Revista Anima — Ano I — Número 3

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Nossa Capa: Paloma Bernardi Foto: Chrystian Henrique Styling: Rafael Menezes Beauty: Vanessa Sena Produção Executiva: ODMGT Assessoria: Melina Tavares Comunicação

Ano.1 2 0 1 8 _______ anima magazine n º 0 0 3

+ Fotograf ia + Moda + Ar te + Design + Lifet yle + Belez a + Cultura - Censura • Paloma Bernardi • Jader Almeida • Teixeira Coelho • Neusa Mendes •Tom Boechat • Jacqueline Chiabay • Luisa Mendes • Bernadette Lyra • Amanda Schon




Quem faz a anima acontecer Diretora e Publisher BEBEL GAMA

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Diretor Executivo MOISÉS NASCIMENTO

Editora Chefe CARLA MIRANDA

Diretor Financeiro GUILHERME FARIA

Diretor de Marketing RAFAEL GAMA

Diretor de Arte EVANDRO MOURA

Produtor Executivo MARCELO CECILIANO

Colunista PENHA FEDERICI

Colunista MARTHA GONZALEZ

Colunista LUISA MENDES

Jornalista YASMIN GOMES

Jornalista RAISA DE ANDRADE

Fotógrafo FABRICIO SAITER

Fotógrafo HELIO FILHO

Fotógrafo FELIPE QUINTINI

Fotógrafo GRACIELLE GAVA

Fotógrafo RAFAEL FANTI

Fotógrafo GUILHERME GOBBI

Stylist JÉSSICA NEVES

Stylist DANIEL DAVILLA

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SEM CENSURA

Nossa Capa: Paloma Bernardi Foto: Chrystian Henrique Styling: Rafael Menezes Beauty: Vanessa Sena Produção Executiva: ODMGT Assessoria: Melina Tavares Comunicação

Carta do Editor Estamos felizes! Estamos completando um ano de animaMag. O ano de 2017 foi pleno de novas experiências, de aventuras e de nos lançarmos no mercado sem medo. Grandes temas e grandes nomes na área da arte e do design estiveram conosco. Tivemos oportunidade de conhecer e divulgar a obra de indivíduos inspiradores e estão causando grandes transformações nas pessoas, na sua forma de pensar, de agir e se comunicar. Eles compartilharam suas ideias, seus processos criativos e sua essência. Dividiram com a gente histórias de vida, mudanças de rumo e nos mostraram que nunca é cedo ou tarde demais para assumir novos papéis, para provocar mudanças e conquistar novos valores. Criamos e produzimos matérias e fashion shoots inovadores. Editoriais de vanguarda pensados, produzidos e fotografados por colaboradores talentosos. Todos estes criadores e animaMag tem um traço em comum: a paixão pelo novo, pelo essencial ... pela vida! Nesta edição estamos com Teixeira Coelho, curador do MASP de 2006 a 2014, Neusa Mendes, crítica de arte e curadora, Diretora da Galeria de Arte do Espaço Universitário da UFES. Tom Boechat, artista inquieto e provocador. Todos eles sacudindo preconceitos e “gritando” Abaixo a censura! A beleza de Paloma Bernardi na nossa capa. Ensaio de Felipe Quintini, tendo como referência a arte expressionista de Pollock. Editoriais “calientes”, instigantes e perturbadores criados por stylists inspirados e produzidos por fotógrafos talentosos. Temos a slow fashion atemporal e criativa de Jacqueline Chiabay temperada com seu pioneirismo. Temos também, crônica de Bernadette Lyra, poética e surpreendente. E a nossa sempre interessante Luisa Mendes que traz para nossos dias, como um alerta, a lembrança de Zuzu Angel. Penha Federici nos leva ao encontro do internacional Jader Almeida e suas peças elegantes, premiadíssimas pela competência de seu design inspirador. Por fim, Raisa Andrade nos mostra um novo conceito de beleza com o trabalho da beauty artist, Amanda Schön. Com esta edição encerramos um período de muito trabalho duro! Mas o esforço valeu e nos mantivemos fiéis a nossa missão – sermos um veiculo de transformação nestes tempos estranhos quando, ainda, temos que combater a censura e todo tipo de inacreditáveis conceitos retrógrados. Fazemos isto com muita propriedade! Esperamos que esta edição encante a todos e encha seus olhos de vida e muitas cores e os corações de esperança por dias melhores! E por fim, iniciamos 2018 para ser um ano de expansão, mas, também de paz, serenidade e muita criatividade! Bebel Gama

Instagram: Revista Digital:

@animamagoficial www.animamag.com

Para anunciar

+55 27 - 99614-8938 +5527 - 99692-9092 Tiragem e circulação • 1000 exemplares / edição quadrimestral Anima Magazine Rua Desembargador Mário da Silva Nunes, 31 Enseada do Suá, Vitória-ES

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Modelo Karol Bonella / Foto Chrystian Henrique


S U M Á R I O +nossa capa

+ conceito

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Paloma Bernardi por Carla Miranda.......... -censura

Arte, política e moral: Equação furada por Teixeira Coelho...

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24 +arte Tom Boechat por Yasmin Gomes.....................................38 + fotografia Indistinto por Felipe Quintini................................56 + crônica Muito Além do Jardim por Bernadette Lyra ...................72 +design Jader Almeida por Penha Federici.............................74 Jaqueline Chiabay por Carla Miranda.....82

Neusa Mendes por Yasmin Gomes..........................

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100 +moda Corazon Bandido ...................106 Private Party .............120 Cinecittá...........................................134 After Party ...........................148 Nonsense .................160 Desata-me ...........................170 Carta a Tuti por Luisa Mendes......

+ beleza

Amanda Schon por

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Raisa Andrade .........................


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Foto Vinny Pozzatti / Direção de Arte Sebastian Escobar / Styling Carla Miranda / Beleza Renan Bastos e Romário Rocha para M’A Atelier Modelo Mega Model Vitória: Mikaella Polonini / Brincos Ivana Izoton Joias / Acessório cabeça Tulle Noivas / Locação: Casa da Porta Amarela


+ nossa capa

PALOMA BERNARDI Com destaque na TV, teatro e cinema, Paloma Bernardi esbanja talento e versatilidade. Incorpora odiadas vilãs tão bem quanto inocentes e apaixonadas mocinhas. A atriz paulistana, descoberta ainda criança, também é um dos rostos mais queridos e requisitados para campanhas publicitárias. E defende a liberdade de expressão como essencial para o trabalho do artista ser realizado da forma mais pura e profunda.

ANIMA - Você vem de uma família de artistas, iniciou seu trabalho ainda na infância, como modelo em campanhas publicitárias e hoje possui uma carreira de sucesso com diversas participações na TV, teatro e cinema. Você nasceu para ser atriz? Gosto de acreditar que sim! (risos.) Meus pais sempre brincam comigo, dizem que eu não nasci, estreei. A veia artística é muito forte em minha família por parte de mãe, então foi muito natural seguir este caminho. Acho que a arte nos escolhe mais do que escolhemos a arte. Sou muito realizada no que faço, tenho um amor e respeito enorme por essa profissão que, ao mesmo tempo em que entretêm, também informa, educa, cura. Nossos personagens são levados para o público diariamente, fazemos parte da vida deles. É ótimo poder viver isso. É ótimo poder contar e viver diversas histórias. ANIMA - Qual a importância da sua família no desenvolvimento de sua carreira artística? Como você percebe essa influência? Eles possuem muita influência, sim. Na minha infância, foi o apoio da família que tornou possível meu sonho de ser atriz. Eles sempre acreditaram no meu potencial e isso faz uma diferença enorme. A minha família sempre me incentivou. E por conhecer o meio artístico, também, por garantia, apoiaram a minha decisão de fazer faculdade de Rádio e Televisão. Viver da atuação não é fácil, pode ser muito instável então é importante ter sempre um plano B, que não vai te afastar do seu sonho. Amo os bastidores de uma novela, cinema ou peça tanto quanto estar à frente das câmeras. ANIMA - Atuar, dançar, cantar... um artista completo tem vários talentos. Dentre suas possibilidades de expressão artística, qual delas mais te realiza ? É uma pergunta bastante difícil, pois me realizo em todos os segmentos Eu amo cinema, é algo que sempre quis fazer e nos últimos anos tem sido uma grata experiência. Cada vertente artística mexe comigo de uma forma diferente, mas no geral adoro todas. O importante é ter uma boa história pra contar. Quando fazemos uma novela, temos a consciência de que estamos entrando todos os dias na casa de diversas pessoas; já em uma peça, temos uma reação instantânea que o “ao vivo” oferece; e nos cinemas somos eternizados naquela obra. Não dá para escolher apenas um... ANIMA - Recentemente você voltou a fazer parte do elenco da Rede Record, no papel de uma vilã e agora retorna como uma personagem do bem que promete muita força, aventura e grandes paixões. Como está sendo viver essa nova fase? Está sendo uma experiência maravilhosa. Esses dois últimos papéis foram uma grande experiência para mim. Sair de uma vilã bíblica e embarcar na vida de uma mocinha no mundo moderno é uma mudança muito grande, são extremos. E nada mais desafiador para nós, artistas, do que trabalhar com esses extremos. Sou feliz em todos os trabalhos que faço, seja na Record, SBT ou Globo . Fazer parte de todas essas emissoras contribui muito para meu crescimento como profissional.

ANIMA - Falando agora de cinema. Você acaba de estrear a comédia “Os Parças”, com direção de Halder Gomes. Como foi fazer parte desse maravilhoso elenco?

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Modelo: Paloma Bernardi - Foto : Chrystian Henrique Styling: Rafael Menezes Beauty: Vanessa Sena Produção Executiva: ODMGT Assessoria: Melina Tavares Comunicação

“A arte envolve emoção, ideias e conceitos, não é possível censurar isso.”

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Modelo: Paloma Bernardi - Foto : Chrystian Henrique


Foi muito divertido! O filme é a minha primeira comédia, embora a minha personagem não seja cômica como Tom Cavalcante, Tirullipa, Whindersson Nunes e Bruno De Luca. Ela é, basicamente, a vítima de toda a história. Foi um trabalho muito leve de se fazer, diferente dos que fiz até então, no qual o drama teve certo peso nos ombros por toda a sua carga emocional. Sempre quis trabalhar com o Halder também, adoro os longas com sua assinatura. Trazer a baila o assunto da miscigenação brasileira é muito importante para mim, que tenho raízes pernambucanas e gaúchas. Por mais que o filme seja para fazer rir, e que os personagens façam piadas com os estereótipos de cada região, há uma mensagem por trás destas brincadeiras. Hoje em dia é essencial que as pessoas entendam cada vez mais que é importante respeitar as diferenças. ANIMA - Falando agora em arte como um todo, ao longo da história obras foram alteradas, silenciadas e até mesmo apagadas devido ao conteúdo inaceitável pelo senso comum. Grupos conservadores adotam ações dissimuladas e muitas das vezes violentas para induzirem a discordância e inibir a liberdade de expressão que é direito assegurado pela Constituição. Qual a sua opinião sobre a violação da liberdade de expressão artística? Esta é uma questão muito delicada. Por um lado, a liberdade de expressão artística é essencial para que o nosso trabalho seja realizado da forma mais pura e profunda que conseguirmos. A arte envolve emoção, ideias e conceitos, não é possível censurar isso. Agora sob outro prisma, existe uma linha tênue entre o certo e o inaceitável, penso que a arte não pode prejudicar ou ferir moralmente outras pessoas. O nosso direito acaba onde começa o do outro. É uma situação onde o bom senso deveria ter um peso enorme, porém como somos humanos às vezes acertamos e outras vezes não. ANIMA - A democratização da arte é essencial para a construção de uma sociedade mais reflexiva, crítica e criativa ? Sim, com certeza. A arte tem um poder transformador muito grande, por meio dela podemos ter uma inclusão social que pode transformar a nossa sociedade. Através da arte podemos sentir empatia e respeito pelo outro, exercer a criatividade e o pensamento crítico. É quase uma filosofia de vida. No meu caso, são através de personagens que vejo o mundo com outros olhos. Por exemplo, consegui enxergar na Samara, antagonista que fiz em ‘A Terra Prometida’,– sob todas aquelas camadas de maldade – um coração partido e uma insegurança muito forte. Com todas estas vivências você acaba encarando a vida de outra forma. Penso mesmo, que as pessoas precisam aprender a se colocar no lugar dos outros para entender que existem outras formas de viver. ANIMA - “Dizem que a alma é princípio vital de cada organismo, tendo em vista que todo organismo precisa ser alimentado para sua sobrevivência, seja em sua forma física ou ideológica. Você acredita que a cultura é alimento para a alma? Acredito muito! Em São Paulo, no Espaço Cultural AMARTE que pertence a minha família, vejo nas crianças e adultos que lá frequentam o quanto a cultura os modifica. É uma das bases para que a nossa essência não se perca em meio a tantas informações e provações que passamos durante a nossa vida. ANIMA - O que podemos esperar para 2018? Um ano melhor que 2017, com muito trabalho, amor e boas energias. Para mim, é importante que eu evolua a cada ano. Trabalho duro para melhorar minha atuação profissional e me tornar uma pessoa melhor a cada dia e quero continuar em constante crescimento. Iniciei 2018 já trabalhando e com ótimos projetos, mas, ainda não posso falar muito sobre isto. Com certeza 2018 vai ser um ano muito melhor! Entrevista: Carla Miranda

