E X P E R I E N C E #5 w w w.tot vs.com /experience
economia
compartilhada O que serviços como Uber e Airbnb podem ensinar para o mercado B2B digitalização do varejo
DIGITAL WORKPLACE
Tecnologias integram mundo real e virtual e alavancam a competitividade do setor
Plataforma única e completa estimula a produtividade e colaboração
ti na escola Ensino da computação começa a aparecer em grades curriculares e cursos de programação viram febre
Boas-vindas Hoje é um bom dia Para moderNizar a gestão da sua emPresa.
EXPERIENCE
#5
www.totvs.com/experience
O momento é de reinvenção e estaremos juntos nessa caminhada”
Realização
PUBLISHER Flavio Rozemblat editora chefe Elis Monteiro diretor de arte ALEXANDRE ROSSETTO ilustrações ALEXANDRE ROSSETTO Entrevistas especiais Gabriela Mafort Equipe de reportagem Andrea de Lima / Carlos Vasconcellos / Fernanda da Escóssia / Gabriela Mafort / Gabrielle Nascimento / Karen Ferraz / Renata Malkes fotógrafas Anna Carolina Negri / Maria do Carmo
CEO Laércio Cosentino EXECUTIVOS Lélio Souza / Flávio Balestrin Marketing Diana Rodrigues / Cristiano Cunha / Aline Luiz Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam a opinião da revista, da editora ou da TOTVS S.A. A reprodução das matérias e dos artigos somente será permitida se previamente autorizada por escrito pela editora, com crédito da fonte. Todos os direitos reservados. A revista TOTVS Experience não é vendida. TOTVS Avenida Braz Leme, 1631, Santana, São Paulo, SP.
Nossas soluções em software de gestão, produtividade e Colaboração podem traNsformar o seu NegóCio hoje.
TOTVS Private Rua Ministro Jesuíno Cardoso, 454, 9º andar, Itaim Bibi, São Paulo, SP
A sua empresa pode ser mais eficiente, rentável e competitiva. Nossas soluções em tecnologia colocam você no controle da sua operação, reduzindo custos e tornando o seu dia a dia mais ágil, simples e conectado. Deixe a TOTVS pensar o seu negócio junto com você.
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Transformação. Acho que essa palavra resume bem o momento pelo qual a TOTVS e todas as demais empresas, sejam elas grandes ou pequenas, pertencentes ou não ao mundo da tecnologia, estão passando ou irão passar. No que diz respeito à TOTVS, anunciamos no final do ano passado a união com a Bematech para fortalecer o nosso portfólio e a nossa presença no varejo físico e virtual. Com relação ao mercado, sou da opinião de que a internet, como coração da constelação tecnológica, segue proporcionando oportunidades de reinvenção par a as corporações. Surgem novos conceitos, como o de economia compartilhada – a ideia de subs tituir a propriedade de bens e serviços pelo uso. É a era do Uber, do Airbnb, do Netflix, do Spotify, das frotas compartilhadas. O mercado está em franco processo de transformação e, por isso, seguimos cada vez mais nos especializando em seg mentos variados, oferecendo o que há de mais moderno, especializado e persona lizado aos nossos clientes, que continuam sendo o cerne de todo o nosso planeja mento, o centro de tudo que fazemos. Analisamos as novas modalidades econômicas buscando entender os impactos da “economia das multidões”. Saímos também em busca do trabalho do futuro, visando entender como as novas tecnologias em geral e a internet, em particular, impactarão as relações profissionais. Nosso trabalho é este: antecipar tendências. Como provedora de soluções de negócios, a TOTVS tem como lema e meta buscar a excelência nos produtos e serviços que oferece aos seus clientes. E com tantas mudanças sensacionais, continuamos acreditando que com ética, transparência e responsabilidade qualquer desafio será superado. O momento é de reinvenção e estaremos juntos nessa caminhada.
Esta é a nossa Comunicação sobre o Progresso na implementação dos princípios do Pacto Global das Nações Unidas e apoio aos objetivos mais amplos da ONU.
Competitive-se Com totvs. Pensando juntos, fazemos melhor.
0800 70 98 100
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COMUNICAÇÃO SOBRE O PROGRESSO
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THINK TOGETHER
Comentários sobre o seu conteúdo são bem-vindos.
Laércio Cosentino, CEO da TOTVS
6
12
22
06 PERSONAGEM
Legítimo representante da Geração Y e “geek de
32 opinião
A digitalização é um imenso desafio e
carteirinha”, Pedro Franceschi conta como, aos 19 anos,
uma grande oportunidade para empresas de todos
já comanda uma empresa avaliada em mais
os tamanhos. Como a variável digital deve
de US$ 200 milhões.
ser incorporada ao planejamento estratégico
das corporações.
08 mundo
Como a cidade de Santander, na Espanha, se tornou
um dos maiores exemplos de bom uso da tecnologia para
34 COMPETITIVIDADE Em um mundo em constante transformação,
redução de gastos e melhoria na qualidade de vida.
no qual a circulação de informações nunca
foi tão grande, a reputação corporativa passa a ser
ainda mais valorizada.
12 capa
Como funciona e quais serão os principais impactos
da Economia Compartilhada ou Colaborativa
e como a novidade está migrando dos mercados
38 estratégia
Com um consumidor cada vez mais móvel e exigente,
B2C e C2C para o B2B.
o futuro do varejo passa pela digitalização.
20 infográfico
Como será o crescimento dos segmentos de
42 cases de sucesso Os exemplos de Unigel, Schmersal e Harley-Davidson
economia compartilhada em comparação com os modelos
demonstram como o investimento em softwares
tradicionais. O mercado será 20 vezes maior em dez anos.
de gestão traz ganhos de produtividade, acuracidade
e saltos de qualidade.
22 comportamento
Escolas de todo o mundo oferecem aulas de computação,
conquistam alunos com experiências hands-on
44 em foco
Omni-channel: integração dos canais de vendas
e cursos on-line viram febre ao democratizar o ensino
físicos e digitais tornou-se um imperativo estratégico
de programação.
e as principais decisões sobre o tema já acontecem
no board das empresas.
26 atualidade
Como as mudanças tecnológicas em geral e a internet,
em particular, estão impactando o mercado de trabalho
48 sustentabilidade Número de pessoas com mais de 60 anos
e o que se pode esperar daqui pra frente.
no mundo deverá duplicar até 2050. O que fazer
para absorver os profissionais da “terceira idade”
no mercado de trabalho?
28 SOluções
Na busca por produtividade e agilidade,
empresas apostam em Digital Workplace e percebem
novas oportunidades ao estimular a colaboração
usando dispositivos móveis.
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PERSONAGEM 6
geek de carteirinha
Geração Y, sim senhor Ao lado do sócio Henrique, Pedro Franceschi comanda uma equipe de 40 funcionários, com idades entre 16 e 42 anos, e o que poderia resultar em choque de gerações gerou uma dinâmica de hierarquia flexível, liberdade de horários e com prometimento com resultados. Na Pagar.me, o segredo para reter bons funcionários é a au tonomia. “Em primeiro lugar, queremos contratar gente me lhor que a gente; em segundo lugar, damos autonomia. Se a pessoa é melhor que você, ela tem capacidade de te subs tituir e, dando autonomia para que ela faça isso, você con segue tocar outras coisas na companhia e abrir espaço para os mais novos”, afirma Pedro.
Ele começou a programar aos 9 anos e ensinou a assistente de voz do iOS, a Siri, a falar português bem antes da versão oficial ser lançada. Quem é Pedro Franceschi, sócio-fundador da Pagar.me, startup avaliada em US$ 200 milhões
Sobre sua geração – batizada de Y – Pedro acredita que ela começa cedo na tecnologia e pratica muito para conseguir en tregar bons resultados. Tais jovens, chamados de “millennials”, aspiram degraus cada vez mais altos e não medem esforços para conquistar seus sonhos.
por Karen Ferraz
H
Para ele, a equipe é motivo de orgulho. “São pessoas excep cionais no que fazem, trabalham muitas horas por dia, estu dam e se dedicam muito”.
acker, geek, nerd, gênio... De tudo isso já foi cha mado Pedro Franceschi, o jovem de 19 anos que fundou a startup Pagar.me, empresa especializada em pagamentos on-line avaliada em US$ 200 mi lhões e já chamada de “Pay Pal brasileira”. Para ele, no entanto, tais rótulos são limitados. E limitadores. “Não conheço nenhum gênio, só conheço gente que trabalha muito duro. Quem trabalha mais consegue gerar mais resulta dos e isso é o que as pessoas ‘do lado de fora’ traduzem como gênio”. Seu talento precoce na programação lhe permitiu vivenciar o dia a dia de empresas de tecnologia desde cedo – como apren diz, quando ainda nem podia ser contratado. Foi cobiçado pe las maiores universidades do mundo, como MIT e Stanford, mas por enquanto vai ficar no Brasil e seguir o sonho de fazer da Pagar.me uma multinacional.
Para quem sempre foi taxado de nerd, estudar muito é mais que obrigação, é um prazer.
de iPhones. Não satisfeito, ganhou notoriedade ao lançar dois pro gramas que permitiam a instalação do Linux no iPhone. A repercussão nos nichos de software livre acabou rendendo um convite para se apresentar no TEDxSudeste, versão local da famosa conferência TED – na qual palestrou aos 12 anos. Fez tan to sucesso que rendeu elogios em revistas setoriais e até nas de circulação nacional. Em 2011, Pedro teve a ideia de ensinar a Siri, assistente de voz do iPhone, a falar português. O sucesso foi enorme, mas junto com ele veio a insatisfação da Apple, já que a versão oficial no idioma foi disponibilizada pela gigante somente em abril de 2015, ou seja, quatro anos depois!
Siri em português Autodidata, a paixão pela tecnologia o levou a aprender a programar linguagens de computação aos 9 anos, caçando na internet e motivado pela vontade de controlar os computadores. E o que era um passatempo virou coisa séria. Tão séria que che gou a incomodar – bastante – a gigante Apple: em 2006, Pedro ganhou um iPod e começou a hackear o aparelho. Feliz com o resultado, passou a vender, na escola, o “serviço” de desbloqueio
De programador a executivo
Divulgação
Depois da Siri veio a Pagar.me, empresa de pagamentos on-line que surgiu de uma ideia de Pedro e do sócio Henrique Dubugras, de mesma idade. Os dois se conheceram de uma forma inusitada: no Twitter, discutiam sobre qual o melhor editor de texto para es
crever programas de computador. A briga, que acabou sem unani midade, rendeu a amizade e uma sociedade. Ao participar de uma maratona tecnológica nos EUA, em 2012, Henrique desenvolveu um aplicativo de paquera chamado “Ask me out” – considerado por eles um “avô” do famoso app Tinder. O garoto voltou da competição com o projeto vencedor, US$ 50 mil no bolso e muitas ideias na cabeça. Como havia se deparado com dificuldades ao implementar o sistema de cobrança no aplicativo, foi trocar uma ideia com o “de safeto” Pedro, que na época trabalhava na empresa de pagamentos móveis M4U, adquirida pela Cielo em 2010. Daí pra frente, os dois mergulharam no mundo de pagamentos on-line e decidiram criar a Pagar.me com o objetivo de simplificar a vida de donos de lojas virtuais. Por ainda não terem 18 anos, precisaram se emancipar pa ra abrir o negócio.
Prêmio de Harvard A Pagar.me já recebeu investimento de US$ 1 milhão dos fundos Arpex Capital e Grid Investments e foi apontada como uma das mais inovadoras no setor de pagamentos em uma premiação da Universidade de Harvard. Segundo Franceschi, 2015 foi um ano es pecial para a companhia. O faturamento da Pagar.me foi multipli cado por dez e o volume processado deve movimentar mais de R$ 500 milhões. Hoje, Pedro não consegue mais programar. Virou executivo, mas utiliza o aprendizado herdado da tecnologia para comandar a empresa, que já conta com 37 funcionários. “Temos concorren tes do mesmo tamanho que possuem mais de cem funcionários”, conta Pedro. Aprovados em 2014 em Stanford (EUA), os sócios decidiram que ainda não era o melhor momento e trancaram a faculdade para se dedicarem à companhia – eles têm até setembro de 2016 para efetivarem a inscrição.
Rumo ao mercado exterior Agora, Pedro e o sócio querem fazer da empresa uma grande multinacional. Para tanto, apostam na oferta que combina a facili dade das plataformas sub-adquirentes – que fazem a intermedia ção dos pagamentos e permitem aos clientes aceitar cartão de cré dito – com alta taxa de conversão oferecida pelos gateways, que operam na conexão direta com as operadoras de cartão e bancos, mas são mais difíceis de instalar. A estrutura elimina a burocracia para quem precisa receber paga mentos na internet e garante uma alta aprovação de pagamentos: o Pagar.me aprova 92 a cada cem tentativas. Um negócio ágil que che gou para preencher uma lacuna importante do mercado. Indepen dentemente da idade, Pedro teve a ideia certa na hora certa.
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MUNDO 8
Santander de olhos bem abertos Localizada na região da Cantabria, na Espanha, a cidade é um exemplo do bom uso da tecnologia para redução de gastos e melhoria na qualidade de vida. por Renata Malkes
O
deslumbre diante das águas azuis do Oceano Atlântico encanta os visitantes de Santander, na região da Cantabria, extremo norte da Espanha. E quem chega à cidade de 180 mil habitantes sequer ima gina haver ali vigilância constante sobre tudo. Mas trata-se de um monitoramento do bem. Há seis anos, um investimento de quase € 9 milhões fez de Santander uma das cidades mais inteligentes do mundo. Os serviços públicos são automatizados e controlados por uma rede de mais de 12 mil sensores ligados a uma central de computadores para otimizar tempo, dinheiro e contribuir com a preservação do meio ambiente. O objetivo final é facilitar a vida de prefeitura e moradores, aca bando com o desperdício de recursos. Graças à tecnologia, é possível, por exem plo, evitar que a coleta de lixo passe num local onde as lixeiras estejam vazias ou ainda que as luzes estejam acesas sem necessidade. A iniciativa é parte de um projeto financiado pela Comissão Europeia (CE). Os sensores estão espalhados por uma área de seis quilômetros quadrados no centro de Santander. Esses pequenos “olhos” escondem-se em caixinhas cinzas,
MUNDO 10
Internet das coisas no dia a dia “Nós conseguimos trazer o que se cha ma de ‘internet das coisas’ para o dia a dia. A internet em si já é conhecida de todos
desde os anos 1980. Agora, em pleno sé culo XXI, vivemos uma segunda revolução, que é tirar o máximo de proveito da rede para melhorar o urbanismo, a gestão das cidades e a qualidade de vida”, afirma o professor Luis Muñoz, do Departamento de Engenharia de Comunicação da Univer sidade de Cantabria, o cérebro por trás do projeto. Todos os dados coletados são transferi dos para o laboratório de Muñoz na univer sidade, que trabalha em parceria com uma empresa de telefonia e diversos órgãos pú blicos. Processar as informações mobiliza uma equipe de doze pessoas – a um custo de cerca de € 8 mil por mês. A cada pou cos minutos, ônibus, táxis e carros de po lícia transmitem sua posição geográfica e velocidade.
A internet é conhecida desde os anos 80. Agora, no século XXI, vivemos uma segunda revolução, que é tirar o máximo de proveito da rede para melhorar o urbanismo”
Redução de 25% na energia elétrica
Luis Muñoz, da Universidade de Cantabria Fotos: Divulgação
acopladas a postes de iluminação, veículos, lixeiras e até em pequenas cavidades sob o asfalto. Mede-se, então, tudo o que é passí vel de medição: luz, pressão, temperatura, umidade, poluição e até os movimentos de carros e pessoas em determinada área. Por meio dos aparelhos, sabe-se, em tem po real, onde estão os ônibus, os congestio namentos, em quais lugares se fazem neces sárias coleta de lixo e iluminação pública e qual é a qualidade do ar. Ruídos acima dos permitidos pela legislação europeia tam bém são captados pelos sensores.
