Folha Pomerana 192 — 3 Junho 2017

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N° 192, 2017 – Data de 03 de junho de 2017

CURIOSIDADES HISTÓRICAS POMERANAS José Carlos Heinemann Historiador - Novo Hamburgo - RS joseheinemann@gmail.com

Era um domingo do mês de abril de 1983. Eu estava rezando o Pai Nosso na Igreja de Santa Maria de Jetibá/ES, quando o Sr. Nunes entrou afoito na sacristia, ansioso e com roupa cheia de lama. Ao me aproximar dele, logo falou com entusiasmo: ¨José, patrolando a estrada principal encontrei no acostamento um grande buraco de garrafas antigas. Certamente isto lhe interessa é o que procura. Trouxe uma garrafa quebrada para ver.” Na segunda feira segui para lá com os amigos pastores Dario Schäffer, que atuava em Santa Leopoldina/ES, e Waldir Berger, de Santa Maia de Jetibá/- muitas garrafas quebradas de vidro grosso, de cor marrom escura, que certamente usavam para colocar cerveja; mas o que chamou a atenção foram as garrafas menores grossas, de cor verde. O professor Germano Berger, ainda no século 19, foi um dos primeiros moradores da localidade de São Sebastião de Belém, sendo um membro da comunidade que se Fig 1: Placas de orientação em três línguas – orientação aos turistas. preocupava com o ensino religioso e a formação escolar dos pequeninos. Ele usava a Bíblia para ensinar as crianças a ler e escrever, e tinha um acentuado dom para a música. Posteriormente dedicou-se, juntamente com sua família, ao plantio de café e foi o primeiro a implantar uma pequena fábrica de cerveja, junto à sua casa nessa região.


O pequeno Reinaldinho Berger em 1895 corria para o galpão tosco de madeira e entre as frestas via sua família fazer cerveja artesanal. A cada ano faziam 33 garrafões para o que até a água provinha da Alemanha. Como prova foram escavados buracos na região de Belém (Santa Maria de Jetibá/ES) e encontradas essas garrafas; hoje essas relíquias estão no Museu Pomerano de Lagoa, a 60 km de Santa Maria de Jetibá/ES. A fábrica de cerveja teve pouca duração, de 1893 a 1897, por dois motivos. Primeiro, o alto custo da garrafa de cerveja. E a compra e importação da Europa dos insumos e água, que precisa ter um peso específico para se fazer uma boa cerveja. A Família Berger, que imigrou para o Estado do Espírito Santo na década de 1860, não era de origem pomerana. Apesar de ser bem entrosada no seio da comunidade pomerana e professar da doutrina de Lutero, era de origem austríaca.

Fig.2: O quadro original foi feito pelo missionário holandês Antônio Roos em 1975 em Lagoa/ES. Reprodução nova feita por Geisa Ferreira Heinemann, de São Paulo, e Oliver Barth Heinemann, de Novo Hamburgo, em dezembro de 2000. Representa um mapa com os principais lugares onde se fixaram os pioneiros imigrantes pomeranos de 1859 a 1892, no Estado do Espírito Santo.

Na Pomerânia não se consumia muita cerveja. Ali, ao invés, se instalou uma cultura do vinho. Wartislaw I (1121-1147), Duque da Pomerânia desempenhou um papel decisivo na cristianização da Pomerânia. Convidou, em 1124, o Bispo Otto de Bamberg a implantar o cristianismo nas terras pomeranas. Durante a sua missão, o Bispo Otto de Bamberg fundou 9 igrejas em Stettin. O Bispo Otto voltou à Pomerânia Ocidental em 1128 e percorreu um trajeto maior até perto do povoado de Kolberg (Kolobrzeg). Durante sua peregrinação na Pomerânia o Bispo Otto levou muitas mudas de parreiras de uva, distribuindo-as entre suas comunidades eclesiásticas e para os inúmeros conventos existentes. Toda a área religiosa, em pouco tempo, tinha extenso cultivo de uvas, das quais se faziam vinhos das uvas plantadas, que serviram para a cerimônia da Eucaristia (Santa Ceia). Mais tarde, de outras regiões alemãs, introduziram o cultivo de uvas de tom avermelhados e também distribuídas aos nobres proprietários de terras, que serviam o vinho em suas faustas festas e nas festividades entre a classe


nobre no período das competições de caça, entre Natal e 15 de janeiro. Nesse período de frio e neve o vinho geralmente era servido em taças luxuosas, e quente.

