos e decido desenhar a fachada da catedral de pé. O que foi certamente desafiador para uma pessoa desajeitada como eu. Decido ir ao Pátio do Colégio. Ando pela 15 de Novembro e mais uma vez a presença da roda de pessoas em voltar de alguém é presente. Por falta de uma, tem duas. Na primeira, um acrobata está tentando se livrar

de várias cordas que estão amarradas ao redor do seu corpo. Na segunda, um casal canta músicas sertanejas. Paro para observá-los por pouquíssimo tempo e viro a primeira a direita. Chegando no Pátio do Colégio avisto uma vã vermelha estacionada sob o calçadão distribuindo mapas turísticos, mapas do metro e informações. Peço um mapa e pergunto se posso ficar ali para desenhar. Quando sento no chão apoiando as minhas costas na lateral da vã, sou repreendida por um moço chamado Ricardo, que oferece sua cadeira para eu sentar. Ficamos naquela de: “Não, não precisa”, “Eu faço questão”, “Relaxa”, até eu aceitar. Escutei diversas pessoas pedindo mapas e informações na vã. Nos primeiros 10 minutos contei 7 pessoas tocando sino, mas logo perdi a conta. Alguns escoteiros chegaram fazendo barulho. Uma mulher passa na minha frente e comenta para o seu acompanhante: “Aquela alí só pode ser arquiteta”. Muitas pessoas tirando fotos. Alguns passam, olham o que estou fazendo e dizem algo como: “Está ficando bom heim!”. Depois de 40 minutos ali um senhor para na minha frente e pergunta o motivo de eu estar desenhando. Explico. Ele pergunta meu nome e logo em seguida diz: O meu nome é o nome dessa Cidade. Ele pergunta se eu gosto do centro e ficamos por 20 minutos falando de assuntos diversos. Mas o que mais me marcou nessa conversa foi quando ele disse: “Sabe esse banheiro dentro do Pátio? É pra rico, tem pagar pra usar. Nunca vi isso na minha vida. Depois os pobre fazem suas necessidades na rua e todo mundo reclama quando fica sentindo o cheiro ou vendo a sujeira pela cidade. Mas ninguém está a fim de tratar os pobre como gente. Se o banheiro fosse de graça, eu aposto que esses três ali que estão dormindo nesse monumento não iam fazer xixi ali. Você acha que eles não tão nem ai?! Muito pelo contrário. Eu já fui morador de rua. Sei bem como é”. Em seguida ligo a câmera do meu celular pra tentar gravar a conversa. Não aviso com medo dele se sentir intimidado. Ele abre a bíblia algumas


vezes. Depois diz: “Tem algo especial em você, o que é eu não sei. E sabe porque o espírito santo não se manifesta na maioria das igrejas católicas? Porque o povo é de coração duro. Reza com a boca, mas o coração está longe”. Antes de ir embora ele anota o seu telefone em um panfleto qualquer que acha na sua sacola e diz que eu poderia colocar o que ele disse em meu trabalho e se eu quisesse conversar com ele era só ligar. Dou risada e agradeço ao Paulo pela conversa. Fico por mais alguns minutos ali. Decido ir embora porque o tempo estava fechando. Agradeço a equipe da vã. Antes de sair dalí a menina mais nova comenta: “Sabe o que eu acho engraçado no centro?! Que, pra mim, é o único lugar de São Paulo onde a rua é dos pedestres. Até quando o farol de atravessar está fechando e as pessoas querem atravessar, elas passam todas juntas e não há carro que ouse passar. Aqui as pessoas andam livremente. Fazem o que querem. Você acha de tudo. Tem sempre uma rodinha por aí com alguém no meio fazendo alguma maluquice. Todo mundo gosta. Não entendo porque muita gente não gosta do centro. A cidade esta ficando cada vez mais fechada. Já já nossa cidade vai virar mini feudos. Lá atrás no feudalismo o povo não se fechava com aqueles murões na tentativa de defesa?! Não vejo diferença nenhuma nesses condomínios fechados com muros cada vez mais altos”. Concordo e mais uma vez agradeço e volto para rua Quinze de Novembro. As duas rodas de antes continuam ainda ali, mas o foco central eram outros. Paro e observo. Realmente, acho que a grande identidade do calçadão são essas grandes rodas. Volto para a Catedral da Sé e sento próximo ao altar novamente. Escrevo meu segundo diário de bordo. Tiro mais duas fotos e vou embora. Metrô - Sé - Brás - Santo André - Casa.