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Foto: Fabrício Saiter A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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- censura

ADRIANA VAREJÃO: Cena de interior II, 1994 http://www.revistastyllus. com.br/veja-30-obras-da-exposicaocensurada- no-santander-cultural-etire-suas-proprias-conclusoes/

FERNANDO BARIL: Cruzando Jesus Cristo com Deusa Schiva, http://www.revistastyllus.com.br/veja30-obras-da-exposicao-censuradano-santander-cultural-e-tire-suasproprias-conclusoes/

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ARTE, POLÍTICA E MORAL: A EQUAÇÃO FURADA Nos recentes casos obscenos de repúdio à arte — Porto Alegre, São Paulo, Campo Grande —, houve um ponto não discutido na grande imprensa e nos precários textos postados nas redes antissociais: o valor estético das obras exibidas e contestadas, único critério admissível na discussão, rejeição ou aceitação de arte. São casos obscenos porque a obscenidade está sempre, e em primeiro lugar, na violência, não no que uma obra diz ou se imagina que diga. As exposições insultadas foram vistas apenas a partir de valores extrínsecos da arte: uma suposta moral comum, a moral das crianças, a moral de algum grupo religioso... Valores extrínsecos são secundários para o juízo estético ou complementares, quase sempre suplementares. Eram as obras atacadas boas ou ruins esteticamente? Ninguém enfrentou essa pergunta nem a respondeu. Os acusadores gritaram são ruins porque imorais; e os defensores das exposições não se atreveram a admitir essa questão. Podese entender a estratégia dos segundos: quando o inimigo ataca é preciso cerrar fileiras e defender um princípio – e o princípio é não à censura. Mas o debate sobre o valor precisa ocorrer. As manifestações contra aquelas exposições foram organizadas pela direita e não são inocentes ou espontâneas, mas, sim, um lance no tabuleiro das próximas eleições. A existência de uma direita no Brasil não é um problema em si. Durante tempo demais, ninguém se disse de direita neste País, certamente, por efeito da ditadura militar. É bom que os de direita assumam-se como tal. Faz parte do jogo a existência de uma direita e uma esquerda (esquerda, esquerda mesmo, não uma indistinguível da direita quando se trata de favorecer as grandes empresas em troca de dinheiros para o controle político do País e o lucro pessoal. Isso não quer dizer que apenas a direita é responsável pela distorção do debate sobre o valor da arte. Também a esquerda, e ela em primeiro lugar, atribuiu papel primordial, ou exclusivo, aos critérios extrínsecos na avaliação e na escolha da arte a apoiar, em especial a partir dos primeiros anos do século XXI. Vêm da esquerda critérios como “inclusão social”, “identidade” (este, compartilhado pela direita, tanto em termos de identidade pessoal quanto nacional), “diversidade”, “desenvolvimento”. Arte não mais se apoia e não se defende como valor em si, porém, apenas, pelos itens da cartilha política ou econômica adequada. Os conteúdos específicos que cavalgam a arte foram postos em primeiro lugar, o específico da arte ficou em segundo — o carro, outra vez, foi posto na frente dos bois. Nesse cenário, é particular virtude a proibição às leis de incentivo, como a Rouanet, de analisar o conteúdo de um projeto de arte apresentado para receber o favor da isenção fiscal.

O Estado não pode e não deve avaliar o conteúdo da arte, ao contrário do que fez e continua a fazer a China hoje, e o que fizeram e fazem os regimes totalitários do passado e dos dias correntes. O Estado não tem de avaliar nem o conteúdo nem o valor estético de uma obra de arte ou projeto de arte. Curadores e críticos estão aí para isso, e devem assumir seu papel, pois foram formados com dinheiro da sociedade. Também eles, porém, resolveram render-se àqueles mesmos critérios extrínsecos que rendem pontos junto aos bempensantes. E, como não há discussão sobre o valor intrínseco, qualquer coisa ocupa seu lugar e qualquer um sente-se no direito de dizer qualquer coisa — até mesmo um ministro de Cultura, que diz que tomaria providências para impedir o financiamento de obras nefastas com dinheiro de incentivos. Depois, ele se desdisse — mas já havia dito. O mundo sofre os efeitos de uma vasta ressaca conservadora, dos Estados Unidos da América ao Brasil e tantos outros lugares. Na China, nenhuma mulher pode comer uma banana na TV de um modo que um censor possa julgar “sugestivo”. Na terra do Tio Sam, o premiado romance To kill a mocking bird, de Harper Lee, acaba de ser banido da lista de leitura de estudantes do ensino médio em uma escola do Estado do Mississipi, por conter a palavra nigger. Por aqui, quiseram fazer a mesma coisa com um livro de Monteiro Lobato, que não daria o devido valor a uma personagem negra. O conservadorismo aceita diferentes cores ideológicas, não é exclusivo de nenhuma delas. A onda é conservadora, anti-intelectualista e populista. As artes “da elite” são atacadas e negadas à direita e à esquerda. Delas se diz que investem contra os valores do homem simples, das pessoas comuns, quando, de fato, sempre tiveram por alvo a sociedade inteira, inclusive suas elites, desde o final do século XIX. A esquerda passou a maior parte dos 17 anos deste século acusando as elites; agora, a vez é da direita. Direita e esquerda sempre se deram as mãos, ao longo da história de suas trágicas existências. E todos, a começar pelo Ministério da Cultura, pretendem esquecer-se de que a função da política cultural é ampliar as elites, levar mais e mais gente a introduzir-se nas elites, transformar em elite o maior número possível de pessoas — e não destruir as elites e tudo igualar por baixo. O cinema de Holywood, lembrou mais uma vez esta semana o presidente da poderosa Motion Pictures Association of American, “faz os filmes que as pessoas querem ver.” A arte, porém, quase nunca faz a arte que as pessoas querem ver. Sua proposta não é agradar, é fazer pensar — e pensar incomoda. Quem quiser ver, irá ver; quem não quiser, que não veja — mas não tente impedir os outros de verem o que quiserem ver. Mais uma vez, pretende-se que esta sociedade é composta por menores de idade a serem privados o que alguns acham que não podem ver.

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Obra Travesti de lambada e deusa das águas, de Bia Leite, 2013, na exposição “Queermuseu — Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, curadoria de Gaudêncio Fidelis, mostra de arte contemporânea que reunia 270 obras, de 85 artistas, no Santander Cultural, em Porto Alegre, e foi cancelada.

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BIA LEITE: Adriano bafônica e Luiz França She-há (2013) http://www.revistastyllus.com.br/veja-30-obras-da-exposicao-censurada-nosantander-cultural-e-tire-suas-proprias-conclusoes


É vital assumir posições firmes contra os atos de vandalismo físico e moral contra a arte e não fazer como o Banco Santander que, assustado, pediu desculpas e tirou o time de campo — indicando que não sabia por que havia apoiado aquela exposição e não sabia por que a tirava de cartaz: o que está fazendo na cena da arte é uma incógnita. Mas só isso não basta: educação melhor, mais sólida, mais aberta, é fundamental para que se enxergue o valor estético de uma obra de arte. Também nesse quesito o Brasil do século XXI tira zero, e, com ele, todos os Governos que se sucederam à ditadura, em particular os recentes Governos de esquerda. Educação não mais é valor neste País. E, enquanto a educação não tiver valor, fica difícil discutir o valor da arte, abrindo-se, com isso, todas as portas para esses ataques de ignorância explícita, que irão se repetir. Sem uma reação da sociedade civil (já que do Estado parece ser possível esperar apenas medo e cumplicidade com a ignorância), uma nova noite de trevas e neblinas desenhase no horizonte. É sempre mais provável essa noite do que a manhã que já vai raiar. Teixeira Coelho

‘ATAQUE AUTOMÁTICO’, DE MILTON KURTZ , http://www.revistastyllus.com.br/veja-30-obras-da-exposicao-censurada-no-santander-cultural-e-tire-suas-proprias-conclusoes/

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- censura

NEUSA MENDES Dona de um patrimônio intelectual invejável. Atenta e muito talentosa! Doutora em Comunicação e Semiótica, Membro da Associação Brasileira de Críticos de Artes, Secretária de Cultura do Estado do Espírito Santo além de tantos títulos, Neusa ainda tem uma missão: ser Mãe de Luisa. Atuante em Curadorias nacionais e internacionais desenvolve projetos de extrema importância para nosso cenário cultural. Ganhou prêmios internacionais e recebeu a Comenda de Integração Simon Bolívar, conferida pela Câmara Internacional de Pesquisa e Integração Social Latino Americana. Neusa Mendes inspira à arte.

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Foto: Fabricio Saiter A N I M A M AG. โ ข 2 0 1 8 n ยบ 0 0 3

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Certa vez, mais nova e ainda longe de encarar as complexidades do ser social a nós reservado pela vida, li uma crônica de Martha Medeiros sobre “pessoas habitadas”. Tratase de expressão definindo alguém diferenciado, preenchido por si e por sua personalidade. Algo assim como “tem gente em casa”. Quando convidada para entrevistar Neusa Mendes, realmente, não sabia o que me esperava. Não tinha ideia de como ela lidava com os outros, como era sua personalidade. Obviamente, fiz meu dever de casa e pesquisei sobre a entrevistada antes. Mas, a preocupação em fazer as perguntas certas e a responsabilidade de escrever sobre alguém tão importante para nosso cenário cultural me fez olhar todas as abas do Google. Santo Google! Pois bem! Ao chegar à sua residência, fui recebida carinhosamente por Neusa. Não precisou de mais para eu lembrar a expressão citada no início deste texto e concluir: dali, certamente, sairia mais que entrevista e bom papo. Impecavelmente vestida de si e com os acessórios mais exuberantes já vistos, também, cada cantinho da sala tinha sua essência. Estava nítido: ali “tinha gente em casa.” Neusa Mendes é um ícone na história cultural do Espírito Santo. Seu trabalho com curadoria começou em 1978, na direção da Galeria de Arte Espaço Universitário, cargo ocupado com excelência por 40 anos. Incansável e apaixonada pelo seu trabalho, vira noites e move mundos e fundos para realizar seus sonhos e, também, o de tantos outros artistas com sorte de conviver com ela durante sua trajetória. Uma guerreira competente, iluminada e sábia, Maria (sim, ela também leva consigo este nome), há quatro décadas lutou diariamente pelos seus ideais profissionais, sempre nos trazendo exposições projetos ousados e impactantes. Animada, explica a função do curador: coordenar espaços das exposições de arte. Um bom curador cuida e supervisiona a montagem, sendo responsável também pelo catálogo dos eventos. Pensa em cada canto da exposição, planeja para haver um contexto entre o espaço e as obras, tendo sempre em mente a motivação dessas escolhas partirem do seu compromisso em criar a ponte entre o artista e o público. — Um curador olha a arte e pensa sobre sua relação com o mundo, tentando identificar as vertentes e comportamento do presente para enriquecer a compreensão da experiência estética. Ele agrupa informações e cria contextos — afirma. Para isso, a cada novo projeto, há um estudo profundo da estética das obras a serem expostas e uma análise minuciosa do processo criativo do artista. Este processo pode durar muito tempo, até mesmo mais de um ano. São consideradas as etapas preliminares referentes a uma pré-produção — início pelo conceito, passando pela pesquisa, localização de obras-chave e estudo da circulação no espaço — e uma pós-produção, antecedendo a inauguração — programação visual, sinalização, textos de parede, releases e boa divulgação editorial, etapas importantes para a construção de um bom texto curatorial. Quando questionada sobre mais agradável na profissão, a resposta chega junto com um sorriso de satisfação e olhos parecendo divagar entre lembranças: ver como as pessoas criam seus próprios significados diante da exposição. Porém “o significado não é absoluto”, afirma a curadora.