Tecnologia quer usuários
plano de cidade inteligente em Santander
Parques e jardins :: usam a tecnologia para regular a iluminação, economizar luz e controlar a irrigação. Pontos problemáticos :: são automaticamente informados às autoridades municipais. Caminhões de lixo :: fazem a coleta apenas em latões cheios. Usuários de smartphones :: podem usar o aplicativo Smart City para notificar as autoridades sobre a necessidade de consertos nas ruas. O app também oferece dicas turísticas. Servidores :: usam a informação coletada para compilar em tempo real um panorama geral da cidade.
Ilustração: Alex Rossetto
Cerca de 12 mil sensores :: estão instalados em paredes, luzes, postes ou mesmo sob o pavimento. Medem dados como iluminação, níveis de ruído, tráfego e congestionamentos. Táxis, ônibus e carros de polícia :: munidos de sensores, registram sua localização em tempo real e transmitem dados coletados dos arredores.
Dos sensores nas praças vêm informa ções para reduzir – e poupar – energia elé trica onde não há pessoas. Ações como a irrigação de jardins públicos dependem dos níveis de umidade do solo, medidos, claro, pelos aparelhos. A cidade já tem uma redução de 25% na conta de energia elétri ca e 20% nos custos de coleta de lixo. “Ganhamos uma visão global das neces sidades. Se antes a prefeitura precisava man dar equipes de manutenção fazer rondas para checar os postes, agora essas equipes sabem diretamente aonde ir. Além disso, o nível de precisão dos sensores é muito alto. As lâmpadas podem ter a luminosidade ajus
A estratégia de Santander impressionou a Espanha. Desde 2011, foi criada, então, a Rede Espanhola de Cidades Inteligentes (RECI), que hoje já tem 65 municípios par ticipantes de olho em trocar experiências para criar um modelo de gestão sustentável e capaz de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Mas o “Big Brother do bem” também enfrentou resistências: muitos espanhóis temiam que a vigilância signifi casse invasão de privacidade. A confiança no sistema vem crescendo lentamente. O responsável pelo projeto, professor Luis Muñoz, do Departamento de Engenharia de Comunicação da Universidade de Cantabria, lembra que nem todo o aparato tec nológico sozinho é capaz de dar o selo de “inteligente” à cidade. Procura-se gente. Um dos desafios, até hoje, é aumentar o número de usuários dos aplicativos móveis que integram o sistema. Dos 180 mil habitantes de Santander, apenas cerca de 30 mil usam ativamente os apps SmartSantander e Pulso da Cidade. O primeiro permite ao usuário informações práticas sobre a cidade, ofertas de estacionamento, situação dos transportes públicos, parques, comércio e pontos turísticos. O segundo foi criado especialmente para que o cidadão possa comunicar à prefeitura problemas como vazamento de água, buracos nas calçadas ou defeitos na iluminação pública. “Big Brother é coisa de TV, não acha? Aos poucos, as pessoas estão entendendo que falamos de uma cocriação de cidade inteligente. A tecnologia é acessível ao cidadão, mas ele precisa se envolver para promover benfeitorias à cidade. Como toda mudança, leva tempo”, avalia.
t ada e reduzida se não houver ninguém na rua. Se tiver uma bela lua cheia, é preciso me nos luz do que durante uma tempestade”, exemplifica o professor. A economia é muito bem-vinda para os cofres públicos. E para os moradores, que veem melhores serviços públicos. Os cida dãos interagem com a cidade inteligente por aplicativos móveis e sites na web. Se alguém quiser notificar a prefeitura sobre um buraco na rua, por exemplo, basta fo tografá-lo com o celular. A imagem segue, então, às autoridades com a localização cap tada pelo GPS. O aviso vai não só para os res ponsáveis pelo conserto – mas também pa ra políticos, de quem o dever é fiscalizá-lo. Segundo a Universidade de Cantabria, pe quenas obras como um recapeamento, an tes executadas em semanas, agora são fei tas em poucos dias.
Apps para tudo Os apps permitem ao usuário ações va riadas, como encontrar vagas de estaciona mento ou checar as ofertas ao acionar seu smartphone diante de uma loja integrante do projeto. As possibilidades de inovação parecem infinitas. À medida que a internet deixa os computadores pessoais para in vadir cada vez mais as ruas, surgem, ainda, novas oportunidades de negócios par a um futuro mais limpo, eficiente, transpa rente e digital. “Imagine que uma empresa faça propa ganda de algum novo produto em carta zes nos pontos de ônibus. Por meio de sen sores, detectamos quantas pessoas de fato observaram o cartaz. Não identificam os quem esteve ali, por questões de privaci dade, mas quantificamos. Seria fundamen t al para avaliar a penetração de um pro duto ou campanha publicitária”, observa Muñoz.
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ECONOMIA
por Fernanda da Escóssia
compartilhadA Novas modalidades, que já revolucionaram os setores de serviços de hotéis e transportes, começam a dar os primeiros passos no mundo B2B
, quanto é o expresso, por favor? - pergunta a moça.
– Preço livre – responde o rapaz de barba atrás do balcão.
– Quero pagar, quanto é? – insiste ela, sem entender.
– É colaborativo, você paga o que quiser – explica o balconista, e a cliente, surpresa, deixa R$ 5.
A surpresa se repete algumas vezes por dia. Muitos clientes não sabem, mas o bal conista Rômulo Martinez Cordeiro de Souza, 27, formou-se em administração de empre sas pelo Ibmec, faculdade de elite no Rio
de Janeiro, e é, desde 2012, um dos três só cios do Curto Café, que funciona no centro da cidade com essa proposta: cada cliente paga o quanto quiser. O café é só uma das múltiplas expressões da chamada Econo
mia Compartilhada ou Colaborativa, ou Gig Economy, fenômeno que está mudando o modo de viajar, trabalhar, comer, andar de táxi, ouvir música e, sim, de ganhar dinheiro. A chave para entender o conceito de economia compartilhada é substituir a propriedade de bens e serviços pelo uso, mesmo que seja um uso dividido com ou tras pessoas. Difícil? Pode começar como exercício: em vez de ter carro, alugar por uma hora; em vez de alugar um escritório e pagar todas as contas, usar uma sala de
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Em busca da
vez em quando, dividindo gastos com ou tros inquilinos. Em vez de pagar por um ho tel, encontrar alguém que quer alugar o pró prio apartamento no verão e talvez dividir seu conhecimento sobre a cidade visitada. O trabalho também se transforma, com me nos carteiras assinadas, menos direitos e re
diversidade do cliente A economia do compartilhamento não surgiu do nada. É um fenômeno do mundo da internet, acelerado pela explosão das re des sociais. Mas se parte de um princípio bá sico, que é o de reduzir custos e acaba indo além: é o único capaz de oferecer ao consu midor o que ele não encontra na economia tradicional. “Esses empreendimentos enten dem que é preciso agregar valor, compre ender a diversidade do cliente. Se o cliente quer hotel, apartamento, com criança, sem criança, com animais, sem animais. A lógica é valorizar o consumidor. Se ele quer inte ragir com o proprietário, é possível, se não quer, idem”, afirma o professor Marcos Ca valcanti, diretor do Crie (Centro de Referên cia em Inteligência Empresarial), unidade da Coppe/UFRJ. Para Cavalcanti, a economia compartilha da não é um modismo, mas um fenômeno definitivo e prova sua força no sucesso de empreendimentos como Uber e Airbnb que, sem possuir frota nem rede hoteleira, se
gulamentação. E muitas dúvidas.
Uso em vez de posse
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O tamanho da riqueza produzida no mun do do compartilhamento está sendo esti mado. O relatório “The Sharing Economy – Sizing the Revenue Opportunity”, da Price waterhouse Coopers, ao analisar dez seto res em que a economia compartilhada exis te, do aluguel de DVDs à hotelaria, calcula que esse tipo de negócio represente 5% da receita total. Em 2025, representará metade da receita, US$ 335 bilhões. Essa data não está tão longe – são só dez anos.
transformaram em referências mundiais na hora de pegar táxi ou buscar hospedagem. Tanto no Uber como no Airbnb, a internet é pilar do sucesso, pois facilita a conexão entre as pessoas. O Airbnb está presente em 190 países e oferece mais de dois milhões de opções de acomodações. Foi usado por 60 milhões de pessoas. Na Copa do Mundo de 2014, 120 mil pessoas de mais de 150 na cionalidades vieram ao Brasil hospedados pelo Airbnb. Criado na Califórnia em 2008, o Airbnb é um marketplace, modalidade de comércio eletrônico que administra o espaço na in ternet por meio do qual pessoas anunciam, descobrem e reservam espaços de hospe dagem – seja um apartamento por um dia, um castelo por uma semana ou uma vila por um mês. No mundo em que a informação é o principal ativo, quem tem algo a oferecer oferece, quem precisa usa, e alguém admi nistra o conjunto de informações e neces sidades. Bíblia dos novos tempos, “What’s Mine Is Yours: the Rise of Collaborative Consumption”,
de Rachel Botsman e Roo Rogers, ajuda a compreender as formas de economia cola borativa: pode ser um sistema que permite aos participantes compartilhar produtos e serviços, caso típico do Airbnb e Uber; um mercado de redistribuição, para permitir a reutilização de produtos, como as feiras de reaproveitamento de materiais variados; ou o uso compartilhado de espaço, tempo e ta lentos. Há também um argumento ambien tal: se gastamos menos e reutilizamos, me nos recursos naturais serão consumidos. Alguns pontos diferenciam, porém a eco nomia compartilhada de experiências do tempo dos nossos avós, como alugar um quarto na casa de um parente, ou das co munidades alternativas dos hippies perma necem. Dois princípios são básicos: o uso da internet e das redes sociais; e a capacidade de tornar-se rentável. O Uber é avaliado em US$ 40 bilhões; o Airbnb está na casa dos US$ 10 bilhões.
Pequenos negócios e crowdfunding No Curto Café, quadros informam a pro posta da casa e o custo de matéria-prima de cada dose de café (R$ 0,50 o expresso e R$ 1,00 o duplo e o cappuccino) ou do paco te de 300g (R$ 9). O cliente lê quanto os pro prietários precisam arrecadar para cobrir custos fixos de operação (aluguel, contas e pessoal) e fica à vontade para pagar. No úl timo mês, descontados custos de matériaprima, sobraram R$ 45 mil, menos R$ 37.500 de gastos com aluguel, máquinas, pessoal e a retirada dos sócios. O que sobrou é guar dado para investimento ou poupança. “Já teve gente que achou tão bacana que deu R$ 50 por um expresso”, conta Rômulo Souza, explicando que os três amigos come çaram o negócio em um modelo tradicional, mas discutiram se era justo o fato de a mãe de um deles não ter renda para pagar o cap
puccino, que custava à época R$ 4. Daí ao formato colaborativo foi um pulo. O inves timento inicial saiu de uma poupança de R$ 6 mil dos sócios, mais R$ 40 mil arreca dados com financiamento coletivo de ami gos no Facebook. Outra forma de reduzir os custos, explica Souza, foi investir em uma produção orgâ nica, que sai hoje de um único produtor no Espírito Santo. Como a casa não trabalha com comida, parceiros são convidados a expor seus produtos. Do mesmo modo, o freguês decide quanto pagará. “A essência da economia colaborativa é que todos ganham. A economia tradicional olha o mundo pela lógica da escassez, mas vemos pelo lado da abundância, em que ca da elo da cadeia tem algo a oferecer, sem pensar apenas na maximização dos lucros”, diz Rômulo Souza. Em pequenos e médios negócios, o fi nanciamento mais usado no momento é o
Co-working redefine o trabalho Quem passa não desconfia, mas o casarão em uma rua de Botafogo é um dos espaços mais procurados no Rio para o coworking – o uso com partilhado de locais de trabalho. No Templo, é possível alugar uma sala de reuniões ou a piscina para um coquetel de fim de tarde. Espaços assim se multiplicaram pelo país nos últimos anos, e, das facetas da Economia Colaborativa, o coworking é uma que já se provou bem-su cedida. Um censo realizado em janeiro de 2015, em uma parceria entre Ekonomio, B4i e Coworking Brasil, mostrou que o Brasil tem 238 es paços do tipo. São Paulo abriga 40% do mercado. Herman Bessler, carioca de 27 anos fundador do Templo, diz que a ideia surgiu para repensar a maneira de trabalhar, educar, produzir e con sumir. A proposta reflete sua formação, que inclui Administração, Economia, passagens por um kibutz em Israel e por um ponto de coworking na Califórnia, no qual se inspirou para abrir um espaço similar no Rio. Segundo Bessler, as casas em Botafogo (foto) e Gávea são alugadas por um período de dez anos, e hoje o Templo abriga 70 empresas. Há contratos a partir de R$ 750 mensais. O faturamento é de R$ 2 milhões anuais. Fernando Aguirre, 28, um dos fundadores do Coworking Brasil, disse que começou o negócio porque, em 2011, era designer freelancer e queria um espaço para trabalhar sem arcar com custos e burocracia de um escritório. Procurou alguém para dividir o espaço e conheceu o coworking. “Quando comecei, sabia pouco do que estava fazendo. Apenas queria criar algo legal. De certa forma, era um pouco da filosofia da economia colaborativa, mas não intencional. Com o tempo fui estudando o conceito e adaptando o negócio para se tornar cada vez mais colaborativo”, afirma.
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A essência da economia colaborativa é que todos ganham. A economia tradicional olha o mundo pela lógica da escassez, mas vemos pelo lado da abundância” Rômulo Souza, Curto Café
Acima, o balcão do Curto Café com os quadros explicando a proposta do negócio. Abaixo, consumidora relaxando.
crowdfunding, que busca dinheiro na pró pria audiência. É a velha vaquinha do tem po dos nossos avós, mas usando a internet, para alavancar o número de arrecadadores. Seja um CD, um portal de notícias, um pro jeto social, um curso no exterior, é possível obter financiamento para quase tudo. Em vez de passar o chapéu só na vizinhança, vo cê passa na internet. Plataformas como a Benfeitoria se espe cializaram em expor projetos em busca de financiamento. Os donos mandam a pro posta, a Benfeitoria analisa, orienta a mon tagem da campanha e não cobra comissão obrigatória. A lógica colaborativa é que cada um pague o que puder. Mas dá certo: 81% dos projetos financiados atingiram suas me tas em 2014. Claudio Goldberg, professor de e-com merce da Fundação Getúlio Vargas (FGV), si tua o florescimento da economia colabora tiva a partir de 2008, junto com a Web 2.0 e explosão das redes sociais. “Quanto mais se compartilha, mais forte fica o negócio. É o valor do conceito de posse, não de proprie dade”, explica.
IN TE RN E T M O DE ON Na economia colaborativa, assumir o modo de funcionamento da internet de forma pervasiva é a fórmula para o sucesso. A receita é de Clay Shirky, autor de “Cultura da Participação”. Considerado um dos maiores especialistas do mundo em cultura digital, o pesquisador é professor de Efeitos Econômicos e Sociais das Tecnologias da Internet da Universidade de Nova York. Em entrevista à TOTVS Experience, ele fala sobre a necessidade de as empresas estabelecerem canais mais diretos – e transparentes – com os clientes. No livro “Cultura da Participação” o senhor cita o que chama de Excedente Cognitivo – milhões de pessoas conec tadas, produzindo e compartilhando informação – como um recurso da Era Digital. Quais são os impactos desse Exce dente Cognitivo para as empresas? As empresas precisam entender duas coisas: primeiro, que há um valor inacreditável em deixar o cliente participar do design e do tes te dos seus produtos e serviços e, segundo, que estas pessoas não são seus empregados. Se você aborda os usuários com a intenção de acessar suas ideias ou ter um feedback, você pode fazer coisas extraordinárias. Este é um dilema para muitas empresas, que obje tivam extrair valor máximo da participação do usuário, mas querem fazer isso sem ter que alterar o modo como trabalham. Nesse novo modelo colaborativo, as instituições são vist as como problemas, como obstáculos reais. Como ga rantir uma transição bem feita para essa realidade emer gente? O balanço entre os problemas que as instituições criam (burocracia) versus os problemas que elas resolvem (organizam a força de tra balho) mudou, porque agora existem novas maneiras de organizar o esforço humano. Uma oportunidade clara para novas empresas é criar uma plataforma para as pessoas se organizarem. A maioria das empresas bem sucedidas, hoje em dia, cria valor conectando as pessoas para as ajudarem a fazer algo juntos, em vez de sim plesmente venderem algo para estes clientes.