CATEDRAL DA SÉ




PÁTIO DO COLÉGIO




3º DIA - 27/03 Casa- Trem - Santo André - Brás - Anhangabaú. Sexta feira. É dia de Ópera no Theatro Municipal de São Paulo. Ao sair na varanda do primeiro pavimento do lado direito avisto o Edifício Matarazzo, sede da prefeitura do município de São Paulo, e logo ao lado o Edifício Conde Prates. Me arrependo logo em seguida de não estar com nenhum material de desenho para fazer um registro. Começo a observar o Vale do Anhangabaú. Ele está praticamente deserto. Na verdade, para lá do Viaduto do Chá, o Centro Velho, está vazio. Ninguém nas ruas, ao contrário das que contornam o teatro. Na calçada da Praça Ramos de Azevedo há uma pequena roda em volta de um músico tocando Brasileirinho no violino. As pessoas que estão ao meu lado na varanda também estão atentas ao músico. Recebo uma ligação. Minha amiga está “presa” na estação República do metrô e não consegue acessar a linha vermelha do metrô para desembarcar na estação Anhangabaú devido à paralização da linha. Digo em seguida em que a estação República também é muito próxima do teatro. Percebo a insegurança e vou buscá-la. Ando pela rua Barão de Itapetininga e ela não está cheia, está lotada. Mesas estão espalhadas pelo calçadão, músicas de diversos estilos tocam nos estabelecimentos. Vários grupinhos de amigos conversam, outros bebem, outros comem, outros estão somente de passagem. Camelôs estão alinhados no centro do calçadão vendendo os famosos carregadores portáteis, fones de ouvido, roupas, brinquedos, canetas, água e pulseiras. Ao final da rua, encontro a situação mais representativa do centro: a roda de pessoas em volta de uma atração. Se trata de um grupo de africanos tocando tambores e cantando suas músicas. Quase todos os expectadores estão com os seus celulares levantados tirando fotos ou filmando. Faço o mesmo e desço as escadas rolantes da estação República. Voltando na Barão de Itapetininga com a minha

acompanhante, ela comenta que está surpresa, pois não fazia a mínima ideia de que havia “vida” no centro de São Paulo depois das 19 horas, e, ao som de um novo músico, que não estava na minha ida à estação República, atravessamos a rua até o teatro. Percebo que a simples aparição desse músico mudou o “clima” do calçadão em questão de pouquíssimos minutos. Do ritmo do samba ao ritmo de Caetano Veloso. A mudança foi muito rápida e começo a me perguntar se a vida no centro é sempre assim: uma metamorfose repleta instantes. Nunca está igual. Nas escadarias do Teatro, pegamos uma pequena fila para entrar. Olho mais uma vez à minha direita pra lá do Viaduto do Chá e nenhuma mudança no Centro Velho. Olho para a esquerda e o Centro Novo está repleto de vida. Saímos depois das 23:30. A única via onde as pessoas transitam é a Rua da Consolação para fazer o acesso à estação Anhangabaú, ou para retirarem os seus automóveis com algum manobrista ou esperar um ônibus no ponto da esquina. Os camelôs ainda se encontram nessa rua vendendo chocolates e algumas bugigangas. Depois da estação não há mais ninguém. Todas as pessoas estão concentradas entre o teatro e a estação. Acredito que após a saída de todos do teatro, o Centro Novo ficará vazio, igual ao Centro Velho que “já foi dormir” antes das 18:30. Metrô Anhangabaú - Brás - Santo André - Casa.


