Poesia de Rua_por Ana Teresa Camargo

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Ana Teresa Camargo é jornalista e publicitária. Paulistana adotada por Campo Grande, aprendeu desde cedo a brincar com as palavras, transformando-as em suas maiores aliadas. A escrita é seu ofício e sua paixão. Este ano, suas poesias se espalharam pelas ruas da cidade, em uma homenagem genuína à terra que a acolheu.

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1.

De tanto amar acreditou voar. E perdeu o medo, sem ver que era cedo para se jogar.

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2.

Vende-se coração seminovo, em ótimas condições. Traz pequenas cicatrizes e leves escoriações. De brinde, muitos amores e imensas emoções. E a promessa de estar pronto pra viver grandes paixões.

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3.

O copo de vinho, o lençol de linho, o gentil carinho, o calor do ninho. Tudo Ê espinho pra quem decidiu seguir sozinho. 10


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4.

Ele chamou, ela aceitou. Ele sorriu ela assentiu. Ele avanรงou, ela negou. Ele insistiu, ela partiu.

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5.

Ouviu os amigos, respeitou os sinais, fugiu dos perigos. Seus dias? Banais.

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6.

Carrega a culpa do que fez e a dor do que desfez. Serรก feliz outra vez?

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7.

Está perdido? Olha pro lado: há de existir alguém. Aturdido, desorientado, pronto pra se perder também.


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8.

Uma vida de menino, colorida e estampada, passou ali na calçada. PorÊm a gente apressada passou reto e não viu nada.

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9.

Vende-se paisagem. Para os cansados da mesma paragem, para os aflitos com a mesma bobagem, para os inquietos por nova abordagem.

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10. Não era amor nem proteção. Era prisão.

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11.

Aceito o pouco que você me dá, faminta por carinho e atenção. Finjo que gosto, deixo como está, por medo imenso de encarar a solidão.

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12.

Vejo em você o quase nada que revela e tento adivinhar o que de mim esconde. Aos pouco, como um preso em sua cela, sei tudo de você, só não sei onde. 28


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13.

Os outros, sempre tão felizes. Corretos, sem deslizes. Viajantes de mil países. Livres, mas com raízes. Onde escondem suas cicatrizes?

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14.

Viaja comigo? Sem bagagem, sem passagem,

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sem perigo. SĂł paisagem, cĂŠu e abrigo.

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15.

Dormi fada, acordei dragão dente afiado, unha cortante. Nem tente entrar no meu coração não quero um amor, quero um amante.

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16.

Fechada para balanรงo, esperei. Embalada por meus ais, chorei. Enquanto isso (e eu nem sabia) o melhor de mim florescia.

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17.

Frágil, desequilibrada e nua, finjo ser outra para ser só tua. Caço palavras, ando devagar, faço de tudo para te agradar. Quando percebo, é tarde demais e o melhor de mim ficou pra trás.

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18.

Na barafunda dos meus sentimentos ando confusa e desorientada. Penso que ĂŠ dor, ĂŠ arrependimento de dar a coisa certa pra pessoa errada.

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19.

Fui me despindo aos poucos, bem lentamente me livrei da falsidade, joguei fora a hipocrisia. Desatei os nรณs que me impediam de ir em frente e parti pra vida, sem pudor nem fantasia.

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20.

Nem sempre é bom Nem sempre é ruim Às vezes dói Às vezes flui Talvez um vim Talvez um fui.

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45 _Dick Arruda



21.

No bloco da liberdade cada um canta o que quer. A fantasia ĂŠ vontade e salve-se quem puder!

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22.

Para quem é forte e independente, para os mais sensíveis e carentes, para a frustração, a dor e o cansaço, nada melhor que o calor de um abraço.

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23.

Primeiro a gota, depois o turbilhão. Impossível estancar o que de mim escapa. Palavras, mágoas, pele e coração. Tudo solto por aí, sem direção nem mapa.

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24.

Sirius, porque quero brilho, e um amor, uma casa e um filho. Alfa, porque quero calma, e um amigo que me aqueรงa a alma. Vega, porque quero enfim a infinitude do universo em mim.

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25.

Sou gata mansa, pronta pro carinho ronronar suave, ternura sem fim. Mas basta a dor de uma palavra espinho para atiรงar a fera que se aloja em mim.

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26.

Uma a uma, retiro as peรงas da minha armadura e solto o capacete que aprisiona meus desejos. Enfim liberta, deixo a รกgua, limpa e pura, espalhar as dores pelos azulejos.

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O POESIA DE RUA MS é um projeto idealizado pela Think Design Estratégico, em que convida artistas do Estado para divulgarem seus trabalhos inspiradores. Nesta 1ª edição, a assinatura é de Ana Teresa Camargo. Quer fazer parte? Entre em contato: www.poesiaderuams.com.br poesiaderuams



Acreditamos que o ato de compartilhar enobrece pessoas e faz a sociedade mais humana. Somos um movimento que leva reflexþes para o cotidiano em forma de poesia. Fazemos da rua nosso palco e abrimos espaço para que vozes e talentos se manifestem. Cultura nos faz criativos, inovadores, nos faz vivos!


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