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Por maior a sensibilidade disposta para atuar como curador — e é preciso de uma aguçada —, muito pouco ela vale se a paciência de escutar, não só ouvir, estiver ausente. Para Neusa, a escuta é essencial. E isso lhe permitiu enriquecer tanto profissionalmente quanto pessoalmente. O curador deve sempre ter cumplicidade com o artista, e não impor sua vontade. Deve, sempre, incentivar a troca de ideias, o compartilhar de concepções e visões de mundo. — Para a realização de uma boa exposição, não existe a imposição da vontade do curador, mas, sim, uma predisposição de torná-la compreensível e convincente para os mais diversos públicos, sabendo contornar as dificuldades, sem prejudicar o desenvolvimento do pensamento artístico e curatorial. Para isso, o curador deve olhar a arte e pensar sobre esta relação com o mundo, tentar identificar as vertentes e comportamento do presente para enriquecer a compreensão da experiência estética. Ele agrupa informações e cria contextos. É construtor de pontes, catalisador, captador de recursos e educador — afirma. Levando seu oficío desta forma tão comprometida, Neusa trilha carreira sólida na arte da curadoria, comprometida com qualidade e inspiração vinda da alma. Tem, em seu portfólio, diversas exposições falando por si mesmas. Trabalhou com artistas de renome internacional, coleciona projetos de enorme sucesso, sempre com o compromisso de arrebatar, encantar e fazer pensar. No segundo semestre de 2016, cuidou da exposição “Constelações”, de Hilal Sami Hilal. Mostra de grande sucesso, contou com cinco instalações grandiosas, ocupando, cada uma, ambientes inteiros do Espaço de Arte do Palácio Anchieta. Em 2017, dentre outros trabalhos, houve a polêmica exposição de Tom Boechat, “O Êxtase de Teresa”. A Galeria de Arte Espaço Universitário acolheu obras instigantes e provocadoras deste artista, expressando-se por fotografias trabalhando conceitos bem controversos hoje em dia. Neste momento, Neusa se despede da Galeria de Arte Espaço Universitário com a poética e delicada exposição de Nelma Guimarães, “Vou mostrando como sou e vou sendo como posso...”, com pinturas e objetos numa profusão de cores e pequenos detalhes, verdadeiro deslumbre para os olhos e aconchego para alma. Esta mulher encantadora, com certeza, seguirá seu caminho, assim, olhando para além de meras tendências e continuará nos surpreendendo, sempre, com os mais inspirados e arrebatadores projetos de arte contemporânea. Uma alma impregnada pela arte! Yasmin Gomes


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“Curadoria é a ponte entre o público e o artista”

Neusa Mendes

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- censura

“Sem educação, os homens vão matar-se uns aos outros” Antônio Damásio

“Eu vejo um museu de grandes novidades”

Cazuza.

Todos esses episódios que têm acontecido, e que possuem em comum a imposição desmedida do binômio censura/punição, aqui considerado como uma pena, desaguam em simplificações que, de uma forma ou de outra, maquiam um inimigo a ser combatido, a censura. Articulou-se em torno de duas premissas equivocadas: ser “contra” ou “a favor” da pedofilia. Em sã consciência, ninguém defenderia esse crime, assim como iniciativas contra o recrudescimento da onda de ódio, intolerância e violência à livre expressão nas artes e na educação. Ódio, intolerância e violência que já vêm sendo impressos há tempos contra mulheres, homossexuais, negros e índios e tantos outros desatinos que estamos enfrentando. Algumas coisas chamam atenção nesse embate: a primeira é que ele é protagonizado por um movimento político que não tem a cultura de experiência dos fazeres e saberes culturais, e o discurso de querer proteger a família dessa forma moralista é inaceitável; e, a segunda, é que a verdade vem sendo manipulada por um pequeno grupo de radicais intolerantes e truculentos, que insistem em atacar os artistas e as instituições. A Procuradoria Federal dos Direitos Humanos do Cidadão (PFDHC), órgão vinculado ao Ministério Público Federal, divulgou nota técnica em resposta aos episódios de cerceamento a obras, exposições e performances artísticas apontadas como “imorais” ou de caráter pedófilo. “Não é a nudez que define a natureza de uma cena, mas sim a finalidade sexual buscada na cena. Obras literárias, desenhos e outras REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS (isto é, que não envolvam nenhuma criança ou adolescente REAL) relacionadas à pornografia infantil, por mais ofensivas que sejam, não constituem penas ilícitas em nosso ordenamento jurídico.” A sexualidade, nas suas mais diversas manifestações, tem, desde sempre, ocupado um lugar central no imaginário coletivo e na produção artística. A exposição em cartaz no Museu de Arte de São Paulo —Masp, “Histórias da Sexualidade”, com curadoria de Adriano Pedrosa, traz amplo recorte dessa produção, cruzando temporalidades, suportes e geografias. Reforça o curador que censura é inaceitável, e que não existem verdades absolutas. As fronteiras do que é moralmente aceitável deslocam-se a toda hora e no decorrer da história. Esculturas clássicas, hoje consideradas símbolos da arte europeia, não poucas vezes tiveram seus sexos tapados por folhas de parreira e outros subterfúgios. Também os costumes variam entre culturas e civilizações.

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Reprografia do livro Arte erótica do século 17 no Japão. Esta série de desenhos eróticos criados por Miyagawa Choshun vinha sendo escondida do público desde a década de 1970.

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Fotografia de Orlando da Rosa Farya. O menino e l’origine du monde, de 1866, de Gustave Courbet. Museu d’Orsay da Cidade de Paris, a capital França. A pedido do diplomata turco-otomano Khalil-Bey, Gustave Courbet retratou o nu feminino na sua forma mais crua. Parte da coleção de arte de Khalil-Bey foi roubada pelo Exército Vermelho, durante a Segunda Guerra Mundial. A obra foi parar na sala da casa de campo do psicanalista francês Jacques Lacan. Por sua crueza, foi escondida sob uma pintura de madeira do cunhado deste, André Masson. Finalmente, em 1995, a tela de Courbet foi exposta publicamente pela primeira vez na sua existência, no Musée d’Orsay, onde se encontra atualmente.

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Performance, de João Victor Coser, Casa Fragmentada, 2016. Fotografia de Manuel Vason.

O neurocientista português Antônio Damásio, em seu livro A estranha ordem das coisas, adverte que a única forma de combater estes fenômenos “é educar maciçamente as pessoas para que aceitem os outros.” Afirma que aquilo que fomos sentindo ao longo dos séculos fez de nós o que somos hoje, ou seja, os sentimentos definiram a nossa cultura. E o que distingue os seres humanos dos restantes dos animais é a cultura: “Depois da linguagem verbal, há qualquer coisa muito maior, que é a grande epopeia cultural que estamos a construir há cem mil anos.” É sob esta égide que os museus e galerias — lugares de pensamento crítico, de discussão e arte — trabalham e recebem escolas e os seus visitantes, por meio de seus setores educativos. Usam a arte como ferramenta voltada à formação de pessoas, no sentido de gerar cidadãos sensíveis. Integrar a educação e a arte é uma das metas deste setor. Não se busca explicar a arte, mas levar o público diretamente à experiência estética, a experienciar a relação estética por meio de objetos artísticos que proporcionam essa aproximação. Acreditamos que este seja, na acepção mais densa da palavra, um processo de educação que requer, antes de tudo, qualificação de elementos para disponibilizar o acesso à informação e ao conhecimento. Notadamente, é a autonomia dos fazeres intelectuais e artísticos (justamente por atuarem na vanguarda da leitura e discussão de mundo) que confere a estas instituições de ensino o desenvolvimento fundamental para um sujeito crítico-reflexivo.

O contato com a arte é algo que faz bem às pessoas: liberta, questiona, discute, denuncia, comenta e emancipa. Conhecer arte, fazer e saber apreciar uma obra de arte, melhora a sensibilidade, a inteligência e, desse modo, o agir no mundo. A arte é uma ferramenta contra a ignorância. Ao lado da liberdade de explorar e pesquisar as possibilidades do fazer e a contextualização da prática artística, os espaços expositivos trazem elementos para pensar o ensino da arte e a necessidade de fazer as crianças e jovens se identificarem com o mundo e formularem suas construções de Nação. A arte é uma expressão indispensável para a percepção de histórias culturais. É também uma forma de nos fazer reconhecer a identidade e o pensamento de pessoas que são diferentes de nós, expandindo o círculo de entendimento do mundo. Em todo caso, não sabemos o futuro que espera por nós. Mas, do espaço a que nos apegamos, ainda que desconhecido, sabemos que precisamos cada vez mais de seus caminhos abertos ao pensamento e à experimentação. Eu vejo um museu de grandes novidades, verso do cantor e compositor Cazuza, é suficiente para acreditarmos que tudo ainda é possível e que os horizontes estão abertos.

NeusaMendesémestreemComunicaçãoeSemióticapelaPontifícia Universidade Católica do Estado de São Paulo — PUC-SP, pesquisadora, crítica de arte, curadora institucional e membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte

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+ arte

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Tom Boechat Artista inquieto e nada convencional, se expressa através da fotografia. Desenvolve pesquisas sobre a fotografia documental no campo da arte, destemido, vai além de questões pessoais, formais e conceituais, trabalhando a discussão do uso da fotografia e da representação da mulher. Tom possui trabalhos produzidos em Nova Yorque, Tóquio, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Vitória.

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As possibilidades e instrumentos para se capturar uma imagem nunca foram tão acessíveis e práticas quanto hoje. Arrastar a tela para o lado, focar, aumentar ou diminuir a intensidade da luz e clicar. O contato com a fotografia vem se tornando mais popular e, consequentemente, atraindo mais amantes e possíveis profissionais da área. Agora, imagine-se vivendo no ano de 1987 tendo lá seus 16 anos. Câmeras analógicas, nem sempre leves, com seus rolos e mais rolos de filme — nada disso tão acessível. Como se apaixonar por algo tão incerto (aos 16 anos, lembre-se!), a ponto de bater o pé e decidir (se bem, suspeito, não escolhemos nossos intentos; optamos por sustentá-los ou não) que aquele é o sonho de carreira para a vida? Só Tom Boechat explica. Nascido no Estado de Minas Gerais e criado em terras capixabas, o fotógrafo de 46 anos é hoje professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo. Ainda jovem, largou o curso técnico para arriscar um programa de intercâmbio cultural oferecido pelo Governo na época. Fora do país, teve sua primeira experiência com a fotografia. Ele conta que uma de suas primeiras tarefas para o curso era fazer um autorretrato. Com uma ótima ideia em mente, porém sem ajuda de outras pessoas e com uma câmera analógica, a imagem não saiu como queria e seu pescoço saiu cortado na fotografia. Ao entregar, Tom — oriundo de uma família protestante em que “sim e não” e “certo e errado” são nitidamente estabelecidos a todo momento; estudante de um curso técnico, que não trabalha com incertezas nem infinitas probabilidades, só com o certeiro — adiantou ao professor que sua ideia havia dado errado.