Fig.3: Uma pequena ala da cozinha de um castelo feudal. Fotografia de Slowakei Lizenzfreie Bilder – 4950761, Polônia

Em 1562, na região da Pomerânia Ocidental, mais tarde chamada de Suiça Pomerana, havia propriedades de famílias nobres bem estruturadas e com um bom número de lavradores trabalhando nelas. Uma delas, nessa região, pertencia à família von Flotow. Quando, em 1562, morreu a última herdeira da família, Margarethe von Flotow, o Duque Ulrich de Mecklenburg-Güstrow adquiriu essas terras de modo fraudulento, aumentando seu feudo e agregando trabalhadores antigos que serviam à família von Flotow. Todos os lavradores, além de prestar serviços na agricultura de cereais, faziam cerveja, que o Duque Ulrich vendia para regiões escandinavas e para a área de Lübeck. A agricultura era diversificada, com cultivo de centeio, cevada, malte, aveia e ervilhas; e ainda faziam manteiga, defumavam peixe e peito de ganso, conforme a historiadora polonesa Irena Harkot-Klotlinska. A cerveja era armazenada em pequenas pipas de carvalho (com 25 litros cada) e seu consumo nas tabernas da Pomerânia, como em Treptow, na costa Báltica, era caríssimo. Era realmente uma bebida para se fazer nas propriedades de ricos latifundiários e vender para outros mercados mais promissores. A partir do século XVIII exportavam produtos diferenciados para todos os portos das regiões escandinavas e para o Mediterrâneo, como alcolchoados das penas de ganso, manteiga, bacon defumado, banha de porco, creme de leite azedo, queijo, barris de cerveja, presunto; e boa quantidade de lã para a Silésia, Inglaterra, Bélgica e Prússia. Com o término dos ducados em 1637, os novos proprietários passaram a integrar a história das terras pomeranas. Os herdeiros dos ducados foram os comerciantes, burgueses, nobres da corte e cavaleiros, que ganharam terras por sua fidelidade ao antigo senhor. Estes novos proprietários de terras na Pomerânia são a nova classe social em ascensão


que passaram a comandar a produção agrícola e a comercialização, tornando-se, de certo modo, os detentores da política local. Os lavradores e os sem-terra por meio de regulamentos emitidos pelo conselho municipal (muitas vezes de acordo ou com o consentimento dos governantes locais) ficavam alijados completamente dos benefícios de uma participação plena na vida das cidades. Acesso gratuito à vida urbana era permitido, mas não a divisão dos lucros dos produtos vendidos nas mais diversas feiras de negócios. Bibliografia BÜLOW von. Gottfried. Geschichte von Wartislaw I. In: Allgemeinde Deutsche Biographie (ADB) Band 41, Duncker und Humblot. Leipzig 1896, p. 203-210. DRÖGE, Kurt. Bibliographie zur Trachtenforschung in Pommern. In: Berichte und Forschungen. Jahrbuch des Bundesinstituts für ostdeutsche Kultur und Geschichte 3 (1995), p. 47-71.

POMMERLAND IM BILD Helmut Kirsch, Deutschland hehe.kirsch@gmail.com

"Auferstanden aus Ruinen"

Bild 4: Die deutschen Großstädte waren 1945 Trümmerwüsten. Die alliierten Bombenangriffe trafen Frauen, Kinder und Alte, um die Moral der Bevölkerung zu brechen. Foto: Hannover 1945 „Verbrechen am deutschen Volk“ K.W. Schütz KG

Beim trostlosen Anblick zerstörter deutscher Städte und der Niedergeschlagenheit eines ganzen Volkes hat es 1945 niemand für möglich gehalten, dass nach Marshallplan-Hilfe und Währungsreform innerhalb weniger Jahre wieder Vollbeschäftigung herrschen sollte. Während in der sowjetischen Besatzungszone 17 Millionen Deutsche unter politischer Unterdrückung und Mangelernährung litten, setzte in den westlichen Besatzungszonen ein nie dagewesenes Wirtschaftswachstum ein. Für die deutschen Heimatvertriebenen war es doppelt schwer, in einer fremden Umgebung wieder Fuß zu fassen. Ihr Eingliederungsprozess in die einheimische Gesellschaft dauerte von 1945 oftmals bis in die 60er Jahre. Dieser Prozess der Integration wurde durch den wirtschaftlichen Boom der


50er Jahre ungemein erleichtert. Durch Anpassungsbereitschaft und Fleiß wurden sie zu einem wertvollen Bevölkerungsteil der neuen Bundesrepublik. Allein den Verlust ihrer Heimat mussten sie weiterhin alleine tragen.

Bild 5: Im Heiligenhafener Ortsteil Ortmühle entstand in den 50ern Jahren eine Siedlung für die Vertriebenen, die heute wegen ihrer Lage an der Ostsee zu den begehrten Wohngegenden gehört.

