O RETORNO DE ELIZABETH TORNY

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Tatyane Nicklas

O Retorno de Elizabeth Torny Livro 1 1ª Edição São Paulo 2015

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Copyright © 2015 Tatyane Nicklas Copyright © 2015 Métrica O selo de entretenimento da Editora Tribo das Letras Revisão: Victoria A Tocchio Arte Capa: Nanda Gomes Imagens: Editora Tribo das Letras Editora e Diagramadora: Cristiane Spezzaferro

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha Catalográfica feita pela Editora.) __________________________________________________ N6327 Nicklas, Tatyane Retorno de Elizabeth Torny, o / Tatyane Nicklas 1ª ed. - São Paulo: Editora Tribo das Letras, selo Métrica - 2015 p. ISBN: 978-85-67208-36-7 1. Literatura Brasileira 2.Romance I CDD B869.3 CDU 821.134.3(81) _____________________________________________________ Índice Catálogo Sistemático 1.Romance Brasileiro B869.3 É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão expressa da Editora Tribo das Letras, na pessoa de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Todos os direitos desta edição reservados pela.

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Agradecimentos Eu Tatyane Nicklas “Durante toda a minha vida voei com minhas asas quebradas, todos os pousos foram ruins, mas todos eu pousei. Mesmo nas dificuldades eu entreguei o meu medo de me quebrar a minha vontade de conquistar. Que todos os pousos ruins sejam apenas um desafio para um salto espetacular”. Eu sempre falarei entre linhas, afinal, “Warning sign”. - Acredito que a língua universal sempre será a música. E a inteligência sempre se iniciará de um livro, mesmo que esse seja o da sua história. Farther away – Evanescence. Tem uma grande importância na minha vida, não deixem de ouvir. Principalmente pelo fato de que o livro foi escrito ao som dessa banda. Agradeço a cada ser que estiver lendo essa história, acreditem, passei por duras penas e aprendi que apenas o amor e a humildade podem vencer a dor, amem a si, mas não se esqueçam, sempre existe um próximo e esse mesmo, pode ser você! Acreditem com o coração e dediquem-se com a alma. Tenham fé. Aos meus fãs, inacreditavelmente eu tenho fãs. - Risos. - Sem vocês nada disso aconteceria em minha vida. Obrigada, me inspiro por vocês, o carinho de vocês não tem preço. Esse é o meu sincero valor. Agradeço a oportunidade a Editora, e a Cris, não tem preço a sua dedicação. Mãe, como sempre amor e gratidão eterna, eu te amo, obrigada por existir, o melhor exemplo de todos os exemplos, minha rosa, minha flor, obrigada família, pai, saudade que o tempo não apaga, eu gostaria de ter tido mais tempo com você (in memoriam) irmãos o melhor da vida é observar e crescer com vocês, com muito amor, sobrinhos, primos, tios, madrinha, amigos irmãos. O que seria de mim sem vocês? - Seu Zé, o tempo jamais apagará. Saudade imensa. Meu Rosa. (in memoriam). Não pode faltar um exemplo para todos, Tia Marinusa, quem te conhece


sabe, grande história. Quem dera todos chegarem aos seus Setenta e poucos com tanta vitalidade, luta e amor á vida. Nós te amamos. A todos que não mais compartilham a alegria desse mundo. Obrigada, longe dos olhos, pertinho do coração. Taís, minha menina, minha irmã, minha gêmea, sem você nada disso seria possível, continua com a sua estrela brilhando no céu, que eu sempre estarei aqui para admirar a sua luz. “Um dia a gente se encontra”. Amigos leitores nós nos encontraremos nas próximas histórias... Muito obrigada! Carinhosamente; Tatyane Nicklas


Prefácio

Você acredita em destino? Algumas pessoas passam a vida lutando contra ele, outras apenas o aceitam e aproveitam o que pode do melhor ou pior deixando que ele as conduza, essas raramente são infelizes. Então irei contar como esse livro chegou em minhas mãos, depois me digam se isso não é “destino”. Uma bela tarde, nossa editora me envia um e-mail: Esse é o próximo lançamento, precisa de uma capa urgente. Tema: “Garota paranormal, retorna a cidade para vingar-se, cabelos pretos olhos azuis”. E isso era toda a informação que eu tinha para criar uma capa. A capa foi criada em menos de três horas, eu não sabia se era aquilo, mas mesmo assim enviei, eu precisava de uma base! A resposta foi: Está perfeita! Ótimo! Pensei. Alguns dias depois conheci a Tatyane Nicklas pessoalmente, uma menina espevitada entrou no lançamento de um livro como um foguete, falamos rapidamente e saiu como um furacão. Naquela noite eu li Elizabeth Torny, terminei às três da manhã, encantada pois o mesmo vestido vermelho, a mesma expressão, o tom de pele que eu havia colocado na capa estava ali no livro! Destino? Quem sabe? Na mesma hora enviei uma mensagem para Tatyane. “Eu li seu livro.” Ela respondeu às três e dez da manhã: Sério? E o resto da madrugada, eu descobri uma garota de um talento único, um coração maior ainda e uma profissional que sabe aonde quer chegar sem colocar a humildade de lado. A simplicidade de Tatyane Nicklas conquistou a minha admiração não só pela autora, mas pelo ser humano, ela é gente da gente! Quando se lê O retorno de Elizabeth Torny, você descobre que nele existe muito mais que uma estória, existe uma história. Um livro onde capítulo a capítulo você sente que uma parte do coração da autora ficou gravado ali. Um livro atemporal, que foi escrito seis anos atrás, e ele ainda está totalmente moderno. Daqui a vinte, trinta anos ele será atual, um livro que meus filhos poderão ler, e também meus netos, sem modinhas, sem clichê uma história única que vai te prender do início ao fim e deixar com gosto de quero mais. Tatyane Nicklas: O sucesso é seu destino, escrever a sua sina. (Maravilhosa por sinal!) Nam Gomes. - Tribo das Letras



O Retorno Ê seu destino, a vingança sua sina...


