SongMaker#1

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A Rush Of Wings


A Rush


of Wings THE SONG MAKER

Adrian Phoenix


p Papyrus p


Seu nome é Dante. Sombrio. Talentoso. Bonito. Estrela da banda de rock „Inferno‟. Suposto dono da quente New Orleans boate Clube Inferno. Nascido do sangue, então quebrado por um mal além da imaginação.

Seu passado é um mistério. FBI Agente Especial Heather Wallace tem acompanhado o rastro de um sádico assassino em série conhecido como o assassino de Cross Country, e a pista a levou a Nova Orleans, o Clube Inferno, e Dante. Mas o músico perigosamente atraente, não só resiste a sua investigação, ele afirma ser "o tipo da noite". Em outras palavras, um vampiro. Entrando em seu passado por respostas que pouco revela. Um recorde juvenil de um quilômetro de comprimento. Nenhum número de segurança social. Sem data de nascimento conhecida. Entrando e saindo dos lares adotivos pela maioria de sua vida antes de ser levado por um homem chamado Lucien De Noir, que parece guardar mistérios sobre si mesmo.

Seu futuro é o caos. O que Heather sabe sobre Dante é algo que o conecta ao assassino ― e ela tem bastante certeza que essa conexão faz dele o próximo alvo do assassino de Cross Country. Heather deve desvendar a verdade sobre este sensual, complicado, vulnerável jovem homem ― quem, ela começa a acreditar, pode ser no fundo um vampiro ― para finalmente trazer um assassino à justiça. Mas o passado de Dante detém um segredo chocante e perigoso, e uma vez revelado nem Heather será capaz de protegê-lo de seu destino...


1 Voz da morte O doce, odor enjoativo de sangue e madressilvas pendurado no pátio na chuva embaçada como a fumaça rançosa. A figura nua foi enrolada contra a parede do pátio de pedra coberto de hera, os limites de suas mãos dobradas debaixo do seu rosto como os de uma criança dormindo, um contraponto gritante com sua inchada e espancada face. Uma camisa de malha escura foi torcida em torno de sua garganta e o sangue enegrecido pela noite juntada em torno de seu corpo. Brilhou sobre a pele e pedra.


E na parede acima garranchos em sangue: Acorde. Os músculos de Heather Wallace atados desde seu longo voo de Seattle, dobrados ainda mais apertados. A mensagem foi uma perturbadora adição, se este era o trabalho do assassino Cross-Country. Um alerta? Um comando? Uma escura, irônica piada para a sua vítima morta? Desenhando em uma cuidadosa respiração, Heather entrou pela porta dos fundos da pizzaria Da Vinci e caminhou para o sombrio pátio. Ela contornou as placas de evidencias numeradas pontilhando o antigo chão de pedra. ― Daniel Spurrell, dezenove anos de idade, ― disse o detetive Collins na porta de entrada. ― De Lafayette. Estudante da LSU. Desaparecido há três dias. Descoberto no pátio por volta do meio-dia por um funcionário. Torturado em outro lugar, e depois depositado aqui, Heather pensou. Por que aqui? As lanternas antiquadas de querosene moldavam a luz pálida, cintilando através do pátio. Abaixo do fedor de sangue, Heather sentiu o cheiro de jasmim e hera, denso, um buquê de flores brancas incapazes de mascarar o cheiro de morte. Por três anos ela vem rastreando o CCK1. E nunca lidar com suas vítimas ficou mais fácil. Ela se ajoelhou ao lado de tudo o que restava de Daniel Spurrell. Torturado. Estuprado. Massacrado. Posado. Última vítima de um perambulante sadista sexual. Uma profunda vibração emanava da porta ao lado, serpenteando até sua espinha dorsal. ― O que está acontecendo no outro lado da parede?― ela disse, seu olhar na machucada face de Daniel. ― Clube Inferno, ― Collins respondeu. ― Espaço musical. Bar. ― Fez uma pausa e depois acrescentou: ― E um ponto de encontro de vampiro. Fingimento sabe. ― Você quer dizer os góticos? Ou os jogadores? Collins deu uma risadinha. ― Porra, você me diz. Parece que você está 1

CCK – cross country killer (assassino cross country).


mais por dentro do assunto. ― Minha irmã comandava uma banda, ― disse Heather. ― Eu encontrei todos os tipos em seus shows. Compridos, o cabelo azul escuro velou o rosto do garoto. Gloss da noite, Heather pensou. A cor do cabelo que Annie frequentemente usava quando ela e WMD2 subiam ao palco com toda a dura e afiada glória punk. Antes de Annie ter irrompido em chamas em um espetacular colapso bipolar e cortado os pulsos no palco. Heather focou em uma marca no peito do rapaz ― alguma coisa cortou ou marcou dentro da carne. Ela inclinou-se mais perto. Enegrecida pele. Empolado. Uma série de círculos ― Queimados com um isqueiro do carro? O símbolo da anarquia. Frio cobriu as veias de Heather. O símbolo era também novo. Como a mensagem de sangue. Se este era o trabalho do assassino Cross-Country, em seguida, sua assinatura, sua razão, sua motivação para a matança havia mudado de uma intimidade insular, os desesperados momentos finais de sua vitima, dele e só dele, para um aberto ato convidando atenção. Impossível. Teoricamente. Mas se ele tinha mudado, o que então? Então, ela precisava descobrir o porquê. Heather estudou o rosto de Daniel, o cabelo azul escuro, a torção de roupa encravada dentro de sua garganta, dado um nó ao redor dela. Respirou o persistente odor de morte e o provou. Por que você? Escolhido? Ou lugar errado na hora errada? Por que aqui? Ela ouviu a voz de seu pai, profunda e baixa, seu tom reverente: Os mortos falam somente através das evidências. Apenas as provas são para você, a voz para a morte. Heather se posicionou. S.A James William Wallace ― o principal especialista da mesa forense e o pior pai do mundo. Os mortos não são os únicos que procuram uma voz, pai.

2

WMD – É a sigla da banda.


― Ah, Pumpkin3, eles encontraram suas vozes no momento em que pegaram a arma, a faca, a corda, ou o taco de beisebol, o momento em que eles mataram. Através das evidências você vai silenciá-los. Heather virou a cabeça para longe do corpo torcido de Daniel. Ela puxou vertentes de cabelo umedecidos pela chuva para trás de seu rosto, escutou a surra da batida da guitarra vindo do Clube Inferno. O assassino de Daniel falou alto e claro. Ele era um assassino organizado, deliberado. Então não foi por acidente que ele escolheu a parede ao lado do clube. Daniel conheceu o seu assassino lá dentro? Então, por que deixou seu corpo aqui e não no pátio do clube, do outro lado da parede? E se isso foi obra de um imitador? Então, o assassino Cross-Country ainda estava por aí, curtindo o seu pequeno passeio através dos Estados Unidos, selecionando casualmente vítimas ― masculino e feminino ― como um turista, vestindo bermuda e escolhendo cartões postais. Ainda lá fora. Ainda precisando ser silenciado. Enquanto Heather cruzava o pátio, uma verdade familiar queimou brilhante em sua mente: ela nunca iria permitir que um caso fosse arquivado para proteger a reputação de um ente querido, nunca enterraria evidências não importa o quanto isso doesse. Ao contrário do famoso James William Wallace. Heather se juntou a Collins no limiar que conduzia ao Da Vinci. Ela leu a pergunta não feita nos olhos do detetive: Este é o assassino CrossCountry em New Orleans? ― A assinatura é diferente, ― disse ela. ― A mensagem... Eu vou saber mais uma vez que tivermos o relatório da autópsia e o resultado do DNA. ― O que o seu instinto diz? Heather olhou para o corpo. Encolhido. Mãos orando. Nu na chuva. Esfaqueado várias vezes. Estrangulado. Jovem e bonito, uma vez. Heather olhou para Collins. Sessenta e um quilos e magro. Por volta dos 30 anos. Ela notou a tensão em seus ombros, o queixo. ― Quão fundo 3

PUNPKIN – apelido carinhoso que se traduzido para o português significa abobora.


na merda você conseguiu ficar enterrado para chamar por um federal? Um lampejo de surpresa cruzou os olhos. ― Eles fizeram você agente especial por um motivo. Cervical profunda e ele ainda está se acumulando. ― Eu farei o que puder para tirar você dessa, ― disse Heather. ― Eu aprecio a sua chamada. ― Collins a considerou por um longo momento, seus olhos castanhos medindo, considerando. Ele balançou a cabeça. ― Obrigado. Mas eu vou me tirar dessa eu mesmo. ― Justo o suficiente. ― Heather encontrou seu olhar. ― Meu instinto me diz que isso é o trabalho do CCK. Mas isso está fora do registro. Um leve sorriso tocou os lábios de Collins. ― Justo o suficiente. ― Ele esta provavelmente muito longe. Collins assentiu com a cabeça, o rosto sombrio. ― Homem viajante. Gritos de risadas e rifes afiado de jazz derivaram em frente à rua. E por baixo de tudo, o constante thump-thump-thump da música do Club Inferno. ― O Carnaval, ― disse Collins. ― Bem, quase. Ainda três dias fora e isso é loucura. ― Ele balançou a cabeça. ― Você já esteve alguma vez nisso? ― Não, esta é a minha primeira viagem a Nova Orleans. ― Deixe-me agradecer ao seu instinto levando-a para um jantar no estilo de New Orleans. ― Collins empurrou a porta de entrada. Sua limpa e picante colônia cortou o cheiro espesso de morte e sangue do pátio. ― Obrigado, mas eu vou dar uma checada na chuva. Eu quero dar uma olhada em algumas coisas, talvez pegar um pouco no sono. Heather ofereceu a mão dela. ― Eu aprecio seu tempo e ajuda detetive. Collins agarrou a mão dela e apertou-a. Forte aperto. Um homem honesto. ― Chame-me de Trent. Ou Collins, se você é da velha escola. Entrarei em contato com você assim que eu ouvir alguma coisa. ― Parece bom, Trent. Liberando a mão de Collins, Heather caminhou de volta para a pizzaria, dirigindo-se para a porta da frente. Um pensamento circulou acerca do


símbolo da anarquia queimando em sua mente. O padrão mudou. Ele está se comunicando. Mas com quem, e por que agora? Sentada na pequena, fixa mesa em seu quarto, Heather conectou seu laptop ao serviço de internet do hotel. Ela abriu uma lata de Dr. Pepper e tomou um longo gole do frio, doce refrigerante com sabor de ameixa. Ele atingiu seu estômago vazio, como um pedaço de gelo. Acorde. Um desafio? Para a aplicação da lei? A Mesa? Ela? Nenhuma das opções acima? Risadas e gritos de bêbados - "Cara! Quer ganhar uma mordida? Caaaaara!” - Explodiram pela sua porta e no corredor abaixo, desaparecendo à medida que os foliões encontravam seus quartos. Heather colocou seus fones de ouvido do seu Ipod em seus ouvidos e os colocou em um volume baixo para que ela ouvisse, se alguém a chamasse. Batendo para trás outro longo gole de Dr. Pepper, ela digitou em uma pesquisa on-line sobre o Clube Inferno. A gravação pirata de The Leigh Stanz que tinha baixado em seu Ipod enrolava em suas orelhas e a focou em seus pensamentos. Baixa e intensa, acompanhada de violão, a voz de Stanz estava rouca e desgastada, como a voz de um homem esvaziando o seu coração pela última hora. “Eu desejo à deriva como um barco vazio em um mar tranquilo / Eu não preciso de luz / Eu não temo a escuridão...” Verificando os links que apareceram em sua página de busca sobre o Clube Inferno, Heather aprendeu que o hip Clube Inferno abriu quase quatro anos antes e era frequentado por um punk / gótico / que querem ser vampiros públicos. O tipo de lugar que Annie teria tocado com a WMD. Várias bandas locais e representações clandestinas se apresentavam no clube, especialmente Inferno, uma banda gótico-industrial liderada por um jovem cujos rumores diziam ser o proprietário do Clube Inferno. Ele parecia ser conhecido apenas como Dante. Heather sacudiu a cabeça. Inferno de Dante. Bonito. Bom para a comercialização, sem dúvida. Esperando descobrir mais sobre o possível proprietário do clube, ela colocou no Google


a palavra „Inferno‟ e recebeu um trilhão de hits. Rolando abaixo pelo site oficial da banda na Internet, ela clicou nas datas da turnê ― nenhum no ano passado; álbuns ― dois, com o terceiro para ser liberado em alguns dias; fotos. Ela fez uma pausa, estudando as imagens captadas. Três homens em meados de seus vinte anos ― tensos falcões de selva, duros corpos com piercings e tatuados ― estavam em uma das cidades de Nova Orleans dos mortos, cada um deles olhando em uma direção diferente. Atrás se postava uma figura em um quarto com jeans preto e camiseta larga, capuz puxado para cima. De cabeça baixa, com os dedos segurando as bordas da capa, sua face invisível, ele parecia estar contemplando a concha e cascalho sob suas botas. Mas o que chamou a atenção de Heather foi o pingente pendurado em seu pescoço. O símbolo da anarquia. Ela sentou-se reta e ampliou a foto. Encarou uma carta circular. Um fashionismo fora de moda do que parecia arame farpado amarrado em um cordão preto. Coração batendo forte, Heather checou a legenda da foto. A figura era Dante. Ela clicou na foto seguinte. Dante estava de costas para a câmera. Nenhum símbolo da anarquia visível. Na foto seguinte, ela pegou um vislumbre do pingente de arame farpado pendurado como um encanto de uma torção de fio em torno de seu pulso. Heather examinou cuidadosamente cada foto. O símbolo da anarquia nem sempre estava presente ou visível. Mas ela prestou atenção em uma coisa: o homem que comandava „Inferno‟ nunca era o foco das fotos. Dante se posicionava atrás dos outros membros ou de lado ou se ajoelhava em frente, de cabeça baixa. Nem uma vez ela viu seu rosto. Um flash do cabelo preto em uma, um rosto pálido em outra, mas isso foi tudo. Outra jogada de marketing? O homem tão misterioso que comandava? Ou relutância genuína de estar no comando e no centro ― exceto no palco? Heather rolou através das entrevistas com a banda e não ficou surpresa ao descobrir que quase todas foram realizadas com os outros membros do


„Inferno‟. No estúdio, foi à razão usual dada para a ausência de Dante. Heather terminou a sua lata de Dr Pepper, então desceu até o último artigo e abriu-o. Desta vez, Dante não estava no estúdio, ele estava sentado, sozinho, para a entrevista. Batendo a lata vazia sobre a mesa, Heather inclinou-se para ler. Dante falou inteligentemente sobre música e o estado da indústria da música, palavras, em francês ou Cajun apimentou seus comentários, seu tom, muitas vezes escuro e bem-humorado. DANTE: É hora de voltar aos dias da guilhotina. Se você não tem paixão pela música, se você não tem o coração, e você está apenas nela pelo dinheiro, a fama, ou os filhotes, então esta fora de sua cabeça. AP: Você está falando sério? DANTE: Sim. Pelo menos isso seria entretenimento honesto. Você precisa sangrar para o seu público de uma forma ou de outra. AP: Por que você não da mais entrevistas? DANTE: Quero que o foco seja na música. Não em mim. AP: Mas as pessoas querem saber mais sobre você. Você é a música. Por que você abriu o Inferno Club? DANTE: (tenso) para os shows, mostrar os músicos, os novos talentos. AP: Como você trata os rumores de que você é um vampiro? DANTE: (Permanecendo) foco errado. Nós terminamos aqui. Vampiro? Foi uma piada? Mais marketing? Heather, de repente lembrou-se de Collins dizendo: É um ponto de encontro de vampiros. Fingimento sabe? Usando os códigos ID da mesa, Heather bateu nos registros da cidade e olhou todas as informações pertinentes sobre o Inferno Club. O proprietário foi listado como Lucien De Noir, um empresário francês. Todas as licenças e escrituras estavam em seu nome, mas com base nessa última entrevista e sua própria intuição, Heather acreditou que De Noir foi apenas o homem do dinheiro. Inferno Club foi o bebê de Dante. Heather se conectou ao sistema NOPD com seu código de segurança


de hóspedes e procurou por Dante, embora sem o sobrenome, ela não mantinha muita esperança por sucesso. A busca cuspiu uma lista de nomes Dantes como primeiros e últimos nomes e ela fez seu caminho através deles rapidamente. Ela chegou a um impasse sobre Dante Prejean. Sem número de segurança social. Sem Carteira de motorista. Idade estimada em 21. Recusou-se a dar uma data de nascimento. Sem sobrenome legal. Prejean era um nome anexado a família que o tinha adotado quando era criança em Lafayette. Lafayette. Cidade natal de Daniel Spurrell. Conexões bateram e giraram em sua mente como um caça-níquel. Todas as barras se juntaram e pararam em uma linha. Símbolo da anarquia. Lafayette. Inferno Club. Heather folheou o arquivo Dante Prejean – travessuras criminosas, vandalismo, invasão de propriedade, vadiagem – todas as contravenções. Ela clicou em fotos, mas não encontrou uma postada. Franzindo a testa, ela percorreu as anotações e registros de casos de detenção. Mau funcionamento da câmera era geralmente listado como o motivo do não tiro da caneca ser tomado, mas um oficial tinha rascunhado uma razão completamente diferente: Esse merda não fica parado. Ele se move tão malditamente rápido que cada vez que vamos tirar a foto dele, ele já se mandou. Porra, isso acontece toda puta vez com esse imbecil. Esta é a única foto tirada enquanto ele ainda estava parado. Heather clicou na foto. A baixa, escondia a cabeça pelo capuz. E uma mão na frente da face oculta, o dedo médio estendido. Desafiante, mesmo sob prisão, jogando jogos. Ela olhou para a foto por um longo tempo. O único tiro de caneca em que Dante parou? Foram os policiais claramente ineptos? Deixe-me ir, mano, deixe-me ir... A voz rouca e triste de Leigh Stanz, as palavras de saudade terminaram. No silêncio que se seguiu a pergunta não feita nos olhos de Collins saltou para os pensamentos de Heather: Está o assassino Cross-Country, em Nova Orleans? E ele esta... O quê?... Se identificando com Dante Prejean? Agora? De repente? Após três anos?


Uma mensagem instantânea de seu SAC, Craig Stearns, piscando na tela do laptop: Wallace, progresso na procura? Heather digitou: A procura continua. Parece que é o CCK, mas não é certeza. Ela parou com os dedos posicionados sobre o teclado. Ela deveria mencionar os pequenos problemas da falha de registros que ela passou dentro do seu vôo de Seattle? A incapacidade de acessar os arquivos VICAP e NCAVC sobre as vítimas do CCK? Um problema que ela nunca havia experimentado antes trabalhando neste caso? Heather esfregou seu rosto. Ela olhou para a janela. A chuva derramou lá fora, listras no vidro com fitas de cores néon-iluminado. Talvez ela estivesse ficando paranoica. Erro humano. Mau funcionamento do servidor. Merdas acontecem. Talvez ela precisasse atualizar seu computador. E ainda. Uma mudança no padrão da CCK. Uma pequena falha do computador. Heather voltou seu olhar para o monitor e o piscante cursor. Um nó de mal-estar aninhado em sua barriga. E se a pequena falha foi intencional? Poderia ter sido Stearns? Ela balançou a cabeça. Seu SAC era um cara para cima, duro, mas honesto. Ele até a ajudou com Annie quando o pai recusou. Esse tipo de engano não era o estilo de Stearns. Os dedos de Heather caíram sobre as teclas: Checando a liderança. Quase terminado. Contatarei você amanhã. Ela clicou em enviar. Afastando rapidamente sua cadeira para trás da mesa, ela desligou o laptop e seu Ipod. Heather encolheu os ombros em sua capa. Pegou a sua Colt 38 mm da mesa, enfiou-a na trincheira especialmente designada para isso dentro do bolso do peito. Hora de ir para o „Inferno‟.


2 Clube Inferno ― Foda-se seu dinheiro. Volte para o final da fila. Heather se espremeu livre de um nó de pessoas agrupadas na fila lotada, na estreita rua e, agarrando em um dos cavalos de bronze amarrados nos postes, detendose na abundante calçada. Ela olhou de relance para o leão da chácara. Ele se posicionava na entrada do clube, atrás de uma barreira de corda de arame farpado aveludado, os olhos escondidos atrás de máscaras.


Os reflexos de luz neon piscaram e bordaram escuras lentes e iluminou a prata lua crescente tinturada abaixo de seu olho direito. Alto e magro, ele vestia jeans velho de couro resistente, e uma jaqueta de couro marcada com cores nômades, o que a surpreendeu. Ela nunca tinha visto um membro de um clã das famílias orientais de estilo cigano trabalhando antes, muito menos deixando sozinho entrar na cidade posseira. Pelo menos, não em alguma coisa legal. Longos cabelos escuros amarrados para trás, um bigode emoldurando sua boca, ele sorriu abertamente para uma turista com vestido fetiche, mas de cortiço que escapuliu para o final da fila. Heather pausou. Teria ela visto presas quando o leão da chácara sorriu abertamente? Talvez. Ela tinha aprendido em um show de Annie que por alguns milhares de dólares uma pessoa poderia conseguir presas customizadas implantadas. E dado que este era o Inferno Club... As pessoas abriam caminho em cima da calçada, cotovelos e ombros empurrando Heather. Uma cotovelada pontiaguda nas costelas de Heather a fez puxar seus braços com firmeza contra seus lados. Trancou uma mão ao redor da alça da bolsa enrolada sobre seu ombro. Seu olhar escapou ao longo da inchada linha de pessoas esperando para ganhar a entrada. A maioria eram góticos ― cabelos tingidos de preto, maquiagem pálida, batom e delineador preto, masculino e feminino. Alguns dos jovens garotos pareciam pensar que eles eram Brad Pitt ou Tom Cruise naqueles antigos filmes de vampiro: cabelos longos, camisas amarrotadas de renda, casacos de veludo, e bastões de cabeças prateadas. As jovens moças espremidas em formas de borracha ou látex, ou escuros mini vestidos aveludados, com alças e meias arrastão. Borrifando a linha com estranhos pedaços de cor eram crianças em rasgados jeans e camisa, seus cabelos com cortes de zumbi ou dado um nó em dreads. Alguns, como o turista admoestado, eram simplesmente curiosos. Olhando para os três andares, o edifício avarandado com puros ferros,


Heather viu cortinas esvoaçantes batendo na brisa da noite pelas abertas janelas francesas no terceiro andar. Luzes tremularam dentro, como as de uma vela, e acenou, como um curvado dedo. Heather avançou pouco a pouco em seu caminho pela multidão, deslizando entre partiers fedendo a cerveja e suor, para o leão da chácara. Ela olhou de relance para a não marcada porta além dele ― nada identificava o clube. A chuva mudou para um chuvisco frio, batendo no rosto de Heather, em seu cabelo, e em sua trincheira. Como Seattle, ela meditou. Ela esticou sua mão dentro de sua bolsa e pegou sua credencial. A rainha do punk em calças xadrez com escravizadas alças e uma regata preta, escrito como você está morto, fixado com alfinetes de segurança acima dos lados submetidos na busca do leão da chácara. Suas magras, assustadoras mãos de luta pausaram na bainha da sua calça esquerda. Alcançando debaixo e dentro de suas botas, ele escorregou para fora um escondido canivete. ― Zerado, zerado ―, disse o leão da chácara, uma sobrancelha arqueada. Ele segurou a brilhante lâmina como um profissional, deslizando entre os dedos antes de deslizá-la para dentro do bolso de sua jaqueta de couro. A rainha do punk bateu a testa com a mão tatuada. Um sorriso tímido tocou seus lábios. ― Porra, Von. Tinha esquecido. ― Eu irei apostar ―, disse ele. ― Você pode ter de volta quando você sair. Vá para dentro. Heather notou o nome. Ela ficou na calçada, talvez haja uma jarda dele. Ela sabia que ele estava consciente de sua presença; viu isso no enganador descanso de seu corpo, a recusa deliberada de olhar em sua direção. Aquilo estava bem. Por agora, ela estava contente em observar. Após alguns minutos, o leão da chácara virou e, a cabeça inclinada para um lado, olhou firme para Heather por um longo momento.


― Ok, garotinha ―, disse ele, piscando outro sorriso com presas. ― O que posso fazer por você? ― Eu sou a agente especial Wallace ―, disse Heather, passando para o lado dele. Abriu o distintivo de modo que somente ele podia vê-lo. ― Estou investigando o assassinato ao lado. O leão da chácara balançou a cabeça. ― Policiais já estiveram aqui, querida. ― Pegando seu distintivo, Heather olhou dentro dos sombrios olhos nômades. Sua geminada reflexão olhou para trás: face molhada, o cabelo molhado para trás, a chuva brilhando em sua trincheira negra. ― Estou à procura de Dante Prejean. ― Encolhendo os ombros, o leão da chácara voltou sua atenção para a princesa gótica ritmando seu peso de um pé para o outro, um biquinho em seus lábios vermelhos de batom. ― Pode estar dentro, pode não estar ―, disse ele. ― Não estou dizendo. As mãos dele escorreram pelas curvas do vestido aveludado. ― Vá em frente, querida ― disse ele à menina. Ele olhou de relance para Heather. ― Você também. Duvido que este seja o seu tipo de cenário, mas... ― Qual é o seu sobrenome, Von? Arqueando uma sobrancelha, ele murmurou "Orelhas afiadas." Ele encolheu os ombros novamente. ― Smith. Ou talvez Jones. Mamãe perdeu o rastro. Mas se você conseguir descobrir, boneca ―, disse ele, olhando para Heather por cima das suas máscaras. Seus olhos verdes pareceram brilhar. ― Ligue para mim. ― Conte com isso , disse Heather. Von assistiu o alimentado desaparecer dentro do clube. “Lei entrando. Bonita capa com não disparatados olhos.” Como sempre, a mente de Lucien se sentiu ocupada, estruturada, de alguma forma alienada. Mas receptiva. Von sentiu a atividade pausar, então, seu pensamento foi permitido entrar. “Ela quer Dante”. O pensamento de Lucien flechou dentro da mente de Von com uma


intensidade que às vezes o amedrontava, especialmente quando ele refletiu sobre o fato de que a resposta de Lucien foi gentil. “Ela terá que se contentar comigo.” Bom o suficiente. Duas surpresas até agora e à noite era jovem. O Alimentado tinha sido o número dois. Um tipo da noite estranho ― um negro barbudo vestindo jeans, uma não turca abotoada camisa perolada e botas de pele de cobra, e um olhar de nerd mortal ― tinha sido o número um. Uma honra, Llygad4, o estranho tinha dito enquanto Von dava-lhe palmadas nas costas. Mas sua rígida linguagem corporal tinha total desacordo com aquela declaração. Como tinha seu mortal amigo o divertido com um sorriso. A atenção de Von voltou para a linha. Ele sorriu para duas bonitas coisas jovens, agarrando um ao outro, rindo e olhando para ele com as pupilas dilatadas de drogas. Ele os cheirou ― sândalo, baunilha e forte sabor químico. Ele ouviu o sangue pulsando em suas veias. Com um arco na metade, ele destrancou a barreira de corda e gesticulou para eles passarem. O primeiro, cabelos cor de mel e de olhos escuros, agarrou sua mão, e a beijou. Seus macios lábios demoraram quente contra a pele de Von. Seu beijo arrepiou acima de seu braço e pela extensão de sua coluna. Ela olhou para ele com olhos de adoração. "Vampiro", ela suspirou, soprando-lhe um beijo como sua namorada, rindo agarrou a mão dela e a levou para dentro do clube. Fome desenrolou dentro de Von. O mortal de cabelos de mel e quente essência de baunilha puxou para ele. Sugando em uma profunda respiração, ele deslizou as mãos sobre a próxima pessoa na fila. Ele esquadrinhou a multidão balançando, olhando e sentindo alguém que estava fora do lugar. Alimentados raramente trabalhavam sozinhos. Ele socou sua fome abaixo. Ele tinha que ficar afiado. 4

LLYGAD - o mantedor da historia imortal, o observador, fazedor de historias, um anjo caído derivado originalmente da palavra Elohim.


Esta noite não era uma noite para sonhar com quentes carnes, sangue quente e garotas sexy. Não com um alimentado dentro. E um estranho vampiro. Gina arqueou seus quadris, e Dante olhou de relance do comprimento de seu corpo reclinado para Jay, onde, ajoelhando no chão na beira da cama, facilitou suas mãos abaixo da bunda nua de Gina e enterrou seu rosto entre suas coxas. Dante sentiu-se mexer, endurecer. Ele fechou seus olhos e bebeu. Os gemidos de Gina aumentaram em frequência e urgência. Ele escutou o rasgar de suas meias coxas-elevadas contra a colcha da cama, escutou a abafada respiração de Jay, escutou o coração batendo de Gina, ouviu o rangido de sua própria calça de couro rasgando quando ele passou na cama. A silenciosa voz ― uma canção sem palavras ― tocou seus queimantes pensamentos, estimulando-o a partir do sabor inebriante do sangue de cocaína de Gina. Preocupação sussurrou em sua mente. Dante abriu seus olhos e encarou dentro das luzes de vela e neon do quarto. “Lucien?” “Fique aí, filho. Alimentado. Brinque com seus cães de caça.” Dante levantou sua cabeça da garganta de Gina. Ela olhou para ele de relance, seus olhos de pálpebras pesadas intrigados. Então ela suspirou quando Jay deslizou um dedo dentro dela. Seus olhos se fecharam novamente. “O que está errado?” “Nada” ― Lucien enviou. “Apenas negócios.” Dor súbita alfinetou a têmpora esquerda de Dante. Sua respiração ficou presa na garganta quando a dor se intensificou e, em seguida, desapareceu. Os músculos atados, ele segurou Gina firme, fechando seus olhos e ouvindo a sua respiração irregular quando Jay a levou para mais perto do clímax. Ele ouviu Gina e ignorou todo o resto.


Incluindo os sussurros deixados no rastro da dor. Heather caminhou por um lotado salão, com paredes pintadas de preto rabiscadas com tinta fluorescente grafite. Seu olhar pulou de relance sobre algumas das mensagens: REGRAS DO INFERNO! RANDY E DIK PORRA NÓS MORREMOS JOVENS. Pessoas se alinharam em todos os lados da passarela segurando bebidas, fumando – cinzas brilhando enquanto eles respiravam dentro – beijando, sentindo um ao outro. O doce odor de cravo, maconha e vinho se misturaram dificilmente com os cheiros de vômito e quentes perfumes. Luzes pretas brilharam roxas dos masculinos despidos torsos e dos nus peitos pintados de glitter refletidos nos piercings dos bicos dos mamilos. Tatuagens gloss da noite e fluorescentes corpos pintados. A música pesou como uma marreta e Heather se arrependeu de deixar seus protetores de ouvidos em casa em Seattle. Não pensava que iria a um clube. Olhando de face a face e se perguntando se o assassino estava entre eles, Heather fez seu caminho pela multidão para a entrada correta. Um brilhante símbolo em vermelho neon pendurado acima da entrada: QUEIMA. Heather pausou abaixo do trêmulo símbolo enquanto uma mistura de gelo seco redemoinhava em volta de suas pernas. E se ela estivesse errada? E se o pátio do Da Vinci tinha sido escolhido, aquela parede particularmente escrita, tivesse sido uma coincidência? Heather não acreditava em coincidência. Ela passou do símbolo e pisou para dentro do Inferno. Ficando atrás do trono de pedra de Dante, Lucien mudou seu olhar de relance do preto, barbudo vampiro estranho no bar e sua amarelada magra companhia mortal, para manter um olhar na entrada. Silver e Simone sentaram nas escadas conduzindo ao trono, suas cabeças próximas juntas, falando e rindo. A multidão além deles balbuciou e pulou, dançando com a música rasante vinda do palco. Por que a lei estava perguntando de novo por Dante? Eles já tinham


estado aqui com relação ao assassinato da porta ao lado. Suas mãos passaram acima do topo do trono, a pedra de areia debaixo de seus dedos. Ainda mais perturbadora era a dor do piercing que ele sentiu de Dante há poucos minutos atrás. Mas não tinha tempo para ir até ele agora. Sem tempo para resfriar a dor para longe – nem temporariamente. Poeira de pedra caiu dos dedos de Lucien, empoeirando o preto carpete aveludado. Ele retirou suas mãos para longe do trono, enquanto o fazia, seu olhar de relance parou dentro de uma mulher ficando na entrada, uma mão segurando na alça de sua bolsa pendurada acima de seu ombro. Lucien notou que um lado de sua trincheira pendurada, apenas um pouco mais baixo que do outro lado. Arma, ele pensou. “Bonita trincheira com olhos sem sentido”. Adequada descrição. Lucien pegou seu cabelo castanho-avermelhado escurecido pela chuva e sua pequena fragrância, sua confiante postura. Apropriada, no fundo. “Agora para conseguir tirá-la para fora daqui.” Lucien pisou em volta do trono e começou a descer as escadas. A dançante, surrada multidão preenchendo a pista de dança segurou a atenção de Heather. A banda tocava dentro de uma barreira de aço no palco enquanto a audiência os reivindicava, procurando maneiras de entrar. Alguns subiram no palco, alcançando dentro onde eles estavam, tentando agarrar uma manga, um pedaço de cabelo. Sem perder uma nota, a banda continuou tocando enquanto eles se esquivavam e escapavam para fora do alcance. Uma jovem mulher ficando na engrenagem do topo do palco abriu seus braços, jogou sua cabeça para trás e se jogou. A multidão a pegou. Enquanto ela era passada de um par de braços para outro, mãos escorregaram para debaixo de seu vestido, dentro de seu top sentindo-lhe enquanto ela era passada para a segurança. Heather forçou seus tensos músculos a relaxarem. Ela olhou para longe dos animados dançantes. Pequenas mesas circulares iluminadas por velas pintadas no outro lado do clube. Imediatamente a sua esquerda estava um


longo polido bar e diretamente a sua frente um... Trono. O trono se posicionava um lugar alcançado por quatro escadas. Um casal preenchia a mais alta escada. Ambos de repente olharam em sua direção, fixando ela enquanto eles sincronizavam. O garoto era bonito, pensou, e muito jovem para estar num clube. Metade de um copo vazio de vinho descansava ao seu lado no degrau. Dezesseis? Heather perguntou a si mesma. A mulher passou seus braços sobre os seus encolhidos joelhos. Seu longo, espiralado cabelo brilhou como ouro contra suas justas roupas. Ambos os olhos da garota e do garoto pareceram pegar e refletir a baixa luz do clube. Um movimento acima de suas cabeças captou o olhar de Heather. Um homem alto de ombros largos em uma longa e esticada camisa e pretas calças pisaram pra fora detrás do trono e pegou os degraus em dois pulos. Luz piscou do pêndulo ou corrente em sua garganta. Enquanto ele andava pela multidão, as pessoas paravam para ele sem pestanejar, seguindo seu progresso pela pista com olhares de relance que Heather poderia apenas descrever como temerosos respeitadores. Heather pisou para o lado da entrada e esperou por ele, certa que ele era Lucien De Noir. Enquanto ele se desenhava perto, ela se deu conta que ele era inabitualmente alto. Seis sete? Seis oito? Ela se endireitou, determinada a contar cada centímetro seu. ― Boa Noite ― ele disse, parando antes dela. ― Eu sou Lucien De Noir, o dono do clube. Posso ajudá-la? Heather encontrou seu olhar de relance. Seu preto cabelo amarrado para trás, sua roupa arrumada e fresca. Um pingente em formato de X em um preto cordão apenas abaixo de sua garganta. Ele radiava poder, oxigenava força. Um tímido sorriso curvou em seus lábios. Um bonito homem, ela se deu conta, um, sem dúvida, que sabia quando se tornar em charme. Abrindo sua credencial para De Noir, Heather retornou seu sorriso. ― Eu sou a agente especial Wallace. Eu gostaria de ver Dante Prejean. Eu


entendi que esse era o clube dele. De Noir encarou a credencial de Heather por um longo momento antes de fazer menção para ela guardá-la. ― Seu nome é simplesmente Dante, ele não está aqui hoje à noite. ― De Noir sorriu perigoso, alerta. Ouro brilhou nas profundezas de seus olhos. ― Talvez eu possa ajudá-la. ― Você sabe alguma coisa sobre o assassinato da porta ao lado? Ou sobre a vítima? De Noir balançou sua cabeça. ― Apenas o que tenho ouvido da polícia e na rua. ― As luzes douradas cintilaram em seus olhos. ― E eu imagino que Dante possa saber ainda menos. Ele não se atualiza com as notícias. ― Parece que isso não afetou os negócios, de qualquer forma ―, disse Heather, oferecendo outro sorriso. ― Tem algum lugar mais calmo onde nós podemos conversar? ― O pátio lá fora ―, De Noir disse, virando pra longe e pisando para dentro da multidão. Seu cabelo amarrado para trás, preto e brilhante, alcançou suas costas. Sabendo que deveria haver um escritório no segundo ou no terceiro andar do prédio, Heather se perguntou por que ela estava sendo feita ir para trás. Para então falar. Mas, por uma vez, ela não tinha problemas com isso; ela queria ver o pátio que se ajuntava o Da Vinci. Escorregando a sua credencial de volta a sua bolsa, Heather seguiu De Noir dentro da pista de dança e pela festeira multidão. Dante saiu detrás de Gina e escorregou para a borda da amarrotada cama. As pretas cortinas balançando nas abertas janelas francesas bateram na fria brisa da noite. O cheiro de chuva de mudas do Mississipi encheu o quarto. Dante passou seus dedos pelo seu cabelo. Ainda ajoelhado ao lado da cama, suas mãos descansando nas coxas de Gina, Jay o assistia com interesse. ― O que está errado, Sugar? ― Gina disse, sentando-se. Dante não tinha que olhar para Gina para ver o biquinho em seus lábios. ― Eu tenho que ir. ― Ele disse. Luzes de velas ficaram laranja por


meio das sombrias paredes através de suas calças de couro, de suas botas. Dor chicoteou em sua mente. Os dedos de Gina envolveram o cinto de Dante. Ela puxou. ― Me parece que você esta todo quente e entediado. Parece-me que você precisa ficar ― ela murmurou ―, apenas se deite e nós iremos... Gentilmente libertando os dedos de Gina de seu cinto, Dante se posicionou. Ele jogou sua cabeça para trás. ― Mais tarde. Brinque sem mim por agora. ― Dante, meu querido... ― A mão de Jay deslizou pela coxa de Gina, alcançando Dante. Dante empurrou para longe a mão de Jay, então agarrou um punhado de um mortal cabelo loiro e puxou sua cabeça para trás. A respiração de Jay se tornou áspera, descompassada. Curvando-se para trás, Dante o beijou profundamente. O doce, almíscar, salgado gosto de Gina na língua de Jay e os lábios malditamente próximos mudaram a mente de Dante. Mas um familiar, perigoso resquício queimou dentro dele. Ele não poderia ficar. Terminando o beijo, Dante libertou o cabelo de Jay e arrastou um dedo pela linha de sua jugular, então se endireitou e se retirou do quarto. Ele ouviu Gina advertindo Jay para deixá-lo ir. Fora no corredor, Dante apoiou-se contra a parede. Olhos fechados, ele colocou suavemente sua cabeça contra o gesso. Ele esperou sua difícil entrada para subsidiarizar, desejando as escuras, coisas escritas dentro que podiam se subsidiarizar da mesma forma. Mas sabia que elas não podiam. Dor alfinetou em seu templo. Porra! Foco, merda. Alguma coisa está dando problemas a Lucien. Zero nisso aí. Mas o escudo de Lucien estava suspenso e ele não conseguia passar. De fato, quase parecia como se Lucien o estivesse mantendo fora deliberadamente. Dante abriu seus olhos e se empurrou para longe da parede.


Heather olhava de relance para as pessoas sentadas nas escadas enquanto ela avançava pela multidão atrás de De Noir. Eles olharam seu progresso com alguma coisa próxima a inveja ou talvez descrença em seus pulvezirados pálidos rostos. De Noir avançou por eles, parecendo obviamente perceber os abertos olhares de relance, as bocas semiabertas e os sussurros: “Lucien. Irá ele nos ver?” “Irá ele descer aqui?” “Lucien vampiro trazedor, Lucien...” “Ganhador, desesperado, com fome.” Heather pisou longe dos estendidos dedos, preocupada pelo silêncio de De Noir. Ela se perguntou por que ele não dizia alguma coisa, por que ele nem olhava de relance para eles. De Noir, posicionado de lado abriu a porta para o pátio e gesticulou para Heather entrar. Ela olhou dentro da drapeada limpeza. Protegida com as gárgulas esculpidas, um grupo de velas iluminaram atravessando as paredes de pedra. Seu olhar fixo estava desenhado na parede onde a mensagem do assassino tinha sido escrita em reverso. Seu instinto a disse: não por chance ou coincidência. Essa parede tinha sido escolhida. Ela estava por pisar para fora do clube quando um repentino sussurro bateu através da multidão como vento atravessando um alto gramado. Ela parou quando as gritantes vozes abruptamente sentiram o silêncio. O ar parecia suspenso, pronto para quebrar com antecipação. Ela olhou de relance para De Noir. Sua face ainda estava, seus olhos ilegíveis. Mas tensão percorria seus músculos. Ele encontrou seu olhar fixo, pareceu estar vencido por ela dentro do pátio. Devagar, Heather virou e olhou para trás para o caminho que tinha vindo. Alguém desceu as escadas, pisando fora das sombras no segundo andar pousando. Pareceu a Heather que cada singular pessoa no clube prendeu a respiração ao mesmo tempo. Então a figura passou para dentro da luz e olhou de relance com


brilhantes olhos acima das cabeças da multidão até Heather ou passando dela até De Noir. Ela não podia ter certeza. Ela ficou congelada, impossibilitada de se mover ou respirar, então a coletiva de respirações suspensas no clube relaxou. Vozes clamaram: “Dante! Dante! Meu Anjo”. “SIM! Esperança foda de ele subir no palco hoje à noite!” Heather encarou vertiginosa e pasmada, enquanto ele descia esmagado pelo o que ela tinha parecido ver no momento em que ele tinha olhado em sua direção. Escuros olhos preenchidos de luz olhando dentro dela, desenhando adentro. Esbelto, duro corpo, cinco nove ou cinco dez, movendo com perigo e não consciente graça, tudo colidindo em músculos e reflexos afiados de facas. Despenteado cabelo preto escorrido atrás de seus ombros, vestido em uma mistura de couro e aros de aço escravizado em uma coleira, uma sexualidade que escorava. Ela separou penosamente seu olhar fixo dele e assistiu as faces daqueles que chamavam seu nome, analisando seus sorrisos e lágrimas enquanto ele arranhava uma linha jugular ali, tocava uma bochecha aqui, beijava um par de lábios ali. Então... Ele pisou para dentro da multidão e fora de vista, e Heather arfava por ar, capaz de respirar de novo. Se aquilo era Dante Prejean, então ele era literalmente de tirar o fôlego. Ela nunca tinha visto ninguém tão maravilhoso. Isso também significava que De Noir havia mentido sobre Dante não estar aqui hoje à noite. Ela virou sua face para De Noir e o pegou ruborizando no topo do nariz, olhar fixo no chão. Ele olhou como um homem que tinha de repente sentido a dor da lei de Murphys batendo em sua bunda. ― Estranho, eu estava certa que você tinha dito que Dante não estava aqui ― ela disse. ― Deve ter chegado agora, então. Balançando sua mão, De Noir disse ―, É o que parece. ― Levantando seus olhos, ele encontrou o olhar fixo de


Heather. ― A polícia já falou com ele, agente Wallace, eu não vejo necessidade de... ― Me desculpe ―, Heather interrompeu ― Mas eu sim. Ela olhou de relance acima de seu ombro. Dante subiu as escadas conduzindo para o Rei-do-Inferno matizado no trono. Ajoelhando entre uma bonita escondida punk e uma naturalmente loira, Dante bateu os cabelos pintados de roxo dos garotos. Ele inclinou-se para perto da loira, parecendo falar dentro de sua orelha. Várias princesas góticas pisando em passos oratórios e guinchados. Por que De Noir era tão protetor em relação a Dante Prejean? O que ele estava escondendo? Heather girou para longe do estranho escuro De Noir, olhos bordados de ouro e deslizou para dentro da multidão. Ela estava intencionada a descobrir.


3 Sem uma palavra Dante olhou de relance acima de seu ombro. Ele não tinha visto o cabelo avermelhado, a mulher de trincheira que estava parada ao lado de Lucien, mas ele a sentiu empurrando pela multidão, intenção e autoridade radiando dela como um pôrdo-sol; claro, penetrante e mortal. ― O que está acontecendo meu amigo? Dante retornou a sua atenção a Simone ― Não sei. ― Ele deslizou seus dedos pelo sedoso comprimento do cabelo dela, puxando-o para trás de sua orelha. ― Mas eu irei descobrir em breve. Quer eu queira ou não. ― Ele sorriu.


Simone o olhou cuidadosamente, procurou pelos seus olhos. Ele balançou a sua cabeça. Ela sinalizou. ― Se você está certo. Abaixando sua cabeça, ele a beijou, bebendo suas magnólias e essência de sangue. ― Muito obrigado, querida ―, ele sussurrou contra seus lábios. Simone sinalizou de novo. Ela olhou de relance dele para Silver. ― Venha amigo. ― Ela estendeu a mão para Silver e contorceu seus dedos. O garoto pegou sua mão e a puxou de seus pés. Eles atingiram a cabeceira dos poucos degraus para a pista de dança. Dante rosnou em seu pé e subiu para dentro do estrato. Under Pressure bateu e assolou no palco – sua música um punhal – socando, socando, nocaute. Dante fechou seus olhos. Cada acorde, cada palavra gritada, cada batida da bateria vibrou dentro dele, passando ao longo de sua espinha. Uma gentil cutucada de Lucien abriu o laço entre eles. “Ela é do FBI. Tentei me livrar dela. ― Dante sorriu do repreendido tom. “Sim, sim. Eu não fiquei mexido. Eu sei. Obrigado”. Abrindo seus olhos, Dante os rotacionou ao redor. A multidão uivou. Vários de seus cães de caça se espremeram para passar pela multidão para se enrolarem nos degraus abaixo. As minúsculas tatuagens de morcego na cavidade de suas gargantas tremeluziam acima de suas cabeças, visíveis apenas para os vampiros, fazendo-os fora dos limites. Escuras emoções destilavam da multidão ao sinal deles – inveja, amargura, ressentimento – e bateram contra o topo da consciência de Dante. Ele olhou dentro de cada face pálida, cada par de olhos rajados armados, curvando seus lábios dentro de um sorriso, mas pensando, como sempre, O que eles querem de mim? Dor cintilou e Dante jogou sua cabeça para trás, uma mão em seu templo. Desenhando em uma profunda respiração de cravo, canela e essência de ar suado, ele jogou seus pensamentos para fora. Silver e Simone dançaram e deslizaram na pista de dança, bonita e


graciosamente, quase luminosa com a luz interior – lua de sangue e com fome. Mortais observadores os circularam. Esperando ser escolhido, sonhando com uma mordida, mão fria presa em torno do pulso e os puxando para dentro da dança. Além deles, a multidão se repartia para Lucien, murmurando quando ele passava. A agente do FBI pisou para fora da multidão e dentro do primeiro degrau levando ao trono, Lucien logo atrás dela. Ele olhou para Dante, um alerta em seus olhos. Dante encolheu os ombros. Ele estudou a mulher subindo as escadas. Delgada em uma preta trincheira e calças, elegante casaco preto, cabelo vermelho escuro enrolado em uma trança francesa, turfos dispersos curvando ao lado de seu liso rosto e testa, generosos lábios. Seus olhos azuis queimaram com inteligência e determinação. “Fofa”. ― Dante enviou. O alerta de Lucien escureceu para um brilho enquanto ele pisava atrás da mulher para ficar atrás do trono. “Perigoso”. ― Ele flechou de volta. Dante sorriu alargamente. A agente pisou dentro do trono. ― Dante? ― ela gritou. Apesar da musica, Dante a escutou perfeitamente, mas estava contido a deixá-la gritar. Ele assentiu. Ela enfiou a mão dentro de sua bolsa, retirou uma fina carteira, e a virou para abrir. ― Agente especial Wallace ―, ela gritou. ― FBI. Inclinando para perto, Dante tocou a credencial, olhou da foto de identificação para a solene face da agente, de volta para a foto, de volta para ela. Ele cheirou limpeza e forte, como salva, como uma cidade após uma difícil chuva. ― Boa foto. ― Soltando a credencial, ele mudou seu olhar de relance de volta para sua face. ― Eu já falei com os policias, embora. A agente Wallace jogou sua credencial de volta para dentro de sua


bolsa. ― Eu me dei conta disso. Esse é um inquérito separado. ― ela gritou. ― Eu encontrei... Under Pressure terminou sua música com um longo guincho de feedback e um final estilo tribal batendo na bateria, então o clube entrou em escuridão para que a banda pudesse deslizar sem ser notada do palco. O barulho do pacato clube – guinchos, gritos, o barulho de umas cem conversas – expandiu em escuridão. As luzes de baixa potência da casa voltaram em revelar um vazio palco. A agente Wallace recomeçou a falar em um mais normal tom de voz. ― Eu achei curioso que o senhor De Noir me fez acreditar que você não estivesse aqui. ― Seu olhar fixo o segurou. Dante encolheu os ombros. ― Eu sou difícil de manter rastreado. Eu venho e vou muitas vezes. ― Há algo mais privado onde nós podemos falar? ― Provavelmente. ― Dante disse. ― Mas eu não quero, então, não. Uma sobrancelha arqueou. ― Há algum problema? ― Ela perguntou com a voz baixa, tensa. ― Você quer dizer a parte de você estar aqui? ― Dante disse. ― Não. “Cuidado criança. Esse é um jogo que você não deveria jogar.” Dante ignorou Lucien, ignorou a batida de seu olhar fixo, focado em um flash de raiva nos olhos azuis da agente Wallace. Seu pulso correu. ― Essa é uma investigação de assassinato. ― A agente Wallace disse, pisando para perto, bem perto. ― Eu não entendo por que você está recusando cooperar. ― Sim, aquela cooperação toda com a coisa da lei? Apenas não sou eu. ― Dante disse, ficando em seu terreno, recusando a pisar para trás após ela pensar que ele poderia por estar invadindo o seu lugar pessoal. Ele escutou a rápida batida do coração do alimentado, escutou o bater do sangue por suas veias, o cheirou, rico e doce. ― Eu não pegarei muito do seu tempo. Eu só preciso verificar algumas coisas.


Dante correu seus dedos pelo seu cabelo. ― Tudo o que eu tinha a dizer está no relatório policial. ― Ele se esparramou dentro do trono, esticou suas pernas para fora antes dele. ― Leia-o. ― Eu irei fazer isso. ― Wallace disse, encontrando o olhar fixo de Dante. ― Mas eu gostaria da sua permissão para olhar ao redor do local, do pátio em particular. ― Não sem um mandato. ― Dante disse com uma voz baixa. “Criança...” Ela olhou para ele por um longo momento, cabeça inclinada, seu olhar fixo considerando. ― Olhe, nós não temos que fazer isso da maneira difícil. ― É a única maneira que eu sei. ― Dante disse. ― Você sabia que a vítima era de Lafayette? ― Wallace perguntou, voz firme. Desenhando suas pernas para dentro, Dante se sentou. Lafayette. Dor iluminou, espalmou. Ele tocou seus dedos em sua têmpora esquerda e esfregou até a dor desvanecer. ― Porra. ― ele suspirou. ― Há alguma coisa errada?― Wallace disse. ― Sim. ― Lucien rugiu de detrás do trono. ― Ele sofre de enxaquecas. Eu receio que você tenha que deixar suas questões para outra hora. “Problema” ― Von enviou. “Etienne esta em seu caminho para dentro”. ― Não, eu. ― As palavras de Wallace terminaram abruptamente quando sussurros excitados bateram e ecoaram pelo clube. Dante olhou quando a forma do Armani clã de Etienne deslizou pela multidão. Sua chicória e pele cor de creme pareceram iluminadas por dentro; ele eriçou com ódio. Um passo atrás, Von avançou pela silenciosa passagem que Etienne tinha feito. Etienne parou na base dos degraus. Uma franja de cobalto perolado entrançada emoldurou seu frio, cinzelado rosto. Von ficou para a direita do vampiro visitante, assumindo a função de observador no piso ao invés do trono ao lado de Dante. Dante se sentou para frente, mãos no braço do trono, músculos


enrolados. ― Você foi ordenado a se apresentar ante Guy Mauvais. ― Etienne disse. ― Você está fudidamente brincando. ― Dante disse, meio sorrindo. Etienne ficou tenso. ― O conselho está conduzindo um inquérito. ― O conselho não tem autoridade acima de Dante. ― Lucien disse. ― Eu lamento vampiro. ― Etienne disse, inclinando sua cabeça respeitosamente. ― Mas isso não preocupa o caído. ― Disposto a arriscar sua vida nisso? ― A voz profunda de Lucien soou pelo clube. Investigações do FBI. Inquérito do conselho. Pretensioso. ― Nada como ser popular. ― Dante murmurou. Para Etienne, ele disse: “Se isso é sobre o fogo de novo, diga para ele não perderem seus tempos. Não vale a pena. Eu não sei...” Etienne voou acima dos degraus, apenas parando no terceiro quando Von, em um borrão de rapidez de vampiro, saltou atrás dele e apreendeu seus braços. ― Mentiroso pau arrogante. ― Etienne assobiou, seu estreito olhar fixo escuro e fervendo. ― Você precisa ser acorrentado! Traga seus joelhos! Ar frio fluiu ao cabelo de Dante quando Lucien bateu de detrás do trono. Dante arremessou um braço para fora bloqueando sua passagem. ― Você está me chamando para fora Etienne? ― Ele perguntou calmamente. Etienne se arrancou livre do aperto de Von e alisou a frente de seu paletó. Ele tocou com seus dedos os botões abotoados em cada pulso da manga de seu Armani. ― Não. ― ele disse, suas mãos se atando dentro dos pulsos. ― Ainda não. ― Muito ruim. ― Dante abaixou seu braço. ― Mas uma noite. ― Etienne adicionou, um sorriso se estendendo em seus lábios. ― Eu estarei esperando. Dante se posicionou. ― Traga isso. ― ele disse.


― Eu entreguei a ordem. ― Etienne disse. ― Eu espero que você a ignore, pirralho. ― Rodopiando, ele perseguiu dentro do silêncio, encarando a multidão, Von em seus calcanhares. Os mortais se dissolveram dele como se pensassem que ele estivesse em fogo. Dante se sentou dentro de seu trono. Dor latejou em sua têmpora e atrás de seus olhos. Seu estômago revirou. Ele agarrou o descanso de braço com brancos dedos atados. ― Sobre o que foi tudo isso? Dante olhou para cima para ver a agente Wallace abaixada em um joelho ao lado dele. Ela escaneou sua face. Ele tinha o sentimento que ela perdeu muito pouco. ― Nada demais. ― ele sinalizou. ― Cú beijado negado. Áspero punimento ameaçado. O usual. ― Engraçado. ― Wallace murmurou, seu tom soando como se ele fosse qualquer coisa menos. ― De Noir disse a verdade sobre as dores de cabeça, não disse? ― No fundo, agente Wallace ―, Lucien disse secamente ―, Eu estou certo aqui. O olhar de relance de Wallace passou de Dante para Lucien, então voltou. ― Me desculpe ― ela disse, sua voz baixa, não mais oficial. ― Minha irmã sofria de enxaquecas também. Dante olhou de relance para ela. A máscara de FBI tinha desaparecido da sua face. Ela encontrou seu olhar, sua expressão aberta e seus olhos azuis firmes. Por um momento, ele pensou ter visto dentro de seu coração, alerta e compassivo e forte, afiado em chama e aço. ― Sim? ― ele disse. Wallace assentiu. ― Dante, escute eu posso nos poupar muito tempo e problemas. Apenas me dê sua permissão... ― Não. ― Dante disse. Sua máscara estava de volta ao lugar. Talvez aquilo fosse tudo o que tinha para ela; talvez ele tivesse pensado ter visto dentro dela uma ilusão. Luz branca bordou acima de sua visão. Machucou


seus olhos. O sorriso de Wallace desbotou. Ela o encarou com frustração. Se endireitando, ela falou. ― Isso é sem sentido. Eu posso conseguir um mandado em uma hora. Desprendendo as matizes de seu cinto, ele o escorregou para fora. ― Consiga-o. Eu estarei esperando. ― Eu farei isso. ― Wallace disse. Ela caminhou para os degraus e para dentro da multidão. A essência de chuva limpa e fresca permaneceu, como permaneceu o aquecido aroma de seu sangue. Mas seus raios pontiagudos de autoridade reacenderam com cada passo que ela deu, e Dante se encontrou respirando um pouco mais fácil. Ela era forte, persistente, e maravilhosa. Muito ruim que ela era uma fudida policial. Uma mão, fria e calmante, escovou contra o cabelo até a têmpora de Dante, congelando a dor por um momento. Ele fechou seus olhos. “Não me faça dormir”. “Você precisa descansar. Você precisa de sangue”. ― O pensamento de Lucien curvou passando da dor. “Eu irei te levar para casa antes que a dor fique pior.” ― Não. ― Dante empurrou a mão de Lucien da sua têmpora. ― Eu vou entrar no palco. Lucien pisou em volta para sua frente. Dante olhou para cima dentro dos dourados olhos. ― Não hoje à noite. ― Lucien disse. ― Você não está em forma. ― Eu estou exatamente na forma certa ―, Dante o cortou. ― Hey, Sugar. Lucien virou, e Dante viu Gina e Jay parados nos degraus atrás dele, de mãos dadas, saciados sorrisos em seus lábios. O corpete de Gina ainda estava desamarrado. A clivagem criada pelo seu corpete, permutado com um perfume de cereja preta, despertou sua fome e girou em torno da dor, trancando os dois juntos.


Soltando a mão de Jay, Gina pisou passando de Lucien e se acomodando no colo de Dante. Ela curvou a face dele, inclinou sua cabeça e o beijou. Ele provou Jay em seus lábios e língua; a provou também – pungente e rica. Ele mordeu seu lábio, sugou o sangue escorrendo do ferimento. Ela ofegou, então gemeu. Queimando. Inquieto. Perigoso “Criança...” Tremendo, Dante terminou o beijo. Ele lambeu seu lábio inferior até que o sangramento parou e o ferimento sarou. Gina olhou para ele com olhos meio tampados. Sonolento. Feliz. Ele acariciou sua jugular com agitados dedos. Suor escorreu por sua têmpora. Gina tocou um dedo nos lábios dele. ― Nós temos que ir sexy. ― ela murmurou, escorregando do seu colo. ― Amanhã à noite? A dor era um furador de gelo pelo seu cérebro e seu controle está deslizando. Ele a liberou sem uma palavra. Jay se inclinou para cima e o beijou. ― Amanhã. ― Jay murmurou. Agarrando a mão de Gina, ele a conduziu pelos degraus abaixo. Gina acenou um diabólico sorriso em seus lábios. “Amanhã à noite”. Dante os assistiu ir embora.


4 Ainda caindo Bourbon jorrou para dentro do copo de Thomas Ronin, âmbar escuro sob as luzes fracas. O atendente agarrou o pagamento que Ronin havia deixado sobre o balcão, então seguiu para o próximo cliente esperando junto ao bar polido e longo. Ronin pegou seu copo e se virou. ― Parece que você fodeu tudo. ― E, levou seu tempo. Sacudindo um cigarro de uma carteira parcialmente amassada de Marlboro, ele o prendeu entre os lábios e o acendeu com um isqueiro Zippo. Ronin puxou o cigarro de entre os dedos do E que o jogou no chão. Amassando as brasas com a ponta de sua bota de couro de cobra.


― Me alegre. ― Ele falou. ― Diga como. E olhou para o Ronin, seus olhos escondidos atrás dos óculos, um largo sorriso esticado no rosto. Ele balançou outro cigarro para fora da carteira, o prendeu entre os lábios e o acendeu. E exalou a fumaça cinza no rosto do Ronin. ― Você acha que sabe tudo não é Tommy – garoto? Ronin assentiu, provando seu Bourbon. ― Na maioria das vezes sim. ― Sim? ― o sorrido do E se alargou. ― Não sabe que a vadia falando com o Dante é a Agente especial Heather Wallace? A mão do Ronin hesitou no ar durante o processo de abanar a fumaça do cigarro. Erguendo os óculos ele olhou para a mulher usando um casaco longo, parada junto ao palco. Sim, era ela – a especialista trabalhando no caso do Cross-Country Killer. ― Nem mesmo a mudança do modus operandi e assinatura não enganou ela. ― E falou, sua voz arrastada pelo álcool soou presunçosa. ― Eu sabia que não iria enganá-la. A Heather está na casa. O tom de admiração na voz do E chamou a atenção do Ronin. E olhava para Wallace, seu rosto iluminado com o amor. Ou que pode se passar por amor em uma criatura tão distorcida e atrofiada como E. Ronin terminou seu Bourbon. Ele queimou por suas veias, acordando outro tipo de fome. Ele observou Dante e a mulher. O garoto era extraordinário. Sua avaliação ia além de sua linda aparência. Ronin havia lido sua ficha. Ele sabia o que o garoto era, e o que poderá ser. De Noir permanecia atrás do extravagante trono, como uma estátua guardando um mausoléu no St. Louis número 3. E o que é De Noir? Não um vampiro, isso não. Algo completamente diferente. Algo que Ronin desconfia ser muito mais velho e obscuro. Seu adorável rosto permanecia calmo, apesar da raiva que controlava seus movimentos, Wallace se virou e desceu a escada na direção da pista de dança. Ela desapareceu na multidão. Ronin voltou a olhar para o bar. Chamando o bartender com um gentil toque de sua mente. Que voltou a encher o copo. A pulsação do Ronin


ganhou velocidade. Em todos meus séculos. Nunca vi ou senti alguém como o Dante. Nem sequer uma vez. Ele engoliu o Bourbon. Que queimou seguindo por sua garganta até as entranhas. E lembrava seu passado. Dante não. Por que isso? Johanna foi mais dura com Dante por causa de sua linhagem? Ela o teria levado para além das fronteiras que um mortal é capaz de suportar? Ronin observou enquanto Dante voltava a sentar em seu trono, dedos pressionando as têmporas, acariciando sua pele pálida. Ou talvez ele não tenha suportado. Talvez tenha caído mais fundo que qualquer um. E continua a cair Ronin se virou para encarar sua companhia. ― Alguém já chamou sua atenção? ― Talvez o garoto de cabelos roxo, ou o vampiro loiro com ele. ― E continuou a olhar direto para frente, escaneando a multidão. Resquícios de um brilho vermelho escapavam pelas laterais dos óculos. Infravermelho, por calor, qualquer coisa dessas, E poderia ter um desses instalados. Ronin balançou a cabeça. ― Muita coisa para você aguentar. ― Tive uma ideia. ― E falou animado. Ele virou para olhar o Ronin. ― E quanto ao Dante? Ele é fodidamente lindo e perigoso. Aposto que será muito divertido. ― O sorriso desapareceu do rosto do E. ― O que você diz? Posso brincar com o Dante? O sussurro do metal contra o jeans enquanto E deslizava para fora uma de suas facas, contrabandeada, escondida dos seguranças que os deixaram entrar no clube. A mão do Ronin se moveu rápido e segurou o pulso do E, o prendendo na altura do quadril. Ele o apertou. Suor começou a escorrer pela testa do E. Ronin torceu a mão. E gemeu, cerrando os dentes. O cheiro de sua dor era quente e amarga como bile, e entrou pelas narinas do Ronin. A faca caiu com um estalar no chão encoberto pela fumaça. ― Se você fizer isso, vou te alimentar com as tuas próprias entranhas.


― Ronin respondeu. ― Toque nele antes da hora e veja o que vou fazer. E olhou para ele, seus olhos escondidos pelos óculos, mas seu ódio brilhava na luz fraca, como a radiação de uma bomba nuclear. Ronin girou mais um pouco o pulso e então o largou. ― Você esqueceu o que ele é? ― Não idiota, não esqueci. Malditos sanguessugas. ― E massageou o pulso. Ele se abaixou e juntou seu estoque5 do chão. Então, como um mago em um show barato em Las Vegas, a fez desaparecer. Com a mandíbula cerrada, ele se virou e apontou o dedo para o bartender, então para seu corpo no caso do garçom ser um idiota. ― Estamos entendidos? ― Ronin falou. E se virou. ― Como um espelho de duas faces. ― Ele resmungou. Uma bonita garota de cabelos escuros sentou no colo do Dante, enquanto um jovem loiro usando rendas, veludo e delineador preto esperava na escada, observando os dois se beijar. ― Mantenha seu objetivo em mente. ― Ronin murmurou. ― Lembrese de quem realmente merece os seus... Toques... Artísticos. De mãos dadas, a garota de cabelos escuros e o jovem loiro desceram os degraus que levavam até a multidão. ― Feito. São eles. ― Engolindo o restante de seu gim tônica, E bateu com o copo no bar. Um sorriso se espalhou por seus lábios. Ele olhou para Ronin. ― Vejo você mais tarde Tom-Tom. ― Ele se afastou do bar seguindo na direção da multidão. ― Divirta-se. ― Ronin falou sério. Quando não pode mais ver E, ele voltou novamente sua atenção para o palco. E parecia não entender que Dante era mais que um sanguessuga. Ele nasceu vampiro – um raro puro sangue. Um fato que nem mesmo Dante 5

ESTOQUE - o nome genérico das facas improvisadas, feitas com materiais diversos e não raro com fio precário ou apenas com uma ponta afiada. Estoques costumam ser encontrados principalmente em presídios durante rebeliões carcerárias ou como armas de autodefesa.


parece saber; uma ignorância que Ronin esperava poder usar a seu favor. Ronin observou enquanto o De Noir passava seus dedos contra as têmporas de Dante. O garoto fechou os olhos, mas apenas por um segundo. Se livrando das carícias de De Noir, ele levantou. Marchou pelos degraus e desapareceu em meio à suada, idolatra e aglomerada multidão. As luzes da casa ficaram mais fracas, então se apagaram. Ronin recolocou seus tampões de ouvido. A multidão zumbia e conversava. Ele estremeceu como se a sensação de antecipação da multidão, expirasse sobre ele como uma onda de água salgada e quente. Ele olhou para a escuridão e dentro da Gaiola. Ossos brancos, penas vermelhas e fetiches de couro pendiam nas barras de ferro. ― Dante! Belo anjo! ― uma ansiosa voz feminina gritou. ― Mon beau diable6. ― Um homem gritou. Um baixo rosnar ecoou pela multidão, enquanto as vozes começavam a entoar: Inferno! Inferno! Inferno! Os fetiches balançavam e giravam enquanto os corpos aquecidos escalavam a Gaiola. Uma aura azul prateada rodeava uma figura magra. Puro sangue. Ronin respirou fundo o ar pesado e inebriante do clube. Quando nossos caminhos se unirem, apenas um de nós continuará caminhando pela noite. As luzes voltaram a se acender. E a multidão rugiu. ― Não acredito que quero isso. ― Dante suspirou no microfone, seus olhos escuros escondidos pelos óculos. Suas mãos seguravam o microfone como se fosse o rosto de um amante. ― Preciso disso. Preso á uma cama. Incapaz de me tocar. As luzes sobre o palco fizeram os anéis nos dedos de Dante brilhar como fogo prata, e refletiam nas fileiras de piercing em cada orelha. Dante inclinou o microfone para trás, se inclinando sobre ele, o montando, então o ergueu novamente. Ronin notou os dedos de Dante tremer enquanto soltava o microfone do pedestal, e viu o brilho do suor em seu rosto. 6

Meu belo demônio.


Ele está com dor, Ronin pensou, bebendo seu Bourbon. E o está usando. Atrás de Dante, o restante da banda Inferno se debatia e atacava seus instrumentos – tranças, dreads e Moicanos balançavam no ar, em meio ao frenesi de movimentos eram uns borrões de tatuagens, piercings, couro, metal e raças – olhos amendoados; pele cor de caramelo; narizes fortes; e músculos bem definidos. Chutando o suporte do microfone no chão da Gaiola, Dante deu as costas para a multidão que gritava. “as suas promessas se retorcem como larvas em minha alma... doce parasita...” girando, ele caiu sobre um joelho e cruzou os braços sobre o rosto. O microfone permaneceu pendurado, aparentemente esquecido em um de seus punhos brancos. ― Eu quero mais... Mais... Várias pessoas haviam escalado a Gaiola até seu topo de aço, deitando de barriga para baixo, esticadas, se oferecendo ao seu escuro e lindo Deus. Eles gritavam seu nome, cortando os pulsos e braços, até mesmo furando suas gargantas com rápidos toques de navalhas ou canivetes. Sangue pingava, se espalhando pelo chão da Gaiola e no rosto de Dante. Mãos se esticavam através das barras, dedos se flexionando, prontos para agarrar roupas, pele, cabelos, qualquer coisa ao alcance. Os outros três membros da banda Inferno desviavam e chutavam, enquanto continuavam a atacar seus instrumentos sem ao menos perder uma nota. Dante, entretanto, estava perigosamente próximo ás barras e das mãos ansiosas. Havia ele se posicionado deliberadamente? Ronin se perguntou. Uma punição? Ou distração? ― Eu quero mais... ― Dante meio que cantou e rosnou, sua voz baixa e contida, repleta de raiva. Ele levantou. E Ronin testemunhou a dor desabrochar por completo quando Dante repentinamente tropeçou. Olhos fechados, cabeça jogada para trás, os músculos do pescoço tensos, enquanto ele gritava. ― Mais de suas fodidas mentiras!


As mãos o prenderam, o puxando contra as barras da gaiola. Seu ombro atingiu as barras com força, enquanto ele permanecia de costas para a multidão. O microfone escorregou de seus dedos, atingindo o chão com um zumbido nas caixas de som. A multidão gritou selvagem, faminta. Dedos fechados ao redor de Dante, agarrando seus braços, mãos, coxas, segurando suas roupas e puxando o cabelo. O aprisionando com algemas de carne. Jogados longe, os óculos de Dante caíram sob os pés do tecladista. Pedaços escuros de plástico e vidro se espalharam dentro da gaiola. Os outros membros da Inferno continuaram tocando frenética e agitada, a música dura e enfurecida. Ronin se inclinou, músculos tensos, os óculos abaixo da ponte do nariz. Por que o Dante permitia que o segurassem? Estará ele perdido na dor? Um borrão em movimento chamou a atenção do Ronin. De Noir correu dos bastidores para a gaiola com uma velocidade que Ronin duvidou que os olhos dos simples mortais pudessem captar. Bebendo da fúria e angustia de Dante, a multidão pulsava como um gigantesco coração tribal, seu ritmo primitivo e forte batia contra Ronin, aumentando sua própria raiva. A necessidade cortava através dele como uma das navalhas do E. Ele caminhou para a multidão. Quente, corpos suados se chocando contra ele, o sangue pulsava por suas veias e os corações batiam. Não aqui. Ele se alimenta em becos escondidos e úmidos, banqueteando dos esquecidos e indesejados. Como um estranho na cidade, Ronin não queria atrair atenção para si. Deslizando entre a multidão, ele saiu para a fria e chuvosa noite. O Llygad assentiu para ele, seus olhos cobertos com os óculos, sem dúvida observando todos os detalhes, sua linguagem corporal era de preocupação. Ronin assentiu em retorno. Outra estranheza. Por que um Llygad abandonaria sua imparcialidade e se uniria á Casa de alguém? Para trabalhar como uma merda de segurança? ― Dante. ― Ronin sussurrou. Puro sangue. Caminhando pelo calçamento molhado das ruas, Ronin seguiu para a


Canal Street. A cada alma desperdiรงada ao se alimentar nessa noite, ele se certificou de agradecer ao Dante, por acordar uma intensidade em sua fome, que hรก anos estava adormecia.


5 O caminho mais difícil Heather provava seu café au lait, o isopor finalmente estava frio o suficiente para ser tocado. O amanhecer despontava no horizonte acinzentado, tingido de laranja a borda das nuvens. Ela bocejou e esfregou o rosto. O mandado de busca tremia junto á saída do aquecimento do Subaru alugado. Ela desligou o aquecimento. O motor do carro estalava enquanto esfriava. Ela estava parada do outro lado da rua da casa de fazenda de Dante, alguns quilômetros de Nova Orleans. Muros de pedras e metal escuro cercavam a casa.


No papel a casa pertencia á Lucien De Noir, mas Heather suspeitava que assim como o clube, a casa era na verdade de Dante. Folhagens espessas e flores perfumadas se retorciam ao longo das paredes. Enormes carvalhos rodeavam a propriedade. O portão de ferro escuro estava aberto. Na entrada circular havia uma van preta, uma Harley Chopper e um pequeno MG preto. Heather olhou para o relógio. Seis e meia. Há cerca de uma hora, ela viu a van parar em frente á casa, seguida por Von na Harley. A loira e o bonito garoto punk haviam saído da van. De Noir carregou Dante nos braços como se fosse uma criança. Bêbado? Enxaqueca? Todos seguiram para dentro da casa. A porta se fechou. E nada aconteceu desde então. Uma pontada de culpa atingiu Heather. Enxaqueca. Ela se lembrou dos olhos de Annie dilatados pela dor, seu desespero. Balançando a cabeça, ela olhou para o copo de café em sua mão, e então voltou a olhar pela janela. Dante não era Annie e não havia nada a ser feito. Ele não havia lhe dado nenhuma outra escolha. Havia algo estranho no relacionamento entre o De Noir e o Dante. Eles seriam amantes? Ela repassou os eventos no Clube Inferno em sua mente, procurando por pistas. Lembrando de De Noir mentindo sobre a presença de Dante, da maneira como ele saiu de trás daquele trono ridículo, quando o cara com o terno Armani subiu a escada. Lembrou De Noir falando sobre a enxaqueca, e ela escutou o tom cuidadoso em sua voz profunda. Não, Heather finalmente decidiu. Eles não eram amantes. De Noir era protetor e cuidadoso, mas ela não havia sentindo nenhuma tensão sexual ou química erótica entre os dois. Ao invés disso, eles pareciam confortável um com o outro. Velhos amigos, então. Heather suspirou, então deu um longo gole em seu café que esfriava rapidamente. Não, havia algo mais entre De Noir e Dante. Amor não correspondido? Algo assim, escondido e secreto, mas apenas pela parte do De Noir. Ele observou Dante durante todo o tempo em que estiveram juntos. Pelo menos ela o fez durante a noite passada.


Terminando seu café, Heather jogou o copo no chão do lado do passageiro. Havia lhe custado muito tempo e considerável charme para convencer o juiz a liberar um mandado de busca. Na verdade ela acreditava que o Detetive Collins tinha mais crédito quanto a isso do que qualquer tipo de charme. E apesar de tudo, o mandado era apenas para o jardim. Heather olhou para a casa silenciosa. Cortinas escuras vedavam todas as janelas. Devem estar dormindo á uma hora dessas. Hora de cumprir o mandado. Dante quer ser difícil, ótimo. O cascalho estalou sob seus tênis quando ela desceu do carro e atravessou a rua até o portão aberto. Heather caminhou pelo caminho danificado pelas raízes das árvores, que seguia junto á casa até a área frontal. Os degraus estalaram sob seu peso, enquanto ela subia até a grande área. Segurando o aldraba de ferro preto em forma de gárgula no centro da porta, ela bateu repetidas vezes contra a madeira sólida. O som ecoou através da casa silenciosa. Voltando a fechar seus dedos ao redor do frio metal da gárgula, Heather a bateu contra a porta mais três vezes. O som atravessou a velha casa de fazenda, então se esvaiu no silêncio. Ela estava se preparando para bater mais uma vez, quando as travas internas da porta clicaram e a porta se abriu. De Noir olhou para Heather, seu rosto frio. Ainda vestindo às mesmas roupas da noite passada. Então ele ainda não dormiu, ela pensou. O pendente em forma de um grosseiro X ao redor de sua garganta refletia a luz rosada do amanhecer. ― O que posso fazer por você? – De Noir perguntou, sua voz grave, nivelada e controlada. Heather ergueu o mandato de busca. ― Acorde o Dante. De Noir fez uma careta. ― O seu mandato não poderia ser executado em uma hora mais conveniente? Como no final da tarde talvez? ― Não. Uma luz dourada ganhou vida nos olhos do De Noir. Ele fechou a porta. Voltando a trancar todas as fechaduras. Sorrindo, Heather relaxou contra a porta. Ela olhou para o relógio. Ele


teria quinze minutos para acordar Dante, ou então ela voltaria a usar a gárgula. Ela acordaria todos na maldita casa se fosse preciso. Olhe, não precisamos fazer isso da maneira mais difícil. É a única maneira que conheço. A voz dele. Heather colocou o mandado de busca na bolsa. As palavras dele. Quinze minutos se passaram e Heather bateu a gárgula contra a porta. Em outros quinze minutos ela voltaria a bater outras vinte vezes, ela pensou se recostando contra a porta mais uma vez. O céu brilhante transformava a grama molhada de orvalho em um mar de joias e fogo. Justamente quando Heather estava prestes a bater novamente, as fechaduras estalaram e a porta se abriu. Dante deslizou para fora da casa até a área, ainda fechando o cinto. Definitivamente arrastado para fora da cama. Heather olhou para ele, repentinamente sem fôlego, enquanto seus olhos vagavam por seu rosto pálido. Olhos escuros, com o delineador da noite passada borrados, maçãs do rosto salientes, lábio inferior cheio... Ela se revoltou por se sentir atraída pela bela aparência dele. ― Lucien não gosta muito de você. ― Dante falou, passando por ela descendo os degraus. Ele puxou o capuz cinza do moletom escondido sob a jaqueta de couro, cobrindo o rosto. Heather o seguiu até o caminho de lajes. ― Sinto saber disso. Bom dia para você também. ― ela falou ―, consegui o mandado de busca. Dante ergueu uma mão enluvada; um anel circulava seu dedo indicador. Ele continuou caminhando. ― Meu carro está do outro lado da rua. ― Heather falou. Dante passou pelo portão de ferro forjado. Heather balançou a cabeça, confusa. Mesmo nessa hora da manhã, Dante parecia estar pronto para uma convenção gótica: óculos escuros, luvas de couro, calças de couro, e camisa de malha preta de mangas compridas sob uma camiseta preta, e botas de motoqueiro prata e preto. Nas


costas da jaqueta estava escrito MAD EDGAR, as palavras presas com pinos pareciam terem sido arrancadas de revistas: uma nota de resgate ambulante. Caminhando mais rápido, ela passou pelo Dante, atravessando a rua até o Subaru. Ela destrancou as portas então esperou até Dante estar acomodado no banco do passageiro para se sentar. ― Cinto de segurança. ― Ela falou, prendendo o dela. ― Tem um mandado para isso também? ― Não. ― Heather falou em voz baixa. ― É dessa forma que vai ser com você? ― Provavelmente. Heather ficou olhando para ele por um longo tempo. Abriu a boca. Voltou a fechá-la. Escolha suas batalhas. Isso não vale à pena. ― É bom saber. ― Ela finalmente falou. Colocando a chave na ignição, ela colocou o câmbio em direto e acelerou pela rua, os pneus do Subaru jogaram cascalho para cima. Dante abaixou a viseira para se proteger do sol. Heather dirigiu em silêncio até a raiva e a irritação estarem sob controle. Ele está cansado. Eu estou cansada. Irritante é a palavra do dia. Ela afrouxou o aperto na direção. Virou o Subaru em uma interestadual e seguiu na direção de Nova Orleans. Ela enrugou o nariz, intrigada pelo cheiro oleoso, muito parecido com bronzeador que enchia o carro. ― Isso é cheiro de protetor solar? ― Mmm. Heather olhou para seu passageiro. ― Brincando com aqueles rumores sobre vampiros? ― Não estou brincando. ― Dante murmurou. ― Certo. Heather olhou direto para frente, com a atenção focada na estrada. Ela tinha o pressentimento que Dante não estava brincando. Sua voz sonolenta havia soado sincera.


Ela já havia lidado com isso, em um hospital psiquiátrico nos arredores de Boise, onde fizera um trabalho voluntário na tentativa de compreender a diferença entre os mentalmente doentes e os sociopatas. E também para melhor entender Annie. Góticos, querendo ser mortos vivos. Ansiando por serem especiais. Ele provavelmente possuía implantes dentários e mantinha uma bolsa de sangue no refrigerador, tudo parte da ilusão. Heather olhou para Dante. Ele dormia, sua cabeça recostada contra o encosto e virada para o lado, o capuz escondia seu rosto, suas mãos enluvadas relaxadas sobre as pernas. ― Ei, Dante acorde! ― Ele não se moveu. Parecia morto para o mundo. Mantendo sua atenção na estrada ela bateu de leve no ombro dele. ― Vamos, acorde! ― Tais to7i. ― Dante murmurou, virando o rosto para o outro lado e cruzando os braços contra o peito, se encolhendo para dormir. E ele fala francês. Ou será Cajun? Ele é de Lafayette, território Cajun, e possui um pouco de sotaque. A chuva começou a bater contra o pára-brisa, nada sério, apenas um chuvisqueiro. Heather ligou os limpadores. Qual o problema dessa cidade? Vampiro. Vodu. Cidades dos mortos. Ela olhou para Dante. Ele ainda estava curvado, respirando lentamente, até mesmo difícil de perceber. ― Você realmente acredita ser um vampiro? Para sua surpresa Dante se mexeu e sentou. Ele puxou o capuz, cobrindo ainda mais o rosto. ― Criaturas da noite. ― Ele falou bocejando. ― Acreditar não tem nada a ver com isso. Você é mortal somente por que acredita que é? ― Mortal? É claro que não. ― Heather falou olhando para ele, tentando ver seu rosto escondido. ― Nasci humana. Assim como todos os outros. Mais uma vez reclinado contra o acento e com os braços cruzados sobre o peito, Dante virou seu rosto coberto pelo capuz na direção do vidro do 7

Cale a boca em francês.


carona. ― Mmm. Estou feliz que você esclareceu isso. Heather ficou em silêncio. Ela estava falhando com ele. Talvez ele realmente acreditasse nessa coisa de vampiro, ou talvez ele quisesse que ela conseguisse vê-lo através disso. Ou talvez, apenas talvez, é apenas uma brincadeira de roqueiro, uma besteira qualquer para se divertir, sem ter nada que precise analisar. Ela estava cansada e isso afetava seu julgamento. Uma rápida olhada para Dante revelou que ele estava dormindo novamente – ou fingindo estar. Quando chegaram á cidade, Heather virou em direção á Canal Street, então seguiu pela Royal, finalmente entrando da Rua St. Peter. Pedaços e lembranças da noite passada ainda permaneciam nas lápides molhadas: papéis brilhosos, contas, copos plásticos vazios, um sutiã preto. Depois da loucura e frenesi da noite anterior, o quarteirão parecia desolado e abandonado. Heather parou em frente ao clube. Ela se inclinou e estava prestes a chacoalhar os ombros do Dante quando ele repentinamente sentou, seu olhar virado para o andar superior do prédio. Se abaixando, Heather olhou através da janela do passageiro e viu o que chamou sua atenção. No terceiro andar havia um par de janelas francesas abertas. Heather se lembrou das cortinas dançando na brisa noturna, o brilho alaranjado da luz de velas. ― Algo errado? ― Espero que não. ― Dante puxou o trinco da porta. Heather piscou. Dante estava parado na calçada, olhar preso nas janelas. Ela não o havia visto abrir a porta ou sair do carro. Tudo o que viu foram seus dedos enluvados puxando a fechadura e então escutou a batida quando a porta se fechou atrás dele. Que diabos? Heather esfregou os olhos. Teria ela cochilado por um segundo? Será que ela está tão cansada assim? Ela se juntou ao Dante na calçada e olhou para cima. As cortinas estavam paradas. ― Quem estava lá em cima à noite passada? ― Eu estava. ― Dante respondeu, mas sua voz estava distante.


Olhando para baixo Heather percebeu que Dante já estava na entrada do clube, usando a chave na porta. Acorde, Wallace, Jesus Cristo. Ela se apressou a se juntar a ele, enquanto Dante abria as portas pesadas e entrava. O cheiro rançoso de fumaça, cerveja e sexo, pairavam no corredor escuro. Dante parou junto ao painel do sistema do alarme do clube. A luz vermelha do sinal BURN no fundo do corredor piscava atrás do capuz dele. Fazendo uma careta ele empurrou o capuz para trás e deslizou os óculos para cima da cabeça. Luzes verdes brilhavam no painel. Ele não parecia mais sonolento. ― Alguma coisa errada? ― Heather perguntou, parando ao lado dele. ― O alarme não está ligado. ― Ele falou. Ele olhou por sobre o ombro na direção do letreiro de neon. A luz vermelha banhou seu rosto pálido. ― Não acredito que Lucien se esqueceu disso. Heather ficou tensa, a adrenalina pulsando em sua corrente sanguínea. Seu coração batendo mais rápido. Colocando a mão dentro do bolso ela retirou seu. ― Fique aqui. ― Ela falou. ― Que se foda isso. ― Dante falou. Então se foi. ― Dante não! ― Ela rosnou na escuridão avermelhada, mas ele já havia partido. Como ele conseguia se mover tão rápido? Algum aumento de reflexo? Um aperfeiçoamento? Destravando, Heather correu pelo corredor, suas costas próximas á parede, e em direção ao clube. Através de um vale de mesas, cadeiras, gaiolas e trono mal iluminados, ela viu Dante na escadaria chegando ao terceiro andar. Abrindo caminho através das mesas, seu olhar pulava de uma sombra para outra, ela correu para as escadas. A estranha e fria sensação de haver algo errado não havia diminuído desde que ela viu o painel de segurança. Algo estava muito errado. E Dante estava prestes a caminhar para dentro daquilo. Caminhar no inferno. Seria mais correto dizer que ele estava se


teletransportado. Mas ele era um civil sob custódia dela, sendo sua responsabilidade. Heather começou a subir a escada, suas costas para a parede. Sua sombra fraca a escoltava pelo caminho, e ela se encolhia cada vez que os degraus estalavam sob seus pés. Entrando no segundo andar, ela levantou a arma enquanto se agachava, checando à direita e esquerda antes de voltar a levantar. Ela escutou. O prédio velho estalava ao redor dela. Passadas suaves soavam sobre ela no terceiro andar, então pararam. Ela subiu o próximo lance de escadas, seu olhar mudando entre a escuridão do terceiro andar e a claridade avermelhada do clube abaixo das balaustradas de ferro. Nada se movia nas sombras mais abaixo. No patamar, ela se abaixou e observou primeiro o lado direito, então o esquerdo. Dante estava parado junto à porta, uma mão enluvada apertando o batente. Heather se levantou. Um candelabro em forma de gárgula iluminava a obra de arte presa á parede. Um tapete oriental antigo amortecia seus passos. Dante não se moveu, não fez nada que indicasse que a escutou ou que reconhecia que ela estava lá. Um cheiro espesso e acobreado encheu as narinas da Heather, um cheiro que ela conhecia muito bem. As entranhas dela se apertaram. O estável blop blop de um líquido pingando ficou mais distinto enquanto ela se aproximava. Ela parou ao lado de Dante, a arma ainda presa em ambas as mãos e olhou para dentro do quarto. Era ainda pior do que ela poderia imaginar. Muito pior.


6 Magia e mistério Johanna Moore estava junto á janela do escritório, observando a neve cair. Neve sempre a faz pensar no Natal e em sua infância; ela se lembrava da magia e do mistério das diminutas janelas brilhosas do calendário de natal e das surpresas que elas revelavam quando abertas. Fevereiro em D.C. não possuía a magia e o mistério, possuía apenas calçadas escorregadias e árvores com galhos esqueléticos. ― E está em Nova Orleans ―, ela falou finalmente. ― Uma coincidência. ― Gifford respondeu.