Como estimular essa abertura por parte das empresas? Como criar canais efetivos de colaboração umas com as ou tras e com os clientes? Não importa em que ramo a empresa atue. Se há vantagem com petitiva em envolver a participação do usuário, as empresas que fazem isso melhor vão se sobrepor às outras. Precisamos de em presas que compreendam o valor daquilo que Eric von Hippel chama de “inovação desenvolvida por usuários”*. Você defende que a fonte de valor da Era Digital é a ex perimentação. Como gerenciar essa experimentação no ambiente de negócios? Quando a internet apareceu, as empresas que mais fizeram di nheiro não foram aquelas que tinham anos de experiência em pro duzir mídia. Foram as empresas que disseram: “Esse negócio de internet... e se nós assumíssemos que esse é o normal a partir de agora e ignorássemos todo o resto”? Duas das maiores inovações da chinesa Xiaomi foram sobre modelo de negócios: eles assumi ram de vez o e-commerce e disponibilizaram toda a sua venda de varejo somente on-line. Eles também assumiram as mídias sociais como o centro das campanhas de marketing. Na teoria, Samsung, Huawei e HTC poderiam ter feito a mesma coisa, cada uma delas ti nha muito mais fluxo de receita, empregados e clientes que a Xiaomi. A única coisa que não tiveram foi a habilidade de adotar um novo mo delo mental de forma rápida e pervasiva. Isso é o que faz a diferença: assumir que este é o novo normal e rejeitar tudo o que possa con flitar com o modo de trabalho exigido por essa nova tecnologia. É uma habilidade mais característica das novas empresas do que das antigas.
*Nota da TOTVS Experience: o pesquisador do MIT, Eric von Hippel, lançou em 1986 o termo “inovação desenvolvida por usuários” para explicar os tipos de inovações criadas com a contribuição dos usuários finais e que, segundo ele, têm alto impacto social e por isso devem ser estimuladas.
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Cláudio Goldberg, FGV
Goldberg afirma, porém, que o crowd funding ainda não está completamente ma duro no Brasil. “Vejo dificuldades tecnológi cas e culturais. Os brasileiros em geral não têm disponibilidade e mentalidade para isso. A rentabilidade é baixa. Considero importan te o aporte inicial de um investidor para que o negócio ganhe solidez”, alerta. E lembra que é preciso estar vacinado contra uma vi são excessivamente romântica da economia colaborativa: “Não existe economia gratuita nem almoço grátis. No fim, alguém tem que pagar a conta”.
Grandes empresas: crise ou reinvenção Outro ponto candente do debate suscita do pela economia colaborativa é sua convi vência com a velha economia, a da entrega tradicional de produtos e serviços. O Uber foi proibido na cidade do Rio de Janeiro e o Airbnb convive com a antipatia dos donos de hotéis. Empresas habituadas a ter o mo nopólio da oferta de conteúdos, produtos e serviços entram numa crise sem preceden tes. Fazer barulho é também parte do con ceito da economia colaborativa, que cos
tuma usar tecnologias disruptivas, capazes de romper paradigmas. “Um caso claro ocorre no mercado da co municação: os jornalões deixaram de ser re ferência para a nova geração. Os jovens aban donaram as plataformas impressas e rejeitam pagar pelo conteúdo digital. As empresas não entendem que, quanto mais se compar tilha o conteúdo, mais relevante ele se torna. Essas empresas não conseguiram mudar seu modelo de financiamento”, alerta Marcos Cavalcanti, do Crie. A ação das grandes empresas frente à economia colaborativa é o tema do artigo “Adapting to the sharing economy”, de Kurt Matzler, Viktoria Veider e Wolfgang Kathan, da Universidade de Innsbruck, na Áustria. O texto resume uma pesquisa de dois anos conduzida na Universidade de Inssbruck com executivos a fim de identificar como grandes companhias podem se adaptar às mudanças. As grandes empresas têm a força da marca e podem usá-la a seu favor, escre vem os autores: “Consumidores preferem os custos baixos que as companhias líderes – dentro da economia colaborativa – tendem a oferecer. É uma boa notícia para compa nhias procurando novas opor tunidades na economia compartilhada”. O artigo aponta caminhos pelos quais grandes empresas podem sobreviver e até se destacar na economia colaborativa. A pri meira regra é: venda o uso, não o produto. Em Liechtenstein, uma companhia da indús tria da construção superou a queda nas ven das oferecendo aos clientes a opção de usar máquinas e ferramentas pelo sistema de leasing, com pagamento de taxa mensal, incluídos eventuais consertos. Uma fabri cante de automóveis associou-se a uma lo cadora e entrou no serviço de “car2go ser vice”, segundo o qual o cliente não compra o carro, aluga-o quando precisar.
Economia compartilhada no B2B Outros caminhos são estimular reutiliza ção de produtos e facilitar serviços de ma nutenção e reparo, sem cobrar preços es corchantes – como aquele dia em que sua geladeira quebrou e o conserto foi tão caro que você preferiu comprar uma nova. Bus car novos mercados e criar modelos de ne gócio baseados no consumo colaborativo são opções eficazes. Para Claudio Goldberg, da FGV, a econo mia colaborativa, já consolidada no merca do B2C, também pode se firmar no eixo B2B. Em sua avaliação, essa prática colaborativa por enquanto ainda ocorre mais no âmbito interno, com troca de experiências, proces sos e melhores práticas, mas já começa a acontecer no B2B. Um exemplo, segundo ele, é a possibilidade de o Uber entrar no setor de logística de caminhões, ou seja, fazendo entregas.
Frota colaborativa: corte de gastos e eficiência Em busca de melhorias e mais eficiência nas suas entregas, a PepsiCo criou frentes de colaboração com seus stakeholders: a companhia possui frota própria de três mil caminhões e 300 veículos de menor porte, responsáveis por 70% das entregas realiza das pela companhia; os 30% restantes são feitos por 36 operadores de logística. Depois de começar a realizar reuniões bimestrais e mensais com varejistas, para discutirem, jun tos, apenas assuntos ligados à logística, che gou-se a um modelo de frota colaborativa de caminhões. Para diminuir custos, a empresa iniciou, em 2015, parcerias com Ambev, Unilever e
Divulgação
No B2B, a prática colaborativa ainda ocorre no âmbito interno, com troca de experiências, processos e melhores práticas”
Em busca da transparência Sim, compartilhar é a palavra da vez. Mas você quer mesmo se conectar com qualquer um? É esta a pergunta de Sam Ransbotham (foto à direita), professor associado da universidade Boston College e editor do núcleo de Dados da MIT Sloan Management Re view, do MIT. Para Ransbotham, confiança e repu tação são o molho secreto dos negó cios colaborativos, numa via de mão dupla: por um lado, permite que os em preendedores conheçam seu público e cada possibilidade de eventual con sumo; por outro, facilita aos consu midores conhecer os prestadores de serviço. É aquele momento em que você compra um livro e logo lhe in dicam outro, ou quando você desco bre que o lindo apartamento que alu gou em Lisboa fica numa ladeira na qual não passam carros. Daí a impor tância dos sistemas de avaliações. A recomendação de Ransbotham às companhias é que ampliem a trans parência de seu sistema de dados, para que o usuário sinta um vínculo de confiança. “Indivíduos e compa nhias terão cada vez menos escolhas sobre serem ou não transparentes. Então, nossas escolhas devem ser a respeito de como lidamos com as consequências de uma transparên cia cada vez maior”, explica.
Procter & Gamble, no chamado transporte colaborativo. O esquema seria mais ou me nos assim: em uma rota da cidade A à cida de B, a PepsiCo pode ter a necessidade de levar apenas produtos de A para B, enquan to que a Ambev, por exemplo, precisa do contrário: trazer produtos de B para A. Nes ses casos, as fabricantes contratam opera dores logísticos em conjunto e, com a estra tégia, a PepsiCo já anunciou uma redução de 20% no custo do frete. Como não há certezas no mundo disrup tivo, há quem fale na precoce morte da eco nomia colaborativa e de sua incapacidade de fazer frente à força das grandes compa nhias. Aos gigantes de cada setor, face à per da frequente de receitas, resta buscar al ternativas e persuadir os consumidores de que é possível fazer uso colaborativo de seus produtos e serviços, agregando à força da marca a capacidade de se inovar em meio ao furacão.
Nossas escolhas devem ser a respeito de como lidamos com as consequências de uma transparência cada vez maior” Sam Ransbotham, Boston College
Empréstimos colaborativos e crowdfunding
info 20
é multiplicar
Oportunidades de novos negócios se expandem e mercado será 20 vezes maior em 10 anos
RECEITA GLOBAL DA ECONOMIA COLABORATIVA X SETORES TRADICIONAIS Economia Colaborativa
Empréstimos colaborativos e crowdfunding
setores tradicionais
us$ 15 bi
2013
us$ 240 bi
Aluguel de equipamentos
Contratação de equipes on-line
Hostels e acomodações bed & breakfast
Acomodações colaborativas
Aluguel de livros
us$ 335 bi
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Principais modelos de receita da Economia Colaborativa
compartilhar
+63% 1 :: Comissões comissão de serviços por trocas bem sucedidas entre compradores e vendedores 2 :: Assinatura / associação fixa taxa mensal ou anual fixa 3 :: Assinatura sob medida planos de assinatura, de acordo com o perfil de consumo dos clientes (frequência de uso e produtos desejados) 4 :: Associação + taxa de uso taxa anual fixa, com taxas adicionais baseadas na utilização dos serviços 5 :: Sem marca (White Label) / licenciamento plataforma ou produto que é licenciado por outras empresas 6 :: Freemium serviços básicos são gratuitos. Itens exclusivos e benefícios adicionais passam a ser pagos
+37%
Acomodações colaborativas
+31%
Carros compartilhados
Projeção de crescimento de receita Setores colaborativos
+23%
Setores tradicionais
Projeção de crescimento da economia colaborativa x setores tradicionais Aluguel de 2013-2025 Equipamentos
+17%
Streaming de música e vídeo
Fonte: PWC Hostels e acomodações bed & breakfast
Aluguel de DVD
Aluguel de carros
Aluguel de livros
+5%
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+2%
7 :: Híbridos serviços sem fins lucrativos são combinados com serviços destinados ao lucro
Fonte: Collaborative Lab
O ciclo de vida da economia colaborativa 2015-2025
us$ 335 bi
Compartilhamento de carros
Contratação de equipes on-line
Curva de ciclo de vida com base nos relatórios setoriais e dados de receitas das empresas
Aluguel de carros
Fonte: PwC
Streaming de música e vídeo
Fonte: PwC
Aluguel de DVDs
Nicho
Ruptura
Normalizado
Maturidade
Declínio ou renovação
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eonardo de Paula Dysarsz é aluno do 8° ano do Ensino Fundamental e ganhou a medalha de bronze nas Olimpíadas Brasileiras de Infor mática (OBI) de 2015. O feito, que deixou os pais orgulhosos e rendeu elogios dos ami gos, é resultado de uma iniciativa pioneira: há cerca de dois anos, o Colégio Bertoni, em Foz do Iguaçu (PR), onde Leonardo estuda, decidiu oferecer aulas de raciocínio lógico preparatório à Programação. “O projeto é recente, mas já sentimos um impacto grande no desempenho dos alu nos. Estão mais concentrados, identificando a estrutura mais profunda dos problemas. De quebra, participam de competições sau dáveis como a OBI e se destacam”, conta Amaury Pontieri, sócio-mantenedor do Co légio Bertoni e professor da disciplina. Leonardo confirma a impressão do pro fessor: “Quando não sei responder a alguma pergunta, vou pela lógica. Fiz uma prova em que ela me ajudou a eliminar várias alterna tivas que não eram certas”.
EDUCAR É PRECISO
Programação
escolar Escolas do mundo todo oferecem aulas de computação e conquistam alunos com experiências hands-on. Plataformas de cursos on-line viram febre e democratizam o ensino. por Gabriela Mafort
O professor Pontieri é um entusiasta do en sino de programação e tem planos para, em 2016, começar a ensinar linguagens como C++ ou Java para a turma mais avançada. “Chegamos à conclusão de que esta habili dade é desejável em toda a vida acadêmica. Como disse o famoso astrônomo Carl Sagan, vivemos em uma sociedade muito depen dente de ciência e tecnologia, na qual pou quíssimos sabem sobre ciência e tecnologia”. E o ensino de computação nas escolas tem impacto abrangente. Rosana Gomes, consultora educacional do projeto Scalable Game Design Brasil – e ela mesma profes sora da disciplina Click na Computação no Coluni, escola de aplicação da Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ) – des creve os efeitos positivos: “Tive um aluno que se mostrava apático nas aulas normais de
Fotos: Luciano Cruz
Alunos do Rio de Janeiro aprendem a programar com apoio da Code.org
OLÍMPIADAS DE PROGRAMAÇÃO As Olimpíadas Brasileiras de Informática (OBI) são realizadas todo ano pela Sociedade Brasileira de Computação, no Instituto de Computação da Unicamp, e têm como meta despertar o interesse dos alunos por esta ciência, item importante da formação edu cacional atualmente. Em 2015, nada menos que 15 mil alunos de todo o país participaram das provas, que incluem as modalidades de Iniciação (apenas raciocínio lógico) para os alunos mais novos do Ensino Fundamental, e de Programação, para os alunos mais velhos do En sino Fundamental e do Ensino Médio. A terceira modalidade é a Universitária, para os estudantes do primeiro ano da graduação. Além das medalhas de ouro, prata e bronze, os melhores colocados ganham uma se mana de cursos no Instituto de Computação da Unicamp, onde têm aulas de Introdu ção à Programação ou Programação Avançada. Os alunos que mais se destacam no curso avançado são escolhidos para representar o Brasil na Olimpíada Internacional de In formática, que reúne representantes de mais de 70 países. Com o intuito de popularizar o ensino de Computação, a Unicamp desenvolveu o ambi ente de aprendizado conhecido como Saci, disponível on-line e destinado a alunos ini ciantes. Neste ambiente, é possível resolver exercícios de lógica, desenvolver os próprios programas e salvar todo o histórico de atividades.
matemática e nas aulas de games recup e rava o ânimo, debatendo as regras de for ma entusiasmada e tornando-se mais par ticipativo”.