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O Retorno O sol começava a se pôr atrás das verdes montanhas que se tornavam cada vez mais negras sem a luz natural do dia. A bela paisagem ia ficando sombria com o cair da noite, ainda era possível avistar algumas árvores que quase não tinham flores nessa época do ano, mas eram de uma beleza tranquilizante, tranquilidade essa acentuada pelo leve sacolejar do ônibus, mas Elizabeth estava imune à beleza e às sensações daquele mundo que passava, embora olhasse fixamente pela janela. – Qual o seu nome, filha? – perguntou uma senhora que sentara-se ao seu lado. Aparentava ter seus quase Sessenta anos, de óculos e cabelos grisalhos. Falava suavemente e prestava a atenção em cada detalhe. – O quê? Meu nome... – Ela entrou antes de responder, pois por instantes lhe veio à mente o peso que carregava seu nome – Meu nome é Torny. – Você mora nesta cidade? – Prosseguiu a senhora ainda a observando. – Não, senhora... Não moro, mas já conheço bem aqui. – O quê...? – Próxima cidade: – O anúncio do motorista interrompeu o confuso diálogo. – Bem, é aqui que fico mocinha... Onde ficará? – A senhora indagou preocupada, levantando-se. – Palmertorny. – Elizabeth respondeu vagamente. –Ah! Sim, querida... Espere... Você se chama...? – Dona Lyus, por favor, só estamos esperando que desça para seguirmos em frente. – Chamou-lhe o motorista, já impaciente. – Oh! Sim, Freddy, já vou descer meu filho. Até mais, querida. A boa senhora não conseguia conter sua preocupação e, mesmo ao saltar do ônibus, não desviava os olhos da garota. –Adeus, senhora – Despediu-se com um olhar fixo e tenebroso, com a certeza de que veria novamente a velha senhora que, insistentemente, tirara-lhe a atenção desde que sentara a seu lado no ônibus. Em sua mente, o tempo não passava estranhas palavras lhe tiravam daquele mundo real... O Retorno de Elizabeth Torny|11


– Por essa luz do Sol e pela luz do dia. – Por essa luz do sol e pela luz do dia. – Por essa luz do sol e pela luz do dia. – Por essa luz...

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– Ei! Moça...? – Não... O que foi? – assustou-se Elizabeth abrindo os olhos e virando a cabeça em direção da voz. – Acalme-se, você dormiu e acho que se não acordar perderá seu ponto. – Um rapaz estava ao seu lado e sorria enquanto a observava. – O quê? Quem é você? – balbuciou ainda confusa. –Desculpe–me... Sou Edward Korny, não pude evitar ouvir sua conversa com a senhora Lyus. – ele se apresentou ainda sorrindo. – Lyus? – ela perguntou, mas logo lembrou-se da senhora que havia tido um curto dialogo momentos antes. –Próxima parada: Estrada Palmertorny. – Anunciou novamente o motorista. –Bem... Chegamos moça. – Chegamos? Você não está comigo. – Ela retrucou seriamente. Diante da situação, o rapaz de olhos azuis e sobrancelhas escuras, como seu cabelo ficou aturdido, não tinha a intenção de incomodar. – Vejo que não está em seu melhor dia. – Olha aqui, Edward... – Por favor, Korny. Para os íntimos. – Interrompeu, arrependendo-se logo em seguida. – Você me conhece por um acaso? – – Nossa, mas hoje está difícil! Vocês aí do fundo, por favor, querem dar o fora do meu ônibus?! – Num tom agressivo, Freddy, o motorista, chamou a atenção dos dois abrindo a porta. – Vai se danar, seu panaca com orelhas de rato. – Ela retrucou, pegando sua mochila de cor vermelha e olhando fixamente para o motorista. – Uhhh! Nossa, moça, que vocabulário... Aposto um dólar que não é daqui. – Edward achou muito engraçado aquela garota linda sendo arrogante e perdendo a classe. – Vão embora, seus marginais... – O motorista sentia-se estranhamente 12|Tatyane Nicklas