― Acredito que não ― Johanna falou. ― E não gosto nada disso ―, ela se afastou da janela e da neve de suas lembranças. Gifford estava sentado em uma confortável poltrona de couro em frente á mesa de cerejeira de Johanna, ele mantinha uma carranca enquanto folheava a espessa ficha em seu colo. Ele colocou uma das mãos no bolso do terno e retirou um cigarro fino e marrom. Ele balançou a cabeça, seu olhar ainda fixado. ― Ele não tem como saber sobre o S, ou a semente podre. ― abrindo o isqueiro ele ascendeu o cigarro. Johanna escutou o estalar do tabaco enquanto ele se ressecava e queimava. Um cheiro adocicado de cereja e baunilha encheu o ar. ― Me pergunto ―, ela falou seguindo até sua mesa. Muitas outras fichas e CDs estavam espalhados sobre a superfície brilhosa, todos marcados: ALTAMENTE SECRETOS e PESQUISA – SOMENTE OPERAÇÕES ESPECIAIS. ― A última vítima conhecia S ―, Johanna sentou na beirada da mesa e manteve seu olhar em Gifford. ― E foi mutilada próxima ao clube. Ele olhou para cima, seus olhos cinza pensativos. ― Novamente, coincidência. ― E novamente, não acredito que possa ser. E queimou o símbolo do S no peito da vítima ―, se abaixando Johanna retirou o cigarro de entre os dedos do Gifford. O levando até os lábios ela inalou. Divertimento iluminou os olhos do Gifford. ― Talvez E goste de música ―, ele falou. ― Maldição, ele pode ser um fã da Inferno. Até mesmo seriais Killers possuem suas bandas favoritas. Johanna assoprou uma nuvem de fumaça perfumada, saboreando o sabor do tabaco e baunilha. Ela balançou a cabeça. ― Não. Ele está se comunicando. Ela entregou o cigarro para o Gifford. Ele o pegou, seus dedos pairando por um momento contra os dela, quentes e macios. ― Me assusta pensar que ele realmente possa ter um plano. ― Se comunicando? ― Gifford perguntou. Ele olhou para a fixa em seu


colo. Suas sobrancelhas se juntaram enquanto ele folheava várias paginas. ― Com quem? ― Eu não sei ―, Johanna falou baixo. ― Talvez com o S. ― Se for esse o caso, não temos que nos preocupar ―, Gifford falou. Os papéis farfalharam. ― S não sabe de merda nenhuma, certo? ― Não depois que sua memória foi destruída. Não. ― Levantando, Johanna raspou nos joelhos do Gifford e retornou para a janela. A neve continuava a cair. O céu havia mudado de um cinza escuro para um mais claro, enquanto as horas passavam naquela manhã de inverno. Um branco espesso e silencioso, como aquele cobrindo seu coração, envolvendo o mundo além de sua janela. O som de papel sendo virado a parou repentinamente. ― Bloqueado e fragmentado ―, Gifford falou. ― De acordo com a história. Johanna escutou os dedos de Gifford deslizarem pelas linhas do relatório. ― Eu estava lá, Dan, do começo ao fim ―, ela falou. ― Feita em pedaços é o termo mais acurado. Uma imagem deslizou por sobre sua guarda, sua barricada silenciosa e branca: Um magro garoto de doze anos, em uma camisa de força suja de sangue, suspenso de cabeça para baixo no teto, correntes amarradas ao redor dos tornozelos. Cabelos longos e pretos caíam por seu rosto, exceto onde as mechas molhadas de sangue e suor se colavam na testa e bochechas. Ele pendia imóvel, a luta, a ira, e a dor havia sido drenada dele como o sangue de um corpo sem vida. Sua punição havia terminado, e ninguém queria trazê-lo para baixo – as paredes sujas de sangue e os corpos empilhados no chão de cimento os mantinham do lado seguro da porta de aço. Johanna entrou sozinha e sozinha cravou uma agulha cheia de tranquilizantes no pescoço no menino. Sozinha ela soltou suas correntes do gancho de açougueiro e desceu seu corpo até o chão. Dopado e adormecido, aquela bela criança vampiro, perdido para a loucura da puberdade. O pegando em seus braços, ela o carregou para outra cela. Ele treme, mágica


e mistério pulsando mais uma vez em suas veias, brilhando como o natal em sua mente. O garoto é, para ela, um calendário natalino, com compartimentos que ela pode abrir, virar ou girar, para sempre revelar uma maravilhosa surpresa. Johanna passou os dedos através de seu cabelo curto, olhando para sua imagem fracamente refletida na janela. Atraente, trinta e poucos anos, nórdica loira de olhos azuis, alta e magra. O completo oposto de seu père de sang8 em aparência física. Mas ela e Ronin compartilhavam uma grande fome por conhecimento. E nisso eles são muito parecidos. Cansaço pesou em seu corpo. Ela precisa de sangue e dormir. Ela estava abusando demais dos limites dos comprimidos. Ela não poderia mais ficar sem descansar. ― O que foi feito com a memória do S não é um problema ―, ela falou, virando para Gifford. ― Os assassinatos do E espalhados através do país, e o envolvimento do bureau no caso, é que são os problemas. Eu não sei como, mas E mais ou menos os levou diretamente para o S. ― Você quer que o E seja parado? Johanna balançou a cabeça. ― Gostaria de continuar estudando seus progressos. Mas a proximidade do Bureau me deixa nervosa. ― Entendo ―, Gifford falou. Ele se inclinou na cadeira. Seu olhar controlado encontrou o da Johanna. ― O que você quer fazer? Lucien estava sentado na sala de estar escura, com costas retas, olhos fechados, enquanto guardava os que dormiam nos quartos do andar de cima. Dormiam profundamente. Exceto um. Os pensamentos sonolentos de Dante tocaram a mente de Lucien. Ele sentia a luta de Dante para permanecer consciente e alerta. Maldita mulher e seu mandado de busca. Os dedos de Lucien se flexionavam e apertavam os braços da cadeira. Ele respirou profundamente e cuidadosamente ergueu os dedos. Calma. Ele sabia o quanto Dante podia ser difícil e contrário – a criança muitas vezes colocou em teste sua considerável paciência – e Wallace havia simplesmente reagido á recusa de Dante em cooperar. 8

Pai de sangue, vampiro que ao criar outro se torna seu “pai”


Mas... Por que Wallace desejava vasculhar o jardim? O que ela esperava encontrar? E o que tudo isso tinha a ver com Dante? Lucien abriu os olhos e olhou para a luminosidade fraca da sala. Sombras encobriam o sofá, estante, e abajures, escondendo suas cores. Do lado de fora, pássaros piavam e cantavam ocupados em suas tarefas matutinas. Por um momento, Lucien desejou por ar, por sentir o calor da manhã em seu rosto, invocar seu wybrcathl9 no sol dourado, para esperar a resposta ária de outro Elohin10. Mas seu wybrcathl precisava permanecer esquecido. A criança que ele guarda precisa permanecer escondida dos Elohim. Lucien tocou a corrente pesada em seu pescoço. Passando os dedos nas bordas do X, o metal era macio e quente. A runa da parceria – lhe dado cinco anos antes, por Dante, um caloroso e inesperado símbolo de amizade. Os dedos do Lucien se apertaram ao redor do pendente. As bordas ásperas mordiam sua pele. Ele abaixou a cabeça e fechou os olhos. Lembrando do selvagem e grosseiro que ele atendera cinco anos antes... Ao chegar aos caís do rio Mississipi. Um jovem usando calças de couro puídas, botas velhas e uma camiseta, estava sentado com as pernas cruzadas sobre o velho caís de madeira. Algo se revirou em suas mãos, refletindo a luz azulada. Lucien aterrissou suavemente no caís, suas asas se expandindo em um último farfalhar, antes de se recolherem atrás dele. A água batia e espirrava contra as tábuas do caís. O forte cheiro de peixe, água barrenta e lama velha enchiam o ar. O jovem não olhou para cima. O cabelo preto escondia seu rosto, sua cabeça estava abaixada, como que se concentrando na coisa que se contorcia em suas mãos. Lucien se aproximou a madeira ainda estava morna do sol sob seus pés 9

Música do céu. Música do caos. A música de um criador.

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descalços. Dor e poder irradiavam do jovem, afiada e febril. Sangue pingava de seu nariz e caía contra as costas das mãos. A luz azul que irradiava das mãos do jovem, e a música do caos que saía dele, angustiada, desejosa, e de coração partido – atraía Lucien para mais perto. Seus músculos se retesaram; fogo queimou por suas veias. Da última vez que ele viu o brilho azul, ou escutou esse barulho, havia sido a milhares de anos, de um creawdwr11 á muito morto. Teria finalmente nascido outro? Escondido no mundo dos mortais? As asas de Lucien se dobraram para dentro das bolsas em suas costas, enquanto ele se abaixava em frente ao jovem. A dor o perfurou. Intensificando seu escudo, Lucien afastou a indesejada agonia do jovem. ― Criança. O jovem com cabelos cor da noite não respondeu. Suas mãos se abriram, tremendo, e a luz azul desvaneceu, então se acabou, como uma chama abafada. A coisa que ele segurava caiu, olhos negros brilharam á luz da lua. Um rato de caís, Lucien percebeu com surpresa. Ou, pelo menos costumava ser um rato de caís. O antigo rato correu para a beirada do píer e para baixo. Seus muitos pares de asas translucidas como ás de uma libélula, o elevou incertas no ar. Então ele voou para longe. Para sempre alterado pelo toque de um creawdwr. ― Criança ―, Lucien falou novamente, e tocou o rosto do jovem com um dedo em forma de garra. Ele estava muito aturdido pelo reconhecimento – os olhos escuros e inteligentes, as bochechas, a curvatura dos lábios – para se defender quando o garoto se levantou do píer. Lucien caiu de costas quando o garoto o abraçou com braços finos, mas fortes e cravou as presas em seu pescoço. Calor irradiou do garoto enquanto engolia o sangue de Lucien. Calor, fome e um profundo pesar. Lucien o segurou por um momento, permitindo que ele se alimentasse se deixando prender contra as madeiras velhas do 11

Criador. Criador/destruidor, uma raça de Elohin extremamente rara, que era considerada extinta.


píer. Ele cheirava a fumaça das fogueiras de outono e o frio de novembro, afiado, limpo e intoxicante. A dor e quase loucura do jovem se chocavam contra os escudos de Lucien como uma implacável marreta. Ele se parece exatamente como ela. Não é possível. O filho dela... Gentilmente, Lucien soltou dos abraços de ferro do garoto e descansou uma mão contra sua têmpora febril. Ele enviou energia curativa para o garoto, controlando o fogo que controlava sua mente e o fazendo dormir. O jovem caiu contra ele, seu rosto ensanguentado deixando um rastro vermelho ao longo do pescoço e peito de Lucien. Lucien afastou o emaranhado cabelo preto e olhou no rosto do menino. Ele observou espantado. Passou um dedo ao longo da mandíbula do jovem. Abriu seus lábios e examinou as presas finas. O frio tomou conta de Lucien. Onde estaria a mãe dele? Genevieve... Lucien abriu os olhos, seus dedos ainda presos ao redor do pendente. Tantas coisas permaneceram desconhecidas, ou não ditas. Ele deveria ter dito a verdade ao Dante quando se conheceram. Agora, ele temia ser tarde demais. O momento á muito passou. Suspirando, Lucien largou a corrente com uma carícia final. Ele escutou a casa silenciosa ― o tic-tac do pêndulo do relógio na parede, o estalar da madeira e fundações velhas, o sol cheio de vida além das sombras das cortinas. Lucien relaxou contra a poltrona, se permitindo cochilar/meditar. Vários minutos se passaram. Meia hora. A luz rosada do amanhecer se transformou em cinza. As sombras ficaram mais escuras. A chuva começou a bater contra o telhado, jorrando contra a calçada. Uma fagulha de raiva, a dor profunda de uma velha ferida reaberta, acordou Lucien. Ele levantou a cabeça. Apreensão se retorcia como arame


farpado ao longo de sua coluna. Sua criança não estava mais lutando contra o sono. Ele estava completamente desperto.


Mais perto do que jamais esteve

7

Seu corpo nu jazia de barriga para cima na cama desarrumada, suas mãos algemadas aos postes da cama, pernas abertas, uma meia preta enrolada e amarrada ao redor do pescoço. Ferimentos de faca marcavam seus seios e estômago. O longo cabelo preto encobria parcialmente seu rosto, que estava virado na direção da porta. Sangue e baba manchava os lábios dela e parte de sua língua estava à mostra. Rímel, delineador e lágrimas secas manchavam seu rosto. Seus olhos ainda abertos pareciam olhar diretamente para Heather.


Entalhado na parte de dentro de cada coxa branca como leite, estava o símbolo na anarquia. Sangue pingava no carpete. O olhar de Heather seguiu o sangue até os lençóis ensopados, então pelos braços manchados de sangue, até os pulsos cortados. Sua visão se focou nas gotas de sangue que ainda caíam. A morte era recente. Minutos? Meia hora no máximo. Na parede atrás da cama, uma mensagem havia sido escrita em sangue, as letras inclinadas e desiguais seguiam por boa parte da parede. Acorde S ― Gina. ― Dante sussurrou. Heather olhou para ele rapidamente. ― Você a conhece? Dante assentiu com incredulidade, choque e algo que Heather não pôde identificar bem, apareceu em seu rosto. Ele se apressou a recolocar os óculos que estavam sobre a cabeça. Mudando sua 38 para a mão esquerda, Heather retirou o celular da bolsa e discou o número do oitavo distrito. ― Agente Wallace ―, ela falou ao telefone. ― ouve um homicídio na Rua St. Peter, número 666. Clube Inferno. Desligando o telefone Heather o recolocou na bolsa, seus olhos fixos nas cortinas molhadas pela chuva, junto ás janelas francesas ainda abertas. Talvez o assassino tenha partido quando eles entraram no clube. Ou... Heather empurrou Dante contra o quadro da porta. ― Fique aqui. Ou talvez ele não tenha tido a chance de escapar. Com a 38 presa em ambas as mãos ela atravessou o quarto, passando junto à cama em direção ás janelas. Saindo na sacada, ela seguiu lentamente para a esquerda, com a arma apontada para a direção oposta da sacada escorregadia pela chuva. Vazia. Ela se reclinou contra a balaustrada de ferro fundido, sua arma abaixada. Ela olhou para a rua mais abaixo. Alguns foliões adiantados para o Mardi Gras caminhavam pela calçada molhada. Suas risadas seguiam pelo ar como fumaça.


Secando seu rosto molhado pela chuva, Heather fechou os olhos por um momento. Duas mortes em um único lugar. Outra quebra de padrão. A violência estava aumentando. Por que agora? Por que aqui? O som do motor de um carro fez Heather abrir os olhos. Dois carros da polícia corriam pela rua estreita, seguidos por outro sem marcas e com uma luz azul. Os três arrastaram os pneus até pararem em frente ao clube. Quando os policiais saíram dos carros Heather acenou. ― Aqui em cima ―, ela gritou. ― A porta está aberta. Olhando para cima um dos policiais acenou em resposta. Heather afastou as cortinas e voltou para o quarto. Dante não havia ficado parado. Ele estava sentado na cama ensopada de sangue ao lado do corpo da garota, sua jaqueta de couro estava aberta sobre (Gina, ele disse que o nome dela era Gina) o corpo da vítima. Heather não conseguia ver o rosto de Dante; sua atenção estava fixa nos pulsos cortados da vítima. Suas mãos fechadas como punhos. O cheiro do sangue, os remanescentes ecos da violência e medo, o olhar petrificado da garota, nada daquilo assustou Dante. A maioria das pessoas, não seria capaz de ficar no mesmo quarto que o corpo de um amigo, muito menos de uma cama ensopada de sangue. Mas Dante havia colocado de lado qualquer coisa que estivesse sentindo, para poder cobri-la, lhe devolvendo um pouco de dignidade. ― Ela ainda está morna. ― Ele falou. Parando ao lado da cama Heather tocou o braço de Dante. ― Sei que isso é difícil ―, ela falou. ― Eu sei. Mas você precisa remover a jaqueta. Preciso manter a segurança da cena do crime... Dante se virou e olhou para ela, seus olhos escondidos atrás dos óculos. ― Ele tirou tudo dela ―, sua voz era baixa e dura. ― A jaqueta vai ficar. ― Eu entendo. ― Heather falou. Alguém teria feito o mesmo pela mãe dela? Ou pelo menos desejado fazer? ― Eu gostaria de poder deixar isso com ela. Mas você pode estar destruindo evidências. Pelo corredor ela escutou os policiais de Nova Orleans subindo a


escada. Dante levantou. Heather se inclinou e retirou a jaqueta do corpo. ― Sinto muito. ― Ela falou. Dante tirou a jaqueta dela. ― Sabe, eu acredito em você. Heather tocou o braço dele. ― Vamos voltar para o corredor ―, ela falou com uma voz baixa, e o que ela esperava, calma. ― Você não pode ficar aqui, e tenho algumas perguntas a fazer. Ela queria que ele removesse os óculos. Incapaz de ler seus olhos, a expressão dele estava perdida para ela. Mas sua mandíbula estava tensa e sua linguagem corporal agitada falava o bastante. Ela não queria forçá-lo para fora do quarto, mas o faria se necessário. Com um rápido assentir, Dante seguiu para o corredor. Ele olhou pelo corredor na direção das escadas. Respirando aliviada Heather o seguiu. ― Quais perguntas? ― Quando foi à última vez que você viu a Gina? ― Noite passada. Heather olhou para Dante, sentindo como se alguém tivesse jogado um balde de água gelada sobre sua cabeça. ― Noite passada? Você tem certeza? Outra quebra de padrão. O CCK – se é que era o CCK – sempre mantinha suas vítimas por vários dias. Mas sua intuição sussurrou. É ele com certeza. ― Sim tenho certeza ―, Dante falou. ― Nós estávamos nesse quarto. Nenhuma coincidência. Era para Dante encontrá-la. Heather olhou para a parede atrás da cama manchada com sangue. Acorde S. da última vez havia sido simplesmente acorde. O que o S significava? Poderia ser uma obsessão pelo Dante o motivo da quebra do padrão? As mensagens seriam para ele? Lafayette. O símbolo queimado no peito do Daniel Spurrell. A imagem de um Dante encapuzado usando o símbolo da anarquia ao redor do pescoço, então ao redor do pulso. Era para ele encontrar o corpo... A pulsação dela aumentou. Ele está se comunicando com Dante. Ela estava perto do assassino. Mais perto do que jamais esteve.


― Acorde S significa algo... Heather se virou quando dois oficiais entraram no corredor, saído da escada. ― Agente especial Wallace, FBI ―, ela falou ―, Vou pegar minha identificação ―, enquanto ela deslizava a mão para dentro da bolsa, o primeiro policial, corado com o excitamento e adrenalina, olhou para Dante e colocou a mão sobre a arma. ― Você! ― Ele gritou para Dante. ― No chão! Agora! ― Diga para o seu parceiro para se acalmar. ― Heather falou, mostrando o distintivo para o segundo policial, um homem mais velho, e mais confiante que o outro que gritava para Dante como se fosse um terrier. ― Ele é o dono do clube. E conhecia a vítima. ― Jefferson ―, o policial suspirou. ― Já chega. Dá um tempo ―, balançando a cabeça ele parou em frente á Heather. ― Me chamo Manning ―, ele falou, apontando para o parceiro e falou. ― Novato e ainda verde como a calda de um aligátor. Heather sorriu. ― Acredito. Ela olhou para Dante. Ele continuou calmo, fingindo ignorar o agora silencioso novato. Ele até mesmo bocejou. Entretanto Heather não se deixou enganar, ela podia ver a tensão nos ombros dele e seus músculos pareciam prontos para entrar em ação. ― Oh Jesus. Heather olhou por sobre o ombro na direção do Jefferson. Ele estava congelado na porta, olhando para o corpo amarrado e a mensagem na parede, e sua boca se abriu enquanto ele sugava o cheiro de sangue, morte e toda aquela porcaria. Jefferson empalideceu. Engolindo com dificuldade. ― Não vai vomitar aqui, idiota. Dois homens saíram da escada em direção ao corredor. O homem que falou, empurrou Jefferson e entrou no quarto. A reprimenda em sua voz baixa, o terno amarrotado, e a maneira calma e confiante de caminhar, diziam para Heather que o recém chegado era um detetive, assim como o homem o seguindo. Parceiros, sem dúvida. Seu olhar entediado escaneou a


cena, suas pálpebras se fechando como as lentes de uma câmera, capturando todos os detalhes, gravando cada sombra e rastro de sangue na memória. O parceiro acenou para Heather, com um cigarro apagado entre os dentes e uma câmera nas mãos. Ele entrou no quarto, parando do outro lado da porta. A câmera chiava enquanto ele tirava fotos da cena. Manning e seu parceiro ficaram de cada lado da porta, guardando a cena do crime. Jefferson estava esverdeado e mantinha seu olhar no chão. ― Você deve ser a federal que o Collins falou ―, o primeiro detetive falou. ― Isso mesmo ―, Heather falou. Ela entrou no quarto, passando junto ao homem com a câmera. ― Agente especial Heather Wallace. E você é...? ― LaRousse ―, ele respondeu, se virando para olhá-la. ― Homicídios ―, ele inclinou a cabeça na direção do parceiro. ― E aquele ali é o Davis. ― Ei. ― Davis falou, colocando o cigarro atrás da orelha. Ele colocou a correia da câmera ao redor do pescoço. Do bolso ele retirou uma caderneta com uma caneta presa a ela. Sua caneta raspou no papel quando ele começou a tomar nota. LaRousse deslizou o olhar através do corpo de Heather, suas pálpebras se fechando várias vezes. ― Collins não me falou que você era bonita ―, ele piscou. ― Acho que preferiu manter isso para si. ― Sorrindo ele balançou a cabeça fazendo o cabelo castanho cair sobre os olhos de uma maneira desarrumada. ― Deve ter sido o lado profissional dele ―, Heather respondeu com uma voz nivelada. ― Ou talvez ele esteja um pouco mais interessado em prender os bandidos do que transar. O sorriso do LaRousse desapareceu. Ele apontou um dedo na direção de Dante. ― O deus do rock ali está metido nisso? Heather olhou para Dante. Ele estava parado na porta, a jaqueta pendendo em uma das mãos, seus olhos cobertos pelos óculos fixos nela. Ele poderia ter matado a garota antes de De Noir tê-lo levado para casa naquela


Van? Seria aquela a razão pela qual De Noir mentiu sobre a presença dele no clube aquela noite? Ela ainda está morna. Sangue pingando no carpete. O olhar apavorado em seu rosto pálido. Muito tempo havia passado entre a chegada de Dante á casa de fazenda, e o retorno deles ao clube. A janela havia ficado aberta. O ar frio teria esfriado o corpo. O sangue já teria coagulado à uma hora dessas. Não, Gina havia sido morta, enquanto Heather dirigia com Dante por Nova Orleans. O olhar da Heather se voltou para LaRousse e seus olhos frios. Toda sua cordialidade falsa havia se congelado, em seus olhos azuis claros como gelo. ― Não ―, ela falou. ― Mas quero um depoimento dele. Procurando na bolsa por um microgravador, ela o prendeu no colar de seu casaco. ― Dante por que você não espera por nós lá em baixo? Quero... ― Vamos fazer algo melhor. ― LaRousse interrompeu, apontando um dedo para Dante. ― Manning, o leve até a delegacia e veja se consegue alguns velhos mandados. ― O que diabos você está fazendo? ― Heather olhou para o LaRousse sem acreditar. ― Problemas criminais. Vandalismo ―, LaRousse falou com os olhos ainda fixos em Dante. Um sorriso duro retorcia seus lábios. ― O símbolo da anarquia pichado em todos os lugares. Dante largou a jaqueta. Ela atingiu o carpete com um tilintar abafado. ― Nada melhor de que deixar suas prioridades bem claras, – ele falou. Suas mãos fechadas como punhos. ― Espere um minuto. – Heather começou, mas LaRousse acenou para Manning. O policial de uniforme abriu as algemas de seu sinto e seguiu na direção de Dante. Dante se moveu. Pelo menos Heather conseguiu ver um lampejo de um movimento;


então Manning voou através do quarto e se chocou contra a parede. A cabeça dele bateu contra o reboco, deixando uma marca nele. As algemas se soltaram de suas mãos. Tonto e aparentando estar com dor, Manning levou as mãos até o coldre em busca de sua pistola. Dante estava parado junto á porta, uma de suas mãos estava erguida, seu corpo tenso. ― Parado, filho da puta! ― Jefferson gritou, apontando sua pistola. Os olhos encobertos de Dante pelo óculo se focaram em Jefferson. Ele abaixou a mão, então fechou as duas como punhos. Sua cabeça se abaixou levemente. Heather já havia presenciado muitas lutas de ruas para saber que ele iria atacar o novato. Esticando um dos braços Heather gritou. ― Não! Esperem! ― Sem ter certeza se estava falando com Jefferson, Dante ou os dois. Ela pulou para frente, mas tudo ficou mais lento. Sua visão se fechou em um longo e escuro túnel que terminava na arma de Jefferson. O dedo dele tremeu contra o gatilho. O puxando para trás. Em sua visão periférica (Davis e LaRousse, estavam ajudando? Tentando impedir?) Heather pulou na direção da arma. Mas no momento que o fez, ela soube que não chegaria a tempo. Jefferson abriu fogo.

E deu outro gole no uísque, então largou o copo gelado na mesinha de cabeceira, junto com a garrafa de Canadian Hunter já pela metade. O gelo estalou. Ele se esticou na cama, descansando sua cabeça e ombros contra a pilha de travesseiros até conseguir uma posição confortável. E cruzou os tornozelos e pegou seu livro de poesias manchado de sangue, Inside the Monster’sheartand Others Poems de Juan Alejandro Navarro, e voltou a sua leitura. Ele leu as mesmas estrofes repetidas vezes, sem conseguir absorver nada. Depois de mais alguns minutos em que ficou


olhando para a página sem virá-la, E fechou o livro e o jogou na cama. Ele precisa dormir, mas não conseguia. Ele estava muito ligado. Ele queimava para criar. E continuava escutando a voz dela, implorando para que ele continuasse a ler para ela, e ele leu. Em uma voz gentil. …Geada-queimando, e o tempo secando, esse coração Suas bordas pretas ondulando em… Como as pernas de uma aranha morta… E ainda assim ela chorou. E retirou do bolso seu mais novo souvenir. Fechando os olhos, ele esfregou a macia meia preta contra seu rosto. O material sussurra contra a barba que crescia em seu rosto. Ele podia sentir o cheiro dela, cerejas e suor. Ele abriu os olhos e encarou um mundo tingindo de preto. Ela havia implorado para ele continuar a ler, apenas para impedi-lo de se aproximar da bolsa cheia de brinquedos afiados? Ou ela realmente havia gostado do som da voz dele, a música das palavras escritas? Por favor, não, não, leia para mim, por favor... Continue lendo. Olhando para a luz manchada de preto, E voltou a escutar os sussurros dela. Ele escutou sua voz – baixa, estremecida e sedutora. Leia para mim, por favor... Por favor... Por um momento, quando lia para Gina, ele sentiu um repentino calor em seu peito. Tirando os olhos das páginas, ele pode ver uma ligação dourada se esticando do coração dela, para o dele. O vínculo dourado tremeu e mudou para uma névoa de luz espalhada entre eles, passando por entre os lábios da Gina como mel aquecido. Quando ela voltou a abrir os olhos, eles eram dourados. Por favor... Leia para mim... Seja meu deus... Tudo bem, talvez ela nunca tenha falado essa última frase. De qualquer forma ele viu isso em seus olhos transformados. Colocando o livro de lado sem marcá-lo, E se ajoelhou ao lado da cama,


e beijou os ombros dela. Ela estremeceu, sua respiração ficou mais rápida. E olhando para ela, ele pode ver um sorriso duro e astucioso sob a luz dourada, falsamente curvando aqueles lábios cheios de mel e obscurecendo a luz em seus olhos. Gelo penetrou em sua barriga, congelando suas entranhas e extinguindo o fogo em suas veias. ― Diga o nome de quem você ama. ― ele falou, voltando a ficar sobre os tornozelos para observar o rosto dela. Os olhos delas se moviam de um lado para o outro, procurando por pistas no rosto dele. Ele ficou parado não entregando nada. ― Ele vai vir me buscar ―, ela finalmente respirou. ― Ele é uma das criaturas da noite. E deslizou uma mão tremida sobre sua bolsa. Metal frio pressionava contra sua pele congelada. E ele fechou os dedos ao redor do cabo da faca. ― Diga o nome dele. Ela chorou. Fechou os olhos. Talvez por saber que se ele não pudesse vê-los não poderia ver suas mentiras. Sua traição. ― Ele vai vir... ― Por você? ― E terminou. ― Não, ele não vai ―, ele ergueu a faca para fora da bolsa, à luz fraca refletiu através da lamina. ― Dante não se importa com você. Por que se importaria? Você é só mais um traseiro. Os olhos dela se abriram ao som do nome que ela não havia pronunciado. No mesmo momento, E cravou a faca na barriga dela. E rolou ficando de lado, a meia da Gina presa em sua mão, um rosário para meditar sobre os mistérios das vadias mentirosas. Ela o oferecia amor com seus olhos dourados, o tentando com a adoração em forma de seus pedidos. Mas ele havia sido mais esperto e forte. Ele viu as mentiras escondidas sob aquela pele macia. E sob seu perfume de cerejas escuras, ele sentiu o cheiro da mentira, madura e azeda. Ele não poderia dar tudo para ela. Não poderia ser o Deus dela. O que levantava um ponto interessante – se ele for um Deus, por que precisa de um fodido chupador de sangue como o Ronin para guiá-lo...


Controlá-lo? Ele iria acordar o S sozinho.

A bala explodiu do cano da arma, o som acentuado reverberou pelo ar, ecoou pelas paredes e quebrando o túnel obstruindo a visão de Heather. O coração dela parou por alguns segundos, então tudo voltou a se mover em uma velocidade acelerada. Ela jogou Jefferson contra a parede com um bloqueio de seu corpo. Ela prendeu o pulso dele e empurrou a arma para cima. Davis puxou a pistola dos dedos do Jefferson. ― Que merda, seu idiota! ― Ele falou, com uma voz irritada. ― Você quer foder todos nós? ― Nada com que se preocupar ―, LaRousse falou. ― Ele errou o bastardo. Heather olhou para a porta. Dante não estava lá. Ao invés disso ele estava parado no meio do quarto. Enquanto ela observava, ele caminhou de volta para a porta, com as mãos enluvadas presas ao lado do corpo. Ele parecia pronto para saltar sobre o Jefferson. Novamente. Heather se sentiu relaxar. Ela respirou fundo, então lentamente liberou o ar enquanto o alívio deixava sua força se esvair, a deixando com as pernas fracas. Ela olhou Dante nos olhos, ou achava que sim de qualquer maneira, e balançou a cabeça. Não se mova. Chega de idiotices. Ele continuou parado na porta, seu corpo tenso. Ela quase podia sentir o cheiro da adrenalina e a fúria que irradiavam dele. E testosterona. Não esqueça isso. Com todos aqueles homens no quarto, o ar estava cheio disso. Heather se virou para o Jefferson. ― O que diabos você estava fazendo? Jefferson olhou para ela, abriu a boca, voltou a fechá-la. Então olhou para baixo. ― Protegendo o parceiro dele, agente Wallace. ― LaRousse se


intrometeu. ― Ou vocês não fazem isso na agência? Aqui fazemos isso sempre que for necessário. Heather fechou os olhos por um segundo, então se virou. LaRousse estava ajoelhado ao lado do Manning, uma das mãos no ombro do policial. ― Prejean estava desarmado ―, ela falou com a voz controlada. ― Não havia necessidade para usar força letal. E você sabe disso. LaRousse bufou. Balançou a cabeça e ajudou Manning a levantar. ― O leve para o hospital ―, LaRousse falou para o Jefferson. ― E escreva um relatório detalhado. ― Estou bem ―, Manning falou com o rosto corado. ― Cristo! Jefferson passou um braço ao redor dos ombros do parceiro, e ajudou Manning que protestava seguir até a porta. Dante ainda estava lá com as mãos fechadas. Um sorriso torto ergueu os cantos da boca de Dante. Erguendo as mãos, ele entrou no quarto. ― Jeva te voirplustard12 – ele falou para o Jefferson. Toda a cor sumiu do rosto de Jefferson. ― Não entendo nada dessa conversa Cajun ―, ele gaguejou. Empurrando o Manning pela porta, Jefferson correu para o corredor. Heather assoprou alguns fios de cabelo para longe de seu rosto e olhou para Dante. ― Você não estava brincando sobre seu problema em cooperar, não é? ― Ele falou para Jefferson, que o vê mais tarde ―, LaRousse falou. ― isso soa como uma ameaça. ― Sem ameaças ―, Dante falou. ― Apenas algo que está para acontecer. Se virando para encarar LaRousse, Heather falou. ― Prejean não é um suspeito. Acredito que ele precise ser colocado sob proteção da polícia. ― Não obrigado ―, Dante falou. ― E meu nome não é Prejean. ― Cale a boca ―, Heather falou. ― Você não está ajudando. ― Oh, mas ele vai ficar sob a custódia da polícia ―, LaRousse falou, 12

Vejo você mais tarde.


um sorriso forçado apertou seus lábios. ― Na cadeia. Por atacar um policial e resistir à prisão. ― Vamos esclarecer as coisas agora mesmo LaRousse ―, Heather falou, se aproximando do detetive com os músculos tensos e mãos fechadas. ― Estou no comando dessa investigação... LaRousse se inclinou para a encará-la. ― Aí é que você se engana, agente Wallace ―, ele falou. ― Você não está no comando. Você é uma consultora. Inferno, você nem ao menos nos falou se o assassino CrossCountry está mesmo aqui. As palavras do LaRousse atingirão Heather como uma tapa. As bochechas dela queimaram, mas ela não desviou o olhar ou abaixou a cabeça. Suas unhas se cravaram nas palmas. ― Estou esperando pela confirmação do DNA ―, ela falou com a voz nivelada. ― Mesmo se ele estiver aqui, e você for colocada no comando, eu não iria me importar ―, LaRousse falou. ― Esse bosta ―, ele apontou um dedo na direção de Dante. ― agrediu um dos meus oficiais. Ainda olhando para Heather, LaRousse chamou. ― Davis, algeme esse lixo de rua e o entregue para os guardas no andar de baixo. ― Ainda não terminamos ―, Heather falou com a voz baixa, e se virou. Davis se aproximou de Dante cautelosamente, com as algemas penduradas em uma das mãos. ― Vá com calma ―, ele murmurou, como um homem tentando acalmar um cachorro rosnando. ― Não precisa ser difícil. Podemos fazer isso de uma maneira mais fácil. O rosto desconfiado de Dante e seu corpo tenso soletravam difícil de todas as maneiras. Olhe, não precisamos fazer isso da maneira mais difícil. É a única maneira que conheço. ― Espere. Se afaste ―, Heather falou. ― Eu coloco as algemas nele.


Com as mãos erguidas em um gesto de rendição, e os olhos ainda presos no Dante, Davis falou. ― Ótimo. Ele é todo seu. Ciente de que LaRousse observava todos seus movimentos, Heather pegou as algemas da mão esticada do Davis e caminhou pelo chão acarpetado do quarto. Dante a observava, expressão fechada, mãos apertadas ao lado do corpo. ― O que você fez? ― Heather murmurou quando parou na frente dele. ― Roubou o par de LaRousse na formatura? Que cara durão. Um sorriso torceu o canto da boca de Dante. As mãos deles se abriram, relaxando. Mas seus dedos enluvados ficaram ligeiramente encurvados, a ponto de voltarem a se fechar. Heather percebeu que havia sido desejo o que viu no rosto de Dante, quando ele viu o corpo de Gina, desejo misturado com choque e incredulidade. O quarto fedia a sangue, a cama estava ensopada com ele. Ele acreditava ser um vampiro... Havia sido a fome de um vampiro que ela havia visto? Ou algo ainda mais obscuro? ― Apenas relaxe, tudo bem? ― Heather falou. ― Confie em mim. Vou resolver isso. Suor escorria pelas têmporas de Dante e sua mandíbula estava cerrada. Enxaqueca? Annie normalmente tinha essa aparência antes de uma crise. ― Nunca confiei em um policial ―, Dante falou com a voz rouca. ― Nunca pedi para você confiar em um policial, – Heather falou. ― Estou pedindo para você confiar em mim. Dante a olhou por um longo tempo. Repentinamente Heather ficou zonza, girando da sua cabeça até a base da espinha. Assim que o pânico a tocou, a sensação logo desapareceu. Sem falar mais anda, Dante retirou as luvas, as jogando na poltrona. Então ele se virou, com as mãos nas costas.


8 O destruidor Com ásperos cliques metálicos as algemas se fecharam ao redor dos pulsos de Dante. Velhos demônios que ele nem ao menos conseguia nomear acordaram. Sussurros quentes e áridos cortavam seus pensamentos. Quebre as algemas. Destrua-os. Todos eles. Você estará fora da janela antes que o sangue deles caia no chão. Preciso, quero

fazer isso, preciso... Com os músculos tensos Dante abaixou a cabeça, lutando para não escutar.


Sob o forte cheiro de sangue da Gina, ele conseguiu sentir o cheiro de gasolina e carne queimada. Escutou o crepitar do fogo. Mas não ali. Em outra época. Outro lugar. Ele estremeceu. A dor descontrolada. A visão dele ficou borrada. ― Hei ― Wallace falou. ― Respire. Apenas respire. Vamos, para dentro, para fora. Escutando o tom suave e calmo da voz de Wallace, Dante procurou por Lucien, e tocou sua mente que esperava através do link. “Gina esta morta. Tire-me da cadeia quando os outros acordarem” ― Respire Dante. Você toma algum medicamento? “Tirar você da cadeia? Criança, por que você permitiu que eles te prendessem?” “Preciso disso, quero isso, preciso disso, quero queimar”, escapou antes que ele pudesse impedir. “Shhh...” Uma luz fria repentinamente banhou a mente de Dante, congelando sua dor e silenciando as vozes. Ele pulou quando Wallace gentilmente abaixou seus óculos. Ele virou a cabeça, cegado pela luz acinzentada da manhã. Ela segurou o queixo dele e puxou seu rosto para encará-la. ― Remédios? Você usa algum tipo? ― Morfina. Algumas vezes ópio ― ele falou, olhando por entre os cílios na direção dela. Azul entardecer, ele pensou, justamente quando as estrelas aparecem. Ela manteve seu olhar, com as sobrancelhas erguidas. Fios de cabelo vermelho emolduravam seu rosto, se curvando ao redor das têmporas dela. ― Você pelo menos poderia dar o nome de algum medicamento legalizado? ― ela sussurrou, recolocando os óculos sobre seu nariz. ― Cristo! Dante deu de ombros. ― Você perguntou. Eu não minto. ― Talvez você devesse mentir ―, Wallace balançou a cabeça. ― O leve para a delegacia ―, o imbecil do LaRousse falou. ― O trancafie e ele vai dormir em minutos, posso te garantir isso.


Dante olhou por sobre o ombro. O imbecil piscou. Ele sabe que sou uma criatura da noite. ― Espere ―, Wallace puxou o capuz de Dante sobre a cabeça dele, deixando as beiradas passando seu rosto. ― Não quero que você exploda em chamas ou algo assim ―, ela sussurrou. Um rápido sorriso curvou os lábios dela. ― Merci beaucoup ―, ele murmurou. As ações de Wallace surpreenderam Dante. Inferno, o deixou fascinado. Ela não agia como um policial - pelo menos não o tempo todo, até mesmo quando ela estava ocupada tirando criaturas da noite de seus sonos com mandados de busca. Ele não viu nada cínico ou zombador em seu rosto. Ele a observou enquanto ela se virava e cruzava o quarto em direção á cama. A fria brisa da manhã movia o cabelo de Gina, agitando a meia ao redor do pescoço dela. Nós temos que ir, sexy. Amanhã à noite? Ele não havia falado nada. Agora era um pouco tarde. ― Sim ―, ele sussurrou. ― Amanhã à noite. Ele seguiu o capacho do LaRousse até o corredor e pelas escadas. O gelo derreteu e a dor retornou. O suor começou a cobrir a testa dele. Nós... Onde está o Jay? A necessidade de dormir engolfava Dante, uma força que o colocou para cochilar apesar de sua determinação em permanecer acordado. Ele estava sentado com os joelhos erguidos no canto da cela, cochilando enquanto escutava seus companheiros da prisão. ― Então essa Dama vodu fala, cuidado, se sabe ―, falou o nerd suado sentado no banco do outro lado da cela, sua voz era alta e rápida; como uma bola de pingue-pongue cafeinada. ― Cale a boca ―, rosnou o cara irritado, que se empoleirava no banco ao lado dele.


E o garoto do pântano bêbado se agarrava na privada vomitando... Mais uma vez... Com força o suficiente para merecer um gemido de simpatia do cara irritado. O cara nerd fez uma careta com o som alto do vômito atingindo a água e o fétido cheiro que se espalhava pela cela. Já que seus óculos e capuz haviam sido confiscados juntamente com o cinto e as joias, Dante estava grato pelo fato da cela não possuir janelas, apesar de que um pouco de ar puro seria bem vindo. Seus olhos se fecharam e sua cabeça pendeu. Dante bateu com a cabeça contra a parede, forçando seus olhos a se abrirem. E quase os fechou por causa das luzes fluorescentes. Fique acordado! O cara estranho ignorou as interrupções do garoto do pântano e o cara irritado, e continuou de onde havia parado. ― Cuidado com o reformador, o destruidor ―, ela diz. ― Quem se importa com isso, seu bosta? Uma pequena barata marrom rastejou para fora de uma rachadura na parede, correndo para a sombra deixada pelos joelhos de Dante. Pegando-a do chão, ele a prendeu entre as mãos. As delicadas pernas e antenas da barata raspavam contra a pele dele. Concentre. Vamos... Fique acordado. Um fraco brilho azulado emanou das mãos dele, e apesar de seus esforços, ele fechou os olhos. Uma canção o encantou: a canção genética da barata, uma ondulação, concluído com o ritmo do DNA. Dante bateu nas cordas do ritmo e alterou a música. O sono ainda o chamava. Ele cochilou e por um momento as cordas ficaram folgadas, então se enrolaram e uma canção completamente diferente explodiu na mente dele, ritmos de caos, pesadelos e raiva. Uma imagem piscou na mente dele. Uma garotinha, uma orca de pelúcia preta e branca com manchas vermelhas... Vermelho vivo. Então se foi. Uma dor fantasma serpenteou pela mente de Dante. Tantas coisas que ele não lembrava. E todas as vezes que tentava, uma maldita enxaqueca o


deixava incapacitado. Abrindo os olhos, Dante abaixou suas mãos entre as botas. Luz azul brilhava entre seus cadarços e fivelas e reluzia contra a superfície preta e dura da coisa que ele liberou de suas mãos trêmulas. O que costumava ser uma barata rastejou para longe de seu criador, gemendo. Dante bateu com a cabeça contra a parede. Uma. Duas vezes. Ele fez tudo errado. Ele apertou os olhos fechados. Com as mãos tremendo tocou as têmporas. O suor banhou seus dedos. ― O que diabos é isso?! ― Ehg! Mate essa coisa! A vibração de vários pares de pés batendo contra o chão, martelava através da coluna de Dante até sua cabeça. A dor explodia como uma supernova. Branca quente e vasta. O sono o nocauteou e o jogou em sua escuridão interna. ― Então... Morte por estrangulamento? ― Heather perguntou. ― Extra oficialmente, sim ― Adams falou. ― Vou saber com certeza depois da autopsia ―, ele empurrou o corpo de Gina de volta á fria geladeira para corpos. A porta se fechou em um estalar sólido que ecoou através da sala. Heather notou o cansaço que obscurecia os olhos do médico legista, e marcava os cantos de sua boca. Tensão marcava os músculos do pescoço. Uma semana ocupada na Big Easy, para o IML, com o Mardi Gras e um serial killer. Ela não invejava o homem. ― Quando vamos ter o resultado das amostras de sêmen? ― Heather falou, mudando sua atenção para a porta de metal ao qual Gina descansava do outro lado. O CCK está cada vez mais perto de Dante. Por que ele está fazendo jogos? ― O mais provável no meio da semana. Vou manter você informada. ― A voz de Adams estava baixa e contida, aquecida. Heather olhou para cima. As sobrancelhas de Adams estavam


enrugadas e sua mandíbula tensa. ― O que é uma cortesia maior do que você tem nos mostrado ―, ele continuou. ― Como é? ― Heather olhou o medico legista, alarmada, pega desprevenida pela hostilidade de seu olhar. ― Por que você não nos avisou? Poderíamos ter divulgado alertas e avisos. Um serial killer está em Nova Orleans, agente Wallace ―, Adams falou. ― Você sabia disso. E não falou nada. Cansaço se abateu sobre Heather. ― Peço perdão. Mas eu precisava ter certeza. ― Diga isso para ela ―, Adams falou apontando para a geladeira. Ele seguiu pelo piso da sala e saiu para o corredor, à porta se fechou atrás dele. Heather ficou sozinha no morgue, cercada pelos mortos sem voz. Ela colocou uma das mãos sobre a porta de metal frio. Visualizou Gina sob o lençol. Lembrou de Dante falando: ele tirou tudo dela. A garganta de Heather se apertou. Verdade. Tirou tudo. Mas assim que ela prender o bastardo, Gina terá uma última oportunidade de falar. Um pequeno conforto. Depois de três longos anos, ela finalmente possui um link com o Assassino Cross-Country: Dante. Mas a que custo? Retirando sua mão do metal gelado, Heather caminhou através da sala, o frio beliscou sua nuca. Ela se recusou a olhar para trás. Saindo do morgue e parando quando a porta se fechou atrás dela. Perdoe-me Gina.

Lucien estava parado no centro da sala de estar, com o olhar preso no teto. As velhas tábuas do assoalho estalaram enquanto eram tocadas por pés. As mãos dele se abriram. Suas garras deslizaram para fora das palmas, os ferimentos já se curavam enquanto isso. Ele correu para a porta da frente a abrindo com um puxão. A fraca luz acinzentada entrou no aposento. O dia


estava morrendo. Lucien dirigiu uma mensagem para as mentes que caminhavam mais acima, enviando em um único pensamento / imagem, as notícias sobre a morte de Gina e a detenção de Dante. As respostas se chocaram contra o escuto de Lucien, espantadas, perplexas. Ele calou todas e caminhou para dentro da noite que cheirava a rosas e chuva. Os olhos de Ronin se abriram. Cor – laranja e violeta – sangravam pelo quarto sob as cortinas da janela. Pôr do sol. Um estridente bipe arruinou o silêncio e chamou a atenção de Ronin para a mesinha de cabeceira. Uma luz amarela, sinalizando uma mensagem, brilhou em seu telefone. Rolando de lado, ele pegou o celular e apertou o botão da mensagem. Era do seu contato no departamento. PREJEAN ESTÁ PRESO NO OITAVO DISTRITO. Ronin sorriu.

Um som retirou Dante de seu sono. Ele abriu os olhos e retirou o cabelo da frente do rosto. Um policial batia nas barras da cela com seu cassetete. O metal cantava. ― Ei, bela adormecida ―, o policial falou com seu sotaque arrastado. ― A sua fiança foi paga. ― Maneiro. ― Dante se espreguiçou, seus músculos se esticando, então ficou em pé. Sua fome acordou e se desenrolou dentro dele. Ele precisava se alimentar. O garoto do pântano e o cara irritado já haviam saído, a muito soltos, mas o garoto nerd estava agachado no banco, com os pés sob o corpo. Ele olhava para o chão nervosamente. ― Lá em baixo em algum lugar... Cuidado... ― Cale a boca Wilson ―, o policial falou, balançando a cabeça. ― Ainda não se curou disso, pelo o amor de Deus? ― ele abriu a cela.


O garoto nerd (Wilson) olhou para Dante. Os olhos dele se arregalaram. Ele passou os braços ao redor do corpo, se abraçando com força, como se tentando se tornar menor. Um pequeno gnomo de jardim equilibrado em um banco de ferro. ― O transformador está aqui. O destruidor. Dante parou, seu olhar preso no Wilson. ― Do que você está falando? A porta da cela se abriu com um estrondo. Wilson olhou para Dante por entre seus braços e joelhos. ― Bonito. ― Parece que você tem um fã aqui, garoto roqueiro. ― O policial falou com um sorriso malicioso. ― Destruidor. ― Wilson repetiu. Balançando a cabeça Dante saiu da cela. A porta voltou a se fechar. Ele seguiu o policial pelo corredor, as palavras de Wilson congelando seu sangue.

― Onde ele está? ― Heather parou em frente á abarrotada mesa do LaRousse. ― A fiança dele foi paga ―, LaRousse falou. Ele continuou digitando no teclado, sua atenção no monitor. ― Tivemos que libertá-lo. Heather se inclinou sobre a mesa e pressionou uma das mãos contra o teclado. O computador emitiu vários sons estranhos. LaRousse olhou para cima, com os olhos queimando. Ela manteve seu olhar, esperando que o dela o fizesse parar. Isso seguiu além da usual merda passiva agressiva, que ela encontrou quando se intrometeu em uma investigação de homicídio. Ultrapassou até mesmo aquela coisa de um macho – alfa – se recusando á se submeter á uma autoridade feminina. Isso era entre ela e o LaRousse, como indivíduos. ― Quero um depoimento dele ― Heather falou. ― Você sabia disso. ― Então ligue para a casa dele e marque uma hora.


― Imbecil ―, Heather retirou a mão do teclado. ― Você ao menos se incomodou em entrevistá-lo? Ele conhecia a vítima. As conversas pararam nas mesas ao redor. Os cliques dos dedos nos teclados ficaram mais lentos. ― Tentamos obter um depoimento dele – LaRousse falou, se reclinando em sua cadeira e colocando os pés sobre a mesa. ― Tudo o que conseguimos foi uma hora da frase “vá se foder” ― Para alguém tão charmoso como você? – Heather bufou, cruzando os braços sobre o peito. ― LaRousse charmoso? Heather olhou na direção da voz. Collins estava parado na porta da sala, um copo de café em cada mão. Então ele estava chegando ao trabalho. Ela inclinou a cabeça. ― Trent. ― A agente Wallace já estava de saída ― LaRousse falou, colocando os pés no chão e se sentando. Ele desligou o computador e olhou para o Collins. ― A menos que você queira que o seu bichinho de estimação te faça companhia. ― Como falei charmoso ―, Collins caminhou pela sala e parou ao lado de Heather. Uma linha vertical e profunda marca a pele da testa dele. O que a mãe de Heather costumava chamar de a linha dos pensamentos profundos. ― O que aconteceu? ― Tenho razões para acreditar que Dante Prejean é o próximo alvo do CCK – Heather falou. ― Sim? ― LaRousse falou. ― Bem por mim ele pode ficar com o Prejean. ― Por que o Prejean? – Collins questionou. Ele entregou um dos copos para Heather. Heather aceitou o café e sorriu. O aroma forte e fresco do café recém moído limpou a mente dela. ― Bem, as duas últimas vítimas haviam tido contato com Prejean, uma intimamente. O primeiro era de Lafayette, assim como o Prejean.


Collins assentiu. ― Acabei de saber sobre a chamada de hoje pela manhã. Heather fez uma pausa para tomar um gole do café. ― O CCK, se for o CCK, adicionou o símbolo da anarquia de Prejean, como uma de suas assinaturas. Uma das vítimas foi morta ao lado do Clube Inferno, o outro dentro do Clube. Acredito que o assassino o está circulando, cada vez mais perto. Cedo ou tarde ele vai decidir pegar o Prejean. LaRousse falou. ― Você tem certeza de que não é o próprio Prejean? ― Eu estava observando a casa dele durante o horário em que a última vítima foi morta, – Heather falou. Gina. O nome dela era Gina. Ela estava respirando há apenas algumas horas atrás. ― Certeza absoluta de que ele estava lá? – LaRousse falou, com um leve sorriso de escárnio nos lábios. ― Sim ―, a voz da Heather estava estável. ― O vi chegar e entrar. E ele saiu quando mostrei o mandato. ― Você deve gostar de observá-lo, Wallace ― LaRousse falou, voltando a se reclinar em sua cadeira. ― Uma estrela do rock bonitão como ele. ― Está soando mais como se você estivesse encantado com ele, e ele não é uma estrela do rock. ― Heather respondeu. ― Ele é uma figura da cultura underground13. E sim, ele é um cara bonito, e dai? ― Um lixo de rua com uma boa aparência, você quer dizer ―, LaRousse resmungou. ― Não reconheceria um dia honesto de trabalho, nem se o chutasse no traseiro. Collins gemeu. ― Nos poupe reverendo. Heather não pôde acreditar do que escutou. O desgraçado estava com inveja do Dante. Ou LaRousse desejava a suposta fama, dinheiro e os fãs; ou queria a boa aparência, e estilo de vida de Dante, mas nada daquilo importava. A única coisa importante é que ele havia recusado a proteger 13

É uma expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia.


uma vítima em potencial de um serial killer, e permitiu que Dante fosse embora. Com o sangue pulsando em suas têmporas, Heather agarrou os braços da cadeira de LaRousse e a girou para fazê-lo olhar para ela. ― Escute uma coisa ―, ela falou. ― Vou responsabilizar você se algo acontecer com ele. LaRousse retribuiu o olhar, emoções profundas obscureceram seu rosto. Depois de um momento, ele olhou para longe, seus lábios pressionados em uma linha branca. Heather largou a cadeira, então deu as costas para o detetive. Collins a olhou com as sobrancelhas erguidas, sua ruga vertical havia desaparecido. Um aviso brilhava em seus olhos. Cuidado. Gelo muito fino. ― Eu sei ―, Heather murmurou. ― Preciso que você entre em contato com os Prejeans e os Spurrells em Lafayette, e descubra se as duas famílias possuem ligações. ― Farei isso. Para onde você está indo? ― Vou procurar o Prejean.


Caminhos ainda não percorridos

9

Uma loira de cabelos longos e cacheados atendeu a porta. ― Oui? ― ela falou, olhando para o jardim escuro atrás da Heather, ao invés de olhá-la no rosto. Um leve sorriso passou por seus lábios. ― Preciso falar com Dante, – Heather falou. A loira balançou a cabeça e Heather sentiu um aroma de flores, rosas, talvez magnólias. ― Dante não está em casa, – ela falou começando a fechar a porta. Heather parou a porta com uma das mãos. ― Pretendo esperar – ela falou, erguendo o distintivo até os olhos da mulher.


A loira observou o distintivo com olhos castanhos e pensativos, então se afastou, abrindo a porta. ― S‟il te plaît ― ela falou, gesticulando para que Heather entrasse com um gracioso gesto de mão. ― Obrigada. A loira guiou Heather até a sala da frente. ― Fique a vontade ― ela falou, parando ao lado de um sofá. Heather sentou na ponta do sofá, seus músculos tensos. Ela precisava dormir e de uma refeição. Ela olhou para as mãos, que tremiam levemente. Então as fechou como punhos. As últimas vinte e quatro horas, sem mencionar todo o maldito café, estavam começando a pesar sobre ela. ― Você está bem, M‟selle Wallace? Heather olhou para cima. A loira a estudava com uma expressão neutra, mas seus olhos castanhos eram atentos. ― Sinto muito, – Heather falou conseguindo sorrir. ― Você sabe meu nome, mas não sei o seu. ― Simone ― ela respondeu, retribuindo o sorriso de Heather. ― Você parece cansada. Gostaria de um café? ― Oh sim, isso seria ótimo ―, Heather abriu as mãos e pressionou os dedos retos contras a calça. Assentindo Simone caminhou pela sala. Ela parou junto a um arco e olhou de volta para a Heather, seu longo cabelo loiro balançando contra seu quadril coberto de jeans. ― Voltarei logo ― ela falou. Heather sorriu em reconhecimento e também no que aquilo implicava: não vá a lugar nenhum. Assim que Simone saiu da sala, Heather se jogou contra o sofá e fechou os olhos. A última coisa que ela precisava era mais cafeína, mas ela temia cair no sono sem isso. É um pouco difícil proteger alguém, enquanto se está dormindo no sofá. Heather balançou a cabeça. Ela estava perdendo o foco. Ela não havia entrado em contado com Stearns... Oh... Desde as sete horas da noite passada, e agora eram... Ela abriu os olhos tentando se focar no relógio. Oito da noite de domingo. Ela suspirou.


Bem, ela que havia decidido adiar suas horas de sono para cumprir o mandando de busca na hora mais inconveniente possível para Dante. Mas em suas entranhas, ela sabia que o homem que matou Gina, era o mesmo que vinha perseguindo nos últimos três anos. A primeira morte confirmada dele havia sido em Seattle. Assassinos em série sempre começam pela região onde se sentem mais confortáveis, e então expandem suas ações quando começam a ficar mais confiantes. Então, será que Dante possuiu alguma ligação com Seattle? ― Na verdade não ― uma voz baixa respondeu. ― Apenas alguns contatos musicais. ― O que? ― Heather olhou para cima rapidamente. Ela se ajeitou no sofá, seus olhos presos no interlocutor. O menor que bebia vinho no clube. Será que ela estava pensando em voz alta? Ele estava reclinado contra a parede junto à entrada da sala, seu cabelo roxo cheio de gel estava desarrumado como o de uma estrela do rock, ou como se tivesse acabado de sair da cama. Seus surpreendentes olhos prata pareciam iluminados por dentro, sua expressão era pensativa enquanto ele mastigava seu lábio inferior. Ele não parecia ter mais que dezesseis anos. ― Sinto muito ― Heather falou. ― Mas o que você falou? Ele usava jeans preto adornado com metais, fechos e correntes. Um cinto largo circulava seus quadris magros e a camiseta desbotada era tão apertada que parecia ter sido pintada sobre seu torço esbelto. Simone entrou na sala. Ela olhou para o garoto durante um momento, então voltou sua atenção para a Heather. ― Esse é o Silver ― ela falou, apertando o ombro do garoto. ― Silver essa é a agente Wallace. Heather notou a ênfase na palavra agente. Silver acabara de ser alertado, ou talvez lembrado. Mas por quê? ― O café estará pronto em poucos minutos ― Simone falou, largando o ombro de Silver. ― você gostaria de se refrescar? ― sem nem ao menos olhar para trás, o garoto deslizou para fora da sala. Heather olhou para a Simone e sorriu. ― Sim eu gostaria, obrigado.


Simone a guiou por um corredor estreito, ladeado por obras de arte e antiquados candelabros. Um tapete marrom adornado com folhas douradas e linhas escarlates cobria o comprimento do corredor. Heather viu uma escada de relance, que espiralava no lado oposto do corredor. Uma luz azul brilhava sob uma porta parcialmente aberta ao lado da escada. Simone apontou na direção do banheiro e começou a se afastar. Heather falou. ― Você conheceu Gina? Simone parou. ― Oui, ela era amiga de Dante. ― Você sabe se alguém gostaria de feri-la? ― Heather falou. ― Talvez algo que você escutou? Simone balançou a cabeça. ― Não. ― E quanto Étienne? – Heather perguntou. ― Ele estava bem irritado com Dante a noite passada no clube. Você acha que ele pode ser capaz de... ― Matar Gina? ― Simone terminou a frase. ― Capaz, oui ― o olhar dela seguiu para além da Heather e para cima. ― O que você acha llygad? Heather ficou tensa quando percebeu que havia alguém atrás dela. Pior, ela teve a impressão de que ele já estava li a algum tempo. Virando, ela encostou as costas contra a parede e olhou para a direita. O porteiro estava parado junto á escada, usando jeans desbotados e uma camisa preta, seu cabelo castanho escuro chegavam aos ombros. Seus olhos verdes, não mais escondidos por óculos, pareciam olhar para além de Heather. Ele massageava seu cavanhaque pensativamente. ― Não ―, ele finalmente respondeu. ― Não é o estilo do Étienne. Claro que ele pode ferir Dante. Mas não através de um mortal, não a menos que ele faça o Dante observar. Heather olhou do Von para a Simone. O olhar deles manteve-se por um momento longo demais, e Simone olhou para baixo com um sorriso nos lábios. Com um sorriso de lobo, mostrando as presas, Von seguiu pelo corredor com passadas longas e confiantes. Ele piscou para a Heather enquanto passava. O cheiro dele era gelado e limpo, o primeiro vento frio do outono.


Ele passou seus dedos contra o rosto pálido da Simone. Então se foi. ― Aí está novamente ―, Heather falou ―, essa palavra. Mortais. Dante acredita que é um vampiro. Von possui presas. E quanto a você? Simone olhou para ela por um longo tempo, todo o divertimento havia desaparecido de seus olhos escuros. ― O que você precisa lembrar, m‟selle, é que Dante nunca conta ou perdoa uma mentira ― se virando, Simone se afastou, seus quadris balançando. ― Vou buscar seu café. ― Todos mentem ― Heather disse baixo. Essa era uma verdade universal no trabalho de detetive, uma que ela havia acreditado profundamente mesmo antes de seu tempo de academia. Todos mentem. Pessoas culpadas mentem, e inocentes também. Caras maus definitivamente mentem. As razões diferem, para esconder, proteger outra pessoa, ou encobrir algo, mas todos mentem. Heather entrou no banheiro e fechou a porta. Ela observou seu reflexo preocupado no espelho. Mechas de cabelos se prendiam em seu rosto e pescoço. Olheiras escureciam seus olhos. Ela abriu a torneira e jogou água fria no rosto. Então... Dante possui a reputação de nunca mentir. Heather secou o rosto com uma toalha azul fofa, então voltou a olhar no espelho. Tudo isso significa que Dante realmente acredita ser um vampiro. Se seus amigos, inferno, até mesmo seus inimigos, encorajam sua loucura, então para ele, tudo é verdade. Tocando a parte de trás da cabeça, Heather soltou os grampos e desfez a trança francesa. Seu cabelo frisado pela umidade caiu passando seus ombros. E se ele realmente for um vampiro? E se todos nessa casa for exatamente o que fingem ser, vampiros com medo do sol? Qual o nome que Dante havia usado? Criaturas da noite. Heather puxou sua escova de cabelo e maleta de maquiagens para fora de sua bolsa e os colocou sobre a pia. Mas ela encontrou Dante logo após o amanhecer.


Estava nublado. Ele usava protetor solar, óculos e luvas. Escondendo o rosto com um capuz. Ele estava caindo de sono. Jackson puxou o gatilho. Não havia como aquela bala ter errado Dante. Mas errou. O desejo no rosto dele. O sangue ainda pingando, o ar saturado com o cheiro. Então por que ele se permitiu ser preso? Vampiros não são fortes o suficiente para quebrar as algemas? Heather passou a escova pelos cabelos. Ela não gostava do caminho que seus pensamentos estavam seguindo, mas era um que ela precisava trilhar. Ela aprendeu através dos anos que deve examinar todos os ângulos, não importando o quão absurdo pareça. E quanto à cena no clube? Étienne e suas promessas obscuras? Se recostando contra o balcão, Heather pegou o batom. Ela podia aceitar a ideia daquilo ser um jogo. Algum live-action onde os jogadores levavam seus personagens muito a sério, especialmente os grupos de vampiros e lobisomens. Ela já viu isso acontecer em Seattle mais de uma vez. Mas e se não for um jogo? O que o Étienne falou para o De Noir? Isso não diz respeito aos Caídos. Repentinamente sentindo frio Heather colocou o batom de volta á maleta de maquiagens e a guardou na bolsa. Ela se olhou no espelho. Seu reflexo a encarou de volta, olhos dilatados e quase negros na luz fraca, com um pequeno anel azul ao redor. Ela baixou os olhos para as mãos. Elas estavam tremendo novamente. Caídos. Como os anjos? Criadores da noite. Tudo em De Noir parecia de outro mundo: sua presença poderosa, o brilho dourado em seus olhos pretos, a velocidade em que correu na direção do Étienne. Heather retirou o casaco, então o jogou por sobre o braço, para ter fácil acesso ao seu. 38. Ela ajeitou o suéter. Abriu a porta e saiu para o corredor.


A porta da frente se abriu enquanto ela entrava na sala da frente. De Noir passou pela porta a fechando atrás dele. Apreensão fez sua coluna se congelar. ― Onde está Dante? ― ela perguntou.

Craig Stearns bebericava o café, seu bilionésimo do dia, enquanto olhava para fora da janela do seu escritório, para a noite chuvosa de Seattle. Ele vem tentando entrar em contado com a Wallace desde daquela manhã, sem nenhuma sorte. Ela não havia respondido seus e-mails ou ligações. Wallace nunca havia ficado tanto tempo sem dar notícias. Sua última mensagem havia declarado que ela estava investigando algumas pistas e que iria entrar em contato com ele naquele dia. Voltando para sua mesa, ele se afundou na cadeira. Ele folheou alguns relatórios que se empilhavam sobre a mesa. Ele já os havia lido várias vezes. Se algo tivesse... Acontecido... Com Wallace ele já teria notícias. A menos que fosse algum acontecimento que ninguém ficou sabendo ainda. Stearns engoliu o restante do café. Ele decidiu ligar para o detetive que Wallace estava consultando em Nova Orleans. Collins. O telefone tocou enquanto ele levava a mão em sua direção para ligar, e Stearns puxou a mão rapidamente, com o coração martelando. Envergonhado, ele pegou o fone e apertou o botão do vídeo conferência. Talvez ele devesse diminuir a cafeína. Mas o rosto que tomou forma no monitor, o assegurou que seus instintos estavam mais afiados do que nunca: cabelos loiros cortados na moda, olhos azuis, e um acalorado sorriso enganador. Ele sabia por experiência que se um coração batesse naqueles seios bem definidos, ele era moldado em gelo glacial. ― Eu sabia que encontraria você no escritório Creg ― Johanna Moore falou.


― O que você quer Moore? ― Boas notícias, é o que espero ― ela falou abrindo ainda mais seu sorriso. ― Temos um criminoso morto em Pensacola que temos razões para acreditar ser o Assassino Cross Country. ― O que a faz pensar isso? ― Me diga o que quer, que conseguimos. Estamos esperando o resultado do DNA, mas realmente, isso é apenas uma formalidade. Moore balançou a cabeça. ― Finalmente acabou Craig. Chame sua agente de volta. Stearns sorriu apesar do repentino gelo em seus ossos. Algo estava muito estranho ali. ― Como isso aconteceu? ― Um dos meus agentes pegou o criminoso em ação. Deu um bom tiro ―, o sorriso da Moore desapareceu ―, Infelizmente a vítima não sobreviveu. ― Uma pena, – Stearns falou. ― Acho que vou enviar minha agente para Pensacola, pegar os resultados do DNA. Já que esse não é exatamente o seu departamento. ― Especialmente uma agente do Grupo de operações e pesquisas especiais, uma cujos rumores dizem ter ligações com um ramo „não existente‟ do governo. ― Não há necessidade ― Moore respondeu, com outro sorriso amigável nos lábios. ― Já enviei um agente para lá agora. ― Bem, que inferno então, vou dizer para minha agente tirar uns dias de férias e aproveitar o Mardi Gras. ― Chame a Wallace ― Moore falou, seu sorriso desaparecendo. ― Então é isso. ― A mente do Stearns corria, procurando por possíveis opções de ações. ― O que você está escondendo em Nova Orleans? ― Você está mexendo com a pessoa errada. Retire sua agente de lá. ― Um dos seus projetos deve estar por lá. Não é isso? Um sorriso arrependido passou rapidamente pelos lábios da Moore. ― Você conhece bem as regras para perguntar isso Craig, você mais do que ninguém.


Então aquilo atingiu o Stearns como um soco no estômago. Um dos projetos da Moore e o CCK era a mesma coisa. Por que Moore permitiu que eles se quer trabalhassem no caso? Talvez não tenha importado antes, por eles não estarem nem perto da verdade, mas agora eles estavam. Wallace estava caçando o traseiro daquele maluco. E estava cada vez mais perto. ― É melhor que Wallace esteja bem ― ele falou, sua voz contida. ― A traga para casa. – Moore falou suavemente. ― E ela vai ficar bem ― ela desligou, a tela ficou cinza com a estática. Stearns pulou em pé e pegou a cadeira. A rolou através do chão de madeira polida e a jogou contra a parede. Ele começou a caminhar entre a janela molhada de chuva até a porta. Pense! Wallace nunca aceitaria se ele simplesmente a chamasse de volta. Ela iria querer seguir até Pensacola, conferir as evidências pessoalmente. E Moore provavelmente esperava por isso. Deixe que Wallace saiba que o caso estava oficialmente encerrado. O CCK estava morto. Fim da história. Com as mãos de cada lado da janela, Stearns passou a olhar para a escuridão da noite. Seu estômago queimava. As luzes de neon brilhavam nas ruas mais abaixo e os faróis dos carros iluminavam o pavimento molhado. O pedido de Moore era simples. Tudo o que ele tinha que fazer era trazer sua agente de volta. E deixar o assassino fugir. Mais uma vez.


10 Imprevisto Ronin parou seu Camacho junto ao meio fio e desligou o motor. Ele olhou para o GPS portátil. Dante havia parado de se mover, então recomeçou, mas com um passo muito mais lento. Então... O garoto agora estava a pé. Saindo do carro, Ronin seguiu para a calçada e pagou o parquímetro, o ajustando para duas horas. Ele pegou o receptor de GPS, então começou a caminhar na direção da iluminada Rua Canal, que seguia na direção do Mississipi. Até mesmo ali, os turistas e vendedores abarrotavam as calçadas, e as quatro pistas para o tráfego brilhavam com os faróis. Buzinas soavam enquanto motoristas alertavam pedestres desavisados que cruzavam de um lado para o outro da rua.


Ronin manteve deliberadamente seu passo na velocidade dos mortais. Ele caminhou com uma pequena turma de pedestres, não desejando chamar atenção para si. Se misturar, fundir-se, se tornando uma pessoa comum, para então se tornar invisível. Ele não queria que Dante o visse. Pelo menos ainda não. O GPS marcava que o jovem vampiro estava apenas alguns quarteirões a sua frente. Outra coisa que o E não sabia (um micro transmissor de GPS havia sido implantado na base do crânio de todas as cobaias do projeto Bad Seed). Johanna queria manter-se informada sobre seus experimentos depois de soltos. É claro que a maioria das cobaias (todas ignorantes quanto a existências de outros como eles e do projeto Bad Seed, ainda mais de suas participações) estavam agora mortos ou trancafiados em prisões. E e Dante eram os dois únicos que continuavam em liberdade. Ronin olhou por sobre as cabeças das pessoas que o cercavam. Ele viu Dante á uma quadra de distância, parado em frente a um hotel bem iluminado, junto a uma cerca de ferro próximo a entrada. Com os músculos tensos pela antecipação, Ronin diminuiu o ritmo de seus passos, permitindo seu grupo/camuflagem atravessarem a rua sem ele. Havia um vendedor próximo a um poste, sentado em uma cadeira dobrável de metal, ele vendia camisetas coloridas do MARDI GRAS! Contas de plástico e joias baratas, em um lençol aberto na calçada. Ronin parou e olhou para os produtos do vendedor, fingindo algum interesse. O que Dante estava fazendo? Ele se perguntou, enquanto seu olhar passava pelas camisetas com dizeres BÊBADO NA BOURBON STREET, para braceletes com ossos de aligátores. Esperando alguém? Planejando alguma brincadeira? ― Esse é muito popular ― o vendedor, um homem negro com vinte e poucos anos falou animado. Ele segurava uma camiseta dizendo ME MOSTRE OS TEUS SEIOS! ― Esse é um novo lote, estou sempre vendendo.


― Ah – Ronin murmurou. ― Sem dúvida ― ele olhou para a rua. Dante estava reclinado contra a cerca, suas mãos apertavam o metal atrás dele. Ele estava próximo uma das luminárias duplas da rua, mas não diretamente sob ela, seu rosto escondido pelo capuz. A luz dançava em suas calças de couro e refletia em seus brincos, argolas e braceletes. A cabeça dele estava abaixada e seu olhar na calçada. As pessoas entrando e saindo do hotel olhavam para ele. A maioria parando e olhando para trás, até ser puxado por um acompanhante menos deslumbrado. ― Talvez essa seja mais do seu agrado? Senhor? Ronin forçou seu olhar para longe de Dante. O vendedor segurava uma camiseta proclamando: LAISSEZ LES BONS TEMPS ROULLER. Let the good times roll14. Ronin assentiu. ― Quanto por essa? ― Dez, senhor. Só aceito dinheiro. Enquanto Ronin puxava a carteira do bolso em seu quadril, ele dirigiu outro olhar para a rua. Dois homens usando jeans e moletom dos Saints15 pararam próximo ao Dante. Eles se aproximaram um do outro, gesticulando com as mãos em uma conversa intensa. Um apontava para a Canal Street na direção do Quarteirão Francês. O outro balançava a cabeça e olhava na direção do cassino. Dante ergueu a cabeça, suas mãos pálidas puxaram o capuz para trás. Ele retirou os óculos de sol e o pendurou no cinto. O mortal congelou, sua boca aberta. Um sorriso moveu os lábios de Dante, perverso, e oh – tão convidativo. O homem agarrou o antebraço do amigo e o apertou. Virando a cabeça o amigo também ficou paralisado, hipnotizado pela fantasia sexual reclinado contra a cerca.

14 15

Deixe os bons tempos acontecerem Time de futebol americano da região de New Orleans.


Ronin desviou o olhar. Excitamento fazia suas mãos tremerem enquanto ele tirava a nota de dez de sua carteira e a entregava para o vendedor. Dante estava caçando. Agarrando a camiseta das mãos do vendedor, Ronin colocou uma das pontas do pano em seu bolso traseiro e seguiu pela calçada. Ele se forçou a caminhar lentamente. Ainda sem poder chamar a atenção para si, especialmente próximo a um hiper alerta e inquestionavelmente territorialista, vampiro caçando. Ambos os mortais haviam se recuperado o suficiente da primeira visão da beleza de perder o fôlego do Dante, para serem capaz de pararem um de cada lado dele, seus corpos quase se tocando. Suas fomes, que de alguma forma pareciam predatórias, divertiu o Ronin. Eles falaram com Dante, sorrindo, com gestos amigáveis. Um deles mostrou um maço de dinheiros. Ronin parou junto á janela de uma loja. Ele estava perto o suficiente para o Dante poder sentir sua presença, se não fosse cuidadoso. Ele recolheu sua aura o máximo que pôde, acalmando sua mente questionadora. O sangue que corria em suas veias estava eletrificado, cheio de adrenalina. Por um momento, seus pensamentos giraram, e ele sacudiu a cabeça, perplexo. O que havia de errado com ele? Já que sempre valorizou o controle – a essência da força e o autocontrole. Dante. Puro sangue. Aristocracia dos Vampiros. Ele olhou para a rua novamente. Dante caminhava para longe com os mortais, ainda com um de cada lado dele. Piscando. Um fechou a mão como um punho. Ronin observou enquanto os três viravam na esquina da Tchopitoulas Street. Não havia dúvidas que os mortais planejavam coisas bem ruins para o jovem prostituto gótico que caminhava entre eles; planejavam usá-lo, então feri-lo. E não necessariamente nesta ordem. Ronin agora sabia por que Dante havia levantado a cabeça, e permitido que aqueles dois olhassem para ele, caindo em seu feitiço. Ele sentiu o cheiro dos corações imundos, que batiam em seus peitos.


Escutou seus sussurros febris. Viu suas almas doentes. Ronin sorriu. Dante caçava os malfeitores. Ou finalmente, ele caçava os predadores. Irônico? Sim. Fascinante? Sim. Algo que Johanna e seu grupo de cientistas comportamentais haviam previsto? Claro que não. Ronin parou junto a outra loja, permitindo que Dante e seus novos amigos seguissem em frente. Uma coisa o incomodava – Agente Especial Heather Wallace. Por que ela estava investigando Dante? É possível ela ter entendido o que o Dante não conseguiu até agora? Que as mensagens são para ele? Ronin olhou para o receptor do GPS. Dante havia parado. Olhando rua acima, ele percebeu que Dante e os dois fãs dos Saints não estavam mais à vista. Ronin largou o fingimento de ser mortal e começou a se mover. Ele não tocou ninguém, e talvez apenas alguns mortais sentiram o vento se deslocando quando ele passou. O receptor mostrava Dante no meio de um beco á direita. Ronin diminuiu para uma caminhada. Seu coração batendo forte no peito. Ele sentia Dante, sua fome afiada como uma espada de lâmina dupla. Mas sob tudo isso ele sentiu o ódio, calado e sem palavras; uma torrente vermelha e quente correndo pelas veias de Dante. Se protegendo com sua vontade de aço e uma ilusão de vidro – não há ninguém aqui. Olhe para outro lugar. Não há ninguém aqui. Olhe para outro lugar – Ronin se atreveu olhar para dentro do beco cheio de sombras. Um dos fãs do Saints estava parado em frente ao Dante, pressionando um canivete contra sua garganta pálida, enquanto seu amigo algemava as mãos de Dante nas costas. O sorriso obscuro passou pelos lábios de Dante quando a faca arranhou seu pescoço. O sangue escorreu pelo pequeno corte, escorrendo por sua pele branca até o colarinho da camiseta. Ronin respirou fundo a fragrância de sangue, a sugando para seus pulmões: rico e espesso com feromônios e doce como uma fruta madura. A fome o consumiu. Ele se agarrou a quina do prédio, seus dedos se curvando ao redor dos tijolos desgastados, e observou.


― Viens ici– Dante falou para o mortal segurando a faca em sua garganta. ― J‟ai faim16. O fã dos Saints estreitou os olhos, seu sorriso se tornou inseguro. ― O que diabos ele acabou de falar? O amigo segurou o quadril de Dante e se pressionou com força contra ele. ― Quem liga para o que ele fala? Conversas não estão no cardápio. ― Você consegue receber tão bem quando dá? ― Dante murmurou. Ele se inclinou e encostou seu nariz contra o pescoço do mortal, lambendo a carne sobre a artéria pulsante. O canivete deslizou para longe da garganta de Dante, com o sangue pingando de sua ponta. O mortal fechou os olhos. Dante cravou suas presas na garganta do homem. Gemendo, o fã dos Saints caiu contra a parede. A faca caiu de seus dedos e atingiu o chão de concreto com um estalar fino. Dante pressionou seu corpo contra o dele, passando uma de suas pernas cobertas por couro, entre as do homem, o prendendo no lugar. O outro mortal havia se movido com eles, uma das mãos ainda presa no quadril do Dante, a outra se movendo entre o amigo e o Dante na tentava de abrir o cinto, seu cinto. Os músculos de Ronin se retesaram, sua respiração vinha em fortes arfadas. Seus lábios se abriram. Ele sentiu a pele com a barba que crescia sob seus lábios, o gosto do sangue jorrando em sua boca. Ele fechou os olhos. Escutando o bater de seu próprio coração. Puro sangue. Destino. Abrindo os olhos Ronin sorriu, então se abaixou. Vamos ver como a criança puro sangue, consegue sair desse beco... Sozinho. O mortal do qual Dante se banqueteava repentinamente começou a lutar. Seus olhos abriram. Ele ergueu uma mão trêmula, apertando o ombro de Dante, e o empurrou. Dante nem ao menos se moveu. ― Andy ― ele falou, com a voz cheia de pânico. ― Me ajude. Andy... Com um movimento casual Dante quebrou as algemas. O metal 16

Venha aqui, eu estou com fome.


tilintou contra o piso e tijolos. Suas mãos se prenderam contra os ombros do mortal o mantendo parado, ele afundou ainda mais o rosto no pescoço, rasgando sua carne. O outro mortal, Andy, pulou para trás quando Dante quebrou as algemas, seu rosto mostrando seu espanto. ― Mas o que... Dante largou o fã dos Saints, que caiu no chão como uma pilha de trapos, seus olhos já ficando vidrados. Lambendo o sangue de seus lábios, Dante virou e olhou para Andy. Ele ergueu os braços e olhou para as algemas em seus pulsos. Com um pequeno gemido, Andy se virou, e correu. Direto contra Dante. Ronin balançou a cabeça, maravilhado com a velocidade de Dante. Ele se perguntou se o garoto possuía outras surpresas. Dante abraçou Andy, o prendendo em seus braços enquanto suas presas perfuravam a garganta. As pernas de Andy perderam as forças, e ambos caíram no chão, o abraço mortal no chão molhado de chuva do beco. Dante montou sobre Andy, sentando sobre sua barriga e prendendo seus braços contra o concreto. Dante se alimentou, engolindo repetidas doses do sangue quente. Ronin percebeu que em algum momento, ele havia levantado e caminhado para dentro do beco sem nem ao menos perceber, seus olhos presos no corpo magro de Dante, seus pensamentos febris e famintos, ansiando apenas o sangue que queimava pelas veias de Dante. Ele parou tão repentinamente que deslizou, a sujeira raspando sob a sola de suas botas de couro de cobra. Ronin prendeu a respiração torcendo para que o garoto não o tenha... Mas ele o escutou. Dante olhou para cima, seus olhos escuros focados no Ronin. Limpando a boca com as costas das mãos, ele se separou do mortal e levantou. Atrás dele, Andy estremeceu e ficou parado. Ronin manteve o olhar hostil de Dante por um minuto que pareceu se estender pela eternidade, então o garoto se moveu.


Ronin dançou para o lado, usando uma técnica de mover o corpo, se abaixando enquanto virava. Dante passou tão perto que raspou nas roupas de Ronin que sentiu o calor irradiando por sua pele gelada com o ar da noite. O cheiro de Dante encheu a noite, sangue e terra escura, pesado e poderoso. E perigoso. Ronin se forçou a ficar focado. Seus músculos relaxaram lembrando os treinos de aikido17, se preparando para o próximo movimento de Dante. ― Hei – falou uma voz rouca a direta de Ronin. Virando Ronin voltou a encontrar os olhos escuros de Dante. O garoto estava á menos de um metro e meio junto á entrada oposta á viela. Ele observava Ronin com os olhos semicerrados, as mãos fechadas como punhos, e os músculos tensos. Ele tinha a postura de um lutador de rua; apesar de enganadora. Seu estilo de luta seria baixo, sujo e terrível, mas fácil de lidar com a calma focada pelo aikido. ― Quem diabos é você? ― Dante inclinou a cabeça e repentinamente o conhecimento fez seus olhos brilhar. ― Você estava no clube à noite passada, é sobre você que o Lucien e Von estavam falando. Ronin sorriu e balançou a cabeça em reconhecimento. ― Sou eu. ― Onde está o seu amiguinho mortal? ― Você está falando do meu assistente? ― Ronin perguntou. Os punhos de Dante não haviam relaxado. ― Dei a noite de folga para ele. ― Assistente? ― um meio sorriso ergueu os lábios de Dante. ― Essa é nova. ― Sou um jornalista ― Ronin falou. ― Na verdade, jornalismo investigativo. Puxando sua carteira, ele olhou para os olhos escuros e manchados de sangue de Dante. Agora ele estava a apenas um metro de distância. Ronin não o havia escutado se mover, nem ao menos o sentiu. Ele deslizou um cartão preto para fora da carteira, o estendendo na direção de Dante o 17

Aikido, aikidô ou aiquidô, é uma arte marcial criada no Japão na década de 1940 pelo mestre Morihei Ueshiba (18831969), a quem os praticantes desta arte respeitosamente chamam Ô-Sensei ("grande mestre") ou fundador a expressão sensei quer dizer aquele que sabe.


segurando entre dois dedos. Dante puxou o cartão e leu as letras douradas em relevo. ― Thomas Ronin ― ele murmurou ―, então, o que você está fazendo aqui, enxerido? ― Ele jogou o cartão na sarjeta molhada. Ronin observou o cartão ensopado flutuar até a grade de um bueiro a meio quarteirão dali. Ele encontrou o olhar sardônico de Dante e o manteve. Naquele momento, ele tinha apenas um arrependimento, que a Johanna encontrou essa criança, nascida de uma vampira, e ele não. As maneiras, ele poderia tê-lo moldado. Seria tarde demais? Possibilidades correram por sua mente com a força de um furacão. ― Oi, espião, você está acordado? ― A voz de Dante soou atrás dele. Ronin se virou. Ainda apenas a um metro de distância, Dante o estudava, seus olhos escuros perdiam poucos detalhes. ― Sinto muito ― Ronin falou, balançando a cabeça. ― Estou trabalhando no caso do Assassino Cross-Country e agora. E venho querendo falar com você desde que o corpo foi descoberto no jardim na pizzaria e agora... ― Como você me encontrou aqui? ― Dante falou diretamente. ― Pura coincidência – Ronin falou. ― Fui até o clube, mas está fechado. Decidi checar o Harrah‟s para me divertir e acabei vendo você – Ronin abriu os braços como se fosse um abraço, com as mãos abertas. ― E você sabe, acabei decidindo te seguir. As mãos de Dante permaneciam presas ao seu lado, sua expressão séria. ― você desperdiçou seu tempo M‟sieu perseguidor – ele falou. Ele olhou para longe por um momento, mas antes de fazê-lo, Ronin viu algo surgir nos olhos dele, dor, sofrimento, talvez ambos. ― Sei que não começamos da melhor maneira – Ronin falou ―, e compreendo você não querer falar comigo... Agora. Mas em um dia ou dois, você poderá mudar de ideia. Eu realmente quero ver esse filho da puta preso.


― Nós não estamos começando nada ― Dante falou ―, e não vou falar com você em um dia ou dois, ou cinco, ou nunca – ele se afastou, começando a se virar, mas com seu olhar ainda no Ronin. ― Foute ton quant d‟ici. ― Você está me expulsando da cidade? ― Ronin perguntou, sobrancelhas erguidas e voz dura. Dante riu. ― Merda, não! Vá aonde quiser. Você pode até mesmo ir para o inferno. Mas fique longe de mim. Ronin deu vários passos longos atrás de Dante, então parou. ― Você precisa de uma carona para casa? – ele gritou. ― Sem compromisso, prometo. Dante se virou e caminhou até a calçada. Sem responder. Quando chegou á esquina, ele parou então o encarou. ― Hei, para quem você trabalha? ― Sou freelance. Mas provavelmente vou deixar a Rolling Stone ter a primeira proposta sobre a história. Dante riu novamente, então virou a esquina. Ronin esperou por alguns minutos, escutando o pulsar da cidade, os barulhos do tráfego, os bondes raspando contra os trilhos, as conversas dos turistas, tudo em um ritmo profundo que embalava os músicos por todo o mundo. Dante tinha ido embora. Todo o acontecimento havia dado errado, em uma velocidade de tirar o fôlego. Ronin olhou pelo beco. O primeiro fã dos Saints ainda estava caído contra o concreto, o calor de seu corpo se dissipando na noite. Andy, entretanto... Andy ainda arrastava seu corpo através do beco. Fechando os olhos, Ronin, relembrou o cheiro de sangue do Dante, o sentiu quente e inquieto; voltando a ver seu sorriso irônico e quentes olhos escuros. Ronin abriu os olhos e seguiu pelo beco. Ele segurou o mortal pelo


pescoço e o ergueu do chão. Cravando suas presas nos ferimentos deixados pelos dentes afiados de Dante. Andy choramingou e chutou sem forças. Ronin bebeu o que restava de sangue, saboreando os jatos quentes, até a última gota. Com um aperto, sua mão esmagou o que restava do pescoço de Andy. Ele largou o corpo sem vida e se esticou, enquanto o sangue novo corria em suas veias. Ele puxou do bolso a camiseta que havia comprado do vendedor de rua e a jogou sobre o cadáver que esfriava. Ela caiu sobre o rosto do mortal. Deixe os bons tempos rolarem.

E se sentou reto quando um taxi parou em frente ao portão da casa de fazenda. Uma figura usando roupas escuras saiu do banco traseiro, fechou a porta, e caminhou até os portões com movimentos ágeis e fluídos. E achou aquilo excitante. Dante. E sem o Tom-Tom. O táxi se afastou, suas luzes traseiras emitindo um brilho vermelho na noite. E sorriu. Então as coisas não haviam seguido de acordo com os planos do velho Tommy. E tinha quase certeza que Ronin havia falado que voltaria com Dante, e o início de uma amizade bem sólida. O sorriso do E se alargou. Nossa. Acho que não deu certo. Dante deslizou para dentro do portão parcialmente aberto e desapareceu no jardim escuro. A única luz que iluminava a grama crescida era o brilho amarelado das muitas janelas. Tocando a armação de seus óculos, E mudou a visão noturna, para o infravermelho. Uma luz azulada mostrou os contornos de Dante enquanto ele abria a porta da frente e entrava na casa. E retornou para a visão noturna. Ele passou a bater os dedos contra a


direção do Jeep. Por que ele via aquela luz azulada ao redor de Dante? Os outros sanguessugas apareciam como um amarelo alaranjado ou vermelho vibrante, dependendo da última vez em que eles se alimentaram. Ronin aparecia com um brilho dourado e E suspeitava que essa cor tivesse mais a ver com a idade do Tom-Tom do que qualquer outra coisa. Mas Dante... Aquele menino brilhava como a lua refletindo na neve. Um azul prateado cercado por roxo. Chega a ser engraçado... Considerando o quanto ele parece sexy. Até mesmo para um sanguessuga. Tirando a chave da ignição, E pulou para fora do Jeep. O cascalho estalou sob seus Nikes. Colocando as chaves no bolso, ele se recostou contra o carro por um momento, escaneando o tranquilo jardim do outro lado da rua. Vampiros. Que maldita revelação. Quando Ronin apareceu em sua zona de caça em Nova York, E o havia esfaqueado até a morte. Mas o bastardo não caiu. O sangue havia se espalhado através da camisa cara, em manchas vermelho vivo, então... O bastardo sorriu. Algo se soltou dentro do E diante á visão daquelas presas brancas e curvadas, algo se congelou na barriga e parou seus pensamentos. Ele sentiu o cheiro de algo estragado, como se tivesse cocô de cachorro em algum lugar por perto. Mas o peso quente em suas calças revelava a verdade: E havia sujado as calças. E então ele estava atacando o bastardo sorridente, com suas facas mais uma vez... E ele se encontrou esparramado pelo chão, suas facas não mais em suas mãos, mas nas do vampiro, entre seus dedos longos como vidro afiado brilhando á luz da lua. Sim. Revelação. Quando o E se acalmou e se livrou do próprio fedor, ele e o vampiro tiveram uma longa conversa. E se afastou do Jeep e correu na direção da estrada. Vampiros caminham entre nós. Inferno, eles sempre estiveram por aqui, de acordo


com o Tommy, sempre estarão. E continuarão a se alimentar de humanos até o fim dos tempos. Amém. E cruzou a estrada escura. Ele se aproximou cuidadosamente do portão de ferro, então entrou, deslizando ao longo da parede de pedra em direção aos fundos da casa. Ele caminhava com cuidado, evitando folhas caídas, caminhos com cascalho ou raízes retorcidas. Seu coração estava um pouco acelerado, excitado. E adora rastejar pela noite. Ele parou junto á um velho carvalho retorcido, passando as mãos ao longo do tronco áspero. Ronin havia explicado o quanto ele era especial, algo que E sabia desde o início, e que ele tinha um propósito especial; ele não havia nascido para pastar junto com o restante do rebanho. Ele havia nascido para selecionálos. Abaixado, E correu através do jardim mal cuidado até a janela mais próxima, então parou ao lado dela. Tommy também contou que ele havia sido programado; programado, catalogado, e teve seus passos previstos, então eles o soltaram. E cerrou a mandíbula. Previsível? Programado? Merda, não! Tommy os convenceu a lhe oferecer a oportunidade de retribuir, a pessoa que foi estúpida o suficiente para achar que podia controlá-lo. A oportunidade de ficar na frente dela, com suas facas nas mãos. A oportunidade de falar, estou em casa. Você conseguiu prever isso? Se esticando, E virou a cabeça e olhou pela janela. Uma luz azul brilhava de um fino monitor próximo ao rosto de uma figura reclinada em uma cadeira de couro, que olhava para cima. Informações piscavam no monitor. Os dreads da figura quase alcançavam o chão, se retorcendo como tentáculos, quando se moviam. Um fino cabo se estendia do computador até a base de seu crânio, o final escondido sob o cabelo. Que merda! Dante não apenas tinha um cara da internet, mas um vampiro como um cara da internet. Com seus reflexos (e segundo o TomTom, mas E ainda não estava convencido) cérebro superior, aquele sanguessuga pode controlar todo o maldito mundo. Ou hackear


computadores em uma velocidade incrível. E apostava no último. A vampira loira que estava no clube entrou através da porta parcialmente aberta, e se abaixou ao lado da cadeira. A mini saia apertava o traseiro dela e as meias pretas se estendiam ao longo das pernas. Ela tocou o braço do vampiro e falou, suas palavras eram indistintas, mas E conseguiu escutar o suficiente para saber que ela estava falando em Francês, Cajun, ou qualquer porcaria dessas. A única coisa que ele escutou claramente foi o nome do cara da internet: Trey. Trey continuou a ignorar a loira, seus dedos se movendo pelo ar. O rosto da loira demonstrou a irritação. E se afastou da janela, então se deitou de barriga para baixo na grama. Era muito estúpido do velho Trey ignorar uma mulher tão bonita. Com um rosto adorável e pálido, curvas suaves, ela era o brilho em um mundo fosco. E ele colecionava coisas brilhantes. Ou costumava. E pressionou seu rosto quente contra a grama úmida pela noite, seu coração martelava contra as costelas com tanta força que ele quase esperava que a vibração fizesse as minhocas saírem do chão. Com o cheiro de hortelã e grama molhada em suas narinas, E se arrastou pela grama até o próximo quadrado iluminado, esperando conseguir um vislumbre de um único humano em uma casa de sanguessugas, sua adorada Heather, a mais brilhante entre o rebanho. Voltando a se esconder contra a casa, com as costas pressionadas contra a madeira, E se esticou e espiou pela janela. E lá estava ela, sentada a mesa da cozinha, mãos ao redor de uma caneca de café, olhar perdido nas profundezas do café. Seu cabelo vermelho caía passando os ombros. Sua pele parecia quase iluminada na luz fraca, os lábios corados com uma cor profunda. O suéter violeta se prendia ás suas curvas e suas calças pretas revelavam seu corpo bem cuidado e atlético. E tocou um dedo na janela por um segundo, então se afastou. Ela estaria pensando nele? Será que ele assombrava os sonhos dela? Ele estaria vagando como uma criatura sem rosto, facas brilhando, nas fronteiras


obscuras de seus pesadelos? Será que ele fazia a pulsação dela se acelerar? Será que ela, assim como o E, esperava que a perseguição nunca terminasse? A porta da cozinha se abriu e Dante entrou. Heather levantou a cabeça e olhou para ele. Dante parou por um momento, encontrando o olhar dela. Ela falou algo, sua voz um murmúrio. Ele respondeu, também com uma voz baixa e indistinta, então abriu um armário e pegou uma caneca preta. Enquanto ele despejava café dentro dela, Heather se reclinou ainda mais contra a mesa, falando com ele com uma voz tensa, mas ainda assim nivelada. Dante recolocou a jarra na cafeteira, então parou, sua cabeça inclinada como se estivesse escutando. E não conseguia distinguir tudo o que Heather falava, mas ele entendeu as palavras, „perigo‟, „perseguido‟ e „serial killer‟. Prova de que ela realmente estava pensando nele; um fato que normalmente abriria um sorriso presunçoso em seus lábios. Mas não dessa vez. E se afastou da janela, se apertando contra a casa. Seu coração batia em um ritmo desconjuntado e frenético. Uma imagem se infiltrou em sua mente, uma imagem que queimava e destruía seu autocontrole: Heather olhou para cima, seu olhar correndo pelo corpo magro e forte do maldito sanguessuga, parando por um longo momento em seu rosto pálido. Um sorriso curvou seus lábios. Ela parecia iluminada, vibrante, viva... Então ela recompôs seu rosto, diminuindo a luz, e se tornando mais uma vez a Senhora FBI. Heather havia se deixado seduzir por um maldito sanguessuga. Os músculos de E se retesaram. Seus dedos batendo contra as pernas. Ele começou a olhar para a noite. Uma sombra repentinamente dividiu a luz sobre a grama, e E prendeu a respiração. Ele soube que Dante estava parado na janela. Soube que ele sentiu algo rastejando do lado de fora, bem embaixo do nariz dele. A sombra desapareceu.