O Scalable Game Design Brasil é o braço nacional de um projeto da Universidade do Colorado (EUA) que, por meio de aulas de computação para a criação de jogos, iden tifica os requisitos para os programas de Ensino de Computação das escolas. “Nos interessa que o raciocínio computacional favoreça o desenvolvimento cognitivo do aluno para o convívio em sociedade, com três principais focos: melhora na linguagem, na autoexpressão e nas inferências lógicas. Quando o aluno elabora o enunciado de um jogo, ele está aprendendo a se expressar”, explica Gomes. Para a coordenadora do Scalable Game Design Brasil, Clarisse Sieckenius de Souza, a programação é um estilo cada vez mais importante de Comunicação Social. Ela vê vantagens na inclusão oficial desta habi lidade no currículo escolar e argumenta: “Saber produzir este tipo de discurso tecno lógico, usando alguma linguagem de pro
Aproximar a programação do cotidi ano dos jovens brasileiros: essa é a missão da plataforma Programaê!. Nela, é possível aprender a progra mar e também ensinar programação. Iniciativa da Fundação Lehman em conjunto com uma rede de parcei ros, a Programaê! concentra e ofere c e curs os de diversas plataformas semelhantes, como a Codecademy, a Proggy e a Code.org. A Programaê! também dá suporte no Brasil à iniciativa Hora do Código, cria da pelos irmãos Ali e Hadi Partovi e apoiada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, criador do Fa cebook, Mark Zuckerberg e outros. A Hora do Código propõe que duran te uma hora os participantes progra mem em conjunto com colegas ao re dor do planeta. Além dos estudantes, o projeto está educando milhares de educadores para organizarem encon tros para aprenderem uma “Hora de Código”.
A Inglaterra foi o primeiro país do G-20 a incluir a programação como disciplina re gular do ensino primário e secundário. Os objetivos, segundo o Secretário Nacional de Educação, Michael Glove, eram não ape nas ensinar Ciência da Computação às cri anças, mas capacitá-las a desenvolver os próprios programas e fazer “o computador trabalhar em benefício delas”. Inicialmente, o governo inglês trabalhou em parceria com várias instituições que en sinam programação, para fornecer recursos e preparar professores, em projetos-pilotos espalhados por vários colégios ingleses. No Rio de Janeiro, o Centro Educacional Di Maggio está seguindo os mesmos passos, embora no Brasil o ensino de Computação não seja obrigatório. Desde 2014, o Di Maggio incluiu aulas op cionais de programação ao firmar uma par ceria com a Code.org, plataforma on-line de ensino de computação, com sede em Seattle (EUA) (leia entrevista com o CEO
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Fonte: Dancing with Robots – Human Skills for Computerized Work, Levy and Murnane, 2013
60 Necessidade crescente de habilidades de solução de problemas, entre todos os tipos de trabalhos
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Trabalhar com novas informações Resolver problemas não estruturados
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Tarefas manuais de rotina Tarefas manuais fora da rotina Tarefas cognitivas de rotina
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A Plataforma Code.org foi criada como hobby pelo investidor iraniano Hadi Partovi e seu irmão gêmeo Ali Partovi, para democratizar o ensino da computação. Investidor do Dropbox e um dos conselheiros do Facebook, o CEO da Code. org conversou com a TOTVS Experience. Você defende que cada aluno, de cada escola, deveria aprender Ciência da Computação. Por quê? Porque no século 21 todos os campos são impactados por computadores, da arquite tura à zoologia. Apenas 5% dos estudantes se tornam cientistas da computação ou programadores, mas 100% dos alunos precisam saber como o mundo em volta deles está mudando. Nossas escolas ensinam aos alunos sobre fotossíntese e eletricidade. Programa de computador é a eletricidade do século 21.
Mais do que qualquer outra coisa, esses alunos adquiriram a confiança de que eles podem criar tecnologia. Eles todos jogam games no celular ou usam a web, mas nin guém mostrou a eles que poderiam desenvolver programas e serem empreendedores. Dar aos estudantes, especialmente às meninas, esse tipo de confiança, pode mudar a vida deles para sempre. Como você visualiza o futuro da educação? Como deveria funcionar uma escola do século 21? No longo prazo, toda a educação deverá ser mais personalizada, as aulas devem ser ba seadas em projetos, utilizando as ferramentas do século 21. Mas a maioria das escolas não atualizou os currículos ainda e não possui os dispositivos tecnológicos. Por isso, é mais fácil começar a fazer este tipo de coisa nas aulas de ciência da com putação. Todo o currículo desta aula é baseado em projetos e no uso de tecnologia.
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Programa de computador é a eletricidade do século 21
A plataforma Code.org é um sucesso estrondoso, tem mais de 5 milhões de assinantes. Na sua opinião, o que muda na vida dos alunos da Code.org?
Mudança nas tarefas de trabalho da economia americana 1960-2009
Index Value: 1960=50
A plataforma dá acesso também ao Clube do Código Brasil, que fornece material de ensino e um grupo de vo luntários de atividades ligadas à com putação. A Programaê! lançou ainda a Makers Educa, uma rede de profes sores, pesquisadores, empreendedo res e artistas, que colocam a mão na massa e constroem propostas educa cionais de forma colaborativa.
ESCOLAS INGLESAS SAEM NA FRENTE
JOGOS COMO FERRAMENTA EDUCATIVA
INICIATIVAS NO BRASIL
gramação adequada ao perfil de quem está falando, é uma forma de acesso à participa ção social plena em nossos tempos”.
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Saber produzir alguma linguagem de programação é uma forma de acesso à participação social plena em nossos tempos”
Hadi Partovi). “Queremos desmistificar a ci ência da computação e ao mesmo tempo oferecer aulas atualizadas com o futuro”, afirma Bruno Di Maggio, responsável pelo projeto. Segundo ele, a estratégia de longo prazo é envolver os pais dos alunos e toda a comunidade, para que os conceitos sejam reforçados em casa e no ambiente de con vívio dos estudantes.
DIFERENCIAL NA BUSCA POR EMPREGO O professor Di Maggio lembra que o pen samento computacional é um diferencial no mercado de trabalho, com suas quatro fases: decomposição do problema, identificação do padrão, abstração do que não será útil e instrução final, ou seja, a construção do al goritmo. “Lá na frente o aluno vai usar esses mesmos procedimentos dentro de uma em presa, na área administrativa, numa campa nha de marketing, enfim, em atividades va riadas.” A necessidade de profissionais com essas aptidões é crescente, em um mundo onde o trabalho é cada vez mais computadorizado. O gráfico na página anterior mostra essa evo lução nos Estados Unidos, da década de 60 para cá. Hoje em dia, o desafio é resolver pro blemas de forma ágil diante do fluxo gigan tesco de novas informações. Daí a vantagem clara de obter conhecimento amplo na área de Tecnologia da Informação.
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TRABALHO o
NUNCA MAIS SERá O MESMO
se comunicam, colaboram e trabalham. Este fenôme no afeta a maneira como as empresas se organizam, eliminando funções “antigas” e criando novas. Os cus tos das transações estão diminuindo rapidamente. Como resultado, tudo o que aprendemos no século passado sobre gestão de grandes corporações pre cisa ser revisto.
Um desafio para as empresas
Tecnologias disruptivas estão revolucionando a forma como as pessoas se comunicam, colaboram e trabalham por Cezar Taurion
A
ideia de que ter um bom trabalho é ser empregado de uma empresa tem ori gem no século XIX. A Revolução Indus trial demandou exércitos de trabalha dores, o que destruiu o cenário então predominante de profissionais independentes. Artesãos foram trans formados em operários e a produção deixou de ser individual para virar um esforço coletivo. Apesar das críticas na época, de que a criação de exércitos de operários culminaria em maus tratos, a história mostrou o contrário: antes do fim do século XIX, a produtividade foi multiplicada por oito, o sa lário médio aumentou em dez vezes e a expectativa de vida dobrou. As indústrias introduziram a estabi lidade no emprego, uma estrutura organizacional hie rárquica de comando e controle e, ainda, novas fun ções e carreiras. Surgiram sindicatos e legislações de trabalho. Nas ceu ainda a distinção entre os trabalhadores nas linhas de produção – operários – e os administradores, os “colarinhos-brancos”, gestores das atividades. Duran te dezenas de anos este modelo predominou.
Nascem as grandes corporações A organização tradicional que conhecemos segue os princípios de Ronald Coase, economista da Uni versidade de Chicago, prêmio Nobel de Economia. Em estudos publicados em 1937, ele dizia que ”uma empresa tende a se expandir até que os custos para organizar uma transação adicional dentro dela se tor nem iguais aos custos para realizar a mesma transa ção por meio de uma permuta no mercado aberto ou aos custos de organizar em outra empresa”. Este modelo gerou as grandes corporações e suas hie rarquias, com diversos escalões de diretores, geren tes, sêniores etc. A partir dos anos 70 e 80 do século XX e mais ain da com a queda do Muro de Berlim e a consequente expansão da globalização, os avanços exponenciais da computação e a disseminação da internet, fissu ras começam a surgir neste modelo. Crises econômi cas forçaram as empresas a repensar o modelo de fa zer tudo em casa e, a partir daí, com a terceirização e a automação, começaram a transferir o trabalho para prestadores externos, até mesmo em outros países. Te ve início um processo de deslocamento de parte da força de trabalho dos Estados Unidos para a Índia e a robotização nas linhas de produção das fábricas. As mais recentes inovações da era da internet, co mo mobilidade, big data, analytics e redes sociais es tão provocando rupturas na forma como as pessoas
Temos tanto a necessidade, quanto a oportunida de de elaborar uma nova forma de organização eco nômica e uma nova ciência de administração que possam lidar com a realidade estonteante das mu danças no século XXI. É um desafio e tanto, principal mente na fase de transição, quando as tecnologias emergentes não estão plenamente disseminadas e absorvidas. Uma frase de William Gibson, autor de ficção científica que criou o termo cyberspace, é em blemática: “the future is here, it´s just not evenly dis tributed yet”. Talvez, seja o momento de debater se as organiza ções que temos hoje e as profissões que exercemos serão as mesmas nas próximas décadas. Os avanços tecnológicos e as inovações de ruptura tendem a tor nar obsoletas profissões estabelecidas; podem des truir setores inteiros da indústria, mas também criam novas modalidades, novos modelos de negócio e no vas profissões. Já há mudanças importantes acontecendo em mui tos países. Um recente artigo da “The Economist” aborda a questão de forma interessante. Segundo o artigo “There´s an app for that”, o uso das tecnologias de mobilidade cria novas oportunidades de negócio e trabalho. A ideia por trás de diversas startups é aproximar, com o uso das novas tecnologias, contra tante e contratado, sem a necessidade de uma em presa tradicional agindo como intermediária. Modelo que podemos chamar de services on demand, base da economia do compartilhamento ou shared eco nomy. É o fenômeno da “uberização”.
Nada nos impede de olhar para frente e ver que, com tecnologias como a internet das coisas e impres soras 3D, podemos ampliar o modelo, chegando até à criação de produtos. Assim, podemos pensar em uma economia on demand, que implica em mudan ça cultural significativa, como a eliminação da ideia de “emprego de tempo integral a vida toda na mes ma empresa”.
Serão 20 mil anos em cem Como disse o físico Niels Bohr, “é muito difícil fa zer previsões, principalmente sobre o futuro”, mas discussões sobre cenários são importantes para que possamos desenhar nossas estratégias. O futurista Ray Kurzweil, criador da Singularity University (Uni versidade Google/NASA), calcula que nos próximos cem anos veremos um avanço equivalente a vinte mil anos do nosso conhecimento atual. A velocidade do desenvolvimento tecnológico per mite apontar que o trabalho e a organização das em presas como conhecemos hoje serão muito impac tados nos próximos anos. As empresas terão que ser mais rápidas do que hoje. Embora continuemos a ver poucas e grandes corporações, haverá um espaço ca da vez maior para organizações menores e mais ágeis, especializadas, atuando em rede, complementando-se umas às outras. Na verdade, o que nos limita é que somos extremamente familiarizados com o modelo antigo e desconfiamos dos novos. Exatamente por que são novos. Mas uma visão está clara: o modelo emergente se rá mais parecido com o mercado e menos com as cor porações do passado. Precisará ser mais flexível, ágil, adaptável a mudanças e implacável na alocação de recursos a novas oportunidades. Isto mudará o conceito de emprego e provavelmen te demandará o surgimento de inúmeras outras pro fissões. Talvez, daqui a 25 anos, ninguém mais come more 25 anos de atuação na mesma empresa. E muito provavelmente não permanecerá 25 anos na mesma profissão.
Cezar Taurion é CEO da Litteris Consulting e da ThinPost Smart Terminals. É autor de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data.
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E
gestão na ponta dos dedos
Na busca por produtividade e agilidade, empresas apostam em projetos de Digital Workplace e percebem novas oportunidades ao estimular a colaboração por meio de dispositivos móveis por Gabrielle Nascimento
m um passado não muito dis tante era comum as empresas imprimirem em seus cartões de visita a informação “sede pró pria desde...”, para transmitir confiança e solidez aos clientes. Hoje, essa informação não faria sentido algum, já que o home office é uma realidade e empresas criam políticas e desenvolvem infraestrutura tecnológica para que a presença física no escritório não seja necessária para as to madas de decisão. Na era mobile, o mun do busca soluções que permitam a flui dez, a capacidade de movimentar-se e a continuar conectado e produtivo. De acordo com estudo divulgado pela consultoria Gartner Inc., inserir-se na eco nomia digital é mandatório para quem deseja manter-se competitivo no merca do. O instituto diz que o número de líde res de empresas com receita igual ou su perior a US$ 250 milhões que gerenciam negócios digitais cresceu de 22% em 2014 para 32% em 2015. O estudo Digital Business 2015 entre vistou 304 executivos de empresas dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Austrália, entre maio e junho de 2015. O objetivo foi compreender como com panhias e instituições captam, identifi cam e exploram as oportunidades que os negócios digitais oferecem.
Mudança dentro de casa A digitalização dos negócios começa dentro da empresa, revendo processos, funções, tecnologia e comportamento dos colaboradores – denominação muito
oportuna neste momento, visto que não basta o cumprimento das funções bási cas para ser um bom funcionário, é preci so colaborar com a empresa, ser proativo no compartilhamento de informações e saber extrair o melhor delas. Nesse contexto, aparece o conceito de Digital Workplace, em que se emprega um conjunto de tecnologias para permi tir o trabalho colaborativo sem limitação de espaço físico. As pessoas trabalham de qualquer lugar (casa, escritório, rua ou aeroporto), acessando suas ferramentas de trabalho, seja e-mail ou sistemas de gestão, a qualquer hora e usando qual quer dispositivo móvel. “É uma evolução das soluções que envolvem portais cor porativos, intranets, extranets e social in tranet. O Digital Workplace é a digitali zação de operações e processos, além de relacionamento com clientes, fornecedo res e funcionários. Quanto mais você con segue digitalizar, maior ganho em velo cidade e eficiência operacional”, explica Gilmar Hansen, diretor de produto fluig. De acordo com o executivo, trata-se de uma evolução natural conduzida pe la modernização das plataformas tecno lógicas, que hoje são muito mais fáceis de implementar e utilizar. “Antes, as em presas acabavam implantando soluções isoladas. Agora, a tendência é o uso de uma plataforma única e completa, que traz tudo isso de forma integrada, adotan do as soluções de acordo com seu grau de maturidade”.
Ganhos mensuráveis Para as empresas, os ganhos são mui tos e facilmente mensuráveis, atendendo demandas estratégicas e promovendo colaboração e produtividade. “Mais do que um conceito, o Digital Workplace re presenta uma revolução, sendo uma ferra
menta essencial para a competitividade de qualquer empresa. Por isso, a iniciativa de implementá-lo deve ser capitaneada pela área de TI juntamente com toda a companhia, passando pelo RH, jurídico, bem como o apoio dos gestores de to dos os departamentos”, explicita Marilia Rocca, executiva da TOTVS. A maioria das empresas já utiliza algu ma ferramenta que as insere no mundo do Digital Workplace. Muitas vezes, no en tanto, acabam não tendo o retorno es perado em agilidade e produtividade. A resposta pode estar na coexistência de algumas soluções antigas, que não se in tegram como uma intranet que já não atende às necessidades dos funcionários ou não se adapta às novas demandas in ternas. “É preciso saber consolidar o Digi tal Workplace como estratégia e não ape nas como uma implementação pontual. Substituir o que não deu certo e adotar as soluções de forma gradual, no ritmo da empresa, sempre buscando resolver pro blemas internos”, orienta Hansen, que re comenda ainda trabalhar com patroci nadores do projeto dentro da empresa. “Pessoas que tenham clareza da aplica ção daquela ferramenta e dos benefícios que trará para o negócio”.