A reação de seu professor, que elogiou o trabalho feito mesmo estando “errado”, talvez tenha encorajado uma das que seriam as características da fotografia de Tom: a fuga de padrões estabelecidos. Em seu primeiro trabalho autoral, produzido em 2005 e denominado “Toquiotas”, vê-se uma Cidade de Tóquio incomum e singular, indiferente ao tudo-ao-mesmo-tempoagora, marca da capital japonesa. Esta peculiar série deu origem a um belo livro, reunindo textos de escritores brasileiros inspirados na atmosfera das fotografias e resultado um mix belo e curioso de palavras e imagens. O fotógrafo pensou cada detalhe de sua criação: disposição dos quadros, rigorosa escolha dos autores, tipo de papel utilizado na impressão... O volume, com introdução de Luiz Guilherme Santos Neves, tem como referência livros clássicos da fotografia moderna, sendo uma pequena obra de arte, lançada na vanguardista Galeria OÁ, de Thais Hilal. Tom segue criando e desenvolvendo suas pesquisas sobre a fotografia documental e sua interferência na arte. Em 2017, aterrissa na Galeria de Arte do Espaço Universitario, com uma controversa exposição individual “O Êxtase de Teresa”, onde repensa seus conceitos e, através de apropriação de imagens de filmes eróticos dos anos 1960 e 1970, desvenda e revela sua visão sobre a essência feminina. Imagens inquietantes que preenchem os olhos com a força dos grandes formatos e deixam no ar o desconforto de questionamentos que hoje permeiam a mídia e interferem no pensamento de toda uma geração. Tom vem para impactar, confundir, muito mais do que explicar. Vem para fazer pensar! Yasmin Gomes

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Tom por Tom A representação da mulher. Esse é um tema que investigo há anos, e me impeliu a alguns questionamentos: como tratá-lo sem contribuir para a objetificação da mulher? É possível uma mirada masculina isenta de machismo? Será que tenho algo a dizer, algo de fato relevante a mostrar? Outra questão que me incomoda está ligada à produção de uma fotografia autoral: a ideia modernista, ainda em voga, de uma fotografia original, única, funcionando ora como janela, ora como espelho do mundo. Assim, passo a trabalhar com imagens preexistentes, considerando que a imagem técnica, na publicidade, nos meios de comunicação de massa e nas redes sociais, satura a realidade e integra a fotografia como componente do mundo que nos cerca. Nesta série, abordo todas essas questões num recorte bastante específico: a representação do gozo feminino no cinema, refotografando cenas de filmes na tela do computador. A apropriação da imagem cinematográfica, atravessada pelo ruído do arquivo digital no monitor e apresentada aqui, nas páginas de uma revista, acaba por suscitar outras tantas questões de cunho formal e conceitual. O trabalho consegue problematizar a idealização e a construção da imagem da mulher no cinema ou acaba por reforçá-la? Como todo esse deslocamento ressignifica uma imagem que já se apresenta pronta e carregada de significados pela cultura? O que sobra do trabalho cinematográfico e o que é adicionado pelo procedimento do artista? Nada novo sob o Sol. Artistas como Robert Rauschenberg, Mimmo Rotella, Robert Heinecken, Barbara Kruger, Sherrie Levine e Richard Prince, dentre tantos outros, se apropriavam de fotografias desde meados do século passado. O fotógrafo Walker Evans o fazia desde a década de 1930, antes mesmo da arte contemporânea.

de sua liberdade sexual e de seu papel na sociedade contemporânea. Para além de questões pessoais, formais e conceituais, a discussão do uso da fotografia e da representação da mulher na atualidade me parece relevante. Grande parte da atual produção de imagens continua objetificando o corpo e coisificando as relações, como já previa Walter Benjamin em Pequena História da Fotografia, em 1936. Num estado que se destaca pelo número de mulheres assassinadas, conquistas alcançadas em outras partes do mundo há mais de 50 anos ainda não foram consolidadas, apesar de movimentos contrários à essa violência. Temas ligados à sexualidade e ao corpo feminino continuam sendo tratados como tabus, reforçados por um maciço discurso conservador e fundamentalista em plena ascensão na política e na cultura em geral. Legisladores estaduais aprovam lei proibindo exposições artísticas que incluam a nudez, em pleno século XXI. O título da exposição, também uma apropriação, referese diretamente à escultura O Êxtase de Santa Teresa, de Gian Lorenzo Bernini, criada entre 1647 e 1652. O artista italiano representou Santa Teresa de Ávila num momento de gozo espiritual, alcançado num corpo mortificado por privações. A série O Êxtase de Teresa busca representar outra mulher. Aqui, Teresa é a representação de uma mulher secularizada, carnal, que goza o sexo e desfruta o próprio corpo. Tom Boechat

Ao selecionar as imagens finais, algo me chamou a atenção: apesar das centenas de longas-metragens pesquisados na execução do trabalho, inesperadamente, a série estava composta por imagens retiradas apenas de filmes produzidos nas décadas de 1960 e 1970, período de intensos debates e conquistas dos direitos da mulher,

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+ fotografia

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Neste ensaio, Felipe Quintini revela como foi impactado pela obra do polêmico pintor expressionista Jackson Pollock. O fotógrafo nos convida a observar as imagens e desvendar o universo das emoções sentidas pelos atores durante a produção da instigante série de retratos. Ele busca o registro destas emoções em rostos humanos expressivos, ora se escondendo, ora se revelando, através da interferência de mãos eloquentes. Por fim, junta a força dos olhares com a magia das cores das tintas e movimentos aleatórios, semelhantes às intensas pinceladas de Pollock, para compor imagens surpreendentes, capazes de nos capturar e emocionar.

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Bruno Fraga Bruno Fraga é ator e cantor. Atualmente, interpretou Luciano Camargo no musical “2 Filhos de Francisco”. Seus trabalhos no teatro incluem o musical, “Wicked”, “Cazuza – Pro dia Nascer Feliz”, “Alegria-Alegria”, “Godspell” e “Rock in Rio – O Musical”. Na TV, integrou o elenco da novela “Malhação”

Giulia Nadruz Giulia Nadruz é atriz e cantora e entre seus últimos trabalhos estão os musicais “Ghost” e “Cinderella”. Dublou a personagem Bela no live action da Disney “A Bela e a Fera”. Indicada como melhor atriz nove vezes em Prêmios como Bibi Ferreira, Reverência e Aplauso Brasil. Na TV fez a minissérie “Dois Irmãos” da TV Globo, “A Secretária do Presidente” do canal Multishow.

Diego Montez Diego Montez é ator. Atualmente em cartaz no espetáculo “2 Filhos de Francisco”. Diego Montez integrou o elenco de diversos musicais nos últimos anos como “Cazuza Pro Dia Nascer Feliz”, “Chacrinha”, “Rock Of Ages” e “Wicked”. Foi indicado ao Prêmio Reverência como melhor ator coadjuvante por “Rent”. Na tv, atuou em “Rebelde”, “Dona Xepa” e mais recentemente na novela juvenil “Cúmplices de Um Resgate” pelo SBT

Laura Lobo Laura Lobo, Cantora e atriz, natural de Brasília, tem conquistado público e crítica com seu trabalho. Sendo um dos mais recentes o grande musical “Les Misérables”. Integrou o elenco de diversos espetáculos como “O Despertar da Primavera” de Charles Moeller e Cláudio Botelho, “Cats”, interpretou em “A família Adamms- O musical” a personagem Vandinha e em “Meu Amigo Charlie Brown” a personagem Sally Brown

Bruno Gadiol Bruno Gadiol, aos 19 anos, o cantor e ator interpretou o jovem pianista Guto na novela “Malhação- Viva a diferença” da rede Globo. Bruno foi também Semifinalista do “The Voice Brasil 2016”. No teatro estreou como ator na peça “Meninos e Meninas”, em São Paulo

Kiara Sasso Kiara Sasso é atriz, Cantora, Bailarina, Dubladora, Kiara tem uma carreira artística voltada para os palcos do teatro musical, alguns dos musicais em que protagonizou foram: “A Noviça Rebelde”, “A Bela e a Fera”, “O Fantasma da Ópera”, “Mamma Mia!”, “O Palhaço e a Bailarina”, “Miss Saigon” e seu próprio show, “Silhuetas”. No cinema dublou a versão brasileira de “A Pequena Sereia” como a personagem Ariel.

Mateus Ribeiro Mateus Ribeiro vem sendo reconhecido como um dos principais nomes da nova geração do teatro musical brasileiro. Em 2016 foi indicado ao prêmio Bibi Ferreira, Prêmio CBTIJ de teatro para crianças e Premio Botequim Cultural. Seus trabalhos no teatro incluem “Meus amigo Charlie Brown”, “2 Filhos de Francisco”, “Chacrinha”, “Cabaret”, “O Magico de Oz”, “Crazy for you” e “A Despedida”.

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+ crônica

MUITOALÉM DO JARDIM Bernadette Lyra

*Nascida em Conceição da Barra, ES. Escritora de ficção. Atualmente é professora de Cinema, na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.

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Foto - Alair Caliari

*


E

como era primavera e eu me detivesse frente aquele diminuto jardim onde botões de tulipas se preparavam para florir e folhas de cambraia verde se esticavam pelos lados; e como visse eu a água que escorria entre duas pedras e me surpreendesse com seu brilho perolado e doce; e como eu continuasse suspensa em equilíbrio junto ao asfalto cortado pelos veículos, que cintilavam e passavam como alimárias de aço − veio então um senhor e, com rispidez, indagou o que eu pretendia. − Nada – respondi. – Estou apenas olhando o jardim. O senhor me considerou com ar de incredulidade. Eu não tinha cara de mendiga. Não parecia meliante. Não me vestia como se vestem as andarilhas que vagam pelas avenidas, carregadas de cobertores, recobertas de xales encardidos e carregando trouxas. Quem era eu, portanto? O que queria? O que de fato fazia? Nunca ninguém, em consciência sã, ficou assim, estática, com jeito de embevecida, em frente daquele pequeno jardim. A não ser que tivesse uma finalidade escusa, sorrateira ou prática. Talvez fosse eu uma amiga da velhinha do oitavo andar, que também gostava de plantas? ele me indagou. − Oh, não! Não conheço quem mora neste prédio – eu disse gentilmente. O senhor ensaiou alguns passos em minha direção. Mas não conseguiu que eu me incomodasse e nem que me mexesse. Eu continuava a ser uma estranha, uma mulher parada junto às grades daquele diminuto jardim. Sem um gesto sequer. Sem reivindicar nada. Sem nada perguntar. Olhando, apenas. Apenas olhando para dentro do espaço cercado, onde os botões de tulipa escarlates pareciam entender o desassossego secreto e mormacento da tarde. − Vai chover – disse o senhor apontando para o céu embaçado pela cortiça das nuvens. Entendi que era uma tentativa de me afastar dali. − Tomara – eu falei.