E pulou em pé e começou a correr. Suas pernas batendo. Respiração queimando. Seu sangue se enchendo de adrenalina. Coração martelando. A parede de pedra estava cada vez mais próxima, a cada passo atravessando a grama molhada e escorregadia. Então uma árvore apareceu em seu caminho e E se chocou contra ela. A dor derreteu sua consciência, como se fosse queijo. O mundo girou. Sua visão enfraqueceu. Suas pernas, repentinamente moles, se chocaram contra o chão. Sua barriga comprimida pela náusea. Uma voz profunda rugiu. ― Ele sabia que você o viu ― ah, o cara grandão. Também conhecido como a árvore no caminho. ― Senti a presença dele – falou uma voz baixa. Dante. ― Não o vi. Mais distante, a voz da Heather tensa, clara e protetora. ― Se afastem dele – ela gritou ―, ele pode estar armado. ― O assistente do senhor curioso ―, Dante murmurou. ― Então é assim que ele passa suas tardes de folga. Vá entender. Dedos tocaram seu rosto. Pequenas descargas elétricas correram por sob sua pele. Deslizando azul e fria por sua coluna. O mundo girou ainda mais rápido. Sua visão escureceu. Mãos o apalparam. De Noir, ele pensou. Os dedos se fecharam. Um. Duas. Três vezes. Não, eles não encontraram todas elas. ― Facas são equipamentos requeridos para assistentes de jornalistas? ― De Noir resmungou. ― Depende do jornalista ― Dante falou. O mundo feito de queijo derretido, que girava o deixando nauseado, mudou repentinamente. E caiu girando para fora daquele mundo, diretamente para o vácuo escuro.


11 Uma conexão viva Lucien largou o assistente inconsciente no sofá da sala da frente. Um enorme caroço roxo e azul estava se destacando na testa do homem. Dante se ajoelhou ao lado do sofá e revistou os bolsos do homem, suas mãos firmes e rápidas. Ele já fez isso antes, Heather pensou espantada. E parece que mais

de uma vez. Dante jogou um

pequeno molho de chaves no chão, junto com um celular, várias moedas e uma goma de mascar enrolada em papel alumínio. Outra faca afiada se juntou a pilha.


De Noir respirou fundo. Heather olhou para ele. Ele balançava a cabeça, claramente irritado por ter deixado aquela arma para trás. Quando ela voltou sua atenção para Dante, ele estava segurando uma carteira preta e fina, em suas mãos. Abrindo-a ele retirou vários cartões de crédito e algumas notas de dinheiro. ― Elroy Jordam ― Dante falou ―, pelo menos é o que diz na identidade. ― De onde ele é? ― Heather perguntou, se ajoelhando ao lado dele para poder ler. ― Nova York. Dante pegou o celular do assistente. ― Vamos ver com quem o Elroy falou por ultimo ―, ele falou apertando o botão de rediscagem. Heather observou a foto de Jordan. Cabelos curtos, sorriso torto – foto clássica para carteira de motorista. Dante ergueu um dedo, então um sorriso iluminou seu rosto. ― E é o nosso espião ―, ele falou ao telefone ―, encontrei o seu assistente, Elroy o pervertido. ― Dante escutou por um momento, seu sorriso aumentando. Heather olhou para as presas dele, e repetiu para si, que eram apenas implantes. Não é? ― Acho que não ― Dante falou, o seu sorriso desaparecendo ―, ele está um pouco inconsciente no momento. Já que tem a noite de folga, ele deve ser um voyeur por conta própria, não é? Dante voltou a escutar, passando a mão pelo cabelo. Ele olhou para a Heather e sorriu. Então gargalhou, um som baixo e macio, cheio de humor negro. ― Não se preocupe. Vou deixá-lo ir quando acordar. ― Dante apertou o botão para encerrar a ligação. Ele jogou o celular de volta a pilha de objetos pertencentes ao Jordan. ― Qual o nome do jornalista? ― Heather perguntou. ― Ronin. Thomas Ronin. Heather olhou para Dante. ― Ronin? Aquele bastardo está aqui?


― Aparentemente você também não ficou impressionada pelo cartão de visitas dele ― Dante falou, um pequeno sorriso erguendo o canto da boca. ― E por quê? ― Ele aparece nas cenas dos crimes antes mesmo de termos a chance de investigar ―, Heather falou com uma voz dura. ― Ele tira fotos das vítimas e as vende para tablóides ou sites de necrofilia na internet. Ele é um bom escritor, tenho que admitir isso, mas está sempre acusando a polícia e o bureau de incompetência. Ou pior, ele alega que plantamos evidências e que prendemos inocentes. Seus artigos sempre terminam com ele dizendo que sabe quem é o verdadeiro assassino. Heather se levantou, limpando os joelhos. ― Onde você o encontrou? ― Na rua ― Dante falou, ficando de pé em uma graça fluída e inconsciente. ― Ele falou que queria me entrevistar. Ele retirou a carteira de motorista da carteira e a colocou no bolso. Jogando o restante na pilha de objetos no chão. ― Você não concordou com isso não é? ― Heather perguntou. ― Claro que não ― Dante bufou. Atravessando a sala, ele abriu a porta da cozinha e entrou. Heather suspirou e massageou a ponte sobre o nariz. Ótimo. Agora insultei o homem. Uma pequena multidão havia se reunido ao redor deles na sala. Silver estava jogado na poltrona ao lado do sofá, suas pernas pendendo sobre um dos encostos. Simone estava próxima ao hall de entrada, ao lado de um homem com dreads até a cintura, e óculos presos no topo da cabeça. Simone assentiu para Heather. ― Meu irmão Trey, – ela falou tocando o braço dele. ― Trey ― Heather murmurou. ― Alguém poderia ficar de olho nesse nojento, enquanto falo com o Dante? ― seu olhar mudava entre Simone e De Noir. ― Eu fico – De Noir falou. ― Apenas seja rápida, agente Wallace. ― Me avisem no instante em que ele acordar ― Heather falou. E saiu


da sala. Dante estava sentado a mesa da cozinha, com uma caneca de café nas mãos e uma garrafa de brandy na frente dele. ― Olhe ― Heather falou. ― Sei que você não da muitas entrevistas para revistas de música, e não pretende questionar a sua integridade, eu... ― Esqueça ― Dante falou dando de ombros. ― Eu tenho. Heather sentou na frente dele. Vapor saía da caneca e ela suspeitou que Dante havia aquecido o café no micro-ondas. Ela sorriu. ― Então... Você falou que estou sendo perseguido por um serial killer? ― Dante colocou mais brandy em sua caneca. Ele olhou para a Heather e ergueu a garrafa. Ela balançou a cabeça. ― Acredito que sim. Em algum momento ele acabou ficando fixado em você. Talvez ele seja um fã. Heather tomou um gole do café de chicória, com creme e açúcar. Ela estudou Dante enquanto ele mexia a bebida na caneca, notando a tensão nos ombros dele. Ele aprecia ciente de que ela o observava e sua expressão estava fechada. ― Você conhecia o Daniel Spurrell? ― ela perguntou. ― A vítima encontrada no pátio da pizzaria ―, ela esclareceu quando o Dante pareceu confuso. ― Esse era o nome dele? Daniel? ― Dante balançou a cabeça. ― O vi no clube e ele falou comigo sobre o último álbum da Inferno, mas não o conhecia. ― Há quanto tempo você conhecia a Gina? Dante desviou o olhar. Seus dedos apertaram a caneca. ― Conhecia? Não consigo me acostumar a pensar nela no passado. ― Sei o quanto é difícil, mas tenho que perguntar. Passando os dedos pelos cabelos, Dante se reclinou na cadeira. ― Nós estávamos saindo por... Oh... Talvez uns seis meses – ele olhou para cima. ― Sou péssimo com datas. Sempre fui. ― Então a Gina e você estavam juntos? Um casal?


Dante engoliu uma grande quantidade de seu café com brandy. ― Não. Éramos amigos. Ela tem... Tinha. Merda! Ela tinha um namorado. ― A frase „Acorde S‟ significa algo para você? Os músculos de Dante se retesaram e suas mãos se prenderam ao redor da caneca. Os olhos dele se fecharam. ― Não ― ele sussurrou. Heather largou sua caneca sobre a mesa. Ela odiava essa parte, onde tinha que cutucar e dissecar as perdas, aumentando ainda mais a dor. Ela sabia bem o quanto doía, quando você percebe que um ente querido foi assassinado. Não morreu dormindo, ou mesmo em um trágico acidente de carro. Eles foram assassinados, suas vidas deliberadamente roubadas, e nunca mais retornarão. Assim como a mãe dela. Ela estendeu a mão para segurar a do Dante. Ele olhou para cima, e ela parou, com a respiração presa na garganta. Ela se sentiu atraída por seus olhos escuros, como o sangue por uma agulha. Com o coração batendo rápido Heather desviou o olhar e puxou a mão de volta para sua caneca de café, passando os dedos ao redor dela. Qual era o problema com ele? Claro que ele era lindo, mas ela não era nenhuma colegial; na verdade ela tinha certeza de ser pelo menos uma mão cheia de anos mais velha que ele. Então por que ele a deixava com a língua presa e corada? Heather estendeu a mão na direção do brandy. Dante entregou a garrafa para ela. Seus dedos rasparam contra os dela e uma onda elétrica correu até a barriga de Heather. Ela quase largou a garrafa. ― Você mencionou que a Gina tinha um namorado ― Heather falou, cuidadosamente despejando um pouco da bebida no café. ― Você acha que ele... Qual o nome? ... Pode ter... ― Merda, não! Jay ama... Amava ela. Heather olhou para cima e colocou a garrafa sobre a mesa. A expressão de Dante continuou fechada assim como a linguagem de seu corpo. Seus olhos distantes, os dedos brancos de tanto apertar a caneca. Revelando a


tensão. Falando mais suavemente, Heather continuou. ― Talvez por ciúmes? Você estava passando tempo com a namorada dele. ― Não havia nada para ter ciúmes ― Dante olhou Heather nos olhos ―, ele sempre foi incluído. ― Em tudo? ― Sim. Em tudo. Puxando os cabelos para trás, Dante levantou. Ele caminhou até o balcão e agarrou a beirada. Heather se remexeu na cadeira. ― Onde posso encontrar o Jay? Qual é o sobrenome dele? ― Até onde sei, Jay está desaparecido ― Dante falou. Ele se virou, dando as costas para o balcão, braços cruzados sobre o peito. ― Ele saiu com a Gina à noite passada. Planejo procurar por ele, assim que terminarmos aqui. ― Ele saiu com ela? E como você sabe que ele não está morto? Ou se é o assassino? Preciso soletrar isso para você? ― Heather falou, batendo com os dedos contra a mesa em ênfase. ― Um assassino está estudando você. Ele sabe quem é próximo a você. Diga-me o sobrenome do Jay. Dante a encarou, sem falar nada. Heather suspirou. Bonito, sexy, mas teimoso. ― Você não pode sair a procura dele. Deixe-me ajudar. Posso chamar a polícia... ― Que se foda a polícia. ― Tenho perseguido esse maluco por três anos ― ela falou com uma voz baixa, – e você é minha única conexão viva com ele. Dante parou ao lado da mesa. Ele estendeu a mão para pegar o brandy. Quando seus dedos se fecharam ao redor da garrafa, Heather prendeu uma das mãos ao redor do pulso dele. A pele dele era macia como veludo e quente. ― E quero manter você dessa forma ― ela falou ―, então você está preso comigo, de agora em diante. Dante olhou para ela, seu rosto não mais em branco, seus olhos


pensativos e sérios. ― Você confiou em mim no clube essa manhã ― ela falou. ― O que mudou agora? Dante gentilmente se libertou da mão dela. Ainda segurando a garrafa, ele se reclinou contra o balcão. A luz refletia nas argolas das orelhas. ― Merda, eu não sei. Tudo. Nada. E como devo chamar você? Agente especial Wallace? Senhorita lei? Senhora? Como? Empurrando sua cadeira pelo chão de linóleo, Heather levantou e se juntou a ele no balcão, com as mãos nas costas. ― Tenho o pressentimento que você não é nem metade do imbecil que finge ser. Um breve sorriso tocou os lábios do Dante. ― As quão precisas estão as suas intuições? ― ele tomou outro gole da garrafa. ― Bom o suficiente ― Heather respondeu. ― Vamos começar pelos nomes, já que é a única coisa que consigo de você. Meu nome é Heather. ― Muito justo. Heather. ― Você sabe, não consigo encontrar nenhum sobrenome oficial para você ― ela falou, mantendo os olhos em Dante. ― Apenas um usado pela sua família adotiva em Lafayette: Prejean. Daniel Spurrel também era de Lafayette. Dante permaneceu em silêncio, sua expressão cautelosa e músculos tensos. ― Você possuiu uma fixa local ― Heather continuou. Ela sabia que o estava pressionando, mas talvez a razão para a mensagem estivesse no passado sem históricos do Dante. ― Tirando um histórico juvenil, não consigo encontrar mais nada sobre você, sem carteira de motorista, seguro social, ou créditos, nada. Por que isso? Dante gemeu e levou uma das mãos a têmpora. Repentinamente sua testa estava banhada de suor. Heather tocou o ombro dele, alarmada. Outra crise de enxaqueca? Poderia ter sido desencadeada pelas perguntas? Como isso seria possível? ― Hei você está bem?


Dante tropeçou para longe dela, então se reclinou contra o refrigerador, seu corpo tenso, quase tremendo com o esforço. ― Se o teu maluco me quer ― ele falou com uma voz tremida ―, Deixe que ele me tenha. ― Você está maluco? ― Heather caminhou na direção dele. ― Você precisa ser colocado sobre proteção policial. ― Que se foda tudo isso. Coloque a armadilha no anzol, tudo bem? Coloque a armadilha. Sou uma criatura da noite, você lembra? A garrafa de brandy deslizou dos dedos de Dante, e se espatifou no chão. O líquido âmbar jorrou pelos gabinetes e pés de Heather. Dante caiu de joelhos, com uma das mãos ainda na cabeça, a outra tocando o refrigerador. Correndo para frente dele, Heather se ajoelhou e segurou seus ombros. Sangue pingava do nariz dele. Seus olhos mostravam o branco. A porta da cozinha se abriu, atingindo a parede abrindo um buraco no reboco, enquanto De Noir corria para dentro. Dante escorregou das mãos de Heather, sua cabeça pendendo. Ela sentou com força no linóleo, o segurando firmemente, a pulsação rugia nos ouvidos dela. Sangue escorria do nariz dele e se espalhava nos braços, mãos e calças dela. De Noir seguiu na direção de Dante com algo próximo a medo em seu rosto.


12 O passado esquecido Com o Dante nos braços, De Noir caminhou com uma graça inata através do quarto escuro, desviando ou pisando sobre caixas de CD, roupas e livros espalhados pelo chão. A cama, um futon, estava desarrumada e amarrotada, a colcha e os lençóis eram pretos, ou talvez azul escuro, Heather pensou, seguindo De Noir pelo quarto. Ele se ajoelhou ao lado da cama, acomodando Dante sobre os lençóis, então ajeitou a cabeça de Dante contra os travesseiros e limpou o sangue que escorria do nariz com um pano de prato que ele havia pegado na cozinha.


A luz da lua suavizava as feições angulares de De Noir, as mudando de severa, para triste. Heather inclinou a cabeça, estudando De Noir enquanto ele cuidava de Dante, observando suas grandes mãos acariciando delicadamente os cabelos de Dante, o afastando do rosto. O que era aquilo entre eles? ― Ele vai ficar bem? – ela perguntou ―, ele toma medicamentos para a enxaqueca? Ou consulta um médico? ― Tudo o que ele precisa é descansar. ― De Noir falou. ― Você perguntou pelo passado dele? – uma voz perguntou da porta ―, normalmente é por isso que ele fica doente assim. Heather olhou na direção do Silver. Ele estava reclinado contra a porta, com um dos pés pressionando o marco atrás dele, seus olhos prata brilhavam á luz da lua. ― Só fiz algumas perguntas básicas ―, Heather falou. ― Dante foi criado pelo estado da Louisiana, Agente Wallace. ― De Noir murmurou. Ele estendeu a toalha suja de sangue. ― Sim, sim – Silver resmungou. Se separando da porta ele entrou no quarto e pegou o pano de prato. Então ele sumiu. Heather piscou, surpresa. Velocidade sobre humana parece ser comum nessa casa. Respirando fundo, ela voltou a se focar no De Noir. ― Sim, eu sei ― ela falou ―, ele foi criado no lar adotivo dos Prejeans. Lucien balançou a cabeça. ― Isso é só um sobrenome. Ele foi despachado de um lar adotivo para o outro com o passar dos anos. Heather ficou parada. De Noir a estava fornecendo informações que não estavam na ficha de Dante. Por que somente o último lar adotivo foi listado? ― O passado é algo que Dante não relembra muito bem. ― De Noir falou calmamente ―, e talvez seja melhor dessa maneira. – Ele estendeu a mão. Uma lufada de vento frio passou por Heather, movendo seu cabelo. Silver apareceu na frente dela, e colocou o pano de prato úmido na mão do


De Noir. Com um rápido sorriso, o garoto voltou a desaparecer. ― Talvez ele precise se lembrar ―, Heather falou. ― Talvez seja essa a causa das enxaquecas? ― Não ― De Noir sussurrou. Ele limpou o lento gotejar de sangue sob o nariz de Dante, com o pano. ― Não. Uma repentina onda de simpatia cortou através da preocupação de Heather e naquele momento, ela percebeu que De Noir amava Dante, e que era o arrependimento que obscurecia seu rosto e endurecia sua voz. Arrependimento. Pelo que? Um passado esquecido que precisava continuar dessa maneira? Sem importar os custos? ― Dante me falou que ele é um vampiro ―, ela falou. De Noir fechou os olhos. Um músculo em sua mandíbula se destacou. ― Você acredita em vampiros, Agente Wallace? ― Não. Mas tenho um pressentimento que Dante acredita ―, ela falou. De Noir abriu os olhos. Seus olhos refletiam uma luz dourada. ― Realmente ―, ele murmurou. Ele abriu as botas de Dante, então as puxou dos pés. Cada uma delas atingiu o chão com um som abafado. ― Ele acredita que é invencível e isso vai acabar o matando ― Heather falou, caminhando até o futon. De Noir nada falou. A mão junto a têmpora de Dante, afastou o cabelo escuro para fora do caminho. De Noir se desdobrou do chão e levantou. ― Não vou deixar isso acontecer ―, De Noir falou. Ele se afastou dela. Ela olhou para ele, surpresa por sua atitude despreocupada. Seguindo em frente, ela agarrou o braço de De Noir. Ele era frio e duro como granito sob os dedos. Mas um fogo tomou conta dela, fazendo seus músculos endurecerem. ― Há um homem lá fora que quer... Ele está esperando para torturar o Dante – ela falou, sua voz baixa e dura. ― Estupro. Mutilação. Assassinato. Não são coisas que você pode controlar. Você não tem muito que falar sobre isso. – Ela largou o braço dele.


De Noir ficou parado por um longo tempo, fios de seu cabelo serpenteavam no ar. Uma luz fraca, quase invisível brilhava ao redor do corpo dele. A pele de Heather começou a formigar. O forte cheiro de ozônio cortou o ar. Dante se revirou no futon, repentinamente inquieto, seu rosto pálido tenso. Silver mudou de posição na porta, com seus olhos brilhantes mostrando preocupação. Então, como um repentino estrondo de um trovão, ou uma explosão que sugou todo o ar do quarto, tudo acabou. Nada de luz azul. Nada de cabelo serpenteando. Apenas um homem alto, parado imóvel ao lado da cama. A voz do Étienne sussurrou na memória de Heather: Caído. ― Não vou deixar que isso aconteça ―, De Noir falou novamente. Se curvando, ele puxou o cobertor sobre Dante, então sentou na beirada do futon. Colocando uma das mãos na têmpora de Dante. ― Boa noite Agente Wallace ―, De Noir resmungou. Heather marchou para fora do quarto, passando por Silver, com seu corpo tão tenso quanto seus punhos. Ela falou para Dante que ficaria por perto. E ela dizia a verdade. De Noir poderia enfiar o seu „boa noite‟ no traseiro. Ela desceu a escada, com uma das mãos tocando levemente a balaustrada. Quando Heather entrou na sala da frente, Simone olhou de seu lugar na poltrona, com um livro no colo. Jordan ainda estava esparramado no sofá, uma das mãos penduradas próximo ao chão, sua boca levemente aberta. ― Obrigado por ficar de olho nele ―, Heather falou. Simone fechou o livro e levantou. ― Eu estava esperando por uma oportunidade para ler ―, ela falou dando de ombros. ― Como está o Dante? Heather balançou a cabeça. ― Ele está desmaiado, mas pelo menos o sangramento do nariz parou. De Noir parece achar que tudo o que ele precisa é descansar. ― Ah ―, Simone suspirou. A preocupação fechava seu rosto. ― Não é


de descanso que ele precisa ―, ela murmurou. E caminhou na direção do hall. ― Há quanto tempo você conhece o Dante? ― Heather perguntou. ― Três, quatro anos. ― E as enxaquecas estão ficando piores? Simone parou junto ao vão da porta. ― Oui. Por que você pergunta? ― Ela olhou por sobre o ombro, seu rosto observador e fechado. ― Ele precisa de ajuda... ― Nós vamos ajudá-lo ― Simone falou ―, você não pode. Ele falou a verdade, m‟selle. Ele é uma criatura da noite ―, Simone saiu da sala. Suspirando, Heather afundou na poltrona do lado oposto ao sofá, e enterrou o rosto nas mãos. Todos eles eram malucos. Delirantes. Ou são todos vampiros. Como ela conseguiria escrever isso em um relatório? O elemento, nega a se sujeitar a custodia policial por ser um vampiro. Quando informei ao elemento que possivelmente um Serial killer estava querendo cravar uma estaca em seu coração, ele riu. ― Coloque a isca no anzol ― ele falou. As mãos de Heather se afastaram do rosto. Ela olhou para o chão, sua pulsação aumentando. Arme a isca. Vampiro ou não (e ela estava pronta a admitir qualquer coisa, menos essa possibilidade) isso poderia funcionar? Depois de três anos, ela conseguiria atrair o bastardo para uma armadilha? Fisgá-lo e prendê-lo? Se isso funcionasse... E se não funcionasse? E se o pervertido conseguir furar a rede com o Dante preso em suas mandíbulas? Ela se levantou e seguiu até a cozinha. Empurrou a porta e parou, seus olhos percorrendo as manchas de brandi e sangue que se espalhavam pelo chão. A voz contida de Dante percorreu a memória dela: deixe que ele me tenha. E se o cara mal acreditar que Dante fosse realmente um vampiro? A maioria dos fãs da Inferno pareciam aderir a essa crença. Entrevistadores perguntam, mas o Dante se afasta sem responder.


Acorde. Acorde S. Do que ele quer acordar Dante? E S seria a primeira letra do verdadeiro nome de Dante? Será que ele pensa que chegou a hora de Dante se entregar á sua reputação de vampiro? Ou talvez as respostas das entrevistas que nunca foram respondidas? Desviando do sangue por puro hábito, Heather correu até a mesa para pegar a bolsa. Ela retirou seu celular. Entrando na sala ela abriu o aparelho. Sem carga. E o carregador estava no quarto do hotel. Talvez alguém na casa tivesse um para emprestar... O olhar de Heather caiu até o telefone do Jordan que ainda dormia, ele estava no chão junto á carteira. Cruzando a sala, ela se abaixou e juntou o aparelho. Quatro barras. Ela retornou para a cadeira e digitou o número do Collins. Collins atendeu na segunda chamada. “Collins” ele falou com uma voz cortes. “quem está falando?” Heather realizou que o número deveria estar aparecendo com o nome de Elroy Jordam. ― Collins, é a Wallace. Precisei pegar um telefone emprestado. ― Maldição Wallace. ― Ele respondeu, com um visível alivio na voz. ― Venho tentando falar com você... ― Escute ― Heather passou direto pelas palavras do detetive, ansiosa para dividir suas descobertas. ― Encontrei Dante Prejean, e vou ficar próxima a ele no caso do suspeito aparecer. ― Mas... ― Não, escute, você foi até Lafayette e conversou com os Prejeans, conseguiu descobrir mais sobre o Dante? Os Prejeans e os Spurrells tinham contato uns com os outros? ― Não precisei ―, Collins falou. ― O nosso pervertido nunca mais vai incomodar ninguém. ― O que? – Heather sentou reta na cadeira. ― Acho que você não conseguiu falar com o supervisor ― Collins falou ―, o bastardo foi pego em Pensacola.


― Pensacola? ― Heather repetiu. ― Isso é impossível. Ele está aqui. Pelo menos estava essa manhã quando assassinou... ― Um viajante, Wallace ― Collins falou ―, foi por isso que recebeu o nome de Assassino Cross-Country. Certo? ― Certo, certo. Você disse que ele foi pego. Quer dizer que ele está morto? ― Sim. Outro agente o pegou no ato ― Collins fez uma pausa, com o som de papeis no fundo ―, , mas a vítima não sobreviveu. ― Havia outro recado? Mais papéis raspando. ― Não, mas ele não chegou a terminar. Morto. E na Flórida. Como ela pode estar tão errada? Os pensamentos dela giraram. (Lafayette, anarquia, o Clube Inferno, Dante) todas as conexões pareciam corretas. ― Eles têm certeza de que é ele? Quero dizer, eles não devem ter recebido todos os resultados do laboratório ainda e... ― Vou para Pensacola hoje pela manhã ― Collins falou. ― Achei que você também gostaria de ir, por isso reservei uma passagem para você também. Heather sorriu. ― Bom homem – ela murmurou ―, encontro você no aeroporto. Que horas? ― Ás oito da manhã, luz do sol ― Collins falou ―, vejo você lá. ― Ele desligou o telefone. Heather fechou o telefone e voltou a abri-lo. Então digitou mais alguns números, ligando para o Stearns. Sem resposta. Apenas na caixa de mensagens. Talvez seja o maldito identificador de chamadas ferrando ela novamente. ― Senhor é a Wallace ― ela falou depois do bipe. ― Vou para Pensacola pela manhã para checar o corpo do suspeito e verificar as evidências. Entrarei em contato logo depois. Heather deslizou na cadeira, colocando o telefone no encosto braço. Ela passou a mão pelo cabelo. Ela queria contar ao Dante a virada nos


acontecimentos. Ela também queria ter uma conversa com o Sr. Jordan sobre espiar janelas a procura de boas fotos para os tablóides. Ela fechou os olhos. O cansaço pesando como concreto. Pensacola. Será que ele matou a Gina logo depois do amanhecer? Matando outra mulher no mesmo dia? Jack o estripador havia matado duas na mesma noite, um evento duplo, sem nem ao menos uma hora de diferença. Jack nunca fora pego, pelo menos não oficialmente. Ela tinha uma forte suspeita de que o Assassino Cross-Country também não havia sido pego. Oficialmente ou não. Heather se afundou em um oceano escuro, o peso de concreto a puxando para baixo. Em algum lugar na escuridão, Leigh Stanz cantava, sua voz rouca cortava através das ondas. I long to drift like on a empty boat on a calm sea / I don’t need light / I don’t fear darkness18… Você deveria, Heather pensou, afundando sem parar.

Ela caminhava ao longo de uma autoestrada, dedo em riste, espiando a escuridão. O carro não pegou e ela o deixou no estacionamento de uma taverna. Ela realmente tinha que chegar em casa. Ela somente tinha parado para tomar alguns drinks enquanto estava fora fazendo algumas tarefas. As crianças estavam no treino de futebol, nas lições de guitarra e nos escoteiros, e ela tinha um momento para si. A próxima coisa que ela soube, estava escuro e a lua estava alta no céu. Seu novo amigo tentou dissuadi-la a ficar, e por um momento, ela chegou a considerar. Mas ela se libertou das mãos que a prendiam e escapou para a noite fria de Outubro. Ela não conseguiu encontrar o celular. Será que o deixou no trabalho? Na taverna? 18

Anseio por ficar a deriva como um barco vazio em um mar calmo / não preciso de luz / não temo a escuridão...


Ela abandonou o carro e decidiu pegar uma carona para casa. Ela tropeçou, seu salto prendendo em uma rachadura do asfalto. E riu. Ainda bem que ela não estava dirigindo. Um ponto á seu favor. Lambendo a ponta de um dedo e desenhou uma linha imaginaria no ar. Retirando os sapatos, ela olhou para o salto. Faróis cortaram o ar. Ela apontou com o sapato ao invés do dedo, equilibrando seu peso em uma das pernas e sorrindo. O carro parou, seus pneus esmagando o cascalho, a descarga deixava escapar uma nuvem de fumaça, o cheiro pesado da gasolina encheu o ar. Ela balançou enquanto tentava recolocar o sapato. Ela ainda pulou para trás antes de cair sobre o traseiro. Ela jogou a cabeça para trás e gargalhou. Ainda bem que não estava caminhando em uma linha para um policial. Outro ponto a seu favor. Ela desenhou outra linha imaginaria no ar. Retirando seu outro sapato, ela conseguiu levantar, ainda balançando um pouco. Ela retirava a sujeira do corpo quando o motorista abriu a porta. Um homem saiu de dentro do carro. Algo brilhava em suas mãos. Dante parou junto a porta, as mãos apoiadas de cada lado do umbral. Heather, dormia caída em uma poltrona, sua cabeça pendia para a esquerda. Seu cabelo cobria sua bochecha, chegando perto de seus lábios ainda abertos. A respiração dela era lenta e calma. A luz brilhava laranja e dourado por seu rosto. Linda, ele pensou. Era fácil esquecer que ela era uma policial. Ele entrou de pés descalços na sala. Pegando um cobertor do encosto do sofá vazio, ele o abriu, cobrindo Heather com ele. Seus braceletes tilintavam uns contra os outros a cada movimento, mas ela não acordou. Dante se sentou com as pernas cruzadas em frente a poltrona. Ela ficou do lado dele, na frente dos policiais. Até mesmo apontou uma arma para aquele bostinha. Por que ela ficou do meu lado? Por qual motivo? Ele respirou seu cheiro de chuva fresca, detectando um toque de lilás e sálvia. E escutou o profundo e estável bater de seu coração. Dormindo ela parece ainda mais jovem do que seus vinte e oito ou


trinta anos que ela deveria ter. Dormindo, encolhida e aquecida, ela não era uma policial ou uma agente do FBI, mas uma mulher com um coração. Uma mulher com uma espinha de aço. Uma mulher, que até agora, continuou fiel a sua palavra. Confie em mim. Estou pedindo que confie em mim. Quantas vezes ele escutou essas palavras? Faladas tanto por mortais quanto criaturas noturnas, as palavras haviam sido apenas um vazio: confie em mim. Mas não com Heather. Ele olhou para ela e ela retribuiu o olhar, o seu aberto e calmo, nada escondendo. Por um momento enquanto ele olhava em seus olhos azuis, as vozes que berravam dentro dele, se calaram. E então, ele colocou suas mãos nas costas e deixou que ela o algemasse. O teto estalou. Lucien caminhando em seu posto no telhado, observando a noite. Escutando um ritmo que algumas vezes Dante também conseguia escutar, o sentindo pulsar em sincronia com o sangue em suas veias. Heather se mexeu na poltrona, seus lábios se tencionando levemente. Seus batimentos se acelerando. Pesadelo? Ficando de joelhos, Dante se inclinou e afastou o cabelo dela do rosto. Seu cheiro se enchendo de adrenalina. Suas sobrancelhas se juntaram, seu rosto preocupado, talvez assustado. O suor escorria junto aos cabelos. ― Heather ―, Dante gentilmente balançou os ombros dela. ― Acorde Heather. Ela pulou acordada, seus olhos arregalados. Ela sentou reta, afastando a mão de Dante, o cobertor deslizou do colo dela e se amontoou no chão. Ela levantou as duas mãos juntas, como se segurando uma arma. ― Não ― ela sussurrou ―, não entre no carro... ― Hei ― Dante falou ―, está tudo bem. Ao som da voz dele Heather estremeceu, então se inclinou com os cotovelos junto aos joelhos, e apoio a cabeça nas mãos. Ela respirou profundamente. O bater frenético de seu coração foi gradualmente


diminuindo. Depois de um momento, ela abaixou as mãos. Seu rosto estava branco como o de uma criatura da noite, seus olhos dilatados e contornados com um azul brilhante. ― T‟est blême comme un mort19 ― Dante falou. ― Pesadelo? Heather olhou para ele. O coração dela falhou uma batida. Sua respiração ficou presa na garganta. Dante ficou tenso, seus dedos se curvando na direção das palmas. Ele quase olhou para longe, não querendo ver a frustração misturada com adoração, desejo e surpresa que iluminavam os olhos de todos que olhavam para ele. Mas ela manteve seu olhar, seu coração se acalmando, respiração mais calma. Ela estava olhando para ele. ― Sim ―, ela sussurrou. ― Pesadelo. ― Eu conheço bem pesadelos. Heather inclinou a cabeça e olhou com atenção para ele. ― Aposto que sim ― ela falou ―, como está a sua cabeça? ― Ela tocou um dedo em sua própria têmpora. ― Estou bem, – ele murmurou dando de ombros. Heather olhou ao redor na sala, sua atenção parou junto ao sofá. ― Onde ele está? ― Ela falou pulando em pé. ― O assistente pervertido do jornalista curioso? – Dante perguntou olhando para ela. Heather assentiu. ― Ele já tinha saído quando desci. ― As coisas dele também ―, ela falou. ― As coisas que você retirou dos bolsos dele. Heather vasculhou a poltrona em que estava dormindo, passando as mãos entre as almofadas e o encosto, se ajoelhando para olhar por baixo. ― O celular dele também ― ela falou, afastando o cabelo do rosto. Cor tomou conta do rosto dela. ― Eu o tinha no encosto da poltrona. Dante entendeu o significado. ― Então ele levantou enquanto você estava dormindo. 19

Você está mortalmente pálida.


Com os lábios pressionados Heather confirmou. Frustração e uma nova preocupação tencionaram seu rosto. ― Eu iria recomendar que ele encontrasse algum outro chefe, mas... ― Bon à rien20, aqueles dois – Dante falou levantando ―, um par perfeito. Heather sorriu, então logo ficou séria. Sua mente estava desprotegida, completamente aberta, e ele poderia entrar e roubar todos os seus pensamentos... Se ele quisesse. Mas se alguém entrasse em sua mente, sem ser convidado, forçando sua entrada, ou seduzindo até conseguir e tomar o que quer... Ele ficou tenso. Ele não possuía nenhum desejo de olhar a mente desprotegida de Heather. ― Preciso falar com você ― ela falou. ― Podemos ir para um lugar mais privado? Dante assentiu. ― Claro. ― Parece que você já se recuperou do seu problema em cooperar. Ele bufou. ― Vá pensando assim. Ela sorriu novamente. Dante guiou Heather para fora da sala e pelo corredor até seu estúdio. Assim que ele abriu a porta, Trey correu para fora da sala da web, óculos pendurado nas mãos. Ele parou na frente de Dante, cheirando a adrenalina. Repentinamente medo percorreu Dante, quando ele viu o olhar no rosto do Trey. ― Más noticias, mon a mi ― Trey falou, seu sotaque cajun ainda mais pesado que o da irmã. ― Eles retiraram o corpo do Jay do rio. Com a garganta cortada. Dante se reclinou contra a parede, aturdido. ― Merda ― ele sussurrou. ― Isso não é tudo ― Trey falou. Ele hesitou, olhando para o Dante, sua mente tocando as barreiras de proteção dele. ― Estou bem ― Dante falou. Trey assentiu, mas parecia infeliz. Ele engoliu. ― Os policiais acham 20

Vagabundos.


que você foi o responsável por ambas as mortes. Heather se afastou quando os olhos de Dante começaram a brilhar, e ele se virou batendo com o punho contra a parede. Gesso e reboco caíram no chão em pedaços irregulares. ― Você hackeou o sistema da policia de Nova Orleans? ― ela perguntou ao Trey. Ele deu de ombro, então assentiu. ― Oui. Como se chamada, Simone repentinamente apareceu ao lado do irmão, seus olhos preocupados observando Dante. Acima deles, o teto estalou e gemeu, então ficou em silêncio. Heather escutou o que parecia um poderoso bater de asas. Asas muito grandes. Ela olhou para Dante. Ele estava imóvel, todos os músculos tensos, seu punho ainda estava dentro do buraco feito na parede, sua outra mão estava apoiada contra a parede. Com a cabeça baixa, seu rosto escondido pelos cabelos pretos, ele parecia vibrar de raiva. ― Sinto muito sobre o Jay ―, Heather tocou o ombro dele. ― Eles não possuem nada. Você não fez isso. E sei que não. É sobre isso que quero falar com você. Uma chuva de gesso caiu no chão quando Dante puxou a mão da parede. Erguendo a cabeça e jogando o cabelo para trás, ele olhou para ela. Fúria e angústia se misturavam em seus olhos escuros. Seus músculos se flexionavam sob os dedos dela. Ela o olhou nos olhos, incapaz de se mover, atraída e presa em um turbilhão de emoções. Dante estava olhando para dentro dela, seus olhos escuros brilhavam, tão quentes quanto uma carícia desejada. O soltando ela olhou para baixo, seu rosto queimando. ― Então fale comigo ― ele falou. A porta da frente se abriu, então se fechou. De Noir. ― Sozinhos ― Heather falou, entrando na sala para a qual eles seguiam. Dante a seguiu, fechando a porta atrás dele. A atenção de Heather seguiu ao redor do ambiente. Um estúdio, ela


lembrou. Vários teclados, um sintetizador, uma mesa de mixagem, amplificadores, computador e monitor enchiam o espaço. Uma guitarra preta estava recostada em um canto. Uma garrafa de absinto Francês já pela metade estava sobre a mesa do computador, cercada por fones de ouvido, papéis e páginas de música. Seu olhar se prendeu na parede oposta. Pintado com spray da cor de sangue seco estava o símbolo da anarquia. A imagem do símbolo queimada na pele de Daniel Spurrell surgiu na mente de Heather. O assassino (sendo o CCK ou não) estava tentando provar que ele e o Dante eram almas parecidas, dividindo as mesmas crenças. Mas ao invés de pintar o símbolo nas paredes, prédios e carros da polícia, o assassino o grava na carne de inocentes. O assassinato de Gina foi como um tapa no rosto do Dante. Um desafio. Olhe até onde estou disposto a ir. Você pode parar isso? Você possui a coragem de viver para aquele símbolo? Se o assassino agora se sente superior ao Dante, como se estivesse no controle, então isso significa que ele se sente confortável o suficiente (e forte também) para clamar o Dante e fazer dele seu. Mas se ele estiver morto... Então não há mais perigo. Forçando seus olhos para longe da parede, Heather olhou para seu relógio. 04h34min da manhã. Afastando o cabelo do rosto, ela olhou para Dante. ― Descobri á algumas horas que nosso suspeito foi morto em Pensacola ― ela falou ―, não entendo isso, mas... ― Você não acredita que seja ele. Não é? ― Estou a caminho da Flórida para descobrir. Dante passou por Heather, seu corpo raspando no dela. ― Você não sabe como ele é ― Dante falou, pegando um óculos escuro no console do computador. Ele os colocou ―, como vai... ― Eu estudei seu... Trabalho... Por três anos ― ela falou ―, eu o conheço. Dante se aproximou. ― Era com isso que você estava sonhando?


Pega desprevenida Heather olhou para longe. Muito perto. Perto demais. Levantando a cabeça ela encontrou o olhar do Dante. ― O que aquele símbolo da anarquia significa para você? Dante deu de ombros. ― Além do normal „foda-se‟ sociedade? Heather balançou a cabeça. ― Você pode fazer melhor que isso. Dante ergueu os óculos. Estrias vermelhas brilhavam em sua íris escura. Seu olhar intenso, direto e mortalmente sério se prendeu no dela. ― Tudo bem, então. Raiva. Tormenta de fogo. Verdade. ― Verdade? ― Sim. Liberdade é a consequência da raiva. Heather olhou para ele, sua garganta apertada. Ele falava como um verdadeiro sobrevivente de um orfanato do governo. Falando com inteligência e convicção. E isso plantou uma semente de dúvida em suas entranhas. O que havia criado aquela raiva? E o que servia de combustível para ela? Dante recolocou os óculos. ― Então e agora? Ela suspirou, passando a mão pelo cabelo. ― Quero que você tome cuidado até ter notícias minhas. Um sorriso curvou os lábios de Dante. ― Isso vai ser difícil. ― Tente ―, Heather falou. ― Gostaria que você continuasse respirando ― o olhar dela seguiu para o símbolo da anarquia atrás dele. Por alguns instantes ele fazia parte do símbolo (uma adaga negra e afiada cortando o coração do caos) confuso e imprevisível. O assassino nunca teria saído de Nova Orleans sem matar Dante ou têlo ao seu lado. Seja quem for que está no necrotério de Pensacola, não é o seu suspeito. Mas ela tinha que se certificar. Collins a estaria esperando no aeroporto e ela ainda tinha que passar no hotel. ― Caminhe comigo ― ela falou, virando e abrindo a porta do estúdio. Ela sentiu o Dante atrás dela no corredor; o silêncio dele a deixava nervosa, mesmo com os pés descalços no carpete, ele deveria fazer algum ruído. ― O que vai acontecer se não for o seu suspeito em Pensacola?


― Então volto aqui. Heather destrancou a porta do Subaru, então entrou. Ligando o motor ela ligou o desembaçador e o aquecedor no máximo. Dante ficou parado junto á porta do motorista, de pés descalços na manhã fria de fevereiro, e os óculos no topo da cabeça. Ele tem que estar com frio. Heather pensou. Eu estaria congelando. ― Ligo para você assim que souber de algo ―, ela falou. Dante se inclinou e a entregou um pedaço de papel. Heather o puxou de entre os dedos de Dante. Ela olhou para ele. Números de telefone. Escrito com uma letra inclinada, os números marcados como Clube, e o outro Casa. Ela olhou para Dante. Com os braços cruzados sobre o peito ele deu de ombro. ― No caso de precisar ―, ele falou. O olhar dele passou por ela ―, essa é a minha jaqueta. ― Hã? ― Heather se moveu no banco. ― Oh! Sim ―, ela pegou a jaqueta, e a passou pela janela. ― Estou com ela desde que você foi preso. Dante vestiu a jaqueta. ― Merci ― ele falou ―, você revistou os bolsos? Heather sorriu. ― O que você acha? ― Eu acho... ― ele fez uma pausa e olhou para ela por um momento. ― Sim. Sei que você fez. O sorriso da Heather se ampliou. ― Você parece ter bastante experiência em revirar bolsos. Ele sorriu e Heather teve o lampejo de seus caninos curvados. Ou ele era maluco ou um morto vivo, então por que ele a fazia se sentir como uma adolescente desmaiando em cima de seu primeiro bad boy mal humorado? ― Olhe, quando isso estiver acabado... ― Sim? ― Dante se aproximou ainda mais. A luz verde fraca do painel brilhou contra a argola cromada em seu colar de bondage. Ela conseguia sentir o cheiro dele, folhas de outono e terra escura, uma cama quente e sexo. As bochechas dela queimaram, enquanto o calor


correu por sua barriga. ― Uh... Ligo assim que souber de algo ―, forçando um sorriso ela fechou o vidro. Ele levantou, então deu um passo para trás quando ela acelerou. Ela seguiu pela entrada de carros com cuidado, passando pela van e o MG. A Harley não estava ali. Eu iria perguntar se poderia vê-lo novamente. Muito objetiva. E profissional. Ela olhou no espelho retrovisor. Dante ainda estava parado em frente a casa, a observando se afastar. Uma brisa soprou fios de cabelo sobre seu rosto. Repentinamente uma figura apareceu ao lado de Dante. Heather pressionou os freios. O Subaru derrapou até parar. A luz vermelha das luzes de freio não eram o suficiente para se ter uma boa visão, e ela estava prestes a engatar a ré, ou sair e puxar seu. 38, quando Dante passou o braço ao redor da outra figura. A nuvem se afastou da lua. A fria luz da lua do inverno sulista parecia congelar as árvores, o portão de ferro, a mansão e o cabelo arrepiado do Silver com seus olhos prateados. A luz iluminou o sorriso do garoto. Ele passou um braço ao redor da cintura de Dante. Soltando a respiração, Heather desviou o olhar para longe do espelho. Muita adrenalina e poucas horas de sono a haviam deixado nervosa e fraca. Ela acelerou e dirigiu através dos portões abertos. Talvez ela tenha preparado a armadilha simplesmente por ter partido. Em um sombrio momento, ela chegou a desejar que Dante fosse realmente um vampiro. Então talvez ele tivesse alguma chance de sobreviver se o assassino mordesse a isca.


13 Lembranças Ronin destrancou o cadeado preso ao ferrolho da porta de metal. A porta rangeu enquanto ele a abria, o som reverberou através do galpão vazio. Ele ligou o interruptor ao lado da porta e entrou. Encolhido sobre um colchão com os braços ao redor das pernas, o jovem que tremia olhou para cima, piscando por causa do repentino clarão. As fluorescentes no teto zumbiam, quebrando o silencio. Ao ver Ronin o jovem se encolheu em um canto, sua cabeça contra a parede.


Sorrindo Ronin balançou a cabeça ― Não é a mim que você precisa temer ―, ele falou ― é meu acompanhante, aquele que o trouxe aqui. Você se lembra dele? O garoto balançou a cabeça, mantendo seus olhos manchados de delineador no Ronin. Ele se pressionou ainda mais contra a parede, como se pudesse ser absorvido por ela e desaparecer. O sorriso do Ronin se alargou. O garoto olhou para suas presas á mostra. E ficou petrificado. Ronin se sentou na beirada do colchão. O coração disparado do jovem o intrigava. Ele conseguia sentir o cheiro da adrenalina que pulsava quente em suas veias. Ele olhou para a garganta do jovem. Uma tatuagem iridescente de morcego se aninhava no meio. Quantas vezes Dante havia beijado aquela pele branca? Mordido com suas presas? Bebido o sangue escuro que corria por aquelas veias? Se inclinando, Ronin afastou o cabelo que caia em frente ao rosto do garoto. Os músculos do jovem se retesaram com a tensão, tremendo. Seus olhos verdes nunca se afastaram do rosto do Ronin. ― Ouvi falar que você é um jovem muito pensativo ― Ronin falou ― então você pode muito bem começar a falar. O jovem fechou os olhos por um momento. Ele respirou fundo, tentando se acalmar e ordenar seus pensamentos, mas continuou com o corpo pressionado contra a parede de concreto, seu coração martelando contra as costelas. ― Deixe-me ajuda-lo ― Ronin falou ― Gina está morta. Sim, sei que você possui a marca do Dante. E você vai morrer pelas mãos de um serial killer, se eu deixar você aqui. O garoto virou o rosto, como se tivesse levado um soco com as palavras tão diretas. ― Oh, e quanto ao porquê de tudo isso estar acontecendo, chame de destino. ― Não acredito em você ―, o jovem falou, sua voz baixa e controlada. Abrindo os olhos, ele se virou para encarar o Ronin. ― a Gina está morta.


Quando o Dante encontrá-la ele... ― Ele já a encontrou ―, falou satisfeito pela repentina fagulha que se acendeu nos olhos do garoto. ― depois que meu acompanhante terminou com ela. O jovem piscou afastando as lágrimas. Engolindo ele falou ― Você está falando um monte de merda. Prendendo o fino pescoço do garoto com uma das mãos, Ronin o puxou para longe da parede e contra seu corpo. ― Estou? ― ele sussurrou ― Dante está procurando por você, no momento. Depende de você se ele vai encontrá-lo antes do meu acompanhante retornar, ou depois. O jovem lutou para se libertar, puxando o punho do Ronin com uma das mãos, enquanto socava o peito com a outra. Com os olhos quase fechados, Ronin escutou o coração disparado do garoto. Sentindo o cheiro de raiva, medo e desespero em medidas iguais. Ele olhou para os olhos verdes dilatados pela emoção. ― Depende de você. O garoto parou de lutar. E ficou parado novamente, ajoelhado no colchão. Seu olhar ficou distante. Por um momento Ronin não conseguiu escutá-lo. Nenhum sussurro de pensamento, palavra ou imagem. Uma barreira se ergueu entre eles, e o único som que perturbava o silêncio era o pulsar dos bater dos corações. Com um estremecer olhou para o Ronin ― Antes ― ele falou. ― Escolha sábia. Agarrando um punhado de cabelo loiro, Ronin puxou a cabeça do garoto para trás e afundou as presas em sua garganta. E entrou na casa escura, fechando e trancando a porta atrás dele. Ele olhou ao redor. Uma garrafa de bourbon com um copo ao lado, estava sobre a mesa ao lado da poltrona. O cinzeiro continha um único cigarro. E cheirou. E fez uma careta. O ar fedia aquela porcaria que o Ronin gostava de fumar. O Camaro não estava. Como também o garoto Tommy. Melhor assim. Ele não estava com humor para enfrentar as besteiras do


sanguessuga. Ele tocou o caroço em sua testa. Dor irradiou sob seus dedos E afastou a mão. Seu sorriso desapareceu. O cara grandalhão poderia muito bem ser feito de pedra. Cris-to! E atravessou a sala, então seguiu pelo corredor até seu quarto. Talvez um pouco de Vicodin e um pouco de uísque aliviariam a dor. Abrindo a porta ele entrou no quarto. Ele sentou na beirada da cama desarrumada. Sua cabeça latejava. E o estômago se contraia em uma simpatia nervosa. E abriu a gaveta da mesinha de cabeceira e revirou o conteúdo. Varias caixas vermelha e branco de Marlboros, um isqueiro, uma caneta nudista, (a segure de cabeça para baixo e veja a mulher ficar sem roupa) até que seus dedos se fecharam ao redor da embalagem de comprimidos. E a abriu com suas mãos tremendo um pouco, e colocou os comprimidos sobre a mesinha. Os comprimidos cor de pêssego, azul e amarelo balançaram sobre a superfície de madeira. E jogou umas cinco ou seis, garganta a baixo. Ele pegou a garrafa de uísque da mesinha e engoliu os comprimidos com um grande gole do Canadian Hunter. A náusea percorreu seu corpo. Tremendo novamente, largou a garrafa no chão ao lado da cama, então se esticou no colchão. Ele ficou olhando para a escuridão, esperando para que o remédio fizesse efeito. Fechando os olhos, E afundou o rosto contra o travesseiro. Ele sentia o cheiro da Gina, cerejas escuras e sexo. Ele havia escondido as meias dela dentro da fronha. Ele adorava lembrancinhas, pequenas coisas que diziam, você lembra quando? Ele tocou o bolso dianteiro do jeans, seus dedos traçando o macio retângulo de sua nova lembrança. Ele acordou na casa de um vampiro, deitado no sofá de um vampiro. Ele lentamente abriu os olhos. Havia velas acesas, jogando sombras trêmulas contras as paredes. Apenas o estável tic tac do pendulo de um relógio perturbava o silêncio. Com a cabeça doendo ele ficou de lado. Seu olhar encontrou uma pessoa enrolada em uma poltrona do outro lado da sala. E se perguntou se ela estaria fingindo, brincando com ele, o observando sob


seus longos e escuros cílios. Mas sua respiração profunda e calma o convenceu de que ela estava dormindo. Ele nunca estivera tão perto dela, nem mesmo enquanto espiava pelas janelas. O que aconteceria se ele a tocasse? Sua adorável Heather, sua própria perseguidora, dormindo na presença dele. Se permitindo ser vulnerável diante de um deus. Ele a observou por vários minutos, bebendo da cor de seu cabelo, as curvas de seu rosto, dos lábios ligeiramente abertos. Acima dele, o teto estalou novamente. Repentinamente ele se lembrou de onde estava. Em uma casa cheia de sanguessugas. O calor e brilho de se sentir um deus se evaporou. Ficando em pé, ele cruzou a curta distância até a poltrona, praticamente na ponta dos pés, seu olhar preso na Heather – o seu farol. Ele tentou não pensar no que mais estaria caminhando silenciosamente pela casa. Ele se inclinou sobre a Heather até que sua respiração movesse o cabelo dela. Ele tocou um cacho que deslizou maciamente entre seus dedos. E pegou seu celular do braço da poltrona. Inclinando a cabeça ele observou Heather por um momento. Que tipo de mensagem ela estaria tentando enviar a ele, colocando seu telefone ali? O teto estalou novamente. Ele se afastou da poltrona e da mulher dormindo entre seus braços. Relutantemente, ele se virou. Empilhados no chão ao lado do sofá, estava sua carteira, facas e tudo o mais que ele mantinha em seus bolsos. E se abaixou e reuniu seus pertences. Quando ele se ergueu novamente, se encontrou caminhando na direção da cozinha. Uma voz em sua mente dizia que ele era um maldito idiota, saia, saia, saia! Mas era tarde demais, ele já havia decidido pegar sua lembrancinha. A bolsa da Heather e casaco estavam pendurados no encosto de uma cadeira. Ele revistou a ambos até encontrar o que queria, e então o pegou. Seu olhar deslizou pela cozinha, procurando por algum traço do Dante, alguma lembrança do sexy, sexy, sexy vampirinho que havia merecido olhares de desejo de sua Heather. Uma lembrancinha de seu maninho da Bad Seed. Finalmente ele pegou a caneca preta e saiu da cozinha.


Ele fez uma pausa ao lado da poltrona, uma das facas deslizou em uma de suas mãos. Com o coração martelando ele se forçou a se afastar dela. A seguir na direção da porta e abri-la. Se forçando a sair da casa, fechar a porta e correr como um filho da puta. E sorriu abrindo os olhos. Ele puxou a sua lembrancinha do bolso. Uma bala de Colt .38 brilhava em sua mão.

Dante se ajoelhou ao lado da cadeira do Trey. A luz e as imagens do computador piscavam através do rosto compenetrado do especialista em computadores, a luz dançava através dos cabos conectados ao pescoço dele, chegando até a ponta de seus dedos. ― Você consegue entrar no sistema do necrotério? ― Dante perguntou. Imagens e páginas piscavam na tela do monitor. MORGUE ― ADMISSÃO. Dante apertou o braço do Trey. ― très bien, mom ami. ― muito bem meu amigo. Um sorriso curvou os cantos da boca do Trey, e então desapareceu. Dante puxou afetuosamente um de seus dreads. Escaneando as fotos dos admitidos no necrotério, Trey parou na mais recente, um jovem com a garganta cortada. Dante se inclinou para mais perto, estudando a foto. O cabelo podia ser loiro, mas molhado, era difícil de dizer. Os olhos estavam fechados. Face e lábios já sem coloração. Um ferimento já sem sangue se estendia por sua garganta. Dante voltou a se afastar, o alivio se espalhou sobre ele, como sangue quente e fresco. Seja quem for que os policiais tiraram do rio Mississipi, não era o Jay. O que significava que quem matou a Gina ainda estava com ele.


― Quem identificou o corpo do Jay? Detetive LaRousse. ― Trey enviou. Os olhos deles quase se fecharam. Dante também pode sentir, espiralando por suas veias. Sono. ― Descubra as evidências e conexões dele, mom ami ― Dante falou. De seu bolso traseiro ele retirou a carteira de motorista do Elroy o pervertido. Ele a jogou sobre a mesa, na frente do monitor. Trey olhou para ela e então assentiu. Cheque ele também. E Thomas Ronin. Depois de dormir. Trey arrancou os cabos de seu corpo, se desconectando da web. Simone entrou na sala, já meio dormindo para guiar o irmão até a cama. Se inclinando ela beijou Dante no rosto, seus lábios macios e frios contra a pele dele. ― Doces sonhos ― ela suspirou. ― Et toi ― Você também ― ele enrolou o dedo ao redor de uma mecha cheirosa do cabelo dela. Simone se levantou, e seu cabelo escapou das mãos dele. Ela ajudou Trey a levantar. Com os braços ao redor um do outro, eles meio que caminhavam e se arrastavam até os quartos. O sono tomou conta do Dante, diminuindo seus batimentos cardíacos. Agarrando o braço da cadeira do Trey, ele lutou contra a tontura que tentava dominá-lo. Jay ainda estava lá fora, esperando para ser resgatado. Dante esperava de todo seu coração que ele não estivesse com dor, cheio de cortes como a Gina. Fúria explodia através dele, e por um segundo o sono recuou. Dante se levantou. A voz da Gina sussurrava, suas palavras reverberando através dele, em sua mente e coração: amanhã a noite? Dor queimou atrás dos olhos do Dante. Latejando em suas têmporas. Mas o sono rastejou de volta, o deixando tão drogado e lento quanto um viciado em morfina. Ele balançou.


Mãos tocaram suas têmporas, acalmando a dor em sua cabeça. Ele se reclinou contra o Lucien. Lucien pareceu se dobrar ao redor do Dante, sólido e protetor. Uma canção sem voz ou palavras vibrou do centro do Lucien para o Dante. E algo dentro dele cantou em resposta. Dante sonhou com asas. E em voar. Pare de lutar criança e durma. Pare de provocar a dor Se sacudindo, Dante fechou uma das mãos ao redor do pulso musculoso do Lucien. Aprecio o que você está fazendo, mon ami. Mas por favor... ― algo que o Dante não conseguiu identificar se fechou ao redor do coração dele. A respiração ficou presa em sua garganta e com intensidade. Uma dor interna que parecia estranhamente familiar. Eu quero isso. Empurrando os braços do Lucien Dante se afastou dele. Mas nem toda a raiva e dor do mundo poderiam mantê-lo acordado. Ele sentiu os braços do Lucien o segurar enquanto ele caia.

O taxi se afastou, largando uma fumaça branca em direção ao céu cinzento perto de amanhecer. Stearns pisou com cuidado na calçada cheia de neva. O gelo acumulado durante a noite, brilhava na superfície de concreto. Ele mudou sua maleta de uma mão para outra. Da chuvosa Seattle para a congelada capital. Por que esses trabalhos nunca o levavam para o Hawaii ou Flórida? Stearns caminhou para os fundos da elegante, e sem duvidas cara casa. A cada passo o gelo sob seus pés se quebrava, um som alto na noite que acabava. Stearns cerrou os dentes, esperando que os vizinhos estivessem dormindo pesadamente, ou que achassem que era somente o entregador de jornais. Stearns parou, olhando ao redor para o pequeno jardim, seu olhar deslizando pela casa atrás dele, para a vizinhança. Algumas janelas emitiam


um brilho amarelado, quando as pessoas começavam a acordar. Ele escutou, sua respiração criando nuvens brancas, seus dedos formigando dentro das luvas. Ele havia ligado para o Bureau para checar onde Johanna andava. No passado, ela tomava comprimidos especialmente projetados para mantê-la acordada durante o dia, efetivamente neutralizando o efeito narcótico do sono. É claro, ela poderia fazer isso apenas por um período antes de pagar o preço. Stearns apostaria que ela estava usando os comprimidos de novo para se manter a par dos acontecimentos de Nova Orleans. Ele descobriu que Johanna havia pego um voo noturno, algo comum para ela, e ainda não dava sinais de dar o dia por encerrado. Atravessando o jardim até os degraus que levavam até a porta dos fundos, Stearns podia apenas torcer que Johanna ainda não tivesse atingindo seu limite para o remédio. Mesmo assim, ela poderia estar presa no trânsito, lhe dando um pouco mais de tempo. Largando sua pasta no último degrau, Stearns estudou a fechadura. Um visor vermelho brilhava com a luz da manhã. Onde dizia Travado. Stearns assentiu. Basicamente o que ele esperava. A parte difícil seria a existência de um sistema de segurança secundário. Stearns se ajoelhou e abriu os fechos da maleta. Pegando os óculos ele os colocou. Ele retirou a mini bomba do meio dos papéis dentro da maleta. Usando um alicate, ele cortou o isolamento dos fios. Abriu a tampa do teclado da fechadura e escaneou os fios dentro da caixa. Os óculos revelavam linhas azuis atravessando a fiação. Um sistema secundário. Um atirador de elite está no telhado atrás de você, e assim que o tiver na mira, você estará morto. Comece a trabalhar e entre na casa. Vamos! Vamos! Vamos! Sem mais sentir o frio, ou pensar na melhor tática, Stearns deixou sua adrenalina fluir e o instinto tomar conta. Suas mãos, estáveis e rápidas, pegaram os fios para cortá-los com o alicate. Ele girou os pequenos fios expostos do sistema. Isso era para cuidar do sistema secundário.


Ele imaginou o atirador se deitando de barriga para baixo no telhado. Ele cortou o fio principal do sistema primário, e afastando o rosto, ativou a mini bomba ao mesmo tempo. Quando Stearns olhou novamente, apenas alguns segundos depois (o atirador está apontando para você) o leitor escrito Trancado havia sumido, a tela estava preta. E sem o alarme frenético do sistema secundário. Stearns girou a maçaneta. A porta abriu. Pegando sua maleta, ele mergulhou porta a dentro. Ele imaginou a bala de alta velocidade de despedaçando contra a parede onde sua cabeça estava a segundos atrás. Stearns fechou a porta. A trancando da maneira convencional, apertando o botão no centro da maçaneta. Ele havia entrado.


14 Perdido no sistema Heather olhou para o relógio. Uma e quinze da tarde. Respirando fundo irritada, ela caminhou até o balcão de atendimento, onde dois funcionários a ignoravam. Ela bateu no protetor de vidro com o nós dos dedos. O rápido bater de dedos em um teclado parou. O atendente olhou para a Heather, uma sobrancelha erguida e expressão de infelicidade. ― Você tem certeza que a Dra. Anzalone sabe que estou aqui? ― Heather perguntou. ― estou esperando por ela a quase duas horas.


Heather notou que o atendente usava o cabelo emplastado de gel e uma super geek camisa branca de mangas curtas que combinava com uma gravata preta. E ele deveria estar desejando que ela desistisse, desaparecesse, ou murchasse até a morte. ― Sim senhora, ela sabe, ― ele falou com a voz abafada pelo vidro. ― mas ela é muito ocupada. ― Eu também. Fale com ela novamente. Heather retornou para o banco desconfortável onde estava sentada e se acomodou na beirada. Vamos ver se o Collins está tendo mais sucesso. Pegando o celular da bolsa ela digitou o numero do detetive. Ele atendeu no segundo toque. ― Oi, Wallace – ele falou, sua voz contida. ― Olá Collins. O relatório da policia já está pronto? ― Escuta isso. Está perdido no sistema. Eles não conseguem encontrar o maldito documento. Um alarme percorreu a espinha da Heather. Ela abaixou a voz. ― Perdido... Entendo. E o relatório escrito pelo policial? ― É engraçado você perguntar. Perdido. Eles estão procurando, mas... ― Ah. E o oficial responsável? ― Saiu de férias essa manhã. Competência. Você precisa tê-la... ― Ou perdê-la, – Heather terminou. A preocupação se intensificou. ― as coisas não estão muito melhores aqui. Estou esperando a médica desde que cheguei. ― Vou continuar cutucando as coisas por aqui com uma vareta bem pontuda. E ver o que acontece. ― Idem ― Heather desligou o telefone, então recolocou o celular na bolsa. O que diabos está acontecendo? Heather esfregou a testa. Ela revirou seus pensamentos, tentando pegar outros detalhes estranhos, para discernir um padrão. Problemas de acesso aos arquivos do CCK; e também aos da policia


local. Mensagem escritas com sangue deixado nos dois cenários de crimes. O símbolo da anarquia. Um suspeito morto. Supostamente o CCK, e pego no ato. Relatórios perdidos, evidencias extraviadas, um policial de férias. Sua incapacidade de se comunicar com seu superior. E suas ligações sem respostas. Mas o quebra-cabeça continuava mudando, toda vez que ela tentava encaixar uma peça no lugar. Com o rosto contra as mãos, Heather fechou os olhos. Ela precisava dormir. As poucas horas dormidas na poltrona da sala do Dante, não haviam sido o suficiente. Seus pensamentos e reflexos estavam lentos. ― Agente Wallace? Heather abaixou as mãos e ergueu a cabeça. O atendente geek estava parado na frente dela. Um sorriso nervoso contorcia os lábios dele. ― A doutora pediu que você esperasse na sala dela ― ele falou. Heather se levantou ― Ótimo. O atendente a legou pelo corredor, passando por portas duplas de metal que levavam até a sala de autopsia, e á um escritório marcado Legista. Abrindo a porta, o atendente saiu do caminho, enquanto Heather entrava no escritório. ― Obrigado ― Heather falou sorrindo. Com um rápido aceno o atendente se afastou. Ignorando as cadeiras posicionadas em frente á mesa, Heather retornou a porta. Olhando o longo e calmo corredor que seguia até a sala de autopsia. Já que essa tal de Anzalone não parece muito boa em cortesias, ou seguir o protocolo... Heather saiu do escritório e seguiu pelo corredor, seus passos leves (e ela esperava), silenciosos. Vou retornar o favor. Ela empurrou a porta da sala de autopsia. Um assistente usando jaleco se assustou e olhou por sobre o corpo que estava suturando. ― Hei! ― ele exclamou, seu rosto cheio de descrença. ― Você não


pode entrar aqui! Heather sorriu ― Estou liderando a investigação do Assassino CrossCountry, ― ela falou, puxando o distintivo da bolsa e o abrindo. ― a Doutora Anzalone está a minha espera. ― Ela não me falou nada ― o assistente falou. ― realmente você não pode ficar aqui ―, colocando a agulha de sutura sobre a barriga do cadáver, ele correu através da sala. Ele parou em frente á Heather, seu olhar preso no distintivo. Ele fez uma careta. ― acho que não... ― Essa é a vitima? Rosa Baker? ― Heather apontou para o corpo. ― Sim, é ela. Mas sério... ― Onde está o corpo do suspeito? ― Heather passou pelo assistente, caminhando até as mesas de autopsias. Ela parou junto a uma bandeja com instrumentos ensanguentados, perto da cabeceira da mesa. ― O corpo do suspeito? ― o assistente repetiu incerto ― Uh... Você vai precisar perguntar para a doutora Anzalone para ter certeza, mas acredito que o tenham enviado para a casa funerária. Heather parou. Ela não poderia estar escutando aquilo. De jeito nenhum. Ela virou para encarar o assistente. E encontrou seu olhar, observando a tensão em seus músculos, e a maneira como ele ansiosamente esfregava as mãos juntas. ― Você falou casa funerária? ― Uh... Sim. O corpo deve ter sido mandado para lá. Por acidente. Perdido. Extraviado. Desaparecido. O assistente mudou o peso de um pé para o outro. Olhando para longe. Heather sentiu um sorriso cínico curvando seus lábios. Que merda, ainda tinha mais. ― Não me diga ― ela falou com a voz fria ― que ele foi cremado. Acidentalmente. Sem olhar para ela, o assistente assentiu. ― Pode ter sido. ― É melhor você ir chamar a Dra. Anzalone. Engolindo em seco, o assistente se virou, o solado de seus tênis gritou contra o piso. E ele saiu pelas portas duplas.


Heather respirou fundo e lentamente. A raiva fazia seus músculos se contraírem, e seus pensamentos ficarem nublados. Profunda e calmamente. Depois de algum tempo ela olhou para o corpo: mulher de meia idade, um pouco acima do peso, cabelos loiros acinzentados, seus olhos entre abertos não refletiam a luz. Ferimentos de facas, hematomas na garganta e nas coxas. Heather olhou para a agulha de sutura. Dado que o assistente já estava fechando a incisão em Y, a autópsia já havia sido feita. A sutura havia sido interrompida logo abaixo do umbigo. Um dia atrás, Rosa Baker era uma mulher que tinha uma vida: lavava seu rosto, dobravas as roupas, planejava o almoço. Agora... Heather mudou sua atenção para o rosto flácido e pálido, e seus olhos vazios. Agora nada restava de Rosa Baker. E nada mais lhe resta além da cova ou do fogo. Eu poderia ter prevenido essa morte? Um assassino sempre substituirá o outro, e ela sempre estará ao lado de uma mesa de metal, olhando para os restos cortado/baleado/ensanguentado de outra vitima. Para alguns, suas mortes brutais lhes renderam mais atenção do que nunca receberam em vida. Ao morrer, serem assassinados, eles são notados pela primeira vez, para logo serem esquecidos novamente. Mas ela se lembraria. Cada um deles. Carregando suas imagens em sua mente: um álbum de fotos mental dos mortos, um livro do ano de quando suas vidas acabaram. Promessas vazias. Vitimas silenciosas. Ela ansiava para ser quem apontava para um assassino, para ser a boca pela qual as vitimas podem falar por uma ultima vez: é ele. Ele me matou. Heather olhou para o teto e as luzes para a autopsia, um microfone estava pendurado. Uma das vitimas ainda não estava morta. Ele ainda respirava em Nova Orleans, ela olhou para o relógio, dormindo. Ela poderia manter sua promessa para com o Dante. Mas primeiro ela precisava encontrar por que a situação ali fedia á uma armação.


Mexendo os ombros e afastando fios de cabelo de sua testa, Heather caminhou pela sala até achar a estação de gravação onde o microfone estava conectado, gravando os relatórios, comentários e observações. Heather o ligou, clicando no arquivo mais recente, então voltou até a mesa. A voz impassível da medica legista cortou o silêncio. ― A vitima é uma mulher caucasiana, bem nutrida, com quarenta e tantos anos... Heather manteve o olhar no rosto da Rosa, enquanto Anzalone descrevia o que a Heather já suspeitava: tipo de vítima errada, M.O errada, local do ataque errado. Ela ficou mais gelada a cada palavra. Johanna digitou seu código e abriu a porta. Á fechando, ela voltou a acionar a tranca. O teclado emitiu um bipe. A palavra Indisponível correu pelo pequeno visor. Ela olhou para a palavra, tentando entender aquilo. Ela devia ter digitado os números errados. Fazendo uma careta ela digitou o código novamente. O teclado alertou. Indisponível. Johanna ficou parada. Escutando. O refrigerador zumbia na cozinha. Água pingando na torneira do banheiro. Do lado de fora, os pneus dos carros esmagavam a neve e as camadas de gelo das ruas. Nada respira dentro daquela casa além dela. O dela era o único coração que batia. Ainda assim... Adiar sua hora de dormir a havia deixado no limite, anestesiando seus sentidos. Johanna se afastou da porta. Escaneando a sala vazia: o sofá, poltronas de couro, uma lareira fria, fotos e pequenos tesouros no mantel de madeira polida, as lâmpadas emitindo um brilho fraco. Nenhuma marca de pegadas no carpete. Johanna largou a bolsa em uma mesinha e puxou sua Glock 36. Ela chutou os sapatos para longe, e se moveu silenciosamente pelo carpete, a arma presa nas duas mãos. Lentamente entrando no hall, ela parou quando notou pegadas no carpete. Largas demais para serem suas.


Um ladrão? Uma vizinhança cara. Brinquedos caros. Possivelmente. Ela entrou no banheiro, acendendo a luz, e girando primeiro para a direita então para a esquerda. Vazio. Nenhuma sombra atrás do boxe de vidro do chuveiro. O gabinete de remédios estava vazio. Sem manchas. Intocado. Então não era alguém procurando por drogas. Deixando a luz acesa, Johanna voltou para o corredor e pressionou suas costas contra a parede. As pegadas seguiam pelo hall. E se o E tivesse voltado para casa? E se trouxe S com ele? Johanna parou, seu coração martelando contra as costelas. O sangue corria em um frenesi através de suas veias, ainda assim ela estava fria, mais fria que as camadas que se acumulavam nas calçadas do lado de fora. Ela entrou no quarto de hospedes, acendendo a luz. Nada. E se o E ou o S estivessem ali, balas só iriam funcionar contra o E. Iria precisar mais do que balas para impedir sua criança puro sangue. Seja quem for que invadiu sua casa, violando sua propriedade enquanto ela estava fora, já havia partido a muito tempo. Ela não conseguia sentir mais nada, além do próprio pânico. Johanna saiu do quarto de hóspedes para o corredor, a arma ao seu lado. Ela entrou em seu escritório e acendeu as luzes. E se abaixou em frente a um arquivo preto, puxando a fechadura. A gaveta se abriu. A gaveta estava trancada quando ela saiu de casa. Levantando, calma apesar dos nós em seu estômago, ela deu a volta ao redor da mesa e abriu suas gavetas. Todas estavam trancadas antes. Assim como o arquivo. Ela revirou o conteúdo da gaveta de baixo. Todos os arquivos pareciam estar no lugar, incluindo todos os disquetes e CDs. Mas isso não significava que os arquivos não tivessem sido fotografados. Ou copiados. Nada levado. Nada danificado. Sua casa havia sido invadida por um profissional. O que significava FBI, CIA ou DOD.


Ela passou uma mão pelos cabelos. Quem e por quê? Quem teria a coragem? E pelo que? Virando ela caminhou de volta para a sala, e pescou o celular da bolsa. Ela discou para o celular do Gifford, a onda de adrenalina já estava diminuindo. Ele atendeu no primeiro toque, mas não falou nada, esperando para que ela falasse primeiro. ― Minha casa foi invadida, – ela falou, com a voz pesada de sono. ― chame a segurança. Faça com eles chequem o escritório. Então vá até lá você mesmo. Johanna se arrastou até o corredor. Ela se recostou contra a parede, com os olhos presos na porta do quarto. Parecia que a porta nunca se aproximava. Sua cabeça caiu contra a parede e seus olhos se abriram. Ela estava no chão. Ela se encolheu no corredor, com os lábios abertos, bebendo do sono como se fosse sangue. Pouco antes de seus pensamentos se apagarem, ela percebeu o que estava faltando. O que ela estava revisando (apenas por prazer) em casa. A fixa do S, e os CDs documentando suas experiências como membro do Bad Seed. A Dra. Anzalone empurrou as portas duplas da sala de autópsia. Heather a olhou rapidamente, então puxou o lençol que cobria Rosa Baker. O som da gravação parou abruptamente quando a médica apertou o botão de stop do aparelho. ― Você não tem nenhum direito de estar aqui ― Anzalone falou ― não ligo se você é do FBI... ― Quem deu as ordens para que os resultados dos exames fossem alterados para esse caso? ― ela se afastou da mesa, Heather olhou firme para a médica. ― alterados para confirmarem com o M.O do assassino Cross-Country? Com olhos marrons, cabelos castanhos, um pouco mais pesada que deveria (assim como Rosa) Anzalone enrugou a testa, e enfiou as mãos nos bolsos do jaleco. Ficando na defensiva. ― Como você ousa insinuar...


― O meu suspeito é canhoto ― Heather falou, atravessando a sala.― esses ferimentos de faca foram feitos por um destro ― ela parou em frente a médica tensa. ― mas na transcrição que acabei de escutar, você dizia que o assassino era canhoto. Anzalone ficou parada. ― Antes de fazer acusações, você deveria falar com os teus superiores ― ela se virou e marchou para fora da sala. Heather ficou olhando enquanto as portas balançavam para se fechar. Falar com os superiores. Dante ainda estava sendo perseguido. E ela havia sido levada para longe. Será que Stearns fazia parte disso? Parte caminhando e parte correndo para fora da sala, Heather puxou o celular da bolsa e ligou para o Collins.― precisamos voltar para Nova Orleans imediatamente. Fique ai, pego você. Passando pela porta de entrada, Heather correu para o carro alugado, discando o número do celular do Dante. O telefone chamou e chamou. Ela destravou o Stratus21 e entrou. Vamos! Atenda! Ela olhou para o telefone. Quase quatro no horário de Pensacola, o que significava que era quase três da tarde em Nova Orleans. Talvez Dante ainda estivesse dormindo. Ligando o carro, Heather engatou a ré e apertou o acelerador. Os pneus gritaram quando ela acelerou o carro para fora da vaga em L, segurando a direção somente com uma das mãos. Ela desejou ter seu Trans Am22 com sua transmissão rápida. O toque finalmente parou. A voz profunda do De Noir falou – Agente Wallace. ― Preciso falar com o Dante ― Heather acelerou ainda mais. O Stratus seguiu na direção do trafego. ― É urgente. 21

O Stratus é um sedan de porte médio-grande da Dodge. Brasil: Maior que um ômega, tem bastante espaço e se caracteriza pela maciez da suspensão e pela quantidade de itens de conforto disponíveis. Alguns proprietários reclamam da pouca altura livre do solo, mas isso só incomoda mesmo aos incautos que querem dirigir um jipe em vez de um sedã que prioriza o conforto. 22 O TransAM é uma versão do PontiacFirebird, automóvel fabricado pela extinta divisão Pontiac da General Motors. Teve seu auge na década de 1970, quando fez parte do filme Smokey and the Bandit (Agarra-me se puderes e sequências).


― Ele está dormindo. ― Maldição, De Noir! Acorde ele! ― Impossível. Mas posso dar o recado. ― Não acredito em você ― com a garganta apertada pela raiva, Heather pressionou ainda mais o acelerador. Ela olhou por sobre o ombro, trocando de pista, habilmente desviando do tráfego mais pesado. ― Ele ainda está em perigo. O assassino não foi morto. Não deixe o Dante sair de casa e não o deixe sozinho. ― Dante faz o que quer ―, De Noir falou parecendo divertido. ― mas vou falar para ele sobre suas preocupações. Quando ele acordar. ― Ótimo ― Heather rosnou. Ela jogou o telefone no banco do carona. Ou De Noir não entendeu a gravidade, ou não acreditava nela, ou até mesmo pensa que ele pode manter o Dante a salvo. Qualquer uma dessas razões seria o suficiente para matar o Dante. Mantendo seu foco no trafego, Heather pegou seu celular, então ligou para o Stearns. ― Wallace ― ele falou, atendendo no primeiro toque. Heather não sabia se deveria se sentir aliviada ou preocupada. ― Senhor. Estou saindo de Pensacola imediatamente. Fomos deliberadamente enganados. Os exames foram falsificados... ― O caso foi fechado ―, Stearns falou ― a investigação está acabada. Alguém buzinou e Heather percebeu que o sinal estava aberto. Ela apertou o acelerador. Seu coração martelava no peito. ― Quem encerrou o caso senhor? ― ela finalmente conseguiu falar. ― Esse não é o problema Wallace. A voz do Stearns estava neutra. Estoica. Será que o mentor estava lendo palavras que não gostaria de falar? Ou ele estaria participando de tudo? Heather se sentiu doente. ― Eu acho que é. O CCK não está morto. Quem quer protegê-lo? ― A investigação acabou ― o Stearns soava cansado, drenado ― Volte para Seattle imediatamente.


― Ele possui outro alvo. ― Esqueça o Dante Prejean, Wallace. Ele não é o que parece ser. Ao som do nome do Dante, o sangue da Heather ficou gelado. ― Do que você está falando? ― Ele não é mais problema seu. ― Com todo o respeito senhor, você faz parte dessa armação? ― Heather escute com cuidado ―, o desespero pesava na voz do Stearns. – fique longe de Nova Orleans. A sua segurança depende disso. Você não está entre amigos. ― Aparentemente isso não é nenhuma novidade, não é Craig? – ela desligou. O que aconteceu? O assassino CCK é o filho de alguma estrela do governo? O irmão de um diplomata? E por que a investigação havia sido trancada agora? Algo a ver com o Dante. Pense. Alguém o quer morto. Então por que não dão um tiro nele enquanto dorme? Teria algo a ver com o passado que ele não consegue lembrar? O símbolo da anarquia em vermelho chamou a atenção da Heather. Ela o encarou, com a respiração presa na garganta e o coração disparado. O desenho estava preso na vitrine de uma loja de discos. Sobre o símbolo da anarquia: acabou de chegar! O ultimo lançamento da INFERNO de Nova Orleans! Deliberadamente ajustado. E mais abaixo: Acorde e sinta o cheiro do fogo! Acorde escrito em sangue, nas duas cenas de crime. Um passado que o Dante não lembrava. Heather virou á direita, então parou em frente á delegacia. Collins esperava junto aos degraus. Dante não conseguia se lembrar. Mas alguém queria que ele se lembrasse. ― Estamos com problemas – Heather falou enquanto Collins entrava no carro. Ela arrancou antes mesmo dele fechar a porta. Calmamente o detetive colocou o sinto de segurança. Ele olhou para a


Heather. ― O bastardo não está morto, não é? ― Eles promoveram você a detetive por uma razão ―, Heather murmurou, manobrando o Stratus entre duas faixas de alta velocidade. ― e fica pior. É uma cobertura deliberada. ― Merda ― Collins olhou para frente, sua mandíbula tensa, seu rosto sério.


v

15 Entrando em ação E caminhou pelo corredor, em direção ao quarto do Tom-Tom. Ele se pressionou contra a porta fechada. Será que o garoto Tommy ainda estava dormindo? Ainda não havia anoitecido, a tarde cinzenta se arrastava, o céu ainda derramando sua chuva. E escutou. Nada. Nem mesmo um ronco. Será que vampiros roncam? Será que ele estava no quarto? E se ele estivesse atrás do E? Observando? Sorrindo? E se virou, o coração apertado na garganta, facas nas mãos. Nada.


E ficou imóvel, olhando para o corredor vazio e a luz acinzentada que passava pela janela da frente. Seu coração gradualmente se acalmou. Com um movimento de ambos os punhos, ele deslizou as facas para suas presilhas nos braços. E voltou a encarar a porta fechada mais uma vez. Ainda sem nenhum ronco. Se ele estava no quarto, dormia profundamente. E se não estivesse, então E não precisava se preocupar em fazer barulho. Seus dedos se fecharam ao redor da maçaneta de latão, e a girou. Ronin estava deitado na cama, como um homem morto. Completamente vestido. Sem respirar. Mãos ao lado do corpo. Seus olhos estavam semicerrados, mas tudo o que aparecia era a parte branca. E estremeceu. Parecia haver insetos em sua pele. Como se tivesse pisado em um formigueiro. Ele lutou contra a compulsão de bater e esfregar a própria pele. Ele se concentrou. E subtraiu o sem respirar. O maldito realmente estava respirando. Muito lentamente. E entrou no quarto, seus olhos presos no corpo esticado na cama, e prendeu a respiração. Nada. Ele caminhou mais para dentro do quarto. E circulou a cama. Inclinou a cabeça. Como um parente chorando por um morto. Circulou novamente. Uma faca contra a garganta faria o trabalho. Talvez não matasse o bastardo, mas toda aquela perda de sangue, sem dúvida seria um grande inconveniente. Por que o Ronin não havia trancado a porta? Ele pensava tão pouco sobre as habilidades de E, que se sentia seguro? Achava que poderia lidar com o velho E, mesmo dormindo? Com os músculos em nós, e o estômago queimando, E puxou suas facas para as mãos. Ele se aproximou da cama. O rosto do Ronin parecia quase tão sereno quanto o de uma criança, mesmo tendo séculos de idade. Quanto tempo levaria para matá-lo? Sua pele se decompor e esqueleto virar pó? Ele se inclinou sobre o Ronin, inclinando uma das facas na direção da


garganta, quando se lembrou das fichas. E hesitou, ficou tenso, ansiando para cortar. Ele precisava dos arquivos (o dele e do Dante). Precisava saber onde encontrar a vadia responsável pelo Bad Seed. Precisava saber o nome dela. E o porquê. Ele também queria saber mais sobre o Dante. Seu irmãozinho da Bad Seed, espírito amigo, mais do que as poucas merdas que o Tom-Tom havia lhe dito. E invocou a imagem do Dante, mas ao invés viu o olhar faminto da Heather deslizando pelo corpo do Dante. E estremeceu, suas facas nas mãos, ansioso, seu sangue fervendo, querendo a ambos. Mas disposto a possuir apenas um. E forçou a se afastar do Ronin. Se levantando e escondendo suas facas. O dia estava acabando. Caminhando para o outro lado da cama, E procurou na mesa de cabeceira, abrindo as gavetas com cuidado. Nada. Seguindo para a cômoda, ele abriu uma gaveta depois da outra. Roupas dobradas, cuecas – hmmm seda – um par de meias enroladas, mas nada de arquivos. Deixando o ar escapar entre os dentes, E se reclinou contra a cômoda. Ele havia visto as fichas durante um breve momento em Nova York, recheada de relatórios, fotos e CDs. O garoto Tommy também tinha uma pasta cheia de coisas (especialmente coisas sobre o Dante) no caso dele precisar ser contido. E seguiu na direção do closet, mas vendo algo dourado de relance pelo canto do olho, ele parou. Se abaixando, ele olhou sob a cama. O belo garoto gótico do Dante estava encolhido sobre o chão de madeira, escondido sob a cama junto com as sombras e os coelhinhos empoeirados, olhos fechados e rosto pálido. Com os pulsos algemados. Uma algema prendia seu tornozelo ao pé da cama. E sorriu. Tommy havia saído e encontrado um brinquedinho. Um lanche e um brinquedinho. Será que o Tom-Tom iria pendurar o garoto gótico como um saco de sangue na frente do nariz do Dante? Ou ele mandaria o E sair e pegar outro? E rastejou até o closet, encantado pelo cabelo durado do garoto gótico,


o imaginando enrola-lo como um fio de ouro, um novelo dourado procurando o calor de suas mãos. E abriu o closet. Caixas de papelão amarrotadas se empilhavam no chão, junto com as botas e sapatos caros do Tom-Tom. Uma bolsa fechada estava junto ás caixas. E revirou as caixas, com as mãos tremendo e a boca seca, até encontrar a marcada E, e a outra marcada S, as colocando sob o braço, ele juntou a bolsa preta, então fechou a porta do closet. Ele se virou ainda de joelhos, esperando ver o brilho dourado, mas tudo o que viu foi um cacho de cabelo loiro. Deixe que o Tom-Tom fique com ele, E pensou, conseguindo ficar em pé. É menos provável que ele note que algo está faltando se estiver ocupado brincando. E saiu do quarto e, oh com muito cuidado, fechou a porta. Ele correu pelo corredor e saiu pela porta da frente em direção a tarde que morria. Ele tinha muitas pesquisas a fazer.