diferente ao abrir a porta do ônibus. Com um olhar castigante, antes de descer do ônibus, Torny olhou friamente para o motorista e, com um tom de travessura, sussurrou pausadamente: – Orelhas de rato. Orelhas de rato. Orelhas... De rato. O motorista olhou em seus olhos e sentiu algo intimidante, a garota estava com uma expressão um tanto assustadora. Fechou a porta mostrando-lhes o dedo. – Idiotas, nunca mais entrarão no meu ônibus. Mas que menina estranha. – Pensou. – Você o irritou. O Freddy é assim mesmo, quase sempre mal– humorado, e, como o ônibus é dele, ele faz o que lhe dá na telha. – Quer fazer o favor de não falar comigo?! – Ela continuou em um tom arrogante. – Tudo bem, mas me diz: O que você faz na Rota 66? – ele perguntou ainda sorrindo – Como? Rota 66? É assim que chamam aqui? – Elizabeth perguntou, agora ele conseguira sua atenção. – Oh! Sim... Rota 66. Você não é daqui, né? Interessada no que poderia descobrir vindo desse estranho que acabara de conhecer, andando pela estrada em direção ao centro da cidade de Palmertorny, resolveu conquistar a confiança do rapaz. – Ah! Sim... Não sou não... Sou uma... Uma... – Jornalista? – Edward supôs. – É... Como você sabe? – disse rapidamente sem entender muito bem. – Ah! Eu sabia, sou esperto, e você com essa cara de quem quer descobrir enigmas... Bang! É fácil. Posso saber seu nome? – Meu nome é... Torny. Edward virou-se para ela e deu uma enorme gargalhada. – O que foi? – Perguntou sem entender muito bem do que ele ria. – Me desculpe, mas... Não existe um ser vivo chamado Torny nesta cidade. Você está fazendo uma pesquisa sobre os diabólicos Tornys e agora quer se chamar Torny? Com um olhar um tanto desgostoso ela o olhou e sorriu como se fosse golpeá-lo em seguida... O Retorno de Elizabeth Torny|13


–Meu nome é... – Olhou ao seu lado e avistou uma propaganda pequena dos óculos Santhller, longe das vistas de qualquer ser normal – Liz Santh-ller. Chamam–me de San. – Completou. – Ok! Gostei... “San”... Parece com você, sabia? Quando eu te vi, logo pensei: o nome daquela branquela ali deve ser San. – Bem... Vou me apressar, adeus, Edward. – Ei! Como assim? Aonde você vai? – ele perguntou, por incrível que pareça Edward não queria separar-se da garota. – Escuta aqui, você já fez perguntas demais... Não queira me conhecer ou vai se arrepender de ter me visto um dia. – ela respondeu rude afastando-se, o que despertou ainda mais seu interesse. – San... Sinto muito. – Ele estava arrependido por ter feito inúmeras perguntas. Afastando-se de Edward, Torny caminhava com passos largos e firmes, carregando sua mochila vermelha, aparentemente pesada, nas costas, em busca de um hotel para passar a noite. – Espere San! Olha, não falo mais uma palavra, ok? Já está escurecendo, você não pode atravessar o caminho até o centro da cidade sozinha, é perigoso. O caminho ao qual ele se referia era uma trilha que passava por dentro de um bosque, na verdade era um atalho pouco utilizado pelos moradores quando não queriam dar a volta pela avenida que cercava o bosque para chegar ao centro de Palmertorny. – Oh! Sim... Obrigada. – Ironizou. Mas continuou caminhando pela estrada ao lado daquele desconhecido sem fazer questão de ouvir sua voz. Alguns passos adiante, avistou um feixe de luz ao seu lado, a claridade lhe chamou atenção e foi chegando cada vez mais perto. – San... Aonde você vai? Você está enganada, temos que entrar à esquerda e não à direita da Avenida. San? Espere! Eu sabia, essas mulheres são imprevisíveis. Uma hora te dão bola e em seguida te deixam do nada... Ai que susto! Você está maluca? Como pode sumir e aparecer assim? Nossa... Olha aqui, garota, existem muitos boatos de pessoas que entram em matos como esse e jamais conseguem sair, ficam lá até secar, portanto deixe para desaparecer num lugar onde todo mundo passa, certo? 14|Tatyane Nicklas


Elizabeth abriu bem os olhos e sorriu friamente, sem demonstrar medo, insatisfação ao espanto de Edward. – Olhe San! Está vendo a cidade? – Não... – Ela respondeu com olhar vago – Também com esse tamanho todo. – ele riu – Suba em mim. – O quê? – Suba em mim, vamos! – Edward abaixou-se, esperando que ela o fizesse. Olhando para aquele rapaz alto e atraente, pensou na ingenuidade dele em achar que ela era incapaz de ver a cidade de onde estava quando poderia chegar lá em menos tempo do que o mesmo imaginava. Subiu nele e percebeu sua fragilidade ao se levantar. – Olha, não que esteja gorda, acho que está até magra demais, mas o que tem nessa mochila? Está um peso... – Quer fazer o favor de calar essa boca? – rebateu dando alguns tapinhas em sua cabeça. – Sim, musa... – O que é isso? – Perguntou atônita. – Isso o quê? – Você disse: “Musa” O que é? Às gargalhadas, Edward perguntou: – Ei, de que século você veio? Será que eu entrei num ônibus de dez mil anos? – Você não conhece: Will Smith? Rambo? Arnold Schwarzenegger? Ou Spice Girls? – Nada daquilo fazia sentido para Elizabeth, tudo o que ela sabia era de onde viera e para onde teria que ir. Com um movimento brusco, Elizabeth o derrubou no chão. – Essa doeu, mas ao menos você viu a cidade? – Sim, Edward Korny! E não é da sua conta o que eu vi! – Disse, caminhando em direção à cidade. – Uh! Como ela é tímida – Brincou – Espere por mim! Ei, San... Você deveria me tratar melhor, eu vou ficar famoso, sabia? Ei! Espere! Eu vou escrever sobre a família Torny… No subconsciente de Elizabeth, o mundo desabou em sua cabeça, assim como o dia que virou noite e a chuva que caiu forte e tenebrosa como os seus pensamentos. Edward não compreendia: O Retorno de Elizabeth Torny|15