4º DIA- 28/03 Casa - Trem - Santo André - Brás - São Bento. Pela primeira vez vou acompanhada de alguns amigos. Um deles é da Costa Rica e é um dos seus últimos dias no Brasil. Decido que iremos subir no terraço do edifício Martinelli, mas antes, entramos no Mosteiro de São Bento porque quero que eles conheçam o meu lugar preferido do centro. Os três ficam de boca aberta e ficamos lá dentro por volta de 30 minutos. Não tinha muitas pessoas na igreja, porém entre elas 4 eram estrangeiros. As barraquinhas de comida que encontrei no meu primeiro Diário de Bordo ainda estão ali em frente ao mosteiro, juntamente com alguns camelôs. Quase não dá para andar no calçadão com a quantidade de gente. Caminhamos em direção ao Martinelli pela Libero Badaró. Os comércios no térreo de cada edifício estão abertos, e diversos camelôs estão espalhados pelo calçadão vendendo os produtos de sempre: carregadores portáteis, fones de ouvido, roupas, pulseiras e água. Chegando no Martinelli avistamos uma fila bem significativa para subir no terraço. Alguns estão com câmera em mãos e dois estão com as suas penduradas no pescoço. Assinamos um caderno de visita e um grupo é liberado para subir. A 30 pavimentos acima do chão, visualizamos a cidade de São Paulo. Todos estão com suas câmeras e celulares em mãos para registrar o momento. Escuto comentários como: Nossa olha ali, a Catedral da Sé”, “ Nossa o Banespa é muito alto” ou “olha alí a Praça das Artes”. É como se todos estivessem brincando de achar os edifícios ou seus lugares conhecidos nos arredores. Após algumas fotos, faço meu primeiro desenho do dia observando o Banespa. Infelizmente podíamos ficar só 15 minutos. Paramos na Doçaria Tradicional Portuguesa, Casa Mathilde para comer um Pastel de Belém. A doçaria está cheia como sempre. Depois que sentamos, percebemos que a maioria das pessoas que estavam com a gente no terraço fizeram o mesmo. A costa riquenha comenta que achou o centro de

São Paulo muito engraçado: “Tem muita gente na rua. Cada edifício é de um jeito. É como se tivesse um pouquinho de cada estilo num lugar só. Vocês devem achar de tudo por aqui, não?! Mas acho que alguns lugares precisam de cuidados.”. Digo que preciso fazer alguns desenhos, e saio da doçaria enquanto eles vão escolher mais algumas coisas para comerem. Observo o Martinelli e fico pensando em como enquadrar o seu formato em minha folha de canson A4. Nem os meus olhos dão conta de enquadrar ele por completo de uma só vez. Faço um esboço e viro meu corpo só um pouquinho para esquerda e já estou de frente com o Banespa. O mesmo “problema” novamente: Como vou enquadrar esse edifício tão grande na folha. Quarenta minutos depois, e uma leve dor no pescoço, meus amigos saem da doçaria e partimos para o CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, para a exposição do Picasso pela rua 15 de Novembro. Encontramos mais camelôs nessa rua, uma roda de pessoas com um contorcionista no meio e uma enorme fila para a exposição. Enquanto esperávamos, algumas pessoas passavam e perguntavam o motivo da fila tão grande. Despois de receberem a resposta de que se tratava de uma exposição das obras do Picasso, algumas perguntavam se era gratuita, outras agradeciam e iam embora e outras entravam na fila para conferir a exposição também. Alguns passavam vendendo água, outros chocolates além de um moço que tentava vender a revistas OCAS para os integrantes da fila. Chegando mais próximo ao CCBB uma moça vestida como uma obra do Miró explica para todos sobre o surrealismo, cubismo e o que vamos encontrar na exposição. Logo atrás dela, membros da organização do CCBB estão escolhendo pessoas diversas da fila para representar uma obra do Picasso e fazerem uma brincadeira. Alguns tiram fotos, outros dão risadas e alguns levantam as mãos para participarem também. Ficamos duas horas e meia para finalmente entrar no CCBB. Uma hora depois, mais ou menos, as 17:30, saímos da exposição e nos deparamos com uma fila maior