Vespas se arrastavam sobre o corpo do Dante, seus abdomens pesados curvad os enquanto espetavam suas seringas cheias de veneno na pele dele. Paralisado pelo sono, preso em uma rede de pesadelos, ele não podia se mover, não conseguia se levantar, retirar ou esmagar as centenas de vespas ocupadas. O veneno serpenteava sob sua pele, queimando suas veias, se afundando em seu coração. Sob o zumbido auto das vespas, uma voz chamou ― Dante ― anjo? Você está bem? Ele queimou. Uma vespa entrou em sua narina. Outra em seus lábios abertos, rastejando por sua garganta. Ferrões perfuravam suas pálpebras, mas ele


continuou quieto. Gritar o levaria a camisa de força e algemas. Gritar seria igual ao sol passando através das tabuas do assoalho. Seus olhos incharam. Seu coração batia com força contra o peito. A garganta fechou. O ar cortado para apenas um arfar. Seus pulmões queimavam. Ele se manteve em silêncio. Janelas o cercavam. Algumas ele mal conseguia identificar, seus formatos distorcidos, o vidro deformado. Ele olhou para longe, o coração martelando. Não olhe, não olhe, não olhe. Algumas das janelas tremeram, como água sob o vento e ele olhou, mesmo sabendo que seria muito ruim. Uma casa queimando. Uma garotinha de cabelos vermelhos rindo, segurando uma orca de pelúcia. Uma mesa de exame cheia de amarras. Uma mulher sorrindo, suas presas á mostra, enquanto se aproximava dele. Dante tentou se mover, mas o veneno e o sono o mantiveram imóvel. Suor escorria por suas têmporas. Dante-anjo? A voz, infantil, baixa e familiar, permaneceu, as palavras apertando seu coração. A dor percorreu sua mente, queimando seus pensamentos. Se ele ficasse parado, ela viveria. Então chutando o traseiro daquele pensamento surgiu outro: se ele não se movesse, ela morreria. O cheiro fresco de chuva e sálvia deslizou em sua consciência e, por um momento, ele esqueceu a dor, esqueceu sua terrível e irreversível perda. Por um momento ela nunca morreu. Por um momento ele nunca a matou. A verdade o banhou em gasolina e acendeu um fósforo. Ele gritou. Ronin caminhou pelo corredor até a sala da frente. Uma noite estrelada brilhava pela janela. Ele pegou seu celular e digitou o numero de seu


contato na policia de Nova Orleans. ― LaRousse. ― Thomas Ronin. Observei uma conversa bem interessante ontem a noite, entre um vampiro chamado Étienne e Dante Prejean. Acredito que Étienne tem um probleminha ou dois contra o Dante. ― Você poderia dizer que sim ―, LaRousse falou ― a casa dele foi incendiada em uma manhã. Torrou até o chão. Uma mão cheia de pessoas queridas ao Étienne morreu naquele incêndio e ele acredita que o Prejean foi o responsável. ― Ah. E por que ele acredita nisso? ― Não sei dizer, e não me importo. ― Você conseguiria entrar em contato com o Étienne? ― Posso. E sobre o que se trata? ― Vamos só dizer que é uma oportunidade de vingança. De a ele o meu número, Detetive. Vou apreciar muito a sua ajuda nesse assunto. Ronin pressionou o botão para encerrar a ligação. Retirando um cigarro preto e fino do maço sobre a mesinha de café, ele o prendeu entre os lábios, e o acendeu com um isqueiro. Ele inalou a fumaça doce, saboreando o rico gosto do tabaco em sua língua. Com o celular em mãos, ele caminhou até o quarto do E, e abriu a porta. Uma cama desarrumada e vazia, mas isso não era surpresa. Apesar do cheiro azedo de E ainda impregnar o quarto, Ronin sabia desde o momento que acordou que ele havia saído. Nenhuma aura irritante. Sem nenhuma estranha tensão. A luz da rua passava pelas venezianas, cortando o quarto com linhas de luz. A escuridão do quarto parecia pesada, fechada e parada, encerrada da noite selvagem do lado de fora. No instante em que E desceu do Jeep e atravessou a rua até a casa do Dante, ele se tornou um problema. A ligação do Dante havia feito o Ronin perceber a verdade. O tom curioso e seu assistente Elroy o pervertido. Um sorriso surgiu nos lábios do Ronin. O garoto tem jeito com as palavras,


perspicaz e sardônico. Bem vamos ver o quanto ele consegue ser perspicaz hoje à noite. Ronin tragou o cigarro. A fumaça acinzentada se espalhou pelo ar parado do quarto. E havia feito merda. Ronin não tinha certeza por quanto tempo ele poderia controlá-lo e se perguntava se algum dia chegou a controlar. Um sociopata. Um assassino serial. Um sadista sexual. A Johanna deve ter ficado muito feliz com ele. Todo seu trabalho duro, dando frutos sangrentos e muito espertos. Mas para o que ela vinha guardando o Dante? Por que ele fora poupado? Como ele sobreviveu a tudo o que ela fez com ele? Então, novamente, ele é um puro sangue. Johanna terá séculos para guiá-lo, distorcê-lo, prepará-lo com programações subliminares e implantes. Dante tinha somente vinte e três anos. Ele era uma criança. Seus dons, e toda a extensão de suas habilidades, provavelmente só seria revelada em algumas décadas, talvez séculos. O que seria preciso para acordá-lo? Para Dante pular como uma armadilha escondida em sua fille de sang, a mulher que se atreveu á corromper um puro sangue. Os procedimentos médicos e psicológico que a Johanna e o médico mortal Wells realizaram na mente e cérebro do Dante, estavam estranhamente ausentes das fichas da Bad Seed, que um doador anônimo o havia enviado. Então, na verdade, ele estava fazendo experiências. Ronin esperava que o subconsciente do Dante reagisse com as mensagens, mas até agora. Nada. Talvez uma aproximação mais direta, usando a inesperada sentimentalidade por mortais, funcionaria como um pé de cabra na adorável cabeça do Dante. Ronin entrou no quarto. Os lençóis e cobertores se amontoavam na cama desarrumada. Um livro, um cinzeiro e um copo vazio descansavam na mesa de cabeceira. Apagando o cigarro no cinzeiro, Ronin sentou na beirada da cama.


Olhando para o livro. Inside the monster’s Heart and Other Poems. O fraco cheiro de uísque emanava do copo. Da cama ele conseguia sentir o cheiro de cerejas pretas. Ele seguiu o fraco perfume até o travesseiro. Procurando dentro da fronha, ele retirou o pedaço de nylon. A meia da Gina, um apanhador de sonhos para seu assassino, escondido próximo ao coração do monstro. Ronin largou o travesseiro de volta na cama. O celular tocou. Ronin atendeu. ― Sim? ― Aqui é o Étienne. Estou escutando.


16 Juramento de sangue Dante abriu os olhos. Luzes de velas emanavam um brilho dourado contra o teto. As sombras deslizavam. Ele sentiu o cheiro de velas com perfume de baunilha e o gosto do próprio sangue. Sua cabeça latejava, mas a dor era distante como se anestesiadas pelas mãos frias do Lucien. Doía engolir. O sangue era dele mesmo. Outra enxaqueca? Outro sangramento nasal? Que noite era essa? Ele tentou lembrar o que estava fazendo antes de ir dormir, mas atingiu uma grande parede branca.


Repentinamente imagens vividas giraram em sua mente, vespas, correntes penduradas em um gancho de carne, um bastão de baseball ensanguentado, levando sua consciência a um pesadelo acordado. Arame farpado se cravou em sua carne. As vespas zumbiram. Dante balançou a cabeça. Ele sentiu Trey tocando gentilmente o seu escudo. Respirando fundo, Dante o deixou entrar. Há uma mensagem para você no e-mail do clube. Oui. Sei onde o seu brinquedinho está escondido. Ele está vivo e razoavelmente bem. Seja bonzinho e ele vai continuar desse jeito. Deixarei um recado para você no clube ― Rastreei a mensagem até um ciber café. Pago a dinheiro. Um beco sem saída. Com o coração acelerado Dante levantou. O sangue martelava em suas têmporas. ― A Agente Wallace ligou enquanto você estava dormindo ―, Lucien falou, entrando no quarto. ― o assassino não está morto e ela aconselhou você a ficar em casa. ― Então ela estava certa ― Dante falou ― mas não vou ficar. Tenho uma promessa para manter. Você confia nessa informação? ― Que merda, é claro que não. Mas é tudo que tenho no momento ― Dante jogou o lençol para o lado e levantou. Estou indo buscar você Jay. Continue respirando. Continue lutando. Heather respirou fundo no ar cheirando a patchuli, cravo e suor, e entrou em meio à multidão. Enquanto ela caminhava e empurrava entre a aglomeração de corpos quentes e suados, ela mantinha sua atenção fixa no Dante. Ele estava sentando na beirada de seu trono alado, músculos tensos e corpo encolhido. Ele usava calças de couro e uma camiseta de látex com presilhas de metal. A luz refletia nos anéis em seus dedos e o preso em seu colar de bondage. Uma princesa gótica de cabelos pretos se aninhava contra


as pernas dele, seus braços cobertos com o que parecia rede de pesca se entrelaçavam nos calcanhares dele, e seus lábios vermelho sangue se abriam em um sorriso. Os dedos do Dante massageavam o cabelo da garota, o gesto era ausente, mas gentil, seus olhos escuros presos na Heather. Seu rosto pálido nada revelava. Nem mesmo um gesto de boas vindas. Apenas observação. A música batia e colocava a multidão em movimento. O som pesado do baixo fazia as paredes e o chão encoberto por uma névoa vibrarem, o som parecia um desfibrilador no coração. Nada mal. Heather pensou, erguendo um dos braços para se defender do movimento da multidão. Me lembra da velha banda da Annie. Mãos empurravam e balançavam a esquerda da Heather. E ela abaixou os braços. Ela deu uma meia volta para abrir caminho, quando percebeu que alguém havia parado diretamente a sua frente, bloqueando seu caminho. ― Você sabe como se cuidar ― Dante falou. Um meio sorriso ergueu seus lábios. ― Sim, minha irmã era a líder de uma banda – Heather gritou. Olhando para ele agora, ela viu boas vindas em seus olhos escuros, e parte da tensão a deixou. ― Qual banda? ― WMD. Repentinamente um circulo se abriu ao redor deles, quando a multidão percebeu quem estava entre eles. Fomes de todos os tipos faziam seus olhos se dilatarem. Vozes sussurravam. Dedos seguiam na direção dele. Os olhos da Heather pulavam de uma pessoa para a outra, se perguntando se o assassino estava entre eles. Ela pulou quando uma mão agarrou o ombro dela. Dante parou ao seu lado, seus lábios junto ao ouvido. ― Você não precisa gritar ―, ele sussurrou ― posso ouvi-la muito bem. E WMD está entre as melhores bandas. ― ele se ergueu, e seus dedos permaneceram no ombro dela por mais um momento. ― Eles eram ― Heather manteve o olhar do Dante, apenas


parcialmente ciente dos sussurros zumbido ao redor deles como moscas. Um jovem magro com dreads e uma jaqueta camuflada estendeu um CD da Inferno (o mais recente, „Deliberadamente ajustado‟ ) e uma caneta para o Dante. ― Cara-se-você-puder-fazer-isso-seria-totalmente-demais – ele deixou escapar, com os olhos arregalados. Dante devolveu o CD autografado e a caneta de para o fã. Ele piscou. ― Uh... Obrigado. Heather também não o viu pegar o CD e autografar. Ela visualizou um movimento borrado, talvez as mãos deles, mas nada além disso. Dante olhou para ela. E estendeu a mão. Ela a segurou, prendendo os dedos ao redor da palma morna da mão dele. Dante a guiou através da multidão. Um caminho se abriu em frente a eles, e o nome do Dante correu através da multidão, cada murmúrio era como uma pedra jogada. Olhares desejosos o seguiam. Dedos o tocavam. Suplicantes. Um jovem de cabelos cor de mel, com uma antiga casaca, fora atrevido o suficiente para parar na frente do Dante. Ele fechou seus olhos delineados e abriu os braços, oferecendo seus lábios. Dante parou, surpreendendo a Heather. Ainda segurando a mão dela, ele seguiu até estar face a face com o jovem, até que apenas um suspiro separasse seus corpos e beijou os lábios que lhe era oferecido. Um suspiro ansioso soou pelos espectadores. Heather parou ao lado do Dante, escaneando todos os rostos suados e pintados ao redor dele. Alguns choravam, lágrimas negras por causa dos delineadores e rímel, escorria por seus rostos. Eles o adoram. Completamente. É a aparência dele? Ou o que ele é? Ou que deveria ser? O beijo parou. O rapaz de cabelos cor de mel balançou para trás, então se inclinou, passando um braço ao redor da própria cintura enquanto curvava uma perna. Um gesto elegante, destoando de suas mãos que ainda tremiam.


― Merci beaucoup, mon ange de sang ―, muito obrigado meu anjo de sangue ― ele olhou para cima, com o rosto corado e atordoado. – você me honra. ― Pour quoi? As fini pas ― Por quê? ainda não terminou. Heather escutou tensão na voz do Dante. Ele ainda não teve tempo de lamentar, ela pensou. Tanta coisa aconteceu nos últimos dois dias. Ainda curvado o jovem saiu do caminho do Dante. Os suspiros e murmúrios se intensificaram. Dante voltou a caminhar, seus dedos presos ao redor da mão da Heather. As pessoas voltavam aos seus lugares fazendo o corredor atrás deles desaparecer. Quando eles chegaram aos degraus do palco, Dante apertou a mão da Heather, então a soltou. Ela o seguiu pela escada, passado pelos lordes e princesas góticas, que se curvavam nos degraus como gatos satisfeitos. A gótica de cabelos pretos que estava abraçada as pernas do Dante mais cedo, estava parada na beirada do palco, seu olhar faminto preso no rosto dele. Atrás do trono, De Noir estava parado usando uma camisa vermelha, o pendente em forma de X brilhava em seu pescoço, seu rosto impassível. Dante se ajoelhou em frente a garota gótica. Passando seus dedos ao longo da mandíbula dela, ele se curvou e falou no ouvido dela. Heather notou o quanto o cabelo do Dante ficava escuro nas luzes do clube, preto como a parte mais escura da noite; natural e brilhoso, não fosco como os cabelos tingidos da garota que escutava o que ele sussurrava. A princesa gótica abaixou os olhos; seu lábio inferior tremeu. Dante ergueu o rosto dela e a beijou. Ela passou os braços ao redor da cintura dele. A maioria das pessoas aperta as mãos. O Dante beija. Poderia ser algo bem interessante em um piquenique de empresa. Heather cruzou os braços sobre o peito. Quando o beijo cessou a rainha com meias arrastão, relutantemente largou o Dante, deixando suas mãos deslizarem pelo quadril dele enquanto o fazia. Sorrindo ela passou os dedos pelos lábios dele, limpando o batom. Ela olhou para a Heather enquanto descia os degraus, seu olhar de desdém a


observava dos pés a cabeça; Heather sorriu e passou por ela. Dante sentou com as pernas cruzadas no chão do palco, e sinalizou para que a Heather fizesse o mesmo. Ela o fez, passando sua bolsa por sobre a cabeça e o ombro, para não precisar se preocupar com um possível desaparecimento. A música batia e latejava. Ela pulsava através da coluna da Heather até sua nuca. Alguém na gaiola gritou de dor. O fundo musical vibrou pelos amplificadores. Heather se encolheu. Seu olhar seguiu até a gaiola de fetiche. A banda chutava e batiam nas mãos que seguravam o vocalista. Dedos apareceram no ar, manchados de sangue segurando pedaços de um tecido e também longos cachos de cabelo vermelho. Finalmente a banda conseguiu libertar seu vocalista, que pegou o microfone e ficando em pé, voltou a cantar, com sangue escorrendo por seu rosto. ― Dark Cloud 9 de Portland ― Dante falou, se inclinando para falar junto ao ouvido dela. ― Ele não está morto ― ela falou. ― O Lucien me contou. Você estava certa. O que vai fazer agora? ― Proteger você. Um sorriso divertido ergueu os cantos da boca do Dante. ― Oh, você acha que não precisa de proteção? Senhor Vampiro Indestrutível? ― Nunca falei que era indestrutível. ― Mas deve achar que é ― Heather falou, o encarando. ― Você não ficou em casa. O que diabos você está fazendo aqui? O sorriso do Dante desapareceu ― Tenho uma promessa a cumprir. ― Uma promessa? Que tal prometer ser cuidadoso? ― Que merda Heather. ― Dante murmurou ― Nunca te prometi nada. Mas prometi ao Jay que iria protegê-lo e pretendo fazer isso. ― O Jay está morto, Dante, é tarde demais ― Heather falou tocando o


joelho dele. ― Não ele não está, o corpo que pescaram para fora do rio não era o dele, eu chequei. ― fogo brilhou nos olhos escuros do Dante ― Recebi uma mensagem hoje à noite. Alguém sabe onde o Jay está. Disse que deixaria um recado para mim aqui. Estou esperando. Heather olhou para ele sem palavras. O que o Dante havia dito a noite passada? Arme a isca? Mas havia uma diferença entre isso e jogar a isca direto nas mandíbulas de um tubarão. E não era interessante o fato da mensagem só ter sido enviada depois que ela saiu de Nova Orleans? ― Há somente uma pessoa que pode saber onde... Dante ergueu uma mão e olhou através da multidão que pulava, para a porta da entrada. Heather ficou em silêncio. Seguindo o olhar do Dante, ela encarou o outro lado do clube. ― O Tom curioso está aqui ―, Dante falou. E se levantou, o movimento repentino foi gracioso e fluido. ― e ele quer falar comigo. Heather ficou em pé, a apreensão se enroscando em sua barriga. A multidão se dividiu como uma ameba, enquanto duas figuras marchavam da entrada para a pista de dança. Von liderava o caminho com longas passadas, com suas mãos de lutador ao lado do corpo. Sua jaqueta de couro estava levemente abaloada, e ela percebeu que ele carregava um coldre duplo sob o casaco. A atenção dela passou para o homem que seguia o Von. Thomas Ronin. Ela já vira fotos dele online ou em contra capas de livros, mas essa era a primeira vez que ela o via pessoalmente. Ela esperava um homem marcante, alto, atlético, pele com apenas um tom mais claro que a noite sob as luzes da casa, cabelo curto, barba aparada, mas ela não havia esperado sua presença; mesmo do outro lado do clube, ele exigia atenção, e atraia os olhares. A atenção do jornalista pousou sobre Heather. A surpresa apareceu em seu rosto. Surpresa e reconhecimentos. Ele sabe quem eu sou, ela pensou. E ele não esperava que eu fosse estar aqui. Ela acenou com a cabeça. Um


sorriso forçado tocaram os lábios do Ronin, e então desapareceu. Von subiu os degraus até o palco. E parou em frente ao Dante. A tatuagem de lua crescente sob seus olhos nômades parecia vibrar sob a luz fraca. ― C‟est bom ― tudo bem ― o Dante falou ― Gètte le. Com um rápido movimento de cabeça, Von passou pelo Dante, então parou ao seu lado direito, mas ficando de lado, como se quisesse observar a todos. Ronin subiu no palco. Virando ele se inclinou levemente para o Von – foi uma honra ser escoltado por você, llygad. Von não reagiu as palavras do jornalista. Ele ficou parado imóvel, pernas separadas, e braços ao lado do corpo. Aparentemente, Ronin não esperava uma resposta, por que virou seu rosto na direção do Dante sem esperar por uma. Seu olhar deslizou pelo Dante até o De Noir, parado atrás do trono, e para mais além. ― Estou surpreso em ver que você ainda está aqui, Agente Wallace ― Ronin falou com uma voz macia. ― E por quê? Ronin deu de ombros ― Li nos jornais que o CCK foi pego em Pensacola. O Bureau e as autoridades locais falaram que o caso está encerrado. ― Então por que você não está em Pensacola seguindo o caso como um bom jornalista? ― Heather bateu com uma das mãos contra a testa ― Oh esqueci. Você não é um bom jornalista. Ronin sorriu, erguendo uma sobrancelha e falou ― Ai. ― Você tem sua oportunidade Tom curioso ― Dante falou. ― Me diga se isso significa algo, ou é apenas besteira ― Ronin colocou a mão dentro do bolso da sua jaqueta jeans. O ar pareceu estalar ao redor do pescoço da Heather. Olhando por sobre o ombro, ela viu De Noir agora parado atrás do Dante, seu olhar preso no Ronin.


O som industrial do Dark Cloud 9, passou somente a bateria e baixo, a batida tribal e hipnótica, pontuada pelo cantor rosnando o refrão, que se repetia sem parar: um passo mais próximo ao fim / um passo mais próximo / um passo mais próximo ao fim... Ronin puxou um pedaço de papel dobrado do bolso da jaqueta. E o entregou para o Dante. ― Encontrei isso em meu jornal essa manhã. Dante puxou o papel dos dedos do Ronin, então o abriu e leu. Heather se inclinou e leu sobre seu ombro. Jay Macfrefor envia lembranças, pergunte ao Dante por que. Pergunte ao Dante quanto sangue será preciso para acordá-lo. Quanto ainda? Escreva a verdade. Diga para o Dante olhar em seu carro. A bateria ressoava e o baixo pulsava na batida. Um passo mais perto do final / um passo mais perto / um / passo / mais / perto... Dante colocou o pedaço de papel em seu bolo. ― Merci ―, ele falou em voz baixa. ― mas isso não muda nada. Ronin balançou a cabeça, se aproximando. ― Do que você tem medo... Puro sangue? Os cabelos da Heather flutuaram com uma rajada de ar, ao mesmo tempo em que ela conseguiu observar por sua visão periférica o Dante se movendo. Ele reagiu a invasão de seu espaço pessoal pelo Ronin, se aproximando ainda mais dele; apenas o espaço de uma mão separava os dois. A pele escura do jornalista se contrastava a palidez do Dante (meia noite e o branco da neve) a imagem do yin-yang surgiu em sua mente. ― Não de você, Tom curioso ― Dante fechou suas mãos como punhos. ― O que diabos você quer dizer com „Puro sangue‟? ― Nada. ― De Noir falou. Ele passou pela Heather e parou ao lado do Dante ― Absolutamente nada. ― seus olhos estavam presos no Ronin ― Ele está fazendo joguinhos. Heather olhou para o Von. Um de suas sobrancelhas haviam se erguido acima dos óculos escuros, diante das palavras do De Noir. Parece que o nômade não está bem certo quanto a isso. Interessante. Dante estremeceu repentinamente e fechou os olhos ― T‟es sûr de sa?


Você tem certeza? ― ele sussurrou. Preocupação surgiu no rosto do De Noir, suas sobrancelhas se enrugaram ― É hora de você partir, M‟sieu Ronin. ― Ainda não ― Ronin ergueu as mãos, as levando na direção dos ombros do Dante. Ainda com os olhos fechados Dante desviou as mãos do jornalista, suas próprias se movendo para cima e para fora com uma velocidade de parar o coração. Seus dedos se curvaram ao redor dos pulsos do Ronin. Seus olhos se abriram. Ronin olhou para ele, lábios abertos, sem se mover. Heather percebeu que não estava surpresa com a velocidade do Dante, mas com sua reação. Por quanto tempo Ronin e seu assustador assistente estavam observando o Dante? Empurrando as mãos do Ronin para longe, Dante segurou o rosto barbudo do jornalista, e raspou seus lábios contra a boca dele. Choque fez o rosto do Ronin empalidecer, enquanto o Dante se afastava, com suas mãos ao lado do corpo. Ronin inclinou a cabeça para o lado e manteve seu olhar baixo. Os músculos de sua mandíbula se retesaram. Ele abria e fechava as mãos. Dante parou ao lado da Heather e olhou para ela. Um meio sorriso erguia seus lábios, mas faixas vermelhas manchavam sua íris. ― Tenha cuidado ―, ela falou ― você está brincando com fogo aqui. ― Gosto de fogo ―, ele voltou a olhar para o Ronin. ― Por que você não entregou o recado para a polícia, Ronin? ― Heather perguntou ― O que você quer? Erguendo seu olhar, Ronin virou a cabeça para encarar a Heather. Ele sorriu, mas algo obscuro e sardônico se remexeu em seus olhos, apenas por tempo suficiente para que ela conseguisse ver. ― Tudo o que quero é a história ― ele falou ― Mentiroso ― Dante falou. Divertimento dançou nos olhos do Ronin ― Eu fico por perto. E narro tudo o que está acontecendo.


― Por que nós não entregamos o seu recado para a polícia? Erguendo uma sobrancelha Ronin olhou para o Dante ― Nós? ― ele balançou a cabeça. ― Mesmo se você chamar a polícia, Agente Wallace, ainda assim conseguirei a história. O baixo caiu para um latejar estável, a bateria pulsava, o cantor rosnava intensamente, acelerando até um grito: Um passo mais perto do fim / um fodido passo mais próximo... ― Vou te contar o que quis dizer com „puro sangue‟ ― Ronin falou. Dante deu de ombros ― Quem disse que quero saber? Ronin sorriu ― Eu quero. Heather olhou para as presas do jornalista. Frio serpenteou pelo corpo dela, gelando seu sangue. Sou a única maldita pessoa no mundo que não possui presas, ou que imagina ser um vampiro? Ela olhou para o Dante. Ele era de tirar o fôlego. Criativo. Com velocidade sobre humana. Seria ele um vampiro? De Noir estendeu a mão na direção do braço do jornalista, aparentemente preparado para escoltá-lo para fora do palco, quando parou, com a mão ainda no ar, e o olhar perdido. A música parou. As luzes da casa diminuíram, então se apagaram. ― Você consegue escutar isso? ― Dante falou, sua voz cheia de surpresa. ― Sinto um ritmo... Como fogo, como a sua canção Lucien, como... Heather caminhou na direção do som da voz do Dante. Na escuridão, qualquer coisa poderia acontecer. Um assassino poderia se aproximar. Um rápido corte ao redor da garganta... Saber que o assassino iria preferir o Dante vivo era um pequeno conforto... Por enquanto. Estendendo a mão, ela procurou pelos braços dele. Os dedos dela deslizaram contra o látex, e se fecharam ao redor do antebraço do Dante. ― Me escute com atenção ― De Noir falou, sua voz contida e urgente. Dante gemeu de dor. ― O que? – Heather falou, seu corpo ficando tenso ― O que há de


errado? As luzes voltaram a se acender. Ronin continuava imóvel na beirada do palco, suas sobrancelhas baixas, com uma expressão intensa enquanto observava o Dante e o De Noir. A mão do De Noir estava presa ao redor do ombro do Dante e para Heather parecia que suas unhas se cravavam na camisa do Dante. Dante encontrou o olhar do De Noir, com uma expressão confusa. Heather soltou o braço do Dante – o que há de errado? – ela repetiu. ― Me escute ― De Noir falou ― Se proteja. Deixe isso do lado de fora ― ele ergueu o queixo do Dante com um dedo comprido. ― Devo partir. Prometa que você não vai me seguir. Dante continuou olhando para os agora brilhantes olhos dourados do De Noir, e mesmo que ele não tenha dito nenhuma palavra, Heather teve o pressentimento que muita coisa estava se passando entre eles. ― Deixe-me ajudar – Dante sussurrou, a frustração obscurecia seu rosto. ― Prometa. Se soltando do dedo sob seu queixo, Dante olhou para longe, sua mandíbula tensa. Então ele deslizou dois dedos sob o colarinho da camisa, ao lado do colar. Ele puxou seus dedos manchados de sangue, e os pressionou contra os lábios do De Noir. ― Eu prometo. ― Um juramento de sangue – Ronin suspirou. Seus olhos escuros brilhavam. Ainda com o sangue do Dante em seus lábios, De Noir marchou escada abaixo e para dentro da multidão. ― O que foi tudo isso? ― Heather perguntou. ― Eu não sei. ― Dante falou com uma voz rouca ― Ele não me contou. ― ele passou a olhar por sobre a multidão, e Heather o acompanhou. De Noir já estava subindo as escadas para o terceiro andar. Ele havia


retirado sua camisa vermelha. Seus músculos poderosos se tencionavam. A camisa flutuou pela escada, como uma pétala de rosa caída do buquê de um amante. Uma silhueta escura correu atrás de De Noir pelas escadas, depois que ele entrou no corredor e desapareceu de vista. Uma princesa gótica, de cabelos vermelhos, crinolina e meia arrastão juntou a camisa abandonada. Ela a pressionou contra o rosto enquanto descia a escada. ― O De Noir é um vampiro... Um noturno... Também? ― Heather se virou para olhar o Dante. Deixando os braços caírem ao lado do corpo, Dante balançou a cabeça ― Não. Ele é um dos caídos. Garras. Olhos dourados. Fogo azul. ― Como da história dos anjos? Isso não diz respeito ao caído. Dante deu de ombros. ― Essa é uma das histórias. ― Então é isso ― Ronin murmurou. ― É hora de você ir embora, Tom curioso ― Dante falou ― Você já acabou aqui. ― Tudo bem – Ronin ergueu as mãos. ― Não vim aqui fazer inimigos. Um sorriso ergueu um dos cantos da boca do Dante ― Mentiroso. Um súbito movimento passou pelo canto dos olhos da Heather, e o repentino cheiro de fumaça e gelo passou em uma rajada de vento e Von estava parado ao lado do Ronin. Os dois homens (vampiros?) eram da mesma altura, e se olhavam nos olhos. ― Escoltei você para dentro ― Von falou ― Agora levo você para fora. ― Novamente llygad, estou honrado. O nômade passou pelo Ronin e desceu as escadas. Ronin encontrou o olhar do Dante. ― Puro sangue ― ele falou ― Me avise se você mudar de ideia. Se virando ele seguiu Von escada a baixo. Heather os observou até chegarem ao hall de entrada, com o nômade guiando. ― Puro sangue?


Dante balançou a cabeça. ― Ele é cheio de merda. ― Mas o que isso significa? ― Não importa ― Dante falou ― O recado mencionou meu carro. Vou ir dar uma olhada. Heather se aproximou, sentindo seu cheiro quente e terroso. ― Sozinho não. É muito perigoso. ― Não estou pedindo a sua permissão ― o Dante falou ― Não vou ficar sobre o meu traseiro e deixar uma pessoa que gosto para morrer. ― É claro que não. Mas eu vou com você. Surpresa iluminou o rosto do Dante ― Como amiga ou como policial? ― Ambos― Heather falou com a voz baixa. ― Sou ambas. ― Sim? ― um sorriso curvou os lábios do Dante. ― Sim. Você vai precisar de um amigo, e um pouco de sorte... Dante segurou o rosto da Heather, suas mãos quentes contra a pele dela ― Para dar sorte ― ele murmurou contra os lábios dela, e então a beijou. Ela fechou os lábios. Os lábios dele eram suaves e firmes contra os dela, incitando a chama que fervia dentro de suas veias, e remexeu as brasas em sua barriga. Cedo demais o beijo acabou e as mãos do Dante deslizaram para longe do rosto dela. Ela abriu os olhos. Mas não viu divertimento na expressão dele, ou um sorriso nos lábios. Ele apenas a olhava, completamente aberto. Os pensamentos dela que giravam loucamente diminuíram. O calor corou suas bochechas quando ela percebeu que havia estado tão surpresa pelo beijo, que não o havia tocado, ela ficou parada lá, com as mãos pendendo ao lado do corpo. Como se nunca tivesse beijado antes. Com certeza isso é muito melhor que um aperto de mão. ― Vamos ― Dante falou. Ele estendeu a mão para ela. Heather a segurou e o seguiu pelas escadas. Rostos e cheiros passavam por ela como um borrão, dreads, moicanos, cachos dourados, o cheiro acido do tabaco, cravo, patchouli. Ela voou, sem peso, com a mão quente do


Dante segurando a dela. Repentinamente do lado de fora, Heather sentiu seu peso retornar e o Dante largou sua mão. Ela o seguiu através o estreito beco entre a pizzaria e o Clube Inferno, até a rua atrás do clube. Dante parou ao lado do MG parado junto ao meio fio. Heather parou do lado do passageiro. ― Você não tem habilitação ― ela falou. ― Verdade ― ele abriu a porta e deslizou para o banco do motorista. ― Isso é um problema? Heather abriu a porta do passageiro, então se curvou e espiou para dentro. ― Você não tranca o carro? Dante não respondeu. Ele olhava para algo preso á direção, seu rosto triste. Ele desamarrou com mãos tremulas. E a coisa se desenrolou da direção. Um pedaço de uma meia preta. Igual aquele deixado ao redor do pescoço da Gina.


17 Nascido sociopata Sangue escorria pelos dedos do E. Ele serrou os dentes e afundou a faca ainda mais profundamente. A ponta raspou contra algo, trancando. Ele fez uma pausa, esperando pela dor. Nada. Ele usou a outra mão, deslizando os dedos pelo ferimento na base do crânio. Gentilmente tocando a coisa que o estoque havia batido. Pontas suaves. Sem nenhuma sensação. Uma risada escapou da garganta do E, um som baixo, contido e furioso. Então foi assim que ele me encontrou em Nova York. Por quanto tempo aquele fodido tem me rastreado? Interessante o fato dele nunca ter mencionado os rastreadores.


E cutucou ainda mais. Seus dedos escorregaram e ele perdeu o contado com o implante. Sangue escorreu por dentro do colarinho, quente contra sua pele gelada. Mudando o estoque ensanguentado para a outra mão, E limpou a mão suada nos jeans. Trocando novamente de mãos. Ele apertou a faca, e seguiu com o trabalho. E prendeu a ponta do implante. Pressionando com a faca. Preciso com os dedos. Ele estava em um daqueles quartos baratos de motel que tanto desprezava, sentado em uma cadeira de madeira instável, arrancando um chip via satélite da sua maldita carne, com uma de suas malditas facas. Obrigado Tom-Tom. Piscando para afastar o suor de seus olhos, E nivelou a ponta da faca sob o implante. E a girando. Uma repentina dor aguda, espalhou fogo ao longo da coluna dele, então o chip ficou livre. Com frio e tremendo apesar do fogo que queimava na base de seu crânio, E abaixou as mãos até a mesa. A faca ensanguentada espetou a superfície de laminado barato. Suas mãos seguravam o minúsculo e ensanguentado transmissor. Ele o cutucou com o indicador. Nada. A mão do E se fechou ao redor do implante. Ele se virou na cadeira e olhou para o conteúdo dos arquivos espalhados pela colcha manchada, e a imagem do monitor de um laptop: Dante com uns treze ou quatorze anos de idade, rasgando a garganta de seu pai adotivo com a ponta dos dedos, sangue se espalhava pelo seu belo e rosto pálido. A senhora Prejean já estava morta, caída no chão da sala de jantar, sua cabeça apenas um amontoado de ossos brancos, punhados de cabeço e pedaços de cérebro. Fodidamente bonito! Vai irmãozinho vai! Pais adotivos, E bufou. Sim, certo, se você considerar cafetões como figuras paternais. É claro, a mamãe e o papai da Bad Seed sabiam tudo sobre os Prejeans, sabia como eles usavam os garotos que o estado entregava para eles. Sabiam como eles haviam ficado felizes quando o Dante foi entregue para eles. Os Prejeans havia conseguido um bom dinheiro com o Dante. Mas


claro que mesmo com seu prêmio propriamente preso, alguns de seus clientes havia saído seriamente feridos. Havia algo sobre um pênis arrancado a mordidas, ou quase isso. E sorriu. Ele levantou e seguiu para o banheiro. Parando junto ao vazo sanitário ele largou o implante dentro da bacia. Pequenas gotas de sangue mancharam a água. Ele deu descarga. Deixe que o Tom-Tom o siga agora. Deixa a Johanna Moore suar um pouco. Mamãe estou voltando para casa, e não vou estar sozinho. Voltando para o quarto, E se ajoelhou ao lado da cama. Ele retirou o CD do laptop. Fechou o monitor. Recolocou os documentos, relatórios e fotos de volta nos envelopes. Uma foto chamou sua atenção e ele a separou da pilha. Um garoto pequeno, dois ou três anos, um punhado de cabelo cor de areia se arrepiava na parte de trás da cabeça. Ele sorria para a câmera. Atrás dele, um homem e uma mulher estavam sentados em um sofá de vime, sangue manchava as almofadas. Um buraco escuro se abria na têmpora do homem (o pai) e um na testa da mulher (a mamãe). A arma estava no chão bem sob a mão ainda pendurada do homem. E não conseguia lembrar se ele viu o pai matar a mãe, e então se matar, no velho padrão de assassinato e suicídio. Se viu, aquilo não deve tê-lo incomodado muito. Ele não conseguia lembrar do incidente e nunca foi incomodado por pesadelos. Bem, não sobre seus pais, afinal de contas. E recolocou a foto de volta junto com os papeis e as guardou na pasta. Então, seus pais haviam morrido quando ele tinha quase três anos, e a Bad Seed havia comandado sua vida desde aquele momento. A mãe do Dante havia sido pega pela Bad Seed quando ainda grávida, então eles a carnearam depois de dar a luz. E balançou a cabeça. Nascido como um sanguessugas. Quem iria imaginar?


De volta a mesa da cozinha, E preparou outro gin com tônica. Ele tomou um longo gole para lavar o gosto daquele dia de sua boca. Criado como um sociopata. Assim que a Bad Seed o nomeou. Nascido um sociopata. Assim a Bad Seed nomeou Dante. Mas eles estavam errados. Ele engoliu o restante da bebida, o gosto limpo do gin clareou sua cabeça. Muito errados. Ele largou o copo e caminhou para o banheiro. As luzes fluorescentes zumbiam. O espelho refletia seu olhar assombrado, seu pescoço manchado de sangue. Ele sorriu. Desligando a luz. E voltando a ligar. Ele sorriu novamente. Umedecendo uma toalha de mão na torneira, E limpou o sangue do pescoço. Dante não era o único Puro sangue. A Bad seed não havia criado E apenas pelo pequeno e sorridente Elroy. E já existia e andava ocupado empurrando o pequeno Elroy para fora da foto. E enxaguou a toalha na pia. Água ensanguentada escoou pelo ralo. Ele passou a toalha contra o local onde o implante estava e arfou entre os dentes. Maldição aquilo ardia como um filha da puta. A irmãzinha do E não morreu de SMSI23. Ele a havia sufocado. Pressionado o cobertor contra o rosto dela até ela parar de se mexer e ficou parada. Ele tinha isso como uma de suas primeiras memórias. Era estranho não lembrar dos pais, mas, é assim que as coisas funcionam. Talvez se ele fosse responsável pelas mortes ele se lembrasse. Pendurando a toalha manchada de sangue na beirada da pia, E fechou a torneira. Ele precisava comprar alguns Band-Aids. Ele se perguntou se o Dante precisou de curativos depois de ter arrancado o implante. Vampiros supostamente deveriam se curar rapidamente e todas essas merdas, então talvez ele não tenha precisado. A Bad Seed havia feito merda. Eles não tinham apenas um sociopata por natureza, eles tinham dois, puro sangue (Vampiro e Humano) e eles acabaram de perder completamente o controle sobre o pequeno projeto. E pegou a caixa das pastas e a sacola preta que havia pego emprestado 23

Síndrome da morte súbita infantil


do armário do Tom-Tom, abriu a porta do quarto usando uma de suas já ocupadas mãos e a ponta de seu Nikes. Ele marchou através do semi deserto estacionamento, esmagando o cascalho sob os tênis. Equilibrando a caixa e a sacola contra a perna, E conseguiu destrancar e abrir a porta do Jeep. Ele colocou a caixa no banco de trás e então jogou a sacola no banco do carona. A sacola preta estava cheia de coisas boas para se subjugar um sanguessuga. Drogas (apenas drogas derivadas de produtos naturais ou feitas especialmente para o sistema dos vampiros funcionavam) algemas (oh, não do tipo comum feita para humanos, oh não) e uma camisa de força, uma muito especial. A principio, E achou que acabaria fazendo uma visita ao Ronin durante o dia, para experimentar alguns dos brinquedinhos com o sanguessuga. Mas ele teve uma ideia melhor. Uma ideia muito melhor. Ele iria se fazer de morto. Voltar para a casa alugada. Guardar todos os brinquedinhos. E fingir que ele ainda não sabia de merda nenhuma. Até o momento certo... O momento em que o Tom-Tom conseguir levar o Dante para casa ou em que o Dante decidir entrar pela janela do Ronin para acabar com tudo. Em ambos os casos, E estaria pronto. E deslizou para trás do volante e colocou a chave na ignição. O Jeep pegou na hora, o cheiro forte de gasolina e da exaustão do motor deixava uma nuvem branca no ar frio. Ele olhou para o jornal jogado ao lado dele no banco, e releu a manchete. Assassino Cross Country morto na Flórida. Sério? Um arranhar, com pedras rolando soou no interior do Jeep. E forçou sua mandíbula a se abrir. O som parou. Ele estava furioso o suficiente para moer seus dentes. Ou algum idiota havia ousado copiar seu trabalho, e foi pego no ato... Ou alguém quer afastar o Bureau... Tirar a Heather do caminho dele. E


essa pessoa tinha que ser a mamãe da Bad Seed, Johanna. Se ele continuar a agir, ficará obvio que ele não estava morto, a menos que a Bad Seed planeje se certificar de que ele não mate novamente. O suor começou a molhar o cabelo do E. Eles se achavam mais expertos do que ele? Eles acham que entendem mais sobre a morte do que um verdadeiro sociopata, um nascido assim, e não criado? E pegou a bolsa com suas ferramentas do assoalho do Jeep e fez um inventario: uma corda, um rolo de arame, alicates, luvas de látex, fita adesiva, um pequeno maçarico de corte. A única coisa faltando era seu livro de poesia Navarro. Ele o pegaria quando fosse devolver as cosias do Ronin. Nessa noite ele havia declarado sua independência. Nessa noite ele vai procurar por aquela pessoa especial. Alguém que aprecia tanto suas habilidades quando sua poesia... Com um pouco de persuasão. O sono finalmente libertou Johanna e seus sonhos se dissiparam como uma névoa noturna refletida na luz do sol. Gordas abelhas zumbiam, o som vibrava através de seus dedos. Ela abriu os olhos. Não eram abelhas. Também não havia luz do sol. Apenas o carpete sob o rosto dela e o vibrar do telefone. Ela puxou seu corpo até ficar de joelhos. Por quanto tempo ela ficou dormindo? Horas? Dias? As pílulas deixavam seu ritmo natural fora de sincronia. A cada vez que as usava, levava mais tempo para voltar ao normal. Juntando o telefone do chão, ela o abriu. ― Sim? ― Chequei todos os voos que chegaram nas ultimas vinte e quatro horas – Gifford falou ― Craig Stearns chegou em Dulles ás cinco e trinta dessa manhã. ― Quando ele partiu? ― Sete da tarde. Para Nova Orleans. Johanna passou os dedos pelo cabelo. Ela havia subestimado Stearns, ou mais precisamente, o seu apego pela agente Wallace. ― Ligue para o seu


pessoal em Nova Orleans ― ela falou. ― Dê a eles o Stearns e a Wallace. Danos extremos. ― Entendido. Johanna fechou o telefone. Na verdade, ela havia cometido mais de um erro com o Stearns. Ela deveria tê-lo matado no dia em que ele descobriu a Bad Seed. Mas ela achou que seu passado obscuro e o conhecimento dela o manteriam em silêncio. Ela estava certa sobre isso ― o silêncio dele. Mas ela simplesmente esqueceu que Stearns era um homem de ação, e não de palavras.


18 Tudo isso por ti Com a pulsação rugindo em seus ouvidos, Dante segurou a meia preta com ambas as mãos. Um papel amarelo estava colado ao tecido delicado. Ele o puxou.

1616 St. Charles. Dante levou a meia até o nariz. E cheirou. Nada mais restava da Gina. Nenhum traço de seu perfume de cerejas pretas. Ao invés disso ele sentiu o cheiro de sabão misturado com luvas de borracha. Ele abaixou a meia, com a garganta apertada. Cada pedacinho dela tinha desaparecido.


Os dedos dele se fecharam ao redor da meia. Seus olhos se fecharam com força. Fogo queimava através de suas veias; a raiva fazia seus pensamentos entrarem em combustão. Há distância vespas zumbiam. O Jay ainda estaria vivo? As vespas se afundaram ainda mais na pele do Dante. Rastejando por sua mente, seu corpo reverberando com o zumbindo alto. A cabeça dele doía com isso. Dante-anjo? Ela confia em você? Ela acredita em você? Temo que sim, princesa. Ela está mais esperta agora, não é Dante-anjo? Uma mão tocou o queixo dele, o forçando a virar a cabeça. Dante abriu os olhos. Heather estava olhando para ele, para dentro dele, e mantendo seu olhar. Ele escutou os batimentos do coração dela golpeando com força e rápido. ― Respire Dante ― ela falou o soltando ― Você está bem? Dante estendeu a meia ― Como que eu supostamente terei que acordar? Entendimento iluminou os olhos azuis da Heather, mas algo mais obscureceu o rosto dela. Ela puxou a meia das mãos dele, o material sussurrou contra a pele dele. Ele respirou fundo e foi quando viu as lágrimas. Ele olhou para suas mãos, suas unhas. Fechou as mãos como punhos. O inchado abdômen de uma vespa desapareceu sob seus dedos – brilhoso, molhado e monstruoso. Ele estremeceu. ― Ele não está somente provocando você, ele está contando com você. Dante olhou para a Heather. Ele percebeu que ela já estava falando á algum tempo, antes de passar á escutá-la. O zumbindo começou a desaparecer. ― Deixe que ele me tenha. As sobrancelhas da Heather se enrugaram. ― Isso novamente ― ela murmurou ― Ele sabe o que você não... Ele conhece o teu passado. Ele sabe


como jogar com você. E eu gostaria de saber o porquê. ― Não ligo ― Dante ligou o MG e pisou fundo no acelerador. O carro rugiu ganhando vida. A mão dele se fechou ao redor da alavanca de cambio. A mão da Heather se fechou ao redor da dele, quente e forte. Ele olhou para ela. ― Ele está em vantagem – ela falou. ― Sim, talvez ele esteja ―, Dante falou – mas você o tem perseguido por três anos. Vai deixá-lo escapar? Dante a encarou, escutando ao ritmo estável de seu coração. Ela cheirava a limpeza e doçura, como o ar depois de uma tempestade, e por um momento, o zumbindo parou quando olhou nos olhos dela. Heather largou a mão dele, e afastou o cabelo do rosto. Ela respirou profundamente ―, Estamos sozinhos nisso ― ela falou, fechando seu sinto de segurança. ― O caso foi fechado. Não posso chamar reforços. ― Nem eu. Dante tocou sua ligação com o Lucien. Mas estava fechada. A preocupação pesou no estômago dele. O repentino alarme nos olhos escuros do Lucien haviam deixado Dante chocado; o havia sacudido para fora daquela canção desconhecida, que corria pela noite e pulsava junto com o ritmo de seu sangue. O que poderia assustar o Lucien? Essa questão deixava Dante gelado. Engatando a primeira, Dante guiou o MG para dentro do trafego. Festeiros se amontoavam nas ruas, abrindo caminho relutantes quando o MG se chocava contra eles. ― Facas podem ferir você? ― Heather perguntou ― balas? Dante olhou para a Heather, surpreso. ― Claro qualquer coisa pode machucar. Uma bala na cabeça ou no coração pode me deixar inconsciente por algum tempo... Pelo menos foi o que me contaram ― ele voltou sua atenção para a rua. ― Nunca fui baleado antes. ― Você é rápido. Pode pegá-lo? ― Sim, se ele for mortal. Se não for, talvez. ― ele falou girando a direção para a direita e apertando a buzina. Um turista cambaleou para trás,


com um sorriso bêbado no rosto, e estendeu seu dedo médio. ― Todos os DNAs eram humanos. ― Então não devemos ter problemas. Dante manobrou o MG através da rua cheia de gente, seus reflexos guiavam o carro ao redor de pedestres e policiais a cavalo, acelerando sempre que conseguia espaço. ― O que o Ronin quis dizer com puro sangue? Dante olhou para ela. ― É a minha amiga perguntando, ou a policial? ― ele trocou a marcha do MG assim que entrou na Rua Canal. ― Sou ambas Dante. Isso não mudou. Dante assentiu. Ganhando velocidade ele engatou a terceira marcha. Luzes Neon dançavam pelo para brisas. Faróis atingiam seus olhos, como holofotes moveis. A dor parecia espinhos em sua cabeça já dolorida. Ele gemeu. Pontos coloridos dançaram em frente aos olhos dele. Ele desprendeu os óculos escuros do cinto, então os colocou no lugar. As luzes na direção oposta ficaram mais fracas, e a dor diminuiu. Dante respirou fundo, tentando aliviar a tensão em seus ombros, mas os músculos se recusavam a relaxar. Heather ainda esperava por uma resposta. Ela não falou nada, mas ele sentia a antecipação dela. Quarta marcha. Ainda ganhando velocidade. As luzes se tornando um borrão. ― Um puro sangue é alguém que nasceu vampiro. ― Nasceu? Isso é possível? ― Foi o que me contaram. ― Por que ele te chamou disso? ― a voz da Heather estava suave, perplexa. ― Se você é um vampiro... E estou disposta a admitir que isso é possível, então alguém fez você, certo? Quem te transformou? E quando? Dor atravessou a têmpora do Dante. E mais abaixo, atrás de seus pensamentos, algo se quebrou como vidro. As mãos dele se prenderam ao redor da direção. Uma luz branca borrou o canto da sua visão. Ele cerrou a


mandíbula, fazendo com que a dor se afastasse. Agora não. Que merda agora não! Buzinas soaram e pneus cantaram enquanto o Dante passava com o MG por um farol vermelho. Luzes da cidade, velhos carvalhos obscurecidos, e trilhos brilhantes de bondes se misturavam em uma única e continua imagem. ― Jesus Cristo! Dante escutou vinil estalando enquanto a Heather apertava suas mãos contra o painel. ― mais devagar ― ela falou, sua voz estava calma. Incentivando. ― Talvez você possa sobreviver a um acidente nessa velocidade, mas eu não. Vespas zumbiram. O veneno queimou pelas veias do Dante. Dedos quentes se fecharam ao redor dos dele na alavanca de cambio. ― Por favor, Dante. Mais devagar. A voz calma da Heather foi como uma cachoeira apagando o fogo que o consumia, jogando as vespas para as profundezas junto com ela. Ele respirou fundo e aliviou a pressão de seu pé sobre o acelerador. Reduzindo para terceira. Luzes e cores passaram de borrões á imagens distintas: casas, árvores, carro. O suor escorria pelas têmporas dele. ― Escute ― Heather falou, sua mão ainda apertando a dele. ― Uma armadilha foi preparada. Você sabe disso. Eu sei disso. E ainda assim você planeja caminhar direto para ela. E então o que? Dante olhou para ela. Sombras e luzes passavam pelo rosto dela. As luzes da rua fazia o cabelo dela brilhar. Ele deu de ombros. ― Não tenho planos. Vou improvisando com o que encontrar. Mas vou sair de lá com o Jay. Heather suspirou, massageando a ponte do nariz. ― Uh hã. Voltando sua atenção para a estrada, Dante começou a procurar pelo endereço dos prédios. ― Acho que ele acredita que você é uma criatura da noite. ― Heather falou ― Então ele vai jogar com isso. Mas não vai estar esperando por mim.


Até o Ronin achava que eu estava em Pensacola. Eles estavam perto. Dante reduziu a velocidade. Sua atenção passava de um armazém mal iluminado para outro. Outra quadra. Um prédio de pedras a direita com um letreiro desbotado CUSTOM MEATS24. ― Continue dirigindo ― Heather murmurou. Dante dirigiu por várias quadras passando o prédio, então entrou a esquerda, virando o MG para a rua paralela mais próxima. Se aproximando do meio fio, ele diminuiu a velocidade e desligou o motor. Colocando a chave no bolso, ele abriu a porta. Uma mão se prendeu em seu braço, dedos o apertaram com força. Apenas um puxão e ele estaria livre. Quem ele estaria deixando para trás, sua amiga ou a policial? Ele voltou a se recostar contra o banco, olhando para Heather. Ele estaria deixando as duas. ― Vou te seguir ― ela falou. A adrenalina acentuava o sotaque dela, e aquecia seu sangue. ― Sou o teu reforço. Repentinamente seus olhos azuis ficaram intensos. Ela irradiava uma emoção obscura, desesperada e quase violenta. Uma que Dante não conseguia nomear ― Me prometa que vai tomar cuidado. Ele a encarou, respirando seu cheiro cheio de adrenalina, escutando ao bater estável de seu coração. Ele passou de leve seus dedos pela bochecha dela. A pele dela estava febril. ― Não. Heather assentiu, com a mandíbula cerrada. Ela o libertou. Ela confia em você também, Dante-anjo? Temo que sim princesa. Ele correu. Ronin guiou o Camaro junto ao meio fio, então desligou o motor e olhou para a tela do GPS. Dante estava se movendo, correndo, julgando pela velocidade; seguindo para a Custom Meats como uma bola de canhão. 24

Carnes personalizadas – provavelmente se referindo á um açougue ou abatedouro.


Espero que o Étienne esteja pronto. Ronin abriu a porta do motorista, saindo do banco, e caminhando através da rua. É claro, Étienne realmente não fazia ideia. Ele estava tão cego por sua ira e dor, por seu desejo de fazer o Dante sentir um pouco do mesmo, que não havia reconhecido um puro sangue. Não havia reconhecido a morte encolhida naquele magro corpo de um metro e setenta e nove, nem o perigo naquele belo e pálido rosto. Será que foi o Dante que queimou a casa do Étienne? Se foi não seria a primeira vez que ele bancou o incendiário. Ou outra pessoa fez o trabalho sujo e deixou que o Dante levasse a culpa? Quem saberia? Tudo o que importava era que Étienne acreditava que o Dante era responsável e faria qualquer coisa para puni-lo. Com o GPS em mãos, Ronin se moveu, correndo como a brisa da noite ao longo da rua abandonada. Ele procurava pela Agente Wallace. A presença dela no clube o havia pegado completamente desprevenido. Com seus olhos azuis observadores, ela ficou parada ao lado do Dante naquele palco como se pertencesse aquele lugar. Como uma igual. Uma mortal. Ele a havia subestimado. Ela entendeu as mensagens quando o Dante não conseguiu; ela não acreditou na armação desesperada da Johanna. O que levava a questão? Por quanto tempo mais Wallace precisava viver? Ronin conhecia sua fille de sang, a volta da Wallace para Nova Orleans fora uma sentença de morte. E iria sentir falta dela, mas então, ele também não iria viver por muito mais tempo. Incomodava o Ronin o fato de não ter visto o E recentemente. Será que ele estava em algum lugar provando que sua ficha estava errada? Emburrado? O fato de não conseguir rastrear o receptor de GPS do E , deixou Ronin gelado. Será que a Johanna já o teria desligado, por assim dizer? Ou E descobriu a verdade que Ronin vinha escondendo dele?


Ronin deslizou para as sombras entre os prédios, colocando os óculos escuros para impedir que o brilho de seus olhos o entregasse. Um movimento mais acima chamou sua atenção. Ele parou. E olhou para cima. Dante estava subindo no telhado do Custom Meats, a luz da lua brilhava contra o couro e metal. Ele caminhou pela beirada do prédio, leve e rápido, seus olhos cobertos com os óculos de sol, estavam focados no concreto sob seus pés. Ronin reforçou seus escudos. Acalmando sua mente questionadora. Dante parecia ser parte da própria noite, cabelos pretos e rosto branco como a lua, que pairava ás margens dos sonhos, um elemento antigo. Ele se lembrava da sensação dos lábios do Dante contra os dele, o calor inesperado das mãos contra seu rosto. Lembrou do cheiro, fumaça, madeira e gelo. E lembrou do que o Dante murmurou contra seus lábios. Você nunca provara do meu sangue. As mãos do Ronin se pressionaram contra a parede atrás dele, suas palmas raspando contra os tijolos e argamassa ásperos. Veremos criança, veremos. Dante parou. Inclinando a cabeça escutando. Ele cruzou o centro do telhado, parando, então deu mais um passo. E despareceu. O som de vidro quebrando ecoou através das ruas adormecidas. Um sorriso tocou os lábios do Ronin. O garoto era difícil de prever. Dante havia simplesmente pulado pela claraboia. Com o toque dos dedos dele ainda pairando em seu rosto, Heather observou Dante correr pela rua, um borrão, se movendo rápido demais para ser visto. Ele desapareceu na noite. Ou se fundiu a ela. Ela olhou para a calçada vazia. O motor do MG estalava enquanto esfriava. A apreensão se alojou na barriga dela, retorcendo tentáculos de duvidas ao redor de sua coluna. Ela abriu a porta do passageiro. Ela pensou em ligar para o Collins, mas percebeu que estaria pedindo para que ele arriscasse sua carreira. E ele provavelmente faria de qualquer


maneira. Heather saiu do carro e silenciosamente fechou a porta. Nada se movia pela rua. Sombras se estendiam para longe das luzes da rua. A maioria das casas estava ás escuras, assim como a pequena vizinhança comercial. O mercado do Papai e da Mamãe. A loja de livros usados. Outra de antiguidades. Ela caminhou pela rua, o solado de borracha de seus tênis praticamente silenciosos contra o pavimento. Sua bolsa batendo contra o quadril, ela fez uma pausa; mas era tarde demais para correr de volta ao MG. Colocando a bolsa para trás, ela olhou para o caminho de cascalho entre a loja de antiguidades e a de livros usados. Onde estava o Dante? Já teria entrado? Prometa que você vai tomar cuidado. Não. A voz dele, baixa e firme, havia acariciado seu coração assim como os dedos dele contra seu rosto. Raiva surgiu através dela, alimentando o fogo em sua barriga. Lindo, sexy, mas teimoso. Leal até o fim. A voz da Simone sussurrou na mente dela: o que você precisa lembrar m‟selle, é que o Dante nunca mente. Então como ele poderia prometer tomar cuidado, quando isso poderia custar a vida do Jay? E se o Jay já estiver morto? Ela afastou tal pensamento. Heather saiu do beco e caminhou juntos ás sombras que se alongavam na calçada. Do outro lado da rua estava à frente do Custom Meats, com suas janelas lacradas e tinta vermelha desbotada parecendo ferrugem. O alto som de vidro estilhaçando cortou o silêncio da noite. Heather puxou seu .38 do coldre dentro do bolso. Mesmo enquanto corria atravessando a rua, ela percebeu que o peso da arma estava completamente errado. Não estava carregada. Enquanto ela olhava para seu .38 um movimento repentino mais a frente fez com que olhasse para cima. Ela deitou no pavimento molhado, então rolou para a esquerda. Segurando o .38 vazio com ambas as mãos, mirando entre seus joelhos


dobrados para a escuridão que corria em sua direção com uma velocidade de parar o coração. Ela apertou o gatilho. O .38 disparou cortando a noite, a bala entrou na carne. Heather deixou escapar a respiração que havia prendido. Não havia balas no tambor, mas ainda havia uma na câmara. Thomas Ronin estava é menos de um metro dela, com uma das mãos pressionadas contra a lateral do corpo. Sangue vazava entre seus dedos. Ele parou olhando para o ferimento. ― Merda. Heather rolou até ficar em pé, voltando a apontar a arma. Ela tinha outro pente no bolso, mas não havia tempo para pegá-lo e colocá-lo no lugar. ― Não se mova ― ela apontou o .38 para a testa do jornalista, esperando que ele acreditasse em seu blefe. ― Uma bala no cérebro vai te incapacitar por algum tempo. Ronin olhou para ela. Um sorriso curvando seus lábios. ― Dante seu safado. Contando os segredos do negócio. O mais incrível é que você acreditou nele ― ele balançou a cabeça. A mão se afastou do ferimento. Algo deslizou de seus dedos e estalou contra o concreto. ― Ele te falou que isso dói? E dói muito? O suor começou a escorrer pelas mãos da Heather. ― Se você não quer que doa muito novamente, fique onde está. Limpando os dedos ensanguentados no jeans, Ronin gargalhou. ― Você tem coragem. ― Você está aqui pela história? ― Heather perguntou, cuidando para manter a arma apontada para a testa do jornalista e torcendo para que ele não conseguisse escutar sua pulsação acelerada. ― Ou foi você que armou tudo? Ronin inclinou a cabeça. ― Ai está a palavra novamente... Nós. Eu armei para o Dante. Não posso fazer nada se você veio junto ― ele se moveu. Algo se chocou contra a têmpora da Heather. Uma luz azul piscou no


campo de visão dela. Ela tropeçou. O .38 foi arrancando das mãos dela, quebrando a unha do seu dedo do gatilho até a raiz. Dor correu por seu braço até o cotovelo. Um metal brilhoso girou pelo ar. O .38 caiu no telhado da Custom Meats. Mãos ásperas a fizeram virar, um braço passou ao redor do pescoço dela. Apertando. ― É a hora do Dante acordar ―, Ronin falou, sua voz macia, afável. ― e hora de te desejar boa noite. A visão da Heather começou a escurecer. Ela jogou o cotovelo para trás, esperando acertar o ferimento do Ronin, e pisou com força no pé dele ao menos tempo. Ele apertou com ainda mais força. Ela arfou a procura de ar. As unhas dela se cravaram no braço dele. A escuridão a engoliu por completo. Em meio a uma chuva de vidro, Dante aterrissou no concreto mais abaixo. O cheiro de sangue e terror velhos permeava o prédio, se prendendo as paredes como uma sanguessuga faminta. Ele se levantou, pedaços de vidros caíram dos ombros e cabelos dele, rolando no chão de concreto manchado e empoeirado. Grossos ganchos e correntes penduradas brilhavam na escuridão. Não havia energia elétrica. Sem luzes. Apenas um resquício na luz da lua que entrava pela claraboia quebrada. Mas aquela era toda a luz que ele precisava. Uma imagem piscou: sangue jorrando contra as paredes, rostos brancos, uma janela. Uma voz perguntando, o que ele está falando? A imagem desapareceu, mas o Dante ficou ainda mais agitado. Empurrando os óculos para o topo da cabeça, ele escutou. Dois corações. Um mais lento, um pouco errático; o outro profundo e estático. Um mortal. E uma criatura da noite. Adrenalina queimou através dos músculos do Dante. Respirando profundamente o ar estagnado, ele correu. Correntes estalavam no caminho do Dante, e uma memória cravava suas garras nele com dedos frios. Dor queimou atrás de seus olhos. Ele a ignorou. Assim que ele chegou ao final do cavernoso prédio, uma porta se


abriu, o metal gemendo contra o concreto. O cheiro de uma criatura da noite. Um cheiro limpo e apimentando, cheio de sangue e quente. Familiar. Uma luz fraca saia da porta aberta do freezer, luz de velas, e uma forma pulou para fora com uma velocidade de uma criatura das trevas. Tranças negras, pele cor de café com leite, olhos negros como café queimado e tão amargos quanto. Étienne. Dante seguiu direto para ele, baixo e rápido. Étienne desviou no ultimo momento antes do impacto, mas Dante girou junto com ele, batendo com o antebraço no rosto dele. Sangue jorrou do nariz quebrado do Étienne. Ele atingiu o chão com força e com o Dante sobre ele. O ar saindo de seus pulmões. Agarrando um punhado das tranças tingidas de azul, Dante jogou a cabeça do Étienne contra o concreto repetidas vezes. Algo estalou – o chão, o crânio, Dante não tinha certeza. Uma dor profunda irradiou em seu lado direito. Olhando para baixo, ele percebeu que Étienne estava socando suas costelas. Dante socou o nariz inchado do Étienne. Os olhos do vampirando rolaram e o corpo dele ficou mole. Dante fez uma pausa, com o punho sujo de sangue ainda erguido, e as tranças ainda presas em sua outra mão. Ele escutou. O cabelo da sua nuca se arrepiou. Fácil demais. Heather estava errada. Ou alguém (Étienne?) estava copiando o assassino ou o assassino não estava trabalhando sozinho. Ela falou que havia DNA de um mortal. Vidro se quebrou sob as botas dele. Dante largou o cabelo do Étienne e abaixou o punho. Outro coração batendo. Outro cheiro familiar. Criatura da noite. Os músculos dele se tencionaram. Ele largou o corpo do Étienne e levantou. O cabelo dele balançou quando um recém chegado correu passando por ele. Dante respirou fundo e sentiu o cheiro de tabaco, tinta e areia do deserto. Suas mãos se fecharam como punhos. E quanto a uma criatura da noite que é jornalista e possui um assistente


pervertido que gosta de espiar? Dante virou para olhar á porta do freezer aberta. Ronin estava recostado contra a parede ao lado dela, um das pernas dobradas atrás dele, e com um sorriso frio nos lábios. Os olhos dele brilhavam. Os óculos de sol balançavam na frente dele. ― Seu mentiroso filho da puta ― Dante cuspiu. Ronin abriu os braços ― Você deveria saber. Você tem vivido uma mentira ― ele bateu com um dedo contra a própria têmpora. ― Acorde S, é hora de acordar. Tudo isso é para você ― ele entrou no freezer, caminhando na direção da fonte das batidas irregulares de um coração mortal. Jay. Dante entrou em movimento, mergulhando através da porta e para dentro da luz laranja. Rolando e ficando novamente sobre os pés, ele olhou para cima. E congelou. Uma figura estava pendurada pelos tornozelos em um gancho de metal, enrolado e amarrado em correntes presas ao material de uma camisa de força. O cabelo loiro pendia contra o chão. O rosto pálido. Lábios quase brancos. Olhos fechados. Imagens piscaram através da mente do Dante. A visão de um cabelo vermelho. O cheiro do sangue coagulado. O brilho frio das correntes. Dor explodiu na mente dele, o fazendo cair de joelhos como um soco contra a cabeça. Sua visão se apagou. Dante-anjo? O que o pequeno maluco está falando? ― Você ainda pode salvá-lo puro sangue. Tudo o que você precisa fazer é acordar. Vespas zumbiram, rastejando nervosamente sob a pele do Dante. Conseguindo ficar em pé, tonto devido a dor, ele se jogou na direção do Ronin. O Jornalista desviou do ataque do Dante, o empurrando enquanto


passava. Desequilibrado pelo empurrão do Ronin e pelo próprio impulso, Dante se chocou de ombro contra a parede. Enquanto ele se virava, uma mão se fechou ao redor da garganta dele, o jogando contra a parede. A cabeça do Dante se chocou mais uma vez contra o concreto, fazendo cores fraturarem sua visão. Os dedos ao redor da garganta dele se apertaram ainda mais. Lutando para respirar, Dante fechou uma das mãos ao redor do pulso do Ronin. Energia empurrava contra seus escudos. Suor escorria pelas têmporas, fazendo seus olhos queimarem. O escuto cedeu, falhando. Arfando por ar, ele socou contra a barriga do Ronin repetidas vezes. Ronin se dobrou, seus dedos deslizando para longe do pescoço do Dante. Sugando o ar através da garganta que queimava, Dante prendeu suas mãos em ambos os lados da cabeça do jornalista e jogou o rosto presunçoso e mentiroso dele contra seu joelho. Ossos quebraram. Sangue jorrou. Dante empurrou Ronin para longe, o jogando para o outro lado do freezer. O jornalista balançou lutando para manter o equilíbrio. Sangue escorria pela garganta do Dante. Ele passou a mão sob e nariz. Sangue brilhava quase negro ás luzes das velas, manchava a costas das mãos dele. Gemendo por causa da luz ele procurou pelos óculos, percebendo que os havia perdido na luta contra Étienne. Náusea fez as entranhas do Dante se retorcer. A enxaqueca fez sua mente sangrar dardos de luz branca, penetrando seus pensamentos. Mas um deles prevaleceu ― Jay. Dante empurrou a dor para longe. Se afastando da parede, ele seguiu para o centro do freezer. Os olhos do Jay se abriram. Alivio surgiu naquelas profundezas verdes. Um sorriso apareceu em seus lábios. ― Mon ami ― ele sussurrou ― sinto muito... ― Shhh. Je suis ici ― Estou aqui. Dante circulou o corpo amarrando e pendurado do Jay, seus olhos presos no Ronin. O jornalista levantou, seus olhos escuros calmos sobre seu


rosto ensanguentado. Sem parar de olhar para o Ronin, Dante passou os braços ao redor do Jay, o erguendo para fora do gancho. Enquanto ele se abaixava, largando Jay no chão de concreto, Ronin sorriu. Então se moveu. Pulando para cima, Dante posicionou seus pés em ambos os lados do corpo do Jay e se preparou para o ataque do Ronin. Jeans deslizou sobre o látex. Enquanto o Dante se abaixava e virava, algo agarrou seu cabelo e puxou a cabeça para trás. Dor correu por seu escalpo. ― Peguei você marmot25 ― Étienne se ergueu do chão e se juntou a luta. Uma sequencia de socos atingiu Dante em uma rápida sucessão, duros como pedra. Então Ronin se afastou. Dor explodia a cada soco. Base da garganta. Externo. Barriga. Virilha. Dante arfava por ar, mas ao invés de respirar ele se engasgava, enquanto suas entranhas tentavam se virar do avesso. Ele cuspiu sangue no chão. Sua visão ficou borrada. Ronin girou para outra rodada. Dante ergueu os braços, bloqueando os primeiros dois golpes. Os últimos dois acertaram suas costelas de ambos os lados. A dor o fez perder o fôlego. Mande a dor embora ou use-a. ― A tua linda agente do FBI não vai se unir a você ― Ronin falou. Ele se ajoelhou ao lado do Jay. ― Uma pena mesmo. Poderia ser divertido. Heather. O pensamento machucava, como um pedaço de vidro afiado. Luz rodopiou através da visão do Dante. A cabeça dele latejava. A dor pulsava em suas têmporas. Jay. Mande embora ou use-a. Dante se reclinou contra o corpo quente do Étienne, então deu um passo para frente e continuou se movendo. Dor correu por sua cabeça, enquanto seus cabelos ainda presos aos dedos do Étienne eram arrancados. Sangue pegajoso e quente escorreu por seu pescoço. ― Acorde S – Ronin murmurou. E passou seu dedo indicador na garganta do Jay. 25

Fedelho.


Sangue jorrou através do chão sujo e respingou no rosto do Ronin, e na camisa de força branca. Jay engasgou. ― Não! ― Dante caiu de joelhos ao lado do Jay e mordeu seu próprio pulso. Sangue escorreu, escuro e cheio de vida. Jay olhou para ele, seus olhos dilatados, assustados, e morrendo. Braços se fecharam como pedaços de ferro ao redor do Dante. O derrubando sobre o traseiro. Ele lutou para se libertar, girando e jogando o cotovelo na direção das costelas do Étienne. O vampiro deixou a respiração escapar em um doloroso ufu. Dante lutou para ficar sobre os pés. Étienne cravou suas unhas, achando látex e pele. Dante gemeu. O sangue jorrando pelo corte na garganta do Jay já estava diminuindo. Ele havia formado uma enorme lagoa ao redor do Jay e manchado seu cabelo de vermelho. Os olhos quase fechados do Jay estavam fixos no Dante. ― Aguente ― Dante falou ― Continue aguentando. Um sorriu surgiu nos lábios pálidos do Jay. Se jogando para frente, com cada gota de adrenalina que lhe restava, Dante arrastou Étienne junto com ele pelo chão, na direção do Jay. Suor escorria em seus olhos. Dor ferroava suas têmporas. Ele afundou os dentes em seu pulso quase fechado. Sangue voltou a escorrer. Eu sabia que você viria por mim. O pensamento do Jay penetrou na dor que tomava conta da mente do Dante, silenciando as vozes que sussurravam mais abaixo. Eu sabia que você viria. Mais peso caiu sobre o Dante, o prendendo contra o chão de concreto. Outro par de mãos o puxou, o colocando novamente de joelhos. O prendendo com braços de ferro. Pernas o aprisionaram. Uma mão se fechou ao redor de sua garganta. Eu sabia. Dante tentou se libertar dos braços e pernas que o prendiam, lutando para alcançar seu pulso, e arrastar os três pelo chão. Ele seguiu por alguns


centímetros, antes de sua força acabar. Um suspiro escapou dos lábios do Jay. Seu coração parou. A luz desapareceu de seus olhos. Uma mão afastou o cabelo do Dante, lábios quentes tocaram a orelha dele. ― Como se sente, marmot? Dante gritou.


19 Elohim Asas batiam através do ar da noite, Lucien voava, olhos fechados, escutando a ária complicada que vibrava através de seu coração e mente, e repetia um negro refrão de informações em sua consciência. Agora ele sabia quem estava cantando, o quanto havia viajado. E por que. Então Lucien se manteve em silêncio, mantendo-se sem voz. Ele se recusava a compartilhar coisa alguma com aquele que gorjeava pela exuberante noite de Nova Orleans.


O ar frio e úmido passava por ele, banhando seu rosto com o orvalho iluminado pela lua. Lucien ainda sentia o gosto do sangue do Dante, negro e doce, em seus lábios. Ainda sentia sua relutância e frustração. Sentia o cheiro de sua magoa afiada e amarga. Você sempre esteve por perto para me ajudar. Seja o que for, me deixe ajudar você. Não. Feche a sua mente. Se proteja. Prometa. Vá se foder. Prometa. Abrindo os olhos Lucien afastou todos os pensamentos do Dante para longe de sua mente. Sua canção não era a única coisa que ele se recusava a compartilhar. Suas asas varreram a noite, o levando em direção ao chão, enquanto ele descia no St.Louis numero três. Folhas mortas rodopiavam pelas calçadas do cemitério, presas na propulsão de suas asas. Lucien tocou seus pés descalços nas pedras frias da calçada. Um aingeal26 estava pousado em uma tumba encoberta pela névoa e marcada com o nome BARONNE, suas asas negras como couro envolviam seu corpo o escondendo – com exceção de seus pés em forma de cascos. Marcas prateadas visíveis apenas á luz das estrelas estavam gravadas em suas asas. Seu cheiro de ozônio, terra revirada e orvalho frio da noite, perfumavam a cidade dos mortos. Repentinamente, uma saudade inesperada queimou pelas veias do Lucien e fez sua garganta se apertar. Sua pulsação batia junto ao ritmo da fantasmagórica canção do wybrcathl. Solidão serpenteou ao redor do coração dele. Já fazia tanto tempo. Ah, mas por sua própria escolha. ― Hail, loki. Bela canção ― Lucien falou ― o seu convite foi recebido. O wybrcathl parou abruptamente e um pesado silêncio se abateu pelo cemitério, até mesmo os insetos se calaram. ― Mas não foi respondido da mesma maneira. Muito intrigante meu irmão ― as asas do aingeal se abriram para revelar sua cabeça abaixada. 26

Anjo em Irlandês antigo


Símbolos prata se enrolavam e trançavam ao longo de todo o lado direito do corpo nu do Loki, cobrindo sua garganta, torso e mãos em forma de garras. Braceletes dourados circulavam ambos os pulsos e seu bíceps direito. Um grosso torc27 dourado se retorcia ao redor da garganta. O cabelo longo e vermelho cobria seu rosto. Vários fios flutuavam na brisa. Loki ergueu a cabeça. Olhos dourados brilhavam na escuridão. ― Esperava ser desafiado por sua canção? ― Um desafio? – Lucien bufou, cruzando os braços sobre o peito. ― Com você? ― suas asas se curvaram atrás dele. ― Você está tentando me matar de tanto rir, irmão? Dobrando as asas atrás deles, Loki olhou para a lua, com uma expressão de resignação no rosto. ― Arg! O bom e velho Samael. Nenhum senso de humor. ― Pelo menos tenho mais que a Lilith. ― mesmo depois de mil anos ou mais, ele ainda sentia certa dor, quando falava o nome dela. ― Falando como um verdadeiro ex amante. Dando um passo para frente, Lucien estendeu a mão e segurou o tornozelo do Loki. O puxando. Assustado e batendo as asas Loki caiu de seu poleiro. ― Ela já perdoou aquele sua brincadeirinha de „anjo Moroni‟28? ― Lucien perguntou. ― Bem, mais ou menos ― Loki resmungou. Se ajoelhando no chão encoberto pela neblina, ele olhou para o Lucien. ― Isso é mesmo necessário? ― Absolutamente. Diga, ela ainda governa Gehenna29? ― uma imagem com cabelos negros, olhos escuros e pele cremosa piscou na mente do Lucien. Ele ficou gelado ao perceber o quanto Genevieve havia se parecido com ela. Havia? 27

Colar grosso, normalmente rígido e feito de dois filetes de metais retorcidos como cordas. Morôni é retratado como uma estátua na ponta das torres da maioria dos templos Mórmons, porque se acredita que ele seja o anjo do qual é falado em Apocalipse 14:6 29 Um dos nomes do inferno. 28


Ainda ajoelhado, Loki puxou vários cravos amarelos de um vaso em frente á tumba fechada com cadeado. ― Estou surpreso por você se importar depois de tantos séculos metido no mundo dos mortais – ele resmungou ― Mas sim. E Gabriel uniu forças com o Morningstar para montar outra campanha contra ela. Lucien se abaixou em frente ao Loki. ― E você, naturalmente, está jogando em ambos os lados. Loki cheirou o doce perfume dos cravos, seus olhos se fechando com o prazer. A névoa serpenteou ao redor de sua forma nua. Agarrando em suas asas em tufos. ― Mmmm. Naturalmente. Mas não é por isso que estou aqui. Lucien tocou com uma garra a runa em forma de X em seu pescoço. A brisa jogava fios de cabelo em seu rosto. ― Não é. Você está a procura de um ramo dos Elohim que não mais existe, um que morreu com Yahweh. Abrindo os olhos, Loki o observou atento. ― Não existe mais? Por favor. Ambos sabemos que há um Maker30 aqui ― ele mordiscou as pétalas amarelas com seus dentes afiados. ― escutei a anhrefncathl irmão, selvagem, jovem, masculina. Ele é poderoso. Mas você também deve escutar a canção caótica dele. Lucien manteve o olhar do aingeal, mas nada falou. Ele acreditava ― esperava― que com a retirada dos Elohin do mundo mortal a tanto tempo atrás, a canção do Dante continuaria desconhecida; que o primeiro creawdwr nascido desde Yahweh (e o primeiro mestiço já conhecido) continuaria incógnito. Uma esperança tola. Uma crença desesperada. Loki largou os cravos e olhou para o Lucien por um longo tempo. ― Mas nunca esperei encontrar você. Você ainda fala em sussurros. Lucien balançou a cabeça, nojo fazendo seus músculos se contraírem. Falando em sussurros. Por que ele havia tentando defender a creawdwr 30

Construtor,criador, executor.


atormentado. O som das palavras desesperados do Yahweh ainda ecoavam através de sua mente, mesmo depois de todo esse tempo. Deixe que me tenham. Seus pensamentos voltaram ao Dante. Um punho se fechou ao redor de seu coração. Ele encontrou o olhar cuidadoso do Loki. O aingeal puxou uma pétala do cravo e a colocou na boca. A luz das estrelas brilhou ao longo de seus símbolos tribais. ― Juntos podemos prender esse creawdwr ― Loki falou. ― Mantê-lo longe da insanidade. Prendê-lo e treiná-lo. Podemos unir os Elohim e você poderá reger Gehenna novamente. ― Reger ― Lucien cuspiu. ― Pense duas vezes antes de me insultar novamente ― ele levantou com as mãos fechadas ao lado do corpo. ― Nunca vou permitir que esse creawdwr seja acorrentado ao desejo dos Elohim. Marque minha palavras, vou matá-lo antes disso acontecer. Todas as expressões desapareceram do rosto do Loki. Ele mudou sua atenção para as flores de cemitério em suas mãos. ― Você não vai conseguir impedir que ele enlouqueça, irmão. Não sozinho ― ele falou, sua voz pensativa. ― Se você não o prender, talvez a morte seja a melhor escolha. ― Não posso prendê-lo sozinho ― amargura encheu a voz do Lucien, o surpreendendo. Ele olhou para o lado. ― Você precisa de mim. Lucien riu ― Estou indo muito bem, até agora ― ele olhou para o Loki, encontrando seus olhos dourados ― Deixei para você jogar a verdade em minha cara. Loki limpou o pólen de seus lábios, tentando esconder um sorriso. ― Nosso segredo ― ele falou ― A Lilith e o Morningstar nunca irão saber. Nenhum deles vai. Você pode confiar em mim quanto a isso ― Uma sinceridade falsa iluminou os olhos dele. ― Eu juro, Samael. Em meu nome. ― Ah ― Lucien ergueu as mãos e examinou o sangue nos ferimentos deixados por suas garras. ― Estou intrigado por seu pendente ― Loki falou com a boca cheia de


cravos. ― A runa da amizade. Um presente? ― Sim. Do meu filho. Uma criança muito especial. Loki engasgou, tossiu e então sorriu ― Um filho? Parabéns... Lucien abaixou suas mãos sangrentas sobre a cabeça do Loki. Uma luz pálida e etérea se curvou para fora de suas palmas, se misturando a neblina. O sangue pingou nos cabelos vermelhos do aingeal, então caindo na terra encoberta. Ligação. Os olhos do Loki se arregalaram com a terrível realização. ― Especial...? O creawdwe! ― Incapaz de se mover, ele curvou suas asas para frente como proteção. A neblina pálida encobriu o aingeal encolhido, criando uma rede solida. ― Pela terra, pelo sangue, pelo ar, e o poder do teu verdadeiro nome, Drwg de Elohim, eu o prendo á sua promessa e o fecho como uma pedra ― Lucien falou, sua voz profunda moldando a noite. ― Sem voz, sem visão, sem respiração, até que eu quebre o selo e o traga de volta a carne. Em meu nome, está feito. Cansaço queimou seus olhos, Lucien caiu sobre um joelho e pintou um grifo na testa petrificada do Loki. Ele olhou para a estátua encolhida. Asas curvadas para frente, a boca aberta em um grito interminável, flores parcialmente devoradas esmagadas em uma das mãos, Loki guardava os portões de ferro da tumba atrás dele, um gárgula relutante. ― Agora eu confio em você, irmão. As asas do Lucien o ergueram para a noite. Ele espiralou sobre a cidade iluminada e pelo grandioso e reluzente rio que se estendida á distancia. Ele respirou fundo o ar gelado. Mas um medo, negro e pesado como uma pedra se alojou em sua barriga. O anhrefncathl do Dante, uma musica única dos creawdwr, havia passado pela fina parede entre Gehenna e o mundo mortal. Será que apenas o Loki havia escutado a musica do Dante? Ele veio sozinho? Ou foi enviado? Muito acima do Lucien, um avião cruzou a noite, suas luzes piscando


através da escuridão. O dragão rugiu enquanto gradualmente desaparecia. Por quando tempo mais ele poderia esconder sua criança dos Elohim? Como ele poderá impedir que o Dante use seus dons creawdwr? Dons? Desde quando loucura é um dom? o ultimo creawdwr havia transformado seu rosto em um pilar de luz abrasadora. Ele havia queimado arbustos apenas com um olhar. Eu sou. Uma velha tristeza se alojou na garganta do Lucien. Você foi incapaz de proteger Yahweh das intrigas da corte Elohim. Ou de sua própria mente que desintegrava. Yahweh também o havia chamado de amigo. Os dedos do Lucien se fecharam ao redor do pendente gelado ao redor de sua garganta. Era hora de falar a verdade para o Dante. Hora de lhe contar seu nome. Seus pensamentos se voltaram para Genevieve, para a bela mortal que ele amou por um breve momento. Dante era um puro sangue, nascido vampiro. O que significava que Genevieve havia sido transformada quando ainda estava grávida. Lucien largou o pendente. Onde estaria Genevieve agora? Criatura da noite ou mortal, ela nunca deveria ter abandonado o filho deles. Não enquanto ela ainda respirasse. Uma escura certeza pousou no coração do Lucien. Genevieve, a risonha, a pequena formanda da Academia Ursuline, não mais respirava. Ele lembrava da fragrância de madressilva de seus cabelos pretos, o calor de seus abraços, as perguntas em seus olhos escuros. Se você existe, então Deus também deve existir? Yaheh morrem, pequenina. Mortais devem se tornar seus próprios deuses. A igreja quer se tornar Deus. Mas está vazia. Senti isso a primeira vez que me sentei em um banco de igreja. Mas o amor é real. Amor e fé. Fé é um deus morto? Não mom chéri. Para ambos. O vento frio queimava os olhos do Lucien e molhava seu rosto. Dante


nunca o perdoaria. Por não ter contado. Pela mentira. Por não saber de sua existência. Isso será punição suficiente minha Genevieve? Ganhar o ódio de nosso filho, para mantê-lo a salvo, isso será o suficiente? Eu sempre pretendi voltar para você... Lucien destravou seu link com Dante e o abriu com uma chicotada de energia. Uma dor afiada e cristalina explodiu em sua mente. Raiva, coração partido e extinto primal, uivaram através de sua essência. Os escudos internos do Dante haviam se quebrado e caído. Atordoado e oprimido pela cacofonia, Lucien começou a despencar em direção a cidade luminosa.


20 Coração mais negro “sob águas paradas eu deito / os dedos de minha mãe seguram meu cabelo / para o fundo de porcelana / ela ondula sobre mim / uma deusa / não uma mulher / querendo lavar o sangue / sob águas paradas eu deito / minha mãe, minha ancora / fecho os olhos / e respiro / sob águas paradas...” E leu o poema em voz alta, falando acima do gorgolejar, chiados e outros sons vindos do sofá. Ele fechou o livro e o recolocou na bolsa.


― Adoro o trabalho do Navarro ―, ele falou para a coisa arfante amarrada ao sofá ensanguentado. ― ele fala com os corações mais obscuros. Se reclinando na poltrona, E inclinou a cabeça e observou sua mais recente criação. Ele removeu tudo àquilo que fazia Keith um macho e os espalhou ao redor da sala artisticamente. Na mesinha do café ao lado de uma vela. Na estante aninhado ao lado de um porta retrato com Keith e mais alguém... Uma amante... Irmã... Quem é que ligava? Ele sorriu. Bem, Keith provavelmente se importava. O gorgolejar e chiados continuaram. E passou as mãos cobertas por luvas de látex, na frente do avental de açougueiro ensanguentado que usava. Completamente nu sob ele. Isso mantinha suas roupas limpas, e era, francamente, muito libertador. Ele se inclinou para frente e revirou sua bolsa, até seus dedos encontrarem o objeto que estava procurando. Ele puxou uma furadeira a bateria. Apertou o botão para ligar. A máquina ganhou vida em alta velocidade. Ele colocou os ósculos protetores que estavam no topo da cabeça, e caminhou até o sofá. Ele estava morto? O caso estava encerrado? Os sons de engasgos ficaram mais rápidos e frenéticos. ― É hora de recitar o poema para mim ― E murmurou, abaixando a furadeira.


21 Caindo dos céus Lucien caiu. O mundo girava abaixo dele. A cidade se tornou um único borrão de luz. O ar frio o chicoteava, gelando suas bochechas e congelando seu cabelo e asas. As barreiras do Dante haviam se quebrado. Memórias fragmentadas rastejavam para fora das profundezes e deslizavam através de sua consciência. Dor devorava o Dante de dentro para fora, dor forte o suficiente para derrubar o Lucien dos céus. A canção do caos, escura e distorcida, pulsava fluindo para dentro da mente calcinada do Lucien. Criador. Destruidor. Despreparado e abandonado.