Ele ficou sem graça. Recuou até a caverna da entrada do prédio. E de lá me observava, tal qual o fiscal que se pôs a observar Alice, no País das Maravilhas, de Carroll: primeiro com um telescópio, depois com um microscópio e, finalmente, com um binóculo. Eu era a presença que o incomodava. E ele esperava que eu me cansasse e me fosse. Uma criatura aluada, por certo, era o que ele pensava. Uma maluca em pé, na calçada, enquanto outras criaturas normais passavam, ligeiras como era de costume, cuidando de suas ocupações. Como pode! Justo nesta cidade em que ninguém tem tempo a perder! Por um breve momento, o farol piscou no amarelo e passou ao vermelho. Os carros se detiveram na esquina. Um silêncio arquejante tomou conta da rua. Sons que antes o barulho dos carros não deixava que fossem escutados começaram a brotar. Um riso de criança. O guizo seco de um grilo. Um miado de gato, atrás do muro alto. De repente, era como se o mundo tivesse mudado de sintonia. Depois, o farol ficou verde, de novo. Os veículos tornaram a correr. Tudo voltou ao normal. O senhor, protegido por um vão entre as colunas, se escondia em um canto obscuro do hall e me vigiava como quem vigia um bicho esquisito. Naquele instante, eu era um enigma que não podia explicar. Apiedei-me dele e do medo que o atormentava. Resolvi ir embora. Em despedida, dei uma última olhada em direção aos botões de tulipas escarlates, quase entreabertos. Acenei para eles. Eles, por sua vez, me acenaram com um leve balanceio das hastes, ao toque do morno vento. Eu tinha a certeza: eu e os botões de tulipas, nós nos reconhecíamos. Éramos como as aves que descobrem as sementes ocultas debaixo da terra; como os peixes que procuram as conchas mareadas no leito de areias; como as salamandras que atravessam as chamas de fogo escondidas no centro do gelo.

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+ design

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JADER ALMEIDA

FOTO : FABRICIO SAITER

Designer e arquiteto catarinense, atualmente, é um dos nomes mais respeitados do mundo em sua área. Sua marca registrada está em criar, com linhas simples e formas puras, peças inovadoras com estética atemporal. Suas produções, desde 2008, participam de importantes eventos nacionais e internacionais, tendo sido laureadas inúmeras vezes nos mais importantes concursos locais e mundiais de design, como o IF Product Design Award, um dos mais conceituados do planeta, o Brasil Design Award e o Premio Idea Brasil. Várias criações suas também concorreram ao Prêmio Museu da Casa Brasileira. Trilhando carreira brilhante, Jader vem conquistando cada vez mais destaque como designer, tendo como principal parceira a marca SOLLOS, conhecida por suas peças produzidas com excelência em qualidade e design.

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Cadeira Bossa Premiada em 2008 pelo Salão Brasil e selecionada para integrar o acervo da exposição da 22ª Edição do Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, a cadeira Bossa confirma a aposta de Jader Almeida na elegância e atemporalidade, numa peça com vocação clássica e, ao mesmo tempo, contemporânea. Trazendo, em sua memória afetiva, as típicas cadeiras das antigas fazendas de café do interior do País, o designer utiliza como matéria-prima somente madeira e palhinha, emprestando à peça um ar contemporâneo, traduzido em curvas suaves e uniformes.

Poltrona Celine As formas instigantes e convidativas da Celine, é resultado de um projeto extraordinário de Jader, que aliado a alta tecnologia revela o aconchego de formas orgânicas moldadas na madeira, que se adaptam ao corpo humano, causando uma conexão imediata com as pessoas.

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Jader Almeida, por Penha Federici Conheci Jader no início de sua carreira, há 12 anos. E, de imediato, identifiquei nele o talento inato, lapidado através de anos de estudos e experiências criativas enriquecedoras. Naquela época, 2004, com 24 anos, contratado pela SOLLOS como diretor criativo, já era um designer iluminado e competente, apesar da pouca idade. Estava pesquisando para produzir minha coluna quando soube de Jader estar com um ambiente exclusivo na CASA COR 2017. Interrompi minha busca de imediato! Ele seria minha escolha. Entrei em contato e marcamos encontro no espaço exclusivo montado em sua homenagem pela STAMPA, dentro do evento. No dia da entrevista, nos encontramos no lugar marcado e começamos a conversa com amenidades, evoluindo para relatos e troca de experiências mais profundas. Quando pergunto sobre como se tornou o designer competente de hoje, Jader me surpreende, declarando: “Ninguém nasce pronto!” Esta afirmação abriu um leque de possibilidades, levando seu olhar para um ponto distante, inexistente, à sua frente. Ele embarca numa viagem interior na busca de uma fala para definir a si mesmo diante de questão inesperada, fora da zona de conforto. Afinal, quem é o Jader Almeida que construiu o Jader Almeida? Sem encontrar a melhor resposta, com certa resistência em falar, revela ser, cada dia, uma versão ampliada, modificada e revisada de si mesmo em relação ao ontem. E expõe sua opinião: “Complicar é fácil; o difícil é ser simples.” Em seu interior, o arquétipo metaleiro bruto do motoqueiro curtidor de heavy metal convive em harmonia com o admirador da beleza sutil das tulipas: forma do bulbo, leveza de movimento... Esta dissonância o leva a criar um design delicado, tendo a sensibilidade de retirar os excessos. E, consciente da complexidade em viver entre estes dois mundos, acredita: “Caminhos opostos levam ao equilíbrio.” Jader explode em criação para não implodir em inquietação, buscando transcender o já foi feito, assumindo total responsabilidade sobre si e acreditando no amanhã refletindo o hoje, e vice-versa. Expressa ser sano esquecermos dois dias da vida: o ontem e o amanhã. Focado constantemente no agora e no trabalho, observa tudo e tudo tornar-se inspiração. Capta frequências de cidades, pessoas, coisas e assim alimenta sua alma. Farta-se em Nova Iorque, onde a selva, a energia pulsante, o excesso de informação causa arrepios. Com ceticismo, afirma: “Tendências são também uma grande indução e, quando há uma linguagem verdadeira e apropriada nas formas, sua vocação já está determinada. O que é elegante é elegante.” Sobre o ócio, admite não ter intimidade, embora buscando o aprendizado no tal “ócio criativo” e volta-se para seu fluxo contínuo, revelando: além das coisas vitais, não viveria sem a possibilidade de se mover, se locomover, sem a dinâmica, a metamorfose, retroalimentadoras, fazendo-o crescer. Uma figura slim fit, botas, calça e camisa pretas, cabelo contínuo como fino fio de cobre jogado para trás. Criou, em 2017, mais uma premiada peça, a poltrona Celine, nome dado a uma interpretação feminina, voluptuosa, onde faz da madeira morta um móvel vivo. Quanto ao resto? O resto fica para depois, porque ainda há, na vida, muito a ser dito!

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Peรงas criadas por Jader Almeida ao longo de sua carreira. A N I M A M AG. โ ข 2 0 1 8 n ยบ 0 0 3

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JAQUELINE CHIABAY Versatilidade, originalidade e consciência ambiental são marcas registradas desta fashion designer visionária, referência em upcycling, que cria para diversas marcas de moda nacionais e internacionais, veste celebridades, exporta seu trabalho para outros países e ainda, participa com suas criações de um dos maiores sites da rede, o Westwing Home& Living. Carla Miranda

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As questões sobre sustentabilidade abraçaram definitivamente a indústria da moda. E, mais do que só um modismo, vieram propor novas alternativas para processar e reutilizar os resíduos gerados por todos os setores deste mercado. O costume, ou mesmo a conveniência, de se banalizar tanto desperdício mundo afora levou este segmento a defrontar-se com uma série de problemas difíceis de serem resolvidos, como o aumento da quantidade de resíduos e sobras que resultam dos processos de produção trazendo graves impactos ambientais ao planeta. Na moda, a primeira coisa que lembramos quando pensamos em preservar o meio ambiente é o uso de tecidos ecológicos, mas, existem práticas bem menos complicadas do que a produção de tecidos com alta tecnologia e bem mais criativas, usando material que já existe e seria descartado. O upcycling é a prática de dar um novo status e melhor uso para algum material que seria levianamente descartado no lixo. Ao contrário da reciclagem o material a ser reaproveitado não precisa ser reprocessado para se transformar num novo objeto — como uma lata de alumínio ou um pote de vidro. É uma reutilização que respeita a natureza e a qualidade dos materiais que merecem uma segunda chance. A maior vantagem desta prática é evitar o desperdício de materiais que são reutilizáveis, evitando assim, poluição, consumo de recursos naturais já escassos e energia. O interessante é que o produto criado, torna-se, na maioria das vezes, mais prático, mais bacana e melhor do que era antes. A prática do upcycling é uma das melhores soluções encontradas para diminuir os impactos ambientais pelo mundo e é adotada por grandes marcas, como Gucci e Calvin Klein. Outro bom exemplo é a Petit h, extensão da marca de luxo francesa, Hermés, criada em 2010, com foco na criação de objetos de design, reutilizando as sobras das bolsas de couro, echarpes de seda, retalhos e peles rejeitados pelo rígido controle de qualidade da marca. Os objetos e acessórios são um grande sucesso de vendas e podem ser encontrados nas lojas da Hermès, de Londres, Cingapura e Bélgica, além da loja própria em Paris. Não precisamos ir tão longe, temos um exemplo de consciência ambiental somada a excelente design bem perto da gente! Há mais de 20 anos, muito antes da preocupação com a sustentabilidade surgir no mercado brasileiro como tendência, Jacqueline Chiabay, visionária, já praticava o upcyling: produzia peças com resíduos de couro provenientes, inicialmente, de sobras de suas próprias confecções. Posteriormente, com crescimento da demanda por essas peças, passou a comprar as aparas das indústrias de vestuário ou em descartes de curtumes. Outros materiais que seriam jogados no lixo, como fibras naturais, fios e pelos, também são reusados e incorporados às criações. A designer, além das roupas e acessórios também cria objetos de decoração arrojados e originais, como banquetas, cachepots, centros de mesa etc... O bom gosto e a alta qualidade dessas peças originais e versáteis levaram suas criações à um dos maiores sites de decoração da internet, o Westwing Home & Living, onde são comercializadas atualmente.

Jacqueline Chiabay, mesmo sendo referência em slow fashion, reconhecida pelo seu talento, é figura acolhedora, com sorriso franco e alma aberta para o mundo. Artista segura de seu potencial criativo, tem no trabalho coletivo sua grande força. Ela coordena projetos sociais relevantes, promovendo reintegração social e gerando renda para seus parceiros unindo consumo consciente ao incentivo para reaproveitamento de resíduos. Proprietária da Art Pura, credenciada pelo Serviço Brasileiro de Apoio ao Micro e Pequeno Empresário do Estado do Espírito Santo — Sebrae-ES, presta consultoria para projetos de artesanato e moda sustentável. Além de viajar por todo o interior capixaba capacitando artesãos, ministra palestras Brasil afora sobre a relação entre artesanato e moda sustentável. Em parceria com o Governo do Estado, coordena o grupo Novas Marias, projeto voltado à integração de detentas com a sociedade. Esta iniciativa proporciona a elas diversos benefícios, como diminuição da pena, reintegração ao mercado de trabalho até aumento da renda, gerada pela venda do material produzido. Em seu ateliê, na área rural do Município de Viana, ES, o clima acolhedor da aconchegante casa de fazenda e a conversa mansa regada a uma boa a xícara de café contribuem para trazer o clima perfeito para inspirar a designer Jacqueline Chiabay e as artesãs que participam do projeto, connfecionando peças de moda e decoração que vão enfeitar coleções de diversas marcas de renome internacional. O Grupo Couro e Tramas, integra gente simples da região — agricultoras, artesãs, donas de casa... — que participam do trabalho nas diversas etapas: corte das tiras de couro e produção dos novelos, tecelagem utilizando técnicas como crochê, macramê e tricô e produção de fuxicos. As tarefas são distribuídas de acordo com as habilidades de cada uma. — As equipes participam da preparação à finalização manual dos produtos. Elas são como minhas mãos. Não conseguiria fazer nem uma peça sozinha — explica Jacqueline, Muitas marcas de abrangência internacional, como a Carlos Miele, levam para as passarelas das Fashion Weeks internacionais acessórios criados por Jaqueline, com o objetivo de compor o styling dos looks apresentados em suas coleções. Ivan Aguiar, em seu primeiro desfile na Mercedes Benz Fashion Week, no ano de 2016, em Nova Iorque, usou peças desenvolvidas e confeccionadas pela talentosa designer. Também não podemos esquecer sua incrível participação na Mostra Brazil Destination, do Museu de Arte Moderna de Nova York — MoMA, em 2009, quando um de seus trabalhos, uma echarpe de tricô de tiras de couro coloridas, foi um dos destaques da exposição e sucesso de vendas na loja do museu. Todos estes fatos consagram o trabalho competente e inspirador de uma das primeiras designers sociais do planeta,que praticando o upcycling a mais de vinte anos, prolonga a vida útil de materiais que seriam descartados na natureza, e alem de evitar a degradação do meio ambiente, ressignifica estes materiais, utilizando-os na criação de peças arrojadas, versáteis e atemporais com grande valor no mercado nacional e internacional.