ainda. A maioria dos comércios já estão fechados e quase nenhum camelô circula pelo calçadão, andamos até a praça do Patriarca. O centro já está ficando vazio. Atravessamos o Viaduto do Chá e paramos um pouco em frente ao Theatro Municipal para tirar fotos. A escadaria está cheia. Alguns meninos estão andando de skate na calçada e dois estão de bicicletas. Entramos no Shopping Light para comermos alguma coisa e vamos embora por volta das 19 horas rumo à estação Anhangabaú. A Rua Consolação, assim como ontem, está cheia, a maioria das lojas continuam abertas e os camelôs espalhados pela calçada. (Diário de Bordo 2.5) Metrô Anhangabaú - Brás - Santo André - Casa.


EDIFÍCIO BANESPA


EDIFÍCIO MARTINELLI



5º DIA - 04/04 Trem - Santo André - Brás - Anhangabaú. Ando pelo Viaduto do Chá com o intuito de chegar nos edifícios Conde Prates e Matarazzo, sede da prefeitura do município de São Paulo. Um é de frente para o outro. Alí no viaduto encontro o de sempre: as cartomantes, ciganas, um pessoal vendendo bíblias, um moço vendendo água, DVDs piratas, relógios, carregadores portáteis, fones de ouvido, sorvete e aquela raquete que mata mosquito. Alguns param para comprar algo com os vendedores ambulantes e outros estão somente de passagem, seja ela em direção ao Centro Velho ou ao Centro Novo. Tem um pessoal tirando fotos do Vale do Anhangabaú e do outro lado duas meninas estão encostadas no guarda corpo tirando uma ‘selffie’ com as avenidas Vinte e Três de Maio e Nove de Julho como plano de fundo. Chego em frente ao Matarazzo. Percebo que não tem nenhum lugar para me sentar, e se eu sentasse ali no chão do calçadão, seria bem provável que eu iria ser ‘atropelada’ pelo enorme fluxo de pessoas andando por ali. Encosto no guarda corpo do viaduto do Chá e começo o primeiro esboço do dia. Três minutos depois, decido atravessar a rua Líbero Badaró e buscar abrigo na Praça do Patriarca devido ao sol escaldante. Provavelmente eu já estava da cor de um camarão. Percebo que minha ideia foi em vão, pois em baixo do famoso pórtico de Paulo Mendes da Rocha, encontramse várias viaturas de polícia com aquela faixa amarela e preta contornando toda a área de sombra, impedindo assim, qualquer passagem de alguém. Fico um pouco irritada, sem entender o motivo desse isolamento. Revolvo ficar de pé ali na frente do pórtico, já que era impossível ficar em baixo dele, e recomeço o meu esboço do Matarazzo. Acabando o primeiro esboço viro um pouquinho para a direita e começo a desenhar o Conde Prates. Algumas pessoas param próximo a mim e começam a observar o que eu estava fazendo, mas nenhuma delas fazem algum tipo de comentário. 40 minutos