Naquele momento ele soube que havia falhado com seu filho. Assim como falhou com Genevieve. E também com Yahweh. As altas torres de uma igreja despontavam sob ele; fortes campanários pretos enchiam sua visão. Ele se chocou contra a madeira anciã, passando pelo ático, teto e grossas estruturas, seu corpo girando á cada batida. Seus ossos se quebraram. A madeira quebrada se cravara em suas asas. Dor o encobriu em uma rede quente e vermelha. Como uma estrela, Lucien caiu em uma câmara iluminada. Acima dele as palavras SANCTUS SANCTUS SANCTUS DOMINUS DEUS SABAOTH31, circulava o teto alto e arqueado. Sua dor entrou em seu link. A música do Dante falhou, e então parou. Lucien? Usando o fim de suas forças, Lucien fechou o link entre eles. Então ele caiu contra os bancos de madeira. Dor correu por seu corpo enquanto as lascas de madeira polida voavam pelo ar perfumado da igreja St.Louis. Ele atingiu o chão. O teto girou. SANCTUSSANTCTUSSANCTUS se transformou em um borrão de tinta âmbar. Lucien caiu na escuridão. Heather flutuou em uma escuridão sem sonhos. Sua cabeça doía. Ela abriu os olhos e encarou o sol manchado pelas nuvens. Ela estava deitada no chão, um chão duro, úmido e cheio de cascalho pelo que conseguia sentir em suas costas. Seu pensamento voltou no tempo. Uma lufada de vento. Vidro explodindo. É hora do Dante acordar. A voz do Ronin ecoou através da cabeça dolorida da Heather. Ela sentou, ou pelo menos tentou. Algo puxou seu pulso direito, a prendendo e ela caiu de lado. Ela respirou sentindo o cheiro de terra molhada, óleo, e lixo. Ela olhou para o pulso direito. O metal reluziu. Ela estava algemada á um cano de escoamento no beco. 31

Santo Santo é o Senhor Deus dos Exércitos


Por quanto tempo ela havia ficado inconsciente? O Dante ainda estava no prédio? E o Ronin? Heather se arrastou para mais perto do cano. Se recostando contra o prédio, ela se sentou. Ela examinou as algemas, que provavelmente eram as suas. Sua bolsa havia sumido. Ela finalmente a encontrou do outro lado do beco, o conteúdo espalhado como confete ao longo do chão de cascalho. Heather bateu a cabeça contra a parede. E seu 38? Uma rápida olhada ao redor, confirmou que ele não estava por ali. ― Merda. Merda. Merda! Uma memória tomou vida. Um pedaço de metal girando contra o céu noturno. Ela olhou para o teto da Custom Meats. Tudo bem. Deveria haver uma maneira de subir. Com um pente cheio no bolso... Heather apalpou o casaco, procurando pelo pente sob o tecido. Sua mão se fechou sobre uma forma retangular. Respirando aliviada, ela olhou para a entrada lateral do prédio. A porta estava parcialmente aberta, jogando sombras no beco. Ela prestou atenção, mas sem conseguir escutar nada. Seu olhar seguiu até os objetos de sua bolsa: uma bolsa de maquiagem, distintivo, carteira, chaves, goma de mascar, cortador de unhas, celular, lixa de unha, uma pequena lanterna. Heather voltou sua atenção para a lixa de unha. Se ela conseguisse alcançá-la, talvez pudesse tentar abrir as algemas. Tentar, arrombar e rezar. Inclinando o máximo que a algema permitia, ela tentou alcançar a lixa, seus dedos raspando no cascalho. Ela se espichou, a algema arranhando o pulso, e marcando. Ela mexeu os dedos, fazendo a sujeira entrar sob suas unhas. A respiração começou a raspar em sua garganta cada vez mais apertada, o pulso latejava. Heather voltou a apertar o corpo contra o prédio. Longe demais. Se houvesse algo que ela pudesse usar, e puxar... Se deitando de lado, com o braço algemado ao lado do corpo, ela tateou o chão com os pés, usando os sapatos ela chutou pedras, pedaços de


conchas, vidro, pontas de cigarros e restos de chicletes petrificados em direção as mãos. Os dedos dela deslizaram sobre um metal. Ela olhou para o chão. A lixa de unha suja de terra havia parado próximo á mão dela. Ela fechou os dedos ao redor do objeto, o apertando contra a mão. Voltando á ficar sentada, Heather girou a lixa na mão e a empunhou como uma faca, e prendeu uma das pontas entre o suporte e o cano de drenagem. A lixa arrancou tinta do cano. Cerrando os dentes, ela girou a lixa sob a braçadeira. Quebra desgraçada! Um das pontas da braçadeira repentinamente se soltou da parede. A lixa cortou o ar e Heather caiu sobre o cotovelo. Largando a lixa ela puxou as algemas pelo cano até se soltarem. Ela levantou e correu para os fundos do prédio. Ela pulou, segurando a beirada da escada de incêndio, e a puxou. A escada deslizou até o chão, o metal soando tão alto quanto a tampa de uma lixeira caindo ás quatro da manhã. Ela agarrou os degraus frios com ambas as mãos e escalou, a algema batendo contra o corrimão. Quando ela chegou ao telhado, cacos de vidro da claraboia chamaram a atenção da Heather. E então ela viu a claraboia quebrada no meio do telhado. Vidro explodindo. Dante. Heather parava a cada poucos passos para quebrar o ritmo. Ela não queria que o Ronin soubesse que ela escapou. Se ele ainda estivesse ali. Ela se abaixou e escaneou o local a procura de um brilho de metal, do familiar formato do .38. Então ela o viu junto da abertura quebrada. Ela levantou, se forçando a continuar no ritmo lento. Deslizando a mão para dentro do bolso do casaco, ela puxou o pente. Ela se ajoelhou com cuidado para não esmagar nenhum dos cacos de vidro, e juntou o .38 colocando o pente carregado no lugar. Um grito cortou o silêncio, desesperado e cheio de negação. Ela congelou a pulsação acelerada. O som morreu depois de segundos que


pareceram se estender, desaparecendo em um rugido de ódio. Dante. Com o coração martelando, Heather ficou em pé e correu para a escada. E começou a descer, quase pulando no chão. Ela deu a volta no prédio e correu pelo beco até a porta lateral, então entrou na Custom Meats. O urro angustiado do Dante fez o cabelo na nuca do Ronin se arrepiar, congelando seu sangue. Ele quase largou o garoto. Quase. Mais do que um pouco de loucura e sede de sangue preenchiam aquele grito. Até mesmo Étienne fechou a boca – seus sussurros de regozijo silenciado. Ronin despencou para dentro da mente do Dante, enquanto os escudos mentais que ele ia pressionando, desmoronavam sem resistência, dor fervilhava contra sua intrusão como um enxame de vespas que foram perturbadas. Imagens giravam, quebradas e fragmentadas, através da mente do Dante, imagens que o Ronin tinha dificuldade em decifrar. O símbolo da anarquia cortado em um dorso pálido... Um gota de sangue que se transformava em uma vespa com aparência metálica, que voou para longe... Uma janela estilhaçada, mas uma que se estendia pelo horizonte... Tonto Ronin se retirou da mente do Dante. Johanna havia feito seu trabalho muito bem. O garoto estava mais fodido do que ele imaginava. O desapontamento se alojou dentro dele. Os escudos do Dante haviam ruído, mas ainda haviam memórias escondidas, se disfarçando de símbolos. Ele acordou, mas via apenas imagens como cartas de tarot. Poderosas, mas confusas. As verdadeiras memórias se misturando com o subconsciente. Talvez um pouco mais de incentivo? Enrolando seus dedos nos cabelos sedosos do Dante, ele puxou a cabeça para trás, expondo a garganta. O garoto lutou contra o Ronin e Étienne o prendou com ainda mais força. Você nunca vai provar meu sangue. Ronin afundou os dentes na garganta do Dante, logo acima do colar de


couro. Sangue quente com um gosto escuro, de uvas aquecidas pelo sol e temperado com adrenalina e raiva, jorrou para dentro da boca dele. Ronin engoliu sem parar. Puro sangue. Oh sim. E mais. Uma energia elétrica surgiu através das veias do Ronin. Ele apertou ainda mais seus braços ao redor do jovem vampiro que lutava, e pressionou seus lábios ainda mais contra a pele. O forte batimento do coração do Dante pulsou através de sua consciência. Ronin escutou um bater de asas. Sem conseguir separar seus batimentos dos do Dante, Ronin afastou a boca da garganta do garoto. O gosto do sangue do Dante permaneceu em sua língua, fervilhando em suas veias, queimando como fogo sagrado em sua mente. ― Você estava errado garoto ―, Ronin falou ― eu tive mais do que uma pequena prova. ― Me solte chien, e veremos por quanto tempo você pode continuar com isso ― o Dante falou com uma voz baixa e contida. Puro sangue e...? uma possibilidade intrigante. Se for verdade, era uma informação que a Johanna não possuía. Ela nunca soube, ou se importou com o pai do Dante. Um terrível erro. Com os batimentos do coração mais calmos, Ronin segurou o cabelo do Dante. Novamente deslizando a mão pelo colar de couro que circulava a garganta da criança. Seus dedos se apertaram. ― Tudo isso é para você. Está vendo? ― segurando o queixo do Dante com a outra mão, Ronin virou o rosto do garoto para o corpo do mortal preso na camisa de força. ― Para você. A fúria do Dante se chocava contra os escudos como marretas. Os dedos do Ronin se apertaram até o garoto se engasgar á procura de ar. Étienne deu um soco contra as costelas danificadas do Dante. Uma das costelas estalou. O garoto gemeu de dor. ― Vou queimar a tua casa e te fazer observar, marmot. ― Étienne falou ― Vou beber a seco... ― suas palavras se perderam. Ele olhou para o Ronin confuso ― O que foi isso?


Uma fraca luz azulada começou a brilhas nas mãos do Dante. Ronin ficou tenso. Seus alarmes internos soaram, enchendo seu sistema de adrenalina. O que poderia ser? Poder surgiu do jovem, caótico e incontrolável. E definitivamente não vampírico. Dante se virou nos braços do Ronin, lutando para erguer as mãos que brilhavam. Enquanto Ronin largava o garoto, abrindo os braços, três coisas aconteceram simultaneamente: Étienne falou ― Você não vai a lugar algum marmot. A pele do Dante tocou os dois últimos dedos da mão esquerda do Ronin. A cabeça do Étienne voou para frente e então para trás, enquanto um tiro soava através do prédio. Ronin pulou ficando em pé. Uma energia caótica corria por sua mão. Desvendando, revelando, destruindo. Suor escorreu por sua testa. Segurando seu pulso, ele olhou para baixo. Os dois últimos dedos da mão esquerda haviam desaparecido. Como se não mais existissem. Sua mão havia se moldado como se tivesse apenas dois dedos e um polegar. Ele ficou olhando, o coração batendo contra o peito. A dor diminuiu. Sua mente se recusava a aceitar o que estava vendo. Um movimento rápido chamou sua atenção e ele olhou para cima. Dante se levantou e virou em uma velocidade incrível para encarar o Ronin. Mesmo sujo de sangue e ferido, a beleza do Dante era hipnotizadora. Raiva aparecia nos olhos manchados de dourados do menino, uma raiva contida por vinte e três anos. Mas sob isso, uma velha tristeza renovada. Olhos manchados de dourado. O atributo de um caído? Ou S teria acordado? ― O nome dela era Chloe ― Ronin falou. ― E você a matou. Dante parou. Mostrando a dor em seus olhos. Ronin se moveu. Heather apertou o gatilho do .38 novamente. O tiro passou através da


sala, o som explodindo no ambiente fechado. Ela girou, tentando rastrear o Ronin, e o encontrou atingindo o Dante com uma sucessão de golpes, o prendendo de quatro contra o chão de concreto. Antes que ela pudesse piscar, Ronin deu um forte chute nas costelas do Dante, o jogando para o meio da sala. Heather atirou mais duas vezes. Um gemido de dor a avisou que pelo menos uma das balas havia atingindo o alvo. Ela circulou a sala, segurando o .38 com suas mãos brancas. Se aproximando cada vez mais do Dante. Dante tossiu e cuspiu. Silêncio. Heather abaixou o .38. Ronin havia desaparecido. Respirando fundo o ar cheirando a sangue e a cera de velas, ela passou por cima do corpo do Étienne. ― Dante ― ela chamou por sobre o ombro ― você esta bem? ― ela percebeu o quanto aquilo soou insano. É claro que ele não estava bem. Seu amigo estava morto e ele acabou de levar uma surra. Mas ela precisava escutar a voz dele, para medir o quanto ele estava ferido. ― Lucien... não! ― ele falou, sua voz rouca e alarmada. Lucien? De Noir não parecia estar em lugar algum. Mas Dante já havia falado o que ela precisava saber. Ele estava ferido. Talvez muito mal. Heather se abaixou ao lado do Étienne. Ela arriscou um rápido olhar por sobre o ombro, na direção do Dante. Ele estava ajoelhado no chão, cabeça abaixada, o cabelo preto cobrindo seu rosto. Seus dedos tocavam o chão em ambos os lados de seu corpo, como se o mantendo no lugar. ― Sanctus, sanctus, sanctus ― ele falou. ― Espere ―, ela falou ― escute, nos vamos sair daqui juntos. Um furo que já se fechava atravessava a testa do Étienne. Sangue escorria por seu rosto, de uma das narinas. Seus olhos estavam entreabertos. Heather colocou uma das mãos na garganta do vampiro. O sangue pulsava sob seus dedos. Parece que afinal de contas ele possuiu um coração. Ela encostou o cano do .38 contra o peito do Étienne, logo abaixo de


onde o coração deveria estar. Isso é uma execução. Se você fizer isso, pode muito bem deixar os distintivo e tudo o que ele representa no chão do beco. Suor escorria por suas têmporas, e entre os seios. Seus músculos tremiam. E como posso levar esse bastardo para a corte? Ele é um vampiro, ela pensou, percebendo pela primeira vez que finalmente acreditava. Ele é um assassino. O Dante também. É assim que as coisas são, querida. Alguns você leva para a justiça. Outros você silencia. Enquanto outros você deixa ir embora. Não, não e não. O dedo dela pressionou ainda mais o gatilho. Sua respiração trancou na garganta. ― Meu. Assustada Heather afastou o .38 do peito do Étienne, seu dedo soltando o gatilho. Ela olhou para os olhos escuros e dilatados pela dor, de Dante. Nenhuma amostra de reconhecimento aparecia em seu rosto. Ele não sabe quem eu sou. Essa realização doeu tão profundamente que a surpreendeu. Como Annie, quando ela se perdia na dor da enxaqueca, bebida e loucura: quem diabos é você? Como Annie, irritado. Ferido. Ressentido. Heather se levantou, seus olhos presos no Dante. Ele definitivamente estava sentindo. Aquilo queimava em seus olhos, avermelhava seu rosto pálido, e fazia os músculos do corpo se tencionarem. Ele estava sobre o vampiro ferido, retorcendo parte da camiseta manchada de sangue ao redor de seus dedos, e puxando o corpo do Étienne para cima. ― Largue isso ― ela falou ― Você esta ferido Dante. Deixe-me ajudalo. Mas o Dante não respondeu, e a Heather não sabia se ele ao menos a havia escutado. A cabeça do Étienne balançava, suas tranças arrastando no chão, contas batendo contra o concreto. Ela viu de relance as presas do Dante enquanto ele mordia a garganta exposta do Étienne. Sangue jorrou.


Heather ficou olhando, sua pulsação forte em suas veias. Seus dedos apertados ao redor do .38. Dante não estava se alimentando, não, isso era outra coisa. Algo primal. Enfurecido e ferido. Todos os instintos que ela adquiriu durante seus anos de trabalho no Bureau, gritavam para que ela erguesse o .38 e acabasse com a carnificina acontecendo bem na sua frente. Mas... ela tinha o direito de interferir? Dante não era humano, agora ela sabia disso; e Étienne também não. Leis humanas se aplicavam a eles? Havia uma lei para as criaturas da noite? Um tribunal? Ou a justiça das criaturas da noite era feita dessa forma... um por um, selvagem, sanguinolenta e pessoal? Será que Dante estava com a razão? Ou o Étienne? Os sapatos da Heather deslizaram em algo. Ela olhou para baixo. Ela estava parada sobre a poça de sangue que circulava o corpo preso em uma camisa de força (não, é o Jay, o nome dele é Jay), que circulava o Jay. Ela havia se afastado sem notar. Ela se virou e olhou para os olhos verdes sem vida do Jay. Se abaixando, ela passou os dedos contra o rosto ainda morno. Será que ele foi morto enquanto o Dante observava? Ela lembrou do som ferido do grito do Dante, e sua garganta se apertou. Ela nunca deveria tê-lo deixado entrar sozinho. Estamos sozinhos. O caso foi fechado. Não posso chamar reforços. Nem eu. Sou o teu reforço. Ela afastou os dedos do rosto do Jay, os fechando como punhos. Que belo reforço. Quando o Dante precisou dela, ela não estava lá. Não importa que ela não contava em ser atacada por um vampiro. O que importa é que ela falhou com o Dante e o amigo que ele tentava salvar. Ronin e Étienne sequestraram e mataram o Jay. E a Gina também? ela estaria errada sobre o envolvimento do CCK? O pervertido que ela vinha seguindo por três anos era humano. DNA humano. Então tudo se encaixou. O assistente do Ronin ― Elroy Jordan.


Um par de assassinos. Seria um time? Era uma possibilidade que ela nunca estudou muito seriamente. Os estranguladores de Hillside haviam sido dois primos. Estariam o Ronin e o Elroy juntos no CCK? Ou apenas fingindo? Ela não sabia ao certo como o Étienne se encaixava naquele cenário, talvez ele apenas estivesse junto para aquele serviço, por seu ódio pelo Dante. Então... Onde estaria o Elroy Jordan? Algo bateu contra o concreto. Heather girou em seus calcanhares. Limpando o sangue da boca, com as costas das mãos, Dante se levantou. A cabeça do Étienne pendia em sua outra mão, as tranças presas ao redor dos dedos. Ele largou a cabeça sobre o peito do Étienne. O cabelo pulando a cada batida do coração. Os olhos piscaram. Passando sobre o corpo ainda com vida, Dante pegou uma das velas em uma caixa ao lado da porta, e a carregou de volta ao Étienne. Os olhos dele se reviraram na cabeça decapitada, arregalados e apavorados. Dante encostou a chama contra as tranças negras, a camisa cara e as calças sob medida. A fumaça começou a encher o ar. Cabelo e roupas pegaram fogo. Dante se levantou, o movimento fluido e calmo. O fedor de cabelo e pele queimados fechou a garganta da Heather. Com um ultimo olhar para o Jay, ela levantou e se afastou da poça de sangue pegajoso. Dante observou Étienne queimar. ― Hei― Heather falou calmamente. Ela estendeu a mão na direção dele, mas ele girou rapidamente, afastando a mão dela para longe, a agarrando, seus dedos se prendendo no antebraço dela. Ele a puxou para perto. E abaixou a cabeça. Heather empurrou o .38 contra as costelas dele, com o coração martelando. Em seus olhos ela viu solidão e perda. Saudade. Ele queimava contra ela, seu corpo ardendo com um fogo interno que rivalizava com o que consumia o corpo do Étienne. Dante cheirou o pescoço dela, seus lábios tocando a pele, e ela petrificou, mesmo que ela parecesse queimar por dentro com o toque dele.


Ela colocou o dedo contra o gatilho do .38. Dante ergueu a cabeça. O cabelo suado se prendia ao rosto dele, e sangue pingava do nariz. Ele fechou os olhos. O músculo da mandíbula dele pulsava. Seus músculos tremiam enquanto ele lutava por controle. Os braços da Heather formigavam, seus dedos ficaram gelados, enquanto o aperto da mão do Dante cortava a circulação. Ela se perguntou se ele estava ciente da arma contra as costelas dele. Ou se ele se importava. Desespero se apertou ao redor do coração dela. ― Dante não faça isso. Os olhos dele se abriram. Pupilas dilatadas e contornadas com manchas vermelhas e castanhas, ele olhou para ela. E a largou, então tocou o rosto dela com os dedos tremendo, afastando fios de cabelo. ― Heather ― ele sussurrou. Dor queimou pelo braço da Heather quando o sangue voltou a circular. Ela abaixou o .38 ao lado do corpo. O alivio e a surpresa na voz do Dante lhe disseram que ele acreditava que ela estava morta. Ela podia somente imaginar o que o Ronin havia falado para ele: peguei a agente do lado de fora. o pescoço dela se quebrou muito fácil. A questão era: por que ele não a matou? Heather tocou o rosto do Dante com seus dedos frios ― Você está ferido. ― ela falou ― Vamos... ― ela sentiu a pele macia e febril sob seus dedos e então somente o ar. ― Corra para o mais longe que puder de mim ― a voz dele estava contida, demonstrando dor. Ela se virou na direção do som. Dante estava parado a porta, as mãos ao lado do corpo. Ela abriu a boca para argumentar, mas era inútil. Dante já havia desaparecido.


22 Anjo de sangue A canção do Lucien queimava dentro do Dante, seu ritmo fraco e hesitante, brasas que se apagavam de um fogo que havia queimado estável por centenas (não milhares) de anos. Ele correu pelos degraus da catedral em direção ás portas duplas, que estavam trancadas. Ele olhou para cima. Venezianas fechavam as janelas. A imagem de uma câmara em arco – SANCTUASSANCTUSSANCTU – piscava na mente do Dante, explodindo em uma chuva de cores. Ele tocou seu link com Lucien, mas estava fechado. Ele o pressionou. Mas o escudo continuava no lugar.


Vozes sussurravam e zumbiam. Vespas rastejavam. Lucien, mon cher ami ― Lucien meu querido amigo Os olhos verdes do Jay, calmos e cheios de confiança até mesmo enquanto a luz se esvaia, preencheu a mente do Dante. Eu sabia que você viria por mim. Ele iria falhar com o Lucien também? Ele observaria a vida se apagar dos olhos dele? Uma misteriosa luz branca gravou grifos na borda da visão do Dante. Sangue pingava no concreto sob seus pés. Vozes gritavam e murmuravam atrás dele, nenhuma deles fazendo sentindo. Ele agarrou a maçaneta e puxou. Dante não precisava olhar para trás para saber que os mortais circulavam o MG, estacionado junto ás escadas da catedral. Ele podia sentir o cheiro deles, sangue, suor, álcool e desespero. Ele escutou seus corações, batendo, martelando, pulsando; um ritmo desconjuntado ecoando pela noite, sob o zumbido de suas vozes. Com um estalo alto a fechadura se quebrou. Dante empurrou as pesadas portas e entrou na câmara dourada que ele vira em sua mente antes da dor, branca, quente e que não lhe pertencia, que havia lhe roubado o fôlego e sua música. Um querubim dourado pairava no corredor, próximo aos bancos encerados. O cheiro de incenso e velas era forte e perfumado. Lavanda, óleo de rosas, e pesar, pairava pela catedral. Silencio tão espesso quanto algodão abafava os sons vindos da rua, mas amplificava as batidas do coração do Dante. Dante olhou para cima. Pintando em âmbar ao redor do teto em arco estavam as palavras SANCTUS SANCTUS SANCTUS. Um buraco denteado abria o teto dourado, destruindo uma das pinturas ovais de Cristo e Maria, ou de algum santo idiota. Ele abaixou seus olhos até os bancos quebrados do lado esquerdo da igreja. A ponta de uma asa negra despontava entre eles, como um barco á vela á distancia.


Dante correu pelo piso preto e branco, até o centro da catedral, então deslizou e parou ao lado dos bancos arruinados. Caído de lado, junto aos bancos destruídos, uma asa quebrada contra o chão, o longo cabelo preto cobrindo o rosto, Lucien jazia imóvel. A respiração do Dante ficou presa em sua garganta. Um pedaço de madeira quebrada empalava o Lucien, entrando em suas costas e saindo em seu esterno. Sangue manchava a estaca. A madeira balançava a cada lento bater do coração do Lucien. A luz reluzia no pendente em forma de X no pescoço dele. Dante pulou sobre os destroços de madeira e gesso que entulhavam o chão e se ajoelhou ao lado do Lucien, ainda imóvel. Ele estendeu a mão e afastou o cabelo do rosto do amigo. Seus dedos tremiam. Com a mandíbula cerrada ele o tocou (imagens explodiram em sua mente, vividas e abrasadoras). A meia preta da Gina enrolada em seu pescoço esguio, seus olhos vidrados encarando o vão da porta: amanhã a noite? O sangue do Jay se espalhando como asas negras sob ele: eu sabia que você viria por mim. Chloe se engasgando no próprio sangue, as mãos estendidas para Orem, sua orca de pelúcia: Dante meu anjo. Dor ricocheteava por sua mente e a breve imagem memória se quebrou e desapareceu. A visão do Dante clareou. Ele estava sentado no chão cheio de entulhos, sua mão congelada sobre o rosto encoberto do Lucien, o coração martelando, e a cabeça doendo. Prometa que você não vai me seguir. “Vá se foder” Dante sussurrou, e afastou o cabelo do Lucien. Sangue escorria por vários cortes pequenos no rosto do Lucien, e por um rasgo ao longo da garganta. Dante tocou as bochechas dele com a ponta dos dedos, e surpreendentemente sua mão estava estável. A pele estava quente sob seus dedos. Se inclinando Dante pressionou os lábios contra os do Lucien,


provando lagrimas e sangue. Não vou perder você ― o pensamento retornou sem ser ouvido ― não vou. Dante ficou de joelhos. Segurando a estaca ensanguentada ele a puxou. O pedaço de madeira quebrada deslizou para fora do corpo do Lucien, e sangue jorrou do ferimento, tão escuro que parecia negro. Dante jogou a estaca para o lado. Ela caiu contra um dos bancos, o som ecoou pela catedral. Dante passou os braços ao redor do Lucien o puxando para mais perto. Ele esperava que seu amigo fosse mais pesado, e quase derrubou ambos contra os entulhos do chão. Então ele lembrou como o anjo facilmente se lançou da sacada para o céu noturno, suas asas negras se desfraldando. Com o Lucien preso em seu colo, Dante pressionou as mãos contra o ferimento do peito. O sangue escorria quente e pegajoso por entre seus dedos. Os batimentos do Lucien diminuíram. As brasas de sua canção que se apagavam, esfriaram, o fogo de seu ritmo começou a diminuir. Dante levou o braço até a boca, mordendo o próprio pulso, então o abaixou até o Lucien. Sangue derramou contra os lábios do Lucien, caindo pelos cantos de sua boca, sem ser engolido ou provado. ― Beba, maldito. Não se atreva... ― as palavras morreram na garganta do Dante. A dor perfurava suas têmporas. Ele apertou os olhos fechados. Seu peito doía, como se tivesse sido socado no esterno. A dor se prendia ao redor do seu coração. Não vou ficar sentando e ver outra pessoa de quem gosto morrer. Mas ele o fez. Eu sabia que você viria por mim. Dante abriu os olhos, voltando a levar o pulso que já fechava até a boca, o abrindo com as presas. Bebendo seu próprio sangue até encher a boca. Se dobrando sobre o Lucien, ele o beijou, abrindo os lábios frios do anjo com sua língua. Seu sangue derramou como vinho quente dentro da boca do Lucien.


Dante respirou para dentro do Lucien, assoprando as brasas de sua canção até estarem vermelhas e vivas novamente. Sua própria canção fluiu para dentro do Lucien, escura, selvagem, e furiosa através das veias do anjo e seu sistema nervoso, o enchendo de luz azul e brilhante. Ele lembrou das asas do Lucien, negras, com um toque de roxo e macias como veludo. Lembrou da força de seus ossos. A espessura de suas garras. Ele refez o Lucien enquanto se lembrava dele; jogando luz azul para dentro do tecido do seu ser, puxando os fios soltos, e os trançando novamente. Ele lembrou da primeira noite no cais, cravando suas presas na garganta do estranho alado, sua dor diminuindo, então acordando nos braços do Lucien enquanto ele voava pela noite. Você nunca mais ficara sozinho criança. Dor se retorcia como uma chave de fenda atrás do olho esquerdo do Dante. Sua canção brilhou e ele queimou com ela. Carne se fechando. Ossos voltando para o lugar, imaculados; buracos desaparecendo das membranas das asas. Curado? Refeito? Dante não sabia. Ele cessou o beijo, esgotado e tremendo. Enquanto ele levantava a cabeça, Lucia abriu os olhos. E surpresa os iluminou. ― Genevieve. Um nome que Dante nunca escutou antes, mas não importava; o coração do Lucien batia forte e lento, vida brilhava dourada em seus olhos escuros. ― Mon ami ― Dante sussurrou. ― Você se parece tanto com ela ― Lucien murmurou sonhadoramente, passando um dedo no cabelo do Dante. ― Como quem? – Dante encarou o Lucien, repentinamente sentindo frio, sua felicidade se coagulando como sangue velho. ― A tua mãe. Heather saiu do taxi na esquina da Royal com a St.Peter. Ela abriu


caminho através da multidão que trancava a rua, respirando os odores de suor, cerveja e Dentyne enquanto forçava seu caminho através dos foliões. A porta do clube se abriu. O fraco bater do baixo explodiu junto com um grito. Von marchou para fora, com Simone ao seu lado, seu rosto fechado cheio de preocupação. Von parou, seus olhos cobertos pareciam presos na Heather. Ele ergueu uma mão. Nenhum sorriso lupino dessa vez, apenas a chamando com o dedo. Heather atravessou para a calçada do outro lado da rua, seu esperança de que o Dante houvesse retornado, desaparecendo a cada passo. Ela ficava apavorada em pensar nele vagando sozinho pelas ruas á procura do Ronin, ferido, furioso e completamente fora de si. Ela havia prometido ficar com ele, ser sua proteção, e ela falhou novamente. Dante não havia saído da Costum Meats com o Jay, e ela não havia saído com o Dante. Corra para o mais longe que puder. Ela tinha a impressão de que o Dante estava correndo por toda a vida. Heather parou na calçada ao lado do enorme nômade. Luz piscava e refletia em seus óculos escuros, e jaqueta de couro. Sua tatuagem de lua crescente brilhava sob os olhos. Simone assentiu cumprimentando, mas Heather notou a tensão em seus punhos serrados. ― O Dante não está aqui, não é? ― Heather perguntou. As sobrancelhas do Von se juntaram. ― Merda. Eu temia que você fizesse essa pergunta. Eu e os outros estávamos sentindo algumas coisas muito estranhas ― ele bateu os dedos contra a temporã. ― Então... ― tudo parou. ― O que aconteceu? Desapontamento dilacerou a Heather, e o que restava de sua força se esvaiu. Ela mordeu os lábios, desviando o olhar. ― O Ronin fez uma armadilha. ― ela finalmente falou ― O Jay está morto. O Dante... ― Mon Dieu ― a Simone sussurrou. ― Aquele filho da puta! ― o Von cuspiu. ― Aquele fodido mentiu na minha frente ― os músculos dele se flexionaram, e encolhiam como uma


cobra. Fúria e descontentamento radiavam dele. Von era muito mais que um leão de chácara, mais que um vampiro nômade, e somente isso já era o suficiente para fazer a cabeça da Heather girar, cheia de pensamentos. Do que os outros o haviam chamado? Deus Lew? Qual seria o papel dele na sociedade dos noturnos? É uma honra ser escoltado por você llygad. ― Para onde o Dante foi? Heather balançou a cabeça ― Ele matou o Étienne – o nômade e a Simone trocaram olhares ao escutar o nome ― Então ele saiu. Não sei para onde. Ele estava praticamente fora de controle... O Jay... ― ela parou de falar quando uma fisgada de dor cortou seu corpo. Ela saiu da Custom Meats e deixou o corpo do Jay sobre o concreto, em uma poça de seu próprio sangue coagulado, e ainda preso dentro da camisa de força. Ela caminhou até o beco e procurou até encontrar seu celular. Ela olhou para o aparelho. Ela precisava chamar os legistas. Mas não poderia esperar pela policia. Não posso esperar para fazer um relatório. Ela precisava encontrar o Dante. Criatura da noite ou não, ele não estava em condições de ir atrás do Ronin. O ar fedia com o corpo incinerado do Étienne, e suas dreads queimadas. O cheiro se prendia a ela como o fedor de incenso, ficando em seu casaco e cabelo. Sob a luz da lua, seu distintivo brilhava como ouro no chão. Fidelidade. Bravura. Integridade. A garganta dela se apertou. Ela digitou o numero do Collins. Quando ele atendeu, ela lembrou que ele não merecia ser arrastado para toda aquela merda. Os dedos dela pairaram sobre os botões. ― Wallace? ― Ouve um assassinato na St.Charles 1616, dentro do prédio da Custom Meats. Dois corpos. ― Tudo bem, espere. Vou levar algumas unidades para ai... ― Não posso esperar. Ainda não posso provar... Mas uma das vitimas foi morta pelo Thomas Ronin. ― Uau! Ronin... o jornalista? Aquele Ronin? Você tem evidências?


Testemunhas? ― Sim. Uma testemunha, mas tenho que encontrá-lo antes que o Ronin encontre. ― Não me diga. O Prejean. ― Acredito que o assassino CCK é na verdade um time... Ronin e Elroy Jordan. ― Espere Wallace. Você falou dois corpo. ― Certo. ― O Ronin é o responsável pelo segundo também? ― Não... o culpado é desconhecido. Falo com você mais tarde – ela apertou o botão encerrando a ligação, colocou o telefone no silencioso, e o guardou na bolsa. Ela se surpreendeu por achar aquilo tão fácil. Seu coração não estava disparado, nem as mãos suando. Sua mente estava limpa. Ela caminhou pelo beco em direção do distintivo, então se abaixou e o juntou. Retirou a sujeira dele, sacudindo para o cascalho soltar da presilha. Fidelidade. Bravura. Integridade. Ela apertou os dedos ao redor do distintivo. Ela ainda lembrava do grito desesperado do Dante. Algo queimou nos olhos da Heather. Ela piscou até a sensação desaparecer. Largando o distintivo no bolso, ela saiu do beco. Ela tinha uma promessa para manter. Uma mão apertou o ombro da Heather. Ela ficou tensa, assustada, e encarou olhos verdes como o verão. Von a observava sob as lentes dos óculos. ― Você me escutou? Ela balançou a cabeça. ― Sinto muito. Não escutei. O nômade a largou. ― O Dante falou algo? ― ele perguntou. Sim. Corra para longe de mim o mais distante que puder. ― Ele mencionou o De Noir, mas não sei por que. Simone respirou fundo. Um músculo se tencionou na mandíbula do Von. ― Perdemos contato com o Lucien ― ele falou com uma expressão de


desgosto. ― Ele também falou sanctus varias vezes ― Heather falou ― Acho que é latim para sagrado, mas não sei o porquê dele falar isso. Ele estava confuso, ferido. Von olhou para a rua, um dedo coçando o cavanhaque. Ele inclinou a cabeça como se escutando algo. Depois de um longo tempo, ele falou ― O Dante pediu para o Trey fazer uma busca no mentiroso do senhor Ronin e seu assustador assistente. ― ele fixou sua atenção na Simone. Ela encarou seus olhos cobertos, seu rosto pálido congelado enquanto ela escutava. Eles estão se comunicando de alguma forma. Heather olhou de um para outro, se sentindo excluída, fora da ação. E sozinha. Simone assentiu. Ela mudou sua atenção para a Heather, e sorriu. ― Nós devemos ir para casa e falar com mon frère32. Ele vai saber para onde o Dante foi. ― Você não pode ligar para ele? ― Heather falou ― Ou falar com ele? ― ele bateu contra a cabeça. Simone riu ― Você mudou desde a última vez que nos falamos. Não. Ele não escuta quando está online. Venha. ― Merda.― Heather esfregou o rosto, o cansaço interferindo em sua concentração. ― Tudo bem. Mas vamos pegar o endereço do Ronin, certo? E ir atrás do bastardo? Fogo queimou nos olhos escuros da Simone. Os lábios dela se abriram, revelando a ponta das presas ― Oh sim ― ela falou. ― Você conheceu a minha mãe? Tonto com a energia do creawdwr que ainda queimava em seu corpo, Lucien olhou para os olhos manchados de dourado do Dante, céticos, e percebeu que havia falado em voz alta, que ele não estava sonhando quando abriu os olhos e viu o lindo rosto de seu filho. Dante puxou sua mão livre e deslizou para longe dele, se levantando. Sangue escorria de seu nariz. Os músculos tremiam. Ódio manchava sua 32

meu irmão


áurea; a exaustão a deixava quase negra. ― Escute criança, e era... ― Você a conheceu por todo esse tempo? E nunca me falou nada? Lucien lutou para ficar de joelhos, sua asas batendo atrás dele. Ele estava curado (ou refeito) e sua pele estava sensível. Ele sentia o gosto do sangue do Dante em sua boca, doce e negro, intoxicante. Criança quando de si mesmo você despejou para dentro de mim? ― Eu estava esperando pelo momento certo ― Lucien falou. ― E que tal a noite em que nos encontramos? ― o Dante falou, sua voz rouca, marcada pela raiva. ― Hein? Por que não naquele dia? O olhar dele caiu para a corrente no pescoço do Lucien. ― Merda! ― ele olhou para longe, sua mandíbula tensa. Ele secou o sangue do nariz, espalhando sangue pelo rosto e na parte de trás da mão. Com as asas batendo o Lucien se ergueu. O ar frio da noite pego por suas asas correu pela igreja. O pesado cheiro de incenso e vela desapareceu por um momento. Lucien lembrou da dor que havia explodido em sua mente, o fazendo cair dos céus. Lembrou da raiva e pesar que passou pelo link. E também lembrou com uma clareza de parar o coração: os escudos do Dante haviam se quebrado. Mas como? Havia sido alguém, ou alguma coisa? ― Por que você não me contou? ― Você já estava lidando com muita coisa naquela época. ― Lucien falou, sua voz baixa calmante. ― Eu não queria adicionar mais anda ás tuas preocupações. Dante fechou os olhos tremendo. ― Me deixe leva-lo para casa ― o Lucien falou, caminhando na direção do Dante. A madeira estalou sob seus pés. ― Você está ferido e exausto. Dante s‟il te plaît. Dante olhou para ele, seus olhos queimando, seu rosto pálido frio. Ele se afastou dos bancos. ― Qual era o nome dela? Genevieve... o que?


― Mais tarde, depois que você dormir. Acredito que você não saiba o quanto está ferido. ― Não! ― Dante gritou ― Me diga, maldito! O nome dela? Lucien suspirou ― Baptiste. ― Baptiste ― Dante repetiu. O fogo em seus olhos se acalmou. Ele balançou, e agarrou o encosto de um dos bancos. ― Genevieve Baptiste. ― Me deixe leva-lo para casa ― dando outro passo para frente, Lucien estendeu a mão. Dante olhou para ele, e o coração do Lucien se contraiu. Ele viu o estranho, faminto e ferido que encontrou nas docas; o belo e mortal garoto, pronto para drenar cada gota de seu sangue sem pensar duas vezes. Seu amigo, filho, sua companhia, havia desaparecido. A runa em X em seus pescoço congelou sua pele. ― Você também conheceu o meu pai? ― Dante... já chega. Agora não. Uma lufada de ar úmido pela chuva, cheirando á cravo e couro antigo, girou pela catedral. Von parou repentinamente em frente ao Dante. O nômade olhou para o buraco no teto da catedral e assobiou. ― Que merda! Alguém com certeza não vai ficar feliz com a nova ventilação. O olhar do Von passou no teto estilhaçado para os bancos cobertos de sangue, então para o Lucien. Ele coçou a lateral de seu cavanhaque pensativamente. Ele manteve o olhar preso no Lucien por um momento e Lucien não teve duvidas que o llygad sentiu o cheiro da tensão entre ele o Dante. Perguntas brilharam nos olhos do nômade, mas ele não deu voz a nenhuma delas. Von olhou para o Dante ― Você está bem? Dante balançou a cabeça ― Je sais pas ― eu não sei. ― Escutei a história sobre aquele bastardo mentiroso do Ronin ― Von falou ― E o Jay. Sinto muito cara. Dante olhou para o lado, mandíbula tensa, corpo tensionado,


praticamente vibrando com a raiva contida. Sangue escorria por seu nariz. Lucien se ficou tenso, assustado com as palavras do nômade. O que havia acontecido desde que ele havia se chocado contra a St Louis numero três? O Ronin que quebrou os escudos do Dante? Acordando as memórias dele? Com as sobrancelhas enrugadas, Von encostou uma das mãos na testa do Dante ― Você está queimando. ― Eu poderia queimar para sempre, llygad, e ainda assim não seria o suficiente. Lucien sentiu o Von tocando a mente desprotegida do Dante ― Não! ― ele gritou. Von puxou sua mão do rosto do Dante, e tropeçou alguns passos para trás. Suor escorria por sua testa. Ele levou uma das mãos que termia, até sua têmpora. Ele olhou para o Dante, seu rosto constrito. Dante o encarou de volta. Estrias de vermelho e dourado manchavam seus olhos escuros. Dando um passo para frente, ele apertou o ombro do llygad com uma mão suja de sangue. ― Mais tarde, mon ami. Afastando a mão, Dante se virou e caminhou pela igreja. Enquanto ele seguia em direção ás portas duplas escancaradas, ele esticou ambos os braços ao lado do corpo, e passou os dedos pelo topo dos bancos. Lucien observou com a garganta apertada. O olhar gélido e irreconhecível do Dante havia congelado seu coração. Sem ser perdoado, ele seria incapaz de ensinar ao Dante como usar seus dons creawdwr. Imperdoável, ele seria incapaz de ensinar o Dante á como esconder tais dons. Ele ansiava por mais tempo. Ou para ser mais exato, pelo momento exato. Mas a aparição de Loki significava que o tempo havia acabado. Mas mesmo desamparando e sem perdão, ele ainda faria tudo o possível para esconder o Dante dos olhos Elohim. Von se virou e começou a caminhar atrás do Dante. ― Espere ― Lucien falou ― Deixe-o ir. Ele precisa ficar sozinho.


― Você está brincando? Ele está todo fodido. Lucien colocou uma mão no ombro do nômade. Pressionando com suas garras. E as encarou. Suas garras pareciam mais grossas, e manchadas de azul escuro. Ele olhou para o Dante que se aproximava das portas e a multidão que se acumulava junto delas. Vozes efervescentes dos mortais sussurravam ― L‟ange de sang. L‟ange de sang. ― Deixe-o libertar sua raiva ―, Lucien murmurou ― então vá atrás dele. O leve para casa para dormir. Dante passou pelos mortais que se amontoavam junto à porta, como se fosse insubstanciais, os últimos resquícios de um sonho antes de acordar. Os mortais o observavam enquanto ele descia a escada e entrava no MG. Eles observaram, perplexos, mas reverentes. Ele caminhou através deles como um verdadeiro imortal. Como um puro sangue. E eles o amaram por isso. Von se libertou das garras do Lucien, deixando tiras de couro presas em suas unhas. Ele olhou para o Lucien, seus olhos verdes cheios de perguntas. A luz das velas e as sombras obscureciam seu rosto. Ele olhou para o buraco no teto da igreja mais uma vez. ― Deve ter isso uma queda e tanto ― ele falou. Os dedos do Lucien se fecharam ao redor da runa em forma de X. Ele assentiu. ― Foi mesmo. O nômade assentiu, então se virou e marchou pelo púlpito até as portas. Ele passou pela multidão como uma brisa (que olhavam curiosos para a criatura de asas pretas, parado abaixo do teto despedaçado da catedral) e então desapareceu de vista. Os dedos do Lucien se fecharam sobre a superfície macia de um dos bancos. Ele poderia encontrar o Dante através do link, o garoto respondendo á ele ou não. Ele havia falado a verdade para o Von: Dante precisava ficar sozinho. Ele precisa dar vazão á sua raiva. Mas agora também era a hora em que ele mais precisava de alguém. Para guiá-lo através da


raiva, a ajuda-lo a sobreviver á ela. Mas não seria o Lucien. Talvez nunca mais. Com um estalar alto, o banco se despedaçou sob a mão do Lucien.


23 Tempestade de fogo Ela parou ao lado dele, seus pequenos dedos apertados ao redor de sua mão, a orca de pelúcia presa sob o braço. Seus olhos azuis eram diretos demais para uma garotinha de oito anos de idade. O cabelo vermelho caia ao redor do rosto sardento.

Vou mandá-los para o inferno Chloe. Prometo. E você? E quanto a você? Já estou queimando. O corpo da Chloe tremeu, sua imagem desaparecendo. Seus dedos quentes escapando das mãos dele.

Isso não é o suficiente, Danteanjo.


― Eu sei ― Dante sussurrou engatando a quarta marcha no MG. O pé dele esmagou o acelerador contra o assoalho. O motor gritou. As luzes da rua se tornando um borrão, riscos azuis e brancos cortando a noite. Ele não se lembrava de ter entrado no carro. Não se lembrava de ter ligado a chave. Não sabia para onde estava indo. Não reconhecia a estrada. Mas ele sabia de uma cosia: As vozes não mais sussurravam. Você ainda pode salvá-lo puro sangue. Mon ami, eu sinto muito... Como você se sente, idiota? Ele se perguntou se poderia viajar mais rápido que o som. Uma buzina soou, um grito longo e furioso. Além do para brisas, as listas amarelas desapareciam sob o MG. Uma luz circular brilhava mais a frente, mais forte que um UFO. Outra buzina soou. Dante virou a direção para a direita, voltando para sua pista. Suor escorria por suas têmporas. A noite se tornava um borrão passando pelo MG. A alavanca de cambio vibrava sob a mão do Dante. Ele sentia gosto de sangue. Você se parece tanto com ela. Um punho se fechou ao redor do coração do Dante. A respiração raspou contra sua garganta que repentinamente parecia apertada demais. Ele afastou a imagem do rosto do Lucien. Tentou afastar a imagem dele caído e quebrado no chão da catedral. Ainda bem que ele estava preso... Merda! O que ele gritou? As linhas amarelas que dividiam a estrada ficaram borradas e então se dividiram. Com os olhos queimando Dante piscou. Um retângulo de neon azul brilhou contra o para-brisa. Fraturado. Duplicado. Letras e caracteres se misturavam pelo retângulo, mas Dante não conseguia entender o significado deles. Ele estava fazendo uma demanda alta e clara. ― Mate-me.


Dante prestou atenção, tentando identificar as letras que se retorciam dentro do retângulo azul que se expandia. Palavras. Um sinal. Então faça isso. Ele é perigoso demais. Um maldito psicótico. O retângulo azul se transformou em um letreiro de neon proclamando: Taverna. Fale isso novamente e vou te dar para aquele maldito psicótico. Virando a direção para a direita, Dante reduziu e guiou o MG até o estacionamento da Taverna. Cascalho e terra eram espalhados pelos pneus. Algumas pick-ups, motos e um velho Chevy adornado com chamas, se amontoavam em frente ao prédio mal tratado. AS THE CROW FLIES piscava em vermelho sobre um corvo batendo as asas em neon. Dante estacionou o MG em frente aos outros carros, derrapando de lado. Ele desligou o motor. Colocou as chaves no bolso. Por um momento tudo o que escutou foi o bater de seu próprio coração. Por um momento, ele achou que poderia pregar a janela quebrada com tabuas, a fechar com pregos, ódio e sangue. Por um momento, ele achou que seu coração estava enjaulado e protegido por fetiches. Eu sabia que você viria por mim. Você se parece tanto com ela. Por um momento. Então as tábuas apodreceram, e os pregos se transformaram em vespas. A jaula se desmontou, os fetiches eram falsos. Shhh. Je suis ici. Eu estou aqui. Sangue pingava na mão dele, descendo por sua garganta. Sua cabeça doía. Riscos de luz branca e brilhante borravam sua visão. A dor precisava ser maior. Já estou queimando. Isso não é o suficiente, Dante anjo. Pegando um par de óculos escuros do porta luvas, Dante os colocou, então saiu do MG. Uma bebida. Preciso de uma bebida. O cascalho estalava


sob as botas, enquanto ele caminhava na direção da porta da taverna, a abrindo e deixando a luz jorrar pelo estacionamento. Dois nômades saíram, usando roupas de couro empoeiradas e uma expressão de desgosto. Música zydeco33 feliz e ritmada os seguiram pela noite. ― Colonos filhas da puta ― o macho com cara de cavalo resmungou, então cuspiu no chão. Prata brilhava em sua sobrancelha, orelhas e garganta. Um pássaro em forma de V estava tatuado em sua bochecha direita. Clã Raven34, Dante pensou, lembrando o que o Von o havia ensinado. Ravens e Nightwolves normalmente viajavam juntos, guardando uns aos outros. A fêmea usando dreadlockes, com o pássaro tatuado em sua bochecha direita, olhou para ele. Então o olhou de cima a baixo, prestando atenção. Um sorriso curvou os lábios dela. Luz brilhou em seus olhos. ― Não é o teu tipo de lugar criatura da noite ― ela falou, saindo da varanda. O sorriso dela desapareceu enquanto ela se aproximava. ― Você está ferido? Dante parou a porta antes que ela fechasse. Calor, cheiro de bebida, tabaco e suor, enchia o ar que o rodeou. A cabeça dele latejava. ― Talvez ― Dante falou. E então entrou. A porta se fechou atrás dele. Um momento depois, ele escutou o som profundo e gutural das motos enquanto os nômades saiam do estacionamento, jogando cascalho atrás deles. ― Terry de uma olhada nisso! Você acha que ele tá perdido? ― Cris-sto! Primeiro nômades, agora lixo da Bourbon Street. Que diabos está acontecendo com esse lugar? Dante olhou para os sujeitos, dois mortais com bonés de baseball e camisetas manchadas, dobrados sobre uma mesa no fundo do bar. Uma 33

Zydeco é uma forma de música folk norte-americana originada no início do século XX derivado da população francófona. Uma das características é que possui sempre o som de um acordeon. 34 Corvo


nuvem de fumaça de cigarro pendia imóvel sobre a mesa. Um dos mortais se inclinou na mesa e olhou Dante nos olhos, seu sorriso falso o desafiando á falar algo. Dois outros mortais estavam junto a uma mesa de bilhar, tacos de madeira presos nas mãos, enquanto observavam o Dante, o jogo interrompido. Um tinha uma barriga de chope e o outro era musculoso como um atleta. Energia brutal se elevou em uma overdose de testosterona que se juntava ao redor do atleta. ― De uma olhada no colar ―, o atleta falou para o barriga de cerveja. ― não estou vendo nenhuma guia. Ele deve ter fugido. É melhor chamar a carrocinha ―, ele riu feliz com sua piada, e cutucou o barriga de cerveja. ― ligar para a carrocinha. Entendeu? Dante desviou o olhar, passando pelas mesas vazias até o bar. A bartender observou enquanto ele se aproximava, uma mistura de preocupação e cautela em seu rosto. Ela era New Orleans pura, com sua pele marrom, olhos verdes e cabelo preto encaracolado. Haitiana, Espanhola, Francesa, Chinesa, tanto faz. O verdadeiro coração da Louisiana. A atendente tocou o pano que pendia em seu ombro. Garrafas de bebidas se alinhavam nas prateleiras atrás dela, belos rótulos de cores fascinantes. Dante parou junto ao balcão, olhando para as garrafas. ― Posso ajudá-lo? ― ela perguntou. Crachá preso em sua blusa preta com o nome AS THE CROW FLIES estava escrito Maria. ― Tequila. Bourbon. Ou qualquer coisa parecida ― Dante puxou um amontoado de notas velhas do bolso da jaqueta, e as jogou sobre o bar. ― Você está bem? O seu nariz está sangrando. ― Você tem um lugar que posso me limpar? ― Claro ― Maria apontou para o pequeno corredor á direita. Se afastando do bar, Dante seguiu a seta que dizia Banheiro. O banheiro masculino era sujo e com a porcelana manchada, paredes


grafitadas e cheiro de urina velha. Uma pequena janela ficava bem acima dos mictórios, pequena demais para se espremer por ela tentando fugir da conta, ou de um encontro mal sucedido. Dante parou junto a pia lascada e abriu a torneira. Ele retirou os óculos, e os prendeu na gola da camiseta. Ele lavou as mãos sob o jato d‟água, então se curvou até a pia e lavou o rosto. Ele queimava. E quase acreditou que a água fosse ferver e se transformar em vapor ao tocá-la. Ao invés disso, a água estava tão fria, que o deixou sem fôlego. Dante agarrou as laterais da pia, a água suja de sangue escorria pelo dreno enferrujado. Dante? Estou com frio. Posso deitar na cama com você? Venha aqui princesa. Deite mais perto. Eu abraçaria você, mas... Por que o papai Prejean algema você á noite? Por que não durmo a noite. E o idiota acha que vou matar todos enquanto dormem. Você iria? Sim. Provavelmente. Dante anjo, se eu encontrasse a chave e te deixasse sair, me levaria com você? Uma poça cada vez maior de sangue cercava a cabeça da Chloe como um halo. Seus olhos semiabertos olhavam para a orca fora de seu alcance. Eu nunca iria embora sem você, princesa. Apenas você e eu... Gancho de carne, tornozelos amarrados com correntes, pés descalços. A luz refletindo no gancho. Para todo o sempre. A água caiu contra a pia, respingando os dedos do Dante. Os músculos dele se tencionaram. Ele olhou para a pia. Ela confiou em você, garoto. Posso dizer que ela teve o que mereceu. Dor o queimou. Ele ergueu a cabeça e olhou no espelho. Não reconhecendo o próprio reflexo; o rosto pálido, o delineador borrado e o cabelo molhado e desarrumado eram seus, com certeza, mas a expressão era


fria, distante, imperdoável, olhos manchados de vermelho da fúria. Foi isso o que o Lucien acabou de ver? Ele abaixou a cabeça tremendo. Não, a dor atravessando suas têmporas não era nem próximo ao suficiente. Nem de perto. Mas como havia prometido, ele não queimaria sozinho. O curioso Tom entre outros, iriam se juntar a ele nas chamas. Étienne já havia se transformado em cinzas. Ele secou o rosto com uma toalha de papel marrom, recolou os óculos, e caminhou para fora do banheiro masculino. Enquanto ele se aproximava do bar, sentiu um cheiro familiar, bebida e sabão, com algo mais... Cheiro de químicas de lavagem a seco, e profundos e obscuros segredos. Ele caminhou mais lentamente. Lembrando-se de um sorriso preguiçoso e uma piscadela. Leve-o preso. Ele logo vai estar dormindo. Garanto isso. O que diabos eles estão fazendo aqui? Não era coincidência. De jeito nenhum. Dante passou por eles sem olhar para os detetives. Ele parou junto ao bar. Maria servia algo dourado em um copo. ― Você deixou quase oitenta dólares no bar. ― Pegue vinte para você ― Dante falou pegando o copo. ― me avise quando eu beber o restante do valor. ― Claro, querido ― Maria bateu um dedo sob o nariz, olhando significativamente para o Dante, então entregou um guardanapo. Ele o pegou, pressionando contra o nariz. O papel ficou vermelho. ― Merda – ele engoliu outra dose. Tequila. Queimou por sua garganta, limpando o que restava do gosto do sangue. Ele sentiu o suor escorrer por suas têmporas. Dante anjo? Para todo o sempre, princesa. Para todo o sempre... Uma voz macia arrastou as palavras – abita35 para o Davis e para mim, querida. E olhe aqui! Se esse não é uma droga de mundo pequeno. Dante recolocou o copo vazio sobre o bar. 35

Bebida parecida com cerveja, mas com sabor de frutas.


― Como vão as coisas, deus do rock? Comment Ça va, eh? Enquanto Maria servia outra dose para o Dante, ele olhou para a sua direita. Equilibrado em uma das banquetas, estava o imbecil LaRousse, reclinado sobre o bar, e um sorriso curvando seus lábios. Ele segurava o que parecia ser um mandado de prisão em uma das mãos. ― Falando de sorte ―, o imbecil falou ― estávamos a caminho da sua casa. Parece que você não estava lá. Então vimos o teu carro no estacionamento ― ele bateu o mandato sobre o balcão. ― Você está aqui sozinho? Dante ergueu uma das mãos o dispensando. Voltando sua atenção para o copo cheio novamente, ele o pegou e bebeu. ― Esse garoto é mais sujo que o pecado original, acredite em mim ―, o imbecil falou ao parceiro, alto o suficiente para todos nos bar escutarem ― as merdas que encontrei em sua ficha juvenil. Não me surpreende o fato de terem selado o arquivo. Dante cuidadosamente colocou o copo sobre o bar. Ele segurou a beirada do balcão para impedir das suas mãos tremerem. Nem mesmo ele sabia o que havia nas fichas. Sua memória apenas voltava á alguns poucos anos, e mesmos assim havia falhas. Inferno, ele nem ao menos sabia a própria idade. ― Cristo – Maria falou com um toque de raiva na voz. ― Se você vai prendê-lo, faça isso lá fora. ― Um conselho, queridinha ―, o imbecil falou com seu charme sulista ― cuide da sua própria vida. Maria olhou para o Dante enquanto enchia novamente seu copo. Ele encontrou seu olhar e balançou a cabeça. ― Sessenta lares adotivos, duas internações em casas para loucos ― LaRousse falou, seu tom ameno, mas por sua voz ele parecia prestes a rir. ― palavras como esquizofrenia e homicida, apareceram também. Uma garotinha desaparecida e... Oh, sim! ... a ultima casa adotiva queimou até virar cinzar com os pais adotivos ainda dentro. Foram os Prejeans.


Virando a cabeça, Dante encontrou os olhos do LaRousse. O Detetive o encarou, seu rosto bonito sério, luz fria brilhando em seus olhos. ― Você é um maldito mentiroso ― o Dante falou. Mas seu coração que martelava, falou, talvez. ― É isso mesmo? ― o imbecil se inclinou mais para perto. ― então me diga, aquela vadia bonita do FBI, sabe que está ajudando um frio psicótico? Dante acertou o nariz do LaRousse com seu punho.

― Quem fez você? Simone olhou para Heather, seu rosto pálido manchado de verde pelas luzes do painel da van, então ela voltou sua atenção para a estrada. ― Criatura da noite, oui? É isso que você está perguntando? ― Sim, é isso que estou perguntando? Heather nunca imaginou ter esse tipo de conversa, nunca imaginou que vampiros existissem fora dos filmes de terror, ou clubes góticos. Nunca imaginou que os desmostos moravam, trabalhavam e se alimentavam próximo as outras pessoas. Mas depois de observar o Dante, depois de atirar no Ronin, e testemunhar partes do corpo do Étienne tentar fugir das chamas que o consumiam, seu ceticismo e duvidas, haviam acabado, e sua compreensão do mundo mudou. Ela não queria olhar para a noite através da janela no carona. Não queria saber que a noite a encarava de volta das sombras que se alongavam junto á estrada, olhos refletindo a luz da lua, e bocas cheias de dentes. Simone suspirou. ― Uma amiga da família me transformou, logo após o funeral do papai. ― Foi algo que você quis? A loira balançou a cabeça. ― Não. Mas ela não me deu escolhas.


Sombras cruzaram o rosto da Simone. Suas mãos estavam relaxadas na direção. Nenhum ressentimento tingia sua voz. Se uma amiga da família fizesse algo similar com ela, Heather a procuraria e... e o que? A mataria? A forçaria a desfazer tudo? Talvez Simone teve tempo o suficiente para se conformar com a situação. Como alguém pode aceitar ter sido transformado em vampiro? Como um mortal se ajusta a imortalidade? ― E o teu irmão? ― Ele era a única família que me restava ― Simone falou, sua voz baixa, tensa. ― dei a ele uma escolha. Se ele dissesse que não, eu provavelmente colocaria fogo em mim mesma. ― Você transformou seu próprio irmão? ― Heather perguntou surpresa. ― Não pude suportar a ideia de vê-lo envelhecer e morrer. Heather pensou em Kevin e Annie. Ela poderia fazer o mesmo com eles? Roubar sua humanidade? Ou deixa-los envelhecer? Enterrando um após o outros na cova ao lado da mãe deles? A garganta dela se apertou. ― Então, como é que funciona essa coisa de desmorto? A pele do Dante é quente. Ele tem pulsação. Ele é intensamente vivo. Os cantos da boca da Simone se ergueram em um sorriso. – Oui, Dante é intenso em tudo. Heather olhou para ela, com os ombros tensos. Lembrando da maneira como o Dante se inclinava sobre a Simone na escada, sussurrando no ouvido dela, e tocando seu cabelo. Ela tinha uma forte suspeita de que eles eram mais do que apenas amigos. Será que ainda eram? ― Não somos desmortos ― Simone falou ― somos uma espécie separada. Sempre vivemos junto com os mortais – ela olhou para a Heather e sorriu. ― E o Dante? Você sabe quem o criou? Os dedos da Simone se apertaram ao redor da direção. ― Não. Ele nunca contou ― ela olhou para a Heather. ― acho que ele não sabe. Talvez


a memória tenha se perdido para ele ― a tristeza aguçou os ângulos do rosto dela. ― Como muitas outras coisas ― Heather falou ― escondidas sob as dores de cabeça ― ou ele seria o que o Ronin falou ― puro sangue? Nascido vampiro? O nome dela era Chloe e você a matou. A voz macia e exigente do Ronin correu pelos pensamentos da Heather. E se o Dante não conseguia lembrar seu passado, por que ele fez coisas terríveis? Coisas que não podia suportar lembrar? As tentativas do Ronin em acordar o Dante, teriam sido o desejo de acionar algo nele, de fazê-lo enlouquecer e depois libertá-lo? Mas se o Dante poderia ser „acionado‟, isso também significava que ele havia sido „programado‟? E então sua memória poderia ter sido deliberadamente apagada? Alguma pergunta poderia desencadear uma proteção subliminar como as enxaquecas? Inconsciência? Insanidade? O coração da Heather martelava contra seus tímpanos, isolando o som das rodas da van contra a estrada, a cadencia dos pensamentos pulsavam através da mente dela. A Black Ops fazem experimentos com a mente, tem feito isso por décadas. O governo fundou e o Bureau tem protegido. Ela escutou a voz do Stearns: ele não é mais problema seu. Mas isso significava que ele era o problema de alguém. Mas quem? E de qual agência? Até que profundidade isso seguia? Heather olhou pela janela do passageiro. Seu reflexo pálido, pensativo e preocupado, escondia a noite mais além. As sombras, e o que mais elas poderiam conter, não mais pareciam assustadoras. Não comparadas ao lugar que suas suspeitas a levaram... um lugar muito escuro e real. E Dante estava preso no meio... Talvez até mesmo perdido. Heather cerrou as mãos em seu colo. Não se ela puder evitar. E sua investigação? Se o Ronin e o Jordan eram o assassino Cross Crountry, as evidências iriam prendê-los, dado voz ás suas vitimas. Os mortos finalmente iriam falar.


Ligar a evidência de DNA. Nail Jordan. Provar que o assassino CCK não morreu em Pensacola. Mas e quanto ao Ronin? Poderia uma corte humana julgá-lo? Se ela sugerir o fato dele ser um vampiro, o caso seria retirado da corte, e a carreira dela estaria acabada. Será que as criaturas da noite se importavam que um deles estivesse matando mortais? Dante se importava, mas ele seria uma exceção? Talvez ela tivesse que se contentar com o Elroy Jordan. A van diminuiu e Heather abriu os olhos. Simone estacionou na estrada de cascalho em frente á casa. Heather olhou para as janelas escuras. ― O teu irmão está em casa? ― ela perguntou, abrindo a porta. ― Oui ―, Simone abriu a porta do motorista e desceu da van. ― ele só não precisa de luzes. Heather desceu da van, para a noite fria e úmida. O ar estava doce com o aroma de rosas selvagens, flores de cerejeira e musgo. ― Wallace. Heather parou. Ela conhecia aquela voz. Mas não a escutava há muito tempo. Fora guiada por ela. O fato de ele estar em Nova Orleans era o suficiente para gelar o sangue dela. O fato dele estar na casa do Dante a assustava mais que tudo. Ela deslizou a mão direita para dentro do casaco, tocando o .38. ― Eu não faria isso. Heather se virou, os pedregulhos da estrada se esmagando sob seus sapatos. Stearns estava parado ao lado da porta do motorista, uma pistola com silenciador pressionada contra a têmpora da Simone. Ele segurava o braço da vampira em um firme abraço. ― Precisamos conversar ― ele falou.

O nariz do imbecil se quebrou. Ele caiu do banco, dor e surpresa se misturavam em seus olhos. Ele atingiu o chão, sangue escorrendo de suas


narinas. Davis o capacho do imbecil, piscou abrindo a boca. Ele levou a mão dentro da jaqueta, mas o Dante pulou na frente e o acertou na cabeça com as costas de sua mão esquerda ensanguentada. Segurando o detetive tonto pelo colarinho, ele bateu a cabeça do Davis contra a superfície polida do bar. O detetive caiu no chão. Parado entre os dois mortais inconscientes, Dante olhou para cima e viu Maria pressionada contra as prateleiras cheias de garrafas, olhos arregalados, e uma mão cobrindo a boca. Um movimento no chão, chamou a atenção do Dante. LaRousse lutava para ficar de joelhos, os olhos lacrimejando, e o nariz inchado. Ele puxou a arma de dentro do casaco... Que parecia ser uma nove milímetros. ― Você não vai escapar dessa... ― as palavras abafadas pelo sangue foram cortadas abruptamente, quando o Dante chutou a nove milímetros longe das mãos do LaRousse. O pulso do detetive estalou, se curvando em um ângulo estranho. Ele gritou através dos dentes serrados. Dante se abaixou em frente ao LaRousse. Dor ferroava suas têmporas, atrás dos olhos. A visão dele ficou borrada. Segurando o ombro do detetive, ele forçou a cabeça do LaRousse para cima e para o lado, com a mão sob o queixo. Sangue pulsava rápido e frenético nas artérias do mortal. Mostrando suas presas, Dante abaixou a cabeça até a carne quente e fedorenta do LaRousse. ― Trabalho para Guy Mauvais. Tenho proteção ― o imbecil falou, sua voz era apenas um sussurro. Dante largou o ombro do LaRousse e arrancou sua gravata e botões da camisa. Um dos botões voou pelo ar. A camisa se abriu. Ali, brilhando na base da garganta do detetive, havia uma rosa brilhante; visível apenas aos olhos das criaturas da noite. ― Hei, idiota! O que você acha que esta fazendo? Dante olhou na direção da voz. O atleta da mesa de bilhar seguia na


direção dele, o rosto sério exibindo uma carranca, o taco de bilhar ao contrario, quase como um taco de baseball. Dante jogou o LaRousse para longe com força. O detetive deslizou pelo chão de madeira e bateu contra a parede. Dante levantou, suas mãos interceptando e segurando o taco de bilhar, quando o atleta tentou acertá-lo. Dante passou pelo atleta como uma lufada de ar, e arrancou o taco de suas mãos. A expressão do Atleta mudou de fúria para confusão. Ele olhou para suas mãos vazias. Como você se sente idiota? Virando, com a mandíbula cerrada, Dante jogou o taco contras as costas do Atleta, que tropeçou para frente, com o corpo arqueado. Uma rápida caminhada deixou Dante na frente do jogador cambaleante. Ele esmagou o taco contra a testa do atleta, virando a cabeça dele para o lado. O taco se quebrou ao meio. Uma das pontas girou pelo ar e caiu contra o telefone de parede atrás do bar, o arrancando do lugar. O telefone explodiu no chão, tocando uma última vez. Enquanto o Atleta caia no chão, Dante virou e olhou para a Maria. Ela virou o rosto para longe dos estilhaços de madeira que voavam, se protegendo com uma das mãos, enquanto a outra continuava estendida na direção do telefone inexistente. Um grito de raiva fez Dante virar novamente, a outra ponta do taco quebrado ainda preso em sua mão. O bom e velho Terry corria na direção dele, seus dedos presos ao redor do cabo de uma faca de caça. O barriga de cerveja o seguia, com o rosto vermelho e suando, correndo junto ao Terry, com o taco de bilhar preso em ambas as mãos. ― Vamos Ernie! Vamos tirar esse lixo filho da puta daqui! Mas o Terry seguiu em frente sozinho. Dante notou que o bom e velho Ernie havia parado para juntar algo do chão. Dante jogou um dos braços para cima, prendendo a mão do Terry que segurava a faca, enquanto chocava o taco quebrado contra a barriga do outro sujeito. O ar saiu dos pulmões do Barriga de cerveja em um ufi,


enquanto ele caia de joelhos. O taco caiu de suas mãos, se chocando no contra o chão. A imagem do Lucien caído de lado, junto aos bancos quebrado, com o gesso e tinta grudados em seu cabelo, e o pedaço de madeira o empalando, passaram pela mente do Dante. Mon ami... Você se parece tanto com ela. Repentinamente uma dor cortante destruiu os pensamentos do Dante, espalhando imagens fragmentadas e partes de memórias. A faca de caça do Terry perfurou sua mão, saindo pela parte de trás. Vespas zumbiram. Ferroando. Veneno correu pelas veias do Dante. Rosnando, ele puxou o braço para trás, arrancando o cabo da faca das mãos do Terry. ― É! ― Terry gritou. ― Tome isso seu filho da... Dante passou a parte de trás de sua mão empalada através da garganta do sorridente Terry. Sangue jorrou contra o rosto e óculos do Dante, quente e perfumado. Ele lambeu os lábios. Ele puxou a faca de sua mão e a largou no chão. O bater frenético no coração que morria puxou o Dante para ele, incapaz de resistir a forte cheiro de sangue, ele passou os braços ao redor do homem, e pressionou seus lábios abertos contra o corte da garganta. Sangue jorrou em sua boca. Juntos, Terry e Dante caíram de joelhos. Você estava errado garoto. Eu tive mais do que somente uma prova. Você ainda pode salvá-lo, puro sangue. Enquanto o Dante bebia o fluxo de sangue que agora diminuía, ele escutou sussurros, que não vinham de sua mente. – aponte para a cabeça, e não... erre. Dante se moveu, mergulhando no chão e rolando até ficar em pé, quando o som de um tiro soou. A bala atingiu o corpo do Terry que ainda caía. Um, dois, três. ― Merda! ― Davis gritou. Dante pegou o taco quebrado e o jogou na direção do Davis, o


atingindo na têmpora, enquanto ele puxava o gatilho mais uma vez. O tiro se perdeu, atingido... ― Wayne! ― Ernie gritou. Dante socou o queixo do Davis, jogando sua cabeça para trás. Ao mesmo tempo, ele pegou a arma do policial, a arrancando de suas mãos, e a jogando para longe. Ele voltou a socar o policial. Cuspindo sangue e dentes, Davis tentou agarrar uma mesa para se equilibrar, mas errou. Enquanto caia, sua nuca bateu contra uma cadeira com um estalar alto. Ele caiu no chão, seus olhos entreabertos. Cheiro de sangue e merda enchiam o ar como fumaça. Dante gemeu quando um grito rouco soou atrás dele, fazendo sua cabeça latejar. Foi seguido por um clic-clic-clic. Ele se virou. Ernie segurava a nove milímetros do imbecil com ambas as mãos, seus dedos brancos pelo esforço, e seus olhos fechados. No chão ao seus pés, o barriga de cerveja (Wayne) estava caído, com um buraco de bala na testa. Dante arrancou a arma das mãos do Ernie e viu que a trava de segurança estava no lugar. Ele olhou para cima, e viu seu reflexo nos olhos arregalados do Ernie. Então os olhos dele se reviraram e Ernie desmoronou no chão desmaiado. Prendendo a arma do LaRousse na parte de trás das calças, Dante se virou a tempo de ver o detetive passando por trás do bar, e seguindo para o corredor dos banheiros. Dante começou a segui-lo, mas um soluçar baixo o parou junto ao bar. Ele pulou o bar, aterrissando abaixado em frente a bartender de cabelos escuros. Ela estava encolhida contra o balcão. O medo ficou visível em seu rosto quando ela viu o Dante, e ela tapou a boca com uma das mãos. Com o olhar preso nele, ela estendeu a mão na direção de um taco de baseball encostado contra o balcão. Dante o tirou de perto dela. O bastão bateu no chão e rolou para longe. ― Mãe Mary e Papa Legba me protejam dele enfurecido ― ela sussurrou.


Ela cheirava a jasmim e águas profundas, mas o medo se misturava em seu perfume, roubando sua doçura. Dante colocou os óculos no topo da cabeça. Lágrimas escorriam através de seus cílios escuros. Ele se inclinou e passou seus lábios contra os dela. Ele limpou uma das lágrimas com os dedos, deixando um borrão preto contra sua bochecha escura. Ele pensou em cabelos vermelhos, olhos da cor de centauros azuis, e pele clara. Lembrando-se de uma amiga dizendo, sou o seu reforço. Dante se afastou. Levantou. E recolocou os óculos novamente. Dante passou pelo bar, e seguiu pelo corredor. Ele fez uma pausa junto ao banheiro masculino e escutou. Água pingando. Do outro lado do corredor, ele entrou no banheiro feminino. Não havia mictórios, mas estava tão sujo com grafites quando o masculino. Dante seguiu pelo chão manchado. O imbecil estava parado junto a janela pequena, ajeitando seu cabeço suado com as mãos. Hematomas escureciam a pele do detetive, ao redor dos olhos e ao longo do nariz. Ele observou atentamente o Dante, mas não se moveu. ― O chefe da Wallace está procurando por ela. Ele ligou. Dante segurou o LaRousse pela gola da jaqueta e o puxou para mais perto. Apenas um centímetro separava seus rostos. Fedendo á sangue e cerveja, LaRousse o encarou, suor banhando sua testa. ― O que você falou para ele? ― Para procurar por você ―, um brilho sardônico iluminou os olhos do LaRousse. ― que você a tenha toda quente e incomodada. É isso que você faz, não é? Controla as pessoas. As suga até não sobrar nada. O detetive fedia a inveja e frustração. O idiota acha que vou matar a todos enquanto dormem. ― Para quem você está trabalhando? ― o Dante perguntou com a voz baixa. ― Além do fodido do Mauvais? ― Escute. Posso ser seu espião, se você quiser. Eu... Com os dedos ainda presos na gola do detetive, o Dante o sacudiu. ―


Quem mais? Você mataria? Sim. Provavelmente. Toda a cor se drenou do rosto do detetive. ― O escritor, Ronin. ― O que está fazendo para ele? ― O ajudei a entrar em contato com o Étienne... Com a visão borrada, Dante jogou o LaRousse contra um dos vasos. A porta se chocou contra a lateral de metal. O detetive caiu junto ao vaso, sua cabeça e ombros batendo contra a parede de azulejos. Dor contorcia seu rosto. Aquele deus do rock é bom o suficiente para você? Temos que ir, sexy. Amanhã à noite? Shh. Je suis ici. ― Eu estou aqui. Você ainda pode salvá-lo puro sangue. Tudo o que você tem que fazer... ― Acorde ― Dante sussurrou. O zumbido das vespas morreu. Entrando no cubículo, Dante segurou LaRousse com uma mão em seu ombro e um joelho contra a virilha. Ele forçou a cabeça do detetive para o lado, expondo a garganta. A rosa tatuada brilhava sob as luzes fluorescentes. ― Você nunca se importou em saber quem matou a Gina ― Dante falou, abaixando a cabeça, escutando o coração acelerado do LaRousse. ― Você só queria me prender. ― Tenha a proteção do Mauvais... ― Não de mim, seu fodido. Não. De mim. Dante abocanhou a garganta do detetive. LaRousse gritou.

Heather passou os dedos ao redor do .38 em seu bolso. O cabelo desarrumado e a sombra nos olhos do Stearns, mostravam que ele não dormia a algum tempo, e sua mão estável dizia que ele puxaria o gatilho da Glock sem hesitar.


― Largue ela ― Heather falou ― se você quer falar comigo, tudo bem. Desde quando você precisa de reféns? ― Acho que você não estende a situação ― Stearns falou. O olhar dele se voltou para a Simone. ― Ou ao que você se aliou... Simone virou e se abaixou com uma velocidade inacreditável. A Glock com silenciador disparou com um baixo tuf, no mesmo momento que ela agarrou a mão que segurava a arma, á puxando para trás. A Glock caiu na grama molhada de orvalho. ― Abaixe-se. Ou quebro a tua mão― a Simone falou. Com os olhos fechados, gemendo de dor, Stearns caiu de joelhos. A loira aliviou a pressão em seu pulso, mas o manteve preso. Heather juntou a Glock da grama e a colocou no bolso. Ela puxou seu .38, e o apontou para o Stearns. ― O que você está fazendo aqui? Ele abriu os olhos. Um sorriso cansado abriu seus lábios. ― Resgatando você. ― Você está envolvido na farsa? ― Heather perguntou. Sua pontaria não tremeu ― Os assassinatos em Pensacola? ― Não. Mas sei quem fez isso. E sei o que eles estão protegendo. Ela olhou para o homem que havia guiado sua carreira, que foi a sua formatura na academia, e que a ajudou com Annie quando o pai dela se recusou. Stearns manteve seu olhar, seus olhos claros calmos. A barba escurecia seu rosto. Sem dormir. Cansado. Um homem em fuga? Durante toda minha carreira ele me apoiou. Isso poderia mudar se o Bureau o pedisse? Heather abaixou o .38. Se tivesse mudado, eu já estaria morta. Ela assentiu para a Simone. Com um estalar de língua, e uma sacudida de cabeça, Simone o largou. Ele se levantou, limpando os joelhos molhados pela grama. ― Onde está o Dante Prejean? ― ele perguntou. Heather olhou para ele. ― Por quê? O que ele tem a ver com tudo isso? Stearns a olhou por um longo tempo, um músculo de sua mandíbula


pulando, então ele olhou para longe. ― Ele não é quem você acha que é. ― E o que acho que ele é... Senhor? ― Humano. ― Sei o que ele é. ― Heather falou baixo. Ela voltou a erguer o .38. ― Criatura da noite. Talvez um puro sangue. ― Puro sangue...? ― Simone sussurrou. Stearns olhou para a Heather, suas mãos paradas ao lado do corpo. Ela pensou ter visto uma fagulha de medo nos olhos dele, mas então há havia sumido, engolida pelas sombras. ― Ele também é um experimento. ― Stearns finalmente falou. ― Tenho um arquivo e um cd no carro que você precisa ver. Então você vai saber exatamente quem o Prejean é. ― O nome dele não é Prejean ― Heather murmurou. Simone andou ao redor do Stearns ― Nunca vou deixar você chegar perto dele – ela falou. A luz da lua brilhava em seus olhos semicerrados, e em suas presas a mostra. O som de grandes asas chamou a atenção da Heather para a casa. A luz da lua brilhou ao longo das enormes asas negras do De Noir, enquanto ele aterrissava sobre o telhado do quarto do Dante. Seu cabelo longo voava ao redor da cintura. Uma luz azulada brilhava pálida ao redor de sua forma seminua e refletia no pendente ao redor da sua garganta. Ele se abaixou, com as asas se dobrando ao redor do corpo. Uma brisa mexia seu cabelo, mas ele estava completamente imóvel. Dois pontos de luz dourada encaravam a noite, enquanto ele observava a escuridão. A respiração da Heather se prendeu na garganta. Caído. A voz do Étienne deslizou pelos pensamentos dela: Nightbinger. ― Bom Deus ― Stearns sussurrou. ― Sim senhor ―, Heather falou ― sei exatamente com quem estou aliada ― ela se virou. Olhando para os olhos assustados do Stearns, ela adicionou ― no momento, confio mais neles do que em você.


Ronin observou enquanto uma mulher com o rosto pálido e cheio de medo, saia correndo da taverna. Ela correu direto para o Chevy adornado com as chamas, pegando as chaves do bolso. Ao contrario das mulheres aterrorizadas nos filmes, ela não tropeçou ou caiu, e seu Chevy rugiu ganhando vida na primeira vez que ela virou a chave. Engatando a ré, ela quase bateu contra o MG preto parado na vaga atrás dela. Ela pisou no freio, engatando a primeira e acelerou para fora do estacionamento. Interessante. Quais maldades o meu pequeno puro sangue estará aprontando? Apesar de que a expressão puro sangue não ser mais a correta, não é? Nascido vampiro, com um pai Caído. Excitamento correu pelo corpo do Ronin. Se colocar contra o híbrido de puro sangue com Caídos... que grande teste para suas habilidades seria? Especialmente depois de treinar a criança? Deixando o motor ligado, Ronin saiu do Camaro. Ele manteve seus escudos firmes no lugar, e sua própria energia baixa. A última coisa que ele queria era que o Dante o sentisse... E viesse atrás dele antes de estar pronto. Ronin olhou para a nova forma de sua mão. Aquilo definitivamente não estava nos arquivos sobre o garoto. Depois de fugir da Custom Meats, ele sentou e seguiu o já fraco wormhole36 criado pelo toque do Dante. Seus dedos não havia simplesmente desaparecido, eles foram completamente apagados de seu código genético. A melhor parte? Johanna não fazia ideia que o Dante havia conseguido esconder esse segredo dela. Um segredo capaz de alterar o mundo. A porta da taverna se abriu e um mortal usando um boné de baseball, usando camiseta e jeans, correu para o estacionamento. Quase tropeçando nos próprios pés, ele deslizou no cascalho até parar junto a uma das pick ups. Ele puxou a porta, então viu o Ronin. ― Senhor! ― ele gritou. ― Não entre lá! Tem um vampiro lá dentro! Um vampiro de verdade! 36

Em física, um buraco de verme ou buraco de minhoca é uma característica topológica hipotética do continuum espaço-tempo, a qual é, em essência, um "atalho" através do espaço e do tempo. Um buraco de verme possui ao menos duas "bocas" conectadas a uma única "garganta" ou "tubo".


Ronin sorriu. O mortal choramingou, seus olhos arregalados como os de um gato, e praticamente se jogou para dentro da pick-up. Ele ligou o motor, que morreu. O forte cheiro de gasolina encheu o ar. O motor afogou. Olhando ansiosamente por sobre o ombro, o mortal tentou ligar a pick-up mais uma vez. O motor tossiu, engasgou, e então pegou em um baixo rosnar. Ronin ficou parado no estacionamento, braços cruzados, se perguntando se o mortal iria injetar muita gasolina novamente, ao tentar dar marcha ré. Errando a marcha enquanto tentava engatar a ré, o mortal apertou o acelerador. A pick-up pulou alguns metros para trás, então engasgou e morreu. Ronin estava considerado acabar com o sofrimento do mortal, quando a porta do motorista se abriu e o mortal pulou para fora. Ele correu pelo estacionamento, passando pelos arbustos e ervas que ficavam junto a calçada e correu pela estrada. Ele seguiu pela noite, suas botas de trabalho batendo contra o pavimento. Balançando a cabeça, Ronin caminhou até a porta da frente da taverna. Ele fechou os dedos ao redor da maçaneta, e escutou. Silêncio. Ele abriu a porta. Espiando para dentro. Corpos enchiam o chão manchando de sangue. Ele contou, quatro. O Dante andou ocupado. Ou talvez eu deva dizer S. Um grito gutural cortou o silêncio, então parou abruptamente. Ronin ajustou a contagem de corpos para cinco. Ele se perguntou quantos corpos o Dante havia deixado no chão da Custom Meats. E se a agente Wallace ainda respirava. Ronin fechou a porta. Ele já havia visto o suficiente. Ele retornou para o Camaro. Era hora de preparar tudo para a volta do Dante para casa. Abrindo o celular, ele ligou para o numero do E. Ao invés da mensagem de voz que havia atendido durante toda a noite, Ronin escutou a voz mal humorada do mortal.


― Sim? ― Onde você esteve? ― Fora. O que você é? Meu pai? ― Está na hora. Troque o Jeep por uma van. Você lembra das especificações? ― Dã. Você pegou o Dante? Ronin lembrou do grito que escutou dentro da taverna. ― Oh sim. A mão suja de sangue do Dante se fechou ao redor do galão de gasolina, na traseira da pick-up. Vozes clamavam e gritavam. Renovando a dor em sua mente. Ele voltou para a taverna silenciosa. Espalhando gasolina sobre as mesas, mesa de bilhar e bar. O cheiro forte seguiu direto para a sua cabeça, o deixando zonzo. Ele espalhou uma trilha de gasolina pelo corredor até o banheiro feminino. Ele está calmo agora. As drogas devem ter funcionado. Vou levá-lo para baixo. Ele viu uma imagem rápida, de um rosto pálido contornado por cabelos loiros, a dor fez a imagem se estilhaçar. Dante se recostou contra a porta do banheiro, uma das mãos contra a têmpora. Ele lutava para continuar em pé. Essa dor ele não podia transcender ou usar. Essa dor o devorava. Respirando profundamente o ar pesado com a gasolina, Dante e a lata, seguiram de volta para a taverna. Ele pegou uma garrafa de tequila das prateleiras de bebidas atrás do bar. Parou junto a mesa onde os bons garotos haviam ajeitado seus traseiros empoeirados e pegou um maço de cigarros e um caixa de fósforos. Ainda derramando gasolina atrás dele, ele saiu até a varanda. Então jogou a lata vazia para dentro da taverna. Ela atingiu o chão com um eco. Batendo um cigarro para fora do maço, Dante o prendeu entre os lábios, então acendeu. Ele fumou por algum tempo, apreciando o tabaco, tentando não escutar as vozes dentro dele. E... oh sim! ... a ultima casa adotiva queimou até os alicerces...


Mentiroso. Uma luz branca borrou a visão do Dante. A dor pulsava. Ele jogou o cigarro aceso para dentro da taverna encharcada de gasolina. O fogo começou com um oufi, que mandou calafrio por sua espinha. As chamas se espalharam pelo ar. Diga-me o que o símbolo da anarquia significa para você? O rosto da Heather tomou conta de sua visão. O cabelo dela brilhava como o fogo. Dor cortou seu coração. Ela se foi. Está a salvo. Você ainda me ama, Dante anjo? Nunca parei de amar você princesa. Apenas a esqueci por algum tempo. Dante caminhou até o MG. Se recostou contra o porta malas, garrafa de tequila nas mãos. Ele observou a taverna que queimava, seu interior podia estar retorcido e enrolado como arame farpado, mas seu coração estava livre, desprotegido e acelerado. Diga-me o que o símbolo da anarquia significa para você? Ódio. Tempestade de fogo. Verdade. ― Liberdade ― Dante sussurrou.


24 Confiança destruída Lucien fechou os olhos. De seu poleiro no telhado, ele sentia o cheiro do Mississipi – água fria, musgo e lama. Ele escutava, esperando pelo toque do Dante em seu link, um toque que poderá nunca mais ser sentido. O link estava fechado, mas não cortado. Pelo menos ainda não. A criança pode não ter percebido que o fim da ligação poderia ferir a ambos. Apesar dos escudos do Lucien, o frenesi de sangue, raiva e euforia do Dante o atingia através da ligação. Cantando para ele uma musica caótica, como aquela primeira vez no cais. Ele apertou a beirada do telhado, suas garras perfurando as telhas. Suas garras... Mais grossas e fortes. Melhoradas com a imaginação do creawdwr.


Os músculos do Lucien se tencionaram sob a pele. Sua pele renovada latejava. Seu cabelo flutuava atrás dele na brisa do inverno. O que mais o Dante havia alterado, na tentativa de salva-lo? Ainda outro ramo na já intrincada ligação deles: pai e filho; amigos e companheiros; criador e criatura. Será possível reconquistar a confiança que fora perdida? Uma dor repentina, tão aguda quando vidro quebrado, arranhou pela ligação se cravando em seus escudos. Lucien afastou a dor. Sua criança finalmente havia desmaiado, libertando a ambos. Uma imagem continuou assombrando a mente do Lucien, como uma sombra na retina depois de um flash brilhante. Uma baia de concreto, luz piscante, água pingando. Uma imagem que ele passou adiante. Llygad Já recebi Lucien lutou contra o desejo de se lançar aos céus, e seguir até o Dante, o segurando em seus braços e levá-lo para casa. Suas asas se abriram e bateram, mas ele permaneceu empoleirado no telhado como uma gárgula acorrentada, apenas escutando. Esperando.

Heather fechou a segunda algema ao redor do pé da cadeira. A outra circulava o pulso direito do Stearns. Ela levantou, afastando o cabelo dos olhos. ― Isso não é necessário ―, Stearns falou ― só quero falar com você. ― Café? ― ela perguntou, seguindo até o balcão da cozinha e a cafeteira. O aroma do café era forte e escuro, enchendo a cozinha. Enquanto ela colocava o café recém passado, na mesma caneca que havia usado na noite passada, sua garganta se contraiu. Haviam se passado vinte e quatro horas desde que ela e o Dante haviam sentado naquela


cozinha, bebendo café e brandy. Falando sobre o serial killer que o perseguia. E que o encontrou. Os músculos dela se contraíram quando ela pensou no Elroy Jordan, deitado no sofá na sala da frente, e que provavelmente era o assassino que ela vinha caçando por três anos. Pensou nele se inclinando sobre ela, enquanto dormia. Nele pegando o celular e deixando tudo o mais intocado. ― Vá até o meu carro, pegue a ficha e de uma olhada, você vai ver o monstro que é o Dante. Heather se virou, suas mãos apertando o balcão atrás dela. Stearns arrastou sua cadeira para poder olhar para ela. O rosto dele ficou sem expressão com o que viu nos olhos dela. ― Monstro? Eu vi monstros hoje à noite ― ela falou com a voz rouca, constrita. ― dois deles ― a memória do Jay caído na poça de seu próprio sangue, queimava viva em sua memória. ― Dante pode não ser humano, mas ele não é um monstro ―, ela encarou o Stearns ― aposto minha vida nisso. ― Você já o fez ―, Stearns falou ― apenas não sabe disso ― ele olhou para o lado ― vim aqui por você Heather. ― Por mim? Ou pelo Dante? Stearns olhou para ela, seu rosto barbudo se abriu, cansando ― Por você. Você foi marcada para ser exterminada. Eu também. Mesmo já esperando algo ruim, realmente ruim, desde que descobriu dos planos encobertos, escutar aquilo foi como um tapa em seu rosto. Pegando sua caneca, ela voltou para a mesa, e sentou em frente ao Stearns. ― Por que alguém quer proteger o CCK? Ou por que a investigação me levou até o Dante? ― ela mexeu o açúcar no café com as mãos firmes, mesmo sentindo como se tivesse levado um soco no estômago. Marcada para extermínio. ― Ambos. O Dante é parte do mesmo projeto que gerou o CCK. Heather respirou fundo. Mais um soco no estomago. Acorde S. os


pedaços do quebra cabeça se encaixavam e formavam uma figura que a apavorava. ― O nome do projeto ― ela murmurou ― Quem lidera o projeto? ― Johanna Moore. ― Doutora Moore? Você está falando sério? ― Mortalmente sério. Ela vem criando sociopatas a anos. Para estudálos. Heather sentiu como se estivesse em uma realidade alternativa: tudo parecia o mesmo, mas por baixo, tudo e todos eram obscuros, opostos de seus representantes na realidade dela... o negativo de imagens. Isso, ou ela caiu no sono e mergulhou de cabeça em um pesadelo terrível. Mas ela não tinha tanta sorte. Mexendo o café, Heather lembrou de seus dias na academia, e arrastou de volta memórias da doutora Moore. Alta, loira, carismática, e brilhante. Suas aulas de psicologia forense sempre foram intrigantes. Sua compreensão da personalidade sociopata era fantástica. Seus perfis nunca estavam errados. Mas criar sociopatas? ― Ela esta por trás do esquema de Pensacola ― Stearns falou ― Você estava chegando muito perto. Heather encontrou o olhar do Stearns. Uma certeza fria caiu sobre ela, um rio gelado que a congelou até os ossos. Ele falava a verdade. ― Até que escalão isso vai? ― Honestamente não sei – Stearns respondeu, balançando a cabeça. ― mas acho melhor nos comportamos como se isso chegasse até o topo. Heather tomou um gole do café, seus pensamentos giravam. Elroy Jordan e Thomas Ronin... Juntos, criando o assassino Cross Country. E o Dante? Por que um membro do programa estaria perseguindo outro? O Dante seria um experimento que não deu certo? Ou marcado para extermínio, como ela mesma? Como o Stearns?


Mas e se ele for exatamente o que fora programado para ser... um assassino psicopata? Afastando a cadeira da mesa, Heather levantou. Cansaço caiu por seu corpo e sua visão ficou escura. Ela agarrou a beirada da mesa para se equilibrar. ― Vamos conversar sobre isso mais tarde – ela murmurou enquanto a visão dela clareava. ― Preciso encontrar o Dante. ― Perca uns cinco minutos ― o Stearns falou com urgência. ― pegue a ficha. De uma olhada ― ele pegou a chave do carro no bolso do casaco com a mão livre, e a jogou no mesa. ― Por favor, Heather. Ela olhou para as chaves, se perguntando se as fichas poderiam conter os segredos do passado obscuro do Dante. E se com isso ele pudesse se livrar das dores de cabeça e sangramento nasal? Será que a verdade teria salvo Annie de seus pulsos cortados, medicamentos, e instituições? Talvez, Heather pensou, pegando as chaves. Ela as colocou no bolso da calça. Talvez ainda haja salvação. Stearns abriu a boca, mas ela balançou a cabeça ― Mais nenhuma palavra Craig. Heather saiu da cozinha silenciosa para o corredor. Sua mochila de viagem e laptop descansavam contra a parede. Mais a frente, uma fraca luz azul iluminava o carpete outonal, saindo de uma porta próxima a escada. Ela escutou o fraco murmurar da voz da Simone enquanto ela falava com o irmão, em um rápido e musical Cajun. Heather lembrou do Dante parado junto a porta do Custom Meats, suas mãos presas no umbral, seus olhos escuros machados de vermelho; lembrou da constrição em sua voz: corra para o mais longe de mim que puder. Enquanto ela caminhava pelo corredor, em direção a luz azul, Heather também lembrou da cabeça do Étienne pendurada em uma das mãos ensanguentadas do Dante; lembrou do toque quente dos lábios do Dante contra a garganta dela, criando medo e fogo em suas entranhas; lembrou da surpresa na voz dele, quando pronunciou seu nome. Mesmo se tudo o que o Stearns falou fosse verdade, Dante lutava


contra o que fora programado em sua mente quebrada. Ele amava outras pessoas, algo que um sociopata era incapaz de fazer. A capacidade do Dante se sacrificar por Jay, era toda a prova que ela precisava. Mas a voz do Ronin serpenteou pela mente dela. O nome dela era Chloe. E você a matou. Agora o Dante lutava, mas será que sempre fora assim? Ela empurrou as dúvidas para longe, sabendo que as examinaria com mais cuidado outra hora. Por agora, ela era a parceira do Dante, seu reforço, e ela não o deixaria enfrentar o Ronin sozinho. Abrindo a porta da sala do computador, Heather olhou para a Simone que estava abaixada ao lado de seu irmão conectado ao computador. Trey estava deitado em uma poltrona, seus olhos cobertos com óculos virados para o teto, seus dedos se moviam no ar iluminado pela luz azul, enquanto ele procurava pelas informações que ela havia pedido: uma pesquisa sobre a movimentação de Elroy Jordan nos últimos três dias.