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“WhatsApp corporativo” traz segurança e agilidade à comunicação on-line
Para Hansen, a adesão e o engajamento de colaboradores, parceiros e clientes ao projeto de Digital Workplace é facilitada quando se opta por plataformas que dis ponham de soluções de interação, comuni dade e instant messaging. “Se a utilização é prática e intuitiva, a adoção é rápida, sem a necessidade de um processo burocrático de implementação”, pontua.
Pensando em disseminar a experiência de uma ferramenta de interação e comunicação digi tal às empresas, a TOTVS desenvolveu o fluig Messaging, em parceria com a Moxtra, startup do Vale do Silício. “O aplicativo é um WhatsApp corporativo, com todo o controle de segurança necessário nas empresas, pois permite criar novas regras para conversas, que podem ser indi viduais ou em grupos”, exemplifica Marilia Rocca, executiva da TOTVS.
Simplicidade e economia ao negócio
Quanto mais você consegue digitalizar, maior é o ganho em velocidade e eficiência operacional” Gilmar Hansen, diretor de produto fluig
A FTD Educação, editora mantida pelo Grupo Marista, enxergou a importância de digitalizar seus processos para ganhar com petitividade em seu mercado. Visando me lhorar sua eficiência comercial, implemen tou o fluig, plataforma de produtividade e colaboração da TOTVS. Todos os processos manuais foram eliminados e os consultores comerciais podem acessar, por meio de um tablet, todo o portfólio atualizado da empre sa, que continua disponível mesmo sem in ternet. São mais de 196 coleções, 750 livros de literatura e mais de mil autores disponí veis a partir do aplicativo do fluig para dispo sitivos móveis. Antes, a organização era feita em folhetos impressos. Com o fluig abriu-se a possibilidade de fa zer o cadastro dos clientes e fechar pedidos a qualquer hora e de qualquer lugar. Além disso, os gestores conseguem acessar as in formações de negócios em tempo real, fazer o acompanhamento de visitas por meio de geolocalização, gerar gráficos para avaliar a evolução de cada visita ao cliente, além de ter tudo integrado ao ERP e ao CRM utiliza dos pela empresa. “Só de impressão de fichas das agendas de negócios eram mais de 150 mil por ano. Com a automatização da força de venda pe lo fluig, economizamos uma grande quanti dade de papéis, tintas e postagens. Permiti mos também, tanto aos nossos divulgadores
como aos gestores, o acesso a informações importantes sobre clientes e mercado via tablet ou notebook, facilitando o processo de planejamento e auxiliando nas vendas de produtos e serviços”, destaca Márcio Nagy, gerente de TI da FTD. “A FTD é um bom exemplo de como a tec nologia mobile pode ajudar na gestão efi ciente de um negócio, de maneira simples e ágil”, comenta Hansen.
Interface e login únicOS Mobilidade, integração e acessibilidade são os três pilares de um projeto de Digital Workplace, mas outras características são ne cessárias para obter êxito na implementa ção e adesão a esse modelo inovador de trabalho, como “Oferecer interface única, com apenas um login, para o colaborador acessar todas as telas e aplicativos necessá rios em seu dia a dia de trabalho. A persona lização máxima e uma rede social corporati va também são essenciais para encantar o usuário”, recomenda Marilia. Gilmar Hansen enfatiza: “Tudo o que você faz manualmente é mais lento e mais caro”. O Digital Workplace traz competitividade, eficiência nos relacionamentos e controle nas operações: “Cada processo automatiza do torna sua empresa mais fluida e veloz”, finaliza.
A ferramenta de comunicação instantânea permite a interação entre duas ou mais pessoas por escrito, áudioconferência ou vídeoconferência. Além de possibilitar o compartilhamento de telas entre os participantes, oferece o recurso de anotações gráficas ao vivo sobre os do cumentos compartilhados, tornando a comunicação muito mais efetiva. “Ao encerrar a reu nião, o usuário pode ainda optar por gravar a conferência, salvar dentro do fluig (caso seja cliente dessa solução) e consultar o histórico posteriormente”, esclarece Gilmar Hansen, dire tor de produto fluig. Acessível tanto em desktops como em dispositivos móveis, a empresa pode adotar a versão gratuita sem a necessidade de ter o fluig como plataforma. Caso perceba a necessidade de funcionalidades adicionais, há duas versões pagas, que permitem uma capacidade de colabo ração maior tanto em tempo de reunião como em número de pessoas envolvidas. “Para se ter uma ideia da efetividade no uso do fluig Messaging, começamos a utilizá-lo dentro da própria TOTVS e em apenas três semanas já havíamos alcançado 12 mil usuários ativos sem fazer campanha de lançamento ou comunicação da disponibilidade do aplica tivo. Sua aderência foi instantânea entre funcionários, parceiros e canais de distribuição”, conta Hansen.
Conheça as diferentes versões do Fluig Messaging FREE
PREMIUM
Número de participantes por reunião 3 participantes Ilimitado Limite de minutos de reunião 15 minutos Ilimitado Histórico do chat acessível 2 meses Ilimitado Gravação de reuniões (PDF e vídeo) Sim Sim Ligação telefone / Dial-in Sem opção dial-in
Sim
Capacidade de armazenamento 1GB/indivíduo por mês Ilimitado Pessoas por grupo 20 participantes
Ilimitado
Entenda as principais funcionalidades de um projeto de Digital Workplace Agora, podemos convidar colegas remotos para nossas reuniões por meio de vídeoconferência.
Flávio, Sócio
Podemos trazer empreiteiros para projetos quando necessário, agora que acessamos os documentos na intranet de qualquer lugar pelo notebook.
é simples fazer reuniões virtuais com os sócios e ainda compartilhar a apresentação na tela.
Eduardo, geógrafo Ricardo, engenheiro
Tendo wi-fi no acampamento, posso me conectar ao escritório e fazer chamada de vídeo em casa também.
Carlos, manutenção
Posso checar meu e-mail do iPad em casa, sem precisar ter o notebook da empresa comigo.
Marcos, RH
A empresa e três acionistas externos trabalhando na mesma auditoria, ao mesmo tempo, via nova intranet.
Sara, auditora
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A transformação digital da sua empresa não é uma simples questão de escolha. Quem não incorporar a variável digital ao planejamento estratégico perderá a viagem para o futuro por Charles Hagler
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ão adianta ficar parado e esperar para saber com cer teza para que lado o vento vai soprar. Preparar as velas do barco é tarefa para ontem. O consumidor já em barcou nessa viagem e não vai esperar por você. Trata-se de um tremendo desafio para as empresas. Afinal, as or ganizações mal começaram a entender o ambiente da internet e a revolução das tecnologias móveis e as redes sociais já chegaram pa ra embaralhar o jogo novamente. Por isso, definitivamente, a digita lização das empresas é um caminho sem volta. Isso não quer dizer, no entanto, que as empresas devam encarar essa jornada sem a ajuda de uma bússola. Mais do que nunca, pla nejar é preciso. Mas se antes o planejamento da área de Tecnologia da Informação era um processo à parte, que era visto como suporte para as atividades da organização, hoje, deve ser integrado ao pla nejamento estratégico da própria empresa.
HORA DE repensar os negócios De que maneira as tecnologias disruptivas podem afetar a minha indústria? Quais são os novos negócios digitais a desenvolver? Que unidades podem ser descontinuadas porque se tornaram obsoletas no mundo digital? Quais negócios do mundo físico devem ser incor porados ao meio digital e que sinergias podem ser criadas a partir disso? São muitas perguntas que exigem respostas no mais alto ní vel de decisão da companhia. É o nível que chamamos de Business Digital Transformation, a Transformação Digital dos Negócios.
Esse olhar digital sobre futuro é fundamental. Sem ele, será im possível prosperar nesse novo ambiente de negócios, em que al guns mercados podem simplesmente desaparecer. Com a evolu ção das tecnologias de Inteligência Artificial, por exemplo, grande parte do atendimento de nível 1 no setor de call centers pode ser substituído por máquinas nos próximos cinco anos. Isso já é uma realidade nos mercados mais avançados e a tendência chegará ao Brasil. Inevitavelmente. Acompanhar esse processo de permanente mutação é exaus tivo, porém absolutamente necessário. Novas disrupções tecno lógicas virão por aí, como a internet das coisas, a integração de software e hardware em equipamentos de uso diário, que certa mente vai mudar de forma radical o mundo dos negócios nos próxi mos anos. Em breve, essa tecnologia deixará de ser um experimen to para ganhar definitivamente as ruas, transformando os hábitos dos consumidores e a estratégia das empresas.
TRANSFORMAÇÃO DOS PROCESSOS DE NEGÓCIO Para embarcar na viagem digital, a empresa precisa de mais do que um mapa de ameaças e oportunidades tecnológicas incorpora das a seu planejamento estratégico. Afinal, todo esse discurso trans formador não trata apenas de onde queremos chegar, mas de como faremos isso. Chegamos então ao nível que chamamos na TOTVS Consulting de Business Process Transformation ou a Transformação dos Processos de Negócio. Esse é um passo fundamental para aproveitar os ganhos de pro dutividade proporcionados pela transformação digital das empre sas, porque não há processo que não possa ser modificado dentro de uma empresa. Isso, no entanto, cria um novo dilema: o que mu dar? Na verdade, as possibilidades são tantas que é muito fácil per der-se em meio às opções disponíveis no mercado de tecnologia. Um bom caminho para tomar a decisão certa é não esquecer a perspectiva estratégica da organização. O objetivo final é fazer a transição da empresa para o novo cenário, então, o primeiro passo é mapear quais são os processos que terão maior impacto digital dentro do planejamento da companhia. Afinal, não se trata de mu dar por mudar. O que é fundamental para uma organização pode ter pouco impacto em outra. Por isso, esse filtro estratégico dos pro cessos é tão importante. No final, a transformação tecnológica deve fazer sentido para sua empresa, seu negócio e seu cliente, ou então será apenas dinheiro mal investido. Escolhidas as prioridades, é preciso fazer uma análise criteriosa dos investimentos e prazos associados à digitalização, assim como poten cial de redução de custos e de receitas a serem geradas com a trans formação digital. Essa análise é acompanhada de um levantamento
Novo relacionamento Toda essa transformação digital não pode perder de vista o cliente. Recentemente, conduzimos a digitalização do sistema de atendimento e Customer Relationship Management (CRM) da Estácio. A automatização reduziu custos para a empresa e tornou o processo mais ágil. Os alunos, de uma geração que nasceu e cresceu nos meios digitais, preferem o aplicativo do celular para resolver uma série de trâmites que antes eram feitos presencialmente ou por telefone. Além disso, a reforma melhorou a qualidade do atendimento. A instituição investiu os recursos economizados em aconselhamento para os estudantes. Esse caso mostra que o objetivo da digitalização não deve ser apenas reduzir custos e aumentar a produtividade. É preciso fazer isso com qualidade para o consumidor. Concluo contando uma experiência pessoal: dou preferência a uma companhia aérea que possui um sistema de check-in por aplicativo móvel. É uma inovação que trouxe valor para quem viaja com frequên cia. Por isso, empresas, fiquem atentas. O consumidor da Era Digital é bem informado e implacável quando descobre alterna tivas digitais que facilitam sua vida. Graças a viralização, o im pacto nos negócios é quase imediato.
dos produtos e serviços disponíveis no mercado para atender a essa demanda específica. Tal cruzamento vai determinar qual a solução ideal com a melhor relação entre custo e benefício para a empresa. Apesar de toda a dificuldade dessa transição, temos de enxer gá-la com otimismo. Há uma enorme janela de oportunidade para ganhos de escala, produtividade e geração de receitas nos próximos anos para as empresas dispostas a embarcar nessa transição e mudar seus modelos de negócio. E a boa notícia é que toda essa mudança ainda está no começo. Muitas empresas, até mesmo gigantes em seus respectivos setores, ainda estão perdidas nesse oceano, sem saber exatamente onde chegar. E isso não acontece apenas em mercados emergentes, co mo o Brasil e a América Latina. Trata-se de um fenômeno que atin ge até mesmo organizações de países na vanguarda tecnológica, como os Estados Unidos. Portanto, quem sair na frente terá van tagem aos explorar as novas possibilidades da cultura digital.
* Charles Hagler é diretor da TOTVS Consulting
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ção de contas), transparência, equidade (tratamento justo dos sócios e demais partes interessadas) e responsabilidade corporativa, em que os agentes de governança devem zelar pela sustentabi lidade das organizações, visando à sua longevidade, incorporando considerações de ordem so cial e ambiental na definição dos negócios e operações, minimizando externalidades negativas.
Recentemente, a Volkswagen foi acusada de fraude, após a Agência de Proteção Ambiental (EPA) americana revelar que a montadora alemã violou a lei ao usar, em 11 milhões de veículos a diesel em todo o mundo, um dispositivo que altera resultados sobre emissões de poluentes, em modelos de várias marcas pertencentes ao grupo. A denúncia resultou não só na renúncia do CEO Martin Winterkorn, mas em milhões de recalls mundo afora, em impactos negativos não contabilizados contra o meio ambiente, sem falar na multa, que pode chegar a US$ 18 bilhões.
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Telhado de vidro
Arranhões irreparáveis
Comportamentos mais transparentes e éticos A crescente circulação de informação faz com que o mercado seja mais exigente por Andréa de Lima
A
combinação de falta de transparência, má prestação de contas e gestão ineficiente é capaz de promover um verdadeiro nocaute na reputação, no valor acionário e na confiança dos consumidores e demais públicos de qualquer empresa. A ocorrên cia de falhas graves na governança corporativa, por vezes aliada a um descuido na área de compliance - programas e procedimentos de controle interno – redunda em crise, sempre difícil de ser contornada. Temos visto alguns exemplos emblemáticos desse cenário nos últimos meses. Governança corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e in centivadas, envolvendo as práticas e os relacionamentos entre proprietários, conselho de admi nistração, diretoria e órgãos de controle. Os princípios da governança são accountability (presta
O problema, no entanto, não começa nem para na Volks. E vai além do setor automobilístico. Só para citar outros dois casos de grande repercussão internacional, que causaram prejuízos bilionários, custaram vidas e danos irreparáveis ao meio ambiente, a British Petroleum (BP) terá de pagar mais de US$ 20 bilhões em multas e indenizações ao governo dos EUA e a cinco estados americanos pelo vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010; o rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco – joint venture da Vale com uma afiliada da austra liana BHP Billiton – causou uma enxurrada de lama que assolou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG). A enxurrada de lama com rejeitos usados no processo de mineração chegou ao Rio Doce – que foi considerado oficialmente morto - e ao estado vizinho do Espírito Santo. Para mitigar casos assim, faz-se necessário repensar o modelo de negócio e os processos pro dutivos não apenas do setor de mineração e petróleo, adverte Paulo Durval Branco, vice-coor denador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces) em São Paulo. “Se ainda dependemos de minério e petróleo, por exemplo, para produzir bens necessários, as respectivas empresas desse setor realmente responsáveis deveriam investir em pesquisa e substituir matérias-primas para extrair menos recursos naturais, sobretudo os finitos, e eliminar processos danosos que geram rejeitos e alto teor de emissões, e não se acomodar na mera me lhoria contínua de modelos insustentáveis. As companhias têm de ser regenerativas”, diz ele.