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Paetes de couro A N I M A M AG. โ ข 2 0 1 8 n ยบ 0 0 3

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Vestido feito a mão, reunindo diversas texturas e tramas, elaboradas em tiras de chamois alvejado feitas com o aproveitamento das sobras do corte do couro da industria do vestuário.

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Vestido em trama de flores multicoloridas feitas com tiras de couro chamois As tiras são cortadas manualmente,aproveitando as aparas que sobram do corte do couro usado na industria brasileira que trabalha com este material. A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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Cardigã em couro chamois de cabra, montado com caseados e apliques de crochê feito com tiras do próprio couro e rebordado com pedras brasileiras.

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Vestido em trama de tricot manual, elaborada em tiras de couro chamois e de pelica de cabra multicoloridas. As tiras são feitas com as aparas que sobram do corte da industria do vestuário em âmbito nacional A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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Top frente única, em trama de tear manual desenvolvida pela designer , feita com pequenos círculos de couro entrelaçados com tiras de couro de cabra e crochê. Reutilizando matéria prima que sobra do corte da industria do vestuário nacional

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Vestido em tricot manual, com pala em trama de macramê vazado. Todo feito com tiras de couro chamois de cabra, utilizando aparas de couro que sobram do corte da industria da alta costura em âmbito nacional A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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Mini vestido em lantejoulas de couro reutilizado, bordadas com miçangas. Técnica desenvolvida pela designer, produzida com exclusividade pelo Projeto Novas Marias, envolvendo mulheres do sistema prisional capixaba.

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Blusa de crochê de chamois de cabra, alvejado, rebordado com perolas e madrepérolas. Matéria prima reutilizada das sobras das casas de alta costura que trabalham com estes materiais em âmbito nacional A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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Echarpe confeccionado com mistura de tramas de tiras de couro chamois entremeadas com tiras de pelo de coelho e fuxicos gigantes em seda. Peรงa desenvolvida para marca internacional

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Direção Bebel Gama/Tiane Scobar Fotografia Vinny Pozzatti Retouch Tiane Scobar Styling Carla Miranda Modelo Hemanuely Nascimento Agência Mega Model Vitória Beleza Ginelli Beauty Assis. de Produção Aline Maia

Vestido em trama manual criada a partir de gotas de couro de cabra entremeadas com crochê de tiras de chamois. Matéria prima que vem do aproveitamento das sobras do corte da industria de vestuário de couro em âmbito nacional. A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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+ conceito

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CARTA A TUTI Olá, Tuti, prazer! Nós não fomos apresentados ainda, talvez por vivermos em tempos distintos. Sei um pouco sobre você. Aliás, acho que bem pouco. Peço desculpas por isso. Mas acontece que o conheci por meio da sua mãe. Um clássico, não é mesmo?! As mães sempre falam dos filhos. A sua falou alto, mas tão alto, que eu escutei daqui, 46 anos depois. Sei que você foi militante do Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8). Lutou, bravamente, contra a ditadura militar brasileira no fim da década de 1960. Já que vivemos em tempos diferentes, gostaria de lhe apresentar um grupo social militante que é contemporâneo meu, e que por sinal é seu homônimo. Eles se chamam Tute Bianche. São italianos e, no período de 1994 a 2001, caminhavam pelas ruas contra a globalização e seus efeitos na Itália. Sabe, Tuti, os Bianche denominavam-se como exército de sonhadores e faziam de seus corpos um instrumento de luta. No campo de batalha, que é a rua, eles se revestiam de macacões brancos recheados de espumas . De fato, a roupa nos concede a individualidade, as distinções e os requintes sociais. No entanto, o Tute Bianche foi um projeto político de experimentação permanente, que prezava pelo velamento da própria identidade. Ao usar, coletivamente, o terno branco, o grupo colocava em jogo o próprio corpo, com o despojamento de suas feições sui generis.

Movimento Tute Bianche, fonte: http://www.wumingfoundation.com/italiano/outtakes/monaco_portuguese.html

Este macacão branco também era um uniforme. Porém em momento algum ameaçava transformá-los em meros manequins, pois os membros o vestiam não por um padrão imposto, mas pela necessidade de manifestar o pertencimento a um grupo militante caracterizado, o Tute Bianche. Veja, a arma utilizada por eles foi a roupa, aquela mesma que sua mãe, uma exímia costureira, perfez em vários momentos de sua vida em que precisou ser escutada, tanto para prover o sustento da casa e de seus 3 filhos quanto para levantar bandeiras. Quando me refiro a levantar bandeiras, quero dizer que sua mãe, a meu ver, foi uma das primeiras estilistas brasileiras a trabalhar a identidade do nosso país em suas criações. Num momento em que todos se baseavam na Moda vinda do exterior, sua mãe se debruçava sobre elementos da nossa cultura, de lugares onde viveu, de ícones brasileiros, como Lampião e Maria Bonita. Ela criava peças do vestuário que descortinavam um país que não conhecia sua própria história. Olha que interessante, Tuti: a roupa como matéria-prima da Moda tem em sua espinha dorsal um espírito ditador, mas o Tute Bianche, assim como a sua mãe, lançou luz sobre suas questões políticas justamente pelo vestuário. Ambos utilizaram a roupa como suporte de resistência e denúncia. No ano da sua prisão e posterior desaparecimento (1971), sua mãe apresentou a coleção International Datelina Collection III – Holiday and Resort na residência do cônsul do Brasil em Nova Iorque e em um desfile-performance, com alusões ao momento político brasileiro, e tornou público o seu caso.

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Uma das peças lançadas nesta coleção foi denominada de “Vestido de protesto político”. É um vestido longo de linho branco, com mangas compridas e franzidas no punho com elástico e forro do mesmo tecido. Há diversos bordados coloridos, relacionados com a ditadura no país: motivos de canhão, sol atrás das grades, anjos, flores e quepes militares. Pelo momento histórico de repressão e violação dos direitos autorais que o Brasil vivenciava tudo precisava ser muito sutil e subliminar. Por isso, visto de longe, este vestido branco era a personificação do singelo, mas, de perto, ele fazia um barulho e sua mensagem ecoava: – Onde está o meu filho? Tanto os macacões do grupo Tute Bianche como o “Vestido de protesto político”, feito por sua mãe, eram brancos. Você sabia, Tuti, que a cor branca utilizada pelos Tute Bianche evoca outro grupo militante chamado de Ya Basta Association?! Eles vestiram branco para rememorar os fantasmas que assombraram a também fantasma cidade dos policiais. O grupo professava que, se a luta visa à realização de visibilidade, a cor da luta é o branco, e a peça de vestuário branco cobre todo o corpo. Veja, visibilidade! Naquele momento, era isso que sua mãe precisava, de visibilidade para ter voz e chegar até pessoas que pudessem ajudá-la a encontrá-lo. Penso, aqui, sobre o caráter simbólico que a cor branca produz sobre a alma, sendo este o mesmo efeito do silêncio absoluto. Silêncio que não está morto, pois transborda de possibilidades vivas, um nada anterior a todo começo, a mimese da alvorada.

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No Tute Bianche, é como se as espumas que preenchem os macacões brancos amortecessem não só as bombas atiradas pelos policiais, mas também todo o barulho prosseguido por um recomeço. Já no “Vestido de protesto político” criado pela sua mãe, era um branco desconcertante, ensurdecedor. Ela teve voz, teve visibilidade e foi perseguida. Perseguida. E morta em 1976. Muitos anos se passaram e, no desfile primavera/verão de 2002, o estilista Ronaldo Fraga, mineiro como sua mãe, fez um desfile intitulado “Quem matou Zuzu Angel?”. As pessoas haviam se esquecido, outras não sabiam da sua história e de sua mãe, por isso foi tão desconcertante. Uma catarse. Ele emocionou a platéia com os anjos, passarinhos e cores da Zuzu e encerrou sua apresentação na São Paulo Fashion Week com a música “Bandeira branca”, cantada por Arnaldo Antunes. BANDEIRA BRANCA, AMOR NÃO POSSO MAIS PELA SAUDADE QUE ME INVADE EU PEÇO PAZ

HTTPS://3.BP.BLOGSPOT.COM/-WA1XUASNMPA/VXMRSQKDHVI/AKFW/BUYYCCBGT_YWML1CPWE4HYKISANF-1PQWCLCB/S1600/RONALDOFRAGA.JPG

Sabe, Tuti, desde a Guerra dos Cem Anos, nos séculos XIV e XV, estende-se uma bandeira branca para pedir que se cesse a hostilidade. Assim, o branco se opõe ao vermelho da guerra, e essa é uma dimensão simbólica quase universal. O que de fato não se aplica aqui é o branco que remete aos homens inocentes, puros, limpos, às vezes divinos e sagrados e geralmente reconhecidos como o “homem branco colonizador”. Pelo contrário, se pensarmos no grupo Tute Bianche e em sua mãe, é com macacões e vestidos brancos que o movimento luta também contra qualquer tipo de dominação. São um exército de sonhadores, artistas e estilistas, que lutam de branco, um branco que deixa de ser alvo e se torna um pouco amarelado pela poeira da luta. É, meu caro Tuti, ou Stuart Angel, como a maioria o conhece. Hoje, no ano de 2017, são outros Stuarts, outras Zuzus, mas o campo de guerra é o mesmo. Saiba que nos encontramos diante de um círculo de dupla direção: de um lado, a sociedade, a política, a economia não podem mudar sem uma mutação das mentalidades; de outro, as mentalidades só podem verdadeiramente evoluir se a sociedade global seguir um movimento de transformação. E é nesse embate que se instaura, no caos atual das cidades, um reiniciar que pode surgir dessas experimentações sociais que compreendem que há no político uma dimensão estética, assim como há na Arte e na Moda uma dimensão política. Só dessa forma oportunidades serão oferecidas para que a sociedade reflita, coletivamente, sobre as figuras que dependem de suas próprias existências. Assim como sua mãe e os Bianche o fizeram. Luisa Mendes

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Zuzu Angel nos anos 1970 Digital Zuzu Angel.

fonte: acervo

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Ela: Colete: Pietie e Maiô: Adriana Degreas para Duett Ele: Libanesa Homem A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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Ele: Libanesa Homem

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Ela: Top Pietie Calça: La Bassetti Ele: Acervo da produção

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Ela: Blusa e Hot pants, Adriana Degreas para Duet.