Dante, um anjo? Chloe puxou as algemas, a corrente tilintou contra a cabeceira da cama. Acorde! Papa retirou as cortinas. Dante anjo, acordeacordeacorde... Dante abriu os olhos. A luz o perfurou, atingindo sua já dolorida cabeça. Ele voltou a fechar os olhos. Dentro do MG. Descansando a cabeça contra o banco, ele massageou as têmporas. O interior do carro fedia a sangue, gasolina e tequila. ― Merda. Algo duro se pressionava contras as costas do Dante. Gemendo por causa da luz fluorescente, ele se inclinou e estendeu a mão até a cintura da calça. Seus dedos se fecharam ao redor da forma cilíndrica e lisa, a puxando para cima. Dante olhou para a arma (nove milímetros, uma voz sussurrou), em sua


mão suja de sangue. Sua respiração ficou presa na garganta, enquanto imagens piscavam em sua mente dolorida. A repentina onda de violência, vivida, forte, intoxicante... fez seu coração acelerar. ― A taverna... – ele sussurrou. Outra estonteante onde de imagens: um taco de bilhar quebrado girando pelo ar; uma faca atravessando sua mão; uma mulher de cabelos pretos abaixada atrás do bar, seu rosto contorcido pelo terror; uma tatuagem brilhante. O gosto amargo do sangue do LaRousse. A arma escapou de seus dedos, e caiu no assoalho. Dante fechou os olhos com força. Tocando a cabeça com os dedos. Tremendo, com os músculos tensos, ele tentou superar a dor, mas as imagens continuaram. Não importava o quanto ele tentava, não conseguia impedir a onda de memórias. Não podia controla-las, ou se concentrar nelas. Dante abriu os olhos. Luzes fluorescentes zumbiam no teto mais acima. Ele respirou fundo o cheiro de concreto molhado, mofo e sabão. Mas sob isso, ele sentiu o fedor do sangue velho matadouro. Dor perfurou a mente dele. Custom Meats. Ronin e Étienne. Jay amarrado e pendurado em um gancho de carne. As presas do Ronin perfurando sua garganta. Heather ajoelhada ao lado do Étienne, a arma pressionada contra o peito dele. Eu sabia que você viria. Você ainda pode salva-lo puro sangue. Mentiroso. Mentiroso. ― Mentiroso! ― Dante gritou. Ele gritou até se sentir em carne viva por dentro, até sua mente ficar vazia, e incapaz de produzir mais algum som. Ele caiu contra o banco, vazio, mas ainda queimando. ― Hei, irmãozinho. Dante olhou para a porta do motorista que fora aberta. Von se ajoelhou no chão de concreto, um dos joelhos contra uma possa de água e óleo. Ele tocou o rosto do Dante com sua mão áspera, afastando o cabelo com seus


dedos longos. ― É bom poder colocar essa merda toda para fora ― Von falou, com a voz baixa. ― acaba por apodrecer se ficarem dentro de você. ― É? ― Dante sussurrou, olhando para os olhos verdes do nômade ― E como é que nunca escutei você gritar? Von bufou ― Nada por dentro, cara. Eu viajo leve. ― Besteira. A mão do Von caiu até o peito do Dante. Ele pressionou seus dedos contra a camisa de látex. ― Você tem um bom coração, irmãozinho. É por isso que fico. Sem arrependimentos. ― Como você pode saber disso quando eu não sei? Von tocou um dedo abaixo da lua crescente tatuada sob seu olho. Bateu contra ele. Erguendo uma sobrancelha. ― Sim, sim, llygad. Entendi. Von retirou a mão do peito, mas Dante a pegou e entrelaçou seus dedos ao redor dos dele. Dante se inclinou e o beijou. O nômade tinha gosto de fumaça e poeira da estrada. Ele escutou o bater estável do coração do Von, e sua mente voltou para o Lucien, para o gosto do seu sangue, o som da canção vibrando através dele... Dante tentou bloquear todos os pensamentos sobre o Lucien, mas era tarde demais. Você se parece tanto com ela. A raiva entrou em combustão, se unindo ao fogo que já queimava em seu interior. Você sabia esse tempo todo? E nunca falou nada? Largando a mão do Von, Dante saiu do MG. Ele olhou ao redor, percebendo pela primeira vez que estava em um lava carros. Olhando para suas roupas machadas de sangue, a locação repentinamente fez sentindo. ― Preciso me limpar. ― Boa ideia ― Von falou ― aquela linda agente do FBI está na casa. Se ela o ver desse jeito, vai pensar que você tomou banho com sangue. Dante ficou parado. ― Heather está lá em casa? Ela está... bem?


― Claro que sim. Está cansada, assim como você, mas está ótima. Vocês dois estão precisando dormir. Dante assentiu, então tirou a jaqueta de couro. Ele a jogou para dentro do MG. Vendo seus óculos sobre o banco do MG, ele os pegou e os colocou. A luz fluorescente ficou mais fraca. Sua dor de cabeça diminuiu um pouco. Ele abriu a camisa de látex, e caminhou na direção dos controles do lava rápido. Apalpando os bolsos, a imagem das notas de dólares amassadas sobre o balcão da taverna, pulou em sua mente, Dante olhou para o Von ― Tem algum dinheiro? ― Sim ― o nômade falou, colocando a mão no bolso da jaqueta. Ele olhou para o Dante e puxou o dinheiro, erguendo as sobrancelhas. ― Então, qual é o teu plano? Esperar que alguém sinta pena do teu estado deplorável, e coloque moedas nas tuas mãos? ― Foda-se. Em dobro ― o Dante puxou a mangueira do descanso de metal. Sorrindo Von olhou para a lista de preços ― Escolha o teu veneno. Dante apertou o botão sobre a luz que dizia enxaguar, e apertou o botão para ligar. Água jorrou da mangueira. Virando a mangueira para que a água de alta pressão atingisse seu torso, Dante agitava o jato para cima e para baixo, limpando o sangue de suas roupas e pele. A água fria fazia sua pele queimar. ― Escute ― Von falou, se afastando da água. ― Você está exausto. Febril. Precisa dormir. ― O Ronin está esperando por mim. ― Deixe que ele espere. Vai amanhecer em apenas algumas horas. Ele também precisa dormir. O cansaço atingiu Dante repentinamente, e ele encostou o ombro contra a parede de concreto. Água suja de sangue escorria pelo dreno no centro da garagem. As têmporas dele latejavam, com uma dor irritante. Ele esfregou uma mancha teimosa no couro da calça, a água escorria por seus


dedos. Largando a mangueira no chão, ele tirou a camisa de látex a colocou sobre o capo do MG. Uma voz fica sussurrou seu nome... Dante anjo. Fechando os olhos, ele encostou o ombro nu contra a parede. Sua mão direita pressionada contra o concreto, o toque procurava por algo... o que? Atrás de seus olhos fechados, uma coroa de luz cercou uma chave, fraturada como um quebra cabeças e delineada com linhas negras como teias de aranha. Esse é a chave certa? Vai abrir as algemas? ― Hei Dante ― o som agudo de dedos estalando ― Hei, irmãozinho. Dante abriu os olhos e olhou para o rosto preocupado do Von. ― Você está bem? Assentindo, com o coração martelando, Dante juntou a mangueira ainda aberta e voltou a se lavar. ― O que aconteceu entre você e o Lucien? Dante olhou para o Von por um bom tempo, então voltou a se molhar. ― Você está perguntando como mom ami, ou um llygad? ― ele repentinamente lembrou-se da Heather ― seu belo rosto escondido nas sombras do clube quando ela falou, sou ambos, Dante, amiga e policial. ― Amigo. ― Ele mentiu para mim ― a jato d‟água diminui para um gotejar. Dante se ergueu, afastando o cabelo molhado do rosto. Ele recolocou a mangueira no suporte. Von assobiou, então colocou a mão dentro do MG e pegou a jaqueta do Dante. a jogando para ele ― Se o Lucien mentiu para você, deve ter um bom motivo... ― Ele conhecia minha mãe. Todo esse tempo. E nunca contou nada. Nunca falou merda nenhuma ― Dante colocou a jaqueta sobre sua pele molhada, o couro estalou e o metal tilintou. A memória voltou a vida mais uma vez, o rosto do Lucien, a surpresa


em seus olhos dourados, seus dedos estendidos para toca o cabelo do Dante. Genevieve... O mundo girou repentinamente (Catedral, lava rápido, matadouro, bancos brilhosos, paredes de concreto molhadas, ganchos pendurados) Dante agarrou a porta aberta do carro, para não cair. Dor ferroava atrás de seus olhos. Sua visão ficou acinzentada por um momento, e então clareou. Ele percebeu que o Von havia colocado a mão ao redor do bíceps dele, o estabilizando. Dante olhou para o nômade. Von o olhou, seu rosto demonstrando preocupação. ― Merci ― Dante falou. Von o soltou, mas sua postura estava tensa, relutante. ― Vá para casa, irmãozinho. Durma. O Ronin ainda vai estar esperando quando a noite chegar. Vá para casa. Por favor. Mas o Dante escutou os pensamentos por trás das palavras do Von, os viu em seus olhos: Você está me assustando. ― Planejo fazer isso, mon ami ― Dante falou, entrando no MG. ― Preciso falar com a Heather ― preciso me certificar de que ela está bem. Ele ligou o motor, que rosnou ganhando vida, o som ecoando contra as paredes de concreto. O sorriso ergueu um dos cantos da boca do Von. ― Então ele pode ver a razão ― com um gentil empurrão, ele fechou a porta do motorista e se afastou. Dante balançou a cabeça, divertido, e engatou a primeira marcha. Seu divertimento se esvaiu em pensamentos obscuros que circulavam sua mente. Por que diabos não consigo lembrar do meu passado? E por que isso nunca me incomodou? E um pensamento ainda mais negro: e se isso nunca me incomodou por que é assim que deveria ser? E pior: e se nunca me importei, por não querer lembrar? Novamente ele escutou a voz irritante do Ronin: do que você tem medo, puro sangue?


Com os dedos apertados ao redor da direção, Dante dirigiu o MG para fora da garagem. Não de você Tom curioso. Ou do que você sabe. Mas ele se perguntou como o Tom curioso havia descoberto tudo sobre ele. Incomodado, Dante apertou o acelerador, mudando para a segunda marcha, então terceira. Ele estava deixando algo escapar, esquecendo de algo importante, mas a memória (como tantas outras) se recusava a aparecer.


25

O diabo está nos detalhes

Heather sentou com as pernas cruzadas no piso de madeira, examinando os papeis com o material que o Tray havia encontrando. Sua exaustão desapareceu em uma onda de excitamento. Elroy vinha de Nova York, mas antes disso ele morou em Seattle (nascido e criado lá), durante o período em que ouve as duas mortes. Ele até mesmo morava próximo à casa da primeira vitima, Karen Stilman. Recibos de cartões de credito o rastreavam até Portland, Oregon, Boise e Idaho durante os períodos dos assassinatos naquelas cidades. Na verdade, Elroy Jordan poderia ser rastreado até cada um dos locais dos crimes. O papel raspava a cada virada de página sobre os arquivos do Ronin. Nada ligava o jornalista à cidade de Seattle até depois do segundo assassinato.


O mesmo para as mortes em Portland, Boise, Salt Lake City e Helena. Ela fez uma careta, relendo as datas procurando por evidências, ou alguma inconsistência. Ela tinha certeza de que o Jordan e o Ronin estavam trabalhando em conjunto. Mas, até o momento, as evidências haviam descartado tal teoria. Depois do assassinato em Helena, Montana, os recibos de cartão de crédito localizam o Ronin em Nova York. Antes da data estimada para a morte de Byron Hedge. Não depois. Se o que o Sterns falou for verdade, que Moore havia criado sociopatas para estudar, então o Ronin estaria trabalhando com ela? De que outra forma ele saberia como acordar o Dante? O que ele queria? O que ele ganharia? Ou o Ronin estaria trabalhando contra a Moore? Se for verdade, por quê? Novamente, o que ele teria a ganhar? Heather voltou a olhar para o papel, pegando novamente a pagina falando sobre o Jordan. Os dois não podiam ser ligados nos assassinatos de Omaha, Chicago, ou Detroit, o Ronin não apareceu nessas cidades até depois das mortes. Mas ele estava em Nova York antes da morte de Hedge. Pouco depois, Ronin e Jordan chegaram á Nova Orleans juntos. O próximo assassinato? Daniel Spurrell. Por alguma razão, Ronin havia interceptado o Jordan, interrompido o estudo da Moore sobre seu sociopata errante, e o levou para Nova Orleans. Para o Dante. Então... Talvez Elroy Jordan seja o Assassino Cross-Coutry. Mas qual o papel do Ronin? Ele ou Étienne havia matado o Jay. Jordan nem ao menos estava presente. Heather esfregou o rosto com uma das mãos, seu ânimo se dissipando. Nada fazia sentido. Ela precisava dormir, mas primeiro ela precisava encontrar o Dante. O couro estalou quando o irmão da Simone se mexeu na poltrona. Seus dedos se moviam pelo ar, rearranjando dados e os mandando de volta para a net. O cheiro de circuitos quentes e gengibre se misturavam no ar abafado


da sala. ― Obrigado pela ajuda Trey ― Heather falou se levantando. Não ouve resposta, apenas o som do couro estalando e os dedos cobertos do vampiro que se moviam como um borrão pelo ar. Seus dreads raspavam no chão. Heather duvidava que ele sequer a tivesse escutado. Ela se perguntou se Trey, em sua própria maneira, estava tão perdido quanto Annie. Talvez sua transformação não houvesse funcionado tão bem quanto Simone esperava. Heather caminhou até o corredor e silenciosamente fechou a porta atrás dela. As chaves do Stearns tilintavam no bolso da Heather enquanto ela caminhava, ela pensou nele algemado na cozinha; e na fixa em seu carro. O que você vai fazer, Wallace, mantê-lo prisioneiro? Por quanto tempo? Ela dobrou em as folhas. Ele queria o Dante. Ele acha que o Dante é um monstro. Parando na entrada da cozinha, ela pegou o Stearns cochilando, o queixo contra o peito, os olhos fechados. E se ele estiver certo? ― Vou pegar o arquivo ― Heather falou. Stearns ergueu a cabeça, a olhando, os olhos limpos. Então ele estava fingindo. ― Bom. ― E depois que eu fizer isso ― ela falou, entrando na cozinha ― quero que você vá embora daqui. ― Me ligue depois de ler o arquivo. ― Sem promessas ― ela colocou as folhas sobre a mesa. Heather caminhou até a cadeira com seu casaco pendurado, remexendo os bolsos atrás do Colt Super. Seus dedos passaram pela forma fria da Glock do Stearns e se fecharam ao redor do .38. Ela o puxou para fora, o prendendo na cintura da calça; sentindo a pressão reconfortante do metal contra a parte de baixo das costas. Ela escondeu a arma com o suéter. ― Volto em um minuto ― ela falou Na porta da frente, enquanto Heather segurava a maçaneta, uma mão tocou seu ombro. Ela olhou para os olhos escuros da Simone.


― Vou com você ― ela falou. Um minúsculo vestido de látex vermelho se colava ás curvas dela, sua pele pálida aparecia por entre os laços laterais. Seus cachos dourados caiam pelas costas. ― Obrigado, mas não preciso de um segurança. Simone deu de ombros. ― Estou precisando de um pouco de ar fresco. Assentindo, Heather abriu a porta e saiu para o ar úmido e cheirando a rosas da noite. A chuva banhou seu rosto, molhando o suéter. Caminhando pelo caminho de pedras até o portão, ela sentiu Simone a seguindo de perto, mas os únicos passos que ela escutava eram os dela mesmo. Quando Heather chegou ao portão, ela parou e olhou para a casa. De Noir não havia se movido. Ele ainda estava empoleirado no telhado, suas asas molhadas dobradas as suas costas. ― Você conseguiu o que precisava? ― Simone perguntou. ― Sim ― Heather falou ― tenho o endereço do Ronin em Metairie. Nada sobre o Jordan, mas imagino que eles estejam juntos. A Custom Meats é propriedade de uma imobiliária... Simone ergueu um dedo, olhando para frente. Depois de um momento, um sorriso curvou seus lábios ― Von encontrou o Dante. Eles estão a caminho de casa. ― Ele está bem? ― Na maior parte sim. O alivio correu pela Heather, desfazendo nós em seus músculos e afastando o cansaço. Ela decidiu não duelar com a expressão “na maior parte”. Dante havia sido encontrando, e estava indo para casa. Isso era tudo o que importava. Ela passou pelos portões entreabertos, caminhando com Simone pela estrada. ― Você disse que conhece o Dante á uns três ou quatro anos ― Heather falou, mantendo sua voz light. ― Oui. Ele é mon cher ami. ― Vocês foram só amigos o tempo todo? Simone olhou para ela, as sombras se retorciam em seu rosto pálido. Ela


abriu a boca para falar, mas o som de um carro parando atrás delas no acostamento de cascalho, a fez parar novamente. Ela se virou, erguendo a mão contra o brilho dos faróis. Heather se virou, levando a mão direita até as costas, e deslizando os dedos ao redor do .38. Um carro havia parado em frente ao portão. ― Com licença ― uma voz de mulher soou do lado do passageiro. ― você poderia me ajudar com uma informação? ― Oui ― Simone parou ao lado do carro. Ela se abaixou e olhou através do vidro que abaixava. Um ponto de luz vermelha apareceu em sua testa. Heather puxou o .38 gritando ― Simone! Abaixe! ― ela puxou o gatilho, e escutou dois tiros estalarem pela noite. Simone mergulhou em direção ao chão, mas caiu com força contra o cascalho e gemeu de dor. Ela foi atingida, Heather pensou. A bala do 38 estilhaçou o vidro do para-brisa do lado do passageiro. O motorista acelerou o carro. Heather se abaixou sobre um joelho, e abriu fogo, puxando o gatilho até esvaziar o pente. ― Fique abaixada Simone! ― ela gritou, torcendo para que a vampira não tivesse levado um tipo na cabeça ou coração. O carro arrancou na direção dela. Heather rolou na direção da cerca de concreto e ferro fundido, então voltou a ficar de pé. Desejando estar usando o casaco, ela correu na direção do carro alugado do Stearns, puxando as chaves do bolso enquanto isso. Pensamentos queimavam límpidos como cristal: encontrar a arma reserva do Stearns, se isso falhar, ligar o carro e seguir na direção daqueles filhas da puta. Adrenalina alimentava seus músculos. Seu coração batia três vezes mais rápido, e o ar queimava sua garganta. Ela parou ao lado do Crown Victoria, fazendo o cascalho voar sob seus pés. Atrás dela, o som do motor do carro ficou mais alto, ganhando velocidade. Ela revirou as chaves, as beiradas afiadas contra seus dedos, até


encontrar o controle do alarme. As portas foram destravadas. Heather abriu a porta do passageiro, e pulou para dentro. Tateando sob o banco a procura de alguma pistola que o Stearns pudesse ter escondido, ela espiou pelo vidro traseiro e viu o brilho azulado dos faróis. Uma forma pulou no carro. Simone estava deitada sobre o teto, com a mão esticada pela janela na direção do motorista. O carro freou. Os pneus gritaram. O cheiro de borracha queimada no ar. O carro derrapou de lado e se chocou contra o Crown Victoria. O impacto fez com que Heather batesse com o ombro contra o painel. Dor se espalhou pelo ombro e por todo seu lado direito. Ela mordeu os lábios. O porta luvas se abriu, e vários mapas e uma arma caíram no chão. Bingo! Heather agarrou a arma e saiu do carro. Vapor subia no ar saindo sob o capo do carro junto ao Crown Victoria. Soltando a trava da arma, ela cuidadosamente se aproximou de seu perseguidor. A mulher estava caída de lado, um buraco negro em sua testa. Simone estava deitada sobre o teto do carro, uma das mãos presas ao ombro do motorista que lutava, a outra se enrolava no cabelo dele. Ela o puxou parcialmente para fora da janela. Sangue escorria pelo rosto dele. Heather deu a volta no carro, caminhando até o lado do motorista, a arma presa em ambas as mãos. O motorista se retorcia nas mãos da Simone, seus gemidos em pânico. ― Pode soltá-lo ― ela gritou ― o tenho na mira. Simone puxou o motorista pela janela. Ele deslizou pelo pavimento, parando junto às linhas divisórias da pista. ― Fique ali ― Heather falou, caminhando na direção dele. ― mãos atrás da cabeça. O ar frio bateu em seu cabelo molhado, quando poderosas asas batiam no céu acima dela. Uma sombra escureceu a estrada. De Noir pairou sobre o motorista, o pegando pelo colarinho, e voltando a alçar voo. O grito alto e apavorado do motorista cortou a noite.


― Não! ― Heather gritou ― traga-o de volta! De Noir! O grito parou abruptamente. Algo atingiu o pavimento com um som líquido, algo que soltou fumaça no ar frio. O estômago da Heather se revirou. Ela engoliu com força, sentindo o gosto de sangue. Ela se inclinou contra o carro, e abaixou a arma ― Merda. Uma figura passou correndo pelos portões e em direção à estrada, dreads e cabos serpenteando no ar atrás dele. A luz da lua brilhava em seus dedos. Trey parou ao lado do carro, seus óculos fixados na irmã, pânico marcando seu rosto. O carro balançou quando a Simone desceu dele. Sangue manchava sua pele pálida. Um buraco marcava o ombro esquerdo de seu vestido, Simone falou ― Estou bem ― ela ergueu os dedos do Trey e os beijou antes de soltá-los. Ela passou um braço ao redor da cintura dele, e se recostou contra ele. Um farfalhar de asas chamou a atenção da Heather. De Noir tocou seus pés descalços na estrada, o torso do motorista ainda em uma de suas mãos, a parte de baixo do corpo do homem na outra. Ele caminhou para o carro. Heather sentiu seu estômago se revirar novamente e pulou para o lado, não querendo olhar o fardo do De Noir muito de perto. Ele jogou os restos do corpo pela janela. ― Por que diabos você o matou? ― ela perguntou ― Eu queria interrogá-lo. ― Ele e a parceira pretendiam matar você, Agente Wallace ― De Noir falou ― e qualquer um que estivesse próximo a você ― ele parou próximo á Simone e tocou seu rosto com um dedo em forma de garra. Os olhos da Simone se fecharam. ― Você teria confiado em alguma informação dada por ele? ― De Noir olhou para a Heather. ― Provavelmente não. Mas ainda assim eu queria perguntar ― colocando a arma na cintura, ela marchou de volta até o Crown Victoria. Depois de recolocar a arma no porta luvas, Heather descobriu uma pasta chaveada no chão na parte traseira. Ela tentou uma das chaves


pequenas no chaveiro, e a pasta se abriu. Ela soltou as travas e olhou dentro. Um CD, fotos... O coração dela pulou até a garganta quando reconheceu o rosto do Dante, e muitas pastas. Fechando a pasta, ela saiu do carro. De Noir esperava por ela, sombras e luz da lua se espalhavam por seu corpo e asas ― Vá para dentro ― ele falou ― Vou cuidar das coisas aqui fora. Heather assentiu, decidindo não perguntar por mais detalhes e se virou. Ela marchou pela estrada até a casa, com as pernas pesadas e cansadas. Ela havia queimado toda a adrenalina, e agora estava quase zonza de exaustão. Ela caminhou pela sala vazia até a cozinha ― Peguei as pastas e... Trey e Simone estavam sentados á mesa da cozinha. Silver estava junto á pia, molhando um pano. A cadeira do Stearns estava virada. Vazia. ― Onde ele esta? ― Heather perguntou. Simone balançou a cabeça ― Ele já havia sumido quando entramos aqui. Heather se afundou na cadeira com seu casaco, colocando a pasta no chão. Ela checou os bolsos do casaco, a Glock do Stearns havia desaparecido. Uma olhada para a mesa confirmou que os papeis impresso também. Com os cotovelos contra e mesa, Heather enterrou o rosto contra as mãos ― Merda.


26 Consagrado Com um delicado torcer de sua garra, De Noir retirou a bala do ombro da Simone. O pedaço de metal comprimido caiu no chão. Silver entregou uma toalha molhada para o De Noir e se abaixou para juntar a bala destruída. Ele olhou para a Heather. ― Você vai precisar disso? Como evidência, ou algo assim? Heather balançou a cabeça ― Não mais. ― Legal ― Silver colocou a bala no bolso de seu jeans. Ele olhou para a Simone ― Isso doeu?


― Oui, muito ― Simone murmurou ― Não quero levar outro tiro, petit ― Trey que estava sentado ao lado dela apertou sua mão. De Noir terminou de limpar o sangue da pele da Simone, então se ergueu. Ele inclinou a cabeça, e um momento depois Heather escutou o roncar do motor de um carro na frente da casa. Dante, ela pensou sentando, completamente acordada. Ela passou os dedos pelo cabelo. Sua pulsação aumentando. Sorrindo, Simone largou a toalha manchada de sangue que ela usava para cobrir os seios, e ajeitou as tiras do vestido. A porta da frente se abriu. Heather escutou o couro estalando e o tilintar de pequenas correias, mas nenhum som de passos. Dante entrou na cozinha, com Von logo atrás. A respiração da Heather se prendeu na garganta ao ver o Dante. Quando vou me acostumar a olhar para ele? Ele olhou para ela, perguntas queimavam em seus olhos escuros, a íris não mais manchada com vermelho e dourado. Então Simone se levantou e Dante seguiu até ela, passando seus braços ao redor dela. Ele a beijou na testa, bochechas e boca. ― Você está bem boneca? ― Von perguntou, se juntando ao par, abraçando a ambos. A garganta da Heather se apertou, e ela olhou para longe. Ele é mon cher ami. E aparentemente bem mais. O bater excitado de seu coração se alterou para um ritmo furioso. Sangue martelava as têmporas. Empurrando a cadeira, ela levantou e marchou para fora da cozinha. Ela pode ficar com ele. Ele não precisa de mim para ajudá-lo. Heather correu pelo corredor, os punhos fechados, sem saber ao certo para onde estava indo, apenas querendo se afastar. Ela parou junto às escadas, os dedos ao redor da balaustrada de madeira polida. Ela fechou os olhos. O que havia de errado com ela? Ela não havia dito ao Dante que era uma amiga além de policial? O trabalho dela não era justamente vê-lo em segurança? Bem, ele estava... Em casa e seguro. Ela


precisava dormir. De comida. E tempo para pensar. ― Hei ― uma voz baixa falou, mandando arrepios por sua coluna. ― Sim? ― ela falou, abrindo os olhos. Seus dedos estavam brancos, apertando a balaustrada. Ela não se virou. Não queria se desfazer diante da visão dele. Ela ficou tensa quando o Dante parou ao lado dela. O cheiro dele (folhas caídas e terra escura, quente e próximo) a envolveu. Os dedos dele afastaram o cabelo dela do rosto. ― Heather olhe para mim. Heather largou a balaustrada e se virou para encará-lo, encontrando seus olhos escuros. ― O que diabos você ainda esta fazendo aqui? ― ele falou, com a voz contida. ― Falei para você correr. Era sério. Você não está segura aqui e eu... ― É você que não está seguro aqui. ― ela interrompeu, irritada com suas palavras e raiva inesperada. ― Sei que você é uma criatura da noite, mas isso não importa. Você ainda está em perigo e não pode continuar saindo por ai sozinho. Talvez você precise ser salvo de si mesmo. ― Eu não preciso ser salvo ― Dante falou ― Não quero ser salvo ― um músculo saltou na mandíbula dele. ― Teimoso ― ela resmungou ― sabe de uma coisa? Não se preocupe com isso. Você quer que eu vá embora, então tudo bem. ― se virando ela caminhou para longe. Enquanto Heather parava para juntar sua mala e laptop, dedos se fecharam ao redor do ombro dela, a fazendo girar. Ela largou a mala e ergueu o punho, mas o Dante o segurou contra seu peito nu. Ela ergueu a mão esquerda, mas ele também a pegou. ― Maldição! Solte-me! ― Heather falou com o corpo tenso, e olhos queimando. ― O que diabos você quer de mim? ― ela tentou se soltar, mas as mãos do Dante eram como algemas ao redor dos pulsos. A puxando para mais perto. E para junto dele.


― Me deixe terminar, d‟accord? ― Dante falou, sua voz quase um sussurro. ― Não quero você aqui, por que tenho medo do que pode acontecer com você. O que eu posso... o que pode... ― Shhh ― Heather balançou a cabeça. Com medo. Por ela. Dele mesmo. Ela olhou para seus olhos desprotegidos, assustada, com a garganta apertada. Naquele momento ela percebeu que não era de sono que ela precisava. Ou comida. Ou tempo para pensar. Dante largou os pulsos dela e passou os braços ao redor dela, a abraçando com força. O coração dele batia com força e rápido. O calor dele se infiltrando no corpo dela. Esfregando uma das mãos pelo peito pálido e musculoso dele, Heather prendeu um dedo ao redor do anel no colar. O puxando. Mas ele já estava abaixando a cabeça na direção dela. Ele a beijou, e o toque dos lábios dele, sua língua, fez com que ela entrasse em combustão. O desejo queimou através dela, e o beijo se aprofundou, e um sussurro de traição, dor, e solidão ecoou no coração dela. Todas as coisas que ela viu nos olhos escuros dele, quando ele sussurrou o nome dela no matadouro. Não vou abandonar você. Ela pensou, esperando que ele pudesse escutála. A respiração do Dante se prendeu na garganta, e ele deslizou a mão sob o suéter dela, seus dedos se movendo ao longo da pele até a curva dos seios. Ela puxou a jaqueta dos ombros dele. Que atingiu o chão com um baque. As mãos dela deslizaram sobre os quadris e nádegas, então para cima, ao longo dos fortes contornos das costas dele. A pele dele parecia como seda aquecida pelo sol, cobrindo aço. Dante estremeceu com o toque dela. Ela abriu os olhos pra ver o prazer em seu belo rosto. Fogo queimou na barriga da Heather, correndo por suas veias enquanto o Dante tocava seus seios através do suéter. Ela gemeu contra a boca dele, suas mãos voltando para o traseiro dele, o puxando para ainda mais perto. Dante estava duro sob o couro molhado. Contra a barriga dela. A respiração dela se intensificou. Ela fechou os olhos.


― Que merda, vocês dois, os feromônios! ― uma voz divertida... Von? ... Falou. ― Vão para o quarto, a menos que vocês querem uma audiência. A mão que acariciava o seio da Heather se afastou. Através dos olhos semicerrados, ela observou o Dante se virar para o nômade. Von riu ― O alvorecer está chegando cara. Mais umas duas horas. Encerrando o beijo, Dante levantou a cabeça e ajeitou o suéter da Heather. Ele a pegou nos braços. ― O que acontece quando amanhece? ― ela murmurou, passando os braços ao redor do pescoço dele. ― Eu durmo. Heather escutou o DURMO em letras maiúsculas na voz dele, e o pensamento dela se voltou para aquela primeira manhã (havia sido somente á dois dias atrás) e o Dante cochilando no carro, até que o perigo o fez acordar. Heather beijou a bochecha dele, a boca e orelha. Um baixo vibrar soou da garganta do Dante. ― Vá andando bonitão ―, ela sussurrou ― não temos tempo a perder. Dante se moveu, carregando Heather escada acima como se ela não pesasse nada. A força dele a surpreendeu (magro e musculoso, um metro e setenta e nove) até se lembrar do que ele era: criatura da noite. Ela beijou a garganta dele, presa aos seus braços poderosos, e no calor de seu corpo. O cabelo do Dante raspou contra os dedos dela, macios e úmidos, e contornando seu rosto com cachos ondulados. No segundo andar, Dante a carregou a primeira posta à esquerda... Até o quarto dele. Fechando a porta com um chute, ele cruzou pelo chão abarrotado com a certeza e precisão de um gato, e a deitou na cama desarrumada. Heather soltou suas mãos ao redor do pescoço e tocou o rosto dele. Ela voltou a beijá-lo. Murmurando contra os lábios dele ― Acenda algumas velas. Quero ver você. Dante caminhou até a penteadeira, pegou um isqueiro e se tornou um borrão correndo ao redor do quarto. As velas se acendiam como estrelas em


seu caminho. Voltando para a cama, ele sentou ao lado da Heather. Ele olhou para ela, para dentro dela, a luz das velas brilhavam alaranjadas em seus anéis, ao longo da argola dos brincos e em seus olhos. Ele acariciou o rosto dela, com a parte de trás dos dedos, seus anéis frios contra a pele dela. Agarrando o antebraço dele, ela puxou Dante para baixo e para cima dela. O rolando para cima dos lençóis de seda e montando sobre ele. As mãos dele deslizaram por sobre as coxas dela. ― Tudo fica calmo quando estou com você ―, Dante falou, sua voz baixa e rouca. ― os barulhos param. Heather se lembrou dele ajoelhado no matadouro, tonto, sussurrando sanctus, sanctus, sanctus. Ela pensou na foto que viu rapidamente na pasta do Stearns. ― Vou ajudar você a acabar com isso para sempre ― ela sussurrou. Ela retirou o suéter, abrindo o sutiã. O jogando no chão. O olhar caloroso do Dante deslizou sobre ela. ― Très belle ― ele arfou. Sorrindo ela passou os dedos pelo peito dele, traçando a pequena tatuagem em forma de morcego sobre seu coração. Então ela se inclinou, tocando sua língua sobre o mamilo endurecido. Dante deixou escapar o ar por entre os dentes. Os dedos dele se enrolaram no cabelo dela, enquanto ela beijava o caminho em sua barriga até o topo das calças de couro. Heather abriu o cinto dele, os dedos lutando com o botão e o fecho da calça; querendo arrancá-los com os dentes. Finalmente ela o segurou. Duro. Quente. Pálido como leite. Suave como seda. Ela traçou o comprimento, primeiro com os dedos, então com a ponta da língua. Um gemido baixo escapou do Dante, e o som fez com que as chamas aumentassem a fazendo queimar. Ele estremeceu, com os músculos flexionados, enquanto ela o acariciava. Os dedos dele se libertaram dos cabelos dela, e acariciaram a bochecha dela, a fazendo olhar para cima. ― Minha vez ― Dante falou, com a voz baixa como um ronronar. Os


dedos dele se prenderam ao redor dos braços dela, a puxando para cima. A rolando para cima dos lençóis. Heather arqueou o corpo na direção dele, se pressionando contra ele, pele com pele. Dante tirou os sapatos dela, então removeu as calças e a calcinha, Heather ergueu os quadris enquanto ele a retirava. Ele beijou a parte interna das coxas, seus lábios queimando contra a pele dela. Ela gemeu. Uma lufada de vento passou pela Heather. Ela escutou duas batidas abafadas. Ela olhou para o chão. Duas botas abertas. Caças de couro. Então o Dante se deitou sobre ela, nu exceto pelo colar ao redor da garganta, sua pele pálida brilhando na luz das velas. ― Você trapaceou ― ela sussurrou, deslizando uma mão sobre o peito dele, barriga e mais abaixo, explorando sua pele branca, macia, e músculos rígidos. Um sorriso perverso brincou nos lábios dele. ― Você pode trapacear da próxima vez. Ele a beijou, mordendo o lábio inferior. Ela respirou profundamente, mas a dor desapareceu rapidamente. A mão dele acariciava o seio dela, tocando o quadril, e entre suas pernas. Heather arfou. Prazer fez o corpo dela estremecer. Dante se moveu, os lábios dele se fecharam ao redor do mamilo dela... Beijando, e chupando. Ele deixou uma trilha de beijos, dos seios dela, através da barriga, e para baixo, o cabelo dele deslizando como seda preta contra a pele dela, fazendo cócegas e a deixando arrepiada. Ele a lambeu, e ela arqueou as costas enquanto os lábios e língua dele a faziam incendiar, seus dedos aumentando as chamas. Queimando de dentro para fora. Sonhando. Por um momento, uma duvida se infiltrou no sonho dela: ele não é humano. Mas ela se lembrou do bater de seu coração, o som do pesar dele, o cheiro de sua dor. Lembrou dele colocando a jaqueta sobre o corpo da Gina. A devastação em seu rosto enquanto olhava para o Jay.


Se isso não é humano, então o que é? O tempo se esticou, infinitamente, sempre noite. O corpo dela vibrava com o toque do Dante, com espasmos de prazer, queimando a cada toque de sua língua. Ela estremeceu quando gozou, a intensidade do orgasmo roubou sua voz e a deixou sem fôlego. Dante beijou seu caminho de volta pelo corpo da Heather, chamas azuis brilhavam onde ele pressionava os lábios. Ele a beijou e ela sentiu o próprio gosto na língua dele. Enquanto se beijavam, ela o guiou para dentro dela, seus dedos acariciando e direcionando. Ele gemeu enquanto entrava nela. Suor cobria o corpo deles, quando começaram a se mover juntos. Ela sentia o cheiro dele, terra escura e folhas queimadas. Ele era intoxicante para ela. Luz azul brilhava em sua mente. Prendendo as pernas ao redor da cintura do Dante, Heather o puxou para ainda mais perto. A respiração dele se intensificou. O cabelo banhado de suor se enrolava ao redor do rosto, enquanto ele a olhava nos olhos, os deles dilatados e manchados de dourado pelo prazer. Prendendo sua mão direita no colchão sobre a cabeça dela, Dante entrelaçou os dedos com os dela. Ele abaixou a cabeça até a garganta dela e a beijou. Heather sentiu uma pontada breve, quando as presas do Dante perfuraram a pele de sua garganta, a dor desapareceu, praticamente antes dela ter registrado. Uma imagem do Dante na Custom Meats, destroçando a garganta do Étienne, piscou na memória dela (corra para o mais longe que puder), mas o prazer tomou conta, apagando todos os medos, e pensamentos. Ela gemeu enquanto ele sugava a garganta dela. Ela sonhou com uma canção sem palavras; escutou o farfalhar de asas. O tempo se esticou novamente, os minutos sumindo, perdidos no amanhecer. Dante ergueu a cabeça da garganta dela, e soltou as mãos. Deslizando as mãos sob ela, Dante a levantou, ainda junto dele, então a abaixou enquanto ele se ajoelhava na cama. Com as mãos nos quadris dela,


ele a beijou. Heather sentiu gosto de sangue nos lábios do Dante, e na boca... O sangue dela. Um estranho excitamento correu pelo corpo dela: ele tem parte de mim dentro dele. Heather se movia para baixo enquanto Dante empurrava, criando um ritmo próprio, um ritmo de calor, suor e respirações rápidas. Enquanto os lábios do Dante prendiam seu mamilo, sugando para o calor de sua boca, Heather tinha certeza que nada existia além desse momento, e que nada jamais existiria. Apenas o Dante queimando dentro dela, se encaixando contra ela como nenhum outro. O ar estava espesso com o cheiro almiscarado e de cera de vela, e o som de pele batendo contra pele. A sensação cresceu dentro dela, anel após anel espiralando cada vez mais para cima, até chegar ao limite, a fazendo mergulhar em uma piscina sem fim, destruindo todos seus pensamentos. Ela arfou, a intensidade do orgasmo correu por ela como um rio, aumentando a cada estremecer, ao invés de desaparecer. Dante gemeu, como se estivesse sentindo o mesmo que ela. Ele estremeceu, mas não diminuiu seu ritmo. Uma luz azul encheu a visão da Heather. Os músculos dela tremiam tensos. Ela se agarrou ao Dante, suas unhas se cravando nos ombros dele, seu rosto pressionado contra a cabeça dele, enterrado contra a fragrância outonal do cabelo dele. Com uma das mãos nas costas da Heather, a outra no quadril dela, Dante a abaixou até a cama. O ritmo dele mudou; ele se movia mais rápido, com força. Seus olhos se fecharam. Os lábios se abriram. O prazer parecia iluminado por dentro. Voltando a prender suas pernas ao redor da cintura dele, ela o segurou com força e se libertou para seguir o ritmo dele. Quando o amanhecer começou a iluminar o quarto, Dante abriu os olhos e olhou para Heather, com manchas douradas em seus olhos. A respiração dele se prendeu na garganta, o som parecendo um soluço. Outro orgasmo correu pelo corpo dela, enquanto ele gozava e ela gritava enquanto ele estremecia nos braços dela. Gradualmente Dante começou a se mover mais lentamente, então parou. Heather o segurou junto dela, com o coração


martelando contra as costelas. Além das cortinas que cobriam as janelas francesas, a noite deu lugar a manhã. Dante saiu de cima da Heather e ela se encolheu junto dele, com a cabeça contra seu ombro, e braços ao redor dele. O coração dele batia forte e estável sob a bochecha dela, ao contrario do dela. ― Você faz ideia de quantas regras acabei de quebrar? ― ela falou colocando uma perna sobre a dele. ― Mmm... Todas elas, eu espero. ― Agora sei que você é talentoso em duas coisas. Dante bufou. Heather ergueu a cabeça e olhou para o Dante. Os olhos escuros dele estavam sem as manchas douradas, sua expressão relaxada. ― Simone falou que alguém tentou matar você ― Dante falou ― você sabe quem? ― Alguém poderoso, eu acho ― Heather respondeu. ― pelo menos, foi isso que me contaram. Por que não abandonei as investigações. ― Vou achar o Tom curioso, e o Elroy pervertido. E seja lá quem for que está caçando você. A intensidade muda aumentou no rosto do Dante, o sussurro de uma violência mal contida em sua voz, perturbou Heather. Ela apertou a mão dele. ― Você sabe que ele está esperando por você? Não vá até ele da próxima vez ―, ela tocou o rosto dele com a ponta dos dedos, chamando a atenção dele. ― podemos levar os dois para interrogatório, exames de DNA, essas coisas ―, ela falou ― as evidencias vão ligar o Jordan com os assassinatos. Você testemunhou a morte do Jay... Vamos conseguir mais tempo. ― Você nunca vai prender o Ronin ―, Dante falou ― por que ele vai queimar antes. ― Muito perigoso. ― Não estou pedindo permissão.


― Teimoso. ― Ainda esta tudo calmo ― Dante falou, com a voz sonolenta ― fique aqui, chérie. ― Vou ficar ―, se apoiando em um dos cotovelos, ela o beijou. Os olhos dele se fecharam, e ela soube que ela estava inconsciente, perdido para o sono. ― bom dia e doce sonhos ― ela sussurrou, puxando os cobertores e voltando para os braços dele. Heather fechou os olhos e caiu na escuridão bem vinda.


27 Penitência ― Perdi contato com o meu pessoal em Nova Orleans ― Gifford falou calmamente ― temo que eles tenham falhado. Johanna apertou os dedos ao redor do telefone. ― Termine o trabalho você mesmo. Se encontrar o Stearns e Wallace juntos, faça parecer um assassinato-suicídio ― ela olhou pela janela do quarto. O alvorecer brilhava atrás das cortinas. O sono começava a pressionar seu corpo. ― É claro. Mais alguma coisa?


― Já que o E saiu do controle, acredito que teremos que inclui-lo nessa parte do projeto ― a cabeça da Johanna balançou. Ela voltou a erguê-la. Forçando seus olhos a permanecerem abertos. ― E o S? ― Deixe-o em paz. Pelo menos por enquanto.

Heather acordou com o coração disparado, e a boca seca. Ela olhou para o teto escuro enquanto as imagens do pesadelo começavam a desaparecer: o mesmo sonho de sempre, mostrando os últimos passos trôpegos de sua mãe, e a carona que ela aceitou. Ou pelo menos, como imagina que deve ter sido. Repentinamente ciente do braço ao redor de seus ombros, e o corpo aninhado contra o dela, Heather virou a cabeça. Dante dormia, suas pestanas escuras contra a pele, o cabelo escuro desarrumado, e a respiração tão lenta, que ela deslizou uma mão sobre o peito dele. Depois de um momento, ela sentiu a batida reconfortante contra a palma da mão. Ela passou os dedos por cima do colar de couro, e dos lábios, para acariciar as bochechas dele. Sem barba, ela notou surpresa. Não pode ser somente uma coisa das criaturas da noite, o Von tinha um cavanhaque e o Ronin barba. Heather deslizou a mão até o peito dele, a pele fria sob seus dedos, e seguiu até a barriga. Ela ansiava pelo anoitecer, querendo acordá-lo com beijos, mãos e boca. Suspirando Heather olhou para o relógio. Duas da tarde. Ela tinha trabalho a fazer. Caras malvados para pegar. Sem a ajuda ou benção do Bureau. Uma ficha para ler. E se for ruim? Um nó se formou no estomago dela e ala afastou o pensamento. Ela se ergueu sobre o Dante, parando para beijar seus lábios frios. ― Você também é Très belle ― ela murmurou antes de sair da cama. O chão estalou sob seus pés, e ela puxou o cobertor sobre o Dante. Ele


não se moveu. Heather tinha o pressentimento de que ela não precisaria se preocupar em ser silenciosa. Ele iria dormir de qualquer maneira. Deve ser bom, ela pensou, tentando caminhar desviando sobre as caixas de CDs e roupas no chão em seu caminho para o banheiro. Ela acendeu a luz. O banheiro estava pintado de preto e lavanda. Várias coisas se amontoavam no balcão: tubos de delineadores, pinceis, batom preto, uma escova, pasta de dentes, sabonete, um MP3 player. Pasta de dentes? Os vampiros não são imunes as caries? Toalhas limpas e macias estavam penduradas no rack, e shampoo e condicionador em uma prateleira junto ao chuveiro. E sob as toalhas, estava a bolsa de viagem dela. Quem...? então ela percebeu que deveria ter sido o De Noir. Os outros estariam dormindo como o Dante, hibernando á luz do dia. Abrindo o chuveiro, Heather deixou a água aquecer enquanto se olhava no espelho. Ela olhou para a garganta, tocando o local onde o Dante a havia mordido. Sem marcas visíveis, e nem ao menos estava dolorido. O fogo voltou a se acender nela novamente, queimando em sua barriga, enquanto pensava nele bebendo uma parte dela. Ela fechou os olhos. A hora de brincar acabou. Concentre-se no caso. Concentre-se em se manter vivia... Se você morrer, quem vai falar pelo Jay e todos os outros? Espontaneamente e inesperadamente a resposta surgiu na mente dela: Dante. E de alguma forma aquilo parecia certo para ela, de coração. Abrindo os olhos, Heather entrou no chuveiro e fechou a porta. Enquanto a água quente escorreu por sobre seu pescoço e ombros, ela percebeu que o Dante havia se tornado o caso, que em sua luta para mantêlo vivo, não notou que o jogo havia mudado; ela não mais sabia se a dupla Ronin-Jordan queria o Dante morto, ou que se juntasse á eles. O nome dela era Chloe. E você a matou. Ela vem criando sociopatas há anos. É tranquilo quando estou com você. Se virando, Heather encostou as mãos contra o azulejo molhado e


inclinou a cabeça na direção do jato d‟água. Ela esperava que o líquido aliviasse os nós se formando em seus ombros, aliviando a constrição em sua respiração, derretendo o medo que congelava suas entranhas. Ela lembrou do pensamento que gritou para o Dante: não vou me afastar de você. A respiração dela se prendeu em um soluço. Um punho se fechando ao redor do coração dela. O peito doía. Ela percebeu que estava com medo do que poderia descobrir nos arquivos, com medo do que poderia ser forçada a fazer. Usando uma blusa azul Royal e uma calça caqui, Heather desceu as escadas, com os sapatos nas mãos. A casa estava em silencio, calma. Sentindo como se estivesse em uma igreja, ela resistiu ao impulso de caminhar na ponta dos pés. Os sussurros do Dante giravam na mente dela? Sanctus, Sanctus, Sanctus. Seguindo pelo corredor, ela parou ao lado da sala de informática. A poltrona estava vazia, o computador desligado. Cabos enrolados descansavam sobre a mesa juntos com os óculos do Trey. Ela repentinamente pensou na Annie, drogada e em paz, enquanto dormia na cama hospitalar, as amarras removidas e largadas sobre uma mesa de cabeceira. Afastando a imagem da cabeça, Heather continuou pelo corredor, seguindo até a cozinha. Ela sentou á mesa e se curvou amarrando os sapatos. A maleta ainda estava ao lado da cadeira, a bolsa dela juntos com as chaves do Stearns sobre a toalha de mesa azul cobalto. Ela pegou a bolsa e retirou o celular. Ela notou que havia várias ligações perdidas do Collins. E sentiu uma pontada de culpa. Ela o havia deixado praticamente no escuro, sem nenhuma palavra ou explicações. Será que ela poderia confiar nele? Ela não sabia mais onde estava, e algumas horas de sono não haviam deixado a situação mais clara. Agentes desonestos, mortes ordenadas pelo Bureau, cientistas malucos com experimentos psicológicos, vampiros e anjos caídos, sem contar com o


assassino que gosta de cortar: o mundo e tudo o que ela entendia dele, havia girado cento e oitenta graus em apenas poucos dias. A única coisa que ela tinha certeza, era sua promessa para com as vitimas do assassino CCK – dar voz á eles, e também fazer justiça. E a promessa ao Dante? a dor voltou a se apertar ao redor do coração dela. Ela ainda podia senti-lo contra ela, dentro dela, lembrando de como era tocá-lo, músculos tensos e pele quente, se viu refletida em seus olhos escuros. Ainda está tudo calmo. Fique aqui, cherie. Não vou me afastar de você. Promessas são feitas para serem cumpridas, não quebradas. Ela acredita nisso agora, tanto quanto acreditava quando criança. Nada mudou. Ela faria tudo o possível pelo Dante, o mantendo próximo e vivo. E se os arquivos provarem que o Stearns estava certo? E se a voz do Dante precisa ser silenciada? Isso ainda é algo tão simples assim? Ela havia entrado em um mundo colorido com vários tons de cinza, um mundo crepuscular com mais camadas e complexidades do que ela jamais poderia imaginar. Você vai ver o verdadeiro mostro que ele é. Ela sabia que aquela era uma afirmação que logo teria de ser examinada. Mas primeiro, ela tinha uma dupla de monstros (um criatura da noite e o outro mortal) que ela precisava impedir antes que matem mais alguém que o Dante ama. Selecionando uma das ligações perdidas, Hather apertou sand. Ele atendeu na primeira chamada. ― Wallace por onde diabos você andou? ― ele estava nervoso. ― Estive ocupada. Olhe, sinto muito. Sei que deveria ter entrado em contato... ― Precisamos conversar. Pessoalmente. Têm acontecido todos os tipos de merda. Apreensão se retorceu nas entranhas da Heather. ― Que tipo de


merda? ― Pessoalmente. Você não falou que havia dois corpos naquele matadouro? ― Sim. ― Achamos apenas um. O garoto na camisa de força. Heather ficou congelada. Ela observou o Étienne queimar. ― Você pode vir me buscar? ― ela falou. Ela deu o endereço para o Collins. ― Tudo bem ― ele fez uma pausa, então perguntou ― esse é o endereço do Prejean? ― Quando você vai chegar aqui? ― Vinte ou trinta minutos. ― Estou esperando você. Como pode o corpo do Étienne ter desaparecido? A menos que as criaturas da noite possuem uma autodestruição no caso de morte, alguém voltou para pegar o corpo, ou ele fugiu. Ambas possibilidades eram desagradáveis. Heather pegou seu trinta e oito do bolso do casaco e, apesar do fato de tê-lo recarregado na noite passada, voltou a checar para se certificar que o pente estava no lugar. Estava. Ela não sabia quem o havia esvaziado anteriormente – Jordan, provavelmente, depois de ter acordado no sofá. Vestindo o casaco, Heather voltou a guardar o trinta e oito no bolso. Ela passou a bolsa por sobre o ombro, e depois de um momento de hesitação, colocou as chaves do Stearns dentro da bolsa. Ela pegou a pasta, e caminhou até a sala da frente. ― Você quer que eu de algum recado para o Dante? ― uma voz profunda perguntou. Assustada, Heather se virou. De Noir estava sentado em uma poltrona, com as costas retas, olhos fechados, sua linguagem corporal alerta e cuidadoso. A runa em forma de X brilhava em sua garganta. ― Achei que todos estavam dormindo. ― Eles também ― De Noir falou, abrindo os olhos. O olhar dele seguiu


até a pasta, então retornou para o rosto dela. ― Deixei uma mensagem para ele ― Heather falou ― você pode mantê-lo aqui? Um brilho dourado surgiu nos olhos pretos do De Noir. ― Como já disse antes, o Dante faz o que quer. ― Então peça para ele esperar por mim. ― Paciência não é sua melhor virtude, mas vou pedir. ― Eu apreciaria isso. Heather seguiu até a porta, a abrindo e saindo para o sol do meio da tarde, a pasta em sua mão era uma sombra em seus pensamentos. E guardou o restante de suas coisas na nova van, colocando sua mochila de brinquedos ao lado do colchão de ar estreito instalado na traseira. Cantarolando, ele se ajoelhou e arrumou a cama, esticando as longas seções de plástico sobre os lenções. Deveria manter a maior parte do sangue longe dos lençóis. Ele dobrou os cobertores nos pés da cama. Um travesseiro ou dois? Ele optou por um e o colocou na cabeceira. Sentado sobre os tornozelos, ele olhou para os vidros pintados de preto, com a proteção UV das janelas. Totalmente demais. Espero que o Dante aprecie o esforço. Tudo por você, irmãozinho. E entrou na casa, colocando as chaves da van no bolso de seu jeans. Ele fechou a porta e a trancou. Ele caminhou pela luminosidade amorfa, com o coração disparado, e os pensamentos ricochetando em seu crânio. Ele sorriu. Não pode impedir. Tom-Tom ainda estava dormindo, o dia ainda não estava morto. E parou do lado de fora do quarto do sanguessuga. Uma luz dourada brilhava ao redor do corpo dele, iluminando o corredor com sua radiação. Ele tocou a maçaneta, girou. Trancada. O sorriso do E se alargou. Será que o garoto Tom está com medo? De uma honesta retribuição da depredação de seu altar? Aquela meia era minha.


Portas trancadas. Sem problema. Um Deus esta sempre preparado. E puxou o seu kit para arrombar portas do bolso traseiro e o abriu. Secionando um grampo para cabelos, ele o inseriu no buraco da fechadura e pressionou. O botão de apertar do lado oposto da maçaneta se abriu. O sorriso do E aumentou. Recolocando o grampo de volta ao kit, e fechou a bolsa e a recolocou no bolso traseiro. E girou a maçaneta, entrando no quarto escuro do sanguessuga. Tentáculos dourados se estendiam pelo quarto, iluminando Tom Tom esticado sobre a cama, mãos ao lado do corpo, e olhos fechados. E se abaixou e espiou embaixo da cama. Nenhum belo garotinho loiro encolhido junto ás bolas de poeira. Não havia nada. Exceto pelas bolas de poeira. Suspirando, ele se levantou, caminhando até o closet, e abriu a porta. As caixas de papelão e a bolsa com fechos haviam desaparecido. O coração do E martelou contra o peito. Girando com as facas nas mãos, ele olhou para a cama. Tom – Tom continuava dormindo, sua posição inalterada. E secou o suor que banhava sua testa. O filha da puta sabe. A luz dourada do E diminuiu para um fraco bilhar. Seus dedos tocaram o Band-Aid no pescoço. Ele não pode me rastrear. É claro que ele sabe. E circulou a cama, se perguntando onde o garoto Tommy escondia os brinquedos. Ele estudou a forma adormecida do sanguessuga, seu olhar parado no jeans. Chaves. O Camaro. E se curvou sobre a cama e tocou o bolso esquerdo do Ronin. Seus dedos deslizando pelo tecido. Vazio. Caminhando até o outro lado da cama, E voltou a se curvar, seus dedos agarrando o bolso direito. Sucesso! A chave tomou forma sob seus dedos. E colocou dois dedos dentro do bolso do Tom-Tom (não se incomode comigo. Oops. É só isso? Acho que deveria chama-lo de pequenino Tom) puxando as chaves para fora. Uma luz dourada voltou a encher as veias do E enquanto ele se levantava com as chaves na mão, ele brilhava, incandescente. Hora de dizer adeus.


Uma voz dentro dele insistia (não! Ainda não! Antes você precisa ter certeza), mas o E lembrou que um Deus não precisava de permissão. Se inclinando sobre o Tom- Tom ele passou a faca sobre o pescoço dele. O sanguessuga abriu os olhos. Heather quase se engasgou com a última mordida de seu hambúrguer cajun ― Morto? ― ela conseguiu falar, depois de engolir a comida apimentada ― LaRousse? ― E o parceiro Davis ― Collins falou. Ele parecia velho e cansado. Heather e o detetive estavam sentados em uma mesa de picnic sob uma aba de alumino ao lado de uma lancheria, o HERE‟N GO. Eles estavam sozinhos, as mesas ao redor vazias. O aroma da carne gordurosa sendo frita enchia o ar. ― O que diabos aconteceu? ― Heather perguntou, mergulhando as batatas fritas no ketchup. Collins balançou a cabeça. ― Um incêndio (culposo) em uma taverna. Havia três outros corpos além do LaRousse e do Davis. ― Sinto muito, Trent. Eu não gostava do LaRousse, mas o homem não merecia morrer desse jeito. Um sorriso fraco iluminou o rosto do Collins. ― Sim, o cara era um imbecil, mas puxa vida, ele sabia solucionar um caso. Ele era um bom detetive. E era um dos nossos. ― O que você sabe até agora? ― Não muito ― Collins falou, passando uma das mãos sobre o cabelo. ― a questão é, se foi algo simples, como um assalto que deu errado, ou se foi planejado? ― As pessoas perdem o controle. Alguns entram em pânico ― Heather falou. ― as coisas podem sair do controle. Os policias estaduais checaram os empregados e clientes habituais? ― Para saber quem não queimou a noite passada, e por quê? Ela assentiu. ― O LaRousse estava trabalhando ou de folga?


― Trabalhando ― Collins fez uma rápida pausa antes de continuar. ― na verdade, eles estavam indo até a casa do Prejean com um mandado de prisão, mas... ― ele deu de ombros ― não havia ninguém em casa. Heather empurrou o que restava da sua refeição para longe, depois de perder o apetite. ― Mandado de prisão? Mas por quê? Collins ergueu as mãos pedindo trégua. ― para coletar amostras de DNA do Prejean. LaRousse ainda achava que ele era o responsável pela morte da garota. ― Gina ― Heather falou com a voz controlada. ― o nome dela era Gina Russo. LaRousse sabia que o Dante não tinha nada a ver com a morte dela, eu já tinha dado meu aval. ― não sei qual era o problema do LaRousse com o Prejean ― Collins falou ― só estou apresentando os fatos. ― Eu sei. Sinto muito. ― E tem mais ― Collins murmurou. Ele pegou a embalagem de seu hambúrguer e o jogou na lata de lixo preta atrás das mesas. ― ouve outro assassinato ― ele olhou para a Heather. ― bem ruim. A expressão assombrada do detetive a surpreendeu. Ela se inclinou sobre a mesa e tocou a mão dele. ― Você está bem? ― Sim. Só foi um dia muito ruim. Heather apertou a mão dele, então a largou. ― Então me diga, o quão ruim foi? ― A vitima foi retalhada. O assassino espalhou as partes do corpo pela sala – Collins fez uma pausa, engolindo. O musculo de sua mandíbula saltou. ― Vá em frente ― Heather falou com a voz calma. Ela ficou tensa. Esperando para a guilhotina cair. ― Tenho quase certeza de que é o CCK ― Collins falou ― nenhum símbolo da anarquia... merda... quer dizer, pode ser que tivesse algum, mas não reconhecemos... nunca vi... ― ele olhou para o lado ― havia uma mensagem na parede. Escrita com sangue.


O calor do dia desapareceu com o por do sol. ― O que dizia? ― Isso importa? ― Collins respondeu olhando para a Heather. Raiva queimava o olhar vazio em seus olhos. ― a investigação está oficialmente fechada. A resposta do comando central é que se trata de um imitador. Não é permitido nenhum contato com você. ― Trent, o que dizia a mensagem? ― S é meu. Heather puxou o celular de dentro da bolsa. Ela digitou o numero do Dante. O telefone só tocou. Nenhum recrutamento, não. S é meu. Dante havia sido reivindicado.

Abrindo a porta do quarto de Motel, Gifford pulou para dentro do quarto, movendo sua arma de um lado para o outro. O quarto estava vazio. Ele realizou o procedimento padrão de entrada e varredura do Bureau: armário, banheiro, e acendendo as luzes. Stearns havia sumido. Gifford abaixou a quarenta e cinco ao lado do corpo. Ele olhou ao redor no quarto. Uma maleta sobre uma cadeira. Laptop na mesa. Garrafa de scotch e um copo na mesinha de cabeceira. Stearns pretendia retornar, pelas coisas que deixou para trás. Devo esperar por ele? Uma lixeira ao lado da cama chamou a atenção dele. Ele virou os papeis amarrotados sobre a desgastada colcha e desamassou a primeira folha. O nome ELROY JORDAN apareceu. Lendo o papel, ele reconheceu as datas e lugares – as datas e locais dos assassinatos do CCK. Quando ele desdobrou o segundo papel, a mente dele entrou Overdrive. THOMAS RONIN. O que o père de sang da Johanna estava fazendo em Nova Orleans? Ao mesmo tempo que o E? Olhando para o endereço no papel, Gifford decidiu não esperar pelo Stearns.


Gifford juntou os papeis e correu para a porta. Ele entrou em seu carro alugado da Hertz e digitou o endereço do Metairie no sistema GPS do carro. Johanna estava certa desde o inicio. Não havia coincidências. Engatando a ré, Gifford saiu do estacionamento do motel.

Sangue quente jorrou contra o rosto do E, respigando em seus óculos. A mão do Tom-Tom se fechou ao redor do punho dele, algo se quebrou e a dor explodiu em seu ombro. A faca caiu na outra mão do E. O fodido quebrou meu pulso! Aquele pensamento acabou em uma explosão de luzes (azuis, verdes e rochas) quando um martelo atingiu a temporã do E. Ele voou para fora da cama, e se chocou contra a parede. Pedaços de reboco choveram contra o E e o carpete. Com a visão nublada, E olhou para sua mão. A faca havia sumido. Ele assustou minhas facas. Sua mente começou a girar. O deixando enjoado. Mas a adrenalina chutou a dor, e o traseiro dele, o fazendo voltar a ficar sobre os pés. Apoiando o ombro contra a parede, E puxou outra faca do estojo em sua panturrilha escondida pelo jeans. Piscando para clarear a visão, ele olhou para a cama. Rios de sangue escorriam da cama e se acumulavam no carpete. O quarto fedia a sangue. O garoto Tommy se engasgava com ele, com espasmos sobre a cama, mãos na garganta, tentando parar o fluxo. Sorrindo E tropeçou até a cama. Os olhos vidrados do sanguessuga se fixaram nele, o matando de milhares de maneiras diferentes. Mas não hoje. Hoje E era um deus, dourado e poderoso. O mais puro assassino que já caminhou pela terra. E ergueu a faca no ar espeço. Ar que parecia mel. Como âmbar. A faca


se cravou no coração ainda batendo do Ronin. ― Os planos mudaram imbecil.

Lucian subiu as escadas, a dor do Dante brilhava como uma vela em sua mente. Sua criança ainda dormia, mas o fogo e as sombras haviam fraturado seus sonhos, roubando a paz. Lucien entrou no quarto do Dante. Os cheiros de sexo e feromonios ainda se misturavam no ar. Ele se ajoelhou ao lado do futton e descansou uma mão sobre a testa do Dante. O calor queimava sua mão. Sangue escorria de uma das narinas do garoto. Lucien fechou os olhos enviando energia para o Dante, congelando sua dor e reforçando seus escudos parcialmente restaurados. Ele está se lembrando. O passado o faz ficar em chamas. O consumindo. Dante se remexeu sob as mãos dele, seu rosto pálido tenso. O sangramento diminuiu, então parou. A febre aliviou. Acariciando o cabelo do Dante, Lucien se curvou e o beijou na testa. Deixe que ele me odeie. Vou mate-lo vivo e escondido. E são? Os músculos em seu peito se apertaram. Ele levantou. Vou fazer o que for preciso. Ele cruzou o quarto até as janelas francesas e afastou as cortinas. Os últimos raios do sol iluminaram o quarto em um vermelho profundo. Lucien ficou junto á janela, escutando os outros acordarem nos quartos no final do corredor, escutando o pulsar primitivo da noite, e o ritmo de seu próprio coração negro. Na cama atrás dele, Lucien escutou seu filho respirar fundo. Escutou o anhrefncathl (a canção do criador do caos) acordando junto com a alma de seu filho.


Sem olhar, ele sabia que o Dante havia aberto os olhos. ― Temos coisas á discutir ― o Lucien falou.

Dante se esticou, os lenções de ceda deslizaram sobre ele, os músculos se esticando. Pedaços de sonhos deslizaram para sua consciência. As imagens do que aconteceu antes dele dormir brilharam em sua mente ― Heather sob ele, lábios abertos, o rosto iluminado de prazer; a taverna queimando, LaRousse sorrindo sardônico; Jay... Abrindo os olhos Dante sentou, o coração martelando. Uma luz avermelhada entrava pela janela francesa, iluminando a forma do Lucien. ― Temos coisas á discutir ― Lucien falou. Dante ficou sem ar enquanto as memorias giravam em sua mente. A catedral, Lucien empalado, suas palavras sussurradas: você se parece tanto com ela. Se libertando dos lençóis, ele ficou de pé. ― Não, nós não temos ― ele falou ― nunca mais. ― É ai que você se engana, criança. Lucien destrancou as portas francesas e as abriu. Ele caminhou até a sacada protegida pelas balaustradas de ferro. O entardecer encobria seu rosto. Juntando um jeans preto do chão, Dante os vestiu e fechou. Ele caminhou até a sacada. O olhar do Lucien estava fixo nos últimos brilhos de luz no horizonte. ― Você não pode ir atrás do Ronin ― Lucien falou. ― Não posso? Você está me dizendo que não posso? Vá se foder ― os dedos do Dante se curvaram ao redor do metal frio. ― Ronin vai acordar o teu passado. Isso vai destruir você ― Lucien falou, se virando para encarar o Dante. ― encontre outra maneira para se


punir pela Gina e pelo Jay. ― Você não tem mais o direito de me dizer o que fazer. ― Alguma vez eu tive? Alguém já teve? Você é muito teimoso, criança. ― Eu escutava você ― Dante falou com a garganta apertada e doendo. ― á você mais do que qualquer um. Uma imagem piscou na mente dele: uma garotinha encolhida em um canto, com uma orca de pelúcia apertada contra o peito, seu rosto manchado pelas lagrimas e com medo. Dante anjo? Ele balançou quando a dor atravessou sua cabeça. Chloe. Penitencia pela Chloe. Braços fortes se fecharam ao redor dele. O sustentando. ― Me largue ― ele murmurou, empurrando os braços do Lucien. ― me deixe em paz. Tropeçando para dentro do quarto, Dante seguiu até o banheiro, fechando a porta atrás dele. Ele deslizou até o chão, mãos na cabeça, e olhos fechados. Lutando para manter as imagens de Chloe em sua mente, mas elas escapavam dele. Ele a viu encolhida e amedrontada, então deitada em uma poça de sangue, mas nunca viu o que aconteceu nesse meio tempo. E o que havia ali o deixava tremendo. O nome dela era Chloe. E você a matou. Suor escorria pelas têmporas dele. Ele deslizou as mãos pelo rosto e cabelos. Batendo sua cabeça contra a parede. A dor recuou. Ela não o abandonou, não, mas se afastou o suficiente para deixa-lo pensar. Um pensamento se pressionou contra os escudos dele, um pensamento que pertencia á Simone. Ele se abriu ao toque. <a Heather está no telefone. Ela quer falar com você> <D‟accord chérie. Estou á caminho.> Se levantando, Dante virou e abriu a torneira de agua fria. Ele se olhou no espelho. Na luz do anoitecer, ele reconheceu letras rabiscadas pela superfície.


ESPERE POR MIM. Escrito com batom preto. Dante sorriu e passou um dedo pela mensagem. O cheiro da Heather estava preso á ele... Lilás e sálvia, e ele não queria se livrar dele. Ainda não. Depois de jogar agua fria no rosto, ele abriu a porta do banheiro. Lucien estava esperando por ele, olhos dourados brilhando no escuro. – você vai atrás do Ronin? ― Não é da tua conta ― Dante falou passando por ele. Dante viu um vislumbre em sua visão periférica e se desviou, mas era tarde demais. Lucien prendeu seus ombros, as garras perfurando a pele. A dor o atravessou como agulhas. Ele sentiu o sangue quente deslizando por suas costas. Ele gemeu, mas o Lucien se recusou a solta-lo. ― É assunto meu ― Lucien falou, sua voz dura como metal. ― sempre vai ser problema meu. Você é meu filho. Dante olhou para o Lucien, chocado, sua mente em branco. Filho dele? ― Me solte. Lucien ergueu as mãos. Sangue brilhava na ponta de suas garras. ― Eu deveria ter te contado desde o inicio... ― Sim, mas não falou ― Dante falou com a voz rouca. ― e agora é tarde demais ― ele se virou e marchou para fora do quarto. Dante correu escada abaixo, os músculos tensos, e coração martelando contra o peito. Ele lutava por ar, ele precisava de sangue. Ele precisava da verdade. Penitencia. Talvez tudo o que ele sabe e todos a quem ama será levado embora até que ele pague o que deve. Ele encontrou a Simone na sala da frente, enroscada no sofá ao lado do Von. Os olhos dela se arregalaram e o llygad se levantou, as sobrancelhas enrugadas. ― O que está errado? ― ela perguntou, entregando o telefone para ele. Dante balançou a cabeça. Tentando acalmar sua respiração. ― Oui chérie? ― ele falou ao telefone. ― Espere por mim ― Heather falou. A estática distorcia a voz dela. ―


Vou estar ai em breve. Ela seria levada para longe dele também? ― Não. Não vou estar aqui ― ele falou. O dedo dele deslizou até o botão para encerrar a ligação. O telefone deslizou da mão dele, caindo contra o carpete com um som abafado. No repentino silencio, Dante escutou o bater de asas, então o teto estalou quando Lucien se empoleirou no telhado. Seu pai. Um caído. Do que você tem medo puro sangue? Ódio queimou através do Dante, correndo por suas veias. ― Não de você, Tom curioso ― ele sussurrou ― não de você.


28 Convergência ― Merda! ― Heather olhou para o celular em frustração. ― teimoso... ― ela olhou para o Collins. ― precisamos nos mover. O Dante vai até lá sem nós. O carro pulou para frente quando o Collins apertou o acelerador. ― Espero que você esteja certa sobre a causa provável. Se prendermos o Jordan para questioná-lo, não o quero escapando por causa de algum problema técnico. ― Minha pesquisa coloca o Jordan em todos os locais dos crimes ― Heather falou ― se conseguirmos um exame de DNA dele, vai bater com as evidencias de todos os casos ― ela largou o celular dentro da bolsa.


O fogo que queimava lentamente desde que ela acordou ao lado do Dante, ganhou vida ao escutar a voz dele. Oui, chérie? Ela quase podia sentir o cheiro dele, quente, terroso, e convidativo. Mas sob as palavras do Dante, a voz dele estava tensa. Enxaqueca? Ela se perguntou. Ou seria outra coisa? É silencioso quando estou com você. Vou ajudar a ficar assim para sempre. Heather conhecia hipnoterapeutas qualificados em Seattle, que poderiam ser capaz de induzir o subconsciente do Dante á uma remição, e ajudar a desenterrar a escuridão do seu passado sem dor. Ela passou uma mão pelo cabelo. Com humanos sim. Mas e quanto á uma criatura da noite? Um predador noturno bebedor de sangue? A psicologia não seria (não poderia) ser a mesma. Ela suspirou. Ela olhou para a pasta ao lado dela. A ficha do Dante. Tudo o que ele não podia ou queria lembrar, contido em uma fina pasta preta. O passado do Dante. Ele deveria ser o primeiro a olhar. O punho ao redor do coração dela se soltou e ela respirou fundo. Depois de eles lidarem com o Elroy Jordan, ela vai entregar a pasta para o Dante, contando o que o Stearns havia dito, e então ficar ao lado dele enquanto ele mergulhava no conteúdo. E se o Dante for um monstro? Heather olhou pela janela do passageiro, as mãos fechadas sob o colo. A estrada era um borrão, negra e infinita. Ela se lembrou do gosto dos lábios do Dante, a desolação na voz dele no matadouro. Lembrou-se de suas promessas. Não vou me afastar de você. Vou ajuda-lo a acabar com isso para sempre. Nunca escondo evidencias, não importa o quanto possa doer.


Stearns urinou em uma garrafa vazia de suco de laranja, sua atenção nunca se desviando da casa que o Tomas Ronin havia alugado. Quando terminou, ele recolocou a tampa na garrafa e cuidadosamente a colocou no chão do lado do passageiro. Ele abriu a janela em busca de ar puro. A casa bem cuidada estava á uma quadra de distancia do lado outro lado da rua. Stearns a observava desde o meio dia. Ele observou enquanto um homem em seus trinta e poucos anos, com cabelos castanhos curtos deixou a casa em um Jeep, retornando uma hora mais tarde, em uma van branca com filmes de proteção UV nas janelas. Elroy Jordan. De acordo com a folha impressa que ele havia pegado na cozinha do Prejean, Jordan era o principal suspeito da Wallace no caso CCK. Ele também estava no projeto da Moore. Nenhum sinal do Thomas Ronin, mas um belo Camaro estacionado em frente á casa, sugeria que o jornalista estava lá dentro. Stearns ainda não tinha certeza onde o Ronin se encaixava naquele quadro. Algum acordo para histórias exclusivas? Com um maldito Serial killer? E por que não? Stearns havia testemunhado e participado de coisas obscuras e estranhas. Alguém saiu pela porta da frente. Novamente o jordan, mas havia algo manchando seu rosto e roupas. Difícil de definir no anoitecer. Então enquanto Jordan tentava várias chaves no porta malas do Camaro, Stearns percebeu que as marcas eram sangue. Seja qual for o acordo que Jordan tinha com o jornalista, parece ter chegado ao fim. Em uma maneira suja, mas inevitável. Brincar com serial killers era muito parecido com correr com tesouras; cedo ou tarde você acaba cortado. O porta malas finalmente se abriu e Jordan revirou o seu interior. Depois de um momento, ele se levantou, e bateu a tampa. Ele chutou o Camaro várias vezes, então bateu com um dos punhos contra a tampa. Através da abertura do vidro, Stearns escutou o Jordan gritar – merda! Stearns tocou a Glock no banco ao lado dele. Ele não lida muito bem


com desapontamentos. Jordan começou a seguir de volta para a casa, então parou. Ele começou a caminhar de um lado para o outro incerto. Com medo de entrar? Stearns se perguntou. Depois de um minuto, Jordan parou de caminhar, ergueu os ombros, e marchou para dentro da casa. Com a Glock nas mãos, Stearns deslizou para fora do Buick LaSabre.

Gifford tragou seu cigarro, saboreando o forte gosto de baunilha do tabaco, seu olhar preso no Buick LaSabre estacionado do lado oposto da rua, três quadras mais abaixo. Ele assoprou a fumaça na direção da janela. Stearns saiu do LeSabre, seu braço direito abaixado, sua arma, uma silhueta escura contra a perna. Ele cruzou a rua, seguindo para a casa onde o E havia entrado. Gifford apagou o cigarro pela metade no cinzeiro do carro. Sem a Wallace ele não poderia encenar o assassinato – suicídio, mas ele havia aprendido á improvisar, durante seus anos trabalhando para a Johanna. Pegando uma sacola de papelão de uma mercearia, Gifford saiu de seu Taurus. Ele caminhou rapidamente pela calçada, com suas „compras‟ em seu braço esquerdo. Ele enfiou a mão direita sob a jaqueta, seus dedos se fechando ao redor da quarenta e cinco. Deixe que o Stearns se livre do E. Limpo o que restar.

E batia com as mãos contra a testa. Idiota! Deveria ter esperado. Onde o sanguessuga poderia ter escondido aquela merda? Não foi embaixo da cama. Não foi no armário. Nem no carro. E caminhou na direção do corredor, o coração martelando, sabendo que as cosias tinham que estar na casa. O desgraçado estava esperando o Dante, e estaria preparado para ele. Seguindo pelo corredor, E parou junto a porta do Tom-Tom e espiou para dentro. Havia sangue por toda a parte.


Até mesmo no teto. Mas a cama estava vazia. Com o coração disparado, E pulou porta afora e correu até o closet do corredor. O abrindo revirou por entre as toalhas e lençóis os jogando no chão. E congelou. Será que ele havia escutado algo se movendo? Se arrastando pelo corredor escuro como um zumbi pavoroso? E virou, segurando a faca. Ele estava sozinho no corredor escuro. Com a pulsação acelerada, a boca seca, E retornou até a porta do quarto do Ronin. O forte cheiro de sangue subiu a sua cabeça – ah, cheira como sexo. Ele entrou no quarto. E enquanto o fez, ele se deu conta de um som de arranhar. Do chão, no canto mais distante da cama, dedos escuros e ensanguentados arranhavam á procura de suporte na parede. Manchas de sangue se espalhavam pela parede. E ficou olhando, o coração pulava em seu peito como se quisesse sair, pensando: é a hora Dos mortos vivos. Os mortos não vão ficar no chão. Não quero ser feito em pedaços e comido por um zumbi! Um gemido abafou o arranhar. E tapou a boca com uma das mãos e o gemido parou. Cale a boca. Isso não é um zumbi, é apenas o sanguessuga que se recusa a morrer. Você é um deus. Controle-se. E assentiu. Um deus. Ele retirou a mão da boca e caminhou até a cômoda. Abrindo a primeira gaveta. Uma luz dourada brilhou e um couro angelical entoou uma canção triunfante. Aninhado entre as cuecas de ceda, e meias caras, estavam as pastas. E as pegou, então abriu a próxima gaveta. Nada. Ele encontrou a bolsa com fechos na ultima gaveta e a pegou. Unhas arranhavam a parede. E correu até o corredor, passando pela sala da frente e para fora da casa. Quando chegou á van, E entrou e guardou a bolsa e as fichas junto com a sua mala de brinquedos. Agora tudo o que ele precisava era do Dante. Onde estava o receptor de GPS? E abriu a bolsa preta e revirou seu


conteúdo, (frascos de sedativos, uma arma tranquilizante, seringas, algemas) tudo escolhido pensando no sanguessuga, mas nenhum aparelho GPS. Como diabos ele poderia rastrear o Dante sem aquilo? E bateu os punhos contra a cabeça. Dor gritou saindo de seu punho quebrado. O estomago dele se contraiu. Idiotaidiotaidiota! Engolindo com força, ele abaixou o braço ferido. Hematomas roxos, quase pretos tomavam conta de seu punho inchado. Ele terá que fazer uma tipoia mais tarde. No momento, ele precisava encontrar o receptor GPS. E saiu da van, então congelou. Um homem com aparência de durão, usando uma jaqueta, estava parado na frente dele, com uma droga de uma arma na mão. O cano apontado na altura do peito do E. E caiu contra o concreto e rolou para baixo da van. Pare, caia e role. Algo se chocou contra a lateral da van. Uma bala? E olhou para além dos sapatos pretos polidos do homem, ciente do som de um carro em alta velocidade se aproximando. Na rua, um pequeno carro preto pulou para cima da calçada, atravessando a grama, seguindo direto para a casa. E fechou os olhos contra o brilho dos faróis. O carro se chocou contra os degraus da frente. Esmagando a grade contra o umbral da porta. A casa chacoalhou. Dante havia chegado.

Stearns se jogou contra a nova van do Elroy Jordan, enquanto o carro esporte pulava o cordão, cruzava o quintal e se chocava contra a casa. Vapor chiava da frente esmagada. Por um momento, Stearns hesitou então se afastou da van. Um acidente? Ou seria deliberado? Então uma figura magra usando preto, saiu do carro através da janela do lado do motorista e o coração do Stearns disparou contra as costelas.


Um lindo rosto pálido. Cabelo preto. Jaqueta de couro e correntes atravessadas no jeans. Ele pulou com facilidade por sobre a frente destruída do carro e porta da frente da casa, cercada por raios de uma luz azulada. Mãos pálidas tocaram a madeira. Dando um passo para frente, Stearns ergueu a Glock – Dante! – ele chamou. Ele disparou enquanto o jovem vampiro se virava.

A bala atingiu o Dante na têmpora, o impacto jogou sua cabeça para o lado. Ele caiu contra a porta. ― Pare o carro! – Heather gritou. Collins apertou os freios. Ela abriu a porta e desceu correndo, puxando seu trinta e oito do bolso do casaco. Stearns olhou para cima. Olhando para ela, então caminhou na direção do MG. Na direção do Dante. ― Largue a arma – Heather gritou, segurando a arma em ambas as mãos. Ela apontou para o Stearns. – largue! Não me obrigue a fazer isso! Stearns hesitou, então continuou em frente, erguendo a Glock. Heather atirou. Stearns tropeçou, caindo sobre um joelho na grama ao lado do MG. Ela correu da calçada até uma distancia com alcance de tiro, arma apontada para seu antigo mentor. ― Largue a arma! ― ela falou. A Glock caiu dos dedos do Stearns. Sangue manchava o ombro da jaqueta dele. Gemendo, ele prendeu seus dedos atrás da cabeça. ― Deixe-me terminar com ele ― Stearns falou ― se você ler o arquivo... ― Cale a boca – Heather falou com a arma apontada para a testa dele. Ela olhou na direção da casa. Dante não havia se movido. Ele estava caído junto a porta, iluminado pelos faróis, seu cabelo preto se espalhava


como vinhas pelo carpete. Um fio de sangue escorria pela sua testa até o rosto. Heather olhou para longe. Sua respiração arranhava na garganta que havia ficado muito apertada. Ele não esta morto, ela se lembrou, não está morto. Ela respirou fundo o ar frio, puxando as algemas do bolso. Se ajoelhando ao lado do Stearns ela fechou a algema ao redor de um dos pulsos. Collins correu passando por Heather até a porta ― Vou checar o Prejean ― ele falou. ― Heather escute, você não entende... ― Eu entendo que você acabou de atirar em um homem desarmado ― ela falou, sua voz baixa e controlada. ― agora cale a boca. Enquanto Heather puxava o braço do Stearns para baixo, para poder algema-lo, um carregando um saco de compras parou na entrada de carro. ― Senhor, por favor, continue... O homem largou as compras. Pedaços de papel caíram na calçada enquanto ele puxava uma arma. Com o coração disparado Heather ergueu o trinta e oito ― Trent! Cuidado! Todos os três dispararam.

Lucien voou, o vento frio contra o seu rosto. Um frio diferente marcava sua alma com gelo. Através do Dante ele experimentou uma dor breve, então a consciência de seu filho ficou mais fraca. Uma pequena linha de vida ainda pulsava através da conexão, então ele sabia que o Dante não estava morto. Ferido, talvez de forma crítica, mas vivo. No chão sob o Lucien, faróis enviesados iluminavam o céu. Figuras corriam. Cede de sangue, selvagem, cega e anciã, cortou a noite vindo da


casa mais abaixo. Lucien espiralou para baixo em direção da casa e ao seu ocupante irado. Thomas Ronin nunca mais será uma ameaça ao Dante. Lucien deslizou para o chão, seus pés descalços tocando a grama molhada em sua aterrisagem. Suas asas se dobraram atrás dele, então se comprimiram em suas bolsas. Ele marchou pelo quintal escuro e puxou a porta de tela (o metal ringindo) das dobradiças. A jogando para o lado, Lucien esmurrou a porta dos fundos com um punho e entrou na casa. Deitado sob a van, E observou enquanto a Heather se ajoelhava ao lado do filha da puta que tentou atirar nele, o cara com aparência de durão, que acabara atirando em seu irmão do projeto Bad Seed. Então outra pessoa se juntou a brincadeira. Repentinamente todos estavam gritando, atirando e pulando. E rolou para o outro lado da van e, se mantendo abaixando, se arrastou pela frente do carro, a imagem do Dante caído através da porta o atraiu como um pervertido atraído por um filme pornô. Ele desejou sorte para sua adorável Heather, e esperou que ela não se importasse com o fato dele tirar vantagem de sua situação critica. Ele preferia pensar que era a ele quem ela protegia e não ao Dante, já que afinal de contas, ela havia ido para Nova Orleans atrás dele, e não do sanguessuga penetra. Mas, hei, pelo menos agora ele não precisava se preocupar em encontrar o GPS. E parou na frente da van, olhando para o policial a paisana abaixado ao lado do corpo do Dante. Ele se virou quando Heather gritou e puxou sua arma, mas antes que ele pudesse atirar, dedos sujos de sangue se fecharam ao redor de seus ombros e o puxaram para dentro da casa.


Um sentimento de formigamento percorreu o corpo do E. Tom-Tom havia conseguido se levantar. Do lado de dentro da porta, sombras se moviam e lutavam. O sanguessuga ou o futuro cadáver? E se arrastou para frente, ainda abaixado, seu olhar preso no rosto pálido do Dante. No pátio, pessoas gritavam. Armas disparavam. Ele mentalmente cruzou os dedos para que a Heather sobrevivesse – o jogo não seria o mesmo sem ela. E deslizou pelo quanto dos degraus de concretos. Fluidos escorriam da frente arruinada do MG. Vapor chiando e espirrando. E estendeu a mão que tremia até o braço do Dante. O segurando e puxando. Dante era um peso morto. Suando e arfando, E arrastou Dante escada abaixo. Ele atingiu o chão com o som de metal tilintando. Ele largou o braço do Dante e passou a arrasta-lo pela gola da jaqueta. A cabeça do Dante balançou. Sangue escorria de seu ouvido esquerdo, descendo pela lateral do rosto. Puxando, gemendo e queimando adrenalina, E puxou seu irmão sanguessuga até a frente da van. A porta lateral ainda estava aberta. Algo voou para fora da casa. Heather gritou – Merda! – mais tiros. E conseguiu colocar Dante parcialmente dentro da van, então pulou para dentro e o puxou o restante do caminho. O rolando para longe da porta e as fechando. Pegando as algemas da sacola preta, ele as fechou ao redor dos pulsos do Dante. Ele não sabia por quanto tempo Dante ficaria inconsciente, mas era melhor não se arriscar. Ele empurrou o corpo do Dante até a traseira da van, erguendo os braços, e deslizando a corrente das algemas até o gancho preso no teto. O sanguessuga ficava muito bem com as algemas. Ele nascera para aquilo. Sorrindo E engatinhou usando só uma das mãos até o banco do motorista. Ele tirou as chaves do bolso. E esperou. Heather atirou com o trinta e oito enquanto se atirava para o lado. Algo passou zunindo por sua bochecha que começou a queimar. Com a


Glock nas mãos, Stearns rolou pela grama até ficar em pé. Ele abriu fogo. O homem de cabelos escuros (desconhecido) tropeçou para trás e voltou a atirar. Stearns caiu de joelhos, seu rosto em branco. Mirando na cabeça do desconhecido, Heather espertou o gatilho no momento em que o homem se abaixava atrás da van. ― Trent – ela gritou ― tire-o de lá. Heather correu até o MG, mergulhando atrás dele. Ela olhou para a casa e seu coração pulou até a garganta. Uma criatura ensanguentada estava curvada sobre o Collins. As mãos do detetive estavam moles ao lado do corpo, todo seu corpo parecia não ter ossos. Thomas Ronin ergueu o rosto do que restara da garganta do Collins. Heather se virou e abriu fogo contra o vampiro. Com uma careta, mostrando as presas, Ronin jogou o corpo do detetive na direção dela. ― Merda! O corpo a atingiu, a jogando no chão e a deixando sem ar. A cabeça da Heather balançou contra a grama molhada. Pontos de luzes brilhavam na visão dela. Presa embaixo do peso do Collins, ela lutou para respirar. Ela empurrou o corpo, sentindo o cheiro de suor, sangue e (merda), morte. Imagens da garganta dilacerada e o rosto sem vida, encheu a mente dela. Ela empurrou, freneticamente arfando por ar. Finalmente com um ultimo empurrão, ela se livrou do corpo. Ela respirou fundo, tentando não soluçar. Ronin agora segurava o desconhecido de cabelos escuros, seu rosto enterrado no pescoço do homem. O desconhecido chutava, socava e se retorcia. Ele esvaziou sua arma nas entranhas do vampiro. Ronin tremia a cada bala, rosnando enquanto se alimentava. Sangue caia no concreto. Ficando de joelhos Heather mirou na cabeça do Ronin. Ela notou um movimento em sua visão periférica, vindo da casa e se virou, segurando a arma com ambas as mãos. De Noir sem camisa e sapatos, saiu da casa, cruzou o jardim em dois rápidos passos e agarrou Ronin pelo pescoço com apenas uma das mãos.