–Não é possível, o céu estava limpo há um minuto. Que merda! Esse tempo está louco! – resmungou sem entender – Ai meu Deus, San! San, por favor, espere! Com passos mais curtos, Torny resolveu esperar. – Ufa... Gata molhada. – Quer calar a boca?! Poucos podiam imaginar, alguns até tentavam, mas quando Elizabeth Torny pensava, o inevitável e o absoluto aconteciam, bastava um pouco de raiva para seus desejos se realizarem. O começo da estranheza estava por chegar em Palmertorny, a cidade onde todos temiam o passado.

h O desejo de Torny se realizou, o motorista com sintomas estranhos chegou em casa com muito tempo para se auto–questionar. – Meu Deus, o que está acontecendo comigo? O que acontece com meu corpo? Por quê? – Lamentou-se sem entender. Sua esposa, como de costume, foi ao encontro do marido na sala: – Querido... Freddy, o que houve? Meu Deus, o que está acontecendo com seu rosto? Deus, não! Não posso acreditar! – Mary realmente não acreditava no que via, o marido estava numa espécie de mutação, como nos filmes de ficção que ele gostava de assistir. – Freddy, suas orelhas estão menores... O que houve? Parece que você está com orelhas pequenas demais. Estão inchadas e estranhas... – Ela tentava não transparecer o quanto estava assustada. – Pare de falar e me ajude! – gritou desesperado. – Você não percebe que eu estou com alguma infecção? – Mas, querido, eu nunca vi isso em toda minha vida... – ela levou as duas mãos à boca, apreensiva enquanto o olhava com horror. – Papai, papai... – Saia daqui, Jonathan! – gritou o motorista para o filho de sete anos que também viera recebê-lo, como de costume. – Nossa, papai... O que aconteceu com suas orelhas? – Mary, tire-o daqui... – urrou desesperado. Sem disfarçar mais o pânico, a mulher não sabia como puxar o 16|Tatyane Nicklas


menino para fora da sala. – Sim... Vamos, Jonathan... – Disse, puxando-o para fora. –Nossa, mãe, o papai tá com orelhas de rato... – Jonathan! – gritou o motorista – Fora daqui! Assustando-se com os berros do pai, o garoto saiu da sala com sua mãe. O que parecia impossível se tornou real, a frase do filho entrou na mente de Freddy como um replay total. Orelhas de rato... Orelhas de rato... Orelhas de rato. Ao lembrar-se do acontecido horas antes em seu ônibus, vítima de um enigma de Torny, esbravejou: – Filha da puta!

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Não toque em mim Edward caminhava ao lado de Elizabeth, tampando a respiração com a gola da blusa. O cheiro do mato molhado era horrível. – Ei, não foi tão ruim... Você mora aqui há muito tempo, Edward? – Não... Só a minha vida toda. – disse rindo – Eu cheguei aqui logo após a maldição dos Tornys e logo me fascinei pela história. Foi daí que me colocaram o apelido de Korny, lembra o nome de uma banda, mas se refere a Torny. E tem “y” igual aos Tornys. É um segredo, viu? – Ah! Sim... E como você conhece a historia dos Tornys? – Nada empolgada. – É uma velha história... Todos da cidade temem comentar, eles eram meios bruxos. Uns dizem satânicos, outros dizem que a filha deles, morreu de... Ei! Olhe, San, chegamos. Estranho, aqui não está chovendo. Por fim chegaram à cidade de Palmertorny. Por minutos, Elizabeth transportou-se utilizando seus poderes, entrou em sua própria mente e paralisou-se em uma única visão. A praça Palmertorny. Era por volta das 18:50hs e o vento fazia com que as folhas do chão se movimentassem de um lado para o outro. Chamando assim a atenção de muitas pessoas que ali estavam. – Ei, San... San? – Edward tentava trazê-la de volta para a realidade. – Hã? Com um olhar paralisante, Elizabeth Torny virou-se ainda com pensamentos vagos. – O que foi Edward? – Nada, é que você estava olhando fixamente para frente de modo que se passasse um trem aqui você nem perceberia. Aconteceu alguma coisa? – Oh! Não. Está tudo bem. Eu só achei esta cidade muito bonita e... E... – Elizabeth perdia-se em seus pensamentos e recordações distantes – Quero dizer... Eu nunca vi uma beleza como essa, sabe Korny? – San! Você me chamou de Korny novamente? – Não... Eu... Não interessa, apelidos ridículos e sem personalidade O Retorno de Elizabeth Torny|19