depois termino o esboço e percebo que estou com fome. Lembrei da feirinha culinária que presenciei em frente ao mosteiro de São Bento nas outras visitas e ando pela Líbero Badaró com a esperança de que a feirinha continuava lá. Fico feliz em ver que a enorme fileira de barraquinhas ao longe. Atravesso a rua e escolho algo para comer. Tem menos pessoas ao longo do Largo São Bento, diferente das outras visitas, porém os comerciantes ambulantes estão espalhados por ali, e claro, o que não podia faltar: a presença de uma roda. Dessa vez, um mágico está no centro e ele faz uma brincadeira de adivinhação de cartas com alguns integrantes da roda, fico ali observando a brincadeira enquanto como. Ao terminar o meu almoço, decido ir ao edifício do Antigo Banco de São Paulo. Ando pela rua São Bento até encontrar a Praça Antônio Prado. Tem várias pessoas saindo da Doçaria Casa Mathilde, tem um grupo de amigos sentados na escadinha do “gazebo, a fonte continua desativada, as banquinhas de jornal estão abertas juntamente com as duas barracas de engraxar sapatos, e diversas mesas estão espalhadas para fora dos restaurantes e bares. Fico de pé em frente ao edifício do antigo banco, na Rua João Brícola, que nada mais é do que a continuação da rua 15 de Novembro e faço o meu terceiro esboço do dia. Diferente das outras ruas do calçadão, ela está mais vazia. Tirando os dois comerciantes de pulseiras que estão com um grande tecido preto com suas mercadorias em cima, apoiadas no chão, não tem mais nenhum comerciante e a rua está pouco habitada. Poucas pessoas circulam. Termino meu esboço e ando rumo ao edifício Saldanha Marinho, a Secretaria de Segurança Pública, pela Rua São Bento. Viro mais para frente na Praça do Patriarca para chegar na rua Líbero Badaró novamente. Percebo que passando da Praça do Patriarca há poucos comércios abertos ao longo dos térreos dos edifícios. Tem poucas pessoas andando por ali. Pego meu bloco de canson e me aproximo de um segurança. Pergunto porque quase tudo


ali estava fechado. Ele diz que a maioria das lojas dali não abrem de sábado. Pergunto, de novo, se posso ficar alí próximo de onde ele estava para fazer um esboço e ele responde que sim. Enquanto eu desenho ele pergunta o motivo de eu estar fazendo aquilo e mais uma vez explico que é um trabalho de faculdade. Fico mais ou menos 20 minutos alí. Continuo andando pela Líbero Badaró para chegar na Praça Ouvidor Pacheco e Silva, que na verdade, não é bem uma praça porque a maior parte de sua extensão é um estacionamento. Contorno o estacionamento e vejo que tem muitas pessoas sentadas ao longo dos deques que foram instalados perto das saídas de ar do metrô. A maioria está voltada para o celular. Sento em um dos degraus para desenhar a Igreja de São Francisco, finalizando assim as três igrejas que formam o triângulo histórico, o último esboço e o ultimo diário de bordo. Metrô - Sé - Brás - Santo André - Casa.


EDIFÍCIO MATARAZZO



EDIFÍCIO CONDE PRATES



EDIFÍCIO SALDANHA MARINHO



ANTIGO BANCO DE Sテグ PAULO



IGREJA Sテグ FRANSISCO




MAPA DE PERCURSO:




REFLEXÕES Dentre as diversas formas de representação iconográficas, seja ela a fotografia ou o desenho, concluísse que o patrimônio histórico e cultural e suas representações é de suma importância para a cidade, pois o patrimônio é um conjunto de produções e manifestações ao longo do tempo que carregam parte da nossa história e quem somos. É impossível desvincular a cidade de seus habitantes e construções. Preserva-los significa manter a identidade do local ao longo do tempo e representa-la, com a utilização da arte sequencial, nesse caso, significa que sua memória não se perderá com o passar do tempo nas próximas gerações mantendo assim a sua identidade e criando, por outro lado, uma nova representação iconográfica dessa cidade heterogênea que é São Paulo. Escolhendo o desenho como ferramenta de estudo dentre as diversas formas de representação iconográficas, como a fotografia e vídeo, concluísse que o patrimônio histórico e cultural e suas representações é de suma importância para a cidade, pois o patrimônio é um conjunto de produções e manifestações ao longo do tempo que carregam parte da nossa história e quem somos. É impossível desvincular a cidade de seus habitantes e construções. Preserva-los significa manter a identidade do local ao longo do tempo e representa-la, com a utilização da arte sequencial, significa que sua memória não se perderá com o passar do tempo nas próximas gerações mantendo assim a sua identidade e criando, por outro lado, uma nova representação iconográfica dessa cidade heterogênea que é São Paulo.


Thila Bartolomeu de Oliveira



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