Ação e reação Fatos associados à falta de transparência, corrupção, assédio moral, fraudes, impactos ambien tais e outras falhas de compliance deveriam levar reguladores, investidores e a sociedade em geral a prestar mais atenção e cobrar boas práticas corporativas voltadas ao atendimento das questões regulatórias, ao cumprimento de códigos de conduta e ao bom relacionamento. Tais condutas an tiéticas e criminosas podem acarretar litígios, multas, restrições regulatórias e danos à reputação. O coordenador do GVces ressalta que é preciso lembrar que à empresa foi dada uma licença para operar. E, na sua atuação, ela deve prestar contas de suas ações. Para Paulo Branco “A maioria das empresas olha o conceito accountability numa perspectiva de obrigação, deixando de ver nessa prestação de contas um símbolo de inovação e criatividade para soluções, algo decisivo para criar competitividade”. A prestação de contas é, segundo ele, um ponto de partida para construir um diálogo social, com olhares diversos entre seus públicos. “Ela não é uma questão moral, punitiva”. Sobre os casos recentes de Volks e Samarco, Branco adianta: “São casos de coerência, mostram organizações que têm feito esforços na direção de boas práticas, mas trazem uma prova de fogo, pois é um teste para governança e accountability de ambas”, avalia.
Negócios contemporâneos precisam colocar sobre a mesa perspectivas inovadoras” Paulo D.Branco, FGV
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Razões para confiar
Para uma empresa global, que busca clientes globais, temos de buscar os melhores padrões” Sérgio Sério, da TOTVS
Como bem lembra a advogada Marta Viegas, sócia do escritório TozziniFreire Advogados e conselheira de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), o termo accountability, do inglês, está ligado diretamente à confiança. “Ele nos remete a quem responde a quem, diz respeito a quando eu presto contas à sociedade, aos meus acionistas, sobre o que estou fazendo”. A falta de transparência é, para Sabrina Kindlein, sócia da JCMB Advogados Associados e inte grante da Comissão de Governança em Empresa Estatais do IBGC, fator de perda de confiança por parte do mercado e dos investidores, que passam distante de empresas que não prestam suas contas com clareza. “Um ambiente de transparência e de confiança torna o negócio menos custoso para as partes envolvidas. Omissões ou distorções nas informações prestadas atrasam, encarecem e burocratizam o investimento”, diz Kindlein. Kindlein destaca que com a promulgação da Lei nº 12.846/2013 (Anticorrupção) e todas as pe nalidades previstas por essa legislação, as empresas foram forçadas a se adequar mais rapidamen te às boas práticas de governança. O que mais se tem percebido é, para a advogada, um mo vimento para implementação dos programas de compliance, que antes eram deixados de lado por conta do investimento necessário. “Os primeiros passos adotados pelas empresas são o es tabelecimento de códigos de ética e conduta, a criação de áreas de compliance, a instauração de um canal anônimo de comunicação, facilitando eventuais denúncias e o monitoramento dos riscos e controles por meio de softwares mais eficientes”. Simultaneamente, alega: “Observa-se que há um esforço da alta administração para que, pau latinamente, a cultura organizacional vá se transformando, e isto se dá por meio de treinamentos e incentivos para que os gestores participem de instituições voltadas para a difusão da gover nança corporativa”, lembra Kindlein.
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Vantagens competitivas “Não basta se posicionar, é preciso comprovar com ações e com compromissos o alto grau de governança de uma empresa”, diz Sérgio Sério, gestor de Relações Institucionais da TOTVS. “Boas práticas de governança estão em nosso DNA e se aprimoraram com a abertura de capital. De lá para cá, nossa prática só nos fortaleceu. Também resolvemos nos posicionar de forma contunden te quanto à nossa cultura de integridade e ética na relação com o governo, abrindo um progra ma de compliance efetivo, em termos de compromissos públicos, com normas e regras internas”. A TOTVS é signatária dos pactos Global e Empresarial do Instituto Ethos de Combate à Corrup ção e, segundo Sério, “Ratifica com isso os seus compromissos com a governança e a ética, valores alinhados à sua cultura organizacional. Para uma empresa global, que busca clientes globais, te mos de buscar os melhores padrões”, afirma. Sério está à frente da área responsável pelas Relações Institucionais e Oportunidade Social, que objetiva fomentar a inovação, competitividade e a responsabilidade social na companhia, em alinhamento com sua estratégia, antecipando cenários, viabilizando oportunidades e mini mizando ameaças, por meio da articulação com o poder público e entidades setoriais. Ainda realiza a gestão dos investimentos sociais da empresa e de sua política de apoio à comunidade. Embora a adoção de boas práticas de governança exija investimentos, cada vez mais a transpa rência se torna uma expectativa da sociedade. Essa é a aposta de Sabrina Kindlein. Para ela, o su cesso de uma empresa está relacionado à admiração e à confiança que a organização gera, refleti das na sua marca, nos seus valores, na sua reputação e na capacidade de atrair clientes internos, externos e investidores e bem relacionar-se com seus stakeholders. “A adoção de boas práticas
de governança valoriza a empresa, a torna perene e facilita seu acesso ao capital, o que lhe traz vantagem competitiva. Neste contexto, a empresa que não se mostrar transparente não só dei xará de ser um player competitivo no mercado, como em breve será aniquilada por ele”, assinala.
Combate à corrupção No momento turbulento por que passa o Brasil, de crise econômica, política e institucional, a devassa das operações de investigação de corrupção envolvendo pessoas físicas e jurídicas, na esfera pública e privada, vem ganhando cada vez mais destaque. Como multinacional brasileira e pela relevância que tem aqui e no exterior, a TOTVS tem de ser vista como referência em boa governança. “Investimos forte em mobilização, sobretudo inter na, e na valorização de boas práticas, com foco na ética. Não basta reportes e assinatura de pactos. Quando tomamos essa decisão, realizamos encontros internos para explicar o que isso significa, não só para a empresa como para a sociedade, e temos sido muito bem recebidos”, conta o gestor de Relações Institucionais. No relacionamento com o setor público, o setor das TICs resolveu estabelecer uma relação diferenciada. A TOTVS, por exemplo, não faz financiamento de campanha eleitoral e possui uma política estruturada com premissas alinhadas à Lei Anticorrupção. Segundo Sério, em relação à corrupção é importante ser protagonista e mostrar que é possível ser diferente. “Existe um Brasil que dá certo, ele está vivo e logo mais vamos revê-lo a pleno vapor. Isso tudo vai passar e sairemos mais fortalecidos”, acredita. Marina Martins Ferro, coordenadora de políticas públicas do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, explica que com a Lei de Acesso à Informação, a transparência públi ca deu um salto, assim como a transparência dos ativos, que mostra quem são os verdadeiros acionistas (beneficial ownership). “Entendemos que existem informações estratégicas e sigilosas para o negócio, mas por que não torná-las públicas para o bem comum? Isso gera menos gasto, maior competitividade e impacto positivo para a sociedade”, finaliza Marina.
compromissos O Pacto Global é uma iniciativa desenvolvida pelo ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção por meio de dez princípios. Essa iniciativa conta com a participação de agências da ONU, empresas, sindicatos, organizações não-governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais inclusivo e igualitário. Hoje, já são mais de 5.200 organizações signatárias articuladas por 150 redes ao redor do mundo. Já o Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção foi estabelecido para unir empresas em favor de um mercado mais íntegro e ético e contribuir para a erradicação do suborno e da cor rupção. Lançado em junho de 2006 pelo Instituto Ethos, Patri Relações Governamentais & Políti cas Públicas, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), Fórum Econômico Mundial e Comitê Brasileiro do Pacto Global, ele visa ainda promover a ética nos negócios por meio da prevenção e combate à corrupção.
varejo total Não importa o tamanho da empresa ou a área de atuação: o futuro do comércio passa pela digitalização. E não estamos falando só de e-commerce por Carlos Vasconcellos
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aior varejista on-line do pla neta, a Amazon deu início a uma aventura inusitada pa ra uma empresa conhecida por liderar a revolução do comércio eletrô nico nas últimas duas décadas: abriu uma lo ja física. Inaugurada em novembro, a Amazon Books fica em Seattle, cidade-sede da em presa, e possui um estoque pequeno, cons truído com base nos livros mais vendidos e bem avaliados pelos clientes. O acervo de seis mil títulos é mais próxi mo do encontrado em milhares de livrarias que fecharam as portas nos EUA por causa da concorrência virtual. Os preços serão os mesmos da loja on-line e os livros serão ex postos na prateleira de uma maneira dife rente da tradicional, com a capa voltada pa ra frente. Segundo a empresa, ele ocupa mais espaço na prateleira, mas facilita a identifi cação do título pelo comprador.
On-line e off-line juntos A Amazon afirma que a loja de Seattle não será a única. A ideia é conjugar os benefícios de vendas on-line e off-line em um único
ponto de vendas. A livraria, no entanto, não é a primeira incursão da Amazon no mundo físico. Em fevereiro de 2015, a empresa já ha via aberto um ponto comercial no estado de Indiana, que funciona como um local para receber ou deixar pedidos, com cofres aber tos por código. O movimento da Amazon é o emblema de uma nova era em que as fronteiras do va rejo se dissolvem, levando cada vez mais as empresas a construir estratégias para múl tiplos canais. Ou melhor: para todos os ca nais (ver “Varejo onipresente”). Um dos principais fatores que ajudam a eliminar essa divisão estanque são os apli cativos móveis. Eles aumentam a produtivi dade do varejista, com aplicações que ge renciam estoques, equipes de vendas, bases de dados e outros sistemas, e que podem ser controlados a distância em tempo real. Tam bém permitem ao consumidor comprar di retamente em uma loja, fazer encomendas para receber em casa ou buscar em uma loja física, comparar preços de pontos de venda on-line e off-line, usar geolocalização para
buscar ofertas em locais próximos, entre ou tras facilidades. “A tecnologia móvel chegou para emba ralhar de vez o jogo. Mobile first é o mantra do setor varejista hoje”, diz Marcelo Cosenti no, executivo da TOTVS. Mas não vale tentar impor uma opção ao cliente. “Não adianta querer forçar o canal de vendas. O consumi dor é que vai escolher o mais conveniente”. Qualquer que seja o caminho escolhido pelo varejo, no entanto, ele passa pela digi talização. E esse fenômeno é muito mais am plo do que o simples estabelecimento de um canal de e-commerce. Cléber Morais, executivo da Bematech, observa que o investimento do varejo em Tecnologia da Informação vem crescendo, mas ainda está longe de outros setores. “Ho je, o investimento do varejo em tecnologia é de 3,5% do investimento total”, diz. “Mas em Telecomunicações, por exemplo, essa proporção é de 10% da receita”.
Digitalizar é estratégico Segundo Haroldo Monteiro, coordenador da pós-graduação de Gestão Estratégica no Varejo do Ibmec-RJ, a digitalização é estra tégica para o setor. “Em primeiro lugar, ela permite gerar uma massa de dados para a análise do comportamento do consumidor, um elemento chave para o varejo”, diz. De fato, a partir da captação de dados so bre o cliente é possível construir estratégias para atrair e fidelizar esse consumidor. E à medida que a base de dados cresce, o uso de tecnologia de análise de dados pode an tecipar tendências de consumo. “Isso é im portante não apenas para alinhar a oferta com a demanda do público, mas também para gerenciar a quantidade e o sortimento do estoque”, ressalta Monteiro. O gerenciamento de estoque, por sinal, é um dos maiores desafios de uma operação varejista. “A partir dos anos 90, com o con trole da inflação, ter um estoque enxuto pas sou a ser uma questão de sobrevivência pa ra o varejista”, diz Monteiro.
Gerenciar bem o estoque também é ter exatamente aquilo que o consumidor pre cisa. Em algumas categorias, o processo é tão complexo que a digitalização se torna ainda mais urgente. É o caso do varejo de ves tuário. “Em uma única categoria de produ to, como calças jeans, você precisa geren ciar tamanho, cores e modelos. Obviamente, vai precisar de um sistema mais robusto pa ra lidar com isso”, observa Monteiro. E aí chegamos ao segundo polo da digi talização do varejo: a eficiência da gestão e dos processos. Esse salto de qualidade pode ser decisivo para o setor, especialmente em um momento difícil para a economia. “É ho ra de buscar mais eficiência em todas as eta pas da operação varejista”, diz Eros Jantsch, executivo da Bematech. “E a digitalização tem tudo a ver com isso”.
Preocupação com atendimento A transformação, no entanto, é desigual. Alguns segmentos estão mais avançados do que outros, e cada um tem sua prioridade. Setores como o varejo de materiais de cons
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A tecnologia móvel chegou para embaralhar de vez o jogo. Mobile first é o mantra do setor varejista hoje” Marcelo Cosentino, executivo da TOTVS
Sinergia absoluta Quinhentos mil clientes, cinco mil canais de atendimento no Brasil e no exterior. A reor ganização societária da Bematech pela TOTVS criou a primeira empresa do país a aten der todos os subsegmentos do varejo com um portfólio completo de soluções tecnoló gicas. “Somos o primeiro one stop shop provider de soluções tecnológicas para o varejo”, comemora Cosentino. “Com ferramentas que vão do ponto de venda ao back office”, com pleta Morais, executivo da Bematech. Cosentino considera a aquisição uma oportunidade única. “Se você quer atacar uma base tão grande – 2,5 milhões de varejistas – você tem que ter capilaridade. Então, eles trazem capilaridade e uma base de 500 mil clientes que a gente pode atacar no primeiro dia”, diz. “É um processo que faz todo sentido. A gente acredita mesmo que o varejo vai se digitalizar”. O executivo destaca ainda que essa capilaridade é vital para atender ao pequeno vare jista. “Quanto menor a empresa, mais importante é esse contato pessoal, ressalta. Outra vantagem é que não havia sobreposição na oferta de portfólio, nem na área de atuação das duas empresas”.
Antes, o gap era de dez anos até uma transformação dessas chegar ao mercado brasileiro. Hoje, o tempo é bem menor”,”
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Eros Jantsch, executivo da Bematech
trução ou as redes de eletroeletrônicos, por exemplo, têm foco na integração dos canais de venda e nas oportunidades e ameaças do e-commerce. Já no varejo de food service, a preocupa ção é com o atendimento. Nesse segmento, o processo de digitalização tem caminhado mais rapidamente. Jantsch cita o caso da re de americana de sanduíches e saladas Panera Bread. Com uma solução que une e-commer ce e aplicativo de celular, a empresa permi te que o consumidor faça o pedido e pague pelo telefone, enquanto o aplicativo da rede usa o GPS para indicar a loja mais próxima. O app, então, envia mensagem dizendo onde o cliente pode retirar o pedido e em quanto tempo ele estará pronto. “A cozinha interage com o canal de atendimento. Isso exige inte gração não apenas tecnológica, mas também operacional”, observa.