não me interessam. – Chamou sim! Não adianta negar... Já sei que você me quer... – sorrindo como quem esperaria tudo, Edward esbanjou um belo sorriso mostrando seus dentes brancos e tentadores – Ei, é brincadeira, San, não precisa fazer essa cara de Mortícia Adams. A misteriosa garota voltou-se para ele com um olhar assustador que o fez recuar e o deixou sem graça. – Então, vamos seguir em frente? – tentou disfarçar seu embaraço. – Eu preciso de algum lugar para ficar. Você sabe onde tem um hotel, Edward? – Claro, mas não sei se estará aberto. – Como? – Elizabeth não compreendia. – É que a dona do Hotel é uma velha de 180 quilos, cheia de gases fedidos. Ela costuma dizer que pessoas que veem para a cidade depois das 19h são um mau presságio. – Mas o que tem esse horário? – Olhe San, nesta cidade, você como jornalista vai querer descobrir certos costumes e diferenças, mas te oriento a não se envolver demais com certas pessoas daqui. –Bem, ninguém jamais desejou pisar nesta cidade mais do que eu, portanto me mostre onde é esse hotel, por favor. – Claro. É à direita da praça, veja aquela placa: * Bem vindo ao Descanso, Palmertorny Hotel City*. – Ok, até mais, Edward. – Espera San. Eu te levo até lá. Todo mundo me conhece por aqui, é mais fácil abrirem a porta para mim do que para uma estranha recém– chegada, molhada e sei lá de que universo. – ele riu – Venha, San. Ao pegar em sua mão, ele sentiu a estranha reação de Elizabeth, que puxou a mão bruscamente. – Escuta, não toque em mim... Não encoste, em mim... Não me toque. Entendeu? – Ela parecia muito nervosa. Sem saber o que dizer, Edward simplesmente balançou a cabeça concordando. Os momentos ao lado daquela garota desde que saltaram do ônibus eram cada vez mais estranhos mas ele não queria separar-se dela – Ao menos ande ao meu lado, senhorita Santhller. 20|Tatyane Nicklas


Mesmo chateado, Edward tentava ser educado, a cada minuto lhe parecia mais estranha a pessoa que caminhava ao seu lado. Ao olhar em seus olhos, sequer conseguia identificar de que cor realmente eram, tentou olhar novamente, mas alguma coisa inexplicável lhe tirava a atenção dos olhos dela. Chegando à calçada do Hotel, como um bom cavalheiro, abriu a porta e esperou que ela entrasse. – Isso aqui cheira mal. – disse a garota fazendo uma careta ao entrar – Engraçado, eu sinto cheiro de rosa – disse confuso – acho que nós nos molhamos um pouco demais da conta – sorriu. Logo na entrada, havia um tapete com os dizeres “seja bem vindo”, duas velas iluminavam a entrada principal, como um castelo à moda antiga, o hall não era muito grande, tinha apenas um sofá com uma mesa pequena de canto, um balcão de madeira e uma escada que dava para os quartos, também de madeira. Assim que Elizabeth entrou, seus olhos fixaram-se os olhos das paredes, cada detalhe lhe parecia familiar. Pararam em frente à escada quando foram surpreendidos por uma estranha voz. – O que vocês querem aqui? – Era Whisper, a dona do hotel. Uma mulher com a qual a natureza não fora nem um pouco generosa. Talvez por isso, apesar da avançada idade, ainda fosse solteira. Assustado, Edward dera um pulo para trás. – Olá, Edward Williams, como você está? – Whisper o observou com um olhar lascivo, então prosseguiu – Cada vez mais bonito, meu filho! – Olá, senhora Whisper, me desculpe, mas levei um enorme susto. – ele respondeu educadamente. Atrás de Edward, Elizabeth sentiu o cheiro do passado e inúmeras recordações giraram em sua mente como num carrossel. – O que você deseja aqui, Williams? – Indagou a velha senhora. – Oh! Sim... Desculpe a falta de delicadeza, esta é San, de Santhller, minha amiga. Ela precisa de um quarto para ficar, é uma repórter e está à procura de uma matéria. Edward esperou que San ao menos cumprimentasse a senhora Whisper, mas ela não movera um dedo sequer. Somente olhava fixamente nos olhos daquela mulher cuja boca exalava o cheiro enjoativo de açúcar, quando disse: – É... -Você não mudou mesmo. Não mudou nada. – disse enigmática O Retorno de Elizabeth Torny|21


sem expressão alguma –O que quer dizer com isso, menina? – Whisper, já começava a estranhá-la. – Quero dizer que Edward me falou muito bem da senhora e que não mudou nada do que ele havia me dito. Com os olhos espantados, Edward olhou para San sem se lembrar de ter falado bem da senhora Whisper a não ser tê-la chamado de velha de 180 quilos cheia de gases. – Oh, sim, tudo isso é mérito da senhora. – Completou o rapaz com um breve sorriso. – Esse Edward é mesmo um amor! – Derreteu-se convencida. – Bem... Onde a San assina? – Apressou-se Edward. – Como assim, Edward Williams? – A velha já retomava seu tom autoritário. – Ela quer um quarto de hotel, certo? – Sim! – o autoritarismo em sua voz era cada vez maior. – E aqui é um hotel, certo? – Perdendo a paciência com a mulher, Edward a questionou num tom de sátira. – Sim, Edward. – Então a senhora pega o papel e ela assina por um quartinho pequenininho, lindo como sua face. Sabe, dona Whisper, alguém já lhe disse que tem um formato de seios maravilhosos? Com todo o respeito. –completou ao notar o espanto da velha senhora de nariz grande que usava um decote assustador, com um corpo completamente fora de forma e uma boca tão murcha que rugas delineavam seus lábios – Mas se eu fosse um pintor, eu a delinearia com meus pincéis, pena que não puxei para mamãe. – Hum? – Estranhou Elizabeth. –Oh, meu filho... – disse com risinhos – assim me deixa sem graça... Eu não recebo uma cantada dessas desde meus 39. – Bem, pelo que vejo – continuou, voltando ao tom autoritário. – vocês querem um quarto? – Não, meu doce, ela quer. – Edward a corrigiu com uma piscadela ao mesmo tempo em que apontava para San. – Mas não terão. – esbravejou a velha. –Ao menos por esta noite. – Mas, senhora Whisper, como não? Vai deixar a minha amiga na rua a essas horas? – Edward sabia das regras de Whisper, mas tinha esperança 22|Tatyane Nicklas