Bereits in den 50er Jahren bezogen die ersten Flüchtlinge, die bis dahin zum Teil in Lagern und anderen provisorischen Unterkünften leben mussten, ihre eigenen Häuser. Eigeninitiative und Nachbarschaftshilfe waren bei den Bauarbeiten weit verbreitet, und staatliche finanzielle Mittel im Rahmen des Lastenausgleichs halfen bei der Verwirklichung. Noch heute erkennt man diese Siedlungen an der damals typischen Bauweise für Einfamilienhäuser. Oft gab man ihren Straßen Namen, die an die ostdeutsche ist neben dem Hauseingang Herkunft ihrer Bewoh- Bild 6: Das Pommern-Wappen befestigt.. ner erinnern sollten. Vielerorts in den alten Bundesländern, aber besonders dort, wo sich Vertriebene und Flüchtlinge niederließen, findet man Straßennamen oder Straßen, die nach ostdeutschen Städten oder Persönlichkeiten benannt wurden.


Bild 7: Straßennamen pommerscher und ostpreußischer Städte.

Jahr für Jahr finden in Heiligenhafen die Heimattreffen der vertriebenen Einwohner der pommerschen Städte Rügenwalde und Rügenwaldermünde statt. Kamen vor einigen Jahren noch 140 Personen zusammen, so waren es beim letzten Treffen etwa 50. Vielen Nachkommen der Vertriebenen fehlt das Bewusstsein für die Herkunft ihrer Familie, da persönliches Wohlergehen und mangelndes Geschichtsbewusstsein all zu oft diese Werte verdrängen.

Bild 8: Das „Rügenwalder Eck“ ist seit vielen Jahren Treffpunkt der ehemaligen Rügenwalder.

In den Parkanlagen unzähliger Städte und Gemeinden befinden sich Gedenkstätten, die auf jenen Teil unseres einst großen Vaterlandes hinweisen, der heute zu Polen, Russland, Litauen und Tschechien gehört. Anlässlich des jährlich stattfindenden „Tag der Heimat“ werden hier Kränze niedergelegt.


Bild 9: Gedenkstein mit den Wappen der mittel- und ostdeutschen Länder. Mitteldeutschland (DDR) ist seit 1989 wieder ein Teil Gesamtdeutschlands.

Bild 10: „Friede sei über den Gräbern“

Nachdem fast alle Deutschen Hinterpommern verlassen mussten, war niemand mehr dort, der sich um die Gräber der Verstorbenen kümmerte, oder sie vor Zerstörung schützte. Die Neuangekommenen brauchten Platz für ihre Toten. Gleichgültigkeit, Vandalismus aber auch Hass herrschten


während der Zeit des Kommunismus oftmals gegenüber den verbliebenen Deutschen. Noch Jahrzehnte nach dem Ende des Krieges lagen zerstörte Kreuze und Grabplatten in einer Ecke des Friedhofs oder auf dem Müll, wenn sie nicht schon vorher als Baumaterial zweckentfremdet wurden. Inzwischen hat sich nicht nur das Verhältnis zwischen Deutschen und Polen entspannt, es ist vertrauensvoll und von den Menschen auch ehrlich so gewollt. Auf unserem Friedhof „zu Hause“ wurde schon vor Jahren mit aktiver Unterstützung der polnischen Verwaltung ein „Lapidarium“, geschaffen. Hier können wir in Würde unserer Toten gedenken. Wenn zu „Allerheiligen“ ganz Polen auf den Beinen ist, um die Gräber herauszuputzen, wird auch immer auf einem einzelnen deutschen Grab von liebender Hand ein Licht entzündet.

Bild 11 und 12: Sie starben fern der Heimat " Auf einigen Friedhöfen wurden Gedenkstätten aus Grabsteinen errichtet, auf denen die ostdeutschen Geburtsorte der Verstorbenen eingraviert sind. Nach Ende der regulären Laufzeit der Grabstätte wird der Stein nicht entsorgt, sondern in die größer werdende Gedenkstätte eingefügt".

Auf dem Kommunalfriedhof der Kreisstadt Uelzen in Niedersachsen, wurde auf Initiative des „Bund der Vertriebenen“ eine Gedenkstätte aus Grabsteinen errichtet, auf denen die Namen der ost- und sudetendeutschen Geburtsorte der Verstorbenen eingraviert sind. Nach Ende der regulären Laufzeit der Grabstätte wird der Stein nicht entsorgt, sondern in die größer werdende Gedenkstätte eingefügt.