Estados Unidos lideram O Brasil ainda está atrás dos EUA, que lide ram esse processo de transformação do vare jo no mundo digital. Mas o abismo tecnoló gico está diminuindo. Apesar de o comércio eletrônico ser apenas a ponta mais visível do iceberg, ele serve como indicador desse pro cesso de transformação. Em 2014, o varejo on-line brasileiro cresceu 18% e faturou R$ 39 bilhões (o equivalente a US$ 13 bilhões pela taxa de câmbio do final de 2014). Com isso, o Brasil, com 106 milhões de usuários de inter net e 60 milhões de consumidores on-line, é o 9º maior mercado do mundo entre 98 paí ses analisados pela consultoria AT Kerney. O mais importante, no entanto, é a velo cidade da evolução e a maneira como a di gitalização se espalha pela cadeia de valor do setor varejista. “Antes, o gap era de dez anos até uma transformação dessas chegar ao mercado brasileiro. Hoje, o tempo é bem menor”, diz Jantsch. Em parte, isso é resulta do da democratização da tecnologia no país. E a digitalização do varejo vem a reboque. O
Omni-Channel, o varejo onipresente O muro que separava o varejo físico do varejo on-line caiu. Antes, o limite era muito bem marcado. Compras online eram coisa de gente jovem que adquiria produtos de baixo valor e de tamanho pequeno. Com a melhoria de segurança nas transações e, mais re centemente, com a ampla difusão dos smartphones com acesso a rede, isso começou a mudar. O conceito chave deste novo cenário é o Omni-Channel. Mais do que multica nal ou cross canal, o lojista precisa es tar em todos os canais e estabelecer comunicação perfeita entre eles para atender ao consumidor. E-Commerce, Social Commerce, Mobile Commerce, TV Commerce, catálogos, vendas por telefone, vendas diretas porta a porta, lojas físicas – todos os meios possí veis entram na equação. As variações são inúmeras. O consu midor pesquisa preços e característi cas do produto on-line e finaliza a com pra na loja física. Compra diretamente pelo computador com entrega em ca sa. Executa o pedido pelo celular e re tira o produto na loja. Para ele, não importa mais qual o meio de compra, e sim a experiência que ele tem com a marca. Por isso mesmo, uma estratégia Omni-Channel exige uma integração total desde a elabora ção da estratégia até a fase de execu ção operacional. Saiba mais sobre Omni-Channel na matéria da página 50
acesso fácil a smartphones e tablets aumenta a pressão do consumidor sobre as empresas. Morais explica que o consumidor é hoje muito mais bem informado, pesquisa pela in ternet e – se não compra on-line – vai à loja sabendo mais sobre o produto do que muitos vendedores. “Isso é uma transformação dis ruptiva para o varejo físico, que precisa inves tir fortemente na capacitação dos vendedo res para atender a esse novo consumidor”, diz. Cosentino, por sua vez, observa que o con sumidor brasileiro tradicionalmente adota com rapidez novas tecnologias, o que pode estimular os varejistas a entrar no mundo di gital. “A tecnologia de pagamentos móveis, com certeza, vai pegar por aqui”, diz. “Embo ra, ainda tenhamos um grande desafio de in clusão bancária a superar no país”. A tecnologia mais barata facilita a adesão de micro e pequenas empresas. Hoje, é possí vel ao pequeno comerciante ter soluções que deem mobilidade e permitam acessar dados de venda em qualquer lugar, com armazena mento de dados em nuvem. “Na hora da cri se, quem não tem um canal de e-commerce abre um rapidamente no Mercado Livre ou no E-Bay”, observa Cosentino.
O desafio das pequenas Tudo isso traz uma grande oportunidade para os fornecedores de soluções para o va rejo. Segundo o IBGE, há cerca de 4,6 milhões de empresas ativas no país e aproximada mente 54% delas estão no segmento vare jista. Dessas, mais de 80% faturam entre R$ 120 mil e R$ 250 mil e apenas 30% desses estabelecimentos podem ser considerados automatizados. Para Cosentino, a tecnologia vai crescer mais rápido do que o PIB por muito tempo. E o gasto virá das pequenas empresas. “Es sas micro e pequenas empresas vão precisar passar pelo processo de digitalização, elas precisam ser eficientes, precisam de siste mas de back office integrados ao PDV”.
Ele observa que hoje os processos nas pe quenas empresas brasileiras são quase to dos manuais. “Você vai em um pet shop ou a um cabeleireiro e há um sistema para o pa gamento, mas dali para trás, a conexão com o estoque, com o caixa, com folha, é tudo uma bagunça”, diz. A conclusão é lógica. “Quan do você olha o perfil das empresas no país – a maioria, pequenas – e vê que a maior par te delas está no varejo, e sabe que o percen tual da linha de TI no PIB vai crescer, você pro cura a interseção dessas três coisas e percebe que o varejo vai se digitalizar”. Apesar do potencial, esse mercado ain da precisa ser seduzido pelas vantagens do mundo digital. Para Monteiro, as pequenas empresas, a maioria delas familiares, enca ram o gasto em tecnologia como um custo e não como investimento. O que pode ser um grave erro. “Elas focam no crescimento sem pensar na estrutura, o que vai causar prejuízo no futuro”, alerta. Mas a roda do progresso continua a girar. Um dos fatores que impulsiona a digitaliza ção é a consolidação do setor. Fusões e aqui sições forçam as empresas a profissionalizar a gestão e a consolidar dados contábeis. Em alguns ramos, como Farmácias, as três maio res empresas do setor dominam apenas 30% do mercado. “O avô, dono do comércio, à beira do balcão, encanta o cliente, mas não dá escala ao negócio”, resume Morais. Outro fator importante é a mudança ge racional nas pequenas empresas. “À medida que os herdeiros assumem o comando, o pequeno varejo fica mais inclinado a entrar no mundo digital”, diz Monteiro. Todas essas transformações obrigam o va rejo físico a mudar, adequando-se ao novo cenário. As mudanças buscam transformar a compra em loja em uma experiência espe cial. Para isso, vale usar música, ambientação, aromas, layout, tudo para envolver o consu midor. “O varejo de loja tradicional nunca vai acabar”, conclui Morais. A Amazon que o diga.
Divulgação
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O avô, dono do comércio, à beira do balcão, encantava o cliente, mas não dá escala ao negócio” Cléber Morais, executivo da Bematech
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Fotos: Divulgação
à esquerda, as instalações técnicas da Unigel. Acima, a sede da Schmersal
Tecnologia sob medida Investimento em softwares especializados traz resultados instantâneos para empresas de diferentes setores
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por Gabrielle Nascimento
o chão de fábrica ao cliente final: casos de sucesso mostram como o investimento em softwares de ges tão pode trazer produtividade, acuracidade e qualida de a companhias de diferentes setores. Um exemplo é o da Unigel, uma das principais fabricantes de especialidades quí micas, fertilizantes, plásticos e embalagens da América Latina que adotou o software de gestão da TOTVS para aprimorar o controle de sua operação mundialmente. O ERP da TOTVS é utilizado por oito empresas do grupo Unigel. No passado, cada empresa executava uma instalação diferente do mesmo sistema. Visando otimizar a gestão, foi feita a unificação das soluções, oferecendo um ambiente único, com cadastros totalmen te integrados e processos padronizados. Este movimento foi faci litado pela migração para a versão 12 do ERP da TOTVS. Além do Brasil, a operação mexicana também usa o sistema da companhia. Com a nova versão, os dados contábeis e fiscais passaram a ser in seridos uma única vez no sistema e replicados automaticamente para todos os módulos da aplicação. A ferramenta simplificou ainda o fe chamento contábil e de estoque, que precisava ser feito de forma in tegrada. “Como uma empresa dependia da outra, o processo acabava gerando gargalos. Com a nova versão do sistema, conseguimos rea
lizar o fechamento por companhia, conferindo um ganho bastante significativo de tempo. O fechamento de algumas empresas maiores leva cerca de quatro horas, enquanto outras gastam aproximada mente 30 minutos”, afirma Cláudia Anania, gerente de TI da Unigel.
Expansão internacional A Plastiglas, parte da operação mexicana da Unigel, é líder na produção e comercialização de lâminas de acrílico e adotou o ERP da TOTVS em suas quatro plantas e nos seis centros de distribuição logo após a aquisição pela brasileira. A implantação, realizada em dois meses, reduziu os custos operacionais e trouxe ganhos de per formance para a companhia. Desta forma, ficou mais fácil integrar as operações, dando ao Brasil acesso total às informações do Méxi co e mais agilidade na tomada de decisões com base em indicado res e em dados confiáveis.
Chão de fábrica automatizado A Schmersal, líder mundial em sistemas de segurança para má quinas e equipamentos, também decidiu automatizar seus pro cessos para ganhar produtividade e qualidade. A solução escolhida foi o TOTVS MES (Manufacturing Execution System).
Com uma operação complexa, a companhia alemã desenvolve e produz aproximadamente 25 mil mecanismos e dispositivos dife rentes, sendo que cerca de seis mil desses componentes perten cem à sua unidade fabril de peças injetáveis, área de atuação do MES. Com a adoção da tecnologia, a Schmersal conseguiu reduzir um turno de trabalho nessa planta, evitar a aquisição de duas novas máquinas requeridas anteriormente e, ainda, elevar a sua produtivi dade, acompanhando o crescimento médio de 20% ao ano do seu faturamento. “Com o TOTVS MES conseguimos limpar a nossa fila de demandas de produção, ser mais eficientes e extrair o melhor das máquinas. Com um controle efetivo, temos uma visão gerencial sobre a nossa capacidade produtiva, elevando o nosso poder de decisão para resol vermos e, até mesmo, evitarmos falhas durante os processos”, ex plica Álvaro Augusto de Freitas, gerente de TI da Schmersal. Com um longo histórico de parceria com a TOTVS, a Schmersal implementou o primeiro software de gestão da companhia em 1987. A partir daí, vieram muitas evoluções, garantindo maior con sistência das informações, melhoria dos processos internos, com pliance fiscal e visão analítica e gerencial.
NA Harley-Davidson, busca por maior agilidade A Harley-Davidson utiliza o software de gestão da TOTVS desde 1998. No início de 2014, a empresa implementou uma nova versão do sistema para contar com todo o suporte e atualização oferecidos
pela TOTVS. Para aprimorar ainda mais os resultados conquistados com a adoção do novo ERP, o projeto contou com a participação de profissionais da Harley-Davidson dos Estados Unidos, da fábrica no Brasil e da área comercial da empresa, que mapearam os processos e definiram o fluxo das rotinas e o escopo do software antes da im plementação. O redesenho do fluxo de processos e a implementação da nova versão da solução conferiu inúmeros ganhos à companhia. O maior impacto, no entanto, foi sentido no chão de fábrica. Em pouco tem po, o sistema conferiu maior produtividade à operação e aprimorou o relacionamento entre as diferentes áreas da companhia no país. Visando elevar ainda mais a gestão da produção, a TOTVS cus tomizou uma ferramenta inovadora para a companhia, o Doctor Report. Toda mercadoria que chega dos EUA passa por uma inspe ção para a entrada na fábrica. Se houver alguma falha no produto, a mercadoria não pode entrar em fabricação. O Doctor Report sim plificou a conferência do material e o controle da produção ao re conhecer a ausência de peças e impossibilitar o uso da mercadoria até a sua regularização. “A aderência do ERP da TOTVS às necessidades do mercado brasi leiro e o profundo conhecimento da legislação e da complexidade do ambiente de negócios no país influenciaram a tomada de deci são. A parceria de longa data entre as duas empresas também fez a diferença na escolha”, informa Celso Ganeko, diretor Superintenden te Industrial da Harley-Davidson.
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“A Integração dos canais físicos e digitais já se tornou um imperativo estratégico por Karen Ferraz
inda não existem melhores práticas estabelecidas no omni-channel, todo mundo está aprendendo enquanto as coisas avançam, mas ninguém tem o lu xo de esperar”. Parafraseando um de seus clientes, C. Dwight Klappich, vice-presidente de pesquisa do Gartner, dimensiona o atual momento da jornada das empresas em di reção à integração dos canais de vendas fí sicos e digitais. Uma prova de que o concei to ganhou importância estratégica é o fato das decisões sobre omni-channel aconte cerem top down, e serem frequentemente iniciadas no board das companhias. De olho nessa evolução, a Natura, que origi nalmente tinha seu negócio fundamentado na venda direta, sustentada por 1,7 milhão de consultoras espalhadas pelo país, deu importante passo em sua estratégia omnichannel. Com a criação da plataforma digi tal Rede Natura em 2014, foi possível unir consultores e consumidores em um ambi ente em que cada revendedora possui sua própria loja virtual. Hoje, já são 70 mil loji nhas, permitindo que a essência do mode lo de negócio fosse mantida: a venda base ada na recomendação. “Um primeiro passo para uma convergência de dois modelos de negócio, que no futuro vão ser um só”, resume Agenor Leão, CIO da Natura.
Aprendizado para o modelo tradicional Os aprendizados e as ferramentas do am biente digital também foram incorporados ao modelo tradicional de vendas diretas da empresa, com o intuito de melhorar a expe riência de compra e eliminar lacunas. A ini ciativa, chamada Você Conecta, já conta com cem mil consultoras engajadas no aplicati vo, por onde é feita a gestão do negócio e o relacionamento com a empresa. “Muito mais do que criar um negócio di gital, a empresa busca integrar tudo isso em
um grande negócio, usando essa informação do digital tanto na venda direta quanto na venda direta digital”, afirma o CIO da Natura. O omni-channel também tem guiado a Kalunga, varejista de suprimentos de infor mática, que integrou canais de atendimento ao consumidor – demanda gerada pelo e- commerce e pela loja física – e unificou o de partamento de compras para permitir a prá tica de preços e gestão de estoques similares. E ainda oferecer uma experiência integrada ao cliente. Hoje, é possível pesquisar no site em qual loja determinado produto está disponível, bem como comprar um produto no site e fazer a troca na loja. O canal de vendas digi tal, somado ao televendas, responde por 15% do que é vendido na Kalunga. A com panhia também busca ter uma visão com pleta do consumidor, armazenando um his tórico de compras presenciais e virtuais, que pode ser consultado por CPF ou CNPJ. “Sem a loja física, o e-commerce não faz sentido. O que prova isso é que quando abri mos uma loja física em uma cidade, a venda do e-commerce aumenta muito. As pes soas passam a confiar mais e sabem que se tiverem algum problema podem ir à loja”, avalia Felipe Algazi, gerente de Business In telligence e Web da Kalunga.
Novos paradigmas Com o ingresso do digital e a evolução da mobilidade, a forma de consumir mudou e apontou um caminho sem volta: não há al ternativa senão oferecer uma experiência única entre canais e utilizar todos os pontos possíveis de interação entre usuário e mar ca. Uma visão que já tem sido praticada por empresas como Apple, Nordstrom e Macy’s, que despontaram como cases internacio nais de adoção de omni-channel. Como ressalta Rodrigo Reis, diretor de negócios da GS&MD – Gouvêa de Souza e professor da Escola Superior de Propaganda
É preciso dialogar com o novo consumidor, enriquecendo sua experiência de compra, conduzi-lo por canais de comunicação até o produto, tendo o bom senso para não ‘stalkear’, forçando-o com anúncios indesejados” Rodrigo Reis, diretor de negócios da GS&MD e professor da ESPM
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Especialistas pontuam os erros mais comuns no omni-channel Para o analista do Gartner C. Dwight Klappic, o maior erro que pode ser cometido por empresas que decidem partir para o omni-channel está em não adotar uma abordagem ágil que permita ajustes em seu curso, visto que processos e modelos deverão ser revistos e adaptados constantemente. André Bretas, executivo da TOTVS, mostra que também é comum empresas instalarem uma solução de omni-channel e não mensurar os esforços que serão necessários. “Quem contrata tem que ter uma crença de que o processo de venda começa quando assina, e não quando ele termina. Os investimentos não estão associados só ao que eu pago no software”, detalha. E isso inclui dedicar funcionários que ficarão envolvidos para acompanhar, que vão deixar de fazer outras atividades para colocar o sistema rodando com êxito. “Eu vou deixar de entregar na performance aquilo que eu faço hoje. Então, dá uma ilusão de que o sistema acabou de chegar e está atrapalhando”. Do ponto de vista do consumidor, o diretor de negócios da GS&MD - Gouvêa de Souza e professor do curso O Novo Consumidor Omnichannel na ESPM, evidencia que é fundamental ter um núcleo que possa se dedicar ao entendimento do consumidor, com a enorme quantidade de dados gerados hoje. “São áreas essenciais que sabem subtrair os outputs de acordo com seu produto core e, assim, de senvolver seu planejamento de marketing”. Alguns exemplos: TI para a geração dos dados (big data); customer insight que analisará e gerará todas as informações e estatísticas; marketing operacional para executar as ações; customer marketing que se relacionará com os clientes em diversos momentos e, por fim, marketing digital, que poderá desenvolver o conteúdo e identificar os targets.