em conseguir um quarto para sua nova amiga. – Edward e Santhller, é isso? – por favor, saiam daqui e retornem amanhã antes das 19 horas. Leiam o cartaz na entrada. – Mas, senhora, ela... São 19:06h agora. – Por favor, não insista Edward. E você, mocinha, pode ser jornalista, sangue suga, por que todos são, ou o que desejar, hoje aqui não tem quarto pra você. Temos normas nesta cidade e essa será cumprida como sempre foi. Elizabeth aproximou-se da velha Whisper, sussurrando em seu ouvido: – As normas devem ser cumpridas até mesmo quando traímos? Espantada, Whisper disfarçou e se afastou de Elizabeth, San para os presentes. – Bem, crianças... – sorriu com um nervosismo evidente – acabou o tempo, tenho que servir o jantar e sabemos que essa hora é sagrada. – E dando mais alguns risinhos – E você, senhorita Santhller, amanhã conversaremos a respeito de um aposento para a senhorita. Caminhando em direção à porta, Edward não entendeu absolutamente nada a não ser o regulamento do hotel. – Boa noite, senhores – Despediu-se Whisper. Ao bater a porta, Edward notou um sorriso de satisfação nos lábios de San, como se ela não se importasse em dormir na rua. Ao contrário dele que se importava por ela. Com a porta fechada, leu a placa que indicava os horários em voz alta. –“Horário de funcionamento das 7:00 às 19:00”. Ei, senhora Whisper! A senhora já pensou em doar pelos do nariz para a associação dos ratos pelados? Hein, sua bruxa? Dando-lhe um enorme susto, a porta se abriu e Whisper saiu perguntando o que ele havia dito. Respondeu desconcertado: – Eu só queria dizer boa noite... E que sonhe com os anjos, senhora peluda.– O quê? – Eu... Eu disse senhora dos meus sonhos. – Desconcertado. – Tchau, garoto. – Batendo a porta. Edward virou-se para Elizabeth, que não entendia muito a situação: – Vamos, San, antes que ela nos devore com essa poupança enorme. – Vamos? Para onde, Edward? – Quis saber a garota. – Vamos para minha casa, pra onde mais? O Retorno de Elizabeth Torny|23


– Quem disse que eu quero ir? – Como assim, San? Você pode ter me conhecido hoje, mas eu também te conheci hoje e saiba que na minha casa não entra quase ninguém. Eu não levo as pessoas lá, só estou querendo ajudar, mas se você gosta de desafios, então espero que os encontre. Boa noite e até algum dia. Isso é, se nos encontrarmos novamente. Sem saber o que dizer ou fazer para que ela percebesse suas boas intenções, Edward deixou-a na calçada e continuou andando em direção à sua casa. –Ei, Edward! Espere, eu aceito ir para sua casa hoje. Fingindo não ouvir, esperou que San lhe chamasse novamente e continuou com seus curtos passos. –Edward? Escuta, quero ir com você. – Ah! Claro, San. Vamos, fica a três quadras daqui. Você não quer que eu leve sua mochila? –Não precisa. No caminho, ela observava cada rua, cada sopro da noite que denunciava a sua chegada. – San, eu queria te dizer que não tenho muitos móveis e muito menos uma mansão. – O que você quer dizer com isso? – Bem, eu não sou rico e não tenho a melhor casa da cidade para te levar. A casa é velha e... – Edward, você não sabe o que é o pior, por isso não sabe dar valor ao melhor que é ter uma casa. – Não é isso, é que eu aposto que você não imagina como é acordar de manhã com muitos sonhos, porque certamente você os realizou. Ao menos é uma profissional e tem a liberdade de viajar. Eu não, eu estou preso aqui e não sei bem o motivo disso. – Você nunca viajou Edward? – Ah, sim! Uma vez fui até a França, Paris, com o meu pai, quando ainda o chamava de pai. – Como assim, não o chama mais de pai, acabou de chamar? – É melhor pararmos de falar sobre essa pessoa e olha... A minha casa é aquela de portão branco. Decidimos ter portão, devido a intrusos, mesmo não dando muito certo. – A propósito, de onde você vem? 24|Tatyane Nicklas


– Se eu te falar terei que te matar – ela respondeu sorrindo, mas seu tom fez Edward entender que provavelmente estava falando sério.

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A Luz dos olhos Era uma casa bonita e aparentemente confortável, um sobrado com um jardim abandonado e uma enorme porta de entrada onde sua mãe, em outras épocas, fazia questão de pendurar vasos de flores que demonstravam sua felicidade. Mas o tempo era implacável e inimigo do estado emocional, que um dia a desgraça bateu à sua porta e fez com que sua mãe perdesse a luz dos olhos. O jardim então não mais transmitia sua felicidade e, sem os cuidados e amor que lhe eram dedicados, tornou-se aquela deprimente imagem. Passando pelo triste jardim, Elizabeth ouviu uma voz chamando seu nome suavemente por três vezes. – Torny... Torny... Torny. – É um menino. – sussurrou para si mesma, correndo os olhos pelo local a procura do dono da voz. – O que disse? – perguntou Edward. – Nada. – disfarçou – Neste jardim se alcança o cheiro das flores caídas de qualquer distância. –Ah, sim! Está um pouco bagunçado aqui, mas eu prometo arrumar. – Edward lembrou-se das palavras de sua mãe: – “Meu pequeno Edward aqui não mais florescerá uma planta sequer e daqui ninguém tirará um único galho do chão”.

