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DIGA-ME ONDE CAMINHAS QUE TE DIREI QUEM ÉS
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Mecanismos Incorporadores Saco (elogios)
narrativa narrativa urbana; urbana; diário diário de memórias; de memórias; rastro. rastro.
mecanismos mecanismos incorporadores incorporadores saco saco (elogios) (elogios)
DIGA-ME DIGA-ME ONDE ONDE CAMINHAS CAMINHAS QUE QUE TE DIREI TE DIREI QUEM QUEM ÉS ÉS
Que caminhar é um ato estético nós já sabemos, e que caminhar transforma a paisagem, via leitura e escritura do espaço, nós também já sabemos. Careri já deve ter passado por aqui em algum momento. Mas, após tanto caminhar com essas questões em mente, chega um momento em que o corpo começa realmente a ler (interpretar os símbolos dados) e escrever (construir espacialidades subjetivas) os espaços que atravesso. Ainda mais quando estes espaços atravessados configuram em mim uma relação, uma percepção além da visão. Os espaços me ajudam a construir memórias e, com elas, penso num diário. Pensar um diário é estabelecer um afeto. Somos afetados constantemente por pessoas, coisas e lugares. Nosso corpo se transforma numa base repleta de impressões de múltiplas sensações. As impressões mais fortes, mais instigantes, mais provocadoras, e mesmo as mais banais também, são afetos registrados. Afetos estes que se transformam, viram memória. Mas não são todos os afetos que viram memória, pois o corpo, para não cansar-se de carregar esse peso todo, mantém tais memórias na sua superfície, que, com o tempo, precipitam-se, somem, abandonamos. Para assumir e incorporar essas memórias, transformamo-las novamente em afetos. Mas dessa vez conscientemente: anotamos, registramos essas marcas dos afetos, damo-las um rastro. Pensar um diário é deixar um rastro. Um rastro da passagem, do decorrer de um afeto em um tempo. Por isso, faço um diário de afetos, um rastro. E para se tornar mais concreto, os rastros registrados representam um rastro físico, literalmente um passar. Seleciono da memória alguns locais passados, caminhados, percorridos, experimentados, fantasiados. Tais locais estão representados pelos seus pisos, matérias pisadas, superfície que dialoga intimamente com meus pés. Mas estes pisos também são representados, não por fotografias, mas por desenhos, linhas desenhadas, espaço bidimensional e portátil que dialoga intimamente com minhas mãos. Cada piso, imbricado de formas e cores, vem acompanhado do seu mapa, sua localização. Importante dizer, falsos e hipotéticos geograficamente, mas verdadeiros espaços imaginados e relembrados, quase que psicogeograficamente. Pois a memória prega peças, e assumi-as. Assumi-as com uma pergunta, quem sabe uma resposta, mas certamente uma provocação e um elogio ao passo do Trapeiro pela Cidade: “DIGA-ME ONDE CAMINHAS QUE TE DIREI QUEM ÉS.”
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O que vem a seguir é uma representação desse diário, um fragmento deslocado de seu estado original. O objeto-fonte é um livreto encadernado a mão, com capa e amarração em couro. Suas folhas são retalhos de papéis especiais para gravura e serigrafia que já não eram mais. Ao todo, nessa unidade, nesse diário, 60 pisos foram registrados, cada um deles numerados e “localizados”. Não receberam nomes nem palavras descritivas por respeito ao tempo e à memória háptica. Aqui, três momentos do diário: 9 páginas de afetos, 9 mapas imaginados e 9 fotografias de pisos.
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