Ainda não existem melhores práticas estabelecidas no omni-channel, todo mundo está aprendendo enquanto as coisas avançam, mas ninguém tem o luxo de esperar” C. Dwight Klappich, analista do Gartner
e Marketing (ESPM), eliminar as barreiras fí sicas e tecnológicas entre os canais traz de safios que exigem grande envolvimento de toda a companhia e grandes investimentos – “e no caso do Brasil, ainda temos elemen tos particulares que tornam esta jornada ain da mais difícil, como a legislação fiscal”.
O cliente é o que interessa Mesmo assim, ele reconhece ótimos exem plos de companhias que estão avançando nesse sentido, como Polishop, Livraria Cul tura e Magazine Luíza, uma movimentação que vai além do varejo e abrange também outros setores, como o financeiro, com os bancos desempenhando um papel impor tante na evangelização digital dos clientes. Nesse novo mundo, o consumidor é o centro do universo, ele já está ciente deste poder e, por isso, cada vez mais exigirá um tratamento individualizado. Conhecer bem os seus clientes, bem como a jornada de compra, é o básico. “É preciso dialogar com o novo consumidor, enriquecendo sua ex
periência de compra, conduzi-lo por canais de comunicação até o produto, tendo bom senso para não ‘stalkear’, forçando-o com anúncios indesejados. O importante é apro veitar o momento para educar o público a utilizar seus canais”, enxerga Reis.
Integração total Cada abordagem precisa ser relevante e, nesse contexto, um canal de venda oferece complementariedade ao outro, permitindo capturar o momento exato da compra. “Mui to se falou em combater showroomers e webroomers, mas quando pensamos em uma experiência omni-channel, sabemos que o consumidor pesquisou na internet e, quando ele chega na loja física, por meio de um PDV móvel integrado ao back office, posso atendê-lo de pé na frente do produto, fazer o pedido, receber o pagamento, fina lizar a compra, entregar o produto, e deixar que ele saia da loja sem pegar fila no caixa”, explica André Veiga, diretor do segmento de varejo da TOTVS.
Integração que acontece também no e- commerce, de modo que a mesma informa ção disponível no ERP na venda física é ofere cida na loja virtual por meio da solução Fly01 da TOTVS, independentemente se a venda acontece em desktop ou mobile. A empresa também oferece a oportunidade de integra ção com marketplaces, como o da varejista Cnova, permitindo ampliar o alcance dos produtos. “Tudo isso traz a possibilidade de capturar o momento de compra e o varejis ta só consegue fazer essa venda quando es tá preparado para atender independente mente do canal”, enfatiza Veiga. André Bretas, executivo da TOTVS, mostra que também é comum empresas instala rem uma solução de omni-channel e não mensurarem os esforços que serão necessá rios. “Quem contrata uma ferramenta omnichannel tem que ter em mente que o pro cesso de venda começa quando o contrato é assinado e que os investimentos necessá rios vão além do valor pago no software”, de talha. E isso inclui, por exemplo, dedicar fun cionários para acompanhar o processo. “Eu vou deixar de entregar na performance aqui lo que eu faço hoje, pois terei funcionários trabalhando para colocar o sistema rodan do com êxito. Então, dá uma ilusão de que o sistema acabou de chegar e está atrapa lhando”.
Estratégia em evolução Enquanto a necessidade de mudança de mindset diante do “omni-consumidor” pare ce mais palpável – em grande parte pela evolução trazida pelo e-commerce nos últi mos dez anos –, o analista C. Dwight Klappic, do Gartner, acredita que os maiores desafios estão na forma de organizar operacional mente o omni-channel, alinhando as estra tégias com o clima de negócios específico da empresa e as tecnologias para apoiar suas operações.
Qual seria o melhor caminho a seguir, por tanto? O primeiro imperativo, segundo ele, é entender as necessidades do consumidor. Em seguida, as companhias deverão mapear os modelos de compra para a sua fatia do va rejo. Por exemplo: comprar on-line e pegar na loja, comprar na loja e enviar a partir do on-line, comprar em uma loja e entregar o produto em outra diferente. E para finalizar, será preciso fazer a análise econômica para documentar o impacto dessas mudanças sobre o negócio. “Infelizmente, enquanto muitos varejistas são forçados a seguir normas estipuladas pelos concorrentes, como frete grátis, cada empresa deveria fazer sua análise para en tender o impacto sobre as suas finanças”, pondera Klappic. Os produtos podem ser entregues de maneira gratuita ou vão cau sar erosão nos lucros? Essa informação pode não mudar a abordagem, mas permite en tender melhor os impactos e levar a outras alternativas. “E, por fim, a empresa tem de começar essa jornada sabendo que as coisas provavelmente vão mudar e precisarão to mar uma decisão ágil em sua estratégia omni- channel, com ajustes durante o percurso”.
O futuro já é realidade O omni-channel evolui rapidamente, mas ainda está longe de atingir sua maturidade, o que deixa a certeza de uma efervescente e constante inovação tecnológica para dar su porte às decisões. Para Rodrigo Reis, o omni-consumidor já é uma realidade. “Se por um lado o mobile em poderou o consumidor com níveis inéditos de informações, por outro ele elevou o nível de exigência. Este consumidor será mais ci dadão, mais ético e exigirá que as empre sas possuam um propósito maior, com foco em fazer o bem, respeitando a sua vizinhan ça, cidade, sociedade e, claro, seus clientes. O lucro passará a ser uma consequência”, an tecipa Reis.
A revolução da experiência de compra 25 bilhões de dispositivos conectados até 2020:
Wearables
Interface por voz e olhar
Sensores
49%
dos usuários concordam com a coleta de dados
62%
das empresas planejam implantar omni-channel
90%
dos consumidores usam múltiplos canais
43%
dos consumidores priorizam produtos,
27% preços e 67%
das lojas de departamento priorizam relacionamento
sus t en t a b i l i dade 48
Atendente de loja Com experiência no mercado finan ceiro, câmbio e vendas, trabalha há dois anos na Pizza Hut no Shopping Eldorado, em São Paulo. Aposenta do desde 1992, acorda às 4h e traba lha 8 horas/dia, fazendo de tudo no restaurante fast food. Atende clien tes, fica no caixa, bate a massa da pizza. “Conheço de cor os CPFs dos clientes. Me dou bem com todos eles e com os que trabalham comigo”.
Afinal, qual será o papel do idoso no mercado de trabalho? por Andrea de Lima
Maria do Carmo
O Aposentado desde 1992, Alcides Gaspar Branco segue trabalhando depois dos 70 anos e aconselha as pessoas a não pararem nunca
Brasil tem um enorme desafio pela frente: romper com a discriminação etária, tanto no mundo do trabalho quanto na convivência cotidiana. O boom demográfico prenunciado por recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) comprova essa tese. O documento mostra que o número de pessoas com mais de 60 anos no mundo deverá duplicar até 2050, o que exigirá uma mudança social radical. O documento aponta ainda que os governos têm de garantir políticas que permitam às pessoas mais velhas continuar participando da sociedade. Margaret Chan, diretora-geral da OMS, atesta que “Hoje, a maioria das pessoas, mes mo em países mais pobres, vive por mais tempo”. Mas, segundo a médica, o aumento da expectativa de vida não é suficiente. “Precisamos assegurar que esses anos extras sejam saudáveis, significativos e dignos. Alcançar esse objetivo não será bom apenas para os mais velhos, será bom para a sociedade como um todo”. O percentual de idosos brasileiros cresce acima da média mundial e deverá triplicar os atuais 12,5% até 2050. Ou seja, logo seremos considerados uma nação envelhecida. Conforme dados da OMS, essa classificação é dada aos países com mais de 14% da po pulação constituída de idosos, como são, atualmente, Canadá, França e Inglaterra. De acordo com a ONU, a chamada terceira idade é a fase da vida que começa aos 60 anos nos países em desenvolvimento e aos 65 anos nos países desenvolvidos. Essa fase
Diz que, se pudesse, comeria pizza to do dia. Com boa saúde, frequenta a academia diariamente, onde caminha 6Km. “Meu celular tem tudo, Insta gram, Facebook, mando mensagem, me divirto. Aliás, brinco muito, com os mais jovens e com os mais velhos, fun cionários e clientes, sou respeitado e recebo elogios. Ninguém me chama pelo nome, mas por ‘Véio’. Eu ficaria bravo se me chamassem de jovem.”
Responsabilidade social caracteriza-se por mudanças físicas em to do o organismo do indivíduo, alterando suas funções e trazendo mudanças em seu com portamento, percepções, sentimentos, pen samentos, ações e reações. Há também alte rações dos papéis sociais que resultam das mudanças biopsicológicas relacionadas ao avanço da idade. Enquanto a Constituição Brasileira men ciona a terceira idade com início aos 65 anos, o Código Penal refere a idade de 70 anos e, a Política Nacional do Idoso, 60 anos.
Síndrome de Benjamin Button A despeito das nuances de com quantos anos alguém é considerado terceira idade , e além das diferenças socioeconômicas – que
Se considerarmos que boa parte da po pulação ativa brasileira (51%) está envelhe cendo, a expectativa de vida aumentou pa ra 74,9 anos (segundo o IBGE), a Previdência Social está sucateada, as projeções futuras dão conta de que algumas profissões dei xem de existir, o empreendedorismo está em alta e a inovação tecnológica está transfor mando a maneira como nos relacionamos, produzimos e cuidamos da nossa saúde, o que os mais velhos devem esperar em ter mos de trabalho? Há os que enxergam nesse cenário uma oportunidade e espaços de valorização dos trajetos percorridos, da superação da ansie dade, da energia contagiante da convivên cia, da possibilidade do aprendizado contí nuo, do benefício da dúvida e da inexorável
Leonel Poltosi, 55 Gerente de P&D da Elo Sistemas Eletrônicos e professor de engenharia da Universidade Unisinos Formado em engenharia elétrica, es tudou em colégio militar, entrou na universidade pública e hoje leciona em uma universidade privada, em que fez mestrado com ênfase em inteli gência artificial, além de redes de co municação. Conta que aos 41 apren deu que existem divers os tipos de algoritmos. Alguns deles, como re des neurais, tentam imitar vários fe nômenos naturais, a exemplo da bio mimética. “Não temos que nos preocupar e com petir com as novas gerações. Não é por aí. Tenho uma relação incrível com os mais jovens, inclusive na mi nha equipe e em sala de aula. Se a eles falta visão de negócio, de gestão, de relacionamento com cliente, com os acionistas, é aí que eu entro, pois tenho uma jornada que conta, muito conhecimento e vivência acumula dos”. Com 32 anos de trabalho inin terruptos, passou por dez empresas privadas, pelas quais viveu na Europa e nos EUA. “Não penso em parar ja mais”, diz ele.
Arquivo pessoal
Alcides Gaspar Branco, 71
permitem um envelhecimento mais ou me nos digno –, os nomes para esse grupo não são poucos. Supostamente com mais tem po livre e mais recursos, não era para ser uma fase de diversão? Há quem se pergunte des de os 20, 30, 40 anos sobre como estará da qui a algumas décadas. As famigeradas máquinas do tempo das películas do século passado faziam proje ções, que tanto enalteciam a juventude co mo a maturidade, por meio do teletranspor te. Esse sonho atravessou gerações, assim como o dilema: o trabalho não deveria ser considerado como algo que gera prazer e realização e não apenas geração de renda e ocupação? Como diz o escritor Eduardo Alves da Cos ta: “Eu fico estarrecido com o que vem por aí, com a quantidade de coisas que desco nheço. A verdade é que meu pequeno mun do ficou pra trás. Envelhecer não é só che gar aos 70 anos, é começar a desconhecer a realidade em que se vive”. Autor de um dos poemas mais famosos da literatura brasileira, “No Caminho, com Maiakovski”, Costa chama a atenção para o perigo de não incluirmos os mais velhos, “ao envelhecer ficamos invi síveis”, o que afetará a todos nós.
CHEGOU O APLICATIVO QUE MUDA TUDO E NÃO CUSTA NADA
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Ao contratar pessoas mais velhas, há ganhos na gestão, inclusive de relacionamento. Elas dão boas ideias” Daniella Oliveira, gerente de RH e Treinamento da Pizza Hut SP
certeza de que enquanto houver vida vale a pena prosseguir.
Bônus demográfico “O Brasil vive uma fase de transição po pulacional, conhecida como bônus demo gráfico, que poderá se transformar em uma janela de oportunidade econômica para os mercados de trabalho e de consumo, ou em um fardo para a sociedade e para a Previdên cia Social”, diz a microempresária Melissa Castilho Diamantino. Fundadora do site Sábio Aprendiz Recur sos Humanos Especializados e proprietária da empresa Hadamantine, voltada à gestão de projetos e eventos desde 2011, ela contra ta pessoas com mais de 60 anos. No início, esse grupo contabilizava 20% da sua equipe de produção, hoje chega a 40%. “O idoso é história, conhecimento e experiência, mas também um patrimônio, que precisa e deve ser respeitado e apreciado em todo o poten cial que ele ainda tem a oferecer”. Se hoje estamos mais velhos do que on tem – porque envelhecemos desde o mo mento que nascemos – há não muito tempo supor que em 2015 já estaríamos conviven do com big data, inteligência artificial, comu nicação móvel por dados e voz poderia ser uma aposta, mas agora é realidade. O que mais então está por vir? Pouco importa, por que o que quer que seja será novidade para a maioria de nós, ainda que muitos protóti pos já estejam no forno.
Reinaldo Bulgarelli, 54 Sócio-diretor da Txai Consultoria e Educação, coordenador do Programa de Educação Continuada na FGV/SP, professor da Unicamp, Instituto Palas Athena, Sustentare (Joinville) e Fundação Dom Cabral
que idade você tem? Os geriatras, sob o ponto de vista biológico, dividem as idades em : + Primeira idade: 0 - 20 anos; + Segunda idade: 21 - 49 anos;
Para o educador com ênfase em sus tentabilidade, direitos humanos e di versidade, no mercado brasileiro a vida útil vai de 25 a 35 anos. “Impor tamos dos EUA uma conversa sobre gerações, uma espécie de taxono mia X, Y, Z, em que a tecnologia é o fio condutor”.
+ Terceira idade: 50 - 77 anos;
Segundo ele, para os mais velhos, a gestão de pessoas alega a necessi dade da força: “Não adaptamos o per fil brasileiro, que é tão diverso. Não deveríamos deixar que esses elemen tos de corte atrapalhassem o recru tamento. O que dever ia importar é como conduzimos a cultura, o recru tamento e os relacionamentos”.
+ Idoso velho: 75 - 85 anos;
Para Bulgarelli, no RH da maioria das empresas, juventude também é sinô nimo de beleza e produtividade: “Es se discurso é esquizofrênico para não empregar mulheres, idosos ou defi cientes. A inteligência e a realização deveriam ser as premissas conside radas. Existem países em que temos cinco gerações convivendo em um am biente de trabalho. Aqui, temos apenas quatro, envolvendo os escalões mais altos. Temos de adotar uma distribui ção etária equitativa, assim como mo delos de mentoring e de diálogo para troca entre gerações”, completa.
+ Quarta idade: 78 - 105 anos. Há ainda uma outra classificação que divide os idosos em três ramos: + Idoso jovem: 66 - 74 anos;
+ Manutenção pessoal: 86 anos em diante. População com mais de 60 anos no Brasil em 2015: 23 milhões de pessoas Em 2050: 64 milhões de pessoas
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Modernidade
Segurança
População mundial com mais de 60 anos em 2015: 900 milhões de idosos (12,3% da população total) A expectativa é de que em 2050 o número total de idosos represente 21,5% da população mundial
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Fontes: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e Organização Mundial de Saúde
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