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Ela: Colete: Pietie e Maiô: Adriana Degreas para Duett Ele: Libanesa Homem

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Ele: Libanesa Homem

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Fotografia: Gracielle Gava Styling: Jessica Neves e Daniel Davilla Beleza: Vic Junior Modelos: Fabricio Bittencourt e Juliana Kapitzky Agência: Ragazzo Model Management

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Private Party Fotógrafo: Henrique Gualtieri Assistente de fotografia: Sanzio Melo Modelos: Hassada Baptista e Vittória Lapertosa (Mega Model BH) Edição de moda: Andrea Kanter Beleza: Rodrigo Caetano

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Vittoria usa vestido Apartamento 03; Brincos, Kanter Prata Moderna; Meias,Lupo Hadassa usa vestido Apartamento 03; Brincos Eleonora Hsiung e anel Doux.

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Vittoria usa vestido Maria Lucia Hoham para Mares M&Guia; Brincos e bracelete, Doux; Anéis,Claudia Mares Guia; Sandálias, Schutz.

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Hadassa usa vestido, Patricia Bonaldi; Brincos, Doux.

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Vittรณria usa vestido Bรกrbara Bela; Brincos, Doux; Anel,Clรกudia Mares Guia. A N I M A M AG. โ ข 2 0 1 8 n ยบ 0 0 3

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Hadassa usa vestido Unity Seven; Brincos, Kanter Prata Moderna; Vittรณria usa vestido, Fรกtima Scofield; Anel,Claudia Mares Guia.

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Hadassa usa vestido Fedra; Brincos e Anéis, Claudia Mares Guia.

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Hadassa usa vestido, Bรกrbara Bela; Anel, Claudia Mares Guia; Brincos, Kanter Prata Moderna; Sapatos, Arezzo; Meias Lupo.

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Vittoria usa vestido Iris Clemência; Brincos, Claudia Mares Guia; Sandálias, Schutz.

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Vittoria usa vestido Hamel para Mares M&Guia, brincos Doux, sandรกlias Schutz.

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Camisa, C&A; Blazer, Heberth Portila; Gravata, Coisa de Coser; Calรงa e sapato, Cia do Terno;

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Blazer e camisa, Cia do Terno; Gravata borboleta, Coisas de Coser; Calรงa, Cia do terno.

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Blazer e camisa social - Cia do Terno Gravata borboleta - Coisas de Coser Calรงa social - Cia do terno

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Colete: Colombo Boina: acervo

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Camisa, Konik; Calรงa, Zara; Suspensรณrio , Class Archer.

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Camisa – Konik Calça – Zara Suspensório – Class Archer

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Camisa social: Sergio K Suspensório: Acervo da produção

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Fotografia: Felipe Quintini Styling: Welder Soares Beleza: Huey Ly Tiemy Sheu Assist.de produção:Tiago Theophilo Ghetti Modelo:Caio Condi (Andy Models) Locação: Casa da Stael

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Blusa de Tricot, Heberth Portilla. A N I M A M AG. โ ข 2 0 1 8 n ยบ 0 0 3

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After Party Fotógrafo: Naelia Salas Styling: Daniel Davilla Make-up: Nika Ambrožič Hair: Laura Somada Model: Anna Elisa Assistante: Josep Ferré Locação: El Bombón Salsa, Barcelona, Espanha Agradecimentos: Marc Juan Comunicación, Pilar Oporto Boutique, You and Me MKT Jaqueta de couro, Fernando Alberto; Saia longa de tule, Pepe Botella para Pilar Oporto Boutique; Botas cano longo, Zara.

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Blazer Babylon; Top de cristal Lucille; Calรงa bordada Amen Couture para Pilar Oporto Boutique; Scarpin Zara.

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Casaco, Malahierba; Vestido paetê dourado, Concepción Miranda; Botas cano longo, Zara. A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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Casaco Malahierba

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C a b e รง a, Iva Ksenevich; Vestido, Justicia Ruano para Pilar Oporto Boutique.

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Jaqueta de pele, Fernando Alberto; Saia de paetê Prateado, Concepción Miranda; Scarpin Zara.

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Vestido de paetê preto, Concepción Miranda.

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Camisa e calรงa Lucille para Pilar Oporto Boutique; Bota prata, Outfit.

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Casaco, Lucille; Short, Edward Achour, Paris para Pilar Oporto Boutique; Botas cano longo, Zara. A N I M A M AG. โ ข 2 0 1 8 n ยบ 0 0 3

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Blusa, Oporto Boutique.

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Casaco e calça de paetê dourado Lucille para Pila Oporto Boutique

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Blazer, Zara; Calça Pareô, Santo Estilo; Sapato Oxford, Sergio‘s; Óculos, Ray Ban.

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Camisa, Cia do Terno; Blusa Veludo, Ellus; Calรงa, Ellus.

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Casaco, Ellus; Cropped, Blue Steel, Heberth Portilla; Blazer vermelho, Harvé Benard, Heberth Portilla; Cinto, Ellus A N I M A M AG. • 2 0 1 8 n º 0 0 3

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Camisa preta estampada, Santo Estilo; Camisa azul floral,, Blue Steel; Blazer azul Royal,, Cia do Terno; Blazer azul grafite, VR; Óculos, Ray Ban; Cinto, Ellus.

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Fotografia: Felipe Quintini Styling: Welder Soares Beleza: Milton Luz Modelos: Agência Ragazzo MGMT Fabrício Bittencourt, Luciano Guttierrez

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Blazer, Zara.


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+ moda

Fotografia: Rafael Fanti Ass de fotografia: Julia Pavin Beleza: Victor Chevalier Styling: Jéssica Neves Modelo: Vallery Peters Agência: Hollywood Model

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Camisa, Libanesa Homem; Vestido, Duett . A N I M A M AG. โ ข 2 0 1 8 n ยบ 0 0 3

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Vestido, Afago; Camisa Jeans, Dudalina para Libanesa Homem; Cintos, Tesor .

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Calรงa e Blusa: Afago / Cinto: Tesori.

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Calรงa e Blusa, Duett; Jaqueta Jeans, Tesori.

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BANQUETA BAR PANTOSH EM FREIJÓ LAVADO para STAMPA Decorações.

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Vestido, Afago; Camisa Jeans, Dudalina para Libanesa Homem; Cintos, Tesori.

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Vestido, Adriana Degreas para Duett; Camisa, Acervo da Produção.

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+ beleza

Amanda é uma beauty artist que faz questão de explorar uma nova idéia de beleza, que realce, o que de fato importa, em cada rosto. Experimentar a maquiagem com pigmentos naturais. Explorar as cores e texturas. Tratar a pele massageando os poros com óleo de coco, carinhosamente. Colorir têmporas, côncavos e lábios esfumando a tintura provida pela beterraba. Beber água. Hidratar o quanto for necessário, sobretudo por dentro. Nos cabelos, o cuidado é prévio, com finalizadores para que a textura aceite o vento e o verão. É tempo de cultivar uma beleza confortável para realçar a singularidade que te estimularam camuflar.

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Tudo

Bem Não Ser Perfeito

Na contra-mão da indústria cosmética, a beleza se torna livre, questiona a necessidade de correção e dissolve o “body positive”, que impõe a aceitação do próprio corpo. O marketing tentou silenciar as mudanças sentidas nitidamente no mundo da beleza nos últimos (quatro) anos que vem transformando os conceitos de beleza vigentes. A crescente ideia da vivência coletiva mostra que é preciso ir além do empoderamento. O termo da moda, já engolido, digerido e banalizado por agências de comunicação, aponta para uma luta individual. O corpo se tornou político e, ainda que os padrões não caiam, uma revolução acontece. É tempo de fortalecer a beleza real, interna, sem abrir mão do direito natural aos dias de baixa autoestima. A cobrança social do “belo” é direcionada apenas às mulheres e dentro da moda, um dos principais nomes a discutir isso é Amanda Schön. A maquiadora assinou a beleza de desfiles como Osklen e Animale no SPFW 44. Careca, sem maquiagem e com a pele hidratada por óleos vegetais, sua presença naquele espaço é um paradoxo: Seus trabalhos reduzem o uso da maquiagem corretiva e abstraem os conhecimentos técnicos que normatizam os rostos. “A gente precisa desconstruir, para à partir daí, discutir os conceitos que estão arraigados na mente das pessoas , mostrar outras possibilidades, outros olhares. Foi isso que eu tentei fazer: tentar transformar o estranho, o feio, o peculiar, em beleza e liberdade. Saber que perfeição é um conceito torto e ignorá-lo foi a melhor coisa que pude fazer. Me deu força, inspiração e consegui aplicar isso no meu trabalho.” Através de seu processo criativo, Schön alcançou uma outra noção da sua própria imagem. Hoje, embora esteja fora dos padrões estéticos impostos, compreende o corpo de outro modo. “Nunca me senti tão normal. Normal de um jeito bom, hoje me sinto bonita”. A percepção da beleza singular dos cabelos com diferentes texturas, é responsável pela diminuição na procura por alisamentos capilares e pelo aumento do consumo de produtos cada vez mais naturais, nos fios, no corpo e no rosto. O uso de produtos naturais

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não é uma imposição, e sim, o resultado de um questionamento sobre as reais necessidades, custos e as longas horas dedicadas a manter em ordem o cabelo e o corpo de quem deseja o inatingível. Schön, que estreou em 2016 no SPFW, 43 desde então usa o óleo de coco como primer, base e iluminador. Basta aplicá-lo sobre a pele de forma moderada, de acordo com o resultado esperado. A massagem facial com o óleo prepara a pele, ativa a circulação e tem alto poder hidratante, criando um aspecto de pele viva. Nos cabelos, pode ser usado como finalizador, com uma pequena quantidade nas pontas secas, ou como umidificador, aplicando bastante e deixando agir por no mínimo uma hora antes da lavagem ou também pode ser misturado à máscaras, potencializando a hidratação. “O óleo de coco virou uma febre. Não demorou muito para que indústria criasse uma série de produtos com este óleo em sua composição. Porque comprar estes produtos se o óleo de coco em si tem um custo benefício muito melhor? É natural, o resultado é absurdamente superior, além de ser livre de químicas. Certamente “eles” não contavam com todos esses questionamentos”, avalia Schon. Se livrar da normatividade imposta pela indústria da moda é um processo libertador em direção a uma sociedade capaz de produzir imagens minimamente criativas, confortáveis e capazes de eliminar estereótipos de gênero, etnia e idade. E enquanto as massas ainda assimilam os novos termos como o “body positive”, caminhos alternativos são apontados, sem angústias e prateleiras cheias de produtos que não serão usados até o final. Segundo Amanda, “a idealização do empoderamento do “body positive”, é uma cilada. Se eu acordo insegura, surge mais uma culpa para a conta , a de não se encaixar no outro padrão: O da mulher que se aceita. Nossa luta tem que ser para que esses dias não nos aprisionem. E só ! ” Raisa Carlos de Andrade.