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Olhando para a casa, Elizabeth percebeu a pureza das pessoas que ali moravam. No centro do jardim, havia um banco rodeado de flores mortas, a única parte do jardim que embelezava o local. Elizabeth não estava acostumada a diferenciar o bonito do feio, porém aquela imagem lhe agradava. Antes de abrir a porta, Edward pediu-lhe que não fizesse barulho e, mesmo que sua mãe aparecesse em sua frente, que ela não pronunciasse uma só palavra. Elizabeth balançou a cabeça concordando com seu pedido. Ele abriu a porta cuidadosamente e ao se aproximar das mãos O Retorno de Elizabeth Torny|27


de Elizabeth, automaticamente lhe veio à mente “Não me toque”. Em vez disso, apenas chamou: – Vamos? Passando pela longa sala com pouca luz e uma lareira com sinais de que não fora utilizada nos últimos anos, Elizabeth sentia cada vez mais a diferença dos Williams, o verdadeiro nome de Edward Korny que ouvira pela senhora Whisper. Por hábito, não questionava o que não desejava saber, mesmo porque já o sentia. Ouviu-se uma voz com um leve suspiro, muito triste, vinda da sala com pouca iluminação: – Edward? Filho, você chegou? – Sim, mãe, eu estou bem – respondeu fazendo sinal para que Elizabeth não se movesse naquele momento. – Quer que eu te traga o jantar? – Não, Edward, estou sem fome. Vá se preparar para tomar seu banho, deve estar cansado. Como foi em Palmerville? – Ah! Já ia me esquecendo, eu trouxe seus remédios. – tirou do bolso uma cartela de comprimidos e os colocou em cima da antiga escrivaninha, a embalagem dizia: “Antidepressivos”. – Sinto um cheiro diferente. Quem está com você, Edward? – Mãe, você sabe que ninguém vem aqui e sabe os motivos, né? Vou subir. – sussurrou ternamente – O que você tem filho? – Nada, só estou cansado e... – disfarçou – Bem, é melhor que você suba para descansar também, está no escuro e... Eu já volto. Pegando a bolsa de Elizabeth, à força mesmo, seguiu em direção ao quarto, acanhado pela situação. Subiu as escadas, um degrau por vez e cantarolando “I can’t get no Satisfaction”, para disfarçar o barulho e não deixar a impressão de duas pessoas subindo a escada. Elizabeth não o questionou em nenhum momento. E não conhecia o bom gosto de Edward, como não conhecia a famosa banda “The Rolling Stones”. –Meu quarto é aqui – indicou uma porta branca com um comunicado intimador: “Não entre. Sujeito a guincho”. Edward e Eric. 28|Tatyane Nicklas


– O que é isso? – Nada, é que poderíamos te guinchar e multá-la por invadir nosso território. – Cochichou. Elizabeth olhou para o nome “Eric”. E disse em voz baixa: – Ele se chamava Eric? – Como você sabe? – Não é tão difícil, está na porta. – Sim, mas como você sabe que ele se chamava e não se chama mais? – Bem... Eu percebi que você se referiu somente à sua mãe, quando chegamos aqui, e se tivesse mais alguém você diria... – Ele está estudando? – Não, mas mesmo assim acho estranho. Você se referiu ao nome do Eric como se ele estivesse morto. “Se chamava”, pois se ele estivesse estudando você deveria se referir à pessoa dele como ele se “chama” no presente. Elizabeth não respondeu os questionamentos de Edward, apenas disse: – Apresse-se, Edward, sua mãe está subindo as escadas... – Hein? – virou-se – Nossa! Vamos, entre. Não se importe com a bagunça, por favor, eu arrumo tudo depois. – Edward? Já está deitado? – sua mãe chamou em voz alta do corredor. – Não, mãe, eu estou me preparando para tomar banho. – Tudo bem, não demore. –Oh! Sim já sairei mãe. –San? Cadê você? Edward olhou em volta do quarto onde um beliche denunciava que num passado não muito distante havia não apenas um, mas dois garotos habitando aquele quarto decorado com cores azul e branco. Diversas miniaturas de aviões e barcos deixavam o ambiente masculino com cara de sonhos de dois irmãos e facilmente se descobria o gosto de Edward, a televisão era pintada com diversas cores denunciando uma ideologia marcada pelos irmãos. Em alguns lugares havia uma pichação dizendo: “Somos os: Williams, nós vamos descobrir vocês”. Olhando para o banheiro, avistou a porta e abriu rapidamente. Com um forte empurrão, a porta fechou-se contra ele. – Eu sinto muito. – Ao menos ela é humana e faz xixi – Pensou. – Me desculpe San, é que você some de uma hora para outra, eu fico com medo. – Edward O Retorno de Elizabeth Torny|29