O homem desconhecido caiu na calçada, seu corpo mole de uma maneira que fazia o estomago da Heather se revirar. Ronin girou no aperto das mãos do De Noir, e rasgou o peito dele com dois dedos. Sangue jorrou e então... parou. Os cortes começaram se fechar. Desaparecendo. As asas do De Noir se abriram. Ele carregou Ronin rumo ao céu. A van foi ligada. Deu ré. Passando por cima do corpo do desconhecido. E derrapou até a rua. Heather ficou em pé com o coração martelando. Jordan! Ela ergueu o trinta e oito e Jordan ergueu a mão mandando um beijo para ela. Ela atirou. A bala estilhaçou o vidro do lado do passageiro. Ela apertou novamente o gatilho, mas a arma emitiu somente um click, o pente estava vazio. Jordan apertou o acelerador. A van ganhou velocidade pela rua, e noite adentro. Heather ergueu a cabeça e gritou ― Merda! Jordan havia fugido. Dante estava ferido... Dante... Ela se virou. A porta estava vazia. De Noir deve tê-lo levado para algum lugar, ou... Ela correu pela rua. A van havia desaparecido. S é meu.

Lucien girou pelos céus, garras cravadas nos ombros do Ronin. O vampiro enterrava suas presas no peito do Lucien, sugando o sangue que lhe dará a cura. Lucien atingiu a cabeça do Ronin com o punho, retorcendo o crânio e fazendo as presas se soltarem de sua pele. O crânio estalou, voltando ao seu formato original. Ronin olhou nos olhos do Lucien. ― Esse gosto ― ele falou ― é como o sangue do Dante... Único. ― Espero que você esteja apreciando. Pois vai ser o ultimo que vai


beber. Lucien agarrou o vampiro pelos ombros e cintura, então o torceu. Sangue jorrou pela noite enquanto carne e ossos eram rasgador e separados. Ronin gritou, olhos fechados, suas presas iluminadas pela lua. Suas unhas arrancavam pedaços do peito do Lucien. Lucien despedaçou Ronin pela cintura. Órgãos começaram a cair até o chão, em uma chuva grotesca. Mais abaixo o Mississippi serpenteava, brilhando sob as estralas, um rio negro, cruzando uma terra negra. Lucien largou a parte de baixo do vampiro. As pernas se moviam enquanto caia até o rio. Voando pela noite, Lucien se soltou das garras do Ronin, se defendendo dos socos e dentes. Ele pairou sobre a chaminé de uma fabrica junto ao rio. Fagulhas voavam pelo céu saindo da bocarra escura. ― Eu colocaria o mundo em risco pelo meu filho ― Lucien falou e soltou suas garras da carne do Ronin. Enquanto o vampiro caia, ele agarrou a runa em forma de X. A corrente arrebentou. Sorrindo, Ronin caiu dentro da chaminé, a corrente enrolada em seus dedos. Uma chuva de fagulhas encheu o ar. Lucien olhou para a noite, com a mão ao redor do pescoço. O pendente havia sumido.


29 Tudo pelo S Escuridão. Sua própria musica ressoando. Inferno. Cheiro de sangue, suor azedo e exaustão de motor. Ele sentiu gosto de sangue na boca. Seu próprio sangue. Algo espetou seu pescoço. Fazendo doer. Químicos gelados correram por suas veias. Amenizando a dor em sua cabeça. ― Meu ― a voz sussurrou. Uma que não era familiar. E desapareceu. Dedos tocaram seu rosto. – serei o teu deus e você vai me amar. Escuridão. A euforia das drogas. Dante caiu, sonhando.


Heather estava sentada na grama, ao lado do corpo do Stearns, suas mãos congeladas acima do peito inerte, desejando tocar o homem que havia sido mais pai para ela do que James William Wallace, desejando dizer adeus. Mas ela não conseguia forças suas mãos a se abaixaram. Ele atirou no Dante a sangue frio. E agora... Uma onda de ar frio despenteou o cabelo da Heather, a fazendo olhar para cima. As asas pretas do De Noir cortavam o céu, batendo enquanto ele aterrissava. Seus olhos dourados rastreavam o quintal. Desespero obscurecia seu rosto. Sirenes quebraram o silencio. ― Onde ele está? ― O Jordan está com ele ― ela falou ― na van ― S é meu. Os olhos dela queimaram. ― Não consigo senti-lo ― De Noir falou, sua voz contida. ― alguma coisa obstruiu nosso link. Parece com... estática – agitando as asas ele se ergueu no ar. ― Espere! ― Heather ficou em pé. Ela olhou ao redor do quintal que havia se transformado em um campo de batalha. Todos mortos. Um onde de arrependimento tomou conta dela, quando seu olhar parou no corpo do Collins. Ela lembrou da conversa deles mais cedo, sobre o LaRousse. O homem não merecia morrer daquele jeito. Você também não, Trent. Ela pensou, com a garganta apertada. Se ela ficasse, estaria ocupada dando depoimentos e fazendo relatórios por horas, possivelmente dias. O CCk tinha o Dante. Verdade que o Dante era uma criatura da noite, mas o Elroy Jordan era um sadista sexual que agora possuía uma vitima com a capacidade de regeneração. Um que ele poderia „matar‟ repetidas vezes. Ela não poderia se dar ao luxo de perder mais tempo. ― Me leve com você ― ela falou. De Noir pairou no ar, seu rosto frio e impassível.


― Conheço os padrões do Jordan, posso ajudar. Por favor. As garras do De Noir se fecharam como punhos. Ele desceu até o chão. As sirenes estavam mais próximas. Heather atravessou a rua até o carro do Collins, abriu a porta e se esticou através dos bancos. Pegando a maleta, ela correu de volta ao quintal junto ao De Noir. ― Segure-se ― ele falou, passando um braço ao redor da cintura dela. Heather passou os braços ao redor do pescoço do De Noir, seu coração disparado contra as costelas. As asas dele bateram, o ar ganhou velocidade, e ele se ergueu até o céu. Ela olhou para baixo. Carros da policia derrapavam até parar, na rua em frente a casa do Ronin. Luzes azuis piscavam contra as casas, carros e corpos. Uma quadra mais abaixo na rua, uma ambulância esperava pelo sinal de que estava tudo seguro. O vento soprava frio contra o rosto da Heather, congelando seu cabelo e pestanas. Tremendo, ela fechou os olhos. De Noir passou o outro braço ao redor dela, a segurando com mais força, sem parecer fazer esforço. O calor dele irradiava contra ela, afastando o frio. Ela virou o rosto contra o pescoço dele. O calor dele e o cheiro terroso a fez lembrar do Dante. Com o coração doendo, e os músculos tensos, Heather gritou seus pensamentos pela noite, esperando que de alguma forma o Dante pudesse escuta-la. Estou indo buscar você.

Escuridão. Dor latejando em sua cabeça. Pescoço. Seus ombros queimando. Músculos doloridos. Ele tentou abaixar os braços. O metal mordeu os pulsos dele. Batendo contra mais metal. Algemas. Dante abriu os olhos. Sua visão estava avermelhada. Ele estava deitado


de lado, braços esticados sobre a cabeça. Ele sentiu o cheiro de tabaco barato, plástico e um forte cheiro de sangue. Um mortal estava abaixado atrás dele. Segurando seus ombros. Dor serpenteou e se enterrou pelo pescoço até a base do crânio. Sangue escorria quente pelo pescoço descendo sob a camiseta. O porão do papa Prejean. Dante puxou os braços com toda sua força. Dor queimou seus ombros novamente. As algemas aguentaram. A mão no ombro do Dante apertou com força. ― Fique parado ― uma voz desconhecida falou – se fizer isso novamente, não posso garantir onde as facas podem parar. Dante apertou os olhos quando a faca se afundou e rasgou. Mais sangue quente fluiu por seu pescoço. ― Peguei! Maldição! A faca parou. Dante soltou a respiração que estava prendendo e encheu os pulmões com o ar cheio do fedor do mortal. Um cheiro que ele reconhecia, mas não conseguia definir. Como um furador de gelo se cravando atrás de seus olhos, a dor da enxaqueca perfurava seus pensamentos, mandado embora sua concentração. O mortal limpou seu pescoço. O barulho de papel. Então ele colocou algo sobre o ferimento. ― Consegui os Band-Aids do Batman. Achei que você fosse gostar deles. Dedos apertaram os ombros do Dante e rolando para ficar de costas. As algemas tilintaram. E sob ele, o plástico estalou. Dante abriu os olhos e gemeu. Uma luz pequena e coberta brilhava no teto sobre ele. Não era um porão, não. Um carro? Não havia nenhuma sensação de movimento. Nenhum barulho de motor, ou movimento. Uma sombra passou por ele, uma silhueta contra a luz. Meio que parece com o assistente do tom curioso... Elroy o pervertido se ajoelhou ao lado do Dante, com um sorriso alargando seus lábios. Uma tipoia segurava seu braço esquerdo contra o


peito. Em sua mão direita, preso entre dois dedos, ele mostrava um pedaço ensanguentado de plástico. ― Está vendo isso? ― ele falou ― um rastreador implantado quando você nasceu. Para que você sempre pudesse ser seguido. Estudado, etc, etc, etc. tive que tirar o meu sozinho. Dor percorreu o crânio do Dante. Rastreadores? Implantes? Uma imagem piscou por trás da dor (uma mulher, cabelos loiros e curtos, olhos azuis, presas) murmurando, eles tem medo de você, meu pequeno puro sangue. A dor estilhaçou a imagem. A voz baixa do Ronin: do que você tem medo puro sangue? Uma agulha espetou a pele da garganta dele. ― O seu nariz está sangrando ― Elroy falou ― isso até que é sexy. Os lábios do pervertido, quentes e com gosto de tabaco, se pressionaram contra a boca do Dante, seu beijo gentil a principio. Enquanto a mão do Elroy deslizava pelo corpo do Dante, as drogas o jogaram de volta á escuridão do porão do papa Prejean. Dante anjo? Me deixe queimar princesa.

Heather abriu os olhos enquanto o De Noir descia, deslizando até a varanda gradeada do lado de fora do quarto do Dante. Ela soltou seus braços do pescoço dele e pisou sobre o piso. Sua mão parecia congelada na ao redor da maleta. Uma rápida olhada revelou que seus dedos estavam vermelho vivo do frio, mas não congelados. Ela entrou no quarto escuro através das janelas francesas abertas. O ar cheirava a cera de vela e á folhas de outono, cheirava como o Dante. A imagem da cama desfeita, os lençóis desarrumados fez o coração dela se comprimir. Ela fechou os olhos.


Concentre-se em encontrar o Jordan. Concentre-se em encontrar o Jordan... Antes que ele comece a trabalhar no Dante e descubra que nunca precisara parar. Haether abriu os olhos e marchou através do quarto. Enquanto entrava no corredor, ela viu Simone na escada, seu rosto pálido ansioso. ― Lucien nos contou o que aconteceu ― Simone falou, subindo um degrau. ― o que você precisa que o Trey faça? ― ela olhou para Heather então para cima. De Noir passou pela Heather, abotoando uma camisa preta. ― Lucien nos contou o que aconteceu. É claro. ― Heather engoliu as palavras que ela planejava falar. O Dante foi atingido na cabeça e agora um serial killer o sequestrou, exatamente como avisou que faria, assim como o prometido com o sangue dos inocentes. Heather falou ― Preciso que o teu irmão faça outra busca por alugueis e compras de qualquer tipo feitas recentemente tanto pelo Ronin quanto pelo Jordan. Peça para ele fazer uma busca por veículos também. ― D‟accord ― virando, Simone correu escada abaixo. De Noir olhou para a pasta. ― O que tem dentro? Heather olhou para cima, o encarando. ― O passado do Dante. ― Onde você a conseguiu? ― Com o meu chefe ― ela falou baixo ― o homem que atirou no Dante. A mandíbula do De Noir se apertou. O olhar dele mudou para um ponto acima da cabeça da Heather. Fios de seu cabelo escuro pairavam no ar que agora parecia eletrificado. O cheiro de ozônio encheu o ar. Os cabelos da Heather se arrepiaram. A pele dela formigou. Como se atingida por um raio. ― Você olhou no que esta dentro da maleta? ― Não. Eu esperava entrega-la para o Dante. Os olhos do De Noir estudaram a Heather. Ela não encontrou nada reconhecível nos olhos dele, que fosse humano ou de qualquer outra


espécie. Depois de um momento, ele assentiu.

Com o braço latejando, E manobrou a van em um descanso da I-59. Precisando de uma parada. Ele desligou o motor, olhando pelo espelho retrovisor. Dante dormia, a cabeça caída para o lado, seus pulsos algemados esticados sobre o corpo. E abriu a porta parando no meio da descida. Talvez o Dante não estivesse dormindo. Talvez ele estivesse fingindo e planejando chutar, gritar e toda essas merdas para pedir socorro. Era melhor se certificar. Voltando a subir na van, E passou os bancos dianteiros até a traseira, e se ajoelhou no colchão de ar. A respiração do Dante estava lenta e calma. Seu cabelo escuro estava caído cobrindo parcialmente o rosto. E o cutucou nas costelas. Nada. Dopado e viajando nas alturas. Ele agarrou o ombro do Dante e sacudiu. Nada. O olhar de E deslizou pelo corpo delicioso do sanguessuga. O colar de bondage; uma camiseta preta clássica que estava um pouco erguida, deixando uma linha de sua barriga lisa exposta; jeans pretos com correntes, cinto com pontas de metal, o cinto e o jeans estava abertos no momento. E se aproximou do Dante, uma navalha deslizando para sua mão direita. Ele cravou a navalha no peito do Dante. O corpo do sanguessuga tremeu. Sua respiração ficou presa, falhando, então voltou rápida e dificultosa. Sangue borbulhou em seus lábios. Mas os olhos não se abriram. Ele estava apagado. Malditas drogas eficiente, E brincou. Será que ele conseguiria se curar com a faca ainda presa em seu peito? Revisando sua sacola E engoliu a seco um punhado de comprimidos, então voltou a rastejar até a dianteira da van. Ele desceu e seguiu até o


estande onde era servido o café gratuitamente. A imagem do Dante dormindo com a faca ainda cravada em seu peito, queimava na mente de E o deixando tremulo.

Heather estava sentada a mesa da cozinha, a maleta aberta sobre a toalha azul cobalto, e seu laptop ligado. De Noir puxou uma cadeira e sentou ao lado dela, fazendo uma careta. Respirando fundo, ela pegou a pasta de dentro da maleta, a colocando sobre a mesa e abrindo. Varias fotos se espalharam: algumas atuais, tiradas de longe, sem o conhecimento do Dante; outras mostravam o Dante adolescente, criança e bebe. O rosto serio do garoto, o sorriso com presas do bebe, o adolescente carrancudo e com o dedo médio erguido. Ela foi entregando as fotos para o De Noir. Ele estudava todos as imagens por um longo tempo, mandíbula tensa, sem dizer nada. Uma foto capturou a atenção dela: Dante sorrindo, seus braços ao redor de uma garota sorridente, cheia de sardas e cabelo longo e vermelho, o rosto dela estava virado na direção dele. Dante parecia estar com uns doze anos, talvez treze, a garoto com uns oito ou nove. O nome dela era Chloe. E você a matou. Heather olhou para a foto, o rosto feliz do Dante, na única foto em que ele aparecia rindo. O irmão mais velho, e anjo da guarda para outro criança perdida no sistema de lares temporários do estado. Entregando a foto para o De Noir, ela colocou o CD no leitor do Laptop. Quando um menu apareceu, ela seguiu para seção marcada S e Chloe e abriu a pasta. Imediatamente filmes apareceram na tela: Usando jeans desbotados e uma camiseta cinza Dante estava sentado no chão com as pernas cruzadas, suas costas contra uma cama bem arrumada, sua atenção focada em um livro em seu colo. Chloe estava


sentada sobre a cama, com calças lavanda e um suéter rosa do Pooh, o observando, seus pés batendo distraidamente contra a armação da cama. Uma orca de pelúcia estava presa sob um de seus braços. ― Leia em voz alta ― ela falou, enrolando um cacho do cabelo ao redor dos dedos. ― Cum... for... cunfour... ta... vel... cunfourtave... confortável. ― Você conseguiu! ― É? ― um sorriso de contentamento iluminou o rosto do Dante. ― Sim ― Chloe confirmou ― agora termine a sentença. ― A cama do Pooh era confortável e... Quente. ― Você aprende rápido ― Chloe falou ― aposto que se você não dormisse durante o dia, e pudesse ir para a escola você só tiraria notas boas. Dante bufou, então olhou por sobre o ombro na direção dela – eu só tiraria Fs. ― Por que...? ― Chloe perguntou prendendo o cabelo dele em um rabo e massageando o comprimento entre suas mãos. ― O que começa com F? ― Foda-se a escola. Ela riu, cobrindo a boca com a mão. ― Dante-Anjo! Um borrão de movimentos e repentinamente Dante estava em pé fazendo cocegas na Chloe. Ela se encolheu rindo, rolando na cama, os tênis dela batendo no colchão. Rindo ele tentou proteger suas costelas com um dos braços, na tentativa de retaliação dela. Ele pegou a orca dos braços dela e moveu o brinquedo pelo ar, fora do alcance das mãos dela. Ele parou junto ao nariz dela. Inclinou a orca e ― Mmm-a! ― um grande beijo orca. ― Posso escovar o teu cabelo enquanto você pratica escrever o alfabeto? ― Chloe perguntou. ― Claro ― Dante falou, entregando a orca para ela. ― Garoto você precisa levar esse traseiro para o porão agora ― a voz de um homem, com sotaque sulista e profunda, falou fora do alcance das câmeras. ― tenho um visitante chegando, e preciso te algemar. Você não


precisa dessas merdas de escola para o trabalho que você faz, petit. É perda de tempo ― o homem riu, um som rouco pelo tabaco que terminou em tosse. ― Vá se foder ― Dante falou ― vou descer em um minuto. O sorriso da Chloe desapareceu e ela se sentou, a orca presa com força contra o suéter rosa. ― Deixe ele em paz ― ela falou, sua voz aguda e sobrancelhas baixas, desafiante e pálida. ― Você fique calada. Ou vou colocar minhas mãos em você. A mão do Dante apertou o joelho da Chloe. Ela fechou a boca. Ele olhou para o homem, toda a expressão havia desaparecido de seu rosto, mas fogo queimava em seus olhos, um fogo que o homem deve ter sentido e visualizado. ― Você vai precisar mais do que algemas para me prender se você tocar nela ― o Dante falou, sua voz baixa e sem sentimentos. Outra rizada rouca. ― Cheio de atitude garoto. Move esse traseiro ou vou enviar e pequena dama no teu lugar... Dante se virou e beijou a testa da Chloe, afastando o cabelo dela da testa. ― Boa noite princesa. Vejo você amanhã. Preocupação obscurecia o rosto da Chloe. ― Dante Anjo... Ele balançou a cabeça. ― Shh. Je suis ici, estou aqui. Não desça. Não hoje à noite. Ela assentiu infeliz. Dante jogou um beijo para ela e saiu do quarto. A gravação terminou. Heather pausou por um momento (quantos anos ele teria? Doze?) então ela forçou seus dedos para longe da palma da mão e clicou na próxima seção. Depois, com os olhos queimando ela entendeu por que o De Noir havia dito que o passado do Dante era algo que deveria ser deixado no esquecimento. Ela entendia que aquilo iria partir o coração dele. E entendeu também por que o Stearns o chamou de monstro.


Engasgando com sangue, Dante acordou. Escuridão. Barulho de motor. E dor dilacerando seu peito. O sangue enchia a boca. Ficando de lado, com as algemas tilintando enquanto ele se movia, Dante cuspiu o sangue no chão, até conseguir respirar novamente. Tonto, ele se concentrou no som estável e tranquilizante do motor. Dante olhou para baixo. O cabo de uma faca se projetava do peito. ― Acabamos de entrar no Alabama ― o Elroy falou – não se sente bem? Dante encontrou os olhos escondidos por óculos escuros no espelho retrovisor. O pervertido sorria. ― Não ligue para a faca ― ele falou ― não pude resistir. Como se sente? Dante tossiu, cuspiu então falou. ― Vá se foder. Tire essas algemas que mostro para você ― ele puxou os braços, fazendo as algemas estalarem. Elroy riu ― Esse é o meu irmão da Bad seed. Dante voltou a perder a consciência enquanto os quilômetros passavam, não dormindo, mas preso na zona crepuscular da inconsciência criada pelas drogas e pela dor. Ele abriu os olhos e a van diminuiu a velocidade, então parou. O pervertido desligou o motor e se esticou. Ele passou por entre os assentos, parando para fechar a cortina entre o banco da frente e a traseira da van. Ele seguiu agachado até o Dante, pegando uma bolsa preta desgastada, ele a abriu retirando uma pasta recheada de papeis. ― É hora de você aprender algumas coisas ― Elroy ficou de joelhos e se aproximou do Dante ― como o quem e o que você é ― agarrando o cabo da faca, ele arrancou a lamina do peito do Dante. Se recusando a tocar seu link com Lucien, Dante tentou se ligar com Von e Simone. Dor queimava por sua cabeça a cada tentativa que retornava sem resposta. Seja o que for que o pervertido injetou em suas veias havia coberto sua capacidade de comunicação com uma grossa camada de gazes.


Elroy brincou com a faca, a girando a lamina na mão para cima e para baixo. Molhada de sangue, a faca brilhava sob a luz amorfa. Na ultima manobra Elroy enfiou a faca no estomago do Dante. Dante apertou os olhos fechados. A dor roubou a voz dele. Outra onda de dor correu por seu peito, sugando o ar dos pulmões. Ele tossiu sangue. ― É hora de te ensinar as coisas S ― Elroy murmurou. ― abra os olhos. Dedos tocaram as pálpebras do Dante. Brincaram sobre seus lábios. Ele sentiu o cheiro de sangue nos dedos do Elroy... o dele. Ele abriu os olhos e olhou para o rosto suado do Elroy. O sorriso havia desaparecido. Seus dedos ainda segurava a segunda faca no peito do Dante. Ele a pressionou ainda mais. Se inclinando sobre ela e a girando. Dor correu através do peito do Dante e pontos escuros surgiram em sua visão. Ele mordeu os lábios, determinado a não gritar, determinado a não dar essa satisfação para aquele fodido doente. Dante Anjo? Shhh. Agora não princesa. Preciso acordar. Preciso parar de sonhar. ― Me escute ― o Elroy falou. Dante piscou até sua visão clarear. Cuspindo sangue. Tossindo. Os cabos das duas facas se projetavam de seu corpo, uma da barriga outra do peito. O pervertido segurava fotos. Dante apenas olhou. Elas eram dele, mas quando jovem, dos anos que não conseguia lembrar. A dor queimou atrás dos olhos, se cravando nas têmporas. ― Você é parte de um projeto chamado Bad Seed ― Elroy falou ― eu também. Na verdade, somos os últimos membros vivos do projeto. Eles me pegaram quando eu tinha dois ou três anos de idade, depois que meus pais passaram pela velha rotina você me mata-mato você ― ele segurou a foto de um bebe sorridente. ― eu não era bonitinho? Elroyl pegou uma pasta, foleando o conteúdo. ― Agora você... Você eles o pegaram pouco depois da concepção. Eles cuidaram da tua mãe durante a gravidez problemática, então mataram ela depois que você


nasceu. Como ela era uma sanguessuga, eles cortaram a cabeça dela e atearam fogo ao corpo. Com o coração martelando, e lutando por ar, Dante tentou entender as palavras do Elroy. Dor queimava seus pensamentos. Ele tossiu. A mãe dele... Genevieve. Você se parece tanto com ela. Vespas zumbiram em sua visão borrada. De uma grande distancia, ele escutou o pervertido falar: ― Ela te deu esse nome antes de morrer. E fico surpreso que a mamãe-vadia da Moore deixou que o chamassem assim. Dante. Algo bateu com força contra o rosto do Dante, fazendo sua cabeça cair para o lado. Os dentes voltaram a cortar o lábio inferior. Luz branca brilhou e queimou ao redor da visão dele. Quase fechando os olhos para protegê-los da luz, ele se focou no rosto pálido do Elroy. ― Eu estava perdendo você ― Elroy falou. ― e por falar nisso, o teu nariz está sangrando de novo. Dante tossiu, um espasmo de rasgar os pulmões que produziu mais gotas de sangue fresco. Elroy se afastou da onda de tosse e respingos de sangue. ― Tire as malditas facas ― Dante sussurrou depois que o espasmo passou. ― então siga em frente. Leia para mim. Me estapeie se eu desmaiar. Mas leia esses documentos para mim. O pervertido ergueu os óculos e encarou o Dante, seus olhos castanhos cheios de imaginação. ― Ler para você? ― se arrastando de volta, ele agarrou o cabo da faca plantada no peito do Dante e a puxou. Trançando um caminho através da barriga do Dante, o sangue seguiu a trilha. ― O prazer é todo meu. Recolocando os óculos, Elroy leu para o Dante, empurrando a faca em sua barriga, ou o acertando com as costas das mãos, ou fazendo ambos quando a enxaqueca ameaçava tomar conta. Os pais adotivos informaram que o individuo possuiu uma doença que requer atenção e nutrição especiais, isso os forneceu um aumento no


pagamento... Dante lembrou do LaRousse na taverna dizendo: seis lares adotivos, duas internações em casas para loucos. Luz girava e se quebrava na visão dele. A cabeça dele latejava. O coração disparou. Ele escutou. O „cobertorzinho‟ favorito do S foi tirado dele e queimado. S foi forçado a assistir e o informarão que o „cobertorzinho‟ queimou pro que ele foi um „menino mau‟. Pais adotivos #10 puniram o S por desafia-los. Eles removeram as cortinas em um quarto cheio de janelas e o trancaram lá. Ele permaneceu em cantos sombreados evitando a luz do sol até não haver mais sombras... A luz do sol se inclinava através do carpete e machucava os olhos dele, rastros de poeira giravam no ar, o medo percorria a coluna dele... a memoria abriu ainda mais sua boca e o Dante caiu. A luz do sol criava bolhas e torrava a pele. O cheiro de carne queimada embrulhava seu estomago. Dante respirou fundo e tossiu sangue. A dor espantou a memoria, a mandando para longe. Um pequeno pedaço de conhecimento se prendeu por mais tempo: a primeira „casa para loucos‟ havia acontecido logo depois daquele pequeno castigo. Mãe adotiva #12 desenvolveu um laço de carinho com S. Ele parece gostar da companhia dela. Ele será removido da casa dela... S continua cada vez mais desafiador. Seu brinquedo preferido, um crocodilo de plástico com rodas, foi retirado dele e jogado no lixo. Ele se vingou jogando os cigarros e cerveja dos pais adotivos no lixo. S apanhou... S encontrou ou roubou uma guitarra e está aprendendo sozinho a tocar. Ele possuiu um ouvido incrível e aprende rapidamente. Demostra um talento verdadeiro pela musica... S foi drogado e trazido para a clinica para ser examinado e estudado. Dr.Wells está tão curioso quanto eu para descobrir o quanto um nascido vampiro pode suportar fisicamente. A experiência irá começar amanhã... Fragmentos de memorias zumbiam das profundezas, viajando nas asas de vespas gigantescas: uma mesa fria de metal. Amarras. Agulhas. Cerras.


Um técnico com um protetor no rosto segurando um bastão de baseball ensanguentado e usando um jaleco com respingos de sangue. Dor quente e insuportável limpou as imagens. Ele não estava relembrando. Ele estava vivenciando. O punho do Elroy socou o Dante de volta para o presente. ― Leia para mim ― Dante sussurrou. O pervertido olhou para ele por um longo tempo, lambeu os lábios e continuou a ler. Os experimentos devem ser repetidos assim que S atingir a puberdade... Se os vampiros possuírem algum processo como a puberdade. Isso deverá ser fascinante... S vem desenvolvendo afeiçoes por outra criança em sua casa adotiva, uma garota chamada Chloe Basescu. Ele cuida dela. Por alguma razão ela o chama de „Dante-anjo‟, talvez por ele a proteger dos pais adotivos. S e Chloe muitas vezes dormem juntos, mas de nenhuma maneira sexual. S está mostrando sinais do que eu acredito ser de uma puberdade de vampiro: ele vaga durante a noite, promiscuidade sexual com o grupo de sua idade, morder, fascinação por sangue, ele não mais se sente satisfeito com a dose diária de seu „remédio‟. Ele anseia por caçar. Ele parece excitado e confuso por esses sentimentos. Sobrecarregado por seus desejos. Ele os confessa para Chloe. Esses problemas... Esta na hora de retirar a Chloe de perto do S. Dante prende Chloe em um canto. ― Fique abaixada ― ele sussurra ― não vou deixar eles pegarem você. Enquanto Chloe se abaixava, com Oren a orca de pelúcia apertada contra seu peito, Dante parou na frente dela. Ele bufou. Três homens usando ternos pretos. Homens maus, como Wells, como papa Prejean, como todos aqueles idiotas que desciam até o porão, entraram no quarto branco. Fome/necessidade/desejo queimavam através do Dante e as batidas dos corações o atraiu. O cheiro de suor deles o deixou tonto. Os três seguirem na direção dele, e Dante se abaixou, girando, atacando com as unhas.


Sangue jorrou quente contra o rosto dele. Algo gorgolejou. Outra pessoa ficou atrás dele. Dante se moveu. Socando, chutando, mordendo. Girando. O cheiro do sangue tomou conta; e ele perdeu o controle. Caindo de joelhos ele cravou os dentes na carne quente. Sangue pulsou para dentro da boca dele, mais doce do que alcaçuz, mais pesado do que uísque, e ele não conseguia parar de beber. Ele bebeu até não restar nada. De joelhos, Dante olhou ao redor. Os três homens estavam estirados no chão ensanguentado. Ele balançou, limpando a boca ele procurou pela Chloe. A mãos dele parou junto a boca. O coração dele batia com força e rápido, se quebrando. Chloe... A princesa do Dante, sua irmãzinha, seu coração. Ele gritou quando a memoria conseguiu passar por sua dor. Ele gritou, puxando as algemas, tossindo sangue, engasgando. Algo afiado tocou seu pescoço... ferroando. Frio correu por suas veias. Enquanto o Dante deslizava para a escuridão das drogas, a imagem da Chloe já começava a desaparecer da mente dele ― Não! Deixe-me ficar com ela. ― A resposta para uma pergunta apareceu claramente na memoria dele: Do que você tem medo Puro sangue? Não de você Tom curioso. Não de você. De mim. Alguém riu e Dante não sabia se era ele mesmo ou o Elroy. Mas seja quem for, estava rindo, rindo e rindo.

Heather retirou o CD do laptop. Com os cotovelos sobre a mesa, ela afundou o rosto contra as mãos, cansada e enjoada. Dante havia ficado tão focado na luta, em sua fúria e cede de sangue, que acabou atacando a todos


ao seu redor... o que incluiu a Chloe. Ela tentou apagar as imagens que havia acabado de assistir, tentou esquecer os sons que escutou, mas era tarde demais. A expressão de dor no rosto do Dante enquanto olhava para o corpo do Chloe, o som desolado que saiu de sua garganta, a assombraria para sempre. Como o grito no matadouro. Uma cadeira foi arrastada pelo chão. De Noir. Heather abaixou as mãos e olhou para cima. Ele juntou os relatórios, os recolocando na pasta. ― Vou queimar isso ― ele falou com a voz nivelada. ― Não ― ela se ergueu. ― o Dante precisa saber... Ele precisa ver... ― Isso? ― De Noir balançou a pasta. ― Não. Ele não preciso. Não ― ele pegou o CD e fechou o punho ao redor dele. O plástico estalou. Se quebrando. ― O que você está fazendo? ― ela gritou, levantando. ― Precisamos disso para... ― Para o que? ― De Noir largou os cacos do CD no chão. ― Para ferir a minha criança? Para destruí-lo novamente? O passado não pode ser alterado. Heather olhou para o De Noir. Minha criança? Então tudo se encaixou, o relacionamento entre o Dante e o De Noir, carinhoso, cuidadoso e escondido. Os raios dourados nos olhos escuros do Dante ― Ele sabe? De Noir assentiu, então olhou para longe ― Contei para ele hoje à noite. Eu esperava... ― ele fechou a boca. Balançou a cabeça. Ele tocou um dos dedos ao longo do pescoço. A runa em forma de X havia sumido. Heather voltou a se afundar na cadeira. ― Não é de se espantar ele não ter esperado quando pedi ― ela murmurou ― ele estava fugindo de você. ― Não ― De Noir falou. Seu olhar cheio de luz dourada presos no da Heather. ― ele achou que precisava pagar penitencia pela Gina e pelo Jay... E pela garota que ele não conseguia lembrar. Penitencia. Tudo o que o Dante gostava havia sido tirado dele, desde


que era um bebe. Se ele se importava, algo ou alguém acabava sofrendo. Heather passou a mão pelo cabelo. Ele foi enfrentar o Ronin sozinho para que ninguém mais morresse. Ou sofresse em seu lugar. ― Preciso dessa ficha para encontrar o Dante ― ela falou ― o Elroy Jordan o reivindicou. A razão pode estar nesses arquivos. ― Para tortura-lo, como você mesma falou ― De Noir falou ― você me alertou que eu não poderia impedir. Eu não escutei você. O arrependimento no olhar do De Noir tocou Heather. Ela balançou a cabeça. ― Não ― ela falou ― você achou que poderia protegê-lo. Ela levantou seguindo até o balcão. O leve cheiro de café permanecia na cozinha. Jogando o pó frio no lixo ela lavou o filtro na pia, então o encheu com café novo. O Elroy Jordan era o assassino Cross-Country. Talvez o Ronin fosse parte disso, ou talvez ele apenas apontou Jordan na direção do Dante. Ronin devia saber que Jordan e Dante eram parte dos experimentos da Johanna Moore. Como? Ela colocou agua na cafeteira, colocou a jarra sobre o queimador, e apertou o botão de ligar. O que aconteceu com o Ronin? Ela olhou para o De Noir. Ele estava parado ao lado da mesa, apertando a pasta em sua mão, e a cabeça inclinada. O cabelo escuro formava um véu sobre o rosto. Ele parecia estar escutando, seu corpo tremendo com o esforço. ― Dante ― ele respirou ― Ah, calma criança. Vou encontrar você ― erguendo a cabeça, De Noir olhou para a Heather. ― Consegui senti-lo... escutei ele... Por um momento. Ele... ― De Noir engoliu as demais palavras que ele pretendia falar. A expressão do De Noir dizia para Heather que seja o que for que ele escutou, ou sentiu do Dante não era nada bom. Frio rodeou o coração dela. ― Ronin ― ela falou ― O que aconteceu com ele? ― Morto. Então seja qual for o plano do Ronin, exposição ou chantagem, havia morrido com ele. Quanto ele havia contado para o Elroy sobre a Bad Seed?


O suficiente, ela imaginou, apenas o suficiente para controla-lo. O suficiente para aumentar seu apetite pela história completa. Heather escutou o café pingando para dentro da jarra. Então quais eram os planos do Jordan. S é meu. Uma certeza congelou os pensamentos dela: não importava como, Jordan queria possuir o Dante. Para sempre. E de Seattle á Nova York, os cemitérios abrigavam os restos de todos aqueles que o Jordan possuiu no passado. Para onde ele estava indo? Para onde estava legando o Dante? S é meu. Para quem aquelas palavras estavam sendo enviadas? Ronin? Aos policiais? Enquanto o cheiro rico e forte do café fresco enchia a cozinha, a peça final do quebra cabeça se encaixou no lugar. Johanna Moore. Aquelas palavras eram para Johanna Moore. Jordan pretendia confronta-la com o Dante (S) ao lado dele e sob seu controle. Com o coração disparado, Heather correu até o De Noir e agarrou a beirada da pasta. ― Acho que sei para onde eles estão indo ― ela falou.

Johanna retornou para junto da lareira com uma xicara de eggnog e sentou. A madeira queimando estalou, liberando o cheiro de pinho pela sala. Provando o eggnog, ela abriu o celular e discou o numero do Gifford novamente. Seu silencio continuo a estava preocupando. No terceiro toque o celular foi respondido, mas Johanna não reconheceu a voz que falou: Alo? Alo? Aqui é o detetive Fiske. Alo? ― Sou a doutora Johanna Moore do FBI. Como você obteve o telefone do agente Gifford, detetive? ― Sinto muito doutora Johanna Moore, mas o Agente Gifford está morto. A escuridão vazia da noite se infiltrou no corpo da Johanna, fazendo seu coração parar. ― Como?


― Ainda não temos todos os detalhes. Temos vários corpos na cena do crime ― Fiske falou ― Por que o seu agente estava aqui? ― Vigilância ― o fogo crepitou jogando o cheiro de abobora e canela no ar. ― Os outros mortos já foram identificados? Talvez nosso suspeito esteja entre eles. ― O Agente especial Craig Stearns e um dos nossos, o Detetive Trent Collins ― emoção embargou a voz do Fiske. ― Sinto muito saber disso Detetive ― Johanna falou. ― por favor, me mantenha atualizada. ― Quem vocês estavam observando? ― Thomas Ronin. ― A casa foi alugada no nome dele. Vou ligar se tiver outras perguntas. ― Ótimo, detetive. Obrigado ― Johanna encerrou a ligação. Ela olhou para o fogo, as chamas a acalmavam, ordenando os pensamentos. Ela saiu da sala em direção ao escritório e parou atrás da mesa. Ela olhou para o receptor GPS. Nenhum sinal. Tanto o E quanto o S, agora estavam off-line. Eles estariam juntos? O Ronin esta com eles? Johanna caminhou até a janela e afastou as cortinas. Tocando o vidro que a separava da noite de inverno, ela fechou os olhos. Desejando por neve. Stearns e Wallace a havia custado um bom homem, um que ela sentiria falta por muito tempo. O que aconteceu em Nova Orleans? Abrindo os olhos, Johanna se afastou da janela. Ela precisava encontrar sua criança puro sangue antes que o Ronin o corrompesse, o destruindo. E se seu père de sang estiver trazendo E e S para casa? Então ela vai precisar de forças. Johanna pegou o casaco e vestiu as luvas, um habito persistente do tempo em que ainda era mortal. Ela saiu para a noite, sua respiração como uma nuvem pálida no ar, e foi caçar. Se protegendo do vento frio e úmido, Heather pressionou o rosto contra a jaqueta de couro do Von, enquanto o nômade acelerava a Harley


pela interestadual em direção ao aeroporto Louis Armstrong Internacional. Ela mantinha os braços apertados ao redor da cintura do nômade, grata pelas luvas e capacete que a Simone havia emprestado. O vento soprava o cabelo do Von, o jogando de um lado para outro. Von guiou a moto através do transito, manobrando entre carros e caminhões com uma velocidade de parar o coração. A noite passava em um borrão vermelho e prata. Depois do Trey conseguir o endereço da Johanna Moore na internet, Heather marcou uma passagem para o próximo voou seguindo para a capital. Ela estava apostando na ideia que o Elroy Jordan estava seguindo para casa encontrar a Moore, mas de alguma maneira aquilo parecia o certo. De Noir se negou ficar sentando em um avião, dizendo: vou chegar lá da minha própria maneira. Ela se perguntou se ele estaria voando sobre eles naquele momento, cabelos e cílios brancos com o gelo. Trey também descobriu uma compra feita por um C.K. Cross feita alguns dias antes. Uma van Chevy branca, com janelas customizadas e algumas alterações no interior. A concessionaria havia informado o numero da placa temporária, mas Heather não passou a informação para a policia. Se o Jordan fosse parado pela policia, mais pessoas poderiam morrer. Como o Collins. E o Dante... Heather não podia saber qual seria a reação dele. Ela se lembrou da cena digna de pesadelos capturada no CD, lembrou da fúria fria no rosto do Dante enquanto ele matava os Prejeans. Dante sentado com as pernas cruzadas em um canto da sala de jantar, foleando uma revista de musica (sobre metaleiros talvez) os fones nos ouvidos. Em seu próprio mundo, mas tenso, encolhido, pronto para enfrentar o inferno a qualquer momento. Dante removeu os fones quando as outras quatro crianças adotivas na casa se aproximavam dele, falando em cajun com alguns, em inglês com outros; com um rápido sorriso. Um adolescente, perto da idade dele, talvez


treze ou quatorze, sentou ao lado do Dante por algum tempo, colocando a cabeça no ombro do Dante. Dante passou um braço ao redor do garoto e eles ficaram sentado no chão juntos olhando para a revista. Então, uma batida de coração depois o inferno se abriu. Adelaide “mama” Prejean bateu em uma garota loira que estava sentada á mesa, dizendo que ela estava fazendo tudo errado, Cecil “papa” Prejean com um rosnado irritado, acertou a garota a jogando no chão. Dante levantou tão rápido, que nem mesmo a câmera conseguiu capturar seus movimentos. O outro garoto sentado no chão segurou a revista que voou, com a boca aberta. Dante socou a Mama Prejean, a jogando mais de um metro através da sala. Ele pulou sobre ela, a prendendo no chão. Ele bateu com a cabeça dela contra o chão de madeira até o crânio se abrir, sangue e cérebro se espalhando no chão e nas mãos do Dante. Dante girou, se levantou e voltou a se mover. Ele prendeu um entorpecido Papa Prejean contra a parede e estraçalhou a garganta dele com as unhas, a brindo por completo. Sangue jorrou no rosto estático do Dante. Ele o lambeu dos lábios e dedos. Quando o Papa Prejean parou de sangrar, Dante deixou o corpo cair no chão. Dante juntou as outras crianças e disse que eles precisavam fugir. Ele vasculhou os corpos á procura de cartões de credito, dinheiro, qualquer coisa valiosa. Revirou a bolsa da mama Prejean. Ele dividiu tudo entre as quatro crianças, não ficando com nada para si. Quando os outros fugiram, Dante derramou fluido para acender churrasqueira pela casa, então pegou gasolina na garagem. Jogando sobre os corpos. Ele acendeu um fosforo. Bum! Ele ficou por mais algum tempo, antes de sair de uma vez por todas da casa dos Prejeans. Na rua, Dante observou a casa queimando. Em meio ás sombras, seu belo rosto manchado de sangue estava em êxtase. Heather lembrou do Dante parado em frente ao símbolo da anarquia dizendo: a liberdade é o resultado do ódio. Ele havia conquistado a liberdade somente dos quatro, naquela noite.


O projeto Bad Seed o capturou, e realizaram o procedimento para desfragmentar a memoria dele. Novamente. O ferindo, e o liberando. Dante sobreviveu nas ruas. Mas será que conseguiria sobreviver ao seu passado? Von guiou a moto para uma rampa de saída, diminuindo a velocidade. ― Estamos quase lá ― ele gritou. Stearns chamou o Dante de monstro; mas os monstros verdadeiros eram as pessoas por trás do projeto Bad Seed. A Dra.Johanna Moore e o Dr. Robert Wells. Não era de se espantar a Moore ter tão conceituada na academia, seus perfis extremamente acurados. Ela ajudava a criar os assassinos que o Bureau investigava. Será que o Bad Seed falhou ou teve êxito com o Dante? O assassinato dos Prejeans incomodou Heather, mas sabendo o tipo de tortura que ele enfrentou nas mãos de outros cinquenta e nove pais adotivos (os piores que a Louisiana tinha a oferecer) era compreensível. Apesar dela sempre acreditar que não havia desculpas para assassinatos, sempre havia razões. Nesse caso um garoto levado além de seus limites, e tudo o que ela via eram tons de cinza, mesmo sendo treinada para ver somente preto e branco. A lei era cumprida, ou quebrada. Simples. Mas será que seria assim? O Dante poderia simplesmente ter fugido? Abandonando as outras crianças á própria sorte? Se o projeto fosse bem sucedido, Dante teria pensado somente em si mesmo e usado os outros para os próprios ganhos. Nunca teria se colocado em perigo por uma garotinha. Nunca teria chorado por ela. Nunca teria entrado sozinho em um matadouro por um amigo, disposto a se sacrificar. Tenho uma promessa a cumprir. Mas se o projeto falhou, ele nunca teria matado. As luzes fortes do aeroporto brilhavam mais a frente, no ar frio. Heather olhou por sobre o ombro do Von enquanto ele voltava a acelerar a moto. Os pensamentos dela mudaram de voltava para a conversa com o Collins. Cinco corpos em uma taverna. Incêndio. LaRousse e Davis, mortos.


Na verdade eles estavam atrás do Prejean com um mandado de prisão... A merda acabou saindo do controle. Sangue ruim entre o Dante e o LaRousse. Os músculos da Heather se tencionaram. Os pensamentos a estavam levando por um caminho que ela não queria percorrer. E se a morte do Jay e a impossibilidade do Dante em protegê-lo, sua falha em mantê-lo vivo, desencadearam os mesmos impulsos que levaram a morte da Chloe? E se o projeto foi bem sucedido, e o Ronin havia apertado os botões certos para entrar em ação? E se o Dante estava na taverna? E se ele deu seu primeiro passo na trilha dos serial killers? Um caminho em que ele planeja continuar seguindo? Heather apertou os braços ao redor da cintura do Von. Pela primeira vez, esperando que suas intuições estivessem erradas, seus instintos falsos. Ele matou os Prejeans e incendiou a casa deles. Von diminuiu a marcha enquanto manobrava a Harley até o portão de embarque e desembarque. A moto rosnou, o som ecoando nos prédios como um trovão. Algumas pessoas olharam para cima, assustadas com o barulho. Von parou a Harley junto ao meio fio, então abaixou o suporte. Heather desceu da moto. Ela soltou o capacete e o entregou ao nômade. O cabelo desarrumado do Von, voltou ao lugar, brilhando como ceda preta sob as luzes. ― Vou com você ― Von falou, erguendo os óculos até o topo da cabeça. ― você precisa de um guarda costas querida, e estou disponível. Heather olhou nos olhos verdes do nômade. A lua crescente tatuada brilhava como gelo contra as luzes. ― De Noir vai estar lá. Mas obrigado. ― Nada contra o Lucien, mas a tua segurança não vai ser a prioridade dele. Heather ergueu uma sobrancelha. ― E vou ser prioridade para você? ― Pelo Dante ― Von falou ― Sei que ele se importa com você.


Heather engoliu ― Ele também é importante para mim ― ela falou ― mas o amanhecer está se aproximando. Você logo vai estar dormindo. ― Escuta, toda vez que eu começar a cochilar é só me dar um soco. Bem forte. ― Já tenho o suficiente com o que me preocupar sem precisar arrastar o teu traseiro adormecido pela capital ― Heather falou com um rápido sorriso ― mais uma vez obrigado, mas tenho me cuidado sozinha a maior parte da minha vida. Sei o que estou fazendo. Von sorriu ― Sem duvida querida. Sem duvida nenhuma ― ele abaixou os óculos os ajeitando no lugar. ― E precisamos de alguém aqui no caso de eu estar errada sobre o Jordan. ― Mas você se conhece bem, não é ― Von falou, soltando o suporte e girando o acelerador. O ronronar da Harley se transformou em um rosnado. ― bom voo ― ele falou ― e uma caçada ainda melhor. Traga ele de volta, querida ― colocando a moto em movimento, o nômade disparou pela estrada. Heather entrou no terminal, a bolsa presa sob o ombro. As palavras do Von circulavam na mente dela (eu sei que ele se importa com você). E ela sabia que naquele momento o Dante precisava de uma voz... uma que pudesse levar justiça pelos anos perdidos, pela infância brutalizada e roubada, e por sua mãe assassinada e descartada. A vida do Dante nunca pertenceu a ele. Dante falou quando matou os Prejeans, falou para os monstros escondidos nas sombras, observando e gravando. O Dante fora a voz da Chloe? E será que o Dante havia falado novamente na taverna, entorpecido, com o coração partido e perdido no passado; falado pelo Jay? Ele seguiu algum programa implantado pela Moore? Ou simplesmente cedeu á sua própria natureza obscura? Heather marchou até a mesa da segurança para pegar uma permissão


para carregar o .38 puxando o distintivo do bolso ela o entregou ao guarda. A mente do Dante havia sido danificada, mas o coração dele era forte, cheio de compaixão. Depois de ter deitado ao lado dele, apertada em seus braços, Heather sabia que o Dante nunca seria igual ao Elroy Jordan, matando por prazer, por poder. Oh? E quando ele se alimenta? Quando caça atrás de sangue? E quando ele dilacerou a garganta do Cecil Prejean? Ela terá que falar pelas vitimas dele? Será que ela conseguiria? Heather se sentiu vazia por dentro, cheia de duvidas. Ela virou de pernas para o ar, por um cara que nem ao menos era humano, e um assassino. Ainda assim, como ele poderia responder por ações que nem ao menos conseguia se lembrar? Ela iria lidar com isso cedo ou tarde. Enquanto o E dirigia a van através da Georgia, seus olhos continuavam deslizando na direção do espelho interno, roubando olhadas do sanguessuga inconsciente. Drogado e algemado. Uma das facas ainda despontava em sua barriga. Uma onda elétrica correu pelo E quando a viu. Ele se tocou através do jeans. Logo, ele prometeu. Quando o Dante começou a gritar enquanto ele lia a ficha, E ficou mais do que um pouco apavorado. As algemas haviam estalado e chacoalhado, e a van balançou e estremeceu até que o E temeu que o Dante a fizesse em pedaços. Foi então que ele largou o arquivo e pegou outra seringa, a enchendo com a droga para o sanguessuga e a cravou no pescoço do Dante. Então o Dante começou a rir. A risada do Dante, o som dela era... baixa, escura, e incontrolável, de uma certa forma quebrada. Finalmente E começou a rir com ele, era muito engraçado, acidentalmente matar a pessoa que você pretendia proteger... Era hilário! Até mesmo historicamente engraçado, e esses pensamentos levaram o E para outra rodada de gargalhadas que encheram seus olhos de lagrimas. Os olhos do Dante se fecharam, lagrimas escorreram pelos cantos,


enquanto a droga começava a fazer efeito. Rindo até chorar, E pensou gostando da camaradagem deles. Seu irmão da Bad Seed ficou em silencio. Uma buzina soando puxou E de volta ao presente. Faróis brilhavam no espelho retrovisor. Ocupado observando o Dante, E diminui a velocidade, dirigindo como uma velha na pista de alta velocidade. A última coisa que ele queria era a lei atrás dele. O cara atrás dele passou buzinando e E cerrou os dentes enquanto o cara apertava a buzina uma ultima vez. E memorizou o numero da placa para uma referencia futura. Ele sorriu. Seu olhar voltou para o espelho e para a direção do Dante. Leia para mim. Aquelas palavras saindo dos lábios sujos de sangue do Dante, enviaram arrepios pela coluna do E. E se retorceu no banco do motorista, inquieto, latejando. Faminto. O amanhecer estava á um par de horas de distância e o Dante iria dormir com um D maiúsculo pelo resto do dia. Então E poderia cochilar um pouco. Talvez conseguir algo para comer. E seu irmão da Bad Seed? Será que ele também precisava comer algo? Poderia ser divertido, conseguir uma refeição bem gostosa para o Dante. E se retorceu. Ele não podia, não iria esperar mais. Ele entrou na parada de caminhões mais próxima, estacionando o mais distante possível dos outros carros e caminhões. Desligou o motor. Ligou o radio e colocou o último CD da Inferno. Aumentando o volume para que abafasse os gritos. A música batia e ressonava enquanto a voz sexy do Dante rosnava e sussurrava: You try to kiss away my feelings/ you need to change me/ want to suck me dry… Você tenta mudar meus sentimentos / você precisa me fazer mudar / você quer me sugar até não sobrar nada... E rastejou até os fundos da van, fechando as cortinas atrás dele. Seu punho quebrado latejava, mas aquilo não importava. Ele engoliria algum remédio depois que terminasse com o Dante.


E se ajoelhou ao lado do colchão inflável, e afastou o cabelo do rosto do Dante. O olhar dele pairou sobre o sangue seco sob o nariz e através dos lábios. ― Como um anjo ― E sussurrou, mas o anjo que ele imaginou tinha asas negras e olhos deliciosamente pretos. I only trust my rage/ you mean nothing / maybe you never did/ and that‟s scares me… „Confio somente em meu ódio / você não significa nada / talvez nunca tenha significado / e isso me assusta...‟ Passando os dedos ao redor do cabo na faca na barriga do Dante, ele a arrancou. Sangue escorreu sobre a pele branca do sanguessuga. Ele passou as mãos sob a camiseta do Dante, a deslizando ao longo do peito febril e pegajoso de sangue. O ferimento do peito estava quase curado. Fogo dourado encheu o E, deixando seu corpo iluminado. O coração dele galopava, fazendo seu corpo sacudir. Ele passou a mão pela barriga reta do Dante, passando pelo cinto e os jeans abertos. O deus se permitiu outra rodada de exploração. Respirando rapidamente, E puxou a mão para fora do jeans do Dante. Ele fechou os olhos. Quando voltou a abri-los, cordas douradas ligavam ele ao seu irmão da Bad Seed pela testa, umbigo e virilha. E pegou o livro de poesia Navarro e se ajoelhando começou a ler para o Dante. A sinto lá Na escuridão Esperando para se alimentar Em meus sonhos Sua cauda iridescente se enrosca Me fazendo prisioneiro Ela suga minha respiração Me bebendo Eu queimo sob ela


Com ela Uma estrela morrendo

O gosto de mel, doce e espeço tocou a língua do E. Ele fechou o livro sujo de sangue e o colocou no chão. Se arrastando de joelhos pelo colchão de ar, ele montou o Dante. Ele se inclinou pressionando os lábios contra os do Dante ― Sou o teu deus. Controlo a tua respiração. Os olhos do Dante se abriram, pupilas dilatadas, manchadas de marrom. ― Diga o nome de quem você ama. ― Não é você – Dante sussurrou, as palavras arrastadas pelas drogas. Com um movimento de pulso a faca caiu na mão direita o E. Ele respirou fundo, saboreando o cheiro de sangue. Sob aquilo, havia o cheiro de algo ainda mais doce. Ele fez uma careta. Um cheiro familiar. Se inclinando, ele cheirou a garganta do Dante. Erguendo a camiseta e cheirando seu peito. Sangue e o perfume familiar de... Lilases. Os pensamentos do E se voltaram para quando acordou no sofá da casa do Dante, depois de bater contra o cara grandão. Relembrando da mulher aconchegada na poltrona na frente do sofá, cachos de seu cabelo vermelho cobrindo seu adorável rosto adormecido. Ficando parado sobre ela, com as facas nas mãos, um deus benevolente diante de um suplicante. Relembrando ter se inclinado sobre ela, bebendo seu cheiro. Quente e doce... De lilases. Como o cheiro preso ao Dante. E se ergueu. A verdade amarga apagou o sabor doce de sua língua, queimando e borbulhando em sua barriga como alcatrão fresco. E nunca havia estado perto de sua Heather até aquele momento, inclinado sobre ela, sentindo seu perfume, e ele nem ao menos a havia tocado. Mas o Dante a tocou, o sanguessuga traidor.


― Você esteve com e Heather – E falou, sua voz baixa e cheia de ódio. ― ela é minha. Ela sempre foi minha. Ela me segue. ― Ela não está seguindo você. Ela esta te caçando. Ela não é tua. ― Diga o nome de quem você ama ― E rosnou. ― Não. ― Ela é minha. E cravou a faca no peito do Dante, então a puxou e cravou novamente. O sangue voou e jorrou. As cordas douradas que ligavam o E ao Dante se romperam, jogando luz dourado pelo ar. Golpeando e cortando, E seguiu trabalhando. Dante virou o rosto, olhos fechados por causa da dor, sangue espumando em seus lábios. Ele se mexeu tentando derrubar o E, mas ele só sorriu e apertou ainda mais as pernas, aproveitando o passeio. O Dante transou com a Heather? Bebeu o sangue dela? Ela pediu por mais? Respirando com força e rapidamente, ele cravou a faca entre as costelas do Dante, então segurou o queixo dele com os dedos ensanguentados. E desejou poder usas as duas mãos, para poder aperta-las ao redor do pescoço do Dante. Enquanto ele forçava o Dante a encara-lo, os olhos do sanguessuga se abriram. Dourado e vermelho manchavam o fino círculo que era a íris, brilhando nas profundezas das pupilas dilatadas. ― Já chega ― Dante falou, sua foz borbulhando no sangue. Dor se cravou na cabeça do E, empalando seus olhos, e perfurando os ouvidos. As mãos voaram para as têmporas. Ele apertou os olhos fechados. A dor queimava seu cérebro. E gritou.


30 Desperto Neve caia em Washington capital. Grandes flocos rodopiavam caindo das pesadas nuvens cinzentas, abafando a cidade. Lucien voou pelo céu próximo ao alvorecer, seu cabelo congelado, a neve se prendendo aos cílios e as suas asas. Ele escutou, mas somente estática preenchia sua ligação com o Dante, zumbido e sussurrando. Um ruído branco e psonico. Ele não havia sentindo mais nada de seu filho desde a breve ligação na cozinha, quando a angustia havia penetrado pela estática até o coração do Lucien. Loucura havia ondulado naquele choro, dor e queimação.


A voz do Loki sussurrou: Você não pode impedir que ele enlouqueça, irmão. Não sozinho. Como ele pode impedir que o passado do Dante o enlouquecesse? Ainda mais com seus dons creawdwr? A criança era perseverante, mas havia sido torturado desde que nasceu. Genevieve... As imagens do CD da Wallace queimavam atrás dos olhos do Lucien, imagens que ele carregaria para sempre. Sua bela e pequena Genevieve, pálida e fraca pela perda de sangue, lutando para tocar o filho recém nascido, dela e do Lucien. Mas presa á mesa de metal suja de sangue, ela não conseguia alcançar o bebe silencioso de cabelos pretos, pálido e magro nascido prematuramente. ― Deixe-me segura-lo ― Genevieve falou. O time de médicos caminhavam pela sala esterilizada, como fantasmas incapazes de escutá-la. ― Deixe eu sugar ele! ― ela gritou. Os fantasmas nunca paravam. Ele limparam o sangue do recém nascido. O bebe observava, os olhos dourados conscientes, acordados. Vampiro e caído. E naquele momento, amaldiçoado. ― Dante ― ela sussurrou. ― meu Dante. Nunca desista. Faça o inferno seu. Nunca desista. Genevieve fechou os olhos. Uma lagrima escapou por entre os cílios escuros. – Pourquoi tu nous as abandonnes? Je ne sais pas ce que j’ai fait pour vous faire partir. Je t’en supplie, sauve ton fils “por que nos abandonou? Não sei o que fiz para você ir embora. Eu te imploro, salve o teu filho.” ― ela rezou. Com as mãos fechados como punhos. ― Éloigné le d’ici. Mets-le abri. Il est ma lumière et mon couer. Comme tu as pu l’être. Lucien, mon ange, s’il te plait, écoute-moi “A partir de agora, lembre-se. Ele é minha luz e meu coração. Como você foi. Lucien meu anjo, por favor, me escute.” As palavras da Genevieve, suas preces sem resposta, se prenderam ao redor da alma do Lucien e queimando, incandescente. Um votivo para


sempre aceso dentre dele. O relatório atestava que Genevieve havia sido morta depois de analisarem os conteúdos do leite em seus seios. Não havia fotos ou filmagens de sua morte incluídas na ficha. Ela havia se tornado insignificante. Nuvens acinzentadas e húmidas se abriam diante do Lucien. A neve cobria a terra mais abaixo. A dor era um manto sobre seu coração. Se ao menos... Ele mudou seus pensamentos para longe dos caminhos ainda não percorridos e desprotegidos. Mesmo com toda a eternidade diante dele, ele aprendeu que ainda havia coisas como tarde demais e nunca mais. Ele podia somente se focar no que foi... E no que poderá ser. Lucien inclinou sua asa direita e espiralou na direção da cidade que acordava. Ele concordou em encontrar a Wallace no aeroporto. Com ou sem ela, ele encontraria seu filho ferido. Com ou sem ela, ele teria sua vingança contra a mulher que matou Genevieve e fez seu filho passar por um inferno além da imaginação. Uma canção pulsou através do Lucien repentinamente, caótico e poderoso. A canção do Dante, complicada e obscura, tomando conta do coração e alma do Lucien. E o congelando até o centro. Caótico, a música do Dante. Poderosa. E louca. Lucien fechou os olhos. Ele escutou a voz preocupada do Yahweh: deixe que eles o peguem. Nunca. A milhares de anos ele matou um amigo de coração (seu calon-cyfaill) para evitar que os altos-sangues dos Elohim prendessem a creawdwr ensandecida e canalizassem seu poder para seus próprios ganhos. Incluindo mudar o mundo mortal. Mais uma vez. E se os Elohim descobrirem outro Criador (livre, sem treinamento e dolorosamente jovem) caminhando pela terra, eles farão o mesmo com ele. Mas, sem o balanço que ele ganhava através da ligação psônica, Dante irá seguir na direção da insanidade, o destino de todos creawdwrs livre. E


solto e insano, ele poderá destruir o mundo. Você não poderá controla-lo sozinho irmão. Lucien desviou para longe da cidade coberta de neve, seguindo para cima, suas asas deslizando pelo céu. Ele seguiu para oeste. A aria negra do Dante falhou. Desaparecendo. Lucien suspeitava que seu filho havia colocado o resto de suas forças naquela canção. Era hora de apostar. Hora de transformar sussurros em palavras e rumores em fatos. Hora de responder de responder a prece de sua Genevieve. Depois, ele lidaria com as consequências quando elas aparecessem. Vou colocar o mundo em perigo pelo meu filho. Batendo suas asas, Lucien parou no céu acinzentado, a neve derretendo contra sua pele aquecida. Luz azul radiava de seu corpo. Ele queimava como uma estrela. O amanhecer falseou. Desaparecendo. As estrelas voltaram a brilhar na escuridão renovada. Criador da noite. Lucien deu voz para sua wybrcathl, seu coração batendo no ritmo da canção, entrelaçando a musica ao redor de suas memorias da musica do caos de Dante; brilhante e pura, alterando sua aria em um dueto de caos e ordem. Ela soou afinada e clara através da noite renovada. O Caído em Dante iria responder. Como também todos os Elohim ao alcance da canção. Assim como a anhrefncathl do Dante. Breve como foi talvez nenhum deles a tenha escutado. Breve, porem poderosa. Então, seria uma corrida.

O pervertido estava montado sobre o Dante, seu peso forcando o ar para fora dos pulmões dele. Uma faca brilhava na mão direita do Elroy. Fúria contorcia seu rosto. Ele fedia a tabaco, suor e a luxuria azeda.


As drogas ainda fluíam através das veias do Dante e seus pensamentos fluíam como a maré baixa. Seu corpo ressoava, quase flutuando, mas as algemas e o peso do pervertido o mantinham ancorado na cama suja de sangue. ― Diga o nome de quem você ama. Dante encontrou os olhos semicerrados do Elroy ― Não. O rosto da Heather, corado e bonito, piscou na mente dele. Uma imagem quebrada da Chloe brilhou atrás de seus olhos, então desapareceu quase apagando a imagem do rosto pálido e dos olhos sem vida do Jay cobriu as imagens anteriores. ― Ela é minha! Elroy deu ênfase às palavras com sua faca, a cravando no Dante repetidas vezes. Apunhalado, cortado. Dor se retorceu dentro dele, o fazendo em pedaços. O devorando. Ele começou a se engasgar com o sangue. Se afogando nele. O sangue borbulhava para fora dos pulmões, escorrendo pelo nariz e saindo de seu estomago. Uma luz branca brilhou e começou a piscar na borda de sua visão. Apertando os olhos fechados, Dante virou seu rosto para o lado. A dor estava estraçalhando sua mente. Mande para longe, ou use-a. O ar fedia a sangue e o odor do suor do pervertido. Os pensamentos dele ecoavam na mente do Dante como facas mentais: será que o Dante transou com a Heather? Bebeu o sangue dela? Ela pediu por mais? Mande para longe, ou use. A faca deslizou por entre as costelas do Dante e ficou. Dedos agarraram o queixo dele, forçando seu rosto para o lado. A dor queimava seu corpo. Dante parou de resistir e pulou para dentro das chamas. Incrivelmente quente, queimando sua carne, derretendo, borbulhando – sombras se projetando nas paredes de um porão, uma orca de pelúcia queimando – aquilo o consumiu. Deixando seu autocontrole em cinzas. Cinzas, cinzas, todos caímos. Aqui, segure minha mão princesa. Todos vamos juntos. Pare todo o sempre.


Uma canção vibrou através dele, caótica, um refrão negro vibrando. A melodia era cheia de raiva. Fome pulsando fora do ritmo. Queimando. Uma figura obscura saiu das cinzas. Fogo queimava suas veias. Ele ergueu a cabeça. S abriu os olhos. ― Já chega ― ele falou. Tocando a mente do Elroy, S canalizou a dor que o maldito pervertido havia causado com suas facas, de volta para ele; forçando de volta toda a merda que ele fez. Aqui. Prove um pouco disso. Como você se sente? A mão do Elroy voou para sua têmpora. Os olhos fechados com força, ele gritou, o som doce para os ouvidos do S. O pervertido tombou para longe do S e se arrastou pelo chão acarpetado da van, agarrando a cabeça e gritando. A musica da Inferno soava nos auto falantes: estou esperando por você / eu observo e observo / sei todos os teus segredos. Tossindo sangue e arfando por ar, S puxou seus braços. As algemas batiam contra o metal da traseira da van. Sugando o ar cheio de sangue, ele puxou novamente. Colocando o pouco que lhe restava de força em seus braços. O metal cedeu. Algo estalou. Pontos pretos apareceram na visão dele. S abaixou seus pulsos algemados, olhando para o gancho pendurado na corrente. As algemas eram resistente ás criaturas da noite, mas o gancho preso á van não era. S moveu suas mãos presas até a faca na lateral do corpo, e a puxou. A largando sobre a cama. Ele lutou para sentar. A van girou ao redor dele. Sua visão ficou escura. Ele abaixou a cabeça e esperou até que a tontura passasse. Vozes sussurravam, presas aos seus pensamentos. Suor banhava sua testa. A fome percorria o corpo dele. Ele precisava de sangue. Ele retirou seus dedos imaginários da mente do Elroy. Os gritos pararam. S deslizou para fora da cama de ar e rastejou até o Elroy. Ele empurrou a cabeça do pervertido para o lado e afundou as presas no pescoço suado do


mortal. Eu entrei em todos os quartos/da sua casa/e sonhei com você/esperando por mim. Sangue, quente e doce, esguichou na boca do S. Ele bebeu um gole após o outro. Os batimentos frenéticos do coração do Elroy pulsava o sangue para dentro da sua boca, quase tão rápido quanto ele podia engolir. O pervertido lutou. S jogou um dos joelhos entre as pernas dele. A luta parou. Medo e adrenalina temperavam o sangue que jorrava na boca do Dante. Feromonios almiscarados e o forte cheiro de sangue (o sangue do S) enchiam o ar. Elroy o pervertido estava quente, excitado e duro, até mesmo agora, com as presas do S na garganta dele. Como se todo o trabalho com as facas e o sangue fosse somente preliminares. Algo frio e escuro se curvou ao redor do coração do S. Très joli, esse aqui, como um anjo. Pode brincar a vontade com ele, mas não coloque nada na boca dele. O garoto morde. S cravou suas presas ainda mais fundo na garganta do Papas. O bastardo gritou novamente. Fedendo a desespero. O maldito havia matado a Chloe. Ele a torturou como fez comigo? A imagem de uma mulher de cabelos e olhos escuros piscou atrás dos olhos do Dante. Gina. O cheiro de cerejas pretas o empurrou para frente. Elroy o pervertido e... Gina. Não Papa. Não Chloe. A luz branca piscou na borda da sua visão. Onde estou? Quando estou? Uma canção vibrou atrás do S, brilhando como a lua. Ele afastou sua boca da garganta do Elroy e inclinou a cabeça escutando. Ele fechou os olhos. O ritmo de seu coração batendo mudou para se igualar á canção ressoando em sua mente – a canção do Lucien. Um criador da noite. Amigo. Pai. Mentiroso. A batida girou através do S, prendendo sua alma. Caos e ordem. Compaixão e fogo. Ele estremeceu e respondeu. S tocou notas obscuras,


raiva, saudade, e perda se entrelaçavam no refrão em medidas iguais. A canção se cravava em seu coração como uma das facas do Elroy. Sua própria voz, baixa, serpenteava para fora dos auto falantes: observei você enquanto dormia/sei que você também me observava/vi as tuas pegadas/sob minha janela. Não as minhas. Dante falou. Ante dele se entregar para o fogo. Estou atrás do fogo. ― Não, criança, não. ― O pensamento do Lucien se chocou contra a estática das drogas que bloqueavam a ligação deles. Dor cortou através da mente do S borrando sua visão. A escuridão se prendeu a ele. ― Você é Dante Baptiste, filho de Lucien e Genevieve. Não S não o filho de um monstro. Errado, S pensou, com a cabeça latejando. Sou S tenho que ser. Não é por isso que a Gina e o Jay morreram? Não é por isso que vou manter a Heather viva? A música do Lucien terminou com um ultimo acorde ressoante, uma promessa pendendo tão clara quanto a lua cheia no céu: estou indo até você. ― Não. Não estarei aqui. ― O pensamento do S ricocheteou, bloqueado novamente pela estática, dor, e perda de sangue. S saiu de perto do corpo ainda quente do Elroy. A fome ainda o torturava. Ele olhou para o pervertido. Imaginando drena-lo. Imaginando abrindo o peito dele e espremendo seu coração negro até se tornar uma polpa. Por você Chloe. ― Posso ajudar você ― alguém gritou ― você precisa de mim! Dante! A visão do S clareou. Ele estava sentado sobre o Elroy, montado sobre ele, o peito do mortal está nu, a camiseta rasgada. Pelos ensanguentados cobriam a pele sobre o coração ainda pulsante do pervertido. Sangue escorria pela garganta do Elroy, a pele furada e aberta. O cheiro pesado de adrenalina e medo enchia a van. Suor escorria pela


testa do Elroy, mas o rosto dele estava em branco. Parado. S pegou os óculos do pervertido e os atirou do outro lado da van. Olhos castanhos encontraram os dele. Algo saído das profundezas de uma caverna brilhava naqueles olhos. ― Você precisa de mim ― ele repetiu. Você conhece todos os meus segredos? Dante sussurrou no auto falante. S se inclinou sobre o pervertido, parando com seus lábios é um sussurro de distancia do rosto do Elroy. ― Não, eu não preciso. ― Sei de coisas que você não sabe ― Elroy falou, sua voz tão vazia quanto seu rosto. ― Sei que merdas que não estão nas fichas. A bad seed nos fez irmãos. Você não está nisso sozinho. Quero minha parcela de carne... Assim como você. S riu. Elroy engoliu com dificuldade. Olhando para longe. S empurrou a cabeça do Elroy para o lado com suas mãos ainda algemadas, e cravou suas presas na garganta ferida do mortal. Sugando sangue cheio de adrenalina. Escutando aos batimentos do coração do pervertido. Fechaduras não me manterão do lado de fora/palavras não me farão partir/há muito tempo sonhado com esse momento. ― Eu não estava lá quando o Ronin acabou com o teu namorado ― Elroy falou, sua voz vibrando contra os lábios do S os batimentos do pervertido começaram a diminuir. Instáveis. ― Mas eu estava lá pela Gina. Sei o que aconteceu, o que o Ronin fez com ela. Sei suas ultimas palavras. S congelou. Lembrando de uma meia preta sem qualquer traço da Gina. Lembrando de outra meia apertada ao redor da garganta dela. Lembrando dela se afastando com apenas o silencio como despedida. S afastou a boca da garganta do Elroy. Sentou e encarou o rosto sujo do pervertido. As últimas palavras dela. A chance de a Gina viver por mais um momento. Dor crepitou atrás dos olhos dele. ― Também sei o que aconteceu com o Ronin. ― O que me impedi de arrancar essas informações da tua mente?


― Tenho certeza que vou morrer antes que você consiga ― o olhar do Elroy seguiu estável. ― Esse é o meu irmão da bad seed. A expressão do Elroy voltou a ficar em branco. ― O cara grande pegou o Ronin. S olhou para longe, os músculos tensos. O bastardo era meu. ― O fodido estava indo pegar a Heather também. Heather. S voltou a olhar para o Elroy ― ela esta... ― Ela está bem ― o pervertido falou. ― ela até mesmo jogou um beijo para mim, quando pegamos a estrada. Bem, certo, ela atirou em mim, mas na verdade isso não é a mesma coisa? ― ele sorriu. Aliviou correu através do S, soltando os nós em seus músculos. Ele saiu de cima do Elroy e engatinhou até a cama inflável. Ele ficou tonto. Manchas piscavam na visão dele. Ele se recostou contra o colchão. ― Parece que você vai precisar de um daqueles Band-Aids do Batman ― S falou, acenando para o rasgo ensanguentado no pescoço do Eloroy. A saliva do S poderia curar a ferida, algumas poucas lambidas e estaria curado. Mas... Eles e que se foda. Elroy se sentou e colocou uma das mãos sobre o ferimento. ― Tire isso ― S falou. Erguendo os pulsos algemados. O gancho ainda pendia na corrente como um monstro de lendas urbanas. E eles encontraram um gancho preso no teto do carro! O pervertido limpou o nariz com as costas das mãos. ― Estamos bem? ― ele perguntou, erguendo os olhos para o S. ― Ainda vai me matar? S sorriu. Elroy o encarou, boca aberta, transfixado. Depois de um momento, Elroy abaixou os olhos. Ele olhou em direção á frente da van. S escutou sua mente pequena planejando uma fuga, se perguntando se poderia fugir de seu oponente ferido. ― Tente. Elroy olhou para ele, então inclinou a cabeça para o lado. Lambendo os lábios. ― O que você é?


― Você deveria saber. Você me acordou. O pervertido assentiu. Voltando a limpar o nariz. ― Então você sabe que ambos temos contas a acertar com a mamãe-vadia, certo? Nós dois. ― Um quilo, talvez dois ou três de carne, certo? ― S olhou para os pulsos algemados. ― Tire isso. ― Você vai me matar? ― Sim. Mas só depois de acertarmos nossas contas. Elroy o pervertido sentou sobre os joelhos e considerou. Ele passou a mão pelo cabelo. Depois de um tempo, ele ergueu os joelhos e colocou a mão no bolso da frente do jeans. Pegando a chave. Seguindo até o S, Elroy colocou a chave nas algemas. Ele olhou para o S. ― Não vai fazer nada até depois, certo? ― Oui. Elroy assentiu e abriu as algemas. S as tirou dos pulsos em carne viva e ensanguentados. As algemas caíram no chão acarpetado. Ele ergueu a bainha da camiseta e limpou o sangue do rosto. ― Ainda podemos brincar? ― o pervertido perguntou. A fome aparecia em sua voz. Ele deslizou a mão pela coxa do S. Batendo a mão do Elroy para longe, S olhou para ele, fogo queimando em seus olhos. Ele passou a mão tremula sobre a camiseta cortada e ensanguentada, e sobre os ferimentos que ainda latejavam sob ela. Uma memoria cutucou sua mente, um porão, então desapareceu. A dor se encolheu, esperando. Sou o que você me fez/não importa onde você se esconde/para onde você corre/vou encontrar você... A mão do S seguiu até o fecho do Jeans. O fechando. Prendendo o cinto. ― Me toque novamente e nada vai poder te salvar. Elroy olhou para o lado, a mandíbula tensa, as mãos fechadas. S se curvou, pegando as algemas. O pervertido olhou para ele, a mão ainda fechada. Sem dizer nada, S pegou o punho dele e fechou a algema ao redor. ― Hei, achei que tínhamos nos acertado ― Elroy protestou enquanto o


S prendia a outra algema ao redor da estrutura de metal. ― O sono está chegando ― S falou ― e não confio em você. Elroy caiu contra a parede. ― É, bem para mim também ― ele apontou para o travesseiro e ergueu uma sobrancelha. ― Você quer se aconchegar? ― S pegou uma das facas ensanguentadas. Ergueu o olhar até o Elroy. E cravou a lamina na perna do pervertido. ― Vá se foder. Elroy puxou o ar através dos dentes, a dor aparecendo em seus olhos. Uma artéria pulsava em sua têmpora. ― O teu traseiro é meu ― ele murmurou. ― É? ― S falou, seguindo até a frente da van. ― Não vá pensando nisso ― enquanto abria a cortina ele olhou para o Elroy. Uma refeição fácil. A fome cresceu dentro dele. Ele latejava por causa dela. Mas a ideia de ter até a ultima gota do sangue azedo do pervertido, correndo por suas veias, pulsando em seu coração e clareando sua mente, o deixava gelado. E se ele realmente conhecer as ultimas palavras da Gina? S deslizou por entre as cortinas, sentando no banco dianteiro, e abrindo a porta. Ele desceu no concreto, o frio da noite contra o rosto dele. Fechando a porta, ele sugou os cheiros da noite: grama molhada, diesel e borracha quente, rosas selvagens. Uma área de descanso de uma interestadual. Ele meio caminhou e meio cambaleou em direção á um caminhão, suas botas sem fazer ruído contra o pavimento. A fome drenava o que lhe restava de forças. As drogas haviam fodido com seu corpo, borrando seus pensamentos. O amanhecer começava a adquirir tons de cinza no horizonte, e o sono começou a penetrar em sua mente, como sangue na terra. Ele precisava se alimentar e voltar para a van. S pisou no estribo do caminhão. Checando a porta. Trancada. Ele socou o punho contra a janela; vidro quebrado choveu em direção ao pavimento e para dentro da cabine. Então, se agarrando á janela, ele deslizou para dentro da cabine, em um movimento tão rápido que o


motorista assustado ainda estava piscando sonolento quando o S caiu sobre ele. O prendendo. Abrindo sua garganta. E se alimentando.


31 Palavras se alastram como fogo Johanna marchou pelo corredor vazio, impulsionada pelo remédio que a mantinha acordada. Seus saltos batiam contra o piso brilhoso. O que aconteceu ao amanhecer? O pensamento girava na mente dela, e ela parou, com o coração martelando. A neve caia, silenciando o mundo que acordava além de suas janelas. O céu se clareou, iluminando os espessos flocos de neve contra o amanhecer cinzento, e então... Johanna voltou a caminhar.


Então a luz piscou, como uma vela pega por uma brisa inesperada, diminuiu e foi embora. A escuridão tomou conta do horizonte. O dia começava novamente. O poder reverberava através do ar. Poder tão intenso, tão poderoso, que mesmo dentro de casa enquanto ela ficava parada e estupefata diante da janela da cozinha, correu por seu corpo, a deixando com os joelhos fracos e agarrada ao balcão. Palavras fluíram na mente dela, se misturando á sua consciência. Eram palavras que ela não reconhecia – como símbolos, hieróglifos anciãos. E eles saiam como fogo de sua boca. Como um fluxo de ar repentino o poder desapareceu, clareando sua mente e a fazendo cair de joelhos sobre o linóleo. O amanhecer havia retornado. O céu mais uma vez começava a clarear. Johanna digitou sua senha no teclado ao lado da porta de seu escritório, então inclinou a cabeça para o scaner de retina. Uma fina barra de luz estudou seu rosto. Ela piscou, sua visão borrada. A porta se abriu. Ela entrou, e fechou a porta. O que aconteceu pela manhã? Por que ela pensava ser algo relacionado com o Ronin e seu experimento desaparecido? Não, corrija isso, ela pensou enquanto sentava atrás da mesa. Com o S e achar não tinha nada haver com aquilo. Era um sentimento, liquido e intuitivo e impossível de analisar. Johanna ligou o videio fone e digitou o numero. Musica. Algo a ver com musica. Ela pensou no S pousado na beirada de uma mesa de cozinha, uma guitarra sobre as coxas, acomodada contra seu corpo, seus longos dedos deslizando com destreza e rapidez contra as cordas, seu rosto pálido em êxtase. Assim como estaria quando ele destruí pela primeira vez uma garganta. E como estava quando destruiu a casa dos Prejean. ― Johanna que surpresa ― falou uma voz profunda e familiar. Assustada ela olhou para o monitor e para o rosto familiar e sorridente de Bob Wells. Curvando seus lábios em um sorriso, Johanna balançou a cabeça. ― Temo que essa não seja uma surpresa muito agradável ― ela falou. O sorriso do Wells tremeu. ― sinto muito, mas tenho más noticias. Wells esfregou uma das mãos ao longo do queixo. Ele olhou para longe


por um momento. Quando voltou a olhar para o monitor, seus olhos marrons estavam vazios, sem nenhum sentimento. Ele olhou para ela, expressão neutra, esperando. ― Ambos E e S estão off-line e juntos. Suspeito que tenham sofrido uma interferência, e possuem informações. ― Por quem? ― Thomas Ronin. Wells ergueu uma sobrancelha. ― O teu père de sang? Você foi descuidada. Johanna ficou tensa. Ela se inclinou na cadeira, o couro rangendo sob ela. ― Liguei para alertar você ― ela falou. ― acredito que eles estejam vindo para cá, dado o envolvimento do Ronin. Mas acho que o S quer você também. ― É de você que ele vai lembrar ― Wells falou ― e de toda a atenção que você deu á ele. Você nunca me disso Johanna... Mas qual é o gosto do sangue dele? ― Não jogue desse jeito comigo Bob ― Johanna falou. Ela suavizou todas as expressões de seu rosto, mas suas mãos estavam fechadas como punhos, inquietas em seu colo. ― você também o amava. Eu me preocuparia com o dia que ele se lembrar daquele amor. E você. Um sorriso tocou os lábios do Wells. Ele inclinou a cabeça. ― Touché. Reação interessante, Johanna pensou. Mas errada. Ela cortou a conexão. A imagem do Bob Wells desapareceu. Aquele brilho no olhar dele seria diversão? Ela olhou pela janela. A neve caia, grossa e rápida, o céu estava branco. Será que o Wells havia fornecido as informações do programa para o Ronin? Se o fez, por quê? Para testar as habilidades dela? Ou do S? Johanna olhou para a cadeira em frente á sua mesa. Por um momento, o cheiro de tabaco escuro e baunilha encheu as narinas dela. Por um momento, Dan Gifford estava sentado naquela cadeira, seus olhos


acinzentados, calmos e atentos. Ele se inclinou para frente, batendo os dedos e dizendo: eu entendo. O que você quer fazer? Voltar no tempo. Ela não tinha arrependimentos, apenas um – ter enviado Gifford para Nova Orleans. Ela desejava tê-lo mantido ao lado dela e ter enviado algum outro homem para lidar com o Stearns e Wallace. O telefone tocou. Johanna pressionou o botão do intercomunicador. ― Sim? ― O avião da Wallace irá pousar em alguns minutos. ― Vá pega-la. Traga ela para o laboratório. ― Entendido. Johanna encerrou a ligação. Era hora de se preparar. A ideia de deixar a capital passou pela mente dela. Mais de uma vez. Pegar um voo para qualquer lugar. Por que ficar? Quando Ronin e os outros voltarem a encontra-la, ela já terá um plano. Tempo para colocar as coisas em movimento. Mas a ideia de seu pequeno puro sangue nas mãos do Ronin, por qualquer período de tempo, fazia o estomago dela se revirar. Ela precisava reivindica-lo. E se ele foi acordado? Suas memorias recuperadas? Então ela precisa enterra-las novamente e nina-lo até voltar a dormir. Johanna levantou e cruzou a sala iluminada pela neve, até um gabinete de cerejeira. Ela destrancou a gaveta de cima, removendo um CD sem nome, então voltou a trancar o gabinete. Ela retornou para a mesa e colocou o CD em um envelope. Selou. E endereçou para Dante Prejean. Se as coisas dessem errado, Johanna queria se certificar de que Wells não sairia incólume. E se as coisas desses certo, bem, talvez o Wells também precisasse se preocupar. Mas não com o S talvez ele se preocupasse com uma visita inesperada da Johanna.


O estomago Heather roncou com o cheiro do café recém passado e bacon frito. Se dando conta que não havia se alimentado desde à tarde do dia anterior, ela se juntou á fila no Sunny‟s Breakfast „n‟ More. Enquanto a fila andava, Heather olhava ao redor no terminal, procurando por ternos e a maneira autoritária que os agentes do FBI tinham para caminhar. Procurando por uma mão tampando o ouvido. Por comunicadores. Por De Noir. E por outros que também pudessem estar de vigília. O olhar dela parou. Um homem usando terno e uma parca falava com uma mulher usando um sobretudo. Heather ficou tensa. O homem escaneava a multidão atrás da mulher enquanto eles falavam, e Heather tinha certeza que a mulher fazia o mesmo atrás dele. O pessoal da Moore? Seguranças do aeroporto? ― Próximo. Heather pediu bacon, ovos, e um sanduiche de queijo para viagem e pagou com dinheiro. Ela falou para o De Noir encontra-la no balcão de alugueis de carros. Talvez ele já esteja lá. Heather colocou a embalagem e sanduiche ainda quente no bolso e se misturou á multidão. Seu coração começou a bater mais rápido. Ela abriu o cinto e os botões de seu casaco. Seja para quem for que o Parca e a Sobretudo estavam trabalhando, eles não seriam estúpidos o suficiente para começar algo dentro do terminal. Não, eles iriam esperar para a Heather sair. Dentro do terminal ela estava segura. Heather seguiu pela multidão, abrindo caminho até o quiosque de aluguel de carros. Varias pessoas estavam junto ao balcão, mas nenhuma delas tinham quase dois metros de altura, ou cabelos pretos até a cintura. Onde estaria o De Noir? Algo aconteceu com ele? Ele tinha garantido que estaria no terminal. A menos... Nada contra o Lucien, mas a tua segurança não é a principal preocupação dele.


Será que o De Noir finalmente encontrou o Dante através do link? Antes de dormir? Uma fagulha de esperança ganhou vinda em Heather. Se isso aconteceu, não seria necessário confrontar a Moore. Ao invés, ela poderia montar um caso contra ela com os arquivos, e prede-la. E soar o alarme? Se ela fizesse isso, se levasse as evidencias para a mídia, a carreira dela no FBI estaria terminada. Mas já não estava tudo terminado? Tão morta quanto o Stearns? E quanto ao Dante? Ele iria querer que seu passado... Incluindo seus crimes, se tornassem manchete de primeira pagina nos noticiários e tabloides? Heather se aproximou do balcão. Uma atendente sorriu. ― Posso ajuda-la senhora? ― Sim. Tenho uma reserva. O nome é Wallace. Heather se virou, ficando de costas para o balcão. Além das janelas do terminal, a nevasca caia como uma capa branca e solida. Carros e taxis se amontoavam junto ao meio fio, apenas manchas no mundo branco da neve. Será que o De Noir foi pego pela tempestade? Ela esperou por um tempo, então ligaria para a casa para saber se Simone ou Von sabiam dele. Ela pegou o sanduiche ainda quente do bolso e o desembrulhou parcialmente. Repentinamente sentindo uma presença atrás dela, Heather ficou tensa. Enquanto ela se virava, uma mão se fechou ao redor do bíceps dela. Ela olhou para cima, e para o rosto bem barbeado do Parca e seus olhos azuis. ― Agente Wallace ― ele falou. ― Tire suas mãos de mim ― ela falou com a voz nivelada. O olhar dela correu, procurando pela parceira dele. ― Não é preciso fazer uma cena. ― Eu discordo ― largando o sanduiche, Heather se virou na direção dele e arrancou os dedos de seu braço. Ela fechou a mão dele em um movimento de defesa do aikido ― dedos em direção ao pulso, dedão para


cima da mão, forçando para baixo e para trás, fazendo com que o senhor casaco de Parca caísse de joelhos. Ele gemeu, a dor fazendo seu rosto se contorcer. Olhando para cima, Heather vislumbrou a capa de chuva abrindo caminho entre a multidão. Não havia tempo para esperar pelo De Noir ou procurar pelo estacionamento atrás de seu carro alugado. Talvez ela conseguisse pegar um taxi. Enquanto Heather largava a mão do senhor Parca, ela o empurrou com força. Ele deslizou pelo piso. Virando ela correu na direção da porta de vidro. Colocando a mão no bolso do casaco com a arma, ela fechou os dedos ao redor do .38. Ainda não. Muitos civis.

Um arfar de choque correu pela multidão. Merda! Alguém havia puxado uma arma, Heather pensou, mergulhando em direção ao chão. Algo queimou baixo em suas costas, enquanto ela rolava. Atingida? Um estilhaço de bala? Ela pulou de pé, com o coração martelando, seu olhar focado na entrada principal e nos taxis logo em seguida. Ela os perdeu de vista por causa da neve. Algo formigou pelas veias dela. Queimando. As portas automáticas se abriram. Ela correu em direção á tempestade. O frio a atingiu, sugando o ar de seus pulmões. Os pensamentos dela giravam. Tonta, ela forçou seu corpo que parecia de borracha na direção do taxi mais próximo. Drogada, ela percebeu. Escorregando na neve, Heather caiu contra o taxi. Ela agarrou a maçaneta para evitar cair, mas suas mãos não funcionavam, apenas caiam pendendo ao seu lado. Ela caiu, o mundo girou branco, branco, branco. O brilho machucava os olhos dela. Um homem se inclinou sobre ela, seu rosto preocupado.


― A senhora está bem? Atrás dela, ela escutou uma mulher falar. ― Não se preocupe. Ela está bem. Apenas bebeu demais. Medo de voar. Flocos de neve se prendiam aos silos da Heather, derretendo em seus olhos. Ela tentou falar, mas sua língua não funcionava. Tentou balançar a cabeça para o motorista do taxi, mas ela não se movia. Mãos a ergueram. A cabeça dela balançou. O céu branco se misturou ao concreto coberto de neve. ― Relaxe ― uma voz masculina falou. ― Não lute. ― Estamos levando você até a Dra.Moore. O fio penetrou na mente da Heather, a congelando, e apagando tudo mais.

Dor latejante, como um atiçador de lareira em brasas contra os ossos. E abriu os olhos. O estomago dele se contraiu. Engolindo com força (preciso do meu remédio) ele olhou ao redor na van. A cama de ar ensanguentada estava vazia, o travesseiro abandonado era um lembrete da faca cravada na perna. E olhou para baixo. A perna dele queimava sob a faca. Uma mancha de sangue seco cercava a faca. O filha da puta do sanguessuga! Algo escuro e excitante se retorceu dentro dele, espreitando sob sua raiva. A memoria das facas cravadas na pele pálida do Dante, enviou arrepios pela coluna do E. Uma rápida olhada por sobre o ombro, revelou Dante deitado no chão. E girou para conseguir ver melhor. O belo sanguessuga estava deitado de barriga para baixo no carpete, do lado seguro das cortinas enquanto a luz do dia queimava do lado de fora. Ele se virou de lado, o cabelo sobre o rosto, um dos braços sob o corpo e o outro por cima, Dante (ops, quer dizer S) parecia ter caído no sono. Ou levado outro tiro na cabeça.