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Foto e Make: Caio Motta Cabelo: Raisa Andrade Modelo: Yasmin Gomes Jรณias: Ethnia e Bebel Gama


Seu trabalho é muito pautado na beleza natural da pele, sem o disfarce das imperfeições na fuga contra o tempo. Como alcançou esse processo e o que mudou depois disso? Já fui montada. Achei que ser mulher era necessariamente ter determinado visual. Podia ser diferente no estilo, mas ele, necessariamente, tinha relação com estereótipos de feminilidade que traziam entre outras coisas muito desconforto. Entendia que isso era vaidade e que toda mulher tinha; quando não, algo estava errado. Mas que vaidade toda era essa se não importava a quantidade de coisas que eu tinha pendurada? Sempre me sentia insegura. Por várias vezes, na infância e adolescência, tentei me livrar de todas essas amarras e me vestir e me comportar mais próximo do que sou hoje. Mas era bem difícil levar adiante quando toda e qualquer pessoa ao seu redor fazia parecer que tinha algo errado com você. Ou te rotulava como se só houvesse um lugar no mundo para uma mulher assim. Depois de muito tempo oprimida, depois de muito odiar minha imagem, depois de muita autoestima cagada, anorexia e autoflagelos, foi trabalhando com beleza e, ao mesmo passo, me desprendia da minha própria e entendi do que precisava. Precisava ser livre; precisava que me aceitassem sendo livre; precisava ver as revistas me dizendo para ser livre; precisava ver na outra a minha própria liberdade. E aí eu comecei a tirar a maquiagem das minhas maquiagens. A gente precisa desconstruir para discutir, para mostrar outras possibilidades e outros olhares. Foi isso que tentei fazer: tentar transformar o estranho, o feio, em peculiar, em beleza, em liberdade. Tudo mudou! Nunca estive tão segura na minha vida. Nunca me senti tão normal, de um jeito bom. Normal, porque todo mundo se sente bonita um dia e horrorosa no outro e está tudo bem. Normal porque parei de me fantasiar e passei a, finalmente, ser feliz com quem eu realmente sou e saber que sou incrível, saber que vou ser linda para alguns e feia para outros e tudo bem. Saber que perfeição é um conceito caolho e a melhor coisa que posso fazer é cagar para ele. Isso me deu força, me deu inspiração. Eu consegui aplicar no meu trabalho e consegui disseminar isso ao lado de outras mulheres incríveis. Hoje, tenho uma carreira, uma mínima influência dentro desse mercado e recebo mensagens de mulheres agradecendo e me pedindo para continuar. Mudou tudo, absolutamente tudo, e é para nunca mais andar para trás. Você acredita no fim do padrão de beleza? Anseio, mas não acredito. Acreditar no fim do padrão de beleza seria acreditar no fim da indústria e, infelizmente, estamos muito longe disso. Talvez meus filhos vivam esse mundo, mas eu não. A indústria se apropria de todas as causas, de todas as pautas, de tudo que a questiona. Se, hoje, eu desconstruir um padrão, amanhã a indústria o transforma em um novo. E assim seguimos. O que acho possível é fazer o que estamos fazendo: agindo em micropolíticas. Atinjo um determinado número de pessoas e essas pessoas outro número e por aí vai. De alguma maneira, essas pessoas me seguram nos locais onde tenho chegado. Minha luta é só essa, estar ocupando esses lugares para que, apesar do padrão ainda existir, haver uma voz criando um paralelo, questionando, trazendo outro olhar. Meu trabalho é estar lá e abrir cada vez mais espaços para mais olhares questionadores. Como começar esse processo de saída da normatividade sem abrir mão maquiagem? Para a mulher não é fácil. É só não usar e, pronto: virou macho, sapatão. É rir para não chorar. Acho que a normatividade está absolutamente atrelada ao conceito opressor e inescrupuloso de gênero, formado por uma série de estereótipos que, ao longo dos séculos, além de comportamento, foram se relacionando cada vez mais com vestuário e cosméticos. Quando uma mulher abre mão de usar maquiagem, e um homem passa a usar, ambos são atos políticos. E a maquiagem para mim é exatamente isso: ferramenta de expressão, ferramenta política! Por que abrir mão disso? Não sou contra o uso de maquiagens. Sou contra o uso que escraviza a mulher dentro de uma única possibilidade de aparência e a distancia de quem ela realmente é, tornando-a fraca e manipulável dentro do consumo. No mais, usemos e usemos muito!

https://www.facebook.com/amandaschon/

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http://ffw.uol.com.br/noticias/beleza/nome-quente-do-mercado-amanda-schon-transforma-maquiagem-em-ativismo/

Como você vê o “desespero” da indústria da beleza diante dessa afirmação da beleza livre e o crescimento de iniciativas naturais no cuidado da pele? Dou risada. Chega ao ridículo. Eles tentam se apropriar de tudo, mas, às vezes, tenho impressão que, se tirar o dinheiro da mão dessas pessoas, não sobra nada. Há uns dois, três, anos atrás, e as meninas começamos a usar óleo de coco como hidratante primer, iluminador, tudo que dava. A gente já usava em si e, depois de ver o resultado maravilhoso daquilo, levamos para o trabalho. Somos seis amigas, com peles completamente diferentes e, para todas, o óleo de coco fez muito bem. Foram dois anos usando nas maquiagens com resultados incríveis. E assim como nós, muitas pessoas descobriram o óleo de coco e virou uma febre. Não demorou muito para a indústria criar uma série de produtos “com óleo de coco”. Shampoos, cremes, máscaras, águas termais, demaquilantes... De um tudo, fizeram um pouco. Mas porque preciso comprar isso, se o óleo em si tem um custo versus benefício muito melhor, além de ser natural, livre de químicas, com resultado absurdamente superior? Enfim, acho que não contavam com todos esses questionamentos. Não contavam com o acesso de muitas pessoas a informações como essas. Não foi um sucesso porque, pouco depois, as notícias altamente sensacionalistas e tendenciosas contra o óleo de coco passaram a surgir em pencas. Isso nunca vai deixar de acontecer, pois a indústria precisa continuar a produzir em escala e precisa continuar nos convencendo a consumir. A gente precisa resistir, se informar, buscar nossas próprias fontes de verdades, trocar ideias entre si, com pequenos produtores, testar coisas, porque, se o sistema consegue se retroalimentar, a gente também consegue. O que dizer para quem vê a feminilidade como única opção possível? E o que se transformou em você quando abriu mão da obrigatoriedade de se encaixar no que é tido como feminino? Experimente! Você pode realmente gostar daquilo, mas também pode ser que você esteja amarrada a um conceito equivocado desde quando era bebê. Faça a si mesmo algumas perguntas: “Sou mesmo mais fraca?” “Realmente não poderia fazer tal coisa se quisesse?” “Sou mesmo delicada?” “Gosto de ser silenciada quando dou uma opinião, exclusivamente por ser mulher?” “Por que, exatamente, não corto meu cabelo curto?” “Realmente acho agradável sentir tanta dor pra me depilar?” “Odeio mesmo meus pelos ou nunca tive a chance de lidar com eles?” Questione-se e questione o mundo, como ele foi apresentado a você, como essa maneira te impediu de falar, de ser ouvida, de ser levada a sério, ganhar salários melhores, ser dona do próprio corpo, não ser diminuída. Experimente uma coisa por vez, um pouquinho por dia. O que sobrar no fim disso é só o que você tem vontade mesmo. E vontade muda do dia para noite e você pode ser quantas mulheres quiser.

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http://www.fordmodels.com.br/blog/p/21641/thairine-garcia-karla-ciriaco-e-lisa-haetinger-para- https://fashioneditorials.com/wp-content/uploads/2017/03/Vogue-Brazil-March-2017-Lorenaelle-brasil-maio-2017. Fotos de Cecilia Duarte, edição de moda de Lucas Boccalão e beleza de Maraschi-Angelica-Erthal-by-Zee-Nunes-4.jpg Amanda Schön (M.Lages)

http://amandaschon.tumblr .com/post/142752895226/sicky-mag

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http://amandaschon.tumblr.com/post/148702122921/sick-magazine


Aceitação é resistência? Por quê? A tal aceitação, empoderamento, body positive, é uma grande cilada. Como já disse, a indústria se apropria de tudo que é bom. A ideia disso tudo é magnífica, mas, no fim, volta a nos colocar em caixas que nos oprimem. Se acordo me sentindo horrível e quero cobrir meu corpo com um moletom, ou sou capaz de sair sem cobrir minha olheira, pronto: mais uma culpa para minhas costas, porque não represento o velho padrão de mulheres. Acho que se reconhecer é resistência. Se reconhecer mulher, independentemente de performar feminilidade ou não, se reconhecer um corpo político, se reconhecer um corpo físico, se reconhecer vítima de um massacre midiático, se reconhecer vulnerável. Entender que, sim, vamos trabalhar o amor próprio, vamos reconhecer nossas peculiaridades, enxergar os pontos positivos delas, mas reconhecer a pessoa que acorda se sentindo horrorosa, que não enxerga um ponto positivo sequer naquela manhã, compreendê-la e, no minuto seguinte, mandar ela se foder e viver esse dia de merda como qualquer outro — evitando espelhos e fotos sim, por que não? Todo mundo tem um dia de merda, e tudo bem. Nenhuma mulher tem a obrigação de se sentir linda todos os dias. Nossa luta tem que ser para que esses dias não nos aprisionem, e só. Qual o item indispensável no seu processo de skin care que vai contra a indústria da beleza? Óleo de coco Como você vê essa apropriação do termo empoderamento pelo marketing? Perigosíssima! Já nem uso mais essa palavra. Quando leio empoderamento, só enxergo bobagem liberal, prisão, intenção de consumo. A gente precisa saber que uma palavra pode ser legal, mas ler a frase toda faz muita diferença. Empoderamento foi absolutamente descontextualizado e não serve mais para nós.

“ Eu me tornei eu, eu passei a me amar, a me entender, eu fiquei muito mais forte, muito mais dona do meu próprio discurso, eu me apropriei da minha vida e da minha verdade como indivíduo . Também fiquei mais irritada e discuti muito mais no Facebook, mas isso é culpa do machismo, (risos).”

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Marcos Aurélio de Carvalho, referência capixaba em gestão de marcas, inicia 2018 repleto de novidades. O empresário acaba de inaugurar seu novo showroom, o M Del M, onde representa os conceituados marcas John John Richard´s e Enzo Milano, com DNA italiano.

O interesse de Marcos Aurélio pelo universo fashion veio desde jovem. Há 20 anos no mercado, está sempre atento às tendências e novidades em torno do segmento. Ao longo dos anos, criou com competência uma forte rede de relacionamentos, que garantiu crescimento e uma solida expansão de seus negócios. Marcos segue uma agitada rotina de gestor de marcas, sempre trazendo após cada viagem aos grandes centros de moda dentro e fora do país, ampla bagagem cultural que aliada ao seu vasto conhecimento de mercado é uma das mais valiosas contribuições que proporciona aos seus clientes. Entre suas atividades do dia a dia, o empresário realiza prospecções de mercado e conhece novas lojas, além de comandar o acompanhamento personalizado para criar uma maior sintonia com seu cliente. Esta sintonia é fundamental para um melhor direcionamento das marcas de acordo com o perfil de cada loja, que deve seguir a linguagem dos produtos e proposta de cada marca que a MdeIM representa. O conceito deste novo showroom MdelM, é trabalhar de forma mais pessoal, concentrando toda atenção no cliente promovendo um espaço exclusivo e versátil. Marcos também destaca a importância de ter a tecnologia como aliada, ao manter seu cliente sempre conectado aos novos lançamentos e tendências. As expectativas da MdeIM para 2018, é de muito trabalho com grandes realizações e conquistas para todos.

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anima indica: Afago www.afagoshop.com.br Alfajor (+5527) 3019 2901 (+5531) 3564 3761 Instagram: alfajormoda Animale www.animale.com.br (+5527) 3315 6131

Fátima Scofield Instagram: fatimascofield (+5531) 3293 1307 Fedra www.fedra.art.br (+5531) 3296 0520 Fernanda Lorenzoni www.fernandalorenzoni.com (+5531) 99945 9399

MdelM Gestão de Moda Instgram: mdelmgestaodemoda (+5527) 3014 0628 Mip Representações Instagram: showroom_mip (+5527) 3314 2329 Nativa Saboaria Instagram: nativasaboaria

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Patricia Bonaldi www.patbo.com.br (+5531) 3317 6191

Arte Sacra www.artesacramoda.com.br

Grupo Destra www.grupodestraes.com.br (+5527) 3204-9258

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FOTO: FABRICIO SAITER

Depois de tantos gritarmos contra a censura, temos o prazer de anunciar: a exposição “Queermuseum”, banida do Santander Cultural, em Porto Alegre, pela ignorância de um pequeno grupo de retrógrados, terá um retorno em grande estilo, financiado por vitoriosa campanha de crowdfunding. Este movimento arrecadou mais de R$ 1 milhão para remontá-la no Parque Lage, no Rio de Janeiro.



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