Bild 13: Ostdeutsche Gedenkstätte in Burg auf der Insel Fehmarn

Die ostdeutschen Provinzen und deren Städte wie z. B. Breslau, Danzig, Gleiwitz und Allenstein waren über 700 Jahre integraler Bestandteil deutscher Staaten. Sie schwinden aus dem historischen Gedächtnis der


Deutschen, oder sie werden verdrängt. Die deutsche Politik, deren Aufgabe es gewesen wäre, dies zu verhindern, hat wenig dazu getan. Es kommen kaum noch Gelder, um Projekte zu fördern, weil man nicht bereit ist, seinen Verpflichtungen nachzukommen. Die Europa-Euphorie scheint alles zu verdecken. Hierzu schreibt die Pommersche Zeitung: „die museale Darstellung der preußischen Provinz Pommern kann doch nicht von der Gnade Europas oder gar Polens abhängig sein, sie ist alleine Pflicht des deutschen Staates.“ Deshalb ist es nun die Aufgabe aller Menschen, denen Pommern am Herzen liegt, dafür zu sorgen, dass Pommern in unserem Bewusstsein lebendig und als Teil der Gesamtsubstanz der deutschen Nation für die Deutschen erhalten bleibt.

Up Pomerisch Srijwe un Leese leire Os pequenos quadros da Lilia Jonat Stein

UMA CRIANÇA QUE LÊ, CERTAMENTE SERÁ UM ADULTO QUE PENSA!


Publicações interessantes UMA OFERENDA AOS ANTIGOS DEUSES CONTEXTUALIZADA PARA O CRISTIANISMO? Ivan Seibel Reg. Prof. MTb 14.557

Os pomeranos, quando aqui chegaram, não tinham casa. Na verdade foram viver em barracas, cobertas de palha, de folhas de coqueiro ou de palmito. Depois disto, durante décadas continuaram, por assim dizer, vagando de um lugar para outro, o que pode ser observado nas migrações internas, sobretudo no Espírito Santo e no Rio Grande do Sul. Aliás, isso hoje continua tendo seu seguimento em Rondônia. Na prática este processo de migração também mostra um importante vínculo com a natureza, com a mata, o que, de certa forma persiste até os dias atuais. Um exemplo disto são as festas das comunidades ou até mesmo os casamentos, quando voltam a construir as suas barracas de folhas de palmeira ou de palmito, talvez inconscientemente para contar a sua própria história aos seus filhos e netos. A própria festa da colheita apresenta características muito próprias. Contra todas as regras litúrgicas, se faz do altar da igreja uma mesa de feira – ou seria de oferendas? Novamente um importante traço cultural, apesar das controvérsias, que leva a pensar na existência de um forte sentimento de religiosidade relacionado ao produto da terra. Ou seria uma forma de oferenda aos antigos deuses, quem sabe, contextualizado para o cristianismo?


Previsão do Tempo No Rio Grande do Sul e na Pomerânia

Links interesantes http://www.brasilalemanha.com.br/novo_site/ http://www.estacaocapixaba.com.br/ http://www.preussische-allgemeine.de/ http://www.estacaocapixaba.com.br/ http://www.montanhascapixabas.com.br/ http://www.ape.es.gov.br/index2.htm http://www.staatsarchiv-darmstadt.hessen.de http://www.rootsweb.com/~brawgw/alemanha http://www.ape.es.gov.br/cidadanias.htm http://www.citybrazil.com.br/es http://pommerland.com.br/site/ http://www.ctrpnt.com/ahnen/fmb.html http://www.seibel.com.br http://familientreffen.org/ http://www.povopomerano.com.br http://www.pommersches-landesmuseum.de/aktuelles/veranstaltungen.html http://www.pommern-z.de/Pommersche_Zeitung/index.html http://www.pommerscher-greif.de/ http://www.leben-auf-dem-land.de/seite-4.htm http://www.acdiegoli.blogspot.com.br/ (economia) http://www.raqueldiegoli.blogspot.com.br/ (previdenciário) http://www.emfocoregional.blogspot.com.br/ http://www.twitter.com/tempo_sls

Todo trabalho bem feito deve ser compartilhado para que possa ser reconhecido. Guardá-lo na gaveta de nada adianta, pois rapidamente será esquecido. Divulgue o que está sendo realizado na sua cidade. Conteúdos envolvendo assuntos da comunidade pomerana, eventos culturais, danças ou apresentações musicais são considerados de interesse coletivo e merecem ser publicados. Encaminhe aos seus amigos ou mande-nos os endereços eletrônicos de seus conhecidos para que possamos enviar-lhes gratuitamente os novos exemplares. As matérias a serem encaminhadas para publicação podem ser preparadas na forma de textos com até duas páginas A4, digitadas em espaço 1,5 fonte Arial número 12 ou na forma de pequenos textos de no máximo 5 ou 10 linhas, digitadas em espaço 1,5 fonte Arial número 12. Imagens ou fotografias sempre irão enriquecer a matéria. Sugere-se cinco ou seis imagens por texto.


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