O olhar do E deslizou pelo Dante, bebendo cada detalhe. Ele desejava que o S não tivesse acordado até ele terminar de brincar. Meio que desejava que ele não tivesse acordado. Mais ainda, ele queria ter as chaves para as algemas. Com os dentes cerrados, E abaixou seu pulso inchado e escurecido do suporte. Dor e náusea apertaram as entranhas dele. Suor começou a escorrer na testa dele. Ele engoliu com força. Encostando a cabeça contra a lateral da van, E descansou e olhou para a faca. Ele duvidava que conseguisse puxá-la, não tendo que permanecer consciente. Ele olhou para o Dante. O garoto estava morto para o mundo. Ele poderia fazer todo o barulho que quisesse. Dante não iria nem ao menos se mexer. Ou o S, E estremeceu, lembrando do Dante jogando suas próprias palavras de volta para ele, duro e frio, como a voz de um sanguessuga. Esse é o meu irmãozinho da Bad seed. Naquele momento, E teve certeza de que iria morrer de uma maneira muito ruim. Dura e feia. Mas o Dante queria as ultimas palavras da Gina e apenas o E as possuía. Então o momento passou e o coração dele ainda batia. E iria continuar por muito tempo depois do Dante. O olhar do E deslizou até a bolsa preta e sua sacola de brinquedos ao lado dela. Havia comprimidos para dor em uma delas. Drogas para o Dante na outra. Exatamente o que o medico receitou para ambos. Se movendo com cuidado, E estendeu a mão até a sacola. Segurando a beirada. Um raio de dor correu por seu braço até o ombro, e antes de poder impedir ele gritou de dor. Mas ele estivera certo sobre o Dante, o sanguessuga continuou dormindo, sem ser perturbado. Pontos pretos piscaram na visão do E enquanto ele puxava um saquinho com os comprimidos e deslizava um dos dedos inchados ao longo da costura. Ela se abriu. Suor escorria pelas têmporas dele. Os dedos do E pegaram os comprimidos, os colocando na palma da mão. Vários caíram no carpete, rolando e quicando para todos os lados


exceto o dele. Abaixando suas mãos tremulas, ele largou os comprimidos que conseguiu segurar em sua boca. Os engolindo. O estomago dele se fechou como um punho. Ele se reclinou contra a van. Respirando. Para dentro. Para fora. Até a náusea desaparecer. E fechou os olhos desejando ter seus óculos escuros. Desejando ter um cigarro. Achando que talvez o Dante é que deveria estar algemado, sentindo dor, e desejando todo o tipo de coisas enquanto o E dormia. Como por exemplo, nunca ter nascido. O fodido. Bebeu o sangue dele. Seu sangue ainda estaria brilhando dentro do Dante nesse momento? Se E abrisse os olhos ele veria seu próprio brilho dourado, radiando do vampiro adormecido? O coração do E falhou uma batida, então retornou a bater com força. Ele abriu os olhos. Uma luz cor de mel brilhava por entre os lábios do Dante, saindo por suas narinas; brilhando através de seu corpo esbelto. Serpenteando ao redor dele como aureolas douradas. O ligando. O conectando ao deus algemado. E sorriu. Meu. Assim que os comprimidos começaram a funcionar, aliviando a dor que seu braço que latejava, ele puxou uma seringa e o recipiente do tranquilizante para o sanguessuga para fora de sua bolsa. Os colocando no apoio do braço. E então preencheu seu tempo com a paciência própria de um deus. Esperando para que o merdinha do traidor, lhe desse as costas.

Lucien aterrissou, tocando os pés descalços na grama coberta de neve. Suas asas estremeceram, largando flocos de gelo e neve no ar, então se dobraram nas costas dele. Nuvens cinzentas escondiam o sol. Além da área de descanso, carro aceleravam na interestadual, seus pneus chiando através da neve e lama. Dois veículos permaneciam no estacionamento: uma van branca com placas do Alabama, e uma carreta. O vidro estilhaçado no lado


do passageiro do caminhão, mostrou a Lucien que seu filho havia se alimentado – apesar que a entrada forçada mostrava que havia sido uma necessidade desesperada. As asas se fecharam em suas bolsas, Lucien caminhou até a van. Ele seguiu a canção do caos do Dante até ela desaparecer, mas a fúria e dor da cação não haviam desaparecido; elas ainda queimavam no coração do Lucien. Dante estava perdido em sua própria mente ferida. A mais ou menos uma hora atrás, a estática bloqueando a ligação deles havia desaparecido, e Lucien a seguiu como uma corda etérea até sua criança adormecida. Os dedos do Lucien se fecharam ao redor do trinque gelado da porta. Trancada. Pressionando a mão aberta contra a porta, ele enviou energia até a trava. Fagulhas azuis caíram até o pavimento, derretendo pequenos furos na neve. Ele segurou a maçaneta e abriu a porta. Um ar fedendo á sangue e violência, suor e cigarros velhos rolou para fora da van, como fumaça de um incêndio. Lucien prendeu a respiração, por baixo daquilo tudo, como carvão sob uma pilha de cinzas, queimava o fedor azedo de uma luxuria depravada e do mal. Lucien escutou o lento e estável bater do coração do Dante. O som o acalmou. Encontrei meu filho. Entrando na van, ele abriu as cortinas e passou pro elas, cuidando para não deixar a fraca claridade do sol do inverno tocar seu filho. Lucien olhou para o Dante adormecido no chão da van. O grito de se estar queimando á luz do sol, aquele som de quebrar o coração da agonia de uma criança – seu filho – ecoavam nos fragmentos dos sonhos do Dante. Lembrando Lucien do que ele havia sentindo... O que ele escutou na cozinha com a Wallace. Chloe. Minha princesa. Meu coração. Na vou deixar eles pegarem você. Se ajoelhando, Lucien pegou o filho nos braços. O calor do Dante o


queimava. Quente enquanto deveria estar frio e dormindo. Sangue escorria de uma das narinas, descendo até os lábios. Ah meu pequenino, eles a levaram embora. Não havia nada que você pudesse fazer. Nada. Você também era somente uma criança. Lucien afastou o cabelo do rosto do Dante, tocando as argolas prateadas na orelha dele. O passado o estava devorando. O olhar do Lucien caiu. Seu coração constrito enquanto olhava para os cortes na camiseta do Dante. O cheiro de sangue. Sangue do Dante. Ele ergueu o material endurecido pelo sangue. Incontáveis ferimentos ainda cicatrizando marcavam o peito e abdômen. Cortes. Perfurações. Ferimentos a faca. Facas são equipamentos exigidos para um ajudante de jornalista? Lucien finalmente prestou atenção ao mortal adormecido, algemado á van. Sua garganta apresentava uma mordida arroxeada. Um dos braços estava em uma tipoia, os dedos inchados. O cabo de uma faca despontava de sua perna. O olhar do Lucien seguiu para o garoto deitado em seus braços, então retornaram para o Jordan. Do outro lado do Jordan estava um colhão manchado de sangue. Do Dante. Também havia respingos de sangue nas paredes e teto da van. Um livro... Poesia? Papeis e fotos espalhados enchiam o carpete ao lado do colchão. Lucien ficou tenso. Ele reconhecia as fotos. As mesmas que ele havia olhado junto com a Wallace. Então, o passado do Dante havia sido revelado á ele através de sangue e facas. Entregues sem misericórdia por um mortal. E mesmo assim, de alguma forma Dante se libertou. Então por que o Jordan ainda estava respirando? Será que o maldito havia barganhado por sua vida? Lucien voltou a olhar para os papeis e fotos no chão. Com o que? Seu primeiro impulso foi de segurar Dante nos braços e leva-lo para casa. Assim que seu filho estivesse a salvo, ele retornaria. Então Jordan e


Moore iriam sofrer uma vingança final, um julgamento Elohim e uma morte ao estilo do velho testamento. Mas a luz do dia queimava do lado de fora. Ele precisava esperar até o anoitecer para levar o Dante para casa. Lucien se curvou e pressionou os lábios contra os do Dante, respirando energia para dentro dele, assim como ele havia feito quando a Wallace havia aparecido com o mandato. Forçando seu filho a acordar. Das cinzas ele se curvou, com uma garotinha nos braços. Dor se chocou contra os escudos do Lucien. Inalando, ele as empurrou para longe. Ele tocou a ponta dos dedos na têmpora do Dante. Derramando luz fria para dentro da mente destruída pela dor e febre de seu filho. Dante respirou fundo. Seus olhos se abrindo. Ele olhou para o Lucien, mas nenhuma fagulha de reconhecimento brilhou nas profundezas daqueles olhos escuros. Se livrando dos braços do Lucien, Dante rolou para ficar de joelhos. Corpo encolhido, músculos tensos, ele bufou. Medo trilhou suas mãos frias pela coluna do Lucien. Será que Dante estava perdido para a loucura? Um Creawdwr solto e insano? Ou será apenas o sono que se recusa a deixa-lo? Sempre havia riscos á acordar um adormecido. Lucien ergueu uma mão apaziguadora. ― Dante, criança, você está salvo. Calma. ― Nada de Dante ― uma voz baixa falou. Jordan ― ele é o S. ― S não existe ― Lucien falou. ― Apenas o Dante. S é uma parte de você filho. A raiva que você renegava, a dor que ignorava. ― Ele não está exatamente renegando sua raiva ultimamente ― Jordan resmungou. Nunca tirando os olhos do Dante, Lucien apontou um dedo e estalou um chicote de energia através do mortal. Jordan gritou. O cheiro de ozônio cortou o ar. Lucien encontrou o olhar manchado de vermelho e febril do Dante. Ele podia ver agora. O sono permanecia dos olhos de seu filho. ― Ela não pode acordar com você. Sinto muito, mas você deve deixa-la para trás, e deixa-la


dormir. ― Não ― as mãos do Dante se fecharam como punhos. Dor e sono nublavam seus olhos. ― Eu prometi que era para sempre. ― Criança. Você deu a eternidade para ela ― Lucien falou, sua voz rouca. ― ela sempre estará com você. Mas ela não precisa estar aqui. Você está em uma van com o Elroy Jordan. Ele roubou você. Torturou você. Dante acorde. Dante gemeu, seu rosto pálido repuxado. Ele tocou sua têmpora com uma mão tremula. ― Chloe ― ele sussurrou. ― ainda posso salva-la. ― É tarde demais Dante. Dante olhou para o Lucien, o sono desaparecendo de seus olhos. Ele engoliu com dificuldade. Olhando para longe. Depois de um momento assentiu. Lucien segurou o rosto do Dante. ― Você é meu filho ― ele falou ― você pode me odiar o quanto quiser, mas essa verdade prevalecerá, você é filho de Lucien e Genevieve. Dante puxou sua cabeça para longe do toque do Lucien e colocou suas mãos febris contra o peito nu, se preparando para empurra-lo, então parou. Uma única nítida nota soou através do Lucien, reverberando através da carne dele até as palmas do Dante. Surpresa iluminou o rosto do Dante. Uma luz dourada brilhava em seus olhos. Energia corria entre eles; um creawdwr atraído por sua criação e um aingeal cativo por seu criador. Dante arrancou suas mãos do peito do Lucien. Lucien viu as perguntas nos olhos do Dante, enquanto o brilho dourado desvanecia: o que foi aquilo? O que acabou de acontecer? ― Há coisas que devo ensinar há você ― Lucien falou ― antes que seja tarde demais. Dante balançou a cabeça, suas mãos fechadas em punhos contras as pernas. Lucien queria forças um pouco de razão em seu filho cabeça dura, ao mesmo tempo que queria abraça-lo, o segurando perto e em segurança. ―


Sim, você gostando ou não. ― O cara grandão é o teu pai? Que merda! ― Jordan gargalhou. Chamas azuis envolveram o Lucien, queimando por suas veias com um fogo frio e purificador. Ele se virou. As mãos dele se fecharão ao redor da garganta arroxeada do mortal e apertaram. Os olhos do Jordan saltaram. A língua dele pendeu. Ele chutou, mas o Lucien bloqueou cada um dos movimentos com o braço. Uma vergonha. Aquela seria uma morte fácil comparada á que havia sido imaginada para ele. ― Não! ― os dedos do Dante se fecharam ao redor do pulso do Lucien. ― Qual a barganha que ele fez com você? ― Lucien falou baixo. Jordan lutou, seus olhos mostrando o branco. Saliva se juntava nos lábios dele. ― O que Dante? ― Ele me dará as ultimas palavras da Gina. ― Em troca do que? ― Mais algumas horas ― Dante falou ― eu... S... ― o rosto dele mostrou a confusão. ― eu... concordei não mata-lo até encontrarmos a Moore. ― Ah criança ― Lucien suspirou. Ele relaxou o aperto, mas não largou o Jordan. A atenção dele se voltou para o Dante. ― as ultimas palavras dela não vão alterar nada. Como você sabe se ele não está mentindo? ― Não sei ― Dante falou. ― mas vou saber se eram as palavras da Gina ou uma invenção ― dor e perda apareceram no rosto dele. Fragilidade, Lucien percebeu. Dante havia suportado coisas demais. Ele precisava dormir. De sangue e sossego. ― Não há nada que você possa fazer por aqueles que já se foram ― Lucien falou ― mas a Heather está procurando por você na capital. Ela precisa de você. Não os mortos. As necessidades deles acabaram. ― Heather, oui ― Dante respirou. Os dedos dele soltando o pulso do Lucien ― ela está a salvo? Quem está com ela? Ciúmes emanou do Jordan, negro, amargo e afiado. ― Ela está sozinha ― Lucien falou, fixando seu olhar no Jordan. Se


inclinando ele sussurrou no ouvido do mortal. ― ela anseia retorna para a cama do Dante, e seus braços. Ela esqueceu você. Lucien o largou. O mortal caiu, arfando e com ânsias de vomito, suportado apenas por seu pulso algemado. Ódio emanou dele, quente e oleoso, brilhando ao redor dele como óleo na água. Lucien sorriu. ― O que diabos você está fazendo? ― Dante falou. Exasperação e raiva apareciam em sua voz. Ele passou uma das mãos pelo cabelo. ― Isso não é hora para jogos. Alguém está tentando matar a Heather e ela está sozinha. Preciso chegar até a capital. Lucien balançou a cabeça. ― Quando o sol se por, vou leva-lo para casa... ― Não. Vou terminar isso ― os olhos do Dante se dilataram repentinamente. Seu corpo ficou tenso. ― faça o que você quiser, eu vou para a capital. Dor sussurrou contra os escudos do Lucien, dor e vozes distantes. Por que o passado não o deixa em paz? Ele estendeu a mão na direção do Dante. Lucien sentiu que as memorias estavam a pondo de abrir a bocarra e engolir o Dante. E o sacudiu. Lucien o segurou com força, o coração disparado. Os olhos de seu filho rolaram. Seu corpo se dobrou. Em uma convulsão. Uma lembrança que retornava. Dante não estava se lembrando. Não. Lucien pensou, essa era uma palavra muito gentil para o que seu filho estava experimentando... Revivendo... Recriando. Um momento no passado do Dante se rasgou, como a terra durante um terremoto, se abrindo, então caindo em direção á escuridão. Sumindo para sempre. Dante estava suportando, sim. A garganta do Lucien se apertou enquanto segurava o corpo tremulo do filho, afastando o cabelo de seu rosto pálido. Mas por quanto tempo? Ele poderia esconder o Dante dos Elohim, protege-lo das criaturas da noite e de todas as outras criaturas que vagavam pela terra... Mas não poderia protegê-lo do passado ou de sua própria mente. Dante precisa confrontar o passado. Minha ausência o condenou


também. Ele precisa confrontar Johanna Moore. Então talvez ele consiga se curar. Perdoe-me minha Genevieve. Falhei em proteger nosso filho. Mas estou ao lado dele agora, e vou protegê-lo para todo o sempre. ― Sa fini pas ― Dante sussurrou. Seus olhos fechados. Exaustão marcava seu rosto, escurecendo a pele azulada sob os cílios. ― Shh ― Lucien murmurou, tocando a têmpora do Dante. ― Tudo vai acabar. E vou dirigir a van enquanto você dorme. Estaremos na capital ao cair da noite. Os olhos do Dante se fecharam enquanto o sono tomava conta dele. Lucien deitou seu filho adormecido no carpete manchado de sangue. Seu olhar seguiu até o mortal algemado. Jordan o encarava com ódio e inveja. Lucien ficou ao lado dele. Passando a mão ao redor do cabo da faca que saia de sua perna, olhou dentro dos olhos cheios de ódio do Jordan, e puxou. O mortal sugou o ar através dos dentes. Lucien inclinou a cabeça escutando. ― Um deus? Eu conheço deuses. Você é apenas carne apodrecida que precisa ser enterrada. Um sorriso esticou os lábios do Jordan ― Sim? Bem, então adivinhe? Sou protegido pelo Dante ― seu olhar se prendeu á forma adormecida do Dante. ― Isso não é demais? O cheiro pungente de luxuria encheu o ar. Lucien agarrou o queixo do Jordan, forçando sua atenção para longe do Dante – toque ele novamente e vou arrancar essa carne apodrecida dos teus ossos, enquanto você assiste a tudo com seus olhos sem pálpebras. Jordan se livrou da mão do Lucien. ― Tenho algo que ele quer. Lucien deu de ombros. ― A tua barganha é com o Dante, não comigo. Lembre-se disso. Jordan olhou para o lado. Um musculo pulando em sua mandíbula. Meia hora depois, Lucien entrou com a van na I-75 e em direção ao Tennessee. Jordan estava sentado no banco do passageiro, seu pulso direito


algemado ao puxador de emergência acima da janela do carona. Ele olhava diretamente para frente, seu rosto carrancudo. Dante dormia atrás das cortinas, no banco traseiro que Lucien abriu, um cobertor o tapando dos pés a cabeça. A cama de ar e o lençol ensanguentados foram jogados na lixeira. Usando o isqueiro do mortal, Lucien queimou os arquivos do S, mas manteve as fotos do Dante. Neve caia do céu cinzento, do meio da manhã. Lucien escutava por algum sinal de wybrcathls, mas o céu permanecia silencioso. Nenhum dos Elohim respondeu ao seu wybrcathl, procurando o creawdwr pela resposta caótica e poderosa. Pelo menos ainda não.


A tempestade que se forma

32

Vozes penetraram a escuridão ― vozes calmas, sóbrias. ― O transito finalmente está se movendo ― um homem falou ― estaremos lá em quinze minutos. Um rádio estalou. O carro fez barulho. Um aquecedor empurrou calor no ar. Um movimento para frente. ― Essa é uma bela tempestade ― uma mulher falou ― espero não ficarmos presos. ― Cheque a Wallace.


O som de tecido raspando. Vinil estalando. Cheiro de melão. Um perfume? ― Ainda dormindo. O coração da Heather disparou enquanto a memoria voltava. Parca e Capa de chuva. O aeroporto. Caindo. A neve fria contra o rosto dela. Estamos levando você para a Dra Moore. Imagens piscaram através da mente da Heather, forte e vívida. Dante saindo pela janela do amarrotado MG, Dante caído em frente á porta da casa do Ronin, sangue escorrendo por sua têmpora. Jordan sorrindo enquanto diria a van para longe... E o coração dela afundou. Será que falhei novamente? Heather se sentiu deslizando novamente para a escuridão. Ela mordeu a parte de dentro das bochechas. Sentindo o gosto de sangue. A luz da manhã cinzenta, e a neve branca que flutuava até o chão, feriam seus olhos, fazendo sua cabeça doer. Ela olhou para o assento em frente á ela, se focando no vinil bege. Ignorando o som hipnótico dos limpadores de parabrisa. Todo seu corpo formigava como se tivesse tomado uma dose maciça de novocaína. Olhando para baixo, Heather viu sua bolsa no chão abaixo do banco do passageiro. Sem duvida ela havia sido revistada e seu .38 confiscado. Ela tentou mover as mãos. O dedo indicador de sua mão direita se moveu. Uma rápida olhada confirmou que suas mãos estavam amarradas na frente do corpo. Mais fácil para coloca-la no banco traseiro com suas mãos para frente do que para trás? Heather fechou os olhos no caso da Capa de chuva fosse checa-la novamente. Ela lutou para manter a respiração controlada, sem voltar a deslizar para os confortáveis braços do sono. Por que a Moore a queria? Ela estaria suspeitando que o Jordan e o Dante estavam a caminho da capital? Se ela tentou matar a Heather em Nova Orleans, por que não terminar o serviço agora? O que havia mudado? Se a Moore a queria morta como o Stearns falou, por que esses dois não


a levavam para a floresta ou um campo e colocavam uma bala no crânio dela? Alguém teria intervindo? Falado com ela? Seu pai, talvez? Ela rapidamente recordou de seu sonho recorrente com o motorista sem rosto descendo do carro em marcha lenta, um martelo brilhante na mão. Não. Ela espantou as memorias. Fique focada no agora. O vinil estalou e ela manteve os olhos fechados, contando até mil antes de arriscar espiar por entre os cílios. A cabeça loira da capa de chuva estava virada na direção do para-brisas. O formigar se intensificou, passando para uma vibração que coçava. As mãos da Heather se fecharam. Ela ganhou esperanças. Ela relaxou as mãos. O formigar e o coçar passou a parecer agulhas se cravando. Ela ergueu as mãos algemadas, a atenção fixa na capa de chuva, enquanto aproximava seus dedos até a bolsa. Os limpadores batiam contra o para-brisas. Os pneus com correntes esmagavam a neve, o som grosso e abafado. Os dedos da Heather deslizaram para dentro da bolsa. Sua pulsação batendo em seus ouvidos. Os dedos dela reviraram os conteúdos da bolsa, traçando os formatos, procurando pelas bordas definidas, pela sensação de metal, da sujeira vinda do beco. O coração dela bateu com ainda mais força contra o peito, quando a capa de chuva se moveu a cabeça, então olhou pelo vidro do passageiro. Heather puxou as mãos para fora da bolsa e retornou para sua posição original. Fechou os olhos. Respirando lentamente. ― Está nevando pra valer ― a capa de chuva falou. ― O trajeto para casa via ser um inferno. ― Se você tem que ir para casa. ― Vou sair de lá mesmo que tenha que caminhar até minha casa ― o casaco de parca falou, voz baixa e tensa. ― você chegou a ler aqueles arquivos? Você sabe do que o S é capaz? Heather escutou, olhos fechados, seus dedos voltando a se aproximar


da bolsa. Então a Moore sabe. Mas como? ― Eu sei ― a capa de chuva murmurou. ― vou admitir, estou curiosa. Acho que quero vê-lo ao vivo, você sabe? As mãos da Heather mergulharam para dentro da bolsa. Seus dedos seguindo até o fundo. O casaco de parca bufou ― Você sabe o que eles dizem sobre a o que a curiosidade fez com o gato? ― Sim, sim. Quando você se tornou essa velha senhora? ― Não pretendo me tornar isca para psicóticos ― o parca falou. Um dedo tocou contra uma beirada afiada. Metal frio tocou a palma da mão dela. Com o coração martelando, Heather puxou a lixa de unha para fora da bolsa. ― Nem eu ― parca falou ― talvez seja por isso que a querem. Parca resmungou. Heather ficou parada. Moore não podia saber sobre o relacionamento dela com o Dante. A menos que... O Dante ainda estava sendo monitorado, câmeras escondidas observando todos seus movimentos em casa e no clube. Se fosse verdade, explicaria o porquê dela ainda nãos estar morta e enterrada sob a neve. E o De Noir? Ele a abandonou para ir procurar o Dante? A intuição a dizia que sim. A memoria da expressão arrasada do De Noir brilhava na memoria dela. Calma criança. Vou encontrar você. Com os olhos queimando sob as pálpebras, Heather desejou que... Canalizando toda a recém acordada energia, todos os desejos dos futuros aniversários, na imagem do Dante a salvo sob as asas negras do De Noir. No meio tempo, ela não precisava de intuição para dizer que estava sozinha, e sem reforços. Os dedos dela se fecharam ao redor da lixa de metal. Ela ergueu as mãos, as levando até o peito. Largando a lixa dentro do sutiã. Isso salvou meu traseiro no beco. Ela esperava que pudesse salva-la novamente. Ela abaixou as mãos e


ficou deitada quieta. Um momento depois, ela ouviu o vinil estalar e sentiu o cheiro do perfume adocicado novamente. O carro diminuiu, então parou. Ar frio entrou no carro quando o parca abriu o vidro. ― Hei Morris – ele falou ― onde estão todos? ― A Dra. Moore mandou quase todos para casa „por causa da tempestade‟ ― uma voz grave falou. Checagem de segurança? ― estou surpreso que vocês apareceram. ― Eu também ― o Parca resmungou enquanto erguia o vidro, acabando com o fluxo de ar frio. O carro se moveu, a neve sendo esmagada pelos pneus. Um momento depois, o carro parou novamente. O Parca desligou o motor. Heather abriu os olhos. Olhando para cima, ela viu os olhos azuis do parca no espelho retrovisor. Viu a sobrancelha dele se erguendo. Heather ficou tensa. Ele sabia. Enquanto ela vinha observando a mulher com a capa de chuva, ele vinha observando ela. ― Parece que nossa passageira acordou ― o Parca falou. Ele abriu a porta e saiu. Ar frio e neve entraram no carro antes dele fechar a porta. A capa de chuva se virou no assento, e olhou para Heather. ― Vamos fazer isso da maneira mais fácil. Tudo bem? Heather assentiu. Ela empurrou o corpo com os cotovelos até ficar sentada. Pontos brancos dançaram na visão dela como neve. Ela abaixou a cabeça até a tontura passar. Outra rajada de ar frio seguido por uma batida solida, lhe disseram que a capa de chuva havia saído do carro. A porta do lado do passageiro se abriu. Parca entrou, segurando o antebraço da Heather. Neve entrou no carro. Heather olhou para ele. Ele manteve o olhar dela por um longo tempo, então a ajudou á sair do carro, para dentro da tempestade. O frio atravessava o casaco da Heather, congelando seus dedos, e fazendo suas bochechas arderem. Ela olhou para o prédio, e para a placa quase escondida pela neve. O Centro Bush para pesquisas psicológicas.


O que Heather viu nos olhos do Parca a deixou alarmada. Ele sabia que ela havia pegado a lixa, mas manteve silencio. A mulher com a capa de chuva segurou o outro braço da Heather. Eles cruzaram o estacionamento, curvados contra a ventania cheia de neve e gelo. Johanna observava pelo monitor da segurança, enquanto Bennington e Garth conduziam Wallace até o numero cinco, e retiravam seu casaco e sapatos. ― Diga á Moore que quero falar com ela ― Wallace falou, sua voz surpreendentemente forte e nivelada para uma mulher se recuperando de uma doze do „cair em segundos‟. Garth saiu da sala sem galar nada, o casaco preto da Wallace pendurado em seu braço, e os sapatos em uma das mãos. Bennington parou junto á porta, e então olhou para trás. ― Você pode relaxar um pouco ― ele falou ― pode levar algum tempo. ― Você sabe por que fui presa? Bennington balançou a cabeça ― Sinto muito ― ele falou ― não sei ― ele saiu da sala, fechando a porta atrás dele. Uma luz vermelha correu pela porta enquanto ela era trancada. Wallace caminhou pela sala de conferencia acolchoada, seu olhar atento seguindo até o teto. Ela não é tola, Johanna se divertiu. Depois de uma volta na sala, Wallace sentou, suas costas contra a parede norte. Passando os braços ao redor dos joelhos dobrados, ela abaixou a cabeça. Seu cabelo vermelho formando um véu sobre o rosto. Dor de cabeça e sonolência ― dois efeitos secundário do tranquilizante. Johanna girou sua cadeira para longe do monitor. Ela olhou para o arquivo sobre a superfície polida da mesa. O histórico da Wallace era exemplar. Ela se saiu bem na Academia, se graduou no topo da classe na idade de vinte e cinco anos. Nos seis anos depois disso, Wallace provou ser dedicada, talentosa e uma agente inteligente.


E se a Johanna se lembrava direito, intuitiva, compassiva e durona. Uma memoria surgiu. Um teste dado aos recrutas para determinar suas motivações para se juntar ao FBI. A pergunta simples que muito revelava. Por que você quer ser um agente do FBI? A maioria das respostas haviam sido do tipo: para retirar os caras maus das ruas, ou para ajudar á proteger o meu país, para fazer a diferença, ou até mesmo para ter uma carreira no cumprimento da lei com um salario descente. Mas a resposta da Wallace era a que Johanna lembrava: quero ser a voz das vitimas. Ser a voz para os mortos, a voz da justiça. Ela se perguntou se a Wallace ainda se perguntava em justiça, ainda desejava ser a voz dos mortos. Ou os últimos seis anos no mundo real, havia sugado seu espirito? Johanna passou os dedos pelo cabelo. Ela detestava perder uma agente do calibre e potencial da Wallace. Ela havia sido esperta o suficiente para questionar a medica legista de Pensacola sobre as descobertas da autopsia, e corajosa o suficiente á desafiar a própria Anzalone, e retornou para Nova Orleans para caçar o verdadeiro CCK. Um pensamento repentino ganhou vida. Ela não precisava perder a Wallace. Ela poderia ser convertida? Convence-la a ser a voz para a justiça não apenas por uma década ou duas, mas por séculos? Milênios? Uma pergunta melhor: Johanna estava pronta para ser uma mère de sang? Sua primeira tentativa havia sido durante umas férias em Nova Orleans. Na verdade, ela só pretendia se alimentar de Genevieve. Somente quando já havia drenado quase todo o sangue da beleza de cabelos negros, ela escutou a segunda batida de um minúsculo coração. A mortal nem ao menos sabia estar gravida. Queimando de curiosidade, ela forçou seu sangue por entre os lábios pálidos da mortal. O que aconteceria a um embrião quando a mãe era convertida? O resultado estava voltando para casa, guiado pelo père de sang de Johanna, e de uma certa forma, avô do S. A menos... O Ronin também estaria vindo com o E e o S? O coração


dela dizia que sim, o desastre sempre corre junto com a tempestade, nascido pelo sangue. Será que seu puro sangue dormia nos braços do Ronin nesse momento? Ele estaria sussurrando mentiras no ouvido do S? Ou pior, a verdade. Johanna se virou para o monitor. Wallace ainda estava sentada contra a parede, braços ao redor dos joelhos, cabeça abaixada. Cabelos vermelhos escondiam seu adorável rosto. Cabelos vermelhos. Johanna encarou a imagem da Wallace. Chloe. Será que ela poderia usar Wallace como isca para seu puro sangue? O afastando do Ronin? E para virá-lo contra o Ronin? Deixe Wallace imaginar seu destino por mais algumas horas. Então Johanna irá oferecer uma escolha.

Heather cochilava, a cabeça encostada nos braços. Sonhos e imagens pulsavam na escuridão por trás de seus olhos, como a dor que latejava em sua cabeça. Pulsar: prazer iluminando o rosto do Dante, o brilho dourado em seus olhos enquanto ele a penetrava. Ela sentiu o cheiro dele ― folhas queimadas e gelo. Pulsar: ela escondendo o rosto contra o pescoço do De Noir enquanto ele a carregava pela noite fria. Pulsar: o Elroy Jordan parado sobre ela enquanto ela dormia, uma faca brilhando em sua mão. Ele passou um dedo pelo cabelo dela. Pulsar: Stearns atirando, o Dante caindo, caindo, caindo... Com o coração martelando forte e rápido, e um grito preso na garganta, Heather tentou agarrar o Dante. A mão dela segurou a dele; os dedos pálidos dele se fecharam ao redor do pulso dela. E eles caíram. Dante passou os braços ao redor dela, a abraçando com força contra seu corpo, enquanto eles despencavam pela noite sem estrelas. Ele a beijou, e o toque dos lábios


dele a fez incendiar. Ela queimava enquanto eles caiam, entrelaçados, uma estrala cadente. O vendo produzido pela queda fazia seu cabelo cor de fogo voar pelo céu. As tranças negras do Dante se enrolavam nos fios do dela. Uma canção pulsava dentro dela, vibrando através dela, para dentro dela, negra, intensa e pulsante; ela queimava junto com seu coração, sua alma... A canção do Dante. Estou indo até você chérie. Estarei aqui Dante. Bem aqui. Shhh. Je suis ici. Ela escutou o farfalhar de asas. Os olhos da Heather se abriram. Seu coração batia contra as costelas. Se recostando contra a parede, ela respirou fundo. Sua cabeça ainda doía. Estou indo até você, chérie. Heather guardou aquelas palavras dentro do coração, as mantendo seguras. Dante havia falado com ela. Ela não sabia como, talvez por que ele havia bebido seu sangue, e isso os ligava, talvez por que ela havia cochilado em um estado alterado criado pelas drogas em seus sistema. Mas sua intuição, seus instintos primitivos, diziam que o Dante estava a caminho. Fechando os olhos ela sorriu. A esperança gentil e quente brilhava dentro dela. Sua dor de cabeça havida diminuído. Sua exaustão desapareceu. Se o Dante estava a caminho, então ele havia escapado do Jordan. Talvez o De Noir o encontrou. Um zumbido na porta a fez abrir os olhos. A porta se abriu e uma mulher alta e loira entrou. Dra. Johanna Moore. Ela usava uma saia de lã estilo europeia, tingida de um vermelho vivo, sua blusa era tão branca quanto às paredes da sala. Ela segurava uma arma apontada para o chão em sua mão direita. ― Lembro de você na Academia ― Moore falou, sua voz suave e em tom de conversa, como se estivesse em um almoço de negócios ao invés de uma sala acolchoada. ― eu fiquei impressionada com a sua empatia para


com as vitimas. Heather levantou. O latejar em sua cabeça aumentou com o movimento. ― Mesmo? Estou surpresa por você ter reconhecido esse tipo de coisa ― ela afastou o cabelo do rosto e encontrou o olhar da Moore. ― você está aqui para fazer seu próprio serviço sujo? ― ela falou apontando para a pistola. O sorriso da Moore falhou. Seu olhar pareceu se perder por um momento. – Se chegar á esse ponto ― ela falou calmamente. ― se isso te faz se sentir melhor, irei sentir muito em ter que fazer isso ― ela parou no centro da sala, uma pétala de rosa em meio á neve. ― Não me sinto nem um pouco melhor ― Heather falou. ― você se arrepende de ter matado Rosa Baker? E quanto ás outras vitimas do assassino Cross- Country, ou Elroy Jordan? Os olhos azuis da Moore brilharam ― parece que você ainda anseia em ser a voz dos mortos. Estou surpresa. ― Isso nunca mudou. ― Para a maioria muda. ― Por que você se importa? ― Heather olhou para a porta, estimando a distancia. Se perguntando quantos segundos ela teria até a Moore se virar e atirar. ― Posso te entregar o E ― Moore falou. O coração da Heather martelava com força contra o peito. Ela olhou para a Moore. Estudando seu rosto pálido. Sinceridade brilhava em seus olhos, mas Heather tinha a sensação de ver somente a superfície, nas profundezas daquele azul coisas obscuras se escondiam. ― Você poderá finalmente falar por aqueles que ele matou. De justiça ás famílias das vitimas. Tudo o que você tem que fazer é dizer que sim. ― Ah. A condição. Dizer que sim, para que? Moore abriu os lábios. Heather olhou para as presas expostas, seus pensamentos girando, e seu sangue gelado. ― Para mim ― Moore falou.


33 Indo para casa Estarei aqui, Dante. Bem aqui. Dante respirou fundo e acordou. Atrás de seus olhos fechados, a visão da Heather desapareceu, seu cabelo manchado a noite com chamas. Esperando por ele. Ele ainda sentia o toque macio e quente dos lábios dela, e sentia o gosto em sua língua. Dante abriu os olhos. Escuridão, quente e próxima. Seu coração pulou no peito. Adrenalina correu por suas veias. As imagens do que aconteceu antes dele dormir, pulsavam fraturadas e aleatórias por sua mente.


O cabo de uma faca saindo de seu peito. O pervertido lendo para ele, sua voz baixa, cheia de excitamento. Uma mão suja de sangue correndo por seu corpo, abrindo o cinto. Lucien olhou para ele, dourado brilhava em seus olhos escuros. Meu filho. ― Ainda estou aqui ― Lucien falou. Sua voz soou em algum lugar em frente ao Dante. Dante ergueu a mão e afastou a escuridão. Um cobertor. Sentando, ele afastou o cabelo para longe do rosto. Ainda na van, ele pensou, olhando ao redor. Mas a cama de ar havia desaparecido, e o pervertido... Dante tocou sua camiseta cortada e suja de sangue. Sentindo a carne curada, mas ainda sensível sob ela. Seus músculos se tencionaram sob os dedos. Ele se lembrou da faca entrando nele repetidas vezes. Dante afastou as cortinas. Noite cobria o céu. Lucien dirigia a van, seu olhar fixado na estrada coberta de neve, no brilho avermelhado das sinaleiras dos carros á frente deles. Dante olhou para o Elroy, para seu pulso algemado acima do vidro do passageiro. Respirou o cheiro forte de suor velho, sangue e algo azedo. O cheiro remexia as cinzas da ânsia de Dante viver. ― Onde estamos? ― Dante perguntou, sua atenção focada no Elroy. ― D.C Elroy olhou para o Dante ― Oh que bom. Você acordou ― sombras de placas e postes ao longo da rodovia piscavam sobre o rosto do pervertido. Dante se lembrou do sangue cheio de adrenalina dele. A fome acordou. ― J‟ai faim ― ele falou, seu olhar preso ao pescoço ferido do pervertido. ― Então se alimente ― Lucien falou ― ele não tem outra utilidade. Elroy ficou parado. Dante sentiu o cheiro pesado do medo. ― Tenho as ultimas palavras da Gina ― o pervertido falou. Ele se pressionou contra a porta do passageiro, seu olhar fixo no Dante ― você prometeu. Não até depois. ― O S prometeu ― Lucien falou ― não o Dante.


― Hei, você falou que não existe nenhum S ― o Elroy protestou. ― nenhum S, só o Dante. Lucien deu de ombros ― Você acredita em tudo o que escuta? Vozes ecoaram, como palavras ditas através de um abismo. Dante fechou os olhos. Estamos bem? Um quilo ou dois de carne, certo? Ainda vai me matar? ― Oui ― Dante falou. Ele abriu os olhos. Elroy o encarava. ― Mas não até depois disso tudo. O pervertido assentiu ― Sim. Isso mesmo. Dante afastou seu olhar do Elroy, tentado ignorar o som do sangue pulsando nas veias dele. O vento açoitava a van, jogando neve contra o para-brisas. Sonhei com a Heather ― Dante enviou para o Lucien ― Estou quase certo que a Moore a pegou. Você sabe onde? Dante enviou a imagem de uma sala branca. Seu coração acelerou. Vespas zumbiram. Mas a memoria fugiu de seu domínio. Ah. Sem duvida o centro de pesquisas. A cidade parecia vazia e desolada. Os sinais de transito balançavam com o vento, irradiando luz vermelho, amarelo e verde pela neve que caia. Gelo pendia em galhos raquíticos de arvores, brilhando nos beirais dos edifícios. A van se arrastou pelas ruas, pneus esmagando a neve. Dante olhou para a tela esverdeada do mapa no console da van. Eles estavam quase lá. Aguente firme ― ele enviou, sem saber se a Heather ainda podia escuta-lo, através do link formado pelo sangue e temporário. ― Estou indo buscar você ― ele falou as mesmas palavras para o Jay. Será que ele iria falhar com a Heather também? Penitencia.


Dante-Anjo? Calma princesa. Volte á dormir. Não vou falhar com ela, como falhei com você. Promete? ― Prometo ― ele sussurrou enquanto a Chloe deslizava pelas rachaduras de sua memoria e desaparecia. Ele tentou invocar a imagem dela, tentando lembrar de seu rosto. Ele atingiu uma parede á velocidade da luz. A dor se cravando nas têmporas dele. Ele respirou e sentiu o gosto de sangue no fundo da garganta. Observou enquanto ele pingava em sua mão. Merda. Não agora! Dante encostou a cabeça contra o banco. Enquanto os minutos se alongavam, sua dor sessou, ficando nas profundezas dos pensamentos. Então a van parou. Uma mão segurou seu joelho. ― Você está bem? ― Sim. Por que você parou? ― Nós chegamos. Dante levantou a cabeça e olhou para além do Lucien para a janela. A neve caia rápida e com força. Ele conseguiu discernir um prédio na escuridão além da neve. Luz brilhava de suas janelas. Do bolso do jeans ele retirou a chave das algemas. Ele ficou entre os bancos dianteiros e se esticou sobre o Elroy para soltar as algemas. Ele escutou o coração do pervertido acelerar. O sentiu estremecer. Dante girou a chave. A algema se soltou do apoio de segurança. ― Irei falar as palavras da Gina quando estivermos dentro do prédio ― Elroy falou abaixando o braço. ― Então deixe que o melhor sangue ruim da bad seed vença. ― Isso não é uma merda de uma competição ― Dante deslizou o restante do caminho e abriu a porta. Ar gelado e neve entraram na van enquanto ele descia. O pavimento coberto de neve estava escorregadio sob as botas dele. Elroy estremeceu novamente, dessa vez de frio.


Dante colocou a chave em seu bolso traseiro. ― Saia. Se você correr, vou pegar você. Se eu te pegar, eu te mato. A mandíbula do Elroy se tencionou. Suas sobrancelhas se abaixaram. Ele olhou para longe, mas antes disso, o Dante viu a mascara escorregar. Viu o monstro sorridente, seus olhos poços sem fim que sugava todos os gritos, memorizando todas as linhas da dor, capturando cada segundo do medo e desespero. Era o rosto que o Dante viu enquanto a faca se cravava nele, repetidas vezes. Vermelho piscou em sua visão. Agarrando o Elroy pelo colarinho da camiseta, Dante o puxou para fora da van em direção á neve. Elroy atingiu o pavimento coberto de neve com o ombro. Gemendo de dor. Dante se abaixou, prendendo uma mão ao redor do braço do pervertido e o puxou até ficar de pé. O vendo batia contra o cabelo do Dante, congelando sua pele, e seu rosto. Ele sentiu o calor irradiando do Lucien parado próximo á ele. Dante se lembrou da Heather falando que seu assassino era um mortal, todos as evidencias de DNA eram de um humano. Lembrando das mãos do Elroy deslizando por seu corpo, tocando, acariciando; lembrando das facadas no corpo da Gina; lembrando do símbolo da anarquia marcado nas pernas dela. ― Eu errei ― o Dante falou ― você mentiu para mim. Você matou a Gina. Não o Ronin. ― Ainda tenho as ultimas palavras dela ― Elroy conseguiu falar através dos dentes batendo. ― Não mais. Dante jogou o Elroy contra a neve e sentou sobre ele. Virando a cabeça do pervertido para o lado, ele se curvou e cravou suas presas na garganta ferida do monstro. Sangue quente pulsou para dentro de sua boca. Elroy gritou. Dante entrou na mente dele.


Os pensamentos e memorias do pervertido pulsaram para dentro da mente do Dante em uma corrente escura e suja. Corpos escondidos, violados, facas afiadas e ereções. Se aprofundando ainda mais, Dante procurou pela Gina. Um trovão ressoou pela noite. O estouro de uma espingarda. ― Ofereço á você um raro e inestimável presente ― Johanna Moore falou ― apenas pense no que poderia fazer com ele. A justiça que poderia oferecer. Heather manteve as costas contra a parede e os olhos presos na Moore. ― E se eu negar, lhe darei o dom nem tão raro assim, de colocar uma bala em minha cabeça. Os ombros da Moore se ergueram dando de ombros como se pedindo desculpas. ― Não terei outra escolha. ― É assim que você justifica o que faz? ― Heather falou. Novamente ela mediu a distancia até a porta. ― Você acha que está ajudando a sociedade matando mães, e transformando seus filhos em assassinos? ― Ah. Então o Stearns te entregou os arquivos – arrependimento brilhou nos olhos da Moore ― então você sabe o que o S é. ― Sei que Dante é capaz de arriscar a própria vida pelos amigos ― Heather falou ― sei que você falhou com ele. Um sorriso iluminou o rosto da Moore ― Falhei? Acho que não. Heather ficou tensa, se preparando para correr. Melhor morrer tentando do que não tentar. ― Você é um vampiro. Como pode fazer aquilo... ― uma imagem rodou pela mente da Heather, se chocando contra os pensamentos dela. Ela viu o rosto do Dante e palavras e palavras brilhavam como cristal em sua mente: aguente firme. A imagem desapareceu, e ela tropeçou, tonta e com o coração disparado. Dante estava próximo. Ela olhou para os olhos azuis e arregalados da Moore, observando enquanto a compreensão ganhava espaço. ― Você não voltou para Nova Orleans pelo E ― Moore falou


lentamente ― Você voltou pelo S... Pelo Dante. Você dormiu com ele. Ele bebeu o teu sangue, não é? Heather tentou pegar a Glock, mas mesmo atordoada e pensativa, Moore se moveu, puxando a mão que segurava a arma para longe do alcance e fechando sua mão livre ao redor do pescoço da Heather, a jogando contra a parede. Arfando por ar, Heather puxou os dedos que apertavam sua garganta e cortavam seu ar. Os dedos da Moore pareciam feitos de aço. Pontos começaram a aparecer na visão dela. ― E agora ela está vindo atrás de você. Não de mim ― desapontamento transparecia na voz da Moore. As mãos da Moore se afastaram. Heather deslizou pela parede sentando. Ela sugou o ar, tossindo. Lagrimas borravam sua visão. ― Devo deixa-lo ter você? ― Moore murmurou. ― Devo tirá-la dele? Ou deixar que ele faça isso? ― Ele não é mais um criança ― Heather falou com a garganta doendo e a voz rouca. ― ele não vai cair nos teus truques. Ele vai ver através deles. ― Será? ― Moore sussurrou ― Acho que não. Uma voz soou do autofalante próximo ao teto. ― Doutora Moore. Temos convidados no estacionamento. ― Já estou a caminho. Moore prendeu uma das mãos sob o braço da Heather e a fez ficar em pé. Um sorriso retorcia seus lábios. ― Acho que você tem pouco tempo para pensar. Considere isso... Diga sim e vou devolvê-la para o Dante. Heather se libertou da Moore. ― Ele não vai escutar você. Moore gargalhou. ― Ele nunca escutou ― ela marchou para fora da sala, fechando a porta. Uma pequena luz vermelha se acendeu. Trancada. Trovões rugiam e ecoavam pelo céu. Repentinamente o peso do Dante desapareceu e o E respirou uma lufada de ar frio. Ficando sobre os pés, ele arriscou olhar por sobre o ombro. O grandalhão segurava o Dante pelo colar da jaqueta de couro.


Direcionando sua atenção para longe do E. Obrigado amigão! Mas isso não vai salvar você... E em direção da figura que se aproximava. Uma silhueta segurando algo longo e escuro. Que abriu fogo. Um torvou rebombou novamente. Uma espingarda. E correu.

Johanna correu pelo corredor até a sala de segurança, seus saltos batendo contra o piso. Seu coração martelava contra as costelas como um pássaro selvagem em uma gaiola. Meu père de sang e meu lindo puro sangue chegaram. E o E. A muito venho temendo essa noite. E também a desejando. Wallace e S. Johanna balançou a cabeça, surpresa por ter deixado escapar algo tão obvio. Com o cabelo vermelho da Wallace, era inevitável que o S iria deseja-la. Será que ele acredita realmente se importar com a Wallace? Ele quer salva-la. E se ele se importar? Ah, mas e se ele não sentir nada? Ela passou seu cartão pela tranca da sala de segurança, abrindo a porta e entrando. Garth e Bennington presos pela tempestade, ambos olhavam para o monitor. Apenas dois guardas permaneciam em seus postos, também presos pela tempestade. Notando a falta deles, Johanna adivinhou que eles haviam saído para confrontar os visitantes não autorizados. Ela suspirou. Ronin os mataria, é claro. ― Deixe-me ver ― Johanna falou, passando pelos dois agentes. Ela se sentou na cadeira próxima ao monitor. Ela mostrava o estacionamento da frente. Uma van estava estacionada no centro da área enterrada na neve. Três figuras permaneciam próximos a van, mas a neve e o vento impediam


uma melhor visão. Um eles eram muitos mais alto que os outros dois, e todos pareciam ser caucasianos. Ela fez uma careta. ― Onde está o Ronin? ― Não o vi ― Garth falou ― apenas esses três. Enquanto Johanna observava, um deles jogou o outro contra a neve, e sentou sobre ele. Enquanto ele abaixava a cabeça, o vento parou por um momento. Couro e correntes, cabelos pretos e longos, pele branca. Sua bela criança. E aparentemente ele estava se banqueteando do E. Um sorriso tocou os lábios da Johanna. Parece que afinal das contas não poderei entregar o E para a Wallace. Então ela percebeu quem era a figura mais alta... Lucien De Noir. O amigo rico do S, sem camisa. Provavelmente ele também era um vampiro. Dois sujeitos usando casacos com capuz entraram no estacionamento. McCutcheon e Ramm. Johanna ficou tensa. O que eles estariam planejando fazer? Lhes dar uma multa por estacionamento proibido? Atirar neles para que saiam da propriedade? ― O que... ― Johanna fechou a boca quando um dos guardar ergueu um rifle, não, uma espingarda e atirou. Ela olhou para a tela, sua pulsação rugindo em seus ouvidos. De Noir agarrou o S pela jaqueta e o retirou de cima do E, protegendo a criança com seu próprio corpo. O tiro se perdeu. ― Os chame de volta ― Johanna falou através dos dentes cerrados. ― chame esses idiotas antes que sejam mortos. A porta chiou enquanto Bennington saia. Johanna olhou para a tela. E ficou em pé, então saiu trôpego pela tempestade, um de seus braços estava em uma tipoia, a outra mão pressionava o sangramento de sua garganta. Outro tiro. Johanna apertou os dentes. S se abaixou, e então se moveu. Ela arfou, assombrada pela velocidade. Seria o poder de um puro sangue? De Noir se moveu também, sua velocidade igualmente incrível. Então S estava sobre o corpo de um dos guardas, suas mãos fechadas como punhos ao lado do corpo. Uma poça de sangue, vermelho brilhante e quente


derretia a neve. Johanna piscou. Ela nem ao menos havia visto o S matar o guarda. E o outro? De Noir largou o corpo quebrado do segundo guarda na neve. Apreensão correu pelo corpo da Johanna. ― Vamos direciona-los ― ela falou ― trancando partes do prédio e deixando outras abertas. Teremos uma vantagem. Asas negras se abriram nas costas do De Noir. Johanna congelou, sua boca aberta e a mente vazia de qualquer pensamento racional. De Noir passou um braço ao redor do S e o ergueu no ar. Em direção á tempestade. Um caído. Um dos caídos caminhava ao lado do Dante. O guiando. E eu que temia o Ronin? Johanna se afastou do monitor, olhando para o rosto chocado do Garth. ― Tudo bem. Tudo bem. Quero que você feche... Uma explosão ecoou através dos corredores. A energia foi cortada. E o prédio caiu na escuridão. Johanna sentiu os dedos gelados do medo verdadeiro.

Lucien largou o corpo sem vida do guarda contra a neve. Suas asas se abriram e bateram ao vento. Antes que o Dante pudesse sair por conta própria, Lucien prendeu um braço ao redor da cintura do garoto e ergueu a ambos ao ar. ― O que você está fazendo? ― Dante automaticamente passou um braço ao redor do pescoço do Lucien. ― Procurando pela fonte de energia deles ― o vento os açoitava. Gelo começava a se formar nas asas do Lucien. Ele escaneou os postes elétricos, escutando a terra congelada. Capturando o vibrar da energia. Lucien sorriu.


Ele voou em direção aos fundos do prédio. Tocou seus pés descalços contra o pavimento congelado e largou o Dante. Dante viu a porta marcada SAIDA DE EMERGÊNCIA e correu na direção dela. Só depois que eu desligar a energia, espere por mim. Não. Lucien espiralou em direção ao céu tempestuoso, observando seu filho parado em frente á porta de saída, os cabelos escuros voando ao vento, suas mãos pousadas sobre a maçaneta. Enquanto ele voava em direção ao transformador, Lucien se perguntou para onde o Jordan tinha ido, imaginando se o mortal fosse morrer congelado, e torcendo para que isso não acontecesse. Lucien tinha em mente uma morte diferente para ele, uma que envolvia suas próprias facas e pele. Pairando ao lado do transformador, Lucien lançou chamas azuis pelo céu. Uma explosão alta vibrou do lado de fora. As luzes se apagaram. Olhando para a escuridão, Heather tocou sob seu sutiã, procurando nas curvas de seu seio pela lixa de unhas e a pegou. Ela seguiu até a porta. Onde não havia nenhuma luz vermelha sinalizando que estava trancada. Não havia nenhum sistema secundário? Se tivesse, era melhor se mover antes que ele entrasse em funcionamento. Ela empurrou, e a porta se abriu. Com o coração disparado Heather deslizou para fora da sala para dentro do corredor escuro. Ela se pressionou contra a parede. Escutando. Permitindo que seus olhos se ajustassem. Luzes vermelhas piscaram ganhando vida, e o corredor foi banhado pelo brilho fraco. Com a lixa nas mãos, Heather seguiu pelo corredor. Ela se perguntou quem teria chegado. Jordan? Dante? De Noir deveria estar com o Dante. Será que o Jordan estava vivo? Ela se lembrou das palavras do Dante: estou indo por você, chérie.


Estou aqui, Heather gritou. Estou aqui. Uma imagem do Dante ganhou vida na mente de Heather, apagando todos os outros pensamentos e preocupações. Sua mente começou a girar, e ela tropeçou. Se agarrando á parede, ela se segurou antes de cair. Fechando os olhos, ela respirou rápido, o fogo enchendo suas veias. O Dante escutou e respondeu. Ele estava a caminho. E tremia convulsivamente. Suas mãos e pés estavam amortecidos, mas seu coração queimava em um inferno. Um inferno que ele estava morrendo para jogar sobre seu irmão traidor. Ele sorriu, ou pelo menos tentou, mas seu rosto também estava amortecido. Talvez ele tivesse um sorriso aberto em seu rosto, congelado para todo o sempre. Se abaixando atrás de uma lixeira, E observou enquanto De Noir (com asas, mas que merda!) se erguia até o céu com o Dante preso ao lado. Outra coisa que o Ronin havia esquecido de mencionar. Aquele fodido. E sentiu a bile no fundo da garganta e a engoliu. Pensando na seringa escondida em sua tipoia. Pensando no cheiro adocicado de cerejas pretas e nas ultimas palavras da Gina. Ele sabia que o Dante não iria sair sem elas. Bam! Com o coração martelando contra as costelas E olhou por sobre o ombro. O centro de pesquisas ficou as escuras. Girando, ele correu para a porta e o calor que o aguardava do outro lado. Correu sabendo que o Dante estava entrando no prédio no mesmo momento. Uma competição, sim. E que o melhor e mais durão dos Bad seed vença. E agarrou a maçaneta congelada e a puxou, entrando na escuridão.


Dante abriu a porta e correu para dentro, então parou. Uma inquietação correu através dele, serpenteando ao redor de sua coluna. Ele respirou o cheiro de antissépticos de pinho e amônia. Uma memoria piscou. Uma mulher, olhos azuis, quase negros com a admiração enquanto cravava uma faca dentro dele... Não, isso foi o pervertido, ou... Vespas zumbiram, injetando veneno em sua pele. Já estive aqui. Muitas vezes. Dante empurrou o pensamento para longe, tentando recusar a memoria, mas ela insistia em voltar. O empurrando com força. Imagens fragmentadas giravam em sua mente: correias apertadas prendendo e ferindo seus pulsos, tornozelos, peito; um liquido vazando pela ponta de uma agulha; paredes brancas manchadas de sangue. O zumbido desapareceu e Dante estremeceu. Heather. Mantenha o foco na Heather. Não começa a se despedaçar. Dor latejava em suas têmporas e atrás dos olhos; ele as empurrou para longe. Luzes vermelhas se acenderam. Um brilho fraco no corredor. A voz da Heather sussurrava em sua mente: estou aqui. Estou aqui. Dante escutou a procura do coração dela, seu ritmo estável e calmo. Lá. Luz branca piscava na periferia de sua visão. Dante correu.

Johanna marchou em direção do corredor. As luzes de emergência havia se acendido, enchendo o prédio com luz vermelha. Garth saiu junto com ela, com a arma na mão. ― Não atire no S ― Johanna falou. ― tenho tranquilizantes para ele. ― E o que devo fazer se ele vier em minha direção nesse meio tempo? ― Garth perguntou, com uma das sobrancelhas erguidas. ― Jogar minha arma nele? Oferecer a porcaria da minha garganta?


― Você queria vê-lo. Bem, ele está aqui. Apenas fique longe dele. ― Ótimo. E quanto ao cara com as asas? Boa pergunta. ― Aconselho que você fique longe dele também ― Johanna se moveu, deixando Garth sozinha. Enquanto amaldiçoava.

Seu pequeno puro sangue estava caminhando por corredores que não passava fazia seis anos. Ele tinha dezessete na ultima vez que ela o havia drogado e preso. É claro, ele não tinha memorias sobre isso, apenas outro ponto em branco em sua mente. Mas dessa vez S caminhava pelos corredores por vontade própria. Por que ele pretendia resgatar Wallace. Por que pretendia confrontar Johanna. O coração dela disparou quando lembrou da velocidade dele. Confrontar? Não, ele pretende matar. É isso o que ele sabe fazer. Está em seu sangue. Heather olhou o corredor vazio e iluminado com luzes vermelhas. Ela ainda sentia o calor do toque mental do Dante; sua voz mental circulava na mente dela ― Estou a caminho. Se afastando da parede, ela correu pelo corredor usando apenas meias, com o brilho esverdeado do sinal de SAIDA como seu guia. Ela não podia ficar parada e esperar pelo Dante encontra-la. Poderia arriscar a Moore encontra-la primeiro. Não poderia arriscar deixar o Dante se sacrificar por ela. Por que saiba que ele o faria.

Shh. Je suis ici. ― Estou aqui. Dor correu pela parte de baixo dos dedos da mão direita da Heather. Ela olhou para baixo. Sua mão, com as juntas esbranquiçadas e começando


a doer, estava fechada ao redor da lixa de unha. Enquanto ela forçava os dedos a relaxar, ela escutou passos atrás dela, se movendo rapidamente... ― Fique parada Wallace. Fique bem ai. Heather escutou o inconfundível som de uma bala sendo colocada na câmara e sentiu o cheiro de melão doce. Capa de chuva. Parceira do parca. ― Não é comigo que você precisa se preocupar ― Heather falou, colocando os dedos sob a lixa de unha. ― Ele está vindo para me buscar. ― Você é a isca. Eu sei. Vire-se. Lentamente. ― Vá embora ― Heather falou. Ela mediu a distancia até a esquina do corredor. Se ela era necessária como isca, será que iriam atirar nela? ― Não. Coloco uma bala no teu joelho. Heather olhou diretamente para frente. Mudando a posição da lixa em sua mão suada. Deslizando a ponta entre seus dedos. Escutou a Moore falando: ― Será que deixo ele ficar com você? Isso não é você que vai decidir. Heather girou para a esquerda, sua mão fazendo um arco, para acertar um murro no ombro. Então parou. Elroy Jordan puxou uma seringa do pescoço da capa de chuva. A agente arfou, seus olhos rolaram mostrando o branco. A arma dela soltou de seus dedos caindo no chão. O olhar dele encontrou o da Heather. Como abismos. Um estudo sem emoções de um tubarão. ― Parece que sou eu com quem ela deveria se preocupar ― ele falou enquanto a Capa de chuva caia, seus membros se debatendo contra o piso. Ele balançou a cabeça. ― Isso deveria ser para o meu irmão da Bad Seed. A Capa de chuva ficou parada, olhos arregalados. Silenciosa. O forte cheiro de urina encheu o corredor. ― Oops ― Jordan falou sorrindo. Heather abaixou a mão, apertando os dedos ao redor da lixa. Seu coração martelava contra as costelas. Jordan, vivo. Mas um pouco amarrotado... Uma garganta inchada e mordida, o braço em uma tipoia. O olhar do Jordan caiu até a arma no chão entre eles. ― Heather fiel ― Ele murmurou ― Eu sabia que você viria por mim ― ele olhou para


cima. ― Mas o S ainda é meu. ― Errado ― Heather falou. E pulou atrás da arma. Jordan se jogou no mesmo momento. Enquanto os dedos dele se fechavam ao redor da pistola, Heather cravou a lixa na parte de trás da mão dele. Jordan gritou. Ela puxou a lixa ensanguentada da mão do Jordan. E a ergueu novamente. Mas o Jordan girou de joelhos e empurrou a pistola para o corredor atrás dele. A arma deslizou pelo piso liso em direção á escuridão. Jordan ficou de pé. ― Quem achar o Dante primeiro pode ficar com ele ― ele continuou olhando para a Heater. O caleidoscópio abismal se abria em seus olhos, infinito e faminto. ― É melhor correr ― ele falou. Heather correu.

Johanna chegou á unidade médica. Seus dedos se fecharam ao redor da maçaneta. Um grito ecoou através do centro e ela parou. Um homem... Bennington? E? Uma sombra tremeluziu contra a parede no final do corredor. Ela abriu a porta e entrou. Enquanto fechava a porta, ela tentou acalmar seu coração disparado. Ela espiou pela janela da porta. Johanna o sentiu antes de velo. Dor misturada com ódio atingiram seus escudos. E também desespero. Ele lutava por controle. Ele queimava. Ela cuidadosamente removeu os sapatos, então seguiu até o gabinete com os remédios. A sombra do S parou, voltando a tremer contra a parede na luz vermelha. Suor escorria entre os seios da Johanna, e ao longo de suas têmporas. Enquanto Johanna destrancava o gabinete, a porta se abriu com força e se chocou contra a parede, marcando o reboco. Ela ergueu a Glock. S entrou na sala e ela ficou sem folego por um momento, mesmerizada como sempre diante da beleza dele.


― Bem vindo ao lar ― ela falou. S parou, olhos escuros perplexos. Ele gemeu e colocou uma das mãos na cabeça. Sangue escorria de seu nariz. ― Dante! S se virou. A agente de cabelos vermelhos se segurou no umbral da porta e escorregou pelo piso, com suas meias. Ela olhou para a Johanna. Ele quer salvar a Wallace. Ah, mas e se ele não conseguir? ― Merda ― Wallace falou. Johanna atirou.

O tiro ecoou pelo corredor. O coração do E pulou em sua garganta. Ele passou pela esquina. Se segurando. Dante estava ajoelhado no chão, sua Heather presa nos braços. Ela tocou o belo rosto do traidor com uma mão tremida. E ficou tenso. Os olhos dela brilharam dourados? Pelo Dante? Por seu irmão enganador/mentiroso/ e traiçoeiro? Parece que a Heather havia ganho a corrida. Fogo consumiu o coração do E. Ele colocou a mão dentro da tipoia, seus dedos tocando a seringa. Ele se arrependia em ter esvaziado o recipiente na loira, desejando ter guardado o suficiente para o Dante. Com as mãos tremendo de frio e ódio ele pegou a seringa. Algo no chão brilhou na luz vermelha. Um presente á um deus irado? O sanguessuga abaixou a cabeça e beijou os lábios da Heather. O coração calcinado do E se desmanchou em cinzas. Ela teria gosto de mel? Aposto que sim. Com a seringa nas mãos, ele seguiu em frente com as costas pressionadas contra a parede iluminada de vermelho. Um dardo repentinamente se chocou contra o pescoço do Dante. O


sanguessuga estremeceu, mas continuou a beijar a Heather. Ou ele estaria fazendo respiração boca a boca? Não, os dedos de sua Heather estavam ao redor do cabelo preto do Dante. De onde o dardo havia sido? E ficou parado observando. Johanna Moore saiu da sala atrás do Dante, se inclinando sobre ele e puxando o dardo. Ela acariciou o cabelo dele. ― Você falhou ― ela sussurrou ― Novamente. Outro estremecimento ondulou o corpo do Dante, então ele caiu para o lado, Heather ainda em seus braços, e seus dedos ainda presos no cabelo dele. Juntos. Um estranho uivar encheu o corredor, aumentando e diminuindo, como uma sirene. E se deu conta de que estava correndo, a seringa em sua mão erguida como se fosse uma faca, quando a cabeça da mamãe vadia se ergueu. ― Váaaaa seeee fooodeeerrr! E juntou o presente encontrando no chão com suas mãos de deidade. Um metal, afiado e fino. Uma lixa de unhas. A mamãe vadia ergueu a Glock. Disparou. Dor tomou conta do peito do E, quente e cheia de espinhos. Sorrindo ele continuou correndo. A vadia atirou novamente. Outra dor desabrochou na barriga do E. Ele se lançou. Voando como uma flecha dourada, um deus da morte, puro e terrível. Luzes douradas jorraram de seu corpo, quente e poderosa. O deus se chocou contra a Johanna Moore, a jogando de volta para dentro da sala. A seringa se cravou na garganta dela. A lixa de unha furando suas entranhas. Tossindo ela jogou o deus no chão. O estomago do deus empurrou sangue para sua boca. O deus sorriu. A vadia segurou a seringa quebrada em sua garganta e a puxou. Então ela ergueu seu olhar cada vez mais para cima. Então ela finalmente esta me vendo, o deus pensou. O rosto da vadia se tornou cinquenta diferentes tons de branco.


Feliz o deus fechou os olhos.

Algo quente e molhado se espalhou pela parte da frente da camiseta da Heather. Ela olhou para baixo. Sangue, vermelho vivo. Arterial. Dante a segurou enquanto ela caia, a prendendo em seus braços fortes. Ela olhou para ele e tentou falar: eu sinto muito. Mas não conseguiu encontrar sua voz. A segurando contra o peito, Dante caiu de joelhos. Ela tocou o belo e devastado rosto dele com a mão tremendo, e acariciou o dedo sob o olho esquerdo. ― Não por mim, Dante ― Heather suspirou, mostrando a umidade no dedo dela. ― Nada de lagrimas por mim. Não é culpa sua. Dante a puxou para mais perto. O calor irradiava para dentro dela. ― Não vou perder você ― ele ergueu o pulso até a boca e mordeu. Sangue escuro escorreu por sua pele pálida. Ele pressionou o ferimento contra a boca dela. ― Beba ― ele falou ― s’il te plait. Por favor.

O sangue do Dante se espalhou pelos lábios da Heather quando ela virou a cabeça. Tinha cheiro de uvas pretas, e tinha o mesmo gosto dos beijos do Dante, pesado e tentador. A garganta dela se apertou. ― Não ― ela sussurrou. Sua visão falhando. ― Não. Quero permanecer o que... O que sou ― ela estremeceu, repentinamente com frio. Sonolenta. Um fogo dourado iluminaram os olhos do Dante. Abaixando sua


cabeça ele a beijou. A canção do Dante se agitava dentro dele, criando camadas e mais camadas de acordes. Abaixando a cabeça, ele beijou os lábios sujos de sangue da Heather e respirou sua canção para dentro dela. Ele a preencheu com sua essência, enviando o fogo azul para o centro dela. Ele a imaginou inteira, curada, tecendo um fio de luz azul pela ferida dela. Algo picou o pescoço do Dante. ― Você falhou ― uma voz familiar disse ― Novamente. Dante estremeceu enquanto algo frio se espalhou através do corpo dele, se quebrando como gelo em suas veias. A canção dele falhou. ― Não é verdade ― Heather murmurou contra os lábios dele. Ele sentiu o gosto salgado das lagrimas dela. O fogo queimou por um momento, e ele a empurrou para dentro dela antes que ambos caíssem juntos sob o gelo, através de uma noite sem estrelas.

Dor e pesar se chocaram contra os escudos do Lucien como tsunamis gêmeos, se retraindo para retornarem como ondas ainda mais potentes, em mares mortais. Ele correu, seguindo sua ligação com o Dante. A perda reverberava através do Lucien como uma canção quebrada. Poder se revirou no ar, criado pela energia de um creawdwr. Então Dante caiu na inconsciência. Enquanto Lucien entrava no corredor, ele viu Jordan se jogando contra Johanna Moore, uma seringa em uma das mãos, e um pedaço de metal na outra. Ele viu Morre atirando contra o Jordan duas vezes antes que o mortal a atacasse. Ambos atingiram o chão com força. A arma dela deslizou pelo piso, parando contra as costas do Dante. Dante estava deitado no corredor, seus braços ao redor da Wallace. Os resquícios de chamas azuis crepitavam e dançavam ao redor deles. Lucien


escutou o lento e compassado bater do coração do Dante, sentindo o cheiro dos produtos químicos em seu sangue. O coração da Wallace também pulsava, em um padrão mais rápido. Em um movimento rápido, Lucien parou ao lado de seu filho drogado e a mulher que ele se importava (gostando o suficiente para sacrificar sua própria segurança para assegurar a dela), mas as coisas não eram sempre dessa maneira? Isso era uma das coisas que Lucien mais amava e estimava no Dante (seu coração cheio de compaixão). Todas as coisas que a Moore obrigara seu filho a passar não foram suficientes para roubar essa compaixão, ou quebrar seu espirito. Ele estava ferido, sim, e alguns dos ferimentos poderão nunca se fechar. Mas ele sobreviveu. E ele é capaz de amar. Lucien via Genevieve em todos os atos de amor que o Dante fazia, em toda a bondade que ele apresentava. Nesses momentos Lucien via sua pequena e sorridente Genevieve. Mas, quanto à mulher que a matou... Lucien girou e observou enquanto Johanna Moore se livrava do peso do corpo do Jordan. A mão dela se ergueu, agarrando a seringa quebrada em seu pescoço. Ela a puxou, e o sangue escorreu do ferimento, então parou, o olhar dela viajou pela extensão do corpo do Lucien. Johanna Moore empalideceu. Seus dedos se congelaram ao redor do metal prateado em sua barriga. Os lábios cheios de sangue do Jordan se curvaram em um sorriso. Ele fechou os olhos. ― Você se lembra da Genevieve Baptiste? ― Lucien perguntou, se ajoelhando ao lado do Dante ― A mãe do meu filho? ― ele juntou a arma da Moore e a jogou através do corredor escuro. Choque tomou conta do rosto da mulher. Arregalando seus olhos. ― O seu... Filho? ― ela sussurrou. ― Oui, mon fils ― sim meu filho ― Lucien falou. Ele olhou para a Heather; ela abriu os olhos. ― Mas, acredito que a minha pergunta foi ―


Você se lembra da Genevieve Baptiste? Lucien passou um braço ao redor da Heather e a ajudou a sentar contra a parede. Seu olhar permanecia no Dante, relutante em deixa-lo. Lucien tocou o queixo dela com uma de suas garras. Heather olhou para ele com olhos dilatados em choque. ― Está tudo bem ― ele prometeu. Heather respirou fundo, então gemeu. Lucien afastou os cabelos do rosto dela. O ferimento não mais sangrava, mas ela precisava de atendimento medico. As drogas haviam impedido Dante de terminar seja o que for que ele havia começado. ― Estou esperando ― Lucien falou. ― Sim, lembro dela ― Moore gaguejou com a voz rouca. Ela arrancou a lixa da sua carne, que atingiu o chão com um tilintar agudo. Lucien passou uma das garras pelo pulso. Sangue surgiu. Ele olhou para Moore por sob as sobrancelhas. ― Diga o nome dela. ― Genevieve Baptiste ― Moore arfou. ― Eu não sabia. Eu não teria... ― Silencio ― Lucien falou, pegando Dante em seus braços. Moore fechou a boca. Lucien pressionou seu pulso sangrando contra os lábios do Dante. O cheiro do sangue acordou os instintos noturnos do Dante, e ele começou a sugar o ferimento, engolindo o sangue que o curaria. Lucien sabia que não iria neutralizar todos os efeitos das drogas, mas os controlaria. Voltando á olhar para a Moore, Lucien falou ― Li os arquivos. Vi o CD. Sei que você fez com o Dante. Com ele com a mãe dele, meu amor. Moore olhou para longe. Ela passou uma mão tremula pelo cabelo loiro. Por que você nos abandonou? Lucien sentiu o gosto amargo no arrependimento. Talvez ele merecesse o ódio do Dante. Minha Genevieve, estou com nosso filho. Pelo menos ele está a salvo. Lucien afastou seu pulso da boca do Dante, então se abaixou e o beijou, respirando energia entre seus lábios. Incentivando seu filho de volta a


consciência. Acorde criança. É hora de se vingar. Hora de se libertar do passado. Os olhos do Dante se abriram, revelando pupilas dilatadas e com contornos dourado.

― Vingue a sua mãe ― Lucien sussurrou ― E a você. Empurrando o braço do Lucien para o lado, Dante se levantou. O corredor girou. Pontos coloridos piscavam em sua visão. Sua cabeça latejava, mas um tipo diferente de dor cortava seu coração. Heather. Ele procurou por ela, e a viu descansado contra a parede, com um sorriso nos lábios pálidos. Picando em pé, ele cruzou o corredor, se ajoelhando e tocando o rosto dela. Ele conseguiu respirar um pouco mais aliviado sabendo que ela estava viva. Ele havia enviado energia e canção para dentro dela, procurando pelo o que estava quebrado. Ele não tinha certeza do que havia feito, mas funcionou. Ele não a perdeu. Heather pousou sua mão sobre a dele, a pele dela estava fria. Surpresa iluminou o rosto dela ― Escutei a tua canção. É escura e furiosa e de partir o coração. Tão linda. Está vindo de você? Dante assentiu. Se inclinando ele a beijou. Os dedos dela se entrelaçaram aos dele. ― Não escute ― ele falou contra os lábios dela ― Bloqueie isso. D‟accord? ― Deixe isso para lá. Posso montar um caso contra a Moore ― Heather falou ― Desista Dante. Dante se afastou ― Não ― ele apertou a mão dela, então a soltou. Ele se levantou.


Heather fechou os olhos ― Cabeça dura ― ela sussurrou. Dante girou em seus calcanhares e marchou pelo corredor, passando por Lucien, o medo da Heather se pressionava como uma rosa no coração dele. Por ele. Ela estava com medo por ele. Cuide dela. É claro. O corpo do Elroy o pervertido estava esticado no corredor em frente á porta, sua camiseta ensanguentada, seus olhos vazios, e coração silencioso. O calor se dissipava do corpo em uma nuvem. As mãos do Dante se fecharam. Gina. Elroy havia levado aquele ultimo pedacinho dela para a cova com ele. ― Diga o nome de quem você ama ― Dante sussurrou, passando por sobre o corpo do pervertido. Amanhã à noite? Sempre, ma petite. Dante caminhou para dentro da sala, que fedia a lembranças enterradas, sangue velho e remédios. Ele olhou para a mulher parada junto á parede oposta ― Alta, loira e uma criatura da noite. Nunca tirando os olhos dele, ela pegou uma arma escura sobre um balcão ao lado dela. Imagens piscaram: ela olhando para ele, sorrindo. Ele sentindo o cheiro do sangue da Chloe coagulado no chão, na camisa de força presa ao redor dele. ― Você fez bem, pequenino. Você falhou em protegê-la, mas conseguiu se proteger. Ninguém poderá ser usado contra você, se você mesmo mata-los antes. Outra imagem: ela apertando as amarras, passando a mão sobre o cabelo dele, então, sorrindo, se afastou enquanto um homem com um jaleco branco, e uma marcara limpa entrava na sala, segurando um bastão de baseball nas mãos. E começou a trabalhar. Vespas começaram a zumbir. A dor começou a murmurar na mente do Dante. Luz branca se infiltrou na periferia de sua visão. Ele observou a mão dela deslizar até a arma com tranquilizantes. Ele deixou que ela colocasse os


dedos ao redor dela. É ela Dante anjo. Seu sei princesa. ― Meu puro sangue ― ela falou. Um sorriso tocando os lábios dela. ― Você se lembra de mim? ― Oui ― Dante falou, sua voz baixa. ― Lembro-me de você. Dante se moveu e prendeu o pulso dela enquanto ela erguia a arma, então a jogou contra a parede. A arma caiu da mão dela, e se chocou contra o piso. Moore girou, mas o Dante a segurou contra a parede, suas mãos presas contra os punhos dela, seu corpo pressionando o dela, sua perna entre as dela. Dante sentiu o cheiro do sangue dela correndo por suas veias, escutou os batimentos do coração e o perfume dela ― Canela, folhas e gelo. Moore parou de lutar. Olhando Dante nos olhos. A respiração dela ficou trancada na garganta e outro fragmento de memoria abriu caminho pela mente dele: Moore deitada nua e quente ao lado dele, cheirando a sangue e sexo, as presas dela na garganta dele, os dedos dela em seu cabelo. Ódio correu pelos músculos já tensos. ― O que te faz diferente dele? ― Dante apontou com a cabeça para o corpo do Jordan atrás deles. ― Sei no que você é bom. ― Sim, ele também pensava assim. ― Ninguém conhece você como eu ― Moore falou com a voz rouca. ― Explorei sua mente. Mapeei a sua psicologia. Mas é apenas o começo. Há segredos S... ― Não sou o S. Musica se espiralou pelo Dante: uma aria retorcida e escura, que se prendia ao redor do coração dele, se erguendo, batendo, um crescer de fúria, caos e perda. Acordes arranhavam, ritmo caótico pulsava discordante e cru. A canção dele queimou. Incandescente. ― Minha mãe pediu para ser transformada? ― Dante perguntou. ― ela escolheu isso?


― Sim. Mas ela mudou de ideia depois, quando já era tarde demais. Não pude desfazer... ― Mentirosa ― Dante sussurrou. ― Que brilho é esse? ― Moore murmurou enquanto ele erguia as mãos e segurava o rosto dela. Ritmo caótico se prendeu ás estruturas de DNA, vibrando, quebrando, comprimindo, apagando, desfazendo. Johanna Moore gritou, um longo e ondulado som, que se cravou na cabeça dolorida do Dante. Sua canção a fez em pedaços ― Dividindo ela em elementos, tocando um arpejo no núcleo dela. Derramando a essência dela. Separando carne, ossos e sangue. Johanna Moore caiu em uma poça no chão, seu grito terminou em um gorgolejar. Picos azulados de energia se erguiam ao redor do Dante, e chamas se erguiam de suas mãos. Ele tremia preso na canção, o ritmo do caos, a batida da criação. Fechando os olhos, ele viu estrelas. Escutou o bater de asas. Cale a canção criança. Você já vingou a sua mãe. Dante abriu os olhos. A canção desapareceu dando lugar ao silencio. Dor reverberava por sua cabeça. Ele sentia gosto de sangue. Ele olhou para baixo, para a poça úmida que um dia foi Johanna Moore. E chutou os restos para longe. Então se virou. Lucien olhava para ele, olhos dourados, asas abertas atrás dele, seu rosto parecendo arrebatado e... Extasiado? Dante se surpreendeu. Lucien com medo? Creawdwr Dante caminhou até a porta. Ele se ajoelhou ao lado do corpo já frio do Elroy. Será que ele poderia resgatar as memorias da Gina de uma mente morta? ― Tarde demais ― Lucien falou ― você escolheu os vivos aos mortos. Olhando para cima, Dante viu Heather sentada do outro lado do corredor, rosto tenso, olhos escuros e preocupados. ― Oui. Os vivos ao


invés dos mortos. Perdoe-me Gina. Levantando, Dante passou pelo corpo do pervertido uma ultima vez. Ele pegou Heather em seus braços e a carregou pelo corredor. Os músculos dele se retesaram quando ele sentiu o cheiro de medo nela, medo dele. Ele a segurou mais perto, seu coração batendo mais forte. Um homem com um casaco pontilhado com neve entrou no corredor, suas mãos apertas. Olhe nada escondido aqui! ― Posso chamar uma ambulância ― ele falou ― Você pode confiar nele ― Heather murmurou ― ele me ajudou. ― Tudo bem ― Dante falou ― chame uma ambulância ― ele respirou o cheiro da Heather, chuva, sálvia e sangue, para dentro de seus pulmões. Com medo de que aquela fosse a ultima vez.


34 Tudo o que poderia ser ― Hey. Heather olhou na direção da porta. Dante estava reclinado com uma das mãos contra o batente, usando couro e látex. A luz fluorescente brilhava na argola de seu colar e em seus anéis. Um meio sorriso inclinava seus lábios, iluminado seu belo e pálido rosto. Ele ergueu os óculos até o topo da cabeça. Ele ainda a deixava sem folego. E ela suspeitava que sempre o faria. Atrás dele no corredor, enfermeiras e médicos o encaravam, se perguntando quem faria uma visita de hospital, usando couro e colar bondage, e também quem teria se aventurado pela noite congelada.


― Hey ― Heather respondeu. Ela pressionou a mão contra o colchão, tentando se erguer, mas então o Dante estava lá, com os braços ao redor dela, suas mãos quentes contra a pele dela. Dor queimou através dela a fazendo prender a respiração. ― Alguma coisa errada? ― Dante perguntou ― você precisa... ― Não. Estou bem. Dante olhou para ela por um longo tempo, seus olhos escuros estudando o rosto dela. Então ele inalou profundamente. Ele puxou uma cadeira para perto da cama e sentou. Heather tinha quase certeza de que ele sabia o que ela iria dizer... Ou pelo menos, suspeitava. Passando a mão sob a grade da cama, ela agarrou a mão do Dante. O fantasma de um sorriso passou pelos lábios dele. Ele acariciou as costas da mão dela com os dedos. Ela olhou para o reflexo do quarto na janela, e para a escuridão do outro lado, e para as duas pessoas no quarto, de mãos dadas e em silencio. Heather pensou nos cirurgiões confusos: o pior dano na aorta e pulmão esquerdo estavam fechando, curados ou miraculosamente cauterizados. Ela deveria ter sangrado até a morte em minutos. Ela se lembrava do gosto dos lábios do Dante, o gosto de Amaretto do sangue dele; lembrou do fogo que ele soprou para dentro dela. Nada que Heather pudesse falar para os médicos. Ou para os investigadores que o Bureau enviou para pegar o testemunho dela, desvendando a verdade. Ou pelo menos a versão oficial da verdade. Ela sabia que não poderia mencionar o projeto Bad Seed; ela apenas discutiu sua caçada pelo serial Killer e como finalmente o encontrou. De uma coisa ela tinha certeza ― sua carreira no Bureau tinha acabado. Sua decisão, uma sobre a qual ela ainda não havia falado. Os poderosos ficariam felizes em envia-la para uma cidade obscura, na verdade iriam preferir isso. Heather manteve Dante longe de todos eles. Ele salvou a vida dela. Mesmo sem isso, ela nunca o entregaria para os lobos do governo. Johanna


Moore já não fora feroz o suficiente? Johanna Moore. O que o Dante havia feito... Heather não conseguia fazer sua mente aceitar aquilo. O que ele fez? Dante segurou o rosto da Moore. As mãos dele tremiam. Brilhando com luz azul. Chamas azuis. O cabelo dele serpenteava no ar. Energia estalava. A pele da Heather se arrepiou. O cabelo dela se ergueu. Ela sentiu cheiro de ozônio. A luz azul entrou no corpo da Moore, explodindo dos olhos dela, e de sua boca aberta em um grito. Ela... Se separou... Em tiras, molhadas e brilhosas, misturando o azul e o vermelho. Dante a desfez, separando todas as partes dela. Johanna Moore escorreu até o chão. Energia continuava a sair do Dante, tentáculos azuis chicoteavam o ar e alteravam tudo o que tocavam. Um balcão se retorceu no escuro, crescendo vinhas grossas com espinhos azuis. A arma com tranquilizando deslizou para a escuridão. O belo rosto do Dante continuava estático ― como quando ele colocou fogo na casa dos Prejans. Naquele momento, Heather teve pavor do Dante. Do que ele podia fazer. De seu potencial. Ainda assim... Dante não havia sido a voz para a mãe dele? Por todas as vitimas da Johanna Moore? ― Fale comigo ― Dante falou. Heather desviou o olhar da janela. Sorrindo ela apertou a mão dele. Ele queimava contra a palma dela. Parecendo febril. ― Você está bem? ― ela perguntou. ― Ça va bien. Estou bem ― Dante manteve o olhar dela, seu próprio aberto e sincero. – fale comigo Heather. Ela assentiu. Conversar talvez ajudasse. ― O que você fez com a Moore... O que... Como? ― Não sei ― Dante falou. Ele passou a mão pelo cabelo. ― Nunca fiz... Aquilo antes. Aquela canção que você escutou? Está ligada á isso. A sinto


dentro de mim – ele tocou a mão dos dois contra o peito, sobre o coração. ― é como tocar as cordas da minha guitarra, como compor em meu teclado. ― Isto é uma habilidade das criaturas da noite ou dos caídos? Dante olhou para ela surpreso. ― Como você sabe? ― O teu pai me contou ― Heather falou. Dante assentiu, então desviou o olhar. Um musculo se flexionou em sua mandíbula. Depois de um momento ele falou. ― Tenho certeza de que é dos caídos. Eu costumava pensar que algo das criaturas da noite, mas... ― ele deu de ombros. ― Você pode controlar isso? ― Nem sempre. Não ― Dante olhou para ela, a luz refletida brilhava em seus olhos. ― Você estava no controle naquela hora? ― Mais ou menos. ― O que significa? ― Significa que eu não tinha aquele resultado em mente ― ele falou com a voz baixa. ― Mas eu queria acabar com ela e com seus jogos fodidos ― o dedo deles mais uma vez começou a acariciar as costas da mão dela, um gesto calmante ― Para ambos ela sentiu. Dante era uma criatura da noite, um Caído e um assassino. E havia feito coisas o suficiente para enviar a maioria das mulheres (pelo menos as sãs) correndo noite a dentro. Mas havia muito mais sobre ele ― Um garoto desejando boa noite para sua princesa, e então seguindo sozinho para o porão; um homem lutando com suas emoções enquanto colocava sua jaqueta sobre o corpo de uma amiga, sentando ao lado para que ela não ficasse sozinha; um amante se encaixando em uma mulher como nenhum outro já fez (corpo e coração) a pedindo para ficar. Tudo fica calmo quando estou com você. Os barulhos param. Corre para longe de mim. Será que algumas dessas declarações eram os reflexos do verdadeiro centro do Dante? Ou seriam ambos? Será que a vida de Dante alguma vez


pertenceu a ele? Heather estudou os olhos dele, e seu belo rosto. Apesar de tudo pelo que passou, ou talvez por causa disso, ele de alguma forma capturou o coração dela. Sem saber o que a assustava mais. Ela precisava de respostas. Ela precisava de uma chance para recuperar o folego. ― Pra onde isso está indo? ― Dante falou, a observando. Seus dedos estavam parados na mão dela. ― Heather? ― Quero que você vá para casa ― ela falou calmamente ― Vou seguir de volta para Seattle assim que for liberada. Vai ter uma tonelada de merda com o que preciso lidar. ― Você não precisa lidar com tudo sozinha. ― Sim, eu preciso ― Heather soltou a mão dele, segurando a guarda de metal. ― Dante eu preciso. Tenho que pensar em algumas coisas... Para entender. Preciso de um pouco de distancia. Um pouco de tempo. Nada é o que... O que eu acreditava ser. Um meio sorriso ergue os lábios dele. ― nada e ninguém. Acredite em mim, eu entendo. Heather tocou o rosto dele ― Aposto que você sabe. Fechando os olhos Dante se reclinou contra o toque dela, colocando a mão sobre a dela. ― Você também precisa de tempo ― ela murmurou ― você mais que ninguém. ― Não me diga o que preciso ― a voz do Dante estava rouca. ― Teimoso ― ela sussurrou. Apesar da negação dele, sua vida, seu mundo, haviam sido destruídos – seu passado obscuro revelado. Será que ele já sabia de toda a verdade? De Noir contou para ele? Será que ela deveria contar? ― O teu pai te falou alguma coisa sobre a Bad Seed? ― ela afastou a mão do rosto dele. Os olhos do Dante se abriram. Algo brilhou naquelas profundezas obscuras ― dor, talvez pesar, talvez ódio ― e então desapareceu. ― não. Elroy me falou. Mas não consigo acreditar ainda ― ele balançou a cabeça.


― não importa o quanto eu tente. Jordan. Aquilo doía. ― Oh Dante, eu sinto muito. ― Não sinta ― um sorriso passou pelos lábios dele. Ele retirou os óculos do topo da cabeça, os colocando. ― a culpa não é sua ― levantando, ele se curvou sobre ela e passou os lábios contra os dela. ― Isso não precisa ser um adeus ― Heather falou contra os lábios mornos dele. ― me importo com você, sabe disso não é? ― Também me importo com você ― ele sussurrou, passando um dedo ao longo da mandíbula dela. Heather fechou os olhos. Quando os abriu novamente Dante havia desaparecido. Mas a sensação dos lábios dele permaneciam nos dela; e seu perfume continuava no quarto. Ela o imaginou caminhando sozinho pela noite coberta de neve. Ela tinha o pressentimento de que ele não esperava vê-la novamente. Ela sabia que a partida dele iria doer, mas não tanto assim. E doía fundo em seu coração, como uma faca afiada. Lagrimas escorreram pelo rosto dela até as orelhas. Colocando os braços sobre o rosto ela chorou. Por todos os mortos que Elroy Jordan deixou para trás. Pela justiça nunca feita. Pelo Dante. Ela pensou em tudo que nunca poderia acontecer. Viagens entre Nova Orleans e Seatle, Dante criando musica, viajando, juntando os pedaços de seu passado. Ela provavelmente se tornaria uma detetive particular, algo que pudesse ajudar aqueles que não mais podiam falar, e (juntos) ela e Dante poderiam trabalhar para curar sua mente ferida e encontrar a redenção que ele tanto ansiava. Isso ainda pode acontecer. Nada está escrito em pedras. Penitencia. Dante poderá ser redimido? Ela acreditava que ele valia à tentativa. Ela só precisava descobrir que era forte o suficiente para dar essa chance. Para ele, e também para si mesma.


Não vou deixar você. Uma canção repentinamente se curvou ao redor de Heather e, por um momento, ela achou ter escutado a voz do Dante, rouca e baixa, queimando como uma chama no coração dela: shh. Je suis ici. Estou aqui. Sempre.

Continua em

In The Blood


p Papyrus p


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