ainda olhava para a porta fechada à sua frente quando Elizabeth a abriu e lhe pediu “humildemente” um favor: – Cala a boca, Edward, por favor! – Sabe... Deixa pra lá. Vou tomar um banho e falar com minha mãe e, antes que você pergunte, minha mãe é doente. – Ela não é doente, Edward, só está sofrendo. – Retrucou. – Ei... Você é vidente? Paranormal? Bruxa? – É melhor que não saiba. – Elizabeth deu de ombros e Edward resolveu não mais interroga-la as resposta sobre a linda e enigmática garota viriam no momento certo. Edward fitou-a por alguns segundos e sorriu. – Bem, vou tomar um banho. Você já conhece o banheiro, pode ficar à vontade. Ao entrar no banheiro, reparou que havia esquecido uma cueca no box, ficando a mostra para quem entrasse, sentiu suas faces ficarem ruborizadas ao imaginar a garota olhando pra ela, e retirou-a imediatamente. Tirou a roupa, ligou o chuveiro e fechou o box, mas uma vez cantarolando: – I Can’t Get No oooohuuu Satisfaction – When I’m drivin in my car and that man comes on the radio. – De repente, a temperatura do chuveiro caiu tornando a água gelada. Resmungando, abriu a porta do box e lá estava a bela San escovando seus dentes tranquilamente com a torneira da pia ligada, fazendo com que o chuveiro esfriasse. – Oi, San. – Elizabeth não respondeu, estava com a escova de dente na boca. –Você quer tomar banho comigo? – Perguntou ironicamente. Elizabeth encheu a boca de água, aproximou-se do box e cuspiu nele, acertando-o na cara. Pela primeira vez, Edward se enfureceu com ela, puxou a toalha para esconder suas partes intimas, segurou-a pelo braço e a jogou na água que já se estabilizava na temperatura normal agora que a torneira tinha sido fechada. –E aí, gostou? – Perguntou saindo do box e se enrolando na toalha. – Se eu fosse você tiraria essa roupa está meio molhada. – Como num ato infantil, Edward saiu do banheiro sorrindo. O principal fato é que tudo o que Elizabeth fazia, já sabia o que 30|Tatyane Nicklas


aconteceria antes de fazer. Ao menos descobriu como se tomava banho memorias gravadas e distantes apareciam em sua cabeça como num filme. Edward saiu do banheiro, se trocou, colocou uma camisa sua com estampa flanela, na porta do banheiro do lado de dentro. Esperou o chuveiro ser desligado para que sua mãe imaginasse que ainda se banhava e aguardou que ela saísse. Estava sentado no chão olhando para a porta quando esta se abriu. Olhou para Elizabeth vestida com sua camisa de flanela vermelha que mais lhe parecia um vestido até os joelhos de tão comprida. – Nossa! Você é linda. – exalou encantado. – O quê? – Ela virou-se abruptamente em sua direção – Nada, eu só queria dizer que você é muito bonita. – Edward parecia hipnotizado perante a beleza de Torny. Ela nunca ouvira um elogio desses de um rapaz. Nem sabia identificar um e sem poder diferenciar não deu muita atenção – Onde eu poderia me deitar? –Ah! Sim, você pode dormir embaixo se desejar... Elizabeth subiu na cama de cima ajeitando a camisa em suas pernas, ao notar a situação, Edward virou-se. – É... Bem… Você não comeu nada deve estar com fome eu vou te buscar algo para comer. Fique à vontade. Quer que eu ligue a TV? – Não. – respondeu diretamente – Ok! Não funciona mesmo. Já volto! Fechando a porta, Edward desceu as escadas torcendo para que San não fizesse nenhum barulho. –Mãe? Cadê você? – Perguntou da sala. – Estou aqui fora, Edward. Na porta da frente. – Oi, mãe! O que faz aí, não estava em seu quarto?– Nada não filho, eu só estou aqui como de costume. – Vamos entrar eu te ajudo. Apoiando-se no braço do filho, Janet seguiu para dentro da casa. – Mãe, você não quer voltar? – Como? – perguntou confusa – Voltar a ser o que era? Você tinha um belo sorriso, uma bela vida e era tão feliz. – A voz do rapaz transmitia todo o sentimento de quem O Retorno de Elizabeth Torny|31


faria de tudo para ter a mãe de volta. – Filho, ouça uma coisa, minha vida nunca mais será a mesma sem o Eric. E vamos evitar ficar falando nisso agora, ok? – Bem, eu estou morrendo de fome e a senhora poderia sentar-se comigo enquanto eu preparo o meu jantar. – Ah, sim! Quer dizer que agora o meu menino está com fome. – Disse ela, abraçando o filho que levou-a em direção à cozinha. – Sim, e olha que hoje eu comeria por duas pessoas. Sente aqui, dona Janet, vou preparar algo para comer. Quer alguma coisa? – Não, Eric, obrigada. A saudade era tanta que Janet constantemente confundia o nome dos filhos, mas Edward jamais a corrigia. Sabia que a mãe não percebia quando o chamava pelo nome do irmão. –Está bem, mãe, mas estou aqui de qualquer forma. Apressando-se para levar a comida para o quarto, pegou duas frutas, dois iogurtes, um pacote de biscoito de chocolate e um suco natural de laranja. Notando o movimento do filho, Janet perguntou o que tanto pegava. – Nada, mãe, só umas coisinhas, é que estou com muita fome e a senhora sabe, andei muito hoje. – Ah, sim, mas, querido, você está com um cheiro diferente. – ela disse, enquanto se aproximava na intenção de sentir melhor a essência que impregnava a sua volta.–Imagina, mãe, impressão sua. Vamos, vou colocá-la na cama, precisa descansar.

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